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HISTÓRIA DO PARANÁ: FORMAÇÃO E PRÁTICA DOCENTE NO ENSINO FUNDAMENTAL I
Carla Michele Ramos Torres (IFPR - Campus Irati)
Resumo
Nos anos iniciais do ensino fundamental público, os professores geralmente possuem muitas dificuldades na compreensão dos conteúdos de História, principalmente devido ao fato de não terem graduação nesta área de conhecimento. Essa afirmativa, constatada na rede municipal de educação de Irati-PR, deu origem ao Curso de Extensão: Ensino e História do Paraná, promovido em 2015, pelo Instituto Federal do Paraná, para o público docente do 4º ano. Esse curso consistiu em aulas teóricas sobre conteúdos específicos da história paranaense; visitas-guiadas em parques históricos e museus; leitura e análise de fontes e bibliografia; e finalmente a elaboração de materiais pedagógicos ou atividades educacionais a partir da temática. No intuito de divulgar essa formação docente, este artigo pretende apresentar detalhadamente as diferentes etapas desse trabalho e de modo especial os seus resultados práticos a fim de compreender os limites e avanços no que diz respeito à pedagogia histórico-crítica, fundamentação teórica que orienta a proposta curricular de ensino da cidade. O projeto permitiu concluir a imensa necessidade de formação continuada em história para professores da primeira etapa do Fundamental; bem como a potencialidade interdisciplinar na produção de saberes, tendo como área central a História; e finalmente os principais entraves internos e externos à promoção de atividades de ensino-aprendizagem diferenciadas na educação pública.
Palavras-chave: Ensino Fundamental; História do Paraná; Formação Continuada; Prática Docente.
1 Introdução
Uma das missões do Instituto Federal do Paraná (IFPR) é a promoção da
educação profissional e tecnológica, pública e de qualidade, do ensino básico ao
ensino superior atendendo também áreas de formação inicial e continuada em
diferentes áreas do conhecimento. Por meio do ensino, da pesquisa e da extensão a
instituição pretende colaborar com os arranjos produtivos, sociais e culturais locais
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visando a transformação social. No sentido de cooperar com a rede municipal de
educação de Irati no Paraná (PR), no que diz respeito à capacitação docente do
Ensino Fundamental I, o IFPR-Campus Irati ofertou em 2015 o curso de extensão
Ensino e História do Paraná para professores do quarto ano.
A oferta do curso de extensão citado foi desdobramento de uma parceria
entre IFPR-Campus Irati e Secretaria Municipal de Educação que vem se
fortalecendo ao longo dos últimos três anos na cidade, principalmente com a
proposição de formação continuada nas áreas de interesses e necessidades
levantadas pelos educadores da rede educacional do município. No intuito de
divulgar o trabalho realizado no universo acadêmico, o presente artigo apresenta as
diferentes etapas desse projeto de capacitação, bem como alguns resultados
práticos construídos pelos professores à luz dos pressupostos teóricos da pedagogia
histórico-crítica que fundamenta a Proposta Curricular de Ensino da cidade.
As instituições de ensino públicas federais, situadas em regiões interioranas
como é o caso do IFPR-Campus Irati, devem estabelecer parcerias com as
secretarias de educação para promover espaços de interação de conhecimentos
científicos. Os cursos de capacitação docente só serão eficazes para professores e
alunos se a instituição formadora buscar conhecer a realidade dos sujeitos
envolvidos e isso significa elaborar estratégias baseadas nos fundamentos teóricos
e metodológicos da proposta curricular de ensino institucional, na prática docente e
nas particularidades dos espaços escolares. Desse modo, acredita-se que essa
discussão no espaço acadêmico pode suscitar novos olhares para o processo de
ensino e aprendizagem histórico nas séries iniciais do Ensino Fundamental, tanto no
campo da formação docente como no campo da prática profissional.
