John Knox — O púlpito que ganhou a Escócia

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A Fé Reformada abraça a fé total dos crentes, toda a fé protestante. Isso significa que a Fé Reformada é ampla. Inclui todas as verdades que a igreja cristã tem tirado da Palavra de Deus. Um Reformado confessional deseja e busca se identificar com a teologia total das Escrituras. Esta mensagem bíblica expressa na fé Reformada foi o que os grandes pregadores do passado pregaram; que Calvino, John Knox e os puritanos pregaram e ensinaram. Que este número possa estimulá-lo a não apenas confessar a fé reformada, mas vivenciá-la através de um viver santo. Devemos muito à Reforma, somos herdeiros dela, mas acima de tudo somos devedores do gracioso Cordeiro de Deus que por nós padeceu e morreu.

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Bíblia parava, Calvino parava’. É esta a característi-ca principal do Calvinismo: toda a Bíblia. Por isso o Calvinismo é uma ofensa aos seus críticos. B. B. Warfiel estava se referindo a natureza positiva do Calvinismo; a natureza profunda e firme do Calvi-nismo irrita os críticos. Eles rejeitam o fato de o Cal-vinismo afirmar que ‘isto é a verdade’. Calvino dizia: ‘A Bíblia diz assim e nada mais!’. Isso, de fato irrita. Os críticos não percebem que Calvino falava dessa forma porque ele apresentava a doutrina reformada como sendo a doutrina bíblica em sua essência e não como a sua própria doutrina. As pessoas estão mais abertas para ouvir outros pregadores não cal-vinistas porque a natureza humana é pecaminosa e está sempre aberta para aquilo que não é bíblico. Infelizmente isto existe até entre os próprios pres-biterianos”.A Fé Reformada abraça a fé total dos crentes, toda

a fé protestante. Isso significa que a Fé Reformada é ampla. Inclui todas as verdades que a igreja cristã tem tirado da Palavra de Deus. Um Reformado con-fessional deseja e busca se identificar com a teolo-gia total das Escrituras.Esta mensagem bíblica expressa na fé Reformada

foi o que os grandes pregadores do passado prega-ram; que Calvino, John Knox e os puritanos prega-ram e ensinaram. Que este número possa estimulá-lo a não apenas confessar a fé reformada, mas vi-venciá-la através de um viver santo. Devemos muito à Re-forma, somos herdeiros dela, mas acima de tudo somos de-vedores do gracioso Cordeiro de Deus que por nós padeceu e morreu.Neste ano comemoramos

os 500 anos do nascimento do reformador João Calvino (10 de julho de 1509), mas este número trata de um de seus contemporâneos e que recebeu sua forte influência: John Knox, o Pai do Presbite-rianismo. O próximo número destacará João Calvino ‒ O Estudante da Palavra.

Boa leitura!

REVISTA OS PURITANOSAno XVI - Número 4 - 2008

EditorManoel [email protected] EditorialJosafá Vasconcelos e Manoel CanutoRevisoresManoel Canuto; Linda Oliveira;TradutoresLinda Oliveira; Marcos Vasconcelos, Márcio Dória, Josafá VasconcelosProjeto Gráfico e CapaHeraldo F. de AlmeidaImpressãoFacioli Gráfica e Editora Ltda.Fone: 11- 6957-5111São Paulo-SPOS PURITANOS é uma publicação trimestral da CLIRE — Centro de Literatura ReformadaR. das Pernambucanas, 30 - Sala 10 Graças Recife-PE - CEP 52011-010 Fone/Fax: (81) 3223-3642E-mail: [email protected] CLIRE: Ademir Silva, Adriano Gama, Waldemir Magalhães.

Nós reformados defendemos a fé bíblica, a fé Re-formada. Um dos pontos fortes do verdadeiro presbiterianismo é que, todos que um dia co-

nheceram Jesus Cristo como Senhor e Redentor só serão recebidos na igreja quando professarem a sua fé em Cristo e a Bíblia como única regra de fé e prá-tica. Os pastores e oficiais das igrejas presbiterianas, quando são ordenados, fazem votos e juramentos de que aceitam a Fé reformada; juram subscrever a Confissão de Fé de Westminster e os Catecismos que declaram Jesus como Filho de Deus, segunda pessoa da Trindade; que veio ao mundo para morrer pelos eleitos do Pai, tornando-se a propiciação pelos seus pecados e reconciliando-os com Deus. Os membros são ensinados nos pontos da Fé Re-

formada, e que no mínimo façam o que fizeram os crentes da igreja primitiva descrita em Atos 2:42 “perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações”. Mas aprendem algo maravilhoso sobre o propósito de viver: “Glorificar a Deus e gozá-lo para sempre”!A Fé Reformada defende a grande comissão que

Jesus Cristo deu à Sua Igreja e que enfatiza:1. Ir e pregar o evangelho ao mundo inteiro a oferta livre do Evangelho2. Ensinar tudo o que Ele nos ordenou em Sua

Palavra. Então, a responsabilidade da Igreja é de instruir

as pessoas na fé bíblica. Temos sempre de mencio-nar esta Fé Reformada que é conhecida também como Calvinismo. B. B. Warfield, o grande teólogo de Princeton,

dizia que Calvinismo é “o cristianismo chegando à maturidade”. Quando falamos de Calvinismo e teo-logia Reformada estamos, sem dúvida, falando do verdadeiro cristianismo, da fé cristã redescoberta na Reforma Protestante do século XVI. Certa vez perguntei ao amável Dr. Morton Smith,

professor de Teologia no Seminário Presbiteriano de Greenville-SC, porque pastores reformados são impedidos de pregarem nos púlpitos, até de igrejas históricas, quando estas igrejas ficam sabendo que eles são calvinistas de fortes convicções. Ele respon-deu: “Acho que é por causa da própria natureza do cal-vinismo: ‘o cristianismo bíblico em sua maturidade’, como disse B. B. Warfield. Warfield disse de Calvino: ‘Até onde a Bíblia o levava, Calvino a seguia; onde a

Confessar e Viver a Fé Reformada Manoel Canuto

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Preparação para a Reforma na Escócia

Por T. M. Lindsay

Escócia, longe do centro da vida européia no século dezesseis, re-cebeu, apesar disso, a Reforma quase tão cedo como a maioria

dos outros países, e aceitou-a mais com-pletamente do que eles.

A região tinha sido preparada para esta Reforma mediante a educação do povo, mediante o constante comércio entre a Escócia e as nações continentais, especialmente a França e a Alemanha, e mediante a simpatia dos estudantes escoceses para com os primeiros mo-vimentos religiosos na Inglaterra e na Boêmia; e por outro lado a condição da Igreja romana, a pobreza das classes aris-tocráticas e a situação política do país coadjuvaram em certa escala os esforços daqueles que anelavam por uma refor-ma religiosa na Escócia.

A Escócia e o Lolardismo1 O contacto acadêmico aproximou muito a Escócia dos grandes movimentos inte-lectuais da Europa. No período em que os estudantes escoceses iam em grande número para Oxford, John Wycliffe exer-cia o professorado, e o lolardismo triun-fava na grande universidade inglesa. Os estudantes escoceses voltavam contami-nados com as máximas constitucionais e as aspirações religiosas dos grandes homens de Inglaterra, e o lolardismo propagou-se na Escócia. Depois das Uni-versidades de Aberdeen, Glasgow e St.o André terem sido fundadas, no século quinze, os velhos arquivos dizem-nos

que as autoridades eclesiásticas efetua-ram inspeções com o fim de expurgar o corpo docente dos erros dos lolardos. Em seu devido tempo, o lolardismo passou das universidades para o público, e os primeiros cronistas da Reforma nunca deixam de se referir aos lolardos, ou ho-mens bíblicos de Kent, e à entrevista que tiveram com Tiago IV.

Havia estudantes escoceses em Paris quando Pedro Dubois, Marsílio de Pá-dua e Guilherme de Ockham ensinavam publicamente que a igreja é o povo de Cristo e que pode existir uma igreja sem papa e sem padres.

A Escócia e John HussA Boêmia e os atos de John Huss neste país eram bem conhecidos na Escócia. Calderwood fala-nos de Paulo Craw, bo-êmio que foi convencido de heresia às instâncias de Henrique Wardlaw, bispo de Stº André, perante sete doutores em teologia, por divulgar as doutrinas de John Huss e de John Wycliffe, “negando que houvesse qualquer modificação da substância do pão e do vinho na Ceia do Senhor, e reprovando a confissão auricu-lar e as orações aos santos defuntos”. Foi condenado à fogueira, e no momento da execução “meteram-lhe uma bola de co-bre na boca para que o povo não ouvisse o seu justo protesto contra a injusta sen-tença deles”.

Recentes investigações arqueológicas têm tornado evidente uma mais íntima conexão entre a Escócia e a Boêmia do que até então se suspeitava.

“O tempo está cumprido, e é chegado o reino de Deus. Arrependei-vos, e crede no evangelho. ” (Mc 1:15).

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A Igreja Romana e a Situação PolíticaA Igreja romana na Escócia era muito rica, e era talvez mais corrupta do que em qualquer outra parte fora da Itália. A herança que lhe foi legada pela Igre-ja celta não era toda boa; os satíricos tinham começado a chamar a atenção para o contraste entre as profissões (o que se professava ‒ NE) e as vidas dos eclesiásticos, e os seus livros pro-duziam grande impressão no povo simples. “Quanto aos modos mais particulares por que muita gente na Escócia adquiriu algum conhecimen-to da verdade de Deus na época das grandes trevas”, diz John Row, “ha-via alguns livros” tais como Sir Dávid Lindsay, e as suas poesias acerca das Quatro Monarquias, que trata tam-bém de muitos outros pontos, e ex-põe os abusos do clero daquele tem-po; os Psalmos de Wedderburn e as Baladas de Godlie, em que se alteram para fins piedosos muitos dos antigos cânticos papistas: e uma Queixa feita pelos estropiados, cegos e pobres da Inglaterra contra os prelados, padres, freiras e outras individualidades da igreja que dispendiam prodigamente todos os dízimos e outros rendimen-tos eclesiásticos em prazeres ilícitos, de modo que eles, os queixosos, não podiam adquirir alimentação nem alí-vio, como Deus tinha ordenado. Estas coisas foram impressas, e penetraram na Escócia.

Havia também peças dramáticas, comédias e outras histórias notáveis, que eram representadas em publico; a Satyra de Sir David Lindsay foi repre-sentada no anfiteatro de S. Johnston (Perth), na presença do rei Tiago V e de uma grande parte da nobreza e da classe abastada, durando a representa-ção um dia inteiro, e fazendo sentir ao publico as trevas em que estava envol-vido, e a perversidade dos homens da igreja, e mostrando-lhe como a Igreja

de Deus seria se fosse dirigida de uma maneira diferente, o que tudo foi mui-to benéfico naquela ocasião.

As riquezas da Igreja romana da Escócia tinham, havia muito, exci-tado a inveja dos barões, que espe-ravam a ocasião em que pudessem, sem risco, apoderar-se de parte dos bens eclesiásticos. Durante muito tempo não ocorreu semelhante oportunidade. O clero era um se-nhorio que gozava da estima ge-ral. Os vassalos da Igreja estavam em muito melhores condições, e tinham uma vida mais descansada, do que aqueles que cultivavam as terras dos barões e de outras per-sonagens de menor categoria. Os camponeses escoceses rir-se-iam, talvez, com as sátiras de David Lin-dsay, mas gostavam da Igreja e per-doavam-lhe os defeitos.

Quando os pregadores escoceses que tinham estado em Wittenberg, ou que tinham estudado as obras de Lutero e dos outros reformado-res, ou que sabiam pela Escritura o que era desejar ardentemente o perdão e a salvação, começaram a pregar um Evangelho reformado, então, e só então, é que o povo prin-cipiou a compreender a mordaz sig-nificação das sátiras que alvejavam a clerezia. As autoridades eclesiásti-cas fizeram todo o possível para su-primir estes reformadores. Patrício Hamilton, Jorge Wishart e muitos outros pregadores cheios de fervor e de espiritualidade foram marti-rizados; e estas crueldades contri-buíram mais do que os sermões ou as sátiras para que o povo escocês se desgostasse da Igreja romana. A sanguinária Maria tinha provocado a Inglaterra se tornar protestante; e o cardeal Beaton, com os seus ho-micídios judiciais, e particularmen-te com o homicídio do velho Walter Mill, fez com que o povo da Escócia

se preparasse para Knox e para os lords da Congregação.

Durante umas poucas gerações a política exterior da Escócia tinha sido de inimizade para com a Ingla-terra e de amizade para com a Fran-ça. A aliança com esta nação havia motivado o casamento de Tiago V com uma princesa da casa de Gui-se, e, mais tarde, os esponsais e casamento da herdeira do trono da Escócia com o delfim da França. Tiago V morreu, ficando regente a rainha francesa, cuja conduta incu-tiu no espírito de muitos escoceses o receio de que a Escócia viesse a tornar-se uma província de França. Tinham sido nomeados franceses para cargos de confiança na Escó-cia; o castelo de Dunbar tinha uma guarnição francesa; e a regente pro-jetava criar um exercito permanen-te, segundo o sistema francês. Este alarme foi tomando tal vulto que o partido nacional, que por fim triun-fou, chegou a inverter a política he-reditária da Escócia, e ficou tendo por objeto uma aliança com a Ingla-terra e uma guerra com a França. A Inglaterra era protestante, enquan-to que os verdadeiros senhores da França eram os Guises, os cabeças do fanático partido romanista, os homens que planejaram a carnifici-na de S. Bartolomeu.

Tal era o estado das coisas na Escó-cia quando João Knox começou a sua admirável obra de reformador.

O povo estava educado acima da sua civilização, e podia compreender e saudar as novas idéias, tendo, como tinha, costumes grosseiros, e vivendo como vivia uma vida rude. A igreja tinha perdido a confiança da nação em virtude da imoralidade do clero, e, por último, tinha excitado as paixões do povo contra si com a sua cruel per-seguição a homens de vida imaculada que pregavam um Evangelho puro.

T. M. LINDSAY

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Alguns dos barões tinham partilhado a revivificação religiosa começada pelos pregadores reformados; outros estavam ansiosos por livrar o país do domínio francês, e outros, ainda, que-

PREPARAÇÃO PARA A REFORMA NA ESCÓCIA

riam a todo transe seguir o exemplo da Inglaterra e enriquecer às custas da igreja. Todos estes motivos, uns puros e outros não, estavam agitando o povo da Escócia nos anos que prece-

deram o de 1560.

Extraído do livro A Reforma (Início do Século XX) de T. M. Lindsay pp. 137-141 Doutor em Teologia e Professor de História Eclesiástica (Li-vraria Evangélica ‒ Rua das Janelas Verdes ‒ Lisboa)1Os lolardos foram pregadores itinerantes que espalharam os ensinos de Wycliffe pelo interior da Inglaterra, agrupados dois a dois, de pés descalços, usando longas túnicas e carregando cajados nas mãos pregavam nas vilas e cidades da Inglaterra a Palavra de Deus (NE).

A Santidade de DeusCornelius Van Til

Ao discutir a santidade de Deus, novamente começamos no ponto de Sua auto-suficiência. Moisés diz em Êxodo 18:11: “Agora sei que o SENHOR é maior que todos os deuses; porque na coisa em que se ensoberbeceram, os sobrepujou”. Em 1 Samuel 2:2, Ana louva a Deus quando ela diz:

“Não há santo como é o SENHOR; porque não há outro fora de ti; e rocha nenhuma há como o nosso Deus”. Assim, a santidade de Deus reside em Sua incomparável auto-existência. Deus não tem santida-de, mas Ele é santidade. O profeta Amós salienta isso nessas palavras: “Jurou o Senhor JEOVÁ, pela sua santidade, que dias estão para vir sobre vós, em que vos levarão com anzóis e a vossos descendentes com anzóis de pesca” (Amós 4:2). O Senhor não poderia jurar pela Sua santidade se Sua santidade não fosse idêntica a Si mesmo.Por santidade de Deus, portanto, queremos dizer a absoluta pureza interna de Deus. Deve ser na-

turalmente esperado que, quando esse atributo de Deus é expresso na revelação de Deus ao homem, ele requer sua pureza completa. Essa pureza completa no homem consiste na dedicação completa da atividade moral do homem para a glória de Deus. Negativamente, isso necessariamente se expressará como separação do pecado. No Antigo Testamento essa expressão negativa da santidade de Deus é apresentada fortemente. Há

toda uma maneira de dedicação a Deus de pessoas e coisas de um uso secular para um uso sagrado. A idéia é que, por causa do pecado, o todo da vida humana se tornou profanado. Não que isso fosse originalmente assim; totalmente o contrário. O “secular”, como tal, não é mal. Ele se tornou mal por causa do pecado do homem. A teologia barthiana não sustenta a queda do homem na história e, con-seqüentemente, não pode fazer justiça à distinção bíblica entre o sagrado e o secular. A visão de Barth realmente se resume em dizer que há mal na matéria per se. É, portanto, impossível, segundo Barth, que deva existir quaisquer atos feitos pelo homem temporal que sejam verdadeiramente santos, mes-mo no princípio. Não pode realmente existir nada sagrado como distinto de atos não-sagrados dele. A posição de Barth não é radicalmente diferente da do modernismo. Ela não tem lugar para o que

é verdadeiramente santo neste mundo, porque ela não crê numa criação original perfeita, nem numa queda histórica. E nem ela crê num Deus santo auto-suficiente por detrás do mundo. Se cresse, tam-bém teria que crer numa criação temporal e na queda do homem na história. No Novo Testamento, a expressão positiva da santidade de Deus é mais forte do que negativa. Deus

quer que Seu povo, deliberadamente, pelo dom de Sua graça, dedique-se a Ele. É o Espírito Santo que cria no homem uma verdadeira santidade a Deus. Certamente, o aspecto negativo não desapareceu. Ele se mostra na punição dos ímpios, daqueles que rejeitam o Santo. O castigo eterno para o ímpio é o resultado natural da santidade de Deus.

Fonte: Cornelius Van Til, An Introduction To Systematic Theology.

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John Knox O Pregador da Reforma Escocesa“Prega a palavra, insta a tempo e fora de tempo, admoesta, repreende, exorta, com toda longanimidade e ensino.” (II Tm 4:2).

Por Gaspar de Souza

screver ou falar sobre John Knox é como tentar descrever um Ti-tanic que não tenha naufragado. Principalmente para mim, cuja

área de atuação na Teologia não é a His-tória. Aceitei o desafio de pesquisar e pôr em algumas folhas um pouco sobre o “trovejante” John Knox e, confesso, saí atordoado com a vida do Patriarca do Puritanismo/Presbiterianismo. Certo está o Rev. Waldyr Carvalho Luz (2001), cuja obra instigou-me a este pequeno enredo, em dizer que “Knox é um sublime desco-nhecido em nossos arraiais, todavia mere-cedor de melhor sorte” (idem, p.10). Que isto é verdade o digam as bibliografias em língua portuguesa no Brasil dedicadas a este gigante da Escócia paupérrima!

A Obra do Rev. Waldyr é a fonte prin-cipal para este paper, bem como um ca-pítulo do Dr. M. Lloyd-Jones1. Os livros de História da Igreja também. Hoje, com o auxílio da Internet, é possível encontrar diversos textos sobre e o Reformador Es-cocês, e escritos de sua própria lavra.

