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1 HEFESTO- ENTREVISTA COORDENADORES DE DEPARTAMENTO HC1 - Sou professor de física e química e neste momento sou coordenador do departamento curricular de matemática e ciências experimentais. EU Que abrange que disciplinas? HC1 Abrange, portanto, nesta escola: a física, química, biologia, geologia, matemática, engenharia informática, engenharia civil, engenharia mecânica, e engenharia electrotécnica HC2 Albuquerque 114 professores! EU 114 professores do departamento? HC1 Metade dos professores da escola. EU Estás a falar em termos de organização mais recente, do grande departamento… HC1 Sim, do grande departamento. EU - Exacto, porque a HC2... HC2 Sou do grupo de recrutamento 500. Sou de matemática, e quando iniciei aqui as minhas funções era coordenadora de primeiro departamento; agora não sei o que é que sou muito bem, sou assim… Coordeno na mesma os professores de matemática, portanto faço reuniões, todas as actividades são coordenadas por mim, mas em termos de designação não sei exactamente o que é que… HC3 - A HC2 é representante de disciplina. EU É assim que está no regulamento interno? HC3- É assim que ainda está no regulamento interno… HC2 - Mas em termos de designação, em termos de legislação, não sei… HC1 De acordo com aquilo que a Manuela Areias explicou no Pedagógico, a escola decidiu optar, porque tinha a opção, continuar organizada nos moldes do anterior decreto, que é o 115A e portanto, nesses moldes, ela é coordenadora do departamento de matemática. Não é do departamento curricular, mas é do departamento de matemática. EU No pedagógico quantas pessoas estão? HC1 Cerca de 16, 15 professores e a Manuela. EU Então, HC1, faltou dizeres há quantos anos estás aqui. HC1 Entrei para o quadro desta escola no mesmo ano que a Helena Dias da Silva. HC2 Este é o teu terceiro ano. HC1 Este é o meu terceiro ano, exacto. EU E em tempo de serviço global? Mais ou menos… CG CG CG CG CG CG CG CG CG CG CG RSI RSI RSI

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HC1 - Sou professor de física e química e neste momento sou coordenador do departamento curricular de matemática e ciências experimentais. EU – Que abrange que disciplinas? HC1 – Abrange, portanto, nesta escola: a física, química, biologia, geologia, matemática, engenharia informática, engenharia civil, engenharia mecânica, e engenharia electrotécnica HC2 Albuquerque – 114 professores! EU – 114 professores do departamento? HC1 – Metade dos professores da escola. EU – Estás a falar em termos de organização mais recente, do grande departamento… HC1 – Sim, do grande departamento. EU - Exacto, porque a HC2... HC2 – Sou do grupo de recrutamento 500. Sou de matemática, e quando iniciei aqui as minhas funções era coordenadora de primeiro departamento; agora não sei o que é que sou muito bem, sou assim… Coordeno na mesma os professores de matemática, portanto faço reuniões, todas as actividades são coordenadas por mim, mas em termos de designação não sei exactamente o que é que… HC3 - A HC2 é representante de disciplina. EU – É assim que está no regulamento interno? HC3- É assim que ainda está no regulamento interno… HC2 - Mas em termos de designação, em termos de legislação, não sei… HC1 – De acordo com aquilo que a Manuela Areias explicou no Pedagógico, a escola decidiu optar, porque tinha a opção, continuar organizada nos moldes do anterior decreto, que é o 115A e portanto, nesses moldes, ela é coordenadora do departamento de matemática. Não é do departamento curricular, mas é do departamento de matemática. EU – No pedagógico quantas pessoas estão? HC1 – Cerca de 16, 15 professores e a Manuela. EU – Então, HC1, faltou dizeres há quantos anos estás aqui. HC1 – Entrei para o quadro desta escola no mesmo ano que a Helena Dias da Silva. HC2 – Este é o teu terceiro ano. HC1 – Este é o meu terceiro ano, exacto. EU – E em tempo de serviço global? Mais ou menos…

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HC1 – Em termos de serviço global estou com 35 anos. De função pública. EU- Então, vamos, HC2! HC2 – Sou HC2 Albuquerque, então a coordenadora dos professores de matemática, anteriormente do primeiro departamento. Lecciono nesta escola há três anos, dou aulas há vinte e nove anos…e não sei o que hei-de dizer mais… EU- Não é preciso mais. Agora a HC3. HC3 – Sou licenciada em História, dou aulas há 37 anos, tenho um percurso fundamentalmente na área pedagógica, que vai desde a tradicional delegada, coordenadora, até formadora, orientadora de estágio, co-autora de livros escolares, tudo sempre na área pedagógica. E nesta escola estou há cerca de 16 anos, talvez. Entre outras funções fui durante 4 anos Presidente da Assembleia de Escola e enquanto isso dei o pontapé de saída para a chamada avaliação interna. Presentemente sou coordenadora da biblioteca, directora de turma, representante da UNESCO … E por força de circunstâncias, que eu espero que sejam pontuais, sou avaliadora também. EU – Na biblioteca há quanto tempo és coordenadora? HC3 – Na biblioteca, há 7 anos. EU – E já são muitos. HC3 – É tudo em bastante quantidade! EU – Então vamos entrar na questão principal. A autoavaliação já sabem que é o tema da conversa. E a primeira coisa que eu quero saber é o que é que vocês sabem desse processo interno da Escola e em que é que participaram; em que aspectos e de que forma é que foram chamados a participar. Muito sucintamente, é para perceber o vosso grau de conhecimento e/ou entrosamento no processo. HC1 – Avaliação interna?... EU – Exacto, vocês chamam-lhe avaliação interna, não é? Há diferença nos conceitos, mas para mim e neste trabalho não é relevante. HC1 – Eu sei que o ano passado a nível de escola, portanto, os grupos de trabalho estiveram muito activos, porque foram passados inquéritos. Foram passados inquéritos, e esses inquéritos a vários níveis, portanto a professores, membros do conselho pedagógico, coordenadores de departamento, portanto, não sei se me estão a escapar mais pessoas, mas portanto houve varias populações. Até pais também, encarregados de educação. Eu sei que tive de preencher três. HC2 - Eu já não me lembro o que é que preenchi. HC3 – Pois, tu estavas no pedagógico então… HC1 – Exacto, na altura uma das pessoas que estava envolvida no trabalho era a Lucília Santos, e ela como membro do pedagógico encarregou-se de trazer os inquéritos aos membros do Pedagógico. HC2 – Pois, houve um pedagógico em que nós fizemos…

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HC1 – Sim, no intervalo estivemos a fazer os inquéritos. EU- Ah, desculpem, estão a falar em termos já de resposta, mas quando eu estava a perguntar era em termos de decisão, não é? Nesse processo como é que entra o Pedagógico? HC3 – Eu só sei responder que isso tem a ver com a decisão tomada na assembleia de escolas, precisamente na altura em que eu era presidente, de determinar como se ía proceder para avaliar a escola e o que é que estava em causa. Portanto foi nessa sequencia que a questão foi trazida ao pedagógico. Nesse ano, que eu agora não sei precisar muito bem, acho que foi em 2004, de 2004 para 2005, portanto, desenvolvemos uma acção de sensibilização para a avaliação interna, estivemos a analisar o que havia na altura e, portanto, traçámos as linhas que depois foram desenvolvidas pelo pedagógico. EU - Portanto, a assembleia deu o pontapé de saída… HC3 – Deu o pontapé de saída, deu a informação e formação. EU – Deu orientações? HC3 – Deu orientações, na altura tentando determinar como é que se ia processar a avaliação da escola. Eu depois perdi a questão mais ou menos de vista, porque tinha outras coisas para fazer, digamos que ela foi correndo… Eu vim depois a responder aos inquéritos. Agora a análise desses inquéritos eu ainda não vi precisamente… HC2 – Só o ano passado, no final do ano, é que foi lá a Graça Dias e apresentou uma parte, apenas uma parte, porque os outros estudos não… EU – Tu disseste foi lá, quer dizer ao pedagógico? HC2 - Exacto. EU- Em termos de decisão o Pedagógico apenas segue as orientações da assembleia, é assim? HC2 – Neste caso concreto foi assim. EU – Mas a forma, o como resolvem montar o dispositivo, em termos de equipas de trabalho, isso é da responsabilidade de quem? HC3 – Do pedagógico. EU – Do pedagógico?! HC2 – Mas isso foi anteriormente a estarmos lá. EU- Por isso é que vocês dizem que não apanharam HC2 – Aliás o processo teve inicio antes de eu entrar aqui na escola. HC3 – As linhas orientadoras foram definidas pela assembleia da escola, com a participação dos pais e …outros. Depois a questão foi levada ao conselho executivo pela presidente, ao pedagógico, e isso veio, digamos assim a fechar todo um processo que, aliás, já tinha tido uma fase anterior em que foram lançados inquéritos. Portanto, esta questão da avaliação interna não é uma novidade deste momento. Isso é que eu gostava que ficasse bem claro, é que parece que só agora é que se descobriram estas

