Jornal de Ciências Sociais

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Ciências Jornal de REITORIA DA FSA QUER “OXIGENAÇÃO” NO CAMPUS Curso de Ciências Sociais Centro Universitário Fundação Santo André - Ano I N° 2 Sociais HARVEY no Brasil Geógrafo britânico David Harvey, um dos principais expoentes do marxismo hoje, esteve no país e o Jornal de Ciências Sociais acompanhou sua palestra. P. 3 Página 2 Calouros Recepção dos novos alunos contou com debates e lançamento dos Cadernos de Ciências Sociais 2. Página 4 Machado de Assis Grego? Debate em torno da afrodescendência do escritor ainda gera polêmica. Página 7 Democracia e criminalização Palestra proferida por Franklin Leopoldo e Silva lança luz sobre os recentes conflitos entre o movimento estudantil e a força policial. Página 8 Estudo sem custo Estudantes cujos cursos proporcionam diploma de licenciatura podem estudar sem peso na carteira. Segundo reitor Oduvaldo Cacalano, construção do muro obstruindo entrada no Diretório Acadêmico da Fafil é medida para “oxigenar” e “coibir práticas” que, de acordo com ele, vão contra a “regularização do nosso campus”. Página 6 Muro construído no espaço da antiga sede do Diretório Honestino Guimarães, na FSA A vida no Haiti Militantes haitianos relatam sobre a atual situação do país. Página 5

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Jornal produzido pelo Colegiado de Ciências Sociais e alunos do Centro Universitário Fundação Santo André. Versão impressa, tiragem de 8.000 exemplares.

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REITORIA DA FSA QUER “OXIGENAÇÃO” NO CAMPUS

Curso de Ciências SociaisCentro Universitário Fundação Santo André - Ano I N° 2

Sociais

HARVEYno Brasil

Geógrafo britânico David Harvey, um dos principais expoentes do marxismo hoje, esteve no país e o Jornal de Ciências Sociais acompanhou sua palestra. P. 3

Página 2

CalourosRecepção dos novos

alunos contou com debates e lançamento dos Cadernos de

Ciências Sociais 2.

Página 4

Machado de Assis Grego?

Debate em torno da afrodescendência do escritor ainda gera

polêmica.

Página 7

Democracia e criminalização

Palestra proferida por Franklin Leopoldo e Silva lança luz sobre os recentes

conflitos entre o movimento estudantil e a força policial.

Página 8

Estudo sem custo

Estudantes cujos cursos proporcionam diploma de

licenciatura podem estudar sem peso na carteira.

Segundo reitor Oduvaldo Cacalano, construção do muro obstruindo entrada no Diretório Acadêmico da Fafil é medida para “oxigenar” e “coibir práticas” que, de acordo com ele, vão contra a “regularização do nosso campus”.

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Muro construído no espaço da antiga sede do Diretório Honestino Guimarães, na FSA

A vida no HaitiMilitantes haitianos relatam sobre a atual situação do país. Página 5

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Jornal de Ciências Sociais - nº 2 abril de 20122 www.colegiadosociais.com

Paulo, “a usina de Belo Monte poderia ser chamada facilmente de ‘usina belo monstro’, pelo impacto ambiental e social que irá causar, caso seu projeto seja concluído”. Choma garante que “é bem provável que represente um dos maiores ata-ques à ecologia das últimas décadas: calcula-se por baixo que a usina fará sumir cerca de 50 mil hectares da Floresta Amazônica, além de cidades e vilarejos indígenas. Destruir um ecossistema como esse é o mesmo que queimar livros que a humanidade ainda não leu”, define. Para o jornalista, não menos im-portante é o impacto de tais obras ao elemento humano. “Somam-se ainda as nefastas consequências socioam-bientais, como o deslocamento de milhares de pessoas para as cidades da região. Isso vai potencializar os problemas sociais destas cidades, ampliando a ocupação desordenada e a favelização. Construir uma grande hidrelétrica movimenta uma montanha de dinheiro e atrai enorme visibilidade política, e é este o verdadeiro motivo pelo qual o governo federal pretende levar a frente tal projeto”, finaliza.

Cadernos de Ciências Sociais 2 A chegada dos calouros foi exal-tada, também, com o lançamen-to dos Cadernos de Ciências So-ciais 2. A publi-

cação reúne exposições apresentadas durante a Semana de Ciências So-ciais 2010 – América Latina: Bicen-tenário de uma Luta Inacabada, bem como outros artigos confluentes com essa temática e as Comunicações de Pesquisa de estudantes de graduação e pós-graduação da FSA. Os exemplares podem ser adqui-ridos diretamente com o Colegiado de Ciências Sociais da Fundação Santo André. Para solicitar, basta enviar um e-mail para o endereço: [email protected]. O preço é R$ 15 mais o frete.

O Jornal de Ciências Sociais é uma publicação do Colegiado de Ciências Sociais da Fundação Santo André, distribuído gratuitamente.

Jornalista ResponsávelEduardo Kaze

Colaboraram nesta ediçãoMayara ContiRenata Adriana de SouzaVera Aguiar CotrimSérgio PiresDaniel FonsecaLeandro Cândido de SouzaRoque Silva

Fundação Santo AndréAv. Príncipe de Gales, 821, bairro Príncipe de GalesSanto André - SP - CEP: 09060-870Tel.: (11) [email protected]

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Ciências

Jor

nal

de

Sociais

Tiragem: 8.000 exemplares

Editorial Calouros são recebidos com debates e lançamento na FSAAs aulas da Faculdade de Filo-

sofia Ciências e Letras (Fa-fil), do Centro Universitário

Fundação Santo André (CUFSA) tiveram início em 23 de fevereiro com debates e lançamento voltados aos alunos de Ciências Sociais. Os temas debatidos trataram de dois casos recentes que mobilizaram a opinião pública e militâncias em todo o país. A desocupação agressiva, ocorrida no bairro do Pinheirinho, em São José dos Campos, foi tratada por Antônio Ferreira, advogado dos moradores do local. “A ação da Polícia Militar do Estado de São Paulo, na Ocupação Pinhei-rinho, em São José dos Campos, foi o retrato da irresponsabilidade, truculência e covardia dos governos Geraldo Alckmin (PSDB) e Eduardo Cury (PSDB)”, comentou o advogado. O terreno de mais de 1 milhão de me-tros quadrados foi ocupado há 8 anos e pertence à massa falida de uma em-presa do especulador Naji Nahas. No local viviam cerca de 1.600 famílias, ou perto de 5.500 pessoas, segundo o censo da prefeitura paulista. Com o tempo, o local se tornou um bairro, com comércios e estrutura. “Um efetivo de dois mil homens invadiu de surpresa a ocupação às 6 horas da manhã e manteve a área sitiada. Milhares de famílias foram desalojadas em nome da garantia da propriedade privada de um terreno que pertencia ao mega especulador Naji Nahas, que sequer pagava seus impostos. Um operativo de guerra (com direito a armas de fogo, bombas de gás lacrimogêneo, gás pimenta, helicópteros e carros blindados) foi utilizado pela Tropa de Choque que avançou sobre cerca de duas mil fa-mílias pobres, que viviam no terreno e faziam daquele lugar um ‘lar’, já que o estado nunca lhes garantiu coisa

parecida. Mesmo após a desocupação covarde do terreno do Pinheirinho, acreditamos que a resistência à po-lítica de higienização e repressão da população pobre deve continuar, pois é a única alternativa que temos hoje frente ao descaso dos governos com as necessidades básicas da população, como saúde, educação e moradia”, relata Ferreira.