2 Ensino e História do Paraná: da teoria à prática
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O curso de extensão Ensino e História do Paraná foi concebido a partir dos
pressupostos teóricos da Pedagogia Histórico-Crítica, fundamentação presente na
proposta curricular de ensino do município de Irati-PR. Primeiramente o projeto
concebe a educação como uma das mediações do trabalho e acredita que a
educação tem um papel fundamental no processo de transformação social apesar
de não ser capaz de isoladamente revolucionar as estruturas econômicas e sociais
existentes. Em relação à ciência História, esta é compreendida como a área do
conhecimento que estuda o homem no seu tempo e espaço. Mas o que está em
foco não é o homem singular, exclusivamente masculino, político e abastado
economicamente, como muitas vezes a corrente filosófica positivista do século XIX
priorizou, e sim os sujeitos em suas múltiplas atividades sociais, nos seus diferentes
espaços geográficos e temporais, em esferas privadas e públicas, observados
historicamente e materialmente pelas lentes dos pesquisadores e através da maior
variedade de fontes.
O historiador ao situar-se diante do passado nada mais pretende que ser
membro de uma comunidade, pois, o “passado é, portanto, uma dimensão
permanente da consciência humana, um componente inevitável das instituições,
valores e outros padrões da sociedade humana” (HOBSBAWM, 1998, p. 22).
Portanto, as contradições do tempo presente levam o historiador a inclinar-se para
um instante do passado na busca de analisar a relação do ontem e do hoje e
identificar as transformações ocorridas e as possibilidades atuais de mudança. O
professor em sala de aula, ao selecionar um conteúdo de história do Paraná, por
exemplo, o faz a partir de suas problemáticas contemporâneas e por acreditar que
esse conteúdo poderá de alguma forma ajudar no processo de construção do sujeito
histórico. Nesse processo é necessário que o profissional da educação tenha amplo
conhecimento desses conteúdos, da historiografia e da realidade educacional em
que os seus alunos estão inseridos. Para tal empreendimento, o docente precisa
selecionar também as fontes históricas e não utilizá-las como verdades em si e sim
historicizá-las em consonância com o objeto de estudo e os objetivos da aula. Para
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Saviani “as fontes estão na origem, constituem o ponto de partida, a base, o ponto
de apoio da construção historiográfica que é a reconstrução, no plano do
conhecimento, do objeto histórico estudado” (2004, p. 5). Logo, a seleção de fontes
a serem trabalhadas em sala de aula deve ser realizada a partir da acessibilidade,
da funcionalidade e da relação teoria e prática.
A proposta curricular da rede de educação municipal de Irati-PR assume
enquanto concepção teórica a Pedagogia Histórico-Crítica, que segundo o
documento supera e resiste a ideologia dominante e assegura aos seres humanos a
“apropriação dos conhecimentos sistematizados, bem como o desenvolvimento de
uma concepção mais elaborada de mundo para que o indivíduo possa atuar na sua
transformação e, consequentemente, na transformação social” (2009, p. 35).
Observa-se que a prática social é historicamente situada no processo de ensino-
aprendizagem, portanto, a ciência história torna-se conhecimento fundamental na
formação política e cultural desses sujeitos.
Para Gasparin “o professor e o aluno são mediadores fundamentais entre
aprendizagem escolar e o desenvolvimento intelectual do aluno” (2002, p. 27).
Portanto, a aprendizagem ocorre através da interação social no momento em que
tanto professores quanto alunos estão ligados diretamente ao processo de ensino e
aprendizagem. Assim, a prática social se coloca como início e fim da prática
educativa. Logo, a ciência história ganha profundas dimensões, pois o professor ao
trabalhar com a realidade local, com os vestígios históricos do universo do estudante
e por meio da problematização pode concretizar uma educação que seja
efetivamente histórica, crítica e transformadora.
O planejamento do curso de extensão, Ensino e História do Paraná, ocorreu
a partir das concepções teóricas descritas, pois entre os objetivos estava conhecer a
história paranaense, analisar como essa história está sendo escrita ao longo do
tempo, refletir como esses conteúdos são trabalhados em sala de aula e finalmente
elaborar estratégias de ensino e aprendizado histórico com base na realidade
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escolar. O projeto teve a duração de 120 horas, distribuídas em encontros
presenciais com aulas sobre História do PR; orientação in loco para planejar ações
de ensino; visitas guiadas em museus, galerias e espaços históricos em Curitiba,
Castro, Carambeí e Lapa; leitura e análise de bibliografias e fontes históricas;
confecção de materiais pedagógicos e atividades educacionais apresentados no III
Seminário de Educação de Irati-PR. O curso teve a participação de 29 profissionais,
sendo 27 docentes de 18 unidades escolares municipais de Irati1 e duas servidoras
lotadas na Secretaria de Educação Municipal.
