Hábito filosófico

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Quanto mais envelheço e mais aprendo a ler, mais me toma uma crença, tão carente de provas quanto evidente pelo hábito: uma frase, uma página ou uma obra inteira revelam na mesma medida um autor. Baste que acompanhemos apenas um de seus encadeamentos lógicos/discursivos completo com algo proposto, um portanto e uma conclusão , e não importa o tamanho, lá estará em sua plenitude o autor. !amb"m em m#sica isso acontece, e por apenas um acorde sabemos, os que estamos habituados, reconhecer o autor. $lguns ainda reconhecem o per%odo do autor, por um simples acorde, uma nota em determinada altura de algum instrumento. &econhecemos pintores por uma pincelada, escultores por um simples fragmento perdido de escultura. 's  bancos, que nunca arriscam seus capitais, reconhecem, validam e e(ecutam inimagináveis operaç)es financeiras, apenas por reconhecer num rabisco o seu autor. *o entanto, quem quiser de fato saber o que pensou tal autor, antes de ser +mas não temporalmente, enquanto gnese- o autor que ", o que " seu pensamento. Quem achar que conhecendo o autor conhece o que ele pensa, está tão enganado quanto algu"m que se habituou a que as coisas caiam para cima. *unca saberemos o que pensou um autor conhecendo o autor, nem muito menos seguindo determinados laços conceituais que acabamos tendo que suportar ara que, como nas assinaturas bancárias, validemos tal ou qual observação. esmo aqueles autores sistemáticos, aqueles que procuram um fundamento, uma clarea e distinção tal que os faça dormir tranquilos em imensos castelos conceituais, ou eternamente condenarem tais castelos, o que dá no mesmo, mesmo estes, escrevem muito mais do que lhes caberia por 0u%es ou algoes de si próprios. 1 rid%culo algu"m achar que ouviu uma m#sica por conhecer seu autor, e ningu"m de  bom senso falaria isso. as em filosofia a coisa não " tão n%tida, e muitas vees temos que nos habituar a estudar os autores, com uma consequncia que " bastante óbvia: por mais que tentemos, nada mais veremos do que encadeamentos coerentes de refutáveis. !entamos sempre colocar um desses pensamentos autorais dentro de um sistema maior de compreensão. 2 se tendemos para essa sistematiação, esquecemos entretanto do que tratam tais sistemas: problemas, apenas problemas humanos diante das coisas. 2 o posicionamento diante deles. eus dedos diante de meu teclado, as coisas que caem +para bai(o- no meu quarto, a paisagem que ve0o pela 0anela, tudo revela a mais humilde submissão 3 mat"ria que dá efetiva realidade para minha vida . ' que ve0o afinal, quando ve0o4 $s coisas, ou tais problemas, elevados a ob0etividade e realidade, por mais que, muitas vees, nossa simples intuição ou bom senso nos demonstre o contrário. as não se trata, como vimos do autor. *ão se trata de uma ou outra pessoa: trata5se, antes, da própria vida. Que ho0e muito mais nos encaminha para, al"m de qualquer autor, sistema ou o que o valha, pensarmos nos problemas que nos afligem. 2 que não está atingido por problemas, quem, mesmo que não saiba preços, tendo milh)es ou bilh)es, e não ver que o e(term%nio em massa " um baita de um problema da naturea humana, não merece o cargo de filósofo, nem o dos burocráticos, está, ele sim, com o problema. 6eve ser algo diferente, um cientista, por e(emplo... 7", mas não somos cientistas4 *ão sei os senhores, mas eu não sou, sou um filósofo militante de esquerda, que usará de toda a cincia e e(perincia adquirida para significar5se a si mesmo no mundo, absolutamente consciente de que, o que me resta, sempre será tão e simplesmente a vida, está sim 8ág. 9

