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Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra
Imigração do Norte de África
Para a Portugal
1º Ano de Sociologia
Trabalho realizado por: Ana Rita Brito Número de aluno: 20060829
Coimbra, 2006
A Imigração do Norte de África para Portugal
Fontes de Informação Sociológica - FEUC
Trabalho realizado no âmbito da disciplina de Fontes de
Informação Sociológica, leccionada pelo Doutor Paulo Peixoto.
Ana Rita Brito, aluna nº20060829
A Imigração do Norte de África para Portugal
Fontes de Informação Sociológica - FEUC
Não me chames estrangeiro:
Não me chames estrangeiro, só porque nasci muito longe
ou porque tem outro nome essa terra donde venho.
Não me chames estrangeiro porque foi diferente o seio
ou porque ouvi na infância outros contos noutras línguas.
Não me chames estrangeiro se no amor de uma mãe
tivemos a mesma luz nesse canto e nesse beijo
com que nos sonham iguais nossas mães contra o seu peito.
Não me chames estrangeiro, nem perguntes donde venho;
é melhor saber onde vamos e onde nos leva o tempo.
Não me chames estrangeiro, porque o teu pão e o teu fogo
me acalmam a fome e o frio e me convida o teu tecto.
Não me chames estrangeiro; teu trigo é como o meu trigo,
tua mão é como a minha, o teu fogo como o meu fogo,
e a fome nunca avisa: vive a mudar de dono.
E chamas-me tu estrangeiro porque um caminho me trouxe,
porque nasci noutra terra, porque conheço outros mares,
e parti, um dia, de outro porto...
mas são sempre, sempre iguais os lenços da despedida
iguais as pupilas sem brilho dos que deixámos lá longe,
os amigos que nos chamam, e também iguais os beijos
e o amor dessa que sonha com o dia do regresso.
Não me chames estrangeiro; trazemos o mesmo grito,
o mesmo cansaço velho
que sempre arrastou o homem
desde fundos tempos,
quando não havia fronteiras,
A Imigração do Norte de África para Portugal
Fontes de Informação Sociológica - FEUC
e antes de virem esses, que dividem e que matam,
os que roubam, os que mentem,
os que vendem nossos sonhos
os que inventaram um dia esta palavra: estrangeiro.
Não me chames estrangeiro, que é uma palavra triste,
que é uma palavra gelada, e que cheira a esquecimento
e cheira também a desterro.
Não me chames estrangeiro: olha o teu filho e o meu
como correm de mãos dadas, até ao fim do caminho.
Não me chames estrangeiro: eles não sabem línguas,
de limites nem bandeiras; olha como sobem ao céu
no riso que é uma pomba que os reúne no voo.
Não me chames estrangeiro; vê teu irmão e o meu,
o corpo cheio de balas, beijando o solo de morte;
eles não eram estrangeiros, conheciam-se desde sempre,
pela eterna liberdade, e livres os dois morreram.
Não me chames estrangeiro; olha-me nos olhos
muito para lá do ódio, do egoísmo e do medo,
e verás que sou um homem, não posso ser estrangeiro.
http://horasinfindas.blogspot.com/2006/05/no-me-chames-estrangeiro.html
A Imigração do Norte de África para Portugal
Fontes de Informação Sociológica - FEUC
ÍNDICE
1-Introdução 1
2-Primeira Parte
2.1-Pesquisa Detalhada 2
3-O estado das Artes
3.1- História da imigração em Portugal 3
3.2- Imigrantes africanos 5
3.3- A nova Lei da Nacionalidade 8
3.4- A imigração, os mitos e os factos 12
4- Avaliação de uma página da Internet 15
5- Ficha de Leitura 16
6- Conclusão 18
7- Referências Bibliográficas 19
Anexo A
Página da Internet
Anexo B
Texto de suporte da ficha de leitura “Mohamed”, capítulo da obra
“Passaporte para o Céu”.
A Imigração do Norte de África para Portugal
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1- Introdução:
Dos temas que me foram propostos para o trabalho, o da imigração foi
o que achei mais interessante. Este é para mim, um dos assuntos que
actualmente está em discussão, na medida em que é um fenómeno socio-
económico, político e também humano. Quando comecei a pesquisar sobre o
tema da imigração, deparei-me com muita informação e decidi então
aprofundar “A Imigração do Norte de Africa para Portugal”.
