Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGROECOSSISTEMAS HIERARQUIZAÇÃO DE CRITÉRIOS NA ADOÇÃO DE PRÁTICAS DE CONSERVAÇÃO DO SOLO LÉO TEOBALDO KROTH FLORIANÓPOLIS, SC. 1997

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KROTH, Léo Teobaldo. Hierarquização de critérios na adoção de práticas de conservação do solo. Florianópolis, 1997. 104f. Dissertação (Mestrado em Agroecossistemas) – Curso de Pós-Graduação em Agroecossistemas, Universidade Federal de Santa Catarina. Orientador: Luiz Renato D’Agostni Defesa: 12/08/1997 HIERARQUIZAÇÃO DE CRITÉRIOS NA ADOÇÃO DE PRÁTICAS DE CONSERVAÇÃO DO SOLO Autor: Léo Teobaldo Kroth Orientador: Prof. Luiz Renato D'Agostini RESUMO Uma das principais implicações da modernização da agricultura é a degradação dos recursos naturais. O modelo preconizado por essa agricultura pressupostamente baseava-se na produtividade e eficiência. Os recursos naturais, especialmente o solo, ficavam relegados a um segundo plano. Os insumos industriais poderiam suprir ou atender todas as necessidades do sistema solo-planta. Isso fez com que o homem se distanciasse da natureza e do próprio homem em seu sentido maior. Mesmo compreendendo a dinâmica do processo de degradação do meio e conhecendo alternativas para seu controle, ainda não se verifica uma suficiente adoção de práticas de conservação do solo. Pressupondo que o uso e o manejo do solo são inspirados principalmente por critérios de natureza econômica, preservacionista e operacional, objetivou-se identificar a hierarquia destes critérios em determinar a adoção de práticas de conservação do solo pelos produtores participantes do Projeto Microbacias/BIRD na região do Alto Vale do Itajaí - SC. Do universo estudado, aproximadamente 65% dos produtores são adotantes, 30% são parcialmente adotantes e 5% não adotam práticas de conservação do solo. Para 53,6% dos produtores os fatores de ordem econômica são os que determinam a adoção; 69,7% dos produtores que não adotam práticas conservacionistas o fazem por fatores de ordem econômica. Subjetivamente, fatores relacionados com a humanização do trabalho estão fortemente presentes. A preservação do meio parece, ainda, ser mais dependente de constrangimentos frente à diferenciação de comportamentos do que pela convicção da necessidade de preservação.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGROECOSSISTEMAS

HIERARQUIZAÇÃO DE CRITÉRIOS NA ADOÇÃO

DE PRÁTICAS DE CONSERVAÇÃO DO SOLO

LÉO TEOBALDO KROTH

FLORIANÓPOLIS, SC. 1997

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HIERARQUIZAÇÃO DE CRITÉRIOS NA ADOÇÃO DE

PRÁTICAS DE CONSERVAÇÃO DO SOLO

Dissertação apresentada ao Centro de Ciências Agrárias da Universidade

Federal de Santa Catarina como requisito para obtenção do Grau de

Mestre em Agroecossistemas.

LÉO TEOBALDO KROTH Engenheiro Agrônomo

Orientador PROF. DR. LUIZ RENATO D’AGOSTINI

FLORIANÓPOLIS, SC. AGOSTO DE 1997

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KROTH, Léo Teobaldo. Hierarquização de critérios na

adoção de práticas de conservação do solo.

Florianópolis, 1997. 104f. Dissertação (Mestrado em

Agroecossistemas) – Curso de Pós-Graduação em

Agroecossistemas, Universidade Federal de Santa

Catarina.

Orientador: Luiz Renato D’Agostni

Defesa: 12/08/1997

Pressupondo que o uso e o manejo do solo são inspirados

por [critérios de natureza econômica, preservacionista e de

humanização das atividades], objetivou-se identificar a

[hierarquia] destes [critérios] em determinar a [adoção] de

[práticas de conservação do solo].

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CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO (MESTRADO) EM AGROECOSSISTEMAS CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA FLORIANÓPOLIS (SC), BRASIL

Dissertação submetida por LÉO TEOBALDO KROTH

como um dos requisitos para obtenção do Grau de MESTRE EM AGROECOSSISTEMAS,

Núcleo Temático: Relações Edafohidrológicas e Ambientais em Microbacias Hidrográficas.

Aprovada em: 12 / 08 / 97

Prof. Luiz Renato D'Agostini (Dr.) Orientador

Prof. Paulo Emílio Lovato (Dr.) Coordenador

BANCA EXAMINADORA:

Prof. Antônio Ayrton A. Uberti (M.Sc.) CCA/UFSC

Prof. Júlia Sílvia Guivant (Dra.) CFH/UFSC

Prof. Jorge L. Barcelos Oliveira (Dr.) CCA/UFSC

Voltaire Mesquita Cézar (M.Sc.) Eng.º Agrônomo – Epagri

Valdemar Hercílio de Freitas (M.Sc.) Eng.º Agrônomo - Epagri

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Dedico este trabalho à

Eliana e Aline

pela compreensão, incentivo e apoio

proporcionados nesta caminhada.

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AGRADECIMENTOS

À Epagri, que me oportunizou a realização deste curso e pelo apoio

institucional e financeiro;

Ao Professor Luiz Renato D'Agostini, pelos ensinamentos, orientação,

amizade e paciência com que sempre me recebeu;

Ao Professor Jonas Ternes dos Anjos, pela orientação, receptividade,

incentivo e amizade;

Ao Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Santa

Catarina, por intermédio de seu Curso de Pós-Graduação em

Agroecossistemas;

Aos professores e colegas de curso, pelo amigável convívio e

experiências acrescentadas;

Aos funcionários e pessoal de apoio do Centro de Ciências Agrárias

pela atenção e ajuda prestada;

Ao Eng. Agr. Renato César Dittrich da Epagri, pelo apoio na

sistematização dos dados;

Às bibliotecárias e funcionárias da biblioteca da Epagri, pela pronta

atenção que sempre me foi dispensada;

À meus familiares e de minha esposa, pelo incentivo e apoio;

À Tânia e José João, Lenissa e Moacir, Nelise e Rene, Mery-Ann e

Edson, Marli e José Carlos, pela convivência, apoio e companheirismo;

Aos Extensionistas e funcionários da Gerência Regional e dos

Escritórios Municipais da Epagri da região do Alto Vale do Itajaí e do Centro de

Treinamento de Agronômica, pela contribuição na pesquisa de campo;

Aos agricultores entrevistados, pelo apoio, compreensão e paciência

ao responder os questionários e;

Aos companheiros da Epagri e a todos aqueles que contribuíram direta

ou indiretamente para a realização deste trabalho.

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BIOGRAFIA DO AUTOR

Léo Teobaldo Kroth, nascido a 05 de setembro de 1961 em Ijuí - RS, é

filho de Guilherme Bruno Kroth (in memorium) e Ângela Kroth.

Em 1980 concluiu o Curso de Técnico em Contabilidade no Colégio

Peperi em São Miguel D’Oeste - SC. Em 1984 ingressou no Curso de

Agronomia do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Santa

Catarina, obtendo o título de Engenheiro Agrônomo em 17 de dezembro de

1988.

Iniciou suas atividades profissionais como Extensionista Rural da ex-

ACARESC, atual Epagri, em 13 de fevereiro de 1989, no município de

Presidente Getúlio - SC, na região do Alto Vale do Itajaí. A partir de 1991

passou a atuar como técnico específico do Projeto Microbacias, no mesmo

município, onde atuou até fevereiro de 1995.

Em março de 1995 ingressou no Curso de Pós-Graduação em

Agroecossistemas - Núcleo Temático: Relações Edafohidrológicas e

Ambientais em Microbacias Hidrográficas do Centro de Ciências Agrárias da

Universidade Federal de Santa Catarina.

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ÍNDICE

LISTA DE TABELAS ........................................................................................... I

LISTA DE QUADROS ......................................................................................... I

LISTA DE FIGURAS ........................................................................................... II

RESUMO ........................................................................................................... III

ABSTRACT ...................................................................................................... IV

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................. 1

2. O PROCESSO DE DIFUSÃO-ADOÇÃO .................................................... 10

3. O PROCESSO DECISÓRIO ....................................................................... 25

3.1. Fatores de ordem econômica ............................................................. 26 3.2. Fatores de ordem operacional ............................................................ 29 3.3. Fatores de ordem ambiental ............................................................... 31

4. ÁREA DE ESTUDO .................................................................................... 33

4.1. Breve Histórico da Região .................................................................. 33 4.2. Situação Geral da região do Alto Vale do Itajaí .................................. 35

5. PROCEDIMENTOS .................................................................................... 43

5.1. Premissas básicas ............................................................................. 43 5.2. Plano de amostragem ........................................................................ 43

5.2.1. Base de dados ....................................................................... 43 5.2.2. Âmbito e população ............................................................... 44 5.2.3. Época e período de referência .............................................. 44

5.3. Seleção da amostra ........................................................................... 44 5.4. Definição e Operacionalização das Variáveis .................................... 45

5.4.1. Caracterização das unidades de produção ........................... 45 5.4.2. Fatores relacionados com a adoção ou rejeição de práticas de

conservação do solo .............................................................. 48

6. RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................. 52

6.1. Caracterização das unidades de produção ........................................ 52

6.1.1. Idade do produtor .................................................................. 52 6.1.2. Disponibilidade de mão-de-obra ............................................ 53 6.1.3. Escolaridade do produtor ....................................................... 54 6.1.4. Área da propriedade .............................................................. 55 6.1.5. Área explorada com culturas anuais ...................................... 56 6.1.6. Adoção de práticas de conservação do solo em áreas de

lavoura ................................................................................... 57 6.1.7. Nível de instrução dos produtores ......................................... 61 6.1.8. Nível de renda dos produtores............................................... 62 6.1.9. Padrão tecnológico dos produtores ....................................... 63 6.1.10. Percepção dos produtores frente a novas tecnologias .......... 64

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6.2. Fatores relacionados com a adoção ou rejeição de práticas de conservação do solo .......................................................................... 65

6.2.1. Fatores que inspiram o produtor a implantar práticas de conservação do solo .............................................................. 66

6.2.2. Fatores que inspiram o produtor a não implantar práticas de conservação do solo ......................................................... 70

6.2.3. Argumentos de motivação para adoção ................................ 71 6.2.4. Razões para implantação de um programa de conservação

do solo ................................................................................... 72

7. CONCLUSÕES E SUGESTÕES ................................................................ 74

7.1. Conclusões ......................................................................................... 74 7.2. Outras questões relevantes ................................................................ 79

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................... 83

9. ANEXOS ..................................................................................................... 86

9.1. Questionário ....................................................................................... 86 9.2. Dados relativos a amostragem ........................................................... 92

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I

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Levantamento da situação da conservação do solo em SC. ........... 9

Tabela 2. Indicadores do desempenho do componente Extensão Rural e Assistência Técnica do Projeto Microbacias/BIRD - 1996............. 9

Tabela 3. Estrutura fundiária da região do Alto Vale do Itajaí - SC - 1996. .... 40

Tabela 4. Normais climáticas para a região do Alto Vale do Itajaí - SC. ........ 40

Tabela 5. Número de estabelecimentos por áreas de lavoura - região do Alto Vale do Itajaí - SC - 1985. .................................................. 41

Tabela 6. Utilização das terras agrícolas no Alto Vale do Itajaí - SC. ............ 41

Tabela 7. Principais culturas anuais exploradas na região do Alto Vale do Itajaí - SC - Safra 1994/1995. ........................................... 42

Tabela 8. Principais criações da região do Alto Vale do Itajaí - SC. .............. 42

Tabela 9. Posse da terra na região do Alto Vale do Itajaí - SC - 1985. .......... 42

LISTA DE QUADROS

Quadro 1. Modelo do processo de inovação-difusão ...................................... 18

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II

LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Localização da área de estudo ...................................................... 39

Figura 2. Distribuição dos produtores por faixas etárias -Alto Vale do Itajaí - SC - 1996. ........................................................................... 53

Figura 3. Disponibilidade de mão-de-obra (UTH) nas propriedades rurais do Alto Vale do Itajaí - SC - 1996. ........................................ 54

Figura 4. Distribuição dos produtores de acordo com a escolaridade Alto Vale do Itajaí - SC - 1996. ....................................................... 55

Figura 5. Distribuição dos produtores de acordo com a área da propriedade (ha) - Alto Vale do Itajaí - SC - 1996. ......................... 56

Figura 6. Distribuição percentual das propriedades de acordo com a área explorada com culturas anuais - Alto Vale do Itajaí - SC. ...... 57

Figura 7. Distribuição percentual dos produtores de acordo com a adoção de práticas de conservação do solo - Alto Vale do Itajaí - SC - 1996. ........................................................................... 58

Figura 8. Distribuição percentual dos produtores de acordo com a adoção de combinações de práticas de conservação do solo Alto Vale do Itajaí - (SC) - 1996. .................................................... 59

Figura 9. Distribuição percentual dos produtores de acordo com seu nível de instrução na percepção dos técnicos executores do Projeto Microbacias - Alto Vale do Itajaí - SC - 1996. ............... 62

Figura 10. Distribuição percentual dos produtores de acordo com seu nível de renda na percepção dos técnicos executores do Projeto Microbacias - Alto Vale do Itajaí - SC - 1996. ............... 63

Figura 11. Distribuição percentual dos produtores de acordo com seu padrão tecnológico na percepção dos técnicos executores do Projeto Microbacias - Alto Vale do Itajaí - SC - 1996. ............... 64

Figura 12. Distribuição percentual dos produtores de acordo com a percepção que têm frente a novas tecnologias na visão dos técnicos executores do Projeto Microbacias - Alto Vale do Itajaí - SC - 1996. ...................................................................... 65

Figura 13. Distribuição percentual dos produtores de acordo com os fatores que os inspiram a adotar práticas de conservação do solo - Alto Vale do Itajaí - SC - 1996. ........................................ 67

Figura 14. Distribuição percentual dos produtores de acordo com os fatores que os inspiram a rejeitar as práticas de conservação do solo - Alto Vale do Itajaí - SC - 1996. ........................................ 70

Figura 15. Distribuição percentual dos produtores com base nos argumentos a serem utilizados como fatores de motivação para a adoção de práticas de conservação do solo - Alto Vale do Itajaí - SC - 1996. ........................................................................... 72

Figura 16. Distribuição percentual dos produtores de acordo com as razões para implantação de um programa de conservação do solo ........................................................................................... 73

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III

HIERARQUIZAÇÃO DE CRITÉRIOS NA ADOÇÃO DE PRÁTICAS DE CONSERVAÇÃO DO SOLO

Autor: Léo Teobaldo Kroth

Orientador: Prof. Luiz Renato D'Agostini

RESUMO

Uma das principais implicações da modernização da agricultura é a degradação dos recursos naturais. O modelo preconizado por essa agricultura pressupostamente baseava-se na produtividade e eficiência. Os recursos naturais, especialmente o solo, ficavam relegados a um segundo plano. Os insumos industriais poderiam suprir ou atender todas as necessidades do sistema solo-planta. Isso fez com que o homem se distanciasse da natureza e do próprio homem em seu sentido maior.

Mesmo compreendendo a dinâmica do processo de degradação do meio e conhecendo alternativas para seu controle, ainda não se verifica uma suficiente adoção de práticas de conservação do solo.

Pressupondo que o uso e o manejo do solo são inspirados principalmente por critérios de natureza econômica, preservacionista e operacional, objetivou-se identificar a hierarquia destes critérios em determinar a adoção de práticas de conservação do solo pelos produtores participantes do Projeto Microbacias/BIRD na região do Alto Vale do Itajaí - SC.

Do universo estudado, aproximadamente 65% dos produtores são adotantes, 30% são parcialmente adotantes e 5% não adotam práticas de conservação do solo. Para 53,6% dos produtores os fatores de ordem econômica são os que determinam a adoção; 69,7% dos produtores que não adotam práticas conservacionistas o fazem por fatores de ordem econômica. Subjetivamente, fatores relacionados com a humanização do trabalho estão fortemente presentes. A preservação do meio parece, ainda, ser mais dependente de constrangimentos frente à diferenciação de comportamentos do que pela convicção da necessidade de preservação.

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IV

HIERARCHIZATION OF CRITERIA IN THE ADOPTION OF SOIL CONSERVATION PRACTICES

Author: Léo Teobaldo Kroth

Adviser: Prof. Luiz Renato D'Agostini

ABSTRACT

One of the main critical implications of modern agriculture is the degradation of natural resources. This agriculture is presumably based on a productivity/efficiency model. Natural resources, and mainly soil, was relegated to a secondary plane. Industrial inputs could provide or meet all soil-plant system needs. This forced man to draw away from nature and from himself in the broadest sense of the term.

Although understanding the dynamics of environmental degradation process and being aware of the alternatives for controlling it, adequate soil conservation practices have not been adopted yet.

Assuming that soil use and management are primarily based on criteria associated to economic, preservationist and humanization aspects, an attempt has been made to identify the hierarchy of such criteria in determining the adoption of soil conservation practices by farmers.

Aproximately 65percent of farmers are adopters, 30% are partial adopters and 5% do not adopt soil conservation practices at all. For 53,6% of farmers, economic factors are the major determiners for this adoption; 68,7% of farmers who do not adopt soil conservation practices do so because of economic restrictions. Subjectively, factors associated with labor humanization are clearly evident. Environment protection seems to be still more dependent on constraints derived from a different behavior, than on the conviction of the real need for preservation.

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1

1. INTRODUÇÃO

A agricultura brasileira, e em particular a catarinense, passou, nas

últimas décadas, por profundas mudanças, tanto no campo econômico, no

social, quanto no tecnológico.

A transformação da agricultura tradicional, responsabilizada como a

precursora da situação do subdesenvolvimento brasileiro, de acordo com os

paradigmas modernizantes, somente se daria mediante a introdução e

aplicação de fatores com origem externa ao meio rural. Para tornar isso

possível, haveria uma demanda em educação, pesquisa e difusão dos fatores

de produção industrial, a cargo do poder público, considerando-se que deveria

ocorrer a substituição da agricultura tradicional pela moderna.

As modificações ocorridas no meio rural, a partir do avanço das

relações capitalistas de produção, levaram a uma inserção profunda da

agricultura na economia de mercado, agregando novos e mais complexos

conceitos, que passaram a influenciar a tomada de decisões.

Uma das principais implicações do processo modernizante implantado

na agricultura está relacionado com a preservação dos recursos naturais. O

modelo difundido tinha bases inspiradas essencialmente na produtividade e na

eficiência. Com isso, as questões dos recursos naturais, especialmente o solo,

foram relegadas ao segundo plano, com o argumento, mesmo que subjacente,

de que os insumos químicos industriais poderiam suprir ou atender todas as

necessidade das culturas. A maneira pela qual se processou a

“industrialização” da agricultura fez com que o homem se distanciasse da

natureza e, por conseguinte, do próprio homem. A natureza se tornou tão

somente supridora de matérias primas, sendo o solo considerado apenas “meio

de suporte para as plantas” e não como parte indissociável de um todo, cuja

complexidade e significação não pode ser reduzida a de um meio em que

ocorrem processos físicos, químicos e biológicos, que proporcionam condições

para o desenvolvimento das plantas.

O aumento da pressão sobre os recursos naturais, ocasionada por uma

demanda ascendente no uso dos solos para fins agrícolas, está especialmente

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2

implicado na intensificação do uso de produtos químicos sintéticos

(fertilizantes, agrotóxicos, etc.) e na mecanização das operações de cultivo. A

necessidade de crescente aumento da renda das famílias rurais, como um dos

produtos da mesma modernidade, aliada ao aumento da pressão demográfica

no meio rural, resultaram numa intensificação da utilização do solo. Como

conseqüências mais evidentes desta utilização, estão a degradação estrutural

e a erosão do solo (perda da camada fértil), redução e até eliminação da

atividade biológica, aumento do número do que era como pragas, doenças e

invasoras, diminuição do estoque de água, acarretando déficit hídrico, poluição

do lençol freático e das águas superficiais, para citar apenas algumas. Tudo

isso acabou acarretando redução nos níveis de produtividade das lavouras e

até mesmo inviabilizando seu cultivo, colocando em questão a própria

promessa da “agricultura moderna”.

Em solos do Rio Grande do Sul, cultivados com sucessão trigo-soja

sob sistema convencional1, sem o uso de práticas de conservação do solo, as

perdas de solo foram, numa média de quatro safras, de 32t/ha ano, chegando a

97t/ha ano (RIO GRANDE DO SUL, 1985), o que representa quase 10kg de

solo por metro quadrado, ou ainda uma camada uniforme de um centímetro de

espessura. Considerando-se que a camada arável situa-se, para a maioria dos

solos de Santa Catarina, até 30cm de profundidade, e permitindo-nos uma

extrapolação no tempo e no espaço daqueles resultados experimentais, se

poderia concluir que em apenas algumas décadas poderemos ter esgotado a

capacidade produtiva desses solos.

Com a redução da produtividade, os agricultores sentiram-se

compelidos a aumentar suas áreas de lavoura, buscando, assim, garantir a

rentabilidade de seu processo produtivo, levando ao uso de muitas áreas fora

de suas aptidões agrícolas, de acordo com o sistema de classificação das

terras2; ao uso de áreas marginais3; à exploração de áreas de preservação

1 Sistema de manejo convencional: preparo do solo com uma aração e duas gradagens, queimando os

restos culturais do trigo e incorporando os resíduos da soja. 2 Sistema de classificação das terras: utilizado para classificar as terras de acordo com sua aptidão

agrícola, considerando as seguintes características: declividade, profundidade efetiva, pedregosidade,

drenagem, fertilidade e suscetibilidade à erosão, conforme o que é preconizado na metodologia

atualmente em uso pela Epagri.

