Instituto de Química Departamento de Físico-Química
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Universidade Estadual de Campinas Instituto de Química
Departamento de Físico-Química
Tese de Doutorado
Estudo microscópico de adesão de partículas nanométricas
Leonardo Fonseca Valadares
Orientador: Prof. Dr. Fernando Galembeck
Campinas, Março de 2009
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A luz é o maior dom da natureza
(Antônio de Alcântara Machado)
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Agradecimentos
Ao Professor Fernando Galembeck pela orientação, apoio, ideias e correção dos
trabalhos.
Ao Carlos Leite pela amizade e discussões sobre microscopia.
À Maria do Carmo Silva pela ajuda em todos os aspectos práticos neste
laboratório.
Aos amigos contemporâneos de pós-graduação: Camila A. Rezende, Cristiane A.
S. Souza, Elisângela M. Linares, Fábio C. Bragança e Rúbia F. Gouveia pelas discussões
científicas e ajuda em assuntos diversos.
Ao Fabio Fernandes, a quem acompanhei durante sua iniciação científica, por ter
compartilhado momentos de trabalho e descontração.
Aos colegas de laboratório.
Ao Professor Geoffrey A. Ozin pela oportunidade do estágio em Toronto e
discussões sobre sistemas autoimpulsionados.
Ao grupo de Toronto, em especial à Bettina Lotsch, Daniel P. Puzzo, Francesco
Scotognella, Leonardo S. Bonifácio e Vladimir Kitaev.
Ao Renato Galembeck pela elaboração dos algoritmos utilizados nos cálculos e ao
Professor Paulo Ruffino pela ajuda em álgebra.
Aos funcionários do Instituto de Química que ajudaram em várias situações: Bel,
Daniel, Simone, Lea, Raquel, Mário e Iveraldo.
Aos meus pais: Napoleão Emanuel Valadares e Marlene Fonseca Valadares pelo
apoio incondicional.
Aos meus irmãos: Napoleão Fonseca Valadares e Ronaldo Fonseca Valadares
pelo apoio constante e momentos de descontração.
À CAPES pelo apoio financeiro.
À força do Pensamento Positivo.
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Curriculum Vitae Dados Pessoais Nome: Leonardo Fonseca Valadares Nascimento: 03/12/1977 - Brasília/DF - Brasil e-mail: [email protected] Formação Acadêmica 1998 – 2002: Bacherelado em Química. Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho - UNESP Instituto de Química - Araraquara, SP, Brasil Bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, CNPq. 2003 – 2005: Mestrado em Química. Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP Instituto de Química - Campinas, Brasil. Título: Nanocompósitos de borracha natural e argila: preparação a partir de látex Orientador: Fernando Galembeck Bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, CAPES. Artigos completos publicados em periódicos LINARES, E. M.; LEITE, C. A. P.; VALADARES, L. F.; SILVA, C. A.; REZENDE, C. A.; GALEMBECK, F. Molecular mapping by low-energy-loss EFTEM imaging, Analytical Chemistry, v. 81, p. 2317-2324, 2009. VALADARES, L. F.; LINARES, E. M.; BRAGANÇA, F. C.; GALEMBECK, F. Electrostatic adhesion of nanosized particles: the cohesive role of water, Journal of Physical Chemistry C, v. 112, p. 8534-8544, 2008. VALADARES, L. F.; BRAGANÇA, F. C.; SILVA, A. C.; LEITE, C. A. P.; GALEMBECK, F. Low-energy-loss EFTEM imaging of thick particles and aggregates, Journal of Colloid and Interface Science, v. 309, p. 140-148, 2007. BRAGANÇA, F. C.; VALADARES, L. F.; LEITE, C. A. P.; GALEMBECK, F. Counterion effect on the morphological and mechanical properties of polymer-clay nanocomposites prepared in an aqueous medium. Chemistry of Materials, v. 19, p. 3334-3342, 2007. COSTA, C. A. R.; VALADARES, L. F.; GALEMBECK, F. Stöber silica particle size effect on the hardness and brittleness of silica monoliths. Colloids and Surfaces A: Physicochemical and Engineering Aspects, v. 302, p. 371-376, 2007.
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VALADARES, L. F.; LEITE, C. A. P.; GALEMBECK, F. Preparation of natural rubber-montmorillonite nanocomposite in aqueous medium: evidence for polymer-platelet adhesion. Polymer, v. 47, p. 672-678, 2006. GALEMBECK, F.; VALADARES, L. F.; BRAGANÇA, F. C.; GOUVEIA, R. F.; SILVA, M. C. V. M. Morphology and microchemistry of colloidal polymers. Macromolecular Symposia, v. 245, p. 307-314, 2006. SPAGNOL, P. D.; VALADARES, L. F.; BERTOCHI, M. A. Z.; VARELA, J. A. The influence of thermal treatment on the preparation of PMN and PMN-PT thin films. Materials Characterization, v. 50, p. 227-231, 2003. Processos ou técnicas com registro ou patente BRAGANÇA, F. C.; GALEMBECK, F.; VALADARES, L. F. Nanocompósitos poliméricos, processo de preparo e uso dos mesmos, PI0802693-9, INPI, 2008. VALADARES, L. F.; RIPPEL, M. M.; MURAKAMI, M. M.; GALEMBECK, F. Produção de nanocompósitos de termoplásticos ou elastômeros com argilas intercaladas ou esfoliadas, a partir de látexes, PI0301193-3, INPI, 2003. Participações em congressos Apresentações em 15 eventos nacionais e 4 eventos internacionais. Experiência didática Programa estágio docente: Físico-Química Experimental I Coordenador: Prof. Edvaldo Sabadini, 2006. Programa estágio docente: Físico-Química I Coordenador: Prof. Rogério Custódio, 2007. Estágio no exterior Programa de Doutorado no País com Estágio no Exterior (PDEE), Capes Instituição: University of Toronto Supervisor: Geoffrey Alan Ozin, 2008.
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RESUMO
ESTUDO MICROSCÓPICO DE ADESÃO DE PARTÍCULAS NANOMÉTRICAS
A adesão de fases nanométricas é um tópico de crescente interesse científico por ter implicações na
fabricação e nas propriedades de novos materiais nanoestruturados. A hipótese explorada nesse estudo
é: fases imiscíveis mas molháveis pela água podem aderir desde que sejam misturadas e secas a partir
de dispersões aquosas e possuam cargas em sua superfície. Esta hipótese é detalhada no seguinte
mecanismo: primeiro, durante o processo de secagem, as partículas são aproximadas até o contato por
forças de adesão capilar. Em segundo lugar, no sólido seco, as partículas, mesmo que tenham mesma
carga, são atraídas pelos cátions provenientes do soro, que formam pontes iônicas entre as superfícies e
originam a adesão eletrostática. Para verificar esta hipótese, pares de diversos tipos de nanopartículas
foram misturados em meio aquoso e deixados secar, sendo o resultado da secagem analisado por
microscopia eletrônica e de sonda. A microscopia eletrônica de transmissão por energia filtrada
(EFTEM) foi explorada intensamente, utilizando um novo protocolo experimental que possibilita a
análise de partículas e agregados espessos (> 500 nm). Em todos os casos observados, partículas das
diferentes fases permanecem em contato após a secagem, revelando que as forças capilares são eficazes
para unir nanopartículas molháveis. No caso de misturas de montmorilonita cálcica e látex estireno-
acrílico foi observado que os íons Ca2+ estão localizados em domínios onde a argila e o látex estão
superpostos, evidenciando a formação de pontes iônicas. A contribuição da energia eletrostática para a
adesão de interfaces carregadas foi calculada utilizando um modelo formado por três superfícies
paralelas, no qual uma superfície com cargas positivas está disposta entre duas superfícies que possuem
cargas negativas. Os cálculos mostraram que em condições análogas às de uma interface formada por
látex estireno-acrílico e montmorilonita, a contribuição eletrostática na interface pode alcançar valores
de -200 kJ.mol-1. Esses valores verificam resultados experimentais obtidos em ensaios de tração. O
modelo de adesão eletrostática foi empregado no preparo de materiais nanocompósitos de PET e argila,
obtendo-se materiais com tensão na ruptura superior à do polímero puro. Uma outra parte da tese
descreve a síntese de nanomotores autoimpulsionados. Estes são dubletos formados por uma partícula
de sílica aderida a uma partícula de platina. A superfície da platina catalisa a decomposição do
peróxido de hidrogênio em solução aquosa criando gradientes de tensão superficial que impelem os
dubletos, produzindo movimentos não-Brownianos.
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ABSTRACT
MICROSCOPICAL STUDY OF NANOMETRIC PARTICLES ADHESION
The adhesion of nanometric phases is a topic of increasing scientific interest due to its importance for
the production and properties of new nanostructured materials. This study explores the following
hypothesis: immiscible and wettable particles carrying charges with same signal can adhere provided
that they are mixed in aqueous dispersion and dried out. This hypothesis is detailed in the following
mechanism: first, during the drying process the particles are attracted and placed in close contact due to
the capillary adhesion forces. Second, the evenly charged particles in the resulting dry solid are
counterbalanced by counter-ions from the serum, forming ionic bridges between the surfaces, that
account for electrostatic adhesion. To verify this hypothesis, pairs of many nanoparticles types were
mixed in aqueous medium and dried out. The resulting samples were analyzed by electron and probe
microscopy. The energy filtered transmission electron microscopy (EFTEM) was extensively explored
thanks to a new experimental protocol that allows the analyses of thick particles and aggregates (> 500
nm). In every case, the different phases remain in contact with each other after drying, showing that
electrostatic forces are able to unite evenly charged particles. In the case of calcium montmorillonite
and styrene-acrylic latex, Ca2+ ions are located in domains in which the clay and the latex are
superimposed, evidencing ionic bridge formation. The contribution of the electrostatic energy to the
adhesion of charged interfaces was calculated using a model of three parallel surfaces, in which a
positively charged surface is in between two negatively charged surfaces. Calculations have shown that
in conditions analogous to the styrene-acrylic latex and montmorillonite interface, the electrostatic
contribution in the interface can reach values as high as -200 kJ.mol-1 and these results are verified
using experimental data from mechanical testing. The electrostatic adhesion model was used to prepare
PET and clay nanocomposite materials, obtaining materials with tensile strength higher than the
pristine polymer. The final section of the thesis describes self-propelled nanomotors synthesis. These
are doublets made of a silica particle adhered to a platinum particle. Platinum surface catalyses the
hydrogen peroxide decomposition in aqueous solution creating a surface tension gradient that propels
the dimers, producing non-Brownian motion.
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Lista de Símbolos a distância entre as cargas adjacentes em uma superfície A constante de Hamaker c concentração do eletrólito C constante d distância entre as superfícies adjacentes e carga do elétron
dE energia potencial dipolo induzido-dipolo induzido ElE energia potencial eletrostática iE energia potencial dipolo-dipolo induzido pE energia potencial entre dipolos permanentes
F constante de Faraday H distância entre superfícies I potencial de ionização Iperda zero área do pico de perda zero Itotal área do espectro de perda de energia k constante de Boltzmann l distância entre cargas em um dipolo n0 concentração no interior da solução n- concentração aniônica n+ concentração catiônica q carga elétrica r distância entre cargas R constante dos gases T temperatura absoluta V0 potencial na superfície VA energia atrativa VR energia repulsiva VT energia total x porcentagem de substituição de cargas na superfície B x distância de uma partícula z valência do íon α polarizabilidade °ε permissividade no vácuo
ε constante dielétrica θ e φ ângulos de orientação entre dipolos κ-1
espessura da dupla camada λ caminho livre médio μ momento de dipolo
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Lista de Acrônimos AFM microscopia de força atômica DLVO Derjaguin, Landau, Verwey e Overbeek EFTEM microscopia eletrônica de transmissão por energia filtrada ESI-TEM microscopia eletrônica de transmissão associada à espectroscopia de
perda de energia FESEM microscopia eletrônica de varredura por emissão de campo OTS octadeciltriclorosilano PDDA poli(dialildimetilamônio) PDMS poli(dimetilsiloxano) PET poli(tereftalato de etileno) phr per hundred rubber PSS poli(4-estireno sulfonato de sódio) Poli(S-BA-AA) poli(estireno-co-acrilato de butila-co-ácido acrílico) TEM microscopia eletrônica de transmissão TEOS ortosilicato de tetraetila
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Lista de Tabelas Tabela 1: Valores de tensão na ruptura, alongamento máximo e módulo de Young obtidos nos ensaios de tração de PET e de nanocompósitos preparados a partir de PET micronizado, argila e diversos surfactantes......................................................................69 Tabela 2: Trabalho de deformação elástica de borracha e nanocompósitos, obtidos a partir de resultados experimentais na referência 69.........................................................71 Tabela 3: Medidas de espessura realizadas a partir dos espectros mostrados na Figura 32..........................................................................................................................................82 Tabela 4: Dados de caracterização morfológica das partículas de Pt sobre esferas de sílica..................................................................................................................................98
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Lista de Figuras Figura 1: Desenho esquemático mostrando os ângulos de orientação entre dipolos.........5 Figura 2: Amplitude e alcance das forças de interação interatômicas e intermoleculares.7 Figura 3: (a) Estrutura da dupla camada elétrica difusa na superfície de uma partícula coloidal carregada negativamente e (b) distribuição da concentração de cátions (n+) e ânions (n-) com a distância da superfície para um eletrólito simétrico com a concentração no interior da solução igual a n0 .........................................................................................9 Figura 4: Energia de interação total de duas placas lisas paralelas em função da separação das partículas. ..................................................................................................11 Figura 5: Fluxogramas mostrando três métodos de preparo de nanocompósitos: polimerização in situ, intercalação em solução e intercalação por fusão. .......................13 Figura 6: Fluxograma mostrando o método de preparação de nanocompósitos a partir de látexes. ..............................................................................................................................14 Figura 7: (a) Esquema mostrando a construção dos objetos autoimpulsionados. (b) Diagrama ilustrando o auto-ordenamento por interações capilares. (c) Ordenamento observado nas placas homoquirais. (d) Ordenamento observado nas placas heteroquirais..........................................................................................................................................16 Figura 8: Esquema da síntese dos bastões metálicos submicrométricos. (a) Deposição de prata por sputtering na membrana de alumina. (b) Eletrodeposição dos contatos de prata no interior da membrana. (c) Eletrodeposição dos segmentos metálicos de tamanho e composição desejados. (d) Dissolução seletiva da prata. (e) Dissolução seletiva da membrana de alumina. .....................................................................................................18 Figura 9: Decomposição eletroquímica bipolar de H2O2 no nanobastão de Pt-Au. Ilustração esquemática descritiva do mecanismo eletroquímico bipolar, onde o H+ produzido no ânodo pela oxidação de H2O2 move-se no sentido do cátodo, resultando no movimento do nanobastão no sentido oposto ..................................................................20 Figura 10: Dubleto formado por esfera catalítica (C) e não-catalítica (N), e os eventos que ocorrem na colisão de A e B com cada esfera...........................................................21 Figura 11: Fórmula estrutural de poli-isopreno. ..............................................................30 Figura 12: Ilustração esquemática da estrutura da argila montmorilonita. ......................35 Figura 13: Imagens de campo claro obtidas por TEM de (a) partículas de sílica de Stöber e (b) partículas de látex de poli(S-BA-AA). ....................................................................40 Figura 14: Histograma de diâmetros das partículas de (a) sílica de Stöber e (b) partículas de látex de poli(S-BA-AA)...............................................................................................40 Figura 15: Imagem de campo claro obtida por TEM de aglomerados formados por sílica de Stöber e látex de poli(S-BA-AA). Essa imagem foi montada em mosaico a partir de imagens obtidas em campos contíguos ............................................................................41 Figura 16: ESI-TEM de aglomerado formado por sílica de Stöber e látex de poli(S-BA-AA). (a) Imagem de campo claro, (b) imagem de EFTEM (25 eV), (c) mapa elementar de carbono e (d) mapa elementar de silício......................................................................43
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Figura 17: Imagens obtidas por AFM de aglomerados de sílica de Stöber e partículas de látex de poli(S-BA-AA): (a) topografia, (b) contraste de fase e (c) perfil de linha realizado na imagem de topografia ..................................................................................44 Figura 18: (a) Imagem de campo claro obtida por TEM de amostra de nanocompósito de poli(S-BA-AA) e sílica de Stöber cortada no crio-ultramicrotómo. (b) Histograma obtido por TEM dos diâmetros das partículas de sílica de Stöber obtidos em imagens de nanocompósito cortado.....................................................................................................45 Figura 19: Imagem de campo claro obtida por TEM de rede bidimensional de nanocompósito..................................................................................................................46 Figura 20: ESI-TEM de aglomerado formado por partícula de borracha natural e argila. (a) Imagem de campo claro, (b) imagem de EFTEM (25 eV), (c) mapa elementar de carbono e (d) mapa elementar de silício...........................................................................47 Figura 21: Micrografias FESEM de aglomerados formados por partículas de borracha natural e argila montmorilonita-Na+. A imagem da esquerda foi pseudocolorida...........49 Figura 22: ESI-TEM de aglomerado formado por montmorilonita-Ca2+ e látex de poli(S-BA-AA). (a) Imagem de campo claro, (b) imagem de EFTEM (25 eV), (c) mapa elementar de carbono, (d) mapa elementar de silício, (e) mapa elementar de cálcio e (f) superposição dos mapas elementares codificados em cores ............................................50 Figura 23: Desenho esquemático ilustrando a hipótese deste estudo ..............................52 Figura 24: Esquema mostrando o despelamento de filmes poliméricos de superfícies sólidos...............................................................................................................................60 Figura 25: Desenho esquemático do modelo utilizado para calcular a contribuição eletrostática na adesão de uma interface formada por duas superfícies negativas unidas por uma camada positiva. As superfícies A e C contêm cargas discretas 1- e a superfície B contém cargas discretas 2+. A distância entre as cargas adjacentes em uma superfície é a. A distância entre superfícies adjacentes é d. .............................................................62 Figura 26: Energia eletrostática calculada para três superfícies, onde uma superfície com cargas 2+ intercala duas superfícies com cargas fixas negativas 1- (ver Figura 25). (a) Curvas para três valores de distância entre as cargas na superfície. (b) Gráfico obtido substituindo as cargas na superfície B por entidades neutras e cargas 2-. Em (b) foi utilizado 1 nm para a distância entre as superfícies, assim como para a distância entre as cargas em um plano..........................................................................................................65 Figura 27: Curvas de tensão-deformação do PET e de nanocompósitos preparados com diferentes surfactantes. .....................................................................................................68 Figura 28: Ensaios de tração realizados em nanocompósitos confeccionados com látex de poli(S-BA-AA) e 10 phr de montmorilonita Li+, Na+, K+ ou Ca2+ .............................70 Figura 29: (a) Desenho esquemático mostrando os principais componentes de um microscópio eletrônico de transmissão por energia filtrada. (b) Espectro de perda de energia mostrando as principais regiões de um espectro convencional: região de perda zero, região de baixa perda e região de alta perda de energia..........................................76
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Figura 30: (a) Imagem de campo claro de aglomerado de borracha natural e argila. (b) Espectros de perda de energia de elétrons adquiridos em diferentes regiões da amostra. As regiões onde os espectros foram obtidos estão marcadas na imagem de campo claro...........................................................................................................................................79 Figura 31: Imagens de EFTEM (20-70 eV) de aglomerado formado por argila e borracha natural. ..............................................................................................................................80 Figura 32: (a) Sílica de Stöber mostrada em imagem de campo claro obtida por TEM. (b) Espectros de perda de energia de elétrons adquiridos em diferentes regiões da amostra. As regiões onde os espectros foram obtidos estão marcadas na imagem de campo claro. .....................................................................................................................81 Figura 33: Imagens de EFTEM (0 a 100 eV) de sílica de Stöber de diversos tamanhos e reconstrução tridimensional da imagem de EFTEM em 80 eV (canto esquerdo inferior). Para a reconstrução tridimensional, o contraste da imagem foi invertido e o fundo da imagem foi desconsiderado. .............................................................................................83 Figura 34: Desenho ilustrativo do método utilizado para a preparação dos dubletos. (a) Deposição das partículas de sílica por imersão e emersão do substrato em dispersão de sílica. (b) Deposição por sputtering de uma camada de adesão de crômio seguida de uma camada mais espessa de platina. Nesse estudo, foram depositadas camadas de platina de diversas espessuras: 25 nm, 40 nm, 55 nm, 70 nm ou 85 nm. (c) Tratamento térmico a 900 °C durante 3 horas. (d) Redispersão dos dubletos em água por ultrassom...............92 Figura 35: Microscopia óptica no modo de reflexão mostrando em dois aumentos as partículas de sílica depositadas sobre platina...................................................................95 Figura 36: FESEM de dubletos sobre substrato de silício. As amostras foram preparadas com camadas de Pt de diferentes espessuras: (A) 25 nm, (B) 40 nm, (C) 55 nm, (D) 70 nm e (E) 85 nm.................................................................................................................97 Figura 37: Histogramas dos diâmetros das partículas de platina nos dubletos preparados a partir da deposição de camada de platina de diversas espessuras: (A) 25 nm, (B) 40 nm, (C) 55 nm, (D) 70 nm e (E) 85 nm............................................................................99 Figura 38: Imagens de FESEM. (a) Amostra A inclinada em 60° e (b) amostra C inclinada em 30°. Os substratos foram inclinados horizontalmente em relação ao plano da imagem. .....................................................................................................................100 Figura 39: Sequências de quadros mostrando o movimento de dubletos das diferentes amostras sobre a superfície de vidro. A sequência de quadros está montada da esquerda para a direita, conforme indicam as setas. O tempo entre os quadros é de 76 ms. ........101 Figura 40: Gráfico mostrando a mudança de ângulos na trajetória das partículas de sílica. O eixo das ordenadas mostra o ângulo formado pelo vetor deslocamento da partícula com o seu vetor deslocamento do movimento seguinte. As descontinuidades em alguns gráficos se referem aos quadros nos quais a partícula de sílica permanece imóvel (havendo movimento da partícula de platina) ................................................................102 Figura 41: Gráfico mostrando a velocidade dos dubletos em função do tamanho de partícula nas amostras A, B, C, D e E. As medidas foram realizadas em solução 15 % de H2O2................................................................................................................................103
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Figura 42: Velocidade dos dubletos das amostras A e C em diversas concentrações de H2O2. As medidas foram realizadas em dubletos movendo-se sobre superfície de vidro........................................................................................................................................104 Figura 43: Sequência de imagens mostrando dubletos que têm a partícula de sílica presa à superfície do vidro e a partícula de platina fazendo movimento giratório. (a) Amostra C e (b) amostra (E). As setas indicam a sequência de quadros. O intervalo de tempo entre os quadros é de 76 ms............................................................................................105 Figura 44: Dependência da velocidade dos dubletos com a força iônica do meio. As medidas foram realizadas com a amostra A sobre superfície limpa de vidro e sobre a superfície do vidro previamente tratada com os polieletrólitos PDDA e PSS. Em NaCl 10 mmol.L-1 os dubletos estão imobilizados sobre a superfície.....................................107 Figura 45: Ilustração da superfície B com 1 % de substituição de cargas. ....................120 Figura 46: Ilustração da superfície B com 25 % de substituição de cargas. ..................121 Figura 47: Ilustração da superfície B com 50 % de substituição de cargas. ..................123 Figura 48: Gráfico mostrando a mudança de ângulos na trajetória das partículas de sílica de dubletos da amostra A. O eixo das ordenadas mostra o ângulo formado pelo vetor deslocamento da partícula com o seu vetor deslocamento do movimento seguinte. As descontinuidades em alguns gráficos se referem aos quadros nos quais a partícula de sílica permanece imóvel. ................................................................................................124 Figura 49: Gráfico mostrando a mudança de ângulos na trajetória das partículas de sílica de dubletos da amostra B. O eixo das ordenadas mostra o ângulo formado pelo vetor deslocamento da partícula com o seu vetor deslocamento do movimento seguinte. As descontinuidades em alguns gráficos se referem aos quadros nos quais a partícula de sílica permanece imóvel. ................................................................................................125 Figura 50: Gráfico mostrando a mudança de ângulos na trajetória das partículas de sílica de dubletos da amostra C. O eixo das ordenadas mostra o ângulo formado pelo vetor deslocamento da partícula com o seu vetor deslocamento do movimento seguinte. As descontinuidades em alguns gráficos se referem aos quadros nos quais a partícula de sílica permanece imóvel. ................................................................................................126 Figura 51: Gráfico mostrando a mudança de ângulos na trajetória das partículas de sílica de dubletos da amostra D. O eixo das ordenadas mostra o ângulo formado pelo vetor deslocamento da partícula com o seu vetor deslocamento do movimento seguinte. As descontinuidades em alguns gráficos se referem aos quadros nos quais a partícula de sílica permanece imóvel. ................................................................................................127 Figura 52: Gráfico mostrando a mudança de ângulos na trajetória das partículas de sílica de dubletos da amostra E. O eixo das ordenadas mostra o ângulo formado pelo vetor deslocamento da partícula com o seu vetor deslocamento do movimento seguinte. As descontinuidades em alguns gráficos se referem aos quadros nos quais a partícula de sílica permanece imóvel. ................................................................................................128
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Índice Analítico Capítulo 1 ...........................................................................................................................1
1.1 Adesão ......................................................................................................................3 1.2 Forças Intermoleculares ...........................................................................................3
1.2.1 Forças Eletrostáticas ou Coulombianas ............................................................4 1.2.2 Forças de van der Waals....................................................................................4
1.2.2.1 Interações Dipolo-Dipolo...........................................................................4 1.2.2.1.1 Ligações de Hidrogênio ......................................................................5
1.2.2.2 Interações Dipolo-Dipolo Induzido............................................................6 1.2.2.3 Forças de Dispersão (ou de London) .........................................................6
1.2.3 Ligações Covalentes..........................................................................................7 1.2.4 Magnitude das Forças Atrativas Intermoleculares............................................7 1.2.5 Forças Interfaciais .............................................................................................8
1.3 Nanocompósitos .....................................................................................................12 1.4 Nanomotores ..........................................................................................................15
1.4.1 Sistemas Autoimpulsionados ..........................................................................15 1.4.2 Nanobastões.....................................................................................................17 1.4.3 Mecanismos para o Movimento dos Nanomotores.........................................19
1.5 Motivações e Organização da Tese........................................................................22 Capítulo 2 .........................................................................................................................25
2.1 Introdução...............................................................................................................27 2.1.1 Látexes.............................................................................................................27
2.1.1.1 Estabilidade Coloidal do Látex ................................................................28 2.1.1.2 Látex de Borracha Natural .......................................................................30
2.1.2 Sílica de Stöber................................................................................................33 2.1.3 Argila...............................................................................................................34
2.2 Objetivos.................................................................................................................36 2.3 Parte Experimental .................................................................................................36
2.3.1 Materiais ..........................................................................................................36 2.3.2 Métodos ...........................................................................................................37
2.3.2.1 Preparo das Submonocamadas .................................................................37 2.3.2.2 Preparo do Monolito Nanocompósito de Poli(S-BA-AA) e Sílica de Stöber....................................................................................................................38 2.3.2.3 Caracterização ..........................................................................................39
2.4 Resultados...............................................................................................................39 2.5 Discussão................................................................................................................51 2.6 Conclusões..............................................................................................................55
Capítulo 3 .........................................................................................................................57 3.1 Introdução...............................................................................................................59
3.1.1 Adesão Eletrostática ........................................................................................59 3.2 Parte Experimental .................................................................................................61
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3.2.1 Cálculos ...........................................................................................................61 3.2.2 Materiais ..........................................................................................................63 3.2.3 Métodos ...........................................................................................................64
3.2.3.1 Nanocompósitos de PET ..........................................................................64 3.3 Resultados...............................................................................................................65
3.3.1 Cálculos de Adesão Eletrostática ....................................................................65 3.3.2 Aplicação da Adesão Eletrostática..................................................................67
3.4 Discussão................................................................................................................69 3.5 Conclusões..............................................................................................................72
Capítulo 4 .........................................................................................................................73 4.1 Introdução...............................................................................................................75 4.1.1 Microscopia Eletrônica de Transmissão por Energia Filtrada ............................75 4.2 Objetivo ..................................................................................................................77 4.3 Parte Experimental .................................................................................................78
4.3.1 Materiais e Métodos ........................................................................................78 4.4 Resultados...............................................................................................................78 4.5 Discussão................................................................................................................85 4.6 Conclusões..............................................................................................................86
Capítulo 5 .........................................................................................................................87 5.1 Introdução...............................................................................................................89
5.1.1 Dubletos...........................................................................................................89 5.2 Objetivos.................................................................................................................91 5.3 Parte Experimental .................................................................................................91
5.3.1 Materiais ..........................................................................................................91 5.3.2 Métodos ...........................................................................................................92
5.4 Resultados...............................................................................................................95 5.5 Discussão..............................................................................................................108 5.6 Conclusões............................................................................................................110
Capítulo 6 .......................................................................................................................111 6.1 Conclusões Gerais ................................................................................................113 6.2 Sugestões Para Futuros Trabalhos........................................................................115
Anexo I - Cálculos..........................................................................................................117 Anexo II..........................................................................................................................124 Referências Bibliográficas .............................................................................................129
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Capítulo 1
Introdução Geral
2
3
1.1 Adesão Adesão é definida como o estado no qual duas superfícies são mantidas unidas por
forças interfaciais, sejam atrações entre moléculas, átomos e/ou íons nas suas
superfícies.1 Essas forças têm grande magnitude quando ligações químicas são formadas
por dois átomos que compartilham elétrons, ou quando cargas elétricas se atraem, mas
podem ser relativamente fracas como no caso das forças atrativas das interações de van
der Waals, sempre presentes quando duas substâncias se encontram e alcançam contato
íntimo.
