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1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X JORNALISTAS NEGRAS DO RIO DE JANEIRO: INTERSECCIONALIDADES E TRAJETÓRIAS PESSOAIS Andréia Coutinho da Silva Louback 1 Resumo: Este trabalho, ainda em fase preliminar, pretende analisar trajetórias geracionais de jornalistas negras do Rio de Janeiro, atuantes em diferentes mídias cariocas. Partindo da perspectiva de que gênero e raça são eixos que estruturam as múltiplas desigualdades sociais existentes no Brasil, a pesquisa propõe fazer um recorte sobre o significa ser mulher e ser negra dentro do universo do jornalismo. Recorrendo à análise metodológica das narrativas orais, os relatos serão coletados por intermédio de entrevistas em profundidade - com pautas que falam de escolhas, caminhos, desafios, desenvolvimento da profissão, enfrentamento do racismo, relatos pessoais, entre outras possibilidades de temáticas. Assim, um dos principais objetivos é encontrar pontos de convergência e divergência entre as trajetórias analisadas, considerando as idades e atuações no mercado de trabalho, como também as vivências cotidianas de racismo e exclusão em espaços de poder. Esta reflexão mais profunda sobre essa dupla discriminação tem como aporte teórico os estudos de interseccionalidade, gênero e raça. Mediante a entrevistas semiestruturadas, analisaremos como as contribuições de discursos individuais podem refletir em uma percepção coletiva - a partir da posição de sujeito que cada uma delas ocupa. Palavras-chave: Jornalistas. Mulheres negras. Interseccionalidade. Raça. Trajetórias. Introdução Apresentar trajetórias é como desenhar as entrelinhas de um caminho. Não apenas um, na verdade. É possível avistar uma infinidade de possibilidades em direção aos passos de cada ser humano que protagoniza sua própria história a partir de realidades, superações, enfrentamentos, dedicações, lutas, desafios e tantos outros pilares que compõem o conjunto do que chamamos de “vivência”. Fazemos inúmeros trajetos em diferentes fases da vida, que resultam na singularidade de quem nos tornamos. Sonhos, valores, perspectivas, tudo. A bagagem é extensa em um acúmulo ininterrupto de saberes e memórias individuais e coletivas. Em especial, quando a pauta é, especificamente, sobre trajetória de mulheres negras, não nos faltam similaridades para compartilhar. Nas palavras de Jurema Werneck: elas são ‘uma e muitas’. “Trata-se da mulher negra, sujeito singular construído a partir da validação política da raça, do sexo, do gênero e mais: da construção de diferenças e hierarquia entre humanos” (WERNECK, 2012, p. 7). Logo, sob a ótica de enfrentamento do racismo e do sexismo, temos derrubado os estereótipos 1 Aluna do Programa de Pós-graduação em Relações Étnico-Raciais (PPRER), sob orientação do professor doutor Roberto Carlos da Silva Borges. Andréia, 26 anos, é formada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela PUC- Rio e seu atual projeto de pesquisa é pautado em trajetórias de mulheres negras e jornalistas atuantes em mídias do Rio de Janeiro.

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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

JORNALISTAS NEGRAS DO RIO DE JANEIRO:

INTERSECCIONALIDADES E TRAJETÓRIAS PESSOAIS

Andréia Coutinho da Silva Louback1

Resumo: Este trabalho, ainda em fase preliminar, pretende analisar trajetórias geracionais de

jornalistas negras do Rio de Janeiro, atuantes em diferentes mídias cariocas. Partindo da perspectiva

de que gênero e raça são eixos que estruturam as múltiplas desigualdades sociais existentes no Brasil,

a pesquisa propõe fazer um recorte sobre o significa ser mulher e ser negra dentro do universo do

jornalismo. Recorrendo à análise metodológica das narrativas orais, os relatos serão coletados por

intermédio de entrevistas em profundidade - com pautas que falam de escolhas, caminhos, desafios,

desenvolvimento da profissão, enfrentamento do racismo, relatos pessoais, entre outras possibilidades

de temáticas. Assim, um dos principais objetivos é encontrar pontos de convergência e divergência

entre as trajetórias analisadas, considerando as idades e atuações no mercado de trabalho, como

também as vivências cotidianas de racismo e exclusão em espaços de poder. Esta reflexão mais

profunda sobre essa dupla discriminação tem como aporte teórico os estudos de interseccionalidade,

gênero e raça. Mediante a entrevistas semiestruturadas, analisaremos como as contribuições de

discursos individuais podem refletir em uma percepção coletiva - a partir da posição de sujeito que

cada uma delas ocupa.

