Lei x graça parte 2
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Parte II
Lei
X
Graça
Parte 2
Silvio Dutra
DEZ/2015
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A474 Alves, Silvio Dutra Lei x Graça./ Silvio Dutra Alves. – Rio de Janeiro, 2015. 402p.; 14,8x21cm 1. Teologia. 2. Alianças. 3. Condenação 4. Testamentos. 5. Justificação. 6. Libertação I. Título.
CDD 230
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Sumário Cristo, Nossa Redenção, Justiça e Santificação...................................................
5
O Que é a Antiga Aliança.............................. 52 O Que é a Nova Aliança............................... 55 A Graça Exige Perseverança........................ 70 Pregar o Evangelho a Toda Criatura............ 82 Uma Nova Esperança para Adúlteros e Ladrões.........................................................
92
O Que é a Caducidade da Letra................... 104 O Jugo da Lei de Moisés e o de Jesus......... 108 Fazer a Vontade de Deus é Mais do que Cumprir a Lei Moral.......................................
116
Como o Crente Está Morto Para a Lei?....... 121 O Espírito Santo é uma Promessa da Nova Aliança..........................................................
126
A Antiga Aliança Era Figura da Nova............ 137 A Finalidade da Lei....................................... 140 Jesus Livrou o Crente do Jugo da Lei........... 147 Breve Comentário de Gálatas 4.................... 151 Breve Comentário de Gálatas 5.................... 179
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Cristo, Nossa Redenção, Justiça e
Santificação
(I Cor 1.30)
Nenhum homem está perfeito fora de Cristo.
Veja que é dito em I Cor 1.30 que Ele se tornou da parte de Deus para nós a nossa sabedoria, justiça, santificação e redenção.
O apóstolo Paulo, bem instruído pelo Senhor acerca da verdade do Evangelho não colocou a
nossa santificação aparte de Cristo.
Isto indica que é algo sobrenatural que teremos na nossa efetiva associação com Ele, crescendo
em graça, de glória em glória, segundo a força
operante do seu poder até a estatura de varão perfeito.
Ainda que o pecado não tivesse entrado no mundo, necessitaríamos estar ligados
espiritualmente ao Senhor, participando de sua natureza divina, para que pudéssemos atingir o
alvo do propósito de Deus na nossa criação.
Afinal, há eficácia no poder do Senhor em restaurar e tornar novas todas as coisas nas vidas daqueles que confessam os seus pecados e
que fixam o propósito de Lhe serem agradáveis
em tudo.
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Mais do que isso, nosso Senhor conquistou para os que estão ligados a Ele, pela fé, uma salvação
segura e eterna.
Há uma figura maravilhosa no Velho Testamento, dada pelo próprio Deus com o
propósito didático de nos ensinar esta verdade,
antes que ela se cumprisse em Cristo, a saber, a
firmeza, segurança e eternidade que há em nosso Senhor Jesus Cristo e no seu sangue, que
Ele derramou por nós na cruz.
Então vejamos:
Somente ao sumo-sacerdote de Israel, dentre
tantos sacerdotes, era permitida a entrada no Santo dos Santos do tabernáculo terreno, uma
única vez por ano, e não sem o sangue do
sacrifício que deveria ser aspergido sobre a
tampa da arca da aliança, para que os pecados do povo de Deus pudessem ser perdoados por mais
um ano.
Isto indicava que a expiação do pecado seria realizada por uma única pessoa, e somente por ela (nosso Senhor Jesus Cristo), que é sumo-
sacerdote para sempre segundo a ordem de
Melquisedeque, não de um tabernáculo
terreno, mas do celestial.
Somente Ele poderia entrar no Santo dos Santos do céu, para fazer expiação pelo pecado de todo
o povo de Deus, de uma vez para sempre, pela
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oferta não de sangue de animais, mas do seu
próprio sangue que havia derramado na cruz.
Ele entrou além do véu que separa o Lugar Santo, do Santo dos Santos celestial, no qual
Deus Pai se encontra juntamente com os querubins, e por isso, estes também estavam
representados em figura no tabernáculo
terreno.
Ali, fixou a esperança da nossa salvação como
uma âncora segura e firme, que penetrou além do véu, ou seja, a nossa salvação está ancorada
pelo próprio Senhor, no Santo dos Santos
celestial, como se afirma em Hb 6.17-20.
Então, o plano de Deus na nossa salvação está
firmado na imutabilidade do seu propósito, segundo a sua promessa feita a Abraão, para que
tenhamos forte alento e certeza da segurança
eterna que temos em Cristo, conforme se lê também em Hb 6.17-20.
Assim, quando a Bíblia fala em reconciliação por meio de Cristo, está se referindo não a algo
passageiro ou que possa ser destruído, mas a
algo firme, eterno e seguro.
Estaremos assim, ainda inseguros ou desinteressados em tal reconciliação, que é um
assunto de morte ou de vida?
O que escolheremos: a morte espiritual eterna ou a vida eterna que está em Cristo Jesus?
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Se queremos a vida, sejamos então humildes de espírito e façamos uma confissão sincera dos
nossos pecados ao Senhor, com a firme
esperança de que seremos ouvidos, lavados e curados.
Afinal, fomos criados para sermos à imagem e semelhança do Senhor, e isto não pode existir
sem que participemos da vida do próprio Deus,
e cresçamos no homem interior (espírito) quanto ao seu caráter e atributos comunicáveis
(amor, santidade, misericórdia, etc).
“29 Porque os que dantes conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito
entre muitos irmãos;” (Rom 8.29)
Esta imagem e semelhança não pode existir sem estarmos ligados à Videira Verdadeira.
Ainda que não tivéssemos nenhum pecado, só estaríamos atendendo à demanda da justiça divina, se estivéssemos ligados a Jesus, posto
que fomos criados para pertencermos a Ele.
Pertencer não como quem possui um objeto. Mas pertencer por ser participante da sua
própria vida. A cabeça (Cristo) e o corpo (a igreja).
Se Deus perdoasse apenas o nosso pecado e caso não recebêssemos o Espírito Santo para
habitar em nós, ficando assim, desligados da
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vida de Deus, não se poderia afirmar que apesar
de ter sido perdoados, que também estaríamos
justificados.
O perdão do pecado, a vitória sobre o pecado são necessários, mas não são a causa de recebermos a vida eterna prometida, porque esta é o próprio
Cristo vivendo em nós.
Assim, de nada aproveita ao homem confessar os seus pecados sem se render ao senhorio de
Jesus Cristo.
“o qual foi entregue por causa das nossas transgressões, e ressuscitou por causa da nossa
justificação.” (Rom 4.25)
A nossa justificação dependeu da ressurreição de Jesus. Ora, ainda que ele morresse resolvendo o problema do pecado, não
poderíamos ser justificados caso Ele não tivesse
ressuscitado, pois dependemos dele mesmo
para tal, estando ligados à sua vida.
O perdão foi e é necessário por causa do pecado.
A obra de expiação do pecado realizada por Cristo na cruz do calvário tem a ver com a morte
do pecador, de modo a poder ser reconciliado
com Deus, mas a ressurreição de nosso Senhor foi fundamental para que pudéssemos
participar da sua própria vida ressurrecta,
obtendo assim, a vida eterna.
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“10 Porque se nós, quando éramos inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de
seu Filho, muito mais, estando já reconciliados,
seremos salvos pela sua vida.
11 E não somente isso, mas também nos gloriamos em Deus por nosso Senhor Jesus
Cristo, pelo qual agora temos recebido a
reconciliação.” (Rom 5.10,11)
O apóstolo Paulo mediante revelação e
inspiração do Espírito, entendeu que somos salvos pela própria vida de Jesus, e é por meio
dele mesmo, por estarmos nele, que somos
reconciliados com Deus.
Podemos portanto afirmar que é em Cristo que
estamos justificados.
Não é incorreto afirmar também que fomos justificados pelo sangue derramado na cruz,
porque a expiação do nosso pecado é a porta de
entrada para a justificação.
Há ainda outros que afirmam, em razão da imputação da justiça de Jesus ao crente, que a
justificação é um ato declarativo da parte de
Deus pelo qual nos considera justos, o que
também é correto.
Seja qual for a conceituação que se dê à justificação, esta deve estar respaldada na
Bíblia, portanto fica excluído qualquer conceito
que a concilie às nossas obras, ao cumprimento
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da lei, enfim tudo que se relacione ao nosso
próprio trabalho e mérito, pois como temos
visto e continuaremos a aprender, a justificação
é um ato exclusivo de Deus, que nos é concedido pela graça, e que recepcionamos simplesmente
pela fé.
A justificação pela fé abre a porta para um viver na justiça do evangelho, de maneira que
recebemos a justiça imputada, atribuída da
justificação, para vivermos na justiça que é
implantada pelo Espírito Santo.
Em razão da desobediência de Adão todos ficaram sujeitos ao pecado.
Não somos pecadores porque pecamos, mas pecamos porque somos pecadores.
O pecado é uma lei que opera nos nossos membros e que nos leva para longe de Deus.
Nossa natureza decaída foge da presença do Senhor e não deseja submeter-se ao seu
senhorio.
Nenhum pecador teria amado a Deus se não fosse primeiro amado por ele.
Ninguém buscaria entregar-lhe o coração se não fosse atraído por Ele.
A justificação não pode significar que nos tornamos perfeitamente justos desde que
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tivemos um encontro pessoal com Cristo, pois
que ainda permanecemos sujeitos à ação do
pecado e nem se pode dizer de nós, enquanto
neste mundo, que chegaremos à plenitude da perfeição das virtudes de Deus.
Isto ocorrerá somente no porvir.
Mas não se declara na Palavra que seremos justificados no porvir.
A Bíblia afirma que já fomos justificados.
Então, a palavra justificação só pode se referir à nossa condição de termos sido reconciliados
com Deus, por estarmos ligados a Cristo.
Qual seria a forma de se perder a justificação, se possível, a não ser pelo nosso afastamento do
Senhor?
Se a nossa aproximação e aceitação dele
significou para nós sermos justificados, o nosso afastamento dele implicaria
consequentemente a perda da justificação.
Por isso necessitamos de santificação: para podermos permanecer ligados ao Senhor,
porque Ele mesmo é a garantia da nossa
justificação.
Mas, não permanecemos nele, e somos santificados, simplesmente para não
perdermos a nossa justificação e por
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conseguinte a nossa salvação, mas, para
prosseguirmos em nosso crescimento
espiritual, na nossa transformação pessoal à sua
imagem e semelhança, conforme é o supremo e eterno propósito de Deus.
É por isso que o Senhor afirma que não lança fora a nenhum que vem a Ele, e que a vontade do
Pai é que não perca a nenhum dos que lhes
foram dados por Ele.
Isto significa sobretudo que enquanto permanecermos nele, nada poderá nos separar do seu amor, porque a obra de expiação que
fizera em nosso favor, para o perdão do nosso
pecado, foi completa, perfeita e segura; assim,
como a nossa justificação por estarmos nele possui também tais características, porque é
impossível que Ele possa ser vencido, e sua vida
é eterna e inabalável.
Porém, é importante sabermos que se a expiação da cruz é eterna, e nos concedido a
bênção de termos todas as nossas transgressões cometidas antes da nossa conversão a Cristo,
perdoadas e esquecidas por Deus, o viver
vitorioso, pelo perdão de nossas transgressões
posteriores à conversão, depende de sucessivos arrependimentos e confissões destes pecados
presentes.
A obra de convencimento do Espírito Santo em relação ao pecado, procura também atrair-nos
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para Deus, convencendo-nos de que há
disponibilidade e provisão de perdão e amor
para nós, ainda que pecadores.
Mas a obra do Espírito vai muito além. Ele não só opera a morte da nossa velha natureza, como
também regenera-nos com uma nova vida, e reveste-nos de poder especial através de dons e
capacitações espirituais para a realização do
nosso ministério.
A palavra regeneração, na Bíblia, vem do grego, Genetós (nascido, gerado) Ánoten (de novo,
outra vez, de cima, do alto).
Este é o significado original e verdadeiro da palavra, quanto à interpretação do texto bíblico.
A conotação atual que lhe é atribuída, de reparar, consertar, não traduz a obra do Espírito
em nós.
Nada há da herança recebida de Adão que possa ser melhorado.
O que herdamos dele foi sentenciado à morte na cruz do calvário.
A nova vida que temos em nós é a do próprio Cristo.
Por isso somos convocados a nos despojarmos do velho homem e a nos revestirmos da vida de
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Cristo, que é designada biblicamente como a
vida do novo homem.
“Mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo; e não tenhais cuidado da carne em suas
concupiscências.” (Rm 13.14)
“9 De modo que os que são da fé são abençoados com o crente Abraão.
10 Pois todos quantos são das obras da lei estão debaixo da maldição; porque escrito está:
Maldito todo aquele que não permanece em
todas as coisas que estão escritas no livro da lei, para fazê-las.
11 É evidente que pela lei ninguém é justificado diante de Deus, porque: O justo viverá da fé;”
(Gál 3.9-11)
“27 Porque todos quantos fostes batizados em Cristo vos revestistes de Cristo.” (Gál 3.27)
“20 Mas vós não aprendestes assim a Cristo.
21 se é que o ouvistes, e nele fostes instruídos, conforme é a verdade em Jesus,
22 a despojar-vos, quanto ao procedimento
anterior, do velho homem, que se corrompe pelas concupiscências do engano;
23 a vos renovar no espírito da vossa mente;
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24 e a vos revestir do novo homem, que segundo Deus foi criado em verdadeira justiça e
santidade.” “Ef 4.20-24”
“9 não mintais uns aos outros, pois que já vos despistes do homem velho com os seus feitos,
10 e vos vestistes do novo, que se renova para o pleno conhecimento, segundo a imagem
daquele que o criou;” (Col 3.9,10)
Paulo coloca a questão da obra da regeneração e santificação, nos seguintes termos: Fomos
despojados do velho homem e revestidos de Jesus na conversão, mas este despojamento e
revestimento devem prosseguir no processo de
santificação.
A vida de Jesus é o vinho novo que deve ser colocado em odres novos. Não odres velhos ou
que serão reparados e melhorados.
Se houvesse necessidade de remendo (conserto) nessa vida nova, este seria feito com
tecido novo, pois em Jesus, recebemos uma vestimenta de vida inteiramente nova.
A velha natureza é inteiramente incompatível com a nova natureza que recebemos de Deus na
conversão.
Por isso, o Senhor não trabalha com aquilo que é relativo à nossa antiga natureza decaída no
pecado, procurando consertá-la.
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Não.
Ele trabalha somente com o que é novo, e a obra de aperfeiçoamento que realiza em nós refere-se exclusivamente a esta nova vida.
O enchimento do Espírito Santo, das suas virtudes, é qual o vinho novo que é colocado no
odre.
Deus quer nos encher mais e mais do seu Espírito (Ef 5.18).
Acheguemo-nos a ele como odres novos que somos para que ele nos encha da sua vida divina.
“16 Ninguém põe remendo de pano novo em vestido velho; porque semelhante remendo tira parte do vestido, e faz-se maior a rotura.
17 Nem se deita vinho novo em odres velhos; do contrário se rebentam, derrama-se o vinho, e os
odres se perdem; mas deita-se vinho novo em odres novos, e assim ambos se conservam.” (Mt
9.16,17)
“Expurgai o fermento velho, para que sejais massa nova, assim como sois sem fermento.
Porque Cristo, nossa páscoa, já foi sacrificado.”
(I Cor 5.7)
“Pelo que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que
tudo se fez novo.”(II Cor 5.17)
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Em Cristo temos sido aperfeiçoados.
Podemos ser ainda imperfeitos, mas seremos perfeitos como Ele é perfeito, se
permanecermos firmes na fé e nele mesmo.
Somos chamados de justos, ainda que imperfeitos, porque estamos nAquele que é
perfeito.
No porvir seremos também perfeitamente justos, não por nosso próprio poder e
autoridade, mas por participarmos
completamente dAquele que é a própria perfeição: o Senhor.
O problema do pecado precisa ser tratado antes, para que o propósito eterno de Deus, em amor,
de ter muitos filhos semelhantes a Cristo, possa
ser cumprido.
Para este propósito, Deus foi se revelando gradualmente.
A revelação pessoal vem antes da escrita.
Primeiro Ele se revelou, depois inspirou homens a registrar o que considerou essencial
para a nossa instrução espiritual, de modo que
possamos entender quem Ele é, e qual é a sua
vontade em relação a nós.
A Bíblia foi sendo produzida desse modo.
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Adão, Noé, Abraão, Jacó, José. Somente muitos séculos depois, Moisés foi encarregado de
registrar no que viria a ser o livro de Gênesis, a
história da revelação referente ao período da vida desses homens.
A Antiga Aliança, a conquista de Canaã, os
juizes, o reinado em Israel, os profetas, os cativeiros, tudo isso foi registrado nos livros do
Antigo Testamento.
Mas, Deus revelou também nos dias do Velho Testamento as coisas que haveriam de
acontecer no futuro, tanto as relativas à obra de
Jesus, do Espírito Santo, como também ao arrebatamento, à glorificação dos salvos e ao
Juízo Final.
Se os escribas e fariseus conhecessem as
Escrituras como convém, e se conhecessem o poder de Deus, provavelmente teriam topado
com a vontade do Senhor, e não teriam se
confrontado com Jesus, conforme encontramos registrado nos quatro evangelhos.
Se erravam porque não conheciam as Escrituras e o poder de Deus, certamente não teriam errado o alvo do propósito da vida, caso
conhecessem a sã doutrina por revelação do
Espírito Santo, mas para isto seria necessário
que se convertessem a Cristo.
Vemos assim a importância dessas duas coisas essenciais: a) conhecimento correto da
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revelação bíblica; b) comunhão com Deus no
Espírito.
Como não tinham uma coisa nem outra, não puderam reconhecer a manifestação da justiça
de Deus, na pessoa de Jesus, conforme
prometido aos profetas.
“Mas no Senhor será justificada e se gloriará toda a descendência de Israel.” (Is 45.25)
“5 Eis que vêm dias, diz o Senhor, em que levantarei a Davi um Renovo justo; e, sendo rei,
reinará e procederá sabiamente, executando o juízo e a justiça na terra.
6 Nos seus dias Judá será salvo, e Israel habitará seguro; e este é o nome de que será chamado: O
SENHOR JUSTIÇA NOSSA.” (Jer 23.5,6)
“21 Mas agora, sem lei, tem-se manifestado a justiça de Deus, que é atestada pela lei e pelos
profetas;
22 isto é, a justiça de Deus pela fé em Jesus Cristo para todos os que creem; pois não há distinção.
23 Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus;
24 sendo justificados gratuitamente pela sua graça, mediante a redenção que há em Cristo
Jesus,” (Rom 3.21-24)
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“3 Porquanto, não conhecendo a justiça de Deus, e procurando estabelecer a sua própria,
não se sujeitaram à justiça de Deus.
4 Pois Cristo é o fim da lei para justificar a todo aquele que crê.” (Rom 10.3,4)
O fim da lei, isto é, a finalidade da Antiga Aliança, das Escrituras do Antigo Testamento, foi a de apontar para a redenção, justificação e
santificação em Jesus Cristo.
Mas os judeus, em sua grande maioria não compreenderam isto, e assim, rejeitaram ao
Senhor.
“30 Mas vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção;” (I Cor 1.30)
O apóstolo Paulo afirmou que a justiça que dá vida não pode ser procedente das obras da lei,
mas da nossa fé em Cristo.
“16 sabendo, contudo, que o homem não é justificado por obras da lei, mas sim, pela fé em
Cristo Jesus, temos também crido em Cristo
Jesus para sermos justificados pela fé em Cristo, e não por obras da lei; pois por obras da lei
nenhuma carne será justificada.” (Gál 2.16)
“11 É evidente que pela lei ninguém é justificado diante de Deus, porque: O justo viverá da fé;
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21 É a lei, então, contra as promessas de Deus? De modo nenhum; porque, se fosse dada uma lei
que pudesse vivificar, a justiça, na verdade, teria
sido pela lei.
22 Mas a Escritura encerrou tudo debaixo do pecado, para que a promessa pela fé em Jesus
Cristo fosse dada aos que creem.” (Gál 3.11,21,22)
“9 e seja achado nele, não tendo como minha justiça a que vem da lei, mas a que vem pela fé
em Cristo, a saber, a justiça que vem de Deus pela fé;” (Fp 3.9)
Cremos que quando o apóstolo Tiago afirmou
que uma pessoa não é justificada somente por fé mas também por obras, queria referir-se à
necessidade de se viver obedientemente a Deus,
assim como vivera Abraão, pois, sem qualquer
sombra de dúvida esta é a única forma de se evidenciar e se comprovar o fato de ter sido
justificado por meio da fé.
A este respeito também nos falou o apóstolo Pedro no primeiro capítulo de sua segunda
epístola, onde exorta os crentes a crescerem na
prática da justiça, de maneira a confirmarem a sua eleição e a terem amplamente garantida a
sua entrada no reino de Deus (II Pe 1.5-11).
Em textos que se referem à justificação, encontramos os verbos gregos “elogáu” e
“logízomai”, que têm o significado de “atribuir”
e “imputar”.
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Referem-se no sentido original a uma operação de registro contábil.
Isto significa que na contabilidade de Deus a nossa dívida foi cancelada, e em seu lugar
lançado um crédito de vida eterna, graças à obra e pessoa de Jesus Cristo.
“3 Pois, que diz a Escritura? Creu Abraão a Deus, e isso lhe foi imputado como justiça.
4 Ora, ao que trabalha não se lhe conta a recompensa como dádiva, mas sim como dívida;
5 porém ao que não trabalha, mas crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é atribuída
como justiça;
6 assim também Davi declara bem-aventurado o homem a quem Deus atribui a justiça sem as
obras, dizendo:
7 Bem-aventurados aqueles cujas iniquidades são perdoadas, e cujos pecados são cobertos.
8 Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não imputará o pecado.
9 Vem, pois, esta bem-aventurança sobre a circuncisão somente, ou também sobre a
incircuncisão? Porque dizemos: A Abraão foi
imputada a fé como justiça.
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10 Como, pois, lhe foi imputada? Estando na circuncisão, ou na incircuncisão? Não na
circuncisão, mas sim na incircuncisão.
11 E recebeu o sinal da circuncisão, selo da justiça da fé que teve quando ainda não era
circuncidado, para que fosse pai de todos os que
creem, estando eles na incircuncisão, a fim de
que a justiça lhes seja imputada, (Rom 4.3-11)
A justiça de Deus não somente perdoa até mesmo os piores malfeitores, como também
remove a sua culpa, e os transforma em pessoas
justas e santas, pela simples expressão de arrependimento e fé.
O melhor de tudo: é por tal justiça divina que alcançamos a vida eterna. De modo que aqueles
que têm a justiça de Deus, têm também a vida
eterna, porque por ela (justiça) são justificados e tornados justos.
Aqueles que não têm tal justiça divina jamais terão a vida.
Romanos 9.30-32; 10.3-9
Por isso se nos ordena que busquemos não apenas o reino de Deus, mas também a sua
justiça, porque sem esta justiça, não teremos a
vida eterna.
25
Deste modo, o dom da justiça divina em Jesus Cristo é relacionado na Bíblia, à própria
salvação:
Is 46.13; 51.5,6,8; 56.1; Dn 9.24; Mal 4.2
Podemos ver então o quão crucial é que sejamos
justificados por Deus para que sejamos salvos, de modo a alcançar a vida eterna.
Quando se afirma em Habacuque 2.4 que o justo viverá pela sua fé, é importante observar que
está sendo afirmado que somente os justos
terão vida eterna. Então o homem necessita da justiça perfeita de Deus para ter vida, e tal justiça
lhe é concedida por meio da fé, como se afirma
no texto de Hc 2.4.
Quando a palavra “justiça” é usada na Bíblia com
o sentido de “juízo”, ela é vertida do original grego “krisis”.
Mas quando é usada para se referir à salvação, a palavra da qual é vertida no grego é
“dikaiossine”, que é encontrada nos seguintes textos, dentre outros:
Lucas 7.29; João 16.8, 10; Atos 13.10; 24.25; Romanos 1.17; 3.5, 21, 22, 25, 26; 4.3, 5, 6, 9, 11, 13,
22; 6.13, 16, 18, 19, 20; 8.10; 9.31; 10.3-6, 10; 14.17; I
Coríntios 1.30; II Coríntios 3.9; 5.21; 6.7, 14; Gálatas 2.21; 3.6, 21; 5.5; Efésios 4.24. 5.9; 6.14;
Filipenses 1.11; 3.9; I Timóteo 6.11; II Timóteo 2.22;
3.16; 4.8; Hebreus 5.13; 7.2; 11.7, 33; 12.11; Tiago
26
1.20; 2.23; 3.18; I Pedro 2.24; 3.14; II Pedro 1.1; 2.5,
21; 3.13; I João 2.29; 3.7, 10; Apocalipse 15.4; 19.8;
22.11.
Destes textos, veja por exemplo, o que se afirma em Rom 8.10:
”Ora, se Cristo está em vós, o corpo, na verdade, está morto por causa do pecado, mas o espírito
vive por causa da justiça.” (Rom 8.10)
Veja que se fala de uma vida do espírito por causa da justiça.
Em Fp 3.9:
“e seja achado nele, não tendo como minha justiça a que vem da lei, mas a que vem pela fé
em Cristo, a saber, a justiça que vem de Deus
pela fé;” (Fp 3.9)
Em Rom 3.21-26:
“21 Mas agora, sem lei, tem-se manifestado a justiça de Deus, que é atestada pela lei e pelos profetas;
22 isto é, a justiça de Deus pela fé em Jesus Cristo para todos os que creem; pois não há distinção.
23 Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus;
27
24 sendo justificados gratuitamente pela sua graça, mediante a redenção que há em Cristo
Jesus,
25 ao qual Deus propôs como propiciação, pela
fé, no seu sangue, para demonstração da sua justiça por ter ele na sua paciência, deixado de
lado os delitos outrora cometidos;
26 para demonstração da sua justiça neste tempo presente, para que ele seja justo e
também justificador daquele que tem fé em Jesus.” (Rom 3.21-26)
Veja de que forma direta o apóstolo relaciona a justiça com a salvação, com a justificação
instantânea da conversão inicial pela qual foram
esquecidos todos os pecados cometidos antes de se receber tal dom da justiça que é por meio da
fé, prometido por Deus desde os profetas e até
mesmo pela Lei de Moisés.
E em Rom 5.17,18,21:
“17 Porque, se pela ofensa de um só, a morte veio a reinar por esse, muito mais os que recebem a
abundância da graça, e do dom da justiça,
reinarão em vida por um só, Jesus Cristo.
18 Portanto, assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a
graça sobre todos os homens para justificação e
vida...
28
21 para que, assim como o pecado veio a reinar na morte, assim também viesse a reinar a graça
pela justiça para a vida eterna, por Jesus Cristo
nosso Senhor.” (Rom 5.17,18,21)
No verso 17 está escrito: “reinarão em vida os
que recebem do dom da justiça”.
No verso 18 se diz em outras palavras que: “é a justiça que dá vida, e o único ato de justiça pelo qual veio a graça para justificação e vida, foi a
expiação do pecado realizada por Jesus Cristo na
cruz.
No verso 21 se afirma expressamente que a graça reina por causa da justiça, para que
tenhamos vida eterna por meio de nosso Senhor Jesus Cristo.
A justiça verdadeira demanda que sejamos e hajamos em conformidade com o que Deus é, e
segundo a sua vontade.
Então, ser justo significa atender a tal exigência da justiça divina que sejamos sobretudo
conformados à sua santidade.
Assim, não basta ser justo apenas em relação aos homens por cumprir os mandamentos de
não adulterar, matar, mentir, furtar, cobiçar, porque importa ser também justo para com
Deus, por sermos santificados por Ele, para
aquela vida perfeita que teremos no céu.
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Todavia, não se pode ser e fazer tudo isso, sem Cristo, e daí se dizer que Ele se tornou da parte
de Deus para nós a nossa justiça (I Cor 1.30) e que
a finalidade da lei de Deus é o próprio Cristo para a justiça dos crentes.
Como Cristo se torna a justiça do crente?
Primeiro, através da justiça atribuída quando se arrependem e se convertem a Deus tornando-se a partir de então seus filhos, pelo que a bíblia
chama de justificação.
Em segundo lugar através da justiça implantada pela operação do Espírito Santo através da
regeneração e da santificação.
Por que necessitamos da justiça atribuída, além da implantada?
