Histórias Contadas

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histórias contadas Celebrando a Vida e Aprendendo com o Câncer

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histórias contadasCelebrando a Vida e Aprendendo com o Câncer

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Centron - Centro de Tratamento Oncológico Ltda.

IDEIA:Felipe Behar Wasserman INCENTIVADORES:Alberto WassermanDaniel Tabak

ORGANIZADO POR:Bete WassermanClaudia WaymbergKaren AthiéMichel MaltaMonica RodriguesSandra FalcãoSimone Correa

REVISOR:Alexandre Mello

DESIGN GRÁFICO:Maria Eduarda Carneiro da Cunha e Bruno [email protected]

Este livro não pode ser reproduzido, total ou parcialmente por qualquer meio sem autorização prévia do Centron - Centro de Tratamento Oncológico Ltda Agradecimentos

Aos pacientes e familiares, pela coragem e confiança em compartilhar suas experiências.

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1 Gloria Perez

2 José Otavio Sampaio

3 Suzanna Brito M. de Oliveira Abreu

4 Rachel Martins Jordan

5 Conceição Carneiro

6 Maria Regina Messias Gonçalves Silva

7 Fernanda Latini Alonso

8 Rosana Oakim Jaimovich

9 Katia Maria Rodrigues de Albuquerque

10 Flávia Maria Dias da Silva Ferreira

11 Ilana Ryfer

12 Luppe Gigliotty

13 Annelisie Aiex Correa

14 Antonio Albino Alves

15 Lea Maria de Oliveira Castro Lemgruber

16 Felippe Garschagen

17 Nicole Gerbauld

18 Carmen Brollo

19 Alpha Alcantara

20 Carlos Roberto Andrade Guerra

21 Barbara Magalhães

22 Ana Caroline Fossoux

23 Marília Cantisano

24 Gisela Café

25 Eliana Wrobel

26 Sami Zajdenweber

27 Fernanda Laidens

28 Antonio Muiño

29 Victor Ghazi

30 Jorge Hausen

31 Diego Rosas Marcondes

32 Naraiana Petrucci Braga

33 Manoel Esteves

34 Moisés Ninio

35 Maria José da Silva Ferreira

36 Leticia de Castro Maia

37 Maria Ismenia Fernandes Ferraço

38 Humberto Mandaro

39 Adriana Tofani

40 Aurélio Wander Bastos

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Nota A concretização desse livro é resultado

de um trabalho feito por muitas mãos e corações.

Os autores deste livro são pessoas que têm ou tiveram

em sua vida alguma experiência com o câncer e que decidi-

ram doar voluntariamente alguns de seus pensamentos.

41 Cristina Lemos Lucidi

42 Orlindo José de Carvalho

43 Eliana Azeredo Augusto da Silva

44 Walter de Freitas e Silva

45 Giselaine Suares Linhares

46 Ézio da Rocha Araújo

47 Gaby Atherton

48 Soraia B. Ferme

49 Lino Romano

50 Francis Farias Velloso

51 Geni Sihman

52 Marcia Oliveira dos Santos Galvão

53 Luigina Martino

54 Katia Pimenta Jose

55 Maria Elisa Casaes Mendes Pimentel

56 Teresa Nunes Ferreira

57 Claudia Ryfer

58 Lucia Zarur

59 Felicia Beatriz de C. Sampaio

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Um paradoxo, afirmariam os incautos.

De fato, o câncer, apesar dos avanços terapêuticos noticiados

diariamente pela comunidade científica, ainda representa um dos

diagnósticos médicos mais temidos. Na verdade, “aquela doen-

ça” como o câncer costumava ser denominado, representa o es-

tereótipo de uma má notícia - um fato que parece sempre compro-

meter a nossa visão de futuro. Ao receber o diagnóstico, nossos

pacientes precisam lidar com um volume gigantesco de informa-

ções complexas e tomar decisões difíceis que irão modificar a sua

rotina diária. Precisam ainda enfrentar um adversário poderoso

em um ambiente repleto de emoções caóticas:

medo, frustração, depressão e impotência.Um em cada 3 indivíduos enfrentará este inimigo ao longo de suas

vidas. Portanto, é muito provável que cada um de nós viva esta

Aprendendo com o Câncer e Celebrando a Vida?!

introdução

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experiência - seja através de nossos familiares, de amigos próximos

ou distantes ou ao realizar o nosso próprio exame rotineiro anual.

Desta forma, somos todos S O B R E V I V E N T E S de câncer!

O termo “sobrevivente de câncer” deve ser aplicado a todos os

pacientes diagnosticados com câncer, desde o momento do

diagnóstico e por toda a sua vida. Ele também se adequa aos

membros da família, amigos e cuidadores, pois como veremos

em vários relatos deste livro, eles também são parte daquela ex-

periência. A palavra “sobrevivente” traz uma conotação incerta

para muitos indivíduos. Talvez por estar frequentemente asso-

ciada ao Holocausto ou a vítimas de um crime violento.

Eu acredito, entretanto, que a palavra sobrevivente nos ajuda a

pensar em como abraçar as nossas vidas além da doença.

O Dr. Fitzhugh Mullan, médico e sobrevivente de câncer, escreveu

um artigo primoroso publicado em 1985 no New England Journal

of Medicine, e afirmou: “O desafio em vencer o câncer consiste

não apenas em identificar tratamentos que previnam ou elimi-

nem o mal rapidamente, mas também em mapear a trajetória da

sobrevivência e minimizar as suas dificuldades médicas e sociais.”

O Dr. Mullan menciona ainda que pacientes diagnosticados com

câncer, sejam aqueles recentemente diagnosticados ou aqueles

que não apresentam sinais de atividade da doença, apresentam

vários aspectos em comum, apesar das circunstâncias tão diver-

sas para cada indivíduo. Ele descreve a sobrevivência em vários

estágios. Mas não os descreve no sentido clínico formal e os

define como as “Estações da Sobrevivência.”

A primeira estação, segundo Mullan, começa com o diagnósti-

co. Mullan a denomina a Sobrevivência Aguda. Nesta etapa, as me-

didas terapêuticas são introduzidas para interromper a progressão

da doença. Medo e ansiedade são os elementos predominantes,

pois é fácil identificar a gravidade e o potencial transformador do

câncer. Ele descreve ainda o estado de mal estar mental que cons-

titui por vezes um fator ainda mais punitivo que a própria pre-

sença biológica da patologia. A dor é um elemento frequente e as-

sociada habitualmente ao quadro clínico e ao tratamento. Mullan

relata que este é o momento no qual pacientes são convocados

a enfrentar a sua própria mortalidade. Lidar com as intervenções

cirúrgicas, quimioterapia e radioterapia consome grande parte

das energias neste período. O apoio da família e da comunidade

constitui um bálsamo poderoso para aplacar a dura realidade que

está sendo enfrentada. Mullan ressalta com propriedade as ne-

cessidades dos familiares, estes “pacientes secundários” cujas

carências podem assumir diversas formas e que também são,

frequentemente, negligenciadas pela equipe médica na ânsia de

demonstração de simpatia pelo novo paciente.

A segunda estação é denominada pelo médico-sobrevivente de

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Sobrevivência Estendida. Quando o paciente entra em remissão

ou termina o curso inicial de tratamento e inicia um período de

observação com exames periódicos ou de tratamentos intermi-

tentes, a fase aguda é considerada encerrada. O período seguinte

é dominado pelo terror psicológico - o medo de uma recidiva. Pre-

valecem ainda limitações físicas determinadas pelo tratamento e

a imagem alterada do corpo. O retorno ao trabalho requer ainda

mais força, paciência e senso de humor. Mullan ressalta muito bem

que neste período, ao contrário da fase aguda quando os elemen-

tos eram mais uniformes e previsíveis, as experiências individuais

são bem mais diversas e as respostas variam desde o isolamento

e depressão a distúrbios menores de ansiedade. Nesta fase, mais

afastados dos seus médicos e enfermeiras, pacientes e familiares

precisam lidar com o chamado “mundo saudável.” A importância

dos grupos de apoio já em 1985 era valorizada como essencial

para garantir a reentrada dos pacientes no seu universo psico-

social.

A última estação foi definida como a Sobrevivência Perman-

ente. Embora reconhecida frequentemente como cura, esta es-

tação mantém uma grande proximidade com as estações que a

precederam. O paciente é de fato um sobrevivente, e como Mullan

enfatiza, um paciente que ultrapassa o tratamento de câncer deixa

a arena marcado de uma forma indelével. Pacientes precisam enfren-

tar problemas no seu emprego ou na sua comunidade. A discrimina-

ção ocorre em diversos padrões e tonalidades seja no trabalho ou

nas relações pessoais.

O câncer também tem um impacto dramático em nossas vidas como oncologistas. Precisamos nos man-

ter atualizados para oferecer aos nossos pacientes o melhor do

tratamento especializado, ajustado continuamente aos avanços

terapêuticos. Oncologistas precisam também responder às

necessidades pessoais e humanas de seus pacientes.

Como oferecer tratamentos que parecem ser mais danosos que

a própria doença? Como trazer de forma honesta, porém sem

perder a compaixão, a notícia de que o curso do tratamento

não está fluindo da forma esperada? Como falar sobre morte e

perdas quando fomos treinados para realizar o milagre da cura?

Como discutir os efeitos tardios e como lidar com as nossas

próprias emoções?

Jerome Groopman, em seu livro a “A Anatomia da Esperança”,

aborda estas questões de uma forma clara e contundente.

Oncologistas são fascinados pelo poder da vontade de viver. E o

que permite que pessoas comuns consigam vencer obstáculos

aparentemente intransponíveis?

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A resposta pode ser resumida em uma palavra cuja definição é

frequentemente confundida com otimismo.

esperançaGroopman descreve que ao encontrar um novo paciente, escutar

a sua história, realizar o exame físico, revisar os exames laborato-

riais e estudar as radiografias, ele está realizando algo mais que

reunir informações clínicas relevantes para traçar o programa de

tratamento. Ele está procurando pela esperança. “Esperança, tão

vital quanto o oxigênio que respiramos.”

Esta também é a minha opinião. No seu livro, Groopman esta-

belece com clareza a distinção entre a esperança e o otimismo

cego. Ele descreve a esperança como uma emoção energizante,

reconfortante que nos envolve quando projetamos a nossa mente

para um futuro positivo. Mas a esperança também contém um

elemento cognitivo que surge ao processarmos as informações

relevantes para aquele evento futuro desejado. É da união destes

dois elementos- emoção e razão - que surge este componente

poderoso que nos impulsiona na direção das nossas conquistas.

Assim como Groopman, eu vejo a esperança no verdadeiro co-

ração do cuidar: ela pode ajudar alguns pacientes a viver por

mais tempo e certamente ela permite que todos os pacientes

vivam melhor.

O câncer é um lembrete em nossas vidas que não somos imor-

tais. Muitos sobreviventes respondem a esta convocação de uma

forma criativa, uma lembrança de como a vida é preciosa. Apesar

das agruras do tratamento, muitos pacientes descrevem como

agora eles apreciam o desabrochar de cada novo dia. Muitos

relatam como aprenderam a cuidar melhor de si e de todos que

eles amam, como eles encontraram forças para vencer o medo

e a coragem para superar as decepções.

Este livro contêm relatos reais de pessoas corajosas.

Através da sua leitura, poderemos aprender com elas.

E, como elas, celebrar a vida.

Dr. Daniel Tabak

Bibliografia1.Mullan F Seasons of survival: reflections of a physician with cancer. N Engl J Med. 1985;313:270-3.2.Groopman,J The anatomy of Hope: How People Prevail in the Face of illness The Random House Publishing Group, 20043.Loprinzi, CL Art of Oncology:Honest and Compassionate Responses to the Daily Struggles of People Living With Cancer, Volume 1, Kindle Edition,2010

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prefácios

Todo livro tem uma história. Esse também tem. Ele reune depoi-

mentos e algumas imagens de pessoas que tiveram proximidade

com um diagnóstico: o câncer. Sua organização foi pensada

e construída com a presença de profissionais, pa-cientes, familiares e amigos em reuniões

que aconteceram durante quatro semanas na Biblioteca do

CENTRON. A produção escrita, a ser compartilhada aqui, é re-

sultado de um processo voluntário vivido por todos como um

aprendizado. A idéia foi se concretizando na medida em que os

relatos iam engrossando essas páginas e que íamos percebendo

a importância de dividir os SIGNIFICADOS dessas experiências

em grupo. Falamos de amor, amizade, medo, raiva, dúvida, cuidado, esperança e em tempos diferentes. Percebemos nesse caminho que solidariedade e a possibilidade

de compartilhar tais sentimentos alivia e motiva a todos. O que

vocês verão aqui são histórias sem começo e nem fim, com paisagem semelhante, mas cada uma única.

Karen Athié

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Histórias familiares me levaram a conhecer precocemente o

significado da palavra câncer e o sofrimento que

esta doença trazia consigo. Por outro lado, descobri também

que era possível enfrentá-la com dignidade, coragem, perseve-

rança e esperança. Hoje, como psicóloga do Centron, lido quase

que diariamente com o sofrimento, com os medos, angústias, an-

siedades, estresses, mas também com muitas alegrias. Todos os

dias aprendo uma lição. São

lições de vida, de valores, de paciência, de tolerância, de aceitação, de fé, de confiança,

que deixam marca na minha trajetória de vida. Os ensinamentos

que aprendo a cada dia ajudam a preencher as páginas do meu

livro da vida. A riqueza de acompanhar a singularidade com que

cada paciente e cada família enfrentam sua jornada fazem com

que eu me sinta uma privilegiada.

Quando nós da equipe Centron pensamos em fazer um livro com

depoimentos, logo percebi que seria uma forma de compartilhar

esse privilégio. Este livro nasceu com a intenção de ser um presen-

te de nós para nós mesmos. Nos presentearmos com um registro

concreto de nossas experiências.

A cada página mergulharemos na história de alguém. Apesar

de não ter sido a intenção inicial do livro, os depoimentos têm

a importância de quebrar paradigmas. São

relatos corajosos de pessoas que se dispuseram a contar e repensar suas experiên-

cias pessoais sob vários ângulos diferentes, quebrando o tabu de

que o assunto não deve ser falado.

Cada depoimento é um convite para aproveitarmos ao máximo o

que a vida tem de melhor e, ao mesmo tempo, um ensinamento de

como enfrentar os obstáculos que a vida nos impõe. Este livro não

tem o propósito de ensinar ninguém a viver, mas oferece diferentes

maneiras de olhar o mundo.Um agradecimento especial a cada um que nos confiou a divul-

gação de sua história, ao mesmo tempo deixando sua marca em

nossas vidas.

Claudia Waymberg Goldman

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histórias contadasCelebrando a Vida e Aprendendo com o Câncer

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1 estava no meio de uma novela que escrevia

sozinha, tendo de produzir 32 páginas por

dia, quando veio o diagnóstico: linfoma não

-Hodkin na tireóide.

eu nem sabia o que era linfoma. e sendo

muito saudável, as doenças não faziam parte

das minhas preocupações. era como se me

sentisse à salvo. a imagem que fazia de mim

era a de uma árvore forte, como aquelas que me viram crescer

- durando muito!

Foi um susto ouvir que era um câncer. Cresci sabendo que o

câncer era condenaçao certa, evitava-se até pronunciar a palavra,

como se até a palavra trouxesse malefícios: as pessoas abaixa-

vam a voz como se murmurassem um segredo atemorizante,

para dizer “aquela doença”. e seguia-se um silêncio consternado.

O medo ficava no ar e era quase palpável.

Foi assim que cheguei ao consultorio do Dr. Tabak e me postei na

sala de espera: confusa, tentando adivinhar quanto tempo eu te-

ria e se teria tempo de fazer tudo o que precisava ser feito. Como

alguém surpreendido pela ordem de arrumar as malas a toque

de caixa, tendo que ir embora sem conseguir deixar a casa em

ordem. essa urgência, essa súbita tomada de consciência da minha finitude,

me permitia olhar minha vida como um

todo acabado, como se já estivesse do lado

de fora, e perceber lacunas que o atropelo

do cotidiano camuflava.

nesse estado de espírito entrei para consulta.

e veio o segundo susto, quando o Dr Tabak me

deu a porcentagem de possibilidades de cura.

em minutos aquelas fantasias antigas foram

demolidas, enquanto ele falava sobre os

avanços conquistados na área, e afirmava

que eu poderia e deveria continuar meu tra-

balho: havia uma parte que não estava ao al-

cance dos remédios, devia ser feita por mim

– essa de manter uma postura positiva, o

que me daria mais capacidade para suportar

os efeitos do tratamento. e é verdade, a ex-

pêriencia nos mostra a cada momento que

manter a esperança, a chama interna acesa,

faz com que a gente consiga suportar o que

se afigura insuportável no terreno das hipó-

teses. então, se uma parte dependia de mim,

eu ia fazer essa parte.

Cura?câncer pode ter cura?

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Continuei a escrever meus capítulos na cadeira da quimio. Com

mais esforço, com mais dificuldade, mas consegui, mantendo na

mente a ideia de que aquela droga potente, se trazia tanto cansço,

tanto mal estar, era porque a batalha contra a doença estava sendo

travada. não senti absolutamente nada quando perdi os cabelos,

e os cabelos sempre tinham sido minha vaidade maior: cabelos

nascem de novo, o fato de terem caído era um sinal benéfico:

a doença estava sendo atacada. não se podia saber quem ia vencer, mas estava sendo atacada!

preciso dizer que toda essa força de resistência foi uma construção

que não fiz sozinha. Começou com o Dr.

