Hoje Macau 24 JUL 2015 #3379

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Hoje Macau N.º3379 de 24 de Julho de 2015

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AgênciA comerciAl Pico • 28721006

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Ter para ler

Director carlos morais josé www.hojemacau.com.mo Mop$10 s e x ta - f e i r a 2 4 D e j u l h o D e 2 0 1 5 • a N o x i v • N º 3 3 7 9

scott chiang vice-presidente da anm

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sociedade págiNa 9

entrevista págiNas 4-5

caso estoril págiNas 2-3

sociedade págiNa 11

colaDo à pele

Não se define como activista, excepto quando é inevitável. Scott Chiang fala da actual e futura política de Macau, pede sanções mais pesadas para quem tente comprar votos e caracteriza as relações com os deputados que representam a ANM na AL como “uma tragédia grega”.

aNabela CaNas

regressoa Cantão

josé simões morais

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2 hoje macau sexta-feira 24.7.2015caso estoril

Olhem de novoEduardo FlorEs*

B oca amiga já mo tinha soprado à orelha. Duvidei, mas não muito. Te-nho Macau entranhado na pele, como o sarro de um mineiro de carvão.

o Tap Seac é a Ágora cultural de Macau. Salvou-se de desaparecer por via de lhe cobrirem o relvado com a “coisa desportiva” - ou coisa assim - que afinal foi esmagar a Escola Sir Robert Ho Tung. Não se livrou, a Norte, felizmente com um bom desenho, da tampa do túnel. Que sa-nha haverá contra ele?

a seu tempo defendi que a nova Biblioteca Pública deveria ser uma amplia-ção para o outro lado da Praça. Mais tar-de, quando o inevitável parecia aí, do mal o menos, por que não lá colocar a Escola Portuguesa, já com piscina e tudo? Talvez uma boa maneira de salvar a piscina. Piscina que é só mais um exemplo a precisar de rea-bilitação e restauro, não de liquidação.

Foi a Escola Sir Robert Ho Tung, a Escola Primária Oficial, o neo-mourisco das conservatórias na Sidónio Pais e, aqui também, mas mais acima, as vivendas da “Secessão”. Sobra o edifício da antiga Escola Comercial Pedro Nolasco “preso pelos fios” que são a Escola Portuguesa. Sem falar no Jardim Vasco da Gama, “levantado do chão”. o pequeno bairro chinês da av. coronel Mesquita; no Porto Interior, o edificiozinho dos cTT, decadente e violentado no rés-do--chão... claro que temos as raridades da casa do Mandarim e da casa do Loucau.

É muito longa a lista das pequenas pe-ças do nosso importante património. Quase todas pequenas, modestas até, inclassifica-das... Quase todas abatidas.

o “novo Estoril” (peço desculpa, é o que dizem, mas já duvidei do “diz que disse” que aqui me traz) vai ter o volume da “coisa des-portiva”, sobretudo se a Piscina Municipal for mesmo à vida e incluída no plano do novo edifício. É mentira ou estão a esquecer--se de falar nisso? a relação ainda existente entre a Praça e a colina da Guia desaparece, mas isso não é património de valor, parece.

Triste, desapontado mas, confesso, não demasiado surpreso.

os arquitectos não são advogados, (en-fim... um pouco, por vezes, até somos) e é difícil, admitamo-lo, todos por lá passá-mos - muito difícil - recusar um contrato.

Mas não temos a obrigação sequer de fingir que acreditamos na causa. Cumprimos programas. Não nos podem obrigar a gostar deles.

E temos, isso sim, a obrigação do con-selho crítico ao cliente.

Sei-o por mim. Sei-o pelos meus peca-dos. Mas nenhum cliente me tratou mal ou me despediu por lhe dizer a verdade.

Podem “obrigar-nos” a defendê-los. Podemos querer defendê-los. Mas não de-vemos, que isso é muito feio.

Que fique claro, sou um simples e pe-queno arquitecto, daqueles que vão morrer.

Sei que falo para o Olimpo. De mim fique-mos por aqui.

São os Desígnios. Persistem os Desígnios Superiores, a que temos vindo a ser sujeitos, para suportar subtracções im-punes à paisagem da memória. Da gratuita subtracção do edificiozinho dos Serviços de Meteorologia - substituição por pastiche, como também os do Largo de S. Domingos - ao prédio do Fai chi Kei, ao... Hotel Estoril? como disse, a lista é enorme.

o importante património de Macau é este, feito de pequenos edifícios e até pe-quenas memórias. algo parecido com Grande Património temos as Ruínas de São Paulo. Talvez qualquer coisa mais, mas não me lembro.

Foi a opção incontroversa. Já a recons-trução da ardida Baixa de Lisboa foi assim.

Deixemo-nos de tretas, o Siza não gera controvérsia. É por valor próprio incontro-verso. O prédio que ele ali fizer será, no mínimo, tão bom quanto o velho Hotel. a questão não deveria sequer passar por aí. É se deverá ali estar.

Não vai é ser a história do Estoril, épica e pecaminosa. ombro a ombro com famí-lias em lazer de águas. a não contar his-tória nem estória - a menos que seja esta, triste. Não vai ser uma forma identificado-ra assim tão cedo, se alguma vez o for.

Nem vai provocar a tristeza de um Dédalo, a quem estas asas queimadas nada dizem.

Não sei o que leva alguém a achar o Estoril abatível, nem de perto quanto mais

assim à distância. Removível, sem mágoa, da memória, quando ele é memória.

Em fim de vida, o Estoril foi, eventual-mente, o maior lupanar de Macau. antes disso foi, para o melhor e, muito, para o pior, seminal na moderna indústria do jogo em Macau. Mesmo assim, e por isso tudo, merece o nosso respeito.

além disso o prédio é bom. É delicado. ao menos a fachada...

E a piscina - história, arquitectura e a im-portância de bairro – é para outra ocasião.

Ver a cidade como um amontoado de pré-dios, onde uns têm valor porque são plastica-mente interessantes e os restantes não impor-tam, não me parece um processo humanístico de construir e manter uma cidade. Mas o pro-cesso é, no fundo, confrangedoramente sim-ples, só a ganância o complica.

Até há patrimónios artificiais que é pre-ciso respeitar, como o memorial ao Dr. Sun Iat Sen (apesar de raramente se lembrarem do Dr.) e a casinha do General, na coelho do amaral. Mas isso é outra conversa, em-

bora coubesse aqui, no nosso importante património.

citando não sei bem quem: “o arquitecto Siza Vieira terá aconselhado o Executivo a demolir a fachada do espaço”; “aconselhou a que a fachada do edifício não fosse manti-da”. Isto tudo após “trocar impressões sobre a protecção do património cultural”, e “por-que considera que esta (fachada) não integra o importante património cultural de Macau.”

Esta declaração pública, da ausência de qualidade arquitectónica do velho Hotel e da sua insignificância destrutível, é agres-siva, cruel e ofensiva. Do Siza?!

Reflecte a opinião dos que querem pen-sar assim, fazer pensar assim e dos con-vencidos a pensar assim. Se calhar, depois, até pensam que pensam mesmo assim. complicada a frase? Esperem até ouvir os que pensam mesmo assim...

Parecem esquecer que o património edi-ficado não se estabelece apenas na qualidade arquitectónica do construído – por aí, mais facilmente admitiria eu (mas não admito) que

Deixemo-nos de tretas, o Siza não gera controvérsia. É por valor próprio incontroverso. O prédio que ele ali fizer será, no mínimo, tão bom quanto o velho Hotel. A questão não deveria sequer passar por aí. É se deverá ali estar

Parecem esquecer que o património edificado não se estabelece apenas na qualidade arquitectónica do construído – por aí, mais facilmente admitiria eu (mas não admito) que se demolisse o velho Tribunal

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3 caso estorilhoje macau sexta-feira 24.7.2015

O importante património de Macau é este, feito de pequenos edifícios e até pequenas memórias. Algo parecido com Grande Património temos as Ruínas de São Paulo. Talvez qualquer coisa mais, mas não me lembro

Como vão agora recortar-me, à noite, no Tap Seac?Carlos Morais José

E xiste a tendência nalguns arqui-tectos de olharem as cidades mais como “territórios de caça” do que como espaços de cidadania. A atitu-

de é, de certo modo, compreensível: caberá na sua ânsia natural de deixar marcas no espaço, ainda que para isso seja necessário apagar marcas anteriores e alheias.

É precisamente neste ponto que inter-vêm os políticos, enquanto putativos de-fensores da cidadania e de valores que não constam, provavelmente, da cartilha ensina-da nas escolas de arquitectura. É obrigação dos representantes do povo refrearem, por vezes, os ímpetos criativos daqueles a quem encomendam obras ou pareceres, pois na sua relação de deveres cívicos deverá cons-tar, antes de mais, uma perspectiva alargada, que inclua valores aparentemente distantes do frenesim criativo/construtivista.

sem ser um especialista na matéria, parece-me que a fachada do Hotel estoril é um exemplo único em Macau de uma épo-ca da arquitectura. Para além de ser bonita. eis um argumento subjectivo que tenciono desenvolver, invocando ainda outros aspec-tos, difíceis de incluir na categoria estética:

(Quantas vezes, noites afora, dias aden-tro, a pé pelo Tap Seac, não dei por mim a viajar naqueles círculos estranhos, no jogo de luzes e sombras que exibem e sobretudo quando, num repente, se autonomizam das paredes e flutuavama pela praça? Seriam bolas de sabão? Espuma caída das banhei-ras, fedor intenso a sabonete barato ou per-fume de pele em extinção? E por que razão me encontro, num mesmo repente, numa outra era, de carros ronceiros, mulheres singularmente vestidas como nunca mais aconteceu e nela me deleito, sem nunca a ter vivido? E como me acontece, do outro lado da praça, percorrer-lhe o contorno e imaginar-lhe suspiros, contradanças, emo-ções de corredores e de aquário? Não sei a resposta a nenhuma destas per-guntas. Mas há uma presença, a minha e a dele, a do hotel, daquele edifício que, num repente, me transporta porque é metáfora e é inesgotável. Entrei duas vezes no Hotel Estoril. Duma por julgar ali haver um bar. Que existia mas não o era. A segunda para, bebendo um whisky, contemplar as raparigas nume-radas por detrás de uma vidraça. Não me move a memória, nem os afectos. É outro algo, da ordem do fantasma, da per-da de quem simplesmente passa e cuja liga-ção se estabelece na repetição, na familia-

ridade. Talvez o terror obscuro de mais uma perda. Havia uma sombra, um perfil, um carácter, uma utopia, que me foram cres-cendo interiormente, à medida que os pas-sos atravessaram o Tap Seac ou da janela do táxi dava conta de um detalhe, de uma perspectiva singular, quando não aberran-te. O interior não interessava. Como quase tudo em Macau, a importância emanava da fachada. Houve de tudo e isso é tudo. Onde dançarão amanhã as bolas de sabão?...)

seria mesmo património. infelizmente para as gentes como eu, cuja sensibilida-de se prende aos sítios e à construção dos espaços, isto não interessa nada a outros. Para eles, conta a marca do presente, o que impede a presença do meu prazer fu-turo. soa egoísta. É e não é.

em termos absolutos, é possível que a fachada do estoril não seja nada de raro. Mas não o será no contexto de Macau? Parece-me absolutamente que sim. Não me lembro de outro edifício local que, do mesmo modo horizontal, displicente e gracioso, com a mesma dimensão, exiba os traços de um período da arquitectura que, entre outros lugares, facilmente liga-ria Macau à cidade de Pangim, em Goa.

A questão não reside sequer, como o leitor já deve ter intuído, em pormenores de academia. Na verdade, só pode dizer que a fachada do Hotel estoril não interessa, no contexto da praça, quem nunca a atravessou dez vezes. Ou quem o fez sem levar o co-ração. Porque o peito era oco ou a carteira ansiosa. Ou por outra razão qualquer, firme-mente legitimada num parecer, num dou-toramento, num ditame de um sábio e no bolsar de um profeta. e todos teremos razão.

Mas digam-me então senhores sábios: como vão agora recortar-me, à noite, no tap seac?

se demolisse o velho tribunal – o Palácio (!) das Repartições, chamavam-lhe.

Aliás, vendo bem, tudo isto é difícil de acreditar. Vejamos o que dirá agora o Arquitecto siza Vieira, quer se digne quer se indigne. Ainda espero que se indigne por a história estar mal contada, mesmo que seja também comigo.

Depois há o tempo e o dinheiro, que pa-recem escassos nesta rica cidade de tanto frenesim.

Dez anos a deixar apodrecer uma estru-tura sem préstimo para de repente ser ur-gentemente necessária. e o Grande Hotel, para lá caminha?

O património sai caro? Pois sai, por aí era melhor nem ter havido candidatura a Património da Humanidade. e que tal pou-par no património para se aumentarem ain-da mais as participações pecuniárias?

Há pressões incomportáveis sobre a malha antiga? Já nos anos 80 se falava que se deveriam criar instrumentos legais que transferissem direitos das áreas his-tóricas para as novas áreas de expansão. entretanto passaram a Baixa da taipa, a ZAPe, os NAPe, a Areia Preta, o COtAi e, agora, os Novos Aterros – 5 AteRROs. Cinco.

É, é de se ficar aterrado.

*arquitecto

“A questão não reside sequer (...) em pormenores de academia. Na verdade, só pode dizer que a fachada do Hotel Estoril não interessa, no contexto da praça, quem nunca a atravessou dez vezes. Ou quem o fez sem levar o coração”

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4 hoje macau sexta-feira 24.7.2015entrevista

Começando pelo caso mais re-cente que envolve Chan Meng Kam, qual a visão da Associação Novo Macau (ANM) sobre o assunto? Não percebo como é que corrupção e Chan Meng Kam podem estar na mesma frase (risos). O sistema legal actual torna muito mais com-plicado que as pessoas candidatas a eleições sejam responsabilizadas por aquilo que a sua equipa fez. Esta não devia ter sido a única acusação feita, porque acho que há mais casos, como houve em eleições anteriores. Se se está a ir na direcção certa [para os evitar]? Não o suficiente. As sanções deviam ser mais pesadas para o candidatos que tentam comprar votos, seja com dinheiro ou quaisquer outros interesses.

Qual o balanço que faz da sua participação na ANM?Tem sido uma espécie de aventura. Saímos de um ponto às escuras para encontrar alguma luz. No início, tínhamos várias hipóteses à nossa frente, tivemos que escolher o que queríamos fazer com a ANM, qual o caminho a seguir. Tivemos que perceber o que as pessoas estavam à espera que fizéssemos e agora, claro, com o tempo, fomos cons-truindo e temos várias pontos a trabalhar, aos quais nos dedicamos. Se esta é a melhor estratégia? Não sei. Sempre ouvimos e acreditamos que os mais novos devem tentar fazer algo, por isso, é o que estamos a fazer. Não existe uma espécie de guia que nos indique o caminho e diga o que fazer, acreditamos que se é a coisa certa, e se temos

Não se assume como activista, nem a associação que representa pretende sê-lo. O vice-presidente da Novo Macau, com humor, fala sobre a má relação com os deputados do mesmo grupo, do mais recente caso de corrupção que envolve Chan Meng Kam e da forma como é feita e vista a política no território

Scott chiang vice-presidente da associação novo Macau

“Somos activistas quando temos de o ser”

vontade para o fazer, então vamos fazê-lo. Tentamos observar as pro-blemáticas e perceber se o devemos fazer, porquê e como. Às vezes erramos, outras vezes as coisas não correm como nós achávamos que poderiam correr, mas a verdade é

que as pessoas têm sido bastante bondosas para com a Associação e este percurso tem-nos feito crescer e melhorar.

