Jornal cacc pronto (revisado)

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1 Segundo semestre de 2011 http://www.medicinaufrj.com JORNAL DO CACC - MEDICINA UFRJ ANO I - NÚMERO 1 [email protected] A BULA © NESSA EDIÇÃO TEMOS TAMBÉM • Confira o relato da Bula sobre o Programa de Educação Médica. (pág. 9) • Todo médico está destinado a trabalhar em um consultório? (pág. 12) • Na coluna do aluno o assunto é a Supervia. (pág. 13) • Charges e palavras cruzadas! (pág. 14) CACC no 1º Congresso da ANEL Estudantes de todo país no congresso da ANEL (pág. 11) Entulho ao lado do Hospital Universitário, presente há mais de 9 meses (pág. 6) E o Entulho do HU? CALOURADA O CACC teve a oportunidade de realizar mais uma calourada, saiba mais. Pág. 4 OPRESSÕES A Bula convida os alunos a fazer uma reflexão sobre as opressões na sociedade. Pág. 5 GREVE NA UFRJ Informe-se sobre a greve dos funcionários da UFRJ que ocorreu nos últimos meses. Pág. 8 COLUNA CULTURAL CACC inaugura sua coluna cultural com textos sobre literatura e filmes clássicos. Pág. 7 Nota: As matérias publi- cadas neste jornal são de inteira responsabilidade de seus autores e não ex- pressam, necessariamen- te, a posição do CACC.

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Jornal do CaCC - MediCina UFrJano i - núMero 1

[email protected]

A BulA©

Nessa edição temos também• Confira o relato da Bula sobre o Programa de Educação Médica. (pág. 9)• Todo médico está destinado a trabalhar em um consultório? (pág. 12)• Na coluna do aluno o assunto é a Supervia. (pág. 13)• Charges e palavras cruzadas! (pág. 14)

CACC no 1º Congresso da ANEL

Estudantes de todo país no congresso da ANEL (pág. 11)

Entulho ao lado do Hospital Universitário, presente há mais de 9 meses (pág. 6)

E o Entulho do HU?

Calourada

O CACC teve a oportunidade de realizar mais uma calourada, saiba mais.

Pág. 4

opressões

A Bula convida os alunos a fazer uma reflexão sobre as opressões na sociedade.

Pág. 5

Greve Na uFrJ

Informe-se sobre a greve dos funcionários da UFRJ que ocorreu nos últimos meses.

Pág. 8

ColuNa Cultural

CACC inaugura sua coluna cultural com textos sobre literatura e filmes clássicos.

Pág. 7

Nota: As matérias publi-cadas neste jornal são de inteira responsabilidade de seus autores e não ex-pressam, necessariamen-te, a posição do CACC.

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EditoriALIntegrantes do CACCAndré (M2)Angela (M3)Arthur Oliveira (M2)Daniela (M3)Gabriel D. Marinho (M4)Gabriel Keller (M3)Gabriel Fernandes (M2)Gustavo Treistman (M10)Guilherme Tritany (M4)Heloísa Calazans (M9)Ingrid Antunes (M9)Isis Altgott (M10)Joana (M2)Jorge (M12)Marcella (M3)Rafael Castro (M7)Raquel Chaves (M3)Thiago (Thico) (M4)Stefan Gundelach (M4)

DiagramaçãoGabriel D. Marinho

LayoutEloísa Fróes

ExpEdiENtE

Você está diante da segunda edição d’A Bula sob a gestão 2010-2011 do CACC, sendo que esta é a primeira edição impressa (a ou-tra se encontra no blog do CA). Nossa proposta d’A Bula passa por trazer à tona alguns temas que não se desatualizam com tanta rapidez ao longo do ano e que influenciam nosso cotidiano enquanto estu-dantes, futuros médicos, jovens e cidadãos. Dada a pluralidade de ideias no movimento estudantil, não temos a pretensão de apre-sentar verdades inquestionáveis e nem de sermos a voz fidedigna de todos os estudantes individual-mente. A Bula é aberta a contri-buições de quaisquer estudantes e sobre os temas que forem con-siderados relevantes para os mes-mos. Nossa pretensão é romper com a inércia política da medici-na da UFRJ para que construamos juntos os horizontes que almeja-mos para a saúde, para o ensino e para a prática médica. Os temas e o teor dos textos escritos pela gestão são fruto do acúmulo das reuniões que são abertas a voz e voto de todo e qualquer estudante. Portanto, a construção do CACC é aberta à semelhança do seu jornal. Sinta-se em casa e venha construir conosco!

É importante pontuarmos algumas questões que são desdo-bramentos dos anos anteriores e que possuem reflexos na UFRJ e na medicina. A “saúde” vai bem e o paciente vai mal. O subfinan-ciamento da saúde é bem concre-to. Muitos de nós assistiram de perto a novela do HUCFF, cujo primeiro capítulo é a metade de um edifício que sequer foi acaba-da, passou por cenas dramáticas que envolveram o fechamento do hospital em 2008 e o abalo da es-trutura em 2010 e teve um recen-te capítulo que foi a implosão da “perna-seca”. A realidade precária do nosso HU corresponde à dos demais 45 hospitais universitários brasileiros e de outras unidades de saúde, a exemplo das UPAs, feitas

quase que de papel e onde muitas vezes faltam médicos e insumos básicos. Nossos dois últimos mi-nistros da saúde afirmam que o problema da saúde é de gestão. Com tantas regionalidades/espe-cificidades da experiência brasi-leira em saúde, será mesmo que o problema é que todos os gestores de todas as unidades de saúde do Brasil durante todos esses anos foram incompetentes?! Estamos sendo seduzidos pela falácia de gerir a miséria enquanto a popu-lação não vem avançando con-cretamente na melhoria da sua qualidade de vida, para além até da atenção à saúde. A velha “nova solução” assumiu o nome este ano de Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares S.A., mas o nome é o que menos importa. Ela já foi Fundação Estatal de Direto Priva-do, por exemplo, mas sem grandes alterações em sua essência.

Na educação, um corte de 30 milhões no orçamento no início do ano. O Programa de Reestru-turação e Expansão das Univer-sidades Federais (Reuni), que expandiu significativamente as vagas para a universidade e criou cursos que perecem pela falta de infra-estrutura, como a medicina dos nossos colegas da Macaé, e nos faz competir no CCS por salas de aula, possui recursos limitadís-simos. O ano de 2012 não é o fim do mundo, mas o fim do repasse orçamentário referente a esse pro-grama. Ainda este ano, o governo deve aprovar o novo Plano Nacio-nal de Educação, que definirá as diretrizes para as políticas públi-cas de educação dos próximos dez anos (2011-2020). Com relação ao PNE anterior, sofremos uma profunda derrota com o veto de FHC sobre os 7% do PIB propos-tos para a educação. Ela se refletiu na distância em relação à meta de erradicação do analfabetismo e inclusive em relação à meta de ampliação do acesso ao ensino superior (menos de metade da prevista). O novo PNE aprofunda

a lógica neoliberal na educação da mesma forma que na saúde, fortalecendo a gestão privada e desviando recursos públicos para essa esfera.

Será que esse é o único ca-minho possível? Será que esse é o melhor caminho possível? Melhor pra quem? Hoje vivemos uma mobilização dos servidores de 47 universidades federais, inclusive da UFRJ, reivindicando reajustes salariais atrasados, combatendo a proposta da presidenta Dilma Rousseff de congelamento dos sa-lários pelos próximos dez anos e se posicionando contrariamente às privatizações. Temos os fóruns de saúde e de educação que têm se articulado para lutar por uma ou-tra lógica para os direitos sociais, de forma a contemplar os anseios populares. E nós ainda achamos que não tem jeito?! Que estamos sozinhos? Que não há nada a fa-zer? Essas são apenas algumas questões que nos dizem respeito e que perpassam esta edição d’A Bula. A gestão do CACC e o Con-selho Editorial desejam a todos uma boa leitura!

