Klein 1987
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7/24/2019 Klein 1987
http://slidepdf.com/reader/full/klein-1987 1/22
OEMOGR FI O ESCRAVlOAo
HERBERT S. KLEIN
ADemografia do TrAfico Atlantico de Escravos para 0 Brasil
JOAO
luis R.
FRAGOSO
MANOlO
G. FLORENTINO
Marcelino, Filho de Crioula. Neto de Joana Cabinda:
Um Estudo sobre FamRias Escravas em Paralba do Sui (1835-1872)
PETER
l
EISENBERG
Ficando Livre: As Aiforrias em Campinas no S6culo
XIX
ROBERT W. SLENES
Escravidao e
FamOia:
Padr6es de Casamento e Estabilidade
Familiar numa Comunidade Escrava (Campinas. S{Jculo XIX)
ALIDA C. METCALF
Vida Familiar dos Escravos em S§o Paulo no S{Jculo Dezoito:
o
Caso de Santana de Parnaiba
IRACI COSTA, ROBERT SLENES STUART SCHWARTZ
AFamflia Escrava em Lorena (1801)
HORACIO GUTIERREZ
Demografia Escrava numa Economia Nao-Exportadora: ParamJ, 1800-1830
VOLUME 17 - NUMERO 2 - 1987
INST ITUTO
DE
PESQUISAS
ECONOMICAS -
USP
7/24/2019 Klein 1987
http://slidepdf.com/reader/full/klein-1987 2/22
A Demografia do Trafico Atlantico
de Escravos para 0
Brasil
HERBERTS. KLEIN
Resumo
Levantam-sequestoesrelativasaotrdficodeescravos,responsdvelpe laentradademaisdequatromilhoes
deafricanosnoBrasil,emtrezentosanos.Apresenta-seabibliografiaexistentesabre0 temadesde0
XIX,
comAnlasenostrabalhosdesenvolvidos ap6s1960. Ademografiadotrdlico estudadaemrelaifaoadiversos
pontos: aestimativa
do
m1mero total
de
africanostransportadospara 0 Brasil, amortalldadeocorridadurante
asviagense
0
volumeeimportanciadotrdficointerno.Indicam-senovostemasdeestudo,comoamortalidade
dosescravos
aoBrasileosaspectoscomereiais
do
tr4lico.
Abstract
Thiswork raisesquestions aboutthe slavetrade, which introduced morethanfourmillionAfricansintothe
Brazilian population over300 years.The bibliographyon thesubjectispresented,startingfromthenineteenth
centuryandemphasizingtheworkswrittenafter 1960. Severalaspects 1thedemographyoj thetradearestudied:
theestimateofthetotalnumberofAfricansshippedtoBrazil,themortalityintheMiddlePassage,themagnitude
and importanceofthe internal slavetrade.Newtopicsofstudyaresuggested, suchasthemortalityamongthe
slavesnewlyarrivedinBrazilandthecommercialaspectsoftheslavetrade.
otraficoatlanticode escravos teve
um
profundo impacto
sobre
0 crescimento da
popula(fao
brasileira.
No espa(fo de
trezentos
anos,
navios negreiros trouxeram mais
de
quatro
milhOes de
africanos para
os portos brasileiros
e,
por
ocasiao
do
primeiro
censo nacional
em
1872, africanos eseus descendentes,
Iivres
eescravos, perfa
ziam 58% do total da popula(fao do pafs(1l. Entretanto, apesar da
importancia
do
tra
oautor
t§
professor
da
Columbia University.
TraduifaodeLauraT.
Motta,
do original: TheDemography
of
the
AUlntlcSllve Trade
to
BrazU".
(1) MERRICK&GRAHAM(1979, p. 29). Aestimativade4milhOes extrardadastabelas1 e2. Sobreasvd
riasestimativasquetAm sideapresentadaspara0 deescravosbrasileiro, verCONRAD(1985, p.
35-43).
ESTUDOSECONOMICOS
17(2):
129·149
MAIO/AGO.
1987
7/24/2019 Klein 1987
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DEMOGRAF/A DO TRAF/CO A TLANTICO
ficodeescravos paraaevolu<;:ao demograficadapopula<;:ao brasileira,atebem
cotempo
0
conhecimentosobre
0
assuntoerarelativamentepequeno.
o
estudosistematicodotraficoatlanticodeescravosteveinfciono finaldo
set
dezenove,comostrabalhosdos abolicionistas ingleses.Natentativadeimpugn
viabilidadeeconomicaeadesumanidadedaquelecomercio,elesprocuraramdete
nar as dimensoes basicas da
migra<;:ao
transati8.ntica
for<;:ada
de africanos,os
dr6esde mortalidadede escravose
tripula<;:oes
e0 impactoeconomicorelativo
bre
as
economiasafricanaeamericana.Tambem
0
Parlamentoinglesfoi cham
paralegislarsobre
0
traficonasdecadasde
1780
e
1790,
dafresultando
0
prine
da coleta sistematicade material estatfsticosobre 0 trafico pelos 6rgaos gove
mentais britanicos, aqual perdurariaatemeadosdo seculodezenove.Enquantc
seculodezoitoa preocllpa<;:ao dosparlamentares inglesesera0 estudodesuas
priaspraticasnotrafico,ap6s
1814
passaram aconcentrar-sefundamentalmentE
comerciodeescravospara 0 Brasil(2).
Apesardesseinteresse inicial namecanica docomerciodeescravosafricanc
estudosignificativodotraficoatlanticos6teve infcio noseculovinte, comtrabal
de estudiosos franceses e norte-americanos. Gaston-Martin e Padre Rinchon,
Fran<;:a, e ElizabethDonnan, nos EstadosUnidos, reuniramnasdecadasde
1930 umconjuntosubstancial domaterialarquivfsticodisponfvel sobre
0
trafico
arquivosfranceses e ingleses(RINCHON, 1929; DONNAN, 1930 eGASTON-M
TIN,
1934).
Esseconjunto,aliadoaonoMveltrabalhoinicialdeGaston-Martin,lal
ram os alicercesdoestudomodemo dotraficodeescravosnoperfodop6s-Segu
GuerraMundial (GASTON-MARTIN,
1931).
NocasodoBrasil,acoletadedocun
tos teve inicio um pouco mais tarde, na decadade1940, quando
come<;:ou
um
pressivotrabalhoarquivfstico(LOPES,1944 eGOULART,1949).
Foram,porem,
0
desenvolvimentodanovaareadeHist6riaAfricanae
0 despE
dointeressenahist6ria afro-americana, nas decadasde1950 e1960, quefinaln
te substancialmente esse campo deestudos. Embora muitose
diososestivessem
come<;:ando
aexaminarvariosaspectosdotraficosob
as
persl
tivas africana, europeia e americana, foi
0
trabalhode PhilipCurtin queacelerc
suscitou um renovado interesse, atraves de sua tentativa deestimar0 volumE
trafico. Em
1969
esseautorpublicoll
SLJdS
conclusoesem
The
Atlantic
Slave c
A Census,
umasofisticadaanalisemetodol6gicadasfontesjapublicadas,utiliza
o que havia de mais recente em teoria demografica. Curtin refutou, com suce
todasas estimativasanterioressobre 0 volume totaldotraficoafricanoparaaE
pa, as IIhas Atlanticase aAmerica no periodo compreendido entre as
1840
a 1860. Apresentou, entao,suaspr6priasestimativas,fundamentadasem l
(2) Grandepartedessematerialquantitativo
56
foipublicadarecentemente.0 unicoconjuntode
ponfvel
adecadade
1960
consistianasrela90esque
0
ForeignOfficebritanicopublicoupara
0 t
de 1817 a1843, que
se
encontram
em Parliamentary Papers, XLlX(73):593-633,
1845. Esseconjun
dadosfoi utilizado originalmente porCurtin, emseutrabalhode1969, citadoadiante, eposteriom
atualizadoporKleincombasenasrela90esdedesembarquesnoportodoRiodeJaneiro,publicada
jornaisdaquelaprovinciapara0 perfodoate 1830. VerKLEIN (1973). Posteriormente
as
rela90es f
refinadasporDavidEltisecompletadascomrnaisinforma90esprovenientesdearquivospublicos
ofie
Estudos Economicos, Sao Paulo, 17(2): 129-149, maio/ago.30
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Herbert S. Klein
sarie
de hip6teses e
argumentos claramente
explicitados, que
por
sua vez
tornaram
se a
base
de
grande parte das
crfticas sobre seus pr6prios numeros.
