Heidegger e a Teologia - John D Caputo
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8/15/2019 Heidegger e a Teologia - John D Caputo
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HEIDEGGER E A TEOLOGIA
p o r Joh n D. Capu to
Tradu~ao de J . C.
Mar~alo pensamento d e Heid . , .. _ . . egger esteve d e InlCIO pr of undamente
ligad o aos pi o blemas r eliglOsos e teol6oicos Rece t t t' d . . . b . n emen e, a par Ir as
pesq Ulsas ~ InvestIg~90es hi~t6ricas de Hugo Ott, a pr endemos os d etalhes
da ed uca9ao e cna9ao InJc~alsde Heid egger na Igr e ja Cat6lica. Heid egger
nasceu nas fazendas catolicas e conser vador as d o sui, na Alemanha
Central, e seu pai er a urn sacr istao da Igr e ja d e St. Martin q ue ficava a
uns cInq iienta metros d o outr o lado d e urn belo e p equeno patio da casa
de Heidegger . A sua familia er a inabalavelmente f iel a igreja na
controver sia que seguiu ao pr imeir o Concf lio Vaticano q uand o os
cat61icos "liberais" r e jeitaram a proclama9ao d a infalibilid ade papal. 0
jovem Heid egger , brilhante e pio, foi marcad o d e inf cio pelo sacerd 6cio
cat6lico. Atraves d e uma ser ie de bolsas d e estud o fundada pela igr e ja,
inclusive uma direcionad a aos estud antes que procuravam f azer
d outorad o em Tomas de Aquino, 0 pobr e mas talentoso jovem ascend eu
dessas lavoUl-as rurais par a a eminencia de uma car r eir a em uma
universid ad e alema. Hugo Ott desco briu que as primeiras publica90es d e
Heidegger apareceram em 1910-12 no Der Ak ad emiker, uma r evista
cat61ica ultr a-conservad ora que seguia a linha d o Pa pa Pio X. L a ., numa
ser ie d e criticas literarias, 0 jovem Heid egger , aind a no inf cio de seus
vinte anos, falou contr a 0 per igo d o "Modernismo" para a sabed or ia
eter na da tr ad i9ao cat6lica. Heid egger cita com aprova9ao 0 dito do
"grand e (Josef Von) Garr es" : "Cave pr of undamente e voce vai se
descobr ir em solo cat6Iico".
For 9ad o a interr omper seus estud os par a 0 sacerd 6cio cat6lico
por razoes de saud e, Heid egger voltou-se primeir amente par a a
matematica e para as ciencias naturais e entao par a a f ilosofia, onde er a
a ber tamente identif icad o com a conf issao cat6lica. Sua pr imeir a posi9ao
de ensino foi como su bstituto tem porario na Cad eir a d e Filosofia Cat61ica
em Frei bur g e seu primeir o ser io d esa pontamento pr ofissional foi
d esvi ncular -se d o car go permanente desta cad eira em 1916.
Os pr imeir os inter esses f ilos6ficos e teol6gicos d e Heidegger
naqueles dias estavam centrad os numa nova e pr omissora apr o pria9ao d a
f ilosof ia escolastica med ieval a luz de suas pesquisas nos fundamentos d a
mod ern a 16gica e na r efuta9ao de Husser ! ao psicologismo. Como
f il6sofo, Heidegger r e jeitava 0 psicologismo - a tentativa d e encontr ar
16gica e matematica na composi9ao psicol6gica d a mente humana - como
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uma for ma de em~irismo e r elat~vismo, mesmo q uand o e le er a
teologlcamente contr ano ao modermsmo como f orma de relativismo
hist6r ico que ameaqava minar a eterna verd ade teol6gica. Heidegger viu
uma continuid ad e entr e as "investigaq6es 16gicas" d e Husser !, q ue
coJocavam a l6gica e a matemiitica no fund amento da pura
fenomenologia, e a tr ad iqao escotista da "gramatica especulativa" no
f inal d a Idad e Media. De acor d o com esta tr adiq ao, q ue era
prof und a mente anti-r elativista e anti-psicologista, as for mas da gramiitica
e d a Jinguagem (modus significandi) sao funq6es d e ur n ref lexo pur o,
formas univer sais de pensamento (modus int elligend i) , q ue sao r eflex6es,
elas mesmas, d o ser mesmo (modus essend i).
Mas Heid egger tambem viu um outr o lad o na tr adiqao medieval, pod emos d izer 0 Jad o "vivo" em oposiqao ao lad o l6gico e logocentr ico,
q ue e encontr ad o na vid a religiosa que animava 0 que ele chamou,
seguindo Dilthey, a "ex periencia d e vid a" medieval ( Lebenserfahr ung).
N6s devemos en tender - Heidegger insistia no p6s-escrito d e sua
dissertaqao d e ha bilitaqao - que a abstr aqao e dificuldad e d as teorias d os
fil6sofos e te610gos medievais procediam de uma concr eta ex periencia de
vid a, que tais teorias davam uma ex pressao conceituaJ par a a "relaqao d a
alma com Deus" como a que e experienciad a na vid a medieval. Par a
ganhar aces so aquela dimensao da tradiq ao medieval, Heidegger diz que
devemos escutar a teologia moral e 0 misticismo medieval, em particular
a do Mestre Eck hart. Portanto, e a noqao mfstica de que a alma pertence
completamente a Deus, que e constitufd a por um tipo d e transcend encia
para Deus, que vemos enormemente escrita na correspond encia da noqao
metaff sico-conceitual d e que 0 intelecto tem uma harmonia inter na com e
pertencente(convenient ia) ao ser . Esta noqao q ue pens a 0 " per tencer "
(gehOrt ) ao ser e uma noqao que Heidegger ira sempr e manter , d e umaforma ou d e outr a, como parte d e suas pr 6 pr ias vis6es posterior es.