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bALANCEtE ANUAL | MArço dE 2010 A AbriL dE 2011

A Faculdade de Medicina da UFRJ é a única do estado do Rio de Janeiro a dispor de um comitê local da IFMSA, presente em mais de 35 escolas médicas por todo o Brasil e 97 países no mundo. O comitê local-UFRJ busca desenvolver projetos sociais em nosso meio social e universitário, e mantém ativo o programa de intercâmbios internacionais da IFMSA dentro da UFRJ.

No ano passado, foi celebrado o Dia Mundial da AIDS em um evento com exibição de filme temático e palestras sobre a AIDS no mundo e os tratamentos atuais. Em março deste ano, com o apoio dos alunos do CCS, foram distribuídos 160 brindes de páscoa (incluindo chocolate e brinquedos) numa campanha

para as crianças do IPPMG. E seguem aqui relatos de alunos que já realizaram um intercâmbio internacional IFMSA con-tando sobre suas experiências!

Interessado em participar de uma campanha ou projeto do comitê? Vale pontos para conseguir a vaga de intercâmbio! Acesse o site da IFMSA-Brazil (www.ifmsabrazil.org), conheça o nosso trabalho, e venha falar sobre suas ideias com a gente.

Nosso e-mail de contato é: [email protected]

Fabrício KuryPresidente do LC UFRJ

Relato do Intercambista

Egito foi pra lá que fui!! E qual foi a razão de ter escolhi-do esse país? Pois não pude escolher outros por já estar na fase de vagas remanescentes. Mas digo com muita alegria que não me arrependi. E, ainda, se alguém vier me perguntar sobre qual país deveria fazer intercâmbio, sem dúvida nenhuma respon-deria Egito.

Assim que cheguei ao hospital, o médico coordenador en-carregado dos intercambistas me deu atenção e se preocupou com minhas acomodações no alojamento do hospital. Além dele, os médicos com os quais tive contato foram muito aten-ciosos. Desde o médico mais atarefado da emergência que ain-da nos dava tarefas a cumprir, passando pelo cirurgião que nos mostrava partes importantes da cirurgia a qual era o cirurgião principal, indo a oncologista que nos deixou preparar a sessão de quimioterapia de uma paciente e de nos explicar a conduta em relação a analgesia dos pacientes terminais, e acabando com o endoscopista e os ultrassonografistas que passo a passo nos mostravam cada estrutura.

Mas é claro que deveria aproveitar mais do Egito, o que já é mais que pensado pela organização do comitê local. Rece-bemos uma planilha com o itinerário completo do mês inteiro. Eles não deixavam tempo vago quando estávamos fora do está-gio. Nosso único trabalho era preparar a bolsa com documento e dinheiro, e esperar que um integrante fosse nos pegar, levar ao local pretendido (na maioria da vezes eles também partici-pavam ). Nesse esquema pude conhecer todos, ou pelo menos quase todos, os pontos turístico do Egito, não só Cairo ( cida-de onde fiquei). Visitei as pirâmides junto com a esfinge, andei de camelo, museu do Cairo onde estão as múmias, ao bazar de Khan el Khalili,fui ao mar vermelho onde pude fazer mergulho de cilindro, Alexandria e sua biblioteca, Luxor e Assuã com seus templos.

Fiz novas amizades, árabes, paulistas, inglesas, que sei que não os esquecerei. Nada faltou nesta viagem. Tudo isso pela IFMSA!

Lúcia Arce, intercambista que viajou para o Egito

CoMitê dE iNtErCâMbio

Entradas SaídasLoja do CA-CCS R$32.767,70 Loja do CA-CCS R$24.661,36

Aluguel da Xerox R$11.850,00 Salário da Jussara R$10.353,00

Aluguel de Armários R$2.500,00 Sky R$720,00

Reembolsos de Passagens/Atividades Acadêmicas R$2.983,00 Reforma no CA do Subsolo (Eliseu) R$3.928,50

Repasse do Marcílio por Festa na Prefeitura R$300,00Participação nas Atividades da DENEM:

ROEX, CENEPES, COBEM, Seminário de Educação Médica e COBREM

R$5.190,99

Patrocínio Nilsão Camisas 2010-1 R$1.000,00 Calouradas Abril 2010-1, Agosto 2010-2 e 2011-1: Festa de Recepção, Camisas, Canetas e Pastas R$3.339,59

Vendas das Camisas da Copa do Mundo R$4.420,00 Recarga do Celular do CACC R$300,00

Lucro da Festa da Copa do Mundo R$218,50 Material para Sala do CCS R$111,35

Entrada Festa Junina R$1.001,40 Investimento Festa Junina R$1.010,91

Entrada Dia Nacional do Samba R$1.700,00 Investimento no Dia Nacional do Samba R$1.602,40

Total R$58.740,60 Contribuições: Festa Bota-Fora M12 e Sexta de Samba R$950,00

Semana Acadêmica do CACC R$1.645,04

Pequenos Consertos: Sofá, Fechadura do 8º Andar e Dreno do Split R$483,30

Total R$54.296,44

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Uma recepção de calouros diferenciadaPassar no vestibular e entrar na

universidade é uma sensação ímpar – principalmente se for a universi-dade federal que você queria! Nesse momento, criam-se muitas expecta-tivas para o novo curso, visualizam-se a projeção acadêmica e a nova vida social que se seguirá – toda uma gama de novidades que instigam a disposição do recém-chegado uni-versitário.

Imagine você, com todo esse rebuliço interno, que um universi-tário vai ter que esperar meio ano, literalmente, para poder entrar na universidade? É o que acontece com nossos estudantes que iniciam o cur-so no segundo semestre: no início do ano, férias maravilhosas, em maio, ele nunca desejou tão ardentemente ter aula!

As aulas do segundo semestre deste ano estavam marcadas para começarem dia 8 de agosto. Por ini-ciativa do Centro Acadêmico Carlos Chagas, foi decidido convocar os novos alunos da medicina uma se-mana antes para situá-los dentro da universidade, seja na localização do bloco B do CCS, onde passarão boa parte do seu ciclo básico, como no âmbito do funcionamento da UFRJ.

Inicialmente, havia muita in-certeza da viabilidade de realizar as atividades dessa semana, mas os calouros apoiaram e a calourada deu certo. No primeiro dia, a apre-

sentação da gestão atual do CACC e o primeiro caso clínico de tantos com os quais eles (os calouros) vão se deparar. No entanto, essa primeira atividade não foi semelhante àquelas desenvolvidas no curso, durante a apresentação procurou-se dar aten-ção especial à situação econômica e social dos pacientes, entendendo essa como determinante de sua saú-de. Além disso, foram organizados grupos de discussão sobre saúde, educação e educação médica. Ao longo da semana foram realizadas outras atividades: a visita-guiada, na qual os alunos conheceram o Hospi-tal Universitário, o CCS, o bandeijão e todos os demais locais que se tor-narão tão familiares nos próximos

anos, e o café-da-manhã seguido de um debate sobre as formas opres-sões instaladas na sociedade, como a repressão às mulheres, aos homos-sexuais e aos negros. Na semana se-guinte, fechamos com uma festa no Elizeu, integrando os calouros e seus veteranos.

Os novos estudantes do primei-ro período aproveitaram o evento, marcando presença na maior parte das atividades, participando de sua primeira experiência em âmbito aca-dêmico e perguntando avidamen-te sobre o que os esperava naquele período(as aulas do Manel já faziam sucesso entre eles antes mesmo da aula deles começarem!) e sobre o fa-migerado material de padrinho.

A calourada foi bem-sucedida graças aos esforços de membros mui-to dedicados do CACC e também graças aos calouros que se fizeram presentes nas atividades montadas especialmente para eles.

A gestão Lutar é Preciso agrade-ce aos estudantes do primeiro perí-odo por virem à universidade antes do previsto e deseja boas-vindas aos novos estudantes de medicina da Universidade Federal do Rio de Ja-neiro, conhecida humildemente por nós como a melhor universidade do Brasil!