Apesar
de con
centrar-se no problema do numero de africanos embarcados, Curtin abordou Iigeira
mente
muitos
temas que
se
tomariam t6picos fundamentais de estudos subsequen
tes. A evolUl;ao demografica das
popula96es
escravas
americanas,
bern
como
a
mortalidade durante
a
travessia
atlantica
foram preocupa96es basicas do autor, pois
constitufam-se nos fatores primordiais para as
estimativas
sobre
0
numero
de africcr
nos
transportados,
para os quais, na
apaca,
nso
havia dados disponfveis.
Curtin
chegou
tam
bern a
mencionar, embora
nso desenvolvendo
por
completo, alguns dos
assuntos
que
seriam posteriormente objeto
de
muito interesse,
em
termos
de
cras
cimento da popula9so africana einteresses europeus no trafico.
A estimativa
de
Curtin de 8a11 milh6es de africanos
transportados
foi 0 que
provocou resposta mais
imediata
entre os estudiosos
e
gerou intensas buscas de
novos dados
e fontes para refutar
seus
m1meros. Foi
essa pesquisa internacional
des
arquivos
europeus,
americanos
eafricanos aprocura dos
dados
existentes
sobre
as
viagens de navios negreiros que
conduziu
a
uma nova era de pesquisa
e
analise
acerca do
trafico atlantico
de escravos(3). Uma vez disponfvel esse novo material,
muitos
debates anteriores
puderam
ser
diretamente
abordados pela primeira vez de
forma sistematicae foi possfvel levantar quest6es novas, mais
complexas
esofisti
cadas acerca
da
hist6ria
econdmica, social
e
mesmo
polfticadessa migra9ao oceA
nica
em
massa
de seres humanos(4).
Essa
efusso
de novos
estudos
realizados
per
historiadores eeconomistas na Europa, Africa eAmerica
conduziu
4
criaySo
de
uma
nova area fundamental de
pesquisa.
a estudo do trafico
de
escra
vos, que combina as disciplinasdemografia, economia ehist6ria eserve-se de
ins
trumentos
tso diferentes
quanto
a
tradi9so oral
ea
analise
quantitativa
computadori
zada,
deu origem
a
urn grande
numero de publica¢es, as
quais fizeram
dessa area
uma
das mais ativas eprodutivas da investiga9so hist6rica moderna(5).
As quest6es abordadas
agrupam-se
em tome de uma sarie de temas. Embora
nem sempre
estritamente
autooomas
em
seus campos de interesse,
essas
princi
pais
areas de pesquisa edebate podem
ser
aproximadamente divididasem:
ques
tOes relativasa,economia do trafico e
custos
ebenefTcios dos participantes;
causas
e
consequencias
da aboli9so
do
trafico no final
dos saculos
dezoito edezenove;
e,
finalmente, ahist6ria demografica
dos
africanos transportados e
seu
impacto
sobre
a
mudan98 nas popula96es
da
regiao de
origem eno
Novo
Mundo. Enesta ultima
(3)
Publicac;:liesracentesde novomaterialarqulvrslicoinclufram0 monumentalesludodotr4ficofrancAspor
METTAS(1978-1984);e rela¢es rna is completasparaa Virgfniapor MINCHINTONet al (1984).
(4)
0 maisambiciosodessesestudos ateserecentedeALENCASTRO(1985).
(5) dasv4riasobrascitadas em outras notasdesle artigo, h4 osvolumes ediladosporEN·
GERMAN &GENOVESE(1975);ANSTEY&HAIR(1976); HistoricalSocietyofLancashireandCheeire,
OccasionalPapers,vol.
2;
ELTIS&WALVIN(1981);INIKORI(1982)
eo nOmero
especial
daRevue Fran
r;aise d'Histoire d'Outre-Mer
(1975). V4riosartigosforam
publicadosnos
Ollirnos
cincoanos
em
EconomicHistoryReview;Journalof EconomicHistoryeJournalof AfricanHistory.
Estudol Economicol,
Sio
Paulo,
17(21:129-149,
malo/lIIJo.
1987 131
7/24/2019 Klein 1987
http://slidepdf.com/reader/full/klein-1987 5/22
DEMOGRAF/A DO TRAF/CO A
TLANTICO
セ
que se concentraesteartigo,especialmentenoquediz respeitoahist6ri
mograficadoBrasil.
As questoes demograficas sobre0 traficodividem-seem umaserie de t6,
dos quais somente alguns tem sido abordados pela Iiteratura recente. April
questao, defundamental interesseparaCurtineseus crrticos, foi estimar0 nu
total de africanos transportados. No caso doBrasil,·tem havido poucas mud.
significativas nas estimativas para 0 perfodo anteriora 1789fornecidas por (
(ver tabela
1).
Ate
0
presentenao
se fez
umestudoexpressivedo traficobra!
apoiadonas fontesdosseculosdezesseise dezessete,e
as
estimativaspara
culo dezoito sao baseadas
nas
bem fundamentadas descobertas arquivisticc
MaurfcioGoulart (vertabelas 1e3). Entretanto,ocorreramrevisoes importante
dadosdoautorpara
0
perfodop6s-1780,especialmente
os
que
se
referemam
t6rios do consul inglespara
0
perfodoposteriora1817.Esses dadosforam
radosparHerbert
S.
Klein,atravesdeestudoscomparativosdaspublica<;:Oes
el
naisdedesembarques de naviosnoseculo dezenove,eporncwas pesquisas
I
TABELA 1
ESTIMATIVASDOSAFRICANOSDESEMBARCADOS
NO
BRASIL,1531-1780
n
9
de
Periodo
Afr icanos
1531-1575
10.000
1576-1600 40.000
1601-1625
100.000
1626-1650
100.000
1651-1670 185.000
1676-1700
175.000
1701-1710
157.300
1711-1720
139.000
1721-1730 146.300
1731-1740
166.100
1741-1750
185.100
1751-1760
169.400
1761-1770 164.600
1771-1780
161. 300
Tota l
1.
895.500
Media
do
t o t a l de desembar<
Anua1
nas Americas,
por secu l0
222
1. 600
22
4.000
4.000
7 4 00
7.000
43
15.730
13.900
14.630
16.610
18.510
16.940
16.460
16.130
30
33
Nota:
. )
ExcluldososafricanosembarcadosparaaEuropaouIIhasAMnticas,cujom1mero
significali
nasno
セ 」 オ ャ ッ
dezesseis.
Fonte: CURTIN
(1969,
tab. 33 - p.
116;
tab.34· p.
119
etab.
65·
p.
216).
132 Estudos Economicos,
Sio
Paulo, 17{21: 129-149, maio/ag
7/24/2019 Klein 1987
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Herbert
S.
