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De: Holsten, Mark J. Civilização perdida — a conquista dos incas(Advantage Press, Nova York, 1996)

“CAPÍTULO I: AS CONSEQÜÊNCIAS DA CONQUISTA

O que devemos ter sempre em mente é que a colonização dos incas pelos conquistadores espanhóis talvez represente o maior cho-que de culturas na história da evolução humana.

De um lado estava a maior potência naval do planeta, trazendo com ela a mais avançada tecnologia de fabricação do aço da Europa. Do outro, o império mais poderoso que existiu nas Américas.

Infelizmente para os historiadores, e em grande parte devido à insa ciável sede de ouro de Francisco Pizarro e seus sanguinários conquistadores, o maior império que povoou as Américas também é o que menos conhe-cemos.

O saque do império inca por Pizarro e seu exército de carrascos em 1532 deve ser considerado um dos mais brutais registrados na história. Armados com a mais esmagadora das armas coloniais, a pólvora, os espa-nhóis abriram caminho através das aldeias e cidades incas com ‘uma falta de princípios capaz de fazer Maquiavel estremecer’, para usar as palavras de um analista do século XX.

As mulheres incas foram estupradas dentro de suas casas ou obrigadas a trabalhar em imundos bordéis improvisados. Os homens eram rotineira-mente torturados, tinham os olhos queimados com carvão incandescente ou os tendões cortados. As crianças eram enviadas às centenas para a costa e embarcadas como escravas para a Europa.

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Nas cidades, as paredes dos templos foram inteiramente despidas. Ar-tefatos de ouro e ídolos sagrados foram derretidos sem que ninguém per-guntasse sobre seu significado cultural.

Talvez a história mais famosa sobre as expedições em busca do tesouro inca seja a que narra a hercúlea jornada de Hernando Pizarro, irmão de Francisco, até a cidade litorânea de Pachacámac em busca de um ídolo len-dário. Como foi descrito por Francisco de Jérez em sua famosa obra Verda-dera relación de la conquista del Peru, as riquezas pilhadas por Hernando em sua marcha até o templo sagrado de Pachacámac (nas imediações de Lima) foram de proporções quase míticas.

Considerando o pouco que restou do império inca — os edifícios que os espanhóis não destruíram, as relíquias de ouro que os nativos con-seguiram escamotear na calada da noite —, para o historiador moderno é muito difícil reunir mais do que vestígios dessa grande civilização do passado.

O que vem à tona é um império de paradoxos.Os incas não conheciam a roda, todavia construíram o maior sistema

de estradas jamais visto nas Américas. Não sabiam como fundir o minério de ferro, no entanto sua metalurgia com outros metais, especialmente ouro e prata, era insuperável. Não possuíam nenhuma forma de escrita, mas seu sistema de registros numéricos — aglomerados de cordéis multicoloridos com nós, conhecidos como quipus — era incrivelmente preciso. Dizia-se que os quipucamayocs, os temidos coletores de impostos do império, tinham capacidade de saber se até mesmo algo tão pequeno como um sândalo estivesse faltando.

Inevitavelmente, a maior parte dos testemunhos sobre a vida cotidiana dos incas vem dos espanhóis. Como Cortez fizera no México, apenas vinte anos antes, os conquistadores do Peru levaram clérigos para difundir o Evangelho entre os indígenas pagãos. Muitos desses monges e padres vol-tariam posteriormente para a Espanha e escreveriam sobre o que tinham visto. De fato, esses manuscritos ainda podem ser encontrados em monas-térios espalhados pela Europa, datados e intactos.” [p. 12]

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De: de Jérez, FranciscoVerdadera relación de la conquista del Peru(Sevilha, 1534)

“O capitão (Hernando Pizarro) se alojou, com seus seguidores, em apo-sentos amplos numa parte da cidade. Disse que tinha vindo por ordem do governador (Francisco Pizarro) por causa do ouro do templo, que deveria ser recolhido e entregue.