Ao invocar 0 significad o vivo do misticismo med ieval
Heide~ger faz sua primeira tentativa de uma "destruiqao" d a tradiqao ~
que nao quer dlzer mveJar ou destruir mas antes r omper a su perf f cie
conceltual da tr adlqao metaff sica par a r estaurar ou reaver suas r afzes
vivas e experiencias vivificantes. Este e um gesto que Heidegger r e petiria
sempre e sempre em sua vid a, tanto que a f amosa "des(cons)tr uqao" da
metaff sica ou a "hist6ria da ontologia" em S er e T empo deve sempre ser
entend ld a como f und amental mente " positiva" e nao negativa.
Em 1919, aos trintaanosd e'ld d '- d .,., a e, na ocaSlao 0 batlsmo d e seu
Primelr o fIlho, Heldegger r ompeu com a "e' cato'" E d . l' Ica. screven 0 para
Engelbert Krebs, 0 Jovem padr e que havia casad o Martin e Elfrid e em1917 e q ue tena felto 0 batlsmo, Heid egger disse:
Insights epistemol6gicos, estendid os tanto quanto a teoria doconhecimento hist6r ico, f izer am 0 sistema do catolicismo pr oblematico e inaceitavel para mim - mas nao a cristandade e a
metaffsica ( a ultima, e claro, entend ida em novo sentido").(Carta
extraf da d e Heid egger and Aquinas d e John D,
Caputo)
Esta e a primeira "virada" no pensamento d e Heidegger e sua
importancia nao pode ser bastante enfatizada. Da vir ada do catolicismo
par a 0 pr otestantismo, os interesses filosOficos d o jovem pensad or
mudaram d as quest6es d e 16gica para as de hist6ria, da pur a
fenomenologia (husser!iana) par a 0 que ele chamou d e "her meneutica d a,
facticidad e" (i.e., a v id a concreta) e d a teologia dogmiitica para a teologia
d o No vo Testamento. Ele centrou sua atenqao nao par a te610gos
escolasticos como Aquino, Scottus e Suar ez mas par a Pascal, Lutero e
Kierk egaard que 0 levar am d e volta a Agostinho e Paulo. Entre 1919 e
1922, Heid egger - que se id entif icou em 1912 par a Kar ! Lowith como
ur n te610go cristao - empreend eu u rn in tensivo estud o d a "experiencia
factual de vid a" das comunid ades d o Novo Testamento (em par ticular a
exper iencia d eles d e tempo) n um esf or qo par a r estaur ar a autentica
ex periencia cr ista. 0mod elo d e Heid egger em seu pr o jeto foi a cr f tica de
Luter o a Ar ist6teles e a escolastica aristotelica med ieval. Lutero, como
f oi a pontado recentemente por urn histor iador , usava ate mesmo a
ex pressao "d estruiqao" para descrever seu pro jeto de restaur ar uma
autentica cristand ade escr itural sobre 0 alicerce conceitual da teologia
med ieval. Nao e exager o dizer que a tentativa de Heid egger de formular
uma "hermeneutica d a facticidad e" ou 0 que n6s podemos chamar em Ser
e T empo d e uma "analf tica existencial", q ue marcaria os traqos distintivos
da "vida factual" - do Dasein - foi ins pirada pela crftica de Lutero a
teologia metaf fsica medieval e na crftica de Kierkegaard da cristandad e
es peculativa hegeliana. 0 r egistro dessas investigaq 6es esta agora
dis ponf vel e aumentam com a dis ponibilid ad e no Gesamt ausgabe das
palestr as iniciais em Freiburg. 0 mais interessante desses ~ursos-
palestr as, cu ja publicaqao ter n sido prometid a para urn futuro pr oximo,
sao as palestras de Heid egger sobre Santo Agostinho, nas quais
1] 2 Perspeetiva Filosofica - V ol. [J - n° 26 - julho-d e zembro /2006 Per s pect iva F iloso f ica - Vol. [J - n° 26 - ju lho-dezembr o/2006 ] 13
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Heidegger tenta r estaurar a exper iencia crista do tempo q ue esta
escondid a sobre as su perestr utur as d a metaf f sica neo platanica nos
escr itos d e Agostinho.
o pr ot6tipo mais pr6ximo da "destruir ;ao da hist6ria daontologia" em S er e Tempo, e que mais tarde foi chamada de "superar ;ao
d a metaf f sica", foi essencialmente este pr o jeto de 1919 em q ue Heidegger
pro pas-se restaur ar as categor ias or iginais d a vid a factual cr ista. Ao
mesmo tempo, Heid egger tambem empr eend eu urn projeto par alelo
voltad o para Ar ist6teles. Ao contr ario de Luter o, 0 jovem f il6sofo nao
estava pr e parad o par a admitir que Deus havia enviado Arist6teles par a 0
mund o " como uma pr aga so br e n6s devid o aos nossos pecados". Ao
contr ario, Heidegger pr ocur ou r omper 0 sistema d e Arist6teles d os
conceitos metaf f sicos, q ue foi 0 lad o d e Arist6teles que a teologia
medieval havia se a pr o pr iad o, para d esco brir suas fontes na "vid a
factual". Arist6teles possufa uma enorme sensibilid ade fenomenol6gica
no mund o antigo, Heidegger pensou, e a tarefa d a interpr etar;ao de
Arist6teles que ele tinha elaborad o para restaurar as ex periencias d a vida
- as estruturas factuais da existencia grega e aristotelica - tomaram a
forma conceitual da fi losofia aristotelica. A interpretar ;ao de Heidegger
sobre Arist6teles naquele tempo foi tao rica e inovad or a que ins pir ou uma
gerar;ao de estudiosos aristotelicos e f oi dir etamente res ponsavel pela
indicar;ao que Heid egger recebeu de Mar burgo onde ele comer;ou a
ensinar em 1923 em estrita cola bor ar;ao com 0 gr and e te610go protestante
d o Novo Testamento Rud olph Bultmann.