Arthur Oliveira (M2)Debate sobre Opressões durante a Recepção dos Calouros de Medicina 2011/1

Ato-Festa pela Retirada do Entulho do HUCFF, durante a Calourada Unificada com o DCE

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Quando o semestre começa, logo aguardamos nossos novos co-legas chegarem, preparando o ve-lho ritual de celebração e vitória, o trote. É sem dúvida um espaço de aceitação, recepção calorosa dentro da universidade, em que todos são iguais e rapidamente inseridos em um novo grupo social, amável e re-confortante. Adoraria que esse boni-to quadro representasse a realidade.

A verdade é que, hoje, em mui-tas faculdades pelo país, o que há é um grupo de colegas – consciente ou inconscientemente – promoven-do repressão e criando uma falsa hierarquia, assim que o trote come-ça. Para a maior parte dos alunos aquele evento normalmente passa em branco, esquecido em alguma memória nostálgica profunda, mas, para outros, em especial aqueles que se destacam na diferença, só resta um pensamento negativo.

Algo que, com certeza afeta a entrada dessas pessoas na faculdade é a naturalização de diversas formas de preconceito, como machismo e a homofobia, que acompanham a prá-tica dos trotes do início ao fim. Se fizermos uma análise rápida sobre esses acontecimentos, veremos que muitas vezes há uma confusão entre liberdade sexual e opressão sexual, já que as mulheres são colocadas em posição submissa e homossexuais são alvos de constantes piadinhas. Episódios lastimáveis dessas práti-cas não faltam como o “rodeio das gordas” realizado na USP.

Como o tema da homofobia tem sido levantado recentemente, convido-os para uma breve reflexão sobre esse comportamento. Primei-ro, é importante entender que du-rante a sua história – sim, sempre existiram homossexuais – os gays foram compreendidos como um desvio, um erro, sendo chamados frequentemente de imorais, pecado-res e pervertidos. Atualmente, essa lógica se reproduz até mesmo em sala de aula, quando somos obriga-

dos a ouvir de “professores-cientis-tas” que a atração pelo mesmo sexo se dá porque há indivíduos com um desvio-padrão em uma curva popu-lacional de Gauss1. Bem, pensemos, se estamos falando de um erro, ele poderia ser consertado, não? Se não for possível, por que não eliminá-lo? Outros ainda apontariam que os gays optam por sua sexualidade. Bem, será que os homossexuais não têm problemas suficientes para real-mente escolherem agir contra uma ampla opressão heterossexual?

Outra questão é que em uma sociedade desigual, a homofobia e o silêncio em relação ao tema contribuem todos os dias para o aumento da desigualdade social. Como? Enquanto a maioria dos ho-mossexuais da classe média e alta podem de alguma maneira exercer sua afetividade e sexualidade dentro do chamado mercado “pink”: nas boates, na Farme com seus restau-rantes caros, em cruzeiros e viagens gays e em todos os estabelecimentos “gay friendly”, a maior parte da po-pulação – pobre, negra – não pode sequer “sair do armário”, e quando saí vai a guetos, muito diferentes do que a classe média está acostumada. Observa-se isso fortemente no local de trabalho, em que o único posto reservado às travestis é a prostitui-ção, e gays e lésbicas, muitas vezes, ocupam funções inferiores receben-do menores salários. Enquanto isso, um pequeno setor da sociedade se apropria do tema e ganha dinheiro, muito dinheiro com isso, através do mercado e das paradas gays, que sofrem uma despolitização e uma mercantilização brutal.

Além disso, todos os dias pes-soas são agredidas e assassinadas por terem uma outra orientação sexual. Este ano, as estimativas mos-tram que uma pessoa LGBT é assas-sinada a cada 36hs no Brasil. Uma violência que está enraizada no seio da sociedade e que não podemos mais permitir.

Se pararmos para refletir na real gênese do preconceito, anali-samos que as relações entre pessoas do mesmo sexo foram sempre um perigo para ideologia dominante feudal ou burguesa. Afinal, “como poderia um homem não ‘querer’ exercer toda a sua potencialidade de macho-alfa de ‘dominar as mulheres e ter herdeiros’?” Faço uma ressalva que o preconceito contra as lésbicas se dá em outros formatos, e em mui-tos casos está associado ao machis-mo. Logo, vale na mesma moeda: “como pode a mulher assumir um comportamento tido como mascu-lino e dominante?”. As lésbicas são ainda colocadas dentro da fantasia sexual masculina, atribuindo mais uma vez a mulher e seu corpo ao usufruto do homem.

A falta de visão de muitos os cega, a questão nunca foi a origem da sexualidade, mas sim a sua sim-ples e inegável existência, aliada ao reconhecimento de que somos to-dos seres humanos iguais. Vamos resumir; os homossexuais existem, e eles têm o direito de não serem punidos, recriminados, oprimidos de nenhuma forma em nenhuma situação, assim como qualquer ser humano. Se tanto ouvimos que a UFRJ é a melhor do Brasil, que o Fundão é uma mina de excelência acadêmica, que iremos todos vingar como grandes médicos, peço então que agora parem e reflitam: que opressões você perpetua?

Gostaríamos que todos enten-dessem, não devemos sentir vergo-nha pelo comportamento de nossos colegas, o que devemos fazer é não permitir que, mesmo nas pequenas ações, continuem fazendo mal se-mestre a semestre àqueles que aden-tram a faculdade! É por tudo isso que hoje o CACC defende: “Não existe educação melhor que não combata a homofobia!”

1 A distribuição normal ou de Gauss é uma distribuição da estatística. Nela, atribui-se média, e a partir dessa há uma maioria cen-tral, como ‘distribuição normal’, e uma mino-ria periférica com ‘desvio-padrão’.

Gabriel Marinho (M4) Isis Altgott (M10)

Novas cores à calourada: Você perpetua opressões?

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No dia 19 de dezembro de 2010 ele nasceu, era uma manhã límpida e muito bonita. Como se tratava de um filho planejado foi tudo muito rápido, algum choro no início – era quase uma ambulância de tanto que gritava –, mas logo tudo era fumaça, e ele surgira. Pa-recia uma obra de arte, de tão belo, monolítico e poderoso, seu futuro prometia.

Largando de mão a nostalgia, o que nos dá mais prazer, hoje, é observarmos o crescimento de nos-so filho, se desenvolvendo, abrigan-do toda sorte de fauna e bolores, se tornando um microcosmo de rica diversidade manancial – urubus, ratos, cobras, etc. É sem dúvida um lugar de bem-estar e saúde, que ain-da ousa ser ecologicamente correto. É por isso que acreditamos em sua valorização e lutaremos com todas as forças para a sua manutenção.

Em maio, surgiram boatos que nosso titânico colega seria re-movido do seu lugar de origem pela Cruz Vermelha, logo vimos que havia algo de errado. Afinal, como poderia uma instituição bem capacitada que atua/atuou em dife-rentes desastres mundiais, que tem princípios tão nobres e bem-vindos na nossa universidade, atrever-se a removê-lo. Sem dúvida, ao se depa-rar com a figura tão carismática que é nosso companheiro não tiveram coragem de prosseguir. Bem, aqui fica o pedido para a Cruz Verme-lha; não se engane, nós amamos o entulhinho e queremos que ele fi-que bem aí.

Hoje, escrevo essa carta para comemorar o 9º aniversário mensal do nosso querido companheiro e desejar-lhe uma longa vida e mui-to sucesso em sua empreitada em nossa universidade, e, se tudo der

certo, esta não será curta. É por isso que, convoco todos agora a levantar as mãos aos céus e agradecer pelo nosso pequeno grande milagre de manter tal estrutura por tanto tem-po, parabéns Reitoria! Comemore conosco!