Acha que as pessoas exigem mui-to da ANM e dos seus membros?

É uma boa questão, porque sim. As pessoas exigem bastante da ANM. As pessoas esperam que sejamos uma espécie de santos (risos). Por exemplo, há uns dez anos num fórum online alguém escreveu que viu o deputado Ng

Kuok Cheong num café e que ficou desapontado porque o viu, a ele e à sua esposa, a comer carne de porco. Quer dizer por ser uma pessoa tão normal como as outras não poderia ser depu-tado? (risos) Esta pessoa ficou desapontada porque o deputado é efectivamente uma pessoa normal. Não sei o que dizer. As pessoas têm quase todo o tipo de expectativas sobre nós. Esperam que sejamos auto-suficientes, que não precisemos, por exemplo, de donativos. Também esperam que não haja qualquer tipo de erro da nossa parte, somos humanos, isso é impossível de acontecer. E por aí fora.

Já se falou na hipótese de ser presidente da ANM. Gostaria de ocupar esse lugar? Não, não agora. Antes da presi-dência de Sou Ka Hou foi uma boa altura para mim, isto porque ele tinha imenso trabalho e eu é que ficava com os créditos (risos). A verdadeira resposta é que nesta Associação o cargo de presidente é só um cargo, basicamente quem tem disponibilidade para assumir o cargo candidata-se. Não é uma coisa que esteja relacionada com a capacidade, mas sim um conjunto de factores, companheirismo, dis-ponibilidade, vontade para o fazer. Claro, se algum dia for o único disponível para tal, porque não? Mas não para já.

A ANM tem o rótulo de ser uma associação activista. Assume-se como tal? Se perguntar isso aos deputados Ng Kuok Cheong e Au Kam San eles vão mostrar-se contra esse rótulo. Porque eles não se assu-mem como activistas, mas sim como uma força de construção da sociedade.

E o Scott assume-se como ac-tivista? Somos uma associação com muitos activistas (risos). Quando eu assu-mo uma acção, sim sou activista, mas às vezes só falo, aí não estou a ser activista, outras vezes brinco, também não é ser-se activista. O que é importante é que a ANM tente não ser apenas uma coisa, neste caso ser activista. É-o quando tem que o ser. Se olharmos para a socie-dade em geral, a visão [das pessoas] não é tão abrangente. Quando estava em Taiwan, por exemplo, só no campus [da faculdade] era perceptível [a existência de] vários movimentos, várias associações. Isto não acontece em Macau, ainda

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5 entrevistahoje macau sexta-feira 24.7.2015

Scott chiang vice-presidente da associação novo Macau

“Somos activistas quando temos de o ser”

“Creio que os jovens não querem fazer parte da política, mas estão mais atentos”

não existe um leque de opções de associações e posições. Por isso mesmo é que muitas vezes temos de assumir papéis diferentes e não sermos um só. Por isso é que não sou de assumir um rótulo para a associação. Não direi somos isto ou aquilo, fazemos o que achamos que deve de ser feito.

Acha que é difícil ser-se activista em Macau? Não, o que eu acho é que é difícil é interiorizarmos a ideia de que se é um activista. Mas uma vez su-perado esse desafio, é fácil porque a concorrência é muito pequena.

Acha que os jovens estão mais atentos às questões políticas? Estão a interiorizar a ideia? Estão mais abertos a ideias diferentes, mas não acho que a grande maioria se torne a voz local como a última geração. Porque ainda estão a apren-der e a descobrir a política. Creio que não querem fazer parte da política, mas estão mais atentos. Por isso é que temos que trabalhar arduamente agora, para que quando estes jovens estiverem mais velhos, estejam mais envolvidos nos assuntos sociais. Temos que mostrar enquanto são novos, que é bom que sejam mais participativos na discussão pública, que sejam membros activos da sociedade. Quando acalmarem, casarem, tiverem um trabalho fixo, construírem família estarão menos focados nesta possibilidade de ser um ser activo.

As lutas que a ANM tem trazido para a rua, têm tido algum efeito positivo? Sim, acho que sim. Acho que temos conseguido mostrar às pessoas que é preciso que elas se convençam que conseguem por si só, pelas suas acções e alteração de comporta-mento, [fazer coisas]. As pessoas não precisam de mim. Há um dita-do que diz que “se um mau cavalo conseguiu vencer a corrida, os bons

“Se a novageração se resumira uma cópia da geração anteriornunca seremosbons activistas,nunca seremosuma boa oposição,nunca seremosuma boa voz”

cavalos vão perguntar-se: como é que deixei que ele ganhasse? Eu teria conseguido ganhar o troféu”. Talvez o efeito seja esse mesmo, mostrar que se alguém como Scott Chiang consegue, então porque é que não conseguimos todos?

Tentou ser deputado, como nú-mero dois de Jason Chao, mas a vossa lista não foi escolhida. Acha que isso aconteceu porque as pessoas não estão preparadas para dar lugar a jovens e a ideias frescas? Nós estamos ligados à imagem de activistas e as pessoas querem “a força da construção da sociedade” na Assembleia Legislativa. Isto é o que penso, que as pessoas não querem pessoas que protestam. Se conseguirmos convencer as pes-soas que somos capaz de assumir essa responsabilidade, então as hipóteses serão bem mais reais.

Gostaria de ser deputado?Por agora não. Quando estivermos mais maduros, talvez.

Mas vão tentar nas próximas eleições para a Assembleia Le-gislativa? Concorremos e vamos concorrer para os lugares, mas não é por querermos assumir o cargo agora. Concorremos porque é uma boa forma de consolidar o nosso traba-lho, é uma forma de crescimento, é também uma boa forma de comuni-car com a sociedade. Com o passar dos anos, e com a observação da sociedade ao nosso trabalho e ao nosso crescimento, a sociedade conseguirá perceber as diferenças e tudo aquilo que evoluímos. Nessa altura, estaremos prontos e as pes-soas irão estar prontas para votar em nós. Aí, alguns de nós seremos bem sucedidos. Pelo menos é o que espero que aconteça.

Os membros mais jovens da As-sociação vivem um momento de desacordo com os deputados Ng Kuok Cheong e Au Kam San. O que aconteceu?É como uma tragédia grega. O filho cresceu e o velho rei tinha outros planos e achou que não devia dei-xar o seu filho fazer o que queria.

Mas o filho achou, que sendo rei no futuro, deveria tentar o seu caminho. Era quase inevitável o confronto de gerações. Mas o mais importante é como se consegue lidar com essas diferenças. Não posso chamar-lhe conflito, para já,

vamos só dizer que são diferenças que nos separam. Diferenças de como vemos o mundo e de como queremos agir para com o mundo. Se a nova geração se resumir a uma cópia da geração anterior nunca seremos bons activistas, nunca seremos uma boa oposição, nunca seremos uma boa voz. Não estamos a trabalhar juntos, mas somos do mesmo grupo, portanto [trabalha-mos] num todo e temos de ver o que é o melhor para a sociedade.

Acha que no futuro essas diferen-ças serão ainda maiores?

Tendo em conta que o cenário político de Macau está bastante vazio, isto pode ser visto não como um conflito mas como a diversifi-cação, que é aquilo que quero ver. Se conseguimos ir para diferentes lados, mas ainda assim manter-nos no grupo dos pró-democratas. Isso é bom, melhor que bom, estarmos num todo mas com diferentes perspectivas. Se dentro do mes-mo grupo estivermos sempre a discutir, gastarmos o nosso tempo com as diferenças, então isso é um problema.

Mas como estão as relações entre os membros e os deputados? Não podemos pensar nos membros só como um grupo. Todos temos diferentes visões e valores. A maio-ria do tempo descobrimos o ponto principal pelo qual todos lutamos. A meta é a mesma.

Considera que as ideias des-tes dois deputados defendem efectivamente os interesses da sociedade? Não como nós, claro que não. Eles defendem, mas não como nós. Se fizéssemos o mesmo nós é o que estaríamos a imitar, não eles a nós. Efectivamente pensamos de maneira diferente, somos de dife-rentes gerações, eles são deputados e têm recursos diferentes. Temos pensamentos diferentes, mas cla-ro, acho que ambos queremos o mesmo: defender os interesses da população.

E as intervenções do deputado Fong Chi Keong são representa-tivas do pensamento de Macau ?Não acredito nisso. A maioria das pessoas sabe que o que ele diz são tretas. O que as pessoas vêem e talvez admirem é que está em bruto, ou seja, não é trabalhado, não tem alguém que lhe escreva os textos para parecer bonito, como outros deputados. O que ele diz é preocupante, ele não tem um discurso bonito, diz o que lhe vem ao cérebro, se é que tem um. Fong Chi Keong não é nada, às vezes é um palhaço, mas na maioria das vezes é só um cidadão comum a defender aquilo em que acredita.

Planos para o futuro?As pessoas de Macau e o que elas pensam é o nosso futuro. É naquilo que estamos arduamente a tentar trabalhar. Seria muito difícil defen-der aquilo que as outras gerações já conseguiram, seria ainda mais difícil pensar em alternativas que vão para além daquilo que eles já estabeleceram. Estas duas coisas deixam-nos bastante ocupados, mas na verdade, nas últimas duas décadas, Macau mudou muito e continuamos a tentar perceber e a tentar arranjar formas de melhor servir este novo conceito do ter-ritório.

Filipa Araújo (com Flora Fong)[email protected]

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7polítcahoje macau sexta-feira 24.7.2015

Governo quer reforçar relações com Cabo VerdeNaquela que é a primeira visita da Ministra do Turismo, Investimentos e Desenvolvimento Empresarial da República de Cabo Verde, Lionesa Fortes, a Macau, o Chefe do Executivo, Chui Sai On, afirmou a necessidade de reforçar as ligações entre as duas regiões. Chui Sai On acredita que Macau tem cumprido as suas funções como plataforma de cooperação com os países lusófonos e, por isso, é possível que a relação de cooperação com Cabo Verde seja reforçada com futuras colaborações que podem abranger diversas áreas. A Ministra confirmou a ajuda que Macau tem sido no desenvolvimento de alguns projectos de turismo e lazer, esperando poder alargar a área de actuação da cooperação.

GRH Fusão com DSAL não corta recursos humanos O director dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL), Wong Chi Hong, defendeu que não vai cortar ou aumentar a mão de obra mesmo que o Gabinete para os Recursos Humanos (GRH) seja fundido com a DSAL. Segundo o canal chinês da Rádio Macau, Wong referiu que os recurso humanos dos dois organismos vão ser necessários e que serão mobilizados para os departamentos administrativos e tesourarias dos dois organismos, quando estes passarem a ser apenas um departamento. Wong Chi Hong garante ainda que vai consolidar os trabalhos do organismo de acordo com as necessidades sociais, justificando até que, como a economia não está muito positiva, é necessário salvaguardar os empregos. O director disse acreditar que a fusão serve para melhorar a estrutura das funções do Governo, assim como pode vir a ajudar nos serviços de recrutamento de trabalhadores locais e não residentes, uma vez que as funções dos dois organismos vão deixar de se sobrepor.

a Associação Novo Macau (ANM) enviou uma carta à União Europeia

(UE) a pedir que haja mais cuidado na venda de material de segurança cibernética a Macau. O documento, en-viado aos cônsules-gerais dos estados membros da UE, surge após a denúncia da Wikileaks sobre a com-pra deste material a uma empresa italiana e após uma denúncia da Associação ao Ministério Público.

Num comunicado enviado aos jornalistas, e assinado pela direcção da Associação, a Novo Macau evoca o que diz

Depois de uma queixa ao MP, surge uma carta enviada directamente à fonte: os activistas da Novo Macau pedem à UE que tenha precauções extra quando permite a venda de material de ciber-espionagem a Macau, porque o Governo “abusa destes produtos” além do âmbito legal

Segurança NOVO MACAu ENVIA CARTA à uNIãO EuROpEIA SObRE SOFTWARE

Diz-me com quem falas

ser uma aplicação arbitrária da lei e o abuso de poder do Executivo, acusando até o Executivo de utilizar estes produtos constantemente de forma ilegal.

“O Governo de Macau é notoriamente conhecido por banir arbitrariamente jornalis-tas baseados em Hong Kong, académicos e activistas de vi-sitar [o território]. Jornalistas e activistas de Macau também já se queixaram de terem sido alvo de vigias por parte das autoridades e de serem colocados sob custódia por consequência de exercerem a sua liberdade de expressão”, começa por apontar a carta.

Devido a isto, a Novo Macau pede que a UE infor-me as autoridades europeias da possibilidade de existir um abuso ainda maior quan-do Macau adquire produtos de software que podem ajudar nestas vigias.

“Se a exportação destes produtos de vigilância com capacidades intrusivas são regulados e controlados nos vossos países, pedimos que informem as autoridades do país [que vende o material] da possibilidade de abuso desses produtos pelas autoridades policiais e pelo Governo de Macau. O software com capa-cidades que excedem o âmbito legal de investigação criminal não tem sido, de forma algu-ma, utilizado legalmente pelo Governo de Macau.”

Além dA lei?Recorde-se que, na semana passada, a Wikileaks dava conta que a Polícia Judiciária (PJ) e o Comissariado contra a Corrupção (CCAC) man-

tiveram negociações, desde Fevereiro de 2012 e pelo menos até ao final de 2014, sobre a aquisição de software de ciber-espionagem. O in-teresse por parte do CCAC em 2013 foi avançado pelo jornal Ponto Final, mas, de acordo com os documentos da WikiLeaks, também a PJ quis adquirir este software à Hacking Team, empresa ita-liana listada pelos Repórteres Sem Fronteiras como uma das “inimigas da Internet” pela sua actividade de con-trolo da dissidência na rede.

Nos e-mails trocados, além de mostrarem interesse em adquirir os novos sistemas, podia ler-se que as autoridades de Macau já eram clientes da empresa. Apesar de nem o CCAC nem a PJ terem confirmado se a compra foi efectivada, ambos já reagiram, dizendo que podem adquirir meios técnicos para realizar as suas investigações e que todos os trabalhos são conduzidos de acordo com a lei.

Para a Novo Macau, con-tudo, a aquisição destes apa-relhos poderá ter outros fins que não os de mera segurança.

“Encorajamos o gover-no [do país exportador], sempre que permitido ou exigido por lei, tenha pre-cauções extra ao decidir pela aprovação da venda de produtos de segurança/defesa por empresas do seu país ao Governo de Macau”, pode ler-se na carta, que

acrescenta que “apesar dos juízes poderem autorizar a colocação dos telefones sob escuta, a falta de transpa-rência e a ausência de um organismo de supervisão independente, torna estes produtos em ferramentas de fácil na violação da privaci-dade de jornalistas, activis-tas e outros dissidentes pelas autoridades da RAEM”.