Pretendo abordar a problemática da Imigração em Portugal mais
particularmente a deslocação dos cidadãos dos Países Africanos de Língua
Oficial Portuguesa (PALOP), especificando os Cabo-Verdianos, mas
acabando por voltar a falar nos imigrantes destes países o geral. Estes saem
dos seus países em direcção ao Norte de África com vista a conseguirem uma
travessia por mar que lhes permita chegar à Europa.
De seguida, faço referência às alterações que decorrem da nova Lei da
Nacionalidade. Finalmente menciono a questão dos mitos que estão
associados aos imigrantes e dos factos que contradizem esses mitos.
No que diz respeito à estrutura do meu trabalho, este obedece a uma
organização predefinida pelo docente da disciplina de Fontes de Informação
Sociológica, pelo que começo por descrever detalhadamente a minha pesquisa,
de seguida passo para o estado das artes (onde foco o panorama actual do
estado da imigração em Portugal), posteriormente a uma ficha de leitura (que
resume um capítulo do livro “ Passaporte para o Céu”) e, finalmente, a
avaliação de uma página da Internet do Alto Comissariado para a Imigração
de Minorias Étnicas (http://www.acime.gov.pt).
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A Imigração do Norte de África para Portugal
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2- Pesquisa detalhada:
Quando comecei a elaborar o meu trabalho tinha escolhido o tema “A
imigração do Norte de Africa para a Europa”, mas deparei-me como excesso
de informação por se tratar de um tema muito abrangente. Por isso, resolvi
especificar um pouco e falar sobre a “A imigração do Norte de África para
Portugal”.
O meu trabalho começa com uma pequena introdução (sobre a história
da imigração desde os inícios da década de 60 até à actualidade), depois com
uma breve referência à situação dos imigrantes africanos em Portugal, de
seguida refere a nova Lei da Nacionalidade, e, finalmente, a questão dos mitos
e factos que envolvem a problemática da imigração.
Após a escolha do tema a primeira coisa que fiz foi consultar a Internet,
utilizando o motor de busca indexante Google. Essa minha pesquisa obteve,
na versão portuguesa, bastante informação (261 páginas), mas optei por
utilizar as técnicas leccionadas na cadeira de Fontes de Informação
Sociológica (“ a pesquisa avançada”, entre outras). Este processo permitiu-me
reduzir bastante o ruído e assim seleccionar apenas algumas páginas,
guardando as que considerei mais importantes. Para além de recorrer ao
Google, consultei algumas páginas institucionais e revistas científicas on-line
relacionados com o tema da imigração em Portugal. Tive necessidade de me
dirigir a uma biblioteca (Biblioteca da Faculdade de Economia da
Universidade de Coimbra, Biblioteca Geral e a Biblioteca Municipal, mas foi
no entanto, a Biblioteca da Faculdade de Economia da Universidade de
Coimbra em que mais recolhi os documentos) para consultar livros.
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A Imigração do Norte de África para Portugal
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3- O estado das Artes:
3.1- História da imigração em Portugal:
Para escrever sobre este tema dediquei uma grande atenção à revista
científica on-line JANUS (2001).
Desde há muitos anos Portugal é um país de imigração e de emigração.
Já durante o século XVIII, os Ingleses se deslocaram para o Norte de Portugal
para se dedicarem à produção do vinho do Porto.
Paralelamente, foi também, ao longo da nossa história, um país de emigração
onde a maior parte da população se viu obrigada a deslocar-se para outros
países para sobreviver.
O que se tem verificado mais recentemente é que Portugal se
transformou num país de imigrantes. Na década de 60 e 70, desde o início das
guerras de libertação das antigas colónias portuguesas, como por exemplo,
Angola, Guiné, Moçambique, Cabo-Verde, que os seus habitantes vinham
para Portugal à procura de melhores condições, quer seja ao nível escolar quer
ao nível da procura de empregos. O que se passava é que estes imigrantes,
devido à forte corrente migratória, vinham ocupar postos de trabalho menos
qualificados. Também após o 25 de Abril e com a independência dos
territórios de Ultramar, muitos portugueses regressam, ficando conhecidos
como “retornados”.
