Janaina Gomes de Araújo Santos
Transcript of Janaina Gomes de Araújo Santos
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
ESCOLA DE VETERINÁRIA E ZOOTECNIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL
EXIGÊNCIA EM FÓSFORO DIGESTÍVEL PARA TAMBAQUI
(Colossoma macropomum)
Janaína Gomes Araújo Santos
Orientador: Prof. Dr. Marcos Barcellos Café
GOIÂNIA
2012
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JANAÍNA GOMES ARAÚJO SANTOS
EXIGÊNCIA EM FÓSFORO DIGESTÍVEL PARA TAMBAQUI
(Colossoma macropomum)
Tese apresentada para obtenção do grau
de Doutor em Ciência Animal junto à
Escola de Veterinária e Zootecnia da
Universidade Federal de Goiás.
Área de Concentração:
Produção Animal
Orientador:
Prof. Dr. Marcos Barcellos Café – UFG
Comitê de Orientação:
Prof. Dr. Igo Gomes Guimarães – UFG/JATAÍ
Prof. Dra. Alessandra Gimenez Mascarenhas– UFG
GOIÂNIA
2012
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“Resultados exigem esforço, paciência e constância.
Suspeito de promessas miraculosas e soluções instantâneas;
Duvido de fórmulas simples para conquista da felicidade.
Fraqueza, fadiga e ferrugem custam a ceder depois que se instalam no corpo, na mente e no
espírito.
Somente força, fôlego e flexibilidade podem produzir mudança.
Otimismo só é útil onde existe ação planejada.
Pensamento positivo só funciona à custa de muito trabalho.
Sem objetivos e prazos definidos, esperança é pura ilusão.
Acredito em fato, não em intenções.
Acredito em atitudes, não em discursos.
Acredito em posturas éticas, não em regras de moral.
Acredito em fazer acontecer, não em esperar que aconteça.
Acredito em criatividade, não em obstáculos.
O que importa são as tentativas e não os acertos.
As vezes que a gente se levanta contam muito mais do que as que a gente cai.
O prazer de continuar buscando é infinitamente maior do que o sucesso de alcançar.
Toda transformação começa sempre caótica e desconfortável.
Os caminhos conhecidos são seguros e fáceis,
Mas só conduzem aos lugares onde já estamos e não desejamos ficar.
O caminho do novo é cheio de riscos, surpresas e cansaço, mas sempre premiam os que
escolhem com chance descobrirem e experimentarem a VIDA que imaginaram VIVER.”
(Geraldo Eustáquio de Souza)
v
Dedico este trabalho ao meu co-
orientador prof. Dr. Igo G.
Guimarães pela atenção, extrema
colaboração e confiança. À prof.ª
Delma Machado C. de Pádua, pelo
apoio estrutural, técnico e
bibliográfico. E aos meus queridos
pais e esposo pela cooperação e
paciência.
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AGRADECIMENTOS
Primeiramente, agradeço a Deus por ter colocado pessoas
maravilhosas no meu caminho, que me ajudaram a definir este projeto e a
concretizá-lo, com apoio em todos os momentos.
Após um ano lutando para iniciar o projeto, com dificuldades técnicas e
estruturais, surgiram pessoas de várias instituições, como a profª. Drª. Margarida
Maria Barros, a qual ofereceu o Laboratório de Nutrição em Organismos
Aquáticos, UNESP-Botucatu, para confecção das rações dos ensaios I e II; prof.
Dr. Manoel Soares e prof. Dr. Márcio Caliari, da Escola de Eng. Alimentos/UFG,
que disponibilizaram e auxiliaram na confecção das rações do ensaio III; a profª.
Drª. Edma C. de Miranda, que realizou as análises de energia de todas as
amostras na CODEVASF, Maceió-AL; o prof. Dr. Paulo Sérgio da Silva que
auxiliou integralmente nas análises das rações no Laboratório de
Espectrofotometria, Instituto de Química, UFG; e em especial a profª. Drª. Delma
Machado C. de Padua e prof. Dr. Bruno Mariano, que disponibilizaram o
Laboratório de Pesquisa em Organismos Aquáticos (LAPOA) da Pontifícia
Universidade Católica de Goiás, para realizar todos os ensaios de digestibilidade,
desempenho zootécnico e análises bromatológicas das fezes, ingredientes e da
carcaça, onde conseguimos concretizar o projeto. Serei sempre grata.
Ao meu ex-orientador prof. Dr. Paulo César Silva, que me apoiou e
auxiliou nas minhas escolhas antes de se aposentar, me deixando em boníssimas
mãos. E ao meu orientador, prof. Dr. Marcos B. Café, que me acolheu
acreditando no meu trabalho, e por assessorar no desenvolvimento deste projeto.
Aos meus co-orientadores: Dr. Igo G. Guimarães e Dr. Alessandra G.
Mascarenhas, que me auxiliaram durante o experimento em campo, nas análises
laboratoriais, estatísticas dos dados e correções do manuscrito.
Aos professores Dr.(a): José Henrique Stringhini, Nadja Suzana,
Eliane Sayuri, Wilson Mozena, que me apoiaram, assistiram nos laboratórios e
nas interpretações dos dados, além dos apoios técnicos e institucionais e valiosas
sugestões.
Ao setor de piscicultura da Escola de Veterinária, que disponibilizaram
os funcionários e estagiários para realizarem os manejos nas alevinagem II e fase
de cria dos peixes, até que iniciássemos os experimentos. Sobretudo, à Profª.
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Dra. Fernanda Gomes de Paula, pela sua amizade, companheirismo, incentivo,
e compreensão, que foram muito importantes para mim. Valeu amiga!
Agradeço aos meus queridos pais, esposo e familiares, amigos de
todos os momentos, que torceram por mim, que colaboraram financeiramente e,
pacientemente compartilharam dificuldades e esperança nesta minha jornada.
Aos meus amigos que me apoiaram e ajudaram de alguma maneira a
realizar as tarefas durante o experimento: Carolinne Mota, Laudicéia Rocha,
Cristielle Souto, Wesley Braga, Pedro Fellipe, Monaliza Sena, Fabrício Sado,
André Souza, Thyago Bastos, Ana Paula, Hugo Vinícius e Tiago Aguiar.
Aos funcionários: José, Amilton e Arlindo (ZOO/PUC-GO); e Wilson
(CPA/EV/UFG), que me auxiliaram em muitas etapas laboratoriais.
Às Rações VB e Centro Oeste Rações (Guabi) pela doação dos
ingredientes utilizados para confecção das rações para os experimentos.
À empresa Aquicultura São Paulo, Brejinho de Nazaré-TO, e
CODEVASF pelo fornecimento dos alevinos de tambaqui para a primeira e
segunda etapa do experimento, respectivamente.
À FAPEG-GO pelo apoio financeiro e à CAPES pela concessão da
bolsa de estudo, sem estes não seria possível minha dedicação integral a este
trabalho.
Enfim, a todos os meus amigos, familiares referenciados ou não, que de
algum modo me ajudaram, aguentaram, me escutaram, e especialmente
cuidaram do meu querido filho...
Muitíssimo obrigada!
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SUMÁRIO
LISTA DE TABELAS........................................................................................ x ABREVIATURAS OU SÍMBOLOS................................................................... xii RESUMO GERAL............................................................................................. xiii ABSTRACT....................................................................................................... xiv CAPÍTULO 1 – CONSIDERAÇÕES GERAIS................................................... 1 1.1 Manejo nutricional....................................................................................... 2 1.1.1 Exigência nutricional em minerais............................................................ 3 1.1.1.1 Exigência e absorção de fósforo........................................................... 4 1.1.2 Coeficientes de digestibilidade aparente do fósforo................................. 7 1.2 Importância do fósforo na absorção de nutrientes...................................... 10 1.3 Sinais de deficiência defósforo.................................................................. 11 1.4 Parâmetros hematológicos e bioquímica do sangue................................... 12 2.0 OBJETIVOS GERAIS.................................................................................. 12 REFERÊNCIAS................................................................................................. 12 CAPÍTULO 2 – DIGESTIBILIDADE APARENTE DE MINERAIS DE ALIMENTOS PARA O TAMBAQUI.................................................................. 18 RESUMO…........................................................................................................ 18 ABSTRACT........................................................................................................ 19 1 INTRODUÇÃO................................................................................................ 20 2 MATERIAL E MÉTODOS............................................................................... 20 2.1 Condições experimentais............................................................................ 20 2.2 Dietas experimentais................................................................................... 22 2.3 Ensaios de digestibilidade........................................................................... 24 2.4 Metodologia para coleta de fezes................................................................ 24 2.5 Determinação dos coeficientes de digestibilidade....................................... 25 2.6 Análise estatística........................................................................................ 26 3 RESULTADOS................................................................................................ 27 3.1 Condições ambientais................................................................................. 27 3.2 Coeficientes de digestibilidade aparente dos minerais................................ 27 4 DISCUSSÃO................................................................................................... 30 5 CONCLUSÃO................................................................................................. 36
REFERÊNCIAS................................................................................................. 36 CAPÍTULO 3 – DIGESTIBILIDADE DE NUTRIENTES E ENERGIA DE DIETAS CONTENDO TEORES CRESCENTES DE FÓSFORO TOTAL PARA TAMBAQUI............................................................................................
40
RESUMO…........................................................................................................ 40 ABSTRACT........................................................................................................ 41 1 INTRODUÇÃO................................................................................................ 42 2 MATERIAL E MÉTODOS............................................................................... 43 2.1 Instalações................................................................................................... 43 2.2 Preparação das dietas................................................................................. 43 2.3 Distribuição dos animais.............................................................................. 45 2.4 Cálculos de coeficientes de digestibilidade e excreção de fósforo.............. 46 2.5 Análises estatísticas.................................................................................... 47 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO...................................................................... 48 4 CONCLUSÃO................................................................................................. 51
ix
5 REFERÊNCIAS.............................................................................................. 51 CAPÍTULO 4 – EXIGÊNCIA EM FÓSFORO DIGESTÍVEL PARA O TAMBAQUI NA FASE DE CRESCIMENTO.....................................................
54
RESUMO…........................................................................................................ 54 ABSTRACT........................................................................................................ 55 1 INTRODUÇÃO................................................................................................ 56 2 MATERIAL E MÉTODOS............................................................................... 57 2.1 Preparação das dietas................................................................................. 57 2.2 Instalações ................................................................................................. 59 2.3 Animais e delineamento experimental......................................................... 59 3 RESULTADOS................................................................................................ 61 3.1 Desempenho zootécnico............................................................................. 61 3.2 Composição corporal................................................................................... 63 4 DISCUSSÃO................................................................................................... 64 5 CONCLUSÃO................................................................................................. 68 REFERÊNCIAS................................................................................................. 68 CAPÍTULO 5 – PERFIL HEMATOLÓGICO DE TAMBAQUIS ALIMENTADOS COM DIETAS CONTENDO DIFERENTES TEORES DE FÓSFORO DIGESTÍVEL................................................................................... 72 RESUMO........................................................................................................... 72 ABSTRACT........................................................................................................ 73 1 INTRODUÇÃO................................................................................................ 74 2 MATERIAL E MÉTODOS............................................................................... 75 2.1 Preparação das dietas................................................................................. 75 2.2 Animais, instalações e delineamento experimental..................................... 76 2.3Determinação dos parâmetros hematológicos e metabólitos sanguíneos........................................................................................................ 77 2.4 Análise estatística........................................................................................ 78 3 RESULTADOS................................................................................................ 78 4 DISCUSSÃO................................................................................................... 81 5 CONCLUSÃO................................................................................................. 84 REFERÊNCIAS................................................................................................. 85 CAPÍTULO 6 – CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................... 89 ANEXOS I.......................................................................................................... 91 ANEXO II........................................................................................................... 92
x
LISTA DE TABELAS
CAPÍTULO 2 Pág.
TABELA 1 Composição bromatológica da ração referência e ingredientes testes 23
TABELA 2 Composição percentual dos ingredientes da dieta referência e dietas testes 23
TABELA 3 Coeficientes de digestibilidade aparente do fósforo (CDA P), cálcio (CDA Ca), magnésio (CDA Mg), manganês (CDA Mn) e zinco (CDA Zn) de ingredientes protéicos e suplemento mineral pelo tambaqui, ensaio I (n = 4 ± DP) 28
TABELA 4 Correlação entre o conteúdo de nutrientes das dietas e os coeficientes de digestibilidade aparente (CDA) dos minerais de ingredientes protéicos e fosfato bicálcico (FBC) para o tambaqui 29
TABELA 5 Coeficientes de digestibilidade aparente do fósforo (CDA P), cálcio (CDA Ca), magnésio (CDA Mg), manganês (CDA Mn) e zinco (CDA Zn) de ingredientes energéticos pelo tambaqui (n=4, média ± DP) 29
TABELA 6 Correlação entre o conteúdo de nutrientes das dietas e os coeficientes de digestibilidade aparente (CDA) dos minerais de ingredientes energéticos para o tambaqui 30
CAPÍTULO 3
TABELA 1 Composição percentual e bromatológica das rações experimentais para tambaqui na fase de recria 44
TABELA 2 Coeficientes de digestibilidade aparente da matéria seca (CDA MS), proteína bruta (CDA PB), energia bruta (CDA EB) e fósforo (CDA P) das dietas contendo diferentes teores de fósforo total (Pt) para tambaqui 47
CAPÍTULO 4 TABELA 1 Composição percentual e bromatológica das rações
experimentais para tambaqui na fase de crescimento 58 TABELA 2 Médias de conversão alimentar aparente (CAA), peso final
(Pf), consumo diário de ração (CDR), ganho de peso diário (GPD),taxa de eficiência protéica (TEProt), taxa de crescimento específico em peso (TCEp) aos 63 dias para tambaqui, sob diferentes teores de fósforo digestível na ração 61
TABELA 3 Composição corporal (100%MS) de tambaquis alimentados com diferentes teores de fósforo digestível 63
TABELA 4 Composição mineral dos ossos de tambaquis alimentados com dietas contendo diferentes teores de fósforo digestível 63
CAPÍTULO 5 77 TABELA 1 Composição percentual em ingredientes e análise proximal
das dietas experimentais 76 TABELA 2 Número de eritrócitos (ERIT), hematócrito (HTC), taxa de
hemoglobina (HB) e número de leucócitos totais (LEUCO), volume corpuscular médio (VCM) e concentração de hemoglobina corpuscular média (CHCM) de tambaquis alimentados com dietas contendo diferentes teores de fósforo digestível (Pdig) (n = 8, média ± DP) 78
xi
TABELA 3 Proteína plasmática total (PPT), atividade da fosfatase alcalina (ALP) e fósforo sérico total (Pi), concentração de albumina (ALB) e globulinas (GLOB) séricas, e relação A:G de tambaquis alimentados com dietas contendo diferentes teores de fósforo digestível (Pdigig) (n = 8, média ± DP) 79
xii
LISTAS DE ABREVIATURAS OU SÍMBOLOS
ALB Concentração de albumina ALP Atividade de fosfatase alcalina CAA Conversão alimentar aparente CDA Coeficiente de digestibilidade aparente CDR Consumo diário de ração CHCM Concentração de hemoglobina corpuscular média DBC Delineamento em blocos ao acaso DIC Delineamento inteiramente ao acaso EE Extrato etéreo ERIT Número de eritrócitos FA Farelo de algodão
Faz Farelo de arroz
FB Fibra bruta FBC Fosfato bicálcico
FCO Farinha de carne e ossos
FP Farinha de peixe
FS Farelo de soja
FT Farelo de trigo
FV Farinha de vísceras
GLOB Globulina GM-60 Glúten de milho - 60%PB
GPD Ganho de peso diário HB Taxa de hemoglobina HTC Hematócrito LEUCO Número de leucócitos totais Mi Milho
MM Matéria mineral P Fósforo PB Proteína bruta Pdig Fósforo digestível Pf Peso final Pi Fósforo sérico total PPT Proteína plasmática total Pt Fósforo total QAz Quirera de arroz
TCEp Taxa de crescimento específico em peso TEP Taxa de eficiência protéica VCM Volume corpuscular médio
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RESUMO GERAL
Conduziram-se três ensaios, objetivando avaliar o coeficiente de digestibilidade aparente (CDA) do fósforo, cálcio, magnésio, manganês e zinco em ingredientes para tambaquis (ensaio I e II), e a exigência em fósforo para esta espécie (ensaio III). No ensaio I, os CDA dos minerais foram avaliados em seis alimentos protéicos: farelo de soja (FS), farelo de algodão-40 (FA-40), glúten de milho (GM-60), farinhas de peixe (FP), vísceras de aves (FVA) e carne e ossos (FCO); além do suplemento mineral fosfato bicálcico (FBC); enquanto, no ensaio II, em cinco alimentos energéticos: milho (Mi), farelo de trigo (FT), quirera de arroz (QAz), farelo de arroz (FAz). Em ambos os ensaios, foi utilizada uma dieta referência, sendo o CDA estimado pelo método indireto, utilizando-se 0,2% de óxido de crômio III nas dietas. No ensaio I, 64 tambaquis (peso médio de 300 ± 10g) foram distribuídos aleatoriamente em oito caixas de 310 L, e para o ensaio II, 48 tambaquis, 400 ± 20g, distribuídos em seis caixas, nas quais eram fornecidas as dietas experimentais. Para o ensaio III, foram selecionados 140 tambaquis (144,4 ± 2,0 g) distribuídos em 20 caixas reguladas para 400L, em delineamento inteiramente casualizado, onde receberam dietas com cinco teores de Pdig (0,30; 0,56; 0,75; 0,91 e 1,10%) totalizando quatro repetições por tratamento. Após 63 dias, avaliaram-se peso final (Pf), ganho de peso diário (GPD), conversão alimentar aparente (CAA), taxas de crescimento específico (TCEp) e de eficiência protéica (TEP), composição química da carcaça, mineralização óssea, parâmetros hematológicos, atividade da fosfatase alcalina plasmática, sintomas de deficiência do fósforo. Os resultados dos estudos foram comparados por meio da análise de variância e, quando significativos, submetidos ao teste de comparações múltiplas de médias do teste SNK (5%). Para determinação do melhor nível de Pdig foi aplicada análise de regressão e modelo LRP. No ensaio I, observaram-se altos valores de CDA dos minerais P, Ca e Mn do GM-60, como também altos valores de CDA do P, Mg e Mn da FVA pelo tambaqui. Entre os alimentos protéicos de origem animal a FP, FCO apresentaram baixos CDA do P e Zn pelo tambaqui. A fonte inorgânica de fósforo, FBC, em geral, apresentou os menores CDA dos minerais pelo tambaqui. No Ensaio-II, observou-se altos valores de CDA dos minerais do FAz para o CDA do P (P<0,05). Enquanto, a QAz apresentou os menores CDAs do P, Ca, Mn pelo tambaqui. Quanto ao Ensaio-III, os melhores resultados para desempenho (CAA e TEP) foram observados para o nível de 0,78% Pdig na dieta, e para Pf e GPD, o ideal foi 0,72% Pdig. Em contrapartida, para maior mineralização da carcaça e dos ossos, maior nível foi exigido. Dentre os ingredientes protéicos, o GM-60 e FVA se destacaram com maior digestibilidade dos minerais. E dentre os energéticos, os maiores CDA do P, Mg e Mn foi do FAz. Quanto à exigência, sugere fornecer 0,75% Pdig nas rações para tambaquis na fase de crescimento para melhor desempenho e reduzir a excreção de fósforo para o meio de cultivo. Palavra-chaves: Desempenho, digestibilidade, efluentes, ingredientes, mineralização óssea, parâmetros hematológicos
xiv
ABSTRACT
Three experiments were undertaken aiming at evaluating apparent digestibility coefficients of phosphorus, calcium, magnesium, manganese and zinc (ADC P; Ca; Mg; Mn; Zn) in several feedstuffs for tambaqui (experiment I and II), and phosphorus requirement for this species (experiment III). In the experiment I the ADCs of minerals in six protein-rich products: soybean meal (SM), cottonseed meal-40 (CSM), corn gluten meal (CGM), fish meal (FM), poultry by-product meal (PBM) and meat and bone meal (MBM) were determined. Additionally, dicalcium phosphate (DCP) was either evaluated in this study, while in the experiment II five cereal grain products: corn (CM), wheat middlings (WM), broken rice (BR) and rice bran (RB). In both studies (I and II) a reference diet was used and the ADC estimated using the indirect method by adding chromic oxide at 0.2% to the diets. Sixty-four tambaquis with 300 ± 10g mean average weight were randomly assigned to eight 310L-aquaria in the experiment I, while in the experiment II 48 fish with 400 ± 20g mean average weight were randomly assigned to six 310L-aquaria comprising four replicates per treatment (ingredients) arranged in a randomized blocks design. 140 tambaquis with 144.4 ± 2.0 g were randomly stocked into 20 400L-plastic aquaria and arranged in a completely randomized design with five digestible phosphorus levels (0.30, 0.56, 0.75, 0.91, and 1.10%) and four replicates in experiment III. Final weight (FW), daily weight gain (DWG), feed conversion ratio (FCR), specific growth rate (SGR), protein efficiency ratio (PER), carcass chemical composition, bone mineralization, hematological parameters, alkaline phosphatase activity and plasma protein profile were evaluated after 63 days of experiment. The results of the studies were subjected to one-way ANOVA and when significant (P<0.05), treatments were compared by Student-Newman-Kews and Duncan multiple range test. Regression analysis and the linear response plateau were used for estimating the digestible phosphorus requirement. Among all protein rich products, CGM and PBM had the highest P ADC for tambaqui (P <0.05). The ADC of P from CSM was higher than MBM and similar to FM, while SBM showed the lowest ADC of minerals. Surprisingly, DCP showed either lowest ADC values of minerals. RB had the highest P ADC among the cereal grain products evaluated (P<0.05), while BR showed the lowest Ca, Mn and P ADC. Based on FCR and PER, the estimated digestible P requirement was 0.78% and for maximum FW and DWG 0.72% seems to fit the requirement. However, for carcass composition and bone mineralization higher P levels seems to be required for tambaqui. Concludes that among protein ingredients, the GM-60 and FVA contrast out with greater digestibility of minerals. And among the energy, the higher ADC of P, Mg and Mn were the BR. The requirement suggests Pdig supply 0.75% in diets for tambaquis in the growth phase for better performance and reduce phosphorus excretion to the culture medium. Keywords: Bone mineralization, digestibility, effluents, feedstuffs, growth performance, hematology
CAPÍTULO 1 - CONSIDERAÇÕES INICIAIS
A produção aquícola mundial tem crescido substancialmente, atingindo
a marca de 52 milhões de toneladas em 2008. Esta alta produção é decorrente da
alta demanda por pescado pela população, com crescimento médio anual de
6,6%, chegando a 7,8 kg per capita/ano (THE STATE OF WORLD FISHERIES
AND AQUACULTURE - SOFIA, 2010).