Não pretendo ser original, nem mes-mo exaustivo. Até porque seria impossí-vel fazer isto em uma ou mesmo algumas palestras. Porém, este bosquejo nos dará um panorama da vida da “Trombeta de Deus”, o “Trovão da Escócia”, John Knox, o pregador da Reforma Escocesa.

Soli Deo Gloria

Breve Biografia de John KnoxEm termos biográficos, poucas informa-ções têm sido preservadas acerca da vida

de John Knox, além de que ele nasceu pro-vavelmente em um povoado Haddington, cerca de 30 quilômetros ao leste de Edim-burgo, capital da Escócia.

Quanto ao ano também há incerteza. Alguns localizam 1503-04, mas tem sido aceito 1513/1514. Lloyd-Jones (1993) e Waldyr Carvalho Luz (2001) possuem informações conflitantes acerca da vida de Knox em termos familiar. O primeiro faz-nos crer que Knox era de família po-bre, “sem antecedentes aristocráticos e ninguém que o recomendasse” (JONES, 1993, p. 269). O segundo nos leva a pensar que, sendo seu pai, William Knox, homem do campo, principal atividade da popula-ção semi-rural; e sua mãe pertencente à linhagem dos Sinclair, Knox era de “boa cepa escocesa e fruía de certa abastança” (LUZ, 2001, p. 14). Esta segunda opinião é apoiada por William Mc’Gavin (1841, p. 58) ao afirmar que “os pais de Knox não eram da classe mais baixa, visto que eles estavam em condições de dar-lhe uma culta educação, o que incorria em consi-derável despesa”. Ele poderia não ter sido um aristocrata, mas também não foi “cria-do na pobreza” (JONES, 1993, p. 269).

Acerca desta educação, Knox obteve formação liberal, pelo menos em gramá-tica latina2 e francês nos estudos regula-res, vindo depois à Universidade de Saint Andrews, adquirindo sólida formação acadêmica, que, embora não tenha co-lado grau (LUZ, 2001, p. 17), ainda assim foi útil para a carreira eclesiástica que desejou seguir e seguiu o sacerdócio católico (JONES, 1993, p. 268). Lá, em St. Andrews, influenciado pelo mestre John

E

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Major, as idéias reformistas vieram-lhe ao encontro, tomando ciência de que a Reforma se alastrava pelo continente europeu. Perguntas sobre como a Igre-ja “podia ser a sagrada instituição de origem divina e depositária de Sua au-toridade e mercês, de Sua graça e po-der, e ao mesmo tempo, agasalhar tan-ta degradação e mundanidade, tanta corrupção e miséria ”(LUZ, 2001, p. 18), vinham-lhe à mente. Um dilema se lhe impunha: deixar ou reformar. Optou por esta última. Neste empenho, a Es-colástica e a Patrística foram alavancas para este ímpeto, que o impeliram para as Sagradas Escrituras, principalmente em porções como a Oração Sacerdotal (Jo 17), “a passagem onde lancei mi-nha primeira âncora”. Sobre isto diz o Rev. Waldyr Carvalho (2001, p. 19)

[desta oração], adveio-lhe a noção de

que a real Igreja não era a organização

viciada que o afligia, uma instituição

terrena, tão tisnada de imperfeição hu-

mana, tão passível de crítica severa, tão

distante dos padrões da santidade que

Deus em Sua Palavra requeria. A real e

verdadeira Igreja de Cristo era de natu-

reza espiritual, a comunhão dos remidos

do Senhor, a comunidade dos nascidos

do Espírito, a sociedade dos crentes cha-

mados por Deus, dEle santificados, fiéis

à Sua vocação e dEle aprovados.

Isto nos leva a lembrar de sua conversão. Duas personagens estão envolvidas na história de Knox: Pa-trick Hamilton e George Wishart. O primeiro, Hamilton, que estudara sob Lutero, tornando-se um jovem pre-gador luterano, veio a ser executado na fogueira (28/02/1528). Esta execu-ção marcou John Knox que tinha por volta de quinze anos de idade, sendo “elemento marcante na rota decisória do próprio John Knox ruma à plena aceitação dos postulados da Reforma” (LUZ, 2001, p. 23).

O segundo, George Wishart de quem Knox tornou-se discípulo e pos-teriormente um guarda-costas pre-gador de sólidas convicções reforma-das zwingliana,3 foi o maior influencia-dor de Knox. Wishart foi “acusado de heresia porque lia o Novo Testamento Grego com seus alunos”. Após sua fuga para Inglaterra, Alemanha e Suiça, Wishart passa à Edinburgo, Leith e Ha-ddington para a incansável tarefa de pregar e ensinar a fé reformada. Não foi senão após a morte de Wishart, em 1546 e no mesmo ano, que Knox prega o seu primeiro sermão como pregador da Escócia, para um grupo de refugia-dos protestantes no Castelo de Saint Andrews4, baseado em Daniel 7.24, 25, sob o tema “a vinda do Anticristo”.

Após libertação do Cativeiro Francês, Knox volta à Escócia, em momento não favorável, mudando-se para a Inglater-ra, onde se tornou ministro e pregador em Berwick, fronteira com a Escócia. Nesta ocasião, Knox estava no centro das atividades da Inglaterra, pregando mesmo na presença do Rei Eduardo VI e na Coorte.

Em 1553, morre Eduardo VI, sendo sucedido por sua irmã Maria, católica fervorosa, conhecida gentilmente por “Maria, a sanguinária”. Knox sentiu que deveria deixar a Inglaterra e assim o fez, indo, juntamente com outros pro-testantes, para Genebra. Lá começou a estudar sob João Calvino.

Impressiona-o a Genebra Calvinista, a quem Knox chamou de “a mais per-feita escola de Cristo que jamais houve na terra desde a época dos apóstolos” (apud GEORGE, 2000, p. 167). Calvino o persuadiu a co-pastorear os refugiados ingleses em Frankfurt, Alemanha, o que aceitou, mas não sem muita relutância, após muitas disputas com o anglicano Richard Cox, principalmente acerca do Livro de Oração Comum. Cox desejava que a igreja em Frankfurt tivesse um “rosto inglês” (SILVA, s/d). A resposta de

Knox foi: “o Senhor permita que ela te-nha a face da igreja de Cristo”. Knox foi convidado a se retirar de Frankfurt por influência de Cox e teve de retornar a Genebra, voltando a ser pastor da igre-ja inglesa.

Com a morte de Maria e subindo Elizabete ao trono em 1558, Knox re-tornou à Escócia me 1559, onde levou adiante a obra da Reforma na Escócia, pregando na igreja de S. Giles, em Edimburgo. Ainda neste ano, Knox es-creveu a “Breve Exortação à Inglaterra a Abraçar Rapidamente o Evangelho de Cristo Doravante, à Supressão e ao Banimento da Tirania de Maria”. Nesta sublime carta, Knox (1559) escreveu:

Penso ser minha responsabilidade (em poucas palavras) requerer de ti, e em nome de Deus, ó General da Ingla-terra, o mesmo arrependimento e ver-dadeira conversão a Deus que eu tenho requerido daqueles para quem antes particularmente escrevi. Pois, em muito feito, quando com dor no coração eu escrevi a primeira carta, nem procurei, nem poderia crer, que o Senhor Jesus tão repentinamente bateria em sua por-ta (Ap 3), ou chamar-te-ia abertamente nas ruas (Pv 1), oferecendo a si mesmo para perdão de tuas iniqüidades. Sim, entrar em tua cara, e então habitar e fazer sua habitação contigo (João 14), quem tão desobedientemente tem re-jeitado seu jugo, tão desdenhosamente tem pisado o sangue de seu testamen-to (Hb 10.29) e tão cruelmente tem as-sassinado aqueles que foram enviados a chamar-te ao arrependimento (Lucas 11‒12). Considerada esta tua horrível ingratidão, eu olharia para além das punições e pragas que universalmente têm sido derramadas adiante, que pela misericórdia (pelo som de sua trombe-ta) tão subitamente tem sido oferecido a qualquer um dentro daquela miserá-vel ilha.

No ano seguinte, 1560, John Knox, juntamente com os Lordes da Con-

JOHN KNOX O PREGADOR DA REFORMA ESCOCESA

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gregação, iniciam a Reforma na Escó-cia, compondo a Confissão Escocesa (1560), de nítida formação calvinista, e o Primeiro Livro de Disciplina. O domí-nio papal na Escócia chegara ao fim e a missa fora declarada ilegal. Ali nasceu o Presbiterianismo quando da “organi-zação da igreja em presbitérios, síno-dos e uma assembléia geral, semelhan-tes aos de Genebra. Nesse mesmo ano reuniu-se pela primeira vez a Assem-bléia Geral da Igreja da Escócia. Foram formalmente implantados em 1567” (SILVA, s/d). Ainda houve tentativa de restaurar o episcopalismo na Escócia, o que houve forte oposição por Andrew Melville, reitor de Glasgow. O presbi-terianismo tornou-se o sistema oficial dos escoceses em 1592 e, finalmente estabelecido em 1690.

Quando John Knox morreu, em 26 de novembro de 1572, a reforma esta-va firmemente estabelecida na Escócia (VOS, 1984, p. 105).

John Knox Como Pregador a Trombeta de DeusPregador. Era assim que John Knox certamente desejaria ser reconhecido. Diz John Leith (1996 p. 211) que “Knox não se considerava teólogo nem políti-co, preferindo afirmar sua vocação de pregador”. E assim o era. De forte per-sonalidade, Knox “brigava com o púl-pito” (KLEYN) de onde “tocava a trom-beta do mestre” (SILVA, s/d). Gravuras mostram-lhe inclinado sobre o púlpito, com o punho cerrado e rosto sisudo.

Associado à energia, perspicácia5, sabedoria6 e coragem7, Knox asseme-lhava-se aos profetas veterotestamen-tário. Aliás, era o Antigo Testamento sua preferência nos sermões (LEITH, 1996, p. 211). A veemência é-lhe reco-nhecida. “No estilo dos profetas do An-tigo Testamento, ele trovejava contra a corrupção do culto cristão e dos gover-nantes idólatras. Seus sermões foram marcados pelo literalismo [NA. Exposi-

ção] bíblico” (LEITH, 1996, p. 211). Fruto de uma forte teologia refor-

mada, as Escrituras eram tidas por Knox como absoluta autoridade sobre a igreja. As palavras encontradas na Confissão Escocesa refletem isto:

Cremos e confessamos que as Escri-turas de Deus são suficientes para ins-truir e aperfeiçoar o homem de Deus, e assim afirmamos e declaramos que a sua autoridade vem de Deus e não de-pende de homem ou de anjo. Afirma-mos, portanto, que os que dizem não terem as Escrituras outra autoridade a não ser a que elas receberam da Igreja são blasfemos contra Deus e fazem in-justiça à verdadeira Igreja, que sempre ouve e obedece à voz de seu próprio Esposo e Pastor, mas nunca se arroga o direito de senhora.

Ora, com este conceito acerca das Escrituras, John Knox não entenderia a tarefa de pregar a Palavra de Deus como “Obra de Deus”. Iain Murray (2006) diz que Knox estava convencido de sua autoridade em pregar e que esta convicção vinha do fato de que “pregar é obra de Deus, [e] a mensagem é Sua palavra, e ele estava certo de que o Es-pirito Santo honraria esta [tarefa]”.

Segundo a boa descrição do Rev. Waldyr Carvalho (2001, p. 59), Knox era homem de convicção religiosas inaba-láveis, de fervor irremisso, de aguda consciência de sua vocação e íntimo sendo da urgência da mensagem de que era portador [....] era um pregador vigoroso, inflamado, incisivo, que não media palavras, até brusco de lingua-gem, alheio à retórica artificiosa, inda que notável orador, um tanto verboso, prolixo, repetitivo. Todavia, senhor de sólida argumentação, rigorosamente lógica, a desafiar a inteligência e in-fundir seguras convicções, nos moldes escolásticos que lhe regiam o pen-samento. Seus sermões, trabalhados com esmero e arte, fascinavam o espí-rito e desafiavam a vontade, ricos de

conteúdo, belos nas formas, em uma elocução vívida, variada, desenvolta, que prendia a atenção e incendiava a imaginação. Ora jocoso, ora solene, ora sereno, ora agitado, ora pausado, ora veemente, ora plácido, ora fervido, John Knox era um mestre do púlpito, a empolgar o auditório e conquistar os ouvintes. Seu porte varonil, com seus ombros largos, semblante vivaz, olhos penetrantes, longa barba espessa, de-dos compridos e ágeis, deva-lhe ares de profeta redivivo, que o era.

Embora não muitos sermões do Re-formador Escocês tenham sido preser-vados, as poucas preleções e escritos, são suficientes para dar uma mostra de sua abordagem à pregação. Seguindo a exposição de Austin B. Tucker(s/d), é possível destacar os dois seguintes as-pectos da Pregação de John Knox8:

1) Knox acreditava que a primeira responsabilidade do pastor reforma-do era pregar a Palavra de Deus as outras duas responsabilidades básicas era administrar os sacramentos e re-forçar a disciplina da igreja. Em outras palavras, o pastor deveria manter a igreja pura e verdadeira. Isto é refle-tido na Confissão Escocesa, artigo 18, sob a epígrafe “Os Sinais pelos quais a Verdadeira Igreja será Distinguida da Falsa e quem será Juiz da Doutrina”. Knox pregava expositivamente, numa compreensão “histórica e gramatical” das Escrituras, em lugar da pregação moralizante ou alegórica, tão em vigor na Idade Média. “A tarefa do pregador não era tão somente interpretar a Bí-blia, mas declará-la a si mesmo como auto-evidente” (TUCKER).

2) Ele gostava de pregar através dos livros da Bíblia verso por verso Diz Richard G. Kyle (apud TUCKER) que Knox pregava livros inteiros no Antigo e Novo Testamentos, tais como Isaías e o Evangelho de João, embora o gostas-se de fazer extemporaneamente, isto é, sem notas. Knox tendia a enfatizar o

GASPAR DE SOUZA

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Antigo Testamento. Isto o fazia ver que “pragas, invasões e desastres naturais devia julgar a Escócia e a Inglaterra tão certamente como com o antigo Judá e Israel”. Deuteronômio 12.32 era um verso-chave para sua hermenêutica (TUCKER) para, seguindo o texto (ver capítulo todo), buscar a pureza da reli-gião. Os sermões de Knox não agrada-riam os ouvintes modernos. Chegavam a durar duas ou três horas!

3) Defesa da Verdadeira Doutrina Knox abominava a falsa doutrina, principalmente a Idolatria. Seu maior inimigo era as inovações no culto (p.e. ajoelhar-se para receber a Santa Ceia) ou, no Catolicismo, a Missa. Em sermão pregado contra a Missa (1550), Knox escreveu: “este dia venho até vossa presença, honorável audiência, dar a razão porque tão constantemente afir-mo ser a Missa, e em todo este tempo tem sido, idolatria e abominação pe-rante Deus”

John Knox, o “Trovão da Escócia”, com suas pregações, era capaz de fa-

zer até mesmo a Rainha dos escoceses, Maria, chorar de raiva (JONES, 1993, p. 274). Dela já se ouviu dizer: “tenho mais medo das orações e pregações de Knox do que de muitos regimentos de soldados ingleses”. Randolph, cita-do por Lloyd-Jones, como homem da corte e embaixador, disse: “a voz de um único homem é capaz de, em uma hora, pôr mais vida em nós do que 500 trombetas ressoando continuamente em nossos ouvidos” (1993, p. 274).

Queira Deus, neste 31 de outubro de 2008, mover nossos corações para, à semelhança de Knox, termos um coração empenhado em propagar o Evangelho, zelando pela fé e vivendo uma vida piedosa, como a do “Trovão da Escócia”.

Palestra proferida no escritório da CLIRE/Projeto Os Puritanos em Reci-fe/Outubro de 2008Rev. Gaspar de Souza é Pastor da Igreja Presbiteriana dos Guararapes ‒ Grande Recife. Prof. de Teologia Bíblica no Seminário Presbiteriano do Norte.BIBLIOGRAFIA1. GEORGE, Thimoty. A Teologia dos Reformadores. São Paulo: Ed. Vida Nova, 2000.2. KLEYN, Daniel. John Knox sobre Liturgia e Adoração. Disponível em: <http://www.cprf.co.uk/languages/portuguese_knoxonliturgy.htm>. Acesso em 30 de out. de 2008.3. KNOX, John. The History of the Reformation of Religion in Scotland. Londres: Blackie & Son Glasgow, 1841.4. ______. A Brief Exhortation to England, for the Speedy Embracing

of the Gospel Heretofore by the Tyranny of Mary Suppressed and Ba-nished. Disponível em <http://www.swrb.com/newslett/actualNLs/briefexh.htm >. Acesso em 30 de out. de 2008.5. ______. A Vindication of the Doctrine that the Sacrifice of the Mass is Idolatry. Disponível em <http://www.swrb.ab.ca/newslett/actualNLs/vindicat.htm>. Acesso em 07 de out. de 2008.6. LEITH, John. A Tradição Reformada: uma maneira de ser a comunida-de cristã. São Paulo: Pendão Real, 1996.7. LLOYD-JONES, D. Martin. John Knox: O Fundador do Presbiterianismo. Em: Os Puritanos: suas origens e seus sucessores. São Paulo: Ed. Publica-ções Evangélicas Selecionadas, 1993, pp. 268 ‒ 288.8. LUZ, Waldyr Carvalho. John Knox: o patriarca do presbiterianismo. São Paulo: Ed. Cultura Cristã, 1993.9. MURRAY, Ian. A Scottish Christian Heritage. Disponível em <http://www.reformationtheology.com/2006/11/john>. Acesso em 07 de out. de 2008.10. SILVA, Hélio de Oliveira. John Knox: O Reformador da Escócia. Dis-ponível em <www.monergismo.com/textos/biografias/knox-reforma-dor_helio.pdf>. Acesso em: 10 de out. 2008.11. TUCKER, Austin B. John Knox: Bold Reformation Preacher. Disponível em <http://www.preaching.com/resources/past_masters/11551039>. Acesso em 07 de out de 2008.12. VOS, Howard F. An Introduction to Church History. Chicago: Moody Press, 1984.