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coisas, que só agora é que as escolas precisam de se conhecer, de se orientar etc… Isso não é assim, há muito tempo que há essa preocupação dentro da escola e através das formas possíveis, que normalmente passam por inquérito etc…que a escola procurava fazer essa investigação. Agora há sempre aqui um problema que eu acho que tinha a ver com o momento: é que como a população escolar, a dos professores, era sempre muito flutuante, muitas vezes as pessoas iniciavam o processo e depois deixavam-no ficar e não tinha continuidade e depois os resultados não eram tão evidenciados. Agora a nível das preocupações da escola, há muito tempo que isso acontece. EU – Então e se havia já preocupações, apesar de não tão formalizadas e não tão sistematizadas, que razões é que terão levado a este puxar para um processo mais desse tipo? Vocês acham que terá sido porquê? Porque é que agora há mais esta preocupação de levar as coisas de uma forma mais formal? HC3 – Eu acho que isso tem a ver com as orientações do próprio ministério, que entendeu que as questões organizativas deverão estar em primeiro lugar, acima de todas as outras! Pensar numa linha definida por esta ministra da educação, o que ela considerou em primeiro lugar incorrecto nas escolas, é a organização. Aliás, tudo o que ouvi até agora é organização e resultados. EU – Então agora, pego nessas tuas palavras e pergunto - e o que vocês acham? São coordenadores do departamento e as vossas preocupações enquanto coordenadores de departamentos quais são? Em termos de prioridades, são mais organizativas ou são mais pedagógicas? HC2 – Eu acho que nós nos preocupamos mais com questões - eu acho que uma coisa e outra-, mas as questões pedagógicas se calhar sobrepõem-se, porque numa disciplina com elevado insucesso as questões pedagógicas sobrepõem-se, temos uma maior preocupação. EU – Como é que regulam isso? HC2 – Nós por acaso tentamos, e isso foi uma coisa que para mim foi óptimo. Quando entrei aqui na escola, o grupo era tão grande! Aliás na primeira reunião que eu tive eu disse assim “Ena pá, tantos!” Eu quase que nem os via! Eram muitos. Eram ainda mais do que somos agora. O quadro foi diminuindo com a entrada de colegas mais novos que têm uma carga lectiva superior, portanto diminuiu o número de professores de matemática. Eu entrei aqui e tinha 30 e neste momento estamos 26 com os estagiários. Portanto, quando cheguei aqui havia uma forma de trabalhar que era organizar as pessoas conforme os seus níveis de escolaridade, aqueles que leccionavam tinham horas marcadas na componente não lectiva, tinham horas para reunir e tratar assuntos relacionados com preparação de materiais, planificações…Tudo, tudo. Problemas que possam surgir… E é assim que sempre que possível trabalhamos - é o chamado “PPMAR”. Há os PPMAR´s do 10º, 11º, 12º. Não há para os profissionais e os professores desses cursos queixam-se que faz muita falta. Com esta avalanche de professores que tem abalado para a reforma, os PPMAR´s estão a funcionar com poucos professores, porque os horários foram feitos de acordo com determinados professores e agora aquilo foi alterado. Portanto, penso que nessas reuniões faz-se uma sínteses do trabalho realizado; por exemplo sei que o PPMAR do 12º ano está a trabalhar muito bem e os outros, é como digo, não estão a trabalhar tão bem, mas é por questões de horários, enfim, compatibilidades. EU – Tens de me traduzir isso – PPMAR. HC2 – O PPMAR, preparação de materiais. As pessoas todas as semanas reúnem-se fazem ajustes das planificações, analisam metodologias para apresentar determinado trabalho, partilham materiais, discutem problemas de avaliação… Por exemplo, ainda agora com os testes intermédios se discutiram os critérios de avaliação, formas de actuar, uniformizar. Fazem as sínteses, depois em grande reunião, nos conselhos de departamento, apresentam os seus pontos de vista, as suas dificuldades, são discutidos… EU – No teu também é assim?

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HC1 – No meu ainda tem mais uma componente que é a parte experimental. Portanto, que requer muito tempo de preparação e teste. E isso obriga a trabalhos de equipa. Trabalhos de equipa entre as pessoas que estão mais familiarizadas; não necessariamente entre aqueles que estão a dar as matérias, mas com aqueles cuja formação académica está mais afim desse tipo de práticas. EU – Desculpa. E isso está nos vossos horários? Essa competência é-vos atribuída pela gestão, ou são vocês que a assumem? HC1 – As duas coisas. Nós às vezes temos necessidade de dar uma aula experimental e temos que a programar fora da componente não lectiva que temos, não é? Mas quando é possível usamos a componente não lectiva para esse trabalho. Mas às vezes há aulas que é preciso preparar e a gente não pode estar à espera do dia. HC2 – Só queria sublinhar aquilo que o HC1 está a dizer, porque eu sei de colegas que não têm marcadas nos seus horários horas para PPMAR. O que é que vão fazer? Reúnem fora dos seus horários, reúnem na mesma, partilham na mesma os materiais e - até há bocadinho estávamos a falar da troca de informação - eles usam muito o mail para mandar trabalhos que realizaram, para fazer trocas de impressões… E é uma forma também de resolver a falta de tempo, que eu acho que se verifica muita falta de tempo. E eu acho que no meu departamento… eu tenho sentido uma vontade muito grande das pessoas, em vez de terem horas ocupadas com aulas de substituição - que sentem que é um trabalho que é pouco produtivo, não é? - teriam esse tempo, teriam maior aproveitamento se fosse canalizado para este tipo de reuniões. Eu depois sei que há uma sobrecarga nos horários das pessoas, porque elas sentem de tal forma a necessidade de se encontrarem, partilhar as suas ideias, materiais, que acabam por ir para fora das horas do horário… HC3 – Isto no meu caso é exactamente o oposto. Portanto, vocês os dois são de dois grupos disciplinares enormes. Eu sou a única. Sou a única professora de História desta escola, o que significa que não tenho possibilidades de fazer qualquer tipo de ligação com outra pessoa. Há uma colega que tem umas horas, mas tem uma turma à noite, que nem sequer é a mesma que eu tenho. E também não tenho direito a aulas para preparação, apesar de ter que preparar as aulas, seleccionar materiais, pesquisar, etc Portanto, esse aspecto é completamente absurdo, porque se essas aulas PPMAR têm essa função, não deve haver ninguém excluído, não é? A circunstância de eu não ter nenhum parceiro, não significa que eu não tenha a mesma necessidade, às vezes até de contactar com colegas de outras escolas, não tenha que fazer também essa preparação. Isso é uma coisa que nem percebo, mas pronto, também nunca ninguém me conseguiu explicar. Não faz sentido . Há aspectos de organização, que são, que assumem formas muito particulares. E que são moldáveis à situação: há um grupo muito grande, faz-se assim; há um grupo muito pequeno, já não existe. Portanto, não há uma linha orientadora que veja a questão pedagógica em si. Eu acho que falta nesta escola, e de uma maneira geral, e segunda a minha experiência pessoal que já é bastante grande, uma compreensão pedagógica da escola. Portanto, isso está completamente fora dos horizontes de toda a gente. O que interessa é que a escola esteja bem organizada, que dê resultados; ninguém se preocupa se pedagogicamente ela está a funcionar. HC2 – Eu queria só aqui, e na continuação daquilo que a HC3 estava a dizer, acho que também se traduz um bocadinho pela parte do ministério, porque os nossos colegas que são os mais novos, que têm uma carga na componente lectiva de 22 horas, todos eles, têm poucas horas para a componente não lectiva, fica uma margem mínima. Portanto esses colegas não têm horas para serem canalizadas para horas PPMAR. Essa é a maior dificuldade: as pessoas mais novas, as menos experientes, aquelas que acabam por sentir maiores dificuldades, que poderiam ir partilhar com os colegas mais experientes, não têm horas atribuídas par isso. EU – A não ser que seja das suas.