Belo Monte A polêmica em torno da construção da usina de Belo Monte na Bacia do Rio Xingu, em sua parte paraense, já dura mais de 20 anos e foi tema da recepção aos calouros. Entre muitas idas e vindas, a hidrelétrica de Belo Monte, hoje considerada a maior obra do Programa de Aceleração do Cres-cimento (PAC), do governo federal, vem sendo alvo de intensos debates na região, desde 2009, quando foi apresentado o novo Estudo de Impacto Ambiental (EIA) intensificando-se a partir de fevereiro de 2010, quando o Ministério do Meio Ambiente (MMA) concedeu a licença ambiental prévia para sua construção. Segundo Jeferson Choma, jornalista do Opinião Socialista e estudante de geografia da Universidade de São

No Pinheirinho, residiam cerca de 1.600 famílias. Desocupação foi violenta

Além do impacto ambiental, usina de Belo Monte potencializa problemas sociais

O Jornal das Ciências Sociais traz colaborações sobre um conjunto expressivo de temas, como aspectos da crise econô-mica mundial e das resistên-cias a ela, literatura, música e acontecimentos significativos internos e externos à instituição. Vários desses temas apontam para um problema em voga já há algum tempo: a redução dos direitos econômicos e políticos da classe trabalhadora, que vem se acentuando nos últimos anos, particularmente depois das crises que assolaram o mundo do capital. A arrancada capitalista – via capital financeiro – na fase de glo-balização, assentada no desenvol-vimento das forças produtivas, na desregulamentação do trabalho, acompanhada pela expansão do mercado – queda dos países pós--capitalistas – e pela quebra das proteções nacionais, possibilitou uma inusitada superprodução, e como resultado a crise. Contra os resultados desumani-zantes da crise e dos modos pelos quais se busca enfrentá-la, vêm se desencadeando manifestações em vários países da Europa, norte da África e Oriente Médio, no Chile, nos EUA, o movimento Ocuppy, movimentos reivindicatórios e estudantis no Brasil e tantos outros. Diante disso, a reação capi-talista internacional assume a forma de repressão esmagadora contra os movimentos sociais. Basta atentar para os assassina-tos em massa na Síria, o cresci-mento armamentista de Israel e EUA contra os palestinos, o

esmagamento dos manifestantes na Grécia, em Portugal e outros países europeus, a repressão no Chile, nos EUA, a situação de-sesperadora do Haiti etc. No Brasil, além desse clima negativo mundial, assolam-nos também as condições opressi-vas estruturais que não foram superadas quando da“transição transada” da ditadura militar para o governo civil, que, muito ao contrário de uma democratiza-ção, apenas reordenou o quadro institucional herdado da ditadura. O que assistimos no Brasil senão a uma brutal retomada das ações que caracteriza-ram o período ditatorial, num momento em que a chamada “participação democrática” é propalada em todos os discur-sos políticos, mas converte-se institucionalmente em letra morta, em total correspondên-cia com o percurso repressivo do capital tanto nos países de-senvolvidos quanto nos ditos emergentes? Essa retomada manifesta-se desde os ataques às universidades, que envolvem a desvalorização das áreas de humanidades e as operações militares contra o movimento estudantil, as desocupações ilegítimas de moradias, como ocorreu no Pinheirinho, e tantas outras. A redução das antigas con-quistas dos trabalhadores que caracteriza a etapa histórico--social que estamos vivendo nos põe a urgência de encontrar uma alternativa à sociabilidade do capital.

Sob o signo da repressão

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3www.fsa.br Jornal de Ciências Sociais - nº 2 abril de 2012

Economia Política

Por que devemos ser marxistas? Eu espero que vocês sejam marxistas”. Assim o geógrafo

britânico David Harvey (foto), um dos principais expoentes do marxismo hoje, inicia sua conferência no TUCA, Teatro da PUC-SP, por ocasião do lançamento de seu livro O Enigma do Capital - e as crises do capitalismo . A apresentação focou na impossibilidade de resolver os problemas gerados pelo capitalismo no interior desta forma de organização social, o que torna urgente sua superação, e na defesa de Marx como o pensador que explicou a natu-reza do capitalismo, especificamente, a demonstração de que neste sistema a pobreza é produzida pela acumulação de riqueza. De acordo com Harvey, o capita-lismo apresenta três problemas cen-trais. Os dois primeiros consistem no que ele chama de “externalidades”: os custos de reprodução social – saú-de, educação, manutenção de idosos, a criação das crianças, as relações comunitárias – bem como as ques-tões ambientais, não são assumidos pelo capital, tornando-se externos a ele. Harvey afirma que, durante o período em que o Estado nos países centrais assume orientação keynesia-na – o que se deveu às lutas sociais que remontam à época de Marx – torna-se responsável pelos custos de reprodução social e ambiental. Isso implica uma internalização destes custos pelo capital, garantida pelo Estado por meio dos impostos e da legislação (ambiental, por exemplo). A contra-revolução capitalista vem com o chamado neoliberalismo, em que os governos Ronald Reagan, Margareth Thatcher, Auguste Pinochet e análogos nos demais países forçaram a uma reexternalização destes custos, que são então novamente personali-zados. O que não significa senão um aumento da concentração da riqueza nas mãos de uma elite que hoje se con-figura como uma “oligarquia global”, nos termos de Harvey. Esta concen-tração se expressa no fato de que, em termos relativos, a pobreza aumentou em comparação com 1954, de modo que o difundido argumento segundo o qual o capitalismo deve se desenvolver para resolver o problema da pobreza mostra assim todo o seu caráter fala-cioso; e atesta a importância da teoria

David Harvey e o ponto de inflexão do capitalismo

de Marx, que explica a relação entre o projeto de desenvolvimento e a pro-dução da pobreza, tornando evidente que resolvê-la implica acabar com a acumulação de riqueza. Lembramos que o que Harvey chama de “externalidade” de custos de reprodução social remete à redu-ção dos salários, que perdem poder de compra quando parte dos custos de reprodução do trabalhador, antes garantidos pelo Estado keynesiano e pagos pelo capital (educação, saúde, manutenção dos idosos da família etc.), são “personalizados”. E esta redução do que Marx denomina

“tempo necessário” de trabalho, revertido em salário, em oposição ao “tempo excedente” que constitui a mais-valia, não se identifica com o aumento da exploração do trabalho? Harvey se pergunta então: é possível ainda um capitalismo não liberal, isto é, uma retomada da social-democracia que a alçasse a um novo nível? O que o leva ao terceiro grande problema do capitalismo. Para o capital, o crescimento econômico é um impe-rativo (que Marx identificava com a necessidade de reprodução ampliada do valor, remetendo diretamente ao trabalho que é fonte de mais-valia, e

portanto do lucro). Crescimento zero no capitalismo constitui crise. Desde a década de 1970, segundo Harvey, a média anual de crescimento foi de 3% ao ano, em taxa composta. Isso signi-fica que, se em 1970 a necessidade de oportunidades de investimento de capital importava em U$ 900 bilhões, hoje importam em U$ 1,5 trilhão. Em 2030, serão necessárias oportunidades de investimento capitalista para U$ 2 trilhões ao ano. Harvey pergunta-se onde encontrá-las, se hoje há tão pouco espaço vazio para investimento. Esta dificuldade implica uma crescente tensão para absorção de capital exce-

dente, o que amplia a especulação de ativos. Cria, com isso, capital fictício, que desata a crise. Este resultado da ne-cessidade de crescimento econômico demonstra que não é possível voltar ao keynesianismo: o aumento de custos para o capital agrava sua dificuldade de reprodução. Como coloca Harvey, a solução keynesiana é uma forma política intrinsecamente ligada ao momento de crescimento econômico. A partir desta consideração a respei-to da natureza do capital e seu estágio atual, Harvey avalia que chegamos a um ponto de inflexão do capitalismo, já que este dificilmente poderá criar as oportunidades de investimento de que precisa. E entende que a transi-ção para um sistema de produção não capitalista deve partir de reformas, já que a revolução total poderia levar ao colapso do sistema, o que seria catastrófico. Ao mesmo tempo, para lidar com a pobreza e com os problemas ambientais, Harvey su-gere que é preciso pensar, ao menos a princípio, em uma economia de crescimento zero, o que em si mes-mo seria anticapitalista. Trata-se pois de confrontar o poder da oligarquia global que hoje domina a política, a lei, a educação, a mídia. “Nosso projeto político é nos organizarmos para a luta de classes”, com o que Harvey conclui uma exposição que levanta questões e aponta caminhos para a apreensão das contradições e das alternativas do mundo presente que merecem amplo debate à luz do pensamento marxiano reivindicado por ele.

