Lazer e Educacao Ambiental No Parque de Itacolomi

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    HISTRIA AMBIENTAL & TURISMOVol. 4 - N 1 - Maio 2008

    ISSN: 1808-558X

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    LAZER E EDUCAO AMBIENTAL NO PARQUE ESTADUAL DOITACOLOMI: EM BUSCA DA QUALIDADE DE VIDA

    LEISURE AND ENVIRONMENTAL EDUCATION IN THE PARQUEESTADUAL DO ITACOLOMI: LOOKING FOR LIFE QUALITY

    JOICE YUKARI NISHIME1

    RESUMO

    Esta pesquisa estuda a Educao Ambiental(EA) e o lazer no Parque Estadual do Itacolomi(PEIT), MG, bem como a relao da comunidade ouropretana com o mesmo. Tem como

    principais objetivos estudar o PEIT como equipamento de lazer, apontando sua importnciapara a comunidade ouropretana e para o turista; ressaltar a importncia do trabalho EA e aspossveis relaes com o lazer. Foram realizadas observaes diretas nas visitas agendadas ouno e, entrevistas semi-estruturadas com funcionrios, visitantes e pessoas da comunidade.Observa-se que o lazer, como prtica educativa, associada a EA, contribui para a formao do

    cidado e desenvolvimento pessoal e social e que seu reconhecimento como um equipamentode lazer pblico um caminho para a reaproximao da comunidade com o mesmo,afirmando assim a relevncia que o Itacolomi possui na histria do lugar e o papel importanteda comunidade para a sua preservao.

    Palavras-chave: Lazer, ecoturismo, comunidade, Parque Estadual do Itacolomi.

    1 BACHAREL EM TURISMO PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO. [email protected] (AUTORA)

    ESTE ARTIGO PARTE DA MONOGRAFIA, ENTITULADA " LAZER E EDUCAO AMBIENTAL NO PARQUE ESTADUAL DO

    ITACOLOMI: EM BUSCA DA QUALIDADE DE VIDA", DEFENDIDA NO CURSO DE TURISMO DA UNIVERSIDADE FEDERALDE OURO PRETO, EM 2007, SOB ORIENTAO DA PROFA. DRA. MARIA CRISTINA ROSA. DRA. EM EDUCAO(UNICAMP), MESTRE EM EDUCAO FSICA (UNICAMP) E GRADUAO EM EDUCAO FSICA. PROFESSORA NAUNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO. [email protected]

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    ABSTRACT

    This research studies the environmental education and the leisure in the Parque Estadual doItacolomi, MG, as well as the ouropretenas community relation with the same. The mains

    objectives are: to study the PEIT as a leisure equipment pointing out its importance to thecommunity and the tourist. Direct observations were accomplished in the scheduled andunscheduled visits as well as semi-structured interviews with employees, visitors and peoplefrom the community. It observes that the leisure, as an educative practice, associated to theenvironmental education, contributes to the citizens formation and social and personaldevelopment. It realizes that the recognition of the park as a leisure equipment is a way to there-approach of the community to the park, affirming nevertheless the relevance that theItacolomi has to the places history and the important role of the community for its

    preservation.

    Keywords: Leisure, ecotourism, community, Parque Estadual do Itacolomi.

    INTRODUO

    Ouro Preto faz parte de uma regio privilegiada, quando falamos de natureza, com

    belas serras, contemplada com cachoeiras, trilhas para caminhadas e belezas cnicas. Um dos

    principais representantes de toda a beleza natural do lugar o Parque Estadual do Itacolomi,

    importante elemento da paisagem e na histria de Ouro Preto, pois o Pico do Itacolomi,

    localizado em sua rea, foi referncia geogrfica para os bandeirantes que chegaram regio

    no sculo XVII, em busca do ouro.

    Esta pesquisa enfoca o Parque Estadual do Itacolomi (PEIT), unidade de conservao

    com vocaes para o ecoturismo, lazer e educao ambiental (EA), destacando a interao da

    comunidade da cidade de Ouro Preto com o parque.

    O PEIT uma Unidade de Conservao de Proteo Integral, criado em 14 de junho

    de 1967. Segundo a lei n. 9.985, de 18 de julho de 2000, a UC um

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    Espao territorial e seus recursos ambientais, incluindo as guas jurisdicionais, comcaractersticas naturais relevantes, legalmente institudo pelo Poder Pblico, comobjetivos de conservao e limites definidos, sob regime especial de administrao,ao qual se aplicam garantias adequadas de proteo (SNUC, Cap 1, art 2, 2000, p.7).

    gerenciado pelo Instituto Estadual de Floresta (IEF), que preza pela sua conservao

    e manuteno, e pela Fundao Educativa de Rdio e TV de Ouro Preto (FEOP), que gerencia

    juntamente com o IEF o seu uso pblico. Ocupa um espao de 7.543 hectares, estando situado

    em Ouro Preto e Mariana, MG. Sua rea apresenta uma transio entre cerrado e mata

    atlntica. Possui vrias cachoeiras, trilhas e infra-estrutura para receber visitantes composta

    por portaria, setor de credenciamento, centro do visitante, banheiros e restaurante.

    Visado especialmente por seu potencial ecoturstico, contemplado pela Mata Atlntica,

    pelo cerrado, campo rupestre, afloramentos rochosos, e nascentes, o PEIT vem recebendo

    desde 1991, com a criao da portaria, toda a infra-estrutura para o turismo e para se tornar

    um completo equipamento de lazer.

    Analisando-o como equipamento de lazer, este trabalho buscou compreender as

    formas de uso do parque desde o sculo XVII at os dias de hoje, valorizando os trabalhos de

    educao ambiental realizados e as possveis relaes entre o lazer e a educao, alm de

    ressaltar a importncia da incluso da comunidade no parque.

    Os objetivos da pesquisa foram estudar o Parque Estadual do Itacolomi como

    equipamento de lazer, apontando sua importncia para a comunidade ouropretana e para o

    turista; ressaltar a importncia do trabalho de educao ambiental e as possveis relaes com

    o lazer; relevar o valor do lazer como prtica educativa para ser desenvolvido no parque e, apartir das melhorias no Projeto de Turismo (PROTUR), j implantado no PEIT, contribuir

    para que o parque se consolide como atrativo ecoturstico e espao de lazer, propondo uma

    maior interao da populao local com o parque.

    Para tanto, foi realizada uma pesquisa que pode ser caracterizado como qualitativa. As

    amostras no foram escolhidas estatisticamente e, sim, por meio de contatos com alguns

    sujeitos considerados essenciais para o estudo da relao do Parque Estadual do Itacolomi

    como equipamento de lazer, com os trabalhos de educao ambiental, com seus visitantes e dacomunidade que vive em seu entorno.

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    O PEIT foi escolhido como estudo de caso pela relao que a pesquisadora j possua

    com o parque e com o trabalho de educao ambiental ali desenvolvido. Dessa afinidade

    surgiram indagaes sobre as relaes observadas entre o lazer e a educao desenvolvidos

    nas atividades e entre a comunidade autctone e o parque.

    Dessa experincia surgiu um afeto, pois o sentimento de pertencimento foi aflorado. A

    partir desse sentimento a pesquisa surgiu a fim de questionar o lazer e a educao, o parque e

    a comunidade, o ecoturismo e o parque, questes que nos aproximaram dos sujeitos

    observados.

