IDENTIDADE: AS DIVERSAS FACES EM UMA SOCIEDADE EM REDE Fernandes de... · Identidade: as diversas...
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PONTIFCIA UNIVERSIDADE CATLICA DE SO PAULO
PUC-SP
THELMA FERNANDES DE NOVAES
IDENTIDADE: AS DIVERSAS FACES EM UMA
SOCIEDADE EM REDE
Mestrado em Tecnologias da Inteligncia e Design Digital
So Paulo
2013
PONTIFCIA UNIVERSIDADE CATLICA DE SO PAULO
PUC-SP
THELMA FERNANDES DE NOVAES
IDENTIDADE: AS DIVERSAS FACES EM UMA
SOCIEDADE EM REDE
Mestrado em Tecnologias da Inteligncia e Design Digital
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Tecnologias da Inteligncia e Design Digital, na rea de concentrao Processos Cognitivos e Ambientes Digitais, seguindo a linha de pesquisa Aprendizagem e Semitica Cognitiva, como requisito parcial para a obteno do ttulo de Mestre em Tecnologias da Inteligncia e Design Digital sob a orientao do Prof. Dr. Alexandre Campos Silva.
So Paulo 2013
FOLHA DE APROVAO
ORIENTADOR:
________________________________
BANCA:
________________________________
________________________________
AGRADECIMENTOS
Ao Professor Alexandre Campos Silva, pelas valiosas contribuies que
possibilitaram uma relao de discusso saudvel e inteligente, trazendo a luz do
conhecimento a este trabalho.
Edna Conti, secretria do TIDD, pela eficincia em suas atividades e pela
ateno especial em todo o perodo do Mestrado.
minha amiga Marcia Cristina Vieira Pinto, pelo apoio e o maior e inestimvel
valor: a amizade.
E minha famlia, pelo incentivo, desde sempre, ao meu crescimento pessoal
e profissional.
A coisa mais indispensvel a um homem
reconhecer o uso que deve fazer do seu
prprio conhecimento. (Plato)
RESUMO
NOVAES, Thelma. F. de. Identidade: as diversas faces em uma sociedade em
rede. So Paulo, 2013. 97f. Dissertao (Mestrado) Pontifcia Universidade
Catlica, So Paulo, 2013.
Na rede, vivemos conectados, interligados, independentes e indissociveis. A
sociedade em rede caracterizada pela globalizao, flexibilidade e interatividade. A
ps-modernidade acompanhada de diversas caractersticas na qual podemos citar
entre outras, velocidade de informaes, instantaneidade, transitoriedade e falta de
profundidade. Por sua vez, o indivduo com o objetivo de se autorrepresentar dentro
de um contexto social organizado em rede, expressa na internet suas referncias,
interesses e caractersticas pessoais. O objetivo dessa pesquisa analisar as
identidades na rede considerando as formas de apropriao dos espaos de
expresso pelos sujeitos na Web. O estudo considera um levantamento bibliogrfico
de diversos autores que abordaram o tema como Castells, Hall, Turkle, Bauman,
Sibilia, Giddens, Santaella, Recuero, entre outros. As redes sociais, subjetividades e
o novo eu, percepo, imagem, contexto, relacionamentos amorosos na rede,
perfis falsos e exemplos do impacto de identidades na Web foram analisados nesse
estudo. Para elaborao deste trabalho foi utilizada a metodologia de rastreamento
derivada do mtodo de etnografia digital e a metodologia exploratria de pesquisa
bibliogrfica em livros e documentos publicados na internet, bem como a
participao da pesquisadora como usuria em diversas redes sociais. A concluso
substancia a afirmao de diversos autores que consideram as identidades ps-
modernas fragmentadas e mltiplas.
Palavras-chave: Identidade; ps-modernidade; rede; redes sociais.
ABSTRACT
NOVAES, Thelma F. de. Identity: the many faces in a networking society. So
Paulo, 2013. 97f. Dissertation (Master) Pontifcia Universidade Catlica, So Paulo,
2013.
On the network we live connected, interconnected, independent and interrelated. The
network society is characterized by globalization, flexibility and interactivity. In this
context, post-modernity is accompanied by several characteristics which we mention
among others, speed information, immediacy, transience and lack of depth. In turn,
the individual in order to represent himself within a social context organized in
network, express on the internet his references, interests and personal
characteristics. The objective of this research is to analyze the identities in the
network considering the forms of appropriation of spaces of expression by the
subjects on the Web. The study considers a literature of several authors who have
addressed the issue as Castells, Hall, Turkle, Bauman, Sibilia, Giddens, Santaella,
Recuero among others. Social networks, subjectivities and the new I, perception,
image, context, loving relationships in the network, fake profiles and examples of the
impact of Web identities were analyzed in this study. For preparation of this paper we
used the tracking methodology derived from the method of digital ethnography
methodology and exploratory research on books and documents published on the
Internet as well as the participation of the researcher as users in different social
networks. The conclusion substantiates the claim of many authors who consider the
identities post-modern fragmented and multiple.
Key-words: Identity; post-modernity; network; social networks.
LISTA DE ILUSTRAES
Pg.
Figura 1 Identidade ................................................................................ 11
Figura 2 Mapa mental ............................................................................ 18
Figura 3 Modernidade ............................................................................ 21
Figura 4 cones e pastas ........................................................................ 22
Figura 5 Eu ............................................................................................. 23
Figura 6 Reflexo da identidade ............................................................... 25
Figura 7 Construo da identidade ........................................................ 27
Figura 8 Identidades mltiplas ................................................................ 28
Figura 9 Sociedade ................................................................................ 29
Figura 10 Movimentos sociais ................................................................. 31
Figura 11 Naes .................................................................................... 33
Figura 12 Mdias ...................................................................................... 35
Figura 13 Identidades ps-modernas ...................................................... 36
Figura 14 Espetculo .............................................................................. 37
Figura 15 Proliferao de imagens .......................................................... 38
Figura 16 Voc ........................................................................................ 40
Figura 17 Experincia subjetiva .............................................................. 42
Figura 18 Olhar alheio ............................................................................. 43
Figura 19 Click ........................................................................................ 44
Figura 20 Mscaras ................................................................................. 45
Figura 21 Incgnitos na rede ................................................................... 46
Figura 22 Buscador Google ..................................................................... 48
Figura 23 Imagem na internet ................................................................. 52
Figura 24 Geolocalizao de fotos no smartphone ................................. 53
Figura 25 Perfil falso ............................................................................... 55
Figura 26 Relacionamento na rede ......................................................... 58
Figura 27 Delete-me ................................................................................ 60
Figura 28 Identidade na rede .................................................................. 63
Figura 29 Construo da identidade ....................................................... 64
Figura 30 Site PagSeguro ....................................................................... 65
Figura 31 Comunidade Gay no Facebook ............................................... 66
Figura 32 Site Greenpeace ..................................................................... 67
Figura 33 Usurio do Facebook .............................................................. 70
Figura 34 Usurio do Linkedin ................................................................. 72
Figura 35 Carto do Linkedin .................................................................. 72
Figura 36 Carta do Linkedin .................................................................... 73
Figura 37 Twitter ..................................................................................... 74
Figura 38 Alcance real Klout ................................................................ 77
Figura 39 Amplificao Klout ................................................................ 77
Figura 40 Influncia na rede Klout ........................................................ 78
Figura 41 Usurio Klout ........................................................................... 78
Figura 42 Usurio Obama no Twitter ...................................................... 81
Figura 43 Movimentos sociais no Brasil junho de 2013 ....................... 83
Figura 44 Movimentos sociais e as redes sociais ................................... 84
Figura 45 Movimento Passe Livre nas redes sociais ............................ 85
Figura 46 Grfico das manifestaes em So Paulo junho de 2013 .... 86
SUMRIO
INTRODUO .......................................................................................................... 10
CAPTULO 1 IDENTIDADE ................................................................................... 18
1.1 Modernidade X Ps-modernidade ................................................................. 20
1.2 As facetas do Eu (Ser) ................................................................................ 23
1.3 Identidade Crise? ....................................................................................... 26
1.4 Sociedade Grupos Movimentos Sociais .................................................. 29
1.5 Estado-Nao ................................................................................................ 32
CAPTULO 2 IDENTIDADE NA REDE .................................................................. 36
2.1 Sociedade, subjetividades e o novo EU ......................................................... 36
2.1.1 Sociedade contempornea ...................................................................... 36
2.1.2 Subjetividades e o novo "EU" .................................................................. 40
2.2 Percepo e os mecanismos de busca na Web ............................................... 47
2.3 Imagem no contexto ......................................................................................... 51
2.4 Perfis falsos fakes ......................................................................................... 54
2.5 Identidade e os relacionamentos amorosos e encontros na Web .................... 56
CAPTULO 3 IDENTIDADE NA ERA DAS REDES SOCIAIS ............................... 62
3.1 Poder da identidade ......................................................................................... 62
3.2 Redes sociais ................................................................................................... 67
3.2.1 Facebook identidade social ................................................................... 69
3.2.2 Linkedin identidade profissional ........................................................... 71
3.2.3 Twitter ...................................................................................................... 74
3.2.4 Influncia nas mdias sociais -- klout.com ................................................ 76
3.3 O impacto das identidades na Web .................................................................. 80
3.3.1 O caso Obama ......................................................................................... 80
3.3.2 Protestos no Brasil junho de 2013 ........................................................ 82
CONSIDERAES FINAIS ...................................................................................... 89
REFERNCIAS ......................................................................................................... 92
10
INTRODUO
Contextualizao e justificativa
Com o advento da internet, o sujeito social exerce as atividades de
comunicar-se e relacionar-se com outros indivduos, utilizando a tecnologia
existente.
A rede representa um ideal de democratizao, diminuindo utopicamente as
diferenas e assim possibilitando um sentimento de liberdade por meio do anonimato
em diversos nveis: emocional, relacional, cultural e profissional.
Castells argumenta que a internet, muito mais do que uma simples tecnologia,
o meio de comunicao organizador das nossas sociedades.
