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INSERÇÃO DE PACIENTES COM ESQUIZOFRENIA NO MEIO FAMILIAR
Nelsi Salete Tonini1
Bruna Tais Zack2
Gislaine Maria Dias3
Mireile Cristina Constantini4
RESUMO: Pesquisa de campo, objetivando identificar estratégias de inserção familiar utilizadas com
indivíduos com esquizofrênica em seu meio.Foi desenvolvida em uma Unidade Básica de Saúde no
município de Cascavel-PR. O instrumento foi a entrevista estruturada, as variáveis analisadas foram
sobrecarga da família, mecanismos de inserção utilizados pelo familiar, serviços oferecidos aos
familiares e aos pacientes. Para analise utilizou-se a técnica de analise de conteúdo categorial. No que
e refere ao gênero da amostra 100% sexo feminino. Quanto à família inserir oindivíduo com
sofrimento psíquico no contexto familiar,22,22% não insereme 77,78% inserem em almoços e
encontros familiares. Em relação ao paciente frequentar atividades na comunidade, 44,45% não
participam de atividadese 55,55% participam como: igreja, baile, atividades na Unidade de Saúde,
compras no mercado. Conclui-se que apesar dos familiares utilizarem estratégias de inserção do
individuo com sofrimento psíquico no meio familiar, considera-se que sob a ótica familiar essas
atividades são importantes, porém não são suficientes. O portador de sofrimento psíquico deverá ser
inserido de forma efetiva através de programas oferecidos pelo Estado como intervenções
psicoeducacionais junto aos CAPS, cuidados de profissionais capacitados, sendo um dos fatores
determinantes o acolhimento familiar.
PALAVRAS CHAVES: Inserção social, Família; Esquizofrenia.
INTRODUÇÃO
Segundo Silva (2006), a esquizofrenia foi descoberta por Kraepelin no final do século
XIX,Bleuler, Schneider, Jaspers e Hughlings Jackson também foram outros cientistas que
tiveram bastante influência sobre o conceito atual da esquizofrenia, Kraepelin classificou o
transtorno mental baseando-se no modelo médico, ele tinha como objetivo criar a existência
de doenças com a etiologia, sintomatologia, curso e resultados comuns. Ele chamou uma
1 Enfermeira. Doutora em Enfermagem Psiquiátrica pela Universidade de São Paulo – USP/Ribeirão Preto.
Docente do Curso de Enfermagem da Universidade Paranaense – UNIPAR – Unidade Universitária de
Cascavel, PR. 2 Acadêmica do Curso de Enfermagem da Universidade Paranaense-UNIPAR- Unidade Universitária de
Cascavel, PR. Endereço eletrônico: [email protected] 3 Acadêmica do Curso de Enfermagem da Universidade Paranaense-UNIPAR- Unidade Universitária de
Cascavel, PR 4 Enfermeira. Egressa do Curso de Enfermagem da Universidade Paranaense – UNIPAR – Unidade Universitária
de Cascavel
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dessas entidades de demência precoce, pois começava no início da vida adulta e quase
invariavelmente levava a problemas psíquicos. Os sintomas geralmente eram alucinações,
perturbações e atenções, compreensão e fluxo de pensamento, esvaziamento afetivo e
sintomas catatônicos. A etiologia surgia devido as causa externas, ou seja, era endógena,
Kraepelin dividiu três formas de transtorno: catatônica, paranóide e hebefrênica.
Para Townsend (2002), o comportamento pré-mórbido indica um desajuste social e
sexual ou característico de personalidade esquizóide, paranóide ou bordeline. Este
comportamento é um fator de predição do desenvolvimento da esquizofrenia divididas em
quatro fases. A causa da esquizofrenia ainda não foi estabelecida com certeza. Não tem um
fator único que possa ser responsável pela etiologia; a doença decorre de combinações de
influências como biológicos, psicológicos e ambientais. Dentro deste contexto que devemos
lembrar-nos da família como fator determinante no cuidado desses indivíduos, pois para
Gonzales (1999), o primeiro grupo do qual fazemos parte é a família, sendo esta a unidade
central da vida do sujeito, deve acolhê-lo, proporcionando-lhe o desenvolvimento de suas
habilidades, experiências, vivências e novas relações humanas. Ele diz ainda que família é o
meio em que a pessoa recebe todo o apoio afetivo, psicológico, valores humanos e éticos,
além de diversos fatores necessários para o seu desenvolvimento integral, tanto físico quanto
mental.