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3

determinadas pela legislação4; a demanda por novas fronteiras agrícolas, entre

outros casos. Aliado a não aplicação de práticas adequadas à preservação da

capacidade produtiva desses solos (Tabela 1), encontra-se atualmente um

quadro bastante preocupante quanto à manutenção dos níveis de

produtividade e até mesmo da continuidade da exploração de diversas áreas

agrícolas do Estado.

Procurando de alguma forma encontrar meios de equacionar essa

situação, o serviço de extensão rural do Estado, ao longo de 40 anos de

atividades, desenvolveu uma série de Programas voltados à conservação dos

solos. No entanto, estes Programas só ocasionalmente apresentaram bons

resultados, com contribuições relativamente pouco representativas na

minimização dos efeitos nocivos da erosão sobre o solo no Estado. Segundo a

percepção que inspira os Programas atuais, isso deveu-se fundamentalmente à

visão reducionista destes Programas, que consideravam apenas a área das

lavouras como unidades de planejamento e atuação, não levando em conta

que os fatores climáticos, notadamente a chuva e o escoamento a ela

associado, determinante na ocorrência da erosão dos solos, não delimitam sua

ação em linhas retas ou aos limites legalmente instituídos.

As práticas ou procedimentos tradicionais de conservação do solo

foram menos efetivas do que se esperava ou se necessitava. A visão

tradicional se concentrava basicamente no volume e na velocidade de

escoamento da água, sem ter em conta o sistema de produção como um todo.

Quase como um pressuposto de suficiência, o manejo conservacionista

reduzia-se as práticas que antecediam as atividades de um novo ciclo de

produção agrícola, descuidando do que ocorria durante e depois desse ciclo.

No entendimento de BRAGAGNOLO et al. (1995), este enfoque enfatizava as

medidas físicas de conservação do solo no trabalho das agências

3 Áreas marginais: são assim consideradas aquelas áreas que necessitam de obras de engenharia para

torná-las agricultáveis, como macrodrenagem e sistematização, ou que não apresentam condições

naturais para o uso agrícola, em função da baixa fertilidade, pedregosidade, etc. 4 Áreas de preservação permanente: de acordo com a Lei n.º 4.771 de 15.09.65, são assim consideradas as

áreas com florestas e demais formas de vegetação natural situadas ao longo dos rios ou de outro curso

de água, em faixa marginal com largura mínima de acordo com a largura do curso de água, que vai de

30 metros a 500m; ao redor de lagoas, lagos e reservatórios; nas nascentes num raio de 50m., no topo

dos morros, montes, montanhas e serras; nas restingas; nas bordas de tabuleiros ou chapadas; e áreas

com altitude superior a 1.800m.

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4

especializadas em conservação do solo e em conseguir a adesão dos

agricultores mediante a insistência.

Impõe-se reconhecer, assim, que um fator que contribuiu para uma

insuficiente efetividade das práticas de conservação do solo foi a metodologia

de trabalho utilizada pelos agentes de extensão, que raras vezes considerava o

agricultor como participante do processo e como agente executor e

beneficiário, ou seja, o mesmo era visto como objeto do processo e não como

sujeito. Mas mesmo o vendedor sabe que a insistência só é eficaz mediante

argumentos com conteúdo impregnado de significação para o comprador. Cabe

perguntar, então, se na “adesão mediante a insistência” os argumentos

apresentados aos agricultores se investem de significação à luz dos critérios

que priorizam e determinam as sua ações.

A inadequação metodológica parece decorrer do fato de os Programas

terem sido concebidos, em sua maioria, para atender políticas públicas e

programas de governo coadunados com os princípios da “revolução verde”,

que visavam atender interesses comerciais e políticos, em detrimento das reais

necessidades e demandas dos produtores.

Para BRAGAGNOLO et al. (1995), a concepção dos Programas de

“cima para baixo” limitava a credibilidade dos conservacionistas, dificultando o

intercâmbio e valorização de idéias. Os agricultores tem se preocupado com a

produção enquanto que os conservacionistas tem se preocupado em salvar o

solo e a água. Para os mesmos autores, outra carência do enfoque tradicional

é que não eram considerados os aspectos socioeconômicos e as

características dos sistemas de produção, o que se refletia numa falta de

entusiasmo dos agricultores para adotar práticas conservacionistas.

Normalmente, os agricultores não introduzem de forma automática práticas

convencionais de conservação do solo em suas operações rotineiras, mesmo

porque freqüentemente tanto as recomendações como as implicações de sua

implementação prática não são adequadas ou aplicáveis de forma imediata às

situações agroecológicas ou socioeconômicas específicas.

O produtor era defrontado com “tecnologias” e soluções não

adequadas à sua realidade e mesmo suas necessidades. Isso levava a um

descrédito com relação ao que lhe era proposto como alternativa para

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5

equacionar os problemas de erosão do solo que enfrentava. Essa dicotomia

entre os “pacotes tecnológicos” oferecidos pelos agentes de extensão e o que

o agricultor realmente desejava ou o que lhe seria mais adequado e

apropriado, levou a uma baixa adoção das práticas de conservação do solo ou,

quando eram adotadas, isso ocorria por um período relativamente curto, sendo

posteriormente abandonadas.

A percepção mais atual quanto a melhor forma de se combater a

degradação dos solos diz respeito a um melhor “manejo das terras”, sendo que

as práticas convencionais de conservação do solo devem ser consideradas

como de apoio. Este enfoque traz como benefícios uma estreita integração das

práticas conservacionistas ao sistema de produção agrícola e o fortalecimento

das relações entre a população rural e suas terras.

Alinhado com esse novo enfoque, o serviço de extensão rural de Santa

Catarina iniciou em 1984 os primeiros trabalhos que tem na microbacia

hidrográfica5 a unidade de planejamento, com atuação em três microbacias nos

municípios de Agrolândia, Benedito Novo e Indaial, na Bacia Hidrográfica do

Rio Itajaí-Açu, ação que se estendeu para 17 microbacias no Estado nos anos

de 1985/86. Através do Programa Nacional de Microbacias Hidrográficas, esse

enfoque se expandiu, passando atuar, em 1987, diretamente em 68

microbacias do Estado. A partir de 1991 passou a ser desenvolvido o Projeto

de Recuperação, Conservação e Manejo dos Recursos Naturais em

Microbacias Hidrográficas - Projeto Microbacias/BIRD, de abrangência

estadual, prevendo inicialmente o atendimento de 520 microbacias num

período de 7 anos, beneficiando cerca de 81.000 produtores rurais,

representando 25% da área total do Estado. O objetivo desse Projeto é de

incrementar a produção e a renda da propriedade agrícola, promovendo a

adoção de práticas sustentáveis de manejo e conservação do solo e da água.

Com isso, segundo SANTA CATARINA (1989), deverá ocorrer uma utilização

mais adequada do solo e detenção das perdas do solo, do assoreamento do

leito dos rios e represas, das enchentes, da destruição das estradas, da

poluição dos mananciais e do esgotamento dos recursos naturais.

5 Microbacia Hidrográfica é definida como uma área fisiográfica drenada por um curso d’água ou por um

sistema de cursos d’água conectados e que convergem, direta ou indiretamente, para um leito ou para

um espelho d’água (BRASIL, 1987).

Page 19: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

6

A principal estratégia do Projeto Microbacias/BIRD envolve o

planejamento conservacionista da propriedade agrícola, através da adequação

das áreas de cultivo de acordo com as classes de aptidão de uso6 e pela

adoção de práticas de preservação e recuperação do solo, como cobertura

vegetal7, práticas mecânicas8, práticas de preparo conservacionista9, entre

outras.

A justificativa do uso da microbacia hidrográfica como referencial de

planejamento e de trabalho baseou-se nos seguintes pressupostos:

1. permite concentrar em uma área relativamente homogênea a ação de

diversos organismos de apoio à assistência técnica (públicos ou privados),

evitando a dispersão de atividades e a atenção à produtores isolados,

passando a trabalhar em torno de planos de ação concretos e mais globais;

2. os produtores numa microbacia podem desenvolver propósitos comuns e

ajudar-se mutuamente na implementação de planos comuns;

3. possibilidade de compartilhar recursos escassos, como máquinas de alto

custo que não estejam ao alcance de todos os agricultores e;

4. racionalidade na utilização de recursos materiais e financeiros disponíveis,

de acordo com as necessidades e prioridades.

Esse Projeto contribuiu de forma significativa, notadamente em sua

área de abrangência, para a busca da reversão do quadro de degradação dos

6 Classes de aptidão de uso: de acordo com a metodologia utilizada pelos técnicos que atuam no Projeto

Microbacias/BIRD, as terras são classificadas em 5 classes:

Classe 1: aptidão boa para culturas anuais climaticamente adaptadas;

Classe 2: aptidão regular para culturas anuais climaticamente adaptadas;

Classe 3: aptidão com restrições para culturas anuais climaticamente adaptadas, aptidão regular para

fruticultura e boa aptidão para pastagens e reflorestamento;

Classe 4: aptidão com restrições para fruticultura e aptidão regular e com restrições para pastagens e

reflorestamento; e

Classe 5: preservação permanente (SANTA CATARINA, 1995). 7 Prática de cobertura vegetal do solo: utilização de plantas em rotação, sucessão ou consorciação com as

culturas, deixando-as na superfície do solo, visando-se a proteção superficial, bem como a manutenção

e melhoria das características físicas, químicas e biológicas do solo. 8 Práticas mecânicas de conservação do solo: consistem na locação e construção de estruturas no sentido

transversal à direção do declive do terreno, formando obstáculos físicos capazes de reduzir e disciplinar

a velocidade da água das chuvas, promovendo seu escoamento e/ou seu armazenamento, sem perigo de

erosão (RIO GRANDE DO SUL, 1985). Incluem-se neste grupo os terraços, os cordões vegetais e de

pedra. 9 Práticas de preparo conservacionista do solo: são aquelas em que se procura evitar ao máximo o

revolvimento do solo, deixando-o coberto com os resíduos das culturas ou com espécies cultivadas com

este fim específico, para que não fique exposto à ação dos fatores erosivos. Incluem-se neste grupo:

plantio direto, cultivo mínimo, preparo reduzido, escarificação, subsolagem, entre outras.

Page 20: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

7

solos no Estado, mas ainda com abrangência limitada no contexto geral da

agricultura de Santa Catarina (Tabela 2), principalmente por ter se concentrado

em algumas poucas práticas conservacionistas e não num sistema integrado

de manejo dos solos.

Uma adequada solução dos problemas de degradação encontrados

ainda está longe de ser alcançada, principalmente pelo fato de o referido

Projeto ter se concentrado em ações individualizadas e com alternativas

exógenas e pressupostamente universais, nem sempre respeitando ou

procurando entender a lógica do comportamento do agricultor. A falta de uma

visão holística dos planejadores e extensionistas e da própria concepção do

Projeto, por desconsiderar aspectos sociológicos, antropológicos, econômicos,

culturais, entre outros, faz com que os alcances ainda sejam pouco

significativos, notadamente com respeito às relações homem-meio,

considerando-se que um efetivo controle do processo erosivo está ligado ao

manejo integral de todos os fatores envolvidos no processo e no entendimento

dos mecanismos de ação de cada um, e não apenas em ações isoladas, que

procuram atacar o efeito e não as causas.

O presente trabalho parte, desta forma, do pressuposto de que a

adoção ou não de práticas de conservação do solo pelos agricultores, no caso

os participantes do Projeto Microbacias/BIRD na região do Alto Vale do Itajaí -

SC, se dá pela maior ou menor sintonia entre as concepções do Projeto, dos

extensionistas e as ideologias e lógicas que os norteiam e a percepção dos

agricultores frente aos fatores que orientam sua tomada de decisões.

Objetivando permitir que se possa ter um entendimento mais claro da

proposta desta dissertação e qual foi a fundamentação que permeou sua

concepção, este trabalho está dividido em três partes:

1. a primeira é constituída de uma introdução, na qual se buscou sintetizar a

problemática que envolve a conservação dos solos e o contexto dos

programas desenvolvidos ao longo nos anos pelo serviço de extensão rural

do Estado, e de uma análise descritiva, com base na literatura disponível e

de minhas próprias experiências e observações acumuladas durante o

período em que atuei como extensionista do Projeto Microbacias, do

processo de difusão/adoção de tecnologias agropecuárias e da lógica do

Page 21: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

8

produtor envolvida no processo decisório, notadamente quanto aos

aspectos de ordem econômica, aos relacionados com a humanização do

trabalho (operacionais) e quanto aos aspectos ambientais e de preservação

das características do meio;

2. a segunda parte é composta pela análise e discussão dos dados obtidos no

campo com relação aos fatores que influenciam o produtor na adoção ou

não de práticas de conservação do solo. Através de questões formuladas

de forma indireta, procurando imprimir uma visão de que o produtor estaria

respondendo o que seus pares pensam e como agem no uso do solo,

procurou-se, na verdade, identificar quais são as relações de prevalência

entre os critérios do agricultor em sua percepção do significado das práticas

conservacionistas. Constitui-se, essa segunda parte, também da descrição

da área de estudo e da metodologia utilizada e;

3. na terceira parte são apresentadas as conclusões, bem como são feitas

considerações sobre o processo de adoção que podem vir a se constituir

em argumentos para reflexão de planejadores e executores de Programas

de conservação do solo, bem como sobre outros aspectos a serem

considerados em novos Projetos que venham ser elaborados e

desenvolvidos no âmbito da conservação dos solos.

Page 22: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

9

Tabela 1. Levantamento da situação da conservação do solo em SC1

PRÁTICA ÁREA - ha % DA ÁREA CULTIVADA2

ÁREA P/FAMÍLIA

Cobertura vegetal 338.474 17,71 1,31

Cultivo mínimo 46.816 2,45 0,18

Plantio direto 80.929 4,23 0,31

Cordão vegetal (patamar) 54.661 2,86 0,21

Terraços 151.277 7,92 0,59

Fonte: Epagri, 1996a. 1 Levantamento realizado no ano de 1993.

2 Percentual de área com práticas de cobertura vegetal do solo em relação a área total

cultivada com culturas anuais no Estado.

Tabela 2. Indicadores do desempenho do componente1 Extensão Rural e Assistência Técnica do Projeto Microbacias/BIRD2 - 1996

ATIVIDADE TOTAL DO ESTADO*

META ALCANCE

%

Microbacias 1.683 520 502 96

Agricultores 252.450 80.900 69.378 86

Propriedades com Planejamento Conservacionista

- 56.630 30.801 54

Reflorestamento (ha) - 53.000 24.145 45

Área com práticas conservacionistas3 - 240.000 309.731 129

N.º de propriedades agrícolas 235.361 - - -

Área total dos estabelecimentos agrícolas de Santa Catarina - ha

7.463.677 - - -

Área das principais lavouras - ha 2.087.677 - - -

Área das principais lavouras a serem trabalhadas pelo Projeto - ha

761.505 - - -

Fonte: Epagri, 1996b e SANTA CATARINA (1989). * Dados referentes a 1987, por ocasião da elaboração do Projeto Microbacias/BIRD. 1 O Projeto Microbacias, entre outros é dividido em seis componentes: Componente

Assistência Técnica e Extensão Rural, Componente Pesquisa Agropecuária, Componente Florestal, Componente Estradas, Componente Educação Ambiental, Componente Monitoramento de Microbacias Hidrográficas.

2 Dados acumulados até dezembro/1996.

3 Dados com repetição referentes as práticas vegetativas

Page 23: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

10

2. O PROCESSO DE DIFUSÃO-ADOÇÃO

A motivação dos agricultores em adotar práticas de conservação do

solo é um processo complexo. Ele se inicia com a percepção do problema da

erosão pelo agricultor e o conhecimento sobre quais são os fatores que

influenciam a adoção. Os agricultores que acreditam não terem o problema,

não realizam ações para minimizá-lo. Suas percepções do problema dependem

de inúmeros fatores, incluindo mensagens através de programas

governamentais e características pessoais dos agricultores, como a idade,

disposição ao risco, entre outros.

Nem sempre os agricultores vêem a erosão como um problema que

está ocorrendo em suas propriedades. Relatos apresentados por CULVER &

SEECHARAN (1986), demonstram que em 112 municípios (condados) entre os

mais erodidos dos Estados Unidos da América, 92% dos agricultores

percebiam o problema da erosão em seu município, porém somente 66%

percebiam a erosão como sendo um problema em suas propriedades. Já nos

Estados de Nebrasca e Yowa, a maioria dos agricultores que crêem não ter

problemas atuais de erosão, na verdade os têm. Isto nos remete a uma

reflexão sobre o real significado do critério conservacionista.

De acordo com D’AGOSTINI (1995), “mesmo para o leigo e para o

inculto, a noção da importância da proteção do solo contra a erosão já é bem

presente, seja para a visão orientada à produtividade ou para a visão orientada

à sustentabilidade do processo produtivo. Mas a modalidade da ação do

homem em relação ao manejo do solo e de outras partes do meio, como

qualquer outra ação humana, também se dá a partir de um complexo sistema

de valores, onde o preservacionismo geralmente não é o único e, por

enquanto, nem o mais determinante critério que inspira a ação. Normalmente, o

preservacionismo só é prioridade na medida que a degradação decorrente de

ações demandadas ou orientadas por critérios prevalecentes, ou processos

delas decorrentes, implica riscos à objetivação daqueles critérios dominantes”.

Percebe-se claramente, que o critério conservacionista está permeado

de argumentos basicamente ligados a questão da erosão do solo e não das

Page 24: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

11

implicações resultantes de sua ocorrência, ou seja, os critérios

conservacionistas consideram sobretudo os prejuízos advindos da erosão,

notadamente os de ordem econômica, associados à redução da produtividade

e ao aumento dos custos de produção. Desta forma, o real significado do

critério conservacionista parece estar diretamente associado à percepção que

os produtores tem de que a não adoção de práticas conservacionistas pode

colocar em risco os resultados da atividade agrícola.

Com o objetivo de tentar evidenciar as variáveis relacionadas com a

adoção de tecnologias agropecuárias pelos produtores rurais, um expressivo

número de trabalhos foi conduzido por pesquisadores de diversas áreas das

ciências agrárias, humanas e econômicas. BUTTEL et al. (1990) relatam que

são aceitos como os primeiros estudos com relação a difusão-adoção de

inovações agrícolas10 aqueles realizados por Hoffer em 1942 e Ryan e Gross

em 1943, nos estados americanos de Michigan e Yowa, respectivamente; a E.

A. Wilkening, da Universidade de Chicago, é creditada a criação dos primeiros

e mais influentes estudos sobre o processo de difusão-adoção, realizados nas

décadas de 40 e 50; outras contribuições foram feitas por Fliegel, Beal &

Bohlen, Lionberger, Conghenour e Rogers, especialmente entre os anos de

1950 e 1970. De acordo com ROGERS (1995), existiam 405 publicações sobre

a questão em 1962, 1.500 em 1971, 3.085 em 1981 e em 1995 mais de 4.000.

A análise de fatores envolvidos no processo decisório do agricultor,

notadamente no que diz respeito à adoção de tecnologias, foi feita, ainda em

trabalhos desenvolvidos por CÉZAR (1978), BUTTEL et al. (1990), GOODMAN

et al. (1990), entre muitos outros. Esses trabalhos, porém, em sua maioria,

procuraram analisar a questão primordialmente sob a ótica tradicional do

modelo de difusão/adoção proposto por ROGERS (1995) ou, então, numa

abordagem basicamente econômica, não se atendo a outros aspectos que

estão presentes e que contribuem com a tomada de decisões, bem como por

que entre alguns agricultores a adoção ocorre de forma mais lenta.

Para ROGERS & SHOEMAKER (1974) a decisão individual diante de

uma inovação não é um ato imediato, mas um processo que ocorre ao longo do

10 Inovação agrícola: toda idéia ou prática percebida como nova pelo indivíduo, mesmo quando ela não é

objetivamente nova, segundo o tempo decorrido desde sua descoberta ou primeiro uso (MOLINA

FILHO, 1968).

Page 25: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

12

tempo e que envolve uma série de fatores, que vão desde o primeiro contato

com a inovação, a decisão de adotar ou rejeitar, até a confirmação da decisão

tomada.

O modelo do processo de difusão-adoção de inovações tecnológicas

na agricultura concebido por Rogers em 1963, a partir dos diversos trabalhos

realizados neste campo e denominado de Processo de Adoção de Rogers,

revisado e renomeado em 1983 para Innovation-Decision Process, contém três

componentes principais, conforme apresentado no Quadro 1 - página 18.

Os antecedentes correspondem às variáveis presentes na situação

prévia à introdução da inovação e incluem as características do receptor e do

sistema social. As primeiras restringem-se a certos aspectos referentes

diretamente ao indivíduo. Ainda no item “características sociais”, refere-se às

atitudes dos indivíduos em relação às questões sociais. As segundas, as

características do sistema social, remetem às normas, ao que é moderno ou

tradicional, por exemplo, a padrões de tolerância em relação ao desvio e à

integração da comunicação.