por Renata Adriana de Sousa e Vera A. Cotrim

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Jornal de Ciências Sociais - nº 2 abril de 20124 www.colegiadosociais.com

Um Machado de Assis bran-co estarreceu a população brasileira em recente pro-

paganda dos 150 anos da Caixa Econômica Federal. O anúncio foi rapidamente tirado do ar e re-filmado. O equívoco, em si mesmo lamentável, serviu ao menos para reacender a discussão em torno da afrodescendência do escritor e da inserção do negro em sua obra. Já em 1908, um mês após sua morte, o assunto motivou diver-gência entre José Veríssimo e Joa-quim Nabuco. Veríssimo, à época o mais perspicaz estudioso de Machado, escreveu no jornal que o amigo contava, na vida e na arte, com as qualidades de medida, tato, bom gosto e elegância, “as mais alheias ao nosso gênio nacional e, muito particularmente, aos mesti-ços como ele (...). Mulato, foi de fato um grego da melhor época”. Por carta, Nabuco, que se nota-bilizou como abolicionista, não só foi conivente com o racismo de Veríssimo, como condenou a menção à afrodescendência: “Ma-chado para mim era um branco, e creio que por tal se tomava; quando houvesse sangue estranho, isso em nada afetava a sua perfeita caracte-rização caucásica. Eu pelo menos só vi nele o grego”. Com a censura, Veríssimo nun-ca republicaria seu artigo. Seria Nabuco quem daria o tom a dé-cadas de críticas conservadoras, segundo as quais Machado se tomava por branco, um perfeito caucásico. Por “embranqueci-mento” entende-se adesão às elites e negligência de questões sociais, em especial da escravi-dão. Em Raça e cor na literatura, David Brookshaw afirma que a “omissão” de Machado foi in-fluenciada pelo casamento com uma branca de família portugue-sa e pela ascensão profissional. Propõe que, apesar de “mulato, seu trabalho nunca se preocu-pou com o problema racial e raramente tocou em questões da escravidão cuja abolição ocor-reu quando ele ainda vivia. (...) Machado é o exemplo clássico do mulato que devotou sua vida para ser aceito acima da linha de comportamento e, por isto, evitou cuidadosamente qualquer referência às suas origens, um fato confirmado por Nabuco em carta a José Veríssimo”. Sob a proteção de Nabuco,

Brookshaw apresenta um com-pêndio de erros crassos. É sur-preendente que Machado seja acusado de se vender às elites, quando não só fez das elites seu principal alvo, como pagou o preço de sua independência de juízo com uma dupla jornada de trabalho, atuando praticamente por toda sua vida como escritor e funcionário público, quando não como baleiro, coroinha, caixeiro, revisor, tipógrafo ou repórter. Sidney Chaloub mostra que, na década de 1870, como chefe de seção do Ministério da Agricul-tura, Machado propôs interpreta-ções da Lei do Ventre Livre que beneficiavam os escravos em ações pró-liberdade. Um de seus pareceres “lembra os de advoga-dos abolicionistas” encontrados por Chaloub “tantas vezes nas ações de liberdade estudadas para a elaboração de Visões da liberdade”. O cronista Machado de Assis não seria menos ativo em publi-cações nos jornais. Cinco dias após a abolição, denuncia seu caráter conservador com um personagem escravo que, uma vez libertado, passa a receber um salário mensal equivalente ao preço de duas camisas, além de petelecos, puxões de orelhas e pontapés. Em outra crônica, posiciona-se contra a indenização aos ex-proprietários de escravos, comparando a situação brasileira ao fim da servidão na Rússia re-tratada nas Almas Mortas, de Go-gol. Em outra ainda, escreve um sermão do diabo, em que satanás aconselha: “As porcentagens são as primeiras flores do capital; cortai-as logo, para que as ou-tras flores brotem mais viçosas e lindas”. A abolição, as emissões bancárias, o Encilhamento, a

moeda nacional, o federalismo e outros tantos temas demonstram como Machado não só esteve atento ao problema racial e à escravidão, como fez referência a todos os principais problemas de sua época. O contista Machado de Assis produziu páginas de conflitos agudos envolvendo escravos violentamente tolhidos ao tentar realizar as mais legítimas aspira-ções, seja rir de uma anedota, seja vivenciar o amor ou dar à luz uma criança livre. Já o romancista, em Memórias póstumas de Brás Cubas, faz um retrato detalhado de um traficante de escravos que alterna as chibatadas e as doações a irmandades religiosas. Em Dom Casmurro, assinala a coisificação que sofrem os escravos, ao mos-trar como, aos olhos dos proprie-tários, eles se desgastam pelo uso como carruagens ou incorporam capital como casas de aluguel. Em Esaú e Jacó, retrata o caráter conservador da proclamação da República. No Memorial de Ai-res, descreve a festa da abolição e registra a queima de documentos da escravidão, observando no en-tanto que ela nunca seria apagada dos inventários e escrituras, da história e da poesia, e cita a men-ção de Heine ao Rio de Janeiro no poema “O navio negreiro”. As menções à escravidão são intermináveis e em grande parte foram reunidas em Machado de Assis Afro-descendente, por Eduardo Duarte, que declara: “Machado fala de seus irmãos de cor como sujeitos marcados por traços indeléveis de humanidade e por um perfil que quase sempre os dignifica”. Absurdos como os de Brookshaw pressupõem o desconhecimento da obra macha-diana e a incompreensão de sua ironia. Soma-se a isso o fato de que o escritor nunca foi panfletá-rio, nem recorreu à literatura de tese, mas buscou e alcançou uma qualidade estética comparável à de mestres como Shakespeare, Tolstói ou Cervantes. Sem nunca esquecer seus “ir-mãos de cor”, mas também sem se limitar às questões raciais, por meio do particular nacional ousou tratar das mais universais questões humanas. Tão “grego” quanto Shakespeare, Tolstói e Cervantes, o nosso Joaquim Maria Machado de Assis.

Arte e Cultura

por Daniel Fonseca

Machado de Assis grego?