Com o processo da desinstitucionalização surgido na década de 80 a partir do
movimento de Reforma Psiquiátrica e que têm como conceito não apenas a substituição do
hospital, mas a criação de novas alternativas de cuidados para o doente mental, as famílias dos
pacientes têm participado cada vez mais como as principais provedoras de cuidados e apoio
aos mesmos. Entretanto apenas nos últimos anos tem havido maior conscientização e
valorização do importante papel exercido por essas famílias.
Um fator relevante na produção do cuidado em saúde mental é o fato de a família
enfrentar situações de dificuldades, talvez por não ter suficiente conhecimento sobre a doença
vivenciada pelo seu familiar, esta geralmente não compreende a sintomatologia e a evolução
do quadro clínico da patologia. Tudo isso ocasiona uma série de sofrimentos e insegurança
tanto da família quanto do doente mental, o que nos leva a prestar uma assistência direcionada
não só ao portador da doença mental, mas também a sua família, entendendo que a família do
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doente mental não é apenas cuidadora, mas, sobretudo usuária do serviço de saúde. Dessa
forma, percebe-se a relevância deste estudo, até porque são muitos os problemas levantados e
raros os trabalhos realizados sobre a temática em estudo.
De acordo com Oliveira (2000), quando as famílias estão equilibradas
emocionalmente, pode ocorrer remissão de alguns sintomas da doença de seu familiar, porque
desta forma elas interagem positivamente com seus membros, acolhendo as recaídas e não se
sentindo culpadas. O componente essencial destas mudanças é ajudá-los a olhar além da sua
dor. Ajudá-los a reconhecer e apreciar o absurdo da vida, sendo que é essencial que eles
aprendam não apenas a tolerar, mas também a aproveitar a ansiedade e a dor que tornam a
vida real. As famílias devem considerar suas experiências de vida, para que possam crescer
individual e coletivamente, independente dos sentimentos que as oprimem, devem criar um
ambiente calmo e sadio para dividirem suas ansiedades.
OBJETIVOSGERAL
Identificar que estratégias de inserção familiar são utilizadas com indivíduos com
esquizofrênica em seu meio familiar.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Investigar a sobrecarga dos familiares;
Conhecer como é a relação paciente/família;
Identificar quais são os suportes institucionais que o serviço de saúde oferece para a
família que convivem com portadores de esquizofrenia;
Identificar as dificuldades dos familiares com indivíduos portadores de doença mental.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Foi escolhida a metodologia qualitativa neste estudo, por ser a mais adequada quando
se trabalha com a subjetividade. A pesquisa qualitativa está relacionada ao modo como as
pessoas significam as suas experiências sociais e como elas compreendem estas vivências. Ao
não aceitar os conceitos e explicações cotidianas, faz perguntas fundamentais e questiona a
natureza dos fenômenos (MINAYO, 2007).
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O estudo foi realizado na Unidade Básica de Saúde Escola (UBSE) do Jardim
Aclimação, situado no município de Cascavel, localizado na região oeste do Paraná. Os
sujeitos que participaram da pesquisa foram familiares de pessoas com esquizofrenia,
residentes em território de abrangência da UBSE, a definição da amostra foi por meio da
busca ativa nos prontuários dos pacientes diagnosticados com esquizofrenia, bem como
indicados pela equipe local de saúde, o contato com os familiares foi por meio de visita
domiciliar, totalizando 09 familiares.