    Assim, por toda a pesquisa no pudemos nos desvincular, enquanto pesquisadora dos

    sujeitos que observamos, tornando a aproximao pesquisador e pesquisados essencial para o

    estudo.

    Essa relao, por exemplo, foi percebida por ns, quando, durante as observaes

    realizadas no PEIT, no nos afastamos do momento pesquisado, e interagimos a todo instante

    com os sujeitos e atividades que estvamos estudando. Assim, enquanto pesquisadoras nos

    tornamos sujeitos da pesquisa, sem desviar-nos do principal objetivo, estudar as relaes e as

    atividades ali exercidas.

    Os primeiros passos da pesquisa foram os levantamentos bibliogrficos realizados.

    So tantas informaes e autores que, no primeiro momento, houve a impresso de que a

    pesquisa seria longa e complexa. A impresso no foi embora, mas com o tempo e com o

    estudo dos autores, com os quais dialogamos neste trabalho, a pesquisa tornou-se mais clara,

    fazendo com que o interesse pelo estudo ganhasse um flego.

    Depois realizamos a pesquisa documental nos arquivos do prprio parque, nos quaisreunimos alguns projetos do PEIT e documentos que relatavam a histria do parque e as

    formas de uso, desde o sculo XVII, quando os primeiros bandeirantes chegaram na regio.

    Nesse momento percebemos o quanto a histria do parque aproximava-se da histria de

    muitas famlias de Ouro Preto, mas que no possuem mais um vnculo forte com parque.

    Nessa hora, a pesquisa foi enriquecida com a realizao da entrevista semi-estruturada a ns

    concedida pelo senhor Antnio, um morador da cidade, que hoje reside no centro urbano, mas

    cresceu dentro das dependncias do parque e possui uma grande relao de afetividade com oPEIT.

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    Vale a pena ressaltar que o senhor Antnio surgiu nessa pesquisa por uma

    coincidncia da vida. Em uma tarde, estando em uma vidraaria para encomendar um quadro

    de fotos, das quais uma delas registrava um cenrio do parque, o senhor Antnio, encantado

    com a imagem, perguntou que lugar era aquele. Quando soube que aquela foto havia sido

    registrada no PEIT, a emoo veio tona e ele compartilhou a sua histria vivida no parque.

    Naquele momento, percebemos que ele era um sujeito que iria compor a alma do trabalho.

    Desprovidas de um material que nos ajudasse a colher tantas informaes, voltamos em um

    outro dia para realizar a entrevista, que o senhor nos concedeu com muita alegria. Nessas

    ocasies, o prazer pela pesquisa crescia ao constatar o sentimento que o parque refletia no

    somente na pesquisadora, como nos sujeitos pesquisados.

    Procurando fatos que poderiam explicar o porqu do distanciamento que a

    comunidade viveu do parque, fomos at a 8 Companhia Independente da Polcia Militar da

    cidade de Ouro Preto buscar o levantamento de ndices de ocorrncias registradas com os

    freqentadores do parque. Sem sucesso, a pesquisa foi impossibilitada depois de algumas

    semanas a procura de algum que pudesse nos autorizar a investigao. Com a ajuda de um

    membro da PM, constatamos que a polcia da cidade no arquivava os boletins de ocorrncia

    nas suas dependncias, enviando-os para Belo Horizonte. A pesquisa que ainda poderia ser

    realizada em Belo Horizonte foi inviabilizada porque, provavelmente, esses documentos j

    no existiam mais, pois so incinerados.

    Com essa impossibilidade, fomos buscar em outros sujeitos as questes que no

    puderam ser respondidas naquele momento, alm de outras indagaes que acrescentariam

    valor a pesquisa. E assim elaboramos entrevistas semi-estruturadas para funcionrios quetrabalham no PEIT e para visitantes que encontraramos durante as observaes de campo.

    Tnhamos a expectativa da interao desses sujeitos com a pesquisa por estarem uns

    trabalhando e convivendo com as questes levantadas e outros por visitar o PEIT.

    Com intuito de levantar dados sobre o comprometimento da populao com a natureza

    e sua conservao, entrevistamos tambm a comunidade ouropretana diante do parque, do

    turismo e de seu interesse em ser agente ativo na busca da defesa do seu patrimnio, no caso,

    o Parque Estadual do Itacolomi.

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    Como planejado, realizamos as entrevistas. Alguns tiveram muita dificuldade em

    estabelecer o dilogo, talvez pela formalidade, pelo uso do gravador ou, at mesmo, pela

    timidez. Mas as dificuldades foram ultrapassadas e os bate-papos com os sujeitos

    acrescentaram muito valor a pesquisa.

    As entrevistas foram transcritas, no de forma literal, pois realizamos algumas

    modificaes, sem transgredir as intenes da fala para que auxiliassem a leitura. Deixamos,

    em vrias entrevistas, de transcrever mais do que as falas, os gestos e as expresses que

    ajudariam o leitor a compreender melhor as situaes ocorridas. Fato que nos alerta, enquanto

    pesquisadora, da possibilidade de crescimento nos prximos trabalhos.

    Ao mesmo tempo em que as entrevistas foram sendo realizadas, as observaes de

    campo foram acontecendo. E mais do que observaes, foram momentos em que as

    experincias anteriores foram revividas, porm com outros olhos e com outros propsitos.

    Assim, mais do que observao, realizamos a pesquisa, vivenciando-a.

    As observaes diretas foram realizadas durante as visitas que o parque recebia no

    perodo da pesquisa. Houve contato com os visitantes e com as atividades estudadas por este

    trabalho, fato que agrega valor, pois a experincia da vivncia no s assistida, mas tambm

    compartilhada entre os sujeitos e a pesquisadora.

    Enfim, por esse caminho traado com os sujeitos, destacamos as reflexes que

    compem este trabalho, que s um comeo para muitas discusses de temas, como lazer,

    educao, ecoturismo, comunidade e outros pertinentes a sobrevivncia e preservao do

    parque.

    No primeiro momento discutiremos sobre a histria do PEIT e suas formas de usodesde o sculo XVII, quando o Pico do Itacolomi tornou-se referncia para bandeirantes e a

    rea do parque passou a ser utilizada. Ainda esclarecemos as formas de uso recentes como

    atrativo ecoturstico.

    No segundo momento resgatamos alguns eventos que contriburam para o

    entendimento da educao ambiental, alm de demonstrar a importncia da EA para o PEIT,

    para a comunidade e para os visitantes.

    Na terceira e ltima discusso, abordamos a relao entre a educao e o lazer, e aimportncia dessa afinidade. Ainda tratamos da importncia do entendimento do lazer para o

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    parque e do seu duplo aspecto educativo, afirmando que to importante quanto a educao

    pelo lazer a educao para o lazer.