A internet o corao de um novo paradigma sociotcnico, que constitui na realidade a base material de nossas vidas e de nossas formas de relao, de trabalho e de comunicao. O que a internet faz processar a virtualidade e transform-la em nossa realidade, constituindo a sociedade em rede, que a sociedade em que vivemos. (CASTELLS, 1999a, p. 287)
Ainda segundo Castells, outros fatores de sociabilidade refletem na sociedade
atual:
A sociabilidade est se transformando atravs daquilo que alguns chamam de privatizao da sociabilidade, que a sociabilidade entre pessoas que constroem laos afetivos, que no so os que trabalham ou vivem em um mesmo lugar, que coincidem fisicamente. [...] Esta formao de redes pessoais o que a internet permite desenvolver mais fortemente. (CASTELLS, 1999a, p. 274)
Na ps-modernidade, tem-se a globalizao e seu impacto sobre a
identidade cultural. As identidades nacionais esto se desintegrando como
resultado do ps-moderno global e novas identidades hbridas esto tomando o seu
lugar.
11
Para Giddens,
[...] nas sociedades pr-modernas, o espao e o lugar eram amplamente coincidentes, uma vez que as dimenses espaciais da vida social eram, para a maioria da populao, dominadas pela presena por uma atividade localizada... A modernidade separa, cada vez mais, o espao do lugar, ao reforar relaes entre outros que esto ausentes, distantes (em termos de local), de qualquer interao face-a-face. Nas condies da modernidade [...], os locais so inteiramente penetrados e moldados por influncias sociais bastante distantes deles. O que estrutura o local no simplesmente aquilo que est presente na cena; a forma visvel do local oculta as relaes distanciadas que determinam sua natureza. (GIDDENS, 1990, p. 18)
Num mundo de fronteiras dissolvidas e de continuidades rompidas, a vida
social se torna mediada pelo mercado global de estilos, imagens e pelos sistemas de
comunicao globalmente interligados. Com isso, as identidades se tornam
desvinculadas de tempos, lugares, histrias e tradies especficas, parecendo
flutuarem livremente na rede.
Figura 1 Identidade Fonte: .
Acesso em: fev. 2013.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Colchete_(s%C3%ADmbolo)http://pt.wikipedia.org/wiki/Colchete_(s%C3%ADmbolo)http://pt.wikipedia.org/wiki/Colchete_(s%C3%ADmbolo)http://pt.wikipedia.org/wiki/Colchete_(s%C3%ADmbolo)http://www.businessreviewbrasil.com.br/business_leaders/identidade-virtual-verdehttp://www.businessreviewbrasil.com.br/business_leaders/identidade-virtual-verde
12
A decadncia do Estado-Nao, conforme mostrada em estudos de Castells
(1999b), a dissoluo da comunidade e a volatilidade das relaes pessoais deixam
poucas sadas para estabilizar a identidade. Mudar e se adaptar j no mais uma
opo, mas um imperativo. Pode-se ser qualquer coisa, menos o mesmo.
Todas essas alteraes atingem profundamente o indivduo no final do sculo
XX, quando se tem instaurada a chamada crise de identidade, inserida num
contexto mais amplo de mudana que desloca as estruturas e processos centrais
das sociedades modernas e abala os quadros de referncia que davam aos
indivduos uma ancoragem estvel no mundo social (HALL, 2000).
Assim, a realidade passa a ser diferente, e as barreiras espaciais, temporais e
geogrficas tornam-se pouco significativas. As redes globais de intercmbios
conectam e desconectam indivduos, grupos, regies e at pases sob os efeitos
globalizantes provenientes da ps-modernidade e/ou modernidade tardia (HALL,
2000), ou alta modernidade (GIDDENS, 2002).
Se a impermanncia inquieta, a rigidez apavora. Estar sempre atualizado,
acompanhar as tendncias, ser flexvel e fazer escolhas a realidade atual. A nica
escolha que no se pode fazer rejeitar esse contexto de liberdade compulsria.
Uma liberdade endividada: se est sempre devendo para os outros e para si mesmo.
Nenhum esforo o bastante (BAUMAN, 2001).
Os processos de construo identitria vm ganhando uma nova forma. Ao
disponibilizar um lugar no ciberespao, a rede possibilita a cada vez mais pessoas a
oportunidade de se relatar, garantindo maior liberdade de mostrar e de se construir a
prpria identidade.
A construo dessas personas cibernticas, identidades internuticas, podem
produzir efeitos diversos sobre a subjetividade. Como mostram Turkle (1997) e
Sibilia (2008), as identidades apresentadas na rede apresentam-se frequentemente
com caractersticas julgadas desejveis. Mesmo assim, apesar de a rede permitir
um maior espao de criao, a identidade de cada um est amarrada a um conjunto
prprio de significados.
13
Sibilia (2008) se baseia em vrias evidncias para afirmar que o centro das
atenes atualmente cada pessoa, o que ela chama de voc. Seus estudos
mostram que a passagem do sculo XX para o XXI vem sendo marcada por uma
grande mudana na experincia de si, implicando diretamente nas formas com que
cada um se constri como sujeito. As novas formas de expresso, com base na
Web, demonstram que o que se quer que os outros possam reconhecer e legitimar
a sua existncia. As ferramentas ajudam a recriar a si mesmo visando a captao
dos olhares alheios em um mundo saturado de estmulos visuais. Na Web, as
identidades so construdas para serem visveis e aprovadas pelos demais usurios.
No universo digital, para que exista conhecimento mtuo e se estabelea uma
troca, uma vez que no h relao fsica, a construo de uma identidade virtual
imprescindvel.
Turkle (1997) apresenta trs processos fundamentais em que ocorre a
identidade pessoal na Web:
1. Superficializao Para se mostrar na rede, o usurio dificilmente se
mostra por completo. Comumente desenvolve identidades alternativas como
estratgia. Surgem os fakes, ou verses alteradas de si mesmo. Essas personas so
como mscaras que o usurio escolhe conforme a situao e a oportunidade.
2. Fragmentao Ao mesmo tempo, diferentes personas podem ser
ativadas na rede devido sua natureza multitask. Um usurio pode utilizar oSkype e
ao mesmo tempo ser outra pessoa num chat digitado pelo Facebook, por exemplo.
As identidades se misturam, sobrepem-se e concorrem entre si.
3. Dinamismo Os dois processos anteriores esto sempre mudando, e com
isso, na mesma linha, o usurio constantemente cria novas personas ou as altera,
reforando assim o aspecto de ansiedade desse ambiente.
Num cenrio em que o indivduo desprovido de referncias tradicionais e
procura compartilhar interesses em comum, as redes sociais, comunidades virtuais e
os sites de relacionamento so frequentemente utilizados como instncias de
definio de identidades virtuais de pessoas que geralmente existem no mundo
fsico.
14
Lvy define a comunidade virtual como
[...] um grupo de pessoas se correspondendo mutuamente por meio de computadores interconectados que se constri sobre afinidades de interesses, de conhecimentos, sobre projetos mtuos, por meio de cooperao ou de troca, independentemente das proximidades geogrficas e das filiaes institucionais. (LVY, 1999, p. 127)
As comunidades virtuais, assim como os movimentos sociais, necessitam de
um sentimento compartilhado, pois se trata de uma criao cultural, social. O
ciberespao potencializa o agrupamento, e com isso surgem as comunidades, e da
a sua importncia.
Por meio das comunidades virtuais, novas relaes pessoais se construram
no ciberespao e com elas a formao de novos tipos de identidades.
Redes sociais como, por exemplo, o Facebook, o Linkedin e o Twitter,
apresentam diferentes faces de identidades e tornam-se ferramentas de uso
cotidiano para os seus usurios. Tambm os sites de relacionamentos e encontros
com suas inmeras possibilidades de relacionamentos amorosos tornam-se
ferramentas cada dia mais utilizadas no Brasil e no mundo.
Nesse panorama de mltiplas identidades e relaes mediadas pela
tecnologia, a percepo e a imagem exercem papis fundamentais.
De acordo com Merleau-Ponty (1994), na ideia de conscincia do corpo
percebe-se que, no mundo virtual, sua expresso a partir de uma imagem
intencional, e torna-se vitrine no novo estilo de vida contemporneo. Assim, as
imagens so cuidadosamente selecionadas para mostrar o melhor de si.
Nas redes sociais e em sites de relacionamento e encontros, o impacto
proporcionado pelas imagens (fotos) publicadas fundamental. Sua ausncia
tambm. As identidades so correlacionadas imagem e os contatos so iniciados
ou descartados muitas vezes apenas considerando a imagem atrelada a um perfil. A
http://pt.wikipedia.org/wiki/Colchete_(s%C3%ADmbolo)http://pt.wikipedia.org/wiki/Colchete_(s%C3%ADmbolo)
15
conexo estabelecida a partir da imagem permite fantasiar tanto quanto se quer,
uma vez que a conexo fsica no existe.
Para Santaella (1993), percepo aquilo que se apresenta, o que
percebido e o que est no aqui e agora. Perceber estar diante de algo que se
apresenta, no somente vendo, mas utilizando outros sentidos e aguando o
sistema cognitivo.
A percepo em relao s identidades na rede construda por meio de
vrios fatores, entre eles imagens, resultados de busca, comunidades virtuais de que
o usurio participa, entre outros.
Assim, como afirmam os estudiosos Bauman (2001), Castells (1999b) e Hall
(2000), a identidade se tornou um dos temas centrais da ps-modernidade,
principalmente porque as mudanas sociais, polticas e econmicas que a internet
provocou foram mais do que suficientes para alterar no somente o dia a dia das
pessoas por meio da tecnologia, mas tambm para alterar a noo de identidade.
Ao se falar de identidade na rede, aqui ser evidenciada a identidade das
pessoas (sujeito). No objetivo deste trabalho analisar a identidade das mquinas
e computadores ou a de empresas e instituies.
Objetivo
O objetivo desta pesquisa analisar as identidades na rede, considerando as
formas de apropriao dos espaos de expresso pelos sujeitos na Web.
Pontos de anlise
Para tratar e delimitar o tema, so definidos os seguintes pontos de anlise
considerados importantes para o desenvolvimento desta dissertao:
16
viso da identidade na ps-modernidade;
reflexo sobre as mltiplas identidades apresentadas na rede
considerando imagem, contexto e percepo relacionados ao tema da
pesquisa;
anlise e impacto das identidades na era das redes sociais.
Metodologia de pesquisa
Para elaborao deste trabalho, foi utilizada a metodologia de rastreamento
derivada do mtodo de etnografia digital e a metodologia exploratria de pesquisa
bibliogrfica em livros e documentos publicados na internet, bem como a
participao da pesquisadora como usuria em diversas redes sociais.
A pesquisa um estudo de natureza qualitativa e se prope a compilar
material necessrio para a criao de uma dissertao dentro do recorte do tema.