Todos os dignitários da cidade e os guardiões do ídolo se reuniram e responderam que entregariam o metal, mas continuaram a dissimular e a arrumar desculpas. Finalmente, trouxeram uma pequena quantidade e afir-maram que não havia mais nada.

O capitão disse que desejava ver o ídolo que eles adoravam e foi feita sua vontade. O ídolo ficava guardado numa bela casa, pintada e decorada no habitual estilo indígena: estátuas de pedra representando felinos guar-neciam a entrada, entalhes de criaturas demoníacas, semelhantes a gatos, revestiam as paredes. No interior, o capitão encontrou uma câmara escura e fétida, no centro da qual havia um altar de pedra vazio. Durante nossa viagem tínhamos ouvido falar a respeito de um lendário ídolo que fica-va guardado num templo sagrado de Pachacámac. Os índios diziam que aquele era o deus deles, o ser que os criara e os protegia, fonte de todo o poder deles.

Mas não encontramos ídolo algum em Pachacámac. Apenas um altar vazio, numa câmara fedorenta.

Assim, o capitão ordenou que a casa-forte que abrigava o ídolo pa-gão fosse demolida e que os dignitários da cidade fossem imediatamente executados por desobediência. E deu ordens para que fizessem o mesmo com os guardiões da estátua. Depois que isso foi feito, o capitão ensinou aos habitantes muitas coisas comoventes sobre a nossa Santa Fé Católica e ensinou-lhes também o sinal-da-cruz...”

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De: The New York Times31 de dezembro de 1998, p. 12

Pesquisadores Enlouquecem com Manuscritos Raros

TOULOUSE, FRANÇA. Pesquisadores do período medieval receberam hoje um raro presente quando os monges da abadia de San Sebastian, um isolado mosteiro jesuíta nos Montes Pire-neus, abriram sua magnífica biblioteca medieval, pela primeira vez em mais de trezentos anos, para um seleto grupo de espe-cialistas leigos.

De especial interesse nessa restrita reunião de acadêmicos foi a oportunidade de ver com os próprios olhos a renomada co-leção de manuscritos da abadia, especialmente aqueles de santo Inácio de Loyola, fundador da Sociedade de Jesus.

Porém, foi a descoberta de outros manuscritos, há muito dados como perdidos, que arrancou gritos de regozijo do seleto grupo de historiadores que teve o acesso liberado à labiríntica biblioteca do mosteiro: o códice perdido de são Luís Gonzaga, ou um manuscrito até então desconhecido, que foi atribuído a são Francisco Xavier, ou o mais surpreendente de todos, um rascunho original do lendário Manuscrito de Santiago.

Escrito em 1565 por um monge espanhol chamado Alberto Luis Santiago, esse manuscrito desfruta de um status quase lendá-rio entre os historiadores da Idade Média, especialmente porque tinha sido supostamente destruído durante a Revolução Francesa.

Acredita-se que o manuscrito descreva a conquista do Peru pelos espanhóis em 1530 nos seus detalhes mais violentos e bru-tais. Mas o texto também é reputado por supostamente conter o único relato escrito (baseado nas observações diretas do autor) sobre a obsessiva caçada que um sanguinário capitão espanhol empreendeu, através das selvas e montanhas do Peru, na busca de um precioso ídolo inca.

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Porém, essa foi uma exibição para se “ver com os olhos”. Depois que o último pesquisador foi relutantemente acompa-nhado para fora da biblioteca, as maciças portas de carvalho foram lacradas com firmeza atrás dele.

Só resta esperar que não se passem mais trezentos anos antes que sejam novamente abertas.

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PRÓLOGO

Abadia de San SebastianNo alto dos Montes PireneusSexta-feira, 1o de janeiro de 1999, 3h23

O jovem monge começou a soluçar incontrolavelmente quando o cano gelado da arma foi encostado com firmeza contra sua têmpora.