Tabak desfazendo mitos e me incentivando a me sentir capaz de

seguir em frente com meu trabalho. Tive um anjo da guarda

muito especial, o José Otavio, que já tinha passado pelo tratamen-

to no CenTrOn, e que sem nem me conhecer, acolheu meus me-

dos e minhas ansiedades, pondo seu telefone à disposiçao para que li-

gasse para ele a cada dúvida nova. e no decorrer do tratamento, foi

fundamental o fortalecimento dos laços de carinho e soli-dariedade com os outros pacientes e com os profissionais que

nos atendem. somos uma família. Tudo no CenTrOn respira

incentivo a que você se fortaleça e persista.

aqui estou eu, um ano depois de terminada a quimio, fazendo

o acompanhamento de praxe, de tempos em tempos. não pos-

so determinar o final da minha história como podia determinar

os finais das minhas personagens fictícias –mas ninguém pode,

essa não é uma limitação dos que enfrentam ou enfrentaram um

câncer: faz parte da condição humana.

O que eu sei é que tomar consciência de que tenho prazo de validade - como todo mundo - me aguçou a capacidade de saborear mais a vida, de valorizar cada dia, cada momento, sabendo que ele será único e irrepetível.

e o que eu gostaria de dizer aos que estão começando agora, é que

apostem na esperança, na sua capacidade de persistir e resistir aos

incômodos do tratamento. se foi possivel para mim, se é possível

para tanta gente, há de ser possível para você também!

Obrigada , Dr. Daniel Tabak! Obrigada família CenTrOn!

Gloria Perez

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era fevereiro de 2008 estava interinamente na Presidência da Willis no Brasil, quando

após uma consulta com o Dr. Daniel, a biópsia e alguns exames,

seria o meu grande momento profissional, e o Dr. Daniel fez o

diagnóstico de Linfoma.

Nesta época estava muito envolvido com o meu trabalho, pois não

estava nomeado de forma definitiva, e numa Multinacional, estava

passando por uma série de entrevistas dentro da empresa. Naquele

momento fui colocado no “corner” da vida, no momento mais impor-

tante de minha vida profissional.

O Dr. Daniel, muito claro e firme, me afirmou: isto tem cura. e a partir daquele momento uma força interior sem pre- cedentes tomou conta de mim, e com apoio de minha familia,

principalmente minha mãe Ticiana, que se dedicou inteiramenta a

cuidar de mim, e com uma fé inabalável, que tudo era passageiro,

me ajudou de forma extraordinária .

Em resumo, minha vida não mudou em nada no tratamento. Con-

tinuei trabalhando, viajando Rio/São Paulo regularmente, visitando

cliente, e o Dr. Daniel ainda forneceu um laudo que fez a minha em-

presa aguardar meu tratamento. Neste momento tive um grande

apoio de meu CEO Global Joe Plumeri que acreditou na minha

recuperação, pela minha atitude de otimismo e por não ter desis-

tido e perdido um dia de trabalho durante as 6 quimios, tendo até

melhorado minha performance com meu entusiasmo pela vida e

dedicação ao direcionamento da cura.

O Dr. Daniel, um ser iluminado que parecia naquele momento, se-

gundo minha mãe o São Lucas Evangelista, me deu a noticia que

meu tratamento tinha chegado ao Fim.

Em resumo, fui efetivado como Presidente em outubro de 2008 e es-

tou monitorando há 3 anos e sempre tentando passar a mensagem que

nada navida é impossível;

basta focar e querer e não desistir jamais, por mais difícil seja a

dificuldade.

O meu carinho especial por todos os anjos da família Centron

que transformou uma adversidade, num momento de reencontro

com a Luz.

José Otavio Sampaio

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Não existe receita

para viver, tampouco para passar por

um tratamento contra um câncer.

Mas, quando me pediram para escrever

sobre o que passei, pensei logo em dizer

coisas que me

que, apesar de todos os percalços e do caminho ainda a percor-

rer (ainda faltam os 5 anos de controle), encaro como vitoriosa.

Não quero dar aula de nada, mas, se possível, ajudar.

I Chegue (nas sessões ou nas consultas) distribuindo sorrisos.

Afinal, você descobriu que quimioterapia não é uma cadeira elétrica

e seu sorriso pode ajudar a quem ainda vai começar o tratamento.

Sem falar que seu sorriso, por certo, vai reverter em muito carinho

e vibrações boas para você.

II Coloque uma roupa bem bacana e se faça bem bonita (ou

bonito). Se possível, se maquie.

III Não pense que você não merecia passar por isso, nem pense

nas causas da doença. Não tenha pena

de si e tire a culpa da sua vida.

deixou de fazer, comeu ou deixou de comer.

Existem uma série de elementos alheios à sua

vontade que podem ter causado a doença

(como foi bom ouvir isso na primeira consulta!).

IV A grama do vizinho nem sempre é mais

verde do que a sua (foi a minha querida “en-

fermeira má” que me disse isso).

Olhe à sua volta e perceberá que, de algum modo, você não está tão mal como pode ter passado na sua cabeça.

V Agradeça sempre: você teve oportunidade de se tratar, num lugar bom, seu estado de saúde é até melhor do que o de outras pessoas, você tem apoio, tem família e/ou amigos... VI Encontre uma maneira de passar o tempo: livro, DVD, papo com seu “colega”

ou com as enfermeiras, jogar baralho...

3ajudaram na minha trajetória

Não foi nada que você fez,

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VII Se tiver que chorar, chore. Só não desanime.

Viva cada dia a sua batalha e

comemore todas as batalhas já vencidas.

VIII Um cineminha numa sessão vazia também é muito bom

para a alma!

IX Eleja um “mantra”: quando um pensamento ruim ocorrer,

imediatamente repita – silenciosamente que seja – o seu “mantra”.

O meu foi (e é até hoje) o Pai Nosso.

X Por fim, saiba que você vai “tomar” muito remédio, mas a quan-

tidade de amor e carinho

que você receberá será infinitamente superior à quantidade de

química que entrará no seu corpo.

Suzanna Brito M. de Oliveira Abreu

ninguém espera ter câncer!O meu foi de mama, em 200 e uma metástase na

coluna em 2006. eu, que sempre havia cuidado de todos ao

meu redor, havia esquecido o principal, havia esquecido de

cuidar de mim! estava em uma época de muita realização, tan-

to pessoal quanto profissional, estava feliz! Fiquei sem chão,

chorei sem parar..., me perguntando o que iria acontecer dali

pra frente. Quando conheci o Dr. Daniel foi muito difícil es-

cutar coisas que davam muito medo. a empatia e a confiança

que tive nele na hora foram importantíssimas para amenizar

as minhas angústias! Lembro que, de tantas perguntas que fiz

uma ficou marcada, perguntei, lógico, se meus cabelos iriam

cair e a resposta foi positiva, mas que eu não me preocupasse,

pois mesmo sem cabelo eu iria continuar bonita. no dia em que

raspei a cabeça, apareci careca para meu marido. ele disse que eu

estava linda, então doei as perucas que eu tinha comprado!

Me senti mais segura e forte.

Durante o tratamento, foi muito duro. as 4 a 5 horas tomando

a medicação, todo mês a expectativa pelo resultado do exame

de sangue, as injeções na barriga... na época entrava muda e

saía calada da quimioterapia, não queria conversar, não queria

trocar ideias, não queria falar da doença! O paciente em trata-

4

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mento de câncer fica tão vulnerável e inseguro que tudo que

escuta ao seu redor pensa que pode acontecer com ele. Corria,

escrevia, ligava para o Dr. Daniel que sempre tinha uma pa-

lavra de conforto e positiva. Hoje depois de tanto tempo, me

sinto mais a vontade e falo até demais

Meu marido foi meu anjo da guarda e até hoje está

sempre do meu lado. Minha família foi fundamental,

assim como meus amigos. Mas a vontade de ficar boa e ver minhas filhas crescerem foi o que mais me motivou,

e motiva sempre!

Tenho alegria de viver, sou positiva, pra frente, e tento passar isso

adiante. Voltei a ser feliz! Mas não vou negar, tenho medo, muito

medo! O câncer abre uma lacuna na nossa vida que depois demora

um pouco para cicatrizar... .

Me preocupo com tudo que é relacionado a minha saúde , tomo

conta de mim. Confio no meu médico, sei que estou fazendo tudo

que posso . rezo. Tenho muita fé e esperança que tudo continuará

dando certo!

Rachel Martins Jordan

Hoje foi mais um dia de tratamento da rachel e quando

estávamos saindo encontramos com a Bete, que falou do livro de depoi-

mentos de pacientes e acompanhantes que será lançado pela clínica.

HOJE SEI QUE FOI TUDO PELOAmor.

achei uma ideia interessante e seria importante deixar o meu relato.

Desde que fomos surpreendidos com esse diagnóstico assustador

fiquei desnorteado. Ouvir a palavra câncer, principalmente

para um leigo, é muito forte e chocante, pois para mim esta

palavra estava relacionada a algo sem solução. Como eu iria ficar

sem o Grande amor da Minha Vida, o meu norte!!

Tiveram muitos fatos marcantes que foram me mostrando e me

dando uma força interior

que eu não imaginava ter.

estávamos na Clínica são

Vicente e tínhamos acaba-

do de receber o laudo de alguns exames que fizemos e que confir-

maram o que não gostaríamos de saber.

Choramos muito e por um momento nossa vida parecia um

castelo de cartas desmoronando. Telefonamos para o Dr Daniel

e ele disse que segunda-feira iríamos nos ver e que tinha uma

boa idea que iria dar certo. Foi exatamente o que eu queria e

precisava ouvir.

não foi o câncer que nos uniu, sempre fomos assim desde que nos

conhecemos há 14 anos, mas com certeza absoluta ficamos muito

mais unidos.

Jorge Correa - marido da Rachel

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a única certeza que temos na vida é que

um dia vamos morrer, mas ninguém quer fa-

lar, pensar ou mesmo imaginar a morte. Morte e vida

caminham lado a lado, é como luz e sombra, são in-

separáveis; são complementares.

Medo de viver é medo de morrer... medo de morrer é medo de viver...

Quando Vinícius de Moraes estava doente uma jornalista perguntou

a ele se ele tinha medo da morte; e então calmamente, poeticamente

falou: “não tenho medo da morte...tenho é saudade da vida”

Como escolha, não quero falar de morte ou doença,

No primeiro momento de um diagnóstico de câncer é como se

fôssemos invadidos por uma enorme interrogação, E AÍ? o que

fazer? será que saio dessa? é como se tudo se transformasse, se

diluísse, o chão desaparecesse sob os nossos pés... sentimen-

tos de raiva, medo, pânico, dor, desamparo, desespero...etc.

Quando a dúvida aparece temos a chance de encontrar respos-

tas. Uma força, uma coragem que estavam adormecidas desper-

tam como uma defesa natural, instintiva. Quando perdemos algo,

aprendemos o valor do que nos foi tirado, aprendemos a valori-

zar, aprendemos a agradecer, reconhecer cada segundo de vida:

conquistar, admirar, contemplar, aproveitar o tempo, ver com outros

olhos, sentir diferente, transformar e se desfazer do lixo acumulado.

O trabalho é árduo, mas vale à pena.

A cura percorre vários caminhos, abrange várias áreas, se pro-

cessa de maneiras diferentes e em etapas distintas, é um caminho

à Itaca.

Quando nos aproximamos da nossa verdade, da nossa essência,

quando aceitamos que somos luz e sombra e que o caminho é

sinuoso... viver é uma entrega ao desconhecido... a vida nos é

revelada a todo instante; viver é morrer o tempo todo, é como o

dia e a noite.

Só podemos falar do que passou; passado... só temos leitura do

já vivido do que já “morreu”.

Viver é presente, é surpresa, é mágico, é entrega... acreditar, aven-

turar-se no desconhecido... Graça Divina... renovação.

Construir uma história, marcar presença, atravessar tempestades, fi-

car atento, aprender a ler os sinais, criar, ampliar nossa consciência,

lidar com nossos medos, acender nossa luz interna, intuir, brincar,

cair, levantar... caminhar com fé, se perdoar... doar, perder e ganhar... aceitar....

quero falar de, de cura...vida

5

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O indesejado

Dentro de mim, ele já se instalara. Silenciosa e sorrateiramente,

expandia-se pelo pulmão direito, querendo atravessar fron-

teiras. Como ocorrera tal “apropriação”??? Eu, sempre

bem disposta, bem-humorada, com apetite normal, bem infor-

mada, com hábitos saudáveis, atenta aos exames de rotina...

não percebi (ou não quis admitir?) que a magreza e os suores

noturnos poderiam ser maus sinais. Assim, num exame dos pul-

mões, foi anunciada a volumosa sombra. O susto, a suspeita, ou

melhor, a quase certeza do que era, mas o querer acreditar que

não era um tumor, que não era câncer.

Começa a corrida contra o tempo, a busca pelo correto diagnóstico.

Realizada a biópsia, saiu, no dia 17 de novembro de 2009, o resulta-

do que o médico não gosta de dar (ingrata missão, não é Dr. Nigri?)

e o paciente não gosta de escutar: adenocarcinoma de pulmão.

Não senti medo, tampouco revolta – eu nunca fumara, nem convi-

vera com fumantes. Identificado o agressivo adversário, não titubeei

em aceitar o desafio e as armas que me sugeriram os médicos.

Aprendi, em meus 63 anos de existência, que imprevistos acon-

tecem e que a serenidade é um grande aliado na administração

dos problemas e na solução deles.

6

ser imperfeito...

ser ímpar...

ser par... ser parte... ser arte... ser ar... ser!

Conceição Carneiro

Page 20: Histórias Contadas

As adversidades precisam ser enfrentadas

com equilíbrio e muita garra.

“O homem só se conhece quando se

mede com o obstáculo”. Chegara a minha

vez, a oportunidade de me conhecer real-

mente, de avaliar minhas capacidades.

Veio um Natal com muita emoção – todos os

entes queridos muito impactados, querendo

disfarçar a angústia pelas sombrias perspec-

tivas. Irmã querida, fiel escudeira, quanto

abafado sofrimento nos beijos que me dava,

nos afagos que me fazia, nas vãs tentati-

vas de se mostrar alegre e despreocupada!

No Ano Novo fechamos o compromisso de

vitória, de alguma forma seremos vitoriosos.

Já se vão nove meses de tratamento: exames,

injeções, sessões de quimioterapia, acom-

panhamento psicológico e nutricional.

Não perdi os cabelos (dizem, e eu também

acho, que até embelezei com as cãs), a

pele está mais sedosa, engordei (seguindo

as instruções da nutricionista Viviane), con-

servando-me no peso ideal, permaneço

serena e de bem com a vida.

Com rígida disciplina, muita paciência e aceitação estou enfren-

tando o invasor, parece que o indesejado diminuiu de tamanho,

tanta a persistência em convencê-lo a ir-se embora

O apoio, o carinho, a dedicação, as preces em diferentes credos,

quer da família, quer dos amigos, reforçam a minha coragem, a

minha fé e a minha esperança.

Grata sou ao querido e admirável Dr. Daniel Tabak e a todos os

profissionais do CENTRON, os quais, com competência e profun-

do senso de humanidade, vêm-me ajudando na difícil caminhada

para a cura.

Confiante em Deus – meu parceiro maior

prossigo na luta.

Maria Regina Mesias Gonçalves Silva

NADA DE USUCAPIÃO, HEM

MATREIRO!

Page 21: Histórias Contadas

Faz 4 anos que minha vida mudou de uma forma

que nunca poderia imaginar. aos 25 anos eu era daquelas pes-

soas ligadas no 220v, sempre disponível e fazendo mil coisas ao

mesmo tempo. É até engraçado lembrar dos primeiros indícios

de que alguma coisa estava errada comigo - os amigos recor-

dam de eu chegar no trabalho dizendo que ia tomar Targifor

(um tipo de ‘vitamina C’ que promete te deixar ‘com pique total

para o dia-a-dia), porque eu andava meio lerda...rsrs. enfim,

tive uma sorte enorme de ter sido diagnosticada super rápido

- pasmem! - pela minha pediatra homeopata ma-ra-vi-lho-sa

que eu nunca fui capaz de largar (Tia Vera, querida). De lá pra

cá venho numa história de altos e baixos com um Linfoma

de Hodgkin que resolveu ser diferente de tudo que lemos nos

livros.

E cada nova fase traz novas perspectivas e ensinamentos.

no comecinho desse ano - depois de um tratamento completo e

de um transplante autólogo - quando cheguei ao Dr. Daniel,

7 já tinha ouvido muita coisa ruim e negativa de vários médicos que

havia visitado. Graças a Deus, a simpatia com o novo médico foi

imediata e pude voltar a acreditar que ‘sim’, eu tenho jeito. Hoje,

já passados uns 6 meses, estou tendo uma vida boa, aprendendo

a ser paciente, aceitar as limitações que a doença/tratamento me

impõem e, de fato, viver um dia de cada vez.

Durante bastante tempo corri como uma louca atrás de

qualquer chance de cura - e achava que a última coisa que

queria na vida era ser uma dessas pessoas que ficam dependen-

tes de tratamentos, etc e tal. Mas aí, a vida me mostrou que

as coisas não são como a gente quer, mas sim como têm

que ser (e a vida em algum momento, de formas diferentes,

mostra isso pra todo mundo).

agradeço toda manhã pela oportunidade de mais um dia e

faço de tudo um pouco para ajudar meu corpo e minha alma

a seguirem bem (sucos verdes, terapias alternativas, medita-

ção...ficar mais próxima de mim mesma e de Deus). Assim, tenho uma vida feliz e aguardo, paciente e confiante, um futuro bom.”

Fernanda Latini Alonso

viver umdia de cada vez.

Page 22: Histórias Contadas

“O médico também fica doente”

Descobri este danado

Num exame de rotina

E pensei: ”pobre coitado,

Vai ver se eu tô lá na esquina...”

Vou lutar feito um leão

Xô, linfoma, não vem não

Quero muito trabalhar,

Muita gente pra eu tratar...

Muito ainda o que aprender

Muito tênis pra eu jogar

Muitos vinhos por beber

Muitas coisas pra estudar...

Lugares pra conhecer

Novas receitas fazer

Muitas noites de luar

De “Fernando Pessoar”...

Beijos no meu amor

Chamegos no meu irmão

Xô, linfoma, por favor

Não estaciona aqui não...

Dr.Tabak, obrigada

Pelo modo que conduz

Essa dura caminhada

Fica repleta de luz...