O processo tem seqüência através da influência das fontes e canais de

comunicação que proporcionam estímulos ao indivíduo, em primeiro lugar

oferecendo o conhecimento da inovação e, posteriormente, canais mais locais

e interpessoais persuadem o indivíduo, que forma suas percepções em relação

à inovação.

Na fase das conseqüências, a inovação pode ser adotada

permanentemente, ou a adoção ser interrompida (descontinuidade), de acordo

com a confirmação de sua efetividade, ou mesmo pode não ser adotada em

nenhum grau.

Na fase da persuasão, quando o indivíduo forma uma idéia favorável

ou desfavorável sobre a inovação, tem papel fundamental os sentimentos, e

não o conhecimento de tal inovação, que é prévio. As características que o

agricultor percebe a respeito da inovação em questão, são importantes para ele

continuar no passo seguinte, com sua adoção ou rejeição. Essas

características vão desde vantagens relativas, à complexidade, à possibilidade

de ser observada, à possibilidade de experimentação sem grandes riscos e à

compatibilidade entre o significado da inovação e valores dos produtos. Este

Page 26: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

13

último conceito é muito importante e é introduzido por ROGERS (1995) para

explicar como as características de uma inovação devem corresponder com

certos valores socioculturais dos potenciais adotadores. Uma inovação difundir-

se-á mais rapidamente quando existir congruência ou compatibilidade entre os

valores que ela requer e os existentes na população alvo. Isto é proposto como

relevante para escolher as inovações a serem difundidas e as estratégias

correspondentes para efetivar tal difusão.

A difusão para ROGERS (1995), é definida como sendo o processo

pelo qual uma inovação é comunicada através de certos canais, através do

tempo, entre membros de um sistema social. Já a inovação é uma idéia, prática

ou objetivo que é percebido como novo por um indivíduo ou outras unidades de

adoção.

Para GUIVANT (1992), o modelo estabelece que os níveis de adoção

dependem da combinação de características pessoais do produtor (educação,

idade, espírito empreendedor, cosmopolitismo, etc.) e da propriedade rural

(área cultivada, localização, acesso a meios de transporte e de comunicação,

renda, etc.).

Os resultados das pesquisas sobre o processo de difusão-adoção,

indicam, de acordo com ILBERY (1985) para o seguinte:

1. os agricultores com menos idade e proprietários de grandes áreas buscam

mais informações do que aqueles mais idosos com propriedades menores;

2. os agricultores com maior nível de escolaridade buscam mais informações,

sendo, por isso, mais inovadores que os de menor escolaridade;

3. agricultores mais cosmopolitas tendem a ser mais inovadores, o que pode

ser atribuído a terem mais acesso aos canais de comunicação;

4. proprietários de grandes áreas, empreendedores e não avessos a riscos,

tendem a ser os primeiros a adotar inovações agrícolas.

Com base nestas percepções, COCHRANE (1979) estabeleceu a

Theory of the Treadmill sobre mudanças tecnológicas. De acordo com esta

teoria, “os produtores que primeiro adotam as inovações tecnológicas tem

maiores rendas por reduzirem os custos por unidade de produção. Com o uso

da tecnologia, o preço dos produtos tende a cair, em função de que os

commodities agrícolas tendem a ter uma baixa elasticidade de preços com a

Page 27: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

14

demanda. O declínio dos preços força os não adotantes a também utilizar as

novas tecnologias. Como conseqüência, estes adotadores retardatários

ganham muito pouco com a tecnologia, sendo que eles as adotam somente

para permanecer na agricultura. Quem realmente se beneficia são os

consumidores em função dos preços pagos pelos produtos que adquirem. Por

seu lado, os que não as adotam são forçados a abandonar a agricultura por

não poderem competir ou então, forçados a adotar, mesmo sem benefícios”.

O processo de mudanças sociais, particularmente no meio rural, é

extremamente complexo, envolvendo aspectos nem sempre considerados

pelos planejadores e técnicos, mas que são primordiais por influenciarem

diretamente no comportamento do agricultor. Para MUSSOI (s.d.) o processo

social na agricultura observa os seguintes pressupostos:

os produtores de subsistência são irresolutos em “experimentar” com a

sobrevivência de suas famílias, pois se uma mudança (inovação adotada)

falhar, poderá comprometer sua segurança;

de modo geral, os pequenos produtores baseiam-se mais no quanto

poderão perder se a inovação não der resultados positivos do que

propriamente a maximização de seus lucros;

a adoção de uma inovação é influenciada, ainda, por uma série de fatores,

como: idade, grau de escolaridade, isolamento, fatalismo, liderança,

cosmopolitismo, contato com agentes de assistência técnica, normas do

sistema social, entre muitos outros.

Ainda segundo MUSSOI (s.d.), outro fator que tem forte influência na

adoção, relaciona-se com o fato de que a grande maioria dos programas que

propõem mudanças são elaborados descendentemente, ficando os

beneficiários no final da linha, responsáveis unicamente pela execução das

determinações planejadas pelos técnicos, muitas vezes dissociadas das reais

necessidades, visando atender interesses meramente políticos. Dessa forma, o

processo de mudança se torna falho, pois os beneficiários não tem poder de

decisão, nem mesmo de opinião sobre as determinações que lhes deveriam

beneficiar.

Page 28: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

15

Por se centrar demasiadamente nas variáveis individuais11 do produtor

e da propriedade agrícola, o modelo de pesquisa sobre difusão-adoção passa

por fortes contestações a partir dos anos 70. O modelo passou a ser associado

ao processo de modernização da agricultura químico-industrial e todos os seus

efeitos, principalmente ao meio ambiente, ao êxodo rural, às desigualdades

sociais, entre outros, enquanto beneficiava o setor agroindustrial e os grandes

proprietários rurais.

Neste mesmo contexto, passam a ser criticados também os conceitos e

a metodologia do modelo de difusão-adoção, especificamente quanto às fases

do processo de adoção estabelecidos por Rogers.

Quanto à identificação das variáveis específicas ligadas à adoção de

práticas de conservação do solo, as pesquisas iniciaram nos anos 50 nos

Estados Unidos. ERVIN & ERVIN (1982), relatam trabalhos que apresentam

resultados importantes. Um deles foi conduzido por BLASE (1960), que

demonstrou serem os seguintes fatores estatisticamente significantes para

explicar a redução de perdas do solo:

rendimentos externos à propriedade: interpretado como um meio para

superar dificuldades financeiras;

percepção da erosão do solo como um problema e;

capacidade para obter financiamentos.

Os resultados obtidos por BLASE (1960), mostram que as dificuldades

econômicas tem importante papel na decisão do uso efetivo de práticas de

conservação do solo. Impõe-se reconhecer, assim, que as dificuldades

financeiras dos agricultores são concebidas como afetantes na decisão de

implementar práticas que busquem o controle da erosão nas propriedades.

Estudos recentes vem aumentando a gama de variáveis consideradas

no processo decisório de adoção de tecnologias agropecuárias, inclusive as de

conservação dos solos. Entre elas, as que se mostraram estar mais

significativamente relacionadas estão o grau de escolaridade, tamanho da

11 Variáveis individuais:

do produtor: idade, escolaridade, renda, cosmopolitismo, aversão à riscos, etc.

da propriedade: área, área com culturas anuais, rebanho, tipo de culturas, localização, etc.

Page 29: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

16

propriedade, renda bruta, idade do produtor e percepção da erosão do solo

como um problema real.

PAMPEL & VAN ES (1977), concluíram que a maior experiência

agrícola explica melhor a adoção de práticas ambientais, enquanto variáveis

relacionadas com o tamanho da operação agrícola explica melhor a adoção de

práticas comerciais.

Mas em função de uma série de fatores, notadamente por terem os

estudos sido conduzidos numa região particular, numa determinada época e

refletindo um modelo local, e devido a variável dependente que reflete o uso ou

adoção de práticas ter sido mensurada de vários modos, os resultados obtidos

por PAMPEL & VAN ES (1977) não podem ser extrapolados para outras

situações, tendo em vista que o comportamento do agricultor e os objetivos dos

programas não são idênticos. Idealizar uma medida precisa do efeito da

conservação do solo, como é reconhecido pela maioria dos pesquisadores é

um grande desafio que não se pode pretender superá-lo com simples ou

complicadas medidas objetivas. Caso a intenção seja compreender a adoção,

que nem sempre corresponde com a efetividade ou extensividade do uso, o

número de práticas implementadas é suficiente. Contudo, se o objetivo final da

política conservacionista é reduzir a erosão, as variáveis encontradas devem

refletir o grau de controle da erosão de cada prática e a extensão em que cada

uma é implantada na propriedade.

ERVIN & ERVIN (1982), concluíram que a educação e a percepção do

grau de erosão foram os mais importantes fatores que influenciaram na adoção

de práticas de conservação do solo. Estes fatores tiveram moderada

significância com a experiência do agricultor, enquanto a aversão ao risco foi

diretamente relacionada com ambas. Isto indicaria que, em geral, agricultores

jovens ou menos experientes são mais receptivos a aceitar um maior número

de práticas conservacionistas. Em contrapartida, agricultores mais experientes

requereriam mais informações a respeito dos benefícios potenciais das

práticas, especialmente técnicas que lhes são desconhecidas.

Para NOVAK (1987) o agricultor precisa estar consciente da

necessidade das tecnologias conservacionistas, ser capaz de obter

informações agronômicas e econômicas para avaliar as conseqüências e

Page 30: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

17

receber assistência na transferência e adaptação das tecnologias às condições

climáticas, de solo, administrativas e sociais. Muitos agricultores rejeitam tais

tecnologias por falta de informação e assistência necessária para avaliar as

dimensões econômicas e agronômicas das práticas recomendadas. Ineficiência

institucional no desenvolvimento e transmissão de informações e assistência

adequada são asseveradas como sendo as maiores razões da não adoção de

práticas de conservação do solo. Além disso, NOVAK (1987) levanta a questão

da possibilidade de o custo da maioria das práticas exceder os benefícios a

curto prazo e a possibilidade de uma base a longo prazo. O agricultor espera

alcançar, em curto prazo, os custos e, a longo prazo, as metas de

produtividade. A falta de retornos financeiros imediatos na dinâmica econômica

da propriedade resulta em que a maioria dos agricultores rejeita estas

tecnologias.

NOVAK (1987) coloca, ainda, que a difusão e a expectativa econômica

são complementares antes que competitivas, mas que ambas são importantes

para explicar a adoção de práticas conservacionistas. Isso sugere que os

fatores de difusão aumentam de importância quando a complexidade da

inovação cresce e decresce de importância quando o risco é reduzido através

de apoio institucional.

Page 31: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

18

Quadro 1. Modelo do processo de inovação-difusão

Adaptado de REOGERS & SHOEMAKER (1974)

Page 32: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

19

O modelo de difusão de inovações tecnológicas proposto por ROGERS

(1995), descrito anteriormente, serviu de base conceitual e metodológica para a

extensão rural em praticamente todas as suas ações. E não o foi de outra

forma no que diz respeito aos Programas de Conservação do Solo

desenvolvidos em Santa Catarina.

A difusão de práticas de conservação do solo está ligada ao início das

atividades do serviço de extensão rural, que se dá a partir da década de 40. A

preocupação com a utilização correta do solo apresentava-se como uma

atividade complementar às técnicas produtivistas vigentes na época. Essas

atividades dependiam muito mais do interesse próprio dos extensionistas do

que propriamente do plano de ação da extensão rural, pois esses não eram

capacitados para tal fim e a conservação do solo não fazia parte das

prioridades, sendo, por isso, realizadas aleatória e esporadicamente.

Um dos primeiros programas de conservação do solo desenvolvidos

pela extensão rural foi o de Propriedades Demonstrativas (PDs), que consistia

em um planejamento com a finalidade de aperfeiçoar o lado administrativo da

propriedade agrícola, para posteriormente “irradiar” os resultados às demais

propriedades da comunidade. Seu objetivo era evidenciar, através da

demonstração de resultados a longo prazo, que uma boa administração,

combinando os fatores de produção (capital, trabalho e recursos naturais),

proporcionaria maior renda ao proprietário.

Ao longo dos anos foram implementados outros programas, como a

Campanha do Calcário - 1970, Projeto Catarinense de Conservação do Solo -

1970-1975, Acordo do Trigo Brasil/Canadá - 1976, entre alguns.

Em 1977, a ACARESC (atual Epagri), empresa vinculada à Secretaria

da Agricultura, responsável pela execução do Programa de Extensão Rural no

Estado de Santa Catarina, elaborou as “Diretrizes para o Trabalho em

Conservação do Solo”, tendo como justificativa, segundo SIMON (1993), que

os trabalhos em conservação do solo até então não passavam de atividades

secundárias que acompanhavam os trabalhos de fomento à produção.

Como estratégia de ação, o Estado apregoava a difusão de técnicas

conservacionistas a todos os agricultores atendidos pela extensão rural, com

Page 33: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

20

uma forte ação educacional, visando enfrentar a erosão dos solos através de

uma maior conscientização das comunidades rurais para o problema.

Além disso, outros programas, dentro dessa mesma visão, foram

concebidos: Programa Estadual de Conservação do Solo e Água, Plano de

Ação para o Combate à Erosão, Programa Estadual de Melhoramento e

Conservação do Solo.

O programa mais recente é o Projeto de Recuperação, Conservação e

Manejo dos Recursos Naturais em Microbacias Hidrográficas - Projeto

Microbacias, que teve como objetivos recuperar e conservar a capacidade

produtiva dos solos e controlar a poluição, buscando alcançar o incremento

sustentável da produtividade das culturas, da produtividade do trabalho do

agricultor e, em conseqüência, da sua renda líquida.

Mesmo com todos estes programas, a efetividade no controle da

erosão ainda não foi alcançada. Alguns deles obtiveram maiores alcances que

outros, mas mesmo assim os resultados conseguidos em grande parte não

foram duradouros.

De acordo com diagnóstico realizado pela Secretaria da Agricultura de

Santa Catarina, por ocasião da elaboração do Programa de Conservação e

Manejo Integrado do Solo e da Água (PCMISA) em 1986, os principais fatores

que impediram que programas anteriores obtivessem sucesso, no âmbito da

conservação do solo, estariam associados aos seguintes aspectos: ao

entendimento de que a conservação dos recursos naturais constituía um

problema específico e não um processo que afeta todos os setores e que,

portanto, a todos caberia levá-lo em conta; à percepção de que não era

possível integrar a conservação do solo e o desenvolvimento; à adoção de

processos que enfocam interesses restritos e imediatos em lugar de outros

mais amplos e de maiores prazos; e a ausência de políticas de

desenvolvimento embasadas na preservação dos recursos naturais em áreas

onde tais ações são necessariamente importantes.

Outro aspecto levantado diz respeito à falta de instrumentos de apoio

para as ações conservacionistas devido a uma pressuposta falta de

consciência de seus benefícios e da responsabilidade difusa dos que utilizam

os recursos naturais, aí incluído o Governo.

Page 34: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

21

Com relação a essa percepção dos responsáveis pelo diagnóstico,

percebe-se claramente a visão reducionista dos programas concebidos. Pelo

número de programas desenvolvidos até então (1986), como poderia haver

tanta falta de consciência dos benefícios que a conservação do solo

proporciona? A questão era realmente a falta de consciência?

Como não se admitir que a questão central parece estar em outros

aspectos? Entre esses, pode-se citar os ligados à forma de elaboração dos

programas, da metodologia utilizada na difusão das práticas e na abrangência

das ações preconizadas.

Quanto a elaboração, quase sempre fruto de políticas governamentais

concebidas sem uma “competente” percepção, análise e interpretação por

parte dos planejadores da complexidade do problema erosão, que era

associado basicamente a um processo físico, buscando essencialmente o

controle das conseqüências. A abordagem não envolvia uma visão sistêmica,

especialmente quanto as causas e, muito menos, do envolvimento e

reconhecimento do ser humano como parte do processo. Desta forma, os

programas eram dessincronizados das reais necessidades e aspirações dos

agricultores e, acima de tudo, da compreensão da complexidade do problema

erosão, em que o ser humano era encarado apenas como um espectador.

Segundo D’AGOSTINI (1995), não basta conhecer o objeto, mas

principalmente compreender as propriedades de suas interfaces com o meio,

do qual somos parte; o campo de interesse já não é caracterizado por

demarcações de conteúdo, mas pelas relações entre esses, as dimensões não

mais se referem à forma, mas principalmente ao processo; (...).

Com respeito à metodologia, que era utilizada para difundir as práticas

previstas, valorizava sobremaneira a concepção dos técnicos, notadamente

conservacionista, em detrimento à visão que o agricultor tem sobre as questões

relacionadas com a conservação dos solos.

Por outro lado, a abrangência das ações propostas era por demasiado

restrita, visto que se limitava às áreas de lavoura e a práticas isoladas. As

práticas concebidas para atacar o problema da erosão não compreendiam uma

visão sistêmica, desconsiderando, assim, que os fenômenos climáticos não

tem ação restrita, o que normalmente implica uma necessária integração de

Page 35: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

22

efeitos de práticas. O que acontecia era a difusão de práticas individualizadas e

não um sistema completo de manejo dos solos, que prevê a interação de um

conjunto de práticas, adequadas para cada situação particular.

Percebe-se claramente que a baixa efetividade dos programas de

conservação do solo desenvolvidos sempre foi creditada a problemas

estruturais, de conscientização e metodológicos. A preocupação maior sempre

foi com os resultados quantitativos, em termos de área conservada.

Era proposta uma metodologia que previa obter estes indicadores, que

tinha como fundamentação a difusão pura das práticas conservacionistas.

Como os resultados eram cobrados dos executores no âmbito do município, os

extensionistas rurais, sobre os quais era exercida uma forte supervisão, de

cujos resultados era feita sua avaliação de desempenho, partiam em busca de

resultados, não se preocupando com a forma pela qual iriam obtê-los. Para

isso, os extensionistas muitas vezes se valiam de artifícios, no seu

entendimento eficazes e válidos, como os de privilegiar a assistência aos

produtores mais receptivos a inovações. Isso levava a que todos os programas

beneficiassem praticamente sempre os mesmos produtores, que se

concentravam numa faixa de público relativamente pequena. Desta forma, uma

parte expressiva dos produtores rurais não tinha acesso às inovações,

tornando-se excluídos do processo. O resultado, então, era de que a

abrangência dos programas se restringia à área daquelas propriedades que

recebiam assistência, que basicamente era a mesma de programas anteriores.

Outro fator de forte influência nos resultados era a metodologia usada.

Por se concentrar demasiadamente em práticas isoladas, tanto os

extensionistas como os produtores não tinham visão sistêmica do processo

erosivo. Com isso, os resultados não eram eficazes, resultando, muitas vezes,

no abandono das práticas.

Para a difusão das práticas era essencialmente usado o modelo

difusionista de Rogers, que consiste, conforme já descrito, em três

componentes: antecedentes, processo e conseqüências, sendo que o

processo, por sua vez, é composto de quatro estágios: conhecimento,

conscientização, decisão e confirmação.

Page 36: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

23

A ação extensionista encontrou inúmeras dificuldades como processo,

especialmente pela falta da percepção de que os estágios nem sempre serem

distintos e discretos no processo de adoção, nem serem seguidos por todas as

pessoas em seu processo de tomada de decisão ou mesmo não serem os mais

apropriados, representando tão somente uma maneira de descrever uma

seqüência relativamente contínua de ações, acontecimentos e influências, que

intervém entre o conhecimento inicial sobre a inovação e sua real adoção.

Emergem, assim, relações que permitem se levantar a questão de que

a não adoção das práticas de conservação do solo, preconizadas pelos

técnicos, se dá porque aquelas práticas não representam, em seu conteúdo, ou

não atendem na forma como operam, as prioridades do produtor.

Pelos estágios do processo de decisão individual, no que tange a

conservação do solo, tendo em vista o grande número de programas nesta

área já executados, pode-se inferir que a maior parte dos agricultores já tem o

“conhecimento” do processo erosivo. De uma forma ou de outra, não se pode

certamente refutar que o produtor, ao menos em parte, tenha conhecimento da

ocorrência da erosão, se não em sua propriedade, ao menos nas áreas

adjacentes. Com as informações que possui, o agricultor normalmente tem

condições técnicas de tomar uma decisão sobre a implantação ou não das

práticas. Onde, então, reside a falha no processo que levou produtores a não

adotarem a conservação do solo na escala desejável? E o que motivou os que

adotaram? O que certamente carece de maior atenção é a questão referente a

“conscientização” com respeito a todas as implicações e relações envolvidas

no processo erosivo e suas conseqüências.

Segundo D’AGOSTINI (1995), para controlar certos processos em que

o homem participa de alguma forma, não basta conhecer os procedimentos

tecnicamente mais eficazes, e muito menos aqueles suficientes. O controle da

erosão não é um fim, mas um meio, quando não uma mera e eventual

conveniência, na operacionalização de outras ações de interesse. Significa

dizer, que as dificuldades em controlar a erosão vão muito além do saber fazer

com eficácia técnica.

A ação humana nunca é isenta de critérios e, assim, a real importância

de controlar a erosão resulta ajustada a uma escala de prioridades,

Page 37: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

24

determinada por complexas relações de valores, que não necessariamente

precisam ser compreendidas para que possamos reconhecer a medida

tecnicamente mais eficaz no controle da erosão. Porém, sem compreender a

significação dessas relações, não compreenderemos porque em muitos casos

não implementamos o que já sabemos ser eficaz.

