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GRENKE

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D E Z E M B R O 2 0 1 5 B O N S N E G Ó C I O S | 3

S U M Á R I O& E D I T O R I A L

P ara esta edição, escolhemos uma temática que faz parte da génese da GRENKE, a responsabilidade social. E, na nossa opinião, a responsabilidade social não é apenas o que devolvemos à sociedade. Isso é sem dúvida uma preocupação que

deve estar presente em todas as empresas, no entanto, a verdadeira responsabilidade social começa internamente. Na forma como nos preocupamos com o bem-estar dos nossos colaboradores, na forma como apoiamos as suas famílias e promovemos o seu desenvolvimento pessoal. E, para quem gere uma empresa, esta deve ser uma preocupação, que vai refletir-se na restante sociedade. Porque, para todos os efeitos, a verdadeira razão existencial de uma empresa é servir a sociedade. É gerar emprego, contribuir para a melhoria das condições de vida de todos nós. No final da equação – ou no início – deve estar a participação ativa em ações de responsabilidade social. E isso não deve significar apenas um donativo. Não. Deve implicar e ser o motor do envolvimento direto de toda a equipa nestas ações, promovendo o sentimento de contribuição.

Bons Negócios a todos e boas leituras.

Diretor Victor FerreiraSubdiretor Marco SoutaEditora Marta de SousaFotografia Marko Rosalline e Ricardo SequeiraDesign Deadinbeirute, LdaPublicidade [email protected]ãoMX3 - Artes Gráficas,LdaParque Industrial Alto da Bela VistaPavilhão 50, Sulim Park2735-340 CacémSede de RedaçãoDeadinbeirute, LdaRua Conde Ferreira, Nr. 03, Sala 102804-521 AlmadaTel . (+351) 21 603 06 [email protected] e SedeGRENKE Renting, S .A .Av. D. João II , Lote 1 .17.03 - 4ºA1998-026 LisboaTel . (+351) 21 893 41 40Fax (+351) 21 893 41 [email protected] 6000 ExemplaresPeriodicidade TrimestralDistribuição Por correio personalizadaPreço 3 EurosDepósito Legal 330983/11Nº Registo na ERC 126112Edição Nº 19

30 FILTROTRANSPORTEA Bons Negócios selecionou três bic icletas elétr icas para que possa começar o ano de forma diferente e transformar a sua energia em donativos

32 FILTROPRESENTESVeja uma l ista de presentes diferentes e sol idários que poderá oferecer a alguém especial e ao mesmo tempo contribuírem para uma instituição social

34 OLHARESTHE B IG HANDDavid Fernandes deixou o seu país e a sua famíl ia para abraçar uma causa. Cr iou a associação the big hand que apoia cr ianças que vivem dif iculdades em Moçambique

28 NOVOS NEGÓCIOSIMPAC TRIPEmpreendedores cr iam agência de turismo sol idário que permite às pessoas viajarem e contribuírem para um mundo melhor

4 BREVESNOT ÍC IA S , CURIOS IDADES , ESTUDOSCur ios idades , ser v iços , es tudos e ide ias cr iat i vas de pessoas e empresas que trabalham para a judar o próx imo

16 BASTIDORESOPERAÇ ÃO NARIZ VERMELHOConheça a história da instituição e o que faz todos os dias para mudar um momento da vida de muitas cr ianças

7 OPINIÃOMARTA V IAN SANTOSA manager da Sa i r da Casca , consultora em desenvolv imento sustentável e responsab i l idade soc ial , escreve sobre o contr ibuto das empresas para a educação

18 TEMA DE CAPAPESSOAS QUE TRANSFORMAM O MUNDO Os portugueses são pessoas sol idárias . Quando têm conhecimento de alguma causa social , a judam. As empresas idem. Seja em forma de donativo monetário ou voluntariado. Ainda assim o cenário poderia ser melhor. Por vezes, os gestores não sabem quem ajudar , quem precisa . A boa notícia? Existem pessoas que têm inic iativas e ideias que permitem às empresas e instituições sociais comunicarem entre si , para juntos mudarem o mundo de alguém

8 MEET THE LEADERERGOSTEKHá oito anos Luís Girardi ficou desempregado mas não baixou os braços e foi à luta. Hoje é dono da ErgosTek, uma empresa de soluções informáticas

10 ANÁLISEJOÃO CATAL ÃOO autor fala da importância do tempo nas nossas vidas e que devemos aproveitar cada segundo. De forma criativa, ética e responsável

12 EXPERIÊNCIACEL SO GRECCOConsultor em responsabil idade social , empreendedor, cr iador de ideias . Inventou a pr imeira Bolsa de Valores Sociais do mundo, em 2003, um projeto reconhecido pela UNESCO como inédito

VICTOR FERREIRADIRETOR DA REVISTA

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4 | B O N S N E G Ó C I O S D E Z E M B R O 2 0 1 5

B R E V E SN O T Í C I A S , C U R I O S I D A D E S , E S T U D O S

www.thestreetstore.org

www.donothingdogood.com

DON’T TOUCH YOUR PHONE!

Street Store é uma loja de rua. Solidária. Uma loja pop-up de roupa que pretende ajudar pessoas que se encontram sem-abrigo ou em situação de vulnerabilidade social. A ideia surgiu pela primeira vez em Cape Town, na África do Sul, em 2014. Hoje já se realiza em várias cidades do mundo, incluindo Bruxelas, Manchester, Oslo, São Paulo, San Diego, Oslo, Buenos Aires. Ao todo já se realizaram mais de 300 lojas Street Store. Em outubro passado, também em Lisboa, Braga, Coimbra e Porto, a loja pop-up esteve aberta durante um dia para “vender” mantas, casacos, sapatos e até produtos de higiene a quem mais precisa. Mafalda Lobato, uma das mentoras do projeto por terras lusas, adianta que conseguiram ajudar mais de 200 pessoas só em Lisboa. A iniciativa repete-se no final de janeiro de 2016.

E se lhe disser que vai estar a ajudar alguém se deixar o seu smartphone “sossegado” durante uns minutos? A agência &Barr criou uma aplicação que lhe permite fazer o bem ao não fazer nada. Como? A Do Nothing. Do Good, como se chama a app, é nada mais nada menos do que um cronómetro que contabiliza o tempo que deixa o seu telemóvel em paz. Depois, esse tempo é acumulado em horas Do Good e os membros da agência tratam de fazer o bem em seu nome.

Uma pessoa só tem conhecimento de uma causa se ela for

bem comunicada. Online e offline. Mas a maior parte das instituições sociais não tem meios ou nem sabe como divulgar o seu trabalho. Um grupo de seis publicitários brasileiros decidiu dar uma ajuda nessa matéria doando o seu talento. O coletivo criativo Cole lançou o projeto Adote um Briefing que permite às organizações não governamentais (ONG) pedir apoio para promover as suas causas perante a sociedade. A plataforma funciona de forma muito simples. As ONG só têm de submeter o seu briefing e qualquer pessoa do mundo pode adotá-lo, ou seja executar o trabalho. A maior parte dos pedidos são para a criação de um website, campanhas, identidade visual e logo. Desde que foi lançado, em novembro de 2014, já foram concretizados 40 briefings.

www.adoteumbriefing.org

STREET STORE

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BIBLIOTECA DE GATOS! O título deixou-o intrigado? Mas a verdade é que existe mesmo uma biblioteca de gatos, mais preci-samente na câmara municipal de Dona Ana, em Las Cruces, no Novo México. A ideia surgiu em 2012 com o objetivo de promover a adoção de gatos de um abrigo de animais do município mas também para ajudar os colaboradores da câmara a aliviar o stress. Estudos dizem que a companhia dos animais ajuda no trabalho e a prova disso é que os colaboradores da câmara estão mais satisfeitos, e até já adotaram alguns animais. Até junho deste ano foram adotados 100 gatinhos! Nos EUA, um abrigo de animais também criou uma solução criativa para empresas que queiram ajudar os seus trabalhadores a aliviar o stress. Chama-se Snuggle Deli-very e trata-se de uma espécie de serviço-terapia em que gatinhos ou cachorros visitam os escritórios das empresas que apoiam a iniciativa. No final, os colaboradores podem adotar um dos animais.

“You may never know what results come of your action, but if you do nothing there will be no result.”

MAHATMA gANDHI

B R E V E SN O T Í C I A S , C U R I O S I D A D E S , E S T U D O S

Conhecida pela sua classificação Fortune 500, que lista as empresas mais poderosas do mundo, a revista norte-americana Fortune

apresentou este ano o novo ranking Change the World onde apresenta as empresas que estão a mudar o mundo, seguindo critérios não financeiros. O objetivo do ranking, segundo a Fortune, é chamar a atenção para “as empresas que fizeram progressos significativos na resposta aos grandes problemas sociais, como parte da sua estratégia de negócio”. A lista, que apresenta 51 empresas, é liderada pela Vodafone e a Safaricom. A IBM, Intel, Cisco e Google também estão incluídas no ranking. Veja a lista completa aqui:www.fortune.com/change-the-world.

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“As empresas que estão a fazer esforços genuínos para mudar o mundo para melhor devem ser encorajadas. O futuro do capitalismo – e o futuro da humanidade – depende disso.”

N Ú M E R O SQ U A N TA S P E S S O A S N O M U N D O . . .

AS EMPRESAS QUE ESTÃO A MUDAR O MUNDOSEGUNDO A REVISTA FORTUNE

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INÍCIO: 22 DE JANEIRO DE 2016DURAÇÃO: 64 HORAS

DIGITAL TRANSFORMATION:REINVENTAR AS EMPRESAS NA ERA DIGITAL

www.clsbe.lisboa.ucp.pt/executivos/digitaltransformation Tel.: 217 227 801 | 217 214 220 E-mail: [email protected]

INFORMAÇÕES E CANDIDATURAS:

Católica Lisbon School of Business & Economics is ranked among Europe’s Top 25 Business Schools. Consistently ranked the Best Business School in Portugal. Triple Crown Accredited.

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AF Digital Transformation.pdf 1 11/13/15 6:19 PM

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O CONTRIBUTO DAS EMPRESAS PARA

A EDUCAÇÃO

MARTA VIAN SANTOSMANAGER NA CONSULTORA Sair da CaSCa

O P I N I ÃOM A R TA V I A N S A N T O S

INÍCIO: 22 DE JANEIRO DE 2016DURAÇÃO: 64 HORAS

DIGITAL TRANSFORMATION:REINVENTAR AS EMPRESAS NA ERA DIGITAL

www.clsbe.lisboa.ucp.pt/executivos/digitaltransformation Tel.: 217 227 801 | 217 214 220 E-mail: [email protected]

INFORMAÇÕES E CANDIDATURAS:

Católica Lisbon School of Business & Economics is ranked among Europe’s Top 25 Business Schools. Consistently ranked the Best Business School in Portugal. Triple Crown Accredited.