Esquema geral da dissertao
Alm da introduo, que contextualiza as razes e motivaes para a
pesquisa, a dissertao est composta por trs captulos:
Captulo 1 Identidade: so apresentadas as relaes com o tema identidade
na modernidade e ps-modernidade, relao Estado-Nao e movimentos sociais.
Captulo 2 Identidade na rede: o indivduo frente s subjetividades e o novo
Eu analisado, fazendo valer apenas o que visto e aprovado pelos demais.
Percepo, imagem e contexto so relacionados ao objeto de pesquisa.
Captulo 3 Identidade na era das redes sociais: so apresentadas reflexes
sobre o poder da identidade, as redes sociais como Facebook, Linkedin e Twitter, e
exemplos do impacto das identidades na Web.
17
Finalmente, nas consideraes finais, so apresentadas as reflexes da
pesquisadora sobre o processo da pesquisa e suas concluses at o momento final
deste trabalho e os possveis encaminhamentos para estudos futuros.
18
CAPTULO 1 IDENTIDADE
Para a estruturao e a compreenso de um tema, bem como a gesto de
informaes e de conhecimento a ele relacionada, a criao de um mapa mental
facilita a visualizao e a diviso dos principais tpicos que pretendem ser
discutidos.
Por esse motivo, este captulo ir transcorrer no mapa mental da identidade,
assunto sobre o qual este trabalho abordar diversas questes.
Figura 2 Mapa mental
Fonte: Acesso em: fev. 2013.
Do latim identtas, a identidade o conjunto das caractersticas e dos traos
prprios de um indivduo (ser) ou de uma comunidade (grupo). Esses traos
caracterizam o sujeito ou a coletividade perante os demais. A identidade tambm a
conscincia que uma pessoa tem dela prpria e que a torna diferente das outras.
http://cmapspublic2.ihmc.us/rid=1KMNLTXXV-VX1V12-N4/Castells.cmaphttp://www.google.com.br/url?sa=i&source=images&cd=&cad=rja&docid=ViDlDFN_rrhP6M&tbnid=-Z8uTKs6PB1B9M:&ved=0CAgQjRwwAA&url=http://cmapspublic2.ihmc.us/rid=1KMNLTXXV-VX1V12-1N4/Castells.cmap&ei=GfU4UeTcKark0QG33YDwBA&psig=AFQjCNHVMyvmCW0RdN0r0YJOPGbYkZGvNg&ust=1362773657791841
19
Segundo Kruger, identidade a conscincia que todo o indivduo tem de si
mesmo, da sua origem, filiao, relaes que estabelece, atributos fsicos e
psicolgicos e fatores capazes de diferenciarem de outros indivduos. (KRUGER,
1995, p. 20)
Tal nvel de conscientizao proporciona o surgimento de crenas nesse
indivduo sobre sua unidade, demonstrada na coerncia e organizao deste quanto
sua personalidade e conduta. As crenas se caracterizam por constituir a
identidade e por serem obtidas a partir das inmeras experincias vividas pela
pessoa ao longo de seu desenvolvimento, cabendo ressaltar aquelas que se do
durante o processo de socializao.
Kruger (1995) destaca quatro aspectos da identidade:
1. pode ser apresentada tendo a sua origem na percepo de caractersticas
pessoais e permite que este indivduo acredite ser diferente dos outros em
alguns aspectos;
2. possibilidade que qualquer sujeito tem de distinguir na sua autoapresentao
simblica a existncia de diversas dimenses, isto , das variadas formas de
identidade por ele apresentadas ao se inserir em grupos, coletividades e
processos sociais;
3. constitui-se com base em crenas autodescritivas e autoavaliativas, as quais
lhe conferem um carter dinmico que permite mudanas;
4. esse sistema de crenas contribui para o desenvolvimento da personalidade e
da conduta dos indivduos.
Ainda de acordo com Kruger (1995), a anlise da formao do ser social
implica na articulao entre os processos de sustentao, construo e possvel
modificao de identidade e o processo de socializao pois, devido socializao,
opera-se a progressiva transformao de um recm-nascido, cujas condutas so
inicialmente determinadas por reflexos e respostas no condicionadas em um ser
social.
Assim, pode-se caracterizar o processo de socializao como dinmico,
universal e contnuo, isto , as pessoas influenciam umas s outras e,
20
consequentemente, so influenciadas a todo momento. Esse movimento ocorre em
toda e qualquer sociedade e acompanha o indivduo ao longo de sua vida.
1.1 Modernidade X Ps-modernidade
O desalojamento do sistema social a extrao das relaes sociais dos
contextos locais de interao e sua reestruturao ao longo de escalas indefinidas
de espao-tempo geraram uma descontinuidade.
No entendimento de Giddens,
[...] os modos de vida colocados em ao pela modernidade nos livraram, de uma forma bastante indita, de todos os tipos tradicionais de ordem social. Tanto em extenso, quanto em intensidade, as transformaes envolvidas na modernidade so mais profundas do que a maioria das mudanas caractersticas dos perodos anteriores. No plano da extenso, eles serviram para estabelecer formas de interconexo social que cobrem o globo; em termos de intensidade, elas alteraram algumas das caractersticas mais ntimas e pessoais de nossa existncia cotidiana. (GIDDENS, 1990, p. 21)
O estudo de como a internet estava alterando a experincia do eu e do
senso de individualidade de cada usurio na dcada de 90, quando a internet era
uma novidade, foi realizado por Sherry Turkle, psicloga e professora do MIT.
Turkle (1997) estudou como as tecnologias digitais alterariam o
comportamento, a identidade e a experincia subjetiva das pessoas no mundo.
Na modernidade tivemos a cultura do clculo, transparncia, controle e
programadores. O computador considerado um carro que pode ser controlado.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Colchete_(s%C3%ADmbolo)http://pt.wikipedia.org/wiki/Colchete_(s%C3%ADmbolo)
21
Figura 3 Modernidade Fonte: .
Acesso em: mai. 2013.
J na ps-modernidade, a cultura passa a ser a da simulao, da opacidade,
superfcie e interface. Os usurios comeam a ter depedncia e seduo pelos
computadores. O computador se transforma em um amigo com quem se pode
conversar.
No aspecto transparncia, na modernidade temos o poder de ver as
engrenagens sob a superfcie e perguntas como o que que faz isso funcionar
ou o que que est acontecendo ali dentro. Na ps-modernidade, mudamos a
transparncia para se poder ver em cones atraentes e fceis de interpretar,
documentos e programas (pastas, arquivos e lixeiras).
http://ccsourcecode.blogspot.com.br/2011/06/entendendo-os-bits-e-bytes-da-vida.htmlhttp://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&frm=1&source=images&cd=&cad=rja&docid=QfxPM7fUxt9-xM&tbnid=M6FgQc4mJtG6FM:&ved=0CAUQjRw&url=http://ccsourcecode.blogspot.com/2011/06/entendendo-os-bits-e-bytes-da-vida.html&ei=ANyoUYTGGJLs8gTKkIDgDw&bvm=bv.47244034,d.eWU&psig=AFQjCNGV07F-Z4AYQsWIV0eLjtYo5sryzQ&ust=1370107231620873
22
Figura 4 cones e pastas Fonte: . Acesso em: mai. 2013.
Segundo Turkle,
A vida real s mais uma janela e no a que mais me agrada. [...] As janelas tornaram-se uma poderosa metfora para pensar no eu como um sistema mltiplo fragmentado. O eu j no se limita a desempenhar diferentes papis em cenrios e ambientes diferentes [...] A prtica vivida na janela a de um eu descentrado que existe em muitos mundos e desempenha muitos papis ao mesmo tempo (TURKLE, 1997, p.18).
Assim, para Turkle (1997), a viso modernista da realidade caracterizada
como linear, lgica, hierrquica e possui profundezas que podem ser sondadas e
compreendidas. J os mundos virtuais proporcionam experincias das ideias
abstratas ps-modernas que, utilizando-se dos computadores, serviram de base
para uma filosofia radicalmente no mecnica do ps-modernismo.
O conjunto de ideias relacionadas ao ps-modernismo revela instabilidade de
significados e ausncia de verdades universais e conhecidas em nossa vida
cotidiana. Entramos na era das certezas provisrias. Turkle (1997) cita Richard
Lanham, afirmando que o texto no ciberespao inacabado por natureza. Por ser
assim, ele subverte fantasias tradicionais de narrativas dominantes possibilitando ao
leitor organiz-lo continuamente. Desses procedimentos, resultam objetos ativos,
volteis, criados ao sabor das motivaes humanas.
http://shunkaqkanal.blogspot.com.br/2010/06/icone-gratis_17.htmlhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Colchete_(s%C3%ADmbolo)http://pt.wikipedia.org/wiki/Colchete_(s%C3%ADmbolo)http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.traffyk.com/blog/wp-content/uploads/2007/08/crystal-clear-icon-pack.jpg&imgrefurl=http://shunkaqkanal.blogspot.com/2010/06/icone-gratis_17.html&h=337&w=361&sz=35&tbnid=x0zFNPNU0GMgTM:&tbnh=86&tbnw=92&zoom=1&usg=__nrAAAOozDlwSml9lc-yUE06keo4=&docid=h6SSWOwyYumaJM&hl=pt-BR&sa=X&ei=pt2oUejJN4_o8wTy5oHgCw&ved=0CDYQ9QEwAQ&dur=1032
23
Nesse contexto, o computador deixa de ser uma calculadora gigante e
modernista, para se tornar a realizao do pensamento social ps-modernista.
1.2 As facetas do Eu (Ser)
No mundo mediado pelo computador, o eu mltiplo, fluido e constitudo por
interaes com uma rede de mquinas. Ele formado e transformado pela
linguagem. Nesse cenrio, ocorrem diversas facetas do eu com aceitao e
rejeio de analogias com a mquina. Turkle afirma que:
A cada passo que damos ao longo da vida, tentamos projetar-nos no mundo. O computador oferece-nos oportunidade de realizar isso, ao corporizar nossas ideias e expressar nossa diversidade. Entramos no mundo do ecr da mesma forma que Alice atravessou o espelho. (TURKLE, 1997, p.43)
E assim surgiram novas formas de organizar a produo e o acesso ao
conhecimento, bem como o imaginrio cyborg e tecno-corpos.
Figura 5 - Eu
Fonte: . Acesso em: abr. 2013.
