INTEGRAÇÃO ENTRE PRODUÇÃO E SEGURANÇA NA CONSTRUÇÃO CIVIL...
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INTEGRAÇÃO ENTRE PRODUÇÃO E
SEGURANÇA NA CONSTRUÇÃO CIVIL:
CRIANDO SITUAÇÕES DE TRABALHO
SEGURAS PELA ANTECIPAÇÃO DE
CONFLITOS DE PROJETO
Eduardo Diniz Fonseca (FUNDACENTRO)
Francisco de Paula Antunes Lima (UFMG)
Francisco Jose de Castro Moura Duarte (UFRJ)
Apesar da difusão de programas e ações de segurança, os canteiros de
obras da construção civil ainda são considerados locais perigosos e
com pouca qualidade de vida para os trabalhadores. A persistência de
taxas elevadas de acidentes parecee colocar em questão não a falta de
ações de prevenção, mas sim a adequação das ações propostas à
realidade da construção civil. Os resultados deste artigo são frutos de
uma pesquisa que está sendo desenvolvida na UFRJ (Universidade
Federal do Rio de Janeiro), que gerará tese de doutorado, sobre
projeto para segurança na construção civil, subsetor de edificações no
Brasil. Duas são as construtoras pesquisadas, denominadas de
construtoras A e B. Tendo como fundamento os relatos e/ou narrativas
dos “eventos” marcantes na vida do canteiro, durante a pesquisa de
campo foi possível categorizar e destacar 23 casos com implicações
para o processo de produção do empreendimento. Os casos foram
selecionados com base na importância que se verificou ter o evento (os
casos) para os gestores do canteiro (engenheiro de obras, mestre-de-
obras, encarregados, técnico de segurança etc.) e/ou atores da
execução (trabalhadores), quando da nossa participação como
observador participante, durante o processo de produção das
edificações. Os resultados demonstram que a integração entre
produção e segurança é possível por meio de antecipações que
ocorrem em diversos níveis, da elaboração dos projetos (em especial
nos momentos de compatibilização) à definição de procedimentos de
execução e de instalação de apoio no canteiro de obras. a experiência
do coletivo de trabalho no canteiro (em especial, o engenheiro de
obras, o encarregado e o mestre de obras) permite antecipar
problemas nesses três níveis e propor soluções que são realizadas em
situações de trabalho seguras. Quando, por alguma razão, problemas
de execução não são antecipados ou soluções vindas do canteiro não
são acolhidas, geram-se consequências negativas para a produção e
para a segurança (retrabalho, riscos de acidentes, riscos à saúde,
XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no
Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.
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atrasos na produção, dificuldades de execução do serviço etc.) que
explicam, em parte, a elevada taxa de acidentes e agravos à saúde na
construção civil.
Palavras-chaves: Gestão de projeto, compatibilização de projetos,
projeto para segurança, segurança no canteiro, construção civil.
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1. Introdução
Apesar da difusão de programas e ações de segurança, os canteiros de obras da construção
civil ainda são considerados locais perigosos e com pouca qualidade de vida para os
trabalhadores. Dada a persistência de elevadas taxas de acidentes neste setor, o projeto para a
segurança, isto é, a integração da segurança à produção por meio do projeto de situações de
trabalho seguras é uma exigência ainda atual, que não consegue se efetivar. Para reverter esse
quadro, o entendimento predominante é de que muitos dos acidentes podem ser evitados com
a devida obediência às normas, especificamente com a implantação de programas de
prevenção, entre os quais se destacam, no Brasil, o Programa de Condições e Meio Ambiente
do Trabalho na Indústria da Construção (PCMAT), exigido pela NR18, e na Europa, o Plano
de Segurança e Saúde na Construção.
Recentemente surgiu a Norma Occupational Health and Safety Assessment Services (OHSAS,
publicada oficialmente pela British Standards Institution, em vigor desde 15/04/1999) 18001,
desenvolvida para ser compatível com as normas de sistema de gestão ISO 9001 (Qualidade)
e com a ISO 14001 (Ambiental), a fim de servir de ferramenta para a integração dos Sistemas
de Gestão da Qualidade, Ambiental e da Saúde e Segurança Ocupacional (SSO). Dessa forma,
a busca pela integração entre produção e segurança passa a ser o mais novo discurso nos
canteiros de obras para a melhoria do gerenciamento da segurança e saúde no trabalho, a
exemplo dos sistemas de segurança já implementados em outros setores, especialmente na
indústria de processos contínuos. Nesse sentido, verifica-se que os modelos de prevenção nos
canteiros se baseiam em treinamentos, EPI’s e EPC’s, normas (NR-18, PCMAT), análises de
riscos, DDS (Diálogos Diários de Segurança) etc., procedimentos e ações que são comuns em
setores industriais em que as ações de prevenção estão mais avançadas.