No dia 19 de agosto, com o ani-versário do entulho, o CACC, com o DCE, realizou uma manifestação na forma de Ato-Festa, que contou com centenas de participantes, pe-dindo a retirada imediata do entu-lho, a seguinte carta foi também foi entregue no mesmo dia na posse do diretor da faculdade de medicina. O entulho foi leiloado, – pelo valor irrisório de R$1,00 – e sua retirada começou fora dos prazos, mas está se dando de forma regular. Atenta-mos que enquanto não houver mais entulho devemos ficar atentos e con-tinuar exigindo sua retirada.

No final de dezembro de 2010, devido a uma situação emergencial – abalo na estrutura do prédio, fru-to da falta de manutenção do espaço –, a parte inutilizada do HUCFF foi demolida a fim de preservar a porção útil de nosso hospital. Embora reco-nheçamos o planejamento absurdo que isso representa, pulverizando toneladas de investimento público em poucos segundos, todos tínhamos o sentimento de que era uma ação inevitável e que traria muito mais benefícios que malefícios à comuni-dade universitária. A promessa da construção de um novo hospital, mais moderno, em menor escala, melhor preparado para o atendimento de alta complexidade, significaria não menos que uma oportunidade de re-ver e refazer o como pensamos saúde e que tipo de universidade estamos querendo construir.

Porém, pouco sabíamos. Duran-te o planejamento para a demolição do prédio, não foi incluído o inves-timento para a retirada do entulho

remanescente. Não bastasse isso, por muitos meses o entulho se manteve no mesmo local, sem que nenhuma solu-ção fosse apresentada à comunidade acadêmica. Em abril de 2011, recebe-mos a informação, através do site da universidade, que esta teria feito um acordo com a Cruz Vermelha para a retirada do material, e que isso se daria em menos de 6 meses. Estamos em agosto, passados mais de 5 meses, ninguém se prontificou a começar a retirada, o que nos leva a crer que ela não ocorrerá em breve.

Os problemas que o entulho gera ficam cada vez mais claros, há relatos de animais percorrendo o local e de focos de doenças infecciosas, que evidenciam a insalubridade presen-te – lembrando que estamos lidando com um hospital. Além disso, a pró-pria estrutura atrai pessoas que che-gam aos destroços com o objetivo de coletar material para revender, o que se soma às questões de segurança que persistem no campus do fundão.

No dia 19 de agosto o entulho

completará 8 meses de existência, dado esse contexto, temos uma per-gunta: Como podemos acreditar que, aqueles que devem prezar por educa-ção e saúde, vão nos oferecer um novo hospital de ensino, se o local destina-do à sua construção continua destru-ído, obstruído e somente causando problemas?

Então, como representantes dos alunos da UFRJ, o CACC, em con-junto com o DCE, decidiu dizer um basta. Um basta à negligência da reitoria e da prefeitura, que nos tra-ta – alunos, funcionários e usuários – como lixo, nos mantendo em meio ao entulho com um hospital em pés-simas condições para a assistência à saúde.

Portanto, exigimos da recém-eleita reitoria uma resposta, através de licitação ou doação pública, para esse problema: A necessidade da reti-rada imediata do entulho!

Centro Acadêmico Carlos Chagas (CACC)

Nota de indignação à Negligência da reitoria e da prefeitura da uFrJ

em relação ao entulho do HuCFF

parabéns entulho pelos 9 meses de vida!

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coluna culturalFIlMES

Taxi Driver (1976)

Quatro indicações ao Oscar.

Diretor: Martin Scorsese. Touro Indomável (1980), Gangues de Nova Iorque (2002), A ilha do Medo (2010).

Sinopse: Jovem taxista de Nova York que vê em suas mãos a possibilidade de atropelar toda sujeira, sexo e violência de sua cidade.

Porque assistir: Porque a música te seduz, porque ela repete toda hora no filme e faz você cantaro-lá-la por um bom tempo. Porque não é sempre que se vê Robert de Niro abusando da interpretação, abusando dos olhares, de cada fala, usando o personagem para te conduzir por toda uma Nova York. Porque não é sempre que se vê uma mente ir se deformando tão claramente num filme.

Repare: No olhar no taxista Travis que vai se transformando junto com sua mente.

Frase: “Está falando comigo? Está falando comigo? Está falando comigo? Então com quem diabos você está falando? Está falando de mim? Pois eu sou a única pes-soa aqui. Com quem você pensa que está falando?”

Bonequinha de Luxo (1961)

Dois Oscar: trilha sonora e música.

Diretor: Blake Edwards. Victor ou Vitória? (1982) e A pantera cor de rosa (1978).

Sinopse: Uma jovem socialite de Nova York se interessa por um rapaz que muda para o seu prédio.

Porque assistir: Porque a Holly te encanta, porque até o gato te cha-ma atenção, porque existe graça mesmo na loucura alheia, porque não é um filme de mulherzi-nha, porque vale muito a pena conhecer esse café da manha a la Tiffany.

Repare: Na sociedade americana em seu way of live ao som de Moon River.

Frase: “Faça um favor? Só me leve para casa quano eu estiver bêbada. Apenas quando eu esti-ver realmente bêbada.”

Os cinéfilos

Caros futuros colegas de profissão: gos-taria de vos apresentar nessa coluna um es-critor que considero essencial para o desen-volvimento da capacidade de observação da alma humana, atributo que tem especial im-portância no exercício da Arte da Medicina.

O escritor russo Fiódor Mikháilovitch Dostoievski (1821-1881) assusta e fascina lei-tores há mais de um século. Assusta os menos chegados a livros espessos pois os grandes ro-mances do escritor o são em duas acepções: grandiosos e com elevado número de pági-nas. Já em relação à fascinação, podemos pas-sar infinitas páginas dissertando a respeito.

Seu estilo chiaroscuro, definido como Realismo Psicológico (tal qual nosso titâni-co Machado de Assis) não se limita a escolas literárias. Sua literatura aborda o homem de seu tempo e trata de sua problemática social (Miséria material e moral, crime, prostitui-ção), ideológica (niilismo, ateísmo, suicídio), psicológica (sonhos, delírios, obsessão, lou-cura) e até patologias (tuberculose, epilepsia, febres). Quanto à questão das patologias, a tuberculose durante o século XIX na era pré-antibiótica era uma doença temida, letal e as-sustadoramente comum, e é descrita de forma precisa nas obras de Dostoievski. O escritor sofria de epilepsia, e retrata fielmente a do-ença em diversos personagens, como Smier-diakov (Os irmãos Karamazov), Michkin (O idiota), Múrin (A senhoria), Stavroguin (Os demônios).

A principal preocupação de Dostoievski é desnudar a psique de cada personagem que cria, mostrando seus conflitos existenciais e lutas interiores, coexistência de bondade e sordidez no mesmo ser, aniquilando perspec-tivas maniqueístas típicas do Romantismo, pintando o fantástico da realidade através de personagens humanos – demasiado huma-nos – a ponto de exercerem elevado poder catártico sobre o leitor.

Dostoievski já prenuncia elementos da psicanálise freudiana em praticamente todas as suas obras, principalmente em Niétotchka Niezvanova (prenúncio do Complexo Edi-piano e das teorias acerca da sexualidade in-fantil) e Memórias do subsolo (psicologia do inconsciente).

Para os que tiverem interesse na leitura do escritor, recomendo fortemente os livros da Editora 34, da Coleção Leste, que possuem as melhores traduções e notas de rodapé.

Carolina M. de Oliveira (M4)

Convidamos todos para o

CiNE-CACC!Toda Terça-Feira às 16h30

A programação se encontra no mural do CA do CCS!

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Quando eu me formar gostaria de prestar um concurso público, ter um bom salário, ter uma aposenta-doria integral e ter direito de falar e me organizar caso eu e meus co-legas estejam sendo prejudicados. Mas temo que este pequeno sonho, que meus pais por exemplo tive-ram o privilégio de vivenciar (ain-da que em parte), esteja gravemente ameaçado. - privilégio este fruto de muitas lutas ao longo de nossa his-tória (esses singelos direitos), e hoje são gastos aparentemente supérfluos no nosso país e no mundo.

