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MARCOS GONÇALVES COSENTINO GLOBO ECOLOGIA: O DISCURSO AMBIENTAL NA TELEVISÃO Universidade Metodista de São Paulo Curso de Pós-Graduação em Comunicação Social São Bernardo do Campo, 2007.

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MARCOS GONÇALVES COSENTINO

GLOBO ECOLOGIA: O DISCURSO AMBIENTAL NA

TELEVISÃO

Universidade Metodista de São Paulo Curso de Pós-Graduação em Comunicação Social

São Bernardo do Campo, 2007.

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MARCOS GONÇALVES COSENTINO

GLOBO ECOLOGIA: O DISCURSO AMBIENTAL NA

TELEVISÃO

Dissertação apresentada em cumprimento parcial às exigências do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Universidade Metodista de São Paulo, para obtenção do grau de Mestre. Orientadora: Profa. Dra. Elizabeth Moraes Gonçalves

Universidade Metodista de São Paulo

Curso de Pós-Graduação em Comunicação Social São Bernardo do Campo, 2007.

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FOLHA DE APROVAÇÃO

A dissertação GLOBO ECOLOGIA: O DISCURSO AMBIENTAL NA TELEVISÃO,

elaborada por Marcos Gonçalves Cosentino, foi defendida no dia de_____________

de ,tendo sido:

( ) Reprovada

( ) Aprovada, mas deve incorporar nos exemplares definitivos modificações

sugeridas pela banca examinadora, até 60 (sessenta) dias a contar da data da defesa.

( ) Aprovada

( ) Aprovada com louvor

Banca examinadora:___________________________________

___________________________________

___________________________________

Área de concentração: Processos Comunicacionais

Linha de Pesquisa: Comunicação Especializada

Projeto temático: Linguagens e Discursos Especializados na Comunicação

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A meus pais pelo amor, apoio, carinho

e paciência, muita paciência.

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Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina.

Cora Coralina

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AGRADECIMENTOS

A todos que esperaram e torceram por essa dissertação. À minha orientadora, pela paciência com seu orientando que aprendeu a funcionar

sob pressão, igual às emissoras de TV. Aos meus colegas acadêmicos, Alexandra, Sidney, Tais e Zé.

Àquela que pretendo agradecer e amar a vida inteira, a minha Cris.

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SUMÁRIO

Introdução .................................................................................................................... 11 Capítulo. I - Comunicação e a questão ambiental. ................................................... 14

I. 1 Contribuição social da TV ........................................................................... 14 I. 2 Compromisso social de Ecologia ................................................................ 27

Capítulo. II - Ambiente de produção ......................................................................... 34

II. 1 Contextualização ou ambiente de produção. .............................................. 34 II. 2 Revisão de bibliográfica. ............................................................................ 41 II. 3 Analise do Discurso .................................................................................... 49

Capítulo. III - Preocupação Ambiental na Fundação Roberto Marinho. .............. 55

III. 1 Rede Globo ............................................................................................... 55 III. 2 Fundação Roberto Marinho ...................................................................... 59 III. 3 Concorrência ............................................................................................. 62 III. 4 Globo Ecologia ......................................................................................... 64 III. 5 A parte técnica do Globo Ecologia ........................................................... 66

Capítulo. IV - As técnicas televisivas a serviço do ambiente ................................... 71

IV. 1 A imagem construída de proteção a natureza do programa. .................... 73

IV. 2 Análise do conteúdo pedagógico ambiental do Globo Ecologia .............. 84

Conclusão ...................................................................................................................... 93

Referências Bibliográficas ............................................................................................96

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RESUMO

O programa Globo Ecologia está no ar há 15 (quinze) anos e tem como objetivo

principal auxiliar a preservação do ambiente. A cada semana são exibidas matérias em lugares

de difícil acesso ao homem como, por exemplo, comunidades indígenas, comunidades de

pescadores, áreas que sofrem com o desmatamento e a poluição. Seu discurso está,

aparentemente, todo voltado para a proteção ambiental. Com um formato jornalístico simples,

tem por meta maior demonstrar que a Fundação Roberto Marinho se preocupa também com

essa temática. No entanto, esse programa é veiculado em um horário sem muita audiência,

com um tempo de duração curto. O Objetivo dessa pesquisa é avaliar, por intermédio de uma

leitura subsidiada pela análise do discurso e avaliação dos recursos técnicos utilizados, a

imagem que esse programa constrói da Ecologia. Trata-se de uma pesquisa descritiva, com o

auxílio de uma pesquisa bibliográfica, documental.

PALAVRAS-CHAVE

Globo Ecologia; Produção Televisiva; Meio Ambiente; Eco e Análise do discurso

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RESUMEM

El programa GLOBO ECOLOGIA está en el aire hace 15 (quince) años y tiene

como objetivo principal auxiliar en la preservación del medioambiente, con materias en

locales de difícil acceso, como comunidades indígenas, comunidades de pescadores, áreas que

sufren con el deforestación e la polución. Su discurso aparentemente se vuelve hacia la

protección del medioambiente. Con un formato periodístico simples tiene como meta mayor

demostrar que la Fundação Roberto Marinho se preocupa también con esa temática. Sin

embargo ese programa se vehicula en un horario disperso y su tiempo de duración es

extremamente. El objetivo de la pesquisa es analizar el discurso del programa, con el intuito

de averiguar si realmente podemos contar con un simple programa de televis ión para la

preservación del medioambiente o si el discurso es ineficiente o si el propio contexto que o

cerca o torna ineficaz o no.

PALABRAS-CLAVE

Globo Ecologia, Producion Televisiva, Medioambiente, Eco e Análisis del Discurso.

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ABSTRACT

The program Globo Ecologia has been transmited since 15 (fifteen) years ago and

have the principal objective to help the preservation of enviroment. A weekly program whose

that shows spots of difficult to access of a man, for example: indians communities, fishers

communities, areas that suffers with deforestation and polution. The speech of program has,

apparently, turned completely into the protection of enviroment. With a simple jornalistc

format, have the huge aim to show that the Fundação Roberto Marinho (Roberto Marinho

Foundation) have been worried with this subject too. However, this program is transmited to a

low audience, in a short time duration. The Objective of this research is to avaliate, by

intermed of a subsidized reading by the analyzes of speech and an avaliation of technical

resource in use, the image of ecology that has been constructed by this program. It deals of a

descriptive research, with the support in a bibliographic and documental research.

KEY WORDS

Globo Ecologia; Television Production, Enviroment; Eco and Speech Analysis.

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INTRODUÇÃO

Atualmente a preocupação da opinião pública com a Ecologia tem sido ocasional,

como uma “moda”, na qual existem momentos de “quase pânico”, quando só se fala dos

graves problemas do ecossistema e outros momentos em que praticamente ninguém lembra

que eles existem. Nesse início de 2007, ocorreu uma assembléia da ONU (Organização das

Nações Unidas) para discutir os efeitos do aquecimento global no mundo. Foi divulgado um

relatório pelo IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change) que comprovou dados

alarmantes sobre a temperatura em nosso planeta. Mais uma vez voltou a se falar e mostrar

imagens de geleiras derretendo, gráficos do aumento gradativo do volume dos oceanos,

crescimento de temperatura, oceanos poluídos, escapamentos de carro soltando fumaça, entre

muitas outras notícias que já fazem parte das matérias ambientais.

O aparelho de televisão está cada dia mais barato e, portanto, de fácil aquisição. É

muito comum ver em casas de famílias de baixa renda faltar uma mesa, uma cama ou

geladeira, mas sempre há em algum espaço um aparelho de televisão. Sem diferença de

classe, cor ou credo, a televisão está ali na vida de muitos. Mais que um eletrodoméstico, ela é

uma companheira para esse ritmo frenético em que vivemos. Se estivermos cansados ou sem

nada para fazer, eis ali algo que pode nos distrair. Quando queremos saber o que está

acontecendo no Brasil e no mundo, é só esperar que algum telejornal vá nos informar sobre

vários assuntos, do nosso interesse ou não. Torna-se um problema, quando gastamos mais

tempo na frente desse emissor de imagens, do que perante as pessoas reais ao nosso lado, por

isso é muito importante saber dosar essa relação de amizade e precisamos também selecionar

muito bem o que é dito e mostrado pelo monitor da TV.

Podemos também encontrar na televisão conteúdos que suprem as falhas do nosso

sistema educacional, inclusive informações pedagógicas ambientais que instruam crianças e

também adultos, mesmo essas informações aparecendo vez ou outra. Apesar desse

“oportunismo” do viés ambiental, existem programas especializados em ambiente nas

emissoras de televisão aberta. São programas importantes, mesmo que sejam inexpressiva

minoria ante as centenas de programas espalhados pelas grades de programação das emissoras

abertas do nosso país.

São, na realidade, apenas 2 (dois) esses programas: o Repórter ECO, da Fundação

Padre Anchieta, e o Globo Ecologia, da Fundação Roberto Marinho. Pode parecer alarmante

constatar que existam apenas esses programas, porém eles contam e têm peso na divulgação

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da informação ambiental. A atual preocupação ecológica não é suficiente para motivar as

emissoras a criar vários programas de cunho ambiental, se não há quase ninguém para assistir.

A televisão proporciona bons e maus momentos, mas podemos enxergar nela uma

possível arma para a divulgação de informações ambientais. Minha escolha acadêmica de

Comunicação Social foi totalmente influenciada pela telinha, devido ao fato de sempre

admirar os programas de bastidores da emissora e em algumas oportunidades até acompanhar

as gravações de alguns. Porém, quando o assunto é Ecologia, sempre procuro me expressar a

quem quiser ouvir que sou a favor da luta contra a destruição do ambiente. Minhas ações,

entretanto, foram apenas verbais, com apenas um destaque, ou seja, um vídeo ambiental de

conclusão de curso, que apenas veiculou no meio acadêmico e em um festival de cinema

isolado. Foi um feito importante, mas ainda longe de ser satisfatório.

Uma análise de programa ambiental pode ser uma contribuição muito pequena à

natureza, porém a pesquisa nunca pode ser diminuída e certamente será um primeiro passo

para muitos outros projetos e estudos sobre uma temática tão importante na vida de todos.

Verificar a imagem que é construída pelo programa Globo Ecologia e em que medida

essa imagem foca o entretenimento e descarta, de fato, a proteção ambiental são os objetivos

desta análise. Pesquisar se a maneira com que é produzido esse programa resulta em um

modelo ecológico ineficaz devido à falta de cuidado com a edição e curto tempo de duração

do programa é a principal dúvida. A mensagem divulgada no programa pode não ser

pedagógica o suficiente para educar e informar, em relação à temática do ambiente.

São escassas e, a nosso ver, necessárias as pesquisas em relação a específico programa

de gênero ambiental, veiculado em uma emissora de abrangência nacional, no caso a Rede

Globo, e principalmente um estudo que a priori tem uma preocupação com o discurso utilizado.

A análise do discurso com ênfase na escola francesa foi escolhida como um guia para

essa leitura, devido a sua preocupação com as entrelinhas de um texto. Será feita uma revisão

bibliográfica sobre a Análise do Discurso e sobre a mídia, no caso a Televisão, o Meio

Ambiente e a Ecologia e também será pesquisado o que já foi abordado em relação a essas

diferentes disciplinas. “Análise de discurso é o nome dado a uma variedade de diferentes

enfoques no estudo de textos, desenvolvida a partir de diferentes disciplinas” (GILL, 2002,

p.140).

Será feita, enfim, uma leitura do programa e serão considerados elementos como:

produção, enquadramento, formato, canais de veiculação, iluminação, entre outras linguagens

visuais usadas na área técnica de televisão que possam vir direta ou indiretamente produzir

algum sentido.

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Os analistas de discurso estão interessados nos textos em si mesmos, em vez de considerá-los como um meio de “chegar a” alguma realidade que é pensada como existindo por detrás do discurso – seja ela social, psicológica ou material (GILL, 2002, p.247).

No primeiro capítulo desta análise – Comunicação e a questão ambiental – foi

produzida uma análise sobre a televisão citando um pouco da sua história e principalmente

como ela pode interferir em uma sociedade. A ecologia também é abordada nesse capítulo

para assim reforçar a importância do tema.

A produção de um programa de televisão dentro dos moldes comerciais, algumas de

suas especificidades técnicas, é o assunto inicial do segundo capítulo – Ambiente de

produção. A revisão de literatura ilustra as “guias” em que essa pesquisa se desenvolveu.

O programa Globo Ecologia é agora detalhadamente exposto citando todas as

entidades que contribuem para a sua produção e exibição. Assim, o capítulo – Preocupação

Ambiental na Fundação Roberto Marinho – foi o espaço encontrado para a voz de dentro do

programa, com citações da entrevista produzida com a produção. A análise técnica da

qualidade de imagem e montagem também é um dos tópicos desse capítulo. “Em um filme ou

vídeo, uma edição habilidosa pode remover palavras faladas de uma frase e um

reprocessamento visual pode remover pessoas centrais, ou traços, de um contexto mais

amplo” (GILL, 2003, p.140).

Para encerrar o quarto capítulo são apresentadas as análises dos 3 (três) episódios

escolhidos como corpus. Os programas foram gravados para possibilitar uma detalhada

procura por especificidades técnicas e para análise do seu discurso.

Essa dissertação monográfica tem dois focos, um programa de televisão e o ambiente,

porém é estritamente focada na contribuição de um meio de comunicação com a natureza.

“Fique claro, ainda, que o termo ‘monográfico’ pode ter uma acepção mais vasta que a usada

aqui. Uma monografia é a abordagem de um só tema, como tal se opondo a uma ‘história de’,

a um manual, a uma enciclopédia” (ECO, 2005, p.10).

A pesquisa visa contribuir com estudos presentes e futuros na discussão de um

problema sério que não é novidade alguma. A pretensão não é grandiosa, apenas contribuir

para fortalecer um programa de televisão, que já presta um serviço fundamental que é investir

na pedagogia ambiental, tão necessária hoje em dia quanto qualquer forma de educação e

criação.

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CAPÍTULO I – COMUNICAÇÃO E A QUESTÃO AMBIENTAL

1. Contribuição social da TV

O homem, no seu anseio de criação, sempre buscou inovações que pudessem tornar a

sua vivência neste planeta mais fácil e prazerosa. Foi assim com a roda, com o controle do

fogo, com a eletricidade, com o rádio e com outros incontáveis inventos que revolucionaram a

nossa história. Porém o invento que será analisado nesse trabalho – a televisão – trouxe, além

de conforto, uma tecnologia que pode auxiliar no aprendizado de muitos seres desse mesmo

planeta. A televisão surgiu nos moldes do rádio, que por sua vez estava em ascensão, porém,

em relação à tecnologia, nossa telinha foi criada com vistas no grande telão de cinema, na

possibilidade de se trazer para casa uma tela que propicie entretenimento para a família e

amigos.

A televisão brasileira nasceu do rádio e viveu do rádio até entrar em operação a segunda emissora que, creio, foi a Tupi do Rio, e depois a TV Paulista, de Victor Costa (que nasceu ela também da Rádio Nacional do mesmo Victor Costa). Portanto, muito do que discutimos vinha da nossa experiência no rádio e algumas referências do teatro e cinema (SILVA JÚNIOR, 2001, p.154).

A descoberta do selênio, que podia transformar energia luminosa em energia elétrica,

possibilitou uma série de “inventores” experimentarem o que poderia ser a transmissão de

imagens. Houve vários experimentos de transmissão de imagens, porém vários projetos foram

arquivados com a chegada da primeira grande guerra. Mas a idéia do novo aparelho já estava

concedida, só faltava o experimento perfeito, que pudesse transmitir uma imagem à distância.

Ela envolve a varredura de uma imagem por um feixe de luz em uma série de linhas seqüenciais movendo-se de cima para baixo e da esquerda para direita. Quando a luz passa sobre ela, cada parte da imagem produz sinais que são convertidos em impulsos elétricos, fortes ou fracos. Os impulsos são então amplificados e transmitidos por cabos ou pelo ar, por ondas de rádio que são reconvertidas (BRIGGS, 2004, p.179).

Fala–se desses experimentos já no final do século XIX. Desde então, essa transmissão

de imagens, de luz, foi se aprimorando e conquistando pessoas no mundo inteiro. Essas

imagens eram produzidas e enviadas entre locais próximos. As transmissões foram cada vez

mais amplificadas. Data de 1920 o momento em que os televisores começaram a ser

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produzidos em escala comercial, isso nos Estados Unidos da América. A tecnologia deu um

grande salto com o final da Primeira Guerra Mundial, possib ilitando experimentos científicos

que melhoravam a imagem que estava sendo transmitida. O crescimento da televisão não foi

um processo demorado e o surgimento de emissoras, que vinham do rádio, nos EUA e na

Europa, acompanhavam esse ritmo e até chegar o ano de 1950, quando se deu a primeira

transmissão televisiva em nosso país.

Trazido de navio por Assis Chateaubriand em 1950, esse novo veículo de

comunicação foi entrando, em ritmo lento, nas casas dos brasileiros. O ritmo não foi acelerado

porque a tecnologia nacional demorou a se firmar. “A introdução da televisão no Brasil

coincide com o começo de um importante período de mudanças e procurava um método para

desenvolver, integrar e modernizar o país (MATTOS, 2000, p.34)”.

A televisão brasileira foi inaugurada oficialmente no dia 18 de setembro de 1950, pela TV Tupi, em São Paulo. Às 21 horas, com uma hora e pouco de atraso, foi ao ar o espetáculo inaugural. Chamou-se Show na taba, com música, humorismo, dança e quadro de dramaturgia, e foi apresentado por Homero Silva (DANIEL FILHO, 2001, p.15).

Os técnicos, como todos os atores e diretores, vieram do rádio e aprenderam a fazer

televisão na “raça”, isto é, por vontade própria, havia a ajuda técnica, porém era cara e escassa

e os câmeras, assistentes, eletricistas, atores, iluminadores, diretores, entre muitos outros

foram fazendo história e construindo um dos maiores poderes do nosso país : as emissoras de

televisão.

Ele (Assis Chateaubriand) viveu assim, dando um “jeitinho” para conseguir tudo que suas ambições ilimitadas pareciam lhe impor. Essa mesma expressão foi repetida por ele para tentar tranqüilizar o técnico americano Walther Obermuller, um mês antes da inauguração da primeira televisão no Brasil – a PRF-3-TV, TV Tupi -, em 18 de setembro de 1950 (SILVA JUNIOR, 2001, p.149).

O ritmo de vida da década de 50 com certeza era outro. As pessoas ainda andavam de

bonde, não tinham medo de andar na rua em horários noturnos e as janelas das residências não

tinham grades. O brasileiro trabalhava duro (isso ainda não mudou) nas grandes e novas

metrópoles, atrás de uma vida digna para sua família. O êxodo rural já era uma realidade. Os

imigrantes vindos no final da Primeira Grande Guerra, estabelecidos em nosso país em

regiões rurais, iam cada vez mais constituindo famílias que, com o passar do tempo, iam

seguindo o fluxo do progresso e se dirigiam para as metrópoles em busca de um salário

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melhor, que o campo já não podia mais oferecer. Algumas dessas famílias tornaram-se

poderosas, inclusive proprietárias de emissoras nacionais. A grande maioria, entretanto,

apenas engrossou as camadas média e baixa da população.

As grandes metrópoles urbanas já eram os pólos financeiros do nosso país. As

principais capitais como o Rio de Janeiro – então capital federal – e São Paulo ditavam as

regras para o cidadão brasileiro na época e foram as grandes responsáveis pela distribuição

dessa nova tecnologia.

Mas é em São Paulo que vai acontecer a mudança mais significativa. Ali, a concorrência nos programas de teledramaturgia resumia -se, até então, à disputa da Tupi contra a Record. Mas entra em cena a Excelsior, que começa a tomar atores da Tupi (DANIEL FILHO, 2001, p.30).

A história recente mostra que o ritmo do surgimento de novas tecnologias

acompanhava a vida do ser humano. Algo criado nos Estados Unidos demorava anos para ser

utilizado em nosso país. Apenas os cidadãos poderosos que detinham o poder econômico

sabiam dessas inovações e alguns teimavam em trazer para nosso país experimentos recentes.

Foi assim com a nossa televisão, o videoteipe, as camcoders, entre outros avanços da

tecnologia, por exemplo, a televisão colorida começou com transmissões regulares em 1954

“[...] e no Brasil a primeira transmissão oficial em cores é datada de 19 de fevereiro de 1972”

(TUDO SOBRE TV, 2006, on- line).

Porém, aos poucos, os aparelhos começaram a ser industrializados no Brasil. A

televisão se tornou objeto de desejo de muitas famílias. Quando elas não podiam adquirir o

seu próprio aparelho, se dirigiam às casas dos vizinhos ou parentes mais ricos para sentarem-

se todos em volta da televisão e ver imagens vindas pelo ar. O encantamento trazia o desejo e

fazia pais de famílias batalharem para comprar o seu aparelho. Era, até então, uma forma de

demonstrar status perante a comunidade, que ficava boquiaberta diante da chegada de uma

televisão na casa de algum felizardo.

Realmente, o televisor rapidamente virou símbolo de posição sócio-econômica. No início de sua difusão, as famílias que mal podiam dispor de recursos para adquirir um receptor, às vezes economizavam em artigos de primeira necessidade para poder comprá-lo (DE FLEUR, 1993, p.128).

Todos os programas de televisão eram ao vivo nos anos iniciais e isso influenciava a

maneira como eram produzidos. Se ocorresse alguma espécie de erro, os atores envolvidos

com os programas tinham que usar um recurso do teatro, que é o improviso, onde o

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importante era o telespectador não notar o ruído que poderia ocorrer com esse erro. Se

acontecesse uma falha, seja ela técnica, seja pessoal, a pessoa em casa não tinha outra opção a

não ser aceitar esse erro e absorvê-lo, afinal todos estavam encantados, porém sabiam que a

televisão era feita, ainda, em tempo real.

Claro, não há nada de espantável nisso. Se a televisão está transmitindo imagens e sons de um evento no mesmo instante em que ele ocorre, não há como suprimir ou estender intervalos de tempo: ela deve, pelo contrário, se submeter ao tempo real do evento, absorvendo inclusive a sua morosidade e os seus vazios (MACHADO, A., 2003, p.138).

Com o tempo, os televisores foram perdendo sua característica de atribuir status a

quem os possuía. A televisão em preto e branco já começava a dominar os lares brasileiros e

assim também começava a se firmar o grande poder de influência na vida dos telespectadores.

A possibilidade de ter em casa um aparelho, por menor que ele fosse, tornou-se uma

necessidade e a realização de um sonho.

Conforme iam se passando os anos e a tecnologia avançando, as pessoas adquiriam

aparelhos condizentes com sua situação econômico-social. Os preços começaram a sofrer um

leve declínio e a concorrência de grandes montadoras multinacionais de eletroeletrônicos

trouxe para o brasileiro a possibilidade de comprar a sua própria televisão.

Fonte: (MATTOS, 2000, p.95)

NÚMERO DE TELEVISORES P&B E em CORES

EM USO NO BRASIL Ano Aparelhos 1950 ................................................................................................ 200 1952 ........................................................................................... 11.000 1954 ........................................................................................... 34.000 1956 ......................................................................................... 141.000 1958 ......................................................................................... 344.000 1960 ......................................................................................... 598.000 1962 ...................................................................................... 1.056.000 1964 ...................................................................................... 1.663.000 1966 ...................................................................................... 2.334.000 1968 ...................................................................................... 3.276.000 1970 ...................................................................................... 4.584.000 1972 ...................................................................................... 6.250.000 1974 ...................................................................................... 8.781.000 1976 .................................................................................... 11.603.000 1978..................................................................................... 14.818.000 1979..................................................................................... 16.737.000 1980..................................................................................... 18.300.000 1986..................................................................................... 26.500.000 1989..................................................................................... 28.000.000 1990..................................................................................... 30.000.000

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1991..................................................................................... 31.000.000 1996..................................................................................... 34.000.000 1998..................................................................................... 38.000.000 1999 (Estimativa) .............................................................. 53.500.000

Os números não pararam de aumentar, isto é, a quantidade de aparelhos televisores

seguiu a progressão de crescimento e o valor desses televisores está cada vez mais baixo,

facilitando sua aquisição. Os novos aparelhos de plasma e de cristais líquidos (LCD) auxiliam

o atual aparelho vendido ser considerado obsoleto.

O Brasil é o país da América Latina que possui o maior número de televisores instalados (cerca de 50 milhões) e também o maior mercado para aparelhos de televisão da região. Somente em 2000, foram consumidos mais de 5 milhões de televisores. Esses números devem-se em grande parte ao fato do serviço de televisão aberta ser prestado gratuitamente e também a vertiginosa queda de preços dos televisores analógicos ocorrida nos últimos anos (TAVARES, 2007, on-line).

Essa “janela” trazia diversão, notícias, músicas, shows que encantavam e, também, a

propaganda de todo tipo de produtos que surgiam para dar maior conforto e lazer, alimentos

que faziam a alegria das crianças e tecnologia para reduzir o trabalho da dona de casa. A

televisão foi, pouco a pouco, seduzindo todos os integrantes da família e se tornando

praticamente um membro dela.

O receptor percebe a mensagem de tevê como algo de “natural” no interior de sua casa. Caem as eventuais barreiras aos fenômenos de projeção e identificação, desde que a mensagem atenda às características de <<naturalidade>> do veículo. Este finge ser o olho da família assestado para a espontaneidade dos acontecimentos do mundo, escondendo a sua condição de olhar hipnótico e imobilizador do sistema. A astúcia semiótica do vídeo consiste em adaptar o mundo à ótica familiar (SODRÉ, 1977, p.59).

O mundo foi mudando, nosso ritmo de vida também, e tudo isso era possível de ver

através da televisão. Viu-se, na década de 60, o exército tomar as ruas e anunciar os Atos

Inconstitucionais que assustaram toda nação, que passou a viver com medo e com poucas

alegrias. A televisão ajudava a transformar grandes fatos em fatos descomunais, como o

Tricampeonato do Brasil na Copa do Mundo de futebol em 1970, quando através do correio

aéreo eram trazidos os rolos gravados no México, possibilitando ver as imagens que

proporcionaram amplificada alegria à nação, em um dos momentos mais difíceis da sua

história, a ditadura militar brasileira, que criara e controlava o mecanismo da censura para

controlar o que a nação poderia assistir ou não. Nesse momento histórico, a televisão servia de

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arma para informar e, assim, saber o que poderia ser feito contra o sistema opressor. Mas o

poder da ditadura logo se pôs à frente das emissoras e trazendo com ela uma censura mais

agressiva e cada dia mais violenta.

