humboldt

download humboldt

of 19

Transcript of humboldt

REVISTA DE BIOLOGIA E CINCIAS DA TERRA Volume 6- Nmero 1 - 2 Semestre 2006

ISSN 1519-5228

Descobertas cientficas da Expedio de Alexander von Humboldt na Amrica Espanhola (1799-1804) sob ponto de vista geogrfico*Gerd Kohlhepp1

ABSTRACT Alexander von Humboldts expedition from 1799 till 1804 to the equinoctial regions of the new world led through Venezuela, Cuba, Colombia, Ecuador, Peru, and Mexico. In Europe an increased knowledge of the New World was connected with the privately funded journey, which served purely scientific purposes and had nothing to do with the exploration and exploitation of natural resources. Besides the research results, which were based on new measuring methods and the quantitative ascertainment of scientific basics, the journey also made possible detailed descriptions in matters of regional studies including social, socio-economic, political, and economic-geographic circumstances, which were based on empirical field studies. The expedition took place shortly before the political change in Latin America. Humboldt, who still experienced the feudal character of global economy based on slave labor in the colonies, vehemently criticized this economic structure although he was a noble and its unbearable social conditions. This is the reason why Humboldt is still admired in Latin America till this day. In Europe the scientific insights of his journey to the tropics and his innovative impulses in geography as well as in many other disciplines brought him fame and lasting recognition as a universal scholar, who had crucial influence on the development of the sciences during the first half of the 19th century. Key words: historical geography, regional studies, Latin America, Spanish colonies, Alexander von Humboldt. RESUMO A expedio cientfica de Alexander von Humboldt de 1799 a 1804 pela regio equinocial do Novo Mundo foi realizada atravs dos pases Venezuela, Cuba, Colmbia, Equador, Peru e Mxico. Essa viagem, destinada obteno de novos conhecimentos aprofundados sobre o Novo Mundo para a Europa, foi iniciada com recurso financeiro prprio e tinha exclusivamente objetivos cientficos e no a explorao de recursos naturais. Paralelamente aos resultados de pesquisa, fundamentados em novos mtodos de medida e da elaborao quantitativa de fundamentos das cincias naturais, a viagem proporcionou relatrios geogrficos integrando fatos sociais, scio-econmicos, polticos e da geografia econmica, tendo como base a pesquisa emprica de campo. A expedio foi realizada pouco antes da radical mudana poltica na Amrica Latina. Humboldt, que ainda presenciou a economia mundial colonial e feudal baseada na escravido, e mesmo sendo um aristocrata, criticou de forma veemente essa estrutura econmica e suas condies sociais insuportveis. Por este fato e pelos resultados cientficos obtidos quando da expedio aos trpicos, bem como pelos impulsos inovadores dados geografia e a muitas outras disciplinas cientficas, ele admirado como erudito universal at os dias de hoje na Amrica Latina e na Europa. Alexander von Humboldt marcou decisivamente o mundo cientfico na primeira parte do sculo XIX. Palavras-chave: geografia histrica, estudos regionais, Amrica Latina, colnias espanholas, Alexander von Humboldt.Originalmente publicado em : Anais da Academia Brasileira de Cincias (2005) 77 (2): 325 342. Traduzido com autorizao do autor por Luiz Eduardo Panisset Travassos, Departamento de Ps-Graduao em GeografiaTratamento da Informao Espacial, PUC Minas. Bolsista CAPES. Reviso de Ana Luza Libnio Dantas, Mestranda da Universidade de Ohio, Departamento de Estudos Latino Americanos*

260

Introduo Com seu retorno Europa em 1 de Agosto de 1804, Alexander von Humboldt concluiu sua famosa jornada s regies equinociais do Novo Mundo. Acompanhado de seu amigo francs Aim Bonpland, mdico, botnico e zologo, visitou os locais onde hoje so a Venezuela, Cuba, Colmbia, Equador, Peru e Mxico entre os anos de 1799 a 1804. Sua jornada, alm de marcar a transio das primeiras viagens de descobrimentos para uma nova fase de expedies focadas em problemas claramente e cientificamente definidos, marcou a convergncia a uma nova viso do Novo Mundo ao publico europeu.Os objetivos principais do empreendimento de Humboldt no estavam fundados nas conquistas do Estado ou na explorao dos recursos naturais para explorao de uma colnia pela metrpole. Sua viagem foi financiada e organizada com recursos particulares e, sem segundas intenes, serviu como base para pesquisas cientficas, bem como para uma detalhada descrio dos pases em termos dos estudos regionais envolvendo aspectos da geografia fsica, da geologia, da histria, aspectos scio-econmicos, da geografia social e econmica, da poltica, sociologia e antropologia. Os exploradores quebraram paradigmas da cincia com auxlio de seus procedimentos analticos baseados em incontveis medies e mtodos para quantificar as observaes, bem como o uso de modernos instrumentos aliados complexa sinopse na forma dos mapas topogrficos. Estes eram mais precisos que qualquer outro at ento conhecido. Alm dos mapas foram elaborados perfis detalhados das paisagens por eles visitadas. A abrangente coleo de milhares de espcimes botnicos no s serve para a descoberta de novas espcies, como verificao baromtrica de altitude e diferenas na temperatura, como tambm, na criao de uma viso tri-dimensional da diferenciao das reas naturais e culturais em altas cadeias montanhosas tropicais. Diferente dos naturalistas do sculo XVIII, Humboldt d muita importncia meticulosa observao de fatores antrpicos bem como aos estudos empricos de campo. Em seu conceito cientfico e metodolgico foi

fortemente influenciado por Immanuel Kant. Em sua obra Crtica da Razo Pura, em 1784, Kant atribui s cincias empricas o mundo dos fenmenos o qual foi denominado Cosmos por Humboldt (Beck, 1959/1961). Entrevistas detalhadas e sem preconceitos com todas as classes sociais, uma avaliao de todos os documentos disponveis, e a coleta, sistemtica classificao e interpretao de importantes dados estatsticos tambm em comparao com outras regies contriburam para um alto nvel de qualidade em seus relatos cientficos. Destino: Regies Equinociais do Novo Mundo Sem querer entrar em detalhes sobre isso, Alexander von Humboldt havia secretamente escolhido os trpicos como destino para suas viagens desde a juventude. Informaes de outras expedies e graas posio de nobreza da sua famlia Prussiana seleta escolha de tutores deram a ele esse mpeto. Como fora planejado, matriculou-se na Universidade de Frankfurt no Oder e estudou contabilidade contra sua vontade. Antes de 1810, a capital da Prssia, Berlim ainda no contava com uma universidade. Interrompeu os estudos de contabilidade para se dedicar aos intensos estudos no campo da botnica como aluno do j famoso Willdenow. Em 1789, durante uma excurso, quando j tinha retomado seus estudos em Gttingen, conheceu Georg Forster, que fortaleceu seu interesse pelos trpicos. Ao lado de seu pai, Forster participou da segunda circunavegao do globo de James Cook (1772/1775). As jornadas com Forster para a Holanda, Inglaterra e Frana em 1790 no apenas treinaram a capacidade de observao de Humboldt, mas tambm lhe causou profundo impacto a partir do momento em que passa a ser introduzido no campo das novas idias de liberdade trazidas pela Revoluo Francesa. No mesmo ano, o jovem de 21 anos submeteu seu primeiro projeto de fitogeografia George Forster. Humboldt adquiriu intenso conhecimento de geologia, mineralogia e alguma experincia na avaliao econmica de depsitos minerais em sua rpida carreira como especialista de minerao do Servio Civil 261