o tr a balho que eventual mente Jevou ao aparecimento de Ser eT empo - tra balho inteiramente ligad o a questoes teo16gicas - consistia de
uma dupla r estaur ar ;ao: Arist6teles de ur n l ad o e a vid a no Novo
Testamento d o outr o. Parece-me q ue Heid egger pensou que essas duas
tarefas er am uma s6, que 0 r esgate d esconstrutivo d as categorias da vid a
factual alcanr;ariam os mesmos resultados se fossem uma questao d e
restaur ar os gregos ou a vid a cr ista inicial, se lessemos a Etica a
Nicamaco d e Arist6teles ou 0 Novo Testamento. Par a as categorias da
vid a factual - as categorias d e cuidad o e existencia, preocupar ;ao e
instrumentalid ade, tempor alidad e e histor icid ad e - saG 0 que sao, ond e
quer que elas sejam d esco bertas. Este e urn tipo peculiar d e a-
histor icismo em Heidegger neste ponto, da mesma f orma como seu a pego
a fenomenologia como ciencia universal e para 0 ideal de Husser ! d as
estrutur as univer sais d a vid a-mund o q ue seriam os mesmos, nao
impor tand o ond e eles se r ealizassem. A r ealizar;ao de Ser e T empo - d e
f ato uma r ealizar ;ao tanto dos husserlianos q uanta d os neo-kantianos - foi
"formalizar " essas estr utur as factuais, d and o-lhes uma conceitualizar ;ao
f or mal-ontol6gica que poder ia ser ontologicamente neutr a par a sua
instantaneldad e concreta. Isto e 0 que jaz pOI' tras da famosa distinr ;ao
entre existenclal,e eXlstenciario, ou 0 "ontoI6gico" e "antico", que SaGtao
centrais na analItlca eXlstenci~\. 0objetivo de Heidegger f oi colocar as
estr uturas a priOri d a Vida eXlstencial, da existencia do Dasein, sem ver
se tais estr utur as er am de fato atual - isto e, como uma materia
existenciar ia - gr ega ou crista.
A r ealizar;ao d e Ser e Tempo f oi manter a analftica existencial
livr e d e urn "ideal existenciar io", concr eto, de urn modo factual de ser -
como a vid a grega ou cr ista. Nao ha neste ponto nenhuma sugestao nos
escr itos d e Heid egger d e que a existencia grega foi mais ou menos
" primor dial" d o que a existencia crista. Ao contnlrio, ambas
representavam "id eais existenciarios" d a qual a analftica existencial prescind e, d a qual a analf tica existencial repr esentava a f ormalizar;ao
ontol6gica.Pr ecisamente pOI' S er e T empo ter em parte lanr ;ado uma
tentativa de formalizar as estr uturas d a f acticid ad e d a vid a crista que este
f oi saud ad o com grande entusiasmo pelos te610gos pr otestantes como
Bultmann (com quem em parte havia trabalhad o). Quando os te610gos
cristaos olharam dentr o das paginas de S er e T empo, eles descobriram-se
a si mesmos encar ando sua pr 6 pria imagem - f or malizada, ontologizada,
ou como Bultmann diz, desmitologizada. 0 que Ser e T em po havia
desco berto, diz Bultmann, f oi a estrutur a de uma existencia religiosa e
cr ista, mas sem a visao de mund o antico-mftica que era uma
caracterfstica idiossincratica d as cosmologias do primeiro seculo. A
tarefa de desmitologizar a cristandade, para Bultmann, surgiu para isolar
a estrutur a univer sal-existencial da existencia religiosa em gera\. A
desmitologizar ;ao classifica as estruturas existenciais como cuid ad o,decisao, tempor alid ad e e autencidad e em f ace da morte d e mltoS
cosmol6gicos como urn ceu "acima", urn inferno "a baixo" e a terr a entre
eles, mitos so br e os mensageir os celestiais que gr assavam entr e essas
regioes. Do pr 6 pr io Jesus "hist6r ico" e so bre quem ele n~ .verd ade
pensava que n6s nao sa bf amos nad a. Das comumd ad es hlstoncas q~e
foram f ormadas logo a p6s sua morte e que d er am um~ f ormu~ar ;ao
mitol6gica as suas mem6r ias coletivas d e Jesus e q ue contem a essenCla
da mensaaem cr ista, a verdade salvador a. A taref a d a teologla, ar mad a
agor a co; a analftica existencial de Heidegger , e desmitologizar e
desconstruir os Evangelhos cananicos para r estaurar seu kerygma ,. a
mensagem crista d a vid a-existencial, a conversao existencial (met anola)
d e transf or mar autenticamente em face d e nossa f initude e culpa, uma
tar ef a que encar a cad a ser humano.