Palavras-chave: Jornalistas. Mulheres negras. Interseccionalidade. Raça. Trajetórias.

Introdução

Apresentar trajetórias é como desenhar as entrelinhas de um caminho. Não apenas um, na

verdade. É possível avistar uma infinidade de possibilidades em direção aos passos de cada ser

humano que protagoniza sua própria história – a partir de realidades, superações, enfrentamentos,

dedicações, lutas, desafios e tantos outros pilares que compõem o conjunto do que chamamos de

“vivência”. Fazemos inúmeros trajetos em diferentes fases da vida, que resultam na singularidade

de quem nos tornamos. Sonhos, valores, perspectivas, tudo. A bagagem é extensa – em um acúmulo

ininterrupto de saberes e memórias individuais e coletivas.

Em especial, quando a pauta é, especificamente, sobre trajetória de mulheres negras, não nos

faltam similaridades para compartilhar. Nas palavras de Jurema Werneck: elas são ‘uma e muitas’.

“Trata-se da mulher negra, sujeito singular construído a partir da validação política da raça, do sexo,

do gênero e mais: da construção de diferenças e hierarquia entre humanos” (WERNECK, 2012, p.

7). Logo, sob a ótica de enfrentamento do racismo e do sexismo, temos derrubado os estereótipos

1 Aluna do Programa de Pós-graduação em Relações Étnico-Raciais (PPRER), sob orientação do professor doutor Roberto

Carlos da Silva Borges. Andréia, 26 anos, é formada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela PUC-

Rio e seu atual projeto de pesquisa é pautado em trajetórias de mulheres negras e jornalistas atuantes em mídias do Rio

de Janeiro.

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e invisibilizações de uma sociedade profundamente desigual, que nos descreve como “seres

inferiores, hipersexualizadas, trabalhadoras braçais desqualificadas e ignorantes, com reduzidas

qualidades humanas e incapazes de transpor o profundo fosso das carências” (WERNECK, 2012,

p. 8).

Para toda trajetória, há uma expectativa em questão. Ela varia de acordo com as subjetividades

existentes, pois, ao longo do curso e etapa da vida, cada indivíduo faz escolhas estratégicas. Sejam

de sucessos ou insucessos, construções e desconstruções, as experiências são dotadas de histórias

que fazem parte do processo identitário, o qual transita entre práticas, discursos e posições. Para

Hall, “as identidades estão sujeitas a uma historização radical, estando constantemente em processo

de mudança e transformação” (HALL, 2015, p.108). Ela é, em sua essência, um processo articulado

entre os aspectos pessoais, históricos e sociais.

Assim, este artigo – que faz parte de um projeto maior – embarca na investigação das trajetórias

que duas mulheres negras jornalistas têm cruzado no Rio de Janeiro. Para isso, levamos em

consideração o dado geracional, as diferentes atuações em setores profissionais no estado do Rio, a

autodeclaração da identidade racial negra e as experiências de racismo vivenciadas ao longo da

formação pessoal. A seleção foi feita de acordo com o posicionamento de cada uma no que tange às

questões raciais, assim também como a dedicação à profissão escolhida. As narrativas e experiências

individuais são pontes para compreender a problemática racial apresentada.

Trabalharemos, então, conceitos teóricos de raça, racismo, interseccionalidade, gênero e

branquidade no campo da comunicação social, no mercado de trabalho e no estudo específico das

mulheres negras. Destacamos a interseccionalidade como instrumento analítico para se

compreender os elementos em questão. Nosso objetivo é mapear os cruzamentos (e interligações)

das vulnerabilidades desse grupo.