Prussiano e a valiosa experincia com seus estudos na Academia de Minerao de Freiberg, Saxnia (1791/1792) escola frequentada tambm por importantes gelogos das colnias da Amrica espanhola e portuguesa. Conforme Beck havia claramente mostrado em seus estudos sobre Alexander von Humboldt (Beck, 1987-1997: cf. Humbodt, 1987, 1989a,b,1991,1992,1993,1997), em 1793 Humboldt j havia iniciado sistematicamente a preparao de sua viagem aos trpicos do Novo Mundo. Embora viagens fizessem parte da educao clssica dos programas da elite europia, as viagens de Humboldt para Itlia e Suia, em 1795, j caracterizavam viagens de pesquisa cientfica, onde pde colocar em prtica os seus j existentes conhecimentos geolgicos, fsico-geogrficos, fitogeogrficos e astronmicos atravs da observao e do contato com pesquisadores de Genebra, alm de testar os mais recentes instrumentos, adquirindo experincia prtica na determinao da localizao e altitude, bem como elaborando perfis de solo e mapas. Preocupou-se tambm com tais estudos geogrficos quando se encontrava na Espanha aguardando sua partida para o Novo Mundo. Quando, aps a morte de sua me, os irmos Alexander e Wilhelm von Humboldt puderam dispor de uma substancial fortuna, os planos para a expedio de Humboldt foram seguidos com determinao e a jornada para os trpicos foi mais cuidadosamente preparada. Apesar das melhores ofertas, abdicou de seu trabalho no Servio Civil Prussiano e dedicouse com total devoo cincia. As ndias Ocidentais, em seu entendimento, formavam uma s unidade com os Andes tropicais do norte da Amrica do Sul e Central passando a ser denominada de: regies equinociais do novo continente (Humboldt, 1814-1825), as regies do equincio tropical. Os preparativos da viagem de Humboldt, em 1798, concentraram-se inicialmente somente em Paris, considerada, naquela poca, o centro cientifico do mundo. L, Humboldt, que j havia estabelecido uma rede cientfica de contatos por toda Europa Central por meio de visitas e grande nmero de correspondncias, encontra com os maiores nomes das cincias naturais francesas. Enquanto seus planos de visitar o norte do Egito e

acompanhar Baudin na circunavegao do mundo no se concretizaram, conheceu Bonpland em Paris, o qual tornou-se companheiro de Humboldt nas jornadas pelo Novo Mundo. A meta principal era coletar e descrever espcimes botnicos. Graas ao apoio diplomtico de Forell, Embaixador da Saxnia, Humboldt - Prussiano Calvinista - conseguiu ser recebido em uma audincia por Sua Majestade Charles IV, Rei Catlico da Espanha. Sua reputao cientfica e suas habilidades com a lngua espanhola, prova de sua experincia especfica em preparao de viagens s Indias Ocidentais e regies adjuntas ao reino colonial espanhol (Beck,1987-1997), fizeram com que a corte desse crdito de confiana a Humboldt. Apesar de estrangeiros no terem permisso para entrar em colnias espanholas, ele e Bonpland receberam passaportes e liberdade para viagens. Alm disso, o apoio das autoridades locais, bem como o uso de embarcaes espanholas. Humboldt estava ciente do fato de que o governo espanhol jamais confiara tanto em um estrangeiro como confiava nele. Em comparao, a expedio da Academia Francesa de Cincias ao Equador e Peru liderada por La Condamine algumas dcadas antes, havia sofrido com monitoramentos militares e restries de viagens. Alexander von Humboldt sabia que a continuao de sua viagem do Rio Orinoco at o interior dos sistemas fluviais do Rio Amazonas no Brasil, reivindicado por Portugal, seria impossvel. Este pas guardava sua colnia - o Brasil - contra os domnios espanhis. Como os portugueses temiam que Humboldt fosse um espio, as autoridades no Rio de Janeiro, sob ordens do rei de Portugal, colocaram uma ordem de aprisionamento de Humboldt, caso este entrasse no Brasil. Alguns anos mais tarde, quando o Prncipe Regente, devido ocupao de Portugal por tropas napolenicas em 1808, refugiou-se no Rio de Janeiro, poderiam ter surgido consequentemente, oportunidades de pesquisa no Brasil para Humboldt. As expedies de Maximiliano, Prncipe de WiedNeuwied (1815-1817) bem como as expedies, organizadas por von Spix e von Martius (18171820) e muitos outros em diferentes regies do Brasil, aps um curto perodo de tempo, assinalaram esse desenvolvimento cientfico. 262

A situao geopoltica na Europa e o Novo Mundo poca da jornada de Alexander von Humboldt

Em fins do sculo XVIII, o Iluminismo havia trazido para a Europa, emancipao dos laos polticos, religiosos e sociais originados na Idade Mdia. A Revoluo Francesa no somente irradiou seus ideais sobre a situao poltica, como tambm sobre a vida espiritual na Europa. O novo ideal de liberdade era contrastado com o auge do perodo colonial europeu, o que no Novo Mundo j se aproximava do fim. A luta pelo poder poltico na Europa tornava-se evidente quando Humboldt partiu de La Corua. Em 5 de junho de 1799, a fragata espanhola que o levaria para a jornada, passou, com dificuldade, por um bloqueio naval Ingls. Nessa poca a Europa estava a beira da asceno de Napoleo e a queda da Prssia. No Novo Mundo, os Estados Unidos da Amrica j haviam conquistado sua autonomia em 1776. No Haiti, a primeira grande revolta de escravos da dcada de 1790 foi bem sucedida, levando independncia da colnia em 1804. No mundo Ibero-Americano, onde os territrios coloniais espanhis mostraram-se vulnerveis com a ocupao temporria da Inglaterra em Cuba, Trinidade e Florida, e no Sudeste Asitico nas Filipinas, desperta o esprito de liberdade e caem barreiras comerciais entre a metrpole e as colnias. A navegao, a qual havia sido limitada s conexes entre Sevilha, Cdiz e La Habana ou Veracruz, abriu-se a um trfico direto com todos os maiores portos Hispanoamericanos no lado Atlntico da Amrica do Sul (Buisson, 1980). No entanto, a segurana militar dos territrios alm-mar e a reforma da organizao administrativa permaneciam prioritrias. J existiam no incio do sculo XVIII dois vice-reinos, a Nova Espanha (Mxico) e Peru, e mais dois foram criados na Amrica do Sul: Nova Granada (1793), tendo Bogot como capital e englobando os territrios dos atuais pases Venezuela, Colmbia e Equador, bem como o vice-reino do Rio da Prata (Argentina, Bolvia, Uruguai e Paraguai). A expedio de Humboldt ocorreu logo depois das mudanas polticas na Amrica

Latina que levaram ao fim do perodo colonial, exceto em Cuba, durante as primeiras duas dcadas do sculo XIX. Humboldt ainda iria constatar a economia global colonial baseada no trabalho escravo. Entretanto, ele criticava veementemente essa estrutura como uma pessoa que havia interiorizado as idias da Revoluo Francesa. Isso certamente a razo pela qual o nome de Humboldt reverenciado em diversas localidades Ibero-Americanas ainda nos dias de hoje. Em 1804, Alexander von Humboldt conheceu o jovem Simn Bolvar, 21 anos, filho de uma rica famlia Criolla (grupo tnico espanhol no miscigenado nascido no Novo Mundo. N.T.) de Caracas, o qual, conforme Humboldt, discursava entusiasticamente sobre a necessidade de independncia das colnias espanholas da Amrica do Sul. Em uma carta Bolvar, em 29 de julho de 1822, Humboldt menciona a era quando votaremos pela liberdade e independncia do Novo Continente (Beck, 1959). Algum tempo depois Humboldt, que admirava os grandes feitos do Libertador da Amrica Espanhola durante algumas dcadas do sculo XIX, admitiu que ao encontrar Bolvar em Paris no pensou ser ele maduro o suficiente para o papel de lder de um movimento de independncia. Bonpland, no entanto, avaliou melhor sua habilidade (Beck,1959/1961). O desafio da explorao dos trpicos e os resultados-chave da expedio de Humboldt A to cuidadosamente preparada viagem s ndias Ocidentais, foi realizada por Humboldt, apesar dos numerosos problemas polticos e obstculos na Europa, foi ainda assim,uma engenhosa improvisao na sua realizao (Wilhelmy, 1970). Enquanto os objetivos cientficos eram realizados sem nenhum obstculo significativo, o itinerrio regional era, repetidas vezes, adaptado s respectivas circunstncias. Com isto, Humboldt exibia grande capacidade de flexibilidade, ao pragmtica e habilidade diplomtica. Enquanto a viagem foi originalmente idealizada para levar os cientistas a Cuba e ao Mxico, uma febre a bordo forou a embarcao a parar em Cuman 263

(Venezuela) em julho de 1799. Como para Humboldt o laboratrio da natureza estava disponvel em qualquer lugar, a parada acabou por se transformar em uma estada de 16 meses na Venezuela, uma vez que uma expedio ao interior podia levar vrios meses. Humboldt explorou os Llanos e a Floresta Tropical do Rio Orinoco, viajando pela conexo, por muito tempo incerta, entre os rios amaznicos, a bifurcao do Rio Casiquiare que leva ao Rio Negro (Figura 1). O mais importante da sua estada na Venezuela so as viagens em um perfil norte-sul e a coleta de informaes cientficas relativas aos aspectos naturais do ambiente, bem como da situao econmica-geogrfica e da geografia dos povoados. Aps as primeiras incurses nas cadeias montanhosas da costa e a visita s misses dos ndios Chaimas, cujos costumes foram estudados em detalhe, deu ateno capital Caracas, sua localizao, clima e relevncia poltica. Nos Llanos, Humboldt levantou a questo central da gnese das caractersticas da paisagem como determinantes de sua vegetao e possvel uso agrrio no futuro (Otremba, 1959). Assuntos sociais eram lidados atravs de detalhada interpretao de inmeras informaes. Humboldt foi bem sucedido ao apresentar uma diviso zonal em trs setores das regies j habitadas e colonizadas do Litoral e da Costa montanhosa at as savanas midas dos Llanos com seus extensos pastos at a Floresta Tropical ao sul do Orinoco, por onde passaram indgenas caadores-coletores. As florestas sempre-verdes dos trpicos equatoriais foram denominadas de Hylaea (Hilia) em 1808 por Humboldt que utilizou nomenclatura de Herdoto. Ele descobriu a biodiversidade das florestas tropicais comparada s florestas das zonas temperadas, embora tenha se enganado (assim como, depois, inmeros outros pesquisadores), pela existncia de uma biomassa que forneceria a suposta fertilidade dos solos tropicais. Nas florestas tropicais, as misses eram fronteiras institucionais da periferia, reas enormes sob domnio religioso, as quais

