INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E...

76
1 INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO TOCANTINS CAMPUS GURUPI CURSO SUPERIOR DE LICENCIATURA EM ARTES CÊNICAS KÉDINA DE PAULA DOS SANTOS REIS TEATRO DE FANTOCHES NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECÍFICAS NA APAE DE GURUPI TO GURUPI TO SETEMBRO, 2016

Transcript of INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E...

1

INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO TOCANTINS

CAMPUS GURUPI CURSO SUPERIOR DE LICENCIATURA EM ARTES CÊNICAS

KÉDINA DE PAULA DOS SANTOS REIS

TEATRO DE FANTOCHES NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM DE

ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECÍFICAS NA APAE DE

GURUPI – TO

GURUPI – TO

SETEMBRO, 2016

2

KÉDINA DE PAULA DOS SANTOS REIS

TEATRO DE FANTOCHES NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM DE

ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECÍFICAS NA APAE DE

GURUPI – TO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à

Coordenação do Curso de Licenciatura em Artes

Cênicas do Instituto Federal do Tocantins –

Campus Gurupi, como exigência à obtenção do

grau de Licenciado em Artes Cênicas.

Orientador: Esp. Manuel Tomaz Ataíde Júnior Coorientadora: Esp. Milene Lopes dos Santos Queta

GURUPI – TO

SETEMBRO, 2016

3

KÉDINA DE PAULA DOS SANTOS REIS

TEATRO DE FANTOCHES NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM DE

ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECÍFICAS NA APAE DE

GURUPI – TO

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado à Coordenação do Curso de

Licenciatura em Artes Cênicas do Instituto

Federal do Tocantins Campos Gurupi, como

exigência à obtenção do grau em Licenciado

em Artes Cênicas.

Orientador: Esp. Manuel Tomaz Ataíde Júnior

Coorientadora: Esp. Milene Lopes dos Santos Queta

Aprovado em: ____/____/______

BANCA EXAMINADORA

______________________________________ Prof. Esp. Manuel Tomaz Ataíde Júnior

Professor orientador

_______________________________________

Profaª. Mestra Solange Cavalcante de Matos

Avaliadora 1

_____________________________________

Prof. Mestre Paulo Reis Nunes

Avaliador 2

4

DEDICATÓRIA

Tenho a graça de concluir este trabalho e a alegria de poder

compartilhar com aqueles que acreditaram em mim. Dedico

este trabalho a Deus, em primeiro lugar, pois sem ele eu nada

seria, e a meu amado filho Karlos Raniere Gonçalves dos

Santos, a razão de todo o meu esforço para concluir mais essa

etapa em minha vida.

5

AGRADECIMENTOS

Agradeço, em primeiro lugar, a Deus que sempre esteve comigo, me dando

forças para sempre prosseguir.

À minha amiga Solange Cavalcante de Matos, que me incentivou a ingressar

nessa faculdade, tirando-me de um mundo de tristezas e me impulsionando a

crescer como pessoa e como profissional.

Ao meu amado filho Karlos Raniere, a razão de todas as minhas lutas para

chegar até aqui.

À minha mãe, que me ajudou durante todos esses anos, cuidando do meu

filho para que eu pudesse estudar.

Ao meu amado esposo Ronaldo dos Santos Feitosa, que sempre apostou no

meu potencial, me dando forças para concluir este trabalho.

Ao meu orientador Manuel Tomaz Ataíde Junior, que me ajudou durante todo

o processo desta pesquisa, filmado, tirando fotografias, na confecção da caixa

cênica no patrocínio dos materiais para a confecção dos bonecos de fantoches e,

principalmente, por ter acreditado no meu potencial, sempre me elogiando e me

incentivando a chegar onde estou.

À minha coorientadora, Milene Lopes dos Santos Queta, pelo apoio e auxílio

durante os momentos de dúvidas na construção desta pesquisa.

Ao professor Paulo Reis Nunes que também me ajudou nos momentos de

dúvidas e, além disso, me proporcionou momentos de reflexões a respeito de mim

mesma, levantando, assim, minha autoestima, me fazendo ver todas as

possibilidades que tenho pela frente.

Aos meus colegas Nayara Botelho e Joe Fernando que me auxiliaram

durante todas as etapas desta pesquisa.

A todos os meus professores que me acompanharam durante os sete

períodos de faculdade.

À escola Especial São Francisco de Assis - APAE de Gurupi, por ter me

possibilitado fazer esta pesquisa.

Enfim, agradeço a todos que torceram por mim.

6

“Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as

possibilidades para a sua produção ou sua construção.”

Paulo Freire

7

RESUMO

Este trabalho aborda o teatro de formas animadas, mais especificamente o de

bonecos (fantoche), no contexto educacional de alunos com deficiências. Essa

reflexão surgiu a partir da disciplina de Teatro de Formas Animadas, do curso de

Licenciatura em Artes Cênicas e do trabalho voluntário desenvolvido por mim na

APAE de Gurupi – TO, onde pude perceber a importância do teatro de Fantoche

para o ensino e aprendizagem de alunos com deficiências. Levando em

consideração os desafios da inclusão escolar do nosso país, elaborei um projeto de

Teatro de Fantoche para ser desenvolvido na Escola Especial São Francisco de

Assis – APAE, que teve como principais objetivos estimular o protagonismo criativo

nos alunos de forma que eles passassem de observadores para criadores de sua

própria peça de teatro de fantoche e mostrar para os professores o grande valor

pedagógico desse recurso no processo de ensino e aprendizagem do aluno. Esse

trabalho reflete sobre os desafios da inclusão de pessoas com necessidades

educacionais específicas dentro das redes de ensino. Sobre a função da Arte

Educação. Reflete também o lúdico no processo de ensino e aprendizagem, e

registra uma reflexão acerca do “boneco” como elemento significativo para

desenvolvimento cognitivo e como suporte pedagógico que contribui para o

desenvolvimento de uma aprendizagem colaborativa desses alunos.

PALAVRAS-CHAVE: Arte Educação, Inclusão, Teatro de Fantoche.

8

ABSTRACT

This work deals with the animated theater of forms, specifically dolls (puppet) in the

educational context of students with specific educational needs. This reflection has

emerged from the discipline of Animated Forms Theatre, Bachelor's Degree in

Performing Arts and volunteer work for me in the APAE Gurupi-TO, which could

realize the importance of Puppet Theater for the teaching and learning of students

with disabilities. Taking into account the challenges of school inclusion of our country

drew up one puppet theater project to be developed at the School Especial São

Francisco de Assis - APAE, which had as main objectives to stimulate creative role in

students so that they pass observers for breeders your own piece of puppet theater

and show teachers the great educational value of this resource in teaching and

student learning process. This work reflects on the challenges of inclusion of people

with specific educational needs within the educational system. About the Role of Art

Education. Also reflected on the playful in the process of teaching and learning, and

records a reflection on the "doll" as a significant element for cognitive development

and as an educational support that contributes to the development of a collaborative

learning of these students.

KEYWORDS: Art Education, Inclusion, Puppet Theatre.

9

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

DIAGRAMAS

Diagrama 1 – Metodologia triangular ........................................................................

Diagrama 2 – Etapas do projeto ...............................................................................

FOTOS

Fotos 1 e 2 – Apresentação do teatro de fantoche: “quem comeu o meu sorvete?”

Fotos 3 e 4 – Criação da história a ser apresentada ................................................

Foto 5 e 6 – Confecção dos bonecos de fantoches ..................................................

Foto 7 – Confecção dos bonecos de fantoches ........................................................

Foto 8 - Brincadeira de faz de conta com os fantoches ............................................

Fotos 9 e 10 – Brincadeira de faz de conta com os fantoches .................................

Fotos 11 e 12 – Oficina de manipulação dos fantoches............................................

Fotos 13 e 14 – Ensaio geral ....................................................................................

Fotos 15 e 16 – Culminância do projeto ...................................................................

Fotos 17 e 18 – Culminância do projeto ...................................................................

Fotos 19 e 20 – Aplicação do questionário para professores e gestão da APAE.....

Fotos 21 e 22 – Aplicação do questionário para os alunos da APAE .......................

GRÁFICOS

GRÁFICO 1 – Resultados do questionário aplicado aos professores e gestão da

escola ........................................................................................................................

GRÁFICO 2 – Resultados do questionário aplicado aos alunos da APAE................

40

45

46

48

49

49

50

50

52

53

55

55

57

59

57

59

10

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 11

2 REFERENCIAL TEÓRICO .................................................................................................. 13

2.1 EDUCAÇÃO INCLUSIVA: UMA VISÃO HISTÓRICA .................................................. 13

2.2 EDUCAÇÕES INCLUSIVA JUNTO À LEGISLAÇÃO BRASILEIRA .......................... 17

2.3 HISTÓRIA DA APAE NO BRASIL .................................................................................. 24

2.3.1 A APAE DE GURUPI – TO ........................................................................................... 25

2.4 INCLUSÃO OU INTEGRAÇÃO ESCOLAR? ................................................................. 26

2.5 TEATRO DE ANIMAÇÃO ................................................................................................. 29

2.5.1 HISTÓRIA DA FORMA ANIMADA NO MUNDO E NO BRASIL ............................. 31

2.5.2 TEATRO DE BONECO NA EDUCAÇÃO ............................................................. 34

2.6 MÚLTIPLAS INTELIGÊNCIAS NA PRÁTICA ESCOLAR ........................................... 36

2.7 HISTÓRIA DA ARTE EDUCAÇÃO NO BRASIL ........................................................... 39

3 ARTE-EDUCAÇÃO POR MEIO DO PROJETO “TEATRO DE FANTOCHE: UM

APRENDIZADO EFICAZ E INCLUSIVO” ............................................................................. 44

3.1 JUSTIFICATIVAS .............................................................................................................. 44

3.1.2 OBJETIVOS .................................................................................................................... 44

3.1.3 DESENVOLVIMENTO ................................................................................................... 45

3.1.4 RESULTADO E DISCUSSÕES ................................................................................... 58

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................ 64

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................................... 66

APÊNDICES .............................................................................................................................. 70

APÊNDICE 1: PROJETO DE INTERVENÇÃO ................................................................... 70

APÊNDICE 2: QUESTIONÁRIOS PARA OS ALUNOS, PROFESSORES E GESTÃO DA

APAE DE GURUPI-TO. ........................................................................................................... 75

11

1 INTRODUÇÃO

O tema do meu projeto de conclusão de curso justifica-se a partir de um

interesse pessoal pela disciplina de Teatro de Formas Animadas, estudada durante

a minha trajetória acadêmica no curso de Licenciatura em Artes Cênicas e também

pelo trabalho voluntário que desenvolvi na Escola Especial São Francisco de Assis –

APAE (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) de Gurupi, onde pude

vivenciar vários fazeres artísticos com alunos que possuem necessidades

educacionais especificas.

Durante as aulas de Teatro de Animação, apaixonei-me pelo teatro de

bonecos, pois esse gênero teatral encaixa muito bem no contexto educacional, visto

que se trata de uma aprendizagem lúdica que auxilia no processo de ensino e

aprendizagem do aluno. Tendo em vista que a Educação inclusiva vem

representando um grande desafio diante das muitas Leis e Decretos, que na prática

não funcionam, desenvolvi o interesse por trabalhar com esse tipo de público com o

objetivo de mostrar que a inclusão é possível desde que trabalhada de forma

diferenciada, utilizando recursos pedagógicos nesse processo de ensino e

aprendizagem.

O presente trabalho tem uma abordagem qualitativa e quantitativa, no qual

foram realizadas pesquisas bibliográficas, utilização de recursos pedagógicos,

análise de documentos a respeito do tema e observação do desempenho dos

alunos. Como técnica de coleta de informações foram realizadas entrevistas

estruturadas e aplicação de questionários com os professores e alunos participantes

do projeto desenvolvido na escola.

E para aplicar esta pesquisa, desenvolvi na APAE de Gurupi o projeto

intitulado: Teatro de Fantoche um Aprendizado Eficaz e Inclusivo com o intuito

de colher dados que comprovem a eficácia do teatro de fantoche no auxílio à

aprendizagem desses alunos. Para colher resultados satisfatórios, os alunos

estiveram envolvidos diretamente em todas as etapas do projeto. O projeto propôs

que os alunos participantes criassem uma história improvisada e confeccionassem

seus próprios bonecos de fantoches para uma apresentação teatral na culminância

do mesmo. A princípio, parece algo muito além da capacidade desses alunos, mas

12

ao final desse trabalho, obteremos as respostas aos seguintes questionamentos:

será que o teatro de fantoche estimulou a criatividade, o imaginário e a

aprendizagem dos alunos? Os alunos conseguiram desenvolver todo o projeto,

apesar de suas limitações? O teatro de fantoche de fato é um recurso valioso para o

professor no processo de ensino e aprendizagem do aluno?

Para embasar essa pesquisa, contei com o auxílio de alguns autores, como

Silva (2010) e Mantoan (2003), que nos deram uma visão histórica dos desafios da

educação inclusiva, destacando as leis e decretos favoráveis à inclusão de alunos

com necessidades educacionais específicas; mostrando também o caminho para

chegarmos à inclusão que tanto queremos. Amaral (1993, 1997, 2007, 2011) que

nos traz a história da forma animada, destacando o teatro de boneco no Brasil e no

mundo. Vygotsky (1998) que analisa o teatro de boneco na educação, enfatizando a

vinculação existente entre o real e o imaginário num processo dialético constante,

garantindo que existe um impulso criativo capaz de transformar o real em novas

combinações, proporcionando ao educando uma forma de aprendizagem lúdica e

simples. Gardner (1994) que vem tratar da capacidade cognitiva das pessoas,

descrevendo sua teoria de inteligências múltiplas, na qual pressupõe haver mais de

um tipo de inteligência, sendo que todos os seres humanos são capazes de

desenvolvê-las, desde que haja estímulo. E Barbosa (1979,1998,2012) que vem

abordar a história da Arte Educação e seus parâmetros curriculares dentro do

contexto educacional, dando destaque a sua proposta de metodologia triangular

(leitura de imagem, produção, e contextualização), cujo propósito era reestruturar o

ensino da arte no Brasil.

Cumpre ressaltar que a realização da presente pesquisa sinaliza que a

aplicação de projetos como esse dentro das escolas de nosso município (regular e

especial) é de grande importância, pois desperta o interesse dos professores em

trabalhar a Arte dentro da sala de aula, mostrando, assim, o grande valor da arte no

processo de ensino e aprendizagem do aluno.

13

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 EDUCAÇÃO INCLUSIVA: UMA VISÃO HISTÓRICA

Inclusão é nos igualarmos diante da diferença, é reconhecer o outro, é

conviver, aceitar, acolher todas as pessoas diferentes com amor, sem preconceitos

sem distinções.

No que diz respeito à inclusão escolar Silva (2010 p.07) diz que o objetivo

principal é a construção de uma escola democrática, na qual a necessidade

educacional específica de todos os alunos, sem exceção, seja atendida, e na qual a

diversidade seja uma característica intrínseca e, como tal, seja aceita, respeitada e

valorizada.

A educação para pessoas com deficiência teve muitos obstáculos ao longo

da história da humanidade e, de acordo com Fernandes (2007, p.15), durante muitos

séculos a educação para pessoas com deficiências foi deixada de lado, e até o

século XVI não havia na sociedade a preocupação em oferecer atendimento

educacional a essas pessoas. Nesse período da história, as pessoas com

deficiências como, por exemplo, os doentes mentais, pessoas com deformidades

físicas ou que não falavam, além de outras, estiveram excluídas do processo de

aprendizagem acadêmica e da participação ativa em sociedade, em virtude de

serem diferentes.

A história da humanidade, desde seus primórdios, mostra a rejeição a essas

pessoas. Na antiguidade (século V), apenas as pessoas nobres detinham poder

social, político e econômico. De acordo com Fernandes (2007, p.19) apenas o corpo

belo, perfeito e forte para guerrear e a capacidade retórica para proferir discursos

filosóficos era valorizada dentro da sociedade. E qualquer pessoa que não

possuísse esse padrão era considerada subumana, portanto as pessoas com

deficiência física ou mental eram abandonadas para morrer ou até mesmo

exterminadas por não terem valor social.

14

Segundo Fernandes (2007, p.20), com o passar dos anos, já na idade

média, esse quadro passou a mudar, isso se deu com o fortalecimento da Igreja

Católica e com advento do cristianismo. E foi a partir desses acontecimentos que o

cenário político da sociedade passou a ter mudanças, o Clero passa a ter, além do

domínio econômico, uma grande influência nos valores morais que regem a vida

social, determinando, por meio de dogmas religiosos, os desígnios do bem e do mal.

E foi através da crença de que todos os homens são criaturas de Deus, que

as pessoas doentes, deficientes passaram a ter, pela primeira vez, a atenção da

sociedade. No entanto, Pessotti (1984, apud Silva, 2010, p.16), destaca que, se por

um lado, com o cristianismo a pessoa com deficiência deixou de ser abandonada e

passou a receber abrigo e alimentação nos asilos e conventos, por outro, exigências

éticas e religiosas passaram a ser cobradas desses indivíduos.