O instrumento para coleta de dados foi à entrevista estruturada, realizada durante o mês de
agosto de 2013, após a autorização do Comite de Ética da UNIPAR considerado a Resolução
196/96 que estabelece as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres
humanos (BRASIL, 1996), sendo aprovado pelo parecer nº 323.184/2013, todos os participantes
da pesquisa assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
Para analise dos dados coletados foi utilizado à técnica de análise de conteúdo categorial,
definida como um conjunto de técnicas de análise das comunicações que utiliza procedimentos
sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens. Esta técnica permite ao
pesquisador conhecer as palavras e suas significações. É uma busca por outras realidades por meio
das mensagens. Assim sendo, os relatos estão transcritos integralmente, de forma a proceder às fases
que constituem a análise de conteúdo (BARDIN, 2008). As abordagens com os sujeitos são
apresentadas como F1, F2 e assim sucessivamente, com intuito de preservar sua identidade.
RESULTADOS
A pesquisa foi organizada em dois momentos, no primeiro são demonstrados os dados
demográficos dos nove familiares de indivíduos com esquizofrenia, em relação às variáveis:
sexo, idade, escolaridade, estado civil e profissão.
Em relação aos dados demográficos, destacamos que a totalidade dos sujeitos que
participaram da pesquisa são mulheres, essas assumiram o papel de cuidadoras desses
indivíduos.Segundo Gutierrez; Minayo (2009), no contexto histórico a mulher é retratada
como aquela que assume toda a carga simbólica de felicidade e/ou infelicidade dos membros
das famílias, inclusive assume a educação e o sucesso dos filhos e esposo. Assim sendo,
quando se aborda em cuidados de saúde, a mulher se evidência e em geral quase sempre
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responde em nome da família.Literaturas revelam que a presença feminina no cotidiano social
é vista como fenômeno universal que assume o cuidado, afeto e, sobretudo o espaço do lar.
Quanto à faixa etária, das participantes da pesquisa, destaca-se a figura das pessoas na
faixa etária acima de cinquenta anos representando 66,66%.
Em uma pesquisa realizada, por Almeida; Cunha (2011), em geral as idades acima de
48 anos é destacado como publico alvo na questão de cuidadoras. Para Pegoraro; Caldana
(2008) os perfis das idades das cuidadoras são em média acima 50 anos, no entanto as
mesmas apresentam-se com algumas limitações físicas associadas algumas com
sintomatologias de depressão com uso de ansiolíticos e outras drogas, sintomas esses
referente à própria idade e sobrecarga. Assim sendo faz-se necessário um olhar diferentes para
essas pessoas, pois se observa que as mesmas também necessitam de cuidados.
A variável escolaridade é representada por 77,78% das participantes entre Analfabetos
e ensino fundamental, destacamos aqui o baixo nível de escolaridade, este resultado corrobora
com a descrição dos sujeitos de outras pesquisas realizadas com cuidadores.
A escolaridade dos cuidadores é elemento importante, pois, geralmente, quanto maior
a escolaridade melhor é o entendimento dos indivíduos sobre as orientações passadas pelos
profissionais, quanto ao uso de medicamentos e aos cuidados de saúde no domicílio. Muito
embora, estudos demonstraram que mesmo com escolaridade elevada os familiares têm o
mesmo nível de estresse que o cuidador com menos estudo, isto pode ser explicado pelo fato
de as emoções serem subjetivas e resultarem de complexas interações de fatores, estando
muito além da compreensão das informações recebidas quanto ao uso de medicamentos e aos
cuidados de saúde no domicílio (KANTORSKI; et al, 2012).
Quanto à ocupação das participantes da pesquisa 77,78% são do lar, a sobrecarga
objetiva a que se submete o cuidador se refere às consequências da alteração da rotina e dos
projetos de vida, da diminuição da vida social, da supervisão de comportamentos
problemáticos, dentre outros (MACHADO; 2009). O cuidado com o paciente portador de um
transtorno mental grave requer adaptações na vida diária, os cuidadores acabam por desistir
ou mudar os seus objetivos, deixando de viver sua realidade e passam a viver uma realidade
construída a partir do convívio com o paciente (MONTEIRO et al; 2008).
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Passamos a discutir o segundo momento da pesquisa que se deu por meio de
entrevista.Quando perguntado quais estratégias utiliza para inserir o paciente nas atividades
familiares, encontramos que 22,22% dos participantes responderam que eles não participam
os demais 77,78% responderam que participam de almoços e encontros familiares.