No ano passado, comemorou--se o centenário da sociologia da música proposta pelo sociólogo burguês Max Weber. Foi em 1911 que Weber iniciou seu projeto de uma sociologia das artes, do qual conhecemos apenas o fragmento inicial chamado Os Fundamen-tos Racionais e Sociológicos da Música, que só foi publicado em 1923. Ordenado em 58 parágrafos, o pequeno estudo busca entender como a música que se desenvolveu no ambiente histórico europeu é diferente de qualquer música produzida em outras sociedades, indicando como isso se ajusta a certas tendências centrais da mo-dernidade europeia ocidental. Operando com o mesmo procedi-mento de sua sociologia das religi-ões (Ensaios Reunidos de Sociolo-gia da Religião), Weber reforça seu hábito de não fornecer explicações ou definições. A conhecida priori-dade weberiana na caracterização do objeto em detrimento da defi-nição dos conceitos se faz mais uma vez presente. Ideias como as de “tipo ideal”, “racionalização”, “sentido” etc. vão adquirindo ao longo da trama textual significa-dos ambíguos e multifacetados, sem jamais serem definidas, num procedimento bastante musical que o próprio Weber reconhecia como inspirado em Lizt e Wagner. Quem leu a famosa introdução aos estudos de Economia e Sociedade certamente se lembrará da sua definição de sentido: “Sentido é o sentido subjetivo visado”, e isso nos dá a ideia das dificuldades que estão subjacentes aí. Sem poder adentrar a teoria de Weber em sua inteireza e comple-xidade, cabe lembrar que para ele o que caracteriza o mundo moderno é a orientação racional das ações (racionalização), que está direta-mente ligada à heterogeneidade das modalidades da ação social (diversificação das orientações da ação) característica do processo de desencantamento. Segundo Weber, na modernidade, as diferentes di-mensões da vida social (religião, ciência, moral, música etc.) passam a se orientar por diferentes finali-dades e valores. O próprio sistema

capitalista é um exemplo disso, de uma “cultura cujo princípio nor-teador é o investimento privado”. Para Weber o capitalismo não é o modo através do qual os indivíduos se relacionam com as fontes da vida, com os meios necessários à produção e reprodução de seu mundo (modo de produção), mas um modo de cultura. Pouco lembrado e ainda menos lido, este fragmento centenário de sua inacabada sociologia da arte tenta compreender como a música ocidental se consolidou como um subsistema social autônomo, como uma linha de ação com sua lógica intrínseca e uma legalidade que lhe dota de um caráter próprio: o estético. No texto de Weber isso é demonstrado, de forma cons-trangedoramente contundente, pelo processo de racionalização harmônica, de funcionalização do acorde, de racionalização do es-pectro sonoro e pelo temperamento da oitava. Para Weber, o caráter puramente estético atingido pela música ocidental (desligada do culto, da magia, do exorcismo) se dá por sua racionalização harmô-nica no sistema tonal, “que nunca pôde deter-se, em sua legitimação, frente aos fatos da música, isto já desde J.S. Bach”.

Para ler:WEBER, Max. Os fundamentos racionais e sociológicos da músi-ca. Trad. Leopoldo Waizbort. São Paulo: Edusp, 1995.

TEIXEIRA, Francisco; FREDE-RICO, Celso. Marx, Weber e o marxismo weberiano. São Paulo: Cortez, 2010.

Música e Sociologia: Max Weberpor Leandro Candido de Souza

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5www.fsa.br Jornal de Ciências Sociais - nº 2 abril de 2012

Depoimento

No último dia 27 de março, militantes haitianos esti-veram na Faculdade de

Filosofia, Ciências e Letras (Fafil)do Centro Universitário Funda-ção Santo André (CUFSA) para debate sobre a atual situação do Haiti, país que sofre com ocupação militar desde 1991, ano em que o presidente Jean-Bertrand Aristide foi deposto por um golpe de Es-tado. Em parceria com o Projeto Meninos e Meninas de Rua, de São Bernardo do Campo, alunos e professores do curso de Ciências Sociais conversaram com Jean Salomon, Esther Pierre e Jean Louis Rosemond, integrantes de associações haitianas dedicadas ao acompanhamento de crianças exploradas em configuração análo-ga à escravidão, conhecidas como rest’avec (abreviação de “fique com você”). Em tom de depoimento, os gra-víssimos problemas da exploração do trabalho infantil foram atrelados às condições políticas e econômicas do país. Segundo as declarações, o Haiti, primeira nação do mundo a abolir a escravidão e segunda a declarar-se independente nas Américas, vive hoje em situação de completa dependência. Grande parte das decisões políticas ainda origina--se na esfera de interesses do FMI e OEA (Organização dos Estados Americanos), introduzidos mediante o golpe de 1991. Além disso, a maior parcela da ajuda financeira de que o país necessita é proveniente de ONG’s – cerca de 4 mil em todo o território nacional – que, no entanto, não auxiliam a população da maneira como anunciam. “Eles dão com a mão direita e tiram com a esquer-da”, conta Jean Louis Rosemond. A economia, alegam, é devastada cons-ciente e constantemente de modo a justificar a presença internacional no país, supostamente em situação de conflito civil. E, apesar da gran-de capacidade para exploração de riquezas naturais, os haitianos têm grande parte de seus meios de sub-sistência vinda do exterior, já que, desde o golpe, a produção industrial foi paralisada, num movimento impositivo de privilégio das impor-tações. Ademais, o baixo preço dos produtos agrícolas tem acarretado abandono por parte dos produtores, forçando o país a importar mais de dois milhões de dólares anuais em

alimento, enquanto que a cifra das exportações fica bem abaixo se com-parada à dos produtos importados. Esther Pierre, ainda, chama a atenção para um dado histórico impressio-nante e muito pouco exposto: para conceder independência à colônia, os franceses exigiram, em 1825, um pagamento de 500 milhões de francos-ouro, dívida que só terminou em 1972. Segundo Esther, a nação ainda sofre os efeitos desta exigên-cia. Além disso, a produção agrícola pouco desenvolvida e a ausência de programas de recuperação de terras devastadas, dizem os palestrantes, agravam os problemas do país, uma vez que provocam intensa migração para as cidades e, inevitavelmente, contribuem para a potencialização da miséria e da exploração das crianças rest’avec. Se economicamente as coisas não andam bem, as circunstâncias polí-ticas não são menos desalentadoras. Não bastasse a pouca autonomia de que goza o governo haitiano, a população sofre ainda com a rela-ção conflituosa entre presidente e parlamento. E enquanto, no âmbito estritamente político, não são mini-mamente resolvidas as diferenças entre os burocratas, as políticas sociais de amenização ficam em segundo plano. O que, por sua vez, acaba, segundo os olhares menos críticos, desculpando a ocupação da Minustah (Missão das Nações

Unidas para a Estabilização no Haiti, em português), que conta com um orçamento duas vezes maior que o do próprio país. Sendo assim, diz Jean Salomon, há mais interesse em permanecer com a ocupação do que na resolução dos problemas haitia-nos. Salomon relata,como prova disto, o aumento da inseguridade quando das discussões a respeito da não renovação da ocupação da Minustah. Segundo o haitiano, a situação é propositadamente intensi-ficada a fim de legitimar a presença das forças internacionais. E embora ocorram manifestações estudantis contrárias à ocupação, a falta de um movimento social amplo impede a construção de uma frente capaz de fazer oposição significativa.