Dessa forma, as pessoas com deficiência passaram a ser culpadas pela

própria deficiência, que era entendida, na época medieval, como um castigo de

Deus pelos pecados cometidos. Nesse sentido, Fernandes (2007, p. 21) diz que

naquele período havia uma corrente de interpretações que afirmava que as pessoas

deficientes eram seres castigados pelos pecados que cometeram e, portanto eram

considerados indivíduos demoníacos. O autor afirma ainda que a população julgava

os indivíduos que sofriam crises de epilepsia, como atos de feitiçaria ou possessões

do diabo, e que os mesmos deveriam ser punidos por Deus para expiação dos

pecados, por meio da perseguição ou sacrifício.

Havia também, naquela época, a interpretação de que estas pessoas eram

escolhidas por Cristo e predestinadas para o “dom de curar” e de acordo com essa

afirmação, Fernandes (2007, p. 21) diz que “cegos, por exemplo, eram tidos como

pessoas abençoadas com o poder sobrenatural dos profetas para a vidência”. E foi

a partir dessa crença que surgiram as primeiras iniciativas de proteção e

compadecimento das pessoas com deficiências. Criando assim asilos e abrigos

para os mesmos, que passaram a receber obras de caridades, sendo que ao doador

era concebida a salvação da alma.

Com o passar dos anos, a igreja católica passa a dividir com a medicina o

tratamento das pessoas com deficiências. Nessa época, segundo Fernandes (2007,

p. 22), o cenário político e econômico sofreu grande transformação devido à

15

Revolução Burguesa1. A Igreja Católica passa a não ter mais o poder absoluto, a

monarquia inicia sua derrocada, surgem os estados modernos, as relações de

produção passam a ser baseadas na indústria emergente e no trabalho assalariado,

os experimentos científicos com base na observação da natureza aumentam

grandemente, entre outros fatores que influenciaram essas mudanças.

Nesse contexto, passa-se a ter uma divisão no trabalho entre patrão, que

detém os meios de produção como o capital e os maquinários, e os operários, que

sobrevivem com a venda de sua força de trabalho, em troca do salário. Nesse

período, a ciência se desenvolve e a medicina ganha espaço, fornecendo

explicações a todos os fatos que eram, até então, determinados pela igreja católica

como verdades inquestionáveis. Mostrando assim, por meios científicos que a

deficiência era causada por meios naturais e não espirituais.

Já no século XVIII e XIX, de acordo com Fernandes (2007, p. 23 e 24),

foram criadas centenas de instituições na Europa e em países colonizados por

europeus, quase todas com caráter assistencial e filantrópico, nas quais se

destacava o trabalho manual para o treinamento industrial. Essas instituições

funcionavam como Asilos e como Escolas, que abrigavam e alimentavam os

internos, oferecendo o ensino básico de leitura, escrita e cálculos, e oficinas de

produção, pois as pessoas deficientes constituíam mão de obra barata no processo

inicial de industrialização. E foi nesse período que as primeiras instituições foram

criadas no Brasil, com objetivos e práticas semelhantes ao contexto europeu.

Segundo Januzi (2004 apud SILVA, 2010, p. 21), no final do século XVIII e

início do século XIX, são divulgadas no Brasil as ideias liberais que defendia a

liberdade de todos os indivíduos nos aspectos econômicos, políticos, religioso e

intelectual. E essas ideias influenciaram o surgimento da educação das crianças

com deficiência, que se deu inicialmente em santas casas de misericórdia, isto se

deu porque o Brasil seguia as tradições europeias que atendiam a pobres e doentes

nas santas casas de misericórdia e asilos.

Fernandes (2007, p.27) aborda alguns fatores que contribuíram diretamente

para o início da mudança do atendimento das pessoas com deficiência no Brasil e

1 A revolução burguesa foram movimentos sociopolíticos ocorridos entre 1640 e 1850. O perfil

aristocrata, caracterizado pela monarquia absoluta e/ou pelos terrenos fundiários de propriedade da nobreza, é transformado em uma sociedade capitalista dominada pela produção mercantil liberalista. Disponível em: https:/pt.m.Wikipedia.org/wiki /Revoluções _burguesas.

16

no mundo, durante o século XX. Ele destaca que isso se deu devido aos avanços

científicos que permitiram uma análise mais abrangente da questão da deficiência e

suas implicações. Nesse aspecto, é importante destacar a contribuição da

psicologia, que inicia suas investigações para conhecer a mente humana e seus

desdobramentos, por meio de estudos experimentais.

Outro fator que teve relevância foram os movimentos sociais desencadeados

ao final da década de 1940 e início de 1950, após o término da Segunda Guerra

Mundial, período em que houve grande insatisfação da população, principalmente na

Europa e Estados Unidos, por causa dos inúmeros atos desumanos cometidos pelas

grandes potências ocidentais.

Rogalski (2010, p.06) também nota que os feridos da guerra se tornaram

deficientes e, uma vez reabilitados, voltariam a produzir. Ao redor deles, foi surgindo

uma legião multidisciplinar de defensores de seus direitos. Eram cidadãos que se

sentiam, de algum modo, responsáveis pelos soldados que tinham ido representar a

pátria no front, há décadas. Apesar de danos e perdas, o saldo foi positivo. O mundo

começou a acreditar na capacidade das pessoas com deficiência.

Contudo, Fernandes (2007, p.28) nos diz que nessa época houve a

mobilização de diferentes grupos que sofreram exclusão ou marginalização por

serem pobres, pela cor da pele, diferenças físicas e intelectuais significativas, pela fé

que professam, por opção sexual, entre outras, fortalecendo ainda mais os

movimentos já existentes. Essas pessoas lutaram por seus direitos, levantando

bandeiras, fazendo reivindicações. E a partir daí, muitos textos a favor dos direitos

humanos foram escritos e tornaram-se norteadores das decisões tomadas nos

países-membros da Organização das Nações Unidas – ONU, criando-se uma

espécie de código de ética para garantir que nem um ato de discriminação ocorra

contra esses cidadãos.

Perante os fatos históricos, percebe-se que os movimentos pela sociedade

inclusiva são internacionais e o Brasil está engajado nele, pois, de acordo com a

Secretaria de Direitos Humanos, os dados do último censo (2010) indicam que

23,92% da população brasileira possui algum tipo de deficiência e aguarda a

oportunidade de participar plenamente da vida em sociedade como tem direito.

Segundo Rogalski (2010, p.06), a Educação Especial no Brasil passou a ser

discutida com mais ênfase no ano de 1970, quando o governo passou a se

preocupar com a criação de instituições públicas e privadas, órgãos normativos

17

federais e estaduais e de classes especiais. Contudo, a educação especial surgiu

com muitas lutas, organizações e leis favoráveis aos deficientes, e durante anos

essas leis vêm sendo modificadas e aperfeiçoadas para atender todas as

necessidades e direitos das pessoas com necessidades educacionais especiais.

2.2 EDUCAÇÕES INCLUSIVA JUNTO À LEGISLAÇÃO BRASILEIRA

O percurso em busca dos direitos das pessoas com deficiência é muito

longo e cheio de desafios, nesse tópico busco apenas enfatizar as principais

iniciativas do governo e da sociedade diante da inclusão das pessoas com

deficiências no meio educacional, apontando as principais leis e decretos criados ao

longo dos anos em nosso país.

De acordo com Pan (2008, p. 73), o atendimento às pessoas com deficiência

no Brasil sofreu as influências americanas e europeias no que se refere à sua

vinculação inicial ao campo médico, trazendo como traço comum a ocorrência de

iniciativas privadas isoladas e a prevalência do sentido clínico a nortear as decisões

e as ações no atendimento educacional.

De acordo com Lanna Júnior (2010, p.19), só com a chegada do século XIX

se deu início as primeiras ações para atender as pessoas com deficiência, pois

nesse período o país dava seus primeiros passos após a independência, forjava sua

condição de Nação e delineava a sua identidade cultural. O contexto do Império

(1822-1889), marcado pela sociedade aristocrática, elitista, rural, escravocrata e

com limitada participação política, era pouco propício à assimilação das diferenças,

principalmente as das pessoas com deficiência.

Em 18 de julho de 1841 foi lançado o Decreto n° 82, que determinou a

fundação do primeiro hospital “destinado privativamente para o tratamento de

alienados”, o Hospício Dom Pedro II, vinculado à Santa Casa de Misericórdia,

instalado no Rio de janeiro, que começou a funcionar efetivamente em 9 de

dezembro de 1852. Já em 1854, foi fundado o Imperial Instituto dos Meninos Cegos

18

e, em 1856, o Imperial Instituto dos Surdos-Mudos2. Como relata Lanna Júnior

(2010, p.22):

O Estado brasileiro foi pioneiro na América Latina no atendimento às pessoas com deficiência, ao criar, em 1854, o Imperial Instituto dos Meninos Cegos (atual Instituto Benjamin Constant - IBC), e, em 1856, o Imperial Instituto dos Surdos-Mudos (hoje Instituto Nacional de Educação de Surdos - INES). Essas instituições, que funcionavam como internatos, inspiravam-se nos preceitos do ideário iluminista e tinham como objetivo central inserir seus alunos na sociedade brasileira, ao fornecer-lhes o ensino das letras, das ciências, da religião e de alguns ofícios manuais.

Durante o século XIX, somente os deficientes visuais e deficientes auditivos

eram contemplados com ações para a educação. Lanna Júnior (2010, p.19-22)

destaca que a oferta de atendimento concentrava- se na capital do Império e com o

advento da República, o Hospício Dom Pedro II foi desanexado da Santa Casa de

Misericórdia e passou a ser chamado de Hospício Nacional de Alienados. E somente

em 1904, foi instalado o primeiro espaço destinado apenas a crianças com

deficiência – o Pavilhão-Escola Bourneville.

Com o passar do tempo, já na primeira metade do século XX, de acordo com

Lanna Júnior (2010, p.20), a sociedade civil criou organizações voltadas para a

assistência nas áreas de educação e saúde, como as Sociedades Pestalozzi (1932)

e as Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) (1954), isso se deu

devido à falta de desenvolvimento das ações para as pessoas com deficiência que

em vez de se desenvolver apenas expandiu, de forma modesta e lenta, os institutos

de cegos e surdos para outras cidades. Essas poucas iniciativas do governo, além

de não terem a necessária distribuição pelo território nacional e atenderem uma

minoria, restringiam-se apenas aos cegos e surdos. E diante desse déficit de ações

concretas do Estado a sociedade criou essas organizações filantrópicas.

Segundo Guerbert (2010, p.30), a proposta de inclusão surgiu com a

chegada do século XX, momento em que as pessoas com necessidades

educacionais especiais passaram a ser consideradas cidadãos com direitos

diversos. Isso só foi possível devido aos variados documentos que surgiram, sendo

o primeiro deles de 1948, no qual se tornou pública a Declaração Universal dos

Direitos Humanos. Foi com base nesses documentos que as famílias das pessoas

2 Não se usa mais o vocábulo “mudo” como complemento da identificação de surdos, já que, na

maioria das vezes, o fato de não falar está relacionado ao não conhecimento dos sons e à consequente impossibilidade de repeti-los, e não a uma doença que impeça a fala.

19

com deficiência iniciaram alguns debates e organizaram-se realizando, então, as

primeiras críticas sobre a segregação. Surgindo, assim, os movimentos em prol da

inclusão.

As influências da visão liberal foi um marco muito forte sobre a organização

da sociedade brasileira. E de acordo com Pan (2008, p.74-75), essa influência pode

ser identificada na estrutura dos serviços da educação especial e nas decisões

sobre as políticas de atendimento. E nesse contexto, grande parte dos atendimentos

especializados fica a cargo do serviço privado, principalmente quando se trata das

classes mais baixas. Assim, pode-se dizer que no Brasil o surgimento da educação

de pessoas com deficiência só foi possível devido ao trabalho desenvolvido por

pessoas sensibilizadas com o problema e a um pequeno apoio governamental.

Para entendermos com mais clareza o que estava acontecendo no Brasil

nesse período de consolidação da Educação Especial, Jannuzzi (2004, apud Pan,

2008, p.79) relata que foi nesse período que a sociedade se organizou em

associações preocupadas com o problema das deficiências. E com essa

preocupação foram criadas, a partir de 1950, escolas ligadas a hospitais e ao ensino

regular por iniciativa governamental. Além disso, muitas outras entidades

filantrópicas especializadas no atendimento às pessoas com deficiência foram

fundadas. Surgiram também formas diferenciadas de atendimento em clínicas,

centros de reabilitação, institutos psicopedagógicos, em sua maioria particular.

Essas iniciativas ocorreram no período da industrialização do Brasil, cuja situação

econômica era muito boa:

[...]estávamos no período consagrado como milagre econômico, ou seja, um conjunto de medidas econômicas e políticas estava sendo implantado visando o desenvolvimento do país, atrelado ao capital internacional e sob medidas severas de segurança nacional JANUZZI (2004, apud SILVA 2010, p. 32).

Nesse período em que o Brasil estava crescendo, ouve uma crescente

valorização da educação e, de acordo com Silva (2010, p.33), a escola era vista

como fundamental já que ajudava na formação da mão de obra e dos recursos

humanos ajustados às necessidades das formas de produção, isso se deu

justamente para ocupar os quadros superiores da administração, técnicos,

planejadores que exerciam o papel de racionalização da produção. Ainda segundo a

20

autora, a principal função da escola era formar o capital humano que por sua vez se

agregava ao capital físico das empresas, aumentando, assim, a produtividade

econômica do país. Destarte, a educação especial também ganhou espaço nesse

período, e muitas instituições foram criadas.

Considerando o contexto político dessa época na Constituição de 1934,

podemos dizer que não há menção direta à educação da pessoa com deficiência,

embora o artigo 149 especifique que a educação é um direito de todos e, em vista

disso, deve ser gratuita e obrigatória.

Art. 149. A educação é direito de todos e deve ser ministrada pela família e pelos poderes públicos, cumprindo a estes proporcioná-la a brasileiros e a estrangeiros domiciliados no país, de modo que possibilite eficientes fatores da vida moral e econômica da nação, e desenvolva num espirito brasileiro a consciência da solidariedade humana. (BRASIL, 1934, p. 51).

Ao abordar a luta pelos direitos das pessoas com deficiência, mencionei

acima, muitas iniciativas tomadas tanto pelo governo quanto pela sociedade e,

nesse sentido, Mazzota (2005, apud Silva, 2010, p.34) aponta algumas das

instituições mais importantes do cenário da educação especial brasileira,

especializadas no ensino de pessoas cegas, surdas, com deficiências físicas e

deficiência mental, são elas: Instituto de Cegos Padre Chico – 1928; Fundação para

o Livro do Cego no Brasil – 1946 (posteriormente em 1991 chamada de Fundação

Dorina Nowil para Cegos); Instituto Santa Terezinha – 1929; Escola Municipal de

Educação Infantil e de Primeiro Grau para Deficientes Auditivos Helen keller – 1951;

Instituto Educacional São Paulo – 1954; Santa Casa de Misericórdia - 1932; Lar-

Escola São Francisco - 1943 e a Associação de Assistência à Criança Defeituosa

(AACD) – 1950, todas no estado de São Paulo. Com relação às pessoas com

deficiência mental, destaca-se duas instituições reconhecidas em todo o Brasil, a

Sociedade Pestalozzi e a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE).

As organizações e leis favoráveis aos deficientes e a educação inclusiva só

começou a ganhar força a partir da Declaração de Salamanca3 (1994) que

menciona:

3 Declaração de Salamanca é um documento elaborado na Conferência Mundial sobre Educação

Especial, em Salamanca, na Espanha, em 1994, com o objetivo de fornecer diretrizes básicas para a formalização e reforma de políticas e sistemas educacionais de acordo com o movimento de inclusão social.

21

O princípio fundamental desta linha de Ação é de que as escolas devem acolher todas as crianças independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas ou outras. Devem acolher crianças com deficiência e crianças bem dotadas, crianças que vivem nas ruas e que trabalham, crianças de minorias linguística, étnicas ou culturais e crianças de outros grupos ou zonas desfavoráveis ou marginalizadas. SALAMANCA (1994, p. 17- 18).

A aprovação da Constituição de 1988 e da Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional (LDBN 9394/96) também contribuiu para avanços significativos

na educação inclusiva, uma vez que estabelecem como princípio do ensino a

igualdade de condições, tanto para o acesso como para a permanência na escola

Silva (2010, p.71). No artigo 58 da LDBN, a educação inclusiva foi definida como “a

modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de

ensino, para educandos portadores de necessidades especiais”. (Brasil, 1996, p. 32)

Nota-se que esse artigo atende à proposta inclusiva, pois deixa claro que todas as

pessoas, independente de etnia, características ou limitações, têm direito de receber

a educação, a cultura e a qualidade para o trabalho.