Joana [email protected]

“Apesar dos juízes poderem autorizar a colocação dos telefones sob escuta, a falta de transparência e a ausência de um organismo de supervisão independente, torna estes produtos em ferramentas de fácil violação da privacidade de jornalistas, activistas e outros dissidentes pelas autoridades da RAEM”novo Macau

“O software com capacidades que excedem o âmbito legal de investigação criminal não tem sido, de formaalguma, utilizado legalmentepelo Governo de Macau”novo Macau

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ou mun tin toi Macau recebe fórum

sobre JustiçaMacau recebe, nos dias 26 a 29 de Julho, o 3.º Fórum de Alto Nível da Justiça dos dois lados do Estreito de Taiwan, de Hong Kong e da RAEM. O evento, a acontecer no Hotel MGM, vai ficar a cabo do Tribunal de Última Instância e tem como tema principal as “Garantias Institucionais da Justiça Imparcial”, que se desdobra em quatro outros assuntos: “Delimitação entre a Jurisdição e a Administração Judiciária”, “Garantias do Sistema de Recursos Humanos da Organização Judicial”, “Garantias do Sistema Orçamentário dos Tribunais” e “Situação Actual e Aprofundamento do Intercâmbio Judiciário dos dois lados do Estreito de Taiwan, de Hong Kong e de Macau”. O Chefe do Executivo, o presidente da Assembleia Legislativa, a Secretária para a Administração e Justiça, o Secretário para a Segurança, o Procurador, o presidente e os membros da Comissão Independente para a Indigitação de Juízes e os membros do Conselho dos Magistrados Judiciais vão estar presentes.

ElEiçõEs Al CArtA dA AssoCiAção dE Apoio A ChAn MEng KAM no CCAC

Injusto e com direito a lágrimas

O presidente da Aliança do Povo de Instituição de Macau, Chan Tak Seng, entregou ontem uma carta ao Comis-

sariado contra a Corrupção (CCAC), onde diz suspeitar que o organismo utilizou formas ilegais na obtenção de provas. A condenação de dois funcionários da associação que apoiou Chan Meng Kam levou o responsável a dizer ainda que a associação foi alvo de tratamento injusto e desigual.

A Direcção dos Serviços de Educação e Juven-tude (DSEJ) afirmou que as instruções sobre

o apoio à educação de ensino es-pecial nas escolas vai sofrer uma

Ensino EspECiAl NOvAS REGRAS DE APOIO EM vIGOR NO PRóxIMO ANO

Modelo de subsídio inovadorrevisão, de forma a que os subsí-dios sejam concedidos de forma mais cuidadosa. O anúncio chega depois da polémica à volta dos apoios financeiros concedidos às escolas, uma vez que estas usavam o dinheiro para outros fins por faltar “rigor” na forma como este deveria ser aplicado.

Numa resposta a uma interpe-lação escrita do deputado Chan Meng Kam, onde era apontada a falta de pessoal docente es-pecífico para este ensino e de formação profissional e siste-mática, a directora da DSEJ, Leong Lai, referiu que vai rever o mais rápido possível as regras

de apoio dado às escolas pri-vadas. Os novos regulamentos vão determinar a proporção de dinheiro que deve ser utilizado em diversos tipos de trabalhos, de forma a que possam ser con-troladas as despesas.

Leong Lai afirmou ainda que as novas regras vão ser ser apli-cadas já no próximo ano lectivo de 2017/2018.

Recorde-se que surgiu em Abril deste ano uma queixa dos profes-sores da Escola Cham Son devido à distribuição inapropriada dos subsídios do Governo destinados a estudantes com necessidades educativas especiais.

A directora da DSEJ assegu-rou que tem dado muita atenção à supervisão nos apoios ofereci-dos, mas também admite que, como este está em vigor há nove anos, aumentaram as escolas privadas que participam no plano – pas-saram de 12 para 29 -, além do número de alunos, que cresceu de 60 para 525.

AplicAções finAnceirAsLeong Lai frisou que, ao longo do tempo, mais de 80% do montante do apoio dado às escolas foi utili-zado na remuneração dos profes-sores e pessoal auxiliar do ensino especial, sendo que a maioria do

dinheiro foi realmente aplicada em trabalhos relacionados com a educação especial.

No que toca ao pessoal docente, a directora referiu que, entre os anos 2009/2010 e 2013/2014, 42 estudan-tes receberam bolsas de mérito ou de empréstimo da DSEJ para frequentar cursos do ensino superior na área da Educação Especial fora de Macau, enquanto 18 licenciados já estão a tra-balhar na mesma área depois de terem voltado ao território. A formação em educação especial para professores que estão a trabalhar já formou 134 profissionais, adiantou ainda.

flora [email protected]

A DSEJ quer acabar com o esbanjar de dinheiro nas escolas e vai, por isso, rever as regras de atribuição de subsídio especial. Estas entramem vigor no próximo ano lectivo

8 política hoje macau sexta-feira 24.7.2015

Chan Tak Seng, que não conseguiu conter as lágrimas ao falar no caso dos dois trabalhadores que levaram cada um mais de um ano de prisão – têm 64 e 67 anos -, criticou o facto de o CCAC ter colocado agentes à paisana a investigar a Aliança e quer saber se o organismo liderado por André Cheong utilizou a mesma forma para investigar as equipas de outros candidatos. Recorde-se que a Aliança do povo já disse que o funcionário do CCAC que recebeu o telefonema onde terão sido

oferecidas refeições gratuitas e transportes só foi contactado por ser membro da Aliança. O outro funcionário do CCAC também o é.

infiltrAções?Apesar de negar que tenham sido oferecidas refeições em troca de voto – e tendo defendido sempre que o telefonema foi para relembrar as pessoas a votar, algo “comum” em Macau – a Aliança suspeita de que os investigadores se infil-traram no grupo de apoio a Chan Meng Kam com identidades falsas, numa espécie de “armadilha”.

Chan Tak Seng garante que as provas usadas em tribunal são falsas e que as testemunhas que não eram do CCAC negaram sempre ter existido ofertas de refeições. O presidente pediu ainda que sejam divulgados os resultados das investiga-ções feitas a outros casos por altura das eleições legislativas de 2005 e de 2013, sublinhando que foram dados a conhecer 200 processos mas que não foram divulgadas quaisquer conclusões e que outros casos nem sequer foram julgados.

“Além dos dois funcionários nossos que es-tão neste momento a sentir uma grande pressão, sendo presidente, sinto-me também pressionado, porque a Aliança sofreu injustiças. Vou usar todos os recursos humanos e materiais que conseguir para continuar com o processo de recurso”, frisou.

A ideia de que os agentes do CCAC se ti-nham infiltrado propositadamente foi também deixada por Song Pek Kei, número dois de Chan Meng Kam, que apelou mesmo ao CCAC que explique porque é que usou agentes à paisana na associação a que pertence. “Qual foi o pro-pósito desta acção?”, questionou. f.f. (com J.f.)

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U ma dezena de organizações internacionais que ontem marcaram presença numa iniciativa levada a cabo pela

aNIma - Sociedade Protectora dos animais concordaram em juntar-se à entidade local e pedir o encerramento do Canídromo. a aNIma, presidi-da por albano martins, organizou ontem um encontro para debater a protecção dos galgos.

“[as organizações] foram todas unânimes em [decidir] pedir ao Chefe do Executivo para fechar o Canídromo e reutilizar aquela área para a comunidade”, começou por resumir à comunicação social albano martins.

Representantes de organiza-ções da austrália (2), Estados Unidos, Reino Unido, Hong Kong, Taiwan e até da China continental acreditam que “não existe razão nem económica nem comunitá-ria (...) que faça com que aquela instituição com mais de 50 anos de existência continue naquele espaço, que é altamente povoado”.

Com o objectivo de definir planos de combate à exploração dos galgos em corridas, a conclusão é clara: “tentar bloquear o crescimento da in-dústria nesta área”. O apoio total das organizações envolvidas na iniciativa foi uma das grandes conclusões do encontro. “Todos nós vamos fazer o grande esforço de bloquear [a indústria]”, indica.

assim, “pela primeira vez na história dos galgos”, a aNIma conseguiu que as organizações que se dedicam à protecção dos animais de forma generalista, se unam para “ajudar a impedir o crescimento da indústria dos galgos mundialmen-te”, quer na austrália, quer na Ásia.

marcar presença no terreno com iniciativas de divulgação, le-var a cabo estudos e investigações, observar o desenvolvimento de factores que mostrem se a indústria está a crescer são algumas das me-didas decididas pelas organizações para avançar com a causa.

“Vamos tentar bloquear, através de uma série de manifestações e de trabalhos conjuntos dos governos e das autoridades”, indicou o pre-sidente da aNIma, frisando que é preciso estudar o “fenómeno que vai acontecendo” um pouco por toda a Ásia. “Por exemplo, tivemos conhecimento que em Pequim e na zona à volta já há quem comece a levar galgos para lá, quer dizer, não há Jogo, não há corridas oficiais. Temos medo que possa haver o início de uma competição desse tipo”, exemplificou Albano Martins, adiantando que já foram tomadas acções. “a China já foi alertada, os nossos companheiros chineses que participaram estão alertados e vão começar a trabalhar no sentido de identificar essas zonas para podermos bloquear”, indicou.

DemasiaDos animais a sofrerFeitas as contas, as estimativas da aNIma indicam que, entre Janeiro

Tabaco DSE não sancionou lojas por aumento de preços

a Direcção dos Serviços de Economia (DSE) não sancionou qualquer ponto de venda de tabaco

por incumprimento da lei, mesmo que, como foi reportado, algumas lojas tenham cobrado mais pelo produto ainda antes da alteração do imposto ter en-trado em vigor. Numa resposta ao Hm, o organismo explica que não encontrou quaisquer ilegalidades.

“Ao notar o aparecimento de uma maior flutuação no preço do cigarros aplicado no mercado, após a aprovação na assembleia Legislativa da proposta de alteração à tabela anexa ao Regulamento do Imposto de Consumo, a DSE enviou, de imediato, pessoal para efectuar fiscalização e conhecer a situação concreta. No período entre os dias 10 e 13 [de Julho] foram fiscaliza-dos cerca de 40 pontos de venda a retalho espalhados

por todos os bairros de macau, não tendo sido detectado nenhuma infracção praticada pelos mesmos”, avança numa resposta escrita. “Daí que não foi aberto nenhum processo sancionatório.”

apesar de terem sido detectadas tanto a venda de cigarros já com o imposto de 70% em cima - e não o que ainda estava em vigor, de 33% - e açambarcamento de produtos pelos média e pelos clientes fumadores, a DSE não viu qualquer prova deste problema.

O organismo diz, contudo, que “chamou a aten-ção dos distribuidores e vendedores do tabaco sobre a data da entrada em vigor da lei”, lembrando-os que não deveriam incluir o novo valor do imposto no preço do tabaco “antes da vigência da tabela anexa alterada”. J.f.

GalGos AssociAções internAcionAis juntAs pelo fim do cAnídromo

Todos em defesa dos cães

a Junho do presente ano, tenham sido abatidos até 170 galgos. ma-cau, que acolhe a única pista onde se realizam corridas de galgos em todo o continente asiático, tem vin-do a ser alvo de várias críticas por parte de associações protectoras dos animais.

Numa entrevista na semana passada, Albano Martins afirmou que macau se distingue pela nega-tiva. “Tirando algumas áreas onde também são maltratados, macau é o sítio onde é notório que o tra-tamento dos galgos é mais cruel, porque os animais são compra-dos, metidos em compartimentos pequeníssimos, os donos nunca os vêem e quando eventualmente os querem trazer para a adopção, isso não é permitido”, afirmou à Rádio macau, acrescentando que, em média, são abatidos 30 animais por mês.

Petição romPe barreiras Relativamente à petição online contra a renovação da licença de exploração que termina este ano do Canídromo, e que começou em abril deste ano e termina hoje, albano martins mostra-se surpreendido com os resultados.

“a petição ultrapassou tudo aquilo que esperávamos. Tínhamos um limite de dez mil [apoiantes] e hoje devemos ter à volta de 270 mil apoiantes da petição”, explicou ao meios de comunicação, adian-tado que hoje, dia em que termina possibilidade de assinar online, o presidente conta juntar cerca de dez mil novos apoiantes.

“a razão porque temos tantos apoiantes, na petição online, é por-que nos poucos dias que fomos para a rua – um dia por semana durante cerca de um mês – recolhemos quase três mil [assinaturas] em poucos dias”, acrescentou.

apesar do limite previsto ser de dez mil assinaturas recolhidas, quando a aNIma entrou em con-

“[As organizações] foram todas unânimesem [decidir] pedir ao Chefe do Executivopara fechar o Canídromo e reutilizar aquela área para a comunidade” albano MarTins Presidente da aniMa

tacto com as 165 organizações, das quais 65 da China, percebeu que os números iam disparar. “a petição disparou e aí passou rapidamente para os 260 mil”, remata.

Esta tarde, das dez organizações representadas, oito vão entregar ao presidente do Instituto para os assun-tos Cívicos e municipais (IaCm), alex Vong - representante substituto

do Chefe do Executivo, que se disse com uma agenda muito ocupada -, a petição. “Vamos entregar-lhe a petição, pedir-lhe que faça chegar ao Chefe do Executivo, mostrar--lhe os números e ao mesmo tempo mostrar as preocupações de todas as organizações internacionais” que participaram na iniciativa, explicou.

Recorde-se que as receitas do Canídromo, que tem benefícios que as outras operadoras de Jogo não têm face aos impostos, continuam a descer de ano para ano, com o lucro do ano passado a atingir 27 milhões de patacas, quando em 2013 foi de 70,4 milhões.

filipa araú[email protected]

9sociedadehoje macau sexta-feira 24.7.2015

Pela primeira vez na história organizações internacionais juntam-se à aNIma para tentar bloquear o crescimento da indústria dos galgos. Iniciativas, estudos e investigações são alguns dos planos propostos para acabar com os maus-tratos aos animais e as mortes que, este ano, já chegaram às cerca de 170

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O grupo Energia Cívica, lidera-do por Agnes Lam, não con-

corda com a maior parte das propostas feitas pelo Governo para os novos

Novos Aterros AssociAções não concordAm com sugestões do governo

vamos lá pensar melhoraterros e para a ponte que vai ligar Macau a Hong Kong e Zhuhai. Num documento enviado aos jornalistas, o grupo explica que são pre-cisas mais informações e outras propostas e que estas têm de ser melhor pensadas.

Está actualmente em con-sulta pública o planeamento dos novos aterros feito pelo Governo, sendo que são diver-sas as associações – de acordo com o Governo – que têm vindo a apresentar opiniões. Num comunicado também enviado ontem, o Executivo admite que as opiniões dos intervenientes incidiram so-bretudo nos equipamentos comunitários da Zona A e na paisagem da Zona B, que tem gerado controvérsia devido à altura dos prédios.

Na carta do grupo Ener-gia Cívica, é defendida a necessidade de se elaborar um estudo mais aprofunda-do sobre a ponte em Y, até porque “os planos apresen-tados não têm informação suficiente para melhores análises” sobre a construção.

“A Zona A está a ser pla-neada para receber mais de cem pessoas, além de que toda a ligação à ponte vai ser feita através desta zona. O acesso é de maior importância, mas parece ser insuficiente, pelo que deverá precisar de ser redesenhada. A única conexão

à ponte pode vir a precisar de uma maior capacidade.”

Dar nas vistasA paisagem é outra das preocupações do grupo, do qual faz parte também, além da académica e ex-candidata às eleições legislativas, o arquitecto Rui Leão.

“Os dois canais nas zonas a Este e Oeste da Zona A podem servir para uma marina ao longo da costa, de forma a que se crie uma maior interacção com a água, o que é importante para manter o papel de Macau enquanto cidade portuária. O acesso à Zona A é acompa-nhado por uma auto-estrada, o que pode comprometer o acesso do público à zona ribeirinha e a relação entre as áreas urbanas e da água”, aponta o grupo, que diz ainda

ser altamente aconselhável um estudo sobre o local.