K/ein
TABELA2
ESTIMATIVASDOSAFRICANOSDESEMBARCADOS
NO
BRASIL,1781·1855
QuinqUenio
SuI da
Bahia
Bahia
Norte
da
Bahia
Total
Media
Anual
par
dec ada
1781-1785
34.800
n.a. 28.300
(63.100)
1786-1790
44.800
20.300
32.700
97.800
(16.900)
1791-1795
47.600
34.300
43.100
125.000
1796-1800 45.100 36.200
27.400
108.700
23.370
1801-1805 50.100
36.300
31.500
117.900
1806-1810
58.300
39.100
26.100 123.500
24.140
1811-1815
78.700
36.400 24.300
139.400
1816-1820
95.700 34.300
58.300
188.300
32.770
1821-1825 120.100
23.700
37.400
181.200
1826-1830 176.100
47.900 26.200
250.200 43.140
1831-1835
57.800
16.700
19.200
93.700
1836-1840 202.800
15.800
22.000
240.600
33.430
1841-1845
90.800 21.100
9.000
120.900
1846-1850 208.900
45.000
3.600 257.500
·37.840
1851-1853 (*)
3.300
1. 900
900 6.100
Total 1 . 314.900 409.000
390.000
2.113.900
Notas: .) Naohouvedesembarquesentre 1853-1855; umnaviocom300escravosaparentementeaporlouno
RiodeJaneiroem1856.
Fonte:ELTIS(1987b).
qUivo
realizadas por DavidEltisnoBritishPublicRecordOffice(ELTIS,1987b).Este
au tor, por suavez, utilizouas pesquisasnosarquivosportugueseseangolanosfei
tasporKleine Millersobre0 traficode Luanda(MILLER, 1975), incorporando-asas
suasdescobertas.Osresultadosdessasestimativassaoapresentadosnastabelas1
e 2.
Osnumerosdas tabelas1e2tornamevipente,principalmente,0crescimentode
longoprazodo.traficoentreosseculosdezesseisedezenove.Semduvidafoi0 Bra
silaprincipalregiaode desembarquedeescravosafricanosnas Americas,
comum
ter90do total desembarcadoantesde 1780eprovavelmentedoister90s ap6sessa
data. Portugal, alemdisso, foj0maisantigotraficantedeescravoseosnaviosne
greirosdestinadosaoBrasilestiveramentreosprimeirosasingraraguasamericanas
eou ultimosaabandonarapraticado trafico. EnquantoCurtin fezsuasestimativas
do
crescimento noperTodo pre-1700relacionarem-se
as
mudan9asnaeconomia
Estudo5 Economico5, Sao Paulo, 17(21: 129·149, maio/ago. 1987
133
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DEMOGRAF/A DO TRAF/CO A TLANTICO
sileira,asestimativasp6s-1700saomaisdiretamentebaseadasem fontesarqui'
cas
e,
portanto,podemrevelaralgumasrela90esentre mudan9aeconomicae e
xo
deescravosafricanosparaaAmerica.
afndicedemovimentodeescravosparece,aomesmotempo,confirmaralgu
das hip6teses tradicionais e refutaroutras. Assim, 0 fluxode escravosao
fine
seculodezoitoe infciododezenove aparenta serrealmenteindiferenteachan
"crise"do antigosistemacolonial, muitodiscutidaporhistoriadoresbrasileiros(
VAIS, 1979).Entretanto, parecehaver, defato, umaumentosignificativo nas irr
ta90es deescravosrelacionadoaorevivescimentodatradicionaleconomiaa9uc
ranoBrasilquando,ap6s1790,SaoDomingosdeixadeserumdosmaiorescor
tidores naprodu9aodea9ucar.Esse fato,aliadoaocontfnuocrescimentodaeo
miadiversificadadeMinasGerais,foramprovavelmenteosfatores
ra
0 acentuadocrescimentodosdesembarques
de
escravosno infciodoseculo
zenove. Intervalosou declfniosmais agudos ao longodesseseculo, contudo,
oem ter sidoprovocados por tentativas dogovernodecontrolar0 trafico.Assil
boom no final dadecada de 1820relaciona-seas amea9asdeaboli9aO do
em 1830,da mesma forma que nos primeiroscinco anos danovadecada he
umaquedaabruptadevidaa preocupa98.odosimportadorescomseusdireitos
Nadecadade 1840ocorreram bruscasflutua90esdo trafico,0 qual apresentou
ultimograndeaumentopoucoantesdesuaextin9aOdefinitivaem1850.
Tudo isso parece sugerir queosmercadosregionaisdeescravosnoBrasile
taovariadosque0declfniodademandaemumdeleseracompensadopelo
aun
to dacompra deafricanosem outros. Assim, 0 traticopermaneceumarcadaml
estavel noseculo dezoito, cresceu noseculodezenovecomarecupera9aodaE
nomiaa9ucareirabrasileira,ap6s0declfniodoHaitie0 infcioda economiacafel
Finalmente, os dados regionais sobre portos de entrada(ver tabela 2) mostral
crescente importanciado Rio deJaneirocomo importadorde escravos. Essa
f'
maiorregiaodedesembarquedeafricanosnofinaldoseculodezoitoe, porvolte
decadade 1810,absorvia maisdametadedosafricanosdesembarcadosnoBr;
1550
reflete 0 continuo crescimento dos mercados internos de Minas Gerais, t
como0lentomasfirmedesenvolvimentodaagriculturabaseadanotrabalhoescr
nointeriordasprovfncias
do
RiodeJaneiroeSaoPaulo.
Asestimativasanuais relativamenteprecisaspara0 numerodeescravosdesl
barcadosnoBrasilsaotamMm encontradasparaos escravosquedeixaramaAf
nomesmoperfodo(6). Infelizmente,porem,averdadeira
cOmpara9aO
entreaszo
de origem e as receptoras naoesta taodesenvolvidaquantaaquelas estimati\
Existem,naturalmente,algunsestudos muitobem elaboradossobrea rela9aO
er
certosportosbrasileiroseregi6esdaAfrica(7),mas56
se
encontramdadosexpre:
(6)
0
melhor entre os estudosgerais recentessobre
as
regioesexportadoras encontra-se
em
LOVE
(1982e 1983).
(7) 0 maiscompletodessesestudos
verREBELO(1970).
VERGER(1968); ver
CUNHA(1985).Para
0
RiodeJanl
134 Estudos Economicos,
sao
Paulo, 17(2): 129-149, maio/ago. 1
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Herbert S. K ein
TABELA3
ESTIMATIVASDASORIGENSREGIONAISDOSESCRAVOS
AFRICANOSDESEMBARCADOSNOBRASIL,1701-1810
Decada
Costa da Mina
Angola
Total
1701-1710
87.700
70.000
153.700
1711-1720
83.700
55.300
139.000
1721-1730
79.200
67.100
146.300
1731-1740
56.800
109.300 166.100
1741-1750
55.000
130.100
185.100
1751-1760
45.900
123.500
169.400
1761-1770
38.700 125.900
164.600
1771-1780
29.800 131. 500
161.300
1781-1790
24.200
153.900
178.100
1791-1800
53.600
168.000
221. 600
1801-1810
54.900
151.300
206.200
Total
605.500
1. 285.900
1.891.400
Fonte: EstimativasdeCURTIN(1969,tab. 62-
p.
207),baseadasemdadosarquivrsticospublicadospor
GOU
LART
Wed.
1949; ed. 1975,p. 203-209 equeforammodificadosporBIRMINGHAM(1966,p. 137,
141e154 .
vos para0
perTodo
p6s-1700. Parecer-nos-ia,entretanto,queospadr6esdesenvolvi
dosparaesse
perTodo,
comexce9aodocasodaAfricaOriental,naosaotaodiferen
tesdosanterioresa1700(8).
