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    1 . DEFINIQAO DE CONCEITOS.

    I J A FIM DE comp r eender a situa~ao atual do pensamento," cumpre come~ar pOl" estudar os problemas de "ide ologia".I " ~ . ~

    Pa ra a maioria , 0 termo esta intin:amente associa d o ao mar-. \" I " , - X lsmo, 0 modo pOl " que reagem a ele e em grande parte de-

    \\~ ••• . \ I) .) - c ter minado pOl " ess a associa~iio, It pre ciso , pois, come~ar pO l" /l~~ ~{~'t'; esc larece r que, embora 0 marxismo tenha contribuido gran- ,v ~ 1 " .. .', \ 0 ''( ~ . ~ ' . . • .J clemente pa r a a formulagiio original do problema, tanto a' I .. • ~ . . , . , . ; " '. . , , , , ,

    \ 'J '" ,J"'''' pa lavra com o 0 seu significado sao muito mais antigos d o ). 'f' ) \. :'" . t!', v,,'J' que 0 marxi smo, e , depoi s que apareceu este movimento, 0 " " . 1 '. " II " "

    \ " ' !} ~ ~ ~; " ' )\.f 'ter mo s e viu enriq uec id o pO l" novos sentidos, concebidos in- '" _ ""--'( ' t "dep endentemente d ele, " (Vv- -

    Nao e xiste me~ho l' intr od ugao ao pl"ob lem a do que a ami-lise do sentiCio do termo "ideologla ": cumpre, em primeiroLu gar, desemba r agar as vari as cambiant es de significad~ nele

    ~ 7 -m isturadas numa pse udo -unidad e, e uma definigao mais pre- Jcls a da s var ia g6es de se ntido do conceito, confo r m e e usad o J - ~ E .'(L"',.r _ ho je em dia, p reparara [) caminho pa r a sua anali se sociolo- : : < ~ ,gi ca e histo r ic a. Essa an alis e mostr ara que, de lUn mod o < ; _ . r •.r \', '\''">ge:r al, exis tem d oi s s igni f ic ados qisti !l:tos e separ~ ;::~ i:>do ter- ';" .,~--\i .: , J

    ,,,, ;ino "ideologia" - 0 par ticula I' e 0 total . "., '~ '" ;.'V '~ ~ v 0 conc~ito part icular d e id eo logia e~ ta implici to no e~-

    .> ,,:,, pre go d o t er m o par a denotar que con slde ra mos com ceptl-.: } o r' ,¢ ' ., . cismo a s idei as e r ep r esent ag6 es avan ga d as pelo nosso op o-,£' ,") nen te. Vem o-las como disfar ces mai s ou meno s conscien tes ~""y . .-' ,/ ~l:a natu rez a r eal Je uma si tua

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    social concreto - por exemplo , de uma classe - quandoqueremos falar das cara et eristicas e da €strutura total do

    ,••• _ ,.J ~ ,. 'espirito des sa epoca au desse grupo .#'": ' - ,~' ;'T \ OS elementos comuns, como os distintivos , dos dois c on-' J r : ,.u~r t ~. .; .~;ceitos, sa o evidentes. 0 element~ comum. p~re .ce c onsis t!ir r r ~: ';J' J no fato d e que nenhum dos conceltos confla Ullicame nte n o

    ,'7 . ~ . , r ' ' } que afi r ma 0 adversario para tentar compreender su a i nte n--/ ,y' .,,(~. .gao e 0 sentido real de suas afirmagoes. (1 ) Ambos reto ic -. !oJ " , ~ ., :/ . narn ao sujeito , seja este individuo ou grupo , tencionando

    . _ "( compr ee nde r 0 que ele afi r ma pelo metodo indireto de ana Ji-'?-~ : ,. , sar as s uas condigoes sociais. A~ ..~deia s. e~pr~ssas pelo su-

    . v'. _ jeito sac c onsideradas fungoes de sua ex! s.t,e~cla. Isso qu er dizer que opinioes, afirmaQoes, pr op os i

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    . -~ r.' ..,'

    , :- ~,

    e sempre · 0 indi vid uo. Isto se verifica mesmo quando trata-mos com grupos, pois que todos os f en6meno.s p~iquicos A ser eduzem em ultima analise aos espi rit os indivId uals . 0 ter-mo "ideo logia de grupo" ocorre freqiient emente, e bem ver-da d e, na linguagem popular. A existencia. do grupo, nessaacep~ao, s6 pode significar que urn determmado nu~ .•.ero .de pessoas, quer em suas rea~oes imediatas. a ~e s~a Shua~ao ,q uer como resultado de uma interagao pSIqUlca dIreta, reag esimilar me nt e. POI' conseguinte, condicionadas pela mesI ?asitua~ao social, sac sujeitas as mesmas ilusoes. . Se restrm-girmos nos sa s observa goes aos processos men~a~s que ocor-re m no inclivichlO C 0 cO~ lBid era Tln oscomo 0 umc o por tado.r possivel de ideologias, jamais aprenderemos em sua totah-dade a estrutura do mundo intelectua l pertencente a um gru- po social numa dada sit1 .1a< ;;aohist6rica . ~mbora esse mu ::do.:mental como um todo jamais possa s urglr sem as expe~len -cias e rea< ;;6e s criado :ras dos difere ntes in d ividuos, jamms .seencontrara a est r utura interna desse mundo nurna mera ~n -tegragao d e tais experienc ias individuais, 9s mem~ro s m-d ividuais da classe operaria, pOl' exemplo, nao expen~entamt odos os elementos de uma perspectiva que se podena cha -ma I' a concepgao prolet aria do mundo~ Ca~a indivi d uo par -·,ticipa apenas de ce r tos fragment os desse slst e~a de pensa -mento, cuja totalidade nao e , em absolu .to.' a sImples som~ .d essas e x per iencias individuai s ~r~~mentarla~, C?n :-0 totah -d ade, 0 s istem a de pens amento e lllcegrado slste~a t~c am en te,e nao u r n simples amontoado casual de expencncl as !r ag-mentarias de membr os isolados do g r upo . Segue -se dal queo individuo s6 pode ser considerado port~dor d~ uma ,ideolo-gia enquanto tra tar m os daquela concep< ;;aode Ideo logm que, pO l' definiQao, d ir ige- se m ais a conteudos des tacados do quea estrutura to tal do pensamento, desmascarando fal sas ma -ne ir as de pensa r e den unciando mentiras . Mas , cle sd e quese usa a co ncep~ao t otal de ide ol ogi a, pr~cu r am os r ecor: s-tr uir a perspec tiva int ei ra de um grupo so cIal, e n em ?~ m-d iv iduo s c oncr etos, n cm sua soma abstrata podem leg r tlma-m ente sel' consider ad os por tadores des se sistema, ~le pe nsa-me nta ideo 16gi co co mo u rn t odo , 0 ohjeto da, : :nallse , .ne ss eni ve! , e a reconst r u~ao d a base sistema tica te~ :mca s:u bJacen-te aos juizos do individuo. As amllises d ,as Ideo loglas, nes-sa a ce p

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    posto mesm o q ue e stivessemos em con dig6es de empl'eende -lo,nao nos caberia , para o s prop6sito s qu e temos em men ·~e, es -

    creveI ' um a hist 61 'ia das variag6e s de s ent ido do concC lto d.eid eologia. Noss o o bjeto e apenas aprese ntar os fato .s, colhl ·'dos entre doc umentos esparsos, que manifestem m~Js clara -mente a distingao entre os dois t ermos, feita no ca pItulo pre -cede nte e reconstit uir 0 oroce sso que conduziu pouc o a pou -co ao ~en tido refinado ~ especializado que os termos hoje poss uem . Corr espondendo a o duplo sentido do term o _id eo -log ia, pOl' n6s ch amado conce p

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    Y elat ';aoreal, cujo fio possa ser seglPdo na hist6ri3: do P~l 'l-:sa men to, entre Bacon e a moderna concep~a o de Ideologla.

    E extremamente provavel que tenha · sido a eJcperienciz,cotidiana dos neg6cios politicos que primeiro d eu ao homema consciencia do elemento id eol6gico no p ensa mento e que pri meiro 0 levou a critica- Io. Duran te a Re na scen.~a? entreos concidadaos de Maquiavel , ap arec eu um novo adagIO pon-

    d o em foco uma obser vaca o COll ium do te m po , a saber , queo pen samen to do palacio & uma cois a e autra b em divers a 0aa pra

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    telectual illtensificar-se a ponto de os antagonistas procur :J .-r em aniquila r , nao s6 as crengas e atit udes especi£icas deseus antagonistas, mas os a licerces intelectuais em que seloa seiam essas cre ncas e atitudes.

    Enquanto os partidos contendo r es viviam no mesmom undo e 0 mesmo mundo p roc uravam representar, achas-sem- se e mbora em. p610s opost os desse mundo, enquunto uma"c liqu e" feudal lutava contra su as ig uais, uma t3 00 com.l?letad est r ui!