Notas:1 Consulte a bibliografia no fim do artigo.2 Educação Liberal constituía no aprendizado do Trivium gramática, retórica e lógica.3 Wishart esteve na Alemanha e Suíça.4 Com o falecimento do rei James V, Maria Stuart, sua filha de seis anos de idade, assume o trono. O cardeal David Beaton apresenta documen-to de que o rei o havia nomeado para o reinado. Sob suspeita, o Parla-mento Escocês, encarcerou o cardeal como conspirador. A regência foi assumida por James Hamilton, Conde de Arran, simpatizante da causa protestante e desejoso de livrar a Escócia da influência papal. Porém, por conta da legalidade de seu casamento, corria-se o risco de ter anulado pelo Papa, perdendo a nobreza. Por isso, pôs em liberdade o Cardeal Beaton, que pesadamente investiu contra os protestantes. A es-perança protestante parecia arrefecer. Wishart entra aqui, determinado a implantar a Reforma na Escócia, sob o convite dos nobres reformistas que lhe dariam “apoio”. Wishart compreendeu que os “nobres” tinham interesses políticos (Inglaterra x França). Wishart foi traído pelos “no-bres”, que o deixou para enfrentar o Cardeal Beaton. Apenas alguns fica-ram com Wishart, mas não o bastante para impedir que o mesmo fosse preso, levado para o Castelo de Edinburgo (19/01) e depois transferido para o Castelo de Saint Andrews, de onde foi executado em 1º de mar-ço de 1546. O Castelo foi tomado em 29 de maio de 1546 por “nobres reformistas”, vindo a vingar a morte de Wishart. Lá permaneceram até que, em 31 de julho de 1547, a esquadra francesa, comandada pelo Papista Henrique II, interessado na Escócia, toma o Castelo e aprisiona os ocupantes, entre eles, John Knox, levado ao cativeiro francês, onde permaneceu dois anos como escravo nas galeras francesas (LUZ, 2001, p. 32 ‒ 49; JONES, 1993, p. 269).5 Foi capaz de ver as sutilezas de Maria os seus esforços para anular os protestantes quando em Berwick, não atacou o Livro de Oração Co-mum, apenas não o usou.6 Enfretou duas mulheres: Elizabete e Maria. “nunca temeu o rosto do homem” (JONES, 1993, p. 273).7 Tucker lista outros. Consultar bibliografia.

JOHN KNOX O PREGADOR DA REFORMA ESCOCESAJOHN KNOX O PREGADOR DA REFORMA ESCOCESA

Confissão de Fé de WestminsterCapítulo IIIDos Eternos Decretos de DeusI. Desde toda a eternidade, Deus, pelo muito sábio e santo conselho da sua própria vontade, ordenou

livre e inalteravelmente tudo quanto acontece, porém de modo que nem Deus é o autor do pecado, nem violentada é a vontade da criatura, nem é tirada a liberdade ou contingência das causas secundá-rias, antes estabelecidas.

Ref. Isa. 45:6-7; Rom. 11:33; Heb. 6:17; Sal.5:4; Tiago 1:13-17; I João 1:5; Mat. 17:2; João 19:11; At.2:23; At. 4:27-28 e 27:23, 24, 34.

II. Ainda que Deus sabe tudo quanto pode ou há de acontecer em todas as circunstâncias imagi-náveis, ele não decreta coisa alguma por havê-la previsto como futura, ou como coisa que havia de acontecer em tais e tais condições.

Ref. At. 15:18; Prov.16:33; I Sam. 23:11-12; Mat. 11:21-23; Rom. 9:11-18.

III. Pelo decreto de Deus e para manifestação da sua glória, alguns homens e alguns anjos são pre-destinados para a vida eterna e outros preordenados para a morte eterna.

Ref. I Tim.5:21; Mar. 5:38; Jud. 6; Mat. 25:31, 41; Prov. 16:4; Rom. 9:22-23; Ef. 1:5-6.

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Catolicidade dos Reformadores“Abençoarei aos que te abençoarem, e amaldiçoarei àquele que te amaldiçoar; e em ti serão benditas todas as famílias da terra.” (Gn 12:3).

Por Dr. T. M. Lindsay (1843-1914)

s reformadores não tinham em mente criar uma nova Igreja.Nenhum dos reformadores

nem Lutero, nem Zwínglio, nem Cal-vino pensou que procurando dar culto a Deus da maneira mais simples que a Escritura aconselhava, e que a sua experiência espiritual aprovava, se estava afastando da Igreja. Esta-vam abandonando o Papa, e recusan-do ter comunhão espiritual com ele; mas continuavam, no seu entender, a pertencer à Igreja em que tinham nas-cido, pela qual haviam sido batizados, e em cuja comunhão tinham prestado culto a Deus desde a infância.

Eles não pensavam que a Reforma queria dizer deixarem a Igreja de seus antepassados. Não tinham desejo algum de fazer uma nova Igreja, e ainda menos de criar uma nova religião. A religião que eles professavam era a religião do Velho e do Novo Testamento, a religião dos san-tos de Deus desde os dias de Pentecoste. A Igreja a que eles pertenciam desde a sua separação de Roma era a. Igreja dos Apóstolos, dos Mártires e dos Padres. Era a Igreja em que Deus tinha sido adorado, em que Cristo havia sido acreditado, e em que se havia sentido a presença do Espí-rito Santo, desde o tempo dos apóstolos até aos seus dias. .

A Reforma conservava-os dentro da Igreja de seus pais, pensavam eles; não os tirava dela. Como poderiam eles mostrar

a toda a gente a evidencia d’esse fato, a que davam tão grande importância?

Reivindicaram a sua posição por meio do um apelo à Cons-tituição do Império medieval.Os reformadores tinham-se desligado do papa, e não viviam mais em comu-nhão com ele ou com a cúria romana. No seu tempo, porém, estar na Igreja era ter comunhão com o papa e com Roma. Estar fora da alçada dos cui-dados pastorais do papa significava, naqueles tempos de excomunhões e interdições por atacado, estar fora dos privilégios da Igreja.

Se o papa recusava ter comunhão com qualquer homem, ou cidade, ou província, e a tornava interdita, ou a excomungava, eram, por esse fato, interrompidos todos os serviços religiosos. Enquanto sobre aquela área pesasse a excomunhão, não podia haver batismos, nem casamentos, nem confortos espirituais na hora da mor-te. As igrejas permaneciam fechadas, e to-dos os serviços do culto público ficavam suspensos até ser suspensa a excomu-nhão. Segundo as idéias da época, não ter comunhão com o papa era estar fora da Igreja. Era difícil demonstrar o contrário, de um modo claro, sem, auxílio de uma argumentação teológica.

O inteligentíssimo espírito de Lutero descobriu um meio de mostrar, ao povo que a Igreja não se limitava ao círculo formado por aqueles que estavam em comunhão com o papa. O Santo Império Romano da Idade Média era mais do que

O

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um estado político; era também, sob um certo ponto de vista, uma Igreja. O seu imperador recebera ordens de subdiácono. Chamava-se-lhe a Cristan-dade. E, acima de tudo, os seus cida-dãos deviam a posição que ocupavam dentro dos seus limites protetores ao fato de terem aceitado o Credo Niceno sob a forma latina aprovada pelo papa Damaso. A Idade Média apresentava, portanto, a Igreja de Cristo sob dois aspectos: um era o da comunhão com o papa, e o outro o da posição que ocu-pava no Império Romano.

Lutero manteve ostensivamen-te o seu direito de cidadão do im-pério. Declarou uma e outra vez a sua adesão ao Credo Niceno sob a forma prescrita. Era, segundo a distinção feita pelo imperador, um cristão ortodoxo. Estava dentro da cristandade, era membro da gran-de comunidade cristã, posto que não estivesse em comunhão com o papa. Lutero aproveitou-se do cará-ter eclesiástico do império da Idade Média; teve o cuidado de declarar, o mais manifestamente possível, que era súbdito do império, e que era, portanto, segundo a antiga classi-ficação eclesiástica, cristão, e mem-bro da Igreja cristã, ainda que não estivesse em comunhão com Roma. Fez com que aos seus contempo-râneos se tornasse evidente que a Igreja era mais ampla mesmo segundo as noções medievais do que a comunhão com Roma. Ele próprio estava fora da comunhão com Roma, e, contudo, era membro da cristandade, e estava, por conse-guinte, dentro da Igreja.

A Catolicidade da reforma, segundo Lutero e CalvinoO império medieval tinha o Credo Ni-ceno como marca dos seus cidadãos, e a sua dilatação era, portanto, igual à da Igreja cristã. Lutero, para mostrar que

não obstante haver-se desligado de Roma, não tinha abandonado a Igreja Católica de Cristo, pegou no Credo dos Apóstolos, no Credo Niceno, e no Cre-do de Atanásio, e publicou-os como sendo a sua confissão de fé. Diz ele no seu prefácio: “Reuni e publiquei estes três Credos ou Confissões, em alemão, Confissões que têm sido até hoje sus-tentadas por toda a Igreja e com estas publicação testifico, de uma vez para sempre, que adiro à verdadeira Igreja de Cristo, que até agora tem mantido estas Confissões, mais não àquela falsa e pretensiosa Igreja, que é a pior ini-miga da verdadeira Igreja, e que tem co1ocado sub-repticiamente muita idolatria a par destas be1as Confis-sões”.

Além disso, no seu tratado de con-trovérsia contra os erros da Igreja Ro-mana, seguiu a orientação do prefácio que acabamos de citar. Intitulou-o So-bre o Cativeiro Babilônico da Igreja de Deus. Diligenciou provar que a Igreja tinha sido levada cativa pelo papa e pela cúria, exatamente como acon-tecera aos israelitas quando foram transportados para Babilônia. A Igreja, libertada do jugo romano, ficava com todos os privilégios que a Igreja de Deus sempre tivera, e ficava, além dis-so, livre da escravidão.

A Reforma, na opinião de Lutero, ti-rou a Igreja de um cativeiro pior do que o de Babilônia, e os vultos da Reforma eram homens comparáveis a Zoroba-bel, Esdras e Neemias. Não estavam fundando uma nova Igreja, estavam reconduzindo a antiga Igreja dos Após-tolos da servidão para a liberdade.

Calvino era também um extremo defensor desta idéia, posto que não a expusesse de um modo tão descritivo. No prefácio às suas Institutas diz-nos que escreveu o livro para responder àqueles que diziam que as doutrinas dos reformadores eram novas, duvido-sas, e contrarias às dos Pais da Igreja.

E refuta essas acusações, mostrando a catolicidade da teologia da Reforma. Prova que todos os reformadores sus-tentaram as grandes doutrinas católi-cas que a Igreja manteve em todos os séculos, e que, quando se afastaram do ensino da Igreja de Roma, ou de outra qualquer doutrina, o fizeram justa-mente no ponto onde as idéias pagãs e as práticas supersticiosas foram, de uma maneira bastante censurável, in-troduzidas.

A sua posição reivindicada pelo Credo dos ApóstolosOs cabeças da Reforma, que se en-contravam à frente de uma grande revivificação religiosa, não imagi-navam que estavam dirigindo um movimento novo, e muito menos que estavam fundando uma nova religião. Tinham, no seu entender, uma ascendência espiritual, e repu-tavam-se os verdadeiros herdeiros e sucessores da Igreja dos Apóstolos, dos Mártires e dos Pais, e, também, da Idade Média. Nova era a Igreja Romana, e não a deles. Pertenciam à antiga Igreja, reformada, e eram os verdadeiros, herdeiros dos sé-culos de vida santa que os tinham precedido.

Eram, porém, acusados pelos seus adversários de serem cismáticos e here-ges, de terem abandonado a Igreja Ca-tólica de Cristo, e de procurarem criar uma nova Igreja e fundar uma nova religião. Disseram-lhes que a Igreja de Roma era a única comunidade cristã, e a única Igreja Católica e Apostólica.

Como responderam eles a isto tudo? A sua resposta estava-lhes preparada pela própria Igreja Ca-tólica Romana. A Igreja de Roma aceita o Credo dos Apóstolos, e esse Credo faz uma descrição da Igreja que está em completo desa-cordo com aquilo que o Romanis-mo insinua. O Credo dos Apóstolos

CATOLICIDADE DOS REFORMADORES

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diz “Creio na Santa Igreja Católica e na comunhão dos santos” e não “Creio na Santa Igreja Católica, e na comunhão de Roma”. Não há em nenhum dos credos antigos uma palavra que dê a entender que ca-tolicidade significa comunhão com Roma; catolicidade quer dizer, pelo

contrário, comunhão com os san-tos. Este ponto é bem frisado pelos principais reformadores. O Credo diz que a Santa Igreja Católica se baseia numa santa comunhão, e que a santa comunhão se baseia no perdão dos pecados. A verdadeira catolicidade provém de uma santa

comunhão, e esta existe em virtu-de do perdão que se alcança para todos os pecados mediante a obra redentora de nosso Senhor Jesus Cristo.

Extraído de “A Reforma”, T. M. Lindsay ‒ Livraria Evangélica, Rua das Jan-nelas Verdes, 32, pp. 221-224, Lisboa - 1912

T. M. LINDSAY

Relutância em Submeter-se à Soberania de DeusJonh Owen

A soberana e infinita sabedoria e graça de Deus é o único fundamento do pacto de graça no qual Deus prome-te eterna salvação a todos que colocam sua fé em Jesus Cristo para a justificação. A soberania da sabedoria de Deus perpassa todo o mistério do evangelho e é a razão da encarnação do Filho de Deus e de ele ser

cheio de toda a graça para ser o Salvador de pecadores (Jo 3.16; Cl 1.19; Jo 1.16).A soberana sabedoria e graça de Deus enviou Cristo para ser nosso substituto, para dar fiança pelos nossos

pecados, para ser punido por eles em nosso lugar (Is 53.6, 10; 2 Co 5.21).A eleição eterna também surge da soberania da sabedoria e graça de Deus (Rm 9.11, 18). Também aquele

chamado interior eficaz do Espírito, trazendo pecadores eleitos ao arrependimento e fé através da pregação do evangelho (Mt 11.25, 26). A justificação pela fé é também o efeito da soberana e infinita sabedoria e graça (Rm 3.30). E o mesmo pode ser dito de todos os demais mistérios do evangelho. Amor soberano, graça e bondade, der-ramados naqueles sobre quem Deus escolhe derramá-los, nos é apresentado no evangelho como uma verdade a ser recebida e acreditada.Mas à mente carnal, não espiritual, não convertida, nada disso agrada; ela se levanta em oposição a isso. Não

pode tolerar a idéia de que a vontade, a sabedoria e o prazer de Deus deva ter nossa submissão e adoração, mesmo quando não pode ser entendida. Então a encarnação e a cruz de Jesus Cristo, Filho de Deus, são loucura para ela (1 Co 1.23-25). Os decretos de Deus a respeito da eleição e condenação são considerados parciais, injustos e subver-sivos de toda religião (Rm 9.17-21). Ela considera que a justificação pela imputação da justiça de Cristo perverte a lei e torna desnecessária toda nossa justiça pessoal. Da mesma forma, a mente carnal se levanta em oposição a todo o mistério do evangelho, todas suas doutrinas, mandados e promessas, como provenientes da soberania de Deus. Ela resiste àquela fé que está em dar a glória a Deus crendo nas coisas que estão acima da razão limitada, finita do homem, uma fé que é repulsiva para a razão corrupta e egoísta (Rm 11.18-21).Por isso, em contraposição à vontade e sabedoria soberana de Deus, os homens estabelecem sua luz interior

como padrão pelo qual as verdades evangélicas devem ser medidas. Em vez de se tornar tolos, submetendo sua razão e sabedoria à soberania de Deus, para que possam ser verdadeiramente sábios, tornam-se sábios em seu próprio conceito, e assim tornam-se soberbos em sua loucura.Não há caminho mais largo para a apostasia do que o de rejeitar a soberania de Deus em todas as coisas con-

cernentes à revelação de si e à nossa obediência, recusando “levar cativo todo pensamento à obediência de Cristo”. Da recusa de submeter-se à soberania de Deus sobre todas as coisas, incluindo nossa eterna salvação, surgiram o Pelagianismo, o Arminianismo e todas as heresias da atualidade.

Extraído do livro Apostasia do Evangelho, John Owen, Editora Os Puritanos, pp. 123-124.

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John Knox Reformador e Pregador“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade.” (II Tm 2:15).

Rev. Dale H. Kuiper

homem que na opinião dos amigos e inimigos era consi-derado o maior homem que a Escócia já produziu, nasceu

em 1505 perto do vilarejo de Hadding-ton (alguns de seus biógrafos datam seu nascimento 1512). A educação de John Knox aconteceu na Burgh School em Ha-ddington, onde os instrutores eram cató-licos romanos e a instrução preparava os jovens para o clero ou às santas ordens. O Latim era tão exigido nesta escola, que aos estudantes era requerido falar Latim todo o tempo. O próprio Knox era um excepcional estudioso do Latim. Ele não estudou Hebraico e Grego até depois de seus quarenta anos. Ele permaneceu na escola de Haddington até os dezessete anos, quando encarou a questão de qual universidade cursar. Escolhendo perma-necer na Escócia, Knox evitou o humanis-mo que era extremo nas escolas do con-tinente. Ele finalmente decidiu cursar a Universidade de Glasgow, principalmen-te porque o mais famoso professor da Es-cócia naquela época, John Major, estava naquela faculdade. Essa universidade era uma fortaleza do ensino Católico Romano. Ela procurava defender e propagar a Teo-logia e Filosofia medievais, assim como a autoridade do papa.

Knox foi ordenado ao sacerdócio um pouco antes de 1540. Ele se empregou em dar instrução privada para os filhos de famílias escocesas proeminentes, ao in-vés de se engajar nos deveres paroquiais.

É geralmente dito que Knox nunca renun-ciou seus votos sacerdotais, mas conside-rou sua original ordenação suficiente até mesmo quando aderiu à causa da Refor-ma na Escócia.

Primeiro, Knox professou a fé pro-testante perto do final de 1545. Várias influências foram usadas por Deus para converter este filho de camponês da es-cravidão de Roma para a liberdade do evangelho de Jesus Cristo. No início de sua maturidade ele leu tanto Agostinho quanto Jerônimo. Segundo, ele assistiu as pregações de George Wishart por algum tempo, tornou-se seu amigo pessoal, e até mesmo serviu como seu guarda-cos-tas quando a vida de Wishart foi ameaça-da. Knox abraçou a pregação reformada de Wishart com entusiasmo. Por esta pre-gação, George Wishart foi queimado na estaca pelo Cardeal Beaton. Em terceiro lugar, uma poderosa influência na con-versão de Knox foi sua correspondência com Calvino e Beza e sua residência em Genebra em várias ocasiões. Inicialmente Knox estava mais próximo de Lutero do que Calvino em sua visão, porém mais tarde ele considerou Luterano um termo de censura, concordando com Latimer que a Reforma alemã era somente uma recepção parcial da verdade.1 A visão de Knox com relação ao papado, à missa, ao purgatório, e outros desmandos mostram claramente que ele abraçou o ensino dos reformadores genebrinos.

Mas junto a essas três influências nós devemos acrescentar o devotado com-promisso de Knox com a bíblia como a

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inerrante Palavra de Deus e como a única e final autoridade em matéria de fé, culto e vida. Knox concordou com um certo Balnaves, a quem cita: “Eles enganam vocês quando dizem que as Escrituras são difíceis, nenhum homem pode entendê-la, mas sim grandes clérigos. Verdadeiramente aqueles a quem eles chamam seus clérigos, não sabem o que as Escrituras significam. Não receiem nem temam ler as Escritu-ras, como lhes ensinaram anteriormen-te; e nada busquem nela a não ser sua própria salvação, é aquilo que é neces-sário ao seu conhecimento. E então o Espírito Santo, seu professor, não per-mitirá que errem, nem que vão além do caminho certo, mas os guiará em toda verdade.”2 Knox expôs a Palavra de Deus, Antigo e Novo Testamento, com discernimento e poder. Ele aplicou as Escrituras à situação da Escócia, Ingla-terra e Europa. Ele amava os Salmos e os explanou minuciosamente para aqueles em angústia espiritual com grande compreensão deles e compai-xão para com os fracos. Uma de suas passagens favoritas era Deuteronômio 4:2 “Nada acrescentareis à palavra que vos mando, nem diminuireis dela, para que guardeis os mandamentos do SE-NHOR vosso Deus, que eu vos mando”. Esta passagem foi um guia fiel para ele em todos os seus difíceis labores, assim como fora para Lutero e Calvino. Ele abraçou o grande princípio reformado do Sola Scriptura!

