Human04 Entrevista Andrea Lages

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    ENTREVISTA

    Em Portugal, nos últimos tempos, o tema do‘coaching’ tem vindo a ter bastante relevância. NoBrasil isso também acontece?No Brasil o ‘coaching’ ganhou bastante força nos últi-mos anos, e continua a crescer. O problema que en-frentamos diz respeito às pessoas, que estão a tentartirar partido da situação e adoptam o título de ‘coach’,com total informalidade, muitas vezes sem saber oque isso realmente signica. Por outro lado, isto re-ecte a popularidade da prossão no país.

    Acha que as pessoas das empresas, nomea-damente os gestores, estão receptivos ao ‘coa-ching’?Estou segura disso. Cada vez com mais frequênciarecebemos chamadas no escritório, tanto de pesso-as que querem formar-se como ‘coaches’, através donosso curso de certicação internacional em ‘coa-ching’, como de pessoas que querem contratar ‘coa-ches’ para os seus gestores ou para si mesmas.

    Como distingue ‘coaching’ de formação?Considero esta pergunta extremamente importante,porque na interpretação e no entendimento da di-ferença entre ambas as abordagens surgiram muitosproblemas... Acho que posso resumir esta respostanuma única frase: o formador – treinador – tem as

    respostas, o ‘coach’ tem as perguntas. Explico… Um‘coach’, ao contrário de um treinador, não tem o pa-pel de apontar o caminho das pedras ao seu cliente,pelo contrário. Considerando que existem inúmeroscaminhos, de pedras, de areia, de cimento, de terra...Todos podem ser certos, em relação à meta, desdeque seja o certo para o cliente. Então, o trabalho do‘coach’ é ajudar o ‘coachee’, através de perguntas po-derosas, a encontrar o seu próprio caminho. Temosque ter em consideração que muitas vezes, quandoachamos ter a solução para um certo problema ou

    Foi a primeira mulher brasileira a dar cursos de certicação internacionalem ‘coaching’, sendo actualmente vista como uma referência internacionalna área. A trabalhar um pouco por todo o mundo, Andrea Lages diz quecom o ‘coaching’ aprendeu «muitas coisas», mas uma «fundamental», a de

    que «o ‘coaching’ é algo que funciona».

    O ‘coaching’, algo que funciona

    Texto: António Manuel VendaFotos: Guru’s Agency

    ANDREA LAGES

    seja um executivo, seja um actor de cinema, sejaum jogador de futebol?

    O ‘coaching’ pode ajudar a tomar conscnosso estado actual, onde estamos no momdecidirmos aonde queremos ir ou o que qalcançar. Uma vez tendo isso de forma cltrabalhada – e uma das especialidades do ajudar neste processo –, conseguimos dar seguinte, que diz respeito a delinear o camino estado actual e o estado desejado. Se issocom congruência, respeitando os valores de outros elementos que nós utilizamos e eaos nossos formandos, teremos uma jornadamente poderosa, pois no nal o cliente percenão somente alcançou uma meta determintambém aprendeu muito, tornou-se uma pessmelhor – de acordo com os próprios parâmecom os que são impostos externamente – noaté aonde quiseram chegar. Esta é, para mimdo ‘coaching’. Ver seres humanos desabrocmaneira natural, até ao limite do que podem pendente dessa beleza, o ‘coaching’ é tambmamente pragmático. Não trabalhamos apsentimentos ou sensações, mas também coe resultados. Basicamente é isso o que um ch’ faz: ajuda ao seu cliente a fazer aquilo para alcançar aquilo que determinou, de congruente. Assim, ao alcançar o que sonhouserá todo do ‘coachee’, pois foi ele que traçcorreu a maratona e cruzou a linha de chegad

    Ao falarmos em ‘coaching’ pensa-se logo em pes-soas de topo, por exemplo das empresas, ou queestão em lugares de decisão ou liderança. E asrestantes pessoas, poderão ser também ajudadaspelo ‘coaching’?Todo a gente pode utilizar o ‘coaching’,

    mente porque esta abordagem diz respeitomelhor que podemos ser, independente doa placa na nossa porta – se é que temos ‘coaching’ nós temos diversas especializaçmencionei, incluindo o ‘coaching’ de vidada vida como um todo, mesmo quando a ptenha e, mesmo não queria ter, uma carrecíca. A propósito... Essas restantes pessotodos nós, pois ninguém nasceu presidenteempresa, nem necessariamente viverá a vidmorrerá nessa posição.