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    9) Em iugl es: to ile Spii·it. A tradu~ iio "espirito pOllUlar" na a c oc-r esp ond e e xatam eute aos t erm oo alemao e ingl es . (N ot-a d o tral1utor ).

    como Po~ 't~dora, ~a consciencia em evolu~o hist6rica a mes -l/lIla trc: .dl~ao teor lCa a que j:i nos referimos absorve~ a ' com -!l. reensao entrement es desenvolvida pelo processo hist6rico a~aber, . de que a estrutura da sociedade e suas formas u{te->~~1 ua }s c~r~es pon dent es variam com as -relac6es entre asd asses SOCIalS. -

    _ Ass~m corr:o e m e poca an ter ior 0 « Volksgeist " historica -..:.m ~nte dlferenc la~o su~ edera a "consci encia como tal", 0 con-

    ce~to de Volksg e~s t ) amda demasiado amplo e agora substi-~Ul do ~elo de consci enci ~ A~ _ c}ass e, ou, m~is corret amente,Id eologm de classe. .A~s~m, ° oesenvolvimento dessas ideiass~ gue uma d~pla t r aJetona: pOl ' urn lad o, ha . urn processo des~~te~e e de mtegragao atraves do qu al 0 conceito de cons-C~€nClavem a. ,fornecer um centro unitario num mundo infi-mt amente .vanavel; pO I' outro, ha um esf6rgo constante parat~}]rnar,m .als maleav el e flexivel a conc e pgao unit3 .ria dema-slado nglda e esquematicamente formulada no cur~o 'do pro-cesso de sintetizac ;a o.

    . 0 re~ul!a?o dessa du pla tendencia e que, ao inves daun ~dad~ flCtlcm de uma "consciencia como tal" intemp6reae Imut3:. vel (nunca. efetiv amente demons travel) , temos umaconcepgao que va r Ia com os periodos hist6ricos as nac6ese as cla~sses s~c ia is: No curso dessa transic;ao ~ontinuamosa n os a~e~ra~' a um d ad e de consci encia, mas a urna unidadeagor.a dmamlCa e em constante processo de evolugao. Issoe?'l: plIca0 fato de , a de sp eito da re nun cia a concencao esbi-tIca da ,consci (~nci a, 0 cr esc ente acervo de materiais~ descober -tos pela pesquisa hist6 r ica nao perman ecer como massa in-co erent e e de_scontinua d e acontecimentos isolados. Essa ul - bma con c~ p~ao da c on~ci encia oferece uma pers pectiva maisad equada a compr eensao da realidade hist6rica.

    Dessa no:va ?on cep ~ao da consciencia duas conseqlienciasd ecorrem: prlmelro, per ce bemos claram en te que os assuntoshu m an os nao po d em ser com preend id os me di ant e a is olacao

    d e s ~us, e .lem e~t os.. : Os f.a~os .e acont eciment os de um perio-d o hl.St O: I.COso sac exp hcavel s em fun~ ao d e s ignificad o, eu.r n sIgmf lCa~1 0, pO l' sua vez, sem pre se r ef er e a Qu tr o sio -ni-f 1Ca ~~o... :,\sslm, a conc e p~~o d a uni d ad e e in ter c1e pendf\ 1~ci ade ,;IgmfIca~os , em d eterm m ad o periodo , se encon tra semn r e:1 a ba~ e da l~te rp r eta~ ao d ess e periodo. Em segundo lugar es se SIst ema mter d e pen d ente d e signif ica c10s va ria, tanto e~s~~s p ar cela s quant o em sua tot al id ade, com 0 perio d o h is-toneo e m q~e se encont r a. A ssim, a rein te r pre "tac ao 'dessatr ~an sf orm~~ao .co~ tinua e coe r ente de significa d o t orna-se a p,leocupagao prm cl pal das mo dern as !;ienc ias hi st6ric as. Con-

    Durante esse periodo 0 Volksgeist (9) passa a represen tar oselementos historicamente diferenciados da c onsciencia , int e-grados pOl' Hegel no "espirito mundial". E evidente que anaturez a cada vez mais concreta desse tipo de f ilo so fia re-sulta d a preocupa\ ;ao mais imediata com as idei as oriund asda interagao social e da incorporagao de corrente s politic o-hist6r icas de pensam ento no dominie da filo sofi a. Todavi a,a part ir de en tao, as experiencias d a vida eotidiana na o saomais aceitas tal como se apresentam, ma s pensadas em t o-das as suas con seqi .iencias relaci onada s as pr essuposi\; Oe sem que se baseiam. Cumpre assinalar, porem, que a natu re -za his toricamente mutavel do espirito fai des

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    q uanto Heg el t enh a concorri do ma is do que qual q uer outr o para acentuar a nece ssidade de integr al' os vari os e lem entosde sign if ic ado n uma dad a experiencia hist6 r ic a, ele procedeude maneira espe cula tiv a, en q uanto q ue no s ja atin gimos umestad o de dese nvol vimento qu e nos habi 1i ta a .~radUZli" .e17 1 pes qui sa emp ir ica essa ide ia co nstr utiva, r ece blOa clos £110-

    sofo s.o irn por tant e pa r a n 6s e q ue , con q ual to as tznhamossepa ra .do e m nossa a na li se , as du as cor r ~ntes q .ne conduz[ -ram as concepg6es p articula T e total d e Ideol og l~, resp~ct; -vam ente , e que t ern mai s ou me no s a mes m a on .gel ? hl sto -r ica, com e~ am ago r a a se a. pro xima r ai nd a mais Int Imamen -te. A conce pgao par ticul ar de id eolog ia fu ude- se na total,nro cesso que se ev idenci a ao ob serv ad or da segum te m anel -

    l i 1 1 r a: anterio rmente 0 adv ers ario , com o r e pre sen ta nt e de certa posigao p olitic o-social, er a acusado d e fa lsif ica

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    Fealidade que suplantou 0 transcend ental, cumpre-nos su b-m~ter 0 senti do da palavra " ideolo gi a", tambem ne ss e res- pelto, a ~n:a anal ise hist6rica mais p r ecisa. Se, no decursode ~ .l analI se, formos levados a trata r da lingua gem da vidacotIdiana , !SSO indican! sim ple sm ente q ue a hi st6r ia do pen-

    samento nao se confina - nos li vros mas d eriva sua pr inci nalsignificagao das experi encias da vida cotidian a, e me smo· asmudanga s principais na s avaliag oes d e diferent es esferas dar ealidade , tal como se apresentam em filoso fi a, rep or tam-seem ultim a analise ao s valore s cambi al 1tes do mun d o cot i-d iano.

    Pa r a com e~ar, a palav r a "id eol ogia" nao tinha nenhumas~gnifica gao ontol6gica inerente; nao incluia qualqu er deci-sa? .quanto a o valor das dife r entes es feras da realidade, po isorlgmalmente denotava apen as a teori a das id ei as. Os ide o-logistas (12) foram , como s a bemos, o s memb r os do g r upo £i-lo~6~ico que , em Fran! :a, seguil1do a tradi! :ao de Condilla c,r eJeltava a f letafisica e p ro cu r ava b as ear as ci encia s cultu-

    I t /~f U ndamel1to s antr o pol 6gicos e psicol6gicos. J !t 7'J t ~" ,;.' I ' _ 0 mod erno con ce ito d e ide olo gia nasceu quando Napo-

    0" ~~J J; 'c, " ; ._ leao, descob :r indo q ue esse gr u po d e fi l6sofos se opunha acl",.. . C~' - _ ":t .., ~uas ambi! :o es imperi ais, al cunhou- os desde nho sam entc de. ide6~ogo s". Desse m od o a pala vr a a ss umiu um sentido pe-

    Jorat r ~o q ue, como 0 term o "do utri ml rio", eonservou ate hoje.TodavIa, 0 exame d as co nseqt i €m ci as te6ricas d esse despr ezomo stra ra q ue a atitu de d eprec ia tiva env olvi da e , no f undo ,?e natU !e za e pis temo l6g ica e onto1 6g ica. 0 que se d eprec iae a valIdade do pen sam ento do adv er sario, pO l' s er conside-r. ado p ouco realista. M as - apro fundando -nos m ais na ana-h.s e, - po ue o rea lista co m refe r enc ia a que? A res po sta se -I'm: pouc o r ea1 ista com refer e nc ia a pr atica, pouco r eali st aem con fron to co m o s neg6c ios q ue tr ansp iram na are na p o-

    1 2 ) Ve ja-:;e Pic avet , Les i c tt'vlog1ie s . essr ti 81 l" l'hislo 'i"e lies ·i·

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    ca. A hist 6ria do conceito de ' ideologia, de N a polea~ ao m ar -xismo, a despeito de mudangas no conteudo, conservou 0 mes-mo criterio politico de realidade . Esse exemplo hist6ricomostra, ao m esmo tempo, que 0 ponto de vista pragmatico

    ja esta va i rr .. plic ito n8 . acusac ;ao lan c; ada pOl' N a poleao contra

    os seus adversarios. Podemos mesmo afirm ar que para 0homem moderno 0 pragmatismo se tornou, a certos respei-tos, a perspectiva inevitavel e justa, e que a filos ofia, ne ssecaso, se limitou a apropriar-se dessa perspectiva e dela de-duzir sua conclusao l6gica.