Tínhamos funcionários para acompanhar o assunto, mas na maioria das vezes eu e o Borjalo tínhamos de enfrentar o problema para encontrar uma solução. Íamos a Brasília com freqüência com esse objetivo. Eram negociações duras e desgastantes. Foi um período amargo (apud SILVA JUNIOR, 2001, p.50).

Eles censuravam, nem sempre com critérios plausíveis de compreensão, o que ia ao ar

em toda programação e qualquer programa que pudesse trazer algum tipo de “perigo” ao

sistema governante era severamente punido, isto é, os produtores desses programas poderiam

sofrer represálias que poderiam até fazer as listas de possíveis terroristas aumentarem. Foram

tempos conturbados sem dúvida e isso acabou se refletindo na qualidade da programação da

TV brasileira. Tudo estava cercado, os jornais colocavam receitas de bolos para suprir as

lacunas criadas pela censura, os músicos compunham letras com uma ambigüidade quase que

subliminar para tentar burlar a censura e muitos desses casos viraram clássicos da Música

Popular Brasileira. Na televisão foram os programas estrangeiros, as séries “enlatadas”

americanas que surgiram na programação porque era colocado no ar apenas o que era

permitido, pois em 1966 o Departamento Federal de Segurança Pública decreta novas normas

de censura à TV, dados esses do site Tudo Sobre TV (2006). Houve o caso clássico da

telenovela “Roque Santeiro”, que só foi ao ar anos após a anistia. A perseguição ocorria em

todas as emissoras, isso não era exceção na Rede Globo, que foi criada nos idos da década de

60, em plena ditadura e podemos conferir isso nesse depoimento de Dias Gomes:

A Rede Globo sempre me defendeu nos episódios de censura e isso tenho de reconhecer. Até mesmo quando foi pedida a minha cabeça, na ocasião de suspensão de Roque Santeiro, a Globo não cedeu. Pelo contrário, prestigiou-me. Não posso provar, mas nessa ocasião falou-se que havia uma lista de comunistas e pseudocomunistas – porque eram tidos como tais – que deveriam ser expurgados da Globo, segundo solicitação do governo. Mas nenhum foi demitido, essa é a verdade (apud SILVA JUNIOR, 2001, p.92).

Muitos outros autores também sofriam com a censura, que sem nenhuma explicação

prévia simplesmente cancelava a produção inteira. Em alguns casos, o programa já estava

sendo gravado e mesmo assim o seu fim era decretado.

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Lembro-me de que a novela Selva de Pedra a censura era permanente em relação a comportamento. Infidelidade era uma coisa que não podia haver na relação das personagens e a questão sexual deveria ser tratada com discrição, sem entrar na discussão que ocorria na época (SILVA JUNIOR, 2001, p.330).

Por outro lado, a par de toda a rígida censura, existiam alguns programas ou

produtores que – próximos à ditadura – tinham as portas abertas para suas produções. Um

caso muito interessante e extremamente relevante para essa pesquisa é o programa “Amaral

Netto, o Repórter”, que pode ser considerado o primeiro programa ambiental da televisão

brasileira. O protagonista desse programa, o próprio Amaral, era deputado da Aliança

Renovadora Nacional (ARENA), partido que apoiava o golpe militar. Seu programa tinha

como ênfase mostrar as maravilhas desconhecidas do nosso país com esplendor e

grandiosidade. Ele queria ser conhecido como um herói que estava desbravando com muita

coragem os perigos que havia nesse mundo desconhecido da “natureza”. Andrade (2003) cita

que “o programa [...] se utilizava de recursos do exército [...], como helicópteros e aviões da

FAB (Força Área Brasileira), para enaltecer ainda mais o tipo de espetáculo que exibia na

televisão”.

Um claro exemplo da padronização de propósito na produção do programa é a

adjetivação típica usada para dar ênfase emocional ao fenômeno da Pororoca, chamada por

Amaral Neto de “monstro das mil faces”, ao descrever o encontro do rio Amazonas com o

mar. Andrade (2003) considera praticamente iguais a postura e as tomadas áreas que foram

feitas para filmar tanto a Pororoca como a feita no Atol das Rocas.

Assim como aconteceu com o monstro das mil faces, há abordagens sobre o Atol em tomada área (para variar, um avião da FAB), de forma que se salienta sua geografia quase que circular, sua cor azulada e as piscinas naturais que se formam ao redor dos platôs (ANDRADE, 2003, p.111).

Apesar de tudo, o programa “Amaral Netto, o Repórter” foi de suma importância

ambiental, pois após alguns programas o governo tomava atitude em relação ao meio

ambiente “ano seguinte à realização do filme, o Atol das Rocas se tornou a primeira Reserva

Biológica Marinha do país [...]” (ANDRADE, 2003, p.111).

Algo novo e moderno que há um tempo poderia ser censurado era motivo de comoção

no povo brasileiro quando a sua exibição era possível e assim todos começaram a aproveitar

essa liberdade, inclusive os produtores de televisão. O brasileiro ainda era observado, mas

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agora o medo ia ficando cada vez menor e o governo se contentava com uma mensagem antes

da exibição de cada programa dizendo que era para certas idades e que tal programa havia

sido aprovado pela censura.

Deixando de lado a situação política nacional de então, resta-nos constatar que a

televisão, que começou com um formato importado e para não sofrer tantas restrições, iniciou

a introdução de novos programas com destaque para a telenovela, vinda de fora no início, mas

que – mesmo assumindo muitos desafios – começou a ser produzida aqui mesmo no Brasil.

Esse formato, a telenovela, acabou sendo o principal programa da televisão brasileira e hoje

em dia, tornou-se um produto de exportação. É um programa de popularização fácil e rápida,

pois reflete histórias comuns e cotidianas que podem ser a de qualquer um. Atua lmente a

novela dita valores, regras e até moda. Tem tratado de modo paternalista e simplório temas

polêmicos, tabus e beneficentes. No final de 2006 – usando uma tática que se pode chamar de

“realismo de espelho”1 – começou na Rede Globo a novela “Páginas da Vida”, que no

encerramento de cada episódio trazia depoimentos reais, fortalecendo ainda mais esse vínculo

de “espelho interativo” com o telespectador.

Os hábitos costumam mudar com velocidade cada vez maior, transformando nossas

vidas com um ritmo tão rápido que quase não se percebe as mudanças. A própria experiência

pessoal do autor do presente trabalho permite constatar que muitas crianças têm como

companhia a televisão. Nas décadas de 80 e 90, tendo os jovens e as crianças essa companhia

em todas as horas, acabam até mesmo “interagindo” com ela. A televisão, nesses casos, já não

é mais uma exclusividade das salas das famílias. O filho mais velho já tinha um pequeno

aparelho no quarto e a filha caçula, com ciúme, sabia o que pedir de Natal para os pais. E

dessa maneira o número de audiência cada vez aumenta mais e cada emissora batalha em

busca da liderança de televisores ligados em seu canal.

De fato, após “formar” as crianças, ela continua formando, ou pelo menos influenciando, os adultos mediante a “informação”. Em primeiro lugar, mantendo-os informados, mais por meio de notícias do que mediante noções, isto é, informando a respeito do que acontece no mundo, tanto próximo como distante (SARTORI, 2001, p.49).

Pouco a pouco uma emissora começou a se destacar e atingir níveis nunca dantes

alcançados por nenhum canal de televisão brasileiro. Quando a Rede Globo de Televisão

alcançou o patamar de líder, com o maior número de televisores ligados em sua programação,

desse lugar ela nunca mais saiu e continua assim até hoje. A disputa agora fica por conta do

1 Onde o telespectador consegue ver seu reflexo de maneira metafórica na televisão, se reconhece.

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segundo lugar, porque a Rede Globo parece ser imbatível. Detêm os direitos de programas

que transmite com exclusividade, dos maiores espetáculos aos mais importantes eventos

esportivos. E mesmo quando não é a única a transmitir, é a que oferece a melhor qualidade

técnica. Com isso, a Globo consegue, como nenhuma outra emissora de TV, manter a

fidelidade de seus espectadores.

Esse, em suma, era o segredo: segurar a audiência. A Globo começava a oferecer uma programação consistente que pedia fidelidade ao seu espectador e, em troca, o respeitava por isso (DANIEL FILHO, 2001, p.35).

Além do crescente aumento na qualidade de produção da Globo, com o surgimento

cada vez mais rápido de novas tecnologias, foram baixando os preços dos televisores,

permitindo assim transmissões para um público cada vez mais amplo e diversificado. Os

tamanhos dos monitores variam enormemente e existem pessoas que colocam a TV em seus

quartos, para terem mais privacidade durante a exibição de seus programas prediletos. E com

a gama de canais abertos e por assinatura cada vez maior, criou-se uma independência de

programação. De tal modo que, se o mentor da família mudar de canal pode-se ir para o

quarto, cozinha ou outra dependência da casa e assistir o que quiser. Já existem casos

conhecidos de pessoas com televisores dentro do seu próprio banheiro.

Mais uma vez constatamos que a TV como evento social não existe mais, isto é, na

década de 70 era comum famílias inteiras se reunirem na frente da telinha para assistirem ao

programa escolhido pelos pais, igualzinho no início do rádio. Nos dias de hoje está ocorrendo,

principalmente nas classes médias, mas também entre os mais humildes, um distanciamento

familiar. Ao assistir televisão, isolado em seu lugar, acaba-se perdendo um pouco do contato

com os outros familiares. Embora isso não seja raro, deve-se, entretanto, levar em conta que a

maior ou menor freqüência desse isolamento depende do poder financeiro de cada família. A

televisão está tornando um único cômodo de casa – o quarto – em uma espécie de “residência

independente”, para onde se trazem até as refeições para não se perder um programa.

Nos dias de hoje, a TV por assinatura, via satélite ou a cabo é a grande responsável

pela enorme quantidade de canais que se têm disponível. Importando canais, que nem

imaginávamos existir, possuímos uma vasta opção de escolha, embora essa alta quantidade

não deva ser confundida com qualidade. Mas mesmo quando a TV aberta ou a cabo não chega

naquela pequena cidade esquecida no sertão do Brasil, pequenas antenas recebem sina is via

satélites e ninguém mais fica afastado e pode, com seu controle remoto, “zappear”

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tranquilamente no fim do mundo em que está e assistir ao seu programa preferido de

televisão.

Se os espectadores de televisão recebem atualmente mais mensagens televisivas, também variam as formas pelas quais se relacionam com elas, desde as maneiras como as selecionam até os modos como compõem autonomamente suas próprias fichas de programação ou desenham seus ritmos pessoais de recepção televisiva, agora muito mais impactados pelas possibilidades de zapping (BARBERO, 2004, p.67).

A “janelinha” agora está acessível a toda população. As classes sociais mais baixas

fazem crediários que possibilitam a compra desse aparelho com muito acréscimo, mas que

não pode faltar na mansão, casebre, cabana, maloca ou casa. Talvez saneamento básico, água

potável possam não existir, porém energia elétrica por meio de “gatos”, isto é, ligações

improvisadas e ilegais, possibilitam o acesso à programação da TV aberta do nosso país.

Além disso, improvisações ilegais chamadas de “gatos” podem permitir o acesso grátis à

televisão paga.

O novo passo agora é a HDTV (High Definition Television), que trará uma imagem

muitas vezes melhor do que a do padrão atual, o SDTV (Standard Definition Television).

Também estamos em direção de outra inovação esperada pelos dirigentes e estudiosos da

comunicação em nosso país, que é a interação com o meio. Essas tecnologias já estão em

funcionamento em outros países. Existem 3 (três) sistemas de HDTV: o europeu, o americano

e o japonês. O Brasil, após intermináveis discussões, escolheu o padrão japonês. Porém, os

engenheiros brasileiros querem adaptar esse padrão, atrasando assim em mais alguns anos a

implantação do sistema HD em nosso país. As emissoras já se preparam para a transição,

mesmo havendo algumas indefinições técnicas e políticas. As empresas de eletrodomésticos

também começam a se preparar para adaptar o sinal com o Set top Box, uma caixa que

converte os sinais, para no início assistirmos em nossos televisores padrões o conteúdo da

HDTV. Teremos a possibilidade de escolher a nossa grade de programação, isso possibilita

assistirmos o programa escolhido no horário que desejarmos.

A televisão se tornará praticamente um computador “plugado” na rede mundial de

computadores (WEB), onde poderemos interagir, isto é, fazer compras, manipular a ação de

alguns programas e, se o programa tiver várias opções de narrativa, poderemos escolher o

final da trama. O receptor (telespectador) irá provar que não será mais passivo e tomará

atitudes que construirão a mensagem da maneira que ele escolher. Marcondes Filho, em 1994,

já nos falou dessa capacidade do receptor de interagir e de não ser mais uma esponja de

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informações, antes mesmo de se falar em HDTV. A nova tecnologia já conhecida só reforça

as afirmações de Marcondes, feitas há mais de 12 (doze) anos, que praticamente previu a

interação dos dois meios: a TV e o computador, em um só, permitindo um receptor ativo

interagindo com ele.

Estamos diante, portanto, do fim do receptor passivo, o fim da não reciprocidade na comunicação, diante de uma nova maneira de se ver a televisão, agora num mundo em que ela se coloca no plural, marcado por uma diversidade até então desconhecida de opções e pelo desaparecimento da grande tevê que informa tudo a todos (MARCONDES, C., 1998, p.36).

Por outro lado, a par dessa tecnologia, é em outro campo, o da criatividade, que

constatamos, na produção de um programa de televisão atual, a facilidade da utilização da

“realidade falsa”, isto é, podemos recriar uma realidade dentro de um estúdio. Os professores

de cursos de televisão ensinam aos alunos que a vantagem de se trabalhar em um estúdio de

TV é que apenas irá chover no momento que escolherem, que teremos o sol das 10 (dez)

horas da manhã no momento que quisermos. Com o recurso do Chroma Key podemos levar o

nosso ator de Paris a Manaus em fração de segundos, ainda há o recurso da computação

gráfica 3D (Terceira Dimensão) que possibilita recriar a história do mundo no nosso televisor,

ver, por exemplo, os primeiros inventos aéreos de Alberto Santos Dumont. Com a utilização

das melhorias da tecnologia, os recursos de criação e produção, o telespectador fica cada vez

mais espantado com o que vê em seu aparelho e começa a não saber o que é real e o que não é.

A televisão deixa de ser um aparelho que se tem dentro de casa para assistir-se aos mundos fabricados em estúdio, para passar a contar com uma participação maior do receptor, primeiramente através do controle remoto, mas também através de um acesso muito maior à diversidade de fontes emissoras e de uma nova relação de tudo isso com o mundo múltiplo da eletrônica (MARCONDES FILHO, 1988, p.36).

O inegável poder de manipulação da televisão é algo relevante e que pode mudar

vários valores sociais daqueles que consomem seus programas. Por exemplo, um programa

ecológico pode ser recriado em um estúdio, porém com certeza a intenção desses programas é

mostrar a real natureza e, principalmente, o que está acontecendo de verdade, isto é, retratar a

poluição, o desmatamento, a falta de água, entre outros assuntos de suma importância para o

ser humano. O espectador (receptor) pode ser confundido através da tecnologia, por isso

precisa acreditar nas fontes de informação que busca. E novamente, nos dias de hoje, a

televisão serve de arma contra os abusos do homem e aliada da Ecologia.

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No plano social mais amplo, a manipulação pode ser feita por complexos sistemas que legitimam qualquer visão deturpadora, sistemas instituídos que, pelas suas próprias formas sociais, emanam uma aparência de verdade: são os meios de comunicação, os livros de divulgação científica, a ciência, as conferências e palestras. Diante desses mecanismos, os não-familiarizados com o assunto, os iniciantes, os desinformados, podem ser facilmente manipulados (MARCONDES FILHO, 1998, p.90).

Formadora de opinião e criadora de valores sociais, a contribuição social da

televisão também está na possibilidade de entreter um povo sofrido atrás de diversão ou

informar sobre assuntos relevantes que podem contribuir para a melhoria de uma comunidade,

alertar sobre o trânsito ou, ainda, educar a população, cobrindo lacunas deixadas pelas

escolas. Elas, por falta de conteúdo e ausência de auxílio do governo, não transmitem

conhecimento adequado aos cidadãos e especialmente aos analfabetos, que muitas vezes não

têm tempo de se locomover até a uma unidade de ensino, porém consegue obter em um

programa de TV, informações que podem melhorar sua qualidade de vida. Esse meio é

totalmente persuasivo e um programa bem produzido pode contribuir com a sociedade

auxiliando nos pontos básicos da condição humana e não apenas manipular para um falso

mundo de pseudo-alegrias, como infelizmente ocorre frequentemente nas emissoras

comerciais, onde o lema é “tudo pelo maior IBOPE”. O conteúdo da programação em muitas

vezes, ou melhor, na maioria das vezes não importa, os produtores precisam vender os

programas, os espaços dentro dos programas, porque se conseguirem um bom número de

telespectadores, os patrocinadores tornam esse programa lucrativo para a emissora e assim ele

pode se manter no ar por mais tempo.

É extremamente complicado para os programas educativos permanecer no ar por

muito tempo. Entretanto, muitos sabem da necessidade de se informar e ligam a TV em busca

de notícias e de conteúdo para o seu próprio bem, por isso uma pesquisa de qualificação de

hábitos e expectativas do espectador por horários seria de extrema importância para quem

deseja produzir algum programa de televisão.

Em suma, podemos dizer que a televisão já se tornou uma companheira para os bons

e maus momentos. Podemos usá- la como uma mera distração ou também com um auxiliador,

uma amiga que nos avisa que podemos aprender mais do que sabemos. Em muitos casos,

apenas o barulhinho desse aparelho traz um alívio para quem está sozinho sem nada o que

fazer em casa. Podemos nem estar prestando atenção ou até mesmo longe da TV, porém se

alguém a desliga ficamos imediatamente incomodados com medo da solidão.

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Os conteúdos exibidos nos programas geram discussões, pois se acredita que a

qualidade do que é exibido está cada vez mais baixa e o que se mostra atualmente é pura

banalidade. Mas a televisão é apenas um produto do meio social e apenas reproduz esse

ambiente em que se insere.

Dizer que na televisão só existe banalidade é um duplo equívoco. Em primeiro lugar, há o erro de considerar que as coisas são muito diferentes fora da televisão. O fenômeno da banalização é resultado de uma apropriação industrial da cultura e pode ser hoje estendido a toda e qualquer forma de produção intelectual do homem (MACHADO, A., 2003, p.9).

No Brasil, seguindo os moldes de outras partes do mundo, existem instituições que

procuram controlar ou até mesmo repreender conteúdos que podem vir a prejudicar ou

ofender quem está assistindo. Muitos podem interpretar isso como uma forma de censura,

igual a que já foi citada nesse mesmo capítulo, porém a vasta gama de opções de canais a

serem assistidos dificulta o controle de qualidade dos mesmos e assim precisamos que outras

instituições busquem informações que possam vir a prejudicar alguém. Claro, temos que

cobrar o bom senso de quem vigia esse conteúdo e também temos que acreditar que esse

mesmo bom senso aparece no telespectador para controlar o que ele e seus filhos vêem, pois o

controle remoto está sempre à mão e, se algo os incomoda, podem simplesmente mudar de

canal. Se o filho corre para o quarto para ligar a TV em algo que se acabou de proibir, cabe

aos pais dialogar com eles e tentar explicar o porquê dessa proibição. Em casos extremos

existem até bloqueadores de canais.

Seguindo o exemplo da Internet, está cada vez mais difícil controlar o conteúdo para

os filhos. Na HDTV, o desafio será o mesmo, pois a grade de programação estará sempre

sujeita a alteração pelo próprio telespectador. Contamos com a Constituição e com a decência

dos produtores e donos de emissoras para usarem algo que tem faltado em muitos programas,

a Ética. Há quem não saiba ou finja não saber o que seja Ética. Para estes existem instituições

e pessoas que os ajudarão a saber. O deputado Orlando Fantazzini, por exemplo, que criou

uma cartilha sobre ética na televisão e a distribui gratuitamente para quem quiser, define:

Os meios de comunicação devem ter a responsabilidade de produzir programas pautados por parâmetros éticos com informação pluralista e educacional, em defesa de valores e da cultura nacional e regional, além de estimular produções independentes (FANTAZZINI, 2004, p.32).

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Em relação ao conteúdo, problemas na inclusão digital e muitos outros problemas

que ocorrem em todos os meios de comunicação, foi criado um fórum de discussão que visa à

pesquisa e possíveis soluções: o FNDC (Fórum Nacional pela Democratização da

Comunicação). “Criado em julho de 1991 como movimento social e transformando-se em

entidade em 20 de agosto 1995, o Fórum congrega entidades da sociedade civil para enfrentar

os problemas da área das comunicações no País” (FDNC, 2006, on-line).

Por todos estes aspectos aqui levantados, podemos dizer que o papel social da

televisão muitas vezes acaba se tornando algo supérfluo e não bem aproveitado. Contamos

sempre com a possibilidade de informar e educar desse meio, para o bem geral da sociedade.

A televisão é um eletrodoméstico, sim, porém depende de quem faz sua programação e de

quem escolhe o que vai assistir. Creio que deveria ser objetivo de todos fazer com que esse

aparelho transmita algo mais do que simplesmente imagens. “A televisão é uma técnica, um

eletrodoméstico, em busca de necessidades que a legitimem socialmente” (SODRE, 1977,

p.14). Ou, como disse Bezzerra (1999, p.23), reportando-se à Lei:

Podemos entender como papel social da TV o cumprimento daquilo que estabelece a Constituição brasileira em seu artigo 221 ao regulamentar os serviços de radiodifusão: “[...] preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas”, nessa ordem.

2. Compromisso social de Ecologia

No atual conturbado mundo em que vivemos é preciso se preocupar com um número

incomensurável de atividades que possam vir a prejudicar ou melhorar a nossa vida. Tem-se

que ficar atento se a inflação nos permitirá comprar determinado bem, para o qual, com muito

esforço se juntou dinheiro para adquirir. É necessário trancafiar-se em casa, devido à escalada

de violência que assola as grandes metrópoles. Somos obrigados a agüentar certas pessoas que

só visam prejudicar e superar tudo isso apenas para continuar em um estafante e mal

remunerado emprego, que é a única alt ernativa para levar comida ao prato de nossos filhos.

Claro, o mundo não é só essa desgraça, mas é essa a ambientação do homem urbano

atual, ao qual se destina o presente estudo, que visa tão somente expor, analisar e

compreender, enfim, dar uma modesta contribuição sobre um problema que assola há muito

tempo este planeta; a interação do ser humano com seu ambiente.

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Aproveitando esta primeira referência para elucidar o significado da palavra ambiente,

que será usada muitas vezes nesta pesquisa. Para tanto, a colocação a seguir do texto de Assis

visa evitar uma redundância frequentemente usada por muitos autores.

A palavra ambiente indica a esfera, o círculo, o âmbito que nos cerca, em que vivemos. Em certo sentido, portanto, nela já se contém o sentido da palavra meio. Por isso, até se pode reconhecer que na expressão meio ambiente, se denota certa redundância (ASSIS, 2000, p.18).

Ainda neste campo de definições e, conforme o dicionário Aurélio, Ecologia significa:

“Estudo das relações entre os seres vivos e o meio onde vivem, e de suas recíprocas

influências” (FERREIRA, 2004, p.333). Portanto, tem-se na Ecologia uma ciência que estuda

todo ser vivo em relação ao seu habitat. Como o habitat do ser humano é todo o planeta,

nossa atenção deve focar as devastações que se tem feito na natureza, estudando o que pode

ser melhorado em relação à poluição, erosão, desmatamento, enfim, ao impacto ambiental

gerador de inúmeros problemas no ecossistema.

A preservação do ambiente não é mais uma utopia que apenas enxerga o que o homem

está fazendo com a natureza e o que poderia ser feito. Já sabemos de quem é a culpa e temos

algumas soluções. É algo concreto que já dá seus primeiros passos, mesmo dependendo de

onde serão dados esses passos. Já há educação ambiental, já podemos aprender na escola ou

encontrar alguma bibliografia sobre o tema, em bibliotecas das mais remotas cidades do país.

A preservação do ambiente está auxiliada, como já vimos acima, em nossa

Constituição, que assegura que se algo acontecer com a natureza isso poderá ser passível de

punição, seja ela financeira ou penal.

A definição legal de ambiente é fornecida pela lei nº.938 de 31 de agosto de 1981, como conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas, conceituando-o como bem incorpóreo. A Constituição Federal não o define, afirmando que se trata de um bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, apenas enumera os bens da União, no art. 20 (ASSIS, 2000, p.19).

É possível, então, averiguar que muito vem sendo feito em prol da prática da proteção

ambiental em nosso país e no mundo. São criadas cada vez mais entidades que visam auxiliar

o controle do ambiente, sejam elas estatais ou não-governamentais. O exemplo de

Organização Não-Governamental (ONG) mais conhecida é a Greenpeace, que faz protestos e

denúncias em toda parte do globo. Existem muitas ONG’s de âmbito mundial e regional,

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como o SOS Mata Atlântica, que procura salvar o pouco que resta desse tipo de mata no país,

principalmente no Estado de São Paulo.

O ser humano está cada vez mais consciente da necessidade de preservação da

natureza, tornando realidade essa consciência ecológica. Quanto mais cedo conseguirmos

embutir isso na mentalidade das pessoas, mais forte será essa consciência e assim poderemos

contar com um maior número de agentes propagadores de informações de cunho ambiental.

A “consciência ecológica” seria, pois o resultado de esforços combinados, desde os efetuados por lideranças científicas nos diversos campos da investigação aos setores técnicos da aplicação de conhecimentos, aos quadros de decisão política e ao contexto social, indiscriminadamente (LAGO, 1991, p.26).

A sociedade científica participa com afinco dessa jornada ambiental procurando

ilustrar para o mundo dados empíricos sobre a degradação ambiental e no impacto social que

isso acarreta no mundo. Nos grandes centros urbanos, os debates científicos em torno do

ambiente aumentam cada dia mais, pois o impacto ambiental é sentido com maior amplitude.

