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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
GIOVANA AZZI DE CAMARGO
O PIBID NO CURSO DE PEDAGOGIA: IMPLICAÇÕES PARA A FORMAÇÃO DOCENTE
CAMPINAS
2015
GIOVANA AZZI DE CAMARGO
O PIBID NO CURSO DE PEDAGOGIA: IMPLICAÇÕES PARA A FORMAÇÃO DOCENTE
Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Educação da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas para obtenção do título de Doutora em Educação, na área de concentração de Ensino e Práticas Culturais.
Supervisor/Orientador: Prof. Dra. Ana Lúcia Guedes-Pinto O ARQUIVO DIGITAL CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA TESE DEFENDIDA PELA ALUNA GIOVANA AZZI DE CAMARGO, E ORIENTADA PELO(A) PROF. (A) DR.(A) ANA LÚCIA GUEDES-PINTO
CAMPINAS 2015
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE EDUCAÇÃO
TESE DE DOUTORADO
O PIBID NO CURSO DE PEDAGOGIA: IMPLICAÇÕES PARA A FORMAÇÃO DOCENTE
Autora: Giovana Azzi de Camargo
COMISSÃO JULGADORA:
Orientadora: Profa. Dra .Ana Lúcia Guedes-Pinto Prof. Dr. Clécio dos Santos Bunzen Júnior Profa. Dra Maria Cristina da Silva Tempesta Profa. Dra Ana Maria Falcão de Aragão Profa. Dra Eliana Ayoub
A Ata da Defesa assinada pelos membros da Comissão Examinadora, consta no processo de vida acadêmica do
aluno.
2015
Aos meus alunos, grandes professores!
AGRADECIMENTO
Agradeço à Ana por me orientar nos rumos desta pesquisa, pela leitura
cuidadosa do texto ora apresentado, e principalmente, por guiar meu olhar para os
diversos detalhes representativos no processo de formação docente.
Agradeço a todos os professores que contribuíram para minha constituição
docente, como a de pesquisadora também. Em especial, aos professores que
participaram das bancas examinadoras do doutorado, pela leitura e pelas ricas
contribuições. Certamente, esta pesquisa se desenvolveu desta forma, devido a
esses olhares sobre ela.
Enfim, agradeço à Vida pela oportunidade desta formação e pela
possibilidade de contar com pessoas queridas em todo esse processo. Essas
pessoas participaram de diferentes modos. Cada uma, a sua maneira, colaborou
para que eu trilhasse esse percurso e me constituísse na pessoa que sou hoje.
A todos, minha gratidão!
RESUMO
O presente trabalho focalizou a formação inicial de professores em um curso de Pedagogia, detendo-se nos estudantes inseridos no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID). A participação destes estudantes no PIBID ganhou relevância devido às fragilidades identificadas no Estágio Supervisionado Obrigatório, oferecido pela instituição formadora. Partindo desses pressupostos, nossa pesquisa tem por objetivo compreender as implicações do PIBID na formação inicial de professores, no âmbito dessa experiência. Para fundamentar este exercício de pesquisa, recorremos aos estudos sobre a temática, dentre eles a participação dos professores experientes na formação dos futuros docentes, a consideração da existência e da composição heterogênea dos saberes docentes, bem como os processos de pesquisa da ação docente e suas contribuições para a formação do professor, além de tematizar a formação e as relações do docente com a pesquisa. Apresentamos alguns estudos sobre o Estágio Supervisionado nas licenciaturas que evidenciam experiências inovadoras nessa área e outras experiências que buscam aproximar o futuro do professor da escola. A metodologia de pesquisa escolhida foi a pesquisa qualitativa. Os pressupostos da História Oral orientaram a geração e a análise dos dados Os dados foram compostos por entrevistas com cursistas da Pedagogia e participantes do PIBID e pelos documentos produzidos pelos integrantes do programa como relatórios e diários de bordo. As análises indicaram a pertinência do espaço escolar para a constituição docente do estudante de Pedagogia. Dentre as implicações na formação do futuro professor foram destacadas o reconhecimento por parte dos estudantes, participantes desta pesquisa, do que é atuar como professor, dos saberes necessários para essa atuação e das tensões existentes no cotidiano do trabalho docente. Além disso, notou-se o desenvolvimento de um aprendizado mútuo com os professores supervisores no decorrer da experiência desse programa. Palavras-chave: Formação Inicial de Professores; Formação docente; Saberes docentes, PIBID, História Oral
ABSTRACT
The present study aims the elementary education of teachers in a pedagogy course, focusing, particularly, students involved in the Institutional Program for Scholarship to Teachers (PIBID). The recognition of these students in the PIBID was accentuated by the fragilities found in the mandatory supervised traineeships, offered by educational institutions. Considering these suppositions, our research searched to understand the impact of PIBID in the education of teachers, within these experiences. As a support for the present research, we appraised other practices on the subject, among them, the participation of experienced professionals in the education of future teachers, contemplating the multifaceted compositions of academic knowledge, as well as the research procedure and their contributions to the teachers' development, besides, we concentrated in the instruction and in the links towards the research. We present some studies on supervised traineeships, where we found some innovative experiences in this field and other evidences which attempted to guide the school teacher to the future. The methodology adopted considered the qualitative research. The principles of Oral History guided the production and the analysis of data. The data included interviews with the students and participants of the PIBID, as well as documents produced by them as reports and logbooks. The analysis indicated the efficacy of the school in the educational process of teachers. Among the influences in this process, appointed by the students, were the teaching experiences, the essential information for that practice and the tensions existent in the daily work at school. Besides, there was the development of a mutual learning achieved by supervisors and students on the course of the program. Keywords: Teachers' Elementary Education, Teachers' Education, Teachers' Achievement, PIBID, Oral History
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ANFOPE - Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação
APP - Atividades Programadas de Pesquisa
CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
CDAPH - Centro de Documentação e Apoio à Pesquisa em História da Educação
CNE- Conselho Nacional de Educação
CONIC - Congresso Nacional de Iniciação Científica
DEB - Diretoria de Formação de Professores da Educação Básica
EAD - Educação a Distância
EDUCERE – Congresso Nacional de Educação
EJA – Educação de Jovens e Adultos
ENADE – Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes
ENDIPE – Encontro Nacional de Didática e Prática Pedagógica
EREMATSUL – Encontro Regional de Estudantes de Matemática da Região Sul
FESB - Fundação Municipal de Ensino Superior de Bragança Paulista
HO – História Oral
HTPC - Horário de Trabalho Pedagógico Coletivo
IDEB - Índice de Desenvolvimento da Educação Básica
IES - Instituição de Ensino Superior
INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira
LACEM - Laboratório de Análise dos Cenários Esportivos na Mídia
LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
MEC – Ministério da Educação
OBMEP - Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas
PAP - Plano de Ação Pedagógica
PARFOR - Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica
PAS – Programa Alfabetização Solidária
PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais
PCNP - Professores Coordenadores do Núcleo Pedagógico
PDE – Plano de Desenvolvimento da Educação
PETI - Programa de Erradicação do Trabalho Infantil
PIBID – Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência
PNE - Plano Nacional de Educação
PPP - Projeto Político Pedagógico
PRE - Programa de Residência Educacional
PRP - Programa de Residência Pedagógica
PROFA - Programa de Formação de Professores Alfabetizadores
PROCAMPO - Programa de Apoio à Formação Superior em Licenciatura em Educação do
Campo
PROLIND - Programa de Apoio à Formação Superior e Licenciaturas Interculturais
Indígenas
PROUNI - Programa Universidade para Todos
RP – Residência Pedagógica
SARESP – Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo
SECAD - Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade
SEE – Secretaria Estadual de Educação
SME – Secretaria Municipal de Educação
TIC - Tecnologias da Informação e Comunicação
UAB – Universidade Aberta do Brasil
UFG- Universidade Federal de Goiás
UFMT- Universidade Federal do Mato Grosso
UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul
UFRJ – Universidade Federal de Rio de Janeiro
UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte
UFSM - Universidade Federal de Santa Maria
UNAERP- Universidade de Ribeirão Preto
UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas
UNIFESP – Universidade Federal de São Paulo
UNIPAMPA – Universidade Federal do Pampa
USF – Universidade São Francisco
UTFPR – Universidade Tecnológica Federal do Paraná
SUMÁRIO
Introdução: Memórias de um percurso formativo e as origens da problemática da pesquisa...............................................................................
12
1 - O PIBID e sua proposta de colaborar para formação do professor ...... 23
1.1 A formação inicial de professores e os programas da CAPES............................... 24 1.2 O PIBID em uma universidade confessional e privada do interior de São Paulo... 40 1.3 Outras experiências do PIBID................................................................................. 50
2 - A pesquisa de campo e o desafio do ouvir contar..................................... 60 2.1- A contribuição da História Oral e elaboração das entrevistas............................... 64 2.1.1- A entrevista: algumas questões........................................................................ 71 2.1.2 - A contribuição da História Oral para as pesquisas em educação...................... 74 2.1.3 - Aprendendo mais um pouco sobre a pesquisa: as idas e vindas durante o percurso de constituição dos dados...........................................................................
77
2.1.4 “Vamos conversar sobre o PIBID?”: a formação dos grupos de entrevista........ 79
3- A formação inicial de professores em um curso de Pedagogia ............ 85
3.1 A formação de inicial de professores para atuar nos anos iniciais da educação básica.......................................................................................................................
85
3.2 A formação inicial do professor como tarefa do ensino superior: uma etapa do ensino em expansão nas últimas décadas .................................................................
88
3.3 - O processo de formação de professores: o conhecimento acadêmico sobre a profissão e a vivência na/da escola
92
3.3.1 - O curso de Pedagogia e a formação de professores ........................................ 93
3.3.2 - A formação de professores em questão............................................................ 96
3.4 O Estágio Supervisionado Obrigatório nos cursos de Licenciatura: como efetivar o contato com a realidade escolar e a prática docente?..............................................
114
3.4.1 Estudos que focalizaram Estágio Supervisionado Obrigatório na licenciatura.... 118
3.4.2 - Possibilidades de formação inicial do professor que buscam uma articulação maior entre a teoria e prática........................................................................................
125
3.4.2.1 - O Programa de Residência Pedagógica, da UNIFESP ................................ 126
3.4.2.2 - Programa Residência Educacional da Secretaria de Estado da Educação de São Paulo ................................................................................................................
129
3.4.2.3 - Programa Bolsa Formação-Aluno-Aprendizagem, proposto pela Secretaria Municipal de Educação de Jundiaí-SP.........................................................................
132
3.4.2.4 – O que ainda pode ser dito sobre as experiências citadas de aproximação do estudante de licenciatura com a escola? ................................................................
134
4- O processo de constituição docente vivenciado no PIBID 138
1º implicação “O que é ser professor?: o que a vivência na escola me diz sobre isso?...
138
2º implicação “A sala de aula e os desafios da docência: o que preciso saber para atuar como professor?”..............................................................................................
145
3º implicação “Relação com os professores experientes/colegas de profissão: quem ensina quem?” ........................................................................................................
153
4º implicação: As tensões do trabalho docente na escola ..............................................
159
Algumas considerações sobre a contribuição da HO para o registro desta história de formação..................................................................................................................
168
Considerações Finais.............................................................................................. 171 Referências Bibliográficas ....................................................................................
177
Anexos........................................................................................................................
185
12
Introdução: Memórias de um percurso formativo e as origens da
problemática da pesquisa
A formação de professores tem atravessado minha trajetória pessoal e
profissional de diferentes maneiras. Constituir-me como professora envolveu vários
processos, desde a opção por uma licenciatura, após ter concluído o curso de
magistério e a participação em projetos extracurriculares que exigiram a presença da
professora. A escolha da pós-graduação em Educação veio reafirmar as escolhas
feitas anteriormente seja atuando com a Educação de Jovens e Adultos (EJA), com
os alunos do Ensino Fundamental, com os professores em situações diversas de
formação ou com os futuros professores, as dúvidas e as certezas em relação a
como conduzir o processo de ensino e de aprendizagem sempre estiveram
presentes.
Vivi momentos no exercício da profissão docente em que senti necessidade
de um preparo maior para atuar como professora, outros, de um apoio para saber se
estava fazendo boas escolhas para meus alunos. Das vezes que ocupei o papel de
colaborar na formação e na atuação de outros professores, perguntava-me, como se
faz isso? Como colaborar com um professor em formação? Mudavam as instâncias
de atuação, ora municipal na formação continuada, ora na formação inicial de
professores, mas incômodos e inquietações se repetiam em meu percurso.
Configuram o interesse desta pesquisa, essas questões situadas na formação
inicial de professores, em um curso de Pedagogia, que se deparou com a
experiência de participação no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à
Docência (PIBID), propiciando aos futuros professores ações de docência, em uma
escola pública de uma cidade do interior do estado de São Paulo.
Optei por revisitar meu percurso de formação para trazer a constituição da
professora e da pesquisadora, bem como minha proximidade com a temática dessa
investigação. Meu primeiro encontro ocorreu com a aluna do curso de Magistério,
convidada a assumir aulas no contexto de um projeto de alfabetização de jovens e
adultos. Foi desse modo que, em uma sala de aula improvisada, no pátio de uma
capela em Bragança Paulista, SP, participei de um projeto dessa natureza, como
voluntária. Tratava-se de uma iniciativa da Universidade São Francisco (USF) que,
em 1997, possibilitou a abertura de salas de alfabetização em diferentes pontos
13
dessa cidade. Uma delas se localizava na comunidade em que residia. Nesse
ambiente escolar (improvisado) junto com algumas senhoras, vizinhas e, agora,
minhas alunas, que saíam das suas casas, todas as noites, mesmo com o frio que
fazia naquele período de inverno, exerci a docência pela primeira vez. Nesse
espaço, deparei-me, com o desafio de ensinar a leitura e a escrita da Língua
Portuguesa.
Assim, nas tentativas de organizar as aulas e ao observar as “dificuldades”
das alunas (e da professora), que iniciava sua atuação, surgiam as indagações - o
que é ensinar? Como ensinar? Questões que me acompanharam e me angustiavam
durante a pequena duração do projeto.
A busca pelas respostas se dava nos encontros de formação, oferecidos pela
universidade proponente do projeto, extremamente escassos e com finalidade
meramente administrativa. Era um momento destinado aos relatos do andamento
das atividades, à verificação da frequência dos alunos e a retirada do material,
exceto o primeiro encontro, que abordou o método adotado pelo programa.
Recebemos o livro do professor, intitulado Método Dom Bosco de Educação de
Base: Alfabetização de Jovens e Adultos - bem como os cartazes com as famílias
silábicas para trabalharmos com os alunos. A formação recebida nesse momento
reduzia-se às instruções de como utilizar aquele material em sala de aula com os
alunos adultos.
Constatadas as condições oferecidas para o enfrentamento do árduo desafio,
partimos por um caminho bem conhecido dos professores em formação, o
experimentar: realizar atividades e tatear o que “funcionava” ou não na
aprendizagem dos alunos. Ou seja, percebia o que, de fato, atenderia às
necessidades de aprendizagem das alunas que não conseguiriam ser contempladas
pelo método adotado. Desse modo, à medida que notava uma dificuldade, procurava
recursos para saná-la. Lembro-me de Dona Nega, que não conseguia grafar as
letras com o lápis. Tentamos com o giz na lousa, depois o giz de cera no caderno. O
lápis, para ela, exigia um domínio fino motor muito diferente do que ela conhecia dos
movimentos sutis possibilitados pela mão. Era necessário trabalhar com ela a
familiarização com o uso dos instrumentos para a escrita. Essa memória em relação
ao papel que exerci na mediação do uso de um instrumento tão elementar como um
lápis, ficou gravada de modo bastante marcante para mim.
14
A formação para o Magistério que realizara se deu no antigo segundo grau,
hoje denominado Ensino Médio, em uma escola da rede estadual em Bragança
Paulista, SP. Neste curso eram oferecidas tanto as disciplinas de núcleo comum
como as específicas de fundamentos e metodologia dos conteúdos dos
componentes curriculares. Além disso, havia o Estágio Supervisionado na Educação
Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, que naquela época era chamado
de 1º grau.
Nessa formação, nos deparamos com leituras de autores renomados da área
de Educação como Piaget (1971), Freire (1984), Libâneo (1994), Severino (1994a,
1994b), e com a apropriação de conhecimentos teóricos em algumas disciplinas
como Didática, Fundamentos e Metodologia da Língua Portuguesa, que trabalhavam
com a Proposta Curricular do Estado de São Paulo, baseada nas novas ideias sobre
alfabetização, a partir dos estudos de Ferreiro e Teberosky (1986). Em outras
disciplinas, recebíamos um enfoque meramente prático. Assim passávamos todo
tempo da aula confeccionando pastas com modelos de atividades, que aplicaríamos
com os nossos futuros alunos. Nesse contexto e com a experiência obtida na
atuação de professora no programa de alfabetização de jovens e adultos, me
pergunto se esses processos efetivamente formam um professor para atuação
profissional eficaz.
Anos mais tarde, novamente, deparei-me com as questões relativas à
formação docente. Ingressei no curso de Letras, em 1998, na Fundação Municipal
de Ensino Superior de Bragança Paulista (FESB), que oferecia outros quatro cursos
de Licenciatura – História, Geografia, Biologia e Arte. Dentre essas opções, o curso
de Letras me encantava pela possibilidade de conhecer mais sobre a Literatura, algo
que me interassava desde quando frequentava o Ensino Médio.
Porém, logo ao final do primeiro ano do curso já tinha outro foco de interesse,
pois tinha descoberto a Linguística e a Linguística Aplicada, que propiciaram o
primeiro contato com a discussão sobre o ensino da língua materna. Dentre os
temas que passavam a provocar-me nessas disciplinas, estavam os estudos sobre o
letramento (KLEIMAN, 1995; TFOUNI, 1988), o tema da variação linguística
(SOARES, 1995; BAGNO, 1999), as questões relativas à concepção de língua e
ensino da Língua Portuguesa (GERALDI, 1999; POSSENTI, 1996), dentre outros.
15
Apesar desses outros temas de interesse, as questões sobre o ensino e o
aprendizado inicial da escrita continuavam presentes e agora revigoradas,
novamente pela necessidade de vivência da profissão.
Em 1999, fui aprovada em um concurso público da rede Municipal de Ensino
de Bragança Paulista e assumi uma sala de alfabetização. O novo desafio se
voltava a alfabetizar trinta e sete crianças. Paralelo a isso, encontro-me novamente
com a alfabetização de adultos, como bolsista do Programa Alfabetização Solidária
(PAS)1, com a atribuição de orientar o trabalho dos alfabetizadores, que não tinham
atuado como professores e deveriam receber uma formação para realizar essa
atividade.
Na escola municipal, atuando na alfabetização de crianças pela primeira vez,
dentro de uma perspectiva construtivista, como era definida a escolha metodológica
dessa rede de ensino, contei com o precioso auxílio de uma colega mais experiente.
Essa professora orientou-me desde a utilização e organização dos armários da sala
até a elaboração de atividades para as crianças. Lembro-me de passar uma tarde de
domingo com ela para preencher o diário de classe. Havia feito isso durante o curso
de Magistério, durante a disciplina “Estrutura e Funcionamento do Ensino”, no
entanto, preencher pela primeira vez oficialmente aquele temido documento, sobre o
qual os colegas compartilhavam as dicas para disfarçar os inevitáveis erros, não era
uma tarefa tão tranquila assim.
Nesse momento, como professora daquela turma, precisava decidir sobre
questões aparentemente corriqueiras, mas que solicitavam um conhecimento sobre
a sala de aula, como por exemplo, o uso de material pelos alunos, ou seja, como
separar os cadernos trazidos por eles? Seria um caderno de classe e um de casa ou
um por matéria? Como organizar as atividades mimeografadas realizadas pelos
alunos? Seriam coladas no caderno ou guardadas em uma pasta para serem
apresentadas aos pais na reunião?
Tais questões demonstram o quanto precisamos aprender/apreender sobre o
funcionamento e organização de uma sala de aula, sem mencionar as questões que
envolviam especialmente o ensino e a aprendizagem dos conteúdos previstos na
grade curricular. Sobre isso, pude contar também com a coordenadora pedagógica
1 O Programa Alfabetização Solidária foi lançado em 1997. Organizado a partir de parcerias do
governo federal, Instituições de Ensino Superior, instituições privadas e o Ministério da Educação.
Tratava-se de uma ação em prol da alfabetização de jovens e adultos.
16
da escola que nos Horário de Trabalho Pedagógico Coletivo (HTPC) sugeria e
discutia atividades que poderiam ajudar no processo de alfabetizar. Também, pude
conversar com ela sobre casos particulares de alguns alunos e dificuldades
encontradas no trabalho.
Hoje, ao observar meu percurso profissional, percebo como a formação do
professor constitui-se de forma multifacetada e conta com a colaboração de muitos
atores. Além disso, acredito também que o local de atuação do professor - a escola
e os profissionais que lá estão - tem um papel fundamental. Mas permanece a
questão sobre a formação acadêmica inicial: qual é o seu papel? Seria o de oferecer
uma base para a ida à escola? Seria considerar que ela deve mesmo ser
complementada na escola? E ainda, a discussão sempre retomada pelos
professores em momentos de formação: a relação entre os conhecimentos da
docência e os saberes da experiência, como se estabeleceria?
Retornando a outra experiência vivenciada naquele momento, no PAS, como
orientadora dos alfabetizadores recrutados em suas comunidades para alfabetizar os
que ainda não sabiam ler e escrever, minha participação se dava desde o
levantamento e recrutamento de prováveis alunos, passando à distribuição do
lanche e do material, o pagamento da bolsa aos alfabetizadores e a preparação
deles para essa atuação. O alfabetizador era inicialmente indicado pelas lideranças
de bairro, considerando-se como principal critério ter maior experiência escolar. No
entanto, em uma sala na região nordeste, do município atendido pelo Programa,
ocorria de o alfabetizador ter estudado apenas até o terceiro ano do Ensino
Fundamental. Desse modo, em poucas horas de formação, tinha a incumbência de
dar orientações específicas sobre o ensino para pessoas que nunca tinham atuado
como professores para poderem conduzir o processo de alfabetização de seus
alunos.
Levando em conta essas duas atuações profissionais, como professora
alfabetizadora de crianças e de adultos e como orientadora do grupo de
alfabetizadores do PAS, estudar mais sobre alfabetização se colocava como a
ordem do dia. Além disso, instigava-me conhecer sobre as diferenças entre o
processo de ensino e de aprendizagem voltado para as crianças e para os adultos,
pois não tinha participado de discussões sobre a EJA na minha formação inicial de
professora, o que não ocorreu também na graduação.
17
Essa situação me levou a estudar a Proposta Curricular para a EJA2, os
materiais didáticos e alguns teóricos que trabalhavam com tal modalidade de ensino,
voltada para o processo de alfabetização e algumas questões sobre o letramento
nesse contexto. Como atuava com turmas de alfabetização de jovens e adultos,
buscava respostas para questões como: O que é estar alfabetizado? O que é ser
analfabeto? E analfabeto funcional? Essas questões não eram só minhas e faziam
parte das leituras e das discussões com os alfabetizadores nos encontros de
formação.
Ainda que a proposta de trabalho do PAS devesse abordar atividades de
Língua Portuguesa e de Matemática, os alfabetizadores e os alunos do Programa
elegiam como prioritárias as atividades de alfabetização. Mais tarde pude perceber
que isso também ocorria em outras salas de aula para esse público, como verifiquei
posteriormente na pesquisa desenvolvida no Mestrado. Durante a entrevista com as
professoras da escola pesquisada, uma delas me disse “eles querem aprender a ler,
não podemos perder tempo” ao justificar o porquê do predomínio das atividades de
Língua Portuguesa na sua sala de aula.
Além da busca de soluções para os incômodos e desafios perfilados,
deparava-me fortemente com questões da formação inicial de professores. De
maneira muito incipiente, pois era uma professora em formação também,
considerando a curta experiência na função e o fato de ainda estar cursando a
graduação, delineava as primeiras indagações sobre a formação desses
alfabetizadores: Como coordenar esse trabalho? Deveria abordar questões teóricas
ou “práticas”? Como organizar reuniões de formação e o acompanhamento nas
salas? Enfim, como subsidiar o trabalho desses novos professores? Para atuar na
condução desse trabalho, que perdurou por mais cinco semestres, fui encontrando
respostas provisórias, testando-as e me constituindo docente.
Na experiência do PAS, não era exigido um profissional habilitado e
preparado para atuar com os adultos. Bastava possuir uma escolaridade um pouco
mais avançada para poder alfabetizar adultos. Esse era o critério para a seleção do
2 Nesse momento, tomei contato com leituras sobre o longo e vagaroso trajeto percorrido pela
Educação de Jovens e Adultos (EJA) para se constituir em uma modalidade de ensino. Os programas
e campanhas de alfabetização de jovens e adultos são criticados nessa perspectiva, por oferecerem
um atendimento educacional de modo rápido, superficial e sem garantias de continuidade do ensino
para a população jovem e adulta, desprovida de acesso à educação na idade própria (HADAD E DI
PIERRO, 2000).
18
alfabetizador do Programa. Minha experiência inicial de professora ainda não
formada, atuando em um projeto de alfabetização, com oferta esporádica,
caracterizava uma questão recorrente na oferta do ensino para esse público. Pude
perceber mais tarde, sobretudo durante o Mestrado, que a formação de professores
para a EJA (e a própria modalidade de ensino) não recebia atenção nem maior
preocupação das políticas públicas.
Nesse ritmo, a discussão sobre a formação de professores foi se
intensificando em 2002, quando recebi o convite da Secretaria Municipal de
Educação de Bragança Paulista para integrar um grupo que daria início à formação
continuada dos professores da rede municipal. O primeiro curso oferecido na rede e
do qual participei como formadora foi o Programa de Formação de professores
Alfabetizadores (PROFA). Nele reencontrei as antigas questões que me
acompanhavam, desta vez com um aparato teórico mais consistente e com uma
proposta didática mais organizada para formação de professores. Certamente, essa
experiência sistematizou e redefiniu as tentativas vivenciadas anteriormente, no
PAS, pois participava, nesse momento, de uma proposta de formação que dispunha
de uma estrutura bem melhor que oferecia um acervo bibliográfico, videográfico,
todas as pautas dos encontros organizadas previamente, além de uma preparação
para o formador.
Tal curso tinha como objetivo discutir a concepção de ensino e de
aprendizagem e de alfabetização dos professores cursistas, bem como apresentar
uma proposta didática para a alfabetização, ancorada no construtivismo sócio-
interacionista, com base nos teóricos como Piaget e Vigotski sobre o
desenvolvimento humano e a aprendizagem. O Programa estava baseado nos
estudos de Emilia Ferreiro para abordar a alfabetização enquanto aquisição do
sistema alfabético de escrita. O material do curso apresentava também reflexões
sobre o letramento a partir de autores como Ângela Kleiman e Vera Masagão Ribeiro
(BRASIL, 2001a; 2001b).
Em linhas gerais, a proposta didática do PROFA, comunga da orientação
dada pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) de Língua Portuguesa, que
orientam o uso de textos reais nas salas de aula, que não se desprezem as
características do gênero textual a que pertencem, desde o início da alfabetização
(BRASIL, 1997; 2001a; 2001b).
19
As primeiras turmas do PROFA eram compostas por professores que
lecionavam em salas de alfabetização. Isso permitia que as discussões realizadas
no curso estivessem atreladas a sugestões didáticas “testadas” e, posteriormente,
avaliadas pelos professores em suas respectivas salas de aula. A proposta de
avaliação da atividade aportava-se na reflexão do professor. Desse modo,
juntamente com a atividade desenvolvida com sua turma de alunos, ele entregava
ao formador um relato reflexivo. Esses textos escritos despertaram minha atenção e
na ocasião encaminhei um projeto de pesquisa para a pós-graduação a fim de
analisar tais produções. Ideia abandonada nos primeiros tempos do Mestrado,
quando optei por pesquisar a tensão entre o oral e o escrito em uma sala de
alfabetização da Educação de Jovens e Adultos, antiga temática de interesse.
Nesses textos era possível observar uma série de questões sobre a escrita
daqueles professores. Alguns eram muito sucintos, já outros demasiadamente
detalhados. O que era abordado? Que vozes estavam presentes naqueles textos?
Para quem escreviam? Nesse período, conheci o termo letramento do professor
(KLEIMAN, 1995) que observava quem era esse leitor, esse escritor e o que ele lia e
escrevia. O conceito estava inserido no contexto de formação com o intuito de
ampliar o contato dessas pessoas com a escrita. Para isso, selecionávamos
diferentes textos para os momentos da leitura compartilhada nos encontros de
formação, que futuramente, descobriria que se tratava de diferentes gêneros do
discurso.
O “formador”, assim chamado na Rede municipal de Bragança Paulista, era o
responsável pelo curso e pelo acompanhamento do trabalho nessas salas de
alfabetização. A preparação para isso demandou uma imersão nos estudos sobre a
língua escrita.
Concomitante a essa experiência, surgiu então, o interesse pela pesquisa
acadêmica em nível de pós-graduação. Comecei, inicialmente, como aluna especial
cursando disciplinas do Mestrado até a formulação da questão de pesquisa. Com
isso, me inscrevi no programa de Pós- Graduação da USF em 2004, com a
finalidade de pesquisar os textos reflexivos dos professores, como mencionei
anteriormente, mas foi a alfabetização de adultos que acabou ganhando a cena.
Decidi, então, por continuar a estudar o campo da EJA. Pretendia observar e
analisar a relação entre o oral e o escrito nesse momento da escolarização dos
jovens e adultos. Contei com o auxílio de uma bolsa para o desenvolvimento da
20
pesquisa e, para dedicar-me a esse novo projeto, afastei-me do trabalho docente na
formação de professores.
Durante a pesquisa, tive uma dificuldade grande em trabalhar com os termos
relacionados à fala, devido à escassez de estudos sobre isso. Como diz Marcuschi
(2005), a fala ainda era uma questão pouco falada. Assim sendo, a primeira grande
empreitada se voltou a definir e diferenciar os termos que designam a linguagem
oral. No decorrer das leituras e análises das transcrições das entrevistas emergia a
tensão com a escrita (HAVELOCK, 1995; ONG, 1998; ZUMTHOR, 1993;
MARCUSCHI, 2005). Como a pesquisa situava-se em uma sociedade letrada,
também me debrucei sobre o estudo do letramento (KLEIMAN, 1995; TFOUNI, 1988;
SOARES, 1995, 2001). Nesse sentido, compreendia a língua como produto histórico
social e como forma de ação e expressão dos sujeitos (BAKHTIN, 1992).
Como optei pela abordagem qualitativa, não tive dificuldade em encontrar
uma escola que consentisse a realização da pesquisa, mas a geração de dados
exigiu tentativas e ajustes. Na ocasião, ao realizar as entrevistas, aprendi muito
sobre o posicionamento e ação do pesquisador nesse processo de investigação.
Em 2006, com o Mestrado concluído, ingressei na docência do Ensino
Superior em uma instituição no interior do estado. Inicialmente, ministrei a disciplina
Leitura e Produção de Textos, que compunha o Ciclo Básico dos cursos de
graduação naquele momento. Mais uma vez, as questões que envolvem o ensino da
leitura e da escrita desafiavam-me e, novamente, pude contar com o apoio de uma
colega já experiente nesse nível de ensino. Suas orientações sobre a organização e
as dinâmicas das aulas no ensino superior foram extremamente proveitosas. Em
2007, tive a oportunidade de aproximar-me do meu grupo de interesse e iniciei um
trabalho na formação inicial dos professores no curso de Pedagogia. Assumi as
disciplinas de “Teoria e Prática da Alfabetização”; “Educação de Jovens e Adultos”;
“Práticas de Leitura e Escrita” e “Fundamentos e Metodologia da Língua
Portuguesa”.
Nessa nova experiência, as outras vivências contribuíram bastante. Porém,
outra modalidade de ensino, novas questões surgem. Tive a oportunidade de
orientar alguns Trabalhos de Conclusão de Curso, orientei também a atuação dos
alunos pesquisadores vinculados ao Programa “Ler e Escrever” da Secretaria
Estadual da Educação de São Paulo, por meio do Programa Bolsa Alfabetização, no
período de 2009-2010. Nesse Programa, os alunos do curso de Pedagogia
21
frequentavam como estagiários e pesquisadores uma sala do Ciclo I do Ensino
Fundamental, preferencialmente, o segundo ano, e deveriam desenvolver um projeto
para essa sala. Como orientadora, acompanhava os estudantes com suas imersões
nas escolas.
Frutos dessas novas observações e inquietações, no ano de 2012 retornei às
práticas de pesquisa, agora no Doutorado, em que retomo a questão da formação
de professores. O interesse teve origem na proximidade que tinha com os alunos do
curso de Pedagogia com quem trabalhava e com a atuação, na época, na formação
continuada na rede pública de ensino. No curso de Pedagogia atuava como
professora das disciplinas que contemplam o ensino da Língua Portuguesa, uma
delas destinada a discutir as questões teóricas e práticas da alfabetização. Nessa
disciplina especificamente, chamada “Teoria e Prática da Alfabetização”, os alunos
iniciavam a discussão sobre a alfabetização com a experiência acumulada no lugar
alunos desse período da escolarização. Vale destacar que atualmente pouquíssimos
desses estudantes exercem a função de professores dos anos iniciais. Por isso
iniciam o contato efetivo com a escola somente no estágio obrigatório do curso.
No cotidiano que vivenciava como professora, nas aulas de Pedagogia, as
possibilidades de trabalho no ensino da leitura e da escrita geravam estranheza
entre os alunos. Mesmo me utilizando de recursos audiovisuais que apresentam
atividades desenvolvidas em salas de alfabetização, eles consideravam o que
discutíamos muito distante da realidade de sala de aula conhecida (se reportavam à
experiência enquanto alunos nessa etapa do ensino), o que dificultava a
compreensão mais apurada das questões tratadas, segundo relatos dos próprios
estudantes.
Percebia que, naquele curso de Pedagogia, o contato dos estudantes com a
sala de aula se dava na formação inicial apenas quando frequentavam as disciplinas
de “Estágio Supervisionado”. Para mim, esse fato revela uma experiência, em
relação às práticas escolares, reduzida dos estudantes, o que poderá apresentar
uma fragilidade na formação profissional dos pedagogos formados por essa
instituição. Por outro lado, pude notar, na formação continuada da Rede Municipal
de Ensino, que os professores recém-formados, ingressos na rede, enfrentavam um
grande desafio em seus primeiros anos de docência, cabendo à formação
continuada suprir o que não tinha sido ofertado na inicial, distanciando da sua
22
função de estudo permanente, para contemplar os conhecimentos não adquiridos
em outro momento de formação.
Vale destacar que, como pesquisadora, tinha uma relação próxima com esses
dois espaços formativos, onde os entrevistados desta pesquisa participavam: a
universidade e a escola. No curso de Pedagogia em questão havia o
desenvolvimento do PIBID. Mesmo sem ter um vínculo direto com o referido
Programa, notava o que ocorria com os meus alunos, licenciandos bolsistas dele.
Como era responsável pela disciplina de “Estágio Supervisionado”, deparava-me
com vários estudantes que, além do estágio eram bolsistas do PIBID. Atuava
também junto à equipe de formação da Secretaria Municipal de Educação, que fazia
parceira com o PIBID e com a universidade onde trabalhava. Uma das suas escolas
integrava esse Programa, onde foi desenvolvido o subprojeto. Isso será detalhado
melhor no próximo capítulo. Essa coincidência possibilitou um contato maior com os
participantes desta pesquisa.
O objetivo desta investigação centra-se em compreender quais foram as
implicações do PIBID na formação inicial de professores, cursistas de um curso de
Pedagogia, de uma universidade privada do interior do estado de São Paulo.
Dentre os objetivos específicos destacamos: a) historicizar o PIBID no
âmbito nacional e local; b) fazer uma Revisão de Literatura de outras experiências
do PIBID; c) traçar um breve panorama sobre a formação inicial de professores no
Brasil que atuarão nos anos iniciais da educação básica; d) delinear os processos
metodológicos referenciais para a pesquisa (História Oral); e) analisar os dados,
vindos de diferentes fontes: documental e oral.
Os capítulos seguintes estão organizados a partir desses objetivos.
23
1. O PIBID e sua proposta de colaborar com a formação do
professor
Neste capítulo será apresentada a estruturação do PIBID, seu surgimento
como projeto da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES) e seus objetivos pretendidos. Também será contextualizado o PIBID dentro
da Instituição de Ensino Superior (IES), focada pela pesquisa.
Considerando, portanto, as especificidades de cada Projeto Institucional do
PIBID e os subprojetos vinculados a ele, descreveremos também a instituição
proponente, o curso de Pedagogia em questão e a proposta enviada para participar
do Programa. Os estudantes bolsistas, colaboradores dessa pesquisa, participaram
assim dessa experiência nesse contexto a ser descrito.
O PIBID, como Programa encarregado de focar a formação de professores
vinculados a CAPES, incentiva ações voltadas ao início da docência, mas cada
licenciatura deve enviar seus subprojetos e desenhar como será essa aproximação
da docência. Em função disso, se produz uma grande variedade de propostas e
ações que podem indicar a amplitude e a diversidade de realidades que abrangem o
Programa, como também a singularidade de cada subprojeto, como o abordado
nesse estudo. Luana, uma das estudantes da pesquisa relata como foi para ela
participar do PIBID3:
Quando escolhi o curso de Pedagogia, atuar na docência era um pouco impactante
na minha cabeça. Eu sempre pensava em tudo o que eu deveria ainda aprender
para poder ensinar depois. Mas eu me imaginava numa sala de alfabetização,
com os alunos pequenos, talvez naquela visão da minha turma de primeiro ano
em 1998. Aos poucos, para além de uma pretensão, novas oportunidades
surgiram durante o curso e eu pude atuar na docência. Participei do PIBID e foi
quando aprendi o lado burocrático da coisa, o conviver com os alunos e seus pais
(parece mais conveniente chamar de responsáveis mesmo, já que família reunida,
só na Doriana!), com outros professores, coordenadores, direção. Os desafios do
trabalho em equipe. Então, o sonho daquela menina com a lousa, transformara-
3 Este texto de tese, desde o primeiro capítulo, será construído permeado com os dados gerados ao longo da
pesquisa. Dessa forma, buscamos entrelaçar os documentos produzidos por esta investigação e o referencial
teórico desde o início.
24
se. Enfrentei uma sala de 4ª série, da professora Flávia (alguém que eu amo
muito, e que me ensinou a viver na escola e a amar os alunos), depois um 2º e 3º
ano. Suei, tremi (literalmente), ensinei e aprendi, com estas turmas e com todo o
pessoal da escola. Decepcionei-me, enfrentei, inventei... afinal, “mestre não é
sempre quem ensina, mas quem de repente aprende” (foi nosso lema no Pibid)
(Resposta da licencianda, bolsista do PIBID Luana ao Questionário “Escolha da
profissão”).4
1.1 A formação inicial de professores e os programas da CAPES
A regulamentação da formação inicial do professor passou por várias
alterações nos últimos anos. Principalmente, a partir da aprovação da última Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB) 9394/96 que instituiu que a
formação do docente dos anos iniciais da educação básica deveria ser oferecida em
curso superior (BRASIL, 1996). Isso provocou uma certa desarticulação (podemos
dizer, intencional) na formação em nível médio, que segundo esse documento,
deveria deixar de existir. Ao mesmo tempo, abriu uma lacuna no ensino superior,
que passou a ser responsável integralmente pela formação desse profissional. Com
intuito de colaborar para uma concretização do que está previsto na legislação, o
Ministério de Educação (MEC), delegou à CAPES o apoio e a indução de ações
voltadas à formação de professores por meio da criação de uma diretoria,
responsável por essas articulações.