Minetto (2008, 21) descreve os principais documentos legais e normativos

oficiais da legislação brasileira que vêm favorecendo a modificação para uma prática

inclusiva mais eficiente. São eles: Lei federal n° 7.853, de 24 de outubro de 1989 –

dispõe sobre a política nacional para a integração da pessoa portadora de

deficiência; Lei n° 9.394, de 20 de dezembro de 1996 – institui as diretrizes e bases

da educação nacional (como já mencionada acima); Decreto federal n° 3.298, de 20

de dezembro de 1999 – institui a política nacional para a integração da pessoa

portadora de deficiência; Lei n° 10.172, de 9 de janeiro de 2001 – aprova o plano

nacional de educação; Resolução CNE n° 02, de 11 de setembro de 2001 – institui

as diretrizes nacionais para a educação especial na educação básica. Dentre esses

documentos, destaca-se a Lei n° 10.172/2001 aprovada pelo Plano Nacional de

Educação em Janeiro de 2001, que, segundo Silva (2010), determina que, dentro de

até dez anos, os governos federais, estaduais e municipais devem desenvolver

planos para cumprir determinados objetivos relacionados com a área de educação,

incluindo a educação especial. Entre os objetivos referentes aos serviços de apoio

da educação especial podem ser destacados:

Ampliar a oferta de serviços de estimulação precoce;

22

Redimensionar e garantir melhorias aos serviços de apoio (classes especiais

e salas de recursos, por exemplo);

Implementar centros especializados para o atendimento de pessoas com

comprometimentos severos do desenvolvimento;

Definir indicadores de qualidade para o funcionamento de instituições de

educação especial;

Implantar programas de atendimento aos alunos com altas habilidades/ super.

dotação.

Objetivos relacionados com a formação de profissionais também estão

presentes no plano, de forma objetiva e clara:

Formação de professores;

Desenvolver programas de qualificação profissional;

Incluir nos currículos de formação de professores conteúdos e disciplinas que

visem à capacitação para o atendimento de alunos com necessidades

educacionais especiais.

Foram também estabelecidos objetivos relacionados com investimentos

financeiros, tais como:

Investimentos em meios para facilitar o diagnóstico de deficiências (aplicação

de testes de acuidade visual e auditiva, por exemplo);

Aumentar os recursos destinados à educação especial;

Assegurar apoio técnico e financeiro às instituições privadas sem fins

lucrativos que oferecem atendimento exclusivo da área de educação especial.

Foram, ainda, destacados objetivos para garantir a inclusão escolar de

alunos com necessidades educacionais especiais nas classes comuns da escola

regular, tais como:

Generalizar o atendimento aos alunos com necessidades educacionais

especiais na Educação Infantil e Ensino Fundamental;

23

Prover transporte escolar com as adaptações necessárias;

Disponibilizar recursos materiais, tais como materiais didáticos adaptados e

equipamentos;

Implantar e generalizar o ensino de libras para alunos surdos e, quando

possível, para seus familiares e funcionários da escola;

Construir prédios escolares acessíveis para os alunos com deficiência e

adaptar os prédios já existentes;

Disponibilizar órteses e próteses, assim como atendimento especializado na

área da saúde.

Infelizmente, essa lei na prática não funciona como deveria, mesmo com

tantos objetivos que asseguram os direitos das pessoas com deficiências, o que

vemos é a exclusão dentro da referida inclusão, como relata Mantoan (2005, p. 27):

A escola brasileira é marcada pelo fracasso e pela evasão de uma parte significativa de seus alunos, que são marginalizados pelo insucesso, por privações constantes e pela baixa autoestima resultante da exclusão escolar e da social – alunos que são vítimas de seus pais, de seus professores e, sobretudo, das condições de pobreza em que vivem, em todos os seus sentidos.

O governo não oferece qualificação para os professores nem recursos

suficientes para atender todas as necessidades e direitos dos alunos com

necessidades educacionais especiais.

As leis e decretos são muitos e bem específicos para garantir os direitos

desses alunos com necessidades educacionais especiais, no entanto, infelizmente

essas legislações só funcionam no papel. Frias e Meneses (2008, p.12) frisam que a

legislação é explícita quanto à obrigatoriedade em acolher e matricular todos os

alunos, independentemente de suas necessidades ou diferenças. Por outro lado, é

importante ressaltar que não é suficiente apenas esse acolhimento, mas que o aluno

com necessidades educacionais especiais tenha condições efetivas de

aprendizagem e desenvolvimento de suas potencialidades. Desse modo, é

necessário e urgente, que os sistemas de ensino se organizem para que, além de

assegurar essas matrículas, assegurem também a permanência de todos os alunos,

sem perder de vista a intencionalidade pedagógica e a qualidade do ensino.

24

2.3 HISTÓRIA DA APAE NO BRASIL

Segundo o Manual de Pais e Dirigentes da APAE4, essa entidade filantrópica

é uma associação de Pais e Amigos dos Excepcionais, sendo um movimento que se

destaca no país pelo seu pioneirismo. Nascida no Rio de Janeiro, no dia 11 de

dezembro de 1954, na ocasião da chegada ao Brasil de Beatrice Bemis, procedente

dos Estados Unidos, membro do corpo diplomático norte-americano e mãe de uma

menina com Síndrome de Dwon.

Beatrice Bemis já havia participado da fundação de mais de duzentas e

cinquenta associações de amigos dos excepcionais os Estados Unidos. Com sua

chegada ao Brasil, ficou admirada por não existir nenhuma associação de apoio aos

deficientes. Beatrice conseguiu motivar um grupo formado de pais, amigos,

professores e médicos de excepcionais e juntos fundaram a primeira Associação de

Pais e Amigos dos Excepcionais – APAE do Brasil.

Em março de 1955 ocorreu a primeira reunião do Conselho Deliberativo na

sede da Sociedade de Pestalozzi do Brasil, na qual conseguiram parte de um prédio

para a instalação de uma escola para crianças excepcionais, que foi o desejo do

professor La Fayette Cortes. A entidade passou a ter sede provisória onde foram

criadas duas classes especiais, com cerca de vinte crianças. A escola se

desenvolveu e, conforme os alunos foram se tornando adolescentes, passaram a ter

necessidades de atividades criativas e profissionalizantes. Foi aí que surgiu a

primeira oficina pedagógica de atividades ligadas à carpintaria para deficientes no

Brasil, por iniciativa da professora Olívia Pereira.

O Dr. Antônio Clemente Filho foi o primeiro presidente eleito da diretoria

provisória. Com a aquisição da sede própria, a Federação foi transferida para

Brasília. Como símbolo da entidade adotou-se a figura de uma flor ladeada por duas

mãos em perfil, desniveladas, uma em posição de amparo e a outra de proteção. A

Federação, a exemplo de uma Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais –

APAE se caracteriza por ser uma sociedade civil, filantrópica, de caráter cultural,

assistencial e educacional com duração indeterminada, congregando como filiadas

as APAES e outras entidades congêneres, tendo sede e fórum em Brasília –DF.

4 Manual de pais e dirigentes, uma parceria eficiente. Editado pela Federação Nacional das APAES –

1997, Atualizado pela Federação Nacional das APAES – 2008.

25

O Movimento em apoio ao excepcional logo se expandiu para outras capitais

e depois para o interior dos Estados. Hoje, com cinquenta e três anos decorridos, já

contam com mais de duas mil APAES espalhadas pelo Brasil. A implantação destas

APAES só foi possível devido à colaboração da sociedade em geral como, por

exemplo, dos profissionais liberais, dos políticos, do comércio, da indústria, enfim, de

todos que acreditam e lutam pela causa da pessoa com deficiência.

2.3.1 A APAE DE GURUPI – TO

Em 22 de fevereiro de 1989 foi fundado em Gurupi, Estado do Tocantins, a

Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais – APAE, tendo como precursora a

senhora Zaira Miranda, sob a supervisão da representante da Federação Nacional

das APAE´s, a senhora Aldeny de Carvalho Noleto. A fundação da Associação

contou também com a ajuda da Senhora Ana Maria Fonseca, presidente

administrativa da APAE e também com a ajuda de muitos moradores da cidade de

Gurupi que apoiaram essa causa.

Essa associação é uma escola que oferece suporte educacional aos

portadores de necessidades especiais e adotou como nome “Escola São Francisco

de Assis APAE”, a mesma classifica-se como uma Instituição Beneficente de

Assistência Social.

Foi em 16 de abril de 1990 que a escola conquistou o certificado de

Utilidade Pública Municipal para seu desenvolvimento, e no dia 08 de outubro de

1991 conseguiu o certificado Estadual, sendo que somente em 05 de Agosto de

1993 foi concedido o Certificado de filiação junto à Federação Nacional das APAES

(FENAPAE´s).

Cumpre ressaltar que, ao longo dos anos, a APAE de Gurupi teve várias

conquistas, tais como: 1º lugar no I Festival Estadual Nossa Arte, na categoria Artes

Visuais, com o desenho da máscara de tragédia e máscara comédia, representando

o símbolo de Artes Cênicas; a concessão do Registro no Conselho Nacional de

Assistência Social; a concessão do Certificado de Utilidade Pública Federal, em 12

de agosto de 1997; a aprovação da Grade Curricular, em 12 de Dezembro de 1997;

o Certificado de Fins Filantrópicos, em 23 de dezembro de 1997; e o Certificado de

26

Instituição Beneficente de Assistência Social, tornando-a, assim, uma associação

legalizada dentro dos parâmetros da associação filantrópica.

Com o passar dos anos, muitos convênios foram firmados e o número de

alunos aumentou de 50 (cinquenta) para 177 (cento e setenta e sete) e, durante

campanhas da TV local, colaboração da comunidade e promoções de eventos, a

APAE adquiriu sede própria, centro de reabilitação e um ônibus para o transporte

dos alunos. Segundo o histórico da instituição, a APAE de Gurupi, através de seus

representantes legais, tem se esforçado para cumprir o seu papel, priorizando a

educação das pessoas com deficiências, bem como viabilizando uma qualidade de

vida melhor aos alunos da Escola Especial São Francisco de Assis, assim como

também a sua inserção na sociedade e no mercado de trabalho competitivo.

Atualmente a escola conta com matrícula e atendimento de 196 alunos. As

dificuldades ainda são muitas, mas tem-se conseguido superá-las por meio da

ampliação das parcerias com a comunidade, empresa e órgãos públicos. Essas

conquistas são frutos da soma de esforços de diretores da instituição, profissionais,

voluntários, pais de alunos e membros da comunidade que buscam juntos vencer

obstáculos e descobrir talentos onde reside as diferenças.

2.4 INCLUSÃO OU INTEGRAÇÃO ESCOLAR?

Para entendermos o que é inclusão escolar, primeiramente iremos analisar

alguns aspectos introdutórios que nos trará maior esclarecimento sobre esse termo

que tem causado muitos questionamentos em nossa sociedade. Mantoan (2003, p.

13-20) deixa claro que vivemos em tempos de mudanças sociais, que englobam

mudanças tecnológicas, estruturais, diversidade de gênero, entre outras. Ou seja,

estamos convivendo com novos paradigmas e, nesse sentido, a autora menciona

que:

Conforme pensavam os gregos, os paradigmas podem ser definidos como modelos, exemplos abstratos que se materializam de modo imperfeito no mundo concreto. Podem também ser entendidos segundo uma concepção moderna, como um conjunto de regras, normas, crenças, valores e princípios que são partilhados por um grupo em dado momento histórico e

27

que norteiam nosso comportamento, até entrar em crise, porque não nos satisfazem mais, não dão conta dos problemas que temos que solucionar. (MANTOAN, 2003, p.11).

Mantoan (2003) passa a entender as mudanças que ocorreram em nosso

sistema educacional ao longo dos anos, visto que vivemos uma crise de paradigmas

e essa crise recorre à nova realidade que vivemos no sistema educacional. Ainda

segundo a autora, esse sistema disciplinar é incompatível com todas essas

mudanças que estamos vivendo, isso se deve a uma barreira para a inovação, pois

a lógica dessa organização é caracterizada por uma visão determinista, mecanicista,

formalista, reducionista, própria do pensamento científico moderno, que desconhece

o subjetivo, o afetivo, o criador, sem os quais não conseguimos romper com o velho

modelo escolar para produzir a mudança que a inclusão impõe.

Para chegarmos à inclusão que tanto queremos, Mantoan (2003, p.16) diz

que as escolas precisam quebrar paradigmas que causam a exclusão como, por

exemplo, a distinção entre ensino regular e ensino especial, alunos normais e alunos

diferentes. E para entendermos o que é inclusão, primeiramente precisamos

entender que Integração e Inclusão não é a mesma coisa. De acordo com Mantoan

(2003, p.15 e16), a Integração está preocupada com o acesso do aluno com

necessidades especiais à escola, independentemente de ser no ensino regular ou

especial. E esta integração é apenas parcial, pois a escola não dá o atendimento

adequado a esse aluno nem o clima favorável à inclusão, pois, na visão integradora,

a Escola não muda, são os alunos que precisam se adaptar à escola. Já a Inclusão

prevê a inserção de todos os alunos, sem exceção, nas escolas regulares de forma

radical, completa e sistemática. Portanto, a escola deve adaptar-se às necessidades

de cada aluno e não o aluno adaptar-se à escola.

De acordo com Guebert (2010, p. 17), a inclusão escolar fundamenta-se em

uma filosofia que possibilita a construção de igualdade de condições a todos, no que

se refere ao atendimento educacional e profissional, com o objetivo de oportunizar o

acesso e a permanência de alunos com necessidades educacionais especiais nas

escolas regulares brasileiras. Nesse viés, durante anos, vem se tomando medidas

para tornar a inclusão escolar uma realidade em nosso país. O objetivo das leis

destinadas a atender as necessidades de alunos com deficiência é mudar o quadro

de exclusão e segregação dos mesmos para escolas especiais, e priorizar o

28

atendimento de qualidade em escolas regulares como descreve Glat e Fernandes

(2005, p. 36):

A educação especial que por muito tempo configurou-se como um sistema paralelo de ensino, vem redimensionando o seu papel, antes restrito ao atendimento direto dos educandos com necessidades especiais, para atuar, prioritariamente como suporte à escola regular no recebimento destes alunos.

Segundo Mantoan (2003, p. 31), ao oposto do que alguns ainda pensam,

não há inclusão se a inserção de um aluno é condicionada apenas à matrícula em

uma escola ou classe especial. A inclusão resulta de sistemas educativos que não

são recortados nas modalidades regular e especial, não pode haver esta divisão de

identidades, pois as escolas regulares devem oferecer atendimento para todos os

alunos de acordo com a necessidade e capacidade de aprender de cada um, mas,

infelizmente, não estamos caminhando decisivamente na direção da inclusão, seja

por falta de políticas públicas de educação apontadas para esses novos rumos, seja

por outras razões menos abrangentes, mas relevantes, como pressões corporativas,

ignorância dos pais, acomodação dos professores, entre outros aspectos. A

inclusão é uma inovação que necessita de ações modernizadoras das condições

atuais da maioria de nossas escolas, especialmente as de nível básico. Se os

professores assumirem que as dificuldades de alguns alunos não são apenas deles,

mas resultam, em parte, do modo como o ensino é ministrado e de como a

aprendizagem é concebida e avaliada; se os educandos tomarem iniciativas

favoráveis ao auxílio dos alunos com deficiência, a inclusão não seria algo tão

distante da nossa realidade.

A principal barreira para se alcançar a inclusão escolar, de acordo com Pires

(2006, apud Silva, 2010, p. 126), é a própria característica de nossa sociedade, pois

ao mesmo tempo que defende a igualdade de direitos, o respeito às diferenças e os

valores entre os seres humanos, pratica a desigualdade amplamente. Isso se deve

às características marcantes da sociedade capitalista, onde somente os que têm

dinheiro usufruem de direitos humanos como a dignidade, a vida e o direito de

participar da vida social do país. O mesmo autor cita também outras barreiras que

vêm impedindo a efetivação da inclusão de alunos com necessidades educacionais

especiais nas escolas regulares. São elas:

29

Prédios escolares pouco ou nada adaptados, como, por exemplo, prédios

sem rampa, barreira de apoio, banheiro adaptado e portas alargadas para

permitir a passagem da cadeira de rodas, extintores localizados muito

baixos de modo que o aluno com deficiência visual possa esbarrar;

Adaptação insuficiente no mobiliário da escola (falta de mesas e cadeiras

adaptadas de acordo com as características dos alunos);

Número elevado de alunos por sala de aula;

Falta de recursos materiais, como material didático (livros em Braille, livros

falados, softwares educativos específicos) e equipamentos específicos

(computador com sintetizador de voz, dispositivos para acesso ao

computador);

Falta de recursos humanos, já que a inclusão escolar requer a contratação

de profissionais especializados, tais como interprete de Libras, professores

especializados em educação especial, psicólogo, fisioterapeuta,

fonoaudióloga, terapeuta ocupacional, entre outros.

Assim, percebe-se que estamos longe de alcançar a escola inclusiva que

tanto queremos, pois, como vimos, a inclusão escolar exige grande investimento

financeiro para se adequar a todas as leis favoráveis à inclusão. Para chegarmos lá,

devemos nos unir e lutar em busca desses direitos, pois a Lei foi implantada para

ser cumprida e como tal deve funcionar na prática.

2.5 TEATRO DE ANIMAÇÃO

O teatro de formas animadas é basicamente a manipulação de objetos

inanimados, é dar vida a objetos que não tem vida própria. Segundo Lino (2012,

p.12), o teatro de formas animadas é um campo da linguagem teatral no qual os

personagens são representados por formas e objetos que, ao serem animados por

atores (manipuladores), ganham vida e se tornam atores/personagens. Esses

personagens (objetos) ao serem manipulados expressam o que pensam, desejam e

sentem, através da técnica de manipulação. De acordo com Brochado (2009, p.06),

30

fazem parte do campo das formas animadas: máscaras, bonecos5, sombras e

objetos, e a manipulação dos mesmos constrói uma relação cênica com o

expectador.

