Hoje Macau 29 AGO 2014 #3164

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AGÊNCIA COMERCIAL PICO 28721006 PUB DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ WWW.HOJEMACAU.COM.MO MOP$10 SEXTA-FEIRA 29 DE AGOSTO DE 2014 ANO XIII Nº 3164 hojemacau O prometido é devido e os democratas organizam movimento nas Ruínas de São Paulo. SÓ HÁ BOA MÚSICA TRI-DECADE UNION Associação em estado de hibernação A Assembleia Nacional Popular desenhou a proposta de sufrágio para Hong Kong. Até três candidatos escolhidos antecipadamente por um comité. E em Macau? Académicos acreditam que o caminho será similar embora com algumas diferenças. SUFRÁGIO UNIVERSAL OS CAMINHOS DE HONG KONG E MACAU PÁGINAS 2 - 3 NOVO MACAU PONTAPÉ NO CICLO EM DIA DE ELEIÇÕES PUB EVENTOS CENTRAIS ENTREVISTA PÁGINAS 4-5 POLÍTICA PÁGINA 5 SEPARADOS A NASCENCA ` ` ARTURO SANDOVAL E O SEU TROMPETE NO VENETIAN

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Hoje Macau N.º3164 de 29 de Agosto de 2014

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AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

PUB

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ WWW.HOJEMACAU.COM.MO MOP$10 S E X TA - F E I R A 2 9 D E A G O S T O D E 2 0 1 4 • A N O X I I I • N º 3 1 6 4

hojemacauO prometido é devido e os democratasorganizam movimento nas Ruínas de São Paulo.

SÓ HÁBOA MÚSICA

TRI-DECADE UNIONAssociaçãoem estado dehibernação

A Assembleia Nacional Popular desenhou a proposta de sufrágio para Hong Kong. Até três candidatos escolhidos antecipadamente

por um comité. E em Macau? Académicos acreditam queo caminho será similar embora com algumas diferenças.

SUFRÁGIO UNIVERSAL OS CAMINHOS DE HONG KONG E MACAU

PÁGINAS 2 - 3

NOVO MACAUPONTAPÉ NO CICLOEM DIA DE ELEIÇÕES

PUB

EVENTOS CENTRAIS ENTREVISTA PÁGINAS 4-5 POLÍTICA PÁGINA 5

SEPARADOS A NASCENCA``

ARTURO SANDOVAL E O SEU TROMPETE NO VENETIAN

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2 hoje macau sexta-feira 29.8.2014HONG KONG

O QUE PROPÕE A APN

O South China Morning Post divulgou ontem a proposta que o comité da Assembleia Popular Nacional traçou para o sufrágio universal em Hong Kong, a qual será votada nos próximos dias. Poderão existir até três candidatos, mas previamente escolhidos por um comité. Académicos acreditam que Macau seguirá um percurso ligeiramente diferente. Eric Sautedé diz que a Lei Básica não obriga a uma eleição democrática

ANDREIA SOFIA [email protected]

FIL IPA ARAÚ[email protected]

O segredo tão esperado foi finalmente revela-do. A edição de ontem do jornal inglês de

Hong Kong South China Morning Post noticiou aquele que deverá ser o plano para a reforma política na região vizinha. Poderá haver “um homem, um voto”, mas só depois de uma pré-selecção dos candidatos por parte de um comité de nomea-ção, composto por 1200 membros (ver caixa). No total, poderão existir até três candidatos.

Numa altura em que em Macau três associações estão a organizar um “referendo” que pretende saber as opiniões dos locais em relação ao sufrágio universal, o HM contactou várias personalidades do meio polí-tico para saber se o mesmo modelo poderá ser aplicado ao território. A maioria pensa que, a seguir o mesmo modelo, será com algumas altera-ções, dado o tecido político local.

Larry So, académico aposen-tado do Instituto Politécnico de Macau (IPM), começa por ser irónico. “Três candidatos para uma população tão pequena, se-riam boas notícias! Não queremos apenas um, pelo menos dois, em termos de recursos ter três já seria muito bom”, aponta.

De forma geral, Larry So não se mostra muito crente em rela-ção a uma possível adaptação do modelo. “Com base numa leitura superficial, o Governo Central quer ter o controlo da situação em Hong Kong. Em Macau a situação será

um pouco diferente. Não acredito que Macau irá adoptar o modelo, as pessoas não irão assumir o mes-mo tipo de comportamento como assumem em Hong Kong”, referiu.

“O Governo Central deu essa espécie de modelo a Hong Kong,

vai dar mais ou menos o mesmo a Macau. Mas Macau não vai ter o sufrágio universal nos próximos anos. Estamos à procura de uma espécie de reforma politica, e isso vai levar entre cinco a dez anos, até que possamos adoptar essa siste-

“Macau não vai ter o sufrágio universal nos próximos anos. Estamos à procura de uma espécie de reforma politica, e isso vai levar entre cinco a dez anos, até que possamos adoptar essa sistema”LARRY SO Académicoaposentado IPM

“Macau tem de aceitar esses princípios, (pré-aprovação e nomeação dos candidatos), caso contrário não acredito que Pequim irá aceitar o sufrágio universal em Macau”EILO YU Docente da UM

O comité permanente da Assembleia Popular Nacional (APN) lançou a sua primeira proposta sobre a eleição do Chefe do Executivo de Hong Kong, em que o número de candidatos não pode ultrapassar os três, que vão precisar de pelo menos 50% do apoio dos 1200 membros de uma comissão que vai assim nomear os candidatos. Neste grupo de 1200 pessoas estão representados quatro sectores, profissional, social, político e industrial. Feito esse passo, o candidato terá então de angariar mais de metade dos votos, ou seja, mais de 600 votos válidos. Citando fontes anónimas, o diário South China Morning Post avança que a ala democrata considerou esta proposta de “inaceitável” e garantiu que irá vetar o

documento, caso não sofra alterações, na discussão do Conselho Legislativo. O jornal explica que o Governo necessita de pelo menos cinco votos dos deputados pró-democratas para conseguir a maioria de 2/3 do Conselho Legislativo para assim ver a proposta aprovada. As mesmas fontes garantem que há sectores pró-democratas que pensam em lançar uma campanha de adesão ao Occupy Central, grupo que pretende bloquear e ocupar as principais ruas do distrito financeiro de Hong Kong caso não haja “uma verdadeira liberdade de escolha” nas eleições para o cargo de Chefe do Executivo. Prevê-se que a votação em sede da assembleia popular nacional irá acontecer já no próximo domingo.

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3 hong konghoje macau sexta-feira 29.8.2014

“Na Lei Básica não há uma obrigatoriedade para uma eleição democrática ou a exigência de uma eleição. Do lado do Governo não haverá uma obrigação para ir nessa direcção”ERIC SAUTEDÉ Ex-docentede Ciência Política da USJ

“Macaué diferente”Bill Chou, ex-professor da UM e vice-presidente da Associação Novo Macau (ANM), considera que o que está a acontecer em Hong Kong não tem obrigatoriamente que acontecer em Macau. “Macau é muito diferente de Hong Kong, é um território muito mais pequeno. Não nos podemos esquecer que Hong Kong é muito mais sofisticado, a economia é bem maior que a nossa e por isso são territórios impossíveis de comparar. Acho que é importante frisar que os dois territórios não estão a competir, ou seja, não estão numa luta para saber quem consegue ou não alterar a forma de eleição”. Para o activista, Macau não tem que seguir o mesmo caminho que Hong Kong. A questão da densidade populacional defendida por Bill Chou foi o aspecto reforçado por Agnes Lam, membro da Comissão Eleitoral, que acredita que o “mesmo vai acontecer em Macau”, ou seja, não será alterada a forma de eleição do Chefe do Executivo. Para a também professora de Jornalismo na UM é fácil perceber, “há um volume muito maior de pessoas a lutar pela democracia em Hong Kong e mesmo assim eles não têm conseguido aquilo que pretendem”. Agnes Lam acredita que o Governo Central está muito atento ao que se passa e na sua opinião não deixará de existir uma pré-selecção dos candidatos, nem agora nem depois de 2017. “Não sei se esta proposta é verdadeira, li o artigo e as fontes são anónimas, mas a ser verdade não estou espantada”, disse. A professora defende ainda que até “poderá existir um pouco mais de flexibilidade em Macau devido ao menor volume populacional [comparando com Hong Kong]” mas o resultado será “muito idêntico”.

ELEIÇÕES PODERÁ MACAU SEGUIRO PLANO DA APN PARA HONG KONG?

DUAS REGIÕES,DOIS TRILHOSDIFERENTES

COUTINHO “LAMENTA”PRÉ-SELECÇÃOConfrontado com a notícia do South China Morning Post, o deputado José Pereira Coutinho “lamentou” a possível pré selecção dos candidatos por parte de um comité. “É uma pena, lamentável mesmo, que haja uma pré-selecção dos candidatos para Chefe de Executivo em Hong Kong, porque isto não respeita os princípios básicos da democracia. Acho que qualquer pessoa tem direito a candidatar-se e não devia ser objecto de algum tipo de pré-selecção. Este tipo de decisão condiciona a participação de um pessoa livre para a eleição do Chefe do Executivo.”Na opinião do deputado, depois disto “não há nada a fazer. Macau seguirá os mesmos passos que Hong Kong, como sempre fez. Não é de hoje, Macau seguiu sempre tudo o que aconteceu de bom e de mau em Hong Kong”. Pereira Coutinho reforçou o seu lamento perante tal decisão. “É lamentável que no final das contas, mesmo depois da luta, há uma selecção e essa mesma selecção viola profundamente os direitos básicos da democracia. Quanto ao futuro, Coutinho não tem dúvidas: “é isto que vai acontecer em Macau”

ma. Tenho a certeza que, devido ao desenvolvimento que vemos, estamos muito longe de ter os mes-mos acontecimentos, porque não vemos essa consciência política”, apontou Larry So.

Eilo Yu, docente da Universi-

dade de Macau (UM) tem a certeza de uma coisa: haverá sempre dois princípios invioláveis, quer para Macau, quer para Hong Kong, que dizem respeito à pré-aprovação e nomeação dos candidatos.

“Macau tem de aceitar esses

princípios, caso contrário não acredito que Pequim irá aceitar o sufrágio universal em Macau. Pequim pode permitir um modelo diferente, mas esse princípio é básico e aceite por Pequim neste momento”, disse ao HM.

“Penso que o número de can-didatos poderá ser negociável”, referiu ainda, falando de “algumas mudanças” quanto à forma como o comité de nomeação dos candi-datos poderá ser criado em Macau.

GOVERNO A NADA É OBRIGADOEric Sautedé, ex-docente de ciência política da Universidade de São José (USJ) garantiu ao HM que, para o lado de Hong Kong, mora o “desapontamento”. “Basicamente não haverá lugar a discussão (em relação ao plano proposto pela APN) e não era isso o que os votantes do referendo estavam à espera”.

Face a Macau, “na Lei Básica não há uma obrigatoriedade para uma eleição democrática ou a exi-gência de uma eleição. Do lado do Governo não haverá uma obrigação para ir nessa direcção. E penso que nem sequer há essa intenção: não há debate, não há agenda. Do que vimos em 2012 várias pessoas esperavam mais do que quatro depu-tados, e os resultados foram bastante limitados”, referiu o docente.

Eric Sautedé dá mesmo o exem-plo das reacções públicas ao referen-do civil organizado pela Sociedade Aberta de Macau, Macau Youth Di-namics e Macau Consciência. “Para Macau, neste momento, devido à extrema sensibilidade em relação a estas questões (será difícil). Por exemplo, a reacção a este referendo civil tomou proporções extremas que não foram sequer devidamente justificadas e que não estão segundo o espírito da lei”, referiu ao HM.

O HM tentou ainda entrar em contacto com Jason Chao e Scott Chiang, promotores da iniciativa do referendo civil, mas os mesmos não se mostraram disponíveis até ao fecho da edição.

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HOJE

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4 hoje macau sexta-feira 29.8.2014ENTREVISTAAssumiram uma posição política o ano passado, aquando da candidatura à Assembleia Legislativa, mas em altura de eleições e “referendo” a Macau Tri-Decade Union ainda não teve nenhuma posição pública. Isaac Tong, membro da direcção, “lamenta” a ausência e não esconde o afastamento da associação do foro político

ANDREIA SOFIA [email protected]

O jornal South China Morning Post de hoje, (edição de quinta--feira) , diz que já existe uma decisão da Assembleia Popular Nacional quanto à forma de eleição do Chefe do Executivo em Hong Kong. Acredita que esse modelo se pode aplicar a Macau?Penso que não será fácil para o Governo de Macau rever o sistema eleitoral. Macau acabou de reali-zar a reforma política há dois anos e quando Chui Sai On for eleito será muito cedo para ele discutir uma nova reforma política.

Mas ele anunciou isso no seu programa político. Na sua opi-nião, quando é que o debate sobre a reforma política deverá ter início?Acredito que não será discutido no primeiro ano de mandato. Hong Kong é um exemplo para Macau e talvez só depois de 2017, depois da implementação do sufrágio uni-versal, é que será uma boa altura para discutir esse assunto.

Em Macau está a ser organizado um “referendo civil”. Porque é que a Macau Tri-Decade Union não está a participar nesse pro-cesso?É muito simples: eles não nos con-vidaram para participar. Mas nós raramente cooperamos com eles.

TRI-DECADE UNION ISAAC TONG EM DESACORDO COM TERMO “REFERENDO CIVIL”

“Não será fácil para o Governo rever o sistema eleitoral”

Mas concordam com este “re-ferendo”?Penso que o nome desta actividade não é legal. Se perguntássemos às pessoas se confiam em Chui Sai On como candidato ou se desejam o sufrágio universal, mas na forma de inquérito ou sondagem, seria mais fácil.

Já votou no referendo civil?Essa é uma questão privada.

Até agora cerca de sete mil pes-soas votaram. Esses números devem ser tidos em consideração pelo próximo Chefe do Execu-tivo, em termos de representa-tividade? A realização deste referendo com locais de voto foi banida, então se os votos são via internet, pode haver votos só para engrossar os números, mas também podem ser

verdadeiros votantes. Por ser um sistema de votação online podem ser, na sua maioria, jovens, que não representam a maioria da sociedade. Aqueles que de facto quiseram votar no referendo po-dem não concordar com o Governo e não apoiar Chui Sai On e votar, ou pedir aos amigos que votem. Mas de uma maneira geral penso que não reflectem verdadeiramente toda a sociedade.

Jason Chao e Scott Chiang foram presos. Como olha para estas detenções?Apesar de ter o nome de referendo, é apenas uma sondagem feita por associações. A polícia criou um conflito e isso não é bom, mas se disseram que o referendo é ilegal em Macau, então têm de fazer algo, como travar a criação de mesas de voto. Pela lei, (a polícia e instituições) têm de fazer algo.

A Macau Tri-Decade Union po-deria organizar uma actividade como esta?Não como referendo. Já entregá-mos várias petições ao Governo. Se colocássemos o nome referen-do poderíamos criar algum tipo de conflito e essa é uma questão sensível. Não há necessidade de promover uma actividade como esta e chamá-la de referendo. Penso que é apenas uma forma de arranjar conflitos com o Governo.

Isso não é bom para Macau, porque muitas pessoas desejam acções mais calmas.

A última iniciativa pública que a Macau Tri-Decade Union de-senvolveu foi a entrega de uma petição sobre o velho campus da Universidade de Macau no ini-cio do ano. Porquê este silêncio, numa altura em que decorrem as eleições para o próximo Chefe do Executivo?

Lamento essa situação, e muitas pessoas têm-nos dito que deve-ríamos fazer alguma actividade ou entregar algumas sugestões ao Governo. A questão é que somos uma associação muito pequena, somos apenas quatro membros na direcção, temos os nossos empre-gos e as nossas famílias. Queremos focar-nos nas nossas vidas pessoais primeiro, antes de nos dedicarmos às questões políticas. Já investimos muito tempo na associação antes.

Como dirigente da associação, ainda se sente ligado às questões políticas?Às vezes, mas menos do que antes.

Então podemos ver algumas mudanças na posição da Macau Tri-Decade Union, com menos actividade política?A nossa actividade poderá ser me-nor, e poderemos focar-nos mais em questões públicas. Há muitos exemplos, como o fim da lei da sombra, o planeamento urbanísti-co, e talvez outras associações nos possam contactar para a partici-pação de seminários ou fóruns ou para a entrega de algumas petições. Mas não vamos promover uma actividade específica, porque não temos tempo.

Não há então projectos para a expansão da associação e a para a captação de mais membros, por exemplo.É muito difícil expandir a asso-ciação, em termos de projectos políticos. Não temos dinheiro, não temos história, como é o caso da Associação Novo Macau, ou a associação do Chan Meng Kam ou de Mak Soi Kun (deputados). Eles são ricos e podem promover muitas actividades e cativar membros. É muito difícil competir com essas actividades.