Entretanto, como explicar a persistência das elevadas taxas de acidentes no setor, embora
esses fatores (treinamentos, EPI’s, EPC’s, PCMAT etc.) estejam, geralmente, presentes na
maioria dos canteiros de obras, alguns, inclusive, por exigência de leis ou normas? Falta ainda
na construção civil a implementação de técnicas ou programas de prevenção mais
aperfeiçoados? A construção civil estaria relativamente atrasada em relação à indústria? Ou,
dada a especificidade desse setor, que ainda permanece semiartesanal, a prevenção seria
limitada e os perigos e riscos seriam inerentes a esse tipo de produção?
A persistência de taxas elevadas de acidentes parece colocar em questão não a falta de ações
de prevenção, mas sim a adequação das ações propostas à realidade da construção civil. A
segurança parece ser ainda externa, como se não existisse, de fato, uma integração entre
segurança e produção. Apesar de existirem procedimentos e sistemas de prevenção tão
diversificados quanto no setor industrial, as situações de trabalho na construção civil se
diferenciam profundamente das de outros setores. Por “situação de trabalho” compreende-se
um conjunto de condições materiais e imateriais que vão além da noção tradicional de “posto
de trabalho”: aspectos materiais (ambientes, instrumentos, organização do espaço, materiais e
produtos etc.); aspectos organizacionais (planejamento, cronograma, controle, equipe,
organização do trabalho); e aspectos intersubjetivos e subjetivos (poder e hierarquia,
avaliação do risco/percepção/estratégias, competências individuais e coletivas, experiência
etc.). Na construção civil, a organização da produção não incorpora de modo imanente a
segurança: não se projetam situações de trabalho integrando produção, saúde e segurança.
Demonstraremos, neste artigo, que a integração entre produção e segurança é possível por
meio de antecipações que ocorrem em diversos níveis, da elaboração dos projetos (em
especial nos momentos de compatibilização) à definição de procedimentos de execução e de
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instalação de apoio no canteiro de obras. A contribuição teórica e prática desse estudo pode
ser representada em um modelo dos três níveis de antecipação de problemas existentes
durante o processo de produção de uma edificação (Esquema 1):
1º nível (projeto): corresponde à fase na qual o empreendimento está sendo desenvolvido,
quando a direção, o projetista e o engenheiro de obras (em alguns casos) se confrontam na
análise dos projetos executivos em detalhamento;
2º nível (canteiro): é aquele em que o engenheiro de obras e o quadro de gestão do canteiro
(mestre-de-obras e/ou encarregados) se confrontam na análise dos projetos, podendo ou
não detectar o problema. Se detectado, pode ocorrer, também, de ser ou não solucionado;
3º nível (execução): é a fase na qual o quadro de gestão do canteiro (mestre-de-obras e/ou
encarregados) recebe o projeto do engenheiro de obras, para início da execução dos
serviços. É o nível no qual o quadro de gestão e os atores da execução se confrontam na
análise dos projetos, podendo ou não o quadro de gestão participar do projeto da situação
de trabalho. Esquema 1 – Níveis de antecipação
Esses níveis de antecipação existem para, de forma top down, procurar garantir que os
projetos sejam executados conforme concebidos. Entretanto, as singularidades do processo de
projeto na construção civil (processo de produção semiartesanal, processo de produção por
projeto, alta variabilidade) contribuem para que as dificuldades para detecção dos problemas a
priori sejam mais elevadas do que nos demais setores industriais.
Nesse contexto, a nossa hipótese é que a experiência do coletivo de trabalho no canteiro (em
especial, o engenheiro de obras, o encarregado e o mestre de obras) permite antecipar
problemas nesses três níveis e propor soluções que são realizadas em situações de trabalho
seguras. Quando, por alguma razão, problemas de execução não são antecipados ou soluções
vindas do canteiro não são acolhidas, geram-se consequências negativas para a produção e
para a segurança (retrabalho, riscos de acidentes, riscos à saúde, atrasos na produção,
dificuldades de execução do serviço etc.) que explicam, em parte, a elevada taxa de acidentes
e agravos à saúde na construção civil.