Porque é somente por ela que poderíamos ser perdoados de nossos pecados e culpa, e sermos
reconciliados com Deus.
Por que necessitamos da justiça implantada?
Porque é por meio dela que somos
transformados à imagem de Deus aprendendo a ser misericordiosos, longânimos, perdoadores,
amorosos, justos, bondosos, etc, tal como é o
próprio Deus. E é nesse aumento cada vez maior da nossa semelhança com Jesus que nos
tornamos cada vez mais justos, porque vimos
que a justiça significa ser igual a Deus, e isto é
30
operado em nós pela regeneração e
santificação.
Somente Deus é a origem e a fonte da justiça eterna e verdadeira, sem a qual ninguém pode
viver em comunhão com Ele.
A justiça demanda atos justos.
Por exemplo: o peso e a medida devem corresponder exatamente ao padrão
convencionado, ou seja, um quilo deve ser um
quilo, e não mais ou menos do que isto.
O que é justo não deve enganar ou prejudicar a quem quer que seja.
O que é bom não deve ser considerado ruim, e o que é ruim considerado bom.
O culpado não deve ser inocentado, e nem o inocente ser condenado.
O que age corretamente não deve ser castigado, assim como não se deve poupar o malfeitor do devido castigo.
Por isso Jesus teve que ser castigado no nosso lugar para sermos redimidos, para que a justiça
divina não fosse ofendida.
Deus pode perdoar os nossos pecados porque eles foram totalmente castigados em Jesus.
31
Assim, por sermos pecadores, toda a justiça de Deus para nós é de caráter evangélico, na qual
deve ser sempre lembrada a substituição que foi
feita por Jesus, colocando-se em nosso lugar para receber em sua morte na cruz, a
condenação relativa à nossa culpa, e em razão
do exercício do perdão, amor e misericórdia, para que tais atributos sejam achados em nós tal
como eles se encontram em Deus.
Se o caráter da nossa justiça é evangélico, isto é, baseado na expiação e perdão de Jesus, pela nossa fé no evangelho, então, enquanto neste
mundo, não somos justos para Deus pelo fato de
nunca falharmos ou errarmos, mas pelo fato de
nos arrependermos de nossos pecados.
O arrependimento sincero fará com que achemos o favor e o perdão de Deus para nos
purificar de toda injustiça, como se afirma no
primeiro capítulo de I João, porque o arrependimento verdadeiro consiste numa real
mudança de atitude e de comportamento,
deixando-se o que é mau, e praticando o que é
bom e reto segundo a vontade de Deus, conforme nos é concedido pelo poder da sua
graça.
Assim, a justiça evangélica que os crentes têm em Jesus excede em muito a justiça que há no
mero cumprimento da Lei escrita, porque
atinge também e leva em consideração as
32
nossas atitudes, reações e intenções, ainda que
não venham a se transformar em atos.
A justiça que Deus exige de nós, Ele mesmo nô-la concede, através de Jesus Cristo e do trabalho
do Espírito Santo em nossos corações. E Deus tem grande prazer neste trabalho de nos tornar
cada vez mais justos, pelo aumento da nossa fé
em graus cada vez maiores.
É muito importante sabermos isto para não
incorrermos no mesmo erro dos escribas e fariseus, que condenavam os inocentes, ou seja,
aqueles cujos pecados viriam a ser perdoados
por Deus, tornando-os assim isentos de culpa diante dele, porque os fariseus não sabiam o
modo pelo qual Deus justifica pecadores, a
saber, pela graça, mediante a fé.
Os fariseus desconheciam a verdade que todos os pecadores estão destituídos de qualquer justiça própria diante de Deus que possa
justificá-los.
Assim, a justiça é um dom gratuito de Deus que se recebe e que se vive somente pela fé nele, e
na sua Palavra.
Deste modo, de si mesmos, os homens não têm nenhuma recompensa para receberem da parte
de Deus.
Bem-aventurados são apenas aqueles que são perseguidos não por causa da justiça própria
33
deles, mas por pregarem e viverem a justiça do
reino de Deus, a saber, a justiça evangélica que
se recebe gratuitamente, mediante a fé. Estes e
somente estes serão recompensados por Deus.
A justiça de Deus revela que os propósitos divinos não podem ser frustrados, por causa do
pecado, por isso não é justo que não se perdoe um pecador que tenha se arrependido.
Não somos nós que possuímos a justiça. É ela
quem nos possui e somos seus servos (Rm 6.18; II Cor 3.9).
Assim, somos convocados a julgar segundo a
reta justiça que se baseia não nos nossos padrões de certo e de errado, mas nos padrões
de Deus revelados na sua Palavra.
A justiça é necessária para que tenhamos vida eterna e a manifestação de tal vida no nosso dia
a dia, como se vê em textos como: Dt 16.20; Jer
23.6; 33.15; Dn 9.24; Mt 5.6; Rom 1.17; 5.17,18; 6.16;
8.10 e Gál 3.21.
Concluímos então, que se ser justo é ser santo, assim como Deus é santo, ou seja, sermos como
Deus é, então é pela justificação que se tem acesso à santidade de Deus, e pela santificação,
que se obtém maiores graus da justiça de Deus,
e por conseguinte, da manifestação da sua vida em nós, porque é pela sua justiça eterna
implantada em nós pela santificação, que
podemos ter maiores graus da vida eterna. Por
34
isso a Bíblia trata a santificação como sendo um
assunto de vida, e a falta de tal santificação como
um assunto de morte.
Portanto, quanto mais justos formos, mais
teremos da vida de Cristo em nós.
Não justos pela nossa justiça própria, mas justos pelo crescimento na justiça que é pela graça,
mediante a fé, e que não é deste mundo, mas
que nos vem do céu, especialmente pelo
exercício da vigilância, da oração, da santificação.
Bem-aventurados são aqueles que têm fome e sede de tal justiça divina, porque serão fartos da
vida eterna de Deus.
Erram aqueles que dizem que Deus não é
somente amor, mas também justo e justiça, para afirmarem que Ele castigará o pecado, porque
quando é justo e justiça Deus não age com juízos,
como Juiz, sobre os pecadores, ao contrário, Ele lhes redime e lhes dá a vida eterna por meio da
justiça de nosso Senhor Jesus Cristo.
Quando Adão pecou a justiça do homem foi perdida para sempre, de modo que necessita da
justiça de um outro, para que possa ter vida, a saber, a de Cristo, que jamais se perde ou acaba,
porque é justiça eterna e perfeita.
Vimos que é a justiça que dá vida, de modo que não se pode viver sem ser justo. O ímpio
35
perecerá eternamente, mas o justo, por causa da
fé, viverá eternamente. (Rom 3.21-31)
Se a justificação foi imputada, atribuída, quando cremos, então de fato ela foi recebida
simplesmente pela graça mediante a fé.
Não dependeu de qualquer ato ou esforço da nossa parte, além do arrependimento e da fé.
Daí Paulo afirmar que não a recebemos como salário em razão do nosso trabalho ou alguma
boa obra que tenhamos realizado para Deus
(Rom 4.5,6).
Muito da doutrina da chamada “graça” barata ou irresponsável decorre da incorreta interpretação de textos como os que acabamos
de ler, que discorrem sobre justificação e não
sobre santificação.
“Está vendo irmão! Não precisamos de boas obras, não precisamos nos esforçar para
agradar a Deus! É tudo pela fé! É tudo pela graça!
Nada de mandamento! Chega de lei! Sou livre para viver e fazer o que bem entender!”. Diria
alguém.
De fato foi para a liberdade que Cristo nos libertou. Somos de fato livres. Mas que
liberdade é esta? Para pecar?
Não é antes de tudo, liberdade para vivermos segundo o propósito de Deus?
36
De fato é tudo pela graça e pela fé. Mas isto exclui a nossa diligência, perseverança, esforço,
boas obras?
Não estamos de fato debaixo da lei, no sentido de não estarmos debaixo da Antiga Aliança, e não
mais sob a maldição da Lei que considera
malditos e sujeitos à ira de Deus todo aquele que não permanece perfeitamente na prática de
todos os seus mandamentos, mas disto estão
excluídos os crentes por causa de Jesus Cristo, sem que no entanto não estejam sem lei para
Deus, pois estão debaixo da lei de Cristo (I Cor
9.21).
É preciso discernir quais textos bíblicos falam de justificação e quais se referem ao processo da
santificação, pois a justificação não é um
processo mas uma condição a que acessamos quando nos convertemos a Cristo e o recebemos
como nosso Salvador. E esta condição, como
vimos antes, é a de termos sido enxertados em
sua própria vida.
Por exemplo, o texto abaixo, na mesma epístola aos Romanos, fala de santificação e não de
justificação:
“18 e libertos do pecado, fostes feitos servos da justiça.
19 Falo como homem, por causa da fraqueza da vossa carne. Pois assim como apresentastes os
vossos membros como servos da impureza e da
37
iniquidade para iniquidade, assim apresentai
agora os vossos membros como servos da
justiça para santificação.” (Rom 6.18,19)
A liberdade do crente é sobretudo da escravidão do pecado. Note que Paulo diz que ele foi libertado de um cativeiro para ser escravo de
um outro, a saber, da justiça.
O crente foi libertado do pecado para ser servo de Jesus.
Esta é a verdadeira liberdade do homem: poder viver para o propósito para o qual fora criado, a
saber, ser do Senhor.
No Senhor Jesus estamos justificados.
Por isso somos exortados a permanecer nele para que Ele permaneça em nós. Não importa
qual seja a nossa estatura espiritual. Quanto ainda deveremos crescer na graça e no
conhecimento dele.
Já estamos, enquanto nele, perfeitamente justificados, desde o dia da nossa conversão.
Ainda que imperfeitos, mas prosseguindo para o alvo da soberana vocação, cooperando com a
obra do Espírito Santo, na nossa transformação pessoal, já não estamos mais debaixo da
condenação da lei ou da acusação do diabo
porquanto fomos justificados.
38
Assim, o efeito da justificação será além desta justiça de Cristo que nos é atribuída pela fé, a
capacitação recebida a partir da mesma de
crescer na prática da justiça evangélica, no que poderíamos chamar de justiça divina não
imputada, mas implantada progressivamente
em nossa vida, pela auto-negação do ego, da mortificação do pecado, do carregar diário da
cruz, e o seguir a Jesus pela prática das boas
obras.
“1 Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus.” (Rom 8.1)
“33 Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica;
34 Quem os condenará? Cristo Jesus é quem morreu, ou antes quem ressurgiu dentre os
mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós;” (Rom 8.33,34)
Em Jesus estamos perfeitamente perdoados. O
seu sangue foi derramado na cruz para fazer propiciação pelos nossos pecados do passado, e
dos que eventualmente praticarmos no
presente e no futuro.
Todavia, se temos o perdão pleno total dos pecados praticados antes da conversão, ou seja,
antes de sermos justificados, no entanto, depois de convertidos necessitamos de confissão e
também arrependimento para o perdão dos
nossos pecados presentes, sem que isto
39
implique o risco de perda de salvação de
genuínos crentes, por causa de uma possível
falha ou negligência deste dever, e tal garantia é
obtida por causa do caráter eterno da justificação, conforme veremos afirmado em
vários textos bíblicos, inclusive no Velho
Testamento, especialmente no profeta Isaías.
Isto foi prometido por Deus desde os dias do Antigo Testamento, através do ministério dos
profetas.
“31 Eis que os dias vêm, diz o Senhor, em que farei um pacto novo com a casa de Israel e com
a casa de Judá,
32 não conforme o pacto que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da
terra do Egito, esse meu pacto que eles
invalidaram, apesar de eu os haver desposado, diz o Senhor.
33 Mas este é o pacto que farei com a casa de
Israel depois daqueles dias, diz o Senhor: Porei a minha lei no seu interior, e a escreverei no seu
coração; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu
povo.
34 E não ensinarão mais cada um a seu próximo, nem cada um a seu irmão, dizendo: Conhecei ao
Senhor; porque todos me conhecerão, desde o menor deles até o maior, diz o Senhor; pois lhes
perdoarei a sua iniquidade, e não me lembrarei
mais dos seus pecados.”(Jer 31.31-34)
40
Somente o crente está morto em Cristo para o pecado e, portanto, para a condenação da lei. Daí
dizer-se também que não está sob a lei e sim sob
a graça.
“4 Ora, ao que trabalha não se lhe conta a recompensa como dádiva, mas sim como dívida;
5 porém ao que não trabalha, mas crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é contada como justiça;” (Rom 4.4,5)
“14 Pois o pecado não terá domínio sobre vós, porquanto não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça.
15 Pois quê? Havemos de pecar porque não estamos debaixo da lei, mas debaixo da graça?
De modo nenhum.” (Rom 6.14,15)
“4 Assim também vós, meus irmãos, fostes mortos quanto à lei mediante o corpo de Cristo,
para pertencerdes a outro, àquele que ressurgiu
dentre os mortos a fim de que demos fruto para
Deus.
5 Pois, quando estávamos na carne, as paixões dos pecados, suscitadas pela lei, operavam em nossos membros para darem fruto para a morte.
6 Mas agora fomos libertos da lei, havendo morrido para aquilo em que estávamos retidos,
para servirmos em novidade de espírito, e não
na velhice da letra.” (Rom 7.4,6)
41
“19 Pois eu pela lei morri para a lei, a fim de viver para Deus.” (Gál 2.19)
“13 Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós; porque está
escrito: Maldito todo aquele que for pendurado
no madeiro;” (Gál 3.13)
No capítulo sexto de Romanos, Paulo discorre sobre a expiação, justificação e santificação.
Como afirmou em I Cor 1.30 que Cristo mesmo é a nossa justificação e santificação, esforçou-se
por explicar qual é a obra da graça e concluiu que é completamente errada a ideia de que viver
na graça significa que a graça é tão abundante
que podemos pecar sem qualquer preocupação,
já que Cristo morreu por nós, e por ser segura a nossa salvação, pois Deus fez a promessa de
perdoar e esquecer os nossos pecados e
iniquidades.
“1 Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que abunde a graça?
2 De modo nenhum. Nós, que já morremos para o pecado, como viveremos ainda nele?
3 Ou, porventura, ignorais que todos quantos fomos batizados em Cristo Jesus fomos
batizados na sua morte?
4 Fomos, pois, sepultados com ele pelo batismo na morte, para que, como Cristo foi ressuscitado
42
dentre os mortos pela glória do Pai, assim
andemos nós também em novidade de vida.
5 Porque, se temos sido unidos a ele na semelhança da sua morte, certamente também o seremos na semelhança da sua ressurreição;
6 sabendo isto, que o nosso homem velho foi crucificado com ele, para que o corpo do pecado
fosse desfeito, a fim de não servirmos mais ao pecado.
7 Pois quem está morto está justificado do pecado.
8 Ora, se já morremos com Cristo, cremos que
também com ele viveremos,” (Rom 6.1-8)
“Assim também vós considerai-vos como mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em
Cristo Jesus.
12 Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, para obedecerdes às suas
concupiscências;
13 nem tampouco apresenteis os vossos membros ao pecado como instrumentos de iniquidade; mas apresentai-vos a Deus, como
redivivos dentre os mortos, e os vossos
membros a Deus, como instrumentos de justiça.
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14 Pois o pecado não terá domínio sobre vós, porquanto não estais debaixo da lei, mas
debaixo da graça.
15 Pois quê? Havemos de pecar porque não estamos debaixo da lei, mas debaixo da graça? De modo nenhum.
16 Não sabeis que daquele a quem vos apresentais como servos para lhe obedecer, sois
servos desse mesmo a quem obedeceis, seja do
pecado para a morte, ou da obediência para a justiça? (Rom 6.11-16)
O pecado não tem domínio sobre nós quando vivemos essa verdade. Quando nos oferecemos
ao Senhor para viver na prática da justiça.
Nenhum crente deveria permanecer sob o domínio do pecado, pois já morreu para o pecado, na sua identificação com a morte de
Cristo.
Como deixaremos o governo da nossa vida à mercê de um senhor que já foi destronado?
Em Jesus mudamos de senhorio.
Temos agora um novo Senhor, e é a Ele que devemos servir.
Não ao pecado.
44
A lei já não pode mais nos condenar enquanto permanecermos ligados pela fé ao Senhor, pois,
nele, também estamos mortos para a lei.
A vida de Jesus em nós, pela nossa comunhão real com Ele, é a nossa vitória sobre o pecado.
Podemos e devemos andar nessa nova vida, isto é, em novidade de vida.
Não devemos ficar caindo e levantando.
Há poder suficiente na graça, para manter-nos de pé na presença do Senhor.
Por isso o pecado já não tem domínio sobre nós.
Nunca devemos esquecer que fomos uma vez justificados para sermos santificados, isto é,
para podermos viver de modo digno e agradável
a Deus.
Mas, uma vez reconciliados com Deus, por meio da justificação, necessitamos dar ouvidos à
Palavra do Senhor, porque é por meio dela que Ele nos santifica (Jo 17.17).
A sua Palavra é a verdade.
É por meio da prática da Palavra que somos santificados, a ponto e a santificação se tornar
para nós um hábito rotineiro de vida.
45
No entanto, é bom não esquecer nunca que é Deus mesmo quem aplica a sua Palavra ao nosso
coração, pela ação do Espírito, conforme
prometeu relativamente à Nova Aliança que faria através de Jesus Cristo, como vimos em Jer
31.33.
É importante destacar que o texto de Jer 31.33 se refere à impressão e inscrição de leis na mente
e no coração, na Nova Aliança.
Incorrem em erro os antinomistas, ao afirmarem que o crente está dispensado do cumprimento de qualquer lei.
Alguns, afirmam que a referência à lei está dirigida ao próprio Espírito Santo. Esta é uma
interpretação adotada por muitos, mas devemos
considerar que Jesus falou claramente que
deveríamos guardar os seus mandamentos, e não é razoável entendermos que estaria
ordenando que guardássemos o Espírito Santo.
É Ele quem nos guarda. Não possuímos a
verdade, é ela que nos possui.
Paulo afirma em Efésios que a Palavra de Deus é
a espada do Espírito.
Isto nos ajuda muito a interpretar a citada promessa, pois é de fato o Espírito Santo que
imprime a Palavra de Deus em nossas mentes e
corações.
46
Assim, não é o Espírito que é a lei, mas quem nos habilita a viver segundo o que é exigido pela lei
de Deus.
Ainda que a santificação exija a nossa contínua apresentação ao Senhor, pela oração, para que Ele nos santifique, pela ação do Espírito Santo,
mediante nossa meditação na Palavra, nunca
devemos esquecer a verdade contida em I Cor
1.30, onde se declara que Jesus mesmo é a nossa sabedoria, redenção, justificação e santificação.
É nele que estamos santificados.
É o próprio Cristo quem nos purifica, isto é, que nos dá um coração puro, e que nos separa do
pecado que há no mundo, para que sejamos
úteis nas mãos de Deus na obra de salvação dos pecadores (estamos no mundo mas não somos
do mundo).
Quando a sua vida se manifesta em nós, sabemos em nosso espírito que fomos tomados
da plenitude da sua santidade.
É Aquele que é Santo que nos torna santos.
“16 Eles não são do mundo, assim como eu não sou do mundo.
17 Santifica-os na verdade, a tua palavra é a verdade.” (Jo 17.16,17)
Veja que é Deus quem nos santifica pela Palavra.
47
“7 Portanto santificai-vos, e sede santos, pois eu sou o Senhor vosso Deus.
8 Guardai os meus estatutos, e cumpri-os. Eu sou o Senhor, que vos santifico.” (Lev 20.7,8)
Não podemos portanto, atribuir ao nosso próprio esforço, o resultado e o mérito da santificação.
Não teremos qualquer santidade de vida caso não preservemos a nossa comunhão com o
Senhor.
É Ele quem nos santifica.
Todavia somos chamados a tomar posse do Reino Deus, mediante esforço.
Não lutando com armas carnais para vencer o pecado, o mundo e o diabo, mas permanecendo na santificação do Espírito pela prática da
Palavra e da comunhão com Cristo, e com os
santos.
Se é pela santificação que experimentamos e participamos da vida de Deus, então ela é absolutamente essencial à salvação.
“22 Mas agora, libertos do pecado, e feitos servos de Deus, tendes o vosso fruto para
santificação, e por fim a vida eterna” (Rom 6.22)
48
“3 Porque esta é a vontade de Deus, a saber, a vossa santificação: que vos abstenhais da
prostituição,
4 que cada um de vós saiba possuir o seu corpo em santidade e honra,”(I Tes 4.3,4)
“14 Segui a paz com todos, e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor,
15 tendo cuidado de que ninguém se prive da
graça de Deus, e de que nenhuma raiz de amargura, brotando, vos perturbe, e por ela
muitos se contaminem;
16 e ninguém seja devasso, ou profano como Esaú, que por uma simples refeição vendeu o
seu direito de primogenitura.”(Hb 12.14-16)
“11 Quem é injusto, faça injustiça ainda: e quem está sujo, suje-se ainda; e quem é justo, faça justiça ainda; e quem é santo, santifique-se
ainda.” (Apo 22.11)
Temos aprendido que Jesus mesmo se tornou da parte de Deus para nós a nossa sabedoria,
redenção, justiça e santificação.
Ele disse que aquele que se alimentar dele mesmo, por Ele viverá. Que o seu sangue é verdadeira bebida e que a sua carne é
verdadeira comida. Isto é uma referência à sua
própria vida.
49
O Antigo Testamento afirma que a vida da carne é o sangue (Lev 17.11,14). Isto era uma referência
que apontava que a nossa vida depende da vida
do Senhor..
Ora, a Nova Aliança foi feita no sangue de Jesus. Isto quer significar: na sua própria vida.
É por meio da vida dele que temos vida.
“56 Quem come a minha carne e bebe o meu
sangue permanece em mim e eu nele.
57 Assim como o Pai, que vive, me enviou, e eu vivo pelo Pai, assim, quem de mim se alimenta,
também viverá por mim.” (Jo 6.56,57).
“5 Eu sou a videira; vós sois as varas. Quem permanece em mim e eu nele, esse dá muito
fruto; porque sem mim nada podeis fazer.” (Jo
15.5)
Na ilustração da videira verdadeira o Senhor está se referindo à vida e à frutificação. E afirma
que sem Ele nada podemos fazer a esse respeito.
Então, o que o crente necessita para viver na verdadeira vitória (Rom 8.37), é viver em Cristo.
Alimentar-se de Jesus, da sua própria vida.
Ele é o pão vivo que desceu do céu e que nos faz viver a qualidade da vida abundante, da vida
espiritual, celestial e eterna.
50
“47 Em verdade, em verdade vos digo: Aquele que crê tem a vida eterna.
48 Eu sou o pão da vida.
49 Vossos pais comeram o maná no deserto e morreram.
50 Este é o pão que desce do céu, para que o que dele comer não morra.
51 Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém comer deste pão, viverá para sempre; e o pão que eu darei pela vida do mundo é a minha
carne.
52 Disputavam, pois, os judeus entre si, dizendo: Como pode este dar-nos a sua carne a comer?
53 Disse-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: Se não comerdes a carne do Filho do
homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis
vida em vós mesmos.
54 Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e eu o ressuscitarei no
último dia.
55 Porque a minha carne verdadeiramente é comida, e o meu sangue verdadeiramente é bebida.
56 Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele.
51
57 Assim como o Pai, que vive, me enviou, e eu vivo pelo Pai, assim, quem de mim se alimenta,
também viverá por mim.
58 Este é o pão que desceu do céu; não é como o caso de vossos pais, que comeram o maná e
morreram; quem comer este pão viverá para sempre.” (Jo 6.47-58)
52
O Que é a Antiga Aliança
A Antiga Aliança ou Antigo Testamento
recebe também as seguintes designações na
Bíblia: Primeira Aliança (Hb 8.7); Lei de Moisés (I Cor 9.9); Lei do Senhor (II Cr 31.3,4): Lei de
Deus (Ed 7.21); Lei (Rom 3.19); Aliança da Letra (II
Cor 3.6); Ministério da Morte (II Cor 3.7), e
Ministério da Condenação (II Cor 3.9).
Foi celebrada por Deus com a nação de Israel quando esta foi libertada do cativeiro egípcio (cerca de 1440 aC).
A Antiga Aliança abrangia todos os israelitas em todas as gerações de Israel, de Moisés até a
morte de Jesus, e por isso, possuía também um
caráter essencialmente coletivo quanto às
aplicações das suas promessas de bênçãos (Lev 26.3-13; Dt 7.12-26; 11.8-32; 28.1-14), e de
maldições (Lev 26.14-42; Dt 11.26-28; 27.26; 28.15-
68).
Apesar do caráter essencialmente coletivo daquela aliança, a mesma não excluía a
responsabilidade individual de cada israelita perante Deus (Dt 24.16; Ez 18.20).
Mas, à responsabilidade pessoal, sobrepunha-se a coletiva, com vistas principalmente, à
manutenção da unidade de Israel como nação
separada para o serviço de Deus, e para
53
preservá-la da idolatria e costumes pagãos das
demais nações.
Daí o mandamento que proibia o casamento de israelitas com gentios.
Não porque os demais povos fossem
desprezados por Deus, conforme os israelitas passaram a interpretar o mandamento, mas
simplesmente para preservar Israel dos
costumes das nações até que Jesus viesse e
inaugurasse a Nova Aliança.
Ao dar a lei a Israel através da mediação de Moisés, firmando com a nação a chamada
Antiga Aliança ou Testamento, Deus não tinha
em vista forjar o legalismo no seu povo, mas
forjar a justiça, o amor e a santidade, através da obediência à sua santa vontade, expressada nos
diversos mandamentos da lei.
A palavra LEI, recebe no texto da Bíblia, diferentes conotações. Por vezes, é usada com o significado do Pacto ajustado por Deus com os
israelitas a partir de Moisés, ou seja, a Aliança
Antiga propriamente dita.
Em outras passagens, refere-se aos cinco primeiros livros da Bíblia, ou Pentateuco, também conhecidos como livros da lei de
Moisés.
Quando aparece a expressão a Lei e os Profetas, normalmente é uma referência ao conjunto das
54
Escrituras do Velho Testamento (At 13.15), ou ao
Pacto Antigo propriamente dito (Lc 16.16).
E, finalmente, em outras porções bíblicas, a palavra Lei, designa o conjunto de
regulamentos e mandamentos civis, cerimoniais e morais, constantes sobretudo do
Pentateuco.
Por exemplo, quando Jesus disse que não veio revogar a lei e os profetas (Mt 5.17), estava se
referindo às Escrituras do Velho Testamento; e
quando afirmou que a lei e os profetas haviam vigorado até João Batista (Mt 11.13; Lc 16.16), ao
Pacto, à Aliança Antiga, que estava sendo
substituída pela Nova.
55
O Que é a Nova Aliança
Ao instituir a Nova Aliança no seu sangue,
Jesus revogou a Antiga Aliança e marcou o
encerramento do período da dispensação da lei,
mas não revogou, isto é, não cancelou, as
Escrituras do Velho Testamento (Mt 5.17).
Essa questão não pode ser compreendida à luz de um enfoque legalista, pois nos remeteria
consequentemente a considerar que a Antiga Aliança ainda estaria em vigor por não terem
sido revogadas as Escrituras que lhe são
correspondentes.
Entretanto, o Velho Testamento, incluindo os preceitos relativos à Aliança, é um testemunho
da vontade de Deus e da própria revelação referente a Jesus Cristo.
Se as Escrituras dão testemunho do Senhor, como Ele as revogaria?
Se o fizesse estaria negando a Si mesmo e à obra que recebeu do Pai para realizar.
Abraão, Moisés e os profetas, falaram de Jesus. Os utensílios e ofícios do tabernáculo e do
templo ensinam-nos acerca dele, em figura.
56
A forma como o pecado entrou no mundo e a provisão que Deus fez para salvar o pecador ali
também estão revelados.
A própria remoção do pacto antigo está revelada
nas Escrituras do Velho Testamento, atestando que de fato o problema do pecado só poderia ser
resolvido pela inauguração da Nova Aliança (Jer
31.31-34).
Vemos assim, a confirmação da validade das
Escrituras porque por elas se testifica que o Pacto Antigo foi substituído pelo Novo, e que
Jesus é o seu Mediador, conforme nelas
também se testifica (Is 42.6,7; 49.8,9).
A Nova Aliança não foi um plano emergencial
concebido por Deus, por terem os israelitas violado a Antiga Aliança.
Em absoluto. Ela já estava no seu coração desde antes da criação do mundo. E fora prometida a
Abraão antes mesmo da celebração da Antiga (Gên 17.1-5), tendo sido a promessa
posteriormente confirmada pelo ministério dos
profetas.