Participaram nas eleições em 2013. Pode afirmar que não vão participar nas próximas eleições para a Assembleia Legislativa?Não temos um plano quanto ao fu-turo. Vamos tentar o nosso melhor, tudo é possível. Quero participar nas próximas eleições, mas é muito difícil encontrar outro parceiro polí-tico. Eles (os restantes membros da Macau Tri-Decade Union) podem ter outra carreira e não estarem disponíveis para as eleições. Mas vamos tentar o nosso melhor para nos focar nos assuntos públicos.

“Não há necessidade de promover uma actividade como esta e chamá-la de referendo. Penso que é apenas uma forma de arranjar conflitos com o Governo”

“Não temos dinheiro, não temos história, como é o caso da Associação Novo Macau, ou a associação do Chan Meng Kam ou de Mak Soi Kun (deputados). Eles são ricos e podem promover muitas actividades e cativar membros. É muito difícil competir com essas actividades”

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HOJE

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hoje macau sexta-feira 29.8.2014 5POLÍTICA

CECÍLIA L [email protected]

T AL como o deputado Ng Kuok Cheong já tinha anunciado numa entrevis-ta ao HM, a Associação

Novo Macau (ANM) vai orga-nizar no próximo domingo uma iniciativa nas Ruínas de São Paulo

NOVO MACAU ORGANIZA MOVIMENTO NO DIA DAS ELEIÇÕES

Chui & pontapésQueremos fazer algo sobre as eleições do Chefe do Executivo, entregar alguma sugestões ou uma petição à sede de candidatura de Chui Sai On. Queremos fazer isso, mas ainda temos de discutir isso com os nossos membros.

Que análise faz a estes dias de campanha eleitoral do candi-dato?Penso que as ideias que ele apre-sentou não são propriamente novas. Simplesmente repetiu ideias que não conseguiu concretizar. Mas destaco o facto de ter criado uma nova plataforma online e nas redes sociais. É um bom passo para se aproximar das pessoas. Mesmo que as ideias não sejam novas, ao menos é um bom passo para Chui Sai On.

Em termos da habitação, Chui Sai On poderia ter apresentado algo de novo?O problema da habitação não pode ser controlado apenas pelo Governo de Macau e há muitas influências externas. Vamos ter um novo planeamento urbanístico, na zona A dos novos aterros, e vamos ter mais habitações públicas. Isso talvez possa melhorar o ambiente da habitação em Macau. A popula-ção de Macau vai crescer no futuro e depois da habitação pública estar concluída, a população vai ser maior, portanto essa oferta poderá não ser suficiente.

FIM DA LEI DA SOMBRA SERVE INTERESSESQuestionado se o fim da lei da sombra significa o favorecimento de interesses a membros da Comissão Eleitoral, Ng Kuok Cheong disse que sim. “Quando o ex-Chefe do Executivo Edmund Ho fez a sua segunda campanha eleitoral, disse que nunca ia parar de construir casas públicas, mas depois parou quando foi reeleito. Quando o Chefe do Executivo fez a campanha em 2009, disse que não ia mudar o mecanismo de espera para a habitação económica, mas depois promoveu as alterações à lei. Acreditamos que o cancelamento da lei da sombra é uma política a favor dos empresários da Comissão Eleitoral. Os empresários já ganham demasiado e a lei da sombra não pode ser cancelada.”

“Considero que os departamentos do Governo e associações tradicionais estão a mostrar a sua fidelidade ao próximo Chefe do Executivo, e por isso andam a promover o combate ao referendo civil na rua e na internet”NG KUOK CHEONG

No dia em que Chui Sai On deverá ser eleito como próximo Chefe do Executivo, os democratas vão realizar nas Ruínas de São Paulo um evento denominado “Pontapé no Pequeno Ciclo”, por volta das onze da manhã

a favor do arranque do processo de reforma política. Com o nome “Pontapé no Pequeno Ciclo”, terá inicio às onze da manhã do dia 31, dia em que decorrem as eleições para o próximo Chefe do Executivo.

Conforme garantiu o deputa-do, apesar do referendo civil estar a ser organizado por três associa-

ções, esta iniciativa é apenas da responsabilidade da ANM.

“Não queremos causar con-fusão aos residentes. A asso-ciação vai concentrar-se na actividade do próximo domingo e queremos aproveitar esse símbolo de Macau para contar a toda a gente que os residentes querem a reforma política em 2015, para que possamos ter o sufrágio universal em 2019, o mais cedo possível”, apontou Ng Kuok Cheong.

Na conferência de imprensa, Ng Kuok Cheong acusou ainda o Executivo de tentar combater o referendo civil. “Considero que os departamentos do Governo e associações tradicionais estão a mostrar a sua fidelidade ao pró-ximo Chefe do Executivo, e por isso andam a promover o combate ao referendo civil na rua e na internet”, defendeu.

Recentemente surgiu no Fa-cebook um grupo que se mostra contra a realização do referendo civil e que o acusam de não ser verdadeiro e de estar ligado a interesses norte-americanos.

DADOS NÃO SERÃO DIVULGADOSNo encontro com os jornalistas Scott Chiang, vice-presidente da ANM e também ligado à organização do referendo civil, disse que os dados constantes no website de votação estão todos protegidos e que não serão divul-gados, sendo destruídos quando o referendo chegar ao fim.

Num comunicado divulgado ontem ao meio-dia, Jason Chao e Scott Chiang garantiram que o “website de votação está sob protecção da CloudFlare, uma empresa respeitável na indústria para a protecção de dados e que foi utilizada no referendo civil ocorrido em Hong Kong, em Junho. Só pessoas autorizadas da Sociedade Aberta de Macau têm acesso aos dados”.

“Penso que as ideias que ele (Chui Sai On) apresentou não são propriamente novas. Simplesmente repetiu ideias que não conseguiu concretizar. Mas destaco o facto de ter criado uma nova plataforma online e nas redes sociais

Chui Sai On disse ainda que as empresas de jogo devem assumir a responsabilidade de alojamen-to em relação aos trabalhadores não residentes, concorda?É uma boa ideia, que tem de ser dis-cutida com as operadoras de jogo. Antes da renovação das licenças isso deve ser discutido. A indústria do jogo está a crescer e isso vai ser um desafio para a população de Macau. Se crescer depressa demais, questões como o ambiente vão pio-rar, mas se houver um abrandamen-to, pode criar problemas ao nível do emprego. Independentemente do que irá acontecer, Macau vai enfrentar desafios.

Entretanto, e segundo a Rádio Macau, os organizado-res do referendo civil têm sido aliciados a fornecer os dados à Polícia Judiciária (PJ). “Falaram com o Jason Chao. Queriam ter acesso à informação, o que Jason Chao recusou e, assim, não têm forma de aceder aos dados. Os números dos bilhetes de identidade são encriptados de forma irreversível e guardados no nosso servidor, a que apenas nós temos acesso e mais nin-guém, nem mesmo o Governo. E depois da votação acabar, toda a informação encriptada será des-truída”, disse o vice-presidente da ANM. Contactada pela Rádio Macau, a PJ não confirmou nem desmentiu que fez esse pedido. Apenas referiu que o caso está a ser tratado pelo Ministério Pú-blico, tendo evocado o segredo de justiça.

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hoje macau sexta-feira 29.8.20146 política

FLORA [email protected]

D EPOIS de terminar todas as acções da campa-nha eleitoral do único candidato ao Chefe do

Executivo, a Sede da Candidatura do Chui Sai On continua a dar que falar. Foram mais de dez, as asso-ciações que ontem visitaram a sede, entregando opiniões e inquéritos. O objectivo, dizem, é a melhoria da qualidade de vida da população, bem como da governação de Chui Sai On no novo mandato.

Durante a manhã de ontem, a Associação Comercial Geral dos Chineses de Macau e a Associação Industrial de Macau entregaram 3700 inquéritos e 748 opiniões, sugerindo que o novo Governo

CECÍLIA L INcecí[email protected]

A revista semanal em língua chinesa de Hong Kong, a Next,

publicou um artigo onde, com base numa carta anó-nima e num documento do Comissariado contra a Corrupção (CCAC) liga quatro membros da Co-missão Eleitoral ao caso do ex-Secretário Ao Man Long.

Numa nota publicada no website da sede de campa-nha, o candidato Chui Sai

ELEIÇÕES CE2014 ASSOCIAÇÕES PROPÕEM NOVAS MEDIDAS

As mil e uma sugestõesCANDIDATO ALMOÇA EM RESTAURANTE DE YUM CHADe acordo com o website da Sede de Candidatura de Chui Sai On, o candidato almoçou ontem num restaurante chinês na zona dos NAPE. Num vídeo publicado na página virtual, pode notar-se que os residentes presentes ficaram surpreendidos com a entrada de Chui no estabelecimento, alguns deles batendo mesmo palmas em jeito de apoio. A situação permitiu mesmo que alguns clientes tirassem fotografias com o candidato, entre eles um idoso referindo que dá o seu apoio desde o mandato anterior.

CASO AO MAN LONG NEGADAS ACUSAÇÕES DA REVISTA “NEXT”

Chui Sai On reage a “conteúdo infundado”On já negou o conteúdo publicado.

“Relativamente ao con-teúdo infundado constan-te do volume ‘assuntos correntes’ da revista Next Magazine, o qual se referiu que ‘durante o desempe-nho do cargo do Chefe do Executivo foi revelado que Chui Sai On tinha tentado conceder vantagens a quatro indivíduos, e hoje ele acei-tou os votos de propositura dos mesmos’, a sede de candidatura esclarece que o conteúdo daquela notícia é

infundado e falso”, aponta o comunicado.

É ainda referido que se “reserva, em nome do candidato, o direito de efec-tivação de responsabilidades decorrentes do conteúdo infundado da notícia da Next

Magazine pelo eventual prejuízo e dano causado ao candidato”.

A Companhia de Cons-trução e Investimento Ho Chun Kei, que construiu o edifício Sin Fong Garden, cujo sócio é o membro da

Comissão Eleitoral Ho Ka Lon Francisco, publicou uma declaração no jornal Ou Mun onde fala do “direito de efectivação e responsa-bilidade contra o conteúdo infundado da notícia da revista de Hong Kong”.

Segundo o artigo da revista Next, os membros da Comissão Eleitoral Ho Ka Lon Francisco, Sio Tak Hong, Ng Lap Seng e Loi Keong Kuong terão pago su-bornos ao antigo Secretário das Obras Públicas e Trans-portes, Ao Man Long, mas nunca foram indiciados pela investigação do Ministério Público. A revista cita ainda um documento do CCAC com carácter confidencial, que indicia os nomes.

O HM contactou o CCAC para saber mais pormenores sobre a origem do documento e que reacções seriam toma-das contra o artigo da Next, mas o organismo liderado por Vasco Fong disse não ter comentários a fazer.

O magnata da imprensa em Hong Kong, Jimmy Lai, proprietário da revista Next, foi alvo de buscas na sua residência por parte do Comissariado Independente contra a Corrupção de Hong Kong (ICAC). Segundo o canal chinês da Rádio Macau, os funcionários

chegaram a casa de Jimmy Lai Chi Ying ontem perto das sete da manhã, tendo feito buscas durante quatro horas. O empresário disse depois aos jornalistas que o caso está a ser acompanhado pelo seu advogado e que não tem mais comentários a fazer.

O dia de ontem ficou marcado pela entrega de milhares de inquéritos e opiniões vindas de mais de uma dezena de associações

que aumentem a sustentabilidade destes negócios.

Juntamente com outros depu-tados e o Centro de Política da Sabedoria Colectiva, Ho Ion Sang sugeriu a Chui Sai On que há que criar prioridades, com a resolução de problemas como a habitação, a criação de um sistema de saúde mais completo, ou a diversificação da economia local.

A Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) também disse de sua justiça, en-tregando três diferentes tipos de documentos: 13500 opiniões de operários da federação, a conclu-são das opiniões sobre o próximo mandato e, finalmente, uma análise comparativa dos programas eleito-rais de 2009 e deste ano.

que o próximo líder governamen-tal dê atenção a questões como a habitação, trânsito ou saúde e a autorização da vinda dos fami-liares para Macau. A Associação de Auxílio de Trabalhadores de Macau compareceu na Sede de Candidatura juntamente com o Partido dos Trabalhadores para a entrega de uma carta endereçada a Chui Sai On.

Lee Kin Yun, vice-presidente do Partido dos Trabalhadores, falou pelas duas associações, re-ferindo que há esperança de uma nova reforma política durante os próximos cinco anos que englobe o sistema de sufrágio universal para a eleição do Chefe do Executivo, em 2019. As duas associações reu-niram ainda esforços para referir a eventual revisão da legislação sobre os sindicatos, em pontos ful-crais como os direitos de realização de encontro ou greve.

ESPECIALIDADES À PARTEOutro dos grupos a entregar documentos a Chui Sai On foi a Associação Chinesa dos Profissio-nais de Medicina de Macau, que sugeriu avanços em questões como a criação de licenças profissionais para médicos e enfermeiros, um sistema de segurança e responsa-bilidade médicas.

Também a Federação de Ju-ventude de Macau, presidida por Ma Chi Ngai, entregou quase 1500 inquéritos. O responsável conside-ra que, além do apoio financeiro para a criação de empresas por jovens, o Governo deverá ponde-rar a implementação de medidas

JIMMY LAI INVESTIGADO PELO ICAC

alargue a importação dos trabalha-dores não residentes (TNR). Nos documentos, foi ainda sugerido, entre outras questões, a implemen-tação de uma política de apoio às pequenas e médias empresas.

TARDE DE ESPERANÇASJá à tarde, foram nove, as asso-ciações dos chineses ultramari-nos, que passaram mais de 5600 inquéritos ao gabinete, desejando

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7SOCIEDADEhoje macau sexta-feira 29.8.2014

Em dois programas de debate, os responsáveis máximos pelo FSS prometeram dar luz verde ao mecanismo de financiamento permanente do fundo de segurança FLORA [email protected]

O presidente do Fundo de Se-gurança Social (FSS), Ip Peng

Kin, e a vice-presidente, Chan Pou Wan, referiram que vão considerar a cria-ção de um mecanismo de financiamento do Fundo de Segurança Social (FSS). A sugestão passa pela “acoplagem dos saldos do exercício” do orçamento anual da RAEM, medida apresentada no programa eleitoral do candidato ao cargo de Chefe do Exe-cutivo, Chui Sai On. Na prática, pretende-se que o FSS venha a receber uma percentagem certa dos excedentes do orçamento.

CECÍLIA L [email protected]

N O ano passado morreram 1256 residentes de Macau mas apenas 41 famílias arrendaram

uma das três salas fúnebres [duas chi-nesas e uma ocidental] disponíveis no Hospital Conde São Januário, o que corresponde a uma taxa de ocupação de três por cento, segundo os dados fornecidos pelos Serviços de Saúde (SS). Um dos porta-vozes dos SS explica que como Macau não possuí crematório – serviço só disponível no interior da China – os familiares não recorrem às salas fúnebres para manter o corpo do defunto enquanto aguardam a cerimónia.

Segundo o jornal chinês Exmoo News, actualmente mais de 80% dos residentes de Macau têm preferência pela cremação dos defuntos. Contudo

para a realização da cerimónia é ne-cessária a aprovação da província de Guangdong para que o corpo possa passar a fronteira. Aprovação essa que só é autorizada caso seja uma agência funerária local [de Macau] a pedir. Importante é referir que no território só uma agência funerária é que está capaz de requerer as autorizações.

“Este processo é muito complica-do”, explica o porta-voz citado pelo diário, que indica que “para o corpo passar na fronteira são necessários vários procedimentos e isso leva muito tempo. As famílias acabam por desistir”.

Trabalhadores de algumas agên-cias funerárias defenderam a criação de um crematório público para Macau que, segundo os mesmos, poderia ser construído perto da Carreira de Tiro de Coloane, para não ficar perto das residências.

FSS PRESIDENTE ESTUDA MEDIDA ANUNCIADA POR CHUI SAI ON

O seguro morreu de velho

SÃO JANUÁRIO SALAS FÚNEBRES QUASE SEM USO

O lugar do morto

Durante o programa de debate “Macau Talk” de ontem da TDM, os dois responsáveis afirmaram que, “no futuro, queremos consi-

derar e analisar a viabilidade desta medida, mas ainda é necessário cooperar com outros departamentos”, disse Ip Peng Kin. O responsável

acrescentou ainda que a implementação de um me-canismo regular é positivo para o desenvolvimento do sistema de segurança social. “Com um mecanismo regular e, claro, através do FSS, todos podem calcular bem a capa-cidade financeira de Macau, percebendo o desenvolvi-mento da segurança social”.

“Actualmente o dinheiro da segurança social provém das receitas do Governo”, explicou Ip Peng Kin. O presidente do FSS escla-receu ainda que a actual receita do jogo revela va-lores positivos, podendo o

Governo melhor distribuir esta quantia para o FSS.

No entanto, de acordo com as experiências das outras regiões, é necessário pensar mais à frente. “É preciso que haja uma estra-tégia a longo prazo. Há que pensar sobre a dependência que a segurança social tem do sector do jogo, a indústria mais importante de Macau”.