Dessa forma, espera-se contribuir para a discussão sobre prevenção por meio do projeto,
ampliando as escolhas dos modelos de gestão mais próximos das práticas efetivas, portanto
também mais efetivos quanto à segurança. Nesse sentido, o modelo de antecipação em três
níveis (Esquema 1) foi elaborado a partir da realidade do canteiro de obras, considerando a
atividade real do engenheiro de obras. Esse é também o limite do modelo, cujas respostas aos
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problemas detectados não alcançam o ponto de vista da hierarquia superior ao engenheiro de
obras. Para tratar este tema, apresentamos a proposta de projeto para segurança com base no
conceito de construtibilidade desenvolvida por autores da área de gestão de projetos (item 2).
No item 3, são apresentados os conceitos de prevenção por meio de projeto, cujo princípio de
base é a consideração da segurança do trabalhador desde a fase de projeto da edificação. A
partir de um estudo de caso que evidenciou diversas situações de risco (item 4), mostramos os
limites dessas abordagens descendentes e demonstramos a pertinência do modelo de
antecipação em três níveis (item 5).
2. Gestão de projeto: formalização dos projetos e improvisação no canteiro
A atividade construtiva, desde a Antiguidade, apresenta certa complexidade. Desde a época já
havia separação entre concepção e execução, e era grande a concentração de pessoas na tarefa
de edificar e algumas poucas na atividade de projetar; portanto, prematuramente já se
apresentava a separação entre concepção e execução (VARGAS, 1979). Essa divisão técnica
do trabalho, para o autor, possibilitou uma aplicação rápida dos conhecimentos científicos no
setor, acentuada a partir do século XVII, com o surgimento das leis da estática. Para Vargas
(1979), esse avanço científico da atividade projetual não foi seguido, com a mesma
intensidade, pela produção. Não existindo uma íntima união entre a atividade intelectual e a
manual, o trabalho encontra-se bastante desqualificado e parcelado, restando ao trabalhador
somente o conhecimento de uma pequena parte da obra (VARGAS, 1979).
Com efeito, no setor da construção civil imagina-se que as competências necessárias se
limitam à simples aplicação técnica de como fazer uma fôrma, enquanto, na realidade, elas se
desenvolverão inseridas em um contexto de imposições feitas ao trabalhador no
desenvolvimento de sua tarefa. Nos canteiros de obra, a transmissão de conhecimento durante
a labuta é ainda a forma predominante de aprendizagem: “A carreira começa pelo posto de
servente, passando depois para ajudante e oficial” (VARGAS, 1979, p. 87). A formação
profissional é o resultado de experiências acumuladas diretamente no processo produtivo,
portanto, consequência da sua participação em outras obras e na obra em questão (MORAES,
1986).
Em tempos mais recentes, com o advento do movimento da qualidade na construção civil,
Melhado (1994) propõe e discute a implementação de uma nova metodologia para o
desenvolvimento de projeto de edifícios. Em sua proposta, cita que o projeto deve ser capaz
de subsidiar as atividades de produção em canteiros de obras com informações que
possibilitem elaborar um planejamento e uma programação eficiente. Sendo ele um elemento
essencial para a gestão de um canteiro de obras, é necessário ser visto sob a ótica da atividade
de construir: “A atividade de projeto não cessa quando da entrega do projeto à obra.”
(MELHADO, 1994, p. 177).
Com o objetivo de harmonizar as necessidades de concepção do produto e do processo,
durante o processo de construção de uma edificação, a construtibilidade incita a pensar o
modo de executar o empreendimento com uma mentalidade industrial (MELHADO, 1994).
Para Melhado (1994, p. 118), construtibilidade pode ser definida em termos gerais como uma
qualidade de algo fácil de ser construído, característica esta, segundo o autor, que deve ser
alcançada com o emprego de soluções simples e eficazes, procurando-se maior definição e
controle sobre as operações de execução. Assim, para se atingir níveis elevados de exigência
quanto à qualidade e à produtividade em um canteiro de obras, é necessário um projeto
direcionado à etapa de execução, que forneça diretrizes para as etapas de realização dos
trabalhos na fase de execução do produto final, um projeto para a produção, definido como
um:
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Conjunto de elementos de projeto elaborados de forma simultânea ao detalhamento do projeto executivo,
para utilização no âmbito das atividades de produção em obra, contendo as definições de: disposição e
sequência das atividades de obra e frentes de serviço; uso de equipamentos; arranjo e evolução do
canteiro; entre outros itens vinculados às características e recursos próprios da empresa construtora (Melhado, 1994, p. 196-197).
Os estudos sobre gestão de projetos, ao apontarem a necessidade de se garantir o fluxo de
informação entre projeto e execução, de estudar o projeto sob um ponto de vista de
construtor, têm como pano de fundo em suas propostas a busca por “antecipar no papel o ato
de construir” (MELHADO, 1994, p. 4). A realidade do canteiro é considerada, mas, aqui,
ainda sob a racionalidade formal do projeto que tem a pretensão de antecipar as atividades
futuras e determinar procedimentos fáceis de execução. Até que ponto essa proposta é factível
veremos com as análises empíricas do estudo de caso. A prevenção por meio do projeto
avança em relação à noção de construtibilidade ao focar exclusivamente a segurança dos
trabalhadores.