Os encontros presenciais ocorreram mensalmente e os conteúdos
ministrados, por meio de aulas expositivas-dialogadas e análise de fontes históricas
e leituras prévias de bibliografias históricas, versaram sobre a colonização europeia
do território paranaense nos séculos XVI e XVII; populações indígenas e africanas
no PR; imigração europeia e asiática; processo de emancipação do PR e os anos de
província; aspectos econômicos e sociais do PR entre os séculos XVI ao XX; cultura
e política no PR no século XX e finalmente os aspectos contemporâneos do nosso
estado.
A maioria dos professores-cursistas são licenciados em pedagogia e muitos
relataram que os conhecimentos históricos que dominavam advinham do
planejamento de aulas com base nos livros didáticos. Esse foi um dos maiores
desafios durante a exposição e debates dos conteúdos, pois boa parte dos
professores da rede municipal não tinha acesso a alguns conceitos e metodologias
específicos da ciência história, como, por exemplo, o trabalho com fontes históricas
e a prática de relacionar o passado e o presente.
Durante o projeto verificou-se que o livro didático é a matriz do
conhecimento das aulas ministradas e raras são as vezes que os docentes
introduzem outros materiais de apoio. Os livros de História do Paraná possuem
1 A participação das escolas no Curso de Extensão correspondeu cerca de 60% das unidades escolares municipais de Irati.
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várias imagens e textos, que podem ser explorados como vestígios históricos,
porém, devido a falta de noções específicas do manejo de fontes historiográficas,
essas mesmas imagens e textos, muitas vezes são tratados como ilustrações sem
nenhum tipo de questionamento em relação ao contexto de sua produção e aos
indivíduos retratados ou ausentes nesses documentos. No que diz respeito à relação
passado-presente, os acontecimentos históricos geralmente são abordados
cronologicamente sem problematização e análise das permanências e rupturas.
A partir destas constatações, priorizou-se no curso de formação o trabalho
com fontes históricas nos encontros presenciais e levantamento de material
bibliográfico (artigos, dissertações e livros) como material complementar para o
planejamento de atividades educacionais. O uso de instrumentos audiovisuais, como
cenas de filmes e documentários, reportagens jornalísticas e músicas também fez
parte da metodologia do curso. Uma das propostas era romper com a transmissão
de conhecimento, com a ideia de decorar datas e nomes e com o isolamento
científico. Ao contrário disso, o projeto pretendeu capacitar os docentes para
proporem aulas mais dialogas e dinâmicas, levando em consideração o contexto dos
alunos, bem como a busca pela interdisciplinaridade, uma vez que o currículo dos
anos iniciais do Ensino Fundamental proporciona tal prática.
Além das aulas teóricas os docentes da rede municipal realizaram três
saídas de campo para conhecer espaços culturais e o patrimônio histórico
paranaense. Na primeira viagem em Curitiba tiveram a oportunidade de visitar o
Museu Paranaense, Museu Oscar Niemeyer, Museu do Expedicionário e o Mercado
Municipal. Nesses locais observaram diferentes fases da história regional e nacional
e apreciaram obras artísticas. A segunda excursão ocorreu em Carambeí e Castro,
cidades em que puderam conhecer maiores detalhes da imigração europeia, como
no caso do Parque Histórico de Carambeí e Memorial de Imigração Holandesa na
colônia Castrolanda; do tropeirismo na Casa de Sinhara, Igreja Matriz e Museu do
Tropeiro no município castrense e por fim a história da Fazenda Capão Alto,
marcada pelo sincretismo religioso e étnico do período colonial e imperial brasileiro.
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Na viagem em Lapa, os professores constataram elementos da cultura tropeira e da
revolução federalista, ainda vivas nos monumentos e na memória da população.