Per s pe;tiva Filosofica-- Vo L II - n° 26 - julho-d ezembr o/2006 114 Pers pectiva F ilosofica - Vol. II - n° 26 - julho-d ezembr o/2006
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"Quand o BUltman~ "aplicou" Ser e Tempo a teologia crista, ele
estava des-formahzando a analftica existencial e articuland o-a em
termos de uma historicidad e especffica, urn ideal existenciario, nominal
uma cf lstand ad e h~st6rica: A r azao desta desformalizac;ao f uncionar ta~
bem fO! qu~ a anahtlca eXlstenclal emer giu em primeira instancia d e uma
f ormahzac;ao da vIda factual crista. Bultmann estava revertend o
enormemente 0 processo que levou ao aparecimento d e Ser e T empo.
Acr edlto que 0 mesmo pode ser dito de Paul Tillich _ tambem um coleoa
de Heidegger em Marburgo - para quem a atrac;ao teol6gica inicial lev~u
aos temas em Ser e Tempo que er am original mente d eduzidos de umaanalise do Novo Testamento,
Heidegger direciona suas opinioes na relac;ao entre a ciencia
fenomenol6gica universal e a teologia em suas ultimas palestras emMarburgo, "Fenomenologia e teologia", Filosofia, como a ciencia d o ser
mesmo, difere "absolutamente" d a teologia, que e uma ciencia "ontica"
deA
uma ,;egiao p~,rticular do ser , e nao do ser universal. Teologia e uma
ClenCla poSltlva ,porque se relaclOna com 0 positivo, entidade positiva
(a posltum) , funclOnando mais como a qufmica do que a filosofia. 0
posit um da teologia crista e a "Iuz crfstica", na qual Heidegger quer d izer
o mod o factual de existir como urn crente cr istao, de existir na hist6ria
que e soerguida pela Cr uz, pelo Crucificado, pelo Cristo na cruz. (Essas
formulac;oes refletem 0 interesse de Heidegger - no infcio de seus vinte
anos - pela teologia da cruz de Lutero). A teologia e 0 tr a balho de trazer 0
renascimento existencial que vem pela fe de maneira conceitual. A
teologia e uma ciencia da fe, do existir pleno de fe, do existir
hls~o.f1camente como cristao. Isso nao torna a fe mais faci!, porem mais
dlflCJl, pois nao da a fe urn terreno racional mas mostra aquilo que a
teologia nao pode fazer .A teologia e fundamentada pela fe e a fe nao precisa da filosofia,
mas a teologla, como ciencia positiva, precisa, A "cruz" e 0 " pecado"
podem ser vlvldos apenas na fe, mas eles s6 podem ser conceitualizados
apenas c,om a aJuda da filosofia, A fe e renascimento d o pecad o, mas 0
pecado e uma, determmac;ao ontico-existenciaria da estr utura ontol6gica
da culpa que e trabalhada ~m S er e T empo. 0conceito cr istao de pecado
depende de uma elucld ac;ao adequad a do conceito de cul pa d " '_ t d d "( I" , a precns an a e onto OglCOuniversal). Esta d e pendencia nao ' bl
d "d d -" d e ur n pro emae . e u~~o a c~I~~, ~as ant~s ~e r ece ber direc;ao e a juda conceitual _
ou amda co-dlr ec;ao e correrao - d a ontologl'a 0 't I"'A .,. , • concel 0 teo OglCO
de pecad o emer ge d a ex penencla d a f e mas alcanra fi 'I' ' . ,. orma conceltua
a pen~s_ com a aJud a da, f ilosofia. , Ninguem nega, acha Heidegger , a
0 poslc;ao mor tal entr e f e e fJlosof ia d a visao paulina, De f ato, e esta
dis puta, esta gr ande toliee d e que filosofia e fe pareee t t'. A."'" . m es ar para a ou ra,
que se mantem lor te. Je e a mlmlga da fIlosof ia ex' t '" d ' ". , , ISenelana, mas eve
se aSSOCiarao Inlmigo se q Uiser assumlr sua for ma cone 't I I"el ua teo oglea.
I 16 Per s pectiva Filos6fica - V ol. II - n" 26 - julho-d e zembrol2006
"Fenomenologia e Teologia" foi 0 adeus de Heid egger a teologia
cr ista como questao de preocupac;ao explf cita e pessoal. A p6s retor nar de
Frei bur go como sucessor d e Husser! em 1928, seu pensamento deslizou
para outra mudanc;a fund amental, uma mudanc;a que uma vez mais estava
ligad a a uma atitude teol6gica, Estes foram os dias negros d a vid a e d os
trabalhos d e Heidegger . Culminaram com seu infernal endossamento ao Nacional Socialismo e seus ardorosos esforc;os para nazifiear a
univer sidad e alema. Ele tornou-se urn leitor entusiastico de Nietzsche,
enq uanto Kierk egaard , L utero e Ar ist6teles ficavam par a tras.
Profundamente influenciad o pelo bizarro trabalho de Ernst JUnger, seu
pensamento tornou-se excessivamente voluntarioso e her6ico,
encontrando-se muito distante do pr6prio S er e T empo. Ele falava de urn
niilismo transgressor , com 0 qual ele queria assinalar os inoportunos
efeitos da modernidade e das instituic;oes democraticas moderno-liberal,
tod as vistas como uma sofisticac;ao burguesa e urn amor ao conforto que
ele identif icava simples mente com a "teor ia do valor". Em oposic;ao a
este "mori bundo semblante d a cultura", Heidegger argumentava sobre 0
amor ao perigo, a necessidade d e ex por-se ao a bismo do ser, a aventurar -
se alem dos limites da superf f cie do ser . 0 q ue por si s6 dari a a
grandiosidade e forc;a ao "espfrito alemao" - toda a noc;ao de "Dasein" e
das estruturas a priori tinham sido agora estreitadas para urn modoalemao especffico de ser . Tal d ureza de espfrito deveria manter afastado 0
Ocidente da "fronteira et cetera" do consumismo amer icano, por urn lad o,
e do comunismo russo, por outro. Tudo isso atingiu um cume filos6fico
pr imeiro na famosa "Carta a Reitoria" de 1933 e entao no curso palestr a
de 1935, Uma IntrodUl;iio a M etaf£ sica.