Raça e racismo: causa e consequência X consequência e causa?

Refletir sobre exclusão, racismo e discriminação – de mulheres negras e homens negros – nos

remetem a inúmeras discussões cada vez mais relevantes e necessárias às agendas e aos contextos

sociais pelos quais transitamos. Isso não apenas tem nos impulsionado à produção teórica de conteúdo

nos campos de pesquisa, como também tem nos levado a práxis de iniciativas de inclusão e

desconstruções epistemológicas. Para falar de raça é preciso compreendê-la como uma categoria de

análise socialmente, historicamente e discursivamente construída. Tratamos, pois, de um sentido

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sociológico – no qual a cor de pele negra é associada a uma ancestralidade marginalizada. Conforme

afirma Du Bois (1911), a cor tem a operacionalidade de um “distintivo da herança social da

escravidão, da disseminação e do insulto dessa experiência”.

Stuart Hall ainda postula a raça como um significante flutuante, que seria um fator que dá

significado às questões. O autor explica que ela é “um dos principais conceitos que organiza os

grandes sistemas classificatórios das diferenças operam em sociedades humanas” (HALL, 1995, p.1).

O termo consegue dar dimensão da discriminação que afeta a população negra desde a escravização.

Ainda assim, como tratamos de um tipo de linguagem, o sentido não é fixo e está sujeito, sim, a um

“deslizamento” de significação e “flutua em um mar de diferenças relacionais”. Quando a definimos

como categoria discursiva, reconhecemos que “todas as tentativas de fundamentar esse conceito na

ciência, localizando as diferenças entre as raças no terreno da ciência biológica ou genética, se

tornaram insustentáveis” (HALL, 1995, p.1).

Logo, raça se reflete em uma representação social, atingindo negros e negras, em termos

individuais (culturais, institucionais, ambientais, etc). Ela estipula como as pessoas são vistas – “ser

branco” ou “ser negro”, por exemplo, está carregado de uma simbologia de privilégios e de exclusão,

respectivamente. Trata-se de uma dimensão social e política, pois “o abismo racial entre os negros e

brancos existe de fato” (GOMES, 2005, p.47). Diante disso, como bem sintetiza Munanga (2004), é

“um fenômeno social e analítico”, fundamental para a compreensão das relações sociais postas em

nosso cotidiano.

Já no que tange à relação entre a definição de raça com a aparência física, Hall “tenta justificar as

diferenças sociais e culturais que legitimam a exclusão racial em termos de distinções genéticas e

biológicas, isto é, na natureza” (HALL, 2006, p. 66). Embora a atribuição não seja exclusivamente

uma questão de marcador da cor da pele, o significante conota uma diferença por extensão discursiva.

Esse “efeito de naturalização” parece transformar a diferença racial em um “fato”

fixo e científico, que não responde à mudança ou à engenharia social reformista.

Essa referência discursiva à natureza é algo que o racismo contra o negro compartilha

com o antissemitismo e com o sexismo (em que também “a biologia é o destino”),

porém, menos com a questão de classe. O problema é que o nível genético não é

imediatamente visível. Daí que, nesse tipo de discurso, as diferenças genéticas

(supostamente escondidas na estrutura dos genes) são “materializadas” e podem ser

“lidas” nos significantes corporais visíveis e facilmente reconhecíveis, tais como a

cor da pele, as características físicas do cabelo, as feições do rosto (por exemplo, o

nariz aquilino do judeu), o tipo físico e etc., o que permite o seu funcionamento

enquanto mecanismos de fechamento discursivo em situações cotidianas (HALL,

2006, p. 66 e 67).

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Logo, quando fazemos referência a um ponto de vista social e de acesso, é uma raça excluída.

Hall (2006), que por um viés teórico e didático propõe que:

Conceitualmente, a categoria “raça” não é científica. As diferenças atribuíveis à

“raça” numa mesma população são tão grandes quanto àquelas encontradas entre

populações racialmente definidas. “Raça” é uma construção política e social. É uma

categoria discursiva em torno da qual se organiza um sistema de poder,

socioeconômico, de exploração e exclusão – ou seja, o racismo (HALL, 2006, p. 66).