Como facetas do eu, tem-se a fragmentao da sociedade, flexibilidade,
multiplicidade, heterogeneidade e descentralizao.
http://www.gemagema.tv/http://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&frm=1&source=images&cd=&cad=rja&docid=iKWfGx1LFmgdnM&tbnid=1TDLCsO7I23_7M:&ved=0CAUQjRw&url=http://www.gemagema.tv/arquivo/festa-eu-2&ei=NsSsUe3JMIjw8QSi2IGwBw&bvm=bv.47244034,d.dmQ&psig=AFQjCNHmOTE_tul-4FDVyteJpdsDL6erCg&ust=1370363232686962
24
Turkle afirma:
O advento desse discurso utpico em torno da descentralizao coincidiu com a crescente fragmentao da sociedade em que vivemos. Muitas das instituies que costumavam reunir as pessoas a rua principal de uma localidade, a sede de um sindicato, uma associao de municpios j no cumprem a funo de outrora. Muitas pessoas passam a maior parte do dia sozinhas, diante de uma tela de televiso ou de computador. Ao mesmo tempo, como seres sociais que somos, estamos a tentar (nas palavras de Lanham) retribalizar-nos. E, nesse processo, o computador desempenha um papel central. (TURKLE, 1997, p. 262).
Com a descoberta do inconsciente, Freud (1900) rejeitou o sujeito racional,
cuja identidade algo inato. Afirmou que as identidades so formadas com base em
processos psquicos e simblicos do inconsciente, por meio dos quais ela se
desenvolve ao longo do tempo e est sempre em processo de formao, como
resultado de negociaes psquicas com outros indivduos.
Baseando-se em estudos de Freud, Turkle reafirma que o ego uma iluso:
Uma das contribuies mais revolucionrias de Freud foi ter proposto uma viso radicalmente descentrada do eu, mas a sua mensagem foi vrias vezes obscurecida por alguns de seus seguidores, que insistiam em atribuir ao ego uma autoridade superior no governo do eu. Todavia, essas tendncias recentralizadoras foram por sua vez questionadas periodicamente por membros do prprio movimento psicanaltico. As ideias jungianas sublinharam que o eu o lugar de encontro de diversos arqutipos. A teoria das relaes objetais referiu o modo como as coisas e as pessoas que povoam o mundo vm viver dentro de ns. Mais recentemente, os pensadores ps-estruturalistas tentaram descentrar o ego duma forma ainda mais radical. Na obra de Jacques Lacan, por exemplo, os complexos encadeamentos de associaes que constituem o significado para cada indivduo no conduzem a qualquer instncia final ou nuclear. Sob a bandeira de um regresso a Freud, Lacan insistia que o ego uma iluso. Com isto, ele estabelece a ponte entre a psicanlise e a tentativa ps-moderna de tratar o eu como um domnio discursivo, e no uma coisa real ou uma estrutura permanente da mente humana. (TURKLE, 1997, p. 263).
A experincia de se alternar entre diferentes identidades no era facilmente
acessvel e nem bem vista na era moderna. Apesar dos diferentes papis e
mscaras sociais, a alternncia ficava sob um controle bastante apertado. Na era
moderna: vigarista, travesti, bgamo e a personalidade desdobrada.
25
A ps-modernidade o perodo em que a desmarginalizao das identidades
mltiplas acontecem. Turkle (1997, p. 265) considera que agora, na era ps-
moderna, as identidades mltiplas perderam grande parte do seu carter marginal.
Muitas pessoas aprendem a identidade como um conjunto de papis que podem ser
misturados e acoplados.
Figura 6 Reflexo da identidade Fonte: . Acesso em: abr. 2013.
O anonimato, vidas paralelas, superao de si prprio, desempenho de
papis, intimidade, projeo e transposio de fronteiras ficam evidentes. A internet
funciona como um laboratrio social para experimentao de construes e
reconstrues do eu que caracterizam a vida ps-moderna. Turkle refora:
Na sua realidade virtual, moldamo-nos e criamo-nos a ns mesmos. [...] Que tipo de identidades alternativas adotamos? Que relaes existiro entre estas e aquilo que tradicionalmente encarvamos como a pessoa inteira? Encaramo-las como uma expanso do eu ou como algo de separado do eu? E as nossas personalidades da vida real tm algo a aprender com as nossas identidades virtuais? Essas identidades virtuais sero fragmentos duma personalidade coerente da vida real? [...] Ser a expresso de uma crise de identidade, do tipo que associamos tradicionalmente a adolescncia? Ou estamos a assistir a lenta emergncia dum novo estilo de pensamento, de natureza mltipla, acerca da mente? (TURKLE, 1997, p. 265-266).
http://esquenta.com.br/ser-e-saberhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Colchete_(s%C3%ADmbolo)http://pt.wikipedia.org/wiki/Colchete_(s%C3%ADmbolo)http://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&frm=1&source=images&cd=&cad=rja&docid=8qLV_vYvDpbe5M&tbnid=v_i89Dmx5aneFM:&ved=0CAUQjRw&url=http://esquenta.com.br/ser-e-saber&ei=H32uUcK3OYf28wTk4YC4Aw&bvm=bv.47244034,d.eWU&psig=AFQjCNG68ekp8ZTaAM8rAmBbv93jUhFzug&ust=1370476110625736
26
1.3 Identidade Crise?
A questo da identidade est sendo extensamente discutida na teoria social.
De acordo com Hall,
[...] Em essncia, o argumento o seguinte: as velhas identidades que por tanto tempo estabilizaram o mundo social esto em declnio, fazendo surgir novas identidades e fragmentando o indivduo moderno, at aqui visto como um sujeito unificado. A assim chamada crise de identidade vista como parte de um processo mais amplo de mudana, que est deslocando as estruturas e processos centrais das sociedades modernas e abalando os quadros de referncia que davam aos indivduos uma ancoragem estvel no mundo social. (HALL, 2000, p. 7)
Hall (2000) estudou a identidade cultural na modernidade tardia e avaliou a
crise de identidade e em que direo ela estaria indo. O autor partidrio
afirmao de que as identidades modernas esto sendo descentradas, isto ,
deslocadas ou fragmentadas.
A identidade virtual abordada nos estudos de Turkle como elemento
vocativo para pensar no eu. uma brincadeira com mscaras, e se deve pensar
em como utiliz-las no dia a dia. A autora d foco natureza mltipla:
Cada era constri as suas prprias metforas, tendo em vista o bem estar psicolgico do indivduo. H no muito tempo, a estabilidade era socialmente valorizada e culturalmente reforada. Papis rgidos atribudos a cada um dos sexos, trabalho repetitivo, o desejo de ter o mesmo tipo de emprego ou permanecer na mesma cidade ao longo de toda a vida, tudo isso fazia da consistncia um elemento central nas definies de sade. No entanto, estes mundos sociais estveis entraram em colapso. Nos nossos dias, a sade descrita em termos de fluidez, mais do que estabilidade. O que conta a capacidade de mudar e adaptar-se a novos empregos, novas perspectivas de carreira, novos papis atribudos a cada um dos sexos, novas tecnologias. (TURKLE, 1997, p. 381)
http://pt.wikipedia.org/wiki/Colchete_(s%C3%ADmbolo)http://pt.wikipedia.org/wiki/Colchete_(s%C3%ADmbolo)
27
Figura 7 Construo da identidade Fonte: . Acesso em: abr. 2013.
O que existe de fato um estado contnuo de construo e reconstruo em
que tudo relativizado. No existe mais um centro coeso. Tem-se xtases do ser
mltiplo.
Embora no incio as pessoas possam se sentir angustiadas ante aquilo que entendem como um colapso da identidade, Gergen acredita que elas podero vir a abraar as novas possibilidades que se lhes oferecem. As noes individuais do eu desaparecem, dando lugar ao primado das relaes. Deixamos de acreditar num eu independente da teia de relaes na qual estamos mergulhados. (TURKLE, 1997, p. 384-385).
A questo que fica a de como se pode ser mltiplos e coerentes ao mesmo
tempo.
As diversas manifestaes de multiplicidade na nossa cultura, incluindo a
adoo de personalidades online, contribuem para uma reviso generalizada das
noes de identidade. Turkle destaca que:
Num extremo, o eu unitrio mantm a sua unidade reprimindo todos os aspectos dissonantes. Assim censuradas, as partes ilegtimas do eu no so acessveis. Como bvio, este modelo funcionaria melhor no mbito duma estrutura social razoavelmente rgida, com regras e papis
http://blog.msmacom.com.br/os-comecos-da-filosofia-patristica/http://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&frm=1&source=images&cd=&cad=rja&docid=ea938Bwz_7Ds3M&tbnid=E8nKAAp-1dYHYM:&ved=0CAUQjRw&url=http://blogs.mundolivrefm.com.br/margot/2012/04/20/e-se-eu-fosse-voce/&ei=nt6oUf-LBYz88QSE9oCYAQ&bvm=bv.47244034,d.eWU&psig=AFQjCNE7nQ57q_9TJ8w0v1NGXoY_f7unww&ust=1370107908774307
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claramente definidos. No outro extremo do continuum vamos encontrar indivduos afetados por PPM (perturbao da personalidade mltipla), cuja multiplicidade existe no contexto duma rigidez igualmente repressiva. [...] Todavia, se o que caracteriza as perturbaes da personalidade mltipla a necessidade de erigir barreiras rgidas entre as diferentes facetas do eu (bloqueando os segredos que essas facetas protegem), ento o estudo das PPM talvez possa abrir caminho a formas de encarar a personalidade saudvel como no unitria, mas com acesso fluido entre as suas mltiplas facetas. Assim, para alm dos extremos do eu unitrio e das PPM, podemos imaginar um eu flexvel. (TURKLE, 1997, p. 390).
Figura 8 Identidades mltiplas Fonte: .
Acesso em: mai. 2013.
Quando se percebe a diversidade interna, as limitaes e o carter
incompleto se tornam conhecidos.
Por sua vez, com os computadores e a realidade virtual, possvel se passar
a maior parte do tempo imersos em sonhos. Turkle cita Gibson:
[...] Para Gibson, o jogador de videogame j se fundiu com o computador. O jogador de videogame j um cyborg, ideia que Gibson incorporou numa mitologia ps-moderna. Ao longo da ltima dcada, tais mitologias tm vindo a reformular a nossa percepo de identidade coletiva. (TURKLE, 1977, p. 396-397).