No Brasil, houve incremento do consumo per capita de pescado de
6,46 para 9,03 kg/habitante/ano entre 2003 e 2009, representando aumento de
40% nos últimos sete anos (MPA, 2010a). Dentre as espécies de peixes nacionais
cultivadas, o tambaqui (Colossoma macropomum) se destaca, mantendo-se em
primeiro lugar em produção, superando 46 mil t. Entre 2003 e 2009, a produção
desta espécie cresceu 123%, com taxa média anual de 14% (MPA, 2010b).
O crescimento da produção dessa espécie se deve a boas
características zootécnicas, como alta taxa de crescimento, boa conversão
alimentar e maior lucratividade comparada a algumas espécies nativas e híbridas
em sistema intensivo de produção (PAULA, 2009). Aliado a este fato, produz
carne de sabor agradável e de boa qualidade, quando cultivada sob manejo
alimentar adequado para a espécie. Deve-se destacar, ainda, a facilidade de
adaptação ao confinamento e arraçoamento, quando em ambiente adequado.
O tambaqui é uma espécie de clima tropical, preferindo temperaturas
mais altas, entre 25 a 34ºC, suportando baixos níveis de oxigênio dissolvido na
água (< 2mg/L) por mecanismos fisiológicos, como a expansão do lábio inferior
(REID et al., 2006). Pertencente à classe Actinopterygii, ordem Characiformes,
família Characidae (BRITSKI, 1977), o tambaqui ocorre naturalmente nas bacias
do Rio Amazonas e do Rio Orinoco (ARAÚJO-LIMA & GOMES, 2005). Na
natureza, durante seu período juvenil, ingere alimentos altamente protéicos,
especialmente de origem animal, como zooplânctons, tendo, portanto, dieta
onívora. Em contrapartida, na fase adulta, sua dieta é basicamente herbívora,
com a ingestão de frutos e de sementes (ARAÚJO-LIMA & GOULDING, 1998,
SILVA et al., 2003).
O trato digestório do Colossoma macropomum é composto pelo
esôfago (curto), estômago (grande e distensível), cecos pilóricos, intestino longo
2
(anterior, médio e posterior) e reto (Anexo 2, Figura 1). Há maior atividade
proteolítica em pH ácido encontrado no estômago do tambaqui, enquanto nos
cecos pilóricos, observa-se atividade alcalina (BEZERRA et al., 2000). As
características do estômago permitem esta espécie ingerir frutos/sementes
inteiros, e em grandes quantidades quando triturados (SILVA et al., 2003). Entre
algumas vantagens da secreção ácida do estômago incluem a melhor digestão
ácida da parede celular da planta e do exoesqueleto de invertebrados consumidos
(LOBEL, 1981) e absorção de fósforo (SUGIURA et al., 2006).
Os cecos pilóricos, apêndice ligado ao estômago, são numerosos,
podendo alcançar o número de até 75 num tambaqui adulto. Acredita-se que este
grande número de cecos ajude na digestão de vegetais. O comprimento do
intestino pode alcançar cerca de 5 a 5,5 vezes o comprimento do corpo, sendo
similar a muitas espécies detritívoras e herbívoras (ARAÚJO-LIMA & GOULDING,
1998), aumentando a superfície de contato com o bolo alimentar e melhorando a
absorção dos nutrientes.
1.1 Especificidades nutricionais
O crescimento na produção aquícola tem resultado no aumento da
demanda por rações balanceadas, que atendam as exigências nutricionais
mínimas da espécie cultivada. Segundo alguns autores, quando dietas adequadas
às exigências da espécie são administradas, a mesma consegue assimilar
eficientemente os nutrientes pelo aumento da sua digestibilidade (PIMENTEL-
RODRIGUES & OLIVA-TELES, 2007; HUA & BUREAU, 2010), melhorando os
índices zootécnicos e, consequentemente, redução dos custos de produção.
De acordo com PEZZATO et al. (2009), as exigências nutricionais
estão relacionadas à espécie, características anatômicas e morfológicas do
sistema digestório, aos hábitos alimentares, à fase de desenvolvimento, ao sexo e
ao estágio de maturação sexual, sistema e regime de produção, temperatura da
água, frequência de arraçoamento, entre outros fatores.
Fatores antinutricionais presentes nos ingredientes, e o
desbalanceamento da energia, dos macronutrientes e dos minerais nas rações
3
para peixes podem ocasionar problemas como distúrbios metabólicos, fisiológicos
e riscos à produção, muito comuns em sistemas de criação intensiva (TACON,
1992).
Contudo, a formulação de dietas comerciais para peixes ainda é
embasada em valores de nutrientes totais do alimento, não considerando a
digestibilidade e exigência dos mesmos. Isso se deve à escassez de dados,
principalmente, quando se trata de espécies nacionais, como o tambaqui, e ainda,
pela menor preocupação por parte dos produtores que ainda acreditam que dietas
de qualidade são aquelas que possuem altos níveis de nutrientes em sua
composição.
1.1.1 Exigência nutricional em minerais
Os minerais diferem dos demais nutrientes exigidos por não serem
produzidos pelo organismo, devendo ser supridos pela dieta. Os minerais
possuem grande importância por exercerem diversas funções biológicas. Essas
funções podem ser classificadas como estruturais (tecido ósseo e proteínas
musculares); regulatórias, como replicação e diferenciação celular; fisiológicas,
como sua ação sobre a osmorregulação e a permeabilidade de membrana; são
estruturas de metaloenzimas; e fazem parte de moléculas de armazenamento de
energia (CHO et al., 1985; BUREAU & CHO, 1999).
A literatura classifica os minerais conforme a quantidade presente no
organismo, como macro e microminerais. Os minerais essenciais para os peixes
são cálcio, fósforo, magnésio, ferro, cobre, manganês, zinco, selênio e iodo (NRC,
2011). Muitos destes são classificados como microminerais, mas decisivos em
funções metabólicas, como co-fatores para a respiração celular, transporte de
oxigênio e catálise enzimática (BAKKE et al., 2011).
O sódio, o potássio e o cloro, juntos com fosfatos e bicarbonatos,
mantém a homeostase e o equilíbrio ácido–base do organismo. Uma quantidade
fixa de ferro, manganês, cobre, cobalto, zinco, molibdênio e selênio podem estar
constantemente associados com uma proteína específica ou metaloenzima,
4
apresentando única função catalítica, como o zinco e a fosfatase alcalina para
hidrolise de ésteres de fosfato (LALL, 2002).
Os peixes possuem a capacidade fisiológica de absorver alguns
desses minerais do meio aquático por meio de trocas iônicas nas brânquias,
normalmente por se encontrarem em quantidade suficiente na água circundante
para os peixes absorverem. Em água doce, geralmente, há concentração
suficiente de cálcio, sódio, potássio e cloreto para atenderem suas exigências
(BUREAU & CHO, 1999).
Contudo, o cálcio, fósforo e magnésio são minerais essenciais,
responsáveis pela formação de ossos, componentes estruturais de órgãos e
tecidos, além de possuírem papel fundamental nos processos intracelulares,
como sinalização celular e metabolismo energético (SUTTLE, 2010; BAKKE et al.,
2011). Assim, a totalidade da exigência destes minerais deve, em geral, ser
suprida pela dieta, em especial o fósforo (BAKKE et al., 2011).
1.1.1.1 Exigência e absorção de fósforo
O fósforo é constituinte importante da estrutura óssea, existindo em
estreita relação com o cálcio (STEFFENS, 1987). Cerca de 80% do fósforo
encontra-se nos ossos e nos dentes e os outros 20% estão distribuídos nos
tecidos moles, glóbulos vermelhos, ácidos nucléicos, membranas, músculos,
tecidos nervosos e escamas (SUTTLE, 2010; NRC, 2011).
Assim, o fósforo é essencial para o crescimento, mineralização óssea,
metabolismo de lipídios (MIRANDA et al., 2000b; PEZZATO et al., 2006;
NWANNA et al., 2009), além de exercer importante função nos processos
metabólicos e na transferência de energia química no organismo via ATP para
diversas reações bioquímicas, como gliconeogênese, transporte de ácidos
graxos, e de aminoácidos, na síntese protéica, e na atividade da bomba de
sódio/potássio (LEHNINGER et al., 1995; SUTTLE, 2010).
Estruturalmente, o fósforo ocorre como hidroxiapatita nos tecidos
ósseos concedendo-lhes rigidez, resistência e suporte (LALL, 2002; NRC, 2011);
como fosfolipídios, fazendo parte da maioria das membranas biológicas e
5
organelas intracelulares; e como nucleotídeos e ácidos nucléicos (NRC, 2011). De
acordo com DA SILVA & COZZOLINO (2007), a concentração total de fósforo no
sangue é de aproximadamente 40 mg/dL, principalmente como fosfolipídios das
células vermelhas e lipoproteínas do plasma.
Na natureza, o fósforo se encontra amplamente distribuído em
combinação com outros elementos. O fosfato se encontra em equilíbrio com o
ácido fosfórico (H3PO4), com o dihidrogenofosfato (H2PO4-) e com o
hidrogenofosfato (HPO42-). A forma predominante no pH neutro é o
hidrogenofosfato, enquanto, no meio ácido, predomina o ácido fosfórico. O fosfato
livre também é chamado de fosfato inorgânico (fósforo inorgânico). O fosfato
covalentemente ligado aos açúcares, às proteínas e a outros componentes da
célula é chamado de fosfato orgânico (fósforo orgânico) (QUINTERO PINTO et
al., 2011).
Como este mineral é exigido em maiores quantidades pelos peixes,
tem sido considerado como o mais importante para esta classe de animais. A
exigência em fósforo total tem sido estabelecida para várias espécies de peixes,
situando-se em torno de 0,25 a 1,0% da dieta, variação que está relacionada à
fase de crescimento (NRC, 2011), às características do sistema digestório e à
fonte desse mineral (PEZZATO et al., 2006). Para espécies nativas, notou-se
alguns estudos com pacu (Piaractus mesopotamicus) e jundiá (Rhamdia quelen),
apesar disso, até a presente data, ainda não foram encontrados relatos sobre a
exigência em fósforo para o tambaqui.
PEZZATO et al. (2006) avaliando teores de fósforo na dieta para
alevinos de tilápia do Nilo alimentados com rações contendo teores inferiores a
0,5% de fósforo digestível, demonstraram menor ganho de peso e eficiência
alimentar e maior conversão alimentar aparente.
FURUYA et al. (2008a) observaram aumento no ganho de peso para
tilápia do Nilo com o aumento dos teores de fósforo digestível na dieta, e efeito
quadrático das dietas sobre a conversão alimentar e taxa de eficiência protéica,
que foram melhores com 0,48% de fósforo digestível. Segundo estes mesmos
autores, é comum utilizar dietas com valores de fósforo digestível acima das
exigências nutricionais dos peixes pela adição de fontes protéicas de origem
animal às dietas, que apresentam elevado teor de cálcio e fósforo.
6
Os teores de cálcio e fósforo e a relação entre os mesmos devem ser
cuidadosamente ajustados, uma vez que o excesso de fósforo e/ou de cálcio
dietético interfere negativamente na digestibilidade do zinco, magnésio e ferro,
como observado para tilápias (SCHAMBER et al., 2008). Soma-se a isso o fato de
que também reduz a digestibilidade do fósforo, da energia e dos aminoácidos por
formar sabões insolúveis com o cálcio e lipídios no duodeno (NWANNA et al.,
2009).
Além de sua importância fisiológica, o fósforo tem papel determinante
para a aquicultura, pois sua liberação por meio dos efluentes das atividades
aquícolas pode levar, juntamente com o nitrogênio, à eutrofização do corpo
aquático, pois o fósforo é o fator limitante para o crescimento de algas
(GONÇALVES et al., 2007).
Para a absorção do fósforo pelo epitélio intestinal, o mineral deve estar
solubilizado e, em monogástricos, dependerá da fitase dos grãos ou de secreções
intestinais para que isso ocorra (SUTTLE, 2010). Mais de 90% da absorção de P
inorgânico (Pi) no intestino dá-se via co-transporte Na+Pi sendo mais ativo em pH
alcalino. Mas, em peixes que apresentam na região proximal do duodeno os
cecos pilóricos, como observado para salmonídeos, o transportador é
independente de Na+ (SUGIURA & FERRARIS, 2004; BALDISSEROTTO, 2009).
A taxa de transporte ativo no duodeno é aumentada pela presença do calcitrol
[1,25 (OH)2D3], forma ativa da vitamina D3. Contudo, a taxa de transporte do P
nesse caso é dependente principalmente da sua concentração no lúmen e
independente dos teores de outros nutrientes e da energia da dieta (SUGIURA &
FERRARIS, 2004; DA SILVA & COZZOLINO, 2007).
O fósforo está presente praticamente em todos os ingredientes
alimentícios, como mistura das formas inorgânica e orgânica. As fosfatases
intestinais hidrolisam a forma orgânica, e assim a maior parte da absorção
acontece como fósforo inorgânico, ocorrendo maior porcentagem de absorção
total nos animais jovens do que nos adultos (McDOWELL, 1992).
A descarga de nutrientes em efluentes de piscicultura está direta ou
indiretamente associada à alimentação, ou seja, alimentos não digestíveis, fósforo
da dieta na forma indisponível e excesso de alimento são as principais formas de
contribuição para o aumento dos nutrientes no efluente. Assim, para formulações
7
corretas de rações, indiferentemente do nutriente em questão, além do
conhecimento da exigência nutricional específica para cada espécie, é necessário
o conhecimento da digestibilidade dos nutrientes e energia de cada alimento.
1.1.2 Coeficiente de digestibilidade aparente do fósforo
A quantificação da absorção de fósforo é realizada por ensaios de
digestibilidade com diferentes fontes de alimentos, podendo diferenciar os
resultados entre as espécies. Para peixes, como há dificuldade na coleta total das
fezes e na medição precisa da quantidade de alimento consumido, utiliza-se o
método indireto de medição de digestibilidade, que consiste na coleta parcial das
fezes, por meio da utilização de um marcador indigestível na dieta. Para peixes,
frequentemente, utiliza-se o óxido de crômio III como marcador externo, de
acordo com BREMER NETO et al. (2005).
Diferenças na digestibilidade do fósforo dos ingredientes são comuns
entre as espécies de peixes, devendo estas serem quantificadas. HUA &
BUREAU (2010) avaliaram modelos matemáticos que pudessem evidenciar esta
hipótese. Observaram diferenças significativas na digestibilidade aparente do
fósforo entre os ciprinídeos, ciclídeos e salmonídeos. Espécies ciprinídeas, como
as carpas, parecem ter baixa capacidade de digerir compostos de fósforo de
baixa solubilidade. Eles não parecem ser capazes de digerir eficazmente o fósforo
proveniente dos ossos, e a sua capacidade para digerir os fosfatos bicálcicos é
baixa (30%) em comparação com a de ciclídeos, como a tilápia, e salmonídeos
(62-64%), notadamente, em virtude das diferenças observadas no trato
gastrointestinal.
Entre os ingredientes protéicos, a farinha de peixe, comumente
utilizada para formulação de ração para peixes, contém altos teores de fósforo,
porém sua digestibilidade pode variar quanto à procedência (MIRANDA et al.,
2000a; FURUYA et al., 2001), ao tipo de processamento das dietas e à fase de
crescimento (QUINTERO PINTO et al., 2011; GUIMARÃES et al., 2012).
MIRANDA et al. (2000a) e KÖPRÜCÜ & ÖZDEMIR (2005) obtiveram
para alevinos de tilápia do Nilo baixos coeficientes de digestibilidade do fósforo da
8
farinha de peixe, com dietas peletizadas, sendo 27,1% (dieta purificada) e 27,8%
(dieta prática), respectivamente. Por sua vez, FURUYA et al. (2001) obtiveram
49,7%, utilizando dieta peletizada, e DONG et al. (2010), 96,7% com dieta
extrusada, para esta mesma espécie.
Em função do elevado custo da farinha de peixe no mercado brasileiro,
principalmente em regiões não litorâneas, e devido à alta demanda mundial, as
farinhas de carne e de vísceras têm sido usadas para substituí-la parcial ou
totalmente em rações comerciais, como também os concentrados protéicos de
origem vegetal (PEZZATO et al., 2009; FURUYA, 2010). Com isso, estudos têm
avaliado a digestibilidade de fósforo destes ingredientes para algumas espécies
de peixes (ZHOU et al., 2004; GUIMARÃES et al., 2012).
Para peixes onívoros e herbívoros, é possível a inclusão de fontes
protéicas de origem vegetal para reduzir os custos da ração. Por outro lado,
alimentos de origem vegetal podem apresentar baixos teores e digestibilidade de
fósforo, devido à presença de fitatos, classe complexa de compostos de
ocorrência natural formados durante o processo de maturação de sementes e
grãos de cereais (TORRE et al., 1991; FURUYA et al., 2001a).
O fitato ou sal do ácido fítico (hexafosfato de mioinositol) contém cerca
de 70% do conteúdo de fosfato dos ingredientes vegetais, sendo estruturalmente
integrado com proteínas e/ou minerais (Ca, P, Fe, Mn e Mg) na forma de
complexos (ZHOU & ERDMAN, 1995), reduzindo a digestibilidade dos mesmos
como também de moléculas de glicose e aminoácidos conjugadas
(STOREBAKKEN et al., 1998). O fitato é composto orgânico de ocorrência natural
e pode influenciar as propriedades nutricionais dos alimentos (VIELMA et al.,
1998), pois animais monogástricos não sintetizam a enzima fitase, necessária
para hidrolisar o referido complexo (STOREBAKKEN et al., 1998).
GONÇALVES et al. (2007) observaram que os maiores valores de
digestibilidade aparente do fósforo para tilápia do Nilo em alimentos vegetais
foram do farelo de trigo (53,11%) e do farelo de algodão (52,88%), diferindo dos
demais alimentos, sequencialmente menores, como o farelo de soja (22,31%),
glúten de milho (22,17%), farelo de arroz (17,29%), e milho (11,44%). Em
pesquisa posterior, GONÇALVES et al. (2009) também relataram baixa
digestibilidade do P para o farelo de soja (25,9%), farelo de algodão (37,3%) e
9
farelo de trigo (35,8%), contudo o glúten de milho apresentou maior valor
comparado à farinha de peixe para juvenis de tilápia do Nilo.
Dentre as fontes protéicas de origem vegetal, o farelo de soja é o
ingrediente mais disponível no mercado brasileiro, sendo considerado o alimento
vegetal padrão para formulação das rações para os peixes tropicais,
especialmente para as espécies onívoras (PEZZATO et al., 2009). Como
observado em diversos trabalhos, os coeficientes de digestibilidade do fósforo no
farelo de soja para alevinos de tilápia variam de 30,1% a 76,7% (FURUYA et al.,
2001; KÖPRÜCÜ & ÖZDEMIR, 2005; DONG et al., 2010).
Outro alimento que vem sendo estudado para peixes é o glúten de
milho. GONÇALVES et al. (2009) e DONG et al. (2010) obtiveram resultados de
CDA do fósforo para tilápia do Nilo que variaram de 63 a 79%, respectivamente.
São valores superiores aos do farelo de soja, contudo é alimento considerado de
maior custo para os fabricantes de ração.
O farelo de algodão tem recebido atenção pelos nutricionistas, por ser
fonte protéica de boa qualidade e de baixo custo. Seu valor nutricional é inferior
ao do farelo de soja por apresentar baixos teores de lisina disponível, e níveis de
0,03 a 0,20% de gossipol, que pode causar degeneração hepática. No entanto,
apresenta razoável palatabilidade e os teores empregados em dietas para peixes
têm sido superiores àqueles recomendados para os demais monogástricos
(SANTOS et al., 2008).
Dentre os ingredientes energéticos, o milho pode compor até 60,0%
dos constituintes de uma dieta comercial. Apesar de tal participação, este produto
geralmente apresenta baixo conteúdo de fósforo total (MIRANDA et al., 2000a) e
digestível (GONÇALVES et al., 2007).
Em boa parte dos estudos, nota-se que o fosfato bicálcico pode ser a
principal fonte inorgânica de fósforo em rações para peixes, principalmente
quando essas rações contêm elevadas proporções de alimentos de origem
vegetal (FURUYA et al., 2008).
MIRANDA et al. (2000a) avaliaram diferentes fontes de fósforo para
alevinos de tilápia do Nilo, como fosfato bicálcico, farinhas de osso e de peixe,
farelos de soja e de trigo e fubá de milho. O fosfato bicálcico apresentou a maior
10
digestibilidade de fósforo (74,2%) seguido da farinha de ossos (54,5%) e a menor
foi observada para o milho (7,33%).
LOVELL (1978) avaliou a digestibilidade de fósforo do fosfato bicálcico
e da farinha de peixe para o peixe onívoro bagre do canal (Ictalurus punctatus), e
encontrou valores de 65,0 e 39,0%, respectivamente. Para JOBLING (1994), o
fosfato tricálcico presente na farinha de peixe pode inibir a digestibilidade de zinco
em dietas para salmão e bagre do canal. Tal fato resultou em pior crescimento,
presença de catarata e deformidades no esqueleto desses peixes. Entretanto, o
alto nível desse fosfato não pareceu afetar tão severamente a carpa comum. Este
autor salientou, ainda, que altos teores de fósforo na dieta podem ter efeito
negativo em virtude da formação de um precipitado insolúvel de zinco, de cálcio e
de fósforo, que reduz a absorção do fósforo pelo intestino. Em contrapartida,
DIAS et al. (2010) avaliaram coeficientes de digestibilidade aparente do fósforo
em diferentes ingredientes para Solea senegalensis e obtiveram digestibilidade do
fósforo para farinha de peixe (54%) e glúten de milho (54,8%) semelhantes.
Apesar da importância do conhecimento da digestibilidade do fósforo,
muitas vezes essas informações não são empregadas pelos fabricantes de ração,
e este fato aliado ao baixo conhecimento da exigência nutricional e manejo
alimentar por parte dos produtores de peixes, aumenta-se os riscos de
contaminações dos efluentes aquáticos.
1.2 Importância do fósforo na absorção de nutrientes
Várias enzimas digestivas envolvidas nos processos de digestão e de
absorção têm sido reportadas em peixes, como amilase, pepsina, tripsina,
esterases e fosfatase alcalina (LALL, 2002; ALMEIDA et al., 2011). A fosfatase
alcalina intestinal hidrolisa o fósforo na forma orgânica e está envolvida na
absorção de nutrientes, como lipídeos, glicose, cálcio e fosfato inorgânico
(McDOWELL, 1992).
Dietas deficientes em fósforo prejudicaram a digestibilidade de lipídeos,
de carboidratos e, consequentemente, de energia em peixes (RODEHUTSCORD
et al., 2000). Isto se deve ao seu importante papel nos processos metabólicos e
11
na transferência de energia química no organismo através do ATP (LEHNINGER
et al., 1995).
Nota-se também que altos teores de P na dieta afetam negativamente
sua digestibilidade (RODEHUTSCORD et al., 2000; SUGIURA et al., 2000).