Contrariamente aoqueocorreu namaioriadas outras regi6es que praticavam0
trafico,osnaviosnegreirosbrasileirosdirigiam-seprincipalmenteazonasdecontrole
portugues na Africaou,como nocaso particulardaCostada Mina,a regi6es pre
viamente influenciadaspelosportugueses.Ademais,devidoacondi96esdenavega
9ao,
desenvolveram-seestreitasconex6esentredois importantes portos dotrafico,
Bahia e Rio deJaneiro, e algumas areasespeciais da Africa. Assim, a regiao do
Golfode Benin foi aprincipal fornecedora
de
escravos para aBahiaea regiaodo
Congo-Angola(e posteriormenteM09ambique)supriu deescravosespecialmente0
(8) OsdadosdaBahiasomentemostramnaviospartindoparaaAfricaetransportandofumodeproducAolo
calpara exportaciio. Entre1678e1815,zarparam1.731dessesnavioscomdestinoACostadaMina,em
contrastecomapenas39rumoaAngola-Congo. (VERGER, 1968, p. 653-654).Outrosdadoscorrobo
ram arela" iio especialentreCosta daMinaeBahia.Dosescravosafricanosresidentesem 9engenhos
baianos
em
1739, 82 10 eram provenientes deCostadaMinaeapenas18 10 deAngola(SCHWARTZ,
1986,p.348).
Eltudol Economlcol,
Sio
Paulo, 17(2): 129-149, maio/ago. 1987
135
7/24/2019 Klein 1987
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DEMOGRAF/A DO TRAF/CO A TLANTICO
TABELA4
DESTINAQAODOSESCRAVOSAFRICANOS
EMBARCADOS
NO
PORTODELUANDA,1723·1771
Porto Brasi1eiro
de Adult
Rio
de
Janeiro
Bahia
Pernambuco
Maranhao
Para
Colonia
de Sacramento
Santos
desconhecido
Total
104.170
55.696
37.092
2.570
2.161
1.569
474
172
203.904
Fonte:KLEIN(1987, p. 32).
Rio de
Janeiro
eas regioes interioranas centrais do
Brasil.
Isso
nao
significa
qL
houve desembarques de
escravos
da
Costa
da
Mina
no Rio de Janeiro, ou q
a-avos
provenientes de Luanda nunca se destinaram aSalvador, pois
todas
gi5es da Africa forneceram escravos atodos
os
portos
importadores
do Brasil
tudo, ao contrario de quase todas as outras regioes importadoras da Amer
Brasil desenvolveu relac;5es
centenarias com regi5es africanas fixas,
0
que
fe:
lacionamento afro-brasileiro muitomais estreitoecoerente do
que
em
qualqu
tra conexao afro-americana.
Infelizmente, mesmo para
ap6s
1700, os
dados disponfveis
sao ainda
ba
fragmentarios. Os
melhores numeros
globais para
0 seculo
dezoito
foram
rel
per Maurfcio Goulart eposteriormente modificados por Curtin com
base nas
p
sas
dos arquivos
portugueses
eafricanos realizadas por Birmingham (ver tabl
Essa tabela
evidencia
a
natureza
altamenteestcivel do fornecimento de escra\
Costa da Mimi
eo
espantoso crescimento
do
movimento de escravos angolar
seculo dezoito,
0
qual
foi, em grande medida, um
reflexo
do
desenvolvimento
cente
dos mercados de escravos no centro eno sui do
Brasil.
Segmentos menores do traficodoseculodezoitoe infcio do
seculo
dezeno
ram examinados per outros estudiosos,
mostrando
novamente uma tendencia I
envio
de escravos congo-angolanos para 0 Rio de
Janeiro e
os da
Costa
da
para
aBahia eos portos do norte. Essa tendencia evidencia-se ate mesmo en
Estudos Econllmicos, Sao Paulo, 17(21: 129-149, maio/age
36
7/24/2019 Klein 1987
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Herbert S. K/ein
TABELA 5
ESCRAVOSAFRICANOSTRANSPORTADOSAOBRASIL
PELASCOMPANHIASPOMBALINAS,PORPORTOS
DE
EMIGRAyAO
AFRICANOSEPORTOS DE ENTRADABRASILEIROS, 1756-1788
Portos Brasi leiros
Port
as Africanos
Pernambuco
Para Maranhao
R.de Janeiro
Cacheu
Bissau
Cabo Verde
Serra
Leoa
Costa da Mina
Angola
Benguela
6.050
41.557
4.698
4.481
40
76
5.318
1 .
074
4.545
5.841
36
107
808
470
5
329
1 . 881
Total
47.609
15.687
11.807
2.215
Fonle: CARREIRA(1969,
p.
100e 263). Emboraalgunsdesses numeroslenhamsidorevisadosemuma
se
gunda
edi<;;ao
(Lisboa, 1983), aprimeira
edi<;;ao
fornece labelas mais discriminadasemenoserrosde
adi<;;ao,
razaopelaqualulilizei-me
da
apresenla<;;aooriginal.
escravosembarcados em Luanda no periodo de 1723 a 1171 (ver tabela4) enos
transportados pelasduascompanhiaspombalinasno mesmoperiodo(vertabela5).
Tambem
05
dadosdoseculodezenove,baseadosemlistasdearquivosejornaispa
ra 0 portodoRiodeJaneiro,tornamclaraatendenciaacimamencionada(vertabela
6). Estes dados mostram, inclusive, 05 primeiros desembarques provenientes de
Mogambique, que 56 comegou a enviar sistematicamente escravos para 0 trafico
atlanticanaultimadecadadoseculodezoito.
As informagoesdisponiveis sobre idadee sexodosescravosdesembarcadossao
menuscompletas para0 traficocomdestinoaoBrasil,emcomparagaocomamaio
ria das outras rotas principais. Nesse aspecto,
05
dados relativos as criangas sao
muito melhores que 05 concernentes as mulheres. Infelizmente, as distingoesde
idade entre as criangas naoestaoc1aramentedefinidas, especialmenteentre"crias
de pe", queasvezeseramrelacionadasemseparadocomoum 56 grupo,asvezes
divididas em dois grupos, aquelas pelasquaisse pagava,"meyodireito"e asque
eram."livres"de impostoou,finalmente,agrupadasjuntamentecomas. "criasdepei
to"(9). Primeiramente, englobando-setodasascriangas independentementedasca
(9) Ale 1738.osfuncionc1riosrespOnsc1veis pelosimpostosregiosemLuanda,por exemplo,agrupavamtodas
Estudos Economicos,
Sio
Paulo, 17(2): 129-149, maio/ago. 1987 137
7/24/2019 Klein 1987
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DEMOGRAF A
DO TRAF CO A
TLANT CO
TABELA6
ORIGEM DOS ESCRAVOS AFRICANOS DESEMBARCADOS
NO PORTO DO RIO DE JANEIRO, 1795-1811; 1825-1830
Regiao/Porto
Africano
1795 - 1811
1825
-
1830
Africa
Ocidenta1
Sao Tome
Costa
da Mina
Ca1abar
Sudoeste Africano
Ma1embo
Cabinda
Rio
Zaire
(Congo)
Ambriz
Luanda
Benguela
Sudeste
Afrj
cmo
Lourenc;o Marques
Inhambane
Que1imaine
Moc;ambique
Total
2.761
1.198
934
629
155.385
452
5.020
549
73.689
75.675
4.079
4.079
162.225
132.472
5.479
39.452
6.007
20.934
38.940
21.
660
48.648
4.031
3.408
15.608
25.601
181.120
Fonte: KLEIN 1978,
p.
56-77).
as em uma 56 categoria
(crias).
Naquele ano, distinguiram
entre
de e de
peito .
Arquivo
Hist6rico Ultramarino,
Lisboa, Angola, caixa
21, mapa
datado
de 19/11/1739. Na
d&:ada
de 1760
come
a separar as crias de
entre as denominadas meio direito
(ou
de maio imposto) e as isentas
de imposto. AHU, Angola, Caixa 29, mapa datado de 14/1/1763.