A minha serenidade

Vem da confiança e fé

E com toda humildade

Aplaudo tua equipe de pé...

Rosana Oakim Jaimovich

8

Page 23: Histórias Contadas

Perguntei ao porteiro se o Dr. Tabak estava. Aí ele respondeu que

não. Então pedi que ele entregasse aquele bilhete assim que ele

chegasse, e fui embora.

No dia seguinte, sábado cedinho, ele me ligou dizendo:

- “Katia, aqui é o Dr. Tabak. Recebi seu bilhete. Estou indo

agora para o hospital X ver alguns pacientes. Você quer ir até lá?”

Respondi que sim.

Ele me examinou e confirmou o diagnóstico.

Perguntei-lhe que chances teria para sobreviver. Ele respondeu:

60 ou 70%, não me lembro exatamente. Então respondi:

EU VOU SOBREVIVER. Eu vou ficar boa, você vai ver.

Não quero morrer agora. Estou com 50 anos e acho que ainda

sou muito útil na minha profissão e para algumas pessoas.

E a partir daí começou a minha luta, a minha batalha.

Fiz seis meses de quimioterapia, de 15 em 15 dias. É um período

muito chato, muito doloroso. Você passa todo esse tempo com

gosto de “cabo de guarda chuva” na boca. Não sente o paladar

da comida, mas sabe que tem que se alimentar. É uma barra!

Katia Maria Rodrigues de Albuquerque

9

você luta!masO mal estar é inevitável,

Fazer um depoimento sobre o seu tempo de con-

vivência com o câncer, em 15 linhas acho impossível.

É um período que nos parece imenso, cheio de medos,

inseguranças, raiva, mal estares, carências, etc.

Como não consigo fazer nenhum poema ou poe-

sia como as que escutei ontem à noite, por sinal lindíssimas,

tentarei ser breve. Aí vai a minha história.

Bem, quando tive em mãos o diagnóstico de linfoma de Hodgkin

foi um verdadeiro alvoroço na minha casa. Imediatamente per-

guntei a uma amiga médica, Dra. Lourdes, que profissional pro-

curar. Então ela disse: “Temos que achar o Tabak, ele

é o melhor do Brasil. Só que eu não o conheço pessoalmente,

mas vamos dar um jeito”.

Naquela época, em julho de 1998, não tínhamos computador

em casa, então o que fizemos? Fomos procurar o nome dele na

lista telefônica. É verdade!

Nesta época eu morava em Copacabana e o endereço dele que

constava na lista era pertinho do meu. Na mesma hora peguei uma

caneta e fiz um bilhete pra ele mais ou menos assim: -“Dr. Tabak,

boa noite (era uma 6ª feira à noite). O senhor não me conhece. Es-

tou com um resultado de um exame em mãos dizendo que tenho

doença de Hodgkin. Soube que o senhor é especialista nesta área

e eu gostaria de ser sua paciente. Meus telefones são...”

Peguei o carro e fui até o edifício onde constava o endereço dele.

Page 24: Histórias Contadas

nunca soube quando, como, e se ele me abraçaria um dia, mas

sempre tive medo deste dia. O que nunca pude imaginar é que

este dia chegaria tão cedo e tão repentinamente aos meus 32 anos,

sem aviso prévio, sem uma dor, às vésperas de uma viagem dos

sonhos de 40 dias pela alemanha, desenhada dia-a-dia, com todo

carinho pela minha irmã mais velha. Imaginava que se um dia

tivesse que travar uma guerra contra ele seria com uma vida já

vivida, com filhos criados, com um companheiro para dividir o

peso... grande engano !!

não dá para brincar de poliyana e

dizer que não foi muito doloroso,

tanto fisicamente quanto n’alma,

mas também foi um período de

grande crescimento, e é aí que

quero me ater neste momento.

aprendi que temos que ouvir, sentir e respeitar os sinais que nos-

so corpo nos dá. ele nunca nos abandona, e acreditem, o tempo

é o nosso maior inimigo! Quanto mais rápido agirmos, muito

maiores nossas chances de sucesso.

entenda que os médicos e suas equipes não são nossos inimigos!

não tenha medo deles e não vá para outros tipos de “tratamento”,

isso é o pior que você pode fazer! Lembra do tempo que estamos

combatendo? Tive a dádiva de cair na mão de um médico que

fora a competência inquestionável, é de uma Humanidade ímpar

e uma parceria inigualável com seus pacientes, sempre deixando

claro a situação real das coisas. sua equipe nada mais é que a

continuação dele mesmo. Todos, desde a moça do café, as recep-

cionistas, nossas queridas enfermeiras, a equipe da farmácia, da

administração, os demais médicos e a querida “mãezona” sandra,

sempre sabiam quando dar uma palavra de carinho, fazer um

gesto amigo, dar um abraço carinhoso, um beijo sincero ou mes-

mo chamar para uma conversa a dois. ao Dr. Tabak devo meu re-

nascer e nunca, nunca, terei como agradecer a altura. À ele, meu

MUITO OBRIGADA

de todo o coração!!!! Uma vez que decidi meu médico, coloquei

toda a minha convicção em suas mãos e me tornei mais uma da

equipe. a confiança e cumplicidade era absoluta naquele grande

homem.

entendi que não podemos colocar expectativas e a força para ven-

cer em outras pessoas. provavelmente vamos nos machucar, elas

não vão retribuir ao que esperamos. a força para vencer, acredite,

10Minha Caminhada

a força para vencer,

acredite, mesmos!!!está dentro de nós

Page 25: Histórias Contadas

está dentro de nós mesmos!!! podemos estar um trapo fisicamente

mas viramos verdadeiras leoas para continuar vivendo.

Quando pensamos que não aguentamos mais, arranjamos mais

e seguimos em frente. É importante se dar conta que não somos

os únicos que estamos sofrendo, nem somos os piores. Faça a ex-

periência de olhar para os lados que verá que tem pessoas pre-

cisando de muito mais ajuda que você, e que talvez você possa

ajudá-lo. Você irá reconfortá-lo e acima de tudo vai se ajudar por

se sentir útil!

Quanto a família, eu reafirmei o que já sabia... Independente da

personalidade diferente de meu pai e minha mãe, eles certamente,

sem pestanejar, dariam a própria vida por mim. Fizeram o possível

e impossível para tentar criar o meu ambiente o melhor possível.

Já meus irmãos, cada um agiu de um jeito diferente, descobrimos

que temos uma ótima contadora de histórias para crianças e sinto

que meu irmão foi tocado e modificado para sempre.

por outro lado, você vai descobrir uma coisa maravilhosa!!!!! Vai

descobrir que uma série de pessoas que passaram ou fazem parte

da sua vida, mas que você não tinha ideia de que era importante

para elas, vão aparecer e se juntar em uma grande corrente de

oração, de várias religiões, pedindo fortemente para sua cura. Isto

não tem preço!!! são pessoas que verdadeiramente te amam como

ser humano.

Você pode até descobrir um grande amor, e não ser correspondida.

Mas não tem problema.... pois todo amor vale a pena!!!

Flavia Maria Dias da Silva Ferreira

imaginávamosexistir

FORÇAde lugaresque nem

Page 26: Histórias Contadas

11Ilana e eu nos conhecemos faz 25 anos.

De casados comemoramos 22 anos.

De vida ela tinha acabado de celebrar seus 45.

Tivemos uma relação muito bonita e apaixonada e desenvolvemos

uma linguagem própria. Nos entendíamos por um simples olhar

e apenas isto era o bastante para saber como estávamos.

Outro dia, o Rabino Stauber disse não haver uma explicação

lógica que justificasse porque uma pessoa de qualidade tem

uma passagem tão breve.

E que cada um deveria buscar o consolo acreditando que Deus

sabe o que faz, porque os seus desígnios estão muito além da

lógica humana.

Ilana teve uma trajetória marcante. Por onde passou deixou amigos.

Impossível alguém não gostar dela.Sempre gentil, carinhosa, atenciosa e principalmente generosa,

Ilana se preocupava com detalhes que para a maioria passavam

desapercebidos. Todos ficavam à vontade perto dela. Ela tinha

real interesse pelo próximo.

As pessoas vinham em nossa casa e acabavam ficando. Podia ser

quem fosse, um parente, um prestador de serviço, enfim, qualquer

um. Ela sabia criar um ambiente acolhedor. Era comum vê-la à

mesa almoçando ou lanchando com uma destas pessoas. E, por

mais simples ou tímida que fosse, esta pessoa aceitava o ofereci-

mento, quase uma amorosa imposição.

E lá ficava ela, conversando, brincando, sorrindo, fazendo amigos.

Sua agenda era infalível. Lá constavam não somente seus compro-

missos, mas também todos os aniversários e datas importantes.

Todo ano esta agenda era passada à limpo minuciosamente, pois

nada podia ser esquecido. Minuciosa era também sua lista de pre-

sentes de fim de ano e para cada um a lembrança era criteriosa-

mente estudada.

Não estamos acostumados a ver médicos e enfermeiras chorarem

pela perda de um paciente, mas quem disse que a Ilana foi uma

paciente?

Aliás, poucos sabiam ou acreditavam que ela desenvolvera uma

doença tão grave. Nestes últimos dias foi comum eu escutar fra-

ses como: “Sua voz estava ótima ao telefone!” ou “Não parecia que

ela estava tão doente!” Claro que não parecia. Não parecia porque

ela não demonstrava. E, principalmente, não se lamentava.

Ilana viveu intensamente e adorava a vida. Enfrentou todo o pe-

noso tratamento com coragem e determinação. Foi uma profes-

sora inesquecível para os seus alunos. Participou ativamente por

muitos anos da Diretoria de Pais da Escola Eliezer. Foi uma mãe

Page 27: Histórias Contadas

exemplar e, acima de tudo, amiga das filhas.

Ilana era uma mulher vaidosa, mas nunca teve medo de enve-

lhecer. Pelo contrário, ela desejava chegar logo aos 40 anos, pois,

assim, com suas filhas já adultas, poderia ter com elas uma rela-

ção de verdadeira cumplicidade feminina.

Ilana aproveitou ao máximo a companhia de Marina e Julia. Elas

frequentemente saíam juntas, passeavam, se divertiam. E, à me-

dida que as nossas filhas cresciam, cada vez mais os nossos laços

de amizade se solidificavam.

Era fácil receber o sorriso largo e descontraído da Ilana. Mesmo

durante as sessões de seu longo tratamento. No início até me

intrigava: “Mas sorrindo de quê?”

Logo, logo, aprendi com ela que, acima de tudo, devíamos

celebrar a vida. E Ilana era a própria celebração.

Se existia tratamento, havia esperança. E se havia esperança

ela continuava olhando para a frente. Sempre para frente.

Ela nunca deixou de fazer planos para o futuro e mais próximo do

final, me perguntava se chegaria a ver o casamento das filhas. Eu

dizia sempre: “Claro que sim!... temos muita luta ainda pela frente.”

Ela acreditava nisto e vivia o máximo que podia, pelo compromisso de

deixar as filhas crescidas. Hoje, Julia já começou o curso de Direito e

Marina já dá os primeiros passos no mercado de trabalho. Ilana me

entregou este que é o maior patrimônio que uma pessoa pode deixar:

filhas maduras e queridas.

Ilana era plena de qualidades e poucos, muito poucos, foram os

seus defeitos. Pois foi exatamente esta pessoa quase sem defei-

tos e cheia de qualidades que a mão de Deus levou. Com certeza

ela já está lá, em um lugar honrado, junto a outras pessoas queri-

das que já se foram.

E nós ficamos aqui, órfãos e carentes da presença dela, incon-

soláveis, buscando entender os desígnios de Deus e tentando

acreditar que ELE sabe o que faz.

“Ilana, como vou sentir sua falta... que em seu

nome eu possa assistir a todos os casamentos e ver

crescer todos os netos com que você tanto sonhou!”.

Eduardo Ryfer, marido de Ilana Ryfer

farto e generoso

seu sorrisojamais se apagará de nossas memórias.

Page 28: Histórias Contadas

Água na pleura

Tumor na pleura

Câncer

Desespero... Medo

Vira a página

Começa a Quimioterapia

Mal estar

náuseas... Vômitos

Vira a página

Boca doce

enjôos

sonolência

Um chá é pouco pra tanto sono

Vira a página

Termina a Quimio

Mas... febrículas

Dores de cabeça

astenia ...

Vira a página

alternativos...

Operações espirituais

sangues inexplicáveis

“passes”

Vira a página

Finalmente chega o dia do peT scan

Vai ser examinado todo o corpo

Vontade de perguntar ao Dr. Tabak

Meu adorável, dedicado e competente médico

ainda há tempo para despertar olhares

Com a cura esperada que chegou?

abraços apertados... beijos na boca...

alegria, beleza, prazer em estar sadia?

será? ... então...

segura a página

Luppe Gigliotty

a página12

Page 29: Histórias Contadas

1 a vida é injusta e por que

deveria ser diferente comigo?

Apesar da má notícia ser esperada, o momento do primeiro diag-

nóstico foi uma de minhas piores experiências. Por alguns dias

minha vida deixou de fazer sentido. Meu chão desabou e não ha-

via ninguém para reconstruí-lo com a velocidade que desejava.

Estava só. Custei a compreender que este era o meu caminho e

só eu podia percorrê-lo. Como iria fugir de minha própria vida? A

única solução foi aceitar o câncer e todas as suas frustrações. Es-

tava me preparando para minha primeira gravidez e desejava outro

destino para mim, foi minha primeira frustração. Depois vieram

muitas outras. Paciência é a única atitude sábia nessas horas.

Na verdade, a lucidez da morte tão presente no dia-a-dia fez com

que minhas frustrações se tornassem insignificantes. Agora en-

tendo o câncer como um grande aliado à busca pela felicidade.

É um momento de reflexões, autoconhecimento e mudanças.

Uma oportunidade para se reinventar, para abandonar valores

antigos, para resgatar sentimentos atropelados pelas ambições

da vida moderna e, além de tudo, uma oportunidade para se

respeitar. Tornei-me prioridade em minha própria vida. Comecei

a desfrutar com muita intensidade os bons momentos e a curtir

cada transformação que o tratamento me oferece, assim os maus

momentos passam despercebidos. Hoje consigo viver o lado bom

do câncer, não digo que ainda não sonho com um filho biológico,

mas se não for este o caminho a ser seguido, terei outros sonhos

possíveis.

sonhar

a vida. Costumava arrogantemente dizer que uma pessoa só tem aquilo

que quer. Minha experiência com o câncer reforçou ainda mais

esta crença. Agora repito de uma maneira mais delicada: “só pos-

suímos aquilo de que temos consciência”. Desconheço o que o

futuro me reserva, mas aceitar a vida como ela está sendo foi o

caminho que escolhi para suavizar esta luta.

Annelisie Aiex Correa

3motivaé necessário,

Page 30: Histórias Contadas

Quando os dias eram mais difíceis no hospital, eu olhava para as

paredes do meu quarto, e as fotos de minha família coladas sobre

as paredes emanavam uma energia impossível de ser descrita.

Vendo as fotos dos netos, sorridentes, lendo os bilhetes cari-

nhosos que escreviam com aqueles garranchos maravilhosos, típi-

cos dos 6 e 7 anos, minha alma transbordava com uma sensação

magnífica de bem estar. Sem contar com os desenhos do neto

menor, sempre emoldurados com pequenos corações.

Ali, cercado pela inquestionável competência e dedicação dos

médicos e pelo carinho da minha “tropa”, as paredes,

Se precisar ficar em algum quarto de hospital, não deixe de levar

sua família, seus amores, seus registros de felicidade, para não se

esquecer de quanto você é amado.

Prove dessa força em sua vida.

Antonio Albino Alves

Aconteceu comigo, acompanhando o tratamento de meu marido,

e talvez tenha acontecido com você.

Logo à entrada fiquei imaginando que, ali, por estarem tratando

de alguma doença mais séria, não haveria conversa, não haveria

alegria. Puro engano meu – nunca antes senti tanta força, tanta

disposição para a luta!

Nas visitas subsequentes, num crescendo inacreditável e abençoa-

do, eu já estava, de fato, entre amigos - todos empenha-

dos em vencer, dividindo positividade, carinho, ânimo,

trocando histórias de superação.

Na salinha do 10º andar ainda há o prêmio especial – a presença

do nosso querido Dr. Tabak - cientista e humanista - que, através

de uma rápida passagem entre nós, pacientes e acompanhantes,

deixa fluir um sopro de tranquilidade, de estímulo, de esperança,

deixando a certeza de que ele é, sem sombra de dúvida, uma luz

que ilumina nossas vidas.

Maria Helena Alves, esposa de Antonio

14 Quando as paredes nos libertam A sala de espera do 10ª andar

repletas de fotos, em vez de me prenderem, me libertavam.

Page 31: Histórias Contadas

Quando meu pai recebeu o diagnóstico de leucemia eu estava

numa gravação de novela e, quis o destino, o cenário era um cor-

tejo fúnebre no Projac. Chovia muito e aquele contexto todo só

aumentou minha tristeza.

Nunca imaginei qualquer doença alcançando meu amado pai, um

homem digníssimo, justo, bom.

Lembro da conversa ao telefone com minha irmã, entremeada de

silêncios profundos interrompidos por soluços de tirar o ar entre

espasmos de dor em forma de choro.

Entre a notícia e a chegada ao Dr. Daniel Tabak passaram me-

nos de 24 hs e nunca minhas lágrimas doeram tanto como

naquela tarde.

Não poderia transpor em palavras a importância que o Dr. Tabak

e sua equipe tem para nós, mas posso afirmar que a confian-

ça no médico é o pilar imprescindível na saga que é o

tratamento dessa doença.

Quando o mundo parecia ruir à nossa volta, foi nesses médicos

que amarramos nossas esperanças, também na competência,

disponibilidade, amabilidade e compreensão deles.

Passado o primeiro susto do devastador diagnóstico, nos apoia-

mos no Dr. Tabak e a ele entregamos nossas vidas e nossas espe-

ranças de sonhos ainda não realizados.