Nesse contexto, a natureza do real versus a cultura de simulao se
apresenta. A participao dos computadores em rede nas vidas quotidianas faz com
http://www.ppublico.org/nfse/mage/index.php?option=com_contenthttp://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&frm=1&source=images&cd=&cad=rja&docid=1UpPzKzrh96wsM&tbnid=7yk-YIA64miyGM:&ved=0CAUQjRw&url=http://www.ppublico.org/nfse/mage/index.php?option=com_content&view=article&id=46&Itemid=37&ei=WOCoUf2iCJLo8gSixoGoAg&bvm=bv.47244034,d.eWU&psig=AFQjCNFWlA8CeGi8i8i_epR78JvYFQXwCQ&ust=1370108287993283
29
que se estabeleam interaes cativantes totalmente ligadas autorrepresentao
online. Quando essa representao no condiz com a realidade, inevitvel que
surja a dor pela mortalidade da pessoa fsica. Turkle, assim, afirma:
A adoo de pontos de vista mltiplos suscita um novo discurso moral. Eu tenho afirmado que a cultura da simulao pode ajudar-nos a alcanar uma viso duma identidade mltipla, mas integrada, cuja flexibilidade, elasticidade e capacidade de alegrar-se advm do fato de ter acesso s muitas personalidades que nos constituem. Todavia, se entretanto nos tivermos divorciado da realidade, ficaremos claramente a perder. (TURKLE, 1997, p. 401)
1.4 Sociedade Grupos Movimentos Sociais
Castells concentra-se no ponto de vista sociolgico, afirmando que toda e
qualquer identidade construda, e essa construo social sempre ocorre em um
contexto marcado por relaes de poder. Para o autor, cada tipo de processo de
construo de identidade leva a um resultado distinto no que tange constituio da
sociedade (CASTELLS, 1999b, p. 24).
Os objetivos individuais so moldados e enriquecidos face s necessidades
organizacionais e sociais. Chiavenato (1993, p. 115) afirma: A moderna e
industrializada sociedade uma sociedade de organizaes nas quais o ser humano
nasce, vive e morre.
Figura 9 Sociedade Fonte:< http://coringaalacarte.wordpress.com/2010/01/21/a-sociedade-juvenil>. Acesso em: mai. 2013.
http://coringaalacarte.wordpress.com/2010/01/21/a-sociedade-juvenil%3e.%20Ahttp://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&frm=1&source=images&cd=&cad=rja&docid=FqQSuszhp9ZuKM&tbnid=p2SHa-BC2i8bYM:&ved=0CAUQjRw&url=http://coringaalacarte.wordpress.com/2010/01/21/a-sociedade-juvenil/&ei=T8KsUY7CHJS89gTZvIHQAQ&bvm=bv.47244034,d.dmQ&psig=AFQjCNG3Og17eDiAJMBYwFl3AjDHoGrFfg&ust=1370362820777607
30
Os grupos produzem movimentos sociais que se formam no que eles so ou
acreditam que so vo em busca da fonte e significado de um povo.
Para Castells (1980), os movimentos sociais constituem-se em forma social
atuante capaz de empreender transformaes estruturais. O autor atribuiu aos
movimentos sociais urbanos a possibilidade de construo de um futuro otimista,
referindo-se a eles como uma alternativa frente opresso capitalista e sociedade
burocrtica.
Giddens argumenta que as sociedades modernas so por definio
sociedades de mudanas constantes, rpidas e permanentes. Segundo o autor,
[...] nas sociedades tradicionais, o passado venerado e os smbolos so valorizados porque contm e perpetuam a experincia das geraes. A tradio um meio de lidar com o tempo e o espao, inserindo qualquer atividade ou experincia particular na continuidade do passado, presente e futuro, os quais, por sua vez, so estruturados por prticas sociais recorrentes (GIDDENS, 1990, p. 37)
O ritmo e o alcance da mudana e a natureza das instituies modernas so
destacados por Giddens (1990, p. 6): medida que reas diferentes do globo so
postas em interconexo umas com as outras, ondas de transformao social
atingem virtualmente toda a superfcie da terra.
Touraine nos oferece uma interpretao global da sociedade combinando
mecanismos de funcionamento do sistema social e condies estruturais. Na
perspectiva do autor, os movimentos sociais constituem-se:
[...] na ao, ao mesmo tempo culturalmente orientada e socialmente conflitiva de uma classe social definida por sua posio dominante ou dependente no modo de apropriao da historicidade dos modelos culturais de inverso do conhecimento e moralidade at os quais ele mesmo se orienta. (TOURAINE, 1987, p. 99)
Ainda sob a perspectiva de Touraine (1987), os movimentos sociais so
compostos de uma srie de processos a partir dos quais a sociedade produz sua
organizao no sentido do domnio da ao histrica, que passa tanto pelos conflitos
http://pt.wikipedia.org/wiki/Colchete_(s%C3%ADmbolo)http://pt.wikipedia.org/wiki/Colchete_(s%C3%ADmbolo)
31
de classe como pela transio poltica. Seus estudos mostram novas prticas de
participao social em que novas dimenses da socializao e articulao dos
trabalhadores so descobertas nos espaos coletivos da vida cotidiana.
Para Gohn (1999), os movimentos sociais so aes coletivas de carter
scio-poltico, construdas por atores sociais pertencentes a diferentes classes e
camadas sociais. Por meio da politizao de suas demandas, esses movimentos
formam um campo poltico de fora social na sociedade civil.
Figura 10 Movimentos sociais Fonte:.
Acesso em: mai. 2013.
Ainda segundo Gohn (1999), os movimentos sociais que surgem na
sociedade civil e que so de composio social heterognea tm contedos bsicos
situados na esfera do consumo, e suas prticas vo se desenvolvendo no mbito
das reivindicaes ao poder pblico, solicitando melhorias nas condies de vida no
plano urbano, tpicos do processo de desenvolvimento urbano industrial. Para a
autora, so movimentos de resistncia popular s condies de vida submetidas,
marcados pela espontaneidade, pela multiplicidade de reivindicaes abarcadas por
eles e por contradies. De um modo geral, so as lutas sociais que do aos
movimentos sociais um carter cclico, um vai e vem de acordo com a dinmica dos
conflitos sociais. Entretanto, para que tais lutas tenham relevncia, dentro dos
http://www.educacao.cc/cidada/movimentos-sociais-estudantis-e-urbanos/http://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&frm=1&source=images&cd=&cad=rja&docid=XvE-O1MVCDY66M&tbnid=xyBCBtvvUK4PZM:&ved=0CAUQjRw&url=http://www.educacao.cc/cidada/movimentos-sociais-estudantis-e-urbanos/&ei=ZMOsUa_THJHU9gSwuoGAAQ&bvm=bv.47244034,d.dmQ&psig=AFQjCNHqpOoqVlldXJvZFpW3ga-ZqK5DFA&ust=1370363050597357
32
movimentos sociais devem expressar-se as demandas sociais, configurando-se
como reivindicaes de uma ao coletiva.
1.5 Estado-Nao
Em seus estudos, Castells afirma que o controle do Estado vem perdendo
espao para a tecnologia, os fluxos globais de capital, servios, comunicao e
informao. Segundo o autor, os cidados esto se tornando indiferentes em relao
ao Estado-Nao. A perda do poder pelo Estado-Nao caracterizada pelo
crescimento do capitalismo global e das ideologias capitalistas, embora sua
influncia permanea.
O controle do Estado sobre o tempo e o espao vem sendo sobrepujado pelos fluxos globais de capital, produtos, servios, tecnologia, comunicao e informao. A apreenso do tempo histrico pelo Estado mediante a apropriao da tradio e a (re)construo da identidade nacional passou a enfrentar o desafio imposto pelas identidades mltiplas definidas por sujeitos autnomos. A tentativa de o Estado reafirmar seu poder na arena global pelo desenvolvimento de instituies supranacionais acaba comprometendo ainda mais sua soberania. (CASTELLS, 1999b, p. 287)
Castells analisou tabelas de seis pases cujas economias se sobressaem aos
demais, fornecendo assim uma viso geral sobre alguns indicadores da atividade
econmico-financeira dos governos relativa ao processo de internacionalizao das
economias. O autor afirma que o Estado-Nao enfrenta trs grandes desafios
interrelacionados: a globalizao e no exclusividade da propriedade; flexibilidade e
capacidade de penetrao da tecnologia e autonomia e diversidade da mdia.
[...] As novas e poderosas tecnologias da informao podem ser colocadas a servio da vigilncia, controle e represso por parte dos aparatos do Estado [...] Do mesmo modo que podem ser empregadas pelos cidados para que estes aprimorem seus controles sobre o Estado, mediante o exerccio do direito a informaes [...] (CASTELLS, 1999b, p.348-349).
Nesse contexto, a globalizao acaba marcando de forma evidente a ruptura
desse processo de identidade entre territrio e comunidade.
33
Graas s novas tecnologias de informao e comunicao, o mundo se torna
fludo e as fronteiras porosas. Como consequncia, a natureza do Estado-Nao se
modifica causando a perda ou o enfraquecimento gradativo de sua identidade
nacional.
Figura 11 Naes Fonte:< http://www.proprofs.com/quiz-school/story.php?title=volta-ao-mundo-em-80-segundos>.
Acesso em: jun. 2013.
Nesse processo, na viso de Giddens (2005), h uma intensificao das
relaes sociais em escala mundial da qual povos de diferentes localidades vm se
aproximando. O resultado visto em acontecimentos ocorridos em lugares distantes
que influenciam outros a milhares de quilmetros, provocando vrias
transformaes.
O resultado dessas influncias, muitas vezes, no possui direo uniforme, e
pode aparecer em modificaes mutuamente opostas. Como exemplo, temos o
desenvolvimento e o progresso de uma localidade, que pode provocar
transformaes opostas em outra, com o seu empobrecimento. A instalao de uma
empresa em um determinado local pode significar a perda do emprego para muitos
trabalhadores em outra, demonstrando que o progresso de uma localidade pode
significar a runa da outra.
http://www.proprofs.com/quiz-school/story.php?title=volta-ao-mundo-em-80-segundos
34
Acompanhando a mesma linha de raciocnio, a globalizao acaba
diminuindo, muitas vezes, o sentimento nacionalista dos povos em relao ao seu
Estado-Nao, desenvolvendo relaes sociais entre comunidades de diferentes
pases. Por outro lado, tambm possvel acelerar esse sentimento nacionalista,
fazendo fortalecer os laos de identidade cultural regional.