Seus ombros tremiam. Lágrimas escorriam pelas bochechas.— Pelo amor de Deus, Philippe — implorou. — Se você sabe onde

está, diga para eles!O irmão Philippe de Villiers estava ajoelhado no chão do refeitório da aba-

dia com as mãos cruzadas atrás da cabeça. À sua esquerda encontrava-se ajoe-lhado o irmão Maurice Dupont, o jovem monge que tinha a arma encostada na cabeça, e, à sua direita, os outros 16 monges jesuítas que viviam na abadia de San Sebastian. Todos os 18 estavam ajoelhados, alinhados numa fila.

Diante de De Villiers, ligeiramente à esquerda, havia um homem vesti-do com um uniforme de combate preto, armado com uma pistola automá-tica Glock 18 e um fuzil de assalto Heckler & Koch G11, o fuzil automá-tico mais avançado já produzido. Naquele exato momento, a Glock estava apoiada contra a cabeça de Maurice Dupont.

Uma dúzia de homens, vestidos e armados do mesmo modo, tinha se espalhado pelo espaçoso refeitório. Todos envergavam máscaras de esqui pretas e aguardavam a resposta que Philippe de Villiers daria a uma per-gunta extremamente importante.

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— Não sei onde está — respondeu De Villiers, com os dentes cerrados.— Philippe... — vociferou Maurice Dupont.Sem aviso, a arma encostada na têmpora de Dupont foi disparada e o

tiro ecoou no silêncio do mosteiro praticamente deserto. A cabeça de Dupont explodiu como uma melancia e o sangue espirrou no rosto de Philippe de Villiers.

Fora da abadia, ninguém ouviria um disparo de arma de fogo.A abadia de San Sebastian ficava empoleirada no topo de uma mon-

tanha a cerca de 2.000 metros acima do nível do mar, escondida entre os picos nevados dos Pireneus franceses. Era “o mais perto de Deus que se podia chegar”, como gostavam de dizer alguns dos antigos monges. O vizi-nho mais próximo de San Sebastian, o Observatório do Pic du Midi, com seu famoso telescópio, ficava a quase 20 quilômetros de distância.

O homem que empunhava a Glock se aproximou do monge que esta-va à direita de Philippe de Villiers e encostou o cano da pistola na cabeça dele.

— Onde está o manuscrito? — perguntou, pela segunda vez. Tinha um forte sotaque bávaro.

— Já disse que não sei — respondeu De Villiers.Bang!O segundo monge foi jogado para trás e bateu no chão, enquanto uma

poça vermelha se expandia pelo buraco de carne recortado em sua cabeça. Por alguns segundos o corpo tremeu involuntariamente, com espasmos vio-lentíssimos, contorcendo-se no chão como um peixe que caíra do aquário.

De Villiers fechou os olhos e começou a rezar.— Onde está o manuscrito? — insistiu o alemão.— Eu não...Bang!Outro monge tombou.— Onde está?— Eu não sei!Bang!Repentinamente, a Glock fez uma volta e foi apontada diretamente

contra o rosto de De Villiers.

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— Vou perguntar pela última vez, irmão De Villiers. Onde está o Ma-nuscrito de Santiago?

De Villiers manteve os olhos fechados.— Pai nosso que estais no céu, santificado seja o vosso...O alemão pressionou o gatilho.— Espere! — gritou alguém na outra extremidade da fila.O assassino germânico se virou e viu um monge idoso levantar-se e sair

da fileira de jesuítas ajoelhados.— Por favor! Por favor! Basta, basta. Vou lhe contar onde está o ma-

nuscrito, mas antes deve prometer que não matará mais ninguém.— Onde está? — perguntou o assassino.— Venha por aqui — disse o velho monge, dirigindo-se para a biblio-

teca. O assassino o seguiu, caminhando em direção à sala contígua.Alguns instantes depois, ambos retornaram e o assassino carregava na

mão esquerda um livro grande com capa de couro.Embora De Villiers não pudesse ver o rosto dele, parecia óbvio que o ale-

mão estampava um largo sorriso por debaixo de sua máscara de esqui preta.— Agora vão embora, nos deixem em paz — disse o velho jesuíta.