A jornada é imprevisível, o caminho tortuoso. Por vezes nos re-

voltamos, mas não perdemos a coragem, a fé e o desejo profundo

de derrotar o inimigo.

Existe um “tripé” que nos mantêm erguidos e dispostos para a

batalha e, sem ele, não acredito que poderíamos enfrentar todo

esse doloroso processo.

Christine Fernandes, filha de Antonio

“tripé” esse

vai dar certo.

é a família unida, a confiança no médico e a fé indubitável de que

Page 32: Histórias Contadas

Estou triste. De novo? Que re-

missão é esta? Seis meses de

distância. Lutar pelo direito de

fazer o tratamento. Bradesco.

Consegui, através, como sem-

pre, de amigos. É o que temos

de mais precioso.

Leio no jornal de hoje, 19 de junho de 2010.

“Saramago está morto.” Sinto um arrepio. Estou viva e

penso nele com respeito. Então viva Saramago! Sou, pela minha

lembrança, um instrumento que prolongará sua existência.

Cole Porter toca no cd.

Em frente a mim a estante do escritório de Ivan. Cheia de retratos.

Quantos mortos, tão queridos. Ivan, mamãe e...

Mas o momento que a foto mostra foi um momento de glória para

minha família. Posse na Academia Nacional de Medicina. Ivan ain-

da jovem em seus 50 anos. Garboso, feliz, vitorioso. Meus filhos,

sentados a nosso lado envergando suas roupas domingueiras.

Sinto que são minha obra prima, à qual me devotei, menina ain-

da, com aquele arrebatamento bem meu. O sentimento que me

toma é de dever cumprido. Cumprido tão naturalmente quanto o

ato de respirar, mas vital. Límpido e cristalino.

Fico chorosa. O tempo é muito lento para cicatrizar feridas. Tempo

de lutos. Paradoxalmente foi muito rápido chegar aos 73 anos.

Idosa, sou velha? Não, meu coração está cheio de sonhos, anseios e futuroEntretanto esbarro numa palavra: o linfoma.

Atordoada. Estão falando de mim. Está escrito no exame, com to-

das as letras. Olho para a imagem da endoscopia e não vejo nada.

Santa ignorância. Cegueira seletiva. Não, eu não tenho linfoma.

Não agora, ainda não. Eu tenho uma distensão abdominal. Faço

este quadro desde menina. Seriam filhos fantasmas, que gero e

que se perdem no ar. Tem um outro nome: hérnia de hiato, com-

patível com a idade. Que idade/ qual delas? A da cronologia, de

minha história, a das paixões, das dores engolidas?

Agora isso! Linfoma. Nem sei o que é isto. E aos poucos esta pa-

lavrinha vai tomando forma, vai-se tornando mais um personagem

na minha vida. Me arrasta à consulta com um hemato-oncologista.

Dr. Daniel Tabak. Em condições internas de guerra mundial, tenho

que me render. Foi um belo encontro. Direto, objetivo, aco-

lhedor. Com delicadeza firme Dr. Tabak vai me informando

sobre minha própria vida de hoje em diante. Quimio agressi-

va, pesada. É um tumor agressivo. Pode ter cura ou não. Vamos

começar já.

15

Page 33: Histórias Contadas

Penso: estou me sentindo bem. Só um certo cansaço. E

se eu não quiser?

Como que adivinhando minhas conjeturas ele interrompe o fluxo de

meus pensamentos e diz: você pode escolher não fazer a quimio.

Pergunto: sim, e então?

Ele: os tumores vão crescer...

E eu: como plantas carnívoras, destruindo tudo a sua volta.

Dor, sofrimento, um frio gélido na minha barriga. Tenho medo de

morrer? Tenho medo de como. Não estava no meu script morrer

assim devagarinho. Escolhi ser atropelada, ter um enfarte, um AVC

fulminante. Não terei tanta sorte.

Os quatro anos de doença de meu marido vêm à minha mente.

A decadência, a dependencia, as inúmeras internações. Uma ba-

talha perdida, mas enfrentada com coragem por nós. Meu cora-

ção bate acelerado. Não, eu não. Mas é de mim que se trata. É

minha vez.

Os familiares, chocados me encorajam.

Você é forte, você aguenta. Entendo que é o que eles esperam

de mim. Não posso decepcioná-los. Sou mãe e avó. Até nesta

hora tenho que dar exemplo? Não sei pedir. Sei cuidar, o que fiz

minha vida inteira, desde que nasceram meus irmãos menores.

Vou exigir muito de meus filhos, dar trabalho, alterar suas vidas, já

tão trabalhosas.

Me lembro de cada um deles e já sinto uma enorme saudades de

todos nós.

Ouço uma estrofe da música que toca ao fundo:

“every time you say goobye I die a little”

Quantas vezes achei que morria de dor, decepção, esperas an-

gustiosas. Desta vez é “à vera”. Em outros momentos me reinven-

tei, renasci mais forte como a Fênix. Refiz os pedaços perdidos

como a salamandra.

Os amigos fazem um cerco à minha volta. Contritos, falando baixo.

É o medo da morte o que leio em seus rostos.

Começamos.

Quatro horas de injeções endovenosas. Mal-estar, náusea. Es-

tou hiporética. Que diabo é isto nos exames? 200 leucócitos.

Internação.

Apago, estou em outra dimensão, dentro de mim fraqueza, exaus-

tão. Silêncio. A barriga enorme. Vejo preocupação nos olhos do

Dr. Tabak. A vida está indo embora? Mas, com ajuda, saio desta.

Me entregoserá por amor à Nem sei, não tenho outra escolha.

vida?

Page 34: Histórias Contadas

Morrer não é tão difícil. É triste sim. É estar sozinha cercada

de gente por todos os lados.

Outra quimio. Passo a mão pelos meus cabelos, dos quais me or-

gulho. Meu apelido na infancia, dado por meu pai, leão, tremenda

juba. Começam a cair, aos magotes. Eu já tinha sido avisada. Mas

vivenciar, na própria pele é bem diferente. Raspo tudo, estóica-

mente. Estou no controle outra vez.

E meus pacientes? Tenho que lhes dizer a verdade, do jeito que

cada um pode ouvir. Então nem a psicanálise dá jeito? Nosso úl-

timo bastião cai por terra e somos invadidos por esta realidade.

Se agarram em mim. Eles precisam que eu aguente. É uma oca-

sião de aprendizado inestimável. Não querem meu desânimo, nem

meu desespero. E as perguntas? Como é estar com câncer? Seu

cabelo caiu? Voce está com medo? Como consegue ter sereni-

dade? Não consigo pensar em você doente.

E eu ali entregue à visitação pública.

Mas vamos, passo a passo, descobrindo novas fontes de vida. Isto me dá uma tremenda força. Se eu tiver que morrer que eu viva

até a última gota deste cálice. Com medo e com coragem. Não

mais preciso ser a heroína. Basta ser eu mesma. Isto deve dar

conta desta passagem. Aprendo e ensino. Temos uma missão até

nesses momentos derradeiros. Como nos despedirmos? Como

não nos vitimizarmos? Semeando nesta seara colho frutos. Vivi,

amei, gerei, criei. Que bênção!

Interessante. Meus olhos estão secos. Não posso chorar por mim.

Tive muitos privilégios. Com prazer, com dor. Enquanto eu puder

respirar, este corpo, que é meu limite, vai ter que fazer acrobacias

no ar. Sem rede.

Remissão.

Vamos à luta.

Meus agradecimentos a todos vocês, do Centron, que têm me

acompanhado nesta jornada.

“O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na

intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos in-

esquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis.”

Fernando Pessoa.

Acrescento: como tem sido nossa experiência com vocês.

Léa Maria de Oliveira Castro Lemgruber

Page 35: Histórias Contadas

Aprendi que as grandes pessoas se tornam realmente grandes

não por suas palavras, mas por seus exemplos. e o Felippe con-

seguiu, em seu blog, ensinar a milhares de pessoas, através de

palavras, o que ele colocava em prática: determinação, coragem e

força para alcançar um objetivo.

não, o Felippe não saiu derrotado desta luta! ele nos ajudou a ser

mais fortes e melhores. e o que mais pode-se esperar de alguém

em sua passagem pela Terra?

Não quero me estender em assuntos religiosos, até porque cada

um tem o direito de crer no que quiser, mas partindo da premissa

que Deus é soberanamente justo e bom, ninguém pode afirmar que

a luta do Felippe foi em vão. Não foi e não é em vão.

A vida continua aqui e mais além e o legado deste ‘cerumano’

ecoará para sempre em nossas almas. A saudade é verdadeira,

a dor é imensamente grande, mas nenhuma das duas podem es-

tremecer esse amor que nos liga eternamente. Tempo e Espaço

pediram as contas desde que inventaram o amor.

Um dia todos nos encontraremos no espaço para brindar a gran-

deza de Deus.

Que todas as pessoas que estejam lendo essas palavras não de-

sanimem de seus ideais, que não percam a esperança da cura,

que lutem cada vez mais e que tenham mesmo a certeza que

ainda que o corpo pereça, a alma continua, não temeis mal algum.

Paz e bem a todos.

“Mas se algum dia me faltar o seu abraço, não será triste a sau-

dade, pois sei que nos encontraremos no espaço, pra que não falte

a alegria você vai estar para sempre dentro do meu coração”

Beijos com amor eterno do seu amigo, Pandã (J).

Julian Pandã - amigo de Felippe Garchagen

O Pi foi uma criança super saudável, que de doenças da in-

fância teve apenas crises de amigdalite até os sete (4 aos 7), que

foi curada definitivamente com vacina autógena. Nunca mais

teve! Saudável demais! Não gostava muito de esportes, futebol,

vôlei, academia, etc. Ele era voltado totalmente para o desenvolvi-

mento intelectual! Lia muito...aos 9 anos pediu de presente de

aniversário assinatura do Jornal do Brasil, que fizemos até passar

a ler jornal e livros pela internet. Computador aos 10 anos. Como

16

Page 36: Histórias Contadas

pode ver na página do orkut dele, ele diz: leio até bula de remé-

dios. Devorava livros! Logo cedo estudou inglês no Brasas. E era

bom nisso! Desde cedo muito amoroso comigo e com o pai.

Era meu amigão! Fez judô por uns 3 anos, natação uns 4 anos, tocava teclado e

era um excelente aluno desde pequeno. Não estudava em casa

nunca, apenas prestava atenção nas aulas e lia muito. Era cu-

rioso demais! Aos 16 foi estudar nos Estados Unidos (casa da tia),

foi para conhecer mesmo pois dizia: Não quero ficar lá, não

Mamy, mas o pai insistia muito pra que fosse! Eu não queria, mas

deixei. Foi um dos melhores alunos da escola lá! Logo ao chegar

ele entrou como voluntário na NASA (curiosidade total), aprendeu

muito lá! Tenho guardada a camisa e o crachá da NASA. Felippe

sempre me pedia uma irmãzinha, pois eu só tinha ele (e eu sempre

quis um outro filho(a), mesmo ele já tendo uma irmã pela parte

do pai, insistia comigo que queria uma aqui em casa e graças

a Deus, quando ele tinha 12 anos, nasceu a irmã que ele tanto

queria e ele curtiu até viajar! Quando aconteceram os atentados

nos EUA (ele estava aqui de férias) e aí ele decidiu não voltar, pra

minha felicidade! Foi muito namorador, desde os quinze nunca fi-

cou só. Entrou na PUC pelos acertos do ENEM, cursava enge-

nharia mecatrônica, gostava muito. Participou de vários campeo-

natos de robôs pela PUC, inclusive ganharam prêmios. Aos 20

participou de várias entrevistas para uma grande empresa aqui no

Rio e conseguiu a vaga, disputando com inúmeros candidatos.

Felippe se expressava muito bem sobre qualquer assunto, tinha

um conhecimento vasto, participava de lançamentos de livros e

comprava muito livro! Não tinha grandes vaidades, não gostava

de tatuagens, brincos, coisas vulgares, era sério. Gostava de fazer

a trilha do Pão de Açúcar e chegava com aqueles tênis todos

imundos, lá ia eu dar um jeito! Ele lia tanto que, até na praia o ra-

paz estava com livros. Adorava jogar xadrez, vídeo game, assistiu

a muitos filmes. Era católico, mas gostava do Kardecismo. Tinha

um carinho especial pela avó (93 e forte até hoje graças a Deus)!

Brincava muito com a irmã, hoje com 13 anos! Os dois dentro

de casa era uma farra só, ela sempre no quarto dele, só obser-

vando! Aprendeu muito. Pi curtia música demais, tinha todas as

músicas do Roberto Carlos (era um romântico), todas dos Bea-

tles, etc, bem eclético! Dava livros de presentes para irmã, daí

veio também o gosto pela leitura que ela tem, a menina lê muito.

Era muito amigo do pai dele (Yost), se viam quase diariamente,

mesmo sendo filho de pais separados

ele não sentia diferente dos outros, o

pai sempre deu muito carinho, acom-

panhou de perto todas as fases dele,

participou ativamente da vida do Pi até

o último momento. Preocupava muito

com o pai e comigo, se eu atrasasse

Page 37: Histórias Contadas

para chegar em casa, rapidamente estava me ligando: Dona Ivo,

cadê tu? Me dava uma força tão grande pra eu viver a vida, me

achava a mãe mais linda do mundo! Fotografava minhas peças

de teatro do princípio ao fim e achava o máximo eu atuar, inclusive

voltei para o teatro por ele. Era muito família! Adorava as tias e avó.

Oh Deus!

Aos 23 anos, com uma carreira promissora, após ter mudado da

engenharia para administração (achava que no campo do traba-

lho tinha mais a ver), uma namorada linda e bacana demais, apa-

receram dois gânglios pequenininhos no pescoço, aí começou a

procura do diagnóstico. Andamos muito! RJ, SP, Ribeirão Preto e

capital. Aqui no Brasil não conheciam o tipo raro desta leucemia.

Era ele que falava com os médicos e gravava as consultas. Eu

as tenho! Ele não desanimou, ele me dava forças. Sempre assim;

Calma mãe! Ele foi forte demais, não gostava que médico escon-

desse qualquer coisa, ele leu tudo sobre a leucemia e linfomas! Se

cadastrou no REDOME, mas infelizmente nosso banco de medula

é muito pequeno! E na família não achamos. Ele teve um médico

maravilhoso, foi o úlltimo amigo que ele fez aqui. E nós (família),

nunca conhecemos um Dr. assim! De um carisma e humildade fora

do comum.Trocou emails com doutores da França, EUA, atrás do

tratamento e foi dificil achar um lugar que tivesse tratado este tipo

de leucemia. E eu e o Pi, também vasculhamos EUA, a tia dele

também. Apareceu um protocolo de quimio (acho da Itália), e ele

aguentou tantos exames, tratamentos! Meu Deus. Que força!

Eu não sabia que o meu Pi era tão forte, objetivo sim, sempre foi,

mas tive muito medo da reação dele ao saber do diagnóstico! Mas

a primeira coisa que ele disse pra mim, foi: Agora quero ver a for-

taleza que você é mãe! Você não vai chorar! Ao que eu respondi

com um nó na garganta: Claro filho, vamos enfrentar juntos! E en-

frentei tudo junto com ele até o último momento! Foi muito difícil,

mas ele me botava pra cima. No hospital me dizia: Ivo, (era um dos

nomes que me tratava..Ivo, mama,mamy), vá pra casa descansar,

cuidar da Ina, ela precisa de você. Aqui você e meu pai não podem

fazer nada, eu estou nas mão de Deus, do Tabak e das enfermei-

ras, e você precisa descansar. Mas eu não me conformava, eu

não me sentia bem em casa!

Em julho ele estava muito bem, parecia que não havia mais leu-

cemia e de repente ela voltou com força total e em 28/08/10, ele

entrou em coma, não saí do lado nos três dias e ele se foi naquele

trágico sábado (30.08.08), me poupou o momento, pois eu vim

em casa rapidinho (os amigos insistiam que eu tinha que sair de

lá um pouco), o pai dele estava lá! Eu vivi tudo com ele, tratamen-

tos, dava os medicamentos, era apenas eu, ele não sentia bem se

outras pessoas o ajudassem. E ele foi num momento que eu não

estava presente!

O pi, ao saber ser portador de uma enfermidade tão rara e difícil, fez

um Blog para dar forças, esclarecimentos e incentivos a quem es-

Page 38: Histórias Contadas

tivesse na mesma situação, e esta atitude mostrou mais uma vez pra

nós, pais, como ele sentia feliz em sempre dividir e ajudar os outros.

O Blog é o www.cerumano.com e até hoje é muito acessado e eu quero que continue na internet.

Deixou um vazio imenso na minha vida e na da irmã! Felippe era

apaixonante, um menino de coração tão bom que aos 10 anos de

idade eu o pegava com uma sacola na mão cheia de meias, cami-

sas de frio pra dar pro pessoal que dormia na rua em Petrópolis, e

nem me pedia! Se deixasse dava o que podia e o que não. Nunca

teve inimigos! Educadíssimo com todos, se alguma amiga minha

precisasse que ele arrumasse um computador ele estava sempre

pronto pra ajudar. As assistentes de casa, ele tratava com muito

carinho desde que ele era pequenininho.

Mas Deus deve ter as razões pra tudo isto e sei que nunca acharei

a resposta! seguirei, pois ele sabe que tenho que cuidar da Ina!

sei que ele está ao lado do pai Celestial nos guiando. Dói relatar

tudo isto...

Eva Pires - Mãe do Felippe Garschagen

É extremamente doloroso revivermos momentos tão dramáticos,

desesperados, angustiantes e, até hoje, passados 2 anos de sua

partida, inexplicáveis.

Perder um filho fantástico, maravilhoso, extremamente inteligente,

caráter impecável e de uma bondade ímpar, com apenas 24 anos.