A primeira acusação ao destemi-do reformador foi em St. Andrews. O primeiro sermão que ele pregou teve como texto Daniel 7:24,25. Ele chamou a Igreja de Roma o homem do Pecado, o Anticristo, a meretriz da Babilônia. Ele estabeleceu as marcas pelas quais a verdadeira igreja deve ser distingui-da da falsa. Alguns disseram, “Outros cortaram os galhos do papado, mas ele atacou na raiz para destruir o todo”. Outros disseram, “Mestre George

Wishart nunca falou tão claramente, e, contudo, foi queimado; assim mesmo será ele.”3

Pouco tempo depois o castelo de St. Andrews tornou-se um refúgio para aqueles de convicção reformada por-que politica e religiosamente a Escócia abraçou a causa da Inglaterra contra a França católico-romana. Em 1547 o exército francês invadiu a Escócia e capturou Knox e outros refugiados cativos, forçando-os às galés por de-zessete meses. Como um escravo das galés Knox sofreu várias torturas, e sua saúde foi permanentemente pre-judicada. Depois de sua saída em 1549 Knox serviu a várias Igrejas na Ingla-terra: Berwick, Newcastle e Londres. Enquanto em Londres ele se juntou a outros pastores na aprovação de “Os Artigos Concernentes a uma Uniformi-dade de Religião”, um documento que se tornou a base dos Trinta e nove Arti-gos da Igreja da Inglaterra.

Os anos de 1554-1559 encontra-ram Knox na Europa. Ele serviu a uma congregação de refugiados de língua inglesa em Dieppe, França, e a um tipo semelhante de congregação em Hamburg, Alemanha, uma insistên-cia de Calvino. Este pastorado ele re-signou devido a controvérsias sobre vestimentas, cerimônias e ao uso do livro de orações inglês. Depois ele tor-nou-se pastor de uma congregação de refugiados ingleses em Genebra. Durante esses anos Knox escreveu muito, pois este tempo na Europa foi o mais pacífico de sua vida. Mesmo instado por Bullinger e Calvino para se precaver com relação à magistratura feminina, Knox publicou seu Primeiro Soar da Trombeta Contra a Monstruo-sa Magistratura das Mulheres. Devido ao crescimento do Anabatismo na In-glaterra e na Escócia, um pedido veio da Inglaterra aos exilados de Genebra que alguém escrevesse contra o ata-que efetuado pelos anabatistas contra

a predestinação. Knox foi escolhido para dar esta resposta. Entendendo a importância desse assunto para a ver-dadeira religião ele escreveu: “Porém ainda eu digo, que a doutrina da eter-na predestinação de Deus é tão neces-sária para a Igreja de Deus que, sem ela, a fé nem pode ser realmente ensinada, nem seguramente estabelecida: o ho-mem jamais poderá ser trazido à ver-dadeira humildade e ao conhecimento de si mesmo: nem ainda pode-se exta-siar na admiração da bondade de Deus, e assim movido para louvá-lo como a Ele é pertinente. E, por isso nós não tememos afirmar, que tão necessário quanto é que essa fé verdadeira seja estabelecida em nossos corações, que nós sejamos trazidos a uma humildade não fingida, e que sejamos movidos a louvá-lo por Sua livre graça recebida; assim também é necessária a doutrina da predestinação eterna de Deus... As-sim somente está nossa salvação em segurança, quando nós encontramos a causa da mesma no seio e no conselho de Deus.”4

As idéias de Knox na área da eclesio-logia são extraordinariamente seme-lhantes às nossas nas Igrejas Protestan-tes Reformadas. Ele trovejou contra as reivindicações do papado. Ele chamou a missa uma abominação e uma ido-latria. Ele considerava a pregação do evangelho o principal meio de graça, e os sacramentos como secundários para pregar como sinal e selo. O Batismo era sinal da entrada na união com Cristo, e, portanto deveria ser administrado a uma pessoa, apenas uma vez. A Ceia do Senhor era um constante alimento para os fiéis que estavam em Cristo. Ele defendeu o batismo infantil e foi total-mente contra qualquer re-batismo; os Anabatistas eram seus inimigos foi seu inimigo não só em matéria de Batismo, mas também porque eles tentavam transtornar toda a ordem social. Nós achamos interessante também que

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Knox considerava o batismo Católico Romano válido, e sem nenhuma razão para o re-batismo. Enquanto insistia que o batismo usado pelo papado é uma adulteração e profanação do ba-tismo que Cristo instituiu, insistia que o batismo Romano levava as pessoas a depositarem sua confiança numa mera cerimônia, e insistindo que os fi-lhos de Deus jamais deveriam oferecer suas crianças para o batismo papista porque isto seria oferecê-los a Satanás, Knox, contudo respondeu à pergunta: “Deveríamos batizar novamente aque-les que na infância foram poluídos com tal sinal adúlterado?” com um inques-tionável “Não.” Suas bases para sua po-sição eram: (1) O fogo do Espírito Santo queimou o que quer que recebamos de suas mãos além da simples instituição de Jesus Cristo.” (2) “E na realidade, a malícia do diabo jamais poderia abolir completamente a instituição de Cristo, pois foi ministrada a em nome do Pai, do Filho, e do Espírito Santo.” (3) “Eu confesso, que por um tempo não nos serviu de nem um proveito; mas agora, como é dito, o Espírito de Jesus Cristo, iluminando os nossos corações, expur-gou o mesmo pela fé, e faz com que os efeitos desse sacramento operem em nós sem reiteração do sinal exterior.” 5

Knox agarrou-se tenazmente ao Princípio Regulador do Culto como também o conhecemos e o mante-mos. Condenando a missa, ele disse: “E agora, em poucas palavras, para tornar claro o que você parece duvidar: isto é, que a Palavra de Deus condena as suas cerimônias, é evidente; pois o claro e estrito mandamento de Deus é: ‘Não aquelas coisas que parecem agradá-veis aos teus olhos farás para o Senhor teu Deus, mas aquilo que o Senhor teu Deus te ordenou; isto farás; nada acres-centes a ela; nada diminuas dela’. Ago-ra a menos que sejas capaz de provar que Deus ordenou as tuas cerimônias, este seu primeiro mandamento conde-

nará tanto você e quanto eles”. 6 Todas as cerimônias e instituições religiosas devem ter uma clara ordenança bíblica para que sejam consideradas expres-sões válidas de culto. O argumento de Knox contra o falso culto sempre gira em torno da sua defesa do Princípio Regulador do Culto.

Somente em um aspecto Knox di-vergiu dos teólogos de Genebra e de nós. Ele nunca realmente condenou o episcopado.7 Ele era um homem de sua época e compartilhava as idéias dos seus contemporâneos na questão do governo de igreja. A sua recusa a bispado Inglês era mais por razões prá-ticas do que por princípios. Ele preferia o trabalho pastoral em uma esfera mo-desta, pregando o bendito evangelho, ao invés dos árduos deveres de um superintendente. Ele nunca aceitou a opinião que bispos eram uma insti-tuição contrária às Escrituras; eles po-diam ser tolerados. Beza, ouvindo das discussões que continuavam na Escó-cia a respeito do governo da igreja, es-creveu a Knox em abril de 1572: “Mas disto, também, meu Knox, que está agora já quase patente aos nossos pró-prios olhos, lembraria a você mesmo e aos outros irmãos, que, como os bispos produziram o Papado, assim também falsos bispos (relíquias do papismo) introduziram o epicurismo no mundo. Deixe aqueles que planejam a segu-rança da igreja que evitem esta pesti-lência, e quando no decorrer do tempo você tiver subjugado esta praga na Es-cócia, de modo nenhum, eu lhe peço, jamais a admita novamente, por mais que ela possa lisonjear a pretensa pre-servação da unidade.”8 Acha-se que se ele tivesse vivido por mais tempo a sua atitude teria mudado e alinharia mais com a forma Presbiteriana de governo da igreja.

Como teólogo, Knox não se igualava a Calvino, ou até mesmo Melanchthon; ele carecia dos poderes construtivos

necessários para construir um sistema teológico que unisse todas as doutrinas em um todo unificado. Todavia, ele era um contestador tremendo e hábil. Seu estilo de pregar era inflexível e às vezes áspero. Sua linguagem podia ser um tanto violenta. As suas cinco reuniões com a Rainha Maria foram caracteriza-das por uma linguagem que era pouco apurada e não era destinada a conven-cê-la, mas para mostrar quão errada ela estava. Por outro lado, ele era um pai gentil de cinco filhos que lhe nasce-ram de duas esposas, a segunda a das quais era bem mais jovem do que ele e serviu como sua enfermeira em seus anos de declínio. Ele foi amado pelos seus alunos e paroquianos, e era um bom exemplo para eles em toda. Perto do final da sua vida ele estava tão fraco que precisava ser ajudado a subir ao púlpito; uma vez ali, ele se tornava tão veemente que começava a golpear o púlpito como se para o destruir. A sua aparência era solene e sóbria muito embora possuísse uma natural digni-dade e cortesia. O seu amor pela ver-dade e audácia em declará-la atraía os crentes para os cultos e pregação. Ele gastava muito tempo e meditação em seus sermões, ou os escrevendo na ín-tegra ou usando abundantes notas. A sua severidade no debate e na prega-ção foi defendida pelos por seus segui-dores dada a importância dos assuntos em pauta; eles requeriam mais um profeta franco ao invés de um orador lisonjeiro.

A estima em que Knox era tido pe-los fiéis da Escócia foi assim expressa-da pelo seu servo Richard Ballantyne: “Desta maneira parte este homem de Deus, a luz da Escócia, o conforto da igreja nacional dentro da mesma, o es-pelho da piedade, e padrão e exemplo para todos os verdadeiros ministros, em pureza de vida, integridade na doutrina, e intrepidez na reprovação à perversidade, e alguém que não se im-

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portava com o favor dos homens (por maior que fosse) para reprovar seus abusos e pecados... Que competência no ensinar, que audácia em reprovar e ódio à perversidade haviam nele, o meu embotamento não é capaz de declarar”. 9 Ele morreu em outubro de 1572, cheio de fé e ainda pronto para a luta. Morreu com amigos lendo para ele Isaías 53 e João 17. Morreu calma-mente e em paz. Foi enterrado em um cemitério perto da igreja de St. Giles, onde uma pedra plana ainda marca a seu túmulo.

A importância de Knox pela causa da igreja e do evangelho de Cristo na Escócia, Inglaterra, e Europa dificil-mente pode ser super-enfatizado. Ele deu toda a sua vida para a reforma da igreja. A sua religião lho possuiu por completo, como a verdadeira religião deve fazer. Pouco antes de morrer ele disse de si mesmo: “A ninguém cor-rompi; a ninguém defraudei; comércio não fiz”. Logo depois que ele morreu o Conde de Mortoun o elogiou assim: “Aqui jaz um homem que em sua vida nunca temeu a face do homem: que foi

freqüentemente ameaçado por facíno-ra e adaga, mas, não obstante, termi-nou os seus dias em paz e honra. Pois ele tinha a providência de Deus velan-do por ele de uma maneira especial, quando buscavam sua própria vida.” 10

Toda igreja Presbiteriana e Refor-mada tem uma grande dívida para com John Knox, e gratidão para com Deus pelo que Ele operou por meio deste homem corajoso de sua época. Onde podem ser encontrados homens de sua envergadura hoje na Escócia, Inglater-ra, Europa e nos Estados Unidos? Onde pode ser encontrado tal ódio santo pelas superstições romanas, doutrinas falsas, e impiedade hoje, como podia ser encontrado em Knox do tempo de sua conversão até o último dia de sua vida? Possa Deus levantar tais homens assim nos lugares onde são necessá-rios para a preservação e defesa das verdades da Reforma hoje!

1. F. Hume Brown, John Knox, A Biography, Adams and Charles Black, London, 1895, vol. I, p. 71. 2. Brown, vol. I, p. 97. 3. Kevin Reed, editor, Selected Writings of John Knox, Heritage Publica-tions, Dallas, 1995, p. 7, and Brown, vol. I, p. 76. 4. Brown, vol. I, pp. 250, 251.5. Reed, p. 317. 6. Reed, p. 16. 7. a) A recusa por parte de Knox quanto a um bispado era para ele uma

questão de princípio. Ele estava disposto a tolerar a atual Igreja Anglica-na como ele encontrou, desde que a reforma pudesse utilizar a autori-dade episcopal dos seus bispos para promover o progresso da Reforma na Inglaterra. Embora sendo utilizado como um pregador itinerante do Evangelho no norte da Inglaterra, ele era um escocês submisso, não um inglês submisso, e tinha recebido refúgio e calorosa recepção dos reformadores ingleses aos protestantes escoceses como refugiados da perseguição papal na Escócia, onde a Reforma não foi estabelecida pela lei civil, até 1560, quando então toda jurisdição papal foi abolida e substituída pela reforma da igreja. Quando perguntado sobre quais os motivos da recusa do bispado de Rochester, afirmou que não tinha liberdade em sua mente para aceitar a mudança no “estado atual da Igreja da Inglaterra”. Quando perguntado se era da opinião de que não poderia servir legalmente ministrando atos eclesiástico de acordo com as atuais leis da Inglaterra, ele respondeu que havia muitas coisas na Igreja Inglesa que precisavam de Reforma e que, a menos que fossem reformadas, os ministros não poderiam, em sua opinião, consciente-mente assumir este ofício diante dos olhos de Deus; nenhum ministro tinha autoridade, de acordo com as leis inglesas de impedir que o in-digno participasse dos sacramentos, que foi “o principal ponto de seu gabinete”. Outra razão apontada foi a sua desaprovação de se participar da Ceia de joelhos e não sentado. Knox tinha seus princípios. Sem sacri-ficá-los ele estava sempre alegre em pregar a Palavra onde Deus na Sua providência abria uma porta para ele.b) Os “superintendentes” da pós-Reforma, prescritos no primeiro Livro de Disciplina, não foram em nenhum sentido orgulhosos bispos dioce-sanos, mas isto foi um expediente temporário visto como necessário até que a Escócia, como um todo, tivesse ordenado ministros do evan-gelho reformados suprindo todos os membros da nação. A evangeli-zação de toda a nação e a plantação de novas igrejas reformadas foi uma primária e urgente preocupação dos reformadores escoceses. Um educado e piedoso ministério foi seu objetivo, buscando a glória de Deus, a salvação de almas, e o bem-estar espiritual das gerações futu-ras. Estes superintendentes foram escolhidos para responderem diante da Assembléia Geral, selecionados com base na sua evidente piedade, zelo pelos Princípios da Reforma, pelos princípios educacionais e outros dons. Eles foram eleitos e admitidos ao ofício como outros pastores e sujeitos à mesma disciplina e admoestação (repreensão, suspensão, de-posição). Ao examinar aos que eram admitidos para o ministério, eles foram obrigados a se associar juntamente com os ministros das paró-quias vizinhas. Foram proibidos de exercer qualquer jurisdição espiritual sem o consentimento dos sínodos provisórios. Foram autorizados a permanecer apenas por curtos períodos na cidade de sua residência principal e tinham de continuamente se deslocar através de todo dis-trito pregando pelo menos 3 vezes por semana e não permanecendo por mais de 20 dias em cada um lugar. Beza não estava na Escócia para ver as dificuldades com que os reformadores escoceses tinham de lidar com o que restava da reforma escocesa e provavelmente entendeu mal a posição dos “superintendentes temporários” confundindo-os com bispos orgulhosos. Deve ser lembrado que a Reforma suíça tinha sido estabelecida muito antes do triunfo da Escócia sobre dominação roma-na! (Rev. Ronald Mackenzie, Escócia NE)8. Brown, vol. II, pp. 278, 279. 9 Samuel Jackson et. al., The New Schaff-Herzog Encyclopedia of Reli-gious Knowledge, vol. VI, Funk and Wagnalls Company, New York and London, 1920, p. 265. 10. Brown, vol. II, p. 288.Outras FontesThe Reformation in Scotland, John Knox, Banner of Truth Trust, Edin-burgh, 1898. The Scottish Reformation, Gordon Donaldson, Cambridge University Press, London, 1960.Rev. Kuiper é pastor da Southeast Protestant Reformed Church em Grand Rapids, Michigan.

DALE H. KUIPER

Confissão de Fé EscocesaCapítulo 10

A RessurreiçãoVisto que era impossível que as dores da morte pudessem reter cativo o Autor da vida,1 cre-

mos sem nenhuma dúvida que nosso Senhor Jesus Cristo foi crucificado morto e sepultado, o qual desceu ao inferno, ressuscitou para nossa justificação2 e para a destruição daquele que era o autor do pecado, e nos trouxe de novo a vida, a nós que estávamos sujeitos à morte e ao seu cativeiro.3 Sabemos que sua ressurreição foi confirmada pelos testemunhos de seus inimigos4 e pela ressurreição dos mortos, cujos sepulcros se abriram e eles ressuscitaram e apareceram a muitos dentro da cidade de Jerusalém,5 e que foi também confirmada pelos testemunhos dos anjos,6 pelos sentidos e pelo julgamento dos apóstolos e de outros que pri-varam com ele e com ele comeram e beberam depois da sua ressurreição.7

1. At 2:24. 2. At 3:26; Rm 6:5, 9; 4:25. 3. Hb 2:14-15. 4. Mt 28:4. 5. Mt 27:52-53. 6. Mt 28:5-6. 7. Jo 20:27; 21:7,12-13; Lc 24:41-43.

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A Apostolicidade da Igreja“Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, sendo o próprio Cristo Jesus a principal pedra da esquina” (Ef. 2:20).

Rev. Angus Stewart

esde o Concílio de Constanti-nopla (AD 381), a igreja Cristã tem confessado em seus cre-dos quatro atributos da verda-

deira igreja; que ela é “una, santa, católica e apostólica”. Efésios 2:20 ensina a apos-tolicidade da igreja, pois a igreja é “edifi-cada sobre o fundamento dos apóstolos e profetas”.

Portanto a apostolicidade da igreja é bíblica e credal; mas o que é que signi-fica? No dia de Pentecostes, o início do período do Novo Testamento, a igreja foi reunida pela pregação dos apóstolos, e “perseveravam na doutrina dos apóstolos” (Atos 2:42). Hoje, a doutrina apostólica está contida no Novo Testamento que é a conclusão e o cumprimento do Velho Testamento. Portanto é apostólica aquela igreja que é inteiramente caracterizada pela verdade ensinada pelos apóstolos nas sagradas Escrituras, e ministros Cris-tãos são sucessores dos apóstolos se eles pregarem a doutrina apostólica.