Características químicas de diferentes fontes de P podem resultar em diferenças
nas dinâmicas envolvidas na digestão e na absorção do P no trato gastrintestinal
que, por sua vez, pode afetar a digestibilidade do P da dieta.
Contudo, até o momento, não foram evidenciados estudos quanto à
influência dos teores de fósforo dietéticos na absorção de nutrientes e nos sinais
de deficiência do fósforo para o tambaqui, que atualmente é considerada a
principal espécie nativa cultivada no Brasil.
1.3 Sinais de deficiência de fósforo
A deficiência de fósforo na dieta, e ou baixa digestibilidade do mesmo,
também pode prejudicar a mineralização óssea, como observado por VIELMA et
al. (1998) e FURUYA et al. (2008) e, com isso, deformidades em diversas regiões
do corpo dos peixes (ROY et al., 2002; CHENG et al., 2005), além de redução na
taxa de crescimento (PEZZATO et al., 2006), baixos valores de ganho de peso,
pior conversão alimentar e eficiência alimentar, e aumento da porcentagem de
gordura na carcaça (YANG et al., 2006; SHAO et al., 2008; OLIVEIRA et al.,
2011).
Outros sinais de deficiência, como observado em carpas, incluem
aumento da atividade de determinadas enzimas gliconeogênicas no fígado,
aumento da gordura e diminuição do teor de água na carcaça, níveis reduzidos de
fosfato no sangue, na cabeça e aparecimento de vértebras deformadas (ONISHI
et al ., 1987). A redução no nível de hematócrito em catfish também foi relatada
(ANDREWS et al., 1973). A baixa ingestão de fósforo por Sea bream também fez
com que ocorressem curvatura e alargamento de vértebras; além de atividade da
fosfatase alcalina sérica aumentada; maior deposição de lipídios no músculo,
fígado e vértebras, e redução no conteúdo de glicogênio hepático (SAKAMOTO &
YONE, 1978).
12
1.4 Parâmetros hematológicos e bioquímica do sangue
O conhecimento dos parâmetros hematológicos dos peixes também
auxilia na determinação das influências de dietas, enfermidades e de outras
situações de estresse ambiental (SILVEIRA & RIGORES, 1989). A resistência à
infecção é um critério nutricional relacionada com o fósforo dietético. Pode haver
efeitos indiretos da deficiência de fósforo à perda de apetite, reduzindo a ingestão
de nutrientes essenciais, possíveis mudanças de fosfolipídios e perfis de ácidos
graxos, o que pode afetar na fluidez da membrana e metabolismo do animal
(SUGIURA, 2005). O perfil hematológico dos peixes pode sofrer redução pela
ação de toxinas (LUMLERTDACHA et al., 1995) ou também pelo tipo de alimento
empregado na dieta (KLINGER et al., 1996), assim como pela deficiência de
nutrientes na dieta.
2 OBJETIVOS GERAIS
Diante do exposto, e em virtude da escassez de informações dos
coeficientes de digestibilidade de minerais e de exigências em fósforo para o
tambaqui, nota-se a necessidade da obtenção de dados nutricionais para
maximizar o desempenho zootécnico desta espécie e minimizar a excreção de
fósforo nos efluentes e, consequentemente, reduzir o impacto gerado por
sistemas intensivos de produção.
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18
CAPÍTULO 2 – DIGESTIBILIDADE APARENTE DE MINERAIS DE ALIMENTOS
PARA O TAMBAQUI
RESUMO
Objetivou-se avaliar o coeficiente de digestibilidade aparente (CDA) do fósforo (P), cálcio (Ca), magnésio (Mg), manganês (Mn) e zinco (Zn) de seis ingredientes protéicos e um suplemento mineral (farelo de soja (FS), glúten de milho (GM-60), farelo de semente de algodão (FA-40), farinha de peixe (FP), farinha de vísceras de aves (FVA), farinha de carne e ossos (FCO) e fosfato bicálcico (FBC) – Ensaio-I) e cinco ingredientes energéticos (milho (Mi), farelo de arroz (FAz), quirera de arroz (QAz), farelo de trigo (FT) – Ensaio-II) para tambaquis, utilizando 0,2% de Cr2O3, marcador indigestível. As dietas testes foram preparadas pela mistura de 30% do ingrediente teste com 70% da dieta referência, as quais eram fornecidas durante o dia, que após adaptação às mesmas, iniciavam-se os ciclos de coleta de fezes, utilizando incubadoras adaptadas ao sistema Guelph modificado. Empregou-se o delineamento em blocos ao acaso para cada ensaio, sendo o fator semana de coleta considerado o bloco experimental. Foram observadas para os ingredientes protéicos e FBC variações dos CDAs entre 44,37 a 97,28% do P; 47,64 a 94,95% do Ca; 56,94 a 85,69% do Mg; -5,33 a 77,41% do Mn; e 17,26 a 83,17% do Zn. Para os ingredientes energéticos observaram-se CDAs entre 26,57 a 89,72% do P; 48,92 a 95,43% do Ca; 51,75 a 93,36% do Mg; -40,16 a 97,40% do Mn; e 28,59 a 52,31% do Zn. O GM-60 e FVA, dentre os protéicos, e o FAz e FT dentre os energéticos, podem ser os principais alimentos constituintes de rações para tambaquis, por apresentarem melhor aproveitamento do P e Ca por esta espécie.
Palavras chaves: Cachama negra, coeficiente de digestibilidade, Colossoma
macropomum, fósforo, nutrição.
19
CHAPTER 2 - MINERAL APPARENT DIGESTIBILITY COEFFICIENTS OF
SEVERAL FEEDSTUFFS FOR TAMBAQUI
ABSTRACT
Two studies were conducted aiming at evaluating the apparent digestibility coefficients (ADC) of phosphorus (P), calcium (Ca), magnesium (Mg), manganese (Mn) and zinc (Zn) in six protein-rich products plus a phosphorus source [soybean meal (SBM), corn gluten meal (CGM60), cottonseed meal (CSM40), fish meal (FM), poultry by-product meal (PBM), meat and bone meal (MBM) and dicalcium phosphate (DCP) – study I], and in five cereal grain products [corn (CM), rice bran (RB), broken rice (RB) and wheat middlings (WM) – study II] for tambaqui using Cr2O3 as an inert digestibility marker at 0.2%. Test diets were prepared by mixing 30% of tested ingredient with 70% reference diet. Groups of fish were fed the diets during the day and after adaptation period feces collection rounds were performed using five 200L-conic sedimentation aquaria. A randomized block design was used and each round of feces collection was considered a block. ADCs of protein-rich ingredients and dicalcium phosphate ranged from 44.37 to 97.28% for P; 47.64 to 94.25% for Ca; 56.94 to 85.69 for Mg; -5.33 to 77.41 to Mn; and 17.26 to 83.17 for Zn; while ADCs of cereal grain products ranged from 26.57 to 96.07 for P; 48.92 to 95.43 for Ca; 51.75 to 93.36 for Mg; -40.16 to 97.40 for Mn; and 28.59 to 83.17 for Zn. CGM, PBM, RB and WM may be used to compound formulated diets for tambaqui since they showed higher Ca and P digestibility for this species. Keywords: Black Cachama, Colossoma macropomum, digestibility coefficients, phosphorus, nutrition
20
1 INTRODUÇÃO
A piscicultura mundial está em constante expansão, notadamente, pela
redução dos estoques naturais, e aumento da demanda por pescados de
qualidade. O tambaqui (Colossoma macropomum) pertencente à família
Characidae (BRITSKI, 1977) se destaca entre as espécies do Brasil (MPA, 2010).
Sua criação representou 14,4% do total de peixes produzidos em 2009 (em torno
de 46 mil t), com crescimento significativo de 66% em relação a 2007 (MPA,
2010). Isto se deve ao seu bom desempenho em sistemas intensivos (PAULA,
2009), à fácil aceitação de rações, adaptação à criação em cativeiro, e sua boa
aceitação no mercado, principalmente, por apresentar carne de sabor agradável.
O tambaqui na natureza é espécie tipicamente onívora, aproveitando-se de
nutrientes de alimentos de origem vegetal e animal, sendo no período das cheias
frugívoros, e na seca, se alimentam de zooplâncton (SILVA et al., 2003).
No entanto, para intensificação do cultivo desta espécie, há
necessidade do conhecimento da digestibilidade dos nutrientes dos alimentos
comumente utilizados pelas indústrias de rações, com o intuito da redução de
metabólitos gerados. O nitrogênio e o fósforo excretados pelos peixes podem
acelerar os processos de eutrofização no meio, causando impacto negativo ao
ambiente. Como observado para as principais espécies exóticas cultivadas
(YAMAMOTO et al., 2007; PEZZATO et al., 2009; GUIMARÃES et al., 2011;
SARKER et al., 2011; GUIMARÃES et al., 2012) são exigidos o desenvolvimento
de tecnologias para alcançar ótimo desempenho produtivo, como o correto
balanceamento nutricional, manejo alimentar e processamento de rações
contendo nutrientes mais digestíveis.
O método de determinação da digestibilidade tem sido instrumento de
grande importância na área da nutrição aquícola, uma vez que pode avaliar a
inclusão de ingredientes para determinada espécie e a qualidade das rações
(CHO et al., 1982; PEZZATO et al., 2009). Portanto, reduzindo o poder poluente
das mesmas, serve como base para formulação de dietas equilibradas e
ambientalmente corretas (SUGIURA et al., 2000a).
O fósforo se destaca entre os micronutrientes pela importância nas
funções metabólicas e estruturais do organismo animal, por influenciar a absorção
21
de outros nutrientes e por gerar desequilíbrio biológico, quando em alta
concentração no ambiente. Pesquisas têm sido realizadas para testar alimentos
com o propósito de avaliar a digestibilidade do fósforo para as principais espécies
de peixes (MIRANDA et al., 2000; KÖPRÜCÜ & ÖZDEMIR, 2005; BURKE et al.,
2010; DONG et al., 2010).
Contudo, notam-se variações nos valores de digestibilidade do fósforo,
que podem estar relacionados à relação Ca:P, à interação com outros minerais,
ao estado fisiológico do peixe, ao processamento da dieta, e à presença do fitato
em alimentos vegetais (LALL, 2002). Os monogástricos não produzem a enzima
fitase (VIELMA et al., 1998), e o fósforo fica indisponível sendo excretado para o
ambiente. Em subprodutos de origem animal, o fósforo apresenta-se
primariamente nos ossos como cristais de hidroxiapatita, que em comparação aos
fosfatos de rocha, podem apresentar menor digestibilidade (STEFFENS, 1987).
HUA & BUREAU (2010) citam que também existe diferença da
digestibilidade de fósforo entre classes taxonômicas, como observado entre
ciprinídeos, ciclídeos e salmonídeos. Ressaltam, ainda, que a ausência de dados
em minerais digestíveis impõe risco em potencial a produção aquícola, visto que
teores incorretos de alguns minerais ou sua deficiência subclínica podem estar
relacionados com a menor resistência orgânica dos peixes em situações de
estresse. Assim, a correta formulação com dados digestíveis também é essencial
para evitar problemas, como mortalidade em sistemas intensivos de produção.
Como o cultivo do tambaqui vem crescendo consideravelmente no
Brasil, é muito importante que as indústrias formulem dietas baseadas em
nutrientes digestíveis para esta espécie. Diante do exposto, objetivou-se estimar a
digestibilidade do fósforo, cálcio, magnésio, manganês e zinco de ingredientes
protéicos, energéticos e fosfato inorgânico para tambaquis, Colossoma
macropomum.
2 MATERIAL E MÉTODOS
2.1 Condições experimentais
22
Os experimentos (Ensaio-I e II) foram conduzidos de acordo com as
normas éticas de pesquisa em animais após aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa da Universidade Federal de Goiás, Goiânia. Os Ensaios foram
realizados na Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC), Goiânia, no
Laboratório de Pesquisa de Organismos Aquáticos (LAPOA), entre fevereiro e
maio. Os peixes foram distribuídos em caixas de 310L abastecidas com água de
poço artesiano termostatizada, instaladas em sistema de recirculação fechado,
sendo a vazão de água regulada para 2,5L/min., e troca diária de 30% da água do
sistema, e aeração constante por turbina de ar.
A água foi tratada, respectivamente, por filtros físicos, ultravioleta e
biológico antes de retornar às caixas. Os parâmetros de qualidade como
temperatura, oxigênio dissolvido e pH foram monitorados diariamente com auxílio
de oxímetro digital e pHmetro, e, semanalmente, monitorados amônia, nitrito e
nitrato por kit químico, Alfakit®, mantendo-se constantes e dentro da faixa de
conforto para a espécie, ao longo dos experimentos.
2.2 Dietas experimentais
Foram realizados dois ensaios para determinação dos coeficientes de
digestibilidade aparente (CDA) dos minerais P, Ca, Mg, Mn e Zn, e utilizada uma
dieta referência em ambos os ensaios (Tabelas 1 e 2). A dieta referência foi
formulada para conter teores de proteína bruta exigidos para tambaqui, segundo
ALMEIDA et al. (2011), e energia bruta para obter relação EB:PB sugerida por
CARNEIRO (1990).
Para formulação das dietas, analisaram-se os alimentos quanto à
composição bromatológica, segundo AOAC (1995). As dietas testes foram
confeccionadas utilizando 70% da dieta referência e 30% do alimento teste, com
exceção do fosfato bicálcico, que utilizou a proporção 85:15. No ensaio I foram
testados os alimentos farelo de soja, glúten de milho-60, farelo de algodão-40,
farinha de peixe, farinha de vísceras de frango, farinha de carne/ossos, e fosfato
bicálcico; e no Ensaio-II o farelo de arroz, quirera de arroz, milho e farelo de trigo.
23
TABELA 1 – Composição bromatológica da ração referência e ingredientes testes¹
Produto MS% PB% EB
Kcal/Kg FB% MM% P% Ca% Mg% Mn mg/kg Zn mg/kg
R. Ref. 93,85 28,70 4426 5,54 9,39 1,72 3,77 0,81 9,48 2,42
Ensaio I – ingredientes protéicos e suplemento mineral²
Origem vegetal
FS 89,85 45,68 4480 6,33 1,20 0,63 0,10 0,19 18,15 5,52
GM-60 89,44 62,68 5352 1,33 3,19 0,48 0,08 0,28 23,25 5,57
FA.-40 91,16 44,12 4400 26,00 5,66 0,92 0,07 0,36 23,61 8,41
Origem animal
FP 87,90 51,59 4481 - 29,62 4,36 4,23 0,45 17,59 5,61
FVA 94,35 55,98 5080 - 19,53 2,41 4,88 0,17 27,76 7,70
FCO 90,43 46,81 3742 - 34,39 5,24 12,28 0,24 23,92 6,41
FBC 95,77 - - - 44,80 16,65 24,08 0,74 71,91 6,08
Ensaio II – ingredientes energéticos²
FAz. 90,36 13,85 5145 4,63 5,83 2,31 0,01 0,25 33,57 6,15
QAz 88,65 8,59 3890 - 0,60 0,21 0,01 0,04 20,43 5,22
Mi 90,10 9,30 4003 1,75 1,12 0,25 0,04 0,10 17,28 4,26
FT 88,94 15,52 4060 7,05 4,55 0,85 0,01 0,21 27,32 7,55
¹ Análise bromatológica das rações no Instituto de Química e Laboratório de Solos- UFG. ²Ingredientes (International Feed Number): FS: farelo de soja (5-04-612); GM-60: glúten de milho 60% PB (5-28-242); FA-40: farelo de algodão 40%PB (5-
01-619); FP: farinha de peixe; FVA: farinha de vísceras de aves (5-03-798); FCO: farinha de carne e ossos (5-09-322); FBC: fosfato bicálcico (6-01-612); FAz: farelo de arroz (4-03-928); QAz: quirera de arroz (5-28-242); Mi: milho (4-02-935); FT: farelo de trigo (4-05-205).
TABELA 2 – Composição percentual dos ingredientes da dieta referência Ingredientes Dieta Referência (%)
Farelo Soja 49,00 Farinha de peixe 5,00 Fubá Milho 27,15 Farelo Trigo 6,00 DL – Metionina 0,10 Cr2O3 0,20 Óleo Soja 6,50 Fosfato Bicálcico 5,60 Vit C 0,08 Sal comum 0,10 Suplemento vit./min. 0,25 BHT 0,02 Suplemento vitamínico e mineral (mg/kg de dieta): vitamina A - 16.060 mg; vitamina D3 - 4.510 mg; vitamina E - 250 mg; vitamina K3 - 30 mg; vitamina B1 - 32 mg; vitamina B2 - 32 mg; vitamina B12 - 0,032 mg; vitamina B6 - 32 mg; vitamina C – 350mg; pantotenato de cálcio - 80 mg; niacina - 170 mg; ácido fólico - 10 mg; biotina - 10 mg; cloreto de colina. 20 mg;
Óxido de cobalto - 0,5 mg; óxido de cobre - 20 mg; óxido de ferro - 150 mg; iodeto de cálcio - 1 mg; óxido de manganês - 50 mg; óxido de selênio - 0,7 mg; óxido de zinco - 150 mg; veículo q.s.p. - 1.000 g; fornecido pela Mogiana Alimentos Ltda;
Os ingredientes foram moídos para apresentarem granulometria de 0,5
mm, pesados separadamente, misturados e acrescidos os suplementos mineral e
vitamínicos e óleo vegetal, e, por último, adicionado o marcador externo óxido de
crômio-III na concentração de 0,2%, de acordo com BREMER NETO et al. (2005).
24
Posteriormente, foi adicionada água a 65°C por aspersão para atingir
19% de umidade, para serem submetidas à extrusão (extrusora de rosca simples
- Extrutec®), de forma a obterem grãos em torno de 4mm de diâmetro. Após este
processo, as dietas foram secas em estufa com recirculação forçada de ar a 65ºC,
por 48 horas, e após resfriamento, armazenadas em freezer (–20ºC).
2.3 Ensaios de digestibilidade
Foram realizados dois ensaios separadamente, com duração de 40
dias para cada. Para o Ensaio-I, 64 tambaquis, com peso médio de 300 ± 10g,
foram distribuídos aleatoriamente em oito caixas de 310L para avaliação da
digestibilidade de minerais de seis ingredientes protéicos e do fosfato bicálcico
(Tabela 1). Para o Ensaio-II, foram utilizados 48 tambaquis, com peso médio de
400 ± 20 g, distribuídos aleatoriamente em seis caixas de 310L para avaliação de
cinco alimentos energéticos (Tabela 1). Estas caixas foram utilizadas somente
para alimentação dos peixes. Para coleta de fezes utilizou-se incubadoras
adaptadas ao sistema Guelph modificado. Empregou-se o delineamento em
blocos ao acaso para cada Ensaio, e o fator semana de coleta foi considerado o
bloco experimental, e os diferentes grupos de peixes (unidades experimentais) as
repetições, totalizando quatro por tratamento.
2.4 Metodologia para coleta de fezes
Os peixes passaram por um período de adaptação ao sistema e à dieta
referência por 15 dias antes do início dos ensaios de digestibilidade. Para o
Ensaio-I, as oito dietas experimentais foram sorteadas entre oito caixas de
alimentação, sendo fornecidas três vezes ao dia, por quatro dias. Logo, iniciava-
se o período de coleta de fezes, em que quatro caixas, em dias alternados,
recebiam quatro refeições das 8h:30min às 17:30h, e em seguida, com auxílio de
puçá, eram transferidas para quatro aquários de coleta, permanecendo das
18h00min até 8h00min do dia seguinte. As coletas de fezes eram realizadas em
25
intervalo máximo de três horas para evitar lixiviação dos nutrientes. Após obter
dois pools de amostra por dieta experimental, as mesmas eram novamente
sorteadas entre as oito unidades experimentais, sem que repetisse a dieta para o
grupo de animais, para dar início a outra semana de coleta.
Os coletores de fezes com capacidade para 200 L de água,
apresentavam formato cônico, que possibilitava a coleta das fezes por gravidade,
as quais sedimentavam em recipiente de rosca acoplado a um registro de esfera
ao fundo de cada aquário (Anexo 2, Figura 3). Os mesmos eram equipados com
termostatos regulados para 28ºC e mangueiras acopladas com pedras porosas
para aeração, por turbina de ar comprimido.
Esta transferência possibilitou a obtenção de fezes sem contaminação
por sobras de ração ou acúmulo de nutrientes na água dos aquários de coleta,
pois se realizava sifonamento das caixas de alimentação antes da transferência e
descartavam-se os sedimentos dos coletores de fezes após 30 minutos de
permanência dos peixes nos coletores. Toda a água utilizada nos aquários de
coleta foi substituída para evitar contaminação nas coletas seguintes.
Para o Ensaio-II, foi realizado o mesmo manejo alimentar, manejo de
transferência e delineamento experimental, reduzindo a quantidade de caixas de
alimentação para seis, e as coletas eram realizadas a cada três grupos em dias
alternados.
As amostras de fezes eram acondicionadas em bandejas de alumínio
hermeticamente fechadas e identificadas, conservando-as em freezer (-20ºC).
Após a pré-secagem (65 ºC), as amostras de fezes foram moídas com pistilo de
vidro separadamente, sendo retiradas escamas com auxílio de pinça.
2.5 Determinação dos coeficientes de digestibilidade
As análises para determinação da concentração dos minerais nas
amostras e nas dietas foram realizadas a partir da mineralização nítrico-perclórica
em bloco digestor e determinados por espectrofotometria de luz (420nm) para o
fósforo, e por absorção atômica para os demais minerais, Ca, Mg, Mn e Zn,
26
(AOAC, 1995). A determinação do crômio (Cr) foi realizada em espectrofotômetro
com comprimento de onda de 550nm (BREMER NETO et al., 2005).
Os coeficientes de digestibilidade aparente dos minerais da dieta
referência e dietas testes foram calculados com base na fórmula (NOSE, 1960):
%Nr%Nf
%Cr2O3f%Cr2O3r 100100CDA(r)
Em que:
CDA = Coeficiente de digestibilidade aparente;
Cr2O3r = % de óxido de crômio-III na ração;
Cr2O3f = % de óxido de crômio-III nas fezes;
Nr = Nutrientes na ração;
Nf= Nutriente nas fezes.
O coeficiente de digestibilidade aparente dos minerais de cada
ingrediente foi calculado de acordo com a equação apresentada abaixo (CHO et
al.,1982):
CDANing = [ CDANtest – (a x CDANref)]/b
Em que:
CDANing. = coeficiente de digestibilidade aparente do nutriente no ingrediente;
CDANteste= coeficiente de digestibilidade aparente do nutriente da dieta-teste;
CDANrefer.= coeficiente de digestibilidade aparente do nutriente da dieta
referência;
a = contribuição do nutriente da dieta referência ao conteúdo de nutrientes da
dieta-teste;
b = contribuição do nutriente do ingrediente-teste ao conteúdo de nutrientes da
dieta-teste.