Por ultimo nos anos 80, numa altura em que em Portugal existia uma
grande crise económica, verifica-se um aumento de imigração dos países de
Cabo-Verde e dos chamados PALOP. (idem) Em 1992é instituído o primeiro
processo de legalização extraordinária de imigrantes clanstinos, um ano depois
é criado um novo regime de entrada, saída e de permanência. É também
criada, neste ano, a comissão interdepartamental para a integração dos
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A Imigração do Norte de África para Portugal
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imigrantes e minorias étnicas e reformulado e regulamentado o direito
de asilo.(JANUS, 2001). Em 1996 é criado o cargo de Alto Comissário para a
Imigração e Minorias Étnicas, é instituído um novo processo de regularização
da situação dos imigrantes clandestinos. Em 1997 é alterado o regulamento da
lei da nacionalidade, sendo alterada este ano (2006) também.
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A Imigração do Norte de África para Portugal
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3.2- Os Imigrantes Africanos: Os chamados países que constituem o PALOP são: Angola, Guiné-
Bissau, Cabo-verde, Moçambique e São Tomé e Príncipe, estes merecem
especial atenção pois a maior parte da população imigrante em Portugal é
originária destes países.
Durante a década de 80 o golpe de Estado influenciou a entrada e a
saída de pessoas para Portugal e para outros países da Europa.
Por fim a guerra de 7 de Junho de 1998, designada conflito político
militar, também teve importância na saída da população. A partir de 2000,
registou-se uma súbita e inesperada modificação na paisagem migratória em
Portugal.
No que diz respeito a Cabo-Verde podemos ver na seguinte tabela o
motivo que leva estes cidadãos sentirem a necessidade de imigrar.
Problemas Percentagem em relação aos
inquiridos
Seca 75,8%
Falta de Trabalho 32,5%
Probl. Gestão 6,7%
Assistência médica 5,0%
Probl. Políticos 3,1%
Os Cabo-Verdianos, não dão importância aos factores que a história
colocou, estes dão sim importância aos factores como, estão apresentados na
tabela em cima, o clima, as condições político-económicas e as de assistência
médica.
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A Imigração do Norte de África para Portugal
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Alguns, conseguiram realizar um percurso profissional, para outros
apenas vivem com aquilo que têm. Mas tanto uns como os outros lutam pelos
seus direitos de cidadãos, “quer com base no direito inalienável de qualquer
homem de refugiar-se da fome e da miséria”
Para qualquer imigrante a maior preocupação é a inserção na sociedade
do seu país de acolhimento, muitos optam pela nacionalidade portuguesa para
serem aceites melhor.
Mas a atitude pragmática perante a vida destes cidadãos, decorre
sobretudo da sua inserção no mercado de trabalho, muitos deles sujeitam-se a
uma excessiva carga horária de trabalho, a falta de condições para
conseguirem alguma “esperança” na sua vida. Pois devido às poucas
qualificações que tem esta comunidade esta associada a um estatuto socio-
económico muito baixo sujeitando-se a certos aspectos.
Para além dos imigrantes Cabo-Verdianos, podemos ver que toda a
população de origem africana inclui sectores tão diversos entre si que estão
longe de formar o todo de relações integradas, noção e identidade. Alguns
desses sectores, por exemplo, têm mais afinidades sociais e culturais com a
população portuguesa do que com outros grupos de africanos. (França, 1992:
210, 211, 212)
A permanência mais demorada dos imigrantes dos PALOP em Portugal
não significa um maior sucesso na agregação destes imigrantes no mercado de
trabalho.
(http://www.oi.acime.gov.pt/modules.php?name=News&file=article&sid=5
92).
A maior parte da população imigrante fixou-se em Lisboa. Esta
situação explica-se pelo facto de existirem, comunidades de imigrantes que
ajudaram numa melhor integração através de laços étnicos.
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A Imigração do Norte de África para Portugal
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Para além deste factor de integração a ocupação nesta área também se
deve ao facto de existir maior oferta de emprego e serviços nessa região.
Muitos destes imigrantes que partem para Portugal, fazem-no
ilegalmente. Durante muitos anos a imigração tem tido um controlo a nível do
governo, como em Portugal e outros países da Europa. Algumas organizações
de Direitos Humanos e até mesmo o Alto Comissariado das Nações Unidas
“acusa a União Europeia de ferir as convenções internacionais.” É por isso
que o Comissário de Liberdade, Segurança e Justiça da União Europeia,
Franco Frattini, “pretende submeter à discussão os efeitos positivos da
migração legal para as sociedades europeias em processo de envelhecimento”.