A ciência da adesão pode ser dividida em duas categorias: uma lida com química
e física de superfícies e interfaces, e outra lida com mecânica de fratura de juntas
adesivas. A primeira focaliza a formação de ligações, molhabilidade, adsorção e
interligação química, predizendo a magnitude das forças de adesão em uma interface. Já
a segunda se concentra na análise mecânica de forças aplicadas a juntas adesivas, suas
consequências físico-químicas, mecanismos de dissipação das solicitações e o
desenvolvimento de testes, métodos, normas e padrões para medir essas forças.
1.2 Forças Intermoleculares2
As forças atrativas responsáveis pelo fenômeno físico-químico de adesão são as
forças fundamentais da natureza que unem átomos para formarem moléculas e
moléculas para formarem líquidos ou sólidos.3 Essas forças atuam entre dois substratos,
permitindo a adesão de ambos.
Normalmente quando dois sólidos são colocados “em contato”, eles não aderem
devido a não ocorrer o contato pleno entre eles. A razão disso está no fato de a maioria
das superfícies sólidas serem rugosas na microescala, além de terem moléculas ou
partículas adsorvidas. Por exemplo, irregularidades da ordem de 0,02-0,25 μm
permanecem em superfícies mesmo após um polimento fino. Assim sendo, quando dois
sólidos são colocados juntos, o contato ocorre apenas em uma área relativamente
pequena, onde os pontos altos das superfícies se encontram.
4
1.2.1 Forças Eletrostáticas ou Coulombianas
A interação entre dois átomos ou moléculas carregados é a mais forte interação
física a ser considerada em interfaces e sistemas coloidais.4 Forças atrativas
eletrostáticas surgem da interação entre átomos e moléculas carregados eletricamente
com sinais opostos. Trata-se de uma das maiores forças de interação (com exceção das
ligações covalentes), com energia de ruptura entre 600 de 1000 kJ/mol para haletos de
metais alcalinos. A energia potencial da interação resultante de forças eletrostáticas é
dada por
rqqE El
επε°
=4
21 Equação 1
onde os qi representam as cargas, εo a permissividade no vácuo, ε a constante dielétrica
do meio e r a distância que separa as cargas, admitidas como sendo pontuais.
1.2.2 Forças de van der Waals
As forças de van der Waals são classificadas em três tipos: interações dipolo-
dipolo (incluindo o caso especial das ligações de hidrogênio), interações dipolo-dipolo
induzido e forças de dispersão (ou de London).
1.2.2.1 Interações Dipolo-Dipolo
A eletronegatividade diferenciada dos átomos que constituem uma molécula pode
fazer com que esta apresente dipolos permanentes em função da distribuição dos
elétrons quando os vetores de polaridade não se anulam. A energia potencial de
interação entre dois dipolos é descrita por
5
)cossinsincoscos2(4 121213
0
21 φθθθθπε
μμ−=
rE p Equação 2
onde μi são os momentos dipolares de moléculas e θ e φ são os ângulos de orientação
entre os dipolos, conforme mostrado na Figura 1. O momento de dipolo é definido como
μ = ql Equação 3
onde l é a distância que separa duas cargas parciais +q e –q.
Figura 1: Desenho esquemático mostrando os ângulos de orientação entre dipolos.
1.2.2.1.1 Ligações de Hidrogênio
Um caso particular das interações dipolo-dipolo é o das interações de dipolos que
contêm o hidrogênio ligado aos elementos eletronegativos F, O, N e Cl. A energia de
interação destas ligações pode variar de 10 a 40 kJ/mol, um valor bem maior que as
obtidas nos outros casos de interações de van der Waals (~1 kJ/mol). O tamanho
reduzido do átomo de hidrogênio é o fator que diferencia as interações por ligações de
hidrogênio. As distâncias intermoleculares em ligações de hidrogênio são de cerca de 2 a
3 Å, ao passo que nas interações dipolo-dipolo normais esta distância é de 3,5 a 4,5 Å.
6
1.2.2.2 Interações Dipolo-Dipolo Induzido
Moléculas com distribuição uniforme da nuvem eletrônica podem ser polarizadas
por dipolos, o que define um dipolo induzido. A energia potencial das interações dipolo-
dipolo induzido é dada por
620
22
)4(2)cos31(
rE I
πεθαμ +
−= Equação 4
sendo α a polarizabilidade molecular.
1.2.2.3 Forças de Dispersão (ou de London)
Trata-se da força atrativa mais comum, encontrada em praticamente todos os
materiais. Surge da formação de dipolos instantâneos correlacionados, provocando a
formação de dipolos induzidos mútuos, quando átomos ou moléculas se aproximam. A
energia potencial resultante da interação de forças de dispersão entre átomos ou
moléculas similares é dada por
⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛−≈⎟
⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛−= 62
0
12
162
0
12
1
)4(43
)4(43
rI
rC
E d
πεα
πεα Equação 5
e para átomos ou moléculas não similares
⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛+
−≈⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛+
−=21
216
122
0
21
21
216
122
0
21 2)4(4
32)4(4
3II
IIrCC
CCr
E d
πεαα
πεαα Equação 6
onde C1 e C2 são constantes moleculares que podem ser aproximadas por I1 e I2, que são
os potenciais de ionização dos átomos ou moléculas.
7
1.2.3 Ligações Covalentes
São as ligações formadas pelo compartilhamento de elétrons das camadas externas
dos átomos que constituem uma molécula. Os elementos de valência múltipla que
predominantemente se associam através de ligações covalentes e que têm grande
importância em materiais moles são C, N, O, Si, P, e S. A energia envolvida na
formação de ligações covalentes é muito alta, variando de 150 a 450 kJ/mol para
ligações simples.
1.2.4 Magnitude das Forças Atrativas Intermoleculares
A magnitude e a faixa de alcance das forças interatômicas e intermoleculares
estão representadas graficamente na Figura 2. Pode-se observar que as ligações
covalentes e iônicas proporcionam as maiores energias de interação intermolecular,
sendo, portanto, mais difíceis de serem rompidas. Por outro lado, observa-se também
que as interações proporcionadas pelas forças de van der Waals são as de maior alcance.
Figura 2: Amplitude e alcance das forças de interação interatômicas e intermoleculares.5
8
1.2.5 Forças Interfaciais
Enquanto as forças que atuam em interfaces são as mesmas descritas na sessão
anterior, elas se manifestam de forma diferente quando aplicadas em superfícies ou
partículas coloidais. Ao considerar superfícies de geometria definida, as forças entre
duas superfícies podem ser obtidas integrando todas as interações entre os pares de
moléculas ou íons nas superfícies.
Uma análise teórica da interação entre partículas coloidais foi desenvolvida por
Derjaguin, Landau,6 Verwey e Overbeek7 na teoria DLVO.8 A característica
fundamental da teoria DLVO é que a energia de interação total entre as partículas é
determinada pela combinação da energia repulsiva eletrostática (VR) e a energia atrativa
de van der Waals (VA).
A repulsão eletrostática tem origem no fato de a maior parte das substâncias
adquirirem carga elétrica superficial, quando colocadas em contato com um meio polar
(em geral, aquoso). Os possíveis mecanismos de criação dessas cargas são: ionização,
adsorção de íons ou dissolução de íons.
Essa carga superficial influencia a distribuição dos íons no meio polar. Os
contraíons são atraídos eletrostaticamente pela superfície de carga oposta. Assim sendo,
a concentração dos contraíons próximos da superfície das partículas é maior e decresce
com o aumento da distância da superfície. Esses íons têm a tendência de se difundirem
da superfície para o interior da solução, onde sua concentração é menor. A camada
difusa não consiste apenas de um excesso de íons de sinais opostos, há também uma
deficiência de cargas de mesmo sinal próximo à superfície, uma vez que os coíons são
repelidos eletrostaticamente por essa superfície, conforme mostrado na Figura 3.
9
Figura 3: (a) Estrutura da dupla camada elétrica difusa na superfície de uma partícula
coloidal carregada negativamente e (b) distribuição da concentração de cátions (n+) e
ânions (n-) com a distância da superfície para um eletrólito simétrico com a concentração
no interior da solução igual a n0. Adaptado da referência 9.
A teoria da dupla camada elétrica trata da distribuição de íons, e portanto, da
intensidade dos potenciais elétricos que ocorrem na superfície carregada. O caráter
difuso da distribuição dos contraíons foi reconhecido por Gouy e Chapman,8 que
apresentaram um tratamento teórico de sua distribuição. Sua teoria prediz um
decaimento aproximadamente exponencial do potencial elétrico VR com a distância x da
superfície plana. Isso é representado pela seguinte equação:
VR = V0exp(-κ x) Equação 7
onde V0 é o potencial na superfície e 1/κ é a extensão, ou espessura, da dupla camada. A
expressão abaixo é válida para certa distância da superfície carregada onde o potencial é
relativamente baixo e decresce exponencialmente.
∑
=
=
niii zcF
RT22
1 εκ
Equação 8
10
onde: F é a constante de Faraday, ci a concentração do eletrólito, zi a valência do íon, ε a
constante dielétrica do meio, R a constante dos gases (1atm.L/mol.K) e T a temperatura
absoluta (K). Pode-se inferir a partir dessa equação, que a espessura da dupla camada
elétrica (κ-1) decresce à medida que a força iônica aumenta ou a constante dielétrica
diminui.
As forças de van der Waals fazem com que moléculas ou átomos neutros sempre
se atraiam e sejam atraídos por cargas elétricas, sendo as responsáveis por fenômenos
fundamentais, como a condensação de vapores e cristalização de moléculas. A energia
atrativa entre dois objetos sólidos ou líquidos pode ser calculada para diversas
geometrias por meio da constante de Hamaker (A). A energia atrativa entre duas
camadas planas semi-infinitas pode ser simplificada pela seguinte equação:
2A Hπ12AV −= Equação 9
onde H é a distância entre as superfícies das placas. A constante de Hamaker depende da
natureza do material que forma as partículas. No caso onde o líquido é o meio, diferente
de vácuo, essa constante deve ser substituída pela constante de Hamaker efetiva,
calculada pela expressão:
( )2
1212 AAA −= Equação 10
onde A1 se refere ao meio de dispersão e A2 se refere às partículas.
Desse modo, a teoria DLVO combina conceitos de dupla camada elétrica de Stern
e Chapman com interações de van der Waals. De acordo com essa teoria, a energia total
11
de interação VT entre duas partículas é a soma do potencial repulsivo VR e o potencial
atrativo VA.
VT = VR + VA Equação 11
A representação de VT, VR e VA como função da separação entre as placas para
baixas concentrações de eletrólitos (< 10-2 M) e alto potencial de superfície (>50 mV) é
mostrada na Figura 4. Observa-se a ocorrência de uma barreira de energia (Vm) a
distâncias intermediárias. Se as partículas ultrapassarem essa barreira elas “caem” em
um profundo mínimo primário, unindo-se. O tamanho de Vm determina a estabilidade
coloidal do sistema e valores de 15-25 kT são normalmente requeridos para uma
estabilidade a longo prazo. O termo ΔVb representa a barreira para redispersão. Em
grandes separações, pode haver também um mínimo secundário, quando VR cai mais
rapidamente com o aumento da distância que VA. No mínimo secundário há uma
associação reversível das partículas, que alguns autores chamam de floculação.
Figura 4: Energia de interação total de duas placas lisas paralelas em função da
separação das partículas. Adaptado da referência 9.
12
1.3 Nanocompósitos Nanocompósitos10,11 são materiais multifásicos nos quais uma das fases possui
dimensões nanométricas em pelo menos um dos eixos geométricos das partículas.
Devido à sua estrutura nanométrica, membros dessa nova classe de materiais podem
apresentar propriedades únicas, diferentes dos compósitos convencionais e dos seus
constituintes, gerando novas questões científicas, tecnologias e oportunidades de
negócios.
Dentre os vários tipos de nanocompósitos existentes, os nanocompósitos de
polímeros e silicatos lamelares se destacam por suas propriedades mecânicas,12,13 sua
resistência ao calor14 e à oxidação, transparência ótica e biodegradabilidade. Além disso,
esses materiais apresentam baixa permeabilidade a gases,15 o que gera a perspectiva de
aplicação em pneus, embalagens de alimentos e de bebidas gaseificadas e outros
artefatos poliméricos nos quais essa propriedade é importante.
Em geral as lâminas de silicato possuem espessura da ordem de 1 nm e uma alta
razão de aspecto (10-1000) o que lhes proporciona uma enorme área de superfície. A
porção da massa dos silicatos lamelares que permanece completamente dispersa na
matriz polimérica cria uma área de interação na interface polímero/carga muito maior
que nos compósitos convencionais. Três métodos de preparação de nanocompósitos de
silicatos lamelares10 têm sido empregados de acordo com o material de partida e a
técnica de processamento. A Figura 5 mostra esses métodos, que são descritos a seguir.
13
Figura 5: Fluxogramas mostrando três métodos de preparo de nanocompósitos:
polimerização in situ, intercalação em solução e intercalação por fusão.
Polimerização in-situ: o silicato lamelar é intumescido no monômero líquido ou
em uma solução monomérica, permitindo que a polimerização ocorra entre as lamelas. A
polimerização pode ser iniciada por calor, por radiação, por difusão do iniciador
escolhido, ou por um catalizador fixado entre as lamelas por troca iônica.
Intercalação do polímero em solução: é um método baseado em um solvente no
qual o polímero é solúvel ou dispersável e os silicatos lamelares são intumescidos. O
silicato lamelar é primeiro intumescido com o solvente; então o polímero é misturado na
dispersão de silicatos lamelares, dissolvendo-se ou dispersando-se, difundindo suas
cadeias poliméricas entre as camadas de argila. Quando o solvente é removido, as
estruturas intercaladas são mantidas, resultando em nanocompósitos. Esse método
normalmente usa solventes orgânicos e argilas organofílicas.
Intercalação por fusão: Normalmente envolve o cisalhamento de uma mistura de
polímero e silicatos lamelares. A mistura de polímeros e silicatos lamelares – que
normalmente são organicamente modificados – é feita em uma temperatura acima do
ponto de amolecimento do polímero. Esse método foi inicialmente explorado por
Giannelis et al.16,17 e oferece as seguintes vantagens: não requer o uso de solventes
14
orgânicos e é compatível com processos industriais, como a extrusão e a moldagem por
injeção.
Os métodos de intercalação por fusão e em solução dependem da minimização da
tensão interfacial entre a argila e o polímero, o que normalmente é feito empregando sais
de amônio quaternário. Neste laboratório, uma nova metodologia18, 19 foi desenvolvida
para o preparo de nanocompósitos a partir de látexes. O método consiste em dispersar
argila em água, adicionar o polímero na forma de látex e deixar a mistura secar,
conforme mostrado na Figura 6. O emprego desse método tem produzido materiais com
propriedades mecânicas diferenciadas e resistência a solvente, tendo, portanto
potencialidade de aplicação em várias situações. O processo apresenta ainda várias
vantagens práticas por sua preparação fácil e sem o uso de sais de amônio, o que pode
resultar em produtos com baixo custo de produção, embora dotados de propriedades
únicas.
Figura 6: Fluxograma mostrando o método de preparação de nanocompósitos a partir de
látexes.
Os materiais preparados dessa forma podem possuir estrutura intercalada ou
esfoliada, dependendo do conteúdo de argila. As propriedades desses nanocompósitos
como alto módulo de Young, resistência a tração e anisotropia de intumescimento, além
de resultados de microscopia, evidenciam forte adesão entre as fases.19,20
15
1.4 Nanomotores Nanomotores são sistemas de dimensões nanométricas que se movimentam
utilizando energia química do meio onde estão dispersos. Essas estruturas podem ser
úteis individualmente ou em conjunto, auto-ordenando-se espontaneamente,
direcionadas em moldes ou guiadas quimicamente para formar arquiteturas que
executam funções inteligentes ou têm uso particular.
A possibilidade de criar um grande número de nanomotores que se locomovem e
têm funções específicas tornou-se factível devido ao desenvolvimento da química
coloidal, nanociência e nanotecnologia.21 De fato, a locomoção em nanoescala em meio
fluido é um dos grandes desafios da nanociência, hoje.22 A cena envolve cientistas que
sintetizem, estudem, conheçam e utilizem essa nova classe de motores. Essas pequenas
máquinas, individualmente ou mutuamente ordenadas, poderão em um futuro próximo
transportar fármacos através do corpo humano, realizar tarefas em células, transportar
substâncias em sistemas microfluidos, gerenciar feixes luminosos, agitar líquidos
próximo a superfícies de eletrodos ou procurar e destruir moléculas orgânicas tóxicas em
águas poluídas. Contudo, o estudo dos nanomotores é bastante recente e ainda não tem
aplicações em produtos, tratando-se assim de uma ciência básica.
Inúmeros exemplos de micro e nanomotores são encontrados em células e em
organelas.23 Devido à Natureza ser a incomparável maior construtora de máquinas
microscópicas, vários cientistas têm estudado os nanomotores naturais para criar
análogos artificiais.24
1.4.1 Sistemas Autoimpulsionados
Whitesides e coautores25 da Universidade de Harvard mostraram pela primeira vez
o movimento autônomo e auto-ordenamento de componentes artificiais nos quais o
movimento e a interação dos componentes são determinados pelo seu desenho e
16
construção. Esses componentes não carregam combustíveis e não requerem inserção de
energia de fontes externas.