“6 Eu o Senhor te chamei em justiça; tomei-te pela mão, e te guardei; e te dei por mediador da aliança com o povo, e luz para os gentios;
7 para abrir os olhos dos cegos, para tirar da prisão os presos, e do cárcere os que jazem em
trevas.” (Is 42.6,7)
57
“6 Sim, diz ele: Pouco é que sejas o meu servo, para restaurares as tribos de Jacó, e tornares a
trazer os preservados de Israel; também te porei
para luz das nações, para seres a minha salvação até a extremidade da terra.
7 Assim diz o Senhor, o Redentor de Israel, e o seu Santo, ao que é desprezado dos homens, ao que é aborrecido das nações, ao servo dos
tiranos: Os reis o verão e se levantarão, como
também os príncipes, e eles te adorarão, por
amor do Senhor, que é fiel, e do Santo de Israel, que te escolheu.
8 Assim diz o Senhor: No tempo aceitável te ouvi, e no dia da salvação te ajudei; e te
guardarei, e te darei por pacto do povo, para restaurares a terra, e lhe dares em herança as
herdades assoladas;
9 para dizeres aos presos: Saí; e aos que estão em trevas: Aparecei; eles pastarão nos caminhos, e
em todos os altos desnudados haverá o seu
pasto.”(Is 49.6-9)
Paulo compreendeu melhor e mais rapidamente do que qualquer outro o caráter da
Nova Aliança, que estava sendo oferecida a
todos os gentios, e que os desobrigava do cumprimento minucioso das condições de
culto, ritos e todos os mandamentos civis e
cerimoniais da Lei de Moisés.
58
Um gentio não precisaria viver como um judeu, como no caso da Antiga Aliança, para que
pudesse ser aceito como integrante do povo de
Deus.
Jesus e nenhum dos apóstolos ensinaram contra a lei, pois fora outorgada pelo próprio Deus a
Moisés para vigorar como termos da Antiga Aliança, que firmara com a nação de Israel, e
para servir também de testemunho a todo o
mundo gentílico, acerca do seu caráter e da sua vontade.
Desta forma, nem Paulo ou qualquer outro dos apóstolos ensinou contra a lei.
Eles sabiam que a justiça que é pela fé, e operante segundo a graça, passou a se
manifestar com o advento de Jesus. Mas
também sabiam que Deus havia salvado e justificado pela graça, mediante a fé, a muitos
nos dias do Antigo Testamento.
Não foi este o caso de Abraão? A ponto de ser designado como pai dos que creem.
Mas, a Antiga Aliança foi revogada, e suas
ordenanças civis e cerimoniais já não são obrigatórias aos israelitas, com quem foi
celebrada, e muito menos aos gentios, quanto
ao seu cumprimento, bem como não é aplicável, à igreja, de forma específica, o seu
sistema de bênçãos e maldições, ritos etc, desde
a inauguração da Nova Aliança, que a revogou.
59
“Pois todos os profetas e a lei profetizaram até João.” (Mt 11.13)
“A lei e os profetas vigoraram até João; desde então é anunciado o evangelho do reino de
Deus, e todo homem se esforça por entrar nele.”
(Lc 16.16)
“e rasgou-se ao meio o véu do santuário.” (Lc 23.45)
“9 Porque, se o ministério da condenação tinha glória, muito mais excede em glória o ministério
da justiça.
10 Pois na verdade, o que foi feito glorioso, não o é em comparação com a glória inexcedível.
11 Porque, se aquilo que se desvanecia era glorioso, muito mais glorioso é o que permanece.” (II Cor 3.9-11)
“13 Mas agora, em Cristo Jesus, vós, que antes
estáveis longe, já pelo sangue de Cristo chegastes perto.
14 Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos os povos fez um; e, derrubando a parede de
separação que estava no meio, na sua carne
desfez a inimizade,
15 isto é, a lei dos mandamentos contidos em ordenanças, para criar, em si mesmo, dos dois
60
um novo homem, assim fazendo a paz”, Ef 2.13-
15)
“18 Pois, com efeito, o mandamento anterior é ab-rogado por causa da sua fraqueza e
inutilidade
19 (pois a lei nenhuma coisa aperfeiçoou), e desta sorte é introduzida uma melhor esperança, pela qual nos aproximamos de
Deus.” (Hb 7.18,19)
“6 Mas agora alcançou ele ministério tanto mais excelente, quanto é mediador de um melhor
pacto, o qual está firmado sobre melhores
promessas.
7 Pois, se aquele primeiro fora sem defeito, nunca se teria buscado lugar para o segundo.
8 Porque repreendendo-os, diz: Eis que virão dias, diz o Senhor, em que estabelecerei com a
casa de Israel e com a casa de Judá um novo
pacto.” (Hb 8.6-8)
“Dizendo: Novo pacto, ele tornou antiquado o primeiro. E o que se torna antiquado e
envelhece, perto está de desaparecer.” (Hb 8.13)
“8 Tendo dito acima: Sacrifício e ofertas e holocaustos e oblações pelo pecado não
quiseste, nem neles te deleitaste (os quais se
oferecem segundo a lei);
61
9 agora disse: Eis-me aqui para fazer a tua vontade. Ele tira o primeiro, para estabelecer o
segundo.” (Hb 10.8,9)
Nova Aliança é designada na Bíblia como sendo As Fiéis Misericórdias Prometidas a Davi, como
se lê em Is 55.3 e Atos 13.34.
“E, que Deus o ressuscitou dentre os mortos para que jamais voltasse à corrupção, desta maneira o disse: E cumprirei a vosso favor as
santas e fiéis promessas feitas a Davi.” (Atos
13.34)
“Inclinai os ouvidos e vinde a mim; ouvi, e a vossa alma viverá; porque convosco farei uma
aliança perpétua, que consiste nas fiéis misericórdias prometidas a Davi.” (Is 55.3)
É dito no texto de Isaías (VT) que seria feita uma aliança eterna, que estaria baseada nas
misericórdias fiéis que Deus havia prometido a
Davi.
Trata-se de uma aliança de misericórdias, e misericórdias que não falharão, porque não
foram prometidas pelo homem, mas prometidas por Deus a Davi.
Esta aliança eterna, que é a Nova Aliança, que vigoraria na dispensação da graça em que temos
vivido, foi prometida em várias passagens do
Velho Testamento.
62
Davi veio a se referir a ela tanto na hora da sua morte, conforme relato de II Samuel 7.12-17,
quanto no Salmo 89, nos quais afirma a
segurança e estabilidade desta aliança prometida, bem como o seu caráter de
livramento da condenação eterna para os
aliançados, ainda que estes viessem a transgredir eventualmente os mandamentos de
Deus, porque o Senhor afirmou que corrigiria os
aliançados, mas que não deixaria jamais de estar
aliançado com eles.
O fiador, o mediador, seria o Renovo justo que brotaria do tronco de Jessé, a saber, o Senhor
Jesus, quem é Aquele que garante a eternidade da aliança.
Vejamos então, alguns textos da Bíblia que se referem à citada aliança de misericórdias, e de misericórdias fiéis que durarão para sempre, e
pelas quais nossos pecados e transgressões são
perdoados e esquecidos por Deus para sempre:
“12 Quando teus dias se cumprirem e descansares com teus pais, então, farei levantar
depois de ti o teu descendente, que procederá
de ti, e estabelecerei o seu reino.
13 Este edificará uma casa ao meu nome, e eu estabelecerei para sempre o trono do seu reino.
14 Eu lhe serei por pai, e ele me será por filho; se vier a transgredir, castigá-lo-ei com varas de
homens e com açoites de filhos de homens.
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15 Mas a minha misericórdia se não apartará dele, como a retirei de Saul, a quem tirei de
diante de ti.
16 Porém a tua casa e o teu reino serão firmados para sempre diante de ti; teu trono será
estabelecido para sempre.
17 Segundo todas estas palavras e conforme toda esta visão, assim falou Natã a Davi.” (II Samuel 7.12-17)
Esta passagem das Escrituras registra quando a promessa foi feita por Deus a Davi através do
profeta Natã.
“20 Encontrei Davi, meu servo; com o meu santo óleo o ungi.
21 A minha mão será firme com ele, o meu braço o fortalecerá.
22 O inimigo jamais o surpreenderá, nem o há de afligir o filho da perversidade.
23 Esmagarei diante dele os seus adversários e ferirei os que o odeiam.
24 A minha fidelidade e a minha bondade o hão de acompanhar, e em meu nome crescerá o seu poder.
25 Porei a sua mão sobre o mar e a sua direita, sobre os rios.
64
26 Ele me invocará, dizendo: Tu és meu pai, meu Deus e a rocha da minha salvação.
27 Fá-lo-ei, por isso, meu primogênito, o mais elevado entre os reis da terra.
28 Conservar-lhe-ei para sempre a minha graça e, firme com ele, a minha aliança.
29 Farei durar para sempre a sua descendência; e, o seu trono, como os dias do céu.
30 Se os seus filhos desprezarem a minha lei e não andarem nos meus juízos,
31 se violarem os meus preceitos e não
guardarem os meus mandamentos,
32 então, punirei com vara as suas transgressões e com açoites, a sua iniquidade.
33 Mas jamais retirarei dele a minha bondade, nem desmentirei a minha fidelidade.
34 Não violarei a minha aliança, nem modificarei o que os meus lábios proferiram.
35 Uma vez jurei por minha santidade (e serei eu falso a Davi?):
36 A sua posteridade durará para sempre, e o seu trono, como o sol perante mim.
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37 Ele será estabelecido para sempre como a lua e fiel como a testemunha no espaço.” (Salmo
89.20- 37)
Nesta passagem do Salmo 89, Deus fala profeticamente acerca da aliança que faria com os crentes através de Jesus Cristo.
Note a promessa que é feita especialmente nos versos 28 a 35.
“1 São estas as últimas palavras de Davi: Palavra de Davi, filho de Jessé, palavra do homem que foi
exaltado, do ungido do Deus de Jacó, do mavioso
salmista de Israel.
2 O Espírito do SENHOR fala por meu intermédio, e a sua palavra está na minha língua.
3 Disse o Deus de Israel, a Rocha de Israel a mim me falou: Aquele que domina com justiça sobre
os homens, que domina no temor de Deus,
4 é como a luz da manhã, quando sai o sol, como manhã sem nuvens, cujo esplendor, depois da
chuva, faz brotar da terra a erva.
5 Não está assim com Deus a minha casa? Pois estabeleceu comigo uma aliança eterna, em tudo bem definida e segura. Não me fará ele
prosperar toda a minha salvação e toda a minha
esperança?” (II Samuel 23.1-5)
66
Estas foram as últimas palavras proferidas por Davi, antes de morrer, e ele foi levado pelo
Espírito a falar do caráter da Nova Aliança, que
seria feita com Jesus Cristo, que descenderia segundo a carne, da sua casa, da qual se diz no
verso 5 que é eterna, e em tudo bem definida e
segura, ou seja, ela foi planejada meticulosamente por Deus para dar a
segurança da eternidade aos aliançados, a
saber, aos crentes que perseveram em Jesus
Cristo.
“32 E nós vos anunciamos o evangelho da promessa, feita aos pais,
33 a qual Deus nos tem cumprido, a nós, filhos
deles, levantando a Jesus, como também está escrito no salmo segundo: Tu és meu Filho, hoje
te gerei.
34 E, que Deus o ressuscitou dentre os mortos para que jamais voltasse à corrupção, desta
maneira o disse: E cumprirei a vosso favor as
santas e fiéis promessas feitas a Davi.” (Atos
13.34)
Este é um dos testemunhos confirmatórios do Novo Testamento de que as promessas feitas a
Davi, se referiam à aliança que é feita entre Jesus Cristo e os eleitos, e Paulo afirma
expressamente no verso 32, que tal promessa foi
a promessa do evangelho que Deus fizera aos
67
patriarcas de Israel, e neste caso,
especificamente a Davi.
Há muitas outras referências na Bíblia a esta aliança, e também especialmente ao modo
como Deus a prometeu através de Davi, dAquele
que viria a descender dele no futuro, e com o
qual o trono de Davi é estabelecido eternamente com todos aqueles que também viverão
eternamente, por estarem aliançados ao Rei
Justo que reinará com justiça pelos séculos dos
séculos.
Veja por exemplo, para finalizar, a repetição da promessa através do profeta Jeremias, cerca de
quatrocentos anos depois de Davi.
“14 Eis que vêm dias, diz o SENHOR, em que cumprirei a boa palavra que proferi à casa de
Israel e à casa de Judá.
15 Naqueles dias e naquele tempo, farei brotar a Davi um Renovo de justiça; ele executará juízo e
justiça na terra.
16 Naqueles dias, Judá será salvo e Jerusalém habitará seguramente; ela será chamada
SENHOR, Justiça Nossa.
17 Porque assim diz o SENHOR: Nunca faltará a Davi homem que se assente no trono da casa de
Israel;
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18 nem aos sacerdotes levitas faltará homem diante de mim, para que ofereça holocausto,
queime oferta de manjares e faça sacrifício
todos os dias.
19 Veio a palavra do SENHOR a Jeremias,
dizendo:
20 Assim diz o SENHOR: Se puderdes invalidar a minha aliança com o dia e a minha aliança com a noite, de tal modo que não haja nem dia nem
noite a seu tempo,
21 poder-se-á também invalidar a minha aliança com Davi, meu servo, para que não tenha filho
que reine no seu trono; como também com os
levitas sacerdotes, meus ministros.
22 Como não se pode contar o exército dos céus, nem medir-se a areia do mar, assim tornarei incontável a descendência de Davi, meu servo, e
os levitas que ministram diante de mim.” (Jer
33.14-22)
Estas palavras foram proferidas por Jeremias no Espírito, depois de lhe ter sido revelado qual o
efeito prático de tal aliança que seria firmada conforme a promessa que Deus havia feito a
Davi:
“31 Eis aí vêm dias, diz o SENHOR, em que firmarei nova aliança com a casa de Israel e com
a casa de Judá.
69
32 Não conforme a aliança que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da
terra do Egito; porquanto eles anularam a minha
aliança, não obstante eu os haver desposado, diz o SENHOR.
33 Porque esta é a aliança que firmarei com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o
SENHOR: Na mente, lhes imprimirei as minhas
leis, também no coração lhas inscreverei; eu
serei o seu Deus, e eles serão o meu povo.
34 Não ensinará jamais cada um ao seu próximo, nem cada um ao seu irmão, dizendo: Conhece ao SENHOR, porque todos me conhecerão,
desde o menor até ao maior deles, diz o
SENHOR. Pois perdoarei as suas iniquidades e
dos seus pecados jamais me lembrarei.” (Jer 31.31-34)
Esta promessa é repetida em várias passagens do Novo Testamento, como por exemplo em
Hebreus 8.6-13; 10.15-18.
70
A Graça Exige Perseverança
Não devemos desconsiderar o alerta de nosso
Senhor Jesus Cristo quanto à necessidade de
perseverarmos até o fim com vistas à salvação
das nossas almas.
Esta perseverança consiste sobretudo em
permanecermos na fé em santidade de vida, em todo o tempo e em qualquer circunstância.
Enquanto estiver ligado a Jesus pela fé, em comunhão com Ele, um crente não pode ser
considerado um filho maldito, como no dizer de Pedro referindo-se aos falsos mestres, que
haviam abandonado a fé (II Pe 2.14).
Há provisão suficiente no sangue derramado na cruz, para perdoar pecados.
Bem faz todo crente que os confessa e abandona em prol de manter a sua comunhão com Deus e seus irmãos em Cristo.
Não importa o tamanho da ofensa.
A misericórdia de Deus é maior do que o nosso pecado.
Pedro negou Jesus, mas foi restaurado pelo arrependimento.
71
Perigosa coisa é no entanto, o amor ao mundo, o fascínio pelas riquezas, a rejeição de uma
consciência boa pelo endurecimento produzido
pelo pecado, o abandono da comunhão dos santos, a negligência do serviço de Deus, a
negação da fé diante das tribulações, pois por
tais coisas, pode vir o crente a apostatar da fé.
“19 A todo o que ouve a palavra do reino e não a entende, vem o Maligno e arrebata o que lhe foi
semeado no coração; este é o que foi semeado à beira do caminho.
20 E o que foi semeado nos lugares pedregosos, este é o que ouve a palavra, e logo a recebe com
alegria;
21 mas não tem raiz em si mesmo, antes é de pouca duração; e sobrevindo a angústia e a
perseguição por causa da palavra, logo se
escandaliza.
22 E o que foi semeado entre os espinhos, este é o que ouve a palavra; mas os cuidados deste mundo e a sedução das riquezas sufocam a
palavra, e ela fica infrutífera.” (Mt 13.19-22)
“conservando a fé, e uma boa consciência, a qual alguns havendo rejeitado, naufragando no
tocante à fé;” (I Tim 1.19)
“1 Mas o Espírito expressamente diz que em tempos posteriores alguns apostatarão da fé,
72
dando ouvidos a espíritos enganadores, e a
doutrinas de demônios,
2 pela hipocrisia de homens que falam mentiras e têm a sua própria consciência cauterizada,” (I
Tim 4.1,2)
“4 Porque é impossível que os que uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e
se fizeram participantes do Espírito Santo,
5 e provaram a boa palavra de Deus, e os poderes do mundo vindouro,
6 e depois caíram, sejam outra vez renovados
para arrependimento; visto que, quanto a eles, estão crucificando de novo o Filho de Deus, e o
expondo ao vitupério.
7 Pois a terra que embebe a chuva, que cai muitas vezes sobre ela, e produz erva proveitosa para aqueles por quem é lavrada, recebe a
bênção da parte de Deus;
8 mas se produz espinhos e abrolhos, é rejeitada, e perto está da maldição; o seu fim é ser
queimada.” (Hb 6.4-8)
“26 Porque se voluntariamente continuarmos no pecado, depois de termos recebido o pleno
conhecimento da verdade, já não resta mais
sacrifício pelos pecados,
73
27 mas uma expectação terrível de juízo, e um ardor de fogo que há de devorar os adversários.
28 Havendo alguém rejeitado a lei de Moisés, morre sem misericórdia, pela palavra de duas
ou três testemunhas;
29 de quanto maior castigo cuidais vós será julgado merecedor aquele que pisar o Filho de
Deus, e tiver por profano o sangue do pacto, com que foi santificado, e ultrajar ao Espírito da
graça?
30 Pois conhecemos aquele que disse: Minha é a vingança, eu retribuirei. E outra vez: O Senhor
julgará o seu povo.
31 Horrenda coisa é cair nas mãos do Deus vivo.” (Hb 10.26-31)
Somos advertidos pelo autor de Hebreus quanto ao perigo da apostasia nesta dispensação da
graça, sob o argumento de que se a violação da Antiga Aliança, que foi temporária, trazia
severos juízos de Deus sobre os transgressores;
de quanto maior juízo não estarão sujeitos os
que profanarem o precioso sangue de Jesus, que foi derramado na cruz para instituir esta Nova
Aliança, em que se cumpre o propósito eterno
de Deus.
O mesmo autor refere-se à terra (homem) que recebe chuvas abundantes (graça), mas em vez
74
de produzir bons frutos, produz espinhos e
abrolhos.
Como não tem nenhuma serventia para o agricultor, por fim será queimada.
Certamente não está falando de pessoas que
esfriaram temporariamente na fé, que se desviaram por certo período, mas que não
negaram ao Senhor nos seus corações, posto
que estes poderão ser restaurados.
Mas, é muito conveniente que não se brinque
com a graça e a liberdade que temos no Senhor, desviando-nos da verdade, por se correr o risco
de se apostatar da fé definitivamente, sem que
haja cura, como apontado nas situações
comentadas nos textos que acabamos de ler.
Qual é o proveito que temos em tentar achar argumentos para afirmar que o ensino da
parábola das dez virgens e a dos talentos, não se
aplica a crentes?
Tendo em vista que a conclusão aponta para a perdição de alguns dentre os servos de Deus,
que haviam recebido azeite para suas lâmpadas,
para aguardarem o Noivo, mas permitiram, que
este acabasse, antes que Ele voltasse; e outros, que haviam recebido talentos para investir no
reino de Deus e no entanto não os aplicaram.
Qual é o proveito de se afirmar a impossibilidade da apostasia de crentes autênticos, em face de se
75
julgar que não se perde a salvação, se isto nos
conduzir a um viver negligente em relação à
vontade de Deus? Vale a pena o risco?
Qual é o prejuízo que se tem em considerar seriamente as muitas advertências bíblicas não apenas relativas à apostasia, mas que apontam
para a necessidade de se viver de modo santo e
perseverante para se agradar a Deus?
Nenhum. Não é verdade?
Ao contrário, com isto nunca se chegará a se indagar se permanecemos justificados ou não,
pois a comunhão do Espírito com o nosso
espírito, continuará testificando que somos filhos de Deus (Rom 8.16).
Guardemo-nos, entretanto, da tentação de julgarmos quem tem apostatado ou não da fé,
salvo se isto nos for revelado pelo Espírito, em
plena convicção, como se dera com Paulo no caso de Himeneu e Alexandre.
Ora, perigosa coisa é julgar a consciência alheia, tendo em vista que não podemos avaliar qual é o
trabalho que a graça está realizando em cada um
dos seus filhos.
O oleiro trabalha em cada um dos seus vasos.
A nós não foi dada a capacidade de medir a extensão deste trabalho.
76
Por isso somos convocados a olhar por nós mesmos e para nós mesmos, quanto a sabermos
se estamos ou não firmes na fé.
Uma vez tratado o problema do argueiro do nosso olho, poderemos nos voltar para tratar do
cisco dos olhos dos nossos irmãos.
A graça não nos foi outorgada para podermos pecar à vontade e depois irmos para o céu, mas exatamente para destruir o pecado na vida do
crente, de modo que possa se apresentar santo e
inculpável diante de Deus.
É lastimável vermos o barateamento de tão grande e valiosa bênção.
De constatarmos o tráfico de promessas de paz, prosperidade e segurança, onde ainda
prevalece o pecado, por parte de profetas que Deus não enviou.
A pregação que desfigura o caráter santo e justo de Deus, apresentado-o como alguém
“bonzinho”, que não se importa muito com os
nossos pecados e má conduta, está na verdade,
ensinando as pessoas a brincarem com fogo, e não com um fogo qualquer, mas um fogo
consumidor. (Hb 10.26-31; Rom 12.28,29)
“7 Não vos enganeis; Deus não se deixa escarnecer; pois tudo o que o homem semear,
isso também ceifará.
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8 Porque quem semeia na sua carne, da carne ceifará a corrupção; mas quem semeia no
Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna.” (Gál
6.7,8)
“25 Vede que não rejeiteis ao que fala; porque, se
não escaparam aqueles quando rejeitaram o que sobre a terra os advertia, muito menos
escaparemos nós, se nos desviarmos daquele
que nos adverte lá dos céus;
26 a voz do qual abalou então a terra; mas agora tem ele prometido, dizendo: Ainda uma vez hei
de abalar não só a terra, mas também o céu.
27 Ora, esta palavra-Ainda uma vez-significa a remoção das coisas abaláveis, como coisas criadas, para que permaneçam as coisas
inabaláveis.
28 Pelo que, recebendo nós um reino que não pode ser abalado, retenhamos a graça, pela qual
sirvamos a Deus agradavelmente, com
reverência e temor;
29 pois o nosso Deus é um fogo consumidor.” (Hb 12.25-29)
Neste particular, mais se exige de nós na presente dispensação da graça, do que dos israelitas nos dias do Antigo Testamento, pois a
vida e conduta do crente deve em muito exceder
à dos escribas e fariseus.
78
Para permanecer em Jesus é necessário praticar a justiça do evangelho. E para tanto é necessário
um viver sincero, um coração puro, uma fé não
fingida, enfim, uma vida que tem sido de fato dirigida e transformada pelo Espírito.
Os escribas e fariseus, sempre estiveram muito longe deste alvo.
Por isso a justiça do crente que é aprovado por Deus, excede em muito a dos escribas e fariseus.
Jesus foi ungido para anunciar boas novas de salvação e a curar os quebrantados de coração
(Is 61.1).
Tem portanto graça para conceder aos humildes de espírito, aos que choram, aos que têm fome e sede de justiça, aos que querem um
coração puro e serem promotores da paz.
Estes são purificados e fortalecidos pela graça.
Estes são verdadeiramente bem-aventurados; pois têm construído a casa de suas vidas sobre a
rocha.
O crente que tem sido instruído pelo Espírito sabe que foi salvo pela graça e mediante a fé,
mas sabe também que precisa meditar na Palavra do Senhor dia e noite, para amar e
praticar a sua lei, de forma que seja bem
sucedido em tudo o que fizer.
79
Como a nossa conduta deve ser regida pela Bíblia, é de suma importância não apenas lê-la,
mas interpretá-la de modo correto, para ser
aplicada à vida.
Este é um dos principais objetivos deste livro, a saber, auxiliar-nos a entender melhor as
Escrituras.
Assim poderemos apresentar-nos a Deus, aprovados, como obreiros que manejam bem a
palavra da verdade (II Tim 2.15), como espada, no combate ao inimigo de nossas almas (Ef 6.17).
Deus requer de nós a manutenção inalterada da revelação escrita, especialmente a referente ao
evangelho (Gál 1.6-9; Apo 22.18,19), exatamente
na forma pela qual nô-la entregou pela mão de homens inspirados pelo Espírito Santo (II Pe
1.21), e que foram por Ele escolhidos para tal
propósito, antes mesmo de terem chegado à existência (Jer 1.5; Gál 1.15,16).
Isto não se refere apenas à preservação do texto bíblico, como também à integridade do nosso
ensino, que deve ser em conformidade com a
exata e total revelação escrita, e não de acordo com os modismos da hora.
Jesus disse aos judeus que eles erravam por não conhecerem as Escrituras e o poder de Deus.
É importante frisar que a maioria deles sabia o Velho Testamento de cór.
80
No entanto, não tinham intimidade com o Senhor, e assim, não podiam contar com a
assistência do Espírito Santo para discernirem o
propósito e o significado da revelação escrita (I Cor 2.10-16), pois fora produzida por revelação e
inspiração do Espírito Santo.
Daí a necessidade da instrução e direção do próprio Espírito Santo para se entender e viver a
Palavra de Deus.
O apóstolo Paulo referiu-se às Escrituras como sendo o bom depósito da fé (II Tim 1.4) e recomendou aos seus cooperadores na
pregação do evangelho, que mantivessem o
padrão das sãs palavras (II Tim 1.13).
A própria Bíblia testifica de si mesma, acerca da sua autoridade divina (II Tim 3.16,17), sendo
designada por Palavra da verdade (Jo 17.17; Ef 1.13; Col 1.5; II Tim 2.15; Tg 1.18).
Jesus disse que “a Escritura não pode falhar” (Jo 10.35).
Os apóstolos dedicaram-se ao ministério da palavra (At 6.4).
Mas qual palavra?
Não a sua propriamente, mas a do evangelho, revelado por Deus desde os profetas do Velho
Testamento (Rom 1.1,2), e consumado na
81
manifestação do próprio Jesus, a encarnação da
verdade.
Jesus ordenou que vivêssemos e pregássemos o Evangelho.
Fez conosco uma Nova Aliança (Novo Testamento) no seu sangue (Lc 22.20).
Cabe-nos por conseguinte, distinguir na Bíblia o que pertence à Boa Nova da Salvação, para atendermos ao “Ide” do Senhor, fazendo
discípulos de todas as nações, batizando-os em
nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo;
ensinando-lhes a guardar todas as cousas que Jesus nos tem ordenado, sabendo que Ele está
conosco, todos os dias até à consumação do
século (Mt 28.19,20).
82
Pregar o Evangelho a Toda Criatura
“E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o
evangelho a toda criatura.” (Mc 16.15)
Esta foi a principal ordem dada por Jesus à
Igreja.
Pregar o evangelho, ou seja, anunciar as boas novas da salvação a todas as pessoas do mundo,
em todas as épocas, até que Ele venha.
A ordem dada foi bem clara e explícita, pois a palavra evangelho, oriunda do grego, significa
literalmente mensagem, anúncio de coisas
boas.
Assim, a simples pregação da Lei e das penas da Lei divina, e as ameaças e terrores da Lei para aqueles que não obedecem a Deus, não é ainda a
pregação do Evangelho, porque isto, ou seja a
condenação do pecador não é nenhuma boa
notícia.