O Governo admite, num comunicado separado, que os intervenientes da consulta pública manifestaram que é necessário ter em conta as ho-ras de ponta da entrada e saída dos cidadãos e turistas na ilha artificial do posto fronteiriço de Zhuhai-Macau da ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau, uma vez que avistarão ao longe a paisagem da costa da Zona A dos novos aterros.

“Propõem, assim, a relo-calização do parque escolar da Zona A para uma melhor imagem urbana. Além disso, foi ainda proposto uma maior concentração dos terrenos co-merciais da Zona A dos novos aterros na parte central, a fim de se criar então uma zona comercial. Assim sendo, em suma, com a conclusão do estabelecimento do núcleo habitacional, será considera-do em pormenor o aspecto dos equipamentos de ensino, sociais, culturais e lúdicas e desportivas, de modo a que os equipamentos comunitários da Zona A estejam à altura das necessidades dos moradores”, adianta o Governo.

A Energia Cívica acres-centa ainda que todos os locais públicos da Zona A têm as mesmas características e que estas deveriam ser diferentes, para que haja “diversos tipos

TNR Maisde 300 ilegais no primeiro semestrenos primeiros seis meses do ano foram detectados 332 trabalhadores ilegais, em operações de inspecção realizadas pelo corpo de Polícia de segurança Pública (cPsP) e pela direcção dos serviços para os Assuntos Laborais (dsAL). os dados avançados ontem pela PsP indicam que, no total, foram realizadas 1543 operações de fiscalização, sobretudo em obras da construção civil, residências e estabelecimentos comerciais e industriais.

de espaços públicos” e de diferentes tamanhos.

aDeus paisagemJá no que toca à Zona B, onde o Governo pretende cons-truir edifícios judiciais, é tida como um local onde deve ser bem pensada a construção. A Energia Cívica considera que o património, como a Guia da Penha, vai ser completamente bloqueado ao nível visual, algo que a UNESCO não permite.

“A proposta ameaça de forma grave as paisagens urbanas e naturais da área mais significativa da Colina da Penha, e não apenas a Igreja no topo, mas também as ruas pe-quenas, os becos e os espaços públicos tão característicos a geografia das cidades de ori-gem portuguesa”, diz o grupo, que pede que outra estratégia seja considerada.

Mais ainda, o grupo de Agnes Lam e Rui Leão apon-ta que, sem saber as alturas permitidas para as restantes construções na Zona B, não faz sentido definir as alturas máximas para os edifícios judiciais que vão nascer ao lado da Torre de Macau. Mais uma vez, o grupo fala em falta de informação.

Em comunicado, a Ad-ministração assegura estar atenta à paisagem.

Joana [email protected]

10 sociedade hoje macau sexta-feira 24.7.2015

J á mais de 400 empresas de Macau registaram os seus negócios na Ilha de Montanha, além dos 33

projectos entregues através do Gover-no. A entrada de carros de Macau na zona, contudo, continua em discussão.

Segundo o Jornal do Cidadão, o chefe do Conselho de Gestão da Nova Zona da Ilha da Montanha, Niu Jing, referiu que as companhias de Macau parecem ter confiança para avançarem com investimento na zona franca da Ilha da Montanha, já que o capital total das 400 empresas registadas até atingiu os 200 mil milhões de yuan.

“Todos os regimes e políticas ino-vadoras [da Ilha da Montanha] trazem boas perspectivas ao desenvolvimento das companhias de Macau, portanto, o número de empresas registadas é cada vez maior.”

Niu Jing relembrou ainda que o Go-verno de Macau escolheu 33 projectos comerciais para serem explorados na zona vizinha, incluindo centros comer-ciais, centros de exposição e outros.

“Desses projectos, 17 contratos já foram assinados, 12 já concluíram o processo de concessão de terrenos, cinco estão à espera do capital para poderem participar nos leilões de terras e três já apresentaram uma proposta de construção, sendo que podem iniciar obras já este mês. Como, de acordo com os regulamentos, os terrenos de-vem estar aproveitados dentro de três e quatro anos, todos os projectos podem entrar em funcionamento antes de 2020.

O prazo, contudo, já foi contestado por alguns empresários de Macau, como o também deputado Chan Chak Mo. Segundo o jornal Business Daily,

o gerente da Future Bright Holdings considera que concluir o projecto todo em quatro anos é muito apertado.

Carros sem CalenDárioContudo, não há ainda calendário para a entrada de carros com matricula de Macau na Ilha da Montanha. A imprensa chegou a apontar Agosto, mas rapida-mente o Governo veio corrigir que não havia data prevista, algo que continua a acontecer. Niu Jing esclareceu que, devido à capacidade limitada da circu-lação no posto fronteiriço do Cotai, “é necessário um estudo profundo” para que esta nova medida seja implementa-da. Até ao momento ainda não é sequer possível saber a quantidade de carros que vão poder passar de cá para lá.

Flora [email protected]

IlhA dA MoNtANhA cercA de 400 eMpresAs de MAcAu regIstAdAs

A ilha do investimento

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ANÚNCIOHM-2ª vez 24-7-15Execução de Sentença sob a n.º CV2-05-0055-CAO-A 2º Juízo Cívelforma Sumária (apenso)

Exequente: Sio Chong Meng (蕭頌銘), casado, de nacionalidade chinesa, residente em Macau, na Travessa da Sé, n.º 10, rés-do-chão “B-C”.Executados: Yuen Wai Nang (袁偉能), solteiro, maior, com última residência conhecida em Hong Kong, Causeway Bay, 5-19, Jardine´s Bazaar, Capitol Centre, 904-6, ora ausente em parte incerta; Tang Kuok Fai (鄧國輝), casado, residente em Macau, na Avenida do Coronel Mesquita, Edf. Jade Garden, Bloco 2, 8º andar I.

Faz-se saber que nos autos acima indicados são citados os credores desconhecidos da executados para, no prazo de quinze dias, que começa a correr depois de finda a dilação de vinte dias, contada da data da segunda e última publicação do anúncio, reclamar o pagamento dos seus créditos pelo produto do bem penhorado sobre que tenham garantia real e que é o seguinte:

Bens PenhoradosVeículo Automóvel

Matrícula: Veículo Automóvel MH-85-73. Marca: TOYOTA. Modelo: PREVIA. Registado em nome do executado Tang Kuok Fai (鄧國輝 ), sob o nº 23 de apresentação em 05/07/2006.

Quota Social Quotas detidas pelo executado Tang Kuok Kai (鄧國輝), nas seguintes sociedades comerciais:1. Companhia de Engenharia Contec Limitada, matriculada na Conservatória dos

Registos Comercial e de Bens Móveis sob o n.º 2928 SO, a quota com o valor nominal de MOP$10,000.00.

2. Optica Boss Companhia, Limitada, matriculada na Conservatória dos Registos Comercial e de Bens Móveis sob o n.º 5491 SO, a quota com o valor nominal de MOP$2,000.00.

3. Sociedade de Investimento e Desenvolvimento Predial Wisemen Companhia Limitada, matriculada na Conservatória dos Registos Comercial e de Bens Móveis sob o n.º 8187 SO, a quota com o valor nominal de MOP$25,000.00.

4. Companhia de Catering Cozinha de Casa Limitada (家廚飲食服務有限公司), matriculada na Conservatória dos Registos Comercial e de Bens Móveis sob o n.º 25609 SO, a quota com o valor nominal de MOP$23,500.00.

5. Companhia de Transporte e Limpeza Fastclean Limitada (清捷搬運清潔有限公司), matriculada na Conservatória dos Registos Comercial e de Bens Móveis sob o n.º 31907 SO, a quota com o valor nominal de MOP$20,000.00.

6. Waterfront Marine – Artigos Náuticos (Internacional) Limitada, matriculada na Conservatória dos Registos Comercial e de Bens Móveis sob o n.º 8754 SO, a quota com o valor nominal de MOP$20,000.00.

7. Companhia de Projectos Interiores, Decoração & Engenharia 3 D, Limitada (3D室內設計裝飾工程有限公司), matriculada na Conservatória dos Regis-tos Comercial e de Bens Móveis sob o n.º 13454 SO, a quota com o valor no-minal de MOP$27,000.00.

Aos 08 de Julho de 2015.*****

Para o grupo Energia Cívica falta informação e mais estudos. Para as restantes associações ouvidas pelo Governo ainda há muito a mudar nos novos aterros

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11 sociedadehoje macau sexta-feira 24.7.2015

Jogo Mais de uma centena de pedidosde exclusão

A Direcção de Inspecção e Coordena-ção de Jogos (DICJ) registou, entre

Janeiro e Junho, 183 pedidos de exclusão de acesso aos casinos, valor que representa quase dois terços (65,3%) do total apre-sentado em 2014.

Do total, 168 pedidos foram de auto--exclusão (ou 91,8%), enquanto os restan-tes 15 submetidos a pedido de terceiros, de acordo com dados publicados no site da entidade reguladora. No primeiro trimestre foram apresentados 89 pedidos, enquanto no segundo 94. A manter-se o ritmo de pedidos de exclusão no segundo semestre do ano, o total de 2015 vai superar am-plamente o contabilizado no cômputo de 2014. Actualmente representa dois terços.

Em 2014 foram submetidos 280 pedi-dos contra os 276 de 2013. Ao abrigo da lei que condiciona a entrada, trabalho e jogo nos casinos, o director da DICJ pode interditar a entrada em todos os casinos, ou em apenas alguns, pelo prazo máximo de dois anos, às pessoas que o requeiram ou que confirmem requerimento apresentado para este efeito por cônjuge, ascendente, descendente ou parente em segundo grau.

Estatística Menos 7,6%de visitantes em Junho

O número de visitantes caiu 7,6% em Junho, em termos anuais, para 2,24

milhões, o valor mais baixo desde Se-tembro de 2012, revelam dados oficiais ontem divulgados.

Em termos mensais, a descida foi ainda maior (11,8%), de acordo com dados da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC). Os visitantes do interior da China – que representavam mais de 60% do total – diminuíram 10,1% para 1,43 milhões face ao período homólogo de 2014.

No primeiro semestre do ano, Macau acolheu mais de 14,75 milhões de visi-tantes, valor que reflecte uma queda anual homóloga de 3,5%. Segundo a DSEC, verificou-se uma diminuição no número de visitantes do interior da China (-4,2% para 9,7 milhões) e de Hong Kong (-0,3% para 3,1 milhões), bem como uma estabi-lização no universo dos provenientes de Taiwan (465.497).

Em rota descendente também o total de visitantes da Rússia (-28,2%), Austrália (-15,6%), Japão (-15,3%), Reino Unido (-3,7%), Estados Unidos (-2,1%) e Ca-nadá (-0,7%). Os visitantes procedentes da Coreia do Sul (293.563) contrariaram a tendência de declínio no quadro das principais origens, aumentando 9,6% em termos anuais homólogos.

TV Cabo Governo tem mesmo de pagar 200 milhões

O Governo vai ser mesmo obrigado a pagar 200 milhões de patacas à TV

Cabo Macau pelos prejuízos que causou ao aceitar a retransmissão ilegal de canais, quando a empresa tinha um contrato de exclusividade. A decisão vem do Tribunal de Segunda Instância (TSI) e é irrecorrível, avançava ontem o jornal Ponto Final. O recurso contra a TV Cabo foi julgado a 9 de Julho – mas nem a informação foi divulgada, nem o acórdão tornado público.

O conflito entre a empresa e o Executivo, recorde-se, ficou resolvido em Dezembro de 2012, com uma decisão do tribunal que condenou a RAEM ao pagamento de uma

indemnização de 200 milhões de patacas. O Governo ainda tentou não pagar o montante, mas o tribunal não lhe deu razão. O tribunal arbitral concluiu que a TV Cabo sofreu prejuízos de 238 milhões de patacas, por causa dos anteneiros, as companhias que durante 15 anos captaram e distribuíram ilegalmente sinais televisivos por subs-crição, com conhecimento público, mas que daquele valor deveriam ser subtraídos 38 milhões de patacas porque a TV Cabo podia ter processado a RAEM mais cedo e porque o principal accionista da empresa é também o sócio maioritário da Kong Seng, um dos grandes anteneiros de Ma-

cau, como relembra o Ponto Final. O TSI não só entende que o tribunal arbitral teve os dois factos “em boa conta”, como diz que quem teria legitimidade em contestar esta parte da decisão era a concessionária e nunca o Gover-no. O desfecho da batalha judicial surge depois de Governo e TV Cabo terem, em Abril de 2014, renovado o contrato de concessão por mais cinco anos, com a empresa a perder o monopólio que detinha desde 1999.

O The Guardian di-vulgou, esta quarta--feira, um relatório “altamente confi-

dencial”, datado de Junho de 2010, segundo o qual Pequim acreditava que os casinos da norte-americana Las Vegas Sands estariam a tra-balhar em conluio com a CIA. Segundo a TDM, também o Chefe do Executivo, Chui Sai On, e o ex-Secretário para a Economia e Finanças, Francis Tam aparecem citados no relatório.

Chui Sai On é tido como mui-to próximo do Partido Comunista e é ainda dito que tem uma posi-ção muito forte para que possa ser alvo de escândalos, avança ainda a TDM, que acrescenta que não há nada mais de negativo que seja apontado aos dois membros do Governo de Macau.

“Muitos dos funcionários [chineses] que contactámos eram da opinião de que agências de inteligência norte-america-nas são muito activas em Macau

CIA RelatóRio fala de colaboRação da SandS com agenteS ameRicanoS

“Ideia para guião de filme”É mais uma polémica que envolverá alegadamente a Sands China: um relatório de um investigador norte-americano indica que os hotéis da operadora serviram de ninho a agentes da CIA que faziam investigações a mando da Sands para comprometer funcionários do Governo Central

“Uma fonte credível reportou que funcionários do Governo central chinês acreditam firmemente que a Sands autorizou agentes do FBI/CIA que operassem a partir das suas instalações. Estes agentes aparentemente ‘monitorizam’ funcionários do Governo chinês que jogam nos casinos’”RelAtóRIo elAboRAdo poR um InvestIgAdoR pRIvAdo

e que penetraram e utilizaram os casinos norte-americanos para apoiar as suas operações”, refere-se no relatório, elaborado por um investigador privado, divulgado no jornal britânico.

A investigação foi enco-mendada pela Sands China, subsidiária da norte-americana Las Vegas Sands, do magnata Sheldon Adelson, numa altura

em que havia preocupações com a crescente hostilidade do Go-verno da RAEM relativamente à indústria do Jogo em geral e, em particular, face à Sands, escreve o jornal.

O relatório, assinalado com uma advertência de que não po-dia chegar ao interior da China, foi revelado pelo Programa de Jornalismo de Investigação da Universidade da Califórnia, em Berkeley.

O documento figura entre o rol de documentos apresentados a tribunal no caso da Las Vegas Sands, que está a ser ouvida no âmbito de uma acção civil in-terposta por um antigo dirigente seu em Macau, que processou a empresa por despedimento sem justa causa.

“Uma fonte credível reportou que funcionários do Governo Central chinês acreditam firme-mente que a Sands autorizou agentes do FBI/CIA que operas-

sem a partir das suas instalações. Estes agentes aparentemente ‘monitorizam funcionários do Governo chinês que jogam nos casinos’”, indica o relatório.

