Jair e Isaura

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Venha ouvir canários com a Isaura e o Jair "A retribuição do carinho, do amor, da compreensão, do companheirismo quando recebem o alimento, a correspondência de carinho que eles têm com a gente, me fascina. Tudo isso fez com que eu passasse a dedicar minha vida inteiramente aos meus bichos.” O desabafo é de Isaura Ruivo, 50 anos, que ao lado de Jair Leite Gimenes passa seus dias e até suas noites cuidando de canários, calopsitas, papagaios, periquitos e tantos outros adoráveis bichinhos que habitam não só a sua loja, a São Francisco, como a sua casa, seu sítio, suas vidas enfim.

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Venha ouvir

canarios com a Isaura e o Jair

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A retribuição do carinho, do amor, da compreensão, do companheirismo quando recebem o alimento, a correspondência de carinho

que eles têm com a gente, me fascina. Tudo isso fez com que eu passasse a dedicar minha vida inteiramente aos meus bichos.” O desabafo é de Isaura Ruivo, 50 anos, que ao lado de Jair Leite Gimenes passa seus dias e até suas noites cuidando de canários, calopsitas, papagaios, periquitos e tantos outros adoráveis bichinhos que habitam não só a sua loja, a São Francisco, como a sua casa, seu sítio, suas vidas enfim.

A São Francisco já existe há 25 anos, sempre ali, naquela praça Pio XII e é aquela adorável barulhei-ra de sempre. Já pensou? quinhentos canários do reino cantando ao mesmo tempo... “Tem gente que vem aqui fica horas e horas ouvindo os pássaros. De-pois pede desculpas, pede licença e vai embora sem comprar nada”, conta Isaura.

Ela confessa que já foi dramaticamente contra a manutenção de pássaros presos. “Hoje entendo que a gente tem sim que manter alguns pássaros cuida-dos na gaiola. Não adianta soltar pássaros que já pas-saram por cativeiro. Já tive experiência disso e sei que soltura é uma condenação à morte. Meu padras-to era criador e colecionador oficial de pássaros do mundo inteiro. Ele morreu e minha mãe não sabia como tratar os bichinhos que ficaram. Teve o impul-so de soltar alguns. Mas, acredite, eles começaram a voltar para o local onde viviam. Ainda bem. Recolhi todos os que podia, chamei amigos de associações de

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pássaros, distribui. Inclusive alguns pássaros pre-miados em exposições internacionais. Custariam verdadeiras fortunas, mas o importante era que eles continuassem tendo a vida digna que meu pai lhes dava. A gente tem que aprender a respeitar e den-tro do possível e necessário tratar, alimentar, cuidar dos pássaros que vivem na natureza. O lamentável é que eles quase já não tenham espaços próprios pre-servados nessa terrível devastação da natureza...”

O amor de Isaura pelos bichos vem de berço. Nas-cida em Sorocaba, viveu muitos anos no sul de Mi-nas Gerais. “Sempre mantive contato muito próxi-mo com a natureza.”

Além dos pássaros começou a cuidar de cães, “dos rasga-sacos e dos de raça mais apurada.” Ela chama de rasga-sacos os cachorros de rua mais modernos... “Antigamente eram os vira-latas, né? Agora o lixo vai nos saquinhos plásticos que eles vêm rasgar...”, sorri.

Já o Jair vive a vida de pássaros, cães e gatos há 25 anos na São Francisco. “Ele é, realmente e reconhe-cidamente, o único especializado em pássaros em Atibaia e em toda a região. Conhece tudo sobre o as-sunto. A origem dos pássaros, os cuidados que cada um deles necessita, como precisam ser tratados, sua alimentação, a preparação para o acasalamento e o cruzamento. Ele tem me ensinado muito. Cada es-pécie de pássaro tem características básicas, tem sua vivência, seu comportamento específico e sua alimentação apropriada. Peguei muito amor pelos pássaros. Adoro os chamados argaponis, um gêne-ro que abriga os inseparáveis, pássaros-do-amor ou periquito-namorado. São aves barulhentas e ativas, em liberdade e até no cativeiro, incrivelmente dadas a demonstrações de afeto para com membros da sua

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espécie e com seus donos humanos”, explicaAlém de tudo o que se vê na loja, Isaura tem em

casa inúmeros pássaros, periquitos e um jaboti que já está na família há mais de cem anos.

Seu sonho e o sonho de Jair é montar uma mini fazenda. “Queremos ter pássaros, cães, animais pe-quenos, mini vacas, mini cabras, mini coelhos, um local para ser visitado por crianças que nunca tive-ram a oportunidade de viver uma integração maior com a natureza. A gente já tem patos, marrecos e ou-tros animais, estamos formando a infra-estrutura. É projeto para os próximos três anos.”

Pássaros à parte, e cantando, Isaura também tra-balha com cães das raças Schitzu, Lhasa Apso, Pood-le, York Shire, Maltês, pequinês, cães de raça peque-na e peludos. “Já estou com 17 exemplares. Ficam na minha casa e a gente vende as crias que já saem daqui vacinadas, sem vermes, prontas para o conví-vio. Já vendi mais de cem filhotes e nunca tivemos problemas. Entrego com garantia de vida, mas te-nho um mau hábito: quando percebo que a pessoa está comprando só por exibicionismo, ou que vai acabar largando o bichinho sem carinho e sem afeto eu nem vendo. Dou logo a desculpa dizendo que já está vendido.”