Presente de forma latente na história da humanidade, o racismo é estrutural e estruturante.

Geralmente, analisamos o passado histórico, mas o racismo é um fator que se atualiza. Em cada época,

ele se manifesta de uma forma e os “sujeitos-vítimas” são outros, frutos de novas construções de

classificação. Carlos Moore (2007) define-o como um enraizamento em diversas esferas da

sociedade:

A dinâmica própria do racismo se desenvolve dentro do universo de atitudes, valores,

temores e, inclusive, ódios – mesmo quando inconfessos –, infiltrando-se em cada

poro do corpo social, político, econômico e cultural. Ambos os fenômenos surgiram

historicamente de uma só vez, a partir de situações e condições sui generis e

irreproduzíveis, mas que se replicaram ao longo dos tempos. (MOORE, 2007, p.

281).

Ele está inserido em um processo social e econômico maior, como instrumento hierarquizante

de poder de exclusão na sociedade e manifestado por atos discriminatórios. Segundo Patricia Hills

Collins, “a experiência das mulheres negras funciona como um indicador social peculiar para analisar

pontos de intereseção entre múltiplas epistemologias” (COLLINS, 2000, p. 271). Quando se parte da

perspectiva da mulher negra como objeto de estudo, as experiências de cada uma escondem diferentes

estratégias que as ensinaram a lidar com o racismo, buscando novo sentido, identidade e

pertencimento por intermédio da militância no sentido de uma mudança sociorracial e de gênero na

realidade brasileira. Outra marca forte são os eixos de subordinação de gênero, raça, classe social,

geração e idade que, por sua vez, trazem à tona as diferentes facetas da discriminação racial e

exploração de classe.

Jurema Werneck pontua o quanto o contexto de agenda das mulheres negras é encoberto pela

invisibilidade, resultando em quadros de violência, recusa e abandono. “Capturada nesse cenário, a

mulher negra ganha sentido nos papéis de “inferior” e “passiva, a partir daí, o Brasil republicano se

organiza e se afirma como terra inóspita (para dizer o mínimo) para nós” (WERNECK, 2012, p.8).

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Interseccionalidade e gênero

No final da década de 80, a ativista norte-americana na área dos direitos civis Kimberlé Crenshaw

“resgatou” o conceito disponibilizado como fonte de análise da III Conferência Mundial contra o

Racismo, Xenofobia e Intolerâncias Correlatas (Durban, 2001): a interseccionalidade. Crenshaw o

descreve como um instrumento analítico para a identificação de como a discriminação racial e a

discriminação de gênero operam juntas, limitando as chances de sucesso entre as mulheres negras.

Em uma entrevista sobre a temática, a autora contextualiza e justifica a continuidade do uso do termo:

Em cada geração, em cada esfera intelectual e até mesmo em cada momento político,

existiram mulheres afro-americanas que se articularam a partir da necessidade de

pensar e falar sobre raça através de uma lente que observe a questão de gênero, ou

pensar e falar sobre feminismo através de uma lente que observe a questão de raça

(CRENSHAW, 2014, p.1).

Conforme reforça Ina Kerner (2012), as discussões e embates sobre a interseccionalidade

alcançaram um espaço pertinente na pesquisa sobre gênero. Tendo-o como uma categoria de análise

relacional, é possível identificar as relações sociais em suas tantas dimensões – “respeitando os

múltiplos modos de ser masculino e feminino fora do determinismo de uma divisão biológica e única

entre os sexos” (BASTHI, 2011, p. 33).

Para compreender a operação da interseccionalidade, é preciso refletir na “coexistência de

diferentes fatores (vulnerabilidades, violências, discriminações), também chamados eixos de

subordinação, que acontecem de modo simultâneo na vida das pessoas” (WERNECK, 2007, p.3).

Ela aponta que, dessa forma, o conceito facilita a compreensão a respeito da “complexidade da

situação de indivíduos e grupos”.