Ainda que a Lei do Velho Testamento tenha sido
dada à nação de Israel no período da Antiga Aliança, dela se aprende por princípio, que Deus
de fato julga e penaliza o pecado, aonde quer que
ele se encontre, e assim podemos concluir que haverá de fato um grande juízo final, no qual
todos os homens terão que prestar contas ao
Senhor.
83
Todavia, mesmo sabendo que não pregamos o evangelho, quando pregamos o juízo, e a Lei
divina, isto se faz necessário para o trabalho de
convencimento do pecado pelo Espírito, para que seja produzido o devido arrependimento
para a recepção do evangelho com a sua oferta
de salvação por meio da fé em Jesus Cristo.
O evangelho é o único bisturi espiritual que pode extirpar o câncer do pecado.
Não se deve portanto, por uma alegada compaixão, esconder das pessoas que todos são
cancerosos espirituais aos olhos de Deus, que por fim lhes conduzirá à morte espiritual
eterna, caso não sejam operados pelo bisturi do
evangelho e tratados com a quimioterapia do
céu.
Ainda que numa comparação grosseira, imaginemos alguém querendo encobrir uma
enfermidade física, por temor de que seja um
câncer. E nisto poderá ser ajudado por outras
pessoas que pensem estarem lhe fazendo um bem escondendo o diagnóstico da citada
doença.
Esta pessoa brevemente virá a falecer.
Agora, caso encarasse de frente a sua realidade e se submetesse ao devido tratamento, é bem
certo que teria grandes chances de vencer a
morte.
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O mesmo se dá com o tratamento do evangelho.
Se o homem, tentar ser compassivo para consigo mesmo, tentando ignorar o câncer do
pecado, não poderá ser tratado pela cura que
está disponível para ele somente no evangelho
de nosso Senhor Jesus Cristo.
É preciso reconhecer a nossa doença espiritual do pecado para que possamos procurar o grande médico das almas para sermos curados por Ele.
É por isso que, quando em Lc 2.10, o anjo anunciou aos pastores: "eis aqui vos trago boa nova de grande alegria, que o será para todo o
povo; é que hoje vos nasceu na cidade de Davi, o
Salvador, que é Cristo o Senhor.", ficam em
destaque pelo menos duas grandes verdades:
1ª - A vinda de Jesus, o Senhor, ao mundo como Salvador é uma boa nova de grande alegria.
Boa nova, boa notícia, é, voltamos a repetir, o significado literal da palavra evangelho no
grego.
Uma boa notícia é algo que traz alegria, como destacado pelo anjo em sua anunciação; e no caso, não se trata de uma alegria qualquer que
está associada ao evangelho (boa nova),
mas uma "grande alegria".
O fato de aqueles que não creem no evangelho, serem condenados eternamente no inferno,
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não é a boa nova do evangelho, que é de grande
alegria, mas a triste verdade de que qualquer
pessoa, sem Cristo, está morta em seus pecados
por causa do pecado original de Adão.
A grande alegria do evangelho é exatamente esta boa notícia de que em Cristo há salvação
desta condição de morte espiritual por causa do
pecado de Adão.
Assim, a condenação eterna faz parte da
verdade da Palavra de Deus quanto ao homem no seu estado pecaminoso, mas não do
evangelho, no seu caráter de boa nova relativa
ao livramento da referida condição.
2ª - A segunda grande verdade na anunciação do
anjo, é que esta boa nova é para todo o povo, isto é, não que todos serão salvos, mas que a
salvação em Cristo está sendo oferecida por
Deus a todas as pessoas.
O evangelho é para ser anunciado a todos e não para alguns.
Todo aquele que se arrepender dos seus pecados e crer em Cristo será salvo por dar
crédito a esta boa nova e recepcioná-la em seu
coração como verdade, pedindo a Cristo simplesmente pela fé nele, que o perdoe dos
seus pecados e o salve da condenação eterna.
A condenação eterna é portanto consequente da rejeição desta boa nova, que é a única forma
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do pecador se livrar da perdição eterna e se
tornar filho de Deus.
O evangelho deve ser pregado com o foco na missão de Cristo, consoante com este
evangelho, que é a de salvar e não de condenar o mundo.
O pecado, as consequências do pecado devem também ser pregados não como parte do
evangelho, mas como alerta quanto ao que
sucederá àqueles que rejeitarem a salvação que está disponível a todos em Cristo Jesus.
Cristo veio ao mundo para salvar os perdidos, e ele salva de fato a todo e qualquer pecador que
se arrepende e crê nele.
Graças a Deus pelo seu plano de salvação, pois
sem que eu nada fizesse herdei de Adão o dom do pecado e da morte, mas também sem nada
fazer, recebi pela graça, mediante a fé, como co-
herdeiro com Cristo, o dom da santidade, da vida, da justiça.
Realmente é maravilhosa a graça de Jesus que o levou a experimentar o sofrimento, a injúria, a
morte, por amor de mim pecador.
Não foi por nenhum pecado nele mesmo que Ele sofreu e morreu, mas por ter escolhido livremente se identificar com os pecadores,
experimentando a morte no lugar deles, a
morte que eles mereciam, a morte que era
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deles, para que pudessem ter a dívida dos seus
pecados perdoada, e pudessem participar da sua
própria vida divina.
Assim, há pecado no desobediente Adão, mas há justiça no obediente Cristo.
Em Adão há condenação e morte, mas em Cristo há salvação e vida.
Há morte no mundo, por causa de Adão, mas também há opção de vida em Cristo Jesus.
Há juízo para condenação no mundo, por causa de Adão, mas também há graça e livramento da
condenação, em Cristo.
Há muito mais suficiência de graça, por ser eterna e rica porque procede de Deus, do que há
pecado, porque procede do homem e está limitado ao tempo, e está destinado a ser
inteiramente destruído por Deus.
Por isso se diz que onde abundou o pecado, superabundou a graça.
Se recebemos o pecado como um dom de Adão, temos recebido também como um dom de
Cristo a sua justiça, para que não sejamos mais
servos do pecado, mas servos da justiça.
Cristo libertou de fato o crente da escravidão do pecado pela sua fé nele.
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Crer nele para a salvação é crer que a temos por causa da sua morte e ressurreição no nosso
lugar.
Ele morreu por nós para que pudéssemos morrer para o pecado e para a condenação da lei.
Ele ressuscitou dos mortos para que possamos também ressuscitar dentre os mortos.
Pela fé somos unidos a Ele tanto no que se refere à sua morte, quanto à sua ressurreição e vida.
Fomos livrados do pecado para que pudéssemos ser feitos servos de Deus, da justiça de Deus.
Romanos 6.17,20 ensina claramente que o crente já não é mais escravo do pecado,
consoante o ensino de Jesus sobre esta verdade
em João 8.34-36.
Em razão da libertação da escravidão do pecado para sempre; o crente foi feito também
simultaneamente, servo da justiça para sempre, conforme se afirma em Romanos 6.18.
É por isso que agora, tendo sido feito um servo da justiça, que o crente se preocupa
permanentemente sobre o modo de vida que
agrada a Deus.
Eles sentem as dores e as consequências da quebra da comunhão com Deus quando pecam,
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porque já não são mais escravos do pecado, e
sim da justiça.
É por isso que são convocados a servirem agora o seu novo senhor chamado justiça
(Romanos 6.19).
O pecado não tem realmente mais domínio absoluto sobre a vida do crente porque ele foi
libertado da escravidão ao pecado por Cristo.
O crente não precisa necessariamente ficar sujeito aos comandos do pecado que opera na
sua carne ordenando-lhe que desobedeça aos mandamentos de Deus, que se rebele, que
minta, furte, cobice, adultere, odeie, não ore,
não ame, que se deprima, que fique ressentido,
ansioso etc, porque o pecado já não é mais o seu senhor, como era antes de ter sido libertado
dele por Cristo.
Pois que morreu também para o pecado quando morreu juntamente com Cristo.
Pela sua graça é impelido agora a praticar a justiça do Reino de Deus.
A justiça de Cristo que lhe ordena que ore, confie, espere, obedeça, suporte, seja sincero,
verdadeiro, honesto, fiel, que ame, seja manso,
tenha domínio próprio, descanse em Deus, não fique turbado, ansioso, magoado, ressentido,
antes que perdoe, assim como Deus o perdoou
em Cristo.
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O crente foi livrado de um cativeiro, para outro cativeiro. Do cativeiro do pecado, para o
cativeiro da justiça.
Ser servo da justiça é ser verdadeiramente livre. Porque é nesta condição que pode agora, e poderá perfeitamente no porvir, fazer toda a
vontade de Deus.
Fazer esta vontade é ter o poder para fazer aquilo que é bom e aprovado.
É nisto que consiste a verdadeira liberdade.
A de ser e fazer aquilo que foi planejado por Deus para que sejamos e façamos.
Isto é: ser homem, ser filho de Deus, na
verdadeira acepção da palavra.
Cristo conquistou esta liberdade para os filhos de Adão caídos e cativos no pecado,
pela identificação deles, pela fé, com a sua
morte, ressurreição e vida.
Libertados agora do pecado, são verdadeiramente livres para poderem fazer a vontade de Deus.
Daí se dizer em Romanos 6.14 que: "o pecado não terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo
da lei, e, sim, da graça.".
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Vemos assim quão imperioso e necessário é que cumpramos a ordem de nosso Senhor de
pregarmos o evangelho a todos em todo o
mundo, porque não há nada mais importante do que isso, que seja digno do interesse e aceitação
por todos os homens de boa vontade.
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Uma Nova Esperança para Adúlteros e
Ladrões
Qual profeta, no período do Antigo
Testamento, poderia ter proferido as seguintes palavras que nosso Senhor Jesus Cristo disse
aos religiosos fariseus nos dias do seu
ministério terreno:
“Declarou-lhes Jesus: Em verdade vos digo que
publicanos e meretrizes vos precedem no reino de Deus.” (Mt 21.31)
Nenhum, e nem mesmo Ele nos dias em que ainda vigorava pela sua própria determinação e
vontade a Antiga Aliança, nos dias do Velho
Testamento, porque a própria Lei divina prescrevia a morte dos adúlteros por
apedrejamento, e vigorava, também, segundo
determinação da Lei de Deus para o seu povo de
Israel, o princípio do olho por olho e dente por dente.
Então era assim que funcionava naquele período antigo, antes que nosso Senhor Jesus
Cristo viesse e inaugurasse uma Nova Aliança,
com a sua morte na cruz.
O povo que estivesse aliançado com Deus, como era o caso exclusivo da nação de Israel, estaria
debaixo dos horrores da Lei, e das suas terríveis
sentenças contra os pecados cometidos pelos
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israelitas; embora fossem justas, santas e boas
todas as ordenanças da Lei, e as penas que ela
prescrevia.
Hoje são os crentes que compõem o povo de Deus, por estarem aliançados com Ele, na Nova
Aliança instituída no sangue de Jesus.
É afirmado nas Escrituras que nesta Nova Aliança já não há mais nenhuma condenação para os aliançados, tal como havia na Antiga.
Os transgressores do pacto não são mortos como se dava no antigo, antes, têm os seus
pecados perdoados porque Jesus pagou
completamente toda a dívida de pecados dos aliançados.
Se na Antiga Aliança, quando o pecado de adultério era descoberto, isto implicava na
morte do adúltero, na Nova, é uma grande oportunidade para o arrependimento e se
purificar de tal pecado, quando este vem ao
conhecimento da sociedade, quer da Igreja,
quer fora dela, porque é algo muito profundo e significativo para Deus, perdoar pecados neste
novo pacto com Ele por meio de Jesus.
Ele se mostra favorável quando sai desde o profundo do coração do adúltero, através dos seus lábios, uma confissão sincera como a que
fizera o publicano: “Sê misericordioso para
comigo Deus, porque sou um mísero pecador!”.
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Daí o apóstolo Paulo ter afirmado o que disse em II Cor 3.6-9:
“6 o qual nos habilitou para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do espírito;
porque a letra mata, mas o espírito vivifica.
7 E, se o ministério da morte, gravado com letras em pedras, se revestiu de glória, a ponto de os
filhos de Israel não poderem fitar a face de
Moisés, por causa da glória do seu rosto, ainda
que evanescente,
8 como não será de maior glória o ministério do Espírito!
9 Porque, se o ministério da condenação foi glória, em muito maior proporção será glorioso
o ministério da justiça.”
Veja quão maravilhoso é constatar que Deus planejou e decidiu dar uma oportunidade a
todos os que se arrependerem de seus pecados,
na Nova Aliança que fez através do sangue
derramado por Jesus na cruz.
Ele não somente tem adiado o juízo final sobre os pecados para um certo Dia ainda futuro,
como também tem efetivamente esquecido as faltas e transgressões cometidas no período da
dispensação da graça, de todos aqueles que as
confessam e abandonam.
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Isto sucede somente por causa de Jesus Cristo e das novas condições para se tratar com os que
estão aliançados com Deus, nas bases de uma
Nova Aliança.
Por isso também se afirma nas Escrituras que nada poderá separar o aliançado do amor de
Deus, que está em Cristo Jesus.
Se não havia na Antiga Aliança uma só promessa de perdão total de pecados, para os aliançados
daquele pacto antigo, a principal e melhor
promessa da Nova, é justamente este perdão
total de pecados.
Deus sempre salvou e salvará somente por graça e mediante a fé, tanto antes da Antiga Aliança,
como em sua vigência, e principalmente na
presente dispensação da graça, do Espírito, da
vida e da justiça, como se afirma no texto de II Cor 3.6-9.
É preciso aprender a interpretar fatos, especialmente aqueles que podem produzir
escândalos, segundo a perspectiva de Deus, pois aquilo que para nosso entendimento natural
pode ser considerado como trágico ou final,
pode ser para o Senhor a oportunidade de
conversão, de melhora ou de um novo começo.
Assim, feliz é todo aquele que se envergonha quando é surpreendido na prática de alguma
falta grave, como por exemplo, de furto, ou
96
adultério, e que se arrependendo, volta-se para
Deus à busca de perdão.
Nós encontramos esta perspectiva divina em encarar o pecado, no modo como nosso Senhor
Jesus Cristo atuou em relação ao perdão da
mulher adúltera citada no oitavo capítulo do evangelho de João.
Aquela mulher certamente se arrependeu, e por isso nosso Senhor agiu de tal forma para
com ela.
É daí que podemos entender porque disse aos fariseus porque publicanos e meretrizes
precederiam os mesmos quanto a entrarem no
reino dos céus.
São suas palavras em Mt 21.31,32:
“31 ... Declarou-lhes Jesus: Em verdade vos digo que publicanos e meretrizes vos precedem no
reino de Deus.
32 Porque João veio a vós outros no caminho da justiça, e não acreditastes nele; ao passo que
publicanos e meretrizes creram. Vós, porém,
mesmo vendo isto, não vos arrependestes, afinal, para acreditardes nele.”
Lembro que certa vez, numa cerimônia de casamento, eu citei que os adúlteros que
porventura se encontrassem no recinto da
cerimônia, poderiam dar graças e glórias a Deus
97
por nosso Senhor Jesus Cristo, porque, por meio
da fé nele poderiam viver em fidelidade às suas
esposas, conforme é da vontade do Senhor, caso
se arrependessem e confiassem em Jesus Cristo.
Feliz foi todo aquele que atendeu a tal convite.
Mesmo aqueles que não se arrependeram na ocasião, e que foram surpreendidos em
flagrante adultério posteriormente, fariam
bem, em vez de permanecerem na prática do
pecado, ou então ficarem gemendo debaixo das acusações da sua própria carne, e do diabo,
deveriam voltar-se para Deus, confiando
inteiramente na sua misericórdia, que foi
profundamente demonstrada por Jesus morrendo na cruz em nosso lugar, para que
pudéssemos ser perdoados e lavados de
qualquer tipo de pecado.
Para que possamos nos reconciliar com aqueles com os quais devemos nos reconciliar para um
relacionamento feliz e harmonioso, é necessário, antes, estarmos reconciliados com
Deus.
Quando o apóstolo Paulo afirmou em II Cor 5.17 que em Cristo, convertidos a Ele, e estando nele,
somos novas criaturas, ele se referiu logo adiante nos versos 18 a 21, que a causa desta nova
natureza e condição foi a reconciliação com
Deus, como lemos em II Cor 5.18-21:
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“18 Ora, tudo provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo
e nos deu o ministério da reconciliação,
19 a saber, que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando
aos homens as suas transgressões, e nos confiou a palavra da reconciliação.
20 De sorte que somos embaixadores em nome de Cristo, como se Deus exortasse por nosso
intermédio. Em nome de Cristo, pois, rogamos
que vos reconcilieis com Deus.
21 Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos
justiça de Deus.”
Assim, se o marido necessita se reconciliar à sua esposa, ou vice-versa, estes, devem, antes, serem restaurados na sua reconciliação com o
próprio Deus, produzindo frutos dignos de
arrependimento, que os conduza a caminharem
na luz de Jesus, que é a única forma de terem comunhão, e os seus corações efetivamente
reconciliados em amor e respeito mútuos.
Tentar fazer isto, fora de Cristo, será o mesmo que colocar remendos num tecido velho e
desgastado.
É preciso fazer tudo novo em Cristo, numa restauração que não consista em colocar-se
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remendos, mas fazer com que todas as coisas
sejam renovadas pelo Senhor.
Lembremos que Deus não imputa o pecado onde houver sincero arrependimento por meio
da confiança no trabalho da graça de Cristo para
transformar todas as disposições do nosso
coração em disposições santas e justas.
Para o propósito da reconciliação do pecador ofensor com o ofendido, santo e justo Deus,
Jesus se tornou o Mediador, e o nosso Advogado,
por ter se oferecido como sacrifício por nós, colocando sobre Ele o pecado de todos nós, para
que pela fé nele e no seu sacrifício em nosso
lugar, fôssemos feitos justiça de Deus.
Foi o próprio Senhor Jesus Cristo que apareceu ao apóstolo Paulo no caminho de Damasco, e
que lhe revelou a eficácia do seu poder
transformador e habilitador para que Paulo pudesse se tornar a partir de então, amigo de
Deus, e o Senhor, seu amigo. E além disso lhe
chamou para ser ministro da mesma
reconciliação que ele havia experimentado.
Por isso afirma que tinha muita ousadia em anunciar a mensagem de reconciliação do
evangelho porque fora comissionado para ser embaixador de Cristo na terra, de modo que era
o próprio Deus que exortava através dele a todos
em todos os lugares para que atendessem ao
100
convite da reconciliação feito pelo Espírito
Santo, através de Paulo, aos seus corações.
É importante observar que o apóstolo rogou aos próprios crentes de Corinto que se
reconciliassem com Deus.
Já não haviam sido reconciliados por meio da fé em Jesus?
Sim.
Mas se faz necessário que esta posição de reconciliação seja mantida por um viver em
retidão, arrependimento e fé.
Daí a exortação do apóstolo feita aos próprios crentes.
Assim, se alguém tem pecado contra Deus e contra o seu próximo, é necessário que lhe
estendamos o mesmo convite de reconciliação
feito por Paulo.
Afinal, há eficácia no poder do Senhor em restaurar e tornar novas todas as coisas nas
vidas daqueles que confessam os seus pecados e que fixam o propósito de Lhe serem agradáveis
em tudo.
Mais do que isso, nosso Senhor conquistou para os que estão ligados a Ele, pela fé, uma salvação
segura e eterna, que não pode ser perdida.
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Há uma figura maravilhosa no Velho Testamento, dada pelo próprio Deus com o
propósito didático de nos ensinar esta verdade,
antes que ela se cumprisse em Cristo, a saber, a firmeza, segurança e eternidade que há em
nosso Senhor Jesus Cristo e no seu sangue, que
Ele derramou por nós na cruz.
Então vejamos:
Somente ao sumo-sacerdote de Israel, dentre tantos sacerdotes, era permitida a entrada no
Santo dos Santos do tabernáculo terreno, uma única vez por ano, e não sem o sangue do
sacrifício que deveria ser aspergido sobre a
tampa da arca da aliança, para que os pecados do
povo de Deus pudessem ser perdoados por mais um ano.
Isto indicava que somente nosso Senhor Jesus Cristo, que é sumo-sacerdote para sempre
segundo a ordem de Melquisedeque, não de um
tabernáculo terreno, mas do celestial, poderia
entrar no Santo dos Santos do céu, para fazer expiação pelo pecado de todo o povo de Deus, de
uma vez para sempre, pela oferta não de sangue
de animais, mas do seu próprio sangue que
havia derramado na cruz.
Ele entrou além do véu que separa o Lugar Santo, do Santo dos Santos celestial, no qual
Deus Pai se encontra juntamente com os
querubins, e por isso, estes também estavam
102
representados em figura no tabernáculo
terreno.
Ali, fixou a esperança da nossa salvação como uma âncora segura e firme, que penetrou além
do véu, ou seja, a nossa salvação está ancorada
pelo próprio Senhor, no Santo dos Santos celestial, como se afirma em Hb 6.17-20.
Então, o plano de Deus na nossa salvação está firmado na imutabilidade do seu propósito,
segundo a sua promessa feita a Abraão, para que
tenhamos forte alento e certeza da segurança
eterna que temos em Cristo, conforme se lê também em Hb 6.17-20.
Assim, quando a Bíblia fala em reconciliação por meio de Cristo, está se referindo não a algo
passageiro ou que possa ser destruído, mas a
algo firme, eterno e seguro.
Estaremos assim, ainda inseguros ou desinteressados em tal reconciliação, que é um
assunto de morte ou de vida?
O que escolheremos: a morte espiritual eterna ou a vida eterna que está em Cristo Jesus?
Se quisermos a vida, devemos então ser humildes de espírito e fazer uma confissão sincera dos nossos pecados ao Senhor, com a
firme esperança de que seremos ouvidos,
lavados e curados.
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Ele provou até que ponto está disposto a nos perdoar ao ter morrido em nosso lugar na cruz
do Calvário.
104
O Que é a Caducidade da Letra
É por ignorância que muitos crentes incorrem
em erro ao afirmarem que toda a Palavra de Deus, conforme registrada na Bíblia, é uma letra
caduca, e se valendo da afirmação do apóstolo
Paulo na qual diz o seguinte:
“Agora, porém, libertados da lei, estamos mortos para aquilo a que estávamos sujeitos, de
modo que servimos em novidade de espírito e
não na caducidade da letra.” (Rom 7.6)
O que caducou é o que ficou antigo e ultrapassado, e a palavra “letra” deste texto é
vertida do original grego grama, do qual vem a nossa palavra gramática, sendo que grama é
sempre usado no Novo Testamento com o
significado de carta, registro, escrito, letras, e
Paulo usava esta palavra com frequência para se referir à Lei cerimonial e civil do Velho
Testamento, que constava de várias ordenanças
que se cumpriram em Cristo, como por exemplo
as leis referentes a coisas limpas e imundas, ao sacrifício de animais, dos dízimos e das ofertas
levíticas etc.
Deste modo, não se trata a uma referência aos mandamentos de Cristo do Novo Testamento,
nem sequer aos mandamentos morais da Lei de
Moisés, ou a tudo o que se pode aprender das
105
Escrituras, inclusive da própria Lei cerimonial e
civil.
Ao chamar um viver pelos mandamentos externos civis e cerimoniais da Lei de Moisés, de
letra que havia caducado, Paulo não pretendia
de modo algum, falar contra a Palavra de Deus, mas afirmar a liberdade que os crentes têm na
Nova Aliança do cumprimento das prescrições
civis e cerimoniais da Lei, como por exemplo a
circuncisão do prepúcio e de tantas outras prescrições que foram dadas por Deus a Moisés
para serem cumpridas pelos israelitas no
período do Velho Testamento.
Por isso, no próprio texto de Rom 7.6 no qual afirma a caducidade da letra, o apóstolo Paulo
afirma também a libertação dos crentes das prescrições civis e cerimoniais da Lei de
Moisés, por terem morrido com Cristo para tais
exigências da Lei, de modo a poderem viver em novidade de espírito, ou seja, na Nova Aliança do
Espírito Santo, na qual a Lei de Deus é escrita
pelo Espírito em suas mentes e corações.
Nós podemos verificar nos textos citados a seguir que realmente o apóstolo Paulo fazia uso
da palavra grega grama, que traduzimos por letra, para se referir à Antiga Aliança da Lei de
Moisés, e não ao conjunto das Escrituras
reveladas por Deus na Bíblia.
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Assim, ao lermos tais textos, podemos verificar que ao falar em caducidade da letra Paulo não
estava dizendo que as Escrituras caducaram,
mas que já não vivem os crentes na Nova Aliança, debaixo do jugo da Lei de Moisés,
quanto aos muitos mandamentos específicos
aos quais os judeus estavam obrigados no período do Antigo Testamento.
Romanos 2:27 “E, se aquele que é incircunciso por natureza cumpre a lei, certamente, ele te
julgará a ti, que, não obstante a letra e a
circuncisão, és transgressor da lei.”
Romanos 2:29 “Porém judeu é aquele que o é interiormente, e circuncisão, a que é do
coração, no espírito, não segundo a letra, e cujo
louvor não procede dos homens, mas de Deus.”
2 Coríntios 3:6 “o qual nos habilitou para sermos ministros de uma nova aliança, não da
letra, mas do espírito; porque a letra mata, mas
o espírito vivifica.”
Aqui se diz que a letra mata porque a Antiga Aliança ou mesmo toda a Lei de Moisés não
podia gerar vida eterna conforme a Nova
Aliança em Cristo Jesus, na qual os crentes são
vivificados em espírito pelo Espírito Santo.
2 Coríntios 3:7 “E, se o ministério da morte, gravado com letras em pedras, se revestiu de
glória, a ponto de os filhos de Israel não
107
poderem fitar a face de Moisés, por causa da
glória do seu rosto, ainda que evanescente,”
Mais uma vez o apóstolo se refere à Antiga Aliança como sendo ministério da morte,
porque por ela não se podia alcançar a vida eterna, senão pelo único caminho estabelecido
por Deus para tal, a saber, pela graça, mediante
a fé.
2 Timóteo 3:15 “e que, desde a infância, sabes as sagradas letras, que podem tornar-te sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus.”
Aqui, Paulo chama o conjunto das Escrituras do Velho Testamento, de sagradas letras, ou seja,
ele sabia que toda a escritura do Velho
Testamento havia sido inspirada por Deus, e não se trata de um texto comum, mas sagrado, e por
isso Paulo reconhecia que a Lei é santa, e o
mandamento, santo, e justo, e bom, de modo
que, tal como ele, não devemos considerar a Palavra de Deus revelada na Bíblia, como algo
ultrapassado e que nos mata, em vez de gerar
vida.
Lembremos que as palavras de nosso Senhor Jesus Cristo reveladas na Bíblia são espírito e vida, e não mera letra.
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O Jugo da Lei de Moisés e o de Jesus
O jugo da Lei cerimonial e civil de Moisés (não
a moral) era pesado, mas o jugo de Jesus é leve e
suave.
O motivo do jugo da lei de Moisés ser pesado residia no fato de que era imposto, como por
exemplo a obrigação de ofertas específicas e do dízimo, e o de Jesus é leve e suave, porque o seu
caráter é voluntário, porque como se diz em II
Cor 9.7: “Cada um contribua segundo tiver
proposto no coração, não com tristeza ou por necessidade; porque Deus ama a quem dá com
alegria.”.
Isto porque na Lei da Nova aliança inaugurada com a morte de Jesus, nenhum crente é
obrigado a dizimar e a ofertar, tal como na Lei de Moisés.
Mas se diz que Deus o amará se ofertar com alegria (veja, ofertar, e não dizimar), segundo o
que tiver proposto voluntariamente em seu
coração, e com alegria.
A Lei dos dízimos e das ofertas fazia parte da Lei cerimonial e civil de Moisés, que era aplicada
aos israelitas no período do Antigo Testamento,
como se vê em Malaquias 4.4:
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“Lembrai-vos da Lei de Moisés, meu servo, a qual lhe prescrevi em Horebe para todo o Israel,
a saber, estatutos e juízos.”
Veja que se afirma que os estatutos e juízos da
Lei de Moisés, dos quais faziam parte os dízimos e ofertas obrigatórias, especialmente a de
animais para serem sacrificados como
cobertura do pecado, eram prescritos para toda
a nação de Israel, ou seja, aos descendentes de Jacó, cujo nome o Senhor havia mudado para
Israel.
É por isso que os israelitas foram repreendidos por Malaquias nos dias do Velho Testamento, com as seguintes palavras:
“8 Roubará o homem a Deus? Todavia, vós me roubais e dizeis: Em que te roubamos? Nos
dízimos e nas ofertas.