As saídas de campo promoveram intercâmbio cultural e o contato direto com
os vestígios históricos e culturais relacionados à história brasileira. Segundo relatos
dos participantes, essa foi uma rica experiência de aprendizado e uma oportunidade
de refletir sobre a história paranaense para além do livro didático. Percebeu-se que
nessa etapa da formação ocorreu entre os cursistas uma maior valorização do
patrimônio local como objeto de estudo em sala de aula. Logo compreenderam o
sentido da pedagogia-histórico crítica ao privilegiar o contexto social dos estudantes
e ao estabelecer um processo de ensino que resgata os saberes sistematizados ao
longo dos tempos, no sentido de definir os saberes escolares.
3 Produção de saberes históricos na prática docente
No intuito de incentivar a elaboração de materiais pedagógicos e atividades
educacionais relacionadas com a história paranaense e servindo de apoio para
futuros educadores como metodologias de ensino, o curso de extensão Ensino e
História do Paraná proporcionou aos professores municipais do quarto ano do
Ensino Fundamental oficinas didáticas para a construção dessas práticas. Os
docentes receberam orientação in loco para discutir algumas possibilidades de
metodologias, a partir da realidade social, econômica e cultural da escola e dos
estudantes, pois esses elementos interferem no sucesso de qualquer prática de
ensino e aprendizagem que se propõe transformar o indivíduo e a sociedade. No
total de treze práticas educacionais, o presente artigo selecionou as ações em que
mais podem sem evidenciadas a interdisciplinaridade e a interação entre professor e
aluno no processo de construção dos saberes históricos.
A escola Antonina Panka através do Projeto Patrimônio Histórico de Irati,
promoveu um trabalho interdisciplinar entre História, Artes e Matemática, além de
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interagir com a comunidade externa. Os estudantes conheceram espaços da cidade
e foram incentivados a observar estes por meio do olhar histórico e não de turistas,
como estavam acostumados. Ao terem contato com essa variedade histórico-
cultural, partiram para a segunda etapa do trabalho que consistia em pesquisar os
principais grupos étnicos paranaenses e depois selecionar as etnias de suas
famílias. A montagem de gráficos sobre a descendência dos alunos e a
representação visual do patrimônio visitado expressou a possibilidade de
materializar a interação entre diferentes áreas do conhecimento. A finalização do
projeto ocorreu no pátio da instituição, local do jantar italiano oferecido aos pais e
aos alunos em que o cardápio, eleito pela turma a partir da etnia mais presente na
sala de aula, foi acompanhado de exposições artísticas e declamações poéticas.
Imagem 01: Fotos do Projeto Patrimônio Histórico de Irati. 2015. Acervo: Escola Antonina Panka, Irati, PR.
As professoras da escola Padre Wenceslau montaram um sarau e museu
móvel durante a VI Noite Cultural da instituição. O público apreciou dramatizações
sobre a cultura paranaense e exposição de objetos antigos selecionados pelos
alunos para compor o museu da turma. Além disso, os visitantes degustaram um
típico chimarrão da comunidade. Como o evento é de práxis, a atividade histórica se
alinhou a temática cultural e o planejamento e execução ocorreu com bastante
facilidade, segundo as cursistas.
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Imagem 02: Foto do Museu Itinerante. 2015. Acervo: Escola Padre Wenceslau, Irati, PR.
Na escola João Paulo II, os alunos das duas turmas de quarto ano foram
divididos em grupos para estudaram temas direcionados pelos professores. O
material de leitura consistiu em textos dos livros didáticos e sites de pesquisas,
atividades elaboradas nas aulas e em horários extras, pois a escola é de tempo
integral. Após os estudos e a descrições dos alunos, os textos foram reestruturados
e complementados pelos docentes. A coletânea que versa sobre diferentes períodos
históricos do Paraná, também possui ilustrações dos estudantes, uma prática que
expressa a produção coletiva do conhecimento.
Imagem 03: Páginas da obra: Coletânea de Textos da História do Paraná. 2015. Acervo: Escola João Paulo II, Irati, PR.
