HANSENÍASE EPIDEMIOLOGIA o · 2019-03-25 · HANSENÍASE EPIDEMIOLOGIA o Definição: Doença...
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HANSENÍASE
❖ EPIDEMIOLOGIA
o Definição: Doença crônica infectocontagiosa de evolução lenta que se manifesta
por sintomas dermatoneurológicos com lesões de pele e nervos periféricos e até
mesmo olhos e órgãos internos, podendo ser altamente incapacitante. É
considerada uma doença negligenciada promotora e perpetuadora de pobreza
o 90% da população é resistente, sendo o Brasil o 2º pais com o maior número de
doentes com mais de 30 mil casos novos por ano com 7% destes com menos de 15
anos.
o Agente etiológico: Mycobacterium leprae, um bacilo álcool-ácido resistente,
cora-se pela fucsina ácida e não se descora, assumindo coloração avermelhada,
fracamente gram-positivo, que infecta os nervos periféricos e, mais
especificamente, as células de Schwann. É viável no meio ambiente com
temperaturas abaixo de 37º; possui multiplicação lenta (11-13 tempos de
geração), período de incubação varia de 2-7 anos
o Transmissão: se dá por meio do contato próximo e prolongado de uma pessoa
suacetível e um doente que não tratado. A bactéria é transmitida por vias aéreas
superiores e não há transmissão por contato.
o Vigilância de contatos
▪ Conjunto de medidas que objetivam a intervenção na cadeia de transmissão,
no espaço mais provável de sua ocorrência. Deve ser realizado o exame
dermatoneurológico.
▪ Objetivo de diagnóstivo precoce evitando incapacitações e identificação do
caso fonte, encerrar a cadeia de transmissão
▪ Todos os pacientes que não possuem a cicatriz da vacina BCG ou que possui
apenas uma devem ser vacinados.
▪ Deve ser feita a busca ativa (campanhas e rotina do serviço).
▪ O formulário de vigilância de contato intradomiciliar deve ser anexado ao
prontuário de cada caso índice
▪ O exame de todos os contatos de forma bem detalhada
▪ Contato domiciliar: toda e qualquer pessoa que resida ou tenha residido,
conviva ou tenha convivido com o doente de hanseníase, no âmbito domiciliar,
nos últimos cinco (5) anos anteriores ao diagnóstico da doença. Devem ser
incluídas, também, as pessoas que mantenham convívio mais próximo, mesmo
sem vínculo familiar, sobretudo, àqueles que frequentem o domicílio do
doente ou tenham seus domicílios frequentados por ele
▪ Contato social: toda e qualquer pessoa que conviva ou tenha convivido em
relações sociais (familiares ou não), de forma próxima e prolongada com o
caso notificado. Os contatos sociais que incluem vizinhos, colegas de
trabalho e de escola, entre outros, devem ser investigados de acordo com o
grau e tipo de convivência, ou
▪ Anamnese dirigida aos sinais e sintomas da hanseníase, exame
dermatoneurológico e vacinação BCG
o Notificação: a notificação dos casos de hanseníase é compulsória com ficha
específica (SINAN). notificação deve ser enviada semanalmente em meio físico,
magnético ou digital ao órgão de vigilância epidemiológica hierarquicamente
superior, permanecendo uma cópia no prontuário
o Boletim de acompanhamento: mensalmente para a vigilância epidemiológica
o Vacinação: a vacina BCG previne a manifestação da forma multibacilar.
❖ QUADRO CLÍNICO/EXAME FÍSICO
• ASPECTOS NEUROLÓGICOS E ALTERAÇÃO DE SENSIBILIDADE
Aspectos neurológicos: Bacilos destroem a bainha de mielina que se manifestam com
espessamento neural levando a alterações de sensibilidade, motora e autonômica;
o Nervos acometidos
Espessamento neural assimétrico que pode vir acompanhado ou não de dor. Deve-se
avaliar início e sua progressão relacionada à sensibilidade e função
Espessamento – Choque – Dor – Assimetria
A avaliação neurológica deverá ser realizada no início do tratamento; A cada
três meses durante o tratamento se não houver queixas; Sempre que houver
queixas, tais como: dor em trajeto de nervos, fraqueza muscular, início ou piora de
queixas parestésicas; No controle periódico de doentes em uso de corticóides, em
estados reacionais e neurites; Na alta do tratamento; No acompanhamento pós-
operatório de descompressão neural com 15 (quinze), 45 (quarenta e cinco), 90
(noventa) e 180 (cento e oitenta) dias.