A Diretoria de Educação Básica Presencial (DEB) da CAPES criada em 2007,
a partir da Lei 11.502 de 11/07/2007, acrescentou às atividades já realizadas pela
instituição, como o suporte à Pós-Graduação e o desenvolvimento científico e
tecnológico, a tarefa de “induzir e fomentar a formação inicial e continuada de
profissionais da educação básica e estimular a valorização do magistério em todos
os níveis e modalidades de ensino” (BRASIL, 2013b, p.5). No entanto, em 2012, o
Decreto nº 7.692, de 02 de março, manteve a sigla DEB, mas alterou o nome dessa
Diretoria para Diretoria de Formação de Professores da Educação Básica. Com isso
não houve alteração nos trabalhos realizados, apenas uma atenção para o foco
dessa diretoria que são as ações voltadas para a formação e para a valorização do 4A metodologia da pesquisa, os excertos de entrevistas, relatórios, questionários trazido na
composição desse texto serão abordados mais adiante. Conforme dito antes, informamos que os
nomes dos participantes da pesquisa são fictícios para preservar a sua identidade.
25
magistério. Nesse texto legal, as atribuições da DEB são descritas no artigo 24,
transcritas a seguir:
I - fomentar a articulação e o regime de colaboração entre os sistemas de ensino da educação básica e de educação superior, inclusive da pós-graduação, para a implementação da política nacional de formação de professores de Magistério da Educação Básica; II - subsidiar a formulação de políticas de formação inicial e continuada de professores da educação básica; III - apoiar a formação de professores da Educação Básica, mediante concessão de bolsas e auxílios para o desenvolvimento de estudos, pesquisas, projetos inovadores, conteúdos curriculares e de material didático; IV - apoiar a formação de professores da Educação Básica mediante programas de estímulo ao ingresso na carreira do magistério; e V – fomentar o uso de tecnologias de informação e da comunicação nos processos de formação de professores da Educação Básica (BRASIL, 2013b, p.11).
Como exposto anteriormente, o estímulo à elaboração de propostas de
formação inicial e continuada de professores e o seu subsídio compõe a ação dessa
Diretoria. Interessa-nos, aqui, as ações voltadas para a formação inicial, pois dentre
elas está o PIBID. A DEB/CAPES entende a formação inicial como o início da
qualidade da educação, segundo consta no Relatório de Gestão PIBID (BRASIL,
2013b, p.13).
Os Programas sob sua responsabilidade organizam-se a partir de uma matriz
educacional que articula três eixos, sendo eles a “[...] busca pela excelência e pela
equidade na formação dos professores brasileiros; integração entre programas de
pós-graduação, cursos de formação de professores e escola básica; e produção e
disseminação de conhecimento” (BRASIL, 2013b, p.13).
Além disso, os programas de formação, segundo o referido relatório, buscam
uma formação que permita ao professor ter o direito de aprender sobre a profissão.
Para isso, quatro princípios devem nortear tais propostas de formação docente,
vinculadas e fomentadas pela DEB/CAPES. São eles:
a- conexão entre teoria e prática b- integração entre as escolas e as instituições formadoras c- equilíbrio entre conhecimento, competências, atitudes e a ética
que a realça a responsabilidade social da profissão e d- articulação entre ensino pesquisa e extensão (BRASIL, 2013b,
p.13)
26
Assim, os projetos institucionais que participam dos editais da CAPES
precisam considerar os princípios listados anteriormente, sem menosprezar as
especificidades e necessidades locais as quais estão vinculados.
A DEB/CAPES incentiva três programas voltados à formação inicial do
professor da educação básica: PARFOR, Prodocência e PIBID. O primeiro é um
programa desenvolvido em caráter emergencial e destina-se à formação de
professores em efetivo exercício que não possuam a formação superior exigida pela
última LDB. O PARFOR estimula a criação de cursos voltados para a formação
desses professores, procurando atender as seguintes demandas: a- primeira
licenciatura, para os professores que não possuam uma graduação; b- segunda
licenciatura, para professores que estão em exercício, atuando em áreas divergentes
da formação inicial; c- formação pedagógica: para professores graduados que não
possuem a licenciatura. Esse programa teve início em 2009, com 140 turmas e
4.273 professores matriculados. Em 2013 esse número cresceu para 2.145 turmas e
70.220 professores matriculados (BRASIL, 2013b).
O Prodocência – Programa de Consolidação das Licenciaturas - busca
incentivar e fomentar a inovação nos projetos pedagógicos e organização dos
currículos das licenciaturas como também a promoção de uma formação continuada
dos professores desses cursos. O edital de 2013 selecionou 66 instituições públicas
que ofertam cursos de licenciatura no país (BRASIL, 2013b).
O terceiro programa é o PIBID (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à
Docência) voltado à valorização do magistério e à melhoria da formação dos
professores da educação básica. Para desenvolver esses propósitos, o
Pibid oferece bolsas para que alunos de licenciatura exerçam atividades pedagógicas em escolas públicas de educação básica, contribuindo para integração entre teoria e prática, para aproximação entre universidades e escola e para a melhoria de qualidade da educação brasileira. Para assegurar os resultados educacionais, os bolsistas são orientados por coordenadores de áreas – docentes das licenciaturas- e por supervisores – docentes das escolas públicas onde exercem suas atividades. (BRASIL, 2013b, p.27)
Dessa forma, o PIBID induz a parceria entre a escola e a universidade com
intuito de atuar na formação do futuro professor, bolsista de licenciatura, por meio
das ações dos professores supervisores e coordenadores de área, como é ilustrado
na figura a seguir (BRASIL, 2013b):
27
Figura 1: Pibid: Desenho do Programa
Fonte: Relatório de Gestão PIBID, 2013b.
O coordenador institucional é um professor da IES, que tem a função de
coordenar o projeto na instituição e se responsabiliza pela comunicação com a
CAPES. O coordenador de área é outro docente da IES, responsável pela condução
do subprojeto na escola parceira. O Supervisor é um professor da escola que
acompanha e supervisiona as atividades desenvolvidas pelos licenciandos bolsistas
em sua sala de aula. Mais a frente serão detalhados os critérios e os perfis de cada
membro da estrutura do PIBID na IES.
A DEB/CAPES sinaliza que a dinâmica do Programa conta com o diálogo
entre os integrantes – licenciando bolsista – professor supervisor – coordenador de
área. Essa questão também aparece quando nos deparamos com a leitura de
excertos do Relatório da Coordenação de Área e do Relatório da Professora
Supervisora, participante do projeto da IES estudada:
Durante o segundo semestre de 2010 e o primeiro semestre de 2011, as
coordenações institucional e de áreas, as professoras-supervisoras e os bolsistas
participaram de diferentes reuniões. Mas, a dinâmica do PIBID exigiu que
ocorressem contatos frequentes, quase que diários, entre os participantes. Foi
28
necessário abrirmos brechas para atender um ou outro bolsista ao longo da
semana, foi preciso acolher as dúvidas e sugestões dos professores-supervisores,
foi preciso buscar e trocar experiências, solicitar orientações e ajuda para a
coordenadora institucional e a coordenadora de área de outro campus. (Relatório
da Coordenação do Subprojeto de área).
Infelizmente, durante esse semestre [referindo-se ao primeiro semestre de 2011],
as reuniões entre os professores supervisores e bolsistas não ocorreram com o
mesmo êxito que as do semestre passado. Isso por conta da oficina de matemática
que ocorre quinzenalmente na IES, atendendo aos professores supervisores e
alunos bolsitas. As nossas reuniões que também eram quinzenais ficaram
prejudicadas. Nós, professoras, precisamos rever os horários, pois nossos
encontros com os alunos do PIBID estão fazendo muita falta. (Relatório da
Professora Supervisora Edna)
Tanto no relatório da IES quanto da professora supervisora é possível
observar a interlocução provocada pelo PIBID entre a universidade e o professor da
escola. No Texto da coordenação da IES identifica-se a preocupação por “acolher as
dúvidas e sugestões dos professores-supervisores” e, por sua vez, a professora
supervisora afirma: “encontros com os alunos do PIBID estão fazendo muita falta”.
Vê-se nos dois documentos referências ao outro interlocutor constituinte da cadeia
criada pela proposta do Programa.
A Portaria nº 96, de 18 de julho de 2013, da CAPES aprovou o Regulamento
do PIBID, que aperfeiçoa e atualiza as normas utilizadas por ele, destacando o
aspecto pedagógico da formação de professores para a composição das propostas
institucionais que participarão da seleção para o Programa. Segundo ela, em seu
art. 4º, os objetivos do PIBID consistem em:
I – incentivar a formação de docentes em nível superior para educação básica; II – contribuir para a valorização do magistério; III – elevar a qualidade da formação inicial de professores os cursos de licenciatura, promovendo a integração entre educação superior e educação básica;
29
IV – inserir os licenciandos no cotidiano de escolas da rede pública de educação, proporcionando-lhes oportunidades de criação e participação em experiências metodológicas, tecnológicas e práticas docentes de caráter inovador e interdisciplinar que busquem a superação de problemas identificados no processo de ensino-aprendizagem; V – incentivar escolas públicas de educação básica, mobilizando seus professores como co-formadores dos futuros docentes e tornando-as protagonistas nos processos de formação inicial para o magistério; VI – contribuir para a articulação entre teoria e prática necessárias à formação dos docentes, elevando a qualidade das ações acadêmicas nos cursos de licenciatura; VII – contribuir para que os estudantes de licenciatura se insiram na cultura escolar do magistério, por meio da apropriação e da reflexão sobre instrumentos, saberes e peculiaridades do trabalho docente (BRASIL, 2013c)
Com esses objetivos, o Programa foi instituído pela Portaria do MEC, nº 18 de
12/12/2007 com o respaldo da Lei 11.502 de 11/07/2007, que modifica a atuação da
CAPES e autoriza a concessão de bolsas voltadas à formação do professor da
educação básica. Já em 2010, as portarias publicadas até então foram substituídas
pelo Decreto Nº 7.219, de 24/07/2010. Segundo a DEB/CAPES, isso sinaliza uma
preocupação com a institucionalização e a continuidade do Programa nas políticas
públicas de formação docente, pois os editais, que serão detalhados adiante,
selecionam as IES que participarão do PIBID por um período de dois anos.
Para o Relatório de Gestão PIBID 2013, os princípios pedagógicos do PIBID
estão embasados pelos estudos de Nóvoa (2009) sobre formação e
desenvolvimento profissional de professores. Nesse sentido, um dos princípios prevê
que o trabalho na escola e a vivência de casos concretos devem ser tomados como
uma referência para o processo formativo. Além disso, a formação deve promover
uma combinação entre o conhecimento teórico e metodológico obtido nas IES com o
conhecimento prático e vivencial desenvolvido nas escolas. Já outro princípio sugere
que é preciso considerar as múltiplas facetas da escola e a importância da pesquisa
como estratégia para a solução dos desafios encontrados nesse espaço, como
também colaborar para a inovação na área. Por fim, confere-se o destaque para o
trabalho coletivo na formação como uma maneira de abordar a responsabilidade
social da profissão (BRASIL, 2013b).
O referido relatório realça que a partir desses princípios é possível contar com
diferentes sujeitos colaborando com a formação dos futuros professores. Com isso,
30
o documento explicita que o PIBID espera alcançar uma mudança e uma
(re)construção da cultura educacional por meio da articulação teoria-prática,
universidade-escola e formadores-formandos, sendo a interação entre os diferentes
saberes sobre a docência o eixo desse processo (BRASIL, 2013b).
Nessa proposta de formação, a ação-reflexão-ação5 é vista como a
mobilizadora do trabalho desses futuros docentes e “[...] as atividades são
organizadas de modo a valorizar a participação desses sujeitos como protagonistas
de sua própria formação [...]” Espera-se, que os licenciandos bolsistas possam, a
partir da relação com os profissionais da educação, envolvidos nesse processo, e
tendo como referência a reflexão sobre a ação, modificar suas representações sobre
o exercício da docência, conforme está no citado relatório (BRASIL, 2013b, p.30). O
Programa busca impactar positivamente na formação profissional docente,
favorecendo um olhar e um compromisso dos estudantes com o ensino na escola
básica.
Para participar do PIBID, as IES enviam projetos de acordo com os critérios
estabelecidos pelos editais6. Desse modo, o primeiro edital para a seleção das IES
que participariam dessa iniciativa da CAPES, publicado em 2007, destinava-se
apenas às licenciaturas que tinham carência de profissionais formados, como Física,
Química, Biologia e Matemática. Após o segundo edital, disponibilizado em 2009,
poderiam ser enviados projetos e subprojetos para todas as áreas da educação
básica. O Edital conjunto com a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização,
Diversidade (SECAD) abriu um chamado em 2010, para propostas de participação
do PIBID, para as IES que promovessem cursos de licenciatura, filiados ao
5 O relatório refere-se ao conceito desenvolvido principalmente por SCHON, D.A. Educando o
profissional reflexivo: um novo design para o ensino e a aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2000. 6 Relação dos editais lançados desde a implantação do PIBID:
Edital MEC/CAPES/FNDE nº 01/2007 - para instituições federais de ensino superior - IFES;
Edital CAPES nº 02/2009 - para instituições federais e estaduais de ensino superior;
Edital CAPES nº 18/2010 para instituições públicas municipais e comunitárias, confessionais e filantrópicas sem fins lucrativos;
Edital Conjunto nº 2/2010 CAPES/Secad - para instituições que trabalham nos programas de formação de professores Prolind e Procampo.
Edital nº1/2011, para instituições públicas em geral - IPES.
Edital nº 11/2012 CAPES, de 20 de março de 2012: para instituições de Ensino Superior que já possuem o Pibid e desejam sua ampliação e para IES novas que queiram implementar o Pibid em sua instituição.
Edital nº 61/2013 CAPES, de 02 de agosto de 2013: para instituições públicas, comunitárias e privadas com bolsistas do ProUni;
Edital nº 66/2013 CAPES, de 06 de setembro de 2013: Pibid-Diversidade.
31
Programa de Apoio à Formação Superior e Licenciaturas Interculturais Indígenas
(PROLIND) ou Programa de Apoio à Formação Superior em Licenciatura em
Educação do Campo (PROCAMPO), voltados à formação de professores para
escolas indígenas e do campo. Por fim, em 2013, esse mesmo chamado foi aberto
novamente, intitulado PIBID Diversidade.
Além da ampliação das áreas atendidas, no decorrer dos editais, houve uma
modificação no critério para selecionar as instituições que poderiam concorrer na
seleção para integrar o Programa. O primeiro edital (2007) abriu o chamado para
participação no PIBID para as instituições de ensino superior públicas federais. Só
em 2009, foi estendido as IES públicas estaduais também. Em 2010, as IES públicas
municipais e comunitárias, confessionais e filantrópicas sem fins lucrativos, também
puderam enviar seus projetos, como fez a instituição que ofereceu a formação para
os licenciandos bolsistas participantes desta pesquisa. Em 2012, foi aberto um edital
para IES que já possuíam o PIBID e gostariam de continuar com o programa ou
ampliá-lo. A IES visada nesta pesquisa não solicitou a renovação do programa por
que houve a extinção do curso. Em 2013, o edital estende a um público ainda não
contemplado nos editais anteriores, que seriam os alunos de licenciatura de
instituições privadas e bolsistas do Programa Universidade para Todos (PROUNI).
A CAPES/DEB, conforme o relatório, entendeu que os alunos da licenciatura de
instituições privadas com financiamento do PROUNI teriam sua formação mantida
pelo governo federal como os alunos de IES públicas. Com isso, reconheceu o
direito de esses licenciandos participarem do PIBID (BRASIL, 2013b).
A partir dos chamados abertos pelos editais, as IES elaboram suas propostas,
expressas em um projeto institucional e também, podem apresentar um subprojeto
para cada licenciatura/habilitação em cada campus/polo, conforme o segundo
parágrafo, do art. 9º, da Portaria CAPES nº 096 (BRASIL, 2013c). Como citado
anteriormente, o projeto deve articular os eixos da matriz educacional da
DEB/CAPES com as peculiaridades e as necessidades regionais identificadas nas
comunidades em que as IES atuam.
Ainda no referido documento, no artigo 6º, há uma descrição das diferentes
características e dimensões da iniciação à docência que o projeto institucional deve
abranger, que são:
I – estudo do contexto educacional envolvendo ações nos diferentes espaços escolares, como salas de aula, laboratórios, bibliotecas,
32
espaços recreativos e desportivos, ateliês, secretarias; II – desenvolvimento de ações que valorizem o trabalho coletivo, interdisciplinar e com intencionalidade pedagógica clara para o processo de ensino-aprendizagem; III – planejamento e execução de atividades nos espaços formativos (escolas de educação básica e IES a eles agregando outros ambientes culturais, científicos e tecnológicos, físicos e virtuais que ampliem as oportunidades de construção de conhecimento), desenvolvidas em níveis crescentes de complexidade em direção à autonomia do aluno em formação; IV – participação nas atividades de planejamento do projeto pedagógico da escola, bem como participação nas reuniões pedagógicas; V – análise do processo de ensino-aprendizagem dos conteúdos ligados ao subprojeto e também das diretrizes e currículos educacionais da educação básica; VI – leitura e discussão de referenciais teóricos contemporâneos educacionais para o estudo de casos didático-pedagógicos; VII – cotejamento da análise de casos didático-pedagógicos com a prática e a experiência dos professores das escolas de educação básica, em articulação com seus saberes sobre a escola e sobre a mediação didática dos conteúdos; VIII – desenvolvimento, testagem, execução e avaliação de estratégias didático-pedagógicas e instrumentos educacionais, incluindo o uso de tecnologias educacionais e diferentes recursos didáticos; IX – elaboração de ações no espaço escolar a partir do diálogo e da articulação dos membros do programa, e destes com a comunidade. X – sistematização e registro das atividades em portfólio ou instrumento equivalente de acompanhamento; XI – desenvolvimento de ações que estimulem a inovação, a ética profissional, a criatividade, a inventividade e a interação dos pares. (BRASIL, 2013c).
Como assinala o inciso I, do art. 7º, o projeto também deve contemplar dentre
outras exigências a “a inserção dos estudantes de licenciatura nas escolas da rede
pública de ensino, espaço privilegiado da práxis docente” (BRASIL, 2013c).
Segundo o Regulamento, a seleção da escola de educação básica parceira do
programa deve considerar as que estão abaixo da média nacional e as unidades
que têm práticas bem sucedidas, levando em conta os dados do Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) com intuito de conhecer as
diferentes realidades educacionais e de contribuir para elevação desse índice
quando necessário (BRASIL, 2013c).
O projeto institucional deve ser coordenado por um professor da IES que
atenda os seguintes requisitos: ser mestre ou doutor, atuar como professor da
licenciatura, ter experiência em disciplinas ligadas à formação de professores e
33
atuar, no mínimo, há três anos na docência do ensino superior. Esse professor ficará
responsável pela coordenação do projeto institucional na IES e pela comunicação
com a CAPES (BRASIL, 2013b; 2013c).
Em cada subprojeto do projeto institucional poderá ter a atuação de, no
mínimo, cinco estudantes de licenciatura, um professor coordenador de área e um
professor supervisor. O coordenador de área será selecionado dentre os professores
da IES que atender os seguintes requisitos: possuir formação na área do subprojeto,
ser integrante permanente do corpo docente da IES e estar em efetivo exercício no
magistério superior e ter, ao menos, três anos de experiência nessa atuação.
Lecionar na licenciatura e na área do projeto e ter experiência comprovada na
formação de professores. (BRASIL, 2013b; 2013c).
O professor supervisor, que participará da equipe, será selecionado pela IES
parceira do PIBID, dentre os docentes da escola da educação básica. O candidato à
supervisão dos licenciandos bolsistas deve ter licenciatura na área do subprojeto,
preferencialmente, ao menos dois anos de experiência no magistério na educação
básica e lecionar na escola parceira do PIBID. Caberá ao professor supervisor
elaborar, desenvolver e acompanhar as atividades dos bolsistas, controlar a
frequência deles na escola, participar dos seminários de iniciação à docência,
promovido pela IES (BRASIL, 2013b; 2013c).
Por fim, o Regulamento do PIBID informa que a seleção do licenciando
bolsista também é responsabilidade da IES, considerando os seguintes critérios: ser
aluno regularmente matriculado na Licenciatura do subprojeto, ter concluído, ao
menos, um período letivo e possuir bom desempenho acadêmico. Dentre os deveres
dos licenciandos bolsistas, destaca-se a dedicação ao programa por oito horas
semanais, no mínimo; a produção de um documento de registro das atividades
desenvolvidas na escola e a participar de eventos científicos, organizados pela IES,
divulgando resultados parciais ou finais de sua participação no programa (BRASIL,
2013c).
A IES, ao selecionar os participantes, considerando os requisitos
mencionados acima, formará o quadro da sua unidade com as quatro categorias de
bolsistas: coordenador institucional, coordenador de área, supervisor e licenciando
bolsista. Em 2009, segundo o Relatório de Gestão, foram concedidas pela CAPES
34
3.088 bolsas, distribuídas entre as categorias anteriormente mencionadas7. Esse
número cresce para 49.321 concessões em 2013. A partir dos editais lançados em
20138, somado ao PIBID Diversidade, alcança-se o número de 90.254 bolsas
disponibilizadas. Do total de bolsas fornecidas aos licenciandos, o curso de
Pedagogia ocupa o segundo lugar, dentre as áreas com maior número de bolsitas
(BRASIL, 2013b).
No período de 2009 a 2013, 195 Instituições de Ensino Superior participaram
do PIBID, abrangendo 4.160 escolas públicas. Sendo que 28% delas são
comunitárias e 72% públicas, conforme consta no Relatório de Gestão PIBID. Com
os editais lançados em 2013, o PIBID aumentou seu alcance para 284 IES, por meio
de 2.997 subprojetos, desenvolvidos em 5.398 escolas públicas. Atualmente, do total
de IES participantes, 53% são públicas, 40% privadas sem fins lucrativos e 75
privadas com fins lucrativos (BRASIL, 2013b). Ou seja, pode-se perceber que o perfil
das IES integrantes foi modificado, tendo sido ampliado o tipo de IES que pode ser
contemplada. Também se pode identificar uma abertura do uso desses recursos
para a iniciativa privada, embora possamos compreender que as razões lançadas –
atender os bolsistas do PROUNI sejam procedentes. De qualquer modo, vê-se aí um
novo movimento que pode indicar alterações futuras.
A descrição feita até aqui abordou dois dos três aspectos da atuação da
DEB/CAPES na formação de professores – a indução e o fomento de ações para
essa finalidade. O terceiro aspecto trata do acompanhamento e da avaliação dos
programas induzidos e fomentados por essa diretoria. O acompanhamento tem se
efetivado por meio de visitas técnicas e levantamento de dados. Como instrumento
para esse levantamento, foi enviado para os bolsistas do programa dois formulários:
um destinado apenas aos coordenadores institucionais e outro aos demais bolsistas.
Os formulários foram respondidos e enviados pelo Google Drive, por 98 % dos
participantes do PIBID. Os dados foram analisados pela coordenação do Programa e
por avaliadores externos contratados por edital aberto em 2013.
7 Em 2009, as bolsas foram distribuídas da seguinte forma entre as categorias: 2.326 para os
licenciandos bolsistas; 259 para coordenador e 503 para supervisão. 8 Em 2013, foram lançados:
Edital nº 61/2013 CAPES, de 02 de agosto de 2013: para instituições públicas, comunitárias e privadas com bolsistas do ProUni;
Edital nº 66/2013 CAPES, de 06 de setembro de 2013: Pibid-Diversidade.
35
Além desse conjunto de informações reunidas pela DEB/CAPES, a
elaboração de registros esteve presente na atuação dos bolsistas do curso de
Pedagogia no PIBID, aqui estudado. Todos os integrantes produziram seu diário de
bordo e os relatórios periódicos. Nessas produções consta uma avaliação do
processo, como podemos ver no trecho de um Relatório da Supervisão, abaixo em
que a Prof.ª Edna avaliava a atuação dos estudantes bolsistas:
Os bolsistas do PIBID têm atuado em todas as atividades ocorridas na escola. No
início do ano foram eles que prepararam carinhosamente uma semana de
atividades diversificadas para os alunos, iniciando assim as aulas de uma
maneira prazerosa e diferenciada, pois nós, professores, nunca havíamos
realizado uma acolhida aos discentes como ocorreu neste ano.
Participaram das reuniões de pais realizadas pela direção e também pelos
professores em sala de aula. Até mesmo demonstraram interesse em participar
antes de serem convidados
O comprometimento e dedicação são características da maioria do grupo de
bolsistas. São companheiros de trabalho que nos ajudam desde a mudança de
prédio, arrumação, preparação de materiais até em comemorações escolares. Na
festa junina, ocorrida em junho, a escola pôde contar com a colaboração de 90%
dos bolsistas (Relatório da professora Supervisora Edna).
A avaliação proposta pela CAPES centra-se nos impactos do Programa na
formação dos professores, nas escolas e nos cursos de licenciatura participantes.
Os coordenadores institucionais tiveram que responder o primeiro formulário: 325
respostas de 356 formulários enviados, afirmam que o PIBID impacta as escolas
participantes. Assim, os bolsistas presentes na escola trazem impactos “[...] quer
pela mobilização de diferentes atividades que problematizam a formação docente a
partir de questões pertinentes à escola, quer pelo estreitando da relação teoria-
prática” (BRASIL, 2013b, p.54). Além do que está mencionado, dinamizam o uso de
espaços escolares, como a biblioteca e os laboratórios.
Mesmo não se constituindo como um objetivo do programa, 40 % das escolas
que dele participaram aumentou seu IDEB, segundo respostas dadas pelos
36
coordenadores Institucionais9. Sobre o impacto na licenciatura, também é notada
uma melhoria nos cursos a partir da implementação do programa nas IES. Dentre os
itens identificados como as principais contribuições do PIBID para os cursos de
licenciatura se encontra a “maior articulação entre teoria e prática”, segundo aparece
em 85 dos 356 formulários respondidos. Seguido por 65 respostas, para as quais o
impacto do programa nos cursos se dá pelo “aumento do envolvimento dos docentes
nos cursos de licenciatura” (BRASIL, 2013b, p. 56).
Percebe-se, ao entrar em contato com esses dados disponibilizados, que o
PIBID tem conseguido obter êxito em termos de maior aproximação entre os
universos da escola e da universidade. O programa parece favorecer o
estreitamento do diálogo entre essas duas instituições.
O segundo formulário foi respondido por outros bolsistas do PIBID. Foram
obtidas 79,64 % de respostas que foram analisadas por avaliadores externos,
contratados a partir de um Edital, lançado em 2013, conforme informado antes.
A análise e geração de documentos sobre esses dados permitiram às
avaliadoras10 constatarem que a desvinculação teoria-prática nos cursos de
formação de professores é uma fragilidade perene, na qual “o espaço da ação
docente se distancia do espaço da formação, não sendo o primeiro mobilizador de
saberes para a profissionalização dos professores” (BRASIL, 2013b, p.60), As
pesquisadoras ainda apontam o PIBID como “[...] uma oportunidade robusta de fazer
com que a produção cultural da escola seja apropriada pelos futuros professores –
os alunos das licenciaturas que participam do programa” (BRASIL, 2013b, p.60).
Reproduzimos abaixo os quadros elaborados a partir das respostas fornecidas
pelos participantes do programa, subdivididos pela sua área de atuação. Sobre o
modo como foram coletadas, as pesquisadoras esclarecem que foram apresentadas
questões abertas sobre o programa (BRASIL, 2013b):
Os coordenadores de área concordam que o Pibid:
Colabora para a formação continuada ou atualização pedagógica dos docentes das IES
Aproxima a formação do Contexto da Escola Básica
Qualifica a formação dos licenciandos por meio do uso de metodologias aplicadas
Amplia o desenvolvimento de ações compartilhadas para o trabalho docente
Contribui para valorização a licenciatura e a profissão docente
Revitaliza a licenciatura
9 Na escola que sediou o subprojeto PIBID, foco deste estudo o IDEB foi de 5,2 em 2009 para 6,0 em
2011. 10
Refere-se às pesquisadoras: Bernadete Gatti e Marli André.
37
Contribui para formação dos docentes das IES
Estimula o fortalecimento do trabalho coletivo
Colabora para a formação continuada ou atualização pedagógica dos docentes das IES
Aproxima a formação do contexto da Escola Básica
Qualifica a formação dos licenciandos por meio do uso de metodologias aplicadas
Amplia o desenvolvimento de ações compartilhadas para o trabalho docente
Contribui para valorização à licenciatura e à profissão docente
Revitaliza as licenciaturas
Contribui para o desenvolvimento da pesquisa educacional e didática
Estimula a interdisciplinaridade
Aumenta da atratividade do magistério
Amplia os conhecimentos intelectuais dos professores da universidade, supervisores e alunos da licenciatura.
Quadro 1: Resultado da análise das respostas dadas pelos coordenadores de área Fonte: Relatório de Gestão PIBID, 2013b.
Os supervisores concordam que o Pibid promove:
Conhecimento e uso de novas práticas didático-pedagógicas nas escolas públicas
Formação continuada dos professores da educação básica
Atualização teórico-prática
Envolvimento e participação em grupos de pesquisa educacional e didática
Trocas de experiências didático-pedagógicas
Participação em congressos científicos
Conhecimento da realidade escolar e dos problemas educacionais
Melhoria no planejamento de atividades didáticas
Qualificação do processo formativo dos licenciandos e dos supervisores
Aproximação do conhecimento acadêmico e do conhecimento científico
Ampliação da reflexão sobre a prática didática, com a inserção de novas questões não abordadas nos cursos de licenciatura.
Melhoria da qualidade do ensino e das aprendizagens, trazendo benefícios para a escola e para os alunos da educação básica
Integração entre universidade e escola
Dinamização das aulas dos supervisores, de seu planejamento para o exercício da docência e de sua formação
Melhoria da qualidade dos cursos de licenciatura
Quadro 2: Tabela 24. Resultado da análise das respostas dadas pelos supervisores ao questionário Fonte: Relatório de Gestão PIBID, 2013b.
Os coordenadores institucionais concordam que o Pibid:
Intensifica o diálogo entre a universidade e escola
Eleva a autoestima dos licenciandos e dos professores da educação básica
Contribui para modificar as formas tradicionais do estágio supervisionado
Valoriza a licenciatura na comunidade acadêmica
Diminui a evasão nas licenciaturas
Aumenta o interesse das redes de ensino na formação de professores
Melhora a prática pedagógica dos supervisores
Contribui para o uso de tecnologias nas escolas de educação básica e na formação de professores
Colabora na reorganização dos conteúdos curriculares e nas práticas didático-
pedagógicas desenvolvidas nas escolas
Aumenta o interesse dos professores e gestores educacionais na formação dos
futuros docentes
Aumenta a procura pelos cursos de licenciatura
Colabora para o aumento da procura dos professores da educação básica pela pós- graduação
Dinamiza as estratégias utilizadas no processo de ensino-aprendizagem dos conteúdos curriculares
38
Apoia pedagogicamente as atividades dos docentes das escolas envolvidas
Envolve os alunos na dinâmica escolar e na compreensão do cotidiano das escolas públicas
Quadro 3: Tabela 26. Resultado da análise das respostas dadas pelos coordenadores institucionais Fonte: Relatório de Gestão PIBID, 2013b.
Os bolsistas de iniciação concordam que o Pibid:
Possibilita vivenciar a escola e a sala de aula
Permite conhecer e desenvolver metodologias diversificadas
Promove o conhecimento da realidade das condições do trabalho docente
Amplia a visão para várias possibilidades e problemáticas relacionadas ao ato de ensinar
Permite planejar, preparar e aplicar ações pedagógicas em sala de aula
Favorece a aquisição de uma nova visão sobre a relação professor-aluno e professor-
disciplina
Permite verificar dificuldades e facilidades para o ensino
Promove a compreensão da profissão docente
Aperfeiçoa e melhora a profissionalização para a prática didática
Oportuniza a aquisição de instrumentos e saberes para a ação docente
Coloca a escola pública no protagonismo da formação de professores
Enriquece as experiências em tecnologias educacionais
Possibilita crescimento profissional
Quadro 4: Tabela 28. Resultado da análise das respostas dadas pelos licenciandos bolsistas Fonte: Relatório de Gestão PIBID, 2013b.
Por fim, o Relatório de Gestão PIBID conclui que, “a avaliação externa mostra
que a política pública tem sido exitosa para os diferentes atores e tem alcançado seu
propósito de valorizar a formação de professores, o protagonismo da escola e os
cursos de licenciatura” (BRASIL, 2013b, p. 67). Para Freitas, presidente da
Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação (ANFOPE), tal
política pública tem dois grandes desafios: atingir todos os licenciandos, o que não
ocorre no momento, e tornar-se um programa institucionalizado, e deixando de ser
uma medida emergencial (FREITAS, 2014).
Tendo em vista os dados positivos que as tabelas nos mostram em relação ao
que o programa tem atingido, a consideração de Freitas (2014) do lugar da ANFOPE
parece proceder. Isto é, se o PIBID tem logrado suas finalidades, como a de trazer
melhorias à qualidade dos trabalhos dos professores nas escolas, ele deveria deixar
de ser emergencial. No entanto, entendemos que há uma questão de fundo a nos
fazer: por que os próprios cursos de formação de professores com suas disciplinas
de estágio obrigatório nas escolas, não têm conseguido impactar o ensino tal como
o PIBID em tão pouco tempo? Esse é um ponto que merece atenção, embora não
seja o objetivo desta tese respondê-lo. Procuraremos enriquecer essa discussão
trazendo mais elementos para sua análise.
39
Mesmo com esse panorama animador, o programa tem desafios internos a
serem enfrentados pelas IES e as escolas de educação básica, que assim são
caracterizados pela ANFOPE:
a) indicação clara das responsabilidades e compromissos dos professores coordenadores de área frente ao processo formativo dos estudantes sob sua responsabilidade, como parte intrínseca da carreira docente universitária; b) alteração da forma de escolha dos professores supervisores, superando as relações pessoais ainda existentes e articuladas ao projeto político pedagógico da escola. A experiência do professor em sua área, o cumprimento de jornada compatível com as demandas do projeto, disposição para criar coletivos no interior da escola, permanência na mesma escola pelo tempo de duração e tempo de dedicação ao projeto podem ser critérios mais democráticos para a escolha do supervisor dos estudantes da universidade. Destaque especial deve ser dado ao tempo de dedicação, evitando-se a intensificação do trabalho do professor supervisor, o qual, ao receber uma bolsa, acaba justificando essa intensificação perante seus pares; c) aprovação prioritária de projetos que incorporem o maior número de professores das licenciaturas, em especial aqueles que trabalham com as disciplinas fundantes das áreas específicas de ensino; d) criação de linhas de fomento no interior do PIBID: estudante residente, estágios profissionais, acompanhamento de professores iniciantes, etc.; e) incorporação à carreira docente da educação básica de experiências de professor co-formador em programas com a universidade; f) criação de comissão de caráter tripartite - professores das redes públicas, estudantes e coordenadores das IES – para a gestão do programa; g) ampliação do campo de abrangência das ações de integração IES com as escolas de educação básica, criando espaços para estreitamento de vínculos entre juventude do Ensino Médio que recebe os estagiários do PIBID e as licenciaturas; h) revisão da oferta de bolsas para professores e coordenadores de área, considerando a necessidade de envolvimento de todos os professores das IES e das escolas de Educação Básica nos processos de formação e co-formação (FREITAS, 2014, p.29-30).
Procuramos apresentar um resumo do histórico do PIBID junto à DEB/CAPES
e dos resultados oficialmente obtidos e divulgados desse programa até 2013.
Também buscamos mostrar como esses resultados têm sido interpretados pela
entidade representativa dos professores formadores.
No item seguinte iremos trazer uma caracterização da IES participante do
PIBID, onde os estudantes cursaram sua graduação em Pedagogia. Será
apresentado o Projeto Institucional enviado à CAPES. Com isso, pretendemos
oferecer o contexto em que se desenvolveu esta pesquisa.
40
1.2 O PIBID em uma universidade confessional e privada do interior de
São Paulo
Eu tive as aulas com você e a prática eu tive com o Pibid.
(Entrevista com a licencianda bolsista do PIBID Mariana).
As experiências do PIBID frente à formação inicial de professores
investigadas neste estudo, integraram as atividades do curso de Pedagogia de uma
universidade confessional, reconhecida na região pela sua atuação na oferta de
cursos superiores, desde meados da década de 1970. Tradicional e muito bem
avaliada pelos instrumentos externos de avaliação11, a universidade é uma
referência na formação de novos profissionais no perímetro dos municípios que
estão próximos a ela.
A mantenedora da Instituição foi fundada em 1945, na cidade do Rio de
Janeiro, como instituição educacional e assistencial, sem fins lucrativos e
econômicos. Desde a sua fundação, tem-se constituído como uma importante
instituição dentro de uma ordem religiosa de fomento ao ensino e aprendizagem no
território nacional.
Nos idos de 1951, a mantenedora foi reconhecida como instituição de
utilidade pública, sendo portadora de certificação de entidade filantrópica. Em 1976,
transferiu-se para um município no interior do Estado de São Paulo. A presença
dessa ordem religiosa no ensino superior em SP inicia-se com a aquisição de uma
instituição de ensino superior privada que, à época, passava por um processo de
reestruturação desencadeado por determinação do MEC, que dentre os cursos
ofertados estava o de Pedagogia.
Apesar de reunir cinco faculdades e já contar com três campi, que ainda hoje
fazem parte da instituição, a faculdade se via carente de sustentação econômica e
de ações institucionais em favor da comunidade. Em razão disso e da tradição
educacional da ordem religiosa é que teve início o processo que terminaria pela
constituição de uma universidade.
Atualmente possui cinco Campi, distribuídos em quatro municípios do estado
de SP. A universidade em questão consiste em um complexo educacional de 51
cursos de graduação, abrangendo todas as áreas do conhecimento, 30 cursos de
11
Segundo a CAPES, o curso de Pós-graduação Stricto Sensu em Educação obteve o conceito 4.
41
pós-graduação, incluindo três programas de Stricto Sensu. A IES possui, hoje,
aproximadamente 10 mil alunos matriculados e já formou cerca de 80 mil
profissionais desde a sua criação12.
Nesse histórico da instituição, em de maio de 1974, o funcionamento do curso
Pedagogia (Licenciatura de 1º Grau em Administração Escolar e em Inspeção
Escolar; Licenciatura plena em Magistério das Disciplinas Pedagógicas do 2º Grau,
em Supervisão Escolar, em Inspeção Escolar e em Orientação Educacional) foi
autorizado na Faculdade que seria adquirida pela IES em 1976. Em 1977, o curso é
reconhecido por outro Decreto.
O curso acompanhou as mudanças curriculares propostas pelos órgãos de
regulamentação, bem como as designações e as atribuições da Pedagogia, nos
seus quase quarenta anos de existência. A última turma concluiu suas atividades em
201413. Nessa trajetória, o curso sempre foi muito bem avaliado por instrumentos
externos como Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE)14, por
exemplo. O resultado positivo nas avaliações foi atribuído a fatores como a sua
estruturação administrativa e pedagógica e ao corpo docente que integra o curso,
composto por professores titulados e experientes. Grande parte dos professores do
curso atuava também nos cursos de Mestrado e Doutorado em Educação desta
universidade. Esse resultado aparece no relatório dos avaliadores do MEC, em sua
última visita in loco à instituição. Para esses avaliadores, o curso obteve nota
máxima nas três dimensões avaliadas: 1- Organização didático-pedagógica; 2-
Corpo docente, corpo discente e técnico administrativo; 3- Instalações físicas.