REFORMAS ANTECIPADAS “SEGUNDO A LEI” Num outro programa de debate promovido ontem pelo canal chinês da Rádio Macau, Ip Peng Kin ouviu queixas quanto à retirada de dinheiro para quem pede a reforma antecipada. “Fui enganado, levantei o dinhei-ro cinco anos antes e perdi cerca de 40 mil patacas”, disse um ouvinte à rádio.

Ip Peng Kin lembrou que cada um, em cada caso específico, tem de assumir o risco. “Por exemplo se um idoso decidir levantar o dinheiro aos 65 anos e falecer aos 74, a família pode achar que o Governo está a defraudar. Mas o sistema funciona de acordo com a lei. Cada pessoa tem de tomar uma decisão con-soante a situação”, disse. No programa foi ainda referido

que cerca de 70 mil pessoas possuem conta individual no Fundo de Previdência, sendo que 40 mil receberam a sua pensão antecipada mas apenas 75% do valor, como manda a lei. 20 mil pessoas receberam a sua pensão total.

FSS GARANTE AJUDA AOS DEFICIENTESNo que diz respeito às exigências de vários pais de residentes portadores de deficiência que não conseguiram descontar para o FSS, Ip Peng Kin anunciou que a entidade vai analisar, juntamente com o Instituto de Acção Social, a melhor forma de dar apoio constante aos portadores de deficiência. O responsável anunciou ainda que a atribuição do subsídio pode tornar-se permanente depois de 31 de Dezembro de 2015, dia em que termina para requerer o subsídio provisório de invalidez.

1256 mortes

41famílias recorreram às salas fúnebres

“É preciso que haja uma estratégia a longo prazo. Há que pensar sobre a dependência que a segurança social tem do sector do jogo”IP PENG KIN Presidente do FSS

A própria vice-presi-dente do FSS, no programa de debate da TDM, citou um relatório feito em Julho sobre as reformas antecipa-das, tendo explicado que é difícil calcular os montan-tes com antecedência, e que tal “depende de diferentes condições económicas”.

Chan Pou Wa disse, contudo, que “o sistema de obtenção de reformas antecipadas em Macau já é generoso”, quando compa-rado com o que é feito nas regiões vizinhas.

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TIAGO ALCÂNTARA

8 sociedade hoje macau sexta-feira 29.8.2014

PUB

AnúncioAQUISIÇÃO DO PIANO

PARA O INSTITUTO POLITÉCNICO DE MACAUCONCURSO PÚBLICO N.º 01/DOA/2014

1. Entidade que põe o serviço a concurso: Instituto Politécnico de Macau.

2. Modalidade de concurso: Concurso Público.

3. Objecto do Concurso: Aquisição do Piano para o Instituto Politécnico de Macau

4. Prazo de validade das propostas do concurso: As propostas do concurso são válidas até 90 dias contados da data de abertura das mesmas.

5. Garantia provisória: $22 000,00 (vinte e duas mil patacas), através de depósito no Serviço de Contabilidade e Tesouraria do Instituto Politécnico de Macau ou mediante garantia bancária a favor do Instituto Politécnico de Macau, em Macau

6. Garantiadefinitiva: 4% do preço global da adjudicação (para garantia do contrato).

7. Condições de admissão: Entidades com sede ou delegação na RAEM cuja actividade total ou parcial se inscreva na área objecto deste concurso.

8. Local, data e hora de explicação:Local: Divisão de Obras e Aquisições do Instituto Politécnico de Macau, sita na Rua de Luis Gonzaga Gomes, em Macau.Hora e Data: 2 de Setembro de 2014, pelas 10H00.

9. Local, data e hora do limite da apresentação das propostas: Local: Divisão de Obras e Aquisições do Instituto do Politécnico de Macau, sita na Rua de Luis Gonzaga Gomes, em Macau.Hora e Data: 11 de Setembro de 2014, antes das 17H45.

10. Local, data e hora da abertura do concurso:Local: Sala de Reunião do Pavilhão Polidesportivo do Instituto Politécnico de Macau, sita na Rua de Luis Gonzaga Gomes, em MacauHora e Data: 12 de Setembro de 2014, pelas 10H00.

11. A avaliação das propostas do concurso será feita de acordo com os seguintes critérios: - Preço razoável (40%) - Conformidade de qualidade dos artigos com as exigências do utente (30%) - Poupança de energia e características de segurança (5%) - Prazo de entrega (10%) - Garantia/Serviços-pós-venda (10%) - Curriculum Vitae, competências e experiência do concorrente (5%)

12. Local, hora e preço para exame do processo e obtenção da cópia do processo:Local de exame: Divisão de Obras e Aquisições do Instituto Politécnico de Macau, sita na Rua de Luis Gonzaga Gomes, em Macau.Local de obtenção: Divisão de Obras e Aquisições do Instituto Politécnico de Macau, sita na Rua de Luis Gonzaga Gomes, em Macau, mediante o pagamento de MOP100,00 (cem patacas).Hora: de 2ª feira a 5ª feira das 09H00 às 13H00 e das 14H30 às 17H45.

6ª feira das 09H00 às 13H00 e das 14H30 às 17H30.Telefone: 8599 6178, 8599 6123, 8599 6287

Macau, aos 25 de Agosto de 2014Presidente do Instituto, Lei Heong Iok

A S bolsas de méri-to para cursos de pós-graduação correspondente

ao ano lectivo de 2014/2015 vão ser aumentadas, assim confirma o Gabinete de Apoio ao Ensino Superior (GAES). “Com o objectivo

Air Macau Lucroscaíram mais de 50%Os lucros líquidos da Air Macau caíram, nos primeiros seis meses de 2014, 74% fixando-se assim nos 21 milhões de yuan. Apesar da queda, registou-se um aumento de mais de 5% nas receitas, assim como no número de passageiros, que subiu quase 20%, no período em análise. A diminuição é justificada como pela depreciação do yuan em relação ao dólar americano. Também a Air China, empresa mão da Air Macau, registou uma queda dos lucros da empresa de mais de 55%. Mesmo assim, a Air China explica que apesar das “alterações na estrutura da procura do mercado (…) e da intensa concorrência” os lucros derivados das operações aumentaram 64%.

Serviços de Saúde Enfermeira em estado estávelA enfermeira do Centro Hospitalar Conde de São Januário encontrada ontem inanimada no vestiário dos enfermeiros das instalações, encontra-se em “estado estável”, segundo informaram os Serviços de Saúde (SS). As autoridades afirmaram ontem que há indícios de que a situação se trate de uma tentativa de suicídio, e por isso mesmo entregaram a situação às autoridades policiais.

Os valores dos subsídios anuais aumenta em média cerca de três mil patacas para os diversos cursos

GAES AUMENTO DO MONTANTE DAS BOLSAS DE MÉRITO

Mais para os estudos

79mil patacas, apoio

anual para cursos

de doutoramento

de continuar a incentivar a frequência dos cursos de pós-graduações aumentar--se-á, no ano académico de 2014/2015, o montante das bolsas de mérito”, anuncia o gabinete em comunicado.

O montante anual re-cebido pelos estudantes,

varia consoante a tipologia dos cursos, ou seja, para cursos de doutoramento o montante passa de 75 mil patacas para 79 mil patacas, para cursos in-tegrados de mestrados e doutoramento o valor que até residia nas 66 mil pata-cas, irá passar para 69 mil patacas e para os cursos de mestrado a bolsa sobe três mil patacas, fixando-se nas 57 mil patacas.

O GAES informa ainda que para o presente ano académico serão atribuídas 125 bolsas, distribuídas de diferentes formas consoan-te as necessidades. Desses apoios, 20 serão para cursos de doutoramento, cinco para cursos integrados de mestrado e doutoramento e as restantes 100 para cursos de mestrado. Relativamente às sectores de estudo, o gabinete esclarece que terá como prioridade as áreas da Educação, Direito, Medici-na, Medicina Tradicional Chinesa, Tradução e Inter-pretação Chinês-Português, “bem como a Criatividade Cultural”.

As inscrições decorrem na segunda quinzena de Setem-bro e os candidatos devem “ser residentes permanentes da RAEM”, pode ler-se no comunicado. - Hoje Macau

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HOJE

MAC

AU

9 sociedadehoje macau sexta-feira 29.8.2014

LEONOR SÁ [email protected]

E M 2013, o investimento to-tal do Governo no fomento do conhecimento científico foi de 52,9 milhões de pa-

tacas e quase 900 pessoas partici-param nas actividades organizadas pelo Executivo para este efeito. Numa conferência sobre o tema, foi apresentado o primeiro relatório do Governo relativamente a esta ma-téria. Várias entidades referiram os seus gastos e objectivos atingidos durante o ano passado.

O Fundo para o Desenvolvi-mento das Ciências e da Tecnologia (FDCT) foi de mais de 20 milhões de patacas para a realização de projectos escolares, exposições e actividades educativas de gene-ralização científica – promoção de conhecimentos de ciência, principalmente entre os jovens. O mesmo fundo serve ainda como entidade financiadora de projectos propostos por escolas locais, tendo aprovado e financiado 184 deles, o que obrigou a uma despesa de 15,9 milhões de patacas e a participa-ção de mais de 400 professores e auxiliares.

SABER É PODERO chefe de departamento dos recursos humanos educativos dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ), Wong Kin Mou, referiu que, entre outras novidades, o novo sistema curricular deverá incor-porar um ensino secundário mais completo. “Mesmo que os alunos escolham a área da literatura ou da ciência, vão poder saber um pouco mais sobre tudo”, independente-

Exportações e importações a subirO valor das exportações e importações registaram um aumento, nos primeiros sete meses do ano, de 8% e 12%, respectivamente. As exportações contabilizam assim 5780 milhões de patacas enquanto as importações se fixaram nos 50,540 milhões de patacas. Regista-se portanto um alargamento do défice da balança comercial, nestes primeiros sete meses do ano, para 44,760 milhões de patacas. Hong Kong e a União Europeia foram os locais em que o valor das exportações registou um aumento, ao contrário doutros destinos como a China interior e os Estados Unidos, que apresentaram ligeiras quebras. Em análise ao último mês, a Direcção dos Serviços de Estatísticas e Censo (DSEC) indica que Julho apresentou uma subida de 2% comparativamente ao mês homólogo em 2013.

Melco CrownStudio City mais caro que o previstoO valor do projecto Studio City em construção no Cotai, inicialmente previsto para 16 mil milhões de patacas, foi agora revisto e subiu para os 18 mil e 400 milhões de patacas. Segundo o jornal Bussiness Daily, a Melco Crown reviu o valor e indica que este pode não ser o orçamento final. No primeiro semestre do ano, as receitas totais da Melco Crown aumentaram 4%, fixando-se nos 20 mil e 400 milhões de patacas. De acordo com comunicado da empresa, o grupo do sector do jogo espera inaugurar a quinta e última torre do hotel e casino City Of Dreams (COD) ainda este ano, bem como abrir o novo casino de nome homónimo em Manila, capital das Filipinas. O mesmo documento alerta ainda para a inauguração do novo espaço de entretenimento e bares, SoHo. A Melco Crown pretende ainda ter operacional, em 2016, um conjunto de propriedades de luxo que está já em construção.

Zheng Anting quer revisão das leis de arrendamento

DAR A CONHECERSão oito, as unidades a trabalhar conjuntamente para oferecer mais conhecimentos sobre ciência e tecnologia aos jovens da RAEM, incluindo a DSEJ, o Museu das Comunicações, o Conselho de Ciência e Tecnologia, o Centro de Ciência de Macau e o Centro de Produtividade e Transferência de Tecnologia de Macau. Juntamente com o Conselho de Ciência e Tecnologia, o FDCT organizaram cinco campos de férias – em vários províncias da China e na Mongólia – destinados a estudantes e visitas de estudo especialmente desenhadas para professores e formadores, de forma a que estes possam ensinar os seus alunos.

O Governo de Macau gastou mais de 52 milhões de patacas no fomentodo conhecimento científico entre os mais jovens, no ano passado. Nos projectos participam oito entidades governamentais, incluindo os Serviços de Educaçãoe Juventude e o Centro de Ciência de Macau

CIÊNCIA GOVERNO INVESTE MAIS EM ENSINO DA CIÊNCIA

De pequenino se traça o destino

52,9milhões de patacas,

investimento do Governo

no fomento do conhecimento

científico, em 2013

O deputado, Zheng An-tingm mostrou a sua

insatisfação, através de uma interpelação escrita, devi-do à legislação relativa ao mercado de arrendamento. Zheng considera que as ofertas não satisfazem as necessidades do mercado, devido ao aumento dos pre-ços dos imóveis, assim como da grande importação dos trabalhadores não residentes.

O deputado afirmou também que a cláusula do Código Ci-vil dedicada aos assuntos do arrendamento está obsoleta, permitindo assim que alguns arrendatários demorem no pagamento da renda, bem como, se recusem a sair dos imóveis aquando a expiração do contrato de arrendamento. Nesta situação, para o depu-tado, os proprietários devem avançar pelos meios jurídicos

para conseguirem despejar os arrendatário que se mantêm ilegalmente nos imóveis. Zheng defende que muitas vezes os proprietários prefe-rem não arrendar deixando os imóveis vazios. Por estas razões, o deputado questiona o Executivo quanto ao calen-dário de revisão da Lei do Arrendamento, permitindo balancear os direitos dos senhorios e inquilino. – F.F.

mente da área de estudos específica pela qual optarem.

Durante o ano passado, a DSEJ levou a cabo a inscrição de alunos locais em concursos académicos internacionais na área da ciência.

Também no ano transacto o Centro de Ciência de Macau re-cebeu o Certificado de Excelência 2013 por parte do conhecido websi-te do continente, www.dadao.com. A mesma entidade despendeu cerca de 11,6 milhões de patacas na pro-moção de actividades de literacia científica, tendo recebido 700 mil pessoas nas suas instalações, que integram um planetário.

Tendo em conta os últimos dados dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) referentes ao pe-ríodo entre Setembro e Dezembro

de 2013, a população de Macau ficava-se pelas 607 mil pessoas. As, as estatísticas do relatório apontam para um investimento médio de 87 patacas per capita. “Embora este número seja já positivo, o nosso ob-jectivo é aumentar cada vez mais o investimento, porque isso significa mais avanços no conhecimento da ciência”, frisou Chan Wan Hei.

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10 CHINA hoje macau sexta-feira 29.8.2014

MARCO ANTONIO MORENOEl Blog Salmón

A guerra de divisas subiu para um novo patamar com o acordo fechado terça-feira em Frank-

furt entre o governo chinês e o principal centro financeiro da Eu-ropa. O Banco da China convidou os bancos alemães a utilizarem o seu serviço de compensação em yuan e o Deutsche Bank assinou como o seu primeiro cliente. Este anúncio consolida para a China a criação de um centro europeu de

Acidente rodoviário causa 15 mortosDe acordo com o “South China Morning Post”, 15 pessoas perderam a vida e outras 48 ficaram feridas quando um camião e um autocarro colidiram na terça-feira na província de Gansu. Um dos feridos encontra-se em estado crítico e cinco outros apresentam ferimentos graves.

Prisão por ataquea autocarroUm homem de 26 anos foi condenado a cinco anos e meio de prisão em Jiangxi por ter atacado os passageiros de um autocarro com uma faca em Maio deste ano, revelou o site “Jxnews.com.cn”. O indivíduo, que foi considerado culpado de ameaça à segurança pública, disse em tribunal que a sua intenção era cometer suicídio devido à sua família ser tão pobre e explicou que o ataque era só para chamar a atenção. Dois estudantes do ensino secundário conseguiram incapacitar o atacante, tendo recebido ferimentos graves. Outros três passageiros também ficaram feridos durante a luta.

China Three Gorges vai investir na energia nuclear

O maior accionista da EDP - Energias de Portugal, a China

Three Gorges (CTG), considerado o principal fornecedor de ener-gia hidroeléctrica da China, vai investir no nuclear, anunciou na quarta-feira a agência noticiosa oficial chinesa Xinhua.

No âmbito de um “acordo de coo-peração estratégica” com a China Na-tional Nuclear Corporation (CNNC), a CTG e aquela empresa vão investir em conjunto na construção de centrais nucleares e na investigação e desen-volvimento de novas tecnologias para o sector, disse a Xinhua, citando um comunicado da CTG.

As duas empresas, ambas es-tatais, acordaram nomeadamente promover a construção da central nuclear de Taohuajiang, na pro-víncia de Hunan, centro da China. Trata-se de um projecto orçado em 67.000 milhões de yuan, com capacidade para gerar cinco milhões de kilowatts.

A CTG, responsável pela cons-trução e gestão da barragem das Três Gargantas, no rio Yantze, é uma das maiores empresas chine-sas na área da energia, com cerca de 11.000 trabalhadores.

Em 2012, tornou-se também o maior accionista da EDP, tendo pago 2.700 milhões de euros por 21.35% do capital da eléctrica portuguesa.

A participação foi vendida pelo Estado português num concurso internacional a que concorreram também uma empresa alemã e duas brasileiras.