Para Toniniet al (2012) apresentaram que a instituição familiar é à base do convívio social
das pessoas, é ela que habilita o ser humano para enfrentar o mundo exterior. Portanto, não se pode
desvincular o indivíduo do meio em que vive, uma vez que a família como grupo, previne, tolera e
corrige problemas de saúde. Da mesma forma, não se pode apartar a doença do contexto familiar, e,
sobretudo a família deverá ser compreendida como aliada da equipe de saúde, atuando como um
recurso na promoção para o paciente adquirir confiança e, assim, investir na sua recuperação.
De acordo com Borba; Schwartz; Kantorski (2008), após reformulação da assistência
psiquiátrica, a unidade familiar assume um papel significante nos cuidados com pessoas com
transtornos mentais. Os autores descrevem ainda que a família é o primeiro sujeito que
referencia e totaliza a proteção e a socialização dos indivíduos, independente das inúmeras
formas e contornos que assuma, é nela que ocorre o início do aprendizado dos afetos e das
relações sociais. Considerando as colocações dos autores acima citado percebe-se a
importância do ambiente familiar para com as pessoas com transtornos mentais, embora
poucas literaturas brasileiras discutam a temática de estratégia que os familiares desenvolvem
para inserir esses indivíduos nas atividades familiares, no entanto percebe-se que quaisquer
que seja essas estratégias se fazem relevante no contexto de inserção família.
Contudo Hirdes (2001) ressalta que apesar de haver grandes discussões a respeito de
inserção social de pessoas com transtorno mental, em primeiro lugar deve desmitificar a
loucura perante a sociedade, sendo este um processo longo e demorado, que implica ações
educacionais e reformulação no poder contratual, dos usuários no estabelecimento de relações
com o Estado e a sociedade.
O entendimento de reabilitação e inserção social em primeiro lugar deve ser visto
pelas famílias como a aceitação de uma pessoa como ela é, do jeito que ela se apresenta e das
dificuldades apresentadas por esta pessoa, deve-se sanar a fragilidade relacional dos
indivíduos com sofrimento psíquico no estabelecimento das inter-relações com familiares e
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vínculos afetivos, por meio de processo terapêuticos. Estar bem com ele mesmo é apontado
como a culminância do processo reabilitador.
Quando perguntado“Como você se sente cuidando de seu familiar? É uma sobrecarga?
Por quê?” Destacam-se as seguintes falas:F1... uma cruz, porque vai embora e volta. “Não,
porque devemos aceitar o que Deus manda para a gente”.
Em uma pesquisa realizada por Marques et al (2011), contatou-se que os cuidadores
fazem uma analogia ao ritual cristão que marca o calvário de Jesus Cristo, sendo que eles
relatam o cuidado como uma cruz que colocaram em vossos caminhos, assim sendo eles
aceitam essa condição que lhes designaram. Porém necessita de reestruturação da forma de
vida, pois a rotina pessoal é toda alterada. “F3 “...bastante cansada, pois a idade chega e
cuidei dos meus irmão desde os sete anos, há bastante sobrecarga, bastante estresse, pois
não posso sair, tirar férias e almoçar na casa de amigos...”; F7 “tem sobrecarga,
responsabilidade, pois temos que sempre estar atenta aos remédios, consultas e reuniões”.F6
“Sempre convivi com ele, alguém tem de cuidar, é irmão. É difícil devida minha saúde....”
Nas abordagens acima fica claro a sobrecarga dos cuidadores, Cavalheri; Merighi; Jesus
(2010) citaram que uma das mudanças da reforma psiquiátrica é a relação humanizada que as
pessoas com transtornos mentais passariam a ter no convívio com a sociedade e principalmente
com seus familiares. O convívio com o doente psiquiátrico é muito difícil e desgastante para a
família, principalmente quando tende a ser de duração prolongada, apresenta recidivas de
manifestações agudas, que é vista pela família como incapacitantes, gerando uma sobrecarga
física, emocional e econômica alterando toda a rotina e costumes familiares, interferindo na saúde,
vida social, relação entre membros, lazer, disponibilidade financeira, rotina doméstica,
desempenho profissionais e inúmeros outros aspectos da vida. Dados estes que corroboram com
Borba; Schwartz; Kantorski (2008), onde os autores ressaltam que a família tem assumido o papel
de cuidador dos indivíduos com transtorno mental, dessa forma produz um impacto nos outros
membros da família, tendo em vista que, os familiares ficam sobrecarregados por demandas que
envolvem a função de acompanhar seus membros adoecidos e cuidar dos mesmos. Em geral, os
pacientes psiquiátricos apresentam obstáculos para produzir economicamente, o que implica uma
situação de dependência da família.