O boneco, segundo Amaral (2011, p.71), é o termo usado para designar um

objeto que, representando a figura humana, ou animal, é dramaticamente animada

diante de um público. De acordo com Amaral (1993, p. 74), o boneco surgiu no

Oriente a partir da ligação entre a poesia e a musicalidade das palavras.

A dramaturgia desse tipo de teatro consistia principalmente em gestos

simbólicos quase sem fala e, quando as palavras ocorriam, eram poemas épicos

narrados por coro ou um só narrador, sempre acompanhado por instrumentos

musicais. No oriente, antes do ator se colocar, ao vivo, na cena, eram usadas

primeiramente sombras projetadas; depois, em terceira dimensão, os bonecos em si,

manipulados por fios e varas.

Durante séculos, em todas as manifestações teatrais da Europa, os atores

usavam máscaras, sendo muito difundido também o teatro de bonecos. Depois o

teatro de bonecos iniciou-se no Ocidente, e era apresentado como expressão do

povo, ligado à pantomima6. No decorrer dos anos, surgiram os diálogos

improvisados e tanto a pantomima quanto a improvisação não possuem registros na

história do teatro de animação, visto que negaram o texto.

De acordo com Amaral (1993, p.75), historicamente o boneco é reconhecido

como objeto sagrado, tanto por sua ligação com a máscara, como por se identificar

com objetos rituais. No oriente, o boneco sempre se apresenta em contexto

cerimonial e no Ocidente mais em espetaculariedade.

Amaral (2011, p. 71 e 72) relata que, nos últimos anos, convencionou-se

usar a palavra boneco como um termo genérico que abrangesse suas variadas

técnicas, como por exemplo: boneco de fantoches, ou boneco de luvas, boneco de

sombra, boneco de vara, entre outros. O autor continua dizendo que no teatro de

boneco, o boneco nunca é mecanizado, eletrônico e distingue-se também de

boneca, objeto lúdico infantil, pois na brincadeira infantil a animação é pessoal entre

a criança e seu objeto, sem a presença do público.

5 O campo das formas animadas é muito amplo, e para o fim desta pesquisa trataremos apenas sobre

o teatro de boneco. 6 Pantomima é a arte de narrar o corpo. Teatro gestual com o mínimo possível de palavras e o maior uso de

gestos através da mimica.

31

O teatro de boneco tem como origem a energia consciente do ator

manipulador, em uma relação com o público. Amaral (1997, p. 21) diz que o ator –

manipulador transmite energia ao boneco através de movimentos, criando, assim, na

matéria a ilusão de vida, dando a impressão que o mesmo possui vontade própria.

No teatro de animação, a imagem do personagem é sempre diferente da imagem do

ator manipulador, pois o objeto animado, quando bem manipulado, neutraliza a

presença do ator. O importante ao tentar dar vida ao inanimado e ressaltar as

características próprias da materialidade com que todo objeto é feito.

2.5.1 HISTÓRIA DA FORMA ANIMADA NO MUNDO E NO BRASIL

De acordo com Brochado (2009, p.06), há vários tipos de bonecos, sombras

e máscaras, que estão presentes há milhares de anos nas diversas culturas e

povos, e que ao longo do tempo foram se constituindo como expressões artísticas

codificadas.

Amaral (2007, p. 59) descreve a prática do teatro de formas animadas na

China, afirmando que o teatro de animação já era utilizado desde os tempos mais

remotos, antes de Cristo. Inicialmente as manifestações estavam ligadas à poesia e

à musicalidade das palavras e voltadas para rituais fúnebres; depois esses bonecos

passaram a ser usados em espetáculos.

O teatro de bonecos na China sempre esteve ligado à música. Os

espetáculos sempre estavam ligados a cenas voltadas à mitologia. Esses mitos e

lendas vinham sempre misturados com histórias de amor e crime, heróis e bandidos,

mas nunca deixando de utilizar o fantástico e o sobrenatural, segundo Lino (2012,

p.14). O personagem era considerado como reencarnação dos espíritos e cabia ao

ator- manipulador saber controlá-lo. Os bonequeiros tinham certo prestígio diante da

sociedade por serem equiparados aos mágicos, pois se pensava que tinham

poderes mediúnicos. Os bonequeiros, por serem considerados como exorcistas,

eram frequentemente requisitados para fazerem “limpeza” de casas ou ambientes,

para expulsar os maus espíritos.

Na Índia, Amaral (2007, p.81) relata que o teatro de bonecos já existia há

pelo menos 200 anos a.C, também possuía um caráter religioso. Segundo a crença,

Adi Nat teria sido o primeiro bonequeiro e teria surgido da boca do deus Brahma.

32

Suas manifestações se davam em formas de procissões compostas por narradores,

cantores e músicos que tocavam sinos e tambores. O enfoque dessas peças eram

epopeias que falavam de demônios, deuses, heróis e vilões, sempre o bem contra o

mal.

Já no Japão, segundo Amaral (2007, p. 87), o teatro de bonecos passou a

existir por volta do século VIII a.C., e suas apresentações estavam ligadas às

cerimônias xintoístas, que até hoje são uma tradição nos seus templos,

especialmente aos dedicados ao deus Oshira. O teatro de boneco no Japão, assim

como na Índia e na China, também era seguido de cerimônias que representavam

um duelo entre o bem o mal. E com o passar dos anos essas apresentações foram

ficando cada vez mais sofisticadas, os bonecos cada vez mais ricos e os gestos

cada vez mais cuidadosos e dramáticos. O teatro de bonecos no Japão possui três

elementos básicos: a música, o narrador com a parte literária e a arte do boneco

propriamente dita.

O teatro de bonecos na Itália é formado por muitas tradições que remontam

esse país. De acordo com Cormick (2002, apud Lino, 2012, p.33), muitos artistas

deixaram o país devido a Itália ter muitas regiões pobres e por esse fator muitos

foram em busca de melhoria de vida. Alguns artistas emigraram para o exterior

buscando ganhar mais dinheiro e divulgar seus trabalhos.

Segundo Brochado (2009, p.13), no século XVII, as companhias de

Commedia dell’Arte viajaram por quase toda a Europa Ocidental, levando o teatro de

bonecos, causando grande impactos e destacando os artistas italianos, os quais

influenciaram muito no desenvolvimento e unificação do teatro de bonecos em

muitos países da Europa. Os bonecos italianos, com a superioridade técnica dos

bonequeiros, tiveram contribuições significativas para o crescimento geral do

interesse do público pelo teatro de bonecos.

Já no Brasil, o teatro de boneco, de acordo com Chagas (2010, p.03), surgiu

a partir dos padres jesuítas, que descobriram o caráter pedagógico do teatro de

boneco para fins catequéticos no ensino dos índios. Com o desenvolver da cultura

brasileira, já na década de 1960 até 1980, nas comunidades populares do estado de

Pernambuco e da Paraíba, essa linguagem teatral foi um dos meios de comunicação

mais eficiente, pois através dessa arte os problemas sociais eram expostos para a

sociedade. Nesse contexto, podemos perceber que no Brasil o teatro de bonecos

não serviu apenas para animar, mas para formular a crítica à sociedade, à medida

33

em que os problemas sociais e os acordos políticos eram denunciados pelas tramas

encenadas.

De acordo com Lino (2012, p.18), o teatro de bonecos no Brasil tem crescido

muito nos últimos 50 anos, ampliando o número de adeptos e o gosto das pessoas

por essa arte. A presença mais forte do teatro de bonecos se dá no nordeste do

país, que teve influências das tradições europeias.

Brochado (2009, p. 31) diz que o teatro de boneco teria ganhado forças em

Pernambuco, a partir dos presépios de natal trazidos pelos padres franciscanos em

meados do século XVII. Geralmente essas peças sinalizavam o nascimento de

Cristo, tornando-se populares no Nordeste a partir do século XVIII e, ao longo do

tempo, novos elementos foram sendo acrescentados a essa prática de

representações religiosas com o mamulengo7. O teatro de bonecos se apresenta em

diversos estados brasileiros e, apesar de representar sua própria característica

cultural, possui muitas características em comum como, por exemplo, a estreita

vinculação com as camadas populares.

Lino (2012, p. 20) cita alguns grupos de teatro de bonecos que se destacam

no Brasil. São eles: A Cia Truks – teatro de bonecos, que surgiu em 1990 e

apresenta seus espetáculos de teatro de bonecos em escolas, instituições e

espaços alternativos em todo Brasil, além de participar de mostras e festivais de

teatro no exterior, ministra cursos de manipulação de bonecos, suas técnicas de

manipulação vêm da centenária arte japonesa, inspirada no bunraku; o grupo

Giramundo, que surgiu em 1970, a partir da iniciativa do artista plástico Álvaro

Apocalypse, quando professor da Escola de Belas Artes da UFMG (Universidade

Federal de Minas Gerais), é um dos mais significativos grupos teatrais de formas

animadas do Brasil, o qual desenvolveu os bonecos que fizeram sucesso na

minissérie “Hoje é Dia de Maria”, exibida pela Rede Globo de Televisão, esse grupo

é considerado um dos grupos mais produtivos nessa esfera teatral no âmbito

nacional.

Segundo o DVD Giramundo: uma história de títeres e marionetes8, animar o

inanimado, fazer um boneco ganhar vida enquanto se manipula, vem sendo o

7 Espetáculo de fantoches, de conteúdo frequentemente crítico, que representa cenas entre boneco e

público, boneco e operador, ou entre dois bonecos. É um dos mais ricos espetáculos populares do nordeste brasileiro. Disponível em: basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar /index.php?option =com. 8 Disponível em arteescola.org.br/dvdteca/catalogo/dvd/93/.

34

trabalho do grupo Giramundo, que mantém viva a fantasia do sonho de Álvaro

Apocalypse. Um sonho que começa na infância, com sua mãe professora, e se

consolida, especialmente, a partir dos anos de 1990, como um centro de referência

na área do teatro de bonecos, implantando três eixos institucionais: o museu, o

teatro e a escola Giramundo.

Além dos dois grupos citados acima, destaca-se também Augusto Cesar

Barreto Oliveira, vulgo Augusto Bonequeiro, pernambucano radicado no Ceará,

especialista na arte do teatro de bonecos, reconhecido internacionalmente e muito

conhecido especialmente no Ceará, onde tem um programa de televisão no qual

apresenta seus bonecos, contracenando com a atriz e jornalista Hiramiza Serra.

Augusto encanta o público, especialmente com o personagem “Seu Encrenca”.

Como se pode notar, no Brasil o teatro de fantoche é bem difundido no meio

artístico e vem ganhando forças no meio educacional.

2.5.2 TEATRO DE BONECO NA EDUCAÇÃO

O teatro de fantoche na educação consiste em proporcionar ao educando

uma forma de aprendizagem lúdica e simples. De acordo com Lino (2012, p. 24), o

boneco encaixa muito bem no contexto educacional, pois trata-se de uma

aprendizagem lúdica que auxilia no processo de ensino e aprendizagem, trazendo o

faz de conta como ferramenta e como conhecimento.

E essa forma de ensino é defendida por muitos autores como, por exemplo,

Lev S. Vygotsky (1896-1934). Esse autor analisa o faz de conta, enfatizando a

vinculação existente entre o real e o imaginário num processo dialético constante,

garantindo que existe um impulso criativo capaz de transformar o real em novas

combinações, Vigotsky (1998, p.117).

Para Vygotsky, a criança representa simbolicamente o mundo na

brincadeira, e no teatro ela aprende que há uma representação simbólica nos

movimentos realizados através dos bonecos. Desse modo, o boneco traz ao aluno

uma liberdade de expressão, exercitando sua criatividade na medida em que

manipula o boneco, na forma teatral, à frente do público.

35

De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs, p. 57) de Arte,

a criança desenvolve a capacidade da teatralidade como um potencial e como uma

prática espontânea vivenciada nos jogos de faz de conta:

O ato de dramatizar esta potencialmente está contido em cada um como uma necessidade de compreender e representar uma realidade. Ao observar uma criança em suas primeiras manifestações dramatizadas, o jogo simbólico, percebe-se a procura na organização de seu conhecimento do mundo de forma integradora. A dramatização acompanha o desenvolvimento da criança como uma manifestação espontânea para o jogo de regras, assumindo feições e funções diversas, sem perder jamais o caráter de interação e de promoção de equilíbrio entre ela e o meio ambiente. Essa atividade evolui do jogo espontâneo para o jogo de regras, do individual para o coletivo. (BRASIL, 1998, p. 57)

Segundo Lino (2012, p.25), o ensino e aprendizagem por meio do lúdica é um

método valioso para o professor, pois promove uma troca de conhecimento, e essa

troca promove condições necessárias para uma aprendizagem efetiva.

Essa prática educacional, segundo Amaral (1993, p.71), é tão antiga quanto

o teatro de atores, e vem educando, estimulando, divertindo, cativando e

provocando questionamentos a crianças e adultos em todas as partes do mundo. O

teatro de bonecos, na prática da arte na escola, especialmente no Ensino

Fundamental, amplia as possibilidades para o aprendizado, pois reúne o ato de criar

ao processo de assimilação dos saberes. Contudo, Lino (2012, p.26) diz que é

preciso muito mais que saber manipular o boneco, o professor precisa conhecer a

história do teatro de boneco, sua origem, bases e, principalmente, os objetivos

dessa prática tão rica em possibilidades.

Segundo Lino (2012, p.26), os benefícios de se utilizar o teatro de boneco no

processo de ensino e aprendizagem vêm estimulando a criação de novos espaços

escolares para uma nova interação entre os conteúdos escolares e os diversos

conhecimentos vivenciados no ato do fazer artístico e na diversidade temática que a

dramatização possa abordar. E esses fatores, de acordo com Amaral (1993),

beneficiam grandemente a relação afetiva que se estabelece entre o grupo e entre a

criança e o boneco, que normalmente é ausente nas práticas tradicionais

pedagógicas que se limitam a um aprendizado mecânica, negando emoções,

sentimentos e formas diferenciadas de expressão.

E essa proximidade acontece no próprio ato do fazer teatral, que

proporciona aos sujeitos vários saberes, técnicas e percepções, possibilitando a

36

interação entre a teoria e a prática, alcançando resultados que tanto as escolas,

quanto seus docentes, buscam encontrar. Perante tantos benefícios proporcionados

pelo teatro de bonecos, chegamos a um questionamento: porque o teatro de

fantoche é pouco usado nas escolas? Lino (2012, p. 27) diz que o teatro de bonecos

deixa de ser praticado nas escolas devido às muitas dificuldades encontradas pelos

professores, os quais alegam ser trabalhoso, uma vez que requer materiais

indisponíveis de imediato nas escolas públicas. Todavia, sabemos que tal parecer

não procede, visto que se pode fazer bonecos de meia (fantoche)9, papel, latas,

garrafa pet, plásticos, enfim, inúmeros materiais, vai depender apenas da

criatividade de cada professor.

Amaral (1993, p.80) relata que o trabalho artístico passa por uma série de

obstáculos, como falta de verbas para montagens e apresentações, falta de

conhecimento por parte dos educadores, burocracia dos órgãos e departamentos

culturais de incentivo, entre outros. E para mudar esse quadro, os professores

deveriam lutar por esses recursos, pois esta prática artística vem como facilitador do

conhecimento, auxiliando o professor de forma direta em todas as áreas do

conhecimento.

2.6 MÚLTIPLAS INTELIGÊNCIAS NA PRÁTICA ESCOLAR

Segundo Smole (1999 p.06), durante muito tempo, o conceito de inteligência

foi, e ainda é, algo que podia ser medido. Nesse ponto de vista, seria possível

quantificar a inteligência por meio de testes especialmente preparados para isso.

Esses testes eram baseados em questões lógico-matemáticas e linguísticas, tinham

por função medir quanta inteligência uma pessoa possuía, ou seja, a quantidade de

Ql (Quociente de Inteligência) que, por sua vez, identificaria sua capacidade

intelectual. Desde os primeiros testes, idealizados em 1908 por Alfred Binet, até

hoje, diferentes versões desse tipo de instrumento foram sendo elaboradas e

utilizadas, para explicar a mente humana e justificar como, por exemplo, o fracasso

9 O teatro de fantoche é o modelo de boneco utilizado para o fim desta pesquisa.

37

escolar, avaliar candidatos a empregos, justificar determinados comportamentos e

assim por diante.

De acordo com Smole (1999 p.07), para alguns psicólogos e educadores

dos Estados Unidos, esses testes de QI representavam um enorme potencial para

avaliar e comparar pessoas. Não demorou muito para que se manifestasse, tanto na

comunidade científica quanto em toda a sociedade, um grande entusiasmo pelos

instrumentos que serviriam para testar a inteligência.

A autora continua dizendo quede acordo com o livro A falsa medida do

homem, de Stephen Gould, alguns pesquisadores adotaram os testes com boas

intenções, mas que na maior parte, erroneamente, esses testes foram utilizados de

maneira estigmatizadora, para rotular e classificar pessoas, além de gerar

julgamentos a respeito das limitações dos indivíduos.

