Jornal A Família Católica, 23 edição, abril 2015
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ORGULHO OU PRECONCEITO?
Dom tomás de aquino
SANTOS E
FESTAS DO MÊS:
13– Nossa Senhora da Penha;
14– São Justino;
19– Domingo do Bom Pastor;
21– Santo Anselmo;
23– São Jorge;
25– São Marcos;
26– Nossa Senhora do Bom
Conselho;
27– São Pedro Canísio;
28– São Paulo da Cruz;
29– São Pedro de Verona;
30– Santa Catarina de Sena.
N E S T A
E D I Ç Ã O :
Orgulho ou
Preconceito? 1,2
Missão cumprida
Pe. Júlio Maria 2,3
O GREC, uma história
oculta, agora revelada
Parte 1 4,5
Abril/2015 Edição 23
A Família Católica C A P E L A N O S S A S E N H O R A D A S A L E G R I A S
A revista VEJA publicou uma matéria sobre as controvertidas cerimônias realizadas no
mosteiro da Santa Cruz (Nova Friburgo – RJ) entre as quais a de maior importância foi a
sagração episcopal de Mgr Jean-Michel Faure. Esta sagração feita por Mgr Richard Willi-
amson foi seguida da ordenação sacerdotal do Irmão André Zelaya de León, da Guate-
mala, monge de nosso mosteiro há mais de vinte anos. Ambas cerimônias foram apre-
sentadas como atos de rebelião. Aliás, o título do artigo é: “Rebelião no altar”, artigo
que se termina da seguinte maneira: “O francês Faure, cheio de orgulho, tem até apeli-
do para o racha: La Resistance”. Orgulho mesmo ou preconceito da revista? Eis a ques-
tão.
Orgulho se pode tomar em dois sentidos. Ou será o senso da dignidade de sua condi-
ção como quando um filho da Santa Igreja se declara, com justo orgulho, católico, apos-
tólico, romano. Ou será um vício, um pecado; pecado de rebelião contra Deus. O pecado
de Lúcifer.
Talvez o autor do artigo quisesse deixar ao leitor a escolha, já que o jornalista da VEJA
foi bastante cordial conosco, embora o tom geral do artigo indique de preferência o sen-
tido de revolta. Seja como for, a pergunta permanece: orgulho de Mgr Faure, de Mgr
Williamson e dos monges de Santa Cruz ou preconceito contra eles? A questão continua
não respondida.
Retrocedamos no tempo, pois assim fazendo encontraremos o fio de Ariane que nos
tirará do labirinto em que a crise atual da Igreja nos lançou, e nos fornecerá o necessá-
rio para responder à pergunta já feita. Retrocedamos até a Reforma protestante e ao
declínio do Cristianismo na Europa e no mundo. Declínio contra o qual lutaram vitoriosa-
mente, mas só por um tempo, o Concílio de Trento e os grandes santos da Contra-
Reforma. Duas forças se chocaram então e se chocam até hoje. Uma nova religião que
põe o homem no centro da civilização e combate a Igreja Católica antes de combater
Nosso Senhor Jesus Cristo em pessoa para terminar negando a existência de Deus, com
o marxismo, e mesmo corrompendo a eterna noção de Verdade com o Modernismo,
condenado por São Pio X.
Dois mundos, dois amores; o amor de Deus levado até o esquecimento de si, e o amor
de si mesmo levado até a negação de Deus. Dois mundos, duas forças, duas correntes
históricas que se opõem há mais de
cinco séculos. Qual das duas é movi-
da pelo orgulho? Eis mais do que uma
pista para encontrarmos a resposta à
nossa pergunta inicial.
Aprofundemos pois a pista já indica-
da e entremos na atualidade, ou me-
lhor, na história recente da Igreja.
Falemos de Vaticano II. Os Papas do
século XIX e do século XX até a morte
de Pio XII haviam condenado o Libera-
lismo Católico dos que queriam a uni-
ão da Igreja com os princípios da Re-
volução Francesa. Não só o Liberalis-
mo mas também o Modernismo, o
Neomodernismo, o Progressismo e
demais erros modernos haviam sido
devidamente condenados. A Igreja
Católica dizia e dirá sempre “não” a
estes erro.
Porém o velho sonho dos mais
cruéis inimigos da Igreja realizar-se-ia.