A escola Matilde Araújo do Nascimento elaborou um jogo de dominó,
enfatizando a história paranaense em ordem cronológica, informações geográficas e
literárias. Esse trabalho foi um desafio, pois nas primeiras orientações a professora
responsável selecionou imagens e dados de uso rotineiro nos livros didáticos e
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dessa maneira o dominó só se diferenciaria devido à metodologia e a concepção de
história narrativa, contemplativa e hierarquizada permaneceria. Portanto, uma das
propostas foi rever as imagens e procurar outras que ofertariam o mesmo conteúdo
e que tivesse relação com o contexto social da turma e que de certa maneira
problematizaria alguns assuntos a serem esmiuçados posteriormente em sala de
aula, como os direitos indígenas por educação, desmatamento, comunidades
quilombolas e cultura do mate.
Imagem 04: Peças do dominó histórico. 2015. Acervo: Escola Matilde Araújo do Nascimento, Irati, PR.
Os alunos das escolas João Maria Pedroso e João Batista Anciutti,
construíram um Dicionário de Palavras Indígenas e Africanas, atividade que
possibilitou conhecimento histórico sobre esses dois grupos étnicos e seu legado à
nossa sociedade, bem como maior desenvolvimento da oralidade e escrita na
Língua Portuguesa. Essa prática desenvolveu-se por meio de pesquisa, debates,
representações visuais, exposição oral e finalmente na sistematização das palavras
num dicionário ilustrativo. A preservação e valorização da cultura indígena e africana
foi o foco desse projeto, algo que precisa ser mais presente nas salas de aula em
qualquer período letivo, indo além da obrigatoriedade da Lei nº 11.645 de 2008. Vale
ressaltar que é fundamental os docentes rever o estudo das populações nativas e
dos povos africanos e seus descendentes numa comunidade marcada pela grande
presença de imigrantes europeus, como é o caso de algumas localidades da cidade
iratiense, principalmente nas regiões interioranas do município.
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Imagem 05: Páginas do Dicionário Ilustrativo. 2015. Acervo: Escolas João Maria Pedroso e João
Batista Anciutti, Irati, PR.
As práticas de ensino apresentadas demonstram a capacidade de
integração entre diversas áreas do conhecimento com a História, em especial com
Artes, Geografia e Língua Portuguesa. A interdisciplinaridade permite ao aluno
perceber os elementos comuns entres as ciências humanas, naturais e exatas,
potencializando suas inúmeras capacidades mentais e físicas. Os professores da
rede municipal de Irati lecionam nas turmas de quarto ano diferentes disciplinas,
exceto em alguns casos Artes e Educação Física, portanto, precisam ser
incentivados a integrar os conteúdos revelando a relação entre eles.
A pedagogia histórico-crítica fundamenta-se na concepção da educação
como um processo de trabalho, logo a escola tem a função de transmitir e assimilar
o saber sistematizado, algo imprescindível à sociedade (SAVIANI, 2000). Ao
compreender a educação como algo processual, os docentes passam a conceber os
alunos como seres ativos na construção dos saberes e desse modo podem elaborar
estratégias em que a participação desses sujeitos seja essencial. As leituras em sala
de aula, trabalhos coletivos entre professores e alunos, debates, confecção de
material pedagógico em que o estudante observa a materialidade de sua produção,
são práticas extremamente ricas na consolidação de uma educação alicerçada na
perspectiva da transformação.
Haja vista às condições de estrutura física das escolas municipais, limites de
materiais pedagógicos disponíveis aos docentes, planos de ensino fundamentados
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em teorias pragmáticas e a insuficiência de formação profissional específica aos
licenciados em pedagogia, verificou-se durante o curso de extensão Ensino e
História do Paraná a combinação de muitos esforços na produção de saberes
históricos alinhados aos pressupostos teóricos da pedagogia histórico-crítica.
Destaca-se, por exemplo, o papel da Secretaria de Educação Municipal em liberar
os professores para participar exclusivamente do curso no período escolar e no
custeio de transporte para as saídas de campo; também a dedicação dos docentes
na realização das atividades propostas e dos diretores de suas instituições que
ajudaram na efetivação dessas ações educacionais junto à comunidade escolar.
Finalmente o apoio do IFPR-Campus Irati, ao disponibilizar a docente de história
para a execução do projeto, bem como o financiamento de materiais pedagógicos2.