O uso dos testes de Ql caminhou junto com a crença de que a inteligência

era herdada, passada de uma geração para outra e, portanto, cada indivíduo

nasceria com uma determinada “quantidade” de inteligência e assim seria possível

elaborar testes para qualificar e classificar as pessoas em relação a sua inteligência.

Desde a criação dos testes de inteligência, esse método de avaliação, de

acordo com Smole (1999, p.7), vem recebendo críticas frequentes, em particular a

partir da década de 70, pois alguns estudiosos não concordam com esses testes

de QI que quase sempre se resumem a medir aptidões linguísticas e lógico-

matemáticas do indivíduo, deixando de fora uma série de outras habilidades que

também podem constituir para manifestações de inteligência. E nesse sentido,

Smole (1999, p.8-10) destaca Howard Gardner um psicólogo cognitivo muito

conhecido, em especial, por suas teorias de inteligências múltiplas, que vem tratar

justamente da capacidade cognitiva das pessoas. Sua teoria mudou de forma

significativa o conceito de escola e de aula e trouxe novas explicações sobre as

competências humanas, mostrando que o sistema tradicional de avaliação,

baseado na capacidade de dominar conceitos escolares específicos, necessitava

de mudanças e que não havia mais sentido em distinguir um aluno mais inteligente

que outro, apenas porque dominava com maior ou menor facilidade as explicações

e atividades de seu professor.

Gardner, segundo a autora, buscava ultrapassar a noção comum de

inteligência, como um potencial que cada ser humano possui em menor ou maior

extensão. Para Gardner, as pessoas possuem capacidades diferentes, das quais

38

se valem para criar algo, resolver problemas e produzir bens sociais e culturais,

dentro de seu contexto. A teoria de Gardner pressupõe que há mais de uma

inteligência: ele inicialmente propôs oito, mas é possível que existam outras. Ele

afirma que as inteligências podem ser estimuladas. O contexto social, a escola, a

oportunidade de explorar e realizar atividades diferentes são fatores que podem

interferir no desenvolvimento das inteligências. A autora continua dizendo que para

Gardner as inteligências se combinam de forma única em cada pessoa, pois a

mesma nasce com todas as inteligências, que se desenvolverão durante toda sua

vida. Não há como padronizar as combinações das inteligências, são únicas, tal

como as impressões digitais. Gardner propôs oito tipos de inteligências básicas, as

quais todas as pessoas, independentemente de ter algum tipo de deficiência ou

não, possuem. São elas:

ESPACIAL: ver o mundo em 3D;

NATURALISTA: entender os seres vivos e a natureza;

MUSICAL: diferenciar sons, ritmos, tons e timbres;

LOGÍSTICO-MATEMÁTICO: fazer e provar quantificações e hipóteses;

LINGUÍSTICA: encontrar as palavras certas para se expressar;

INTRAPESSOAL: entender a si mesmo, entender o que se sente e o que se

quer;

CORPORAL- CINESTÉSICA: coordenar sua mente com seu corpo;

INTERPESSOAL: entender os sentimentos e motivações das pessoas.

De acordo com as teorias de Gardner, concordo que todos os indivíduos

desenvolvem algum tipo de inteligência, podendo se enquadrar em alguns dos

aspectos citados acima. E nessa visão, Smole (1999, p.19) diz que a escola tem um

papel muito importante, pois adotando o referencial das inteligências múltiplas como

uma das bases teóricas, a escola passa a olhar para os alunos de modo mais amplo

e passa a descobrir que eles podem ser “inteligentes” não apenas em línguas e

matemática, mas também no modo de movimentar seu corpo seguindo uma música,

no modo de produzir uma escultura, ou na maneira de se relacionar com os outros.

39

2.7 HISTÓRIA DA ARTE EDUCAÇÃO NO BRASIL

A Arte sempre esteve presente em todas as formações culturais da história

da humanidade. Os PCNs de Arte fazem esta descrição ao dizer:

Desde o início da história da humanidade, a Arte sempre esteve presente em praticamente todas as formações culturais. O homem que desenhou um bisão numa caverna pré-histórica teve que aprender, de algum modo, seu ofício. E, da mesma maneira, ensinou para alguém o que aprendeu. Assim, o ensino e a aprendizagem da Arte fazem parte, de acordo com normas e valores estabelecidos em cada ambiente cultural, do conhecimento que envolve a produção artística em todos os tempos. No entanto, a área que trata da educação escolar em Artes tem um percurso relativamente recente e coincide com as transformações educacionais que caracterizaram o século XX em várias Artes do mundo (BRASIL, 1997, p. 21).

De acordo com Lemes (2014, p. 17, 18), a arte dramática brasileira surgiu

no século XVI, quando Portugal começou a fazer do Brasil sua colônia e os

Jesuítas, sob a liderança do Padre José de Anchieta, com o intuito de catequizar

os índios implantaram aqui uma nova religião, a católica. E com esse propósito, os

padres faziam apresentações teatrais baseadas na Bíblia, as quais tinham caráter

estritamente pedagógico (as apresentações eram feitas de muitas formas, eles

utilizavam, além de apresentações teatrais, o teatro de animação, sombras e

manipulações de objetos e bonecos).

Os índios já tinham uma inclinação natural para a música, a dança e a

oratória, e isso contribuiu para o desenvolvimento da arte teatral que, além de

diversão, era um instrumento de civilização e de educação religiosa.

De acordo com Siebert e Chiarelli (2009, p.03), somente com a queda da

Monarquia em 1889, e a afinidade dos que estavam no comando do governo com

as ideias positivistas10, se conseguiu firmar todos os setores da vida social e

cultural no cenário político de nosso país.

De acordo com Barbosa (1979, p.67), o positivismo e as reformas

educacionais foram liderados, após a proclamação da República, pelo positivista

Benjamim Constant que, desde o início, deu ênfase às ciências juntamente com as

artes. E foi nesse período que a arte foi incluída no currículo como desenho

10

O positivismo limita-se aos fatos ou objetos em si, sendo válido somente o que puder ser observado ou medido quantitativamente.

40

geométrico (o ensino da arte por forma geométrica tinha o objetivo de melhorar a

mão de obra para a indústria). Isso aconteceu, segundo a mesma autora, por que

“a Arte era encarada como um poderoso veículo para o desenvolvimento do

raciocínio, desde que, ensinada através do método positivo, subordinasse a

imaginação à observação, identificando as leis que regem a forma”. (BARBOSA,

1979, p. 67).

De acordo com Ferraz e Fusari (2010, p. 17), a Educação através da arte

foi difundida no Brasil a partir das ideias do filósofo inglês Herbert Read (1948) e

apoiadas por educadores, artistas, filósofos etc, que defendiam que a arte não é

apenas uma das metas da educação, eles viam a arte como independente, tendo

seu próprio processo criador.

No ano de 1922, segundo Barbosa (1979, p.44),ocorreu o movimento da

arte moderna que deu início a uma grande renovação metodológica no campo da

Arte-educação, pois foi nesse período que as ideias da livre expressão infantil

foram idealizadas por muitos artistas e estudiosos, entre eles posso citar o escritor

Mario de Andrade e a artista plástica Malfatti, ambos participantes e idealizadores

da Semana de Arte Moderna, que aconteceu no teatro municipal de são Paulo. As

obras expostas tinham a ideia de quebrar com os modelos europeus vigentes até

então e criar uma linguagem mais brasileira, seja pelas cores, que lembram a

bandeira do Brasil, seja pela valorização dos elementos nacionais.

De acordo com Barbosa (1979, p.46), a concepção da livre-expressão na

educação teve como principal finalidade permitir que a criança expresse seus

sentimentos, através da arte, a fim de que entenda que a arte não é ensinada, mas

sim expressada. A mesma autora afirma que as ideias de livre expressão para a

criança no Brasil surgiram em 1948, através de escolinhas de Arte, idealizadas por

Augusto Rodrigues, cujo objetivo mais importante da Arte na Educação era o

desenvolvimento da capacidade criadora.

Com o passar dos anos, o ensino de artes passou a fazer parte do

currículo escolar e, nesse sentido, Ferraz e Fusari (2010, p.17) nos traz o

significado da Arte-Educação, dizendo que é simplesmente a arte dentro do

sistema educacional e que, nas últimas décadas, os termos educação através da

arte e arte educação foram vinculados ao contexto educacional, mesmo não tendo

um reconhecimento institucional, sendo que posteriormente passou a ocupar a

disciplina de Educação Artística.

41

Segundo Siebert (2009, p.06), a pretensão do governo com a disciplina de

Educação Artística era formar professores para trabalhar com todas as linguagens

artisticas (musical, cênica e plástica). E a partir dessas ideias, no ano de 1971,

foram criados os primeiros cursos de Licenciatura em Educação Artística com curta

duração e os de Licenciatura plena. Nesse período, muitos cursos de bacharelo em

Artes existentes foram transformados em licenciatura, isso aconteceu, segundo a

mesma autora, devido à grande necessidade imediata desses profissionais nas

escolas.

Os professores formados eram conhecidos como polivalentes e

estudavam superficialmente todas as línguas e aplicavam vários métodos e

técnicas para ensinar a Arte. Foi aí que surgiram os livros didáticos da área, que

foram seguidos fielmente por alguns profissionais. Ao seguirem essa didática, os

professores acreditavam que as atividades expressivas bastavam para que os

alunos conhecessem todas as linguagens da arte.

De acordo com Siebert (2009, p.07), nos anos de 1980, iniciou-se o

Movimento de Arte-Educação, o qual mobilizou parte dos professores de arte do

ensino formal e informal com o objetivo de discutir as metodologias no ensino da

arte e a função desta.

Esse movimento ganhou forças, no ano de 1988, quando iniciou as

discussões para a Nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Nessa

mesma época, Barbosa começou a proferir palestras para a arte-educação de todo

o Brasil sobre a utilização de imagens de obras de arte, enfatizando a grande

necessidade de iniciar as crianças na leitura de obras de arte e de contextualizar a

imagem historicamente, para que, assim, as crianças pudessem produzir.

Siebert (2009, p.08) relata que no ano de 1990, Ana Mae Barbosa propôs a

metodologia triangular (leitura de imagem, produção, e contextualização), que se

espalhou por todo o país e ganhou adeptos entre os professores de Educação

Artística, que passaram a trabalhar não só com a produção artística, mas no ensino

a partir das três ações propostas pela metodologia triangular de Barbosa. Ver

diagrama 1.

42

Diagrama 1 – Metodologia triangular

Fonte : BARBOSA, 2009.

O diagrama 1 mostra três eixos no qual as setas não seguem uma única

direção, mostrando, assim, que a Proposta Triangular não segue uma sequência

metodológica, ora pode-se trabalhar leitura de imagens e partir para a

contextualização, ora para a produção artística, ocorrendo o mesmo com os demais

eixos, não sendo uma metodologia estática.

Segundo Barbosa (1998, p.33), sua proposta de Metodologia Triangular foi

infeliz, pois “metodologia é a construção de cada professor em sua sala de aula”. A

autora quis com essa proposta reestruturar o ensino da arte no Brasil, pois as

escolas ensinavam apenas as formas geométricas, a livre expressão, os desenhos

prontos, as produções baseadas nas datas comemorativas.

Segundo a mesma autora, os professores interpretaram a proposta

triangular de forma errônea ou aprenderam dessa forma e passaram a aplicar

separadamente cada uma das vertentes, ou seja, passaram a lecionar

primeiramente a contextualização, depois faziam a leitura de imagens e, por fim, a

produção artística, seguindo em todas as aulas essa mesma sequência.

Outra interpretação errônea e equivocada que os professores tiveram foi a

restrição do fazer artístico à releitura de obras de arte. De acordo com Barbosa

(1998, p.17), “a anemia teórica domina a arte-educação, que está fracassada na sua

missão de favorecer o conhecimento nas e sobre artes visuais, organizando de

Produção

Contextualização Leitura de Imagens

43

forma a relacionar produção artística com apreciação estética e informação

histórica”.

De acordo com os PCNs (BRASIL,1997, p. 30), somente em 1997, com a

nova LDB, a concepção do ensino de Artes foi totalmente reformulada, mudando até

a nomenclatura de Educação Artística para Artes. Assim, a LEI n° 9394/96 revogou

as disposições anteriores e a Arte passou a ser considerada obrigatória na

educação básica, conforme o seu artigo 26, §2º: “O Ensino da arte constituirá

componente curricular obrigatório, nos diversos níveis da educação básica, de forma

a promover o desenvolvimento cultural dos alunos”. (BRASIL, 1996, p. 18).

Contudo no Brasil nem a mera obrigatoriedade nem o reconhecimento da

necessidade do ensino de Artes são suficientes para garantir a existência da arte no

currículo. As Leis tão pouco podem garantir um ensino/aprendizagem de qualidade

que torne os estudantes capazes de entender a arte ou a imagem na condição pós-

moderna contemporânea.

44

3 ARTE-EDUCAÇÃO POR MEIO DO PROJETO “TEATRO DE FANTOCHE: UM APRENDIZADO EFICAZ E INCLUSIVO”

3.1 JUSTIFICATIVAS

O presente tema justifica-se a partir de um interesse pessoal, pela disciplina

de Teatro de Foras animadas, estudada durante a minha trajetória acadêmica no

curso de Licenciatura em Artes Cênicas e também pelo trabalho voluntario

desenvolvido por mim na Escola Especial São Francisco de Assis- APAE de

Gurupi, onde pude vivenciar vários fazeres artísticos desenvolvidos pelos alunos

apaianos.

A escolha do teatro de fantoche como meio de conhecimento se justifica, por

ser um valioso recurso na arte de ensinar, pois proporciona ao educando uma

forma de aprendizagem lúdica e simples que estimula a imaginação e criatividade

do aluno.

Escolhi trabalhar com alunos que necessitam de atendimento educacionais

específicos, devido a vários questionamentos que apontam a exclusão destes

alunos das escolas regulares, ocasionado pelo despreparo das escolas em garantir

não só a vaga como também o ensino de qualidade e a permanência dos mesmos,

nas redes regulares de ensino, garantido pela lei LDBEN N° 9.394/1996, como

vimos anteriormente em Mantoan (2005).

E Nesse sentido, o projeto veio mostrar que as leis e decretos podem sim

funcionar, se forem colocadas em prática.

3.1.2 OBJETIVOS

GERAL

Estimular o protagonismo criativo nos alunos, de forma que eles

passassem de observadores para criadores de sua própria peça de teatro de

fantoche.

45

ESPECÍFICOS

Incentivar os professores a utilizarem o teatro de fantoche no auxílio à

aprendizagem do aluno com necessidades educacionais específicas;

Mostrar que o aluno com deficiência tem as mesmas capacidades de um

aluno sem deficiência, que são capazes de aprender e desenvolver muitas

habilidades, apesar das muitas limitações;

Compreender melhor o ensino da arte para alunos com necessidades

educacionais específicas e seus benefícios.

3.1.3 DESENVOLVIMENTO

E com o intuito de explorar a Arte dentro da educação inclusiva, elaborei o

projeto de pesquisa intitulado: Teatro de Fantoche: um Aprendizado Eficaz e

Inclusivo, que trabalhou a Arte por meio do teatro de fantoche. Como vimos em

Vigotsky (1998), o teatro de boneco (fantoche) proporciona ao educando uma forma

de aprendizagem lúdica e simples. E por ser lúdico auxilia no processo de ensino e

aprendizagem, pois traz o aluno para o mundo da imaginação, variando entre o real

e o imaginário, num processo dialético constante e proporcionando à criança o

desenvolvimento da capacidade criadora. Partido desse pressuposto, o projeto em

comento fundamentou-se na Arte-Educação como método eficaz e inclusivo no

processo de ensino e aprendizagem do aluno.

O campo de pesquisa escolhido foi a Escola Especial São Francisco de

Assis APAE de Gurupi-TO. A escolha de uma escola especial para esta pesquisa

se deve à falta de número de alunos com necessidades educacionais especifica

suficiente nas redes regulares de ensino desta cidade de Gurupi. Acredito que esta

realidade se deve a segregação dos mesmos para as escolas especiais, por falta

de preparo das mesmas para incluir de fato o aluno com deficiência dentro do

contexto educacional regular, como já relatado anteriormente por Mantoan (2003).

Este projeto traz o Teatro de Fantoche como meio de conhecimento e

socialização, para estimular o imaginário e aprendizagem dos alunos, motivando-

os a criar e apresentar sua própria história através de fantoches que eles mesmos

criaram. Com o intuito de mostrar que os alunos com deficiências também são

46

capazes de aprender e desenvolver muitas habilidades. Como já citado por

Gardner (1994), todo ser humano tem um potencial em menor ou maior extensão,

todos possuem capacidades diferentes e podem desenvolver diferentes

habilidades, pois, de acordo com a teoria das inteligências múltiplas de Gardner,

não tem como medirmos a capacidade de cada aluno apenas nas disciplinas de

línguas e matemática, pois podem ser inteligentes também em outras áreas do

conhecimento, desde que o ensino seja diferenciado, utilizando recursos

pedagógicos no processo de ensino e aprendizagem. E, nesse sentido, trabalhei

com os alunos da APAE de Gurupi de forma a despertar a criatividade de cada um,

reconhecendo que todos são capazes de desenvolver novas atividades, levando

em consideração suas limitações.