Estudol Economicol, Sio PlUlo. 17 2): 129-149, milo/ago. 1987
38
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Herbert
S.
K/ein
tegorias,
para Luanda e
Benguela
em algunsanos
do
seculodezoitoem que elas fo
ram relacionadasseparadamente,ficaevidenteque as crian9as eram
um
componen
temuito
pequeno
da
migra980 total. No perlodode 1726 a1769 (com alguns anos
nao considerados), 0 total
de
crian9as era de
9.871
e0
de
adultos
176.775,
0 que
significaque
as
crian9as de todas as categorias representavam apenas
5%
dos es
eravos trazidos
ao
Brasil.
Para Benguela,
de 1738 a1753 e
1762
a
1800,
quando
um
total
de 254.012
africanospartiram desse portono
sui da
Africa
rumo ao Brasil,
ha
via
somente 2.171
crian9as
registradas a
bordo, Ou seja, menos de
1%
(KLEIN,
1978,
p.
28, 255-256).
Divis6esmaisdetalhadaspara alguns anos escolhidosmostram algumavaria9ao,
mas 0
padrao globalnao eacentuadamentediferente.Em dois dos perfodos
com
di
visoes detalhadasdascrian9as para
os
portos de Luanda eBenguelaem meados
do
seculo dezoito, elas
representaram,
respectivamente,entre 1%e
7%
dos escravos
embarcados para 0
Brasil
(ver tabela7). Em outros
anos,
incluindo-setodos os ado
lescentes
(como nos dados da
tabela8), ataxa
pode
atingir
ate 20%, mas nao
muito
alemdisso.
Nesse
aspecto,portanto,
0
trafico
de escravos
para
0 Brasil pouco
dife
riu
daquele
para
outros
pafses (KLEIN, 1983,
p.
29-38).
TABELA 7
FAIXASETARIASDOSESCRAVOSEMBARCADOSNOSPORTOS
DELUANDA(1750-1757)EBENGUELA(1762-1767)
Portos
Adultos
Crias de Pe
Crias de
Peito Totais
Luanda
74.353
4.438
906
79.697
Benguela
29.116
78
276
29.470
Total
103.469
4.516
1 . 182
109.167
Fonte:KLEIN(1978,tab.A.2eA.3).
As informa¢essobre mulheressao mais lip1itadas que sobre as crian9as. Aunica
divisaodetalhadapor sexo, atualmentedisponfvel na literatura,ea
rela9ao
revisada
dos escravos
comprados pela Companhia
do Grao-Para para venda no Brasil em
meados do
seculodezoito,efetuadapor Antonio Carreira
(ver
tabela8). A
razao de
masculinidadepara esse grupo como um todo (excluindoas crias de peito)era de
166
homens
para 100 mulheres,
com
maiorpredomfnio
do
sexo masculino
na
faixa
dos
adultos (179
homens
para
100
mulheres)
do que na das crian9as
(124 meninos para
100
meninas). Esse percentual
de
cerca
de
38% de mulheresno total
dos
escravos
Estudol Economical,
Sio
Paulo, 17(2):
129-149,
malo/ago.
1987 139
7/24/2019 Klein 1987
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DEMOGRAFIA
DO
TRAFICO A TLANTICO
comprados
aproximava-se do padrao da maioriadas migra¢esdeafricanos
Americadevidasao trafico(10). Einteressante
observar que
essa razao
de
m
nidade e
tam
bern
bastante pr6xima
ados
africanosresidentes no Brasil seg
l
canso de
1872,
0qual computou
138.560 escravos
africanos, com a
razao
de
sexo
masculino
para
100 do
sexo
feminino.
Considerando-se
0total
de
resi
africanos
Iivres
(44.580) eescravos, arazao era
de
170 do sexo masculino
pc
do sexo feminino(11). Portanto, uma
gera9ao
ap6s
aextin9ao do trafico,0de:
brio dos
sexos
entre os imigrantesafricanosera ainda semelhanteao padrao
fico
em
meados do seculo dezoito.
TABELA8
SEXOEIDADEDOSESCRAVOSAFRICANOSCOMPRADOSPELA
COMPANHIADE GRAO-PARAEMARANHAOPARAENVIOAOBRASIL,
1756-1
Faixas Etar ias Sexo
Mascu1ino
Sexo Feminino
Adu1tos
14.795
8.253
Ado1escentes 3.045
2.465
Crias (de
pei to
Tota l
17.840
10.718
Fonte:
CARREIRA (1983b,
p.
90). Essa
uma
segunda
edicAo,
rebatizada, do
estudo de
1979
sabre 0
escravos, com mais dados sobre os sexes para esta companhia,
em
comparaCao com a
Tais distor9des em termos de idade esexo implicamque 0grupo trpico de
nos desembarcados no Brasil
era,
em geral, incapaz de
reproduzir-se, de
rna
apopula9ao escrava totals6 podia sermantidapor meio de importa96es com
Em estimativa recente da popula980 brasileira
em 1798
e
1872,
os econc
Merrick e Douglas afirmam que a
popula9ao·
escrava declinou de
1.582.CX
1.510.810
nesse perfodo de 75
anos
(MERRICK
&
GRAHAM,
1979,
p.
(10) Jean Mettas
constatou
que
em
cerca de
40% dos
escravos
embarcados da Africa Ocider
Brasil
no
final do dezoitoeram mulheres, 0
que, em sua
opiniao,estava Iigeiramente
acir
drao da maior parte das outras rotas do tr4fico (METTAS,
1975, p. 352).
(11)
Brasil, Diretorla Gera! de Estadistica. RecenseamentD g ersl da popul/lfSo do Brasil••. 1872, I
do Brasil".
(12) Esse declrnio
representa uma
taxa anual
de
crescimenlo negativa
de
-0,06%.
140
Estudol Economicol,
810
Paulo, 17(2): 129-149, maio/,
7/24/2019 Klein 1987
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Herbert S. Klein
quedaocorreu apesarda importagao de mais de23.000 escravos por ana nospri
meiroscinquentaanosdoperfodo.
Ou
seja, em media,0 traficoaumentavaapopu
lagaoescravaemcerca de 1,5 aoanaateadecadade 1850. Contudo,nofinaldo
perfodo,apopulagaototalhaviadiminufdoemmaisde4 .
Aexplicagaodessedeclfnio tem pouca relagao com
as
condig6esdevidaetra
balho no Brasil.Emborasejaverdadeque
as
taxasdemortalidadeentreosescravos
foram sempreas maiselevadasdentretodososgrupos, foramprincipalmenteaes
truturademograficadapopulagao introduzida no pafsatraves
do
traficoatlanticoea
relativamenteal ta taxademudangadecondigaoescravapara livreentremulherese
criangasquedeterminarama incapacidadedereproduzir-se verificadanapopulagao
escrava brasileira. Uma vezqueum numerorelativamentemenordemufherescru
zavam
0
Atlantico, a maioria dasquaisja seencontravaem idade fertil enormal
mentechegavasem filhos,elaspossufamumpotencialdereprodugaoreduzido.Es
sas
mulherespodiammanterseunumeroatravesdareprodugao,masnao0 numero
total de pessoas com quemeramtrazidas.Adicionalmente,osafricanosapresenta
yam taxa bruta de mortalidade mais alta em comparagao a populagao escrava
crioula, devidoaodesequillbrioetario.ComoashomensemulherestrazidosdaiAfri
caja eramadultos,amediadeidadedapopulagaoafricananoBrasileramuitomais
alta que a da populagao nativa e, consequentemente, a taxade mortalidade per
1000eramuitomaiselevadaparaafricanosqueparacrioulos(13).