Com um novo centro de negócios em yuan no centro da Europa, a China desfere um rude golpe no dólar, que começa lentamente a perder a sua hegemoniade 70 anos

YUAN CONSOLIDA-SE COMO DIVISA MUNDIAL

Acordo em FrankfurtA Europa representa 10 por cento do comércio global em yuan e os pagamentos nesta moeda duplicaram no Reino Unido e na Alemanha durante este ano

comércio em yuan, após o realiza-do em Londres com a libra esterli-na. Frankfurt, a capital financeira da Alemanha, prevaleceu sobre Paris e Luxemburgo neste novo avanço do gigante asiático para fazer do yuan uma divisa mundial.

A Europa representa 10 por cento do comércio global em yuan e os pagamentos nesta moeda duplicaram no Reino Unido e na Alemanha durante este ano, de acordo com os dados da Sociedade de Telecomunicações Financeiras Interbancárias (SWIFT, da sua sigla em inglês). Um terço de todas as transacções a nível mun-dial (mais de 1.3 mil milhões de dólares), é processado pelo Banco da China, de acordo com o seu presidente Chen Siqing. Daí que o sistema de compensação inaugu-rado em Frankfurt seja importante para a optimização do comércio entre a China e a Europa.

Em fins de Março, a Alemanha e a China tinham chegado a acordo

para estabelecer em Frankfurt um centro financeiro para os negócios em yuan. A operação foi inaugu-rada na terça-feira, coincidindo com a visita do presidente do Banco da China, Chen Siqing, a Frankfurt. Para o Banco da China, o principal objectivo é promover a internacionalização do yuan e gerir o intercâmbio económico nesta moeda com a Europa.

ATAQUE AO DÓLARNos próximos dias, o Banco da China assinará os acordos deta-lhados sobre o uso deste banco de compensação que vai começar a operar em Setembro. O estabeleci-mento de centros de negócios em yuan fora da Ásia é chave para a China, que já realiza transacções na sua moeda com vários países asiáticos.

Com este novo centro de negócios em yuan no coração da Europa, a China desfere um duro golpe no dólar, que começa lenta-

mente a perder a sua hegemonia económica de 70 anos.

Foi com os acordos de Bretton Woods, em 1944, que o dólar alcan-çou o lugar de principal moeda de reserva e a divisa para o comércio internacional. O dólar é o principal produto de exportação dos Estados Unidos, e com este novo avanço do yuan chinês começa a viver o ocaso da sua história.

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11 chinahoje macau sexta-feira 29.8.2014

Os novos mapas que Pequim tem vindo a distribuir ao exército chinês provocaram um mal-estar geral nos seus vizinhos com quem têm vários litígios

A notícia de que o Exército da China está a dis-tribuir aos seus

soldados uma nova versão do mapa do país, com um traçado das fronteiras na-cionais mais amplo, pôs os seus vizinhos em alerta. A publicação do mapa, que foi revisto ao fim de 30 anos, foi anunciada em Julho pelo jornal oficial do Exér-cito de Libertação Popular. Segundo os militares, esta versão é “mais precisa”, tendo sido entregues mais de 15 milhões de cópias até 9 de Julho. Poucos dias de-pois, a principal agência de

A isenção mútua de vistos entre Angola e a China, abrangendo passaportes

de serviço e diplomáticos, já entrou em vigor, segundo um decreto assinado pelo Presiden-te angolano a que a Lusa teve acesso na quarta-feira.

Em causa está o decreto pre-sidencial n.º 216/14, assinado por José Eduardo dos Santos e com data de publicação em Diário da República de Angola de 22 de Agosto, acompanhado do respectivo acordo, assinado entre os governos dos dois países em Maio último, em Luanda.

O acordo, que entrou em vi-gor no mesmo dia da publicação, é justificado no mesmo decreto presidencial com a “necessidade de se consolidar, cada vez mais, as relações de amizade e de coo-peração” entre os dois governos.

Atende ainda, lê-se, ao facto de se tratar de “um instrumento de grande valia para facilitar a circulação” e “visando o reforço das relações bilaterais”, entre Angola e China.

Este entendimento, acrescen-ta o acordo, aplica-se aos cida-dãos dos dois países portadores de passaportes diplomáticos ou de serviço válidos, e respectivas famílias, que “desejam entrar, sair ou de trânsito através do território da outra parte”.

Estes deixam assim de ser obrigados a obter um visto para a duração da sua acreditação, para um período de permanên-cia “não superior a trinta dias a contar da data de sua entrada”.

Trata-se de um acordo válido inicialmente por cinco anos, “re-novável automaticamente por iguais períodos e sucessivos”, a menos que uma das partes manifeste a intenção de rescisão do mesmo.

Contudo, o entendimento entre os dois países “não res-tringe o direito de qualquer das partes para proibir ‘persona non grata’ ou cidadãos inaceitáveis da outra parte de entrar no seu território ou terminar a sua estadia no seu território sem citar motivos”, lê-se no texto do acordo.

Taxista violador O “The Beijing News” anunciou que as autoridades de Jinan, em Shandong, prenderam um homem de 50 anos acusado de ter raptado e violado uma mulher de 22 anos. A vítima apanhou um táxi não-licenciado no dia 21 de Agosto, sendo de seguida levada pelo condutor para a casa do mesmo, onde foi violada repetidamente ao longo de quatro dias. Entretanto, a mulher conseguiu mandar uma mensagem por telefone ao seu namorado, que contactou a polícia para a libertar.

Mãe vendeu bebéA polícia da região de Hejing, em Xinjiang, prendeu uma mulher com 21 anos de idade juntamente com a sua mãe, por ter vendido o seu bebé recém-nascido no início deste mês, informa o “Legal Daily”. As mulheres lucraram 15.000 yuan com a venda e disseram ao avô da criança que esta tinha falecido após o nascimento. A polícia conseguiu entretanto recuperar o bebé e deixou a mãe sair em liberdade condicional de modo a poder alimentá-lo, mas a avó continua detida. O pai da criança encontra-se a trabalhar noutra parte do país.

NOVOS MAPAS CHINESES COM ÁREAS EM DISPUTA

A pisar o risco

ISENÇÃO DE VISTOS ENTRE ANGOLA E CHINA

Caminho livre

enfatizou ao presidente chinês, Xi Jinping, a neces-sidade de resolver a crise. A China e a Índia têm uma fronteira comum de mais de 4.000 quilómetros. As suas disputas territoriais já originaram uma guerra, em 1962, e continuam a ser um motivo de tensão entre os dois países mais populosos do mundo. O potencial po-liticamente explosivo dos mapas chineses já havia sido manifestado em outras ocasiões.

Em Novembro do ano passado, o Japão, Taiwan e a Coreia do Sul declararam a sua desaprovação com a criação de uma zona de de-fesa aérea, que incorporava territórios disputados no mar do Leste da China. Há dois meses, foi a vez de uma editora de Hunan, província na região central da China, divulgar um mapa em que incluía o Estado indiano de Arunachal Pradesh no ter-ritório chinês, assim como outras dez ilhas no mar do Sul da China. Trata-se de uma expansão em relação à disputada “linha de nove traços”, que demarca as rei-vindicações marítimas chi-nesas. Feita em 1947, esta delimitação é usada como base para a política territo-

rial adoptada por Pequim. Ricas em recursos naturais, as águas reivindicadas pela China são disputadas com pelo menos quatro dos seus vizinhos - o Vietna-me, as Filipinas, o Brunei e a Malásia. Em Maio, as tensões entre a China e o Vietname aumentaram depois de uma empresa estatal chinesa ter instalado uma plataforma de petróleo em águas disputadas. Após várias escaramuças no mar, protestos violentos no Vie-tname fizeram pelo menos três chineses mortos e cau-saram prejuízos a centenas de empresas chinesas.

Esta semana, o governo vietnamita enviou uma de-legação à China para tentar reduzir as tensões entre os dois países comunistas. Ou-tro motivo de preocupação na região é o aumento da força militar chinesa. No ano passado, o país lançou o seu primeiro porta-aviões, e em Janeiro testou mísseis nucleares, abrindo cami-nho para uma corrida de armamento no Extremo o seu orçamento militar para proteger as suas áreas ma-rítimas. No caso japonês, foi a maior modernização e expansão desde o fim da Segunda Guerra Mundial.

notícias da Índia (PTI, sigla em inglês) publicou uma reportagem em que dizia que o novo mapa incorpora áreas de fronteira em disputa com outros países, sendo o

artigo depois reproduzido pela imprensa indiana.

POTENCIALMENTE PERIGOSOA repercussão provocou mal-estar e levou Nova Deli

a emitir um protesto contra Pequim. Num encontro à margem da cimeira do grupo BRICS em Fortaleza, em Julho, o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi,

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hoje macau sexta-feira 29.8.201412 publicidade

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hoje macau sexta-feira 29.8.2014 13EVENTOS

À VENDA NA LIVRARIA PORTUGUESA RUA DE S. DOMINGOS 16-18 • TEL: +853 28566442 | 28515915 • FAX: +853 28378014 • [email protected]

O SEGREDO DO RIO • Miguel Sousa TavaresUma referência obrigatória na literatura infantil em Portugal. À inquietação de um dos filhos em saber por que é que as estrelas não caem do céu, Miguel Sousa Tavares escreveu O Segredo do Rio, um conto que é já uma referência obrigatória na literatura infantil em Portugal. Mas que segredos pode esconder um rio? À primeira vista, esta é a história de amizade entre um rapaz que vive sozinho no campo e um peixe (uma carpa) que vive no ribeiro para onde o rapaz ia brincar. No final, percebemos que o grande segredo do rio está consagrado na gratidão que os une. Esta é uma obra de aprendizagem da vida e dos seus mistérios, das relações humanas e da descoberta de sentimentos.

A INCRÍVEL E TRISTE HISTÓRIA DA CÂNDIDA ERÉNDIRA E DA SUA AVÓ DESALMADA • Gabriel García MárquezBem ao estilo de Gabriel García Márquez, este livro reúne sete histórias mágicas que re-flectem a cultura sul-americana. As primeiras, um conjunto de seis contos fantásticos onde se misturam acontecimentos surreais e detalhes do quotidiano, contam-nos as alterações sofridas por pequenas e pobres povoações após estranhos acontecimentos que mudam a vida de todos os habitantes. A última, a novela curta que dá título ao livro, conta a história de Eréndira, uma adolescente obrigada a prostituir-se pela própria avó para a recompensar das perdas decorrentes de um incêndio acidental – um bizarro mas poderoso exemplo do realismo mágico de García Márquez.

RICARDO [email protected]

O que pode o público es-perar de um concerto de Arturo Sandoval?Podem contar que eu faça com que toda a gente se divirta.

O que o fez apaixonar-se pelo trompete?Quando era muito novo, an-dava pela minha casa a bater em todos os objectos que encontrava para tentar fazer música, o que levava a minha avó a comentar “este é louco, pensa que é músico”. Anos mais tarde, a pequena aldeia em que eu vivia numa zona do interior de Cuba decidiu formar uma banda. Eu decidi imediatamente que queria fazer parte dela, e de início deram-me um trombone, do qual eu não gostei. Depois passaram-me um bombo, mas como era pesado demais para eu o carregar mudaram-me para a flauta, mas esta punha--me tonto. Foi aí que comecei a virar as minhas atenções para o trompete. Dirigi-me então ao maestro e disse-lhe que queria tocar este instrumento, mas a banda não tinha ne-nhum disponível para mim. Todavia, o maestro disse que eu podia tocar o trompete se conseguisse arranjar uma pelos meus próprios meios. A minha tia ainda me comprou uma corneta de bolso, mas não fiquei satisfeito. Entre-tanto, recomendaram-me que fosse visitar um idoso da nossa aldeia que tocava trompete. Em sua casa, foi--me pedido para tocar algo, o que fiz sem hesitação, mas o seu comentário foi “põe o instrumento de volta na caixa, nunca vais conseguir ser um bom músico”. Decidi

ARTURO SANDOVAL ESTE SÁBADO NO VENETIAN

“Para mim só há um tipode música... a boa música”

“O jazz é, obviamente, o meu primeiro amor, mas também toco música clássica, tango e bolero, entre outros”

então provar que isso não era verdade, e tenho estado a tentar prová-lo durante os últimos 51 anos.

É mais conhecido como músico de jazz, mas também toca música clássica. O que

o fez enveredar por estilos diferentes?Eu sou um apreciador de todo o tipo de música, e como mú-sico não gosto de me limitar a um só género. O jazz é, obviamente, o meu primeiro amor, mas também toco mú-sica clássica, tango e bolero, entre outros. Na verdade, para mim só há um tipo de música... a boa música.

Como foi a experiência de tra-balhar com Dizzy Gillespie?Devo-lhe a minha carreira assim como a minha vida. Foi o Dizzy que me deu a

oportunidade de emigrar para os Estados Unidos, pois consegui sair de Cuba devido ao seu convite para irmos em digressão juntos. Só assim é que me conse-gui libertar da opressão de uma ditadura que mandava pessoas para a prisão por ouvirem jazz na rádio. Além disso o Dizzy era um génio da música e a minha maior inspiração. Além de ser um músico incrível na trompete, criou o estilo “bebop’, que foi completamente inovador naquela época pois era uma maneira muito diferente de

fazer improvisação. Con-fesso que tenho imensas saudades dele.

Recebeu em 2013 a Medalha Presidencial da Liberda-de (Presidential Medal of Freedom) dos EUA. Que significado é que isso teve para si?A medalha é suposta represen-

tar a liberdade, e isso é algo que é muito importante para mim, pois não há vida sem liberdade.

Em que outros projectos está envolvido?Acabo de lançar um disco de tributo ao grande Armando Manzanero do qual estou muito orgulhoso.

“Quando era muito novo, andava pela minha casa a bater em todos os objectos que encontrava para tentar fazer música, o que levava a minha avó a comentar “este é louco, pensa que é músico”

MANNY IRIARTE

Contrariando os avisos da avó e do seu professor de música que o aconselhavama desistir da carreira musical, Arturo Sandoval nunca desistiu de tentar provar que estes estavam errados. Aos 51 anos, o trompetista que colaborou com Dizzy Gillespie,continua a fazê-lo

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14 hoje macau sexta-feira 29.8.2014

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AS José simões morais

N O dia da Ascensão do Se-nhor, 30 de Maio de 1585, no seu Oratório em Roma o Papa Sixto V celebrou

uma missa particular para os embaixa-dores, dando-lhes ele mesmo a sagrada comunhão e a bênção, estendida aos seus dáimio e a todo o Japão.

Como o Papa Gregório XIII tinha prometido oferecer ao Seminário do Japão quatro mil cruzados por ano, o novo Papa Sixto V acrescentou mais dois mil, isto para sempre “até se não prover por outra via; e que fosse pagos pelo S. João (24 de Junho) e que co-mece logo nesse ano presente.” Ainda receberam os presentes do Sumo Pon-tífice para os Senhores do Japão em nome de quem vinha a Embaixada e constavam estes de um crucifixo, uma sombrinha ducal, uma espada e o Bre-ve. Também os padres da Companhia de Jesus foram contemplados com or-namentos litúrgicos no valor de trinta mil cruzados e mil cruzados para a via-gem.

Como prometera em 1585, o Papa Sixto V, pela bula Hodie Sanctissimus in Christo Pater de 14 de Fevereiro de 1588, separou do Bispado de Macau o território japonês, criando o Bispado de Funai, na província de Bungo, nas ilhas Kiushu. O jesuíta D. Sebastião Morais foi sagrado Bispo de Funai na Igreja de S. Roque em Lisboa, mas morreu durante a viagem em Moçam-bique e por isso não tomou posse. Em Macau, só em 1589 se soube da separa-ção do bispado, tendo o segundo Bispo do Japão, D. Pedro Martins aí chegado apenas em 1596.

Na véspera da partida, foram os em-baixadores despedir-se do Sumo Pon-tífice e agradecer-lhe por tudo, sendo providos com 3000 escudos de ouro.

Após dois meses e dez dias em Roma, iniciava-se a viagem de regres-so da Embaixada. Saiu a 3 de Junho de 1585, sendo acompanhada durante muitos quilómetros pela cavalaria do Papa. Passando por Casteliana, chegou a Spoleto dois dias depois. Por falta de estrada, apearam-se os embaixadores dos carros e montando a cavalo segui-ram; Foligno a 6 de Junho e Assis e Pe-rugia a 7, tendo em Loretto descansado entre os dias 12 e 14. Seguiu-se Imola, onde estiveram em 18 de Junho, esta-cionaram três dias em Bolonha e outros tantos em Ferrara. Nestas duas últimas

REGRESSA A PORTUGALA EMBAIXADA JAPONESA

cidades, conjuntamente com a de Pe-rugia, foram grandes as cerimónias de cumprimentos. A importância da cida-de de Veneza levou ao desvio do ca-minho de regresso à Península Ibérica.

COM O DOGE DE VENEZA E O REI FILIPE II

Do porto de Ferrara, a 25 de Junho em-barcaram numa rica galé de Afonso II, Duque de Ferrara e assim chegaram a Veneza, onde ocorreu a maior recep-ção depois de Roma, com o Senado a fazer grandes honras à Embaixada ja-ponesa.