    Ja chamamos a atenc ;ao do leitor par a a nuan ga de signi-ficado dada pOI' Napoleao a palavra ideologia , a f im de mo s-trar claramente que a linguagem comum cont em muita s ve-zes mais filosofia, e e de maior importancia para a formula-gao poste r ior de problemas, do que as disputas academicasque tendem a se tornar estereis pOl' nao quer er to m ar c onhe-cimento do mundo exterior as paredes ac ad emi cas . (11 )

    Adiantamo-nos mais urn passe em nossa anali se, e vem o-nos em posi gao de apresentar um outro aspecto d esse mes m o problema, ref er indo-nos ao exemplo citado em outra c one -xao . Na luta de Napoleao contra seus criticos, aqu ele pode,como vimos, em virtude de sua posigao dominante, desacre-dita-los assinalando-Ihe s 0 carateI' ideol6gico do pen sam ento .Em e stadio s posteriore s do seu d es envolvimento, a pala vr aideolo gi a e usa d a como arm a pelo proletariado c ont r a 0 gru- po dominant e. Em suma , uma penetragao tao Tevelado ra das bas es do pen sam ento como a oferecida pelo con ceit o de ide o-rogia nao pod e continual' indefinidamente como pr ivil egio ex-clu sivo d e uma classe. Mas e precisamente e ss a e x pansao ,essa difu sao .do p rocesso ideol6gico, qu e leva afinal a um aco njun tur a em qu e nenhum ponto de vista e nenh uma i nt er - pre tac;ao po d em tac har todos os d em ais de ideol 6gicos , semse coll)ca r em () s i mesm os na pos ic;ao de tel' d e a rrostm- ame sma aCllsagao . Desta maneira che gam os inadvertidamen -

    te a urn novo estadio met odol 6gi co n a anal is e d o pensame nt oem geral .Ocas i6es hou ve, com e fei to, em que parec ia prerrogati va

    do pro letariado mil ita nte us aI' a anal is e i d eol 6g ica para d es-

    1.•) Com rel a~iio it estr utur a e its pec uliar ir1ades do p eusam ento es·coh tsti w e de qualq uer catego r ia d e pensa m ento monopol izador. veja ,Jtraba l ho Qu e 0 autor apresen to u, em Z11ri ch, ao Sexto C ongr es so ciaDculRche Gesellsrhajl Jiir 80z -iolo!Jie . ., Di e Bed eutung c ler Konlt urrenz i mGeb iete d es Geistigen". Verha ncll1i1t!Je n des sechsten de1bts chen 1 -30 ziolo,y en /a gc s i n Zii,-i" ' l (J . C. B . Mo hr, Ti.ib ingel l, 1029).

    ma scarar ~S.motivos ocultos de seus adversarios. 0 publicoesq ueceu rapldamente a origem hist6rica do termo, que aca-?am.o~ ?e descr ev er, e tal esqu ecimento nao era detodo in -JustIflcavel, p ois , embora ja conh ecido, esse processo critico

    d e ~ st.udar 0

    pensam ento foi pe la primeira vez acentuado emeto~lc ame nte desenv olvido pelo marxismo. Foi a teoriam~r~gsj .a q~le pr i~eiro log r ou fundir . os conceitos parti cular e \ .talde ld eol og 'la. Foi essa teoria que p r imeiro acentuoudevld am ent e 0 p apel da posi gao e dos in te r es se s aa .--· cf asse-no pensa m ent o .. D~ vido, em gra nd e part e, ao fato de se -in 'sri =ra r no ~ege!l3:l1lSmO,p~de 0 marxismo ir alem do simples

    pl~ no pS1 .col oglC od e a na lise e coloca r 0 problema num en-calxe mals completo e f ilos6fico. 0 con ce ito de "falsa cons-

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    gias e por demais ampla em sua aplicagao, por demais im- portante como arma, para tornar-se monopolio per:n~nent ede um unico partido. Nada impediria que os adversarIos d omarxismo se valessem dessa arma e a aplicassem contra 0 proprio marxismo.

    5. TRANsIgAO DA TEORIA DA IDEOLOGIA 11 .. SOCIOLOGIADO CoNHECIMENTO.

    No capitulo anterior reconstituimos um processo de qu ese encontram infuneros exemplos na hist6ria intelectual e so-cial . No desenvolvimento de urn novo ponto de vista, ur n partido desempenha 0 papel de pioneiro, enquanto os de:n~is , para destruir a vantaO'emdo adversario na luta competItlv u,fazem necessariament~ uso do mesmo ponto de vista. Fo iexatamente 0 que se d eu com 0 conceito de ideologia. 0marxismo limitou-se a de scobrir uma chave para a compr e-ensao e um modo de pensamento, de cuja completagao gra-

    dual todo 0 seculo XIX participou. A formulagao complet adessa ideia nao e merito exclusivo de nenhum grupo unic o,nem se liga exclusivamente a qualquer posigao intelectual esocial unica. 0 papel d esempenhado pelo marxismo n es, se processo merece, sem dllvida, um lugar sobressalente na hIS-toria intelectual e nao deveria ser diminuido. Mas 0 pro-ces sa pelo qual' 0 metado ide ol6gico se vulgariza e difunde ,desenrola-se diant e de nossos olhos e e, pois, suscetivel d eobservagao empirica.

    E interes sant e obse r var que, em conseqliencia da expan-sac do conc eito id eol6g ico, surgiu pau latinam ente tOda um anova maneira de com preensao. E ss e novo angulo intelectualco nst itui nao apen as uma mu d an ga d e g ra u num f enam eno

    ja operante , m as urn e xemplo do proc esso dialetico real, fre·q lientemente mal interpretado para fins escolasticos - po~ s'le mos, aqui, uma diferenga de grau transformar-se numa dI-fere ng a d e especie. Tao logo todos os partidos se sentemap tos para analisa r as ideias dos adversarios em termos ideo·16 gicos, todos os elementos de significado sao qualitativa-me nt e alt erados e a palavra ideologia adquire urn sentido to-talmente n ovo. No decurso desse processo, todos os fatare sde que tratamos na nossa analise historica do significado d otermo sao , tamb em, correspondentemente transformados: Os problem as d a falsa con::lcienciae da natureza da reahdadeadquire m , dai em diante, um novo sentido. Esse ponto devista n os f orga finalmente a reconhecer que nossos axiomas ,

    ~lOssaontologia e nossa epistemologia sofreram uma trans-formagao profunda. Limitar-nos-emos, no que se segue, aassinalar as varia g6 es de sentido pOl"que passou a concepgaod e ideologia no decurso dessa transformagao.

    Ja. reconstituimos 0 desenvolvimento que levou do con-

    ~eito particular de ideologia ao conceito total . Essa tenden-cia esta sendo constantemente intensificada. Ao inves de secontentar com mostrar que 0 adversario e vitima de _ ilus6ese deforma< ;;6esnum plano psicol6gico ou empirico, a tenden-cia moderna e submeter tada a sua estru tura de conscienciae pensamento a uma analise sociol6gica profunda. (17)

    Enquanto 0 individuo nao questiona a propria posigao,mas considera-a absoluta e interpreta as ideias do antago-l'lista como mera fungao da posigao sodal pOI'este ocupada,re sta-Ihe ainda dar 0 passe decisivo. E bem verdade que,em tal caso, esta sendo usado 0 conceito total de ideologia, pais que 0 individuo se interessa em analisar a estrutura doespirito do adversario em sua totalidade, e nao apenas emd estacar umas poucas proposi< ;;6esisoladas. Mas como, nocaso em aprego , 0 individuo se interessa apenas numa anali-se sociol6gica dessas ideias, jamais ultrapassa uma formula-~a o muito restrita, 0 que proponho chamaI' uma formula~aoespecial da teoria. Em contraste com essa formulagao espe -cial, a forma geral (i s) do conceito total de ideologia e ~usa-d a pelo analista quando este tern a coragem de sujeitar aanalise ideologica, nilo apenas 0 ponto de vista do adversa-~'io,mas todos os pontos de vista, inclusive 0 proprio. .

    No atual est :idio de nossa compreensao, e extremamenteui ficil evitar essa formula~ao geral do conceito total de ideo- -Iagia, segundo 0 qual 0 pen samento de toc1o sos partidos, emt6das as epocas, e de carateI' ideol6gico. Nao existe uma sO - po si

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    formas . 0 pr6prio marxismo ja se tem revestido das fo r -mas mais diversas. Nao d eve co nst ituir prob lema para u r nmarxista reconhecer a base socia l dessas formas.