A avaliação neurológica inclui: História; Ocupação e Atividades Diárias; Queixas
do paciente; Inspeção; Palpação dos Nervos; Teste de Força Muscular; Teste de
Sensibilidade.
▪ Nervo facial:
◊ Avaliação do nariz a presença de ressecamento e crostas indicam a disfunção.
◊ Pede-se ainda que o paciente eleve a sobrancelha observando assimetria.
◊ Solicita-se ao paciente que feche os olhos com resistência e avalia o retorno
à poição de normalidade, a presença de rugas e fendas indica deterioração do
ramo.
◊ Paciente ainda apresenta eritema ocular, irritabilidade corneana, redução de
lágrima com ressecamento, amaurose (cegueira total ou parcial que não
apresenta alteração ou lesão grosseira dos olhos - resulta de doença da retina
ou do nervo óptico) e inversão se cílio.
◊ Olho vermelho crônico (conjuntivite); sensação de “areia nos olhos”;
embaçamento da visão (alteração da córnea).
◊ Solicita-se o fechamento leve dos olhos observando-se assimetria de
fechamento e presença de fenda indicando presença de lagoftamo
▪ Nervo trigêmeo: aplicação do fio dental sobre o quadrante inferior externo da
íris do olho observando-se reflexo imediato de piscar, o que ocorre de maneira
lenta ou ausente quando acometido
▪ Nervo auricular: não tem função definida, mas seu espessamento unilateral
indica acometimento pela hanseníase
▪ Nervo radial: localização posterior e inferior ao deltoide. Tem função normal de
Sensibilidade dorso lateral da mão até metade lateral do 4º dedo, exceto
falanges distais, região anterior braço; motor: extensão dos dedos, flexão punho.
Sua alteração leva a Hipoestesia/anestesia, mão caída
▪ Nervo ulnar: com os ombros soltos, localiza-se na goteira epitrocleana avaliando
5-6cm antes e depois e comparando com o lado contralateral. Tem função de
Sensibilidade e autonômica em toda face medial do antebraço, 5º e metade
medial do 4º dedos; adução e abdução dos dedos, adução do polegar. Sua
alteração leva a Hipoestesia/anestesia, amiotrofia, garra ulnar , diminuição força
da função de pinça, atrofia hipotênar
▪ Nervo mediano: deve-se fazer a palpação profunda ou ainda avaliar a percussão.
Ele é responsável por Sensibilidade e autonômica em toda face lateral do
antebraço, região palmar, polegar, 2º, 3º e metade lateral do 4º dedos. Oponência
e abdução do polegar. Sua alteração leva a Hipoestesia/anestesia, amiotrofia de
interrósseos, garra mediana, atrofia tenar
▪ Nervo fibular comum: passa lateral e posterior à cabeça da fíbula. Responsável
pela Sensibilidade e função da parte lateral da perna e dorso do pé. Motor:
inervação de parte da musculatura da perna. Seu comprometimento leva a
Hipoestesia/anestesia acima do 1º espaço metatarsiano e alteração dos
movimentos de extensão do hálux, dedos e dorsiflexão do pé. Lesão do fibular
superficial altera eversão do pé.
▪ Nervo tibial posterior: passa imediatamente atrás do maléolo medial, possui
Sensibilidade e autonômica da região plantar. Motor – inervação dos músculos
intrínsecos do pé. Seu comprometimento é responsável por
Hipoestesia/anestesia, alteração na abdução e adução do hálux e artelhos, flexão
dos metatarsianos (garra de artelhos).
o Distúrbios neurológicos
subjetivos
▪ Sintomas intermitentes de localização variada, podendo ser unilateral ou
bilateral. São importantes a ponto de provocarem alterações no padrão de sono.