Humboldt questionava criticamente. Fortes isolados e postos de observao militares eram projetados com o objetivo de proteger a fronteira entre as esferas de influncia dos dois poderes coloniais. O contraste entre o controle Espanhol e o Portugus ficou claro. Existia quase um dio nacional na regio fronteiria e at mesmo indgenas espanhis ou portugueses se odiavam. De uma forma por assim dizer emprica, as conseqncias da qumica dos rios de gua escura e clara foi notada quando uma insuportvel infestao de mosquitos repentinamente pra de atormentar os pesquisadores quando estes estavam em rios de gua escura - pobre em partculas em suspenso. A acidez da gua impedia o crescimento das larvas do mosquito. Os informes eram constantemente enriquecidos por comparaes bem fundamentadas. Aps sua memorvel expedio, Vareschi (1959) enfatizou a performance de Humboldt e Bonpland. Expuseram-se s dificuldades das expedies fluviais sem disporem de equipamentos modernos, ainda assim obtiveram importantes resultados cientficos. Sua subseqente estada em Cuba foi encurtada quando surgiu a chance de tomar parte na planejada expedio do capito Boudin da circunavegao do globo a partir de Callao, Peru. Humboldt usou sua viagem a partir de Cuba para ir terra firme em Cartagena at finais de Maro de 1801 e explorar, pelos 20 meses seguintes, os Andes na regio onde hoje esto os pases da Colmbia, Equador e Peru. Quando o itinerrio de Baudin mudou, Humboldt viajou para o Mxico, onde chegou em Acapulco (Figura 1). Como o itinerrio de Baudin mudara novamente e Humboldt desistira dos planos de viagem aos mares do sul e s Filipinas, e conseqentemente da viagem ao redor do mundo, continuou suas exploraes do planalto mexicano. Sua viagem de retorno Europa, onde desejava se concentrar na redao e publicao de seus resultados o mais rpido possvel, foi desviada para os Estados Unidos, onde conheceu o Presidente Jefferson em 1804.

264

Neste trabalho no possvel fornecer um resumo compreensivo dos resultados da expedio de 5 anos de Alexander von

Humboldt pelos trpicos, da qual retornou com quase 35 anos de idade. Ele prprio considerava as informaes dessa viagem sua maior 265

realizao e seu trabalho favorito. Essas informaes vo muito alm dos registros de viagem Relation Historique (Humboldt, 18141825), incluindo o Geographie der Pflanzen (Humboldt, 1805/1807, 1807, 1808a) com pinturas da natureza, tabelas de perfis (tableau physique) dos Andes, o trabalho da Nova Espanha (Humboldt, 1811a) e os respectivos Atlas associados (Humboldt, 1811b, 1814 a,b). Vrias observaes bsicas foram tambm registradas nos ensaios Ansichten der Natur (Humboldt, 1808b) e mais tarde em o Kosmos (Humboldt, 1845-1862). Os resultados dessa expedio tambm podem ser encontrados em vrios peridicos cientficos, devolvidos a rgos oficiais do Mxico. Deve ser salientado que o seu ensaio Essai politique sur le royaume de la Nouvelle-Espagne (1811) surgiu desses registros. As informaes de sua jornada americana cujo terceiro volume (1825, publicado em 1831) contm o Essai politique sur lle de Cuba (veja Beck, 1992) no inclui sua pesquisa na Colmbia, Equador e Peru. Os resultados somente podem ser achados em ensaios, perfis da paisagem e itinerrios (Faak,1986) ou respectivamente como indicaes e observaes comparativas em seus outros trabalhos. Infelizmente, o quarto volume de sua jornada aos trpicos jamais fora publicado devido a inmeras tarefas como conselheiro quando de sua volta a Berlim em 1827, a preparao de uma jornada para a Rssia e sia e incio de suas atividades de docncia ( Humboldt, 1814/25, 1997). Um exemplo da magnitude de suas expedies est no nmero de amostras botnicas coletadas: 5.800. At ento, 3.600 eram desconhecidas. A maioria delas foram identificadas e descritas, em parte, durante a viagem, por Bonpland. Dentro da tica fitogeogrfica e dos estudos de vulcanologia, os dois exploradores acreditavam ter atingido o ponto mais alto do mundo at ento, no Chimborazo (6267m acima do nvel do mar) em 1802, onde atingiram 5.880m. As pesquisas recentes mostram, segundo descobertas arqueolgicas nos Andes, que a altitude descrita por Humboldt deveria ser aproximadamente 5.400 metros ( Wilhelmy, 1986). Incontveis medies foram realizadas para determinar a localizao atravs de precisa

determinao baromtrica da presso do ar acima do nvel do mar, temperatura, umidade, geomagnetismo, eletricidade do ar, etc, e muitos outros valores geofsicos e meteorolgicos foram determinados. Contudo, esses revolucionrios mtodos de quantificao e suas interpretaes, assim como suas numerosas especificaes topogrficas levaram muitos no gegrafos a, equivocadamente, apontar esses fatos como as contribuies mais importantes de Humboldt para o campo da geografia. Na verdade, a contribuio central de seus trabalhos foi a descoberta da interao das foras(1808) no espao que necessitavam de avaliaes individuais e anlises precisas dessas foras. Humboldt no foi somente um cientista natural e fundador da geografia fsica, mas deve levar crdito tambm pela abordagem ecolgica moderna ao ter explorado a relao homem x natureza no no sentido do determinismo e sim na tica das correlaes e cooperaes num ponto de vista sinttico. Ele foi um gnio em snteses produtivas (Plewe,1970). Enquanto a cincia geogrfica ainda encontrava-se em processo de formao, um passo decisivo foi dado em direo aos estudos regionais. Atribuiu causa especfica e muita importncia s circunstncias antropognicas e, influenciado pelos franceses fisiocratas, ao uso do solo. Para Humboldt, a apresentao da vida humana e as condies econmicas eram to importantes que ele acabou por recusar um segundo convite do Czar Russo para que ele fosse a Rssia e Sibria, para apenas registrar as condies naturais e definitivamente nada sobre o ser humano. Humboldt substituiu a enumerao tradicional, descritiva e estatstica de fatos sobre os Estados e produtos, por uma abordagem temtica e regional. Interessou-se por elaborar uma sntese da paisagem a partir de diferentes fenmenos isolados e, ao mesmo tempo, cientificamente existentes, juntamente com aspectos estticos. Concentrou-se no estudo comparativo dos tipos de paisagem bem como na comparao das caractersticas geogrficas regionais. Seus crticos freqentemente apontam que ele constantemente misturava pontos de vista estticos e cientficos, inclusive em seus relatos textuais (Plewe,1970). Nas atuais pesquisas sobre Humboldt, essa falta de clareza leva a discusses sobre a correta interpretao 266