Castells (1999b) ressalta o surgimento de uma onda poderosa de identidade
coletiva que desafia a globalizao e o cosmopolitismo em funo da singularidade
cultural e autocontrole individual. O autor fundamenta a discusso nos movimentos
sociais e na poltica como resultantes da interao entre a globalizao induzida
pela tecnologia, o poder da identidade e as instituies do Estado. Analisa a
sociedade conectada pela convergncia de telecomunicaes, computadores e
redes. E ainda enfatiza nossa pluralidade, sendo o multiculturalismo o fator
transformador da globalizao tecnoeconmica.
Assim, o Estado-Nao vem perdendo boa parte de sua soberania, e a
dissoluo das identidades compartilhadas reflete a situao atual. Surge um mundo
exclusivamente constitudo de mercados, redes, indivduos e organizaes
estratgicas. O poder no se concentra mais nas instituies (Estado), organizaes
(empresas capitalistas) ou mecanismos de controle (mdia corporativa, igrejas). O
poder encontra-se distribudo nas redes globais de riqueza, poder, informaes e
imagens.
35
Figura 12 Mdias Fonte: .
Acesso em: jun. 2013.
As identidades fixam as bases no poder, organizam resistncia na luta
informacional e constroem novos comportamentos e instituies. Os movimentos
sociais devem fornecer novos cdigos por meio dos quais as sociedades podem ser
repensadas e/ou restabelecidas e, portanto, so os sujeitos sociais da Era da
informao.
Por fim, os estudos de Castells (1999b) apresentam novos embries de uma
nova sociedade, atrelados ao poder da identidade.
A identidade na rede apresentada entre amigos, amores, desconhecidos, e
com isso novas instabilidades para o entendimento de identidade, privacidade, e
comunidade so apresentadas. um deslocamento emocional com riscos e
consequncias de viver em uma sociedade em rede.
Nos prximos captulos, as identidades na rede sero o foco principal. Na
sociedade conectada da atualidade, a identidade de qualquer indivduo pode
aparecer no resultado de uma busca feita por seu nome. Mas ser esta a sua
identidade?
http://bibliomania4.blogspot.com.br/2010/11/explosao-da-era-da-informacao.htmlhttp://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&frm=1&source=images&cd=&cad=rja&docid=myiB5Sf7rb6RiM&tbnid=AhwnEezHDRbF3M:&ved=0CAUQjRw&url=http://bibliomania4.blogspot.com/2010/11/explosao-da-era-da-informacao.html&ei=HBGuUdL4MLG14AO21oHoDQ&bvm=bv.47244034,d.dmg&psig=AFQjCNHdErdrS-UhKIefKxEAY7p-458qZQ&ust=1370448495099263
36
CAPTULO 2 IDENTIDADE NA REDE
Na nova sociedade contempornea, tem-se o virtual, o mundo sem limites de
tempo e espao, o indivduo reciclando-se, transformando-se e evoluindo.
Identidades e papis sociais giram em torno do novo sujeito social, individual e
multifacetado.
Figura 13 Identidades ps-modernas Fonte: . Acesso em: set. 2012.
O indivduo ps-moderno precisou rever seus conceitos, sua identidade e sua
posio no mundo para dar sentido a todas as novidades.
2.1 Sociedade, Subjetividades e o novo EU
2.1.1 Sociedade contempornea
As razes do pensamento contemporneo sobre a questo da sociedade e do
espetculo tem origem nos trabalhos de Guy Debord (1967). O autor, com sua obra
contestatria, incita a todos numa luta acirrada contra as percepes da vida
moderna, em que imagem e representao so preferidas em relao ao realismo
http://www.moodle.ufba.br/mod/book/print.php?id=64904http://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&frm=1&source=images&cd=&cad=rja&docid=VVYKMhlgHzZYMM&tbnid=jaNtGjo4wxEYkM:&ved=0CAUQjRw&url=http://www.moodle.ufba.br/mod/book/print.php?id=64904&ei=S9m5UZScFpD69gTd8oCoDw&bvm=bv.47883778,d.eWU&psig=AFQjCNEE0F5GEu7kT4iJNmrHEIL_kaqKzQ&ust=1371220605684179
37
concreto e natural, a iluso e a realidade, a imobilidade e a atividade de pensar e
reagir com dinamismo, a aparncia ao ser. Seus estudos se basearam na crtica de
todo e qualquer tipo de imagem que leve o indivduo aceitao de valores
preestabelecidos pelo capitalismo.
Debord analisa pelas mensagens dos meios de comunicao de massa,
mediao das imagens, entre outros, que os indivduos passaram a viver num
mundo movido pelas aparncias e consumo permanente de fatos, notcias, produtos
e mercadorias:
[...] O espetculo consiste na multiplicao de cones e imagens principalmente atravs dos meios de comunicao de massa, mas tambm dos rituais polticos, religiosos e hbitos de consumo de tudo aquilo que falta vida real do homem comum: celebridades, atores, polticos, personalidades, gurus, mensagens publicitrias tudo transmite uma sensao permanente de aventura, felicidade, grandiosidade e ousadia. (DEBORD, 1967, p. 92)
Dessa maneira, as relaes entre as pessoas transformam-se em imagens e
espetculo: O espetculo no um conjunto de imagens, mas uma relao social
entre pessoas mediadas por imagens. (DEBORD, 1967, p. 95)
Figura 14 Espetculo
Fonte: . Acesso em: set. 2012.
http://3.bp.blogspot.com/_ydvzc92UIaE/TBfmdqEretI/http://3.bp.blogspot.com/_ydvzc92UIaE/TBfmdqEretI/AAAAAAAAABk/JP8NRWU4Ld8/s1600/Sem+t%C3%ADtulo.jpg
38
O que antes era um dilogo pessoal, agora ocupado por consumo e
imagem gerados pelos meios de comunicao de massa, ocorrendo uma enorme
inverso da noo de valores. O espetculo vira realidade e a realidade vira
espetculo. No existe mais um limite definido. Assim, o homem passa a ser e a
viver uma vida idealizada e sonhada, em que a fico se mistura com a realidade e
vice-versa, fazendo parte da realidade vivida pelo indivduo.
Debord (1967) enfatiza a manipulao existente nos meios de comunicao
em massa que criam uma realidade prpria, para que a sociedade se solidarize
gerando critrios de julgamento e justia baseados em emoes como raiva,
felicidade etc., que so manipulados via imagem e apresentados como espetculo.
Assim, com as novas tecnologias no campo da informao agindo na
capacidade de percepo dos indivduos e dificultando a representao do mundo
pelas atuais categorias mentais, asociedade e as identidades transformam-se em
espetculoem que a reproduo da cultura se faz pela proliferao de imagens e
com superexposio, apresentando um novo tipo de experincia humana para o
qual cada dia se torna mais difcil separar a fico da realidade.
Figura 15 Proliferao de imagens
Fonte:
Acesso em: out. 2012.
http://2.bp.blogspot.com/_fFCOFoFtySA/TOqRzZ0uqBI/AAAAAAAAAZk/R1kmNvRqVSw/s1600/untitled.bmphttp://2.bp.blogspot.com/_fFCOFoFtySA/TOqRzZ0uqBI/AAAAAAAAAZk/R1kmNvRqVSw/s1600/untitled.bmp
39
As mdias atuam de forma decisiva na definio dos temas que norteiam todo
o processo cultural e social relevantes. Como observa Debord (1967),
O conceito de espetculo unifica e explica uma grande diversidade de fenmenos aparentes. As suas diversidades e contrastes so as aparncias organizadas socialmente, que devem, elas prprias, serem reconhecidas na sua verdade geral. Considerado segundo os seus prprios termos, o espetculo a afirmao da aparncia e a afirmao de toda a vida humana, socialmente falando, como simples aparncia. Mas a crtica que atinge a verdade do espetculo descobre-o como a negao visvel da vida; uma negao da vida que se tornou visvel. (DEBORD, 1967, p. 10)
Dentro de um mundo de manipulao, o homem acaba sendo governado por
algo que ele mesmo criou. Como afirma DEBORD:
Quando o mundo real se transforma em simples imagens, as simples imagens tornam-se seres reais e motivaes eficientes de um comportamento hipntico. O espetculo, como tendncia a fazer ver (por diferentes mediaes especializadas) o mundo que j no se pode tocar diretamente, serve-se da viso como sendo o sentido privilegiado da pessoa humana o que em outras pocas fora o tato; o sentido mais abstrato, e mais sujeito mistificao, corresponde abstrao generalizada da sociedade atual. Mas o espetculo no pode ser identificado pelo simples olhar, mesmo que este esteja acoplado escuta. Ele escapa atividade do homem, reconsiderao e correo de sua obra. o contrrio do dilogo. Sempre que haja representao independente, o espetculo se reconstitui. (DEBORD, 1967, p. 112)
Ainda com base nos estudos de DEBORD (1967), temos o espetculo
caracterizado em dois tipos: concentrado e difuso.
O tipo concentrado predominantemente burocrtico e ditatorial. Um exemplo
clssico vem dos antigos regimes comunistas, em que o Estado impunha a
identificao popular pelo espetculo escondendo a verdadeira realidade
scioeconmica. J o tipo difuso est presente em regimes democrticos em que se
tem uma noo aparente de poder de escolha das mercadorias, com uma falsa
iluso de liberdade de escolha.
40
2.1.2 Subjetividades e o novo EU
A passagem do sculo XX para o sculo XXI est sendo marcada por um
deslocamento do eixo central que alicera a experincia do indivduo, e como
consequncia, fortes mutaes nas formas com que este se constri como sujeito.
Em seus estudos,Sibilia (2008) apresenta vrias evidncias de que o centro
das atenes atualmente cada indivduo. Aquele sujeitoque utiliza diversas
ferramentas na internet tentando ser algum. Segundo a autora, as relaes entre
as novas formas de expresso com base na Web demonstram que o objetivo estar
l, ser reconhecido e no propagar uma obra. As ferramentas existentes ajudam o
sujeito a recriar a si mesmo, uma personalidade subjetiva que espera validao de
sua legitimao por meio dos comentrios de resposta pelos outros usurios. Pois
sob o imprio das subjetividades alterdirigidas, o que se deve ser visto e cada
um aquilo que mostra de si. (SIBILIA, 2008, p. 235)
Figura 16 Voc Fonte: . Acesso em: out. 2012.
http://en.wikipedia.org/wiki/You_(Time_Person_of_the_Year)
41
Assim, em vez daquelas subjetividades tipicamente modernas, pacientemente
elaboradas no silncio e na solido do espao privado, proliferam de maneira
crescente as personalidades alterdirigidas, voltadas no mais para dentro de si,
mas para fora, visando captao dos olhares alheios em um mundo saturado de
estmulos visuais.