9 Com maldição sois amaldiçoados, porque a mim me roubais, vós, a nação toda.
10 Trazei todos os dízimos à casa do Tesouro, para que haja mantimento na minha casa; e
provai-me nisto, diz o SENHOR dos Exércitos, se
eu não vos abrir as janelas do céu e não
derramar sobre vós bênção sem medida.” (Mal 3.8-10)
Veja que se diz que era a toda a nação de Israel que estava roubando ao Senhor (v. 9), e que os
dízimos deveriam ser levados à casa do Tesouro,
110
ou seja, ao Templo de Jerusalém, para ser
administrado pelos levitas.
Os dízimos eram o único imposto ou taxa nos dias do Velho Testamento, para servir (como
serve a coleta de Imposto de Renda e do INSS em nosso país), para atender às necessidades
sociais da nação de Israel, especialmente dos
levitas e dos pobres, das viúvas e dos órfãos.
O propósito do dízimo não era o de empobrecer
ainda mais os pobres, mas o de assisti-los.
Por isso se diz nas páginas do Novo Testamento que o dízimo era um encargo dado aos levitas,
para ser recolhido nos dias do Velho
Testamento, ou seja, quando vigoravam os
mandamentos civis e cerimoniais da Lei de Moisés para a nação de Israel.
“Ora, os que dentre os filhos de Levi recebem o sacerdócio têm mandamento de recolher, de
acordo com a lei, os dízimos do povo, ou seja, dos seus irmãos, embora tenham estes descendido
de Abraão;” (Hb 7.5)
Veja que se diz que os levitas, tribo à qual pertenciam os sacerdotes do Velho Testamento,
tinham o mandamento de recolher os dízimos de seus irmãos israelitas.
Agora, o que se diz de nosso Senhor Jesus Cristo, como sendo o Sumo Sacerdote da Nova Aliança,
ou seja, do Novo Testamento:
111
“11 Se, portanto, a perfeição houvera sido mediante o sacerdócio levítico (pois nele
baseado o povo recebeu a lei), que necessidade
haveria ainda de que se levantasse outro sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque,
e que não fosse contado segundo a ordem de
Arão?”
12 Pois, quando se muda o sacerdócio,
necessariamente há também mudança de lei.” (Hb 7.11,12)
Veja que no contexto do ensino do recolhimento dos dízimos pelos levitas, o autor de Hebreus
afirma que nosso Senhor mudou a Lei civil e cerimonial de Moisés para o seu povo da Nova
Aliança, ou seja, não apenas os crentes de Israel,
mas os de todas as nações.
Esta lei de Cristo, no assunto dos dízimos e ofertas, está baseada em II Cor 9.7, conforme já citamos anteriormente.
Nenhum líder da Igreja do Senhor está portanto, autorizado pela Bíblia, a impor o recolhimento
obrigatório de dízimos e ofertas aos crentes.
Muito menos o de fixar um valor fixo de contribuição igual para todos os membros.
Se por consentimento mútuo, para atender a alguma necessidade específica ou determinada
pelo Senhor, houver uma disposição de repartir
os custos por todos os membros da
112
congregação, de forma voluntária e com alegria,
isto será abençoado por Deus.
Todavia, a norma bíblica segue sendo a de se contribuir voluntariamente segundo o que tiver
proposto em seu coração, ou seja, cada um,
contribua com o que quiser, sem olhar para
aquilo que os demais estejam ou não contribuindo.
Veja o que o apóstolo disse a Ananias e Safira:
“3 Então, disse Pedro: Ananias, por que encheu Satanás teu coração, para que mentisses ao
Espírito Santo, reservando parte do valor do
campo?
4 Conservando-o, porventura, não seria teu? E, vendido, não estaria em teu poder? Como, pois,
assentaste no coração este desígnio? Não
mentiste aos homens, mas a Deus.” (At 5.3,4)
O problema com Ananias e sua mulher Safira não foi o de não terem atendido a qualquer
ordem no sentido de ofertarem obrigatoriamente, mas de terem tentado
enganar a Igreja dizendo que estavam ofertando
todo o valor obtido com a venda de um campo
que lhes pertencia, quando isto não era verdade.
Pedro disse que caso não tivessem ofertado, e não mentido, nada lhes teria sucedido.
113
Fechando este assunto, vejamos os seguintes textos bíblicos, para uma melhor compreensão
do que está sendo afirmado.
“Levai as cargas uns dos outros e, assim, cumprireis a lei de Cristo.” (Gál 6.2). A lei de Cristo é enfocada aqui como o novo
mandamento dado por Ele de nos amarmos uns
aos outros como Ele nos amou. Portanto,
sempre ofertaremos para assistir às necessidades daqueles aos quais amamos.
“Agora, pois, por que tentais a Deus, pondo sobre a cerviz dos discípulos um jugo que nem
nossos pais nem nós pudemos suportar?’” (At
15.10)
O apóstolo Pedro se referiu à prescrição do cumprimento dos mandamentos civis e
cerimoniais da lei de Moisés aos crentes gentios, como sendo um jugo insuportável,
como era de fato, e o qual não era cumprido
perfeitamente nem por eles próprios em seus
dias, nem por seus antepassados, tão numerosas e pesadas que eram tais prescrições
obrigatórias da Lei de Moisés.
“Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo e leve.” (Mt 11.30)
É por isso que há um grande contraste entre o jugo e o fardo de Jesus, e o da Lei de Moisés.
114
Nosso Senhor nos libertou do jugo da Lei cerimonial e civil de Moisés, e faremos bem em
permanecer nesta liberdade, para que sejamos
pessoas verdadeiramente alegres.
“1 Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes e não vos submetais,
de novo, a jugo de escravidão.
2 Eu, Paulo, vos digo que, se vos deixardes circuncidar, Cristo de nada vos aproveitará.
3 De novo, testifico a todo homem que se deixa
circuncidar que está obrigado a guardar toda a lei.
4 De Cristo vos desligastes, vós que procurais justificar-vos na lei; da graça decaístes.” (Gál 5.1-
4)
Veja que o apóstolo Paulo chama no verso
primeiro, a Lei de Moisés de jugo de escravidão do qual os crentes foram libertados por Cristo, e
ao qual não deveriam mais se submeter,
permanecendo firmes na convicção da liberdade que têm por estarem debaixo do jugo
da graça, e não do jugo da Lei, como vemos nos
textos a seguir:
“Assim, meus irmãos, também vós morrestes relativamente à lei, por meio do corpo de Cristo, para pertencerdes a outro, a saber, aquele que
ressuscitou dentre os mortos, a fim de que
frutifiquemos para Deus.” (Rom 7.4)
115
“Agora, porém, libertados da lei, estamos mortos para aquilo a que estávamos sujeitos, de
modo que servimos em novidade de espírito e
não na caducidade da letra.” (Rom 7.6)
“Porque o pecado não terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo da lei, e sim da graça.”
(Rom 6.14)
Os que pregam os preceitos da Lei de Moisés na Igreja de Cristo, trazem os crentes debaixo de um jugo pesado de servidão, que não é da
vontade de nosso Senhor que seus servos
carreguem, porque diz que o seu jugo é suave e
o seu fardo é leve, como são de fato, porque nos libertou da obrigatoriedade de cumprir todos os
mandamentos da Lei de Moisés, exceto os
mandamentos morais.
116
Fazer a Vontade de Deus é Mais do que
Cumprir a Lei Moral
De fato, agradar a Deus pelo cumprimento da
sua vontade, consiste muito mais do que se
guardar os mandamentos morais da Lei dada a
Moisés.
É óbvio que o cumprimento da Lei cerimonial e civil do Velho Testamento, inclusive a moral,
pode ser cumprido pelo homem natural, mas somente o homem espiritual pode andar no
Espírito Santo, sendo dirigido por Ele em todo o
seu viver.
Por isso se testifica que a Antiga Aliança consistia em mandamentos carnais, porque
podiam ser guardados pelo homem natural, e
que a Nova Aliança está assentada na vida indissolúvel de Cristo nos crentes, capacitando
os crentes a viverem e a andarem no Espírito.
“14 visto ser manifesto que nosso Senhor procedeu de Judá, tribo da qual Moisés nada
falou acerca de sacerdotes.
15 E ainda muito mais manifesto é isto, se à semelhança de Melquisedeque se levanta outro
sacerdote,
117
16 que não foi feito conforme a lei de um mandamento carnal, mas segundo o poder
duma vida indissolúvel.
17 Porque dele assim se testifica: Tu és sacerdote
para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque.
18 Pois, com efeito, o mandamento anterior é ab-rogado por causa da sua fraqueza e
inutilidade
19 (pois a lei nenhuma coisa aperfeiçoou), e
desta sorte é introduzida uma melhor esperança, pela qual nos aproximamos de
Deus.” (Hb 7.14-19)
Assim, o que foi dado por Deus a Israel, para confirmar a Antiga Aliança através de Moisés,
foi a Lei escrita em tábuas de pedra.
Foi ordenado aos levitas que ensinassem a Lei a seus irmãos israelitas, para que a guardando,
fizessem a vontade de Deus naquele antigo
pacto.
Todavia, na Nova Aliança, o que foi dado por
Deus aos crentes foi a vida do próprio Cristo, pelo derramar do Espírito Santo em seus
corações, e é o próprio Espírito que gera a nova
vida nos que se tornam crentes, e é quem imprime a Lei de Deus em suas mentes e
corações, ou seja, que faz com que não apenas
conheçam, mas que cumpram a vontade de
118
Deus, como se afirma no texto de Jeremias 31.31-
34.
Jesus tem assim manifestado o seu poder de Mestre na Nova Aliança, não apenas ensinando a sua Lei (vontade) aos crentes, como também é
um Mestre capacitado a levá-los a cumprir o que
lhes ensina.
Vemos que também neste sentido, os crentes
não se encontram debaixo da Lei, e sim da Graça.
Eles são gerados filhos de Deus pelo poder que Jesus lhes dá, e isto não pode ser realizado por
meio da observância de mandamentos, mesmo os morais da Lei de Moisés.
Por isso se afirma que o fim, ou seja, a finalidade da Lei é Cristo, para a justiça de todo aquele que
nele crê.
A mera sã moralidade, ainda que necessária e boa, não pode de si mesma produzir esta nova
vida do céu.
Por isso há uma convocação na Bíblia a que se busque imitar a fé dos bons líderes que demonstraram possuir a vida abundante do céu
por causa da fé, pois que se testifica que o justo
viverá da fé.
119
“7 Lembrai-vos dos vossos guias, os quais vos falaram a palavra de Deus, e, atentando para o
êxito da sua carreira, imitai-lhes a fé.
8 Jesus Cristo é o mesmo, ontem, e hoje, e eternamente.
9 Não vos deixeis levar por doutrinas várias e estranhas; porque bom é que o coração se
fortifique com a graça, e não com alimentos, que
não trouxeram proveito algum aos que com eles
se preocuparam.”(Hb 13.7-9)
A doutrina da Antiga Aliança, baseada na Lei, sendo pregada como meio de salvação, é uma
doutrina estranha à do evangelho, porque não põe em realce a graça operante de Jesus para
gerar vida nos que prestam culto a Deus, senão
apresentar várias prescrições cerimoniais que
eram figuras das realidades que se cumprem em Cristo, como a distinção entre alimentos
limpos e imundos.
Assim, a Antiga Aliança estava fadada a desaparecer no conselho eterno de Deus,
porque não fora instituída para gerar vida nos
aliançados, tal como o faz a Nova Aliança em Cristo, e que por isso, é eterna.
A implicação prática desta verdade, deste ensino é que, os que desejam ser salvos por Cristo, devem colocar a sua confiança
completamente nele próprio, que é o autor e o
consumador da fé que produz a salvação.
120
É Ele quem batiza com o Espírito Santo e que distribui dons espirituais aos homens.
Por isso, o principal mandamento de Cristo é que creiamos nele.
Porque, sem ter fé nele, nada da vida de Deus
pode ser obtido por nós.
Intensifiquemos então as nossas orações confiando não no poder da própria oração, mas
no próprio Cristo, e no Espírito Santo que
intercede por nós com gemidos inexprimíveis.
Que toda a nossa confiança esteja depositada no Capitão da nossa salvação, e nem sequer nos
meios de graça que usamos para adorá-lO e
servi-lO, quanto mais em nossas próprias
habilidades e capacitações pessoais.
Importa que toda honra e glória seja do Senhor, como se afirma no Salmo 115.
“Não a nós, Senhor, não a nós, mas ao teu nome dá glória, por amor da tua benignidade e da tua
verdade.” (Sl 115.1)
121
Como o Crente Está Morto Para a Lei?
Para redimir o homem do pecado, isto é, para
livrá-lo do seu poder que conduz à morte, Jesus
não removeu a lei, nem a maldição da lei, mas o próprio pecador de debaixo da lei e da sua
consequente maldição condenatória, de sorte
que os que não têm Jesus, ou que procuram: a)
justificar-se pelas obras da lei, permanecendo sob a maldição da lei - serão por ela condenados
(Gál 3.10); ou b) vivem sem a lei de Deus - sem lei
também serão condenados (Rom 2.12). Esta
última condição pode no entanto ser revertida, desde que creiam e sejam salvos.
Dessa forma, o judeu não tem qualquer vantagem sobre o gentio, na presente
dispensação, quando se trata de justificação
(Rom 3.9).
A lei condena o pecador à morte eterna (separação de Deus), por estar o mesmo debaixo
da sua maldição.
A graça faz com que o crente seja considerado já
morto para a sentença de morte da Lei para os seus transgressores, por causa da identificação
do crente com a morte de Jesus, que é
considerada por Deus como sendo a sua própria morte, e desta forma ele é resgatado
consequentemente da condenação e da
maldição da Lei de Moisés.
122
Isto é possível porque não está aliançado nos termos da Antiga Aliança, mas da Nova Aliança,
na qual Deus prometeu o perdão completo e
total de pecados.
“Assim também vós, meus irmãos, fostes mortos quanto à lei mediante o corpo de Cristo,
para pertencerdes a outro, àquele que ressurgiu dentre os mortos a fim de que demos fruto para
Deus.” (Rom 7.4)
“19 Pois eu pela lei morri para a lei, a fim de viver para Deus.
20 Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que
agora vivo na carne, vivo-a na fé no filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo
por mim.” (Gál 2.19,20)
“13 Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós; porque está
escrito: Maldito todo aquele que for pendurado
no madeiro;
14 para que aos gentios viesse a bênção de Abraão em Jesus Cristo, a fim de que nós
recebêssemos pela fé a promessa do Espírito.”
(Gál 3.13,14).
Em Rom 7.4 lemos que morremos para a lei, por meio do corpo de Cristo.
123
Já comentamos anteriormente, que a nossa fé em Jesus nos tornou participantes da sua
própria morte e vida.
Como Ele não tinha pecado algum, não seria justo que morresse na cruz, porque a consequência do pecado é a morte, mas Ele,
como já dissemos, não tinha pecado.
Assim, o Pai lançou sobre Ele o pecado de todos os homens, quando se encontrava na cruz, de
modo que todos os que haviam crido em Deus no passado (como o caso de Abraão, Moisés etc),
bem como os que viveram com Jesus nos dias do
seu ministério terreno, e também nós, os que
temos crido, depois da sua morte e ressurreição, pudessem ser contados na sua própria morte e
vida, estando assim, consequentemente,
mortos para a lei e para o pecado.
Na cruz foram desfeitos os laços que tínhamos com Adão, e ao termos levantado juntamente com o Senhor, em nova vida, através da sua
ressurreição, que nos permitiu participarmos
da sua vida, passamos a pertencer-lhe, por
estarmos nele.
Como Jesus subiu aos céus, não está mais sob qualquer lei terrena, pois Ele viveu sob a lei e
morreu sob a lei, mas não ressuscitou sob a lei,
pois o que morreu, está morto para a lei.
124
Esta condição final é a mesma em que se encontra o crente, por ser participante da morte
e ressurreição de Cristo.
Um crente fiel deve obedecer às leis de seu país,
desde que estas não sejam contrárias às próprias leis de Deus, pois a justiça demanda
que se dê a César o que é de César.
Deve também obedecer e respeitar as convenções sociais para que não se torne
motivo de escândalo para o mundo.
Mais que tudo, deve viver debaixo da lei de Cristo, que é a lei do amor.
No entanto, caso venha a transgredir qualquer lei da sociedade em que vive, o que espera-se
que não ocorra, e caso isto demande qualquer
tipo de punição, nem por isso perderá a sua salvação, caso se arrependa, confesse o pecado
e restaure a sua comunhão com Deus, pois,
estando em Cristo, não pode mais ser condenado pelo Juiz dos mortos e dos vivos,
porque nele, está morto para o pecado e para a
lei.
É por isso que podemos levar a mensagem do evangelho aos que se encontram na prisão, propondo-lhes a salvação pela fé no Salvador.
Ainda que aprisionados em seus corpos físicos, e condenados pela sociedade em que vivem,
podem ser perfeitamente justificados e
125
santificados em seus espíritos, alcançando a
verdadeira liberdade, que os livrará da
condenação vindoura.
O ladrão que se converteu na cruz é um bom exemplo disto.
126
O Espírito Santo é uma Promessa da Nova
Aliança
O derramar do Espírito Santo sobre as nações
teve início no dia de Pentecostes, quando os
apóstolos e alguns discípulos estavam reunidos
em Jerusalém (At 2.1-4;16-18).
Leia Is 32.15; 44.3; Joel 2.28,29.
Se o próprio Jesus viveu sob o poder do Espírito, o que Deus não esperará daqueles que têm se
aliançado com Ele através da fé no seu Filho ?
Jesus esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens, e
sendo achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte de
cruz (Fp 2.7,8). Isto significa que viveu de fato
como homem, para poder morrer no lugar da
humanidade. Em razão do plano de salvação, não poderia ter vivido neste mundo na
plenitude da sua glória divina, e no uso pleno do
seu próprio poder, pois importava que vivesse e
morresse como homem, em favor do homem. A Bíblia é bastante clara, desde as profecias do
Antigo Testamento de que Jesus não faria nada
de si mesmo em seu ministério terreno, mas viveria em total obediência ao Pai, na
dependência do Espírito Santo. Por isso, Jesus
assumiu o título “Filho do homem”.
127
Leia Is 42.1; 61.1-3; Mt 12.28; Lc 4.1, 14; At 10.38.
A Nova Aliança consiste então, sobretudo, num
viver no poder e instrução do Espírito. É Ele que cumpre o objetivo de Deus em nossas vidas.
A vida que temos em Cristo Jesus é quem nos
livra da lei do pecado e da morte. Esta vida é produzida em nós pelo Espírito. Por isso, o
apóstolo Paulo se refere à “ lei do Espírito da
vida em Cristo Jesus” como a dizer, se o pecado
e a morte são uma lei, só há uma lei superior que pode vencê-la, no caso o Espírito Santo, pois
somente Ele pode gerar a vida de Jesus em nós,
através do novo nascimento, que se segue à morte do velho homem, também por Ele
operada, e cuja obra prossegue na
santificação através da mortificação das obras
da carne para a manifestação do seu fruto, que é amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade,
bondade, fidelidade, mansidão e domínio
próprio.
Contra o fruto do Espírito Santo na nossa vida, não há lei (Gál 5.23), pois é por meio de um andar
no Espírito que vivemos de modo agradável a
Deus.
Por isso, o maior e melhor dom prometido é o próprio Espírito Santo.
Devemos estar sempre lembrados e bem conscientes que é a própria pessoa do Espírito
Santo o maior e melhor dom que Deus
128
prometeu aos crentes. O outro Consolador que
o próprio Jesus prometeu que enviaria à sua
Igreja para que sempre estivesse com ela.
Por isso todo ministério bem esclarecido deve pregar a Cristo, e Cristo crucificado, sem
esquecer que Jesus foi exaltado nos céus para
que recebêssemos o Espírito Santo prometido. Afinal é Ele quem nos batiza com o Espírito
Santo.
Portanto, buscar e submeter-se ao Espírito Santo é a maior maneira de se honrar a Cristo,
porque foi para este propósito que Ele morreu
por nós, de modo que justificados do pecado
pudéssemos receber a habitação e operação do Espírito em nossas vidas.
Aquele que não tem o Espírito Santo não pertence a Cristo, e portanto não é filho de Deus (Rom 8.9).
Deus nos tornou seus filhos e herdeiros pelo cumprimento da promessa de nos dar o Espírito Santo. Promessa esta que foi feita pela primeira
vez a Abraão: “
“Ora, a Escritura, prevendo que Deus havia de justificar pela fé os gentios, anunciou
previamente a boa nova a Abraão, dizendo: Em ti
serão abençoadas todas as nações.” (Gál 3.8).
129
“para que aos gentios viesse a bênção de Abraão em Jesus Cristo, a fim de que nós recebêssemos
pela fé a promessa do Espírito.” (Gál 3.14).
A bênção prometida a Abraão em Jesus Cristo é a promessa do derramamento do Espírito Santo
em todas as nações, porque é por este meio que
Deus se provê de filhos em todas as gerações.
Como a promessa do Espírito foi feita a Abraão, de que Ele seria derramado em todas as nações
da terra, naqueles que estão no descendente de
Abraão que é Cristo, daí ser dito que Abraão é o
pai dos crentes:
“Porquanto procede da fé o ser herdeiro, para que seja segundo a graça, a fim de que a
promessa seja firme a toda a descendência, não
somente à que é da lei, mas também à que é da
fé que teve Abraão, o qual é pai de todos nós.” (Rom 4.16).
É dito que Abraão é o pai da Igreja não somente por causa da fé justificadora que habitou nele e
que tem habitado em todos os crentes, mas também para que imitemos o seu exemplo de
vida obediente a Deus.
Ele foi um peregrino neste mundo, e assim deve ser a Igreja. Mas sendo peregrinos para o cumprimento da missão que recebemos da
parte de Deus, de pregarmos o evangelho em
todo o mundo.
130
Esta missão teve os seus alicerces fundados na mais remota antiguidade, antes mesmo que
a Lei fosse dada a Moisés, porque foi a Abraão,
aquele que é chamado de pai dos crentes, que Deus revelou e fez a promessa da Nova Aliança
em Jesus Cristo, pelo derramar do Espírito Santo
em todas as nações.
Sabendo que este pacto foi firmado há tanto tempo atrás, demonstrando o firme interesse
de Deus em abençoar pessoas pelo derramar do Espírito, isto não nos incentiva a consagrar
nossas vidas inteiramente ao serviço do
evangelho?
Pois é assim fazendo que muitos receberão o Espírito Santo e serão batizados no Espírito com
poder, para que possam trazer também muitos outros a experimentarem a sua santa Presença,
de maneira que habite para sempre em seus
corações, manifestando os seus dons espirituais e fruto, para a exclusiva glória de Deus.
O autor de Hebreus exorta os crentes à plena
diligência para que sejam imitadores daqueles que pela fé e pela paciência herdam as
promessas (Hb 6.11,12), porque nos importa
entrar no reino dos céus por meio de muitas tribulações, tal como nosso Pai Abraão foi
afligido em suas peregrinações para nos servir
de exemplo.
131
Contudo, em nossas aflições devemos lembrar que é mais do que certa a recompensa porque
quando Deus fez a promessa a Abraão de fazê-lo
o pai de numerosas nações e de abençoar todas as nações da terra no seu descendente, que é
Cristo, para que tivéssemos plena certeza da sua
fidelidade em cumprir o que estava prometendo, Ele também jurou por Si mesmo,
de maneira que tivéssemos a garantia por meio
de duas coisas imutáveis, a primeira a própria
promessa de um Deus fiel, e a segunda, o juramento que confirmou a promessa.
“13 Porque, quando Deus fez a promessa a Abraão, visto que não tinha outro maior por quem jurar, jurou por si mesmo,
14 dizendo: Certamente te abençoarei, e grandemente te multiplicarei.”(Hb 6.13,14).
“17 assim que, querendo Deus mostrar mais abundantemente aos herdeiros da promessa a
imutabilidade do seu conselho, se interpôs com juramento;
18 para que por duas coisas imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta, tenhamos poderosa consolação, nós, os que nos
refugiamos em lançar mão da esperança
proposta;” (Hb 6.17,18).
Deus caminhou com Abraão consolando-o em suas peregrinações, e o Espírito Santo foi dado
à Igreja para consolá-la na sua jornada neste
132
mundo, enquanto cumpre a sua missão, que lhe
foi designada pelo Senhor, tal como Abraão
cumpriu a sua no passado, de maneira que a
partir dele pudesse formar um povo que guardasse os mandamentos de Deus, povo este,
através do qual o Messias viria a se revelar ao
mundo, para que se cumprisse a promessa de que Abraão viesse a ser o pai de numerosas
nações por meio do seu descendente, que é
Cristo (Gál 3.16).
A dispensação do Espírito é a melhor dispensação e o período mais luminoso da
história do mundo.
Devemos ter o cuidado de não cometer o mesmo pecado dos escribas e fariseus que não
reconheceram o ministério do Messias e O
rejeitaram, porque é possível estar totalmente
alheio ao fato de que há um ministério do Espírito Santo acontecendo desde o Pentecostes
ocorrido em Jerusalém, neste período que
chamamos de dispensação da graça, que
podemos também chamar de dispensação do Espírito Santo.
É de suma importância portanto, que nos inteiremos de tudo o que se refira à Pessoa e
obra do Espírito, tanto na história da Igreja como
também e principalmente em nossos próprios dias, de maneira que nos empenhemos e
sejamos achados como seus cooperadores no
trabalho que Ele está realizando no mundo.
133
Foi o espírito de indiferença manifestado entre cristãos professos ao trabalho e ministério do
Espírito Santo nesta sua dispensação, que
entristeceu e moveu a alma reta de John Owen; este grande e instruído homem de Deus que foi
usado por Ele para escrever um grandioso
discurso sobre a Pessoa e as operações do Espírito Santo, trabalho este que deu à Igreja
um grande e novo senso da sua
responsabilidade como também o privilégio
dela com respeito a este assunto importante, de maneira que isto veio a contribuir para o
advento de vários avivamentos do Espírito em
dias posteriores aos de Owen.
Os pastores John Fletcher, Horatius Bonar, e outros, afirmaram que limitar e desconsiderar o ministério do Espírito Santo é o maior pecado da
Igreja neste últimos dias, como foi o dos judeus
menosprezando o ministério terreno de Jesus
Cristo.
Descrevendo os efeitos do derramar da chuva abundante do Espírito na experiência pessoal de
verdadeiros crentes, Spurgeon disse o seguinte:
“é muito comum para a vida da graça que a alma
receba depois de alguns anos uma segunda visitação muito notável do Espírito Santo que
pode ser comparada à chuva posterior (serôdia).
A chuva posterior era enviada para engordar a espiga e torná-la cheia e madura, pronta para
ser colhida. Meu desejo é que todos vocês, meus
amados, que foram molhados pela chuva
134
anterior, possam também ser molhados com a
chuva posterior que fará com que sejam mais do
que cristãos comuns.”.
John Fletcher, enquanto falava da profecia de Joel, disse: “Uma promessa importante à qual
nosso Deus deu cumprimento no dia de Pentecostes, quando Ele enviou uma chuva
gloriosa no seu pequeno vinhedo, como um
penhor dos rios poderosos de justiça que
cobrirão a terra como as águas cobrem o mar.”
Assim, que nenhum crente que esteja
empenhado em orar pelo derramar de um grande avivamento, desconsidere a
importância de se empenhar na busca do poder
do Espírito, pedindo a Deus que remova o véu e
ilumine a visão de tal forma que possam descobrir não somente a sua própria
necessidade, mas para que possam ter visões
infinitamente mais amplas da abundância indizível contida na promessa que satisfaz
aquela necessidade.
Para este propósito devem lembrar que Deus tem unido inseparavelmente os ministérios da
pregação, da oração e do louvor. Especialmente
os dois primeiros. Por isso os apóstolos tomaram a firme resolução de se dedicarem com
exclusividade aos ministérios da pregação e da
oração.
135
A Igreja Primitiva pregava a Palavra em todos os lugares, mas a Palavra sempre foi precedida e
acompanhada pelo ministério de oração e
intercessão.
É importante que nos lembremos que a ministração do Espírito Santo está muito ligada
ao ministério da Palavra.
Por isso há frequentemente uma grande falta da presença do Espírito e de poder, nos cultos onde
há uma falta da Palavra pregada.
Este poder espiritual não depende da quantidade de citações bíblicas.