— Deixem-nos enterrar os nossos mortos.O assassino pareceu refletir sobre isso por um momento. Em seguida,

virou-se e fez um gesto para seu bando.Em resposta, o pelotão ergueu simultaneamente seus fuzis G11 e abriu

fogo contra a fila de monges ajoelhados.Uma devastadora explosão de projéteis das supermetralhadoras rasgou

em tiras os monges sobreviventes. Crânios explodiram e pedaços de carne foram arrancados diretamente dos corpos dos religiosos fuzilados pela po-derosa artilharia.

Em questão de segundos todos os jesuítas estavam mortos, todos exce-to um: o monge idoso que tinha entregado o manuscrito para os alemães. Estava sozinho, parado sobre a poça formada pelo sangue de seus confra-des, encarando seus algozes.

O chefe dos assassinos deu um passo à frente e apontou a Glock para a cabeça do ancião.

— Quem são vocês? — perguntou o religioso, num tom desafiador.

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— Somos a Schutzstaffel der Totenkopfverbände — respondeu o ale-mão.

O monge arregalou os olhos.— Meu bom Deus... — suspirou.O assassino sorriu.— Nem mesmo Ele pode salvá-lo agora.Bang!A Glock foi disparada pela última vez e o bando deixou o mosteiro,

desaparecendo na noite.Passou um minuto, depois outro.A abadia estava imersa no silêncio.Os corpos de 18 religiosos jesuítas jaziam no chão banhados de sangue.Os assassinos não o viram.Encontrava-se bem acima deles, escondido dentro do teto do enorme

refeitório. Estava numa espécie de galeria, um sótão separado do refeitório por uma tênue parede revestida de painéis de madeira. Os painéis eram tão velhos e ressecados que os sulcos entre um e outro eram enormes.

Caso os assassinos tivessem observado mais atentamente, teriam per-cebido através de um daqueles sulcos, piscando de medo, os olhos de um homem.

3701 North Fairfax Drive, Arlington, VirgíniaEscritórios da Agência de Pesquisa para Projetos Avançados da Defesa (DARPA)Segunda-feira, 4 de janeiro de 1999, 5h50

Os ladrões se moviam com rapidez. Sabiam exatamente aonde estavam indo.

Tinham escolhido a hora perfeita para o ataque: 5h50. Dez minutos antes do fim do turno dos guardas da noite. Dez minutos antes que os guardas do turno da manhã batessem o ponto. Os guardas noturnos esta-riam cansados e de olho no relógio, ansiosos para voltar para casa. Era o momento de maior vulnerabilidade.

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O número 3701 da North Fairfax Drive, um edifício de tijolos verme-lhos com oito andares, localizado bem em frente à estação de metrô Virgi-nia Square, em Arlington, na Virgínia, abrigava os escritórios da DARPA, a divisão de pesquisa e desenvolvimento mais avançada do Departamento de Defesa do governos dos Estados Unidos.

Os ladrões corriam através dos corredores, sob uma luz esbranquiçada, mantendo suas submetralhadoras MP5, equipadas com silenciadores, bem erguidas, ao estilo da Força de Operações Especiais da Marinha, os SEAL, com as coronhas dobráveis firmemente apoiadas nos ombros e olhando através das alças de mira em busca de alvos.

Uma silenciosa tempestade de projéteis abateu mais um segurança, o 17º. Sem pestanejar, os ladrões pularam por cima do corpo e seguiram em direção à caixa-forte. Um deles inseriu a chave magnética enquanto outro empurrava a enorme porta hidráulica.

Encontravam-se no terceiro andar do edifício, depois de desativarem por sete controles de segurança de grau 5, o que tinha requerido quatro chaves magnéticas diferentes e seis códigos alfanuméricos. Tinham entrado no prédio pela área subterrânea de carga e descarga, escondidos no interior de um furgão cuja chegada era aguardada. Os guardas do portão subter-râneo tinham sido os primeiros a morrer. Logo em seguida foi a vez dos motoristas do furgão.