A Educação Ambiental é o porta-voz do ambiente, havendo similaridade com a questão da estratégia metodológica da resolução de problemas ambientais, locais pelo enfoque das atividades fim ou do tema gerador de Educação Ambiental: enquanto a abordagem do Grupo de Interesse está relacionada à resolução de problemas como atividade fim, o novo Movimento Social e Movimento Histórico convergem para a solução de problemas ambientalistas como um tema gerador (CAMPOS, 2004, p.14).

Como retrato da gravidade da situação ecológica, é preciso salientar que nossas

reservas de água, ou estão desaparecendo com a escassez de chuva, ou simplesmente já estão

poluídas. No caso da cidade de São Paulo, já estamos trazendo água de outros municípios,

pois o complexo Cantareira e a Represa de Guarapiranga não comportam mais a necessidade

de água potável da população. Destaque maior para a Guarapiranga que está inserida no meio

da cidade de São Paulo e a cada dia que passa os problemas apenas aumentam. As ONGs

atuam firmemente para amenizar esses impactos e, se elas nada fizessem, talvez nem água nas

nossas torneiras teríamos. Em reportagem ao Jornal Hoje de 14 de novembro de 2006, a Rede

Globo anunciou que para tornar a água da represa de Guarapiranga potável, está sendo usado

30% (trinta por cento) mais agentes químicos do que na década de 70. Outro dado alarmante

exibido na reportagem é que todos os braços da represa estão poluídos. O problema da

Guarapiranga não é recente, como podemos conferir no site da ONG SOS Guarapiranga, onde

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dizem que: “os primeiros alertas para a degradação da qualidade da água e da região da Bacia

foram feitos em 1954” (site SOS Guarapiranga).

De acordo com Buhler (apud EPSTEIN, 1991, p.40), as publicações científicas

possuem como principal atributo a função da linguagem descritiva, “A função descritiva,

também chamada de representação ou enunciativa, tem por finalidade sobretudo informar

sobre algo exterior, tanto falante quanto ouvinte”. No entanto as publicações, digamos assim

populares, se preocupam com o modo que essa notícia será veiculada, afinal, se usarmos

apenas a linguagem científica, os telespectadores podem mudar de canal e isso não faria o

programa se manter no ar ou pior, o cidadão não entende a informação e não a utiliza de uma

maneira útil para a educação ambiental. A linguagem nos programas de televisão ditos

ambientais é considerada uma linguagem poética, segundo Jakobson, “A função poética

coloca o centro de gravidade na própria configuração da mensagem e corresponde

aproximadamente à função estética dos signos [...]” (apud EPSTEIN, 1991, p.45).

Felizmente a educação ambiental é estendida a grandes entidades relacionadas à

cultura e à educação como a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação,

Ciência e a Cultura), que estabelece em suas diretrizes, em relação ao ambiente, cláusulas

para reforçar a necessidade da educação ambiental em um parâmetro mundial.

A UNESCO, 1980, estabeleceu a Educação Ambiental, junto com a participação popular, como um dos caminhos para a resolução dos problemas, construindo coletivamente estratégias e atividades para eliminá-los de forma a repercutirem na qualidade do meio ambiente (CAMPOS, 2004, p.13).

Até nas grandes corporações industriais, a temática do meio ambiente já é considerada

uma responsabilidade social. Devido a essa preocupação da sociedade, as empresas

começaram a divulgar em seus produtos, selos ou rótulos mostrando ao consumidor essa

atenção, nascendo assim uma espécie de Marketing Ambiental ou, como alguns autores

mencionam, o Marketing Verde. No Brasil, os casos mais relevantes e precursores foram os

selos de reciclável e os selos de não-poluente à camada de ozônio (CFC). Mas, no entanto,

existem empresas que se aproveitam desse marketing e na realidade não se adaptaram e não

demonstram nenhuma preocupação verdadeiramente ecológica. Por isso, cada vez mais

entidades são criadas, pelo governo ou não, para um combate a esse marketing enganoso que

continua prejudicando a natureza e ludibriando os consumidores. Foi criado até um selo ISO

para as grandes empresas em relação ao ambiente, que é o ISO 14000.

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As normas ISO 14000 – Gestão Ambiental foram inicialmente elaboradas visando o “manejo ambiental”, que significa “o que a organização faz para minimizar os efeitos nocivos ao ambiente causados pelas suas atividades” (ISO, 2000) (EMBRAPA, 2006, on-line).

Quando se fala de ambiente, portanto, não existe mais o olhar utópico. Alguns estudos

científicos apresentam teorias que parecem tiradas de livros de mitologia e, entretanto, são

pesquisas sérias, com dados comprovados pelo meio científico. Deve-se dar atenção, por

exemplo, para duas teorias que chegam a ser um tanto quanto românticas, porém muito

interessantes. Uma delas é aquela que “em 1979, o bioquímico James Lovelock lança, pela

Oxford University Press, um livro intitulado Gaia, em que sugere a hipótese da Terra como

um organismo vivo” (HOEFFEL, 1998, p.71) que sofre com as agressões, porém responde à

altura para poder se sustentar no Universo, ou seja, se nós acabamos com uma grande faixa de

mata de uma respectiva região, isso acarretará problemas no mundo inteiro. Um tanto quanto

semelhante é a Teoria do Caos, que enuncia que, se deslocarmos as asas de uma borboleta no

Brasil, de uma maneira diferente, isso pode trazer algum dia um tufão no Japão.

[...] uma ação realizada por você ou qualquer outra pessoa ou um animal hoje, trará uma resultado amanhã, este desconhecido. Nas primícias da década de 1960, o então meteorologista americano Edward lorenz descobriu que fenômenos aparentemente simples tinham um comportamento tão desordenado quanto à vida (BRASIL ESCOLA, 2006, on-line).

Essas duas teorias podem ser respostas de alguns cientistas modernos e poéticos ao

excesso de dados e análises que não atraem a atenção do senso comum, por isso criam estudos

inovadores e curiosos, que podem atrair a atenção de pessoas que não entendem e nem

procuram entender a linguagem científica.

Essa visão romântica da educação ambiental se assemelha ao formato dos programas

de televisão. Podemos incluir nesse meio os programas ditos ambientais. Se eles não usarem

uma linguagem mais informal, não conseguirão atrair a atenção do telespectador,

principalmente os do senso comum. Usar recursos na edição, como um BG (background) com

uma música bem calma e tranqüila, que remeta a pessoa para o meio da reportagem e que

sinta o que sofre a natureza com a degradação. Usar slow motion para ilustrar uma bela

paisagem, que se não formos capazes de salvar em poucos anos só existirá na memória e na

fita gravada. Esses são recursos que mexem com o sentimento, que têm um apelo emocional

muito grande, apenas como gancho para quem procura educação ambiental. Os roteiristas têm

que pegar informações científicas e transformar em algo fácil de absorver e que, ao mesmo

tempo, atraia bastante audiência e contribua para a preservação do ambiente.

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Desenvolver uma prática de educação ambiental fundamentada na perspectiva dos valores humanos é antes de tudo envolver o coração na ação, abrir-se para a intuição, “cultivar o amor e semear suas sementes em todos os corações”, como nos diz Sai Baba (1985), porque só há uma linguagem universal e essa linguagem é a do coração (HOEFFEL, 1998, p.76).

A sociedade já está comprometida com a natureza há muito tempo. De um lado, a

comunidade científica atua como importante agente nas descobertas de novas técnicas e meios

para descobrir maneiras de salvar o que ainda resta e, por sua vez, os jornalistas atuam como

facilitadores dessas informações, como uma espécie de intérpretes das informações

científicas, propagando essas informações ao homem comum. Caso essa tradução não

ocorresse, a realidade poderia ser outra.

O Brasil é um país de enormes maravilhas naturais. A Amazônia é o famoso pulmão

do mundo, que atualmente é o motivo de infindáveis discussões, mas sempre existem boatos e

suspeitas de que outros países querem se apossar da nossa imensa floresta amazônica.

Indiretamente isso já vem ocorrendo há mais de uma centena de anos, pois bioquímicos e

biólogos já entram na selva e levam em seus catálogos patentes que poderiam ser nossas. Se

fôssemos roteirizar as possibilidades de um programa com todas as riquezas naturais do nosso

país, o material televisivo a ser gravado não terminaria tão cedo. Tal programa seria difícil,

não só pela grandiosidade da natureza, como também pelas dificuldades técnicas. As reservas

onde ninguém tem acesso, as câmeras de vídeo entram com liberdade, o único que sofre é o

câmera e o produtor que precisam carregar equipamentos em lugares onde apenas os índios

passam, agüentam insetos que ainda não foram descobertos pelos cientistas, atolam os

veículos em lugares onde o trator só passa depois de muitas horas e o telefone celular ainda é

algo que se ouviu falar na “cidade grande”. Seria tão vasto e tão difícil esse programa, que se

inviabilizaria comercialmente, ou acabaria contendo apenas alguns minutos de belas imagens,

que nem sempre seriam bem interpretadas e até tornariam todo esse esforço da equipe de

gravação inútil. Ou seja; transformaria a Ecologia em um compromisso falso.

As opções a isso estão sendo dadas por vários meios. Cabe a nós procurarmos em

fontes confiáveis e torcer para autores como Vernier estarem errados quando escrevem algo

negativo, que podemos interpretar como caótico, no sentido de não existir mais soluções para

os problemas do ambiente: “nem as leis, nem a taxas obrigarão os cidadãos a respeitar o meio

ambiente se esse respeito, espontâneo, não lhes for inculcado pela educação” (VERNIER,

1994, p.25).

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Os protetores da natureza, chamados conservacionistas, são pessoas que exaltaram o nível de sentimento estético e de amor às realidades ambientais naturais. Colocam prioridades numa escala de valores onde as dominantes situam, nos níveis mais elevados, os atributos da natureza (LAGO, 1991, p.34).

A educação ambiental está se tornando algo natural e se fortalece cada vez mais

devido à disponibilidade de informação e de difusão da consciência ecológica e, a cada dia

que passa, fica mais acessível para quem quer buscar o conhecimento ambiental. Em todos os

meios de comunicação é possível obter informações que auxiliem nesse tipo de educação. No

presente estudo, o foco se volta para o meio televisivo, que funciona como um grandioso

agente multiplicador da preservação.

A preocupação ecológica é mesmo conseqüência do surgimento da “opinião

pública”. Do mesmo modo, cremos que não haveria essa opinião pública sem os meios de

comunicação, principalmente aqueles que difundem imagens. Sem estes meios, portanto, a

Ecologia estaria restrita aos círculos acadêmicos, ou intelectuais e a algumas pequenas

“tribos” conscientizadas.

Há emissoras que sempre focam tais aspectos ecológicos – (não importa se

corretamente ou não) – como o Geographic Channel e o Discovery Channel, principalmente.

No Brasil houve vários programas ditos ecológicos, desde o já citado “Amaral Netto, o

Repórter”, que tratava a natureza como algo inédito e espetacular, mas que foi fundamental

para nos apresentar o ambiente que ainda não considerávamos importante. Mas, com o passar

dos anos, a necessidade de produzir formatos mais focados na verdadeira Ecologia fez

aparecer programas corretos que ganharam espaço em vários canais, inclusive na poderosa

Rede Globo, da qual estudaremos o principal deles.

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CAPÍTULO II – AMBIENTE DE PRODUÇÃO

1. Contextualização ou ambiente de produção

Os moldes da televisão brasileira são importados. As câmeras, as antenas

retransmissoras, inclusive os próprios aparelhos eram, no início, todos vindos de países que já

dispunham dessa tecnologia. E como criar um programa de televisão se nada sabíamos

tecnicamente sobre esse meio? Alguns técnicos vieram de fora e mostraram o básico para os

novos profissionais, isto é, por onde poderiam começar. Porém dois técnicos tiveram a

oportunidade de conhecer melhor essa tecnologia antes das transmissões das primeiras

imagens em território tupiniquim em 1950.

Em 1948 Assis Chateaubriand, dono dos Diários Associados, cadeia e emissoras de rádio, viajou aos Estados Unidos para comprar equipamentos de televisão, acompanhado de Mários Alderghi e Jorge Edo, técnicos do rádio brasileiro, que iniciaram estágios na RCA (Radio Corporation of América) e na NBC, em Nova York, para aprenderem a utilizar esses equipamentos que chegariam ao Brasil dois anos depois (TUDO SOBRE TV, 2006, on-line).

Segundo Marshall McLuhan (1968, p.38), “meio quente é aquele que provoca um

único de nossos sentidos [...]”. Na época, como o rádio, as revistas e o teatro eram os

principais canais de entretenimento, os mais famosos locutores, atores desses veículos,

encabeçavam a lista dos protagonistas desse novo meio de comunicação. Vinham, portanto,

de um meio quente e ingressavam em um meio frio. Por isso, nem todos tiveram sucesso –

muitos pela aparência visual, não necessária no rádio, onde tudo era ao vivo, outros pela

incompatibilidade de mídia, pois a maneira de comunicar é totalmente diferente e muitos não

se adaptaram.

O rádio foi e ainda é um dos principais meios de comunicação de massa. Apesar do

presente estudo se tratar de uma análise de um produto da televisão, vale ressaltar aqui a

importância desse meio precursor, que muito auxiliou e continua contribuindo para a

propagação de informação, seja ela voltada ao jornalismo, ao esporte, à música ou ao puro

entretenimento que o rádio nos fornece até os dias de hoje.

Todo esse impacto do rádio como veículo de comunicação e este interesse político na sua utilização atestam somente o seu poder e a sua influencia.

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Em termos numéricos, para se ter uma idéia, é o veículo de comunicação mais presente nos lares brasileiros (FERRARETTO, 2001, p.17).

As emissoras ligavam as câmeras em certos horários e transmitiam um “formato” novo

de “assistir” o rádio. Tudo era uma grande adaptação e foi assim até que o processo de

encantamento do telespectador diminuiu e, cada vez mais, tendia a querer assistir algo

diferente em seu televisor.

Cedo ou tarde, começou-se perceber que a televisão tinha a sua própria linguagem,

diferente da do rádio. O rádio, por sua vez, começava a ficar cada vez mais acessível e

poderíamos levá-los, com auxílio de pilhas, para qualquer lugar onde o sinal chegasse,

enquanto a televisão estava em seu início e ainda era uma comoção, um espetáculo familiar

assistir a esse televisor na sala de visitas.

Cada vez mais as emissoras preparavam-se tecnologicamente para dominar esse novo

meio. Os equipamentos, importados ainda, iam se tornando menores. As câmeras de televisão

não gravavam, transmitiam a imagem diretamente para a antena de transmissão e, na sua parte

frontal, possuíam três tipos de lentes, duas das quais possibilitavam aproximar e distanciar a

imagem e a terceira, chamada de objetiva, que faria a vez de nossos olhos, tentava captar a

realidade, como se um ser humano estivesse observando a cena do ponto de vista da câmera.

Apesar das inovações, durante longo tempo, as câmeras pesavam muito. Quando o

cameraman queria fazer algum movimento de câmera, tinha que ter o auxílio de um

companheiro de estúdio para ajudar a empurrar o equipamento. Além disso, o mecanismo de

zoom era totalmente feito à mão.

A tecnologia, em constante evolução, sofreu uma verdadeira revolução com a criação

do videoteipe. A partir de então, era possível gravar os sinais emitidos pelas câmeras. Quando

surgiu, era também um artefato grande, com fitas enormes acompanhando o tamanho dos

equipamentos. Ficava acoplado à câmera, formando um conjunto chamado camcoder (câmera

recorder). O material gravado era posteriormente editado, isto é, ligava-se dois vídeos e unia-

se as melhores partes da gravação e só era colocado no ar o que interessava. Com isso, a TV

se aproximava do cinema, em relação à edição. Mas cada veículo fazia a edição com

tecnologias distintas. A do filme cinematográfico era feita na famosa moviola, uma mesa onde

se colocava uma cópia do filme, já revelado e em um processo totalmente manual se unia,

com uma fita adesiva especial, os melhores pedaços dos filmes. Esse processo de colagem

manual, também ocorria no videoteipe, porém era extremamente complicado.

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Nos primórdios da era do vídeo as edições eram feitas cortando fisicamente a fita e emendando as pontas de novo (os editores usavam microscópio, uma guilhotina de precisão e uma fita adesiva especial, de espessura mínima). Cada emenda levava cerca de dez minutos e a fita não era usada para gravar outro programa (WATTS, 1990, p.107).

Com a criação do videoteipe e a crescente diminuição do tamanho e peso das câmeras,

foi possível para o telespectador conhecer imagens externas ao estúdio. Tornou-se possível

gravar na rua, no sol, na chuva e posteriormente exibir essas imagens – editando-as se

necessário – no horário que fosse mais conveniente.

A edição de fitas (tape) é denominada edição linear, pois quando ela se inicia

obrigatoriamente tem-se que respeitar uma linha do tempo. É extremamente complicado

editar linearmente desde o início. Em um casamento, por exemplo, ao editar, tem-se que

começar pela entrada dos convidados no início da cerimônia e assim por diante. No decorrer

da edição, podem-se inserir algumas imagens em cima da trilha magnética, denominadas

inserts. Porém elas precisam ser muito bem planejadas e colocadas em cima apenas do trecho

do magnético que corresponde às imagens e não a trilha de áudio.

O VHS (Video Home System) foi outra revolução para o mercado de vídeos. Ele

possibilitou, por um preço não muito alto, que os consumidores adquirissem videoteipes para

uso pessoal. Surge então a edição caseira, totalmente linear, sem opção de selecionar a trilha

de áudio ou de imagem, por isso é muito comum exibir todas as falhas em nossas empreitadas

lineares caseiras. Mesmo na edição profissional, não eram raros os erros. A qualidade da

edição também era comprometida pela reutilização das fitas. Cada gravação é uma geração da

fita eletromagnética perdida e assim a fita vai perdendo qualidade. Embora já exista há

tempos a alternativa da edição não-linear, a edição linear ainda está presente em muitas

emissoras do país devido ao menor custo ou ao tempo disponível para editar, pois a vantagem

da linear é, ainda, a rapidez. Programas “ao vivo” são totalmente lineares, pois é impossível se

quebrar a linha do tempo da realidade, porém os mecanismos de recorte estão cada vez mais

modernos. Em entrevista a um periódico, o diretor de engenharia da Rede Globo de televisão

confirma o uso do analógico ainda em 2005.

Já a captação digital chegou à Globo em 1995, com a inauguração de seu novo centro de produção de teledramaturgia em Jacarepaguá, o Projac. Foi inaugurado já com um sistema completamente digital. Mais tarde começaram a trocar o sistema de captação do jornalismo, mas ainda restam alguns equipamentos analógicos (MERMELSTEIN; LAUTERJUNG, 2005, p.42).

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Em relação à edição e consequentemente à televisão, houve vários recursos que

facilitaram a vida dos montadores e possibilitaram uma infinidade de alternativas e recursos

que não seriam possíveis com a edição linear. O surgimento da gravação por método digital

entrou no mercado produzindo uma qualidade de imagem muitas vezes superior à analógica, o

método eletromagnético anterior. As fitas digitais gravam por blocos, armazenando as

informações de uma maneira muito mais compacta e precisa. Isso possibilita uma definição

muito maior na imagem e permite o recurso da edição não-linear. Nesta, transfere-se

digitalmente as imagens gravadas nas fitas para um computador, de onde se pode editar o

programa da maneira que for mais apropriada. Usando o mesmo exemplo do casamento, tem-

se agora a liberdade de iniciar a edição pelo seu final, pela festa, por exemplo, e

posteriormente trabalhar a parte do início, ou do meio da cerimônia, ou do final, sem perda de

qualidade e tempo, unindo tudo, compondo o trabalho final e, enfim, montando o vídeo.

O único empecilho que ainda faz emissoras como a Rede Globo e a Record usarem a

edição linear é o tempo utilizado no chamado processo de captura, que consiste em converter

a gravação digital da fita, para dados no nosso computador. O processo de captura dura o

tempo real da gravação, isto é, para se captar meia hora, despende-se o mesmo tempo para

transferir esses dados. No jornalismo, por exemplo, precisamos do mínimo de tempo possível

para levar ao ar a nossa matéria, pois se demorarmos muito, o concorrente passará à frente

roubando a credibilidade junto ao telespectador.

Já existem recursos que prometem acabar de vez com essa necessidade de edição

linear. Câmeras centenas de vezes mais leves do que as do início da televisão já gravam dados

digitais em um minicomputador ligado a elas, ou melhor, um disco rígido de informações

(HD), igual aos contidos em qualquer computador. Isso elimina de vez o uso da fita

magnética, possibilitando que, no caminho de volta para emissora, possa ser editada uma

matéria. Nos Estados Unidos e em grande parte dos países desenvolvidos já existe o

movimento tapeless, onde se pesquisam e discutem a vantagem e a mudança, que seria algo

radical nas emissoras e produtoras: o desuso das fitas. Em São Paulo, existem emissoras que

não priorizam o jornalismo e possuem todo seu material gravado em rede, isto é, o programa é

gravado e capturado e o editor simplesmente baixa em sua máquina as matérias que precisa,

edita e devolve para rede o programa já editado para ser colocado no ar no momento em que

for solicitado. Essa é a realidade da Rede TV e de outras emissoras existentes em São Paulo e

no Brasil2.

2 Informações obtidas em entrevista com editora não-linear da Rede TV, Alexandra Antonini, em junho de 2006.

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Além da redução do peso e da maior facilidade de manuseio dos equipamentos, a

rapidez da tecnologia torna comum as equipes responsáveis por gravações externas, as ENG’s

– Eletronic News Gathering – ficarem menores, compostas com cada vez menos técnicos. Na

televisão brasileira, muitas vezes o motorista do carro que leva a equipe até o local da

reportagem acaba por se tornar um dos técnicos de gravação. Para muitos, isso é bom, porém

para a maioria significa uma desvalorização da profissão.

O bom cameraman agora é aquele que tem paciência para estudar e pesquisar o

equipamento que será usado. Ele é obrigado a demonstrar conhecimento para provar aos

superiores que sua função ainda é necessária. O câmera agora precisa entender também de

fotografia, pois em muitos casos é apenas isso que ele precisa fazer. Na gravação de um show

de música, por exemplo, as câmeras têm seus lugares pré-definidos pelo diretor de fotografia,

seus ajustes de cor e luminosidade são feitos também pelo mesmo diretor para obter imagens

uniformes de todas as câmeras.

Outro exemplo de edição linear, que ainda possui uma boa garantia de permanência no

mercado, é o caso do profissional contratado para operar essas mesmas câmeras. Ele chega ao

local da gravação apenas 5 (cinco) minutos antes do evento iniciar, coloca um fone de ouvido

e conversa diretamente com o diretor de imagens, que é o responsável pela edição feita na

hora, ou seja, na mudança de câmera na hora do show. A conversa entre eles é sobre as

imagens a serem feitas, enquanto uma câmera está fazendo um close no cantor, o diretor de

imagem conversa com outro profissional para captar outro ângulo e, quando essa fotografia

acontecer, o diretor pode “cortar” para essa nova câmera e assim vai no decorrer do show.

Logo que termina o show, o câmera está liberado e seus serviços não são mais necessários.

Com o evento já todo gravado, será feita então uma edição não-linear, que possibilitará

corrigir possíveis erros de gravação. Na maioria das emissoras internacionais, existem

estúdios onde o modo de operar acima descrito é o padrão, ou seja, o câmera simplesmente

segue as ordens dos diretores e apenas “escoram” o equipamento. E até essa necessidade de

apoiar o equipamento também já se torna supérflua com o aparecimento de joysticks, que

controlam um tripé móvel onde está a câmera. Com isso, o diretor consegue locomover e

ajustar o equipamento estando distante dele. Longe de ser uma utopia, isso já é uma realidade

muito próxima das emissoras brasileiras.

É também importante dizer que nesses programas, quase que compostos

exclusivamente de tomadas externas e – ao contrário daqueles com tomadas em estúdio – o

câmera ainda define a fotografia, o controle de luz e o contraste das imagens, enquanto o

produtor, acompanhando o serviço de captação, pode dar algumas sugestões de imagens. A

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qualidade do material fica por conta do preparo do câmera e uma boa comunicação com o

produtor que o acompanha, esse, responsável por indicar a pauta que precisa de imagens,

como e o porquê de gravar as imagens que cumpram a função de chamar atenção da

audiência.

Finalmente, ao encerrar qualquer programa, usa-se o recurso da pós-produção. É por

meio deste processo que preenchemos nosso vídeo com caracteres, com trilhas musicais,

efeito gráfico e também a correção das imagens captadas com baixa qualidade pelo

cameraman. Mais uma vez, aí está um exemplo do porquê um profissional atualmente precisa

se esforçar mais do que antes.

O resultado de tudo isso é que o mercado de profissionais de televisão é cada vez mais

acirrado e fechado. Consequentemente, para se destacar nesse meio, é necessário uma enorme

dedicação e manter bons contatos para superar a dificuldade de entrar no meio televisivo.

Vale, a propósito, definir que o objetivo do presente estudo, neste capítulo, é deixar

claro que o processo de trabalho e a tecnologia existente, facilitando as gravações externas

com imagens obtidas em qualquer circunstância e com equipes de gravação reduzidas a um

mínimo de componentes, obrigatoriamente, depende da competência de suas ENG’s

(Eletronic News Gathering), nome dado às equipes de externas, como é o caso do programa

Globo Ecologia, que, em outra parte do presente, será focado.

A película de cinema possui um preenchimento de imagem muito superior a qualquer

tipo de formato digital. Porém, sua edição agora é totalmente digital. O processo é muito

semelhante, entretanto os custos são muito superiores aos do vídeo. Para fazer cinema, é

preciso um planejamento de gastos extremamente superior ao da televisão, o processo de

captação de imagem já se diferencia no momento da gravação, isto é, a câmera de cinema não

grava e sim filma, por isso a qualidade se diferencia do visto em nossos televisores. A captura

para o computador recebe a nomenclatura de telecine. A máquina que faz esse processo tem

10 (dez) vezes, ou mais, o tamanho de um computador simples de edição de vídeo. A edição

no cinema sempre foi não- linear e continua assim até os dias de hoje. No entanto, agora a

edição e a pós-produção são totalmente computadorizadas.

Considerando o predomínio atual da tecnologia digital no processo de filmagem, é inacreditável que a maioria dos filmes de Hollywood ainda seja gravada em película. O problema é que as câmeras HD não conseguem capturar a mesma faixa de luz que as câmeras tradicionais e os diretores reclamam que as imagens em HD ficam muito cristalinas e inflexíveis (CADE, 2006, on-line).