Um Concílio consagraria os teólogos
modernistas, liberais e progressistas.
Este Concílio foi o Concílio Vaticano II.
Mas dois Bispos permaneceram fiéis
e denunciaram este Concílio. Mas só
dois? Não é pouco demais? Para um
mundo que preza mais a quantidade
do que a Verdade, dois é igual a nada.
Mas em questão de doutrina não é o
número que conta, e as doutrinas
apregoadas pelo Vaticano II já haviam
sido condenadas por Gregório XVI, Pio
IX, Leão XIII, São Pio X, Bento XV, Pio
P á g i n a 2 A F a m í l i a C a t ó l i c a
Padre Júlio Maria era um amante de Nossa Senhora.
Podemos conhecer um pouco desse amor através de suas
obras sobre a mãe de Deus e por suas biografias. Sabe-
mos que, quando estava ainda no seminário preparando-
se para o sacerdócio, gravou com ferro em brasa os no-
mes “JESUS e MARIA” em seu peito, junto com alguns
seminaristas, e depois, escreveu com seu sangue a con-
sagração à Santíssima Virgem pelo método de São Luis
Maria G. de Montfort. Excessos que mostram um amor
que transborda. Vemos coisas parecidas na vida dos san-
tos.
Quem já conhece a vida de nosso padre sabe que ele
era famoso por seus livros, nós mesmo já dissemos isso
em um outro artigo. De fato, ele escreveu mais de cem
obras em português e francês abordando temas católicos,
eucarísticos, marianos, meditação, entre outros. Alguns
dos livros sobre Nossa Senhora, a meu ver os principais,
foram escritos antes de vir para o Brasil, outros logo após
chegar aqui, quando estava nas missões do Macapá-
Amazonas. Ou seja, foram escritos quando ainda era rela-
tivamente jovem. Ele mesmo relatou a seus seminaristas,
pouco antes de morrer, com seus 66 anos:
“Tinha sempre um papel e lápis na mão. No Amazonas,
quando viajava de barco, enquanto os outros fumavam e
conversavam, eu ficava num canto a rascunhar idéias
sobre a Virgem Santa. Nas costas de meu burrinho, de
viajar para as missões, eu escrevi várias páginas sobre a
Mãe de Deus. Graças a esse sacrifício me conservei fiel à
vocação religiosa, mesmo no meio de indígenas comple-
tamente nuas."1
Interessante notar, nesta fala do padre belga, a impor-
tância da oração mental ou meditação dos mistérios da
nossa santa Religião. Padre Júlio escrevia nos poucos
momentos que tinha livre aquilo que meditava o tempo
todo, e isso lhe deu forças contra as mais variadas tenta-
ções. As situações repletas de impureza que ele por vezes
tinha que passar, naquele Amazonas chamado então de
inferno verde, não são em substância muito diferentes
das de nossa época, onde a impureza está em toda parte.
Na verdade penso que a nossa época é pior. No mundo
moderno tudo converge para o pecado, mais do que indí-
genas nuas, temos a impureza em todo lugar e não só a
XI e Pio XII para citar apenas alguns da
longa série de Papas que dista de São
Pedro à Pio XII, os quais guardaram o
depósito da Fé que lhes havia sido con-
fiado por Deus Ele mesmo.
Mas o que isso tem que ver com a
sagração do 19 de março de 2015 em
Nova Friburgo? Isto tem tudo que ver
com essa sagração, já que Mgr William-
son foi ele mesmo sagrado por estes
dois bispos fiéis à Tradição bimilenar da
Igreja. Estes dois bispos são Mgr Marcel
Lefebvre e Mgr Antônio de Castro Ma-
yer.
Contudo, eles sagraram Mgr William-
son, assim como Mgr Fellay, Mgr Tissier
e Mgr de Galarreta, contra a vontade de
João Paulo II em junho de 1988? Sim, é
verdade. Logo eles são uns rebeldes e
uns orgulhosos? Não. A verdade não se
deixa encontrar tão facilmente assim.
Desobedecer ao Papa pode ser, em
casos extremos, um ato de virtude, en-
quanto que obedecê-lo pode ser, em
casos extremos, um pecado. “Quem faz
o mal porque lhe ordenaram, não faz
ato de obediência, mas de rebelião”, diz
São Bernardo.