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Pergunta–se também “Como é sua relação com o paciente”, as respostas dos
participantes da pesquisa versaram sobre o estado do paciente, se ele está bem, a relação é boa
e acessível, e nas situações de estresse o relacionamento fica prejudicado.
Para Navarini; Hirdes (2008), o familiar vai se desgastando pela convivência com a
pessoa com transtorno mental, privando-se da sua própria vida para poder prestar um cuidado
adequado. Destaca que o comportamento imprevisível da pessoa debilita as expectativas
sociais e origina incertezas e dificuldades no grupo familiar e na sociedade.
De acordo com Marques et al (2011), outros conflitos entre os pacientes e
componentes da família é por motivo financeiro pois quando esses indivíduos tem certa
independência financeira, mantém relações mais cordiais e quando eles dependem
financeiramente da família o relacionamento se apresenta exaustivo.
Em relação ao paciente frequentar atividades na comunidade, do total dos pacientes
44,45% não participa de nenhuma atividade, sendo que 55,55% participam de atividades,
como: igreja, baile, atividades na Unidade de Saúde e compras no mercado.
Com a política da reforma psiquiátrica, passou-se a privilegiar a criação de serviços
substitutivos ao hospital psiquiátrico, quais sejam:Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), leitos
psiquiátricos em hospitais gerais, oficinas terapêuticas, residências terapêuticas, respeitando-se as
particularidades e necessidades de cada local. Essas mudanças marcam a crítica reflexão sobre os
conceitos fundamentais da psiquiatria tradicional, tais como doença mental, alienação,
isolamento, terapêutica, cura, saúde mental, normalidade, anormalidade, que operam uma
transformação no modelo assistencial, construindo sob o amparo de novos conceitos, tais como de
desinstitucionalização, territorialização e acolhimento (ROTELLI; MAURI; RISIO, 1990).
Valladares (2003) afirma que oficinas terapêuticas são atividades de encontro de vidas entre
pessoas com sofrimento psíquico, promovendo o exercício da cidadania à expressão de liberdade e
convivência dos diferentes por meio, preferencialmente da inclusão pela arte. Dessa forma as
oficinas são uma opção relevante pensando em atividades com intuito de reinserção, já que a mesma
aparece ao longo da história psiquiátrica, como uma visão diferenciada da reabilitação social, sendo
que hoje o modelo é de princípios específicos, ou seja, a partir da inserção dos indivíduos com
sofrimento psíquico, porém respeitando a singularidade de cada instituição, de acordo com suas
peculiaridades e regionalidades. Os trabalhos individuais, coletivos com usuários, familiares e
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comunidade visam à integração e a socialização dos mesmos, entende-se então que essas oficinas é
umas das formas de atividade efetiva neste contexto.
Estudo realizado em serviços públicos de saúde mental sugere que o desenvolvimento
de atividades recreativas e ocupacionais, em serviços da saúde mental, poderia ser um fator de
diminuição da sobrecarga; além da tomada de medicação por um efeito direto da melhora dos
sintomas (BARROSO; BANDEIRA; NASCIMENTO, 2007).
Quanto àqueles indivíduos com sofrimento psíquico com tendência de se excluírem devido às
limitações imposta pela própria doença, Ornellas; Pereira (2003) cita que devido à
desesperança, cria a falsa ideia de impossibilidade de reabilitação, esses pacientes sentem-se
impotentes e normalmente são tendenciosos a se excluírem do mundo exterior. Sendo que a
permanência dos sintomas, fracassos relacionados à vida social, geram frustações e angustias,
provocando então isolamento dos demais membros da família.