Digo isso após procurar en-tender porque os técnico-adminis-trativos da UFRJ e de tantas outras universidades e serviços públicos estão se mobilizando e encontram-se há quase dois meses em greve. Para isso, discutimos no CACC a questão e pude acompanhar uma reunião do Comando Local de Greve e uma das Assembleias que votou pela manutenção da greve num momento delicado, o qual colocarei mais a frente. Além disso fui conversar com o técnico-admi-nistrativo Fábio Marinho, que vem construindo a luta na UFRJ junto com outros trabalhadores da nossa universidade. Ele me contou que a FASUBRA (Federação de Sindica-tos de Trabalhadores em Educação das Universidade Brasileiras) deci-diu pela greve no dia 06 de junho, e a UFRJ entrou no dia 14. Só que a greve não começou em junho, nem mesmo este ano. Fábio conta que a categoria negocia o reajuste salarial e correção nas distorções da carreira desde 2007, última gre-ve, mas que no entanto só garantiu um reajuste parcelado, ou seja, a perda salarial foi corrigida paulati-namente até 2010 e hoje o funcio-nalismo público encontra ainda vá-rios projetos de lei que prejudicam diretamente a carreira dos atuais servidores públicos e também dos

futuros, como nós. Ao perguntar da pauta de

reivindicações, Fábio aponta: “Há várias reivindicações que pra vocês fica difícil de entender pois são mui-to específicas (do próprio funcio-nalismo), mas as questões centrais pra vocês são o congelamento no investimento no serviço público (PL 549/09), a previdência complemen-tar (Pl 1992/07) e a demissão por “insuficiência” (PL 248/98), projetos que tramitam hoje em caráter de ur-gência no Congresso.” Ele me expli-ca cada uma delas.

O PL 549/09 está nos termos da Lei de Responsabilidade Fiscal e impede no âmbito de todo o fun-cionalismo público (dos três po-deres, nas três esferas do governo) qualquer aumento dos “gastos” por 10 anos (isso inclui obras, infra-estrutura, reformas e folha de pa-gamento). Nossas universidades estarão limitadas a um desenvolvi-mento cada vez mais precarizado e condições de trabalho muito pio-res. A abertura de concursos pú-blicos será impossível, assim como aumentos e até reajustes salariais. Isso significa, segundo Fábio, o congelamento dos salários e de qualquer reajuste salarial, ou seja, se a economia crescer o salário não cresce. E se o PIB tiver resultado negativo, os salários ficam compro-metidos.

Outra questão é a estabilidade do serviço público que será troca-da por cumprimento de metas de desempenho, um desempenho na lógica empresarial e que possibi-lita perseguições políticas, tanto no que tange ao próprio direito de organização dos trabalhadores quanto à autonomia dos mesmos no seu trabalho. Fábio avalia que os trabalhadores em greve hoje, se esta lei estivesse já em vigor, esta-riam com seus postos de trabalho abalados, visto que não estariam

“produzindo”.E aqueles que hoje não “pro-

duzem” mais, os aposentados, tam-bém estão com seu futuro em risco. A aposentadoria do funcionalismo passa à previdência privada a partir da Reforma da Previdência realiza-da em 2003, pelo governo Lula, e hoje no limitante PL 1992/07 que está pra ser aprovado. Cria mais desigualdade entre homens e mu-lheres, passando a considerar a aposentadoria por tempo de servi-ço (que é determinado pelo gêne-ro) fazendo com que as mulheres recebam uma aposentadoria me-nor que a dos homens. Além disso, retira a integralidade da aposenta-doria, comprometendo a vida dos/as aposentados/as.

Há ainda outro ponto impor-tante: Fábio coloca a questão da privatização dos Hospitais Univer-sitários com o PL 1749/11 (reedi-ção da MP 520, decreto aprovado por Lula no seu último dia de man-dato e que perdeu o prazo pra ser aprovado). A criação da empresa brasileira de serviços hospitalares (EBSERH), que ao lado de diversos outros projetos privatistas da saú-de, acaba com o sistema RJU (Re-gime Jurídico Único) transforman-do todos/as os/as trabalhadores/as dos hospitais universitários em ce-letistas (ou seja, sem estabilidade, sem autonomia, com previdência privada, etc etc etc).

Ao acompanhar as reuniões dos trabalhadores em greve surgi-ram ainda algumas questões. Na assembleia do dia 14 de junho, que estive presente, havia uma questão delicada pra resolver. O Coman-do Nacional de Greve (CNG) que reúne os sindicatos das universi-dades em greve havia tirado um indicativo de sair da greve. Mas na verdade isso não era um reflexo do movimento nas universidades. A direção de ainda grande parte dos sindicatos das universidades compõe a CUT (Central Única dos Trabalhadores), e esta Central tem hoje como principal estratégia de mobilização a negociação com o Governo. Negociação é uma coi-sa boa, e o movimento hoje vem lutando pra negociar com o go-

E a greve dos servidores?A bULA ENtrEVistA

Texto baseado em entrevista com Fábio Marinho, Funcionário da UFRJ e participante do Comando de Greve da Categoria.

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Introdução

O Programa de Educação Mé-dica (PEM) teve início em 2008, principalmente a partir da urgência apresentada pelo MEC de que todas as escolas médicas brasileiras pas-sem a ter 2 anos de internato, e não apenas 1 ano e meio como na UFRJ. Isso significa que os conteúdos antes ministrados em 4 anos e meio terão um semestre a menos, gerando uma dificuldade com a distribuição da carga horária. Nas primeiras reuni-ões que discutiriam o M1 já foi con-senso a necessidade de redimensio-nar e integrar os conteúdos, isso já trouxe alguma espectativa de trazer mudanças significativas em nosso currículo, que sabemos ter muitos problemas. Como todos sabem, a maior quantidade de superposições de conteúdos ocorre entre a biologia celular, a bioquímica e a biofísica.

Mudanças no M1 a Caminho

Embora tenha sido criado ba-sicamente para adequar o currículo ao aumento do internato, o Progra-ma de Educação Médica (PEM) tem potencial para encaminhar soluções para algumas de nossas demandas. O texto aponta alguns de seus avan-ços, entraves e perspectivas.

Conteúdos

Foi considerada necessária a contribuição de docentes da área clínica sobre os conteúdos essenciais e professores como Gil Salles, Ricar-do Amorim, Maria Lúcia Pimentel e Lúcia Azevedo, do departamento de clínica médica, se integraram. Houve apontamentos específicos de algumas disciplinas que podem ser-vir como experiência e exemplo. Em bioquímica foram identificados dois grupos de conteúdos: um bastante

articulado aos conteúdos de discipli-nas do básico e outro muito ligado a aspectos da clínica e que podem ser trabalhados no ciclo profissional. Sobre a anatomia, uma professora da ginecologia apontou quais con-teúdos normalmente precisam ser retomados na sua disciplina, no M9, porque os alunos em geral já esqueceram. Criaram-se propostas de inclusão, como a inserção pre-coce na atenção primária à saúde. Houve recentemente uma oficina que levantou questões orientadoras para os professores identificarem os conteúdos essenciais.