A rebelião no altar não se deu em
Nova Friburgo, no dia 19 de março. Se
aprofundarmos a questão veremos que
a rebelião no altar se deu não em Fri-
burgo, mas em Roma desde o Concílio
até hoje.
Quem duvidar do que afirmamos, que
estude os livros que falam da crise
atual e lá verão que o próprio Cardeal
Ratzinger, futuro Bento XVI, afirma
que o Vaticano II foi um “contra-
Syllabus”, ou seja, que ele vai contra
o ensinamento do Magistério da Igre-
ja, contra uma doutrina já definida
pelos Papas anteriores.
Não! Mgr Faure não falou com orgu-
lho, ou melhor, falou com justo orgu-
lho de defender este Magistério infalí-
vel da Igreja contra os erros de Vatica-
no II. Mas como um Concílio pode
ensinar erros? Eis a grande pergunta.
Leiam pois as obras de Mgr Marcel
Lefebvre. Estudem, aprofundem-se na
Fé, pois o mal é grande e a abomina-
ção da desolação foi posta no lugar
santo. Portanto, a revolta no altar não
está no mosteiro da Santa Cruz. A
revolta no altar está – é triste repeti-lo
– no Vaticano.
Mas quem nos crerá? Orgulho nos-
so ou preconceito da VEJA? Só estu-
dando. Só rezando. Sem oração e
estudo ninguém poderá encontrar a
resposta. Ela está ao alcance de
quem a procura, mas antes de tudo é
preciso procurá-la. O que já dissemos
é o suficiente por ora. Agora, caro
leitor, lhe cabe a sua parte, caso de-
seje tirar a limpo se é orgulho nosso
ou preconceito da VEJA chamar-nos
de rebeldes. Bom trabalho.
Missão Cumprida!
i m p u r e z a ,
mas a excita-
ção de todos
os sete peca-
dos capitais,
fontes de
todo o mal.
Sem falar no infeliz catolicismo libe-
ral, que infestou a Igreja, que é a
conformidade com este mundo de
revolução. Já dizia um Dominicano
irlandês: Cidade grande, pecado
mortal.
E como sair ileso de tudo isso?
Padre Júlio nos dá a resposta. Ele
venceu o seu combate porque pen-
sava e meditava nos mistério da Reli-
gião; pensando se ama, e amando a
Verdade, amando a Santíssima Vir-
gem, a alma fica revestida de um
escudo contra todo o mal. “Pensar
em Nosso Senhor santifica” nos diz
Dom Columba Marmion. Os Católi-
cos devem pensar, meditar, ler e
estudar para conhecerem Nosso
Senhor e sua Santa Igreja, e assim
amá-los, e amando, detestar as
falácias desse mundo sem Deus.
São Luís de Montfort nos adverte:
“Praticamente quase ninguém estu-
da como se deveria, à semelhança
do apóstolo, esta eminente ciência
de Jesus: a mais nobre, a mais do-
ce, a mais útil e a mais necessária
entre todas as ciências e conheci-
mentos do céu e da terra.”2
Jean Vaquié (1911-1992), um
grande católico francês contra-
revolucionário, escreveu um artigo
intitulado “Reflexões sobre os nos-
sos inimigos” e nele podemos conhe-
cer alguns dos nossos inimigos, e
percebemos que não são poucos. De
fato, hoje os Católicos têm mais ini-
migos do que amigos, o problema é
que nós não enxergamos isso, ou
enxergamos muito pouco. Assim co-
mo na civilização Cristã tudo conver-
gia para Nosso Senhor Jesus Cristo e
sua Igreja, para a ordem e a paz, no
mundo moderno tudo se arrasta pa-
ra a revolução, para o pecado, levan-
do à perdição das almas e ao caos
nas sociedades. Nosso Senhor está
totalmente excluído da nossa época.
É preciso uma resposta por parte
dos católicos à altura do grande dra-
ma que vivemos, da guerra atual. O
problema, insisto, é que os católicos
ainda não entenderam isso. Padre
Júlio conhecia os seus inimigos, que
na época eram, principalmente, os
maçons e protestantes, e combatia
os seus erros. Hoje esses continuam
e podemos acrescentar vários outros.