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AF Digital Transformation.pdf 1 11/13/15 6:19 PM

Pelas suas capacidades de comunicação, pelos recursos e competências que têm, as empresas são um ator privilegiado para educar para a sustentabilidade

e contribuir para a mudança de comportamentos. Para quem assume um compromisso com o desenvolvimento sustentável, este contributo não é opção. A dimensão interna é ponto de passagem obrigatória, sendo a primeira responsabilidade da empresa zelar pela mudança na sua zona de influ-ência mais direta. Fora das portas da empresa, os públicos a atingir são os fornecedores e obviamente os consumidores. A Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável, definida pela UNESCO e dinamizada entre 2005 e 2014, trouxe a todas as organizações, incluindo as empresas, um enquadramento muito importante para as suas atividades neste âmbito, tendo contribuído para tornar mais óbvio o seu papel e para que este tipo de atuação tenha integrado o business as usual. O contributo das empresas para esta vertente da educação está relacionado com a aplicação dos seus recursos, incluindo as pessoas, o capital e as redes esta-belecidas (ou a capacidade de as estabelecer), mas também o conhecimento em determinadas áreas e as metodologias de trabalho que podem ser colocadas ao serviço da socie-dade, sendo fundamental identificar e garantir à partida a relação com o negócio, sob pena da intervenção da empresa perder relevância ao longo do tempo.

Mas o verdadeiro desafio que se coloca às empresas quando falamos do contributo para a educação está relacionado com os novos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), definidos e aprovados pelos 193 Estados representados nas Nações Unidas. As orientações para as empresas são claras, e o seu papel encontra-se definido desde o arranque deste processo, participado por todas as esferas da sociedade, incluindo o setor privado. São 17 os novos ODS relati-vamente aos quais qualquer empresa deve definir o seu contributo, estando detalhados dentro destes 169 targets

específicos aos quais a comunidade internacional se propõe a dar resposta. Cada empresa deve identificar o seu papel e contributo, percorrendo idealmente um caminho de definição, implementação, medição e avaliação. O Objetivo 17 fala de parcerias, reconhecendo que os Objetivos só poderão ser atingidos através de um trabalho concertado que envolve todos os atores – Governos, ONG, sociedade civil, empresas – sendo estas parcerias válidas para ações em qualquer dos ODS. São Objetivos globais para todos os países e de todas as pessoas, pelo que devem ser enfrentados com todos os recursos e com um foco comum no Desen-volvimento Sustentável.Centrando a atenção na educação, o Objetivo 4 pretende “assegurar uma educação de qualidade, inclusiva e equitativa e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos”. Através de projetos próprios, parcerias globais ou locais e também de práticas internas relacio-nadas com o recrutamento e formação, o contributo das empresas pode ser definido em diferentes escalas, devendo seguir um caminho que começa na análise de políticas e práticas atuais, passando pela definição de estratégias e de um posicionamento para fazer face aos desafios, e chegando a um plano de ação e comunicação que seja claro e tenha em conta a definição de metodologias e indicadores de acompanhamento do progresso e de medição do contributo efetivo da empresa.

O papel das empresas neste desafio global é claro, como devem ser também as vantagens para as próprias organizações, que incluem a definição de estratégias alinhadas com as políticas globais de governação, o estímulo e acesso à inovação, a parti-cipação e ativação de redes de parcerias, entre tantos outros benefícios relacionados com a criação de um enquadramento de negócios favorável e centrado no desenvolvimento, sem deixar de fora a goodwill que as empresas poderão retirar da comunicação do seu trabalho e contributo para o cumprimento dos ODS, nomeadamente para a educação.

Formada em Organização e Gestão de Empresas pelo ISCTE, iniciou a sua carreira numa empresa de tecnologias de informação. Em 2008, aceitou trabalhar para a Sair da Casca, consultora em desenvolvimento sustentável e responsabilidade social, onde é hoje responsável pelo acompanhamento de projetos no âmbito da definição da estratégia, implementação e comunicação da responsabilidade social.

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M E E T T H E L E A D E RE R G O S T E K

LUÍS GIRARDIUM LíDER DESENRASCADO

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M E E T T H E L E A D E RE R G O S T E K

“Frequentei um curso de engenharia informática. Traba-lhei em várias empresas. A última, antes de surgir a ErgosTek, era uma empresa de geolocalização de

viaturas. Mas fui despedido e acabei no desemprego. Não desmoralizarei e ao fim de seis meses estava a trabalhar. Mas no meu próprio negócio”. Este é o início da história de Luís Girardi. Igual a tantas outras histórias de pessoas que não baixam os braços e que, perante as adversidades da vida, tentam dar a volta por cima. Hoje, Luís Girardi, é dono da ErgosTek, uma empresa de soluções informáticas que atua no mercado português há oito anos. E está feliz com o que conseguiu. “Foi o maior desafio da minha vida, começar do zero profissionalmente. Arrancar com a ErgosTek era um passo sem grandes certezas. Mas com a ajuda dos meus pais, e os incentivos do fundo de desemprego, consegui. No início era só eu, mais ninguém. Tive que desenrascar-me. Mas aprendi que sei fazer coisas que não sabia fazer, muitas vezes por uma questão de obrigação. O mais difícil de tudo? Gerir uma empresa”. Luís Girardi estava confiante e a sua experiência profissional levava-o a acreditar que iria conseguir levar o seu negócio a bom porto. Antes de se tornar empreendedor, trabalhou na Madeira numa empresa de publicidade onde muitas vezes estava à frente, no comando da equipa. “Senti que tinha capacidade para ter o meu próprio negócio. Descobri que era capaz e que até tinha a ambição de chegar mais longe”, confessa.

Luís Girardi foi contagiado pelo” bichinho do empreende-rorismo” mas a sorte também lhe bateu à porta. Sorte ou bom profissionalismo. Uma pessoa com quem trabalhou no passado lembrou-se dele, de como era bom profissional, e ajudou-o a ganhar um grande cliente que fez a ErgosTek crescer, um cliente ligado ao Estado. A partir daí, a equipa aumentou. Tinha que aumentar, “porque vencer nos negó-cios não é possível sozinho”. Contratou mais pessoas para conseguir mais clientes. Um técnico, um administrativo e mais tarde um comercial. “Os contactos comerciais são muito importantes para qualquer negócio. E João Mateus é o meu sócio, braço direito e amigo, até à data. Que me apoia nesta área tão essencial e foi fundamental para o cres-

cimento da ErgosTek.”Hoje já são 10 pessoas a trabalharem num openspace em Carnaxide. Uma família com grande espírito de família, defende. “Todos os dias, quando chego de manhã, faço questão de cumprimentar cada um - isso, e beber um café - antes de trabalhar. Acho que uma das minhas qualidades enquanto líder é a facilidade de comu-nicação com as pessoas, seja colaboradores ou clientes”. Já o seu ponto fraco é a própria gestão da empresa, “mas devo ter feito bem alguma coisa para chegar até aqui”, confessa. Para o auxiliar nesta tarefa, Luís Girardi não dispensa ler obras de autores que escrevem sobre negócios: Jack Welch e Paulo de Vilhena são dois exemplos e que admite que “marcaram a sua maneira de estar empresarial”. No entanto, a sua maior inspiração é Belmiro de Azevedo que conseguiu criar um império do zero. Luís Girardi sabe a importância e a influência que empresários como este podem ter na vida dos outros. Na sua tiveram. E enquanto não escreve um livro, enquanto não tem um grande império, o diretor-geral da ErgosTek tenta influenciar, tenta fazer a sua parte, tenta contribuir para ajudar alguém a desenrascar-se na vida. À sua maneira. “Há uns tempos contratámos uma pessoa com deficiência visual para trabalhar na empresa. Ao fim de dois anos saiu. A experiência, com certeza, abriu-lhe portas para outra oportunidade. Além disso, a ErgosTek também doa material e equipamento informático a insti-tuições de solidariedade social, que ajudam pessoas que tanto precisam. O que pode já não ser importante para nós pode ser para outros. E em vez de destruirmos, doamos”.

Aquele típico português desenrascado. Que se vê no desemprego mas não baixa os braços. Aceitou o desafio que a vida lhe colocou

à frente e criou o seu próprio negócio. Hoje o diretor-geral da ErgosTek dá trabalho a dez pessoas e espera ajudar outras tantas no futuro

“Os contactos comerciais são muito importantes para

qualquer negócio”

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A N Á L I S EJ O Ã O C ATA L Ã O

Assumo-me como um provocador, por isso inicio este texto com uma provo-cação, de estilo humor negro: provavel-mente, o dia em que mais gente falará positivamente de si será no dia do seu velório! Pois é. O relógio da sua vida só vai parar uma vez e esta estranha realidade devia ser suficientemente motivadora para decidir não abdicar de desfrutar de uma vida recheada de episódios felizes.Imagine a quantidade de gente que diariamente se refere à forma como vai decorrendo a sua própria vida, dando respostas típicas como as seguintes:

Facilmente podemos aceitar que a inércia é o refúgio dos que não têm imaginação. Concorda comigo?Vale a pena pensar nisto porque nos toca a todos: o maior inimigo da imagi-nação é, frequentemente, o medo do

diferente. O medo amarra o cérebro. A não resolução de problemas decorre, na maioria dos casos, apenas e só porque nos tornamos pequenos no momento de os enfrentar. Isto não é conversa para profissionais... Temos que ser capazes, conscientemente, de não nos autolimitarmos. Já pensou que em cada dia usufrui do bem mais escasso e ao mesmo tempo mais democrático no mundo: exata-mente 86.400 segundos por dia? Inde-pendentemente da sua idade, salário, raça, sexo, profissão não terá nem mais um, nem mais um segundo do que os outros. Ser-lhe-á impossível comprar ou vender um mísero segundo que seja! Agora imagine o valor de cada um desses segundos, se pensar que nunca repetirá qualquer um deles! Isso significa que o relógio da vida deve assumir-se como um aliado e não como um inimigo. Significa isto que quem não concretiza, desperdiça a sua munição mais preciosa: tempo!Ser criativo é acrescentar valor ao relógio da vida. Uma das grandes vitórias da sua vida será saber apro-

veitar o tempo de forma criativa, ética e responsável.Já agora, gostava de partilhar a minha definição de ética, pois nos tempos que correm cresce o valor que a mesma deve ter no Planeta que habitamos: ética é não fazermos tudo aquilo que é impróprio de nós, enquanto seres humanos.Uma das minhas metas de 2015 foi recentemente concretizada: uma audi-ência com o Papa Francisco. Como imaginam, o meu relógio da vida, viveu uma experiência inarrável! Fixem esta mensagem de Sua Santidade: “O mal é contagioso, todos o sabemos! O bem também o é! Escolham...”.Sente-se provocado? Ótimo! Essa é a minha intenção. Vamos à luta! Em primeiro lugar tome consciência de que a viagem da vida é, em primeiro lugar, uma batalha experiencial. Quando pensamos, criamos e agimos, deixamos menos espaço para o fracasso, otimizando desta forma a qualidade do nosso precioso tempo. E quem não acompanha os novos tempos, vai com o tempo...