3. Prevenção por meio do projeto
A fim de melhorar a segurança nos locais de construção e que vem ganhando suporte na
indústria da construção, é o conceito de projetar para a segurança dos trabalhadores na fase de
projeto (GAMBATESE et al., 2005). Tradicionalmente, profissionais de projeto procuram
projetar edifícios e outras instalações visando garantir a segurança dos ocupantes, procurando
atender às necessidades funcionais, a níveis da qualidade esperada (TOOLE and
GAMBATESE, 2008). A prevenção na construção por meio do projeto consiste num processo
no qual os projetistas (engenheiros e arquitetos), explicitamente, consideram a segurança do
trabalhador da construção durante a fase de projeto (TOOLE and GAMBATESE, 2008). Os
trabalhadores da construção civil são os primeiros inquilinos do novo projeto, mas somente
irão ocupá-lo até que a obra seja concluída; assim, sendo sua presença no edifício temporária,
a segurança do trabalhador da construção é muitas vezes deixada para os executantes
(SZYMBERSKI, 1997).
Consequentemente, pensar na prevenção por meio do projeto é pensar o projeto com outro
aspecto de construtibilidade, é garantir que a obra possa ser construída com segurança, bem
como atender aos custos, cronograma e metas de qualidade (TOOLE and GAMBATESE,
2008). Para esses autores, adicionam-se os novos critérios de projetos para arquitetos e
engenheiros; os projetos passariam a alertar os construtores sobre os riscos inevitáveis.
Revisando estudos sobre prevenção por meio do projeto, que se propõem a extrair lições a
serem aprendidas por projetistas e suprir lacunas existentes nos conhecimentos sobre o
processo de projeto e sua contribuição para a segurança, HALE et al. (2007) sublinham que a
maioria dos estudos partem do ponto de vista do especialista em segurança e de fatores
humanos. Apenas alguns poucos são escritos a partir do ponto de vista do projetista ou da
equipe de projeto – as pessoas que, enfim, realizam a difícil tarefa de alcançar essa melhoria.
Mesmo assim, embora se expressem positivos incentivos para se dar atenção à segurança no
processo de projeto, é necessário, também, que sejam reconhecidas suas limitações, pois
existem situações que não podem ser prognosticadas na fase de projeto (Hale et al. (2007).
Segundo os mesmos autores, a incapacidade de prever a variedade de influências no ambiente
de uso é a causa de um número significativo de problemas de segurança que não poderiam ser
resolvidos na fase de projetos.
Portanto, para projetar para a segurança dos trabalhadores não basta ampliar o projeto da obra,
incluindo critérios de construtibilidade ou especificamente de segurança; é necessário focar as
análises, também, nas experiências dos atores da execução, na realidade do trabalho durante o
processo de produção de uma edificação. “Elas necessitam ser registradas e, se necessário,
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atualizadas com base no retorno dos usuários com as experiências de acidentes” (HALE et al.,
2007, p. 316). Ao final do seu estudo, HALE et al. (2007) sublinham que são necessários
métodos de análises de risco que sejam melhores do que os apresentados até hoje, que apoiem
os projetistas com a classificação de questões sob o ponto de vista físico e comportamental e,
assim, mudem as suposições e escolhas do modelos tradicionais de projeto.
4. Metodologia
Para alcançar o objetivo proposto, este artigo se baseia nos resultados de uma pesquisa sobre
projeto para segurança na construção civil, subsetor de edificações. Duas são as construtoras
pesquisadas, denominadas de construtoras A e B. As duas construtoras possuem algumas
características semelhantes, são empresas familiares, de porte médio para grande, que atuam
na área de incorporação e construção de obras de edificações de alto padrão de acabamento.
Na construtora A, foram analisadas duas obras: AI (16 unidades habitacionais unifamiliares,
com 4.316,93m2 de área construída) e AII (36 unidades habitacionais unifamiliares, com
8.650,95m2 de área construída). Na construtora B, apenas a obra BI, de 37.596,24 m
2 de área
construída e 18.348,09 m2 de área de lote, com 9 pavimentos de salas comerciais,
O foco dessa pesquisa é a experiência individual e coletiva dos engenheiros, encarregados e
mestres de obras, acumulada com a vivência das situações de trabalho nos canteiros. Para
evidenciar a dimensão coletiva dessa experiência, recorreu-se à análise da atividade dos atores
do quadro de gestão do canteiro, principalmente do engenheiro de obras, o gerente
intermediário: “A partir da análise da atividade de trabalho do chefe da oficina, busca-se
compreender o modos operatórios, as estratégias de regulação colocadas em prática para a
condução do processo de produção” (MASCIA, 1994). A análise da atividade de trabalho
permite conhecer o contexto onde o trabalho é realizado (GUÉRIN, F. et al., 2001).