Formato

Surgiram duas propostas cen-trais: a do prof. Manoel, seria se-quencial e hierarquizada de acordo com a crescente complexidade da estrutura estudada; a do prof. Cris-tiano, semelhante aos Programas

verno e obter conquistas nas suas condições de trabalho. Mas o que há de mal nesses dirigentes então? Na Assembleia que participei ficou bem claro pra mim. Enquanto os trabalhadores em geral queriam se manter na greve, os dirigentes do Sintufrj tinham acabado de voltar da reunião do CNG e votado contra a decisão da maioria (que tinha de-cidido manter a greve na assembleia anterior) e queriam suspender mais uma vez naquela reunião que lotou o auditório Quinhentão com o argu-mento de que era preciso negociar com o governo. De fato, os trabalha-dores querem negociar, senão não fariam greve. Mas qual era e qual é a perspectiva de negociação com o governo? Pouca, muito pouca. O sindicato está na mesa de negocia-ção desde março, em que antes da entrada na greve já haviam ocorrido 4 reuniões de “negociação”. Mas em nenhuma delas nada foi apresenta-do ao movimento. Nem mesmo as pautas das “antigas” reivindicações de 2007. Por isso mesmo o movi-mento decidiu pela greve. E agora,

além de não negociar, o governo ainda mantem uma chantagem com os movimentos sociais em luta co-locando que não negocia com quem está em greve. Ameaça ainda que há um prazo, tentando agilizar a saída da greve, mesmo com mãos vazias. Este prazo estaria definido pela vo-tação no Congresso do orçamento de 2012, que será realizada no final do mês de agosto. A argumentação do governo é que não há verba para atender as reivindicações de todos os trabalhadores em greve. Mas a grande questão é a prioridade do governo. Enquanto se paga 49,15% do orçamento federal pra dívida pública (ou seja, pros banqueiros e empresários), 2,92 % é investido em educação e 3,53% em saúde. E o novo Plano Nacional de Educa-ção ainda prevê apenas 7% do PIB para a educação, como meta para só 2020, além de manter políticas de financiamento ao ensino privado (sustentando os grandes empresá-rios da educação) e um descaso com a população mais marginalizada, com metas de combate ao analfabe-

tismo e evasão escolar esdrúxulas. E o mais considerável disso tudo, é que 2/3 das metas do PNE de 2001-2010 sequer foram cumpridas, já se previa 7% do PIB, foram alcançados apenas 4%, e o governo ainda pro-mete a mesma meta para mais algu-mas gerações a nossa frente...

Hoje, se ficarmos de braços cruzados esperando a roda viva girar, minha melhor perspectiva é ter dois ou três empregos celetis-tas, com uma previdência privada e com minha liberdade limitada pela demissão imotivada. Caso os traba-lhadores não permaneçam na luta, como a greve que acontece na UFRJ e outras dezenas de universidades federais, nossas universidades esta-rão limitadas a um desenvolvimen-to cada vez mais precarizado e con-dições de trabalho muito piores. Por isso apoiamos a luta dos servidores e também nós não podemos nos furtar de lutar contra todas essas medidas que comprometem nosso futuro.

Isis Altgott (M10)

os desafios do pEM

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Curriculares Interdepartamentais (PCIs), com a abordagem em para-lelo dos conteúdos comuns das dis-ciplinas. Na tentativa de fundi-las, o prof. Manoel se comprometeu em organizar os conteúdos de bioquí-mica, biofísica e biologia molecular em uma sequência e o prof. Cristiano ficou de organizar os conteúdos de histologia, anatomia e embriologia a partir dos cinco processos celulares básicos presentes na morfogênese e esboçar um PCI.

Houve propostas menores: “áre-as verdes” - momentos para os alunos poderem se dedicar a atividades como estudo em grupo ou independente; espaço para atividades práticas e es-tudos dirigidos; discutir a avaliação (sem avanços); aulas teóricas para a turma toda e divisão para as demais atividades (já acontece em algumas disciplinas, como o PCI de urinário); pós-graduandos atuando como tuto-res/monitores nos grupos. A última proposta reforça a demanda de co-brarmos que todos os envolvidos nas atividades estejam cientes do projeto político-pedagógico, combatendo a fragmentação do conhecimento.

Algumas disciplinas se expuse-ram mais, como bioquímica e genéti-ca. O prof. Amílcar se comprometeu em remover as sobreposições do pro-grama de genética do M2 (ainda há sobreposição de genética com biofísi-ca) e afirmou que os conteúdos pode-rão se incorporar a bioquímica e bio-logia celular no M1. As atividades da bioquímica ainda são pouco diversas: raras atividades práticas (como o tra-balho com estrutura de proteínas no bloco 1) e uma bateria de aulas expo-sitivas e EDs. No entanto, os blocos 2, 3 e 4 vêm avançando na integração básico-clínico e foi criado no segundo semestre de 2010 um bloco de pales-tras que abordaram, em geral, temas relacionados com a clínica. Assim como as mudanças em genética, a iniciativa conquistou muito pouco o alunado. Achamos que, em parte, por concorrer com diversas atividades de fim de período. Sugeriu-se como for-ma de integração que professores do clínico coordenem a discussão de ca-sos clínicos em disciplinas do básico. Existem algumas iniciativas pontuais, mas ainda não há princípios comuns

norteadores dessa integração, que julgamos importantes para expandí-la a todas as disciplinas.

No dia 09/08, após mais de um ano de reuniões, foi apresentada uma proposta-síntese das discus-sões sobre o M1. Nas duas primeiras semanas letivas haverá aulas sobre “moléculas da vida”. O M1 terá três PCIs: da célula (bioquímica, biologia celular, biologia molecular, anatomia, histologia, embriologia e genética), hemolinfopoiético (bioquímica, his-tologia, imunologia e embriologia) e tegumentar (histologia, embriologia e bioquímica). Será acrescida a disci-plina Atenção Primária à Saúde. Foi apontado o norte de diversificar as atividades e estimular a busca ativa do conhecimento pelo aluno. Obser-vamos na proposta um esforço para romper fronteiras entre as áreas do conhecimento, mas lembramos que uma integração efetiva exige superar o caráter meramente paralelo das au-las dessas áreas. Nos PCIs que temos hoje, cada área tem suas aulas e inclu-sive suas provas próprias, com poucas iniciativas de transmissão e avaliação do conhecimento que nos preparem para a dura realidade: o paciente não é dividido em gavetinhas.

Pesquisa, Método Centífico e PINC

Foi manifestada em uma reu-nião do Programa de Educação Mé-dica (PEM) a preocupação que os alunos aprendam a trabalhar com método científico e utilizar bases de dados. Achamos que é preciso avan-çar nessa discussão. Como seria mais proveitoso para os alunos se, em to-dos os PINCs que participassem, lhes fosse garantido um panorama das li-nhas de pesquisa que seu laboratório desenvolve e um contato permanente com a totalidade da linha de pesquisa em que estivessem inseridos! É uma perspectiva um pouco mais traba-lhosa para alunos e bem mais para os professores, mas tem chances de se tornar realidade se contarmos com o apoio massivo daqueles que o CA representa. Entendemos que às vezes é mais cômodo fazer um PINC “frau-de”, ainda mais se houver a compen-sação através de uma bolsa, em meio a um currículo por vezes confuso,

desestimulante ou excessivamente exigente. Mas o quanto estamos des-perdiçando de oportunidade?

Além disso, o método cientí-fico com que temos (um precário) contato é aquele originado a partir do pensamento de Descartes, com a dúvida sistemática e decomposição do problema em pequenas partes. Ele representou um grande avanço em relação à produção de conheci-mentos prévia e ainda possui enorme validade nas ciências biológicas. No entanto, muito do conhecimento em saúde é transversal a várias áreas do conhecimento, inclusive das ciências humanas, que possuem outros méto-dos de formulação. É importante que essa discussão seja introduzida nos PINCs, sobretudo naqueles que não são da área básica (clínicos, de epide-miologia, de educação médica...).

Membros do CACC colocaram na reunião em que houve aponta-mentos sobre pesquisa a urgência de se atualizar a divulgação das oportu-nidades de PINC, que em sua maio-ria dependem da busca particular dos alunos e passam desapercebidos pela maioria. Foi lembrada a expe-riência dos mini-cursos de bioquí-mica no fim do período, em que são apresentadas as linhas de pesquisa. Os alunos, porém, apontaram que a concentração dos mini-cursos no fi-nal do período - momento em que há várias provas, seminários e afins - os tornaram pouco atrativos diante das várias outras responsabilidades.