A APAE de Gurupi tem desenvolvido um trabalho muito satisfatório com os

alunos. A arte está bem difundida no meio educacional da escola. Durante minha

pesquisa de campo, observei que os alunos apaianos desenvolvem muitos trabalhos

artísticos, em sua maioria trabalhos manuais, como representações de paisagens

em quadros, pinturas de desenhos, colagens, confecção de tapetes, artesanatos

com materiais recicláveis. Além disso, trabalham também com a música, a dança e o

teatro.

O teatro de fantoche, juntamente com todos esses trabalhos que já vêm

sendo desenvolvidos, traz muitos benefícios, uma vez que, esse recurso pedagógico

estimula a criação de novos espaços escolares, para uma nova interação entre os

conteúdos escolares e os diversos conhecimentos vivenciados no ato do fazer

artístico e na diversidade temática que a dramatização possa abordar conforme

citado anteriormente por Lino (2010).

O projeto desenvolvido na APAE de Gurupi teve como uma das metas

incentivar os professores a utilizarem o teatro de fantoche no auxílio à aprendizagem

do aluno com necessidades educacionais especificas, pois, como vimos em Lino

(2012), o teatro de fantoche é um forte aliado na construção do conhecimento, visto

ser uma metodologia lúdica, que promove uma troca de conhecimento, e esta troca

promove condições necessárias para uma aprendizagem efetiva.

O projeto Teatro de Fantoche: um Aprendizado Eficaz e Inclusivo foi

aplicado na Escola Especial São Francisco de Assis APAE de Gurupi-TO nos dias

30 e 31 do mês de maio e 01, 02, 03 e 04 do mês de junho do ano de 2016. Para a

participação no projeto, foram escolhidos 12 alunos que, posteriormente, aumentou

47

para 15, sendo duas surdas, duas deficientes visuais, dois com Síndrome de Dwon,

três com deficiência física e seis com deficiência mental. Para a escolha dos alunos

participantes, contei com a ajuda da professora de artes, Percília Monteiro, que fez a

seleção dos mesmos. Os critérios utilizados para a escolha dos alunos foram:

comportamento, interesse pelas aulas. Optei por trabalhar com mais de um tipo de

deficiência justamente para colher resultados mais satisfatórios.

O projeto foi dividido de acordo com o diagrama a seguir:

Diagrama 2 – Etapas do projeto

Fonte: Diagrama elaborado pela própria autora.

No primeiro dia, fiz a acolhida com uma peça de teatro de fantoche com o

tema Quem Comeu o Meu Sorvete. Essa peça foi criada por mim no intuito de

apresentar aos alunos o que é o teatro de fantoche e ao mesmo tempo motivá-los a

participar do projeto. Durante a apresentação, eles sorriram bastante, gostaram

muito e até participaram quando os bonecos de fantoche falavam com eles (plateia).

De fato, entraram dentro da história, os bonecos de fantoche lhes chamaram muito a

atenção. O teatro apresentado conta a história de uma mãe que tinha dois filhos o

Kiko e a Gigi, filhos que eram muito teimosos e que brigavam muito. Um dia, a mãe

comprou um pote de sorvete de chocolate e guardou na geladeira e avisou aos filhos

para não comerem o seu sorvete. Mais tarde, quando ela chegou do trabalho e

procurou o sorvete para tomar, percebeu que tinha sumido da geladeira. A mãe fica

extremamente irritada e começa a gritar: “quem comeu o meu sorvete?” Chama o

Kiko e ele jura que não foi ele e acusa falsamente Gigi de ter comido o sorvete, a

mãe chama Gigi que também nega. E de repente a mãe vira para a plateia e

começa a acusar alguns participantes de terem comido o sorvete. Nesse momento,

6º Dia

Culminância do projeto.

5º Dia

Ensaio geral.

4º Dia

Oficina de

manipulação dos

fantoches.

3º Dia

Confecção de fantoches

(personagens da história)

em conjunto com os alunos.

2º Dia

Trabalhar improvisação de histórias através de recursos visuais.

1º Dia

Acolhida.

Apresentação do projeto.

Contação de história com

fantoche.

48

todos caem na gargalhada. No desfecho da história, a mãe descobre que foi Kiko

que comeu o sorvete e o mesmo é castigado severamente. No final da peça de

teatro, a mãe (personagem) faz uma reflexão sobre a importância de se obedecer

aos pais, e de sempre falar a verdade. Os alunos compreenderam a mensagem do

teatro e fizeram vários comentários sobre a desobediência de Kiko. Fotos 1 e 2.

Fotos 1 e 2 – Apresentação do teatro de fantoche: “quem comeu o meu sorvete?”

Fonte: acervo pessoal

No segundo dia, a turma foi dividida em três grupos. Sendo o primeiro com

cinco integrantes, o segundo com quatro e o terceiro com seis (os grupos não foram

divididos igualmente, pois eles se recusaram a fazer grupo com colegas que não

possuem muita afinidade, portanto resolvi respeitar a vontades deles para não gerar

conflitos. Para cada grupo distribui imagens de diferentes temas como, por exemplo,

imagens de paisagens da natureza, de pessoas, festividades, etc., e propus que

através daquelas imagens cada grupo criasse uma história para ser apresentada no

final do projeto. Citei como exemplo a peça apresentada “Quem comeu o meu

sorvete?” para ajudar na criação da história. Os alunos ficaram bem animados e

gostaram das imagens, cada um dava uma ideia diferente. Em todos os grupos

havia diferentes tipos de deficiências e para norteá-los contei com a ajuda de dois

voluntários, Nayara Botelho e Joe Fernando, ambos do curso de Licenciatura em

Artes Cênicas que, junto comigo, fazem parte do Projeto de pesquisa

APAEVISANDO EM BUSCA DE UMA AÇÃO PROTAGONISTA dentro da Apae de

Gurupi. A Nayara ficou com o grupo um, eu com o grupo dois e o Fernando com o

grupo três. No grupo um ouve algumas dificuldades, pois os integrantes não se

aceitavam muito bem, mas com o desenvolver da criação da história foram se

socializando.

49

O tema do teatro do grupo um foi: Confusões do amor. O texto conta a

história de Valéria, uma moça grávida que se sentia triste, pois o pai de seu filho

tinha fugido com outra. Assim, para espairecer, foi a uma festa, mas ouve uma

tremenda confusão, briga, tiro, e Valéria passa mal, então um rapaz chamado Zé,

vendo que ela estava grávida, chama o SAMU, ao chegar ao hospital, dá à luz a um

lindo bebê. Valéria fica feliz e triste por estar só, e começa a se lembrar de Zé que a

ajudou. Descobre que está apaixonada por ele. Só que Zé também tinha sumido.

Um dia Valéria começa a receber cartas de um admirador secreto. Ela fica toda feliz

e cheia de esperanças, imaginando quem poderia ser. Ele marca um encontro na

praia e quando ela o vê se assusta, pois era o médico que fez seu parto. Ela se

apaixona pelo seu lindo sorriso e vai morar na fazenda dele com seu filho, e vivem

felizes para sempre.

O grupo dois teve algumas dificuldades na criação da história, pois tiveram

muitas ideias diferentes ao mesmo tempo, estavam muito ansiosos para apresentar

o teatro de fantoche, mas com as imagens e meu auxilio, eles conseguiram criar a

história a ser encenada.

O tema do teatro do Grupo dois foi: Engravidou, vai ter que casar. O texto

conta a história de dois melhores amigos, Castanha e Caju. Só que Caju não

suspeitava que Castanha tinha virado seu amigo com a má intensão de namorar

com sua irmã Maria. Com o tempo Maria fica grávida e vai desesperada falar para

Castanha, que a rejeita, Maria o ameaça dizendo que iria contar para Caju se ele

não casasse com ela e sai aos prantos. Castanha, temendo que ela contasse,

resolve ele mesmo contar e convida Caju para tomar sorvete e revelar o ocorrido.

Na sorveteria, Castanha se faz de coitado e conta que tem uma moça mentindo

estar grávida dele. Caju o aconselha dizendo para ele não assumir, então Castanha

sente-se amparado pelo amigo e revela que a moça é Maria sua irmã, Caju quando

ouve que seu melhor amigo tinha tirado a honra de sua irmã fica furioso, bate nele,

xinga e diz para ele casar com sua irmã ou ele o matava. Castanha foge para bem

longe, mas Caju não desiste de procurá-lo. Depois de muito tempo, Caju o encontra

e o leva para a igreja. Com medo de morrer, se vê obrigado a casar. Maria fica feliz

e Castanho passa a ter que trabalhar para cuidar da esposa e filho.

O grupo três teve um bom desenvolvimento e com muita facilidade criou

também sua história com o tema: Amizade. O texto conta a história de Pedro, um

menino surdo que era discriminado por Dolly na escola. Laura, vendo Dolly

50

maltratando Pedro, começa a questioná-lo porque está maltratando o pobre menino.

Dolly diz que é porque ele não diz nada, não responde, só faz barulho. Laura explica

que Pedro é surdo e só fala por sinais. Dolly fica triste por ter maltratado o pobre

menino. Laura tem uma ideia para ele se desculpar, ela fala que é aniversário de

Pedro e que eles podiam fazer uma festa surpresa para ele. Todos concordam, e no

final Pedro se surpreende com a linda festa e fica muito feliz, e todos se abraçam.

As Fotos 3 e 4, a seguir, mostram o processo de criação das histórias.

Fotos 3 e 4 – Criação da história a ser apresentada

Fonte: acervo pessoal

No terceiro dia, os participantes confeccionaram os seus fantoches. Para a

confecção dos mesmos, contei com a ajuda do meu professor orientador Manuel

Tomaz Ataíde Júnior que patrocinou todos os materiais necessário. Reuni os alunos

e expliquei o que era o boneco de fantoche e como confeccioná-los. Durante a

criação das histórias a serem apresentadas, tomamos o cuidado de todos os alunos

terem um personagem dentro do texto, para que todos participassem. Portanto, cada

participante confeccionou seu próprio boneco de fantoche, e para tanto contaram

com meu auxilio e o auxílio dos voluntários e da professora de Artes.

Para a confecção, utilizamos os seguintes materiais: meias, feudo, tecido

para as roupas dos personagens, EVA, lã, cola de isopor e cola quente. Todos os

participantes se envolveram na confecção de seus personagens, eles gostaram

muito e, apesar de suas limitações, conseguiram fazer cada um o seu próprio

fantoche. Conforme mostram as Fotos 5 ,6 e 7, pude observar a motivação de cada

51

um dos alunos. Eles estavam bem concentrados e animados. Acredito que o motivo

da felicidade deles seja o fato de estarem confeccionando seu próprio boneco, de

serem capazes, apesar de suas limitações. Como exemplo posso citar o caso de

uma aluna que possui deficiência visual, que apesar de não poder ver, sentiu

através do tato todos os materiais para a confecção do fantoche e através de sua

imaginação descreveu o jeito que ela queria o seu boneco, falou o formato da boca,

o tamanho dos olhos e a cor dos cabelos. E depois do boneco pronto ela pode vesti-

lo em sua mão e dizer: “ficou lindo!”.

Fotos 5 e 6 – Confecção dos bonecos de fantoches

Fonte: acervo pessoal

Foto 7 – Confecção dos bonecos de fantoches

Fonte: acervo pessoal

52

Depois dos fantoches confeccionados, todos vestiram seus personagens na

mão e como crianças começaram a brincar entre si. Nesse momento pude vivenciar

a liberdade de expressão e a imaginação criativa de cada aluno ao manipular os

fantoches citada por Vygotsky (1998). Percebi que o boneco de fantoche mexeu

muito com a imaginação deles, além de socializá-los. O distanciamento, a vergonha

que eles tinham uns com os outros naquele momento desapareceu como em um

passe de mágica, e pude presenciar a felicidade deles em estarem no mundo do faz

de conta. Confirmando, assim, o que Amaral (1993) relatou ao dizer que o teatro de

fantoche beneficia grandemente a relação afetiva que se estabelece entre o grupo e

entre a criança e o boneco, que normalmente é ausente nas práticas tradicionais

pedagógicas que se limitam em uma aprendizagem mecânica, negando emoções,

sentimentos e formas diferenciadas de expressão. Veja essa alegria e interação nas

Fotos 8, 9 e 10, a seguir:

Foto 8 - Brincadeira de faz de conta com os fantoches.

Fonte: acervo pessoal

53

Fotos 9 e 10 – Brincadeira de faz de conta com os fantoches.

Fonte: acervo pessoal

No quarto dia, apliquei uma oficina de manipulação dos fantoches. Nessa

oficina, os alunos aprenderam a dar expressão aos bonecos, gesticular a boca e os

movimentos dos mesmos, de acordo com a fala, para dá, assim, a ilusão de vida,

pois como vimos em Amaral (1997), o teatro de boneco tem como origem a energia

consciente do ator manipulador, portanto os alunos, ao manipularem os fantoches,

transmitem energia ao boneco através de movimentos, dando a impressão que o

mesmo possui vontade própria.

Com todos reunidos na sala de dança da instituição, montei a caixa cênica

que outrora foi confeccionada por mim com a ajuda do meu Orientador, o professor

Manuel Tomas Ataíde Junior. E com um dos fantoches confeccionado na aula

anterior fiz várias demonstrações de como manipular. Foi mostrada a importância de

se articular bem a boca do boneco, do tom da voz (criar as características próprias

para cada personagem, como o som da voz a forma de se movimentar). Expliquei

que no teatro de fantoche que eles iriam apresentar, somente os bonecos deveriam

se destacar, pois, conforme vimos em Amaral(1997), no teatro de animação a

imagem do personagem é sempre diferente da imagem do ator manipulador, pois o

objeto animado quando bem manipulado neutraliza a presença do ator. O ator

manipulador, (no caso eles) ficaria atrás do palco e somente os bonecos

personagens deveriam ser vistos. Depois de fazer as demonstrações, pedi que

formassem duplas para praticarmos algumas improvisações.

O quarto dia foi bem trabalhoso, pois tive que me esforçar muito para que

todos me entendessem. Expliquei tanto para o grupo como individualmente. Durante

esse processo, percebi que somente na prática os alunos obteriam melhores

54

resultados. Visto que trabalhei com tipos de deficiências diferentes, vi a necessidade

de entrar no mundo do faz de conta junto com eles, de forma lúdica e divertida.

Cada dupla vestiu seu próprio boneco de fantoche em umas das mãos e cada um na

sua vez faziam suas apresentações na caixa cênica. E junto com cada dupla, eu e

os voluntários ajudamos a manipular seus bonecos, por meio de contato direto

(pegando na mão e direcionando). Durante o processo, percebi que eles

entenderam, pois fizeram várias improvisações e a cada vez que apresentavam

melhoravam as articulações, conforme mostram as Fotos 11 e 12.

Fotos 11 e 12 – Oficina de manipulação dos fantoches

Fonte: acervo pessoal

No quinto dia, fizemos o ensaio geral do teatro de fantoche, para

apresentação na culminância do projeto. Cada grupo ensaiou sua história. Para esse

momento, contei com a ajuda dos voluntários Nayara Botelho e Joe Fernando, que

conduziram cada um seu grupo de origem. Iniciamos os ensaios relembrando a

história a ser encenada e o papel e fala de cada personagem. Frisando que eles

poderiam improvisar de acordo com a história criada por cada grupo. O ensaio foi

muito divertido e todos participaram, de acordo com suas limitações. Alguns alunos

tiveram apenas uma pequena participação, como no caso do padre que realizou o

casamento de Castanha e Maria (história “Engravidou, vai ter que casar”), o aluno

que fez esse personagem tem limitações física e mental, e mesmo com tantas

limitações podemos ver a felicidade dele em participar do teatro. Outros

personagens participaram bastante, como no caso da personagem Valéria (história

“Confusões do amor”), a aluna que fez esse personagem tem deficiência mental leve

e improvisou bem o texto. Ao final, pude perceber que o teatro de fantoche mexeu

55

muito com o imaginário dos alunos, fazendo com que improvisassem de forma

natural e criativa. Ver Fotos 13 e 14.

Fotos 13 e 14 – Ensaio geral.

Fonte: acervo pessoal

Por fim para apresentar o resultado de todo o processo, organizamos as

apresentações de teatro no pátio da escola e convidamos todos os alunos para

participarem como plateia. Montamos a caixa cênica, preparamos caixa de som e

microfone para melhorar o áudio, para que todos ouvissem as apresentações.

Organizamos também uma apresentação de Melodrama, na qual Joe Fernando fez

parte, juntamente com outros artistas do Instituto Federal de Educação, Ciência e

Tecnologia do Tocantins – IFTO / Campus Gurupi, do curso de Licenciatura em

Artes Cênicas.

Chegamos bem cedo para preparar os alunos para as apresentações.

Levamos os participantes do teatro de fantoche para a sala de dança para dar as

devidas orientações. Num clima bem animado, expliquei que esse projeto só foi

possível graças à participação e cooperação de todos eles. Que tudo foi feito por

eles, desde a história à confecção dos fantoches e que, a partir daquele momento,

eles eram os protagonistas daquela história.