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As emissoras nacionais começaram a se organizar para uma produção personalizada de

programas. Os grandes responsáveis por isso foram Walter Clark e José Bonifácio, o Boni,

que criaram o Padrão Globo de Qualidade e um modelo tão eficiente de grade de

programação, que é copiado até os dias de hoje. Na Globo, a grade é montada com

antecedência e é possível saber quando o programa irá ao ar e quanto tempo requer sua

produção. Assim, a televisão funciona como uma linha de produção. A gravação de

programas não pode demorar tanto quanto a de um filme. Por isso existe a grade já montada e

é preciso respeitá- la para manter um padrão de qualidade e assim ganhar o respeito do

telespectador. As novelas, apesar de todo seu aparato tecnológico, são gravadas em núcleos,

em muitos casos, com mais de um diretor. Existe o diretor geral que coordena os núcleos e

assim temos muitas imagens gravadas ao mesmo tempo, agilizando a edição e pós-produção.

Os atores passam horas gravando cenas que só irão ao ar uma semana após essa captação e

assim segue o ritmo louco, porém organizado, de uma emissora de televisão.

O ritmo de produção dos diretores de programas de uma televisão chega a um grau tão

intenso que temos exemplos que beiram a tirania para impedir que o ritmo diminua e o

concorrente tenha chance de passar à frente. Citemos o exemplo de uma produtora de certo

programa humorístico, transmitido em um canal muito conhecido da mídia, e que era

veiculado apenas semanalmente na programação. Quando a audiência desse programa

começou a cair, o proprietário da emissora criou uma função de “vigia interno”. Todos os

funcionários eram vigiados e cronometrados em seus momentos de folga, como ir tomar um

café, ir ao banheiro ou simplesmente esticar as pernas. Entrevistando outros profissionais do

meio televisivo, descobrimos que esse exemplo não é tão incomum, pois a qualidade e o

respeito profissional muitas vezes ficam de lado para se conseguir exibir um programa no

horário previsto. A Ética, tão pedida na programação das televisões, às vezes é esquecida já

na primeira etapa da própria produção.

Esse ritmo feroz de produção é a realidade de muitas emissoras do país e do mundo.

Entretanto existem exceções, como é o caso das produções independentes. Algumas emissoras

abrem a sua grade para outros programas, que não são gravados internamente. Assim é

possível planejar melhor toda a sua grade e economizar profissionais para aquele horário.

Tudo visa ao lucro e a um melhor funcionamento do canal, como uma grande empresa.

Os programas independentes precisam apenas se adequar ao horário para o qual são

vendidos e ao tempo disponibilizado pela emissora. Com isso, abre-se a oportunidade de

produção para muitos que não conseguiram uma vaga em uma grande emissora. O foco do

programa independente geralmente é livre e diferente do usual.

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Outro recurso, este já mais utilizado pelas emissoras de TV por cabo, é o pitching,

uma espécie de concurso onde o canal oferece uma faixa de horário para a criação de um

programa para essa emissora. Cria-se um projeto de programa chamado “piloto” e,

semelhante ao meio acadêmico, existe uma banca que irá avaliar a idéia e analisar se ela

merece se tornar um programa da emissora. Essa é uma grande oportunidade para os

profissionais da área, pois a emissora, nesse caso, oferece os equipamentos ou financia o uso

externo de outros equipamentos para a produção desse programa.

Porém, sem exagero nenhum, pode-se dizer que existem muitas oportunidades de

divulgar uma produção gravada para o mundo todo. A sinergia das telecomunicações traz a

possibilidade de levar um vídeo, produzido em baixa qualidade, para divulgação no mundo

inteiro, para quem puder visualizar essa informação. Câmeras cada vez mais baratas e de fácil

manuseio possibilitam essa realidade. Os telefones celulares possuem a função de discar ou

atender chamadas, apenas como mais um de vários acessórios que o aparelho possibilita.

Fazer vídeos com o celular não é uma novidade, porém a qualidade de gravação ainda é muito

baixa. Sabemos, entretanto, que isso é questão de tempo. A recepção de imagens das

emissoras por aparelhos celulares já foi implantada no Brasil, mas ainda é um processo novo

e, como tudo que é novidade, é caro. Logo, poucas pessoas têm acesso a essa tecnologia.

O acesso à tecnologia é outra discussão que rende algumas dissertações sobre o

assunto. O “abismo digital” é uma realidade e seu crescimento segue desordenado. As

metrópoles estão preocupadas como será o sinal e a transmissão da HDTV, enquanto uma boa

porcentagem da população ainda nem tem acesso à internet.

Existem alternativas para quem quer produzir conteúdos visuais e não tem espaço na

mídia. A internet possibilita agora a distribuição de vídeos em qualquer formato para o mundo

inteiro por meio de sites para onde o usuário envia o vídeo a um endereço eletrônico pedido.

É o mesmo procedimento de um e-mail e o próprio site converte esse vídeo em um formato de

baixa qualidade, porém fácil de ser visualizado em qualquer parte do planeta. O exemplo mais

conhecido desse tipo de site é o You Tube.

Para se enquadrar em uma emissora, atualmente, é necessário aproveitar as

oportunidades ou conhecer algum contato interno que convença a alta cúpula da emissora a

colocar no ar a sua idéia ou simplesmente inserí- lo nesse meio tão conturbado, porém tão

desejado, que é a televisão.

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2. Revisão bibliográfica

São feitas experiências genéticas em animais e pessoas, e pesquisas procuram

descobrir se isso trará benefícios a todos. Na prática, nem sempre há benefícios. Um bom

exemplo disso são os alimentos modificados geneticamente. Até os dias de hoje, não se

comprovou seus efeitos; os cientistas não chegam a um consenso para afirmar se essa

alteração pode vir a prejudicar a saúde do homem ou não. Porém, mesmo sem essa definição,

os alimentos modificados já estão nas prateleiras de qualquer mercado, sem avisos aos

consumidores. No caso do Brasil, esse tipo de alimento foi proibido por muitos anos, mas

devido à pressão externa de vários países, como os Estados Unidos, onde são liberados,

acabou sendo aceito com restrições à produção nacional desses alimentos.

Apesar de proibida a produção destes alimentos no Brasil, nada garante que o consumidor já não esteja comendo produtos transgênicos sem saber. Eles podem estar chegando a partir da importação de alimentos e matérias-primas de países como a Argentina e os Estados Unidos, que já cultivam e comercializam os transgênicos há alguns anos (CONSUMIDOR BRASIL, 2006, on-line).

Um dos recursos naturais mais retratados pela mídia é a água, que é essencial para a

sobrevivência de qualquer ser vivo. O homem está acabando com a água, seja reduzindo seu

volume ou a poluindo, tornando-a um recurso que não pode ser totalmente reutilizado. As

estações de tratamento da cidade de São Paulo, por exemplo, funcionam a passos muito lentos

e, mesmo com o uso de muitos produtos químicos, a água tratada do Rio Tietê oferece no

máximo 90% (noventa por cento) de oxigenação. Entidades governamentais e não-

governamentais surgiram em defesa do ambiente visando sua proteção, fundando então um

movimento ambientalista.

Nasce o movimento ambientalista, pugnando pela preservação do ambiente e combatendo todo gênero de poluição. Surge como oposição, como antítese, ao modelo econômico capitalista e consumista. Este jamais teve qualquer cuidado com o meio ambiente. Pelo contrário, incentivou o consumo crescente de bens como sendo um valor social e acelerou a produção, devorando recursos naturais e energéticos e lançando resíduos a esmo. O descartável é símbolo desse modelo. Daí o caráter radical de oposição do iniciante movimento ambientalista. A defesa do meio ambiente e o crescimento econômico são vistos como excedentes e inconciliáveis. A oposição entre capital e trabalho marcou o século XIX. A oposição entre crescimento econômico consumista e a defesa do meio ambiente marca a segunda metade do século XX (TAUK, 1995, p.15).

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Sendo uma relativamente nova área do conhecimento, a Ecologia tem a proposta de

estudar, com base científica, os meios para a preservação do ambiente. Nas universidades, a

Ecologia é uma carreira de trabalho que forma “ecólogos” com seriedade, retratando a

preocupação da sociedade com a natureza. São profissionais que lutam de uma maneira

coerente, com bases científicas e práticas, para desviar o planeta Terra do esgotamento dos

recursos naturais. Para isso, a bibliografia da disciplina trata o ser humano e os problemas que

ele causa, como simples partes da Ecologia: “Alterações prejudiciais ao ambiente, resultantes

das atividades humanas, acabaram por redundar a atual concepção “ecológica”, na qual o

homem não passa de um mero componente do ecossistema geográfico” (DREW, 1998, p.3).

Mas contemporaneamente o conceito de ecologia passou a ter enorme ampliação, deixando longe os horizontes biológicos para abranger aspectos legais, morais, socioeconômicos, políticos etc., caracterizando a multidisciplinaridade das relações que ocorrem em todo e qualquer ecossistema, entre seres bióticos e aspectos abióticos. A multiplicação de pesquisas, estudos, publicações sobre os temas da ecologia fixou diversos neologismos, marcando uma área de estudo que, além de interdisciplinar e, portanto muito diversificada, procurava definir balizas para seu desenvolvimento, com a urgência que a situação parecia exigir (PELLEGRINI FILHO, 1993, p.17-18).

No presente estudo, considera-se como uma arma poderosa para defesa do ambiente a

relação da Ecologia com a disciplina da Comunicação. Aproveita-se da comunicação, o poder

de persuasão através da linguagem e do discurso.

Independentemente das motivações daqueles que defendem a interdisciplinaridade, o fato é que esta se apresenta hoje, como uma oposição sistemática a um tipo tradicional de organização do saber, o que constitui um convite a lutar contra a multiplicação desordenada das especialidades e das linguagens particulares nas ciências (JAPIASSU, 1976, p.54).

No Brasil, essa interdisciplinaridade entre os meios de comunicação e o ambiente vem

crescendo gradativamente. Na televisão, em seus canais abertos, o número de programas que

tratam do ambiente aumentam. Cada vez mais, mesmo os que não possuem exclusivamente

essa temática ambiental, esporadicamente encontram espaço para exibir sua postura em

relação à natureza. Na TV por cabo a temática é um pouco maior. São criados e exibidos

programas, documentários com temas diversos, de todos os lugares do mundo, com foco na

preservação da natureza. Podemos citar, ainda, o cinema, jornal e a internet, onde ONGs

procuram informar os interessados na preservação da natureza, trazendo dados científicos que

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muitas vezes, mesmo com essa abrangência de assuntos voltados para o ambiente, não são

trazidos pela televisão aberta.

A televisão, a priori, não nos dá a possibilidade de interação. Ligamos o aparelho e

ficamos sentados perante o monitor passivamente aceitando o que nos é enviado. Pelo menos,

essa é a idéia de interação que muitas pessoas acreditam ser a verdadeira. Thompson nos

mostra que é possível interagir e assim nos manifestar contra algo que nos incomoda. O nosso

olhar é dirigido e é construído conforme os programas nos trazem a imagem. Podemos dizer

que eles direcionam o nosso olhar.

É óbvio que os receptores não detêm o completo controle do próprio campo de visão; eles não são livres ou nesta ou naquela direção e para focalizar diferentes indivíduos ou objetos como seriam nas situações face a face. O campo de visão é estruturado pelas organizações da mídia e pelos processos de filmagem, reportagem, edição e transmissão, etc., que constituem parte da atividade de rotina destas organizações (THOMPSON, 1995, p.132).

É inegável o poder de persuasão desse aparelho, por isso, um programa que visa à

Ecologia é de suma importância para uma propagação às pessoas interessadas em ajudar na

preservação do ambiente. A interação com algum programa dessa natureza fornece a

oportunidade de discutir informações úteis, para podermos fortalecer nossa consciência

ambiental e, com o surgimento da HDTV no Brasil, esse poder poderá ser amplificado.

Em um programa de televisão, ou qualquer produto visual produzido pelo homem,

criam-se referências para a nossa vida, muito semelhantes à função pedagógica das escolas.

Ao produzirem um texto para se comunicar, as pessoas utilizam a linguagem verbal e outros sistemas semióticos (como as imagens) com três funções básicas: construir o referente ou universo de discurso ou mundo do qual seu texto fala (função de mostração), estabelecer os vínculos socioculturais necessários para dirig ir-se ao seu interlocutor (função de interação) e distribuir os afetos positivos e negativos cuja hegemonia reconhece e/ou quer ver reconhecida (função de sedução) (PINTO, 2002, p.65).

A televisão está na era digital, tecnologia que já existe em grande parte do mundo,

com a tão discutida HDTV e que traz como grande novidade a possibilidade de interatividade,

permitindo ao telespectador dialogar com o aparelho, ou melhor, com as informações

veiculadas no momento em que foram transmitidas. Possibilitando escolher o tipo de formato

e o horário dos programas que se deseja assistir. Acreditamos que os programas ambientais

serão partes constituintes da futura grade de programação das emissoras de HDTV em nosso

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país e no mundo. Quando, então, a partir de um minúsculo telefone celular, por exemplo, será

possível assistir aos programas de qualquer lugar do planeta e, assim, de uma maneira mais

rápida propagar a consciência ambienta

Apesar dessa crescente tecnologia, o sistema de televisão brasileiro vem enfrentando

algumas crises financeiras, que produzem mudanças em donos de emissoras e, muitas vezes,

em sua programação. Assim, a Rede Globo tem visto seu império ser cada vez mais abalado.

A tendência do atual sistema brasileiro de televisão comercial é a de uma suave, mas consistente decadência, sujeita a tropeços mais ou menos graves, dada a importância que o elemento financeiro passou a adquirir no jogo competitivo, reduzindo sensivelmente o poder de barganha da Globo e de outros setores conhecidos da mídia (BRITTOS, 2005, p.25).

Os programas ditos ambientais ou ecológicos podem trazer informações que eduquem

a população ou o consumidor interessado e, assim, propagar em sua comunidade, de uma

maneira que todos entendam a notícia que foi captada. Com isso, se transformará em uma

espécie de “ativista midiático”, responsável pela divulgação de dados que sejam relevantes a

uma dada comunidade. Há tempos era muito comum essa atividade ser função dos livros

didáticos, mas nem todos são alfabetizados, portanto, coube a outro veículo a

responsabilidade pela divulgação dessas informações. A televisão trabalha com imagens e

sons, não havendo, portanto, necessidade de alfabetização para a total compreensão das

mensagens. Entretanto, nem toda a população tem acesso à tecnologia, ou nem mesmo sabem

como utilizá- la, ou simplesmente não possuem recursos financeiros para comprá- las. A TV,

assim como o rádio, foi responsável pelo processo de mudança da supremacia da linguagem

escrita, sobre a linguagem audiovisual.

Foi, sobretudo com a chegada dos mídiuns audiovisuais e o desenvolvimento da informática, que tomamos consciência desse papel crucial do mídium. Eles revolucionaram efetivamente a natureza dos textos e seu modo de consumo. Seu surgimento provocou uma ruptura com a civilização do livro, que trazia em si toda uma concepção do sentido. Revolução que teve também como efeito uma melhor conscientização da especificidade do oral e das modificações anteriormente introduzidas pela escrita e pela imprensa (MAINGUENEAU, 2001, p.72).

A tecnologia vem crescendo em todas as áreas e com a televisão não é diferente. O

modo em que se captam e editam imagens está cada vez mais moderno e simples. Podemos,

com uma câmera digital simples, gravar imagens, e com uma ilha de edição não-linear, que

pode ser um simples notebook, exportar a reportagem para a rede internacional de

computadores (internet) e divulgar o que queremos em qualquer lugar do globo terrestre que

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tenha a capacidade de ler esse arquivo, isto é, essa reportagem. Essa velocidade de produção e

divulgação está cada vez maior e mais simples de operar. Podemos descobrir facilmente na

internet manuais básicos de como se produzir uma reportagem.

Mas a mudança tecnológica produz sim conseqüências. Elas podem ser e certamente têm sido, profundas: mudam, tanto visível como invisivelmente, o mundo em que vivemos. A escrita, a imprensa, a telegrafia, o rádio, a telefonia, a televisão, a internet ofereceram, cada um, novas maneiras de administrar a informação e novas maneiras de comunicá-la; novas maneiras de fazer, transmitir e fixar significados (SILVERSTONE, 1999, p.47).

O acesso à televisão vem aumentando a cada dia, pois o valor dos equipamentos cai

bruscamente devido à pressão do consumo e à ação de muitos empreendedores, que visando

ao lucro criaram aparelhos acessíveis, embora com uma vida útil reduzida devido ao emprego

de materiais de segunda linha em sua produção.

A TV por cabo procura em sua amplitude de canais atender os desejos dos

telespectadores mais exigentes. A migração para o sistema de programação a cabo, algumas

vezes, chega a ultrapassar as marcas de audiência da TV aberta. O telespectador desse tipo de

televisão tem ainda a possibilidade de adquirir conteúdos exclusivos através do pagamento de

uma taxa-extra em sua mensalidade (pay per view) que o habilita a conteúdos vetados a quem

não quer pagar a mais.

Assistir à televisão em geral tem maior incidência entre famílias com crianças, entre pessoas mais velhas e entre mulheres. É menor entre espectadores mais bem educados e com renda maior. As famílias com o plano “básico” de TV a cabo vêem mais a televisão como um todo do que aquelas com a televisão vinda pelo ar, e aquelas com TV a cabo que assinam serviços extras ou premiuns vêem substancialmente ainda mais (STRAUBHAAR, 2004, p.109).

O Globo Ecologia, por veicular nos dois sistemas, tanto por TV Aberta quanto por

cabo, propicia um aspecto muito positivo, pois exibe suas mensagens e informações com

maior abrangência. Porém, se as imagens que constroem da Ecologia forem errôneas, essa

relevância como programa pedagógico pode estar sendo comprometida.

Se um programa não atinge um grande número de telespectadores, torna-se

comercialmente inviável e, por conseqüência, sem um porquê de ser veiculado. Dizemos no

meio técnico que se algum programa dá “traço” de audiência, isto é, o número de pessoas

assistindo ao programa é tão baixo que no registro do índice de audiência aparece como

“traço”, esse programa provavelmente terá vida curta, ou sofrerá drásticas transformações.

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O público é o objeto dessa indústria; a audiência, seu capital. É ele quem determina tudo. Em última instância. Tudo se explica pelas necessidades que têm o capital individual e o Estado de comunicar-se com o público, com as massas de eleitores e consumidores, e conquistar-lhes corações e mentes (BRITTOS, 2005, p.20).

A força pedagógica de um programa dito ambiental é de suma importância para a

sociedade, mesmo com seu tempo de produção reduzido, como é o caso do Globo Ecologia,

que devido à apertada grade da Rede Globo, tem o total de 20 (vinte) minutos, contando com

os comerciais.

Esse tempo de duração é um dos elementos que vai determinar a situação e as condições de seu uso, pois o vídeo de educação ambiental é parte de um processo educativo. Esse processo educativo é mais complexo, um universo maior do que o vídeo. É nesse universo maior que o uso do vídeo deve ser determinado, pois é só na situação educativa que ele pode adquirir seu significado mais pleno (SANTAELLA, 2002, p.68).

Os ecólogos buscam dados científicos para contribuir com informações que tragam

uma solução prática para a melhoria do ambiente. O cientista ambiental é obrigado a romper

paradigmas mais densos, pois, por ser uma ciência “nova”, a Ecologia busca cada vez mais

uma posição de aceitação e destaque no meio.

Pode-se conceituar ciência como um conjunto de enunciados acerca de um determinado objeto ou campo de pesquisa, ou conhecimento objetivo e sistematizado, caracterizado por uma investigação que progride sempre na tentativa de resolver problemas de interesse para o homem (NISKIER, 2001, p.23).

O programa de cunho ambiental funciona como apoio à educação falha do nosso país.

O analfabetismo ainda é uma realidade em muitas comunidades brasileiras, mesmo em

grandes metrópoles. O nível de repetência escolar é extremamente alto em nosso país. Não

cabe aqui discutir de quem é a culpa, porém vale lembrar que os recursos financeiros de cada

cidadão reflete seu grau de instrução. A televisão, no entanto, vem sendo cada vez mais usada

como um apoio à educação.

A educação tradicional é, portanto, inadequada e inaplicável a uma sociedade em transformação. A educação interdisciplinar ministra menos conteúdo e mais orientação para buscar o que sabe e como adquirir conhecimentos significativos (NISKIER, 2001, p.30).

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Produzir um roteiro teledidático não é apenas pegar livros e colar em um roteiro. É

preciso modificar as informações para gerar um roteiro televisivo que facilite a sua produção,

pelos técnicos e pela produção do programa. “Ao se utilizar a televisão, na formulação de uma

teledidática, esta estrutura deixa simplesmente de existir, sendo a comunicação mediada por

um veículo que possui suas especificidades” (NISKIER, 1985, p.44).

A interdisciplinaridade contribui para o aumento da consciência ecológica e, com isso,

dentro de algumas áreas de trabalho, o perfil do profissional pode mudar fazendo assim surgir

uma profissão mais focada e produzindo um especialista em dado assunto, como é o caso do

jornalista ambiental, um profissional que se utiliza dos recursos jornalísticos para veicular nos

meios de comunicação suas informações. “Uma das premissas do jornalismo ambiental é

perceber a realidade que nos cerca de um ângulo mais abrangente, privilegiando a qualidade

de vida do planeta e o planeta” (TRIGUEIRO, 2003, p.81).

Está, inclusive, surgindo uma nova profissão, a do “Comunicador Ambiental”,

responsável pela manutenção dos produtos midiáticos, que abordam a preservação do

ambiente como tema principal. Existem no Brasil exemplos de festivais, congressos e

encontros onde esses pesquisadores se reúnem para exibir seus vídeos, trocar informações

relevantes quanto à Ecologia; discutir e criticar o que está sendo feito de concreto em relação

à preservação ambiental pela comunidade científica e pelos meios de comunicação. O

“Comunicador Ambiental” é um profissional que conhece o poder dos meios de comunicação

e tenta produzir um produto eficaz na preservação da natureza, no Brasil e no mundo. Já

existem vários festivais com esse âmbito no país, mas dois deles se destacam: o ECOCINE

(Festival Nacional de Cinema e Vídeo Ambiental) e o FICA (Festival Internacional de

Cinema e Vídeo Ambiental).

Vale ressaltar que, em conformidade com o regulamento do III FICA, o conceito de cinema ambiental adotado aqui é bastante amplo, não se restringindo aos filmes ecologicamente engajados, mas também todos aqueles que tratam de temas que permitem uma leitura ambiental, seja na forma de documentário ou ficção, reportagens e séries para TV (LEÃO, 2001, p.7).

Falando especificamente sobre as várias vertentes de mídia, destacam-se duas como as

principais. A mais comum é a mídia massiva, onde o veículo não possui apenas um foco,

como é o caso do Jornal Nacional, programa de prestígio no meio jornalístico televisivo, onde

a informação não é dirigida para apenas um interesse e sim para a divulgação de várias

informações que a emissora julgue relevante. A outra vertente importante é a mídia

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especializada, aquela que concentra sua pesquisa e divulgação em apenas um foco de

informação, como, por exemplo, a revista Terra da Gente, onde predomina a temática do

homem no campo e seu convívio com a natureza, sendo uma publicação voltada para o

agricultor e em várias matérias divulga conteúdo ecológico, porém não tão abrangente.

É intrigante como no Brasil, país que detém a maior reserva mundial de água doce, a maior biodiversidade e a maior floresta tropical do planeta, haja tanta escassez na oferta de cursos de meio ambiente voltados para estudantes de Comunicação e jornalistas profissionais (TRIGUEIRO, 2003, p.84-85).

Ainda a propósito de vertentes de mídia, a televisão não deve ser considerada um

produto malígno. Não há necessidade de se levantar os braços e simplesmente acreditar que a

falta de qualidade prejudicará nossas ideologias, cabe aos interessados em aspectos

ambientais procurar uma ferramenta para interagir com os produtos e mostrar que não se trata

de apenas receber informação, mas sim de discutir o que é informado, induzindo assim uma

ética inata, independente da necessidade desse policiamento sobre a qualidade televisiva.

A televisão consiste em imagem e texto, texto e imagem. Não somente em imagem, como se diz às vezes, quando se trata de denunciar os efeitos de manipulação, sem a imagem e o texto em uma relação de solidariedade não poderíamos dizer qual das duas depende a estruturação do sentido (CHARAUDEAU, 2003, p.140, tradução nossa).

Em uma palestra Charaudeau explanou sobre a constante crítica à televisão, pois é

muito fácil fazer análises e críticas de conteúdo, mas se nada for feito para melhorar a

educação da pessoa que recebe essas informações, os estudos em relação à “máquina

mediática” serão inúteis3.

3. Análise do Discurso

A linguagem nasce com o ser humano. Seja a utilizada desde o momento em que um

bebê respira pela primeira vez, exercendo seu direito de se comunicar com o próximo, de criar

um diálogo, expressando-se com um estridente choro, avisando que chegou e que está tudo

3 Palestra ocorrida na 19ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, em março de 2006.

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bem; seja através dos desenhos rabiscados nas cavernas, retratando os animais que existiam

nos primórdios dos tempos.

A linguagem é de suma importância para o homem, pois a linguagem em uma sociedade é a base de sua estrutura. A ciência da linguagem e a biologia estudam cada vez mais o desenvolvimento divergente que é o contrário da tendência convergente na difusão da comunicação e que age como uma poderosa contrapartida da difusão (JAKOBSON, 1974, p.79).

Quando queremos nos expressar, produzimos uma referência plausível de

interpretação pelo indivíduo com quem queremos nos comunicar. Araújo (1998, p.117)

procura nos elucidar o porquê da lingüística ser considerada estruturalista nesta passagem.

Seu solo comum é a lingüística e seu inspirador foi Saussare (1857-1913). Da lingüística o estruturalismo acabou por se estender a outros domínios. Não por razões puramente analógicas, isto é, o que deu certo para a lingüística dará certo também em outros setores do saber, mas porque só há estrutura na medida em que há linguagem, oposição, símbolo, diferenciação, capacidade de topologizar.

Produzimos com a linguagem uma intenção ao discurso, isto é, quando nos

pronunciamos já temos em nossa mente que efeito de reflexão queremos produzir em quem

irá receber esses argumentos. Através das argumentações que representam as nossas

tendências, nossas tensões, tentamos persuadir aqueles que estão à nossa volta.