Já no terceiro andar, os ladrões não tinham parado um único instante.Entraram na caixa-forte em rápida sucessão: um enorme laboratório

circundado por paredes de porcelana com 15 centímetros de espessura. Na parte externa desse casulo havia outra parede de segurança, revestida de chumbo e com pelo menos 30 centímetros de espessura. Não era por acaso que os funcionários da DARPA chamavam essa sala de “caixa-forte”. On-das de rádio não passavam por suas paredes. Era imune a dispositivos dire-cionais de escuta. Tratava-se da instalação mais segura do edifício.

Era a instalação mais segura do edifício.Os ladrões se espalharam assim que entraram no laboratório.Silêncio.Como no interior de um útero.E então, ficaram repentinamente paralisados.

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A recompensa estava diante deles, ocupando um lugar de destaque no centro do laboratório.

Não era muito grande, a despeito do que poderia fazer.Tinha cerca de 1,80 m de altura e parecia uma ampulheta gigante:

dois cones — o inferior apontado para cima e o superior apontado para baixo — separados por uma pequena câmara de titânio, que resguardava o núcleo da arma.

Uma coleção de fios coloridos projetava-se para fora da câmara de ti-tânio no centro do artefato, sendo que a maior parte deles desaparecia no teclado de um laptop toscamente fixado na parte da frente.

A pequena câmara de titânio estava vazia.Até aquele momento.Os ladrões não perderam tempo. Removeram o artefato inteiro de seu

gerador de energia e o colocaram rapidamente dentro de uma bolsa a tira-colo feita sob medida.

Em seguida, começaram a se movimentar novamente. Porta afora. Su-bindo o corredor. Esquerda e depois direita. Esquerda e depois direita. Atra-vessaram aquele bem iluminado labirinto governamental saltando sobre os corpos dos homens que tinham matado ao longo do caminho. Num intervalo de noventa segundos estavam novamente na garagem subterrâ-nea, onde todos se amontoaram de volta dentro do furgão, junto com a recompensa. Assim que o último homem colocou os pés a bordo, os pneus cantaram no concreto e o pesado veículo arrancou da área de carga e des-carga, desaparecendo na noite.

O líder do grupo consultou seu relógio.Eram 5h59.Toda a operação tinha durado nove minutos.Nem mais, nem menos.

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PRIMEIRA CONSPIRAÇÃOSegunda-feira, 4 de janeiro, 09h10

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William Race estava atrasado para o trabalho. De novo.Tinha dormido demais, o metrô tinha demorado e agora

eram 9h10, e ele chegaria tarde à conferência da manhã. O es-critório de Race na Universidade de Nova York ficava no terceiro andar do velho edifício Delaware. O prédio tinha um antiquado elevador de fer-ro forjado, que se deslocava na velocidade de uma lesma. Era mais rápido subir pelas escadas.

Aos 31 anos, Race era um dos mais jovens membros do corpo docen-te do Departamento de Línguas Antigas da Universidade de Nova York. Tinha altura mediana, cerca de 1,75m e era bem-apessoado, mas de um modo despretensioso. Tinha cabelos castanho-claros e um físico esguio. Um par de óculos com armação de metal emoldurava seus olhos azuis e uma marca de nascença fora do comum, um sinal marrom em forma de triângulo, situava-se bem abaixo do olho esquerdo.

Race subiu correndo as escadas com milhares de pensamentos simul-tâneos passando por sua mente: a aula que estava para ministrar sobre a obra do historiador romano Lívio, a multa por estacionamento irregular do mês passado que ainda tinha de pagar e o artigo que lera no New York Times naquela manhã, contando como o fato de 85 por cento das pessoas escolherem suas senhas bancárias baseadas em datas significativas, como a de nascimento e outras do gênero, facilitava aos ladrões de carteiras, que levavam não só os cartões de banco, como a carteira de motorista, onde constava a data de nascimento da vítima. Isso estava tornando cada vez mais fácil a invasão de contas bancárias. Mas que droga, pensou Race, teria de trocar a sua senha.

Chegou ao topo das escadas e seguiu apressado pelo corredor.Mas parou logo em seguida.