Os estudantes da Pedagogia entrevistados, ao relatarem sua formação,
referem-se a sua percepção da atuação da instituição nesse processo, ressaltando
algumas de suas qualidades, analisadas a partir da vivência com colegas de outras
IES:
Eu acho que a formação dada na universidade [nome da universidade], pensando
na grade [curricular] da formação e em tudo que ela oferece, é boa. É melhor do
12
Dados retirados do histórico da Instituição no PPP (Projeto Político Pedagógico) do curso de
Pedagogia. 13
O curso de Pedagogia não é mais ofertado na IES devido a baixa procura pelo curso. Em 2014, a
turma constituída a partir da participação da IES no PARFOR encerrou o curso. A última turma que
ingressou pelo Vestibular regular da universidade concluiu em 2012. 14
Nos anos de 2005, 2008 e 2011 o curso obteve o conceito 4, segundo o INEP.
42
que qualquer instituição que esteja no entorno aqui. Ela abrange muita coisa,
mas eu acho que poderia melhorar. Porque a base nós temos perfeito, mas ficam
essas questões, por exemplo, inclusão, EJA, a educação não formal, uma
disciplina é muito pouco para tratar de cada questão. Você não consegue atingir
tudo que você precisa (Entrevista com a licencianda bolsista do PIBID Gisela,
grupo 4)
[...] Eu tive oportunidade de conhecer o currículo de outras faculdades do curso de
Pedagogia e eu acho o daqui bem mais vantajoso, bem mais preparado. Assim, eu
percebo, conversando com pessoas [que cursaram em outras instituições] que até
essas aulas foram muito mais proveitosas do que as que elas tiveram. Era a
mesma aula, só que diferente (Entrevista com a licencianda bolsista do PIBID
Mariana, grupo 1).
Em 2010, com a abertura do Edital CAPES nº 18 de seleção do PIBID
destinado às instituições públicas municipais e comunitárias, confessionais e
filantrópicas sem fins lucrativos, a universidade enviou sua proposta intitulada “A
parceria universidade-escola como espaço de construção de uma relação efetiva
entre teoria e prática”15, abarcando dois subprojetos do curso de Pedagogia, pois
envolvia dois campi da proponente. Foi estipulado de 01/09/2010 a 31/08/2012, o
período de vigência desse projeto.
O projeto institucional apresentado, ao detalhar o Plano de trabalho,
apresenta a concepção de educação da IES e o curso de Pedagogia. Segundo ele,
a educação é tida como um “[...] processo voltado à formação social, científica e
acadêmica nas diversas áreas do saber humano”. No âmbito da universidade, esse
processo deve ocorrer pelas atuações em educação, pesquisa e extensão. Há um
destaque para educação situada no interior da cultura e da sociedade.
Nesse sentido, em consonância com a concepção de educação da referida
instituição, o curso de Pedagogia por ela organizado e oferecido, segundo consta no
Projeto Institucional, pressupõe que a formação do Pedagogo prepare esse
profissional para “[...] levar para as instituições sociais os conhecimentos das
ciências pedagógicas, garantindo que o processo educativo ocorra sob a égide dos
princípios teórico-metodológicos das ciências que fundamentam a prática educativa.”
15
Utilizaremos excertos do Projeto Institucional enviado para a seleção do Edital CAPES n. 18
43
Podendo exercer sua função na docência16, na gestão do processo educacional, na
pesquisa e nas tarefas que exigem o domínio de competências e habilidades do
campo de atuação de sua formação.
Para formar o Pedagogo, a IES define os seguintes objetivos gerais e
específicos do curso,
a) formar o profissional da educação, munido de conhecimentos teóricos e práticos que possibilitem uma compreensão ampla da organização do trabalho educativo no âmbito escolar ou em instituições educativas, tendo a docência como base da sua formação e identidade profissionais; b) preparar o profissional para organizar o trabalho pedagógico, planejar, executar, coordenar, acompanhar e avaliar atividades, projetos e experiências educacionais;
c) produzir e difundir o conhecimento científico do campo educacional; d) promover o desenvolvimento integral do ser humano, para contribuir com a construção de uma sociedade mais justa, solidária e fraterna.
Os objetivos específicos foram elaborados considerando as áreas de atuação do
pedagogo, mencionadas antes:
a) incentivar e orientar o estudante para a excelência acadêmica; b) favorecer o desenvolvimento de uma postura ético-política, comprometida
com a melhoria da qualidade do ensino; c) possibilitar ao futuro pedagogo a construção de competências relacionadas
ao desempenho da docência; d) formar o gestor educacional, para organizar e gerir sistemas, unidades,
projetos e experiências educacionais; e) propiciar a construção de competências para a produção do saber científico e
tecnológico no campo educacional; f) oferecer condições, para o profissional atuar em realidades e espaços
educativos diversos, para identificar problemas educacionais, refletir sobre eles e propor soluções;
g) possibilitar a realização de atividades complementares ou estudos independentes, relacionados às novas demandas sociais e conforme interesses dos estudantes;
h) oferecer oportunidade de educação continuada e crescimento profissional aos egressos, por meio da oferta de cursos de extensão comunitária, pós-graduação Lato Sensu e Stricto Sensu.
O projeto Institucional do PIBID refere-se ao artigo 5º das Diretrizes
Curriculares Nacionais para o curso (RESOLUÇÃO CNE/CP nº 1/2006, p.3), a
respeito da aptidão dos egressos de Pedagogia, para completar a apresentação da
formação almejada para esse profissional. No entanto, o texto desse projeto, indica
algumas lacunas do curso que poderiam ser amenizadas pela realização do
16
Professores para exercer funções de magistério na Educação Infantil, nas séries iniciais do Ensino
Fundamental, nas áreas de Ensino Médio de Educação Profissional, na área de serviços e apoio
escolar e em outras que prevejam conhecimentos pedagógicos.
44
programa, como uma justificativa para a solicitação do mesmo à CAPES (BRASIL,
2006).
Essas lacunas advêm das dificuldades encontradas pelos novos professores
na prática docente em razão das adversidades cotidianas escolares. O projeto citado
destaca o seguinte, “ainda que existam as disciplinas de estágios e os momentos de
práticas, pesquisas têm demonstrado que estes não têm dado conta de oferecer ao
novo professor experiências que lhe apontem caminhos de como aliar teoria-prática,
cotidiano escolar e outros elementos que constituem o trabalho docente”. Pode-se
constatar que a própria IES reconhece suas limitações em relação a formar esse
profissional. O projeto apresentado admite essa fragilidade do curso.
Há uma ressalva nesse texto, de que isso não ocorra por uma falha da
universidade, mas, segundo consta, isso se deve “[...] à distância que existe entre os
saberes produzidos na academia e a complexidade da dinâmica escolar, em que
problemas e soluções andam juntos, necessitando de reflexões e ações no ato da
situação”. Como admite que não é possível reproduzir, com toda a dinamicidade, o
espaço escolar na universidade, o Projeto Institucional afirma que é preciso “[...]
possibilitar ao aluno a convivência no espaço escolar, mudando o status de
estagiário para residente, [o que] pode modificar essa situação”.
Embasados no ideal de formação de pedagogo almejado pelo curso, sem
desconsiderar as fragilidades existentes, o Projeto Institucional espera que a
participação no PIBID possa:
[...] propiciar aos nossos alunos do curso de Pedagogia dos campi [nomes das cidades] atividades de iniciação à docência e, caráter de residência pedagógica que contribuirão tanto coma formação inicial desses licenciandos, quanto com a formação continuada de professores na escola e na universidade. Certamente, propiciando melhorias no nível da formação dos profissionais também conseguiremos alterações significativas no ensino de modo geral (2010, p.3)
Com intuito de “complementar a formação integral dos estudantes de
graduação” (2010, p.8) a proposta do Projeto Institucional relaciona as seguintes
ações:
1. Conhecer as escolas; 2. Conhecer a estrutura e funcionamento da escola; 3. Conhecer a dinâmica da sala de aula e o trabalho do professor; 4. Acompanhar os alunos com dificuldade de aprendizagem; 5. Atuar em sala de aula desenvolvendo as metodologias
elaboradas;
45
6. Atuar na avaliação da aprendizagem; 7. Preparar material audiovisual; 8. Atuar na recuperação presencial; 9. Redigir relatórios e participar em reuniões; 10. Divulgar o conhecimento que foi adquirido durante o PIBID em
eventos de caráter sócio científico e cultural, (congressos de ensino, encontros científicos e de extensão universitária).
No detalhamento dessas ações, visando a possibilitar aos alunos de
Pedagogia, a residência em escolas do primeiro segmento (do 1º ao 5º ano) Ensino
Fundamental, as seguintes linhas de atuação dos bolsistas de iniciação à docência
foram propostas no subprojeto: (a) Conhecer como os documentos oficiais que
prescrevem o trabalho docente (LDB e PCN) estão sendo implementados e
utilizados cotidianamente, tendo como foco a estrutura e funcionamento da escola e
da sala de aula; (b) Acompanhar e participar das atividades disciplinares do
professor relativas ao ensino de Língua Portuguesa e Matemática, tendo como
objetivos conhecer o trabalho do professor, a dinâmica das aulas e as metodologias
e materiais utilizados; (c) Auxiliar o professor com novas metodologias e práticas
pedagógicas inovadoras para recuperação dos alunos com déficit de aprendizagem,
objetivando uma intervenção prática na melhoria do processo de ensino e
aprendizagem do aluno; d) Atuar em atividades extraclasse com os alunos e famílias
de alunos a fim de perceber as diferentes relações que o espaço escolar pode
propiciar para o desenvolvimento social brasileiro.
Desse modo, é esperado, na primeira linha de atuação, que os licenciandos
bolsistas estabelecessem uma relação entre os documentos que leem na
universidade e o uso efetivo desses nas escolas. Para que isso ocorresse, eles
deveriam conhecer a realidade da escola e do ensino básico, por meio do contato
com os seguintes documentos da instituição: calendário escolar, regimentos,
proposta pedagógica, matriz curricular, horário de aulas, funcionamento da equipe
técnica, professores, pais, comunidade escolar e alunos. Além disso, é esperado
que compreendessem como as prescrições atravessam o universo escolar, ou seja,
em que situações são adotadas na íntegra, descartadas ou ressignificadas.
Já a segunda linha de atuação indicava o trabalho dos licenciandos com os
professores, de forma exploratória e participativa no cotidiano escolar,
principalmente, nas atividades relativas ao ensino de Língua Portuguesa e
Matemática. Acompanhando atividades como: planejamento (anual, bimestral,
semanal), conhecimento dos conteúdos ministrados e do livro didático, preparação
46
de material a ser utilizado, elaboração e correção das avaliações, recuperação
paralela, atendimentos aos pais, participação de reuniões de área, de colegiado e
conselhos de classe.
Segundo o subprojeto, a terceira linha de atuação solicitava que os
licenciandos conhecessem, por intermédio dos instrumentos de avaliação
(avaliações diagnósticas, provinha Brasil ou prova Brasil), conselhos de classe ou
professores, aqueles alunos que precisavam de atendimento extraclasse, devido a
dificuldades de aprendizagem. Com esses dados, poderiam propor e realizar
atividades individuais, específicas para cada disciplina, visando à recuperação
paralela durante o ano letivo como também a final, caso necessite.
A última linha de atuação esperava que os estudantes da licenciatura
considerassem a escola como um espaço da comunidade, visando contribuir para o
desenvolvimento dos alunos e dos grupos sociais do seu entorno. Para isso, junto
com outros profissionais da escola, eles deveriam propor algumas atividades
extraclasse, envolvendo a comunidade, segundo o subprojeto.
Nos períodos de férias escolares, caberia aos licenciandos bolsistas do PIBID
dedicar-se à pesquisa para a preparação de aulas e para a elaboração de materiais
(recursos audiovisuais, jogos educativos, seleção ou preparação de textos, figuras,
mapas e outros materiais complementares, experimentos, etc.) para os próximos
períodos letivos. Todo material produzido seria analisado pelos professores
supervisores em conjunto com os bolsistas. Essas e outras atividades contariam
com o acompanhamento dos coordenadores de área, via relatórios periódicos
elaborados pelos supervisores da sala de aula (o professor) e visitas em campo de
trabalho, conforme o subprojeto.
Vale ressaltar que o projeto institucional destrincha as atividades que os
estudantes deveriam realizar na escola. Essas extrapolam o que está descrito no
Projeto Político Pedagógico (PPP) do curso de Pedagogia. O projeto amplia o foco
de ação do estudante, dando mais abrangência às tarefas que deveriam realizar,
assim como da universidade na relação com as escolas. Nas ementas das
disciplinas de Estágio Supervisionado, do curso de Pedagogia em questão, constam
apenas o seguinte:
A pesquisa etnográfica e a prática do estágio. Atividades teóricas-práticas para o Ensino Fundamental. Procedimentos de observação, entrevista e análise documental, para caracterização e diagnóstico
47
da gestão e docência no contexto das séries iniciais do Ensino Fundamental. Elaboração de Projetos. Atividades de participação e regência. Aplicação das habilidades básicas da docência em situações escolares cotidianas. O relatório do estágio (Projeto Político Pedagógico do curso de Pedagogia).
Após a produção dos projetos solicitados no edital de seleção e a aprovação
da proposta pela CAPES, a universidade iniciou um processo de negociação com a
escola pública da educação básica, indicada pela Rede Municipal de Ensino, por
estar abaixo da média nacional no IDEB. Em um dos relatórios das professoras
supervisoras, encontramos a seguinte descrição desse momento:
A proposta de participar do PIBID chegou à E.M. [nome da escola] em agosto de
2010. Ficamos receosos, pois tudo o que é novo assusta. E a ideia de ter cinco
estranhos diariamente em nossas salas, não era nada convidativo.
Em um HTP [Horário de Trabalho Pedagógico], as professoras da universidade
vieram até nossa escola para nos explicar como seria o programa, caso
aceitássemos participar do mesmo. Porém, o grupo de docentes não estava
disposto a encarar tal desafio.
Enfim, das dezesseis professoras da U.E (Unidade Escolar) cinco se interessaram
pela proposta. Inscrevemos-nos e enviamos um relatório, dizendo por que
queríamos participar do programa. As quatro professoras aceitas com muita
incerteza começaram a trabalhar.
Quando os bolsistas chegaram à escola, havia uma grande expectativa de ambas
as partes. Eles ansiosos para conhecer nossa rotina e nós, [para saber] como seria
a postura deles em nossas aulas (Relatório da professora Supervisora Edna).
O início do programa também foi abordado em algumas entrevistas realizadas
por mim durante o trabalho de campo. Segue relato de Luana, licencianda bolsista,
sobre a chegada dos bolsistas à escola parceira:
Levei um semestre para conseguir ganhar a confiança das professoras. No final
do ano a gente tinha aquela amizade, mas não tanto. Acredito que do segundo
semestre em diante o vínculo fortaleceu bastante. Foi interessante por que a
gente ganhou a professora dentro da sala de aula, a gente mostrou que era capaz,
48
porque a gente tava vendo aquilo [na faculdade], estava quentinho. Então a gente
aprendia na aula e levava para lá. Elas estavam aprendendo junto. Viram que
nós podíamos ensiná-las e não só elas estavam nos ensinando. Foi o primeiro
passo. No começo do ano passado, as outras professoras começaram a ver que nós
éramos capazes também. Elas queriam a gente também (referindo-se as
professoras que não participavam do PIBID) O que eu vi na escola não foi bem
isso. Foi assim que as professoras que estavam junto com a gente elas estavam se
diferenciando das outras porque elas estavam aprendendo na pratica com a gente
ali também. Não era aquela coisa de ir ao cursinho da prefeitura para ter o
diploma e as horas. Não era assim, era diferente (Entrevista da licencianda
bolsista do PIBID Luana, grupo 2).
Os professores da escola parceira necessitavam atender aos requisitos
listados no Edital nº 018/201017 para concorrer à Bolsa de Supervisão e se inscrever
no processo seletivo, apresentando para avaliação: 1) Carta de intenções do
professor; 2) Entrevista; 3) Currículo; 4) Avaliação do superior imediato (chefe do
ensino fundamental e/ou dos profissionais do programa de formação continuada que
acompanham as professoras da rede municipal) 5) Parecer do coordenador de Área
Institucional. Tiveram cinco inscritos para quatro vagas.
Já os estudantes do curso de Pedagogia, para participar da seleção,
deveriam atender aos requisitos, propostos pela DEB/CAPES no referido Edital e ser
avaliado pela: 1) Carta de intenções do licenciando; 2) Análise do Histórico Escolar;
3) Entrevista.
Em 2010, o curso de Pedagogia do campus do subprojeto abordado nesta
pesquisa, contava com duas turmas: quarto e sexto semestres, que poderiam
participar da seleção. A turma do quarto semestre era composta por 56 alunos
frequentes e a do sexto, por 21 alunos. O edital de seleção dos bolsistas PIBID abriu
20 vagas para esses 77 alunos concorrerem.
Conforme mencionado antes, durante o período de seleção e duração do
programa, eu atuava como professora deste curso de Pedagogia. No entanto, não
tinha um vínculo direto com ele, apenas uma proximidade com o PIBID, não só por
17
Esses critérios foram mencionados anteriormente na descrição dos bolsistas no item 2.1 deste
texto.
49
trabalhar na IES parceira do programa, mas também porque me relacionava com a
escola pública, onde aconteciam as atividades do programa.
Para esclarecer esses pontos, retomo parte do meu percurso profissional, no
qual relatei que fui professora do curso de Pedagogia, frequentado pelos
licenciandos bolsistas, desde 2006. Com a diminuição de turmas desse curso, o
corpo docente era pequeno e, com isso, nos revezávamos nas disciplinas que
tínhamos afinidade. Por esse motivo, para as duas turmas (4º e 6º semestre, no
momento da seleção), que tinham alunos no PIBID, lecionei as disciplinas de: Teoria
e Prática da Alfabetização, Fundamentos e Metodologia da Língua Portuguesa,
Prática de Leitura e Escrita, Educação de Jovens e adultos, Coordenação e
Supervisão Pedagógica. Apenas a disciplina de Estágio Supervisionado do Ensino
Fundamental, foi trabalhada por mim, com a turma que estava no 4º semestre em
2010. Praticamente estive com esses alunos, do terceiro ao sétimo semestre.
Construímos uma boa relação em nossas aulas no decorrer dessas disciplinas.
Inclusive, fui professora homenageada de uma das turmas na colação de grau.
Conforme apresentado anteriormente, além dessa atuação, também
trabalhava na Rede Municipal de Ensino, na qual uma das escolas recebeu o PIBID.
Nessa rede, sou professora efetiva desde 1999. Mas, em 2002 passei a atuar na
equipe de formação da Secretaria Municipal de Educação (SME) deste município.
Por este motivo, conhecia as professoras supervisoras, por participarmos juntas de
outros momentos de formação, de reuniões na rede. Como meu trabalho era
diretamente com as escolas, também conhecia a direção e a coordenação da escola
que acolheu o programa. Ou seja, uma série de coincidências me proporcionou uma
aproximação dos sujeitos da pesquisa. Talvez não tenha sido por acaso e sim pelo
interesse na área que sempre tive, conforme também ressaltado em meu memorial.
Uma das professoras supervisoras que conversei, quando fui até a escola parceira
do PIBID, para ver se encontrava documentos que não estavam no Centro de
Documentação e Apoio à Pesquisa em História da Educação (CDAPH)18, me disse:
Eu não sei onde estão esses documentos, mas tenho tudo fresquinho aqui na minha
cabeça, como se tivesse acontecido ontem. Na ocasião, a Prof.ª Flávia falou sobre o
programa. Nessa conversa ela mencionou Quando via que as alunas [referindo-se
18
Agradecemos ao CDAPH da IES pela disponibilização para consulta dos documentos, referentes
ao Programa pesquisado, que contribuíram significativamente para esse estudo.
50
as bolsistas] não sabiam identificar uma escrita [identificar hipótese de escrita], eu
dizia pra elas ‘Eu tenho certeza que a Giovana ensinou isso!’
Nesse contexto, então, que procurei caracterizar, se realizou uma experiência
do PIBID, dentre tantas outras realizadas por outras instituições e cursos que
atentam ao objetivo central de propiciar a iniciação à docência. Como isso se
concretizou? Cada IES elaborou o projeto seguindo, dentre outros itens do art.13, o
segundo que solicita a “descrição das ações de inserção dos bolsistas nas escolas,
envolvendo o desenvolvimento das diferentes características e dimensões da
iniciação à docência” (BRASIL, 2013c, grifo nosso). A seguir, apresentaremos, de
forma resumida, algumas dessas vivências, divulgadas em eventos acadêmicos ou
publicações científicas a respeito das experiências proporcionadas pelo programa
em diversas IES do Brasil.
1.3 Outras experiências do PIBID
Esta etapa do trabalho tem a intenção de traçar um panorama de algumas
experiências desenvolvidas no âmbito do PIBID. Trata-se de uma busca de
informações com o objetivo de contextualizar e fornecer subsídios para se conhecer
mais sobre como Programa se desenvolveu em outras licenciaturas e instituições.
Ao mesmo tempo que apresentamos os PIBID em cenários diversos, esperamos
também reforçar, com isso, a singularidade de cada proposta, que requer um estudo
de seu desenvolvimento como nos propomos aqui. Para isso, e considerando os
limites espaciais e temporais deste texto, foi estabelecido como critério para esse
levantamento o período compreendido entre 2010 e 2015, visto o PIBID ter iniciado
efetivamente suas atividades no ano de 2009.
O intuito, portanto, deste panorama é apresentar as propostas desenvolvidas
em diferentes regiões do Brasil e não se detendo apenas aos projetos relacionados
ao curso de Pedagogia.
PIBID/Biologia e PIBID/Artes: Paisagismo Produtivo foi o título da
comunicação apresentada por Barbosa e Kindel (2010) durantes as atividades do 5º
salão de graduação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). A
experiência resultou de uma articulação entre as áreas de Biologia e Artes que
serviram de contexto para a realização de subprojeto de Educação Ambiental na E.
E. Padre Balduíno Rambo, localizada no bairro Partenon (Porto Alegre - RS).
51
O objetivo do projeto foi implantar uma Horta Sucessional, com o intuito de
acolher e sensibilizar os alunos da escola, sobretudo aqueles em situação de
vulnerabilidade social. Assim, foram realizadas oficinas sobre diversos temas: estudo
do solo, percepção do ambiente, diversidade de morfologia foliar, entre outros. Na
área de artes, foram contemplados também técnicas de paisagismo produtivo e
outras atividades mais voltadas às questões estéticas e estruturais.
Os resultados chamaram atenção para a relevância do Programa para a
formação inicial dos futuros docentes. Aspecto também observado quanto aos
estudantes da comunidade escolar que tiveram a oportunidade de construir uma
série de conhecimentos que foram trabalhados nas oficinas (botânica, ecologia,
entre outros).
Iniciação à docência em Música: resultados do Pibid em duas escolas
públicas de Goiânia/GO foi o título da comunicação apresentada por Melo et al
(2011). A experiência desse subprojeto do PIBID vivenciada por professores e
alunos da Universidade Federal de Goiás (UFG) teve por objetivos incentivar e
valorizar experiências no que se refere à formação do educador musical; investir na
formação inicial de educadores musicais; oportunizar aos alunos oriundos dos
cursos de Licenciatura em Música a inserção no mercado de trabalho.
As atividades de iniciação à docência consistiram na apreciação,
interpretação e criação, tendo como referência alguns educadores musicais
contemporâneos. Essas se desenvolveram na Escola Estadual Presidente Dutra e
no Colégio Professor José Carlos de Almeida, escolas públicas da cidade de
Goiânia. O início das atividades se deu em abril de 2010 e contou com a
participação de 18 licenciandos do Curso de Música da UFG.
Os resultados dessa experiência da UFG, com o PIBID, que buscou oferecer
aos estudantes universitários situações de aprendizagem musical com conteúdos de
seu interesse, levando em consideração a realidade vivenciada pelas escolas,
proporcionando assim o prazer no fazer musical, mostraram, que essa prática da
iniciação à docência oferecida pelo Programa contribuiu para a aplicação prática de
conceitos teóricos, aprendidos ao longo do curso de formação inicial. Também
evidenciou o quanto essa aproximação com a realidade ajuda na construção de uma
percepção crítica a respeito da atividade docente, ampliando, assim, o entendimento
sobre o ensino escolarizado da música e suas especificidades por parte dos futuros
profissionais da educação.
52
Na região sul, em 2011, durante os trabalhos do II Encontro Interinstitucional
do PIBID e II Encontro Institucional do PIBID UFRGS/Porto Alegre, os professores
Azambuja et al (2011), da Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA),
apresentaram a comunicação Experiência do Pibid de ciências exatas:
problematizando para motivar a aprendizagem.
Na ocasião, relatou-se a experiência de iniciação à docência vivenciada por
quinze bolsistas de licenciatura em Ciências Exatas do subprojeto PIBID, sediado no
campus de Caçapava do Sul da UNIPAMPA.
Nessa experiência de docência realizada no ano de 2010, os licenciandos
foram organizados em três grupos de cinco bolsistas. No contexto escolar de duas
escolas estaduais do município, esses grupos desenvolveram atividades de
intervenção em uma das três áreas de formação dos cursos dos quais eram
provenientes, Física, Química e Matemática. Na condução dessas atividades, os
estudantes foram orientados por três professoras-supervisoras e três professores do
curso de licenciatura da universidade.
Os resultados dessa experiência docente apontaram que a inserção no PIBID
contribuiu decisivamente para produzir mudanças nas concepções e atitudes dos
futuros professores em relação ao exercício da docência, especialmente pela
aproximação com a realidade escolar e suas peculiaridades. Os benefícios do
programa também puderam ser observados em toda comunidade escolar: os alunos
tiveram a oportunidade de suprir e aprofundar seus conhecimentos nas três áreas do
conhecimento trabalhadas; já as professoras supervisoras tiveram condições para
refletir sobre a sua prática pedagógica e o trabalho docente.
A prática pedagógica: tecituras e reflexões a partir das Experiências no
PIBID – Pedagogia/UFRN foi o título da comunicação apresentada por Melo (2012)
no XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas Pedagógicas, realizado
em Campinas-SP. Em sua publicação, a pesquisadora partiu do pressuposto de que
a formação dos profissionais da educação tem extrema relevância no cenário atual,
se tornando mesmo um dos pilares das políticas públicas brasileiras, constituindo
assim objeto de muitos estudos e pesquisas.
É nesse contexto que situa o PIBID, um programa que, conforme Melo (2012),
ao intentar a melhoria da qualidade da educação básica e superior, contribui para a
valorização e o incentivo à carreira profissional docente.
53
Partindo disso, a comunicação apresentada teve por objetivo apresentar uma
síntese da atuação dos alunos de Pedagogia da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte (UFRN), bolsistas do PIBID, no cotidiano de escolas da rede
pública da cidade de Natal/RN que, desde 2009, vêm desenvolvendo ações por
meio de projetos de ensino com foco no letramento, inclusão social e a qualificação
no que tange à formação para o exercício do magistério (ensino infantil, fundamental
e médio, na Modalidade Normal).
Os resultados dessa experiência chamam a atenção para a relevância do
PIBID na UFRN, sobretudo por esse possibilitar uma formação de professores mais
qualificada, que oferece condições aos futuros profissionais aprenderem a
administrar as situações emergentes do cotidiano escolar. Nessa universidade, os
licenciandos inseridos no programa tiveram a oportunidade de ter um contato inicial
com a prática docente já nos primeiros anos de faculdade, antes das do Estágio
Supervisionado, o que entendem ser um diferencial na formação. Assim, na
condução de pequenos projetos, esses passaram a atentar para as necessidades
que surgem do dia a dia da escola, como sujeitos capazes de refletir e teorizar sobre
a realidade do contexto escolar, em um profícuo e saudável exercício em que teoria
e prática são necessariamente articuladas.
Em publicação apresentada à revista EFDeportes (Buenos Aires, 2012),
Schmitz Filho et al (2012) socializaram uma experiência com o PIBID intitulada O
ensino dos esportes na escola: intervenções a partir dos cenários esportivos
na mídia.
O objetivo do subprojeto foi o de construir conhecimentos para sustentar as
práticas docentes realizadas pelos professores em formação na Escola Estadual de
Ensino Médio Professora Naura Teixeira Pinheiro. A supervisão dessas atividades,
além dos professores supervisores e coordenadores, as atividades docentes
desenvolvidas contaram com o suporte do Laboratório de Análise dos Cenários
Esportivos na Mídia da Universidade Federal de Santa Maria (LACEM-UFSM). O
foco das atividades esteve centrado na construção de conhecimentos, com base em
elementos presentes na mídia televisiva aberta, em busca de identificar possíveis
didáticas relacionadas ao conceito de jogo e de movimento.
O conjunto de informações, extraídas dos diferentes pontos de interação com
a comunidade escolar, levaram aos seguintes resultados: evidenciou-se a relevância
do PIBID por possibilitar aos licenciados um conhecimento mais apurado da
54
realidade escolar, o que representou para esses um inconteste crescimento
formativo, já no início da formação docente. Os processos que envolveram a
sondagem e o diagnóstico da escola, a inserção gradativa dentro dessa, a busca do
embasamento teórico e as situações vivenciadas foram imprescindíveis para um
exercício da docência mais efetivo dos futuros professores.
Outra experiência vivenciada no âmbito do PIBID foi apresentada por
Marques e Bejarano (2013) durante os trabalhos do XIX EREMATSUL - Encontro
Regional de Estudantes de Matemática da Região Sul. Na oportunidade, os autores
socializaram a comunicação Relato de experiência: Olhar de um bolsista do
Projeto PIBID Matemática no Colégio Estadual Pato Branco-PR que, atendendo
à missão de aperfeiçoar a formação dos futuros profissionais da educação e também
auxiliando os alunos dos ensinos fundamental e médio da rede pública oferecendo
reforço de matemática, os professores centraram seus esforços em orientar os
alunos com potencial e/ou interesse para participarem com êxito da Olimpíada
Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP).
Os resultados mostraram a importância do PIBID que, na perspectiva dos
professores envolvidos no subprojeto da Universidade Tecnológica Federal do
Paraná (UTFPR), agrega experiência e assim amadurece a forma de encarar a
futura profissão a qual está pretendendo exercer. Benefícios também foram
verificados na escola contemplada, onde os alunos acabaram apresentando um
melhor rendimento na prova em função de disporem de um professor extra na classe
disposto a oferecer mais explicações e esclarecimentos para auxiliar no aprendizado
dos conteúdos da Olimpíada. Por último, alertam para a influência do PIBID para a
permanência e a diminuição da defasagem de alunos que ingressam no curso de
Licenciatura em Matemática.
Ambrosetti et al (2013), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ),
apresentam no artigo Contribuições do PIBID para a formação inicial de
professores: o olhar dos estudantes os principais resultados de uma pesquisa
que teve por intuito investigar, sob a perspectiva de estudantes de três
universidades participantes do PIBID, o desenvolvimento desse em três experiências
de inserção profissional, um federal, um estadual e um municipal.
Para atingir seus objetivos, o grupo recorreu à realização de grupos de
discussão com estudantes bolsistas do Programa. O foco de interesse dos
pesquisadores se deu pelo processo de formação docente, baseado na parceria
55
entre universidade e escola. Assim, o objetivo do grupo foi identificar até que ponto
essa experiência contribuía para a superação do distanciamento entre os espaços
da formação e do exercício profissional, e as possíveis implicações para a formação
profissional dos participantes do PIBID.
Os resultados alcançados pela pesquisa sugerem que o Programa em
questão favorece a criação de um espaço de construção de um novo conhecimento
que é produzido nas relações entre instituições e sujeitos, integrando os diferentes
saberes que constituem o conhecimento profissional (teorias e práticas).
A escola como agente formador de professores de filosofia: a
experiência do PIBID no Colégio Santa Gemma foi o título da comunicação
apresentada por Barra et al (2013) no II EDUCERE - Congresso Nacional de
Educação e IV Seminário Internacional sobre Profissionalização Docente realizado
em Curitiba-PR.
Na oportunidade, o grupo apresentou o subprojeto de Filosofia que, iniciado
em 2010, com base nas análises de Thomas Kuhn (1962) sobre a função dos
manuais na educação científica, teve por objetivo relacionar a “pedagogia dos
manuais” com a proposta de utilização dos próprios textos filosóficos. No
entendimento do grupo, o papel unificador de forma e conteúdo que as práticas de
formação podem assumir em ambientes marcados pela diversidade e pela
disparidade de seus agentes fazem do espaço escolar um agente decisivo na
formação dos futuros professores de filosofia.
Os resultados do subprojeto de Barra et al (2013) mostraram que a
experiência protagonizada pelos estudantes e professores, do ensino médio e da
universidade, revelaram a necessidade de desenvolver mecanismos para promoção
sistemática e representativa da “volta” do texto crítico à universidade, enriquecido
pela observação do cotidiano escolar, incentivando assim um movimento no sentido
de disseminar boas experiências que inspirem e estimulem outros professores a
aderirem à pedagogia da leitura de textos filosóficos.
Em última análise, os pesquisadores fomentaram a necessidade da
disseminação da cultura da leitura dos mais diversos tipos de gêneros, sobretudo
daqueles compromissados o pensamento emancipador e aberto a novas ideias.
Archangelo et al (2014), da Faculdade de Educação da Universidade Estadual
de Campinas (UNICAMP), no artigo Contribuições de uma área para ‘o brincar’
em salas de aula do ensino fundamental, apresentou os resultados de um projeto
56
desenvolvido no contexto do PIBID intitulado Escola de nove anos, que envolveu as
áreas de Pedagogia, Letras e Dança.
Preocupados com as solicitações emocionais dos alunos que ingressam hoje
na escola aos seis anos de idade, o trabalho, que envolveu um grupo de alunos,
consistiu na observação, na implantação e na manutenção de um horário voltado
para ‘o brincar’, nas salas dos primeiros anos do ensino fundamental.
Para tanto, inspirados, sobretudo, nos estudos de psicanálise, com destaque
para a obra de W. Winnicott, dez bolsistas dos cursos de Pedagogia, Letras e Dança
foram organizados para o atendimento de dez salas, que atenderam crianças do 1º
ao 5º ano de escolas públicas municipais da cidade de Campinas-SP.
Partindo da atividade de observação inicial, que teve por objetivo oferecer aos
alunos melhores condições para compreender e assimilar a dinâmica da aula e das
principais dificuldades de crianças no ambiente escolar, o desafio dos envolvidos no
projeto foi “criar um ambiente favorável à integração psíquica, conquista fundamental
para a criança relacionar-se com pessoas e símbolos, enriquecer-se a partir de seus
relacionamentos e contribuir com a cultura escolar” (ARCANGELO et al, 2014, p.
36).
Os resultados dessa experiência evidenciaram a relevância do brincar como
um mecanismo rico em oportunidades para compreender a realidade psíquica dos
alunos. O projeto chamou a atenção também para os muitos avanços que se deram
na aprendizagem das crianças, principalmente devido às contribuições do brincar
para a integração psíquica desses.
Em última análise, ficou evidente a relevância do PIBID, que possibilitou aos
futuros profissionais da educação aprenderem a observar e a intervirem em conflitos
emocionais de crianças. Nessa experiência, também contribuiu decisivamente para
que os bolsistas PIBID desenvolvessem a capacidade de “reconhecer angústias
recorrentes e os efeitos positivos de uma atitude empática e de acolhimento à
dependência que a criança apresenta em relação ao suporte ambiental propiciado
na escola” (ARCANGELO et al, 2014, p. 52).
Relações humanas e cotidiano escolar: experiências interdisciplinares
no PIBID-Unicamp é o título do artigo de Prodócimo e Ayoub (2014) no qual as
autoras apresentam um subprojeto na área das ciências humanas de caráter
multidisciplinar, desenvolvido nos cursos de licenciatura da Unicamp.
57
O ponto de articulação do grupo multidisciplinar se deu pela identificação de
uma dificuldade comum na atuação profissional dos professores que lecionam as
disciplinas da área de humanas na educação básica: a resolução de conflitos entre
os alunos e a violência presente na escola.
As atividades desse subprojeto foram desenvolvidas na E. E. Guido Segalho
(Campinas-SP), a qual conta com cerca de 480 alunos matriculados no ensino
fundamental de 6º a 9º ano e ensino médio. Para a condução desse trabalho, foram
envolvidos 65 bolsistas de iniciação à docência provenientes das áreas de Educação
Física, Artes Visuais, Dança, Música, Pedagogia, Geografia e Ciências Sociais; três
supervisores da escola; professores que se envolveram nas atividades e duas
coordenadoras de área da Unicamp.
Os resultados mostraram que as experiências vivenciadas representaram
uma oportunidade para interlocuções e aprendizados significativos para todos os
envolvidos, sobretudo os bolsistas do PIBID.
Nessa ampla rede tecida interdisciplinarmente, as conexões estabelecidas
entre os sujeitos envolvidos, bolsistas de iniciação à docência, supervisores,
professores e alunos da escola, coordenadoras da universidade, os estudantes
tiveram a oportunidade de enfrentar os desafios do cotidiano escolar em uma ação
coletiva, transcendendo a especificidade de cada área de formação, saberes que os
tornaram melhor preparados para atuar no contexto da escola pública, enfrentar as
dificuldades que envolvem a profissão docente.
Em sua dissertação de Mestrado apresentada à Universidade de Brasília
(UNB), Licenciandos em geografia e o uso das TIC no programa de iniciação à
docência -PIBID/UFMT, Cellos (2014) buscou analisar de que maneira o uso das
Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) se configuram como um diferencial
no processo de formação dos licenciandos de Geografia no contexto do
PIBID/UFMT.
Para realização dessa pesquisa, a pesquisadora desenvolveu um estudo de
caso de natureza descritivo e exploratório que contemplou: os documentos do PIBID,
memorial descritivo e entrevistas semiestruturada realizadas com cinco alunos
licenciandos do curso de Geografia da Universidade Federal do Mato Grosso
(UFMT) inseridos no Programa. O intuito foi identificar traços que pudessem
explicitar de que maneira o uso das TIC constituem um diferencial no processo de
formação desses.
58
Os resultados dessa investigação mostraram que os estudantes reconhecem
a importância do uso das TIC como um diferencial nos processos vivenciados e
entendem que essas representam um fator positivo no em seu processo de
formação. No entanto, esses mostraram dificuldade em apropriar- se de um “saber
pensar” sobre e a partir das TIC. Apesar disso, as experiências vivenciadas no
PIBID, à medida que possibilitaram uma maior aproximação desses com a realidade
das escolas públicas, apontaram caminhos na superação dessa dificuldade,
reafirmando assim a relevância do PIBID para a melhoria da formação dos futuros
docentes.
A comunicação PIBID: Um olhar sobre a literatura no processo de ensino
e aprendizagem apresentada por Vale, Neri e Freitas (2015) da Universidade de
Ribeirão Preto (UNAERP), durante os trabalhos do CONIC - Congresso Nacional de
Iniciação Científica 2015, trouxe um relato de uma experiência no âmbito do PIBID,
vivenciada por alunas do curso de Pedagogia dessa instituição de ensino.
As atividades do PIBID desenvolvidas no curso de Pedagogia da UNAERP,
especialmente no subprojeto em questão, tem por objetivo proporcionar aos alunos
o desenvolvimento da leitura e da escrita de maneira prazerosa, atrativa e
significativa, contribuindo assim para o enriquecimento do processo de ensino e
aprendizagem e alfabetização.