2.6 Análise estatística
Os valores dos CDA dos minerais dos ingredientes por não estarem
em distribuição normal foram transformados pela expressão y=arcsen 100 / x,
sendo “x” o valor da variável expresso em porcentagem. Os resultados foram
submetidos à análise de variância pelo PROC GLM do programa estatístico
27
Statistical Analysis System (SAS, 9.3). Para verificar a significância das diferenças
entre as médias dos tratamentos, foi aplicado o teste Student-Newman-Keuls
(P<0,05). As correlações entre as variáveis coeficientes de digestibilidade
aparente dos minerais e os nutrientes presentes nas dietas foram estimadas pela
técnica de componentes principais.
3 RESULTADOS
3.1 Condições ambientais
A temperatura das caixas de alimentação e coletores mantiveram-se
em 27,5 ± 0,9 ºC, o oxigênio dissolvido em 6,8 ± 0,17 mg/L, pH 6,6 ± 0,18, e
amônia total em 0,11 ± 0,02 mg/L. Notou-se que os parâmetros físico-químicos da
água das caixas de alimentação e coletores foram mantidos constantes ao longo
do período experimental, permanecendo dentro da faixa recomendada para
espécies tropicais (VINATEA ARANA, 1997). Pode-se constatar com isso que a
espécie adaptou-se facilmente ao manejo alimentar e ao sistema de recirculação,
possivelmente pelo conforto térmico e aos demais parâmetros químicos da água,
reduzindo, com isso, as possibilidades de interferência nos valores de
digestibilidade no decorrer dos ensaios.
3.2 Coeficientes de digestibilidade aparente dos minerais
Os coeficientes de digestibilidade aparente (CDA) dos minerais fósforo,
cálcio, magnésio, zinco e manganês dos alimentos protéicos e fosfato inorgânico
estão apresentados na Tabela 3. Os coeficientes de digestibilidade aparente do
fósforo (CDA P) entre os alimentos protéicos vegetais variaram de 44,37 a
97,28%, e para os protéicos de origem animal, de 53,02 a 86,95% (Tabela 3).
Para o tambaqui, em geral, os ingredientes protéicos de origem vegetal,
apresentaram CDA do P maiores que os de origem animal e fosfato bicálcico.
28
TABELA 3 - Coeficientes de digestibilidade aparente do fósforo (CDA P), cálcio (CDA Ca), magnésio (CDA Mg), manganês (CDA Mn) e zinco (CDA Zn) de ingredientes protéicos e suplemento mineral pelo tambaqui, ensaio I (n = 4 ± DP)
Ingredientes CDA P% CDA Ca% CDA Mg% CDA Mn% CDA Zn%
Origem vegetal
GM60
1 97,28 ± 1,81
a 94,95 ± 4,05
a 62,00 ± 5,46
c 61,41 ± 3,68
a 58,31 ±15,28
b
FA402
65,12 ± 3,79b 92,10 ± 4,14
a 56,94 ± 4,33
c 44,16 ± 5,37
a 83,17 ± 3,72
a
FS3
44,37 ± 5,87c 52,17 ± 4,37
c 57,73 ± 3,34
c - 5,33 ± 3,47
c 28,59 ± 2,69
d
Origem animal
FVA
4 86,95 ± 2,68
a 79,86 ± 4,15
b 76,33 ± 5,30
ab 77,41 ± 2,55
a 36,56 ± 4,56
c
FP5
54,65 ± 2,04c 50,76 ± 4,44
c 85,69 ± 3,94
a 17,67 ± 3,26
b 38,16 ± 3,23
c
FCO6
53,02 ± 7,98c 74,07 ± 3,83
b 72,82 ± 5,01
b 43,08 ± 3,20
a 17,26 ± 1,89
e
Suplemento
FBC
7 46,37 ± 3.55
c 47,64 ± 4,74
c 63,84 ± 3,02
c - -
Médias seguidas por letras distintas nas colunas diferem entre si pelo teste SNK (P <0,05). 1 Glúten de milho 60; 2 Farelo de semente de algodão 40; 3 Farelo de soja; 4 Farinha de vísceras de aves; 5 Farinha de peixe; 6 Farinha de carne e ossos; 7 Fosfato bicálcico.
O glúten de milho-60 apresentou o maior CDA P (97,28%) em relação
aos demais. Entretanto, não diferiu da farinha de vísceras de frango (86,95%)
(P>0,05). Os menores valores de CDA do P foram obtidos para o farelo de soja
(44,37%), o fosfato bicálcico (46,37%), a farinha de carne e osso (53,02%) e a
farinha de peixe (54,64%).
Para os CDAs do Ca e Mn, o GM-60 e FA-40 apresentaram valores
superiores (P<0,05) em comparação ao farelo de soja, e para os alimentos de
origem animal, o CDA do Ca foi baixo para a FP, como também para o FBC. Para
o tambaqui, o CDA do Mg foi alto, acima de 56%, sendo os alimentos protéicos
vegetais semelhantes entre si e ao FBC (P>0,05), e para os alimentos protéicos
de origem animal os valores foram superiores, de 72,82% para FCO a 85,69%
para FP. O CDA do Zn para o FA-40 (83,17%) foi maior entre todos os alimentos
protéicos (P<0,05), sendo o menor valor observado para a FCO (17,26%).
Em geral, a fonte inorgânica de fósforo, fosfato bicálcico (FBC),
apresentou os menores CDA dos minerais P, Ca e Mg pelo tambaqui. Não foi
possível estimar os valores de CDA do Mn e Zn, devido a baixa quantidade
desses elementos no fosfato bicálcico.
Na Tabela 4 estão apresentadas as correlações entre o conteúdo de
nutrientes das dietas e os CDA dos minerais dos ingredientes protéicos e fosfato
bicálcico pelo tambaqui. Em geral, observa-se correlação negativa entre a
composição das dietas e os CDA dos minerais dos ingredientes protéicos de
29
origem animal e fosfato bicálcico. O CDA do P apresentou correlação negativa
entre os teores de MM, Ca, Mg e correlação positiva entre o teor de Zn (+0,86).
TABELA 4 - Correlação entre o conteúdo de nutrientes das dietas e os coeficientes de digestibilidade aparente (CDA) dos minerais de ingredientes protéicos e fosfato bicálcico (FBC) para o tambaqui
Nutrientes CDA P CDA Ca CDA Mg CDA Mn CDA Zn
Ingredientes Protéicos de Origem Animal e FBC
MM -0,64** -0,66** -0,73*** -0,98**** -0,98**** P ns ns -0,85**** -0,95**** -0,98**** Ca -0,60** ns -0,84**** -0,91**** -0,96**** Mg -0,68** -0,89**** ns -0,92**** -0,85**** Mn ns ns -0,80** -0,97**** -0,97**** Zn 0,86**** 0,82**** ns ns Ns
Ingredientes Protéicos de Origem Vegetal
FB -0,66** ns ns ns -0,93**** MM ns 0,69** -0,80*** ns -0,89**** P ns ns ns ns -0,95**** Ca -0,89**** -0,84*** ns -0,99**** Ns Mg ns 0,66** -0,79** ns -0,91**** Mn ns 0,94**** -0,83*** 0,78** -0,58* Zn ns ns -0,60* ns -0,96****
FB: fibra bruta; MM: matéria mineral; P: fósforo; Ca: cálcio; Mg: magnésio; Mn: manganês, Zn: zinco. Níveis de significância: ns: não houve correlação; *P<0,05; **P< 0,01, ***P<0,001, ****P<0,0001.
Para os alimentos protéicos vegetais, observa-se correlação negativa
entre os teores de FB (-0,66) e Ca (-0,89) das dietas e o CDA do P. Como
também, houve correlação negativa entre o teor de Ca da dieta e os CDA do Ca e
do Mn. Em sequência, observa-se correlação negativa entre o teor de P das
dietas e o CDA do Zn.
Para o Ensaio-II, os coeficientes de digestibilidade aparente (CDA) do
fósforo, cálcio, magnésio, zinco e manganês dos alimentos energéticos para o
tambaqui estão apresentados na Tabela 5.
TABELA 5 – Coeficientes de digestibilidade aparente do fósforo (CDA P), cálcio (CDA Ca), magnésio (CDA Mg), manganês (CDA Mn) e zinco (CDA Zn) de ingredientes energéticos pelo tambaqui (n=4, média ± DP)
Ingredientes CDA P% CDA Ca% CDA Mg% CDA Mn% CDA Zn%
Farelo de arroz
89,72 ± 6,49a 86,03 ± 0,57
ab 80,91 ± 5,79
b 56,20 ± 4,21
b 28,59 ± 2,69
c
Farelo de trigo
70,80 ± 2,33b 95,43 ± 3,52
a 93,36 ± 4,27
a 97,40 ± 6,42
a 36,56 ± 4,56
b
Milho 62,99 ± 1,91b 78,49 ± 0,61
b 51,75 ± 3,32
c 63,21 ± 3,07
b 38,16 ± 3,23
b
Quirera de arroz
26,57 ± 3,98c 48,92 ± 6,10
c 80,50 ± 4,99
b - 40,16 ± 5,39
c 52,31 ± 5,67
a
Médias seguidas por letras distintas nas colunas diferem entre si pelo teste Student-Newman-Kews (P <0,05).
30
O farelo de arroz (89%) apresentou o maior CDA do P (P<0,05) em
comparação aos demais, enquanto o menor valor foi observado para a quirera de
arroz (26%). Para o CDA do Ca, Mg, Mn, o farelo de trigo obteve os maiores
resultados, não diferindo apenas do farelo de arroz para o CDA do Ca (P>0,05).
Os menores CDA do Ca e Mn pelo tambaqui foram novamente para a quirera de
arroz (P<0,05), apresentando para o Mn, valor negativo (- 40%). O CDA do Mg foi
menor para o milho (51%) (P<0,05), enquanto para o CDA do Zn foi para o farelo
de arroz, 28% (P<0,05).
Ao contrário do observado para os alimentos do Ensaio-I, a correlação
observada entre os CDA dos minerais e os nutrientes das dietas, quando
significativas, foram baixas (Tabela 6). Foi observado correlação positiva fraca
entre o CDA do P e os teores de FB, MM, P, Mg e Mn da dieta (0,44 a 0,55).
Entretanto, observou-se correlação negativa substancial entre o CDA do Zn e os
teores de FB, MM, P e Mg.
TABELA 6 - Correlação entre o conteúdo de nutrientes das dietas e os coeficientes de digestibilidade aparente (CDA) dos minerais de ingredientes energéticos para o tambaqui
Nutrientes CDAP CDACa CDAMg CDAMn CDAZn
FB 0,44* ns ns ns -0,51* MM 0,48* ns ns ns -0,61** P 0,55** ns ns ns -0,61** Ca ns ns -0,65*** ns ns Mg 0,50* ns ns ns -0,68*** Mn 0,50* ns ns ns ns Zn ns ns ns ns ns
FB: fibra bruta; MM: matéria mineral; P: fósforo; Ca: cálcio; Mg: magnésio; Mn: manganês, Zn: zinco. Significância: *P<0,05, **P< 0,01, ***P<0,001, ****P<0,0001. Ns: não significativo.
4 DISCUSSÃO
A alta variação nos valores de CDA dos minerais entre os ingredientes
testados pelo tambaqui pode estar relacionada à composição bromatológica e à
presença de fatores antinutricionais. Esta hipótese pode ser apoiada pela alta
correlação observada entre o conteúdo em nutrientes das dietas (MM, FB, e
minerais) e os CDAs dos minerais, principalmente, relacionado aos ingredientes
protéicos e ao fosfato bicálcico deste estudo.
31
Pesquisas têm demonstrado grande variação dos CDA dos minerais
entre as espécies e os alimentos. De forma geral, os peixes onívoros e herbívoros
têm expressado ótima eficiência na absorção dos nutrientes de alimentos de
origem vegetal (GONÇALVES & FURUYA, 2004; DIAS et al., 2010; DONG et al.,
2010), o que pôde ser confirmado neste estudo para o tambaqui.
Os coeficientes de digestibilidade do fósforo (CDA P) para os
ingredientes protéicos vegetais e os energéticos, obtidos para o tambaqui, foram
altos quando comparados aos descritos para tilápia do Nilo (KÖPRÜCÜ &
ÖZDEMIR, 2005; GONÇALVES et al., 2007; GONÇALVES et al., 2009;
GUIMARÃES et al., 2012), red drum (GAYLORD & GATLIN III, 1996) e Solia
senegalenses (DIAS et al., 2010). Mesmo sendo estas espécies consideradas
onívoras apresentam estrutura do trato gastrointestinal diferente do tambaqui, o
que pode justificar os resultados divergentes entre a espécie em estudo e as
demais relatadas.
O processo de extrusão utilizado para confecção das dietas
experimentais também pode interferir na digestibilidade dos minerais dos
alimentos, por desativar os fatores antinutricionais. Estudos demonstraram
significativa melhora na digestibilidade do fósforo em ingredientes vegetais,
reduzindo entre 13 a 35% o conteúdo de fitato. Esta redução depende da
extrusora usada, do alimento e dos parâmetros de extrusão considerados
(ANDERSSON et al., 1981). Resultados contraditórios, no entanto, foram
observados para tilápia do Nilo (GUIMARÃES et al., 2012).
O CDA do P do GM-60 observado neste estudo para o tambaqui foi
superior ao encontrado para S. sole (32%), e para híbridos de tilápia (79%)
arraçoados com dieta peletizada e extrusada, respectivamente (DIAS et al., 2010;
DONG et al., 2010). Entretanto, valores similares de CDA do P do GM-60 foram
observados para tilápia do Nilo (GONÇALVES et al., 2009), e beijupirá
Rachycentron canadum (ZHOU et al., 2004), com maior conteúdo de fósforo
digestível comparado aos demais protéicos testados. GAYLORD & GATLIN III
(1996) encontraram valor semelhante ao do presente estudo para CDA do P do
farelo de soja para o red drum (47%).
Resultados inferiores de CDA do P e Ca, quando comparados aos
deste estudo, foram obtidos para tilápia do Nilo para o glúten de milho (28,2%;
32
20,3%), farinha de peixe (anchova) (27,8%; 17,1%) e farelo de soja (30,1%;
20,9%), respectivamente, por KÖPRÜCÜ & ÖZDEMIR (2005) com rações
peletizadas. Da mesma forma, resultados inferiores de CDA do P e Ca para tilápia
do Nilo foram reportados por GUIMARÃES et al. (2012), para o farelo de soja
(17%; -7,7%), farelo de algodão-38 (-16%; -37%) e farinha de peixe (16%; 5,9%),
utilizando dietas extrusadas.
O farelo de algodão (FA-40), ingrediente com maior teor de fibra bruta,
apresentou CDA do P (65,12%) consideravelmente alto e superior aos
encontrados para tilápias, entre 37 a 52% (GONÇALVES et al., 2007; QUINTERO
PINTO, 2008; GONÇALVES et al., 2009). Possivelmente, pelo tambaqui
apresentar tendência herbívora, apresente maior capacidade em digerir alimentos
fibrosos, com isso, melhor absorção dos nutrientes.
Os altos valores de CDA do Ca (acima de 50%) para o tambaqui
podem ser explicados pelo baixo teor de Ca na água do sistema, aumentando o
aproveitamento deste mineral. As dietas que continham baixos teores de Ca
tenderam a apresentar altos CDA do Ca, justificado pela alta correlação negativa
observada entre este elemento e o CDA do mesmo para os ingredientes protéicos
vegetais. Os teores de Ca também apresentaram alta correlação negativa entre
os CDA do P e Mn nos alimentos protéicos vegetais e animais, o que poderia
comprovar os baixos valores de CDA do P e Mn para as farinhas de subproduto
animal (FP e FCO) pelo tambaqui.
No entanto, dentre os protéicos de origem animal, a farinha de vísceras
de aves sobressaiu ao grupo para a digestibilidade de P (86,95%) assemelhando
com o observado para outras espécies, como o beijupirá e a tilápia do Nilo (ZHOU
et al., 2004; GUIMARÃES et al., 2012).
O CDA do P da farinha de peixe (54,65%) foi próximo ao encontrado
para várias espécies como truta arco-íris (SUGIURA et al., 1998), tilápias do Nilo
(FURUYA et al., 2001; GONÇALVES et al., 2009), European sea bass
(PIMENTEL-RODRIGUES & OLIVA-TELES, 2007) e S. sole (DIAS et al., 2010).
Contudo, valores superiores aos obtidos no presente estudo foram reportados
para híbrido de tilápia (DONG et al., 2010) e beijupirá (ZHOU et al., 2004). Esta
variação de valores para a digestibilidade do fósforo da farinha de peixe entre as
espécies pode estar relacionada com a origem da matéria prima, o
33
processamento dessa farinha, a fase de crescimento da espécie, à anatomia e
fisiologia do trato gastrointestinal (HUA & BUREAU, 2006; HUA & BUREAU,
2010) e ao teor de cinzas do alimento (PIMENTEL-RODRIGUES & OLIVA-
TELES, 2007).
O CDA do P da farinha de carne e ossos (53,0%) foi semelhante à
farinha de peixe (P>0,05) para o tambaqui, possivelmente, pela hipótese da
composição desses alimentos de origem animal - hidroxiapatita. Observa-se
grande variação de resultados na literatura, de 40 a 43% para tilápia (QUINTERO
PINTO, 2008; GUIMARÃES et al., 2012), 62% para beijupirá (ZHOU et al., 2004),
e 66% para red drum (GAYLORD & GATLIN III, 1996).
A baixa digestibilidade do P em farinhas de origem animal relaciona-se
com a forma com que este elemento está presente, denominado de hidroxiapatita
(Ca10(PO4)6(OH)2), podendo afetar a utilização deste mineral, sendo indisponível
para algumas espécies de peixes (SUGIURA et al., 2000b; LALL, 2002). Embora
os ingredientes de origem animal avaliados apresentem maior quantidade de P, o
excesso de matéria mineral e Ca presente comprometeu a absorção deste
mineral e, consequentemente, acarretou na maior excreção de fósforo ao
ambiente. Esta hipótese é justificada pela correlação inversa observada entre o
CDA do P e o teor de MM e Ca destes ingredientes. Estes resultados corroboram
com as afirmações e resultados obtidos por SUGIURA et al. (1998) e PIMENTEL-
RODRIGUES & OLIVA-TELES (2007).
A hipótese de alta digestibilidade de P do fosfato bicálcico (FBC) para
os peixes não se aplicou ao tambaqui. Houve antagonismo entre os altos teores
de MM, Ca, Mg e Zn, comprovadas pela análise de correlação. Isto pode,
também, ter afetado os CDAs do Ca e do Mg deste suplemento. Outra
possibilidade para o baixo CDA do P do FBC pelo tambaqui estaria relacionada
ao alto teor de P e Ca da dieta teste (4,21% P; 9,86% Ca), em média o dobro dos
teores dos ingredientes protéicos de origem animal e mais que o triplo que os
protéicos de origem vegetal (Anexo 1, Tabela 5), podendo o P ser absorvido em
quantidade próxima a exigência, aumentando a excreção, ou formando
complexos insolúveis com o Ca no intestino diminuindo a absorção do P e Ca.
PIMENTEL-RODRIGUES & OLIVA-TELES (2007) alegam baixos
coeficientes de digestibilidade para dietas com teores de fósforo acima das
34
exigências da espécie, o que minimiza a digestibilidade do nutriente, aumentando
as perdas endógenas. O mesmo foi relatado por LALL (2002) e NWANNA et al.
(2009) que observaram teores crescentes de P, Ca, Mg, Mn e Zn nas fezes como
resultado do aumento dos teores de P e de Ca dietéticos.
Para os ingredientes energéticos, o farelo de arroz apresentou o maior
CDA do P, Mg e Mn pelo tambaqui. O CDA do P do farelo de arroz para o
tambaqui (89,72%) foi superior aos encontrados para a truta arco-íris (19%), e
carpa comum (25%) (NOSE & ARAI, 1979).
O CDA do P do farelo de trigo (70,80%) do presente estudo também foi
superior aos observados para tilápia, 29% e 35% (FURUYA et al., 2001;
GONÇALVES et al., 2009); para truta arco-íris (55%) e salmão (41%) (SUGIURA
et al., 1998); para bagre-do-canal (38%) (LI & ROBINSON, 1996), e para juvenis
de linguado (31%) (DIAS et al., 2010).
Os altos valores de CDAs do P e Ca para os farelos de arroz e trigo
podem ser justificados pela facilidade do tambaqui em digerir alimentos fibrosos,
por apresentar cecos pilóricos e intestino longo, típicos de espécies herbívoras,
aumentando a superfície de contato das enzimas digestivas com o alimento e,
consequentemente, a absorção dos nutrientes.
Observou-se que a composição em nutrientes das dietas apresentou
baixa correlação entre os CDA do P e do Zn (Tabela 6). As dietas com maiores
teores de FB, MM, P, Mg e Mn tenderam a apresentar melhor CDA do P. Efeito
inverso foi observado para o CDA do Zn. Isto pode ser constatado pelos baixos
valores de CDA do Zn para a maioria dos alimentos energéticos. Provavelmente,
devido à baixa quantidade de matéria mineral presente nesses alimentos.
O milho apresentou valores intermediários de CDA do P (62,99%), Ca
(78,49%), Mn (63,21%) e Zn (38,16%), comparados aos demais ingredientes
deste grupo. Estes valores podem ser considerados satisfatórios, quando
comparados aos observados na literatura para tilápia, que apresentou CDA do P
de 19,5 a 45%, e do Ca de 22,2 a 79,5% (FURUYA et al., 2001; GUIMARÃES et
al., 2011).
O menor valor de CDA do P encontrado para a quirera de arroz
(26,57%) pode ser explicado pela correlação positiva entre o CDA deste mineral e
o teor de matéria mineral, que foi o mais baixo comparado com as demais dietas.
35
Baixos CDAs do Zn foram evidenciados no presente estudo. No
entanto, observou-se correlação negativa entre o teor de MM (-0,61) e P (-0,61) e
o CDA do Zn dos alimentos energéticos. Segundo LALL (2002), os dois fatores
que mais afetam a digestibilidade do Zn são os agentes quelantes e a interação
entre minerais. Os agentes quelantes são representados pelos fitatos, mais
especificamente o hexafosfato de inositol, comumente encontrado em sementes
de plantas oleaginosas e cereais, e a interação entre minerais que pode diminuir
sua digestibilidade dependendo de seu balanço.
Fatores que podem reduzir ou negativar o CDA do nutriente pode estar
relacionado às interações entre o ingrediente teste e a dieta (referência) basal.
Porém, o valor negativo não indica saldo negativo de nutrientes, mas uma
propriedade antagônica do ingrediente teste para a absorção dos nutrientes. Este
padrão de valores abaixo do "mínimo teórico" são mais comuns com Ca, Cu,
Fe, Mn, Na, Se e Zn do que com Mg (SUGIURA et al., 1998, 2000b; GUIMARÃES
et al., 2012).