Esta pesquisa iniciou-se em março de 2009, no canteiro da obra da construtora A, obra AI. As
observações foram feitas, sistematicamente, nos três primeiros meses de observação, durante
três vezes na semana. Posteriormente, após verificar-se que na jornada da manhã aconteciam a
resolução dos problemas, as observações concentraram-se nesse período. As visitas também
não eram mais sistemáticas, variavam de uma a três vezes por semana. E, dependendo do
contexto das atividades do dia, se fazia a observação de uma jornada inteira das atividades no
canteiro.
Tendo como fundamento os relatos e/ou narrativas dos “eventos1” marcantes na vida do
canteiro, durante a pesquisa de campo foi possível categorizar e destacar 23 casos
significantes para o processo de produção do empreendimento (Tabela 1). Os casos foram
selecionados com base na importância que se verificou ter o evento (os casos) para o quadro
de gestão do processo de produção e/ou atores da execução, quando da nossa participação
como observador, durante o processo de produção das edificações.
1 Um evento é, então, alguma coisa que sobrevém de maneira parcialmente imprevista, não programada, mas de
importância para o sucesso da atividade produtiva (ZARIFIAN, 2001, p. 41).
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TABELA 1 - OS CASOS
Os casos CONSTRUTORA OBRA
O caso da caixa de incêndio
A I
O caso do excesso no pilar do WC da obra
O caso do pilar no vão de um dos elevadores
O caso do marco da porta principal de entrada dos apartamentos
O detalhamento do encontro entre materiais diferentes na fachada
O caso da churrasqueira nas coberturas
O caso dos serviços do forro de gesso
O caso da cerâmica das cozinhas
O caso da paginação do granito da fachada
O caso do vão da porta de entrada dos apartamentos
O caso da concretagem das lajes e vigas
O caso do andaime fachadeira e o assentamento de granito na fachada
O caso do andaime fachadeira e outros serviços de revestimento externo
O caso da execução da modificação do pilar do WC
O caso da instalação e manutenção dos ar-condicionado
O caso da locação da obra
A II
O caso dos projetos executivos
O caso da programação dos serviços para execução da 1ª laje da
garagem
O caso do projeto não-formal para escavação dos grandes blocos
O caso da gravata dos pilares
O caso do projeto não formal para assentar esquadrias montadas
O caso do varal de segurança
O caso do andaime fachadeira
O caso da rampa da garagem da obra
B I O caso do muro de contenções
O caso das escavações dos blocos
O caso do movimento de terra
Com base no estudo de casos, busca-se explicar a situação a partir da prática, pois a ampla
utilização de estudos de casos nas organizações favorece o entendimento e a compreensão,
profunda e ampla, da realidade das organizações, contribuindo para as soluções de problemas
práticos (GODOY, 2005).
Embora tenha sido realizado apenas estudo de caso, nota-se que a dimensão coletiva e
interativa das situações pode ser generalizada. Verifica-se que, por exemplo, no caso do
excesso no pilar do WC da obra AI (contrutora A, obra I), o problema tem origem na fase de
projetos e é gerador de todas as consequências encontradas para a performance, nos demais
casos. Dessa forma, se as dimensões coletivas e interativas desse caso podem ser
generalizadas, neste estudo, a análise da problemática será feita com base nesse caso geral e
apoiada em alguns dos casos acima destacados.
5. Resultados
5.1. O engenheiro de obras: ator central dos problemas no canteiro
Variabilidades sempre acontecem nos canteiros de obras e a atuação do engenheiro no
processo de produção é ativa. A ele se dirigem os encarregados, os empreiteiros, o mestre-de-
obras etc., quando determinados tipos de problemas surgem e as soluções fogem às
competências desses atores. Não obstante, o grau de liberdade das decisões tomadas pelo
engenheiro de obras é relativo e não se identificou um critério único para a caracterização dos
problemas sobre os quais ele teria autonomia na tomada de decisões. Qualquer que seja a
decisão tomada para a solução de um problema, ela também poderá ser questionada e/ou
alterada pela direção da construtora.