Talvez venhamos a compreender parte dessa situação em algum

momento de nossas vidas. A saudade é eterna, ferida que nunca

vai cicatrizar. Parte da aceitação vem do fato de termos feito tudo

que foi possível e da enorme felicidade de nosso filho em estar aos

cuidados do Dr. Daniel Tabak e equipe, diga-se Dra. Simone, Dra.

Isabela e Dr. Bruno e toda sua equipe no Centron.

Falar do Dr.Tabak e o que ele representou para todos nós, e prin-

cipalmente para nosso filho, é muito positivo. Um ser humano fan-

tástico, um gênio e um grande cientista. Às vezes penso que se

a classe médica estivesse próxima da capacidade e dedicação

do Dr.Tabak com certeza teríamos uma medicina mais humana

e competente. Não mediu esforços, atenção, emoção e carinho

por meu filho em momento tão difícil. Quando surgiram os primei-

ros sintomas da doença, após um exame de sangue em uma

emergência hospitalar, começamos uma longa via crucis por vários

Como entender e aceitar uma situação dessas ?

Page 39: Histórias Contadas

7consultórios e clínicas no eixo RJ-SP. Chegamos ao Dr.Tabak, que

foi quem conseguiu descobrir efetivamente o tipo de leucemia que

acometeu meu filho e iniciamos o tratamento. Ocorreu um fato em

uma consulta em São Paulo em que o médico, após examinar meu

filho, disse que se ele tivesse um filho com o mesmo problema do

Felippe ele o entregaria aos cuidados do Dr.Tabak. Isso é apenas

um exemplo que ilustra a inesgotável capacidade profissional do

Dr. Tabak. Digo inesgotável porque ele sempre está a procura dos

melhores procedimentos para combater essa terrível doença. Nos

vários e alguns longos períodos em que Felippe esteve internado,

Dr. Tabak sempre atencioso e solidário, inclusive ligando várias

vezes de madrugada para conversar com meu filho e levantar seu

astral e trocando informações para os próximos passos do trata-

mento. Através de seus amplos contatos no exterior, procurou to-

das as soluções possíveis e impossíveis para tentar a cura de meu

filho. Fatalmente foi uma leucemia rara em que a doença mostrou

seu lado mais terrível e cruel. seremos eternamente gratos ao Dr.

Tabak e sua equipe pelo imenso carinho e dedicação com nosso

filho e como bem colocou evanilde, mãe do Felippe, o Dr. Tabak

foi o último amigo que meu filho teve aqui na Terra.

Yost Garschagen, pai do Felippe Garschagen

O meu testemunho, na realidade, vem

através das palavras da minha filha. Última de uma leva de cin-

co, e por ter o mesmo nome que a mãe - nicole - chamo-a de

pequena.

Gostaria apenas de fazer um breve link dela com a doença: Tive

câncer pela primeira vez quando ela tinha apenas dez anos.

a pequena estava acostumada a conviver com uma mãe super

saudável e ativa.

Me viu de repente sem os seios, de cama por conta das quimios

violentas, completamente careca, depois, queimada em função

das radios.

Me recuperei e fomos reorganizando a vida.a conscientização dela com a doença me surpreendeu. ela sem-

pre que me via um pouco quieta perguntava: Mamãe está tudo

bem? Você não está me escondendo nada, né? ao ponto que certa

vez me pediu que marcasse uma consulta com meu médico pois,

eLa gostaria de conversar com ele. e assim foi feito. ela lhe per-

guntou: Doutor, gostaria de saber se está tudo bem mesmo? não

1

Page 40: Histórias Contadas

tem nenhum exame que minha mãe poderia fazer? para saber da

doença? Desta forma ficou tudo, aparentemente, tranquilo.

em julho de 2008 resolvi ir morar na França. a minha vida es-

tava complicada... a única coisa que gostava e realmente sabia

fazer bem era amar meus filhos... e a vida me cobrava mais. Orga-

nizei a vida da galera e parti, mas deixei meu coração aqui.

Em setembro descobri o amargo retorno da doença.

Dessa vez nos ossos e no fígado. Já estava fraca e tinha emagre-

cido muito.

pensei em não vou voltar. Meu cunhado e minha irmã - onde

me encontrava morando - me disseram que eu poderia me tratar

por lá. Quando, momentos depois da decisão tomada, inespera-

damente a minha pequena me liga; sendo que meus filhos não

sabiam de nada:

por favor não me esconde nada, eu te amo demais e preciso de

você!

Claro que voltei. na mesma hora liguei para meu irmão aqui no

rio e ele pegou um avião e foi me buscar.

Tudo isso relatei com o intuito de deixar registrado que minha

mensagem para todos aqueles que tiverem o infortúnio de con-

viver com o câncer - com base na mensagem que recebi da minha

pequena - é:

Sempre vale a pena optar pelo amor!

O amor é a expressão mais primitiva da vida!

O amor restaura, revigora.. o amor cura!

O amor é vida!

Confira agora a mensagem da minha pequena, enviada pelo BBM

no dia 29 de setembro de 2010; dia em que a moça completou seus

tão sonhados 18 anos!

beijos

Nicole Gerbauld

Mamy! Tava aqui refletindo sobre esses anos que vivi. Foram sim mara-

vilhosos, tive uma infância linda e muito feliz! não mudaria nada

da minha adolescência, e essa fase adulta só tem me surpreendido

a cada dia. A vida vai andando por caminhos inesperados, e

isso assusta muito. Mas depois de um tempo a gente percebe que

quem tem o controle dela somos nós, e nós iremos fazer dela aqui-

tá tudo ?Mãe, BEM

Page 41: Histórias Contadas

lo que plantarmos. nunca gostei de aniversário, essa sensação de

tempo perdido que não volta mais. não que eu não queira crescer

e seguir minha vida, ser independente, trabalhar, me encontrar,

cuidar de mim, casar. e repetir esse ciclo incrível da vida.

escrevi tudo isso querendo chegar nesse ponto. só quero te agra-

decer por ter sido tudo pra mim nesses 18 anos. estamos em um

patamar de relacionamento que acho pouco em resumí-lo como

só mãe. Você foi minha amiga, companheira e nunca me deixou

na mão. Me ensinou a amar a vida e as pessoas. eu transbordo

amor mamy, minha vida gira em torno disso. De músicas, so-

nhos, planos, amores, fé. eu sou apaixonada pelo amor e

por todos aqueles que me passam ele. eu sou muito feliz,

e quero que você nunca se esqueça disso. Você me formou

numa pessoa completa. nunca me faltou nada. não mudaria

nada da minha vida.

por ter sido muito mais do que um dia eu pedi, por ter preen-

chido todos os vazios do meu peito, por ter me mostrado

esse amor incondicional que eu vou levar por toda a minha

vida!

por isso hoje, acho que quem merece parabéns é você. não se

preocupe comigo, ainda tenho muito que aprender, muito

mesmo. Mas já tenho o suficiente pra começar.

A vida já começou e te prometo fazer dela maravilhosa!

Muitos beijos, pequena

Pequena - filha da Nicole

OBRIGADA,

obrigada, obrigada.

Page 42: Histórias Contadas

A viver a vida usufruindo os bons momentos;

a doença não pode nos impedir de viajar, ir a festas,

cinemas.

Que tenho mais amigas do que imaginava.

A dizer não, para ficar com o que eu realmente quero

e evitar tudo que pudermos para não nos aborrecer.

A não me preocupar com antecedência

A não ter problemas de falar de doença; as pessoas

que são nossas amigas vão nos apoiar (às vezes o excesso

de telefonemas cansa, mas faz bem).

Que cabelo cresce.

Deus só nos deu 2 escolhas: lutar ou sentar e chorar.

Por isso o mais importante é acreditar que eu posso, que o

tratamento vai dar certo e que há muitas pessoas passando

pelo mesmo problema. Que isso é uma fase a ser superada

e comemorada.

Carmen Brollo

81aprendi:

O meu tratamento de câncer se

transformou em um aprendizado.

ou sentar e chorar. Lutar

Page 43: Histórias Contadas

sei que sou muito pequena perante a imensidão do mundo, porém,

quando estou com vocês sinto-me acolhida e esse sentimento me

torna uma fortaleza, que fortifica meu coração e o faz pulsar, transbordando de vontade de lutar, de amar, de sorrir, de viver ...acredito que o apoio, principalmente da família, é muito impor-

tante para a nossa cura!

agradeço todos os dias aos meus filhos, netos, genros e nora, pois

sempre estão segurando minha mão com um afeto único, que me

transmite a certeza do amor e da esperança!

agradeço, também, a família CenTrOn que me proporciona to-

tal segurança.

Dr. Daniel Tabak, meu eterno anjo da guarda, muito obrigada!

“se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi!”

(roberto Carlos)

Alpha Alcantara

19não quero ver ninguém triste

ou chorando

Quero apenas a alegria!

O meu sorriso de presente

Veja como o seu sorriso é belo!

Tente sorrir, você consegue!

perceba como sorrir faz bem!

a cada um de vocês ofereço

sinto a felicidade brotar em meu coração, Diariamente, ao nascer do sol.nesse instante mágico

as quais ofereço a todos que

partilham da minha caminhada...

em meu coração a chave da alegria e do amor.

aproveito para guardar

MensaGens OU respInGOs

Page 44: Histórias Contadas

ções de forma até exage-

rada, sem me importar com

o necessário equilíbrio na

vida. Acho que até consegui

“meu objetivo”.

Passei minha vida inteira

focado nos três conselhos,

independentemente do que

fosse, trabalho, lazer, educa-

ção, romances, amizades e

até no convívio familiar. Tor-

nei-me uma pessoa diferen-

ciada aos olhos alheios, um

pouco acima da média, con-

siderando minhas condições

iniciais de vida. PAGUEI UM ALTO

PREÇO: solidão, introspecção,

inveja alheia, poucos amigos,

bons recursos, mas sem ob-

jetivos definidos de como uti-

lizá-los – às vezes, servi de

exemplo; mas, na maioria das

vezes, fui repudiado.

Cheguei aonde achei que se-

20’O TEMPOEstou com 49 anos. Aos 11

anos, iniciei minha jornada de

trabalho. Logo depois, aos 15

anos, resolvi que teria chan-

ces na vida se LUTASSE CONTA

O TEMPO: enfrentasse todas as

adversidades externas com

bastante afinco, tendo em

mente os três conselhos para

suportar uma sobrevivência

digna: 1º disciplina; 2º disci-

plina; e 3º disciplina.

Agindo assim, venceria os fa-

tores externos da minha vida

e ganharia mais tempo para

viver melhor no futuro. Sem-

pre superei minhas limita-

ria o suficiente na minha vida.

Constituí uma belíssima famí-

lia: tenho uma mulher nota

mil; um filho de 9 anos e uma

filha de 3 anos, maravilhosos;

bons recursos para sobreviver

com dignidade; enfim, somos

felizes, há bastante tempo...

Porém, descobri que não sei

lidar com o tempo aliado à

disciplina, ainda muito pre-

sente em minha vida.

Continuei o mesmo menino

de 15 anos. Querendo sem-

pre me superar, querendo

TUDO PRA ONTEM, achando

que vai sempre vencer o

tempo...

Hoje, estou passando por

um processo de tratamento

de uma doença rara, onde o

tempo é meu maior aliado ou

meu maior inimigo, caso não

consiga equilibrar (até elimi-

Page 45: Histórias Contadas

nar, se necessário) meu culto

a disciplina que mexe com o

meu tempo.

Nos recentes primeiros dois

meses que passei junto ao

Centron, onde nunca imagi-

nei que existiam pessoas de

todos os níveis, tão bem pre-

paradas para lidar com gente

com eu e que me levasse a

muita reflexão, não só pelo

meu próprio problema, mas

também pela infinidade e se-

riedade dos problemas de

outras pessoas, num mesmo

tempo.

Felizmente, a Equipe e os

pacientes do Centron me fi-

zeram entender muitas coisas

e conseguimos juntos superar

uma fase importantíssima do

meu tratamento, com muito

sucesso. Aproveito para agra-

decer a todos, de coração.

Há três anos estava no auge da minha vida, curtindo muito, trabalhando, recentemente formada. Estava tudo

perfeito. A época da minha vida que eu estava me achando linda,

quando comecei a emagrecer, apareceram manchas e por fim uma

tosse. nunca imaginei o que me esperava, achava que era uma

pneumonia ou alergia. Fui a uma emergência e numa radiografia foi

constatado que o problema era mais sério do que eu pensava. Fiz

biópsia e foi confirmado, estava com Linfoma de Hodgkin.

A primeira coisa que pensei quando soube que teria que

fazer quimioterapia é que ficaria careca. Fiquei desesperada.

Achei que estava morta, queria aproveitar cada segundo como se

fosse o último. Na nossa vida quando, a gente acha que nada mais

pode piorar, acontece uma tragédia. Três meses depois de saber

que tinha câncer meu paizinho faleceu de infarto fulminante. Nada

se comparou à dor que eu senti de ter perdido meu pai.

Foi nesse momento que percebi a importância de ter Deus

no coração e ter a compreensão de que todos nós temos a nossa

hora. E eu estava doente sim, mas tinha que lutar pela minha

vida e nunca perder a esperança e a fé, pois tudo na vida tem dois

21Estou aprendendo muito.

Já consigo entender que

o tempo é um acúmulo de

momentos. Cada segundo

vivido, adiciona para o tempo.

Independentemente de dis-

ciplina, independentemente

de superação pessoal, in-

dependentemente de nossa

contagem, O TEMPO NUNCA

CONCORRE CONOSCO. Na ver-

dade, ESTÁ SEMPRE AO NOS-

SO FAVOR, POIS NOS LEVA AO

FUTURO. Enfim, o tempo é

Divino.

Carlos Roberto A. Guerra

Page 46: Histórias Contadas

lados, o bom e o ruim. Então, se existe o problema temos que

buscar forças para resolver e não se entregar.

O que me incomodou um pouco foram as pessoas, que

na sua maioria não estão preparadas para lidar com pessoas que

tenham câncer, ficam muito penalizadas e sem saber como agir.

Sempre contei tudo com naturalidade e tentava explicar que es-

tava superando e levando minha vida o mais normal possível: tra-

balho, namoro, vou à praia, saio à noite, faço exercícios, aliás sou

professora de educação física e muito feliz com meu trabalho.

Hoje sou uma mulher que aprecio muito cada dia que acordo e

vou dormir e a todo o momento estou agradecendo a Deus, princi-

palmente por ter me dado um sobrinho que encheu minha vida de

alegria, uma família maravilhosa, amigos de verdade e um namo-

rado que encarou o carnaval no hospital comigo e me viu careca, e

ainda assim eu via o brilho nos olhos dele, dizendo que me amava.

Me sinto muito feliz e realizada, a doença se tornou pequena perto

de tanta coisa boa que acontece na minha vida.

Peço a Deus pela cura, mas não me consumo pensando

vinte quatro horas nesse assunto,

faço planos para o futuro e o mais importante nunca perco a

esperança.Bárbara Magalhães

Prise au piège

Preso numa armadilha

Toujours pas fini

Ainda não terminou

Je suis peut être libre

Talvez eu esteja livre

Mais toi, tu n’es toujours pas reparti

Mas você ainda não partiu

Et je vois toujours ton ombre.

Ainda vejo sua sombra.

Que t’ai-je fais O que eu fiz?

Laisse-moi tranquille

Deixe-me tranquila

Je ne demande que la paix

Eu só peço paz

Il n’y a pourtant rien de difficile.

Não tem nada de difícil nisso.

22

curto minha vida,

Page 47: Histórias Contadas

Retourne d’où tu viens

Volto de onde você veioNe me fais pas vivre cet enfer

Não me faça viver este inferno

Je ne te demande jamais rien

Eu não peço nunca nada

Alors qu’est-ce-que ça peut te faire.

Então o que te custa.

Retourne dans ton pays

Retorne ao seu país

Que l’on me delivre

Que alguém me ajude a ser livre

Et que enfin j’oublie.

Para eu enfim esquecer.

Là je pourrais enfin revivre! Então poderia reviver!

Ana Caroline Fossoux

Que amor de filha

Sol de nossa vida.

Viva!Botão de flor radiante.

Encanto quando ela canta.

e os nossos corações

palpitam ao ritmo

de Ana Caroline

Page 48: Histórias Contadas

Quando comecei este quadro em maio de 2007, tudo o que eu

queria era tirar todo o peso que tinha no coração. Minha filha

começava um segundo protocolo de química... E o que encontrei

foi a esperança. E fortificada por cada sorriso, pela coragem e

a sede de viver de minha filha. E foi o presente que lhe dei antes

do transplante da medula...

Este quadro eu não o explicarei.

Como um semeador, as palavras do seu título serão as sementes

da sua imaginação.

Patrícia Fossoux, mãe da Ana Carolina

Uma vida feliz, tranquila, algumas preocupações e problemas co-

muns, mas repleta de muito amor e bênçãos divinas nas horas

difíceis. De repente, o diagnóstico de um Mieloma Múltiplo, um

câncer de medula óssea... Num primeiro momento, o chão

parecia desaparecer debaixo dos pés; sentimentos de medo do

desconhecido, ansiedade, preocupação, tristeza, insegurança...

E agora, o que fazer? A quem recorrer? QUE CAMINHO TOMAR?

Tudo parecia um grande pesadelo.

Felizmente, foi apenas um momento assustador. Uma explosão

interior de FÉ acendeu grande luz e trouxe a certeza:

23VIVENDO, APRENDENDO E RENASCENDO

Page 49: Histórias Contadas

FéTudo aconteceu com grande tranquilidade e segurança.

“Eu vou ficar curada!”.E um “anjo”, pela vontade divina, conduziu-me a esse brilhante

médico, hoje um grande e querido amigo, Dr. Daniel Tabak, que

sempre me acompanhou, com toda dedicação, firmeza, sabedoria

em suas decisões, tornando-se o “porto seguro” diante das fortes

ondas que nos ameaçavam. Inúmeros exames, punções de me-

dula, transfusões de sangue, quimioterapia e, finalmente, o espe-

rado transplante de medula!

A cada passo, em todos os acontecimentos, muita FÉ e força na

luta, uma permanente esperança e confirmação da certeza inicial.