O subprojeto de Literatura surgiu das observações das estudantes do curso
de Pedagogia, feitas durante o primeiro semestre de 2014, quando perceberam
algumas fragilidades nas práticas de leitura, de escrita e de alfabetização. No
enfretamento dessas dificuldades, optaram por explorar gêneros literários diversos,
como o cordel por exemplo. As atividades foram desenvolvidas com turmas de 4° e
5° anos do ensino fundamental I, de uma escola pública estadual, do município de
Ribeirão Preto/ SP.
Os resultados dessa experiência mostraram que a inserção dos bolsistas do
PIBID no cotidiano de uma escola pública tem lhes proporcionado oportunidades de
reflexão, elaboração, planejamento e o contato com metodologias diferenciadas,
condições favoráveis para a construção de outro olhar sobre a realidade escolar,
sobretudo no que se refere aos processos de ensino-aprendizagem e a relação
teoria e práticas de ensino.
A pequena amostra aqui apresentada de iniciativas de IES de diferentes
regiões de país, no âmbito do PIBID demonstra como a concretização desse
59
programa pode se dar de modo variado, buscando atender demandas diversas:
como necessidades de formação identificadas nos cursos de licenciatura, para
articular o que é estudado na universidade como o que pode ser vivenciado na
escola, para atender uma expectativa da escola parceira. Enfim, são muitas as
motivações que provocam a existência de diferentes subprojetos do PIBID, sem
distanciar do objetivo central que é inserir os licenciandos na escola pública da
educação básica, participando das atividades docentes. De fato, pode-se observar,
pelos relatos divulgados pelos pesquisadores das IES, que o PIBID tem sido
apropriado e utilizado de maneira a estreitar os vínculos ainda rarefeitos entre a
realidade das práticas escolares e da produção de conhecimento da universidade
sobre a escola.
Enfim, o subprojeto apresentado à CAPES, que deu origem a experiência da
IES em questão, exposta nesse capítulo, tratou da proximidade com a escola na
formação de professores. Com intuito de prosseguir com a descrição do contexto
desta pesquisa, no próximo capítulo, pretendemos apresentar como se deu a
geração dos dados deste estudo e o subsídio teórico e metodológico que amparam
tal processo.
60
2. A pesquisa de campo e o desafio do ouvir contar
Neste capítulo, como já anunciado, pretendemos apresentar a escolha
teórico-metodológica que sustenta esta pesquisa e como foram gerados os dados
para análise. Além disso, trazer mais detalhes sobre o contexto deste estudo.
Como foi dito em outro momento, trabalhei como docente no curso de
Pedagogia de uma universidade confessional, em disciplinas ligadas ao ensino da
leitura e da escrita na escola. Em 2010, o projeto da IES para participar do PIBID foi
aprovado pela seleção da CAPES. No mesmo ano, o projeto teve início na instituição
com a abertura de vagas para os estudantes da Pedagogia. Os estudantes não
sabiam muito bem do que se tratava. Mas, apesar disso, tinham diversas motivações
para se inscrever nesse processo seletivo: ter mais uma experiência, atuar na área e
ainda receber uma bolsa, entre outras. Naquele momento, o curso tinha apenas
duas turmas - um quarto e um sexto semestre19 – e eu era professora de ambas,
responsável por disciplinas diferentes, o que permitiu acompanhar de perto essa
movimentação e os impactos que estavam sendo gerados entre os estudantes, seus
comentários acerca dessa novidade chegavam as minhas aulas O trecho de um dos
relatórios analisados aponta como se deu o processo de seleção:
A definição das professoras supervisoras e dos alunos bolsistas observou os
seguintes procedimentos: inscrição gratuita e abertas a todos os interessados
para a seleção do PIBID na Central de Atendimento da IES. A seleção pressupôs
uma entrevista, apresentação de uma carta de intenções e disponibilidade
horária apresentadas para atuar no PIBID, no caso dos alunos solicitamos
também o histórico escolar. [...]
Quanto aos alunos, a coordenação do Curso de Pedagogia do campus garantiu
ampla divulgação através de editais fixados nos murais e apresentação do PIBID
nas diferentes turmas. Os alunos demonstraram grande interesse, mas como a
maioria deles trabalha durante todo o dia, nem todos os interessados puderam se
inscrever. Na seleção consideramos como critérios o rendimento escolar, a
19
O ingresso no curso de Pedagogia se dava pelo exame de vestibular, oferecido anualmente. Em
2010, devido à baixa procura pelo curso uma nova turma não foi formada nesta instituição.Com isso
permaneceram os estudantes que ingressaram nos anos anteriores.
61
validade da justificativa do interesse pelo projeto apresentado na carta de
intenções e a disponibilidade horária (Relatório da Coordenação de área do
PIBID).
Após o processo seletivo, os vinte bolsistas do PIBID iniciaram suas
atividades em uma escola municipal. A escola foi indicada para participar do
Programa pela SME, que optou por uma das escolas que obtiveram o IDEB abaixo
do esperado20. Os alunos bolsistas atuaram nessa escola por um semestre, pois
essa mudaria para outro prédio, no semestre seguinte, e receberia outro nome.
A primeira escola atendia alunos da Educação Infantil e de Ensino
Fundamental de forma precária, conforme citado no relatório de Coordenação de
área do PIBID, já que o prédio não tinha sido construído para abrigar as demandas
dos níveis de ensino ali presentes. Com a construção da nova escola, no terreno ao
lado, as salas de aula do Ensino Fundamental passaram a ter um espaço específico
para elas.
Os estudantes bolsistas puderam acompanhar e participar dessa transição e
o que essa mudança acarretou na vida dos professores. Uma das professoras-
supervisoras perdeu sua sede com a mudança do prédio; com a nova organização
do espaço e distribuição das salas, professores supervisores trocaram de turnos.
Desse modo, o segundo semestre de trabalho dos alunos bolsistas iniciou com uma
nova necessidade de adaptação á realidade.
Ainda recorrendo ao relatório de coordenação de área, encontramos
informações sobre a chegada dos licenciandos bolsistas na escola. Segundo o
documento, os bolsistas do PIBID, foram bem acolhidos pelos professores, que
disponibilizaram todos os documentos usuais em sala de aula (planejamento anual,
bimestral, rotina semanal, portfólio dos alunos entre outros). Os professores
sugeriram temas para elaboração dos projetos que seriam desenvolvidos no
decorrer daquele semestre, pelos futuros professores. Os responsáveis pela sala de
aula avaliaram a pertinência desse planejamento e organizaram a rotina e as
atividades dos bolsistas sob sua responsabilidade.
20
As informações sobre a organização do Programa foram encontradas no Relatório da Coordenação
de área do PIBID, referente aos semestres iniciais do Programa. Disponível no CDAPH - Centro de
Documentação e Apoio à Pesquisa em História da Educação da IES.
62
A mesma acolhida e disponibilidade não foram encontradas no setor
administrativo da escola. A equipe gestora, conforme o relatório, dificultou o acesso
aos documentos da escola como o PPP, que não foi disponibilizado aos alunos,
mesmo após algumas solicitações.
No momento de elaboração dos projetos que seriam desenvolvidos nas salas
de aula, fui chamada por alguns bolsistas, meus alunos na época, para conversar
sobre o que pretendiam desenvolver, para pedir sugestões de material ou textos
para fundamentação teórica. Em situações como essa, percebia como o PIBID
promovia uma mudança na rotina daqueles estudantes, pois eles começaram a
mostrar mais interesse no estudo específico de questões relativas à realidade
escolar. Também apresentaram um movimento de busca por conhecimentos
teóricos que pudessem trazer explicações sobre a escola e como poder intervir
nessa realidade.
Além disso, sempre que discutíamos um texto ou alguma questão sobre o
ensino em sala de aula, surgiam questões com exemplos do PIBID. Esses relatos,
recheados de dúvidas, passaram a ser cada vez mais frequentes nas nossas
discussões em sala de aula. Por essas e outras situações, surgiu o interesse em
conhecer mais sobre a formação dos futuros professores que atuam nesse contexto,
materializando agora como tese de Doutorado.
Além dos aspectos já apontados sobre o início do PIBID na universidade e na
escola da educação básica, outros relatórios consultados abordam dificuldades de
relacionamento enfrentadas por alguns professores supervisores e alguns
estudantes bolsistas. Isso também foi tematizado em uma das entrevistas quando
registramos o relato de uma aluna que pediu “para mudar de professora”, devido a
dificuldades para estabelecer uma parceria de trabalho. No relatório de uma
professora supervisora, há a informação a repeito de uma licencianda bolsista que
não atendia as expectativas do Programa como assiduidade, pontualidade: “A
bolsista Vilma não foi assídua nem pontual. [...] Apesar de suas faltas, ela
desenvolveu um bom trabalho” (Relatório da Professora Supervisora Edna).
Devido a essa questão e a outros motivos, como necessidades profissionais,
nem todos os bolsistas que iniciaram o programa em 2010 permaneceram nele até o
final da parceria com a escola, existindo uma alternância entre os participantes do
grupo.
63
Para analisar o contexto descrito até o momento, optamos pela Metodologia
de Pesquisa Qualitativa. Ela prevê o contato direto do pesquisador com o lócus da
pesquisa, a coleta de dados descritivos, preocupando-se em retratar a perspectiva
dos participantes sobre a questão estudada e, por fim, mais do que o resultado final,
atenta-se para o processo estudado.
Tal abordagem passou a ser utilizada com mais frequência, nos estudos em
educação a partir da década de 1980. Em uma retrospectiva das metodologias de
pesquisa utilizadas na área, Lüdke e André (1986) apontam o início do uso das
formas qualitativas de pesquisa em substituição ao formato quantitativo com
característica tecnicista. Antes da influência das metodologias usadas nas Ciências
Sociais, a educação recorria aos modelos de pesquisa utilizados nas Ciências
Físicas e Naturais. Nessa apropriação, questões importantes como o contexto, as
relações interpessoais não eram considerados, pois esperava-se uma análise exata,
isenta de ‘contaminações’, seja por parte do entorno ao fato ou pelo pesquisador,
que deveria assumir a postura mais neutra possível (LÜDKE; ANDRÉ, 1986).
Ainda em relação à abordagem da pesquisa qualitativa, Gatti (2012)
apresenta uma retomada histórica no campo das pesquisas em educação no Brasil.
A autora chama a atenção, olhando as décadas de 1970 e 1980, para o impacto
trazido aos pesquisadores da incorporação da perspectiva marxista nas
investigações. Tal perspectiva trouxe uma visão crítica ao tipo de pesquisa mais
técnica. Junto disso vieram os questionamentos entorno da suposta neutralidade
requerida pelos estudos. Gatti (2012), então, mostra como nas décadas de 1980 e
meado de 1990 cresceram as críticas sobre a relação entre teoria e método. Foi,
então, constituindo-se e ganhando corpo a abordagem, na veia qualitativa, da
pesquisa ação e das opções de muitos estudiosos para as investigações de
acompanhamento do cotidiano educacional, por exemplo. Ou seja, a autora aponta a
diversidade de paradigmas que hoje orientam as pesquisas em educação.
Nesta opção de pesquisa desta tese reconhece-se a existência de um
contexto e de um pesquisador constituído sócio-historicamente. Além disso,
consideramos a complexidade envolvida no processo de formação do professor, que
se dá em diferentes instituições, nesse caso. Além da IES, há o futuro contexto de
trabalho, a instituição escolar, que também traz um conjunto de relações e uma
dinâmica própria. Como é o caso da escola que recebeu os estudantes de
Pedagogia, bolsistas do PIBID, sujeitos da pesquisa.
64
A escola, como instituição, possui uma história, presente nos documentos
oficiais e uma história não documentada do cotidiano, que ocorre todos os dias. A
História Oral (HO) aparece como uma das possibilidades de recuperar essa vivência
não documentada, por meio das entrevistas.
2.1- A contribuição da História Oral e elaboração das entrevistas
A perspectiva da HO foi escolhida para orientar a condução das entrevistas e
a análise dos dados. Tal metodologia pode contribuir para alcançar os objetivos
estabelecidos para esse estudo, como veremos adiante. O encontro com a HO
ocorreu durante as Atividades Programadas de Pesquisa (APP), por meio de leituras
a respeito das Metodologias de pesquisa.
Thompson (1992) apresenta os diversos usos da HO em diferentes áreas do
conhecimento e as possibilidades que podem ser abertas pela entrevista. Segundo o
autor, as escolas nos diferentes níveis de ensino, podem recorrer à HO nos
trabalhos desenvolvidos por meio de projetos, nos quais, individualmente ou em
grupo, os alunos buscam conhecer mais sobre um tema local. Além disso, há a
experiência de alguns museus ou centros de memória que colhem depoimentos de
pessoas mais velhas durante as visitas. Ou a existência de programas de rádios com
depoimentos de pessoas reais com intuito de manter um vínculo com a comunidade
local e estimular a participação dos mesmos. Dentre esses e outros usos está o do
pesquisador, que recorre às entrevistas, às evidências orais e/ou escritas para
desenvolver seu trabalho. É importante lembrar também, que apesar de o nome da
abordagem metodológica chamar-se História Oral ela não se reduz apenas as fontes
orais. A HO dialoga com os corpus documentais, como é o caso desta pesquisa,
procurando acrescentar aos dados oficiais, o ponto de vista daqueles que vivem ou
viveram o processo estudado pela investigação.
Por ser tratar de um conceito complexo, Meihy (2005) defende a existência de
algumas possibilidades para conceituar a HO. Dente elas, a “[...] a história oral é, [...]
um procedimento mais específico e, sobretudo, programado; é o resultado de
entrevistas indicadas em projetos previamente existentes e elaborados para atender
a algum objetivo” (MEIHY, 2005, p. 21). Assim sendo, a entrevista da HO tem um
ouvir norteado pelos interesses do projeto de pesquisa e pretende-se constituir uma
fonte.
65
A HO começa a ser utilizada no Brasil, na década de 1970, como metodologia
de pesquisa nos estudos em História, utilizando a entrevista gravada como fonte. A
expansão mais significativa dessa metodologia ocorre nos anos 1990 (FERREIRA;
AMADO, 2006). A princípio, pretendia-se registrar a voz dos excluídos dos textos
históricos escritos, mas avança para outras temáticas, colaborando com a pesquisa
em outras áreas das Ciências Sociais e Humanas. Hoje, a HO apresenta um
profícuo diálogo com áreas interdisciplinares. Sua entrada na área de educação tem
sido cada vez maior. Um exemplo disso pode ser dado pela chamada do dossiê21 da
revista da Associação Brasileira de História Oral intitulado: “História Oral e práticas
educativas”. Tal dossiê revela o grau de conexão entre os campos da HO e da
educação.
No início, o trabalho feito com entrevistas na HO recebeu muitas críticas e
questionamentos. Entre eles, estava a dúvida sobre a representatividade das
entrevistas e a veracidade das mesmas. Ou seja, em que medida seria possível
considerar como significativo o relato de uma pessoa? O que esse relato poderia
contar sobre um fato social? Como ter certeza de que a história narrada em uma
entrevista seria verdadeira? A busca por respostas a questões como essas tem
estimulado os pesquisadores da área a discutir sobre essa metodologia.
Alberti (2004) sugere aos historiadores que retornem ao fato nas produções
em HO. Relembra dois equívocos ligados, muitas vezes, à produção do historiador:
de que a História é tida como uma construção ou uma ficção. A autora assegura que
não pode ser nem uma, nem outra, ao se comprometer com o ocorrido. Por isso, por
meio do ouvir contar, é necessário um retorno ao fato, tentando avançar no
conhecimento dos acontecimentos e nas ações da entrevista. Ou seja, a autora
alerta para não considerar a entrevista por ela mesma, sem um trabalho prévio de
preparação, com intuito de preparar o ouvir, para poder contar o que foi ouvido. O
contar precisa estar atento ao ouvido e à relação deste com outros documentos.
Nesse sentido, Meihy (2005) acrescenta que o maior número de informações sobre
a temática, obtidas antes da entrevista possibilita ao entrevistador buscar
informações mais profundas sobre o assunto.
21
O chamado para o envio de trabalhos deste dossiê foi feito no primeiro semestre de 2015. Conforme foi
noticiado em: http://www.historiaoral.org.br/informativo/view?ID_INFORMATIVO=69
66
No caso desta pesquisa, acercar-se da história da formação inicial de
professores, apropriar-se dos conhecimentos sobre os programas de formação,
mergulhar nas regulações oficiais, estudar os documentos, enfim, todas essas ações
em torno do tema, proporcionaram à pesquisadora chegar aos sujeitos. Junto disso,
a realizar as entrevistas, ouvir os relatos, intervir, retomar. O estudo feito anterior ao
início da pesquisa e durante o trabalho de campo municiou a pesquisadora para
perguntar e principalmente, no caso da HO, ouvir. Registrar. Transcrever. Ler. Reler.
Escrever. Reescrever. Construir o texto da pesquisa. Organizar a tese. Eis uma
parte do percurso, como alertam Portelli (1997a) e Amado (1997). A pesquisa não
termina com o ponto final do texto, apenas é o começo da circulação de uma nova
versão do tema. E assim será indefinidamente. Essa é a proposta da HO.
Thompson (1992) também se atém à questão da fidedignidade da fonte oral.
Segundo ele, esse questionamento já traz uma falsa escolha, pois se ela for uma
informação fidedigna ela será tratada apenas como um documento a mais e não terá
o seu valor como testemunho subjetivo reconhecido. No entanto, apresenta
elementos para pensar a abordagem de fontes orais e escritas, devido ao recorrente
questionamento feito a respeito das fontes orais.
Ao explanar sobre as fontes primárias do historiador, o autor questiona a
suposta certeza de fidedignidade que recai sobre as fontes escritas. No entanto, tais
documentos também podem ser falsos. Ou podem ter sido escritos para agradar um
determinado leitor. Ou ainda, podem atenuar ou omitir fatos. Nesses casos, como
contornar esses vieses dessas fontes? Diferente de uma entrevista que permite
pedir um esclarecimento ou que o depoente fale um pouco mais sobre determinado
ponto. Essa opção é escassa nos documentos escritos. Tal documentação tem, em
seu favor, a sacralidade construída historicamente em torno da escrita. A oralidade
pelo contrário tem em torno de sua história uma desvalorização.
Em alguns casos até os dados estatísticos com os censos não trabalham com
dados absolutos, pois são constituídos de declarações dos informantes que nem
sempre apresentam a situação vivida. Thompson (1992) cita em um dos seus
exemplos, o estudo sobre os registros de casamentos no final do século XIX.
Constatava-se um número inferior de casamento dos mais jovens nessa época. Isso
se dava, pois os jovens necessitavam da autorização dos pais para se casar e
alguns falsificavam a declaração de idade para não ser impedidos de se casar por
67
seus pais. Reduzindo assim pela metade o índice de casamentos nessa faixa etária.
Com isso, para o autor
[...] as estatísticas sociais não representam fatos absolutos mais do que notícias de jornais, cartas privadas, ou biografias publicadas. Do mesmo modo que o material de entrevistas gravadas, eles representam, quer a partir de posições sociais ou de agregados, a percepção social dos fatos: além disso, estão todos sujeitos a pressões sociais do contexto em que são obtidos. Com essas formas de evidência, o que chega até nós é o significado social, e é este que deve ser avaliado (THOMPSON, 1992, 145).
Tanto na evidência oral como na escrita, o historiador deve-se atentar para o
significado social ali exposto. Ou seja, ao relatar fatos, o narrador situa-se entre o
comportamento social da época e a expectativa ou normas sociais vigentes no
período (THOMPSON, 1992).
Sobre essa questão, Joutard (2007) assegura a necessidade de um
posicionamento crítico frente a todo documento, sendo ele oral ou escrito. Refere-se
à ilusão criada pela estatística de um domínio real de uma determinada coleta de
dados, como apontado por Thompson (1992). Pollak (1992), por sua vez, cita o
exemplo dos abaixo assinados, tidos como documentos escritos confiáveis. Eles
mostraram-se falíveis em algumas entrevistas com pessoas que tiveram seus nomes
em tais documentos, mas afirmaram não tê-lo assinado.
O trabalho do pesquisador em HO ao realizar uma entrevista, depara-se com
a questão da subjetividade. Atentar-se para ela não inviabiliza a produção de
conhecimento, pelo contrário:
Muitos não percebem, contudo, que a história oral tem o grande
mérito de permitir que os fenômenos subjetivos se tornem inteligíveis
- isto é, que se reconheça neles, um estatuto tão concreto e capaz de
incidir sobre a realidade quanto qualquer outro fato. Representações
são tão reais quanto meios de transporte ou técnicas agrícolas, por
exemplo. Quando uma entrevista nos deixa entrever determinadas
representações características de sua geração, de sua comunidade
etc., elas devem ser tomadas como fatos, e não como ‘construções’
desprovidas de realidade (ALBERTI, 2004, p. 9-10).
Tais orientações da HO para realização das entrevistas foram seguidas para
orientar a geração dos dados desta pesquisa. Com isso, considerar o potencial da
subjetividade para conhecer como se dá a formação do professor para um grupo de
bolsistas participantes do PIBIB mostrou-se uma rica possibilidade, dentro de uma
perspectiva qualitativa de pesquisa.
68
Ainda preocupado em esclarecer o papel da subjetividade na constituição de
conhecimento científico, Portelli (1996) destaca a problemática da divisão
tradicionalmente feita entre os dados e sua interpretação no trabalho contemporâneo
com fontes orais. O autor problematiza essa questão a partir do depoimento de um
escravo, Frederick Douglass, envolvido no movimento abolicionista norte-americano,
que recebia a solicitação de pesquisadores para fornecer os fatos e dados sobre sua
condição, para que fossem interpretados pelos abolicionistas brancos. Essa ação
indica, segundo Portelli, uma visão utópica da objetividade, pressupondo que a
fonte, o testemunho do escravo, forneceria dados objetivos, que seriam tratados
pela habilidade objetiva e neutra do cientista – os abolicionistas. Desconsidera-se,
nessa perspectiva, que “[...], no espaço intermediário, [...] se coloca o território
inexplorado e exorcizado da subjetividade” (1996, p.59-60). Ou seja, na HO, as
fontes são as pessoas que não reduzirão suas vivências a fatos para serem
analisados por outros. Já que a “[...] subjetividade, o trabalho através do qual as
pessoas constroem e atribuem o significado à própria experiência e a própria
identidade, constitui por si mesmo o argumento, o fim do discurso” (Ibidem, p.60).
Retornando ao questionamento da representatividade da subjetividade de um
indivíduo para a produção acadêmica, Portelli (1996) desenvolve duas abordagens
para tratar a questão. A primeira seria eliminar a subjetividade concentrando-se em
dados concretos como os estatísticos, por exemplo. No entanto, eles podem se
mostrar extremamente abstratos e não representativos de uma experiência.
A segunda seria, ao analisar um relato, o pesquisador ter em mãos um texto
produzido por um informante. Não há como assegurar a veracidade do fato relatado,
mas a do texto constituído por esse fato, sim. Há formas e estratégias científicas
para analisar um texto por meio da Linguística ou da Teoria da Literatura. Além
disso, o texto pode representar a fusão do individual e social como ocorre com as
obras consideradas “cânone” literário e solucionar a questão da representatividade
das entrevistas em HO (PORTELLI, 1996,1997; 2001).
A linguagem ocupa um espaço essencial nesse processo, pelas
possibilidades que abre pela expressão. Portelli (1996), ao se referir a narrativa de
Máuri, um operário contou sua autobiografia, assim assevera:
O processo de transformação, o trabalho da consciência, manifesta-se na entrevista pelo fatigante trabalho da palavra. As interrupções, digressões, repetições, correções que caracterizam a narração de Mauri são procedimentos constitutivos da oralidade, graças aos quais
69
o discurso oral se apresenta mais como um processo do que como um texto acabado. Estes procedimentos da oralidade põem em evidência o trabalho da palavra, da memória, da consciência (PORTELLI, 1996, p. 64-65).
Por fim, uma subjetividade socialmente compartilhada é constituída pelo
horizonte de possibilidades. Desse modo,
A história oral e as memórias, pois, não nos oferecem um esquema de experiências comuns, mas sim um campo de possibilidades compartilhadas, reais ou imaginárias. A dificuldade para organizar em esquemas compreensíveis e rigorosos indica que, a todo momento, na mente das pessoas se apresentam diferentes destinos possíveis. Qualquer sujeito percebe estas possibilidades à sua maneira, e se orienta de modo diferente em relação a elas. Mas esta miríade de diferenças individuais nada mais faz do que lembrar-nos que a sociedade não é uma rede geometricamente uniforme como nos é representada nas necessárias abstrações das ciências sociais, parecendo-se mais com um mosaico, um patchwork, em que cada fragmento (cada pessoa) é diferente dos outros, mesmo tendo muitas coisas em comum com eles, buscando tanto a própria semelhança como a própria diferença (PORTELLI, 1996, p.72).
A não exatidão e a não objetividade presentes na sociedade instiga a
conhecer os significados dados às vivências. Neste estudo, pretende-se olhar para
os significados construídos pelos participantes do PIBID, buscando compreender
fragmentos de um processo maior, que é a formação de professores.
Além disso, a respeito do que documenta a fonte oral, utilizada nos estudos
da HO, Alberti (2004, p. 33) recorre a outros historiadores para tratar da forma como
se concebe o passado. Para ela, o passado precisa ser tomado como possibilidade
de “[...] negociar e disputar significados e desencadear ações” e não marcá-lo com
determinado significado fixo e imutável.
Para estudar o passado, encontramos seus vestígios organizados em dois
grupos: o resíduo da ação ou relatos da ação. O primeiro são as fontes tradicionais –
documentos, fotos. Já os relatos de ação são as fontes produzidas a partir de um
fato como uma carta sobre um ocorrido ou uma autobiografia. No entanto, uma carta
pode ser ao mesmo tempo um resíduo e um relato de ação. A entrevista em HO
insere-se nesse mesmo campo da carta, pois ela é resíduo de uma ação interativa,
entre entrevistador e entrevistado, que dialogam a partir de suas vivências e da
percepção do interlocutor. Além disso, pode ser resíduo da ação de interpretar o
passado além de relatá-lo, conforme a autora explica. Dessa forma, para Alberti
(2004, p. 35)
70
[...] tomar a entrevista como resíduo de ação, e não apenas como relato de ações, é chamar a atenção para a possibilidade de ela documentar as ações de constituições de memórias - as ações que tanto o entrevistado quanto o entrevistador pretende estar desencadeando ao construir o passado de uma forma e não de outra.
Sem aprofundar a temática sobre a memória, apenas para situar como ela
pode ser entendida pela HO, para a autora é possível enquadrá-la em dois tipos: a
ativa e a latente. A primeira é a que utilizamos diariamente, já a latente depende “de
construções e associações para ser recuperada” (ALBERTI, 2004, p.3).
Para ser recuperada, há um trabalho de enquadramento da memória, ideia
que se aproxima do entendimento, da autora, de memória como ação. No trabalho
de enquadramento da memória, os envolvidos podem privilegiar algumas
informações em detrimento de outras, por exemplo. Assim, as memórias entram em
um campo de disputa, no qual não é possível tratá-las de modo simplificado ou
polarizado, colocando a memória oficial de um lado, e de outro a não oficial.
Considerar essas diversas memórias, que buscam seu espaço, é parte do trabalho
do pesquisador em HO. A HO colabora ao mostrar os limites desse trabalho de
enquadramento da memória, por meio das memórias individuais.
Por fim, em nosso caso, há uma história do PIBID contada nos relatórios e
documentos oficiais, mas há também os relatos dos entrevistados desta pesquisa,
trazendo suas memórias e percepções desse programa. A HO, como metodologia
de pesquisa, pode colaborar na busca de respostas que não podem ser encontradas
em outros documentos ou no levantamento da informação, por meio de
questionários, a partir de quem vivenciou ou presenciou algum fato. Ouvir, registrar o
que os estudantes da Pedagogia e participantes do PIBID vivenciaram em suas
atividades na escola e como isso pode dar indícios para pensar a formação do
professor, foi o que nos motivou a realizar as entrevistas.
A HO, segundo Meyhi (2005) subdividi-se em quatro vertentes, considerando
suas particularidades. A primeira é a História de vida, que se atenta para as
narrativas sobre as experiências de uma pessoa, permitindo que ela fale livremente,
sem muitas intervenções do entrevistador. A tradição oral é outra ramificação dessa
metodologia e volta-se para os grupos, as comunidades e sua produção cultural,
procurando registrar essas tradições. A terceira possibilidade de utilizar a HO se dá
71
por meio da testemunhal, na qual são procuradas as testemunhas de um
determinado fato, para recolher mais informações sobre o mesmo.
Por fim, optamos pela quarta e última vertente para conduzir a preparação e a
realização das entrevistas desta pesquisa – a História oral temática. Nela há uma
atenção maior para o tema de estudo escolhido, são utilizadas questões mais
dirigidas sobre a temática e busca-se uma articulação com outros documentos
(MEIHY, 2005).
2.1.1- A entrevista: algumas questões
A entrevista aparece como um recurso importante para as pesquisas
qualitativas, por permitir conhecer outras realidades, outros pontos de vista sobre o
objeto estudado a partir da contribuição do entrevistado. As entrevistas, realizadas
com os alunos participantes do PIBID, seguiram as orientações da HO, bem como
as descritas por Lüdke e André (1986) na descrição de instrumentos de pesquisa
utilizados pela metodologia qualitativa.
A HO recorre à entrevista para conhecer o passado e o presente de
experiências vividas pelos sujeitos depoentes. Para essa metodologia recuperar o
passado por meio de uma entrevista não há necessidade de se chegar a uma
correspondência minuciosa sobre o acontecido e sua reconstituição. Em uma
entrevista de HO, além de conter
[...] uma vivacidade, um tom especial, característico de documentos pessoais. É da experiência de um sujeito que se trata; sua narrativa acaba colorindo o passado com um valor que nos é caro: aquele que faz do homem um indivíduo único e singular em nossa história, um sujeito que efetivamente viveu – e por isso, dá vida a – as conjunturas e estruturas que de outro modo parecem tão distantes (ALBERTI, 2004, p.14).
Esse colorido dado ao passado, por meio de emoções, relatos cômicos,
observações expostas na entrevista, possibilitam revivê-lo pela experiência do
entrevistado, superando as descontinuidades do que já passou. Segundo a autora,
esse fascínio do vivido tem despertado atenção de muitos pesquisadores para a HO.
Já que, pela entrevista, conhecemos “[...] pedaços do passado, encadeados em um
sentido no momento em que são contados e em que perguntamos a respeito”
(ALBERTI, 2004, p.15).
72
A possibilidade de reestabelecer o passado e o trabalho da memória,
realizado para dar sentido a esse passado, configuram uma das peculiaridades da
HO. Isso se dá a partir de dois paradigmas da nossa cultura que sustentam a
História Oral e estão na base do fascínio que ela exerce: a hermenêutica e o
indivíduo como valor.
A hermenêutica, segundo a autora argumenta, dedicou-se, primeiramente, à
interpretação dos textos religiosos e passou a ter importância nas Ciências
Humanas, com Dhilthey, um dos pensadores que a diferenciou das Ciências
Naturais. A compreensão passou a embasar os estudos dentro das ciências
humanas, preocupadas em compreender o outro e sua historicidade (ALBERTI,
2004).
A forma hermenêutica está nas ações da HO, pois o que encanta em uma
entrevista “[...] é a possibilidade de tomar as experiências do outro, a que se tem
acesso sabendo compreender as expressões de sua vivência” (ALBERTI, 2004, p.
19). O compreender demanda o trabalho do hermeneuta que se prepara para ser um
interlocutor que entenda e acompanhe o relato do outro para poder interpretar. No
caso, o entendimento demanda uma interpretação e um trabalho rigoroso do
pesquisador. Para a autora, não basta o relato por ele mesmo. Esse pode ser um
equívoco, derivado das amplas possibilidades de compreensão da entrevista e que
pode ser retomada em outros momentos, pois “a hermenêutica não produz uma
certeza demonstrável” (2004, p. 19). O engano é não considerar a entrevista como
um documento que registra algo que precisa ser interpretado, independentemente
das possíveis interpretações desse material.
O indivíduo como valor é outro paradigma que integra a HO, intimamente
ligado à hermenêutica, por centrar a análise na pessoa. Na sociedade moderna,
fragmentada, atentar para o indivíduo, não significa apenas valorizá-lo, mas “[...]
considerar que, em uma ordem hierárquica, ele é o termo superior a englobar o(s)
inferior(es), possuindo, portanto, uma capacidade de totalização” (ALBERTI, 2004,
p.20). Por isso o fascínio pela HO que, pela entrevista, busca conhecer a
subjetividade de uma pessoa, pretendendo ultrapassar os limites encontrados no
trabalho com documentos fragmentados para reconstruir uma História.
Além disso, para Portelli (2001), “a entrevista, implicitamente realça a
autoridade e autoconsciência do narrador e pode levantar questões sobre aspectos
da experiência do relator a respeito dos quais ele nunca falou ou pensou
73
seriamente” (p.12). Desse modo, a entrevista configura-se se como um momento de
tomada de consciência do que foi vivido pela significação que é dada ao ocorrido.
Portelli (2001, p.18) acrescenta que “não há história oral antes do encontro de
duas pessoas diferentes, uma com uma estória para contar e a outra com uma
história para reconstruir”. O momento da entrevista permite esse encontro e essa
produção, no qual ambos têm um papel a desenvolver.
Teixeira e Praxedes (2006) além de considerarem a HO como fonte,
metodologia e técnica de pesquisa, notam na entrevista orientada por esses
pressupostos um potencial pedagógico. Segundo as autoras, o entrevistado ao
narrar sua experiência, ao transformar sua vivência em palavras ditas ao outro,
ressignificam e reinterpretam suas ações no mundo. Assim, para as autoras
A História Oral é uma experiência de caráter pedagógico porque ela é formadora. Ela não somente interroga e registra, mas potencializa a condição dos sujeitos no mundo. Nos fios da memória, no resgate do vivido [...] revivido na narrativa os sujeitos produzem conhecimentos e vão se constituindo em processos de identificação e de subjetivação. Em processos de formação (TEIXEIRA; PRAXEDES, 2006, p. 162)
Normalmente, o entrevistador inicia a entrevista e as questões feitas moldam,
em certo modo, essa conversa. No entanto, não podemos desconsiderar que os
entrevistados vêm para a entrevista com o que esperam contar e isso é negociado e
ajustado, no decorrer desse diálogo.
Ao considerar a entrevista dessa maneira, para Portelli (2001, p. 10), a HO é
um discurso eminentemente dialógico. Isso porque “refere-se simultaneamente ao
que os historiadores ouvem (as fontes orais) e ao que dizem ou escrevem. Num
plano mais convincente, remete ao que a fonte e o historiador fazem juntos no
momento de seu encontro na entrevista”.
É preciso considerar alguns entraves que podem ocorrer na relação entre
entrevistador e “informante” nas pesquisas de campo. Portelli (1997a, p.8) cita duas
experiências, em situações de entrevista, nas quais os entrevistados analisavam o
entrevistador e suas perguntas e, a partir disso, procuravam controlar suas
respostas. Com essas experiências apreendeu que “[...] os papéis de observado e
observador são mais fluídos do que poderiam apresentar à primeira vista”. Ou seja,
esses papéis não estão tão determinados como muitas vezes esperamos.
74
Com isso, desmistifica a imagem do pesquisador/entrevistador como único
dirigente da entrevista, como também é colocado por Alberti (2004) ao mencionar a
característica dialógica da entrevista. Acrescentando que “uma entrevista é uma
troca entre dois sujeitos: literalmente uma visão mútua. [...] Os dois sujeitos,
interatuando, não podem agir juntos a menos que alguma espécie de mutualidade
seja estabelecida” (PORTELLI, 1997a, p.9).
A mutualidade é estabelecida por um contato gradual com o entrevistado. Por
isso, as recomendações da perspectiva qualitativa de pesquisa sugerem um contato
direto e recorrente com o grupo que será entrevistado. Essa troca entre entrevistador
e entrevistado também traz a questão ética para esse momento. Dessa forma, quem
ganha ao participar de uma entrevista? Amado (1997) entende que não só o
pesquisador seria o grande beneficiado nesse processo, mas quem contou a sua
história também. Muitas vezes, o fato de ser ouvido, de ter a oportunidade de contar
a sua versão já é o suficiente para realizar uma troca durante a entrevista. Em
alguns casos, mesmo existindo o retorno da entrevista, por meio da entrega da
transcrição ou da gravação, o retorno não é tão efetivo quanto à oportunidade de
participar dela.
2.1.2 – A contribuição da História Oral para as pesquisas em educação
Como já apontado por Thompson (1992), a HO colabora com diferentes áreas
além da História, como a Sociologia, Antropologia, a Educação entre outras. Louro
(1990, p. 23) descreve como pode ser tal contribuição, ou seja, a HO
[...] pode trazer uma compreensão mais densa das salas de aula, da representação do trabalho para professores e estudantes; pode iluminar os lugares ocultos da vida escolar; apontar as formas mais sutis de resistência desenvolvidos pelos diferentes agentes do processo educativo; sublinhar os efeitos de currículos, normas e diretrizes [...].
Além dessas possibilidades apontadas por Louro (1990) algumas pesquisas
do Grupo AULA, dentre elas está o nosso estudo, abordaram diferentes temáticas do
universo educacional e foram embasadas pelos pressupostos da História Oral para a
geração de dados como veremos adiante.
75
A dissertação de Mestrado “Práticas de Leitura na Infância”, de Leila
Cristina Borges da Silva (2004), buscou compreender as práticas, as representações
e as imagens de leitura construídas pelas crianças, de uma instituição de Educação
Infantil de Campinas, por meio dos entendimentos dos usos desta, dentro e fora da
escola. Para isso, a pesquisadora desenvolveu uma relação com os estudos da HO
para entender os relatos produzidos pelos pequenos e suas famílias. Com isso,
constatou que as crianças experimentam a leitura de diferentes modos e
estabelecem um diálogo com as vozes plenivalentes de diversos interlocutores e
constituintes do discurso sobre essas práticas.
Guiando-se pelos princípios da HO, a pesquisa de Mestrado “Educação de
Jovens e Adultos: o que desejam os alunos, o que pretendem as professoras”
de Geisa Genaro Gomes (2006), buscou ouvir e registrar as vozes dos alunos e dos
professores da FUMEC- Fundação Municipal para Educação Comunitária sobre o
ensino na EJA nessa instituição. As narrativas de estudantes e de professores
apresentam visões bem diversificadas da referida instituição, revelando alguns
conflitos entre suas expectativas em relação ao ensino e à aprendizagem.
Em “A formação profissional na prática cotidiana: o que nos contam as
educadoras de creche” Márcia Aparecida Pereira da Silva (2006) relata sua
investigação de Mestrado. Considerando os princípios da HO como referência
teórico-metodológica, a pesquisadora entrevistou as educadoras de duas instituições
de educação infantil para se inteirar mais sobre a formação em serviço dessas
profissionais. A autora desenvolveu um profundo mergulho nas instituições,
procurando construir parcerias com as educadoras. Como resultado das análises, a
autora indica que, as profissionais por meio de suas narrativas reconhecem a
importância da formação continuada como um elemento significativo para o
desenvolvimento do trabalho cotidiano junto com as crianças.
A pesquisa de Mestrado de Maria Cristina Alves (2007) intitulada “A
formação continuada da rede municipal de Uberlândia (1990-1995): com as
palavras os professores” utilizou os pressupostos da HO para recuperar as
memórias dos docentes sobre o processo de formação continuada em uma rede de
ensino, especialmente ligada a um centro de formação de professores que
funcionava no município. A análise das entrevistas permitiu conhecer o alcance da
formação oferecida por essa rede, por meio desse centro. Além disso, suas falas
76
mostram relevância das leituras obrigatórias para o concurso público de professor
como facilitadoras da inserção dos docentes na proposta da rede de ensino.