As
distor<;6esde idadeesexo dos escravos trazidosda Africa,portanto,determi
naramqueenquanto
0
trafico introduzissenapopulagao um grandenumerode imi
grantesessapopulagao comoum todo naopoderia reproduzir-se. Houve, provavel
mente, uma taxa
de
reprodugao positiva (mais nascimentosque mortes)entre os
crioulos.Contudo,enquantoosafricanosconstitufram um segmentomuitosignifica
tivodapopulagaoescrava,ataxadecrescimentoglobaldessapopulagaofoi negati
va. Assim,0 estoquede 1,5 milh6esdeescravosexistentenofinaldoseculodezoito
s6 poderiasermantidoaessenfvel em 1872 atravesdaimportagaodecercade 1,8
milhoesdeafricanosduranteesseperfodo(14).
Aesse problemadareprodugaodapopulagaoescravabrasi/eiraacrescentou-se
0
fato deque0 Brasilapresentou umadas maisaltas taxas demanumissaoda Ame
rica(15).
Essasardados libertosdacomposig8.0 dapopulagaoeserava, tantoquahto
aentradadosafricanosdesembarcados,tambemprovocoudistor<;6es emtermosde
idade e sexo. Entre os escravos recem-alforriados a tendenciaera de havermais
mulheres do quehomens, e as eram em grande numero(16). Isso implica
(13) Exemplo tfpico da estruluraetaria desequilibrada dosafricanosno Brasilfoi encontradoentreos1.131
africanosresidenlesemVilaRicaem 1804.Apenas9% dosafricanoslinham 19anosoumanos,compa
randocom45%dapopulal;1!ocrioulaancontradanessafaixa el<1ria (COSTA,1981,p. 103e249).
(14) Para umadiscuss1!o dalileralurasobre
0
lemadareprodul;1!oeseravana
verosdoisartigosde
KLEIN&ENGEMAN(1984, p. 208-227a1978).
(15) VerKLEIN(1978,
p.
3-27)eapl!ndicesemCOHEN&GREENE(1972).
(16) 0 processodemanumissaonoBrasil
0 melhorestudadoentreosda VerMA TTOSO(1976e
1979):SCHWARTZ(1974)eKIERNAN(1976).
Estudos Economicos. Sao Paulo, 17(2): 129-149, maio/ago. 1987 141
7/24/2019 Klein 1987
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DEMOGRAF/A
DO TRAFleo
A nANTleO
que
0
potencial de reproduc;:ao da
populac;:ao
escrava residente reduzia-se ainda
maiscoma
eliminac;:ao
demulheresadultasemeninasdaforc;:a detrabalhoescrava.
Essa distorc;:ao na idadee sexodosalforriadoscontribui,porsuavez, paraexplicar
porqueapopulac;:ao decor livrenoBrasil cresceuataxaselevadfssimas,aumentan
do
no
mesmoperfodo de 1798 a1872 cercadedez vezes (extraordinarios3,1 ao
ano),ou seja,de406.000para 4245.428pessoas.
Emboramenosdiretamenterelevante paraaquestaomaisampladocrescimento
e declfnio populacional, tarntlem tam havidomuitasdiscuss6es na literaturasobre
amortalidade no traticodeescravospara0 Brasil.Possuindoumconjunto incomu
mentecompleto deregistros damortalidadeexperimentadanotrafico,especialmen
tenotocanteaosnavioscomdestinoaoRiodeJaneiro,0 traficobrasileirotornou-se
area fundamental de estudo e debates no que respeita as quest6es das taxase
causasdamortalidadeentreosafricanos.
Ao tratardesseassunto complexoemuito discutido, certas constatac;:oes gerais
devem serconsideradas.Aprimeirae maisimportante
queamortalidadevariou
amplamente entre os navios, inclusive em termos de um mesmonaviorepetindo
uma rota em igual perfodode tempo. Tal era anaturezaaleat6ria damortalidade
quemesmocapitaesdenavios,queem
ュ セゥ 。
conviviamcombaixastaxasdemorta
lidade,podiamdeparar-seem umaviagemcom umaepidemiaeenfrentartaxasas
tronomicamenteelevadas demortes.Portanto, as taxasmediasdemortalidade for
necidaspara
0
conjuntodotraficoapresentam,em geral,desvios-padraomuitoaltos
em
relac;:ao
aessesnumerosmedios.Apartirdessefato, ficatambemevidenteque
as taxas mediasrefletemmudanc;:as de longoprazonospadr6esdamortalidade.
A
medida que
as
tax
as
medias declinam, tambem diminuem osdesvios-padrao(ou
seja,adistribuic;:aodamortalidadenamaioriados navios
setomamenore
aproxima-sedataxamedia).
Em segundo lugar, as taxas ュ encontradaspara a maioriados traficosno
seculodezoitomostram umauniformidadesurpreendenteentre si.Aessaconstata
c;:ao seguiu-se facilmenteadescobertadacausa. Saba-seque por voltado seculo
dezoitoos traficantes deescravosde todosospafses usavamos mesmos tiposde
navios negreiroseequipavam-separa0 traficovirtualmentedomesmomodo.Todos
os traficantesutilizavamnavios rapidosdetonelagem ュ (200a300toneladas),
carregavam provisoesdeaguatresvezesmaiorque anecessidadedeumaviagem
normal e inclufamgrandes quantidadesdecomidasafricanasnas refeic;:6es debor
do. Assim, todos eles compravam e usavam inhame, 61eo depalmae arroz para
alimentarseusescravos.Finalmente,quasetodos,porvoltadofimdoseculodezoi
to, vacinavam osescravoscontraa varfola. Poressas razoes, amortalidademedia
nasrotasdetraficodaAfricaOcidentalparaaAmerica,paratodosostraficanteseu
ropeus,varioude5%a10' namaiorpartedasegundametadedoseculodezoito.
Naos6haviaumauniformidadenamortalidadeentreostraficosdevidaamaneira
semelhantede transportarosescravos, mas tambem nao se tem notfciadecasos
em que
0
capitaodonaviodeliberadamente provocasse taxas demortalidade mais
elevadas devidoaomododetransportarosescravos.Na Iiteraturaqualitativatradi-
Estudos Economicos,
sao
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42
7/24/2019 Klein 1987
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Herbert
S.
Klein
cionalsupos-seque05 escravoseramcompradosa pre90s taobaixosnaAfricaque
era lucrativotransportarumnumeromaiordoque0 naviopodialevarcomseguran
9a, aceitando-sequalquer nfveldemortalidade, quecomsomentealgunssobrevi
ventespodiam-seauferir bons lucros. Essa teoriadasuperlota9ao foi muitoaceita
na literaturahist6rica tradicional. Contudo,0 caso foi exatamente0oposto. Em pri
meirolugar,05 escravosnaoerammercadoriabaratanacostaafricana. 05 europeus,
namaioriadas vezes,pagavam pelosescravoscom tecidos importadosdaAsia,ar
mas e Iingotesde ferro. 0 pagamentoem bebidaseoutras mercadoriasdiversas,
supostamente"baratas",era
Todos05estudossobrecustosdasmerca
dorias do europeu indicamque 05 lucros foramdiretamenteafetados pelas
taxasdemortalidade, eque taxaselevadasprovocavam0 prejuizototal,devido
ao
altocustodopagamentopelosescravos.