de suas anotaes. De acordo com as tendncias do Romantismo, ele usou termos como a pintura natural dos trpicos, pintura natural dos ndios Chaimas ou pintura de estatsticas especiais, tendendo tradio de seu estilo literrio da imagem desenhada do sculo XVIII (Hard, 1970). Ainda Hard (1969, p.153) enfatiza que nos trabalhos de Humboldt a paisagem no o sujeito da pesquisa e sim, um estmulo esttico e um tpico da descrio literria. Outros autores, no entanto (Stevens,1959, Wilhelmy, 1970, entre outros), apontam que seu conceito esttico da paisagem no era uma expresso de sua viso subjetiva, mas sim a perfeio da sua sntese da paisagem. Inegavelmente, ele combina cincia com sua viso emotiva dos eventos (Otremba, 1959). A determinao da altitude e da localizao astronmica, bem como as medies trigonomtricas e os meios para a comparao espacial de certos fenmenos naturais e humanos, formaram a base do mapeamento da realidade de Humboldt. Seu trabalho de zoneamento altimtrico da vegetao dos Andes quebrou paradigmas. Com sua tableau physique ele criou o modelo de representao tri-dimensional das zonas climticas e de vegetao, limites habitveis do mundo animal e de uso econmico da paisagem atravs de perfis. Em seu trabalho sobre o Mxico(1811) pela primeira vez, Humboldt usou os termos tierra caliente, tierra templada e terra fria (que perduram at os dias de hoje) para designar a diferenciao vertical das zonas climticas e de vegetao, bem como para os tipos de paisagens culturais. Em suas pesquisas, Troll (1959b, 1969) e Lauer (1975) analisaram esse zoneamento e o clima das montanhas tropicais e, com a ajuda dos diagramas termoisopletas examinaram o contraste entre os climas das altas montanhas tropicais (trpicos frios) e os climas temperados e frios das altas latitudes, como j declarado por Humboldt. Os dois ensaios polticos sobre a Nova Espanha (Mxico e sudoeste dos Estados Unidos) e Cuba, foram especialmente importantes e pertencem ao fundamento da geografia moderna. Nesses trabalhos - da melhor maneira possvel - Humboldt apresentou estudos regionais modernos e objetivamente orientados (Schmieder, 1964), a base da geografia moderna (Stevens-Middleton, 1956),

a primeira vez com contedos socio-geogrficos de forma sistemtica. Graas s suas precisas observaes no Mxico, esses princpios puderam ser colocados em prtica, por exemplo em investimentos em mineraes e estradas. Foram utilizados pelos vice-reinos da Nova Espanha como base para decises polticas e econmicas. Humboldt esgotou as fontes de dados estatsticos existentes para publicar os dados mais importantes e acreditava no haver nada melhor na Europa da poca. Durante sua estada no Mxico, que durou um ano, Humboldt visitou as reas centrais da Nova Espanha, que contava com uma populao de 5,8 milhes de habitantes. Alm do bsico da geografia fsica, uma geografia muito detalhada e diferenciada em termos de populao, economia e sociedade foi sendo desenvolvida nessa regio. As descries demogrficas, sua diferenciao racial e classificao social fazem parte de seus registros. Diferentemente de La Habana, Caracas e Lima, na cidade do Mxico Humboldt no observou escravos. Pde observar as fontes da riqueza da nobreza no somente nas minas, mas tambm na agricultura, fazendo uma distino entre a produo coletiva de alimentos no Mxico e o sistema desumano das plantaes escravistas de Cuba e Jamaica, com a exportao de seus produtos condicionada aos preos praticados na Europa. Destacou a situao privilegiada dos pobres (mas livres) agricultores nativos com os existentes na Europa, embora a grande maioria vivesse na misria devido ao sistema de encomiendas. No seu Expos sobre as principais fontes de riqueza, Humboldt examinou (com a perspectiva de um expert mas sempre tendo em mente a viso cientfica do problema) as relaes entre economia e estado e entre colnias e metrpoles. Ele baseou suas decises nas diferenciaes regionais das circunstncias scio-econmicas em termos da apresentao das condies naturais (sem entrar no determinismo natural) e a gnese da situao atual. Discerniu sobre a importncia da organizao administrativa para o planejamento espacial e questionou os princpios da diviso territorial das doze intendncias e das trs provncias perifricas (Brand, 1959).Tambm se preocupou com a questo da fronteira dos

267

Estados Unidos da Amrica com o forte movimento para oeste e sudoeste. Numerosas comparaes ajudam o leitor com a classificao da importncia do Mxico no imprio colonial espanhol e tambm no mundo. A Nova Espanha contribuiu com mais de dois teros dos impostos das colnias espanholas na Amrica e sia e tambm contribuiu com cerca de quinze por cento do total de impostos arrecadados pelo governo espanhol. Dessa forma o Mxico rendeu duas vezes mais para a Espanha do que as ndias Orientais Britnicas com uma populao cinco vezes maior. Aqui a anlise de Humboldt, que contm rendimentos governamentais, era no somente importante para o Rei espanhol mas tambm para a avaliao da economia global poca. Os dados, neste ensaio, relativos a defesa militar mostram que a chegada de mais tropas na Amrica espanhola refletia a descrena crescente do governo da metrpole para com as ameaas internas e externas na fase final do colonialismo. Mais tarde Humboldt foi criticado no Mxico, pois havia deixado os resultados de sua pesquisa, incluindo mapas e informao das foras armadas, ao governo dos Estados Unidos durante sua visita em 1804. Alexander von Humboldt teria com toda sua franqueza mostrado a intolervel condio do sistema colonial mercantil passado (Troll, 1959a), submetendo numerosas sugestes para a melhoria em todos os domnios, enfatizou que o bem da populao branca envolvia o bem dos indgenas nativos, que deveriam compartilhar o progresso. As diferentes condies econmicas e sociais do prspero Mxico em contraste com as economicamente atrasadas regies andinas, levaram Humboldt aos estudos regionais comparativos (Brand, 1959); levou em considerao importantes aspectos naturais, socioeconmicos e fiscais (Beck, 1966). O Atlas relativo ao assunto (Humboldt, 1811b; reimpresso 1969; reproduo de algumas pginas na edio do estudo de Beck (1987-1997 - vol. IV, 1991) uma rica fonte para a explicao de problemas bsicos representados na forma de mapas, perfis, cartas, grficos, etc. Com esse trabalho, Humboldt criou o primeiro atlas temtico de um continente no europeu (Beck, 2000). A discusso a respeito de uma possvel conexo por um canal entre os oceanos

Atlntico e Pacfico eram especialmente estimulantes. Humboldt, corretamente chamado de pai intelectual do canal de Panam por Frankel (1959), havia destacado esse canal na terceira edio de seu Ansichten der Natur(1849), o qual se tornou cada vez mais indispensvel quando da independncia dos Estados latino-americanos e do rpido desenvolvimento da costa ocidental dos Estados Unidos da Amrica. Humboldt (1825), em seu trabalho sobre Cuba (vol. III do Relation Historique), dedicou escravido, que considerava o maior de todos os males, um crime poltico, desumano, ineficiente e desnecessrio, uma profunda anlise. No obstante, concluiu sob ponto de vista humanitrio e um tanto pragmtico que um tratamento melhor em relao aos escravos poderia ser at mesmo rentvel devido ao declnio de sua mortalidade. Na esfera de influncia dos hispano-americanos, o trabalho escravo nas plantaes geralmente no era to importante quanto os realizados no sudeste da Amrica do Norte, Antilhas Britnicas ou no Brasil (Pfeifer, 1959a). Entretanto, Humboldt atribuiu grande importncia a este problema no que diz respeito ao futuro poltico de Cuba. Apoiou o ideal de liberdade da populao colonial. Entre estes, Haiti passa a ser o primeiro a livrar-se do domnio colonial europeu. Criticou a corrupo na administrao pblica apesar de todos os privilgios que recebeu, como por exemplo, as licenas de viagem e apoio oficial na regio. Humboldt conheceu Cuba na poca em que a economia aucareira se expandiu na regio devido independncia do Haiti. Enquanto havia somente 32.000 escravos trabalhando na regio no ano de 1763, o nmero multiplicou-se entre os anos de 1790 e 1820 e, em 1823 havia ca de 260.000 cativos. As exportaes de acar aumentaram em 600% entre os anos de 1770 e 1823. Humboldt fez comparaes muito interessantes entre as Antilhas (onde cerca de 5 milhes de escravos africanos foram importados entre os anos de 1670 e 1825) e as regras coloniais de sua metrpole. Cerca de 55%, dos ento 1,15 milho de escravos da regio viviam nas Antilhas Britnicas, responsveis por 58% da exportao de acar. Apenas 25% dos escravos que trabalhavam em Cuba eram responsveis 268