Veneza, a cidade dos canais, já que é composta por um conjunto de pe-quenas ilhas banhadas pelas águas do Golfo de Veneza, estava por essa altura no seu esplendor, iniciado no século X pela magistratura dos doges.

Em 1204, com a IV Cruzada des-viada pelo Doge (Senhor) de Veneza para saquear Constantinopla, passaram os venezianos a dominar o comércio e prosperando com um vastíssimo ter-ritório, desde a Lombardia às ilhas do Mar Egeu e de Creta, tornou-se uma república aristocrática. Veneza, como destino europeu da mercadoria do Oriente, permitiu gerar um centro de um novo conhecimento trazido desde o Mar Arábico e arrastando os gregos, nela se compôs um novo humanismo helénico.

Da Praça de S. Marcos de estilo bi-zantino, ao Palácio dos Doges e outros palácios construídos sobre as ilhas, a República Veneziana com a sua frota a dominar o Mar Mediterrâneo, abria assim a Idade de Ouro de Veneza. Um vasto império marítimo permitia a chegada dos inúmeros e maravilhosos produtos do Oriente mas, com a to-mada de Constantinopla pelos turcos em 1453, o Mediterrâneo passa a ser compartilhado pelos dois. Depois, fin-tando o além, entraram os portugueses no mercado das especiarias e pela Rota do Cabo dominaram o oceano do Co-mércio.

Veneza já não era um mercado tão próspero como o fora, à conta da nova rota dos portugueses, que tinham aprendido com os derrota-dos genoveses a arte de marear. No século XVI, a cidade brilhava sim pela Pintura, que ia fazendo escola em todo o Ocidente. E para ganhar retrato do que teria sido o cortejo da

Embaixada, nada melhor que olhar para o quadro “Procissão na Praça de S. Marcos” do pintor veneziano Gentile Bellini (1429-1507). Ape-

sar desta obra ter sido realizada em 1496, ilustra todo o cenário da pers-pectiva que os embaixadores japone-ses puderam encontrar em Veneza.

Daí partiu a Embaixada a 6 de Ju-lho de 1585 e após Pádua, chegou a 9 a Vicencia, ficando entre os dias 11 e 13 desse mês em Verona. Em Mântua foram os embaixadores faustosamente recebidos, assim como em Milão (nessa altura território de Espanha), onde es-tiveram oito dias, seguindo depois para Génova, cidade destruída no século XIV por Veneza e no século seguinte, pelos turcos.

Na cidade portuária de Génova os embaixadores descansaram antes de

“NUM DOS DOMINGOS DE NOVEMBRO DE 1585, NA SÉ DE ÉVORA, O ARCEBISPO ORDENOU ALGUNS IRMÃOS JESUÍTAS, ENTRE ELES O IRMÃO JAPONÊSJORGE LOYOLA”

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15 artes, letras e ideiashoje macau sexta-feira 29.8.2014

embarcarem a 9 de Agosto numa das dezanove galés que tomaram rumo para Barcelona, onde chegaram a 17 de Agosto, ficando até 9 de Setembro de 1585.

Seguiu a Embaixada para Mon-zon (Huesca), onde foi recebida em audiência pública por Filipe II, que aí se encontrava há vários meses. Aí reunira as Cortes para, entre outras coisas, esta reconhecer o herdeiro ao trono, o futuro Filipe III, assim como fazer a celebração do casamento da infanta D. Catarina com o filho do Duque de Sabóia. O Rei Filipe II tra-tou a Embaixada com grande estima, dando-lhe a mercê de nos seus terri-tórios ser assistida à custa da Fazenda Pública e oferecendo dez mil cruza-dos para a viagem.

Com a licença do Soberano de partir para Lisboa, a Embaixada foi acompanhada pelos dezassete padres jesuítas que desde Roma com ela via-

“EM COIMBRA, MAL SE SOUBE DA VISITA QUE A EMBAIXADA JAPONESA IRIA FAZER À CIDADE, LOGO UMA ONDA DE ENTUSIASMOE ALVOROÇO DESPERTOU”

java. De Monzon seguiu por Sarago-ça, onde se instalou três dias e pas-sando por Daroca e Alcalá, chegou a Madrid, visitando a imperatriz viúva do Imperador Maximiliano II, Maria da Áustria (1528-1603), irmã do Rei Filipe II.

EMBAIXADA DE NOVO POR PORTUGAL

De Oropesa, a Embaixada rumou a Vila Viçosa no princípio de Outubro de 1585, onde ficou retida por quatro dias,

devido às muitas festas oferecidas pelo Duque de Bragança. Já nas despedidas, D. Teodósio II (1568-1630), Duque de Bragança, deu-lhes o seu coche para irem até Coimbra.

A uma légua de Évora, ao encontro da Embaixada vieram os principais da cidade e duzentos estudantes a cavalo, todos vestidos de seda, trazendo qua-tro formosos cavalos da parte do Arce-bispo D. Teotónio.

Os embaixadores chegaram à ci-dade, cada um sobre a montada, e foram aclamados pela população. Seguiram para o Colégio da Compa-nhia, onde na Igreja do Espírito San-to se encontraram com o Arcebispo D. Teotónio II, tio do Duque de Bragança e outros padres. Pela igre-ja vibravam sons musicais saídos dos órgãos quando, o pensamento de um momento fugiu para saber quem era Endovélico e de uma página do livro “Religiões da Lusitânia” de J. Leite Vasconcelos, surgiu uma divindade lusitana ligada à medicina. Já na Sé se cantava um Te Deum Laudamus, quando os embaixadores beijavam o santo lenho. Depois, recolheram e foram para o Palácio do Cardeal D. Henrique, que fazia parte do Co-légio. A Universidade organizou--lhes uma festa na quinta-feira dia 7 de Novembro. No sábado foram com o Arcebispo para a sua quinta de Valverde e no domingo, visitar o Convento de Santo António, que o próprio Arcebispo D. Teotónio II fundara em 1576.

Em Évora, o antigo Vice-Rei da Ín-dia, D. Francisco Mascarenhas, com quem os embaixadores se tinham en-contrado em Goa, ia já para dois anos, por várias vezes os visitou.

Num dos domingos de Novembro de 1585, na Sé de Évora, o Arcebispo ordenou alguns irmãos jesuítas, entre eles o Irmão japonês Jorge Loyola, cerimónia particularmente importante para o Arcebispo D. Teotónio II, pois foi o primeiro a ordenar um japonês na Europa. A Catedral de Évora, de-dicada a Santa Maria, fora no século XII um dos primeiros baluartes do Cristianismo no Alentejo. Com estilo românico na estrutura, é de arte gó-tica o seu interior e decoração, com uma imponente nave central de altas abóbadas.

Após lhes oferecer muitos retábulos ricos e outras peças que valeriam mil cruzados, deu-lhes D. Teotónio II as cavalgaduras até Lisboa.

Passando por Setúbal, nos arredo-res de Almada foram hospedados na Quinta de Vale do Rosal, pertencente aos padres da Companhia. Após dias

de repouso, o Cardeal Alberto mandou de Lisboa uma galeota para a Embaixa-da atravessar o Rio Tejo.

VIAGEM ATÉ COIMBRA

Em Lisboa, ficaram hospedados na Casa de S. Roque e logo depois, foram visitar o Cardeal governador Alberto, o que fizeram por várias vezes.

Os colégios de S. Antão, (Santo Antão-o-Velho, na Mouraria, a primei-ra casa dos Jesuítas no mundo, cedida pelo Rei D. João III e onde abriu em 1553 o Coleginho, o primeiro para ex-ternos da Companhia de Jesus. Fora tal a procura, que em 1579, o então Rei Cardeal D. Henrique, o Casto, man-dou construir Santo Antão-o-Novo, que só em 1593, anos depois da visita da Embaixada, se tornou no novo colé-gio) no dia 4 de Dezembro de 1585 ce-lebraram com representações das suas várias academias, o que muito agradou aos japoneses, que nessa manhã tinham sido convidados em S. Roque, por vin-te e muitos estudantes, para os acom-panharem até ao Coleginho.

Como faltavam três meses para a partida das naus para a Índia, numa de satisfazer os padres do Colégio de Coimbra, ficou decidido ir então a Embaixada visitar a cidade dos es-tudantes.

O Cardeal Alberto, à partida da Embaixada, ainda lhe fez donativos de mil e quinhentos cruzados, de riquíssi-mas vestimentas de lhama (tela lustro-sa e transparente, de fio de ouro ou de prata, usada nas armações das igrejas), de oiro e do preciso para a viagem.

Em Coimbra, mal se soube da visita que a Embaixada japonesa iria fazer à cidade, logo uma onda de entusiasmo e alvoroço despertou e “mandou o Bispo (D. Afonso, Conde de Castelo Branco) e Câmara da cidade ao Colégio saber do padre reitor quando haviam de che-gar.” Citado do Padre Fróis.

De Lisboa partiram pelo Rio Tejo acima até Santarém, onde se demora-ram alguns dias e daí foram até Tomar, tendo em visita admirado o Convento da Ordem de Cristo. Como foi aconte-cendo pelas cidades visitadas de Portu-gal e Espanha, por essa altura estavam estas em profundas remodelações, tan-to na malha urbana, como nos tem-plos e palácios. Ocorria nessa época a transformação da charola, oratório dos Templários, para ser adaptada a capela--mor do Convento de Cristo.

Na segunda-feira, 23 de Dezembro de 1585, o Padre Nuno Rodrigues che-gou ao Colégio dos Jesuítas em Coim-bra, avisando estar próximo a Embai-xada.

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RamiRo TeixeiRa

hoje macau sexta-feira 29.8.201416 h

E STEIROS – antes de mais, algu-mas considerações prévias.

Sendo por todos genericamen-te reconhecido como o romance

que mais se aproxima da obra-prima do nos-so neo-realismo – atenção, da primeira fase – até ao ponto de justificar, nesta alvorada do século XXI, uma nova edição, a qual, apesar do excelente grafismo só por essa condição seguramente não se sustentaria, a verdade é que “Esteiros” subsiste hoje mais pela poética encantatória com que revestiu a existência de meia-dúzia de garotos, do que propria-mente como modelo estético seja do que for.

Expendo esta questão, porque ainda hoje, em redor do neo-realismo, se tecem as maiores confusões, já que o neo-realismo não foi, como alguns pretendem, um proces-so natural da evolução do Realismo/Natura-lismo, mas antes, a definição duma estratégia ideológica identificada com o socialismo de inspiração marxista-leninista, de acordo, aliás, com as teses aprovadas no Congresso do Partido Comunista, realizado em Mosco-vo, em 1934.

Por esta razão, não cabe agora, quanto mais não seja por razões de espaço, a aná-lise do que aparentemente o antecede, no-meadamente os vínculos susceptíveis de o interligar à Geração de 70, que pretendia uma revolução ao nível do pensamento, da justiça e da igualdade sociais (Proudhon), anunciando, de alguma forma, o advento político das massas, mas que, como sabemos, era coisa perfeitamente controlada pela bur-guesia dominante. Daí que a Geração de 70 se tenha distinguido pelo pensamento e pelo protesto, sem nunca, todavia, se identificar como um movimento.

Que advinha das teses aprovadas no con-gresso acima referido? Muito naturalmente a ascensão do proletariado, entendido como a única força revolucionária capaz de assumir historicamente o papel desempenhado pela burguesia, então encarada como reaccioná-ria. E, concomitantemente, o propósito da nacionalização e da colectivização de toda a economia, pois só sob estas fórmulas se admitia ser possível acabar com as desigual-dades, com a exploração do homem pelo homem, enfim, criar um homem novo numa sociedade nova, nomeadamente pela exposi-ção, nua e crua, de como uma minoria domi-nante explorava, oprimia e reprimia a força do trabalho. Ou seja; acreditou-se ser pos-sível, através da revelação realista das con-dições económicas e sociais, arregimentar a massa de trabalhadores, incutir-lhe não só a possibilidade da libertação, mas de equipara-ção a outras classes sociais mais favorecidas!

Há que dizer, entretanto, que o período em que Portugal viveu, de facto, uma luta de classes, ainda que confinada ao perímetro de Lisboa, se confinou ao início de século XX, até mais ou menos à governação de Salazar. Durante este período, sem dúvida, o espírito de revolução que animava as massas traba-lhadoras, pese embora o seu carácter volúvel e anárquico, no que diz respeito a objectivos sustentados, se alguma coisa teve de esteio, de unidade na diversidade, foi justamente o espírito que a movia. Nesta perspectiva, pode-se dizer que se as classes trabalhado-ras, às vezes, não sabiam para onde seguiam, sabiam, sim, contra quem estavam…

Depois do advento de Salazar e das con-troversas irrupções lideradas por Rolão Preto,

SOEIROPEREIRAGOMESO NEO-REALISMO

PORTUGUÊS:VERDADES E FICÇÕES

que soube apoderar-se de parte dessa “massa” e dirigi-la em sinal contrário, o que houve, em rigor, não foi mais uma luta de classes, pese embora os esforços de Bento Gonçalves, mas a luta pela democracia, pela liberdade da ex-pressão e da representação política, enfim, a oposição à ditadura e ao fascismo.

Para travar tal batalha, em Portugal, o chamado realismo socialista teve de se disfarçar, de se metamorfosear sob diversos eufemis-mos, nomeadamente aparecer sob o signo de “Novo Humanismo”, de transformar, por exemplo, o nome de Karl Marx em Carlos Marques, ou a designação do Partido Comu-nista Português, então em fase acentuada de reorganização, pela simples letra P, quando, não menos, pelo vocábulo Pai!

Pela mesma lógica, que era a de escapar ao filtro da Censura, breve a expressão “Neo-

-Realismo” adquiriu o estatuto artístico-literário de “Novo Humanismo. A partir daqui, em meu entender, o neo-realismo passou a embru-lhar-se em razões de ordem estética, fazendo de tal um campo de batalha, como se isso, para o que de verdadeiro propunha, fosse porventu-ra importante! Ou seja, o neo-realismo ao pre-tender afirmar-se como uma corrente estética, sem abdicar dos seus propósitos políticos, entrou num tipo de querela de todo dispen-sável, contribuindo, como oportunamente referiu Alexandre Pinheiro Torres1, para uma polémica que se perpetuou para além da sua necessidade histórica... Na década em que Redol introduz o neo-realismo em Portugal, com os romances “Gaibéus”(1939), “Marés”(1941) e “Avieiros”(1943), escassa seria a componente de população esclarecida comprometida com o regime, que alinhasse, sequer, com a ditadu-

ra; antes, na sua maioria, era declaradamente oposicionista. Se adicionarmos a este axioma o outro facto de que, tanto a URSS, como o PCP, por razões históricas de endémica cultu-ra, sempre manifestaram alto apreço pelos in-telectuais, vislumbrando neles condutores de opinião afins à revolução, ficaremos a perce-ber melhor as intenções que verdadeiramente moveram Redol quando, ousadamente, no seu primeiro romance, faz questão de escla-recer o seguinte:

“Este romance não pretende ficar na literatura como obra de arte. Quer ser, antes de tudo, um docu-mento humano fixado no Ribatejo. Depois disso, será o que os outros entenderem.”

Aparentemente, ao abdicar do conceito artístico da sua obra, em favor duma neces-sidade humanística, Redol estava a lançar um “xeque-mate” aos democratas e intelec-tuais oposicionistas, sabendo, por um lado, que o próprio conceito de romance, nos moldes em que o estabelecia ou determi-nava, iria fazer dele um chefe de fila; e, por outro, que de algum modo a elite pensan-te e interveniente ficaria responsabilizada pela recusa em aderir a um projecto de mu-dança, com vista a um “Novo Humanismo”.

Na verdade, o que estava subjacente nesta declaração de Redol, não era um mero texto programático de circunstância, mas autenti-camente um repto aos intelectuais, nomea-damente aos homens da “Presença”, que eram a face visível do intelectualismo da época, à frente dos quais se situava José Régio. Régio, todavia, tal como João Gaspar Simões, Adol-fo Casais Monteiro e já agora como Abel Salazar, não obstante as suas ideias políticas, situavam-se nos antípodas do pensamen-to marxista-leninista no que dizia respeito à criação literária. Eles repudiavam de todo a concepção duma literatura concebida por necessidade e, mais do que isso, determinada por decreto político. Nesta perspectiva, o tex-to de Redol insere-se na tendência extremista manifestada por um dos mentores do “Novo Humanismo”, Rodrigo Soares, pseudónimo de Fernando Pinto Loureiro, que em 1939 não hesitava em declarar a necessidade de um activo papel no combate ao idealismo subjectivista…- palavrão este que significava toda e qualquer referência ao eu, ao universo dos problemas individuais!

Quem era este Rodrigo Soares ou Fer-nando Pinto Loureiro, para os que o desco-nhecem, di-lo Mário Sacramento2:

Lembrar-se a gente de que este homem, consi-derado, a certa altura, a “grande cabeça” do tempo, poderia, de facto, ter ascendido ao Poder se as circuns-tâncias lhe tivessem sido favoráveis!…

Tudo o que houve de néscio, de dogmático, de este-rilizante e insuportável na ideologia e no elementarismo neo-realista de 40 foi obra destes estalinezinhos de borra que, ao primeiro insucesso, à primeira dificuldade autên-tica, à primeira detenção, ao primeiro das perspectivas do seu “êxito”, se puseram ao largo com armas e baga-gens. E, ainda, insuportável de atitudes como este!”