Notam-se diferenças entre os valores de digestibilidade aparente dos
minerais dos ingredientes testados para o tambaqui, em relação às outras
espécies. Este fato corrobora com CHO & BUREAU (2001), que o principal fator
para as diferenças entre os estudos de digestibilidade está relacionada à
anatomia e às diferenças fisiológicas entre as espécies.
O tambaqui apresenta cecos pilóricos, apêndice ligado à região pilórica
do estômago, que possibilita o aumento da superfície de contato do bolo alimentar
com as secreções enzimáticas, local em que ocorrerá a maior parte da digestão
dos nutrientes e início da absorção. O comprimento do intestino do tambaqui é
longo, e característico de espécies herbívoras, o que permite também maior
tempo de absorção dos nutrientes. Estes fatores podem influenciar,
consideravelmente, a eficiência digestiva, podendo explicar os resultados de CDA
para os alimentos de origem vegetais.
MORALES & MOYANO (2010) avaliaram, em simulação in vitro, as
diferenças na digestibilidade de nitrogênio e do fósforo da farinha de peixe e no
farelo de soja para truta arco-íris, que também apresentam cecos pilóricos,
contudo, é uma espécie carnívora. Observaram papel fundamental da digestão
gástrica para maior digestibilidade de N e P no intestino.
36
De maneira geral, nota-se que, nas condições do presente estudo, o
tambaqui apresenta alta capacidade de aproveitamento dos minerais em
diferentes ingredientes. Entretanto, várias particularidades fisiológicas podem
estar relacionadas ao aproveitamento dos minerais para esta espécie. Assim,
devido à escassez de estudos relacionados ao metabolismo dos minerais nos
peixes, com ênfase no tambaqui, são necessários maiores estudos acerca da
forma em que esta espécie absorve os minerais ao longo do seu trato digestório,
assim como os fatores associados à dieta que podem afetar a digestibilidade de
minerais, sendo este o primeiro estudo a avaliar a digestibilidade de fontes
minerais para esta espécie.
5 CONCLUSÃO
Dentre os alimentos protéicos, o glúten de milho-60 e farinha de
vísceras de aves apresentam os maiores coeficientes de digestibilidade de
minerais. Entre os alimentos energéticos, o farelo de arroz foi o ingrediente que
apresentam maior CDA do P, Mg e Mn. E o fosfato bicálcio foi uma das fontes de
menor digestibilidade de minerais pelo tambaqui.
REFERÊNCIAS
1. ALMEIDA, L.C.; AVILEZ, I.M.; HONORATO, C.A.;, HORI, T.S.F.; MORAES,
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40
CAPÍTULO 3 – DIGESTIBILIDADE DE NUTRIENTES E ENERGIA DE DIETAS
CONTENDO TEORES CRESCENTES DE FÓSFORO TOTAL PARA TAMBAQUI
RESUMO
Tambaquis com peso médio inicial de 100g foram selecionados para avaliar o efeito dos teores de fósforo dietéticos sobre os coeficientes de digestibilidade aparente (CDA) da proteína bruta (PB), energia bruta (EB) e fósforo (P). Os peixes foram distribuídos aleatoriamente em aquários de 60L para receberem as dietas experimentais, e nos dias de coleta, um grupo de cinco unidades experimentais era transferido para coletores de fezes, até obtenção de três pools de amostras por tratamento, sendo quatro repetições por dieta. Foram utilizadas dietas isoprotéicas e isoenergéticas com teores distintos de 0,34% (P1), 0,66% (P2), 0,94% (P3), 1,12% (P4), 1,35% (P5) de fósforo total (Pt). A absorção do P pelo tambaqui reduziu até atingir um platô, sendo o nível máximo de absorção para o teor de 0,88% de Pt em rações extrusadas. Concluiu-se que os teores de P na dieta influenciam apenas no CDA do P pelo tambaqui. Palavras-chave: Absorção, Colossoma macropomum, excreção de fósforo,
fosfato bicálcico, nutrição
41
CHAPTER 3 - DIGESTIBILITY OF NUTRIENTS AND ENERGY OF DIETS
CONTAINING INCREASING TOTAL PHOSPHORUS LEVELS FOR TAMBAQUI
ABSTRACT
Tambaquis with 100g mean average initial weight were selected to evaluate the effect of dietary total phosphorus levels (0.34% (P1), 0.66% (P2), 0.94% (P3), 1.12% (P4), 1.35% (P5) on apparent digestibility coefficients (ADC) of crude protein (CP), gross energy (GE) and phosphorus in isonitrogenous and isoenergetic diets. Fish were randomly assigned into 10 60L-aquaria to feeding procedure with the test diets. Five groups of fish were transferred to feces collection aquaria in each round to collect a pool of feces. Then, diets were reassigned and another round of feces collection. This procedure was performed until collect four replicates by treatment. Absorption of P by tambaqui reduced up to a plateau, with the maximum level of 0.88% Pt in extruded diets. It was concluded that total phosphorus levels influence only the ADC of P by tambaqui. Keywords: absorption, Colossoma macropomum, dicalcium phosphate, excretion,
nutrition
42
1 INTRODUÇÃO
A aquicultura é um dos setores de produção de alimento animal que
mais cresce no mundo. Respondeu por 47% da oferta mundial de pescado em
2006 e prestes a superar a pesca, como a principal fonte de peixes e outros
alimentos aquáticos para consumo humano (THE STATE OF WORLD
FISHERIES AND AQUACULTURE - SOFIA, 2010). Em consequência, o aumento
de resíduos gerados nas criações de peixes preocupa os órgãos de fiscalização
ambiental, pelos metabólitos gerados de nitrogênio e fósforo (LAZZARI &
BALDISSEROTTO, 2008).
O fósforo é essencial para o adequado crescimento dos peixes,
podendo este parâmetro evidenciar sua deficiência na dieta (SUGIURA, 2005). Os
nutricionistas têm destacado a necessidade da formulação de dietas com base
nas exigências deste mineral, podendo reduzir sua excreção para o ambiente
(BUREAU & CHO, 1999). Entre as estratégias para redução da emissão de P nos
efluentes, a literatura tem ressaltado a formulação de dietas com base em
nutrientes disponíveis (LALL, 2002; LAZZARI & BALDISSEROTO, 2008).
A digestibilidade quantifica a taxa de absorção dos nutrientes e de
energia contida em determinado alimento para as espécies animais (BUREAU et
al., 2002). Diversos fatores podem influenciar a digestibilidade de minerais, como
a composição da dieta, presença de antinutrientes, processamento da dieta, a
idade e espécie (YAMAMOTO et al., 2007; FURUYA, 2008a,b; QUINTERO
PINTO et al., 2011; GUIMARÃES et al., 2012).
Estudos têm revelado interferência do teor de P sobre o CDA dos
nutrientes, principalmente dos minerais para diferentes espécies (LELLIS et al.,
2004; SUGIURA et al., 2000a; PIMENTEL-RODRIGUES & OLIVA-TELES, 2007).
Dentre as espécies brasileiras mais cultivadas, o tambaqui, Colossoma
macropomum, se destaca, sendo importante fonte de proteína animal. De acordo
com o Ministério da Pesca e Aquicultura - MPA (2010), esta é a terceira espécie
mais cultivada no Brasil.
Diante da importância metabólica, fisiológica e ambiental do
aproveitamento dos nutrientes e da energia de alimentos, e os mecanismos que
podem afetar sua digestibilidade, objetivou-se avaliar o efeito da suplementação
43
de diferentes teores de P total sobre a digestibilidade dos nutrientes, energia bruta
e do P para o tambaqui, como também a excreção de fósforo para o meio
ambiente.
2 MATERIAL E MÉTODOS
2.1 Instalações
O ensaio de digestibilidade foi realizado no Laboratório de Pesquisa em
Organismos Aquáticos, Pontifica Universidade Católica de Goiás, em sistema de
recirculação de água, utilizando dez aquários de PVC, com volume útil de 60L,
abastecidos com água de poço artesiano (Anexo 2, Figura 7), com renovação
diária de 20%. A manutenção dos parâmetros físicos e químicos era possível com
a utilização de filtros físico e biológico, e aquecimento individual por caixa com
termostato (300 W) regulado para 28,0C. A oxigenação da água era realizada
por turbina de ar acoplada a duas mangueiras e pedras porosas mantidas no filtro
biológico.
O monitoramento da qualidade da água foi realizado diariamente por
oxímetro e termostato digitais, para aferir oxigênio dissolvido, saturação e
temperatura, e, semanalmente, por kits de análises químicos, para avaliar pH,
amônia, nitrito e nitrato.
2.2 Preparação das dietas
Foram formuladas dietas isoprotéicas e isoenergéticas, segundo as
exigências para esta espécie determinadas na fase de recria (OISHI et al., 2010),
tendo por base ingredientes de origem vegetal. Os teores de proteína e de
energia digestíveis foram calculados com base nos valores de CDA dos nutrientes
e da energia bruta para o tambaqui (SENA, 2012). Teores de fósforo total (Pt)
(0,34; 0,66; 0,94; 1,12 e 1,35%) foram obtidos com a suplementação de fosfato
bicálcico nas proporções: 0,0; 3,0; 5,9; 8,8; e 12% nas dietas experimentais, e os
44
teores de fósforo digestível (Pdig) estimados segundo ARAÚJO et al. (2012a, b).
A relação ED:PD mantiveram-se constantes para as dietas, 11,6 kcal/g (Tabela
1). Como marcador indigestível, foi utilizado o óxido de crômio-III na concentração
de 0,1% na dieta, como sugerido por BREMER NETO et al. (2005).
TABELA 1 – Composição percentual e bromatológica das rações experimentais para tambaqui na fase de recria
TEORES DE FÓSFORO TOTAL
INGREDIENTES 0,34% 0,66% 0,94% 1,12% 1,35%
Farelo Soja 44,00 44,00 44,35 44,35 44,50
Farelo Algodão 40 9,00 9,00 9,00 9,00 9,00
Glúten de Milho 60 7,06 7,06 7,36 7,91 8,56
Fubá Milho 16,00 15,50 11,50 8,75 7,00
Farelo Trigo 2,00 2,00 2,00 2,00 0,00
Quirera Arroz 10,00 10,00 9,00 7,00 6,00
Amido 3,45 0,00 0,00 0,00 0,00
Óxido de crômio III 0,10 0,10 0,10 0,10 0,10
Óleo Soja 5,81 7,01 8,71 10,31 11,41
Fosfato Bicálcico 0,00 3,00 5,90 8,80 12,00
Calcário 1,15 0,90 0,65 0,35 0,00
Sal comum 0,07 0,07 0,07 0,07 0,07
Supl. vitam/min¹ 1,36 1,36 1,36 1,36 1,36
Composição bromatológica Amido (%) 28,51 25,16 21,89 18,69 16,30
Energ Dig (kcal/kg)² 3225 3225 3234 3234 3238
Prot Dig (%)² 27,89 27,83 27,76 27,72 27,66
Prot Bruta (%) 30,24 30,18 30,11 30,04 29,97
Fibra Bruta (%) 4,33 4,33 4,28 4,24 4,03
Extrato Etéreo(%) 7,59 8,76 10,31 11,79 12,76
Ca tot (%) 0,59 1,23 1,85 2,44 3,09
Pt (%) 0,34 0,66 0,94 1,12 1,35
Pdig (%)³ 0,25 0,50 0,75 1,00 1,25
Met (%) 0,41 0,41 0,41 0,41 0,41
AAS (%) 0,95 0,95 0,95 0,94 0,94
Lis (%) 1,54 1,54 1,54 1,53 1,51
Trp (%) 0,38 0,38 0,38 0,37 0,37
Ter (%) 1,14 1,14 1,14 1,13 1,13
Relação Ca:Pt 1,73 1,86 1,96 2,17 2,28 1) Níveis de garantia do Premix: Mannan-Oligossacarídeos (mín.) 120,0000 mg/kg; Vitamina A (mín.) 16.000,00 UI/kg; Vitamina D3 (mín.) 4.500,0000 UI/kg; Vitamina E (mín.) 250,00 UI/kg; Vitamina B2 (mín.) 32,0000 mg/kg; Vitamina B1 (mín.) 32,0000 mg/kg; Vitamina C (mín.) 325,0000 mg/kg; Niacina (mín.) 170,0000 mg/kg; Vitamina B6 (mín.) 32,0000
mg/kg; Biotina (mín.) 10,0000 mg/kg; Ácido Fólico (mín.) 10,0000 mg/kg; Vitamina B12 (mín.) 32,0000 mcg/kg; Colina (mín.) 2.000,0000 mg/kg; Manganês (mín.) 50,0000 mg/kg; Zinco (mín.) 150,0000 mg/kg; Ferro (mín.) 150,0000 mg/kg; Cobre (mín.) 20,0000 mg/kg; Cobalto (mín.) 0,50000 mg/kg; Iodo (mín.) 1,0000 mg/kg; Selênio (mín.) 0,7000 mg/kg.
(Centro-Oeste Rações Ltda). 2) De acordo com SENA (2012); 3) Fósforo digestível estimado (ARAÚJO et al., 2012a,b).
Os ingredientes foram triturados em moinho para o diâmetro médio de
0,5mm. Em seguida, as dietas foram preparadas individualmente em misturador
em “Y”, posteriormente umedecidos com água por aspersão para extrusão,
45
obtendo grânulos com diâmetro médio de 4mm. Após secagem em estufa com
ventilação forçada por 24 horas (65ºC), foi acrescido óleo por aspersão nas dietas
ainda quentes, sendo homogeneizadas e mantidas à 65ºC por 24h. As rações
foram acondicionadas em congelador (-20ºC) até o início do experimento.
2.3 Distribuição dos animais
Selecionou-se 90 juvenis de tambaquis, peso médio de 100 ± 2,1g, e
distribuídos aleatoriamente em dez aquários de 60 L, formando grupos de nove
peixes por aquário.
Os peixes foram submetidos à adaptação de 15 dias, recebendo a
dieta controle (P1). Posteriormente, sortearam-se cinco tratamentos entre as dez
unidades experimentais (UE), para totalizar duas repetições por tratamento, no
primeiro período do ensaio de digestibilidade.
Para o manejo alimentar, realizou-se o arraçoamento à vontade, até
saciedade aparente, por quatro dias consecutivos para adaptação às dietas
experimentais (08h00min; 12h00min e 16h00min). A partir do quinto dia, iniciou-se
o fornecimento das dietas de hora em hora, entre as 08h00min e as 12h00min,
para cinco unidades experimentais (UE). Passados 30 minutos da última refeição,
com auxílio de puçá, este grupo era transferido para os cinco aquários de coleta
de fezes, e as coletas eram realizadas em intervalos de uma hora após a
sedimentação do material, permanecendo até às 17h30min. Após, eram
retornados aos respectivos aquários de alimentação, sendo que no dia seguinte
este cinco grupos ficavam em descanso, recebendo três refeições, e o outro
grupo de cinco UE, receberiam cinco refeições pela manhã para coleta de fezes à
tarde.
Assim, os períodos de coletas de fezes foram de três dias alternados
para cada unidade experimental, formando desta maneira uma amostra composta
(pool) / UE. Após a coleta de amostra composta suficiente para análise, foram
novamente sorteados os tratamentos entre as UE, sem que fosse repetida a dieta
experimental para o grupo do período anterior. Era realizada nova adaptação às
dietas antes do início das coletas. Assim, o delineamento empregado foi em
46
blocos ao acaso, com quatro repetições, considerando o tempo como critério para
distribuição dos blocos.
Os aquários de coleta apresentavam volume de 200L, com oxigenação
por pedra porosa, e aquecimento por termostatos (300 W) regulados para 28ºC.
Estes aquários apresentavam fundo cônico que permitiam a sedimentação de
fezes em recipiente de plástico conectado na sua parte inferior. Os coletores eram
lavados e reabastecidos com água limpa para nova coleta no dia seguinte.
As amostras foram armazenadas em recipientes de alumínio com
tampa, identificados quanto ao tratamento e repetição, e mantidas congeladas a -
20ºC até o início das análises bromatológicas, para as quais foi seguida a
metodologia da AOAC (1995).
2.4 Cálculos de coeficientes de digestibilidade e excreção de fósforo
Os coeficientes de digestibilidade do fósforo, proteína bruta e matéria
seca das dietas foram determinados de acordo com a expressão descrita por
NOSE (1960):
%Nr%Nf
%Cr2O3f%Cr2O3r 100100CDA(r)
Em que:
CDAr = Coeficiente de digestibilidade aparente da ração;
Cr2O3r = % de óxido de crômio-III na ração;
Cr2O3f = % de óxido de crômio-III nas fezes;
Nr = Nutrientes na ração;
Nf= Nutriente nas fezes.
A excreção de fósforo foi determinada considerando os valores de
fósforo total, digestível e a conversão alimentar das dietas, segundo LELLIS et al.
(2004).
47
2.5 Análises estatísticas
Os valores dos coeficientes de digestibilidade foram transformados
pela expressão y=arcsen 100 / x, sendo “x” o valor da variável expresso em
porcentagem, por não se ajustarem à curva normal. Os resultados foram
submetidos à análise de variância (P<0,05) pelo PROC GLM do programa
estatístico Statistical Analysis System (SAS 9.3). Aplicou-se o teste Student-
Newman-Keuls (P<0,05), quando o teste de regressão não foi significativo. Os
dados foram ajustados pelo modelo Linear Response Plateau (LRP).
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A média dos coeficientes de digestibilidade da matéria seca (MS),
proteína bruta (PB), energia bruta (EB) e fósforo (P), estão apresentados na
Tabela 2.
TABELA 2 - Coeficientes de digestibilidade aparente da matéria seca (CDA MS), proteína bruta (CDA PB), energia bruta (CDA EB) e fósforo (CDA P) das dietas contendo diferentes teores de fósforo total (Pt) para tambaqui
Pt (%) CDA MS(%) CDA PB(%) CDA EB(%) CDA P(%)
0,34 90,28 ± 1,63 97,61 ± 0,54 92,44 ± 1,18 87,92 ± 2,28
0,66 90,47 ± 0,96 97,92 ± 0,18 92,84 ± 0,81 84,27 ± 0,86
0,94 89,48 ± 2,11 97,80 ± 0,41 92,74 ± 1,19 81,59 ± 4,04
1,12 88,88 ± 0,73 97,82 ± 0,14 92,69 ± 0,36 80,93 ± 1,81
1,35 88,52 ± 1,78 97,89 ± 0,38 92,93 ± 1,00 82,73 ± 2,88
CV% 1,71 0,37 1,03 3,12
P ns ns ns 0,01
Significância ns ns ns Q/LRP Médias seguidas de letras diferentes nas colunas são significativas pelo teste SNK (P<0,05). CV: coeficiente de variação;
Os coeficientes de digestibilidade aparente (CDA) da MS, PB e EB não
foram afetados pelos teores de fósforo total das dietas (P>0,05). Contudo, notam-
se alto aproveitamento dos macronutrientes e da energia da dieta pelo tambaqui,
em geral acima de 88%, sugerindo que esta espécie onívora, com tendência a
48
herbivoria, apresenta capacidade satisfatória em digerir os nutrientes e energia
bruta de ingredientes vegetais.
Após avaliação do CDA do P das dietas, constatou-se a influência dos
teores de Pt para este parâmetro, os quais diminuíram de forma quadrática
(P<0,05) (Figura 1). Entretanto, o modelo Linear Response Plateau (LRP) ajustou
melhor aos dados, apresentando menor soma dos quadrados dos desvios e maior
coeficiente de correlação, ao atingir o platô com 0,88% de Pt na dieta (P<0,05)
(Figura 2).
FIGURA 1 – Coeficientes de digestibilidade aparente do fósforo em relação aos teores de fósforo total das dietas para o tambaqui.
FIGURA 2 – Coeficientes de digestibilidade aparente do fósforo para tambaquis alimentados com dietas suplementadas com teores crescentes de fósforo total. Y= 5,09 + 0,13 (0,88) R²=0,98
Observou-se alta absorção do fósforo das dietas experimentais, acima
de 80%. Utilizando os valores obtidos do CDA do P para cada teor de P dietético,
obteve-se os seguintes valores de Pdig para as dietas: 0,30; 0,56; 0,75; 0,91; e
49
1,10%, respectivamente. Estes resultados mostrou que o tambaqui tem maior
capacidade de absorção do fósforo dos alimentos vegetais, até o teor que
atendesse sua exigência.
A crescente inclusão de P na dieta promoveu redução na absorção de
P até o teor de 0,88% Pt,, que a partir deste manteve-se estável (Figura 2). Isto
indica adequação desta espécie ao teor de P fornecido. Este resultado contradiz
resultados encontrados por RODEHUTSCORD et al. (2000) e SUGIURA et al.
(2000b) que observaram redução quadrática significativa na digestibilidade de P
para dietas com teores mais elevados de inclusão. Para European sea bass
(Dicentrarchus labrax) a eficiência de utilização e digestibilidade de fósforo são
máximas quando a concentração dietética é inferior à exigência e diminui com o
aumento do teor do mineral acima da exigência (PIMENTEL-RODRIGUES &
OLIVA-TELES, 2007).
Diferentemente do relatado com a maioria das espécies de peixes em
que teores de P acima da exigência promove menor aproveitamento do P, com
redução do CDA do mesmo, os resultados indicaram que o tambaqui tem
mecanismo de absorção diferenciado, já que o platô na absorção (CDA do P)
deste mineral foi observado com teores elevados de P. Este comportamento pode
ser devido à maior capacidade absortiva desta espécie, demonstrada nos altos
coeficientes de digestibilidade observados.
Diante destes resultados, não parece ser recomendável utilizar teores
de inclusão deste mineral mais baixos do que a exigência estimada. Neste caso, o
P digestível da dieta pode ser superestimado, não correspondendo à exigência.
Outra preocupação quanto à digestibilidade do fósforo seria o aumento
da excreção, que é medida inversamente proporcional à absorção do mesmo pelo
organismo (LELLIS et al., 2004). Como observado na figura 3, o aumento dos
teores de fósforo na dieta, do presente estudo, proporcionou maior excreção de
fósforo nas fezes por biomassa de peixes produzido em tonelada (t) e, para o
menor teor, foi excretado 0,76 kg de P/ biomassa de peixe (t), e para o maior teor,
3,94 kg de P/ biomassa de peixe (t) produzido.
50
FIGURA 3 – Excreção de fósforo pelo tambaqui arraçoados com dietas com
teores crescentes de fósforo total.
Estes resultados são semelhantes aos observados para juvenis de
robalo (OLIVA-TELES & PIMENTEL-RODRIGUES, 2004) e para African catfish
(NWANNA et al., 2009), em que houve aumento na excreção de fósforo de forma
linear como resultado do aumento dos teores de P dietéticos.
Contudo, o aproveitamento do fósforo pelo tambaqui para o teor ótimo
na dieta (0,88% Pt; 0,80% Pdig) foi melhor, devido à baixa excreção de fósforo,
em torno de 3 kg/ biomassa de peixe (t), comparado à truta arco-íris (200 g) e a
tilápia do Nilo (100 g), que excretaram mais de 9 kg de P/ biomassa de peixe (t)
produzido para o teor estimado de exigência em Pdig, 0,45%; 0,60%,
respectivamente (LELLIS et al., 2004; FURUYA et al., 2008a).