A questão, dessa forma, transcende a questões de ordem técnica,

tendo em vista que as práticas de manejo do solo objetivando o controle da

erosão e a manutenção de sua capacidade produtiva são amplamente

conhecidas e apresentam-se possíveis em uma variada forma.

A proposta do presente trabalho, tomando por base os quatro estágios

(conhecimento, conscientização, decisão e confirmação), está em verificar e

procurar entender a lógica do processo decisório do agricultor em cada um dos

estágios, com o pressuposto de que a tomada de decisões se dá a partir de

uma lógica baseada em componentes de ordem econômica, operacional e

ambiental. Cada um destes componentes será analisado individualmente mais

adiante, em capítulo específico, em que serão discutidas as implicações de

cada um no processo de tomada de decisão visando a adoção de práticas de

conservação do solo.

Assim, procuramos identificar quais destes fatores são preponderantes

quando o agricultor adota ou rejeita as práticas de conservação do solo

propostas.

Page 38: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

25

3. O PROCESSO DECISÓRIO

Há um conflito que persiste enquanto o ser humano se defronta com

múltiplas opções para tomar uma decisão acerca de um comportamento que

deverá ter sobre determinada questão. Segundo D’AGOSTINI et al. (1994), no

complexo sistema de relações de valores que determinam a destinação de uso

e manejo do solo agrícola por parte do produtor, os critérios12 vão do

edafológico ao financeiro, passando inclusive pelo grau de comodidade

ergonométrica do esforço muscular.

A influência dos valores sociais são determinantes da atitude e uma

das mais fortes motrizes da evolução das culturas. A predisposição para agir

de acordo com certa dinâmica dos valores sociais manifesta-se de diferentes

modos, tomando como ponto de partida as atitudes mentais que refletem as

formas de pensar e de se sentir susceptível a determinada ação. Como as

atitudes mentais não se igualam em todos os grupos ou estratos de uma

sociedade diversificada, o que vem à superfície são as atitudes sociais, que

desempenham funções específicas para cada um de nós, ajudando-nos a

formar uma idéia mais estável da realidade em que vivemos.

De acordo com CEPAL (1982), os valores e conceitos sociais

preestabelecidos são frutos e condicionantes do que, em termos gerais, se

denomina cultura. Assim, estes valores podem ser expontâneos, impostos ou

induzidos à sociedade, condicionando sua conduta. Por outro lado, se o

desenvolvimento destes valores é fruto da expressão intrínseca do grupo,

determina, mais freqüentemente, a cultura que a comunidade quer

desenvolver. Numa comunidade combinam-se, em maior ou menor grau,

ambas as situações.

O homem age, normalmente, de acordo com os valores vigentes. Este

comportamento envolve componentes dos mais variados significados e

origens.

O comportamento do produtor tem por base a conjugação de uma série

de fatores, os quais deve considerar em suas decisões. Estes fatores dizem

12 Critério: o que serve de norma para julgamento ou apreciação. Modo de apreciar. Princípio que

permite distinguir o erro da verdade.

Page 39: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

26

respeito à sua condição e aos objetivos pelos quais desenvolve suas

atividades. Assim, certamente um produtor que tem por objetivo basicamente a

subsistência de sua família, terá como base de suas decisões fatores bastante

distintos daqueles de um produtor que tem por objetivo obter altas taxas de

retorno do capital investido.

O mesmo pode ser dito a respeito dos fatores que determinam o

comportamento do produtor frente a adoção ou rejeição de práticas de

conservação do solo. Uma gama extremamente variada de fatores está

implicada neste seu comportamento, mas para o presente estudo nos ateremos

aos componentes de ordem econômica, operacional e ambiental.

3.1. Fatores de ordem econômica

Para CEPAL (1982), a incerteza a que estão sujeitos os ganhos que

podem derivar das opções de aplicação do capital são incorporadas pelo

produtor no processo de tomada de decisões como funções de probabilidade

que lhe impulsionam a buscar, pelo menos, uma certa proporcionalidade entre

o ganho e o risco. No caso do produtor de subsistência, sua vulnerabilidade

aos efeitos de um resultado adverso é tão extrema que sua conduta é guiada

por uma espécie de "algoritmo de sobrevivência", que o leva a evitar os riscos

quaisquer que sejam os ganhos potenciais que se derivariam de correr estes

riscos (CEPAL, 1982).

A forma como os riscos são internalizados e pelas incertezas, da mais

variada ordem, enfrentadas pela atividade agrícola, são alguns dos fatores de

que se pode valer para procurar explicar a relutância do produtor em não

querer modificar seus métodos de cultivo, mesmo que as alternativas possam

vir a proporcionar ganhos adicionais. Para que o produtor venha a efetuar

mudanças no sistema produtivo, principalmente pela adoção de práticas até

então rejeitadas, é necessário que as novas tecnologias representem a

possibilidade de proporcionarem uma redução nos riscos a que a agricultura

está sujeita. A proposição de novas metodologias deve estar revestida de

significados claramente identificáveis pelo produtor, no sentido de que ele

possa ter segurança de que as alterações introduzidas em seu sistema

Page 40: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

27

produtivo, através da adoção de novas práticas, venham a lhe proporcionar

ganhos adicionais.

A maior parte das ações humanas parece ser comandada por

interesses de caráter econômico, principalmente se este manifestar evidência

real de proporcionar diminuição nos riscos a que as ações estão sujeitas e

aumento nos ganhos advindos dessas ações.

Para SCHULTZ (1965), o comportamento dos agricultores é governado

por uma racionalidade segundo a qual eles se orientam com o objetivo de

maximizar seus lucros e minimizar seus custos na exploração dos recursos

disponíveis. No caso da agricultura, e mais especificamente da pequena

propriedade, que é a base da estrutura fundiária de Santa Catarina, em que o

caráter de subsistência se manifesta mais intensivamente, o produtor procede

de forma a não colocar em risco a segurança de sua família. Com isso, pelas

particularidades próprias da agricultura, a decisão de introduzir novas

tecnologias embute conceitos nem sempre percebidos pelos técnicos, sejam

planejadores ou executores. Assim, a argumentação para motivação do

produtor para a adoção de novas tecnologias deve estar revestida de

significados que estejam em consonância com sua lógica comportamental.

No processo de tomada de decisões objetivando introduzir novas

práticas em seu sistema produtivo, o agricultor considera os seguintes

aspectos, entre outros e não obrigatoriamente nesta ordem, dentre os fatores

de caráter econômico:

aumento na renda;

aumento nos custos de produção;

diminuição nos custos de produção e;

aumento na produtividade.

Quanto ao aumento da renda, este é o fator de que os técnicos mais se

valem para procurar mostrar aos produtores os benefícios econômicos

resultantes caso venham a adotar as tecnologias que estejam propondo. Mas

ele por si só tem pouca significação, pois para que tal situação ocorra pode

haver a necessidade de aumento no aporte de recursos financeiros, implicando

que no final do processo as taxas de retorno sejam menores, ou seja, o

Page 41: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

28

produtor necessitou investir maiores volumes de recursos para obter menores

rendimentos líquidos.

Tendo em vista a situação em que se encontra o produtor com relação

à descapitalização e à pouca disponibilidade de recursos, a possibilidade de

redução nos custos de produção, mesmo que isto venha a ocorrer no longo

prazo, é uma das questões que mais explicitamente pode provocar mudanças

no comportamento decisório, especialmente se a redução nos custos de

produção estiver aliada à possibilidade de proporcionar ganhos adicionais de

produtividade e, conseqüentemente, de renda. Isso pode ser claramente

compreensível, pois essa condição diminui as taxas de risco a que o produtor

está sujeito. O aumento da produtividade como fator motivador desperta

interesse no produtor na medida em que ele consiga vislumbrar aumentos nos

rendimentos finais, especialmente se este fator for obtido com uma diminuição

nos custos de produção.

Para SCHULTZ (1965) em sua obra Transformação da Agricultura

Tradicional, no que se refere a sua racionalidade econômica, as propriedades

familiares, e neste conceito se enquadram praticamente todas aqueles que

constituem o universo de estudo e obtenção de informações para o presente

trabalho, a exemplo da maioria das propriedades rurais de Santa Catarina,

operam em moldes tais que nada as diferenciam de uma empresa. É

perfeitamente legítimo que abstraia-se todo o conteúdo cultural e até

psicológico envolvendo a ação dos indivíduos: seu resultado traduz a conduta

maximizadora de lucros. O agricultor não só é capaz de utilizar seus insumos

de maneira a obter a maior quantidade possível de produto, mas, mais que

isso, essa operação leva em conta o nível relativo dos preços, de maneira a

minimizar os custos e ou maximizar os resultados da produção. Isso quer dizer

que o agricultor comporta-se de maneira eficiente não só do ponto de vista

técnico, mas também alocativo. Já LIPTON (1968), citado por ABRAMOVAY

(1992), vê na lógica econômica do agricultor o contrário do que é entendido por

Schultz: não há busca do lucro, mas há aversão ao risco. Neste sentido, é claro

que os agricultores não optam por maximizar seus lucros em situações em que

ganhos adicionais seriam eventualmente possíveis, se houver em torno destes

Page 42: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

29

ganhos adicionais um risco de perdas que impliquem uma ameaça de redução

da produção aquém da subsistência.

3.2. Fatores de ordem operacional

Para CALDAS (1964), tem-se como certo que o fator humano, com sua

psicologia e natureza própria, constitui fator decisivo capaz de impedir ou de

facilitar a propagação das soluções encontradas.

De acordo com FRANKLIN (1968) apud CEPAL (1982), o objetivos do

produtor, especialmente no caso das propriedades familiares, como é o caso

da maioria da propriedades em Santa Catarina, são, em primeiro lugar, de

caráter familiar, aí incluídas as questões inerentes ao trabalho dos membros da

família, e secundariamente econômicos, visto que seu propósito é maximizar a

força de trabalho mais do que o lucro ou outro indicador de eficiência. De

acordo com SILVA (1981), existe uma estreita vinculação entre a relação de

trabalho e o nível de tecnologia utilizado nas propriedades agrícolas.

ABRAMOVAY (1992), analisando estudos desenvolvidos por

CHAYANOV (1926/1985), assinala que não é o estudo de sua inserção na

divisão social do trabalho e o papel que aí ele desempenha que explicam o

comportamento do agricultor: ao contrário, é pelo estudo de seu

comportamento que se pode compreender a maneira como ele se insere

socialmente. Em outras palavras, o mercado, a disponibilidade de terras e o

padrão tecnológico disponível são fatores dos quais ele se serve na montagem

de seu objetivo econômico fundamental, mas não explicam por si só este

objetivo e, portanto, a conduta do agricultor.

ABRAMOVAY (1992) vai além: a lei básica de existência camponesa

pode ser resumida na expressão "balanço entre trabalho e consumo", que de

acordo com CHAYANOV (1925/1986: 271-277) é definida como "o cálculo, não

necessariamente explícito ou consciente, que estabelece o equilíbrio

econômico básico entre a penosidade do trabalho e a satisfação econômica. O

objetivo econômico principal é organizar o ano de trabalho para atender a

demanda da família, até mesmo o desejo de poupar ou investir capital, se

possível". O importante é que tanto a satisfação das necessidades de

Page 43: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

30

consumo, como o julgamento sobre a penosidade do trabalho de atingi-la são

de natureza estritamente subjetiva. O valor que a família atribui a seu esforço -

e que explica o volume da atividade econômica - depende da estimativa que é

feita do trabalho, relativamente à satisfação das necessidades de consumo. Em

outras palavras, trata-se de determinar a utilidade marginal da renda obtida,

relativamente às necessidades de consumo, pois é isso que permite

“estabelecer a natureza da motivação da atividade econômica da família

camponesa (CHAYANOV, 1925/1986 apud ABRAMOVAY)”.

Ainda de acordo com ABRAMOVAY (1992), o que determina o

comportamento do agricultor não é o interesse de cada um dos indivíduos que

compõem a família, mas sim as necessidades decorrentes da reprodução do

conjunto familiar. Para ele, a intensidade do trabalho agrícola não é

determinada por sua relação com outros setores, mas fundamentalmente pela

razão entre a penosidade dos esforços empreendidos, relativamente à

satisfação de suas necessidades. É da relação entre a penosidade do trabalho

e a satisfação das necessidades que vai depender a escolha da família com

relação a comercialização de sua produção, ao uso de financiamentos ou ao

uso de insumos de origem industrial. A aplicação de capital não depende

apenas do fato de que esse capital pode reduzir a penosidade do trabalho, mas

sobretudo dos impactos que os gastos de investimentos terão sobre o consumo

familiar e dos usos alternativos da capacidade de trabalho poupada. Se o

investimento de capital significar gasto de dinheiro visando a redução de

esforços sem que isso se traduza num aumento da renda bruta familiar, ou de

maneira a provocar uma ociosidade do trabalho, cuja utilização teria a virtude

igualmente de aumentar a renda bruta, mesmo sem provocar gastos com

compra de equipamentos, o investimento não será feito.

Na concepção de SCHULTZ (1965), segundo ABRAMOVAY (1992),

plantar mais, por exemplo, é uma decisão que leva em conta

fundamentalmente a produtividade marginal dos fatores: o investimento no

trabalho é feito com base na melhor combinação possível dos fatores, de forma

que um trabalho adicional e que represente esforço com retorno insuficiente

não será realizado; da mesma forma, é impensável que o agricultor deixe de

esforçar-se para alcançar a situação ótima que, no quadro dos recursos por ele

Page 44: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

31

disponíveis, pode atingir. Num momento em que não eram poucas as teses

que atribuíam a pobreza à preguiça ou à ignorância, Schultz aponta para um

comportamento absolutamente racional.

A mesma linha de raciocínio pode ser utilizada com relação à adoção

de práticas de conservação do solo. Estas somente serão aceitas pelos

produtores à medida em que proporcionarem conforto em suas atividades,

redução no esforço despendido, bem como possibilitarem ganhos adicionais de

renda. Nenhuma prática, por mais eficaz que possa ser no controle do

processo erosivo, será adotada somente por essa eficácia. O agricultor deverá

perceber nelas, as práticas conservacionistas, vantagens além daquelas

ocasionadas pelo objetivo com que foram implantadas, ou seja, além de

controlarem a erosão, precisarão implicar, mesmo que subjetivamente,

vantagens econômicas, operacionais, entre outras.

3.3. Fatores de ordem ambiental

De acordo com D’AGOSTINI (1995), a preservação do meio vem

adquirindo uma importância crescente no sistema de relações que determinam

o comportamento humano. Contudo, segundo ele, o preservacionismo não é o

único e, por enquanto, nem o mais determinante critério na objetivação de

valores que inspiram e movem o homem no uso do solo agrícola.

Os fatores relacionados com a preservação das características do meio

no qual o agricultor desenvolve suas atividades tornam-se cada vez mais

relevantes no processo de tomada de decisões. Isso, para REIJNTJES et al.

(1994), se deve principalmente a uma crescente consciência do impacto das

ações que provocam danos ao meio por parte do produtores, bem como à

mudanças das preocupações e das ações dos Governos, das Organizações

não Governamentais e das pessoas, mais voltadas agora para um

desenvolvimento sustentável, com iniciativas que visam desenvolver políticas e

tecnologias que promovam a sustentabilidade agrícola.

Os problemas ambientais são devidos, na maior parte, à exploração

excessiva e inadequada do solo, à ampliação, sem os cuidados devidos, das

áreas cultivadas, ao uso excessivo e indiscriminado de insumos químico-

Page 45: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

32

sintéticos, principalmente pesticidas e fertilizantes, para citarmos apenas

alguns. Com isso, os solos estão apresentando uma degradação em sua

fertilidade, áreas irrigadas encontram-se com sérios problemas de salinização,

áreas significativas apresentam problemas de poluição e contaminação por

resíduos dos produtos químicos utilizados, além de várias regiões

apresentarem-se com sérios problemas com relação à água, seja pela sua

escassez ou poluição, tornando-a inviável para o uso.

Em função disso, os produtores passam a considerar os fatores de

ordem ambiental como sendo cada vez mais significativos. A valorização de

aspectos mais sustentáveis de produção, que procuram respeitar os

fenômenos naturais, como a produção de matéria orgânica, a ciclagem de

nutrientes, a criação de reservatório de nutrientes no solo, a proteção natural

contra pragas e doenças e o controle da erosão (REIJNTJES et al., 1994),

estão passando a fazer parte dos sistemas de manejo das culturas, como

forma de proporcionar a continuidade e a estabilidade da produção e da própria

atividade agrícola. Com isso, as relações de produção estão se modificando,

deixando a agricultura de ser somente uma atividade exploratória e extrativista

e o solo visto como mero suporte para as plantas, para se tornar uma relação

de troca, em que o solo responde com produções mais estáveis, de melhor

qualidade e contínuas na mesma proporção que o produtor procura respeitar a

ordem natural dos processos que nele ocorrem.

Dessa forma, as características e implicações ambientais envolvidas no

processo decisório tornam-se cada vez mais valorizadas e observadas, com

sua importância devida tendo significação nas atitudes dos produtores.

Page 46: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

33

4. ÁREA DE ESTUDO

O presente trabalho teve como base geográfica a região do Alto Vale

do Itajaí, integrante da Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí-Açú, Estado de Santa

Catarina (Figura 1).

A seleção da região do Alto Vale do Itajaí foi feita considerando-se os

seguintes aspectos:

1. localização geográfica: relativa proximidade com Florianópolis, o que

permitiu maior agilidade na realização das entrevistas com os produtores e

a coleta dos demais dados de campo necessários;

2. desde 1984 ter participado das primeiras experiências na utilização da

microbacia hidrográfica como unidade de planejamento desenvolvidas no

Estado, ter participado do Programa Nacional de Microbacias Hidrográficas

(PNMH), que se iniciou em 1987 e, a partir de 1991, estar participando do

Projeto de Recuperação, Conservação e Manejo dos Recursos Naturais em

Microbacias Hidrográficas - Projeto Microbacias/BIRD, o que permite supor

uma maior intensidade das ações dos técnicos com relação a difusão de

práticas de conservação do solo, em praticamente todos os municípios da

região; e

3. dados do Relatório de Atividades do Projeto Microbacias/BIRD, atestam que

são desenvolvidas e aplicadas nas microbacias da região práticas de

conservação do solo como cobertura vegetal, práticas mecânicas (terraço,

cordões de contorno) e práticas de preparo conservacionista (plantio direto,

cultivo mínimo e preparo reduzido).

4.1. Breve Histórico da Região

A colonização do território catarinense processava-se, no curso do

século XVIII, em direções paralelas, pelo Litoral e Planalto, sem ligação entre

elas. No Litoral, os estabelecimentos vicentistas e açorianos haviam distribuído

a população entre si, que se comunicava por mar ou por caminhos em que, não

Page 47: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

34

raro, o mar completava a estrada. A Oeste, a Serra do Mar se erguia como

uma barreira.

As dificuldades de vencer a escarpa do planalto obrigava o uso da

estrada para Tubarão, no Sul do Estado, construída em 1771. Necessidades

militares de defesa do Desterro (atual Florianópolis), levaram as autoridades a

procurar uma ligação direta com Lages, vencendo a Serra do Mar e, após, a

Serra Geral, disseminando a população ao longo dessa estrada (atual BR-282).

O estabelecimento dos imigrantes alemães, que iniciaram a Colônia

Blumenau em 1850, aumentou o povoamento do Litoral ao norte da Capital da

Província. Com o desenvolvimento desta, se fez sentir a necessidade de novas

comunicações com o Planalto.

Em 1863, o engenheiro Emílio Odebrecht, da Colônia Blumenau, subiu

o Rio Itajaí Açu até a confluência dos rios Itajaí do Sul e Itajaí do Oeste. Essa

primeira expedição não produziu nenhum fruto além do conhecimento do

território.

No ano seguinte, o mesmo engenheiro, tendo feito uma expedição a

Lages e Curitibanos, obteve os elementos necessários para proceder a

exploração de um “picadão” que ligasse Blumenau a Curitibanos. Somente em

1867 Emílio Odebrecht tornou a passar pelo território de Rio do Sul, deixando a

“picada” que durante muitos anos foi a única ligação de Blumenau com o

Planalto.

A história da penetração dos colonos de Blumenau confunde-se com a

das estradas de rodagem atuais. A estrada que, de Blumenau, subia o Itajaí

Açu, alcançou Lontras em 1894 (atual BR-470). As outras correntes de

povoamento surgiram em 1910, com a construção da estrada de Barracão

(atual Alfredo Wagner), pelo vale do Rio Itajaí do Sul, e em 1919 e 1921 com

as estradas de Lages e Taió.

Nessa época, ofereciam mais probabilidades de se tornarem cidades

os povoados que se formaram nas barras dos rios Lontras e Matador do que na

união dos braços dos rios Itajaí do Sul e do Oeste.

Toda a região era uma parte da vasta zona agrícola do distrito de

Indaial, não havendo qualquer traço de urbanização.

Page 48: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

35

A partir de 1920, com a contratação de numerosas rodovias e a

concessão de terras devolutas para colonização por parte do Governo do

Estado, houve significativo aumento da população; atraídos pelo trabalho, os

colonos de origem italiana do Sul do Estado motivaram-se em se estabelecer

em núcleos.