▪ Parestesias ou disestesia: Formigamentos, choques e câimbras nos braços e
pernas, que evoluem para dormência, sendo mais intenda durante o período
noturno e nos períodos de frio – a pessoa se queima ou se machuca sem perceber;
▪ Dores nevrálgicas (neurite): relatos de dores lancinantes e debilitantes, de
início agudo, delimitada nos trajetos de nervos principalmente em extremidades,
mais frequente no período noturno;
o Distúrbios neurológicos objetivos – podem ser testados
▪ Alterações motoras:
◊ Diminuição e/ou perda de força nos músculos inervados por estes nervos,
principalmente nos membros superiores e inferiores e, por vezes, pálpebras
◊ Amiotrofia
◊ Paralisia de nervo + artrite → mão em garra
◊ Perda de coxins adiposos = retificação de pés e mãos
▪ O Grau de Incapacidade Física (GIF): é uma medida que indica a existência de
perda da sensibilidade protetora e/ou deformidade visível em consequência de
lesão neural e/ou cegueira. Constitui uma importante ferramenta na
identificação de pacientes com maior risco de desenvolver reações e novas
incapacidades, durante o tratamento, no término da poliquimioterapia e após a
alta;
▪ O Escore OMP (olhos, mãos e pés): é um instrumento complementar de
avaliação da graduação da incapacidade no paciente de hanseníase e tem como
objetivo proporcionar maior detalhamento sobre cada incapacidade
isoladamente, possibilitando uma melhor qualidade do cuidado. O Escore OMP é
a soma dos graus de incapacidades atribuídos a cada segmento direito e esquerdo
determinando a soma máxima que varia de 0 a 12, representando assim, uma
medida mais precisa ao classificar o comprometimento em diferentes
seguimentos
▪ Alterações de sensibilidade:
◊ Aparecimento súbito de manchas dormentes com dor nos nervos dos
cotovelos (ulnares), joelhos (fibulares comuns) e tornozelos (tibiais
posteriores);
◊ Diminuição e/ou perda de sensibilidade nas áreas dos nervos afetados,
principalmente nos olhos, mãos e pés;
o Outros acometimentos
Sistema linfático e circulatório: linfadenomegalias indolores no pescoço, axilas e
virilhas; baço aumentado; cianose de mãos e pés (acrocianose); mãos e pés
edemaciados, úlceras indolores e com bordas elevadas, geralmente múltiplas, em
membros inferiores (úlceras tróficas).
Vísceras: Fígado e baço aumentados; insuficiência suprarrenal ou renal; atrofia
dos testículos.
Mucosas: obstrução, ressecamento e/ou sangramento da mucosa nasal, com edema)
da região do osso do nariz, ou até desabamento nasal; “caroços” ou ulcerações
indolores no palato; e rouquidão. Com o tratamento, os sintomas nasais são os
primeiros a se extinguirem nos pacientes com hanseníase virchowiana.
• HANSENÍASE NEURAL PRIMÁRIA – alterações dermatológicas
Presença apenas de déficit neurológico e espessamento neural com pouca ou
nenhuma lesão cutânea.
Podem surgir com o início do tratamento
▪ Áreas da pele, ou manchas esbranquiçadas (hipocrômicas), acastanhadas ou
avermelhadas, com alteraco es de sensibilidade ao calor e/ou dolorosa, e/ou ao
tato;
▪ Papulas, tuberculos e nodulos (caroços), normalmente sem sintomas;
▪ Diminuiçao ou queda de pelos, localizada ou difusa, especialmente nas
sobrancelhas (madarose) → destruição do nervo que estimula o músculo eretor
dos pelos que perdem a função, o pelo enfraquece e cai.
▪ Pele infiltrada (avermelhada), com diminuição ou ausência de suor no local.
▪ Ictiose → destruição dos nervos simpáticos responsáveis por sudorese, faz com
que ocorra descamação da epiderme dando aspecto de escama de peixe.
▪ Mal perfurante plantar: deve ser avaliado de forma simétrica. Ulcera com
borda calosa. Dano no nervo → alteração na forma de andar → calosidade →
aumento do calo e início da dor → redução da vascularização do calo → perda
de sensibilidade pelo acomentimento do nervo pela hanseníase → formação
de ulcera com borda calosa.
❖ EXAME FÍSICO
o Paciente em ambiente calmo e silencioso;
o Disponibilidade de tempo específico para a realização dos testes
o Certificar que o instrumento de testagem seja menor que a área testada a fim
de garantir um resultado confiável.
o Garantir que o paciente entenda o teste, e o mesmo deve ser vendado para não
gerar viés de resultado
o Toque a lesão e fora da lesão de forma alternada, e ainda simule não tocar
o Marcar com caneta os pontos testados {normoestesia (+); hipoestesia (-);
anestesia (○) }
o Tipos de avaliação (tem-do-tá)
▪ Térmica: instrumento que demonstre claramente a diferença entre o quente
(máximo de 45ºC) e o frio → tubos de ensaio com água, algodão embebido em
álcool, instrumento metálico
▪ Doloroso: utiliza-se objeto pontiagudo (agulha de insulina estéril), alfinete
(difícil esterilização) → deve-se garantir a diferença entre a sensibilidade
dolorosa (usar ponta da agulha) ou tátil (cabo, cabeça do alfinete) – alternar
sensações para evitar falseamento do exame. Certifique-se de que a
sensibilidade sentida é de dor através da manifestação de “ai!”