João Catalão

Provocador, Master e Mentor Coach Executivo. Especialista em Negociações Multiculturais, Criatividade e Inovação. Empresário, Speaker Internacional, Docente e Autor de Best Sellers.Presidente da POPAI – Global Association For Marketing at Retail.

www.vitaminacatalao.pt

O RELÓGIO DA VIDA!

“ASSIM, ASSIM”“VOU INDO”“pARA pIOR, qUE SEJA ASSIM” “MAIS OU MENOS” “Há qUEM ESTEJA pIOR qUE EU”

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“AS EMPRESAS GANHAM MUITO MAIS qUANDO SE APERCEBEM

qUE PODEM SER ADMIRADAS,

NÃO SÓ PELOS PRODUTOS qUE

FAzEM, MAS PELAS DECISõES

qUE TOMAM”

E X P E R I Ê N C I AC E L S O G R E C C O

CELSO GRECCO

Celso Grecco é um consultor em responsabilidade social. Empresário e empreendedor brasileiro. Um criador de ideias. Inventou a primeira Bolsa de Valores Sociais do mundo em 2003, para a BOVESPA no Brasil. Um projeto que foi reconhecido pela UNESCO como inédito e que foi recomendado pela ONU às Bolsas de Valores do todo o mundo. Hoje, e de há 15 anos para cá através da sua consultora Atitude, investe o seu tempo a ajudar as organizações sociais e as empresas a alinharem os seus objetivos em conjunto. Por um mundo melhor.

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É um empresário premiado e reconhecido na área de responsabilidade social. Em 2008 ganhou o prémio Vision Awards, considerado pelos media como o Nobel da Inovação Social, e foi homenageado pela ONU, por ter criado todo o conceito da Bolsa de Valores Sociais. Foi um dos momentos altos da sua carreira? Foi um marco na minha carreira, é verdade. E esses reconhecimentos foram a confirmação de que fiz a escolha certa na minha vida. Até 1998, 1999, sempre estive envolvido com organizações sociais de uma forma voluntária, pro bono. Era um profissional, publicitário, formado em comunicação, que trabalhava para marcas e grandes empresas, mas que nas horas vagas era um cidadão preocupado com temas sociais e colaborava com organizações sociais. Por essa altura, entre 1998 e 1999, o Brasil estava a viver o boom da responsabilidade social. Falava-se muito da importância de as empresas contribuírem para um mundo melhor. E os meus clientes abordavam-me para os ajudar, porque sabiam que eu gostava desses assuntos. Foi nesse momento que vislumbrei que poderia juntar estes dois ‘mundos’: as minhas crenças e valores com o meu talento profissional. Decidi, então, deixar a publicidade e criei a Atitude, uma empresa de consultoria de marketing social, como se chamava na altura.Somos todos seres em processo de evolução. O que fiz e faço é deixar de assistir ao processo de evolução e participar nele. Quando começamos a colaborar com o setor social, com organizações que querem melhorar a educação, a saúde, o desemprego e a pobreza, e conseguimos fazer com que as empresas encontrem no seu ADN uma relação com essas causas, que beneficiem mas também que beneficiem as organizações sociais, sentimo-nos parte do processo ou da evolução desse processo. Estes reconhecimentos foram essa confirmação. Que consigo respeitar a dinâmica e todos os aspetos que são próprios do setor social e alinhá-los aos objetivos estratégicos das marcas e das empresas.

Antes, em 2007, a revista alemã Der Spiegel identificou-o como um bom samaritano, ao lado de personalidades como Bill gates, george Soros e Richard Branson. A sua preocupação com os outros, em ajudar as pessoas, quando surgiu essa vontade? Não sei de onde ou quando surgiu. Mas acredito que o meu avô, português, natural de Lamego, foi uma grande influência na minha vida. Ele tinha uma visão muito espiritualista das coisas e do mundo. Uma visão humanista. E como convivi com ele muitos anos, o meu avô conseguiu passar-me os seus valores. Essa visão humanista que nos faz olhar para o outro apenas e só como alguém que não teve as mesmas oportunidades que nós tivemos. Mas que é tão igual a nós.Não faço nenhuma crítica a nenhuma religião. Mas, às vezes, as religiões ensinam-nos a aceitar o que nos acontece como desígnios de Deus: ‘se eu sou pobre, é porque Deus quis assim. Se isto me aconteceu, Deus sabe o que está a fazer’.

E vamos aceitando. Uma visão um pouco mais humanista é diferente. Ok, o problema aconteceu, mas não precisamos de aceitar com resignação essa situação. Há algo que podemos fazer. Seja por mim ou pelo outro.O que meu avô me ensinou foi a ter esta visão mais humanista e menos resignada. A religião ensina-me a aceitar, o espiritualismo ensina-me a compreender. E a partir do momento em que eu compreendo, consigo mais facilmente lidar com isso. E transformar. Não necessariamente aceitar.

Como disse, hoje é dono de uma empresa de consultoria em responsabilidade social e sustentabilidade, a Atitude. Foi à frente deste seu projeto que criou a primeira Bolsa de Valores Sociais do mundo para a BOVESpA no Brasil. Como surgiu o projeto? E do que se trata?A primeira Bolsa de Valores Sociais (BVS) surgiu em 2003. No momento em que o Brasil despertava para a responsabilidade social, a Bolsa de Valores do Brasil – a BOVESPA – quis criar um programa próprio. Um programa que atuasse no setor social. E a pergunta que fizeram a si próprios na altura foi: ‘o que faz sentido para uma bolsa de valores?’ Como não tinham uma resposta entraram em contacto comigo e eu sugeri criar uma Bolsa de Valores mas Sociais. E porquê uma Bolsa de Valores Sociais? Uma empresa quando quer crescer, expandir-se, precisa de financiamento e tem três formas de o conseguir: pode pedir um empréstimo ao banco, pode encontrar um sócio-investidor ou pode tornar-se uma empresa de capital aberto. Nesta última hipótese significa que vai para a bolsa de valores do país. E aí a empresa tem de assumir compromissos de governança e transparência para atrair milhares de investidores pequenos. A Bolsa Valores Sociais segue o mesmo conceito. A analogia é muito fácil. As organizações sociais não conseguem pedir empréstimos ao banco, não conseguem encontrar sócios-investidores que queiram investir grandes quantias, mas podem ser transparentes, podem ter uma boa governança. E desta forma atrair milhares de doadores. Por isso, é muito fácil estabelecer um paralelo com o sistema de bolsa de valores. Por que não uma bolsa de valores sociais que seja capaz de atrair milhares de investidores sociais? Por que não fazemos um investimento-doação em organizações que resolvem questões sociais, interrompem ciclos de pobreza, têm soluções para uma melhor educação e ambiente, e que o fazem de uma forma transparente e clara?

O que as pessoas ganham ao investir nos projetos sociais cotados em Bolsa?Vão ter um lucro social, que é o dinheiro da sua doação muito bem investido de forma a transformar e atuar na causa e não na consequência. Quando existem pessoas a passar fome, isso já é uma consequência. As organizações que selecionamos para estarem na bolsa são organizações que atuam na causa, interrompem estes ciclos.

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Como funciona a plataforma?Para estarem cotadas em bolsa as organizações sociais têm primeiro que preencher uma candidatura, onde explicam quem são, o que fazem, qual o projeto para o qual precisam de ajuda e porquê. Depois, uma equipa de técnicos da bolsa lê todas as candidaturas, analisa a informação e faz uma pré-seleção. Todas as organizações sociais pré-selecionadas são alvo de uma visita e caso sejam aprovadas passam a estar cotadas em bolsa. Na plataforma vai estar visível o seu projeto e o dinheiro que precisam para o concretizar. Imagine que é 12 mil euros, esse valor representa o número de ações que vão estar disponíveis para os investidores. Uma ação é um euro. Do outro lado do processo da bolsa, temos os milhares de doadores ou investidores sociais. Estas pessoas podem ver os projetos listados e escolher um ou mais para investir. Por exemplo, se tiverem 100 euros, podem comprar 100 euros de ações de um projeto ou 20 euros de ações de cinco projetos. Enfim, podem criar um portfólio de investimento ou concentrar a sua doação numa só organização. A partir do momento em que se torna um investidor social, a pessoa pode acompanhar o que vai acontecer com o seu dinheiro, o impacto que vai ter na organização, como está a colaborar com a performance do projeto que escolheu.

quando a organização social tem acesso aos donativos?Os donativos podem ser parcelados de acordo com as etapas do projeto, em que pode ser estabelecida uma data ou um destino. Por exemplo: para montar uma escola de informática, uma organização precisa de 15 mil euros, em que 4 mil euros é para o mobiliário e 3 mil para os primeiros portáteis. Quando atingimos os 4 mil euros, esse valor é entregue para a compra do mobiliário. Com os portáteis é igual. A transparência deste processo permite ao doador saber que o seu dinheiro foi aplicado e em quê.

qual o feedback das instituições em relação ao funcionamento da Bolsa?Extremamente positivo. Especialmente numa altura em que há um enorme contingente de doações. No Brasil estima-se que existam 400 a 500 mil organizações sociais. Como saber a quem podemos doar? E qual o processo de escolha? Quando uma organização consegue ser cotada em bolsa, fica no topo de um processo que lhe confere tamanho e prestígio. E a organização sabe o valor que isso tem.Outro pormenor muito importante: o facto de a organização ter estado cotada em bolsa, e ter implementado um projeto,

posicionou-a de uma forma diferente na sociedade. A organização conseguiu atrair mais capital financeiro para outros projetos. A BVS é uma plataforma que promove as organizações perante toda uma sociedade, nacional e internacional. O facto de estarem cotadas em bolsa dá-lhes credibilidade em muitos aspetos.