Este fatal desenvolvimento no pensamento de Heidegger esta
intimamente ligado a uma mudanc;a d e atitude teol6gica. Se ele havia
comec;ado como urn cat6lico ultr a-conservador , e s e a p6s 1917 ele
tornou-se profundamente envolvido num dialogo com a teologia
hist6rico-liber al pr otestante, ap6s 1 928 ele estava pr ofund amente
antagonizado com a cr istand ad e em ger al e c om 0 catolicismo d e
Freiburgo em particular, e comec;ava a d ar as indicac;oes de tornar-se
pessoalmente ateu. Sua conduta pessoal em Freibur go passou a ser d e
hostilidade par a com a cr istand ade. Ele nao aceitava estud antes jesuftas
Perspe~tiv~Filos6 fic~= Vol. Ii':'~o26 = julho:dezembroI2006 117
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que vinharri a Freiburgo como seus estud antes de graduac,;ao, e ele tratava
outr os estud antes cat6licos - como Max Muller - extremamente mal.
Quand o suas disser tac,;oes eram a pr esentad as - sobre a dir ec,;aode Martin
Honeck er que presidia a Cadeir a de Filosof ia Cat6lica - Heidegger
tr atava-os com distancia e ate mesmo com d esd em. (De pois de 1945 ele
af ir mou isso aos seus estud antes). Quando Honeck er faleceu
ines perad amente em 1941, Heidegger aboliu tal cad eir a, a mesma que ele
havia aspirad o ur n q uarto d e seculo antes.
Seu trabalho filos6f ico, sempre "metod ologicamente" ateu,
perd e sua neutr alid ad e ontol6gica e torna-se hostil a cristandade. Se ele
pensou, a partir d e 1928, que tanto a existencia gr ega q uanto a crista,
tomadas .em sua concretude hist6rica, exemplificavam as estruturas
universais d a existencia f actual, sua posic,;aod urante a decad a d e trinta foi
a de que a cristand ade era uma qued a decadente d a experiencia
primord ial grega. Por "grego" ele queria dizer os pr imeiros gregos, e
tomava Platao e Arist6teles para representar 0 comec,;odo esquecimento
metaf fsico do ser . A hostilidade que havia invadido a descric,;ao de
Heid egger da relac,;aoentre 0questionamento f ilos6fico e a fe crista, entre
seu atef smo metod ol6gico e ainda mais 0 atef smo agressivo, pode ser
visto c1ar amente no seguinte contr aste: em 1922, ele escreveu:
co~sequencias de tal passo. Ele ira apenas estar apto a agir 'comose . (Uma [ntrodur ;aoa Metaf isica)
No f inal d o, texto, Heid egger ataca urn tr a balho intitulado 0 Que
e 0 H omem? do teologo CrIstao Theod or e Haeck er , cu ja leitur a recente
em Freibur go havla sldo f erozmente pr otestad a pelos estud antes nazistas.
Se urn homem acredita nas proposir;6esd o dogma cat6lico, isso euma q uestao pessoal; n6s nao iremos d iscutir isso aqui. Mas comon6s pod emos levar a serio urn homem q ue escreve "0 Que e 0
Homem?" na ca pa d e seu livro embor a ele nao inquir a, pois eleesta relutante e inca paz d e inquirir?...POI'que eu falo de tais irrelevanciasem conexao com a exegese d odictum d e Parmenid es? Por si mesmo, este tipo d e gar atuja e semimportancia e insignif icante. 0 que nao e sem importancia e a
paralisia d e tod a paixao pelo questionamento que ter n estad o
conosco. (Ibid em)
A questionabilidade nao e r eligiosa, mas antes pod e conduzir a
uma situac,;ao d e d ecisao r eligiosa. Eu nao me com portor eligiosamente ao filosof ar , mesmo se como fil6sofo eu possa ser ur n homem r eligioso. "Mas aqui esta a arte": filosofar e assim ser
genuinamente r eligioso, isto e, tomar factualmente suamundanid ade, a tar efa hist6r ica no f ilosofar, em ac,;aoe num
mund o em ac,;ao,nao na id eologia e f antasia r eligiosas.Filosof ia, em sua radical questiona bilid ad e auto-imposta, deve ser em princi pio a-teistica. (Gesamtausga be, Vol 61)
Heidegger agora claramente mantem que ha uma contr adic,;ao
existencial (se nao 16gica) entr e 0 q uestionamento f ilos6fico rad ical e a fe
religiosa. 0 cr ente nao tem paixao - ou a honestidad e - par a entr ar no
a bismo da q uestionabilidade d o ser . Na visao que ele toma nesta epoca,
faz tambem d a fe da cristandade uma for c,;a contr a-r evolucionaria do
ponto de vista da "renovac,;ao" do Nacional Socialismo. Ao f r onsti pf cio
do q uestionamento, 0 crente ira sem pr e colocar um t ipo d e q ualid ade
"como se" fraudulenta. A d esonestid ad e do tr a balho d e escritor es cr istaos
nao dever ia ser mencionad a no mesmo f6lego como a grandiosidad e d os
pensad or es gregos como Par menides.