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HC2 - Das suas individuais, mas que também acabam por ser precisas para trabalho individual. Por isso eu penso que no futuro, mesmo as que são de substituição, que são horas marcadas na componente não lectiva, eu acho que a tendência é para desaparecer, porque as pessoas mais antigas, que têm uma componente não lectiva maior, estão a ir embora; quem fica cá são pessoas novas, que já não têm as reduções tão aceleradas como antigamente… portanto, antigamente as reduções vinham mais cedo, agora só ao fim de x anos é que elas aparecem e não vai haver horas… Eu acho que salas de estudo, horas de substituição… tudo isso, mais dia menos dia, tem tendência a acabar…As coisas têm que ser revistas até lá. HC3- Eu queria só sublinhar uma coisa: é que a HC2 tem toda a razão, porque é evidente que esta questão da componente não lectiva não teve intenções pedagógicas. O problema é esse, porque se tivesse tido… Eu posso falar mais francamente porque estou quase… EU- Isso podemos todos! HC3- Não tenho problema nenhum em dizer tudo o que penso. Portanto, não há por parte do ministério, não há evidências de preocupações pedagógicas. Não quer dizer que elas não existam, não estou dentro da cabeça dos nossos dirigentes e até é possível que haja, mas o que é verdade é que nunca as evidenciaram. Por isso nós não as valorizamos, e, como é evidente, as escolas reflectem isso. Há grandes preocupações que tudo esteja organizado devidamente, mas há poucas preocupações se nós estamos a funcionar bem dentro da sala de aula ou se estamos… Mesmo a questão da avaliação, mesmo a avaliação é sempre muito pontual. Praticamente está de lado a questão de uma avaliação formativa que ajude ao crescimento do professor. Não é isso que tem relevo. Portanto, temos que concluir isto, e aquilo que a HC2 diz é o que vai acontecer, é que dentro de pouco tempo não há sequer ocasião para isso. Tudo está tão formalizado, tão esquemático, que os professores têm o horário completamente preenchido com horas de aulas. EU - Tu falaste agora da avaliação de professores. E claro que o meu assunto é a avaliação interna ou auto-avaliação da escola, mas as coisas cruzam-se concerteza. Então, e partindo do que estão a dizer, o vosso processo de avaliação interna trará, ou poderá trazer alguma mais valia nesse processo que vocês acham que devia ser prioritário, de ajudar os processos de facto pedagógicos, fundamentais, em termos do desenvolvimento… HC2 - A autoavaliação é como lhe digo: o processo teve início antes de eu entrar aqui, portanto não sei, até à data não sei… EU – Para já a forma que ele tomou…Vocês já referiram os inquéritos… HC2 – Mas de facto conheço muito pouco…Não sei, HC1, se poderás dizer alguma coisa… EU –Vocês viram os relatórios que foram produzidos no final do ano? HC2 – Só foi produzido um relatório… HC1 – Pois, eu só tive conhecimento do relatório que nos foi apresentado, mas que não nos foi dado, nós só vimos a apresentação. EU – Lembras-te qual era o foco dessa parte? HC1 – Eu sei que era… como é que os elementos do conselho pedagógico tinham reagido em relação, digamos, a determinados parâmetros que deviam ser da preocupação do pedagógico e que eles estranharam que não fosse. E digamos que por acaso até foi uma análise critica, digamos, muito desagradável!

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HC2 – Muito polémico… HC1 – Mas a segunda parte, eu soube que a presidente do executivo informou que tinha imensas páginas, e nós nunca tivemos acesso à outra parte. Agora respondendo directamente à pergunta “se isso tem impacto”, não acredito que tenha - aquilo foi para preencher uma função, desempenhar uma função! Foi como foi visto: era preciso fazer, preencheu-se! Consequências? Nenhumas! Aquilo foi arquivado, ponto final parágrafo. Penso que a bola poderá rebolar com um novo modelo de gestão, porque agora com um novo modelo de gestão, as coisas já não há necessidade de ficarem assim. Porque é muito incómodo, por exemplo para um coordenador de departamento, como eu e a HC2 que fomos eleitos, e procuramos preservar, digamos, o melhor relacionamento possível dentro do departamento, assumir uma atitude crítica, construtiva ou não, em relação a determinadas práticas pedagógicas e determinadas coisas que se fazem. E portanto, vai ser no novo modelo de gestão em que as pessoas são investidas com a confiança do director, que têm a autoridade de dizer: “colega isto não pode ser!”. EU – HC1, isso é muito interessante o que estás a dizer, então é tudo uma questão de autoridade atribuída?... HC1 – Autoridade, exactamente! EU – É? Vocês como coordenadores não se vêm à vontade para fazer a tal análise critica, a auto-avaliação crítica? HC1 – Eu não me sinto à vontade, não! Não me sinto à vontade porque nós nunca…ou melhor, os nossos superiores hierárquicos, nomeadamente do conselho executivo, nunca me incumbiram dessas funções. E a única mensagem que eu tenho é preservar o bom ambiente para que não haja problemas. EU - E o bom ambiente preserva-se… HC1 – O bom ambiente preserva-se, digamos, dizendo as coisas com muita suavidade para não ferir susceptibilidades… tentando resolver as coisas…quando os outros não fazem sou eu que as faço. E, portanto, tentando que o barco chegue ao porto com a menor ondulação possível. EU – Muito bem…Diz, HC2! HC2 - Eu acho que os departamentos são muito grandes e nós passamos…Eu acho que o trabalho de coordenador, se fosse bem tomado à letra, nós precisávamos de mais tempo para gerir estas coisas. EU - Tempo e se calhar outra forma, porque com tantos, não havia tempo que valesse, não é? HC2 – Às vezes quero fazer uma reunião com toda a gente e não tenho uma hora em que diga: está toda a gente disponível! Há sempre, nem que seja um, que tem. Pode haver ali, digamos, 50 minutos e estarmos todos juntos, mas depois há sempre um que vai ter aula, há outro que chegou um bocadinho mais tarde…É muito complicado, seja segunda, terça, quarta, quinta, sexta, ou sábado…Bem, só se for ao sábado! Eu acho que gerir problemas que possam existir dentro do departamento, sem haver um tempo adequado, certo, marcado, é um bocadinho difícil. EU – Isto leva-me para outra questão que tem a ver com a regulação. Tem-se muito a ideia que nas escolas cada um faz como quer, que não existe aquela regulação, ou ela existe, mas sempre naquela perspectiva da protecção dos interesses do professor. O que é que vocês dizem a isto?... Ou seja, que há muito individualismo, que os professores fazem por si, que fazem aquilo que querem dentro da escola, que até agora não havia a tal regulação e daí a necessidade da avaliação. O que é que vocês acham disto?

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HC3 – Eu acho que isso já foi! HC2 – Eu acho que já não é assim. EU – Já foi!... HC2 – Isso foi já há alguns anos, se calhar…Porque eu não sinto esse individualismo, não sinto isso agora, pelo contrário! EU – Tu disseste há pouco que as pessoas procuram mesmo as outras para trabalhar - é o contrário, é… HC2 – Eu acho o contrário neste momento, EU – E será que podemos falar mesmo, vamos lá… de dinâmicas colectivas, de relação colectiva? HC2 - Se não há mais dinâmica colectiva é por dificuldade de articulação de horários, ou de horas atribuídas para isso. EU – Não porque os professores não querem. HC2 – Exactamente. Eu não sinto propriamente… HC3 – Eu acho que neste momento os professores se sentem mais protegidos quando actuam em grupo… HC2- Quando actuam em grupo, em conjunto, tomam decisões conjuntas… HC3- Acho que é a protecção neste momento de chegarem a consenso de tomarem decisões em conjunto… sentem-se protegidas… Não concorda? HC1 – Há dois aspectos em que eu posso falar, em que eu sinto que há individualismo. Um deles tem a ver com o facto de alguns colegas resolverem não fazer determinadas actividades experimentais que são do programa, ou não quererem seguir as orientações que estão lá! E dizem-no, nem o escondem - “eu não sigo”, “eu não faço” e isso continuo a ouvir. Mas o problema é que … HC2- Eu não tenho esse problema, mas se calhar também não tenho actividades… Deixa-me só fazer-te uma pergunta, HC1: a escola tem condições para que cada professor nas suas horas faça as experiências que são indicadas, ou seja, imaginando que à mesma hora temos 3, 4, 5 professores a necessitar do laboratório para fazer... porque isso eu penso que é perfeitamente possível acontecer numa escola com a dimensão da nossa, não é? E à mesma hora estarem ali 4, 5 professores a precisar do laboratório e ele se calhar é um… Isso acarreta o quê? Que se levem os materiais para as salas de aula? E depois as salas de aula há condições para se fazerem essas experiências? Porque eu estou agora a lembrar-me que muitas vezes nós precisamos de um computador portátil, e já temos muitas condições nesse aspecto melhoradas, um retroprojector, um quadro digital, e depois … HC3 – Há alguns que não funcionam! Tenho desde o inicio do ano, ou de há 2 anos um quadro digital que não funciona… HC2 – Pois, exactamente, mas isso aí já…não estão ligados porquê? Mas pronto, depois gera-se… Porque eu senti mesmo com as minhas aulas, que eu andava ali feita “burra de carga” , a transportar computador, a transportar retroprojector, a transportar isto, transportar aquilo, para chegar lá e às vezes tinha dificuldade em pôr aquilo a funcionar, perdia-se um bocado da aula, o programa é imenso… Geram-se ali uma série de circunstâncias que…