O projeto foi aplicado em portugal pela Euronext Lisboa, em 2009, mas terminou este ano. Na sua opinião porque é que acha que isso aconteceu? A história da Bolsa de Valores Sociais em Portugal começa em 2008. Vim ao país participar num evento sobre inovação social, falar de cases do Brasil. E na plateia estava uma pessoa da Bolsa de Valores de Lisboa e outra da Fundação EDP que me abordaram, no final do evento, para falar sobre a BVS. Queriam saber se fazia sentido implementar o projeto em Portugal. Como o conceito de bolsa de valores é igual em todo o mundo, disse que não seria difícil. Mas trabalhámos nisto durante um ano. Contratei uma equipa local, que conhecesse bem as organizações portuguesas, e em 2009 lançámos a Bolsa de Valores Sociais em Portugal. O meu plano era ficar à frente do projeto mais ou menos cinco anos e depois passar o testemunho a alguém. Entre 2009 e 2013, passava 15 dias em cada país, no Brasil e Portugal, para consolidar ambas as bolsas. Todos os meses. As assistentes de bordo já me conheciam. Mas era um esforço enorme e em 2013 deixei o projeto. Acredito que a BVS talvez, momentaneamente, tenha sido suspensa. E não acabado. Seria para mim uma tristeza se assim fosse. Se sim, acredito que possa ter sido por diferentes razões: os 15 dias por mês que passava em Lisboa não foram suficientes para consolidar o projeto, teria que ser 30 dias; não encontrei uma pessoa que percebesse o funcionamento e a missão da bolsa; e na altura, quando passei o meu testemunho, Portugal atravessava um período extremamente conturbado financeiramente. Acredito que tudo isto junto fez com que o programa no momento em que deveria estar a ganhar força, a perdeu. Mas acho que ainda é possível relançar a BVS. Tenho fé.

Acha que as pessoas são mais “adeptas” do voluntariado do que do donativo monetário? Os portugueses são muito solidários. Mais que os brasileiros. Sejam em ações de voluntariado, seja em donativos. Mas Portugal e o Brasil são países extremamente católicos. Atenção que não é nenhuma crítica. Mas nestes países, como a Irlanda onde estive a discutir o lançamento da BVS, há uma tendência para a caridade. E a caridade não é transformadora. A caridade aceita o pobre. A caridade acolhe o pobre, mas não tem a missão de tirá-lo da miséria, da pobreza, e torná-lo uma pessoa independente e bem-sucedida na vida. Já uma cultura anglo-saxónica, vivida por norte-americanos e ingleses por exemplo, quer que todos sejam bem-sucedidos. Que tenham as mesmas oportunidades. E a cultura faz diferença. É por isso que acredito que os donativos ainda sejam poucos. Só que não se muda uma cultura em pouco tempo. O Brasil, por exemplo, há quase 20 anos que discute filantropia de transformação, discute mudanças nas leis para permitir mais transparência, mais incentivo fiscal para os donativos. São processos que levam tempo.

No Brasil já foram apoiadas cerca de 140 instituições, que conseguiram ver os seus projetos 100% financiados.

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Há setores que têm mais dificuldade em definir uma estratégia de responsabilidade social. por exemplo, empresas financeiras. Consegue dar um exemplo do que poderiam fazer?Quando falamos em responsabilidade social a primeira coisa que nos vem à cabeça é pobreza. Mas existem muitas lacunas a serem preenchidas. Por exemplo, o acesso à cultura. No Brasil é muito comum ver bancos a elaborarem ou participarem em ações que permitam a comunidades mais pobres terem acesso à cultura. Cinema, peças de teatro. A forma como o fazem é financiando essas ações. Também existem instituições financeiras que criam escolas ou que financiam escolas, e através da educação tornam a sociedade um mundo melhor.

“To be successful, companies also need to be good citizens”. A frase é da sua autoria, para a Newsweek. Mantem a sua opinião? A reportagem já tem algum tempo. Foi em 2008. E desde então as coisas mudaram. Na altura falava-se muito em cidadania corporativa, que é uma visão que, para mim, já não existe. De que as empresas precisam de ser boas cidadãs. Como se a empresa fosse alguém que tivesse vontade própria, quando esta é dirigida por pessoas. Uma empresa não toma decisões, quem toma decisões são as pessoas que estão por detrás delas. Hoje não se fala em cidadania corporativa, mas em processos de gestão empresarial que fazem com que as empresas sejam vistas como integradas, integrantes, de uma sociedade que procura melhores dias. A frase de hoje é: “para que as empresas sejam bem-sucedidas, os gestores têm que ser bons cidadãos”.

qual o lucro de uma empresa quando faz uma boa ação? O que ganha?Se uma marca sabe que o seu público é extremamente preocupado com questões ambientais, por exemplo, pode apoiar uma instituição social que esteja focada nessa área. E aí, o que vai ganhar é uma adesão mais imediata do seu público à sua marca. Ou seja, o consumidor deixa de ser só fiel para também ser leal. A fidelidade está mais ligada a promoções e descontos. Quando uma marca tenta identificar-se com os valores e as preocupações do consumidor, este passa a ser leal não trocando a marca por outra.As marcas já se aperceberam disto. E começaram a desenhar as suas estratégias com base nesta premissa, a lealdade. A Nike que patrocinou o último Mundial de Futebol no Brasil, por exemplo. A marca decidiu não só patrocinar o evento como criar um programa social em várias favelas, com o objetivo de deixar um legado. O que fez? Em algumas favelas deixou centros desportivos com equipamentos. E o que isso significou para o consumidor? Que uma marca que já admirava, que patrocinou o desporto que gosta, ainda conseguiu deixar um legado no país. Isto cria uma relação de lealdade. O consumidor não vai esquecer. As empresas

ganham muito mais quando se apercebem que podem ser admiradas, não só pelos produtos que fazem, mas pelas decisões que tomam, como esta da Nike. Decisões que criam lealdade.

pode dar um exemplo de outro projeto seu que se orgulhe.Durante quatro anos, estive envolvido no reposicionamento estratégico da marca e branding do Charity Bank, o primeiro banco sem fins lucrativos do mundo, com sede em Inglaterra. Fui responsável por criar e implementar o conceito “A different bank for people who want a different world”. A partir desse conceito, reformulámos a visão, missão, valores e também alguns produtos do banco. Também fui responsável pela criação dos Relatórios Anuais de 2007 a 2010, e fico feliz em saber que até hoje o banco segue o posicionamento proposto em 2007.

E um projeto solidário que seja um caso de sucesso para si. São tantos que é injusto destacar apenas um. Mas sem dúvida o Kiva é um caso de sucesso. Trata-se de uma plataforma online através da qual é possível realizar pequenos empréstimos a pessoas pobres que necessitam implementar um pequeno negócio. Muitas vezes é apenas para comprar uma máquina de costura ou panelas para um pequeno negócio de catering. A plataforma apresenta pessoas que, sem empregos, têm projetos de empreendedorismo que podem gerar rendimentos. E assim que os rendimentos comecem a acontecer, o empréstimo é devolvido. É uma forma bonita de solidariedade porque é também libertadora. Ao contrário de dar ajuda para comer, dá ajuda para que a pessoa se liberte da situação de pedir. Isso é mais digno, também.

Acredita que as pessoas podem transformar o mundo?Eu acredito, mas precisamos de mais pessoas a acreditar. Não é fácil transformar o mundo. Às vezes parece que estamos a fazer um trabalho de contenção. Apesar do crescimento dos setores social e ambiental, do aumento da consciência para os problemas, temos um planeta pior do que no passado. Consumimos mais do que produzimos. Estamos mais pobres, também. Infelizmente não vejo uma transformação planetária, não vejo o momento em que o jogo pode mudar. É a minha sincera opinião. Mas acho que transformamos pequenos mundos. Que conseguimos contagiar alguém e transformar-nos. É mais ou menos como uma lâmpada. Se acendermos uma lâmpada, esta não vai iluminar uma cidade inteira mas vai iluminar quem estiver por perto. Vai iluminar até a um certo ponto. Se tivermos outra lâmpada, e mais outra, poderemos ver luz na cidade, por mais que a escuridão seja forte. É mais ou menos isto. Não dá para transformar o mundo mas não dá para desistir. O que queria era encontrar mais lâmpadas.

“Para que as empresas sejam bem sucedidas, os gestores têm que ser bons cidadãos”

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B A S T I D O R E SO P E R A Ç Ã O N A R I Z V E R M E L H O

OPERAÇÃO NARIz VERMELHOHá momentos que mudam as nossas vidas. E a dos outros também. A Operação Nariz Vermelho surgiu assim, de um momento de inspiração que hoje muda a vida de muitas crianças nos hospitais portugueses. Beatriz Quintella, fundadora da instituição particular de solidariedade social, soube da existência dos Doutores Palhaços da Big Apple Circus, nos EUA, e inspirada pelo seu trabalho decidiu criar algo parecido em Portugal. A Operação Nariz Vermelho nascia em 2002. Começou com dois artistas-palhaços no Hospital D. Estefânia, Santa Maria e Instituto Português de Oncologia, hoje a instituição está presente em 13 hospitais onde promove todas as semanas visitas dos Doutores Palhaços às enfermarias pediátricas. O objetivo? “Transformar momentos. Transformar um momento da vida de uma criança. Não temos a propensão de curar mas está comprovado o benefício do riso. Queremos trazê-las de volta a casa, que por um momento esqueçam onde estão, as suas limitações, e que sejam apenas crianças”, conta-nos Magda Ferro, responsável pela Coordenação de Comunicação e Eventos da instituição. Para isso, a Operação Nariz Vermelho conta com a colaboração de 22 artistas que visitam regularmente as crianças em hospitais de Lisboa, Porto, Coimbra e Braga. “A regularidade das visitas é muito impor-tante para corresponder às expectativas de quem visitamos. Principalmente daquelas que estão internadas por períodos longos. Não podemos falhar. Por isso os nossos palhaços não são voluntários, são artistas profissionais, renumerados, que estão sempre disponíveis”, adianta a responsável. Os Doutores Palhaços são artistas de base, mas têm uma formação técnica e contínua em procedimentos e rotinas relacionadas com o hospital. Para realizar estes momentos de riso nos hospitais, a Operação Nariz Vermelho depende do apoio e financiamento de quem pode ajudar, particulares ou empresas, para manter o projeto. “Existem diferentes programas de apoio à instituição, orientado para as empresas. Por exemplo: o ‘Adopte um Hospital’ com o qual as empresas financiam duas visitas sema-nais de uma dupla de Doutores Palhaços a um hospital, durante um ano. Ou o ‘Adopte um Palhaço’ onde as empresas financiam as visitas anuais de um Doutor Palhaço. Há ainda o programa ‘Empresas Solidárias’ para quem quiser contribuir para a saúde do nosso projeto, seja através do apoio nas áreas administrativas, comunicação ou tecnologias”, indica Magda Ferro. Além destes donativos diretos, a Operação Nariz Vermelho tem ainda outras campanhas como “Meta o Nariz por esta Causa” que “incentiva os colabo-radores a vender sacos de 10 narizes a quem quiserem. Esta iniciativa funciona também como uma ação de teambuilding que promove o espírito e a entreajuda dos colaboradores. Temos empresas que já conseguiram angariar 12 mil euros!”, conta. Outro exemplo de apoio é o “Arredonda o Salário” em que a empresa pode arredondar o vencimento dos colaboradores e doar a diferença à Operação Nariz Vermelho. E porque “brincar no trabalho também é importante”, defende Magda Ferro, a instituição organiza ainda workshops que pretendem trazer o humor às organizações. “Temos um workshop, ‘À Procura do seu Palhaço Interior’, que partilha ferramentas que podem ser aplicadas nas relações profissionais, por exemplo. A produtividade e a comunicação entre equipas pode melhorar e muito”, garante. Mais recentemente, a Operação Nariz Vermelho desenvolveu um novo produto empresarial – a “Hora Extraordinária” – que recria o ambiente e as relações típicas de uma organização. “Trabalhamos as dinâmicas desse ambiente em sketch de forma a caracterizar as relações. O objetivo é ajudar a resolver questões mais sensíveis que acontecem em qualquer departamento de uma empresa, na área comercial, por exemplo”, revela a responsável. Os “espetáculos” não acabam aqui e não são todos entre portas. Para o ano está marcado mais um da Operação Nariz Vermelho: o primeiro encontro de doutores palhaços em Portugal. O que garantem? Muitos momentos de riso, a todos. Em nome das crianças. bn

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T E M A D E C A PAP E S S O A S Q U E T R A N S F O R M A M O M U N D O

Pessoas que dão o seu tempo. Pessoas que dão o primeiro passo. Pessoas que estão à frente das instituições e empresas. Pessoas que têm ideias

criativas para incentivar os outros a ajudar.