Ele tinha consciência que estava em
guerra e que não podia compactuar
com os inimigos. O apostolado da Ver-
dade era o melhor apostolado do pa-
dre Júlio, denunciava o erro e acolhia
os arrependidos, e é isso que deve-
mos fazer também nós, cada qual
segundo suas possibilidades.
Desses rascunhos que nosso padre
missionário escrevia às pressas, nas
costas de seu burrinho ou quando
viajava de barco, saíram obras como:
Porque amo Maria; O segredo da ver-
dadeira devoção para com a Santíssi-
ma Virgem; Maria e a Eucaristia; A
mulher bendita diante dos ataques
protestantes; Princípios da vida de
intimidade com Maria Santíssima;
entre outros. Não precisamos escrever
grandes obras como o padre Júlio,
mas precisamos ter uma boa forma-
ção, uma vida sólida de oração, fre-
quentar os sacramentos, meditar nos
mistérios da nossa religião e conhecer
os nossos inimigos. Temos muitos
inimigos neste mundo atual, mas es-
tamos com a Verdade do nosso lado e
com os santos e papas de todas as
épocas. Temos também o nosso missi-
onário belga.
Devemos então lutar, essa é a nossa
única opção se quisermos sair vence-
dores desse combate contra o mundo
moderno. O padre Júlio tinha tanta
visão deste combate, que chegou a
fundar uma editora com o nome “O
Lutador”. Como nos ensina o grande
Donoso Cortes: “Não me digas que
não queres combater; porque no exa-
to momento em que o dizes, já estás a
combater. Nem digas que ignoras a
que lado deves inclinar-te; porque no
mesmo instante em que o dizes, já
escolheste um. Não afirmes que
queres ser neutro; porque, quando
pensas sê-lo, já não o és. Nem me
assegures que permanecerás indife-
rente; porque escarnecerei de ti,
dado que, ao pronunciares tal frase,
já tomaste partido . Não te canses
em procurar asilo seguro contra os
açoites da guerra, porque cansar-te-
ás inutilmente. Esta guerra dilata-se
tanto quanto o espaço e prolonga-se
tanto como o tempo. Somente na
Eternidade, Pátria dos justos, pode-
rás encontrar descanso; porque só lá
não haverá combate. Não presu-
mas, advirto-te, que se abrirão para
ti as portas da Eternidade feliz, se
não mostrares primeiro as cicatrizes
que trazes do combate; porque
aquelas portas não se abrem a não
ser para aqueles que combateram
aqui os combates do Senhor glorio-
samente, e para os que vão, tal co-
mo Cristo, ser nesta vida já crucifi-
cados.” 3
Se quisermos ganhar o céu, se
quisermos ser felizes nesta e na
outra vida, se quisermos fazer valer
o nosso batismo e não cair no infer-
no, e principalmente, se quisermos
trabalhar pela maior honra e glória
de Nosso Senhor, não temos opção,
devemos lutar. São Pio X em uma
alocução à famosa Ação Católica,
recomenda que tudo esteja ordena-
do em três princípios: Piedade, Estu-
do e Ação.4 Tudo está encerrado
nestas três palavras, esse deve ser o
lema da nossa vida. Era o que o pa-
dre Júlio fazia. Combateu heroica-
mente e venceu, ganhou o céu. An-
tes de morrer, quando estava agoni-
zando, pôde dizer com toda confian-
ça: “Ah minha Nossa Senhora do
Carmo... Missão cumprida!”5
Possamos nós também ao fim da
vida dizer tal frase.
***
1- Nos passos do missionário, Ivan F.
Cavalieri.
2- O amor da sabedoria eterna, São Luís
Maria Grignion de Montfort.
3- Ensaio sobre o Catolicismo, o Libera-
lismo e o Socialismo, Juan Donoso Cor-
tés.
4- Atas de Magistério, Mons. Lefebvre
citando São Pio X em uma alocução de
25 de setembro de 1904.
5- Missão cumprida, padre Demerval A.
Botelho, SDN.
A F a m í l i a C a t ó l i c a E d i ç ã o 2 3
Em dezembro de 2011, o Pe. Michel Le-
long, membro da Sociedade dos Padres
Brancos, publicou nas Novas Edições Lati-
nas uma obra intitulada Pela necessária
reconciliação, com prefácio de Dom Éric de
Lesquen OSB, sacerdote emérito de Randol
(fundação do mosteiro de Fontgombault).