“Esta fonte também infor-mou que vários departamentos governamentais da RPC relata-ram haver ‘provas’ de ‘agentes norte-americanos’, a operar a partir da Sands, ‘atraindo’ e ludibriando oficiais do Governo chinês, envolvidos em activida-des de jogo para depois os forçar a cooperar com os interesses do Governo dos Estados Unidos”.

realidade e ficçãoO investigador, que não é identificado, afirmou que a sua informação tinha por base fontes influentes, incluindo três no gabinete de Pequim respon-sável pelos assuntos de Macau e de Hong Kong, duas fontes do Ministério dos Negócios Estrangeiros e um poderoso empresário chinês com relações próximas a Pequim.

O relatório não refere se a Sands foi cúmplice da alegada actividade dos serviços secretos norte-americanos, apenas que as autoridades chinesas acredi-tavam nisso.

A Sands descreveu o rela-tório como “uma colecção de especulação sem significado”, considerando que a narrativa de que figurava como uma “frente” para os esforços das agências de informação norte-americanas soa como “uma ideia para um guião de um filme” lUSa/HM

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hoje macau sexta-feira 24.7.2015 13EVENTOS

A ideia surgiu do próprio Chefe do Executivo, Chui Sai On: a RAEM comemorou 15 anos des-

de o seu nascimento e a data merece ser celebrada. Tal como aconteceu aquando do 10º aniversário, o Instituto Internacional de Macau (IIM) abraçou o compromisso e criou aquela que se espera ser uma exposição mundial.

“Lembro-me que a exposição do 10º aniversário foi algo de muito grandioso. Tínhamos uns painéis de imagens da autoria do arquitecto Carlos Marreiros, muito grandes. Este ano quisemos fazer uma ex-posição mais modesta, puramente gráfica, pela simples razão de nos dar a possibilidade de flexibilidade.

IIM 15ª Aniversário dA rAeM eM fotogrAfiA, vídeo e livro

Celebrações para todos os gostos

IC assina acordo para distribuir publicações locais pelo mundo o instituto Cultural (iC) autorizou a empresa da região vizinha sup Publishing logistics (HK) limited a distribuir publicações feitas em Macau pelo resto do mundo. A ideia é que as obras sejam divulgadas em Hong Kong e no estrangeiro, fazendo a que seja mundialmente possível a aquisição das publicações do iC globalmente. A sup Publishing logistics (HK) limited é uma subsidiária da empresa sino United Publishing (Holdings) limited, que tem ligações comerciais com mais de 400 editoras e cerca de mil livrarias em todo o mundo, lançando diariamente no mercado cerca de 200 mil volumes. sendo a editora online mais abrangente de Hong Kong, possui ainda uma vasta rede comercial, incluindo colaborações comerciais com cadeias de lojas de conveniência, grandes armazéns, livrarias online e indústrias que englobam diversos sectores.

BNU Cartão de crédito com três moedaso Banco nacional Ultramarino (BnU) lançou um novo produto – o Cartão de Crédito CUP. o cartão será lançado no terceiro trimestre do ano e permite fazer transacções em três moedas diferentes: patacas, reminbis e dólares de Hong Kong. “A liquidação será feita em três moedas diferentes, nomeadamente, MoP, HKd e CnY. A promoção será feita num futuro próximo e espera-se que os clientes gostem do produto”, escreve num comunicado o BnU. A instituição bancária informou ainda que o Cartão visa BnU Asia Miles, lançado no início do presente ano, tem sido um sucesso. “o número de adesões está em conformidade com as projecções iniciais e o banco esta muito feliz com resultados obtidos”, remata.

Viagem a marte • DisneyOs irmãos mais fixes do universo chegam com 2 novas e divertidas aventuras. O amigo do Phineas e do Ferb Baljeet está a trabalhar num projeto espantoso para a feira de ciência da escola de verão: vai construir um portal para Marte! Mas será que, quando a Candace, a irmã do Phineas e do Ferb, passa acidentalmente o portal e aterra no Planeta Vermelho, os irmãos a vão salvar? Ou ficará a Candace perdida no espaço... para sempre?

NuNca Digas NuNca! • Lara Xavier “Nunca” é uma daquelas palavras que nunca devíamos dizer... É uma palavra mentirosa porque quando dizemos «nunca» raramente conseguimos cumprir o que acabámos de dizer. É como aquele menino que jurava que nunca ia comer espinafres e acabou por comê-los, ou aquela menina que nunca haveria de pintar os lábios até ao dia em que não resistiu a um batom, ou aquele outro menino que nunca trocaria de sapatilhas até que os pés deixaram de caber nelas… Nunca digas nunca conta-te dez histórias tão verdadeiras que até tu podias ser o protagonista.

À veNDa Na Livraria Portuguesa rua De s. DomiNgos 16-18 • teL: +853 28566442 | 28515915 • FaX: +853 28378014 • [email protected]

Este ano ajustamos a exposição ao espaço existente”, explica ao HM Jorge Rangel, presidente do IIM.

São Francisco, Toronto e Lisboa são algumas das cidades que abra-çaram o convite por parte do IIM e já inauguraram as suas exposições. Em Macau só acontece na próxima semana, no dia 29 de Julho.

Da montra fazem parte 50 foto-grafias, de vários tamanhos, que são o resultado de uma contribuição de várias entidades públicas e priva-das, dois vídeos e um livro.

“Procurámos evitar caras de pessoas e cortes de fitas, como por exemplo o Governo quando inaugura alguma coisa. O que pre-

São fotografias, vídeos e um livro e pretendem levar a história dos 15 anos da RAEM além fronteiras. Na próxima quarta-feira, dá-se a cerimónia de abertura de mais uma exposição do Instituto Internacional de Macau, que tem como objectivo perceber o crescimento e as mudanças desde o nascimento da RAEM atéaos dias de hoje

“O que pretendemos é mostrar Macau nas suas variadas vertentes, para quem visita a exposição, seja em que país for, ficar com uma ideia de uma cidade cheia de vida, com muita actividade e naquilo em que se transformou 15 anos depois”Jorge rangel Presidente do IIM

tendemos é mostrar Macau nas suas variadas vertentes, para quem visita a exposição, seja em que país for, ficar com uma ideia de uma cidade cheia de vida, com muita actividade e naquilo em que se transformou 15 anos depois”, argumenta Jorge Rangel.

Das LetrasCom a assinatura de Gonçalo César de Sá, será ainda apresentado o livro “Macau - Festas e Festividades”, um guião ilustrado dos múltiplos eventos culturais e religiosos no calendário anual da RAEM. “Este é um livro que foi feito de propósito para esta exposição e faz uma iden-tificação das festas e festividades e também dos grandes aconteci-mentos, como o Grande Prémio ou a Maratona Internacional. Dentro das festividades estão as católicas, chinesas e outras ligadas a outros grupos culturais. Acho que está um livro muito completo”, explica o presidente, indicando que o guião foi criado para ser distribuído no dia do lançamento da exposição das várias cidades e, posteriormente, estará disponível para compra nos vários locais onde a exposição se encontrar.

A parte de multimédia também marca presença com a passagem de duas curtas metragens. “Flying Over Macau” da autoria de Sérgio Basto Perez, e “15 anos da Região Administrativa Especial de Ma-cau”, de Silvie Lai e James Jacinto, foram os vídeos escolhidos. “Os vídeos pretendem criar um impac-to sobre Macau, 15 anos depois. Não são longos nem curtos, têm o tempo suficiente para criar este impacto que se pretende”, remata Jorge Rangel.

Ainda em cima da mesa está a hipótese da exposição marcar presença de forma permanente em vários pontos da cidade, mas ainda nada é certo. A única certeza é que o Brasil vai recebê-la em várias cida-des já no próximo mês de Outubro. No IIM, a exposição inaugura às 18h00 e tem entrada livre.

Filipa araú[email protected]

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A turbulência já andava no ar desde Nanjing e quando a Embaixada chegou a Beijing, o problema das credenciais e

da própria legitimidade da embaixada, no contexto do sistema tributário chi-nês, tornaram o ambiente hostil para Tomé Pires e a sua comitiva. E seguindo com Rui Loureiro: “Os mal-entendidos desencadeados pela disparidade entre as duas cartas são conhecidos sobretu-do graças à missiva de Cristóvão Vieira. Contudo, talvez valha a pena chamar a atenção para uma outra versão, de origem chinesa, dos mesmos aconteci-mentos. De acordo com documentos coevos, o jurubaça principal da embai-xada portuguesa, um chinês que dava pelo nome de Huo-che Ya-san (Huozhe Yasan), estabelecera excelentes relações com as autoridades provinciais, logo após o desembarque no porto de Can-tão. Por sua própria iniciativa, e graças a uma generosa distribuição de dádivas, conseguira obter autorização imperial para Tomé Pires visitar Pequim como enviado do rei de Malaca. Porém, após a chegada à capital, o seu astucioso pla-no seria desmascarado pelo enviado do verdadeiro rei de Malaca, que chegou à corte chinesa quase na mesma altura.” O “jurubaça grande falleceo de doença”, enquanto decorriam as averiguações. Mas os restantes línguas, como resulta-do do inquérito imperial, foram decapi-tados em Pequim, acusados de “saírem fora da terra” e de trazerem “portugueses a terra da China”.

O falecimento do Imperador Zheng-de precipitou os acontecimentos e não fosse o novo Imperador Jiajing (1522-66, que começou a governar logo em 1521, mas o ano de início de governa-ção só conta após o novo ano chinês) a anular a intenção dos mandarins da cor-te de Beijing em executar Tomé Pires, tinha a História da primeira Embaixada terminado na capital chinesa.

Devido à suspensão obrigatória de todas as actividades após a morte do Imperador, Tomé Pires foi mandado sair de Pequim e regressar a Cantão, com os presentes que trouxera. Se o pseudo-embaixador Yasan tinha sido desmascarado e falecido por doença, agora o verdadeiro Embaixador dos folangji, Tomé Pires e os seus compa-nheiros partiram em 22 de Abril. Data mais plausível que a de 22 de Maio, pois se o mau ambiente que os portu-

REGRESSO DE TOMÉ PIRESA CANTÃO

gueses viviam já em Beijing durante o período de doença de Zhengde, após o falecimento do Imperador não permitia longas demoras e assim, dois dias de-pois deixaram a capital, a caminho do porto por onde tinham entrado na Chi-na. Foram conduzidos vagarosamente para Guangzhou, onde chegaram a 22 de Setembro de 1521. “Ao mesmo tem-po, foram de Pequim mandadas instru-ções, por via rápida, para que, quando o Embaixador e os seus companheiros chegassem a Cantão, fossem presos, e que só depois dos portugueses terem evacuado Malaca e esta sido entregue ao seu legítimo rei, vassalo do Impe-rador da China, seriam aqueles postos em liberdade” A. Cortesão.

Hostilidade em Cantão

Apenas duas semanas antes da entrada em Guangzhou de Tomé Pires, tinham das redondezas fugido para Malaca três barcos portugueses, que participa-ram na primeira batalha entre chineses e portugueses em frente ao porto de Tunmen e só ajudados por uma tem-pestade providencial se salvaram de ir engrossar o número de portugueses nas cadeias chinesas.

“O embaixador (Tomé Pires) levado à presença das autoridades de Cantão e solicitado a escrever para Malaca, de acordo com a vontade do imperador, altivamente, como se sabe por uma carta de Cristóvão Vieira, recusou. Pela mesma fonte de informação sabemos que todos estiveram perante o puchan-chi (tesoureiro provincial), de joelhos, durante umas longas quatro horas.” E continuando com Luís de Albuquer-que: “<Em 14 de Agosto de 1522 lan-çou o Puchanchi a Tomé Pires cormas nas mãos, aos da companhia cormas e ferros nos pés, e cormas seladas nos pulsos; e nos tomaram toda a fazenda que tínhamos. Assim, com cadeias nos pescoços e por meio da cidade nos le-varam para a casa do Anchuchi (juiz provincial). Ali nos quebraram as pri-sões e nos lançaram outras cadeias mais fortes nas pernas, cormas seladas e ca-deias aos pescoços; e dali levaram toda a fazenda, e mandaram-nos assim a esta cadeia.” E seguindo o texto muito simi-lar de Cortesão que transcreve as Car-tas dos Cativos de Cristóvão de Vieira: “À entrada da cadeia morreu António de Almeida das prisões fortes, que tra-

zíamos os braços inchados e as pernas rochadas das cadeias estreitas; isto com determinação que dali a dois dias nos matariam. Antes de ser noite deitaram a Tomé Pires outras de novo, e o leva-ram a ele só, descalço e sem barrete, com apupadas de rapazes, à cadeia de Cancheufu, por ver a fazenda que nos tomaram, que se havia de escrever; e escreviam dez e furtavam trezentos... A fazenda que nos tomaram eram vinte quintais de ruibarbo; mil e quinhentas ou seiscentas peças de seda, ricas; obra de quatro mil lenços de seda, que os chineses chamam xopas de nanquim e muitos abanos; e mais três arrobas de almíscar em pó; três mil e tantos papos de almíscar; quatro mil e quinhentos taéis de prata e setenta ou oitenta taéis de oiro, e outras peças de prata; e to-dos os vestidos, peças de preço, assim portuguesas como da China; o pucho de Jorge Botelho, incenso, roçamalha, cascas de tartaruga, assim pimenta e outras miudezas. Estas foram entregues

na feitoria do Cancheufu como fazen-da de ladrões. O presente de El-Rei nosso senhor, que mandava ao Rei da China, está na feitoria do Puchanci>.

É de crer que grande parte destes ar-tigos apreendidos pelos chineses perten-cesse a Tomé Pires, que já era rico antes de ir à China e decerto não deixou de procurar aumento à sua riqueza.”

“Vieira diz ainda que, na presença de Pires, arrolaram a fazenda confis-cada, tendo o presente de D. Manuel ficado à guarda do Puchanchi” L. Al-buquerque.

Para agravar a situação

A 4 de Agosto de 1522, chegara a Ta-mão a frota de seis velas comandada por Martim Afonso de Mello Coutinho trazendo como missão desde Lisboa consolidar a amizade que se julgava já estabelecida entre portugueses e chi-neses e conduzir um novo embaixador, pois tinha como certo que nessa altura

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15 artes, letras e ideiashoje macau sexta-feira 24.7.2015

José simões morais

Tomé Pires estaria de regresso. Ao con-trário do que em Cochim fora informa-do por Simão de Andrade, em Malaca soube que em vez de se ter feito amiza-de com a China, ocorrera em 1521 uma batalha naval, de onde os portugueses saíram derrotados. Martim Afonso de Melo Coutinho “não obstante, decidiu continuar viagem, acompanhado por outro navio e um junco com Ambrósio do Rêgo e Duarte Coelho, que relutan-temente, e apenas sob pressão de Jorge de Albuquerque, ao tempo Capitão de Malaca, consentiram em voltar à Chi-na, onde, no ano anterior, como vimos, tinham estado em sérios apertos. Cou-tinho partiu de Malaca com seis velas, em 10 de Julho e chegou a Tamão em Agosto de 1522” A. Cortesão.

Em Malaca, sobre as andanças da Embaixada de Tomé Pires nada se sa-bia apesar de, pelos factos ocorridos no ano anterior, poucas esperanças havia de ter sido realizada com êxi-to. Não imaginava Martim Afonso de Melo Coutinho estar Tomé Pires e os que sobravam dos seus acompanhantes presos ali próximo, em Cantão.

