IC7-24

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  • A HISTRIA DO BRASIL NA DCADA DE 1960 ATRAVS DA MSICA POPULAR BRASILEIRA

    Miranda, Silvia Helena Rebecca Andrade de1, Zanetti, Valria2 1UNIVAP / Curso de Histria/ IP&D - Laboratrio de Pesquisa e Documentao Histrica. Avenida Shishima

    Hifumi, 2911, Urbanova/ S.J.Campos/SP/ [email protected] / Curso de Histria/ IP&D - Laboratrio de Pesquisa e Documentao Histrica. Avenida Shishima

    Hifumi, 2911, Urbanova/ S.J.Campos/SP/ [email protected]

    Resumo - Este trabalho pretende mostrar que, considerando a msica popular brasileira como fonte histrica, muito se pode entender sobre a histria poltica, social e econmica do Brasil na dcada de 60. Atravs da anlise semitica das formas (ritmos) e dos contedos (letras) de dois dos estilos mais marcantes desse perodo - a msica de protesto e o i i i - podemos verificar que cada um desses estilos evidencia que a msica popular brasileira foi uma das formas de expresso usada pelas diferentes classes sociais da poca para expressar seus diferentes pontos de vista sobre um dos perodos mais marcantes tanto economicamente como politicamente em nosso pas e que, portanto, a msica popular pode ser considerada um signo capaz de re-significar a Histria do Brasil. Palavras-chave: Histria, Brasil, Msica, Semitica, Ditadura rea do Conhecimento: VII Cincias Humanas Introduo

    A histria tradicional, at o incio do sculo

    XX, estava organizada em torno dos feitos dos "grandes homens", personalidades polticas ou militares, que se tornaram heris lendrios. A perspectiva adotada por Fernand Braudel, expoente da Escola dos Annales, inspiradora de toda a historiografia moderna, possibilitou a formulao de uma histria que no se utiliza apenas de fontes escritas, mas tambm da geografia, economia poltica, sociologia e da psicologia. A partir dessa perspectiva, a histria passou a se inter-relacionar com as cincias sociais na histria. A msica ganha, dentro dessa nova mentalidade, a possibilidade de ser utilizada como uma fonte de novos conhecimentos histricos.

    Para ser considerada um signo, capaz de narrar os acontecimentos polticos, sociais e econmicos do Brasil, a Msica Popular Brasileira exige uma anlise semitica - que a cincia que tem por objeto de investigao todas as linguagens possveis - de suas formas e contedos. Utilizaremos como instrumento conceitual de semitica e signo, a semiologia Peirceana; e para a anlise das letras e dos estilos das msicas, ou seja, a linguagem verbal (letras) e a no verbal (sons e ritmos), a filosofia da linguagem, de fundamento marxista, proposta por Mikhail Bakhtin, que tem como um dos temas de

    suas discusso o signo como arena de luta de classes

    A Semitica da Msica geralmente estudada por musiclogos, que se preocupam muito mais com os sistemas musicais, seus elementos e suas formas, do que com sua significao dentro de um contexto histrico. Por termos conhecimento dessa lacuna no estudo da Histria, que aceitamos o desafio de fazer anlise semitica da Msica Popular Brasileira na dcada de 60, em duas vertentes que consideramos opostas - a "cano de protesto" e a Jovem Guarda.

    Nosso trabalho buscar, portanto, analisar, atravs da semitica, as letras e os estilos da Msica Popular Brasileira na dcada de 60 a fim de que, atravs desse signo, possamos compreender a Histria do Brasil nesse perodo. Materiais e Mtodos

    Utilizaremos fontes bibliogrficas,

    documentais e de udio (msicas). A fundamentao terica relacionada s reas abordadas por nosso projeto ter bibliografia prpria.

    Analisaremos letras de msica em conjunto com o ritmo, fazendo relao do resultante deste conjunto com fontes bibliogrficas tericas.

    IX Encontro Latino Americano de Iniciao Cientfica e V Encontro Latino Americano de Ps-Graduao Universidade do Vale do Paraba

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  • Discusso Desde o nascimento da Escola dos

    Annales, fundada em 1929 na Frana, por Lucien Febvre e Marc Bloch que a histria tem considerado outras fontes historiogrficas alm da tradicional histria factual. Essa nova histria interessa-se particularmente pela histria das mentalidades. Dentro dessa linhagem, Fernand Braudel (1902-1985) revolucionou a maneira de se conceber e escrever a histria, propondo uma viso global cuja influncia ultrapassou as fronteiras da Frana.