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Havia dois homens à sua frente.Soldados.Trajavam uniforme de combate completo: capacetes, coletes à prova de

balas, fuzis M16 e tudo a que tinham direito. Um deles estava parado no meio do corredor, mais próximo a Race. O outro, mais distante, mantinha posição de sentido diante da porta de sua sala. Não podiam parecer mais inadequados: soldados em uma universidade.

Os dois homens tinham se voltado instantaneamente assim que o vi-ram surgir do vão das escadas. Por algum motivo, Race subitamente se sentiu inferior na presença deles, de certa forma indigno, indisciplinado. Sentiu-se estúpido usando um paletó esportivo comprado na Macy’s, calça jeans e gravata, e carregando uma muda de roupa, para a partida de beise-bol que disputaria na hora do almoço, dentro de uma velha e surrada bolsa esportiva Nike.

À medida que se aproximava do primeiro soldado, Race olhava-o de cima a baixo, reparando no fuzil preto em suas mãos, na boina de veludo verde inclinada na cabeça e no distintivo em forma de meia-lua no ombro, no qual se lia: FORÇAS ESPECIAIS.

— Bem, olá. Sou William Race. Eu...— Tudo bem, professor Race. Por favor, siga adiante. Estão aguardando.Race continuou a descer pelo corredor até o segundo soldado. Era mais

alto e mais forte do que o primeiro. Na verdade era enorme, um verdadeiro armário, com pelo menos 1,95m de altura, um rosto bonito com traços de-licados, cabelos escuros e olhos castanhos estreitos, que não deixavam esca-par nada. O distintivo bordado no bolso do uniforme dizia VAN LEWEN. As três divisas no colarinho indicavam que era um sargento.

Os olhos de Race deslizaram para o fuzil M16. Montado sobre o cano havia uma moderníssima mira a laser PAC-4C e, fixado na parte de baixo, um lançador de granadas M203. Não era brincadeira.

O soldado imediatamente deu um passo para o lado, permitindo que Race entrasse em seu próprio escritório.

O Dr. John Bernstein estava sentado na poltrona de couro com espal-dar alto atrás da escrivaninha de Race, e parecia muito à vontade. Com 59 anos e cabelos brancos, Bernstein era o diretor do Departamento de

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Línguas Antigas da Universidade de Nova York, portanto era o chefe de Race.

Havia mais três homens na sala.Dois soldados e um civil.Os soldados estavam vestidos e armados como os sentinelas no lado de

fora: uniformes, capacetes, fuzis M16 com mira a laser. Ambos pareciam gozar de excelente forma física. Um aparentava ser um pouco mais velho do que o outro. Segurava o capacete de modo formal, calçado entre o co-tovelo e as costelas, e tinha os cabelos pretos cortados tão curtos que mal chegavam na testa. Os cabelos castanho-claros de Race caíam constante-mente sobre seus olhos.

O terceiro desconhecido na sala, o civil, estava sentado na cadeira de visitantes diante de Bernstein. Era um homem grande, com uma enorme caixa torácica, que vestia camisa de mangas curtas e calças. Tinha um nariz de pug e traços escuros bem marcados, atenuados pela idade e pela respon-sabilidade. Sentava-se com a autoconfiança de quem estava acostumado a ser obedecido.

Race teve a nítida impressão de que estavam esperando em sua sala há bastante tempo.

Esperando pela chegada dele.— Will! — exclamou Bernstein, contornando a escrivaninha e indo

apertar-lhe a mão. — Bom-dia. Vamos, entre. Gostaria de lhe apresentar uma pessoa. Professor William Race, este é o coronel Frank Nash.

O corpulento civil lhe estendeu a mão. Um aperto robusto.— Coronel reformado. Prazer em conhecê-lo — disse o militar, es-

tudando-o da cabeça aos pés. Em seguida apontou para os dois soldados. — Estes são o capitão Scott e o sargento Cochrane, das Forças Especiais do exército dos Estados Unidos.

— Boinas-verdes — sussurrou Bernstein de forma respeitosa no ouvi-do de Race.