Adiantando-se, porventura, a este acto de contrição, Régio, em “O Príncipe Com Orelhas de Burro”(1942), que não por acaso, estou em crer, subintitulou de “História para Crianças Grandes”, a páginas 66/8, expende um conjunto de reflexões que são verdadeiras in-directas para aqueles que o atacavam. Diz ele,

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17 artes, letras e ideiashoje macau sexta-feira 29.8.2014

a propósito do preceptor e Aio do Príncipe e mais das suas relações com o poeta e bobo da corte, Rolão Rebolão:

“Desesperando de algo conseguirem junto do rei por seus esforços de descrédito do Aio, ou junto do Aio por seus esforços de lisonja e captação, - para a chamada opinião pública apelara o raivoso despeito dos cortesãos… Em especial se dirigia tal propaganda a duas classes: o povo, que tem o valor do número e constitui a massa; a intelectualidade, que tem o valor da qualidade e se arvora em dirigente das massas. A tal chamada não deixavam de acorrer os intelectuais sôfregos de lisonja e destaque; nomeadamente os semi--intelectuais, cujo migalho de talento os faz inferiores a quem não tem talento nenhum…

Porém o povo…, ai!, o certo era não mostrar-se o pobre povo tão alarmado como convinha! Naturalmente, de entre a própria arraia miúda se haviam alçado pre-gadores, salvadores iluminados. Ainda um pouco toscos, sim; mas quão prometedores, quão susceptíveis de lima, quão visivelmente capazes de bem arremedarem, se não excederem, os melhores e mais altos modelos do género! Todos gritavam mais duma vez: camaradas!, irmãos!, correligionários!; todos invocavam gloriosamente o seu orgulho de filhos do povo (posto quase soubessem mos-trar-se quase discretos, quase tímidos, quase finos – decer-to por melhor representarem e honrarem a classe – quando acaso chamados a um meio superior); e todos, nas aren-gas, espalmavam ante a dúzia e meia de ouvintes as mãos encoiradas de calos reais ou fantásticos, introduzindo um palavreado como só vem nos livros…

Mas, entre a dúzia e meia dos ingénuos ouvintes, dois ou três velhacos havia tão ingratos, digamos já tão civilizados, que mais ou menos os suspeitavam de não pensarem nos camaradas, nos irmãos, nos correligioná-rios, senão para os fazerem degraus da sua ambição…”

Como se lê, as coisas não eram nada pacíficas…

E se Mário Sacramento, no texto acima referido, vem a dar a razão possível a Régio, de forma não menos rectificadora vem a proceder Redol, no que diz respeito à men-ção de elementarismo, pois que na 6ª edição de “Gaibéus”, esclarece:

Julgávamos, muitas vezes, o País pelo que desejá-vamos, desconhecendo que as alienações divergem… Já aludi às indigências de estilo na minha colaboração em “o Diabo”, as quais comprometiam a anterior uni-dade necessária entre o conteúdo e a forma do romance aqui analisado. Um certo tom teatral pela exaltação, onde o adjectivo andava de poleiro, um estilo de orató-ria, rebuscado, que só não se poderá chamar hipocrisia estilística por não ser intencional…

Este foi, digamos, o primeiro cisma ou fissura que se instalou na frente oposicionista. Os que se lhe seguiram, não tiveram meno-res consequências… Foi de facto necessário aguardar por alguns textos de Mário Dioní-sio e Joffre Amaral Nogueira para que viesse a vingar, na consciência de cada um, se não um projecto de mudança, pelo menos uma situação de compromisso entre as partes.

Retornando, entretanto, aos romances de Alves Redol, temos que neles se consa-gram as três grandes vertentes apologéticas do dito realismo socialista. A saber: a pedagogia afim à luta das classes; a denúncia dos trâns-fugas e divisionistas, gente que, embora prove-niente das classes trabalhadoras, se vendia à classe opressora; e, finalmente, a identifica-ção das condições socioeconómicas do povo em geral, como coisa decorrente do sistema político vigente.

É pelo realismo deste quadro que o neo--realismo vai actuar, sendo breve, porém, tolhi-do por uma adversidade a que não conseguiu eximir-se: a de a literatura ser a única expressão viável de aspectos de vida social que, noutras circunstâncias, teriam ca-bido ao jornalismo, à política, ao livro doutrinário… - assim o afirma, mais uma vez, o insuspeito e saudoso Mário Sacramento3 - ao que, por mi-nha conta, acrescento: foi igualmente tolhido por um conjunto de circunstâncias históricas que vazaram nele toda a sorte de expectativas, sendo a maior a crença absurda de ser pos-sível dotar os trabalhadores rurais e os ope-rários do país, onde grassava o mais abjecto analfabetismo, duma consciência de classe suficientemente representativa, capaz de criar uma vanguarda oposicionista, uma força de choque revolucionária!

Sendo isto, na época, verdadeiramente impossível, breve o neo-realismo mudou de estratégia, elegendo como destinatário das suas propostas a juventude e a pequena bur-guesia, na sua maior parte alfabetizada, mas à mesma subjugada ao poder da ditadura. É este o período febril da criação de clubes, associações desportivas e de cultura, biblio-tecas, cineclubes, grupos de teatro e de mú-sica, onde se procura, a pretexto de activida-des desportivas e culturais, nomeadamente através de palestras e de leituras colectivas, colóquios, recitais, exposições, etc., acordar a iniciativa e a consciência política de um número crescente de cidadãos.

O insólito desta alternância se explica facilmente, não só pelo que antecede, mas fundamentalmente pelo facto dos mais cre-denciados escritores neo-realistas, a par de toda a sorte de oposicionistas ao governo, provirem justamente da pequena e média burguesia, apresentando-se muito mais aptos a escrever sobre as suas próprias contradi-ções de classe, ou dos seus anseios de liber-dade, do que sobre um proletariado cuja ver-dadeira realidade lhes escapava e com o qual só podiam estabelecer cadeias de solidarie-dade, através de estereotipadas projecções, condicionando sempre as suas personagens ao ciclo da fome e do desemprego ou então ao ciclo da exploração capitalista e à insufi-ciência de recursos.

Daqui resultou que o neo-realismo, na ânsia de despertar apetites e apontar desní-veis sociais, se serviu de exemplos e imagens corrosivas à própria mensagem que pretendia passar, definindo o trabalho, por exemplo, como uma espécie de condenação eterna ditada pelo capitalismo ou por qualquer de-terminismo social, na senda do que Zola lhe atribuíra um dia. Sem nenhuma noção da rea-lidade económica, desenvolvimento e criação de riqueza, excluída das teses que defendia, o neo-realismo tratava toda a sorte de entida-de empregadora, grande, pequena ou média, pessoal ou colectiva, sob a forma abjecta do capitalismo, raiz de toda a exploração huma-na, documentando os seus intérpretes da ma-neira mais caricatural que se pode imaginar: obrigatoriamente gordos, dedos grossos com faiscantes anéis e impenitentes fumadores de charutos! Mas, ao mesmo tempo, fazia do tra-balho, do emprego, o objectivo maior, a ânsia suprema dos mais desfavorecidos!

E se nos reportarmos a “Esteiros”, lá anda a mãe do Gaitinhas a meter pedidos ao Sr. Cas-tro, no sentido de interceder junto de alguém para o filho ser admitido na Fábrica Grande!

Da mesma forma, não falta a expressão

de um outro anseio, de um outro sonho, que era o de todos virem a ser doutores, logo, passarem a pertencer à classe dirigente, à qual o neo-realismo atribuía a encarnação objectiva do maléfico! É o caso do pai de Gaitinhas na prisão, que na carta que envia à mulher requer: “Manda o nosso filho para a es-cola. Sem instrução, será um escravo ou um vadio…”

Mas para se ir para a escola era preciso dinheiro e dinheiro era o que menos havia naquela casa. De forma que, em face das confusas explicações da mãe, Gaitinhas con-clui: “Já não serei doutor…”

E com instrução, com o título de doutor, o que viria a ser? Um empresário, um diri-gente económico, um criador de emprego? Se sim, alguém depois se encarregaria de o caricaturar com um charuto, dando-o como um explorador do seu semelhante!

Não por acaso, Redol, em “Marés”, invoca a mesma ambição de um escravo da gleba, fazendo dela, aliás, a génese desta sua obra. O seu herói primeiro é João Diogo, um ser que aluga a sua força de trabalho aos senho-res da terra, amealhando o que pode com a finalidade de vir a possuir uma pequena cou-rela, julgando nela poder concretizar o seu sonho de liberdade: não ter patrão, não mais ser explorado, ser senhor de si! Falido e es-gotado, apesar de ter concretizado o sonho, vê-se um dia na necessidade de enfrentar o filho, que pretendia estudar, e dizer-lhe: “Tu já não vais para doutor, Francisco…”

Não, Francisco não irá para doutor: co-merá o pão que o diabo amassou, tal como o pai, mas outra será a sua opção e actividade. Começando por marçano, já que não acredi-ta na riqueza proveniente da terra, que não só arruinara o pai mas também a classe domi-nante que nela se alicerçara, um dia chegará em que será todo poderoso, embora corrup-to e sem freio na ânsia de conquistar mais riqueza, mercê da exploração vil que exerce sobre a classe de desgraçados de que pro-vém. Não, não foi para doutor, mas se fosse, segundo o esquema determinista que nos coube, colheria a mesma caricatura, já que no mundo de então só cabiam três classes: a dos explorados, a dos exploradores e a dos

trânsfugas! Ele é, pois, o exemplo simultâneo de explorado, trânsfuga e de explorador!

O trânsfuga é uma das curiosidades mais marcantes do nosso neo-realismo, já que a tal figura lhe dedicou páginas e páginas de denúncia, porventura mais vastas do que aquelas que dedicou à pura representação dos émulos do capitalismo. É um rol infin-dável de abjectos e execráveis chefes de ofi-cina, capatazes, mestres, guardas, angariado-res e controladores de mão de obra, enfim, de gente da gleba que ascendeu a lugares de chefia intermédia, a qual nunca recebeu outro tratamento literário senão o de serem uma espécie nova de inquisidores, gente sem dó nem piedade para com os humildes, ver-dadeiros esbirros do capitalismo.

Chegado aqui, abro um breve parêntesis para salientar que, em “Para uma Teoria dos Géneros Literários” 4, David Mourão-Ferreira estabelece uma divisão de tempos capaz de justi-ficar algumas das singularidades do neo-rea-lismo, sem propriamente a ele se referir. Diz:

Em esquema, há, na origem profunda de todos os géneros literários, dois estados de duração, fundamen-tais e opostos: um, que resulta duma atenção especial ao momento; outro, que provém da integração do mo-mento na sucessão histórica dos momentos.

Isto, a meu ver, define o que se passou com o neo-realismo. Enquanto debruça-do sobre o momento, só gerou uma literatura comprometida com aspectos de solidarie-dade humana, elevadamente emotiva, algu-mas vezes lírica, mas sempre naturalista no relato uniforme ditado pelos propósitos. Se calhar, foi o que tinha de ser no momento e no país que éramos e mediante a cultura que possuíamos. Tão logo, porém, se enca-minhou para a interligação do momento na sucessão histórica dos acontecimentos, acabou por assumir uma espécie de contra reforma, que de alguma forma lhe veio a permitir um renascimento estético mais sustentado.

Veja-se: que caminho não tiveram que percorrer Carlos de Oliveira entre “Alca-teia”(1944 e 1945, sendo que a edição de 1944 desapareceu praticamente do mercado pela acção da censura, enquanto a segunda, por vontade expressa do autor, nunca mais foi reeditada), e “Uma Abelha na Chuva”(1953); ou José Cardoso Pires, entre “Os Caminhei-ros”(1949) e “O Delfim”(1968); ou ainda o próprio Redol, entre “Gaibéus” e o “Barranco de Cegos”(1961), para não citar Vergílio Fer-reira, cujo percurso é por demais conhecido?

Em tal contexto, o romance de Soeiro Pereira Gomes, “Esteios”, o segundo na crono-logia geral do neo-realismo, é coisa próxima e diferente da do seu camarada de letras e de partido. E começa por sê-lo logo pelo senti-do da epígrafe de abertura: “Para os filhos dos homens que nunca foram meninos, escrevi este livro.”

A diferença entre este pórtico e o de Alves Redol em “Gaibéus” é mais do que substan-cial, tendo em conta que ambos eram militan-tes do Partido Comunista Português e, por-tanto, convertidos à mesma convergência de intenções e objectivos. Só que um envereda pelo documentário, acedendo criar literatura por compromisso; e o outro deixa-se levar pelo lirismo dos sentimentos, interiorizando na idade das ilusões e dos mitos o trauma das

(Continua na página seguinte)

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hoje macau sexta-feira 29.8.201418 h

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O Pedido do Projecto de Apoio Financeiro do FDCTpara à 3ª vez do ano 2014

(1) Fins O FDCT foi estabelecido por Regulamento Administrativo nº14/2004

da RAEM, publicado no B. O. N° 19 de 10 de Maio, e está sujeito a tutela do Chefe do Executivo. O FDCT visa a concessão de apoio financeiro ao ensino, investigação e a realização de projectos no quadro dos objectivos da política das ciências e da tecnologia da RAEM.

(2) Alvos de Patrocínio(i) Universidades, instituições de ensino superior locais, seus institutos e centros de investigação e desenvolvimento (I&D);(ii) Laboratórios e outras entidades da RAEM vocacionados para actividades de I&D científico e tecnológico;(iii) Instituições privadas locais, sem fins lucrativos;(iv) Empresários e empresas comerciais, registadas na RAEM, com actividades de I&D;(v) Investigadores que desenvolvem actividades de I&D na RAEM.

(3) Projecto de Apoio Financeiro(i) Que contribuam para a generalização e o aprofundamento do conhecimento científico e tecnológico;(ii) Que contribuam para elevar a produtividade e reforçar a competitividade das empresas;(iii) Que sejam inovadores no âmbito do desenvolvimento industrial;(iv) Que contribuam para fomentar uma cultura e um ambiente propícios à inovação e ao desenvolvimento das ciências e da tecnologia;(v) Que promovam a transferência de ciências e da tecnologia, considerados prioritários para o desenvolvimento social e económico;(vi) Pedidos de patentes.

(4) Valor de Apoio Financeiro (1) Igual ou inferior quinhentos mil patacas. (MOP$500.000,00) (2) Superior a quinhentos mil patacas. (MOP$500.000,00)

(5) Data do Pedido Alínea (1) do número anterior Todo o ano Alínea (2) do número anterior A partir do dia 1 – Set. – 2014 até 31 – Out. – 2014 (O próximo pedido será realizado no dia 2 –Jan. – 2015 ao 2 –Mar. – 2015)

(6) Forma do PedidoDevolvido o Boletim de Inscrição e os dados de instrução

mencionados no Art° 6 do Chefe do Executivo nº 273 /2004,《Regulamento da Concessão de Apoio Financeiro》, publicado no B. O. N° 47 de 22 de Nov., para o FDCT. Endereço do escritória: Alameda Dr. Carlos d’Assumpção, n° 411-417, Edf. “Dynasty Plaza” 9° andar, Macau. Para informações: tel. 28788777; website: www.fdct.gov.mo.

(7) Condições de AutorizaçõesPor despacho do Chefe do Executivo nº 273 /2004, processa o

《Regulamento da Concessão de Apoio Financeiro》.

O Presidente do C. A. do FDCT,Tong Chi Kin29 / 8 / 2014

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condições socioeconómicas da época. Ambos partem do mesmo condicionalismo social e propósito histórico, mas enquanto um se pro-põe encarnar o papel de mentor de um tipo de literatura comprometida com a existência social e política do homem, o outro, sem des-se objectivo se demarcar, não cuida objectiva-mente de classes, mas de meninos, revestin-do a sua história duma singeleza marcante e duma poesia sem poética.

Servindo-se ambos dos mesmos recur-sos, sente-se, todavia, que Soeiro Pereira Go-mes privilegia e labora num quadro diferen-te. Porque o que fica desta história (e os anos comprovam-no), não são as imagens dog-máticas da corrente literária, mas a autêntica vivência destes meninos, condenados, sim, à exploração desumana e barata em indús-trias toscas, à vagabundagem e à fome, mas eternos nas cumplicidades entre si e nas suas específicas idiossincrasias.

Eles constituem de facto um grupo, for-mam mesmo uma quadrilha, mas nunca são tratados como tal por quem lhes deu o ser: cada um possui a sua própria individualidade, diferenciando-se dos demais pela coragem ou cobardia, pelos medos os destemores, pelos sonhos ou descrenças, pela inocência ou desmando, e até pela moral ou consciência sobre o modo como encaram o mundo:

- Servem pedras? Tijolos não tenho.- Nos telhais há muitos. Gaitinhas sorri.- Há, mas têm dono.- Dono é a gente que os fazemos. Queres vir? Aí com dez… vedo-te a porta que é um ar.- Não. Roubar não.