A grande coisa é obter a nossa mensagem de Deus e procurar saber tudo o que é dito pelo
Espírito sobre a palavra selecionada, de maneira
a obter um conhecimento completo sobre aquilo que pregaremos, de modo que tenhamos
a mente do Espírito, e não propriamente a nossa,
sendo expressada na pregação.
Devemos pedir ao Espírito que nos revele o que devemos dizer em relação à palavra que nos foi
dada, e que nos conceda uma língua de fogo para
proclamá-la.
Estejamos convictos que o ministério do Espírito é de grande glória, muito maior do que a que havia na antiga dispensação, porque o
nome de Jesus será sempre glorificado pelo
Espírito Santo.
136
Assim, onde houver um verdadeiro trabalho do Espírito nesta sua dispensação, sempre haverá
também a manifestação da glória de Deus.
137
A Antiga Aliança Era Figura da Nova
As figuras do Antigo Testamento (sacrifícios
de animais, móveis e utensílios sagrados do
tabernáculo e do templo etc) tiveram cabal
cumprimento em Jesus.
O ofício profético de Moisés e a sua obra de libertador e legislador de Israel é tipo da obra de Jesus.
O sacerdócio de Arão é tipo do de Jesus.
O reinado de Davi é tipo do seu reinado eterno.
Muito do Velho Testamento é figura da sua pessoa e obra.
Podemos dizer que temos, a rigor, no velho, a promessa, e no novo, o cumprimento, a
realização. Daí ter o Senhor afirmado que não veio revogar a lei e os profetas, mas cumprir.
O fato de ser figura, não significa que a ministração sacerdotal do Antigo Testamento
não tenha importância para a igreja.
Ao contrário. Já que por tais figuras podemos aprender acerca de muitos detalhes do que se
cumpriu em Jesus e sua obra em nosso favor.
138
Por exemplo, quando estudamos os tipos de sacrifícios em Levítico (expiação – oferta pelo
pecado; consagração – holocausto; comunhão –
oferta pacífica), podemos entender melhor a abrangência do sacrifício de Jesus.
O autor de Hebreus afirmou que a lei tem a sombra dos bens vindouros.
No caso, o uso da palavra lei se refere ao Antigo Pacto propriamente dito, que foi estabelecido
com a nação de Israel, para ser a figura da Nova
Aliança, isto é, do pacto que Deus faria com as
pessoas de todas as nações, por meio de Jesus. Como figura, o primeiro seria removido, para
dar lugar ao segundo e último, cuja validade é
eterna.
“4 Ora, se ele estivesse na terra, nem seria
sacerdote, havendo já os que oferecem dons segundo a lei,
5 os quais servem àquilo que é figura e sombra das coisas celestiais, como Moisés foi
divinamente avisado, quando estava para construir o tabernáculo; porque lhe foi dito:
Olha, faze conforme o modelo que no monte se
te mostrou.” (Hb 8.4,5)
“23 Era necessário, portanto, que as figuras das coisas que estão no céu fossem purificadas com
tais sacrifícios, mas as próprias coisas celestiais
com sacrifícios melhores do que estes.
139
24 Pois Cristo não entrou num santuário feito por mãos, figura do verdadeiro, mas no próprio
céu, para agora comparecer por nós perante a
face de Deus;” (Hb 9.23,24)
“Porque a lei, tendo a sombra dos bens futuros,
e não a imagem exata das coisas, não pode nunca, pelos mesmos sacrifícios que
continuamente se oferecem de ano em ano,
aperfeiçoar os que se chegam a Deus.” (Hb10.1)
Mas, nem tudo no Velho Testamento é figura.
Muitos dos mandamentos morais da Antiga Aliança permanecem em vigor (honrar os pais,
amar ao próximo como a si mesmo, não proferir
o nome de Deus em vão, não cultuar outros deuses, não invocar mortos etc).
Outros sofreram ajustes por Jesus (quanto ao adultério (Mt 5.27-32), aos juramentos (Mt 5.33-
37), ao homicídio (Mt 5.21-26), à vingança (Mt
5.38-42) etc.
Nosso amor ao Senhor se expressa, conforme Ele próprio definiu, como obediência aos seus
mandamentos (Jo 14.21-24).
Dentre estes, contam-se também os registrados no Velho Testamento (note-se bem: os que possam ser aplicáveis à igreja), uma vez que o
Deus do Velho é o mesmo Deus do Novo
Testamento.
140
A Finalidade da Lei
Israel, como nação, não chegou a entender que
Jesus é a nossa justiça, pois buscava a justiça que era segundo as obras da lei, e não segundo a fé.
Não chegou a entender a finalidade da lei, de lhe
conduzir a Cristo. E tropeçou portanto, na pedra
de tropeço.
A lei fora dada para convencer o homem da
impossibilidade de se obter a justificação a não ser pela graça de Deus.
Isto estava tipificado principalmente nos sacrifícios de animais que faziam parte do culto
da Antiga Aliança.
Apontavam para uma vítima vicária, sem defeito, que pudesse levar sobre si os nossos
pecados.
E o que fez Israel?
Tomou a figura como sendo a realidade para a qual ela apontava: o sacrifício de Jesus na cruz em favor dos pecadores.
A lei não é graça.
Ela não realiza a salvação de Deus.
Antes, condena o pecador.
141
Por isso Paulo chamou a Antiga Aliança de ministério da condenação (II Cor 3.9).
Pela lei vem o pleno conhecimento do pecado, ela acaba por se tornar a força do pecado (I Cor
15.56), pois o coloca em realce (Rom 3.19,20; 5.20;
7.5; Gál 3.19), ajudando a Deus no seu propósito
de convencer-nos da necessidade de confiarmos inteiramente na sua graça para que
Jesus possa realizar a sua obra de salvação em
nosso favor.
Como a lei, de si mesma, não pode gerar a vida eterna, e também exigia que certas tipos de
transgressões fossem punidos com a morte física, Paulo a chamou de ministério da morte (I
Cor 3.7).
Por isso, ninguém pode ser justificado por meio
da lei (II Cor 3.6-9; Rom 3.19,20; 4.1-11; Hb 8.6,7; 10.4,11; At 13.38,39; Gál 2.16; 3.1-5,10-12,21), pois a
lei é espiritual e santa, e o homem é carnal.
Apesar de não estarem em vigor as disposições relativas e exclusivas ao Antigo Pacto, nem por
isso é do propósito de Deus que seja alterado um
só jota ou til das Escrituras do Antigo Testamento, até que tudo se cumpra, pois serve
para a instrução da igreja, de modo que aprenda
acerca dos seus atributos e caráter.
“6 Ora, estas coisas nos foram feitas para exemplo, a fim de que não cobicemos as coisas
más, como eles cobiçaram.
142
7 Não vos torneis, pois, idólatras, como alguns deles, conforme está escrito: O povo assentou-
se a comer e a beber, e levantou-se para folgar.
8 Nem nos prostituamos, como alguns deles fizeram; e caíram num só dia vinte e três mil.
9 E não tentemos o Senhor, como alguns deles o tentaram, e pereceram pelas serpentes.
10 E não murmureis, como alguns deles murmuraram, e pereceram pelo destruidor.
11 Ora, tudo isto lhes acontecia como exemplo, e foi escrito para aviso nosso, para quem já são
chegados os fins dos séculos.” (I Cor 10.6-11)
Havia, nos dias de Moisés e Josué, muitas
dificuldades no deserto, e a murmuração era uma grande tentação para a carne.
A escassez de água e comida levou muitos israelitas a murmurarem.
A fé deles na providência de Deus estava sendo sempre colocada à prova.
O Senhor nunca lhes faltou com a sua fidelidade: deu-lhes o maná, água da rocha, tornou as águas amargas de Mara em água
potável, mas mesmo assim eles murmuraram,
e muitos deles foram destruídos.
143
Em dias de grandes dificuldades como os nossos a murmuração tem se apresentado como o
pecado da hora.
Murmuramos contra as autoridades, contra o pastor da igreja, os diáconos, os irmãos em Cristo, contra o vizinho, contra o cônjuge,
contra os filhos.
Murmuramos também pela falta de coisas que julgamos essenciais. E esta é uma grande
tentação, pois vivemos numa época de muitos
serviços e produtos. Temos todo um aparato tecnológico a nosso dispor, mas não temos os
recursos suficientes para obter tudo o que nos é
oferecido pela propaganda.
Então, qual é o resultado esperado para quem vive na carne? Murmuração.
A murmuração gera amargura, e esta gera a ansiedade, e a ansiedade anula a fé, e sem fé é
impossível agradar a Deus, pois é por meio dela que temos ativada a nossa comunhão com
Cristo. E fora de Cristo estamos mortos
espiritualmente.
Paulo afirma que os que foram destruídos nos dias do Velho Testamento, quando vigorava a Antiga Aliança, o foram para nossa advertência,
quanto ao fato de que a murmuração mata, pois
põe fim à nossa comunhão com Deus.
144
A melhor coisa a fazer, se alguém se encontra neste laço, e não estava consciente disto, é
confessar ao Senhor uma a uma as suas queixas,
e pedir-lhe perdão, recorrendo à sua misericórdia.
É certo que com isso, a paz retornará, e a pressão da adversidade cessará sobre a sua
alma.
É curioso que não há na lei de Moisés um só mandamento que proíba a murmuração, e isto é
muito importante para que consideremos até que ponto é um modo sábio de vida o legalismo,
uma vez que o Senhor julga toda a vida, ele
contempla a condição do nosso coração.
Viver insatisfeito, sem dar graças por tudo, ou seja: com gratidão em nossos corações, ofende a
pessoa de Deus, pois Ele tem sido um Pai zeloso, que cuida das nossas necessidades.
Por isso não teve Israel como inocente, e não deixou de visitar o seu pecado, e mandou Moisés
registrar os incidentes que O levou a puni-los
para nossa advertência, como que a nos dizer
que também não nos deixará impunes nesta questão.
“18 Em tudo dai graças; porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco.” (I Tes
5.18)
145
Um outro pecado citado por Paulo no texto de I Cor 10.6-11, e que dispensa maiores
comentários, é o pecado da imoralidade, que
trouxe a morte sobre vinte e três mil israelitas num só dia.
Por aí dá para ver o quanto a imoralidade desagrada ao Senhor.
Especialmente os que vivem no mundo Ocidental devem ter muito cuidado em relação
a isto porque nossa cultura tem incentivado
crescentemente, a prática da imoralidade.
“15 Não sabeis vós que os vossos corpos são membros de Cristo? Tomarei pois os membros
de Cristo, e os farei membros de uma meretriz?
De modo nenhum.
16 Ou não sabeis que o que se une à meretriz, faz-se um corpo com ela? Porque, como foi dito, os dois serão uma só carne.
17 Mas, o que se une ao Senhor é um só espírito
com ele.
18 Fugi da prostituição. Qualquer outro pecado que o homem comete, é fora do corpo; mas o que se prostitui peca contra o seu próprio corpo.
19 Ou não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que habita em vós, o qual
possuís da parte de Deus, e que não sois de vós
mesmos?
146
20 Porque fostes comprados por preço; glorificai pois a Deus no vosso corpo.” (I Cor
6.18-20)
147
Jesus Livrou o Crente do Jugo da Lei
As prescrições civis e cerimoniais da Antiga
Aliança foram chamadas de jugo pesado e de
escravidão, tanto pelo apóstolo Pedro (At 15.8-
10), quanto pelo apóstolo Paulo (Gál 5.1-4).
Não no sentido de que fossem uma coisa ruim, pecaminosa, pois no dizer de ambos, a lei é santa
boa e perfeita, mas algo demasiadamente
trabalhoso para ser cumprido (distinção entre
coisas limpas e imundas – animais, alimentos; lavagens cerimoniais; diversos tipos de
sacrifícios de animais e outros tipos de ofertas;
circuncisão; festas religiosas; etc), que havia
vigorado até que Cristo viesse.
Desde a morte e ressurreição de Jesus, nem os gentios, nem os próprios judeus, estão mais
obrigados a carregar tal jugo.
Ao se referir à separação do cristianismo do judaísmo, por se tratarem de alianças
amplamente distintas, Paulo disse aos gálatas que foi “para a liberdade que Cristo nos
libertou” (Gál 5.1).
Antes de tudo, libertou tanto os crentes quanto as igrejas, na Nova Aliança, de um sistema
religioso repleto de rituais e cerimônias, como
era o caso da Antiga Aliança.
148
Havia necessidade de uma determinação legal de cobrança de dízimos e ofertas, especialmente
para a administração dos serviços do templo, e
pagamento e sustento de levitas e sacerdotes.
No entanto, isto, sabidamente, em nada contribuiria para a santificação dos levitas e
sacerdotes, em razão da fraqueza da natureza humana (carne), e foi principalmente por este
motivo que havia tanta corrupção no ofício dos
levitas e dos sacerdotes.
Nenhum sistema religioso, por mais exigente que seja, não pode, de modo nenhum, promover
a santidade de coração dos que se congregam de tal forma institucional.
É preciso uma aliança não meramente administrativa, mas sobretudo do trabalho do
Espírito Santo nos corações, conduzindo os fiéis a uma verdadeira santidade e comunhão com
Deus.
Foi por isso que a opção dos gálatas pelo judaísmo, com sua pregação da necessidade da
circuncisão para a salvação, bem como a
negação da necessidade da fé em Cristo, para obtenção da justificação pelas obras da lei (Gál
2.16; 3.1-5), levou Paulo a chamá-los de
insensatos, pois estavam aceitando que o
evangelho fosse pervertido (Gál 1.6,7).
Ainda hoje, quando alguém oculta o caráter da obra que Jesus realizou em favor do pecador, e a
149
necessidade da novidade de vida em que devem
andar todos quantos foram regenerados (que
nasceram de novo), faz por merecer a mesma
imprecação proferida aos que induziam os gálatas ao erro: “seja anátema”. (Gál 1.9)
O argumento dos judaizantes, provavelmente, se firmava no fato de ter o próprio Jesus vivido
sob a lei de Moisés, cumprindo-a integralmente, e que com isso, estaria dando
um exemplo para ser seguido pela igreja.
Mas, quanto a isto, devem ser considerados pelo menos os dois aspectos a seguir:
1º - Jesus deveria cumprir a lei com vistas à nossa justificação (Mt 5.17), porquanto era necessário
que em tudo fosse obediente ao Pai, inclusive no
tocante ao cumprimento da lei, para que a sua
própria justiça pudesse ser imputada aos que nele cressem (Rom 5.19), por ter morrido sob a
lei no nosso lugar.
2º - A Nova Aliança só seria inaugurada após a morte de Jesus, posto ter sido estabelecida com base no seu sangue, que seria derramado na
cruz, e até aquele momento, Jesus, como
qualquer outro judeu, estava obrigado ao
cumprimento de toda a lei (Lc 22.20; Hb 9.11-18).
“Semelhantemente, depois da ceia, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é a nova aliança em
meu sangue, que é derramado por vós. (Lc 22.20)
150
Quando o apóstolo João disse que a lei foi dada por intermédio de Moisés, mas que a graça e a
verdade vieram por meio de Jesus (Jo 1.17),
estava se referindo à Antiga e à Nova Aliança.
É fora de qualquer dúvida que aludia a coisas distintas entre si.
E ainda que tal distinção, não configure o que é fundamental em termos de contraste, podemos citar que a Nova Aliança não possui
uma prescrição variada de rituais e de
regulamentos cerimoniais, como a Antiga
Aliança possuía, e conforme está registrado nas páginas do Velho Testamento.
A Nova Aliança apresenta apenas dois
cerimoniais (ceia e batismo), e nem alude sequer quanto à forma de se realizar a
ministração de ambos.
Não poderíamos fechar esta seção do presente livro sem fazer menção aos capítulos 4 e 5 de
Gálatas, nos quais Paulo faz uma comparação
entre a Antiga e Nova Aliança, notadamente neste aspecto de que a Antiga representava
servidão ao jugo da Lei, e a Nova, liberdade em
Cristo.
151
Breve Comentário de Gálatas 4
Os falsos apóstolos que haviam fascinado os
gálatas transitavam como mestres da Lei, pessoas entendidas nos assuntos relativos ao
Deus que havia se revelado a Israel, e agindo
falsamente em nome dos apóstolos que estavam
em Jerusalém, sem estarem autorizados por eles, ou mesmo que isto fosse do seu
conhecimento, afirmavam que estavam
defendendo em nome deles a Lei de Moisés que
Paulo estava desprezando.
Veja a sutiliza dos argumentos do diabo. Paulo não estava falando contra a Lei, mas apenas
dizendo que ela havia sido dada para propósitos
completamente diferentes do relativo à justificação dos pecadores, ainda que
contribuísse até mesmo para este propósito
conduzindo os pecadores a Cristo, por
convencê-los acerca do pecado e da santidade que é devida a Deus.
Mas como Paulo havia demonstrado claramente que a Lei era apenas um servo de
um propósito muito maior, a saber, conduzir os pecadores a Cristo, então os falsos mestres
estavam se jactando de um conhecimento sem
entendimento, porque não conseguiam discernir o plano de salvação de Deus e mesmo
qual foi o seu propósito quando estabeleceu a
Antiga Aliança.
152
Eles haviam tropeçado na Rocha de escândalo (Rom 9.33; I Pe 2.8) porque a confiança deles
estava na sua mera religiosidade e não
propriamente em Deus e na sua vontade, tanto que eles haviam rejeitado a Cristo, e a promessa
que foi feita a Abraão, por causa do seu orgulho
nacional que os levava a crer que eram superiores a todos os homens e que o mero
ritualismo da lei que eles seguiam e que haviam
adulterado de várias maneiras era o padrão a ser
seguido para se agradar a Deus.
Quanta ilusão e engano havia da parte deles!
Eram na verdade guias cegos, nuvens sem água, mestres sequer da Lei que eles fartamente
transgrediam, mas mesmo assim, eles se
consideravam a luz e a esperança dos gentios, e não nosso Senhor Jesus Cristo.
As palavras que Paulo usou em Romanos 2 e 3, para se referir a estes judeus bem definem os
sentimentos e pensamentos deles a que nos
referimos.
“Mas é judeu o que o é no interior, e circuncisão a que é do coração, no espírito, não na letra; cujo
louvor não provém dos homens, mas de Deus.”
(Rom 2.29).
“29 É porventura Deus somente dos judeus? E não o é também dos gentios? Também dos
gentios, certamente,
153
30 Visto que Deus é um só, que justifica pela fé a circuncisão, e por meio da fé a incircuncisão.
31 Anulamos, pois, a lei pela fé? De maneira nenhuma, antes estabelecemos a lei.” (Rom
3.29-31).
À luz destes ensinos nós podemos ver quão iludidos estavam os judaizantes por se
considerarem os depositários de uma revelação melhor (a da Lei), que a do Evangelho de nosso
Senhor Jesus Cristo.
Porque dá-se exatamente o oposto, conforme Paulo estava demonstrando na sua
argumentação junto aos gálatas.
O Israel de Deus era menino debaixo da Antiga Aliança, mas debaixo da Nova o Israel de Deus,
que é o seu povo remido, chegou à maturidade
espiritual, porque lhes foi revelado claramente todo o conselho de Deus relativo à salvação dos
pecadores. E a sua graça tem sido derramada
abundantemente nesta nova dispensação.
Além disso estava determinado por Deus que a Antigo Aliança seria transitória, como de fato
foi, e a Nova é eterna (II Cor 3).
Mas o orgulho nacional do judeu não lhe permitia enxergar isto.
Como poderia um pagão, ainda que se convertesse a Cristo, pensar que poderia ser
154
superior aos judeus, que eram descendentes de
Abraão?
Como poderiam saber mais acerca de Deus se foi ao povo de Israel que Deus revelou a sua
Palavra?
Deste modo, os falsos apóstolos judeus estavam impressionando os gálatas com estes
argumentos.
E foram tão convincentes nisto que eles se voltaram da graça para a Lei de Moisés, para
tentar fazer inultimente dela o meio da sua salvação.
Por isso Paulo disse aos gálatas que eles não deveriam esquecer que Jesus também era judeu
e que havia nascido sob a Lei, e que se fez
homem, sendo gerado no ventre de uma mulher, exatamente para o propósito de
cumprir perfeitamente a Lei que nós não
podemos guardar de tal forma perfeita, para que pudesse remir aqueles que cressem no seu
nome.
O ato de remissão é um ato de compra de liberdade, de resgate de uma propriedade que
estava hipotecada.
Somente Jesus obteve méritos suficientes diante de Deus e era rico o suficiente para poder
pagar tão alto preço que nenhuma riqueza deste
mundo ou do universo poderia pagar, e nem
155
todos os anjos que se encontram sem pecado no
céu.
Somente Ele poderia morrer por todos os homens, porque o Salvador deles não somente
deveria expiar a culpa deles, como também ser o Cabeça destes remidos sustentando-os em
santificação pela própria força do seu poder.
Quem dentre os homens e os anjos seria suficiente para isto?
O Salvador dos eleitos deveria ter riquezas e
poder suficientes para tornar a todos eles herdeiros de Deus, e para poder também batizá-
los com o Espírito Santo prometido.
Ora, sabemos que o Espírito Santo é a terceira pessoa da trindade, assim, Ele é também divino,
e qual dos anjos é superior ao Espírito de maneira que pudesse ter a presunção de tê-lo
debaixo da missão de honrá-los e de falar
somente aquilo que recebesse deles, assim como faz em relação a Cristo?
Nós vemos então que ninguém mais poderia ter morrido no lugar dos pecadores senão nosso
Senhor Jesus Cristo, porque até mesmo na
trindade estão claramente definidas as funções tanto do Pai, quanto do Filho, quanto do Espírito.
Então temos diante de nós um plano de salvação perfeitamente ordenado e planejado, e os
judeus estavam desconsiderando inteiramente
156
este plano de Deus, para afirmarem aquilo que
julgavam ser tal plano pela exclusiva
imaginação deles.
Não admira que sejam chamados de guias cegos pelo Senhor.
Por conseguinte Jesus nos resgatou até mesmo da Antiga Aliança, porque caso Ele não viesse
para revogá-la, os judeus permaneceriam ainda debaixo dela, e os gentios de todas as nações,
permaneceriam também nas densas trevas da
ignorância, e sem Deus no mundo.
E todos os que são resgatados pela fé, não o são
para uma relação de servidão à Lei como a maioria dos judeus na Antiga Aliança, porque
não conheciam de fato ao Senhor apesar de
fazer parte do povo da Aliança, mas para uma
relação filial, porque em Cristo todos os crentes são filhos de Deus, o que se comprova pelo fato
do Espírito Santo, que move os seus corações e
lábios a chamar a Deus de Pai, e tendo a
convicção firme e espiritual que é de fato o Pai deles, porque testifica juntamente com os seus
espíritos que todos os que foram remidos em
Cristo são verdadeiros filhos de Deus.
Santo Agostinho disse que todo homem tem certeza da sua fé, se ele tiver fé.
E assim se dá com os crentes, eles têm certeza da sua filiação, se são de fato nascidos de novo
157
pelo Espírito sendo filhos de Deus de fato e de
direito, conforme os méritos de Cristo.
De modo que dizemos que são filhos não por merecimento, mas por direito, porque Jesus comprou tal direito na cruz não com os mérito
dos crentes, mas com os seus próprios méritos.
Paulo chama a Lei cerimonial e civil do Antigo Testamento, e a própria Antiga Aliança de rudimentos fracos que os gálatas queriam
servir.
Eles eram pagãos antes de terem vindo a Cristo, isto é, não tinham nenhum conhecimento sobre
a vontade revelada de Deus nas Escrituras, e não eram contados em suas nações com o povo de
Israel, que era a única nação com a qual Deus
estava aliançado no Velho Testamento.
Não que Ele esteja agora propriamente aliançado com todas as nações da terra, mas na
dispensação da Lei nenhuma outra nação se
encontrava debaixo do regime teocrático, senão
Israel, de modo, que naquele tempo todas as demais nações eram consideradas pagãs.
Cada uma destas nações serviam aos seus falsos deuses, até que Cristo veio, e muitos destes
pagãos se converteram ao Deus vivo e verdadeiro, como foi o caso dos gálatas, de
maneira que deixaram os falsos deuses deles
para servirem unicamente ao Senhor que eles
158
passaram a conhecer pessoalmente pela
revelação do Espírito Santo em seus corações.
Mas ainda que alguns deles ou a maioria deles, apesar desta experiência pessoal com Deus, não
O conhecessem da maneira pela qual convém ser conhecido através de um amadurecimento
espiritual em santificação que nos habilita a
conhecer melhor qual é o seu caráter e a sua
vontade, no entanto todos os filhos de Deus, sem uma única exceção, são perfeitamente
conhecidos por Ele (II Tim 2.19).
Por isso, no ato de se voltarem para os rudimentos fracos da Antiga Aliança, tendo
uma vez sido revogados por Cristo, eles eram
mais indesculpáveis do que os próprios judeus, porque, afinal, não haviam sido educados nos
costumes deles.
Eles serviam a ídolos, e conheceram a santidade do Senhor pelo Espírito e pela palavra do
Evangelho, e agora estavam deixando uma
adoração espiritual, na liberdade do Espírito, por uma adoração cerimonial que se baseava
em guardar dias, meses, épocas e anos sagrados.
É provável que estivessem guardando as festas dos tabernáculos, o sábado sagrado com todas
as suas prescrições cerimoniais previstas na Lei de Moisés, e todas as demais festas e
celebrações judaicas, pensando que a salvação
de suas almas dependia disso.
159
Há movimentos denominados de congressos de santidade em nossos dias que estão afirmando a
necessidade do cumprimento destas
prescrições cerimoniais da Lei de Moisés para que os crentes possam ser santificados.
Eles incorrem no mesmo erro dos judaizantes fascinando o povo de Deus tanto quanto os
judaizantes haviam fascinado os gálatas, com
práticas errôneas de adoração na presente dispensação, porque tudo isto é uma afronta à
graça de Cristo, e ao seu trabalho de Redentor
que nos livrou para sempre do jugo da Lei, para que nos regozijássemos na liberdade que
conquistou para nós com tão alto preço.
Os judaizantes erravam por afirmar a guarda da Lei cerimonial para a justificação e estes
modernizantes erram por afirmarem o uso da Lei para a santificação.
Afinal qual é a eficácia destes usos para purificar o coração?
Qual é o poder do ritual para aumentar a nossa fé, amor, misericórdia e diligência?
Substituiremos a adoração verdadeira que é adoração dO que é invisível, pelo uso de coisas que são visíveis?
A verdadeira fé necessita de apoio do que é visível, uma vez que ela é a firme convicção do
que não se vê?
160
Não é pela fraqueza da carne, e por uma falta de andar verdadeiro na Palavra e no Espírito que
todas estas coisas são praticadas?
Afinal, não afirma nosso Senhor que a
verdadeira adoração é em Espírito?
A repreensão do apóstolo aos gálatas também se aplica a estes, e eles fariam bem em atentar para
ela e se arrependerem, abandonando de vez os
rudimentos fracos que foram abolidos por
Cristo na cruz.
Todo este cerimonial aponta para a Lei e dá honra à Lei. Aponta para a Antiga Aliança e
despreza a Nova. Exalta a Moisés e rebaixa a
Cristo. E todo crente instruído pela Palavra e
pelo Espírito abominará tais práticas e não poderá adorar a Deus na liberdade do Espírito.
Deus é espírito e deve ser adorado somente em espírito. Deus é verdade e deve ser adorado
somente em verdade. E a graça e a verdade foram trazidas por Cristo, de modo que não se
sirva mais a Deus nas bases de um antigo pacto
que Ele revogou.
Lembremos que Deus nunca prometeu salvar qualquer pessoa pela observância religiosa de cerimônias e rituais.
Aqueles que confiam em tais coisas servem um deus, que é a própria invenção deles, e não o
verdadeiro Deus.
161
O verdadeiro Deus tem isto para dizer: Nenhuma religião me agrada por meio da qual o
Pai não é glorificado pelo Filho.
Portanto, o que eles fazem, nesta nova dispensação não é obediência à Lei de Moisés, porque esta exigência já passou, mas idolatria,
porque não é culto direcionado àquilo que Deus
tem determinado para a Nova Aliança, mas
simples prazer carnal em realizar cerimônias e rituais não para obediência e aprazimento de
Deus, senão dos próprios desejos carnais deles.
Mas o pecado dos gálatas era ainda maior do que o destes dos chamados grupos de busca de
santidade baseada nos cerimoniais e rituais da Lei, porque estes como dissemos buscam
adorar a Deus e se santificarem por este meio, e
os gálatas procuravam prioritariamente usar
disto para serem justificados, isto é, para obterem a salvação que a maioria deles já havia
conquistado pela graça, mediante a fé em Cristo
Jesus.