Em seguida, Bernstein pigarreou.— O coronel, bem, quero dizer o Dr. Nash pertence ao Departa-

mento de Tecnologia Tática da DARPA. Veio até aqui em busca de nossa ajuda.

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Frank Nash entregou a Race sua carteira de identidade. Race viu a fo-tografia de Nash abaixo do logotipo vermelho da DARPA e um conjunto de números e códigos na parte de baixo. Uma faixa magnética percorria horizontalmente um dos lados do cartão e debaixo da foto estava escrito: frank k. nash, exército dos eua, col. (ref). Uma carteira realmente im-pressionante. Só faltava gritar: pessoa importante.

Legal, pensou Race.Já tinha ouvido falar na DARPA. Era o braço de pesquisa e desenvolvi-

mento mais importante do Departamento de Defesa e a agência que tinha inventado a Arpanet, a precursora da Internet para fins exclusivamente militares. A DARPA também era famosa por ter participado do projeto Have Blue, nos anos 1970, um programa ultra-secreto da força aérea que resultou na construção do caça F-117 Stealth, uma aeronave invisível aos radares.

De fato, verdade seja dita, Race sabia um pouco mais a respeito da DARPA do que a maioria das pessoas pelo simples fato de seu irmão, Mar-tin, trabalhar na agência como engenheiro projetista.

Basicamente, a DARPA trabalhava em cooperação com as três armas das forças armadas americanas — exército, marinha e força aérea —, de-senvolvendo aplicativos militares de alta tecnologia adequados às necessi-dades de cada uma: tecnologia stealth para a força aérea, coletes de proteção de altíssima resistência para o exército. Em todo caso, a reputação da DAR-PA era tanta, que seus feitos freqüentemente se transformavam em lendas urbanas. Dizia-se, por exemplo, que a agência tinha acabado de aperfeiçoar a J-7, a lendária mochila em forma de “A” equipada com foguete e que cedo ou tarde substituiria o pára-quedas, ainda que isso jamais tivesse sido confirmado.

O Departamento de Tecnologia Tática era o mais avançado do arsenal da DARPA, a jóia da coroa. Era a divisão encarregada de desenvolver as coisas grandes: armamentos estratégicos de alto risco e alto resultado.

Race tentou imaginar o que o Departamento de Tecnologia Tática podia querer no departamento de línguas antigas da Universidade de Nova York.

— Vocês precisam de alguma coisa? — perguntou Race, levantando os olhos da carteira de identidade de Nash.

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— Bem, na verdade, precisamos de você.De mim, pensou Race. Ensinava línguas antigas, sobretudo latim clás-

sico e medieval, e também um pouco de francês, espanhol e alemão. Não conseguia pensar numa única coisa em que pudesse ser útil para a DARPA.

— Em que posso ajudar? — perguntou.— Numa tradução. A tradução de um manuscrito. Um manuscrito

escrito em latim há quatrocentos anos.— Um manuscrito... — repetiu Race. Esse tipo de pedido não era

incomum. Freqüentemente lhe pediam para traduzir manuscritos medie-vais. O pedido tornava-se insólito, porém, quando era feito na presença de comandos armados.

— Professor Race — continuou Nash —, a tradução do documento em questão é um problema de urgência máxima. De fato, este nem mesmo se encontra nos Estados Unidos. Está a caminho enquanto conversamos. O que estamos pedindo é que você o receba no aeroporto de Newark e trabalhe na tradução enquanto nos deslocamos para o nosso destino.

— Para o nosso destino? — perguntou Race. — Onde?— Sinto muito, mas por ora não posso revelar essa informação.Race estava prestes a argumentar quando a porta foi repentinamente

aberta e outro boina-verde entrou na sala. Carregava um rádio portátil nas costas e aproximou-se velozmente de Nash, passando a sussurrar em seu ouvido. Race pôde ouvir as palavras: “recebeu ordens de mobilização”.