Em criação intensiva, o fósforo é um dos nutrientes mais poluentes. O
excesso desse mineral pode provocar eutrofização e prejudicar a qualidade da
água, o que altera as características sensoriais da carcaça dos peixes (FURUYA
et al., 2008a). Esse fato é bastante preocupante para espécies nativas, como os
caracídeos, que geralmente são cultivados em viveiros escavados ou gaiolas,
necessitam do equilíbrio biológico e químico da água para evitar perdas de
qualidade sensorial da carcaça decorrente do excesso de algas.
Com isso, para reduzir as perdas de fósforo para o ambiente, é
necessário formular dietas que atendam estritamente as exigências de fósforo dos
animais, e incorporar na dieta ingredientes com P altamente digestível (CHO &
BUREAU, 2001; LALL, 2002; SUGIURA et al ., 2004).
Os resultados deste estudo com o tambaqui evidenciam a importância
em se formular dietas com o conhecimento da digestibilidade dos nutrientes mais
51
impactantes para o meio, e quantificar o nível exigido de fósforo para minimizar as
perdas de fósforo para o ambiente. Apesar disso, é importante avaliar outras
fontes de suplementação mineral que possam ser utilizadas em dietas práticas
para o tambaqui, no intuito de haver fontes alternativas para as indústrias de
rações.
4 CONCLUSÃO
Os teores de fósforo na dieta influenciam na absorção de fósforo pelo
tambaqui, sendo maior com baixos teores de fósforo dietético, mantendo estável
após incremento de 0,88% de Pt ou 0,80% de Pdig na dieta. O tambaqui
apresenta alta capacidade de absorção do fósforo provido de alimentos de origem
vegetal, em decorrência da baixa excreção de fósforo para o meio.
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54
CAPÍTULO 4 – EXIGÊNCIA EM FÓSFORO DIGESTÍVEL PARA O TAMBAQUI
NA FASE DE CRESCIMENTO
RESUMO
A alternativa zootécnica eficiente e econômica para diminuir a ação poluente do fósforo proveniente das pisciculturas é ajustar seu consumo às exigências dos peixes nas diferentes fases de cultivo. Assim, objetivou-se determinar a exigência em fósforo digestível (Pdig) para o tambaqui (144 ± 2,0g), sobre o desempenho zootécnico, composição química da carcaça e mineralização óssea após 63 dias. Os peixes foram distribuídos em delineamento inteiramente casualizado, com cinco tratamentos e quatro repetições. Foram fornecidas dietas isoprotéicas e isoenergéticas com teores crescentes de Pdig (0,30; 0,56; 0,75; 0,91; ou 1,10%). Não foi observada mortalidade ou sinais de deficiência de fósforo para o menor teor de Pdig. O aumento dos teores de Pdig na dieta promoveu aumento quadrático para peso final, ganho de peso diário, taxa de eficiência protéica e taxa de crescimento específico em peso. Houve efeito quadrático dos teores de Pdig sobre a matéria mineral da carcaça e composição de fósforo nos ossos, sendo melhor nível de 0,93% e 1,04%, respectivamente. Para tambaquis, peso médio de 144 a 300g, a exigência em Pdig recomendado em dietas extrusadas é de 0,72 a 0,78%, para melhor desempenho zootécnico. Palavras-chave: Colossoma macropomum, composição da carcaça, desempenho zootécnico, espécie nativa, mineralização corporal.
55
CHAPTER 4 - DIETARY DIGESTIBLE PHOSPHORUS REQUIREMENT OF
TAMBAQUI IN GROWING PHASE
ABSTRACT
The most efficient and economical alternative to reduce the phosphorus polluting action from fish culture ventures is the adjustment of its consumption strictly to the fish requirement level at different growing phases. Thus, a 63-day experiment was performed to determine the digestible phosphorus requirement for tambaqui (144±2.0g) based on growth performance, carcass chemical composition and bone mineralization. Fish were randomly assigned in a completely randomized design with five treatments and four replicates. Isonitrogenous and isonenergetic diets containing graded Pdig levels (0.30; 0.56; 0.75; 0.91; and 1.10%) were fed to tambaqui. Neither mortalities nor P deficiency signs were observed in fish fed the unsupplemented diet. The increase on Pdig levels resulted in quadratic effect for final weight, daily weight gain, protein efficiency ratio and specific growth rate. Whole body ash and bone P content showed a quadratic effect with estimated Pdig requirement of 0.93 and 1.04%, respectively. Based on weight gain and feed conversion ratio, we recommend the use of Pdig levels between 0.72 to 0.78% in extruded diets for tambaqui with 144g to 300g. Keywords: bone mineralization, carcass chemical composition, Colossoma macropomum, growth performance, native species.
56
1 INTRODUÇÃO
O agronegócio aquícola encontra ambiente físico favorável no Estado
de Goiás, com temperaturas apropriadas, grande disponibilidade de recursos
hídricos e espécies de peixes adequadas para confinamento. Contudo, a
deficiência da estruturação da cadeia produtiva do pescado tem levado a
problemas em diversos elos, entre estes a dificuldade em formular dietas para as
espécies brasileiras de interesse comercial, pois poucos são os relatos sobre
suas exigências nutricionais. A otimização dos níveis nutricionais da dieta
promove o aumento da absorção no organismo, o que poderia diminuir as perdas
nas fezes e minimizar os custos de produção (HUA & BUREAU, 2010).
O não aproveitamento dos nutrientes, principalmente do fósforo,
promove acúmulo no meio de cultivo que, em excesso, pode ocasionar a
eutrofização dos corpos d’água e, consequentemente, degradação ambiental
(RICHIE & BROWN, 1996). São poucas as pisciculturas que crescem de forma
sustentável, pela ausência de legislação adequada, além da deficiência no
planejamento e tecnologia (THE STATE OF WORLD FISHERIES AND
AQUACULTURE - SOFIA, 2010).
O fósforo é um macromineral essencial para adequado crescimento,
mineralização óssea, metabolismo de lipídios (ROY & LALL, 2003; PEZZATO et
al., 2006; RIBEIRO et al., 2006) e encontra-se distribuído em todas as células do
organismo (LOVELL, 1988). As exigências nutricionais de minerais,
principalmente de fósforo, são específicas e dependem de vários fatores
ambientais e fisiológicos (PEZZATO et al., 2006) como morfologia do trato
digestório e do tipo da fonte de fósforo (STEFFENS, 1987). A recomendação de
teores de fósforo digestível para crescimento normal e mineralização dos ossos
dos peixes está entre 0,27 e 0,80% (NOSE & ARAÍ, 1979).
Como observado por vários autores, o desempenho produtivo da
maioria dos peixes é influenciado pelo teor de fósforo da dieta, comprovando que
resultados satisfatórios de produção estão relacionados com dieta balanceada
para este mineral (MIRANDA et al., 2000b; RIBEIRO et al., 2006; FURUYA et al.,
2008a; FURUYA et al., 2008b). As respostas dos peixes às dietas com teores
crescentes de fósforo também estão relacionadas ao aproveitamento do alimento
57
ou nutriente, níveis de saturação nos tecidos, retenção corporal, excreção
urinaria, resistência óssea à fratura, atividade enzimática, resistência a doenças e
sintomas clínicos, normalmente avaliados em peixes jovens (EYA & LOVELL,
1998; SUGIURA et al., 2000a; LALL, 2002).
O desbalanço de qualquer nutriente na ração para peixes pode trazer
sérios riscos ao sistema de produção e problemas de distúrbios nutricionais,
comuns em sistemas de criação intensiva (TACON, 1992). Assim, a determinação
da exigência mínima de fósforo para reduzir possíveis impactos ambientais e
garantir a sustentabilidade da produção de peixes é de grande relevância (RICHIE
& BROWN, 1996; SUGIURA et al., 2000b; FURUYA et al., 2008a).
Diante da importância deste mineral para o desempenho do animal,
sua estrutura óssea e composição corporal, notou-se a necessidade de estimar o
melhor nível de fósforo em dietas para espécies como o tambaqui (Colossoma
macropomum), que segundo a FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION -
FAO (2010) foi a espécie nativa mais cultivada no Brasil em 2009. Assim,
objetivou-se avaliar a exigência em fósforo digestível para tambaquis arraçoados
com dietas práticas extrusadas suplementadas com fosfato bicálcico, estimada a
partir do desempenho zootécnico, da composição química da carcaça e da
mineralização óssea.
2 MATERIAL E MÉTODOS
2.1 Preparação das dietas
As dietas foram formuladas a base de ingredientes vegetais e
suplementadas com fosfato bicálcico para atingir os teores propostos. Os valores
de P digestível estimados para tambaqui (ARAÚJO et al., 2012a,b), foram
alcançados com a suplementação de fosfato bicálcico (0; 3,0; 5,9; 8,8; e 12,0%), e
os valores de CDA da PB e EB dos alimentos conforme SENA (2012). As dietas
foram formuladas para apresentarem-se isoprotéicas, segundo exigências para
esta espécie na fase de recria (ALMEIDA et al., 2011), e isoenergéticas, para
58
manter uma relação ED:PD de 11,6 kcal/g, como indicado por CARNEIRO et al.
(1990) . A relação Ca:Pdig mantiveram-se próximas entre as dietas (Tabela 1).
TABELA 1 – Composição percentual e bromatológica das rações experimentais
para tambaqui na fase de crescimento FÓSFORO DIGESTÍVEL
INGREDIENTES 0,30% 0,56% 0,75% 0,91% 1,10%
Farelo Soja 44,00 44,00 44,35 44,35 44,50
Farelo Algodão 40 9,00 9,00 9,00 9,00 9,00
Glúten de Milho 60 7,06 7,06 7,36 7,91 8,56
Fubá Milho 16,00 15,50 11,50 8,75 7,00
Farelo Trigo 2,00 2,00 2,00 2,00 0,00
Quirera Arroz 10,00 10,00 9,00 7,00 6,00
Amido 3,45 0,00 0,00 0,00 0,00
Cr2O3 0,10 0,10 0,10 0,10 0,10
Óleo Soja 5,81 7,01 8,71 10,31 11,41
Fosfato Bicálcico 0,00 3,00 5,90 8,80 12,00
Calcário 1,15 0,90 0,65 0,35 0,00
Sal comum 0,07 0,07 0,07 0,07 0,07
Suplemento vit./min¹ 1,36 1,36 1,36 1,36 1,36
Composição bromatológica Amido (%) 28,51 25,16 21,89 18,69 16,30
Energ Dig (kcal/kg)³ 3225 3225 3234 3234 3238
Prot Dig (%)³ 27,89 27,83 27,76 27,72 27,66
Prot Bruta (%) 30,24 30,18 30,11 30,04 29,97
Fibra Bruta (%) 4,33 4,33 4,28 4,24 4,03
Extrato Etéreo(%) 7,59 8,76 10,31 11,79 12,76
Ca tot (%) 0,59 1,23 1,85 2,44 3,09
P total (%) 0,34 0,66 0,94 1,12 1,35
Pdig (%)² 0,30 0,56 0,75 0,91 1,10
Met (%) 0,41 0,41 0,41 0,41 0,41
AAS (%) 0,95 0,95 0,95 0,94 0,94
Lis (%) 1,54 1,54 1,54 1,53 1,51
Trp (%) 0,38 0,38 0,38 0,37 0,37
Ter (%) 1,14 1,14 1,14 1,13 1,13
Relação Ca:Pdig 2,42 2,46 2,47 2,46 2,46 1) Níveis de garantia do Suplemento: Mannan-Oligossacarídeos (mín.) 120,0000 mg/kg; Vitamina A (mín.) 16.000,00 UI/kg; Vitamina D3 (mín.) 4.500,0000 UI/kg; Vitamina E (mín.) 250,00 UI/kg; Vitamina B2 (mín.) 32,0000 mg/kg; Vitamina B1 (mín.) 32,0000 mg/kg; Vitamina C (mín.) 325,0000 mg/kg; Niacina (mín.) 170,0000 mg/kg; Vitamina B6 (mín.) 32,0000
mg/kg; Biotina (mín.) 10,0000 mg/kg; Ácido Fólico (mín.) 10,0000 mg/kg; Vitamina B12 (mín.) 32,0000 mcg/kg; Colina (mín.) 2.000,0000 mg/kg; Manganês (mín.) 50,0000 mg/kg; Zinco (mín.) 150,0000 mg/kg; Ferro (mín.) 150,0000 mg/kg; Cobre (mín.) 20,0000 mg/kg; Cobalto (mín.) 0,50000 mg/kg; Iodo (mín.) 1,0000 mg/kg; Selênio (mín.) 0,7000 mg/kg.
(Centro-Oeste Rações Ltda). 2) ARAÚJO et al. (2012a,b); 3) SENA (2012).
Para confecção, todas as dietas foram preparadas individualmente em
misturador em “Y”, posteriormente, umedecidos com água por aspersão para
extrusão (extrusora PQ30 - Inbramaq®), obtendo grânulos com diâmetro médio
de 4mm. Após secagem em estufa com ventilação forçada por 24 horas (65ºC),
foi acrescido óleo por aspersão nas dietas ainda quentes, sendo homogeneizadas
59
e mantidas à 65ºC por mais 24h. As rações foram mantidas sob congelamento a -
20ºC até o início do experimento.
2.2 Instalações
O experimento foi realizado em caixas de PVC em sistema de
recirculação de água, proveniente de poço artesiano, com vazão de 3,5L/min., e
troca diária de 30% da água. O sistema possuía aeração individual por caixa
realizada por meio de pedra porosa acoplada à tubulação conectada em turbina
de ar.
A água foi tratada, respectivamente, por filtros físicos e biológicos antes
de voltar às caixas de alimentação (Anexo 2, Figura 6). As análises de água dos
tanques experimentais foram monitoradas diariamente para controle do teor de
oxigênio dissolvido (mg/L), temperatura e pH, com oxímetro, termômetro e
phgâmetro digitais, respectivamente; semanalmente, monitorados amônia, nitrito
e nitrato através de kit químico de análise de água ALFAKIT®.
A temperatura e oxigênio dissolvido pela manhã permaneceram em
média entre 26,8 ± 0,4 ºC e 6,0 ± 0,7 mg/L, e às 17h, 28,2 ± 0,3ºC e 5,7 ± 0,7
mg/L, respectivamente. O pH e amônia total ficaram em média 6,5 ± 0,2 e 0,19 ±
0,1mg/L, respectivamente. Quanto aos parâmetros de qualidade de água,
mantiveram dentro do padrão considerado ideal para o tambaqui
(BALDISSEROTTO, 2009).
2.3 Animais e delineamento experimental
Foi selecionado um lote homogêneo de 140 tambaquis, com peso
inicial de 144 ± 2,0 g, distribuídos em 20 caixas de PVC (400 L), na densidade de
sete peixes/caixa. E para avaliação da carcaça inicial, foram selecionados mais
dez peixes, sendo abatidos e conservados sob congelamento (-20ºC). A pesquisa
foi conduzida em delineamento inteiramente casualizado, constituído de cinco
tratamentos (teores de Pdig) e quatro repetições.
60
Para avaliação do desempenho, os peixes foram pesados no início e a
cada 21 dias, totalizando quatro pesagens. Foram fornecidas três refeições
diárias até saciedade aparente, não ultrapassando 30 minutos de arraçoamento,
conforme recomendado por MEER et al. (1997). Os seguintes índices zootécnicos
foram determinados: peso final (Pf); conversão alimentar (CA); consumo diário de
ração (CDR) = [(quantidade de ração (g)/biomassa de peixe (g))/dias]; ganho de
peso diário (GPD) = [peso final (g) - peso inicial (g)/dias]; taxa de crescimento
específico em peso (TCE) = 100x [log massa final (g) - log massa inicial (g)]/dias;
e taxa e eficiência protéica, (TEP) = ganho de peso (g)/proteína consumida (g).
Ao final do experimento, os peixes foram insensibilizados com
benzocaína (120 mg/L) em seguida pesados e abatidos por sangria por corte
lateral das brânquias e demedulação. Foram destinados oito peixes de cada
tratamento para análise bromatológica do peixe inteiro (matéria seca, proteína
bruta, extrato etéreo e fósforo). Para mineralização óssea, foram coletados ossos
da vértebra de oito peixes de cada tratamento, segundo a metodologia descrita
por ROY et al. (2003) e analisados para quantificar o teor de P, Ca, Mg, Mn e Zn.
As análises químico-bromatológicas das rações e dos peixes foram
realizadas no Laboratório de Solos, Departamento de Zootecnia, PUC-GO
(AOAC, 1995). As concentrações de fósforo foram determinadas por
espectrometria de luz e, para os demais minerais, por espectrometria de absorção
atômica (AOAC, 1995), no Laboratório de Química da UFG, Campus Jataí, Goiás.
Os dados foram submetidos à análise de variância e quando diferenças
globais foram significativas (P<0,05), o modelo de regressão polinomial foi testado
para estimar a exigência em fósforo digestível. Para a variável que não foi
significativa para o modelo de regressão (P>0,05), as médias foram comparadas
por meio do teste de Student Newman Keuls (SNK). Foi utilizado o software SAS
(9.3) para as análises estatísticas.
61
3 RESULTADOS
3.1 Desempenho zootécnico
Quanto às variáveis de desempenho avaliadas, foram observadas
diferenças significativas com o aumento dos teores de fósforo digestível nas
dietas (P<0,05), como observado na Tabela 2.
TABELA 2 - Médias de conversão alimentar aparente (CAA), peso final (Pf), consumo diário de ração (CDR), ganho de peso diário (GPD),taxa de eficiência protéica (TEProt), taxa de crescimento específico em peso (TCEp) aos 63 dias para tambaqui, sob diferentes teores de fósforo digestível na ração
Teores de Fósforo Digestível
0,30 0,56 0,75 0,91 1,10
CAA1
1,84 ± 0,02 1,60 ± 0,02 1,68 ± 0,04 1,70 ± 0,03 1,69 ± 0,04
Pf (g)1
272,06 ± 2,75 300,26 ± 6,16 285,36 ± 4,90 280,53 ± 4,71 283,88 ± 4,94
CDR (g)** 3,73 ± 0,07ab
3,96 ± 0,10a 3,76 ± 0,11
ab 3,67 ± 0,19
b 3,74 ± 0,11
ab
GPD (g)1
2,02 ± 0,04 2,47 ± 0,09 2,23 ± 0,07 2,16 ± 0,07 2,21 ± 0,08
TEProt%1
1,78 ± 0,02 2,05 ± 0,03 1,97 ± 0,04 1,96 ± 0,04 1,95 ± 0,05
TCEp%1
1,00 ± 0,01 1,16± 0,03 1,08 ± 0,02 1,05 ± 0,02 1,07 ± 0,02
Médias seguidas de mesma letra nas linhas não diferem estatisticamente pelo teste SNK (**P<0,01); ¹ Regressão quadrática para as variáveis (P<0,01).
Os melhores teores de Pdig para conversão alimentar aparente (CAA),
peso final (Pf), ganho de peso diário (GPD), taxa de eficiência protéica (TEP) e
taxa de crescimento específico em peso (TCEp) foram estimados por análise de
regressão. A CAA e TEProt melhoraram de forma quadrática até 0,78% de Pdig
(P<0,001) (Figura 1), enquanto, para Pf e GPD aumentaram até 0,72% de Pdig
(P<0,01) (Figura 2) de acordo com os teores de Pdig na dieta.
62
FIGURA 1 – Efeito dos teores de fósforo digestível (Pdig) na dieta sobre a conversão alimentar aparente (CAA) e taxa de eficiência protéica (TEProt).
FIGURA 2 – Efeito dos teores de fósforo digestível (Pdig) na dieta sobre o peso final (Pf) e ganho de peso diário (GPD) de tambaquis
63
O consumo diário de ração (CDR) não foi significativo para o modelo
de regressão polinomial. Esta variável foi influenciada pelos níveis crescentes de
fósforo digestível, sendo o maior consumo para o tratamento P2 (0,56% Pdig),
diferindo apenas do P4 (0,91% Pdig) (P<0,01).
3.2 Composição corporal
Avaliando os valores determinados na análise da composição corporal
(100% na matéria seca) dos peixes alimentados com dietas contendo teores
crescentes de fósforo digestível (Tabela 3), verificou-se diferença significativa
somente para matéria mineral (MM) na carcaça, com efeito quadrático dos teores
de Pdig sobre a mineralização da carcaça, que aumentou até o nível de 0,93%.
TABELA 3 – Composição corporal (100%MS) de tambaquis alimentados com diferentes teores de fósforo digestível
Teores de Pdig% MS% PB% EE% MM%¹
0,30 32,42 ± 0,52 50,25 ± 0,34 34,93 ± 1,85 2,45 ± 0,34 0,56 32,29 ± 0,69 50,21 ± 0,34
34,65 ± 1,51 2,82 ± 0,26
0,75 32,68 ± 0,92 49,80 ± 2,04
35,70 ± 1,60 3,65 ± 0,37 0,91 31,29 ± 0,79 50,14 ± 0,41 34,19 ± 0,41 3,82 ± 0,28 1,10 32,61 ± 0,29 50,67 ± 1,98 35,90 ± 1,04 3,39 ± 0,41
¹Efeito quadrático: Matéria Mineral (MM) Y = 1,12 + 1,86X – 0,99X², R²=66 (P<0,01).
Quanto à retenção de minerais nos ossos, observa-se na Tabela 4 que
os teores de fósforo digestível influenciaram significativamente na deposição de
fósforo (P), cálcio (Ca) e magnésio (Mg) (P<0,05). A deposição de P aumentou de
forma quadrática até o nível de 1,04% de Pdig na dieta. Enquanto a deposição de
Ca e Mg aumentaram de forma linear nos ossos.
TABELA 4 – Composição mineral dos ossos de tambaquis alimentados com dietas contendo diferentes teores de fósforo digestível
Teores de Pdig% P%² Ca%¹ Mg%¹ Mn mg/kg Zn mg/kg
0,30 2,85 6,17 0,32 0,006 0,069 0,56 4,27 6,35 0,42 0,007 0,047 0,75 5,14 6,80 0,32 0,008 0,062 0,91 5,61 7,46 0,43 0,011 0,061 1,10 5,49 7,38 0,60 0,008 0,084
¹ Efeito linear: Cálcio (Ca): Y= 5,55 + 1,76X, R²=0,71; Magnésio (Mg): Y=0,22+ 0,28X, R²=0,51; ² Efeito quadrático: Fósforo (P): Y=0,13+10,37X-4,95X², R²=0,89
64
4 DISCUSSÃO
O desempenho produtivo dos peixes que receberam a dieta com 0,30%
de Pdig foi inferior ao obtido para os demais tratamentos ao longo dos 63 dias de
experimento. Apesar disso, não ocorreu mortalidade ou sinais externos de
anormalidades ou deformidades ósseas durante as coletas de ossos para análise
de minerais. Segundo ROY & LALL (2003), a nitidez de deficiência causada pela
carência de fósforo na alimentação varia com a duração do experimento, mas
pode ser influenciada por diversos fatores relacionados à água, à espécie e dieta
utilizada.