▪ Tátil: pode-se usar algodão, estesiômetro, fio dental, ponta da caneta.
◊ Tempo de resposta: a demora da resposta se configura como alterção inicial
da bainha de mielina (distal para proximal)
▪ Diagnóstico: é feito quando a maioria dos pontos de hipoestedia ou anestesia
encontra-se dentro de áreas suspeitas delimitadas por áreas de normoestesia.
❖ EXAMES COMPLEMENTARES
1. Fotografia digital com alto contraste fornece maior definição da área
afetada
2. Testes de sensibilidade
3. Teste da histamina: objetiva-se avaliar a capacidade reativa dos vasos
dérmicos à histamina exógena. Pinga-se uma gota de fosfato de histamina
1,5% sobre a área suspeita e outra numa região normal distante. Em seguida
faz-se leve puntura no local e observa-se os sinais
eritema ausente na área
afetada pois a
destruição de filetes
autonômicos não
permite a vasodilatação
4. Teste da histamina endógena: usada em casos de se obter a histamina
endógena. objetiva-se avaliar a capacidade reativa dos vasos dérmicos à
histamina endógena pela pressão como na indução do dermografismoou
agulhadas contínuas.
a. DERMOGRAFISMO: Traça-se com um objeto rombo (verso da tampa
de uma caneta esferográfica), sobre uma pressão contínua, uma reta
passando da área proximal supostamente normal à área suspeita e, por
fim, sobre área distal também supostamente normal.
b. Observam-se após alguns segundos as mesmas reações propostas por
Lewisà histamina, porém de menor intensidade, principalmente o
eritema secundário ausente
5. Teste do iodo- amido: objetiva-se avaliar a função autonômica simpática
responsável pela sudorese. pode-se observar ilhotas de anidrose/ou
hipoidrose após exercícios. Aplica-se homogeneamente solução de iodo
(Lugol) a qual pode ser substituída por solução de povidona com algodão;
peneira-se amido de milho (maizena) sobre a área e solicita-se que o paciente
faça algum exercício sem tocar nas regiões examinada e controle normal em
ambiente quente e úmido por aproximadamente 10 a 20 minutos. O resultado
se firma pela ausência e/ou diminuição de coloração azulada na área suspeita
(iodo negativa) como se apresenta na periferia com sudorese normal (iodo
positiva).
6. Baciloscopia do raspado dérmico: realiza-se a isquemia do local, faz-se um
pequeno corte com a lâmina do bisturi e um raspado dentro da área do corte
para a coleta dos bacilo. O material é colocado na lâmina em movimentos
circulares e fixado com calor. Áreas de coleta: hansenoma, orelha, couro
cabeludo, joelho e borda da lesão). A baciloscopia negativa não exclui o
diagnóstico clínico.
7. Histopatologia: infiltrado inflamatório perineural, perifolicular. Não é
considerado critério diagnóstico.
❖ CLASSIFICAÇÃO OPERACIONAL
▪ Paucibacilar
o Formas: Hanseníase Tuberculóide, Indeterminada/ (doença localizada em uma
região anatômica e/ou um tronco nervoso comprometido).
o Até 5 lesões (critério não muito utilizado)
o Baciloscopia negativa
• Multibacilar
o Formas: Hanseníase Dimorfa ou Virchowiana (doença disseminada em várias
regiões anatômicas e/ou mais de um tronco nervoso comprometido).
o Mais de 5 lesões
o Baciloscopia positiva.
❖ CLASSIFICAÇÃO CLÍNICA
• Forma indeterminada (paucibacilar)
o Forma inicial → não tem transmissão;
o Geralmente afeta crianças abaixo de 10 anos, ou mais raramente adolescentes e
adultos que foram contatos de pacientes com hanseníase;
o Escassez de bacilo na histopatologia;
o Manchas hipocrômicas hipo ou anestésica, sem relevo, geralmente única e
pequena com bordas mal delimitadas e alopecia local e seca;
o Sensação tátil está preservada;
o Testes: Teste de função sudoral alterada: Anidrose ou hiperidrose e teste da
histamina incompleta;
o Não há comprometimento de troncos nervosos e dor, bem como lesões que
causem incapacidades;
• Forma tuberculoide – granulomas (paucibacilar)
o Tempo de incubação cerca de 5 anos
o Placa eritematosa elevada e de centro claro (forma de anel) hipo/ anestésica ou
circundada por pequenas pápulas ou tubérculos maior que 10 cm (forma de cerca).