    Com 0 aparecimento d9 - form ula~ao geral. da concep~ iio

    total de ideologia, a simples teoriada ideologla transform a-se na sociologia do conhecimento. 0 que foi outrora, a arm aintelectual de urn partido (19) se transform a num metodo d e pesquisa da hist6ria social e intelectua l. Pa~a c~me~ar, ~ mdeterminado grupo social descobre a "determma~ao Sl~uacl o-nal" (Seinsg e bund e nh e it) das ideias do adversarlO. Ma~s !a ~-de 0 reconhecimento de sse fato econvertido num prmclp lOun'iversal, segundo 0 qual 0 pensamento de qua~qu er gru poe atribuido as suas condi ~5es de vida. (20) Asslm, torna- setarefa da hist6ria sociol6gica do pensamento analisa r , semcon side r a~ao por facciosidades partida.rias,. todos os fat6~ esda situa ~ao s ocial vigen te capazes de mflmr n.o })ensame~ w .Essa h ist 6ria socioloa -icamente orientada das ldelas d es tm a-se a fornecer ao hom~m mod erno uma versao revista de to do

    o proces so his t6rico . . .E evident e, pois, q ue n essa conexao 0 concelto d e. Id ~~ -logia a d qui re uma nova signi f ica~ao . E dessa nova slgnif l-cac ao sur a-em dois metodos de investiga~ao ideo l6gi ca. 0 p:rf m eir o cO onsistee m lfIDi fai -"Se 0 estudio so a revelar, em to-da s as situ a~6e s pre se nt es , as rela~6es existentes entre. 0 pon to de v ista inte lectua J. e a posi~ao soc ia l ocupada pe tosque 0 profess ar .o .. Isso e nvolve a renuncia a toda i nter- gaode den un ciar ou d esma sca r ar as opini6es com que 0 estl1 -dioso nao co ncord a.

    Q w mc10 um ind ivid uo proc ura d es mas car ar as o pml Oe.3de u r n antagon ist:l , 6 fon;ad o a f azer com qu e a s s ua s O pl-ni6es parer;am i nf aliveis e a bsolu tas, ~roces ~o i~teir am e~t., :!conden2 .vel para qt :em visa fS.ZCT nm a lD .vestlgagao. e~pecl!2 -camente nao :lvali ativa. 0 segundo processo co nSlsce , na )

    o bstante , em combinar essa an alise nao a va liativa c om U ff i1 .epistemolcgia c 1efin id a. Pe r ant e ess e ~ eg.un d o p r o~e ~so,. exis-ter n du2.S so lu ~6es indep endente s e dls tm ta s a pllc avels ao problema do que const itui c onhecimento fi d ed igno . A pri -mei ra c hama remos reZacionismo e a segunda, 'f'eZat iv'ism o .

    o relativis m o e urn p roduto d o mo d erno proc esso hist6-

    l~) CL ~ eX[)1'8SSaO mu r xista : .. fo rja:' as ar maB i lltel ectuals d o p r ,'-

    leturiud

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    de ve r dade? Seja qual fo r a respo sta, um a co isa e certa:nesse estadio, a va esper anc ;a de d es co brir a v erd~de , z:umaforma independente de urn grupo d e s ignificad os hlsto nca esocialmente determinados deveser ab ando nada d e vez. E ssaconclusao esta longe de re solve r 0 pr o ble ma, l l1 3;s. 210 men oscoloca-nos em posi

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    tua m ento na d esc ri< ;ao d a condut a rea l d o se r hum ane n essasesf eras . N ada pod eri a se r mais inc orreto d o q ue descre ver,co m base na es colh a co ns cie nte ent re v alo r es, a ati tud e r ea ld o ind iv ic1uo ao apr eci ar ir r ef letid am ente uma obr a de ~ r teou ao ag ir co nsoant e norma s. etic as ne le incul cad as d eset e ainf anc ia.

    A opini ao d e qu e t6da a vida c ul tura l e uma _or ientaQao para val or es obj etivos constitu i mais uma i lustraQao d a d es -co nside ra< ;ao rac ion ali sta , tip icame nte moderna, p :los mec a-nismo s basicos ir ra ciona is que go vernam as re lago es d o h?-mem com 0 seu mun do . L oncre de ser per m ane nteme nte va -lida , a interpre taQ ao da c ul tu;'a e m f unQao de va lores ob jeti -vos e , na r ea lidad e, uma car acteris tica pec ul iar ao pe nsa m en-to cont em ponl neo . Mas, s u posto m es mo q~ e se co?c:da pro -vi sor iame nt e a lcr um mer ito a essa concepgao, a eXI stenc la de

    b ~ f t .

    cer tos campo s formais d e valore s e sua e str utur a e sp ecr tlcas6 ser iam int elio-ive is com r efe r encia as situagoe s c oncr et ascom q ue t er n re l~Qoes e em . q ue sac vaJidas . (22). Na o ex iste , po is, nor m a algu m a q ue se po ss a ar r ogar va lld ad e ~orm alou q ue possa ser a bstrai da, com o e lem ent o f or mal ulll ver sal

    con stant e, de se u con teudo his toricame nte variavel .Ch eg am os ho je a urn ponto d e on d e p od emos v el' c lar ~-

    m ente q ue existe m dife r en gas em mo d os de pen samento , naos6 em di£ er ente s pe r iod os hist6rico s, mas em d if erent es ct~l -tur as . R aia POllCO a pouc o p ar a n6 s a verdad e d e q ue naos6 0 con te lldo d o pen sament o mud a, ma s. tamb em sua. est~u -tur a cat eg 6ri ca. S6 In ui rece ntemente se t or nou poss lvel 111 -vest igar a hi p6tese de q ue, no pass ad o· com o no pr es ente, o smo d os domi nant es d e pensam ento sac su pla ntad os par Eo vascat egor ias qu ando a ba se socia l do gr u po, d e q ue sac c a.r acte -ristica s essas f or ma s d e pe nsam ent o, s e c1esi nte gra ou setr ans f onna so b a pr essao da muc1an ga social .

    A inv estigagao , na so ciolog ia d o conhe cimento , prom eteatino'i r um a fase de exa tid ao , ~e nao por oub'uS motIvos, aom en~ s pOl' que em nenhu m outro se toT da c ultur a e a in te.r -d epen d en cia nas v ar iaQo es de s igni f icado tao ev id ente e taoexata m ente deter mi nav el como no pr6prio pensamento . Su n. por qu e este e um indic e pa r ti cul ar me nt e sens ivel das tra ns -forma g6 es soc iais e cu ltu ra is, A val'iagao no sent id o das pa -

    ~3) Ve jo. La,;!c, E ., I!ie [,of/il~ rlrT ['I,ilosophie IIl!d di e f C"tr !J f Jl·i"n-I('h,.e , (TiilJing en. 1911). Lask USD. () tern\() l>infjc? lcil [l ara eXp llCD.l', qneas t orU las categ6 r icas n rw san vtUillas en1 ::;i, mas ap J na :: ; com ... ret er en ...c1..lP o ~eu contef tJc se mpre vD .r i

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    dor pode responder , se acu sado de evadir 0 problema da de-f ini~ ao da ve r dade, que 0 ace sso indireto a verdade , atr avesda histo r ia social, revela-se mais proficuo do que 0 acessolog ico dir eto. E, embora nao descubra a "verda d e em sime sma ", d escob r ira 0 ambien te cultural e muita s "circuns-tan cias" ate entao ignorada s, ma s impor tan tiss imas pa r a ades cobert a da verda d e. 0 f ato e qu e, s e a cre di tar mos ja possuir a verdade, perderem os int ere sse em alc an~ar os pro- prios conhecimentos intuitiv os que no s pode r iam alL'riliar acompreerider aproximadam ente a s itua ~ao. E precisamentea nossa in ce rteza que nos ap r oxima da :re alida d e, m~ito mau:do que er a pos sivel nos pe riod os a nter iore s, q ue bnh am f eno a bsoluto.

    Ja se torn ou suficie ntem ente claro que s6 num mundointel ec tual sujeito a r a pid as e pr ofundas modifica~6es , po-diam as id ei as e val ores, ate e ntao con sider ad os fixos, ser submetido s a uma critic a p r ofund a. Em nenhuma out r a si-tua~ao podiam os h omens estar suf ici ent emente alert a paradescobrir 0 elemento i deo lo gico ex iste nt e em to do pens amen-to. E bem ver d ad e que os hom ens semp re comb ater am as

    ideia s do s adve r sarios, mas , no p assa do, as m ais d as veze s,fizeram-no a penas para pod er afe rr a)"- se a inda ma is tenaz-ment e a s eus a bsolu tos. Ho je, existe um a dem asia de pon-tos de vist a de i gual val or e pres tigio, c ad a qu al demon str an-d o a r elat iv idade do outr o, par a que p ossamos to mar uma posi ~ao q ualqu er e considera -la inexpugna vel e absolut a. S6essa situa ~ao i ntele ctual so cia lm ente desor ga niz ad a torn a possivel a perc ep ~ao - ate en tao ocul ta a os n os sos olho s por uma estrutura social geral me nte est ave l e pe la pr aticabili-d ad e d e c ertas n orma s t radi ciona is - de que cada ponto devist a e peculi ar a um a situac :;ao socia l. (24) E poss ivel que , para agir , neces sit em os de uma cer ta q uantid ade d e confian-~a em nos mesmos e firme za inte lectual . E pos sivel , tam - be rn, que a form a m esma d a exp r es sao co m q ue re ves timo snos sos pensa m ento s tenda a l he s imp or um to m abso lut o.