Foi uma batalha em que “combateu-se o bom combate” e alcan-

çou-se a vitória tão fortemente almejada.

Agora, após oito anos e meio do bem sucedido transplante, elevo

o meu coração para louvar e agradecer eternamente a Deus, e ex-

pressar, para sempre, meu profundo respeito, gratidão e amizade

ao incansável Dr. Daniel Tabak e sua maravilhosa equipe.

À minha família e meus amigos, sempre ao meu lado, partilhando

comigo seu amor, em todas as etapas dessa jornada, só Deus

poderá recompensá-los...

Os MOMENTOS DIFÍCEIS do passado foram cuidadosa-

mente guardados em bela caixa de presente, pois re-

presentam para mim FONTE DE VALIOSO APRENDIZADO

e oportunidades de crescimento em minha nova vida,

meu verdadeiro renascimento!

Marília Cantisano

Page 50: Histórias Contadas

Quando obtive o diagnóstico de

Câncer de Mama foi muito difícil sa-

ber que eu teria que ser tratada por

um oncologista e teria que fazer qui-

mioterapia. Como falar para os meus dois filhos, uma filha

de 17 (dezessete anos) e outro de 15 (quinze), que eu teria que

passar por tudo isso?

Mas eu consegui vencer e consegui passar por todo tratamento

de cabeça erguida e com muita fé e esperança, com a certeza de

que depois eu estaria curada.

De todo o tratamento, o momento mais difícil foi ter perdido o

cabelo, mas tive o apoio de duas amigas muito queridas que me

ajudaram muito.

Nada foi fácil, mas ter tido a oportunidade de fazer o tratamento

na Centron com a equipe do Dr. Daniel Tabak fez toda a diferença.

O lugar tem uma energia positiva que faz com que os pacientes

encarem a doença de uma maneira natural como uma doença

que tem cura.

Sem dúvida nenhuma mudei os meus valores e aprendi

muito com a doença. O mais importante é acreditar no

tratamento, confiar no médico e na sua equipe e

NUNCA DESISTIR.Gisela Café

Há 12 anos atrás, voltando de uma

viagem maravilhosa ao Canadá, uma

surpresa que nunca imaginei que poderia acontecer comigo,

aconteceu!

Já no final da viagem sentia muita dificuldade no caminhar e

muita dor na virilha. não tinha comigo qualquer analgésico ou

anti-inflamatório. Faltavam dois “longos” dias para o retorno ao

Brasil. assim que chegamos, fui com a minha filha ao Dr. Carlos

Giesta, ortopedista da família.

após completo exame de raios-X, levei as radiografias ao Dr. Gi-

esta. ao examiná-las notei, pela sua fisionomia, que o problema era

seríssimo e não uma simples dor muscular como imaginávamos.

ao chegar em casa, toda a família já havia sido contactada por ele.

Começou o processo de enfrentar e resolver, o mais rápido pos-

sível, o “Mieloma Múltiplo” diagnosticado. pela primeira vez na

minha vida ouvi este nome! acho que nem deu tempo de cair na

realidade, pois foi tudo muito rápido.

Vinte e quatro horas após, operei o fêmur, devido à extensão da

sua fragilidade.

após a cirurgia que correu muito bem, uma série de nomes de

24 25

Page 51: Histórias Contadas

oncologistas nos foi apresentado e Fernando, meu marido, junta-

mente com meus filhos optaram pelo Dr. Daniel Tabak.

Durante 6 meses me submeti ao tratamento de quimioterapia. a

cada mês “hospedava-me” de 10 a 12 dias no hospital, até que os

resultados dos exames de sangue se normalizassem para poder

permitir voltar para casa.

Graças a Deus minhas células puderam ser usadas para o auto-

transplante. Foram retiradas, congeladas, e já no sétimo mês

aconteceu o auto-transplante. Foi feito através de uma transfusão

de sangue, na qual passei muito bem.

Desde o início do tratamento, tinha certeza que ficaria cura-

da. A verdade é que, depois de tanto tempo, não lembro dos

detalhes, só guardo comigo as demonstrações de carinho e

amor do meu marido, filhos, amigos e a figura maravilhosa do

Dr. Daniel Tabak.

Os médicos que me atenderam naquele primeiro momento,

suspeitaram ser um caso terminal, fato que Dr. Daniel Tabak

negou enfaticamente, afirmando que teríamos uma luz no final

do túnel!

após 8 meses voltei ao trabalho e

O cabelo cresceu, enroladinho, as perucas, dei para pessoas que pre-

cisavam e que passavam pelo mesmo quadro pelo qual passei.

agradeço a Deus todos os dias! O importante é ter fé e pensa-

mento positivo perante as mais difíceis situações.

Tudo na vida é passageiro, assim como a própria vida, tanto as

tristezas como as alegrias... e o maravilhoso agora é poder ajudar

a quem estiver vivendo estes momentos difíceis que com certeza

passarão, principalmente com a orientação, sabedoria, carinho e

competência do Dr. Daniel Tabak e toda sua dedicada equipe.

Eliana Wrobel

vida normalizou totalmente.minha

Page 52: Histórias Contadas

Toda vez que eu assistia aos depoimentos feitos por pessoas

da vida real, no final da novela “Páginas da Vida”, eu percebia

que, em quase todos, havia uma mesma frase: “...quando o

telefone tocou...”. Eu achava isso curioso, mas é assim mes-

mo que as coisas acontecem. Foi um telefonema recebido, no

dia 14 de junho de 2006, que traçou um divisor de águas na

história da minha família. Do outro lado da linha veio o diag-

nóstico de que meu marido, Sami Zajdenweber, estava com

leucemia.

Impossível acreditar. Não com ele. Não com uma pessoa que,

aos 52 anos na época, era um exemplo de vitalidade, saúde e

jovialidade. Não com um cara que jogava futebol duas vezes por

semana, surfava e tocava rock em uma banda. Não com um cara

que tinha um milhão de amigos, era hiper querido por todos e

transmitia uma energia positiva tão contagiante. Mas aconteceu.

Foram quase dois anos de muita luta, muito aprendizado e, acre-

ditem,

Vida acumulada. Experiência de vida. Exemplo de vida. O Sami deu

um show! A forma como ele encarou essa luta é um exemplo para

todos que vivenciaram, de alguma forma, essa nossa história.

ele foi um herói! Manteve a tranquilidade e a serenidade, mesmo nos momentos

mais difíceis. Isso, sem falar na garra, na vontade de viver, na luta

constante por cada segundo a mais. Às vezes eu me perguntava

de que adiantava tanta positividade, tanta força, tanta torcida e

tanto amor, se o cenário não era dos mais otimistas. Só que, hoje,

olhando para trás, eu vejo claramente que foi um somatório de

tudo isso que deu uma sobrevida ao Sami e que nos deu, a to-

dos, tempo para começar a entender que era hora de se fecharem

os ciclos. Como já disse em outras oportunidades, nada ficou

pendente. Foi tudo vivido de forma madura e corajosa e, em

vários momentos, até com bom humor. Aliás, hoje, sei bem que,

mesmo nos momentos de maior escuridão, há beleza, há sor-

risos, há humor. E isso, foi o Sami que nos ensinou.

Faço esse depoimento como um tributo a ele, homem que amei,

que me amou, e que me deu dois filhos maravilhosos (Laila e

Leo).

Francis Waymberg, esposa de Sami Zajdenweber

26

muita vida. vivida. vida

Page 53: Histórias Contadas

Na verdade, tudo na vida tem sentido e se estamos passando ou

passamos por momentos difíceis é por que precisamos apren-

der algo que só vamos conseguir descobrir o que é depois que

tudo se acalmar.

Foi assim comigo, embora estivesse muito segura de que ficaria

curada de um Linfoma de Hodgkin, o medo e os motivos por

estar passando por aquele momento, me deixavam cega. Mas

com o passar do tempo tudo foi se acalmando e as coisas foram

se esclarecendo.

Hoje, após o término dos longos de 6 meses de tratamento, sou

uma pessoa que acredito ter passado por momentos difíceis de

maneira honrosa e que com certeza hoje sou muito melhor do

que antes.

Costumo dizer que a vida é muito melhor após o câncer, pois

valorizamos infinitamente pequenos detalhes e momentos do

dia-a-dia. Hoje agradeço diariamente a Deus por ter me dado a

oportunidade de ver a vida de forma tão especial.

Agradeço também por ter tido a oportunidade de passar mo-

mentos tão difíceis ao lado de pessoas tão especiais como

minha família, amigos, amigos de trabalho e a todos que me

acompanharam e me acompanham ate hoje na Centron.

É possível ser feliz antes, até mesmo durante, e após o câncer,

com toda certeza do mundo.

ser feliz é o verdadeiro sentido

da vida.Fernanda Laidens

27 Tem momentos em nossas vidas que

são capazes de fazer com que tudo que estava aparentemente tranquilo

vire de cabeça para baixo.

Page 54: Histórias Contadas

Antonio Muiño

Después

de haber vivido toda la vida como

Escorpión, tuve que reaprender a vivir con Cáncer,

una experiencia que por cierto no tiene nada de solitaria,

porque cambió igualmente la vida de mi mujer - compañera de

alma -, la de mis hijos, la de mis nietos y la de mis amigos.

Lo mas intrigante del kit cáncer es que a pesar de los

dolores, los miedos y las limitaciones que trae consigo, contiene

tambien un brindis inesperado.

Se trata de un par de óculos 7D, es decir, óculos de

re-ver. Supongo que el pacote cáncer es más o

menos parecido para todos. No lo sé. Tam-

poco sé si todos encuentran el

bri-

dis y tienen la suerte de usarlo.

Lo que sí puedo decir es que con mis óculos

7D, entre muchas otras cosas, pude ver claramente a mis

muy amigos, a mis nuevos amigos y a mis ni tan amigos, así

como tambiém pude re-ver la relatividad de las cosas y del

tiempo, además de la importancia de Dios para mi vida.

Finalmente, gracias a mis nuevos óculos 7D, entendí lo que

Rywka Tabak cantaba para su hijo, mi médico, cuando

era niño:

28“nunca digas que você

está seguindo o caminho final!

Aquí estamos...!”

Óculos 7D Óculos de Re-Ver

Page 55: Histórias Contadas

9 Então, sentia como se os braços e pernas do espantalho

criassem vida, começavam a se agitar, rijos, corajosos!

O campo de trigo ia se firmando, enchendo-se de frutos e até

umas minúsculas florezinhas apareciam pelo chão...

O sol saía então, com mais coragem, inundando tudo, clareando o

chão, as aves, os espectros dos espantalhos sem vida...

As almas iam se engrandecendo com as orações consoladoras

das pessoas bondosas que se enterneciam com a nossa situação,

e a tarde aparecia, tranquila, serena sem ruídos, sem espantos

dos espantalhos...

Hoje, estamos mais serenos e temos a con-

vicção exata de que iremos vencer!

Obrigada a todos que nos amparam, ao querido Dr. Daniel,

QUE NOS DEVOLVEU A VIDA DO NOSSO AMADO VICTOR,

obrigada a equipe profissionalíssima que o tratou no CENTRON,

obrigada a todos pelas orações e carinho... Seremos agradecidos

eternamente!

Beijo carinhoso nosso,

Claudia Ghazi, mãe de Victor Ghazi

Sentia-me igual a um espantalho,

daqueles bem feios, exóticos, sem graça, quando veio a notícia...

Sensação de impotência no ar desde que soubemos da

doença do nosso querido filho Victor.

Veio como uma bomba, arrebatando tudo a nossa volta, e ele, o

nosso menino homem, com sua bravura e coragem a nos dar o

exemplo...

Por isso, nem tínhamos o direito de reclamar, só tentar, de todas as

maneiras, suavizar sua dor, nossas preocupações!

O espantalho, isto é, EU, agia feito um autômato, cheio de dor

no coração, a tremular seus farrapos...

Vinha a chuva, o sol, e a luta continuava, mas a vontade férrea

de vencer nos fortificava, nos alentava.

Vamos vencer as intempéries, eu gri-tava para mim mesma, para o pai, para a irmã, para os avós!

2

Page 56: Histórias Contadas

C o n h e c i

Adolfo nos

turbulentos anos

60, mais precisamente em janeiro de 1964,

quando intempestivamente entrou na sala do

vestibular, na Escola de Geologia da Universidade

Federal do Rio Grande do Sul, sobressaltando a todos: vestibu-

landos e professor. Adolfo, alquebrado, de idade indefinida en-

tre os 50 e os 60 anos, era personagem estranho para quem o

visse pela primeira vez e desconhecesse sua história. Ele, talhe

esguio, com aproximadamente um metro e noventa de altura, ves-

tia, mesmo para o tórrido calor do janeiro portoalegrense, sobretu-

do preto de lã que lhe caía até a metade da canela, dando-lhe um

ar professoral e majestoso. Tinha os cabelos ralos e curtos, barba

cerrada por fazer, óculos pesados de armação escura pousados

no nariz adunco, recurvo como seu corpo. As mãos, longas, ex-

pressivas e falantes tanto quanto seu sofrido olhar. Soube mais

tarde que, egresso de campo de concentração, enfrentara, aos

vinte anos, o apogeu e a glória dos momentos mais atrozes da

barbárie nazista da Alemanha de Hitler. Ao vê-lo entrar porta a-

dentro, todos nós, que esperávamos aflitos o começo das pro-

vas, ficamos paralisados, perguntando-nos intimamente o que

estaria acontecendo. Estranhamento, porquanto tudo para nós,

novidade e excitação. Estávamos no limiar de um mundo novo,

a sensação. Adolfo, imperturbável, parou. Imponente, enfrentou

o silêncio absoluto da sala. Ninguém piscava. Ao acaso, enca-

rou-me fixo nos olhos. Disse, então, com carregado sotaque

estrangeiro:

Eu havia sido aleatoriamente o escolhido, mas a mensagem

era para todos. Diante daquela platéia estupefata, Adolfo vi-

rou as costas e, assim como entrara, saiu a passos largos, dei-

xando aquela frase germinando em nossas mentes. Intuímos

que algo importante nos tinha sido revelado por aquele homem,

testemunho vivo de superação, e que levaríamos suas palavras

pelo resto de nossas vidas como resposta aos momentos difíceis

que, no futuro, certamente enfrentaríamos. Entendemos, ainda,

que ele sobrevivera, na flor de seus vinte anos, sabiamente ao

inferno nazista com “calma e paziencia” – a grande lição.

Jorge Hausen

30Calma e paziencia,

moço .

“ “

Page 57: Histórias Contadas

32Quero agradecer a todos vocês pelo carinho

especial que estão tendo conosco.

O astral do Diego está incrivelmente bom,

ele está passando por essa doença como

eu nunca imaginei que fosse passar. Semana

passada ele ficou muito enjoado... foi difícil

comer alguma coisa.

Na última sexta-feira foi a ultima dose de qui-

mioterapia e até domingo pela manhã ele ain-

da estava enjoado. De segunda-feira para cá

ele está bem.

Tenho total confiança na equipe médica que

está cuidando dele. Apesar disso, às vezes

estou bem, às vezes estou nervosa... mas

acho que é assim mesmo, né?

Tenho certeza que Diego vai ficar bom! Se

Deus me permite um pedido, gostaria que

o sofrimento dele, fosse pequeno, o menor

possível.

Mais uma vez, obrigada pelo carinho,

Maria Marta de Castro Rosas, mãe de Diego Rosa Marcondes.

Começamos a nossa luta em busca de dias melhores...

Moramos no município de araruama, mais ou menos 2h e meia

de viagem, até a Clínica Centron. na viagem, levamos para nara-

iana travesseiro, água, suco e biscoitos. É o almoço, porque viajamos

de táxi. Quando o trânsito está engarrafado, chegamos em casa, de

volta, mais ou menos às 21hs. Mas tudo isto é feito com muito amor.

só Deus é quem pode nos dar esta força para vencer e ter a glória

da vitória: a Cura da nossa filha a quem tanto amamos!

passamos dias de muita preocupação... naraiana foi várias vezes

internada no Hospital são Vicente de paulo com pneumonia pois,

por ser portadora da síndrome de Down, está sujeita a deficiência

respiratória, etc. Mas quando isso ocorria, Dr. Daniel tomava os

cuidados relativos, tendo a atenção necessária pela equipe.

Temos todo o cuidado, carinho e dedicação pela nossa filha nara-

iana e quero agradecer ao Dr. Daniel, as enfermeiras, secretárias

enfim, todos os que nesta Clínica dão de si toda a força, atenção e

carinho.

ao Centron não temos palavras para definir a sua potencialidade.

pai, estou aqui para te pedir :

“Dá-me a coragem e a força para resistir , faz brotar em mim a

paciência, reveste-me do teu amor”

e Deus agirá...Judith Petrucci Braga, mãe de

Naraiana Petrucci Braga

31

Page 58: Histórias Contadas

Meu pai, nos anos de 1940, antes de gerar a mim e aos

meus irmãos, teve um problema pulmonar grave, e como na

época não havia medicação e tratamento adequados, contraiu

uma tuberculose. Ficou muito próximo da morte. Conseguiu so-

breviver graças ao amor, carinho e dedicação de minha mãe. Por-

tanto, tive sorte de nascer e sobreviver!

Sou, assim um ser humano que tinha pouca probabilidade de

vida. Nasci, cresci e hoje tenho tesouros: a minha esposa e as

minhas duas filhas..

Quando soube que estava com câncer, pensei: talvez eu

morra disso, no entanto, retruquei, morrerei sim, mas não sei se

será dessa doença.

Agradeço a vida que tenho, pois posso ser cuidado por

três mulheres maravilhosas e um filho-genro que me dão amor,

carinho e compreensão.

Não tenho medo dessa doença, acredito nos avanços

científicos e sei que muitas formas de câncer já têm cura e ou-

tras apresentam uma sobrevida muito boa. Além disso, o amor, o

carinho e a confiança são sentimentos indispensáveis para superar

os obstáculos que surgem na nossa caminhada.