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EU – Desincentivam… HC2 – Exacto, desincentivam! HC1 – É verdade que nós temos alguns desses problemas. E isso é sobretudo com a organização de horários. Está na comissão de horários alguém do nosso departamento, que até dá aulas de laboratório, que teria todas as condições para saber… HC3- Isso não sei… HC1 – Ah, mas eu sei! Tinha todas as condições para saber que não é possível três turmas estarem a dar uma aula experimental em três tempos lectivos. E estão duas numa sala e está uma num laboratório. Quer dizer isto não é possível! EU – Desculpa interromper, mas este ano também é excepcional... HC1 – Este ano é excepcional por causa das obras, mas ainda assim, é um aspecto organizativo que falhou. E eu quando me apercebi dele, já não podia fazer nada. Mas há dois colegas que se queixam, como é que eu posso fazer as aulas se está “não sei quem” com o material, está outro… Estamos três a dar ao mesmo tempo, simultaneamente, e não devia ser! Os professores deviam estar no laboratório, cada um em sua hora e em seu dia da semana. EU – Mas quando os colegas dizem “eu não dou, eu não faço” não é precisamente por causa destas condições? HC1 – Não, não é por causa disso! A pessoa que diz que não faz é porque acha que não deve fazer; acha que isso leva muito tempo, acha que não está para perder tempo com isso, acha o que quer que seja, portanto essa é uma posição pessoal. Não tem a ver com o contexto da… É “Eu não concordo não faço”. Dou um exemplo: eu fiz uma actividade há pouco tempo para dar informações que me vieram do director do centro de novas oportunidades sobre como se devim programar as aulas no terceiro período. Entende que segmentos de 45 minutos podíamos leccionar, porque os cursos profissionais não seguem o modelo organizacional do resto, ou seja, enquanto o resto dos 10º anos terminará no dia x, os profissionais não terminarão no dia x, e vão por aí fora até ao nº de horas que lhe estão destinadas. E portanto, eu veiculei uma informação que tinha recebido muito recentemente, que eu até desconhecia, quer do professor director dos cursos profissionais, quer do director do CNO, e transmiti numa reunião específica a esses professores. E houve alguém que me disse: “eu não quero saber disso para nada, eu não faço, e estou já a dizê-lo, e portanto discordo e não faço”! HC3 – Mas o professor não dá aulas? HC1 – Não, a instrução específica era neste sentido: por exemplo, a instrução que eu recebi, quer do Esteves da Fonseca, que é director dos profissionais, quer do Dantas que é o Director do CNO, foi esta - nós que estamos no 10º ano, temos 35 semanas previstas para dar 3 segmentos por semana; ora em 35 semanas ultrapassa o conteúdo do programa dos cursos profissionais para o 10º ano. Nós teremos 105 segmentos para leccionar. Nós com 95 segmentos damos o programa todo do 10º; só que nós não podemos parar; somos obrigados a continuar a leccionar, desde o 96 ao 105, somos obrigados a estar em actividade lectiva. Mas a fazer o quê, se eu dei todos os módulos, acabei o programa, se eu já acabei as avaliações? Vou fazer o quê? E a resposta que veio: iniciam o 1º módulo do 11º ano! Portanto eu perguntei: mas faz sentido começar um módulo, e eu não sei se vou continuar esse módulo para o próximo ano lectivo, e deixar o módulo a meio? E a resposta que obtive das duas pessoas, que estão acima de mim, foi: faz! E portanto eu vou fazer; se é assim que entendem que deve ser feito, eu vou fazer; e eu disse no meu caso eu

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terminarei o modulo Q1 e portanto iniciarei o módulo Q2 do 11º ano, quando acabar… e deixá-lo-ei a meio. Sumariarei essas aulas, e quem pegar ficará com aquilo que foi dado, os conteúdos e tudo mais. E nessa mesma reunião, houve quem dissesse: “não, eu não inicio o 11º ano, discordo!” HC3 – Pois, mas por acaso aqui a ordem é absurda! Porque se uma pessoa está a leccionar um determinado ano não tem, se se esticam os conteúdos, começar outro…É absurdo! E a pessoa se calhar reagiu a isso. Agora, a escola não responde? Como é? O professor diz que não e fica assim? EU – Era essa a pergunta que eu ia fazer, a HC3 fez por mim. Achas que devia haver algum mecanismo que impedisse, que prevenisse essas posições isoladas? HC1 – Ora bem, o problema pode ser resolvido… EU – Desculpa, por outro lado, essas posições individualistas também nos podem levar a ver o outro lado. Quer dizer, as pessoas terem voz e poderem dar as suas opiniões, se calhar também é importante. Ela já está a ver na atitude do professor “ ele responde assim, porque acha que não é legítimo”. HC1 –Pensando um bocadinho no problema, pode não parecer que faça sentido, mas tem um certo sentido. Eu vou explicar. O 10º ano não tem estágio, o 10ºano dos cursos profissionais não tem estágio, e por isso tem mais semanas, são 35 semanas. O 11º ano já tem estágio, o que significa que, mesmo que o professor não tivesse acabado, o aluno não vai estar na escola para dar seguimento aos módulos que faltam, ou aos segmentos que faltam, porque tem que necessariamente, com o acordo expresso com as empresas, tem que entrar ao serviço nas empresas. E portanto, é essa dificuldade que eles previnem desta forma, ou seja: imaginemos que um docente esteve doente, ou que teve razões de ordem pessoal para não dar aulas durante um mês e meio; no 10º ano isso não tem problemas porque esse professor continuará a dar aulas por Julho e por Agosto até acabar; no 11º ano não pode, no 12º ano não pode, porquê? Porque os alunos têm uma data fixa para entrar em estágio. EU – E têm de ter a outra parte completa. HC1 - Têm que a ter completa, e portanto, para prevenir situações extremas, eles entendem que se se avançar já com o cumprimento, mesmo que seja em parte, desses módulos, essa situação estará mais protegida, para se cumprir o nº de horas e o programa que é necessário. Porque eles têm mesmo que o cumprir. EU – Mas isso também, se calhar, traduz uma deficiente organização curricular do próprio curso… HC3 – Claro! Então qualquer dia começa-se o 10º e acaba-se a dar o 12º! HC2 – Pois claro! É preciso é tomar uma decisão a nível global da escola, para evitar essas situações. Uma coisa bem decidida, por quem compete, não é assim uma medida avulsa… HC1 – Eu devo dizer que tenho uma postura diferente. Eu não sou formado em direito, mas eu respeito o estado de direito, e tenho um respeito enorme por quem está acima de mim. E portanto, concorde ou não concorde, tenho a obrigação de cumprir as instruções que me são dadas por quem tem o dever de mas dar. Porque não tenho responsabilidades nenhumas nem disciplinares nem outras se uma coisa é errada, se eu me limito a cumprir as ordens dos meus superiores. Agora, poderei ter sim, e posso ter responsabilidades disciplinares, se me recusar a cumprir determinadas instruções. Agora respondendo à tal questão, como é que isto se resolve. Bem, isto pode-se resolver de várias maneiras. Uma forma, talvez, digamos, mais diplomática de resolver isto: eu não posso impedir um professor de agarrar no último módulo e em vez de o dar num segmento que está no programa, dar mais, porque o professor achou necessário investir mais tempo para a recuperação desses mesmos alunos. E portanto o problema resolve-se na mesma. Se o professor souber gerir e souber justificar. E portanto desde que