Entretanto, umaprovaaindamaisdireta
dadapelospr6priosdadossobre0
fico,
05
quaisnaomostram correla9aoalgumaentreescravosportonelagem,ou es
cravos por espa90 intemoa bordo, e as verdadeiras taxasde mortalidade; emne
nhum caso encontrou-se qualquer indica9ao de uma rela9ao positiva entre esses
elementos(17).Existe,obviamente, umarela9ao entreadura9aodaviagemeamor
talidade, sendo0 material relativo a MQ9ambique 0 mais explorado para testar tal
hip6tese.Naverdade, se 0tempodaviagemforconsideradodeformacom
parativa, as taxasdicirias demortalidade nos trcificos de Angolaede MQ9ambique
naosaosignificativamentediferentes.
Amortalidadenamaioriadasrotas dotrcificobrasileiro
apresentadanatabela
9.
Parececlaroque hci algumasvaria90es locais namortalidadeentreportoseao lon
godotempo,sendoparticularmentecurioso0casodeBenguelaeLuanda.Afirmou
se que essa varia9ao local nas taxas relacionava-se as condi90es africanas lo
cals. Uma vez que05 naviosnegreirosprecisavamde vcirios mesesparaconseguir
umacargacompletade escravos, as condi90es portucirias locaispodiam afetarse
riamenteasaudeabordo,mesmoap6sapartidadonavio.
Restaaindaaquestaoquantoaimportanciadeumataxademortalidade de 5%a
10%parauma popula9aoadultajovemeoriginalmentesaudcivel.No dezoito,
soldados ecriminosos enviadosaterrasdistanteseramvitimadosaproximadamente
namesmapropor9aono referente aofndicede mortalidade,assimcomo05 imigran
teseuropeusna
Entretanto,
se
amesmataxademortalidadetivesseocor
rido em umapopula9aocamponesa daEuropaOcidentalno
dezoito,durante
periodosemelhantede um atras meses, issoequivaleriaaumamortalidadeepide
mica.Portanto,se 5%a 10%
umataxabaixacomparadacomaapresentadapela
literaturamaisantiga(quefrequentementemencionavataxas demortalidade
de 50 ),
aindaextraordinariamenteelevada para
05 padrOes
contemporaneos
do
soculodezoito.
Uma nova
cirea
ainda emexplora9ao a
ー
de doen9as africanaspor
meiodotrcifico de escravos.A obviamente,
amaisnot6riaentreas muitas
(17) EssaIiteratura
ciladaeanalisada
em
GARLAND
&
KLEIN(1985).
Estudol Economicos, Sao Paulo, 17(2): 129-149, malo/ago. 1987
143
7/24/2019 Klein 1987
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DEMOGRAF/A DO TRAF/CO
ATLANTICO
TABELA 9
MORTALIDADEDOSESCRAVOSNO TRAFICOATLANTICO,
DEPORTOSAFRICANOSESCOLHIIJOSPARA0 RIODE JANEIRO
NOSs セ c u l o s DEZOITOEDEZENOVE
Porto/Regiao
Mortalidade Media
(pOl' 1000)
Desvio-Padrao
(pOl'
lCOG)
N9
de Navio
I . 1795-1811
94
80
35J*)
Africa
Ocidental
Luanda
Benguela
m ッ セ 。 ュ 「 ゥ ア オ ・
63
103
74
234
28
77
63
135
7
162
165
13
I I .
1825-1830
66
-
69 388
Portos do Congo
Ambriz
Luanda
Benguela
m ッ セ 。 ュ 「 ゥ ア オ ・
33
62
71
73
121
42
47
46
44
99
117
47
84
55
85
Nota: (•)OstotaisincluemalgunsnaviosdeporlOsmenosimporlantes,naorelacionadosseparadamente.
Fonte:KLEIN(1978,p.56e85).
doenc;as introduzidasna
pelotratico.Deveserlembrado,
que
ml
tosafricanos,ap6sdeixarem
0
navionegreiro,aindaeramportadoresdedoenc;as (
estavamenfraquecidospelaexperienciadaviagem,eastaxasdernortalidadeanti
essesescravos
era bastantealtanos primeirosmesesdevidar
NovoMundo. Portanto,
0
traficotrouxenovas imigrantesparaa
mastar
bem introduziunovasdoenc;as efoi, elepr6prio,muitasvezesacausadamaisal
mortalidadeexperimentadapelosescravos
Umultimoaspecto do trafico. querecentemente temrecebido muitaatenc;ao r
Brasil,
aquestaodovolumeeimportanciadotraticointerno,principalmenteap6s
extinc;aoformal dotraficoatlanticaem 1850. NoBrasil, a traficonuncafoi
um
mo'
mentaexclusivamentedaAfrica paraessepaTs. Houveumpr6sperotraticode
roo
portac;ao deescravos destinados
ao
Brasil paraascoloniasespanholas nas regi61
do
Rioda Prata(18). Existiu, tamMm, umconstantemovimentodeescravosafric
(18) 0 cldssicoestudosobreesset6pico
em:STUDER(1958);ver
tamMm
GOI1BAN(1971).
Estudol Economical,
sao Paulo. 17(21: 129-149. maio/ago. 1944
7/24/2019 Klein 1987
http://slidepdf.com/reader/full/klein-1987 18/22
Herbert
S.
Klein
ecrioulos entre portos brasileiros, inclusiveno apogeu do traficoatlantico.
Esse
trafico interne
atuou no
sentidode transferir
0 excesso de escravos de um mercado
aoutro
ao longe
da costa(19).
Mas
a
movimenta9ao
em massa ocorreu
ap6s
aextin
9ao
do traficoatlanticoem 1850.
Certas
caracterfsticas
do
traticointerneap6s 1850 tornaram-se
mais
claras recen
temente.
Em primeiro lugar,
seu
volume nao
foi tao
grande quanta
0
do trafico atlan
tico e, portanto, nao provocou tantas mudan9as
na
redistribui9ao dapopula9ao quan
to
este
ultimo.
Em
segundo, pede-se dividir
0
trafico interno essencialmente em dois
traficos distintos.
Um
deles e
0
trafico inter-regional,
que transportou
principal
mente
escravos adultos especializados, das zonas a9ucareiras
nordestinas
ede cria9aO de
gada sulinaspara as regi6es das grandes
lavouras cafeeiras
no Rio de Janeiro, Minas
.Gerais eSao Paulo. Esse
foi
um trafico hidroviario e
deslocou
em maior porcenta
gem trabalhadores adultos, especializadJseul'banos; seu impacto global nao foi tao
importante
quanta
0 trafico
intra-regional.
Este segundo tipo envolveu, em geral,
mais
escravos
jovens
enao
especializa
dos, em compara9ao
com
0 trafico marftimo, efoi muitomais diretamente tigado a
agricultura de
exporta9aO.
Consistiu
na
transferencia
de escravos de
regi6es cafeei
ras em
declfnio, como Vassouras, por exemplo, para novos centros cafeeiros em Sao
Paulo,
ou
ainda
de regi6es
decadentes para
outras mais
desenvolvidas dentro
da
mesma provfncia. Isse
foi,
sem duvida, 0 que ocorreu no Rio de
Janeiro
eem Minas
Gerais. Segundo
c
Censo
de
1872,
apenas
Sao
Paulo
apresentava
uma
propor9ao
significativa
de
seus escravos crioulos
nascidos
fora da provfncia
(cerca
de
16%
do
total, em contraste com
apenas 3% no
Rio e
menos
de 2%
em Minas
Gerais
(KLEIN, 1978, p. 113). Nesse trafico
per
via terrestre somente Sao Paulo procurou
escravos alem de sua pr6pria regiao. Segundo trabalho de Robert Slenes, 0 trafico
terrestre paulista
ocupou-se
principalmentede escravos para trabalhar na agricultura,
provenientes das regi6es de cria9ao de gado no sui. Esse tipo de trafico prosperou
na decada de 1870, ao declinar0 traficode navega9ao costeira
devido
aos repress i
vos impostos de exporta9ao cobrados
pelas respectivas provincias
exporladoras(2).