Tenho como lema da vida os versos do poeta Fernando

Pessoa:

“Valeu a pena? Tudo vale a pena se a alma não é pequena.”

“Deus ao mar o perigo e o abismo deu,Mas nele é que espelhou o céu.”

Manoel Esteves

33Morrerei porque

estou vivo!

Minha História

33

Page 59: Histórias Contadas

HOJE ESTOU CURADA

35Meu nome é Maria José da Silva Ferreira, tenho 50 anos e tive

uma experiência em 2009 que pensei que não iria suportar,

porém descobri que estava com linfoma no abdômen. A prin-

cipio fiquei deprimida e desesperada, mas logo depois, com a

ajuda da família, dos médicos (Drª Marta Colares Nogueira e

Drª Karen Santo Athié, da Clínica Centron) e principalmente de

¨Deus¨, fui aprendendo a lidar com a situação.

No meu tratamento foram feitas 8 seções de quimioterapia.

Confesso que fiquei assustada e abatida, mas obtive forças e

acreditei que ia vencer esta batalha. Gostaria de dizer às pes-

soas que estão passando por isto que não desistam, confiem e

acreditem que para Deus nada é impossível.

No dia 14/09/2010, depois de 1 ano e 3 meses de tratamento,

recebi o diagnóstico de cura e hoje estou curada, e digo: ¨pro-

curem ajuda e não deixem de sorrir e de acreditar¨

Maria José da Silva Ferreira

A vida não é medida pelo

número de vezes que você

respirou, mas pelos momen-

tos em que você perdeu o

fôlego... de tanto rir... de sur-

presa... de êxtase...

de felicidade!...

Tenha sempre esperança.

Moisés Ninio

34

Page 60: Histórias Contadas

Você se depara com pensamentos novos, com ques-

tionamentos importantes, se transforma em alguém

descrente de tudo e entra em uma busca insana por uma res-

posta. E ela não virá...

Com o tempo e com o amor e apoio da família e

amigos, a aceitação vem chegando.

Não só de receber a vida como prêmio, mas de estar rodeada de

pessoas incríveis. Todas elas foram responsáveis pelo sucesso da

minha luta, da nossa luta

Obrigada família e amigos.

Também tive imenso prazer de conhecer pessoas mui-

to especiais durante esse período da minha vida.

A Centron é responsável por isso. Médicos, enfermei-

ras, ajudantes, secretárias, não importa. É sincero o sorriso de

cada um deles. É sincero o apoio entre pacientes, não há espaço

para sentimentos negativos.

Hoje faço parte de um grupo seleto de pessoas... Somos de ver-

dade, gente que se entrega e acredita na vida.

Um cara muito especial me disse uma vez:

“Hoje é o primeiro dia do resto de nossas vidas.”E eu acredito nele toda vez que abro meus olhos pela manhã.

Obrigada.

Letícia de Castro Maia

36A dor de receber um diagnóstico de câncer é algo que não se pode pôr em palavras.

EM SEGUNDOS TUDO MUDA.

É hora de lutar. É hora de crescer,

de aprender.

Tive sorte.

Page 61: Histórias Contadas

38

Fiquei muito assustada e o chão me faltou. Nada tinha mais im-

portância. A depressão quis se manifestar, porém pude perceber

que não estava só e não era apenas eu que sofria, minha família

também estava sofrendo. Tratei de me acalmar e fui buscar recur-

sos, senti a presença de Jesus em minha vida me amparando.

Precisei dessa experiência para perceber que a vida é muito

mais preciosa do que eu pensava.

Fiquei muito mais forte e confiante. Eu não tenho nada, não sou

doente e não devo dar tanta importância a um nódulo que graças

a Deus já foi retirado.

Nada poderá tirar minha alegria, pois eu creio que tudo o que

eu já passei só veio para me trazer uma nova vida e a certeza de

ter me tornado uma pessoa melhor.

Continuo no tratamento, e na companhia do meu Senhor Jesus

Cristo, sairei vencedora!

Maria Ismenia Fernandes Ferraço

Mergulhei em minhas lembranças mais profundas, quiçá adormecidas, para reavivar uma fase muito importante e difícil da minha vida: o câncer. Tudo começou em julho de 2002. Uma singela febre, de origem

obscura, vinha dar sinais que alguma coisa não estava bem. Por

ter somente 19 anos, achei que era uma gripe e não dei muita

importância. Os meses se passaram e a febre foi aumentando.

Os médicos não conseguiam descobrir o que eu tinha. Recordo

que ao entrar no consultório da Dra. Marília Brandão, diante de

toda a tensão em descobrir o que estava acontecendo comigo,

eu e minha família nos deparamos com os possíveis diagnósticos;

tuberculose ganglionar e linfoma. Como eu sabia que tuberculose

era grave e não tinha noção do que era um linfoma, fiquei quieto e

torci para ser um linfoma. Parecia que eu estava fazendo um de-

sejo de aniversário. Depois que me explicaram o que era o linfoma,

eu até tentei trocar o “desejo”, mas era tarde demais. Em janeiro

de 2003 veio o resultado: Linfoma de Hodgkin, e para completar

eu estava no último estágio da doença. Um dos momentos mais

difíceis foi digerir essa notícia. Como eu poderia estar com câncer?

O que eu tinha feito de errado? Milhões de questionamentos surgi-

ram. E tudo estava acontecendo tão rápido, que eu não tive tempo

de respirar e já comecei a primeira quimio. Tive que trancar a fa-

culdade e ficar afastado do trabalho. Minha família estava doente

comigo. Uma tia viu que o tratamento que eu estava tendo era dife-

37 Tudo ia correndo muito bem na minha vida.

De repente, me deparei com um obstáculo

horrível que, a meu ver, a princípio,

não havia solução. Um nódulo no seio.

Page 62: Histórias Contadas

Câncer,

palavra pequenina e simples,

porém de “grande” conotação,

ou será que devo dizer de grande “CORAÇÃO”

Você escolhe.

A atitude é sua.

A consequência também.

EU SOU DO SIGNO DE CÂNCER.

EU TIVE CÂNCER.

Essa foi a MINHA atitude.

Qual é a sUa?Adriana Tofani

euvenci essa batalha.

rente do tratamento dado à filha de uma amiga e insistiu para que

eu ouvisse uma segunda opinião, com o Dr. Daniel. Fiquei relutante

no início, pois eu já tinha começado a quimio e não queria mudar

de médico, mas acabei cedendo e fomos todos ao consultório do

Dr. Daniel. A consulta mais parecia uma assembléia porque todos

que me amavam estavam lá. Quando conheci o Dr. Daniel, pude

perceber de cara que ele seria o médico que me salvaria. Fiquei

impressionado com todo o cuidado e zelo que ele demonstrou e

decidi mudar na hora. Umas das decisões mais sábias da minha

vida. Passei por momentos difíceis, angustiantes, tensos. O trata-

mento foi pesado e eu fiquei muito debilitado. Mas eu enfrentei o

câncer. Contei para todo mundo que estava doente. Brinquei

em momentos sérios e sorri enquanto sentia dor. Por mais

assustador que fosse, eu aceitei, encarei, enfrentei e vivi a

doença. Consegui me tornar maior que ela, demonstrando que

tudo aquilo passaria e que logo eu estaria curado. E a tão espe-

rada cura chegou. Eu venci essa batalha.

Humberto Mandaro

39

Page 63: Histórias Contadas

O BerneEstória hilariante de um linfoma

Lá estava eu nas tantas voltas do meu mundo

na cidade de Natal, convivendo com o meu mal

quando o calor insuportável me levou para outro quarto

da janela eu olhei, lá embaixo comida podre, muitos gatos

no calor insuportável não tive como dormir,

não fosse abrindo as vidraças para o ar avançar

Tive que seguir para Brasília, largar os amigos por lá

de bengala, febre alta, desinteria sem parar,

no hotel, um quarto, outro quarto, a dor a incomodar

que sacrifício, sucessivos e frequente mal-estar

fui para a OAB trabalhar, pensar e pensar

o ar quente do cerrado, não quis me abandonar

Fiz o meu trabalho procurando a vida continuar

tive que tomar sucos e comer torradas

quando o caseiro de Angra me ligou

vem logo prá cá, porque as jabuticabas vão acabar

os macacos no seu pula-pula estão a chupá-las

as melhores já se foram, e o chão coalhado está

O avião me levou pro Rio e o ônibus para Angra

cheguei de noite no porto, na hora, do galo cantar

mas fui ver as jabuticabas, senti a mosquitada

pela manhã eu fui chupá-las, que delícia...

mas os mosquitos estavam por perto a zoar

o galo já tinha cantado e eu no porto me deliciado

De repente, no Rio tomou-me a febre forte

uma coceira profunda na perna esquerda

a me incomodar, as unhas ficaram sem parar,

o Tabak foi logo dizendo: é coisa prá não tocar

se mexer, uma hemorragia vai jorrar

o tratamento do linfoma pode não funcionar,

40

Page 64: Histórias Contadas

Aguardei um tempo a esperar, meses

crescia o volume vermelho a amedrontar

na perna eu sentia a coceira borbulhar,

comecei a apertar, hoje aqui, depois ali

sem que adivinhasse se seria algo a calcificar

até que um dia uma cabeça começou a brotar

Numa noite de muita coceira, e zueira

apertei de cá, apertei de lá, aquele lugar

um corpo branco se mostrou a amedrontar

o olho mais parecia do bichano a cabeça

aperta aqui, aperta ali, busca uma pinça

puxa, sai um berne, duro, brancão, de arrepiar

Tirei, coloquei num vidro pro Tabak examinar

afinal não houve cirurgia, nem hemorragia

não é caso de quimioterapia, um berne

diagnosticou: Não é coisa de oncologista,

o seu linfoma vai sarar, vai curar

mas desse bicho você vai sempre se lembrar.

Aurélio Wander Bastos

41

“Faça do simples algo absolutamente especial”

Cristina Lemos Lucidi

Page 65: Histórias Contadas

sou mais um sobrevivente.

máximoEm 2000, fui acometido por uma neoplasia do sistema linfático

(câncer), denominada Doença de Hodgkin e tive, depois de an-

danças por vários consultórios, a graça de conhecer o Dr. Daniel

Tabak, este “Ministro da Oncologia” no Brasil.

Sofri na época o baque de ser transformado de médico em pa-

ciente, mas me ancorei nas orações e na feliz receptividade ofe-

recida pelo Centron.

Pude então contornar a situação e colaborar com o tratamento.

No início foi muito duro, pois a quimioterapia propicia a cura, mas

também promove uma verdadeira tragédia biológica no organis-

mo. A queda de cabelos, câimbras e pontadas pelo corpo, perda

do paladar, perda do apetite e a consequente perda de peso são

apenas um lado de uma gama de sentimentos e sensações tre-

mendamente desagradáveis.

Mas além de ser um Carvalho, tão sabiamente descrito no poema

de Lídia Vasconcelos (“O Carvalho é impressionante. É uma árvore

forte demais: resiste ao tempo inconstante e não se abala com os

vendavais!...”), também tenho outra característica singular:

Baseado neste princípio, me motivei, no limiar da minha senilidade, a

escrever um livro, que passou a ser para mim mais importante que o

câncer e assim caminhei para o restabelecimento.

Devo a minha história a esta força interior inabalável, a força ema-

nada pela minha família e fundamentalmente ao apoio valioso e

certeiro de toda a equipe Centron.

Orlindo José

42 Amo a vida! Amo de forma voraz! E sempre quis vivê-la

lutando contra tudo e todos!

Page 66: Histórias Contadas

apologia

- Minha tia, você está fazendo uma apologia ao câncer ?

esta foi a pergunta feita por uma sobrinha, encantadora, que eu

tenho. achei graça e pensando bem, parecia mesmo, tamanho foi

o meu entusiasmo ao receber um e-mail, do Centron me convi-

dando para um chá amigo, onde conversaríamos sobre a criação

de um livro de depoimentos, poesias ou pensamentos. Que honra

eu senti em poder trabalhar ao lado de nosso grande líder

Dr. Tabak.

Um ano atrás o resultado chegou: maligno... logo veio na minha

cabeça: Dr. Tabak! sim, sei do grande homem que ele é e seria a

luz azul que acendeu na hora e a partir daí iluminou o meu novo

caminho. Minha estrada já era longa, erros e acertos, alegria e

tristezas.

Quando eu tinha cinquenta e poucos anos um desastre terrível de

avião aconteceu, na África, na Costa do Marfim, e nele estavam a

rainha da minha vida, minha filha Lídia e seu marido Jorge. Dor

sangrenta que parece cicatrizada, mas lança sangue sempre que

é lembrada.

Maurício, meu marido, não suportou o sofrimento e um ano e

meio depois faleceu, foi ficar com ela. naquele tempo não en-

tendi, mas hoje aceito, porque acho que ela não podia ficar, onde

estivesse, longe dos dois.

Mas a minha estrada continuou, novas emoções, até alegrias que

me fizeram brilhar os olhos outra vez. Mas nova chicotada surgiu

– uma cirurgia cardíaca, seis pontes de safena, tropecei em outra

pedra, na minha vida já dificil, novo terremoto. ¨e agora, José?¨

pensei eu. nada a fazer a não ser segurar na mão de Deus, de

meus dois filhos, tão queridos, minhas noras, meus netos, paren-

tes, amigos, minha grande psicóloga e médicos fiéis. até quando?

O céu continuava azul, a lua brilhando (Lídia gostava tanto dela!),

as viagens me entusiasmaram outra vez e a vida seguiu, anos e

anos. estamos nesse momento passando pela estrada, no ano de

2010, e o tumor apareceu, foi retirado, depois de anos e anos guar-

34

Page 67: Histórias Contadas

dado dentro de mim. Operada durante 5 horas, com meu anjo da

guarda sempre a meu lado, saí desta ...

Bem, voltando ao diagnóstico, eu só queria sobreviver, e aqui

estou, fazendo meu tratamento neste grande Centron, austero,

bonito e simples pois ele tem a personalidade rara, que mistura

simplicidade com classe, coisa tão difícil.

aonde vou, só Deus sabe, porque ele cuida de todos através de

seus técnicos esplêndidos. só sei que gosto imenso de ir lá, me

preparo como se fosse ida a um evento; tomo meu cafezinho

lá embaixo, outro na sala de espera, tomo mensalmente minha

química e quando os anjos da quimio me falam que a injeção

vai doer, eu acho graça, pois em dor eu sou doutora e aquela

injeção é um carinho!

Tenho muito medo... mas sei lá...

estou hoje tão plena, tão confiante e segura que ouso dizer:

meu caminho é de pedra Mas eu pOssO sonhar!

Eliana Azeredo Augusto da Silva

A minha história aqui é muito longa, mais

vou resumir o máximo possível.

Estou lutando contra este mal (câncer linfático) que me devora a

alma há mais de vinte anos e tenho resistido a muitos reveses e

graças às forças de minha fé em Deus e meus santos protetores

tenho vencido todas as crises que o mal tem me causado.

Contudo, não fosse a tenacidade de lutar pela vida, fortalecida

pela dedicação, sinceridade, e capacidade de Dr. Daniel, com sua

esplêndida equipe, aos quais sou penhoradamente agradecido,

por certo não estaria mais aqui para dar este testemunho e render

o meu reconhecimento e eterna gratidão, pois por várias vezes

estive à beira da partida para o Oriente Eterno, que é o destino de

todos nós. – Nascer, viver e morrer.

Reiterando minha sincera gratidão a todos.

Walter de Freitas

44

Page 68: Histórias Contadas

Gostaria de poder colocar num pequeno texto a minha experiên-

cia depois que fui diagnosticada com “CA de pulmão estágio IV”.

Mas não é possível.

Foram dias e noites (principalmente noites) muito difíceis no início.

E mesmo com o apoio da família e amigos me sentia, por vezes,

muito só.

Mas a fé em Deus me salvou. Minha fé me fez buscar o único que

poderia me tirar toda aquela angústia e tristeza e me dar espe-

rança e conforto ao meu coração.

É por ele e por causa dele que estou de pé, firme, alegre e de bem

com a vida. Quando me perguntam como consigo ser assim, a

única resposta possível é:

Mesmo assim, e até por isso, gostaria de

agradecer a duas pessoas que me trouxe-

ram até o Centron. Uma clínica em que sou

tratada com muito carinho; a uma amiga

-irmã, enfermeira, que se chama Viviane Silvestre, através dela,

conheci Dr. Bruno Nahoum, médico oncologista. Tenho muito

apreço pelos dois: Seres Humanos e profissionais de primeira.

Por extensão, meus agradecimentos a todos da clínica, sem-

pre muito atenciosos, desde as recepcionistas, às simpáticas que

servem o lanche e nos oferecem DVDs para nos distrair, passando

pelas enfermeiras e finalmente aos médicos.

Giselaine Suares Linhares

45Deus me dá forças!

Page 69: Histórias Contadas

46 Completam, este fim de ano,

exatos dois anos de meu trans-

plante autólogo de medula óssea, feito com a equipe do

Centron, na clínica São Vicente, na Gávea. Alguns amigos me per-

guntam sempre que lembranças eu tenho dessa época do trans-

plante. Ficam surpresos quando digo que tenho apenas boas lembranças. A maneira como a equipe

do Centron encaminhou o meu transplante, o maravilhoso atendi-

mento de toda a equipe da Clínica São Vicente, somente me tra-

zem boas lembranças. A competência do Dr. Tabak e toda a sua

equipe, os cuidados carinhosos da Dra. Simone, da Dra. Joana,

que foi para os Estados Unidos, da Dra. Marta, do Dr. Renato, são

aquilo que guardo na memória. Guardo também a eficiência e o

profissionalismo da Sandra.

Sempre fico impressionado com a minha recuperação, com a

rapidez da minha recuperação. Um mês depois de sair da clíni-

ca eu estava na minha sala da Universidade trabalhando. Saí

da clínica nos últimos dias de dezembro, viajei para Recife no

sábado dia sete de fevereiro, e comecei a trabalhar na segunda

dia 9 de fevereiro. Até hoje.