[...] o uso da linguagem é essencialmente argumentativo: pretendemos orientar os enunciados que produzimos no sentido de determinadas conclusões (com exclusão) de outras. Em outras palavras, procuramos dotar nossos enunciados de determinada força argumentativa (KOCH, 2001, p.29).

Em uma simples conversa com amigos com certeza não estamos com a intenção de

persuadir ninguém, porém, nossa ideologia, nosso contexto de vida, já define como iremos

nos comunicar. O discurso varia conforme o contexto social de cada um. Nos expressamos, na

maioria das vezes, através de palavras e com a soma delas conseguimos produzir um discurso.

Pode-se colocar que a palavra existe para o locutor sob três aspectos: como palavra neutra da língua e que não pertence a ninguém; como palavra do outro pertencente aos outros e que preenche o eco dos enunciados alheios; e, finalmente, como palavra minha, pois, na medida em que uso essa palavra numa determinada situação, com intenção discursiva, ela já se impregnou de minha expressividade (BAKHTIN, 2000, p.313).

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Um programa de televisão, seja ele voltado para qualquer público, possui um

destinatário, ou melhor, possui vários destinatários, estes denominados telespectadores. O

formato dos programas televisivos é produzido através de pesquisas, que procuram descobrir

se existe possibilidade de sucesso e futuro na idéia desse produto televisivo.

Ter um destinatário, dirigir-se a alguém, é uma particularidade constitutiva do enunciado, sem a qual não há, e não poderia haver, enunciado. As diversas formas típicas do destinatário são as particularidades constitutivas que determinam a diversidade dos gêneros do discurso (BAKHTIN, 2000, p.325).

No momento em que produzimos um discurso, mesmo sem a intenção de

argumentação aparente, ele nunca é livre de significado. O programa de televisão produz forte

ideologia, pois é o seu diferencial. No caso de um programa dito ambiental, a meta é produzir

uma opção de informação que promova a ideologia ambiental, ou melhor, a consciência

ambiental no telespectador.

Ora, as linguagens não são inocentes nem inconseqüentes. Toda linguagem é ideológica porque, ao refletir a realidade, ela necessariamente a refrata. Há sempre, queira-se ou não, uma transfiguração, uma obliqüidade da linguagem em relação àquilo a que ela se refere (SANTAELLA, 2005, p.330).

O receptor não é um ser passivo que apenas recebe a mensagem. Ele pode e deve

reagir. O discurso, quando é transmitido, pode sofrer ruídos ou falhas que podem prejudicar a

interpretação. Pode ser uma música mal escolhida, um texto que aparece junto a uma imagem

ou mesmo uma falha técnica que possibilita a falha da recepção da informação. E ainda,

dentro das mensagens exibidas, são possíveis outras compreensões, além da que queremos

produzir. “O termo polifonia designa o fenômeno pelo qual, num mesmo texto, se fazem ouvir

vozes que falam de perspectivas ou pontos de vista diferentes com os quais o locutor se

identifica ou não” (KOCH, 2011, p.58).

Todo discurso é carregado de ideologia. Um discurso, dito ambiental, precisa conter

informações que legitimem essa postura. A mensagem ambiental precisa ficar totalmente

explícita para viabilizar a compreensão do telespectador e assim poder acrescentar mensagens

relevantes ao ambiente. A televisão, com todos os seus recursos de roteiro, cria um diálogo já

estabelecido, isto é, a produção conhece o conteúdo, porém apenas cria hipóteses de como

será esse diálogo com a audiência. Eis aí uma semelhança com o livro.

A Ecologia tem o apoio de “poderosos” do mundo todo, afinal quem causa impactos

ambientais pode fazer com que sua imagem fique negativa, podendo dar início a uma queda

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desse poder sobre a classe dominada. “[...] as ideologias são a base das práticas dos membros

de um grupo dominante” (DIJK, 2003, p.48, tradução nossa).

Toda análise de discurso necessita de um contexto. O discurso é um processo, um

efeito de sentido entre os locutores. Podemos dizer que a maneira ou forma que um texto, no

caso o roteiro, é produzido, visa causar a reflexão a respeito do que o telespectador poderá

pensar ou concluir com o final da exibição de um programa.

Deve-se distinguir a priori qual é o gênero de discurso usado no programa Globo

Ecologia para avaliarmos se é empregado o gênero correto ou se poderia ser utilizado algum

outro que venha, por conseqüência, causar melhores resultados na educação ambiental.

O gênero do discurso não é uma forma da língua, mas uma forma do enunciado que, como tal, recebe do gênero uma expressividade determinada, típica, própria do gênero dado. No gênero, a palavra comporta certa expressão típica. Os gêneros correspondem a circunstâncias e a temas típicos da comunicação verbal e, por conseguinte , a certos pontos de contato típicos entre as significações da palavra e a realidade concreta (BAKHTIN, 1997, p.312).

A linguagem jornalística serve como apoio para as informações de cunho ambiental,

fazendo com que seu discurso seja passado de uma maneira mais coerente. A linguagem e o

discurso estão sempre presentes para quem precisa se comunicar, um não caminha sem o

outro. A língua é um fenômeno social. Em um programa de televisão, faz-se necessário ser

abrangente na análise de discurso. Temos que analisar para quem foi feito e por quem foi

produzido, não há necessidade de nos prendermos em uma ficha técnica.

Não se usa o termo “locutor-ouvinte”, pois o ouvinte reage tornando-se interlocutor,

esperando assim que ele interaja em relação à preservação do ambiente.

A fronteira que separa o lingüístico e o discursivo é sempre colocada em causa em toda prática discursiva, e é próprio da relação ente língua e discurso que as regras fonológicas, morfológicas e sintáticas – que são as condições materiais de base sobre as quais se desenvolvem os processos discursivos – sejam objeto de recobrimentos e de apagamentos parciais. Daí a proposta da AD de uma teoria não subjetiva da enunciação, pois o lingüístico e o discursivo se comunicam (ORLANDI, 1987, p.101).

Para a análise do discurso é relevante descobrir qual é o contexto histórico, político e

social que está inserido no discurso. Com a preservação da natureza não é diferente, pois a

Ecologia analisa uma realidade, dentro de um contexto. No mundo em que vivemos, podemos

afirmar que esta nova disciplina, esta nova ciência, é uma necessidade, caso contrário, não

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poderíamos diminuir os efeitos da poluição, do desmatamento e do esgotamento de recursos

naturais, que, em curto prazo, podem ser responsáveis pelo fim de todo o ser vivo na Terra. Por

conseqüência, a Ecologia, como prática social, deve se tornar um hábito para as futuras gerações.

Definir os discursos como práticas sociais implica que a linguagem verbal e as outras semióticas com que se constroem os textos são partes integrantes do contexto sócio-histórico e não alguma coisa de caráter puramente instrumental, externa às pressões sociais (PINTO, 1999, p.24).

Criado por Charaudeau, “os três lugares da máquina mediática” são ilustrativos e úteis

para descobrir onde se encontra o principal viés da presente pesquisa. Sendo focado um

programa de televisão, a primeira preocupação está no conteúdo e na informação ambiental

que esse programa produz aos telespectadores. A análise, portanto, se centraliza no Produto,

descrito no quadro abaixo (CHARAUDEAU, 2003, p.23, tradução nossa).

Produção Produto Recepção

Lugar das condições de produção

Lugar de construção do discurso Lugar de interpretação

(externo-externo) (externo-interno) interno (interno-externo) externo-externo)

Práticas da organização sócio- profissional

Práticas da realização do produto

Organização estrutural semiodiscursiva segundo

hipóteses sobre a cointencionalidade

Alvo Imaginado pela instância mediática

Público como instância de consumo do produto

Enunciador-destinatário

Representações por meio de discursos de justificativa da intencionalidade dos "efeitos econômicos"

Representações por meio de discursos de

justificativa da intencionalidade

dos "efeitos propostos" "Efeitos possíveis"

"Efeitos supostos"

"Efeitos produzidos"

influência

(Intencionalidade e construção do sentido)

Retorno de Imagens

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Cabe lembrar que o objetivo desta pesquisa é avaliar, por intermédio de uma leitura

subsidiada pela análise do discurso, os recursos técnicos utilizados e a imagem que o

programa Globo Ecologia constrói sobre a Ecologia.

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CAPÍTULO III – PREOCUPAÇÃO AMBIENTAL NA

FUNDAÇÃO ROBERTO MARINHO

As Organizações Globo estão no Brasil há mais de 40 (quarenta) anos e possuem

produtos em vários meios de comunicação, como rádio, revistas, jornais e a televisão. A Rede

Globo é líder de audiência no território nacional há muito tempo. Sua programação sempre

busca se diversificar para atrair cada vez mais telespectadores e, consequentemente, aumentar

o número de anunciantes.

O objeto de estudo desta pesquisa, o programa Globo Ecologia, traz em seu título o

nome da emissora como forte chamariz. Se a Rede Globo é a líder de audiência e se auto-

intitula como a maior emissora do país, um programa seu, voltado para Ecologia, deve ser,

por conseqüência, o mais importante e de maior repercussão no país e jamais um programa de

segunda linha. Isso, em teoria, é magnífico, porém vamos constatar adiante que, na prática, o

nome da Globo é apenas “promocional”, pois a produção do programa é de uma produtora

independente – a Raiz Savaget – e financiada pela Fundação Roberto Marinho.

Globo Ecologia é veiculado na Rede Globo apenas uma vez por semana, porém é

exibido com maior freqüência no Canal Futura, da TV por assinatura, pertencente à Fundação

Roberto Marinho. No entanto, como este canal não pertence à rede aberta de TV, atinge um

número muito limitado de telespectadores se comparado ao que seria possível na TV Globo.

Definida essa estrutura, podemos passar a conhecer um pouco da história e das

pretensões dessas entidades que produzem o Globo Ecologia e o mantêm no ar por

aproximadamente 15 (quinze) anos.

1. Rede Globo

A principal emissora de TV das Organizações Globo surgiu do empenho de um

jornalista, Roberto Marinho, em conjunto com a corporação americana Time-Life, detentora

de outros meios de comunicação nos Estados Unidos. Suas transmissões se iniciaram em

1965, no já citado momento histórico bastante conturbado do Brasil. Era a ditadura militar

que dificilmente concedia espaços para o povo e para os meios de comunicação exercerem a

liberdade de expressão. “Em 26 de abril de 1965, três anos após ganhar a concessão do então

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presidente Goulart, o dono do Jornal O Globo levou ao ar o canal 4 do Rio de Janeiro”

(NARLOCH, 2005, p.51).

A criação da Rede Globo é cercada de polêmica, mistério e denúncias. Essa fusão com

a Time Life não foi divulgada, pois era terminantemente proibido uma instituição estrangeira

ser dona de algum meio de comunicação no Brasil.

Produzir televisão já era uma tarefa que começava a se profissionalizar. A Globo

entrou no ar com uma dinâmica diferente das outras emissoras então instaladas no país. Essas

ainda estavam aprendendo a produzir em televisão e sua organização interna prejudicava o

conteúdo transmitido. Esse diferencial da Globo surgiu com o know-how e ajuda da empresa

americana.

A diferença entre a Globo e as outras foi, primeiro, organização. A emissora tinha tabela de anúncios e uma programação que não mudava de repente. Em, 1967, descobriu-se que a fonte desse jeito novo de fazer TV era o grupo Time-Life, dos EUA. Eles deram 5 milhões na mão do Roberto Marinho em troca de 30% dos lucros da Globo. Como na época estrangeiros não poderiam ser donos de meios de comunicação no Brasil, a sociedade foi secreta, por baixo do pano (NARLOCH, 2006, p.33-34).

Mas não devemos deixar de dar a devida importância aos responsáveis brasileiros da

ascensão da Globo. É preciso citar José Bonifácio de Oliveira Sobrinho o “Boni” e Walter

Clark. Ambos já não fazem mais parte da direção da instituição. Walter foi afastado e faleceu

anos mais tarde. Boni, entretanto, continua no meio televisivo, mas acreditando na

regionalização da TV. Administra a afiliada da Globo em Taubaté, cidade do Estado de São

Paulo. Evidentemente muitos outros nomes foram se distinguindo na organização, ou direção

da emissora, fazendo tudo para mantê- la na posição de emissora com maior audiência do país.

Todavia, a emissora de Roberto Marinho, que trouxe inovações técnicas e práticas

para a televisão brasileira, não tem mais tão absoluta hegemonia. Outras emissoras de TV

Aberta se esforçam cada vez mais para alcançar o primeiro lugar no Ibope. Não chega mais a

ser novidade alguns programas dos outros canais desbancarem do primeiro lugar os da Rede

Globo.

A queda da audiência da Globo se iniciou na década de 90 (noventa), mesma década

de criação do programa aqui analisado. A queda não foi exclusividade da Rede Globo. Na

época, todas as emissoras abertas sofreram uma queda, em conseqüência do meio técnico ter

evoluído muito e do surgimento dos canais via satélite e por cabo, possibilitando aos

telespectadores assistirem muito mais conteúdo do que as emissoras abertas possibilitavam.

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“Uma das hipóteses bastante discutidas sobre a queda de audiência das TVs abertas, em

especial da Rede Globo, tem sido a da migração de parte dessa audiência para as TVs pagas”

(BORELLI; PRIOLLI, 2000, p.133).

A abrangência da Rede Globo é citada em seu site oficial. Os números incluem as

afiliadas, isto é, as retransmissoras do conteúdo global para o país. Dentro dessas empresas é

permitida a criação de material local, porém os principais programas são apenas transmitidos

e produzidos nos grandes estúdios da emissora. Uma central de porte cinematográfico

“hollywoodiano” situada na cidade do Rio de Janeiro, o “Projac” (Projeto Jacarepaguá), é

utilizada para as telenovelas, grandes produções cenográficas e uma parte do jornalismo,

incluindo o jornal de maior credibilidade do canal, o Jornal Nacional. Na cidade de São Paulo,

existe outro grande estúdio onde fica outro núcleo jornalístico e alguns programas.

Com 121 emissoras entre geradoras e afiliadas, a TV Globo pode ser assistida em 99,84% dos 5.043 municípios brasileiros, com programas 24 horas por dia no ar, sendo a maior parte da programação criada e realizada nos seus próprios estúdios, no Rio de Janeiro e em São Paulo (GLOBO, 2006, on-line).

Por ser um canal aberto, a TV Globo possui programação diversificada, isto é,

encontramos telenovelas entre telejornalismo e séries cômicas após sucessos do cinema

mundial. O público alvo se diferencia por horário. Logo pela manhã, os programas educativos

entram no ar. O jornalismo, em seguida, informa o cidadão antes da ida ao trabalho. Ana

Maria Braga em Mais Você dá dicas para as donas de casa, as crianças acompanham desenhos

animados com a TV Xuxa e o Sítio do Pica Pau Amarelo. Após o jornalismo regional, entram

no ar a reapresentação de novelas e os filmes. À noite, vem o famoso “horário nobre” com o

Jornal Nacional e a novela de maior importância da emissora, antes intitulada a “novela das

20 horas”. Na luta pela audiência, esse horário é o mais flexível da emissora.

Os programas educativos possuem horários diferenciados na programação, pois são

horários que não preocupam a emissora devido ao baixo índice de audiência. Geralmente são

programas transmitidos nos canais fechados. Em sua maioria são as produções da Fundação

Roberto Marinho. Globo Ecologia não é exceção, sua veiculação ocorre nas manhãs de

sábado.

A Globo exibe quase seis horas por semana de programação dirigida à educação formal. Há, ainda, os programas educativos dedicados às áreas de meio ambiente, ciência, voluntariado e cidadania, como o Globo Ciência, o Globo Ecologia e o Globo Educação, produzidos pela Fundação Roberto

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Marinho com aporte da Rede Globo, o Ação e o Globo Comunidade (GLOBO, 2006, on-line).

Apenas com o intuito de complementar o exposto, está inserido a seguir um quadro

ilustrativo com as audiências médias no mês de outubro de 2006 de vários programas citados

da Rede Globo.

Fonte: (IBOPE, 2006, on-line).

Programa

Hora Inicial

Hora Final

Duração Audiência Domiciliar

GLOBO ECOLOGIA 07:15 07:40 25 min 7 Bom Dia Brasil (jornal) 07:15 08:05 50 min 11 Mais Você (variedades) 08:05 09:30 1 h 25 min 9 Pica Pau Amarelo (série) 09:30 10:00 30 min 8 TV Xuxa (show infantil) 10:00 12:00 2 h 00 min 12 Novela Vale a Pena 14:35 15:35 1 h 00 min 23 Domingão do Faustão (show) 15:05 20:30 5 h 25 min 25 Jornal Praça TV – 2ª Ed. 18:50 19:10 20 min 41 Novela II 19:10 20:15 1 h 05 min 45 Jornal Nacional 20:15 20:55 40 min 40 Fantástico (show) 20:30 23:00 2 h 30 min 31 Novela III 20:55 22:05 1 h 10 min 48 A Grande Família (série humor) 22:05 22:50 45 min 38 Globo Repórter (jornalismo) 22:05 23:05 1 h 00 min 31 Zorra Total (humorístico) 22:05 23:10 1 h 05 min 36 Tela Quente (filme) 22:05 00:10 2 h 05 min 32

A Rede Globo ainda continua em expansão buscando preencher as lacunas criadas

com as migrações de audiência, motivo de preocupação dos dirigentes do canal, que investem

em mudanças de formatos, como os programas que mostram a “realidade”, os reality shows,

programas ditos sem roteiro e sem direção, onde simplesmente se observa o fato, sem saber

prever o que pode acontecer.

A parte técnica também tenta acompanhar os avanços lançados no mercado mundial,

como a preparação para o advento da HDTV, que já começam na Rede Globo. A emissora já

possui câmeras de alta definição, porém ainda são adaptadas para o padrão convencional, mas

a emissora faz questão de divulgar essa nova tecnologia na internet.

A televisão do futuro teve início na Globo. Desde 1995, quando a Central Globo de Produção foi inaugurada, a emissora começou o aparelhamento para produção em HDTV e aguarda definição do governo para transmissão em High Definition Television, a televisão de alta definição (GLOBO, 2006, on-line).

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A Globo ainda é líder de audiência e continua sendo a emissora de TV mais poderosa

e tecnicamente melhor. Seu “reinado”, entretanto, está cada vez mais ameaçado pelas outras

emissoras de canal aberto e até mesmo de canais fechados, fazendo com que seu futuro não

seja tão tranqüilo no meio televisivo.

2. Fundação Roberto Marinho

A Fundação Roberto Marinho é uma organização sem fins lucrativos, criada em 1977

pelo jornalista Roberto Marinho, o mesmo fundador da Rede Globo de Televisão. É uma

instituição que se propõe, através de vários meios de comunicação, a cooperar para a correção

dos problemas do ensino básico do Brasil. Auto-define sua missão como sendo a de

“mobilizar pessoas e comunidades, por meio da comunicação, de redes sociais e de parcerias,

em torno de iniciativas educacionais que contribuam para a melhoria da qualidade de vida da

população brasileira” (FRM, 2006, on-line).

Com esse intuito, a Fundação produz projetos sociais e pedagógicos que buscam a

sociabilização do indivíduo pelos meios de comunicação. Apesar de ter sido criada após o

canal de televisão, a FRM se transformou em uma espécie de administradora das empresas

Globo, comandando o que acontece em toda a rede.

Por pertencer às Organizações Globo, a Fundação não possui problemas com a

divulgação de seus projetos sociais, pois vários programas são realizados pela Fundação e

veiculados na TV Globo. O horário cedido, já citado anteriormente, é o período da manhã,

porém não é incomum o nome da instituição ser citado em horários distintos da programação,

exaltando a importância da mesma.

Durante muitos anos tem sido muito difundido o projeto mais relevante da FRM: o

Telecurso 2º Grau. São teleaulas (do ensino básico até o ensino fundamental) interpretadas

por atores utilizando o inegável poder de persuasão da televisão e, neste caso, para facilitar a

veiculação de informações básicas do ensino escolar para quem quer aprender, sem aparentes

restrições a qualquer tipo de telespectador. Com as apostilas do curso, previamente vendidas,

os alunos acompanham as aulas pelo aparelho televisor. Ter acesso a uma TV e poder

comprar as apostilas são pequenas limitações financeiras e talvez sejam as únicas restrições

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para poder seguir o curso. O Telecurso permanece ainda na grade de programação da

emissora com outro nome: Telecurso 2000, com as mesmas metas da sua criação.

É evidente, portanto, que a Fundação Roberto Marinho é inteiramente voltada para a

educação. A divulgação científica é feita em alguns programas de uma forma sucinta, que

apenas possibilita a compreensão de forma genérica. Outros projetos que se destacam nessa

entidade são: o Globo Ciência, Museu da Língua Portuguesa, Prêmio Gestão Escolar,

Olimpíada da Língua Portuguesa, Sexualidade – Prazer em Conhecer, entre muitos outros. O

programa Globo Ecologia está entre os principais projetos da Fundação Roberto Marinho, que

se diz preocupada com a educação ambiental e devido a isso investe em vários projetos

pedagógicos ambientais. “Já em meio ambiente, as iniciativas são voltadas para a educação e

a formação de jovens conscientes da importância do patrimônio natural brasileiro. Nesta

linha, uma série tem tratado cada ecossistema do país com especial atenção” (FRM, 2006, on-

line).

Quando procurada, uma pessoa da Fundação respondeu prontamente aos pedidos de

auxílio para essa pesquisa, porém disse desconhecer qualquer bibliografia que ilustrasse a

história e os interesses da Organização. Mas prontamente recomendou uma pesquisa em seu

site na Internet, que descreve a história, nomes, datas, e fornece muitas outras informações,

que foram efetivamente usadas neste trabalho. Para auxílio no estudo do programa Globo

Ecologia também foram efetuados diversos telefonemas, que, a princípio, não resultaram em

informação objetiva. Dispuseram-se, porém, a divulgar outros números de telefone e de sites

da produção do programa, que também não foram úteis porque o contato com a Produtora

Raiz Savaget já havia sido estabelecido. Mesmo sem fornecer muitas informações relevantes,

todos os interlocutores da Fundação foram muito polidos e se colocaram dispostos a ajudar,

caso não obtivéssemos sucesso em nossas futuras buscas por informações. A par disso, não

podemos deixar de citar que, antes do contato telefônico, foram mandados alguns e-mails para

a Fundação Roberto Marinho, já pedindo esse auxílio para a pesquisa. Muitos retornaram

acusando uma caixa de entrada muito além da sua capacidade. Passado algum tempo, porém,

houve uma resposta da assessora.

O Globo Ecologia é um programa que mostra exemplos de preservação da natureza e de educação ambiental com o objetivo de conscientizar o telespectador sobre a importância do meio ambiente, além de denunciar problemas como a devastação, a poluição, o desperdício e o descaso em relação ao patrimônio natural brasileiro (ARAÚJO, 2006, entrevista).

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A Fundação Roberto Marinho, com o auxílio de entidades privadas, criou um canal de

televisão – o Canal Futura –, também inteiramente voltado para a educação. Foi criado em

1997 e veicula nos canais de televisão por assinatura da Rede Globo, componentes do

conhecido sistema Globosat. A Fundação controla tais canais e é autora de praticamente todas

as pesquisas, que posteriormente se tornam programas no canal.

O Canal Futura, mesmo sendo veiculado em redes fechadas, tem um grande poder de

abrangência, conforme a descrição em seu site. “Criado em 1997, hoje leva sua programação

para 60 milhões de pessoas, por meio de antenas parabólicas (banda C), TV por assinatura

(Net, Sky e Direct TV) e TV aberta” (FUTURA, 2006, on- line).

Como já definimos, todo programa produzido no canal Futura tem um foco

educacional. Assim, o ensino básico do Telecurso 2000 não é o único. Há outros

programas que auxiliam as crianças com pesquisa escolar, como o “Vídeo Escola”, que

transmite diversos vídeos que explicam os mais variados temas, incentivando o

professor a usar a televisão na sala de aula, ou como um reforço ao conteúdo ensinado.

Há também programas que se preocupam apenas com a divulgação ou a “popularização”

da ciência, no caso do Globo Ciência. Enfim, a variedade dos programas é enorme e, por

serem de um canal fechado, eles possuem uma característica própria desse tipo de

televisão: uma grade de programas composta de muitas reprises que aumentam a

freqüência e a cobertura da veiculação, atingindo assim um número muito maior de

pessoas.

Além disso, os programas do Futura são utilizados por cerca de 12 (doze) mil instituições, entre escolas, creches, presídios, hospitais, centros de saúde, universidades, bibliotecas, ONG's, sindicatos, empresas e órgãos públicos. Nesses locais, 2 milhões de pessoas têm acesso à programação. Apenas em 2005, 400 mil educadores, jovens e líderes comunitários foram capacitados para trabalhar os conteúdos que o canal oferece. (FUTURA, 2006, on-line).

Enquanto na TV Aberta o programa Globo Ecologia é transmitido apenas uma vez por

semana, no Canal Futura, ele é reprisado, sendo possível assistir ao mesmo programa semanal

9 (nove) vezes em dias e horários distintos:

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GLOBO ECOLOGIA – Horários e Canais 20064

Rede Globo - (25 minutos de duração) Canal Futura (30 minutos de duração)

§ Sábado: 07h15min às 07h40min

§ Sábado: 22h30min às 23h00min § Domingo: 01h00min às 01h30min § Domingo: 12h30min às 13h00min § Domingo: 17h00min às 17h30min § Segunda: 02h00min às 02h30min § Terça: 00h00min às 00h30min § Quarta: 16h00min às 16h30min § Quinta: 01h30min às 02h00min § Quinta: 22h00min às 22h30min

A educação ambiental também é uma preocupação da programação geral da TV

Futura, não sendo exclusividade do Globo Ecologia, pois muitos dos programas usam a

pedagogia ambiental direta ou indiretamente. Por exemplo, o programa “Pé de Que?” é

focado cada vez em um tipo específico de árvore, descrevendo sua história, seu uso na

medicina popular, os ingredientes usados na ciência, entre outros aspectos. Esse programa não

tem apenas o cunho ambiental, mas, por se tratar de um assunto que envolve a natureza, é de

grande valia para a preservação do ambiente.

O Canal Futura atualmente tenta ampliar a transmissão de sua programação. No site do

canal também é possível visualizar a opção “Futura na Universidade”, onde é esclarecido que

a veiculação de alguns programas será feita nos canais universitários envolvidos nesse

projeto. Vale lembrar que os canais universitários atualmente pertencem à faixa de UHF.