Contudo, o teor baixo de fósforo digestível resultou em menor
desempenho para tambaqui, provavelmente, por esta quantidade ter sido
mobilizada para outras funções fisiológicas para manutenção. YANG et al. (2006),
trabalhando com silver perch (Bidyanus bidyanus), também não observaram
anormalidades externas em peixes alimentados com dietas deficientes em fósforo
durante 56 dias.
Os teores entre 0,72 a 0,78% de Pdig dietético proporcionaram melhor
desempenho zootécnico neste estudo. Os teores estimados para os melhores
resultados foram suficientes para atender às exigências dos animais para maior
síntese de proteína corporal, máximo ganho de peso e taxa de crescimento
específico em peso, maior peso final e melhor conversão alimentar, decorrente da
maior eficiência na utilização do fósforo da dieta. Observou-se que a exigência em
fósforo digestível para o tambaqui diferiu dos teores de Pdig estimados para
tilápia do Nilo. Para juvenis de tiápia do Nilo recomenda-se 0,52% Pdig (FURUYA
et al., 2008b), enquanto para tilápias na faixa de peso entre 35 a 100g foi sugerido
0,48% de Pdig, e para a faixa de 150 a 350g, 0,45% Pdig, para melhor
desempenho (FURUYA et al., 2008a; QUINTERO PINTO et al., 2011).
O ganho de peso e a conversão alimentar aparente são parâmetros
importantes do desempenho produtivo para definir a exigência em fósforo
(SIGNOR et al., 2011). Quanto aos teores de Pdig sobre o ganho de peso (GP) do
tambaqui, MIRANDA et al. (2000b) e PEZZATO et al. (2006) também observaram
aumento de forma quadrática para esta variável com os teores crescentes de Pdig
em dietas para alevinos de tilápia do Nilo. PIMENTEL-RODRIGUES & OLIVA-
65
TELES (2001) e SATOH & BORLONGAN (2001) constataram aumento linear
para ganho de peso de juvenis de milkfish e gilthead sea bream, respectivamente,
com o acréscimo dos teores de Pdig da dieta.
Contudo, EYA & LOVELL (1997) observaram que apenas 0,30% de
Pdig foi suficiente para permitir valores adequados de ganho em peso,
mineralização óssea, melhor conversão alimentar, e maior atividade de fosfatase
alcalina para juvenis de channel catfish (Ictalurus punctatus) cultivados em
viveiros escavados. Por outro lado, SIGNOR et al. (2011), trabalhando com
fósforo total em dietas para pacu, não verificaram variação significativa no GP dos
peixes entre os diferentes tratamentos, indicando o menor nível deste mineral, ou
seja 0,40%.
A variação dos valores da conversão alimentar aparente quanto aos
teores de fósforo na dieta para o tambaqui foram condizentes com vários estudos
para outras espécies de peixes (MIRANDA et al. 2000b; BOSCOLO et al., 2005;
RIBEIRO et al., 2006; FURUYA et al., 2008a,b; NWANNA et al., 2009).
Resultados próximos aos do presente estudo também foram sugeridos para
alevinos de tilápia (0,75% Pdig) por PEZZATO et al. (2006) e para juvenis de
jundiá (0,80% Pt) por DIEMER et al. (2011). Contudo, RIBEIRO et al. (2006)
sugeriram 1,10% de Pt para alevinos de tilápia do Nilo, para melhor CAA e taxa
de eficiência protéica.
Os resultados da taxa de eficiência protéica (TEP) do tambaqui
indicaram que 0,78% de Pdig promoveu melhor aproveitamento da proteína da
dieta. Dados semelhantes para TEP foram observados para o European sea bass
(OLIVA-TELES & PIMENTEL-RODRIGUES, 2004).
As diferenças entre os valores estimados de Pdig para o tambaqui e os
encontrados nos demais trabalhos podem estar relacionadas à fase de
crescimento da espécie, aos ingredientes utilizados na dieta, à fonte mineral, à
relação cálcio e fósforo, e, principalmente, às características do sistema digestório
(MIRANDA et al., 2000a,b; BOSCOLO et al., 2005; PEZZATO et al., 2006;
RIBEIRO et al., 2006; FURUYA et al., 2008a,b; NWANNA et al., 2009; DIEMER et
al., 2011; QUINTERO PINTO et al., 2011).
Para estimar a exigência em fósforo são avaliadas variáveis de
desempenho e eficiência alimentar que, normalmente, apresentam exigências
66
mais baixas quando comparadas as variáveis de composição das carcaças,
músculos e ossos (QUINTERO PINTO et al., 2011). No presente estudo, para
maior deposição de matéria mineral na carcaça inteira dos tambaquis foi exigido
maior teor de fósforo digestível na dieta, sendo o ótimo de 0,94% de Pdig, ou
seja, mais de 30% do exigido para desempenho. No entanto, os teores de
proteína bruta (PB) e extrato etéreo (EE) não apresentaram influência do nível de
Pdig nas dietas.
Ao contrário do observado para EE na carcaça de tambaqui, vários
autores observaram redução no teor de gordura da carcaça com o aumento dos
teores de fósforo na dieta em diferentes espécies de peixe (YANG et al., 2006;
SHAO et al., 2008; NWANNA et al., 2009). OLIVEIRA et al. (2011), notaram
redução da gordura corporal com os maiores teores de Pdig na dieta, e não
observaram diferença significativa dos teores de fósforo digestível na composição
bromatológica da carcaça para PB, MM, Ca.
O alto teor de EE na carcaça inteira (35% MS; 11% MN) para todos os
tratamentos do presente estudo pode ser explicado pelo sistema de cultivo
utilizado para avaliação de desempenho. Em condições de confinamento, o meio
pode favorecer o maior acúmulo de gordura nas vísceras dos peixes, devido à
restrição de movimentos (ARBELÁEZ-ROJAS et al., 2002). Outro fator que pode
ter elevado o teor deste nutriente na carcaça, seria pelo teor de óleo utilizado nas
rações experimentais para balanceamento da energia bruta, sendo a
digestibilidade deste alimento baseado nos valores para tilápias.
Em geral, a composição química do pescado é extremamente variável,
contendo entre 70 a 85% de umidade, 15 a 24% de proteína bruta (PB), 0,1 a
22% de extrato etéreo (EE), e 1 a 2% de minerais (OGAWA & KOIKE, 1987,
citado por ARBELÁEZ-ROJAS et al., 2002) na matéria natural. Para tambaquis
selvagens o teor de gordura nos músculos é menor que 1,5%, mas aumenta em
peixes cultivados para 2-6% (valores em matéria natural). Apenas 1,5% da
gordura acumulada pelo tambaqui é armazenada nos músculos. O teor de
proteína bruta do tambaqui na várzea varia conforme a estação hidrológica, sendo
10% PB do corpo na vazante e 20% PB na cheia (percentagem em matéria
natural) (ARAÚJO-LIMA & GOULDING, 1998). No presente estudo, a média geral
67
de PB e EE na carcaça (matéria natural) foram de 16,11 e 11,34%,
respectivamente.
A composição química do corpo dos peixes varia em função da
espécie, dentro de uma mesma espécie, dependendo da época do ano, da
quantidade e digestibilidade da dieta consumida, do estágio de maturação sexual,
idade, condições de cultivo e da parte do corpo analisada (CASTAGNOLLI, 1979,
MACHADO, 1984; VIEGAS & ROSSI, 2001). O aumento da deposição de lipídios
na carcaça também tem sido observado, provavelmente em virtude da alteração
nos níveis plasmáticos de fosfatase alcalina e de enzimas envolvidas na
gliconeogênese no fígado (YANG et al., 2006; ZHANG et al., 2006).
Dentre as variáveis de mineralização óssea, o efeito quadrático obtido
para o teor de fósforo nos ossos corroboram com o observado para tilápia do Nilo
(MIRANDA et al., 2000b; FURUYA et al., 2008c; QUINTERO, 2008), juvenis de
silver perch (YANG et al., 2006) e para black sea bream (SHAO et al., 2008). De
acordo com FURUYA et al. (2008c), a mineralização óssea é variável
representativa do aproveitamento do fósforo em peixes. E, como observado por
ZHANG et al. (2006), visto a importante função na formação da estrutura óssea,
aumento no teor de fósforo em rações de peixes resulta em aumento no conteúdo
de fósforo nos ossos, levando ao aumento concomitante nos teores de diversos
minerais nos ossos. Para o tambaqui, nesta pesquisa, o valor ótimo para
mineralização de fósforo nos ossos foi 44% maior que o exigido para máximo
desempenho.
Como observado no presente estudo, os peixes que receberam dieta
com o menor nível de Pdig (0,30%) apresentaram deposição de P nos ossos 50%
menor do que os peixes que receberam a dieta contendo 0,56% de Pdig. De
acordo com LALL (2002), a baixa ingestão de fósforo parece não favorecer o
mecanismo de absorção de fósforo da água, refletindo essa condição na
diminuição dos níveis plasmáticos e urinários de fósforo, de modo que o consumo
prolongado da dieta deficiente em fósforo causaria diminuição dos níveis
corporais totais desse elemento.
Com base nos dados obtidos neste estudo para o tambaqui, tanto para
desempenho produtivo como para composição e mineralização corporal, pode-se
constatar a importância em determinar a exigência em fósforo digestível para esta
68
espécie, pois os teores influenciaram em todos os parâmetros avaliados,
tendendo a um valor ótimo, maior que o observado para tilápias na fase de
acabamento (155g a 350g) (QUINTERO PINTO et al., 2011). A preocupação seria
o fato das rações dos peixes onívoros serem formuladas baseadas nas
exigências nutricionais para tilápia do Nilo, nas diferentes fases de
desenvolvimento, podendo com isso obter resultados não satisfatórios para estas
espécies nativas, como baixo crescimento e ganho de peso, alta conversão
alimentar aparente, baixa taxa de eficiência protéica e pior qualidade de carcaça,
gerando menor rentabilidade para o produtor.
5 CONCLUSÃO
Para criação de tambaqui, sugere-se a utilização de dietas baseadas
em alimentos vegetais e suplementadas com fosfato bicálcico, para alcançar
teores de 0,72% a 0,75% de fósforo digestível, possibilitando, com isso, melhor
desempenho produtivo em sistemas intensivos.
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72
CAPÍTULO 5 – PERFIL HEMATOLÓGICO DE TAMBAQUIS ALIMENTADOS
COM DIETAS CONTENDO TEORES DE FÓSFORO DIGESTÍVEL
RESUMO
O estudo de parâmetros fisiológicos, hematológicos e imunológicos podem ser suporte para a nutrição animal, principalmente quando são avaliados nutrientes. Objetivou-se avaliar o efeito da suplementação de fósforo digestível (Pdig) sobre os parâmetros hematológicos, metabólitos séricos e atividade da fosfatase alcalina do tambaqui e entender o efeito da deficiência de P para esta espécie. Foram selecionados 140 tambaquis (peso médio de 144 ± 2g), distribuídos em delineamento inteiramente casualizado, em 20 caixas de 400L, recebendo cinco dietas por 63 dias com teores de Pdig (0,30; 0,56; 0,75; 0,91; 1,10), quatro repetições/tratamento. Ao final, dois peixes/caixa foram insensibilizados para retirada de sangue por punção caudal com seringa de 5 ml. Realizou-se contagem do número de eritrócitos (ERIT) e leucócitos totais (LEUCO), taxa de hemoglobina (HB), contagem de hematócrito (HTC), proteína plasmática total (PST), atividade da fosfatase alcalina plasmática (ALP), níveis de fósforo sérico total (Pi), concentração de albumina (ALB), globulinas séricas (GLOB) por cálculo diferencial, e a relação albumina/globulina (A:G). Foram calculados os seguintes índices hematimétricos sanguíneos: volume corpuscular médio (VCM) e concentração de hemoglobina corpuscular média (CHCM). Os peixes alimentados com o maior nível de Pdig (1,10%) apresentaram maior número de ERIT e HTC, não diferindo da dieta com 0,75% de Pdig. Para HB, observou-se maior valor para os animais que receberam maior nível de Pdig (1,1%) diferindo apenas dos animais suplementados com 0,91% de Pdig. O LEUCO foi superior apenas nos animais suplementados com 0,56% de Pdig, diferindo do nível mais baixo (P<0,05). Não foi observado efeito da suplementação de Pdig sobre os parâmetros hematimétricos, VCM e CHCM (P>0,05). Efeito quadrático foi observado com a suplementação de Pdig sobre a atividade de ALP e ALB, entretanto os demais parâmetros (PPT; Pi; GLOB; e A:G) não sofreram influência dos teores de Pdig (P>0,05). Os teores de fósforo digestível influenciaram nos parâmetros hematológicos, na atividade de fosfatase alcalina e saúde dos tambaquis. Palavras-chave: Fosfatase alcalina, imunologia, leucócitos, metabólitos,
parâmetros hematimétricos
73
CHAPTER 5 - HEMATOLOGICAL PROFILE OF TAMBAQUIS FED DIETS
CONTAINING GRADED DIGESTIBLE PHOSPHORUS LEVELS
ABSTRACT
The study of hematological and immunological parameters has been used to evaluate physiological status of fish in response to a given nutrient and has been a useful tool in animal nutrition studies. Based on the afore mentioned, a 63-day trial was undertaken to evaluate the effects of phosphorus supplementation on hematological profile, serum metabolites and alkaline phosphatase activity for tambaqui and thus, try to understand the clinical effects of P deficiency and test a possible health promoting effect in this species. 140 tambaquis with 144 ± 2g mean average weight were randomly stocked into 20 400L-plastic aquaria in a completely randomized design with five treatments (0.30, 0.56, 0.75, 0.91, and 1.10% digestible phosphorus) and four replicates. At the end of the trial, two fish from each aquarium were randomly caught and anesthetized for blood collection. Blood was collected through caudal vein puncture using 5-mL syringes and the following blood parameters were measured: red blood cell count (RBC), total white blood cell count (WBC), hemoglobin (HB), hematocrit (HTC), total serum protein (TSP), serum alkaline phosphates activity (ALP), serum total phosphorus (Pi), albumin fraction (ALB), globulin (GLOB) and albumin:globulin ratio (A:G). Hematometrical blood parameters, MCV and MCHC were either calculated. Fish fed the highest P supplementation level (1.10%) showed the highest RBC and HTC values; however it was not different from fish fed diets with 0.75% P. Although fish supplemented with 1.1% P had the highest HB values, it was only different from fish fed diets with 0.91% P. WBC count was higher in fish fed diets with 0.56%; however it was only different from the unsupplemented group. P levels did not affected the hematometrical parameters (P>0.05). Although no influence of P levels on TSP, Pi, GLOB and A:G was observed, a quadratic response was observed for ALP activity and ALB. Generally, digestible phosphorus levels influenced hematological parameters, alkaline phosphatase activity and, thus health status of tambaqui. Key words: Alkaline phosphatase, hematometrical parameters, immunology,
metabolites, white blood cell
74
1 INTRODUÇÃO
O fósforo é um dos minerais, nutricionalmente, mais importantes devido
sua necessidade para adequado crescimento, mineralização óssea, reprodução e
síntese de ácidos nucléicos. O fósforo, ainda, é componente estrutural dos
fosfolipídeos e faz parte dos compostos ricos em energia envolvido com o
metabolismo energético (ROY & LALL, 2003; UYAN et al., 2007; NRC, 2011).
Este mineral tem demonstrado afetar significativamente o aproveitamento da dieta
e a tolerância ao estresse (VIELMA et al., 2002; YANG et al., 2006; YE et al.,
2006). De acordo com SUKUMARAN et al. (2008), estes fatores são essenciais
para o desenvolvimento aquícola.
Além destas funções metabólicas, pesquisadores têm ressaltado a
necessidade da redução dos teores de P nas rações para diminuir o impacto
ambiental da aquicultura. Esta prática se realizada sem conhecimento do
metabolismo desse mineral, ou mesmo de sua exigência, pode levar a sérios
problemas clínicos aos peixes cultivados (SUGIURA et al., 2004). Desta forma, é
necessário um melhor entendimento sobre as implicações da restrição do fósforo
na dieta para os peixes.
A maioria dos estudos avalia a exigência em P para peixes com
base nas respostas de crescimento, mineralização óssea e mudanças
metabólicas. Entretanto, poucos estudos têm avaliado a influência dos teores de
P, ou da deficiência deste mineral, sobre os parâmetros hematológicos e
imunológicos. EYA & LOVELL (1998) observaram efeito positivo do P sobre a
produção de anticorpos e resistência a infecção experimental com Edwardsiella
ictaluri em bagres do canal, enquanto para Coregonus lavaretus não foi
observado efeito da suplementação de P sobre a resposta imune (JOKINEN et al.,
2003). Da mesma forma, SUKUMARAN et al. (2008) com a carpa indiana (Catla
catla) não encontraram efeito proeminente da suplementação de P nas dietas
sobre os parâmetros hematológicos e bioquímicos.
O tambaqui apresenta grande potencial de cultivo. No Brasil, esta
espécie tem despontado como a terceira espécie mais produzida entre todas as
cultivadas. Este sucesso tem sido devido ao seu potencial de crescimento,
adaptação às condições de cultivos intensivos, e a apreciação de sua carne no
75
mercado nacional. Apesar de sua importância à aquicultura, poucos são os
estudos relativos ao manejo nutricional e a sua exigência em nutrientes.
Não há estudos que avaliem o efeito da suplementação de fósforo
sobre os parâmetros hematológicos do tambaqui. Objetivou-se avaliar o efeito da
suplementação de fósforo digestível sobre os parâmetros hematológicos,
metabólitos séricos e atividade da fosfatase alcalina do tambaqui.
2 MATERIAL E MÉTODOS
2.1 Preparação das dietas
As dietas foram formuladas a base de ingredientes vegetais e
suplementadas com fosfato bicálcico para atender os teores propostos. Os
valores de digestibilidade do P utilizados foram de acordo com ARAÚJO et al.
(2012a,b) e os valores de CDA da PB e EB conforme SENA (2012). As dietas
foram formuladas para apresentarem-se isoprotéicas, segundo exigências para
esta espécie na fase de recria (ALMEIDA et al., 2011), e isoenergéticas para a
relação ED:PD de 11,6 kcal/g (CARNEIRO et al., 1990). Os teores de fósforo
digestível (Pdig: 0,30; 0,56; 0,75; 0,91 e 1,10%) foram alcançados nas dietas com
suplementação de fosfato bicálcico. A relação Ca:Pdig mantiveram-se constantes
para as dietas (Tabela 1).
As dietas foram preparadas em misturador em “Y”, posteriormente,
umedecidos com água por aspersão para extrusão (extrusora PQ30 -
Inbramaq®), obtendo grânulos com diâmetro médio de 4mm. Após secagem em
estufa com ventilação forçada por 24 horas (65ºC), foi acrescido óleo por
aspersão nas dietas ainda quentes, sendo homogeneizadas e mantidas à 65ºC
por 24h. As rações foram acondicionadas em freezer (-20ºC) até o início do
experimento.
76
TABELA 1 - Composição percentual em ingredientes e análise proximal das dietas experimentais
FÓSFORO DIGESTÍVEL
INGREDIENTES 0,30% 0,56% 0,75% 0,91% 1,10%
Farelo Soja 44,00 44,00 44,35 44,35 44,50
Farelo Algodão 40 9,00 9,00 9,00 9,00 9,00
Glúten de Milho 60 7,06 7,06 7,36 7,91 8,56
Fubá Milho 16,00 15,50 11,50 8,75 7,00
Farelo Trigo 2,00 2,00 2,00 2,00 0,00
Quirera Arroz 10,00 10,00 9,00 7,00 6,00
Amido 3,45 0,00 0,00 0,00 0,00
Cr2O3 0,10 0,10 0,10 0,10 0,10
Óleo Soja 5,81 7,01 8,71 10,31 11,41
Fosfato Bicálcico 0,00 3,00 5,90 8,80 12,00
Calcário 1,15 0,90 0,65 0,35 0,00
Sal comum 0,07 0,07 0,07 0,07 0,07
Premix vitam/min¹ 1,36 1,36 1,36 1,36 1,36
Composição bromatológica Amido (%) 28,51 25,16 21,89 18,69 16,30
Energ Dig (kcal/kg)³ 3225 3225 3234 3234 3238
Prot Dig (%)³ 27,89 27,83 27,76 27,72 27,66
Prot Bruta (%) 30,24 30,18 30,11 30,04 29,97
Fibra Bruta (%) 4,33 4,33 4,28 4,24 4,03
Extrato Etéreo(%) 7,59 8,76 10,31 11,79 12,76
Ca tot (%) 0,59 1,23 1,85 2,44 3,09
P total (%) 0,34 0,66 0,94 1,12 1,35
Pdig (%)² 0,30 0,56 0,75 0,91 1,10
Met (%) 0,41 0,41 0,41 0,41 0,41
AAS (%) 0,95 0,95 0,95 0,94 0,94
Lis (%) 1,54 1,54 1,54 1,53 1,51
Trp (%) 0,38 0,38 0,38 0,37 0,37
Ter (%) 1,14 1,14 1,14 1,13 1,13
Relação Ca:Pdig 2,42 2,46 2,47 2,46 2,46 1) Níveis de garantia do Premix: Mannan-Oligossacarídeos (mín.) 120,0000 mg/kg; Vitamina A (mín.) 16.000,00 UI/kg; Vitamina D3 (mín.) 4.500,0000 UI/kg; Vitamina E (mín.) 250,00 UI/kg; Vitamina B2 (mín.) 32,0000 mg/kg; Vitamina B1 (mín.) 32,0000 mg/kg; Vitamina C (mín.) 325,0000 mg/kg; Niacina (mín.) 170,0000 mg/kg; Vitamina B6 (mín.) 32,0000
mg/kg; Biotina (mín.) 10,0000 mg/kg; Ácido Fólico (mín.) 10,0000 mg/kg; Vitamina B12 (mín.) 32,0000 mcg/kg; Colina (mín.) 2.000,0000 mg/kg; Manganês (mín.) 50,0000 mg/kg; Zinco (mín.) 150,0000 mg/kg; Ferro (mín.) 150,0000 mg/kg; Cobre (mín.) 20,0000 mg/kg; Cobalto (mín.) 0,50000 mg/kg; Iodo (mín.) 1,0000 mg/kg; Selênio (mín.) 0,7000 mg/kg.
(Centro-Oeste Rações Ltda). 2) ARAÚJO et al. (2012); 3) SENA (2012).