Nos anos 30, com a implantação da Estrada de Ferro Santa Catarina,

serrarias foram estabelecidas, consolidando o ciclo madeireiro, dando origem a

um novo tipo de povoação, nascida do desenvolvimento do comércio e da

indústria. Bela Aliança, vivendo do comércio mantido pelos colonos, impôs-se

às demais localidades da região, por ser o centro de abastecimento de uma

zona mais povoada, cuja população se estabelecera às margens dos três rios

ali existentes: Trombudo, Itajaí do Sul e Itajaí do Oeste.

A nova situação política, pela promoção de Bela Aliança a sede do

município, com o nome de Rio do Sul, acabou por alterar-lhe a estrutura, que

deixou de ter o mesmo quadro apresentado pelos povoados e vilas, para

tornar-se a cidade pólo da região, que hoje congrega todos os municípios da

região denominada Alto Vale do Itajaí (FECAM/AMAVI, 1992).

4.2. Situação Geral da região do Alto Vale do Itajaí

A região do Alto Vale do Itajaí situa-se entre os paralelos 26º34'

(latitude norte) e 27º41' (latitude sul); 49º28' (longitude leste) e 50º26' (longitude

oeste) (Figura 1). Possui uma área de 6.837 km2, compreendendo 7,17% da

área do Estado de Santa Catarina (FECAM/AMAVI, 1992), agrupados em

24.626 propriedades agrícolas. Conforme é apresentado na Tabela 3, percebe-

se a predominância de pequenas propriedades, sendo que 60,63% possuem

área inferior a 20 hectares, ocupando somente 38,02% da área agrícola total.

A população da região é de 224.361 habitantes, dos quais 112.024

(49,93%) habitam o meio urbano e 112.337 (50,07%) o meio rural (IBGE,

1991).

Segundo Köeppen, o clima da região classifica-se parte como

mesotérmico úmido, sem estação seca, com verões quentes (clima Cfa), nas

áreas de cotas altimétricas inferiores a 700 metros, e parte como Cfb

Page 49: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

36

(mesotérmico úmido com verão ameno), nas áreas de cotas altimétricas

superiores a 700 metros, apresentando temperatura média anual de 18ºC e

taxa de precipitação anual variando de 1.600 a 1.800 mm. A Tabela 4

apresenta os dados de temperatura e precipitação referentes a Estação

Agroclimática da Epagri de Ituporanga (latitude 27º22' S; longitude 49º35' W;

altitude 475 metros) e do Posto Pluviométrico de Salto Grande, Ituporanga

(latitude 21º24'S; longitude 49º36'W; altitude de 370 metros).

O sistema de drenagem da vertente do Atlântico compreende uma área

de aproximadamente 35.298 km2, ou seja, 37% da área total do Estado, onde

se destaca a Bacia do Itajaí com aproximadamente 15.500 km2. Essa bacia

conta com três grandes tributários (Rio Itajaí do Norte ou Hercílio, Rio Itajaí do

Oeste e Rio Itajaí do Sul), e possui, ainda, um grande afluente, o Rio Itajaí

Mirim, sendo a maior bacia inteiramente catarinense. A região do Alto Vale do

Itajaí compreende em torno de 44% dessa bacia.

O relevo que constitui essa unidade geomorfológica apresenta grandes

variações altimétricas. As maiores cotas estão no sudeste da área e

correspondem aos topos da Serra da Boa Vista, que atingem 1.220 metros. A

leste dessa Serra, as cotas decaem e, assim, no limite do Planalto de Lages

tem-se cotas em torno de 700 metros. As menores altitudes estão nos vales

dos rios, como por exemplo na cidade de Rio do Sul, às margens do Rio Itajaí

do Sul, que está a 350 metros de altitude. Também é grande o desnível entre

os interflúvios (900m) e a calha do Rio Itajaí do Norte (400m).

No que diz respeito aos solos, existe uma grande diversidade na

região, sendo que os predominantes são:

a) gley: solos álicos e distróficos, relevo plano, necessitam de drenagem para

uso agrícola, pouco profundos, bom potencial para a cultura do arroz

irrigado; e

b) cambissolos: álicos e distróficos, predominam em relevo ondulado e forte

ondulado

Quanto a distribuição dos estabelecimentos agrícolas por área de

lavoura, constata-se a predominância das pequenas unidades de produção,

pois 83,08%, ou 18.621 propriedades cultivam áreas inferiores a 10 hectares,

conforme é mostrado na Tabela 5.

Page 50: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

37

No tocante a utilização das terras agrícolas da região, as áreas com

lavouras ocupam 37,37%, as pastagens 31,51%, as matas e florestas naturais

e plantadas 25,53%, sendo que 5,59% da área não é utilizada, demonstrando

uma larga utilização dos solos para as atividades agropecuárias (Tabela 6).

A região do Alto Vale do Itajaí tem na agropecuária uma das suas

principais atividades econômicas, destacando-se as culturas do fumo, milho,

cebola, mandioca e arroz irrigado como as mais representativas, assim com a

produção de leite (Tabelas 7 e 8)

Quanto a condição de posse da terra, a região apresenta 69,99% dos

produtores como proprietários, que ocupam 84,96% da área total; 7,17% de

arrendatários, com 4,09% da área; 10,18% classificados como parceiros com

4,30% da área e 12,66% ocupantes com 6,65% da área (Tabela 9).

No que diz respeito a conservação dos solos, conforme diagnóstico

realizado pela Epagri (1996c), a região apresenta um quadro bastante

preocupante, tendo em vista caracterizar-se por apresentar uma topografia

muito acidentada. Associado a essa condição, os tipos de solos predominantes

são, na sua maioria, originários de rochas sedimentares, bastante suscetíveis a

erosão. Cultivos expressivos como os de cebola e mandioca, pelo fato de

serem culturas que proporcionam baixos índices de cobertura do solo,

potencializam os problemas de erosão e conseqüente degradação do solo.

O uso intensivo do solo, aliado ao manejo inadequado que foi e ainda

continua sendo praticado nos sistemas convencionais, tem ocasionado sérios

danos à capacidade produtiva dos solos. Em grandes áreas já se perderam,

principalmente pela erosão, mais de 15cm da camada de solo (horizonte A). O

problema da formação de camadas compactadas do solo13 é generalizado em

toda a região, tendo, com isso, alterações significativas na estrutura física dos

solos.

Além da destruição da estrutura física do solo, os níveis de matéria

orgânica tem diminuído expressivamente, chegando a índices críticos, abaixo

de 1%, o que praticamente inviabiliza o uso desses solos para a agricultura.

13 Camadas compactadas do solo: camadas internas do solo, adensadas, que se formam pela ação

compactadora de máquinas e implementos agrícolas, especialmente quando o solo é cultivado em

condições não adequadas de umidade, afetando a livre circulação de ar e água e impedindo o

desenvolvimento normal das raízes das plantas.

Page 51: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

38

O sistema de cultivo dos solos, por tradição, implica em seu

revolvimento, preparo do leito para semeadura e manutenção das culturas

livres de qualquer concorrência de outras plantas. Esse sistema de cultivo,

denominado convencional, leva ao uso de máquinas e equipamentos pesados,

com inúmeras operações, além de ser altamente dependente de insumos

químicos industriais.

Este quadro tem se refletido na queda gradual da capacidade produtiva

dos solos da região, implicando no uso cada vez maior de fertilizantes minerais

e corretivos como forma de manter a produtividade das lavouras, porém com

elevação considerável nos custos de produção.

Page 52: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

39

Figura 1. Localização da área de estudo

Page 53: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

40

Tabela 3. Estrutura fundiária da região do Alto Vale do Itajaí - SC - 1996

ÁREA (ha) PROPRIEDADES % * ÁREA % *

0,0 - 9,9 8.207 33,33 33,33 56.583 9,98 9,98

9,9 - 19,9 6.724 27,30 60,63 102.441 18,06 28,04

20,0 - 49,9 7.479 30,37 91,00 209.679 36,98 65,02

50,0 - 99,9 1.138 4,62 95,62 74.890 13,21 78,23

100 - 499,9 1.014 4,12 99,74 71.648 12,63 90,86

> 500,0 64 0,26 100,00 51.840 9,14 100,00

TOTAL 24.626 100,00 - 567.081 100,00 -

Fonte: Epagri - 1996c * Acumulado

Tabela 4. Normais climáticas para a região do Alto Vale do Itajaí - SC

MESES TEMP. MÉDIA

(ºC)

MÉDIA TEMP. MÁXIMA (ºC)

MÉDIA TEMPERATURA

MÍNIMA (ºC)

PRECIPITAÇÃO TOTAL (mm)

PRECIPITAÇÃO MÁXIMA 24 h

(mm)

DIAS DE CHUVA

(n.º)

Jan. 22.6 29.6 18.8 151.4 104.7 12.1

Fev. 22.3 28.9 18.1 157.0 105.5 12.6

Mar. 21.8 28.9 17.4 125.3 67.1 10.9

Abr. 19.4 25.4 15.3 89.4 72.2 7.9

Maio 14.6 20.7 10.8 93.6 91.0 8.2

Jun. 12.3 18.8 8.2 96.3 84.3 8.8

Jul. 11.9 18.8 7.4 11.5.7 119.5 8.7

Ago. 14.1 20.6 9.8 128.7 102.5 9.0

Set. 15.5 21.2 11.9 148.4 72.2 11.3

Out. 18.0 24.1 13.8 135.2 95.7 10.9

Nov. 20.4 27.0 15.7 101.1 56.7 8.6

Dez. 22.1 28.9 17.5 134.7 100.2 10.0

ANO 17.9 33.5 13.7 123.0 - 9.9

TOTAL - - - 1.477 - 119.0

Fonte: Epagri - 1996c

Page 54: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

41

Tabela 5. Número de estabelecimentos por áreas de lavoura - região do Alto Vale do Itajaí - SC - 1985

ÁREA (ha) ESTABELECIMENTOS * % *

< 1,0 765 765 3,41 3,41

1,0 - 2,0 1.291 2.065 5,76 9,17

2,0 - 5,0 7.781 9.837 34,72 43,89

5,0 - 10,0 8.784 18.621 39,19 83,08

10,0 - 20,0 3.284 21.905 14,65 97,73

20,0 - 50,0 487 22.392 2,17 99,90

50,0 - 100,0 21 22.413 0,10 100,00

TOTAL 22.413 - 100,00 -

Fonte: IBGE - Censo Agropecuário 1985 * Acumulado

Tabela 6. Utilização das terras agrícolas no Alto Vale do Itajaí - SC

USO NÚMERO ÁREA * % *

Permanentes 11.620 2.023 0,45

Lavouras Temporárias 22.288 138.208 31,02

Em descanso 6.819 26.293 166.524 5,90 37,37

Pastagens Naturais 16.092 95.440 21,42

Plantadas 5.296 44.973 140.413 10,09 31,51

Matas e Naturais 12.549 100.693 22,60

florestas Plantadas 2.882 13.048 113.741 2,93 25,53

Não utilizadas** - 6.090 24.921 24.921 5,59 5,59

TOTAL - - 445.599 445.599 100,00 100,00

Fonte: IBGE - Censo Agropecuário 1985 * Acumulado ** terras produtivas não utilizadas

Page 55: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

42

Tabela 7. Principais culturas anuais exploradas na região do Alto Vale do Itajaí - SC - Safra 1994/1995

CULTURA ÁREA (ha) PRODUTIVIDADE (ton./ha) TOTAL (ton.)

Arroz Irrigado 8.841 6,76 59.768

Batatinha 3.217 7,58 24.396

Cebola 15.899 9,70 154.325

Feijão Safra 8.344 1.17 9.752

Feijão Safrinha 6.892 0,86 5.906

Fumo 29.567 1,84 54.432

Mandioca 13.289 21,10 280.500

Milho 56.455 3,00 169.395

Fonte: Epagri - 1996c

Tabela 8. Principais criações da região do Alto Vale do Itajaí - SC

CRIAÇÕES CABEÇAS PRODUÇÃO

Abelhas (colméias) 15.843 -

Aves/corte 2.009.000 14.795 ton. carne/ano

Bovinos/corte 136.205 7.369,5 ton. carne/ano

Bovinos/leite 90.400 81.240.000 l. leite/ano

Peixes (ha) 1.053 864 ton. carne/ano

Suínos 188.729 13.701 ton. carne/ano

Fonte: Epagri - 1996c

Tabela 9. Posse da terra na região do Alto Vale do Itajaí - SC - 1985

TIPO NÚMERO % ÁREA %

Proprietários 15.926 69,99 421.815 84,96

Arrendatários 1.632 7,17 20.282 4,09

Parceiros 2.316 10,18 21.340 4,30

Ocupantes 2.881 12,66 33.022 6,65

TOTAL 22.755 100,00 496.459 100,00

Fonte: IBGE - Censo Agropecuário 1985

Page 56: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

43

5. PROCEDIMENTOS 5.1. Premissas básicas

Para a obtenção das informações de campo, que serviram de base

para realização do trabalho, foram considerados os seguintes pressupostos:

a) no desenvolvimento do Projeto Microbacias/BIRD há uma participação, por

adesão direta, de pelo menos 70% dos produtores nela residentes; e

b) apesar da extensão geográfica da região estudada, do elevado número de

microbacias e de propriedades rurais, a amostragem dos produtores rurais

representam significativamente o universo considerado.

5.2. Plano de amostragem

A metodologia descrita a seguir envolve a explanação dos critérios,

técnicas e sistemática operacional, considerando as premissas e limitações

existentes, bem como os objetivos do presente trabalho.

5.2.1. Base de dados

Para determinação das amostras investigadas, tomou-se por base as

seguintes informações:

1. dados relativos à identificação e localização das microbacias trabalhadas,

com a especificação da data de início dos trabalhos e o número de

propriedades nelas contidas;

2. listas com a relação dos produtores que participam do Projeto, em cada

microbacia trabalhada e;

3. lista de todas as microbacias contidas na área de estudo.

Page 57: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

44

5.2.2. Âmbito e população

O espaço geográfico de abrangência do trabalho compreendeu o

conjunto das microbacias e respectivas propriedades rurais contidas nos 12

municípios trabalhados pelo Projeto Microbacias/BIRD na região do Alto Vale

do Itajaí, com início das atividades no ano de 1991. Como universo pesquisado

foi considerado o conjunto de propriedades que tiveram os trabalhos do Projeto

Microbacias/BIRD iniciados no ano de 1991, com continuidade nos anos de

1992 e 1993.

5.2.3. Época e período de referência

As entrevistas com os produtores rurais e com os técnicos

responsáveis pela execução do Projeto Microbacias/BIRD em seus respectivos

municípios, foram realizadas nos meses de agosto e setembro de 1996.

As informações, em sua maioria, são referentes à safra agrícola

1995/96, tendo sido consideradas como unidades de pesquisa as microbacias

e respectivas propriedades que tiveram os trabalhos do Projeto

Microbacias/BIRD iniciados no ano de 1991, com continuidade nos anos de

1992 e 1993.

5.3. Seleção da amostra

A definição das amostras (identificação e localização das propriedades)

foi feita com base nas listas de participantes do Projeto, fornecidas pela

Secretaria Executiva do Projeto Microbacias/BIRD, elaboradas no início dos

trabalhos nas microbacias. As amostras foram determinadas por sorteio, em

procedimento de amostragem sistemática.

Page 58: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

45

5.4. Definição e Operacionalização das Variáveis

Para se alcançar os objetivos propostos no presente trabalho foram

analisadas as seguintes variáveis:

5.4.1. Caracterização das unidades de produção

Para caracterização das propriedades agrícolas foram determinadas as

variáveis a seguir relacionadas:

a) Idade do produtor

b) Disponibilidade de mão-de-obra

foi mensurada através do somatório das Unidades de Trabalho/Homem

(UTH) da propriedade, com base na seguinte escala (SOLDATELLI &

HOLZ, 1994):

IDADE UNIDADE DE TRABALHO/HOMEM (UTH)

10 a 14 anos 0,5

15 a 60 anos 1,0

61 a 65 anos 0,7

> 65 anos 0,4

"UTH - é uma unidade padrão de mão-de-obra que serve para medir a

disponibilidade, bem como para remunerar o fator trabalho de uma

empresa agrícola. Eqüivale ao aporte de trabalho de uma pessoa adulta

em tempo integral, em uma propriedade rural, durante um ano. Uma

Unidade de Trabalho Homem corresponde a um adulto que trabalha 8

horas por dia, durante 300 dias por ano, em uma propriedade rural.

Também é chamada Equivalente Homem" (SOLDATELLI & HOLZ, 1994).

Page 59: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

46

c) Escolaridade do produtor

refere-se a instrução formal recebida, e foi avaliada pelo número de anos

completos de escola cursados pelo produtor:

Não freqüentou a escola : 0

Primário: 1 a 4 anos : ( 1 - 2 - 3 - 4 )

Ginásio: 5 a 8 anos : ( 5 - 6 - 7 - 8 )

Segundo grau: 9 a 11 anos : ( 9 - 10 - 11 )

Terceiro grau: 12 a 16 anos : ( 12 - 13 - 14 - 15 - 16 ).

d) Área da propriedade

mensuração da área total de terras de propriedade do produtor, na área de

abrangência da microbacia.

e) Área explorada com culturas anuais

foram consideradas as áreas efetivamente exploradas com culturas anuais no

ano agrícola de 1995/96.

f) Adoção de Práticas de Conservação do Solo em áreas de lavoura

a adoção de práticas de conservação do solo pelos produtores foi

determinada com base no tipo de práticas implantadas, recomendadas

pelos técnicos do Projeto Microbacias/BIRD (SANTA CATARINA, 1995),

abaixo relacionadas:

A) Práticas de cobertura vegetal do solo - aveia (Avena spp), ervilhaca

(Vicia spp), aveia + ervilhaca , mucuna (Mucuna spp), capim doce

(papuã - Brachiaria plantaginea) e outras;

B) Práticas de preparo conservacionista do solo - plantio direto, cultivo

mínimo e preparo reduzido; e

C) Práticas mecânicas de controle da erosão - terraços, cordões de

contorno - pedra ou vegetais.

Page 60: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

47

De acordo com os critérios abaixo especificados, os produtores

foram enquadrados como ADOTANTES, PARCIALMENTE ADOTANTES

ou NÃO ADOTANTES:

1. ADOTANTES:

enquadram-se neste grupo os produtores que implantam as práticas

conservacionistas consideradas nos grupos A, B e C, as práticas dos

grupos A e B ou somente as práticas do grupo B, tendo em vista que

os adotantes deste grupo também adotam, obrigatoriamente, as

práticas do grupo A.

2. PARCIALMENTE ADOTANTES:

refere-se aos produtores que implantam as práticas de conservação do

solo dos grupos A e/ou C; e

3. NÃO ADOTANTES:

refere-se aos produtores que não implantam práticas de conservação

do solo de acordo com os parâmetros estabelecidos para este trabalho.

O enquadramento dos produtores em um dos grupos anteriores

(Adotantes, Parcialmente Adotantes e Não Adotantes), tem como base

a concepção do Projeto Microbacias/BIRD, segundo a qual, para que

efetivamente se obtenha resultados positivos no controle da erosão, o

produtor deverá realizar um conjunto de práticas, principalmente as que

objetivam manter o solo coberto durante o maior intervalo de tempo

possível, que não envolvam práticas de intenso revolvimento do solo e

que não permitam o escoamento da água sobre o mesmo, tendo em

vista que os maiores danos causados ao solo decorrem da velocidade

das gotas da chuva e da água de escoamento superficial.

Assim, para ser considerado adotante o produtor necessitava

estar efetuando as práticas de cobertura vegetal do solo, práticas de

preparo que mantém a cobertura e não revolvam o solo, bem como

práticas mecânicas que limitam o escoamento da água. No caso de

efetuar cobertura, mas esta for incorporada, estará deixando o solo

descoberto por um período de tempo considerável, não atendendo os

Page 61: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

48

requisitos estabelecidos e ainda estar praticando métodos

convencionais de preparo do solo. No caso de adotar somente práticas

mecânicas, também estará deixando o solo descoberto, igualmente

não se enquadrando como adotante.

g) Nível de instrução dos produtores segundo a percepção dos técnicos responsáveis pela execução do Projeto Microbacias/BIRD

refere-se ao nível de instrução dos produtores de acordo com a percepção dos

técnicos responsáveis pela execução do Projeto Microbacias/BIRD em

cada um dos municípios pesquisados.

h) Nível de renda dos produtores segundo a percepção dos técnicos responsáveis pela execução do Projeto Microbacias/BIRD

refere-se ao nível de renda dos produtores de acordo com a percepção dos

técnicos responsáveis pela execução do Projeto Microbacias/BIRD em

cada um dos municípios pesquisados.

i) Padrão tecnológico dos produtores segundo a percepção dos técnicos responsáveis pela execução do Projeto Microbacias/BIRD

refere-se ao padrão tecnológico dos produtores de acordo com a percepção

dos técnicos responsáveis pela execução do Projeto Microbacias/BIRD em

cada um dos municípios pesquisados.

j) Percepção dos produtores frente a novas tecnologias segundo a opinião dos técnicos responsáveis pela execução do Projeto Microbacias/BIRD

refere-se a opinião dos técnicos responsáveis pela execução do Projeto

Microbacias/BIRD em cada um dos municípios pesquisados quanto à

percepção que os produtores demonstram frente a novas tecnologias.