Estas palavras os motivaram e os deixaram animados para as

apresentações. A plateia estava formada com todos os alunos e colaboradores da

instituição. Iniciei com as boas-vindas a todos, me apresentei e apresentei a todos

que me ajudaram na realização do projeto. Falei um pouco do Teatro de Fantoche e

de todo o processo realizado pelos alunos participantes. Logo após as

56

apresentações, iniciamos com o teatro de fantoche do grupo 1, os alunos estavam

um pouco nervosos, mas quando expliquei que eles iriam ficar escondidos atrás do

palco, se sentiram mais seguros. Foi anunciado o teatro com o tema Confusões do

Amor. Os alunos da plateia estavam bem curiosos e quando começou a peça todos

ficaram surpresos e gostaram bastante de ver os bonecos conversarem. Os

atores/manipuladores seguiram direitinho o raciocínio da peça, improvisaram bem e

foi muito interessante. Para ilustrar, posso citar o momento em que Valéria, a

personagem principal, dá à luz a um bebê, e logo após o bebê chora e valeria fica

toda feliz e triste, pois estava sozinha para criar sua filha (ver descrição da história

na página 47). A pesar das limitações, os alunos nos impressionaram. Nesse

momento, tive mais uma vez a certeza que o fantoche, leva o aluno ao mundo da

imaginação, fazendo com que viva a história, transformando o irreal em real. A

plateia também entra nesse aspecto imaginário, pois percebi que os alunos

assistiam à peça com muita atenção e sorriam bastante, alguns até participaram

quando os fantoches faziam perguntas.

Em seguida, o grupo 2 fez sua apresentação. No momento da

apresentação, uma aluna com Síndrome de Down se recusou a apresentar. Essa

aluna iria fazer o papel de Maria, e era fundamental para o desenrolar da história,

sem ela os outros componentes ficariam perdidos. Diante dessa situação, a levei

para trás do palco e falei que a partir daquele momento a plateia só iria ver seu

fantoche que iria fazer o papel de Maria e que ninguém iria saber que era ela que

estava lá atrás. Então ela concordou em participar e apresentaram a peça com o

tema: Engravidou, vai ter que casar. O teatro dessa apresentação foi muito

engraçado e cheio de drama. Maria chorou tanto por que Castanha não queria se

casar com ela que a plateia começou a brigar com Castanha por fazer Maria chorar

(ver descrição da história na página 47). No final, todos bateram palmas, pois

Castanha teve que assumir o filho e se casar na marra com Maria.

O último grupo apresentou o teatro com o tema Amizade. Durante a

apresentação, a plateia prestou bastante atenção, pois muitos se identificaram com

a história de Pedro, um menino surdo que era rejeitado pelos colegas na escola.

Naquele momento, senti que muitos ali já passaram pela mesma situação de Pedro.

No final, todos se abraçaram, pois Laura fez com que entendessem o erro que

estavam cometendo em rejeitar Pedro (ver descrição da história na página 48). A

plateia bateu palmas e todos os grupos foram à frente para receber os parabéns.

57

Todas as apresentações tiveram bastantes elogios, pois eles se esforçaram muito,

mesmo que a manipulação dos bonecos e as falas não tenham ficado tão boas,

devido às muitas limitações dos alunos participantes, eles conseguiram passar a

mensagem e mexer com a imaginação do público. Em todas as etapas do projeto,

procurei deixá-los livres para se expressarem, pois como vimos em Barbosa(1979),

essa concepção de livre expressão na educação teve como principal finalidade

permitir que a criança expresse seus sentimentos, através da arte, a fim de que

entendam que a arte não é ensinada, mas sim expressada. Em seguida, ouve uma

apresentação de Melodrama e finalizamos agradecendo a direção da escola, todos

os alunos presentes e, em especial, agradecemos a todos os alunos participantes do

projeto, à professora de artes e aos voluntários que, junto comigo, tornamos este

trabalho uma realidade. Ver Fotos15, 16, 17 e 18.

Fotos 15 e 16 – Culminância do projeto

Fonte: acervo pessoal

Fotos 17 e 18 – Culminância do projeto

Fonte: acervo pessoal

58

3.1.4 RESULTADO E DISCUSSÕES

Logo após o mês de férias, voltei à escola para aplicar os questionários para

os alunos, professores e gestão da escola11.

Como metodologia de avaliação escolhi trabalhar com uma abordagem

qualitativa e quantitativa, no qual foram realizadas pesquisas bibliográficas,

utilização de recursos pedagógicos e análise de documentos a respeito do tema,

observação do desempenho dos alunos. Como técnica de coleta de informações

foram realizadas entrevistas estruturadas e aplicação de questionários com os

professores e alunos participantes do projeto desenvolvido na escola.

Com o propósito de colher os resultados da avaliação dos professores e

alunos da Escola Especial São Francisco de Assis de Gurupi-To, com relação ao

desenvolvimento do projeto “Teatro de Fantoche um Aprendizado Eficaz e Inclusivo”,

foram escolhidas 9 pessoas entre professores e gestores e 15 alunos, para obter os

resultados positivos e negativos do projeto, e assim sabermos se o teatro de

fantoche é de fato um recurso valioso para o professor, durante o processo de

ensino e aprendizagem do aluno, como já citado acima por Vigotsky (1998).

A execução do projeto teve um período curto de duração, apenas seis dias

e, portanto, não teve como obter maiores resultados em relação à prática

educacional dos alunos com a utilização dos bonecos de fantoches nesse processo

de ensino e aprendizagem, mas podemos observar a reação dos alunos em relação

ao boneco durante todas as etapas do projeto. De acordo com minhas observações

pude perceber a motivação e o interesse dos mesmos pelo teatro de fantoche. E

para termos uma visão geral dos resultados obtidos pelo projeto, apliquei,

primeiramente o questionário para os professores e Gestão da escola. (No total de

nove questionários com seis perguntas objetivas cada). Ver Fotos 19 e 20.

11

Os questionários para os alunos, professores/gestão da escola estão disponíveis em apêndice.

59

Fotos 19 e 20 – Aplicação do questionário para professores e gestão da APAE

Fonte: acervo pessoal

Os resultados obtidos foram todos positivos, de acordo com o gráfico a

seguir12:

GRÁFICO 1 – Resultados do questionário aplicado aos professores e gestão da

escola

12

As perguntas dos gráficos foram abreviadas.

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

1. O projeto de Teatro de Fantoche teve um bomdesenvolvimento de acordo com suas observação?

2. Os alunos participantes, gostaram de criar eapresentar seu próprio Teatro de Fantoche?

3. O Teatro de Fantoche estimulou o imaginário e aaprendizagem dos alunos?

4. O trabalho em grupo socializou os alunos,diminuindo assim a timidez e aumentando a auto

estima?

5. O teatro de Fantoche pode ser uns dos recursospedagogicos citados na Lei n° 9.394/96 Art. 59 ?

6. Este projeto incentivou você a ultilizar o teatrode fantoche no auxilio à aprendizagem do aluno?

QUESTIONÁRIO PARA OS PROFESSORES E GESTÃO DA ESCOLA

SIM NÃO

60

O gráfico 1 mostra o resultado a seis perguntas respondidas por 7

professores e duas gestoras (Presidente e Diretora) da APAE. A cor azul representa

a porcentagem positiva, a cor vermelha representa a porcentagem negativa em

relação às respostas dos mesmos. O resultado foi de 100% de aprovação para

todas as perguntas. Segundo as respostas dos professores e gestão da APAE, o

projeto teve um bom desenvolvimento, em todas as etapas, os alunos gostaram de

participar, se socializaram melhor através do trabalho em grupo, aumentando,

assim, a autoestima dos mesmos.

Os fantoches envolveram os alunos no mundo da imaginação, de forma a

facilitar a aprendizagem dos mesmos. Assim sendo, os entrevistados concluíram que

o teatro de fantoche é um recurso valioso para o professor no processo de ensino e

aprendizagem do aluno, motivando-os, assim, a utilizarem essa forma de

aprendizagem no ensino dos alunos com necessidades educacionais específicos da

APAE de Gurupi.

Esse resultado positivo mostra a grande satisfação da escola em relação ao

projeto. Durante os seis dias em que trabalhamos com os alunos, obtivemos ótimos

resultados, que poderiam ser mais satisfatórios em um período de espaço maior.

Contudo, os objetivos em relação aos professores e gestão da escola foram

alcançados, pois conseguimos mostrar o valor do teatro de fantoche no processo de

ensino e aprendizagem do aluno.

Em seguida, apliquei o questionário para os alunos, as perguntas também

foram objetivas, só que em forma de entrevista oral, devido às muitas limitações de

alguns participantes (a maioria dos alunos não são alfabetizados, entre outras

limitações mentais e físicas). Ver Fotos 21 e 22:

61

Fotos 21 e 22 – Aplicação do questionário para os alunos da APA

Fonte: acervo pessoal

No final, os resultados também foram positivos, a maioria gostou de

participar da criação e apresentação do teatro de fantoche, como mostra o gráfico a

seguir:13

GRÁFICO 2 – Resultados do questionário aplicado aos alunos da APAE

13

As perguntas do gráfico foram abreviadas.

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

1. Gostou de participar do Teatro de Fantoche?

2. Se sentiu bem em trabalhar em grupo?

3. As imagens ajudaram na criação da história a serapresentada?

4. Se sentiu feliz em criar seu próprio boneco defantoche usando sua criatividade?

5. Manipular o fantoche mexeu com sua imaginação?

6. Se sentiu motivado ao manipular o boneco defantoche?

7. Conseguiu entender o que é Teatro de Fantoche?

8. você participaria novamente de projetos como este?

9. Se sentiu feliz em apresentar o Teatro de Fantocheque você mesmo criou ?

QUESTIONÁRIO PARA OS ALUNOS

SIM NÃO

62

O gráfico dois mostra as respostas a 9 (nove) perguntas respondidas por 15

(quinze) alunos participantes do projeto. A cor azul representa a porcentagem de

alunos que responderam sim, a cor vermelha o número de alunos que responderam

não para cada pergunta. Na pergunta 1 apenas 7% dos alunos responderam que

não gostaram de participar do Teatro de Fantoche e 92% responderam que

gostaram de participar. Esse resultado mostra a grande aceitação dos alunos por

essa arte. Com relação à pergunta 2, somente 20% dos alunos não gostaram de

trabalhar em grupo. Acredito que isso se deve às muitas diferenças e preconceitos

entre os mesmos, e 80% dos alunos se sentiram bem em trabalhar em grupo. Na

pergunta 3, todos os alunos, ou seja, 100% responderam que os recursos visuais

ajudaram na construção da história a ser encenada, mostrando, assim, que o

método de utilizar recursos visuais (imagens) estimulou o raciocínio e criatividade

dos alunos. A pergunta 4, mostra que 100% dos alunos se sentiram felizes em criar

seu próprio boneco de fantoche. Isso se deve à motivação de se sentirem capazes

de criar, confeccionar seu próprio boneco, tendo como resultado algo de sua própria

criatividade. A pergunta 5 nos dá a confirmação que o teatro de fantoche mexeu

com a imaginação de todos os alunos, 100% responderam que, ao manipular o

fantoche, eles viajaram pelo mundo da imaginação, mostrando, assim, que a

ludicidade do boneco os levaram a saírem de si e entrarem em um outro mundo, o

mundo do faz de conta. Na pergunta 6, 100% dos alunos se sentiram motivados a

manipular os fantoches. A pergunta 7 somente 7% não entenderam o que é teatro

de fantoche e 92% conseguiram compreender que Teatro de Fantoche é da vida a

um boneco que não possui vida, no caso o fantoche, através da manipulação do

mesmo.

Os alunos entenderam isso quando vestiram os fantoches em suas mãos e

passaram a mexer a boca do boneco dando voz, gestos a esses personagens, e foi

nesse momento que a imaginação dos alunos começou a fluir. Na pergunta 8, 100%

dos alunos responderam que participariam novamente de projetos como esse,

mostrando, assim, que gostaram de participar. E para finalizar, 100% dos alunos se

sentiram felizes em apresentar o teatro de fantoche que eles mesmos criaram para

toda a escola. Perante os resultados obtidos, podemos perceber que o gráfico

mostra um percentual muito bom para todas as perguntas. Destarte, posso concluir

que o projeto alcançou todos os objetivos esperados. E devido a esses resultados

63

positivos, posso afirmar que o projeto deve ter continuidade, para que venha

alcançar todos os alunos de forma direta. Proporcionando assim aos educandos

com deficiências, uma aprendizagem simples e lúdica, Além de facilitar a

aprendizagem nas diversas áreas do conhecimento despertando assim a

criatividade e a capacidade de criar e recriar suas próprias histórias.

64

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com a experiência que tive na Escola Especial São Francisco de

Assis – APAE de Gurupi, pude vivenciar momentos de dificuldades em se trabalhar

com alunos portadores de deficiência, visto que os alunos eram bem retraídos e

tímidos. E também vivenciei momentos de muita satisfação ao ver os alunos

interagindo com os bonecos de fantoches.

No meu ponto de vista, o boneco se mostrou o recurso perfeito para

amenizar essas dificuldades, pois, no decorrer do projeto, os alunos que antes eram

retraídos, se socializaram com os demais. Tal resultado só foi alcançado devido ao

boneco favorecer a relação afetiva entre o grupo a criança e o boneco, ausente nas

práticas tradicionais pedagógicas, que enfatizam o aprendizado de forma mecânica,

negando emoções, sentimentos, limitando o aluno a um aprendizado fechado sem

liberdade de expressão.

Essa prática teatral é muito rica e cheia de novas possibilidades, como

interação, colaboração, socialização e respeito mútuo. No decorrer do

desenvolvimento do projeto, pude perceber que o boneco de fantoche é sim um

recurso pedagógico poderosíssimo que podemos utilizar para dinamizar o ensino e

aprendizagem em todas as áreas do conhecimento. Esse fato acontece devido ao

boneco ser encantador, sedutor e por permitir que se abuse da criatividade para

manipulá-lo.

No teatro de animação a imagem do personagem é sempre diferente da

imagem do ator/manipulador, pois a manipulado do objeto quando bem atuada

neutraliza a presença do ator, dando vida apenas ao boneco. E, nesse sentido, os

alunos participantes do projeto se sentiram bem mais confiantes na hora de

manipular os bonecos de fantoches, pois o foco seria os bonecos e não eles.

Durante todas as etapas do projeto, observei que os alunos estiveram todo o

tempo envolvidos e motivados com o teatro de fantoche e conseguiram, apesar de

suas limitações, desenvolver todas as etapas do projeto. Criaram a história,

confeccionaram os bonecos de fantoches e apresentaram, em forma de teatro, para

toda a escola assistir, confirmando, assim, a Teoria das Inteligências Múltiplas de

Gardner, a qual diz que todos os seres humanos, apesar de suas limitações, são

capazes de desenvolver algum tipo de inteligência, desde que a mesma seja

65

estimulada. Os alunos desenvolveram capacidades criativas que antes estavam

adormecidas. Isso aconteceu, devido ao boneco proporcionar ao aluno uma

liberdade de expressão, exercitando sua criatividade na medida em que manipula o

boneco na forma teatral.

Os resultados da aplicação do projeto na APAE, de acordo a avaliação dos

professores e gestão da escola, foram de 100% de aprovação. A avaliação dos

alunos também foi bem positiva alcançando quase 100% de aprovação para todas

as perguntas. Os alunos que não gostaram muito de participar e não

compreenderam bem a proposta, são alunos com deficiência mental que se sentem

excluídos pelos colegas. Este acontecimento foi observado durante a formação dos

grupos para a criação da história a ser encenada. Acredito que este desconforto por

parte dos mesmos tenha sido gerado pelo preconceito dos colegas que não aceitam

a deficiência do outro. Mas, como vimos no desenvolver do projeto eles foram se

socializando, e se aceitando mais.

Cumpre ressaltar que a realização da presente pesquisa sinaliza que a

aplicação de projetos como esse dentro das escolas de nosso município (regular e

especial) é de grande importância, pois desperta o interesse dos professores em

trabalhar a Arte dentro da sala de aula, mostrando, assim, o grande valor da arte no

processo de ensino e aprendizagem do aluno.

Após todo o processo, posso concluir que o projeto alcançou todos os

objetivos esperados, mostrando, assim, que a inclusão escolar pode sim ser

possível e que as leis e decretos podem funcionar, desde que se ponha em prática

todos os parâmetros legais, utilizando recursos pedagógicos no auxílio aos alunos

que possuem necessidades educacionais específicas.

66

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMARAL, Ana Maria. Teatro de animação. 3. ed. São Paulo: Ateliê Editorial, 2007.

________________. Teatro de formas animadas: máscaras bonecos e objetos.

São Paulo, EDUSP, 1993

________________ Teatro de Animação. São Paulo: Ateliê Editorial, 1997.

________________. Teatro de Formas Animadas: Mascaras, Bonecos, Objetos. 3. ed. 1 reimpressão. São Paulo: Editora da universidade de São Paulo, 2011.

BARBOSA, Ana Mae; COUTINHO, Rejane Galvão. Ensino de arte no Brasil: aspectos históricos e metodológicos. São Paulo: UNESP/REDEFOR, 2011. Disponível em: < http://www.acervodigital.unesp.br/bitstream/123456789/38291/8/ing_m4d7_tm03.pdf>. Acesso em: 01 setembros 2016.