A dissertação de Mestrado “Alfabetizar, letrar: práticas alfabetizadoras no
contexto da escola organizada em ciclos”, de Danieli Sebastiana Oliveira Tasca
(2010) contou com o depoimento de quatro professoras alfabetizadoras da Rede
Municipal de Ensino de Campinas. A partir disso, considerando os pressupostos
teórico-metodológicos da HO, analisou os dizeres destas docentes sobre as suas
práticas alfabetizadoras durante a implementação da proposta da escola organizada
em ciclos. A autora focalizou o conceito de letramento para guiar-se em suas
entrevistas.
A pesquisa intitulada “Desafios da docência em cursos de Pedagogia a
distância”, de Eliana Rodriguez Moreno (2010), recorre aos pressupostos da HO
para a elaboração das entrevistas com docentes universitários e tutores do curso de
Pedagogia a distância. A pesquisadora focaliza os dizeres dos professores
entrevistados para investigar como essas práticas de formação têm se constituído
nestes cursos em uma modalidade que vem se expandindo na contemporaneidade.
Já o estudo “Narrativas de mulheres-estudantes na formação inicial dos
professores: a busca de um sonho e o encontro da realidade”, de Elisete de
Oliveira e Souza Frigo (2011), recorre à HO para compor a metodologia de sua
pesquisa de Mestrado. O objetivo da autora, ao analisar as narrativas de mulheres-
estudantes em um curso de formação inicial de professores, é avaliar a
implementação de um recurso pedagógico nesse contexto. Conclui que o uso do
portfólio contribui para a ampliação de práticas de leitura. A pesquisadora analisa as
qualidades advindas desse recurso, assim como os seus limites.
O interesse pela prática de docentes que atuam no Instituto Federal de Santa
Catarina, do Campus Florianópolis-continente motivou a elaboração da pesquisa de
Mestrado, denominada “Formação continuada de professores e o
desenvolvimento de currículos integrados na Educação Integral e Tecnológica”
de Nelda Plentz de Oliveira (2011). A autora elegeu como objetivo verificar os
sentidos dados à formação continuada na prática pedagógica da educação
profissional por seis docentes desse campus, no período de 2007 a 2009. A HO
colaborou para a análise das narrativas produzidas pelos entrevistados.
Por fim, a pesquisa de Juliana Magalhães dos Santos (2012) descrita na
dissertação de Mestrado “O ‘grande truque’: construindo pequenas grandes
77
histórias sobre a formação de professores de história” buscou problematizar os
percursos de formação de professores de História do ensino público. A HO ofereceu
a compreensão metodológica para a realização e análise das entrevistas e dos
registros feitos em campo.
Nessas pesquisas anteriormente arroladas, a HO fornece fundamentos para a
geração de dados e, em alguns casos, da análise das narrativas. Por meio desses
estudos, a subjetividade dos sujeitos tem sido considerada para tratar de temáticas
maiores referentes à educação. A seguir, alguns esclarecimentos sobre a trajetória
de campo desta pesquisa, que gerou os dados aqui analisados.
2.1.3 - Aprendendo mais um pouco sobre a pesquisa: as idas e vindas
durante o percurso de constituição dos dados
A princípio esta pesquisa recorreria à entrevista para gerar os dados. Com o
andamento da investigação, sentimos necessidade de outras informações sobre os
entrevistados. Na ocasião, já não atuava mais como professora deles, pois já tinham
concluído o curso. Mas tinha em mãos uma ficha com os contatos desses
estudantes.
Enviei um e-mail para cada um dos entrevistados com o Questionário sobre a
escolha do curso (Anexo II) e a Ficha de Levantamento de dados para traçar o perfil
dos entrevistados (Anexo III). Tive retorno de todos os e-mails. Acredito que esse
dado é um elemento que nos indicia o elo de confiança e de compromisso
construído ao longo do trabalho de campo com os sujeitos.
Junto disso, após o encerramento do PIBID na instituição, alguns documentos
foram disponibilizados no CDAPH para consulta pública. Nesse espaço, entrei em
contato com o Relatório da Coordenação de área, o Relatório de alguns estudantes
bolsistas, o Relatório dos Professores Supervisores e alguns Diários de Bordo dos
alunos, os quais estavam disponíveis para a consulta.
Após o exame de Qualificação, retornei ao acervo para buscar outros
documentos, que não tinham sido encontrados a princípio. Em seguida, fui para a
SME a fim de verificar se havia algum arquivo sobre o Programa. Após conversar
com o responsável pelo setor, tive acesso a “Pasta do PIBID” que continha apenas
os documentos formais de solicitação e de autorização para formalizar a parceria e a
realização das atividades do referido programa na escola municipal indicada. Nessa
78
ocasião, nos corredores dessa Secretaria, encontrei a Profa. Maria Cecília, que
atuou como professora supervisora no programa e, naquele momento, estava
trabalhando na SME como Supervisora de Ensino. Perguntei a ela sobre os
documentos do programa e, se ela tinha a informação de onde poderia encontrá-los.
Prontamente respondeu e sugeriu o CDAPH. Além disso, forneceu uma pista
preciosa: talvez, existisse um arquivo na escola que sediou o PIBID.
Na mesma tarde, visitei a escola, conversei com a diretora sobre o que
buscava e ela indicou a Profa. Flávia (citada em vários excertos), que tinha
participado do programa como professora supervisora. Fui recebida pela professora,
que não sabia informar precisamente sobre os documentos arquivados. Contudo,
combinamos que ela procuraria localizar o que possivelmente teria ficado na escola
e, ainda, me disse que tinha tudo sobre o programa em sua cabeça me contaria
quando quisesse (como foi relatado no capítulo 1). Agendei um encontro para a
semana seguinte para ter os retornos.
Nesse encontro pude conversar com a Flávia durante uma hora, na sala dos
professores da escola. Os alunos dela estavam naquele momento com o professor
de Educação Física. Aproveitamos a ocasião para dialogar. Não solicitei para gravar,
em função do contexto que tinha surgido o encontro, no entanto, explicitei meu
interesse pelo programa e o motivo pelo qual buscava mais informações sobre ele.
Transcrevi em seguida os pontos principais desse diálogo em meu diário de campo.
Por fim, reuni todos os documentos disponíveis sobre a experiência deste
Programa. Nesse contexto, portanto, compuseram-se os dados desta pesquisa.
Como recorremos a diferentes documentos, de natureza e autoria diversa,
organizamos a tabela abaixo:
Tabela I - Geração dos dados
IES parceira do PIBID Escola parceira do PIBID
Coordenação de área do PIBID
- Relatórios semestrais enviados à coordenação geral
Professores Supervisores do PIBID na escola
- Relatórios semestrais enviados à
coordenação de área - Conversas informais sobre a temática
Estudantes da Pedagogia participantes do PIBID
- Entrevistas em grupos - Relatórios semestrais enviados à coordenação de área
- Diário de Bordo - Questionário sobre a escolha do curso
- Ficha de Levantamento de dados para traçar o perfil dos entrevistados
79
2.1.4 “Vamos conversar sobre o PIBID?”: a formação dos grupos de entrevista
Em pequenos grupos (de dois a cinco sujeitos) realizamos uma entrevista
com cada agrupamento, formado a partir da disponibilidade dos participantes. A
opção pela entrevista em grupo se deu por considerar uma característica de
trabalho, vivenciada pelos estudantes no PIBID. Ora atuavam em duplas, ora no
grupo de estudantes sob a responsabilidade de um professor supervisor. A formação
desse grupo era alterada a cada semestre, a partir de fatores como a disponibilidade
de horário dos bolsistas, afinidade com uma área de conhecimento, entre outros.
Assim, puderam trabalhar em parceria com vários colegas.
Thompson (1992) assegura que a realização das entrevistas em grupo pode
possibilitar uma discussão sobre o assunto, o que pode ser bastante interessante
para a composição dos dados. Além de funcionar como um estímulo para a
memória, ao ouvir o relato do outro pode despertar, nos demais participantes das
entrevistas, questões sobre sua experiência. As expressões “comigo foi diferente” ou
“Agora, ouvindo o que o Willian falou, eu fiquei pensando”, ditas em momentos da
entrevista, podem ser exemplos dos desdobramentos e das possibilidades abertas
pela entrevista realizada em grupo.
Essa prática, segundo Thompson (1992) não inviabiliza a entrevista individual,
mas, a possibilidade de ter mais uma pessoa nesse momento, permite correções
dos dados relatados. Ou seja, um entrevistado pode colaborar com o outro sobre os
dados e dar informações mais precisas.
As reuniões aconteciam em uma sala de aula da Universidade, em datas que
os estudantes não tinham outras atividades, no período noturno. O agendamento era
feito por mim, nos momentos de entrada ou da saída da aula, que ministrava para
essa turma. Nesses momentos, os convidava e consultava sobre a disponibilidade
para participar da entrevista e procurávamos agendar um encontro. Utilizei o e-mail
para fazer o convite para as licenciandas que já tinham concluído o curso e combinar
uma data para o encontro.
Os alunos que ainda cursavam, utilizavam as brechas nos horários das aulas
para participar da entrevista. Utilizamos um determinado dia da semana, que eles
teriam orientação do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), com o professor
orientador, em algumas ocasiões atendia aos alunos individualmente, o grupo de
alunos foi dividido em dois, sendo que o primeiro grupo viria na primeira semana e o
80
segundo, na semana seguinte. Dessa forma, os alunos tinham um horário livre e, por
questão de comodidade para eles, que já estavam habituados a se deslocar para
universidade no período noturno, utilizávamos essas datas para realizar a entrevista.
Nas datas combinadas, em uma sala da universidade, cadeiras dispostas em
círculo, entrevistadora e colaboradores dessa pesquisa presentes. A entrevista
iniciava com o agradecimento pela presença dos estudantes, pela disposição e pela
colaboração com o estudo. Prosseguíamos com uma explicação da pesquisa,
expondo o interesse pelo PIBID e pela formação inicial de professores e como essa
questão vinha se constituindo durante a atuação profissional da pesquisadora. Em
seguida, a assinatura do Termo de Consentimento (Anexo I) era solicitada, também
era informado sobre a gravação em áudio. Exemplo do que acontecia em todo
começo de entrevista, segue
[...] Como vocês já me conhecem de outros carnavais. Vocês sabem que estas
questões já me preocupam há algum tempo, desde quando iniciei o meu trabalho
na rede municipal com a formação continuada e depois aqui, na universidade.
Nesse período, eu observava a formação inicial e continuada, onde pairavam
algumas questões, como: o que falta na formação? Eu queria olhar para a
formação do professor. Saber mais sobre o que a formação inicial do professor tem
feito. O que ela não tem feito? Ela tem deixado lacunas? Por exemplo, vocês
quando terminam o curso se sentem preparados para iniciar a docência? Se
sentem seguras para isso? Essas questões vinham quando estava com as
professoras da prefeitura na formação continuada. Eu ficava bem em dúvida com
esse modelo de formação inicial. Depois que surgiu o PIBID, aqui na
universidade, eu percebi que ele trouxe algumas mudanças. Notava,
principalmente, os alunos que tiveram aula comigo, comentarem depois do PIBID
– Ah professora agora eu entendo o que você fala, eu entendo porque a atividade
de alfabetização tem que ser assim. Por isso, eu comecei a pensar, parece que o
PIBID traz alguma coisa interessante, traz um diferencial para a formação. Por
isso, eu gostaria de fazer uma entrevista como vocês participaram do PIBID...
(Fala inicial da entrevistadora na entrevista com o grupo 4).
81
Portelli (1997b) discute a neutralidade e a imparcialidade recomendada aos
entrevistadores por alguns manuais de pesquisa sobre o trabalho de campo.
Segundo ele, quem contará sua vida, suas lembranças para uma pessoa neutra,
imparcial, distante? Partindo desse questionamento, sugere que o entrevistador em
HO responda às questões que lhe forem feitas pelos entrevistados e se coloque de
maneira clara e cordial, pois o estabelecimento de um vínculo é essencial para ter
acesso a informações mais profundas sobre o assunto.
Retomo minha pesquisa de Mestrado (CAMARGO, 2006) na qual utilizei as
entrevistas semiestruturadas com estudantes da EJA, como um das possibilidades
para gerar os dados. Na ocasião, antes de convidá-los para a entrevista,
frequentava as aulas com regularidade na turma desses alunos. Todos foram
informados sobre o motivo da minha presença, assinaram Termos de
Consentimento, no entanto, a professora sempre se referia a mim como a estagiária,
talvez por ser uma das primeiras a realizar uma pesquisa de campo nas escolas
daquela rede de ensino. Quando realizei as primeiras entrevistas, só obtinha
respostas objetivas, diretas. Na maioria das vezes, os entrevistados resumiam suas
respostas a sim ou não. Percebi que não poderia realizá-las daquela forma.
Continuei observando as aulas. Quando em um determinado momento, um
aluno que estava ao meu lado, começou a relatar sua trajetória até chegar à escola,
motivado por uma atividade que realizava a pedido da professora, percebi ali que
essa seria uma boa estratégia para a geração dos dados. Então, desse modo,
consegui realizar outras entrevistas.
No Mestrado, a entrevista se deu após uma proximidade, sem pensar nisso
naquele momento, pois não tinha ainda as leituras da HO. Hoje, analisando o modo
de proceder em uma entrevista, noto que foi estabelecido um vínculo, uma sintonia
que permitiu o relato das experiências ser disponibilizado para alguém que estava
disposto a ouvir. Retornando a esta pesquisa, já existia o vínculo pela relação
professora e alunos, construída anteriormente. No entanto, era necessário dizer qual
o motivo de ocupar o tempo deles com uma entrevista. Enfim, qual é a necessidade
desse encontro? O que gostaria de saber sobre a experiência deles no PIBID?
Diferente da entrevista feita no Mestrado, eu não obtive nenhuma resposta
direta, pronta, objetiva. Todos falavam, provocados pelas questões feitas ou pela
resposta dada por um dos colegas. Em outros momentos, como o fato já comentado,
no qual a professora supervisora Flávia me disse, tudo estava em sua cabeça, era
82
só falar. Atribuo essa participação calorosa, seguindo a contribuição da HO, ao fato
de essa experiência ter sido significativa para os participantes a ponto de quererem
falar sobre ela22, registrá-la.
Para isso, os colaboradores participavam da entrevista a partir das questões
feitas, seguindo um roteiro elaborado previamente. Nele continham questões abertas
sobre a experiência desses licenciandos no PIBID, com a ocorrência de
intervenções, retomadas e de pedidos de esclarecimento por parte da
pesquisadora23.
Em 2012, realizamos quatro encontros com duração variada, devido ao
número diferente de integrantes dos grupos. Em média, os encontros duravam uma
hora e meia. Contamos com a presença total de treze bolsistas do PIBID. Desse
total, duas estudantes já tinham concluído o curso, os outros onze ainda eram meus
alunos na ocasião e estavam ativos no Programa pesquisado. Os sujeitos estão
dispostos da seguinte maneira:
Tabela II – Integrantes dos grupos de entrevista
A tabela III relaciona algumas informações sobre cada entrevistado obtidas
nos Questionário sobre a escolha do curso e na Ficha de Levantamento de dados
para traçar o perfil dos entrevistados
Tabela III – Perfil dos entrevistados
22
Sobre isso, Pollak (1989,1992) enfatiza que nem todos os informantes estão dispostos a falar sobre
a experiência vivida. Sobre isso, o autor relata a dificuldade que alguns depoentes têm para falar
sobre sua vida, principalmente de experiências traumáticas. Ele notou isso quando realizou
entrevistas com mulheres sobreviventes dos campos de concentração nazista. 23
No Anexo IV, encontra-se o Roteiro para a entrevista. 24
Como já foi mencionado no Capítulo 1, os nomes utilizados para designar os colaboradores desta
pesquisa são fictícios.
Grupo 1
Grupo 2
Grupo 3
Grupo 4
Celina24
Katarina Anita Fabíola
Claudia Luana Bianca Gisela
Leonel Paula Nádia
Mariana
Willian
83
Estudante
Entrevistado
Ano de
nascimento
Atuava na docência
Atuação
profissional
Escolarização
anterior
Participou
do Grupo de entrevista
Celina
1984
Não
Inspetora de aluno
Ensino Fundamental e Médio na Rede pública de Ensino
Grupo 1
Claudia
1979 Não Assistente de sala de aula
Ensino Fundamental e Médio na Rede pública de Ensino
Grupo 1
Leonel
1988 Não ---
25
Ensino Fundamental e Médio na Rede pública de Ensino
Grupo 1
Mariana
1989 Não Pajem
Ensino Fundamental e Médio na Rede pública de Ensino
Grupo 1
William
1988 Não Secretário de escola
Ensino Fundamental e Médio na Rede pública de Ensino
Grupo 1
Katarina
1990 Não
--
Ensino Fundamental e Médio na Rede pública de Ensino
Grupo 2
Luana
1991 Não --
Ensino Fundamental e Médio na Rede pública de Ensino
Grupo 2
Paula
1989 Não Monitora educacional
em uma ONG
Ensino Fundamental e Médio na Rede pública de Ensino
Grupo 2
Anita
1989 Sim Professora da Educação
Infantil da Rede
municipal de Ensino
Ensino Fundamental e Médio na Rede pública de Ensino
Grupo 3
Bianca
1990 Não Assistente administrativo
Ensino Fundamental e Médio na Rede pública de Ensino
Grupo 3
Nádia
1990 Não Assistente de sala de aula
Ensino Fundamental e Médio na Rede pública de Ensino
Grupo 3
1988 Não Pajem Ensino
25
Não informado.
84
Fabíola Fundamental e Médio na Rede pública de Ensino
Grupo 4
Gisela
1986 Não Monitora educacional
em uma ONG
Ensino Fundamental e Médio na Rede pública de Ensino
Grupo 4
Todos os estudantes participantes das entrevistas estavam cursando a
primeira graduação. A faixa etária deles variava de 21 a 33 anos. Apenas uma
integrante já atuava como professora da Educação Infantil, pois tinha cursado o
Magistério antes de ser aluna de Pedagogia. O grupo todo era composto por dois
homens e onze mulheres, como foi demonstrado na tabela III.
As duas entrevistadas que já tinham concluído o curso, trabalhavam com a
educação nas seguintes funções: uma atuava como pajem da Educação Infantil em
uma rede municipal de ensino e a outra como monitora educacional no PETI
(Programa de Erradicação do Trabalho Infantil). Os outros entrevistados trabalhavam
em atividades variadas: assistente administrativo, secretaria de escola, comércio.
Com a atuação no PIBID, alguns deixaram a ocupação que tinham anteriormente
para se dedicarem apenas às atividades do Programa. Outros bolsistas conseguiram
conciliar a carga horária na escola (dez horas semanais) pelo programa com a
atividade profissional que já desenvolviam.
Por fim, na tabela IV, apresentamos algumas informações referentes aos
professores da escola sede do PIBID e da professora da IES e coordenadora de
área do respectivo Programa. Resolvemos fazer essa breve apresentação destas
professoras por serem autoras dos relatórios que compõem os dados dessa
pesquisa. Após a breve descrição dos envolvidos neste processo investigativo,
passaremos, no próximo capítulo, para a discussão teórica sobre a formação inicial
de professores.
Tabela IV – Outros integrantes do Programa estudado, autores dos relatórios
consultados.
Nome
Ano de
nascimento
Tempo de atuação na docência
Relação com o
PIBID
Formação Profissional
85
Cássia
1964 25 anos Professora Supervisora
- Cursou o Magistério (nível médio) - Graduada em Normal Superior
Edna
1971 18 anos Professora Supervisora
- Cursou o Magistério (nível médio) - Graduada em Pedagogia
Flávia
1956 36 anos Professora Supervisora
- Cursou o Magistério (nível médio) - Graduada em Biologia
Fabiana
1961 24 anos Coordenadora de área
- Graduada em História e Pedagogia; - Mestre em Ciência da Informação - Doutora em Educação - Pós-Doutorado em Educação
Maria Cecília
1970 11 anos Professora Supervisora
- Cursou o Magistério (nível médio) - Graduada em Artes e Pedagogia - Especialista em Direito Educacional
86
3- A formação inicial de professores em um curso de Pedagogia
Neste capítulo, pretendemos apresentar algumas alterações previstas em
textos legais na formação inicial de professores, e decorrentes das insatisfações
com os resultados obtidos nas avaliações oficiais como a Provinha Brasil. Além
disso, observamos a movimentação ocorrida no ensino superior, principalmente no
quesito de ofertas de vagas para a licenciatura que deve ser o nível de ensino
previsto para formação desse profissional.
Também buscamos abordar alguns estudos sobre a formação de professores,
em especial a formação inicial, que se refere à preparação para a sua atuação e o
contato com a escola, seja por meio do Estágio Supervisionado ou por programas
como o PIBID, o Programa de Residência Pedagógica, o Residência Educacional e
o Bolsa Formação-Aluno-Aprendizagem, que buscam aprimorar o contato dos
licenciandos, futuros professores, com seu ambiente de trabalho.
3.1- A formação inicial de professores para atuar nos anos iniciais da
educação básica
A formação inicial do professor passou por várias alterações nos últimos
anos. Principalmente, a partir da aprovação da última LDB 9394/96 que instituiu a
formação do docente da educação básica em curso superior. Conforme já apontado,
isso provocou certa desarticulação (podemos dizer, intencional) na formação em
nível médio que, segundo esse documento, deveria deixar de existir. Ao mesmo
tempo, abriu uma lacuna no ensino superior, que passou a ser responsável
integralmente pela formação desse profissional.
A citada legislação dialoga com a Constituição Brasileira de 1988, no sentido
de expandir o acesso da população à educação formal e com isso ampliar os direitos
do cidadão. Esses fatores, somados às avaliações internas e externas que vem
denunciando a qualidade (abaixo do esperado) da educação brasileira, levam o
poder público, a comunidade e a universidade, a buscar respostas para essas
questões (BRASIL, 1988).
Nesse contexto, investir na formação inicial e continuada do professor
apareceu como uma forma de agilizar respostas do Estado para a situação. Por esse
motivo, ampliam-se o oferecimento de cursos de formação continuada (na iniciativa
87
pública e privada), com o intuito de preparar o professor para atuar com as
demandas atuais. Ao mesmo tempo é discutido, no âmbito da formação inicial desse
profissional, como prepará-lo adequadamente e os desafios perfilados em seu
trabalho cotidiano.
Paralelo às propostas de formação dos professores que atuam na rede
pública de ensino vão surgindo, ganhando espaço e aprimorando-se os instrumentos
de controle e de avaliação em larga escala, da qualidade de ensino. Exemplo disso,
em 2007, o MEC, por meio do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira (INEP) instituiu a “Provinha Brasil” com intuito de
avaliar o nível de alfabetização dos alunos. Sua finalidade é a de informar as redes
de ensino sobre as dificuldades de aprendizagem e propõem-se, com isso, a
colaborar com a melhoria da qualidade de ensino, conforme consta no texto legal.
No mesmo período, intensifica-se a busca de dados das escolas com o
Censo Escolar, hoje denominado Educacenso. Por meio deles são levantadas
informações estatísticas sobre o funcionamento das escolas de todo o país. Dentre
elas estão o fluxo escolar e os profissionais que atuam nesses espaços. Ao
relacionar os dados colhidos na avaliação de aproveitamento e o fluxo escolar, surge
também o IDEB. Esse indicador pode colaborar para a existência de ações em prol
da educação, segundo o INEP26, pois permite conhecer em valores as informações
mais significativas para educação e verificar se as metas estabelecidas estão sendo
alcançadas27.
Os instrumentos de avaliação mencionados acima, especialmente o Censo
Escolar, permitiram, em 2007, a produção do primeiro “Estudo exploratório sobre o
professor Brasileiro”, que identifica estatisticamente o profissional que atua nas
escolas brasileiras e sua formação. Constatou-se que 68,4% dos professores que
atuam na educação básica possuem curso superior e 90% destes são formados em
licenciaturas. O curso de Pedagogia lidera a lista, com 29,2%, dos cursos mais
procurados. Há ainda a presença de professores leigos (6,3%) que não possuem
26
As informações foram extraídas do Portal do INEP: http://portal.inep.gov.br/ 27
O resultado do IDEB é utilizado pelas Redes de ensino para indicar as escolas que participarão do
Pibid, conforme o regulamento do Programa (BRASIL, 2013c).
88
formação específica para o magistério. Dados de 201228 indicam um crescimento do
número de graduados no ensino superior, chegando aos 78,1% do professorado.
O conhecimento da realidade educacional por esses instrumentos avaliativos
tem gerado uma preocupação cada vez maior com a preparação do professor. Isso
também aparece nos documentos que traçam as metas para a educação, como o
Plano Nacional de Educação (PNE).
Para o PNE, da última década e da atual, a valorização do magistério e a sua
formação aparecem como condição para a melhoria da qualidade de ensino. Nesses
documentos, metas são delineadas para atender uma formação de qualidade e
condições adequadas de trabalho tais como: a meta quinze, que prevê a articulação
entre os governos para que os professores possuam formação específica de nível
superior na área de conhecimento em que atuam; a meta dezesseis que espera
formar, neste decênio, 50%, dos professores da educação básica (BRASIL, 2014).
Desse modo, é esperado que o professor adquira uma formação inicial consistente,
alicerçada nos conhecimentos específicos de sua área e práticos, e que ele possa
manter-se atualizado, por meio da formação continuada.
No âmbito dos documentos legais, como já mencionado acima, a última LDB
trouxe significativas contribuições. No entanto, outros textos após essa promulgação
apresentam colaborações, como o Decreto 6.755 de 29/01/2009 que institui a
Política Nacional de Formação de Profissionais do Magistério da Educação Básica
para organizar as propostas de formação inicial e continuada. Neste, a formação
aparece como compromisso público do Estado para assegurar o acesso de todos a
uma educação de qualidade, um projeto social político e ético, bem como, instaura
um regime de colaboração entre todos os entes federados para realização desta
política.
No artigo segundo, referente aos princípios desta política, nos incisos V e VI,
destaca-se a relação entre teoria e prática como indissociável nos processos
formativos e vista como conhecimentos científicos e didáticos. Como também,
apresenta o reconhecimento da escola como espaço de formação inicial dos
docentes.
28
O documento na íntegra pode ser encontrado no seguinte endereço eletrônico
http://download.inep.gov.br/educacao_basica/censo_escolar/resumos_tecnicos/resumo_tecnico_cens
o_educacao_basica_2012.pdf
89
Por fim, as avaliações em larga escala e os programas de formação têm como
objetivo comum alcançar a esperada qualidade do ensino público brasileiro. Sobre a
formação, o último Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) descreve as
ações do MEC para atingir as metas do PNE. Dentre as ações apresentadas estão o
PIBID e Sistema da Universidade Aberta do Brasil (UAB), detalhados no capítulo 1.
Assim, desenham-se em linhas gerais as expectativas em torno da formação
de professores no contexto brasileiro, com o desejo expresso na legislação vigente
de que isso ocorra em um curso superior. Veremos a seguir como esse nível de
ensino se expandiu nas últimas décadas e como a licenciatura, destinada à
formação docente aparece nesse quadro.
3.2 - A formação inicial do professor como tarefa do ensino superior: uma
etapa do ensino em expansão nas últimas décadas
O Sistema Educacional Brasileiro contou com uma série de mudanças nas
últimas décadas, devido a inúmeros fatores. Dentre eles, o processo de
redemocratização na década de 1980 e, com ele, novas leis, como a última
Constituinte, que ampliam os direitos do cidadão. Além disso, pressões externas,
expressas por meio de avaliações e compromissos assumidos pelo governo para
redução das desigualdades sociais, dentre elas as educacionais. Neste cenário,
várias ações foram realizadas em prol da formação continuada do professor, como
um antídoto para resolver os problemas educacionais. Junto disso, com o intuito de
melhorar a formação dos professores, foi instituído que ela se realizaria em um curso
superior.
A estudante Katarina conta como foi seu ingresso no ensino superior e a sua
escolha pelo curso de Pedagogia. Nesse processo, matricular-se em uma
universidade privada se deu via financiamento governamental, o PROUNI, como foi
relatado por outros entrevistados:
Porque você optou pelo curso de Pedagogia?
Na verdade, foi minha terceira opção. A primeira seria matemática, mas, quando
terminei a escola não havia este curso na cidade (e não poderia me mudar ou
"bancar" os gastos com viagens para outra cidade, mesmo que fosse só por um
90
tempo até conseguir alojamento). A segunda seria administração, entretanto o
PROUNI, pelo menos na época, não oferecia bolsa 100% para o curso. Daí a ideia
de fazer pedagogia surgiu da minha mãe que bem observou que eu sempre adorei
trabalhar com crianças. O campus da universidade em minha cidade oferecia esse
curso e, com minha nota do Enem, foi fácil ganhar uma bolsa 100%. (Resposta da
licencianda bolsista do PIBID Katarina ao Questionário “Escolha da profissão”)
O ensino superior é uma etapa do ensino em expansão, o que possibilita
ampliar o acesso a esse nível de ensino. Sobre isso, Sampaio (2011) analisa o
crescimento da oferta de ensino superior privado no último século. Conforme afirma
a autora, mesmo com a existência secular do ensino superior privado, a partir da
constituição de 1988, da LDB de 1996 ele cresce significativamente. Além disso, em
1997 o Decreto 2306 possibilitou às universidades privadas optarem pela sua
finalidade, ou seja, realizar as atividades com fins lucrativos ou não. Tal decreto
gerou várias discussões: por um lado os defensores do instrumento legal como um
marco de abertura do mercado educacional, já para outro, não passava de uma
legalização e regulamentação do que estava ocorrendo nessa etapa do ensino,
conforme a autora aponta.
A partir dessa análise, apoiada nos dados estatísticos, Sampaio (2011)
apresenta um retrato do ensino superior privado. Nosso interesse volta-se para o
período posterior à última LDB, principalmente pela exigência da formação em nível
superior para o professor da Educação Básica, além do destaque a alguma das
mudanças vividas na educação nos últimos anos. Para estabelecer um comparativo
e, com intuito de demonstrar a expansão deste setor no país, a autora indica que no
período de 1980 a 1985, a matrícula no setor privado não chegou a ter nem 1% de
crescimento, mas mesmo assim representava 63% das matrículas e 77% dos
estabelecimentos de ensino. Nos anos de 2000 a 2004, houve um crescimento de
65,2% nas matrículas e, nos quatro anos seguintes, cresce mais 22%. Em 2000, as
instituições privadas ocupavam 85% das instituições de ensino superior e 67% das
matrículas nesse nível de ensino. Por fim, em 2011, o setor privado contava com
cerca de 90% do total de estabelecimentos de ensino superior no Brasil e 75% das
matrículas do ensino presencial. Ou seja, o crescimento da população universitária
91
das instituições privadas foi vertiginoso. Constatamos um aumento significativo da
rede particular do ensino superior.
O Resumo Técnico do Censo do Ensino Superior de 201129 aponta um
crescimento na oferta de cursos de 3%, comparado ao ano anterior. Entretanto, as
licenciaturas diminuíram 0,1% nesse período. Já na distribuição de cursos
presenciais e a distância, a licenciatura, incluindo o curso de Pedagogia, ocupa
43,3% dos cursos ofertados pela modalidade de ensino a distância. Sendo apenas
16,1% do presencial.
O documento ainda destaca um crescimento das matrículas no ensino
presencial de 11%, mas no mesmo período, a matrícula para a licenciatura caiu
0,2% e aumentou 0,8% no ensino a distância. Ao traçar o perfil do típico aluno da
educação a distância, o documento descreve “[...] é do sexo feminino, cursa
licenciatura e [...] está vinculado a uma instituição privada” (2011, p.82). Esses
dados demonstram um crescimento da oferta de cursos para a formação acadêmica
inicial dos professores pela modalidade de Ensino a Distância e um esvaziamento
dos cursos presenciais, nas instituições privadas. Observa-se, portanto, um
deslocamento do modo de se oferecer a formação do profissional docente.
O retrato da educação superior no Brasil presente no relatório tem
similaridades com a realidade da instituição de ensino superior que formou os
sujeitos entrevistados desta pesquisa. A universidade ofertava vagas para as
licenciaturas em Letras, Matemática, Biologia e Pedagogia. Nos últimos anos, a
procura diminuiu por esses cursos, levando ao seu não oferecimento em processos
seletivos para novas entradas. Os licenciandos, participantes desta pesquisa,
cursaram a graduação na última turma do curso de Pedagogia desta instituição pelo
vestibular convencional30.
A justificativa da universidade para a não abertura de novas turmas se
assenta na baixa procura e, dessa maneira, tornou-se inviável economicamente a
manutenção do curso. Uma das hipóteses levantadas para isso seria o crescimento
da oferta de cursos pela modalidade de Educação a Distância (EAD), a partir da
abertura de alguns polos presenciais de outras IES que ofereciam a mesma
graduação com um custo menor e a “aparente” facilidade de frequentar as aulas
29
Disponível em: http://download.inep.gov.br/educacao_superior/censo_superior/resumo_tecnico/resumo_tecnico_censo_educacao_superior_2011.pdf 30
Após essa turma, houve a abertura de uma turma do curso de Pedagogia pelo PARFOR.
92
apenas uma vez na semana. Digo aparente, pois a modalidade de ensino a distância
apresenta outras exigências, como as descritas por Gatti (2014). Dentre elas, por
exemplo, o estudo solitário, que depende da proficiência em leitura do aluno para a
compreensão do material e realização das atividades.
Outra hipótese reporta para a profissão de professor nos dias atuais. Atuar
como professor parece ser uma opção de atividade pouco atrativa para os jovens,
considerando como essa profissão tem sido vista socialmente. “Professores são
desvalorizados”, “mal remunerados”, “trabalham muito e ganham pouco”, dizeres
como esses estão presentes na mídia e nas conversas do cotidiano, destacando
pontos negativos da profissão. Nesse sentido, a opção pela licenciatura fica
comprometida por um imaginário produzido por esses discursos que circulam
socialmente. Luana, em seu relato sobre o anúncio da profissão escolhida, mesmo
ouvindo as opiniões que chegavam sobre a profissão docente, similares às
pontuadas anteriormente, escolheu realizar o curso.
Conte como foi quando contou para a família e para os amigos que faria um curso de
Pedagogia.
Depois de ter feito a inscrição para o PROUNI, eu verificava o site algumas vezes,
para ver como estava a seleção. Não fui selecionada no primeiro curso, se não me
engano, fisioterapia, e fiquei decepcionada. Logo, na segunda chamada, meu
nome foi marcado com uma bolinha verde. Fiquei eufórica. Abri várias vezes a
página novamente para ter certeza que era eu mesma. Falei pra minha mãe e
para todos em casa. Ficamos felizes. Minha mãe dizia ser coisa de Deus, porque a
minha infância inteira eu passei com uma lousa e giz na mão ensinando a mim
mesma e a quem eu pegava pra ser meu aluno, geralmente os trabalhadores do
sítio, com “pouco estudo”. Lembro que todos ficaram contentes com notícia,
entusiasmados em saber da bolsa integral. A ideia do “ser professora” ainda
animava. Claro que, aos poucos, novas ideias e opiniões foram chegando: “Nossa,
mas é difícil ser professor hoje em dia”, “coitada de você”, “vai sofrer com os
alunos”. Apesar de algumas visões negativas, a minha vontade de estudar
imperou. (Resposta da licencianda bolsista do PIBID Luana ao Questionário
“Escolha da profissão”)
93
O Resumo Técnico do Censo do Ensino Superior de 2011 destaca a migração
das licenciaturas para os cursos a distância e coloca em pauta as condições de
oferecimento desses cursos. Gatti (2014), ao problematizar os desafios da EAD,
aborda a existência de dificuldades, já conhecidas, nos cursos presenciais de
formação inicial de professores. Assim, segundo a autora, o cerne da questão não é
se a formação é realizada presencialmente ou pela modalidade de Educação a
Distância, mas a forma apressada como as licenciaturas estão sendo organizadas.
Muitas vezes as críticas à EAD ocorrem sem se atentar para as especificidades da
própria modalidade, como a formação efetiva dos tutores, a elaboração de materiais.
As estratégias de ensino, destinadas para estes cursos indicam fragilidades na
garantia da qualidade da formação dos novos profissionais. Moreno (2010) indica,
em sua dissertação, diversos desafios a serem enfrentados pelos cursos de
Pedagogia na modalidade de ensino a distancia. A autora apresenta suas
especificidades e aponta para a complexidade que envolve essa discussão.
Além dessas questões estruturais que interferem na oferta e na qualidade da
formação dos futuros docentes, há as inquietações sobre a organização interna dos
cursos de formação. O que é contemplado nos currículos? O que é priorizado nessa
formação, quando se opta pela oferta de uma disciplina e não de outra? Mais
especificamente, quando a abordagem teórica se localiza em determinadas
disciplinas, separadas das atividades de práticas pedagógicas, que acabam ficando
a cargo apenas do Estágio Supervisionado Obrigatório. Como e em quais condições
essas atividades são desenvolvidas? Enfim, o modo como os cursos de licenciatura
tem sido oferecido na rede privada prezam por uma formação consistente do futuro
docente?
Com intuito de trazer um contexto sobre a formação de professores, alguns
estudos que se dedicaram a essa temática serão retomados. Além das discussões
sobre a finalidade do curso de Pedagogia, será também problematizada a relação
entre os saberes acadêmicos e os saberes profissionais da docência. É importante
que esses dois aspectos estejam interligados nos programas de formação como
discutiremos a seguir.
3.3 - O processo de formação de professores: o conhecimento
acadêmico sobre a profissão e a vivência na/da escola
94
3.3.1 - O curso de Pedagogia e a formação de professores
Conforme mostrado antes, a formação do professor que atua nos anos
iniciais, após a publicação da LDB 9394-96, deveria ocorrer apenas em um curso
superior. Anteriormente, outros cursos se incumbiram dessa tarefa. Saviani (2009)
aponta que a preocupação com a formação do professor surge no período pós-
independência do país, por meio da Lei das Escolas de Primeiras Letras, que
estabeleceu a instrução do profissional pelo método de ensino mútuo, até 1890. As
Escolas Normais assumem essa função até 1932 e são substituídas pelos Institutos
de Educação, que perduram até 1939. O curso de Pedagogia e as Licenciaturas são
criados nesse ano, como também a consolidação das Escolas Normais. Em 1971,
com a LDB 5692-71, a Habilitação Específica para o Magistério ocupa o espaço da
Escola Normal até 1996 quando ocorreu o “advento dos Institutos Superiores de
Educação, Escolas Normais Superiores e o novo perfil do Curso de Pedagogia”
(SAVIANI, 2009, p.144).
Desde então, no Brasil, o curso de Pedagogia passou por algumas
alterações. A princípio esse curso não formava professores, e sim, especialistas e
gestores para atuar na Educação. No entanto, a exigência legal feita a partir da
última LDB trouxe a formação do professor para o curso de Pedagogia, já que esse
não poderia ser formado mais em um curso de nível médio. A formação para
docência é tomada como base para a formação do pedagogo, segundo as Diretrizes
Curriculares para o Curso de Pedagogia, publicadas em 2006 (GIGLIO et al, 2011).
Com isso, a formação do professor, integrando o curso de Pedagogia, é algo
relativamente recente para o currículo obrigatório do Pedagogo.
Que profissional formar no curso de Pedagogia? O docente e/ou o “Técnico
em educação”? Para os estudiosos da área, esse objetivo duplo sempre
acompanhou o curso, desde seu início em 1939. Em 1969, com a reforma
universitária, o curso passou a oferecer habilitações que passaram a ser criticadas a
partir de 1980. As críticas giravam em torno, primeiramente, da fragmentação
ocorrida na formação do pedagogo pelas diferentes habilitações. A outra reportava a
não obrigatoriedade da experiência na docência para obter o título para atuar como
supervisor de ensino, por exemplo, (GIGLIO et al, 2011).