2.2 Animais, instalações e delineamento experimental
Para o experimento, selecionou-se um lote homogêneo de 140
tambaquis, com peso inicial de 144 ± 2,0 g, distribuídos em 20 caixas (400 L), na
densidade de sete peixes/caixa. Foram fornecidas três refeições diárias, até
saciedade aparente, conforme MEER et al. (1997), não ultrapassando 30 minutos
de arraçoamento.
77
As caixas foram instaladas em sistema de recirculação de água,
proveniente de poço artesiano, sendo sua vazão regulada para 3,5L/min., com
troca diária de 30% da água do sistema. O sistema possuía aeração individual por
caixa realizada por meio de pedra porosa acoplada à turbina de ar. A água foi
tratada, respectivamente, por filtros físicos e biológicos antes de voltar às caixas
de alimentação (Anexo 2, Figura 6). A água dos tanques foram monitoradas,
diariamente, para controle do teor de oxigênio dissolvido (mg/L), temperatura e
pH, com oxímetro, termômetro e phgâmetro digitais, respectivamente.
Semanalmente, monitorados amônia, nitrito e nitrato através de kit químico de
análise de água ALFAKIT®. Com isso, os parâmetros de qualidade de água
mantiveram-se dentro da faixa considerada adequada para a espécie.
A pesquisa foi conduzida em delineamento inteiramente casualizado,
constituído de cinco tratamentos e quatro repetições.
2.3 Determinação dos parâmetros hematológicos e metabólitos sanguíneos
Ao final do experimento, os peixes foram insensibilizados com
benzocaína (120 mg/L) e em seguida coletou-se sangue em oito peixes por
tratamento por meio de punção do vaso caudal com auxílio de seringa de 5mL
com EDTA (3,0%) e outra sem anticoagulante. A contagem do número de
eritrócitos e leucócitos totais foi realizada pelo método do hemocitômetro em
câmara de Neubauer, utilizando-se azul de toluidina a 0,01% em pipeta de Thoma
como solução diluente e corante.
A taxa de hemoglobina foi determinada pelo método da
cianometahemoglobina, utilizando-se kit de determinação fotocolorimétrica
(Labtest). O hematócrito foi obtido utilizando-se centrífuga para microhematócrito
em 5000rpm durante 5 minutos. A proteína sérica total foi determinada por meio
de refratômetro manual de Goldenberg. A albumina foi determinada por kit de
análise (Labtest) e as globulinas por cálculo diferencial. A atividade da fosfatase
alcalina plasmática foi determinada utilizando Kit comercial, assim como o nível
de fósforo sérico total (Labtest).
78
As variáveis acima apresentadas foram avaliadas segundo as técnicas
descritas por JAIN (1986). Foram ainda calculados os seguintes índices
hematimétricos sanguíneos: volume corpuscular médio e concentração de
hemoglobina corpuscular média.
2.4 Análise estatística
As respostas individuais das variáveis foram submetidas à análise de
variância e, quando significativas (P<0,05), aplicou-se o teste de comparações
múltiplas entre médias de Duncan (P<0,05). Todas as análises foram realizadas
utilizando-se o procedimento GLM do pacote computacional Statistical Analysis
System (SAS, 9.3), ao nível de 5,0% de significância.
3 RESULTADOS
Na tabela 2 apresentam-se os valores dos parâmetros hematológicos
dos tambaquis. Pode-se observar que a suplementação de fósforo afetou os
parâmetros hematológicos desta espécie.
TABELA 2 - Número de eritrócitos (ERIT), hematócrito (HTC), taxa de
hemoglobina (HB) e número de leucócitos totais (LEUCO), volume corpuscular médio (VCM) e concentração de hemoglobina corpuscular média (CHCM) de tambaquis alimentados com dietas contendo diferentes teores de fósforo digestível (Pdig) (n = 8, média ± DP)
Pdig (analisado)
ERIT
(106 cels/µL)
HTC
(%) HB
(g/dL) LEUCO
(104 cels/µL)
VCM (fL)
CHCM (g/dL)
0,30% 1,48 ± 0,22
b
28,17 ± 0,98
b 5,53
± 0,71ab
3,35 ± 0,70
b 194,75 ±27,53
19,63 ±2,29
0,56% 1,47 ± 0,18
b 28,25
± 1,21b
5,50 ± 0,48
ab 4,43
± 0,76a
195,16 ±20,89
19,47 ±1,29
0,75% 1,80 ± 0,44
ab 31,00
± 1,48a
6,02 ± 0,68
ab 3,56
± 0,86ab
179,85 ±36,13
19,47 ±2,26
0,91% 1,52 ± 0,18
b 27,67
± 1,03b
5,40 ± 0,71
b 4,03
± 0,79ab
185,05 ±30,06
19,49 ±2,29
1,10% 2,14 ± 0,58
a 32,00
± 2,12a
6,23 ± 0,50
a 3,88
± 0,55ab
155,64 ±25,93
19,52 ±1,92
Médias na mesma coluna seguidas por letras diferentes são estatisticamente diferentes pelo teste de Duncan ao nível de
5% de significância.
79
Os peixes alimentados com o teor mais alto de suplementação de Pdig
apresentaram maiores valores hematológicos quando comparado aos animais
alimentados com os menores teores. Quanto aos números de eritrócitos e
hematócrito, foram maiores para 1,10% Pdig, quando comparado aos animais
suplementados com 0,30; 0,56 e 0,91% de Pdig (P<0,05), não diferindo dos
animais alimentados com a dieta contendo 0,75% de Pdig.
Os animais suplementados com o maior teor de Pdig (1,1%)
apresentaram a maior taxa de hemoglobina, valor apenas diferente dos animais
suplementados com o teor de 0,91% de Pdig. O número de leucócitos totais foi
superior apenas nos animais suplementados com 0,56% de Pdig, diferente
apenas dos animais suplementados com o teor mais baixo de Pdig (P<0,05). Não
foi observado efeito da suplementação de Pdig sobre os parâmetros
hematimétricos, VCM e CHCM (P>0,05).
Na tabela 3 apresentam-se os valores médios da atividade da fosfatase
alcalina (ALP) sérica e bioquímica sanguínea de tambaquis alimentados com
dietas contendo os diferentes teores de Pdig. A suplementação de Pdig
influenciou apenas a atividade da ALP e o nível de albumina sérico, enquanto os
demais parâmetros não sofreram influência dos teores de Pdig.
TABELA 3 - Proteína plasmática total (PPT), atividade da fosfatase alcalina (ALP)
e fósforo sérico total (Pi), concentração de albumina (ALB) e globulinas (GLOB) séricas, e relação A:G de tambaquis alimentados com dietas contendo teores de fósforo digestível (Pdig) (n = 8, média ± DP)
Pdig (analisado)
PPT
(g/dL) ALP
(U/L) Pi
(mg/dL) ALB
(g/dL) GLOB (g/dL)
A:G
0,30% 3,33 ± 0,29
11,88 ± 0,81
6,57 ± 0,52
0,60 ± 0,04
2,73 ± 0,27
0,22 ± 0,02
0,56% 3,48 ± 0,30
6,52
± 0,51
7,37 ± 1,05
0,75
± 0,02 2,74
± 0,29 0,28
±0,02 0,75% 3,58
± 0,34
6,51 ± 1,27
8,73
± 0,85
0,73 ± 0,04
2,85 ± 0,31
0,26 ±0,02
0,91% 3,37 ± 0,41
6,13
± 0,91
7,01 ± 0,68
0,84
± 0,04 2,52
± 0,42 0,35
±0,06 1,10% 3,52
± 0,33
12,45 ± 2,37
6,87
± 0,86
0,82 ± 0,07
2,71 ± 0,29
0,31 ±0,03
Linear ns ns ns P<0,001 ns
Quadrático ns P<0,001 ns P<0,001 ns
Médias na mesma coluna seguidas por letras diferentes são estatisticamente diferentes pelo teste de Duncan ao nível de 5% de significância. Ns – não significativo.
80
Foi observado efeito quadrático da atividade da ALP e da concentração
de albumina nos peixes alimentados com diferentes teores de Pdig (Figura 1 e 2).
Com base nas equações de regressão polinomial de segunda ordem foi estimado
o ponto de mínima e máxima, o que correspondeu aos valores de 0,70 e 1,14%
de Pdig para a atividade da ALP e concentração de albumina, respectivamente.
0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 1.2
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
Y =25.22435-56.01341 X+39.98961 X2
R2 = 0.94
Ativid
ad
e d
a fo
sfa
tase
alc
alin
a (
U/L
)
Níveis de fósforo disponível (Pd)
FIGURA 1 - Efeito quadrático do nível de Pdig sobre a atividade da fosfatase alcalina do soro.
0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 1.2
0.55
0.60
0.65
0.70
0.75
0.80
0.85
Y =0.42045+0.71102 X-0.31161 X2
R2 = 0.88
Alb
um
ina
sé
rica
(g
/dL
)
Níveis de fósforo disponível (%)
FIGURA 2 - Efeito quadrático do nível de Pdig sobre a concentração de albumina do soro.
81
4 DISCUSSÃO
A hematologia tem sido ferramenta utilizada para descrever o estado
fisiológico frente à substâncias tóxicas, a variabilidade genética e o estresse
(SVOBODOVÁ & VYSUKOVÁ, 1991). Além destes fatores que podem afetar a
homeostase do animal, a nutrição e seus efeitos sobre os parâmetros
hematológicos têm sido pesquisadas com a finalidade de combater os efeitos
depressores do estresse no cultivo. Entretanto, o volume de trabalhos é modesto
(BARROS et al., 2006; RANZANI-PAIVA, 2007).
Estudo com a carpa indiana (C. catla) demonstrou que a
suplementação de P tem pouca influência nos parâmetros hematológicos e
bioquímicos desta espécie, apenas com influência dos teores de P sobre o
número de leucócitos totais (SUKUMARAN et al., 2008). Entretanto, neste estudo
os teores de Pdig testados influenciaram significativamente todos os parâmetros
hematológicos do tambaqui, com exceção dos índices hematimétricos VCM e
CHCM.
Os peixes alimentados com a dieta com o menor teor de Pdig
apresentaram os menores valores de eritrócitos, porcentagem de hematócrito e
número de leucócitos. Estas respostas podem estar relacionadas a possível
deficiência subclínica destes animais. Em peixes, o conteúdo de P dos eritrócitos
é de 5-6 vezes maior que em animais terrestres, como os bovinos (McCAY,
1931). Isto pode indicar que, a deficiência deste mineral em peixes possa ser
mais danosa que aos animais terrestres. Desta forma, os resultados mais baixos
observados para os tambaquis alimentados com a dieta não suplementada
podem estar relacionados com as hipóteses: 1) a redução dos níveis de P
intracelulares nos eritrócitos pode ser deletéria ao metabolismo das células
vermelhas impedindo-as de oxigenar devidamente os tecidos. Isto se deve a
menor capacidade em liberar o oxigênio da oxihemoglobina, reação esta
catalisada pelo equilíbrio da 2,3-difosfoglicerato com a molécula de hemoglobina
dentro do eritrócito, uma vez que em animais deficientes há um declínio nos
níveis de 2,3 DPG e ATP (LICHTIMAN et al., 1971; KNOCHEL, 1977; KNOCHEL,
2000); ou, 2) pela redução da fluidez das membranas devido a ausência de
grupos fosfatos para formação dos fosfolipídeos de membrana, aumentando a
82
hemólise dos eritrócitos, reduzindo o número de eritrócitos, a taxa de
hemoglobina e o hematócrito. Fato este observado durante as análises
hematológicas, onde as amostras dos peixes do tratamento controle
apresentavam-se mais hemolisadas que os demais tratamentos.
Apesar dos peixes do tratamento controle terem apresentado menores
valores de eritrócitos, hematócrito e leucócitos, os valores se encontram dentro da
faixa observada na literatura para tambaquis mantidos em condições de cativeiro
em sistema intensivo de produção (RANZANI-PAIVA et al., 1998; TAVARES-DIAS
& SANDRIN, 1998; TAVARES-DIAS et al., 1998; RANZANI-PAIVA et al., 1999).
Entretanto, devido a ausência de valores de referência para tambaqui cultivados
em sistemas de recirculação, não se sabe ao certo se estes valores estão dentro
ou fora da normalidade. BARROS et al. (2006) recomendam que valores de
referência sejam obtidos para cada condição laboratorial, de forma a facilitar a
comparação dos resultados, devido a alta variabilidade dos parâmetros
hematológicos às diferentes condições ambientais.
Os valores de VCM e CHCM deste estudo se encontram abaixo do
observado na literatura para esta espécie (TAVARES-DIAS et al., 1998;
TAVARES-DIAS & SANDRIN, 1998; RANZANI-PAIVA et al., 1998, 1999),
indicando provável anemia nos animais de todos os grupos experimentais.
Entretanto, a comparação entre estes estudos fica difícil, já que este é o primeiro
ensaio do laboratório que determina o perfil hematológico da espécie, sendo
necessárias mais avaliações para comparações adequadas.
O número de leucócitos, como nos outros parâmetros hematológicos,
foi menor para os peixes alimentados com a dieta controle (0,30% de Pdig),
enquanto o maior número de leucócitos observou-se nos peixes alimentados com
0,56% de Pdig. Estes resultados estão de acordo com os observados para
animais terrestres e humanos, em que a deficiência de P prejudicou a função dos
leucócitos (CRADDOCK et al., 1974; KREIBERG, 1977; KIERSZTEJN et al.,
1992). Entretanto resultados contrários foram observados para a carpa indiana
(SUKUMARAN et al., 2008), na qual os animais deficientes apresentaram maior
número de leucócitos quando comparados aos demais teores de suplementação.
Os resultados da atividade da ALP no soro dos tambaquis frente aos
diferentes teores de Pdig foram diferentes do relatado para outras espécies de
83
peixes, apresentando resposta quadrática inversa. Entretanto, estes resultados
são consistentes com o que é observado em vertebrados terrestres. A maioria dos
estudos com peixes têm indicado efeito quadrático positivo entre nível de P da
dieta ou ingestão de P e a atividade da ALP (EYA & LOVELL, 1997; EYA &
LOVELL, 1998; COLOSO et al., 2003), enquanto efeito linear negativo é
observado com o aumento dos teores dietéticos de P para animais terrestres
(BOYD et al., 1983; KOCH et al., 1984; CASHMAN & FLYNN, 1999). Apesar de
neste estudo, termos observado correlação entre os valores de exigência
estimados a partir da atividade da ALP e do desempenho do tambaqui, vários
estudos descrevem resultados inconsistentes destes parâmetros, apresentando
grande variabilidade de resposta entre estudos. Desta forma, a atividade da ALP
não é parâmetro preciso para estimar a exigência em P para peixes,
diferentemente do que é observado para animais terrestres.
Ao contrário de estudos conduzidos com diferentes espécies de peixes
(BROWN et al., 1993; EL-ZIBDEH et al., 1995; RODEHUTSCORD, 1996; VIELMA
& LALL, 1998; SUGIURA et al., 2000; ROY & LALL, 2003; CHENG et al., 2005;
YANG et al., 2006), não foi observado para o tambaqui efeito da suplementação
de Pdig sobre a concentração de Pi no soro. Estudos conduzidos com salmão do
atlântico e trutas arco-íris não mostraram diferenças na concentração de P total
plasmático em animais debilitados de P e alimentados com teores de P
suficientes, assim como nenhum efeito da restrição alimentar (SKONBERG et al.,
1997; BAEVERFJORD et al., 1998). De acordo com SKONBERG et al. (1997), os
níveis de P plasmáticos são insensíveis como indicadores do status do P para os
peixes devido a três fatores principais: 1) níveis de P séricos tendem a refletir um
recente consumo do que o status de P atual do peixe; 2) diferentes métodos
medem diferentes frações do P no soro, plasma e sangue; e 3) fatores não
nutricionais, como o momento da amostragem, a manipulação das amostras,
método de coleta, temperatura, salinidade e vários outros fatores estressores
também têm efeito pronunciado no nível de P plasmático.
A proteína plasmática total refere-se à fração albumina e globulina
presente no plasma ou soro sanguíneo. Estas duas classes de proteínas do soro
são produzidas no fígado, sendo a primeira, a fração mais abundante e
responsável pelo transporte de nutrientes e manutenção do equilíbrio osmótico do
84
sangue, enquanto a fração globulina esta envolvida nos mecanismos de defesa
do animal (THOMAS, 2000). A partir dos resultados do presente estudo, pode-se
notar que houve comportamento quadrático do aumento do teor de Pdig sobre a
concentração de albumina sérica. Apesar de resultados semelhantes não terem
sido observados na literatura, provavelmente, o comportamento desta variável
pode estar relacionado ao seu envolvimento no transporte de íons fosfatos para
os tecidos-alvo, ou mesmo, como forma de ajustar o pH sanguíneo e o equilíbrio
osmótico devido a alta concentração de fósforo. Entretanto, pouco ainda se sabe
sobre as formas como é regulado a absorção e transporte nos peixes, sendo os
mecanismos citados comumente empregados no metabolismo de animais
monogástricos.
Não observou-se efeito do teor de Pdig sobre a concentração de
globulinas e relação A:G. Estas duas séries incorporam as frações de anticorpos
plasmáticos, indicando, indiretamente, a resposta imune do animal. Apesar dos
poucos estudos que avaliam o efeito benéfico do P dietético sobre o sistema
imune dos peixes (JOKINEN et al., 2003; EYA & LOVELL, 1998), os resultados
obtidos têm sido inconclusivos, indicando possível ação deste mineral na resposta
imune dos peixes. Entretanto, esta ação pode estar mais relacionada aos efeitos
da deficiência de P que mesmo efeito protetor de altos níveis de P (LIM et al.,
2001).
Apesar do perfil hematológico do tambaqui ter sido influenciado pelos
teores de Pdig, a resposta observada neste estudo não possui padrão claro de
ação, visto que os animais alimentados com alguns dos teores de suplementação
apresentaram resultados semelhantes aos animais alimentados com a dieta
ausente de suplementação. Desta forma, são necessários maiores estudos
acerca da influência do P nos parâmetros hematológicos dos peixes, com ênfase
no tambaqui.
5 CONCLUSÃO
Os teores de fósforo digestível influenciam nos parâmetros
hematológicos e saúde dos animais, nas condições da presente pesquisa.
85
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89
CAPÍTULO 6 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
A variação dos coeficientes de digestibilidade do fósforo dos alimentos
utilizados para o tambaqui mostrou a importância de sua determinação para a
formulação de dietas ambientalmente corretas, pois até a presente data, eram
utilizados valores de outras espécies onívoras tropicais. Além disso, o
conhecimento da exigência em fósforo digestível melhora a eficiência em sua
utilização pelo animal, consequentemente, melhor desempenho zootécnico e
mineralização óssea. Com isso, observa-se redução da excreção do fósforo para
o meio, principalmente, quando se trata de cultivo em sistemas intensivos, devido
à alta densidade de estocagem e produção de metabólitos.
Dada a importância do fornecimento de teores adequados de fósforo
para o metabolismo, estruturação dos tecidos ósseos e musculares como também
da influência na digestibilidade do fósforo, notam-se a necessidade de pesquisas
com tambaqui nas diferentes fases de desenvolvimento, como para pós-larvas,
alevinos, juvenis, peixes na fase de acabamento ou terminação para
determinação da digestibilidade e exigência em fósforo digestível. Como também,
avaliar o funcionamento da fosfatase alcalina e absorção de P nas diferentes
partes do intestino do tambaqui, e quais fatores pode influenciar a absorção
destes minerais.
A metodologia empregada para os ensaios de digestibilidade foram
adaptadas para o tambaqui, por se tratar de uma espécie sensível ao manejo
constante. Foi observada a necessidade de realizar as coletas em dias alternados
para descanso dos animais, para que consumissem adequadamente a dieta no
dia das coletas de fezes. Para as transferências entre os aquários de alimentação
e coleta, a utilização de puçá, com malha de até 2 cm, evita escoriações durante
este manejo. A coleta durante o dia facilita o manejo de coleta, possibilitando
realizá-la em intervalos menores, reduzindo a lixiviação dos minerais, que é
facilitada pela baixa consistência das fezes desta espécie.
Como o tambaqui se trata de uma espécie amazônica, para os ensaios
são necessários adequar os parâmetros de qualidade de água, evitando
oscilações bruscas, principalmente, para temperatura. O manejo profilático e de
quarentena é muito importante para evitar contaminação do sistema de
90
recirculação de água por micro-organismos provindos dos viveiros escavados
utilizados para alevinagem.
91
ANEXO I
TABELA 5 - Composição química mineral das rações experimentais
Rações experimentais P% Ca% Mg% Mn mg/kg Zn mg/kg
Referência 1,72 3,77 0,81 9,48 2,42
Ensaio I - protéicos
Origem vegetal
Farelo de soja 1,40 2,67 0,63 12,08 3,35
Glúten de milho 60 1,43 2,64 0,65 13,61 3,36
Farelo de algodão 40 1,53 2,66 0,68 13,72 4,22
Origem animal
Farinha de peixe 2,43 3,91 0,70 11,91 3,38
F. vísceras de frango 2,72 4,10 0,62 14,96 4,00
F. carne e ossos 2,90 6,32 0,64 13,81 3,62
Fosfato bicálcico 4,21 9,86 0,79 28,21 3,52
Ensaio II - energéticos
Farelo de arroz 1,65 2,64 0,64 16,71 3,54
Quirera de Arroz 1,21 2,64 0,58 12,76 3,26
Milho 1,32 2,65 0,60 11,82 2,97
Farelo de trigo 1,58 2,64 0,63 14,83 3,96
92
ANEXO II
FIGURA 1 – Trato grastrointestinal do tambaqui, Colossoma macropomum. Fonte:
Arquivo pessoal, Prof. Dr. Eduardo Beerli (2009)
FIGURA 2 – Caixas de alimentação, em sistema de recirculação, ensaios I e II
(LAPOA, PUC-GO). Fonte: Arquivo pessoal
93
FIGURA 3 – Termostato, resistência de 10000Wats, turbina de ar (LAPOA, PUC-
GO). Fonte: Arquivo pessoal
FIGURA 4 – Aquários para coleta de fezes, adaptados ao sistema Guelph,
utilizados no período noturno, com recipiente acoplado à rosca e registro. Fonte: Arquivo pessoal.
94
FIGURA 5 – Recipiente acoplado no final do aquário para sedimentação e coleta
das fezes. Fonte: Arquivo pessoal
FIGURA 6 – Componentes do sistema de recirculação do ensaio III: dois filtros físicos, um biológico e um reservatório de água. Turbina de ar comprimido e caixas de alimentação (Estufa, PUC-GO). Fonte: arquivo pessoal.
TURBINA DE AR CAIXAS DE ALIMENTAÇÃO
FILTROS
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FIGURA 7 – Instalações do experimento 4: caixas de 60L acopladas a filtros
fisicos (pedras, cascalho; areia lavada) e biológico. Aquecimento por termostatos de 300 W/caixa, e aeração por turbina de ar através de pedra porosa ligada ao filtro biológico (Estufa, PUC-GO). Fonte: arquivo pessoal.