_______________Ana Mae. Teoria e prática da educação artística. 3. ed. São Paulo: Cultrix, 1979.

_______________. Tópicos utópicos. Belo Horizonte: Ed. C/Arte, 1998 il. (Arte E ensino).

BRASIL, Constituição (1934). Constituição da República Federativa do Brasil (promulgada em 16 de julho de 1934). Rio de Janeiro: Sala das Sessões da Assembleia Nacional Constituinte, 1934. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/consti/1930-1939/constituicao-1934-16-julho-1934-365196-publicacaooriginal-1-pl.html>. Acesso em: 20 agosto 2016.

BRASIL, Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil (promulgada em 05 de outubro de 1988). Brasília: Senado Federal, Subsecretaria de Edições Técnicas, 2006.

BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da Educação Nacional. 9. ed. Brasília: Câmara dos Deputados, Edições Câmara, 2014. Disponível em<http://www.famasul.edu.br/2015/arquivos_pdf/106.pdf>. Acesso em: 19 agosto 2016.

67

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: Arte. Brasília: MEC/SEF, 1997.

BROCHADO, Izabela. Mamulengo, teatro de bonecos brasileiro: história e linguagem. Licenciatura em Teatro. Modulo 20: Laboratório de teatro IV Teatro de formas animadas. Brasília: LGE Editora, 2009. CHAGAS, Waldeci Ferreira. O Teatro de Bonecos: uma metodologia de inserção da história das populações negras na sala de aula. 2010. Disponível em: < http://www.africaeafricanidades.com.br/documentos/Teatro_de_bonecos.pdf>. Acesso em: 02 julho 2016.

DECLARAÇÃO DE SALAMANCA: Sobre Princípios, Políticas e Práticas na Área das Necessidades Educativas Especiais, 1994, Salamanca-Espanha. 34. ed. 2002. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/salamanca.pdf>. Acesso em: 20 maio 2016.

FERNAANDES, Sueli. Fundamentos para a educação especial. Curitiba: Ibpex, 2007.

FERRAZ, Maria Heloisa Correia de Toledo; FUZARI, Maria Felismina de Ryende. Arte na educação escolar. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2010.

FRIAS, Elzabel Maria Alberton; MENEZES, Maria Christine Berdusco. Inclusão Escolar do Aluno com Necessidades Educacionais Especiais: Contribuições ao Professor do Ensino Regular Paranavaí. 2008/2009. Disponível em: < http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/14626.pdf?PHPSESSID=2010012008183564>. Acesso em: 20 julho 2016. GARDNER, Howard. Estruturas da mente: a Teoria das Múltiplas Inteligências. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994. Publicado originalmente em inglês com o título: The frams of the mind: the Theory of Multiple Intelligences, em 1983.

GLAT, Rosana; FERNANDES, Edicléia Mascarenhas. Da Educação Segregada à Educação Inclusiva: uma breve reflexão sobre os paradigmas educacionais no contexto da educação especial. Revista Inclusão, n° 1, 2005, MEC/SEESP. (Série Inclusão Escolar). Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/revistainclusao1.pdf>. Acesso em: 04 junho 2016.

GUERBERT, Mirian Célia Castellain. Inclusão: uma realidade em discussão. 3. ed. Curitiba: Ibpex, 2010.

68

LANNA JÚNIOR, Mário Cléber Martins (Comp.). História do Movimento Político das Pessoas com Deficiência no Brasil. Brasília: Secretaria de Direitos Humanos, Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência, 2010.

LEMOS, Gláucia dos Santos. A constituição do jogo dramático infantil em eu chovo, tu choves, ele chove..., de SYLVIA ORTHOF. Três Lagoas/MS: 2014. Disponível em: < http://repositorio.cbc.ufms.br:8080/jspui/bitstream/123456789/2149/1/GL%C3%lCLAUDIA%20DOS%20SANTOS%20LEMES.pdf>. Acesso em 20 agosto 2016.

LINO, Elivania. Teatro de formas animadas na sala de aula: um recurso pedagógico para o desenvolvimento do ensino de Teatro. Disponível em: < http://bdm.unb.br/bitstream/10483/5304/1/2012_ElivaniaLino.pdf>. Acesso em: 03 junho 2016.

MANTOAN, Maria Tereza Eglêr. Inclusão escolar: o que é? por quê? como fazer? São Paulo: Moderna, 2005.

__________________________. Inclusão escolar: o que é? por quê? como fazer?

(Coleção cotidiano escolar). São Paulo : Moderna , 2003.

MANUAL DE PAIS E DIRIGENTES – UMA PARCERIA EFICIENTE. Era Coelho. Jaragu do Sul: SCAR/UDESC, n. 01 a n. 06, 2006 – 2009. Disponível em: < https://www.apaebrasil.org.br/arquivo/12468>. Acesso em: 05 agosto 2016.

MINETTO, Maria de Fátima. Currículo na educação inclusiva: entendendo esse desafio. 2. ed. Curitiba: Ibpex, 2008.

PAN, Miriam Aparecida Graciano de Souza. O direito à diferença: uma reflexão sobre deficiência intelectual e educacional inclusiva. Curitiba: Ibpex, 2008.

ROGALSKI, Solange Menin. Histórico do surgimento da Educação Especial. 2010. Disponível em: < http://www.ideau.com.br/getulio/restrito/upload/revistasartigos/168_1.pdf>. Acesso em: 10 agosto 2016.

SIEBERT, Emanuele Cristina; CHIARELLI, Ligia Karina Meneghetti. Trajetória do pensamento pedagógico no ensino da arte. 2009. Disponível em: < http://www.pucpr.br/eventos/educere/educere2009/anais/pdf/2490_1365.pdf>. Acesso em: 09 agosto 2016.

69

SILVA, Aline Maira da. Educação especial e inclusão escolar: história e fundamentos. (Série Inclusão Escolar). Curitiba: Ibpex, 2010. SMOLE, Kátia Cristina Stocco. Múltiplas Inteligências na Prática Escolar. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação a Distância, 1999. Cadernos da TV Escola. Inteligências Múltiplas, ISSN 1517-2341 n.1. Disponível em: < http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me002751.pdf>. Acesso em: 03 julho 2016.

VYGOTSKY, Lev. S. A Formação Social da Mente: o desenvolvimento dos processos superiores. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

70

APÊNDICES

APÊNDICE 1: PROJETO DE INTERVENÇÃO

PROJETO DE INTERVENÇÃO

KÉDINA DE PAULA DOS SANTOS REIS

APAEVISANDO

EM BUSCA DE UMA VISÃO PROTAGONISTA

TEATRO DE FANTOCHE: UM APRENDIZADO MAIS EFICAZ E INCLUSIVO

Gurupi, Maio, 2016

71

1. INTRODUÇÃO

O projeto TEATRO DE FANTOCHE UM APRENDIZADO MAIS EFICAZ E

INCLUSIVO vem de forma criativa trazer para a APAE de Gurupi um método de

estimulo ao cognitivo e a criatividade do aluno, passando de representações

artísticas para criações artísticas. O aluno estará incluído de forma mais direta ao

seu próprio trabalho artístico no qual ele poderá participar de forma efetiva de

todas as etapas do projeto, desde a criação da história a ser encenada, a criação e

manipulação dos fantoches.

Ser diferente não significa ser incapaz de aprender, durante anos vem se

criando leis que garantam o ensino de crianças com necessidades educacionais

especiais. MINETTO (2008, p.21) descreve os principais documentos legais e

normativos oficiais da legislação brasileira que vêm favorecendo modificação para a

prática inclusiva mais eficiente. São elas: Lei federal n° 7.853 de 24 de outubro de

1989 - dispõe sobre a política nacional para a integração da pessoa portadora de

deficiência; Lei n° 9.394, 20 de dezembro de 1996 - institui a lei de diretrizes e bases

da educação nacional; Decreto federal n° 3.298, de 20 de dezembro de 1999 -

institui a política nacional para a integração da pessoa portadora de deficiência; Lei

n° 10.172, de 9 de janeiro de 2001 - aprova o plano nacional de educação;

Resolução CNE n° 02, de 11 de setembro de 2001 - institui as diretrizes nacionais

para a educação especial na educação básica.

Contudo, o Ministério da Educação e Secretaria de Educação Especial relata

em seu livro intitulado “A Inclusão Escolar de Alunos com Necessidades

Educacionais Especiais DEFICIÊNCIA FÍSICA” (Brasília – DF 2006), que a atual

política educacional brasileira, no que tange às diretrizes para a educação especial,

enfatiza a inclusão dos alunos com necessidades educacionais especiais nas

classes comuns, na perspectiva de abolir as práticas segregacionistas que vêm

norteando a educação desses alunos. Entretanto, no que tange à educação básica

no ensino público e privado, a educação inclusiva tem representado um desafio.

Os estudos comprovam que essas crianças, com apoio educacional

especializado, apresentam um bom desenvolvimento cognitivo. Por esse motivo é

importante que os sistemas educacionais ofereçam o atendimento educacional

especializado. E, em casos em que estes atendimentos extrapolam os limites da

escola ou do próprio sistema educacional, vemos a importância dos convênios e das

72

parcerias junto aos órgãos da saúde, assistência social, conforme previsto nas

Diretrizes Nacionais da Educação Especial na Educação Básica.

Muitos recursos pedagógicos podem ser utilizados no sentido de minimizar as

limitações funcionais, motoras e sensoriais desses alunos, facilitando o processo de

ensino e aprendizagem. E é este, o objetivo deste projeto, mostrar que é possível

utilizar recursos pedagógicos, como por exemplo, o teatro de fantoches como

estimulo à criatividade, o imaginário e a aprendizagem do aluno.

2. JUSTIFICATIVA

Diante das muitas leis e decretos que na prática não atendem de forma

qualitativa e quantitativa o que dispõem, este projeto vem mostrar, por meio do

teatro de fantoche criado e desenvolvido por alunos com necessidades educacionais

especiais, que a inclusão pode ser uma realidade na vida de muitos deficientes que

se sentem diferentes e incapazes de progredir educacionalmente, devido à exclusão

das escolas regulares, e por tanto, devem estudar em uma escola específica só para

deficientes, no caso a APAE. A lei LDBEN N° 9.394/1996 garante o direito a inclusão

e permanência desses alunos na escola regular, mas não oportuniza na prática o

suporte necessário para o ensino diferenciado com recursos pedagógicos e

atendimento educacional especializado adequado para o desenvolvimento eficaz do

aprendizado desses alunos especiais, ocasionando assim a segregação nas escolas

regulares, e assim, os direcionando para as escolas especiais.

A Escola Especial São Francisco de Assis,– APAE de Gurupi, vem durante

anos desenvolvendo um trabalho muito importante na vida destas pessoas

portadoras de necessidades especiais. A instituição tem feito muitas parcerias com

as empresas, especialistas na área da saúde e com a propria população gurupiense.

Os alunos participam de várias apresentações e competições (dança, teatro, música,

futsal, atletismo entre outros). E este projeto vai além, em busca de incentivar os

professores, na utilização de recursos no auxílio à aprendizagem do aluno com

necessidades educacionais especiais, mostrando que o teatro de fantoche pode ser

um forte aliado na construção do conhecimento.

73

3. OBJETIVOS

3.1 Geral

Estimular o protagonismo criativo nos alunos alvo em forma de contação de

história envolvendo o teatro de fantoches.

3.2 Específico:

Motiva-los a criar e apresentar sua própria história, através de

fantoches criados por eles mesmos;

Estimular o imaginário e aprendizagem do aluno;

Desenvolver com a prática e envolvimento biopsicossocial o cognitivo e

habilidade motora dos alunos.

4. MATERIAL E MÉTODOS

Serão utilizados diferentes objetos e imagens para estimular a criação de

histórias improvisadas; Será confeccionado fantoches de meia e caixa cênica, sendo

oportunizado material para tais confecções como: EVA, cola quente, lápis, tesoura,

meia, retalho de feltro de cores variadas, cola de isopor, lã, acessórios, TNT preto e

vermelho, caixa de papelão grande.

O Projeto será desenvolvido da seguinte forma: primeiramente serão

escolhidos conjuntamente com a professora de artes dez alunos, os demais serão

observadores, pois trabalharemos com formação de plateia. Os alunos escolhidos

serão os protagonistas deste trabalho. Eles irão criar uma história improvisada por

meio de estímulos de recursos visuais, como imagens e objetos. Após criarem a

história, os alunos irão confeccionar seus personagens, que serão fantoches de

meia. Iremos também confeccionar a caixa cênica com a ajuda dos alunos para que

sejam realizadas as apresentações. Finalizada esta etapa, trabalharemos a

manipulação dos fantoches seguindo com ensaio das falas e gestos. A culminância

será uma apresentação de teatro de fantoche, apresentado pelos alunos atores e

manipuladores.

74

A avaliação será feita através de questionários objetivos em forma de entrevista

tanto para os professores quanto para os alunos participantes do projeto que

avaliará o interesse, comprometimento, criatividade, aprendizado do aluno durante

todo o processo da construção do teatro de fantoche. Esta avaliação será

apresentada em um texto monográfico cujo objetivo será apresenta-lo no IFTO.

5. CRONOGRAMA

1° dia 2° dia 3° dia 4° dia 5° dia 6° dia

Acolhida.

Apresentação

do projeto.

Cotação de

história com

fantoche.

Trabalhar

improvisação

de histórias

através de

recursos

visuais.

.

Confecção

de fantoches

(personagens

da história)

em conjunto

com os

alunos.

Oficina de

Manipulação

dos

fantoches.

Ensaio

geral.

Culminância

do projeto.

6. REFERÊNCIAS

MINETTO, Maria de Fátima. Currículo na educação inclusiva: entendendo esse desafio/ Maria de Fatima Minetto.- 2.ed. rev. Atual. ampl. – Curitiba: Ibpex, 2008. 135 p.: il.

Ministério da Educação e Secretaria de Educação Especial: INCLUSÃO ESCOLAR DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS. Deficiência Física. Brasília – DF 2006Histórico da instituição a APAE- Gurupi.

LUDKE, Menga; ANDRÉ, Marli E.P.A. Pesquisa em Educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986.

75

APÊNDICE 2: QUESTIONÁRIOS PARA OS ALUNOS, PROFESSORES E GESTÃO DA APAE DE GURUPI-TO.

PROJETO DE INTERVENÇÃO:TEATRO DE FANTOCHE: UM APRENDIZADO EFICAZ E INCLUSIVO.

ESCOLA ALVO: Escola Especial São Francisco de Assis– APAE de Gurupi-TO

QUESTIONÁRIO PARA OS PROFESSORES E DIREÇÃO DA ESCOLA

1. O projeto “Teatro de Fantoche um Aprendizado Eficaz e Inclusivo”, aplicado nesta

instituição teve um bom desenvolvimento de acordo com suas observações?

( ) sim ( ) não

2. Você considera que os alunos participantes do projeto, gostaram de criar e

apresentar sua própria história através de fantoches criados por eles mesmos?

( ) sim ( ) não

3. Você acha que o teatro de fantoche estimulou o imaginário e a aprendizagem dos

alunos?

( ) sim ( )não

4. Este projeto trabalhou com um grupo de alunos com tipos de deficiências diversas.

Você considera que, os alunos ao trabalharem em grupos se socializaram melhor,

diminuindo assim a timidez e aumentando a auto estima?

( ) sim ( )não

5. A lei n° 9.394/96 Art. 59 diz que o poder público tem que oferecer recurso

pedagógicos para auxiliar alunos com necessidades educacionais especificas no

processo de ensino e aprendizagem. Segundo sua visão o teatro de fantoche pode

ser um desses recursos?

( ) sim ( ) não

6. Sendo o teatro de fantoche uma forma de aprendizagem lúdica e simples, este

projeto incentivou você a utilizar este recurso no auxílio à aprendizagem do aluno

com necessidades educacionais especifica?

( ) sim ( ) não

GURUPI-TO, AGOSTO, 2016

76

PROJETO DE INTERVENÇÃO:TEATRO DE FANTOCHE UM APRENDIZADO EFICAZ E INCLUSIVO.

ESCOLA ALVO: Escola Especial São Francisco de Assis– APAE de Gurupi-TO

QUESTIONÁRIO PARA OS ALUNOS

1. Você gostou de participar do teatro de fantoche?

( ) sim ( ) não

2. Você se sentiu bem em trabalhar em grupo?

( ) sim ( ) não

3. As imagens ajudaram o grupo que você participou a criar a história a ser

apresentada?

( ) sim ( ) não

4. Se sentiu feliz em criar seu próprio boneco de fantoche usando sua

criatividade?

( )sim ( ) não

5. Manipular o fantoche, mexeu com sua imaginação?

( ) sim ( ) não

6. Você se sentiu motivado por manipular o fantoche?

( ) sim ( ) não

7. Você entendeu sobre o que é teatro de fantoche?

( )sim ( )não

8. Você participaria novamente de projetos como este?

( ) sim ( )não

9. Se sentiu importante e feliz ao apresentar o teatro de fantoche, para todos os

seus colegas da APAE, sabendo que foi resultado do seu esforço e criatividade esta

apresentação?

( ) sim ( ) não

GURUPI, AGOSTO DE 2016