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Caso 15: “A escola onde eu estudo e uma lenda tenebrosa” Professora: Francisca Deusineide dos Santos Nasário Quem é a professora: Formada em pedagogia, especializada em psicopedagogia, leciona há 7 anos na rede pública há 5 anos na escola. Foi destaque estadual no Rio Grande do Norte, na etapa dos anos iniciais do ensino fundamental (4º e 5º anos), na 10ª edição do Prêmio Professores do Brasil. Escola: Escola Estadual Ubiratan Pereira Galvão Município: Pau dos Ferros UF: Rio Grande do Norte Etapa de ensino: Ensino Fundamental / Anos Iniciais Ano de realização: 2016 Área de conhecimento: Linguagens e Ciências Humanas Componente curricular: Língua Portuguesa, História e Geografia OUTRAS COMPETÊNCIAS DESENVOLVIDAS: ALÉM DA IMAGINAÇÃO CASO 15 “A escola onde eu estudo e uma lenda tenebrosa” Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular, negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem e promovam os direitos humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético em relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta. COMPETÊNCIA 7: ARGUMENTAÇÃO PARA VIDA CONTEMPORÂNEA COMPETÊNCIAS GERAIS DA BASE NACIONAL COMUM 1.CONHECIMENTO 3. ARTE E CULTURA 4. MÚLTIPLAS LINGUAGENS 5. TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO 6. DIVERSIDADE E PROJETO DE VIDA 7. ARGUMENTAÇÃO PARA A VIDA CONTEMPORÂNEA 8. AUTOCONHECIMENTO COMPETÊNCIAS SOCIOEMOCIONAIS 9. EMPATIA E COOPERAÇÃO 10. AUTONOMIA E CONSCIÊNCIA CIDADÃ 2. PENSAMENTO CIENTÍFICO REALIZAÇÃO

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Caso 15: “A escola onde eu estudo e uma lenda tenebrosa”

Professora: Francisca Deusineide dos Santos NasárioQuem é a professora: Formada em pedagogia, especializada em psicopedagogia, leciona há 7 anos na rede pública há 5 anos na escola. Foi destaque estadual no Rio Grande do Norte, na etapa dos anos iniciais do ensino fundamental (4º e 5º anos), na 10ª edição do Prêmio Professores do Brasil.

Escola: Escola Estadual Ubiratan Pereira Galvão Município: Pau dos Ferros UF: Rio Grande do NorteEtapa de ensino: Ensino Fundamental /Anos Iniciais

Ano de realização: 2016Área de conhecimento: Linguagens e Ciências Humanas Componente curricular: Língua Portuguesa, História e Geografia

OUTRAS COMPETÊNCIAS DESENVOLVIDAS:

ALÉM DA IMAGINAÇÃOCASO 15

“A escola onde eu estudo e uma lenda tenebrosa”

Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular, negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem e promovam os direitos humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético em relação �ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta.

COMPETÊNCIA 7: ARGUMENTAÇÃO PARA VIDA CONTEMPORÂNEACOMPETÊNCIAS

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ALÉM DA IMAGINAÇÃO

Professora usa lenda que despertava curiosidade da turma para incentivar pesquisa sobre passado da escola e do município, estimular a leitura e orientar alunos na produção dos próprios contos fantásticos

Na sala de aula do 4º ano, a curiosidade dos estudantes estava aguçada. Não era por lições de língua portuguesa, problemas matemáticos ou discussões sobre o meio ambiente. As crianças, na faixa etária dos 9 anos, queriam saber se a escola em que estudavam fora construída no terreno de um antigo cemitério da cidade, história que se ouvia entre as turmas, intramuros.

Após ouvir perguntas do tipo “tia, será que a gente vai encontrar ossos aqui?”, a professora Francisca Deusineide dos Santos Nasário, de 40 anos, direcionou aquilo que movia os alunos a uma prática que exercitasse a curiosidade e os fizesse buscar respostas nas ruas de Pau dos Ferros, cidade potiguar do sertão nordestino.