    O PARQUE ESTADUAL DO ITACOLOMI: HISTRIAS E FORMAS DE USO

    A regio do Parque Estadual do Itacolomi faz parte da histria das Minas Gerais desde

    seu descobrimento pelos primeiros bandeirantes que l chegaram e encontraram o preciosometal: o ouro. (RELATRIO TERRA , 2004)

    Aos ps do Itacolomi, que viu a cidade crescer e passar por tantas transformaes at

    chegar aos dias de hoje, a histria de Ouro Preto comea afirmando o grande valor histrico

    que o parque tem para a comunidade no final do sculo XVII, incio do XVIII.

    importante destacar que, desde o sculo XVII, a rea do parque j era utilizada pelo

    homem e passou a ser mais vigorosamente utilizada a partir de 1693, quando a Bandeira de

    Antnio Rodrigues de Arzo encontrou ouro pela primeira vez na regio e, em 1698, aBandeira de Antnio Dias avista o Pico do Itacolomi, que passou a ser um marco referencial

    para a regio (RELATRIO TERRA, 2004).Dessa forma, intensificou-se o uso do espao,

    que hoje constitui o PEIT, como uma rea de passagem para as bandeiras que chegavam em

    busca do ouro.

    Entre 1706 e 1708 foi construda, na rea do PEIT, pelo 2 GuardaMor da Capitania

    de Minas, Domingos Bueno, a Casa Bandeirista, que servia para o recolhimento do imposto

    Quinto sobre o ouro retirado das minas, alm de ser uma rea de descanso para os viajantesque ali passavam e podiam amarrar seus burros para descansar. Acredita-se que essa casa

    foi o primeiro prdio pblico de Minas Gerais (RELATRIO TERRA, 2004).

    A histria do PEIT deixa vestgios sobre a utilizao de seu espao desde o

    descobrimento das Minas e hoje, alm de ser um espao de lazer, um marco para a histria

    de famlias que vivem em Ouro Preto e que, muitas vezes, no se apropriam do parque como

    patrimnio.

    Independente de correntes que defendem ou no a existncia do lazer antes da

    Revoluo Industrial , importante destacarmos que desde o sculo XVII a rea do parque era

    utilizada tanto para o trabalho, quanto para o descanso, fato que acrescenta conhecimento ao

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    trabalho que considera o parque durante toda a sua existncia como espao importante para a

    comunidade, seja como espao de trabalho ou como espao de lazer.

    Ao final do ciclo do ouro, a fazenda perde sua importncia social, deixando assim um

    vazio de relatos histricos sobre essa rea, mas, ao ter sua rea transformada em uma

    grande fazenda, denominada Fazenda do Manso, passa a produzir ch preto, que era

    exportado para outros pases, dando nova vida ao lugar.

    Para este trabalho, mais importante que a atividade do plantio, como as pessoas que

    trabalhavam na fazenda faziam uso do espao e do tempo.

    Os acontecimentos que ocorriam na fazenda na viso de um dos entrevistados, Sr.

    Antnio, so todos interligados e no havia tempos e espaos distintos para as atividades.

    Segundo Rosa (2004, p.66), nas sociedades rurais, trabalho, no trabalho, diverso, religio,

    etc., esto relacionados, no ocorrendo uma diviso rgida, portanto.

    Se considerarmos que a rea do parque foi por muitos anos, principalmente no sculo

    XX, com a produo do ch, um espao de trabalho, temos que considerar os momentos do

    tempo disponvel que esses trabalhadores tinham e muitos deles passavam esse tempo dentro

    da fazenda, no mesmo espao de trabalho, mas utilizando-o de outras formas, como para

    festas, leiles, pesca. O espao de trabalho tornava-se por vezes o espao de lazer. As crianas

    que residiam com seus pais na fazenda ou que os acompanhavam durante o trabalho

    utilizavam o espao para suas brincadeiras, transformando o espao de trabalho de seus pais

    em um espao para o ldico.

    Considerando o comeo do sculo XX, no era comum as pessoas que trabalhavam

    e/ou residiam no parque freqentarem os espaos de lazer da cidade, como relata o Sr.Antnio, assim o parque era o espao de lazer para os trabalhadores da fazenda. E nesse

    espao de lazer foram relacionados dois pontos essenciais estudados nesse trabalho: o lazer e

    a natureza (meio ambiente do parque).

    Com as vrias formas de utilizao do tempo e do espao do parque durante todos

    esses anos, inclusive para o lazer, estabeleceu-se uma relao muito forte com a comunidade.

    Mas essa relao hoje, tambm modificou-se, pois a comunidade j no freqenta o parque

    com a mesma assiduidade. Acreditamos que muitos fatores levaram a relao comunidade- parque a chegar nesse estado de afastamento, mas acreditamos tambm que isso pode ser

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    revertido atravs de projetos que visem a aproximao e o despertar do sentimento de

    pertencimento da populao.

    poca em que nosso entrevistado, Sr. Antnio, residiu na fazenda, o proprietrio

    chamava-se Jos Salles de Andrade. E nesse perodo, em 1967, por intermdio de ex-alunos

    da Escola de Minas, que mais tarde tornou-se a Universidade Federal de Ouro Preto, foi

    criado o parque, denominado depois Parque Estadual do Itacolomi, a fim de conservar a

    fauna, a flora e a histria do local (RELATRIO TERRA, 2004), pois o espao era

    considerado um laboratrio vivo de aprendizado e essa justificativa fez com que o ento

    governador Israel Pinheiro aprovasse a sua criao em 14 de junho de 1967 atravs do decreto

    Estadual 4495 (RELATRIO DIPUC,2004).

    Com a sua criao as cidades de Ouro Preto, Mariana e regio garantiram que pelo

    menos uma parte de seu meio ambiente natural fosse conservado, mesmo depois de toda

    explorao que a regio sofreu no apogeu do ouro e ainda vem sofrendo com as mineradoras

    que exploram a regio. E as escolas das cidades obtiveram mais um espao para realizao de

    estudos, pesquisas e discusses ambientais criando possibilidades de desenvolver a educao

    ambiental.

    Em 1974, Tarqunio Barbosa de Oliveira compra a Fazenda do Manso, localizada

    dentro do parque e tentou retomar a produo do ch, mas no obteve sucesso. Sua poca,

    todavia, lembrada por um dos antigos trabalhadores pelos bailes e muitas festas realizadas

    na fazenda. Esses trabalhadores gostavam das festas e lembram que dono da fazenda no tinha

    preconceitos e chamava todos que trabalhavam na fazenda para as festas (RELATRIO

    TERRA, 2004).Interessante ressaltarmos como os momentos de lazer so evidenciados nas

    lembranas dos trabalhadores, mesmo ocorrendo no espao de trabalho.

    O tempo de trabalho esteve agregado aos tempos e movimentos das pessoas que

    conviviam no parque. At os dias de hoje essa relao de espao de trabalho, espao de lazer e

    natureza acontece, pois muitos so os trabalhadores do parque, desde os funcionrios que

    prezam pela manuteno at os funcionrios do uso pbico, que o utilizam como espao de

    lazer em seus tempos disponveis. Esse lazer vivido por essas pessoas que trabalhavam e/ouresidiam no parque e dos que ainda trabalham e vivem em seu entorno um fato interessante

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    pois ocorre no mesmo espao de trabalho. Bahia (2006, p. 41), ressalta uma importante

    contribuio para esse tempo e esse espao:

    [...] aspecto de extrema importncia a compreenso de que o lazer, enquantocultura vivenciada no tempo disponvel, no se encontra em contraposio aotrabalho e s demais esferas da vida humana, e sim, como um instrumento demudana social, que pode ser capaz de superar a viso funcionalista e trazer valoresrevolucionrios capazes de educar as pessoas para vivenciarem de forma crtica ecriativa os seus momentos de tempo de lazer e de tempo de trabalho.