Entrou Martim Afonso de Melo Coutinho a 4 de Agosto de 1522 com os seus barcos no porto de Tamão tão confiadamente, como se as instruções de D. Manuel para conseguir a ami-

zade do Rei da China e estabelecer ai uma fortaleza, por si só valessem como lei. Foi no pior momento porque em terra, os chineses tinham Tomé Pires e seus companheiros, como ladrões e espiões. E com Luís Gonzaga Gomes seguimos: “ Os chineses, que se en-contravam ainda excitados com a em-baixada de Tomé Pires, receberam tão mal os portugueses que se travou uma rija batalha naval, no porto de Tamão, onde Martim Afonso de Melo Couti-nho tinha entrado, descuidadamente, e donde conseguira escapar, a coberto da luta sobre humana travada pela barco de Pedro Homem que, obrando prodí-gios de incomparável valor, conseguiu atrair sobre si toda a atenção dos chi-neses até ser derrubado por um tiro.” “Os portugueses sofreram muitas bai-xas, perderam dois dos navios e o jun-co e, depois de vãos esforços para res-tabelecer relações com as autoridades cantonesas, regressaram a Malaca em meados de Outubro do mesmo ano.”

“Com tudo isto a situação de Pires ainda se tornou pior, se é possível. Os mandarins de novo lhe ordenaram que escrevesse uma carta ao Rei de Portu-gal, a qual o embaixador Tuam Hasam Mudeliar levaria a Malaca, a fim de que esta e o seu povo pudessem voltar ao antigo senhor; se não viesse resposta

Cristóvão vieira, na sua longa Carta esCrita provavelmente em novembro de 1524 no Cativeiro (...), diz que só ele e vasCo Calvo se enContravam vivos na Cadeia de Cantão e assim, todos os que a leram pensaram que tomé pires tinha morrido na prisão. mas seria isso verdade?

satisfatória, o embaixador não voltaria. Os portugueses receberam na cadeia uma minuta em chinês, da qual escre-veram três cartas, a El-Rei D. Manuel, ao Governador da Índia e ao Capitão de Malaca, que foram entregues às au-toridades de Cantão em 1 de Outubro de 1522. O embaixador malaio, como é fácil de compreender, não mostrou interesse especial em servir de correio de tais missivas, nem era fácil encontrar quem se quisesse encarregar de missão tão contingente.

Por fim, um pequeno junco com quinze malaios e quinze chineses par-tiu de Cantão em 31 de Maio de 1523 e alcançou Patane, na costa nordeste da Península Malaia. As cartas foram, segundo parece, às mãos do ex-rei de Malaca, grande intriguista, que se re-fugiara na próxima ilha de Bintang, e a quem não faltavam motivos para odiar os portugueses e, talvez mesmo, Pires em especial; mas nunca chegaram ao seu destino. Contudo, Ambrósio do Rêgo, que, nessa altura, tinha ido a Patane, soube, por um intérprete que costumava servir entre portugueses e chineses, quando estavam em paz, que Tomé Pires e alguns dos seus compa-nheiros ainda se encontravam vivos em Cantão” A. Cortesão.

O fim trágicO dOs mercadOres

Como Armando Cortesão refere: “Os mais importantes documentos para a história de Tomé Pires e sua Embaixa-da, depois do desembarque em Can-tão, constam de duas cartas de Cristó-vão Vieira e Vasco Calvo, escritas des-sa cidade em 1524, das quais Barros se aproveitou largamente nas Décadas.”

Voltando a Luís de Albuquerque: “A partir daqui, as notícias sobre o destino dos prisioneiros são escassas, em alguns casos confusas, senão até contraditó-rias. No final de 1523, Ambrósio do Rego trazia a Malaca a notícia de que ainda viviam entre oito e treze cativos, contando-se Tomé Pires entre os sobre-viventes; aos da embaixada ter-se-ão juntado, portanto, os prisioneiros das

armadas a que os chineses deram ba-talha no porto de Tamão (que ocorreu no porto de Tunmen), nomeadamente Vasco Calvo. Todavia, se acreditarmos na carta de Vieira, seria de vinte e três o número de presos; de facto, ele rela-ta que no dia 6 de Dezembro de 1522 <lhes lançaram tábuas com sentenças que morressem em troncos por ladrões pequenos do mar, enviados pelo ladrão grande (D. Manuel I, é claro), que fal-samente vêm espiar nossa terra para vi-rem sobre ela. Cortem-lhes as cabeças, sejam esquartejados. Foi recado ao Rei, segundo informação dos mandarins; confirmou o Rei a sentença a 23 dias de Setembro de 1523.>”

Já A. Cortesão complementa: “Os mandarins enviaram um relato ao Im-perador, o qual confirmou as sentenças. <A 3 de Setembro de 1523 foram estas vinte e três pessoas feitas em pedaços cada uma, a saber: cabeças, pernas, bra-ços; e suas naturas nas bocas; o tronco do corpo em redondo, pela barriga, em dois pedaços. Pelas ruas de Cantão, fora dos muros, pela povoação, pelas ruas principais, foram mortos, de tiro de bes-ta em tiro, para todos os verem, assim os de Cantão como os do termo, para da-rem a entender que não tinham em con-ta os portugueses, para o povo não falar em portugueses. Foram assim nos navios tomados às mãos por se não acordarem os capitães ambos, e tomados assim to-dos os navios. A todos os mataram, e as suas cabeças e naturas foram trazidas às costas dos portugueses diante dos man-darins de Cantão, com tangeres e praze-res. Foram vistas penduradas pelas ruas e depois deitadas nos monturos. E daqui ficou não consentirem mais portugueses na terra, nem outros estrangeiros>.

Cristóvão “Vieira menciona outros juncos que, por esse tempo, chegaram à China com portugueses, tendo sido todos atacados e as tripulações chaci-nadas. Do navio de Diogo Calvo fica-ram presos, além de Vasco Calvo, sete outros portugueses e quatro servidores, os quais escaparam à matança por di-zerem que pertenciam à Embaixada de Tomé Pires. Mas muitos outros mor-reram nas prisões, depois de expostos com letreiros onde se dizia que iam morrer por serem <ladrões do mar>, quando não eram assassinados com uma pancada de malho na cabeça, ou espancados até expirar” A. Cortesão.

Cristóvão Vieira, na sua longa carta escrita provavelmente em Novembro de 1524 no cativeiro e que conseguiu através de chineses fazer chegar às mãos dos portugueses, diz que só ele e Vasco Calvo se encontravam vivos na cadeia de Cantão e assim, todos os que a leram pensaram que Tomé Pires tinha morrido na prisão. Mas seria isso verdade?

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16 hoje macau sexta-feira 24.7.2015

A zul se diz o céu. De todos os azuis, se engana a razão.

Falar da cor – de qualquer cor – é sempre falar da maior das ilu-

sões da percepção. Do que não existe em si, mas sim pela acção permanentemente pro-duzida, renovada e afinada dos sentidos. Da visão, neste caso, e sinestesicamente talvez também de todos os outros. O que não está lá, intrinsecamente à matéria, mas como ela-boração. Da luz reflectida de diferentes ma-neiras de acordo com a estrutura atómica dos elementos físicos. E em permanente mutação. Ao longo do dia, quando cada imperceptível mudança da luz, cada subtil contracção da pupila, ou alteração do humor, dá a ver não só aquilo que a matéria física tem em si como potencialidade ou inevitabilidade, mas tam-bém algo, acrescido de um contributo psíqui-co, que está por detrás de cada olhar particu-lar. E mesmo este, modelado por característi-cas fisiológicas que restringem ou alargam as possibilidades da percepção. O dia e a noite, só em si e na sua eterna alternância, trazem e levam de forma gradual a cor. Impermanente. Tão delicadamente a cor se retira, que somos iludidos ao ponto de a imaginar a envolver--se em trevas, quando na realidade ela se vai com a luz. Vai, do lugar onde nunca esteve. Senão como ilusão. E volta para o lugar de onde veio. lugar nenhum.

Se quiser falar da cor mais próxima do nada, vem sempre à ideia o branco como o negro, até culturalmente envoltos em sen-tidos de leitura muito semelhantes. Mas aí estaria a falar de não-cores. O que seria ba-tota. E de entre as cores, se há uma que nos domina é o azul. Vivemos envoltos no azul da atmosfera. Nada mais presente do que esse azul. E nenhuma cor mais ausente, também. longínqua, esquiva, distanciada do nosso al-cance. Sempre ali, e sempre em recuo, numa fuga perceptiva que faz dela, se por um lado a mais repousante e calma de entre todas, tam-bém a que implicitamente está sempre em movimento de nós para o além de nós, uma distância infinita de tão grande. Que sugere todo o espaço real ou psicológico, do aqui até ao limite do universo. Para sempre, para longe e para fora. Ela, que nem no mar en-controu espelho à sua altura. E por isso a mais solitária das cores. A mais triste e a mais me-lancólica. Aquela está sempre lá e sempre em fuga. Intangível e impermanente, mais ainda do que qualquer outra. E mais bela, por isso.

E é por isso que nas representações pictó-ricas, esta é a cor mais poderosa na ilusória re-presentação do espaço em profundidade. Se as cores quentes são as que mais turbulência

provocam, as que mais dinamismo sugerem, e as que mais emoções sensitivas têm como aptidão provocar, até porque avançam para nós com voluptuosidade, intensidade e qua-se desafio ou agressão, é curiosamente a mais fria delas todas, a mais etérea, que, não só não opõe resistência ao olhar, como o deixa vogar por ela adentro, ou por ela fora, sem limite. A cor do abismo. E se nela o olhar teimoso se queda sem mergulhar, é ela própria que recua, como prefigurando um canto de sereia, que atrai, arrasta, e atrás do qual insensivelmente nos deixamos ir e perder. Não fosse o nosso dinamismo psíquico, uma espécie de elástico que, abrupta ou suavemente, nos traz de volta àquilo ou ao lugar que nos centra.

O universo de azul é abismal de facto. E nesse abismo se espelha a nossa dimensão também ilusória de grandeza de espírito. Não delimitável. Mas também a nossa insignifi-cância, e com ela, a insignificância de muitas das formatações, molduras, preconceitos e ideias prévias. Nesse imensurável abismo que é o retorcido dinamismo psíquico, uma hélice de dois sentidos, nos perdemos em dilemas e labirínticos esquemas de configuração, ou entendimento, ou modelos de existência. Ou nos perdemos saborosamente na amplidão espacial, porque ao espírito ocorrem sempre metáforas do conhecido, esvoaçando ao sa-bor de correntes de ar quente, que nos elevam do corpo leve, porque de espírito se trata. Para isso, muito mais é preciso do que um simples brevet. E muitas horas de vôo se requerem para o podermos fazer sem a alienação total.

Tanta simbologia criada a partir do carác-ter puro e espiritual desta cor. Tanto poeta, tanto estudioso dedicou palavras à menos material de todas, que seria redundante e exaustivo rever. Encontro num pequeno tre-cho em contexto científico, sobretudo talvez na ausência de intencionalidade poética, qua-se uma fina ironia dadaísta. O concreto ob-jecto da ciência, enunciado, é só por si poesia:

“O colorido exuberante do fogo de artifí-cio tem, no laboratório químico, uma aplica-ção interessante: a identificação de substân-cias pela espectroscopia de emissão atómica. Cruzam-se testes de chama com química quântica, crimes desvendados, auroras bo-reais, operações cirúrgicas com laser e lâmpa-das economizadoras.”

De onde nos vem o azul, não sendo dos átomos incolores que constituem a matéria, senão das maiores extensões aéreas, oceânicas ou dos azulados gelos dos polos…Frio. Frio. Frio. E, no entanto, azul é a mais aveludada das palavras que designam as cores. Sem ér-res nem vogais abertas e cruas. No português.

No inglês ainda mais. Será talvez por isso que somos sóbrios e melancólicos ao ponto de ter o fado como a canção que nos define…que somos, em parte, um povo in blue. E de onde vêm os blues como género musical senão das raízes sofridas, e como melopeias de trabalho, lamento e ânsia melancólica de liberdade, dos escravos negros nas plantações do delta do Mississipi. Se as cores dissessem o que senti-mos em toda a sua plenitude, se com as pala-vras quiséssemos dizer tudo o que queremos, sobre tudo o que sentimos, e dizer tudo o que sentimos sobre as cores, ou o que elas dizem do que sentimos, teríamos que usar uma mis-tura, uma fórmula constituída de todos os idiomas, muitos ou poucos, que conhecemos. Porque o sentido de uma palavra numa língua tem a doçura própria, procurada e irrepetível na outra. E ao sentido acrescenta-se impreci-samente a tonalidade sonora, criando ramifi-cações específicas. Para além da forma como diferentes idiomas reflectem diferentes neces-sidades de nomeação das cores, de maior ou menor diferenciação e desmultiplicação de termos para uma mesma cor.

Mas eu queria descrever o que vejo, para não o pensar a mais do que o é. Do azul e da distância evocada, invocada e que simboliza. A percepção do recuo a definir uma área de coisas etéreas, tanto como o espírito, ligadas à cor. Mas dizer azul tem uma estranha pro-ximidade pouco fonética mas mais sensorial com o dizer veludo, sendo esta redundante-mente mais aveludada ao paladar. Ao tacto. Ao imaginar ou recolher na memória. E o azul enaltece-se dessa qualidade e dessa tempera-tura por semelhança. Mais liso, mais fina a cor e as matérias que invoca mas igualmente confortável. E no entanto a mais abismal das cores. Porque a mais transparente.

Curiosas expressões em torno do azul, se encontram na língua inglesa. Sinestésicas como o feeling blue, ou, aquela que prefiro: out of the blue. Aquilo que veio do nada. E daquela outra figura de estilo: ouro sobre azul, onde o amarelo, prefigura a luz, razão de todas as cores, e símbolo de toda a razão como saber, parece concluir-se ser o tudo e o nada que se complementam. Tanto a dizer sobre as cores – quaisquer cores – que não cabe no espaço desta página. E sobre o azul, a maior de todas, a mais distante, misteriosa e intocável que, tem tanto de hermética como, paradoxal-mente, de transparente e límpida, muito mais ainda. Ou dizer nada e reservá-la à contem-plação. O que seria a mesma coisa. Da quími-ca dos pigmentos e do olhar animal, se faz o azul. De tudo e de nada. O azul que é a cor da alma. No nada, que é o seu lugar.

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17 artes, letras e ideiashoje macau sexta-feira 24.7.2015

de tudo e de nada AnAbelA CAnAs

A cor do nAdA

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Taiwan Limitação aos ‘drones’ para evitar acidentes e espionagem

Operação anti-aéreaO Governo de Tai-

wan convocou uma reunião para estudar no-

vas normas para o licencia-mento e operação de ‘drones’, perante receios relacionados com a segurança nacional e eventuais acidentes causados por esses aparelhos não pi-lotados, informou ontem em comunicado.

Esta semana, um ‘drone’ chocou contra a Torre 101, em Taipé, que durante anos foi o edifício mais alto do mundo, um incidente que gerou o receio de que os milhões de visitantes chi-neses na ilha utilizem estes dispositivos para operações de espionagem.

Pequim considera Tai-wan uma província do país, embora a ilha funcione, de facto, como um país sobera-no, com todas as instituições de Governo eleitas pela população.

A China deseja para Taiwan um processo de reintegração idêntico ao encetado para Hong Kong e Macau, prometendo um alto grau de autonomia para a ilha, situação que não agrada a muitos dos habitantes de Taiwan, embora em termos políticos se processe uma cada vez maior aproximação bilateral.