Sibilia assim argumenta:
Quanto mais a vida cotidiana ficcionalizada e estetizada com recursos miditicos, mais avidamente se procura uma experincia autntica, verdadeira, no encenada. Busca-se o realmente real ou, pelo menos, algo que assim parea. Uma das manifestaes dessa fome de veracidade na cultura contempornea o anseio por consumir lampejos da intimidade alheia. Em meio ao sucesso dos reality-shows, o espetculo da realidade faz sucesso: tudo vende mais se for real, mesmo que trate de verses dramatizadas de uma realidade qualquer. Como duas caras da mesma moeda, o excesso de espetacularizao que impregna nosso ambiente to midiatizado anda de mos dadas com as diferentes formas de realismo sujo hoje em voga. A internet um palco privilegiado deste movimento, com sua proliferao de confisses reveladas por um eu que insiste em se mostrar sempre ambiguamente real, mas o fenmeno bem mais amplo e atinge as mais diversas modalidades de expresso e comunicao. (SIBILIA, 2008, p. 195)
Por isso, cada vez mais, segundo Sibilia (2008), as subjetividades
contemporneas parecem se ancorar na exterioridade, naqueles sinais visveis
emitidos por um corpo, assim como na conquista da to almejada visibilidade.
Na atualidade, acompanhando as fortes mudanas ocorridas em todos os
mbitos, como globalizao, digitalizao e virtualizao, as transformaes
estariam ocorrendo na maneira com que os indivduos configuram e vivem suas
experincias subjetivas.
42
Figura 17 Experincia subjetiva Fonte: . Acesso em: out. 2012.
Nesse novo modo de construir uma subjetividade que possa ser aceita na
sociedade atual, as pessoas buscam recursos diversos, em que o objetivo final ser
visto, mas que o que se mostrado aquilo que se quer ser.
Por isso necessrio ficcionalizar o prprio eu como se estivesse sendo constantemente filmado: para realiz-lo, para lhe conceder realidade. Pois estas subjetividades alterdirigidas s parecem se tornar reais quando so emolduradas pelo halo luminoso de uma tela de cinema ou televiso como se vivessem num reality-show, ou nas pginas multicoloridas de uma revista de celebridades, ou como se a vida transcorresse sob a lente incansvel de uma webcam. assim como se encena, todos os dias o show do eu. Fazendo da prpria personalidade um espetculo; isto , uma criatura orientada aos olhares dos outros como se estes constitussem a audincia de um espetculo. (SIBILIA, 2008, p. 258)
Sibilia (2008) baseia-se em Riesman para substanciar essa transformao de
carter com a passagem do que para o que se quer ser que acontece por conta
dos meios de comunicao de massa e de consumo. Agora o que vale o efeito que
essa personalidade criada e transmitida capaz de provocar nos outros.
O contraponto dessa situao, ainda segundo Sibilia (2008), que pelo
menos em tese h sempre algum olhando ou acompanhando tudo o que se faz ou
no se faz no ciberespao. Nesse contexto, o medo real da solido desaparece e as
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novas subjetividades construdas nessas visualizaes do novo eu nas telas
denotariam um tipo contemporneo de fragilidade, por conta da enorme
dependncia do olhar alheio.
Figura 18 Olhar alheio Fonte: . Acesso em: out. 2012.
Seguindo a anlise de Debord (1967), o espetculo uma relao social
entre pessoas mediadas por imagens. o resultado do mundo de produo, do
corao da irrealidade sob a forma de informao e estabelece o modelo de vida
socialmente dominante. Para descrever o espetculo necessrio distinguir seus
elementos inseparveis: a linguagem que deve ser grandiosa e monopoliza a
verdade da aparncia. Enfim, o fundamental do espetculo o fato dos meios serem
a finalidade.
Ainda segundo Debord (1967), o espetculo uma forma de sociedade na
qual a vida real pobre e fragmentada, e os indivduos so conduzidos a contemplar
e a consumir passivamente as imagens de tudo o que lhes falta em sua existncia
real.
Por outro lado, Sibilia (2008) mostra que, para participar do show do eu,
basta um clique e, de fato, todos costumamos dar esse clique.
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44
Figura 19 Click Fonte:.
Acesso em: out. 2012.
Com o novo ambiente em que se encontra o homem ps-moderno, as
mltiplas identidades que se apresentam nesse contexto no passam de uma
composio indispensvel para o ajuste do indivduo a um mundo de transformaes
constantes, referncias variadas, incertezas e inseguranas. Para conseguir
sobreviver nessa realidade, o sujeito social precisa construir diversas formas de se
relacionar, conviver e ser inserido no contexto atual, a fim de estabelecer relaes e
comunicar-se.
A construo da identidade depende fortemente da situao em que se
encontra o indivduo e de sua inteno naquele determinado momento. Posies
menos fixas e unificadas aparecem num contexto de se colocar o sujeito ps-
moderno em simultaneidade com o novo conceito espao-tempo. Novas identidades
surgem na rede.
No mundo virtual, existe uma realidade em que o indivduo se mostra como
realmente quer ser visto, ou seja, tem-se um sujeito ps-moderno livre para se
apresentar com a identidade que deseja mostrar.
Com os espaos socias virtualizados, as relaes interpessoais se modificam,
fragmentando locais de sociabilidade e possibilitando a criao de novos. No mundo
offline necessrio um tempo para que o indivduo crie e mantenha um
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relacionamento. No mundo online essa possibilidade existe, com muito mais rapidez,
mesmo que de modo superficial e efmero.
As redes sociais na era das novas tecnologias confirmam seu espao como
importante ferramenta de construo de identidades pessoais. Em uma poca em
que a utilizao desses recursos cresce exponencialmente, as redes ganham corpo
de intensa influncia e revelam-se como algo que modifica radicalmente as formas
de relacionamento na sociedade.
Delarbre (2006, p. 207) refora que as identidades virtuais so mscaras que
podemos trocar vontade, exceto quando nos envolvemos demais com algumas
delas. Ainda segundo o autor,
[...] as identidades sempre esto ou podem estar mascaradas: fantasia e o jogo so elementos indissociveis da relao que podemos estabelecer, a qual est condicionada pela fugacidade como caracterstica constante, mas, tambm, pela prerrogativa de quem entra nesses espaos de reunio. (DELARBRE, 2006, p. 208)
Figura 20 Mscaras
Fonte:. Acesso em: nov. 2012.
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46
Como paradoxo, o mesmo ambiente que viabiliza identidades incgnitas em
comunidades virtuais, chats e salas de bate-papo tambm permite uma
superexposio do indivduo. Assim, com a mesma facilidade que a internet permite
assumir mais de uma identidade, ocultar e dissimular, tambm potencializa uma
sociedade do espetculo.
Ainda ao mesmo tempo que a internet estimula o desenvolvimento de
capacidades expressivas, relacionais e emocionais, tambm tende a provocar abalo
nas estruturas. A rede facilita o contato, poupa esforos e rene os interessados,
porm coloca-os na dependncia do subjetivismo de uma vida social dominada pelo
fetiche da mercadoria. E uma mercadoria que nem sempre real nem to pouco
consumvel.
Podendo navegar incgnito na internet e tambm observar, vigiar e se expor
conforme se deseja, possvel construir sua identidade da forma como quer que a
imagem aparea. Na realidade, como resultado, expressa o que gostaria de ser,
como gostaria de ser visto e tratado.
Figura 21 Incgnitos na rede
Fonte: . Acesso em: out. 2012.
http://portaldailha.com.br/giomarca/wp-content/uploads/2012/12/i89276.jpg
47
As novas identidades do homem ps-moderno so apresentadas e ampliadas
na rede prolongando o espetculo, uma vez que cada indivduo responsvel pela
sua prpria mdia.
Com um mundo novo de oportunidades e segurana frgeis, as identidades
ao estilo antigo, rgidas e inegociveis, deixam de funcionar. As estruturas durveis,
tais quais eram conhecidas num passado recente, no conseguem incluir novos
contedos que se desejam agregar, ou todas as identidades que poderiam ser
experimentadas.
Nesse panorama, a rea de relacionamentos amorosos se revela mais
dinmica e competitiva, fazendo com que seja sempre mais difcil tirar vantagens de
situaes de monoplio, ao multiplicar oportunidades e desenvolver novas
capacidades relacionais.
2.2 Percepo e os mecanismos de busca na Web
Percepo consiste na aquisio, interpretao, seleo e organizao das
informaes obtidas pelos sentidos. Pela percepo, um indivduo organiza e
interpreta suas impresses sensoriais para atribuir significado ao seu meio. o
processo por meio do qual as pessoas escolhem, organizam e reagem s
informaes do mundo que as rodeia.
Com base na fenomenologia da percepo de Merleau-Ponty, que considera
o papel da percepo na experincia vivida, tem-se:
Tudo aquilo que sei do mundo, mesmo por cincia, eu o sei a partir de uma viso minha ou de uma experincia do mundo sem a qual os smbolos da cincia no poderiam dizer nada. Todo o universo da cincia construdo sobre o mundo vivido, e se queremos pensar a prpria cincia com rigor, apreciar exatamente seu sentido e alcance, precisamos primeiramente despertar essa experincia do mundo da qual ela a expresso segunda. (MERLEAU-PONTY, 1994, p. 3)
A percepo d uma noo do mundo e o que se percebe de verdade.
Mesmo que no seja verdadeira, ela ser a real, at que se prove o contrrio.
48
No mbito pessoal, a identidade, ou o conceito de si mesmo, orienta a ao
individual. J no mbito social, as identidades das pessoas configuram-se como a
percepo de si mesmas dentro de um ou vrios grupos e, nesse aspecto,
direcionam os movimentos, refletindo a ao grupal.
Quando se fala em identidades na rede, a percepo tem valor fundamental.
Ao procurar saber sobre um determinado indivduo, mecanismos de busca da Web
com o seu nome (ex: Google) so utilizados, e os resultados encontrados muitas
vezes acabam formando uma viso da identidade do sujeito por meio da percepo
dos resultados.