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Contraditoriamente, a competência que lhe é requerida é a de não ter que levar problemas
para a direção, mas solucioná-los no canteiro de obras. Em uma das conversações
desenvolvidas no canteiro de obras sobre os problemas que surgiam, narrou o engenheiro de
obras A como funcionava o poder hierárquico no processo de construção: “Se a gente vai para
uma reunião, já existe no escalão acima da gente [...] Acham que a gente está indo com
argumento de desculpa [...] Ah, vocês tinham que ter resolvido o problema, vocês vieram foi
com desculpa [...] Aí, não adianta dialogar”.
Assim, o primeiro passo no canteiro de obras é procurar detectar os problemas para que estes
não se tornem problemas “eternos”, como ressalta o engenheiro de obras A: “Quando aparece
um problema na obra, primeiro passo: detectar o problema. Tem hora que o pessoal não
detecta o problema e conclui a obra com aquele problema. Aí, vira um problema eterno”.
Pelo exposto, depara-se com o seguinte questionamento: Quais são os momentos e as
estratégias para detecção dos problemas durante o processo de produção de uma edificação?
5.2 Momentos e estratégias para detecção dos problemas
5.2.1 Projeto (nivel 1)
Para o engenheiro de obras A, o primeiro momento em que se pode detectar problemas é
quando se analisam os projetos executivos. Quando, antes ou durante a execução do
empreendimento, se recebem e analisam os projetos executivos, na tentativa de constatar
neles possíveis problemas (incompatibilidades, falta de detalhamentos, erros de dimensões
etc.). Por experiências em obras anteriores, por repetição de erros, diz ele: “A gente já sabe
onde estão os erros”. Como, por exemplo, no caso dos projetos executivos da obra AII.
Nesse caso, quando a construtora A concretizou as negociações da compra do terreno para a
construção da obra AII, a engenheira de obras envolveu-se na coordenação dos projetos e nas
providências das necessidades básicas legais que seriam aprovadas para início da construção.
O primeiro projeto elaborado foi o projeto arquitetônico – que já havia sido aprovado na
Prefeitura –, projeto este que atende somente às necessidades básicas (legais) dos órgãos
municipais para que possam aprovar a construção. O engenheiro da obra participava das
reuniões na fase de elaboração dos projetos complementares fazendo uma análise crítica com
base em sua prática de obras.
Assim, quando analisava os projetos da obra AII e mostrava alguns problemas no projeto
arquitetônico, que foram repassados ao arquiteto para correções (como, por exemplo, o
referente ao duto de ventilação, que passava por dentro da caixa do elevador), o engenheiro de
obras A falou ao engenheiro J (engenheiro Junior) que o auxiliava: “Verifica aí, no projeto de
incêndio, os locais das caixas e confronta com os outros projetos. De repente a gente pode até
encontrar uma dessas caixas em um pilar de garagem [...]”.
Como se vê, ele demonstra como é “saber onde estão os erros”. A experiência adquirida com
os problemas das caixas de incêndio na obra anterior (a obra AI) é que o leva a buscar nos
projetos da obra AII a existência ou não de compatibilização entre os projetos, com referência
à localização das caixas de incêndio. O caso da caixa de incêndio na obra AI teve sua origem
na incompatibilidade entre projetos: a locação da caixa do hidrante ficaria exatamente no
mesmo local onde o projeto arquitetônico previa a locação da esquadria da entrada inferior do
duto de ventilação (Fig. 2).
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Figura 2 – Caixa de incêndio
Quando os problemas não são detectados nesse nível, o segundo momento é quando, no
canteiro, antes da execução dos serviços, após receber os projetos, engenheiro de obras e o
quadro de gestão (mestre-de-obras e/ou encarregados) analisam os projetos.
5.2.2. Canteiro (nível 2)
O caso da programação dos serviços para execução da 1ª laje da obra AII ilustra como o
engenheiro de obras A detecta problemas de incompatibilidade de projetos no momento em
que analisa os projetos executivos e programa os serviços a serem executados juntamente com
o mestre-de-obras. Antes de dar partida nos serviços, no momento em que passa as diretrizes
dos serviços a serem executados para o mestre-de-obras, quando está analisando e discutindo
os projetos inter-relacionados com a execução desses serviços (no caso, elétrico, telefônico,
incêndio e drenagem), ele detecta o problema de incompatibilidade na locação: “A gente
acabou de discutir isso aqui, na hora que pegou... hum..., certinho. [...] Isso aí o projetista que
tinha que ver isso”.
