INDULGÊNCIAS

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INDULGÊNCIAS 1. Normalmente sabemos mais sobre o que não são (pela revolta de Martinho Lutero no século XVI ou o abuso da comercialização das mesmas neste mesmo período da História da Igreja) do que na verdade elas significam e o seu grande valor teológico. 2. As indulgências tem uma longa pré-história que está estritamente ligada à história do sacramento da Penitência. 3. São um Sacramental que emergiu da própria prática penitencial da Igreja antiga, separando-se da mesma na Idade Média. A prática das indulgências como tal data do século XI. Poderíamos falar aqui:- de como surgiram; - do ensinamento oficial da Igreja; - do seu sentido teológico e é este aspecto que nos interessa. As indulgências são um caso típico em que a prática se antecipou à teoria, ou seja, à reflexão teológica. A prática das indulgências, que precedeu à reflexão teológica, desenvolveu-se no contexto da prática penitencial. A penitência é o sacramento da Reconciliação do pecador com a Igreja e com Deus. Este sacramento leva o pecador a completar um processo de conversão. Neste processo entram as indulgências que tem como pressuposto que o pecado pós-batismal exige obras penitenciais, sem que a elas estivesse condicionado o perdão dos pecados. Por isso, desde o início, para ‘lucrar’ indulgências, não só se impunham obras determinadas, mas também a confissão e o arrependimento dos pecados, cujas penas temporais e eclesiásticas poderiam ser comutadas. Portanto, por indulgências entende-se a remissão das penas temporais devidas aos pecados, remissão concedida pela Igreja por força (graça) dos méritos de Cristo e do poder da Igreja de ligar e desligar. Para lucrar uma indulgência deve-se, pois, ser um membro vivo da Igreja, isto é, capaz de participar da comunidade de vida e amor dos cristãos. As obras penitenciais prescritas devem ser realizadas na fé e no amor. A remissão das penas temporais depende da disposição de quem realiza as obras. A indulgência fundamenta-se, pois, no sofrimento de Cristo e na mediação salvífica da Igreja ou comunhão dos santos. Não se trata propriamente de um ganhar, lucrar, aumentar. Em outras palavras, não se trata de fazer um bom negócio com Deus no sentido de dar para receber em troca. O dom que o homem recebe de Deus é sempre imerecido. Para recebê-lo na gratuidade é necessário preparar-se, estar preparado. Resumo: 1. As indulgências devem ser vistas como ajuda de Deus ao pecador arrependido; 2. Conversão significa novo modo de pensar, agir e ser nas condições de nossa vida humana concreta. Conversão não é um ato, mas um estado, um processo. Ora, a indulgência é esta graça de Deus que nos ajuda a amadurecermos na conversão e no amor;

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FATEO

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  • INDULGNCIAS

    1. Normalmente sabemos mais sobre o que no so (pela revolta de Martinho Lutero no sculo XVI

    ou o abuso da comercializao das mesmas neste mesmo perodo da Histria da Igreja) do que na verdade elas

    significam e o seu grande valor teolgico.

    2. As indulgncias tem uma longa pr-histria que est estritamente ligada histria do sacramento

    da Penitncia.

    3. So um Sacramental que emergiu da prpria prtica penitencial da Igreja antiga, separando-se da

    mesma na Idade Mdia. A prtica das indulgncias como tal data do sculo XI.

    Poderamos falar aqui:- de como surgiram; - do ensinamento oficial da Igreja; - do seu sentido teolgico e este

    aspecto que nos interessa.

    As indulgncias so um caso tpico em que a prtica se antecipou teoria, ou seja, reflexo teolgica. A

    prtica das indulgncias, que precedeu reflexo teolgica, desenvolveu-se no contexto da prtica penitencial. A

    penitncia o sacramento da Reconciliao do pecador com a Igreja e com Deus. Este sacramento leva o pecador a

    completar um processo de converso. Neste processo entram as indulgncias que tem como pressuposto que o

    pecado ps-batismal exige obras penitenciais, sem que a elas estivesse condicionado o perdo dos pecados.

    Por isso, desde o incio, para lucrar indulgncias, no s se impunham obras determinadas, mas tambm a

    confisso e o arrependimento dos pecados, cujas penas temporais e eclesisticas poderiam ser comutadas. Portanto,

    por indulgncias entende-se a remisso das penas temporais devidas aos pecados, remisso concedida pela Igreja

    por fora (graa) dos mritos de Cristo e do poder da Igreja de ligar e desligar.

    Para lucrar uma indulgncia deve-se, pois, ser um membro vivo da Igreja, isto , capaz de participar da

    comunidade de vida e amor dos cristos. As obras penitenciais prescritas devem ser realizadas na f e no amor. A

    remisso das penas temporais depende da disposio de quem realiza as obras. A indulgncia fundamenta-se, pois,

    no sofrimento de Cristo e na mediao salvfica da Igreja ou comunho dos santos.

    No se trata propriamente de um ganhar, lucrar, aumentar. Em outras palavras, no se trata de fazer um

    bom negcio com Deus no sentido de dar para receber em troca. O dom que o homem recebe de Deus sempre

    imerecido. Para receb-lo na gratuidade necessrio preparar-se, estar preparado.

    Resumo:

    1. As indulgncias devem ser vistas como ajuda de Deus ao pecador arrependido;

    2. Converso significa novo modo de pensar, agir e ser nas condies de nossa vida humana concreta.

    Converso no um ato, mas um estado, um processo. Ora, a indulgncia esta graa de Deus que nos

    ajuda a amadurecermos na converso e no amor;

  • 3. A indulgncia no pretende aliviar ou substituir a penitncia pessoal do homem. Visa antes conseguir

    sua total purificao. E isso s possvel mediante autntico esprito de penitncia. Sem perdo dos

    pecados no se pode falar em perdo das penas temporais.

    Tudo isso no deve ser concebido com categorias objetivas, materiais ou quantitativas, como um

    reservatrio de bens espirituais, de um armazm de secos e molhados ou como uma espcie de capital acumulado

    em uma caderneta de poupana.

    O recurso ao bem da Igreja (tesouro) o recurso ao prprio Cristo morto e ressuscitado e comunidade dos

    irmos (Corpo mstico de Cristo). Deve-se ver a indulgncia como participao na Cruz de Cristo, por parte da

    Igreja que a concede, como por parte de quem a recebe. Deve ficar claro tambm que, na indulgncia, a iniciativa

    est do lado de Deus, que se expressa na ao da Igreja. Esta deriva seu poder de conceder indulgncias do poder

    recebido de Cristo de ligar e desligar.

    Pe. Pedro Alberto Kunrath-Pucrs.