4 Considerações Finais
O curso de extensão Ensino e História do Paraná foi uma demanda
levantada pela Secretaria de Educação Municipal de Irati a fim de capacitar os
docentes da rede de ensino municipal do quarto ano do Ensino Fundamental em
relação aos conteúdos da história paranaense. Durante o desenvolvimento das
atividades, os professores foram desafiados a compreender o conhecimento
histórico a partir de outros parâmetros, como por exemplo, o trabalho com fontes e a
sistematização processual dos saberes. Vale ressaltar que somente a formação não
é capaz de efetivar uma mudança de postura profissional dos educadores, portanto,
concomitante a isso é fundamental que os mesmos tenham noções básicas dos
pressupostos teóricos da proposta curricular institucional, bem como condições
mínimas para concretização de práticas educacionais inovadoras, como
2 O IFPR-Campus Irati financiou a aquisição de seis banners ilustrativos sobre a história paranaense, entre os séculos XVI e XXI que constitui a exposição itinerante intitulada: Projeto de Extensão Ensino e História do Paraná. Esse material foi doado à Secretaria de Educação Municipal de Irati, a fim de
ser utilizado pelos professores como metodologia de ensino e percorrerá todas as escolas da cidade.
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disponibilidade de materiais pedagógicos, carga horária para tal empreendimento e
um currículo mais integrado ao contexto escolar.
Por meio desse projeto, concluiu-se que a rede municipal de educação de
Irati possui demanda de formação específica em diversas áreas do conhecimento,
uma vez que a maioria dos professores possui licenciatura em pedagogia e na sala
de aula há cada vez mais a necessidade de saberes específicos. Além disso, se
evidenciou a potencialidade interdisciplinar nos anos iniciais do ensino fundamental,
sendo a História como área central, principalmente com a área de Artes, Geografia e
Língua Portuguesa. Durante o curso de extensão, verificou-se vários entraves à
promoção de atividades de ensino e aprendizagem diferenciadas na educação
pública, sendo os principais: o monopólio do livro didático no planejamento e
execução das aulas; a escassez de capacitações que vinculem teoria e prática; a
dupla jornada de serviço; uma cultura escolar ainda muito enraizada na transmissão
dos conteúdos; um currículo bastante descontextualizado; carência de políticas
públicas na atualização dos educadores; e a precária infraestrutura de algumas
instituições no que diz respeito ao acervo bibliográfico, espaços de estudo e
laboratório de informática.
Entre os maiores resultados desse projeto de formação docente foi a nova
postura dos professores do quarto ano da rede municipal de Irati-PR na revisão de
suas metodologias de ensino e na seleção dos conteúdos históricos do Paraná.
Ademais, as práticas construídas e aplicadas em sala são exemplos concretos de
que é possível uma educação pública, de qualidade, fundamentada na pedagogia
histórico-crítica e voltada para a transformação do ser e da sociedade. Em relação
ao IFPR-Campus Irati, a instituição concretizou seu compromisso com a comunidade
local, intensificando parcerias educativas e cooperando na melhoria do ensino
público municipal. Por fim, conclui-se que cursos de capacitação profissional para
educadores estreitam as relações entre a escola e o mundo acadêmico, dando
sentido a este último como catalisador das reais exigências da prática docente e
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fomentador de ações pedagógicas alinhadas à realidade institucional e efetivas em
seus propósitos políticos-educacionais.
5 Referências
BRASIL. Lei 11.645, de 10 de março de 2008. Disponível em: ˂http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11645.htm˃. Acesso em: 28 Jun. 2016. GASPARIN, J.L. Uma didática para a pedagogia histórico-crítica. Campinas, S.P.: Autores Associados, 2002. HOBSBAWM, Eric. Sobre História. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. SAVIANI, Dermeval. Breves considerações sobre fontes para a história da educação. In. LOMBARDI, José Claudinei; NASCIMENTO, Maria Isabel Moura. Fontes, história e historiografia da educação. Campinas (SP): Autores
Associados, 2004, p. 1‐12. _______________. Pedagogia Histórico-Crítica: primeiras aproximações. 7 ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2000. SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE IRATI. Proposta Curricular da rede municipal de ensino de Irati. Irati, 2009.