Efésios 2:20 ensina que a apostolici-dade é o fundamento da igreja, pois a igreja é “edificado sobre o fundamento dos apóstolos e profetas”. A santidade da igreja é a sua beleza (Ef. 5:26-27); não o seu fundamento. A catolicidade da igreja é a sua extensão universal incluindo todas as nações, tribos, povos e línguas, etc (Ap. 7:9); não o seu fundamento. A unidade da igreja é a sua singularidade espiritual e numérica; não o seu fundamento. Como “fundamento” da igreja, a apostolicidade é a base da santidade, catolicidade e uni-

dade da igreja. A verdadeira igreja possui santidade apostólica, catolicidade apos-tólica e unidade apostólica. Portanto re-lacionamentos ecumênicos entre congre-gações e denominações deverão começar com discussões doutrinárias: Concorda-mos na fé apostólica?

Além do mais, há somente um funda-mento da igreja; não dois ou mais. A base da igreja não é apostolicidade e unidade ou santidade ou catolicidade. Tampouco é a igreja baseada sobre a apostolicidade e a espontânea vontade do homem ou a ciência moderna ou tradições da igreja. O exclusivo fundamento da igreja é a verda-de apostólica das Sagradas Escrituras que revela Jesus Cristo crucificado, ressuscita-do e reinando, pois Ele pessoalmente é o fundamento da igreja (1Co. 3:11).

Fundamentos, é claro, são alicerçados uma única vez, e o fundamento da igreja nunca pode ser re-alicerçado. A fé apostó-lica “uma vez por todas foi entregue aos santos” (Jd 3). Como um sábio construtor, o fundamento de Deus é forte o suficien-te para suportar a totalidade da igreja de todas as épocas. Por isso apartando-se da doutrina apostólica a verdade do Deus Triúno, as Escrituras, a criação, a graça soberana etc o fundamento da igreja é falsificado e resulta no desabamento de uma congregação ou denominação. Pessoas podem ainda freqüentar, mas es-piritualmente a congregação está se de-generando e a caminho de ser uma falsa igreja.

Fundamentos também determinam o comprimento e a largura, e, portanto, a forma de um edifício. Doutrinas falsas em

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uma igreja não somente destroem o fundamento; eles também alicerçam um fundamento adicional. Tudo o que reivindica ser igreja, mas não é alicer-çada no fundamento apostólico está debaixo do julgamento de Deus.

A melhor maneira para demolir um edifício não é quebrando sua janela ou a sua chaminé ou até mesmo as suas paredes, mas destruindo o seu fun-damento que sustenta o edifício. Do mesmo modo, a maneira mais eficaz de destruir uma igreja é minar o seu fundamento: a doutrina apostólica. Portanto, abertamente ou sutilmente, falsos mestres atacam a depravação total, a justificação pela fé somente, a

eleição incondicional, a predestinação etc.; e minam os credos da Reforma que sumariza a verdade apostólica.

Tudo isso nos capacita a testar se as igrejas são instituídas à luz da Pala-vra de Deus. A pergunta chave é esta: Esta congregação ou denominação é apostólica em todas as coisas? Esta ou aquela igreja é inteiramente caracteri-zada pelos ensinamentos apostólicos para que ela seja “coluna e baluarte da verdade” (1Tm. 3:15) sustentando a verdade de Jesus Cristo em um mun-do que odeia a verdade? A três marcas da igreja estão presentes: pregação apostólica, sacramentos apostólicos e disciplina na igreja apostólica? É a

congregação apostólica, no culto, nas orações, no governo da igreja, nos ofí-cios (ministros, presbíteros e diáconos), nas instruções aos filhos da aliança, no evangelismo etc.?

A membresia em uma igreja apostó-lica traz honra a Jesus Cristo que está presente onde a verdade apostólica é pregada, crida, amada, confessada, de-fendida e perseguida. Tais igrejas são lugares onde os seus membros “cres-cem na graça” pelo “conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (2Pe. 3:18), aquele que é posto em toda a Sua riqueza, pelo ensinamento apostólico.

Rev. Angust Stewart é pastor na Covenant Protestant Reformed Church of Ballymena, Irlanda do Norte.

ANGUS STEWART

“Ninguém pode servir a dois senhores” (Mateus 6:24a)Joel Beeke e Heidi Boorsma

erta vez, o Senhor Jesus contou uma história sobre um jovem rico. Este jovem rico veio a Je-sus, perguntando o que deveria fazer para ter certeza de que iria para o Céu. Jesus lhe disse que ele deveria guardar os Dez Mandamentos. O jovem rico respondeu: “Tenho guardado os mandamentos desde a minha juventude”. Crianças, vocês sabem quem foi a única pessoa aqui na terra que guardou os dez mandamentos perfeitamente?

Jesus falou ao jovem rico que ele deveria, então, vender tudo o que tinha e dar o dinheiro às pessoas pobres ao seu redor. Mas o jovem rico tinha um problema. Ele amava muito todas as coisas que ele pos-suía. Com certeza ele possuía muitas coisas boas, porque lemos na Bíblia que ele era rico. Jesus estava investigando o coração do rapaz para ver o que ele amava mais: aos seus bens materiais ou a Jesus, o Senhor dos céus? Lemos na Bíblia que o jovem se retirou triste. Ele queria o dom do céu, mas não queria o doador daquele dom, Jesus Cristo.

Meninos e meninas, ninguém pode servir a dois senhores. Não podemos dar o nosso coração a ambos: a Deus e ao mundo. Este jovem rico servia ao mundo e amava as coisas deste mundo. As riquezas tinham o primeiro lugar no seu coração, por isso, ele não podia dar o seu coração a Deus. As riquezas eram os seus ídolos, os quais ele amava mais do que a Deus, o seu Criador. Deus quer que o amor de nosso coração seja para Ele e não para as coisas deste mundo. Deus diz na Sua Palavra: “Filho meu, dá-me o teu coração”.

Como você se sentiria, se os seus queridos pais dessem muito tempo e amor para as coisas que eles possuem e nunca dessem amor ou atenção a você? Você se sentiria muito triste, não é? Deus é o nosso Criador. Ele é o Pai de todas as Suas criaturas. Ele deseja que nós O amemos e O sirvamos com todo o nosso coração. Você vai pedir, então, a Deus que lhe dê graça para amá-Lo mais do que a qualquer pessoa ou a qualquer coisa nesta vida?

Extraído do livro, O ABC de Deus para a Vida, Knox Publicações, pp. 34-35.

Para nossas Crianças

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John Knox na Liturgia e na Pregação“Não terás outros deuses diante de mim. Não farás para ti imagem esculpida, nem figura alguma do que há em cima no céu...” (Gn 20:3, 4).

Rev. Daniel Kleyn

ntes da Reforma na Escócia, a Igreja Católica Romana estava tão profundamente corrompi-da qualquer adoração verda-

deira de Deus quase impossível. Homens e mulheres se curvavam diante de ima-gens. Mártires, apóstolos e virgens eram adorados. Numerosos dias santos e festas (freqüentemente pagãs na origem) esta-vam constantemente sendo adicionadas. A igreja na Escócia estava, portanto, numa terrível necessidade de reforma, especial-mente na área da liturgia e adoração.

No tempo da necessidade da igreja, Deus levantou John Knox para liderar a Reforma Escocesa. Ele corajosamente e ousadamente enfrentou os males da Igre-ja de Roma. Aspirava incansavelmente limpar a igreja e a nação das corrupções da falsa adoração. Ele condenou aber-tamente as práticas perversas de Roma. Mostrou ao povo o que exatamente esta-va errado na forma de adoração de Roma, e apresentou de forma adequada, uma liturgia e adoração bíblica.

Fazendo isto, Knox aplicou à adoração um dos solas da Reforma sola scriptura. Somente a Escritura deve ser o guia para a adoração. Todas as práticas e observân-cias na igreja que não têm autoridade es-criturística, devem ser abolidas. Ao apelar para o princípio do sola scriptura para a adoração, Knox estava confirmando o que desde então se tornou conhecido como o “Princípio Regulador do Culto”.

Knox chegou a um claro entendimento deste princípio de adoração durante seu

exílio em Genebra. A perseguição severa aos Protestantes na Escócia o forçou, e muitos outros, a fugir. Embora retornan-do ocasionalmente a Escócia, Knox esteve em Genebra por aproximadamente seis anos, de 1554 a 1559.

Enquanto em Genebra, Knox desfru-tou de muita interação com o reformador João Calvino. Isto lhe deu oportunidade de discutir com Calvino não somente te-ologia, mas também política da igreja. Ele aprendeu muito de Calvino e tornou-se perfeitamente inteirado com as visões de Calvino sobre adoração.

Em Genebra, Knox também serviu como pastor de uma pequena congre-gação de ingleses exilados. Através disto ele ganhou, aparentemente, experiência prática na forma Reformada de adoração que Calvino ensinou e estabeleceu em Genebra. E ele a aprovou. Isto é eviden-te a partir de uma carta que ele escreveu de Genebra para amigos na Inglaterra, na qual ele declarou, “... Não temo nem me envergonho de dizer [que aqui] é a mais perfeita escola de Cristo que já houve na terra desde os dias dos apóstolos. Em ou-tros lugares, eu confesso ser Cristo prega-do verdadeiramente; mas os costumes e a religião serem tão sinceramente reforma-da, não tenho visto todavia em nenhum outro lugar”. [1]

Knox adotou as visões de Calvino so-bre adoração, perfeitamente convencido de que elas eram bíblicas e corretas. Ele entendeu que o homem por si mesmo não pode decidir como Deus deve ser adorado. Somente Deus pode determi-nar isto. Portanto, qualquer prática ou

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cerimônia religiosa na igreja que não tenha garantia escriturística deve ser profundamente rejeitada. Fazendo referência à Deuteronômio 4:2 e 12:8, Knox coloca isto desta forma: “Não fareis tudo o que bem parece aos seus olhos para o Senhor teu Deus, mas o que o Senhor teu Deus te ordenou; não acrescentareis nada; nem diminuireis dela”. O resultado da estadia de Knox em Genebra foi que ele retornou a Es-cócia decididamente em favor de fazer as coisas como Calvino as havia feito em Genebra. Através de escritos, de-bates e especialmente pregações, ele começou a implementar os princípios Reformados de liturgia e adoração.

Knox era um pregador poderoso. “Ele colocava mais vida em seus ouvin-tes a partir do púlpito em uma hora do que seiscentas trombetas”. [2] Mesmo quando estava velho e tinha que ser assistido ao púlpito, ele ainda se torna-va tão animado que, segundo alguns, parecia como se ele estivesse “ding the pulpit in blads” (quebrando o púl-pito em pedaços) até ele sumir de sua frente. Do púlpito, portanto, ele sem medo condenou os erros da igreja de Roma e apresentou o caminho bíblico da adoração.

Um exemplo disto é um sermão que ele pregou em St. Andrews logo após o seu retorno de Genebra. A au-diência de Knox consistia de muitos homens influentes, incluindo nobres e sacerdotes. Nem todos eram a favor da Reforma, mas isto não o dissuadiu. Ele pregou sobre a limpeza de Jesus do templo. Durante seu sermão ele fez direta aplicação ao papado. Ele descreveu e condenou, sem reservas, a corrupção que o papado tinha introdu-zido na igreja. O sacerdócio de Roma, disse, eram simonistas (N.T.: de simo-nia, compra ou venda ilícita de coisas espirituais), vendedores de perdão, colecionadores de relíquias e encantos, exorcistas e traficantes dos corpos e al-

mas dos homens. A adoração de Roma, de acordo

com Knox, consistia de incontáveis “invenções papais”. Era inventada por homem e, dessa forma, grandemen-te desonrante e desagradável a Deus. Portanto, “a ira e a terrível maldição de Deus é declarada cair sobre todos aqueles que ousam tentar adicionar ou diminuir qualquer coisa em Sua re-ligião’. [3]

De acordo com Knox, permitir aos homens determinar o que pode e o que não pode ser incluído na adoração, abre o caminho para idolatria. Isto foi verdadeiro especialmente no caso da missa. Em A Vindication of the Doc-trine That the Sacrifice of the Mass Is Idolatry (Uma Vindicação da Doutrina de que o Sacrifício da Missa é Idolatria) , Knox declara, “Toda adoração, honra ou serviço inventada pela mente do homem na religião de Deus, sem Seu expresso mandamento, é idolatria. A Missa foi inventada pela mente do ho-mem, sem qualquer mandamento de Deus; portanto, ela é idolatria”, e “blas-fema à morte e paixão de Cristo”. [4]

Por meio da insistência de Knox so-bre a adoração biblicamente baseada e seus labores diligentes em proclamar esta verdade, Deus produziu uma re-forma na adoração na Escócia. A falsa adoração de Roma foi abandonada, e a verdadeira adoração de Deus foi res-taurada. Os ídolos mortos de Roma fo-ram substituídos pela pregação vida da Palavra. E somente aqueles elementos de adoração que a Escritura prescrevia foram admitidos, tais como oração, a leitura e pregação das Escrituras, o cântico dos Salmos, e a administração apropriada dos sacramentos.

Knox escreveu o Book of Com-mon Order (Livro da Ordem Comum), freqüentemente referido como “A Li-turgia de Knox”. Este livro foi aprovado e adotado pela Assembléia Geral em 1564 e usado na Escócia até o diretório

de Westminster para adoração apare-cido em 1645.

A liturgia de Knox foi baseada larga-mente naquela da congregação Ingle-sa que ele pastoreou em Genebra, se-guindo as mesmas regras gerais e con-teúdo. No prefácio deste livro ele de-clara: “Nós, portanto,... apresentamos a vocês, que desejam o aumento da Glória de Deus, e a Simplicidade pura de Sua Palavra, uma Forma e Ordem de uma Igreja Reformada, limitada dentro do Compasso da Palavra de Deus, que nosso Salvador nos deixou como única e suficiente para o governo de todas as nossas ações por ela”.

Com respeito aos sacramentos, Knox mostrou que somente aqueles sacramentos que foram instituídos por Cristo são válidos. “Para que os Sacra-mentos sejam corretamente adminis-trados, julgamos duas coisas serem indispensáveis: A primeira, que sejam administrados por Ministros fiéis, os quais afirmamos serem somente eles que foram designados para a pregação da Palavra... A outra, que sejam admi-nistrados em tais elementos, e de tais maneiras, como Deus estabeleceu; de outra forma, afirmamos, que eles ces-sam de ser os Sacramentos corretos de Cristo Jesus”. [5]

Concernente a leitura da Escritura na adoração, Knox cria “ser de extre-mo proveito que as Escrituras sejam lidas em ordem, isto, que algum livro do Velho e do Novo Testamento seja iniciado e ordenadamente lido até o fim”. [6] Ele aplicou isto também a pre-gação. “Pulando e divagando de um lugar ao outro da Escritura, seja na lei-tura, ou na pregação, julgamos não ser proveitoso para edificar a igreja, como o seguimento contínuo de um texto”. [7] Os ministros devem pregar a partir das Escrituras livro por livro, e capítulo por capítulo, numa forma contínua e ordenada.

As formas de oração foram incluídas

DANIEL KLEYN

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na liturgia de Knox. Eles foram destina-dos para o uso durante os serviços de adoração. Knox deixou claro, contudo, que devia haver também lugar para as orações livres. As formas de oração eram modelos. Ninguém estava estrita-mente obrigado a usá-las. Os ministros, portanto, desfrutavam de liberdade na oração pública.

A própria adoração tornou-se uma atividade corporativa. A Igreja Católica Romana tinha impedido as pessoas de serem envolvidas na adoração. Agora, contudo, o latim foi substituído pelo inglês, de forma que todos pudessem entender. As Escrituras foram traduzi-das para uma linguagem comum. To-das as igrejas tinham uma Bíblia em inglês e a expunham regularmente para que até mesmo aqueles que não podiam ler, pudessem se beneficiar. O evangelho era proclamado com clari-dade e simplicidade. E os Salmos eram colocados em canções familiares de forma que as próprias pessoas podiam expressar louvores e graças a Deus.

A Confissão Escocesa de Fé expres-

sa claramente esta opinião de Knox com respeito à liturgia e adoração. Elaborada em 1560 por Knox e outros cinco ministros, o Artigo 20 desta con-fissão declara que “na Igreja, em que como casa de Deus que é convém que tudo seja feito com decência e or-dem. Não que pensemos que a mesma administração ou ordem de cerimônias possa ser estabelecida para todas as épocas, tempos e lugares; pois, como cerimônias que os homens inventaram, são apenas temporais, e, assim, podem e devem ser mudadas quando se per-cebe que o seu uso fomenta antes a su-perstição que a edificação da Igreja”.

Esse artigo mostra que Knox e seus colegas Reformados na Escócia não estavam a favor de fazer uma forma particular de adoração obrigatória. As igrejas estavam livres para mudar sua liturgia. Mas elas não podiam mudá-la para seja o que for que lhes agradas-se. Elas deviam ser governadas pelas Escrituras. A Palavra de Deus devia dirigi-las. Especificamente, a liturgia e a adoração eram para serem governa-

das pelos dois princípios apresentados em 1 Coríntios 14, a saber, que todas as coisas devem ser feitas “decentemen-te e com ordem” (v. 40), e que todas as coisas devem ser feitas para “ edifica-ção” (v.26).

A igreja de hoje faria bem em le-var no coração e colocar em prática as visões bíblicas de John Knox com respeito à liturgia e adoração. Porque novamente hoje muitas “invenções feitas por homens” têm se infiltrado nos serviços de adoração de muitas igrejas. Knox corretamente apontou que isto se eleva à idolatria. Deve ser condenado e abandonado. Somente o que Deus ordena pode ser incluído na adoração. Que possamos sempre, pela graça de Deus, manter e praticar a ado-ração bíblica.

Rev. Kleyn é pastor da Igreja Protestante Reformada de Edgerton, Min-nesota . NOTAS:1. Charles Baird, The Presbyterian Liturgies (As Liturgias Presbiterianas), Grand Rapids: Baker Book House, 1957, p. 97. 2. Philip Schaff, Creeds of Christendom (Credos do Cristianismo) , Grand Rapids: Baker Book Hou-se, 1990, vol. I, p. 677. 3. John Knox, True and False Worship (Adoração Verdadeira e Falsa), Dallas: Presbyterian Heritage Publications, 1994, p. 36. 4. Knox, True and False Worship (Adoração Verdadeira e Falsa) , pp. 22, 23. 5. The Scotch Confession of Faith (A Confissão de Fé Escocesa) , Article 22. 6. John Knox, The Reformation in Scotland (A Reforma na Escócia) , Edinburgh: Banner of Truth Trust, 1982, p. 253. 7. Knox, Reformation in Scotland (A Reforma na Escócia).

JOHN KNOX NA LITURGIA E PREGAÇÃO

Knox e a Característica Peculiar do Puritano

Knox é “o fundador do puritanismo” porque ele apresenta com mui-ta clareza os princípios normativos do puritanismo. Isto é, primeira-mente e acima de tudo, a autoridade suprema das Escrituras como a Palavra de Deus. Não preciso aprofundar-me nisso. O catolicismo ro-mano põe em primeiro lugar a igreja, a sua tradição e a sua interpre-tação das Escrituras; e todas as igrejas reformadas imperfeitamente continuaram a fazer o mesmo. No entanto a característica peculiar do puritano é que ele assevera a autoridade suprema da Palavra de Deus. Este era o princípio normativo de Knox. Se uma coisa não po-dia ser justificada pelas Escrituras, ele não a aceitava e não permitia que fosse adotada.