    uma certa questão, talvez porque já tenhamos pas-sado por isso, ou porque conhecemos alguém que jáfez aparentemente a mesma jornada, na verdade ocaminho não será o mesmo, ainda que o destino pa-reça similar, porque a meta por si só não é o único as-pecto a ser tido em consideração, temos que integraros elementos que fazem parte da realidade daquelapessoa, naquele momento, e o que é realmente im-portante para ela, para então encontrar a melhor ma-neira de chegar ao objectivo nal. Ninguém melhordo que o próprio cliente para saber o caminho, mes-mo que ainda não tenha consciência disso.

    Que contraponto faz entre o ‘coaching’ nas em-presas e fora delas, por exemplo na política, nodesporto, na comunicação social, no mundo doespectáculo?‘Coaching’ diz respeito a facilitar o desenvolvimentodas pessoas, como um todo. Ao lograr este desenvol-vimento, logramos também uma melhor performan-ce, seja nas empresas, seja no desporto, seja no mun-do do espetáculo. Nós não somos partes isoladas,somos muito mais do que isso… Então, eu diria quea maior diferença nas diferentes áreas é a forma deaplicar o ‘coaching’, não o ‘coaching’ em si. Existemde facto ferramentas diferentes para cada caso e naminha empresa oferecemos cursos de especialização

    para diferentes áreas através da International Coa-ching Community (ICC), além do curso de certicaçãointernacional em ‘coaching’, que é o nível fundamen-tal necessário e comum a todas as áreas. Assim comoacontece em inúmeras prossiões, os ‘coaches’ têmque dominar as ferramentas fundamentais, antes depoderem especializar-se numa área concreta, sejaela ‘coaching’ desportivo, de vida, executivo ou outraespecialidade.

    Como é que o ‘coaching’ pode ajudar uma pessoa,

    «O ‘coaching’ podeajudar a tomar cons-

    ciência do nossoestado actual, onde

    estamos no momen-to, e a decidirmosaonde queremos

    ir ou o que quere-mos alcançar. Uma

    vez tendo isso deforma clara e bem

    trabalhada – e umadas especialidadesdo ‘coach’ é ajudarneste processo –,

    conseguimos dar opasso seguinte.»

    «A beleza do ‘coaching’ é ver seres nos desabrocharem, de maneira natuao limite do que podem ser. Independessa beleza, o ‘coaching’ é tambémtremamente pragmático. Não trabalhapenas com sentimentos ou sensaçõtambém com acções e resultados.»

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    PUBE os ‘coaches’, quem os poderá ajudar na sua acti-vidade, se também eles precisarem de apoio?Bom, eu costumo dizer que é bom que o ‘coach’ tenhatambém um ‘coach’, em algum momento. Por isso tam-bém durante nas nossas formações os nossos estu-dantes passam pelos dois papéis, como cliente e como‘coach’, para entenderem os dois pontos de vista e,principalmente, para se desenvolverem como pessoas.Vou contar-lhe uma história… Eu e meu marido Jose-ph [Joseph O´Connor] trabalhamos juntos, e inclusivedesenvolvemos os dois a metodologia de formação em‘coaching’ que aplicamos – pessoalmente ou atravésdos nossos treinadores licenciados – até agora parapessoas de mais de 50 países. Ou seja, viajamos mui-to, juntamente com a nossa amada Amanda, a nossalhinha. Por esta razão, estamos acostumados a escu-tar as chamadas de segurança dos aviões, antes da

    aterragem. Eles dizem que no caso de despressuriza-rão da cabine você deve primeiro colocar a própriamáscara de oxigénio antes de tentar ajudar crianças– neste caso a Amanda – ou adultos que necessitemda sua assistência. A razão para isso é que você temque garantir que está no melhor estado possível, se-não dicilmente conseguirá ajudar os outros de ma-neira efectiva. Isto vale também no ‘coaching’. Antesde podermos ajudar aos outros, precisamos sabercomo ajudar-nos a nós mesmos. Isso não signica, éclaro, que todos os ‘coaches’ sejam obrigados a ter

    uma vida cor de rosa 24 horas por dia, 365 dias porano. Mas podem resolver as suas questões, própriasde todos os seres humanos, da melhor maneira pos-sivel. E porque não encontrar um bom ‘coach’ paraapoiá-lo neste aspecto?