    M as , em nossa epoca, e preci sam ente 0 papel da investig a~aohi st6rica (e, c om o ve rem os , dos gr upo s sociais o nde se r ec:ru-tam os erud itos) ana lisa r os ele m entos cons tituin tes d e nos-sa fir mez a, t ao i ndisp ensaveis a agao nas situa~6es i me d ia-tas e co ncretas, e neutral izar a po ssive l faccios idade d eco r -

    24) POl' estab ilid ade soc ia l na o e ntend emo s a ausencia d e aconteei-me ntos ou a seg uran! ;a p essoa l dos individuos, mas s im a r elatiYa fixid ez'Ia es tr utura t otal Yige nt e, fl ue g arant e 11 es tab ilidade d os ya ,]or es e d ad ide ia ,s d omi nantes.

    J:' entedaquilo que, como individuos , temos por ax iomatico.Isso s6 se consegue mediante uma aten~ao sem treg~a. e ~f irme de ter minac :;ao de redu zi r a urn minimo a tendencla < i tauto-a po teose . Co m es se esfor

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    de da natureza do conhecedor. Isso e verdade, em primeirolugar no que diz rp ~:peito aprofundidade qualitativa de nos-so c~nhecimento (pirticularmentequando tentamos cheg~r a uma "compr~ensao" de algo, em que 0 grau ?e penetra ~aoa atirigir pressup6e a semelha_n«a ~ental ou Intelectual O "doentendedor e do entendido.) E veraade, em segundo lubar,quanto a possibilidade de formular intelectualmente 0 nossoconhecimen to, em especial porque, para se transformar emconhecimento, cada percepgao e e d~ve ser ordenada e orga-nizada ,em categorias. Mas a medlda em que podemo.s o~ -ganizar e expressar nossa experiencia em fo:m~s C?nCel~Ua~sdepende, pOl' sua vez, dos quadros de ref~rencla dlspomvelsnum dado mom ento hist6rico. Os conceltos que ternos~ 0universe racional em que nos movemos, assim como as dlre-goes em que tendem a se elaborar, depende.m grande menteda situagao hist6ric o-social dos membros ll~ .telectualmenteativos e responsaveis do grupo. TeID:0s, pOlS, :omo temadesse estudo nao valorativo da ideologla, a relagao d e todoconhecimento pa r ci al e seus elemen~ os componente s com . 0corpo mai s lato d e s ignificados e, f.ma~mente, com a est~u -tura da realid ade hi st6rica. Se, ao mves de levar n~ . d~vldaconta essa percepgao e suas inferencia s, a rlescon:)lde:as~e-m as , ab ando nar iamo s uma po si

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    alarm ar ao com esse r econhe cimento os individu os vitim asdos p r econceitos positivistas da gera~ao p assa da, e que ai n-da cr eem na possibilid ade de emancipar- se 0 p e~ s~m ento ~o ~r completo d e pressuposi g6es ontol6gicas , . :ne1 ;a fISlC as e et 1-cas. (26) Com efeito , quanto mais con scl encl il ~ e t o~a da s

    pressuposig6es subjacente s ao pensamento , n? mter esse da .investiga~ao puramente emp ir ica, mais e m alS apare nte. ~s etorna que esse procedimento empirico ( pelo men os na s. c~e n~cias sociais) s6 se pode p ro ce ssar com b ase em cer tos JUlZ ~Smeta-em pir icos , ontol6gicos e metafi sico s, e il2 :lS expe ctat :-vas e hip6teses que d eles d ecorrem: . quem na o toma dec ~-sOes nao tem perguntas a f aze r, e na o e capaz sequer de aa.-risc ar uma hip6tese que 0 ha bilite a . fo rmul ~r um pr o blem~e procu r ar na histor ia a sua respos~ a: F elIzmer:t~, 0 pO S'I .-tivismo transigiu formul ando certos JUlZO Sme~flslcO,S . e Oi!1-tol6gic os, a despeifo de sell S preconceitos antimetaflslcoS esua s pr eten s6es ao cont r a-rio . Sua fe no prog r esso ,e

    Aseu r~3;-

    lismo ingenuo, em cas os es peci ficos, s ao ex emplos d esses . J_m-zos ontol6gico s. Foram pre cisamente essas pressupos~C ;;~ soue h a bilitar am 0 pos itivi sm o a fazer tanta s c ontnbUlc;;oe .si~portantes ao pensa m ent o, co ntribui g6e s essa s q ue, pOl ' mm-tos ano s dev er ao ser toma da s em cont a. 0 pengo da s pre s-SUPO Sig6 ~S.n3 00 ests . a pen ~s no fato ?~ eXis 2~irem, ou .de se~rem ant enore s ao conheC imen to em plrlC O ( ), mas Slm em

    tu~ 0 nosso mund n r eal c que ! l U() 'Jnd em o3 p,i ,' lIe lad o o, plicand o-llHl (!Jw 1 ;. . . I -.a '" I U O S :: -inr6tulo

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    cidade dos pormenores - de que emerge a sequencia hist6 -rica orden ada - estao as verda des finais e permanentes , quetranscendem a hist6ria .e sac indiferentes aos po r menore shist6ricos. Co ns eqiientemente, julga- se existi r uma fon te in-tuitiva e inspi r ada de hist6ria" que a hist6ria verdadeira re-

    flete ap enas de modo imperfeito. Os leitores versados emhist6ria intelectual nao terao dificuldade em reconhece r queesse ponto de vista deriva diretamente do mi stici sm o. Osmisticos sempre su stentaram a existencia de v erdad es e valo-res que transc endem 0 espago e 0 temp o, e que t em po, espa goe tudo quanto dentro d ele s ocorre sao a pena s apa r enci as ilu-s6rias quando comparados com a realidad e d .a exp erH ~nc iaestatica do mistico. Mas, na sua ep oca, os m is tic os nuncaforam capazes d e demon strar a verda d e dessas afi r m ag6es.A ordem do s acontecimento s cotidiano s er a ac eita como urnfato empirico , estatico e concreto , e os incid en tes inu sitado seram consid erado s manife stagoes da vont ade a r bit r aria d eDeus. 0 tradicionali smo reinava supremo num mun do Clu e,embora rico d e acont ecimento s, aceita va uma s6 mane ir a, / eess a estav el, d e inte r pr eta-l os. Adem ais, 0 tr adic iona lismonao aceita va as revela go es do misti cismo n a s ua forma pu r a,mas inte r pretav a-a s a luz . d e sua relagao com 0 sobr enatural, pois a exper ie ncia ex tat ica e r a considerad a um a com unha ocom Deus . A int er depe nd enc ia ge ra l de tod os as ele m entosde si gnific ad o e s ua relativid ad e h ist 6rica tor nara -se, ness einterim, tao clar am ent e :re conhecida , que ja passava pO l' axio-matica e evidente . 0 que constit uia outr ora 0 conh ecime ntoes oterico de n ns poucos iniciados pode, hoje , ser m eto dica-mente demon str ado a q ualquer pe ss oa. Tao pop ular se t or -nou es sa atitu de que a inte rp re taga o sociol 6gica - 0 meSillOsuc ed en do a inter pr etagao hi st6rica - e usad a, em certascircunstancia s, par a nega r a rea lidade da exper ien cia coti -d iana e d a hist6ria pOl' aque les que vccm a real idade comoext erior a hist6ria e exis tent e no r ei no da expe riencia mis -tic a e extat ica.