Em consonância, a discussão sobre gênero também é de extrema importância para este

trabalho. É inevitável não retomar à celebre frase de Simone Bevoir (1970) quando afirmou que “Não

se nasce mulher, torna-se mulher”. O que foi um grande impulso e transformação na prática e na

agenda dos estudos feministas, cujo movimento revolucionou a trajetória de resistências e lutas das

mulheres.

Com o desenvolvimento e aperfeiçoamento dos estudos de gênero, a mulher enquanto categoria

de análise passou por diversos questionamentos quanto à definição de uma única, intacta e indivisível

identidade biológica. A difusão das perspectivas pós-estruturalistas direcionadas pela noção

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foucaultiana apresentou, então, a ideia de que a sexualidade é uma construção sócio-histórica forjada

por discursos e instituições (FOUCAULT, 2005).

Em retorno à teorização da questão de gênero, pontuamos que nos cabe aqui limitarmo-nos

ao eixo das desigualdades de raça e gênero entre as mulheres negras, especificamente as jornalistas

negras protagonistas do trabalho. Enquanto categoria de análise, a intenção é analisar as questões de

opressão e do sexismo. Como Sueli Carneiro (2003) coloca:

Em conformidade com outros movimentos sociais progressistas da sociedade

brasileira, o feminismo esteve, também, por longo tempo, prisioneiro da visão

eurocêntrica e universalizante das mulheres. A consequência disso foi a incapacidade

de reconhecer as diferenças e desigualdades presentes no universo feminino, a

despeito da identidade biológica. Dessa forma, as vozes silenciadas e os corpos

estigmatizados de mulheres vítimas de outras formas de opressão além do sexismo

continuaram no silêncio e na invisibilidade (CARNEIRO, 2003, p. 118).

Não obstante, o papel da mulher negra nas relações de trabalho enfrenta a dupla barreira do

sexismo e racismo no movimento de inserção e ascensão. A mídia, em especial, como instrumento

formador de opinião, padroniza, molda e constrói o inconsciente de uma sociedade. Assim, forma-se

um espaço privilegiado, influenciando comportamentos, pensamentos e um imaginário representativo

branco. Vamos abordar no próximo tópico a respeito da atuação da atividade jornalística,

problematizando com o conceito de branquidade, que “se caracteriza por exprimir posição de

privilégio estrutural, determinada por uma combinação de fatores históricos e de mecanismos ligados

ao presente” (COROSSACZ, 2014, p. 204).

O imagético da mídia: os privilégios da branquidade

Os privilégios estão mapeados e distribuídos desde a padronização estética da mídia à

ocupação dos espaços de representação e poder. Pouco se reflete nas significações da branquitude

em nossa cultura e naturalização de ideais representativos em diferentes meios. Maria Aparecida

Bento fez uma menção desta realidade como “cotas de 100%”, fruto do silêncio, disparidades e

omissão:

As cotas de 100% nos lugares de poder em nossa sociedade não são explicitadas.

Foram construídas silenciosamente, ao longo de séculos de opressão contra negros e

indígenas, e foram naturalizadas. Muitos brancos convivem com naturalidade com

essa cota de 100%. Alguns mais progressistas reconhecem que ela traz consigo o

peso da exclusão do negro, mas essa dimensão é silenciada. Isto porque reconhecer

a desigualdade é até possível, mas reconhecer que a desigualdade é fruto da

discriminação racial, tem custos uma vez que este reconhecimento tem levado à

elaboração de legislação e compromissos internos e extremos do Brasil, no sentido

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do desenvolvimento de ações concretas com vista a alteração do status quo (BENTO,

2005, p. 1).

Diante desse cenário crítico, a estética branca se tornou um padrão de referência e tal lógica

se reproduz no universo do jornalismo quando, por exemplo, observamos os setores televisivos

de emissoras. Além de um baixo número de negras e negros ocupando as bancadas de noticiários,

os que podemos identificar raramente se encontram em locais de destaque. Em um artigo

intitulado A força de um desejo – a persistência de um padrão estético audiovisual, o autor Joel

Zito denuncia a problemática da branquidade exemplificando o contexto de atores e atrizes de

elenco e reforça que:

Em qualquer parte da América Latina sempre prevaleceu a ideologia de branquitude

como formadora do padrão ideal de beleza e, ao mesmo tempo, como legitimadora

da ideia de superioridade do segmento branco. A escolha dos galãs, dos protagonistas

de modelos ideais de beleza europeia, em que quanto mais nórdicos os traços físicos

mais destacados ficarão o ator ou a atriz na escolha do elenco” (ZITO, 2006, p.76 e

77).