O importante seria que os países de emigração melhorassem as suas condições
de vida, pois torna-se cada vez mais difícil fazer esta travessia, e se muitos a
conseguirem fazer em boas condições (legais), não morria tanta gente. (idem :
214).
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A Imigração do Norte de África para Portugal
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3.3- A nova Lei da Nacionalidade:
“Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em
direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com
os outros em espírito de fraternidade.”
Declaração Internacional dos Direitos do Homem
http://www.gddc.pt/direitos-humanos/50anos-decl-univ-dh/dudh.html
A nacionalidade é algo muito desejado por um imigrante. Este quando
se desloca do seu país de origem à procura de melhores condições, sonha em
adquirir a nacionalidade do país de acolhimento como forma de adquirir os
direitos e os deveres de um cidadão comum. O mesmo se passa com os
imigrantes em Portugal.
A nova Lei da Nacionalidade é a Lei Orgânica nº 2/2006 de 17 de Abril
que, apesar de aprovada, ainda não foi objecto de regulamentação.
No nosso país, a nacionalidade pode ser obtida através de duas formas:
a nacionalidade originária (por efeito de lei e por efeito de vontade – art. 1º,
nº1 a) e b)) e a nacionalidade derivada (por efeito de vontade, por adopção e
por naturalização – art. 1º, nº1 c), d), e) e f)).
A nacionalidade originária está prevista no art. 1º nº1 que estipula que
“são portugueses de origem:
a) Os filhos de mãe portuguesa ou pai português nascidos no território
português;
b) Os filhos de mãe portuguesa ou de pai português nascidos no
estrangeiro se o progenitor português aí se encontrar ao serviço do Estado
Português; 8
A Imigração do Norte de África para Portugal
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c) Os filhos de mãe portuguesa ou de pai português nascidos no
estrangeiro se tiverem o seu nascimento inscrito no registo civil português ou
se declararem que querem ser portugueses;
d) Os indivíduos nascidos no território português, filhos de
estrangeiros, se pelo menos um dos progenitores também aqui tiver nascido e
aqui tiver residência, independentemente de título, ao tempo do nascimento;
e) Os indivíduos nascidos no território português filhos de estrangeiros
que não se encontrem ao serviço do respectivo Estado, se declararem que
querem ser portugueses e desde que, no momento do nascimento, um dos
progenitores aqui resida legalmente há pelo menos cinco anos;
f) Os indivíduos nascidos no território português e que não possuam
outra nacionalidade.”
Nesta nova lei entende-se que residem legalmente no território
português os indivíduos que aqui se encontram, com a sua situação
regularizada perante as autoridades portuguesas, ao abrigo de qualquer dos
títulos, vistos ou autorizações previstos no regime de entrada, permanência,
saída e afastamento de estrangeiros e no regime do direito de asilo (artº 15) ao
contrário da lei actualmente em vigor (que estipula que residente legal é o
individuo que possui autorização de residência, não sendo a legalização
possível tendo por base qualquer outro título).
A nacionalidade derivada está prevista no art. 2º, 3º, 4º, 5º, 6º da nova
lei.
O art. 2º prevê que “os filhos menores ou incapazes de pai ou mão que
adquira nacionalidade portuguesa podem também adquiri-la, mediante
declaração”.
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A Imigração do Norte de África para Portugal
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O art.3º refere-se à aquisição em caso de casamento ou união de facto e
estipula que “o estrangeiro casado há mais de três anos com nacional
português pode adquirir a nacionalidade portuguesa mediante declaração feita
na constância do matrimónio ” e “o estrangeiro que, à data da declaração, viva
em união de facto há mais de três anos com nacional português pode adquirir
a nacionalidade portuguesa, após acção de reconhecimento dessa situação a
interpor no tribunal cível.”
“Os que hajam perdido a nacionalidade portuguesa por efeito de
declaração prestada durante a sua incapacidade podem adquiri-la, quando
capazes, mediante declaração” (art. 4º).
A aquisição da nacionalidade pela adopção é regulada pelo art.5º “o
adoptado plenamente por nacional português adquire a nacionalidade
portuguesa”.