O respeito que Soeiro Pereira Gomes manifesta pelas suas personalidades é tal, que chega mesmo a dotá-las com momentos de elevada felicidade, mesmo nos piores mo-mentos de injustiça e infelicidades.

Não obstante, certo é que “Esteios” não escapa ao esquematismo proposto por Re-dol: lá estão os explorados de um lado e os exploradores do outro; também não faltam os trânsfugas e menos ainda a criação da ca-ricatura do capitalista de dedos grossos, com anéis, fumador de charuto; e tão-pouco os quadros de miséria social, de fome, doença e de abandono; tal como a sugestão da exis-tência de presos políticos, etc., etc. Mas tudo isto é operado de uma forma subtil, ainda que recorrendo ao mesmo propósito realista. Assim, por exemplo, é introduzida na rela-ção dos explorados e dos exploradores uma nova visão do fenómeno, a qual atinge não só a camada mais frágil, sejam meninos ou homens miseráveis, mas também a compo-nente média empresarial, encarnada por Zé Vicente, na qualidade de rendeiro do terreno e de dono das máquinas, enfim, da explora-ção do telhal, que se vê espoliado do negó-cio e das mais valias nele aplicado pela venda da unidade aos senhores da Fábrica Grande, pelo Costa, capitalista!

Uma outra inovação introduzida por Soeiro Pereira Gomes nesta obra, diz res-peito à acção nefasta das forças da natureza, que sobrecarrega a miséria das gentes ribei-rinhas. Não é, pois, em vão, que este seu ro-mance obedece cronologicamente ao ciclo das estações. Porque cada uma traduz um processo não de usufruto, de humanização entre o Homem e a Natureza, mas de dupla

opressão, de duplo sofrimento. No Verão, porque a canícula, implacável, multiplica o sofrimento dos carregos; no Inverno, porque os pés, descalços, gelam na labuta ou no de-semprego e assim por diante. A ver:

Com os prenúncios de Outono, as primeiras chu-vas encheram de frémitos o lodaçal negro dos esteiros, e o vento agreste abriu buracos nos trapos dos garotos, num arrepio de águas e de corpos…

Desta forma, Soeiro Pereira Gomes alia a força opressora da Natureza, levada ao extremo nas cheias do rio, à opressão dos exploradores, pois ambas convergem para a desgraça dos humildes. Sendo ainda que, no caso, a própria violência da Natureza acaba por se revelar parceira dos interesses dos la-tifundiários. É o caso dos lavradores, que se reúnem, cobrando auxílio do Estado para os seus aparentes prejuízos, sabendo de ante-mão que, depois das cheias, ao escoar-se da água, as terras, enriquecidas com toda a sorte de nutrientes, duplicariam a produção. Mas não assim as gentes ribeirinhas e operárias, que assistem angustiadas ao roubo dos seus parcos haveres pela enxurrada, inclusive ao roubo de vidas humanas, sabendo por expe-riência que, para além do mais, vão passar meses desempregadas. Não, para elas, a fúria dos elementos não é um formidável espectáculo, como se configura aos mirones que do Mi-rante, com binóculos atestados à fúria das águas, se extasiam com a violência da Natu-reza num domingo bem passado!

Não menos interessante é a proposta, de todo inédita na história do nosso neo--realismo, da ausência do sentido de classe entre crianças, como a que ocorre entre o Gaitinhas e o filho do Sr. Castro, o Arturi-nho, apesar delas já nascerem sob o anátema sócio-económico diferenciado. Um é Gai-tinhas, assim apelidado por efeito satírico diminutivo; outro é Arturinho, por efeito da protecção carinhosa e económica que nele se consubstancia. Um é filho de seu pai e de sua mãe; o outro do papá e da mamã!

Por tudo isto, eu creio que neste livro Soeiro Pereira Gomes escreveu um filme, um outro “Aniki-Bóbó”, pese embora os quadros de violência exercida sobre estes outros meni-nos não se poder comparar às aventuras amo-rosas e inocentes dos seus émulos da Ribeira, do Porto. A essência, porém, é a mesma, ten-do em conta a sinceridade e a autenticidade de cada uma das figuras. O mais, a denúncia da miséria arrepiante em que se vivia, não é questão de somenos, mas é passado, tal como a apologia da luta das classes: ou seria que meia dúzia de garotos, entre os dez e os doze anos, em plena iniciação forçada de vida ac-tiva produtiva, poderiam encarnar uma visão política e social capaz de os dotar do pensa-mento indispensável a tal ambição? Ou como refere algures Pablo Neruda: todas as épocas se findam em quem as viveu.

1 - In “O Neo-Realismo Literário Português”, Lisboa, Moraes Editores,1977.

2 - In “Diário”, Porto, Limiar – Actividades Gráficas, 1975.

3 - “Há Uma Estética Neo-Realista? Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1968.

4 - In “Seara Nova”, 1154/5, 1950

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19 publicidadehoje macau sexta-feira 29.8.2014

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TEMPO POUCO NUBLADO MIN 26 MAX 32 HUM 65-90% • EURO 10.5 BAHT 0.2 YUAN 1.3

ACONTECEU HOJE 29 DE AGOSTO

João Corvofonte da inveja

Pu Yi

LÍNGUADE gATO

20 hoje macau sexta-feira 29.8.2014

H O J E H Á F I L M E

(F)UTILIDADES

Incendeia o mundo. Ele não faz outra coisa que arder.

MALENA (GIUSEPPE TORNATORE, 2000)

Na primavera de 1940, Mussolini, antigo ditador italiano, declara guerra à França e ao Reino Unido. Na cidade fictícia de Castelcutó, na Sicilia, o jovem Renato Amoroso, de 13 anos, está feliz por outras razões. Acaba de receber a sua primeira bicicleta e está apaixonado por Malena, uma bela viúva de guerra que faz girar a cabeça a todos os homens e atrai o ódio das respectivas esposas. Renato Amoroso está literalmente enfeitiçado e segue-a para todos os lugares com a sua bicicleta. Muitos anos depois, o menino já adulto conta a sua história: “de todas as meninas que me pediram para as recordar, a única que me lembro foi a que não me fez esse pedido”. - Cecília Lin

Nasce o “Rei da Pop”• Corria o ano de 1958 quando, a 29 de Agosto, em Gary, nos EUA, nasce uma criança que se tornaria numa estrela precoce, num ícone da música, o artista que mais vendeu e a pessoa mais famosa do mundo. Hoje é dia de recordar Michael Jackson, o artista famoso vítima da própria fama, que inscreveu o seu nome no mais alto patamar da música, como cantor, compositor, bailarino e produtor. Neste texto, ficam de fora os números das vendas de Michael Jackson. Outros números se realçam. Desde logo, a idade com que deu início à sua carreira – 11 anos –, como vocalista dos Jackson 5.A carreira solo começou em 1971. A partir de então, Michael foi rebaptizado, como ‘Rei da Pop’, graças ao tremendo sucesso de álbuns como ‘Off The Wall’ (1979), ‘Thriller’ (1982), ‘Bad’ (1987), ‘Dangerous’ (1991) e ‘HIStory’ (1995). ‘Thriller’ chegou mesmo a ser o álbum mais popular da história da música.O estilo incomparável de Michael Jackson – quer nos jogos vocais, quer na dança – foi inspiração para muitos artistas de por, rock, hip hop e R&B. Mas não se destacou apenas na música: foi um filantropo e humanitário, doando parte da sua fortuna a causas de beneficência, através da fundação que criou. Fora dos palcos, Michael Jackson esteve envolvido em polémicas, das quais se destacam a acusação de abuso infantil, em 1993. No entanto, o processo acabou arquivado, por falta de provas e Jackson não foi a tribunal. Já em 2005, o cantor foi julgado, pelo mesmo crime de abuso infantil, mas o juiz absolveu-o. E para regressar ao seu local de eleição (o palco), Michael Jackson preparava a nova digressão: ‘This Is It’. Mas o destino travou os seus intentos e em 25 de Junho de 2009 morre de intoxicação aguda do anestésico propofol, após uma paragem cardíaca. Estima-se que dois mil milhões de pessoas tenham assistido ao funeral de Jackson pela televisão. Foi um final triste do o artista mais premiado da história da música

Coloane Social ClubÀs vezes só gostava de poder ter um minuto de descanso. Um. Se calhar nem tenho razões para me estar a queixar, tendo em conta que passo a grande maioria do tempo refastelado nas inúmeras cadeiras da redacção, mas sinto sempre que há qualquer coisa a incomodar o meu descanso. Ora são os humanos a falar alto, ora é a rádio aos berros, ora são as escolhas musicais pouco felizes dos meus colegas... Enfim, todo um rol de coisas que me tiram a paz e sossego, da qual tanto preciso. Foi a pensar nisto que decidi esgueirar-me para dentro de um daqueles autocarros que vai até à praia de Cheoc Van, em Coloane. Primeiro, devo dizer-vos que o caminho é digno de aventureiros, com paragens infinitas e curvas daquelas que só visto nos filmes. Chegado a Coloane, percebi. É que os momentos de calma em Macau já só se contam pelos dedos. No entanto, os que existem, são memoráveis. Como sabem, os gatos são conhecidos por serem ágeis e foi assim mesmo que consegui passar uma das noites mais serenas deste ano, na pousada de Coloane, zona onde raramente se ouvem motores de carros e quase nunca uma buzina. O mar rebenta lentamente na areia – que embora suja, não deixa de ser areia – e o chinelar de quem por ali passeia faz-me ronronar de prazer. Há tanta calma naquela ilha! Pode ser que um dia me mude e passe a escrever esta crónica a partir do meu paraíso. Sim, meu e de mais ninguém.

C I N E M ACineteatro

SALA 122 JUMP STREET [C]Um filme de: Phil Lord, Christopher MillerCom: Channing Tatum, Jonah Hill, Peter Stormare, Ice Cube14.30, 19.30

CAFE • WAITING • LOVE [B]FALADO EM MANDARIM E LEGENDADO EM CHINÊSUm filme de: Chiang Chin LinCom: Vivian Chow, Megan Lai, Pauline Lan, Lee Luo16.30, 21.30

SALA 2TEMPORARY FAMILY [B]FALADO EM CANTONÊS, LEGENDADOEM CHINÊS E INGLÊSUm filme de: Cheuk Wan Chi

Com: Nick Cheung, Sammi Cheng, Angelababy, Oho14.15, 16.05, 18.00, 21.30

LUCY [C]Um filme de: Luc BessonCom: Scarlett Johansson, Morgan Freeman19.50

SALA 3THE HUNDRED-FOOT JOURNEY [B]Um filme de: Lasse HallstromCom: Helen Mirren, Manish Dayal, Charlotte Le Bon, Om Puri14.30, 19.15

22 JUMP STREET [C]Um filme de: Phil Lord, Christopher MillerCom: Channing Tatum, Jonah Hill, Peter Stormare, Ice Cube16.45, 21.30

22 JUMP STREET

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HOJE MACAU

hoje macau sexta-feira 29.8.2014 21PERFILSTEPHEN ANDERSON, PROPRIETÁRIO DO CAFÉ ‘CATEDRAL’

“OS PORTUGUESES PRECISAM DE SE MOSTRAR EM MACAU”

LEONOR SÁ [email protected]

O australiano Stephen Anderson é natural de Brisbane, a maior cidade ribeirinha do estado

de Queensland. Actualmente, gere o espaço Catedral, situado perto da Sé de Macau, mesmo como quem sobe as escadas, bem perto dos Correios da San Ma Lou.

Stephen está em Macau há quase sete anos e gosta do que vê e daquilo que faz, embora Hong Kong seja sem-pre a sua cidade ‘número um’. Diz, orgulhosamente, que é importante para o território sentir mais a cultura lusa, que por tantos anos cá esteve presente. “Acho que um dos aspectos mais im-portantes na diversificação da economia [de Macau] tem que passar, sem dúvida alguma, pelo enaltecimento da presença de mais de 500 anos dos portugueses em Macau”, explica. Por aqui, diz, faltam bares de vinho em cada esquina, tal como acontece em Lisboa. A presença de res-taurantes e cafés lusófonos é bem-vinda e o empresário adianta mesmo que devia haver cada vez mais. “Os portugueses precisam de se mostrar em Macau”, frisa, entusiasticamente. Aquilo que, na sua opinião, também escasseia em Macau são festas tradicionais e de ho-menagem à cultura lusa, à semelhança do que acontece com as comunidades australiana ou britânica. “Em Hong Kong, as comunidades australiana, britânica e norte-americana eram muito coesas e orgulhosas de si mesmas”, explica. O australiano acrescenta que, pelas regiões vizinhas, todas as datas nacionais importantes são assinaladas com pompa e circunstância. Stephen dá mesmo sugestões: “Aqui, podia fazer-se uma homenagem ao vinho verde, por exemplo. Uma festa em frente à Sé em que o padre benzia algumas garrafas, simbolizando boa sorte para aquela colheita”. Questionado sobre se os portugueses deviam ter mais brio na sua nação, Stephen apenas exclama: “Claro que sim! Deviam sair à rua e mostrar que estão cá há mais de 500 anos!”. A atitude das diferentes culturas face ao seu país é, de acordo com o proprietário, aquilo que distingue a comunidade lusa das outras existentes em Macau.

À IMAGEM DO VIZINHOAntes de gerir o café Catedral, Stephen era proprietário de uma série de bares da cadeia australiana Kangaroo, em Hong Kong. Os três espaços dividiam-se entre as zonas de Central e Tsim Sha Tsui e

“Não há nada que os turistas gostem mais do que os produtos portugueses”

albergava uma imensidão de diferentes culturas. Em termos de atmosfera social, confessa preferir Hong Kong, mas foi obrigado a deixar o território devido ao elevado preço das rendas exigidas. “Só as grandes cadeias de restauração conseguem pagar os poucos lugares ao sol existentes em Hong Kong”, lamenta o proprietário, adiantando que a todos os outros apenas restam pequenos espaços, escondidos entre a multidão.

A MALTA TODAPara Stephen, todas as pessoas que visitam Macau querem ver mais da cultura portuguesa do que aquilo que actualmente a cidade consegue oferecer. Na perspectiva do proprietário, “não há nada que os turistas gostem mais do que os produtos portugueses” e é disso mesmo que vêm à procura. É que, para o australiano, o jogo só faz as delícias dos visitantes porque o que de português existe não satisfaz o suficiente. Ao co-mentar a falta de espaços abertos como esplanadas e outros que tal, Stephen expressou a premente necessidade disso mesmo: mais locais onde as pessoas possam sentir-se bem sem prescindir do doce namoro entre cigarro e café ou vinho. “Toda a gente sabe que, quando chega determinada hora da noite, muitos bares e café colocam cadeiras à porta para atrair mais gente”, explicou o natural de Brisbane.

PEQUENOS ENTRAVESPara Stephen, o principal problema do território neste momento é a regulamen-tação e legislação excessiva, principal-mente aquela que causa entraves à criação e aberta de mais espaços de restauração, como cafés e bares direccionados para a cultura portuguesa. “Há certamente vá-rios portugueses que estão em Portugal a viver a crise e gostariam de vir até Macau, mas às vezes os obstáculos à abertura de um local são tão complicados”, lamenta. Ao contrário da grande maioria, o preço das rendas de casa não é considerado pelo “pai” do Catedral como um problema, “quando comparando com Hong Kong, Londres ou Sydney”, onde o preço das habitações e lojas é visto com uma grande dor de cabeça.

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JOHN FORD, THE GRAPES OF WRATH

22 OPINIÃO hoje macau sexta-feira 29.8.2014

E claro que nem vale a pena discutir a legalidade do re-ferendo civil, da decisão do Gabinete para a Protecção dos Dados Pessoais e da atitude da Polícia de Segurança Pública. Faltam-me dados concretos que o gabinete não forneceu, porque não procurou sequer fundamentar a decisão. Ficou

muito por explicar, há coisas a acontecer que ninguém clarifica e deveria clarificar, em nome do interesse público. Quem sabe mais do assunto já desmontou os poucos e fracos argumentos apresentados pelo sistema. O que interessa, agora, é outra coisa – é a ideia que fica, a ideia que passa. E, essencialmente, o que tudo isto significa.

A ideia que fica – e que rapidamente passa também lá para fora – é a de que o sistema não sabe lidar com a contestação. Quanto ao que isto significa, ainda é cedo para conclusões. O tempo dirá se estaremos perante o princípio do fim do que tínhamos como assegurado.

O sistema tem um elevado grau de previ-sibilidade – o que, do ponto de vista teórico, deveria ser bom, porque os sistemas existem

Com origens que à pureza nada ficam a dever, os movimentos são seguidos por quem não tem aspirações políticas ou contas a acertar. Crescem porque há quem simplesmente se reveja neles. Era sobre isto que Chui Sai On deveria estar a reflectir

contramãoISABEL [email protected]

Cinco anos de silênciopara sabermos com o que podemos contar. No caso concreto, esta incapacidade para a surpresa revela-se extraordinariamente ne-gativa, porque o sistema não vai ao encontro daquilo para que foi criado.