A informação, a 5 de Julho passado, pela estação estatal CCTV, da China, de que um edifício parecido com o gabinete presiden-cial de Taiwan tinha sido

o objectivo em manobras militares chinesas, gerou preocupações sobre a se-gurança nacional em Taipé.

Choques nas alturasEm Junho, foram registados vários incidentes com ‘dro-nes’ perto de aeroportos, o que desencadeou o receio de que pudessem ocorrer acidentes aéreos devido ao manuseamento inadequado destes dispositivos.

O rápido desenvolvi-mento da indústria de ‘dro-nes’ e a redução dos custos destes aparelhos criou pro-blemas não contemplados na legislação actual.

A proliferação dos ‘dro-nes’ criou problemas de se-gurança nacional e cidadania e pode afectar o direito à vida privada, disse aos jornalistas o membro do governo Yeh Shin-cheng.

Desde meados de Junho, pelo menos três ‘drones’ chocaram contra a Torre 101, o último dos quais um incidente causado por um turista chinês de 28 anos, que estava alojado num hotel nas proximidades e usava o dispositivo para tirar fotografias.

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ANÚNCIO

HM-2ª vez 24-7-15AUTOS DE INTERDIÇÃO CV3-15-0026-CPE 3º Juízo Cível

REQUERENTE: MINISTÉRIO PÚBLICO.---------------------REQUERIDA: LAO SOU MEI.-------------------------------------

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FAZ-SE SABER que, foi distribuído neste Tribunal, em 2 de Julho de 2015, um Processo de Interdição, com o número acima indicado, em que é Requerida, LAO SOU MEI, residente no Centro de Recuperação da Associação Geral dos Operários de Macau, sito no Largo da Ponte, Taipa, Macau, para efeito de ser decretada a sua interdição por anomalia psíquica.---------------

Macau, 13 de Julho de 2015.

Envelhecimento Pequim pode abandonar política do filho único

O governo chinês está a estudar a possibilidade de estender a toda a

população a autorização para ter dois filhos, actualmente permitida apenas sob certas condições e nalgumas re-giões do país, deixando para trás quase 40 anos da política do filho único.

A medida, antecipada na quarta--feira pelo jornal oficial China Busi-ness News e confirmada ontem por outros media, teria como objectivo inverter a reduzida taxa de natalidade do país, que está a provocar um enve-lhecimento acelerado da população.

Um investigador da Comissão Nacional de Saúde e Planeamento Familiar disse ao China Business News, inclusivamente, que a revisão

da legislação sobre o controlo da natalidade poder ocorrer antes do fim deste ano.

A Assembleia Nacional Popular da China aprovou em Dezembro de 2013 um relaxamento da con-troversa política do filho único, autorizando os casais nos quais um dos pais não tivesse irmãos (antes deveriam ser dois) a ter um segundo descendente.

A mudança foi sendo aplicada paulatinamente, mas, por enquanto, os seus efeitos foram menores que os esperados pelo governo. Um milhão de casais solicitaram ter um segundo filho com base na reforma, metade do previsto pelas autoridades.

A partir desses dados e do cresci-mento do envelhecimento da popu-lação, os analistas estão a estudar a forma de propor novas flexibilizações nas políticas de planeamento familiar do país para manter o desenvolvimen-to económico.

O primeiro-ministro da China, Li Keqiang, disse em Março, no seu discurso anual na Assembleia Popular, que o governo continuaria a fazer mudanças no controlo da natalidade.

A percentagem da população com mais de 60 anos na China aumentou de 13,3% em 2010 para 15,5%. Já o número de pessoas em idade para trabalhar registou uma queda em 2011, segundo os dados oficiais.

18 china hoje macau sexta-feira 24.7.2015

Bolsa Fantasma de ‘crash’ cada vez mais distanteos receios de uma queda semelhante à da bolsa de nova iorque antes da grande depressão parecem estar cada vez mais longe da mente dos investidores chineses. Uma queda a pique iniciada a meio de Junho chegou a fazer temer um ‘crash’ no mercado de Xangai, mas as decisões das autoridades chinesas parecem ter conseguido travar a desvalorização. mesmo com restrições em certas cotas, e com medidas de incentivo à compra ainda em vigor, o principal índice da bolsa continental chinesa teve o sexto dia consecutivo de ganhos e afastou o fantasma das vendas generalizadas. no balanço final da sessão de ontem, o índice shanghai composite ganhou 97,88 pontos, equivalentes a um aumento de 2,43% em relação ao final da sessão anterior. a valorização global do principal indicador de Xangai é agora de 4.123,92 pontos.

Desde meados de Junho, pelo menos três ‘drones’ chocaram contra a Torre 101

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tempo aguaceiros ocasionais min 26 max 30 hum 80-95% • euro 8.77 baht 0.23 yuan 1.28

João Corvofonte da inveja

Aconteceu Hoje 24 de JUlHO

O que fazer esta semana?Amanhã“SAtUrdAy NigHt JAzz”, cOm KirSteN lONg e Az SAmAdFundação rui cunha, 21h00entrada livre

diariamente expOSiçãO de FOtOgrAFiA “citieS”creative macau (até 22/08)entrada livre

expOSiçãO “O legAdO de AmílcAr cAbrAl”casa garden, 18h30 (até 31/07)entrada livre

expOSiçãO “SAUdAde” (Até 30/9)mgm macau entrada livre

“A Arte de imprimir” (Até dezembrO)centro de ciência de macauentrada livre

expOSiçãO “AO riScO dA cOr - clAUde ViAllAte FrANcK cHAleNdArd”galeria do tap Seac (até 9/08)entrada livre

expOSiçãO “WHO cAreS” (Até 28/07)Armazém do boi, 16h00entrada livre

expOSiçãO “de lOrieNt AO OrieNte - cidAdeS pOrtUáriAS dA cHiNA e FrANçA NA rOtA mArítimAdA SedA” museu de macau (até 30/08) entrada livre

expOSiçãO de ArteS ViSUAiS de mAcAU (Até 2/8)pintura e caligrafia chinesasedifício do antigo tribunal, 10h00 às 20h00entrada livre

mUSicAl “A belA e O mONStrO”(Até 26/7, de qUiNtA A dOmiNgO)Venetian macau Bilhetes entre as 280 a 680 patacas

expOSiçãO “VAlqUíriA”,de JOANA VAScONcelOS (Até 31 de OUtUbrO)mgm macau, grande praça entrada livre

C i n e m acineteatro

Sala 1inSidiouS: chapter 3 [c]Filme de: leigh Whannellcom: dermot mulroney, Stefanie Scott, Angus Sampson14.15, 16.00, 17.45, 19.30

minionS [a]FAlAdO em cANtONÊSFilme de: pierre coffin, Kyle balda16.00

Sala 2ant-man [B]Filme de: peyton reedcom: paul rudd, michael douglas14.30, 16.45, 21.30

ant-man [3d] [B]

Filme de: peyton reedcom: paul rudd, michael douglas19.45

Sala 3inSide out [a]FAlAdO em cANtONÊSFilme de: peter docter14.00, 15.55, 17.50

inSide out [3d] [a]FAlAdO em cANtONÊSFilme de: peter docter19.45

minionS [a]FAlAdO em cANtONÊSFilme de: pierre coffin, Kyle balda21.45

iNSidiOUS: cHApter 3

U m d i s C o h o j e

Canções que, ao ouvir, nos fazem felizes. Como “Compass”, que parece que nos orienta na vida. o 4º álbum da banda americana de country Lady antebellum, contém12 músicas, sendo as mais conhecidas “Get to me”, “Goodbye Town” e a música cujo nome dá nome ao álbum, “Golden”. escolhida porque “a palavra capta o sentimento de todo o álbum”, como disse Kelley, a vocalista. Flora Fong

“Golden”(lAdy AnteBellum, 2013)

Se a alma existisse, a natureza das lágrimas seria outra.

19hoje macau sexta-feira 24.7.2015 (F)utilidades

nasce Bolívar, o libertador democrata da América do Sul• A 24 de Julho recorda-se Simón Bolívar, militar venezuelano que cumpriu um papel fundamental na libertação da América do Sul e no lançamento de ideologias democráticas em grande parte do território sul-americano.Simón Bolívar foi um militar e líder político venezuelano, que partilha com José de San martín o título de peça fundamental nas guerras de independência da América do império espanhol.Após o triunfo da Monarquia Espanhola, Bolívar parti-cipou na fundação da primeira união de nações inde-pendentes na América latina, nomeada grã-colômbia, da qual foi presidente, entre os anos de 1819 e 1830.bolívar é considerado na América latina como um herói, um visionário, revolucionário e libertador dos povos. durante seu curto tempo de vida, liderou os processos de independência de bolívia, colômbia, equador, panamá, peru e Venezuela.cumpriu um papel essencial no lançamento de ideo-logias democráticas em grande parte do território da América Hispânica. e por isso é considerado por alguns historiadores como o ‘george Washington da América do Sul’.bolívar nasceu no dia 24 de Julho de 1783 e viria a morrer no dia 17 de Dezembro de 1830, com 47 anos, após uma batalha contra a tuberculose. Hoje, recorda-se este homem que semeou a democracia na América do Sul.

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20 publicidade hoje macau sexta-feira 24.7.2015

Publicações ao abrigo do nº 1 do artigo 86 do Decreto-Lei nº 27/97/M, de 30 de Junho 1997

Relatório do Conselho de AdministraçãoEm 2014, o total de prémios brutos foi, aproximadamente, de 32 milhões, tendo o valor de prémios líquidos, em relação ao exercício anterior, registado um aumento na ordem de 14%. Em termos globais, o resultado líquido registou um acréscimo na ordem de MOP2,000,000, sendo isto resultante do aumento de prémios de seguros, do fortalecimento da gestão comercial e do controlo de riscos.

O Conselho de Administração da Companhia tem o prazer de submeter o relatório e as demonstrações financeiras auditadas, referentes ao exercício findo em 31 de Dezembro de 2014, bem como a seguinte proposta para aplicação de resultados:

MOPResultados Líquidos 5,160,752

Para Reserva Legal (1,033,000)

Para Resultados Transitados 4,127,752

O Presidente do Conselho de Administração,Stanley Au Chong Kit

Macau, aos 25 de Março de 2015

Lista dos accionistas qualificados:Banco Delta Ásia, S.A. 99.87%

Nomes dos titulares dos órgãos sociais:

Mesa da Assembleia Geral Ordinária:Banco Delta Ásia, S.A. PresidenteSr. Leung Chi Ping Vice-PresidenteSr. Lau Kai Hing Secretário

Conselho de Administração:Sr. Stanley Au Chong Kit PresidenteSr. Lau Kai Hing AdministradorSr. Leung Chi Ping AdministradorSr. Yeung Jar Wing, Louis Administrador Sra. Au Lai Chong Administrador Sr. Leung Tat Hin Administrador Sr. Leung Hoi KwokSr. Ip Kim Kuen, Carol

Administrador Administrador

Sr. Chan Ying Wai, David Administrador

Fiscal Único:Sr. Gilberto Xavier Hy

Síntese do Parecer do Fiscal ÚnicoO Balanço e a Conta de Exploração do Exercício desta Companhia foram elaborados de acordo com as leis vigentes em Macau e auditadas, e apresentam de forma clara a situação financeira da Companhia em 31 de Dezembro de 2014, assim como o resultado apurado nessa data.

O Fiscal Único,Gilberto Xavier Hy

Macau, aos 25 de Março de 2015

Síntese do Parecerdos Auditores Externos

Auditámos as demonstrações financeiras da Companhia de Seguros Delta Ásia, S.A., referentes ao exercício findo em 31 de Dezembro de 2014, de acordo com as Normas de Auditoria vigentes em Ma-cau, RAE, e sobre essas demonstrações financeiras expressámos a nossa opinião, sem reservas, no relatório datado de 25 de Março de 2015.

Efectuámos uma comparação entre as demonstrações financeiras resumidas, preparadas pelo Conselho de Administra-ção para efeitos de publicação, e as de-monstrações financeiras que auditámos.

Em nossa opinião, as demonstrações financeiras resumidas estão consistentes com as demonstrações financeiras audi-tadas.

Basílio e AssociadosAuditores Registados

Manuel BasilioMacau, aos 25 de Março de 2015

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sorr indo sempreAndré ritchie

P olítica e acontecimentos locais à parte, e ultrapassada a tragédia grega, um dos as-suntos quentes da actualidade é a chegada da sonda New Horizons a Plutão. E, com isso, toda a discussão que se gerou em torno da questão de Plutão ser ou não um planeta.

caríssimo leitor, deixe--me dizer-lhe uma coisa: esse assunto não me interessa nem um pouco e estou-me completamente borrifando se Plutão é pla-neta ou se é planeta-anão.

Regressando à terra. No outro dia alguém questionou-me quanto à persistente inclusão de expressões em chinês, inglês ou em patuá nos meus artigos desta coluna. Pelo que me pareceu interessante esclarecer por que motivo escrevo assim. E, com isso, surgiu-me a ideia de desenvolver o tema que vou hoje abordar.

a mistura de línguas é uma característica genuinamente Macaense. No nosso dia-a-dia é assim que falamos entre nós e é assim que nos entendemos, misturando o português, o chinês e o inglês, por vezes até utilizando expressões em patuá.

E por que razão não haveria de ser assim? Se posso dizer que vou comer um van tan min, para quê me vou dar ao trabalho de dizer que vou comer uma sopa de fitas com pastéis de camarão? E repare, caríssimo leitor, que nunca coloco aspas quando introduzo essas expressões em chinês, inglês ou patuá, pois são palavras em língua estrangeira que, na verdade, também não são.

a mistura de línguas faz parte da nossa identidade e fazemo-lo com naturalidade, consoante o que o nosso cérebro entender mais adequado para o contexto específico. Quantos Macaenses não memorizam números de telefone em chinês, por ser mais fácil?

Quando subitamente mudamos de língua, alteramos em conformidade o tom de voz, a linguagem gestual e porventura – e o que vou agora dizer é pertinente – até o nosso raciocínio e a posição que podemos tomar perante um assunto em concreto.

Essa nossa característica permite-nos uma aproximação especial ao nosso interlocutor, o que por vezes poderá revelar-se extremamente útil e vantajoso para nós.

costumo dizer às pessoas que a inclinação para línguas está por natureza nos genes do Macaense desde nascença. todavia, há que perceber que as coisas não caiem do céu e, se não nos pusermos a pau, as gerações futuras poderão vir a perder esses genes.

Passo a explicar.Nos anos 80-90, com o receio da trans-

ferência de poderes que se aproximava, muitos foram os Macaenses que destinaram estrategicamente aos seus filhos um ensino integralmente em chinês, neste processo descartando por completo a língua portuguesa.

ironicamente, crescidos e já na idade da razão, agora esses filhos questionam os pais, revoltados com o facto de não saberem falar português.

Noite de Natal no karaoke

Posso compreender e até tolerar situações que tiveram lugar ainda antes da transição, já que naqueles tempos era impossível adi-vinharmos o que seria o Macau do pós-99. aliás, sobre esse tema até já me debrucei numa peça desta coluna. (*)

No entanto, custa-me aceitar que essas situações persistam ainda hoje. Muitos são os Macaenses que preferem não falar português com os seus filhos, deixando também de fora o sistema português de ensino. Quando toco nesse assunto, ficam surpreendidos com a minha posição e alguns até não escondem um certo desprezo que têm pelo ensino português. algo que não consigo compreender.