5.4.2. Fatores relacionados com a adoção ou rejeição de práticas de conservação do solo

O pressuposto é de que, explícita ou implicitamente, cada uma das

respostas dos agricultores entrevistados apontaria alternativamente para:

que as práticas de conservação do solo somente são reconhecidas quando

há ameaça à viabilidade econômica da atividade agrícola a curto ou médio

Page 62: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

49

prazos, ou que, alternativamente, poderiam significar um menor

desembolso de recursos financeiros ou mesmo uma possibilidade de

proporcionarem retornos adicionais aos obtidos com as práticas

convencionais de cultivo do solo;

que as práticas de conservação do solo somente são reconhecidas quando

sua adoção não implicar excessivo desconforto ou trabalho pesado ou não

implicar trabalho adicional ao que o produtor normalmente executa; e

que as práticas de conservação do solo, como alternativa à preservação

das características do meio, só não são adotadas quando não são do

conhecimento e domínio do produtor ou por este não estar plenamente

ciente dos benefícios que as práticas conservacionistas possam

proporcionar.

Sublinhe-se que as alternativas remetem a uma manifestação de

hierarquização de critérios do produtor na tomada de decisão.

Respectivamente, as alternativas se refeririam aos critérios aqui tratados como

"critério econômico", "critério operacionalidade ou de humanização do trabalho"

e "critério conservacionista".

Assim, objetivando detectar junto aos entrevistados quais os fatores

que levam os produtores a adotar ou rejeitar práticas de conservação do solo,

os questionamentos foram efetuados de acordo com a seguinte sistemática:

1. as perguntas foram formuladas de forma que o entrevistado tivesse a

percepção de que o que estava sendo perguntado não caracterizasse uma

visão de sua propriedade ou do seu comportamento, mas direcionada no

sentido de que se tratava de fatos relacionados com agricultores de outras

microbacias. Isso se justifica pelo fato de que o entrevistado tende a

responder de acordo com o que julga ser o correto, com o que pode ter

aprendido, ouvido ou lido e para não ser identificado como desconhecedor

do assunto em questão, podendo gerar respostas nem sempre condizentes

com a percepção que permeia a população da qual é parte.

2. para cada questão colocada, os entrevistados deram respostas livres, sem

terem conhecimento das alternativas em relação às quais suas respostas

estivessem relacionadas;

Page 63: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

50

3. para cada pergunta, as respostas foram enquadradas em três alternativas

que reconhecidamente direcionam a um dos itens relacionados

anteriormente, ou seja, de ordem econômica, de humanização do trabalho

ou ambiental;

4. de acordo com cada manifestação do entrevistado, foi anotada a alternativa

que mais estava com ela relacionada; e

5. para cada uma das questões houve um ordenamento de priorização das

alternativas identificadas a partir das respostas que, por hipótese,

permitiriam identificar uma escala ou ordem hierárquica de critérios

relevantes na adoção de práticas de conservação do solo.

Junto aos técnicos responsáveis pela condução dos trabalhos nas

microbacias foram obtidas as seguintes informações referentes aos produtores

entrevistados:

nível cultural;

nível de renda;

padrão tecnológico e;

percepção do produtor frente a novas tecnologias.

Objetivando identificar e analisar os fatores implicados com a adoção

ou rejeição de práticas de conservação do solo, sempre de acordo com a

percepção do produtor entrevistado com relação as alternativas que lhe eram

possibilitadas escolher e com os parâmetros e procedimentos estabelecidos na

metodologia anteriormente descrita, foram efetuados os questionamentos a

seguir relacionados.

Os fatores foram avaliados com base em três pressupostos, detalhados

anteriormente, a saber:

fatores de ordem econômica;

fatores relacionados com a humanização do trabalho (operacionalidade das

práticas); e

fatores ambientais e de preservação das características do meio.

Page 64: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

51

a) Fatores que inspiram a adoção

foram avaliados os fatores que inspiram o produtor a adotar práticas de

conservação do solo nas áreas de lavoura.

b) Fatores de rejeição

foram avaliados os fatores que levam o produtor a não adotar práticas de

conservação do solo nas áreas de lavoura.

c) Argumentos de motivação para adoção

foram avaliados quais os argumentos que o agricultor utilizaria para motivar

produtores a adotar práticas de conservação do solo na hipótese de o

mesmo ser o técnico responsável pela execução de um projeto de

conservação do solo.

d) Razões para implantar um programa de conservação do solo

foi incentivada a manifestação de quais seriam as razões que levariam o

produtor a implantar um programa de conservação do solo, supondo que o

mesmo viesse a ocupar cargo com poder de decisão (era lembrado o cargo

de Secretário da Agricultura do Estado).

Page 65: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

52

6. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados são apresentados e discutidos na seguinte ordem:

1. caracterização das unidades de produção, e

2. adoção ou rejeição de práticas de conservação do solo.

6.1. Caracterização das unidades de produção

Neste tópico são apresentadas as variáveis trabalhadas em campo e

que permitem visualizar e identificar as características pessoais dos produtores

e das propriedades rurais, a adoção e rejeição das práticas de conservação do

solo preconizadas e a percepção que os técnicos executores do Projeto

Microbacias/BIRD têm dos produtores.

6.1.1. Idade do produtor

De acordo com os dados apresentados na Figura 2, observa-se uma

concentração de agricultores na faixa etária de 41 a 50 anos, com 31,2% do

total, vindo a seguir a faixa de 51 a 60 anos, com 27,3%. Estas duas faixas de

idade perfazem, assim, um total de 58,5% dos agricultores. Verifica-se,

também, que 79,8% dos agricultores incluem-se na faixa de idade acima de 40

anos, o que permitir inferir que existe uma tendência de que grande parte das

propriedades rurais é explorada por pessoas com idade avançada, que

normalmente são mais conservadoras e pouco propensas a mudanças e a

baixa propensão ao risco, como já apontava CÉZAR (1978).

Page 66: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

53

Figura 2. Distribuição dos produtores por faixas etárias - Alto Vale do Itajaí

- SC - 1996

6.1.2. Disponibilidade de mão-de-obra

Na Figura 3 pode-se verificar que a maioria das propriedades (51,5%)

dispõem de 2,10 a 4,00 Unidades de Trabalho Homem - UTH, vindo a seguir,

com 30,3%, as propriedades que tem entre 0,10 e 2,00 UTH. A partir destes

dados e se aliarmos a isto as atividades exploradas, que em grande parte das

propriedades referem-se as culturas do fumo e da cebola e a bovinocultura de

leite, grandes demandadoras de mão-de-obra, por suas especificidades, e

também a idade avançada dos produtores, conforme demonstrado no item

anterior, pode-se supor que existe baixa disponibilidade de mão-de-obra nas

propriedades.

0%

10%

20%

30%

40%

Até 30 31 - 40 41 - 50 51 - 60 61 - 70 > 70

1,0%

19,2%

31,2%

27,3%

17,2%

4,1%

Anos

Page 67: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

54

Figura 3. Disponibilidade de mão-de-obra (UTH) nas propriedades rurais

do Alto Vale do Itajaí - SC - 1996

6.1.3. Escolaridade do produtor

O nível de escolaridade dos produtores rurais da região em estudo

(Figura 4), vai desde aqueles que nunca freqüentaram a escola (1,0%) até os

que concluíram o II Grau (2,0%). A maior concentração ocorre, porém, na 4ª

série do I Grau, equivalente ao antigo curso primário. Isto pode ser explicado

pela falta de escolas que ofereciam séries acima desta e, ainda, pela

necessidade que os filhos dos agricultores tinham de auxiliarem a família nas

atividades das propriedades. Com relação ao elevado percentual de produtores

enquadrados no nível da 3ª série do I Grau, refere-se aqueles com idade mais

avançada, em cuja idade escolar o último ano de escola oferecido era este e

que era equivalente ao curso primário. Esta distorção somente foi percebida no

andamento das entrevistas, não sendo mais possível sua correção, porém não

comprometendo ou destituindo de significação os dados obtidos.

0%

15%

30%

45%

60%

0,10 - 2,00 2,10 - 4,00 4,10 - 6,00 > 6,00

30,30%

51,50%

16,20%

2,00%

UTH/Propriedade

Page 68: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

55

Não

freqüentou

1ª série I

grau

2ª série I

grau

3ª série I

grau

4ª série I

grau

8ª série I

grau

3ªsérie II

grau

1,00% 1,00%

5,10%

26,20%

58,60%

6,10%

2,00%

0%

11%

22%

33%

44%

55%

66%

Não

freqüentou

1ª série I

grau

2ª série I

grau

3ª série I

grau

4ª série I

grau

8ª série I

grau

3ªsérie II

grau

Série escolar freqüentada pelo produtor

Figura 4. Distribuição dos produtores de acordo com a escolaridade - Alto Vale do Itajaí - SC - 1996

6.1.4. Área da propriedade

A distribuição da freqüência desta variável mostra uma elevada

concentração dos produtores na categoria dos que possuem áreas inferiores a

30 hectares, com predomínio de 35,4% na faixa dos 10,1 a 20,0 hectares

(Figura 5).

Comparando-se estes dados com os apresentados na Tabela 3,

referente a estrutura fundiária da região do Alto Vale do Itajaí - SC, percebe-se

que refletem o mesmo comportamento, visto que nos dois casos a maioria das

propriedades apresentam área inferior a 50 hectares - 92,9% e 90,97%

respectivamente.

Page 69: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

56

0 0,1-

10,0

10,1-

20,0

20,1-

30,0

30,1-

40,0

40,1-

50,0

>

50,0

1,0%

10,1%

35,4%

26,2%

11,1%9,1%

7,1%

0%

10%

20%

30%

40%

0 0,1-

10,0

10,1-

20,0

20,1-

30,0

30,1-

40,0

40,1-

50,0

>

50,0

Faixas de área

Figura 5. Distribuição dos produtores de acordo com a área da propriedade (ha) - Alto Vale do Itajaí - SC - 1996

6.1.5. Área explorada com culturas anuais

Esta variável foi dimensionada pelo somatório das áreas exploradas

pelo produtor com culturas anuais, seja para fins comerciais ou de

subsistência.

Na área em estudo, as principais culturas exploradas são o milho,

fumo, cebola, feijão e mandioca. Estas culturas são manejadas nos mais

diversos sistemas, seja do ponto de visto do uso das tecnologias, da

conservação do solo ou do fim a que se destinam.

Na região predominam as pequenas explorações agrícolas, pois 76,8%

dos produtores cultivam áreas inferiores a 10 hectares de terra, com maior

concentração na faixa de 5 a 10 hectares, na qual se enquadram 51,5% dos

produtores, de acordo com o que pode ser observado na Figura 6. A situação

da pequena área explorada com culturas anuais pode ser explicada pela

reduzida área da propriedade rural, conforme visto no item anterior, bem como

também pelos tipos de culturas exploradas, principalmente a cebola, o fumo e a

mandioca, que são grandes demandadoras de mão-de-obra. A disponibilidade

Page 70: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

57

de mão-de-obra, de acordo com o item 6.1.2, também se revela um fator

limitante na maioria das propriedades em que as plantas cultivadas ainda não

permitem a mecanização das práticas culturais, especialmente a colheita.

Outros fatores que podem ser creditados a esta situação dizem

respeito a legislação ambiental vigente e ao revelo da região. É proibida a

derrubada de matas na área de influência da Mata Atlântica, na qual a região

do Alto Vale do Itajaí de insere, com isso impedindo a expansão das áreas de

lavoura. A condição topográfica da região, que apresenta grande parte de sua

área em situação de elevada declividade, acaba por inviabilizar sua exploração

com os sistemas de manejo convencionais, ainda predominantes na maioria

das propriedades.

0 - 5,0 5,1 - 10,0 10,1 - 15,0 > 15,0

25,30%

51,50%

9,10%

14,10%

0%

15%

30%

45%

60%

0 - 5,0 5,1 - 10,0 10,1 - 15,0 > 15,0

Faixas de área cultivada - ha

Figura 6. Distribuição percentual das propriedades de acordo com a área explorada com culturas anuais - Alto Vale do Itajaí - SC

6.1.6. Adoção de práticas de conservação do solo em áreas de lavoura

Page 71: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

58

A adoção de práticas de conservação do solo foi avaliada através dos

parâmetros descritos no item f, no capítulo referente à metodologia (pág. 46).

Segundo o que se estabeleceu como sendo condição que caracteriza a

adoção de práticas de conservação do solo, obteve-se os seguintes resultados

(Figura 7):

64,60% dos produtores são adotantes de práticas de conservação do solo;

30,30% dos produtores adotam parcialmente práticas de conservação do

solo em suas propriedades; e

5,10% dos produtores não adotam nenhuma prática conservacionista.

64,60%

30,30%

5,10%

Adotantes Parcialmente adotantes Não adotantes

Figura 7. Distribuição percentual dos produtores de acordo com a adoção de práticas de conservação do solo - Alto Vale do Itajaí - SC - 1996

Uma análise mais detalhada dos dados permite, também, se identificar

a seguinte situação (Figura 8):

1. do universo dos produtores enquadrados como adotantes, 33,3% adotam

em suas propriedades, simultaneamente, práticas de cobertura vegetal do

solo, práticas de preparo conservacionista e práticas mecânicas; 31,2%

adotam práticas de cobertura vegetal e práticas de preparo

conservacionista conjugadas.

Page 72: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

59

2. do universo dos produtores classificados como adotantes parciais, 16,2%

adotam práticas de cobertura vegetal do solo conjugadas com práticas

mecânicas; 8,1% adotam somente práticas de cobertura do solo e 6,1%

adotam isoladamente práticas mecânicas.

CV+PP+PM CV+PP CV+PM CV PM NA

33,30%

31,20%

16,20%

8,10%6,10%

5,10%

0%

10%

20%

30%

40%

CV+PP+PM CV+PP CV+PM CV PM NA

Combinações de práticas de conservação do solo

CS: Práticas de cobertura vegetal do solo PP: Práticas de preparo conservacionista PM: Práticas mecânicas NA: Não adota nenhuma prática de conservação do solo

Figura 8. Distribuição percentual dos produtores de acordo com a adoção de combinações de práticas de conservação do solo - Alto Vale do Itajaí - (SC) - 1996

Estes resultados apontam para um alto índice de adoção de práticas de

conservação do solo pelos produtores da região, especialmente os

participantes do Projeto Microbacias/BIRD. Com base nisso, pode-se afirmar

que, de uma certa forma, está havendo uma conjugação dos interesses dos

produtores e dos técnicos, tendo em vista que a mensagem transmitida pelos

últimos está sendo aceita e entendida por um bom número de produtores, que

passam a adotar as práticas difundidas.

Por outro lado, esses dados não informam, pelo menos como informam

da ocorrência da adoção, a extensão da área na qual são executadas práticas

Page 73: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

60

conservacionistas, visto que este parâmetro não foi processado, uma vez que o

interesse maior estava direcionado para se saber se o produtor implantava as

práticas em sua propriedade.

Outros fatores que merecem ser destacados se referem aos tipos de

práticas adotadas. Nota-se que 88,8% dos produtores implantam práticas de

cobertura vegetal do solo, o que pode ser considerado extremamente notável,

pois como já descrito anteriormente, esta práticas é uma das mais importantes

no controle do processo erosivo.

Pode-se considerar como positivo, também, o percentual de adotantes

de práticas de preparo conservacionista (64,5%), que para o presente caso

refere-se ao plantio direto e cultivo mínimo. Por tratarem-se de práticas

relativamente novas e estarem mais especificamente relacionadas com as

culturas de milho, trigo e soja e a grandes propriedades rurais, principalmente

em função da topografia, da disponibilidade de máquinas e equipamentos

adequadas e dos modelos de pesquisa agropecuária, que de certa forma

privilegiaram estas condições, houve na região um grande esforço, tanto dos

produtores como dos técnicos, no sentido de adaptar as práticas às condições

e culturais locais. Assim, surgiu uma série de variantes nas práticas e nas

máquinas e equipamentos utilizados para a implantação de sistemas de cultivo

reduzido, permitindo sua adoção por um número cada vez mais crescente de

produtores, sob as mais diversas condições topográficas, de solo, tipos de

cultura e, até mesmo, sem o atendimento de pressupostos pré-requisitos

estabelecidos e considerados como essenciais para a implantação destas

práticas.

A menor adoção de práticas mecânicas em relação a adoção das

demais práticas, está relacionada principalmente a questões de ordem

operacional, tendo em vista que sua presença nas áreas de lavoura,

notadamente os terraços, de acordo com a opinião dos produtores, dificulta os

tratos culturais, seja com tração mecânica ou animal, demanda expressiva

mão-de-obra na sua construção e manutenção e, principalmente, não serem

mais consideradas como necessárias, tendo em vista a adoção de práticas de

cobertura do solo e de preparo conservacionista. Estas técnicas, para a maioria

Page 74: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

61

dos técnicos e produtores são adequadas e suficientes para o controle do

processo erosivo.

O percentual de produtores que não adotam nenhuma das práticas de

conservação do solo preconizadas pelos técnicos reflete uma eficácia apenas

relativa da metodologia utilizada pelo Projeto Microbacias, especialmente em

função do ainda curto tempo de implementação do Projeto. Isto aponta para a

importância da continuidade dos Programas no processo de adoção e,

principalmente, na mudança de hierarquização de critérios por parte do

produtor, que está passando a valorizar cada vez mais os aspectos

relacionados com o meio ambiente. Notadamente preocupado com o solo, o

agricultor deixa de ser meramente extrativista, seja por mudança de

mentalidade, por argumentação da sociedade da qual cada vez mais se

reconhece como parte, passando a ter grande influência sobre sua ação o fator

constrangimento, seja por vislumbrar possibilidades de ganhos adicionais com

as mudanças que efetuar em seu sistema produtivo, privilegiando aspectos

conservacionistas.

Cabe relembrar que os produtores entrevistados são envolvidos com o

Projeto Microbacias, participando de suas ações desde a implantação na

microbacia na qual residem, o que permite supor estarem recebendo um maior

volume de assistência do que os produtores que não se enquadram nesta

situação.

6.1.7. Nível de instrução dos produtores

Este dado refere-se ao nível de instrução dos produtores segundo a

percepção dos técnicos responsáveis pela execução do Projeto

Microbacias/BIRD, na área de abrangência das microbacias nas quais os

produtores realizam suas atividades.

Conforme os dados apresentados na Figura 9, percebe-se que 76,8%

dos produtores foram classificados pelos técnicos como tendo nível de

instrução de regular a baixo e somente 23,2% como tendo nível cultural

considerado bom.

Page 75: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

62

Figura 9. Distribuição percentual dos produtores de acordo com seu nível

de instrução na percepção dos técnicos executores do Projeto Microbacias - Alto Vale do Itajaí - SC - 1996

6.1.8. Nível de renda dos produtores

Esta classificação foi feita com base nas informações do técnico que

atua na microbacia e que possui razoáveis informações a respeito do produtor,

por manter contato regular e ter elaborado o planejamento da propriedade de

acordo com a metodologia proposta pelo Projeto Microbacias.

Com base nas informações obtidas dos técnicos, os produtores foram

assim classificados (Figura 10):

34,3% - nível de renda bom,

28,3% - nível de renda regular e

37,4% - nível de renda baixo.

Esse quadro, conforme os técnicos e depoimentos dos próprios

produtores, reflete a situação atual vivida pelo setor rural, principalmente em

função do modelo econômico e político vigente. Esse modelo tem levado a um

processo de transformações profundas, implicando, quase que por imposição,

a inserção do produtor no contexto de globalização da economia. A formação

de blocos econômicos e a "derrubada" das barreiras alfandegárias leva o

produtor a competir com produtores de outros países que recebem subsídios

23,20%

39,40%

37,40%

Bom Regular Baixo

Page 76: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

63

para suas atividades, bem como dispõem de outros mecanismos que lhes

garantem uma rentabilidade superior a conseguida pelos produtores da região.

Com isso, está ocorrendo uma baixa remuneração pela produção, gerando a

descapitalização do produtor, que não pode reinvestir na propriedade e na

produção, ocasionando baixos índices de produtividade, além de elevar os

custos de produção.

28,30%

34,30%37,40%

Bom Regular Baixo

Figura 10. Distribuição percentual dos produtores de acordo com seu nível

de renda na percepção dos técnicos executores do Projeto Microbacias - Alto Vale do Itajaí - SC - 1996

6.1.9. Padrão tecnológico dos produtores

Neste item procurou-se detectar qual a percepção que os técnicos do

Projeto Microbacias têm quanto ao padrão tecnológico dos produtores. Este

padrão diz respeito a aceitação e uso pelo produtor das tecnologias

preconizadas pelos técnicos, seja no que se refere a conservação dos solos ou

quanto ao sistema de manejo das lavouras e criações as quais ele se dedica

em sua propriedade.

Page 77: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

64

Pelo que pode ser observado na Figura 11, na opinião dos técnicos

36,4% dos produtores tem um padrão tecnológico bom, enquanto 63,6% se

enquadram como tendo um padrão regular ou baixo.

A partir disso, pode-se deduzir que as tecnologias que são difundidas

pelos técnicos, como um todo, têm uma boa aceitação por parte dos

produtores, mas não necessariamente reflete sua real adoção e aplicação nas

propriedades. A simples adoção de tecnologias não significa que estas estejam

condizentes com as necessidades dos produtores ou mesmo que consigam

equacionar/amenizar as dificuldades enfrentadas pelos produtores. Impõe-se

reconhecer , portanto, que as tecnologias, mesmo quando adotadas podem

não estar atendendo os objetivos de obter o máximo retorno possível, seja

econômico, produtivo ou na preservação das características do meio,

permitindo a continuidade das explorações de maneira sustentável e que

estejam em sintonia com as aspirações dos produtores.