Ir onicamente, e em testemunho ao pod er d o seu pensamentocomo oposto a limitac,;ao e per versidad e d o homem, Heid egger estava
para exercer uma enorme inf luencia na teologia crista precisamente
d urante esta epoca. Vma serie de luminares cat6licos ouviu essas
palestras dur ante a decada d e trinta, incluindo, em adic,;ao a Muller ,
Gustav Siewerth, Johannes Lotz, e, acima de todos, Kall Rahner , todos
aqueles q ue eram jesuitas alemas. Rahner desdobrou a pro blemati ca do
questionamento em direc,;ao a o "Tomismo tr anscendental" trazido
primeiramente pelo jesuita belga Marechal. Ele tomou esse
q uestionamento, bem como a a bertur a radical de pensar 0 ser ,
re presentando 0 dinamismo ou momenta d a mente para Deus. Ele tratava
a pr e-apreensao d o ser pelo entendimento como uma pre-compreensao de
Deus d esde q ue Deus seja 0 ser que e interrogado em todos os nossOS
pensamentos e ac,;oes. No seu segund o trabalho principal, H ear ers of t he
o truque e manter-se na "questiona bilidad e" radical, isto e, aha bilid ade de tr azer questoes radicais enquanto respondendo ao a pelo da
f e. 0 questionamento filos6fico nao e e nao pode torna-se fe sem cessar
d e ser q uestionamento, mas 0 crente pode a brac,;ar sua fe aberta e livre d a
id eologia d ogmiitica a penas sustentand o a vid a do questionamento. Mas
em U ma lnt r odw;[io a M et afisica , lemos:
Alguem para q uem a Bf blia e uma verd ad e e r evelac,;aod ivina tem
a resposta par a a per gunta "Por que ha ser es e nao 0 nad a" mesmoantes d esta ser f eita... Quem a br ac,;atal f e pode d e uma forma
partici par d a r es posta a nossa questao mas nao pode r ealmenteq uestionar sem cessar d e ser um cr ente e tomar todas as
Perspectiva Filos6jica - Vol. I I - n° 26 - julho-de zemb ro /2 00 6 1 19118 Per s pectiva F ilos6 jica - Vol. II - n° 26 - julho-de zembro/2006
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H eicf egg! ,. e a Teologia por John D. C aputo
Word, R ahner apr o pr ia-se d a tematica de f alar e ouvir , chamar e ser
chamado, que a s r eflexoes d e Heid egger t inh am come
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Heidegger e a T eologio- por J ohn D. Caputo
"vontad e" foi tomada num sensa ger al que nao q uer dizer a penas
escolhend o e q uer endo em d eterminado sensa, mas a pensamento
conceito au "representacional" tod o, q ue vai para a essencia d a filosofia
ocidental e da tr adic;ao cientffica. Os acentos her oicos d o poder oso
"contlito" entre ser e humanidad e - a polemos de Heniclito q ue
Heid egger gostava d e tr ad uzir d ur ante a metad e da d ecada d e tr inta par
Kampf 2- desa parecera. Em vez de vontade, Heid egger f alava de "d eixar
ser", usand o neste momenta a palavra Gelassenheit 3, uma das mais
velhas e venerad as partes d o voca bular io d os mfsticos d o Reno, em
especial d e Mestr e Eckhart. Ser nao e algo que 0 pensamento humano
possa conce ber ou "a pod er ar-se" (be-gr ei f en , con-caper e) mas algo q ue
ao pensamento pod e ser a penas "garantid o". Os pensamentos vem ate
nos; nos nao os pensamos (Poesia , Linguagem , Pensamento). Pensar eum d om ou uma gr ac;a, um evento que nos toma, uma dir ec;ao visitad a
por nos. A func;ao d o ser d o homem nao e, c ontudo, ex primir passividade
mas coo per ar com e permanecer "aberto" para 0 advento d o ser . 0
tr a balho que 0 homem pod e fazer nao e q uer er mas nao q uerer, preparar a
c1areir a e abertura em que 0 ser possa vir . Isso nao e quietismo, mas
ascetismo, 0 diff cil trabalho d e uma es pecie de po br eza de espf r ito. Um
debate comec;ou que continua ate agor a so bre 0 lugar d a "ac;ao" e etica no
pensamento de Heidegger, um d e bate que repete a disputa na literatur a
c1assica sobre 0 misticismo e a ac;ao etica, q ue por si mesmo retor na a
estoria bf blica d e Maria e Marta e a dis puta medieval so br e os mer itos
r elativos da vita act iva e da vita contem plativa.
M ais uma vez, uma mudanc;a f undamental no pensar de
Heidegger toma lugar e de novo com declarad o tom r eligioso. 0
estr idente antagonismo d a cristand ad e d urante a guerr a - ele mesmo urn
protestante e ar d ente catolico - adquiriu um ar mf stico. Com sua ultima
virad a, Heid egger estava, como ele mesmo disse, r etornando para seu
princf pio teologico. Ele foi, nos d izemos, muito interessad o no
misticismo med ieval, tanto que na juventud e tinha pretendido escr ever
um livr o sa bre Mestr e Eck hart. Ele tambem havia anunciad o um curso d e
palestras sobre a misticismo med ieval par a 1919, mas os prepar ativos
para 0 curso foram aparentemente interr ompid os pela Primeir a Guer r a
Mundial eo curso nunca f oi dado.