O restabelecimento físico foi gradual, constante e veloz. Hoje meus

amigos dizem: - Ézio, como você está bem. Pele bonita. Rosto co-

rado. Cabelos compridos. Sorridente. Então, eu aconselho a todos

um transplantezinho de medula óssea com o Dr. Tabak.

Sempre admirei os médicos, na sua luta incansável para entender

este nosso corpo humano tão complexo, com essas doenças

tão esquisitas. Digo sempre a minha filha, a Penélope, médica,

oncologista, que você conhece, Sandra. Sempre digo a ela que

alguns médicos, como esses da equipe do Dr. Daniel, possuem

um telefone vermelho, para contato direto com o Criador. Não há

outra explicação.

Todas as noites rezo para que todos aqueles que precisem fazer

um tratamento como o que fizemos, eu e outros tantos, que te-

nham o sucesso e a recuperação maravilhosa como a que eu tive,

graças à qualidade do trabalho da equipe comandada pelo Dr.

Daniel Tabak.

Minha família e eu desejamos a todos vocês que fazem o Centron,

médicos, psicólogos, enfermeiros, funcionários em geral, e, tam-

bém, os pacientes em tratamento, um sucesso pelo menos tão

bom como o nosso.

Eternamente grato,

Ézio da Rocha Araújo

nada melhor para rejuvenescer!

Page 70: Histórias Contadas

48Não acredito que haja nada mais impactante e doloroso na vida de

uma pessoa do que receber o diagnóstico de uma doença como

o câncer e, muitas vezes, seguido do óbito de um ente querido.

Ao mesmo tempo nada é mais transformador no ser humano que o sofrimento. Ele nos faz perceber o mundo de uma outra

forma e, se temos fé, entendemos mais claramente qual o verda-

deiro sentido da vida.

Passar pelo tratamento de câncer com quimioterapia, radioterapia,

transfusões, internações e medicações devastadoras não é nada

simples, ainda mais quando convivemos com a incerteza da chance de “cura” ou de uma maior sobrevida.Enfrentei todo esse sofrimento com o meu marido que, no ano de

2004 recebeu o diagnóstico de um linfoma não-Hodgkin, já em es-

tágio bastante avançado e faleceu em julho de 2005, aos 51 anos,

deixando muita saudade em mim e em nosso filho Rafael.

Quando achei que as feridas cicatrizaram, tive uma nova surpresa.

Em 2009 fui surpreendida com o diagnóstico de um linfoma não-

Hodgkin tipo MALT, ainda em estágio inicial. Comecei, então, o

tratamento.

Continuo minha vida, meu trabalho, o convívio com as amigas e a

47 Não tenho medo da palavra.

Não me deixa triste.

Não tenho medo de dizer que tive.

Não tenho medo de dizer que mudou meu olhar e

prioridades.

Sim, estou aqui e me sinto vencedora.

Sim, eu quero ser feliz.

Sim, quero ver meu filho crescer.

Sim, ainda vou amar muito meu marido.

Sim, eu tenho grandes sonhos e planos.

Sim, estou aqui para lutar.

Sim, vou tropeçar e levantar.

Sim, vou estar na companhia dos meus amigos

e familiares.

Sim, aprendi muito com o câncer.

Sim, eu tenho que agradecer a vocês:

Dr Tabak e toda equipe da Centron, Wlad, Francisco, Dorinha, Kátia, Sara,

Glauce, Wanda, Frida e David, Léo, Márcia, Claudinha, Cate e Sergio, Silvana

e Lula, Ana Paula e Dario, Denise e Anselmo (Sá Pereira), Claudia Br., Angela

Maximiniano, Regina e Aymara.

Gaby Atherton

Câncer,

Page 71: Histórias Contadas

49família, não desprezando os momentos prazerosos. Às vezes isso

se torna difícil, principalmente quando me sinto mal, mas sempre

creio que tudo passará com paciência, perseverança e, acima de

tudo, fé em Deus.

Sei que estou sendo tratada por excelentes médicos no Centron e

que Deus não permitirá que nada me falte.

O convívio diário com o meu filho Rafael me faz crer que, apesar de

todo o sofrimento,

“Não se morre de dor. Enquanto há dor, também temos

as forças disponíveis para combatê-la e continuar a viver.”

(J.D.Nasio)

Soraia B. Ferme

Eu sempre cuidei da minha saúde, fazendo, periodicamente,

exames preventivos. Em 2009 fui surpreendido com um linfoma

na região periférica do pâncreas, felizmente não atingido. Durante

os meus 78 anos de idade, nunca tive qualquer doença grave.

Aí Deus colocou em meu caminho o Dr. Daniel G. Tabak, essa

referência em hematologia e oncologia.

Quando da 1ª consulta com ele, meu astral estava abaixo de zero,

pois uma notícia dessas abala qualquer um emocionalmente.

Como Defensor Público, enfrentei várias dificuldades e as superei,

estava ali diante do Dr. Daniel, triste, abatido e derrotado com a

notícia. Mas o Dr. Daniel levantou meu ânimo e disse que eu

tinha enorme chance de ficar bom. Realmente na 2ª sessão

de quimioterapia o linfoma já havia desaparecido quase que total-

mente e na 6ª e última, após exame feito, ficou comprovado que

eu não tinha mais nada.

A experiência vivida modificou muito minha vida, pas-sando a dar mais valor às coisas simples, aumentar ainda mais a minha humildade, valorizar mais minha família, que me apoiou incondicionalmente. Assim, aproveito a oportunidade para agradecer mais uma vez ao

Dr. Daniel Tabak e sua equipe, pela competência e dedicação ao

meu caso.

Lino Romano

a vida é uma grande bênção.

49

Page 72: Histórias Contadas

Dar meu depoimento por escrito não é tarefa fácil, pois sei

que sempre faltará um pouquinho a dizer...

penso que todos estes anos, já são 13 anos juntos, foram impor-

tantes para que eu desenvolvesse uma grande amizade com o

meu câncer. Tratei de seguir todas as ordens e instruções que

recebi, desde o tratamento em si, até pequenos detalhes da minha

vida cotidiana. Vir para Centron sempre foi um prazer... eu dizia

para mim mesma: “estou indo para um encontro com meus ami-

gos e amigas, para tomar um chá”. encarei cada obstáculo, supe-

rando um por um e encarando cada batalha ganha como prova

de que minha cura está chegando. Dessa forma, passei a gostar

e admirar todos, desde as meninas da limpeza até os grandes

profissionais como o inigualável Dr. Daniel Tabak, nosso grande

médico e cientista e a Dra adriana Thomaz, que nos dá suporte

para superar as dores do corpo e da alma, com todo o carinho

e amor. acredito que está nesse acolhimento, oferecido também

pela equipe de enfermagem, a razão da melhora de todos os pa-

cientes. Fica aqui também o agradecimento à Bete, à sandra e

à Mônica, que através dos congraçamentos que têm criado, nos

torna cada vez mais unidos na verdadeira amizade entre pacien-

tes e funcionários.

por fim, dedico este depoimento ao meu grande amor, meu mari-

do sérgio, que me apoiou e apóia em todos os momentos, afir-

mando em alto e bom tom que, sem ele, nada seria possível.

Obrigada, meu amor! Francis

espelhando-me na sua tenacidade, coragem e garra, venci vários

problemas que encontrei durante a minha vida. e os ultrapassei,

um a um, sem deixar nada para trás, tendo sempre comigo minha

querida esposa e companheira.

Hoje, peço, imploro à misericórdia divina pela sua saúde para

que possamos caminhar sempre lado a lado pela estrada da

nossa vida.

Obrigado meu amor por você existir!

Sérgio, marido de Francis

50

Page 73: Histórias Contadas

5251Após consulta com Dr. Daniel Tabak, em março de 2001, o diag-

nóstico Linfoma Não-Hodgkin me levou instintivamente a lhe per-

guntar quanto tempo de vida eu poderia ter, ao que me respondeu

confortadoramente “que eram grandes as chances de cura com

tratamento quimioterápico e que a medicina tinha progredido

muito nos últimos anos, com excelentes resultados no combate

ao Câncer”. A confiança que depositamos no médico e a

segurança que ele nos transmite é muito importante para

mantermos nossa fé e auto-estima elevadas, estimulan-

do-nos a vencer qualquer resistência da doença.

Hoje, com a doença debelada, desejo expressar minha

gratidão

ao hematologista e oncologista Dr. Daniel Tabak e também à sua

louvável equipe, pelo sucesso de meu tratamento e recuperação.

Geni Sihman

Tenho Linfoma e com essa doença consegui

encontrar uma estrela brilhante, que é Dr. Da-

niel Tabak. Pelo seu talento, transformou o

meu drama em bonança. Sabemos que o que

você faz é por amor ao ser humano.

Sua sabedoria me deu muita fé.

Nenhum dever é mais importante do que a

gratidão.

Não são as coisas bonitas que marcam nossas

vidas, mas sim as pessoas que têm o dom de

jamais serem esquecidas!

Com carinho,

Márcia Oliveira dos Santos Galvão

AS SUAS VITÓRIAS E CONQUISTAS SÃO CONTADAS PELOS SORRISOS NOS ROSTOS DAQUELES QUE RECUPERAM

O PRAZER DA VIDA!

Page 74: Histórias Contadas

55

54

Hoje é um dia muito especial para mim, pois tenho a oportuni-

dade de agradecer a toda equipe, principalmente à Dra Simone

Maradei, que é uma pessoa espetacular.

Nossa luta começou quando minha mãe foi diagnosticada com

Mieloma Múltiplo. A médica, na época, não pode atendê-la e nos

deu algumas opções de profissionais. Graças a Deus fomos para o

Centron. No início foi muito difícil, pois minha mãe é muito sensível

a medicamentos e passava mal além da conta. Foram internações,

infartos, operações, enfim parecia que ela nunca ficaria bem.

Nessa época meu pai também foi diagnosticado com câncer de boca

e teve que fazer uma cirurgia e radioterapia depois.

Foram tempos difíceis, mas nunca perdemos a esperança e

a vontade de lutar pela vida.

Nessa maravilhosa clínica conhecemos pessoas incríveis, que se

ajudavam e se apoiavam na sala de espera.

ISSO É CARINHO. ISSO É AMOR.Hoje, os dois estão bem. Ele com 80 anos e ela com 77 anos. Os

dois escolheram viver. Eles continuam se cuidando e se amando.

Ana Maria Martino, filha de Luigina Martino

53

Toda cura é possível quando se está nas mãos de

Deus e de Dr. Daniel.

a nós, cabe ter coragem e muita esperança.

no meu caso, consigo aquietar meu coração rezando

pelo Centron, por sua equipe e por seus pacientes,

pois creio que rezando pelos outros, Deus também

me abençoará.

Um abraço,

Maria Elisa Casaes Mendes Pimentel

agradeço Dr. Daniel (do CenTrOn) por tudo:

pelo carinho, atenção, dedicação e competência,

para isso estou VIVa!!!!!O CenTrOn para mim é um excelente ponto de

referência em saúde, procedimentos e dedicação a

todos. Obrigada por vocês existirem.

Beijos

Katia Pimenta José

Page 75: Histórias Contadas

56 Acabei minha quimioterapia - foram 4 me-

ses num protocolo bem tóxico. Foi um câncer de

mama meio grande (7,5 cm), durante um tempo confundido

com um cisto aquoso, como vários que eu tenho normalmente.

Enfim, foi uma quimioterapia dura, com todos os efeitos colate-

rais a que tive direito. Mas, ao todo, passei muito bem. E graças,

lógico, ao apoio maravilhoso da minha família e amigos (dei um

BIG susto em todos), mas muito importante - foi a atenção e o

carinho do pessoal da clínica. A gente chega aqui para a quimio

cansada (eu, pelo menos, porque eu vivia cansada), às vezes

com dor de cabeça, etc e só encontra gente bem humorada,

sem fazer barulho, chamando você carinhosamente pelo nome,

perguntando como você está. As enfermeiras Débora e Fernan-

da, então - carinhosas. Eu costumava dizer para elas que eu

adorava estar ali: era tão bom ir para lá.

Não sou doida, é lógico que prefiro a minha caminha e

depois os meus passeios - mas quando você está precisando de

cuidados, sentir-se bem cuidada, é muito bom!

A experiência deste câncer foi/está sendo muito interes-

sante - preferia não ter tido, claro, mas já que aconteceu, eu

quero que isso me deixe alguma coisa boa, alguma mudança

positiva. Estou buscando muito isso. É curioso ver tantas mu-

danças no nosso corpo - e depois espero que tudo mude de

volta. Dizem que sim. Vamos ver.

Eu gostaria muito de ouvir o que as outras pessoas têm a

dizer. Acho que quem lutou/luta com esta doença tem muita coisa

em comum. Sou católica e sempre fui ligada à religião, tentando

viver de acordo com ela. Mas, óbvio, passei a rezar e conversar

mais com Jesus e meus santos amigos: pedindo, conversando -

você pede, você confia, você acredita que vai acontecer.

Um abraço,

Teresa Nunes Ferreira

É a FÉ! Faz uma diferença ...

Page 76: Histórias Contadas

57“Quando sento para escrever, preciso escavar minha alma.

Não é uma busca, é um encontro.

Às vezes temos que enfrentar as mudanças de rumo

e então percebemos que os momentos difíceis

se diluem com o passar do tempo”

Cláudia Ryfer

8para que possamos aprender a viver de cabeça para cima.”

Lucia Zarur

“Às vezes, nossa vida é colocada de cabeça para baixo,

5

Page 77: Histórias Contadas

colocá-la, repousei-a sobre minha cabeça de forma errada, pouco

torta e fui ajeitando aos poucos, quando descobri, ao olhar para o

interior da peruca, que a etiqueta estava na parte superior interna

da cabeça, quando na verdade deveria estar embaixo, perto do

pescoço. Mudei a posição novamente e ela voltou a ficar

mais clara e mais curta como antes...

Olha!! Haja mudanças, ora mais bela, ora menos ajeitadinha, e eu

indo assim mesmo...

A peruca de cabeça para baixo me fez perceber que precisamos,

vez ou outra, estarmos ao contrário, com a “etiqueta” para baixo,

para descobrir as coisas sob uma nova perspectiva e, assim, per-

ceber que

59

De penteado novo!

Tomei banho normalmente e lavei minha peruca com cuidado,

shampoo cheirosinho e tudo! Após secá-la com o secador, per-

cebi que ela estava mais comprida... e perguntei a meu marido se

ele também assim achava. Meu marido disse que parecia que sim

e que, além do tamanho, a cor da peruca também havia mudado.

Pensei: o que está havendo??? Saí para o Centron e, surpreendente-

mente, ouvi da Mônica que a peruca repicada estava mais moderna.

Eu disse: – Nossa, não fiz nada, só lavei e a peruca cresceu e

mudou de cor!

No dia seguinte, em casa, ao acordar, meu marido disse que tinha

uma ponta na parte de trás do cabelo. Então, desci logo para re-

solver isso no salão. Pedi que fosse cortada só a pontinha, porque

era uma peruca, e assim foi feito.

Resolvi, quatro dias depois, dar outra lavada na peruca e secá-la

novamente, como de costume. Nesse momento de secar e ao

estamos de bema grande verdade é encontrada quando

com a vida. com a gente e

Page 78: Histórias Contadas

Meu agradecimento a familiares, amigos e à clínica que

me assistiu:

Queridos,

O meu obrigada é singular, diminuto, diante dos sorrisos,

da delicadeza e, sobretudo, da eficiência e do zelo recebi

dos pela equipe Centron!

Venci a primeira batalha, recebendo, é claro, tanto carinho...!!

Veremo-nos nos ensaios, para festejar.

Beijos com carinho em todos!

Em tempo:

À minha família, aos médicos parceiros e aos amigos,

sempre por perto de alguma forma, e da melhor forma!!

Filhona, mãe, irmãos, tios, marido: meu amor, compa-

nheiro!! Estamos aí.

Love you!!!Felícia Beatriz de C. Sampaio

Rachel Martins Jordan

Page 79: Histórias Contadas

Trabalhar com o câncer

Estamos todos na luta e o nosso dia-a-dia é uma correria, um

olhar, um apoio, um sorriso, uma lágrima, um incentivo, uma

brincadeira, um canto, uma dança, um momento que pode ser

curto ou longo, esperar o inesperado, um sonho, a realidade, rezar

sempre...

Estamos todos na luta e são tantos amigos, tantas histórias,

momentos de dor, alegria, impotência, vitórias, frustração,

paciência, lutas constantes e inconstantes, desequilíbrio, equilí-

brio, perdas e ganhos...

Estamos todos na luta, no mesmo barco, remando na mesma direção, nos apoiando, nos consolando, nos

erguendo, nos ajudando, somos tantos e somos um...

Estamos tod na luta! Sandra Falcão

Adriana Thomaz, Alberto Wasserman, Alexandre Mello, Bete

Wasserman, Bruno de Freitas, Bruno Nahoum, Claudia Waym-

berg, Daniel Tabak, David Pires, Debora Ramos, Eva Vilma, Fer-

nanda Lemos, Flavio Aguiar, Gilson Ferreira, Gisela Campos, Isa-

bela Pereira, Janaina Leaubon, Jane Landin, Jane Marques, Jorge

Sancho, Juscelino Teixeira, Karen Athié, Karla Cristina, Keyla

Nodari, Leonardo Javier, Luanna Amaral, Luciana Lopes, Luci-

ana Malta, Luciene Souza, Luis Olivatto, Luiz Gustavo, Marcelo

Nazar, Márcia Simões, Marcia Schramm, Maria de Lourdes da

Silveira, Marta Colares, Michel Malta, Mônica Rodrigues, Sandra

Falcão, Silvio Cabral, Simone Maciel, Simone Maradei,Viviane

Rodrigues

Equipe Centron2010

Page 80: Histórias Contadas

LOGO CENTRON

Compromisso com a vida

Impresso com miolo em reciclato 90 gr e capa em kraft 300 gr

Page 81: Histórias Contadas

Compromisso com a Vida