    No entanto, o lazer sempre esteve presente nas atividades do parque, mesmo que nofosse o fim principal, j sinalizando que o espao tinha potencialidades para se transformar

    em um equipamento de lazer.

    Mais tarde, quando o local deixou de ser passagem das minas e fazenda de plantaes

    de ch, perdendo assim seu carter de espao de trabalho, o abandono fez com que muito do

    patrimnio fosse perdido pela devastao do tempo, da m conservao e de aes do homem.

    Mas um importante fenmeno observado foi que a populao estabeleceu uma aproximao

    com o parque. Utilizando-o como equipamento de lazer, principalmente os jovens que

    realizavam caminhadas at o Pico do Itacolomi, acampavam na rea da fazenda e utilizavam

    as guas das represas para banhar-se. Procuravam por l a liberdade no encontrada mais na

    cidade, a fuga do urbano, a aventura e os desafios da natureza.

    Em 1995 o IEF compra, atravs de recursos da Taxa Florestal, a Fazenda do Manso.

    Toda a rea de 7543 hectares do parque passa a pertencer ao Estado, que instala na sede da

    fazenda, h pouco comprada, a administrao e funcionrios que deveriam zelar pela

    conservao e pelo bom uso do local (RELATRIO DIPUC, 2004), mas percebe-se desde

    ento o afastamento da comunidade do parque.

    As causas desse afastamento no so ainda pesquisadas a fundo, e acreditamos que

    vrios fatores podem ter contribudo, como: a taxa de visitao e o controle da visita, o que

    muitas vezes pode ser considerado um ato inibidor para quem procura a natureza e a

    liberdade.

    Algumas reformas foram realizadas nas dependncias do parque at que, em primeiro

    maio de 2004, acontece a sua abertura oficial para a visitao pblica. Neste momento, o

    PROTUR, que tem administrao compartilhada entre IEF e FEOP, implanta a monitorao

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    de visitas e o trabalho de educao ambiental utilizando o espao e as instalaes que o

    parque oferece.

    a partir dessa abertura que nossa pesquisa analisa o parque como equipamento de

    lazer especfico turstico destacando suas potencialidades para o ecoturismo, sem, todavia,

    deixar de considerar as vivncias de lazer, ento associadas ao trabalho, ali experimentado

    pela comunidade.

    Os equipamentos de lazer so locais onde acontecem os eventos, atividades,

    programas e projetos de lazer, vinculados a uma poltica de lazer. Portanto consideramos o

    PEIT um equipamento de lazer, especfico de turismo, que segundo Stucchi (1997), deve ser

    destinado a programaes tursticas e atividades recreativas e pode ter programaes

    diversificadas de lazer e recreao. localizado em uma rea de interesse turstico pelas

    caractersticas geogrfico-naturais e histrico-culturais, tendo como pblico alvo

    generalizado, que pode incluir a comunidade local, alm de possuir instalaes de apoio,

    como restaurante e banheiros, e instalaes para atividades de lazer preferencialmente.

    Mas o parque um equipamento de lazer diferenciado por ser uma unidade de

    conservao que, alm dos propsitos de lazer, visa tambm a educao e a preservao da

    natureza.

    O Sistema Nacional de Unidades de Conservao (SNUC) a lei que rege o conjunto

    de unidades de conservao federal, estadual e municipal, com intuito de estabelecer critrios

    e normas para a criao, implantao e gesto dessas unidades (SNUC, 2000).

    O PEIT encontra-se inserido no SNUC por fazer parte do grupo de Unidade de

    Conservao de Proteo Integral. regido pelas mesmas disposies que um ParqueNacional, mas recebe o ttulo de Parque Estadual por ter sido criado pelo Estado e no pelo

    governo federal. Encontra-se inserido no artigo 11 (SNUC, 2000, p. 14):

    O Parque Nacional [e/ou estadual, municipal] tem como objetivo bsico a preservao de ecossistemas naturais de grande relevncia ecolgica e belezacnica, possibilitando a realizao de pesquisas cientficas e o desenvolvimento deatividades de educao e interpretao ambiental, de recreao em contato com anatureza e o turismo ecolgico.

    Reforando os objetivos que o SNUC possui para todas as unidades de conservao, o

    artigo que rege especificamente o parque estadual, vem reafirmar a necessidade do

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    desenvolvimento da educao ambiental e da utilizao do espao pelo lazer, atravs das

    atividades recreativas e o fortalecimento da atividade ecoturstica.

    Portanto, as potencialidades que o PEIT possui como equipamento de lazer para as

    atividades recreacionais, atrativo ecoturstico e para projetos de educao so legalmente

    amparadas pelo SNUC e, apesar desses trabalhos j terem sido implantados no parque,

    importante ressaltar que a educao ambiental deve ser um processo permanente, o

    ecoturismo deve, em primeiro lugar ser compromissado com a natureza e no como mercado,

    sendo assim, uma atividade ambientalmente responsvel e o reconhecimento do parque como

    um equipamento de lazer deve ser evidenciado.

    Quanto as atividades recreativas que o artigo cita, ressaltamos que a interpretao da

    lei poderia ir alm da recreao que, segundo Marinho apud Marcassa ( 2004, p.201),

    entendida como atividade fsica ou mental a que o indivduo naturalmente impelido para

    satisfazer as necessidades fsicas, psquicas ou sociais, de cuja realizao advm o prazer. A

    recreao entendida, portanto, como uma atividade em que, necessariamente, no h busca

    significados, desenvolvimento, criticidade. Mas o lazer seria uma melhor adequao para a

    lei, pois ele pode intervir na transformao de pensamentos, valores, buscando o

    desenvolvimento do ser humano. O lazer no elimina a possibilidade da recreao, mas

    deixamos claro que lazer e recreao no so sinnimos e o parque pode contribuir para as

    pessoas alm do que a lei sugere.

    [...] apesar da recreao e do lazer estabelecerem inmeras interlocues, principalmente por terem sido enquadrados no sculo XIX, como fenmenos

    autnomos e organizados, cuja matriz se enraza no campo das chamadasmanifestaes ldicas, a construo social, histrica, poltica, cultural e educacionalde ambos foi completamente diferente em nossa sociedade (WERNECK, 2003, p.49).

    Werneck (2003) em seu estudo considera que o lazer pode ser identificado pelo tempo

    em que as pessoas tm para usufru-lo, aes e atitudes diante desse tempo, pelas

    manifestaes culturais que podem ocorrer e pelo espao/lugar em que ele ocorre e a

    recreao, como atividades que organizam esse tempo, espao, aes e manifestaes, pode

    ser considerada como um meio eficiente de educao. Por isso entendemos que o PEIT, alm

    de um espao para recreao em contato com a natureza, um espao de lazer.

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    O Parque Estadual do Itacolomi, portanto, uma unidade de conservao, que busca

    desenvolver atividades de educao. Indagamos se: o parque cumpre seu papel como espao

    pblico de lazer, atravs das atividades do Projeto de Turismo implantado em 2004.