De acordo com Almeida; Cunha (2011), fatores como produção verbal reduzida,
discurso desorganizado, comportamentos sociais não adaptativos, descortesia social, ausência
de vínculos de amizade, são considerados características relevantes para o isolamento social.
Quando perguntado sobre os pontos positivos e negativos para a família e o paciente,
encontramos o que segue: “F8 como ponto positivo: “ajuda com a aposentadoria”, como
negativo: “não tem”; F2 aponta como positivo: “se saio ele fica e faz as tarefas da casa,
cortando lenha e cuidando da casa”, como negativo: “quando fica nervoso preciso aceitar
tudo, não posso contraria-lo”; F1 com positivo “quando está bem está querida”, negativo
“quando está nervosa, preciso ficar quieta”; F7 ponto negativo: “agressiva e ofende com
palavrões”; F6 ponto positivo: “está respondendo a necessidade de exercício físico, que
gostava”, como negativo: “não pode deixar objetos perfuro-cortante, pois tem risco de se
auto-mutilar”;F3 pontos negativos: “não gosta que manda fazer as coisas, destrói chinelos,
roupas de cama, papel higiênico e leva tudo para a cama”; F5 ponto positivo: “ajuda nas
tarefas domiciliares”; F4 ponto positivo: “obediência, vai no mercado, tomando remédio é
um bom menino”, negativo: “quando não toma remédio fica com insônia e fala a noite toda,
não come, não de ser contrariado”.
Maj; Sartorius apud Hughings; Jackson (2005) estabeleceram termos como positivos e
negativos para diferenciar fenômenos neurológicos primários de secundários. Os sintomas
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negativos resultavam de lesões em áreas cerebrais responsável pelo comportamento humano,
sendo eles: afeto embotado, restrições emocionais e déficits cognitivos, já os sintomas
positivos refletem processos cerebrais que são liberados pelo cérebro lesionado, sendo eles:
alucinações, delírios e pensamento desorganizado.
Dentre os pontos positivos destaca-se a aposentadoria que para Miranda et al (2009), o
indivíduo com transtorno mental está legalmente amparado para obter a aposentadoria, sendo
que para conseguir este benefício é necessário que os meios de tratamentos habituais estejam
esgotados e que haja alteração completa de personalidade, comprometendo os juízos de valor
e realidade, incapacidade total e permanente de qualquer trabalho. Diante dessa realidade é
que Marques et. al(2011) mencionou em sua pesquisa que familiares usufruem de pensões ou
aposentadoria e, sobretudo esse benefício é motivo de disputa entre familiares/cuidador, ou
seja, querem ficar com ele, mas não é para cuidar, é pelo dinheiro, relato de uma cuidadora.
Dentre os pontos negativos destaca as mudanças de comportamentos dos portadores de
sofrimento psíquico, que para Oliveira; Facina; Junior (2012), as manifestações
psicopatológicas incluem pensamentos, comportamentos, emoção e percepção, essas
alterações trazem intenso sofrimento e limitações. As limitações, de modo geral, decorrem da
deterioração de vários processos mentais, fazendo com que o indivíduo apresente alguns
sintomas característicos da esquizofrenia, sintomas esses caracterizado por agressividades,
automutilação, distúrbio da fala, risco de suicídio, entre outros.
Moraes et al (2007), ressaltaram que os exercícios físicos como tratamento alternativo
pode ser fundamental no tratamento de transtornos mentais, propiciando melhora na
capacidade física, redução da perda de massa óssea e muscular, aumento do equilíbrio,
resistência, motricidade e da capacidade funcional. Lorda (2001) concorda com os benefícios
dos indivíduos que praticam atividades, destaca que tanto os aspectos fisiológicos como os
psicológicos contribuem de forma significativa na vida dos pacientes com transtornos
mentais. Consequentemente reduz as tensões, melhora a autoestima e os estados de ânimo,
permitindo assim maior interação com as demais pessoas e aliviando sentimento de solidão e
ansiedade produzido pelas perdas e mudanças sociais causadas pela doença.
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Em relação às principais dificuldades encontradas entre família e paciente, destaca-se,
tomada de medicação, presa ao compromisso de cuidar, única pessoa da família que consegue
lidar com o paciente.