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dê os 105 segmentos que estão dentro da lei, cumpriu! EU – Contorna-se o problema… HC3 - Eu acho que há aqui duas coisas que são muito importantes e que são paradigmáticas disto - é que o professor não é uma pessoa que se molde como muito bem entendem, não é assim. Se lhe é distribuído um determinado serviço no início do ano, se ele completa esse serviço, se o curso onde ele completa esse serviço está mal estruturado, o que deve mudar não é o professor mas o curso, o curso é que não está bem. Portanto a escola devia era encarar isso a sério e verificar onde é que está o erro, porque não é a questão de cumprir a ordem ou deixar de cumprir; ele está a cumprir o horário que lhe foi distribuído, e esse horário não podemos achar normal que esse horário mude segundo os interesses do curso a, b ou c. Eu acho isso muito mal…Isso é a ideia do ministério de que o professor faz aquilo que eles quiserem! Disso discordo! HC2 – Nós no meu departamento queixamo-nos é com falta de tempo para cumprir programas, nós temos muita dificuldade em gerir o tempo de forma a cumprir programas. Cada vez são alunos com mais dificuldades, então nos cursos profissionais nem falar! E portanto só a dar pré-requisitos àqueles alunos, para eles entenderem os novos conteúdos programáticos, a pessoa queima muito tempo que depois lhe é necessário. Mas ainda voltando um bocadinho atrás, eu queria só esclarecer um bocadinho, porque eu já estive numa comissão de horários - não nesta escola, que eu acho que deve ser uma coisa assustadora fazer horários dentro desta escola!- Estive na D. Dinis, estive em Soure, estive noutras escolas a fazer horários, e acho que não é fácil fazer horários quando as instalações não são suficientes. E uma coisa que me preocupa é que nós vamos ter uma escola nova e já começo a sentir que a nova escola não está projectada à dimensão das necessidades que nós já tínhamos. Eu vou explicar, agora vou dizer também porquê. Porque nós temos no departamento de matemática, e isso foram os colegas que estão cá há mais tempo, a Piedade e outras colegas que estão cá há mais tempo, portanto já há uma história do departamento de matemática lutar por um espaço onde seja possível disponibilizar professores, para os alunos que assim o quiserem irem lá. Antigamente, os alunos até tinham um feriado e iam mais facilmente à sala de estudo, aquilo que nós chamamos o GAM – Gabinete de Apoio a Matemática. O GAM morreu, um bocado a partir das aulas de substituição. Mas mesmo assim, há alunos que gostam de ir ao GAM, e então se sabem que têm lá o seu professor eles fazem tudo por tudo para irem, e tenho notado da parte dos professores uma disponibilidade para marcar aquelas horas de acordo com a disponibilidade dos alunos, de acordo com aquilo que os alunos, pelo menos nalguns professores eu sinto essa predisposição, e fazem-no, e mudam-no; no início do ano é marcado num determinado sítio, mas depois os alunos dizem, “nesta hora aqui dá mais jeito, dá mais jeito ali”e há pessoas que fazem isso. Ora a pensar nas obras da escola, meteram um pedido à escola, e não foi há muito tempo, para que de facto pensassem em dar uma sala para que funcionasse esse gabinete, porque nós estamos a funcionar num espaço muito mais pequeno que este, que não tem uma janela, tem uma janelinha em cima, que é frio, que se estiverem lá 6 alunos, já andam ali todos aflitos, porque tem uma mesinha com computadores. E o que me disseram é que neste momento não sabem muito bem se vão ter esse espaço porque o espírito da nova escola é criar espaços polivalentes, ou seja, o gabinete de matemática estaria a funcionar num espaço onde também estariam a funcionar outras coisas ao mesmo tempo. Ora, eu parece-me que isso não é o adequado, até porque nós no gabinete de matemática com meia dúzia de alunos, por exemplo a funcionar numa biblioteca, a funcionar num espaço polivalente, acho que não é bem…Acho que aqui, não sei, parece-me que houve neste processo todo, não sei da parte de quem, se calhar também por causa das orientações, não sei se do ministério, não sei se da DREC… Vamos lá ver, nesta escola quais eram os espaços que eram necessários, que precisavam de ser implementados, as lutas que já existiam na escola para ir de encontro aos projectos que estão implementados? EU – Eu só conheço uma linha orientadora das obras, uma apenas que apanhei nas conversas anteriores com os colegas e que é o quebrar do fosso que dizem que existe - e já agora gostava de

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saber a vossa opinião - entre a parte oficinal, a parte dos profissionais e tecnológicos, e depois a parte mais… como hei-de dizer?... mais académica. Uma das medidas de acção das obras seria quebrar esse afastamento, até cultural, e fazer uma maior ligação. Já agora eu dou o salto para aí, o que acham vocês? Também sentem esta divisão cultural de duas escolas dentro de uma? HC3 – Há quem gostaria que fosse só uma! E com certeza que não era a parte académica! EU – Só uma?! HC3 – Só uma! Portanto tire as suas conclusões. EU – É?! Ou seja, há quem ache que deve ser mais vincada a natureza mais tecnológica? HC3 – Estou convencida que esta relativa diversidade que a escola continua a ter vai esbater-se completamente. Passará a ser uma escola técnica, no fundo. Profissional. Tudo caminha nesse sentido. EU – Então e não achas bem?! HC3 – Eu acho mal! EU – Achas mal. Porquê? HC3 – Porque eu sou absolutamente adepta da diversidade. Acho que a escola devia ter um pouco de tudo. HC2 – Tu achas que vamos perder a parte académica? HC3 – Não duvido nada, não dura cinco anos! E com certeza que vai ao encontro de uma parte muito significativa aqui da escola. HC2 – Eu acho que a parte académica também nunca deveria acabar, embora eu reconheça que esta escola por tradição… HC3 – Mas isso a tradição é uma grande conversa, é uma grande conversa! EU – Então eu vou dar um saltinho e assim já apanhamos a HC4 que acabou de chegar e vamos fazer a apresentação dela. Tu és coordenadora de? HC4 – Português. EU – E estás na escola há quantos anos? Mais ou menos? HC4 – Já me perdi… EU – Bom, esta conversa leva-me para outra questão que quero pôr: qualidades da escola. Há quem fale em qualidade no singular, eu prefiro falar no plural. Qualidades da escola - que qualidades é que vocês atribuem a esta escola? O que é que a faz diferente? HC1 – Bem, o que a faz diferente, é exactamente ser uma escola que tem tudo e mais alguma coisa! HC3 – Tem uma grande diversidade!... HC1 - Tem a maior diversidade que é possível: nós temos os cursos científico-tecnológicos, temos os artísticos, ainda vamos tendo os tecnológicos até serem extintos, temos os profissionais, temos os