Trabalho, saúde e educação Conforme os relatos, a situação do trabalhador haitiano é precá-ria. Até 2009, um trabalhador de fábrica ganhava em torno de U$ 1 dólar por dia, quase o preço de um saco de pães (com oito a dez unidades), que chega a cerca de U$ 1,80 dólares. E apesar dos intentos senatoriais no sentido de um aumento geral dos salários – o que efetivamente ocorreu –, a conjunção entre empresários tornou-os praticamente nulos, já que fez subir o nível do custo de vida no país. Aliadas a isto, a quase

inexistência de sindicatos e sua vinculação aos partidos políticos debelam profundamente qualquer tipo de reivindicação por reformas laborais. Com relação ao acesso ao sistema de saúde, o proletariado haitiano vê-se em constantes dificuldades. Uma imensa parte dos serviços mé-dicos é de caráter privado e o único hospital público do país fica na capital Porto Príncipe. O sistema é, pois, extremamente centralizado e de difícil acesso econômico, o que acaba legando o atendimento das populações interioranas e sem dinheiro à boa vontade e disponi-bilidade das ONG’s, bem como à possibilidade de acesso aos hospi-tais comunitários que, não sendo gratuitos, têm um preço bem infe-rior ao do setor privado (U$ 1,00 dólar contra U$ 12,50 dólares). Há ainda uma ajuda vinda de Cuba que, no entanto, não é capaz de reduzir a miserável proporção de vinte e cinco médicos para cada mil habitantes. E a conjuntura foi particularmente alarmante a partir de outubro de 2010, quando um surto de cólera atingiu a população e que, segundo Rosemond e seus companheiros, foi provocado pelos soldados nepaleses que ocupavam a área de Mirebalais. Em 2012, a epidemia está controlada graças às campanhas de sensibilização. Mas se as privatizações atingem a saúde, não ocorre diferentemente com a educação, que tem 95% de suas instituições básicas privatiza-das. No ensino superior há apenas uma universidade estadual, criada em 1920. Deste estado de coisas decorre que, de cada novecentos alunos, apenas cem completam o ensino secundário. E ainda que haja esforços atuais no sentido de melhorar a acessibilidade, con-tando, para isso, com doações de haitianos auto-exilados e receitas oriundas de taxas de transações fi-nanceiras, a boa educação no Haiti ainda depende de uma alta capaci-dade aquisitiva. O que, certamente, boa parte dos haitianos não dispõe. Por fim e depois dos relatos desta calamitosa situação, os palestrantes fizeram um apelo aos estudantes brasileiros para que sensibilizem e pressionem as autoridades brasileiras com relação à ocupação que, segun-do suas palavras, é a grande respon-sável pela crise que vive o país.

Haitianos relatam a alunos da Fundação Santo André situação precária de seu país

Políticas sociais de amenização ficam em segundo plano

por Luis Fernando Rezende

“Goze. Quem sabe essa é a última dose?”Millôr Fernandes (1924 – 2012)

O país lamentou a morte do escritor, jornalista, cartunista e tradutor Millôr Fernandes. Como homenagem, o Jornal de Ciências Sociais selecionou frases, poema e charges:

Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados.

***Pra acabar com o desemprego, o Planalto tem que, primeiro, acabar com o desentrabalho.

***

Quem se curva diante dos opressores mostra o traseiro

para os oprimidos.

***Enquanto o Lula só fala no futuro, nós aqui repetimos: o Brasil tem um gigantesco

passado pela frente.

***Nunca tantos deveram tanto a

tão porcos.

***Poeminha sobre o mistério do

tempoO despertador desperta

Acordo com sono e medo:Por que a noite é tão curta

E fica tarde tão cedo?

Page 6: Jornal de Ciências Sociais

Jornal de Ciências Sociais - nº 2 abril de 20126 www.colegiadosociais.com

Acontece

No início deste ano, a volta das férias escolares da Fundação Santo André (FSA) trouxe uma

surpresa desagradável à comunidade acadêmica da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras (Fafil): um muro blo-queava a entrada da sede do Diretório Acadêmico (DA) Honestino Guimarães. A justificativa, oferecida pela reitoria sob comando do professor Oduvaldo Cacalano, deixou a desejar na visão de estudantes e professores. Em entrevista exclusiva ao Jornal de Ciências Sociais, as partes apresentaram versões divergen-tes do ocorrido. “Eles alegaram que nós (DA) havíamos solicitado uma mudança do espaço e, por isso, providenciaram uma sala melhor, mais arejada... Mas esse pedido nunca aconteceu. Havia de fato um pedido para reformas. Mas nunca uma transferência de espaço. Nem fomos comunicados dessa transferência”, relata um repre-sentante do diretório. A sala em questão encontra-se no piso superior do pátio da Fafil. A anterior, instalada no subsolo, era cerca de cin-co vezes maior que a atual. Segundo Cacalano, cujo discurso frente à nossa reportagem mudou em relação ao dito aos estudantes, o motivo é fundamen-tado na vigilância. “Ali tinha sérios problemas, inclusive, o lugar não é adequado, mas, principalmente, por-que é um lugar que pode não parecer, mas é escondido”. O reitor aponta ainda a suposta existên-cia de atividades ilícitas no local. “Houve um grupo que utilizou o espaço para outras finalidades que não fazem parte de ações do Diretório Acadêmico. Tem o problema de drogas, temos alunos jovens aí. O espaço não estava sendo devidamente utilizado e estava nos ge-rando preocupação”, afirma. O uso inapropriado do local é negado pelo DA. Porém, Cacalano rebate: “Temos fotografias e os próprios alu-nos sabem. Eles acham que é direito deles esse tipo de coisa. Eles têm direi-to, obviamente, mas não pode chegar nesse nível, pois aí não é mais direito”.Retomada do espaço Numa tarde de sábado, uma chuva torrencial atingia as dependências da FSA e os alunos espalhavam-se pelo pátio da Fafil. Nos grupos, predomina-va a conversa sobre a “readequação” do espaço do DA. Uma súbita falta de energia foi o estopim para os des-contentes com a situação. A porta que obstruía a entrada da antiga sede foi arrombada. Às escuras, as câmeras de segurança não mais cumpriam sua função de monitoramento. Arquivos, alocados pela reitoria no lugar em questão, foram rapidamente retira-dos. O espaço estava, aparentemente, retomado. “Foi uma ação que não foi planejada. A própria situação como aconteceu levou ao ocorrido”, conta o representante do DA, que assistiu

ao acontecido. A atitude irrefletida, entretanto, ter-minou como um ‘tiro no pé do movi-mento estudantil’. “Um setor de alunos desceu lá, movidos por um sentimento que não é só deles e, inadvertidamente, sem consulta ou adesão democrática, quebrou as portas, subiu ao pátio com os documentos que ali estavam e ficamos com esse problema”, explica o representante. Minutos após a entrada na antiga sede uma assembleia de estudantes foi convocada na intenção de tomar as precauções e medidas necessárias para evitar retaliações institucionais. Neste momento, a energia, e com ela as câmeras de monitoramento, voltaram. “Temos documentos que comprovam o arrombamento e vamos tomar as ati-tudes que é de direito tomar, em prol da regularização do nosso campus. Se for preciso iremos para delegacia, no caso dos que não forem alunos. Os que são alunos vão ser advertidos”, estabeleceu Cacalano, com base em filmagens realizadas durante a assembleia e após o arrombamento, momento no qual estavam presentes estudantes que não haviam participado da ação, embora discordassem da tomada do local pela reitoria. Questionado quanto à parcialidade de atitudes serem tomadas sem que os denunciados estejam necessariamente ligados à acusação, Cacalano hesita. “Eu não tenho as imagens. Mas o que elas filmaram será apresentado. Agora, a porta estando lá, como tendo sido arrombada e estando os estudantes ali... Mas a gente nem sabe, talvez quem tenha derrubado pode nem ser aluno nosso. /.../ E por qual motivo significativo? Dá a impressão de que é uma questão de querer disputar for-ça, e eu não estou aqui para disputar força”, diz.Câmeras “As câmeras que estão pelo campus não são para os alunos. As câmeras são justamente para a segurança dos alunos. Inclusive, na reunião que fo-mos fazer do conselho diretor tinha um grupo (de estudantes) que dizia que ia fazer não sei o que e pá, pá, pá... Nós avisamos: vai ter câmera, se houver alguma manifestação ilegal elas vão registrar. Isso foi avisado. Isso pode. A intenção não é oprimir. Se eu não tomo nenhuma medida, não faço nada, amanhã acontece alguma coisa... eles entram num espaço, viram os arqui-vos... O que é que vai virar? E isso é o desejo de meia-dúzia de pessoas, ou sei lá... Estamos procurando oxigenar a instituição”, define o reitor. Nossa reportagem percorreu o cam-pus do Centro Universitário Fundação Santo André (CUFSA), e encontrou a seguinte situação: No prédio deno-minado ‘Anexo’, não há câmeras. Na Faculdade de Engenharia (Faeng), que