“Este livro de 159 páginas relata os tra-
balhos do Grupo de Reflexão entre Católi-
cos (GREC), de 1998 a 2010, que fazem
doze anos de encontros “discretos, mas
não secretos” (p. 29), algumas vezes men-
sais, entre os representantes da hierarquia
oficial, dos responsáveis dos institutos Ec-
clesia Dei, e dos membros da Fraternidade
São Pio X. A finalidade: “falar sem se enojar
das coisas que nos enojam [i]” para favore-
cer a “necessária reconciliação”. Sem dúvi-
da que se tem que precisar o que os res-
ponsáveis do GREC entendem por esta
expressão.”
A origem do GREC: o sonho de um embaixa-
dor
O GREC encontra sua origem em uma
nota redatada em 1995, uns meses antes
de sua morte, pelo senhor Gilbert Pérol,
antigo embaixador da França frente ao
governo italiano. Ele teve a ocasião de se
encontrar com Monsenhor Lefebvre em
Roma e, quando estava em Paris, gostava
Dominicanos de Avrillé: O Grec (Grupo de Reflexão entre
Católicos), uma história oculta, agora revelada – parte I
Pelo irmão Marie-Dominique O.P.
Le Sel de la Terre Nº 90, pg. 142-158
de ir à missa de São Nicolau de Chardonnet
todos os domingos com sua esposa (p. 90).
Mas, deixemos a palavra à senhora Pérol:
“Como bom diplomático (meu marido) reda-
tou o que se chama um texto de “bons
ofícios”, onde se apresenta o ponto de vista
de uns e de outros, buscando os pontos
“em comum”, e que convidava cada um a
dar um primeiro passo até o outro. É a par-
tir deste texto que nasceu o GREC, uma
maneira de continuar a fazer viver meu
marido “ (p. 90).
Logo após os diversos encontros relata-
dos na obra do Pe. Lelong (p. 21-25), se
constituiu um primeiro grupo de trabalho no
ano de 1998, que desembocou na organi-
zação de conferências-debates sobre os
pontos controvertidos atualmente na Igreja.
Os participantes: uma gama muito variada Além da senhora Pérol, do Pe. de La Bro-se O.P., do Pe. Lorans (FSSPX) e do Pe. Lelong, os principais animadores do GREC foram, desde os primeiros anos de sua
existência: - O Pe. Barthe, “que tem muitas relações na Santa Sé e na igreja da França, e nos aju-dou muito” [ii]: - O Pe. Vincent Ribeton, superior do Distrito da França da Fraternidade São Pedro, “que deu uma preciosa contribuição por sua presença nas reuniões, tanto por suas in-
tervenções como por seus escritos” (p. 40); - Pe. Hervé Hygonnet (FSSP); - Leigos como Paul Airiau, Jacques-Régis du Cray, Luc Perrin, Philippe Pichot-Bravard,
Jean Maurice Verdier. - Srta. Marie-Alix Doutrebente foi nomeada secretária.
Agreguemos, para completar a lista dos
principais responsáveis que, em 18 de
setembro de 2004, foi criado, no seio do
GREC, um “grupo teológico” do qual partici-
pava o Pe. Charles Morerod O.P., professor
do Angelicum de Roma (p. 57). Este religio-
so “será uma das pessoas escolhidas por
Bento XVI para participar das conversações
doutrinais entre a Santa Sé e a FSSPX” (p.
48). O Pe. Morerod tem toda a confiança da
Roma atual, pois foi consagrado bispo pou-
co tempo depois. Em todo caso, o vínculo
entre o GREC e as conversações romanas
de 2010-2011 está muito claro.
Nas reuniões do GREC participaram bis-
pos da França, sacerdotes e leigos perten-
centes à diocese de Paris e à diocese de
província, membros da FSSPX, da FSSP, do
Instituto Cristo Rei (p. 27).
Apoiaram esta iniciativa desde seu início,
o Pe. du Chalard (FSSPX), cujo “apoio foi
tão discreto quanto atento” (p. 26); e Dom
Éric de Lesquen (então Pe. de Randol), “do
qual sabemos o papel que desempenhou
O GREC: Jacques Régis du Cray (fiel da FSSPX), P. Lorans FSSPX, Sra. Pérol, P. Lelong, P. Barthe, P. Du Chalard FSSPX, P.