O forte da loja são os canários do reino, pássaros que exigem licença para serem comercializados. “Temos fornecedores de várias regiões. Trabalha-mos com calopsitas por se tratar de pássaro orna-mental e por ser muito sociável, além dos mini-pa-pagaios, claro. Quando a calopsita se acostuma com seus donos ou com seu novo ambiente chega até a “cacarejar” algumas palavras. Ela precisa ser criada em cativeiro por causa da proteção dos ovos. São lin-das as calopsitas. Adoráveis. O macho participa efe-

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tivamente do processo de criação, ajuda a chocar os ovos e trata dos filhotes. A fêmea fica na boa.” Isaura se diverte.

Preços? “Bem, o preço de um canário varia muito. Essa variação decorre de época, do canto, e da clas-sificação de cores. Pode custar desde 50 até 300 re-ais. O canário da terra, aquele amarelinho não pode ser comercializado. Tem o azulão, o trinca-ferro, o picharro, de canto tão lindo que o caboclo adora. São tantos os pássaros, tantos os cantos que encan-tam.” A comercialização do pássaro preto também é proibida, informa. “Não é fácil conseguir autoriza-ção para criar pássaros pretos. É um processo muito caro e muito burocrático.”

“Coisas tristes que se vê por aqui? Difícil aconte-cer no meio de tanto canto bonito. No entanto teve o caso de um cliente que ficou em estado depressivo porque levaram um pássaro da casa dele. Era um pi-charro, que vivia com ele há 22 anos. Uma vizinha se incomodou com o canto do pássaro que perturbava o sono dela logo pela manhã e denunciou. As auto-ridades foram lá e retiraram o pássaro. Apesar de já estar com o pássaro nos últimos 22 anos o cliente não tinha autorização. Ele está vivendo um inferno, o pobre.” Claro que Isaura não pode falar o que pen-sa sobre o assunto, mas o repórter pode e diz: “quem deveria estar presa é a mulher e não o picharro. Quem se irrita com o canto de um pássaro irrita o mundo” - palavras de um repórter...

Isaura e Jair sonham criar um ambiente só para as pessoas chegarem na loja, se sentarem e ficarem o tempo que quiserem ouvindo os pássaros. “Já pen-sou como seria lindo dispor de um lugar tão baru-lhento assim? Pássaros cantando por todos os la-dos...” Isaura vem promovendo mudanças para dar

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um brilho na loja. No futuro ela quer fazer viveiros com faisões, pavões, perús, gansos de várias espé-cies. “Existem muitas pessoas interessadas nesses animais para tê-los em suas chácaras. Também te-nho um acervo de gaiolas antigas com mais de 40 anos, imagine só. Quero expor tudo. E também tra-zer mais verde para a loja”, sonha.

Para quem gosta de ouvir canários cantando, a São Francisco apresenta mais de 500 canários do reino, os tais que vieram para o Brasil com a realeza portu-guesa. “Os nossos pássaros mesmo são as maritacas, os canários da terra, o sabiá, tico-tico e tantas outras espécies”, explica. “Nossos canários já saem daqui cantando e um responde ao outro. É um mundo de-licioso.”

Quanto tempo vive um canário? “Tudo depende do trato que ele recebe. Eu mesmo já comprovei ca-nários com mais de 15 anos. Os pássaros precisam ser bem tratados. Da mesma forma que os seres hu-manos, precisam de vitaminas, cálcio, ingerir ali-mentos corretos. Tem o problema da higiene das gaiolas, o período da troca de pena, tem o período da fertilização, cuidados com a pele do bichinho, com suas patinhas, ácaros, fungos que podem prejudi-car sua saúde. As fêmeas também tem que receber tratamento especial na época do acasalamento que ocorrer a partir do mês de agosto. O macho precisa de cálcio, antibióticos, atenção sempre.”

Isaura e Jair explicam as coisas com paciência incrível. Dizem que a procriação dos bichinhos é múltipla. “São avançadinhos os danadinhos...” Cada chocada tem entre 3 e 5 ovinhos, umas três quatro vezes ao ano. A fêmea choca em 21 dias.” Detalhes muito bem explicadinhos.

Os passarinheiros em geral se conversam muito. E

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Atibaia tem um montão de passarinheiros. Isaura e Jair estão sempre no meio da conversa. Nem todo mundo sabia disso, muito menos o repórter, mas nesse cenário todo dos canários, só o macho canta. “Os bichos são incríveis”, emenda Isaura. “Quando se trata de um pássaro ou papagaio macho, ele se apega mais às mulheres e vice-versa, uma papagaia, por exemplo, se apega aos homens.” Isaura conta que tem uma papagaia em casa. “Ela não se dá muito bem comigo. Agora, quando o Jair chega em casa se derrete toda...”

É lindo esse mundo das penas... Vá lá conversar com a Isaura e com o Jair. Acredite, a São Francisco é a loja mais cantante e afinada da cidade... ■