As relac;?es d e Heidegger no pas-guerra com os teologos'
protestantes e catoiIcos reverteram-se dramaticamente. Nos julaamentos
d e d esnazificac;ao que ocorr eram log o a pos a guerr a, um Heidegger
pressionad o (ele eventual mente sofreu um cola pso menor ) voltou-se
pnmelr amente par a a aJud a d e seu conselheir o e velho amigo Conrad
Gro ber , 0 Ar ce blspo d e Fr ei bur go, q ue havia angar iad o completo respeito
par se p oslClonar contr a as nazistas durante a auerra ( alga que Heid eaaer . b bO
d if icilmente a pr ovana naqueles anos ).
Todavia isso nao quer dizer q ue a pensamento d e Heid egger
houvesse se voltad o para a f e d e sua juventude. A dimensao mfstica d e
seu pensamento e estritamente uma questao estrutur al, um assunto d e
certa pr o por cionalidade: a relac;ao d e " pensar " par a "ser " e
estrutur almente d ada como uma relac;ao d a alma com Deus no misticismo
religioso. Pensar direciona-se par a 0 ser , nao par a Deus. Ser nao e Deus
ma s a evento d a manifestac;ao, a acontecimento d a verd ade do ser , a
vinda que passa d a historia d as manifestac;6es do ser par e pocas - dos primeir os g regos a vontade de poder . Ser q uer d izer muito mais do q ue
aquilo que nos podemos d e q ualquer maneir a chamar historia, mas com
duas importantes d iferenc;as: (I) histor ia e c ompr eendid a como uma
historia da ver d ade ou manifestac;ao das v ar ias formas que 0 ser toma
pelas er as (como eidos em P latao, como espfr ito em Hegel, como vontad e
d e pod er na mod ernid ad e r ecente), uma o posic;ao a historia polftica,
militar , social ou econ6mica; (II) a histor ia nao e a historia humana mas
a penas pertencente ao ser , d esd o brand o-se so b a "iniciati va" d o ad vento
d o ser e d a r etir ada d o pensamento.
o status d e Deus no ultimo Heid egger e , mf stica ereligiosamente, muito d e batid o. Heid egger f al a d e Deus (e dos d euses)
mas e u m Deus que, d o ponto d e vista jud aico-cristao, tem muito d e sua
so berania atr elad a a historia e torna-se uma f unc;ao d a historia d o ser .
Dessa forma, a e poca d os enviados d os d e uses, a era d o Sagr ado, passou
e nos agor a es per amos um novo deus, um novo e impr edicavel enviad od a grac;a Sagrad a q ue aparece para ser a func;ao d o enviad o d o ser , nao d a
vontade d e Deus. Heidegger , neste ponto, id entifica a ultima era d o
Sagr ad o como 0 tempo d a religiao d os gr egos, d o Velho Testamento e d o
minister io d e Jesus, indicand o um tipo d e historicismo so bre as v arios
mod os pelos q uais 0 Sagrado pode manifestar -se au tomar varias for mas
historicas, nenhuma d as quais e a bsoluta. Contud o, Heidegger demonstra
nestes escritos uma decidida prefer encia pelos primeiros gregos, pela
ex periencia grega de ser como physis e alheteia e pela ex periencia d os
"deuses" como parte do "Quadruplo". 0 Quadruplo - terra e ceu, mor tais
e deuses - e uma pr ofund a conce pc;ao de Holder lin que Heidegger deriva
d e suas leituras desse poeta sa bre 0 mund o grego. Entao 0 deus q ue
emerge nos ultimos escr itos de Heid egger e um d eus pr of und amente
poetico, uma ex periencia poetic a d o mundo como algo sagr ad o ou2 Com bate, ac;ao, luta.
3 Serenidad e, calma.
122 Per s pectiva F ilos6 f ica - Vol.ll-n" 26 - julho-d e zembr o/2006 Pers pectiva Filos6 f ica - Vol.ll-n" 26 - julho-d e zembr o/2006 123
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H eid egger e a T eologia par John D. Caputo
merecedor d e reverencia. Este deus e muito mais pagao-poetico e muito
menos jud aico-cristao , urn Deus etico-r eligioso. Ele nao tern nad a a vel'
com 0 Deus a q uem Jesus chama abba ou com a religiao da cruz que
Heid egger encontrou em Luter o. De f ato, os ultimos escritos de
Heid egger suger em mais urn tipo d e Budismo, urn ti po medltatlvo e
r ever enciad o mund o silencioso, mais d o que d o jud aico ou cr istao.
Compr eensivelmente, os te610gos cristaos ter n mostr ad o urn
nota vel inter esse no que f oi nutrid o pelos ultimos escr itos de Heid egger .
Estes escritos sao mar cad os - s e bem que genericamente - pelo discur so
pr ofundamente religioso d e Heid egger so bre d ar e r ece ber , grac;a e
bond ad e, salvac;ao e perigo, discur so e r es posta, pobr eza e abertur a, flm
d os tempos e novo comec;o, misterio e retratac;ao e pOI'novas tematicas d averd ad e divina em Deus. Uma nova onda de te610gos pr otestantes p6s-
Bultmann emer giu e seguiu alem d a "teologia existencial" de Bultmann e
ad otaram uma posic;ao que ref letia a pr 6 pria mud anc;a de Heidegger p~r a
alem da analftica existencial. Esses te610gos tinham uma pr eclsa
a preciac;ao dos as pectos hist6ricos e lingtifsticos d o "pensamento d o Ser"
d e Heid egger e q ue eles trouxeram para conduzir seus tr a balhos
teol6gicos. .
A figur a chave neste movimento p6s-Bultmann e Heinrich Ott.