Figura 11. Distribuição percentual dos produtores de acordo com seu

padrão tecnológico na percepção dos técnicos executores do Projeto Microbacias - Alto Vale do Itajaí - SC - 1996

6.1.10. Percepção dos produtores frente a novas tecnologias

36,40% 37,40%

26,20%

Bom Regular Baixo

Page 78: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

65

Com esta variável objetivou-se analisar qual a percepção que os

produtores tem quando às novas tecnologias com as quais mantém contato e

que são difundidas pelas mais variadas formas, de acordo com a visão e

opinião dos técnicos executores do Projeto Microbacias.

Segundo os técnicos, 45,5% dos produtores tem uma percepção

favorável às novas tecnologias (Figura 12), ou seja, consideram que as

tecnologias são plausíveis de adoção e que possam vir a auxiliar no

desenvolvimento de suas atividades na propriedade. Por outro lado, 54,5% dos

produtores tem percepção que revela um interesse de regular a baixo, o que

eqüivale a que estes não conseguem vislumbrar nas tecnologias oferecidas

soluções para suas necessidades ou encontram dificuldades para sua

aplicação.

Figura 12. Distribuição percentual dos produtores de acordo com a

percepção que têm frente a novas tecnologias na visão dos técnicos executores do Projeto Microbacias - Alto Vale do Itajaí - SC - 1996

6.2. Fatores relacionados com a adoção ou rejeição de práticas de conservação do solo

45,50%

28,30% 26,20%

Bom Regular Baixo

Page 79: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

66

No presente capítulo são apresentados os dados referente aos fatores

implicados no processo de tomada de decisão do produtor no que tange a

adoção ou rejeição de práticas de conservação do solo, no seu conjunto ou

individualmente, bem como os argumentos de motivação para adoção e razões

para implantação de um programa de conservação do solo.

Com base na descrição feita no capítulo referente à metodologia, os

fatores em análise são os seguintes:

de ordem econômica

relacionados com a humanização do trabalho ou operacionais

relacionados com a preservação das características do meio ou ambientais

6.2.1. Fatores que inspiram o produtor a implantar práticas de conservação do solo

A análise dos dados da Figura 13 permite identificar que o fator que se

apresenta com maior relevância na tomada de decisão para a implantação de

práticas de conservação do solo está ligado a questões de ordem econômica,

tendo sido apontado por 53,6% dos produtores. A seguir, apresenta-se o fator

relacionado com a preservação das características do meio ou de ordem

ambiental, para 42,4% dos produtores.

Page 80: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

67

Figura 13. Distribuição percentual dos produtores de acordo com os fatores

que os inspiram a adotar práticas de conservação do solo - Alto Vale do Itajaí - SC - 1996

Estes dados confirmam o pressuposto anteriormente descrito,

demonstrando que a adoção de práticas conservacionistas tem embutido um

forte componente econômico, como também o tem a maioria das atividades

humanas. Isso se deve ao fato de o produtor ser pouco propenso a correr

riscos, ou seja, não estar disposto a sentir ameaçada a viabilidade econômica

de sua atividade. Esta constatação foi bastante evidente durante a pesquisa de

campo quando da realização das entrevistas, pois os produtores deixavam

muito claro que os fatores de ordem econômica são primordiais na tomada de

decisão para implantação de práticas conservacionistas, tanto no sentido de

viabilizarem a atividade agrícola, de significarem menor desembolso de

recursos financeiros ou de possibilitarem retornos adicionais aos obtidos com

as práticas convencionais ou sem o uso de práticas conservacionistas.

Os fatores relacionados com a preservação das características do meio

também foram relatados como importantes, principalmente no sentido de

proporcionarem a continuidade da atividade agrícola. Essa continuidade se

daria via manutenção da camada arável e da fertilidade do solo, com a

possibilidade de que a terra possa vir a ser explorada pelas gerações futuras,

bem como pela preocupação que os produtores tem quanto a não poluição

e/ou contaminação das águas, atualmente um dos mais graves problemas

0%

15%

30%

45%

60%

Econômicos Operacionais Ambientais

53,60%

4,00%

42,40%

Fatores

Page 81: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

68

enfrentados no meio rural e fundamental no desenvolvimento da atividade

agrícola. Esta preocupação é evidentemente muito pertinente, visto que a água

de escoamento carreia para os cursos d'água, juntamente com partículas de

solo, quando ocorre a erosão, uma grande quantidade de produtos químicos e

orgânicos utilizados no processo produtivo, principalmente fertilizantes,

agrotóxicos, calcário e adubos orgânicos.

O que despertou uma certa interrogação nos resultados obtidos é o

baixo índice de respostas ligadas ao fator operacional; somente 4%. O que se

pode presumir é que o componente operacional, relacionado com a

humanização do trabalho, ficou mascarado pela forte influência dos fatores

econômicos e ambientais, não sendo assim manifestados, visto que o homem,

por sua índole, busca executar as atividades que lhe exijam menor esforço ou

que lhe proporcionem maior conforto. Acontece, porém, que os componentes

econômicos e ambientais, nos dias atuais, se inserem de forma bastante

incisiva na própria operacionalização da atividade humana. Essa inserção se

dá, por um lado, pela conjugação de uma série de variáveis que impelem o

homem na busca e obtenção de rendimentos monetários cada vez maiores,

visando satisfazer ou atender as necessidades de consumo. Necessidades

essas, na maioria das vezes, impostas pelo sistema econômico vigente. Por

outro lado, pela importância que a sociedade vem imputando ao componente

ambiental, o produtor que não se dispõe ao trabalho de proteção ambiental

tende a sentir-se numa situação de constrangimento frente aos padrões de

valores que atualmente passam a vigorar e dele se espera que passe a

atender.

Não significa, no entanto, nem explícita nem implicitamente, que

aqueles produtores que estão adotando as práticas de conservação do solo

estejam tendo melhores resultados econômicos do que aqueles que não estão

adotando aquelas mesmas práticas, ao menos no curto prazo. Isto se deve a

uma série de questões de ordem agronômica, notadamente aqueles ligados ao

solo, que pelo estado de degradação em que se encontram na maioria dos

casos, não conseguirão de imediato, pela simples mudança do sistema de

manejo, proporcionarem produtividades elevadas, com retornos econômicos

razoáveis. Necessitarão, antes, de tempo para que consigam se recompor e

Page 82: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

69

voltar a apresentar as condições adequadas para que manifestem seu

potencial de produção.

Os argumentos utilizados pelos produtores para justificar sua opção

pelos fatores de ordem econômica como determinantes na adoção de práticas

de conservação, dizem respeito principalmente a:

o uso de práticas, em especial as de preparo conservacionista,

proporcionam uma redução significativa no número de operações com

máquinas agrícolas, ou seja, eliminam a aração, as gradagens e as

capinas, resultando numa economia de recursos financeiros e de mão-de-

obra, fator escasso na maioria das propriedades. Isso pode ser

demonstrado pelo fato de que se analisando o adoção isolada da prática de

preparo conservacionista, 36,4% e 24,2% o fazem, respectivamente, por

fatores de ordem econômica e operacionais;

proporcionarem, a médio prazo, redução na necessidade de uso de

insumos, assinaladamente fertilizantes, pela sua reciclagem e menores

perdas que ocorrem em áreas apropriadamente manejadas;

vislumbrarem aumento na produtividade das culturas, o que representa

retornos financeiros adicionais aos obtidos com os sistemas convencionais;

e

menor requerimento de mão-de-obra nas fases de maior demanda durante

o ciclo produtivo, principalmente por ser este um fator limitante em grande

parte das propriedades, conforme já demonstrado anteriormente,

possibilitando, assim, aumento na área cultivada, plantio nos períodos mais

apropriados, entre outros fatores.

Page 83: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

70

6.2.2. Fatores que inspiram o produtor a não implantar práticas de conservação do solo

Mesmo com o percentual de produtores que não adotam práticas de

conservação do solo sendo reduzido, somente 5,1%, se procurou identificar

quais os fatores que determinam este comportamento.

Predominantemente, como pode ser visto na Figura 14, o fator

determinante para a não adoção de práticas conservacionistas está

relacionado a aspectos de ordem econômica, em relação aos quais se

enquadram 69,7% dos produtores.

Econômicos Operacionais Ambientais

69,70%

14,10% 16,20%

0%

15%

30%

45%

60%

75%

Econômicos Operacionais Ambientais

Fatores

Figura 14. Distribuição percentual dos produtores de acordo com os fatores que os inspiram a rejeitar as práticas de conservação do solo - Alto Vale do Itajaí - SC - 1996

Com base nas informações obtidas, o que leva a esta situação estaria

ligado basicamente a:

indisponibilidade de recursos financeiros para a aquisição dos insumos

necessários para a execução das práticas, principalmente as sementes das

plantas de cobertura. O estabelecimento da cobertura vegetal do solo é tido

como essencial, visto que sem esta prática não é possível a implantação

das práticas de preparo conservacionista como o plantio direto e o cultivo

mínimo. Para 69,7% dos produtores os fatores de ordem econômica foram

Page 84: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

71

apontados como determinantes para a não implantação de práticas de

cobertura, quando esta foi analisada isoladamente;

não disponibilidade de máquinas e equipamentos adequados para a

implantação das práticas conservacionistas, bem como de recursos

necessários para sua aquisição. Estes equipamentos são fundamentais

principalmente para a implantação das práticas de preparo

conservacionistas, práticas essas que 77,8% dos produtores que não as

implantam o fazem por fatores econômicos; vale lembrar que 90,0% dos

produtores que não possuem as máquinas adequadas à humanização do

manejo conservacionista assim se encontram por fatores de ordem

econômica;

desconhecimento dos benefícios que podem advir com a implantação das

práticas, notadamente aquelas ligadas às melhorias proporcionadas ao

solo, seja em aspectos físicos, químicos e biológicos, que resultarão em

aumento da produtividade e diminuição nos custos de produção, além dos

benefícios de ordem ambiental, com conseqüente aumento da

rentabilidade;

capacitação inadequada para a execução das práticas;

desconhecimento ou ignorância quanto aos fatores que ocasionam a

erosão; razão pela qual não sentem a necessidade de implantar práticas

conservacionistas; e

não percepção de que a erosão é um problema em sua propriedade ou de

que a mesma esteja ocorrendo.

6.2.3. Argumentos de motivação para adoção

Este tópico diz respeito aos argumentos que o produtor utilizaria para

motivar outros produtores a adotarem práticas de conservação do solo, na

hipótese de o mesmo ser o técnico responsável pela execução de um

programa de conservação do solo em uma determinada região.

Page 85: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

72

De acordo com os dados apresentados na Figura 15, tem-se que

55,5% dos produtores utilizariam argumentos de ordem econômica,

especialmente quanto à possibilidade de diminuição dos custos de produção

das lavouras e aumento da produtividade, e 38,4% se valeriam de argumentos

ambientais para motivar os produtores a adotar as práticas de conservação do

solo recomendadas.

Figura 15. Distribuição percentual dos produtores com base nos

argumentos a serem utilizados como fatores de motivação para a adoção de práticas de conservação do solo - Alto Vale do Itajaí - SC - 1996

6.2.4. Razões para implantação de um programa de conservação do solo

Neste item, procurou-se verificar quais as razões que levariam o

produtor a implantar um programa de conservação do solo supondo-se que o

mesmo exercesse o cargo de Secretário da Agricultura do Estado.

Da mesma forma que no item anterior, a maior parte dos produtores

(56,6%) seria movida por razões de ordem econômica para a implantação de

um programa de cunho conservacionista, e que 40,4% se valeria de

argumentos ligados a preservação das características do meio, ou seja, de

ordem ambiental (Figura 16).

0%

15%

30%

45%

60%

Econômicos Operacionais Ambientais

55,50%

6,10%

38,40%

Argumentos para motivação dos agricultores

Page 86: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

73

Figura 16. Distribuição percentual dos produtores de acordo com as razões

para implantação de um programa de conservação do solo

Os resultados dos itens 6.2.3 e 6.2.4 não apresentam diferenças

significativas em relação aos obtidos no item 6.2.1, demonstrando existir

coerência nas respostas dos produtores, principalmente se considerarmos que

as perguntas foram formuladas procurando dar a conotação de que a resposta

não tinha vinculação implícita com a visão do produtor argüido, mas sim sobre

o comportamento dos demais produtores com relação ao entendimento e visão

que os mesmos têm quanto aos aspectos conservacionistas.

Desta forma, a similaridade das respostas evidencia que refletem o

modo real de como o produtor pensa e age com relação a questão da

conservação do solo.

Os dados obtidos demonstram claramente serem os fatores de ordem

econômica e os ligados a preservação das características do meio os que mais

fortemente inspiram os produtores a adotarem práticas de conservação do solo

e que os fatores de ordem econômica, da mesma forma, são os que levam os

produtores a rejeitar as práticas.

0%

15%

30%

45%

60%

Econômicas Operacionais Ambientais

56,60%

3,00%

40,40%

Razões para implantação

Page 87: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

74

7. CONCLUSÕES E SUGESTÕES

Neste capítulo serão apresentadas as conclusões mais significativas ou

evidentes e relevantes, que se pôde chegar a partir das informações obtidas e

interpretadas na forma proposta, bem como algumas sugestões que podem se

revelar com significação à missão institucional do serviço de extensão rural

oficial, no desenvolvimento de seus programas junto aos produtores rurais,

especialmente na conservação dos solos.

7.1. Conclusões

Em razão das características da área de estudo, pois cada uma das

microbacias nas quais foram realizadas as entrevistas apresentam

especificidades próprias, principalmente quanto a etnia, tipos de culturas

exploradas, condições socioeconômicas, para nos limitarmos apenas em

algumas, fica de todo afastada qualquer pretensão de se generalizar o

significado das conclusões para o universo do produtor rural de nosso Estado.

O contexto social e econômico sabidamente se reflete sobremaneira na visão

que os produtores tem quanto a conservação dos solos e na efetividade da

ação dos técnicos que atuam nas microbacias objeto da pesquisa. Os técnicos

logram ter diferentes níveis de empatia ou ascendência sobre os produtores.

Assim, um técnico motivado e interessado no desenvolvimento de um bom

trabalho, certamente terá respostas diferentes por parte dos produtores,

daquele desmotivado ou que simplesmente realiza seu trabalho para se

desincumbir da tarefa ou para atender meramente as normas do Programa.

Além disso, uma série de outros fatores tem influência, mas que por

não terem sido objeto do presente estudo não serão aqui analisados, servindo,

no entanto, de questões a serem trabalhadas, como é o caso da influência que

a concessão de incentivos financeiros tem no comportamento do produtor, os

tipos de práticas difundidas pelos técnicos, a relação entre as práticas

adotadas, o tempo de adoção e a área com práticas implantadas, entre outros.

Page 88: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

75

Assim, restringindo-se aos objetivos traçados, apresenta-se algumas

conclusões que se julga importantes e que merecem ser destacadas:

I. Os fatores de ordem econômica seriam, no argumento explicitamente

manifestado, os que mais determinam o comportamento do produtor na

tomada de decisão objetivando a adoção de práticas de conservação do

solo. Isso de dá fundamentalmente por vislumbrarem possibilidades de

auferirem ganhos adicionais em sua atividade, pelos incrementos na

produtividade que podem advir com sua implantação, bem como pela

redução nos custos, resultantes do menor dispêndio com as operações de

cultivo e uso de insumos, creditado à melhoria nas condições químicas,

físicas e biológicas do solo.

II. Mesmo sendo a adoção de práticas conservacionistas motivada mais

determinantemente por fatores declarados como sendo de ordem

econômica e de ordem ambiental, subjetivamente os fatores relacionados

com a humanização do trabalho estão fortemente presentes. Isto pode ser

deduzido a partir do percentual de adotantes das práticas de preparo

conservacionista, que na sua maioria são feitas de forma mecanizada,

reduzindo expressivamente o esforço físico e a necessidade de mão-de-

obra. Por serem as questões relacionadas aos fatores operacionais

bastante subjetivas, como aqueles que poderiam ser interpretados como

"indisposição" para o trabalho, as mesmas não são manifestamente

expressas, ficando, por isso, encobertas pelos outros fatores, que de

certa forma embutem valores mais significativos para os paradigmas

vigentes, que privilegiam sobremaneira os valores de ordem econômica.

III. A valorização de fatores e aspectos ligados à preservação das

características do meio manifestam-se muito mais por questões de

constrangimento do que propriamente de uma objetiva convicção quanto

a necessidade de preservação do meio. A manifestação de

constrangimento está vinculada com a mútua avaliação comportamental

entre produtores nas comunidades em que vivem; aqueles produtores que

não adotam as tecnologias que fazem parte do programa que está em

andamento são considerados, pelos demais produtores, como atrasados,

Page 89: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

76

retrógrados, teimosos, "relaxados", desconectados dos valores que

permeiam sua realidade. Assim, para não serem enquadrados ou taxados

de forma pejorativa, adotam o que os demais produtores estão

executando, principalmente aqueles considerados "líderes" na

comunidade, mesmo não estando plenamente cientes de sua

necessidade e dos benefícios que poderão advir de sua execução.

IV. Grande parte das propriedades tem baixa disponibilidade de mão de obra,

indicando que as práticas de conservação do solo que venham a ser

difundidas deverão ser possíveis de serem implantadas com o uso de

máquinas e equipamentos, especialmente aquelas adaptadas para as

especificidades de cada propriedade e cultura explorada. Vale lembrar

que a maioria da população rural abrangida no estudo tem idade superior

a 40 anos, impondo-se a necessidade de humanização das atividades em

nível compatível com a tendência de envelhecimento do trabalhador.

V. Um percentual significativo dos produtores possui nível de escolaridade

baixo. Com isso, a metodologia a ser utilizada pelos técnicos deve ser

apropriada e adaptada a tal condição, no sentido de que as mensagens

transmitidas consigam ser entendidas e absorvidas pelos produtores.

Caberá aos técnicos o discernimento de detectarem as especificidades de

cada grupo de produtores ou mesmo individualmente, de maneira que

não universalizem as mensagens, mas que as transmitem de acordo com

as peculiaridades necessárias ao contexto, objetivando uma maior

recepção por parte dos produtores.

VI. A maioria dos produtores implanta uma combinação das práticas de

conservação do solo preconizadas pelo Projeto Microbacias/BIRD,

principalmente com o intuito de manter o solo coberto o maior período de

tempo possível, significando, teoricamente, terem um bom controle do

processo erosivo em suas propriedades.

VII. Atualmente, as práticas adotadas individualmente em menor escala são

as práticas mecânicas, principalmente em função de fatores de ordem

operacional. Cabe ressaltar que por muitos anos as práticas mecânicas,

especialmente o terraço, monopolizaram as ações dos técnicos na área

Page 90: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

77

da conservação dos solos, sendo preconizadas como as que eliminariam

os danos provocados pela erosão.

VIII. Existe um percentual significativo de produtores que ainda efetuam a

incorporação das plantas de cobertura, significando que deixam o solo

descoberto por um período considerável, fazendo com que o solo fique

exposto a ação dos fatores erosivos.

IX. A prática do plantio direto é um dos procedimentos que teve melhor

receptividade por parte dos agricultores, pelo conjunto de benefícios que

proporciona. Apontando para a importância do critério de

operacionalidade ou humanização das atividades, quase nunca

explicitamente manifestado pelos produtores entrevistados, um fator

determinante à adoção do plantio direto foi a construção e adaptação de

máquinas e equipamentos às condições topográficas, das culturas

exploradas e de pequenas propriedades predominantes na região. A

objetivação da humanização da atividade, agora então associada à

superação das dificuldades econômicas, revela-se também pela

importância que assumiu a possibilidade da aquisição de equipamentos

por grupos de produtores, para uso comum, notadamente devido à

concessão de incentivos financeiros pelo Projeto Microbacias/BIRD e, em

alguns casos, pela aquisição de máquinas pelas Prefeituras Municipais e

colocadas à disposição dos produtores para procederem as operações de

cultivo.

X. O alto índice de adoção da prática de cobertura vegetal do solo, que

individualmente é a prática conservacionista mais adotada pelos

produtores, está associado, de certa forma, a exploração da atividade de

produção leiteira pela grande maioria das propriedades da região. Com

isso, há uma conjugação de interesses, sendo que a prática passa a ter

dupla finalidade:

proporcionar a cobertura do solo e;

fornecedor alimentação para os bovinos.

XI. O índice de adoção das práticas mecânicas está essencialmente ligado a

fatores operacionais, pois, de acordo com os próprios produtores, sua

implantação envolve a execução de atividades que podem ser

Page 91: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

78

consideradas extenuantes, bem como pelo fato de que a presença de

terraços em áreas de lavoura dificulta a execução das práticas culturais,

principalmente as mecanizadas, como é o caso do controle da "vegetação

expontânea". Outro fator que está ligado ao abandono de execução

destas práticas mecânicas diz respeito a própria atuação dos técnicos,

que a consideram dispensável nas áreas em que esteja sendo implantado

o plantio direto ou o cultivo mínimo.