Presença de anidrose e alopecia
o Acometimento de tronco neural único → ode se apresentar como um único nervo
espessado com perda total de sensibilidade no seu território de inervação.
o Sistema imune é eficiente promovendo uma resposta celular que evita a
multiplicação disseminada do bacilo
o Histopatologia possui granulomas → histiócitos epitelioides que tocam a
epiderme e células gigantes tipo corpo estranho presentes
o BAAR negativos
• Forma dimorfa (multibacilar)
o É a forma mais comum de apresentação da doença (mais de 70% dos casos).
Ocorre, normalmente, após um longo período de incubação (cerca de 10 anos ou
mais), devido à lenta multiplicação do bacilo
o Várias manchas de pele avermelhadas ou esbranquiçadas, com bordas elevadas,
mal delimitadas na periferia, ou por múltiplas lesões bem delimitadas
semelhantes à lesão tuberculóide, porém a borda externa é pouco definida
o Tem tendência à simetria, com lesões grandes
o Há perda parcial a total da sensibilidade, com diminuição de funções autonômicas
(sudorese e vasorreflexia à histamina).
o Sistema imune instável em conter a multiplicação bacilar
o Histopatologia apresentaa grânulos frouxos constiruídos de histiócitos menos
diferenciados do que na forma tuberculoide.
o BAAR é variável, com aproximadamente (1012 bacilos);
o Comprometimento de mais de um tronco nervoso, com alto risco para
incapacitação;
• Forma dimorfa tuberculóide
o Presença de placas faveolares hipo e/ou anestésica (nº limitado)
o Bordas infiltradas e indefinidas, porém apresentam ainda algumas áreas com
pápulas bem definidas (granuloma = resposta tuberculoide)
o Não infiltra a área axilar
o Além de manchas hipocrômicas que cursam com anestesia, o paciente apresenta
sinais e sintomas de espessamento neural assimétrico e perdas motoras
▪ Forma virchoviana (multibacilar)
o É a forma mais contagiosa da doença.
o paciente virchowiano não apresenta manchas visíveis; a pele apresenta-se
avermelhada, seca, infiltrada, cujos poros apresentam-se dilatados (aspecto de
“casca de laranja”), poupando geralmente couro cabeludo, axilas e o meio da
coluna lombar (áreas quentes).
o Presença de múltiplas lesões pápulo-nodosas/ placas faveolares (hansinoma) com
infiltração difusa, são escuros, endurecidos e assintomáticos
o Sinais virchovianos: madarose, infiltração difusa, triquíase, nódulos e pápulas de
coloração castanha
o Neuropatia bilateral simétrica com multiplicidade de nervos afetados.
o Sinais de infiltração: dobras com poucas rugas, rosto liso, nariz congesto,
movimento da pele em bloco; aspecto cutâneo de casca de laranja por infiltração
e dilatação dos poros; lobos auriculares aumentados e entumecidos, suor
diminuído ou ausente
o São comuns as queixas de câimbras e formigamentos nas mãos e pés, artrite
(FAN +, VDRL +), dor testicular devido a orquite em jovens (azospermia e
infertilidade, ginecomastia e impotência em idosos)
o Histopatoligia: múltiplos histiócitos vacuolizados (gordura), faixa de unna
subepidérmica (colágeno)
o O diagnóstico pode ser confirmado facilmente pela baciloscopia dos lóbulos das
orelhas e cotovelos → BAAR (++++)
❖ DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
o Ptiríase versicolor;
o Nervo anêmico;
o Dermatofitose;
o Farmacodermia (eritema nodoso e polimórfico)
o Lupus;
o Dermatite de contato;
o Vitiligo;
o Neurofibromatose;
o Leishimaniose anérgica;
o Cromoblastomicose;
❖ TRATAMENTO
• Reações hansênicas
▪ Fenômenos agudos que interrompem a evolução crônica das lesões, podem
ocorrer em todas as formas clínicas com exceção dos indeterminados. É uma
complicação da doença
▪ podem ocorrer de forma aguda antes, durante ou após o final do tratamento com
a poliquimioterapia.