    POI' outr o lad o, exis te ma is urn modo de abo rda r 0 pro - blem a, que tambem pod e c onduzir a pesq ui sa so ci ologiC -a ehisttri ca . Decorre da nog5 .o de que as mu dan~as nas rela -

    \ ,

    " j- \,

    nhecido que nenhum estadio hist6rico e permanente e abso-luto, mas qu~ a nat~re~a ,do processo hist6ri -co apresenta urn problem~ cUJa soluC ;aoate hoje desafia os espiritos mais ar-gutos~ ?ao nos contentaremos mais com 0 presumido desdemd? .c~;bco para com ~ . hist6ria, chamando-a de "simples his-

    tona , Pode~se a~mlbr que a vida hurnana e sempre mai sd? .que se con segmu descobrir nela em qualquer periodo his-tonco ou em qualqu er complexo de condig6es soci? -is, e maisque , mesmo depoi s de se levaI" na devida conta todo s esse sf atores, remanesce ainda um rei no eterno, espiritual , situa-do alem da hist6ria, nunca perfeitamente incluivel n esta, eque imprime significagao a 'hist6ria e a experi encia sociaL Nao se conclua d ai que a fungao da hi st6ria seja fornece r uma exposic ;ao do que 0 homem nao e; devemos an tes COl1-sidera -la como a matriz dentro da qual se expr essa a natu-reza essencial do homem. A ascensao dos homens , de sim- ples peoes no tabuleiro da hist6ria a plena estatura human a,se processa e se torna inteligivel no curso d a variagao d asnormas, form as e labo r es da humanidad e, no cu rso da m u-danga das in stituic;6es e objetivos cole tivos, no cu r so das su- posig6es e pontos de vista variantes, em fungao dos quai sca d 2. sujeito s oc ial-hist6rico toma consci encia de si mesm ae adquir e uma a preciagao de seu passa c1o . Exi ste, natura l-mente, a dispo sigao de considerar todos esses fenome nos cad avez mais como sintomas e integra-l os num si stem a, cuja uni-dade e se ntido c a be-nos compreender. E mesmo que se con-.ceda que a experiencia mistica e 0 unico meio adequado d er evelar ao hom em a sua natureza fin al, cumpre admitir queo elem,e~to ineiti ve l que con stitui 0 objeto do s mistic os deve ,necessa name nte , ter um a relaca o com a realidade social ehist 6ric a. Em ul tima analise, ;s fatores qu e mold am a re a-lidade hi st6r ica e soc ial determin am t ambem, ate certo po n-to , 0 d es tino d o homem. Nao s era conce bive l qu e 0 e lem en -to ex tatico da exper iencia hum ana, que , na n atu rez a d o caso .

    mmca e d ire tamen te r evel ad o ou ex pre sso , e cuj o s ent ic 10nunca pod e s er plena m ente c omunicado , pos sa ser d es co berto pelo s ves tigios q ue c 1eixa na traj et6ria hist6 r ica , e ass im re -vel ado a n6 s?

    Esse ponto d e vista, sem clllV ida ba se ado man a atitude par ticul ar pe rant e a rea lic1a d e soc ial e hist or ica, re vela, a umte m po, as possib il idades e os li m ites q ue the sac ine:re ntesno que d iz r espe ito a com preens ao c1a hist61'i a e cIa v ida so-cial .- Devido 2~O d csprezo q u e d ed ica a his t6ria, a co nce pgaomi stic a que a cO lls idera de u m angulo extramun d an o c or reo ri sco de nao perce ber as i m port;l ntes liGoe.s q ue a hist6ri a

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    oferece. Nao se pode es perar uma verdadeira compreensaod a hist6 r ia de urn pont o d e vista que deprecia a importan-cia da realidad e hist6rica. Urn exame mais circunspecto dos

    . f atos mostrara que, embora nenhurna cristaliza~ao final sur- ja do pr ocesso hist6rico , algo profundamente importante re s-surn a d a hist6ria. 0 fato mesmo de que cada acontecim en-to, cad a e lem ento d e significad o na hist6ria se a .ssocia a um a posi ~ao tem poral, es pacial e situa cional, e, pois, d e que 0 queacon te ce uma vez na o pode a contecer semp r e, 0 fato de osacont ec im entos e si gnificados da hist6r ia .nao serem revers i-veis - em surn a a circunst ancia . de jamals encont r armo s nahist6ria si tua ~6e ~ absolut as -.:..-indicam qu e a hi st6ria s6 em ud a e insi gni fi cativa p ara aqu eles que nada esperam ap r en-d el' dela, e qu e, no se u c aso mais que ~o ?e. q~fL~qu erout!ad isciplina, a atitude qu e considera a hls~ ona .s~mples hl S-t6ria ", com o ado s mi sticos, esta fadada a estenhdade.

    o estud o da hi st6ri a intelectual pode e dev e s er empr e-endido d e maneira qu e s eja na seqli encia e coexist encia d osf en om eno s mais . d o que s imples re la~ 6es acidentais, e pr ocur edesco bri r na t ot ali dade do processo his t6 rica, 0 papel, 0 sen-

    tido e 0 's ignif icado de cada parte compon ente. :It com essetipo de a titude so cio16g ica perante a his t6ria que no s identi-ficam os . Apurando -se p r og r es sivamente esse metodo em po r - .me nores co ncretos, ao inv es de deixa- lo perma ne cer num a base mer am ente espec ul at iva , e f aze nd o-se cada ava n~o c om base e m m ateri a is con cr et os dispon iveis, ch eg ar em os f inal-me nte a um a dis cip lina q ue coloca ra a no ss a d isp osi£ao um atecnica soci o16gic a par a dia gno sticar a cultu r a d e uma epo ca.Pr ocura mo s a pro ximar -n os d e sse o bjeti vo em c ap itulo s an-teriores, quand o tencio namos mostra r 0 valor da conc ep~ aode ide ol og ia para a ana lis e da situa~ao in telec tual conte m- pora nea. Ao an alisar o s d iversDs tip os d e id eolo gia, nao pre -ten demos simnlesme nte tabela r exemplos esparsos de si gnifi -'cados do t eI '~o ma s a pres entar, na seqli encia dos significa -dos varia ntes, ~ cor te a na tom ico da situa~ao t ota l, in te -lect ual e s ocial de n ossa epo ca. T al m etodo d e di agnos ti car uma epoca, co nquanto possa com e~a r com o n ao val or at ivo ,nao permanecera muito te mpo ne utro . E ve ntu al m ent e, se-r emos fo r ~ados a ass um ir uma posi ~ao valorati va . A t ra n-si~ao para este ponto de vist a t or na-se nece ss ar ia d es d e, 0 principio , pelo fato de ser a h ist6ria i nint eligiv el com o h1 S-t6ria, a menos que se acen tu em al guns de seus _ aspectos e mcontraste com ou tros . Essa s ele ~ao e acentu a~a o d e ce rtosaspec tos d a total idac1e histor ica po de ser c onsi de r ad a co mo

    o primeiro passo na di r e~ao ' q ue f inalm ent e conduz a um pr o-cesso valor a tivo e a jUlzos ontologico s .

    Atr aves d o p r oces so dial etico d a histori a, ocor re , ine vi -t~v elmente , a tran si~ao gradual da concep ~ao nao vaJorat i-va , total e geral , para a conc e p~a o valo ra tiva. 0 juiz o d evalor a que agora nos ref er imos e, por em, mu ito difer enteda quel e que e m p ag inas ant er iore s descrev em os e est udamo s.Ja nao aceit amos como absolutos os valore s de um d ado p e-riod o, e a p ercep~ao d e que no r mas e v alo r es sac hi storica esocialmente determ inados nunca ma is nos sair :i do espirito .A enfa se onto16gica tran sf er e- se, agor a, a outra serie de pr o- blemas. Seu proposito sera d is tinguir 0 verdad eir o do fals o,o genuine do espliri o, entre a s norma s, m od os de p ensament

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    q uand o a agao nao eti ca do indi viduo na o s e pod e mais c on -cebcr como de vida a uma tra nsg r essa o pe sso al, m as d eve ser at l' i buic1 a tt comp ulsao d e urn conjunto de axiom a~ r nora iserigi d os s6 br e fundam ent os er r 6neos . A int erp re taga o mo ra ld a aga o ind ividual n ao e va lida qu ando, para lisada pe l a in-flu €m ci a d os modos de pens ame nto e condig6es de vida tra -

    d icion ais , nao leva na d evida conta a acomod agao d a agao ed o p ensamento a uma situagao nova e a lterada, e, fin almen -te, ob scur ece e impe d e esse a justa m ento e transforma .gao ~ohome m . VIDa teoria e err6n ea q uando, numa d ada sl t~agao pra tica, us "a conc eitos _ ~ cat egori as _ q u e , se torna d os . a s erio,i1n ped 'ir ia m 0 horn em de se aj ust£l.r a esse. estadio histor ic o. Normas, modo s de pens am ento e teor ias a nt iqu ados e inapli-caveis propend em a de ge nera r em ideo logi as c uja f un ga o e

    . esco "nder 0 verdade iro sentido da cond u ta, e nao r evela -lo . Nos pua gra fo s que se guem citare m os alguns exe mp lo s c a-l'act er ist icos d os mais ' im portan tes ti pos d e pe nsam ento id eo-16gi co que a cabamos de descrever.