    Vale dizer que a atividade turstica uma das potencialidades do parque que pode

    favorecer uma aproximao tanto de visitantes quanto da comunidade que vive em seu

    entorno. O turismo praticado no parque identificado como ecoturismo e encontra-se hoje,

    em fase de reestruturao para melhorias em suas atividades, no atendimento ao pblico, seja

    para contemplao, atividades recreativas, esportivas, lazer ou para educao ambiental.

    A atividade ecoturstica no PEIT vem sendo desenvolvida h trs anos pelo PROTUR,

    implantado pelo IEF e FEOP, que acompanha a visitao pblica do parque e as atividades de

    educao ambiental. O ecoturismo faz do parque um diferencial para a regio, pois oferece o

    contato com a natureza e possibilidades educacionais. Mas o parque ainda no um atrativo

    reconhecido pelos turistas que visitam a regio e pelos moradores de Ouro Preto e Mariana

    que vivem ao redor do parque. A baixa visitao pode ser entendida como essa falta de

    conhecimento do parque como equipamento de lazer e atrativo turstico.

    H muito trabalho a ser desenvolvido para se alcanar a repercusso desejada do

    atrativo turstico constitudo pelo PEIT e o ecoturismo, que hoje, uma atividade valorizada

    pela sociedade, que busca resgatar o contato com a natureza, pode contribuir para valorizao

    da imagem do parque como produto turstico e, consequentemente, aumentar a freqncia do

    uso pblico no parque. Pode tambm propiciar um uso consciente do parque que busca a

    diminuio de impactos negativos e a valorizao da educao ambiental sendo o lazer um

    meio e fim para alcanar tal objetivo.

    Vale dizer que o turismo pode trazer benefcios para uma unidade de conservao.

    Boo , apud Serrano (2001, p.111), destaca seis pontos relevantes para essa relao:

    - a possibilidade de uma maior integrao das Ucs com comunidades locais e com asociedade mais ampla;- a circulao de informao ambiental por meio de programas educativos e daprpria visitao;

    - o aumento da oferta regional de espaos de recreao e lazer;- a adeso de visitantes s tarefas de fiscalizao;- a facilidade do controle sobre grupos organizados;

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    - a divulgao da prpria unidade e o estabelecimento de redes de interessadosem sua manuteno.

    As consideraes da autora so relevantes, j que o desenvolvimento do turismo em

    reas de unidades de conservao pode gerar benefcios para a comunidade e para a sociedade

    em geral (Serrano 2001). Alm do fato de que a relao benfica do turismo e das ucs

    proposta por Boo enquadra-se bem aos objetivos que o SNUC prope para o parque. A autora

    contribui mais ainda quando destaca a importncia do envolvimento da comunidade com o

    PEIT e resgata a importncia da educao, da recreao e do lazer que podem contribuir para

    a valorizao do parque e dos valores e histrias esquecidas.

    A ajuda destacada da comunidade na fiscalizao e o sentimento de pertencimento,

    podem fortalecer a preservao do parque e fomentar a visitao tanto turisticamente, quanto

    o uso da prpria comunidade que possui um equipamento de lazer pblico ainda pouco

    freqentado.

    Potencializar a atividade ecoturstica no PEIT no uma simples tarefa, pois envolve

    muitas aes, como divulgao, estruturao e execuo de projetos, ter recursos humanos,

    financeiros e materiais, alm de uma administrao do uso pblico que inove em atrativos e

    que tenha conhecimento e coloque em prtica as vantagens do ecoturismo, usando-as em

    favor da preservao, da qualidade do atendimento, dos trabalhos educacionais e do estmulo

    ao uso do espao como equipamento de lazer, no s dos visitantes oriundos de outras

    cidades, mas tambm da comunidade que vive no entorno do parque.

    Figueiredo (2000, p. 56) observa que:

    [...] apesar das suas potencialidades, a atividade turstica no tem vindoacompanhada de um planejamento adequado, no tem propiciado espao para umaparticipao da populao adequado, no tem propiciado o entrosamento entre osvrios segmentos sociais envolvidos.

    Assim, a educao e o lazer aparecem em nosso trabalho como atividades vitais para o

    planejamento do ecoturismo no Parque Estadual do Itacolomi. Trabalhados simultaneamente

    podem trazer bons resultados para a efetivao do parque como equipamento de lazer para

    ecoturistas e para a comunidade.

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    Cascino (2001, p. 200) fala sobre as possibilidades do ecoturismo proporcionar no

    mesmo tempo e espao, a educao e o lazer, transformando essa relao em busca de

    solues de muitos problemas da sociedade. Assim,

    Sair da sala de aula, ir natureza, fazer um passeio, descobrir novas trilhas,transportar a sala de aula na mochila, muito mais que propor simplesmentemomentos recreativos, de lazer, ou um espao de descontrao. tudo isso, mas tambm a incrvel possibilidade de que elementos antes desconhecidos possaminteragir, que professores percam suas inibies diante dos alunos, que o inesperado

    acontea e provoque dor e risos, derrubando mscaras e fantasmas. Para alm,portanto, da mera atividade recreativa, estamos diante de uma concreta sada parainmeros problemas.

    Mais do que a recreao, o lazer pode, juntamente com a educao, possibilitar a

    reflexo e transformao da sociedade, fazendo que o tempo de lazer no seja somente usado

    para atividades recreativas, mas tambm como tempo e espao para o desenvolvimento do ser

    humano.

    O ecoturismo proporciona experincias talvez nunca vivenciadas, podendo despertar

    nas pessoas o prazer em seus momentos de lazer na natureza. Essas vivncias no deixam de

    ser aprendizado para a vida e a educao ambiental intrnseca s atividades na natureza, a

    essas vivncias.

    A prtica consciente do ecoturismo no parque relaciona-se diretamente com a

    educao ambiental. A educao por si s, sempre foi uma tima opo para enfrentarmos

    problemas sociais. A EA proporciona a reflexo sobre a qualidade de vida, os problemas

    sociais, o consumo, a explorao. Ela integra conhecimentos e pode dar um novo sentido para

    a vida, desde que desperte as pessoas para uma nova conscincia da importncia do meio, da

    preservao e para a to almejada qualidade de vida.

    O Parque Estadual do Itacolomi um espao onde a educao ocorre e possui

    potencialidade para que trabalhos educativos ocorram de forma prazerosa atravs da educao

    informal ou atravs da relao da educao formal e informal, realizada atravs de trabalhos

    que envolvam a comunidade e os turistas nas atividades do parque.

    O PEIT realiza o trabalho de educao ambiental no s exclusivamente com os

    grupos escolares, mas, com todos os visitantes que passam pelo parque. Mesmo o visitante

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    que no vai ao parque com esse intuito, aprende algo, pois o contato do homem com a

    natureza, quando de forma positiva, sempre enriquecedor.

    Portanto, quando falamos em educao, falamos sobre a educao em tempos e

    espaos diferentes, que pode formar indivduos crticos e capazes de transformar a sociedade

    em que esto inseridos, proporcionando o desenvolvimento humano.

    O espao natural em que o PEIT se constitui e os trabalhos realizados em prol da

    educao podem proporcionar atravs das atividades e da vivncia com a natureza um

    trabalho educativo promissor.