▪ É recomendável realizar o exame odontológico nos pacientes, pois focos
infecciosos podem ser possíveis desencadeantes das reações hansênicas
▪ Serão apresentadas de acordo com a classificação de Gell e Coombs
o Tipo I
▪ Comprometimento do estado geral
▪ Especificidade celular Th1
▪ Neurite, aparecimento de novas lesões cutâneas, manchas e alteração de cor
▪ Reagudização de leões antigas
▪ Eritema nodoso
▪ Edema em mãos
▪ Piora dos sinais neurológicos de perda de sensibilidade ou perda de função
muscular
▪ Geralmente são autolimitados com duração média de 3-6 meses.
▪
▪ Tratamento é com predinisona 1mg/kg/dia por 6-8 meses ou dexametasona
0,15 mg/kg/dia em casos de doentes hipertensos ou cardiopatas. Para a “dor
nos nervos”, associar antidepressivo tricíclico em dose baixa (amitriptilina
▪ 25 mg por dia, máx 75mg/dia), associado a clorpromazina 5 gotas (5 mg máx
50mg/dia) duas vezes ao dia, ou a carbamazepina 200 a 400 mg por dia
o Tipo II
o Resposta humoral tipo Th2
o Formação de imunocomplexos
o Geralmente são autolimitados com duração média de 1 mês.
o Surgimento subto de múltiplos nódulos dolorosos associados a sinais e sintomas
sistêmicos (febre, artralgias, orquites, hepatoesplenomegalia e
lingonodomegalia)
o Edema em mãos e pés.
o manchas ou nódulos na pele, quentes, dolorosos e avermelhados, às vezes
ulcerados;
o Febre, dor nas articulações, mal-estar;
o Dor nos nervos periféricos (mãos e pés);
o Comprometimento dos olhos;
o Comprometimento sistêmico (anemia severa aguda, leucocitose com desvio à
esquerda, comprometimento do fígado, baço, linfonodos, rins, testículos,
suprarrenais).
o Tratamento:
▪ Para a dor nos nervos, utilizar o mesmo esquema antiálgico da reação tipo 1.
antiálgico da reação tipo 1.
▪ Iniciar talidomida 100 a 400 mg/dia via oral (de preferência à noite, pela
possibilidade de sonolência), de acordo com a gravidade do caso. Como
alternativa, para mulheres em idade fértil ou em pacientes com
contraindicações a talidomida, pode-se utilizar a pentoxifilina 400 mg três
vezes ao dia, ou antiinflamatórios não hormonais.
▪ Associar prednisona 1 mg/kg/dia via oral (pela manhã, após o café da manhã)
em casos de comprometimento dos nervos periféricos ou de outros órgãos
que não a pele ou se houver ulcerações extensas
o Observações
▪ Em casos de surtos subintrantes ou corticodependentes, ou talidomida-
dependentes, reavaliar a presença de focos infecciosos, problemas
dentários, diabetes, ou contato do paciente reacional com doentes não
tratados e sem diagnóstico, ou ainda insuficiência de tratamento (presença
de infiltrações/hansenomas após cessada a reação).
▪ Classificação de Gell e Coombs
o Atendimento de emergência
▪ Presença de mal estar geral, calafrios, fbre alta, dispneia, cianose, icterícia,
múltiplos nódulos dolorosos (exacerbação da resposta imune humoral por
depósitos de imunocomplexos), quadro agudo de neurite, edema de
extremidades, adenite, uveíte
▪ Colher exames laboratoriais e suspender PQT até a resolução
▪ Confirmar diagnóstico e classificação operacional, diferenciar o tipo de reação,
▪ Levantar fatores predisponentes: infecção, infestação latente (parasitoses),
distúrbios hormonais, fatores emocionais,
▪ Afastar evento adverso relacionado ao medicamento
▪ Encaminhar casos graves ao hospital de referência
▪ Cuidados recomendados:
◊ Neurite: repouso do membro
◊ Medicamentos
♣ Palidomida 100 a 300mg/dia;
♣ Pentoxifilina 1,2g/dia;
♣ Predinisona 1 a 1,5 mg/kg/dia (registrar peso, PA, glicemia)
◊ Monitorar função renal e hepática, função neural sensitiva e motora
◊
• Poliquimioterapia -PQT
O tratamento da hanseníase é realizado através da associação de medicamentos
(poliquimioterapia – PQT) conhecidos como Rifampicina, Dapsona e Clofazimina.