por cerca de 22% das exportaes de acar. O total de escravos das Antilhas Britnicas, tambm conhecidas como Colnias Aucareiras, era quase trs vezes maior que a fora de trabalho nas plantaes. Existiam cerca de 3,3 milhes de escravos no Novo Mundo e 2 milhes desses, no Brasil Colonial, o qual havia perdido o monoplio da exportao de acar h tempos atrs. Em 1823, Cuba exportou apenas 27% (a regio caribenha, 62%) do volume total do Novo Mundo. Enquanto os escravos Cubanos representavam 36% da populao, nas Antilhas Britnicas, 81% da populao eram escravos (Pfeifer, 1959 a,b) (Figura 2). Humboldt avaliou a legislao espanhola como sendo mais vantajosa para a emancipao dos escravos em comparao com a legislao britnica e a francesa. Em 1856, Humboldt ops-se publicamente a uma traduo no autorizada de seu "Essai" nos Estados Unidos que, intencionalmente, suprimiram o captulo sobre a escravido. Na campanha eleitoral americana, com uma populao dividida em relao a assuntos da escravido, esse debate serviu de munio para os partidos de oposio imediatamente aps a Guerra de Secesso (Beck,1992). Os ensaios sobre Cuba (meu livro negro conforme afirmao feita a Goethe), e tambm sobre o Mxico, so as publicaes em que Humboldt defendeu os direitos humanos to convictamente que hoje, na Amrica Latina independente, permanece inesquecvel. Alm disso, o ensaio sobre Cuba representa uma meticulosa compilao e uma interpretao substanciada das estatsticas populacionais, sempre atualizada em um suplemento at 1829. At o incio do sculo XIX, La Habana era do tamanho de Nova Iorque e era o cruzamento entre as rotas de comrcio entre o Velho e o Novo Mundo, como tambm o centro principal do transporte martimo da Amrica Espanhola. Juntamente com Nova Iorque, Filadlfia, Cidade do Mxico, Rio de Janeiro, e Salvador pertencia s seis metrpoles do Novo Mundo, em que, na ocasio da viagem de Humboldt, j havia mais de 100.000 habitantes. A Cidade do Mxico era a maior cidade do Novo Mundo, e em 1820 sua populao j era de 170.000. Nomear as numerosas inovaes conceituais que aparecem em trabalhos de Humboldt iria alm da proposta deste artigo: isotermas, exgeno, endgeno, densidade da populao, e muitas outras. Suas descobertas a

respeito da circulao vertical das guas do oceano so responsveis pelo nome "Corrente Humboldt" para a corrente fria ao longo da costa do Chile e do Peru. Em uma carta a H. Berghaus, Humboldt modestamente se ops ao uso de seu nome para a corrente, uma vez que seu mrito no fora descobri-la, mas sim medir sua temperatura e velocidade (Schmieder 1964). A recepo dos resultados das pesquisas da expedio de Humboldt na Europa Mesmo antes de realizar sua grande viagem, Humboldt j era um pesquisador famoso. Em 1794 j havia encontrado com Goethe, mas o encontro com Schiller no foi satisfatrio.Em Paris, teve uma intensiva troca de idias com os naturalistas mais importantes de seu tempo, a saber: Cuvier, Laplace, Lagrange, Berthollet, Saint-Hilaire, Bougainville, Lavoisier, Gay-Lussac e Fourcroy. Circunavegaes do globo e expedies cientficas importantes eram grandes sensaes na virada do sculo XVIII para o sculo XIX (Pfeifer, 1959a). A burguesia letrada devorava os registros de tais viagens da mesma maneira que os nobres e a elite poltica. A habilidade de Humboldt para a narrativa que era tanto interessante quanto concisa ao contedo, sua alegria nas discusses e seu conhecimento compreensivo, o qual soube administrar e fazer bom uso dentro das aproximaes regionais ou temticas, o fizeram estrela em Paris, assim como na Academia. Aps Napoleo, que ignorou o explorador Humboldt e viu o nobre prussiano com desconfiana, Alexander von Humboldt tinha se transformado no homem mais famoso da Europa (Troll,1959a). Humboldt e Bonpland prepararam de maneira jeitosa o transporte para a Europa, na poca precrios, da extensa coleo de trabalhos de pesquisa, espalhando exemplares em diversas cidades como Paris, Berlim e Madri.

269

Colaboradores de intelectuais e grficos se ocuparam, em Paris, do material cientfico.

Impressionado pelo amplo detalhamento e a profundidade dos achados cientficos de 270

Humboldt, o famoso qumico Berthollet disse em Paris: Cet homme runit toute une academie em lui. (Esse homem rene em si toda uma Academia.) A arte de produzir relatrios slidos e entusisticos, rapidamente fizeram de Humboldt um homem famoso. Somente aquele cientista admirvel, que sabe descrever e apresentar o desconhecido e o estranho junto com a localidade em seus prprios elementos. Como gostaria de ouvir Humboldt falar! (J.W. von Goethe: Die Wahlverwandtschaften 1808/1809 apud Beck, 1959). Goethe era completamente fascinado por Humboldt: Que cientista ele ! O conheo h muito tempo, no entanto, surpreendo-me sempre. Pode-se dizer que no h outro que se compare a ele em conhecimento e cognio. E suas vrias facetas nunca encontrei antes. Para onde quer que se aponte, no importa o assunto, Humboldt o grande conhecedor e nos enche de sabedoria. (J.W. von Goethe, apud J.P. Eckermann,1826: Gesprche mit Goethe apud Beck, 1959). Quando Goethe recebeu o trabalho Idias para uma geografia das plantas e pintura natural dos trpicos (1807), que fra tambm dedicado ele, faltava a tabela pintura natural. Todavia, graas s descries detalhadas de Humboldt ele mesmo pode projetar um perfil ideal das propores de altitude do Velho e do Novo Mundo com algumas zonas da vegetao em estudo comparativo e com vista oposta (Goethe apud Allgemeine Geographische Ephemeriden 41, vol. 1813: 3-8 com tabela; Beck & Hein, 1989; Beck, 1989). Embora Humboldt tenha sido indicado como membro da Academia Prussiana de Cincias e titular de uma penso aps seu retorno do Novo Mundo, ele gastou quase toda a fortuna entre os anos de 1808 at 1827 em Paris, onde se preocupou em redigir os resultados de suas pesquisas, publicadas em francs. Esse fato nos mostra o significado cientfico da metrpole francesa. Assim, no somente os cientistas e os institutos atraram Humboldt, mas tambm, a elevada qualidade tcnica da impresso das editoras e o interesse dos grandes editores na publicao de obras marcantes. Entretanto, os elevados custos, os procedimentos pouco lucrativos e o planejamento ineficiente dos processos de edio da maior jornada privada da historia

(Beck,1987/1997) esgotaram o capital de Humboldt (Lwenberg, 1872) e o endividaram para o resto da sua vida. Todavia, o trabalho do Cosmos(1845-1862), acabou se tornando o primeiro bestseller cientfico na primeira metade do sculo XIX (Beck,1993), criando disputas na obteno da obra. As publicaes de Alexander von Humboldt, a comear por seu registro de viagem, tiveram grande influncia em naturalistas alemes. Zologos, botnicos, gelogos, gegrafos e etnlogos encontraram seus objetivos de pesquisa na Amrica do Sul. Para a redao e a publicao das pesquisas de von Spix e von Martius, por exemplo, foram necessrias vrias dcadas aps a publicao do relato de viagem (Spix & Martius, 1823-1831). Concluso A reputao cientfica de Alexander von Humboldt em todo mundo est associada a sua viagem aos trpicos do Novo Mundo. Muitas disciplinas diferentes consideram Humboldt um de seus precursores cientficos. Algo melhor poderia acontecer a um cientista? Em sua abordagem universal, Humboldt, que nunca se considerou um gnio universal (Beck, 1986), deu impulsos essenciais astronomia, matemtica, fsica, meteorologia, climatologia, oceonografia, qumica, farmacologia, botnica, zoologia, geologia, mineralogia, vulcanologia, arqueologia, histria, sociologia, agronomia, etnologia e medicina. Contudo, no campo da geografia que seu trabalho passou a ter grande significado, maior no que naqueles campos que foram primeiramente subdivididos em diferentes disciplinas especialmente em cincias naturais ao longo do sculo XIX. Peritos desses campos apontam o grande impacto que os estudos de Humboldt tiveram na Amrica Latina (Greive,1993). Hoje em dia, na era do computador, merece destaque o fato de que, h 200 anos, Humboldt tornou possvel a existncia de uma rede extremamente detalhada e compreensvel de informaes interdisciplinares e internacionais. Enviou aproximadamente 35.000 cartas escritas mo, recebeu aproximadamente 100.000, discutindo seu conhecimento, ampliando-o, alm de substanci-lo. 271