A discussão dos pesquisadores sugere, de um lado, a formação para a
docência como base desse curso. Por outro, que a esse curso caberia formar o
95
pedagogo, profissional das ciências da educação e não o professor (GIGLIO et al,
2011). Essas tensões têm acompanhado a constituição dos currículos do curso de
Pedagogia. No entanto, as Diretrizes Curriculares Nacionais para esse curso
assumem a formação do professor como base para a formação do gestor (BRASIL,
2006). Há várias discussões sobre a Pedagogia como ciência que reporta a
discussão sobre a relação entre a teoria e prática no processo de formação. Por
isso, Giglio et al (2011) recomendam que os cursos construam projetos pedagógicos
que tracem um diálogo entre o conhecimento historicamente constituído pela área e
a prática educativa elaborada nas escolas.
Nesse sentido, Nóvoa (2009) também defende o diálogo entre conhecimento
teórico e o prático na formação docente, mas com ênfase na prática. Segundo ele, é
necessário devolver a formação de professor aos professores. Ou seja, que a
formação ocorra dentro da profissão docente, sem negar a importância dos saberes
teóricos, nem adotar um modelo “praticista”. Nesse texto, o autor se refere à
formação dos professores secundários na Europa. Ainda que não seja referente ao
público alvo dessa pesquisa, acreditamos ser pertinentes algumas das
considerações feitas pelo autor.
Para formar um bom professor é preciso saber como defini-lo a princípio.
Sobre isso, considera que o docente tenha cinco disposições31: conhecimento;
cultura profissional, tato pedagógico; trabalho em equipe e o compromisso social.
A primeira disposição reporta ao conhecimento sobre o que ensinar e para
quem ensinar, tido como fundamental pelo autor. Já a segunda disposição, refere-se
à apropriação da profissão, na qual “ser professor é compreender os sentidos da
instituição escolar, integrar-se numa profissão, aprender com os colegas mais
experientes. É na escola e no diálogo com outros professores que se aprende a
profissão” (NÓVOA, 2009, p.30) A terceira seria o tato pedagógico, expresso pela
relação e pela comunicação com o aluno para conduzi-lo no processo de ensino e
aprendizagem. A penúltima disposição refere-se ao trabalho colaborativo na escola.
Por fim, a última disposição refere-se à visão além da escola pela abordagem de
princípios, valores, entre outros.
31
Nóvoa opta pelo conceito de disposição, por ser mais líquido do que o de competência e, também,
por possibilitar olhar para “a ligação entre as dimensões pessoais e profissionais na produção
identitária dos professores” (2009, p. 29). Assume a disposição como algo construído.
96
A partir dessas disposições, que definem o bom professor, Nóvoa (2009)
sugere cinco propostas que poderiam integrar programas de formação de
professores. Dentre elas estão: assumir a prática como uma tônica no processo de
formação; apropriar-se da cultura profissional; atentar para a dimensão pessoal do
docente; valorizar o trabalho em equipe e acentuar o princípio de responsabilidade
social nos processos formativos.
Vamos nos ater as duas primeiras, considerando o interesse desta pesquisa.
A primeira proposta seria atentar para a “práxica”, focada na aprendizagem dos
alunos, a partir de situações reais de sala de aula. Nóvoa (2009) apoia-se na
formação dos médicos para exemplificar o que sugere. A formação em Medicina
conta com a observação e a análise dos casos, que serão discutidos entre
professores, estagiários e internos com intuito de buscar o aprofundamento teórico e
as possibilidades de resolver a questão. Além disso, há a preocupação com a rotina
da profissão como interesse pela melhoria do funcionamento dos hospitais.
O modelo de formação dos médicos, descrito acima, pode contribuir com o
processo de formação de professores, pois podemos também estudar os casos
reais, observados na escola, com a finalidade de resolvê-los. Ao procurar por
alternativas para solucionar a questão, estaríamos mobilizando o conhecimento
teórico existente e o que necessitaria ser aprofundado em virtude do problema.
Para o autor, esse modo de formação também possibilitaria compreender o
conhecimento em todas as suas dimensões, além da relação teoria e prática.
Segundo Nóvoa (2009), não se chegou a uma reflexão que possibilitasse
transformar a prática em conhecimento. Além disso, critica os modelos de formação
organizados a partir de conhecimentos externos à docência. Assim para eles “o que
caracteriza a profissão docente é um lugar outro, um terceiro lugar, no qual as
práticas são investidas do ponto de vista teórico e metodológico, dando origem à
construção de um conhecimento profissional docente” (NÓVOA, 2009, p.33).
A segunda proposta feita por Nóvoa (2009) sugere integrar os
programas de formação à profissão docente para que o futuro docente aproprie-se
da cultura profissional, em contato com professores mais experientes. Nessa
proposta, o autor destaca o trabalho em parceria com o professor que tem vivências
em sala de aula como importante componente formativo. Para ele, os professores
ficaram distantes da formação dos futuros profissionais que, por isso, recebem a
formação de profissionais de outras áreas ou professores de outros níveis de ensino,
97
por exemplo. Devido a essa formação fora da profissão, os novos professores não
se apropriam de conhecimentos necessários à docência.
Essas propostas trazem componentes significativos para se focalizar a
formação de professores, em especial, no contexto desta pesquisa. No entanto, fica
a questão de como operacionalizá-las em nossos contextos formativos. Ou seja,
como essas propostas poderiam compor um currículo de um curso de formação de
professores? Esse questionamento é mais pertinente ao modelo de formação
inspirado na medicina, pois demandaria uma série de medidas para articular uma
formação nesses moldes. Parece que a segunda proposta aproxima-se de iniciativas
como o PIBID e a Residência Pedagógica.
3.3.2 - A formação de professores em questão
“Na teoria tudo são flores”
(Fala de uma bolsista do PIBID citada pela Profa. Flávia em nosso diálogo)
Como organizar a formação do futuro professor? Do que ele precisa se
apropriar para atuar na docência? Inicio este tópico com estas questões, pois o
verbo “passar” foi utilizado com certa frequência pelos entrevistados, para se
referirem às informações recebidas no processo formativo, em diferentes
circunstâncias; tanto ao se referirem às aulas da universidade, como à orientação
recebida da professora supervisora da escola. As terminologias adotadas no
discurso pedagógico como passar, transmitir, repassar, aplicar têm sido utilizadas
para definir o que se faz ou o que é esperado em alguns programas de formação.
Tais questões aparecem no trecho da entrevista realizada com o grupo 132. Os
estudantes, nesse momento, tratavam dos saberes que possuíam para atuar nas
diferentes turmas do PIBID:
Willian: Não só da alfabetização, mas mesmo depois que eles são alfabetizados, às
vezes, acho que dá até mais trabalho. Principalmente os alunos maiores, porque
eles já sabem um pouco, já leem um pouco. Se o professor não estiver afiado, ele
dança, passa um cortado com eles [...] Explicar para os alunos alguma coisa do
conteúdo da língua portuguesa, o bendito hiato, ditongo, por exemplo. Como você
32
As entrevistas foram realizadas em grupo, no capítulo 2 há um quadro que apresenta a composição
dos grupos.
98
vai explicar isso? Porque para nós parece muito simples, o que dificulta é como
passar isso para o aluno?
Mariana: Do que a gente sabe, porque na hora que o Willian falou isso, eu pensei
“nossa, o Willian sabe e eu não sei isso! [risos] Depois vou usar isso futuramente e
eu não sei... No PIBID, eu não tive experiência com os maiores, só com os
menores. Agora, eu estou tendo contato com a sala do 4º ano, [...] Realmente, eu
vejo a professora da sala dando as atividades e é exatamente isso. Quando eu
olho para a lousa, penso ‘minha nossa senhora eu não sei isso.’ O aluno está no 4º
ano sabe e eu que estou na faculdade não sei isso... [...] Penso, se um dia eu pegar
uma sala com os anos mais adiantados, o que eu vou fazer para ensinar isso? Vou
ter que aprender de novo? Pois a faculdade não deu esse suporte para mim. [...]
Agora eu pensei em outra coisa, porque vamos supor, que eu estou com uma sala
de quarto ano. No currículo diz que tenho que ensinar tal coisa. Quem vai me
ajudar? Quem vai me ensinar primeiro para eu poder ensinar tal coisa? É o
coordenador? Será que ele vai me dar esse apoio? (Entrevista com estudantes
bolsistas do PIBID Willian e Mariana, grupo 1) [grifo nosso].
O verbo passar utilizado por Willian para designar sua ação junto aos alunos
foi destacado por Almeida (2014) na análise de suas entrevistas com professores em
processo de formação continuada e do registro das observações de encontros de
formação do Programa Ler e Escrever. Recorrendo ao léxico, o verbo pode ter
vários sinônimos, dentre eles o de transmitir. A princípio, Almeida (2004) sugere que
o verbo seja usado no sentido de transmissão, no qual o curso é passado para o
formador, repassado ao professor coordenador que, por sua vez, repassa para o
professor como se fosse um pacote, passando de mão em mão. Mas, a
pesquisadora ressalta que o pacote não é repassado sem as marcas de apropriação
de quem os recebeu, antes de repassá-los. Assim, o passar aparece no modo de se
referir ao processo de formação, pois a autora atenta para os dizeres de formadores,
que reclamam dos professores coordenadores de que o curso não chega até o
professor e de professores relatando que a proposta, recebida na formação, não era
adequada a sua realidade. Com isso, o curso que deveria ser passado de modo
linear até o seu destinatário final, não alcança esse objetivo como é percebido
nessas falas.
99
Ainda sobre o uso de termos específicos presentes nas falas dos professores,
Tempesta (2009) apresenta uma problematização sobre a realidade vivida pelos
professores nos últimos anos na formação continuada. Para a autora, à medida que
novos conhecimentos são produzidos e “repassados” aos professores via
prescrições das redes, por meio de cursos ou textos que orientam o trabalho
docente, os profissionais da educação deparam-se com novos direcionamentos para
o seu fazer pedagógico. E a prática docente desenvolvida até então? É meramente
substituída? O trabalho pode reduzir-se, muitas vezes, a uma transposição de
saberes?
A pesquisadora, em sua investigação, retoma as ações para a formação
continuada do professor alfabetizador desde seu surgimento, no estado de São
Paulo. Destaca-se o período do início da década de 1980, o alarmente número de
analfabetos no país e se instaura uma busca por um novo modelo escolar.
Propostas pedagógicas consideradas progressistas surgem em todo o Brasil e no
referido estado acontece uma reorganização do ensino e a distribuição de novas
orientações aos professores para que fossem “seguidas como novas diretrizes
curriculares” (TEMPESTA, 2009, p.66).
Tempesta (2009) apresenta como esse processo é construído
discursivamente, bem como nas ações governamentais. Analisa o caso paulista, no
qual se evidencia a adaptação de um novo conhecimento teórico para reproduzi-lo
aos professores, por meio de diferentes fontes bibliográficas e suportes. Um olhar
minucioso sobre essa produção identifica, nos dizeres pedagógicos, as
simplificações das teorias para que fosse possível chegar rapidamente ao público
alvo. Além disso, as inúmeras publicações e eventos para disseminar as “ditas”
novas propostas geram, devido à predominância por uma opção teórica, o uso de
termos e expressões próprios de cada área na fala dos professores. Assim
apropriam-se desse discurso em seus modos de se reportar à comunidade escolar e
a seus pares.
Nesse sentido, a autora assegura que
apesar de os cursos serem propostos para apresentarem uma nova abordagem de se conceber o processo de ensino e aprendizagem, entendido como construção, os cursos de formação continuada permaneciam utilizando métodos que visavam à transmissão direta de informação e a uma mudança rápida de postura em sala de aula e
100
de troca/substituição de procedimentos pedagógicos (TEMPESTA, 2009, p.70).
A pesquisadora problematiza o formato de formação de professores adotado,
ao assumir a questão, que perpassa seu estudo: esse modo é suficiente para atingir
os objetivos esperados? Sobre isso, diferentemente das propostas de formação das
décadas de 1980 e 1990, as últimas ações estão atreladas aos resultados das
avaliações nacionais e estaduais do rendimento dos alunos. Contudo, nessas
avaliações, o desempenho dos alunos não tem ocorrido como o esperado, tanto na
escrita e na leitura como nos conhecimentos matemáticos. Com isso, o professor é
visto como um dos agentes responsáveis por esses resultados e ele “[...] passou a
ocupar cada vez mais lugar nas pesquisas, nos cursos de formação, nos programas
municipais, estaduais e federais que anunciam investimentos na formação docente
como uma das estratégias para a melhora da qualidade da educação brasileira” (p.
64-65).
Dessa forma, o estudo aponta que não havia ainda indícios concretos de que
esses cursos alteram de forma efetiva a prática docente, mas pode se constatar que
eles mudam o modo de os professores se referirem ao conhecimento pedagógico.
No entanto, o estado de SP tem investido nessas formações, elaboradas a partir de
um modelo considerado progressista há quatro décadas e as avaliações em larga
escala continuam apontando fragilidades no ensino da leitura e da escrita. Pergunta-
se: por que os conhecimentos trabalhados nessas formações não resultam em
alterações na sala aula, que possam ser expressos e visibilizados nas avaliações
feitas?
Ao contar com a contribuição de pesquisadores que explicam o
desenvolvimento humano a partir da perspectiva histórico-cultural, a autora indica
que não há uma única forma de apropriar-se de um conhecimento, e alerta para a
questão de que, num processo de aprendizagem, por meio da linguagem, sempre há
uma dinâmica interlocutiva que não pode ser ignorada. Tempesta (2009) destaca
esse aspecto para defender a relevância de se levar em conta o processo singular
vivenciado por cada professor ao interagir com um determinado conhecimento
teórico e integrá-lo a sua prática. Dessa forma, tais autores “ressaltam [...] a
importância de se considerar o professor como sujeito histórico e singular, por que
há uma trajetória pessoal específica, também social na medida em que pertence a
101
grupos que desempenham diferentes papéis na sociedade” (TEMPESTA, 2009, p.
84).
Os alunos da Pedagogia entrevistados nesta pesquisa reportam-se, em geral,
à universidade como o lugar que corresponde aos saberes acadêmicos e à escola,
aos saberes profissionais. Parecem indicar a lógica que permeia a concepção dos
processos formativos, tal como apontados por Tempesta (2009). Ao assumirem isso,
será que os estudantes não estariam indicando a universidade como o local de
apropriar-se dos discursos? O fazer docente não seria conhecido na escola, muitas
vezes, quando assumem a função do professor? Os trechos de entrevistas
apresentados a seguir, tocam nessa temática:
Entrevistadora: Eu gostaria que vocês me falassem sobre a formação de vocês.
Diferente dos colegas, vocês já estão atuando em diferentes espaços da educação,
vocês já atuam na área. Como a formação as preparou e qual foi o papel do PIBID
neste percurso de formação de vocês?
Fabíola: Quanto ao ensino fundamental, eu senti que a preparação que tivemos
na universidade foi bem ampla e quando entrou a parceria com o PIBID nós
conseguimos entrelaçar a teoria que víamos [na universidade] com a prática. Nós
conseguimos fundamentar nossa prática. Isso nós fizemos bastante no PIBID,
pois tínhamos que escrever e aplicar os projetos. Depois de aplicá-lo tínhamos que
trazer para a teoria o que foi feito na escola. Na educação infantil, onde estou
atuando agora, eu sinto certa diferença relacionada ao fundamental, [...] Mas no
infantil eu ainda sinto certa dificuldade [...]
Entrevistadora: Mas que diferença que você sente com o infantil?
Fabíola: No PIBID nós comparávamos a teoria com a prática. No Infantil, eu
senti uma distância da teoria com a prática, daquilo que nós tivemos. Nós
comentávamos em sala de aula, que eu penso assim, as meninas da turma
também. Acho que não posso falar isso, mas nós vimos o infantil aqui [na
universidade] muito pintado de ouro, já o fundamental não. Nós conseguimos ver
a realidade. Eu penso que, quando fomos para a prática no Pibid, lógico que
encontramos dificuldades como todo professor tem quando vai para a sala de
aula, mas eu acho que tivemos mais subsídio. (Entrevista com a estudante
Fabíola, bolsista do PIBID, grupo 4).
102
Aqui eles tiveram a prática. Não adianta nada um professor, como nós vemos,
chegar à rede cheio de teoria e não saber o que fazer na sala de aula. Há poucos
dias tínhamos uma professora aqui, que passou no concurso em [outro município]
e aqui também. Bom, vemos que conhecimento ela tem, pois passou nos dois
concursos. No entanto, ela falou comigo que achou a nossa rede tão diferente do
outro município, pois eles orientaram o que ela deveria fazer em sala, já aqui ela
foi para a sala e pronto. Os bolsistas do Pibid não vão passar por isso. Eles vão
saber o que fazer, por que eles já tiveram a prática. (Relato da Professora
Supervisora do PIBID Flávia).
A discussão sobre a relação teoria e prática abordada é discutida por muitos
outros estudos. No contexto da formação continuada Andrade (2007) chama
atenção para o posicionamento do formador. A autora, ao discutir a formação do
professor, em especial a que se dá de forma continuada, pontua que, primeiramente,
os pesquisadores, produtores do conhecimento científico são chamados a ocupar o
papel de formador. Segundo analisa Andrade (2007), isso traz a necessidade de um
posicionamento enunciativo diferente, demandando o abandono de um discurso
prescritivo. Nesse novo modo de dizer, é importante incluir o interlocutor, no caso os
professores em formação. Considerando esses pontos, a formação, a partir de
conhecimentos científicos, não pode permanecer no contexto original, mas dispor de
uma comunicação formadora que integre a voz do professor e alcance uma
compreensão tal que favoreça o deslocamento do professor, que provoque
movimentos em relação a esses conhecimentos. Ao fazer isso, é possível
desenvolver uma dinâmica na relação entre teoria e prática, conforme defende
Andrade (2007).
A autora descreve tal processo, indicando a mutação vivenciada pelo discurso
do conhecimento acadêmico ao incorporar os saberes escolares
Transformam-se os conhecimentos produzidos pela pesquisa, tão legítimos socialmente, ao entrarem nesse processo de transposição didática. Quando migram para o espaço de qualquer instância da formação continuada para ter entrada numa comunicação formadora, passam necessariamente por um processo de atravessamento, em que são permeados por outros saberes, trazidos da escola, pelos professores. Atravessados, não serão mais os mesmos: serão agora
103
conhecimentos furados. Torna-se importante localizar e entender esses furos. Eles não desvalorizam o conhecimento de pesquisa, mas os ressignificam, ao colocarem-nos em diálogo com outros campos de saber, diferentes do científico (ANDRADE, 2007, p.125-126)
A autora apresenta uma importante reflexão ao destacar como os professores
se relacionam com os conhecimentos científicos, constituídos e divulgados pela
universidade. Segundo ela, esses saberes “passam pelo crivo da prática docente”
(ANDRADE, 2007, p.132). Ou seja, os professores buscam organizar os novos
conhecimentos a partir dos saberes e informações que possuem para realização de
seu trabalho. Diferente disso, a formação inicial, que é de nosso interesse, segundo
a autora, não teria a voz do professor atuante como elemento complementar no
diálogo dentro da universidade. Isso não poderia ser constituído na vivência de uma
Residência Pedagógica? Esses “furos” no conhecimento não seriam importantes
para o professor em formação inicial?
A análise de Andrade (2007) baseia-se na concepção dialógica de linguagem
e sua colaboração para a constituição de uma concepção de formação, ancorada no
potencial que a linguagem tem para a formação humana. A autora assume a
linguagem como meio de renovação dos conhecimentos e mudanças na prática do
professor.
O conhecimento teórico e sua realização prática na sala de aula pelas
tentativas de transformação deliberativa33, poderia sintetizar a formação e a ação do
professor da educação básica? Com o intuito de esmiuçar essa intensa, e algumas
vezes, tensa relação entre a teoria e a prática, retomamos as investigações de
Chartier (2007) para saber mais sobre os modos de ver essa relação e suas
implicações na formação do professor. Nesse sentido, para Chartier (2007) podem
ser reconhecidos dois modelos que permeiam essas relações. O primeiro,
tradicionalmente conhecido, é composto, de um lado, pelo saber teórico produzido
pelo pesquisador sobre a escola. De outro, os professores que se constituem como
os destinatários dessa produção e buscam os itens possíveis de aplicação em seu
contexto, atentos ao “como fazer” e não ao “porquê”.
Diferente desse modelo, a autora aponta pesquisas que poderiam conhecer a
ação do professor e teorizá-la. Assim, “se as práticas não sabem utilizar as teorias
33
Nóvoa (2009, p. 35) discorda do conceito de transposição didática, por assumir que o professor não apenas transpõe o conhecimento para a sala de aula, pois essa tarefa "supõe uma transformação dos saberes, e obriga a uma deliberação, isto é, a uma resposta a dilemas pessoais, sociais e culturais”.
104
forjadas fora delas, elas poderiam, ao contrário, produzir sua própria teorização”
(CHARTIER, 2007, p.187). O que instaura os preceitos para o segundo modelo.
Orientada por essas questões, Chartier (2007) busca investigar a ação da
professora dos anos iniciais, apoiando-se nos saberes da ação para observar como
acontece a teorização da prática. Nesse processo, nota em sua observação, que há
muitos implícitos nessa atuação, que necessitam ser explicitados para que a
experiência dessa docente contribua para a formação de outros profissionais. Isso é
exemplificado com os estagiários que presenciam as atividades, mas não
conseguem compreender todos os procedimentos, assim como a pesquisadora.
Desse modo, não basta presenciar as atividades. Apoiada na perspectiva de
participação do pesquisador e seu papel na relação com os professores, Chartier
(2007), com o desenvolvimento de sua pesquisa, possibilitou à professora
pesquisada perceber reflexivamente uma prática que ainda não tinha alcançado
expressão e exteriorização por ela. As atividades que propunha para seus alunos,
na sequência que determinava, o modo como conduzia as intervenções e outras
ações que foram desenvolvidas nos anos de experiência, de estudos e de leituras
feitas por ela, não estavam organizadas em um discurso para comunicar ao outro
todo esse processo. A autora refere-se a esse processo de reflexão e teorização da
prática da seguinte maneira:
a dificuldade essencial da verbalização não era, pois, a de encontrar as palavras para dizer, mas sim a de objetivar uma massa de informações para um terceiro, não tendo os mesmos critérios de seleção que ela, ao passo que quando um profissional fala a outro profissional ele sabe de quais informações (práticas) seu interlocutor necessita (CHARTIER, 2007, p.199).
Essa é uma importante questão a ser considerada nas pesquisas que buscam
conhecer o fazer docente. Assim, é importante atentar e aguçar os sentidos para
captar as relações e os dispositivos utilizados na ação, como um processo de
reconstrução da prática pelos indícios e pelos discursos. Na pesquisa em questão, a
professora pesquisada relata os aprendizados nesse percurso que permitiram olhar
a própria prática e avaliar as ações daquele ano, perceber que “estava mais claro” o
que fazia. Além disso, pôde saber mais sobre a pesquisa e ter um material para sua
atuação na formação de professores (CHARTIER, 2007).
105
Nesse texto de Chartier (2007), encontramos importante referência sobre o
que é pesquisar a prática docente e como isso pode colaborar para se pensar a
formação de professores. Por isso, a autora, cuidadosamente, apresenta a
discussão no campo, apresentando os modelos de relação teoria e prática, pois
essa parece ser uma questão recorrente no processo de apreensão da formação do
professor e na relação dele com a universidade e, consequentemente, os
pesquisadores.
A professora pesquisada assegurava à pesquisadora que sua prática
pedagógica não continha uma teoria. O estudo de Chartier (2007) encontrou
evidências de que os materiais lidos e consultados pela docente, anos atrás,
ecoavam na estratégia utilizada para ensinar uma determinada turma. Isso traz um
alerta para pensar a relação teoria e prática de uma maneira mais fluída e menos
polarizada. Vale destacar, que essa verificação foi possível, pois a pesquisadora,
além da observação das aulas, recuperou as memórias da formação dessa
professora sobre o seu percurso de formação, retomando as fontes de informação:
textos e profissionais. Embora a metodologia da HO não tenha sido mencionada,
percebe-se na leitura do artigo, a importância de se tomar os depoimentos
rememorativos da professora, com a intenção de problematizar com ela seu
percurso de constituição profissional.
Chartier (2007) procura elucidar como se dá a formação do professor e a
relação construída entre teoria e prática nesse processo. As constatações já
apontadas sinalizam caminhos para a formação que proporcionariam ao professor
formador um momento de análise, de reconhecimento e de teorização do seu fazer,
como também a necessidade de comunicar não apenas aos pares, mas aos
profissionais em formação.
Ainda discutindo a relação teoria e prática, outra problemática é levantada por
Charlot (2012). Segundo ele, há muita produção científica na área da educação,
divulgada nas publicações e nos cursos. Mas esses conhecimentos chegam à sala
de aula? Para o autor, a princípio, é preciso saber o que faz um professor para
poder discutir sua formação e, também, saber como se dá as relações entre
formação e pesquisa. A partir disso, Charlot (2012) pretende averiguar porque a
pesquisa não chega à sala de aula e também discutir a relação teoria e prática.
Sobre a primeira, Charlot (2012) aponta diferenças estruturais entre a
pesquisa e o ensino. Desse modo, a pesquisa, pelo recorte feito, não dá conta da
106
complexidade e a contextualização que envolve o ensino. Além do mais, a pesquisa
caracteriza-se por ser analítica, diferente do ensino que cumpre objetivos e metas.
Como também, uma especificidade do trabalho do professor é decidir rapidamente
sobre diversas situações e a pesquisa “não pode dar inteligibilidade a todas as
mínimas ações da vida do professor na sala de aula” (CHARLOT, 2012. p.105).
Por essa razão, a investigação deve ser cuidadosa e evitar prescrições ao
professor, apenas deve indicar instrumento e possibilidades para que o professor
realize seu trabalho. No entanto, a história dessa relação mostra a construção de
uma hierarquia do saber e o pesquisador aparece para o professor como uma figura
acima dele e com a finalidade de avaliá-lo. Essa construção se dá, pois em algumas
ocasiões o pesquisador está atrelado a um programa governamental que tem poder
sobre o professor, ou pelo fato de coletar dados, sem devolver um relatório.
O autor faz uma ressalva, apontando que, pelo discurso, o resultado das
pesquisas tem chegado até os professores. Ou seja, eles têm se apropriado
discursivamente de resultados de pesquisas, reafirmando aqui os achados de
Tempesta (2009). Isso pode ser visto pela apropriação do ser construtivista no
Brasil, por exemplo. Mas isso não significa ter acontecido mudanças na prática, já
que “[...] o discurso é pedagogicamente correto, mas, na cabeça, persistem ideias
enraizadas na vivência e cotidiano do professor na sala de aula” (CHARLOT, 2012.
p.108). Hébrard (2000), por seu turno, destaca os tempos diferentes que constituem
a escola. O autor aponta para o descompasso existente entre os tempos do discurso
e das práticas reafirmando que as mudanças discursivas não correspondem às
alterações nas práticas pedagógicas. Nesse sentido, como promover a formação de
professores que efetivassem a apropriação de fatos dessas ideias? Destaca-se um
olhar para a pesquisa, buscando qual seria a contribuição que o professor ou
estudante pode tirar daquele estudo, como um possível início.
As questões tratadas anteriormente sobre a relação teoria e prática
(CHARTIER, 2007) podem ser completadas na análise de Charlot (2012). O autor
aponta a existência de dois tipos de teoria: a enraizada na prática e a desenvolvida
nos meios acadêmicos. O autor vê problemas na falta de diálogo entre elas. Por
isso, considera que “o pesquisador, no decorrer de sua prática intelectual, no
ambiente de discussão com outros pesquisadores, está desenvolvendo uma teoria.
O professor através das categorias que usa para dizer sua prática, também está
desenvolvendo uma teoria implícita” (CHARLOT, 2012, p.110). Ambos podem
107
teorizar. Uma interação entre eles colaboraria significativamente, possibilitando que
a teoria do pesquisador considerasse o professor como um interlocutor e, fizesse
sentido, comunicasse algo para ele.
Dessa forma, o diálogo entre os tipos de teoria aproxima-se das metodologias
de pesquisa comentadas por Chartier (2007), como instrumentos para teorizar a
prática docente, como a pesquisa-ação. Desse modo, concordamos com a
concepção de Charlot (2012) e de Chartier (2007) sobre a relação teoria e prática no
processo de formação do professor, apresentada como possibilidade de romper com
a visão dicotômica dessa relação, muitas vezes presentes nos processos formativos.
Somamos a essa discussão, as considerações de Tardif (2002a) sobre os
saberes docentes. As pesquisas sobre o conhecimento docente, nas últimas
décadas, têm se orientado pelo postulado de que “os professores de profissão
possuem saberes específicos que são mobilizados, utilizados e produzidos por eles
no âmbito de suas tarefas cotidianas” (TARDIF, 2002a, p.113). Com isso, propõem-
se a “[...] considerar os professores como sujeitos que possuem, utilizam e
produzem saberes específicos ao seu ofício, ao seu trabalho” (Ibidem, 2002a, p.
113).
Tal perspectiva destaca o papel desempenhado pelos professores nas
escolas, considerando-os centrais na mediação da cultura e dos saberes escolares.
Por isso, o interesse por estudar o conhecimento do professor é uma possibilidade
de saber mais sobre o ensino, conforme ressalta Tardif (2002a).
Como essa questão foi negligenciada pelas pesquisas durante muito tempo, o
autor aponta o esforço feito pelos defensores desse postulado para trazer a
subjetividade do professor para o centro das pesquisas. Isso requer outras formas
de olhar para o docente na escola, ou seja, não considerá-lo como um aplicador de
teorias, produzidas por outros, ou um agente social que tem suas ações
determinadas por fatores sociológicos. Já que tais visões sobre os professores
desconsideram que eles detêm saberes sobre sua profissão.
Tardif (2002a, p. 115) declara que para “[...] compreender a natureza do
ensino, é absolutamente necessário levar em conta [...] a subjetividade dos próprios
professores”. Acrescenta que os professores assumem sua prática, produzindo
sentido para o que fazem. Acredita que eles possuem o saber-fazer e o
conhecimento advindo de sua atuação docente, o que permite estruturar e organizar
essa ação.
108
Por fim, nessa perspectiva, espera-se que as pesquisas sobre o ensino abram
um diálogo com o professor e que ele participe delas como sujeito detentor de
saberes específicos de sua profissão e não, como um mero objeto de estudo.
Aproxima-se assim das considerações que Charlot (2012) faz sobre a formação de
professores e a relação com a pesquisa acadêmica.
Pelas questões já apontadas, não é possível sustentar a visão tradicional da
relação entre teoria e prática, tida pelo autor como reducionista e contrária à
realidade. Tardif (2002a) explica que, para essa visão, os saberes estão na teoria e
são produzidos fora da prática que, por sua vez, pode ser vista como mera aplicação
do conhecimento teórico ou como a ausência dele. Contudo, grande parte dos
cursos de formação de professores tem se orientado a partir dessa concepção,
apresentando as teorias produzidas pelos cientistas da educação, distantes da ação
docente, para que apliquem esses saberes teóricos, preparados para assim fazê-lo.
O trabalho do professor é perpassado por saberes diversos, produzidos por
diferentes atores e instituições, “[...] mas é como se esses saberes não pudessem
nem devessem ser produzidos pelos próprios professores” (TARDIF, 2002a, p.120).
Trata-se de uma questão de poder e não de saber.
Por fim, para Tardif
[...]a pesquisa universitária na área da educação e a prática do ofício de professor não são regidas pela relação entre teoria e prática, pois ambas são portadoras e produtoras de práticas e de saberes, de teorias e de ações, e ambas comprometem os atores, seus conhecimentos e suas subjetividades. Desse ponto de vista, a relação entre a pesquisa universitária e o trabalho docente nunca é uma relação entre uma teoria e uma prática, mas é sempre, ao contrário, uma relação entre atores, entre sujeitos cujas práticas são portadoras de saberes. (2002a, p.121) [grifo nosso].
Que saberes são esses? Tardif (2002b) esmiúça tais saberes a partir de
questões como: O que sabem os professores? Qual é a sua origem? Para ele,
coexiste na atuação profissional dos professores uma série de saberes. Resta a
pesquisa “especificar a natureza das relações que professores do ensino
fundamental e médio estabelecem com os saberes, assim como a natureza dos
saberes” (TARDIF, 2002b, p.31-32)
Ater-se aos saberes docentes é investigar a origem destes, ou seja, se eles
são produzidos fora da escola, pelas pesquisas nas universidades e se os
109
professores se apropriam deles para transmiti-los aos alunos ou participam de sua
produção? Conforme o autor, os professores não têm apenas uma relação de
transmissão de conhecimentos, visto que os saberes docentes podem ser definidos
como “[...] um saber plural, formado pelo amálgama, mais ou menos coerente, de
saberes oriundos da formação profissional e de saberes disciplinares, curriculares e
experienciais” (TARDIF, 2002b, p.36). Assim, esses saberes constituem a prática
docente, como será descrito adiante:
Os saberes da formação profissional, segundo o autor, são aqueles obtidos
nas instituições de formação de professores, advindos de estudos das ciências
humanas. Eles vão sendo incorporados nos momentos de formação inicial ou
continuada, em que os professores entram em contato com os estudos da área da
educação. Em sua atuação como docente, o professor mobiliza uma série de
saberes, denominado pedagógico. Para Tardif (2002b), os saberes pedagógicos
combinam um saber-fazer e um embasamento ideológico da profissão derivado de
estudos sobre a educação,
Os saberes disciplinares são os saberes sociais, advindos da tradição cultural
sobre as diversas áreas do conhecimento, definidos e selecionados pelas
universidades. Esses saberes também são integrados à prática docente a partir dos
momentos de formação.
Os saberes curriculares são as informações concretizadas nos programas
escolares que os professores utilizarão para nortear sua atuação. Eles “[...]
correspondem aos discursos, objetivos, conteúdos e métodos a partir dos quais a
instituição escolar categoriza e apresenta os saberes sociais por ela definidos como
modelos da cultura erudita e de formação para a cultura erudita” (TARDIF, 2002b, p.
38).
Os saberes experienciais são saberes específicos do exercício da docência,
produzidos pelos próprios professores. Eles são incorporados à experiência
profissional individual e coletiva por meio de habitus ou habilidades.
Como os professores se relacionam com esses saberes? Essa é outra
indagação de Tardif (2002b). Para ele, essa relação é ambígua, pois os saberes
docentes são heterogêneos em sua composição e o professor ocupa uma posição
estratégica em relação a eles, no entanto, é socialmente desvalorizado.
Além disso, como já pontuado na relação entre teoria e prática, agora focado
no âmbito dos saberes docentes, o autor pontua que “os saberes científicos e
110
pedagógicos integrados à formação dos professores precedem e dominam a prática
da profissão, mas não provem dela” (TARDIF, 2002b, p.41). Ou seja, esses saberes
não são produzidos e nem controlados pela prática docente.
Com isso, a reação dos professores a essa situação se volta a uma atenção
maior aos saberes que dominam os experienciais e um distanciamento dos outros
saberes advindos de outras esferas, além da sala de aula. Nesse sentido, a
pesquisa de Tardif assegura que “[...] os saberes experienciais não são saberes
como os demais; são, ao contrário, formados de todos os demais mais retraduzidos,
‘polidos’ e submetidos às certezas construídas na prática e na experiência” (TARDIF,
2002b, p.54).
Como o que foi discutido até aqui, não é possível sustentar a formação do
professor ancorada somente no conhecimento teórico. Na mesma medida que
apenas conhecimento prático não o fará. Eliminar a simplicidade da questão e
acrescentar a conhecida finalidade da formação desse profissional: a melhoria na
qualidade de ensino pode trazer à tona a ideia de mudança do processo de
formação. Sobre isso, Hébrard (2000), já citado, baseando-se na história da
educação e das práticas educacionais, busca compreender os acontecimentos da
modernidade recente que acometem a escola. Para ele “a escola é um processo tão
complexo, mas tão complexo que é impossível, apenas com a vontade mudá-la”
(HÉBRARD, 2000, p. 7). Com isso, o autor critica os discursos vazios e moralizantes
da Pedagogia, afirmando que não se consegue mudar as práticas escolares, por
esse viés.
Isso ocorre, segundo ele, porque essa instituição tem nela dispositivos
presentes, que foram criados e exercitados no decorrer da história. Tais dispositivos,
que se materializam no tempo das práticas, são enraizados, como o ditado e as
situações problemas em matemática, por exemplo. Além desse tempo, conforme
mostra o autor, há o tempo da organização dos sistemas de ensino, que também
muda muito lentamente. Por fim, há o tempo do discurso que muda com uma rapidez
muito grande, sempre trazendo uma inovação pedagógica (HÉBRARD, 2000).
A partir dessas considerações, Hébrard (2000) acredita que uma forma de
possibilitar mudanças na escola começa pelo processo de descrição de suas
práticas. Assim, ao descrever esse espaço e o que acontece nele, pode-se dele se
apropriar e, então tornar-se possível realizar pequenas alterações.
111
A descrição, além de se configurar como um instrumento potencial de
provocar mudança, pode colaborar com o processo de formação do professor.
Nesse sentido, é possível pensar nos cursos de formação que, normalmente,
amparam-se em um aparato discursivo, produzido pelas próprias agências de
formação – as Universidades - para (in)formar o futuro professor e, geralmente,
reservam poucos momentos para que eles participem da dinâmica de uma sala de
aula. Dessa forma, o novo profissional leva consigo as informações recebidas para a
escola nesse processo, e depara-se com outros tempos além dos discursos, os
tempos da prática e da organização.
Nesse sentido, para Hébrard (2000) a descrição se constitui em um
instrumento de mudança, primeiramente, por permitir a aproximação e o
conhecimento do funcionamento da estrutura escolar. Em segundo lugar, desvelar a
coexistência desses tempos e, a partir disso, compreender o funcionamento das
escolas. A descrição, enfatizada por Hébrard (2000), é tomada pelo estudo feito por
Chartier (2007), já citada, que busca conhecer a prática de uma professora e, para
isso, entra em contato com os dispositivos utilizados por ela e os tempos presentes
nessa atuação.
A descrição, elaborada pela autora, sobre a atuação pedagógica da docente a
qual acompanhou, permitiu que a professora percebesse, entre outras coisas, que
poderia introduzir a escrita cursiva mais cedo nas suas aulas, por exemplo. Esse
dispositivo descrito pela pesquisadora e apresentado por ela, juntamente com
outros, e visualizados pela docente, levaram a uma pequena alteração em sua
prática. Sem mencionar as mudanças provocadas em sua atuação como formadora,
pois recebia os estagiários em sua sala (CHARTIER, 2007).
Como destaca Giglio et al (2011), o curso de Pedagogia sofreu alterações em
sua estrutura e a formação do professor passa a ser o cerne do curso. Nos
documentos oficiais há um destaque para a formação inicial para a docência, como
existem programas governamentais que estimulam a busca por essa formação
profissional (como UAB, PARFOR e o PIBID). No entanto, como essa formação tem
sido entendida? Vale lembrar que o foco deste estudo está nos estudantes, bolsistas
do PIBID, que acompanham a ação dos professores. Desse modo, como a presença
e a atuação em uma sala de aula da escola básica pode colaborar na formação
profissional do professor?