Objetos milimétricos foram construídos de acordo com o esquema mostrado na
Figura 7a. Para a construção desses objetos, uma placa fina (de cerca de 2 mm de
espessura e 9 mm de diâmetro) foi fabricada de polidimetilsiloxano (PDMS) na forma
desejada e faces específicas foram oxidadas com plasma em ar tornando-se hidrofílicas.
Um pedaço de 2 x 2 mm de vidro poroso coberto por platina em uma das faces foi
montado no pedaço de PDMS utilizando um pino de aço.
Figura 7: (a) Esquema mostrando a construção dos objetos autoimpulsionados. (b)
Diagrama ilustrando o auto-ordenamento por interações capilares. (c) Ordenamento
observado nas placas homoquirais. (d) Ordenamento observado nas placas heteroquirais.
Esquema adaptado da referência 25.
As peças são impulsionadas quando deixadas flutuando em solução de peróxido
de hidrogênio, devido à geração de bolhas de oxigênio, como consequência da
decomposição de peróxido de hidrogênio catalisado por platina, conforme a Equação 12.
2H2O2 (l) → O2 (g) + 2H2O (l) Equação 12
17
O movimento rotacional das peças na velocidade de 1-2 cm.s-1 é reprodutível e
permanece por vários dias, quando as peças são deixadas em um béquer com grande
quantidade de solução de H2O2 (1 L). A velocidade diminui com a redução na
concentração de H2O2, mas pode ser retomada ao recarregar o H2O2. As faces
hidrofóbicas das placas de PDMS criam um menisco negativo na interface líquido/gás.
Quando dois objetos se aproximam em distâncias menores que o menisco, os objetos se
atraem, conforme mostra a Figura 7b. A atração é causada pelo decréscimo da área total
na interface H2O2/ar e a força atrativa é proporcional à tensão interfacial.
As peças utilizadas são quirais devido à posição de suas partes hidrofílicas e à
posição onde a placa catalisadora é fixada. As várias peças, quando colocadas
simultaneamente em movimento, se auto-ordenam, formando diferentes arranjos:
quando placas homoquirais (Figura 7c) se unem, continuam a fazer movimentos
rotatórios, enquanto as placas heteroquirais unidas (Figura 7) realizam movimentos
direcionais com velocidade de 2 a 3 vezes maior que as placas separadas.
O estudo de Whitesides et al., apesar das limitações da dimensão e da quantidade
de objetos usados e também do movimento em apenas duas dimensões das placas, abriu
uma grande área de trabalho para sistemas autoimpulsionados que podem realizar
movimentos individuais ou coletivos.
1.4.2 Nanobastões
O grupo do Professor Thomas Mallouk da Universidade PennState foi o primeiro
grupo de pesquisa a estudar o movimento autoimpulsionado de nanobastões formados
por segmentos metálicos quando imersos em solução de H2O2.
Nanobastões metálicos bissegmentados têm sido amplamente utilizados nos
estudos de nanomotores. Esses bastões são impulsionados e descrevem movimento não-
Browniano quando dispersos em solução de H2O2, pois apenas um de seus segmentos
catalisa a decomposição do H2O2. A produção desses nanobastões é realizada pela
18
redução eletroquímica de diversos metais em moldes. A utilização desse método foi
demonstrada para platina, paládio, níquel, cobalto, prata, cobre, ouro, rutênio e ródio.26
Como mostrado no esquema da Figura 8, suspensões desses “bastões
segmentados” são preparadas por redução de íons metálicos dentro dos poros de uma
membrana seguida da liberação das partículas. 27 Membranas de Al2O3 com poros de 15
nm a 12 μm servem como moldes e são disponíveis comercialmente, podendo também
ser produzidas em laboratório.
Normalmente um filme de prata é depositado por sputtering na parte de trás da
membrana com poros de 370 nm e serve como eletrodo de trabalho para a redução de
íons metálicos em solução. Um segmento de prata é depositado, seguido de outros
metais. A estrutura de cada tipo de bastão é controlada por (i) o diâmetro dos poros da
membrana, que determina a espessura dos cilindros; (ii) a sequência dos íons metálicos
introduzidos em solução, que determina o número e padrão dos segmentos metálicos; e
(iii) a corrente elétrica e tempo utilizado em cada deposição, que dita o tamanho dos
segmentos. Após a etapa de eletrodeposição, o sistema é imerso em solução de HNO3 (5
M) para a dissolução da prata, e imerso em NaOH (5 M) para a dissolução do molde de
alumina. Os nanobastões são então submetidos a sucessivas centrifugações e lavagens
com água.
Figura 8: Esquema da síntese dos bastões metálicos submicrométricos. (a) Deposição de
prata por sputtering na membrana de alumina. (b) Eletrodeposição dos contatos de prata
no interior da membrana. (c) Eletrodeposição dos segmentos metálicos de tamanho e
composição desejados. (d) Dissolução seletiva da prata. (e) Dissolução seletiva da
membrana de alumina.
19
Ozin et al.28 utilizaram o método descrito na Figura 8 para produzir nanomotores
autoimpulsionados. Bastões submicrométricos com segmentos de ouro e níquel foram
estudados, pois o segmento da barra formado por níquel catalisa a reação química
descrita pela Equação 12, impulsionando os bastões. Observando o movimento desses
bastões em H2O2 sobre substrato de silício, notou-se em algumas partículas que o
segmento de ouro adere ao substrato. Dessa forma, as barras iniciaram movimentos
rotacionais tanto no sentido horário quanto no anti-horário, podendo até mesmo mudar o
sentido, caso, por exemplo, uma barra em movimento livre se chocasse com o rotor. Os
cientistas atribuíram o fato do segmento de ouro aderir ao substrato a contaminações ou
imperfeições no silício.
1.4.3 Mecanismos para o Movimento dos Nanomotores
Diversos mecanismos têm sido propostos para explicar o movimento dos
nanomotores. Contudo ainda não há consenso na literatura sobre o mecanismo de
propulsão dos nanomotores.29 Essa sessão irá descrever os principais mecanismos
propostos na literatura corrente, considerando a ocasião e os experimentos realizados
pelos cientistas em questão.
Conforme foi observado no trabalho pioneiro de Whitesides, a geração e expansão
das bolhas na superfície da platina geram uma força que desloca o líquido vizinho à
superfície da platina, originando assim o movimento da platina em sentido oposto ao
local da formação das bolhas. Nesse caso, é aceito que o trabalho de expansão das
bolhas movimenta os componentes.
O primeiro estudo realizado com nanobastões30 em H2O2 mostrou que o mesmo
mecanismo não se aplica na nanoescala, pois os nanobastões formados por segmentos de
1 μm de Au e Pt movem-se no sentido do segmento de Pt, que é oposto ao esperado.
Mallouk et al. propuseram que em objetos micrométricos, as forças interfaciais seriam
maiores que as forças inerciais e foi investigada a possibilidade de o movimento ser
20
impulsionado pelo efeito Marangoni, ou seja, por um gradiente de tensão interfacial que
é criado e continuamente restabelecido pela reação catalítica à medida que o bastão se
move. Sendo assim, a geração de oxigênio no segmento de Pt quebraria a rede de
ligações de hidrogênio da água, diminuindo a tensão interfacial líquido-vapor. Devido
ao oxigênio ser gerado em apenas um segmento de cada bastão, um gradiente de tensão
interfacial é criado ao longo da extensão do bastão. À medida que o bastão se move, esse
gradiente é continuamente restabelecido.
O mecanismo eletroquímico bipolar foi também proposto pelo grupo de
Mallouk.31,32 Nele, o H2O2 é oxidado no ânodo (Pt) e o O2 e/ou o H2O2 são reduzidos no
cátodo, sendo que a redução é realizada na presença de H+ (Figura 9). Para tanto, o H+
deve mover-se no sentido do cátodo, carregando água consigo. O movimento da água
em direção ao cátodo é equivalente ao movimento do nanobastão no sentido do ânodo.
Figura 9: Decomposição eletroquímica bipolar de H2O2 no nanobastão de Pt-Au.
Ilustração esquemática descritiva do mecanismo eletroquímico bipolar, onde o H+
produzido no ânodo pela oxidação de H2O2 move-se no sentido do cátodo, resultando no
movimento do nanobastão no sentido oposto. Retirado da referência 31.
Para verificar a hipótese, nanobastões metálicos bissegmentados foram
sintetizados utilizando-se diversas combinações entre Pt, Pd, Ni, Ag, Au, Ru, Rh e Co, e
os potenciais elétricos dos metais em H2O2 foram medidos. Foi observado que à medida
que a diferença de potencial entre os eletrodos aumenta, os bastões formados por esses
21
metais tendem a se movimentar mais rápido em solução de H2O2, sendo que em todos os
casos estudados os bastões bissegmentados se movem no sentido do ânodo.
O mecanismo eletroquímico bipolar tem sido utilizado para explicar o
comportamento de outros sistemas. Nanobastões formados por um segmento de Au e
outro segmento de nanocompósito de Pt e nanotubos de carbono são os nanomotores
mais rápidos observados na literatura até então33 (250 μm/s), sendo a velocidade desses
nanobastões explicada pela alta diferença de potencial entre o nanocompósito e o ouro, e
também pela alta condutividade do nanocompósito.
Admite-se também a possibilidade da formação de um gradiente químico e/ou de
um gradiente de temperatura gerados pela decomposição exotérmica do H2O2
propulsionarem os nanomotores.30
Kapral et al. fizeram uso de simulações para estudar o movimento de
nanomotores34, prever o comportamento de diversas geometrias35 e sondar o mecanismo
de movimento dos nanomotores. O modelo utilizado baseia-se em dubletos formados
por uma esfera catalítica (C) da reação A → B e outra esfera não-catalítica (N),
conforme a Figura 10, sendo possível simular esferas de tamanhos diferentes.
O movimento de dubletos e das espécies A e B foram simulados por dinâmica de
colisão de multipartículas, onde as espécies A e B interagem com diferentes forças com
os dubletos por meio de diferentes potenciais de Lennard-Jones.
Figura 10: Dubleto formado por esfera catalítica (C) e não-catalítica (N), e os eventos
que ocorrem na colisão de A e B com cada esfera. Adaptado da referência 34.
22
Os resultados de simulação indicam que o movimento direcional pode ocorrer se
(a) houver um gradiente de concentração de B ao longo do eixo que passa através do
centro das duas partículas; e se (b) forças diferentes atuarem nas esferas do dubleto.
Simulando partículas formadas por monômero de diversas dimensões, foi observado que
a velocidade ao longo do eixo entre as partículas (Vz) é maior quando o diâmetro do
monômero C é a metade do diâmetro do monômero N.
1.5 Motivações e Organização da Tese Essa tese está dividida em cinco capítulos que têm como ponto comum o estudo
microscópico de adesão de partículas nanométricas e algumas de suas conseqüências.
O capítulo 1 é uma introdução geral sobre assuntos essenciais que são
desenvolvidos ao longo da tese como: adesão, nanocompósitos e nanomotores. No
capítulo 1 são descritos desenvolvimentos recentes deste laboratório em nanocompósitos
preparados a partir de látexes. Os materiais preparados dessa forma possuem
propriedades singulares que são consequência da forte adesão entre a argila e o
polímero. Uma questão que teve de ser respondida é a seguinte: por que o processo
funciona, sendo que a borracha é hidrofóbica e a argila é hidrofílica?! Para responder a
essa questão, a seguinte hipótese foi formulada e é explorada nesta tese: fases imiscíveis,
mas molháveis podem aderir desde que sejam misturadas e secas a partir de dispersões
aquosas, e possuam cargas em sua superfície.
Para o estudo dessa hipótese, nanopartículas de composições distintas foram
misturadas em meio aquoso e colocadas para secar, sendo posteriormente analisadas por
microscopia, conforme mostra o capítulo 2. Ainda considerando essa hipótese, o
capítulo 3 apresenta cálculos realizados para estimar a contribuição da energia
eletrostática para a adesão em uma interface carregada. O capítulo 3 mostra também
como a adesão eletrostática pode ser empregada para preparar materiais compósitos de
PET e argila.
23
Durante o desenvolvimento desta tese, houve a necessidade de analisar por
microscopia amostras heterogêneas e com domínios relativamente espessos. Com essa
motivação, no capítulo 4 é demonstrado como a EFTEM na região de baixa perda de
energia pode ser utilizada para analisar domínios espessos e ainda medir a espessura
destes domínios.
Por fim, o capítulo 5 mostra como dubletos formados por uma partícula de platina
aderida a uma esfera de sílica podem ser preparados e utilizados como nanomotores.
Nestes dubletos apenas a esfera de platina catalisa a decomposição do peróxido de
hidrogênio, o que propulsiona essas partículas. Também nesse capítulo é estudada por
microscopia a interação dos dubletos com a superfície sobre a qual estes nanomotores se
movem.
Cada um dos capítulos seguintes ao primeiro apresenta uma introdução específica,
objetivos, parte experimental, resultados, discussão e conclusões.
24
25
Capítulo 2
Evidência microscópica de adesão de nanopartículas
26
27
2.1 Introdução
2.1.1 Látexes
Latex36 é uma dispersão coloidal de polímero em meio aquoso, de aspecto leitoso.
Normalmente as partículas apresentam geometria aproximadamente esférica com
diâmetro de 30 a 500nm. A dispersão é concentrada, pois a fração de massa de polímero
pode variar de 0,30 a 0,70. O dispersante é uma solução, quase sempre aquosa que pode
conter solutos como: eletrólitos, surfactantes, polímeros hidrofílicos e resíduos de
iniciadores.
Os látexes atualmente despertam grande interesse dos pesquisadores, pois são
matérias-primas básicas para fabricação de uma grande variedade de produtos industriais
tais como borrachas, termoplásticos, tintas, adesivos, revestimentos de papéis e tecidos,
entre outros. A necessidade de redução de uso de solventes orgânicos, motivada por
razões ambientais, deu aos látexes destaque devido à sua base aquosa, isenta dos efeitos
prejudiciais dos solventes orgânicos utilizados em outros produtos.
Os látexes podem ser naturais, produzidos por processos metabólicos em certas
espécies vegetais ou podem ser sintéticos, produzidos por polimerização em emulsão ou
pela dispersão de polímeros no meio dispersante.
Uma importante característica dos látexes é o sinal da carga elétrica das partículas.
Nos látexes aniônicos, as partículas têm cargas negativas; nos látexes catiônicos, as
partículas são positivas e nos látexes não-iônicos as partículas não são portadoras de
cargas. Látexes aniônicos e catiônicos, por sua vez, podem ser subdivididos de acordo
com o modo de ligação das cargas na superfície das partículas: por adsorção ou por
ligação covalente. Neste laboratório já foram realizados diversos trabalhos que
permitiram determinar a distribuição de cargas e a microquímica de partículas de
diversos látexes, como o de borracha natural,37 poliestireno,38,39 poli(estireno-co-2-
hidroxietil metacrilato),40 poli(estireno-co-acrilamida),41 entre outros.
28
Há uma grande variedade de látexes comerciais, na maioria aniônicos.
Importantes exemplos de látexes de elastômeros incluem o látex de borracha natural nas
suas várias formas, látex de copolímero de estireno-butadieno, látex de copolímero de
acrilonitrila e butadieno e látex de policloropropeno. Importantes látexes plásticos
contêm homopolímero e copolímeros de acetato de vinila e também polímeros derivados
de monômeros acrílicos e estireno.
Algumas características do estado coloidal são a fração de massa de polímero, a
forma das partículas, o tamanho médio e a distribuição de tamanho. Características
relacionadas aos polímeros incluem sua natureza química, seus grupos funcionais, a
massa molar, distribuição de massa molar, conteúdo de gel, grau de reticulação,
temperatura de transição vítrea, cristalinidade e as propriedades mecânicas,
especialmente as viscoelásticas.
As características do líquido dispersante (também chamado de soro) dependem da
natureza e da concentração das substâncias dissolvidas. Essas espécies podem ser
iônicas ou não-iônicas, de massa molar alta ou baixa. Espécies iônicas são muito
importantes em látexes aquosos, nos quais propriedades como pH e força iônica do meio
dispersivo podem afetar gravemente a estabilidade coloidal do látex.
Contudo, é a região da interface42 entre as partículas e o soro a principal
responsável pela estabilidade coloidal do látex e pela formação de filme.
2.1.1.1 Estabilidade Coloidal do Látex
Látexes são sóis liofóbicos. Os fatores que determinam a estabilidade coloidal dos
látexes são os mesmos de qualquer sol liofóbico.
Uma propriedade importante dos sóis liofóbicos é a tendência de agregação das
partículas. Como resultado do movimento Browniano, são frequentes os choques entre
as partículas dispersas em um meio líquido; a estabilidade de uma dispersão é
determinada pela interação entre as partículas durante esses choques.
29
As forças de atração de van der Waals que se manifestam entre as partículas são a
principal causa da agregação; a estabilidade da dispersão é devida a forças que se opõem
à agregação, de natureza coulombiana, e da afinidade partícula-solvente. A adsorção de
materiais poliméricos sobre a superfície das partículas favorece usualmente um aumento
da estabilidade da dispersão, por causa de um aumento da afinidade partícula-solvente.
Contudo, a adsorção de polímeros de massa molar elevada pode induzir uma agregação
de partículas, por favorecer uma interligação delas por pontes.
A maioria dos látexes possui estabilidade suficiente para persistirem estáveis
durante meses, senão anos. Entretanto, muitas aplicações exigem a desestabilização
controlada do látex. Essa desestabilização pode ser feita pela simples evaporação da
água, quando as partículas de látex se aproximam. Nesse caso, a coalescência das
partículas pode ocorrer. Em outras aplicações a desestabilização ocorre devido a
mudanças químicas, como a de pH ou força iônica, o que induz à floculação ou
coagulação do látex. Além da evaporação, outros agentes físicos podem ser utilizados
para reduzir a estabilidade coloidal do sistema, o que também é amplamente utilizado
em tecnologia de látexes.
A evaporação da água reduz o volume do látex, causando a inibição do
movimento Browniano das partículas, eventualmente fazendo com que elas entrem em
contato entre si. Se a coalescência das partículas ocorrer, pode ocorrer também a
inversão de fase, assim o sistema coloidal muda de uma dispersão de partículas em um
meio dispersivo fluido para uma dispersão de fluido em um polímero contínuo. Nesse
caso, a água é completamente removida por evaporação, então é formado um filme
contínuo, que pode ser poroso.
Contudo, se as partículas poliméricas são suficientemente rígidas na temperatura
de evaporação para permitir a evaporação do meio dispersivo sem que haja uma
interdifusão do polímero entre as partículas, o que permanece após a evaporação é um
pó ou um filme descontínuo e pouco coeso, que alguns autores preferem não chamar de
filme.
30
2.1.1.2 Látex de Borracha Natural
O látex de borracha natural é extraido da árvore Hevea brasiliensis, conhecida
popularmente como seringueira, originária da Floresta Amazônica. No fim do século
XIX várias sementes foram levadas para o sudeste da Ásia e plantadas para a produção
de borracha. Atualmente plantações de seringueira são encontradas em muitos países
tropicais incluindo-se Tailândia, Indonésia, Malásia, Índia, China, Vietnã e em algumas
partes da África. O Brasil também tem plantações de seringueira, sendo o estado de São
Paulo responsável por mais de 50 % da produção de borracha brasileira.
A composição química do látex natural fresco,36 como a maioria dos produtos
naturais, é bem complexa. Os principais componentes são água e hidrocarbonetos. Os
hidrocarbonetos são aproximadamente 33 % da massa do látex, e se apresentam como
cis-1,4-poli-isopreno (Figura 11) de massa molecular média da ordem de 5 × 105 g.mol-1
com alto grau de estereoespecificidade. Esse polímero está presente na forma de
partículas coloidais estáveis, aproximadamente esféricas com um diâmetro de 20 a 1300
nm. Além disso, o látex natural fresco contém pequenas quantidades de proteínas,
lipídeos e fosfolipídios, carboidratos, aminoácidos, outros ácidos orgânicos e compostos
inorgânicos. Contém também pequenas quantidades de outras fases particuladas de
estruturas complexas. Possui pH entre 6,5 e 7,0.
Figura 11: Fórmula estrutural de poli-isopreno.
Após a extração, o látex natural fica sujeito à contaminação e degradação por
microorganismos, e dentro de poucas horas sofre coagulação. O tempo para ocorrer a
31
coagulação depende da temperatura ambiente e da estabilidade coloidal do látex. Em um
estado avançado ocorre a putrefação das substâncias protéicas, com a liberação de mau
cheiro. A prevenção desse processo é chamada de preservação do látex.
A preservação protege o látex por meio da supressão da atividade e crescimento
de microorganismos, do aumento da estabilidade coloidal, da eliminação de traços de
íons metálicos por complexação e por precipitação de sais insolúveis. A estabilidade
coloidal aumenta com o aumento do pH, devido ao aumento da carga negativa das
partículas.
A adição de amônia é amplamente utilizada para a preservação de látex natural.
Para uma preservação a longo prazo usa-se 0,7 %. Nessa concentração de amônia, o
látex possui vários critérios para uma preservação ideal. Particularmente, a capacidade
de precipitar magnésio como fosfato de amônio e magnésio é muito útil, pois o ânion
ortofosfato requerido é derivado dos fosfolipídios do látex (que é um nutriente dos
micro-organismos) pela hidrólise alcalina. Contudo, o manuseio da amônia apresenta
vários inconvenientes, como por exemplo, o seu odor irritante.
Em razão de o conteúdo de borracha no látex natural fresco ser de
aproximadamente 33 %, o transporte desse produto a longas distâncias encarece o
produto. Além disso, muitas indústrias de processamento requerem o látex com um alto
teor de sólidos, tornando necessário concentrar o látex cru a um teor de borracha de 60%
ou mais. O produto concentrado possui melhor uniformidade porque uma parte dos
constituintes não-poliméricos é removida.
No processo de evaporação, apenas a água é removida, resultando em um látex
com um total de teor de sólidos de 72 a 75 %. Esse é preservado e estabilizado pela
adição de pequenas quantidades de hidróxido de potássio. O látex concentrado por
evaporação e preservado com amônia tem um teor de 62 % de sólidos.
O látex pode ser concentrado por flotação, que ocorre devido à densidade das
partículas de borracha natural ser menor que a da fase aquosa na qual essas estão
dispersas. As partículas de borracha tendem a migrar para a parte superior do látex em
32
repouso assim, a concentração da parte superior do látex tende a aumentar, enquanto a
parte inferior tende a diminuir. Hidrocolóides solúveis, chamados agentes floculantes,
como o alginato de amônia, são adicionados para acelerar o processo. A função dos
agentes floculantes é fazer com que as partículas de borracha se aglomerem
reversívelmente.
A centrifugação é o método mais utilizado para concentrar o látex. Nele ocorre a
flotação das partículas de borracha, aceleradas pela ação de um campo centrífugo.
Eletrodecantação também é utilizada industrialmente. Nesse processo, as
partículas de borracha se acumulam em uma membrana semipermeável formando uma
coluna de baixa densidade que se move para a parte superior do líquido, por convecção.
As partículas se movem para a superfície da membrana devido à ação de um campo
elétrico ao qual o látex é submetido.
A composição do látex concentrado de alto teor de amônia difere da do látex
natural fresco em vários aspectos, em consequência do pH elevado (≅10), e do processo
de concentração. Algumas proteínas são hidrolisadas a peptídeos e aminoácidos, e os
fosfolipídios são hidrolisados a ácidos graxos, glicerol, ortofosfato e aminas. Fases
particuladas menores são destruídas e o conteúdo de água é reduzido. Com exceção do
látex concentrado por evaporação, uma porção dos constituintes solúveis em água é
removida, bem como as menores partículas de borracha e outras substâncias adsorvidas
na sua superfície.