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Os portugueses são pessoas solidárias. Quando têm conhecimento de alguma causa social, ajudam. Mesmo que seja em pequenos gestos, pequenas

quantias. Doam alimentos, bens e dinheiro também. Segundo um estudo da IPAM - The Marketing School, sobre os hábitos de solidariedade dos portugueses, quatro em cada cinco inquiridos compra bens para oferecer. Roupa, sapatos, acessórios e alimentos são os bens mais oferecidos. Em relação a donativos monetários, a ajuda também existe. Sete em cada dez portugueses têm por hábito oferecer dinheiro para causas solidárias. E fazem--no, em média, quatro vezes por ano, segundo o mesmo estudo da IPAM. Mas, saber em quanto os portugueses são solidários, monetariamente, é praticamente impos-sível. Os únicos dados disponíveis são do Ministério das Finanças: as famílias portuguesas doaram este ano mais de 13 milhões de euros a Instituições Particulares de Soli-dariedade Social (IPSS) através da consignação do IRS. A Liga Portuguesa Contra o Cancro foi a instituição mais escolhida pelos contribuintes, alcançando os 1,6 milhões

de euros em donativos. Seguiram-se a UNICEF, Operação Nariz Vermelho, Acreditar, Assistência Médica Interna-cional, Refúgio Aboim Ascensão e Ajuda de Berço. Ao todo foram beneficiadas 2255 IPSS. Os números aumentaram em relação ao ano passado, mas podia ser mais. Muitos contribuintes ainda não preenchem o ponto 9 do Anexo H, da sua declaração de rendimentos. É a verdade. Talvez porque muitos prefiram doar o seu tempo, praticando voluntariado. Desta forma sabem que a ajuda é garantida e imediata. Além de ser uma situação win-win. Porquê? Porque faz bem à saúde. A conclusão é de um estudo elabo-rado na Universidade de Zurique, Suíça. A investigação, publicada no Journal of Occupational and Environmental Medicine, adianta que fazer voluntariado ajuda a aliviar o stress e o cansaço associados ao trabalho, aumentando o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional. A explicação é simples: fazer voluntariado tem um efeito semelhante à prática de exercício físico, em que o nosso corpo liberta endorfinas, um neurotransmissor que provoca uma sensação de bem-estar, boa disposição, felicidade.

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%

Fonte: Estudo sobre o trabalho de voluntariado da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, desenvolvido pelo diNaMia’CET, centro de estudos do instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (iSCTE).

27,1

17,618,4

1 ,2

sinto-me mais útil

sinto maior sentido de realização pessoal

tornei-me mais solidário

sinto-me mais feliz

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IMPACTO DO VOLUNTARIADO

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E as empresas portuguesas são solidárias? O Grupo de Reflexão e Apoio à Cidadania Empresa-rial (GRACE) diz que sim. Um estudo da associação,

apresentado em 2013, revelou que a maioria das empresas portuguesas aposta em ações de mecenato e solidariedade social. As conclusões apontavam para que mais de 90% dos empresários nacionais incluísse medidas de respon-sabilidade social nas suas estratégias de negócio. Paula Guimarães, presidente do GRACE, continua a acreditar neste cenário. “As empresas portuguesas são cada vez mais socialmente responsáveis. Tal como os consumidores se adaptaram face à realidade dos últimos anos, também as empresas se aperceberam de que as mudanças de atuação e gestão teriam de ser alteradas sob pena de a sua existência ser insustentável. Houve uma constatação por parte dos decisores e gestores das empresas que a melhor via é a da sustentabilidade, da gestão ética e do compromisso com a comunidade”. O GRACE é uma associação sem fins lucrativos exclusi-vamente dedicada à promoção da responsabilidade social corporativa. Surgiu no ano de 2000 e hoje reúne mais de 130 empresas associadas empenhadas em aprofundar o seu papel no desenvolvimento social das pessoas e das organizações. O seu objetivo é dar apoio na implementação de programas internos de responsabilidade social, desen-volver programas de voluntariado corporativo, organizar encontros temáticos e outras atividades que permitam aos associados desenvolverem e partilharem experiências e boas práticas. “Para o GRACE, a proximidade com os associados é fundamental. Saber escutar as suas neces-sidades, as suas ideias e objetivos no que diz respeito a estas temáticas, permite um trabalho de aprendizagem e esforços conjuntos para levar estratégias de responsa-bilidade social a bom porto”, acrescenta a responsável. Um dos projetos de mais sucesso do GRACE é o GIRO, uma iniciativa de voluntariado corporativo a nível nacional que, este ano, completou a sua 10ª edição e juntou quase mil voluntários de norte a sul do País. A ação costuma realizar-se em outubro e junta num só dia os colaboradores das empresas associadas. “Trocam um dia de trabalho por um dia de voluntariado”, adianta Paula Guimarães. E de ano para ano, o número de adeptos-associados--voluntários tem aumentado. Este ano participaram 53 empresas associadas. “As empresas querem retribuir à comunidade aquilo que ela lhes dá, porém de forma bem estruturada e através de relações a longo prazo que sejam mais impactantes do que o apoio monetário. O volunta-

riado, seja ele cívico, social, ambiental ou de competências, é duplamente recompensador, pois envolve voluntário e beneficiário”. O que as empresas ganham em serem solidárias? Na opinião de Paula Guimarães “as empresas não passam despercebidas em toda a sua cadeia de valor. E é esse tipo de atuação que a demarca das outras, a nível externo mas também a nível interno”.

Para além disso, há também benefícios fiscais em serem solidárias. Benefícios esses, que muitas empresas têm conhecimento, nas palavras das advogadas Margarida Couto e Maria Folque, da sociedade de advogados Vieira de Almeida & Associados. “Atualmente já existe um número significativo de empresas com uma elevada consciência e responsabilidade social corporativa que conhecem os benefícios fiscais que podem retirar das iniciativas apoiadas nesse contexto e dos limites e condições para usufruir desses benefícios fiscais. E, por outro lado, há também uma cres-cente sensibilidade das entidades sem fins lucrativos para divulgar estas vantagens fiscais junto dos seus potenciais ou atuais mecenas. Todavia, acreditamos que há ainda um vasto universo de empresas portuguesas que desconhece as vantagens fiscais associadas à promoção de iniciativas de mecenato”. E, por isso, fizemos a pergunta: quais os benefícios fiscais que uma empresa tem ao fazer um dona-tivo? “Os benefícios fiscais podem resultar na consideração

A Vieira de Almeida & Associados é uma sociedade de advogados solidária, mas também aventureira. Quatro colaboradores da firma escalaram o Monte do Chimborazo no Equador com o objetivo de chegarem ao ponto da Terra mais perto da Lua e ajudarem diferentes instituições sociais. “Ao longo da escalada, foram angariados, entre empresas e privados que se foram associando à VdA, 22.500 euros que foram posteriormente doados a três instituições de solidariedade social – Ajuda de Berço, Escolinha de Rugby da Galiza e Diferenças”.

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Projeto de voluntariado jurídico que junta alunos de Direito com Advogados e Instituições de Solidariedade Social a fim de apoiar os mais carenciados.www.probono.org.pt

As empresas podem ser mecenas culturais, optando também por ajudar a preservar a arte portuguesa. Apesar de este tipo de apoio não ser a primeira escolha, se a campanha for bem comunicada e de forma criativa, a angariação de donativos é possível. Um exemplo: a ideia do Museu de Arte Antiga, em Lisboa, que desafia os portugueses a participar na aquisição da pintura “A Adoração dos Magos”, de Domingos Sequeira. Através do website patrocinar.publico.pt qualquer pessoa e empresa pode comprar um pixel e assim participar nesta iniciativa de fundraising para a compra da obra. Nas primeiras 24 horas, após o lançamento do website, os portugueses já tinham comprado 10% do quadro, segundo a imprensa. A campanha termina a 30 de abril de 2016.

IDEIA

dos donativos atribuídos como gastos dedutíveis em sede de IRC e na majoração destes gastos em percentagens que podem ascender a 50%. Assim, se uma entidade fizer um donativo de €100,00 a uma Instituição Particular de Solidariedade Social, por exemplo, pode deduzir como gasto, no exercício respetivo, até €150,00. Para estimular a realização de parcerias mais duradouras salienta-se ainda que se os mecenas celebrarem com as entidades beneficiárias acordos no âmbito dos quais se comprometam a conceder donativos plurianuais, podem ter uma majoração mais elevada do que a que teriam se concedessem o donativo de uma só vez”, adiantam as advogadas.

As vantagens não se limitam aos benefícios fiscais. As empresas podem ganhar ainda mais. Podem ganhar clientes. De acordo com um estudo das empresas Cone Communications e Echo Research, divulgado em 2013, os consumidores são mais leais e capazes de confiar numa empresa socialmente responsável do que em empresas que não apresentam essa característica. Mais: 91% dos consumidores admitiram a possibilidade de trocar de marca para uma que apoie uma causa social. Motivos que justifiquem o porquê de ter uma estratégia de respon-sabilidade social – além de saber que pode transformar a vida de alguém – há de sobra, mas agora tem mais um: a possibilidade de conquistar e manter clientes. Por isso

é importante ter estratégias e também divulgá-las em relatórios de responsabilidade social corporativa, para que a comunidade saiba o que anda a fazer pela comunidade. Até porque os consumidores mudaram. As suas decisões são mais emocionais e escolhem, muitas vezes, os produtos tendo em conta os valores das empresas. Até já existem aplicações que os informam de tal! A Glia (www.glia.is), por exemplo, é uma aplicação para smartphone que permite descobrir que empresas têm os mesmos valores que nós. E funciona de forma muito simples: basta o utilizador criar um perfil, indicar quais os seus valores sociais, políticos e económicos, e quais as causas que gostaria de apoiar. Depois, a aplicação informa quais os negócios compatíveis e que têm valores idênticos, mais perto da sua localização. A ideia da Glia é ajudar o consumidor a fazer escolhas mais conscientes e evitar gastar o seu dinheiro em locais menos éticos e socialmente responsáveis.