Segundo Manoel et al ( 2013), torna-sedesgastante para o responsável, pois os
cuidados são diários e complexos, esse deve estar sempre atento pois normalmente esses
pacientes tomam vários tipos de medicações e em diferentes horários, dessa forma até a
tomada de medicações é de responsabilidade do cuidador e o processo de cuidar tornaria
menos angustiante se outros membros das famílias dessem suporte a esse responsável, esses
fatores contribuí para que o paciente torna-se dependente do cuidador.
Marques et al (2011),citaramque os cuidadores necessitam de pausas e as dificuldades
sejam compartilhada com os demais membros da família, para que a saúde física e emocional
desses indivíduos não sejam comprometidas, pois o responsável pelo cuidado acaba presa na
armadilha de se ressentir por ter tanta coisa para fazer e não estar dando conta.
CONCLUSÕES
Feita a análise e discussões da amostra explorada conclui-se com esta pesquisa no que
se refere aos cuidados o gênero feminino tem se destacado na maioria das literaturas
estudadas. Faz necessário mencionar que com o avanço da idade, bem como o nível de
escolaridade da amostra fragiliza o processo de cuidar, possivelmente ocorre dificuldades na
relação família/paciente e, sobretudo variações de erros nas respostas obtidas.
Apesar dos participantes da pesquisa utilizar estratégias de inserção do individuo com
sofrimento psíquico no meio familiar. Consideramos que sob a ótica familiar essas atividades
desenvolvidas são importantes para a reabilitação da pessoa em sofrimento mental, porém não
suficientes. O portador de sofrimento psíquico deverá ser inserido de forma efetiva por meio
de programas oferecidos pelo Estado como intervenções psicoeducacionais junto aos CAPS,
cuidados de profissionais capacitados, sendo um dos fatores determinantes que é o
acolhimento familiar. Dessa forma abre-se um leque na perspectiva de capacitação aos
indivíduos com transtorno mental exercitarem sua cidadania, ou seja, estudar, trabalhar, fazer
amigos, namorar, participar de decisões que influenciam sua vida.
No que se refere ao relacionamento, bem como a sobrecarga sobre os familiares que
convivem com o portador de sofrimento psíquico, constatou-se que apesar das falas revelarem
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que existem pontos positivos no convívio, no entanto fica evidente de forma mais expressiva
os pontos negativos. Portanto ao conhecer a sobrecarga da família que convive com o
sofrimento psíquico, é possível constatar que essa realidade é seguida por sentimentos de
desespero, ansiedade, preocupação e sofrimento, implicando conflitos e tensões.
Para amenizar a sobrecarga familiar e alcançar o cuidado em saúde mental como
preconizado pela Reforma Psiquiátrica, é necessário que se construa uma rede de cuidados,
não deixando o indivíduo somente como responsabilidade da família ou dos serviços de
saúde, mas integrando todas as estratégias possíveis para atendê-lo de forma integral e
humanizada. A interação das pessoas na sociedade se dá pela criação de laços de amizade,
culturais, de comunidade, de trabalho ou de estudo, que se constituem como importantes
bases de apoio ao indivíduo e à família em momentos de crise.
Neste contexto sobre a mesma perspectiva a família precisa ser inserida de forma efetiva na
assistência em saúde mental, deve ser ouvida e compreendida, para que seus anseios sejam
acolhidos e sua sobrecarga diminuída, sendo que a família deve ser vista como facilitadora no
processo de reinserção social da pessoa com transtorno mental. Dessa forma a equipe de saúde tem
a possibilidade de interferir de forma positiva a promoção de saúde mental, sendo que a mesma
desenvolve ações para produzir mudanças sociais possibilitando a ressocialização desses indivíduos.
A proposta de reinserção social da pessoa com transtorno mental e a sua aproximação
com a família não é uma tarefa fácil. Ao mesmo tempo em que as famílias anseiam por ter
todos os seus membros próximos, elas também refletem o medo e o preconceito existente em
nossa sociedade, o que, muitas vezes, pode deixá-las resistentes a acolher o ente que adoeceu,
dificultando a inserção desse paciente em seu contexto familiar e atividades sociais.
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