No látex de borracha natural fresco, a sua estabilidade coloidal resulta
principalmente da presença de proteínas adsorvidas na superfície das partículas. No látex
de borracha natural concentrado com alto teor de amônia, a estabilização é atribuída aos
ânions graxos e aos resíduos de proteínas adsorvidos na sua superfície.
33
2.1.2 Sílica de Stöber
O método de preparação de nanopartículas de esféricas de sílica foi desenvolvido
por Stöber et al.43 Em seu estudo pioneiro, a “sílica de Stöber” foi preparada utilizando-
se uma mistura de água, álcoois e amônia, sendo posteriormente adicionado alcoóxidos
de silício. Foi verificado que o tamanho de partícula é influenciado pela concentração de
água, amônia, temperatura e tipo de alcoóxido utilizado.
De uma forma prática, a sílica de Stöber é normalmente obtida pela hidrólise do
ortosilicato de tetraetila (TEOS) (Si(OC2H5)4) em meio alcoólico, catalisada por amônia.
Esse método é muito versátil, pois permite a síntese de esferas de sílica de dimensões
pauci-dispersas. Tamanhos de partículas entre 15 nm a 2 µm podem ser obtidos
utilizando diferentes quantidades de amônia. A técnica de semeadura44,45 também pode
ser empregada para obterem-se partículas de tamanho monodisperso, para tanto se
utilizam sementes de sílica previamente preparadas que são crescidas com a adição
controlada de TEOS.
As reações químicas que ocorrem na formação da sílica de Stöber são as mesmas
que ocorrem em outras reações sol-gel, ou seja, hidrólise do alcoóxido seguido da
condensação dos grupos silanóis.46 Na reação de hidrólise os grupos alcoóxidos (OR)
são substituídos por grupos hidroxilas (OH). As reações de condensação dos grupos
silanóis produzem siloxanos (Si-O-Si), subprodutos alcoólicos (ROH) e água. As
reações de condensação têm início antes de toda a hidrólise estar completa (em
equilíbrio), ou seja, hidrólise e condensação são consecutivas. Essas reações
químicas47,48 são mostradas a seguir:
Si(OR)4–x + xH2O → (OH)xSi(OR)4–x + xROH Equação 13
(OR)3Si(OH) + (HO)Si(OR)3 → (OR)3Si-O-Si(OR)3 + H2O Equação 14
Si(OR)4 + (HO)Si(OR)3 → (OR)3Si-O-Si(OR)3 + ROH Equação 15
34
As partículas de sílica de Stöber têm papel chave na síntese coloidal de diversas
estruturas como: dubletos, partículas caroço-casca,49,50 partículas caroço-casca invertida,
partículas ocas,51 partículas “tipo framboesa”, nanocompósitos,52 macrocristais,53,54
cristais coloidais, opalas invertidas55 etc., tendo possibilitado avanços em diversas áreas
tecnológicas como, reologia, fotônica, catálise, sensores, farmacotécnica, entre outras.
2.1.3 Argila
Argila56,57,58 é um material natural, terroso, de granulação fina, formado
essencialmente por silicatos hidratados de alumínio, ferro e magnésio. A argila é
formada por íons oxigênio e hidroxila, coordenados tetraedricamente ao Si4+ e ao Al3+
(nos chamados grupos tetraédricos) e coordenados octaedricamente ao Al3+, Mg2+, Fe3+ e
Fe2+ (nos grupos octaédricos).
Os grupos tetraédricos são ligados entre si formando folhas contínuas chamadas
folhas tetraédricas, assim como os grupos octaédricos também estão ligados entre si, nas
folhas octaédricas.
Os arranjos dos átomos nas folhas tetraédricas e octaédricas são tais que se
ajustam e encaixam entre si formando camadas (ou lamelas) de espessura nanométrica.
Essas camadas são compostas de duas ou mais folhas arranjadas de vários modos, os
quais dão origem à maioria das estruturas fundamentais das argilas conhecidas.
A análise química59 é um passo essencial para o estabelecimento da natureza dos
argilominerais, mas a composição química dos filossilicatos é tão complexa que uma
classificação satisfatória só pode ser formulada pelo arranjo espacial dos átomos, que é
revelado por estudos de difração de raios X.60 A aplicação da difração de raios X leva a
um conhecimento detalhado da natureza dos argilominerais, ajudando a entender quanto
é importante sua composição química e a determinar sua estrutura e algumas de suas
propriedades.
35
Os argilominerais são formados principalmente por aluminosilicatos hidratados,
nos quais o magnésio, o ferro e outros íons metálicos podem substituir o alumínio em
várias proporções. Essas substituições resultam em uma grande diversidade de
composições químicas gerando várias classes de filossilicatos ou silicatos laminados.
Metais alcalinos e alcalinos terrosos também estão presentes como constituintes
essenciais. O hidrogênio está normalmente presente nos grupos hidroxila e na água,
ambos como parte da estrutura ou adsorvidos.
Os filossilicatos são subdivididos, em convenções internacionais, em vários
grupos e subgrupos de acordo com sua estrutura e constituição química.
Dentre os vários tipos de argilas existentes, o grupo das montmorilonitas sódicas é
importante por suas propriedades. As montmorilonitas sódicas são argilas do tipo 2:1
(duas folhas tetraédricas e uma folha octaédrica) de fórmula ideal
(Al3,15Mg0,85)(Si8,00)O20(OH)4Na0,85nH2O, sua estrutura está esquematizada na Figura 12.
Figura 12: Ilustração esquemática da estrutura da argila montmorilonita.
É de especial interesse no presente estudo a propriedade que as montmorilonitas
sódicas apresentam de intumescerem em água e em alguns outros solventes polares.
Essa propriedade macroscópica de a argila inchar em água é resultado da inserção de
moléculas de água entre as camadas de argila. Assim, os íons sódio são solvatados
enquanto há uma hidratação das lamelas de argilas promovendo a separação lamelar.
Geralmente é aceito que o intumescimento é controlado pelo balanço das forças
atrativas e repulsivas entre as lamelas 2:1 adjacentes.
Na+ interlamelar
Folha tetraédrica
Folha tetraédrica
Folha octaédrica
36
As principais forças atrativas são eletrostáticas, entre as lamelas carregadas
negativamente e os cátions interlamelares. A intensidade das forças depende da
densidade de carga das lamelas e da separação entre as cargas positivas e negativas.
As principais forças repulsivas vêm da hidratação dos cátions interlamelares,
complementada pelas interações do solvente com a superfície dos oxigênios das
camadas 2:1. Além disso, há forças repulsivas entre o hidrogênio dos grupos hidroxilas e
os cátions interlamelares. A intensidade dessa repulsão depende da proximidade entre o
hidrogênio e esses cátions.
Algumas argilas são materiais de baixo custo. Argilas podem ser encontradas em
quase toda a extensão da crosta terrestre em quantidades elevadas.
2.2 Objetivos
Verificar a adesão entre diferentes fases nanométricas utilizando técnicas
microscópicas, avaliar a compatibilidade das fases e identificar fatores dessa
compatibilidade.
2.3 Parte Experimental
2.3.1 Materiais
A sílica de Stöber43 foi preparada utilizando 2,00 mL de tetraetilortosilicato
(TEOS), 25,00 mL de etanol e 2,00 mL de hidróxido de amônia saturado. A mistura foi
colocada em frasco vedado e submetida a banho de ultrassom (25 kHz-200 W) por 2
horas na temperatura de 36 °C.
O látex de poli(estireno-co-acrilato de butila-co-ácido acrílico) (S-BA-AA) foi
sintetizado a partir de estireno, ácido acrílico e acrilato de butila, usando como iniciador
37
o persulfato de sódio e empregando como dispersante uma mistura equimolar de
tensoativos formada por nonilfenóis com 4 e 100 unidades de óxido de etileno.
O látex de borracha natural concentrado de alto teor de amônia foi fornecido pela
Riobor. A amostra pertence ao lote 226, que é uma mistura extraída de clones de
seringueira RRIM 600, PB 235, GT-I, IAN 873 e PR 255, possui pH = 12 e teor de
sólidos igual a 61,7 ±0,1 %.
A argila montmorilonita-Na+ foi fornecida pela Southern Clay e é conhecida
comercialmente como Cloisite-Na+. Utilizou-se o lote 20000331XA-001 que possui
capacidade de troca iônica de 92,6 meq/100g.
A argila montmorilonita-Ca2+ foi produzida a partir de reação de troca iônica da
montmorilonita-Na+. Nesta reação, 200 g de montmorilonita-Na+ foram dispersas em 7
litros de água deionizada e em seguida foram adicionados 180 g de CaCl2. Essa
dispersão foi submetida a diálises consecutivas com água deionizada durante um período
de 20 dias.
Foi utilizada água deionizada Milli-Q de condutividade 18,2 MΩ.cm nas
preparações de amostra para microscopia.
2.3.2 Métodos
2.3.2.1 Preparo das Submonocamadas
A sílica de Stöber e o látex de poli(S-BA-AA) foram analisados de forma isolada.
Prepararam-se também misturas de proporção 1:1 em peso de sólidos dos seguintes
materiais: sílica de Stöber e látex de poli(S-BA-AA), montmorilonita-Na+ e látex de
borracha natural, montmorilonita-Ca2+ e látex de poli(S-BA-AA). Uma gota de cada
uma dessas amostras foi diluída em 2,5 mL de água deionizada. Subsequentes diluições
foram realizadas até a mistura atingir uma concentração adequada para formação de
submonocamada após a secagem da gota, o que acontece quando as dispersões
38
apresentam baixa turbidez, tornando-se quase transparentes. As dispersões foram
submetidas a ultrassom por 5 minutos e deixadas sedimentar por mais 5 minutos, em
seguida foi retirada uma alíquota da qual foi depositada uma gota sobre o porta-amostra
de microscopia. Os seguintes porta-amostras foram utilizados: tela de microscopia
previamente coberta com um filme fino de parlódio e carbono amorfo para a
microscopia eletrônica de transmissão (TEM), mica previamente clivada para a
microscopia eletrônica de varredura por emissão de campo (FESEM) e substrato de
silício para a microscopia de força atômica (AFM).
2.3.2.2 Preparo do Monolito Nanocompósito de Poli(S-BA-AA) e Sílica
de Stöber
A sílica de Stöber em meio alcoólico foi dialisada contra água durante 20 dias,
para trocar o álcool pela água e para remover os reagentes em excesso. O látex de
poli(S-BA-AA) foi então misturado à sílica aquosa mediante agitação magnética por 10
minutos e finalmente a mistura foi seca em estufa a 60 °C para obter o nanocompósito
com 4,7 % de sílica. Essa porcentagem de sílica equivale a 5 phr (per hundred rubber).
Cortes ultrafinos (ca. 50 nm) para TEM foram realizados no monolito desse
nanocompósito com uma faca de diamante usando o ultramicrótomo Leica EM FC6
resfriado a -130 ºC com N2 líquido. Uma gota de solução supersaturada de sacarose foi
utilizada para coletar os cortes do interior do ultramicrótomo resfriado e transferi-los
para as telas de microscopia. Para lavar a sacarose, as telas foram deixadas flutuando em
água destilada durante aproximadamente 10 minutos, quando foram retiradas e deixadas
secar em temperatura ambiente.
39
2.3.2.3 Caracterização
A microscopia eletrônica de transmissão (TEM) foi realizada em um microscópio
Carl Zeiss modelo CEM 902 em 80 kV. Esse microscópio é equipado com um
espectrômetro tipo Castaing-Henry-Ottensmeyer, que foi utilizado para adquirir as
imagens de energia filtrada (EFTEM) e mapeamentos elementares (ESI-TEM). Para os
mapeamentos elementares foi utilizado o método das três janelas para carbono (303 eV)
e silício (132 eV) com uma fenda de energia de 20 eV e o método de duas janelas para o
cálcio (348 eV) com fenda de 15 eV.
As análises de microscopia força atômica (AFM) foram feitas no instrumento
Discoverer TMX 2010 (TopoMetrix) no modo de contato intermitente para obter
imagens de topografia e de contraste de fase.
O equipamento JEOL modelo JSM-6340 F foi utilizado para realizar as análises
de microscopia eletrônica de varredura por emissão de campo (FESEM).
2.4 Resultados A Figura 13 mostra imagens de TEM de submonocamadas formadas por
partículas de sílica de Stöber (Figura 13a) e partículas de látex de poli(S-BA-AA)
(Figura 13b). As partículas de sílica de Stöber apresentam formato esférico e diâmetro
médio de 143 nm com desvio padrão de 14 nm e as partículas de látex possuem tamanho
médio de 55 nm com desvio padrão de 8 nm, conforme estão apresentados nos
histogramas da Figura 14. As partículas de látex por sua vez, não devem manter-se
esféricas sobre o filme de carbono, devido ao fato de elas escoarem e se espalharem
sobre o substrato na etapa final da secagem. Além disso, observa-se à direita da Figura
13b uma pronunciada tendência dessas partículas à coalescência. Isso ocorre devido a
esse polímero ter baixa temperatura de transição vítrea. As partículas desse látex
fornecem baixo contraste na imagem, devido a serem finas e também devido a serem
formadas por elementos leves que espalham pouco o feixe eletrônico.
40
Figura 13: Imagens de campo claro obtidas por TEM de (a) partículas de sílica de Stöber
e (b) partículas de látex de poli(S-BA-AA).
100 120 140 160 180 2000
20
40
60
80
100
120
140(a)
Oco
rrênc
ia
Diâmetro de partícula / nm30 40 50 60 70 80
0
10
20
30
40
50
60
70
80
(b)
Oco
rrên
cia
Diâmetro de partícula / nm
Figura 14: Histograma de diâmetros das partículas de (a) sílica de Stöber e (b) partículas
de látex de poli(S-BA-AA).
Preparou-se uma mistura de sílica de Stöber e látex de poli(S-BA-AA),
colocando-se a dispersão aquosa diluída para secar sobre filme de carbono. O padrão de
secagem está mostrado na Figura 15 e alguns detalhes podem ser vistos na Figura 16. As
200 nm 40 nm
(a) (b)
41
imagens de campo claro mostram, em dois diferentes aumentos, as partículas de sílica
em preto e as partículas coalescidas de látex em tons de cinza claro.
Figura 15: Imagem de campo claro obtida por TEM de aglomerados formados por sílica
de Stöber e látex de poli(S-BA-AA). Essa imagem foi montada em mosaico a partir de
imagens obtidas em campos contíguos. A região destacada em vermelho está mostrada
em detalhes na Figura 16.
42
A Figura 15 mostra uma área de um mesh da tela (1 mesh ≈ 1500 μm2) na qual o
polímero se encontra quase sempre associado às partículas de sílica. Pelo mapa
elementar de carbono, Figura 16c, é possível identificar o polímero que envolve as
partículas, pois observa-se que a região próxima às partículas apresenta um brilho mais
intenso. Contudo, nessa imagem não é possível dizer se há polímero também por cima
das partículas de sílica. Na Figura 16c, o fundo apresenta uma tonalidade levemente
esbranquiçada pelo fato de o filme de suporte ser formado por parlódio (um polímero
orgânico) e carbono amorfo. O mapa de silício, Figura 16d, indica que a maior parte
desse elemento é encontrada nas partículas de sílica e que estas não são uniformes,
portanto devem ser porosas.
43
Figura 16: ESI-TEM de aglomerado formado por sílica de Stöber e látex de poli(S-BA-
AA). (a) Imagem de campo claro, (b) imagem de EFTEM (25 eV), (c) mapa elementar
de carbono e (d) mapa elementar de silício.
A Figura 17 mostra por AFM o padrão resultante da secagem de uma mistura de
sílica de Stöber e látex de poli(S-BA-AA) sobre substrato de silício. A imagem de
topografia (Figura 17a) mostra com clareza as partículas de sílica: elas têm diâmetro de
cerca de 200 nm e são esféricas pois têm a altura equivalente ao diâmetro, conforme é
constatado no perfil de linha (Figura 17c). O tamanho de partícula observado em AFM é
44
maior que em TEM. Isso se deve ao fato de as partículas encolherem-se quando
colocadas em ultra-altovácuo para as análises em TEM, conforme foi demonstrado em
trabalhos anteriores deste laboratório.61,62,63
0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 1.2 1.4 1.6 1.8 2.00.05
0.10
0.15
0.20
0.25
0.30
0.35
0.40
25 nm
Altu
ra
( μm
)
Distância ao longo da linha (μm)
Figura 17: Imagens obtidas por AFM de aglomerados de sílica de Stöber e partículas de
látex de poli(S-BA-AA): (a) topografia, (b) contraste de fase e (c) perfil de linha
realizado na imagem de topografia. A região onde o perfil de linha foi adquirido está
marcada na imagem de topografia em azul.
No perfil de linha mostrado na Figura 17c pode-se observar uma fina camada de
polímero (de aproximadamente 25 nm de espessura), que está depositada entre as
partículas de sílica. O polímero pode ser detectado com maior facilidade na imagem de
contraste de fase (Figura 17b) devido à grande diferença de propriedades viscoelásticas
em relação à sílica. O polímero, por ser mais adesivo e macio que a sílica, ocasiona um
maior atraso na fase da oscilação da sonda de AFM. Graças a isso, a imagem de
contraste de fase mostra que o polímero se encontra sempre em volta das partículas,
confirmando as observações feitas por TEM. Em contraste de fase observa-se também a
presença de região mais clara sobre o substrato de silício, o que pode ser interpretado
como sendo resultado da deposição de polímero, seja por difusão a partir da camada que
envolve as partículas, seja de material solúvel.
As evidências de adesão obtidas pelo uso de microscopia realizada em
submonocamadas servem como um método para prever se é possível a formação de
monolitos de nanocompósito, secando grande quantidade de mistura de partículas.
(a) (b) (c)
45
Seguindo o proposto, sintetizou-se um monolito nanocompósito com 5 phr de sílica a
partir da secagem de uma dispersão aquosa das fases. A Figura 18 mostra uma imagem
dos cortes obtidos desse material.
50 100 150 2000
10
20
30
40
50
60
70
80
(b)
Oco
rrênc
ia
Diâmetro de partícula / nm
Figura 18: (a) Imagem de campo claro obtida por TEM de amostra de nanocompósito de
poli(S-BA-AA) e sílica de Stöber cortada no crio-ultramicrotómo. (b) Histograma obtido
por TEM dos diâmetros das partículas de sílica de Stöber obtidos em imagens de
nanocompósito cortado (comparar com a Figura 14a).
Na Figura 18 é possível identificar a sílica por sua morfologia circular em tons
mais escuros que o polímero. Não se observa a formação de vazios na interface sílica-
polímero e as partículas de sílica raramente aparecem agregadas. É possível notar pelo
histograma (Figura 18b) que os cortes do nanocompósito apresentam uma população de
partículas de sílica menores que na sílica pura, como é possível verificar na Figura 14a.
Isso é explicado considerando que uma fração da sílica foi cortada em calotas. O fato de
algumas partículas terem sido cortadas, e não arrancadas, revela forte adesão entre a
sílica e o polímero.
(a)
46
Observam-se algumas depressões no filme polimérico, em tons claros. Essas
depressões têm possível origem em uma fração das partículas de sílica que foram
arrancadas pela faca de diamante.
Alguns cortes finos de nanocompósitos apresentaram um comportamento
incomum, sendo que uma nova morfologia foi criada, conforme mostrado na Figura 19.
A formação dessa morfologia se dá possivelmente durante o processo de coleta dos
cortes ultrafinos com a solução de sacarose saturada, transferência para a telinha do
microscópio, lavagem e secagem da amostra para a análise, quando o material é
submetido a uma alta variação de temperatura e às forças capilares.
Figura 19: Imagem de campo claro obtida por TEM de rede bidimensional de
nanocompósito.
A Figura 19 mostra fios poliméricos tensionados formando uma rede
bidimensional irregular. Interessantemente, as partículas de sílica fazem parte da rede.
Em alguns casos, as partículas de sílica estão localizadas ao longo dos fios, em outros
casos, elas são encontradas nos nós, onde os fios se encontram. A formação dessa rede
bidimensional não é completamente entendida nesse momento. Contudo, essa é uma
evidência adicional e inesperada para a forte adesão entre o polímero e a sílica.
47
A Figura 20 foi obtida por ESI-TEM após a secagem de uma dispersão diluída de
montmorilonita-Na+ e látex de borracha natural, e as quatro imagens são do mesmo
campo. As imagens de campo claro e de EFTEM em 25 eV permitem uma observação
detalhada da morfologia. Os mapas de carbono e silício permitem identificar e localizar
a borracha e a argila, respectivamente. A área no centro do aglomerado se apresenta
escura em todas as imagens, isso ocorre devido a esse domínio ser muito espesso,
bloqueando o feixe eletrônico.
Figura 20: ESI-TEM de aglomerado formado por partícula de borracha natural e argila.
(a) Imagem de campo claro, (b) imagem de EFTEM (25 eV), (c) mapa elementar de
carbono e (d) mapa elementar de silício.
48
No centro das imagens há uma partícula de borracha natural, aproximadamente
esférica. Algumas partículas de argila que não estão em contato com a partícula de
borracha natural aparecem deitadas no plano da imagem, produzindo baixo contraste na
imagem de campo claro, devido a serem muito finas. Várias outras lâminas de argila
estão em contato com a borracha orientando-se perpendicularmente ao plano da imagem.
Essas lâminas produzem alto contraste nas imagens de campo claro e de EFTEM porque
estão alinhadas com o feixe eletrônico. Pode-se observar que a partícula de borracha está
deformada nas regiões onde a argila aparece perpendicular ao plano da imagem.
A superposição dos domínios de argila e borracha e a deformação dessas
partículas são fortes evidências da compatibilidade entre essas fases nos agregados. Esse
resultado é surpreendente, porque a incompatibilidade entre argilas e borracha natural é
bem conhecida.
A Figura 21 mostra imagens obtidas por FESEM, onde se observa aglomerados
formados por argila e borracha natural. Nessas imagens há partículas de látex de
borracha natural circundadas por partículas de argila. As folhas de argila se orientam
perpendicularmente ao plano da imagem durante a secagem, formando assim estruturas
geométricas. Essa imagem é esclarecedora por mostrar a morfologia dos agregados em
perspectiva, facilitando assim a interpretação das imagens de ESI-TEM.
49
Figura 21: Micrografias FESEM de aglomerados formados por partículas de borracha
natural e argila montmorilonita-Na+. A imagem da esquerda foi pseudocolorida.
Secando-se mistura diluída de látex de poli(S-BA-AA) e montmorilonita-Ca2+
sobre tela de carbono, observa-se a formação de agregados como o que está na Figura
22. As imagens de campo claro e EFTEM (Figura 22a e Figura 22b) mostram ao centro
uma estrutura aglomerada formada por polímero e argila, com algumas esferas de látex
em volta do aglomerado. Pode-se dizer que o aglomerado é formado por mais de uma
partícula de látex uma vez que é muito maior que uma partícula. Para confirmar a
presença da argila e do polímero no aglomerado foram adquiridos mapas elementares de
silício e carbono. Esses mapas mostram que as camadas de argila e as partículas de látex
estão superpostas, formando uma estrutura única. Nesta estrutura, as camadas de argila
estão orientadas preferencialmente no plano da imagem. Além disso, o mapa de cálcio
mostra que esses cátions estão acumulados nas regiões em que coexistem carbono e
silício no agregado, portanto nas regiões em que o polímero e a argila estão intimamente
reunidos.