ocupa dois prédios, apenas uma câmera monitora a entrada do refeitório e outra o pátio externo. No Colégio, uma câmera está instalada sobre a arquibancada, apontada para o auditório. Na Faculdade de Economia (Faeco), uma voltada para o refeitório. No prédio da Fafil, entretan-to, duas câmeras monitoram a entrada principal e, o mais curioso, outras duas estão no pátio, direcionadas para a antiga sede do DA. Essa característica não foi encontrada em nenhum outro prédio do CUFSA. As medidas de segurança projetadas pela reitoria não se restringem às câmeras. Projetos de cercamento do campus e instalação de catracas estão na ordem do dia da gestão Cacalano, que afirmou que “sim”, catracas serão colocadas e grades erguidas, pois isso seria “reivindicação dos próprios alu-nos, de toda a comunidade”. Como motivo, alegou que “entra muita gente aqui dentro”. E comparou com a situa-ção em outras universidades: “O Bra-sil, se você observar, nas universidades federais, nas estaduais... começaram a acontecer alguns (casos). O que elas fizeram: cercaram. Tem universidade em Minas (Gerais), segundo eu vi na internet, com patrulhamento aéreo. Por causa das coisas que andaram acontecendo. Então é para segurança”, define o reitor. A funcionalidade destes novos equipamentos ainda não foi definida. Mas Cacalano afirma que as catracas, provavelmente, serão instaladas antes do acesso aos prédios. “Teria de ser na rampa. Não sei qual vai ser o esquema. Mas cada aluno terá o seu cartão e acabou. Passou o cartão entra”. Sobre o prazo para o estabelecimento, o reitor confirma que uma licitação está em andamento. “A empresa já está vendo a licitação, mas é para esse fim: cercar”, finaliza.O Diretório falido A mudança da sede do DA Honestino Guimarães, imposta pela reitoria, não

levou somente à perda de espaço. A única fonte de renda do DA, uma feira de objetos e alimentos cujo aluguel das barracas era destinado à gestão do diretório, assim como o serviço de fo-tocopiadora que atendia às demandas de impressão dos alunos, foi também extirpada no processo.Segundo o assessor de comunicação do DA, não há “nenhuma outra fonte de renda que não a feirinha e a Xerox”. O fato foi tratado pela presidência da FSA como um procedimento de “lim-peza” da instituição. “Na nossa gestão estamos limpando tudo. Então por isso tiramos (a feira do DA). Temos que seguir os estatutos... Isso é o mínimo”, afirmou Cacalano. A chamada Feirinha da Fafil existe há muitos anos. Segundo um repre-sentante do DA, ela sempre foi aceita como “informal”. Porém, nos últimos tempos, o tratamento foi modificado para “ilegal”. “Nas falas da reitoria é como se a informalidade não existisse. Como se fosse um crime. O Rubinho (dono da fotocopiadora retirada), por exemplo, tinha contrato com as gestões (DA), havia uma parceria”. O Jornal de Ciências Sociais visitou o prédio da Faeco, onde uma feira similar está em pleno funcionamento. Segundo informações extra-oficiais do Diretório Acadêmico responsável pela gestão do espaço, “é cobrado um aluguel dos co-merciantes para que as barracas fiquem instaladas no refeitório”. A mesma atitude foi tratada como ilegal a apenas alguns metros dali, no prédio da Fafil.

Perseguição A sensação dos alunos integrados ao movimento estudantil é a de que uma perseguição massiva vem sendo pra-ticada por parte da reitoria. Cacalano se defende, alegando a ilegitimidade da militância. “Essa gente precisa separar movimentos estudantis desse tipo de coisa que está acontecendo, que não tem nada a ver com movimento estudantil. Isso não é um movimento estudantil. Por exemplo, se tivéssemos aqui um movimento estudantil, com volume, reivindicando algo que fosse acessível, alguma coisa como, sei lá... a Prefeitura ter de dar repasse (finan-ceiro) – porque ela não está repassan-do. Então acho que é um movimento que não tem problema nenhum. Mas isto não é movimento estudantil. Isso dá a impressão de movimento partidá-rio. É o contrário, é o movimento que quer desestabilizar o que está sendo devidamente orientado”. Apoiado na alegada ilegitimidade, justifica a desmobilização: “Nós gos-taríamos de desmobilizar coisas desse tipo. Isso não é movimento estudantil. Isso não é nem mobilização. Isso é uma... Eles estão reivindicando coisas, estão batendo o pé em algumas coisas que nós não podemos ceder. É como

um filho. Se você não repreender, não tentar fazer com que ele reflita da atitude dele, ele acha que está tudo certo. Então acho que não tem nada a ver com desmobilização, porque não chega a ser mobilização”. Indagado se a vontade é realmente, por meio das ações que vêm sendo realizadas, como a mudança do DA, acabar com essa característica da mo-bilização estudantil na FSA, Cacalano é direto. “Acho o seguinte: as pessoas que eles conseguirem angariar é mérito deles. Agora, angariar as pessoas para qual finalidade? É uma finalidade sa-dia? Porque o diretório tem que ficar lá escondido, para continuar acontecendo aquelas coisas? Nós não podemos re-levar. Eu não diria desmobilizar. Diria que são medidas justas e corretas que temos que tomar, e que os faça refletir. É isso. Refletir sobre as ações”. Quanto à possível retomada do es-paço antigo do DA, Cacalano remata sem deixar esperança. “O diretório já está instalado lá (na nova sala). Agora, se eles precisarem de espaço para uma atividade cultural é só pedir para a diretora. Se for para coisas desse nível, não haverá problemas”.Sem sala Mas a sala destinada à sede do DA, imposta pela reitoria, também não foi entregue, sob alegação da não legaliza-ção do diretório. “De fato não estamos registrados em cartório. Mas houve a eleição, que foi legitima e a chapa derrotada aceitou e hoje nos apóiam. Mas não pôde ser feito o registro. Fomos diversas vezes ao cartório, mas o problema é que faltavam alguns do-cumentos, como atas, assinaturas e etc. Praticamente está tudo certo, viemos acertando isso durante nossa gestão. Mas (isso ocorreu) até ser fechado o muro. Listas de presença sumiram... algumas coisas ficaram faltando”, explica o assessor de comunicação do DA. Cacalano, porém, mantém seu argu-mento: “a eleição (do DA) foi ilegal. Você acha legítimo um diretório eleito com 35 pessoas (votando) se temos duas mil? Vale mais, nessa hora, a legitimidade que a legalidade. Lega-lidade, claro que é importante, mas seriam bons os dois. Se for ao cartó-rio e registrar, é legal”, determina o reitor, sem levar em consideração que independentemente de legalização, é direito dos estudantes – não desta ou daquela direção do DA – ter um espaço próprio; bem como que não cabe à reitoria decidir sobre a legitimidade da direção do diretório, e sim aos alunos, e estes a consentem.