Extraído do livro Os Puritanos Suas Origens e Sucessores, Dr. Martin Lloyd-Jones, p. 276, Editora PES.

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Incapacidade de Vir a Cristo“Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia” (Jo. 6:44).

Robert Murray M’Cheyne

uão surpreendente é a depra-vação do homem natural!

As Escrituras nos ensinam isso abundantemente. Todo

pastor fiel levanta a sua voz como uma trombeta, para mostrar isto às pessoas. E a primeira obra do Espírito Santo, no co-ração, é convencer do pecado. Na Palavra de Deus, não existe uma descoberta mais terrível sobre a depravação do homem na-tural do que estas palavras do evangelho de João. Davi afirmou: “Eu nasci na iniqüi-dade, e em pecado me concebeu minha mãe” (Sl 51.5). Deus falou por meio do profeta Isaías (48.8): “Eu sabia que proce-derias mui perfidamente e eras chamado de transgressor desde o ventre materno”. E Paulo disse: “Éramos, por natureza, fi-lhos da ira, como também os demais” (Ef 2.3). Mas nesta passagem de João somos informados de que a incapacidade do ho-mem natural e sua aversão por Cristo são tão grandes, que não podem ser vencidas por qualquer outro poder, exceto o poder de Deus. “Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6.44). Nun-ca houve um mestre como Cristo. “Jamais alguém falou como este homem” (Jo 7.46).

Jesus falava com muita autoridade, não como os escribas, mas com digni-dade e poder celestial. Ele falava com grande sabedoria. Falava a verdade sem qualquer imperfeição. Seus ensinos eram a própria luz proveniente da Fonte de Luz. Ele falava com bastante amor, com o amor

dAquele que estava prestes a dar a sua vida em favor de seus seguidores. Falava com mansidão, suportando a ofensa con-tra Ele mesmo vinda dos pecadores, não ultrajando quando era ultrajado. Jesus falava com santidade, porque era Deus “manifestado na carne”. Mas tudo isso não atraía os seus ouvintes. Nunca houve um dom mais precioso oferecido aos homens. “O verdadeiro pão do céu é meu Pai quem vos dá... Eu sou o pão da vida; o que vem a mim jamais terá fome; e o que crê em mim jamais terá sede” (Jo 6.32, 35).

O Salvador de que as pessoas conde-nadas necessitavam estava diante delas. Sua mão lhes foi estendida. Ele estava ao alcance delas. O Salvador ofereceu- lhes a Si mesmo. Oh! que cegueira, dureza de coração, morte espiritual e impiedade desesperadora existem na pessoa não-convertida! Nada pode mudá-la, exceto a graça do Todo-Poderoso. Oh! homem destituído da graça de Deus, seus amigos o advertem, os pastores clamam em voz alta, a Bíblia toda o exorta. Cristo, com to-dos os seus benefícios, é colocado diante de você. Todavia, a menos que o Espírito Santo seja derramado em seu coração, você permanecerá um inimigo da cruz de Cristo e destruidor de sua própria alma. “Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer”.

Quão invencível é a graça de Jeová! Nenhuma criatura tem o poder de

atrair o homem a Cristo. Exibições, evi-dências miraculosas, ameaças, inovações são usadas em vão. Somente Jeová pode trazer a alma a Cristo. Ele derrama seu Es-

Q

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pírito com a Palavra, e a alma sente-se alegre e poderosamente inclinada a vir a Jesus. “Apresentar-se-á volunta-riamente o teu povo, no dia do teu po-der” (Sl 110.3). “Acaso, para o Senhor há coisa demasiadamente difícil?” (Gn 18.14) “Como ribeiros de águas assim é o coração do rei na mão do Senhor; este, segundo o seu querer, o inclina” (Pv 21.1).

Considere um exemplo: um judeu estava assentado na coletoria, próxima à porta de Cafarnaum. Sua testa estava enrugada com as marcas da cobiça, e seus olhos invejosos exibiam a astúcia de um publicano. Provavelmente, ele ouvira falar de Jesus; talvez O tivesse ouvido pregando nas praias do mar da Galiléia. Mas seu coração munda-no ainda permanecia inalterado, visto que ele continuava em seu negócio ím-pio, assentado na coletoria. O Salvador passou por ali e, quando olhou para o atarefado Levi, disse-lhe: “Segue-me!” Jesus não disse mais nada. Não usou qualquer argumento, nenhuma ame-aça, nenhuma promessa. Mas o Deus de toda graça soprou no coração do publicano, e este se tornou disposto a seguir ao Senhor. “Ele se levantou e o seguiu” (Mt 9.9).

Agradou a Deus, que opera todas as coisas de acordo com o conselho da sua vontade, dar a Mateus um vis-lumbre salvador da excelência de Je-sus; a graça caiu do céu no coração de Mateus e o transformou. Ele sentiu o aroma da Rosa de Sarom. O que signifi-

cava o mundo agora para ele? Mateus não se importava mais com os lucros, os prazeres e os louvores do mundo. Em Cristo, ele viu aquilo que é mais agradável e melhor do que todas essas coisas do mundo. Mateus se levantou e seguiu a Jesus.

Aprendamos que uma simples pa-lavra pode ser abençoadora à salvação de almas preciosas. Freqüentemente, somos tentados a pensar que tem de haver algum argumento profundo e lógico, para trazer as pessoas a Cristo. Na maioria das vezes, colocamos nossa confiança em palavras pomposas. No entanto, a simples exposição de Cristo aplicada ao coração pelo Espírito Santo vivifica, ilumina e salva. “Não por força nem por poder, mas pelo meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos” (Zc 4.6).

Se o Espírito age nas pessoas, estas simples palavras: “Segue a Jesus”, fala-das em amor, podem ser abençoadas e salvar todos os ouvintes.

Aprendamos a tributar todo o lou-vor e glória de nossa salvação à graça soberana, eficaz e gratuita de Jeová. Um falecido teólogo disse:

“Deus ficou tão irado por Herodes não lhe haver dado glória, que o anjo do Senhor feriu imediatamente a Hero-des, que teve uma morte horrível. Ele foi comido por vermes e expirou. Ora, se é pecaminoso um homem tomar para si mesmo a glória de uma graça tal como a eloqüência, quão mais pe-caminoso é um homem tomar para si a glória da graça divina, a própria ima-

gem de Deus, que é o dom mais glorio-so, excelente e precioso de Deus?”

Quantas vezes o apóstolo Paulo insiste, em Efésios 1, que somos sal-vos pela graça imerecida e gratuita? E como João atribui toda a glória da sal-vação à graça gratuita do Senhor Jesus “Àquele que nos ama, e, pelo seu san-gue, nos libertou dos nossos pecados... a ele a glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém!” (Ap 1.5, 6).

Quão solenes foram as palavras de Jonathan Edwards (Puritano da Nova Inglaterra), em sua obra Personal Nar-rative (Narrativa Pessoal)!

“A absoluta soberania e graça gra-tuita de Deus, em demonstrar mise-ricórdia àquele para quem Ele quer expressar misericórdia, e a absoluta dependência do homem quanto às operações do Espírito Santo têm sido para mim, freqüentemente, doutrinas gloriosas e agradáveis. Estas doutrinas têm sido o meu grande deleite. A so-berania de Deus parece-me uma enor-me parte de sua glória. Tenho sentido deleite constante em aproximar-me de Deus e adorá-Lo como um Deus soberano, rogando-Lhe misericórdia soberana”.

Ao sentir-me à graça um grande devedor; Sou constrangido sempre, a todo instante! Que esta graça, com al-gemas, meu Senhor, Prenda somente a Ti meu coração hesitante.

Robert Murray M’Cheyne (1813 - 1843) foi ministro de St Peter’s Chur-ch Dundee, Escócia (1836 - 1843). Foi um devoto pastor evangélico e evangelista com grande amor pelas almas.

INCAPACIDADE DE VIR A CRISTO

Catecismo Menor de WestminsterPergunta 19 ‒ Qual é a Providência de Deus para com os Anjos?R: Deus, pela sua providência, permitiu que alguns dos anjos, voluntária e irremediavelmente, caíssem em pe-

cado e perdição, limitando e ordenando isso, como todos os pecados deles, para a sua própria glória; e estabeleceu os mais em santidade e felicidade, empregando-os todos, conforme lhe apraz, na administração do seu poder, mi-sericórdia e justiça.

Judas 6; Luc. 10:17; Mar. 8:38; 1 Tim. 5:21; Heb. 12:22; Sal. 103:20; Heb. 1:14.

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A Mulher Virtuosa“A mulher que teme ao Senhor, essa será louvada” (Pv. 31:30).

Dr. David Murray

difícil escrever um estudo bíbli-co sobre “a mulher virtuosa”. A primeira dificuldade é que eu sou homem. E qual é a melhor

pessoa para descrever uma mulher virtu-osa? Bem, é encorajador o fato de que o escritor de Provérbios 31 era homem. En-tão, há aqui um precedente bíblico.

A segunda dificuldade é que há muitos exemplos de mulheres ímpias bombarde-ando-nos diariamente de várias formas, e muitas destas influências nocivas têm se infiltrado na igreja. Contudo, nós devemos crer que a Palavra de Deus é apta não ape-nas para frear essa torrente de mundanis-mo, mas até mesmo para extingui-la.

A terceira dificuldade é o volume de material bíblico para estudo. Há muitos versículos relevantes e muitas formas de se abordar este assunto. Nós podemos, por exemplo, percorrer muitos dos exem-plos bíblicos positivos e destacar uma virtude que sobressai quando seu nome é mencionado. O que lhe vem à cabeça quando você ouve o nome de Débora? Coragem. Rute? Lealdade. Ana? Abnega-ção. Maria? Fé. Maria Madalena? Amor. Dorcas? Boas obras, etc. Siga as mulheres piedosas da Bíblia e anote uma qualida-de, a que vier imediatamente à sua men-te. Então ponha todas essas qualidades juntas e você terá o quadro completo da mulher virtuosa.

Se preferir, você pode listar as mulhe-res ímpias que aparecem na Bíblia e iden-tificar seus maiores defeitos. O que lhe

vem à cabeça quando você pensa em Da-lila? Manipulação. Jezabel? Idolatria. Safi-ra? Mentira. Mical? Escárnio. A mulher de Jó? Rebelião. A mulher de Ló? Mundanis-mo, etc. Ponha todos esses vícios juntos e você terá uma figura completa da mulher ímpia. Ora, eu tenho certeza de que você não procura nada parecido, senão o con-trário.

Outra abordagem pode ser observar o ensino de Paulo (Ef. 5:22-33; Tito 2:3-5), ou o ensino de Pedro (1Pe 3:1-7). Mas, neste artigo nós vamos olhar somente para a mulher virtuosa tão belamente descrita em Provérbios 31:10-31. Ajudará se você abrir sua Bíblia nessa passagem para ver-mos, primeiramente, as características da mulher virtuosa, e então os seus desafios.

AS CARACTERÍSTICAS DA MULHER VIRTUOSA

1) Antes de qualquer coisa, a mulher virtuosa centra-se em Deus. Ela não liga para o que as pessoas pensam de suas roupas ou de seu visual. Por que? Porque é ao Senhor que ela teme. “Enganosa é a graça, e vã, a formosura, mas a mulher que teme ao Senhor, essa será louva-da” (v.30). Esse é o ponto culminante da descrição da mulher virtuosa e aponta a origem primária de todas as suas virtudes. No centro da vida desta mulher está seu relacionamento com Deus, e ela teme tudo que possa vir a ameaçar essa relação. Ela é conhecida como uma mulher que desfruta do favor de Deus e teme, mais do que qualquer outra coisa no mundo, vê-lo aborrecido.

É

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2) Em segundo lugar, a mulher virtu-osa preocupa-se com a Palavra. Como Provérbios nos lembra repetidas vezes: “O temor do Senhor é o princípio da sa-bedoria”. Não é de surpreender, então, que quando essa mulher temente a Deus fala, “abre sua boca com sabe-doria e a instrução da bondade está na sua língua” (v.26). Sua conversa refle-te seu interesse principal: a sabedoria revelada de Deus e Sua benevolente lei. A mulher que centra-se em Deus, centra-se na Palavra de Deus. Ela não fica tentando passar a vista em alguns versículos aqui e ali enquanto grita com as crianças e atende ao telefone. Ela levanta alguns minutos mais cedo do que o necessário, com o objetivo de começar o dia com um período calmo e pacífico de leitura da Palavra de Deus. Como isto transforma o dia! Ela agora tem sabedoria e palavras amáveis de Deus para dizer aos outros.

3) Em terceiro lugar, a mulher virtuo-sa, se casada, centra-se em seu marido. Ela encontra grande satisfação em ser uma ajudadora para o seu marido (Gn. 2:18). Ela não vê isto como um manda-mento humilhante, porque sabe que Deus usa a mesma palavra hebraica (ëzer) para descrever a Si mesmo como o ajudador do Seu povo (Sl. 54:4). Ser uma ajudadora é ser como Deus que nobre chamado! O papel de ajudadora da mulher virtuosa pode ser resumido em duas palavras: conselho e progres-so. Estando preocupada com Deus e Sua Palavra, “o coração do seu mari-do confia nela” (v.11). Ele a consulta e busca seus piedosos conselhos antes de tomar decisões que dizem respeito a ambos. E, ela não compete com seu marido nem o critica na frente de ou-tros, mas busca seu progresso. “Ela lhe faz bem e não mal, todos os dias da sua vida” (v.12). Como resultado, “seu ma-rido é estimado entre os juízes, quan-do se assenta com os anciãos da terra” (v.23).

4) Em quarto lugar, a mulher virtuo-sa, se for mãe, centra-se em seus filhos. “Levantam-se seus filhos e lhe chamam ditosa” (v.28). Por que? Porque sua mãe devotou-se a eles todos os dias de suas vidas. Por quatro vezes lemos da preocupação desta mulher com sua “casa” (v.15, 21,27). Se pudéssemos en-xergar dentro de sua mente, veríamos esta frase rondando circularmente: “Minha casa, minha casa, minha casa, etc”. Ela não encara os filhos como um acessório necessário, nem como um problema que pode ser repassado. O coração dela está tomado pelos filhos. Ela os ama e cuida de seus corpos, de suas mentes, e de suas almas.

5) Isso nos conduz à quinta caracte-rística da mulher virtuosa. Ela centra-se em sua casa. Ela administra e conduz este complexo e diversificado empre-endimento com habilidade, precisão, e eficiência idêntica a dos que compõem as mesas de decisão de muitas grandes corporações. Há um departamento de vestuário (v.13, 19, 21, 24), departa-mento alimentício (v.14, 16), departa-mento de decoração (v.22), e depar-tamento financeiro (v.16, 18). Depen-dendo das circunstâncias, pode haver também um departamento educacio-nal. Tudo isto demanda uma variedade de talentos e de ações dia-a-dia. Para alguém que trabalha fora, tal agenda implicaria numa média de 14 horas de serviço por dia.

6) E, em sexto lugar, como se não bastasse, há também um departamen-to de caridade. A mulher virtuosa pre-ocupa-se com os pobres. “Abre a mão ao aflito; e ainda a estende ao necessi-tado” (v.20).

OS DESAFIOS DA MULHER VIRTUOSA

Essas características resultam numa série de desafios.

1) Primeiramente, há um desafio duplo para a mulher cristã apren-

der e conter. Aprender seu papel e suas responsabilidades através da Bíblia, não das novelas. E, conter-se. Se você puder administrar metade de si já será muito. Você não precisa provar-se assumindo outras respon-sabilidades fora do lar. Perceba quais seus limites dentro de casa mesmo, dentro da própria família. Ter mui-tos alvos freqüentemente resulta em uma tensão quase insuportável que sugará seu tempo e seus dons. Então, você tem de primeiro cuidar de si, antes que possa cuidar dos outros. Atente para o verso 17: “Cin-ge os lombos de força e fortalece os braços”. Um pregador sugeriu que, trazendo para nossa linguagem, isto poderia ser parafraseado como: “Ela vai à academia puxar ferro!” Bom, não sei se é bem isso, mas, deu para você ter uma idéia. Perfeição é algo impossível neste mundo. Você deve saber seus limites e trabalhar dentro deles. Tome tempo para refrigerar sua alma e renovar suas forças. Cuide da mulher interior. E, não se sinta cul-pada por cuidar da exterior (v. 22).

2) Em segundo lugar, há um duplo desafio para os maridos apreciar e aliviar. Se você tem uma esposa como esta, então lembre-se que você tem algo mais precioso do que rubis (v.10), uma benção pela qual deve louvar a Deus (v.28). Repare que esse mesmo verso também fala do marido: “Ele a louva”. Expresse seu apreço por tudo que ela está fazendo por você e seus filhos. Mas não só aprecie, também lhe dê alívio. Palavras custam pouco. Há ações bem mais dispendiosas. A vida do homem geralmente não tem a multiplicidade de tarefas que tem a da mulher. Nós temos nosso trabalho e... nosso trabalho. Então, que tal pegar as crianças por algumas horas? Em último caso arranje uma babá e saia com sua esposa para jantar. Faça-a experimen-tar a verdade de seus elogios.

A MULHER VIRTUOSA

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26 REVISTA OS PURITANOS 1•2009

3) Em terceiro lugar, há um desafio duplo para os pais modelar e mol-dar. As mães, em especial, têm o papel de modelar as mulheres piedosas. Mas os pais têm o papel de mostrar a seus filhos como as mulheres piedosas de-vem ser guardadas e tratadas. Modelar pelo exemplo e moldar pelo ensino. Ensine seus filhos sobre verdadeira masculinidade e feminilidade através da Bíblia. Mostre a eles que o plano de Deus para a humanidade é muito mais bonito, nobre, e dignificante do que o do mundo.

4) Em quarto lugar, há um duplo de-safio para a Igreja empatia e auxílio. Mulheres virtuosas, e especialmente as jovens, precisam de nossa compre-ensão e encorajamento. Elas têm uma tarefa humanamente impossível. E não precisam da igreja pondo ainda mais exigências. Precisam é de nossas orações e de nossa ajuda prática se a podermos dar. Senhoras, que tal pas-sarem uma manhã durante a semana

cuidando de uma mãe cristã, e levá-la para tomar um café?! Que alívio, mes-mo que seja apenas uma ou duas horas livre de responsabilidades. Isto pode transformar a semana para muitas es-tressadas filhas de Deus.

Mulheres virtuosas, nos levantamos a uma só voz para louvá-las, e bendi-zemos a Deus por ter nos dado vocês. “Muitas mulheres procedem virtuo-samente, mas tu a todas sobrepujas” (v.29).

Questões1) O que a variedade de referências

bíblicas a respeito da influência das mulheres lhe diz sobre a importância deste assunto? Explique.

2) Faça uma lista das muitas mulhe-res piedosas na Bíblia, quantas você puder encontrar (use um Dicionário Bíblico se necessário) e explique como elas serviram a Deus e promoveram Seu reino sendo verdadeiras ajudadoras.

3) Faça uma lista das mulheres ím-

pias na Bíblia (se necessário, use um Dicionário Bíblico) e explique como elas foram um grande obstáculo ao progresso do reino de Deus e tiveram uma influência e impacto destrutivos.