E que nem mesmo a desobediência deles poderia desfazer, mostrando assim que a
salvação em Cristo não é um rudimento fraco, como o de estar aliançado nos termos da Antiga
Aliança, porque todo crente é nascido do
Espírito, é filho de Deus por adoção, e está firme e seguro na graça que o salvou, porque a sua
justificação não depende dele próprio senão
dAquele que o salvou, e que carrega nos seus
162
próprios ombros todas as ovelhas que estavam
perdidas.
Por isso Paulo rogou humildemente aos gálatas, como um pai que insta com seu filho perdido, a
voltarem ao mesmo bom caminho em que andavam antes da sua perdição.
Ele havia desabafado no verso 11 dizendo que estava perplexo com o que eles haviam feito, e
receava então que não tivesse trabalhando em
vão em relação a eles.
Mas como que logo lembrando imediatamente da condição deles de terem sido feitos filhos de
Deus, tal como ele havia sido feito também, ele desce ao nível deles, não no que se refere ao
pecado, mas da miséria deles, e por um
momento também se sente miserável com eles,
ante a impotência de poder fazer por si mesmo algo em relação a eles, de modo que todo o seu
trabalho e cuidado por eles não se tornasse
infrutífero.
Assim, ele lhes fez recordar quão grande era o afeto que eles tinham por ele quando lhes
pregou o evangelho pela primeira vez, e como eles lhe haviam tratado tão bem, mesmo diante
da sua fraqueza na ocasião, provavelmente em
razão de alguma possível enfermidade, pois ele lhes diz que eles estavam dispostos até mesmo,
se possível fora, a arrancarem os seus próprios
olhos para darem ao apóstolo, podendo isto ser
163
uma referência a alguma enfermidade que
Paulo tivera nos olhos quando anunciou o
evangelho pela primeira vez na Galácia.
Ou isto foi o resultado de ferimentos produzidos pelo apedrejamento que ele havia sofrido dos
judaizantes naquela região.
O livro de Atos conta detalhes do que ocorreu ao apóstolo quando pregava o evangelho nas
cidades da Galácia (Perge, Derbe, Listra,
Antioquia da Psídia e Icônio).
Em todo o caso, não importa qual era o tipo de fraqueza, e sabemos que não era nada relativo a
pecados, porque se o fora o apóstolo não teria poder para ministrar a eles, e pecado não é
fraqueza mas rebelião.
Aquela fraqueza quanto à sua incapacidade e impotência pessoais, serviram aos propósitos de
Deus, porque o poder de Cristo, a sua graça, se
aperfeiçoam na nossa fraqueza. De modo que
quando somos fracos então é que somos fortes, porque trocamos a nossa incapacidade pelo
poder do Espírito Santo, que nos assiste nas
nossas fraquezas.
Deste modo, Paulo chamou os gálatas de irmãos. Ele quis demonstrar que apesar de apóstolo de
Cristo ele não se envergonha de chamá-los de irmãos, desde o maior até o menor deles,
porque efetivamente o eram, assim como o
nosso Salvador também não se envergonha de
164
nos chamar de irmãos, apesar de ser o nosso
Senhor.
No amor cristão as diferenças se dissolvem. Na comunhão da lareira de Deus o pai é igual aos
filhos, e se tornam todos servos de Deus e
irmãos uns dos outros, porque esta será a
condição definitiva que todos os filhos de Deus terão no céu.
Assim como Cristo se rebaixou deixando a
glória dos céus, por amor dos eleitos, também devemos nos humilhar para que possamos ser
úteis àqueles que se encontram em miséria
espiritual.
Não devemos lhes falar do alto da nossa autoridade e importância, porque
esmagaríamos a cana quebrada e apagaríamos o
pavio fumegante, e certamente não é este o ministério do Senhor Jesus neste mundo,
porque tem se compadecido das nossas
misérias.
Quando o próprio Paulo havia pregado o evangelho a eles pela primeira vez, os gálatas
superaram por causa do seu amor a ele, a tentação que foi para eles vê-lo naquela
fraqueza.
Eles não o desconsideraram e nem o desprezaram como possivelmente estavam
fazendo agora, por causa dos argumentos dos
judaizantes, porque procuravam por todos os
165
meios desqualificar e rebaixar o apóstolo diante
dos seus olhos, afirmando que se fosse
verdadeiro ministro de Cristo não estaria sujeito
a tantas tribulações, fraquezas e perseguições, conforme costumava ocorrer com Paulo.
Estes falsos apóstolos se gloriavam das suas honrarias, das suas posses e conquistas
terrenas, alegando que eram bênçãos de Deus
por observarem a Lei de Moisés.
E agora os gálatas não haviam conseguido vencer a tentação de considerar Paulo alguém
que não era bem sucedido segundo os padrões
do mundo.
Assim, devem ter se escandalizado não
meramente em Paulo, mas principalmente no próprio Cristo, considerando-Lhe incapaz de
muar as circunstâncias de Paulo para melhor. E
isto não passava de um juízo carnal.
Por isso Paulo rogou que eles voltassem a ser como foram no princípio. Que não julgassem
segundo a aparência, e que não interpretassem
as tribulações como prova de um possível
desfavor de Deus.
Um verdadeiro amigo prevenirá o seu irmão que estiver errando, e se o irmão errado tiver algum
senso ele agradecerá ao seu amigo.
Na verdade o mundo odeia quem fala a verdade, e este é considerado um inimigo.
166
Mas entre amigos não deve ser assim, muito menos entre cristãos.
O apóstolo queria que os gálatas soubessem por que ele lhes tinha falado a verdade, para o próprio bem deles, e que não pensassem que ele
os repugnava.
Ele lhes falou a verdade porque os amava.
“17 Eles têm zelo por vós, não como convém;
mas querem excluir-vos, para que vós tenhais zelo por eles.
18 É bom ser zeloso, mas sempre do bem, e não somente quando estou presente convosco.
19 Meus filhinhos, por quem de novo sinto as dores de parto, até que Cristo seja formado em
vós;
20 Eu bem quisera agora estar presente convosco, e mudar a minha voz; porque estou perplexo a vosso respeito.” (Gál 4.17-20).
O apóstolo alerta aos gálatas sobre as reais intenções do judaizantes.
Eles protestavam que tudo o que estavam fazendo era por causa do zelo deles em relação aos gálatas.
Mas Paulo lhes disse qual era a real motivação por detrás daquele suposto zelo: eles odiavam a
167
doutrina de Paulo e queriam jogá-la fora da vida
dos gálatas. Eles queriam afastar os corações
deles do coração de Paulo. Eles queriam em
última instância afastá-los de Cristo.
Eles agiam movidos por inveja porque lhes incomodava o modo como o evangelho
avançava rapidamente no mundo, ganhando muito mais adeptos do que o judaísmo, que nos
dias de Jesus havia se transformado numa
religião pervertida baseada em mandamentos de homens, enfatuados em sua compreensão
carnal.
Enquanto a mensagem dos judaizantes estava completamente afastada da revelação das
Escrituras, o cristianismo nos dias de Paulo
seguia fielmente esta revelação, e o evangelho
estava plenamente em conformidade com tudo o que os profetas do Velho Testamento haviam
falado da parte de Deus a respeito dele.
Então que zelo era aquele que os judaizantes afirmavam ter pelos gálatas?
Aquilo que parecia um grande zelo era na verdade ausência de sinceridade e amor à verdade. E é costume dos sedutores insinuarem
muito afeto pelas pessoas, somente com a
intenção de ganhá-las para as causas deles.
Eles as adulam, e envolvem-nas com apelos emocionais e sentimentais, e procuram agradá-
las dando-lhes aquilo para o qual a natureza
168
delas está inclinada, sem levar em conta se estas
coisas estão em conformidade com a vontade
revelada de Deus.
O diabo não se importa nem um pouco em concordar com todos os nossos desejos e em
estimular a realização de todos os nossos
sonhos.
Neste sentido ele é o maior amigo dos pecadores, só que o que ele faz é agravar ainda
mais a miséria espiritual deles, e a culpa pelos seus pecados.
Ele usa sempre a mesma estratégia do Éden,
pois promete mundos e fundos, tal como fez descaradamente até com o próprio Jesus na
tentação do deserto.
Foi a mesma velha Serpente que prometeu onisciência divina a Adão e a Eva, e que
procurou se mostrar mais amigo deles do que o
próprio Deus, dizendo-lhes que eram livres e
deveriam fazer um bom uso da liberdade deles fazendo tudo o que desejassem, inclusive comer
do fruto da árvore do conhecimento do bem e do
mal.
Ele não disciplina, não cura feridas com remédios amargos, antes sempre sinaliza o que
é doce e agradável, promete riquezas, fama e honrarias, e não são poucos os que caem nos
seus laços vitimados pelas suas próprias cobiças
pecaminosas.
169
Então o trabalho do diabo é basicamente este de estimular a própria natureza decaída do homem
a pecar e a se desviar da verdade, não
importando que a Palavra de Deus seja transgredida e que os autênticos ministros que
Deus tem levantado para nos servir sejam
feridos por nossas ingratidões e rebeliões.
Foi assim que o diabo agiu no céu quando da sua queda e ele tem procurado ardorosamente
discípulos na terra entre os homens que estejam dispostos a seguir os seus passos.
O que os gálatas haviam feito então foi um ato de rebelião contra a verdade revelada, para seguirem após o diabo, virando as costas para o
Senhor que lhes havia salvado.
Deste modo, todo zelo verdadeiro deve ser
sempre zelo pelo bem (Gál 4.18), e um zelo sincero e bem disciplinado que exista não
somente na presença dos homens, mas em
todas as ocasiões da nossa vida, porque não é zelo para agradar a homens, mas para agradar a
Deus. Assim como um bom empregado é aquele
que tudo faz bem sem que o patrão esteja
presente.
O sentimento de Paulo em relação aos gálatas era o de que ele necessitaria gerar de novo neles
a vida de Cristo.
Isto não seria necessário quanto à regeneração, porque eles eram nascidos de novo pelo
170
Espírito, e por isso Paulo os chama de “meus
filhinhos”. Mas que eles necessitavam ser
renovados na Palavra da verdade, na vida e no
andar no Espírito, certamente isto era necessário em face do procedimento deles.
Isto era algo que havia deixado o apóstolo inteiramente perplexo. Eles haviam se afastado
da verdade em muito pouco tempo.
Todo pastor deveria ser como Paulo no esforço de formar Cristo no coração dos seus ouvintes.
Assim todo pastor é um pai espiritual que forma
Cristo nos corações dos seus ouvintes.
Os Gálatas haviam perdido a forma de Cristo, mas Paulo estava dizendo que estava disposto a
reformar Cristo neles, isto é, a formá-lo de novo
em seus corações.
Paulo expressa que gostaria de fazer isto estando presente entre eles, e mudando o seu
tom de voz, porque em face do arrependimento
que visse neles à medida que lhes expusesse
estas coisas, ele mudaria também o tom de suas palavras repreensivas.
Ele preferiria fazê-lo realmente com outro tom de voz porque é muito doloroso para todo pai ter
que corrigir duramente os seus filhos, à altura da gravidade dos erros que eles cometeram,
mas todo pai amoroso sempre abaixará o tom da
sua voz quando perceber um sincero
171
arrependimento no filho que se submeteu à sua
repreensão.
“21 Dizei-me, os que quereis estar debaixo da lei, não ouvis vós a lei?
22 Porque está escrito que Abraão teve dois filhos, um da escrava, e outro da livre.
23 Todavia, o que era da escrava nasceu segundo a carne, mas, o que era da livre, por promessa.
24 O que se entende por alegoria; porque estas são as duas alianças; uma, do monte Sinai,
gerando filhos para a servidão, que é Agar.
25 Ora, esta Agar é Sinai, um monte da Arábia, que corresponde à Jerusalém que agora existe, pois é escrava com seus filhos.
26 Mas a Jerusalém que é de cima é livre; a qual é mãe de todos nós.
27 Porque está escrito: Alegra-te, estéril, que não dás à luz; Esforça-te e clama, tu que não estás de parto; Porque os filhos da solitária são
mais do que os da que tem marido.
28 Mas nós, irmãos, somos filhos da promessa como Isaque.
29 Mas, como então aquele que era gerado segundo a carne perseguia o que o era segundo
o Espírito, assim é também agora.
172
30 Mas que diz a Escritura? Lança fora a escrava e seu filho, porque de modo algum o filho da
escrava herdará com o filho da livre.
31 De maneira que, irmãos, somos filhos, não da escrava, mas da livre.” (Gál 4.21-31).
Paulo demonstra nesta seção da epístola que o que estava ocorrendo com os gálatas era o
mesmo que havia ocorrido entre Ismael e
Isaque, filhos de Abraão, porque Ismael
zombava de Isaque porque era filho da mulher livre (Sara), e ele, filho de uma escrava (Agar).
De igual modo, os dois povos que haviam se
formado como descendência de Abraão, o terreno (Israel na Palestina) e o celestial (os
crentes) estariam na mesma condição relativa a
Isaque e Ismael, pois os que nasceram como
povo no Sinai, onde a Lei foi promulgada e Deus fez aliança com este Israel terreno através de
Moisés, viria a perseguir o povo nascido pela
aliança firmada no sangue de Jesus derramado no monte Sião, e cuja pátria não é a Jerusalém
terrena, mas a Jerusalém celestial.
Então não era nada surpreendente que aqueles judeus estivessem perseguindo a Igreja de
Cristo para sujeitá-la à escravidão da Lei.
Os gálatas deviam estar bem inteirados disto de maneira que entendessem qual era a verdadeira
natureza do assédio que estavam sofrendo da
parte dos judeus.
173
Deus havia profetizado que colocaria Israel em ciúmes com os gentios, porque em face do
endurecimento deles ele estenderia a salvação
aos gentios, e eles não concordariam, do ponto de vista religioso deles, que pagãos pudessem
ser aceitos por Deus, ainda que se convertendo
a Ele, fora dos termos da Aliança que havia sido feita no monte Sinai.
“19 Mas digo: Porventura Israel não o soube?
Primeiramente diz Moisés: Eu vos porei em ciúmes com aqueles que não são povo, Com
gente insensata vos provocarei à ira.
20 E Isaías ousadamente diz: Fui achado pelos que não me buscavam, Fui manifestado aos que
por mim não perguntavam.
21 Mas para Israel diz: Todo o dia estendi as minhas mãos a um povo rebelde e
contradizente.” (Rom 10.19-21).
Assim, como no dizer de Paulo, Agar e Sara representam alegoricamente duas alianças, duas dispensações diferentes.
Uma que gera filhos para servidão (Agar) porque não são nascidos segundo a promessa de Deus,
tal como fora Isaque.
E a Jerusalém terrena gerou filhos para servidão na Antiga Aliança, isto é, debaixo da Lei, porque
não havia naquela aliança nenhuma promessa
174
de Deus relativa à vida eterna, tal como há na
Nova.
Deus salvou naquela dispensação também pela graça, mediante a fé, mas não por alguma
promessa que houvesse naquela dispensação
para os que faziam parte da Antiga Aliança.
As promessas que encontramos nos profetas do Velho Testamento neste sentido se referem à
Nova Aliança que ainda seria inaugurada com a
morte de Jesus.
Elas apontavam para o futuro, e assim Agar, que é a Antiga Aliança não poderia jamais gerar um
Isaque, senão um Ismael, porque o filho da promessa foi prometido a Sara, a esposa daquele
que tinha as promessas a saber, Abraão.
A igreja é a noiva de Cristo, e é nele que se cumprem as promessas de Deus relativas à vida
eterna celestial.
É em Cristo, que é o Isaque da Igreja, que se
cumpre a promessa de Deus de gerar filhos espirituais contados na sua descendência. Deste
modo, os que não descendem de Cristo, não
podem ser contados como filhos de Deus, como verdadeiros judeus. Assim, quanto à geração de
filhos pela promessa divina, Isaque foi também
um tipo de Cristo na Antiga Aliança.
175
Aqueles que são nascidos por promessa são filhos da mulher livre (Sara que representa a
Jerusalém celestial).
Estes e somente estes podem contar com a liberdade porque nasceram por promessa, tal
como Isaque, da mulher estéril e que Deus
tornou abundantemente fecunda para trazer
muitos filhos espirituais à luz.
A Jerusalém celestial ainda não foi manifestada, e pode-se dizer dela que é uma mulher estéril,
por ora, tal como Sara, mas no momento
aprazado pelo Senhor ela estará cheia de filhos, filhos que viverão eternamente, porque o que
Deus tem prometido, cumprir-se-á a seu tempo.
Os judeus, que ainda hoje permanecem com seus filhos, resistindo à Aliança da Graça, por
estarem apegados à justiça da Lei, permanecem em estado de escravidão e não conhecerão a
liberdade dos filhos de Deus caso não se
convertam voltando-se para Cristo.
Enquanto isto, os gentios que não conheciam a revelação de Deus estão se convertendo pelo
mundo afora porque são filhos da promessa, e
vivem na liberdade do Evangelho, e não sob o
jugo da Antiga Aliança.
Devemos considerar que aqueles que são das obras da Lei, ainda em nossos dias, perseguem
aqueles que vivem na graça de Cristo.
176
Os próprios crentes legalistas são assassinos da graça, e apesar de livres, agem como se fossem
escravos porque querem viver debaixo da Lei,
não sabendo que em Cristo não estão mais debaixo da Lei e por isso não devem viver
debaixo dela, colocando-se debaixo de um jugo
do qual foram livrados pela promessa que Deus fez acerca dos seus filhos gerados na Nova
Aliança.
Deste modo ninguém se surpreenda caso encontre grande resistência da parte destes
legalistas, toda vez que pregar e ensinar a
doutrina da graça.
Eles têm pavor da liberdade da graça porque suas consciências são fracas e eles temem servir
a Deus na liberdade do Espírito.
Eles encontram na Lei um certo senso de segurança. Eles temem perder o mérito e louvor
pessoal pelo esforço próprio, pensando que
guardam todos os mandamentos, e não lhes agrada transferir toda a glória e louvor à graça
de Cristo.
Eles se sentem melhores e superiores a muitos comparando-se com eles, e não poderiam fazer
isto vivendo na graça, senão somente na Lei.
Eles fazem um uso inadequado da Lei, fora dos propósitos que Deus designou para ela, e
perseguirão movidos ou não pelo diabo, todos
aqueles que estiverem desfrutando da graça,
177
sob a falsa alegação de uma injusta acusação de
que exageram demais os méritos de Cristo, e a
depravação da natureza terrena.
Eles não gostam de ouvir a verdade que a graça faz de que são pecadores necessitados da misericórdia divina.
Não lhes agrada ouvir que sem Jesus nada poderão fazer, porque eles se iludem que tudo o
que se refere à vontade de Deus são eles
próprios que fazem, e é o dever deles fazê-lo, só
que são como Ismael e não como Isaque. São como Agar e não como Sara.
A Jerusalém deles é terrena e não celestial. E em vez de olharem o monte Calvário em Sião,
agrada-lhes mais voltar suas atenções ao Sinai,
uma vez que lhes agrada mais o pensamento de
um mediador como Moisés, que deixa muito para ser feito por eles, do que um Mediador
como Cristo, que nada deixou para ser feito por
eles nos assuntos relativos à sua redenção,
justificação, regeneração e até mesmo santificação.
Dizemos até mesmo santificação porque até nossas boas obras dependem da graça do
Senhor, porque é Deus quem realiza em nós
tanto o querer quanto o efetuar, de modo que podemos dizer como Paulo que trabalhamos
muito para o Senhor, todavia não nós mas a sua
graça.
178
Na verdade, nada podemos fazer de nós mesmos para Deus, porque somos completamente
insuficientes para sequer vencer os poderes
espirituais que se levantam contra nós quando nos dispomos a fazer a sua santa vontade, e
muito menos para reproduzirmos a vida
abundante de Jesus Cristo.
179
Breve Comentário de Gálatas 5
“1 Estai, pois, firmes na liberdade com que Cristo nos libertou, e não torneis a colocar-vos debaixo do jugo da servidão.
2 Eis que eu, Paulo, vos digo que, se vos deixardes circuncidar, Cristo de nada vos
aproveitará.
3 E de novo protesto a todo o homem, que se deixa circuncidar, que está obrigado a guardar
toda a lei.
4 Separados estais de Cristo, vós os que vos justificais pela lei; da graça tendes caído.
5 Porque nós pelo Espírito da fé aguardamos a esperança da justiça.
6 Porque em Jesus Cristo nem a circuncisão nem a incircuncisão tem valor algum; mas sim a
fé que opera pelo amor.
7 Corríeis bem; quem vos impediu, para que não obedeçais à verdade?
8 Esta persuasão não vem daquele que vos chamou.
9 Um pouco de fermento leveda toda a massa.
180
10 Confio de vós, no Senhor, que nenhuma outra coisa sentireis; mas aquele que vos inquieta, seja
ele quem for, sofrerá a condenação.
11 Eu, porém, irmãos, se prego ainda a circuncisão, por que sou, pois, perseguido?
Logo o escândalo da cruz está aniquilado.” (Gál
5.1-11).
Tendo argumentado no capítulo anterior quanto à liberdade que os crentes têm em Cristo
por serem filhos da promessa, da Jerusalém celestial, por terem sido libertados em Cristo da
condenação e da maldição da Lei, é dever deles
viverem para Cristo, não como escravos, mas como livres que são.
O crente é livre até mesmo da escravidão do seu próprio ego, da sua própria vontade, porque é
livre para poder escolher e viver segundo a vontade de Deus pelo poder do Espírito.
Portanto, uma vez que os gálatas retornassem à
obediência à verdade do Evangelho deveriam ter o devido cuidado de não retornarem a cair na
mesma sedução que lhes havia vencido e
removido da liberdade em que se encontravam, para serem sujeitados ao jugo de servidão que
lhes foi imposto pelos judaizantes.
A perseguição do filho da escrava ao filho da livre não é sem propósito, pois os que são
escravos querem também escravizar outros a
eles próprios.
181
Há poderes terríveis operando no mundo espiritual, e eles disputam pelo governo total de
nossas vontades e espíritos.
A carne sempre tentará trazer o crente de novo
à sujeição total que exercia sobre ele, quando andava no mundo sem Cristo.
O mundo também faz o mesmo tentando cativar totalmente a vontade e os afetos do crente nos
tesouros terrenos, sejam eles lícitos ou não.
Satanás, o diabo, dispensa comentários quanto a
isto, quer agindo diretamente, quer usando os seus ministros que se transfiguram em
ministros de justiça, para enganar os crentes.
A liberdade com que Cristo nos libertou é muito ampla, mas Paulo tem em mente aqui nesta
seção de Gálatas, a liberdade relativa ao jugo da Lei que havia sido colocado pelos judaizantes
sobre os crentes gálatas.
Aprouve a Deus salvar e libertar os pecadores através da fé, conforme revelou ao profeta Habacuque (2.4). Então a mensagem de salvação
e libertação do evangelho é a pregação da fé e
não das obras da Lei.
Nós não devemos evangelizar alguém que esteja a ponto de passar desta vida para outra, em seu leito de enfermidade, dizendo-lhe que se deseja
ir para o céu deve circuncidar o seu prepúcio, ou
então que deve guardar todos os dez
182
mandamentos da Lei de Moisés, ou qualquer
outra coisa diferente de que deve confiar apenas
em Cristo como seu Salvador, arrependendo-se
dos seus pecados, e crer no seu coração que Ele é o Senhor.
Se as forças lhe permitirem deve confessá-lo com a sua boca invocando o seu nome, porque
Deus prometeu salvar todo aquele que
invocasse o nome do seu Filho para que seja salvo.
É importante frisar que Paulo não estava combatendo a circuncisão como se ela fosse um
mal, pois poderia ser mantida por costume por
todo crente judeu que assim o desejasse, mas que este não pensasse nem de longe que há
alguma eficácia espiritual no ato da circuncisão
seja para que propósito for, muito menos para a
justificação.
Todo crente que não obedecesse isto, e
colocasse a sua confiança que o modo de agradar a Deus seria pela simples circuncisão do
prepúcio ou por qualquer outro expediente
carnal, segundo Paulo, estava com isto dando
uma prova do seu afastamento da comunhão com Cristo por esta grande ofensa feita a todo o
grande trabalho de expiação e redenção que Ele
fez em nosso favor, para que tributássemos a Ele e somente a Ele toda a glória por todos os atos
que foram operados em nós, relativos à
salvação, e uma declaração formal expressa de
183
que não desejamos depender dele para
progredirmos em nosso amadurecimento
espiritual.
Estes muitos evangelhos que não ensinam que Cristo é o tudo da nossa salvação, e que é olhando sempre para Ele com os olhos
espirituais da fé, que progredimos
espiritualmente, sempre produzirão este efeito
de nos separar da comunhão com o Senhor, ainda que afirmemos que é em seu nome que
nos submetemos às práticas que são estranhas
ao evangelho.
Uma vez estando separado da comunhão com o Senhor, por se entristecer e apagar a atuação do
Espírito Santo, com este pecado de ingratidão e de desconsideração para com Ele e com tudo o
que fez por nós, a consequência imediata é a de
se decair da graça, ou seja, ficar privado do
crescimento na graça, e das consolações da graça pelo Espírito.
A propósito, faremos bem em considerar que a graça não é uma filosofia, mas um poder, na
verdade, o maior poder operante neste mundo,
porque é por ela que se destrói o pecado, e que
se transforma progressivamente pecadores em santos, pelo processo da santificação.
Como o objetivo dos gálatas era o de serem justificados pela circuncisão, Paulo lhes
lembrou que isto era muito pouco ou quase
184
nada, porque segundo a justiça da lei, para a
justificação, é necessário cumprir
perfeitamente todos os demais mandamentos e
isto continuamente por toda a vida. E temos demonstrado anteriormente que isto é uma
tarefa impossível, porque o homem é pecador.
Nós não estamos tratando agora de um assunto sem importância. É uma questão que envolve
liberdade perpétua ou escravidão perpétua.
Porque a libertação da ira de Deus pelo ofício
amoroso de Cristo não é um benefício transitório, mas uma bênção permanente,
assim como o jugo da Lei, para os que
permanecem debaixo da maldição da Lei, por
não terem sido libertados por Jesus, não é um temporário mas uma aflição perpétua.
Contudo os gálatas haviam sido encantados e estavam cegos quanto a esta verdade que lhes
havia sido ensinada, mas na qual eles não haviam ficado firmes. Eles não permaneceram
firmes na graça, e decaíram da graça. Porque
não há outro modo de permanecer na graça a
não ser o de ficar firme nela, sem se deixar remover na mente ou no espírito, dando crédito
a doutrinas que afirmam o oposto da nossa
segurança em Jesus.
Este descaimento, como afirmamos anteriormente é consequente da desonra que se
dá ao poder do Senhor e à sua graça, quando se
185
pensa que há outro modo de se agradar a Deus a
não ser pela fé.
A falta de fé naquilo que Deus tem afirmado é incredulidade, e isto é um pecado terrível.
Deixar de crer naquilo que a boca de Deus tem
proferido para se dar crédito ao homem ou ao diabo, é falta de fé, e é por isso que Paulo afirma
que é pelo Espírito da fé que aguardamos a
esperança da justiça, isto é, esta fé é operada
pelo Espírito, de modo que temos plena esperança da justiça (Gál 5.5) que temos
recebido em Cristo Jesus, e vale destacar que a
noção bíblica de esperança não é incerteza quanto ao futuro, mas segurança de que
receberemos tudo o que Deus nos tem
prometido. E Paulo afirma que não é ser judeu
ou gentio que tem qualquer valor, mas ter esta fé que opera pelo amor (Gál 5.6).
O amor é sobretudo a união do crente com Cristo que é a fonte do amor. Isto significa então que não é possível ter fé à parte da comunhão
com Cristo.
E se os gálatas estavam se desligando de Cristo para se ligarem aos judaizantes e ao ensino
pervertido deles, que fé eles poderiam ter?
Como uma fé que não atuava pelo amor poderia
aumentar?
Tal como a igreja de Éfeso citada em Apocalipse, os gálatas haviam abandonado o seu primeiro
186
amor, e como a igreja de Laodiceia tinham
deixado Cristo do lado de fora dos seus corações
batendo à porta para que se arrependessem.
O Senhor estava fazendo exatamente isto, através da epístola que Paulo escreveu aos
Gálatas.
Jesus mesmo o inspirou a isto para buscar as suas ovelhas que haviam fugido do aprisco. O lobo tinha-lhes atacado e não poucas estavam
muito feridas.