Confira as entrevistas na íntegra no portal: www.colegiadosociais.com

Reitor da FSA pretende “oxigenar” o campus

Muro no DA foi feito nas férias

Projetos de cercamento e instalação de catracas estão na ordem do dia da gestão Cacalano

Page 7: Jornal de Ciências Sociais

7www.fsa.br Jornal de Ciências Sociais - nº 2 abril de 2012

Democracia e criminalização da luta política“A lei é uma forma ardilosa de burlar a justiça” - Millôr Fernandes

Em novembro de 2011, quan-do da desocupação da rei-toria da USP, em que 73

estudantes foram presos, Alckmin declarou: “A lei é para todos. Não é tolerável, não é razoável esse tipo de procedimento de invadir prédio público, depredar prédio público, não cumprir ordem ju-dicial. No passado, na época do período militar, a PM não ficava na universidade porque tinha aspecto político da repressão ao pensamen-to, da manifestação política. Hoje é totalmente diferente, já passou o período militar. Nós estamos no processo democrático. A pre-sença da polícia é para garantir a integridade física e patrimonial de professores e funcionários, evitar assalto, latrocínio, roubo” [1]. O atual reitor da USP, João Grandino Rodas, afirmou em 2010, à Rádio Bandeirantes, que o sindicato dos trabalhadores da USP contratava “mercenários de alta estatura e alta envergadura” para coagir as pessoas a entrarem em greve, fazendo da universidade “uns morros do Rio de Janeiro, guetos que com o tempo ficarão ab-solutamente impraticáveis, se é que já não estão” [2]. Sob a bandeira da manutenção da ordem, ao final de 2011, segundo professores da USP, já ascendia “a quase cem a lista dos estudantes perseguidos”. [3] A palestra proferida pelo Prof. Dr. Franklin Leopoldo e Silva por ocasião da calourada de 2012 organizada pelo Centro Acadêmico de Filosofia da USP, no Centro Universitário Maria Antônia, a 2 de março, lança luz sobre os recentes conflitos entre o movimento estu-dantil e a força policial. Segundo o professor, a relação entre a polícia e a USP data de sua fundação, e não houve momento em que essa relação não fosse cultivada, che-gando a haver um período em que a polícia participava diretamente da direção. Contudo, ressalta, não se pode esquecer de que as anuências e acordos que acompanham o tipo de repressão sofrida hoje aparecem em um cenário diferente do ante-rior, cujas particularidades devem ser compreendidas para decidir como agir. Em uma apreciação histórica do ensino superior no país, o professor afirma que, já a partir do chamado processo de redemocratização, houve desinteresse pela univer-sidade pública e um crescimento enorme no número de particulares (ver box). Se, com Lula, houve crescimento da oferta de vagas nas universidades públicas, prin-

cipalmente nas federais, também se criou uma imagem, por meio da imprensa, de que elas ou não formam para o mercado, ou de que lá “não se dá aula, só tem bagunça, greve e discussão”. Esse processo se insere em um contexto de am-pliação das relações de mercado na educação. Para o Prof. Franklin, esse crescimento constitui uma inversão, já que a educação deveria ser principalmente pública, com alguns estabelecimentos privados para demandas específicas. Disso deriva a perspectiva imediatista do resultado, que confunde sociedade e mercado. Seguindo a ideia de que é ne-cessário conhecer o processo histórico que conduziu à situação atual, o Prof. Franklin oferece um testemunho sobre o que foi parte da “redemocratização” na USP, contando que, enquanto grupos de professores propunham mudanças democráticas, outros defendiam a preservação da hierarquização na universidade. Ao mesmo tempo, não se podia chamar esse grupo de ditador, afinal, estava-se em uma democracia. O que o profes-sor faz notar é que a formalização da democracia no país teve como resultado a retração do enfrenta-mento político, o cerceamento das oposições e, ademais, a flagrante militarização nos diversos âmbitos sociais, inclusive universitário. Segundo ele, isso acontece em um contexto no qual a polícia é aponta-da como solução: “Tem enchente? É com a polícia. Tem problemas de educação? A polícia vai. Principal-mente quando alguém reclama”;

ou seja, a polícia seria o principal meio para gerir os problemas sociais. Essa é característica de uma sociedade em que a violência se tornou norma e a imposição da força é encarada como uma “forma de gestão”. Essa forma de gestão é uma ma-neira de transformar problemas políticos em questões criminais, a fim de minar toda forma de oposição e reivindicação. Por meio da sobreposição do âmbito jurídico, criminal, policial, ao embate político, a democracia se faz uma ferramenta política para a despolitização. No discurso da direita, para o mo-mento da ditadura militar o papel da polícia é reconhecido como bra-ço da repressão à oposição política. Para o momento atual, o papel da polícia é declarado como combate ao crime. Nos termos generalizan-tes e preconceituosos de Rodas, a USP é como os morros do Rio, é um gueto impraticável. Mas do que se tratam as atuais manifestações? Reivindicam a democratização da universidade, em oposição à “privatização em curso da USP”. Conforme artigo dos professores da USP: “É preciso caminhar para uma estatuinte”, ou seja, propõe-se a democratização da gestão, que hoje se pauta “por um regimento herdado do autoritarismo, que fere toda ordem democrática” . Esse regimento, de 1972, é o que embasa os processos de demissão e expulsão, inclusive por “crimes de opinião” acima referidos. Deste modo, o papel da polícia continua sendo a repressão às

reivindicações de democratização e popularização da universidade que passam, como resume o artigo dos professores, “pelo sufrágio universal, pela abertura social, pela preservação da gratuidade, pela multiplicação de cursos noturnos e pelo incentivo a pesquisas em diálogo real com as necessidades nacionais”. Embora hoje realizada por meios legais – e essa é uma importante particularidade do momento atual – a repressão policial obedece a razões análogas às que a promoviam na ditadura militar. Como diz o Prof. Franklin, há “o problema de que o cassetete é o mesmo. Por que é diferente apanhar na democracia?”

[1] g1.globo.com, 29/03/12.[2] A entrevista pode ser ouvida na íntegra em: http:// www.usp.br/imprensa/?p=450[3] Francisco Alambert, Francisco de Oliveira, Jorge Grespan, Lincoln Secco, Luiz Renato Martins e Marcos Soares, “Militarização e privatização”, Folha de São Paulo, 18/11/11

Policiais da Tropa de Choque disparam contra estudantes da USP

“Há meio século, perto de 60% dos estudantes nos cursos superiores estavam em instituições públicas. Após o período ditatorial, esse per-centual já se situava próximo aos 40% e com a investida neoliberal chegou a 30%. Hoje, com o crescimento da privatização na última década, menos que 20% das conclusões de cursos superiores presen-ciais são em instituições federais ou estaduais.” (Otaviano Helene, “Privatização no Ensino Superior rebaixa, a cada ano, seu retorno social e cultural”(www.correiodacidadania.com.br, 21/03/12.)