4) Cheque as seguintes passagens bíblicas e escreva um breve sumário do que cada uma ensina sobre o papel da mulher virtuosa na relação com seu esposo, com seus filhos e com a igreja: Efésios 5:22-33; Tito 2:3-5, 1Pe 3:1-7.

5) À luz do que você estudou, reflita e discuta como os maridos e a igreja podem ajudar as mulheres a enfrentar os desafios da nossa atual cultura.

6) Reflita e discuta sobre como as mulheres piedosas, auxiliadas por ho-mens tementes a Deus e sob o minis-tério de uma igreja bíblica podem ser uma grande e benéfica influência em suas famílias, igrejas e na sociedade em geral.

Dr. David Murray ensina Antigo Testamento a Teologia Prática no Puri-tan Reformed Theological Seminary em Grand Rapids, Michagan, E.U.A.

DAVID MURRAY

Segunda Confissão HelvéticaCapítulo 8

Da Queda do Homem, do Pecado e Sua Causa

Deus não é o autor do pecado; e até onde se pode dizer que ele endurece. Está claramente escrito: “Tu não és Deus que se agrade com a iniqüidade. Aborreces a todos que praticam iniqüidade. Tu destróis os que proferem mentira” (Sal 5.4 ss). E de novo: “Quando ele profere a mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira” (João 8.44). Além disso, há em nós suficiente pecado e corrupção, não sendo necessário que Deus em nós infunda uma nova e ainda maior depravação. Quando, portanto, se diz nas Es-crituras que Deus endurece, cega e entrega a uma disposição réproba de mente, deve-se entender que Deus o faz mediante um justo juízo, como um Juiz Vingador e justo. Finalmente, sempre que na Escritura se diz ou parece que Deus faz algo mal, não se diz, por isso, que o homem não pratique o mal, mas que Deus o permite e não o impede, segundo o seu justo juízo, que poderia impedi-lo se o quisesse, ou porque ele transforma o mal do homem em bem, como fez no caso do pecado dos irmãos de José, ou porque ele próprio controla os pecados, para que não irrompam e grassem mais largamente do que convém. Santo Agostinho escreve em seu Enchiridion: “De modo admirável e inexplicável não se faz além da sua vontade aquilo que contra a sua vontade faz. Pois não se faria, se ele não o permitisse. E, no entanto, ele não o permite contra a vontade, mas voluntariamente. O bom não permitiria que se fizesse o mal, a não ser que, sendo onipotente, pudesse do mal fazer o bem”. É isso o que ele diz.

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Temos um Altar“Temos um altar, do qual não têm direito de comer os que servem ao tabernáculo” (Hb. 13:10).

Dr. David Murray

Ler Êxodo 21:1-8; 38:1-8; Mateus 23:17; Hebreus 13:10-12

erusa esperou um longo tempo por este momento: sua primeira visita ao Tabernáculo com seu pai, Baruque. Ela tinha ouvido muito

sobre ele de seus parentes e dos gentis sacerdotes que sempre os visitavam para conversar e orar com a família. Ela tinha visto sua fumaça distante sobre o acam-pamento durante o dia e seu estranho bri-lho à distância durante a noite. Quando o vento vinha do oeste, podia mesmo sentir o cheiro dos animais queimando. Agora o dia, há muito prometido, havia chegado.

Baruque e a pequena Jerusa rapida-mente percorreram as poucas léguas de sua tenda, nos arredores do acampamen-to, em direção ao Tabernáculo, no centro. À medida que entravam na parte externa, Jerusa viu algo que jamais esqueceria um altar grande, negro e flamejante. Ela podia sentir o calor já na porta do Ta-bernáculo. E estava tão dominada pelo que via, pelo que escutava e cheirava que, subitamente, esqueceu tudo aquilo que havia sido ensinado por seus pais e pelos sacerdotes. Deu um branco. “Papai, o que é isso... o que é aquilo... e aquilo ali?”, ga-guejou.

Baruque suspeitou que isto poderia acontecer e estava preparado. Ele combi-nou com seu sacerdote que os encontras-se no altar naquela manhã para explicar tudo à Jerusa de uma maneira simples. E lá estava ele, o sacerdote Eliatã, a postos.

“Bom dia, Baruque e minha querida Jeru-sa, bem-vindos ao Tabernáculo expo-sição da imagem de Deus. Há muito para ser visto em uma visita; penso que hoje podemos simplesmente olhar para uma dessas figuras da verdade este grande altar de bronze. Você se lembra dos três “Ss” que lhe ensinei sobre o altar? Não? Não se preocupe, isso acontece com mui-tas crianças na primeira visita. Deixe-me relembrá-la. Os três “Ss” são: santificação, suporte e salvação”.

Santificação“Santificação é uma palavra bem grande, não é, Jerusa? O que ela significa? Bem, ela pode significar duas coisas. Primeiro, ela descreve como Deus tira os espinhos do pecado e planta a semente da graça na alma dos crentes. Mas ela também pode significar ‘separado’ ou ‘consagrado’. Por exemplo, quando eu me tornei sacerdote, eu fui ‘santificado’. Agora, isso não signi-fica que vivo sem pecar eu desejaria que fosse assim! Mas, não, significa que fui tirado das tarefas comuns e rotineiras e dedicado, ou separado, para a obra de Deus. Isto é o que nós queremos dizer com ‘Tudo que tocar o altar será santo’ (Ex. 29:37). Nossos sacrifícios e ofertas são santificados pelo altar. Elas se tornam aceitáveis e válidas por causa do contato com o altar. Sem esse contato, não teriam valor nenhum para qualquer pessoa. Você pode perguntar: o que tornou o altar tão poderoso? Isso é mágica? Não. É porque Deus simplesmente disse que seria as-sim. Mas isto pode também ter relação

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com o modo como ele é feito. Debai-xo do bronze há madeira de acácia. É a mais bela e a mais cara madeira do mundo. Alguns a chamam de madeira incorruptível porque ela não apodrece. Assim, nossos sacrifícios são feitos de uma maneira bela e santa, e se tornam aceitáveis quando oferecidos sobre este altar porque Deus o disse, e por-que entram em contato com algo belo, santo, e incorruptível”.

“Mas, querida Jerusa, lembre-se que este altar é somente uma figura da ver-dade. Como toda figura, ele deve nos fazer querer ver o que está retratado. E você sabe o que está retratado aqui? O Messias. Ele é o altar verdadeiro por detrás desta figura do altar. Não sabe-mos tudo que há para se saber sobre Ele ainda. Mas o que está figurado nos ensina que ‘tudo que tocar o altar será santo’. Somente através dEle nossas ofertas e sacrifícios são aceitos. Cada cântico, oração, sermão, e ato deve ser santificado pelo contato com Sua bela, preciosa, e incorruptível pessoa”.

Suporte“O segundo ‘s’ é suporte. Além de san-tificar o sacrifício, o altar lhe dá supor-te. Você deve notar, Jerusa, que o altar está coberto de bronze, um metal que é associado com força e resistência (Dt. 28:33). Em sua abertura há uma grade de bronze, que sustenta e apóia o sa-crifício enquanto o fogo o abrasa. Sen-do feito de bronze, o altar e a grade são fortes e firmes o suficiente para resistir ao constante fogo ardente e ao calor flamejante até que o sacrifício esteja totalmente consumido”.

“Veja o fogo, Jerusa. Você não iria querer demorar muito se estivesse ali, iria? Aquele fogo queima todo dia e toda noite, contudo, o altar nunca é consumido. Alguns de nossos sacerdo-tes mais antigos crêem que isto figura a incrível força do Messias vindouro. Eles dizem que quando Ele vier, irá suportar

a flamejante ira de Deus oferecendo-se a Si mesmo como o sacrifício final pelo pecado e, contudo, Ele próprio não será consumido. Ele será como este altar capaz de suportar o sacrifício pelo pecado, capaz de erguê-lo da ter-ra para o céu, embora o sacrifício esteja consumido. Estou cada vez mais incli-nado a concordar com estes experien-tes anciões. Eles têm estudado estas coisas e orado a respeito delas desde quando eu ainda nem era nascido. Je-rusa, você não gostaria de ser avivada quando nosso Messias chegar, quando estas figuras se tornarem vivas? Que grande dia será este!”.

Salvação“Vejo que você está ficando cansada, minha querida Jerusa. Deixe-me expli-car o último ‘s’ salvação. O altar nos ensina sobre a importância da salvação. Você vê como este altar domina o Ta-bernáculo? Ele foi a primeira coisa que você viu quando chegou na entrada, não foi? Ele obscureceu todas as outras coisas. Ele tem cerca de 2,5 metros de largura, 2,5 de comprimento, e 1,5 me-tros de altura. Você não pode ir a lugar algum no Tabernáculo sem passar por ele. Nossa vida como nação centraliza-se nele. Diariamente, semanalmente, mensalmente, anualmente, e nas oca-siões festivas os sacrifícios são feitos sobre ele. Através de tudo isto, Deus está nos dizendo que a salvação do pecado é a coisa mais importante no mundo. Toda a nossa vida deve cen-trar-se e girar em torno do altar. Jerusa, isto é muito mais importante do que fazer amigos, brincar ou ir à escola. O Messias deve ser a pessoa mais impor-tante em sua vida mais importante até do que sua mãe ou seu pai.

“O altar de bronze também nos en-sina sobre a singularidade da salvação. Quantos altares para sacrifício Deus autorizou, Jerusa? Sim, está correto, somente um. Você deve se lembrar dis-

to, especialmente quando entrar em Canaã. Você irá encontrar pessoas que dizem que há muitos caminhos para Deus. Por favor se lembre, Jerusa, de que há somente um altar divinamente autorizado. Deus designou e aprovou somente um caminho de salvação. Não há outro caminho para Deus, exceto através do Messias que está figurado neste altar. Não há outro nome debai-xo do céu pelo qual se possa ser salvo.

“Finalmente, o altar de bronze nos ensina sobre o poder da salvação. O que você vê nestes quatro cantos, Je-rusa? Chifres, está correto, um em cada ponta. Os animais com os maiores chi-fres são geralmente os mais fortes. É por isto que Deus geralmente fala de chifres como símbolo de força. Então, aqui Deus está clamando aos quatro cantos da terra: ‘Venham ao meu po-deroso altar para obterem a poderosa salvação’. Esse é o papel de Israel no mundo, Jerusa. Chamamos as nações para o único Deus verdadeiro e a po-derosa salvação que Ele oferece atra-vés do Salvador que virá.

“Bom, você parece bem cansada. Há uma porção de coisas para se aprender, não é? Você já viu o bastante para refle-tir por muitas semanas. Fale a seu pai sobre o altar, e busque comunhão com o povo de Deus. Acima de tudo, fale do altar de Deus em suas orações, e peça a Ele para mostrar a você o Salvador e o caminho da salvação retratados aqui. E, a medida em que Ele se revelar a você, seja de forma súbita ou lentamente, ponha sua inteira fé e confiança nEle e somente nEle. Conversaremos mais depois.”

ConclusãoBem, crentes do Novo Testamento, o Messias transpôs a figura, o altar se tor-nou carne. Confirmando o Antigo Testa-mento, Ele disse, este é “o altar que san-tifica o sacrifício” (Mt 23:17). Em cumpri-mento ao Antigo Testamento, Ele disse:

DAVID MURRAY

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“E por eles eu santifico a mim mesmo, para que eles sejam santificados na verdade” (João 17:19). No contexto em que se fala sobre Jesus Cristo, o mesmo ontem, hoje, e eternamente, o Apósto-lo afirma: “Possuímos um altar do qual não têm direito de comer os que minis-tram no tabernáculo” (Hb. 13:10). Ele chama todos os crentes para o único al-tar da Igreja do Novo Testamento, Jesus Cristo, e exclui todos aqueles que ainda estão olhando para o altar do antigo Ta-bernáculo. E segue argumentando que como o altar do Tabernáculo santificava os sacrifícios das pessoas, assim o san-gue de Cristo santifica as pessoas (Hb. 13:12). Temos um altar!

Questões1. Quais são os dois significados da san-tificação?

2. Concluímos nossas orações en-comendando-as a Deus “por meio de Jesus”. Como podemos ser mais cons-cientes da necessidade de que Jesus santifique nossos cânticos, nossos ser-mões, nosso testemunho, nossa adora-ção? Que passos podemos tomar para cultivar mais da intermediação de Cris-to em nossa mente e coração?

3. Que passagens podem lhe ajudar a entender melhor e a louvar o podero-so suporte de Cristo como seu altar?

4. Cristo e somente Cristo é nosso sacerdote, nosso sacrifício, e nosso al-tar as três coisas. Por que é um erro comum falar da cruz, ou da mesa da comunhão, ou do nosso coração como um altar? Você reconhece que esteve erroneamente diminuindo a pessoa de Cristo, caso tenha se expressado dessa forma?

5. Antigos altares pagãos tendiam a ser extraordinariamente elaborados e belissimamente ornamentados. O altar de Israel era simples e claro. O que isto nos diz sobre o Salvador e Sua salvação?

6. Sacrifícios eram com freqüên-cia amarrados no altar com cordas (Sl 118:27). O que isto nos ensina sobre a disposição dos animais para o sacrifí-cio, e como isto contrasta com o sacri-fício de Cristo?

7. Que outras passagens referem-se a Cristo como o único caminho de sal-vação?

8. Como os pais e as igrejas podem tornar a importância da salvação tão clara quanto o altar de bronze a tornou para Israel?

Dr. David Murray ensina Antigo Testamento a Teologia Prática no Puri-tan Reformed Theological Seminary em Grand Rapids, Michagan, E.U.A.Dr. David Murray será o principal conferencista do XVIII Simpósio Os Puritanos em Maragogi-Al - 29 de junho a 03 de julho.

A Morte do Mais Apaixonado dos Escoceses“Preciosa é à vista do Senhor a morte dos seus santos.” (Sl 116:15).

Por Waldir Carvalho Luz

ove de novembro de 1572, do-mingo. John Knox celebra o que lhe seria o último ato pú-blico: a solene investidura de

Lawson como seu sucessor à frente da ve-nerável Igreja de St. Giles, retirando-se, a seguir, para sua residência, de onde não mais sairia em vida. Sua condição já não deixava esperanças de recuperação. Ele

mesmo, cônscio de seu estado, prepara-va-se, admiravelmente sereno, para o iminente desenlace. Na quinta-feira (13 de novembro) não mais podia ler sua inseparável Bíblia, hábito diário que observava com absoluta regularidade. Naturalmente, a sombria notícia de seu próximo fim espalhou-se rapidamente por todos os recantos, despertando enorme onda de simpatia e dorido sen-

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TEMOS UM ALTAR

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so de lamentável perda nos arraiais reformados. Percebiam todos, agora, as dimensões grandiosas desse vulto extraordinário, o quanto fizera pela pátria e pela Kirk1, e grande era a de-solação de todos sentida. De todos os lados, velhos companheiros e amigos afluíam para dizer-lhe o último adeus. Para com todos tinha ele uma palavra de bênção e de exortação, apelando a que não fraquejassem na fé, não desamparassem a Kirk, fossem fiéis à Causa de Cristo e à Escócia livre e so-berana. Não se esqueceu de enviar a Kirkcaldy vívida e solene mensagem, conclamando-o a relembrar os dias de companheirismo do passado, a retomar à constância de outrora, a arrepender-se de seus descaminhos, se não queria perecer ingloriamente. Ainda no leito de morte, o insigne pregador pregava com alma e cora-ção a verdade a que servira com pai-xão e fervor.

Agravava-se-lhe, mais e mais, a precária condição de saúde. Sentia penosas dores e anuviava-se-lhe a lucidez da mente. Queria levantar-se para pregar, tendo de ser contido. Pediu a presença dos presbíteros e diáconos de sua igreja para suas der-radeiras recomendações e despedi-das, lembrando-lhes que toda a sua luta havia sido unicamente por amor à Kirk e ao povo de Deus, jamais bus-cando proveito e vantagens pessoais na prédica ou no exercício de seu ministério, opondo-se aos muitos ad-versários apenas na extensão de sua rebeldia contra a verdade e vontade do augusto Senhor a Quem servira com todas as forças de seu arrojado ser. Maitland encaminhara ao nobre Conselho da Igreja queixa formal con-tra o zeloso patriarca de que o havia chamado de ateu e inimigo da Causa Divina, ao mesmo tempo que lhe ex-probrava a servil subserviência a um homem vão, mesquinho, tão imper-

feito como qualquer um, cuja palavra, no entanto, era, desarrazoadamente, acatada como se fora ele um oráculo de Deus. O digno Conselho, é claro, queria poupar ao venerando pastor o dissabor de saber desse fato, silen-ciando sobre o assunto. Mas, para surpresa de todos, John Knox, arfante e combalido, trouxe à baila a desagra-dável questão, confessando que se reconhecia frívolo, vaidoso, imperfei-to, como o acusava o queixoso, mas, assim mesmo, pregara a Divina Pala-vra com toda fidelidade e essa mesma Palavra deixava bem claro que o ím-pio, contumaz e rebelde que é, pere-cerá. Era isso que sentenciara contra Maitland e todos quantos rejeitavam os sagrados caminhos do Senhor. Não havia como sequer censurá-lo, muito menos condená-la. Pediu-lhes que lhe lessem o Salmo IX. Fizeram-no, com lágrimas incontidas. E partiram desolados.

Falava, agora, com extrema difi-culdade, voz quase inaudível, em bre-ves frases entrecortadas. Sobretudo, queria ouvir mais da Sagrada Escri-tura: Isaías LIII, Salmos variados, com destaque para o Evangelho Joanino, mormente o fascinante capítulo XVII, seu predileto.

Diante de seu leito de moribundo passavam as mais eminentes figuras da nobreza, tais Glencaim, Lindsay, Boyd, Ruthven, até mesmo James Morton, já indicado como regente da Escócia, particularmente aqueles que lhe deram apoio nas vicissitudinárias pelejas que travara, correligionários animosos e companheiros leais, sem os quais não teria podido defender a soberania da pátria e implantar a fé reformada como o fez. Contristados, comovidos, acabrunhados, retiravam-se, aguardando o esperado desenlace para qualquer momento.

Dia 23 de novembro (1572), do-mingo, à tarde. Cercado somente da-

queles que o assistiam, enquanto os demais tomavam parte no culto da Igreja, sentiu John Knox que a morte se aproximava. Entretanto, ainda não lhe era o instante derradeiro. Passa-das algumas horas, um tanto agitadas, de novo se pôs a falar, com lucidez completa, gozo indizível, convicção absoluta, de como pelas duas noites anteriores estivera em contínua me-ditação acerca da sofrida Igreja de Cristo, desprezada no mundo, mas mui preciosa aos olhos do Senhor, em favor da qual orara intensamente e a qual entregava aos cuidados dA-quele Que é o seu cabeça e esposo fiel. Nessa arrebatadora experiência espiritual lutara contra Satanás e suas potestades nas regiões celestiais e saíra triunfante, penetrara os arcanos paradisíacos e fruíra o superno gozo da bem-aventurança que esperam os justificados no sangue de Jesus. Em seu lívido semblante refletia-se a ale-gria dos salvos em comunhão com o Pai Celeste. Aos poucos se aquietou, após recitar pausadamente a Ora-ção do Senhor, e pareceu adormecer tranqüilamente, de vez em vez mur-murando: “A Kirk... a Kirk... a Kirk...”.