    Aliado educao, o lazer ser considerado como uma prtica educativa que:

    [...] s tem sentido se falar em aspectos educativos do lazer, se esse for consideradocomo um dos possveis canais de atuao no plano cultural, tendo em vista contribuirpara uma nova ordem moral e intelectual, favorecedora de mudanas no plano social(MARCELLINO, 1998, p. 63).

    Consideramos assim, que a educao uma forma concreta de interveno do homem

    no mundo. Como Paulo Freire (2003, p.98) afirma,

    Outro saber de que no posso duvidar um momento sequer da minha prticaeducativo-crtica o de que, como experincia especificamente humana, a educao uma forma de interveno no mundo.

    A educao mais do que ensinar, a troca de experincias entre as pessoas em busca

    do desenvolvimento humano, em busca de aprender o que o outro tem para ensinar e poder

    contribuir no ensinamento do que o outro tem para aprender.

    [...] ensinar no transferir conhecimentos, contedos nem formar ao pelaqual um sujeito criador d forma, estilo ou alma a um corpo indeciso e acomodado. No h docncia sem discncia, as duas se explicam e seus sujeitos apesar dasdiferenas que os conotam, no se reduzem condio de objeto, um do outro.Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender. (FREIRE,2003, p.23)

    Essa relao do ensinar e do aprender pode ser observada no PEIT. Os conhecimentos

    adquiridos nas atividades durante as visitas podem ser levados para os lugares onde osvisitantes convivem, como nas casas e escolas, e na relao com outras pessoas. Assim, eles

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    aprendem no parque e podem ensinar fora dele, fazendo com que o conhecimento se

    multiplique atravs das amizades, da famlia, da escola.

    Essa troca de conhecimento tambm acontece dentro do parque uma vez que os

    visitantes trazem consigo seus conhecimentos e contribuem com informaes novas para as

    atividades e para o trabalho de monitores que realizam as atividades educacionais durante as

    visitas.

    Observou-se que os professores que acompanharam os grupos escolares que visitaram

    o parque durante o perodo de observao estabelecem uma via de mo dupla com os

    conhecimentos e contedos trabalhados no parque pois, atentos s atividades, os professores

    afirmaram que pretendiam voltar com os temas trabalhados para dentro da sala de aula a fim

    de estimular a reflexo dos alunos sobre o aprendido.

    As atividades educacionais so variadas e buscam, alm de ensinar prticas

    ecolgicas, repassar conhecimentos sobre a fauna e a flora do parque. Essas atividades

    proporcionam momentos em que o grupo de visitantes se relaciona entre si e com a natureza,

    momentos em que a atividade exige confiana no outro, silncio, reflexo, agilidade, unio.

    Esses vrios momentos possibilitam aos visitantes vivenciarem diferentes momentos na

    natureza.

    A educao trabalhada no PEIT, especificamente, a educao ambiental. A natureza

    encontrada no parque potencializa o espao para que a EA seja trabalhada de forma bem

    sucedida, incentivando no s atitudes ecologicamente corretas, mas tambm a valorizao e

    a preservao do prprio parque.

    Para o PEIT, o meio ambiente focalizado neste estudo, a educao ambiental umadas principais preocupaes. Segundo a lei que rege as Unidades de Conservao, um parque

    deve possibilitar atividades de educao e interpretao ambiental, pois seu espao contribui

    para a conservao e percepo da natureza pela sociedade.

    Vale dizer que o meio ambiente torna-se desde a dcada de 1960 um tema importante

    a ser abordado pela sociedade e estudiosos, uma vez que catstrofes naturais, aumento da

    poluio e do consumo e grandes problemas gerados pelo modo de produo vigente tornam-

    se alvo de preocupao para as geraes atuais e futuras.

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    Discusses surgiram a fim de que as naes repensassem suas aes, criando

    movimentos a favor da proteo da natureza e melhoria da qualidade de vida (SERRANO,

    1997, p. 5).

    Uma das principais aes discutidas em todos os eventos foi e continua sendo a

    educao ambiental, reconhecida como uma ao essencial, j que pode ser difundida em

    massa, sensibilizando crianas e adultos.

    A educao ambiental segundo um artigo da Secretaria de Meio Ambiente de So

    Paulo (1999, p. 6):

    educao ambiental a preparao de pessoas para sua vida enquanto membros dabiosfera; educao ambiental o aprendizado para compreender, apreciar, saber lidar emanter os sistemas ambientais na sua totalidade; educao ambiental significa aprender a ver o quadro global que cerca umproblema especfico sua histria, seus valores, percepes, fatores econmicos etecnolgicos, e os processos naturais ou artificiais que o causam e que sugeremaes para san-lo; educao ambiental a aprendizagem de como gerenciar e melhorar as relaesentre a sociedade humana e o ambiente, de modo integrado e sustentvel; a educao ambiental significa aprender a empregar novas tecnologias, aumentara produtividade, evitar desastres ambientais, minorar os danos existentes, conhecere utilizar novas oportunidades e tomar decises acertadas.

    Educao ambiental fundamentalmente uma educao para a resoluo de

    problemas, a partir das bases filosficas do holismo, da sustentabilidade e do aprimoramento.

    Na compreenso desse trabalho, a educao ambiental vai alm da resoluo de

    problemas buscando a coibio de novos problemas. Por isso a educao ambiental, aqui, o

    aprendizado do homem para relacionar-se com a natureza de forma equilibrada, no pensandos em produtividade e crescimento econmico, mas sim na qualidade de vida do ser humano,

    no desenvolvimento e na preservao da natureza e do bem-estar das geraes futuras que

    vivero impactos negativos da destruio da natureza, mas que tambm podem viver

    conseqncias boas, fruto de uma educao ambiental comprometida com a natureza e com o

    homem.

    Alm das discusses sobre a educao, esse trabalho ainda discute sobre a importncia

    a relao da educao e do lazer para o PEIT e para a comunidade.

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    A relao lazer e educao reconhecida pelos visitantes como fundamental para o

    parque, j que ele um equipamento de lazer utilizado para atividades educacionais.

    Luis Carlos, professor que acompanhava um grupo de alunos durante uma visita ao

    PEIT organizada pela escola Santa Dorotia de Belo Horizonte, ressalta a importncia do

    aprendizado aliado ao prazer na busca da construo do conhecimento.

    O professor destaca ainda a importncia para o aluno de vivenciar momentos na

    natureza que complementam os contedos estudados em sala de aula de forma descontrada,

    mas compromissada com o conhecimento, pois as atividades que eles realizam no parque so

    discutidas em sala de aula posteriormente, criando assim uma via de mo de dupla da

    educao, isto , o aprendizado caminha por entre a escola e o parque. Acreditamos ainda que,

    o aprendizado que ocorre no parque pode ir alm da relao com os contedos escolares,

    possibilitando o crescimento do conhecimento e o desenvolvimento dos alunos.

    Os trabalhos realizados discutem as prticas ecologicamente corretas, a importncia da

    natureza e sua preservao, o equilbrio ecolgico e as aes do homem na natureza. Os

    alunos, que visitam o parque atravs do trabalho conjunto de escolas e do PEIT, apresentam

    comportamentos interessantes como: maior participao nas discusses e envolvimento nas

    atividades por espontnea vontade.