Como gegrafo fsico, fundador da geografia climtica e das plantas (fitogeografia), como autor de estudos regionais com forte engajamento nos aspectos relevantes da geografia humana e geopoltica, como cartgrafo e com a apresentao grfica muito didtica dos perfis, ele ajustou os padres para o desenvolvimento moderno da geografia como uma cincia. De acordo com Hettner (1927, p.77) uma nova era para a geografia alvorecia com o ano de 1799. Esse o ano em que Alexander von Humboldt iniciou sua grande jornada americana. Os maiores avanos da geografia devem ser atribudos a essa viagem: a fundao de diversos ramos da geografia geral bem como a fundao da geografia regional cientfica (...) Isto mrito perptuo de Alexander von Humboldt (...) que, em sua grande viagem pela Amrica do Sul e Central, (...) registrou e apresentou integralmente caracteres dos pases e de seus habitantes de uma maneira esplndida. Carl Ritter considerou Humboldt o descobridor cientfico da Amrica. Beck (1996) elogiou-o como o maior gegrafo da modernidade. Segundo pedido do Rei Friedrich Wilhelm III, da Prssia, Alexander von Humboldt retornou Berlim, vindo de Paris em 1827 e, devido a problemas financeiros, queria fazer de Berlim um centro cientfico importante. Embora Humboldt tivesse que rejeitar muitas posies de prestgio tinha muitas obrigaes como conselheiro na corte prussiana de Berlim. Assim, quando a Gesellschaft fr Erdkunde (Sociedade de Geografia) fora fundada em Berlim em 1828, ele no pde assumir a presidncia. Carl Ritter tornou-se presidente da sociedade uma vez que havia ocupado a primeira ctedra de geografia da Universidade de Berlim desde 1820, permanecendo presidente da sociedade por 21 anos. Humboldt, que tornou-se membro honorrio da Sociedade de Geografia e fez inmeras sugestes para os programas e para o jornal cientfico desta Sociedade (GFE, 2003), manteve contato com Ritter por trs dcadas. Ritter e Humboldt criaram as bases para o desenvolvimento da geografia no sculo XIX (Pfeifer,1960). Foi a fase clssica da geografia alem, que teve papel crucial durante este perodo. A Sociedade de Geografia honrou Alexander

von Humboldt com volumes comemorativos em 1899 (GFE, 1899) e em 1959 (Schultze,1959). A personalidade de Alexander von Humboldt teve vrias facetas. Ele soube combinar a concentrao de suas atividades cientficas e o entusiasmo de forma esclarecida e comunicvel. Graas a sua ascendncia nobre e sua fineza, teve as melhores relaes com polticos importantes, criando uma rede de contatos com os principais cientistas de sua poca e tambm com personalidades proeminentes da vida intelectual e cultural. Em suas viagens, no era preconceituoso e soube lidar habilmente com os membros de classes sociais mais baixas, respeitando seus ajudantes indgenas. Compensou seus esforos almejando um reconhecimento como porta-voz para os povos indgenas, sempre que estivesse no centro dos crculos acadmicos e cientficos Apesar de sua posio social na corte prussiana e de privilgios concedidos pelo monarca espanhol durante suas expedies, apresentava-se como liberal e cientista extremamente crtico, em especial ao escrever sobre a degradante economia escrava no sistema feudal do latifndio do Novo Mundo. Embora sua sade fosse realmente fraca, esteve presente nas exaustivas jornadas pelas florestas tropicais ou nos Planaltos Andinos at s tierras heladas com enorme persistncia e muita energia, mesmo com um incmodo e severo reumatismo (Plewe,1970). Alm de muitas honras, Alexander von Humboldt, que fora considerado um espio no comeo de sua viagem aos trpicos e proibido de entrar na colnia portuguesa Brasil, recebeu medalha de honra do imprio brasileiro, em 1855. Ele atuou como uma espcie de rbitro em uma disputa de fronteiras entre Brasil e Venezuela, e decidiu-se a favor do Brasil (Pfeifer,1970). Como pesquisador, dotado de capacidade de observao engenhosa e curiosidade cientfica inesgotvel, Alexander von Humboldt contribuiu essencialmente para o desenvolvimento da imagem do Novo Mundo na Europa. Conseguiu apresentar ao mundo cientfico europeu, todas as facetas dos trpicos da Amrica Central e do Sul, e suas diferenciaes. Estes conhecimentos puderam ser levados, mais tarde, a um pblico maior. Humboldt muito contribuiu para a compreenso dos europeus sobre a Amrica Latina, e para o 272

desenvolvimento de uma identidade latinoamericana. Em 1823, Simn Bolvar enfatizou que Humboldt teria feito mais para Amrica do Sul do que todos os conquistadores (Heiman, 1959). Seria justo chamar Alexander von Humboldt, com toda sua compreenso holstica da natureza e do mtodo cientifico (MeyerAbich,1993), o fundador de pesquisa sobre os trpicos, baseada em mtodos cientificos. Pesquisa esta que excedeu a mera descrio de detalhes exticos e deu um passo frente para as primeiras aproximaes de uma sistemtica da ecologia tropical. Atualmente pesquisas sobre os trpicos e sobre a Amrica Latina na Alemanha so feitas luz dessa tradio. Humboldt no foi bem sucedido na realizao de um de seus sonhos de, depois de aposentado, instalar-se no Mxico a fim de fundar um grande instituto central de cincias. No incio do sculo XIX, nenhuma cidade do Novo Mundo (nem mesmo dos Estados Unidos) possua instituies cientficas to importantes quanto a Cidade do Mxico (Pfeifer,1959a). Enquanto Bonpland (1773-1858), seu companheiro de viagens, retornou Amrica do Sul (Paraguai, Argentina), cuja estada teve um carter muito trgico, com seu aprisionamento (1821-1831) pelo ditador paraguaio Francia, Alexander von Humboldt no viveu para ver novamente o Novo Mundo; morreu em 1859. Na Amrica Latina Humboldt permanece inesquecvel. Sua pesquisa, fundamentalmente analisada e admirada, considerada, ontem como hoje, a primeira transferncia de resultados de pesquisa em prol da Amrica Latina independente. (Unam, 1962; Martnez, 1999; Greiff, 1999); A nomeao de numerosos pontos topogrficos em sua homenagem e o vido interesse por essa personalidade atestam sua influncia. Esse fato refletido nos monumentos, nos lugares nomeados com seu nome, nas estradas, nos institutos, em sociedades cientficas, em museus, em escolas, etc, alm das solenidades memoriais pblicas em honra a seu nome e s suas idias inovadoras. No Mxico, foi postumamente homenageado com o ttulo de Benemrito de la Ptria, na Venezuela Servidor Eminente de Venezuela. Em 1959, a nova liderana cubana sob o comando de Fidel Castro comemorou o

centsimo aniversrio de sua morte quatro meses aps sua chegada ao poder. Diante do fato de que Alexander von Humboldt mais celebrado na Amrica Latina do que na Alemanha no entanto, podemos destacar, entre outras a extraordinria e merecedora publicao e anotao da edio de estudos por Beck (1987/1997), a detalhada pesquisa da Academia de Cincias de BerlimBrandenburg (BBAW) desde 1983, Greive (1993), Inter Nationes (1999), Dilogo Cientfico ( 1999) foi unnime a idia de ser instituda uma ctedra, em universidade, intitulada Wilhelm e Alexander von Humboldt no Mxico, em outubro de 1998, financiada pelo DAAD. No sentido de uma viso humanstica do mundo, Humboldt superou a maneira eurocntrica de pensar, sentindo-se vontade, tanto no Velho quanto no Novo Mundo, sendo essa a sua maior contribuio para o avano e a continuao do dilogo e da intensificao das relaes cientficas entre a Amrica Latina e a Alemanha. A Fundao Alexander von Humboldt, em memria ao grande pesquisador, tem como meta central, trabalhar na continuidade dos contatos cientficos em todo o mundo e na lembrana s grandes expedies de Alexander von Humboldt. . REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS BBAW (BERLIN-BRANDENBURGISCHE AKADEMIE DER WISSENSCHAFTEN) (Ed.). Beitrge zur Alexander-von-HumboldtForschung. Vol. 1, 1983 - Vol. 22, 1997. Berlin. BBAW. (Ed.). Berliner Manuskripte zur Alexander-von-Humboldt-Forschung. Vol. 1, 1990 Vol. 25, 2002. Berlin. BBAW AND INSTITUT FR ROMANISTIK, UNIVERSITT POTSDAM (Eds.). Internationale Zeitschrift fr Humboldt-Studien (revista eletrnica; Internet: http:/www.hin.online.de). BECK, H. 1959 (Ed.). Gesprche Alexander von Humboldts. Berlin, 492 p.