— Quando? — perguntou Nash.— Há dez minutos — sussurrou o soldado em resposta.Nash consultou rapidamente seu relógio.— Droga.Voltou-se na direção de Race.— Professor Race, não temos muito tempo, por isso vou direto ao

assunto. Trata-se de uma missão extremamente importante, uma missão que afeta seriamente a segurança nacional. Mas a missão tem uma janela de oportunidade muito reduzida. Temos de agir agora. Mas para que isso aconteça, preciso de um tradutor. Um tradutor de latim medieval. Você.

— Mas quando?— Tenho um carro esperando aqui na porta.

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Race podia sentir todos os olhos voltados em sua direção. Subitamente ficou nervoso com a idéia de viajar para um destino desconhecido com Frank Nash e uma equipe de boinas-verdes armados até os dentes. Tinha a impressão de estar sendo forçado a aceitar.

— Por que não procura o Ed Devereux, de Harvard? — disse. — É muito mais preparado do que eu em latim medieval. Seria mais rápido.

Nash disse:— Não precisa ser o melhor e nem tenho tempo para ir até Boston. Foi

seu irmão quem falou a seu respeito. Disse que você era bom e que estava em Nova York. E, falando fracamente, isso é tudo de que preciso. Tenho necessidade de alguém que esteja por perto e que possa fazer o trabalho imediatamente.

Race mordeu o lábio.Nash recomeçou:— Vamos ter um guarda-costas para cuidar de você durante toda a mis-

são. Vamos pegar o manuscrito em Newark em mais ou menos meia hora e entraremos num avião poucos minutos depois. Caso tudo corra bem, vai ter acabado a tradução quando aterrissarmos. Você não vai ter nem mesmo que desembarcar da aeronave. Mas caso isso venha a acontecer, vamos ter uma equipe de boinas-verdes tomando conta de você.

Race franziu o cenho.— Professor Race, você não vai ser o único acadêmico nessa missão.

Também vão estar presentes Walter Chambers, de Stanford; Gabriela Lo-pez, de Princeton; Lauren O’Connor, de...

Lauren O’Connor, pensou Race.Não ouvia aquele nome há anos.Race tinha conhecido Lauren nos tempos de faculdade, na Universi-

dade do Sul da Califórnia. Ele estudava línguas, enquanto ela cursava física teórica. Tinham saído juntos durante algum tempo, mas a história acabou mal. Na última vez que tivera notícias a seu respeito, ela estava trabalhando no departamento de física nuclear do Livermore Labs.

Race olhou para Nash. Perguntou-se quanto ele sabia a respeito do re-lacionamento dos dois, perguntou-se se o nome de Lauren não tinha sido citado de propósito.

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Caso tivesse sido, tinha funcionado.Tudo podia ser dito a respeito de Lauren, menos que não era esperta.

Jamais embarcaria numa missão desse gênero sem uma boa razão. O fato de ter aceitado tomar parte na aventura de Nash dava-lhe credibilidade imediata.

— Professor, você vai ser muito bem recompensado pelo seu tempo.— Não se trata disso...— Seu irmão também vai participar da equipe — continuou Nash,

pegando-o de surpresa. — Ele não virá conosco, mas vai trabalhar com um grupo de técnicos em nossos escritórios na Virgínia.

Marty, pensou Race. Fazia um bom tempo que não o via, desde a época que seus pais tinham se divorciado, há nove anos. Mas se Marty também estivesse envolvido, então talvez...

— Sinto muito, professor Race, mas temos de ir. Temos que partir agora. Preciso de uma resposta.

— Will — John Bernstein interveio —, essa poderia ser uma excelente oportunidade para a universidade...

Race olhou atravessado para o chefe, interrompendo-o.— Você disse que se trata de uma questão de segurança nacional?— Correto.— E não pode me dizer para onde vamos.— Não até estarmos a bordo da aeronave. Então poderei lhe contar

tudo.E vou ter um guarda-costas, pensou Race. Normalmente só se tem

necessidade de um guarda-costas quando há um assassino à espreita.O oficial permanecia em silêncio.Race podia sentir que todos aguardavam por sua resposta.Suspirou. Não conseguia acreditar naquilo que estava prestes a dizer.— Tudo bem — disse ele. — Estou dentro.

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