Deve-se iniciar o tratamento já na primeira consulta, após a definição do diagnóstico,
se não houver contraindicações formais (alergia à sulfa ou à rifampicina).
o Medicamentos
▪ Rifampicina: altamente bactericida, dose mensal elimina quase todos os bacilos.
Meia vida de 2/3h, forma metabólitos no fígado e eventualmente é excretado
nas fezes. Efeitos adversos são raros. Mais comumente, a urina pode apresentar
uma coloração avermelhada algumas horas após a ingestão da medicação, e isso
deverá ser explicado ao paciente. Em casos de urticária, que ocorre cerca de
meia hora após a ingestão da dose supervisionada, corticoides e anti-histamínicos
podem ser prescritos. Lembrar de utilizar métodos anticoncepcionais de
barreiras por sete dias após a dose supervisionada em mulheres em idade fértil.
Outra opção é “esticar” a cartela de anticoncepcional para 28 dias para coincidir
com a cartela da PQT, ficando a paciente sem tomar anticoncepcional e PQT por
7 dias, sem interferência na eficácia do tratamento
▪ Dapsona: pouco bactericida isoladamente, mas quando associada com
clorfazimina eliminam quase todos os bacilos em 3 meses. Vida média de 1/2dias,
excretada na urina como metabólitos. É a droga com o maior número de efeitos
adversos: avermelhamento da pele, coceira e descamação, principalmente na face
e antebraços (interromper administração e encaminhar para serviço de
referência. Se o paciente apresentar sintomas como falta de ar com cianose de
extremidades (metemoglobinemia), febre e dor de garganta (agranulocitose), ou
dor abdominal com fraqueza e taquicardia e mucosas conjuntivais descoradas
(hemólise), provavelmente deve estar ocorrendo intolerância à dapsona. Nesses
casos, interromper o tratamento e coletar sangue para avaliar o hemograma, a
função renal e as transaminases. Em casos confirmatórios o paciente deve ser
encaminhado com urgência para serviço de referência. Anemia discreta pela
Dapsona (queda de até 0,2g% de hemoglobina por mês) são esperadas, e não
contraindicam a suspensão da Dapsona; nesses casos, administrar ácido fólico e
complexo B. Se o paciente já apresentar, previamente, alterações nos exames de
função hepática ou renal, ou no hemograma, avaliar a relação risco‑benefício da
introdução de Dapsona, embora não seja contraindicação absoluta.
▪ Clorfazimina: bactericida com vida média de 70 dias, eliminado nas fezes, se
acumula no tecido adiposo e células do retículo endotelial. Em relação aos eventos
adversos pode causar aumento da pigmentação da pele (“aspecto bronzeado”),
além de potencial ressecamento da pele. Nesses casos, prescrever hidratantes.
No eventual caso de obstipação intestinal, prescrever dieta laxativa, óleo
mineral, ou laxantes leves.
o Tipos de tratamento
▪ Ambulatorial: reduz carga bacilar, interrompe a cadeia de transmissão, poucos
efeitos colaterais, reduz taxa de recidiva, aumenta a adesão terapêutica.
▪ Emergencial: reservda para casos raros de episódios de reação hansênica e
eventos adversos à medicação.