O projeto “A escola onde eu estudo e uma lenda tenebrosa”, realizado em 2016, impulsionou os estudantes a buscar conhecimentos para compreender se aquela “história do cemitério” era verdadeira, com base em fatos ou informações confiáveis. Dessa forma, a professora trabalhou a história do município, o que estava programado no currículo, para desenvolver a capacidade de argumentação das crianças.

“Falei aos alunos que não adiantava ficar nessa do ‘eu acho’ ou ‘o meu pai disse’. Tinha que investigar para ter conhecimento de causa”, relata Deusineide.

Lançado o desafio, a professora passou a sistematizar o trabalho da turma. Uma das primeiras atividades foi buscar no entorno da escola moradores antigos. Após as entrevistas, os alunos descobriram que os vizinhos tinham vindo de outras cidades e não tinham propriedade para reconstruir os fatos históricos de que precisavam.

Orientada por Deusineide, que dividiu a turma em grupos, a pesquisa se aprofundou, relacionando as histórias da construção da escola às da formação da cidade, o que permitiu traçar uma linha do tempo com as datas de emancipação do município, de construção do antigo cemitério e de abertura do colégio. Uma visita à casa de um senhor de 100 anos de idade, longevo morador da cidade, fechou o quebra-cabeça.

“Este senhor era uma enciclopédia ambulante e sabia a data de construção do antigo cemitério e também onde estava localizado, que era onde hoje tem uma agência bancária. Não era a área da escola”, diz a professora. “Quando descobrimos todas as datas, fizemos a linha do tempo e depois passei a trabalhar esse gênero com eles, passando como tarefa de casa que desenhassem a linha do tempo da vida deles.”

A pesquisa ajudou a reconstituir o passado da escola, erguida décadas atrás para acolher filhos dos funcionários das obras contra a seca promovidas pelo Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS), órgão federal que batizou a Vila Dnocs, um bairro da cidade. A história motivou lições de geografia.

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“Pintamos juntos uma rosa dos ventos no chão da escola para indicar o ponto cardeal em relação à Vila Dnocs”, relata Deusineide. “Também delimitamos a região do alto oeste potiguar em um mapa e pedimos para os alunos pintarem uma cidade. Eles escolhiam associando ao local onde o pai trabalhava, a avó morava etc.”

O rigor com as informações históricas também pôde ser trabalhado, pois a turma descobriu durante a pesquisa que o nome do colégio, referência a um agrônomo que atuou nas obras contra a seca, estava incompleto. “Corrigimos o histórico escolar para incluir o nome completo, que era Ubiratan Pereira Galvão, e não só Ubiratan Galvão”, lembra a professora. “Fiquei sabendo de muitas coisas que eu não conhecia da minha cidade.”

Em outra frente do projeto, levada paralelamente à pesquisa, Deusineide separou na biblioteca livros de contos de terror e de suspense, com o plano de explorar o gênero para incentivar a leitura e auxiliar a produção textual dos alunos.

Com a turma já ciente que a história do cemitério no terreno da escola não era verdadeira, a professora também trabalhou lendas de tradição oral, exibiu um filme com referência à temática e, ao final, pediu que os estudantes produzissem as próprias lendas sobre a escola, livremente inspiradas nos contos que leram ou ouviram.

“Chegaram lendas da loura do banheiro, mas também histórias originais e engraçadas. Apesar de certas redações sem estrutura do gênero (conto), fizemos a reescrita delas com eles, individualmente, com base na aprendizagem de cada um”, diz a professora.

O processo individualizado de reescrita foi essencial para fazê-los entender de maneira mais aprofundada as necessidades de ortografia e de paragrafação, entre outros pontos relativos à estrutura textual. Como parte da prática pedagógica, os contos reescritos foram lidos pelos autores em sala de aula e, depois, digitados no laboratório de informática para que integrassem a exposição escolar apresentada no Dia do Folclore.

“A gente avaliou de acordo com a especificidade de cada um e, nas leituras deles, viu a riqueza que foi trabalhar com o projeto. Aluno que nunca tinha lido nada leu em voz alta a lenda para os colegas ouvirem”, lembra Deusineide.