Finalmente, no que diz respeito à aquisição da nacionalidade por
naturalização, art.6º nº1 prevê que “o Governo concede a nacionalidade
portuguesa, por naturalização, aos estrangeiros que satisfaçam
cumulativamente os seguintes requisitos:
a) Serem maiores ou emancipados à face da lei portuguesa;
b) Residirem legalmente no território português há pelo menos seis
anos;
c) Conhecerem suficientemente a língua portuguesa;
d)Não terem sido condenados, com trânsito em julgado de sentença,
pela prática de crime punível com pena de prisão de máximo igual ou superior
a 3 ano, segundo a lei portuguesa. (…).
Outras situações estão previstas no art. 6º nº2, 3, 4, 5 e 6 da nova lei.
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A Imigração do Norte de África para Portugal
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Para além das formas de obtenção de nacionalidade supra citadas é
evidente uma tentativa de desburocratização do processo (por exemplo, a
possibilidade de requisição de actos pela Internet e fora de Portugal) por parte
da Nova Lei da Nacionalidade. Isto facilita e simplifica a obtenção da
nacionalidade portuguesa a um maior número imigrantes.
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A Imigração do Norte de África para Portugal
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3.4- A Imigração, os mitos:
Hoje em dia, ainda, há muitas pessoas que tem a ideia de que os
imigrantes são “seres fora do normal” e criam “verdades” entre si. “Verdades”
essas que são criadas a partir de ideias feitas e coerentes, e no entanto são
completamente “falsas”.
No domínio do senso comum, é recorrente a ideia de que os imigrantes
vêm roubar os “nossos” empregos, que estão associados ao crime, e são
portadores de doenças.
No que diz respeito ao primeiro mito, a generalidade das pessoas
acredita que uma nova mão-de-obra introduzida no mercado de trabalho
competirá pelos postos existentes, expulsará os residentes e, fará baixar os
salários. Como se sabe, esta regra, é falsa. A verdade é que um país que tenha
uma elevada taxa de desemprego, não é um destino atractivo para os
imigrantes. De facto, os países que registam maior número de imigrantes são
aqueles onde existe uma menor taxa de desemprego e uma oferta de trabalho
disponível uma vez que o grande objectivo da imigração a procura de
melhores condições de vida.
Podemos reforçar a ideia salientando que os picos de taxa de
desemprego ocorreram em anos que não se registavam uma presença
relevante de imigrantes. Por exemplo em 2004 que a taxa de desemprego
oscilava por volta dos 7% e tínhamos apenas 58.000 imigrantes, ou seja, não
há correspondência directa entre a oscilação das taxas de desemprego e o
número de imigrantes. Também é importante salientar um outro aspecto é
que os imigrantes, em contexto de crise económica, são os primeiros a
perderem o emprego, dado a sua maior vulnerabilidade contratual e por
estarem em sectores de actividades muito sensíveis as crises. Apesar de se falar
do perfil económico é importante salientar o perfil socio-psicológico do
imigrante que, no domínio profissional, é marcado pela flexibilidade e
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capacidade de adaptação, pela vontade de trabalhar para ganhar o
máximo, pela mobilidade para ir à procura de emprego e pela ausência de
benefícios de apoio e protecção social.
O segundo é o dos imigrantes estarem associados ao crime. Este mito é
muito fomentado pelos diferentes meios de comunicação social, apesar de as
estatísticas nos revelarem que é o critério da nacionalidade que distingue os
nacionais dos estrangeiros. É necessário distinguir o conceito de estrangeiro e
de imigrante. Por exemplo, todos os turistas que nos visitam são estrangeiros,
mas não são imigrantes, pois um imigrante é uma pessoa nacional ou
estrangeira que no período de referência entrou no país com a intenção de
aqui permanecer por um período igual ou superior a mais de um ano. O que
as estatísticas nos mostram é que no número de condenados estrangeiros há
uma presença significativa de estrangeiros não imigrantes (caso, por exemplo,
dos “correios de droga, pessoas que não residem em Portugal que procuraram
introduzir droga no nosso país, numa viagem de curta duração).
O que a realidade nos mostra é que os estrangeiros são sujeitos, para os
mesmos crimes, a penas mais pesadas. Podemos fazer a desconstrução do
mito através do conceito de exclusão social, pois esta pode gerar
criminalidade. Alguns imigrantes de 2ªgeração, chegam à criminalidade não
porque sejam estrangeiros, mas porque são excluídos da sociedade.