Em São Paulo, a privatização da educação é mais intensa que a média, como mostra a tabela abaixo:

Fonte: http://almocodashoras.blogspot.com.br

Índices

Page 8: Jornal de Ciências Sociais

Jornal de Ciências Sociais - nº 2 abril de 20128 www.colegiadosociais.com

Vida acadêmica

A integração entre os âmbitos do ensino, da pesquisa e da extensão, característica da vida universitária, se manifesta não somente na publicação de livros e artigos dos professores e em sua participação em congressos e outros eventos, mas também no desenvolvimento de pesquisas por parte dos estudantes. Nesse âmbito, o Programa de Incentivo à Iniciação Científica mantido pelo CUFSA oferece anualmente 40 bolsas de estudos, além de acolher também voluntários. Para este ano de 2012, 19 estudantes do curso de Ciências Sociais tiveram seus projetos de pesquisa de Iniciação Científica aprovados, dos quais 12 com bolsa e 7 voluntários. Os projetos abrangem um amplo le-que temático: análise de pensadores e militantes clássicos e contempo-râneos (J.-J. Rousseau, D. Ricardo, Florestan Fernandes, Emir Sader, Caio Prado Júnior, F. Nietzsche, E. “Che” Guevara, K. Marx, M. Bakthin); estudos de problemas relevantes do cotidiano (a emer-gência da “nova classe média”, a produção de imagens, as religiões neopentecostais, meio-ambiente e turismo, futebol e mídia); análises de questões relativas às relações en-tre capital e trabalho e à história da classe trabalhadora (a organização fabril taylorista-fordista, a trajetória dos trabalhadores da Rodhia, a luta por moradia e a expansão urbana, a situação de crianças e adolescen-tes); e ainda projetos voltados ao estudo do processo de individuação (a transformação das mulheres no Renascimento, o indivíduo visto pelas obras de J. Guimarães Rosa e H. Balzac).De acordo com a profª. Terezinha Ferrari, essa diversidade de objetos de pesquisa reflete a extensão da área de estudos das Ciências So-ciais, que permitem compreender as atuais relações sócio-econômicas, políticas e culturais, sua forma-ção histórica e as possibilidades de transformação presentes nela, oferecendo, assim, subsídios para a intervenção prática, como soció-logo, professor, militante – ou todas essas atividades em conjunto, já que elas não se opõem, ao contrá-rio, complementam-se.Acesse www.colegiadosociais.com e veja os títulos dos projetos aprovados, seus pesquisadores e respectivos orientadores.

Iniciação Científica: novos projetos aprovados

Estudantes cujos cursos proporcionam diploma de licenciatura, como

é o caso das Ciências Sociais na Fundação Santo André, podem ingressar na vida aca-dêmica sem que isso lhes pese no bolso. Por meio do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), programa do Minis-tério da Educação (MEC) destinado ao financiamento estudantil de nível superior, o aluno pode optar em, por meio da atuação como professor na rede pública de ensino, quitar integralmente a dívida. Cada mês trabalhado em regi-me de 20 horas semanais abate 1% do débito. Na prática, isso permite ao aluno quitar o valor em cerca de nove anos sem nenhum custo financeiro. Caso o estudante atue em es-colas públicas no decorrer da graduação, o tempo é conta-bilizado a partir do momento

que a atuação como docente é comprovada. O abatimento das mensalida-des pagas com recursos do Fies foi regulamentado em portaria normativa e publicada no Diário Oficial da União em 3 de março de 2011. O sistema pode ser usado pelo professor que faz a primeira ou a segunda licencia-tura, desde que não tenha usado o financiamento do Fies em cursos de graduação anteriores. Para exigir o benefício, o do-cente ou estudante deve acessar o portal www.fnde.gov.br, do Fundo Nacional de Desenvol-vimento da Educação (FNDE) e formalizar o pedido por meio do link do Fies, localizado no canto esquerdo da página. Também é responsabilidade do FNDE notificar o agente financeiro escolhido pelo aluno sobre a suspensão da cobrança do empréstimo, caso ele já es-teja em andamento.

Futuros professores podem cursar ensino superior sem pagar Tendo como objetivo elevar o

padrão de ensino da rede pública, a CAPES - Coordenação de aper-feiçoamento de Pessoal de Nível Superior criou o PIBID - Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência, para que os alunos dos cursos de licenciatura possam, em conjunto com Professores Super-visores, atuar junto aos estudantes das Escolas de Educação Básica da Rede Pública, promovendo a integração entre esses dois níveis de educação, a fim de qualificar o futuro professor a melhorar as condições educacionais e de rela-cionamento, que envolvem desde o entorno até o interior da própria escola. O programa em dinâmica procura integrar os futuros professores no processo cotidiano da educação

pública, para que possam antever o potencial existente e extrair dele as possibilidades de orientação para seu desenvolvimento, no atendi-mento daquele objetivo. Para isso a CAPES oferece uma Bolsa de Estudos aos alunos, futuros pro-fessores, que venham participar deste programa, que ocupa 30hs mensais de atividade nas escolas selecionadas. O curso de Bacharelado e Licen-ciatura em Ciências Sociais do CUFSA participa com um projeto para a disciplina de Sociologia, que compõe a matriz curricular do ensino médio. O envolvimento dos diversos cursos de licenciatura da Fundação Santo André nesse projeto reflete seu já tradicional empenho na formação de docentes altamente qualificados.

PIBID eleva o padrão do ensino

Entre os projetos desenvolvidos ao longo de 2011 e encerrados no início deste ano, o CNPq contemplou com uma bolsa de estudos os trabalhos: Vincent Van Gogh e Serviços Van Gogh dos Bancos Real Santander: a arte a serviço dos bancos, de Davi Tadeu Rizate. E ABC, em busca da regionalidade, de Eduardo Galvão Lernic, ambos estudantes de Ciências Sociais da FSA. Confira os resumos:

Notícias de pesquisa

“Jamais encontrei em qualquer outra parte, como em Manches-ter, um tão delicado encobri-mento de tudo aquilo que possa ferir as vistas e os nervos da burguesia.” Esta sensação de F. Engels é compartilhada por quem ingressa em agências do Banco Santander que ofereçam os Serviços van Gogh, dirigidos a clientes de alta renda. A arte é tomada aí como sinônimo de distinção social, e o van Gogh que amargou o fracasso merca-dológico e se opôs ao estilo bur-guês de vida é adaptado a este tipo de serviço. Se inicialmente predominam em sua obra os temas sociais, mais tarde aban-dona-os e passa a privilegiar a estética em relação ao tema. Embora não se tratasse de uma arte para a burguesia, nela as contradições sociais não se fa-ziam presentes. Deste segundo período, foram escolhidas pelo Banco Santander apenas telas de paisagens naturais. A arte de Van Gogh, como a Manchester vista por Engels, contém a clas-se trabalhadora, mas escondida da burguesia; troca-se o comedor de batata pelo girassol ou o tece-lão pelos lírios. Tudo para não ferir as vistas e os nervos dos clientes de alta renda.

Cliente van Gogh?Davi Tadeu Rizate

O trabalho se iniciou como uma recu-peração dos materiais dos Congressos de História do ABC. A análise desses materiais, no entanto, levantou uma dúvida: por que o ABC é considerado uma região? Quais elementos os con-gressistas levantariam para sustentar a ideia de região? Desta dúvida, surgiu a problemática do trabalho, cuja pergunta é: “existem subsídios para caracterizar o ABC como uma região?”. A resposta é: não, se os procurarmos somente no lugar comum da história determinada pelos agentes que, por sua vez, são os principais interlocutores des-sa regionalização: os agentes do capital. As análises dos materiais dos con-gressos levaram à conclusão de que em momento algum os congressistas trata-ram da problemática “região” segundo o aspecto primordial pelo qual o ABC é fundamentado: a economia política. As falas partem sempre do pressuposto de que a citada região existe e sua crítica não é empreendida, senão pelos fatores históricos que a formaram – e tal crítica se embasa essencialmente em preciosismos integrados na quase unânime ideia de que a região se for-mou em virtude da extinta São Paulo Railway (Santos-Jundiaí). Se existem características regionais no ABC, tais aspectos foram forjados de acordo com interesses privados. Tais apontamentos somente foram encontrados no momento em que a pesquisa foi a campo, em entrevistas com geógrafos e políticos na região.

ABC: a não região!Eduardo Galvão Lernic

Cada mês trabalhado em regime de 20 horas abate 1% do débito