A branquidade, então, ocupa um lugar de modelo universal nas relações raciais e de benefício

simbólico. Ela se consolida por intermédio do silêncio – que não se trata apenas do que não é

verbalizado, mas tudo o que é apagado e que fomenta a opressão. Em Branqueamento e

Branquitude no Brasil, Bento analisa os desdobramentos e dimensões subjetivas do privilégio de

ser branca/branco no país. Em sua crítica, a autora coloca que “este silêncio e cegueira permitem

não prestar contas, não compensar, não indenizar os negros: no final das contas, são interesses

econômicos em jogo” (BENTO, 2002, p. 3). A falta de reflexão, consequentemente, resulta na

perpetuação e manutenção das desigualdades raciais. Segundo ela, há um “componente narcísico”

de autopreservação imagética “porque vem acompanhado de um pesado investimento na

colocação desse grupo como grupo de referência da condição humana” (BENTO, 2002, p.5 e 6).

Logo, a branquidade é estruturada na dominação, ou seja, um segmento de vantagens

estruturais, demarcando lugares, posições beneficiadas, referenciais. Estamos falando de uma

categoria relacional (Frankberg, 2004).

Análises de fragmentos de entrevistas

Em vista de todos os conceitos apresentados e relacionados, escolhemos trechos breves de duas

narrativas2 de entrevistadas com diferentes perfis – tanto no que concerne à geração quanto no nicho

2 Sabrina: de material empírico de análise, temos aproximadamente 90 minutos de gravação.

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profissional. Sabrina3 tem 41 anos e ocupa um lugar de destaque em uma TV pública há 12 anos. Ela

é formada pela Pontifícia Universidade Católica e atua como âncora de uma TV pública. Já Amélia,

tem 53 anos, formada pela Universidade Federal Fluminense e atua como professora universitária da

rede privada atualmente, dividindo-se entre freelas de produções editoriais.

Primeiro, vamos destacar um trecho da narrativa da Sabrina, quando questionada em relação

ao seu crescimento e destaque profissional na televisão pública. Aparentemente, a entrevista teve

dificuldades de formular a resposta – entre pausas e pensamentos. O que podemos interpretar uma

possível dificuldade de compreensão do que, de fato, significa se “destacar” como jornalista, negra

e mulher.

Você preço você pagou para se destacar? Qual foi ou qual é, na verdade? (Andréia)

É, esse destacou é relativo, por quê? É, eu costumo pensar muito sobre isso e ultimamente tenho

pensado cada vez mais. Primeiro que eu me destaquei numa TV com pouca audiência e não era o

que exatamente eu gostaria.

Uhum.

Então, assim. O espaço que eu abri, tudo bem que era um espaço que nem ali estava aberto, mas o

espaço que eu abri era um espaço de uma TV pública que estava querendo que esse espaço fosse

aberto, só ainda não tinha tido, entendeu? Não sei se foi uma questão de oportunidade, mas enfim. O

que eu faço aqui, que acho que a TV pública, qualquer outra pessoa que chegasse aqui pra fazer o

que eu faço, ela já estava pronta pra receber. Eu acho que é mais ou menos, o raciocínio por aí. Por

quê? Porque o jornalismo público tem essa, essa veia. A gente pegou uma fase, é que a TV estava

querendo ser a BBC do Brasil, entendeu, assim no formato. Então, eu vim dessa fase. Ele queria que

esse espaço fosse aberto com essa cara do Brasil. Então foi muito mais fácil, eu só precisei fazer.