Nesse caso, os projetos executivos (de instalações elétricas, hidráulicas, sanitárias, pluviais e
de incêndio) chegaram ao canteiro dois dias antes desse diálogo, quando a obra já estava em
fase de concretagem dos pilares da 2ª laje da garagem. Essa simultaneidade acontece porque a
execução da obra se inicia com a instalação do canteiro, quando o projeto arquitetônico é
aprovado na Prefeitura; e, à medida que os outros projetos vão chegando ao canteiro, os
demais serviços vão sendo executados – como foi, por exemplo, no caso da locação, cujos
serviços se iniciaram assim que se receberam os projetos de locação dos pilares.
Outro caso que também ilustra como os problemas são detectados no canteiro é o caso do
muro de contenções da obra BI. Durante as observações, quando se percorreu o canteiro de
obras com a técnica de segurança, verificou-se que alguns trabalhadores quebravam o
concreto das fundações do muro.
O engenheiro de obras B, questionado sobre essa situação, relatou que o problema ocorrera
pelo fato de os projetos de fôrma e armação das lajes terem sido executados simultaneamente
ao início da execução da obra, pois foram entregues após a conclusão de alguns dos serviços
dos muros de contenção. Segundo o engenheiro, o problema somente foi detectado antes de
ele receber o projeto estrutural, para ele, “uma coisa básica”. Ao analisar o projeto executivo
de arquitetura, foi possível detectar que as sapatas dos muros de contenções, que estavam em
execução, poderiam interferir na execução das fundações da edificação, que ainda estavam
sendo projetadas. Imediatamente comunicou sua suspeita ao projetista, que afirmou que não
haveria problema. Entretanto, verificou-se que essa afirmativa não era efetiva, e o problema
se confirmou quando o engenheiro recebeu os projetos das fundações e iniciou os serviços:
“Antes de começar a fazer o projeto estrutural. Isso é uma coisa bem básica [...] Se você tem
uma obra com uma determinada contenção, que ela ocupa um bom espaço da área útil da
obra, você sabe que os afastamentos vão cair em cima daquela contenção. Estava na cara que
isso ia acontecer”.
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Por conseguinte, alguns trabalhadores estavam cortando a parede de concreto sentados em
materiais que encontravam no canteiro (Fig. 3).
Figura 3 – Assentos improvisados para
trabalhos com o martelete
Além disso, para romper o concreto das sapatas com os marteletes, os trabalhadores, além de
usarem máscaras e protetores auriculares devido aos riscos à saúde que o trabalho oferecia,
estavam também sujeitos às vibrações, sem nenhuma análise ou gestão desse tipo de
exposição2, pois não se verificou nenhum tipo de acompanhamento ou elaboração de
procedimentos ou articulação com os trabalhadores, por parte da segurança, para controle dos
riscos provenientes da vibração do martelete durante a execução da tarefa (Fig. 4).
Figura 4– Quebra de concreto das sapatas
Quando não se detecta os problemas até o nível de canteiro o próximo nível é o de execução
dos serviços, no início ou durante a execução do serviço.
5.2.3. Execução (nível)
No caso do excesso no pilar da obra AI, no projeto estrutural não foram observados os limites
das dimensões entre paredes em um dos WC dos apartamentos tipo. Dito de outra forma, o
projetista da estrutura não observou que a espessura do pilar não poderia ultrapassar a
espessura da parede acabada. Esse problema não foi detectado no nível de projeto, nem no
nível de canteiro, ele só foi detectado, pelo engenheiro de obras A, após ser dada a partida da
execução dos serviços de alvenaria. No momento em que acompanhava o início dos serviços,
o engenheiro de obras A verificou, in loco, que o pilar excedia em 15 cm a largura da parede
(Fig. 5), pois passava a impressão de um WC de tamanho muito reduzido, levando-o a
questionar o excesso: “O ideal é que se tivesse compatibilizado isso na época do projeto [...]
O pilar estava obstruindo o banheiro”.
2 A exposição à vibração pode causar danos físicos ou distúrbios no sistema nervoso.
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Figura 5 – Vista de dentro do WC, do excesso
A direção da construtora, por entender que isso não estaria em conformidade com o padrão de
acabamento do prédio, não aceitou o excesso no pilar. Iniciou-se, então, a busca pela solução
do problema. Duas foram as possibilidade discutidas:
a) a direção de construtora apresentaria a proposta de demolição do excesso, o que implicaria
novo dimensionamento do pilar e retrabalho para a modificação desde as fundações, conforme
se verifica no desenho feito pelo engenheiro supervisor (Fig. 6).
Figura 6 – Novo dimensionamento do pilar
b) o engenheiro de obras A, juntamente com o quadro de gestão do canteiro, apresentaria a
proposta de iniciar a alvenaria faceando o pilar, conforme preferiam os atores da execução.