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cursos de formação de adultos, temos validação de competências, portanto, temos o leque mais completo que é possível, e ainda voltando à questão… HC3 – Só não temos humanidades. Temos as apetências culturais, mas não temos humanidades… EU – Estranho não é? Artes sem humanidades? HC3 – É! É curioso! HC1 - Mas voltando à questão, eu acho que aquilo que ouviu, eu pelo menos sinto, sinto ser verdade. Que de facto tem havido na organização desta escola, pelo menos nesta, tem havido o divórcio entre a parte tecnológica e a parte, digamos, académica e eu posso citar exactamente em quê. Nós temos afinidades com o departamento de engenharia electrotécnica, há imenso equipamento que se avaria, e que eles nos podiam dar uma ajuda, há equipamento comum na física e na electrotecnia, há equipamentos que são comuns e podíamos partilhar, e isso não acontece. Porque não conhecemos quem são as pessoas, porque estão do outro lado da escola. Portanto houve sempre grandes entraves para o diálogo, partilha, interpenetração das duas áreas. Nas novas instalações isso foi acautelado e de facto iremos estar exactamente no mesmo bloco onde estarão laboratórios de todas as engenharias e portanto essa proximidade vai fazer ultrapassar os problemas que temos tido até agora. Portanto, isso eu sinto! Agora, também acho, e isto com base numa ida a Lisboa por causa dos laboratórios que fiz muito recentemente, no mês de Março, para falar com um dos responsáveis dos laboratórios, fiquei com a nítida sensação… EU – Desculpa, fazes parte de alguma equipa da escola que acompanha as obras? HC1 – Não, não faço, não me foi pedido. EU- Mas existe… HC1- Existe uma equipa, composta pelo vice-presidente, que é o MB e que tem um membro de Engenharia Civil, que é o FA, um membro da Engenharia Informática, que é o JCM. Portanto esses três sei que fazem parte dessa comissão que acompanha. Mas, por exemplo, não me foi perguntado, e teria sido desejável na altura em que este processo se abriu, o que é que nós gostávamos de ter para a Física, para a Química, para a Biologia e a Geologia. Não foi perguntado. HC3 – Desculpe interrompê-lo, HC1, mas eles solicitaram-nos, várias vezes, solicitaram-nos para… HC1 – A mim não! HC3 – Em geral, para darmos sugestões, eles fartaram-se de dizer isso. HC1 – Pontualmente, mas foram casos muito pontuais, pediram opinião…Mas já o número de laboratórios estava decidido, para saber para onde é que ia isto, onde é que ia aquilo. Pontualmente, algumas coisas foi-me perguntado. Mas soube mais tarde, em Lisboa, que há escolas, em Lisboa, que têm um maior número de laboratórios porque tiveram a iniciativa de os pedir e exigir. Há escolas, por exemplo, onde foram construídos seis de Física e de Química, e de Biologia, coisa que nós vamos ter dois para Física e Química e dois para Biologia e Geologia. Portanto, se nós tivéssemos tido, digamos, conhecimento destas coisas, muito mais cedo, teríamos intervindo. Outra situação que eu vivi neste domínio, a respeito das obras, é que fui a esta acção convocado pela “Parque Escolar”, desloquei-me a Lisboa para saber qual era o ponto da situação, para ser informado, e ao regressar dessa reunião, eu trouxe algumas achegas, nomeadamente que eu poderia fazer sugestões, nomeadamente sobre a localização da hote dentro dos laboratórios, que afinal não era uma coisa mesmo estanque, ainda poderia ser alterada, havia ainda espaço de manobra para algumas alterações. Quando eu chego a (a cidade) e digo que, tendo estado na reunião, foi falado isto, e portanto nós ainda podemos fazer o

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pedido para que isto nos seja concedido, porque ainda estamos no estado das obras, foi-me dito que a planificação estava encerrada, que não havia nada a dizer. Eu vi-me na obrigação de pedir à pessoa que falou comigo da “Parque Escolar”, e dizer assim: “olhe, eu estou a partir do principio que aquilo que vocês me disseram em Lisboa é válido, e se me disseram que é valido, portanto eu continuo a manter de pé, porque aqui em (a cidade) dizem-me que o projecto está encerrado. E portanto estou à espera que Lisboa - aqui até é às avessas - estou à espera que Lisboa intervenha, para que efectivamente nos sejam feitas alterações pontuais nos nossos laboratórios, porque aqui foi-me dito que o processo está fechado! EU – Ok, de volta à qualidade. Começaste por dizer que a grande qualidade era a pluralidade… HC1 – A grande qualidade é a pluralidade. Esta escola tem uma outra grande qualidade, que eu acho notória em todas as escolas: tem um excelente ambiente de professores! As pessoas, de uma maneira muito geral, tratam-se com respeito e com cortesia; há um bom ambiente, respira-se um bom ambiente, não há demasiados despiques nem discussões, não é uma escola quezilenta, onde as pessoas se tratem mal, não é? É uma escola que tem um bom ambiente. Eu estive cá em 96 pela primeira vez e continua a respirá-lo. É uma escola em que de facto me sinto bem, é uma escola em que dá gosto vir. EU – Vocês são da mesma opinião, sentem a mesma coisa? HC3 – Eu acho que há aqui também uma outra questão, que são os alunos. Acho que de uma maneira geral, e ao fim de um certo tempo, e isto tem a ver com uma habituação, os alunos passam a ser alunos da escola Hefesto, que significa que são de uma maneira geral, cordatos, simpáticos com a escola, gostam dela, e relacionamo-nos bem, de uma maneira geral. EU – Mas eu queria saber onde está a receita para isso. . HC1 – Não há receita! EU – Como é que chegam a isso – estou a brincar – o que será? HC3 – Eu acho que há da parte de um grande grupo de professores… é já quase de uma maneira… invisível, digamos assim, uma actuação semelhante. Quer dizer, nós nas aulas exigimos coisas do mesmo tipo aos alunos, como por exemplo o exigimos que estejam sentados como deve ser, as chicletes… Quer dizer, há um certo conjunto de regras gerais, eu não quero dizer que sejam todos, mas há um grupo muito forte de professores que continua a exigir aos alunos o mesmo tipo de coisas. E eu acho que isso já vem de há bastante tempo atrás, quando se faziam reuniões, anteriores ao momento em que nós estávamos com os alunos, em que definíamos quais eram as regras de actuação. E parecendo que não, isso foi sendo interiorizado pelos professores e eu penso que há aqui um grupo forte de pessoas que continuam a ter esse tipo de exigências, o que aos poucos nos permite moldar os alunos. Eu cito o caso concreto de uma colega que aqui há uns tempos atrás me dizia “eu ainda estou a educá-los”. Estava no final do primeiro período. Portanto essa parte inicial, que é feita por cada um de nós, de uma forma semelhante e quase sem nos darmos conta disso, acaba por resultar em formas de comportamento, que eu por exemplo aqui na biblioteca, em que eles estão bastante à vontade, verifico que eles por vezes falham e eu vou ter com eles, e eles aceitam de uma maneira geral bem. Isto acho que já quer dizer alguma coisa. Bem, nem sempre, nem se calhar durante muito tempo e é preciso sempre voltar a insistir, mas não temos aquela reacção contra nós, de uma maneira geral – estou a falar de uma maneira geral – eles não se viram contra nós. Se eu for ter com um aluno e disser “olha que estás a falar muito alto, fala baixo nem que seja só por um bocadinho”, pronto ele não tem aquela reacção “o que é que tem a ver com isso?”, que é o que acontece em muitas escolas. Eu acho isso profundamente positivo. EU – HC4?...

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HC4 – Há um factor dentro desta diversidade que eu gosto de salientar nesta escola, que é o facto de termos uma comunidade de alunos surdos, tanto mais que sempre defendi que a língua gestual ou linguagem gestual - nunca sei qual é a designação correcta; para mim é uma língua – deveria ser posta à disposição dos alunos e da comunidade educativa, como uma segunda língua, ou terceira língua. Da mesma maneira que podem escolher o francês ou o inglês, poderem também escolhê-la. E já falando com alguns alunos também notei que eles estariam receptivos a isso. Agrada-me bastante isso. Compartilho das opiniões da HC3, em relação ao ambiente e tudo… HC3 – Eu assinalava também uma questão que me parece interessante, que aconteceu este ano, que é a integração de alunos com necessidades educativas especiais, que foram lançados nas escolas. E entre eles está, aqui no nosso caso, uma aluna em cadeira de rodas, que eu tenho observado bastante ao longo do ano. A presença dela foi… era uma presença um pouco estranha pelas necessidades que ela tinha, etc… bem, pelo acompanhamento que precisava. Teve uma forte reacção junto das funcionárias que passavam a ter que fazer coisas à menina, não é? EU – Reacção negativa? HC4 – Desculpa interromper, mas os funcionários em geral estavam habituados ao Armando que esteve cá uma data de anos!... HC3 – Sim, mas ela tinha exigências de outro tipo, de carácter pessoal, que o Armando não tinha. Curiosamente, neste momento já integraram isso completamente no seu trabalho e a aluna já é acompanhada por muitos colegas. É muito normal ela estar, por exemplo, no sofá sentada e já não é o funcionário que vai buscar o “puf”- aparece muitas vezes o colega com o “puf” na mão. Isto significa que de uma maneira geral, há uma integração fácil na escola, de uma maneira geral! E outra coisa já agora que aproveito para dizer que é significativa disso, porque eu acho que os alunos aqui têm uma consciência muito grande, é o que aconteceu aqui há um ano atrás, que os pais de uma aluna desta escola, que por acaso até foi mesmo minha aluna, que faleceu de leucemia, e os pais vieram à escola, concretamente aqui à biblioteca, pretendendo expor os trabalhos que ela fez. Escolheram a escola e fizeram aqui durante 15 dias uma homenagem à filha, expondo os trabalhos e falando sobre eles e contactando com alunos, o que do meu ponto de vista foi o momento mais tocante da minha vida como professora. Porque, enfim, ela tinha sido minha aluna e a questão de os pais virem cá mostrar os trabalhos dela, eu nunca mais me hei-de esquecer… EU – Mostra esse lado da escola muito aberta, não é? Para mim o símbolo desta abertura é quando nós chegamos à escola e vemos os alunos que se espraiam pelas escadas, saem para a rua… Não há uma barreira e, se calhar, as pessoas de fora e os pais também sentem isso, que a escola os acolhe. Bom, esta nossa questão da qualidade… O que é a qualidade? HC2 – Sim, da qualidade eu não falei ainda e como até mudei de escola há pouco tempo, é o meu terceiro ano aqui… Eu na outra escola também sentia que havia um bom ambiente entre os professores e o que me levou a vir para esta escola é que a outra era uma escola pouco preferida dos alunos, era uma escola encaixada no meio de oficinas e só iam para lá realmente alunos que vivessem ali à volta, muito próximos, que não tivessem outra hipótese que não fosse aquela, e isso fez com que na outra escola… Na outra escola, os alunos que entravam lá eu sabia que, a grande parte, eram alunos em que as famílias não funcionavam. Eu acho que esta escola, com a grande quantidade de alunos que aqui tem, penso que nós encontramos alunos mais problemáticos, alunos menos problemáticos… EU – Os problemas diluem-se? HC2 – Diluem-se, e portanto a pessoa também não se sente tão cansada, porque na outra escola cheguei a um ponto que saturei. Qualquer que fosse a turma que eu tivesse, eu sabia que era uma