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O Banco de Bens Doados da Entrajuda também inclui um Banco de Equipamentos que tem como missão distribuir às instituições sociais equipamentos elétricos, eletrónicos e informáticos doados por empresas. Em 2014 foram entregues 402 computadores a instituições. www.bancodeequipamentos.pt

Mas como saber quem precisa de ajuda? Essa é uma das grandes dúvidas que muitas empresas têm. Às vezes até podem ter materiais, bens,

equipamentos para doar mas não sabem quem precisa, ou quem mais precisa, de todo o universo de instituições sociais que existem em Portugal. Felizmente existem pessoas com ideias. E instituições sociais com ideias. A Entrajuda e a Cáritas Portuguesa lançaram em abril do ano passado a plataforma Dar e Receber (www.darereceber.pt) que funciona como um ponto de encontro entre quem tem alguma coisa para dar e quem precisa de receber. “Cons-tatámos que poderíamos ser mais eficientes na mobilização de pessoas que têm produtos e equipamentos para doar, colocando numa plataforma online, uma solução mais tecnológica, as necessidades das instituições de solidarie-dade social”, adianta Isabel Jonet, presidente da Entrajuda. A plataforma funciona como uma espécie de motor de busca. Tanto para particulares como para empresas. Por exemplo, se estiver à procura de uma instituição que dê apoio a idosos em Lisboa pode fazer a pesquisa no Dar e Receber, que aparecem as instituições que estão regis-tadas tendo em conta o seu problema. “Chamamos a isto respostas sociais em rede, que é nada mais do que uma listagem exaustiva de todas as respostas sociais que há em Portugal com as respetivas características. Todas as instituições (registadas) com respostas sociais”, aponta a responsável. Depois, por exemplo, se for uma empresa e tiver equipamento para dar – computadores, imagine – também é possível fazer uma pesquisa para saber quais as instituições que precisam. “Desde que essa necessidade esteja colocada online é possível doar o bem a uma instituição. Não havendo necessidades sinalizadas na plataforma, então o que pode fazer é colocá-la disponível online. E aí as instituições que estejam à procura de computadores podem ver que estes existem”, aponta Isabel Jonet. No entanto, por vezes, os timings entre quem tem e quem precisa não são os mesmos. O plano B? O Banco de Bens Doados físico que assegura o levantamento e a receção de todos os produtos que as pessoas queiram dar de imediato, segundo a responsável. O Banco de Bens Doados existe desde 2006 mas a Entra-juda aproveitou o lançamento da plataforma Dar e Receber para ter um canal online para a procura e doação de bens. Decidiu, também, fazer o mesmo em relação à doação de tempo, a Bolsa de Voluntariado. “A plataforma tem ainda agregada a Bolsa de Voluntariado, que existe desde 2005,

e que é hoje o maior website português de voluntariado. Achámos que podíamos também congregar aqui a vontade de dar tempo com as necessidades das instituições em terem voluntários, nomeadamente voluntários qualifi-cados. Porque muitas vezes as instituições precisam de um arquiteto, de um informático, de um contabilista, de um jurista e têm dificuldade em encontrar um. É mais fácil ter voluntariado não qualificado do que o voluntariado mais especializado”, revela a presidente da Entrajuda. À plataforma Dar e Receber foi ainda incorporado um novo pilar: a doação de excedentes agrícolas. Em parceria com a CAP – Confederação dos Agricultores de Portugal, a Entreajuda tenta mobilizar os agricultores para que colo-quem nesta plataforma as suas doações de produtos que seriam desperdiçados no campo ou na árvore.

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“Ao contribuir para a luta contra a pobreza, para a redução dos impactos ambientais, e para tornar o funcionamento das comunidades mais próspero, as empresas estão a contribuir também para o seu negócio”isabel Jonet, presidente da Entrajuda

IDEIAA Associação Sorriso Solidário criou o Cartão Solidário, um cartão que oferece 50% de descontos aos consumidores em várias marcas parceiras do projeto e que ao mesmo tempo beneficia instituições de solidariedade social. Uma ideia win-win-win: os titulares do cartão ganham descontos, as marcas aumentam a sua base de clientes e as instituições recebem donativos! www.cartaosolidario.pt

O Dar e Receber é um sucesso, nas palavras de Isabel Jonet. Ainda assim a presidente da Entrajuda não está satisfeita com os resultados. “No caso da doação de bens, penso que há muitas ofertas, muita procura, mas não estamos satisfeitos com os casamentos feitos dentro da plataforma. Precisamente por esse aspeto que já referi, a componente física que por vezes complica ou até gera alguma entropia no sistema”. E por isso, a Entrajuda está a estudar o lançamento em Portugal de uma Rede Dar e Receber, em parceria com as autarquias. “Queremos criar pequenos armazéns locais para a recolha e distribuição dos bens. Porque de facto nem sempre é possível conciliar de imediato a vontade que as pessoas têm de se desfazer de um bem e de doá-lo com a capacidade das instituições de irem buscá-lo. Assim, aquilo que estamos a tentar fazer é criar uma Rede Dar e Receber, de espaços Dar e Receber, que vão estar disseminados a nível autárquico”, revela Isabel Jonet.O papel principal da Entrajuda é facilitar a relação entre instituições sociais e empresas. Ajudar quem precisa e ajudar quem quer ajudar. E por ser uma instituição espe-cialista no conhecimento do terceiro setor muitas vezes funciona como uma espécie de consultora. “As empresas portuguesas são muito solidárias e por isso às vezes andam um pouco perdidas nesta capacidade de ajudar. Há tanta vontade de ajudar e tantos pedidos, que muitas vezes não sabem fazer o filtro correto das necessidades. E por isso, a Entrajuda apresenta-se um pouco como consultora para a solidariedade social e consultora de empresas. Todos os serviços são prestados pro bono e portanto não há qual-quer custo associado. A garantia que damos é que todas as doações vão chegar ao seu destino”, adianta a responsável.

A par das ideias das IPSS, também existem outras pessoas que têm iniciativas. Empreendedores que criam negócios com uma vertente social. É o caso

de um grupo de jovens de Braga que criaram a eSolidar, um website de comércio eletrónico onde é possível qualquer pessoa colocar produtos em leilão e doar uma parte dos lucros a favor de uma causa social. “Existe uma grande distância entre a comunidade e as organizações sem fins lucrativos e uma enorme dificuldade em apoiá-las, de forma simples. O comércio eletrónico é um mercado gigantesco e achámos que podia ter um papel muito importante no processo de angariação de fundos para as causas sociais”, adianta fonte da eSolidar à Bons Negócios. O objetivo é que as instituições sociais consigam “angariar fundos online de uma forma rápida, eficaz e com baixo custo, envolvendo ativamente a comunidade neste processo”.A plataforma, lançada no ano passado, pretende reunir num só lugar uma comunidade solidária – os que precisam de ajuda e os que querem ajudar, disponibilizando para isso duas ferramentas de e-commerce diferentes: o mercado

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MUST SEE!

A criatividade ao serviço das boas causas! O The Good Report, um relatório que distingue as melhores campanhas que promovem mensagens responsáveis. http://act-responsible.org/ACT/goodReport/goodreport.html

solidário e as lojas solidárias. “O mercado solidário – ou leilões solidários – é uma nova forma de as pessoas apoiarem as causas sociais em que mais acreditam. Aqui, as pessoas podem vender produtos online (novos ou usados) e escolher uma organização sem fins lucrativos para doar uma parte dos lucros”. Já as lojas solidárias são espaços online para as organizações sociais sem fins lucrativos venderem os seus produtos. Apesar de recente, o projeto bracarense está a ser um sucesso e já ultrapassou as fronteiras portuguesas - em setembro entrou no Reino Unido. Por cá, a eSolidar já foi anfitriã de 121 leilões solidários e conseguiu angariar cerca de 90 mil euros para diversas organizações sem fins lucrativos. “Pretendemos chegar ao final do ano com mais de 100 mil euros angariados e com um crescimento susten-tável também no Reino Unido”, adianta a mesma fonte.

As ideias de pessoas que dão o primeiro passo não ficam por aqui. Uma holandesa trouxe um conceito originário do seu país para Portugal: o Marketplace, que funciona como uma espécie de speedating entre instituições e empresas para que encontrem formas de colaborar em conjunto por um mundo melhor. “Antes de vir para Portugal, trabalhei cinco anos na área da responsabilidade social, na Holanda, e tive conhecimento deste modelo. Tive conhecimento também que já se tinha realizado noutros países, como Espanha, Alemanha, Bélgica, Hungria e Austrália. E decidi trazer o evento para Portugal através do Grupo Fix”, revela Natasha

“Ao longo de 2015, nas quatro edições do Marketplace, foram formalizados 451 matches entre empresas e instituições de caráter social e alcançado um impacto social estimado de mais de 720 mil euros”Natasha Calem von Mühlen, responsável pelo Marketplace Portugal

Calem von Mühlen, diretora da Fix Social Engagement, área de negócio do grupo dedicada à responsabilidade social empresarial. E qual o objetivo? “O Marketplace é um mercado social onde bens e serviços são trocados. Para cada empresa com disponibilidade para prestar um serviço ou doar um bem, há uma instituição com necessidades a ser supridas. Qualquer ajuda é uma boa ajuda! Neste evento todos podem dar e receber, nomeadamente: voluntariado, conhecimento, acesso a redes, bens, criatividade, serviços, instalações, entre outros. O objetivo do Marketplace passa pela realização de matches entre empresas e instituições do setor social, que não envolvam a troca de dinheiro”. E todo o tipo de matches é possível, entre empresas e instituições sociais, segundo a responsável. Por exemplo, uma empresa que queira substituir o seu mobiliário, pode doar a mobília antiga a uma instituição que careça desse material. Ou uma instituição social que precise de um plano de comunicação e marketing, o departamento desta área de uma empresa pode oferecer o seu know-how para o desenvolvimento do mesmo. Através deste evento, que é gratuito, as empresas têm a “oportunidade de ativar as suas políticas de responsabili-dade social e aumentar a reputação junto dos seus públicos. Mas, mais importante ainda, podem contribuir para o desenvolvimento da comunidade local”, defende. Ou seja, o Marketplace é vantajoso para ambas as partes. A última edição realizou-se a dia 19 de novembro, no Museu da Eletricidade em Lisboa, e permitiu a formalização de 122 matches entre empresas e instituições sociais. Em 2016, Natasha Calem von Mühlen, já tem quatro edições confirmadas mas quer realizar pelo menos seis Marketplaces.