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Hábito e Hume

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Quanto mais envelheo e mais aprendo a ler, mais me toma uma crena, to carente de provas quanto evidente pelo hbito: uma frase, uma pgina ou uma obra inteira revelam na mesma medida um autor. Baste que acompanhemos apenas um de seus encadeamentos lgicos/discursivos completo com algo proposto, um portanto e uma concluso , e no importa o tamanho, l estar em sua plenitude o autor.Tambm em msica isso acontece, e por apenas um acorde sabemos, os que estamos habituados, reconhecer o autor. Alguns ainda reconhecem o perodo do autor, por um simples acorde, uma nota em determinada altura de algum instrumento. Reconhecemos pintores por uma pincelada, escultores por um simples fragmento perdido de escultura. Os bancos, que nunca arriscam seus capitais, reconhecem, validam e executam inimaginveis operaes financeiras, apenas por reconhecer num rabisco o seu autor.No entanto, quem quiser de fato saber o que pensou tal autor, antes de ser (mas no temporalmente, enquanto gnese) o autor que , o que seu pensamento. Quem achar que conhecendo o autor conhece o que ele pensa, est to enganado quanto algum que se habituou a que as coisas caiam para cima.Nunca saberemos o que pensou um autor conhecendo o autor, nem muito menos seguindo determinados laos conceituais que acabamos tendo que suportar ara que, como nas assinaturas bancrias, validemos tal ou qual observao.Mesmo aqueles autores sistemticos, aqueles que procuram um fundamento, uma clareza e distino tal que os faa dormir tranquilos em imensos castelos conceituais, ou eternamente condenarem tais castelos, o que d no mesmo, mesmo estes, escrevem muito mais do que lhes caberia por juzes ou algozes de si prprios. ridculo algum achar que ouviu uma msica por conhecer seu autor, e ningum de bom senso falaria isso. Mas em filosofia a coisa no to ntida, e muitas vezes temos que nos habituar a estudar os autores, com uma consequncia que bastante bvia: por mais que tentemos, nada mais veremos do que encadeamentos coerentes de refutveis.Tentamos sempre colocar um desses pensamentos autorais dentro de um sistema maior de compreenso. E se tendemos para essa sistematizao, esquecemos entretanto do que tratam tais sistemas: problemas, apenas problemas humanos diante das coisas. E o posicionamento diante deles.Meus dedos diante de meu teclado, as coisas que caem (para baixo) no meu quarto, a paisagem que vejo pela janela, tudo revela a mais humilde submisso matria que d efetiva realidade para minha vida. O que vejo afinal, quando vejo? As coisas, ou tais problemas, elevados a objetividade e realidade, por mais que, muitas vezes, nossa simples intuio ou bom senso nos demonstre o contrrio.Mas no se trata, como vimos do autor. No se trata de uma ou outra pessoa: trata-se, antes, da prpria vida. Que hoje muito mais nos encaminha para, alm de qualquer autor, sistema ou o que o valha, pensarmos nos problemas que nos afligem. E que no est atingido por problemas, quem, mesmo que no saiba preos, tendo milhes ou bilhes, e no ver que o extermnio em massa um baita de um problema da natureza humana, no merece o cargo de filsofo, nem o dos burocrticos, est, ele sim, com o problema. Deve ser algo diferente, um cientista, por exemplo... U, mas no somos cientistas? No sei os senhores, mas eu no sou, sou um filsofo militante de esquerda, que usar de toda a cincia e experincia adquirida para significar-se a si mesmo no mundo, absolutamente consciente de que, o que me resta, sempre ser to e simplesmente a vida, est sim pessoal, indemonstrvel, porm certa, vista que sabemos o que ser e sonhar, que o primeiro melhor que o segundo, e que o segundo serve ao prprio homem, sonhador e existente ao mesmo tempo.Lembro apenas que no preciso exatamente de uma autorizao para ser filsofo, precisamos apenas ter amigos sbios. Precisamos da tal validao quando queremos cobrar pelos discursos ou sabedorias, por tal ou qual relevante servio para a humanidade, como dar aulas. Mas se no temos propriamente uma relao entre ser filsofo e vendedor de idias, o primeiro me por liberdade primordial.Deveria ser ao outro escolher, j que vai acend-las mesmo, a que senhor acendero suas luzes. Estou realmente surpreso em ver a dignidade que se esconde por detrs de determinados professores. Quando a vida milita, importante aliados to sbios. Ns, os filsofos.

Fala srio, digo uma espcie de eu. Que eu tenho que, de verdade, levar em considerao que me apresente Spitz como paradgma de qualquer coisa. melhor no ter paradgma, ou no ter qualquer coisa. Melhor que nos guiemos por Bignottos e Skinner, to eruditos, sbios e dignos quanto o que so, sem se disfararem em liberais arrependidos da mortandade que no queria...

Mas t. O desafio, realmente, reprovar, com a fora da lei, o que eu escrevo.

Pg.