50
Figura 22: ESI-TEM de aglomerado formado por montmorilonita-Ca2+ e látex de poli(S-
BA-AA). (a) Imagem de campo claro, (b) imagem de EFTEM (25 eV), (c) mapa
elementar de carbono, (d) mapa elementar de silício, (e) mapa elementar de cálcio e (f)
superposição dos mapas elementares codificados em cores.
51
2.5 Discussão
A hipótese explorada nesse estudo é:64 partículas de fases imiscíveis, mas
molháveis, podem aderir desde que sejam misturadas e secas a partir de dispersões
aquosas e possuam cargas em sua superfície. A hipótese é entendida e sustentada
levando em consideração uma sequência de fatos: primeiro, durante o processo de
secagem as partículas são atraídas e colocadas em contato por forças de capilaridade.
Em segundo lugar, o fato de as partículas possuírem cargas de mesmo sinal em
dispersão aquosa, contrabalanceadas por cargas do soro, faz com que o padrão de cargas
se mantenha no sólido onde as contracargas do soro atuam formando pontes iônicas
entre as superfícies carregadas, originando a adesão eletrostática. Nessa hipótese, a água
tem importância fundamental, devido a duas propriedades excepcionais dessa
substância: alta tensão superficial e alta constante dielétrica. Essas propriedades da água
são maiores do que na maior parte dos líquidos moleculares. A tensão superficial
contribui para a adesão capilar de acordo com a equação de Young-Laplace enquanto a
constante dielétrica contribui para a dissolução iônica e para formação da dupla camada
elétrica em dispersão,65 possibilitando assim a formação de interfaces carregadas.
A sequência de eventos envolvidos nessa hipótese está ilustrada na Figura 23 para
o exemplo das partículas de látex e sílica.
52
Figura 23: Desenho esquemático ilustrando a hipótese deste estudo.
A Figura 23 mostra que no estágio inicial a sílica e o látex estão dispersos em
água e são coloidalmente estáveis devido a possuírem cargas negativas. À medida que
ocorre a secagem, o volume de líquido se reduz e as partículas se aproximam. Em uma
etapa avançada de secagem é formado um menisco entre as partículas, que tem um
pequeno raio de curvatura. Dessa forma, forças de capilaridade surgem e estas são
elevadas, devido à elevada tensão superficial do dispersante aquoso. A força atuante na
área de um líquido de tensão superficial, γ é descrita em termos de pressão em uma
superfície curva pela equação de Young-Laplace. Para uma superfície com raios de
curvatura principais r1 e r2, a diferença de pressão Δp é dada por:
53
⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛+=Δ
21
11rr
p γ Equação 16
ou simplificando para superfícies esféricas:
rp γ2
=Δ Equação 17
Soma-se o fato de ocorrer rápida evaporação de água no menisco entre as
partículas, criando assim um fluxo de líquido que por sua vez causa a aproximação de
partículas molháveis. As forças capilares são também responsáveis por fenômenos
macroscópicos como: agregação de pós,66,67 formação de filmes de látexes,68 formação
de compósitos, entre outros.
Contudo, após a secagem, as forças capilares param de atuar. Sendo assim, outras
forças devem atuar para que o sistema se mantenha coeso.
Resultados desse laboratório19,20 mostraram a formação de monolitos de
nanocompósitos de polímero e argila, sendo verificada forte adesão entre as fases,
quando o material é preparado a partir de uma mistura de látex e argila em fase aquosa.
Sabe-se que partículas de borracha natural presentes no látex não são compostas apenas
pelo poli-isopreno hidrofóbico e que uma camada de surfactantes formada por
fosfolipídios e proteínas é responsável por sua estabilidade coloidal em água.37 Foi
observado também37 que após a secagem de submonocamada de partículas de látex de
borracha natural, ocorre acúmulo de cátions nos interstícios entre as partículas. As
imagens da Figura 20 e da Figura 21 são particularmente esclarecedoras para a formação
desses materiais: observa-se claramente o contato íntimo da argila na superfície da
borracha e também que ambos os tipos de partículas se deformam nos sítios onde ocorre
a adesão. Portanto, (1) as camadas negativas de argila56,57 são estabilizadas
eletrostaticamente por cátions quando secam, (2) cátions se acumulam nos interstícios
entre as partículas de borracha natural e (3) lâminas nanométricas de argila entram em
54
contato com a superfície das partículas de látex ao secarem conjuntamente. Sendo assim,
pode-se propor que os cátions interlamelares, assim como os presentes no soro do látex,
se alocam entre as partículas de borracha e as camadas de argila, fazendo uma
contribuição eletrostática para a coesão do sistema.
Para verificar esta hipótese, foi proposto o ensaio com látex de poli(S-BA-AA) e
montmorilonita-Ca2+. Sendo bem conhecidos os elementos formadores do látex, foi
realizada a reação de troca iônica na argila, a fim de mapear e investigar onde os cátions
interlamelares se alocam após a secagem. A Figura 22 mostra que o cálcio está alocado
junto ao carbono e o silício no agregado, confirmando a hipótese de que o cálcio
interage fortemente na interface entre o polímero e a argila por intermédio da formação
de pontes iônicas entre as fases, justificando sua forte adesão e a rigidez.
A hipótese tem sido verificada a partir de experimentos utilizando argilas com
diferentes cátions interlamelares para a obtenção de nanocompósitos.69 Partindo do
mesmo polímero e da mesma argila, os nanocompósitos possuem propriedades
mecânicas que dependem do cátion interlamelar utilizado (consequentemente da adesão
eletrostática) e da morfologia dos materiais. Soma-se o fato de os materiais secos
extensivamente aumentarem o módulo de Young e a tensão na força máxima, mostrando
que o grau de hidratação e consequentemente a distância da ligação iônica influenciam
em propriedades macroscópicas.
Outra constatação que suporta a hipótese é o fato de a adesão eletrostática formar
interface em nanocompósitos de alto desempenho mecânico, como no caso pioneiro70
dos nanocompósitos preparados pelos pesquisadores da Toyota no Japão71,72,73. O
procedimento adotado por esses cientistas consiste em expandir a argila MMT-Na+ com
ω-aminoácidos por meio de reações de troca iônica, seguindo da dispersão da argila
organofílica em ε-caprolactama. Mediante aquecimento, o próprio grupo ácido da
organo-MMT reage com a ε-caprolactama iniciando a polimerização do Nylon-6. Os
nanocompósitos obtidos dessa forma possuem alto módulo de Young e tensão de
ruptura, mesmo com pouca carga de argila, sendo que nesse caso, a tensão aplicada ao
55
material é transferida para a argila por intermédio das ligações covalentes e interações
eletrostáticas do grupo amina (positivamente carregado) com a superfície da argila
(negativamente carregada).
2.6 Conclusões
Nanopartículas de diferentes composições se agregam durante a secagem de
dispersão aquosa, mostrando que a ação de forças capilares é eficaz para uni-las.
Evidências de adesão eletrostática foram obtidas utilizando técnicas
microscópicas, sendo verificado que íons Ca2+ se alocam em domínios onde a argila e o
polímero se superpõem, evidenciando a formação de pontes iônicas entre as fases.
56
57
Capítulo 3
Um modelo de adesão eletrostática
58
59
3.1 Introdução
3.1.1 Adesão Eletrostática
A adesão eletrostática de sólidos foi um tema explorado pelo cientista russo Boris
Vladimirovich Derjaguin.
Derjaguin e coautores74 propuseram que uma dupla camada elétrica tem
importância fundamental no fenômeno de adesão. Tal proposta surgiu do fato de não ser
possível explicar fenômenos observados no despelamento de filmes poliméricos,
assumindo que a adesão é causada apenas pelas forças de van der Waals ou por ligações
químicas. Alguns desses fenômenos são colocados a seguir.
Em alguns casos, o trabalho de despelamento é duas ou três ordens de magnitude
maior que a energia de ligações químicas, portanto, muito superior às forças de van der
Waals, sendo que, no caso geral, os altos valores de trabalho não podem ser atribuídos à
deformação dos filmes poliméricos despelados.
Intensa emissão de elétrons é observada no despelamento, com elétrons de energia
de dezenas, ou mesmo centenas de kilovolts. A emissão de elétrons rápidos é entendida
com base em fenômenos triboelétricos,75 seguindo uma sequência de eventos: à medida
que o filme polimérico é despelado, superfícies carregadas são criadas, sendo que o
campo elétrico é alto suficiente para gerar descargas elétricas. Essas descargas são
acompanhadas da emissão de raios X, quando os elétrons atingem a matéria.76
O trabalho de despelamento é substancialmente alterado pela pressão e natureza
do gás do ambiente, pois esses gases influenciam nas descargas elétricas e
consequentemente a neutralização dessas cargas.
Esses fatos podem ser explicados considerando que o despelamento envolve a
separação de uma dupla camada elétrica, conforme mostrado na Figura 24, e que o
trabalho de despelamento é o trabalho necessário para separar as placas de um
microcapacitor formado por dois corpos sólidos em contato.
60
Figura 24: Esquema mostrando o despelamento de filmes poliméricos de superfícies
sólidos. Retirado da referência 77.
Dessa forma, os fenômenos observados são bem explicados considerando a teoria
da adesão eletrostática entre sólidos. Contudo, não foi possível explicar a formação e a
natureza dessa dupla camada, assim como não foi estimado teoricamente a densidade de
carga na interface entre dois sólidos.
Ainda hoje, forças eletrostáticas entre espécies isolantes carregadas, apesar de
gerarem fenômenos conhecidos, é a área menos conhecida da física do estado sólido.78 O
problema surge da dificuldade de identificar e quantificar cargas na superfície e no
interior de isolantes.
O modelo estudado neste capítulo difere do proposto por Derjaguin. O modelo
colocado aqui estuda as condições em que pode haver atração entre duas superfícies
uniformes, planares, similarmente carregadas e preenchidas com contracargas pontuais
estáticas, simulando as interfaces carregadas do polímero e o silicato lamelar em
nanocompósitos sólidos.
É conhecido que superfícies planares igualmente carregadas se atraem
eletrostaticamente na presença de contraíons, fato que explica a restrição do
intumescimento de argilas79 que possuem cálcio entre as lamelas, sendo a atração
eletrostática também experimentalmente verificada em medidas realizadas na balança de
Israelachvili.80,81 Dessa forma, a teoria DLVO, que descreve apenas repulsão
61
eletrostática entre superfícies que possuem cargas de mesmo sinal, mostra-se
qualitativamente incorreta quando as interações eletrostáticas são fortes. Além disso, a
teoria DLVO não trata de efeitos específicos das forças de hidratação oriundas na
própria estrutura da água82 e da natureza discreta das cargas na superfície.83,84
3.2 Parte Experimental
3.2.1 Cálculos
A energia eletrostática na interface entre partículas foi calculada utilizando o
seguinte modelo: duas superfícies (denominadas A e C) contendo cargas negativas fixas
(como no exemplo das superfícies da argila e do látex) são unidas por uma camada
(denominada B) de cargas positivas (e.g. Ca2+ íons, representando o nanocompósito de
látex e montmorilonita cálcica). Íons negativos (com cargas iguais a –1,603 × 10-19 C)
estão uniformemente distribuídos nas superfícies A e C formando uma rede quadrada
com 10.000 (100×100) cargas discretas em cada superfície. A superfície B está entre as
superfícies A e C. A distância entre as cargas em B é também a mesma que nas outras
placas, contudo cada carga individual é igual a +3,206 × 10-19 C, para simular os íons
Ca2+. Assim sendo, o sistema é eletroneutro. A distância entre as cargas individuais ao
longo de uma superfície é representada por a e a distância entre as superfícies adjacentes
é d. Ambos, a e d são variáveis nesse modelo. A Figura 25 mostra um desenho
esquemático do modelo utilizado.
Cálculos foram também realizados para sistemas não eletroneutros, substituindo
uma fração das cargas na superfície B ou por cargas 1+ (1,603 × 10-19 C), ou por
entidades neutras (cargas igual a 0), ou por cargas 2- (-3,206 × 10-19 C).
62
Figura 25: Desenho esquemático do modelo utilizado para calcular a contribuição
eletrostática na adesão de uma interface formada por duas superfícies negativas unidas
por uma camada positiva. As superfícies A e C contêm cargas discretas 1- e a superfície
B contém cargas discretas 2+. A distância entre as cargas adjacentes em uma superfície
é a. A distância entre superfícies adjacentes é d.
O software Matlab 6.5 foi utilizado para calcular a contribuição eletrostática na
adesão interfacial, somando as interações de cada carga no modelo com todas as outras
cargas, de acordo com o princípio da superposição, como descrito na Equação 18. As
interações das cargas da superfície A ou C com as outras cargas da mesma superfície
foram desconsideradas devido ao fato de essas cargas estarem previamente fixas nas
partículas.
⎟⎟⎟
⎠
⎞
⎜⎜⎜
⎝
⎛+++= ∑∑ ∑∑
≠== ==
n
lkji lkjiBB
lkBjiBn
lkji
n
lkji lkjiCA
lkCjiA
lkjiCB
lkCjiBn
lkji lkjiBA
lkBjiAT
lkji
rqq
rqq
rqq
rqq
E),(),(1,,, )),(),,(,,(
)),(,()),(,(
1,,, 1,,, )),(),,(,,(
)),(,()),(,(
)),(),,(,,(
)),(,()),(,(
1,,, )),(),,(,,(
)),(,()),(,(
041
πεε Equação 18
onde ε é a permissividade relativa (nesse caso ε = 5, um valor típico para a
montmorilonita seca ou o polímero),85 ε0 é a permissividade do vácuo, n é a ordem da
63
matriz (nesse caso n = 100) e r é a distância entre duas cargas quaisquer, dada pelas
seguintes equações:
222 ))(())(()),(),,(,,()),(),,(,,( daljakilkjiCBrlkjiBAr +−+−== Equação 19
222 )2())(())(()),(),,(,,( daljakilkjiCAr +−+−= Equação 20
22
),(),())(())(()),(),,(,,( aljakilkjiBBr
lkji−+−=
≠ Equação 21
A energia eletrostática por mol de íons na superfície A foi também calculada, de
acordo com a equação 22:
2
231002,6n
EE T×= Equação 22
Os algoritmos utilizados nesses cálculos são mostrados no Anexo I.
3.2.2 Materiais
O poli(tereftalato de etileno) (PET) micronizado foi fornecido pela Plastécnica
tratando-se de uma amostra de PET reutilizado.
Os seguintes surfactantes foram fornecidos pela Cognis: dodecilbenzeno sulfonato
de sódio (DBSS), lauril sulfato de sódio (LSS), lauril sulfato de amônio (LSA). O
nonilfenol etoxilado com 100 unidades de óxido de etileno (Renex 1000) foi fornecido
pela Oxiteno.
A argila montmorilonita-Na+ foi adquirida da Southern Clay.
64
3.2.3 Métodos
3.2.3.1 Nanocompósitos de PET
Cada amostra de nanocompósito de PET foi preparada, dissolvendo 2 g do
surfactante desejado em 500 mL de água destilada e acrescentado 250 g de PET
micronizado. A mistura foi submetida a agitação mecânica por 30 minutos e deixada em
repouso por mais 24 horas, tempo após o qual adicionou-se 125 g de dispersão de argila
montmorilonita sódica 1 %, submetendo a mistura a mais 30 minutos de agitação. A
mistura foi transferida para uma forma de alumínio e colocada em estufa na temperatura
de 90 a 100 ºC por cerca de 4 horas, com a finalidade de evaporar maior parte da água.
Então a mistura pastosa resultante foi homogeneizada e colocada em uma estufa a 60-70
ºC, onde foi deixada até a completa secagem do material. Após 24 horas de secagem,
obtém-se um monolito que foi desagregado em almofariz e deixado na estufa a 60-70 ºC,
por pelo menos três dias, para a remoção da umidade residual. Os materiais foram
deixados em dessecador até o momento da injeção.
Os corpos de prova para os ensaios de tração foram moldados por injeção segundo
as especificações da norma ASTM D638 utilizando a injetora Arburg modelo
Allrounder 221 K.
Os ensaios de tração foram conduzidos na máquina universal de ensaios EMIC
DL2000 utilizando uma velocidade de estiramento de 5 mm/min. Todos os corpos de
prova foram mantidos a 23 °C em umidade relativa de 50 %, por pelo menos 48 horas
antes dos ensaios mecânicos.
65
3.3 Resultados
3.3.1 Cálculos de Adesão Eletrostática
Os resultados dos cálculos da contribuição eletrostática para a adesão interfacial
de cátions situados entre duas superfícies negativamente carregadas estão apresentados
na Figura 26.
10-10 10-9 10-8 10-7
-1.0
-0.5
0.0
0.5
1.0
7
8
9
10
11
12
-2
-1
0
1
12
14
16
18
20
Ener
gia
por m
ol d
e ca
rgas
na
supe
rfíci
e A
/ 106 J
.mol
-1
Ene
rgia
no
sist
ema
/ 10-1
4 J(a)
Distancia entre as superfícies adjacentes / m
Distância entre as cargas na superfícies 1.10-9 m 1.10-8 m 1.10-7 m
0 20 40 60 80
-1
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
0 20 40 60 80-2
0
2
4
6
8
10
12
14
0 10 20 30 40 50 60 70 800 10 20 30 40 50 60 70 80
% de substituição de cargas na superfície B
Substituição das cargas na superfície B por 0
(b) a = 1 nmd = 1 nm
Ener
gia
por m
ol d
e ca
rgas
na
supe
rfici
e A
/ 10
6 J.m
ol-1
Ener
gia
no s
iste
ma
/ 10-1
4 J
Substituição das cargas na superfície B por 2-
Figura 26: Energia eletrostática calculada para três superfícies, onde uma superfície com
cargas 2+ intercala duas superfícies com cargas fixas negativas 1- (ver Figura 25). (a)
Curvas para três valores de distância entre as cargas na superfície. (b) Gráfico obtido
substituindo as cargas na superfície B por entidades neutras e cargas 2-. Em (b) foi
utilizado 1 nm para a distância entre as superfícies, assim como para a distância entre as
cargas em um plano. O eixo das ordenadas à esquerda dos gráficos mostra valores de
energia por mol de cargas negativas na superfície A, enquanto o eixo da direita mostra a
energia eletrostática total em um conjunto de duas superfícies com 100×100 cargas
negativas e cargas positivas entre elas.
66
As curvas da Figura 26a mostram que, devido à atração entre as placas de cargas
opostas, a energia nas interfaces carregadas tende a valores negativos quando as placas
estão próximas. A energia também tende a valores negativos quando a distância entre as
cargas na placa é grande e a repulsão entre os cátions não é intensa. Ao alterar a
distância entre as cargas em uma superfície, altera-se o tamanho das superfícies e
consequentemente a densidade de pontes iônicas por unidade de área. Dessa forma, para
a = 10-9, 10-8 e 10-7 m têm-se, respectivamente, superfícies de tamanho igual a 10-7, 10-6
e 10-5 m, e 106, 104 e 102 pontes iônicas/μm2.
A distância entre as cargas na montmorilonita-Ca2+ é de cerca de 1 nm (calculado
pela capacidade de troca iônica ou densidade de carga)85 e a distância entre superfícies
também é da ordem de 1 nm. Usando esses valores, a energia por mol de íons E aumenta
com o tamanho da superfície (n × a), seguindo a equação abaixo com menos de 1 % de
erro para n > 10:
nE 55 1026,81072,9 ×+×−= (J.mol-1) Equação 23
Valores significativos de energia eletrostática negativa podem ser obtidos
substituindo carga 2+ na superfície B por 0, ou mesmo por 2-, o que equivale a substituir
os íons Ca2+ por moléculas neutras ou ânions bivalentes. Utilizando distância entre os
íons igual a 1 nm, mantendo as superfícies a uma distância de 1 nm e substituindo as
cargas positivas por entidades neutras, pode-se encontrar energia eletrostática negativa
em entre 43,0 e 57,6 % de substituição, como mostrado na Figura 26b. Valores
negativos para energia eletrostática também são encontrados entre 21,3 e 29,4 % de
substituição de cargas 2+ por cargas 2-. As seguintes equações descrevem a energia
eletrostática por mol de cargas na placa A em função da porcentagem x de substituição
na superfície B por 0 (Equação 24) ou por 2- (Equação 25): 2356 1031,31033,31020,8 xxE ×+×−×= (substituição por 0) Equação 24 2456 1031,11064,61020,8 xxE ×+×−×= (substituição por -2) Equação 25
67
3.3.2 Aplicação da Adesão Eletrostática
O modelo de adesão eletrostática mostra que forte adesão pode ser obtida entre
fases que possuem cargas em sua superfície. Para aplicar a adesão eletrostática no
preparo de materiais nanocompósitos de polímeros termoplásticos, como o PET, torna-
se necessário ancorar cargas elétricas em sua superfície inicialmente. Isso pode ser feito
pela adsorção de surfactante em meio aquoso, fazendo uso da água para o preparo dos
nanocompósitos, de modo análogo à preparação por látexes.
Dessa forma, monolitos nanocompósitos de PET e montmorilonita-Na+ foram
preparados adsorvendo previamente diversos surfactantes no PET micronizado,
adicionando-se dispersão aquosa de argila e deixando-se a mistura secar.86 Corpos de
prova de polímero ou de nanocompósitos foram moldados por injeção e submetidos a
ensaios de tração. A Figura 27 apresenta as curvas de tensão vs. deformação desses
materiais, onde a curva com valor de tensão na ruptura mais próximo do valor médio foi
selecionada para representar o comportamento de cada material no ensaio de tração.
68
0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.50
2
4
6
8
10
PET Puro Dodecilbenzeno sulfonato de sódio Lauril sulfato de sódio Lauril sulfato de amônio Renex 1000
Tens
ão /
MPa
Deformação / %
PET PL
Figura 27: Curvas de tensão-deformação do PET e de nanocompósitos preparados com
diferentes surfactantes.
As curvas obtidas nos ensaios de tração são características de materiais rígidos e
quebradiços, com valores elevados de módulo de Young e baixos valores de
alongamento.
Observa-se nas curvas de tração que a tensão nos materiais aumenta lentamente
até a deformação de 0,4 %, quando a tensão permanece em valores próximos a 0,5 MPa
até se deformar 1,1 %. Acima desse valor, a tensão aumenta até a ruptura do material.
Os valores do módulo de Young, alongamento máximo e tensão na ruptura dos
corpos de prova injetados estão apresentados na Tabela 1.
69
Tabela 1: Valores de tensão na ruptura, alongamento máximo e módulo de Young
obtidos nos ensaios de tração de PET e de nanocompósitos preparados a partir de PET
micronizado, argila e diversos surfactantes.
Tensão na ruptura
(MPa)
Alongamento máximo
(%)
Módulo de Young
(MPa)
PET puro 5,4±0,8 2,0±0,3 524±12
DBSS 7,8±2,0 2,2±0,3 533±41
LSS 8,7±2,0 2,4±0,2 516±17
LSA 9,6±1,8 2,4±0,2 546±32
Renex 1000 6,7±1,4 2,3±0,2 439±38
O polímero puro e os nanocompósitos possuem valores semelhantes de módulo de
Young, contudo os nanocompósitos são mais tenazes e possuem maior tensão na ruptura
que o polímero. Destaca-se o nanocompósito preparado com lauril sulfato de amônio
que possui tensão na força máxima 78 % maior que o PET puro.