273

BECK, H. 1959/1961. Alexander von Humboldt. Vol. I: Von der Bildungsreise zur Forschungsreise 1769-1804; vol II: Vom Reisewerk zum "Kosmos" 1804-1859. Wiesbaden (Traduo em espanhol: Mxico 1971). BECK, H. 1966. Alexander von Humboldt und Mexico. Beitrge zu einem geographischen Erlebnis. Bad Godesberg (Em espanhol: Mxico 1971). BECK, H. 1986. Alexander von Humboldt als grter Geograph der Neuzeit. In: Kessler, H. (Ed.). Die Dioskuren. Probleme in Leben und Werk der Brder Humboldt. Mannheim, p. 126182. BECK, H. 1987-1997 (Ed.). Alexander von Humboldt. Edio dos estudos. 7 vol. Darmstadt (Forschungsunternehmen der HumboldtGesellschaft, 40). BECK, H. 2000. Alexander von Humboldt Kartograph der Neuen Welt. Profil des neuesten Forschungsstandes. In: HABERLAND, D. ET AL. (Eds.). Die Dioskuren II. Annherungen an Leben und Werk der Brder Humboldt. Mannheim, p. 45-68. BECK, H. & HEIN, W.-H. 1989. Humboldts Naturgemlde der Tropenlnder und Goethes ideale Landschaft. Stuttgart, 63 p. BECK, H. & MEYER-ABICH, A. 1971. Alexander von Humboldts groes amerikanisches Reisewerk. Eine bibliographische Einleitung. New York, Amsterdam. BITTERLING, R. 1954. Alexander von Humboldts Amerikareise in zeitgenssischer Darstellung. Petermanns Geographische Mitteilungen 98: 161-171. BRAND, D.D. 1959. Humboldts Essai Politique Sur Le Royaume De La Nouvelle Espagne. In: SCHULTZE, J.H. (Ed.). Alexander von Humboldt. Studien zu seiner universalen Geisteshaltung. Berlin, p. 123-141.

BRUHNS, K. 1872 (Ed.). Alexander von Humboldt. Eine wissenschaftliche Biographie. 2 vol. Leipzig. BUISSON,I.1980.DieUnabhngigkeitsbewegun -gen in Iberoamerika. In: BUISSON, I. & SCHOTTELIUS,H. Die Unabhngigkeitsbewegungen in Lateinamerika 1788-1826. Handbuch der lateinamerikanischen Geschichte. Teilverffentlichung. Stuttgart, p. 1-118. ETTE, O. (Ed.). 1991. Alexander von Humboldt. Reise in die quinoktialgegenden des Neuen Kontinents. 2 vol. Frankfurt am Main, Leipzig. FAAK, M. 1986 (Ed.). Alexander von Humboldt. Reise auf dem Ro Magdalena, durch die Anden und Mexico. Parte I: Text. Aus seinen Reisetagebchern zusammengestellt und erlutert durch M. Faak. Beitrge zur Alexander-von-Humboldt-Forschung, vol. 8. Berlin. FIEDLER, H. & LEITNER, U. 2000. Alexander von Humboldts Schriften. Bibliographie der selbstndig erschienenen Werke. Beitrge zur A.v. Humboldt-Forschung 20. Berlin. FRANKEL, W.K. 1959. Alexander von Humboldt und der Panamakanal. In: SCHULTZE, J.H. (Ed.). Alexander von Humboldt. Studien zu seiner universalen Geisteshaltung. Berlin, p. 235-242. GFE (GESELLSCHAFT FR ERDKUNDE ZU BERLIN) (Ed.). 1899. Wissenschaftliche Beitrge zum Gedchtnis der hundertjhrigen Wiederkehr des Antritts von Alexander von Humboldt's Reise nach Amerika am 5. Juni 1799. Na ocasio do 7 Congreso de Geografia. Berlin. GFE (GESELLSCHAFT FR ERDKUNDE ZU BERLIN) (Ed.). 2003. 175 Jahre Gesellschaft fr Erdkunde zu Berlin. DIE ERDE, Sonderheft 1. Berlin. GREIFF, J.A. DE. 1999. Encuentro de Humboldt con la ciencia en la Espaa americana: dilogos inesperados. Dilogo Cientfico, Tbingen 8: 25-35. 274

GREIVE, W. (Ed.). 1993. Alexander von Humboldt. Die andere Entdeckung Amerikas. Loccumer Protokolle 10/1992. Loccum. HARD,G. 1969. "Kosmos" und "Landschaft" Kosmologische und landschaftsphysiognomische Denkmotive bei Alexander von Humboldt und in der geographischen HumboldtAuslegung des 20. Jahrhunderts. In: PFEIFFER, H. (Ed.). Alexander von Humboldt. Werk und Weltgeltung. Mnchen, p. 133-177. HARD, G. 1970. Der "Totalcharakter der Landschaft". Re-Interpretation einiger Textstellen bei Alexander von Humboldt. In: WILHELMY, H., ENGELMANN, G. & HARD, G. Alexander von Humboldt. Eigene und neue Wertungen der Reisen, Arbeit und Gedankenwelt. Erdkundliches Wissen 23 (= Geographische Zeitschrift, Beihefte): Wiesbaden, p. 49-73. HEIMAN, H. 1959. Humboldt und Bolvar. Begegnung zweier Welten in zwei Mnnern. In: SCHULTZE, J.H. (Ed.). Alexander von Humboldt. Studien zu seiner universalen Geisteshaltung. Berlin, p. 215-234. HETTNER, A. 1927. Die Geographie, ihre Geschichte, ihr Wesen und ihre Methoden. Breslau, 463 p. HUMBOLDT, A. VON. 1805/1807. Essai sur la gographie des plantes, accompagn d'un tableau physique des rgions quinoxiales. Paris. HUMBOLDT, A. VON. 1807. Ideen zu einer Geographie der Pflanzen nebst einem Naturgemlde der Tropenlnder. Tbingen, Paris, 182p. (edio revisada do 'Essai'). HUMBOLDT, A. VON. 1808a. Gographie des plantes quinoxiales. Tableau physique des Andes et pays voisins. Paris. HUMBOLDT, A. VON. 1808b. Ansichten der Natur, mit wissenschaftlichen Erluterungen. Tbingen. (2 edio revisada: Stuttgart, Tbingen 1826, 2 vol.; 3 edio: Stuttgart, Tbingen 1849.)

HUMBOLDT, A. VON. 1811a. Essai politique sur le royaume de la Nouvelle-Espagne. 2 vol. [com Atlas]. Paris. HUMBOLDT, A. VON. 1811b. Atlas gographique et physique du rtoyaume de la Nouvelle-Espagne. Paris, 4 p. (reimpresso: Mexico-Atlas. Introduo por H. Beck & W. Bonacker. In: BECK, H. (Ed.). 1969. Quellen und Forschungen zur Geschichte der Geographie und der Reisen 6. Stuttgart.) HUMBOLDT, A. VON. 1814-1825. Relation historique du voyage aux rgions quinoxiales du Nouveau Continent, fait en 1799, 1800, 1801, 1802, 1803 et 1804, par A. de Humboldt e A. Bonpland. Rdig par Alexandre de Humboldt. Paris, vol. I 1814, vol. II 1819, vol. III 1825 (reimpresso: Introduo e ndice de H. Beck, In: BECK, H. (Ed.). 1970. Quellen und Forschungen zur Geschichte der Geographie und der Reisen 8. Stuttgart, 3 vol.) HUMBOLDT, A. VON. 1814a. Atlas pittoresque, 2 vol. (vol. I Texto, vol. II Atlas). Paris. HUMBOLDT, A. VON. 1814b. Atlas gographique et physique des rgions quinoxiales du Nouveau Continent, fond sur des observations astronomiques, des messures trigonomtriques et des nivellements baromtriques par A. de Humboldt. Paris, 11 p. HUMBOLDT, A. VON. 1845-1862. Kosmos. Entwurf einer physischen Weltbeschreibung. Stuttgart ,Tbingen, 5 vol. HUMBOLDT, A. VON. 1987. Ansichten der Natur. In: BECK, H. (Ed.). Alexander von Humboldt. Edio de estudos, vol. V. Darmstadt (H. Beck: comentrio: 361-376). HUMBOLDT, A. VON. 1989a. Schriften zur Geographie der Pflanzen. In: BECK, H. (Ed.). Alexander von Humboldt. Edio de estudos, vol. I. Darmstadt (H. Beck: comentrio: 287328). HUMBOLDT, A. VON. 1989b. Schriften zur physikalischen Geographie. In: BECK, H. (Ed.). Alexander von Humboldt. Edio de estudos, 275

vol. VI. Darmstadt (H. Beck: comentrio: 185215). HUMBOLDT, A. VON. 1991. Mexico-Werk. Politische Ideen zu Mxico. Mexicanische Landeskunde. In: BECK, H. (Ed.). Alexander von Humboldt. Edio de estudos, vol. IV. Darmstadt (H. Beck: comentrio: 527-578), 17 lminas. HUMBOLDT, A. VON. 1992. Cuba-Werk. In: BECK, H. (Ed.). Alexander von Humboldt .Edio de estudos, vol. III. Darmstadt (H. Beck: comentrio: 229-264), 1 mapa. HUMBOLDT, A. VON. 1993. Kosmos. Entwurf einer physischen Weltbeschreibung. In: BECK, H. (Ed.): Alexander von Humboldt. Edio de estudos, vol. VII, 2 partes. Darmstadt (H. Beck: comentrio, parte 2: 341-425), 8 lminas. HUMBOLDT, A. VON. 1997. Die Forschungsreise in den Tropen Amerikas. In: BECK, H. (Ed.). Alexander von Humboldt. Edio de estudos, vol. II, 3 partes. Darmstadt (H Beck: comentrio, parte 3: 371-489). INTER NATIONES (Ed.). 1999. Alexander von Humboldt. Bicentenrio da viagem americana 1799-1804. Humboldt, ano 41, no. 78. Bonn; e: Bicentenario del viaje americano. 1799-1804. Humboldt, ao 41, no. 126. Bonn. KESSLER, H. 1986 (Ed.). Die Probleme in Leben und Werk Humboldt. Abhandlungen der Gesellschaft fr Wissenschaft, Bildung, vol. 9. Mannheim. Dioskuren. der Brder HumboldtKunst und