Para quem foi acompanhando a novela do referendo civil, era óbvio que, chegada a hora da verdade, algo iria acontecer. Só assim se compreende todo o barulho prévio por causa de um gesto que, causando des-conforto ao poder e sendo uma provocação ao Governo Central, não deixa de ser um exercício de auscultação da opinião pública.

Porque não acredito no Pai Natal, tam-bém sei que os puros não existem – se os há, estão em conventos e mosteiros, em cons-tante depuração, e não na política. O poder e o contrapoder têm sempre as costas largas e há alguém lá atrás, nos bastidores de quem manda e nos corredores de quem contesta os que mandam. Não me interessa particu-larmente esta característica do sistema e do contra-sistema. Não me interessa saber quem financia Jason Chao e os seus amigos, a quem é que interessa esta agitação. Assim como não tenho especial curiosidade acerca da identidade dos verdadeiros apoiantes à distância de Chui Sai On.

O que na realidade conta são os movi-mentos sociais que se geram em torno do poder e do contrapoder. Com origens que à pureza nada ficam a dever, são seguidos depois por quem não tem aspirações polí-ticas ou contas a acertar. Os movimentos crescem porque há quem simplesmente se reveja neles. Ou esteja apenas descontente com o previsível sistema.

Era sobre isto que Chui Sai On deveria estar a reflectir neste momento. À hora a que escrevo, um dia antes de este artigo ser publicado, os votos no referendo civil são 7400 – a meta da organização já foi largamen-te ultrapassada. Isto faz-me pensar que não há 7400 Jasons Chao na cidade. Estes 7400 votos são muito mais do que três movimentos empenhados numa provocação ao poder.

À hora a que escrevo, está agendado um protesto para amanhã, véspera do dia das eleições, convocado por trabalhadores ligados ao jogo que garantem não serem os únicos descontentes com a situação da habitação. Mais uma vez, não interessa quem alimenta a iniciativa. O desagrado com o estado a que Macau chegou já não é um sentimento isolado de meia dúzia de exigentes, de meia dúzia de saudosistas ou de duas mãos cheias de defensores do sufrágio universal. Passou a sensação gene-ralizada, bem clara nas redes sociais, cada vez mais presente nas ruas. Era sobre isto que Chui Sai On deveria estar a reflectir neste momento – a opinião dos comuns mortais não conta para a reeleição, mas é com ela que vai ter de lidar nos próximos cinco anos, que não serão iguais aos últi-

mos cinco.Mas não, não é sobre isto

que Chui Sai On reflecte nas várias intervenções mais ou menos públicas que tem feito em tempo de campanha eleitoral. Fico angustiada quando o ouço dizer que os--amigos-dele-lhe-disseram--qualquer-coisa, fórmula que já usou na altura em que se expressou sobre a violência doméstica e os maridos que batem às mulheres, mas com jeitinho. Não faz qualquer sentido a fundamentação po-lítica com base naquilo-que--os-amigos-dele-lhe-dizem, sobretudo porque já não há só amigos: os cidadãos estão cada vez mais atentos ao po-der e há muito que chegou a hora de largar o discurso da amizade, que de nada vale para efeitos de inflação, idas aos supermercado e garantia de um tecto.

Restam-nos as cenas dos próximos episódios, porque há sempre novos episódios. E, depois de tudo isto, de se-manas agitadas com detenções e enigmáticas investigações policiais à mistura, da conta-gem de votos que contam e de votos que não contam, vem a mudez entre o barulho a que já nos habituámos.

A partir da próxima se-mana, são mais cinco anos de silêncio.

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23 opinião

edi tor ia lCARLOS MORAIS JOSÉ

hoje macau sexta-feira 29.8.2014

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Joana Freitas; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; Cecília Lin; Flora Fong (estagiária); Leonor Sá Machado; Ricardo Borges (estagiário) Colaboradores António Falcão; António Graça de Abreu; Hugo Pinto; José Simões Morais; Marco Carvalho; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Rui Cascais; Sérgio Fonseca; Tiago Quadros Colunistas Agnes Lam; Arnaldo Gonçalves; Correia Marques; David Chan; Fernando Eloy ; Fernando Vinhais Guedes; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho Cartoonista Steph Grafismo Catarina Lau Pineda; Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva ([email protected]) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail [email protected] Sítio www.hojemacau.com.mo

C HUI Sai On está prestes a ser eleito para um segundo mandato. Candidato único, a campanha decorreu mole, tendo o interesse do ritual da descida do monarca à cidade. Dantes vivificava, hoje deixa cair uma esperança de resolu-ção deste e daquele problema.

Em geral, o povo acredita porque o povo gosta e precisa de acreditar: não lhe apetece andar em manifestações ou em greves mas, por outro lado, também gostava de ter segurança em termos de habitação, melhor saúde pública, menos poluição e menos desespero quando circula pela cidade. Ou seja, o Governo empurra o povo para a rua.

Quando à habitação, Chui Sai On não se refez nem se desfez. Reconhece o pro-blema mas insiste na recusa de intervir no mercado. Portanto, devido às condições únicas de Macau (não se verifica a lei da oferta e da procura no sector imobiliário), a libertinagem deverá continuar.

Para o Chefe do Executivo, a solução passa pela habitação pública, social, eco-nómica ou como lhe quiserem chamar, patrocinada pelo Governo. De facto, o mais importante não é o nome que se lhe dá mas as condições de habitabilidade das casas a proporcionar. Moralmente, aliás, o Governo devia exigir aos planeadores e construtores lares decentes e confortáveis, espaçosos e bem iluminados, destinados a uma família alargada. Exactamente o contrário dos cubí-culos de Seac Pai Van.

Neste processo de crescimento inflacio-nário, a classe média foi inesperadamente atingida pelo flagelo dos aumentos astronó-micos das rendas e das vendas. O que podem fazer pessoas com um rendimento mensal de 25 mil patacas? Pagar 15 pela renda? Mas estas pessoas não querem ser encafuados em habitações sem condições... “Trabalhar num palácio e morar numa barraca”, não dá.

Resumindo, se Chui Sai On não disci-plina o mercado privado, como acontece em todo o mundo capitalista civilizado — permitindo, é certo, o enriquecimento de alguns —, não se prevê que o problema tenha solução, muito menos no curto e no médio prazo. De uma vez por todas, é bom que se entenda que o mercado do imobiliário (entre outros) tem de estar sujeito a regras que evitem os abusos que, precisamente, causam situações como a que vive Macau. Também é preciso aprender a viver com o segundo sistema e precaver-se dos seus perigos. Eles existem.

Quanto aos transportes públicos e ao trânsito em geral, a desgraça parece ser

Conseguirá Chui reformar?

muito da ordem da inércia, da incúria, do deixa-andar. Se na vertente dos autocarros, o já lendário caso das três companhias, que desemboca numa outra mas que é uma das mesmas, não aflige a populaça. O que nos perturba é a persistente irracionalidade dos serviços. Organizem-se ou contratem alguém que saiba organizar.

Já o caso dos táxis, com mais de dois anos de duração, extravasa o que é esperado de uma Administração, ainda que incom-petente. Não se percebe se é alheamento da realidade, jogos de interesses ou mera impotência. Chegámos ao ponto de um fiscal da DSAT ser agredido por um taxista e ir parar ao hospital. Nesse mesmo dia e no dia seguinte, depois da notícia ser conhecida, o desaforo continuava com a impunidade do

costume. Nada os demove, nada os detém, nada os corrige. Muito menos um governo zangado com uns miúdos por brincarem aos referendos, mas cobarde e incapaz de dar dois açoites aos taxistas e de os pôr na ordem.

Nestes sectores (e outros) a qualidade de vida dos residentes de Macau bateu já tão fundo que é fácil acreditar nas promessas de Chui. Não é difícil melhorar. O pior será quando, perante a ineficiência de administrações escolhidas pelo presente método, a população queira mesmo eleger alguém capaz de segurar o leme e ter mão na tripulação. O descontentamento exige mudança; contudo, esta exigência só ultrapas-sará o grau de reforma se o Governo não souber criar harmonia social.

De uma forma geral, as pessoas por aqui não valorizam as eleições, preferem

As pessoas por aqui não valorizam as eleições, preferem transparência governativa; não querem referendos, mas uma justa distribuição da riqueza; não pretendem mudar a Lei Básica nem lhes passa pela cabeça desligarem-se da RPC (como em Hong Kong), exigem é uma melhor qualidade de vida, para si e para os seus filhos, essa mesma que entendem estar ao alcance deste Governo proporcionar

transparência governativa; não querem referendos, mas uma justa distribuição da riqueza; não pretendem mudar a Lei Básica nem lhes passa pela cabeça desligarem-se da RPC (como em Hong Kong), exigem é uma melhor qualidade de vida, para si e para os seus filhos, essa mesma que entendem estar ao alcance deste Governo proporcionar. Mas conseguirá Chui reformar?

*

Quanto ao “referendo”, a RAEM seguiu as instruções de Pequim. E mais nada. O Go-verno Central anda a ficar algo incomodado com estas movimentações, sobretudo em Hong Kong e Taiwan. E quer as coisas tão claras que até já fez um livro branco. Ma-cau, cidade de lazer e do jogo, não é sequer suposto albergar este tipo de problemas. É certo que tudo poderia ter sido resolvido num tom menor. Talvez essa fosse a ideia inicial do Governo. Mas não pôde. As ordens são para cumprir. E, em Macau, cumprem-se escrupulosamente, ao ponto de um jurista brilhante (luso, apostava) ter descoberto o artigo 5º na Lei de Protecção de Dados Pessoais, que deu um jeito extraordinário. O ponto a que situação chegou em Hong Kong faz com que Pequim passe ao lado de eventuais repercussões internacionais.

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Page 24: Hoje Macau 29 AGO 2014 #3164

hoje macau sexta-feira 29.8.2014

cartoon por Stephff QUERO-TE

A companhia espanhola, várias vezes premiada, traz até Macau um olhar original sobre o mestre do surrealismo. Um espectáculo dirigido ao público mais jovem, e não só

RICARDO [email protected]

A Companhia de Dança Aracaladanza de Espanha vai apresentar “Conste-

lações” no Pequeno Auditório do Centro Cultural de Macau este fim-de-semana.

O espectáculo mistura dança, música original e marionetas, com efeitos visuais e vídeo, tomando como inspiração o trabalho com o mesmo nome do mestre surrealista espanhol, Joan Miró (1893 - 1983). A proposta dos cinco bailarinos da Aracaladanza é dar vida aos quadros do pintor em palco.

A companhia tem no director artístico e coreógrafo a sua força motriz e criativa. Enrique Cabrera, nasceu na Argentina em 1960 e vive em Espanha desde 1989.

Sorteio da Liga dos CampeõesSortes diferentes para os clubes portugueses em prova com o Benfica a ter, à partida, a missão mais complicada. Os encarnados vão ter de enfrentar Zenit, Bayer Leverkusen e Mónaco, a “fava” do pote quatro. O Sporting, no entanto, também não terá uma missão fácil. Chelsea, Shalke e Maribor são os adversários dos leões. Já o Futebol Clube do Porto parece ter o caminho mais facilitado num grupo em que Shakhtar, At. Bilbao e Bate Borisov são os adversários. Destaque para os confrontos de gigantes entre Barcelona e PSG no grupo F e Bayern Munique e Manchester City no grupo E. O sorteio ontem realizado determinou ainda o confronto entre dois emblemas históricos: Real Madrid – Liverpool.

João Sousa na segunda ronda do US OpenApós uma batalha que durou mais de três horas e meia, João Sousa qualificou-se para a segunda ronda do Open norte-americano. Belga David Goffin será o próximo adversário. O português João Sousa, 32.º cabeça de série derrotou o canadiano Frank Dancevic. O jogador luso, actual 38.º do “ranking” mundial, necessitou de cinco “sets” para afastar o actual 135.º da hierarquia mundial, vencendo pelos parciais de 7-6 (8-6), 3-6, 6-2, 4-6 e 7-6 (7-2), ao fim de 3:32 horas. No derradeiro “set”, João Sousa chegou a estar a vencer por 5-2, mas permitiu a recuperação do seu oponente, que chegou aos 5-5, tendo o encontro sido decidido no “tie-break”. No desempate, o jogador luso foi mais forte e fechou o encontro nos 7-2, ganhando no primeiro de quatro “match points”. Na próxima ronda, João Sousa vai medir forças com o belga David Goffin, 56.º do “ranking” mundial, que na primeira ronda se desembaraçou do seu compatriota Niels Desein, número 238 do Mundo, por 6-1, 6-3 e 6-3.

Índia Criança encontrada após ser enterrada vivaUma criança de Uttar Pradesh foi salva por um aldeão que ouviu gritos de terror ao regressar dos campos. Seguindo o som, o homem chegou ao local onde encontrou o chão a mexer e, começando a escavar, encontrou Tanu, de sete anos, num estado «semi-consciente», segundo a imprensa local. O aldeão levou a menina a um posto das autoridades, onde os agentes descobriram marcas de estrangulamento na vítima, de acordo com o India Today. Depois de ser tratada, Tanu disse à polícia que vivia na vila de Semri Gauru, com a mãe, Renu Awasthi. A criança explicou que tinha sido levada por um tio e uma tia, casal que «não reconhecia», e que eles a tinham enterrado.

Emoções associadas a memórias podem ser mudadas

UM estudo realizado no Japão e nos EUA concluiu

que as emoções associadas a recordações podem ser alte-radas para permitir suavizar acontecimentos dolorosos do passado e evitar que ensom-brem momentos de felicidade do presente.

“Esta capacidade (de re-versão) da memória é utiliza-da clinicamente para tratar” doenças mentais, no entanto, “os mecanismos neurais e os circuitos do cérebro que auto-rizam esta mudança de registo emocional permanecem muito desconhecidos”, salientam os investigadores, no trabalho publicado pela revista científica Nature.

A investigação, desenvol-vida pelo instituto Riken, no Japão, e pelo Massachussets Institute of Technology (MIT), nos EUA, pretendia “desmon-tar” estes processos subjacentes, e abrir a porta a novas pistas para tratar patologias como a depressão ou o stress pós trau-mático, que afecta, por exemplo, os militares.

O estudo “valida também o sucesso da psicoterapia actual”, explicou o director da investigação, Susumu Tonegawa, Prémio Nobel da Medicina em 1978.

Os cientistas utilizaram uma nova tecnologia de controlo do cérebro de ratinhos através da luz, chamado “optogenética”, para melhor compreender o que se passa quando se mu-dam as memórias de bons ou maus momentos e se é possível mudar o sentimento (negativo ou positivo) associado a esta lembrança.

Os resultados demonstram que a interacção entre o hi-pocampo, parte do cérebro que tem um papel central na memória, e a amígdala, uma espécie de armazém de reac-ções positivas e negativas, é mais flexível do que se pensava até agora.

DANÇA “CONSTELAÇÕES” SOBE AO PALCO DO CCM

Viagem pelo universo de MiróEnrique - que foi distinguido com o prémio “Coreógrafo em Destaque” pelo VIII Certame Co-reográfico de Madrid destaca-se pela abordagem original e distinta que dá ao trabalho com adereços.

Em conversa com o HM, o co-reógrafo explicou “que os adere-ços acabam mesmo por se tornar personagens na peça, dançando como os próprios bailarinos”. A companhia dá também uma grande importância ao design de palco, à iluminação e ao guarda--roupa. Segundo o coreógrafo, “a equipa de Aracaladanza já traba-lha junta há muito tempo, e cada espectáculo passa por um ano de ensaios e preparação antes de ser apresentado ao público. Todos os elementos são meticulosamente preparados e têm igual impor-tância. Há vezes em que são os bailarinos que trabalham para os adereços e em que acabo por ser mais um coordenador de ideias do que um coreógrafo”.

IMAGINAÇÃO INFANTIL E SURREALISMOOs trabalhos surrealistas inte-gram frequentemente o elemento surpresa, a coincidência inespe-rada e uma mensagem ilógica. Estes trabalhos aproximam-se do imaginário das crianças, adoptando expressões que se assemelham a jogos infantis. Objectos do quotidiano aparecem sob formas pouco comuns, tais como uma maçã tão grande que ocupa um quarto e uma chávena

de café feita de pêlo, num género de fantasia que é frequentemente projectado nos discursos, jogos e desenhos das crianças.

O espectáculo não tem uma narrativa ou guião, deixando o pú-blico interpretar a peça à sua pró-pria maneira. Segundo Enrique, as suas obras “não têm ambição de ser pedagógicas ou de ensinar as crianças. O que pretendemos é captar a sua imaginação. Muitas vezes os mais novos conseguem ser um público ainda mais difícil de entreter do que os adultos, pois não têm problema em mostrar o seu desagrado se não estiverem satisfeitos. As crianças são muito inteligentes, não precisam de tratamento especial.”

A companhia vai apresentar quatro espectáculos este fim--de-semana. No sábado, há uma sessão às 15:00 horas e outras às 19:30, repetindo estes o mesmo horário no domingo para mais duas sessões. Os bilhetes custam 180 patacas cada.