    …Outro caso é o do mentor, um dos trabalhos que euofereço como prossional. O mentor, neste caso, éum ‘coach’ experimentado que oferece ‘mentoring’ aum ‘coach’ com menos experiência, no seu processode desenvolvimento. Ambas as possibilidades são

    extremamente adequadas e bem-vindas, para pes-soas e prossionais que pretendem ser o melhor quepodem ser, como ‘coaches’ e seres humanos.

    Como é a sua actividade enquanto prossionalde ‘coaching’?Hoje em dia, a minha agenda não me permite ter mui-tos clientes. Então trabalho com poucos, para poderoferecer o melhor de mim como prossional. Aindadedico tempo formando ‘coaches’ – principalmentedentro de empresas – através do curso de certicaçãointernacional em ‘coaching’ que desenvolvi com o meumarido. Também dedico tempo à nossa lhinha, Aman-da, uma criatura maravilhosa que tem todo o potencialdo mundo para ser desenvolvido e não deve ser des-perdiçado. Portanto, faço questão de dedicar tempoespecial a ela – como se fosse a única razão.

    …Sem esquecer, é claro, que sou a ‘chief executive of-cer’ (CEO) da Lambent do Brasil, directora da Lam-bent do Reino Unido e uma das directoras da Inter-national Coaching Community (ICC). Como é costumedizer-se, o meu prato está cheio.

    Quais são para si os grandes contributos que dáàs pessoas que acompanha?Sabe, de cada vez que eu vejo um ser humano desabro-char na minha frente, realizar-se, conseguir o que sem-pre quis, de maneira congruente, sem se auto-agredirou agredir as pessoas que ele ama, aí eu pergunto-sese ele deveria me pagar o que paga, ou se seria eu quedeveria pagar pelo prazer que sinto.

    E quais os grandes ensinamentos que retirou para

    si própria dessa actividade?Antes de começar a minha jornada como ‘coach’, hámais de uma década, eu já tinha aprendido que osseres humanos podem muito mais do que a socieda-de tende a denir como limite. Se não fosse isso, nãoiniciaria este trabalho. No entanto, procurei inúmeroscaminhos antes de escolher o ‘coaching’ para ajudaras pessoas a serem o melhor que podem e queremser. O que é que eu aprendi com o ‘coaching’? Muitascoisas, mas uma é fundamental... Aprendi que o ‘coa-ching’ é algo que funciona.

    AndreaLageséco-fundadora(2001)da InternationalCo-achingCommunity(ICC).É

    ‘mastertrainer’em ‘coaching’eemprogramaçãoneurolinguís-

    tica(PNL),consultora,autora,formadorae ‘coach’executiva.Étambémsóciaco-fundadora

    (2002)e‘chief executiveofcer’(CEO)daLambentdo Brasil,umaempresade‘coaching’,consultoriaetreinosedeada

    emSãoPaulo.Trabalhouacerticaçãointernacionalem

    ‘coaching’parapessoasdemaisde30 países,participou

    comoco-criadorae‘trainer’napós-graduaçãoem«Coaching

    Executivo»da DerbyUniversity(ReinoUnido),quecontoucompresidentese CEOsdegrandes

    empresas,inclusivemultina-cionais.Morandoem SãoPaulo,

    trabalhainternacionalmentedandocursosdecerticação

    em‘coaching’eem PNLe‘workshops’emhabilidades

    dacomunicação,pensamentosistémico,liderançae metas,

    comindivíduoseequipas. Játrabalhouemdezenasde

    paísesdasAméricas,daÁsiaedaEuropa,sendoqueoferecetreinoe‘coaching’eminglês,

    castelhanoe português,edio-masemqueéuente.Éautora(juntamentecomo seumarido,

    JosephO´Connor)devárioslivrossobretemasrelaciona-

    doscoma suaactividade.ÉrepresentadaemPortugalpela

    Guru’sAgency(http://www.gurusagency.com/).

    ENTREVISTA