XII. Um dos fatores apontados pelos produtores como entrave para a maior

difusão das práticas conservacionistas seria uma insuficiência de

assistência técnica disponível. Os produtores se declaram com

insuficiente treinamento e acompanhamento na implantação das práticas

preconizadas, especialmente aquelas de maior complexidade e que

exigem maior embasamento técnico, normalmente por envolverem um

número expressivo de variáveis, para que possam apresentar um

desempenho compatível com os resultados esperados. Com uma

inadequada assistência, podem surgir problemas que fogem ao domínio

do produtor. Não compreendendo as relações que podem levar uma

prática mal conduzida a falhar, o agricultor acaba por atribuir uma falta de

eficiência à prática, deixando, por isso, de adotá-la.

XIII. Um fator apontado como importante pelos produtores para a não adoção

de práticas de preparo conservacionista está ligado a sua vinculação com

o uso de herbicidas, que de certa forma parece estar associado ao êxito

da prática. Como alguns produtores não querem se valer deste

instrumento para efetuar o dessecamento das plantas de cobertura, seja

por questões de ordem econômica, operacional ou de saúde, preferindo a

incorporação ao solo da massa vegetal presente, deixam de implantar a

prática. Isto aponta para a necessidade de que se busque encontrar

alternativas, como é o caso de plantas de cobertura com ciclos mais

precoces, que permitam o plantio das culturas ao final do ciclo vegetativo

das plantas de cobertura, e que se procure difundir e fundamentar formas

de manejo alternativo comprovadamente eficientes, como o uso do rolo-

Page 92: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

79

faca ou rolo-disco14, para o acamamento das plantas de cobertura,

evitando-se, assim, o uso de herbicidas.

XIV. O fator apontado como sendo o mais determinante na rejeição das

práticas de cobertura do solo é de ordem econômica, especialmente pelo

custo das sementes necessárias para sua implantação, que, não sendo

produzidas pelos produtores, torna-se necessário adquiri-las a cada nova

safra. Cabe, assim, empenho técnico na organização dos produtores na

obtenção de sementes de plantas de cobertura; principalmente no que diz

respeito à redução de preço, o que poderia, a princípio, ser feito através

da compra cooperada.

XV. Com relação a não adoção das práticas de preparo conservacionista,

igualmente os fatores de ordem econômica determinam tal

comportamento. A isso estão ligados os seguintes fatores:

não disponibilidade de máquinas e equipamentos adequados,

considerados muito caros por um número expressivo de produtores, e

indisponibilidade de recursos financeiros para contratação dos

serviços de terceiros para a implantação das práticas de preparo

conservacionista, especialmente o plantio direto.

7.2. Outras questões relevantes

Com base nas informações obtidas junto aos produtores, percebe-se

claramente a necessidade de que os programas que objetivam a difusão de

práticas conservacionistas, como é o caso do Projeto Microbacias/BIRD, não

sofram interrupções e tenham uma duração ao menos de médio prazo, visto

que, em muitos casos, resultados efetivos demandam um certo tempo para se

manifestar. Como o produtor inicialmente procura realizar suas

"experimentações", como forma de comprovar a efetividade das práticas,

14 Rolo-faca e rolo-disco: equipamentos desenvolvidos e adaptados pelos próprios produtores e que

servem para acamar sobre o solo as plantas de cobertura, objetivando distribuí-las uniformemente

sobre o solo, permitindo uma proteção contra dos efeitos dos agentes erosivos e facilitando as

operações de plantio das culturas.

Page 93: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

80

necessitará de um assessoramento por um período de tempo razoável, até que

passe a adotar as práticas definitivamente.

A metodologia proposta pelos programas e utilizada pelos técnicos

para difundir as práticas, visando sua adoção pelos produtores, deve estar em

sintonia com os fatores que motivam os produtores a adotá-las, o que nem

sempre acontece, tendo em vista a dicotomia existente entre os interesses dos

técnicos e dos produtores. Assim, em cada microbacia a ser trabalhada,

primeiramente o técnico deverá detectar junto aos produtores os fatores que os

inspiram para adotar as práticas e, a partir disso, elaborar a estratégia

adequada para cada situação particular. Deverá, também, o técnico conseguir

discernir as diferenças existentes entre os produtores que residem na

microbacia, que podem manifestar, interesses, lógicas e comportamentos

bastante diversos e, até mesmo, antagônicos, com base nos propósitos que

orientam suas decisões.

Ao se iniciar trabalhos em novas microbacias, faz-se necessário

elaborar diagnósticos claros e objetivos, que deverão envolver, além dos

aspectos técnicos e econômicos, como tem ocorrido na maioria dos casos,

fatores de ordem social, comportamental e antropológica. Somente mediante

um apurado diagnóstico se conseguirá captar de forma um pouco mais realista

o que determina o comportamento do agricultor, que nem sempre se manifesta

com base em fatores mensuráveis, mas sim, em muitos casos, de forma muito

subjetiva. É esta subjetividade que normalmente não é considerada, o que leva

ao baixo êxito de algumas ações em determinadas regiões.

A metodologia para difusão não poderá ser a mesma em todas as

microbacias, pelo simples fato de existirem diferenças significativas entre elas.

Essas diferenças podem levar ou quase sempre levam o produtor a distintos

comportamentos e distintas valorações de alternativas técnicas na objetivação

dos seus interesses.

As práticas de conservação do solo preconizadas não poderão ser

universalizadas. Impõem-se a necessidade de um discernimento suficiente

para que os técnicos consigam visualizar as particularidades de cada situação,

o que permitirá adequar as práticas à situação existente e às necessidades

reais à luz dos critérios que movem o comportamento do produtor.

Page 94: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

81

Os técnicos necessitarão dispor de tecnologias alternativas para

oferecer aos produtores ainda não adotantes de práticas conservacionistas,

principalmente por fatores de ordem econômica ou operacional. Caso contrário,

este grupo não terá condições ou disposição de adotar as práticas atualmente

difundidas e que, de acordo com o entendimento nem sempre explicitado pelo

produtor, são inadequadas à realidade em que são propostas.

Os técnicos necessitarão dispor de instrumental adequado para

conseguir motivar os produtores a adotar as práticas preconizadas. Apenas

como um referencial, os técnicos poderiam se valer de métodos normalmente

utilizados pelos representantes das empresas de insumos e máquinas,

notadamente na área de marketing e processos de motivação.

Aos produtores deverão ser transmitidas noções claras de

gerenciamento e administração de sua propriedade como um todo, no sentido

de que as práticas de conservação do solo não sejam vistas como um fim em si

só, mas como componentes necessários à operação de um complexo sistema.

Enfim, a adoção de práticas conservacionistas implica em possibilidades às

necessidades de concretamente objetivar os resultados que todos

pretendemos alcançar. Técnicas atualmente utilizadas por empresas dos

setores secundário e terciário deverão ser adequadamente traduzidas aos

produtores rurais, como é o caso do significado de "qualidade total", para que

estejam melhor preparados para enfrentar as condições impostas pelo

mercado, conseguindo permanecer na atividade, competindo igualitariamente

com produtores de outras regiões e frente a diferentes situações.

Os técnicos deverão envidar esforços para promover a organização

dos produtores, objetivando especialmente a facilitação na aquisição de

máquinas e equipamentos apropriados para a implantação das práticas de

preparo conservacionista. Organizados em grupos, os produtores teriam seus

custos divididos entre os participantes do grupo, possibilitando que mais

produtores possam ter acesso a tais máquinas, mesmo porque individualmente

nem sempre justifica-se a aquisição dos referidos equipamentos, tendo em

vista a reduzida área a ser implantada por propriedade.

As Prefeituras Municipais em cujos municípios estejam sendo

desenvolvidos programas de conservação do solo, como é o caso dos

Page 95: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

82

municípios contemplados com o Projeto Microbacias/BIRD, deveriam

disponibilizar, igualmente, máquinas e equipamentos apropriados para

implantação das práticas de preparo conservacionista, especialmente "rolos-

faca" e semeadoras para plantio direto, objetivando prestar serviços aos

produtores que não as possuem, como forma de disseminar a adoção de tal

tecnologia e torná-la acessível para a maioria dos produtores.

Uma adequada metodologia proposta pelos programas deveria

proporcionar condições para que os técnicos disponham de uma maior parte do

tempo de trabalho com atividades voltadas para a prestação de

assessoramento aos produtores. Esse assessoramento, por sua vez, seria

especialmente no sentido de proporcionar a assistência necessária para a

implantação correta das práticas preconizadas. Vale lembrar que, conforme já

relatado anteriormente, a questão da falta de capacitação dos produtores é um

dos pontos que leva os mesmos a não implantar as práticas ou então

abandoná-las posteriormente, tendo em vista que comumente surgem

problemas de ordem técnica na sua execução.

Ainda, a concepção dos programas de conservação do solo deverão

estar em consonância com os interesses dos produtores e de acordo com as

particularidades de cada região. As propostas dos planos não poderão ser

pretendidas como adequadas para o universo de agricultores do Estado, mas

sim, no máximo ao nível de bacias hidrográficas, tendo em vista as

particularidades de cada uma, em aspectos concernentes ao solo, topografia,

culturas e criações exploradas, valores culturais dos agricultores, entre outros.

E para finalizar, entende-se como de relevante importância a

necessidade de que em futuros programas, principalmente aqueles que

objetivem a preservação das características do meio, contemplem o

monitoramento da qualidade das relações homem-meio, com o objetivo de se

verificar de forma evolutiva o comportamento do homem frente ao restante do

meio e a efetividade de suas ações. Enfatiza-se, no entanto, que esse

monitoramento deverá ser, acima de tudo, voltado à qualidade, muito mais que

à quantidade.

Page 96: Hierarquizacao de criterios_na_adocao_de_praticas_de_conservacao_do_solo

83

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SOLDATELLI, D.; HOLZ, É. Manual de referências de administração rural - 1992: índices técnicos e econômicos. Florianópolis: Epagri, 1994. 194p.

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9. ANEXOS

9.1. Questionário

HIERARQUIZAÇÃO DE CRITÉRIOS NA ADOÇÃO DE PRÁTICAS DE

CONSERVAÇÃO DO SOLO

Autor: Léo Teobaldo Kroth

Núcleo Temático: Relações Edafohidrológicas e Ambientais em Microbacias Hidrográficas

Nº do formulário:

Data e hora :

Entrevistador :

Florianópolis, 1996

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CÓDIGO DA PROPRIEDADE : NOME DO(A) PROPRIETÁRIO(A) : MICROBACIA : MUNICÍPIO :

01. Composição familiar e da mão-de-obra

NOME IDADE

(anos)

SEXO RESIDÊNCIA TRABALHA NA PROPRIEDADE

M F PROP. FORA S N HORAS DIAS

OBSERVAÇÕES:

02. Até que ano o(a) Senhor(a) freqüentou a escola? Quantos anos de escola o(a)

senhor(a) freqüentou?

Número de anos : Não freqüentou : 0 Primário : 01 a 05 anos ( 1 2 3 4 5 ) Ginásio : 06 a 09 anos ( 1 2 3 4 ) Segundo Grau : 10 a 12 anos ( 5 6 7 ) Terceiro Grau : 13 a 17 anos ( 8 9 10 11 12 )

03. Qual o tamanho da propriedade (Caso tenha mais de uma propriedade somar as áreas)?

1. hectares próprios 2. hectares arrendados de terceiros 3. hectares arrendados para terceiros

04. Qual o regime de posse da terra na qual o(a) senhor(a) realiza a maior parte de suas atividades?

1. ( ) Proprietário(a) 2. ( ) Arrendatário(a) 3. ( ) Meeiro(a) 4. ( ) Posseiro(a) (ocupante) 5. ( ) Outro

05. Qual a área plantada com culturas anuais e de pastagens (área própria + arrendada)?

Culturas anuais: 1. própria: ha 2. arrendada: ha Pastagens: 3. própria: ha 4. arrendada: ha 5. Em descanso: ha

06. Quais as práticas o(a) senhor(a) executa em sua propriedade?

1. ( ) Práticas de cobertura vegetal do solo (aveia, ervilhaca, aveia + ervilhaca, mucuna, capim doce, outras) - 2. Área ha

3. ( ) Práticas de preparo conservacionista do solo (plantio direto, cultivo mínimo, preparo reduzido) - 4. Área: ha

5. ( ) Práticas mecânicas de controle da erosão (terraços, cordões de contorno - de pedra ou vegetais) - 6. Área: ha

7. ( ) Nenhuma

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07. Qual a disponibilidade de máquinas e equipamentos adequados, individuais ou coletivos, para a implantação das práticas de conservação do solo?

1. ( ) Suficiente 2. ( ) Insuficiente 3. ( ) Inexistente

08. No caso de serem suficientes (questão 07), quais foram os motivos que levaram a adquiri-los?

1. ( ) fatores de ordem econômica 2. ( ) fatores relacionados com a humanização do trabalho 3. ( ) fatores ambientais e de preservação das características do meio

09. No caso de não existirem (questão 07), quais os motivos que conduzem a essa situação?

1. ( ) fatores de ordem econômica 2. ( ) fatores relacionados com a humanização do trabalho 3. ( ) fatores ambientais e de preservação das características do meio

10. O(A) senhor(a) acha que o agricultor que não adota determinadas práticas de conservação do solo, comprovadamente eficazes no controle da erosão, não o faz somente por não querer adotar ou ser contra?

1. ( ) Sim 2. ( ) Não 3. ( ) Não sabe

11. Muitos(a) agricultores(as) afirmam que "é melhor fazer as coisas sempre da mesma forma, porque as mudanças trazem complicações". Qual a sua opinião a respeito?

1. ( ) Concordo plenamente 2. ( ) Concordo em parte 3. ( ) Indiferente 4. ( ) Discordo em parte 5. ( ) Discordo totalmente

12. Caso os(as) agricultores(as) percebessem na conservação do solo somente benefícios de ordem ambiental e de preservação das características do meio, o(a) senhor(a) acha que eles implantariam práticas conservacionistas?

1. ( ) Sim 2. ( ) Não 3. ( ) Não sabe

13. A implantação do trabalho em microbacias hidrográficas em praticamente todos os municípios do Estado está levando a uma nova percepção quanto às questões relacionados com a conservação do solo. Tomando como exemplo a microbacia do Ribeirão das Pedras no município de Agrolândia, houve uma clara e notável modificação nos métodos de exploração dos solos, pelo uso de práticas mais apropriadas com relação ao estancamento do processo erosivo e na preservação e recuperação da capacidade produtiva dos solos. Na sua opinião, quais foram os motivos que levaram o(a)s produtores(as) da referida microbacia a adotar práticas conservacionistas em suas propriedades?

1. ( ) fatores de ordem econômica

2. ( ) fatores relacionados com a humanização do trabalho

3. ( ) fatores ambientais e de preservação das características do meio

14. Sabe-se, também, que uma parcela significativa de agricultores ainda reluta em adotar práticas de conservação do solo, tanto na microbacia do Ribeirão das Pedras quanto nas demais. Na sua opinião, quais os critérios mais relevantes que levam esses(as) produtores(as) a não executarem práticas de conservação do solo em suas propriedades?

1. ( ) fatores de ordem econômica

2. ( ) fatores relacionados com a humanização do trabalho

3. ( ) fatores ambientais e de preservação das características do meio

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15. O(A) senhor(a) certamente tem conhecimento das práticas de conservação do solo que os técnicos recomendam aos agricultores e mesmo já deve ter implantado algumas delas em sua propriedade. Com relação às práticas abaixo, o que o(a) senhor(a) acha que motiva os(as) agricultores(as) a adotarem cada grupo delas?

15.1. Práticas de cobertura do solo

1. ( ) fatores de ordem econômica 2. ( ) fatores relacionados com a humanização do trabalho 3. ( ) fatores ambientais e de preservação das características do meio

15.2. Práticas de preparo conservacionista

1. ( ) fatores de ordem econômica 2. ( ) fatores relacionados com a humanização do trabalho 3. ( ) fatores ambientais e de preservação das características do meio

15.3. Práticas mecânicas

1. ( ) fatores de ordem econômica 2. ( ) fatores relacionados com a humanização do trabalho 3. ( ) fatores ambientais e de preservação das características do meio

16. Do mesmo modo, quais os motivos que inspiram os(as) agricultores(as) a não as adotar?

16.1. Práticas de cobertura do solo

1. ( ) fatores de ordem econômica 2. ( ) fatores relacionados com a humanização do trabalho 3. ( ) fatores ambientais e de preservação das características do meio

16.2. Práticas de preparo conservacionista

1. ( ) fatores de ordem econômica 2. ( ) fatores relacionados com a humanização do trabalho 3. ( ) fatores ambientais e de preservação das características do meio

16.3. Práticas mecânicas

1. ( ) fatores de ordem econômica 2. ( ) fatores relacionados com a humanização do trabalho 3. ( ) fatores ambientais e de preservação das características do meio

17. Com relação à execução das práticas de conservação do solo recomendadas pelos técnicos, como o(a) senhor(a) percebe que os(as) produtores(as) que as executam as avaliam?

17.1. Práticas de cobertura do solo

1. ( ) fáceis 2. ( ) medianamente 3. ( ) difíceis

17.2. Práticas de preparo conservacionista

1. ( ) fáceis 2. ( ) medianamente 3. ( ) difíceis

17.3. Práticas mecânicas

1. ( ) fáceis 2. ( ) medianamente 3. ( ) difíceis

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18. Com relação ao atingimento dos objetivos pelos quais as práticas de conservação do solo foram implantadas, qual sua opinião sobre o que percebem os produtores que as implantam?

18.1. Objetivos de ordem econômica

1. ( ) muito eficientes 2. ( ) medianamente 3. ( ) ineficientes

18.2. Objetivos relacionados com a humanização do trabalho

1. ( ) muito eficientes 2. ( ) medianamente 3. ( ) ineficientes

18.3. Objetivos ambientais e de preservação das características do meio

1. ( ) muito eficientes 2. ( ) medianamente 3. ( ) ineficientes

19. Qual a contribuição das práticas de conservação do solo recomendadas na melhoria das características físicas e químicas do solo e na produtividade das lavouras que os(as) produtores(as) que as executam percebem?

19.1. Práticas de cobertura do solo

1. ( ) contribuem 2. ( ) medianamente

3. ( ) não contribuem 4. ( )não sabe

19.2. Práticas de preparo conservacionista

1. ( ) contribuem 2. ( ) medianamente

3. ( ) não contribuem 4. ( )não sabe

19.3. Práticas mecânicas

1. ( ) contribuem 2. ( ) medianamente

3. ( ) não contribuem 4. ( )não sabe

20. Suponhamos que o(a) senhor(a) fosse o(a) técnico(a) responsável pela execução do Projeto Microbacias. Quais seriam seus principais argumentos para motivar os(as) produtores(as) a adotarem práticas de conservação do solo?

1. ( ) fatores de ordem econômica

2. ( ) fatores relacionados com a humanização do trabalho

3. ( ) fatores ambientais e de preservação das características do meio

21. Caso o(a) senhor(a) fosse Secretário(a) da Agricultura do Estado, quais seriam as razões que o(a) inspirariam a implantar um programa de conservação do solo?

1. ( ) fatores de ordem econômica

2. ( ) fatores relacionados com a humanização do trabalho

3. ( ) fatores ambientais e de preservação das características do meio

22. Como o(a) senhor(a) avalia a situação econômica da sua propriedade em comparação com a anterior ao início do Projeto Microbacias?

1. ( ) Melhorou 2. ( ) Igual

3. ( ) Piorou 4. ( ) Não sabe

23. Caso não tivesse sido executado o Projeto Microbacias, como o(a) senhor(a) acha que estaria a situação atual?

1. ( ) Melhor 2. ( ) Igual

3. ( ) Pior 4. ( ) Não sabe

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QUESTÕES A SEREM RESPONDIDAS PELO TÉCNICO RESPONSÁVEL PELA EXECUÇÃO DO PROJETO MICROBACIAS NA QUAL O(A) PRODUTOR(A) RESIDE.

24. Qual o nível de instrução do(a) produtor(a)?

1. ( ) bom 2. ( ) regular 3. ( ) baixo

25. Qual o nível de renda do(a) produtor(a)?

1. ( ) bom 2. ( ) regular 3. ( ) baixo

26. Qual o padrão tecnológico do(a) produtor(a)?

1. ( ) bom 2. ( ) regular 3. ( ) baixo

27. Qual o nível de percepção do(a) produtor(a) frente a novas tecnologias?

1 ( ) bom 2. ( ) regular 3. ( ) baixo

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9.2. Dados relativos à amostragem

N.º MUNICÍPIO MICROBACIA FAMÍLIAS1

ENTREVISTAS2

01 Agrolândia Ribeirão das Pedras

103 26

02 Agronômica Mosquito Grande 112 -

03 Aurora Nova Itália 97 -

04 Ibirama São Rafael 145 20

05 Ituporanga Rio Batalha 46 08

06 Lontras Dona Paula 122 -

07 Presidente Getúlio

São José/Serra dos Índios

127 -

08 Rio do Oeste Sumidor 88 15

09 Rio do Sul Ribeirão do Tigre/Albertina

130 12

10 Salete São Luiz 110 -

11 Taió Ribeirão da Erva 127 -

12 Trombudo Central

Vila Teodoro 111 18

T O T A L 1.318 99

Fonte: Secretaria Executiva do Projeto Microbacias/BIRD 1. Refere-se ao número de famílias de produtores que participaram do Projeto

Microbacias/BIRD, com base nas listas de adesão ao Projeto fornecidas pela Secretaria Executiva.

2 Número de agricultores entrevistados em cada uma das microbacias sorteadas. Nas microbacias assinaladas com (-) não foram realizadas entrevistas.