Por fim falemos do mito de que os imigrantes “nos trazem” doenças.
Também este gera um receio injustificado. Desde o século XIV com o
isolamento das pessoas leprosas ou com pestes e, mais tarde, com a
perseguição dos judeus sempre se “condenou” os imigrantes como portadores
de doenças que ameaçam a sociedade. Mas o que acontece é que quando estes
chegam ao país de acolhimento vêm, em média, muito mais saudáveis do que
a população residente. Mas se este erro é desmentido à chegada a verdade é
que a vida dos imigrantes no seu país de acolhimento tem elevados riscos para
a sua saúde. 13
A Imigração do Norte de África para Portugal
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Os factores que contribuem para isso são, por exemplo, as condições de
trabalho precárias, o excesso de horas de trabalho, uma alimentação
deficiente, as más condições de alojamento, os escassos rendimentos e as
profissões perigosas. Apesar destes existem outros, como por exemplo, a
quebra de laços familiares, a falta de recursos económicos, o isolamento e a
marginalização, a dificuldade no acesso aos cuidados de saúde. Todos estes
factores tornam as comunidades de imigrantes mais vulneráveis a esta
infecção.
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A Imigração do Norte de África para Portugal
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4- Avaliação da página da Internet:
A página da Internet em que me debrucei para a realização do meu
trabalho foi a página do Alto Comissariado para a Imigração e Minorias
Étnicas (www.acime.gov.pt). A partir desta página encontrei variadíssimas
informações úteis que correspondiam aos objectivos do meu trabalho. Em
primeiro lugar, esta página forneceu-me uma considerável quantidade de
informação sobre o tema da Imigração. O site foi acedido no dia 25 de
Dezembro de 2006. Este site chamou-me em especial atenção quando fiz a
minha pesquisa pelo Google, com várias palavras-chaves (como imigração,
descriminação, racismo, entre outras) e o ACIME ter estado em primeiro
lugar na maior parte das vezes.
É de um layout simples com pouca diversidade de cores,
essencialmente à base verde claro, mas que agradam à vista, os títulos
encontram-se a preto para facilitar a consulta, tornando a navegação neste site
fácil e agradável. O ACIME fornece aos visitantes uma ideia de “quem são?”,
está devidamente contactável pelo que convida o leitor ao registo “registe-se”.
Para além disto, mostra enumeras noticias sobre a Imigração que podem ser
visualizadas no próprio site sem ser necessário fazer download das mesmas
que estão em permanente actualização, bem como o link “eventos”.
Ao longo do meu trabalho esta não foi a única página que consultei,
mas foi a que eu achei que seria mais fiável e segura em termos de informação,
e visto que na Internet existe muita informação que nem sempre é segura.
Como conclusão, apenas me resta dizer que esta página está muito bem
organizada, acessível e é “uma porta” para outros sites igualmente seguros de
informação, como por exemplo, o “SEF”, que ajuda o visitante a melhor
entender e facilitar o estudo sobre a Imigração.
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A Imigração do Norte de África para Portugal
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5-Ficha de Leitura:
Título da Publicação: Passaporte para o Céu Autor: Paulo Moura Local onde se encontra: Na minha biblioteca pessoal Data da Publicação: Março de 2006 Editora: Dom Quixote Título do Capítulo: Mohamed Número de Páginas: 109-127 Assunto: Imigração Data de Leitura: Dezembro de 2006 Pontos fortes do capítulo: Este capítulo retrata uma história verdadeira
de uns “patrões” que ganham a vida através de viagens clandestinas e mostra
também o sofrimento dos imigrantes na travessia para a Europa.
Resumo: O capítulo começa por nos falar de 30 imigrantes que tentam há 3
dias a passagem de Marrocos para a Europa, num insuflável “zodiac”.
Mohamed tenta mostrar o barco, porque o “patrão” já tinha pago a quantia de
13 mil euros, mas as coisas tornam-se cada vez mais difíceis porque a polícia
descobre. São muito os auxiliares e torna-se cada vez mais difícil para os
imigrantes terem confiança em alguém. Ahmed fala com os imigrantes para
lhes cobrar o dinheiro e para partirem para país que os espera.