Abgrenzung eines irdischen Landschaftsgrtels. Mainz, Wiesbaden. LWENBERG, J. 1872. Alexander von Humboldt. Bibliographische bersicht seiner Werke, Schriften und zerstreuten Abhandlungen (reimpresso, Stuttgart 1960. In: BRUHNS, K. (Ed.). Alexander von Humboldt. Eine wissenschaftliche Bibliographie. vol. 1. Leipzig. MARTNEZ, T. HAMPE. 1999. Treinta aos de bibliografa humboldtiana en lengua espanhola (1969-1999). Dilogo Cientfico, Tbingen 8: 36-56. MEYER-ABICH, K.M. 1993. Naturkunde des Geistes Alexander von Humboldts Naturverstndnis und sein ganzheitlicher Wissenschaftsentwurf. In: GREIVE, W. (Ed.). Alexander von Humboldt. Die andere Entdeckung Amerikas. Loccumer Protokolle 10/1992: 52-76. Loccum. OTREMBA, E. 1959. Die Llanos des Orinoco und des Apure in der Landschafts- und Reisebeschreibung Alexander von Humboldts. In: SCHULTZE, J.H. (Ed.). Alexander von Humboldt. Studien zu seiner universalen Geisteshaltung: Berlin, p. 69-89. PETERMANN, A. 1869. bersichtskarte von Alexander von Humboldt's Reisen 1798-1829. Mitteilungen aus Justus Perthes' Geographischer Anstalt 15: 292-294 e mapa 16. Gotha. PFEIFER, G. 1959a. Die Neue Welt in der Perspektive Alexander von Humboldts. Erdkunde. Bonn 13: 395-411. PFEIFER, G. 1959b. Alexander von Humboldt (1859-1959). Beitrge zur Wrdigung seiner Persnlichkeit anlsslich der Gedenkfeiern in Sd- und Mittelamerika im Jahre 1959. In: SITZUNGSBERICHTE DER PHYSIKALISCH -MEDIZINISCHEN SOZIETT ERLANGEN, Erlangen 80: 15-46. PFEIFER, G. 1960. Ritter, Humboldt und die moderne Geographie. In: OTREMBA, E. et al. (Eds.). Tagungsbericht und wiss. Abhandlungen, Deutscher Geographentag, Berlin. 1959: 69-83. Wiesbaden. 276

KOHLHEPP, G. 1999. Alexander von Humboldt en los tropicos del Nuevo Mundo. Reflexiones sobre el bicentenario del inicio de su "Viaje a las regiones equinocciales" en 1799. Dilogo Cientfico, Tbingen 8: 9-24. KRTZ, O. 1997. Alexander von Humboldt. Wissenschaftler Weltbrger Revolutionr. Mnchen, 214 p. LAUER, W. 1975. Vom Wesen der Tropen. Klimakologische Studien zum Inhalt und zur

PFEIFER, G. 1970. Drei Nchte in San Carlos. A. von Humboldt an den Grenzen Brasiliens. Deutsch-Brasilianische Hefte. Bonn 9: 74-85, 162-169. PFEIFFER, H. 1969 (Ed.). Alexander von Humboldt. Werk und Weltgeltung. Mnchen, 505 p. PLEWE, E. 1970. Alexander von Humboldt 1769-1969. Schriften der Gesellschaft der Freunde Mannheims und der ehemaligen Kurpfalz 10: 1-31. Mannheim. (reimpresso) In: PLEWE, E. Geographie in Vergangenheit und Gegenwart. Ausgewhlte Beitrge zur Geschichte und Methode des Fachs (Eds. E. Meynen & U. Wardenga). Erdkundliches Wissen 1986. Stuttgart 85: 222-248). SCHMIEDER, O. 1964. Alexander von Humboldt. Persnlichkeit, wissenschaftliches Werk und Auswirkung auf die moderne Lnderkunde. Geographische Zeitschrift. Wiesbaden 52: 81-95. SCHULTZE, J.H. 1959 (Ed.). Alexander von Humboldt. Studien zu seiner universalen Geisteshaltung. Festschrift aus Anlass der 100. Wiederkehr seines Todestages. Berlin, 277 p. SPIX, J.B VON & MARTIUS, C.F.PH. VON. 1823-1831. Reise in Brasilien in den Jahren 1817-1820, 3 vol., 1 Tafelband. Mnchen (reimpresso, ed. K. Mgdefrau. In: BECK, H. (Ed.). Quellen und Forschungen zur Geschichte der Geographie und der Reisen 3; 3 vol. Stuttgart 1980). STEVENS-MIDDLETON, R.L. 1956. La obra de Alexander von Humboldt en Mxico. Fundamento de la geografa moderna. Instituto Panamericano de Geografa e Historia, Publicacin No. 202. Mxico, D.F. STEVENS, R.L. 1959. Alexander von Humboldt als wissenschaftlicher Reisender und als Naturbeobachter. In: SCHULTZE, J.H. (Ed.). Alexander von Humboldt. Studien zu seiner universalen Geisteshaltung: Berlin, p. 135.

TROLL, C. 1959a. Alexander von Humboldts wissenschaftliche Sendung. Festrede, gehalten am 19. Mai 1959 in Berlin aus Anlass der Alexander-von-Humboldt-Feier. In: SCHULTZE, J.H. (Ed.): Alexander von Humboldt. Studien zu seiner universalen Geisteshaltung. Berlin, p. 258-277. TROLL, C. 1959b. Die tropischen Gebirge. Ihre dreidimensionale klimatische und pflanzengeographische Zonierung. Bonner Geographische Abhandlungen 25. Bonn, 93 p. TROLL, C. 1969. Die Lebensformen der Pflanzen. Alexander von Humboldts Ideen in der kologischen Sicht von heute. In: PFEIFFER, H. (Ed.). Alexander von Humboldt. Werk und Weltgeltung. Mnchen, p. 197-246. UNIVERSIDAD NACIONAL AUTNOMA DE MXICO (UNAM). 1962 (Ed.). Ensayos sobre Humboldt. Mxico, D.F. VARESCHI, V. 1959. Geschichtslose Ufer. Auf den Spuren Humboldts am Orinoko. Mnchen. WILHELMY, H. 1970. Gestalt eines Groen. Alexander von Humboldt in der Sicht seiner amerikanischen Reise. In: WILHELMY, H., ENGELMANN, G. & HARD, G. Alexander von Humboldt. Eigene und neue Wertungen der Reisen, Arbeit und Gedankenwelt. Erdkundliches Wissen (= Geographische Zeitschrift, Beihefte), Wiesbaden 23: 1-22. WILHELMY, H. 1986. Humboldts sdamerikanische Reise und ihre Bedeutung fr die Geographie. In: KESSLER, H. (Ed.). Die Dioskuren. Probleme in Leben und Werk der Brder Humboldt. Abhandlungen der Humboldt-Gesellschaft fr Wissenschaft, Kunst und Bildung, vol. 9. Mannheim: 183-198. Tambm em: GORMSEN, E. & LENZ, K. 1987 (Eds.). Lateinamerika im Brennpunkt. Aktuelle Forschungen deutscher Geographen. Ein Symposium der Gesellschaft fr Erdkunde zu Berlin zum 125. Todestag Alexander von Humboldts. Berlin, p. 9-23. ZEA, L. 1993. Alejandro de Humboldt, autodescubrimento de America. In: GREIVE, H. (Ed.). Alexander von Humboldt. Die andere 277

Entdeckung Amerikas. Loccumer Protokolle 10/1992: 36-51. Loccum. [ 1] Professor Emrito da Ctedra de Geografia Econmica e Social,Centro de Pesquisas sobre a Amrica Latina, Instituto de Geografia, Universidade de Tbingen, D-72074 Tbingen, Alemanha. E-mail [email protected] www.uni-tuebingen.de/egwinfo/de/index.html

278