Claro que eu não tinha consciência de nada disso quando eu fui fazendo. Consciência zero desse

processo. Hoje olhando pra trás, eu percebo isso. Agora o que eu gostaria. Eu gostaria que as TVs

abertas no Brasil abrissem esse espaço. E elas não abrem, não estão nem perto.

Sabrina encara seu lugar de destaque com uma oportunidade “do momento/casual”, cuja

emissora já desejava estrear “com a cara do Brasil”. Como jornalista negra, ela justifica seu destaque

e sua estreia na TV por duas razões: I) por ser uma TV de baixa audiência; II) porque a TV já

desejava abrir esse espaço para uma representação da diversidade brasileira na condução de um

Amélia: de material empírico de análise, temos aproximadamente 150 minutos de gravação.

3 Todos os dados foram livremente consentidos e por uma questão de ética de privacidade, usaremos

pseudônimos para apresentar a narrativa.

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telejornal diário. Reconhecendo-se como exceção, a profissional expressa seu desejo de ver as TVs

abertas com altos índices de audiência com a mesma iniciativa, a qual foi contemplada. Lembrando

que ela exerce a função de âncora diariamente em horário comercial.

Ao longo da entrevista, Sabrina confessa que sua consciência de identidade racial negra se

construiu após sua graduação e ingresso ao mercado de trabalho. Sendo assim, ela não possui tantas

memórias precisas de experiências pessoais de vivenciar e sentir o racismo na pele. Nilma Nilo

Gomes o descreve como um fenômeno capaz de abalar processos identitários no decorrer da

formação como indivíduo:

O racismo imprime marcas negativas em todas as pessoas, de qualquer

pertencimento étnico-racial, e é muito mais duro com aqueles que são vítimas

diretas. Abala os processos identitários. Por isso a reação antirracista precisa ser

incisiva. Para se contrapor ao racismo faz-se necessária a construção de estratégias,

práticas, movimentos e políticas antirracistas concretas” (GOMES, 2005, p. 52).

No caso da Amélia, não há espaço para cogitar que se destacou por acaso, pois do início ao

fim da entrevista, ela se mostrou extremamente confiante e, como ela mesmo se autodescreveu,

“intelectualmente agressiva”. A consciência racial se deu durante a graduação, na qual teve contato

próximo com grandes homens intelectuais negros que, na condição de professores universitários,

lhe ensinaram o valor da negritude.

Eu queria saber como você se autodeclara? (Andréia)

Em que termos? Profissionais, de raça?

De raça.

Ah, eu sou negra! Eu sou negra, sou uma mulher negra.

E essa consciência racial sempre foi clara?

Não. Eu tive o privilégio de ter um percurso acadêmico que me colocou em contato com três grandes

intelectuais negros. Eu fui aluna do Muniz Sodré, na UFF. Fui aluna do Júlio César Tavares, na UFF. E

fui muito amiga do professor Joel Rufino dos Santos. Porque eu nasci num meio de classe média baixa,

morava próximo de uma comunidade.

Essa associação aos seus grandes mestres, responsáveis pelo desenvolvimento de sua luta e

militância na mídia é ressaltada várias vezes no diálogo. Ao adentrarmos na pauta sobre ser mulher

negra, houve uma interrupção, na qual Amélia novamente citou os intelectuais negros em sua fala.

Você como mulher negra, nos seus primeiros anos, depois de formada ou logo após se formar,

quais desafios – apesar da sua paixão, facilidade de escrita, afinidade com a profissão – quais

desafios como mulher negra diante de um mundo de privilégios, você...

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Privilégios racialmente pré-distribuídos, porque estavam na mão de algumas pessoas. Eu tive a sorte de

ser, eu digo sempre, eu sou filha da esquerda brasileira. Por quê? Porque eu tive como um dos meus

grandes, é, mentores intelectuais, digamos assim, o professor Joel Rufino dos Santos. E o professor Joel