Próximos Passos do PEM

Após uma focalização na M1, os docentes sentiram falta de algo que já vinha sendo apontado pela gestão do CACC em reuniões e em conversas particulares com professores: a falta de um projeto político-pedagógico (PPP) claro e condizente com o mo-mento em que vivemos. A partir de agora a prioridade será a discussão de exemplos de PPP escolas médicas do Brasil, de forma a embasar uma nova síntese, agora de maior peso para o currículo como um todo: o projeto político-pedagógico da FM-UFRJ.

André (M2) Ingrid Antunes (M9)

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1º Congresso da ANEL: o novopede passagem

Aconteceu na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, entre os dias 23 a 26 de junho o 1º Congresso da ANEL (Assembleia Nacional dos Estudantes – Livre). A ANEL foi fundada em 2009 e tinha como objetivo ser uma enti-dade alternativa à UNE, uma vez que esta esta que já foi tão impor-tante para o Brasil hoje só defende os interesses do governo e esquece dos estudantes. A ideia é construir um movimento estudantil diferen-te, que seja próximo de cada estu-dantes, onde haja democracia para que todos possam se expressar e que seja independente politica-financeiramente de governos e reitorias.

Durante 4 dias cerca de 1.700 estudantes de todo o Brasil discu-tiram de maneira muito viva quais os problemas que enfrentamos no dia-a-dia das salas de aula, quais as soluções para enfrentá-los e como o movimento estudantil deve se organizar para isso. Logo de cara dava pra perceber que os mesmos problemas se repetem em cada canto deste país. Falta de assis-tência estudantil (poucas bolsas, bandejões insuficientes, etc), bi-bliotecas defasadas, infraestrutura precária, Hospitais Universitários com poucos insumos, leitos vazios, ameaça de privatização, entre ou-tros problemas, evidenciaram que existe um problema crônico de fal-ta de verba para a educação. Muito também foi discutido sobre como os governos não tem feito nada para mudar essa situação. Durante todo o governo Lula, por exemplo, o investimento em educação ficou sempre em torno de 4,5% do PIB (bem diferente dos 7% prometidos durante a campanha eleitoral). No inicio deste ano, o governo Dilma cortou 3,1 bilhões de reais da pasta de educação. O número de jovens no ensino superior ainda é muito baixo (14,4%). Se mantivermos o

ritmo de crescimento da última década demoraremos 59 anos para chegar a 30% (que era a meta para 2010). Para podermos comparar, a Argentina tem 40% dos jovens no ensino superior, e a Bolívia 20,6%. Logo vemos que educação não tem sido prioridade de nenhum de nossos governantes.

Mas para além de apontar os problemas existentes, também foram pensadas ações para lutar por melhorias. Por isso foi tira-do no Congresso à realização de uma jornada de luta em defesa de 10% do PIB para a educação, que acontecerá entre os dias 17 a 24 de agosto, que terminará com uma grande marcha a Brasília, para fa-zer essa exigência diretamente ao governo. Também será iniciada uma campanha por mais verbas para a saúde pública e contra as ameaças de privatização que esta sofre hoje.

Outro ponto interessante do congresso foi chegarmos à conclu-são de que as lutas estudantis não estão isoladas da busca por outra forma de se pensar a sociedade, para que esta seja menos desigual e com amplas oportunidades a todos, e que assim torna-se ne-cessário apoiar as lutas dos traba-lhadores por melhores salários e condições de trabalho, sejam dos bombeiros do Rio de Janeiro ou os professores do ensino básico de todo o Brasil.

O Congresso também foi marcado por uma forte luta con-tra toda a forma de opressão. Ao contrário da propaganda oficial, o Brasil não é um país de todos, e o machismo, o racismo e a homo-fobia seguem se expressando com muita força, seja com as agressões que são cotidianamente realiza-das seja com salários mais baixos que recebem esses setores. Infeliz-mente isso também se reflete nas escolas e universidades, nos trotes,

nas chopadas, em “brincadeiras inofensivas” que acabam por criar um pano de fundo ideológico para a legitimação da violência e segre-gação. Por conta disso a ANEL se coloca na linha de frente no com-bate as opressões e dará uma bata-lha contra isso em cada local em que atua.

Por fim, aqueles que foram ao congresso puderam presenciar que ao contrário do que tentam nos dizer todos os dias o movimento estudantil não desapareceu. Ele segue e está se fortalecendo mui-to. Demos um passo importante na superação dos problemas que temos que se expressava bastante na ausência de uma entidade na-cional que defendesse as reivindi-cações dos estudantes, no entanto ainda temos muito o que fazer. Agora temos que garantir que as resoluções e campanhas tiradas no Congresso sejam colocadas em prática. Àqueles que querem man-ter as coisas como estão para que possam tirar proveito disso temos um recado a dar: saiam do nosso caminho, pois o novo pede passa-gem.

Gustavo Treistman (M10)

Cartaz/Adesivo da campanha do 1º Congresso da Anel 2011

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Estou condenado a um consultório?A pedido do jornal A Bula, fui

convidado a escrever sobre algu-mas opções alternativas ao lugar-comum do médico na sociedade. Durante a faculdade, escutamos ex-plicitamente ou implicitamente que vamos trabalhar em um cenário de hospital, clínica, consultório do pai, dando milhares de plantões e a vida de repente se passa inteiramente dentro de um prédio onde entra-mos pela manhã e saímos à noite, cansados e esperando tudo começar novamente.

Mas não é só isso. Não precisa ser só isso. O médico possui, e isso é algo que senti aqui em Nova Iorque como no Brasil, um respeito e ad-miração sem igual. Sua experiência é muito valorizada, sua voz levada acima de tantas outras na hora de importantes decisões. Mas para ilustrar meu ponto, permita-me contar um pouco da história que hoje me traz ao jornal dos estudan-tes de medicina.

Durante a faculdade inteira, nunca me encaixei muito bem nos estereótipos médicos, não dava mo-nitoria, resisti bravamente à força bitolante e biologizante do currícu-lo, nunca vi um episódio completo de House ou de outras séries médi-cas (chatíssimo, que me desculpem os fãs); preferia a companhia de li-bertinos literários, via filmes esqui-sitos, minha poesia fluía sem parar, ficava até as 20h fazendo “rounds

musicais” nas enfermarias com os pacientes escondido dos olhares de reprovação da galera do 9D. Isso me permitiu ter uma visão de mundo que se estendia além dos papéis re-ducionistas geralmente impostos, assim como levantar perguntas in-teressantes, como por exemplo por-quê não lemos Paulo Freire durante a nossa formação, mas aprendemos a constituição bioquímica dos cál-culos renais (Hidroxiapatita e etc)? Se você não acha isso estranho, caro leitor, ou se realmente concorda que é mais importante saber tal infor-mação do que discutir Paulo Freire, cuidado: você está no caminho para se tornar alguém extremamente de-sinteressante e incapaz de enxergar possibilidades além do lugar co-mum.

Em 9 meses de New York Uni-versity, escutei o nome de Paulo Freire dezenas de vezes e menção ao “Pedagogia do Oprimido” outras tantas... na UFRJ nenhuma, exceto

nos corredores do NUTES onde es-perança ainda resta!

Mas deixemos tal assunto para outras cartas; voltemos ao tema de interesse, qual mundo existe para o médico além do carimbo, e mais importante, além dos papéis espera-dos? Só para começar, o médico que tem idéias criativas para promover mudanças sistêmicas e sustentáveis, escaláveis e replicáveis pode entrar no mundo do Empreendedorismo

Social1, fundar uma companhia que trabalha com saúde, seja visando ao lucro como à uma visando so-cial – de preferência ambos, como é o caso das B-Corps, L3C’s e outras corporações com uma nova concep-ção de impacto social e financeiro, o médico pode escrever projetos que misturam arte e saúde, cinema e literatura, e tentar que tais projetos sejam implementados pelo Progra-ma de Saúde da Família no SUS. O médico pode trabalhar na fronteira dos direitos humanos ou com os Millenium Development Goals das Nações Unidas, como consultor ou advisor. Organização Mundial de Saúde, Organização Pan-America de Saúde, o medico pode tudo pois suas qualificações são muito deseja-das. Tudo vai depender da sua visão de mundo, quais são seus sonhos, se eles se estendem além de você ou se contentam com o famoso nascer crescer casar reproduzir e morrer.