3.4 Discussão
Os cálculos presentes na Figura 26 mostraram que em condições análogas ao
nanocompósito de polímero e MMT-Ca2+ a contribuição eletrostática na interface para a
energia livre do sistema alcança valores de -200 kJ.mol-1, sendo esses valores
comparáveis aos de ligações covalentes simples, que normalmente variam entre -150 e
-450 kJ/mol. Por outro lado, restrições no movimento dos cátions ocasionam um
decréscimo de entropia, reduzindo a energia de Gibbs do sistema. Contudo, os valores
de entropia devem ser muito inferiores quando comparado à energia eletrostática. Por
exemplo, a entropia de dissolução do cloreto de sódio em condições padrões é de
ΔmS=43,4 J.K-1.mol-1 e consequentemente T.ΔmS=12,9 kJ.mol-1.
70
A Figura 26b mostra também que é termodinamicamente favorável que apenas
uma fração dos íons forme pontes iônicas na interface polímero/argila devido à repulsão
eletrostática entre os cátions. Assim sendo, essas interfaces não devem ser eletroneutras,
possuindo excesso de cargas negativas. A Figura 26b mostra ainda que a substituição de
cátions por entidades negativas também é favorável, indicando que é possível a presença
de ânions na interface.
Os cálculos de adesão eletrostática foram verificados com resultados
experimentais obtidos em medidas de força (Figura 28) realizadas em corpos de prova
de nanocompósitos. Essas medidas fazem parte da tese de Fábio do Carmo Bragança87 e
estão sendo citadas aqui para comparação com os cálculos. No estudo de Bragança,
materiais nanocompósitos foram preparados a partir de um mesmo látex utilizando
argilas montmorilonitas com diversos cátions interlamelares, sendo analisada a
morfologia e as propriedades mecânicas dos nanocompósitos obtidos.
Figura 28: Ensaios de tração realizados em nanocompósitos confeccionados com látex
de poli(S-BA-AA) e 10 phr de montmorilonita Li+, Na+, K+ ou Ca2+. Retirado da
referência 69 com autorização do autor.
71
A Figura 28 mostra que as propriedades mecânicas dos nanocompósitos variam
em função do cátion presente no sistema. A partir das curvas de força vs. distância, foi
calculado o trabalho necessário para deformar 1 % da borracha pura e dos
nanocompósitos de poli(S-BA-AA) e montmorilonita Li+, Na+ ou K+, como mostrado na
Tabela 2. Subtraindo o trabalho para deformar a borracha pura e sabendo a quantidade
de íons na parte útil do corpo de prova, calculou-se a energia elástica por mol de íons
para de deformar 1 % dos nanocompósitos no regime elástico, que é de 74 J.mol-1,
94 J.mol-1 e 144 J.mol-1 para Li, Na e K, respectivamente.
Tabela 2: Trabalho de deformação elástica de borracha e nanocompósitos, obtidos a
partir de resultados experimentais na referência 69. Material Trabalho para
deformar 1 %
(J)
Diferença entre o
nanocompósito e
a borracha (J)
Mols de íons na
parte útil do corpo
de prova (mol)
Energia elástica
por mol de íons
(J/mol)
Borracha 0,39 × 10-3 - - -
Borracha / Li+-MMT 2,2 × 10-3 1,8 × 10-3 2,43 × 10-5 74
Borracha / Na+-MMT 5,0 × 10-3 4,6 × 10-3 4,91 × 10-5 94
Borracha / K+-MMT 4,7 × 10-3 4,3 × 10-3 2,99 × 10-5 144
A diferença de energia calculada teoricamente para o aumento de 1 % na distância
entre as placas é de 151 J.mol-1 para cátions monovalentes e 50,5 % de substituição de
cargas positivas por vazios. O valor do cálculo é muito próximo ao obtido
experimentalmente, sendo uma excelente concordância entre a teoria e os experimentos.
Tendo em vista os conceitos aqui propostos, realizou-se a preparação de
nanocompósitos de PET primeiro ancorando cargas na superfície do polímero, por meio
de adsorção de surfactantes na superfície do plástico micronizado, seguido da adição de
argila esfoliada e secagem do material. Utilizando esse método, foi possível obter
materiais que apresentam tensão na ruptura mais elevada que o polímero puro, conforme
foi mostrado na Tabela 1. O aumento é significativo, contudo a mudança não tão elevada
72
pode ser explicada pelo fato do surfactante interagir com o polímero mediante interações
de van der Waals, que são menos energéticas que ligações covalentes e iônicas.
3.5 Conclusões
A energia de adesão eletrostática pode atingir valores da ordem de -200 kJ.mol-1.
Os valores de energia de adesão eletrostática concordam com valores
experimentais.
A adesão eletrostática foi utilizada para preparar nanocompósitos de PET
obtendo-se materiais com tensão na ruptura significativamente superior à do PET
original.
73
Capítulo 4
Microscopia eletrônica de transmissão por energia
filtrada de amostras espessas
74
75
4.1 Introdução
4.1.1 Microscopia Eletrônica de Transmissão por Energia Filtrada Na microscopia eletrônica de transmissão (TEM) convencional, um feixe de
elétrons rápidos percorre uma coluna passando através da amostra e incidindo em uma
câmera ou tela fluorescente, onde é formada a micrografia.
A formação de imagem em TEM é uma consequência das interações que ocorrem
quando o feixe eletrônico atravessa a amostra e é parcialmente espalhado. As interações
elétron/amostra podem ser classificadas em duas formas principais: espalhamento
elástico ou espalhamento inelástico.
O espalhamento elástico ocorre sem perda de energia dos elétrons primários. Esse
tipo de espalhamento é resultado da interação dos elétrons do feixe com os núcleos dos
átomos presentes na amostra e ocorre em alto ângulo. Na imagem de campo claro, a
fração do feixe não espalhada é utilizada para formar a imagem, assim sendo, regiões
sem a amostra ou onde a amostra é muito fina irão aparecer em tonalidades claras na
imagem, enquanto domínios espessos, cristalinos e/ou formados por elementos pesados
irão aparecer escuros, pois nesses domínios o feixe é intensamente espalhado. Quando a
amostra é cristalina, a interação dos elétrons do feixe com os núcleos ordenados
ocasiona o espalhamento coerente, resultando na difração de elétrons. Pode-se utilizar
apenas o feixe difratado para a construção de micrografias, nas chamadas imagens de
campo escuro. Nesse caso, o fundo das imagens irá aparecer escuro e apenas os
domínios cristalinos, onde o feixe é difratado, irão aparecer claros. Os diagramas de
difração de elétrons de áreas selecionadas também podem ser registrados utilizando o
microscópio eletrônico de transmissão.
O espalhamento inelástico ocorre com perda de energia, devido a interações do
feixe eletrônico inicialmente monocromático (E0) com elétrons da amostra, sendo que a
perda de energia (ΔE) depende do tipo de interação. Esse tipo de espalhamento ocorre
em baixo ângulo.
76
O espectrômetro de elétrons (Figura 29a) pode ser utilizado para separar os
elétrons de acordo com sua energia cinética, produzindo um espectro de perda de
energia, que mostra a intensidade espalhada como função do decréscimo de energia
cinética. Um espectro de perda de energia característico está sendo mostrado na Figura
29b, onde se observam três regiões principais: a região de perda zero, a região de baixa
perda e a região de alta perda de energia.
Figura 29: (a) Desenho esquemático mostrando os principais componentes de um
microscópio eletrônico de transmissão por energia filtrada. (b) Espectro de perda de
energia mostrando as principais regiões de um espectro convencional: região de perda
zero, região de baixa perda e região de alta perda de energia. O espectro foi retirado da
referência 88.
A região de perda zero é formada por elétrons elásticos que atravessaram a
amostra sem sofrer perda de energia ou sofrendo perdas muito baixas, como por
exemplo, referentes a transições vibracionais (~20 meV). A região de baixa perda de
(a)
(b)
77
energia vai até cerca de 50 eV e essa região apresenta um pico intenso. A ocorrência
desse pico é bem caracterizada em materiais condutores e semicondutores, onde a perda
de energia é referente a excitação de plasmon ou transição de bandas. Contudo,
materiais isolantes também apresentam picos nessa região, por razões que não são bem
entendidas.88 Na região de alta perda de energia, a energia transferida para a amostra se
refere a ionização das camadas internas dos elementos, que se manifestam como um
pico seguido da mudança na linha base do espectro, nas chamadas bordas de absorção.
A espectroscopia por perda de energia de elétrons (EELS) permite identificar os
elementos da amostra, além de fornecer informações sobre o estado eletrônico e das
ligações químicas. O espectrômetro de elétrons é também utilizado para produzir
imagens de energia filtrada (EFTEM). Essas imagens são formadas por elétrons
inelásticos e podem ser obtidas em valor de perda de energia desejado. Normalmente, o
mapeamento elementar é baseado na aquisição de imagens utilizando elétrons
inelasticamente espalhados em perdas de energia acima e abaixo da borda de absorção
de um elemento selecionado, seguido de operações algébricas nas imagens para a
subtração de fundo.
Normalmente, a análise de amostras espessas (>50 nm) por TEM é tida como um
problema.88 Contudo, durante o desenvolvimento dessa tese, houve a necessidade de
analisar amostras heterogêneas e com domínios relativamente espessos como, por
exemplo, o centro da partícula de borracha natural mostrado na Figura 20. Com essa
motivação, foi demonstrado de modo inédito89 como a EFTEM na região de baixa perda
de energia pode ser utilizada para analisar domínios espessos.
4.2 Objetivo
Desenvolver e aplicar a técnica de microscopia eletrônica de transmissão por
energia filtrada (EFTEM) para a observação de domínios espessos e compostos por mais
de uma fase.
78
4.3 Parte Experimental
4.3.1 Materiais e Métodos
Aglomerados de borracha natural e montmorilonita-Na+ foram preparados pela
secagem de mistura de látex de borracha natural e dispersão aquosa montmorilonita-Na+
sobre porta-amostra de microscopia, conforme descrito previamente na sessão 2.3.2.1.
A sílica de Stöber foi preparada utilizando 2,00 mL de TEOS, 25,00 mL de etanol
e 4,25 mL de hidróxido de amônia saturado. A mistura foi colocada em frasco vedado e
submetida a banho de ultrassom (25 kHz-200 W) por 2 horas na temperatura de 36 °C.
Essa amostra foi utilizada por sua geometria esférica, por possuir tamanho de partícula
“grande” (~0,5 μm) e que pode ser variado mediante pequenas mudanças no processo de
síntese.
A microscopia eletrônica de transmissão foi realizada conforme descrito na sessão
2.3.2.3. O programa Image Pro-Plus versão 4.0 foi utilizado no tratamento de imagem.
4.4 Resultados
A Figura 30a apresenta uma imagem de campo claro de um aglomerado complexo
de borracha e argila com diversas regiões espessas, que aparecem escuras nessa imagem.
Espectros de perda de energia de elétrons foram adquiridos em três regiões da amostra e
estão mostrados da Figura 30b. Uma série de imagens do mesmo campo foi adquirida
em diferentes valores de perda de energia. As imagens estão mostradas na Figura 31.
Essas imagens de EFTEM foram montadas em uma sequência, formando um vídeo que
pode ser visualizado no Material Suplementar 1.
Todos os espectros apresentam um pico intenso na região de baixa perda de
energia (20-30 eV). Os espectros apresentam algumas diferenças: a intensidade do
79
espectro obtido no domínio polimérico (região 1) decresce após o pico em baixa perda.
Contudo, o decréscimo de intensidade é maior nos espectros obtidos em domínios mais
finos da amostra (regiões 2 e 3), sendo que as curvas se cruzam em cerca de 35 eV. Isso
é atribuído ao fato de os elétrons que atravessam as regiões mais espessas sofrerem
colisões inelásticas consecutivas. É possível até mesmo observar um pequeno pico em
55 eV referente ao espalhamento duplo dos elétrons que atravessam a região espessa da
partícula de borracha natural (região 1).
0 20 40 60 80 1000
2000
4000
6000
8000
10000
12000
14000
0 20 40 60 80 1000
2000
4000
6000
8000
10000
12000
14000
0 20 40 60 80 1000
2000
4000
6000
8000
10000
12000
14000
0 20 40 60 80 1000
2000
4000
6000
8000
10000
12000
14000
0 20 40 60 80 1000
2000
4000
6000
8000
10000
12000
14000 Região 1 Região 2
Perda de energia (eV)
Inte
nsid
ade
/ u. a
. Região 3
Figura 30: (a) Imagem de campo claro de aglomerado de borracha natural e argila. (b)
Espectros de perda de energia de elétrons adquiridos em diferentes regiões da amostra.
As regiões onde os espectros foram obtidos estão marcadas na imagem de campo claro.
3
1
2
(a)
(b)
80
Figura 31: Imagens de EFTEM (20-70 eV) de aglomerado formado por argila e borracha
natural.
As imagens de EFTEM são condizentes com os espectros. Dessa forma, observa-
se que as partes finas dos agregados se tornam escuras à medida que a perda de energia
aumenta, permitindo a visualização de domínios espessos. Por exemplo, dois domínios
escuros indicados como “a” pelas setas (Figura 31), que não podem ser visualizados nas
imagens de campo claro, mas podem ser observados nas imagens de perda de energia de
60 a 70 eV.
Outras imagens de agregados que demonstram a potencialidade da EFTEM para a
análise de agregados com domínios espessos podem ser observadas na referência 89.
O estudo de EFTEM de domínios espessos gerou também a possibilidade de
realizar medidas de espessura90,91 nas amostras espessas e até mesmo fazer a construção
de imagens tridimensionais.
81
A espessura da amostra pode ser calculada a partir do espectro de perda de energia
utilizando a seguinte equação:92
⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛=
−zeroperda
total
IIEspessura lnλ Equação 26
sendo λ o caminho livre médio do elétron entre dois espalhamentos, Itotal a área abaixo
do espectro de perda de energia e Iperda zero a área do pico de perda zero. Dessa forma,
espectros de perda de energia foram adquiridos em diversas regiões de uma amostra que
possui domínios espessos. Utilizaram-se amostras de sílica de Stöber como um sistema
padrão por seu formato esférico.
0 50 100 150 2000 50 100 150 2000 50 100 150 2000 50 100 150 2000 50 100 150 200
Região 1
Região 4 Região 5
Região 2
Inte
nsid
ade
/ u. a
.
Perda de energia / eV
Região 3
Figura 32: (a) Sílica de Stöber mostrada em imagem de campo claro obtida por TEM.
(b) Espectros de perda de energia de elétrons adquiridos em diferentes regiões da
amostra. As regiões onde os espectros foram obtidos estão marcadas na imagem de
campo claro.
Os espectros de perda de energia mostram que elétrons atravessam o centro das
esferas de sílica que possuem diâmetro superior a 0,5 μm, indicando que é possível obter
(a) (b)
82
informação dos elétrons que passam através desses domínios. Os espectros obtidos em
domínios espessos apresentam intensidade em alta perda de energia equivalente à de
perda zero, devido aos espalhamentos inelásticos múltiplos, e devido ao feixe direto (E0)
ser bloqueado nesses domínios.
Considerando que as partículas de sílica de Stöber são rígidas e esféricas, o
caminho percorrido pelos elétrons através do centro da partícula é igual ao diâmetro
desta partícula. Utilizando a equação 26, é possível calcular o caminho livre médio do
elétron no interior dessas partículas, que é 125 nm, sendo que o termo ln(Itot/Izero) é
obtido a partir dos espectros. O valor de caminho livre médio do elétron no interior do
dióxido de silício é de 77 nm, calculado de acordo com Egerton.93 A diferença de
valores é entendida pelo fato das partículas de sílica de Stöber serem porosas, e dos
poros não espalharem os elétrons.
Os cálculos de espessura foram realizados a partir dos espectros utilizando λ =
125 nm, como mostrado na Tabela 3. Dessa forma, obtêm-se valores de espessura que
concordam com o diâmetro da partícula, com erro menor que 7 %.
Tabela 3: Medidas de espessura realizadas a partir dos espectros mostrados na Figura 32. Região da amostra Diâmetro da partícula / nm ln(Itot/Izero) Espessura (λ = 125 nm) / nm 1 590 4,396 550 2 546 4,474 559 3 307 2,576 322 4 282 2,293 287 5 280 2,248 281
A Figura 33 mostra uma sequência de imagens de EFTEM em diversos valores de
perda de energia. O Material Suplementar 2 mostra o vídeo montado com a sequência
dessas imagens.
83
Figura 33: Imagens de EFTEM (0 a 100 eV) de sílica de Stöber de diversos tamanhos e
reconstrução tridimensional da imagem de EFTEM em 80 eV (canto esquerdo inferior).
Para a reconstrução tridimensional, o contraste da imagem foi invertido e o fundo da
imagem foi desconsiderado.
A imagem de campo claro (no canto esquerdo superior da Figura 33), a mais
comum nesse tipo de microscopia, revela poucos detalhes dessa amostra por ser
relativamente espessa: com um forte contraste “preto no branco” não se pode observar o
interior das partículas. Contudo, nas imagens de EFTEM, acima de 20 eV já é possível
84
detectar elétrons que passam através das partículas menores (de diâmetros de cerca de
300 nm) e, acima de 80 eV, das partículas maiores (com diâmetro de 590 nm e 546 nm).
Analisando-se as imagens, observa-se que as tonalidades de cinza t (utilizando-se
imagens de 8 bits: 256 tonalidades) sobre a sílica é proporcional ao caminho percorrido
pelo elétron através da amostra s(amostra). Na imagem de EFTEM em 80 eV, que possui
um bom contraste para essa amostra, por exemplo, a espessura da amostra pode ser
estimada utilizando a seguinte equação:
ts amostra 11,2550)( −= Equação 27
Portanto, utilizando-se imagens de EFTEM pode-se calcular, mediante calibração,
a espessura em qualquer ponto da amostra, construir uma escala linear de tons de cinza
relativos à espessura ou mesmo realizar reconstruções tridimensionais, conforme
mostrado no canto esquerdo inferior da Figura 33, onde a escala de tonalidades
representa a espessura do domínio atravessado pelo feixe eletrônico. A reconstrução é
realizada por um programa de computador que projeta a tonalidade de cinza na terceira
dimensão e coloca a imagem em perspectiva. A EFTEM pode ser utilizada desse modo
se: (1) a amostra tiver composição homogênea, (2) a amostra não possuir domínios
cristalinos, (3) o microscópio estiver corretamente alinhado, (4) considerar que domínios
muito espessos, em uma dada energia, aparecerão escuros pelo fato de que os elétrons
não são transmitidos nessas regiões, não sendo possível medir a espessura nesses
domínios (a não ser, talvez, em uma energia mais alta) e (5) desconsiderar o fundo da
imagem (background), pois esse aparecerá sempre escuro por não espalhar
inelasticamente os elétrons.
85
4.5 Discussão
A espectroscopia de perda de energia associada à microscopia eletrônica de
transmissão (ESI-TEM) é uma poderosa ferramenta para a elucidação de morfologia e
microquímica de partículas coloidais e agregados. Contudo, normalmente esse tipo de
análise requer amostras muito finas, de espessura menor que 50 nm, para evitar
espalhamentos múltiplos.93 Entretanto, resultados obtidos durante o desenvolvimento
desta tese89 têm mostrado que em materiais leves pode-se tirar proveito dos
espalhamentos inelásticos múltiplos e obter informações do interior de domínios
espessos utilizando-se EFTEM.
O contraste das imagens de EFTEM pode também ser útil para identificar
domínios de composições distintas, uma vez que domínios cristalinos ou formados por
elementos mais pesados irão aparecer escuros nas imagens por espalharem elasticamente
o feixe eletrônico de forma intensa.
O método normalmente utilizado para análise da microquímica de amostras
espessas no TEM consiste no embutimento da amostra em resina, seguido de
ultramicrotomia e análise dos cortes por ESI-TEM. Essas técnicas são bem estabelecidas
e podem ser utilizadas com sucesso. Contudo, o uso da EFTEM em partículas não
cortadas possui algumas vantagens: (i) a microtomia é uma técnica laboriosa e que
requer tempo, enquanto uma sequência de imagens de partículas em uma série de
valores de perda de energia pode ser feita de forma prática e rápida; (ii) na EFTEM não
é necessário o uso de resina orgânica de embutimento, permitindo assim a observação
sem interferentes de domínios ricos em carbono, como por exemplo em materiais
híbridos; (iii) as partículas não são deformadas pelo embutimento e/ou microtomia; (iv)
os mapas elementares possuem alto ruído devido aos cálculos realizados nas imagens,
enquanto as imagens de EFTEM possuem baixo ruído, excelente contraste e resolução
próxima às imagens de campo claro.
86
Essas razões sugerem que a EFTEM seja usada de forma a complementar as
informações produzidas pelas outras técnicas de TEM, contribuindo com suas
características únicas. Diversas imagens de EFTEM em baixa perda de energia (25 eV)
foram apresentadas ao longo desse estudo, devido a essas imagens possuírem fino
contraste, permitirem identificar os domínios poliméricos e poderem ser adquiridas com
feixe de baixa intensidade.
A observação da mudança de contraste nas micrografias de EFTEM com o
aumento da espessura da amostra abre também a possibilidade de reconstruções
tridimensionais de partículas e agregados.
4.6 Conclusões
Amostras espessas foram analisadas por EFTEM.
EFTEM mede a espessura de amostras gerando mapas de espessura e imagens
tridimensionais.
Séries de imagens EFTEM possuem alto contraste que complementam os
mapeamentos elementares.
87
Capítulo 5
Nanomotores: dubletos quimicamente impulsionados
88
89
5.1 Introdução
5.1.1 Dubletos
A produção de dubletos formados por duas partículas coloidais unidas é alvo de
pesquisas científicas atuais devido ao interesse que essas partículas têm no estudo de
nanomotores, auto-ordenamento, óptica etc. A seguir são descritos alguns métodos de
preparação desses dubletos.
A produção de heterodubletos formados por uma partícula de sílica e outra
partícula de ouro foi realizada utilizando a deposição de uma fina camada da liga Ti/W
seguida da deposição de Au metálico por sputtering sobre submonocamadas de sílica de
Stöber, conforme descrito por Xia, Whitesides e coautores.94 Após a deposição, o
material é submetido a um tratamento térmico, quando os átomos de ouro ganham
mobilidade e, devido a sua alta tensão interfacial com o óxido, forma-se uma partícula
quase-esférica de ouro aderida à partícula de sílica. O método demonstrou-se eficiente
para partículas de sílica de dimensões entre 200 nm e 2 μm. As partículas menores que
200 nm se deformam durante o tratamento térmico e nas partículas maiores que 2 μm é
observada a formação de “ilhas” de ouro na superfície da sílica. Segundo os autores, o
método pode ser estendido para outros metais e óxidos, além de ouro e sílica.
Dubletos também têm sido preparados por processos que envolvem química
coloidal. A síntese de dubletos formados por duas partículas de sílica de Stöber foi
demonstrada por Xia et al.95 com rendimento após a síntese de 50 %, e 80 % quando
purificados utilizando centrifugação em gradiente de densidade. A síntese dos dubletos é
realizada introduzindo o TEOS às partículas pré-formadas de sílica de Stöber em
condições específicas de concentração de partículas, força iônica e constante dielétrica
do meio, em que as partículas podem entrar em contato e crescer na forma de dubletos,
possibilitando que as esferas fiquem permanentemente presas umas às outras após a
colisão.