O negócio está a tornar-se cada vez mais difícil, há um sentimento de medo
entre todos porque a polícia esta a controlar cada vez mais ou a tentar
subornar aqueles que querem a passagem, e as penas aumentam cada vez
A Imigração do Norte de África para Portugal
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mais. Cada patrão tem vários funcionários a trabalharem para si, e alguns não
se importam de trair a confiança dos patrões para obterem mais dinheiro.
Yunes nos seus momentos de aflição acusa Mohamed de o ver em negócios
ilícitos, e a partida está cada vez mais longe de acontecer. Quando se
encontram dentro do carro a pensar o que fazer, Karim começa a contar as
suas histórias quando começou a fazer o contrabando. Para fazer estas viagens
é preciso conhecer muito bem o mar e em especial o estreito de Gibraltar,
pois muitos dos que fazem estes negócios, quando chegam ao estreito atiram
os imigrantes para o mar, alguns mostram resistência mas acabam por morrer,
outros para ganharem mais dinheiro levam muitos no barco e este não
consegue virar com o vento. Karim mostra-se sempre calmo perante todas as
situações, “pois para ele há poesia e aventura nessa coisa” (pág. 117). Começa
então a viagem, eles amarram os “negros” por uma questão de segurança,
Mohamed começa a tratar de tudo com os líderes. Os Nigerianos são mais
cuidadosos, controlar a policia para eles não e assim tão fácil, mas
devidamente subornados os agentes da autoridade são um auxilio, pois
ajudam a por os imigrantes no barco e também quando o barco regressa estão
lá para o recolher, estes recebem 14 mil euros. Mohamed começa a sentir-se
um pouco confuso com as contas. A grande oportunidade para Mohamed
começou em 1991 quando os países europeus deixaram de emitir vistos para a
imigração, este não tinha emprego certo casou e teve 2 filhos, disse à mulher
que consertava electrodomésticos, junto com o seu irmão construiu a primeira
pantera em madeira. Foi o boom da emigração clandestina, rapidamente
ficaram ricos e começaram a construir o seu próprio negócio. Mohamed podia
tornar-se num homem rico mas esbanjou o seu dinheiro em álcool e
prostitutas, e acabou como começou no seu minúsculo apartamento no bairro
onde nasceu.
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A Imigração do Norte de África para Portugal
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6- Conclusão:
“Não concluam, portanto o que são os Portugueses [os
Espanhóis, os Franceses, os Angolanos, os Cabo-verdianos, os
Ucranianos….] e o que são os Americanos.
Falem-me do João e da Teresa, da Susan e da Mary….”
Cunha, P. D’Orey (1997)
Após concluir o meu trabalho para a disciplina de Fontes de
Informação Sociológica sobre “A Imigração do Norte de África para
Portugal”, queria salientar algumas das minhas preocupações que se
consubstanciaram na escolha da bibliografia adequada. Tentei retirar de todos
os documentos e páginas da Internet que consultei o que me pareceu útil e
essencial à realização da minha investigação. Queria ainda reforçar a ideia da
enorme importância deste trabalho porque me permitiu obter um mais
profundo conhecimento na análise das fontes de informação sociológica
disponíveis.
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A Imigração do Norte de África para Portugal
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7- Referências Bibliográficas:
• ACIME (s.d), Imigração os mitos e os factos, Lisboa, Presidência do
Conselho de Ministros.
• Balde, Victor Arsénio (2004), A importância dos fluxos migratórios na
melhoria das condições de vida da população da Guiné-Bissau; Lisboa, mestrado
em desenvolvimento e cooperação internacional: Universidade técnica
de Lisboa, Instituto superior de economia e gestão.
• Cunha, P’Orey (1997), Entre dois Mundos, Secretariado Coordenador dos
Programas de Educação Multicultural, Lisboa, Ministério da Educação.
• França, Luís (1992), A Comunidade Cabo-Verdiana em Portugal, Estarreja:
Instituto de Estudos para o Desenvolvimento.
• Moura, Paulo (2006), Passaporte para o Céu, Lisboa, Publicações Dom
Quixote.
Páginas consultadas na Internet:
• ACIME- Alto Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas
(2005). Página consultada a 25 de Dezembro de 2006, disponível em
http://www.acime.gov.pt.
• JANUS (2001) “História da imigração em Portugal”. Página consultada
dia 6 de Janeiro de 2006, diponivel em
http://www.janusonline.pt/2001/2001.html.
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