o Exames laboratoriais recomendados para início do tratamento
▪ Hemograma
▪ Urina tipo I
▪ Parasitológico de fezes
▪ Glicemia de jejum
▪ Avaliação bioquímica renal e hepática
▪ β- HCG
▪ PCR e VHS
o Esquemas de tratamento
▪ Paucibacilar
◊ Adulto (verde):
♣ Dose supervisionada: rifampicina 600mg + dapsona 100mg
♣ Doses autoadministradas: dapspona 100mg/dia
♣ Tratamento completo 6 Cartelas em até 9 meses
◊ Infantil (azul):
♣ Dose supervisionada: rifampicina 300-400mg + dapsona 50-100mg
♣ Doses autoadministradas: dapspona 50-100mg/dia
♣ Tratamento completo 6 Cartelas em até 9 meses
▪ Multibacilar
◊ Adulto (vermelho):
♣ Dose supervisionada: rifampicina 600mg + dapsona 100mg + clorfazimina
300mg
♣ Doses autoadministradas: dapspona 100mg/dia
♣ Tratamento completo 12 Cartelas em até 18 meses
◊ Infantil (amarela)
♣ Dose supervisionada: rifampicina 300-400mg + dapsona 50-100mg +
clorfazimina 100-200mg
♣ Doses autoadministradas: dapspona 50-100mg/dia + clorfazimina 50mg/
dias alternados
♣ Tratamento completo 12 Cartelas em até 18 meses
Obs: para crianças com peso superior a 50 kg deve-se utilizar o mesmo tratamento
prescrito para adultos; para crianças com peso entre 30 e 50 kg deve-se utilizar as
cartelas infantis (marrom/azul); para crianças menores que 30 kg deve-se fazer os
ajustes de dose
o Seguimento
▪ Retorno ambulatorial a cada 28 dias para a dose supervisionada, pegar nova
cartela de medicamentos e avaliação clínica para a identificação de sinais e
sintomas, reações hansênicas, dano neural. Se forem presentes o paciente deve
ser reavaliado em intervalos menores
▪ Orientar retorno imediato se: novas lesões na pele, dor em trajeto de nervo,
piora motora ou sensitiva, sintomas gerais (febre e mal estar), intercorrências
clínicas
▪ Providenciar cartão de agendamento e registro de consultas
▪ Registro de peso, PA, glicemia
▪ Profilaxia para strongiloidíase (tiobendazol/albendazol)
▪ Profilaxia para osteoporose (cálcio, VitD, biofosfonatos)
▪ Orientar técnicas de autocuidado
◊ Cuidado com pés e mãos, nariz e articulações
◊ Terapia de grupo – compartilhamento de experiencias
◊ Técnicas para evitar piora do dano
◊ Fornecer colírios soro fisiológico, óleos e ácidos graxos
▪ Investigação e acompanhamento de recidivas
◊ Preencher a Ficha de Investigação de Suspeita de Recidiva e encaminhar
o caso para a unidade de referência mais próxima
◊ Se confirmado o diagnóstico deve remeter a ficha para a SMS,
juntamente com a Ficha de Notificação/Investigação da Hanseníase,
anexando cópia no prontuário do paciente
◊ Notificação de casos de recidiva deverá ser realizada pelo serviço de
referência que procedeu à confirmação diagnóstica
◊ Após avaliação, os casos confirmados e sem complicação deverão ser
contrarreferenciados, para tratamento e acompanhamento na unidade
básica de saúde
o Critérios para alta
▪ Cumprimento do tempo e númeto de cartelas preconizadas para idade e tipo
▪ Melhora clínica de exame de pele e nervos
▪ Avaliação do grau de incapacidade física e orientação para os cuidados pós-alta.
▪ Condutas a serem observadas:
◊ Tratamento irregular
♣ Não retono para avaliações
♣ Presença de eventos adversos
♣ Realizar visita domiciliar se falta maior que 30 dias
♣ Pesquisa do motivo da falta
♣ Reorienrtar a importância do tratamento e esclarecimento de dúvidas
♣ Realizar reavaliação e classificação → reiniciar o tratamento.
o Tratamento de situações especiais
▪ Gravidez, aleitamento materno e idade reprodutiva não gestante: recomendar
planejamento familiar, uso de métodos de barreira associado a ACO (rifampicina
diminui a eficácia do ACO e talidomida é teratogênico), atentar para as reações
hansenicas que são mais frequentes no 3º trimestre.
▪ Se for um caso MB e não houver melhora clínica após um ciclo de 12 doses,
reavaliar os contatos na busca de uma fonte não diagnosticada, e só após isso
encaminhar o paciente a uma unidade de referência ou a uma unidade de maior
complexidade para verificar a necessidade de um segundo ciclo de mais 12
cartelas de PQT-MB. Possíveis causas: reinfecção, insuficiência de tratamento,
ou resistência medicamentosa
▪ O paciente que, no momento da alta por cura, apresente reações ou deficiências
▪ sensitivomotoras e/ou incapacidades deverá ser monitorado, com agendamento
de acordo com cada caso
❖ REFERÊNCIAS
SOARES et. Al. REACÇÕES ADVERSAS CUTÂNEAS, GUIA DE REACÇÕES
ADVERSAS A MEDICAMENTOS UFS 2015
BRASIL. Guia prático sobre a hanseníase [recurso eletrônico] / Ministério da
Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância das Doenças
Transmissíveis. – Brasília : Ministério da Saúde, 2017. 68 p. : il.
Fundação Oswaldo Cruz curso de qualificação em hanseníase na atenção básica –
ensino a distância brasilia 2018