O objetivo da parceria é difundir o conteúdo do canal no meio acadêmico e nas comunidades vizinhas. Assim, é possível gerar uma programação nacional com sabor regional, aumentar a sinergia com pesquisas acadêmicas e, ainda, incentivar a utilização pedagógica do Futura nas ações de extensão universitária (FUTURA, 2006, on-line).

Quando a produção do programa Globo Ecologia foi procurada, estabelecemos contato

com a produtora executiva do programa, que se encontra na produção do mesmo desde a sua

criação. Ela elucidou como funciona a parceria com o Canal Futura.

O Canal Futura é um projeto da Fundação Roberto Marinho. E a Globo é uma parceira que patrocina o Globo Ecologia e alguns outros programas para o Canal. Então toda a nossa interlocução de conteúdo é com a equipe do Canal. Com essa equipe discutimos tudo, conteúdo, formato, problemas

4 O programa Globo Ecologia também é veiculado na TVE do Rio de Janeiro na terça-feira às 7h00 e às 19h00.

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com equipe, com produção, etc. Nosso contato é direto, constante e ágil (KAWAKAMI, 2006, entrevista).

Consideramos, enfim, que o Canal Futura possui uma programação de extremo

interesse para quem está preocupado com a educação em nosso país e podemos constatar que

a pedagogia ambiental também é retratada, fazendo com que esse canal de televisão seja um

parceiro da preservação da natureza.

3. Concorrência

O programa Globo Ecologia não encontra concorrência direta na faixa aberta. No

horário em que é exibido na Rede Globo, é o único programa de cunho ambiental a ser

veiculado. Fora do horário do programa, podemos encontrar apenas 2 (dois) possíveis

adversários. Na TV Record existe o programa “Ressoar”. Não tem o cunho ambiental, porém

é um programa que fala de cidadania, sociedade e ética, cabendo assim um espaço para a

temática ambiental, mas não é o foco do programa. Existe apenas um programa registrado, até

a data da presente pesquisa, que possui inteiramente o foco ambiental semelhante ao Globo

Ecologia, que é o “Repórter Eco”, produzido pela Rede Cultura de Televisão de São Paulo.

O Repórter Eco está no ar desde 1992, ano do encontro mundial ocorrido no Rio de

Janeiro para determinar as diretrizes da proteção ambiental no planeta em um documento que

ficou conhecido como “Agenda 21”, a ECO 92. O programa foi criado originalmente para

cobrir matérias relacionadas ao encontro, porém, devido ao sucesso e à grande repercussão da

ECO92 e, também, ao formato atraente do programa, a produção continuou com ele e até hoje

está no ar. É oportuno lembrar que, na época, Globo Ecologia tinha apenas dois anos de

existência e uma divulgação bem menor que a atual.

O programa da TV Cultura tem formato bastante semelhante ao Globo Ecologia.

Inicia-se com uma apresentadora indicando as matérias a serem mostradas, mas há uma

diferença fundamental: a apresentadora fica em um estúdio, enquanto que no Globo Ecologia

nunca se trabalha em estúdio. A duração do Repórter Eco tem 10 (dez) minutos a mais e é

veiculado em dois horários e dias distintos na grade da emissora; domingo, às 16h30, e quinta,

às 8h00. Nesses horários existe um maior número de telespectadores com televisores ligados,

mas também é nesses horários que há maior concorrência dos programas das outras

emissoras.

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Pesquisando sobre o programa Globo Ecologia no site do Canal Futura, fez-se uma

descoberta interessante: eles se intitulam como exclusivos, afirmando: “No ar desde 1990, o

Globo Ecologia é o único programa que trata especialmente do meio ambiente no país. Visa

despertar a consciência ambiental” (FRM, 2006, on- line).

Não existe entre as duas produções uma concorrência direta pela audiência, como no

caso da maioria dos programas de televisão com temas, dias e horários próximos. Ambos se

preocupam em passar a mensagem de preservação ambiental, deixando a disputa para suas

emissoras. No site da Rede Cultura, o Repórter Eco é colocado na área de jornalismo,

enquanto que na TV Globo o programa Globo Ecologia se encontra no setor educativo.

Nesse levantamento, fica clara a ausência de programas com cunho ambiental na

televisão aberta brasileira. No caso das emissoras de TV por assinatura, a abrangência é um

pouco maior. Além de programas estritamente ambientais, encontram-se canais que fazem da

natureza uma constante, como é o caso do canal pertencente à rede Fox: o National

Geographic.

4. Globo Ecologia

Como está descrito em seu site, o Globo Ecologia foi ao ar oficialmente em 1990.

Pouco se fala desse programa de televisão, na própria Rede Globo são muito raras as

“chamadas” comerciais durante a programação.

Conforme nos informou a produtora do programa, a idéia e os primeiros passos do

programa surgiram muito antes de sua inauguração oficial. Surgiu com uma proposta de

divulgação de projetos ambientais de algumas pessoas e o processo de captação de imagens

para o meio ambiente foi agradando e crescendo até se estabelecer o primeiro contato da

produtora Raiz Savaget com a Fundação Roberto Marinho.

[...] a história do GE (Globo Ecologia) começa no início da década de 80, quando amigos assumem projetos de levantamento de espécies marinhas, como a tartaruga marinha e o peixe-boi marinho. Mas, para que esses projetos de levantamento pudessem atingir o público-alvo, nossos amigos nos convidaram para criar algum projeto de comunicação com o objetivo de divulgar e ao mesmo tempo conscientizar. Para isso procuramos a Fundação Roberto Marinho, que tinha sido criada recentemente, para desenvolvermos uma parceria. E passamos a utilizar os espaços de 30 segundos de apoio institucional que a TV Globo oferecia para a Fundação (KAWAKAMI, 2006, entrevista).

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O programa Globo Ecologia é produzido pela Raiz Savaget Produções, situada na

cidade do Rio de Janeiro. Tem a direção de Cláudio Savaget, que trabalhou para a Rede

Globo produzindo alguns episódios do Globo Repórter quando a temática abordada era

ambiente. Existe um núcleo de criação na Fundação Roberto Marinho chefiada por Leonardo

Menezes. Elza Kawakami é a produtora-executiva. A duração de cada programa é de

aproximadamente vinte minutos e possui o formato jornalístico para se adequar ao padrão de

qualidade exigido nas palavras de Elza Kawakami.

Globo Ecologia é um programa semanal, com 20 minutos (em geral, por volta de) duração; vai ao ar às 7 horas das manhãs de sábado, com uma linguagem jornalística formal (apresentador + repórter e um intervalo), ou seja, é um programa que se utiliza da estética "padrão de qualidade" da Rede Globo. O tema é Meio Ambiente e tudo que se relaciona aos conceitos ambientais (KAWAKAMI, 2006, entrevista).

Esse formato de telejornal, constituído de um apresentador e de matérias gravadas,

busca reforçar a seriedade do assunto, pois é um programa que visa à educação e não ao

entretenimento. Mesmo com esse caráter formal, a Fundação Roberto Marinho exige da

produção que algum ator global trabalhe no programa, de forma que esse seja um contato do

“popular” com a grande audiência. Muitos artistas já passaram pelo programa e a escolha não

é necessariamente de alguém que tenha vínculo com o tema ambiente. O primeiro foi o ator

Vitor Fasano. “Chamamos o Vitor Fasano, na época uma grande novidade na mídia, e era

ligado a animais, pois tinha (e ainda tem) um criadouro de aves” (KAWAKAMI, 2006,

entrevista). Essa característica de ter um ator apresentando é uma tentativa de atrair um pouco

mais de audiência, com atores jovens, que tenham a simpatia do público. Quando esse

ator/apresentador não aparece por muito tempo nas telenovelas da Rede Globo corre o risco

de se tornar esquecido e de perder a vaga como apresentador do Globo Ecologia. Foi o caso

de Cláudio Heinrich, que apresentou o programa por um bom período. Ator de novelas

voltadas para o público jovem, ele havia aparecido com destaque na TV. Durante a

apresentação do programa estava em ascensão, logo depois, porém, ficou afastado da

programação “global” e isso acarretou sua substituição por Guilherme Berenguer, também

recém saído de novelas voltadas para os jovens. Algumas vezes, o próprio repórter das

matérias apresenta o programa, mas no início do programa é obrigatória uma interpretação e,

nesses casos, o próprio jornalista faz as vezes de um ator.

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O programa sempre se inicia com o ator, que surge em outros momentos em off

(recurso que utiliza apenas a voz em cima de imagens) chamando a atenção do telespectador

para as reportagens. Muitas vezes o próprio ator está no local das gravações apenas para essa

chamada, mas isso não é comum. No final do Globo Ecologia, reaparece o ator para encerrar

o programa.

[...] o Globo Ecologia é conduzido por um apresentador, que narra e eventualmente descreve in loco regiões mostradas no episódio. E, por decisão da Fundação Roberto Marinho, esse(a) apresentador(a) tem que possuir, necessariamente, as seguintes qualificações: ser um ator, pertencer ao cast de telenovelas da emissora e ser jovem (ANDRADE, 2003, p.153-154).

As matérias exibidas têm um formato-padrão de documentário, com imagens do

assunto mescladas com offs e o próprio repórter apresentando a temática da matéria.

Também como um documentário, o programa recebe sempre um título. Em um programa,

por exemplo, onde o tema era a caatinga, a região desse tipo de mata, as principais árvores,

as estações de seca e chuva são ilustradas em um quadro do programa que recebe o nome de

“Parênteses”.

Além das matérias existem dois quadros, um dentro da apresentação e outro no

encerramento. No primeiro, o ator descreve as principais características do lugar a ser

retratado pelo programa, como já citado. Na segunda parte, quando se encerra a matéria,

aparece um slide com o ator em off e a imagem de um texto indicando onde podemos obter

mais informações sobre o assunto retratado. Esse quadro denominado “Serviço” possibilita

anotar telefones e e-mails das instituições que colaboraram para a pesquisa do roteiro, que é

uma das principais fontes de pesquisa da produção. “Somos jornalistas especializados em

Meio Ambiente. As fontes são o que chamamos de rede de "amigos". Pessoas, ONGs,

instituições governamentais, matérias de jornais, releases, relatórios, livros, entre outros”

(KAWAKAMI, 2006, entrevista).

Na parte gráfica, o nome do programa está sempre associado ao logo da TV Globo,

reforçando para os telespectadores que esse programa é da Rede Globo. Somente nos créditos

finais o programa aparece creditado à produtora Raiz Savaget, mas com letras bem discretas

que não interferem no logo.

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5. A parte técnica do Globo Ecologia

Desde o início do programa, houve muitas mudanças nos equipamentos usados,

entretanto, no resultado final do programa essas alterações são imperceptíveis ao espectador,

pois foram avanços necessários e úteis apenas para as técnicas de produção do programa. No

começo o formato utilizado foi o Betacam Analógico – o formato Broadcasting padrão – que

é utilizado em algumas emissoras até hoje. A produtora-executiva Elza Kawakami explica que

hoje em dia o formato usado pela produtora Raiz Savaget é o DVCam, que tem qualidade

muito próxima ao do, anteriormente usado, Betacam. A principal vantagem desse formato

digital é o tamanho das fitas, que têm a metade do tamanho do Betacam (aproximadamente

seis centímetros de largura). Essas medidas correspondem a uma mudança significativa no

tamanho das câmeras. Portanto, para um programa ambiental onde ocorrem muitas gravações

em lugares de difícil acesso, essa mudança representou uma facilidade enorme, pois o peso da

câmera acompanhou a redução do tamanho de suas mídias. A câmera usada pela equipe

atualmente é uma SONY PD 170.

Em relação à edição, a mudança foi muito mais significativa. A edição não- linear,

como está elucidado no capítulo anterior, possibilitou uma agilidade que anteriormente não

era alcançada.

Iniciamos com as câmeras Betacam e depois passamos para o sistema DVCam, com o qual permanecemos até hoje. Provavelmente no ano que vem já estaremos indo para o sistema HD. As edições eram beta para beta, que chamamos de ilha de corte seco e finalização em beta com sonorização depois do programa editado e finalizado. Cerca de 10 anos atrás passamos para a edição não-linear onde tudo é feito em outro tempo, às vezes simultâneos – depende do editor (edição, finalização, sonorização e cópias) (KAWAKAMI, 2006, entrevista).

Questionada sobre qual foi a maior evolução do programa, Elza Kawakami

mencionou novamente a área técnica, que tornou a produção do Globo Ecologia mais

tranqüila, priorizando a mensagem pedagógica, porque, caso o editor tenha experiência e seja

hábil, a entrega do material para veiculação é mais rápida, não se perdendo o imenso tempo

anteriormente desperdiçado na edição em corte seco.

Pudemos constatar também, através do depoimento de Kawakami, que uma próxima

mudança técnica já está sendo definida e é justamente pensando no futuro da televisão – o

sistema HDTV – que a equipe se prepara para, em 2007, usar câmeras de alta definição.

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Acreditamos, porém, que essa mudança talvez melhore a qualidade da imagem transmitida,

mas não deverá mudar o tempo de edição e de pós-produção.

O áudio também é uma preocupação da produção. O som de fundo (background)

não é constituído por músicas populares, mas por canções sem vocais e sem letras, que fazem

uma alusão à natureza, denotando sua tranqüilidade. Esse fundo é uma constante no

programa, inclusive na vinheta de abertura, que é interpretada pelo “Quinteto Violado”, um

grupo formado apenas por instrumentistas, sem vocais. É comum as próprias matérias terem

essas trilhas de fundo.

Diferentemente do cinema, onde todas as cenas são acompanhadas por vários

profissionais, o que só encarece sua produção, a equipe de gravação das externas de TV, a

ENG, não pode ser numerosa, pois isso só agregaria tempo e gastos. A equipe mínima, com

um equipamento pequeno, só facilita a gravação, não havendo necessidade de diretor para

acompanhá- la nas gravações. “Quando um programa é gravado com uma única câmera, a

presença do diretor de TV torna-se desnecessária” (DANIEL FILHO, 2001, p.230).

O tempo cedido para o programa é algo negativo, pois é o menor tempo de programa

em toda Rede Globo, perdendo apenas para os esporádicos plantões de notícias espalhados

pela grade de programação. Essa curta duração obriga que as matérias sejam muito bem

editadas para não comprometerem a qualidade das informações.

Para dar conta do tempo do programa (o jornal impresso é mais livre nesse aspecto, pode estender-se mais nas notícias), o telejornal deve esmerar-se em cativar a audiência e mantê -la. Aí ficam mais flagrantes os elementos que caracterizam a notícia impressa – fragmentação e personalização (MARCONDES FILHO, 1988, p.54).

Em alguns programas iniciais era comum observar que o diretor Cláudio Savaget

acompanhava a equipe cumprindo a função de repórter e apresentador de matéria, dando

ênfase na condução, na explanação da reportagem para os telespectadores, aproveitando

também para dirigir o programa. Mais recentemente isso não é tão comum, pois sempre há

uma variação de quem apresenta as matérias e o programa não tem um repórter fixo. A

linguagem usada por esses repórteres não muda, sempre é muito sucinta, informal e de fácil

compreensão, passando sempre seriedade. As matérias são editadas posteriormente com um

montador e só o diretor, não havendo necessidade de uma mesa de corte e nem de outro

diretor; seja o de imagens ou o de TV. “O diretor é responsável por escolher os planos que

serão usados em cada tomada e o diretor de TV, ou de imagens, tem que executar esses cortes

no tempo correto. Ele é um montador ao vivo” (DANIEL FILHO, 2001, p.230).

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O índice de audiência (IBOPE) também foi questionado e deu a seguinte resposta:

“Nosso IBOPE na Globo está sempre em 04 e, quando temos uma boa divulgação, vamos a

08” (KAWAKAMI, 2006, entrevista). Essa pontuação, 04 (quatro) pontos, é considerada muito

boa para o horário. É muito comum nesses casos se produzir “traço” de audiência, isto é, o

número de televisores ligados no canal é tão baixo que não é possível medição. O pico de

audiência de 8 (oito) não é freqüente, o que demonstra não ser bem feita a divulgação no

canal. Se fosse, talvez essa pontuação seria uma constate e não um fato a se comemorar. É

evidente para Kawakami que o horário veiculado e o tempo de duração do programa são

fatores negativos, porém ela esclarece que a emissora impõe tais exigências devido à sua

grade de programação. “A programação da Rede Globo é muito tradicional e muito rígida”

(KAWAKAMI, 2006, entrevista).

Ao entrar em contato com o Canal Futura para obtenção de informações sobre

audiência, a resposta dada pela equipe do Centro de Atendimento ao Telespectador (CAT) da

emissora foi:

Informamos que o Globo Ecologia é apresentado em diversas emissoras de TV (Rede Globo, Canal Futura e TVE) e por ser um projeto de educação não possui fins comerciais e não divulga pesquisas de audiência (FUTURA, 2006, entrevista).

Mas, como já consta neste capítulo, a produção do Globo Ecologia informou que na

Rede Globo essa audiência varia de um mínimo de 4 (quatro) pontos de audiência a um pico

de 8 (oito) pontos, o que é confirmado por dados do próprio IBOPE (2006), cedidos para

agências cadastradas, que informa audiência média de 6 (seis) pontos para o mês de setembro

de 2005 e de 7 (sete) pontos para outubro de 2006.

Existem hoje no país cerca de 47 (quarenta e sete) milhões de lares com TV, o que

representa 90% (noventa por cento) do total dos lares brasileiros. Entretanto, apenas um

segmento de aproximadamente 4 (quatro) milhões, ou seja, uns 8% (oito por cento) dos lares

do país assinam a TV paga (PORTAL DA IMPRENSA, 2006, on- line).

Na mídia aberta, que atinge a quase totalidade da população, o Globo Ecologia tem 6

(seis) pontos - um hipotético total de 3 (três) milhões de famílias. Na TV por assinatura, ou

especificamente no Canal Futura, essas famílias de telespectadores seriam compostas de 0,18

(dezoito centésimos) de milhão de lares, ou mais claramente, 180 (cento e oitenta) mil

residências, ou ainda, menos de 0,4 % delas, que nos número do IBOPE constariam como

traço.

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Portanto, a resposta dada pela equipe CAT faz sentido porque se fosse dada pura e

simplesmente do modo como foi solicitada poderia parecer significar que ninguém assiste ao

Globo Ecologia no Canal Futura.

O número de pontos dados pelo IBOPE define a cobertura da veiculação de um único

programa. Como já visto aqui, o programa estudado é veiculado, no Futura, com a freqüência

de 9 (nove) vezes por semana em dias e horários diferentes, atingindo, a cada vez, uma média

de 180 (cento e oitenta) mil pessoas, que certamente não são as mesmas a assistirem um

mesmo programa mais de uma vez. Aliás, essa “ampliação da cobertura” – se pudermos assim

definir – é o motivo da freqüência de 9 (nove) reprises na veiculação semanal.

Outra razão para uma emissora de TV por cabo não divulgar estatística de audiência, é

que esta não demonstra a qualificação do público atingido por essa mídia. Conforme o já

citado Mapa da Mídia (PORTAL DA IMPRENSA, 2006, on- line), 81% (oitenta e um por

cento) dos lares que têm TV por assinatura pertencem às classes sócio-econômicas mais altas

(“A” e “B”). Como o critério para a determinação de “classes” utilizado se baseia em renda

familiar, instrução e posse de bens, pode-se dizer que os espectadores do canal a cabo, além

de terem, obviamente, maiores rendas e mais bens, pertencem também ao segmento mais bem

instruído da população. Assim sendo, formam um setor da população composto pelos

chamados “formadores de opinião”. E essa qualificação é absolutamente correta para um

programa como o Globo Ecologia, que se intitula um projeto de educação ambiental.

Em complemento ao exposto neste capítulo, consideramos necessário frisar que as

intenções dessa pesquisa, ou seja, o interesse em avaliar a imagem de Ecologia construída

pelo programa Globo Ecologia foi exposto à produtora-executiva do mesmo, que demonstrou

bastante interesse no estudo, informando que, embora já tenha havido um tipo de pesquisa

semelhante, trabalhos como esses são sempre relevantes e há necessidade de serem

constantemente atualizados.

Um tempo atrás fizemos seguidas vezes uma pesquisa qualitativa sobre a nossa audiência. Ali, definimos muitos quadros no programa. O programa mudou muito desde o lançamento. Na época, o conceito era dar mais ênfase na solução, na proposta, mais do que na denúncia. E continuamos assim até hoje (KAWAKAMI, 2006, entrevista).

Finalmente resta dizer que a estrutura do programa Globo Ecologia utiliza formas

clássicas do jornalismo para informar, usando em seu roteiro características do padrão criado

pelos jornalistas, entre eles as funções da linguagem, muitas das quais podem ser encontradas

no programa.

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Ora, o jornalismo, e principalmente o jornalismo moderno, soube encontrar os elementos necessários para tornar a linguagem funcional atraente e interessante. Simplesmente procurou utilizar-se mais intensamente e frequentemente das funções clássicas da linguagem, diversificando a narrativa e enriquecendo-a com novas situações. Assim é que ampliou a função informativa, a mais comum e predominante no jornalismo, normalmente chamada de função denotativa ou referencial, combinando-a com outras funções, como a função expressiva ou emotiva (centrada no remetente), função conativa, função fática, função metalingüística e função poética (TORQUATO, 1980, p.80).

Globo Ecologia não é um programa de grande audiência ou com muita divulgação

na TV aberta. Todavia, é assistido por um segmento significativo de um público qualificado e

é conhecido por um grande número de pessoas que nem o assiste. Isso ocorre devido à

crescente preocupação da população brasileira com o ambiente e, evidentemente, por seu

nome estar diretamente associado ao poderoso canal aberto em que é veiculado.

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CAPÍTULO IV - AS TÉCNICAS TELEVISIVAS A SERVIÇO

DO AMBIENTE

O corpus desta pesquisa foi selecionado usando como principal critério a atualização

de dados, isto é, os programas analisados são contemporâneos ao desenvolvimento desta

análise. A opção de escolher programas exibidos recentemente surgiu em uma conversa com a

produtora-executiva do Globo Ecologia, Elza Kawakami. Ela demonstrou interesse nas

conclusões desta análise para fundamentar uma conversa posterior com a Fundação Roberto

Marinho e sua equipe de produção. Para isso, considerou de extrema relevância uma análise

da programação recente, com os moldes atuais que estão indo ao ar.

O Globo Ecologia sofreu algumas alterações desde que foi ao ar em 1990, porém

nesse ano de 2006 a principal mudança ficou restrita à parte gráfica do programa, ou seja, o

logotipo ficou mais envolvente, mudando a cor do símbolo da própria Rede Globo, cuja cor

predominante sempre foi a prata e, para o programa, adquiriu uma tonalidade verde-escura.

Entretanto, as principais características do logo da emissora não foram modificadas,

permitindo ao telespectador associar facilmente o nome do programa ao emblema da Rede

Globo. A mudança gráfica ocorreu no segundo semestre de 2006, então a escolha dos

programas analisados já possuem essa alteração.

Logotipo exibido em 2005.

Logotipo a partir de 2006.

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No primeiro logo, a semelhança com a imagem da Rede Globo é total, pois o Globo é

exatamente o mesmo que é veiculado como símbolo da emissora. Com a mudança de 2006,

essa semelhança se tornou um pouco mais sutil. É possível ainda associar o símbolo da

emissora, porém ele foi modificado para produzir um logo sedutor, de uma maneira mais

natural, de uma maneira mais verde.

O primeiro programa-alvo desta análise se intitula “Usos do solo no Brasil”. Foi

exibido na Rede Globo em 15 de julho de 2006. O segundo escolhido foi o episódio “Beleza

Cênica”, veiculado em 2 de setembro de 2006. O terceiro e último programa, o mais recente

desta pesquisa, tem o nome de “Governança Global”, com exibição em 4 de novembro de

2006.

Todos os episódios escolhidos foram inicialmente gravados em VHS, através do Canal

Futura. Para segurança de qualidade da pesquisa, outras fitas com os mesmos programas

foram retiradas, por via de empréstimo, na Videoteca Global da Rede Globo em São Paulo.

Todos os episódios do programa são gravados pela Videoteca no Rio de Janeiro, diretamente

da fita cedida para veiculação, fornecida pela Raiz Savaget Produções, cuja cópia é enviada

para São Paulo, o que garante a qualidade superior ao gravado do aparelho de televisão.

O Globo Ecologia, além de ser veiculado na televisão 12 (doze) vezes por semana, tem

na Videoteca a chance de ser exibido novamente e com a vantagem de ser em uma mídia que

possibilita a deslocação, pois com um videoteipe simples pode-se exibir as imagens, com

qualidade, em qualquer lugar. Como em toda biblioteca ou videoteca, existe um limite para a

devolução do material, impossibilitando assim uma permanência muito longa com ele. Outra

limitação da Videoteca é que os empréstimos são restritos, sendo possível para universidades,

colégios, organizações não-governamentais e empresas que não a utilizem para fins

lucrativos. Caso não se tenha nenhuma associação com uma dessas entidades, fica

impossibilitado o empréstimo.

Dois dos episódios estudados são apresentados por Guilherme Berenguer e o outro por

Fátima Medeiros, ilustrando assim o que foi o programa no que se refere aos apresentadores

no ano de 2006, quando não houve uma sucessão ordenada entre eles. Guilherme

predominava quando foi substituído, voltando posteriormente no mês de dezembro com a

série “Caatinga”, dividida em 3 (três) partes. Eis outra característica do Globo Ecologia a ser

notada: devido ao curto período de duração do programa, frequentemente a divisão por

episódios fragmenta a matéria que continua na semana seguinte. No corpus desta análise não

se encontra nenhum episódio dividido ou de continuação, pois isso seria um fator complicador

e prejudicaria a pesquisa em seu interesse de investigar, com objetividade, as características

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técnicas e o discurso dos episódios. Uma divisão episódica reduziria a probabilidade de

distinção de recursos.

Apesar dos episódios estudados fazerem parte do mesmo Globo Ecologia, realizados

pela mesma equipe de gravação e com a mesma direção, os 3 (três) programas, além da

temática, diferem significativamente uns dos outros.