Isso são só algumas possibilida-des que vão além do lugar-comum. Existem tantas outras possíveis, que fica até engraçado pensar que a medicina se reduz ao consultório, ao Samaritano ou a botar botox em gente rica. Saúde é um campo fasci-nante e amplo, pois os determinan-tes de saúde e doença são de mesma natureza, passando por decisões de estado, pela economia local e ma-cro, por educação, por informação e inclusão, por dignidade humana; besteira achar que saúde não possui raízes fortes no contexto social que nos circunda. Shakespeare escreveu que nós somos do tamanho dos nossos sonhos, e nessa perspectiva a pergunta se torna qual é o tamanho das suas aspirações. O que o médi-co pode fazer além do consultório? - mudar o mundo.

Alexandre Carvalho, M.D.

1 (ver Bill Drayton e seu Echoing Green http://www.echoinggreen.org ou mes-mo o Acumen Fund http://www.acu-menfund.org)

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Não sei quantos de vocês que estão lendo isso andam de trem no Rio de Janeiro. Mas aqueles que an-dam sabem que é uma experiência única.

Obviamente não é “única” no sentido de “uma vez só na vida in-teira”, e sim no sentido de “não exis-te nada igual”. Antes fosse, né.

Rapaz, andar de trem pode ter várias vantagens, eu até moro mui-to próximo a uma estação, pra mim é uma mão na roda, mas cacete, é uma coisa cheia de... peculiaridades. O trem não é só um transporte. Não não, senhores. Não é só uma coisa que te leva pra lugares em troca do preço da passagem. É uma feira am-bulante, é uma sauna sobre trilhos, é uma apurrinhação automóvel, é um pedacinho do subúrbio, que se mexe.

A alma do subúrbio carioca treme com a passagem do trem. E não é tremer de emoção não, é porque essa budega se treme toda mesmo. Ô trocinho bambo, parece um chocalho. Os vagões parecem caminhões de gado. Aliás, o povo que pega trem parece gado mesmo, com aquela expressão bovina de cansaço, se balançando junto com os milhões de metais desgraçados que fazem aquele barulho dos infer-nos. Não lembro a primeira vez que

tive o prazer de pegar um trem, mas imagino que o primeiro pensamen-to de todo mundo é de que aquilo vai desmontar. A segunda coisa em que se pensa é na família, nos filhos, nas coisas boas da vida, e em tudo mais que parece que você tá deixan-do pra trás quando entra no vagão. Tudo, eu disse TUDO num trem foi especialmente construído pra ba-lançar e fazer barulho.

Deixando de lado a parte es-trutural, o que há de mais interes-sante no trem é uma questão cultu-ral. Aliás, mais que cultural, o trem é quase um ecossistema, sei lá. Pe-gando trem com regularidade você reconhece várias coisas bem, “inte-ressantes”.

Bem, eu sempre pego o trem na parte da tarde, ali, na hora do rush. Pego o Japeri lotado, sem ar condicionado. Que tortura, cara. Chega a ser cômico. Eu gostaria de olhar pra minha expressão de der-rota nessas horas. Tá todo mundo suado, meio fedendo. Se você não sua, não tem problema, você pega o suor dos outros, porque a essa altura você é obrigado a estar tão grudado nas pessoas, que seus espermatozói-des (no meu caso, que sou homem) achariam o caminho sozinhos para uma fecundação feliz.

O mau humor no trem é tão

intenso que dá pra pegar no ar. Aquelas tias, meio gordas, sebentas, que ficam resmungando baixinho, só esperando a oportunidade de arranjar um barraco por qualquer coisa. Eu tenho medo.

Atualmente não pode mais, por lei, ter culto no trem. Mas an-tigamente era complicado. Não vou entrar nesse assunto.

Agora, o comércio. Aaaaah, o comércio. É lindo, faz inveja a qual-quer Wall Street. É ali que o capita-lismo selvagem acontece. É ali que a magia da economia tem lugar. É ali que cê pode conseguir um latão de Antártica, uma caneta-calendário, um isqueiro-lanterna ou um picolé Moleca de goiaba, leite condensado, limão ou maracujá. E o poder aqui-sitivo, hein? Rapaz, com R$ 1.00, sim, um simples real, você é rei. Dá pra comprar uns 3 amendoins, 2 pa-çocas, 23 balas Juquinha, uma esco-va de dente, um cinto, e um Super Bonder falso. Cara, eu ainda não sei o que não se vende no trem. Tem desde fantoche até chave de fenda, desde pomada-cura-tudo até ioiô. Tem tudo mesmo.

Agora completando, a essência do trem é que ele é a cara do subúr-bio. Sim, se tem um ramal da Su-pervia próximo de você, parabéns, você é suburbano, que legal. Aquilo cheira a malandragem suburbana. É a lei do mais esperto, sabe como é. Uma vez eu tava andando na esta-ção depois de desembarcar, só que eu tava andando muito perto do trem em movimento. Resultado? Tomei um tapão na cabeça de um desses caras pendurados na porta (sim, o trem tem gente pendurada na porta, a era do surfista de trem já passou). Eu realmente vacilei, até porque mesmo que eu tenha mora-do na Baixada Fluminense minha vida toda, eu sou lerdo. Mas eu ri na hora, levei na brincadeira, não doeu, e se eu estivesse de boné não teria sido um tapa, e sim um furto.

Porém, existem as coisas boas, o trem é relativamente rápido, não pega engarrafamento (apesar de atrasar às vezes), e tem o vagão do pagode, né.

Carlos (M8)

CoLUNA do ALUNo

supervia, superlegal

Trem da Supervia lotado: Créditos de http://emptyencore.wordpress.com/

Page 14: Jornal cacc pronto (revisado)

Jornal do CaCC - MediCina UFrJ

Segundo semestre de 2011

ano i - núMero 1

[email protected] http://www.medicinaufrj.com14

EspAço pArA pAssAtEMpos

André Dahmer, www.malvados.com.br

Carlos Latuff, latuff2.deviantart.com/

Cynthia B. (M12)

A C

1 B D

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3

E F

4 H

5 G 12

I

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9 13

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1. Hipertrofia da pele perianal, geralmente em resposta a processo inflamatório crônico.2. Cefalosporina de 1ª geração de uso parenteral.3. Efeito adverso comum nos ARVs.4. Lesão dermatológica inlfematória inespecífica.5. (?) Nigricans: alteração dermatológica associada a resistência insulínica.6. Vacina com microorganismos inativados que atua na imunização contra 3 difer-entes agentes.7. Osso da pelve.8. Ciclo das (?): via alternativa de oxidação da glicose 6-fosfato.9. Estreitamento.10. Hormônio secretado pelo tecido adiposo que atua na regulação da glicemia e no catabolismo de ácidos graxos.11. Tríade de (?): associada à hipertensão intra-craniana.12. Centro Acadêmico de Medicina da UFRJ.13. Vírus da Imunodeficiência Humana.

A. Leishmaniose visceral.B. Reflexo de (?): geralmente presente nos 1os anos de vida..C. (?) mediana: “linha média”.D. Um dos ossos do tarso.E. Evacuação de fezes em locais inapropriados (Ex.: roupa), freqëntemente associado em crianças à constipação.F. Sinal de irritação meníngea.G. Cirurgia de Thal- (?): tratamento cirúrgico da acalásia.H. Síndrome de hipersecreção hormonal que pode ser causa se síndrome de Túnel do carpo.

www.humortadela.com.br