    Nota-se que maior o envolvimento do grupo de alunos atravs das atividades

    recreativas, que utilizam do ldico para ressaltar valores, dilogos e reflexes sobre as

    questes ambientais.

    Vale dizer que o ldico no entendido como uma evaso da realidade ou estimulador

    do conformismo com a sociedade em que se vive, mas sim colaborador da emancipao dossujeitos por meio do dilogo, da reflexo crtica, da construo coletiva e da contestao e

    resistncia ordem social e excludente que impera em nossa realidade (GOMES, 2004, p.

    146).

    Na relao entre educao e lazer, a produo do conhecimento deve permitir aos

    sujeitos novos horizontes, possibilitando tanto a melhoria na qualidade de vida, com

    condies objetivas e progressivas, medida que se prope forjar sujeitos prticos-reflexivos

    (FRANA, 1999, p.35).

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    A aproximao da educao e do lazer pode contribuir para a preservao do PEIT e

    para a qualidade de vida de quem o freqenta e mora em seu entorno, uma vez que, prope

    aos sujeitos, no caso os visitantes do parque, avistar novos horizontes e refletir sobre suas

    aes que tm contribudo ou no para o bem-estar prprio e para a preservao da natureza.

    Nilva, uma visitante do parque, ao ser questionada sobre a influncia da preservao

    do parque na sua qualidade de vida contribui com pensamentos que vo alm de preocupaes

    com a sua prpria vida somente. Ela releva a vida de todos que se inserem na sociedade em

    que ela vive e a preocupao com o estado em que o mundo se encontra, no qual a qualidade

    de vida muitas vezes esquecida e substituda pela correria e stress do trabalho. Ao ser

    perguntada se a visita que realizava no PEIT e a preservao do parque influenciam na sua

    qualidade de vida, ela diz:

    Na minha? Na sua? Ou na nossa?(sorri). Sim, como eu falei no princpio, eu achoque esse contato com o verde, com a natureza, com as plantas, tudo isso nos d umasensao de paz, de relaxamentos, ainda mais agora nesse mundo corrido que a

    gente vive, um momento propicio pra isso.

    importante ressaltar que a visitante ao considerar a pergunta sobre a influncia do

    parque na sua qualidade de vida, uma pergunta pertinente a todos que convivem com ela,

    acredita que a comunidade ouropretana se beneficia diretamente com a preservao do

    parque.

    Na possibilidade de melhoria de vida atravs do lazer e da educao podemos

    encontrar a aproximao das pessoas com o parque, reforando o sentimento de

    pertencimento e de cuidado com o patrimnio natural. Principalmente a (re)aproximao da

    comunidade que vive em seu entorno, nos municpios de Ouro Preto e Mariana, so

    fundamentais para a sua preservao. E para os quais o parque fundamental, j que faz parte

    da histria do lugar e pode se constituir como um equipamento de lazer pblico e de educao

    para toda a populao.

    A importncia do lazer como prtica educativa para o parque, para a comunidade e

    para os visitantes fundamenta-se na contribuio de Marcassa (2004, p.128) quando a autora

    explicita que:

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    [...] o lazer um espao de educao constante, uma vez que permite ais indivduoso descanso e a recuperao das suas foras fsicas e mentais para o retorno aotrabalho, alivia as tenses, mantm-nos ocupados em atividades que lhes do prazere, ainda, promove seu desenvolvimento pessoal e social, condio indispensvelpara que o homem se mantenha em equilbrio e, assim, possa dispor de toda suaenergia e inteligncia para a resoluo dos problemas e a criao de respostasajustadas s mudanas rpidas e emergentes da vida moderna, dando suacontribuio para o bem-estar geral da nao.

    A busca do equilbrio do homem, citada acima, compreendida tambm como

    equilbrio do homem e da natureza. Esse equilbrio pode proporcionar a melhoria da relaodo PEIT com a comunidade e com os visitantes, contribuindo assim para sua preservao. Por

    isso, o lazer e a educao possuem papis essenciais para a sobrevivncia do parque j que a

    comunidade tem papel fundamental na sua proteo como patrimnio cultural e natural e os

    visitantes contribuem para divulgao tanto da imagem do parque refletindo em sua

    sustentao financeira, quanto de atitudes ecologicamente corretas dentro de uma UC.

    O principal objetivo da interao do lazer com a educao a melhoria da qualidade

    de vida das pessoas, tornando-as crticas, criativas e livres para fazer escolhas e contribuir

    com a sociedade e preservao da natureza.

    Alguns autores como Camargo (2002) e Marcellino (1998) discutem sobre dois

    aspectos educativos do lazer: o lazer como veculo de educao e o lazer como objeto de

    educao.

    Trata-se de um posicionamento baseado em duas constataes: a primeira, que o lazer

    um veculo privilegiado de educao; a segunda, que para a prtica positiva das atividades

    de lazer necessrio o aprendizado, o estmulo, a iniciao, que possibilitem a passagem de

    nveis menos elaborados, simples, para nveis mais elaborados, complexos, com o

    enriquecimento do esprito crtico, na prtica ou na observao. Verifica-se, assim, um duplo

    processo educativo - o lazer como veculo e como objeto de educao (MARCELLINO,

    1998, p.58).

    Esses aspectos so relevantes para este trabalho uma vez que a educao para e pelo

    lazer so fatores que devem ser considerados nas atividades do PEIT.

    Enfim, essas e outras observaes confirmam que a educao para e pelo lazer no

    podem ser entendidas separadamente e sim como canais complementares, pois quando

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    ocorrem simultaneamente cumprem, duas funes importantes: alertar o homem sobre a

    importncia do lazer em sua vida e contribuir para o desenvolvimento pessoal e social.

    O duplo aspecto educativo do lazer poder ser observado no PEIT uma vez que os

    trabalhos de educao ambiental pelo lazer, j ocorridos, despertem a significncia da

    educao para o lazer, incentivando os visitantes a valorizarem o parque como um

    equipamento de lazer pblico.

    O Programa de Turismo vem tentado desenvolver atividades que aproximem a

    comunidade e os turistas ao parque como os projetos de educao ambiental que vm sendo

    realizados. A busca pela natureza vem se manifestado na sociedade, que com a vida carregada

    de trabalho e de elementos urbanos e cada vez mais distantes de reas naturais como o PEIT,

    sente a necessidade da fuga da cidade buscando a paz e a harmonia da natureza. O parque

    surge nesse contexto como um lugar onde podem experimentar novas vivncias e sensaes

    que no existem nas cidades. (BAHIA, 2005).

    Com o reconhecimento da importncia da educao e do papel fundamental que o

    lazer pode ter por toda a histria do parque, afirmamos aqui a relao fundamental que e o

    lazer e a educao ambiental possuem para o PEIT como instrumento essencial na sua

    sobrevivncia e na sua reaproximao com a comunidade e com os visitantes.

    Alm das prticas recreativas e das vivncias do ldico, o lazer como educao

    permite discusses que promovem saberes e desenvolvimento crtico e criativo do homem,

    podendo assim contribuir para a sua qualidade de vida e para a preservao do parque.