O programa “Uso do Solo no Brasil” é o padrão jornalístico ambiental, totalmente

relacionado com o ambiente. Nos outros dois programas, todavia, é possível constatar uma

diferença em relação à temática abordada. Em “Beleza Cênica”, o foco é a beleza da natureza

associada à qualidade de vida do homem. Em “Governança Global”, a temática é a gestão de

governos que colaboram para a preservação do ambiente e como uma liderança é necessária

para a proteção do Globo.

1. A imagem construída de proteção à natureza do programa

O Globo Ecologia usa a linguagem referencial como qualquer programa jornalístico,

pois precisa elucidar os fatos, mostrar o real nas reportagens, trazer imagens da comprovação

dos fatos.

Por outro lado, o uso da função referencial da linguagem é uma das dominantes do discurso científico. Aqui, a intenção é produzir uma informação teórica – História, Física, Filosofia – com a finalidade de transmitir conhecimentos acerca de seu objeto de estudos (CHALHUB, 2001, p.11).

Porém, a função emotiva existe também no Globo Ecologia, pois a informação

veiculada sofre influências ideológicas das pessoas que gravam e levam ao ar as matérias. “A

chamada função emotiva ou ‘expressiva’, centrada no REMETENTE, visa a uma expressão

direta da atitude de quem fala em relação àquilo de que está sendo falado” (JAKOBSON,

2001, p.124-125). O mesmo acontece com a função estética.

Totalmente focado nas características do solo brasileiro, “Usos do Solo no Brasil”,

programa exibido em julho, começa com uma interpretação do ator.

O ator tem diante de si exatamente a mesma tarefa: expressar com dois, três ou quatro aspectos do caráter ou modo de conduta os elementos básicos que, em justaposição, criam a imagem integral concebida pelo autor, pelo diretor e pelo próprio ator (EISENSTEIN, 2002, p.28).

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Sem olhar para a câmera, artifício que faz o telespectador apenas acompanhar os

atores que aparentemente não lhe dirigem o texto, todavia induzem-no a uma visão objetiva,

passiva, como se estivessem assistindo a uma obra de ficção. “Normalmente, o público assiste

a um vídeo objetivamente, isto é, como não-participante” (SQUIRES, 1994, p.53).

Essa cena inicial ganha uma enorme dramaticidade com a música de fundo, as

transições lentas e fusões. Porém, o uso de fusões não pode ser generalizado, pois podem

incomodar e até cansar o telespectador. “Poucas produções ficam melhores pelo uso de fusões

(também conhecidas por mix de imagem)” (WATTS, 1990, p.103).

Quando a trilha acaba, Berenguer agora fala para a câmera, passando a direcionar o

conteúdo do programa diretamente para o telespectador, explanando sobre o assunto a ser

retratado nesse episódio, com alguns trechos rápidos da matéria e encerrando a apresentação

com a entrada de um slide, utilizando o gráfico do programa com o nome do episódio “Usos

do solo no Brasil”.

O programa continua com o ator que, com ajuda do mapa, vai orientando a audiência

com os constantes problemas de erosão do solo. O mapa segue a linha gráfica do programa e

possui uma animação que, ao contrário de imagens estáticas, o torna mais atraente.

O discurso, até então, é formal, pois transmite informações que necessitam de total

credibilidade, não permitindo o uso de palavras informais ou gíria. A própria entonação do

ator é sempre semelhante à leitura de um texto didático e compreensível. “Na medida em que

se dirige a um público não-especialista, cabe ao jornalista-divulgador tornar o seu texto o mais

interessante e acessível possível” (LEIBRUDER, 2002, p.238).

Em off, a repórter Fátima Medeiros começa a narrar sobre um gráfico, explicando que

a matéria foi gravada no interior de São Paulo, porque é onde há a maior concentração de

monocultura agrícola, a cana-de-açúcar, fator agravante na degradação do solo.

Logo após a repórter é mostrada colhendo um depoimento dentro de uma plantação de

cana-de-açúcar para enfatizar o tema abordado pelo programa. “Segue, portanto, que o

cenário de fundo na cena deve ser identificado, ou então o repórter deve referir-se a ele em

sua declaração” (WATTS, 1990, p.219).

O técnico da EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) José Maria

Ferraz é identificado por meio de um GC (gerador de caracteres) e inicia o seu depoimento

em off com a repórter, enquanto são intercaladas imagens do tema prosseguindo, assim, até o

fim do primeiro bloco. Guilherme Berenguer retorna em outra locação, ainda no Estado de

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São Paulo, agora definindo precisamente a cidade da matéria com a ajuda de um gráfico:

Jaguariúna.

Mapa exibido no Globo Ecologia em 2006.

O programa é sempre acompanhado de imagens que identificam o assunto abordado:

imagens de solos degradados, de crateras abertas por erosão, da sede da Embrapa e muita

cana-de-açúcar. São imagens bem “fotografadas”, isto é, bem gravadas, com um correto

controle de luz e movimentos de câmera bem feitos. A trilha sonora de fundo acompanha

sempre o programa, exceto nos depoimentos onde a ênfase é nas palavras dos entrevistados.

“É assim que o tom deve crescer ao pronunciarmos palavras de grande importância na frase

(ênfase)” (CÂMARA JR., 1986, p.19). Os inserts procuram sempre ilustrar o que está sendo

exibido, como, por exemplo, quando Fátima Medeiros apresenta as espécies de árvores que

estão sendo beneficiadas por pesquisas. Ela identifica um pé de urucum e, na seqüência, é

feito um close-up (enquadramento muito próximo do detalhe) de mãos abrindo um fruto de

urucum.

Um exemplo do que pode ocorrer com o solo se um produtor agrícola não se informar

em relação ao ambiente é mostrado na matéria que então se desloca para o Rio de Janeiro,

agora sem ajuda gráfica, pois o tempo da duração do bloco do programa já está se esgotando e

é mais eficiente ilustrar com imagens um problema específico da região, ocasionado pelo mau

uso do solo. Então a repórter explica: “Estamos em Pinheiral, no Sul do estado do Rio de

Janeiro, a imagem do alto da montanha impressiona. Para onde quer que se olhe, lá estão

elas, enormes crateras, chamadas de ‘voçorocas’”.

Em tom de tristeza é mostrada a casa de um morador dessa região fluminense, com

marcas de rachaduras nas paredes de sua casa. Uma panorâmica exibe a pobreza da região,

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onde as ruas são de terra e as casas de madeira. “Nesse movimento, também chamado pan, a

câmera é fixada em um tripé e gira de um lado para o outro” (SHANER, 2003, p.97). O

background também acompanha as imagens, a música é a mesma desde o início do programa,

porém o trecho escolhido possui uma sonoridade quase mórbida para retratar uma pessoa que

sofreu na pele os problemas ocasionados pela degradação ambiental, fazendo, assim, uso da

função emotiva.

Um morador da comunidade local é entrevistado e narra os problemas ocasionados

pela água pluvial que desceu violentamente das encostas. Sua casa se encontra em um bairro

de Pinheiral, bem abaixo das voçorocas, já citadas com as imagens mostradas pela equipe do

Globo Ecologia. A construção de uma seqüência triste é feita para produzir no telespectador o

efeito emocional de como a degradação ambiental pode afetar a vida de muitos.

Quando termina esse primeiro depoimento do morador, uma outra seqüência de

imagens se inicia, mas agora com um trecho da música mais alegre, com uma flauta e um

triângulo ao fundo encerrando o tom de tristeza da reportagem. Isso é feito para ilustrar o que

já foi feito no local para amenizar o problema dessa comunidade. Mais uma vez o nome da

Embrapa é citado, agora em conjunto com o da escola agrícola Nilo Peçanha e ao da

comunidade, demonstrando que devido aos estudos de ambas as entidades foram criadas

barreiras e bacias que contêm a água que escorre dos morros. O morador, agora em outro

depoimento, fala da melhoria ocorrida graças aos pesquisadores: “Com certeza melhorou

100% (cem por cento), porque não desceu mais nada [...]”. A seguir e sem nenhuma

identificação, como no início, o programa volta para o ator que, agora olhando para a câmera,

contribui com algumas outras informações relevantes sobre o tema abordado pelo Globo

Ecologia e faz um resumo do que foi visto nesse programa.

O quadro “Serviço” entra com um texto citando dois sites distintos da Embrapa; a

parte de meio ambiente da entidade e a específica sobre solos. Nesse programa há uma clara

associação de que as benfeitorias à natureza foram produzidas pela Embrapa, mesmo

assumindo o uso de sementes modificadas em laboratórios. Fica aberta, portanto, uma lacuna

de informação referente aos alimentos transgênicos, o que pode ser nocivo ao programa e para

a Embrapa. No retorno do quadro, que não é muito extenso, Berenguer apenas se despede,

dando um “gancho” para o próximo programa, mesmo sem saber qual assunto irá tratar.

No início do programa de setembro, “Beleza Cênica”, uma trilha sonora composta

por uma música clássica já o diferencia da maioria dos outros programas, o que ocorre

também com a montagem de imagens. Em off, reconhece-se a voz do ator Guilherme

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Berenguer em um texto poético, pausado, permitindo um silêncio e falando sobre beleza:

“Harmonia. Forma. Proporção. Perfeição? Com que palavras podemos descrever a beleza?”.

A Poética trata dos problemas da estrutura verbal, assim como a análise de pintura se ocupa da estrutura pictorial. Como a Lingüística é a ciência global da estrutura verbal e Poética pode ser encarada como parte integrante da Lingüística (JAKOBSON, 2001, p.119).

O episódio prossegue usando a função poética e apresentando um depoimento

explanando sobre beleza. Essa apresentação tem fim em um plano do ator fazendo uma

pergunta para o telespectador, pois até então o Globo Ecologia não citou nada a respeito de

consciência ecológica: “O que a beleza tem a ver com ecologia? Pois é o que você vai

descobrir no programa de hoje”. Nesse trecho inicial fica claro o uso da função poética, tanto

no próprio texto como no ritmo da montagem. Dois poemas são declamados e marcados na

tela com as palavras em GC (gerador de caracteres). Um de autoria do filósofo escocês David

Hume e outro de Carlos Drummond de Andrade, ambos sobre o tema do programa: a beleza.

A primeira ligação de beleza com ambiente é feita no depoimento de Clayton Lino, presidente

da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, gravado em uma locação onde não há uma

associação rápida do telespectador ao lugar: “A beleza [...] foi o [...] ponto de partida para a

própria idéia de criação dos Parques Nacionais”.

Episódio “Beleza Cênica” 2006.

Novamente a reportagem propriamente dita se inicia sem identificação do ator, que

está elucidando o que será visto dessa vez. Assim como acontece com a atriz Fátima

Medeiros, que, após breve pausa, entra no comando da reportagem. A matéria também inicia

com música clássica e com as questões sobre beleza já relacionadas no início do programa. A

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clara repetição promove, em termos técnicos, um cansaço, pois o impacto da beleza já não

surte o mesmo efeito, não sendo mais uma novidade.

O depoimento de Valmir Gabriel Ortega, diretor de ecossistemas do IBAMA/MMA

(Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis do Ministério do

Meio Ambiente), quebra essa repetição poética quando, para ilustrar seu depoimento, são

usadas muitas imagens de arquivo.

O diretor cita até lugares fora do Brasil para falar de beleza. Mas, quando finalmente

retorna ao depoimento original, são mostradas, ao fundo, imagens do “Dedo de Deus”, a

belíssima formação rochosa situada na Serra dos Órgãos, entre as cidades de Teresópolis e

Petrópolis no estado do Rio de Janeiro.

Em seu discurso, há a apresentação de mais lugares do Brasil, explicando a

importância dos Parques Nacionais, que, além de serem criados pela sua beleza natural,

ajudam a preservar a biosfera e a cultura local das regiões. Segue-se esse depoimento até o

final, citando o título do episódio do Globo Ecologia: “ esse é o grande ganho de uma

paisagem natural, cada um olha de um jeito, cada um modifica nela o que é belo pra si,

portanto, nesse sentido, beleza cênica é fundamental”. Ao final do bloco, a associação entre

beleza e Ecologia, é mais uma vez reforçada.

Guilherme Berenguer anuncia o segundo bloco com a equipe em uma outra locação,

dessa vez no Parque Nacional dos Aparados da Serra no Rio Grande do Sul. O que se segue é

uma verdadeira divulgação do parque, com imagens exuberantes dos canyons e de cachoeiras.

Fátima Medeiros colhe depoimento de pessoas ligadas ao Aparados e a beleza é sempre

enaltecida.

Ela cita a história do padre Balduíno Rambo, considerado um dos primeiros

ambientalistas do Rio Grande do Sul. Então a voz é reconhecida por programas passados; o

diretor Cláudio Savaget interfere no episódio para mostrar, em off, sob belíssimas imagens

dos canyons, um texto extraído, segundo ele, do livro Fisionomia do Rio Grande do Sul do

padre Rambo: “Nos mirantes mais altos do Rio Grande do Sul, com as forças milenares da

erosão a trabalhar diante dos olhos [...] As gerações do futuro nos hão de agradecer a

piedade e reverência com que conservamos as mais grandiosas paisagens de nossa terra”.

Mais uma vez se faz o uso da função poética.

Conforme o trecho vai sendo narrado, concomitantemente o gerador de caracteres

mostra palavras na parte de baixo da tela, no chamado efeito crawl, no qual o GC se origina

de um lado da tela movimentando-se em direção da outra extremidade. Esse efeito facilita a

leitura até a aplicação de outro efeito, usado quando o nome do padre aparece no final,

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assinando o fim da leitura. Aqui a imagem fecha em fade, isto é, fazendo uma fusão para um

quadro preto e voltando para a matéria da mesma forma. Esse recurso é utilizado no cinema

para mostrar uma grande elipse de tempo, uma mudança de locação ou uma distinção muito

grande de temas abordados, sendo este último o caso do programa analisado. “Uma grande

mudança de tempo é geralmente indicada pelo fade” (SQUIRRES, 1994, p.88). A matéria

então continua em tom de divulgação turística, com Fátima Medeiros entrevistando pessoas

da comunidade, indagando a respeito do turismo e de como ele beneficiou a comunidade

local.

A associação feita entre ambiente e turismo reforça o conceito de que o Globo

Ecologia é um programa, acima de tudo, voltado para a consciência ambiental. No

depoimento de Dilton Pacheco, diretor de turismo de Jacinto Machado – cidade dos canyons

“gaúchos” em Santa Catarina –, explica-se o porquê do uso da agricultura orgânica no local.

O objetivo explicitado é o de atrair a atenção de turistas potenciais, interessados nesse tipo de

agricultura ecologicamente correta, que ao mesmo tempo só traz vantagens à comunidade,

reduzindo o impacto ambiental: “É, mesmo que demore um pouco, [...] pela visão de

desenvolvimento de turismo sustentável, mas que seja uma fonte, de não só melhorar a

economia da cidade, mas as questões sociais e ambientais [...]” Reforçando o enfoque

turístico, imagens maravilhosas do amanhecer no canyon Fortaleza são mostradas

acompanhadas de uma trilha suave que enaltece a paisagem. Então a matéria se encerra com o

depoimento de um paulista, Luiz Felipe Buff, que explica porquê trocou o cenário urbano pela

beleza do local.

Após isso, entra o quadro “Serviço”, dessa vez apenas exibindo o site do IBAMA. O

ator, a seguir, encerra da mesma maneira dos outros episódios, chamando o telespectador para

o próximo programa.

Em sua forma mais básica, editar é simplesmente uma questão de remover tomadas fracassadas, ou reduzir certas seqüências, produzindo uma fita de comprimento administrável. Entretanto, você pode levar a edição um passo à frente, usando-a para acrescentar limpeza, impacto e prazer de assistir seu vídeo (SQUIRRES, 1994, p.84).

Tecnicamente esse episódio teve uma edição singular, usando uma montagem muito

diferente da usada nos outros programas. Aqui, a montagem acompanha o ritmo poético de

alguns momentos do Globo Ecologia de setembro de 2006. A trilha dita a suavidade do

assunto e fusões são usadas para atrair a atenção com a beleza da natureza. Essa é a proposta

desse episódio, que induz uma forte imagem de que, se não preservarmos, podemos extinguir

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toda a beleza natural do nosso país e perder a possibilidade do turismo ecológico trazer os

possíveis benefícios para a comunidade. “[...] o ecoturismo tem por definição o ambiente

natural como seu recurso básico” (WEARING, 2001, p.15).

Na feitura poética – técnica de sabedoria daquele que desenha a poeticidade da mensagem – o poeta seleciona, escolhe dentre/por entre/ os elementos expostos no código, aqueles que vai utilizar para compor o sintagma, o encadeamento, a combinatória (CHALHUB, 2001, p.37).

No terceiro programa, “Governança Global”, podemos observar logo nos primeiros

minutos uma diferença em relação aos outros episódios. Neste, a repórter assume o papel de

atriz e interpreta (sem olhar para a câmera) um texto em off. Como em todo início do Globo

Ecologia o texto é mais elaborado e lido com entonação diferente do narrativo, mas, ao

contrário dos outros episódios desse corpus, essa atuação é breve. Então, rapidamente a

apresentadora, de frente para a câmera, fala diretamente ao telespectador. “Instintivamente o

expositor aumenta ou diminui o volume e a elevação da voz de acordo com o ambiente assim

constituído” (CÂMARA JR., 1986, p.18). Essa introdução já torna possível perceber que,

diferentemente do que fazia Guilherme Berenguer nos outros episódios, a apresentadora,

mesmo utilizando idêntica forma narrativa das outras apresentações, agora a usa em trocas de

imagens com um plano próximo, ou seja, em close-up. Isso envolve o telespectador em um

contato mais próximo ao ator, permitindo o acompanhamento detalhado das expressões dos

atores. Esse recurso reduz o campo de visão, mas é necessário quando o telespectador precisa

focar o olho próximo ao objeto ou pessoa. “Com o close-up (enquadramento na altura da

gola), o plano se torna íntimo. Ou parece estar colocando a pessoa sob pressão, se a entrevista

for uma confrontação, em vez de um bate-papo” (WATTS, 1990, p.159). Com o uso desse

enquadramento de imagem, o “cara-a-cara” fica mais fortalecido.

Além do mais, os meios televisivos podem criar a ilusão do contato, que é o exemplo da enunciação e da recepção por meio de uma representação nas imagens da posição de cara-a-cara entre ambos (a posição do apresentador do telejornal da televisão de frente pra câmera e, portanto, na frente do telespectador, simula o cara-a-cara da situação da interlocução) (CHARAUDEAU, 2003, p.143, tradução nossa).

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Close de Fátima Medeiros.

No início desse episódio também há indagações como no da “Beleza Cênica”. Agora,

o telespectador é questionado sobre o que significa Governança. A própria apresentadora cita

uma compreensão errada da palavra para depois despertar a curiosidade na audiência:

“Quando alguém fala em Governança Global, a primeira coisa que nos vem à cabeça é um

regime autoritário, um sistema de poder único com carta branca para governar o mundo, não

é mesmo? Mas no programa de hoje você vai descobrir que não é bem assim”. Fátima

Medeiros, em seguida, conta que o primeiro exemplo de governança foi a criação da ONU

(Organização das Nações Unidas), com imagens da entidade aparecendo na tela. A seguir, ela

cita as ONGs focadas totalmente no meio ambiente, a WWF (World Wild Foundation), o

Greenpeace e o PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), também com

imagens das entidades, pois são exemplos de união, de governança que auxiliam na

preservação da natureza. Então a ECO 92 é lembrada, com imagens de arquivo, devido à sua

importância na defesa do meio ambiente, através da citação e ilustração do documento criado

no encontro, a Agenda 21, que tem sido de suma importância para o movimento

ambientalista.

Introduzida assim, a matéria propriamente dita do programa começa com a repórter

Fátima Medeiros deslocada com uma ENG no estado do Pará, na mesma floresta Amazônica

citada anteriormente, que demonstra como a consciência ecológica modificou a vida da

comunidade de Porto de Moz que, agora, por iniciativa de uma ONG, a Verde para Sempre,

se utiliza de madeira certificada pelo Ibama para corte. A própria comunidade dá seu

testemunho ao telespectador através de um morador, Enivaldo Marques, presidente da

associação da comunidade Juçaba, informando onde foram realizadas essas mudanças: “Prá

nóis mudô, porque hoje nóis têm a garantia da terra em nossas mão, né? Hoje a gente já se

sente dono da terra, porque antes a gente não tinha segurança, a gente vivia ameaçado pelas

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grandes empresas madeireiras que tavam detonando tudo, demarcando grande áreas e

pequenas nessa região e ai era a maior preocupação muitos companheiros ameaçados até de

morte, né? Hoje já deu uma tranqüilizada [...]”.

No segundo bloco do programa, a apresentadora retorna fazendo uma breve

retrospectiva do que foi visto até então e, a seguir, entra no ar a continuação da matéria na

Floresta Amazônica, mas agora com um deslocamento, que é ilustrado em belas imagens de

passeio de barco. Nessa embarcação, a apresentadora, sem olhar para a câmera, novamente

atua como se estivesse em uma obra de ficção. Nesse ponto, pela primeira vez nesse episódio,

há o auxílio do gráfico com o mapa do Brasil para ilustrar a área de atuação do ARPA (Áreas

Protegidas da Amazônia).

O ARPA é um programa do Governo Federal, com duração prevista de dez anos, para expandir, consolidar e manter uma parte do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) no Bioma Amazônia, protegendo pelo menos 50 milhões de hectares e promovendo o desenvolvimento sustentável da região (MMA, 2006, on-line).

Como em todas as matérias externas, aqui o discurso é narrativo e em tom positivo,

transmitindo ao telespectador o sucesso do projeto que vem dando certo e que visa tão

somente à ampliação dos benefícios já atingidos. O maior destaque desse Globo Ecologia em

relação ao ARPA fica por conta da grande parceria entre ele e o Governo Federal, órgãos do

Ministério do Meio Ambiente, o banco privado alemão patrocinador, ONGs e,

principalmente, a comunidade, que dissemina a conscientização ambiental. “Qualquer forma

de intervenção governamental exige que a prática da máxima de Hardin (1968) sobre a

“coerção mútua” seja reciprocamente acordada, pois, sem a aceitação pública da autoridade, a

regulamentação não será cumprida” (WEARING, 2001, p.27).

Para ilustrar essa parceria, o programa se utiliza de depoimentos. Cada setor citado

tem a oportunidade de se pronunciar a respeito do projeto. A sucessão de depoimentos inicia-

se com João Paulo Capobianco, secretário nacional de Biodiversidade e Florestas/MMA; e

segue com Cláudio Maretti, representante do WWF – Brasil, Ronaldo Weigand, coordenador-

geral do ARPA; Jeans Ochtrop, diretor de recursos naturais do banco KFW; e Adriana

Moreira, gerente do ARPA no Banco Mundial. Uma voz em off encerra os depoimentos para

reforçar que sem o apoio da comunidade esse projeto não teria o mesmo sucesso. Essa

intervenção é, na realidade, uma introdução aos próximos depoimentos dos moradores

beneficiados pelo projeto, todos com o mesmo discurso positivo, como o de Luziane

Rodrigues da Silva, integrante da Associação de Produtores Rurais do Rio Trombetas: “A

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gente se sente útil, além de tudo útil, né? Eu fazendo assim uma analise assim de não há

muito tempo, né? Mas de dois anos pra cá, a gente vê pessoas bem conscientes, assim, do que

é meio ambiente, de que tem que preservar, que tem cuidar, né? E assim a sociedade em si,

né?, ela tá criando conselho, projetos, tá incentivando [...]”.

Fátima Medeiros interrompe novamente os depoimentos, mas agora para não deixar

dúvidas aos telespectadores sobre o uso das verbas. Faz questão de mostrar uma Central de

Controle de Dados aberta à consulta pública. Explica que o projeto tem um determinado

tempo de atuação, isto é, o apoio do governo só irá até a sua conclusão em 2013 e, por isso,

criaram um fundo monetário para as reservas e comunidade se auto-sustentarem, continuando

o sucesso do projeto ARPA após aquela data.

Globo Ecologia, posteriormente, mostra a presença de futuros cientistas, isto é, alunos

de Biologia que são voluntários dos projetos ambientais. Na verdade esses alunos – jovens

ligados ao meio ambiente – são os principais alvos desse programa de TV. A apresentação faz

uma citação em off da importância desse voluntariado e da pesquisa: “... tem gente aqui que

veio de longe. De São Paulo, de Brasília. Cada um doa seu tempo e seu trabalho para

garantir uma importante etapa do ARPA, a pesquisa”. Uma seqüência de imagens desses

alunos trabalhando é mostrada com o acompanhamento de um background alegre, com flautas

e violão trazendo grande impacto emocional para quem assiste (mesmo durante o depoimento

de uma aluna voluntária essa trilha não acaba). Este é um diferencial no corpus analisado do

Globo Ecologia, que em geral exibe todos os depoimentos sem trilha de fundo, um recurso

utilizado para dar ênfase ao entrevistado. Quando um bg é colocado, pode haver interferência

na sua mensagem, pois podemos prestar mais atenção à música do que ao conteúdo da

entrevista.

Fátima Medeiros volta para encerrar o programa na mesma locação do início, porém,

antes, passa uma mensagem de conscientização para o telespectador: “... A Amazônia, por

exemplo, é importante para o equilíbrio do clima e da biodiversidade do planeta inteiro, por

isso, esses problemas exigem a participação de todos numa grande aliança, que reúne desde

as instituições internacionais, como o Banco Mundial, até os povos da floresta”.

O quadro “Serviço” entra com um slide – o maior em conteúdo do corpus – com 4

(quatro) sites, destinados a quem procura mais informações sobre as ações da ONU e do

ARPA.

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2. Análise do conteúdo pedagógico ambiental do Globo Ecologia

Os textos dos programas foram analisados com embasamento na análise do discurso

para uma melhor compreensão e valor do conteúdo pedagógico emitido. “Compreender como

um texto funciona, como ele produz sentidos, é compreendê-lo enquanto objeto lingüístico-

histórico, é explicitar como ele realiza a discursividade que o constitui” (ORLANDI, 2005,

p.70). O programa Globo Ecologia se diz interessado na pedagogia ambiental, em colaborar

com as informações relevantes para a sociedade, conforme o próprio site da TV Globo.

O Globo Ecologia mostra exemplos de preservação da natureza e de educação ambiental, com o objetivo de conscientizar o telespectador sobre a importância do meio ambiente, além de denunciar problemas como a devastação, a poluição, o desperdício e o descaso em relação ao patrimônio natural brasileiro (GLOBO, 2006, on-line).