Minas Gerais foi 0 caso mais
incomum entre
as provfncias importadoras de
es
cravos.
Embora
nao
possufsse uma popula9ao escrava significativa empregada na
agricultura
de plantation, Minas foi grande
importadora
de
africanos
ate
1850
e,
pro
vavelmente,
importou
mais do que exportou escravos residentes apartirdesse ana
ate aextin9ao
do
tratico intemo
na
decada de 1880, segundo trabalho recente dos
irmaos Martins (MARTINS FILHO & MARTINS, 1983, p. 549)(21). Sua analise demo
gratica sobre a
popula9ao
escrava de Minas Gerais no seculo
dezenove parece ser
(19) Naprimeirametadedad6cadade1730(1731-1735)cercade1.289escravosporanachegaramdePer
nambuco.ArquivoNacionalTorredoTombo,Manuscritos
da
Livraria,Brasil,Livro2
,
1. 240.
(20) RobertSlenesforneceaanc\lisedemogr4ficamaisdeUlihadadesselrc\ficop6s-1873.Verseuap6ndiceA,
em(1976).Paraumaan41iseminuciosa
do
lr4ficohidrovi4riodoper(odoinicial,verKLEIN(1971).
(21) Aestimatlvadessesautores6de 400.000escravosimportadosparMinasnoperfodo1800-1870.
Ertudos Economicol,
Sio
P8ulo,
17(2):
129·149,
maio/ago.
1987 145
7/24/2019 Klein 1987
http://slidepdf.com/reader/full/klein-1987 19/22
DEMOGRAF/A DO
TRAF/COATLA.NTlCO
confirmada por trabalhos recentes de outros autores(22). Entretanto, sua analise
economicada utiliza<;aoque
se
deuaessa grandepopula<;aoescravada
provTncia
originou um movimentadodebate,que promete inaugurarum campodepesquisas
inteiramentenovonoestudodaescravidaobrasileira(23).
Emboraas dimensDesabsolutasdotraficointernodeescravosnaotenhamainda
sido completamentedescritas, pode-se afirmarque houverealmentea tendenciaa
transferir escravos das
reg iDes
em
declTnio
paraossetores economicamentemais
avan<;aclos, nao sendoessa a unica razaodaaltaconcentra<;aodeescravosnala
vouracafeeiranadecadade
1880.
Essaconcentra<;aofoi
influenciadapelos
altos ecrescentes
Tndices
demanumiss6esna regiaodosengenhosde
a<;ucar
nor
destinos, onde
se
verificou, antes das outras regi6es, a conversao para 0 uso da
combina<;aode
livreeescrava(24).Contudo,a
avalia<;ao
doimpactoto
taldosdoisaspectosdotraficointernoaindanecessitadeestudosadicionais.
Apesar deatualmente ja serem conhecidas as linhasgeraisdotraficodeescra
VOS, aindahamuitoa serestudado. As areas queprecisamserexploradaspodem
seragrupadasemcategoriasmaisamplas.Em termosdo numerodeescravosem
barcados,0
perTodo
anteriora
1700
foi poucoestudadocom
rela<;ao
aoBrasil de
mandando,porconseguinte, pesquisasem arquivosportugueseseafricanos,apesar
daexistenciade trabalhossobre0 traficoportuguesde Sao t
noseculodezes
seis (VOGT,
1973)
e da participa<;ao portuguesa no trafico para a Espa
nhola no seculo dezessete (VILAR,
1977).
Outrasquestoosdemografjcasrelativas
ao tnifico incluem aspectos como as causas e consequencias das diferen<;as de
mortalidade entre portos africanos; amortalidadedosescravos ao
Brasil;e a
rela<;ao
entre0 traficoeas
doen<;as
epadr6esdemortalidadelocaisnes
se paTs. Os efeitosde
10n9O
prazosobre asregi6es exportadorasafricanas, espe
cialmenteCongoe Angola,somente agoraestaosendoestudadosporhistoriadores
africanos. Fjnalmente, para melhor avaljar 0 impacto do trafico africano sobre 0
crescimento da
popula<;ao
brasileira, sao necessarias pesquisas detalhadas, que
ュ セ。 ュ
as
taxasdefecundidadedasescravascrioulaseafricanas.
Damesma formaque0estudodemograficodostraficosfrancesebritanicocon
duziu a importantesquest6essobresuaorganiza<;aoeconomicanaEuropa,
e Africa,0 mesmo aconteceu com 0 estudodo trafico brasileiro. Varios problemas
relativos
a
demografiado traficoaindanaoforamexplorados;entretanto,os aspec
tos comerciais do trafico para0 Brasil foramaindamenosanalisados.Foram reali
zados alguns trabalhos iniciais sobre a organiza<;ao comercial angolana (MILLER,
1979)esobrealgunsdos primeiros traficantes(SALVADOR, 1981 eMILLER, 1984).
(22)
Ver,
porexemplo,
PAIVA
(1986).
(23) Ver, porexemplo,LUNA&CANO(1983) eSLENES(1985) paraas discussoesmaisrecentes.
(24) Um estudosobrePernambucoestirnouqueessaprovfnciaperdeu22.000 escravoscom0trlificointerpro
vincial, noperlodo 1850 a 1881. Igual nl1mero perdeu-se
イ 。 カ セ ウ
demanumissoesprivadase49.000
。 エ イ 。 カ セ ウ
defundospublicosde ernancipac§.o.Portanto, apenas24 dosescravosforamperdidosdevido
aotrlificointerne(EISENBERG,1970).
146 Estudol Economicol, 810 Paulo,17(21: 129-149, malo/ago. 1987
7/24/2019 Klein 1987
http://slidepdf.com/reader/full/klein-1987 20/22
Herbert S. K/ein
Existem tambem amplos estudos das comprasde escravose prec;:os pagos pelas
companhiaspombalinasnaobradeAntonioCarreira,
0
qual inclusiveja
comec;:ou
a
desenvolvernovomaterial sobre0 trafico de Moc;:ambique no seculodezenove(25).
Contudo, saonecessariasanalisesmuito maisdetalhadassobreos custos deapro
visionamentodosnaviosno Brasil,averdadeiracombinac;:ao decargasdemercado
rias usadasnacompradosescravose a importanciarelativadasmercadoriaseuro
peiaseasiaticas;essesaspectos ja saoconhecidoscom
relac;:ao
aotraficofrancese
ingles(26), massabe-semuito poucosobre0 brasileiro.Quem construfaecomprava
os navios negreiros;quemfinanciavaasviagens;quala importanciarelativadocapi
tal brasileiroou portugues-angolano;quemfomeciacreditoaosproprietariosbrasilei
ros
deescravosparacompra-los,esobquais
condic;:6es;
finalmente,quantoscomer
ciantes controlavam
0
traficoequal
0
impactodissosobreosprec;:os dosescravose
averdadeiraproduc;:ao? Enquantomuitas dessasquest6es saocompreendidasape
nas de modo imperfeito no referente as coloniasbritanicas
ou
espanholas, para
0
contextobrasileironadaaindase conhece.
Emboraos novosestudos sobre0 traficoafricanode escravos para0 Brasil,nas
ultimas quatrodecadas, tenham abertoum campode investigac;:ao inteiramenteno
vo, tamMm levantaramnovasquest6es.Porem,a altaqualidadedostrabalhosrea
lizados ate
0
presente e a rapidezcom que quest6esnovasecada
vez
maiscom
plexas tememergidoprorrietem transformaressaareadeestudoemumadasmais
interessantespara futuraspesquisasnahist6riademografica,economicaesocialdo
Brasil.
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ferllncias
(26) OsdoismelhoresestudossaoANSTEY(1975) eMEYER(1969).Ver
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