A perplexidade de Paulo em relação aos gálatas estava fundada no fato de que eles vinham
correndo bem a carreira cristã, eles estavam progredindo na fé, e de repente, por terem
permitido serem removidos da sua própria
firmeza por darem ouvido aos judaizantes,
ficaram paralisados e impedidos de continuar a carreira que vinham efetuando.
Nós já citamos no início deste comentário que qualquer igreja está sujeita a isto, e os crentes
devem vigiar constantemente contra este perigo, especialmente os ministros do
evangelho, de modo que todo o trabalho que
tiverem realizado não seja perdido num instante
por um vento de falsa doutrina.
Lembremos que a nossa luta não é contra a carne e o sangue, mas contra Satanás que
semeia o joio do erro enquanto dormimos, isto
187
é, quando descuidamos na nossa vigilância e
diligência.
Paulo esclareceu aos gálatas que quem lhes havia persuadido àquela insensatez que eles
haviam cometido não fora o Senhor que os
chamou, mas o diabo através dos seus instrumentos, com o fim de separá-los da
comunhão com Cristo.
O diabo sabe quão difícil é a reconciliação de um crente desviado com o seu Senhor.
Por isso Satanás tudo fará para trazer dores aos crentes, por saber que não os terá mais consigo
no inferno depois que eles saírem deste mundo
Portanto eles deveriam ter muito cuidado com o fermento do erro, porque não é necessário
muito fermento para levedar toda a massa de
crentes, desviando-os da verdade.
Toda heresia deve ser resistida e rejeitada logo na sua origem.
Todo pastor fiel logo expulsará o lobo e o manterá distante do rebanho tão logo perceba
que ele está se aproximando.
Paulo não disse que os gálatas, que haviam decaído da graça por terem se circuncidado pensando obter a justificação que já haviam
alcançado em Cristo, de uma vez para sempre
no dia da conversão, que eles seriam
188
condenados, mas ele fez esta afirmação em
relação aos falsos apóstolos que lhes haviam
fascinado, porque seguramente eles não
conheciam pessoalmente a Cristo, e não haviam sido libertados por Ele da condenação eterna.
Há muitas considerações que podem ser feitas sobre o decair da graça, mas nós devemos ter em conta que não é possível alguém cair de uma
posição na qual nunca estivera dantes.
Então o versículo não se aplicaria a incrédulos,
por nunca terem estado debaixo da graça, senão da maldição da Lei.
Entretanto, podemos considerar, que se deixarmos de lado a mera interpretação de palavras, e levarmos em conta qual era a ideia a
que Paulo queria se referir, então nós podemos
admitir que haja também uma inclusão no
versículo daqueles que ainda não conhecendo a Cristo estavam tentando ser justificados pelo
simples ato da circuncisão, e não
exclusivamente pela fé.
Assim a palavra do apóstolo seria também uma advertência para estes gálatas incrédulos que
haviam se associado à igreja, pois uma vez que a
justificação por obras da Lei é impossível, eles estavam afastados da graça, e neste caso não
poderiam ter qualquer benefício de Cristo, por
não estarem ligados a Ele pela fé.
189
Assim, permanece verdadeiro que tanto num caso quanto noutro Cristo de fato de nada
aproveitará, conforme o dizer de Paulo, a
crentes justificados que se desviam da fé e àqueles que pensando estarem agradando a
Deus, no entanto não chegaram sequer a ser
justificados porque estão confiando em práticas religiosas para alcançarem a justificação que é
obtida somente pela graça, e mediante a fé.
Os profetas haviam predito que a morte do Messias faria com que Ele se tornasse numa Rocha de escândalo para os judeus, porque no
entendimento e expectativa carnais deles,
jamais admitiriam uma tal coisa, pois sempre
esperaram um Messias poderoso segundo o mundo e que lhes desse poder temporal sobre
as demais nações do mundo.
O Messias que eles esperavam era militar e político. E que grande decepção Jesus não se
tornou para eles em seu ministério terreno, e
eles se ofenderam e se escandalizaram nele,
quando lhes afirmou que era o Messias prometido.
Eles não somente O rejeitaram como também O crucificaram por causa disto.
Por muitos anos, mesmo depois da morte de Jesus eles perseguiram todos os seus
seguidores.
190
Todo aquele que pregava o evangelho era motivo de escândalo para os judeus e suscitava
a perseguição deles.
O verso 11 deve ser entendido da seguinte forma, porque o que ali se afirma é como se Paulo o dissesse deste modo, em outras palavras:
“Porém, irmãos, se é verdade que eu continuo a
anunciar que a circuncisão é necessária, por
que é que sou perseguido? Se eu anunciasse isso, então a minha pregação a respeito da cruz
de Cristo não causaria dificuldade para
ninguém.”.
Isto implica que é possível que os oponentes de Paulo podem ter até mesmo usado o seu nome
para enganar os gálatas, dizendo-lhes falsamente que Paulo dizia que a circuncisão era
necessária para a salvação. E isto explicaria a
defesa que ele fez ironicamente desautorizando
o que haviam falado a seu respeito.
“12 Eu quereria que fossem cortados aqueles
que vos andam inquietando.
13 Porque vós, irmãos, fostes chamados à
liberdade. Não useis então da liberdade para dar ocasião à carne, mas servi-vos uns aos outros
pelo amor.
14 Porque toda a lei se cumpre numa só palavra, nesta: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo.
191
15 Se vós, porém, vos mordeis e devorais uns aos outros, vede não vos consumais também uns
aos outros.
16 Digo, porém: Andai em Espírito, e não cumprireis a concupiscência da carne.
17 Porque a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes opõem-se um ao
outro, para que não façais o que quereis.
18 Mas, se sois guiados pelo Espírito, não estais debaixo da lei.
19 Porque as obras da carne são manifestas, as quais são: adultério, prostituição, impureza,
lascívia,
20 Idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias,
21 Invejas, homicídios, bebedices, glutonarias, e coisas semelhantes a estas, acerca das quais vos
declaro, como já antes vos disse, que os que
cometem tais coisas não herdarão o reino de Deus.
22 Mas o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé,
mansidão, temperança.
23 Contra estas coisas não há lei.
192
24 E os que são de Cristo crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências.
25 Se vivemos em Espírito, andemos também em Espírito.
26 Não sejamos cobiçosos de vanglórias, irritando-nos uns aos outros, invejando-nos uns
aos outros.” (Gál 5.12-26).
Ao se referir aos judaizantes no verso 12 dizendo: “Eu quereria que fossem cortados aqueles que vos andam inquietando.”, parece que o apóstolo
tinha em mente a circuncisão que eles tanto
prezavam e pregavam como o fim mesmo da
vida com Deus, e assim ele diz, já que eles gostam tanto de cortar os prepúcios, que eles
então se mutilem totalmente.
Parece que Paulo estava falando de modo irônico para deixar nos gálatas uma impressão bastante forte quanto à religião que eles
estavam querendo seguir: baseada na carne e
não no Espírito. Ele vai falar logo a seguir da luta
da carne contra o Espírito e do Espírito contra a carne.
Na ilustração do capítulo anterior ele havia demonstrado que é um princípio inalterável
esta luta entre o que é carnal e o que é espiritual no exemplo que ele havia fixado em Ismael e
Isaque, em Agar e Sara, entre a Jerusalém
terrena e a Jerusalém celestial, entre o escravo e
193
o livre, entre o nascido por promessa e o não
nascido por promessa.
Todas estas comparações tinham em vista conduzir ao entendimento de que o crente
estará sempre empenhado numa luta contra a carne (natureza terrena), não propriamente ele,
senão o Espírito que nele habita (nova natureza
obtida pela fé em Cristo).
Aquelas ilustrações do capítulo anterior tinham
em vista ensinar que o que é nascido da carne, não herdará o céu e tudo o que é espiritual,
celestial e divino, juntamente com o que é
nascido do Espírito.
Porque o que é nascido da carne é carne, e o que
é nascido do Espírito é espírito.
O homem não herdará o céu, a menos que tenha sido transformado em espiritual, e isto é uma
obra exclusiva do Espírito Santo que é dado
somente àqueles que creem em Cristo.
Foi somente a estes que Deus fez a promessa de conceder o Espírito, porque disse a Abraão que
daria esta bênção somente aos que estivessem
unidos ao seu descendente, que é Cristo,
verdade à qual Paulo já havia se referido no terceiro capítulo.
Ao chegar a este nível de argumentos na epístola, Paulo vai deixar de lado o assunto da
circuncisão para se concentrar na fonte que
194
havia dado causa ao problema dos gálatas. Ele
vai colocar o dedo na ferida para extirpar a
infecção que havia contaminado toda a igreja.
Ele fez o diagnóstico espiritual e afirmou a eles que haviam caído não por uma mera troca de
doutrina. Não foi meramente a circuncisão que
lhes havia afastado da comunhão com Cristo. Algo tinha acontecido com eles antes de terem
sido fascinados pelos judaizantes, e foi isto que
permitiu a facilidade de semear sua heresia entre eles.
Eles haviam feito um mau uso da liberdade que alcançaram em Cristo. Eles não usaram a liberdade da graça para crescerem no amor
servindo uns aos outros.
Antes, eles usaram esta liberdade para dar
ocasião às suas cobiças carnais.
Eles pensaram que ser livrado por Cristo significava liberdade para fazerem o que fosse
do agrado deles, isto é, para fazerem a vontade do ego. Eles perderam de vista o jugo e o fardo de
Jesus, que é a obediência devida a Ele. Eles
perderam de vista a cruz que deve ser carregada diariamente, e o dever da autonegação.
Contudo quem é suficiente para estas coisas? Então eles perderam também de vista a necessidade de se estar debaixo da influência do
Espírito Santo, praticando a Palavra de Deus
(andar no Espírito) para que então, estas coisas
195
ordenadas pelo Senhor possam ser cumpridas e
vividas.
A liberdade cristã não é liberdade para a carne, mas liberdade para a nova criatura. A carne deve
ser mortificada, e por isso foi crucificada juntamente com Cristo quando Ele morreu na
cruz do Calvário.
A nova criatura, esta sim, é livre, ela é celestial e não terrena.
Ela é responsável e perfeitamente santa.
É a semente da vida eterna que foi semeada no
coração do crente.
É a nova vida do céu que foi implantada nele, e que está destinada a crescer e a vencer a antiga
natureza, assim como a Nova Aliança revogou e
substituiu a Antiga.
Ela é o odre novo no qual o Senhor está
colocando o seu vinho celestial da verdadeira alegria.
É por viver e andar no Espírito, no crescimento progressivo da nova natureza, que os crentes
são habilitados e capacitados a viverem em unidade sendo um só corpo em Cristo, unidos
pelo vinculo do amor. E assim se cumpre o
propósito de Deus em relação a eles.
196
Porém, quando se deixam governar pela carne, e negligenciam os deveres que lhes são
ordenados na Palavra, quando deixam de ser
diligentes no hábito da santificação, esquecendo de purificar seus corações pela
Palavra, pelo poder do Espírito, e de
permanecerem continuamente nisto por todos os dias das suas vidas, então o que se verá são
todas as manifestações que são designadas por
obras da carne (dissensões, iras etc) e não o
fruto do Espírito, que é amor, paz etc.
Os que andam na carne jamais cumprirão a Lei, e se iludirão se pensarem que a estão
cumprindo.
Os que andam no Espírito têm cumprido a Lei, e por isso não estão debaixo da Lei (v. 18), porque
não há lei que possa ser contrária ao fruto do Espírito Santo (v. 23).
Como toda Lei se cumpre no amor (v. 14) que é fruto do Espírito, então nenhum crente deve negligenciar o dever de amar a Deus e ao
próximo, para que não seja achado em falta
quanto ao cumprimento da Lei. Porque se diz
que aquele que ama tem cumprido a Lei.
Quão distantes estavam os gálatas de compreenderem isto!
Quão distantes estão os crentes da nossa própria época, envolvidos com questões religiosas,
congressos, debates, estratégias e tantas outras
197
coisas que tratam de tudo e de todos, exceto do
dever de amar por um andar no Espírito.
É muito fácil errar esse alvo, e é aí que Satanás encontra facilidade para semear o joio.
Não basta somente defender a sã doutrina, é necessário praticá-la por um viver no amor de
Deus.
Aqueles que deixam este primeiro amor, que perdem de vista que o propósito de Deus é a
unidade espiritual dos seus filhos, e isto determina o dever de todos eles de serem
espirituais por um mortificar da carne e por um
andar no Espírito, que se traduz em andar
efetivamente debaixo da sua instrução e direção, sendo obediente à vontade de Deus
revelada na Palavra, podem estar certos que em
vez de aprovação estão sujeitos à repreensão e
correção de Cristo, por maiores que sejam as suas obras, e por maiores que sejam os seus
esforços para agradarem a Deus no tocante a
tudo o que façam até mesmo para cumprirem
os mandamentos da Lei, porque o farão de modo carnal e legalista, longe de uma verdadeira
obediência de coração, que é eminentemente
espiritual e celestial e não carnal e terrena.
É por isso que Paulo diz no verso 24 que: “os que são de Cristo crucificaram a carne com as suas
paixões e concupiscências”.
198
Ora se Deus sentenciou à morte a carne com suas paixões e cobiças na cruz, como podem os
crentes viverem debaixo desta influência, em
vez de se despojarem de tudo isto, uma vez que a vontade de Deus é que este corpo de morte de
pecado não seja apenas morto, mas também
lançado fora?
A nós é dado o dever de fazermos este trabalho de despojamento pelo Espírito Santo, em vez de
hospedarmos o velho homem que já foi morto
desde o dia que nos convertemos a Cristo e
passamos a pertencer a Ele.
Deste modo quanto mais uma igreja se torna carnal mais ela estará sujeita à influência das
falsas doutrinas.
Elas serão recepcionadas com muito maior
facilidade, porque é somente sendo espirituais que podemos discernir não somente estas
coisas, porque o homem espiritual discerne
todas as coisas, principalmente as coisas que são
do Espírito, porque elas se discernem espiritualmente.
Portanto é nosso dever nos interessarmos por esta luta do Espírito contra a carne, para
apoiarmos a parte que deve ser apoiada, e destruir a que deve ser despojada.
Paulo fala disto como sendo o dever não somente dos gálatas, mas de todos os crentes.
199
Nós devemos então estar profundamente interessados em aprender sobre o significado
de tudo o que se refere à nossa santificação, não
somente no que ela significa, isto é, qual é a natureza da verdadeira santificação, como
também em aprendermos o que devemos fazer
para nos santificarmos todos os dias das nossas vidas.
Se é por um andar no Espírito que se vence a cobiça da carne, então devemos nos empenhar firmemente em não apenas aprender o
significado disto, como também o modo correto
de praticá-lo.
A vida cristã não é uma vida contemplativa, não é uma mera devoção mística, porque é possível
ser isto e estar completamente distante da
verdade revelada.
Antes é uma vida que deve ser aprendida, antes de ser vivida.
É uma prática, é um hábito, é um constante crescimento na graça e no conhecimento de
Jesus (II Pe 3.18).
Paulo argumenta fortemente com os gálatas dizendo que se é pelos pecados, que são as obras
da carne, que os praticantes deles serão
deixados do lado de fora do céu, como podem os crentes, que ganharam o céu por Jesus Cristo,
permanecerem na prática destas mesmas obras
pecaminosas?
200
É dever de todos eles purificarem seus corações pela Palavra, mediante o poder do Espírito.
Lembremos sempre que é dito que é o Espírito que vence a carne, porque é Ele que luta contra
a carne, uma vez que somente Ele pode vencê-la.
Que nenhum crente se lance à obra de santificação sem depender do Espírito.
É andando nele que somos libertados santificados. De modo que se afirma na Palavra
que onde está o Espírito do Senhor aí há liberdade, e que a santificação é do Espírito.
Como a salvação é pela graça, mediante a fé, então uma pessoa pode ser salva (justificada e
regenerada) com muito pouco evangelho, mas nenhum crente poderá prevalecer contra a
carne sem muito evangelho.
Todas as graças contidas no evangelho são necessárias ao seu amadurecimento espiritual,
e assim todo crente fará bem em se esforçar para não somente se inteirar delas, como
também em praticá-las no Espírito.
Como ser constante e perseverante na oração e na meditação da Palavra sem isto?
Como ser grato por tudo sem isto?
201
Como viver contente no Senhor em toda e qualquer circunstância sem isto?
Dizemos que não é fácil o aprendizado progressivo destas coisas.
É tarefa para toda a vida.
Elas devem ser sempre recordadas para que possam ser vividas porque somos limitados e dados a esquecer facilmente tudo o que
aprendemos, a não ser que isto se torne um
hábito pela prática constante.
Daí ninguém deve ficar constrangido, mesmo em programas formais de ensino, em repetir os
ensinos que já foram ministrados pelo próprio ou por outrem, porque nunca é demais
aprender e recordar continuamente a Palavra
de Deus.
Porque em vez de ser algo cansativo, neste caso é algo necessário, porque contribui para a
fixação da doutrina de maneira que nunca
sejamos desviados dela.
Nós vemos assim que não é pequena a tarefa de nos aplicarmos ao conhecimento da verdade.
Que nenhum ministro de Cristo se deixe vencer pela tentação de abreviar o seu dever de se inteirar devidamente de tudo o que se refere à
verdade revelada, para que assim tenha poder
não somente para instruir o povo do Senhor,
202
como para combater os contradizentes e os que
se opõem à sã doutrina.
Lembremos que o cristianismo não é somente deixar de fazer o mal, como também fazer o bem.
Nosso cristianismo não somente nos obriga a
mortificar o pecado, como também a viver em retidão, não somente se opondo às obras da
carne, como também e principalmente
produzindo o fruto do Espírito.
Então, se isto estiver acontecendo nós pertencemos realmente a Cristo, porque este é
o trabalho da sua graça operante em nós.
É muito fácil sabermos se estamos andando na carne ou no Espírito, isto é, se temos sido
crentes carnais ou espirituais, porque os que
andam na carne se inclinam para as coisas da carne, e os que andam no Espírito se inclinam
para o fruto do Espírito, de maneira que uma vez
detectada a nossa inclinação para a carne
devemos nos arrepender e em oração sincera e humilde pedir a Deus que nos perdoe e que nos
conduza a andar verdadeiramente no Espírito,
sabendo que isto exigirá de nós todo empenho e diligência em cumprir os deveres que nos são
ordenados na Palavra de Deus.
Consideradas todas estas coisas, lembremos ao desfrutar da liberdade que temos em Cristo, que
Satanás gosta de mudar esta liberdade em
licenciosidade.
203
O apóstolo Judas se referiu a homens que tinham convertido a graça do Senhor em
lascívia (Jd 4).
A carne pode argumentar falsamente a nós que já que não estamos debaixo da lei e sim da graça, então devemos aproveitar para viver no pecado
por sabermos que os nossos pecados foram
perdoados em Cristo, e que na condição de
crentes fomos livrados da condenação eterna.
Quanto perigo há para quem procede desta maneira.
Estas pessoas se esquecem que é exatamente por causa do pecado que o mundo de ímpios será destruído e condenado por Deus, e como
Ele poderia ficar indiferente a esta atitude,
mesmo que seja naqueles que se tornaram seus
filhos pela fé em Cristo?
Certamente Ele os corrigirá e lhes fará sofrer o
dano a que Paulo se refere em I Cor 3.15, certamente quando comparecerem diante do
tribunal de Cristo para que cada um receba
segundo o que tiver feito por meio do corpo, ou
bem, ou mal (Rom 14.10; II Cor 5.10).
No seu Comentário da Epístola aos Gálatas Lutero afirmou muitas coisas interessante a
respeito desta seção da epístola, e dentre as
quais destacamos as seguintes:
204
Paulo colocou primeiro o fundamento doutrinal para que então pudesse construir sobre ele com
ouro, prata e pedras preciosas de boas obras.
Agora, não há nenhum outro fundamento
diferente de Jesus Cristo. Neste fundamento o apóstolo ergueu a estrutura das boas obras que
ele define aqui com as palavras “amarás o teu
próximo como a ti mesmo”.
Acrescentando tal preceito de amor o apóstolo
envergonhou os falsos apóstolos, como se ele estivesse dizendo aos gálatas: “eu descrevi para
vocês o que é a vida espiritual, e agora eu
também ensinarei o que são verdadeiramente as boas obras.
Eu estou fazendo isto para que você possa entender que as cerimônias tolas das quais os
falsos apóstolos praticam são muito inferiores
às obras do amor cristão”.
Os falsos mestre somente podem construir com madeira, feno e restolho porque eles pervertem
a pura doutrina.
Seria estranho que os falsos apóstolos que nunca foram tais campeões sérios na prática das
boas obras, que eles pudessem requerê-las.
A única exigência deles era que deveriam ser observadas a circuncisão, dias, meses, anos e
tempos. Eles não poderiam pensar em qualquer
outra boa obra.
205
A isto que é dito por Lutero podemos acrescentar que isto continua ocorrendo em
nossos dias, especialmente entre as religiões
que abundam em rituais, porque eles usam isto como escudo para disfarçar a incapacidade
deles de viverem em unidade harmoniosa em
amor, porque como poderiam ter isto se é um produto do Espírito Santo naqueles que são
verdadeiramente nascidos de novo e que andam
em retidão de vida?
Então estarão empenhados em muitas obras chamadas de caridade, enquanto não
conseguem viver e praticar entre eles próprios o verdadeiro amor cristão, que procede de um
coração puro, de uma boa consciência e de uma
fé não fingida, isto é autêntica, e recebida como
um dom de Deus, quando nos convertemos a Cristo.
Mas Lutero também nos ajuda a compreender bem isto a que estamos nos referindo:
O apóstolo exorta todos os cristãos a praticarem boas obras depois que eles abraçaram a pura
doutrina da fé, porque embora eles tenham sido
justificados, eles têm ainda a velha carne para
lhes impedir de fazer o bem.
Então se torna necessário que os pastores sinceros cultivem a doutrina das boas obras tão
diligentemente quanto a doutrina da fé, porque
Satanás é um inimigo mortal de ambos.
206
Não obstante a fé tem que vir primeiro porque sem fé é impossível saber o que é uma ação
agradável a Deus.
Paulo sabe explicar a lei de Deus.
Ele condensa todas as leis de Moisés em uma
breve oração.
A razão se ofende com a brevidade com que Paulo trata a Lei.
Então a razão deve olhar a doutrina da fé e suas obras verdadeiramente boas.
Servir um ao outro em amor, isto é, instruir o errado, confortar o aflito, elevar o caído, ajudar
o próximo de todos os modos possíveis, lutar e ser paciente com as fraquezas dele, suportar
sofrimentos, ingratidão na Igreja e no mundo, e
por outro lado obedecer o governo, honrar os pais, ser paciente em casa com uma esposa
resmungona e uma família incontrolável, estas
coisas não são consideradas como boas obras.
O fato é que elas são obras excelentes que o mundo não pode calcular possivelmente o verdadeiro valor delas.
Meu próximo são aquelas pessoas que necessitam da minha ajuda, como Cristo
explicou no décimo capítulo de Lucas.
207
Até mesmo se uma pessoa me fez alguma injustiça, ou me feriu de qualquer forma, ele
ainda é um ser humano com carne e sangue.
Contanto que uma pessoa permaneça um ser humano, ela deve ser objeto do nosso amor.
Quando a fé em Cristo é subvertida a paz e unidade se acabam na igreja.
Opiniões diversas e dissensões sobre doutrina e
um membro morde e devora o outro, isto é, eles condenam um ao outro até que eles são
consumidos... Quando a unidade do Espírito for
perdida não pode haver nenhum acordo em
doutrina ou vida. Erros novos aparecerão sem medida e sem fim.
Não é uma questão fácil ensinar fé sem obras, e ainda requerer obras.
A menos que os ministros de Cristo sejam sábios controlando os mistérios de Deus eles podem
confundir fé e boas obras facilmente.
Ambos, a doutrina da fé e a doutrina das boas obras devem ser ensinadas diligentemente, e
ainda de um tal modo que ambas as doutrinas fiquem dentro da esfera que Deus delimitou
para elas.
Se nós ensinarmos somente em palavras, como fazem nossos oponentes, nós perderemos a fé.
208
Se nós somente ensinamos sem praticar as boas obras as pessoas de fé virão a pensar que as boas
obras são supérfluas.
A luxúria da carne nunca está completamente extinta em nós.
Se levanta novamente e novamente e luta com o Espírito.
Nenhuma carne, nem no verdadeiro crente,
está tão completamente debaixo da influência do Espírito que não morderá ou devorará, ou
pelo menos negligenciará o mandamento do
amor.
À provocação mais leve enfurece e exige vingança, e odeia o próximo como um inimigo,
ou pelo menos não o ama tanto quanto deveria
ser amado.
Então o apóstolo estabelece esta regra de amor para os crentes.
Sirva um ao outro em amor.
Suporte as fraquezas de seu irmão.
Perdoe um ao outro.
Sem tal posicionamento e contenção da carne, enquanto nos doamos e perdoamos, não pode
haver nenhuma unidade porque ofender e
retribuir ofensas são inevitavelmente humanos.
209
Sempre que você estiver bravo com seu irmão por qualquer causa, reprima suas emoções
violentas pelo Espírito.
Seja paciente com a fraqueza dele e o ame.
Ele não deixa de ser seu próximo ou irmão porque ele o ofendeu.
Pelo contrário, ele agora mais do que nunca requer sua atenção amorosa, mais do que
dantes.
Quanto à concupiscência, ou luxúria, ou cobiça da carne citada por Paulo no verso 16, Lutero
citou inclusive a sua experiência pessoal para
descrever como lidou com isto:
“Quando eu era um monge eu pensei que sempre estaria perdido quando eu sentia uma
emoção má, luxúria carnal, ira, ódio, ou inveja.
Eu tentei aquietar minha consciência de muitas
formas, mas não funcionou, porque a luxúria sempre voltava e não me dava nenhum
descanso. Eu dizia a mim mesmo. Você permitiu
este e aquele pecado, inveja, impaciência, e
outros semelhantes. Seguir esta ordem sacra foi em vão, e todas suas boas obras são boas para
nada. Se naquele momento eu tivesse entendido
esta passagem, que a carne luta contra o Espírito e o Espírito contra a carne, eu poderia ter me
poupado do tormento por muitos dias do meu
ego. Eu teria dito a mim: Martinho, você nunca
210
estará sem pecado, porque você tem a carne.
Não desespere, mas resista à carne.
Eu me lembro como Staupitz dizia a mim: “eu prometi a Deus mil vezes que eu me tornaria um
homem melhor, mas eu nunca mantive minha promessa. De agora em diante eu não vou fazer
mais nenhum voto. A experiência me ensinou
que eu não posso mantê-los. A menos que Deus
seja misericordioso a mim por causa de Cristo e me conceda que seja santificado, eu não poderei
me levantar diante dele." O seu desespero foi
agradável a Deus. Nenhum crente deve confiar
na sua própria justiça, e deve neste particular, imitar o exemplo de Davi (Sl 143.2; 130.3).
Todo mundo deve estar consciente da sua fraqueza e vigiar contra isto. Vigie e lute em
espírito contra a sua fraqueza. Até mesmo se
você não puder superar isto completamente,
pelo menos você deveria lutar contra isto.
De acordo com esta descrição um santo não é
ninguém que é feito de madeira e nunca sente qualquer luxúria ou desejos da carne. Um
verdadeiro santo confessa a retidão dele e ora
para que os pecados dele possam ser perdoados.
A Igreja inteira ora para o perdão de pecados e confessa que acredita no perdão de pecados.
Quando a carne começa a picar o único remédio é pegar a espada do Espírito, a Palavra de
salvação, e lutar contra a carne. Se você deixou a
211
Palavra longe do alcance da vista, você está
desamparado contra a carne. Eu sei isto por ser
um fato. Eu fui assaltado por muitas paixões
violentas, mas assim que eu agarrava alguma passagem da Bíblia, minhas tentações me
deixaram. Sem a Palavra eu não poderia ter me
ajudado contra a carne.”
Quem dera que esta sinceridade e humildade
de Lutero, em seu testemunho pessoal com o fim de nos ajudar a entender a sã doutrina, a
verdade, estivessem em todos os ministros fiéis
de Cristo.
Como o rebanho seria ajudado se em vez de tentarem aparecer como super heróis da fé diante deles, confessassem as suas fraquezas
que são comuns a todos os homens, de maneira
que eles se sentissem incentivados a
progredirem em santificação.