    CONSIDERAES FINAIS

    Essa pesquisa foi elaborada a fim de levantar questes importantes para o Parque

    Estadual do Itacolomi, como os trabalhos de educao ambiental, a relao do lazer com o

    parque e com a EA e a relao do ecoturismo e da comunidade com o parque.

    Essas questes foram analisadas a partir dos sujeitos envolvidos, tanto funcionrios do

    parque, quanto moradores da comunidade e visitantes, alm das observaes de campo e do

    dilogo com vrios autores que trouxeram conhecimentos pertinentes a pesquisa.

    Em momento algum a pesquisadora se distanciou dos sujeitos e do objeto estudado,reafirmando assim, o vnculo j existente entre pesquisadora e pesquisa antes mesmo do

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    trabalho se iniciar. Essa relao em muitas ocasies contribui para o entendimento da

    pesquisa e para o enriquecimento do trabalho.

    Assim, durante a pesquisa constatou-se que a histria do parque, desde o sculo XVII,

    quando o ouro foi descoberto nas minas, relaciona-se com o surgimento da cidade de Ouro

    Preto e com as origens das famlias que se fixaram na regio, formando a comunidade

    ouropretana.

    Essa comunidade teve durante muito tempo uma forte relao com o PEIT,

    principalmente no incio do sculo XX, quando vrias famlias trabalhavam na colheita de ch

    que era cultivado na Fazenda do Manso, rea que pertence ao parque. Mas atualmente,

    percebe-se que a comunidade j no tem mais o mesmo envolvimento com o parque, e que

    esse fato pode no contribuir para a preservao do parque e para a utilizao de seu espao,

    como equipamento de lazer.

    A aproximao da comunidade que vive ao entorno do parque vital para sua

    preservao, assim como o parque essencial para essa populao como espao de lazer,

    patrimnio de suas prprias histrias e contribuinte para suas qualidades de vidas.

    A criao da portaria do parque, e o fato dele tornar-se um atrativo turstico o qual em

    seu planejamento no houve a total incluso da comunidade, pode ter sido um dos fatores que

    distanciou a comunidade do entorno do parque. Aucilino, (1999, p. 34) acrescenta que:

    S no se pode esquecer que lutar pela preservao de certos espaos naturais lutar

    tambm pela manuteno e pela valorizao da comunidade humana que ali vive. O turismo

    deve constituir-se numa atividade centrada no homem, no ser humano, no enriquecimento

    cultural do visitante, atravs do fortalecimento cultural de quem o recebe.Portanto, consideramos a comunidade elemento essencial tanto para a atividade

    turstica quanto para a prpria preservao do parque. E acreditamos que so essenciais

    iniciativas que busquem a reaproximao da populao autctone com o parque, atravs de

    trabalhos de educao, de conscientizao do pertencimento do parque s suas histrias e do

    incentivo ao uso do espao do parque como espao de lazer pblico para a comunidade.

    Alm da falta de aproximao da comunidade, o PEIT sofre com a baixa visitao

    turstica (RELATRIO DEMANDA, 2006). Acreditamos que o parque ainda no reconhecido na regio como um atrativo turstico efetivo, afetando assim, sua imagem como

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    atrativo ecoturstico da cidade de Ouro Preto, que conhecida somente pelo turismo histrico

    cultural. O parque, no entanto, poderia contribuir ao oferecer aos turistas um atrativo

    diferenciado, ou mesmo no fortalecimento de um novo perfil de visitantes na cidade,

    colaborando para o aumento de demanda turstica.

    Assim, o ecoturismo pode transformar o meio ambienta natural do parque em espao

    de experincias do lazer, da educao, proporcionando para os ecoturistas mais que uma

    experincia na natureza, uma aprendizagem com a natureza.

    Um dos elementos essenciais para a preservao do PEIT trabalhados na pesquisa foi a

    educao, entendida como um meio de desenvolvimento pessoal e social, na qual o ensinar e

    o aprender possuem uma relao prxima, estabelecendo uma via de mo dupla, isto ,

    ensinar depende do aprender assim como o aprender depende do ensinar (FREIRE, 2003).

    Assim, entendemos que a educao deve ser para o PEIT uma troca de experincias entre os

    funcionrios, os visitantes e a natureza, fortalecendo a relao do homem entre a natureza na

    busca do equilbrio.

    Essa educao no PEIT foi estudada com os princpios da educao ambiental, a qual

    consideramos um caminho para o crescimento da conscincia ambiental na sociedade,

    formando cidados responsveis e sensibilizados diante as questes ambientais e atentos para

    a busca do equilbrio da relao entre o homem e a natureza para sua melhoria da qualidade

    de vida.

    Por isso, os trabalhos da educao ambiental devem ser continuados no parque, e

    incentivados, ampliando seu alcance para todas as escolas que se interessarem pelas

    atividades realizadas pelo PROTUR e para todos os cidados que procuram pelo parque naprtica do ecoturismo.

    As atividades de ecoturismo e educao ambiental merecem destaque em virtude depossurem papel fundamental no fortalecimento da relao populao local/ equipeda U.C./ usurios, que so os vrtices e principais atores sociais do bomfuncionamento da U.C. (FIGUEIREDO, 2000, p.61).

    Assim sendo, acreditamos que para o fortalecimento do PEIT como atrativo turstico e

    equipamento de lazer evidente a necessidade do equilbrio entre a comunidade, os

    ecoturistas e a equipe que trabalha para o parque em geral, no somente a equipe do

    PROTUR, como tambm os funcionrios do IEF, FEOP e quaisquer outros que venham

    constituir parcerias com o parque.

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    A fim de promover a relao harmoniosa entre o PEIT, a educao, a comunidade e os

    visitantes, acreditamos que o fenmeno do lazer venha a contribuir, uma vez que

    consideramos o parque um espao onde podem ocorrer manifestaes culturais, atitudes

    fundamentadas no ldico, como a recreao e a educao, que auxiliam no desenvolvimento

    pessoal e social do homem e contribuem para a preservao do parque e para as atividades do

    lazer como prtica educativa na educao ambiental.

    Ainda consideramos que, assim como a educao atravs do lazer importante, a

    educao para o lazer tambm essencial para o PEIT. Portanto, no consideramos a

    educao para e pelo lazer processos separados, e sim simultneos, para o PEIT, pois to

    importante quanto o uso do lazer para as prticas educativas o aprendizado do homem para

    usufruir o lazer. A administrao do parque, ento, deve repensar formas de propagao e

    no limitar-se somente a divulgao do espao de educao ambiental, mas tambm revelar-se

    como equipamento de lazer, tanto para a comunidade quanto para os ecoturistas.

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    Entrevistas:

    [ ], Antnio. Ouro Preto, MG, 01 ago. 2007. (15 min.). Entrevista concedida a Joice YukariNishime.

    [ ], Luciana. Ouro Preto, MG, 13 jun 2007. (10 min.). Entrevista concedida a Joice YukariNishime.

    [ ], Luis Carlos. Ouro Preto, MG, 13 jun 2007. (10 min.). Entrevista concedida a Joice YukariNishime.

    [ ], Nilva. Ouro Preto, MG, 20 jun 2007. (10 min.). Entrevista concedida a Joice YukariNishime.

    [ ], Tiago. Ouro Preto, MG, 11 jun 2007. (20 min.). Entrevista concedida a Joice YukariNishime.