    A histo ria d o' ta bu cont ra os juros co bm d os s6br e em- pr esti m os (29) se~vi ni para ilustrar a transformagao de umano rm a et ica an ti q uad a n uma ideo logi a . A r eg r a de q ue osempre~ti m os de viam ser fe itos se m ju r os so podi a ser apl ica -da num a soc ied ade eco n6mi ca e socia lme nte base ada em re -lag6es intimas e nt re 'lizinhos . Num mundo s ocial d es sa es- pecie, "e m prestar sem juros" e um u so cuja o bse rv anci a seimp 6e se m d if iculd ad e, po is 8 uma f orm a de c onduta que cor -resp onde fun da m en tal me n:e a estrut ura soc ial . Nasci d o numm und o de relag6es intiIl 1aS en tr e viz inhos , 0 pr eceito f oi as-simi lado e f ormal izado pe la I greja no se u sist ema et ico .Quanto mais se moc 1ifi cava a est~utura real d a sociedad e,1113 .ise mais ass um ia esse pre ceito um car iJ.te r ideo logico, t or -nando -se virtualmente incapaz d e ace itac.ao prat ic a. Sua al' - bin '2 .riedade e seu CaI'::,ter supramundano tornaram -se aindam ais evidentes no pCl 'iodo da e x pansa o ca pital ista, quand oaiterada a sua £un c2 .o, pede e le s er u sa c1 0 c omo ar! 'J. la na s

    maos d 2 0 Igre ja co n-tra a f 6rga eco n6mica emer ge nte do ca - pita lismo . A I:lec1i da que 0 capitali smo tomava fei c.6 es maisdefi nidas, a nat ur ez3 . icko 16gi ca c1es sa n orma , exp r essa pelofato de a mesn:a 5 6 Doder seY "bur la da ao i nves d e ob ec 1eci c1a,tornon -se U io p atent~ q ue a propr ia Ig r e ja a a bando nou.

    Con: .o exemplos da "falsa cons ci€ mcia" a as snmir a fo r -

    ~!J I Para a (\'Jcumenta

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    cia, e din ami co pO l'qu ees ses juizos sao sempr e aferid os pOI 'um l:' realid ade em f luxo constante. (~2)

    POI' complicadas q ue possam parecer e ssas .d~ s~iJ?' ~6es.3- pr im eira vista, nao as cremos em absoluto artlflCIaIs, . p.OlSC lonsti tuemapenas uma formula~ao precisa, uma tentatIva

    explic ita de e x plorar as conseqiiencias l6gic as ja cont id as na1inguagemcotidiana do mundo moderno:. .Essa concep~aode i d eologia . (e utOPI~) afIrma que , ale m .

    d as fontes comumente reconhecIdas de err o, d evemos tam-.oe ml evar em cont a os eIeitos de uma estru tur a m ental d e-lor m ad a. Toma conh ecimento do fato de qu e a " realid ade "q ue d eixamos de comp re ender pode ser di.nam ica, e de quena m esm a epoca hist6r ica e na mesma socIe d a~ e p od e haver var ios tipos deformados de estrutura mental mterna, algu-i'nas porque aind a nao se desenvolveram completam ent e, ou-tra s porque ji ultr a pass aram 0 present e .. E~ am~os os ca-

    . sos, porem , a r ea lidade a ser compreendIda e ~efo rmad a ei esc ond ida, p ois essa c oncep~aode ideolog ia e utopIa trat a com

    um a r ealidad e q ue s6 se r evela na prati ca. De qualqu er for -ma , as pre ssuposi~6es contid as no concei to din ami co ~ va lo-.!Sativ ode ideologi a se fundam em experi enci as qu e, na m e-]hor d as hip6 teses, pod eriam ser conc ebiv el me nt e compreen-d idas < .1euma manei ra difer ente da qu e aqui pr opom os , m asq ue em c irc un sH m cia a lg uma pod el oiam ser de s pre za d as.

    10. A BU SCA D A R EALIDADE ATRAVES DA ANALIS E IDEO L6GI C AE UTOPI C A.

    A tent ativa d e esc u par a s d eforma c; 6esideol 6gicas e ut 6- picas e, em ul tima an alise, urn modo de procura r a re alic1 ?-~e.Essas d uas c0l1 cep

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    nature za da realidade f6s se um mere pr,oduto especulativod a ima ginac ;ao, poderiamos facilmente del xa-lo de pa!te .. Mas~a medida que nos adiantamos em nosso. e ~ t,:do, malS eVlden_ te se torna que e precisamente a ~ul~rrhcldade dO: concelto s de r ealidade que produz a multI phcldade de no" ,sos mo-

    . , t l' 'co que fazemosdo s de pensam ento, e que cada JUlZOon 0 Ogi.. ,. de grande alcance Seac arret a inevih l.veis consequencIas , . .

    . . d" ntoloo'ICOS que nosex aminarmos os mU ltos tIpos e JUlZOS 0 !:>- 'f t pos come" ar emos a su s-r :1 O apr es ent ac 10s pelos dl eren e s gru , . " .,.

    ~e itar qu e cada gr upo se mov a. num mun?~ d e IdeIas par~ticular e di stinto, e que e sse s dlfer entes slsLe~a~ de pe?~ame nto , muitas v ezes em confli to, p odem. em ultIm~, anahs~re duzir- se a d iferent es maneiras de ex penmenta r a mesmar ealidad e. ,

    Pod eriam os, naturalm ent e, deixar de t om ,ar c onhecImen -to des sa cris e de nossa vida int electual, qu e e 0 que se c os -tuma f az er na vida pr atica cotidiana, no c~rs? da qual con -tentam o-nos com p erce ber as c oisas e as rela< ;oes tCO~o a~on -tec imen tos isolado s, sem ir alem do se~ •.cont ex~o Imedla to part icu lar. (~ '1) Enquanto vemos o s obJ eLos d e nos sa expe-

    Densamento venham d ond e vicr em, n fw s ao cria~6es arbitl:arias, mas 3im;lleiO; mr ris' ou menos ad equad os d e compr eend eJ' e d Dmlll ar at> fo~:m as

    , . d " t' 'i e !JenSamentD que se 'Jx pre~sam

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    nossos dados e enriquecer a nossa - experiencia. E. ate po s-sive l que, em certa epoca, fasse esse 0 pont? d~ vIsta . apr o- priado . Mas, assim co m o as ciencias n~t~rals _sa? obrlgada sa investigar suas hip6teses e pressuposl~oes,.tao logo se r e-gistra uma dis crepancia e ntre os fatos, ? -sslm ~omo a ult~-

    rior pesquisa empirica s6 se ton:ou posslve~ apos u~a I' eVl-sao dos canones gerais de expl Ica~ao, aSSlm tambem, na sciencias cult urais, chegamos hoje a um ponto em qu e o s ~o ~-sos dados empiricos nos o brigam a formulaI' algumas dUV l-das sabre nossas pressuposi«6es. .

    A pesquisa empirica que se limita a uma e~fera_part

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    samento particularista. Isso era necessario, por um la do , para promover a pros secugao segura de sua pesquisa dos f a-tos , mas pOl' outro lade essa recusa de encarar 0 problem aconduziu muitas v ezes a obscuridade e ambigliidade com re-lagao as quest6es sab r e 0 "todo".

    Doi s d og mas tip icos pareciam particularmen~e aptos ~

    im pedi r a formula ga o d e pr oblemas fund ame~tals. 0 p'n-meiro era a teoria que con siderava simplesmente co m o m-sign ific antes as quest6 es metafisic as, fil~ s6 fic~s e ou tr asq ues t6es periferic as . Con soante essa teona, so as for m asespe cializa d as d e con hec ime nto empirico pod em pr ete J.1d~ r ~er va lida s. A pr6pria filosofia era consid er~d .a como dlsc:pl.m aespe cial , cuja preocu pag ao primordial l egltlm~ .era a 10g.l Ca.o segundo d esses do gmas , que impedia uma Visao do conJun-to, pr ocurava estabel ecer um ac 6rdo dividindo 0 c ampo emdu as ar ea s mutuam ent e exc lusivas, a ser ocupadas, uma pe laci encia empirica , out r a pela filos ofia ; as quest6es pa r ticul a-r es e im ed iata s f or neceri a as primeir as r es postas certa s ein sof ismavei s e quan to as quest6 es gerais e pr ob lemas d o"tod o", recor ~e r-se-ia a es pecula< ;6es filos6 f icas mai s "ele va-das ". Em outr as pal av r as , a fi1o sofia d esistiria d a p .r~ ten-sa c de basear suas conclus 6es em provas gera 1mente v all da s.

    Essa so lucao se asse melha curio sa mente a maxi ma d osteo ristas da rri. ona rq ui a con stitucion al, se gundo os q ~a is " 0rei reina mas nao gover na." A fi1oso f ia conced e. tod as '

    Aas

    honras . A e spec ula< ;ao e a intui

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    Cr istia ni sm o; para aprende -lo, c um pre recorrer aos Evange-lhos". (36) Essas ideias simp les lembram, por sua purezae ingenu idade, algum Eden i ntelee tual que nada sabe da re -vo lugao do conhecimento ap6s a Queda. Nao e raro verifi-car -se que a sintese, apresentada com a con_vicgao de .abran-ger 0 todo, revela-se fina lmente a expressao do malS aca-nhado provincia lismo, e que a adogao impen~ada de .qua lquer ponto de vista disponive l e uma das maneu:as malS certasde impedir que se at inja a compreensao cada vez mais latae completa, possive l nos nossos dias. . _,

    A totalidade, na acepgao em que a concebemos, nao euma visao imediata e eternamente va lida da rea lidade, atri - buto exc lusivo de um alho divino . Tambem nao e uma vi -sao auto -suficiente e estave l. Pe lo contrario, uma visao to -tal implica tanto a assim ilagao co m o a transcendencia daslimitag6es d e pontos de vis ta part icul ares . Representa 0 pro -ce ss o continuo da expansao do co nh ec ime nt o e tem co m o o b- jeto , nao alcangar uma conc lusa o eter namente va lida , masestender 0 mais possivel nosso horizo nte vis ual.