Analisando o conjunto dos três programas escolhidos para formar o corpus desta

pesquisa, fica evidente que dois episódios estão preocupados com a conscientização direta do

telespectador, enquanto um deles tem um interesse maior em mostrar como a beleza pode

ajudar o ambiente e as comunidades. O diferencial no episódio “Governança Global” é o fato

de a apresentadora falar diretamente com o telespectador, olhando fixamente para a câmera

em uma atitude que se assemelha a uma conversa. Esse é o padrão do jornalismo televisivo, é

o padrão estético que serve para informar. Suas palavras questionam a todos e, didaticamente,

dão exemplos do que pode ser feito para colaborar com a preservação ambiental: “Entre em

contato com as associações, crie grupos de trabalhos, realize ações de conservação dentro

da sua casa, evitando, por exemplo, produtos que agridem a natureza. Faça a sua parte, esse

é o conceito moderno de cidadania”.

Essa preocupação é explanada de uma maneira bastante sucinta, usando uma

gramática de fácil compreensão, mesmo quando exibida para a audiência em forma poética na

apresentação do programa, com a atuação dos apresentadores, como no caso de “Usos do solo

no Brasil”, onde o ator Guilherme Berenguer, em off, com imagens dele mesmo, sem olhar

pra câmera, diz: “Um terço do nosso planeta está virando deserto. É como se a Terra

morresse aos poucos, perdendo dia após dia a capacidade de produzir vida”.

O discurso jornalístico, enquanto um discurso de transmissão de informação, caracteriza-se num primeiro momento pela objetividade, clareza e concisão da linguagem. Dentro desta modalidade discursiva, é o

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fato que ocupa a posição central, cabendo ao jornalista apenas noticiá -lo (LEIBRUDER, 2002, p.232).

O ator Guilherme Berenguer, 2006.

No início poético do episódio “Beleza Cênica”, há uma pausa entre as palavras,

produzindo um silêncio: “Harmonia. Forma. Proporção. Perfeição? Com que palavras

podemos descrever a beleza?”. “O silêncio não é em si uma forma de expressão

particularmente densa, só tem sentido no seio de uma comunicação existente, como

contrapartida ou como marca de uma linguagem instituída” (GUSDORF, 1995, p.79).

Os episódios do corpus foram vistos e revistos procurando uma fiel compreensão de

seu texto. A informação é a prioridade do Globo Ecologia, porém não é uma informação

neutra. A produção procura passar ao telespectador a sua ideologia, seja de modo direto ou

indireto. “De qualquer forma, a AD [Análise do Discurso] não pode deixar de refletir sobre o

gênero quando aborda um corpus. Um enunciado ‘livre’ de qualquer coerção é utópico”

(MAINGUENEAU, 1997, p.38).

Nenhum termo científico foi encontrado nos 3 (três) episódios analisados. Há uma

preocupação em se produzir um discurso mais didático para atingir um leque maior de

telespectadores, independentemente do seu grau de instrução. Ecologia é uma ciência e como

tal, possui termos técnicos de difícil compreensão para os leigos. O que pôde ser observado

foi o uso de termos ditos “populares’, usados pelas comunidades. Por exemplo, no episódio

do solo, usou-se o nome “urucum”, ao invés do científico “bixa orellana”. No mesmo

episódio, para descrever uma das espécies mais resistentes de plantas do Brasil foi usado o

nome “capim comum”, que é de fácil entendimento para qualquer tipo de público, a planta em

questão foi o “capim cymbopogon”.

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Na medida em que o discurso de DC (divulgação científica) se dirige ao público leigo, a didaticidade se apresenta como uma de suas características essenciais. Assim sendo, a fim de aproximar seu leitor do assunto tratado pelo texto, o autor/jornalista de DC tende a trabalhar a linguagem de forma acessível, tornando compreensível a terminologia própria do jargão científico (LEIBRUDER, 2002, p.241).

Como já citado, a apresentação do programa por um jovem ator é uma exigência da

Fundação Roberto Marinho. Isso requer uma breve interpretação durante o programa, seja de

Guilherme Berenger, da repórter Fátima Medeiros, do próprio diretor Cláudio Savaget ou de

qualquer outro repórter que atuar. Nessa pesquisa, os programas tiveram os dois

atores/apresentadores que mais apareceram nos episódios do segundo semestre de 2.006,

porém eles não foram os únicos. Afinal, Globo Ecologia não tem repórter e nem

ator/apresentador fixos. Mesmo considerando que a grande maioria deles não seja de atores de

telenovela, todos fazem em sua atuação uma interpretação do texto ambiental do programa.

“[...] em um primeiro momento, é preciso considerar que a interpretação faz parte do objeto

de análise, isto é, o sujeito que fala interpreta e o analista deve procurar descrever esse gesto

de interpretação do sujeito que constitui o sentido submetido à análise” (ORLANDI, 2005,

p.60).

O enfoque da interpretação relaciona o sentido proveniente da categorização referencial (externa) com o que surge da categorização discursiva (interna), sentido configurado por um sujeito atuante-falante-pensante que trata de influir no outro e se constitui assim na entidade coletiva que dá testemunho das regras sociais (CHARAUDEAU, 2003, p.32, tradução nossa).

Analisando o roteiro de todos os programas, verificamos que a sintaxe dos textos dos

episódios flui tranqüila, sem erros de português, seja por parte dos apresentadores, repórteres,

ou até nos textos que aparecem em off. Nos depoimentos da comunidade, entretanto, é difícil

controlar a linguagem. A gramática errada, ou melhor, “não-formal”, é a realidade das

comunidades brasileiras, carentes de educação “formal”. Os “erros” podem ser

compreendidos também como uma forma de reivindicar a educação básica para as

comunidades carentes do Brasil. No depoimento de uma moradora da Amazônia, Inácia

Vieira do Nascimento, no episódio de "Governaça Global", é possível a compreensão da sua

fala, mesmo sem seguir as regras da gramática. Assim, mesmo todas as falhas da educação

básica não impedem que uma representante da comunidade tenha uma correta consciência

ambiental: “Destruir a nossa natureza, aqui não, ninguém destrói isso não.”

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Ao nível locucional, a língua se apresenta como a produção de sons pertencentes a um certo vocabulário, cuja organização se faz segundo as regras de uma gramática e possuindo, além disso, uma certa significação, isto é, sons a que se atribuem um certo sentido e uma certa referência (VOGT, 1977, p.25).

Na primeira reportagem analisada, é exposta objetivamente e de forma didática para

compreensão de todos a opção de renovar o solo com lodo de esgoto, conforme teste realizado

pela Embrapa, cujos resultados são mostrados claramente pela reportagem. Durante o

depoimento de outro técnico da Embrapa, a repórter explica as vantagens e limitações do uso

dessa técnica, mostrando ser necessário muito cuidado no manuseio desse tipo de material,

sendo obrigatório vestir botas e máscara para evitar contaminação. Nesse momento, com a

responsabilidade de quem está ensinando, o programa passa a tratar mais detalhadamente o

tema abordado, alertando para os perigos que corre o telespectador que tenha a intenção de

reproduzir a técnica. Isso é feito também para explicar o problema de erosão das “voçorocas”,

ou “boçorocas”, do Rio de Janeiro. Outro depoimento é colhido, agora porém de um técnico

de uma instituição de ensino agrícola: o Colégio Agrícola Nilo Peçanha. Novamente, de

maneira simples, isto é, didática, é mostrado o que ocorre com o solo degradado. A câmera

grava alguém jogando um pouco de água em um solo tão prejudicado que a água nem é

absorvida, sendo inteiramente escoada.

Os programas também exaltam a importância da participação da comunidade em todos

os projetos. Os textos se dirigem a quem vive em torno do problema, no campo e naquilo que

se tem de prestar atenção. Em relação ao solo, o nome da Embrapa é citado várias vezes nos

depoimentos colhidos. Entre eles há um que é feito através de um discurso mais didático. É

aquele em que um técnico da instituição dá exemplos do que pode ser feito para evitar a

erosão, que ocasiona a voçoroca: “[...] pra isso práticas simples podem ser adotadas, como o

próprio planejamento da propriedade, a rotação de culturas, a implantação de cultivos em

faixas, o uso de técnicas pra quebrar a força das enxurradas [...]”. Em cima desse enfoque e

em off, Fátima Medeiros explica que algumas plantas usadas nessas técnicas são produtos da

biotecnologia, pois são incorporados microrganismos nas sementes, que as tornam mais

resistentes. Então, para encerrar a matéria, um aluno de escola agrícola fala da satisfação de

trabalhar naquela região, apesar de ser um trabalho árduo, e demonstra sua alegria em obter

resultados “glorificantes”. O tom de enaltecimento do episódio evita que se fale em produtos

“transgênicos”, preferindo o uso do termo “produtos da biotecnologia” e dando ênfase a um

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único aspecto positivo, a “maior resistência”, deixando de lado os desconhecidos, mas

possíveis, malefícios da mutação genética na vegetação.

A comunidade sempre tem um espaço para expor suas opiniões, referentes aos temas

abordados nos programas. É sempre possível constatar depoimento de pelo menos um

morador das regiões visitadas pela equipe do Globo Ecologia. As comunidades, em sua

maioria, são pobres e afastadas, mas, no programa “Beleza Cênica”, excepcionalmente, o

indivíduo que representa a comunidade local é um empresário, dono de uma pequena loja de

café, que abandonou a cidade de São Paulo e procurou abrigo na pacata cidade de Cambará do

Sul, no estado do Rio Grande do Sul, base do Parque dos Aparados, mostrado na reportagem.

Não há indício de uma interiorização explícita da comunidade local, porém nos três episódios

analisados, a palavra da comunidade não é ouvida primeiro. A preocupação didática faz com

que as primeiras entrevistas sejam de profissionais ligados diretamente ao ambiente, ao tema

proposto para o programa.

Apesar de os textos desses emissores institucionais pertencerem a formações discursivas diferentes, moldadas por diferentes significativas de posicionamento ideológico [...], eles não se diferenciam muito quanto à imagem atribuída aos receptores, sempre infantilizados e avaliados como inferiores intelectualmente, destinatários passivos de um discurso pedagógico, autoritário e arrogante, que aquelas entidades pretendem impor como exclusivos detentores do saber e do poder (PINTO, 2002, p.59).

Na visão ideológica dos jornalistas que montam as pautas das reportagens, a ideologia

do programa é a consciência ambiental, a informação é relevante para a propagação da

consciência ecológica e todo material analisado é trazido aos telespectadores como sendo de

credibilidade. “A análise do discurso não procura o sentido “verdadeiro”, mas o real do

sentido em sua materialidade lingüística e histórica. A ideologia não se aprende, o

inconsciente não se controla com o saber” (ORLANDI, 2005, p.59).

Em todos os episódios do corpus é possível constatar que mesmo mostrando imagens

da degradação da natureza como as fortes erosões acarretadas por um mau-uso do solo, o

discurso é otimista e o tom usado não é opressor e sim amistoso. A agressão à natureza é uma

realidade e os problemas estão por toda parte, porém fica claro que a intenção do Globo

Ecologia é mostrar que existem soluções e que elas já estão sendo aplicadas. Para isso, é

usado um discurso moral para motivar o telespectador a continuar, ou começar, a auxiliar na

propagação dessa consciência ecológica. É com essa postura que o ator Guilherme Berenguer

aparece, após fade, e, olhando diretamente para a câmera, procura fortalecer o assunto focado

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no episódio “Beleza Cênica”, propagando uma mensagem de conscientização: “Mas, pra que

essa beleza toda possa ser vista pelas próximas gerações, cada um de nós tem que cuidar um

pouquinho, apoiando as ações de preservação e conhecendo mais sobre a natureza; deixando

que ela também transforme você”. “O discurso moral tem a importância para reagir à

sociedade e para guiar a conduta dos indivíduos” (MORRIS, 2003, p.175, tradução nossa).

É comum aos apresentadores se dirigirem aos telespectadores coloquialmente, como

“nós”, ou “eu”, para dar a conotação de que o programa Globo Ecologia está junto com a

audiência nessa batalha pela conscientização ambiental. Pretendem, com isso, eliminar

distâncias, colocando-se próximos e, portanto, passíveis de interação. “A linguagem é

importante, portanto, na constituição do sujeito empírico que se identifica com o “eu” do

discurso. Porém, este sujeito empírico pressupõe, por sua vez, o sujeito transcendental, a

estrutura universal da subjetividade” (MARCONDES, D., 1996, p.432).

O tom moralizador e otimista do programa exerce uma função pedagógica, que

depende de atitudes locais, inclusive dentro de nossas casas, e isso é enfatizado nas palavras

de Fátima Medeiros, que muda um pouco o timbre da voz quando se dirige aos

telespectadores para gerar um destaque em seu texto: “É a governança global, de

responsabilidade de cada cidadão, como eu e você. Então, que tal começar com pequenas

ações na sua comunidade?”. “O tom, por conseguinte, tem por função valorizar determinadas

palavras, precisando-as melhor, indicar como devemos recebê- las do expositor e revelar toda

uma gama de sentimento deste em referência ao que nos diz” (CÂMARA JR, 1986, p.20).

A preocupação de passar essa mensagem pedagógica ambiental é clara nos 3 (três)

episódios do corpus. Mas o foco ambiental do Globo Ecologia é deixar transparecer que

muito está sendo feito e que podemos atingir um grau maior de consciência ecológica. A

produção do programa sabe do poder da mídia, usada como veículo de propagação

pedagógica ambiental. “Ensinar pela televisão não significa instalar uma câmera na sala de

aula. Ela exige uma mudança radical, em termos de atualidade, na estrutura didático-

pedagógica comumente utilizada” (NISKIER, 1985, p.44).

A Ecologia está acessível a quem tiver um aparelho televisor. E a divulgação científica

é produzida através do programa, que atinge uma audiência qualificada e, para seu horário,

bastante representativa. Se o seu contexto permitisse uma veiculação em um outro horário na

TV aberta, o resultado do IBOPE poderia ser muito mais significativo: “[...] pode-se dizer que

o objetivo da atividade de DC (divulgação científica) é justamente o de permitir ao grande

público adentrar neste universo cujo acesso até então lhe fora impedido pela opacidade de seu

discurso” (LEIBRUDER, 2002, p.234).

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Em todos os episódios aparecem seqüências de imagens de impacto ambiental, como a

destruição de florestas ou enchentes. No episódio de novembro, por exemplo, é mostrada uma

ave aquática toda coberta de petróleo; em outro episódio, mostra-se um depósito de lixo sem

tratamento e a céu aberto; em outro programa ainda, uma imagem de satélite torna visível a

camada de ozônio. Essas exposições são exibidas para justificar o porquê surgiu e é necessária

uma consciência ecológica mundial. Todas as imagens exibidas não possuem definição da

origem, como é o caso das cenas da Floresta Amazônica, nas quais, com a intenção de dar

coerência à edição e ilustrar sua situação, foram mostradas imagens de pessoas com camisetas

da WWF sem dar os respectivos créditos pelas imagens, fazendo-se entender que todas foram

produzidas pelo programa.

O formato documental produzido no programa é bem-realizado. A captação dos

depoimentos, em sua maioria feitas em externas, é adequadamente “fotografada”, ou seja, o

entrevistado permanece em um lado da tela, deixando um espaço livre e, pelo fato do mesmo

não olhar para a câmera, gera no telespectador nítida impressão de estar objetivamente

assistindo uma conversa interessante, na qual não tem como interferir. Aqui, o depoente fala

para o repórter e para todos ouvirem, diferentemente do “cara-a-cara” já citado.

Neste ponto de nossa análise, entretanto, não podemos deixar de citar um erro técnico,

ocorrido no início do programa “Beleza Cênica”, quando o entrevistado explana sobre beleza

de uma maneira que deveria ser coloquial, isto é, através de tomada lateral e olhando para o

interlocutor. Ao invés disso, esse entrevistado se posiciona olhando para a câmera,

demonstrando que foi mal instruído antes da gravação, visto que ele nem sabe para onde olhar

e uma vez até visualiza a lente da câmera e, noutra, levanta um pouco os olhos. Enfim, fica

evidente que ele não foi instruído para onde deveria olhar durante a gravação da entrevista.

A gravação feita em DVCam, como citado em outro capítulo, é facilitada pelo

pequeno peso e a utilização simplificada da câmera PD 170 da SONY permite a gravação sem

o uso de tripé, embora a produção possa utilizá- lo, por segurança, para produzir movimentos

de câmera mais tranqüilos e soltos, devido também à sua leveza, todas as imagens vistas

possuem firmeza na captação.

A montagem do programa é o que podemos chamar de documental. Em alguns

momentos existe ousadia, porém, na maioria, a edição segue o padrão, com cortes secos e

fusões. Apenas no episódio “Governança Global” a equipe utilizou uma transição

diferenciada dos outros programas. Ali, foi usada uma transição comum ao Adobe Premiere e

ao Final Cut, softwares de edição linear, chamado wipe, na qual a imagem se desloca para os

lados (esquerdo ou direito). Cabe lembrar, todavia, que nesse episódio o número de

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depoimentos é grande e, para não prejudicar o ritmo da edição, optou-se por usar esse efe ito

menos comum de transição.

Por outro lado, o episódio “Usos do Solo no Brasil” tem uma edição de imagens

“padrão”. Nele, foram usados apenas dois tipos de transições: as fusões e o corte seco. O

ritmo da edição era coerente com a trilha de fundo escolhida, os planos eram rápidos, não se

alongando muito, e os movimentos de câmera foram feitos, para não deixar as imagens

cansativas. Esse episódio tem toda uma narrativa de documentário. Apenas no início o

discurso usa a função poética, porém, na maioria das vezes, a função narrativa predomina.

A edição dos programas é feita por ilha não- linear, entretanto a facilidade de

montagem, devido à escolha de um formato padrão, é plausível para qualquer software, desde

um profissional, como no caso do AVID, até um para principiantes, como o Liquid Edition.

Portanto o que importa não é o total domínio da técnica do software e sim a sensibilidade do

montador ou produtor que dá o veredicto final às matérias que serão veiculadas.

A parte gráfica é um pouco mais complexa e foi justamente ela que sofreu a maior

alteração nesses 16 (dezesseis) anos de programa. Os mapas ilustrados no corpus, assim como

as vinhetas são de elaborações em programas de desenhos e animações de alta tecnologia. Se

não for possível ou não se quiser mudar o conteúdo e o formato, a “cara” do programa pode

ser “maquiada”, deixando-o um pouco mais atraente e auxiliando sua intenção didática.

Em nenhum momento podemos esquecer que o corpus analisado é um programa de

televisão, veículo que não facilita ao telespectador a avaliação da credibilidade. Entretanto,

propondo-se a assistir ao Globo Ecologia nas manhãs de sábado, um horário de baixa

audiência, ele tem realmente interesse pelas informações que serão divulgadas, ou não

assistiria algo que não o interessasse, ou se não confiasse nas informações fornecidas pelo

programa.

O espectador acredita que está assistindo a eventos espontâneos enquanto eles se desenrolam e as pessoas pensam que estão formando suas próprias opiniões. Na realidade, o produtor escolhe que eventos mostrar, os organiza em uma seqüência para apoiar o ponto de vista específico e pode até mesmo acrescentar um comentário para enfatizar isso (SHANER, 2003, p.7).

Globo Ecologia é um programa muito bem produzido, onde os erros técnicos não

são comuns. Às vezes, por sair do padrão estético usual, pode aparentar estar cometendo um

erro de edição, como no episódio “Beleza Cênica”, quando a repórter lê seus textos em off e o

background não aparece. Como nos outros programas assistimos quase sempre os offs com

trilha, sentimos a falta do som de fundo nesse episódio. Esse pode até ser um erro técnico,

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porém o fato é que ocorrências como essa não comprometem o conteúdo da matéria. A

qualidade geral do Globo Ecologia leva o espectador a não prestar atenção nos erros e defeitos

humanos e perdoáveis de um bom programa, que passa com clareza e eficiência o conteúdo

didático ambiental proposto. Enfim, o que sobressai a tudo, no corpus estudado, é o cuidado

técnico em todas as gravações de imagens, nas captações de áudio e na edição.

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CONCLUSÃO

O programa Globo Ecologia, como foi constatado através desta pesquisa, é um

programa de cunho ambiental, preocupado em informar os telespectadores interessados na

pedagogia ambiental. O programa exerce sua pretensa função, pois dedica, na sua totalidade,

as mensagens ambientais de forma clara e sucinta.

Ao contrário do que antecipadamente se pensava, o índice de audiência não é nulo

(traço) em sua transmissão na rede de televisão aberta, no caso a Rede Globo. A produção do

programa, em depoimento, colocou-o com 4 (quatro) pontos de audiência média e, quando

bem divulgado, chega ao pico de 8 (pontos). Para o horário em que é veiculado nesse canal

aberto, é um índice muito bom, pois demonstra que, apesar do horário – um tanto quanto

inadequado para um programa de televisão com essa relevância –, existe sim um público

interessado em se informar em relação à temática do ambiente. E esses dados foram

confirmados com índices de audiência mais detalhados demonstrando que a audiência do

programa atualmente atinge uma média de 7 (sete) pontos.

Usando os subsídios da Análise do Discurso, foi possível concluir que o roteiro do

programa se utiliza da divulgação científica de forma atraente, isto é, de fácil compreensão

para o público em geral, por exemplo, no caso do programa voltado para o solo, o técnico da

Embrapa nos ilustra o que vem sendo cientificamente feito para um melhor tratamento de solo

desgastado, mostrando as experiências para a repórter de uma maneira simples, em uma

linguagem informal. Segundo a Análise de Discurso, nenhum discurso é livre de ideologia e,

no caso do texto do Globo Ecologia, a informação ambiental é passada de uma maneira

positiva. A análise possibilitou constatar que o programa não visa apenas apontar os

problemas em relação à natureza. Caso seja mostrado algum impacto ambiental,

posteriormente algumas soluções são exibidas, não de uma forma utópica, mas de uma

maneira real e concreta e a grande maioria dentro do Brasil. Então, a imagem construída de

que o problema existe é veiculada, porém é sempre provado, com imagens, de que já existem

soluções e que, se nos informarmos, podemos melhorar a nossa qualidade de vida.

Em relação à parte técnica, descobriu-se que o formato usado é diferente do padrão da

emissora a qual se incorpora o nome do programa. O formato atualmente em padrão nas

grandes emissoras é o BETACAM, que ostenta uma qualidade surpreendente há anos. Esse

formato de produção está com os dias contados, pois com a tecnologia alcançando patamares

impensáveis os formatos de gravação vão se multiplicando, trazendo agora o fator dos

equipamentos híbridos, isto é, aqueles que se adaptam a vários formatos de fitas e cards de

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memória. A produção do Globo Ecologia usa um formato chamado DVCam que, apesar de

utilizar uma fita pequena, tem uma qualidade semelhante ao padrão da Globo. Essas

limitações técnicas não influenciam na qualidade das imagens analisadas, pois foi muito

difícil constatar algum erro de gravação ou produção. A fotografia sempre bem executada, a

calibragem da câmera, isto é, luz e velocidade sempre bem feitas e o áudio muito bem captado

auxiliam na produção de belas imagens para os telespectadores.

A edição não possui muitas inovações em relação à linguagem, pois respeita a

decupagem clássica de um documentário jornalístico. As mudanças de cena, em sua grande

maioria, são constituídas de simples “cortes secos”, sendo esse o tipo de transição mais

simples e o que menos interfere na percepção da mensagem a ser informada. Ocorrendo

propositalmente em um programa, essas transições sofreram uma alteração em um episódio

em que tais mudanças estéticas eram permitidas. Foi no programa “Beleza Cênica”, em que a

beleza era a prioridade do episódio, onde não só a fotografia foi mais elaborada, mas também

a edição sofreu algumas alterações para se tornar um pouco mais sedutora, para dar ênfase à

beleza. A edição, então, foi um pouco mais lenta, com fusões de imagens no lugar dos cortes

secos habituais; a montagem se aproximou, nesse momento, de um ficcional, isso em um

trecho apenas, pois, após essa edição romântica, o jornalismo prevaleceu novamente.

Globo Ecologia possui traços de um programa ficcional. Ficou constatado no corpus

que no início existe uma interpretação de algum ator global. Ele aparentemente introduz o

programa, explicitando o que será abordado em cada episódio, porém essa introdução é feita

de maneira objetiva, como se ele não soubesse que a câmera está ali para gravá-lo. Mesmo

quando o programa não tem a participação do ator da Rede Globo, o repórter responsável por

substituí- lo também atua da mesma maneira no início do programa. Essas interpretações,

porém, são pequenas, pois o programa prioriza o formato jornalístico.

A derradeira conclusão é que o programa Globo Ecologia é um bom programa de

televisão. Além disso, exerce a função pedagógica ambiental, portanto é muito simples de

compreender todas as informações enviadas, devido a sua linguagem jornalística e usando um

léxico sem muitas informações técnicas e científicas. Produz uma imagem ecológica de que

existem entidades e pessoas que já estão produzindo resultados em relação à conservação do

ambiente. Em alguns momentos fala diretamente com o telespectador demonstrando o que

pode ser feito e divulgando endereços eletrônicos, de organizações governamentais ou não,

nas quais pode associar-se para contribuir também com a luta contra a destruição da natureza.

O programa poderia ampliar o seu poder de persuasão caso fosse transmitido em um

horário onde houvessem mais televisores ligados e se a Rede Globo produzisse uma maior

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divulgação desse programa visto que é extremamente raro assistir um comercial na emissora

falando do Globo Ecologia. As chamadas do programa existem, mas são muito esporádicas e

não são veiculadas em horários que o maior público potencial – por exemplo, jovens e

crianças – poderia ser lembrado da existência desse programa. Caberia até mesmo uma

chamada em horário nobre da emissora, momento com o maior índice de televisores ligados.

Infelizmente, ínfima minoria, os programas ambientais são unicamente os dois que já

citamos, porém eles refletem o que é atualmente o movimento ambientalista. Cremos que seja

o mínimo que pode ser feito na mídia e equivale, por exemplo, a consertar uma torneira com

vazamento em casa, que já contribuirá com o todo, produzindo assim uma porcentagem

positiva na preservação do ambiente, isto é, o micro agindo no macro, como esta análise.

Finalmente, foi possível analisar que, se procurarmos, encontraremos quem pode nos

informar sobre ambiente de uma maneira clara e interessante, simplesmente temos que nos

adaptar ao horário cedido ao programa ou procurar uma transmissora de TV por cabo.

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