Amanheceu a segunda-feira (24 de novembro, 1572). Insistia ele em levantar-se. A custo, arrastou-se até uma cadeira, assentando-se. Tentava levantar-se e andar, mas não tinha forças para tanto. Cerca de meia hora depois, voltou ao leito, ajudado por assistentes. Por volta do meio-dia, pediu à jovem esposa que lhe lesse o capítulo XV de I Coríntios. Leu-o, profundamente emocionada, a voz a tremer. Então, sonolento, balbuciou, lentamente: “Em Tuas mãos entrego o meu espírito... em Tuas mãos...”, mas ainda não era chegado o momento final. Bem mais tarde, seriam umas quatro horas, desejou ouvir, de novo, seu capítulo predileto, João XVII, e mais. A resignada Margaret, esposa

WALDIR CARVALHO LUZ

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devotada, Bannatyne e vários ami-gos se revesavam na leitura de textos bíblicos, por três horas. O extenuado enfermo adormeceu novamente e deixaram-no dormir sem perturbá-lo, embora chegada a hora das preces vespertinas, delonga das até meia hora após as dez, quando, ajoelhados, as recitaram, em voz baixa, como em um rito mortuário. Então, alguém se aproximou do leito e, embora certo de que não lograria resposta, em voz branda, perguntou ao moribundo se havia ouvido as orações. Abrindo os azulados, mas mortiços olhos, a esbo-çar um sorriso de satisfação, disse que sim, e muito feliz.

Um pouco antes das onze ho-ras dessa noite, deu ele um suspiro prolongado, resfolegante, soluçoso. Ainda respirava, fundo, frouxamente. Pediu-se-lhe que desse um sinal der-radeiro de que gozava de paz íntima e nenhuma aflição o angustiava. Não mais podendo falar, conseguiu levan-tar uma das mãos em aceno positivo. Mais um leve suspiro. Descaiu-lhe a mão ao lado do corpo, que se quedou imóvel. Deixava esta vida, partindo ao encontro de seu amado Senhor, o mais apaixonado dos escoceses, o mais impertérrito defensor da sobe-rania de sua pátria, o mais heróico batalhador pela implantação da fé reformada na terra que o viu nascer, patrono incomparável da Kirk, pa-triarca inconcusso do Presbiterianis-mo. Glória a Deus por esse apóstolo extraordinário, orgulho de sua gente, exemplo para todos quantos amam o Evangelho e servem honrosamente ao Senhor e Sua Igreja.

Dois dias depois, na quarta-feira 26 de novembro de 1572, realizaram-se os funerais do insigne paladino, em um ambiente de muita tristeza e de-solação, enorme a multidão que lhe acompanhou o corpo sem vida a sua morada final. A nobreza em peso, mes-

mo aqueles que não comungavam de suas idéias e até o detestavam, se fez presente. Morton, nesse dia investido como regente da Escócia, pronunciou, ao lado da sepultura, eloqüentes pa-lavras de encômio ao saudoso profeta cuja grandeza de alma e dignidade de caráter o faziam a personalidade mais marcante de seu tempo na gloriosa terra escocesa, culminando com esta sentença lapidar, digna de ser-lhe o mais apropriado epitáfio: “Aqui jaz um homem que a ninguém lisonjeava, nem temia a ninguém”. Mas, o senso de irremediável perda lancinava os doridos corações, inconformados em que emudecera para sempre aquele que era a própria consciência nacio-nal, a deblaterar contra a injustiça e a conclamar a todos a que se rendes-sem a Cristo, o augusto Redentor de toda alma arrependida...

Não se sabe hoje com certeza o local exato de seu sepultamento. En-tretanto, na praça que fica entre a Igreja de St. Giles e o prédio do Parla-mento, em Edimburgo, uma lápide singela assinala o sítio tradicionalmen-te reconhecido como o de sua sepul-tura, em que se vê a inscrição: I. K. (as iniciais do nome Iohannes Knox) 1572 (o ano de seu falecimento).

Tinha o grande homem ao falecer cinqüenta e nove anos, ou, admitindo-se que nascera em 1505, como que-rem alguns, sessenta e sete. Deixava viúva a dedicada Margaret, com três filhas pequenas. Embora recebesse, em geral, honorários satisfatórios e, como todo bom escocês, fosse bas-tante sóbrio e econômico, legou à família recursos irrisórios, reduzida soma que a deixava em reconhecida pobreza, mais da metade das suas posses consistindo de empréstimos generosamente feitos a pessoas que lhe batiam à porta em busca de ajuda e raramente se lembravam de reem-bolsá-lo. Bem podia ele jactar-se de

que jamais tirara proveito de sua con-dição de ministro da Igreja para be-neficiar-se de seus recursos em favor de si mesmo, como dizia: “A ninguém corrompi, a ninguém defraudei, não acumulei bens à custa da exploração de ninguém”. A Assembléia Geral vo-tou que seu estipêndio continuasse a ser pago à família por mais um ano. Morton, o gracioso regente, por sua vez, tomou providências para que os dependentes do nobre pregador fossem devidamente assistidos pelo erário público. Nada mais merecido, e ainda era pouco, pelo muito que o magno campeão fizera por sua gente, por sua pátria, por sua Igreja.

Seus dois filhos do primeiro casa-mento, Nathaniel e Eleazer, eram ain-da adolescentes, de quinze e quatorze anos, respectivamente, quando lhes faleceu o genitor. Foram, porém, de-vidamente assistidos e estudaram no famoso e aristocrático St. John’s Col-lege, da Universidade de Cambridge, seguindo também eles a nobre carrei-ra eclesiástica, se bem que na Igreja da Inglaterra, não na Kirk da Escócia, o que não seria de causar espécie, nem desagradaria ao magnânimo Re-formador, vivesse ele ainda. Tiveram ambos vida demasiado breve. Natha-niel morreu com vinte e três anos, em 1580, oito anos após o falecimento do ilustre pai, Eleazer, com trinta e um, em 1591, onze anos após o irmão, de-zenove após o genitor. Não deixaram descendentes, de sorte que, com eles, se extinguiu a linha masculina do grande Reformador.

Esse foi John Knox, o gênio do Pro-testantismo Escocês, o apóstolo da Fé Reformada no país, o patriarca do Presbiterianismo em todos os tempos.

Dr. Waldir Carvalho Luz é pastor jubilado da IPB; foi Professor de Grego e Hebraico no Seminário do Sul. Tradutor de várias obras, entre elas, As Institutas de Calvino.Extraído (com autorização) do livro John Knox ‒ O Patriarca do Presbite-rianismo, Cultura Cristã, pp. 219-224NOTA:1 A Catedral de St Giles é a histórica igreja da cidade de Edimburgo. Também conhecida como High Kirk of Edinburgh ‒ Igreja Mãe do Pres-biterianismo

A MORTE DO MAIS APAIXONADO DOS ESCOCESES

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Para os AnciãosOs Dias PassadosRev. Ashton Oxenden

ocê lembra daquilo que eu disse no último capítulo acerca do que Moisés fez antes de morrer? Ele foi direcionado por Deus a ir até o alto do Monte Pisga e ter uma visão da Terra Prometida que se situava diante dele. Mas nós dificilmente podemos imaginar que

isso foi tudo o que fez. É mais do que provável que outro propósito para o qual ele subiu aquele alto monte tenha sido para que pudesse dali avistar todo o caminho que já havia percorrido em sua jornada no deserto. Eu disse que seria bom para você olhar aqui e ali para trás, para todos os anos pelos quais tem passado. Deixe-me agora ajudá-lo a fazer isso.

Primeiramente, faça uma boa análise e veja que pecados marcaram a sua vida passada. À medida que olha para trás, eu me atrevo a dizer que você sentirá que há muitas ações que você apagaria com satisfação se pudesse. Há muitos dias que você gostaria de viver novamente na esperança de vivê-los melhor; muitas palavras que gostaria de anular; muitos feitos que daria o mundo para desfazer; muitos maus pensamentos que alimentou e que deixaram uma mancha em você que nem mesmo o tempo pode apagar.

Eu sei que é muito doloroso ficar pensando em nossos pecados passados, mas não devemos recuar diante disso. É tolice enganarmos a nós mesmos e imaginarmos que eles não foram come-tidos. Lá eles estão e Deus os vê, se nós não o fizermos. Os Seus olhos os perceberam quando foram cometidos e os vêem ainda hoje. Eles podem ter quase desaparecido da nossa memória, mas Deus lembra-se deles: Ele não esquece de nada.

Pessoas idosas são muito tendentes a pensar que o que é passado e que já foi esquecido por eles está também apagado do livro das memórias de Deus. Freqüentemente, por exemplo, quando os pecados e tolices da sua mocidade são mencionados, eles expressam apenas um suspiro passageiro e não passam disso. Pensam que tais coisas são desculpáveis nos tempos de juventude, e que Deus não será tão rigoroso a ponto de destacar o que foi feito de errado naqueles dias. Imaginam que o passado distante não lhes será creditado, visto que desde então se tornaram mais sábios e zelosos.

Mas é realmente assim? É Deus alguém como nós? Pode alguma extensão de tempo fazer desaparecer os nossos pecados da Sua memória? Não está escrito que até “por cada palavra vá que os homens pronunciarem eles haverão de prestar contas?”

Eu estou certo de que é muito bom para todos nós - e especialmente para aqueles que estão se aproximando mais do final da vida - que olhemos de maneira apropriada para os pecados que temos cometido. É tolice fecharmos os nossos olhos para eles e persuadirmos a nós mesmos de que não existem. De fato, se temos alguma vida espiritual em nós, podemos esquecer qualquer coisa, mas nunca nos esqueceremos daqueles abomináveis pecados que macularam as nossas almas.

Mas não é suficiente olharmos para eles de um modo geral. Nós devemos nos fixar neles um por um, e trazê-los para fora dos seus esconderijos. Deve haver uma busca cuidadosa, como

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que com uma vela na mão — uma busca honesta, sincera e diligente, a fim de que nenhum deles escape de nós.

“E qual o proveito disso?” você talvez esteja pronto para perguntar. “Há alguma utilidade em nos fazermos infelizes? Aquilo que já foi feito pode ser desfeito?”

Oh, certamente é muito melhor descobrirmos os nossos pecados agora do que tê-los trazi-dos à luz, pela primeira vez, quando comparecermos diante de Deus. E muito melhor sabermos como está a nossa posição diante de Deus agora do que aprender isso naquele mundo em que não há mais esperança para o pecador.

E o que vamos fazer com os nossos pecados quando nós os identificarmos? Há alguma manei-ra pela qual possamos nos livrar deles? Ou eles deverão permanecer como manchas negras em nossas almas, como dívidas não pagas que nunca poderão ser canceladas? Não, amado amigo. Há um caminho, um único caminho pelo qual cada pecado cometido e cada ação deixada por fazer podem ser apagados para sempre. Cristo pagou a dívida pelos pecadores. Ele derramou o Seu sangue na cruz por pecadores como você. Ele morreu para que os pecadores possam viver. E Ele é capaz, neste momento, não somente de perdoar todos os seus pecados, mas de cobri-lo com a Sua perfeita justiça e fazê-lo Seu para sempre; Ele “pode salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus” (Hb. 7:25).

Vá agora a Jesus e peça a Ele que lhe dê arrependimento (At. 5:31). Peça a Ele para que to-que o seu coração pelo Seu Espírito Santo e lhe faça odiar os seus pecados e lamentar por eles com santo sofrimento. Oh, como é bom para nós sentir pesar pelos nossos pecados! Sujeite-se a isso; nós haveremos de nos entristecer por eles se formos trazidos para debaixo do poder da graça de Deus.

Mas lembre-se, aflição e lágrimas não limparão essa mancha. Elas não podem remover um único átomo da nossa culpa. Não, somente o sacrifício de Cristo pode pagar a nossa culpa. Nele somente podemos encontrar perdão. “O sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo peca-do” (1Jo. 1:7).

Aqui então, meu querido amigo, está o bom proveito de identificarmos os nossos muitos pe-cados. É para que possamos ter cada um deles perdoado; é para que nós possamos ser feitos felizes em Cristo, nosso Salvador. Ele é todo poder e amor. Ele pode e quer salvar. Ele diz: “Vinde até mim... e Eu vos aliviarei”; “ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a lã” (Mt. 11:28; Is. 1:18).

Mas há algo mais que devemos atentar e relembrar além dos nossos pecados; devemos olhar para trás e considerar as nossas muitas misericórdias (SI. 103:1-5).

Pense nos inúmeros atos de amor e bondade que Deus tem mostrado a você durante os anos que se passaram. Moisés trouxe à mente, eu ouso dizer, aqueles quarenta anos nos quais o Senhor tão grandemente o abençoou. Todo o caminho que ele havia trilhado fora, de fato, coberto de misericórdias — misericórdias a ele mesmo, à sua família e ao seu povo. É dito que por quarenta anos “nunca envelheceu a tua veste sobre ti, nem se inchou o teu pé” (Dt. 8:4). Quando eles tiveram sede, “da pedra fez brotar torrentes, fez manar água como rios” (SI. 78:16). Quando tiveram fome, Ele os alimentou com pão dos céus (Ex. 16:4). Ele os guiou, não pelo caminho mais curto nem pelo mais fácil, mas “pelo caminho correto” até a terra que lhes fora prometida.

Deus não tem lidado assim tão graciosamente com você? Bondade e misericórdia não lhe têm

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seguido em todos os seus dias? Pense nos seus muitos livramentos dos perigos. Pense em como você tem sido poupado enquanto outros têm sido ceifados desta vida. Pense em todas as bên-çãos que desfrutou quando sequer as merecia. Pense na paciência que Deus teve quando você provocou a Sua ira. Pense em como Ele fez uma coisa e outra funcionar conjuntamente para o seu bem. Muitas vezes você disse a si mesmo: “isso é um infortúnio; está tudo contra mim”; e talvez isto mesmo tenha vindo a transformar-se em seu maior bem.

As misericórdias passadas de Deus devem ser uma garantia daquelas que estão por vir. Você bem pode implorar como Davi: “Tu me tens ensinado, ó Deus, desde a minha mocidade... Não me desampares, pois, ó Deus, até à minha velhice e às cãs” (SI. 71: 17-18). Você pode esperar provações mais adiante à medida que alcança os estágios restantes no deserto desta vida. Mas pode estar certo de que o maná com o qual tem sido alimentado não falhará, nem as nuvens de proteção que lhe têm abrigado serão removidas até que a sua peregrinação tenha um fim. Esteja certo, Deus nunca abandonou um peregrino exausto. Ele nunca negligenciou um servo idoso. Você sabe que Ele lhe prometeu: “até à vossa velhice, eu serei o mesmo e, ainda até às cãs, eu vos carregarei; já o tenho feito; levar-vos-ei, pois, carregar-vos-ei e vos salvarei” (Is. 46:4). As últimas palavras do bom e velho Dr. Guyse foram: “ó meu Deus! Tu tens estado sempre comigo, não me abandonarás agora”.

Pense em tudo isso e estas coisas aquecerão o seu coração frio. Você encontrará um amor incendiador dentro de você ao trazer à mente a bondade daquele Amigo celestial que tem lhe protegido tão amorosamente, e que tem cuidado de você desde a sua infância até agora.

E, oh, se você é um verdadeiro servo de Deus; se já foi levado a conhecer e a amar o seu Salvador; se o caminho de santidade tem sido o seu caminho, então não há uma misericórdia que exceda a todas as outras no seu caso? Não pulsa o seu coração de gratidão quando pensa nesta graça que o chamou das trevas para a bendita luz da verdade de Deus, que endireitou os seus pés dos caminhos de pecado e miséria para o qual se apressava, e trouxe-lhe para o caminho da paz? De todas as suas misericórdias, não há nem uma tão grande quanto aquela que lhe conduziu a Cristo e fez de você um participante da Sua grande salvação.

É dito sobre John Newton que, embora a sua memória lhe falhasse em sua idade avançada, havia duas coisas das quais ele nunca esqueceu: uma era que “ele era um grande pecador’; e a outra era que “Jesus era um salvador ainda maior”.

Deixe-me encorajá-lo, então, a olhar para trás tanto com relação aos seus pecados passados, quanto às misericórdias passadas. Isso é especialmente necessário para você que tem vivido muitos anos neste mundo e em cuja ampulheta não resta mais do que poucos grãos para se esgotarem. Faça-o com um espírito humilde e atencioso e eu creio que descobrirá que muito bem procederá disso.

Tome este e muitos outros conselhos que ofereço como vindos de alguém que realmente se importa com você. Sim, eu me importo com os idosos. Eu conheço as suas provações, as suas enfermidades e as suas dificuldades. E eu também sei que o Salvador mesmo se importa com você. Ele tem em estoque muitas e grandes bênçãos, as quais está pronto para derramar sobre a sua vida. E o que eu desejo neste livro é levá-lo a desfrutar delas, a fim de que você possa ter uma velhice bendita e feliz.

Extraído do livro “O Segredo Para Envelhecer Feliz” de Ashton Oxenden — Knox Publicações (com permissão); pp. 16-22.

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Confissão de Fé Belga de 1561Artigo 13A Providência de DeusCremos que o bom Deus, depots de ter criado todas as coisas, não as abandonou, nem as entregou

ao acaso ou a sorte1, mas que as dirige e governa conforme sua santa vontade, de tal maneira que neste mundo nada acontece sem sua determinação2. Contudo, Deus não é o autor, nem tem culpa do pecado que se comete3. Pois seu poder e bondade são tão grandes e incompreensíveis, que Ele ordena e faz sua obra muito bem e com justiça, mesmo que os demónios e os ímpios ajam injustamente4. E as obras dEle que ultrapassam o entendimento humano, não queremos investigá-las curiosamente, além da nossa capacidade de entender. Mas, adoramos humilde e piedosamente a Deus em seus justos julgamentos, que nos estão escondidos5. Contentamo-nos em ser discípulos de Cristo, a fim de que aprendamos somente o que Ele nos ensina na sua Palavra, sem ultrapassar estes limites6.

Este ensino nos traz um inexprimível consolo, quando aprendemos dele, que nada nos acontece por acaso, mas pela determinação de nosso bondoso Pai celestial. Ele nos protege com um cuidado pater-nal, dominando todas as criaturas de tal modo que nenhum cabelo - pois estes estão todos contados- e nenhum pardal cairão em terra sem o consentimento de nosso Pai (Mateus 10:29,30). Confiamos nisto, pois sabemos que Ele reprime os demônios e todos os nossos inimigos, e que eles, sem sua permissão, não nos podem prejudicar7. Por isso, rejeitamos o detestável erro dos epicureus, que dizem que Deus não se importa com nada e entrega tudo ao acaso.

1) Jo 5:17; Hb 1:3. 2) Sl 115:3; Pv 16:1,9,33; Pv 21:1; Ef 1:11. 3) Tg 1:13; 1Jo 2:16. 4) Jó 1:21; Is 10:5; Is 45:7; Am 3:6; At 2:23; At 4:27,28.

5) 1Rs 22:19-23; Rm 1:28; 2Ts 2:11. 6) Dt 29:29; 1Co 4:6. 7) Gn 45:8; Gn 50:20; 2Sm 16:10; Rm 8:28,38,39.

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