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Cozinha com Alma, um take away solidário. O projeto surgiu em 2012 pelas mãos de Cristina de Botton e Joana Castella. As duas empresárias sempre tiveram um espírito solidário e decidiram nesse ano criar um pronto-a-comer que apoiasse famílias com dificuldades económicas. O espaço está aberto ao grande público e serve refeições caseiras-quase-gourmet de segunda a sábado (a ementa pode ser consultada no website). O lucro do negócio é aplicado numa bolsa social que permite vender refeições solidárias, e mais baratas, a famílias que mais precisam. A loja da Cozinha com Alma fica na Praceta Padre Marçal da Silveira, nº31, Pampilheira, Cascais.www.cozinhacomalma.com

Dejá Lu, uma livraria por uma boa causa. A ideia é de Francisca Prieto e a instituição que apoia é a Associação Portuguesa de Portadores de Trissomia 21. A empreendedora tem uma filha com Trissomia 21 e por isso decidiu apoiar uma causa que lhe é tão próxima. A empreendedora começou por leiloar livros usados através de um blogue, mas depressa a ideia ganhou um espaço físico onde são vendidos livros já lidos e cujas receitas revertem 100% a favor da Associação. A Dejá Lu fica no restaurante Taberna da Praça, na Avenida D. Carlos I, em Cascais.www.instagram.com/livraria.dejalu

A Avó Veio Trabalhar, um projeto dedicado às avós. Um psicólogo e uma designer, Ângelo Campota e Susana António, juntaram-se para criar um projeto de aprendizagem, de partilha mas também de empowerment das avós portuguesas. O resultado? Um espaço onde as avós trabalham e produzem autênticas coleções de moda que misturam artes tradicionais com o design moderno. As Avós organizam ainda workshops de tricot. A Avó Veio Trabalhar fica na Rua do Poço dos Negros, 124, em Lisboa.avo.fermenta.org

EMPREENDEDORISMO SOCIALCada vez mais surgem negócios sociais em Portugal. Negócios de pessoas com espírito empreendedor que criam projetos que ajudam alguém, o próximo, os outros. E dos quais você pode fazer parte, comprando, participando, contribuindo. Eis quatro exemplos.

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As empresas também têm iniciativas próprias. Quando o assunto é ajudar, qualquer iniciativa é bem-vinda para que as IPSS se possam concentrar realmente

na sua missão – transformar para melhor a vida de alguém. E não é preciso puxar muito pela cabeça, pode utilizar-se os recursos que já se tem. Exemplo? A Sapo, marca da Portugal Telecom, lançou em outubro uma campanha solidária – “Não custa Nada” – que incentivava as pessoas a fazerem o download de seis das suas aplicações para contri-buírem para seis causas diferentes. Ao efetuar download da app SAPO Desporto iria contribuir com cinco cêntimos para a instituição Make a Wish. Se fizesse o download da aplicação SAPO Sabores ia ajudar a Acreditar. Assim, e seguindo esta linha de pensamento, a sua empresa podia doar um euro cada vez que assinasse um contrato com um cliente. E todos os meses escolher uma IPSS diferente que beneficiasse desses donativos. As empresas também têm optado por criar as suas próprias fundações para ajudarem e apoiarem a comunidade. A Salesforce, empresa líder mundial em CRM na cloud, criou a sua há 16 anos e desde então já deram mais de 96 milhões de dólares em donativos e ajudaram mais de 26 mil organizações sem fins lucrativos com a sua tecnologia. Por cá, também existem algumas, a Fundação EDP, por exemplo, criada pela EDP – Energias de Portugal, em dezembro de 2004. “A constituição da Fundação EDP veio consolidar o compromisso do Grupo EDP com o imperativo de cidadania, centrando a atividade no desenvolvi-mento sustentável e tendo por fins gerais, a promoção, o desenvolvimento e o apoio a iniciativas de natureza social, cultural, científica, tecnológica, educativa, ambiental e de defesa do património, com especial intervenção no setor energético”, pode ler-se no website da Fundação EDP. Neste momento estão a apoiar diferentes projetos. Um deles: o SPEAK, um negócio social que é na prática uma escola de línguas que promove a integração de comunidades estrangeiras. “A Associação Fazer Avançar lançou, em 2012, um projeto social intitulado Leiria Language Exchange (AFA), – agora SPEAK – que pretendeu ser um ponto de

integração de pessoas de diferentes origens, possibilitando a troca de conhecimentos linguísticos e culturais. A Fundação EDP, enquanto entidade incubadora e inves-tidora social, reconheceu que este projeto tinha potencial para avançar para um modelo de negócio inclusivo, o que aconteceu em 2013”, adianta fonte da Fundação EDP à Bons Negócios. Desta forma, e desde então, o que a Fundação EDP faz é trabalhar em conjunto com a AFA na estrutu-ração do negócio, participando ainda com investimento financeiro e acompanhamento de gestão. “O investimento social em Portugal é realizado por uma pequeno conjunto de instituições, entre as quais a Fundação EDP. Sem este investimento, a maioria dos projetos e dos negócios sociais e inclusivos não teria capacidade para ver a luz do dia. Mas o nosso papel não se esgota no financiamento. O apoio na conceção da ideia de negócio e da sua implementação é também extremamente importante, uma vez que muitos empreendedores sociais não têm ainda um know-how de gestão muito consolidado”, defende a mesma fonte.

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“O investimento social em Portugal é realizado por uma pequeno conjunto de instituições, entre as quais a Fundação EDP. Sem este investimento, a maioria dos projetos e dos negócios sociais e inclusivos não teria capacidade para ver a luz do dia”Fundação EdP

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O apoio das fundações também acontece em forma de voluntariado. A Fundação Portugal Telecom (PT), constituída em 2003, aposta forte em ações de voluntariado no domínio do bem-estar e inclusão social e profissional. “O voluntariado é uma atividade inerente ao exercício de cidadania e responsabilidade social da PT, traduzindo-se numa relação solidária com os que mais precisam e na participação livre e organizada na solução dos problemas que afetam a sociedade em geral. Na Fundação PT seguimos duas abordagens diferentes: o voluntariado empresarial, dirigido aos colaboradores no ativo e a quem a empresa dá a possibilidade de participar em projetos de voluntariado, sem perda de retribuição ou reflexos na assiduidade, utilizando até seis dias por ano durante o horário normal de trabalho; e o voluntariado em família, dirigido a colaboradores PT, a ex-colaboradores em situação de reforma e aos seus familiares ou amigos”, adianta a PT à Bons Negócios.Este ano, nos primeiros nove meses de 2015, o voluntariado da PT contou com cerca de 3 mil participações, trabalhou com mais de 350 instituições sem fins lucrativos e beneficiou direta e indiretamente mais de 1.450.000 pessoas. Ao todo foram quase 8 mil horas de trabalho voluntário! Tempo que muitas vezes pensamos não ter, mas que temos até de sobra. Se trabalharmos em conjunto. Porque, às vezes, cinco minutos bastam para ajudar alguém. É o tempo de um telefonema rápido. O tempo de falar e dar uma palavra amiga a quem está do outro lado. A Fundação PT tem um programa assim: o “Está lá, Está bem?”, que nada mais são do que contactos telefónicos regulares efetuados por colaboradores da PT a beneficiários de IPSS, que visa a promoção da vida ativa e o combate à solidão. “A operacionalização deste programa baseia-se na formação de um conjunto de voluntários PT, sendo que a cada um é atribuído um sénior que passa a ser por ele acompanhado, no mínimo uma vez por semana, através de contacto telefónico”. Simples a ideia, não é? São só alguns minutos do seu tempo. Não perde nada. E voluntariado alivia o stress. Faz bem à saúde.

O trabalho voluntário em Portugal correspondia a quase 1% do PIB em 2012.Fonte: Estudo Volunteer Work do instituto Nacional Estatística

IDEIAPrograma “Está lá, Está bem?”, da Fundação Portugal Telecom, que nada mais são do que contactos telefónicos regulares efetuados por colaboradores da PT a beneficiários de IPSS, que visa a promoção da vida ativa e o combate à solidão. www.fundacao.telecom.pt

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N O V O S N E G Ó C I O SI M PA C T R I P

“Nunca fiz voluntariado, porque não sabia o que fazer”. Era o que diziam alguns dos clientes da impacTrip antes de conhecerem a agência de

turismo solidário, que surgiu há dois anos pelas mãos de Rita Marques e Diogo Areosa com a missão de ajudar estas pessoas a ajudar o próximo. “Um cliente nosso, português, nunca tinha feito voluntariado porque não sabia como podia ajudar. Misturado com um pouco de vergonha, por ser um mundo que desconhece. Durante a experiência que realizou, dar comida a pessoas sem-abrigo, o voluntário recebeu um abraço em forma de agradecimento. E, depois disso, disse--nos que ia começar a fazer mais vezes voluntariado. Ouvir isto deixou-nos de coração cheio e percebemos que estamos a conseguir cumprir o nosso objetivo: de ter algum impacto social”, adianta a jovem empreendedora. A ideia da impacTrip surgiu a Rita Marques depois de uma viagem ao sudoeste asiático, onde a prática de turismo com uma componente de responsabilidade social já é bastante comum. “Os jovens de hoje procuram experiências diferentes e ao mesmo tempo responsáveis, que de uma certa forma beneficiem o local que visitam. E em Portugal ainda não havia nada do género, uma empresa 100% dedicada a viagens com um impacto social e ambiental. Com a ajuda do Diogo, decidi transformar a ideia num sonho realizado”, conta.

Hoje, a agência organiza experiências personalizadas em quatro áreas distintas: natureza, mergulho, cidade, praia. Assim, por exemplo, “se escolhermos fazer mergulho, podemos ajudar a limpar o Oceano Atlântico, se esco-lhermos praia a experiência pode passar por passear de barco à vela com crianças e jovens em situações de risco, de uma instituição social. A escolha é inteiramente do cliente. E tentamos ao máximo personalizar a experiência depois do primeiro contacto, da pré-reserva”, adianta. Para a concre-tização de todas as experiências, os dois empreendedores estabeleceram parcerias com mais de 50 instituições sociais. Uma delas a Cais, com a qual estão a trabalhar num novo programa e experiência chamado “Rotas de Inclusão”. Do que se trata? “Basicamente são tours em Lisboa guiados por pessoas ex-sem-abrigo que apresentam uma visão diferente da cidade e muito pessoal, uma vez que viveram nas ruas. São os nossos contadores de histórias”, diz Rita Marques. O projeto ainda está em fase de testes, estão a ensaiar as visitas, mas “quando acabar a formação o objetivo é integrar as pessoas no mercado de trabalho”.