Para explicar melhor, foi tomado como exemplo o orientador deste trabalho,
Professor Doutor Alexandre Campos Silva. O professor Alexandre um profissional
do mundo corporativo, professor da PUC, casado, pai de dois filhos e surfista nos
momentos de lazer. Ao consultar seu nome na Web, tem-se diversas vises de sua
identidade.
Figura 22 Buscador Google
Fonte: pesquisando Alexandre Campos Silva em 16/06/13.
O interessante a ser observado que, de acordo com o contexto, a identidade
do sujeito se apresenta de forma totalmente diferenciada.
https://www.google.com.br/
49
Segundo Silva (2005, p. 76), necessria a compreenso de uma situao
num determinado contexto. Um contexto comum deve ser compartilhado com a
audincia e a participao humana nas redes de pessoas contribui muito para dar o
contexto adequado e facilita a disseminao de um deteminado conhecimento para
a platia. Assim, para se dar nfase a um discurso, necessrio se criar um
contexto pessoal, passando experincias, sentimentos e emoes. Criar esse
contexto no ambiente digital , segundo o autor, o desafio.
Dependendo de onde se clica, a identidade se apresenta em diferentes
papis. Segundo Hall, o homem moderno no tem identidade fixa e assume diversas
identidades em diferentes momentos.
Se sentimos que temos uma identidade unificada desde o nascimento at a morte, apenas porque construmos uma cmoda estria sobre ns mesmos ou uma confortadora narrativa do eu [...], a identidade plenamente unificada, completa, segura e coerente uma fantasia. Ao invs disso, medida que os sistemas de significao e representao cultural se multiplicam, somos confrontados por uma multiplicidade desconcertante e cambiante de identidades possveis, com cada uma das quais poderamos nos identificar ao menos temporariamente. (HALL, 2006, p. 13)
Os mecanismos de busca tornaram-se to importantes em relao
visualizao de uma identidade, que mostrar primeiramente perfis positivos e links
que passem uma boa impresso passou a ser um diferencial. Com isso, percebe-se
o desenvolvimento de diversas ferramentas como, por exemplo, o BrandYorself,
cujo objetivo analisar tudo o que se publica na internet. A ferramenta cria um ndice
de busca que monitora o quanto positivo versus negativo esto os resultados na
primeira pgina de consulta com algum nome. Fornece ainda os passos para que
seja possvel posicion-los melhor nos mecanismos de busca e mantm um controle
sobre isso. A reputao do indivduo online passou a ter grande importncia.
Continuando no exemplo do professor Alexandre, ao fixar a anlise em seu
perfil do Facebook, pode-se ver a identidade social em que se compartilham fotos da
famlia e de seus momentos de lazer. J analisando o seu perfil no Linkedin,
observa-se o lado profissional, destacando a experincia no mundo corporativo e
acadmico. No site da PUC, por outro lado, est o seu perfil acadmico. No
50
Youtube, podem ser encontradas algumas palestras efetuadas em eventos
acadmicos e corporativos. Para completar essa viso, h tambm apresentaes
publicadas no slideshare (ferramenta de compartilhamento de contedo) e diversos
outros sites, blogs, comunidades virtuais nos quais mais e mais perfis do professor
Alexandre se apresentam.
Ainda h a varivel temporal, uma vez que as identidades esto organizadas
na rede em um espao de tempo que representa a continuidade de um eu. A
concepo de tempo e espao a edificao utilizada para sustentar a existncia do
indivduo de uma forma geral.
No Facebook, a linha do tempo d a viso de uma sucesso de momentos
que representam os indivduos em diversas fases. Compreender a ordenao e a
sucesso de fatos, bem como a simultaneidade e a relao entre eles, ajuda a
caracterizar perodos e obter conceitos de tempo fsico e social, permitindo tambm
uma leitura da realidade em suas dimenses espacial e temporal.
Tem-se ento a percepo se referindo ao campo da subjetividade e da
historicidade, ao mundo dos objetos culturais, das relaes virtuais e sociais como
base das experincias vividas. Para Merleau-Ponty,
[...] a percepo sinestsica a regra e, se no percebemos isso, porque o saber cientfico desloca a experincia e porque desaprendemos a ver, a ouvir e em geral, a sentir, para deduzir de nossa organizao corporal e do mundo tal como concebe o fsico aquilo que devemos ver, ouvir e sentir. (MERLEAU-PONTY, 1994, p. 308)
O corpo, a afetividade e as relaes sociais so relacionadas ao sujeito e,
com isso, percebe-se que o ser humano mais do que suas palavras, sua escrita e
seus contatos virtuais. Ele tambm atitude, tom de voz, expresso, ritmo,
criatividade e espontaneidade interagindo dinamicamente.
Assim, a percepo final da identidade do sujeito fica a critrio de cada um.
51
2.3 Imagem no contexto
No mundo ps-moderno, falar sobre identidade implica o uso de termos como
fragmentao, deslocamento, descentramento, conforme apontam os estudos de
Hall. Para o autor,
a identidade formada na interao entre o eu e a sociedade. O sujeito ainda tem um ncleo ou essncia interior que o eu real, mas este formado e modificado num dilogo contnuo com os mundos culturais exteriores e as identidades que esses mundos oferecem. (HALL, 1998, p. 11)
Hall (1998) complementa que, para os tericos, crentes nas identidades que
caminham para seu fim, as transformaes que vm ocorrendo causaram um abalo
na ideia que temos de ns prprios como sujeitos integrados, o que teria levado,
perda de um sentido de si estvel, provocando o deslocamento ou
descentralizao do sujeito.
Para Bauman (2005), a identidade uma construo que demanda esforo e
nos revelada como algo a ser inventado, e no descoberto.
Com as novas condies tecnolgicas de acesso e troca de informaes, as
identidades individuais esto passando por profundas alteraes e as imagens
exibidas so parte importante desse contexto.
A percepo e a significao das imagens dependem dos sujeitos e do
contexto, porm as imagens contm em si elementos capazes de chamar a ateno
e gerar interesse.
Nunca se fica passivo diante de uma imagem. Ela incita a imaginao e faz
pensar sobre o passado ou sobre a ideia para a qual ela remete. Entre quem olha, e
a imagem, h muito mais do que os olhos podem ver. uma elaborao do vivido e
uma leitura do real.
52
Figura 23 Imagem na internet Fonte: . Acesso em: jun. 2013.
Vdeos e fotos feitos por pessoas comuns tm diversas finalidades na Web.
Desde a identificao de uma pessoa at testemunhos de eventos cotidianos,
pessoas falando de suas vidas e tambm registros de catsfrotes, manifestaes
etc.
Com a difuso de fotografias e vdeos por celular, pode-se verificar o que
alguns autores definem como subjetividade ps-moderna, ou seja, desterritorializada
e aberta. A prpria caracterstica de mobilidade do dispositivo j apresenta essa
subjetividade: as fotos so tiradas, vistas e descartadas imediatamente; elas
circulam como forma de fazer contato, enviar para os amigos, apenas indicando
onde se est, por exemplo. So imagens imediatas como forma de sociabilidade.
No so produzidas para marcar memria. O consumo se d para circulao na
rede, o envio rpido e imediato.
http://jessicavasconcelosuerj.blogspot.com.br/
53
Figura 24 Geolocalizao de fotos no smartphone Fonte: . Acesso em: jul. 2013.
Esse mostrar e ver estabelece uma forma de ligao social e flutuante,
caractersticas da sociabilidade e subjetividade ps-modernas. Para Bauman, viver
na modernidade lquida implica assumir responsabilidades e viver o momento, o
instntneo em seu tempo e espao nicos.
Como tudo o mais, as identidades humanas suas autoimagens se dividiram em colees de instantneos, cada uma tendo que evocar, carregar e expressar seu prprio significado, muitas vezes sem se referir a outros instantneos. Em vez de construir nossa identidade de maneira gradual e paciente, como se constri uma casa, lidamos com formas montadas instantaneamente, apesar de desmanteladas com facilidade, pintadas umas sobre as outras; uma identidade palimpstica. o tipo de identidade que se adapta a um mundo em que a arte de esquecer bem mais importante do que a arte de memorizar; em que esquecer, mais que aprender, a condio de adequao contnua, segundo a qual novas coisas e pessoas entram e saem do campo de viso da cmera estacionria da ateno e onde a prpria imagem como fita de vdeo, sempre pronta para ser apagada para poder gravar novas imagens. (BAUMAN, 2001, p. 115)
Assim, no entendimento de Bauman, as pessoas so frutos e reflexos de uma
sociedade em constante mudana, portanto igualmente instantneos, como as
imagens publicadas na Web.
http://iplace.maiscommac.com.br/2012/02/criando-albuns-de-fotos-no-iphone-ipad-e-ipod-touch/http://iplace.maiscommac.com.br/2012/02/criando-albuns-de-fotos-no-iphone-ipad-e-ipod-touch/http://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=lugares i-phone "fotos"&source=images&cd=&cad=rja&docid=o8_M8hjFqbnfQM&tbnid=34HnJeeUlPtKyM:&ved=0CAUQjRw&url=http://iplace.maiscommac.com.br/2012/02/criando-albuns-de-fotos-no-iphone-ipad-e-ipod-touch/&ei=9GjtUb6aAYnO8QTvv4HwCA&bvm=bv.49478099,d.dmg&psig=AFQjCNH_cRUYyBm6tGNW9_ejf4Hx16SOtA&ust=1374599790001306
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2.4 Perfis falsos fakes
As formas identitrias na Web se apresentam de maneira nmade, uma vez
que podem estar aqui e ali sem fronteiras impostas pela longa distncia territorial; ou
mltipla, quando se opta por ter vrios perfis falsos, como so chamados os fakes,
vrios eus.
O anonimato fornecido pela internet e a sensao de impunidade que existe
como consequncia colaboram para a criao desses tipos de perfis, uma vez que
no h ningum que observa esses autores, dando a possibilidade de, no espao da
Web, agir como bem entenderem, visto no estarem sob vigilncia.
Essas relaes no precisam ser providas da revelao de suas identidades
offline, ou seja, no preciso revelar sua identidade civil para se comunicar com
outra pessoa. Assim, possvel aos indivduos serem o que quiserem sem afetar, de
modo geral, suas vidas fora da Web.
Essa possibilidade tem permitido aos milhares de indivduos na
contemporaneidade, a inveno, experimentao, redefinio e a exibio de
mltiplas identidades.