    Tirando da vida cotid iana uma sim ples i lu stragao do eR -

    f6rgo por con seguir uma visao tota l, consideremos 0 caso deum individuo em dada posigao soc ial, q ue se ocupa com os problemas indi viduais concretos q ue se the defrontam e, su - bito, de s per ta para descobrir as condig6es fundamenta is q uedeterminam a sua existencia int electua l e soc ial. . Num casocomo esse, uma pessoa q ue se ocu passe con tinua e excl usi -vamente com seus afazeres co tidia nos nao assumiria umaatitude suspicz .z para co nsigo e s ua pos igao, e nao obstante ,a despelto de sua seguranga, seria escravizada por um pontode vista particularista e parcial ate atingir a crise e, por -tanto, a d es ilu sao. S6 chegado 0 momento em que pela pri -meira vez se vi sse c omo parte de uma situa< .< aoconcreta maisampl a e ql1e s urg i~' ia nele 0 d esej o d e vel' as suas at ividadesno cont exto do todo. It verdade que a sua per s pectiv a podeser ainda ta o limi tada quanto 0 permite 0 exiguo ambito dasua experi encia; talvez a medida em que anali sou a situagaonao tr anscende sse 0 horizonte da cidadezinha ou do circulosocial limit ado em que se move . Todavia, tratar aconteci -men tos e s eres humanos como partes de situa g6es simi laresaquelas em que ele proprio se encontra e algo diverso de ape -nas l'eag ir im ec 1iatam ente a um estimul o ou a um a impres -

    36) R an ke , Das pol itisc he Gespl'(ich, ed. POl' R othacker, (Halle,19 25), p. 13.

    sac d ~reta. Vma vez apreendido pelo individuo 0 metodo d ese on e ntal ' no mun d o, ele e inevitavelmente arrastado alemdo exiguo horizonte de sua cidade e aprende a se compreen -d el' como parte de uma situagao nacional e mais tarde deuma situagao mundial . Do mesmo modo ser& capaz de dom -~~eender a posigao da pr6pria gera< .< ao,a sua s ituagao ime -dlata dentro da epoca em que vive, e esse perfodo, pOl' sua vezcomo parte do proce ss o hist6rico total . ' _ Em seus contornos estruturais, esse g enera de orienta-

    gao e:n face da pr6pria situa< .< aore pre senta, em miniatura ,o fen0n ,:;eno que den ominamos 0 esfar go c r escente p OI' umaconcep

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    cipitadas e nervosas de suprimir os problemas no voS e im- por tunos, nem bu s can d o refugio na s eg uran ga de um p3 ;.ssa-do m orto. A soludo sera encontrada a pen as r :a exte nsa o eno aprofund am ent~ g r adua l d os r:ovo ,.:' conheclm ~nt os , bemcomo em < :uidadosos avangos na dlregao do c ontrol e.

    o APARECIME NTOe 0 d es aparecimento de problemas emnosso horizonte intelectual sac governados pOI' um principioainda obscuro. A pr6pria a sc en sao e 0 desaparecimento desistemas completos de conhecimento podem ser reduzidos, emultima anali se, a d etermin ad os fat6res, tornando-se assimexplicaveis. A hist6ria da arte re gistra varias t entativ as dedescob r ir pOI ' que m otivo e em que periodos artes plasticas

    como a escultura, 0 r elevo ou outra s, fizeram seu apareci -mento e se tornar am a s for ma s artisticas domin antes . Damesma forma, dev eria a sociolo gia do conhecimen to p ro cu r ar inves tigar as condig oe s em que problemas e disciplinas seformam e de sap ar ecem. Ao cabo, 0 soci6lo go d eve fazer mais do que atribui r 0 a par ecim ento e a solw :;ao dos proble -mas a simples exist encia d e certos individuos de talento . Aexistencia e as r elac; 6es com plex as dos probl em as de umaep oca e lugar dete r min ad os dev em ser consideradas e com - preendi d as em r elac ;ao a estr utu r a d a sociedad e em que ocor -r em, muito e m bora nisso nem sem pr e nos p ossa d ar um a c om - preensa o de t odo s os pormenores . 0 pen sad or i sol ado podetel' a im pressao de que suas ideias cr ucia is Ihe ocor r er am pesso alme nte e nao depende m do a mbiente soc ial . E bemfac il, a uma pessoa que vive nu m a fio ciedade prov ir :c iana ecircun scr ita, pensar que o s aco nt ecim ent os q ue Ihe diz em res - pei to s eja m f atos isol ados pelos quais s 6 0 des tin e e r espon-savel . Mas a soci ologia nao se pod e con tenta r em com pr e-ender os pr o ble m as e acontecime ntos imec 1iatos Gue emer-gem d ess a perspectiva m io pe que obsc urece -t6da relaQa o im - po r tante . Ess es fat os aparentemente iso lados e dist intos de-vem se r c ompreendidos nas config uraQ6es de expe r ie ncia,semp r e presentes mas sempre cam biantes, em q ue sac vivi -d os. S6 nesse co ntexto adquirem sent ido. Se a sociologi ado co nh ec im ento o btives se alg um sucesso nesse tip o d e ana-lise, mui tos pro blemas que estao a espera de solugao , ao me -

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    logia aparecesse na contextura de de ter m inadas interpreta -coes da historia ainda nao se ac hava consistentemente ela-horada. A o ut r~a fonte da moderna teor ia da ideo logia eda socio logia do conhecime nto pode ser encontrada nas ~ u-mina s as intuigoes de Nietzsche, que combinou observagoesconcretas nesse campo com uma teor ia dos impulsos e uma .

    teor ia do conh ecimento que nos lembram o · pr ag matismo .Tam bem ele f ez atribuic6e s socio16g-icas, usando como cate -gorias principais as cuituras "aristocraticas" e "democrati -cas ", a c ada uma das qu ais atrib u iu certas form as de pen-samento.

    A partir de Nietzsche, as linhas de desenvo lvimento le-ya m as teorias de Freud e Pareto sabre os imp ul sos o r igi -nais e aos metodos pOl ' eles dese nv olvidos a fi rn de p O l' amo stra, no pens amento humano, deformag6es e prod utos dem eca nismos instintivos. E de notar -se no positiv ismo umacorrente correlata, que re su ltou na e laboragao de u m a teoriada ideol ogia, conduzindo de R ,a tzenhofer a Oppenheimer atra -yes d e Gump low icz . Jerusalem, que estim ul ou discuss6esmais r ecentes, p od e ser contado tam bem en tre os positivistas . Nao percebeu , por em, as dific u ldades do pro blema , surgidasdo historicismo e da p os igao de D ilth ey nas ci encias c ul-tu rais (12).

    o metodo c1a sociologia d o co nhecimento foi elaboradode man eir a mais cuidad os a ao longo d e duas lin has princi - pa is: a p r imeira foi atrav es de Lukacs, que vo lta a Marx edesenvolve os fecundos elementos hegel ianos contidos n esteu lti m o. Chegou, a ssim , a u rn a sol ugao m uito f er ti l, e sq ue -m atica e dogm ahca do problema, m as sol ugao que se re sse n-te d a unil ateralic1ade e d as v iciss itudes de uma dada f il oso -f ia da historia. Lukacs nao ultrapassou Marx, pois c1 eixo ude di stinguir ent r e 0 pr o blema do desmascaram ento de ideo -log ias, por um la do, e a sociolog ia d o con hec imento pOl' ou -tro. Al ern d e mui tas o bservacoes valios as, c ate a S che ler o mer ito de ha ve r tentaclo inte'grar a sociologi a d o co nheci -

    m ento na es tr u tl1ra d e um a conc e pQao filo sofi ca d o mu nd o.A importancia d a ob r a de Sche ler, todavi a , de ve an tes se r pr ocurada na d ir egiio d e urn avango metafisic o . Ass im seexplica que ele t el lha d es d enhado mais ou menos o s confli ~o sint er no s ine r en tes a su a nova orientagao int e lect ual , temcomo as in f er enc ias d inamicas e probl em as nov os q ue c1da

    12) As nb m s qu e r e pl 'ese ntar n est a . tend encia.. incl ui lldo a investi-ga~ao dos 50c i61ogos fr ance",es a re s peit o da "m enta!idade prim !tiva,"nao sao tratad as aqui .

    se ?r iginavam . E .verc 1ade que desejava fazer mrelra justi -< ;a a nova perspe chva aber ta pela sociologia do conhe cimen -to , m as a penas na medida em que ela pudesse ser conciliadacom a ont o logia , metafisica e epistemologia que ele represen-tava . 0 resultac10 f a i urn grandi oso esb oco sistematico re -

    ple~