112
Recorremos à narrativa de Kátia34, feita em seu Diário de Bordo, sobre o
início de suas atividades no PIBID, sua primeira aula. O seu relato traz indícios dos
desafios presentes no início da ação docente:
Querido diário, eis aqui... uma aula frustrada!
Se meu professor de Filosofia da Educação pudesse ler meus pensamentos no
momento da elaboração do meu plano de aula, além dos meus pensamentos antes
de dormir, ao acordar, no ônibus e nos corredores da escola, ele ficaria muitíssimo
feliz. Eles eram bastante reflexivos sobre questões educacionais, tais como: Essas
atividades serão significativas? Elas atenderão as necessidades dos alunos? Eles
acharão bobinhas ou eu estaria cobrando demais deles?
Cheguei, cumprimentei a todos, abracei a profa. Edna e lhe mostrei meu plano de
aula para que me orientasse quanto às atividades. Queria saber uma opinião de
alguém experiente e que conhece a sala. Ela disse que estava legal, mas que eu
não poderia aplicá-lo, pois o Ler e Escrever deveria ser seguido à risca e eu estava
pulando as atividades. [...]
Edna sugeriu que eu fosse até a biblioteca elaborar minha próxima aula. Foi o
que eu fiz.
Minha primeira aula
Querido diário, hoje foi a primeira aula que eu dei no PIBID. Acho que se eu
tivesse ido ao médico dizendo tudo o que estava sentindo no momento em que eu
comecei a aula, ele teria dito que eu estava com dengue. Quando a profa. Edna
disse que eu poderia começar a aula, eu senti as seguintes coisas: dor de barriga,
vermelhidão na pele, dor de cabeça, sem contar que eu estava pegando fogo
parecendo febre alta.
Sem contar a vergonha e a gagueira. Eu estava desesperada, nem sentia mais o
chão. Honestamente, querido diário, eu estava com mais medo de ser comparada
com a profa. Katarina do que de dar aula.
Jamais me esquecerei do dia em que substituí uma professora que havia faltado
na escola em que eu estava fazendo estágio. Foi simplesmente horrível, e tudo o
34
A estudante bolsista do PIBID Kátia não fez parte dos grupos de entrevistados. No entanto, tive
acesso ao seu Diário de Bordo. Ao término de uma das minhas aulas, em sua turma, a estudante se
aproximou e me ofereceu seu diário de campo, pois “sabia que eu estudava o PIBID”.
113
que eu fazia as crianças de cinco anos me corrigiam, dizendo que eu não sabia
fazer as coisas direito, que já estava na hora de aprender porque eu era
professora. [...]
Não me desrespeitaram, mas eu me entristeci muito, pois fui cheia de amor,
carinho e entusiasmo e não imaginava que as crianças me tratariam com
tamanha comparação. O que fiz ao sair da sala foi segurar as lágrimas até entrar
no banheiro da rodoviária, onde pegaria o ônibus para ir à faculdade e chorar
muito. Estava me sentindo muito mal, me considerando incapaz de assumir uma
sala de aula com competência.
Toda essa experiência passou no meu coração e diante dos meus olhos quando
peguei o giz e fui até a lousa. Recordava-me nesse momento, da Isabela [outra
estudante bolsista] dizendo que a Katarina [estudante bolsista do PIBID que eu
estava substituindo] dava uma senhora aula e que as crianças choraram muito
com a saída dela. Imaginava os alunos me comparando, pensando que tiraram a
professora Katarina que era nossa amiga e colocaram essa menina chata.
Antes de começar a minha aula, conversei com eles tentei passar para a turma
tudo o que estava sentindo. [...] Nesse momento, enquanto eu falava a profa.
Edna deu uma risadinha, parecendo lembrar de quando ela também deu a
primeira aula dela. Ela disse para a turma que cada um é cada um e que meu
trabalho seria tão bom quanto da profa. Katarina.
Para essa aula eu preparei alguns cartazes com sulfites, um deles, muito colorido
escrito LENDAS, e outro com alguns itens a serem trabalhados na aula, tais
como o tema da lenda, autor, região em que ela circula, qual o ensinamento,
editora, personagens principais. Os alunos acharam os cartazes lindos e eu os
colei na lousa.
[...] Iniciei a aula explicando que a sala iria fazer a leitura de livros para o
repertório de lendas. Disse-lhes que havia separado na biblioteca alguns livros de
lendas e que iria disponibilizar a turma em grupos e que quando um grupo
acabasse de ler um livro, que trocasse o livro com outros grupos. Disse-lhes que
poderiam fazer grupos até cinco pessoas.
[...] Eu já estava sem vergonha, e sentindo um enorme prazer. Não deu tempo de
apresentar todos os grupos nessa aula, portanto, disse aos alunos que
114
apresentaríamos em outra aula. [...] (Trecho do Diário de Bordo da estudante
bolsista do PIBID Kátia35). [grifo nosso].
Por fim, o exposto até aqui identifica a existência de uma série de nuances na
formação do professor. Ao mesmo tempo, que traz uma crítica ao formato
predominantemente utilizado nos últimos anos para conduzir a preparação do
profissional, pois é possível perceber no relato de Kátia, citado anteriormente, a
complexidade do fazer docente, lembrado por Nóvoa (2009) e as diferentes
exigências deparadas por um professor iniciante. Somos convidados por ela, a
acompanhar dois momentos de sua atuação no programa. A estudante, em exercício
de pensar sua primeira aula diz “Essas atividades serão significativas? Elas
atenderão as necessidades dos alunos? Eles acharão bobinhas ou eu estaria
cobrando demais deles?”, esbarra nas prescrições feitas aos docentes, nas redes de
ensino, quando nos conta que a professora lhe disse que teria que “seguir à risca o
Ler e escrever”. Depara-se com uma adequação à organização daquele sistema
escolar.
Em seguida, nos relata, sobre seus receios para essa aula, dizendo “Sem
contar a vergonha e a gagueira. Eu estava desesperada, nem sentia mais o chão”.
Posicionar-se frente à turma, à futura colega de profissão e substituir uma colega do
PIBID, exitosa em sua tarefa, não se mostrou uma tarefa fácil. Ainda mais, quando
essa situação evocou lembranças desagradáveis de outra experiência similar
durante o estágio. Considerando a contribuição da HO, percebemos os marcos da
memória da estudante sobre o fato relatado, o significado construído por ela sobre
essa ocorrência, sua subjetividade presente. Com isso, segundo Portelli (1996), em
seu imaginário poderia estar inscrita a possibilidade de uma nova experiência
“frustrada”.
Felizmente, essa aula a deixou mais confortável e satisfeita, conforme relatou:
“Eu já estava sem vergonha, e sentindo um enorme prazer”. As narrativas das
experiências de regência possuem algumas diferenças, que poderiam contribuir ou
não “para o enorme prazer” descrito pela estudante. A primeira aula, sem muitos
detalhes dados pela depoente, nos leva a inferir que seja uma situação um tanto
35
Estudei todos os diários de bordo disponíveis, mas para a composição deste texto me ative a um
deles.
115
rotineira na escola: o professor faltou, o estagiário assume. Quais são as condições
para que um professor em formação assuma a condução de uma aula dessa forma?
Já em sua segunda experiência com a turma, menciona a apresentação feita
pela professora, que disse que o “[...] trabalho seria tão bom quanto da profa.
Katarina”. Além de ter preparado e conversado com a professora responsável pela
sala sobre sua atividade, pôde contar com a cumplicidade da professora, percebida
por ela: “enquanto eu falava a profa. Edna deu uma risadinha, parecendo lembrar de
quando ela também deu a primeira aula dela”.
Preparar-se para a aula, organizar o que pretende desenvolver com a turma,
ser apresentada a esses alunos, talvez foram os detalhes que faltaram em sua
primeira experiência. Nóvoa (2009), já citado, recomenda uma atenção especial aos
professores iniciantes para auxiliá-los no ingresso à docência e que permaneçam na
profissão. Nesse sentido, questionamos se é possível realizar uma formação mais
efetiva, que possibilite um diálogo entre os conhecimentos teóricos e os saberes
inerentes à atuação na sala de aula, como também uma formação coparticipativa
entre universidade e escola.
3.4 O Estágio Supervisionado Obrigatório nos cursos de Licenciatura: como
efetivar o contato com a realidade escolar e a prática docente?
A preocupação com a formação do professor não é uma questão pouco
discutida nos meios acadêmicos. Pelo contrário, tem despertado o interesse de
vários pesquisadores. Desse modo, a relação entre teoria e prática, entre
universidade e escola, têm motivado uma série de estudos, principalmente sobre os
Estágios Curriculares Supervisionados.
Nessa trilha, há uma crítica ao modo de como se realiza essa atividade,
principalmente quando se volta ao estágio com uma função mais burocrática do que
formativa. Ou seja, isso ocorre quando a preocupação maior é cumprir a carga
horária prevista para o Estágio, coletar a assinatura nas fichas de registro e, por fim,
realizar um relatório. Sobre isso, Giglio et al (2011) acrescentam que a formação
prática da qual os estágios são incumbidos apresenta um dos desafios da formação
inicial do professor. Para os autores, os estágios vistos como uma possibilidade de
se observar como se ensina, acabam, muitas vezes, apresentando ao futuro
professor o contexto escolar e as peculiaridades vividas nesse espaço. Em alguns
116
casos, as observações produzem apenas críticas ao modelo visto ao invés de
buscar compreender essa realidade complexa que se mostra.
Ainda apontam que a sala de aula não pode ser considerada como um
produto para análise, sem contextualizá-la, devido às tensões existentes nesse
ambiente não estático, que responde a inúmeras demandas sociais e políticas, por
exemplo.
Tal problemática sobre a realização do Estágio Supervisionado na IES
proponente do PIBID é citada em diferentes fontes que tivemos acesso. Nesses
documentos, é recorrente a indicação de dificuldades e fragilidades na efetivação do
objetivo dessa atividade. O Projeto Político Pedagógico do Curso de Pedagogia em
questão descreve o Estágio supervisionado Obrigatório como um procedimento
didático-pedagógico que “[...] tem por objetivo complementar o ensino ministrado ao
estudante, proporcionando-lhe iniciação e integração ao mundo do trabalho,
mediante formação prática, aperfeiçoamento técnico-científico e cultural e
relacionamento profissional”.
No entanto, retomando a justificativa do Projeto Institucional enviado à
CAPES para pleitear a participação do PIBID, como mencionado no capítulo 1,
afirma o seguinte:
Por meio deste projeto, esperamos levar os licenciandos a conhecerem a realidade
do espaço escolar, já que temos percebido que há lacunas em uma formação que
os deixe só na universidade e em relação apenas com conhecimentos científicos
produzidos fora da escola. Tais lacunas precisam ser preenchidas, uma vez que,
ao adentrar no universo da efetiva prática docente, um número expressivo de
novos professores deparam-se com dificuldades em razão das adversidades
cotidianas escolares. Ainda que existam as disciplinas de estágios e os momentos
de práticas, pesquisas têm demonstrado que estes não têm dado conta de oferecer
ao novo professor experiências que lhe apontem caminhos de como aliar teoria-
prática, cotidiano escolar e outros elementos que constituem o trabalho docente.
Essa dificuldade não ocorre devido à falha das universidades, mas à distância que
existe entre os saberes produzidos na academia e a complexidade da dinâmica
escolar, em que problemas e soluções andam juntos, necessitando de reflexões e
ações no ato da situação. Na universidade, é impossível recriar o espaço escolar
117
com toda essa dinamicidade. Assim, possibilitar ao aluno a convivência no espaço
escolar, mudando o status de estagiário para residente, pode modificar essa
situação, pois, no cotidiano com os professores-supervisores os licenciandos
poderão confrontar a rotina do trabalho docente com os conhecimentos
trabalhados na universidade, permitindo tanto a ele quanto ao professor em
serviço refletirem sobre os alcances e deslizes das teorias que lhes são
apresentadas, produzindo, assim, novos saberes que poderão modificar e
melhorar as discussões sobre o ensino e formação de professores.
Dessa forma, na parceria universidade-escola/escola-universidade cria-se um
novo espaço para a construção de saberes e, portanto, para uma nova forma de
formar professores (Justificativa do Plano de Trabalho do PIBID anexado ao
Projeto Institucional da IES enviado á Capes). [grifo nosso].
Neste texto é possível identificar dizeres da IES que admitem “lacunas” em
seu currículo e também o conflito da teoria versus prática ao reconhecerem que os
“conhecimentos científicos são produzidos fora da escola”. Junto disso, a IES
reconhece ao Programa a função de “possibilitar ao aluno a competência no espaço
escolar, mudando o status do estagiário para residente”. Observa-se, portanto, no
documento enviado à CAPES um dizer que delega ao PIBID a responsabilidade de
inserir de fato o estudante no cotidiano da rotina escolar. Vemos assim, o
deslocamento da função de preparação profissional do currículo obrigatório da
Pedagogia para outra esfera, externa as disciplinas constituintes do curso.
A questão do Estágio aparece no diálogo, transcrito e apresentado a seguir,
com a Profa. Flávia36, professora supervisora da escola de Educação Básica:
Entrevistadora: O PIBID pode ser considerado um estágio?
Flávia: Não, nem esse da prefeitura (Referindo-se a um Programa de Estágio
remunerado) também. É muito diferente.
Entrevistadora: O que tinha de diferente?
Flávia: O vínculo. Os estudantes bolsistas tinham vínculo com as crianças, com a
escola. No estágio isso não acontece. Não tem prática no estágio.
36
O contexto desse diálogo foi apresentado no capítulo anterior.
118
Entrevistadora: E a regência?
Flávia: Não, não tem isso. Tem estagiário que nem faz o estágio. Eu assino muito
estágio. A pessoa chega, pede e diz que trabalha, por isso não pode fazer o
estágio. O que você vai fazer? Eu assino. Não quero que ela perca o trabalho, por
isso. Mas mesmo quando eles fazem o estágio, não tem um projeto pra ser
desenvolvido com aquela sala. No PIBID, primeiro os bolsistas conheceram a
turma. Observaram nosso trabalho. Eles fizeram um projeto e entregaram para
nós [professores]. Nós pincelamos e eles começaram a desenvolvê-los. Os bolsistas
preparavam a aula, mas eu sempre tinha uma atividade na manga caso a deles
não desse certo. (Relato da Professora Supervisora do PIBID Flávia)
Neste pequeno excerto vem á tona uma questão que extrapola o foco desta
pesquisa, mas que é frequente ser ouvido pelos corredores (“assinar pelo estágio
sem de fato ser realizado”). Não será alvo de nossa análise, embora reconheçamos
que esbarra em questões éticas. Além disso, o dizer da professora supervisora
reconhece a legitimidade do trabalho do PIBID e não a do estágio. Esse é um ponto
que revela a tensão trazida (ou não?) pelo Programa: Só o estudante bolsista é
compromissado com as práticas escolares? Não se pode cobrar do estagiário? O
estudante trabalhador tem salvo conduto para não fazer o estágio?
Mariana relata a experiência da colega de turma, Rosa, apontando como um
contato profícuo com a prática pode colaborar ou não com o professor iniciante:
A Rosa [referindo-se a uma colega da turma] começou a trabalhar como
professora na prefeitura. Ela não tinha experiência nenhuma em sala de aula.
Ela só tinha feito os estágios no curso de magistério e aqui [na faculdade]. A
mesma coisa que eu percebo aqui [referindo-se a faculdade] o que vemos aqui não
tem nada a ver com a sala de aula, com o que a gente vê no dia a dia. A primeira
coisa que ela falou para mim depois de um tempo na escola é que Se não fosse as
professoras, colegas que estavam com a mesma sala que a minha, que se
dispuseram me ajudar, eu não sei o que eu iria fazer. Ela estava com uma sala do
infantil e não sabia o que fazer porque não tinha experiência. Nada. Só o estágio,
119
mas é diferente... (Entrevista com a licencianda bolsista do PIBID Mariana,
grupo 1)
Tendo em vista os três trechos destacados, no primeiro vemos a universidade
proponente do PIBID assumindo a existência de lacunas na formação dos futuros
docentes no quesito proximidade com o contexto de trabalho. Já a fala da professora
Flávia traz a questão a partir de sua vivência na escola, relatando o cumprimento
burocrático das atividades de Estágio Supervisionado Obrigatório em detrimento de
uma participação efetiva do estagiário. Por fim, Mariana relata a experiência da
colega Rosa que ingressou na docência durante o curso, reforçando que a
realização do Estágio não foi significativa para ampará-la no início da docência.
Os relatos apontam uma distância entre o esperado que ocorra nas
disciplinas de Estágio, descrito no PPP do curso, e o que realmente se dá (ou não)
nessas atividades. A experiência do PIBID, aqui analisada, surge nesse contexto de
aproximação com a escola para a realização do Estágio Supervisionado por esses
estudantes. Como se dá essa atividade em outros contextos que não o do PIBID?
3.4.1 Estudos que focalizaram Estágio Supervisionado Obrigatório na
licenciatura
Em uma das entrevistas realizadas, quando falavam sobre suas atividades no
PIBID, Willian expõe seu entendimento sobre o Estágio Supervisionado Obrigatório:
Willian: Talvez se o estágio fosse adequado de outra forma, porque para mim, o
estágio de ensino fundamental não serve para nada. Você faz assim [referindo-se
aos relatórios]. Você escreve o que o professor da faculdade quer ler porque a
realidade que nós vemos é outra coisa. E o pouco que nós vemos porque passamos
pouco tempo ali. Por exemplo, até o final do curso temos que cumprir 300 horas
de estágio, são 100 horas para o Educação Infantil, 100 horas para o Ensino
Fundamental e 100 horas para gestão. Se essa carga horária fosse distribuída
entre as disciplinas que nós temos como português, matemática, ciências, história
[referindo-se as disciplinas de Fundamentos e Metodologia dessas áreas] e se
conseguíssemos ter um acompanhamento maior, talvez fosse mais interessante.
120
Durante o nosso curso mesmo ou talvez por meio de um convênio entre a
prefeitura e a universidade, pois nós conseguiríamos aproximar [da escola].
Quando vemos o pessoal da saúde - da farmácia, da fisioterapia - sempre nos
postinhos, fazendo não só estagio, mas um estágio mais focado. Eles estão tendo
um acompanhamento ali. Eles têm a prática mesmo. Enquanto nós, da educação
não, nós fazemos o nosso estágio, mas nós vamos lá para ficar olhando, nós não
aprendemos muito. Ou então chegamos lá e fazemos um monte de coisa, ah vai
recorta aqui para mim [E: o ajudante do dia]
[...]
Claudia: Lá em [determinado município] os alunos da Pedagogia recebem uma
bolsa auxilio para atuar na educação infantil. Você está estudando, mas está ali
praticando.
Willian: Auxilia nas duas formas: primeiro auxilia o professor na sala, porque
querendo ou não a gente é uma mão na roda para o professor, porque você
contribui também. Primeiro você contribui para a formação continuada, porque
você traz experiências, coisas que vemos na teoria, na universidade que ajudam
na sala de aula. Em contrapartida o professor nos auxilia porque ele está nos
ajudando em nossa formação inicial. O que nós precisaríamos ter é a parte
prática com o professor. Não seria necessário ter receitinha de como fazer, porque
nós já estaríamos vendo lá [na escola]. Isso é algo que auxilia também.
Entrevistadora: Seria um contato maior com a prática? O que vocês acham que
seria mais efetivo com a prática?
Willian: O estágio que era teoricamente para garantir isso, ele não garante isso.
A aplicação do projeto que nós fazemos. Nós bolamos um projeto. Primeiro que
não é um projeto, porque nós nem sabemos com quem vamos fazer. Por isso, nós
inventamos qualquer coisa que achamos legal, chegamos à escola para aplicar o
projeto e não funciona. Você não pode colocar que não funcionou no relatório, mas
você tem que colocar tudo lindo e maravilhoso. Porque se você colocar a verdade,
o professor da faculdade não vai gostar. Ele vai falar não, não é assim, entende...
(Entrevista com os estudantes bolsistas do PIBID, grupo 1)
121
Willian comenta que sua experiência de Estágio, “não serve para nada”, ao
mesmo tempo em que sugere como essa prática formativa poderia ser mais
producente em seu processo de formação docente. Outro ponto marcante em suas
afirmativas é o não reconhecimento de que “ajudar” o professor pode ser uma forma
de atuação na prática. A ênfase de sua fala é para um “projeto” que segundo ele,
não existe. Seus dizeres tornam visível uma falta de compreensão do estudante
quanto ao papel do estágio. Mesmo a ideia de frequência e participação do cotidiano
escolar, ele parece não ter se convencido como importante ou válida para a sua
formação.
Selecionamos alguns estudos sobre experiências com encaminhamentos
diferenciados dos modos já conhecidos de organizar as atividades de Estágio, que
buscam aproximar o futuro educador de seu ambiente profissional de modo mais
qualitativo.
França (2013), por exemplo, critica a organização do Estágio Supervisionado
Obrigatório em muitos cursos de formação de professores, inspirados no modelo de
racionalidade técnica de formação. Para esses cursos, a oferta do conhecimento
teórico ocorre em sua instituição e delegam o desenvolvimento da prática para a
escola. Assim, a instituição formadora estabelece como será o estágio e, nessa
relação, cabe à escola executar o que foi estipulado por outros, no caso a instituição
formadora.
Nesse modelo de estágio, como apresentado por França (2013) tanto
professores como gestores da escola não são colocados como participantes do
processo de formação do futuro professor. Para reverter isso, é necessário
estabelecer um diálogo com a escola desde a elaboração do projeto de Estágio,
rompendo assim com uma relação hierárquica entre as instituições, uma designa e a
outra realiza. Ainda que exista o Parecer 292/1962 que institui a prática educativa
como atividade obrigatória dos cursos de licenciatura e designa as escolas como
espaço de realização destas, não fica claro a atribuição da unidade escolar e,
principalmente como ela pode colaborar nesse processo formativo, exigindo uma
ação articulada com outros envolvidos para que tal ação se efetive com sucesso
(FRANÇA, 2013).
Os impasses e os entraves vivenciados no estágio de ensino por todos os
participantes e, em especial, o acompanhamento dos estudantes de licenciatura em
suas atividades de estágio, poderiam ser minimizados pela inserção da atividade do
122
professor formador para os docentes da escola básica, com uma carga horária
destinada para essa atuação, com uma remuneração para a realização desta
atividade.
A autora destaca a importância de definir esse papel de formador para
efetivar o estágio, como parte importante da formação do futuro professor. Isso se
deve, a uma das fragilidades apontadas na realização do estágio que é o fato de o
professor da escola básica receber os alunos da licenciatura para realização do
estágio em sua sala de aula, sem ter a clareza de sua coresponsabilidade nesse
processo. E ainda, sem possuir uma pauta clara de como colaborar nessa atividade
formativa (FRANÇA, 2013).
Essa temática é abordada por Poladian (2014) em sua pesquisa de sobre o
projeto de Residência Pedagógica da Universidade Federal de São Paulo
(UNIFESP). Segundo a pesquisadora, um dos avanços encontrados nesse acordo
estabelecido entre a universidade e secretaria municipal de ensino nesse projeto, foi
ter delegado à escola “ações que apenas podem acontecer num espaço real da
prática profissional” e acrescenta que:
o fato de as escolas estarem cientes desta atribuição e trabalharem conjuntamente com a universidade na orientação dos residentes, apontando aspectos que podem melhorar a qualidade da sua ação pedagógica e nas devolutivas da prática, reforça o papel formador da escola e dos professores experientes e acrescenta qualidade ao processo formativo dos estudantes de Pedagogia (POLADIAN, 2014, p. 119).
A atuação do professor da escola básica junto ao estagiário difere-se do que
faz o professor orientador do Estágio da instituição de formação. Atuar na sala de
aula com toda a dinâmica e a complexidade existente nela produz uma série de
conhecimentos da profissão. Assim, esses conhecimentos não serão conhecidos
e/ou vivenciados em situação de orientação de Estágio na universidade, devido a
sua especificidade (FRANÇA, 2013).
França (2013) destaca a necessidade de o professor da escola básica desejar
contribuir para a inserção dos licenciandos estagiários na vivência da prática
docente e, com isso, permitir o acesso aos saberes produzidos socialmente sobre o
saber docente. Contudo, a existência na escola da possibilidade de os professores
se inscreverem para atuar como colaboradores na ação de formação dos futuros
123
docentes impede que todos os professores tenham que receber estagiários, mesmo
sem ansiar participar do processo formativo (FRANÇA, 2013).
Ainda sobre a qualidade do estágio supervisionado realizado, há outra
disponibilidade requerida ao estagiário. Isso pode ser um entrave caso o licenciando
não possua tempo para realizar essa atividade com qualidade. Tal problemática
incide principalmente sobre os estudantes dos cursos noturnos que trabalham
durante o dia, justamente, no momento em que as aulas acontecem nas escolas da
educação básica. Os Estágios Supervisionados ou Programas como o Residência
Pedagógica que exigem a imersão do estudante no cotidiano da escola tem o
desafio de contemplar/atender a necessidade desses alunos.
Garcia e Lustosa (2013) abordam o Estágio Supervisionado como o estágio
por meio da pesquisa, a partir da experiência vivenciada no curso de Pedagogia do
Centro de Ensino Superior do Seridó, campus da UFRN . Das quatro disciplinas de
Estágio Supervisionado do curso, duas delas são destinadas a aproximação dos
estudantes com as escolas de Educação Infantil e de Ensino Fundamental, e as
outras tratam da prática nesses espaços.
Espera-se “[...] implementar uma prática de Estágio problematizadora,
desenvolvida por meio da metodologia da pesquisa, a qual mobilize os estudantes a
compreender a escola enquanto lócus da profissão e da constituição da
profissionalidade docente” (GARCIA; LUSTOSA, 2013, p. 95).
As autoras consideram que a pesquisa pode ser uma metodologia de ensino
e até de aprendizagem à medida que possibilite refletir sobre questões do espaço
escolar, seguindo os procedimentos utilizados pela pesquisa acadêmica, em
especial os da abordagem qualitativa. Ao realizar a tarefa, essa metodologia pode se
constituir em um rico e significativo espaço de formação docente, devido à
oportunidade de reflexão-da-ação que pode ser propiciada aos sujeitos nela
envolvidos (GARCIA; LUSTOSA, 2013).
Nessa perspectiva, o estágio “[...] estabelece uma parceria de colaboração,
produz novos intercessores, reflexão partilhada entre os que fazem a escola em seu
cotidiano e os estudantes da universidade que lá chegam” (GARCIA; LUSTOSA,
2013, p.105). Para isso, os estagiários optam por trabalhar com uma temática que
desperta sua atenção no ambiente escolar. A partir disso, passa a problematiza-la,
constituindo-a um objeto de estudo que será analisado por uma metodologia de
124
pesquisa apropriada à questão e selecionada pelo estudante. Além disso, há o
levantamento bibliográfico que embasará o estudo.
As autoras ilustram o exposto apresentando cinco temáticas distintas com
abordagens adequadas a cada questão, ou seja, em alguns casos o estagiário opta
pela pesquisa-ação, inserindo oficinas como parte de seu estudo. Em outros, há a
coleta de dados por meio de entrevistas com diversos atores da escola. Enfim, os
caminhos são diferenciados e escolhidos pelos estudantes e culminam na produção
de um relatório final de estágio.
Por fim, as autoras asseguram que o estágio por meio da pesquisa:
[...] possibilitou aprofundamentos dos conhecimentos sobre temas diversos (uma multiplicidade de temáticas atualizadas), emergidas das necessidades reais da escola, problematizadas pelos estagiários, fato que amplia as linhas de alcance da formação, muitas vezes, não contempladas durante a graduação (GARCIA; LUSTOSA, 2013, p.112).
Guedes-Pinto (2010) analisa os textos produzidos pelos estudantes da
Pedagogia, que problematizaram suas experiências de estágio na escola da
educação básica. A autora focaliza o papel da linguagem nas produções escritas no
processo de construção de sentidos sobre a formação de professores.
Os estudantes antes, de irem para escola, recebiam a recomendação de
participar das atividades escolares quando fossem requisitados para tal. Para isso,
ao se apresentarem na escola, já se colocavam à disposição da professora para
auxiliá-la nas aulas.
A orientação sobre a escrita do relato sobre essa experiência vivenciada no
ambiente escolar recomendava que não fosse registrado apenas o que era
observado, mas “também a respeito do que fazem, do que sentem, do que pensam
sobre o seu fazer, do que acontece com os outros com quem trabalham a partir de
suas ações” (GUEDES-PINTO, 2010, p. 39). Destas anotações, surgem
inquietações que são retomadas nas aulas na universidade, onde as questões eram
analisadas em conjunto, retomando coletivamente as dificuldades e os desafios
vividos por cada um dos estudantes estagiários.
O processo de produção dos textos contou com o suporte de leituras
obrigatórias, previstas pela professora no planejamento da disciplina. As leituras
125
tratavam de modos de inserção em um espaço alheio, por isso objetivavam também
embasar a inserção do estudante na escola para realização do estágio.
Nessa proposta, em cada oferta da disciplina havia uma questão norteadora
que buscava orientar- a ida escola, bem como a produção do texto final do estágio.
Ainda fazem parte da dinâmica das aulas a exibição e discussão de um filme
obrigatório; a palestra de um professor, compartilhando suas experiências na
docência; e por fim, a leitura em voz alta de textos literários no início das aulas.
Todas essas ações têm a função de contribuir para a realização do estágio e
com isso:
A familiaridade dos estudantes com as práticas escolares e com os sujeitos da escola, dentro dessa forma de trabalho aumenta sensivelmente. A inserção do aluno no campo de estágio ganha assim mais tranquilidade e a possibilidade de um mergulho maior na realidade das práticas de ensino se amplia (GUEDES-PINTO, 2010, p.42)
Os textos dos estudantes evidenciaram um diálogo entre o que era aprendido
na universidade e o que vivenciavam na escola. Também permitiu a pesquisadora
constatar que a aula poderia ser, ao mesmo tempo, disparadora de reflexões sobre
os “sentidos do que vem a ser tornar-se professor e de qual seria a função social da
escola” (GUEDES-PINTO, 2010, p.95). Assim, as aulas constituíram-se de encontros
com os estudantes para tematizar a inserção no campo de estágio como as
constantes alterações vividas na profissão docente.
As experiências de estágio relatadas nos estudos de Guedes-Pinto mostram
outras possibilidades de conduzir essa atividade. Diferentemente, do que denuncia
Willian, há outras possibilidades de “adequar” o estágio para que nele sejam
realizadas as atividades necessárias à formação do futuro professor.
Como o exposto, há vários formatos para organizar a inserção do estudante
da licenciatura em seu futuro ambiente profissional. Parece ser uma tarefa dos
envolvidos (instituição e professores responsáveis pelo estágio) nesse processo, o
cuidado para que exista um diálogo entre os saberes como também entre os atores
que fazem parte desse circuito formativo (alunos, orientador de estágio, professor
supervisor da escola).
Por fim, os estudos apresentados anteriormente, respeitando suas
especificidades e seu referencial teórico, se afinam no sentido de ter um outro olhar
126
para a escola e para os professores que nela estão. Ao assumir a postura de
disponibilizar-se a conhecer esse espaço e as relações ali constituídas, a aprender
com o outro, as experiências de formação no ambiente escolar poderão ser mais
significativas para os futuros docentes. Ações como essas poderão colaborar para
romper com a imagem cristalizada de estagiário como o mero observador e/ou o
crítico do professor, colocando-se em outro papel como exposto pelas Professoras
Supervisoras do PIBID Cássia e Edna:
Assim, como tudo que é novo na vida é um pouco assustador, esse projeto
[referindo-se ao PIBID] para nós não poderia ser diferente.
A visão que tínhamos de estagiários não era para atuar na prática escolar e sim,
para observar e às vezes criticar o trabalho do professor.
Depois dos esclarecimentos e reuniões com as coordenadoras do projeto
[coordenadora do Projeto Institucional e Coordenadora do Subprojeto de área]
percebemos as diferenças entre os bolsistas e os estagiários. Vimos que isso seria
um ganho muito grande para os alunos, professor, escola e para os bolsistas.
Eles seriam para nós um suporte em sala de aula. A presença deles somaria e
multiplicaria, tanto o nosso trabalho quanto para a parte mais interessada o
aluno, com projetos ricos e novas experiências” (Relatório da professora
Supervisora Cássia).
...
Os Bolsistas são nossos parceiros, companheiros que estão ao nosso lado
diariamente, enfrentando as dificuldades e saboreando as conquistas. (Relatório
da professora Supervisora Edna).
Ambos os trechos chamam atenção para o modo como a fala da professora
supervisora diferencia o estagiário do bolsista. Perguntamos: por que o estagiário
não tem sido entendido como aquele que pode dar um “suporte” em sala de aula, tal
como foi sublinhado por Cássia?
3.4.2 - Possibilidades de formação inicial do professor que buscam uma
articulação maior entre a teoria e prática
127
As questões pontuadas sobre a ineficiência de algumas práticas de Estágio
Supervisionado Obrigatório na Licenciatura se aproximam das preocupações de
Giglio et al (2011), que apresentam uma proposta para oportunizar ao futuro
professor, aluno do curso de Pedagogia um contato com o campo de atuação desse
profissional. Nessa experiência destaca-se a organização curricular do curso que
prevê um contato com a escola desde o primeiro semestre, intensificado nos últimos
semestres com o Programa de Residência Pedagógica (PRP). Além dessa
experiência, no âmbito da Licenciatura, traremos uma experiência da esfera estadual
e outra da esfera municipal por meio de programas que propiciam a atuação de
estudantes da licenciatura nas escolas de educação básica. Com essas três
experiências advindas desses espaços, somado ao programa aqui estudado que
opera na esfera federal, pretendemos conhecer como se dá a aproximação dos
licenciandos com seu futuro local de trabalho.
3.4.2.1 - O Programa de Residência Pedagógica, da UNIFESP
Para implantação do PRP, os autores apresentam dados vindos do
levantamento feito com as escolas públicas do município de Guarulhos, por meio de
questionários que foram apresentados às professoras. Desse ponto inicial de diálogo
com as escolas surgem informações significativas. Primeiramente, as professoras
indicaram pouca satisfação com o estágio que realizaram durante sua formação.
Cerca de 70% responderam que os profissionais podem se responsabilizar de
alguma forma pela formação dos futuros docentes e 92% creem que podem
contribuir para isso. Sobre seu aprendizado profissional, esses professores atribuem
pouca contribuição ao curso de licenciatura ou magistério, seguido da formação
continuada e, por fim, destacam a experiência profissional.
Outra informação importante, identificada nesse questionário, foi a
disponibilidade e o interesse das escolas e dos professores em participar desse
Programa e receber os residentes em suas unidades. Com isso, deu-se início ao
diálogo com a escola que, ainda pode enviar sugestões e receber a visita dos
professores da Universidade. Nesse processo, “ouvir os profissionais das escolas
resultou em uma primeira percepção sobre a complexidade das relações que
precisam ser construídas entre diferentes grupos para realização do PRP” (GIGLIO
et al, 2011, p.29).
128
Após o contato feito com as instituições parceiras é firmado um Termo de
Cooperação Técnica. Um manual de orientações do Programa pela Universidade é
distribuído para os participantes. As atividades do PRP estão distribuídas em quatro
semestres, sendo a Residência Pedagógica I (RPI) destinada à Educação Infantil,
com carga horária de 105 horas, a RPII ao Ensino Fundamental com a mesma carga
horária, a RPIII à EJA, com 45 horas e por fim, a RP IV com a mesma carga horária
da anterior.
No PRP é esperado que os alunos, residentes, façam uma imersão na sala de
aula, acompanhando as situações reais da escola e toda a sua rotina, por um tempo
compacto – de quinze dias a um mês. Após esse período, o residente, com auxílio
do preceptor professor da Universidade e do professor formador da escola, prepara
o Plano de Ação Pedagógica (PAP) para desenvolver na mesma sala. Durante o
desenvolvimento do PAP, o aluno produz relatórios parciais e, ao final da execução
do Plano, é feito um relatório final.
Os relatórios são socializados com a escola campo que acolheu os
residentes. Nessa ocasião, os professores formadores podem se colocar sobre os
impactos da presença do residente em sua sala. Em alguns casos, os professores
se referiram aos residentes como espelhos, que permitiram ao profissional, rever sua
prática. Essa percepção sugere outra faceta do Programa: atuar na formação
continuada desses professores.
Já os estudantes, que atuaram como residentes, apontam em seus relatórios,
que não pensavam deparar-se com algumas situações vivenciadas na escola e que
essas alimentam um envolvimento maior com a educação. Em um dos relatos, a
residente aponta que essa experiência despertou o interesse de atuar como
professora.
O PRP tem se mostrado uma via profícua de aproximação da escola e
universidade. No entanto, apresenta limites se considerarmos um curso noturno, no
qual os alunos são trabalhadores. É preciso pensar em estratégias para possibilitar
essa imersão na escola.
O Programa em questão foi objeto da pesquisa de Mestrado em Educação
Estudo sobre o Programa de Residência Pedagógica da UNIFESP: uma
aproximação entre Universidade e Escola na formação de professores,
defendida na PUC-SP. O estudo teve como objetivo analisar como a aproximação
entre Universidade e Escola é concebida e concretizada no PRP desenvolvido pela
129
UNIFESP, Campus Guarulhos, por meio da análise documental do Projeto
Pedagógico do curso de Pedagogia da UNIFESP e das entrevistas com professores
preceptores da universidade. A partir da análise do material coletado foram
estabelecidas as seguintes categorias: a) superação do tradicional modelo de
Estágio Supervisionado37 pelo PRP; b) o PRP e a formação continuada de
professores do município de Guarulhos; c) a escola como espaço de formação e d)
aproximação entre a universidade e a escola: espaços híbridos de formação
(POLADIAN, 2014).
Para a autora, notam-se avanços em relação aos estágios supervisionados
comumente realizados se comparados à experiência do PRP, devido à opção da
universidade por metodologias diferenciadas para o acompanhamento dos
residentes durante o período de imersão, como o número reduzido de estudantes
por cada professor preceptor, a elaboração de diários de campo compartilhados
entre os estudantes e relatórios coletivos.
Dessa forma, o PRP, ao proporcionar ao estudante da Licenciatura “[...] estar
imerso em um ambiente que é conhecido do professor da universidade e tratado por
ambos como objeto de investigação da profissão docente (da atuação e dos
desafios da ação) é um grande diferencial na sua formação” (POLADIAN, 2014, p.
79). Assim, o PRP se diferencia do Estágio Supervisionado, muitas vezes tido como
uma prática solitária dos estudantes sem a presença direta e efetiva do professor
supervisor da escola e do professor orientador da universidade.
Outro fator destacado pela autora refere-se ao caráter coletivo da atividade
desde a escolha da escola para realização da residência. No PRP, o acordo firmado
entre as instituições, disponibiliza as escolas que receberão os grupos de alunos
residentes, acompanhados pelo mesmo professor preceptor, sem a necessidade de
consultar uma escola que aceite recebê-los para tal atividade. Com isso, o estudante
não precisa procurar um local para estágio, como é feito em outras instituições.
Poladian (2014, p. 80) assegura que o contato estabelecido entre
universidade e as escolas por meio da residência “[...] vem permitindo a solidificação
37
A autora esclarece que os Estágios Supervisionados normalmente realizados nos cursos de
Licenciatura aproximam-se modelo de estágio estritamente técnico, descrito por Pimenta e Lima
(2012, p. 39 apud POLADIAN, 2014, p. 77) como distantes “[...] da vida, e do trabalho concreto que
acontece nas escolas, uma vez que as disciplinas que compõem os cursos de formação não
estabelecem os nexos entre os conteúdos (teorias?) que desenvolvem e a realidade nas quais o
ensino ocorre”.