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turma 100% problemática. Eu cheguei aqui e tive um “rebuçadinho”, porque durante dois anos eu tive aqui duas turmas de artes que me encheram, que me renovaram como professora, deram-me uma certa vontade de continuar a exercer esta profissão. Agora se eu ouvir assim os colegas – nas reuniões ouvem-se as opiniões – os colegas queixam-se um bocado dos alunos dos cursos profissionais. A minha opinião é que quanto mais cursos profissionais houver, quanto mais turmas houver melhor, porque esses problemas se irão diluir, porque é a tal diversidade que começa a haver e já não irá para os cursos profissionais só aquele tipo de aluno que “nunca deu em lado nenhum” e em que o curso era um último recurso - vai para um curso profissional, porque o ensino é mais facilitado… Por isso quanto mais cursos profissionais houver, tenho a ideia que vai haver maior qualidade. Mas eu sou um bocado adepta de cursos profissionais pelo aspecto - quando eles têm qualidade - pelo aspecto de que há pessoas que não gostam de fazer uma carreira académica e têm que ter uma alternativa… Depois nós na nossa vida real vemos que queremos um electricista, não temos, queremos um mecânico, não temos… E esta escola preparava os alunos para isso. EU – Preparava e prepara, e não como um último recurso, mas como uma verdadeira alternativa. Será isto? HC2 – Sim. Exactamente! EU – Então mas agora eu vou fazer contraste com a preocupação da HC3, que a escola irá perder as Humanidades. É um medo que ela tem e agora… HC3 – Vai perder…vai perder. E nós estamos num momento que, do ponto de vista da política educativa, creio eu e de acordo com o que vejo, estamos num momento de retrocesso, não é verdade? Portanto, é a questão da instauração de um director, a ideia de voltarmos a uma organização autoritária, condicionando os professores. O momento a seguir é a novamente a divisão das escolas em… EU – Mas calma. Então tu achas mesmo que com estas mudanças, a palavra dos professores e dos alunos e dos pais, ou seja, a questão da autonomia não se vai pôr mais e vai desaparecer? HC3 – Depende da palavra, nunca será a palavra contraditória, será sempre a palavra do acordo. EU – Sim, do acordo, mas para haver acordo tem que haver alternativa, não pode haver silêncio… HC3 – Nesse aspecto, infelizmente, eu estou muito pessimista, EU – Eu pensava que estavas a falar disso, não pensando em termos de influências externas, mas em termos de influências internas. Como sabes, não nego a influência externa, mas dentro da escola… HC3 – Dentro da escola houve sempre uma corrente muito forte de educação… da escola anterior, da escola do estado novo e da escola fascista. A questão é esta - há aqui uma corrente que continua muito forte que tem saudades. EU – Mas não é o caso da HC2… HC3 – Não, ela não tem nada a ver com isso! HC2 – Não, eu não acho que deva acabar! Deve haver alternativas. A escola é rica por ter tudo! HC3 – A maioria das pessoas diz que é rica por ter tudo, mas há muitos que dizem que é rica por ter tudo, porque não têm coragem de assumir que só queriam ter aquilo que lhes convém, percebe? EU – Então quer dizer que na escola quem tem o poder - feita assim a pergunta desta maneira muito

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caricata… HC3 – Na escola há o visível e o invisível. EU – Eu quero saber o invisível. HC3 – Pois, o invisível acho que não é muito difícil… EU – Não precisas de ser precisa. Dá a tua percepção, dá-me alguma informação mais... Há uma corrente que tu achas que … HC3 – Há uma corrente muito forte, que é a tradicional e que entende que a escola deveria voltar ao que foi no seu passado, pura e simplesmente. EU – Formar técnicos? HC3 – Formar técnicos, e tudo o resto está a mais. E daí também… daí também o seu progressivo isolamento. Porque não é completamente assumido… HC2 – Nunca tinha pensado nessa perspectiva…mas estou a compreender. HC3 – Desde os anos 80…É que eu conheço esta escola há muitos anos e temos que olhar para uma outra realidade: é que o tempo vai passando, muitas das pessoas que tinham muita força nesta escola, neste momento não estão aqui, pelo menos directamente, e cada vez hão-de estar menos, mas há sempre formas das coisas se reproduzirem e as coisas mudam menos do que nós pensamos. Eu estou convencida que se isto ainda por cima vai ao encontro das linhas do ministério, porque está a ir ao encontro daquilo que o ministério quer, eu só vos dou 5 anos e eu já não vou ver. Dou 5 anos a esta escola para voltarmos a ter o que tínhamos nos anos 70, que é as escolas técnicas, é os liceus e as escolas artísticas. É o que vai acontecer. EU – Então voltando ao princípio da conversa que é o que importa - a questão da autoavaliação. Tenho de vos dizer que a minha perspectiva era de que a autoavaliação podia dar mais força à escola para ser autónoma e requerer, reafirmar, e assumir aquilo que acha melhor para si, tendo em conta o contexto onde está. Pela vossa conversa, não interessa nada essa autoavaliação porque tudo virá de cima. É assim? HC2 – Pois, agora despistei-me um bocadinho… ficou muito confuso… EU – Vou simplificar. Então, a autoavaliação, este processo que a escola iniciou, na vossa perspectiva também já por força externa, não vai servir de nada em termos de autonomia da escola? HC3 – Não, eu acho que vai! Tem manifestas evidências que pode melhorar a organização, que no fundo é o que se pretende. Eu quero reconhecer que sim! EU – Em termos organizativos. Em termos pedagógicos mantém-se tudo… HC3 – Sim. Em termos pedagógicos vai depender da aceitação das pessoas… EU – OK. HC4, ias dizer… HC4 – Ia dizer, ainda na sequência do que a HC3 estava a dizer, o facto de nos terem tirado as humanidades daqui e nos terem tornado uma escola muito mais… com objectivos muito mais práticos em termos dos alunos, considero que afectou a qualidade da saída dos alunos; eles não estão tão preparados a nível cultural, de informação, críticos… Não estão! Temos técnicos, ok, formamos

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técnicos, mas seres pensantes e críticos, desculpa, mas acho que não. EU – Desinvestiu-se dessa parte… HC4 – Desinvestiu-se! HC2 – Mas se calhar não foi uma coisa a nível de escola… HC4 – Desculpa, há uma coisa que a HC2 está a dizer e muito bem – não é a nível de escola, embora se verifique mais nesta pelas suas características, mas é muito mais geral. HC1 – A minha opinião é diferente. Eu acho que os reflexos da autoavaliação vão depender do director, a ver vamos… HC3 – Pois! Também estou de acordo consigo. EU – Bom, e terminado o tempo, vou ter de terminar esta conversa e tenho muita pena porque há aqui coisinhas que não ficaram bem exploradas… Pausa: dois elementos saem para as aulas, mas outros dois ficam e dispostos a continuar a conversa. Dado o interesse dos assuntos, retomamos a gravação. Entretanto é retomado o episódio dos pais da aluna falecida e é-nos oferecida a brochura de enquadramento da exposição. EU - Tudo é importante e nós podemos continuar a conversar mais um bocadinho.