Nesse caso, conforme se verifica na figura abaixo (Fig. 7), durante a locação dos serviços de
alvenaria, o eixo seria deslocado 5 cm, iniciando-se no primeiro banho (onde se apresenta o
problema do excesso) e prosseguindo até à parede do closet, o que resultaria na redução de 5
cm no closet.
Figura 7 – Deslocamento do eixo da parede
A segunda opção não foi aceita pela direção, e a primeira proposta foi, assim, imposta aos
atores diretamente envolvidos na execução dos serviços: “Quem está na produção sempre
procura uma solução exequível. Quem não está na produção, não pensa na execução”
(engenheiro de obras A). Dessa forma, alterado o projeto e iniciados os retrabalhos no
canteiro de obras, o engenheiro de obras passou para o mestre-de-obras as diretrizes dos
serviços a serem executados (projeto informa para a produção). O mestre-de-obras, no curso
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da ação, com a utilização dos materiais e das ferramentas disponíveis, orientou a execução
dos serviços. Por conseguinte, outros problemas surgiram durante a execução do serviço.
Ao percorrer o canteiro de obras, deparou-se com uma situação de trabalho inusitada para a
execução dos serviços de reforço e posterior retirada do excesso nos pilares do WC das suítes.
Para a demolição do concreto das vigas, onde passaria a ferragem do pilar em ampliação, os
trabalhadores tinham que executar a tarefa sobre o andaime fachadeira. Ocorre que, devido
aos escoramentos existentes internamente, eles não dispunham de espaço para trabalhar nem
de altura suficiente para uso dos marteletes nas vigas, já que a plataforma de trabalho do
andaime fachadeira ficava no nível da laje. Dessa forma, eles colocavam duas pedras pré-
fabricadas (usadas para fazer o piso falso do pilotis) uma sobre a outra, na plataforma de
trabalho do andaime fachadeira, e conseguiam altura para trabalhar (Fig. 8 e 9).
Figura 8 – Escoramento dentro do WC Figura 9 – Pedras sobre a plataforma do andaime
Menos inusitada, mas também de bastante risco à saúde e de elevado desgaste físico, era a
situação de trabalho para a demolição da parte em excesso dos pilares: dois serventes se
revezam na execução da tarefa. Quando um trabalhador cansava, o outro assumia a execução
da tarefa para que o companheiro descansasse. Além do ruído excessivo do martelete, a
demolição do excesso do pilar gerava uma imensa quantidade de poeira no apartamento onde
era executada a tarefa (Fig. 10 e 11).
Figuras 10 e 11 – Retirada do excesso nos pilares do WC
6. Discussão e conclusão
Verifica-se que, no caso do excesso no pilar do WC da obra AI, o problema só foi detectado
durante a execução dos serviços. Portanto, embora houvesse um arquiteto responsável pela
compatibilização, o problema não foi detectado na fase de concepção do projeto. Também não
foi detectado pelo engenheiro de obras nos dois primeiros níveis de antecipação: projeto e
canteiro. Consequentemente, não foi possível solucionar o problema antes da execução da
estrutura do edifício. Detectado o problema na fase de execução, duas foram as possibilidades
discutidas para sua solução: uma apresentada pela direção, com o aval do calculista, e a outra
pelo canteiro. Prevalecendo a da direção, iniciaram-se os retrabalhos do que foi reprojetado.
Entretanto, isso não significa que todos os problemas sejam solucionados nos três níveis de
antecipação. Quando os problemas referentes à situação de trabalho não são considerados e/ou
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solucionados no nível de projeto, canteiro ou execução tem-se a gestão do trabalho como
última instância de regulação de falhas do sistema de produção, já evidenciada pela
ergonomia em várias situações (ver HUBAULT, 2004). O caso do excesso do pilar do WC da
obra AI, de forma privilegiada, serve para evidenciar que a não consideração da situação de
trabalho, nos três níveis de antecipação, pode ser um fator determinante para o surgimento de
problemas no canteiro, especificamente com relação à segurança e saúde dos trabalhadores.
Com base nos resultados conclui-se que, na prática, as especificidades do setor da construção
civil ampliam-se as incertezas dos elementos prescritivos e os problemas são solucionados no
“fogo da ação”. Nesse contexto, a integração, nos diversos níveis de antecipação (projeto,
canteiro e execução), é que possibilitará a elaboração do projeto de situações de trabalho
seguras, por meio do retorno das experiências dos atores da execução. Quando, por algum
motivo, os problemas não são detectados em um desses três níveis ou soluções vindas do
canteiro não são acolhidas, como no caso do excesso do pilar do WC da obra AI, tem-se
efeitos negativos para a produção e para segurança.
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