90
Nesse caso, a teoria DLVO explica a formação dos agregados.95 Utilizando
concentrações de reagentes específicas, a repulsão entre as duplas camadas elétricas das
partículas não é tão intensa, possibilitando a formação dos dubletos, sem que, no
entanto, sejam formados aglomerados maiores. Desse modo, a força iônica do meio, a
constante dielétrica e o tamanho das partículas influenciam no rendimento da formação
dos dubletos, como se segue: com o aumento da força iônica do meio, pela adição de
amônia, observou-se um aumento no número de dubletos formados, assim como um
maior número de agregados. Com a diminuição da constante dielétrica do meio, pela
variação da concentração de água e etanol, observou-se também um aumento no
rendimento da reação até a concentração mínima de H2O de 10 mol.L-1, abaixo desse
valor o aumento de dubletos não é observado, sendo esse comportamento explicado pelo
fato de, nessas condições, a hidrólise do TEOS ocorrer de forma muito lenta. Foi
também observado que quanto menores as sementes de sílica utilizadas, maior é o grau
de dimerização.
A literatura traz outras rotas para síntese de dubletos: homo e heterodubletos
foram produzidos utilizando partículas de látex de poliestireno e sílica.96 O método
também é explicado pela teoria DLVO, onde as partículas de látex são adicionadas a um
meio de alta força iônica, controlada pela concentração de KCl quando a agregação das
partículas é iniciada na forma de dubletos. Pouco tempo depois (1 minuto), a dispersão é
diluída com água deionizada, com a finalidade de diminuir a força iônica do meio e
evitar a continuação do processo de agregação. Os dubletos formados nessa etapa são
acoplados de forma definitiva, aquecendo a dispersão além da temperatura de transição
vítrea do polímero sem que haja, no entanto, ebulição (para tanto podem ser utilizadas
autoclaves). Quando não é utilizado aquecimento, as partículas que formam os dubletos
podem ser separadas utilizando e.g. ultrassom. Contudo, o aquecimento promove a
coalescência entre as partículas, de forma que estas ficam presas permanentemente.
Usando esse método, os autores conseguiram obter dubletos com rendimentos maiores
91
que 15 %, utilizando partículas entre 800 nm e 5 µm, sendo que o método pode ser
aplicado para partículas menores.
5.2 Objetivos
Sintetizar dubletos formados por partículas de diferentes composições, sendo que
uma delas contém platina em sua superfície.
Observar o movimento autoimpulsionado dos dubletos, quando imersos em
solução de peróxido de hidrogênio.
Analisar as interações entre os dubletos e a superfície sobre a qual o movimento é
observado.
5.3 Parte Experimental
5.3.1 Materiais
O peróxido de hidrogênio 30 % foi fornecido pela Caledon.
O polieletrólito catiônico poli(cloreto de dialildimetilamônio) (PDDA) (20 % em
água) foi fornecido pela Sigma Aldrich. O PDDA possui massa molecular média entre
400.000 e 500.000 g/mol.
O polieletrólito aniônico poli(4-estireno sulfonato de sódio) (PSS) foi fornecido
pela Sigma Aldrich. O PSS possui massa molecular média de 70.000 g/mol.
O cloreto de sódio foi fornecido pela ACP Chemicals.
O octadeciltriclorosilano (OTS) foi fornecido pela Gelest.
As sementes de sílica foram sintetizadas pelo método de Stöber,43 utilizando-se a
adaptação de Giesche45 para fazer crescer as sementes e obter-se partículas de sílica de
tamanho homogêneo. Nesse estudo, utilizaram-se partículas de sílica de 960 nm de
diâmetro.
92
5.3.2 Métodos
Os dubletos foram preparados utilizando o método descrito por Xia, Whitesides e
coautores,94 no qual uma camada de metal depositada sobre partículas de sílica forma
partículas metálicas, quando o sistema é submetido a recozimento. A preparação dos
dubletos é descrita na Figura 34.
Figura 34: Desenho ilustrativo do método utilizado para a preparação dos dubletos. (a)
Deposição das partículas de sílica por imersão e emersão do substrato em dispersão de
sílica. (b) Deposição por sputtering de uma camada de adesão de crômio seguida de uma
camada mais espessa de platina. Nesse estudo, foram depositadas camadas de platina de
diversas espessuras: 25 nm, 40 nm, 55 nm, 70 nm ou 85 nm. (c) Tratamento térmico a
900 °C durante 3 horas. (d) Redispersão dos dubletos em água por ultrassom.
Neste estudo foram utilizados dois tipos de substratos: o substrato de silício e o
substrato de silício coberto com platina (chamado substrato de Pt). Em ambos os casos,
o substrato de silício foi previamente limpo com solução “piranha” (H2SO4:H2O2 na
proporção 3:1 (v/v)) e lavado várias vezes com água e com etanol, deixando-o secar ao ar.
93
Para a preparação do substrato de Pt, foram depositados 5 nm de crômio e 200 nm de
platina sobre o substrato de silício. As amostras preparadas sobre silício foram
observadas por microscopia eletrônica de varredura por emissão de campo (FESEM),
enquanto as amostras preparadas sobre platina foram utilizadas para serem redispersas
devido à facilidade de redispersar esses dubletos em água, quando comparados com
aqueles preparados sobre silício.
Esferas de sílica em dispersão alcoólica 0,05 (v/v) foram depositadas sobre os
substratos. O instrumento KVS Dip Coater foi utilizado para imergir e emergir os
substratos na velocidade controlada de 100 mm/min. A deposição por imersão e emersão
cobre de partículas as duas faces do substrato. A face rugosa do substrato foi limpa com
um lenço de papel umedecido com água, pois as partículas presentes nessa face não irão
gerar dubletos.
O equipamento de sputtering Perkin Elmer 2400 foi utilizado para depositar sobre
as partículas de sílica uma camada de 5 nm de crômio seguida de uma camada de platina
em uma das seguintes espessuras médias: 25, 40, 55, 70 ou 85 nm. Os dubletos obtidos
com essas amostras foram denominados A, B, C, D e E, respectivamente. O sistema foi
submetido a tratamento térmico a 900 °C, durante 3 horas, mediante rampa de
aquecimento de 10 °C/ minuto utilizando forno tubular.
O microscópio óptico Olympus BX41 foi utilizado no modo de reflexão para
observar os resultado da deposição por dip coating.
Os dubletos formados sobre o substrato de Si foram observados no microscópio
eletrônico de varredura por emissão de campo Hitachi S-5200 em 30 kV. Para medir o
diâmetro, as partículas foram inscritas em um retângulo, sendo, a partir desse, obtidas a
espessura e a largura das partículas. O diâmetro de partícula de Pt apresentado refere-se
à menor dimensão medida (espessura).
As amostras preparadas sobre substrato de Pt foram submersas em água e
sonicadas por 10 segundos. Foram utilizados 2,3 mL de água para dispersar cada
centímetro quadrado de substrato coberto com dubletos. A dispersão obtida foi diluída
94
10 vezes. A concentração da ordem de 108 partículas/L é adequada para a observação do
movimento das partículas em solução de H2O2, pois nessa concentração é possível
observar dubletos com boa frequência, sem que o choque entre as partículas seja
frequente e sem que haja a formação de bolhas macroscópicas.
Para a observação do movimento impulsionado, as dispersões dos dubletos foram
previamente misturadas com uma solução de H2O2. Normalmente, misturas em igual
volume foram realizadas, resultando em concentrações diluídas por um fator de 2. O
microscópio invertido Zeiss Axiovert 200M equipado com a câmera CCD CoolSNAP
HQ foi utilizado no modo de transmissão para observar e gravar o movimento dos
dubletos. Cem quadros foram gravados em 7,6 segundos para cada medida (76
ms/quadro). Os dubletos são observados no plano focal próximo à superfície do vidro. O
porta-amostra para microscópio invertido da marca Nunc foi previamente sonicado em
água deionizada e em etanol para limpar a superfície do vidro.
O estudo das interações entre os dubletos e a superfície sobre a qual os dubletos se
movimentam foi realizado adsorvendo polieletrólitos no vidro com a finalidade de
alterar a carga nessa superfície.97,98 Para tanto, preparou-se uma solução 10 mM
(baseado na massa molecular do monômero) do polieletrólito catiônico PDDA em NaCl
0,5 M. A solução do polieletrólito aniônico PSS foi preparada nas mesmas
concentrações. Para a adsorção dos polieletrólitos na superfície do vidro, a solução de
PDDA foi colocada em contato com o vidro durante 30 minutos, depois dos quais a
superfície foi enxaguada e colocada em contato com solução de PSS por mais 30
minutos tempo após o qual o porta-amostra é novamente enxaguado e seco. Soluções de
H2O2 contendo diversas concentrações de NaCl foram utilizadas para observar o efeito
da força iônica na adesão dos dubletos sobre a superfície. A superfície hidrofóbica
também foi utilizada, para tanto, uma solução de OTS 5 mM em hexano foi colocada em
contato com o vidro por 10 segundos e foi posteriormente lavada com etanol e seca.
O software Image Pro Plus 6.2 foi utilizado para editar as micrografias, rastrear o
movimento dos dubletos sobre o vidro e efetuar medidas nas imagens. A posição nos
95
quadros da partícula de sílica, da partícula de platina e o tempo entre os quadros são as
principais informações extraídas da sequência de imagens. A partir dessas informações,
pode-se calcular a velocidade e outras grandezas referentes ao movimento dos dubletos.
As medidas de velocidade foram realizadas em dez diferentes dubletos, sendo o valor
médio e o desvio padrão apresentados. Os valores de velocidade mostrados se referem
ao deslocamento bidimensional de partículas de sílica entre dois quadros dividido pelo
tempo entre esses quadros. Alguns dubletos ficam imobilizados na superfície do vidro,
sendo esses desconsiderados nessas medidas.
5.4 Resultados
O resultado da deposição de sílica sobre platina pode ser observado por
microscopia óptica, conforme mostrado na Figura 35.
Figura 35: Microscopia óptica no modo de reflexão mostrando em dois aumentos as
partículas de sílica depositadas sobre platina.
A Figura 35a mostra que uma submonocamada de partículas de sílica foi formada
sobre a superfície de platina, sendo que as áreas em azul se referem a áreas cobertas com
as partículas de sílica. Cerca de 44 % da área do substrato está preenchida com
partículas de sílica, conforme medido em cinco campos distintos dessa mesma amostra.
Um detalhe da Figura 35a está sendo mostrado na Figura 35b, onde é possível identificar
(a) (b)
96
as partículas individuais de sílica. Nessas condições de deposição não são formadas
multicamadas de partículas de sílica. Contando-se as partículas, observa-se cerca de uma
partícula por micrômetro quadrado nas áreas preenchidas, pois, apesar de haver um
maior número de partículas nas regiões de empacotamento hexagonal, há áreas com
defeitos e vazios. Essas informações são úteis para estimar o número de dubletos na
dispersão que será obtida posteriormente.
Sobre as partículas de sílica foram depositadas: uma camada de adesão de 5 nm de
Cr, seguida de uma camada de platina em uma das seguintes espessuras: 25 nm, 40 nm,
55 nm, 70 nm ou 85 nm. Essas amostras foram denominadas A, B, C, D ou E,
respectivamente. Após a deposição metálica, aproximadamente metade da superfície das
partículas de sílica fica coberta com metal. Essas amostras foram submetidas a
tratamento térmico a 900 °C durante 3 horas, quando os átomos na superfície do metal
ganham mobilidade e, devido à alta tensão superficial da platina e alta tensão interfacial
entre a platina e a sílica, a casca metálica se transforma em partículas sobre a superfície
da sílica, conforme é mostrado na Figura 36.
97
Figura 36: FESEM de dubletos sobre substrato de silício. As amostras foram preparadas
com camadas de Pt de diferentes espessuras: (A) 25 nm, (B) 40 nm, (C) 55 nm, (D) 70
nm e (E) 85 nm.
Na Figura 36 observam-se partículas esféricas de sílica sobre o substrato e
partículas de platina sobre a sílica. Nessas imagens o substrato está paralelo ao plano da
imagem, sendo que as esferas de sílica aparecem como círculos em cinza e as partículas
de platina aparecem em branco. Em alguns casos é possível observar duas partículas de
platina sobre a mesma partícula de sílica, ou mesmo uma partícula de platina que foi
98
formada entre duas esferas de sílica. Realizou-se uma caracterização morfológica em
pelo menos 350 partículas de platina em cada amostra. Os diâmetros dessas partículas
também foram medidos, sendo os resultados mostrados na Tabela 4 e na Figura 37. A
Figura 37 mostra os histogramas dos diâmetros das partículas de platina.
Tabela 4: Dados de caracterização morfológica das partículas de Pt sobre esferas de
sílica. Amostra Espessura da
camada de Pt / nm
Diâmetro das partículas de Pt / nm
Dubletos na amostra / %
Duas partículas de Pt sobre a mesma esfera / %
Partículas de Pt entre duas esferas(a) / %
Partículas alongadas(b) / %
A 25 325±30 75,1 22,6 0,0 2,3 B 40 368±30 85,3 6,9 0,2 7,6 C 55 417±35 71,2 18,9 0,7 9,2 D 70 448±41 80,9 9,6 1,9 7,6 E 85 489±50 42,2 6,7 48,0 3,1
(a): O caso de duas partículas de sílica que possuem partículas de Pt formadas entre suas superfícies e possuem outras partículas menores sobre a mesma sílica é considerado como uma “partícula de Pt entre esferas”. (b): Partículas que possuem razão de aspecto ≥ 2.
99
200 250 300 350 400 450 500 550 600 6500
20
40
60
80
100
120
140 AO
corr
ênci
a
Diâmetro de partícula / nm
200 250 300 350 400 450 500 550 600 6500
20
40
60
80
100 B
Oco
rrênc
ia
Diâmetro de partícula / nm
200 250 300 350 400 450 500 550 600 6500
20
40
60
80
100
120 C
Oco
rrênc
ia
Diâmetro de partícula / nm
200 250 300 350 400 450 500 550 600 6500
20
40
60
80D
Oco
rrênc
ia
Diâmetro de partícula / nm
200 250 300 350 400 450 500 550 600 6500
10
20
30
40
50
60
70
80 E
Oco
rrênc
ia
Diâmetro de partícula / nm
Figura 37: Histogramas dos diâmetros das partículas de platina nos dubletos preparados
a partir da deposição de camada de platina de diversas espessuras: (A) 25 nm, (B) 40
nm, (C) 55 nm, (D) 70 nm e (E) 85 nm.
100
Como mostrado nos histogramas da Figura 37, as partículas de Pt não possuem
tamanho homogêneo. Ainda assim, o diâmetro das partículas de platina tem uma
dependência com a espessura da camada de platina utilizada: quanto maior a espessura
da camada de Pt, maior o tamanho de suas partículas. O diâmetro de partícula de platina
foi medido desconsiderando as partículas menores, no caso de partículas de sílica que
possuem mais de uma partícula de platina sobre a mesma esfera de sílica. A Figura 38
mostra as amostras A e C inclinadas.
Figura 38: Imagens de FESEM. (a) Amostra A inclinada em 60° e (b) amostra C
inclinada em 30°. Os substratos foram inclinados horizontalmente em relação ao plano
da imagem.
Na Figura 38 é possível ter uma perspectiva sobre a terceira dimensão dessas
partículas. Por essas imagens, observa-se que as partículas de sílica se mantêm
perfeitamente esféricas e que a partícula de platina tem morfologia que se aproxima da
esfera. Contudo, algumas partículas possuem faces definidas.
Os dubletos de cada amostra foram redispersos imergindo seus substratos em água
e submetendo o sistema a ultrassom por 10 segundos. Cada dispersão de dímeros foi
misturada à solução de peróxido de hidrogênio com a finalidade de obter uma dispersão
de dubletos com concentração de H2O2 definida. A mistura foi transferida para o porta-
amostra para microscópio invertido e analisada no modo de luz transmitida. O
(a) (b)
101
movimento de alguns dubletos pode ser examinado na Figura 39 e nos Materiais
Suplementares de 3 a 7.
Figura 39: Sequências de quadros mostrando o movimento de dubletos das diferentes
amostras sobre a superfície de vidro. A sequência de quadros está montada da esquerda
para a direita, conforme indicam as setas. O tempo entre os quadros é de 76 ms.
Na Figura 39, é possível notar que nas amostras A e B os dubletos movem-se
lentamente não havendo grandes mudanças em suas posições na sequência de quadros.
No caso da amostra A, há rotação do dubleto entre o terceiro e o sexto quadro, sendo
que a partícula de sílica não muda sua posição e a partícula de platina continua em
movimento. O dubleto mostrado na amostra C move-se preferencialmente no sentido da
partícula de platina. No caso da amostra D, o dubleto descreve movimentos circulares,
no sentido da partícula de platina. Já a amostra E move-se circularmente muito rápido,
preferencialmente em direção perpendicular ao eixo que liga o centro dessas partículas.
102
A Figura 40 mostra esse comportamento em todos os quadros, por meio da variação do
ângulo no percurso da partícula de sílica.
0 20 40 60 80 100-200-100
0100200 0 20 40 60 80 100
-200-100
0100200 0 20 40 60 80 100
-200-100
0100200 0 20 40 60 80 100
-200-100
0100200 0 20 40 60 80 100
-200-100
0100200
Seqüência de movimentos
θ / g
rau
Figura 40: Gráfico mostrando a mudança de ângulos na trajetória das partículas de sílica.
O eixo das ordenadas mostra o ângulo formado pelo vetor deslocamento da partícula
com o seu vetor deslocamento do movimento seguinte. As descontinuidades em alguns
gráficos se referem aos quadros nos quais a partícula de sílica permanece imóvel
(havendo movimento da partícula de platina). Os seis primeiros pontos em cada gráfico
se referem aos quadros apresentados na Figura 39.
A Figura 40 mostra alguns exemplos da mudança de trajetória da partícula de
sílica. Para tanto, o ângulo da direção do movimento da partícula de sílica com a direção
do movimento seguinte foi colocado em função da sequência de movimentos realizados.
Essa análise foi realizada para dez dubletos de cada amostra, conforme apresentado no
Anexo II. Os Materiais Suplementares de 3 a 7 mostram os respectivos vídeos desses
dubletos se movimentando sobre a superfície do vidro. Como pode ser observado na
Figura 40, as amostras A e B mudam de ângulo aleatoriamente, conforme os dubletos se
A B C D E
103
movem. Um dubleto da amostra C mostrado na Figura 39, por sua vez, tende a não
mudar o seu percurso em sentido à partícula de Pt, portanto os ângulos que descrevem o
seu trajeto têm baixo valor, levando a entender que o movimento impulsionado se
sobrepõe ao movimento Browniano. As amostras D e E percorrem trajetórias circulares.
Assim sendo, as partículas mudam o sentido do seu movimento de forma repetida, em
valores de ~50° e ~100°, respectivamente.
As velocidades das diferentes amostras de dubletos em solução de H2O2 15 %
foram medidas. Os Materiais Suplementares de 3 a 7 mostram vídeos dessas amostras
em tempo real, a partir dos quais foram realizadas essas medidas de velocidade. A
velocidade dos dubletos está sendo mostrada na Figura 41 em função do diâmetro médio
das partículas de platina nessas amostras.
320 340 360 380 400 420 440 460 480 5000
2
4
6
8
10
ED
C
B
AVelo
cida
de /
μm/s
Diâmetro médio das partículas de platina / nm
Figura 41: Gráfico mostrando a velocidade dos dubletos em função do tamanho de
partícula nas amostras A, B, C, D e E. As medidas foram realizadas em solução 15 % de
H2O2.
104
Os vídeos do Material Suplementar 3 mostram que os dubletos da amostra A se
movimentam de forma aleatória, sendo que nessa amostra o movimento impulsionado
não é pronunciado. Entretanto, nas outras amostras Materiais Suplementares de 4 a 7,
observa-se alguns dímeros que são impulsionados, descrevendo movimento não-
Browniano. O movimento impulsionado se manifesta na Figura 41 por meio do aumento
da velocidade média das partículas. Cada amostra analisada apresenta dímeros que se
movem com velocidades distintas, resultando em alto desvio padrão em suas
velocidades.
As amostras A e C foram misturadas com soluções de H2O2 em diversas
concentrações. Medidas de velocidade foram realizadas nessas amostras e estão sendo
apresentadas em função da concentração de H2O2 na Figura 42.
0 5 10 15 20
2
3
4
5
6
7
Vel
ocid
ade
/ μm
/s
Concentração de H2O2 / %
Amostra A: camada de 25 nm de Pt Amostra C: camada de 55 nm de Pt
Figura 42: Velocidade dos dubletos das amostras A e C em diversas concentrações de
H2O2. As medidas foram realizadas em dubletos movendo-se sobre superfície de vidro.
105
Na ausência de H2O2 (0 %) tem-se o movimento Browniano dos dubletos, a
velocidade dessas partículas é de cerca de 2 μm/s, medida a partir dos deslocamentos
das partículas de sílica a cada 76 ms. A velocidade média dos dubletos tende a aumentar
com a concentração de H2O2, conforme mostra a Figura 42. A velocidade da amostra C
em altas concentrações de H2O2 apresenta alto desvio padrão, pois os diferentes dubletos
dessa amostra movem-se com velocidades muito distintas (ver Material Suplementar 5).
Observa-se também que a amostra C possui velocidade média superior à amostra A
quando em H2O2. Esse comportamento pode ser entendido considerando que as
partículas de platina na amostra C possuem maior área de superfície para catalisar a
decomposição de H2O2.
Alguns dubletos, quando observados sobre a superfície de vidro, se prendem a
essa superfície pela partícula de sílica, contudo a partícula de platina continua fazendo
movimentos rotatórios em volta da partícula de sílica. A Figura 43 apresenta sequências
de imagens que exemplificam o comportamento desses rotores. O Material Suplementar
8 mostra o movimento de rotores em tempo real.
Figura 43: Sequência de imagens mostrando dubletos que têm a partícula de sílica presa
à superfície do vidro e a partícula de platina fazendo movimento giratório. (a) Amostra
C e (b) amostra (E). As setas indicam a sequência de quadros. O intervalo de tempo
entre os quadros é de 76 ms.
106
A Figura 43 mostra rotores sobre a superfície de vidro. Os dubletos que
apresentam movimentos rotatórios giram na frequência de 0,8 a 2,0 Hz, sendo que em
um mesmo dubleto essa frequência permanece constante por vários minutos. Os rotores
movem-se em ambos os sentidos: horário e anti-horário, como mostrado no exemplo da
Figura 43b.
Esses rotores podem ser observados em todas as amostras de dubletos utilizadas
nesse estudo, quando dispersas em alta concentração de H2O2. A formação dos rotores é
reprodutível sobre superfície de vidro previamente limpa, contudo os rotores não foram
observados em superfícies de vidro tratadas com polieletrólitos (PDDA e PSS), nem em
superfície hidrofóbica (vidro tratado com OTS).
Visto que os dubletos interagem com a superfície sobre a qual eles são
observados, tendo como evidências os valores de desvio padrão, a presença de rotores
sobre a superfície e mesmo de dubletos imóveis, realizou-se modificações na superfície
do vidro por adsorção de polieletrólitos, com a finalidade de aumentar a carga negativa
nessa superfície. Para tanto, procedeu-se com a adsorção de PDDA, seguida da adsorção
de PSS. Realizaram-se medidas de velocidade da amostra A em solução de H2O2 15 %
sobre essas superfícies, controlando a força iônica do meio com NaCl. Os resultados
estão dispostos na Figura 44.
107
0 2 4 6 8 10
0.0
0.5
1.0
1.5
2.0
2.5
3.0
15 % de H2O2
Velo
cida
de /
μm/s
Concentração de NaCl / mM
Superfície tratada com polieletrólitos Superfície de vidro
Figura 44: Dependência da velocidade dos dubletos com a força iônica do meio. As
medidas foram realizadas com a amostra A sobre superfície limpa de vidro e sobre a
superfície do vidro previamente tratada com os polieletrólitos PDDA e PSS. Em NaCl
10 mmol.L-1 os dubletos estão imobilizados sobre a superfície.