Célier FSSPX, Mons. Charles Morerod, Marie-Alix Doutrebente (fiel da FSSPX), P. Ribeton FSSP, P. Hygonnet FSSP, Luc Perrin.
Retirado de Non Possumus
Tradução: Capela Nossa Senhora das Alegrias
Nota da “Família Católica”: na última edição de nosso jornal publicamos uma entrevista com Mons. Faure e nela, ao falar sobre a
mudança de atitude que ocorreu na FSSPX em relação a Roma, monsenhor diz que os contatos do GREC foram “passos significati-
vos no sentido da reconciliação”. Achamos por bem publicar este excelente artigo dos dominicanos, que está dividido em 3 partes,
que esclarece sobre o que é este grupo, seus objetivos e o que pretende. As demais partes serão publicadas nas próximas edições.
com Dom Gérard durante sua aproximação
de 8 de julho de 1988 com Roma. [iii]
Na nunciatura, o acolhimento reservado
por Mons. Fortunato Baldelli foi caloroso. O
mesmo com seu sucessor, Mons. Luigi
Ventura (p. 29-32).
A Conferência episcopal da França foi
informada. Depois de uma visita da senho-
ra Pérol, do Pe. Lorans e do Pe. de la Bros-
se ao cardeal Ricard, um bispo foi designa-
do, por seu pedido, para seguir os traba-
lhos do GREC e informar sobre eles à Con-
ferência episcopal: foi Mons. Breton, bispo
de Aire y Dax. Quando Mons. Vingt-Trois,
arcebispo de Paris, sucedeu ao cardeal
Ricard, o mesmo grupo o visitou, prometen-
do-lhe manter informado regularmente (p.
35).
Entre os outros cardeais e bispos da Fran-
ça que apoiaram o GREC, citamos: o carde-
al Barbarin, arcebispo de Lyon; Mons. Du-
val, arcebispo de Rouen; Mons. Aubertin,
bispo de Chartres; Mons. Fort (Orléans) que
ia frequentemente às reuniões; Mons. Del-
mas (Angers); Mons. Aubry (La Réunion);
Mons. Rey (Toulon); os padres Brouwet e
Aillet antes e depois de sua consagracão
episcopal (p. 41).
A finalidade do GREC: um perigoso equívo-
co
Qual é a finalidade destas reuniões?
Se se tratasse somente de manter estas
conversações para tratar de fazer compre-
enderem as autoridades da Igreja conciliar
sobre a necessidade de retornar à Tradição
para salvar as almas e o espírito católico,
quer dizer, missionário, não poderíamos
mais que nos alegrar.
Desgraçadamente, desde o princípio o
GREC se comprometeu em uma via que
não pode ser mais equivocada.
No prefácio da obra, com efeito, Dom de
Lesquen deseja que a ação empreendida
“obtenha precisamente que o ato qualifica-
do de cismático pela Santa Sé em 1988
não se torne um cisma comprovado” (p. 12-
13). Acrescenta: “o objetivo do GREC é a
necessária reconciliação” (p. 15).
De que reconciliação se trata?
Para um católico, é clara: que a Santa Sé
se reconcilie com os ensinamentos dos
papas e dos concílios anteriores ao Vatica-
no II. Esta reconciliação é necessária, pois
é o único meio de salvar a Igreja e o mun-
do.
Em 20 de outubro de 2008, longe de
suplicar ao Papa Bento XVI para que aceite
culpar o Vaticano II, os responsáveis do
GREC lhe enviaram uma carta muito ambí-
gua dando a entender que era a FSSPX
quem estava em uma situação anormal.
Agradecendo ao papa pelo motu próprio
de 2007 sobre a missa tradicional [iv] e
solicitando o levantamento das
“excomunhões” de 1998, eles concluíram
assim:
Esperando que isto seja para a Fraterni-
dade São Pio X a ocasião de regularizar
sua situação canônica e de poder mani-
festar assim sua vontade de recuperar a
plena comunhão com o Santo Padre (p.
52).