O website da impacTrip funciona de forma muito simples. É possível pesquisar por tipo de experiência, localização ou ação de voluntariado (pobreza, ambiente, educação de crianças, proteção dos animais, fome e desperdício de alimentos, apoio a pessoas com deficiência). Depois de selecionar o que pretende, o turista-voluntário é contactado pela equipa da impacTrip para definir melhor a viagem, para que vá de encontro às suas preferências. Para já, os destinos impacTrip são só em Portugal e assim vai manter-se por algum tempo. Mas os turistas vêm de qualquer parte do mundo: “já recebemos pessoas do Brasil, Holanda, Alemanha, EUA, França. Já fizemos mais de 100 viagens desde o nosso lançamento!”, conta a empreendedora. O custo varia consoante a experiência: o mergulho é a partir dos 58 euros o dia inteiro, uma semana no parque de uma reserva natural pode ultrapassar os 300 euros por pessoa (quatro dias), por exemplo. Todas as experiências incluem alojamento e alimentação. O pagamento pode ser feito por duas vias, transferência bancária ou PayPal.bn

VIAGENS COM IMpACTO SOCIALRita Marques e Diogo Areosa criaram uma agência de turismo solidário que permite às pessoas viajarem e ao mesmo tempo ajudarem o próximo

a impacTrip também tem um programa inteiramente dedicado às empresas. Trata-se do impacTeam e tem como

objetivo ajudar as empresas a delinear uma estratégia de responsabilidade

social corporativa. Que pode ser anual ou pontual. a ideia aqui, como acontece

com as viagens, é fazer “a ponte entre as empresas e as instituições que mais têm

necessidades”, adianta rita Marques.

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F I LT R OT R A N S P O R T E

TRANSFORME A SUA ENERgIA EM DONATIVOS

Sabia que pode transformar as calorias que gastou ao andar de bicicleta em donativos? É verdade. Através da aplicação portuguesa MoveBonus – que é gratuita

–, o exercício físico que pratica é transformado em pontos que podem ser trocados por donativos a instituições de solidariedade social. O apoio funciona da seguinte forma: é lançada uma campanha para a qual é estabelecido um número de pontos à instituição de solidariedade. Depois, durante esse período de campanha, se a totalidade dos pontos for alcançada, um dos parceiros da MoveBonus faz a doação. Ou seja, quanto mais utilizadores pedalarem, quanto mais pontos trocarem por donativos, mais perto estão de ajudar quem precisa. Mas porque é que sugerimos a prática de bicicleta? Porque é uma opção amiga do ambiente, porque tira mais carros da estrada, porque é mais saudável, porque também está na moda. Em Portugal e um pouco

por todo o mundo. Um exemplo: a ministra do Ambiente francesa anunciou recentemente que quem usar a bicicleta como meio de transporte para o trabalho poderá ganhar 25 cêntimos por quilómetro. Por cá, as iniciativas para esta prática já se fazem “ouvir”. Em setembro, realizou-se mais uma edição do Bike to Work, organizada pela Lisboa E-Nova e a Câmara Municipal de Lisboa, que contou com a participação de 100 empresas. Novabase, Xerox, Portugal Telecom e NOS, foram algumas das participantes. No entanto, apesar destas boas iniciativas, todos sabemos que andar de bicicleta pelas ruas de algumas cidades não é fácil e, por vezes, é preciso um empurrão extra. As bicicletas elétricas podem dar-lhe essa ajuda. A Bons Negócios sele-cionou três bicicletas elétricas para que possa começar o ano de forma diferente e transformar a sua energia em donativos. Pronto para mudar? bn

COpENHAgEN WHEELSe já tem uma boa bicicleta e não quer comprar uma elétrica, não se preocupe. Engenheiros do Instituto de Tecnologia de Massachusetts criaram a Copenhagen Wheel, uma roda que transforma a sua bicicleta num modelo-elétrico-híbrido e inteligente. Para isso, basta trocar a roda da sua bicicleta normal pela Wheel. A solução, agora comercializada pela empresa Superpedestrian, tem um motor de 250W que lhe permite atingir os 25 quilómetros por hora e dar aquele empurrão extra quando estiver mais cansado ou a percorrer ruas inclinadas. A Copenhagen Wheel analisa o padrão habitual do ciclista, a inclinação da estrada, e entra em ação se necessário. Existe ainda uma aplicação para smartphone onde é possível controlar o tipo de assistência que quer e o percurso que vai fazer, saber quantos km percorreu e as calorias que queimou.

www.superpedestrian.com

MoTor dE 250W

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F I LT R OT R A N S P O R T E

gI FLyBIKESabe aquelas bicicletas que se dobram para facilitar o seu transporte e arrumação? Também existe uma opção elétrica. Uma equipa de designers argentinos são os responsáveis pelo lançamento da nova Gi FlyBike, uma bicicleta dobrável que tem sido distinguida na imprensa pelo seu design e tecnologia. A bicicleta é leve - pesa só 17 kg - e pode ser dobrada em apenas um segundo! A Gi FlyBike tem um motor de 250W e tem uma aplicação para smartphone que lhe indica os melhores percursos para andar de bicicleta. Além disso, a bicicleta também lhe permite carregar o seu telemóvel usando a energia da sua pedalada. Energia essa, reservada na bateria, que também o ajudará a subir as ruas mais difíceis da cidade, se necessário. A bateria tem uma autonomia de 60 km.

www.giflybike.com

PESa 17 kg

MoTor dE 500W

auToNoMia dE 60 kM

STROMER ST2Prefere uma bicicleta elétrica elegante, discreta e moderna? A Stromer ST2, que no ano passado ganhou um prémio Red Dot Award pelo seu design, é um bom exemplo. A marca suíça Stromer apostou no visual do seu produto mas não descurou da sua tecnologia. A bicicleta elétrica tem um motor de 500W que lhe permite atingir os 45km à hora. Já a bateria tem uma autonomia de 150km. A Stromer ST2 funciona ainda com uma aplicação para smartphone que lhe permite configurar o desempenho da bicicleta, bloqueá-la e até localizá-la através de GPS em caso de roubo. Uma curiosidade? A operadora de telecomunicações Swisscom é uma das clientes da Stromer, tendo apostado numa frota de bicicletas para colaboradores como solução de mobilidade corporativa.

www.stromerbike.com

auToNoMiadE 150 kM

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F I LT R OP R E S E N T E S

Oferecer um presente consegue sempre provocar um sorriso a alguém. Mas há presentes que conseguem muito mais que isso: ajudar uma vida, duas vidas ou mais. São os chamados presentes solidários , cujo valor (na totalidade ou em parte) reverte a favor de uma instituição social. Eis algumas sugestões de presentes

ONE gIFT= ONE HELp

Jogo “rir É o MELHor rEMÉdio!” da Operação Nariz Vermelho(com o apoio da Science4you)

Preço 9,99 euroswww.narizvermelho.pt

Notebook CaLÇada PorTuguESada Cais Recicla

Preço 8 euroswww.cais.pt

almofada de praia Caia HaPPYda Caia

Preço 16,80 euros1 euro a favor da Ajuda de Berço

www.caia.pt

kit “o MEu PriMEiro guMELo”da Gumelo

Preço 12 euros1 euro a favor da Fundação do Gil

www.gumelo.com

Compota de marmelo da aLdEia PEdagÓgiCa dE PorTELada Azimute Preço 4 euroswww.aldeiapedagogica.net

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O L H A R E ST H E B I G H A N D

A FORÇA DE UM ABRAÇODavid Fernandes deixou o seu país e a sua família em Portugal para abraçar uma causa.

Abraçar as crianças de Moçambique que passam dificuldades e ajudá-las a viverem melhor. E a sua força já permitiu apoiar, com o auxílio de donativos, 600 crianças órfãs que, quando

crescerem, podem ajudar outras tantas. É esse o objetivo da the big hand, o seu projeto pessoal que começou em 2010

COMO TUDO COMEÇOU.“Durante a faculdade temos sempre aquelas conversas de café com os amigos sobre as coisas que gostá-vamos de mudar na sociedade. Eu já tinha participado em alguns programas de voluntariado mas tinha o sonho de inte-grar um projeto maior. Aos 24 anos, estava a acabar o curso, comecei à procura de projetos com os quais me identificasse e sentisse que fosse útil. Contactei várias ONG e escolhi a União Missionária Fran-ciscana para trabalhar como voluntário em Moçambique. Fui de mochila às costas e lá fiquei 11 meses”.

COMO SURgIUA THE BIg HAND.“Um dia decidi bater à porta da GRENKE para pedir ajuda para montar uma sala de informática. Acederam ao meu pedido e deram--me o financiamento necessário. Queria criar mais infraestruturas, nunca pensei numa associação. Mas, mais tarde, num almoço entre amigos numa pizzaria em Almada, surgia a the big hand.”

O qUE A THE BIg HAND FAz.“Construímos escolas, furos de água e casas de banho. Fazemos interven-ções na área da saúde, higiene diária,

nutrição, desporto, cultura. Sempre com o foco na criança. A the big hand ajuda todas as crianças. No entanto, privilegia as meninas. Está comprovado que há um maior retorno social. Porque uma mãe vai promover o que aprendeu junto dos seus filhos. A mãe tem esse instinto. De ensinar os hábitos de higiene, os hábitos escolares. A mulher vai renta-bilizar o investimento dos doadores.”

O qUE ApRENDEU.“As crianças ensinaram-me a ser perseverante. A ter esperança. A não parar. Que dependes de ti mesmo.

Que as coisas podem melhorar. Que temos a capacidade de mudar a vida de alguém. Temos mais potencial do que acreditamos. Temos de sair da nossa

zona de conforto e pôr o nosso lado criativo a procurar uma solução.

E a ajuda não tem de ser mone-tária. Pode ser um abraço, uma força que pode mudar uma vida”.

O FUTURO.“Queria que a the big hand acabasse já no próximo ano! Seria sinal que estava tudo bem. Mas ainda há muito

por fazer. Quero ajudar todas as crianças. E para

isso temos que atrair pessoas que queiram também mudar

o mundo. Uma das nossas crianças, agora com 16 anos, casou e passou

a ser nossa monitora. Continua a ajudar noutra aldeia, outras crianças.”

COMO pODEMOS AJUDAR.“Existem diferentes formas: o apadrinhamento de crianças (que é 25 euros por mês), a compra de merchandising ou as empresas investirem diretamente num projeto, um furo de água, por exemplo”.

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