Como mostrado na Figura 44, a velocidade média dos dubletos é maior sobre a
superfície de vidro tratada com polieletrólitos. A força iônica do meio onde as partículas
estão dispersas altera a velocidade dos dubletos, de modo que as partículas movem-se
mais lentamente ao se aumentar a força iônica do meio e ficam completamente imóveis
sobre a superfície em NaCl 10 mM. Nessa concentração de NaCl é observado apenas o
movimento das partículas sedimentando, sendo completamente imobilizadas ao tocarem
a superfície do vidro.
108
5.5 Discussão
A utilização de dip coating para a deposição de partículas de sílica sobre os
substratos mostrou-se útil para a preparação de submonocamadas. Empregando esse
método, não foram observadas regiões onde são formadas camadas superpostas
(bicamadas, tricamadas etc.), o que teria influência na preparação dos dubletos, uma vez
que a metalização atinge principalmente a camada superior. As condições de deposição
foram otimizadas obtendo-se cerca de 44 % de recobrimento da superfície. As condições
de deposição devem ser novamente otimizadas ao se mudar qualquer parâmetro como:
composição do substrato, tamanho de partícula, concentração de partículas ou solvente
utilizado. Outros métodos podem ser utilizados para a formação de monocamada ou
submonocamada de partículas. Para tanto, pode-se utilizar spin coating ou imersão do
substrato em dispersão de sílica seguido de evaporação forçada do solvente em alta
temperatura ou pressão reduzida.99
O método proposto por Whitesides et al.94 para a preparação dos dubletos
mostrou-se adequado para esse estudo, sendo que a 900 °C as cascas de platina formam
partículas sobre a sílica. As partículas de platina de uma mesma amostra não possuem
tamanho homogêneo, como mostrado nos histogramas da Figura 37. As partículas de
platina também não são perfeitamente esféricas, com algumas partículas com formato
hexagonal e outras alongadas. O tamanho e o formato das partículas exercem influência
no movimento impulsionado dos dubletos.
A velocidade média dos dubletos aumenta com a concentração de H2O2. Esse
comportamento está de acordo com o observado em estudos prévios.30 Observou-se um
alto desvio padrão na velocidade dos dubletos. Esse alto desvio é atribuído a dois fatos
principais: (1) as partículas catalisadoras não possuem homogeneidade de tamanho,
sendo que a velocidade dos dubletos depende do diâmetro das partículas de Pt, conforme
indicado na Figura 41 e na Figura 42; (2) existem interações atrativas entre as partículas
de sílica e a superfície de vidro sobre a qual os dubletos são observados.
109
Alguns fatos mostram que os dubletos interagem com a superfície do vidro. Em
primeiro lugar, observam-se sempre dubletos completamente imóveis sobre o vidro
limpo. Em segundo lugar, observam-se também rotores sobre o vidro, sendo que a
partícula de sílica fica presa à superfície e a partícula de platina rodando.
Observou-se que os dubletos em H2O2 percorrem diferentes trajetórias. Esse fato é
atribuído à diversidade de tamanho e formato das partículas de platina, uma vez que as
esferas de sílica são praticamente idênticas em todos os dubletos. Contudo, não é
possível ter informações detalhadas sobre a forma das partículas de Pt nos dubletos em
movimento, pois a microscopia óptica não fornece resolução espacial suficiente. Ainda
assim, há fortes evidências para crer que o movimento de órbita e o movimento dos
rotores são devidos à assimetria dos dubletos no eixo que liga o centro entre as duas
partículas. Tem-se como exemplo a amostra E, que possui grande número de partículas
com defeitos e suas partículas descrevem trajetórias preferencialmente circulares.
Os dubletos podem interagir com a superfície do vidro por meio de diversas forças
conforme descrito a seguir.
A partícula de sílica interage com a superfície de borosilicato do vidro por meio
de forças atrativas de van der Waals, possívelmente formando ligações de hidrogênio,
devido à presença de grupos –OH em ambas as superfícies. A platina, por sua vez, é
atraída de forma mais fraca, pois a constante de Hamaker é maior entre espécies de
composições semelhantes, o que explica a formação dos rotores presos pela partícula de
sílica.
A sílica e o silicato possuem cargas negativas quando em meio aquoso. Dessa
forma, existe repulsão eletrostática entre a superfície negativamente carregada da sílica e
a superfície do vidro.
As forças gravitacionais não devem ser descartadas para essas partículas, pois os
dubletos são partículas relativamente grandes e densas, sedimentando rapidamente em
água. É possível observar a sedimentação dos dubletos, sendo que ao longo de uma
110
análise no microscópio invertido é evidente o aumento do número de partículas sobre a
superfície do vidro.
Modificando a superfície do vidro com polieletrólitos, a velocidade dos dubletos
aumenta significativamente, devido ao aumento da carga negativa nessa superfície e
consequentemente repulsão eletrostática. A adsorção de polieletrólitos pode reduzir a
intensidade da força de van der Waals, por estar introduzindo-se uma camada de
espessura nanométrica de composição estranha ao silicato. Ainda assim, as interações
eletrostáticas têm efeito mais intenso, visto que o aumento da força iônica do meio causa
efeitos significativos de mudança de velocidade dos dubletos. O aumento da força iônica
atua reduzindo a espessura da dupla camada elétrica, possibilitando assim que as
partículas se aproximem da superfície em distância onde as forças de van der Waals
atuam. Tal efeito, quando em baixa força iônica, atua reduzindo de forma notável a
velocidade dos dubletos, contudo, quando em 10 mM o efeito é drástico, sendo que
nessa concentração todas as partículas são imobilizadas, independente da superfície
empregada.
5.6 Conclusões
Dubletos formados por uma partícula de sílica aderida a uma partícula de platina
foram sintetizados.
Dubletos movem-se em diferentes velocidades e trajetórias, dependendo de sua
morfologia e tamanho de partícula de platina.
Rotores são observados sobre a superfície do vidro.
A velocidade dos dubletos é fortemente dependente das interações eletrostáticas
entre as partículas e a superfície sobre a qual esses são observados.
111
Capítulo 6
Considerações Finais
112
113
6.1 Conclusões Gerais
O desenvolvimento desta tese demonstrou a eficácia do uso de técnicas de
microscopia para o estudo de adesão, com foco na química e na física de superfícies e
interfaces.
A hipótese de trabalho foi a seguinte: fases imiscíveis, mas molháveis podem
aderir desde que sejam misturadas e secas a partir de dispersões aquosas, e possuam
cargas em sua superfície. Para a verificação desta hipótese, nanopartículas de diferentes
composições foram misturadas em meio aquoso, deixadas secar sobre porta-amostra e
posteriormente analisadas no microscópio. Deste modo é possível obter nanocompósitos
utilizando apenas água como solvente, pois após a secagem da mistura aquosa de
nanopartículas, as diferentes fases foram observadas em contato microscópico e
aderidas.
A adesão das nanopartículas é entendida considerando que durante o processo de
secagem as partículas são atraídas e colocadas em contato por forças de capilaridade, e
que no material seco as contracargas oriundas do soro atuam formando pontes iônicas
entre as superfícies carregadas, originando a adesão eletrostática.
Um modelo foi formulado para estimar a contribuição da energia eletrostática em
uma interface carregada e mostrou que duas superfícies com cargas de mesmo sinal
podem se atrair, quando mediadas por contracargas. Os resultados obtidos a partir deste
modelo mostraram uma forte adesão eletrostática, que possui papel predominante nesta
adesão quando comparada com as contribuições entrópicas ou interações de van der
Waals. O modelo mostrou também que a adesão eletrostática gera interfaces não-
eletroneutras, com excesso de cargas das superfícies e deficiência de cargas das pontes
iônicas.
Utilizando esse modelo, nanocompósitos foram preparados a partir de PET. Para
tanto, foi empregada a adsorção de surfactante no PET micronizado, com a finalidade de
ancorar cargas na superfície do termoplástico em meio aquoso. Nanocompósitos foram
114
preparados secando a mistura desse polímero com dispersão aquosa de argila
montmorilonita sódica. Os materiais obtidos foram testados mecanicamente, mostrando
que os nanocompósitos possuem tensão na ruptura superior ao polímero puro. Portanto,
a tensão aplicada ao material é transferida do polímero para a argila através da interface.
Durante o desenvolvimento da tese, diversas amostras que possuem domínios
relativamente espessos foram observadas no microscópio eletrônico de transmissão.
Contudo, as técnicas convencionais de TEM não permitem a análise de domínios com
espessura maior que 50 nm. Com a motivação de observar essas amostras, foi
desenvolvido um novo protocolo experimental, baseado na aquisição de imagens de
energia filtrada em diferentes valores de perda de energia. Nessas séries de imagens, os
domínios espessos aparecem mais brilhantes em alta perda de energia, mostrando que é
possível obter informações dessas regiões. A informação contida em uma série de
imagens de EFTEM pode também ser utilizada para gerar mapas de espessura da
amostra.
Foi observado também que séries de imagens de EFTEM possuem excelente
contraste e alta resolução, complementando as informações obtidas pelas outras técnicas
de TEM. Nesse contexto, a potencialidade da EFTEM se mostrou especialmente útil na
análise de agregados formados por diferentes fases.
Esta tese também verificou uma proposta de natureza teórica apresentada por
Kapral et al.,34,35 segundo a qual dubletos formados por duas partículas unidas podem
realizar movimentos não-Brownianos, desde que uma reação química ocorra na
superfície de apenas uma dessas partículas. Para verificar essas ideias, foram preparados
dubletos formados por uma partícula de sílica aderida a uma partícula de platina, nas
quais apenas a platina catalisa a reação de decomposição do peróxido de hidrogênio,
gerando água e oxigênio.
O método empregado para o preparo desses dubletos consiste na deposição de
uma submonocamada de partículas de sílica de Stöber em substrato inerte, seguido da
deposição de uma camada de adesão de Cr sobre a sílica e uma camada mais espessa de
115
Pt sobre o Cr. Submetendo esse sistema a recozimento, os dubletos são formados, pois a
casca metálica forma uma partícula de Pt aderida à esfera de sílica. Esse método
permitiu a obtenção de diferentes amostras, que possuem partículas de Pt de diâmetro
variado em função da espessura da camada metálica utilizada.
Quando essas amostras são redispersas em solução de peróxido de hidrogênio e
analisadas no microscópio invertido, observa-se que os dubletos são fortemente
impulsionados, descrevendo movimentos não-Brownianos. Em alguns dubletos, a esfera
de sílica se prende à superfície de vidro sobre a qual o movimento é observado, e a
partícula de platina continua girando em torno da partícula de sílica. O movimento
contínuo desses rotores foi observado em ambos os sentidos: horário ou anti-horário.
6.2 Sugestões Para Futuros Trabalhos
Este estudo mostrou que a preparação de nanocompósito pode ser realizada por
secagem de diferentes tipos de nanopartículas molháveis por água e com cargas em sua
superfície. Assim sendo, a principal sugestão para trabalhos futuros é que este método
seja empregado e estendido a outros tipos de nanopartículas não estudados aqui.
Considerando as nanopartículas utilizadas aqui, os nanocompósitos de
montmorilonita e látexes foram amplamente explorados em trabalhos anteriores,18,19,20
contudo, os nanocompósitos de látex e sílica de Stöber ainda não foram estudados a
fundo. Uma vez que a nanociência estuda propriedades de materiais em função da
dimensão diminuta das partículas, o estudo das propriedades mecânicas de
nanocompósitos de látex e sílica de Stöber deve ter grande valia, pois é possível
controlar rigorosamente o tamanho, e consequentemente a área de superfície das
nanopartículas de Stöber.
Uma outra questão científica proposta nesta tese que pode ser estudada em
trabalhos futuros é a seguinte: qual a influencia da densidade de cargas na adesão de
partículas nanométricas? Para responder a essa questão, propõe-se que partículas com
116
diferentes densidades de cargas sejam utilizadas para preparar nanocompósitos.
Variáveis como o efeito do pH ou força iônica das dispersões também podem ser
investigadas, pois esses fatores causam mudanças na dupla camada elétrica das
partículas. Os resultados obtidos podem ser comparados com o modelo e os cálculos
colocados no capítulo 3 e no Anexo I, pois esse modelo estima a contribuição da energia
eletrostática em uma interface carregada a partir da densidade de cargas em uma
superfície e da identidade dos íons do soro.
Outra questão é: qual o limite de espessura que pode ser analisado por EFTEM?
Para que materiais? Sugere-se que diferentes materiais de geometria definida sejam
estudados. Do mesmo modo, maior voltagem de aceleração do feixe eletrônico pode ser
testada para analisar amostras ainda mais espessas. Avanços no desenvolvimento de
algoritmos e programas de computador também podem ser realizados com a finalidade
de automatizar a obtenção de mapas de espessura a partir de uma série de imagens de
energia filtrada.
Outra potencialidade da EFTEM é o mapeamento molecular, que pode ser
realizado graças às pequenas diferenças nos espectros de perda de energia de elétrons
apresentadas em função das espécies moleculares presentes na amostra. O mapeamento
molecular pode ser realizado tanto na região de baixa perda de energia, fazendo uso do
pico em baixa perda, como na região de alta perda de energia, fazendo uso da estrutura
fina da borda de absorção. Este estudo está em andamento nesse laboratório.100
Um desafio atual da ciência considerando os sistemas autoimpulsionados é: como
guiar os nanomotores? Para tal tarefa, a preparação de nanomotores utilizando materiais
magnéticos pode ser realizada, e o movimento dessas partículas observado sobre
influência de campo magnético externo. Considerando ainda que a trajetória seja
influenciada pela geometria das partículas, outros arranjos de partículas catalíticas e não-
catalíticas podem ser estudados, como trímeros, tetrâmeros e arranjos mais complexos.
117
Anexo I - Cálculos
Essa sessão traz informações complementares sobre os cálculos de adesão
eletrostática apresentados no capítulo 3. Tais informações possibilitam ao leitor
reproduzir os resultados ou efetuar novos cálculos utilizando o programa Matlab.
Para realizar os cálculos é criado um algoritmo (chamado código) que gera três
matrizes: M1, M2, M3. Essas matrizes simulam as superfícies A, B e C, respectivamente
(ver Figura 25). O código utilizado para construir a Figura 26a está apresentado a seguir,
no qual se altera apenas os valores de a e de d.
%%% Codigo para determinar a energia entre matrizes %%% quadradas M1=M3=-1 e M2=+2 % Este codigo funciona em conjunto com o algoritmo "calculo" %%%Constantes eps=8.87e-12; mol=6.02e23; faraday=96500; %%% %%%Variáveis de entrada: colocar aqui os dados da simulaçao a ser realizada %Distância entre as cargas nas placas M1, M2 e M3 dl=1e-9 dm=dl dn=dl %%%Constante dieletrica dieletr=5 %Distância entre as placas dp=1e-9 dq=dp %Ordem das matrizes N=100 %numero inteiro positivo %Matriz M1=-ones(N)*faraday/mol; M3=M1; M2=2*ones(N)*faraday/mol; %%%Calculos energia=calculo(M1, M2, M3, dl, dm, dn, dp, dq, eps, dieletr) enpormol=mol*energia/(N*N)
118
Para efetuar os cálculos, é necessário executar o código junto com outro algoritmo
(chamado cálculo) que soma as interações eletrostáticas de acordo com a Equação 18. %%%Este algoritmo deve ser nomeado "calculo" antes de ser executado
function energia=calculo(M1, M2, M3, dl, dm, dn, dp, dq, eps, dieletr) dimM1=size(M1); dimM2=size(M2); dimM3=size(M3); energia = 0; for i=1:dimM1(1) for j=1:dimM1(2) for k=1:dimM2(1) for l=1:dimM2(2) energia=energia+((M1(i,j)*M2(k,l))/(4*pi*eps*dieletr*sqrt((i*dl-k*dm)^2+(j*dl-l*dm)^2+dp^2))); end end end end for i=1:dimM1(1) for j=1:dimM1(2) for k=1:dimM3(1) for l=1:dimM3(2) energia=energia+((M1(i,j)*M3(k,l))/(4*pi*eps*dieletr*sqrt((i*dl-k*dn)^2+(j*dl-l*dn)^2+(dp+dq)^2))); end end end end for i=1:dimM2(1) for j=1:dimM2(2) for k=1:dimM3(1) for l=1:dimM3(2) energia=energia+((M2(i,j)*M3(k,l))/(4*pi*eps*dieletr*sqrt((i*dm-k*dn)^2+(j*dm-l*dn)^2+dq^2))); end end end end for i=1:dimM2(1) for j=1:dimM2(2) for k=1:dimM2(1) for l=1:dimM2(2) if i==k & j==l else energia=energia+((M2(i,j)*M2(k,l))/(4*pi*eps*dieletr*sqrt((i*dm-k*dm)^2+(j*dm-l*dm)^2))); end end end end end
119
Para realizar os cálculos substituindo parcialmente as cargas 2+ da superfície B
por 0 ou por 2-, é necessário gerar um código para cada porcentagem de substituição
desejada na matriz M2. Substituições equidistantes foram utilizadas. A seguir são
mostrados alguns exemplos utilizados com os respectivos padrões de substituição. %%% Codigo para determinar a energia entre matrizes %%% quadradas M1=M3=-1 e M2=+2 com 1% das cargas substituidas por 0. % Este codigo funciona em conjunto com o algoritmo "calculo" %%%Constantes eps=8.87e-12; mol=6.02e23; faraday=96500; %%% %%%Variáveis de entrada: colocar aqui os dados da simulaçao a ser realizada %Distância entre as cargas nas placas M1, M2 e M3 dl=1e-9 dm=dl dn=dl %%%Constante dieletrica dieletr=5 %Distância entre as placas dp=1e-9 dq=dp %Ordem das matrizes N=100 %numero inteiro positivo %Matriz M1=-ones(N)*faraday/mol; M3=M1; M2=[0 1 1 1 1 1 1 1 1 1]; M2=[M2 M2 M2 M2 M2 M2 M2 M2 M2 M2]; M2=M2'; X=ones(100,9); M2=[M2 X]; M2=[M2 M2 M2 M2 M2 M2 M2 M2 M2 M2]; M2=2*faraday/mol*M2; %%%Calculos energia=calculo(M1, M2, M3, dl, dm, dn, dp, dq, eps, dieletr) enpormol=mol*energia/(N*N)
120
Cargas 2+ Cargas substituídas
Figura 45: Ilustração da superfície B com 1 % de substituição de cargas.
%%% Codigo para determinar a energia entre matrizes %%% quadradas M1=M3=-1 e M2=+2 com 25% das cargas substituidas por 0. % Este codigo funciona em conjunto com o algoritmo "calculo" %%%Constantes eps=8.87e-12; mol=6.02e23; faraday=96500; %%% %%%Variáveis de entrada: colocar aqui os dados da simulaçao a ser realizada %Distância entre as cargas nas placas M1, M2 e M3 dl=1e-9 dm=dl dn=dl %%%Constante dieletrica dieletr=5 %Distância entre as placas dp=1e-9 dq=dp %Ordem das matrizes
121
N=100 %numero inteiro positivo %Matriz M1=-ones(N)*faraday/mol; M3=M1; M2=[0 1]; M2=[M2 M2 M2 M2 M2 M2 M2 M2 M2 M2]; M2=[M2 M2 M2 M2 M2]; M2=M2'; X=ones(100,1); M2=[M2 X]; M2=[M2 M2 M2 M2 M2 M2 M2 M2 M2 M2]; M2=[M2 M2 M2 M2 M2]; M2=2*faraday/mol*M2; %%%Calculos energia=calculo(M1, M2, M3, dl, dm, dn, dp, dq, eps, dieletr) enpormol=mol*energia/(N*N)
Cargas 2+ Cargas substituídas
Figura 46: Ilustração da superfície B com 25 % de substituição de cargas.
122
%%% Codigo para determinar a energia entre matrizes %%% quadradas M1=M3=-1 e M2=+2 com 50% das cargas substituidas por 0. % Este codigo funciona em conjunto com o algoritmo "calculo" %%%Constantes eps=8.87e-12; mol=6.02e23; faraday=96500; %%% %%%Variáveis de entrada: colocar aqui os dados da simulaçao a ser realizada %Distância entre as cargas nas placas M1, M2 e M3 dl=1e-9 dm=dl dn=dl %%%Constante dieletrica dieletr=5 %Distância entre as placas dp=1e-9 dq=dp %Ordem das matrizes N=100 %numero inteiro positivo %Matriz M2=[0 1]; M2=[M2 M2 M2 M2 M2 M2 M2 M2 M2 M2]; M2=[M2 M2 M2 M2 M2]; M2=M2'; X=[1 0]; X=[X X X X X X X X X X]; X=[X X X X X]; X=X'; M2=[M2 X]; M2=[M2 M2 M2 M2 M2]; M2=[M2 M2 M2 M2 M2 M2 M2 M2 M2 M2]; M2=M2'; M2=2*faraday/mol*M2; %%%Calculos energia=calculo(M1, M2, M3, dl, dm, dn, dp, dq, eps, dieletr) enpormol=mol*energia/(N*N)
123
Cargas 2+ Cargas substituídas
Figura 47: Ilustração da superfície B com 50 % de substituição de cargas.
124
Anexo II
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Sequência de movimentos Figura 48: Gráfico mostrando a mudança de ângulos na trajetória das partículas de sílica
de dubletos da amostra A. O eixo das ordenadas mostra o ângulo formado pelo vetor
deslocamento da partícula com o seu vetor deslocamento do movimento seguinte. As
descontinuidades em alguns gráficos se referem aos quadros nos quais a partícula de
sílica permanece imóvel.
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Figura 49: Gráfico mostrando a mudança de ângulos na trajetória das partículas de sílica
de dubletos da amostra B. O eixo das ordenadas mostra o ângulo formado pelo vetor
deslocamento da partícula com o seu vetor deslocamento do movimento seguinte. As
descontinuidades em alguns gráficos se referem aos quadros nos quais a partícula de
sílica permanece imóvel.
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Figura 50: Gráfico mostrando a mudança de ângulos na trajetória das partículas de sílica
de dubletos da amostra C. O eixo das ordenadas mostra o ângulo formado pelo vetor
deslocamento da partícula com o seu vetor deslocamento do movimento seguinte. As
descontinuidades em alguns gráficos se referem aos quadros nos quais a partícula de
sílica permanece imóvel.
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Figura 51: Gráfico mostrando a mudança de ângulos na trajetória das partículas de sílica
de dubletos da amostra D. O eixo das ordenadas mostra o ângulo formado pelo vetor
deslocamento da partícula com o seu vetor deslocamento do movimento seguinte. As
descontinuidades em alguns gráficos se referem aos quadros nos quais a partícula de
sílica permanece imóvel.
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0
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a
θ / grau
Sequência de movimentos
b
Sequência de movimentos
c
θ / grau
Sequência de movimentos
d
Sequência de movimentos
e
θ / grau
Sequência de movimentos
f
Sequência de movimentos
g
θ / grau
Sequência de movimentos
h
Sequência de movimentos
i
θ / grau
Sequência de movimentos
j
Sequência de movimentos
Figura 52: Gráfico mostrando a mudança de ângulos na trajetória das partículas de sílica
de dubletos da amostra E. O eixo das ordenadas mostra o ângulo formado pelo vetor
deslocamento da partícula com o seu vetor deslocamento do movimento seguinte. As
descontinuidades em alguns gráficos se referem aos quadros nos quais a partícula de
sílica permanece imóvel.
129
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