O equívoco se define assim: uma frase
(ou uma palavra) que tem dois significa-
dos diferentes [v]. Aqui temos um perfeito
exemplo:
- Visto do lado das autoridades oficiais, a
carta ao Papa faz compreender que a
finalidade última dos trabalhos do GREC é
a de fazer entrar a FSSPX no seio da igre-
ja atual: se compreende o acolhimento
geralmente favorável que esta iniciativa
encontrou nestas mesmas autoridades.
- Vista do lado tradicionalista, uma inter-
pretação benévola – mas superficial – faz
compreender outra coisa: a carta ao papa
significa que a finalidade do GREC é refa-
zer a unidade na Igreja, encontrar final-
mente a união com a Santa Sé, sair desta
situação trágica e tão dolorosa que con-
siste em estar em oposição ao chefe da
Igreja.
A teologia moral agrega que “o equívoco
que oculta a verdade não pode ser em-
pregado mais que em caso de necessida-
de ou por uma causa razoável” [vi]. Veja-
mos bem, se há um momento em que a
ocultação da verdade é ilícita e perigosa é
quando a fé está em jogo. Como utilizar
um equívoco fazendo crer as autoridades
que se deseja entrar em plena comunhão
com elas, quando elas mesmas se obsti-
nam em uma via que conduz à apostasia?
Os representantes oficiosos da Tradição
que firmaram esta carta junto aos outros
membros do GREC se esqueceram das
advertências de Mons. Lefebvre?
Roma perdeu a fé. Roma está na apos-
tasia. [...] Não podemos ter confiança
nesta gente. Eles se separaram da Igreja,
eles se separaram da Igreja. Certamente,
certamente, certamente. [vii]
Quando nos perguntam quando haverá
um acordo com Roma, minha resposta é
simples: Quando Roma voltar a coroar
Nosso Senhor Jesus Cristo! Não podemos
estar de acordo com aqueles que destro-
naram Nosso Senhor. O dia em que eles
reconhecerem novamente Nosso Senhor
como rei dos povos e das nações, não
será a nós que eles se unirão, mas à Igre-
ja Católica à qual nós permanecemos.
[viii]
Então, a questão canônica estará ime-
diatamente resolvida.
Certamente, o GREC tinha consciência
dos limites de sua ação:
O GREC jamais teve como vocação parti-
cipar de nenhuma negociação. Sua ra-
zão de ser é muito mais humilde: se es-
força por criar, por meio de encontros e
discussões regulares, um clima de bene-
volência mútua, condição prévia e indis-
pensável para uma aproximação e uma
reconciliação cujas modalidades e o
calendário nos escapam. [ix]
Notas: i A expressão é de Pe. de La Brosse O.P.,
prior do convento da Anunciação em
Paris, “que encontrou esta feliz fórmula
para definir nossa ação”, disse o Pe.
Lelong (pág. 56). ii Pe. Lelong, entrevista sobre o GREC na
Rádio Courtoisie, quinta-feira, 19 de abril
de 2012. iii Entrevista com o Pe. Aulagnier (p.
104). iv As desventuras dos Franciscanos da
Imaculada, que foram proibidos de cele-
brar a missa tradicional, contra a letra
mesma deste famoso motu próprio, de-
veriam moderar o entusiasmo. Estes
acontecimentos mostram o que valem os
“favores” acordados por aqueles que
Mons. Levebvre chamava de “assassinos
da fé” (Carta ao padre prior de Avrillé de
7 de janeiro de 1991, publicada no Le
Sel de la Terre n° 0, p. 4). v Aequivocatio est verbum quod significat
duas res diversas, diz o Pe. Prümmer
O.P. (Manuale Theologiae Mora-
lis Friburgi Brisg., Herder, 1961, tomo 2,
n° 171). vi Aequivocatio est occultatio veritatis in
necessitate vel ex rationabili causa (P.
Plummer O.P. Manuale Theologiae Mora-
lis, ibid. N° 172) vii Mons. Lefebvre, Conferência aos sa-
cerdotes em Ecône pelo retiro sacerdo-
tal, 1° de setembro de 1987. Monsenhor
Lefebvre dizia isto comentando a entre-
vista que teve em 14 de julho de 1987…
con o cardeal Ratzinger viii Mons. Lefebvre, Conferência aos semi-
naristas de Flavigny, dezembro de 1988. ix Entrevista com M. Philippe Pichot Bra-
vard (p. 144).
Edição:
Capela Nossa Senhora das Alegrias - Vitória, ES.
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