Em seu trabalho de 1955 intitulado Denk en u nd S ein (Pensar e Ser ), Ott,
ur n estudante d e Kar l Barth, que havia tambem estudado extensivamente
com Bulmannn, mostr ou de fato que as ultimas rejeic;6es d e Heidegg er ao
humanismo a briam novas possibilid ad es par a a teologia (e par a 0
Heid egger d e S er e T em po) e mostr ava que a teologia de Barth d a
pr imazia d e Deus e d e fato acomodada pela ultima volta de Heidegger
par a 0 ser . A teologia, para Ott, sur ge d a ex periencia d a f e e n ao e
assunto para uma o bjetivac;ao cientf f ico-teoI6gica, mesmo pa ra ur n
Heid egger que f ala "f ora d a experiencia d o pensamento", f ora d a
ex periencia d o pensamento d o ser . OU continua a construir a hist6ria da
salvac;ao como a hist6ria d a revelac;ao com par a vel a hist6ria de
Heid egger da r evelac;ao d o ser e coloca a concepc;ao d e Heid egger da
linguagem como "chamad o" par a usaI' na interpretac;ao d a Iinguagem
bfblica. As sentenc;as d o Novo Testamento so bre a r essurr eic;ao, pOl'
exemplo, nao sao tomad as como pr o posic;6es assertivas so bre assuntos d e
fato mas sim como urn chamad o par a urn novo mod o d e ser . 0 tr a balho
d e Ott , e 0 impacto d o ultimo Heid egger na ref lexao teol6gica, alcanc;ou
os Estad os Unid os num volume intitulad o T he Later H eid egger and
T heology.
Em 1959, num encontro com os velhos marbur gueses,
Heidegger levou urn dia inteir o discutindo a r elac;ao entr e seu ultimo
" pensar " e a fe crista, a q ual consid er ava que se seu pensamento cond uzia
ao Deus da metaffsica, isso nao q ueria dizer uma inconsistencia com a
relac;ao nao metaff sica com Deus. 0 d esf echo d o " pensar " para a
teologia e cessar d e pensar Deus como causa sui , como a ener gia causal
q ue cria e sustem 0 cosmos, e em vez disso voltar-se par a Deus como
alguem que pode danc;ar e d o br ar os joelhos. Isso ele chama 0 verd ad eir o
"Deus d ivino"(ld entid ad e e d i f er em;a) , e isso nos lembra a injunc;ao d e
Pascal q ue resid e a parte d o Deus d os fil6sof os em favor d o Deus de
Abraao e Isaac. Esta foi uma gr ande a bertura da f ormulac;ao final d e
pensar na relac;ao d a fe religiosa, e foi pr ecisamente 0 caminho q ue OU
estava per seguind o.
Esta sugestao tam bem foi tomad a com forc;a e inter esse pelo
lado cat6lico pelo te610go cristao d e Fr eiburgo. Bernard Welte. Welte
aroumenta que a c once pc;ao d e Heid egger d a hist6r ia do ser f ala-nos de
u~a escurid ao tecnol6gica d a ter r a em que a ilusao d o d omfnio humano
enco br e 0 apar ecimento d e Deus. 0 "outr o ser " d e q ue fala Heid egger
assinala uma nova er a d o Sagr ad o, uma e poca em que d eus pode de fato
ser Deus. Welte tambem escr eveu com sensibilidad e so bre Mestre
Eck hart e a noc;ao d e C elassenheit , e pr oduziu urn excelente ensaio
compar and o 0 ultimo Heid egger a Mestr e Eck hart e Tomas de Aquino
(de quem a Cadeir a Dominicana em Par is havia sid o ocupad a pOl' Mestre
Eckhart ).
Martin Heid egger f aleceu em 1976 aos oitenta e seis anos. Foi
enterrado no patio d a igreja cat6Iica d e Messkir ch entr e sua mae e seu
pai. A pedid o d e Heid egger , uma missa cat6lica f oi celebrada pOl'
Bernard Welte na igr e ja d e St. Martin onde 0 p ai de Heidegger havla sldo
sacristao e ond e ele havia brincad o na oficina d o por ao quando malS
jovem. Welte, que f oi tambem companheiro conterraneo d e Heidegger ,conduziu 0 louvor . Welte disse, muito corretamente, que 0 pensamento
d e Heidegger havia balanc;ad o seu seculo, e que f oi urn pensamento q~e
estava sempr e pr ocur and o, sem pre a caminho. Ele r elaclOnou 0 ser a
caminho" com a compreensao d o Evangelho de que aquele que pr ocur a,
encontrar a:
"Ele que pr ocur a" - que pod eria muito bem ser 0 titulo d e todo0 pensamento e vid a de Hcid egger . "Ele que encontra" - q ue pod ena
ser a mensagem secr eta d e sua mor te.
124 Per s pectiva Filosof ica - V ol. I I - n" 26 - julho-de zembro/2006
Tinha Heid egger completad o 0 circulo, confir mando 0 q ue ele
disse em No Caminho da Linguagem d e que seu f uturo r e pousava no seu
inf cio teol6gico? Foi esse final cat6lico a repetic;ao d e seu principio
cat61ico? Foi essa a virada final sobr e 0 caminho d o pensamento?
Per s pectiva Filoso fica - Vol. II -/1"
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H eid egge r e a T eol ogia
CAPUTO, John D. H eid egger and t heology. Extrafd o d e The Cambrid ge
Companion to Heid egger . Editado por Char les B. Guignon.
Cambrid ge Univer sity Pr ess, 1998. Texto r elativo as paginas 270 a
285.