    Dentro dessa nova mentalidade, a msica ganha a possibilidade de ser utilizada como uma fonte de conhecimento histrico, cuja funo precisa ir alm de entreter; ela pode ser capaz de retratar os aspectos sociais, polticos e econmicos de um grupo ou de uma sociedade.

    A semitica "tem por objeto de investigao todas as linguagens possveis". (SANTAELLA, Lcia. 2003. p.13) [1] Portanto, sua utilizao como instrumento de anlise se faz necessria, j que a linguagem considerada no ser apenas a verbal (letras), mas tambm a no verbal (ritmos). No apenas as letras, mas os ritmos servem como representativos dos sentimentos expressos nas canes da poca.

    Portanto, atravs de uma anlise semitica das canes da Msica Popular Brasileira, na dcada de 60, podemos identificar aspectos do contexto histrico brasileiro; sejam eles econmicos, sociais ou polticos, permitindo considerar a msica um signo capaz de representar a Histria do Brasil.

    O historiador russo, Mikhail Bakhtin considera todo signo ideolgico e a ideologia como um reflexo das estruturas sociais, portanto, toda a modificao ideolgica encadeia uma modificao da lngua, ou seja, a forma lingstica sempre percebida como um signo mutvel. Para ele "os conflitos da lngua refletem os conflitos de classe no interior de um mesmo sistema." (BAKHTIN, Mikhail. 1988. p.14) [2]

    Cada tipo diverso de estilo da Msica Popular Brasileira nesse perodo evidencia que ela foi uma das formas que as diferentes classes sociais encontraram para expressar seus pontos de vista sobre um dos perodos mais marcantes em nosso pas. Os compositores da poca tinham por objetivo "deslocar o sentido comum da msica popular, dos problemas puramente individuais para um mbito geral: o compositor se faz o intrprete esclarecido dos sentimentos populares, induzindo-o a perceber as causas de muitas das dificuldades com que se debate". (TINHORO, Jos Ramos. 1998. p.314) [3] Esses sentimentos variavam desde o desejo de liberdade poltica, to bem expresso nas canes de protesto, como o desejo por um outro tipo de liberdade, da moral

    vigente, tambm muito bem cantado nos versos da Jovem Guarda.

    Nem sempre em todas as sociedades a msica popular possui outra funo alm da de entreter. Como uma expresso artstica do povo, ela pode ser considerada um espelho da viso da sociedade que a compe ou do Estado que a manipula. Baseados nessa concepo, faremos a anlise semitica da msica "Pra no dizer que no falei das flores" de autoria do compositor Geraldo Vandr, como exemplo de cano de protesto e a msica "Quero que v tudo pro inferno" de autoria do cantor Roberto Carlos, como exemplo de i i i. Ambas foram consideradas marcos das diferentes linguagens faladas na dcada de 60 e ambas se utilizaram do desenvolvimento da cultura de massa como forma de aproximao e tentativa de articulao da sociedade. A linguagem musical que estas duas faces da sociedade da poca utilizou, composta no apenas de letras, mas de ritmos prprios que tambm eram representativos, ou significativos da mensagem que pretendiam transmitir. Concluso:

    O historiador Edward H. Carr escreveu

    que "todo ser humano em qualquer estgio da histria ou da pr-histria nasce numa sociedade e, desde seus primeiros anos, moldado por essa sociedade. A lngua que ele fala no uma herana individual, mas uma aquisio social do grupo no qual ele cresce. Ambos, lngua e meio, ajudam a determinar o carter de seu pensamento." CARR, Edward H. Que histria: Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1998, p.69. [4]

    Sob esse contexto podemos concluir que, mesmo sendo diversas as formas e os contedos da Msica Popular Brasileira, a msica foi a linguagem encontrada pelas diferentes classes da poca para expressar os sentimentos mais ntimos de uma sociedade que tambm era diversa, e portanto, reagia, moldava-se e comportava-se de diferentes maneiras em relao ao contexto que a cercava. Agradecimentos

    Agradeo minha orientadora, Prof. Valria Zanetti, pela confiana e apoio incondicionais.

    Tambm agradeo ao meu noivo e historiador Cristiano Jos Pereira pelas horas incansveis ao meu lado. Referncias [1] SANTAELLA, Lcia. O que Semitica. So Paulo: Ed. Brasiliense, 19 ed., 2003.

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  • [2[ BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e Filosofia da Linguagem. So Paulo, 4a ed., 1988. [3] TINHORO, Jos Ramos. Histria Social da Msica Popular Brasileira. So Paulo: Ed. 34, 1998. [4] CARR, Edward H. Que Histria. So Paulo: Paz e Terra, 1998.

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