Para já, não se venha agora dizer que o português é uma língua que não tem futuro. Era esse o argumento mais comum na era pré-99, mas parece-me mais que óbvio que se encontra desactualizado, para não dizer incorrecto. E não apenas pelo facto de o Governo central ter definido Macau como plataforma para o intercâmbio com os PaloPs.

Para começar, não duvido que em Macau, em termos de trabalho, saber português é uma mais-valia. aliás, dominar com naturalidade ambas as línguas oficiais só poderá, suponho, enriquecer o currículo dos nossos filhos.

Mas, mais do que isso, é o facto de o português ser uma língua de origem latina e, como tal, o acesso que nos permite às outras línguas de origem similar e as portas que podemos abrir em consequência. Exemplo rápido? o espanhol e toda a américa latina.

Por outro lado, até hoje não me foi ainda apresentado um único argumento convincente para justificar a não inclusão do sistema de en-

sino português como uma opção para os nossos filhos. Vejo muitos pais Macaenses da minha geração a darem preferência ao ensino chinês ou às chamadas “escolas internacionais”. Não tenho nada contra esses dois últimos sistemas, apenas acho que não devemos rejeitar logo à partida o ensino português.

De qualquer forma, não é meu desejo mergulhar aqui nessa discussão e apresentar argumentos para provar que este sistema de ensino é melhor do que aquele. tudo é relativo e não tenho dúvidas que cada escola, seja ela chinesa, portuguesa ou “internacional”, terá as suas vantagens e desvantagens.

o que me parece – e este é o peixe que quero vender – é que não vejo razões para se deixar de falar português com os nossos filhos, independentemente do sistema de ensino que se vier a escolher para eles, porque uma coisa não impede a outra.

Dito isto, deixe-me partilhar o seguinte com o caríssimo leitor: o meu filho, que está a seguir o sistema português de ensino, tem 4 anos e fala fluentemente português, chinês e inglês. E isto porque, desde cedo, ficou programado que (1) comigo e com a minha mulher, fala português; (2) com a minha sogra, fala chinês; (3) com a empregada, que é filipina, fala inglês e (4) com os restantes membros da família, é tudo champorado e fala as línguas que entender.

o que o acabou de ler não é nada do outro mundo: foi assim em muitas casas Macaenses ao longo de séculos. E não vejo razões para que assim não seja durante mais outros tantos séculos.

Portanto, se é Macaense e tem crianças ainda pequeninas, caríssimo leitor, pense

seriamente nisso: tem a possibilidade de proporcionar aos seus filhos um ambiente espectacularmente multicultural e multilin-guístico, mais internacional que qualquer “escola internacional”, em que poderá incluir pelo meio, com naturalidade, o português, o chinês, e ainda as línguas que bem entender.

Porque, se não o fizer, está a privar os seus filhos de uma herança cultural a que deviam obrigatoriamente ter direito, condenando-os a não poderem usufruir de uma mais-valia que no futuro os poderá distinguir do chan Fok Soi da esquina.

E, numa análise mais alargada e profunda, estará a deitar para o lixo todo o saber acumu-lado dos nossos antepassados que, de geração em geração, foram transmitindo os seus conhe-cimentos, hábitos e costumes, consolidando assim a nossa rica identidade Macaense.

a transmissão do conhecimento é crucial para a nossa futura existência e sobrevivência. Se achar desnecessário fazê-lo – e a língua portuguesa é uma componente essencial nesse processo – no dia em que o seu filho lhe perguntar por que motivo não fala português, não lamente.

igualmente, se um dia celebrar a noite de Natal com os seus netos num karaoke, com um capuz de Pai Natal cheio de luzes na cabeça e a comer amendoins com sabor a wasabi, e se sentir saudades dos velhos tempos em que se convivia à mesa em português e em chinês e se comia tacho, genete e cuscurão antes da missa do Galo, não lamente.

a culpa é inteiramente sua porque não teve visão.

Sorrindo Sempreo volume de lixo que por vezes uma embala-gem consegue criar e a sua total desproporção com as dimensões do produto propriamente dito é algo que me irrita visceralmente.

o pior de tudo são as camisas: dobradas sobre uma folha grossa de cartão; presas por não sei quantos alfinetes; cartolina no colarinho; etiqueta da marca presa por um cordel; saquinho com botões sobressalentes; e essa parafernália toda colocada dentro de uma caixa de cartão ou uma embalagem de plástico transparente. Uma absurdidade total. onde está a consciência ecológica?

No outro dia comprei seis camisas de uma assentada e decidi desempacotar tudo logo depois de pagar. Para quê levar aquela porcaria toda para casa? Ficou ao balcão da loja um volume enorme de lixo. Os empregados ficaram incomodados, mas antes que pudessem dizer o que quer que fosse, lancei o meu preemptive strike: “Eu vim para comprar camisas, não preciso de alfinetes nem dessas coisas todas”.

a piada da coisa é que o cliente que vinha atrás de mim na fila de pagamento decidiu fazer o mesmo. E eu só me ria. os funcio-nários da loja não acharam a mesma graça.

Sorrindo sempre.

(*) “A Casinha no Bombarral”, Sorrindo Semprede 15 de Maio de 2015.

“Se é Macaense e tem crianças ainda pequeninas, caríssimo leitor, pense seriamente nisso: tem a possibilidade de proporcionar aos seus filhos um ambiente espectacularmente multicultural e multilinguístico, mais internacional que qualquer “escola internacional”, em que poderá incluir pelo meio, com naturalidade, o português, o chinês, e ainda as línguas que bem entender”

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21opiniãohoje macau sexta-feira 24.7.2015

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22 opinião hoje macau sexta-feira 24.7.2015

contramãoIsabel [email protected]

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Joana Freitas; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; Filipa Araújo; Flora Fong; Leonor Sá Machado Colaboradores António Falcão; António Graça de Abreu; Gonçalo Lobo Pinheiro; José Simões Morais; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Rui Cascais; Sérgio Fonseca Colunistas António Conceição Júnior; Arnaldo Gonçalves; André Ritchie; David Chan; Fernando Eloy; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Rui Flores; Tânia dos Santos Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva ([email protected]) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail [email protected] Sítio www.hojemacau.com.mo

C omo se fosse uma gran-de novidade. o Verão de macau, que já começa a ser noticiosamente tonto, agita-se por estes dias com a condenação por corrup-ção de dois funcionários da associação que ajudou a eleger Chan meng Kam e outros dois deputados

da lista de Fujian. A associação chamou os jornalistas para dizer que está a ser alvo de pressão política, para dizer que é tudo men-tira e para fazer ver, aos olhos do mundo, o quão injustiçada está a ser. Song Pek Kei, a menina Song, a terceira da lista de Chan meng Kam, também já veio garantir que não houve qualquer ilegalidade eleitoral, que os votos nela depositados são do mais limpo que há. Pelo meio, a deputada deixa ainda acusações graves ao Comissariado contra a Corrupção. Ela lá sabe o que faz.

A justiça concluiu, por ora, uma coisa diferente. o tribunal entende que houve tentativa de compra de votos – votos que custam o preço de refeições, bebidas ou

A pequena políticaTemos freguesias, mas não temos juntas; não temos câmaras nem assembleias municipais que se preocupem com as pequenas grandes coisas. Quem deveria ter outro tipo de causas e de discurso aproveita-se com facilidade destas fragilidades locais

transportes grátis. Partindo do princípio de que a justiça está certa e de que aquilo que se ouve por aí na altura da campanha eleitoral corresponde à realidade, deste caso só é possível retirar uma de duas conclusões: a Associação dos Cidadãos Unidos de macau tem funcionários ex-traordinariamente diligentes, cheios de iniciativa, que fazem tudo o que está ao seu alcance para que os homens que mais veneram politicamente sejam eleitos, in-cluindo gastar o dinheiro que tanto lhes custou a ganhar para angariarem votos sem que alguém lhes tenha encomendado semelhante tarefa; ou os três deputados

com mandato válido até 2017 sabem perfeitamente dos métodos usados pela máquina que os elege.

Como se fosse uma grande novidade. Não é – este caso vem mostrar o quão frágil é a vida política de macau. Tem razão Leonel Alves que, num comentário à Rádio macau, destacou as características do eleitorado local: macau tem um conjunto de eleitores com contornos muito específicos, por ser uma terra de grande mobilidade, terra de acolhimento de imigrantes que não trazem na bagagem a cultura da democracia. São eleito-res para quem a política tem como principal função resolver os pequenos grandes dramas

do quotidiano – aquilo a que chamaríamos a política de junta de freguesia.

Dizem-me que Chan meng Kam e os seus dois pares são bons na resolução deste tipo de dilemas junto da comunidade que os elege: o deputado tem dinheiro e ambição política tam-bém não lhe falta, pelo que, ao primeiro sinal de desagrado, manda alguém meter mãos à obra para que o seu eleitorado seja feliz. Numa cidade onde a política é um conceito muito peculiar, continua a faltar uma política de proximidade. Temos freguesias, mas não temos juntas; não temos câmaras nem assembleias municipais que se preocupem com as pequenas grandes coisas. Quem deveria ter outro tipo de causas e de discurso aproveita-se com facilidade destas fragilidades locais.

Atendendo às características de parte sig-nificativa do eleitorado de Macau – convém recordar que Chan meng Kam tem os seus apoiantes concentrados na freguesia com maior densidade populacional de macau, que parece fazer parte de outra cidade do que aquela onde fica a Assembleia Legisla-tiva –, é impossível mudar, a curto prazo, a mentalidade de que o voto está para venda e tem um preço. Como diz Leonel Alves, de nada adianta proibir os jantares que se multiplicam por altura das eleições: se não puderem ser feitos cá, mudam-se para Zhuhai ou para as terras de origem.

Neste contexto, sendo muito difícil convencer cada eleitor de que o sentido de voto só a ele lhe diz respeito e que o voto é um exercício de liberdade, a solução tem de ser encontrada junto de quem pretende ser eleito. Esta semana ouvimos várias sugestões do que deve ou não deve ser feito: repensar a questão da imunidade é a que me parece, desde logo, mais eficaz. Se pessoas que tra-balham na máquina eleitoral de candidatos a deputados são condenadas, a culpa não pode ser assumida apenas por quem agiu a mando, sem qualquer responsabilidade política.

Como se fosse uma grande novidade. o Verão vai passar e o tempo político talvez se torne menos tonto. E, como tudo, também isto vai cair no esquecimento. Gostava de estar enganada, mas os mecanismos de trans-parência que se prometem na revisão da lei eleitoral de pouco ou nada servirão. Em 2017 há mais eleições e vai ser tudo na mesma. Como se fosse uma grande novidade.

cartoon por Stephff

estados unidos interceptam bombardeirosrussos ao largo da califórnia e alasca...

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23Perfil

Q uase a completar um ano de residência no território, Jason Fer-reira mostra-se rendido a Macau.

“Lembro-me de chegar a Macau no final do dia, respirava-se um ar muito denso e estive duas horas à espera que me fossem buscar”, relembra o jovem engenheiro.

O mau momento foi imediatamente ultrapassado quando o recém-chegado pousou as malas naquela que seria a sua nova casa. “era uma casa incrível. Com espaço, bonita e com uma vista para Macau de apaixonar”, descreve.

O ‘clique’ pelo território tinha aconte-cido e o jovem engenheiro começou a achar que conseguia adaptar-se na perfeição a este lado do mundo. um bom grupo de colegas de trabalho – que mais tarde viria a torna-se num grupo de bons amigos -, novas amizades, um trabalho desafiante e um mundo a explorar são agora os pontos que tornam a estada de Jason Ferreira muito mais interessante.

“uma das primeiras aventuras que me lembro é de adormecer logo no segundo dia de trabalho por causa do jet lag”, conta divertidamente ao HM. O engenheiro vinha de Portugal, mas no currículo já contava com experiências profissionais em vários países. Brasil, angola, Ceuta,

Tanzânia, singapura e muitos outros foram alguns dos sítios onde trabalhou. O que tornou as coisas mais fáceis.

“estou habituado a adaptar-me a todo o tipo de cultura, isso é o mais entusias-mante das experiências fora da nossa zona de conforto”, defende, acrescentando que Macau é um “sítio especial pela história portuguesa que traz conseguido e transpira nas ruas”.

um local onde, tão longe de casa, esta parece estar perto. Jason Ferreira assume--se completamente adaptado, mas admite que não é local onde irá construir a sua vida. “Preciso de praia perto de mim e Macau tem esta lacuna gigante, a qual-quer sítio que vou é um dos meus pontos obrigatórios. até podemos ir a Hong Kong ou à Tailândia com mais tempo, mas não está aqui ao meu lado como eu quero que esteja”, defende.

SaudadeS que falamFilho de portugueses, nascido no Canadá, Jason Ferreira cresceu bem no centro de Portugal, em Fátima. Quando lhe pergun-tamos o que mais sente falta, visto ser altamente adaptável a diferentes culturas, Jason, entre sorrisos, diz-nos que nada substitui as pessoas.

“a minha família, os meus amigos e a minha namorada são o que mais sinto falta, seja em que país for”, admite, subli-nhado a falta que o carro lhe faz. “adoro o meu carro e conduzi-lo e aqui em Macau, apesar de conduzir, o espaço territorial é diminuto e há imenso trânsito, por isso a sensação de conduzir não é tão boa, tal como é em Portugal”.

um dos seus passatempos preferidos é a cozinha. Considerando o seu gosto pela preparação de “uns bons pitéus”, Jason Ferreira gosta de juntar os amigos à mesa e prolongar os serões dos fins-de-semana com boa conversa e bom vinho. sendo também o próprio um apreciador de gastronomia, em Macau encontrou um ponto no mundo que une os vários tipos de culinárias existentes no meio asiático e não só.

“Gosto especialmente [do facto] de aqui existir uma diversidade muito gran-de no que diz respeito à gastronomia. se quisermos comer comida coreana, chinesa, macaense, portuguesa, tailandesa ou até italiana encontramos aqui. em qualquer lado ou esquina existem várias opções. Difícil é escolher”, relata.

No entanto há uma falha tremenda para lamento do engenheiro. “O café só em casa”, ri-se. a bica tão portuguesa ainda

não chegou a Macau e, ao final de um ano, Jason ainda sente falta dessa forma de terminar uma refeição.

futuro à viStasem grandes respostas, Jason Ferreira não sabe o que o futuro lhe reserva, até porque a sua vida tem sido sempre uma surpresa no que diz respeito ao local de trabalho.

“Olho para o mundo do trabalho em Macau e vejo o seu crescimento contínuo. Macau cresce todos os dias. Todos os dias vemos coisas a crescer, é de facto um crescimento bastante interessante, o que é óptimo”.

Mas, pessoalmente, diz, tudo é uma incerteza. a única certeza que traz consigo é que o seu contrato de trabalho termina já no final do ano. Depois...

“Depois disso, logo se vê, não se po-dem fazer planos a longo prazo”, remata, mostrando-se pronto para abraçar qualquer desafio, seja em que país for. Ainda assim “andar sempre com a mala atrás começa a ser desgastante” e, por isso, um dia, o engenheiro quer voltar a Portugal para aproveitar o que de lhe melhor o seu país tem.

filipa araú[email protected]

Jason Ferreira, engenheiro electrotécnico

“Macau cresce todos os dias”

facebook

hoje macau sexta-feira 24.7.2015

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