HC3 – Neste caso concreto desta miúda, não é numa escola qualquer em que os pais vêm… Eu acho que isto devia ter tido um impacto muitíssimo maior, pela questão… não tem nada a ver comigo, tem a ver com o valor que se reconhece à escola. Se a escola era conhecida por dar a técnica total, também é, neste caso, conhecida pela forma humana como foi aqui acompanhada. HC2 - Eu penso que as mudanças que se sentem dentro da escola não têm se calhar só a ver com o facto de agora haver aqui muitos cursos profissionais. Porque eu tive duas turmas de artes - a minha filha é de artes, está em arquitectura – e às vezes chegava a casa e dizia: “olha vê lá que”… Porque no primeiro ano que estive aqui eu tinha numa turma de 10ª ano, uma mistura de alunos que estavam a fazer também matemática, mas eram já do 11º. Não sei se lembra, mas havia na altura a possibilidade de eles iniciarem matemática B do 10º, estando no 11º. Pronto, eu tinha ali uma mistura e aquele conjunto de alunos que já era do 11º ano, pertenciam a uma turma de artes que era altamente problemática aí. As miúdas envolveram-se até aí em cenas de pancadaria dentro do recreio. Eu fui para casa, e contei isso à minha filha: “ouve lá, ó Margarida, é isto assim”… “- Ó mãe, tu não me digas que dentro da Hefesto se passou uma situação dessas! Isso era impensável na altura em que eu lá era aluna. Alunos de Artes a tomarem atitudes dessas?!” E na verdade, eu com isto o que quero dizer é que a transformação também é devida aos alunos. Eu ouço os meus colegas dizerem que as turmas do 10º ano dos cursos normais, que não são cursos profissionais, que são alunos que entram… o antigo 1º agrupamento, os científico-naturais, aqueles cursos ditos para prosseguimento de estudos, não é? Eles queixam-se que eles trazem muito má qualidade em termos de preparação académica e em termos de postura, de educação dentro da sala de aula. EU – É um mal geral…

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HC2 - É um mal geral! HC3 - Mas ó HC2, o que eu acho é que aqui as pessoas ainda não abdicaram de exigir educadamente, portanto, não abdicaram disso; há muitas escolas em que as pessoas, por força das circunstâncias, se esquecem. EU – Baixaram os braços... HC3 – Nós aqui, de uma maneira geral… Acho que não há aqui uma predeterminação, mas o que eu exijo na minha aula, é se calhar parecido com o que a HC2 exige na sua. E depois, de uma maneira geral, os alunos tomam uma atitude correspondente. Ao passo que verifico que em professores que chegam aqui, às vezes vêm habituados… Eu vou-lhe contar um caso concreto. Eu dou aulas à noite. No outro dia chego à sala, e ao contrário do que é habitual, a sala está sempre cheia de papéis, e de coisas… papeis que pareciam de comer, que é uma coisa que não se compreende. Chamei a funcionária e então o que é que tinha acontecido? É que tinha havido ali uma aula, durante o dia, com uma determinada professora, que acha normal que eles comam nas aulas. Portanto, é normal comer-se nas aulas! Coisa que nesta escola isso nunca foi aceite! Se calhar há escolas em que isso é normal. Aqui nunca foi! HC2 – Eu concordo com o que a HC3 diz, até porque como eu disse, eu venho de outra escola e sentia isso; sentia que fazia determinadas exigências, eles depois iam para outras aulas, para outros professores e eles diziam que as exigências não eram as mesmas. E eu senti-me isolada nesse aspecto. HC3 – Sim, mas lá está: um dos aspectos pedagógicos que devia ter atenção, era definir um conjunto de regras gerais no início do ano, que fossem respeitadas por todos os colegas. EU – Se calhar a questão não está nas regras, porque a mim parece-me que em todas as escolas está nas regras que não se come nas aulas. A questão não é estar escrito, mas como tu há bocadinho dizias, é estar inscrito… na maneira como as pessoas se posicionam e que passa pelo exemplo, quer dizer “nem admito outra maneira”! Penso que também há coisas absurdas para escrever num regulamento interno. Acho que é absurdo escrever num regulamento interno que não atende o telefone ou que não come dentro da sala. São regras sociais! HC3 – Essas regras sociais, no nosso caso são interiorizadas, mas como as pessoas vêm de muitos sítios onde elas não existem, se calhar têm mesmo que ficar escritas e as pessoas têm que as ler, e tem que se exigir que as cumpram, está a perceber? Eu acho que é preciso autoridade. EU – Mas se os que vêm desses sítios chegarem cá e encontrarem uma determinada forma de estar, se calhar vão segui-la… HC3 – Mas sabe o que é que eu digo? O problema é a questão da autoridade. É pena que se pense na autoridade como uma forma de reprimir as pessoas, em vez de ser uma forma de criar regras que sirvam a todos, não é? E exigir das pessoas o cumprimento delas. Eu penso que o futuro director da escola, em vez de se estar a preocupar com um certo tipo de coisas, também devia começar por se preocupar com isso. Em estabelecer regras sociais que sejam normais, normalmente cumpridas por toda a gente. HC2 – Na questão da autoridade, eu acho que o ministério nos desautorizou, e penso que aquela autoridade que nós tínhamos, alguma autoridade que ainda restava, foi-se perdendo, com alguns comentários, com algumas coisas que se foram dizendo… EU –Vocês sentem isso da parte dos alunos? HC2 – Ai, eu acho que sim!...

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HC3 – Completamente! HC2 – Eles chegam a dizer: ”Oh! Quero lá saber! Eu já sei que se tiver uma má nota isso vai influenciar a sua avaliação!” Eles chegam a dizer coisas que… Eu penso que há determinadas coisas que foram ditas de determinada maneira, que só estragaram, só deterioram ainda mais o clima que ia existindo na escola. HC3 – Foi incompreensível, para quem pretendia… EU – Voltando à autoridade. Há bocado vocês falavam e eu estava a pensar: “Pois, também há alguns colegas que disseram que se sentiam bem nesta escola porque não havia muitas imposições, as pessoas sentiam-se livres”. Eu estava a pensar, será que com os alunos não é a mesma coisa? HC3 – Eu estou firmemente convencida que tem a ver com a actuação dos professores e com a educação que nós acabamos por lhes dar… Estou firmemente convencida que as coisas são muito difíceis no 10º ano, no 11º ano elas estabilizam completamente e no 12º… HC2 – Completamente não digo, mas ficam melhores. Nota-se a todos os níveis: a nível de estudo, a nível de comportamento... Eles vêm muito em “estado bruto”, digamos assim, depois ali no 10º ano eles passam por um processo, muito difícil para o professor, que é adquirirem alguns hábitos, a todos os níveis, mesmo. No 11º eu penso que já começam a ter algumas regras. Há bocadinho pôs aí a questão dos alunos se sentirem livres. Eu penso que eles têm que se sentir livres quando eles usam essa liberdade de forma correcta. Agora quando eles fazem coisas que não devem, tem que haver alguém que controle, que controle a sua actuação. EU – Sim, sim. Mas às vezes a repressão em demasia tem efeito contrário, não acham? Sobretudo com adolescentes, que é o que tem aqui dentro… HC2 – Eu acho que sim. E falo pela experiência própria, porque como disse já tive turmas muito complicadas e verifiquei que às vezes “entrar a matar”, falando… tem muito… tem um efeito nocivo, quer dizer, vira-se o feitiço contra o feiticeiro. Eu tive experiências disso, porque hoje eu vejo que não deveria ter agido daquela forma – “entrar tão a matar”. Mas também tenho noção que é preciso, desde logo, imprimir as regras, que são aquelas que são absolutamente necessárias implementar para que uma aula funcione bem, porque se não se apanham desde o início, muito dificilmente se apanham, e há turmas que esse processo não é… esse início pode durar um ano inteiro… E é um tormento para os professores! HC3 – Já agora que estamos a falar de avaliação interna, eu lamento profundamente que a escola nunca seja capaz de fazer uma reflexão, em relação ao problema da disciplina, sobre os casos disciplinares que teve ao longo de um ano. Eu penso que havia uma coisa muito fácil, muito simples, que era publicitá-los e discuti-los. Publicitá-los sem nome…

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