Rufino dos Santos era um quadro político intelectual importante diante do PDT, que tinha por sua vez,

um núcleo intelectual muito forte – que era o Instituto Pascoaline. E, Neiva Moreira (Deus o tenha, que

já faleceu) era o presidente nacional do PDT e o Brizola era o presidente de honra, alguma coisa

parecida. E ele tinha uma editora, Editora Terceiro Mundo, que foi meu primeiro lugar, o segundo lugar,

né, como repórter. Eu tive muitas oportunidades ali. Primeiro eu passei por uma ONG, que agora está

fechado, era o Instituto de Pesquisa de Culturas Negras, levado pelo Julinho, Júlio Cesar Tavares. Nós

fizemos um único número de jornal. Com a indústria editorial eu faço mil restrições, mas foi uma coisa

interessante. Depois, eu me lembro que veio com uma entrevista muito bonita com o Muniz Sodré, que

sempre foi pra mim um grande, um grande... Eu sou discípula do Muniz Sodré e todo mundo sabe disso.

Que me deu bolsa de estudo, enfim, que me ensinou, que, a gente uma dinastia, que elogiava os meus

textos...

Embora não tenha usado em nenhum momento o conceito de branquidade em sua fala, Amélia

faz uma alusão ao que ele significa ao organizar sua fala e, assim, descrever seu processo de

crescimento profissional. O racismo não aparece como impedimento à ascensão e oportunidades da

trajetória desta jornalista – não que seja um fator inexistente, mas, segundo os relatos da narrativa,

ele não foi um percalço significativo e traumatizante.

Considerações finais

O título deste artigo nos remete a muitas perguntas e algumas respostas. Quando falamos de

interseccionalidades e trajetórias, conjugamos as múltiplas opressões em vivências: racismo,

sexismo, invisibilidade, preterimento, exclusão, silêncio, etc. São fenômenos que parecem

redundantes na descrição, mas que se reinventam a todo instante. As jornalistas negras do Rio de

Janeiro como objeto de estudo nos impulsionam à categoria de análise de gênero, da situação da

mulher negra (saúde, profissional, relações hetero e homoafetivas, entre outras).

Considerando a exclusão como uma marca que todos os indivíduos negros carregam – seja na

realidade do Brasil ou do mundo afora –, a interseccionalidade aparece como instrumento importante

de avaliação de vulnerabilidades no que tange à raça e ao gênero. Instrumento que traz lente às nossas

interpretações e análises de contextos sociais.

Embora o quadro de protagonismo negro no exercício da atividade jornalística apresente um

leve salto na inclusão de profissionais ativos, o teor minoritário de representação ainda permanece. O

que não é diferente de outras profissões de representatividade e de atuação em espaços privilegiados.

A branquidade reina (e o silêncio, em parte, também). Não estamos perto ainda de uma mídia plural

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e livre de estereótipos no que tange à diversidade brasileira. Diante disso, nosso objetivo é dar

visibilidade, por intermédio de uma perspectiva de gênero e raça a mulheres que não estão em lugares

de subalternidade, mas ainda assim, não estão igualmente presentes nas redações, nas assessorias, nas

revistas, jornais, nas bancadas televisivas. Por fim, esperamos que essa breve análise contribua para

a reflexão e possível alteração dessa realidade por intermédio de ações de inclusão e de igualdade.

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BLACK JOURNALISTS IN RIO DE JANEIRO : INTERSECTIONALITY AND PERSONAL

TRAJECTORIES

Abstract: This project, which is still in a preliminary phase, intends to analyze generational

trajectories of black journalists, who work in different media in Rio de Janeiro. From the perspective

of gender and race as structuring axes of social inequality that exist in Brazil, the study explores what

it means to be a woman and to be black in the universe of journalism. Oral narratives will ground the

methodological analysis and will be collected through in-depth interviews - where subjects will talk

about their choices, paths, challenges, professional development, confronting racism, personal stories,

among other topics related to the theme. One of the main objectives is to find convergence and

divergence points among the trajectories being analyzed, considering age and activity in the job

market, as well daily experiences of racism and exclusion in spaces of power. This deeper reflection

about double discrimination is supported by intersectionality theory, gender and race. With semi-

structured interviews we will analyze how individual’s speech can reflect a collective perception -

considering the positionality of each person.

Keywords: Journalists. Black women. Intersectionality. Race. Trajectories.