130
do Programa e tornando a parceria entre ambos o ponto crucial para a construção
de ambientes formativos complementares, com objetivos alinhados”.
Com isso, essa experiência permite ao futuro docente conhecer uma escola
pública real com seus desafios e peculiaridades. Além de pensar em soluções para a
melhoria da qualidade do processo educativo, recorrendo a uma interação
investigativa em seu contexto (POLADIAN, 2014).
3.4.2.2 - Programa Residência Educacional da Secretaria de Estado da
Educação de São Paulo 38
O Programa Residência Educacional (PRE) foi instituído pelo Decreto Nº
57.978/2012 do Governo do Estado de São Paulo e implementado pela Resolução
36 da Secretaria Estadual de Educação (SEE) de junho de 2013. Trata-se de uma
proposta que
[...] atende as diretrizes desta Secretaria, pois tem como objetivo principal o aprimoramento da qualidade da educação oferecida aos alunos da rede estadual paulista, a elevação dos índices de desempenho dos alunos das escolas consideradas prioritárias, além de fortalecer a participação das Instituições de Ensino Superior na formação dos estudantes dos cursos de licenciatura (SÃO PAULO, 2013a, p.6).
Como exposto anteriormente, o foco do programa é a melhoria da qualidade
de ensino das escolas consideradas prioritárias na rede estadual de ensino, a partir
do resultado de avaliações como o Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do
Estado de São Paulo (SARESP).
Para que isso ocorra, por meio do PRE, os licenciandos, a partir do terceiro
semestre do curso, ao realizar o Estágio Supervisionado Obrigatório poderiam se
inscrever para a seleção do Programa. Em seguida, à aprovação escolheriam uma
38
Tramitou, no Senado federal em 2007, o Projeto de Lei nº 227, de autoria do Senador Marco Maciel, que propunha a inserção de uma etapa posterior a formação inicial do professor denominada “Residência Educacional” homônima a proposta da Rede Estadual de Educação de São Paulo, ora apresentada. O projeto foi arquivado e reapresentado em 2012 pelo Senador Blairo Maggi. A proposta de lei atual pretende acrescentar um parágrafo ao artigo 65 da Lei 9394/96º ficando da seguinte forma “Aos professores habilitados para a docência na educação infantil e nos anos iniciais ensino fundamental será oferecida a residência pedagógica, etapa ulterior na formação inicial, com o mínimo de oitocentas horas de duração, e bolsa de estudo, na forma de lei”. Da proposta inicial houve a alteração do termo residência educacional para residência por considerarem a palavra pedagógica mais adequada aos objetivos dessa proposição. O projeto de Lei foi aprovado no senado e enviado para o Congresso em 13/05/2014.
131
das escolas para realizar o estágio, onde cumpririam uma carga horária semanal de
quinze horas, não ultrapassando seis horas diárias. Os residentes receberiam uma
bolsa no valor de R$ 420,00 e o auxílio transporte no valor de R$ 180, 00.
A seleção do residente é coordenada pela Fundação do Desenvolvimento
Administrativo (FUNDAP). O processo de seleção conta com uma avaliação escrita
sobre “[...] o domínio da norma culta da Língua Portuguesa, Conhecimentos
Matemáticos e Conhecimentos Gerais. E terá como referência a matriz de
competências e habilidades do Exame Nacional do ensino Médio (ENEM)” (SÃO
PAULO, 2013b).
Segundo o organograma do PRE, o referido programa está organizado por
uma Coordenação Geral de Estágio, composta por membros da Secretaria do
Estado da Educação e uma Coordenação Regional de Estágio, formada pela
Diretoria Regional de Ensino. O dirigente regional de ensino designará um
Supervisor de Ensino, o Diretor do Núcleo Pedagógico, os Professores
Coordenadores do Núcleo Pedagógico (PCNP) das áreas de Linguagem e Códigos,
Ciências da Natureza, Ciências Humanas e Matemática e a equipe gestora da
Unidade Escolar39 que receberá o(s) residente(s) para compor a referida
coordenação. Os atores da coordenação regional tem a finalidade de orientar e
acompanhar as atividades do programa (SÃO PAULO, 2013a).
Cabe a Coordenação Geral do programa, o acompanhamento nas diversas
etapas, por meio de orientações técnicas, videoconferências e visitas in loco. A
Coordenação de Informação fica responsável pelo monitoramento e avaliação
educacional, segundo a SEE. Assim, no local de realização do programa,
[a] equipe gestora da escola prioritária deverá se preparar para contar com a presença do residente na Unidade Escolar no sentido de colaborar com a gestão de sala de aula e favorecer a elevação dos índices de avaliação dos alunos da rede pública (SÃO PAULO, 2013a, p.9,). [grifo nosso].
Por fim, as IES ofertantes das licenciaturas cursadas pelos residentes, ficam
com a incumbência de orientar, acompanhar e avaliar a atuação deles nas unidades
39
A Diretoria Regional de Ensino, a partir dos dados obtidos nas avaliações do SARESP dos anos
2010, 2011 e 20012, elencarão as escolas prioritárias sob sua responsabilidade. Com esse
levantamento, se o número ultrapassar dez unidades escolares, a diretoria poderá integrar o PRE, já
que as escolas nessa condição são o alvo do programa (SÃO PAULO, 2013).
132
via Supervisão de Estágio.
O residente inicialmente elaboraria o Plano de Atividades do Estagiário, com a
descrição dos objetivos e das atividades que desenvolverão na escola, com o
respectivo cronograma. É esperado que o estagiário/residente consulte o
planejamento anual do professor que acompanhará, como as orientações
curriculares do estado de São Paulo para compor o seu plano que, “[...] deverá ser
detalhado com a equipe gestora e professor(es) da(s) disciplina(s), observando que
o estágio visa o atendimento às necessidades de aprendizagem dos alunos das
escolas prioritárias” (SÃO PAULO, 2013a, p. 14).
Por fim, o PRE contou com três editais de seleção40 de estagiários/residentes
e teve suas atividades suspensas em novembro de 201441. Os contratos com os
estagiários em vigor forma rescindidos e a justificativa da SEE-SP para essa decisão
seria uma avaliação de impacto do programa.
O estudo de Brito (2013) aborda uma análise documental das publicações
oficiais sobre o PRE, com intuito de relacionar a concepção de estágio remunerado
do programa citado com a formação, profissionalização e precarização do trabalho
docente. Tais análises compuseram a dissertação de Mestrado, intitulada Estágio
remunerado, formação, profissionalização e precarização do trabalho docente:
um estudo a partir do programa “Residência Educacional”, defendida em 2013,
na Universidade Federal de São Carlos.
O corpus da pesquisa foi composto por dois documentos relacionados ao
contexto no qual o PRE foi instituído; sete documentos referentes à normatização do
programa e outros sete, referentes à divulgação do mesmo. Após leitura do material,
foram estabelecidos quatro eixos de análise. Destes, apresentaremos aqui, dois
deles: O PRE e as concepções de estágio; O PRE e a formação docente (BRITO,
2013).
A autora encontra, no primeiro eixo, diferentes concepções de estágio nos
40
Lançados em 1º e 2º semestre de 2013 e 1º semestre de 2014. 41
Segue a nota publicada por uma Diretoria Regional de Ensino “A Coordenadoria de Gestão da Educação Básica - CGEB informa que a partir de 18 de novembro de 2014 o Programa Residência Educacional ficará suspenso temporariamente para avaliação de impacto e solicita à Coordenação Regional do Programa que comunique a todos os residentes que a rescisão de seus Termos de Compromisso de Estágio será feita nessa data. Essa rescisão inclui TODOS os residentes, inclusive os que tiveram seus períodos de estágio prorrogados” Disponível em: http://devotorantim.educacao.sp.gov.br/Paginas/Not%C3%ADcias/O-contrato-dos-Residentes-do-Programa-Resid%C3%AAncia-Educacional-deve-ser-rescindido.aspx
133
documentos analisados. Ainda que exista uma tendência em considerar o estágio
como espaço de interação entre os cursos de formação e o campo de atuação do
professor, a pesquisadora nota que “[...] o estágio na forma como é proposto no
PRE, cria antagonismos e expectativas contraditórias levando a vê-lo com posturas
dicotômicas em que teoria e prática são tratadas isoladamente, o que gera
equívocos graves no processo de formação profissional” (BRITO, 2013, p.96).
Pela ênfase dada nos documentos normativos ao atendimento pedagógico
que os estudantes, na condição de residentes, darão as escolas prioritárias, para
que elas avancem na qualidade de ensino e melhorem seu índice no SARESP42,
indica uma visão de estágio como instrumentalização técnica.
O eixo “O PRE e a formação docente” problematiza a residência inspirada na
formação dos médicos. Brito (2013) salienta que nos cursos de Medicina, a
residência ocorre como uma pós-graduação, após a formação inicial. Já o PRE
sugere a residência durante a formação inicial, a partir do terceiro semestre. A
autora apoia-se nessa comparação para discutir os critérios de acesso ao programa,
os conhecimentos necessários para participar dele. Em nenhum dos documentos
analisados é feita a menção às questões próprias à formação para a docência,
apenas que os cursos sejam autorizados pelos órgãos competentes.
Os conhecimentos sobre a docência também não integram o critério de
seleção dos residentes, como apontado anteriormente, a avaliação feita no processo
de seleção contempla os Conhecimentos Gerais, de Língua Portuguesa e de
Matemática, baseando-se nas habilidades e nas competências exigidas pelo ENEM.
Com isso, os requisitos para a seleção centram-se na assiduidade, bom rendimento
acadêmico do estudante, atestado pela IES, ter disponibilidade horária e estar
regularmente matriculado em uma instituição credenciada e autorizada pelo MEC.
Segundo Brito (2013), um dos documentos analisados do PRE menciona que
o programa deve favorecer a formação do educador, permitindo aos residentes
adquirirem saberes, hábitos e atitudes necessários a sua formação. No entanto, não
fica claro como essa formação aconteceria e como seria a interação entre as
42
Sobre essa questão, em outro momento da análise, Brito (2013, p. 99) cita as quatro justificativas
do PRE apresentadas no texto legal que institui o programa. Destas, três fazem referência à melhoria
da qualidade de ensino e a última ao estágio como uma ação “[...] importante para aprimorar a
formação de educador melhorando também seu desempenho profissional”. As metas para o PRE
seguem na mesma linha, já que a primeira meta espera uma redução de 25% sobre os índices
insatisfatórios das escolas prioritárias, no resultado do SARESP. (SÃO PAULO, 2013a, p.7).
134
instituições participantes nesse processo.
3.4.2.3 - Programa Bolsa Formação-Aluno-Aprendizagem, proposto pela
Secretaria Municipal de Educação de Jundiaí-SP
O Programa Bolsa Formação-Aluno-Aprendizagem foi instituído pela Lei
Municipal 7.388/09 de Jundiaí-SP que prevê a atuação de estudantes de Letras e
Pedagogia das IES da cidade, nas escolas municipais a partir do estabelecimento de
convênio entre as instituições envolvidas.
No art. 2º da referida lei o objetivo do programa é “[...] contribuir para a
formação do futuro professor, aprimorando seu perfil profissional, assim como
possibilitar o desenvolvimento de ações que viabilizem a melhoria da qualidade de
ensino” (JUNDIAÍ, 2009).
Os estudantes da licenciatura poderiam participar do programa a partir do
segundo ano do curso. A atuação deles seria supervisionada por um professor da
IES, indicado para desempenhar essa função. O Termo de Convênio estabelece um
professor orientador para o grupo de vinte estudantes.
Atuação prevista no texto legal deveria acontecer nas salas de aula e nos
projetos de recuperação da referida rede municipal de ensino. Tal experiência
deveria ser descrita em relatórios e publicadas em eventos.
Em 2014, a Lei Municipal 8.185 institui o Programa de Estágio Remunerado
em substituição ao Programa Bolsa Formação-Aluno-Aprendizagem. Essa Lei
estipula o repasse da bolsa direto ao bolsista (no valor de R$ 950,00 mensais), pois
no texto legal anterior o repasse era feito para a IES que repassaria aos bolsistas,
sem menção ao valor. Diferente do texto anterior, há a especificação de uma carga
horária de cinco horas diárias a ser cumprida nas escolas municipais. Por fim, com o
Programa Estágio Remunerado há a menção ao papel professor orientador, mas
não fixa o número de estudantes sob sua supervisão como no programa anterior.
André (2014) ao participar de uma mesa sobre “Espaços alternativos de
Formação” apresenta a experiência do Programa Bolsa Formação-Aluno-
Aprendizagem como um exemplo de ações que oferecem bolsas para os
licenciandos acompanharem as atividades em uma sala de aula.
A pesquisadora ouviu 14 licenciandos, 5 tutores (professores orientadores) de
2 IES e 1 coordenadora do Curso de Pedagogia envolvidos no Programa. Os
135
licenciandos apontaram que o programa possibilita a articulação dos conhecimentos
acadêmicos e os profissionais; ensina como tratar certas situações de sala de aula e
a compreender mais alguns conteúdos da alfabetização. Já na visão dos tutores
(professores orientadores), o programa contribui para efetivar um diálogo entre a IES
e a escola, o trabalho compartilhado entre os envolvidos e um impacto no curso de
licenciatura. A consideração da coordenadora do curso não foi apresentada pela
pesquisadora, que colocou a importância de ouvir os professores que receberam
esses bolsistas para termos um retrato mais amplo da relevância de propostas como
essa para a formação de professores (ANDRÉ, 2014).
3.4.2.4 – O que ainda pode ser dito sobre as experiências citadas de
aproximação do estudante de licenciatura com a escola?
Por fim, das três experiências de aproximação do estudante de licenciatura
com a escola, expostas até aqui notamos avanços e desafios a serem superados.
Dentre os desafios dessas propostas, em duas delas, retomamos a preocupação de
Freitas (2014), mencionada anteriormente, com relação ao PIBID, ao referir-se à
condição de instável de programa e, com isso, a garantia ou não da continuidade do
mesmo. O PRE e Bolsa Formação-Aluno-Aprendizagem foram alterados
bruscamente, o primeiro suspenso por tempo indeterminado e o outro substituído
pelo estágio remunerado, alterando seu modo de funcionar.
Conforme o alerta feito por Freitas (2014), a institucionalização é uma
possibilidade de solução para essa sazonalidade desses programas. Exemplo disso
é a proposta do PRP, que apresenta um diferencial sobre as outras experiências, por
estar integrada ao currículo do curso de Pedagogia. No entanto, apresenta outros
desafios, se desenvolvida em outros contextos: como assegurar que os licenciandos
de um curso noturno, de uma instituição privada possam realizar a imersão em uma
escola durante o dia? (Se considerarmos que esses estudantes são trabalhadores,
no período diurno, por exemplo).
O contato com a escola, o diálogo e a coparticipação dos professores da
escola básica na formação dos futuros docentes representam os avanços da RP nas
práticas formativas. No entanto, essa mesma questão aparece como uma lacuna no
PRE da SEE-SP, os diferentes papeis estão descritos, mas e a articulação entre
eles? Como se deu o diálogo entre as instituições envolvidas?
136
Pode-se problematizar também a finalidade desses programas. De forma
enfática, o PRE estabelece como sua meta a melhoria da qualidade de ensino
(atestada pelo SARESP) e o atendimento às escolas prioritárias. Para isso, conta
com os estagiários/residentes sem especificar como esses estudantes serão
orientados para tais ações. Desse modo, a formação do futuro docente não ocupa o
centro desse programa. O mesmo ocorre com o Bolsa Formação-Aluno-
Aprendizagem em menor intensidade, o qual estipula que os bolsistas auxiliariam
nas atividades de reforço escolar. Desse modo, priorizar a formação do professor
parece constituir-se um desafio a ser superado pelos dois programas.
Neste capítulo, buscamos trazer a problemática da formação de professores
no país procurando mapeá-la em vários âmbitos: nas ações dos governos,
principalmente o federal, pelos documentos legais que regulamentam e direcionam
os processos formativos. Ainda ligada à questão legal, relembramos o panorama
após a promulgação da última LDB, em que a formação do professor foi alocada no
Ensino Superior, o qual teve seu cenário bastante alterado nas últimas décadas, por
motivos variados como a oferta de cursos pela modalidade de ensino a distância,
que tem uma grande oferta de vagas para os cursos de licenciatura. Outro campo
abordado tratou dos estudos que nos auxiliaram a olhar a formação para a docência,
buscando encontrar o que facilita ou dificulta no êxito de programas de formação,
como também a dinâmica entre o conhecimento teórico e prático nesse processo.
Por fim, trazemos as propostas de formação que buscam estreitar o contato do
estudante de Pedagogia com a escola, na sua formação inicial.
Acreditamos que mesmo com os desafios expostos, essas propostas tendem
a aguçar o interesse dos estudantes pela sala de aula, antecipando os desafios
enfrentados pelo professor iniciante, sendo um motivador para aprofundar seu
processo de formação como notamos nas entrevistas realizadas nesta pesquisa.
Algumas delas já foram apresentadas. Para finalizar, segue o trecho da entrevista
com o grupo 3, quando detalhavam sua atuação no PIBID, diziam:
Bianca: [referindo a atuação no PIBID] Outra coisa que chamou a minha atenção
é que nós estávamos dentro da escola e não íamos lá só por causa do estágio. Nós
ficamos na escola para elaborar o projeto e isso foi mais fácil, porque nós
conseguíamos entender o que a criança precisava saber e qual era a necessidade
137
da professora. Essa é a diferença do estágio do PIBID. No estágio você precisava
ir até a escola apenas para aplicar um projeto. Você não conhece as crianças e
acha que aquilo que preparou seria interessante, mas pode ser que seja legal ou
não. Mas no PIBID você estava inserido na escola, nós convivíamos com as
crianças, por isso não podia ser um projeto que você dizia “ai acho que isso é
legal”. [Nadia: Era para a realidade deles mesmo]. Isso foi um divisor de águas,
nós conseguíamos ver a diferença do estágio e do PIBID.
Entrevistadora: Porque a observação no estágio não dá esta informação para
vocês, sobre o que a sala precisa?
Bianca: Não, porque é muito superficial. São alguns dias apenas. Isso quando
você opta por fazer o estágio infantil e fundamental na mesma escola. Se você
opta em fazer em escolas diferentes, você vai se deparar com situações diferentes,
com escolas totalmente diferentes. A forma como você é recebida também é
diferente. Esse é o X da questão.
Nádia: Com relação ao conteúdo também. A professora até sabe o que os alunos
precisam, mas nós não sabemos. Porque ela está aplicando as atividades e nós
ficamos vendo a explicação dela. (Entrevista com os estudantes bolsistas do
PIBID, grupo 3). [grifo nosso].
Nesse trecho da entrevista com o grupo 3, as estudantes Bianca e Nádia
expuseram a participação delas no Programa. Ao detalhar o que vivenciavam,
mostram como entendem as diferenças entre a atuação no PIBID e no estágio,
dizendo “é que nós estávamos dentro da escola e não íamos lá só por causa do
estágio”. Bianca, pelo seu dizer, sentia-se integrada na escola e por isso, em
condições de planejar uma atividade a contento para os alunos. Novamente, o
estágio aparece como uma “aplicação” da teoria, sem vínculos com a realidade.
Desse modo, na conclusão da estudante “Isso foi um divisor de águas, nós
conseguíamos ver a diferença do estágio e do PIBID”.
O divisor de águas parece ser a imersão ou não no ambiente escolar.
Esclarecido pela bolsista quando menciona a diferença do estágio, que segundo ela
“[..] é muito superficial. São alguns dias apenas”. Parece que isso já era vislumbrado
pela IES proponente de sua formação, quando assumia, na justificativa do projeto
enviado à CAPES, a existência de uma lacuna, no que concerne ao efetivo e ao
138
profícuo contato com seu futuro ambiente de trabalho. No entanto, essa contradição
acentua-se com o PIBID, tido como uma referência de qualidade por esses
estudantes.
Nádia referiu-se ao “conteúdo” que é conhecido pela professora da sala e,
organizado por ela, de acordo com as necessidades de seus alunos. Mas para os
futuros professores, esse saber implícito da prática docente não é conhecido,
quando apenas ficam “vendo a explicação dela”. De outro modo, Nadia requereu
com essa fala sua possibilidade de participar com a professora desse processo
também.
Os diálogos, como os já expostos, desenvolvidos nas entrevistas com os
estudantes e os relatos escritos suscitaram várias problemáticas em relação à
formação, como o desejo de um currículo ideal para o curso de Pedagogia, as
dificuldades enfrentadas no início da atuação na docência, o dia a dia da escola e
seus desafios, entre outras questões que trataremos a seguir.
139
4- O processo de constituição docente vivenciado no PIBID
Segundo Thompson (1992), todo historiador oral se depara com o dilema
frente às entrevistas: com a fonte oral em mãos, e agora, o que fazer com elas?
Como reescrever a História a partir delas? Para ele, há três modos de abordá-las.
Apresentando a narrativa na íntegra para que a história seja contada pela voz do
entrevistado, ou fazer uma leitura horizontal das entrevistas a partir de uma
determinada temática, e finalmente, entrecruzar as entrevistas com outras fontes.
Essa última opção nos auxilia a contar a história específica dessa experiência do
PIBID na universidade a partir dos documentos que tivemos acesso.
Para isso, retomamos a questão que norteou esta pesquisa – quais são as
implicações do PIBID na formação desses estudantes de Pedagogia? Consideramos
implicações os desdobramentos e as consequências das ações deste Programa na
formação dos futuros docentes, que participam dele. Assim, destacamos algumas
delas, que foram se delineando a partir da análise da vivência relatada pelos sujeitos
nos diferentes relatórios do Programa e narrada nas entrevistas. Dentre elas estão:
1º implicação “O que é ser professor? o que a vivência na escola me diz
sobre isso?
A profissão de professor tem sido vista com base em alguns estereótipos,
muitos deles relacionados aos baixos salários recebidos, dentre outras dificuldades
presentes no exercício da profissão, como já pontuado no capítulo 3. Essa visão
estereotipada sobre a profissão tem interferido negativamente na procura pelos
cursos de licenciatura. Foi partindo desses pressupostos que quisemos saber como
nossos entrevistados escolheram a profissão docente. Seguem a resposta dada
pelos estudantes Leonel e Katarina sobre a escolha da profissão:
Para a família minha escolha foi normal, eles me apoiaram. Quanto aos amigos,
por eu ser homem, foi motivo de risos. Eles me questionavam, brincando, sobre o
“porquê” de eu escolher um curso que a profissão não vai me dar dinheiro
(Resposta do licenciando bolsista do PIBID Leonel ao Questionário “Escolha da
profissão”).
140
Minha mãe ficou muito feliz em saber, principalmente, que eu havia ganhado a
bolsa, já que foi ela mesmo que indicou que eu fizesse o curso. Quanto aos amigos;
os mais próximos me disseram mais ou menos as mesmas coisas, sempre no
sentido de que "tinha mesmo cara de tia"; por outro lado, de forma bem pior,
conhecidos me chamaram de "coitadinha", afirmando que eu não sabia o que iria
enfrentar (Resposta da licencianda bolsista do PIBID Katarina ao Questionário
“Escolha da profissão”).
Ambos destacam o apoio das famílias a respeito do curso escolhido. Além
disso, todos os entrevistados obtiveram algum incentivo financeiro para fazer o curso
por meio de bolsas do PROUNI, correspondente a 50% ou a 100% do valor da
mensalidade, do mesmo modo lhes foram concedidas bolsas Educafro43.
Conforme vimos, Leonel apresenta que sua escolha pareceu inusitada para
os amigos (um homem optar por ser professor), sendo “motivo de risos” e
brincadeiras. Na mesma linha, os conhecidos de Katarina referiram-se a ela como
“coitadinha” pelo que enfrentaria. Os estudantes de Pedagogia iniciam o curso com
essas e outras imagens sobre ser professor. No entanto, o que faz efetivamente um
professor? Quando e como isso é descoberto por esses estudantes? Que
compreensões constroem sobre o trabalho docente ao frequentarem o ensino
superior de licenciatura?
Para Nóvoa (2009), saber o que faz um professor é condição essencial para
pensar sua formação que, segundo ele, deveria estar ancorada nos espaços de
atuação docente. Conforme exposto antes, o autor descreve cinco disposições para
formar um bom professor que podem ser sintetizadas em: conhecimento, cultura
profissional, tato pedagógico, trabalho em equipe e compromisso social.
Tomando como referência essas disposições analisaremos a seguir os relatos
dos estudantes e professores sobre as atividades do PIBID desenvolvidas na escola,
procurando dialogar com elas. A entrevista realizada com o grupo 2 traz à tona a
participação ativa dos estudantes no Programa e os aprendizados adquiridos ali.
Quando foram questionadas sobre o início da atuação no programa, além de
43
Educafro é uma Organização Não- Governamental que atua na preparação de jovens e adultos
afro descentes e de baixa renda para o ingresso na universidade e na captação de bolsas de 50% ou
100% da mensalidade.
141
mencionarem sobre o processo de constituição da relação com as professoras
supervisoras, ressaltaram aspectos da atuação docente que foram sendo
ressignificados à medida que desempenhavam esse trabalho. Paula, por exemplo,
deparou-se com a contradição vivida entre o que foi planejado e o que foi
encontrado na realidade em sala de aula. Para ela:
O comecinho foi difícil porque o planejamento não condizia com o que iríamos
encontrar. Quando você vai para a prática e começa a desenvolver suas aulas,
você começa a ver até como deve ser o seu planejamento. O que deve ter no seu
planejamento. Até a sua concepção do que deve ser um planejamento muda. A
prática te ajuda neste sentido também, mas continua o embasamento dos textos,
buscar, pesquisar, instiga mais, você aprende mais também. (Trecho da
entrevista com a licencianda bolsista do PIBID Paula, grupo 2)
Conforme o que foi dito pela estudante, foi no contexto das práticas escolares
que Paula percebeu a necessidade de conhecer a sala de aula para elaborar seu
planejamento. Foi ali, a partir da demanda da aula, que os conceitos que envolviam
o planejamento, trabalhados nas disciplinas que cursara, ganharam sentido. A
vivência da prática possibilitou à estudante, diante das necessidades reais da ação
docente, planejar e organizar as atividades e conhecimentos que seriam trabalhados
futuramente. Assim, como ela afirma, até a sua concepção do que deve ser um
planejamento muda. Seu relato apresenta como ela passa a entender a relação
entre os saberes pedagógicos e experienciais não como polarizados, diferente de
como é mencionado em outros momentos das entrevistas, nos quais são citadas
posições estanques, referindo-se à escola como lugar apenas da prática e a
universidade, apenas da teoria.
Nesse trecho a estudante bolsista reconhece em sua fala que percebeu uma
série de acertos ao planejar e ao realizar as tarefas, como também ressalta a
carência por mais estudos, mais tentativas. Tal relato põe em evidência um processo
de revisão e de reelaboração que são inerentes ao trabalho docente. Essas ações
se localizam em torno da primeira disposição colocada por Nóvoa (2009), na qual o
professor em formação utiliza seus conhecimentos para organizar o seu trabalho
pedagógico.
142
Paula prosseguiu, indicando uma ação do professor que é aprendida na
relação com os alunos: como falar com os alunos para que realizem uma atividade?
O que posso ou não dizer para os alunos sobre o que eles estão produzindo
(refletindo sobre uma corrente teórica adotada no processo de formação inicial)? O
que o professor faz com os primeiros retornos dos alunos? Ou seja, o tato
pedagógico que busca as possibilidades de conduzir o processo de ensino e
aprendizagem, outra disposição descrita por Nóvoa (2009). Conforme segue:
[...] Às vezes, eu tentava explicar do meu jeito, mas estava muito preocupada com
aquela coisa do construtivismo. Agora, eu já vejo que não deu muito certo, eu vou
ter que mesclar as coisas. Eu ficava nervosa e não ia. Tinha hora que tinha
vontade de falar para o aluno: “É assim que você tem que fazer. Faz assim! [...]”
Eu tentei fazer um livro sobre brincadeiras com eles. Eles tinham que escrever.
Eu precisei fazer junto com eles, por que eu explicava, mas o texto não saía.
Nossa, será que a errada sou eu? Por que eu não consigo fazer com que eles
escrevam? A professora que estava comigo na sala me explicou depois. Ela
mostrou os textos deles, já estavam no quinto ano e tinham dificuldades que
vinham lá de trás, da forma como foi sendo trabalhado com eles. Nossa, foi difícil,
sem terem a base... (Trecho da entrevista com a licencianda bolsista do PIBID
Paula, grupo 2).
Em sua fala, Paula reconhece que a atividade preparada para o 4º ano do
Ensino Fundamental não se desenvolveu a contento: o texto não saía. Constatada a
dificuldade, nos conta a reflexão que chegou: Nossa será que a errada sou eu? Por
que eu não consigo fazer com que eles escrevam? A estudante, então menciona a
presença e a parceria da professora da escola, que a alertou sobre o conhecimento
da turma sobre textos. Situações como essa, podem mobilizar os saberes já
adquiridos pelos futuros professores e como eles podem ser utilizados ou não para
solucionar os desafios. Por meio da vivência do contexto da prática docente desses
professores, oferecida pelo PIBID, que a frustração de Paula com a atividade e sua
própria atuação foi atenuada pela explicação da docente.
A atuação das professoras supervisoras, acompanhando o trabalho de Paula
e o de Claudia, descrito a seguir, traz indícios da importância da cultura profissional
143
para a formação docente. Sobre isso, Nóvoa (2009) alerta para o papel importante
dos professores experientes na formação dos futuros profissionais.
A experiência junto com a Maria Cecília que tirava todas as minhas dúvidas. [...]
Ela dizia “Para o aluno aprender mesmo nessa fase era o alfabeto móvel todo dia.
É repetitivo e parece que você não está fazendo nada. Mas é ali que você vai ver
os resultados” No final do ano, você até se emociona, porque você vê quase a sala
inteira alfabetizada. Você vê as hipóteses, os avanços dos alunos. Você vê aquele
aluno que estava lá na garatuja se tornar alfabético. Nós sentimos um prazer de
ver como a turma está saindo. A nossa sala quando saiu, estava pronta para a
outra professora. (Trecho da entrevista com a licencianda bolsista do PIBID
Claudia, grupo 1)
A fala da bolsista Claudia, que nela retoma o conselho da professora Maria
Cecília “para o aluno aprender mesmo nessa fase era o alfabeto móvel todo dia. É
repetitivo e parece que você não está fazendo nada. Mas é ali que você vai ver os
resultados” ressalta o aspecto da experiência de alfabetizadora, trazido pela
professora. Esse saber, constituído no exercício da sua profissão é exposto para a
Claudia, professora em formação (NÓVOA, 2009; TARDIF, 2002b). Identificamos
nesse excerto o que Tardif (2002b) enfatiza sobre o saber experiencial do professor,
produzido no cotidiano da sala de aula.
Por outro lado, conhecer a profissão envolve deparar-se com o desafio de
“dar conta” ou não do trabalho, como indicado por Nádia, no trecho a seguir. A
estudante traz a questão do professor unidocente, definido como o “profissional que
trabalha em todos os campos do conhecimento ministrado nas várias disciplinas do
currículo escolar” (BRASIL, 2009, p.36), também chamado polivalente.
A presença na escola do grupo de estudantes bolsistas, cinco para cada
professor supervisor, atenuou essa situação que o professor regente44 lida
diariamente. No entanto, essa organização do Programa permitiu o trabalho em
grupo na formação, o que parece ter tornado visível o exercício da quarta disposição
colocada por Nóvoa (2009), que se refere ao trabalho coletivo na escola.
44
Utilizamos o termo “professor regente” para nos referirmos ao professor supervisor do PIBID, na
escola.
144
Para o autor, essa é uma disposição importante que pode ser vista na
preparação conjunta da ação, como foi exposto por Claudia, no excerto anterior,
quando manifesta a sua preocupação em como a outra professora do ano seguinte
receberia a turma, se os alunos estariam preparados para cursar a nova etapa do
ensino. Isso também traz elementos sobre a perspectiva do coletivo presente na
escola, que foi percebida pela estudante Nádia:
No PIBID, eu comecei em uma sala do quarto ano, depois eu fui para a sala do
primeiro ano, e por fim, fui para o segundo ano. Eu senti muita dificuldade, mas
nós aprendemos muita coisa, porque cada uma dava uma matéria (referindo-se
aos projetos desenvolvidos dentro das áreas do conhecimento por outros
estudantes): eu dava matemática e artes, a outra era português, cada um tinha a
sua área. Por mais que fosse pesado, você só tinha aquilo para pensar, mas agora
eu penso ‘quando eu tiver que assumir minha sala e dar conta de tudo isso!” Dar
ciências, história, matemática, artes.... Eu sei que pela minha postura, eu vou
conseguir colocar a sala em ordem. Saber passar uma atividade, chamar atenção,
conversar com o colega ou com o diretor. Mas, o medo de assumir a sala total?
Porque é você sozinha e esse é o meu maior medo. (Trecho da entrevista com a
licencianda bolsista do PIBID Nádia, grupo 3)
Além da inquietação presente nos dizeres de Nádia que se vê angustiada em
pensar como vai ensinar “tudo isso” aos alunos, outra preocupação surge com a
participação de Bianca na entrevista. Como ensinar a todos, ou melhor, como
possibilitar que todos os alunos aprendam? Sobre isso, nos deparamos com a última
disposição de Nóvoa (2009) para preparar um bom professor, que é o compromisso
social da profissão. Por meio dele, o “educar é conseguir que a criança ultrapasse as
fronteiras que, tantas vezes, lhe foram traçadas como destino pelo nascimento, pela
família ou pela sociedade” (NÓVOA, 2009, p. 31). Assim, os questionamentos feitos
por Bianca trazem indícios de uma atenção para que todos aprendam e o
reconhecimento da sala de aula como espaço da heterogeneidade, das diferenças.
Eu tive a oportunidade de ficar com o segundo ano, eu atuei na alfabetização
também. Nessa turma, me deparei com situações, como as crianças que eu via
145
que não estavam acompanhando. Você pára e pensa, “porque que este aluno não
está acompanhando o resto da classe?” “O que está acontecendo?” Vamos buscar
outra atividade para ele? Vamos fazer com que ele aprenda da mesma forma que
todo mundo, mas com ritmo diferente. Mas não é nada assim, nós imaginamos
que seja uma coisa, mas na hora que chegamos lá é totalmente diferente. Às
vezes dá certo, às vezes não. [...] Nós podemos encontrar situações completamente
diferentes, com crianças com seu ritmo de aprendizagem, uma mais rápida, outra
mais lenta. (Trecho da entrevista com a estudante bolsista do PIBID Bianca,
Grupo 3).
Tendo em vista o que traz o PIBID, diferente do que se tinha como trabalho
padrão do Estágio Supervisionado, conforme exposto no capítulo 3, o relato dos
estudantes da Pedagogia entrevistados indica como um diferencial entre as duas
propostas de trabalho com a escola, o fato de o PIBID não ser apenas para aplicar
atividade45. Os depoimentos de Paula, Claudia e Bianca, em entrevistas diferentes,
apontam uma “atenção” que deram para o processo de ensino e aprendizagem dos
alunos das salas de aula, a ponto de se enxergarem como corresponsáveis pelo
processo de ensino e aprendizagem deles. Isso foi verbalizado por Claudia, a nossa
sala quando saiu. Ela saiu pronta para a outra professora. O que as levou a esse
posicionamento?
Retomamos então o que já foi dito sobre a postura de estagiário, pela fala do
estudante bolsista Willian, durante a entrevista do grupo 1, citada no capítulo 3.
Segundo ele, no Estágio Supervisionado o licenciando tinha que cumprir horas,
executar um projeto sem conhecer a turma e mencionar no relatório final que tudo
ocorrera da melhor forma. Isso tudo sem aparentemente ter um vínculo estabelecido
com o professor, com os alunos e com o processo de aprendizagem ali corrente,
muito diferente do encontrado no PIBID.
Vale destacar que havia uma exigência de contrapartida feita pelo programa a
esses estudantes. Em todos os dados encontrados, há a menção de duas situações
que implicariam na saída do programa: o não comprometimento com as atividades e
a não consideração da autoridade do professor regente. Isso funcionou como uma
45
Trecho da entrevista com estudante Willian, o grupo 1, apresentada no capítulo 3.
146
baliza para os conflitos que discutiremos adiante, como também motivou a
responsabilidade pelo trabalho com a turma. Com isso, nessa experiência do PIBID,
é criado um espaço de corresponsabilidade no processo de formação. A partir disso,
os objetivos do subprojeto submetido pela IES à CAPES, apresentados no capítulo
1, que visavam uma aproximação dos estudantes com o universo escolar, para com
isso, complementar a formação deles parece ter sido exitoso. A explicitação da
contrapartida exigida pela participação no PIBID, segundo os dados indiciam que os
estudantes de fato incorporaram o papel a eles solicitado.
Nesse sentido, Bianca exemplifica a implicação de um contato efetivo com a
escola, quando menciona “Mas não é nada assim, nós imaginamos que seja uma
coisa, mas na hora que chegamos lá é totalmente diferente” referindo-se aos
desafios da sala de aula. Com isso, podemos notar que, da sala de aula imaginada,
estudada, para a sala de aula real, há uma distância, mas como preparar-se para
essa realidade? Por isso, no próximo tópico, abordaremos a questão a respeito do
que prepara o professor para esses desafios, a partir da contribuição dos envolvidos
no programa em questão.
2º implicação “A sala de aula e os desafios da docência: o que preciso
saber para atuar como professor?”
O PIBID proporcionou a esses estudantes o desafio de atuar como
professores, com a supervisão do docente da sala de aula. As respostas a esse
desafio, as estratégias encontradas para “dar conta” dessa tarefa reportam aos
saberes necessários para exercer a docência.
Tardif (2002a, 2002b) refere-se a saberes docentes no plural, por considerá-lo
diverso e originado em diferentes fontes. Assim, os saberes docentes envolvem a
junção de uma série de saberes. No depoimento de Mariana, na entrevista com o
grupo 1, encontramos referências a esses saberes:
Eu tive as aulas com você e a prática com o PIBID. O primeiro ano do PIBID foi
em uma sala de alfabetização e foi uma experiência prática. Nossa senhora, isso
foi muito complicado! A professora [da sala de aula] teve que nos reorientar para
fazer as atividades. As aulas (na faculdade) davam um apoio para você ter em
147
mente o que fazer, mas a sequência, aquele detalhe da sala de aula, isso não teve
na faculdade. [...] Eu penso que a faculdade deveria ter mais tempo de duração,
tendo a teoria e prática junto. [...]
Nós vínhamos com ideias do que fazer na aula (da sala do PIBID) “Vamos fazer
isso”. Chegava na hora, tínhamos que reorganizar, pois as atividades tinham uma
sequência. Nós não tivemos essa sequência, porque não dá tempo da faculdade
dar a matéria para você ter uma base como se fosse uma aula prática. Ter um
professor nos ensinando como se fôssemos alunos da alfabetização. [...]
Pra nós sabermos o que trabalhar, pra não chegar lá (na escola) e não saber o que
fazer. E se perguntar: Agora, o que eu faço? Isso confunde porque faltam os
pequenos detalhes, pois tem muita matéria que nós só tivemos a teoria. A prática
mesmo você não vê. Quando chega na hora você fica e agora, o que é que eu faço?
[...]
Muitos professores da universidade falam “vocês querem receita, receita a
faculdade não vai dar”. Mas é a receita que é importante pra nós, não receita de
coisinha assim, sabe? É a receita desta sequência: olha você vai chegar à sala, a
primeira coisa que você vai fazer com alunos do primeiro ano, em Língua
Portuguesa é isso. Para muitos professores isso é receita e é o que nós tentamos
arrancar do professor (Trecho da entrevista com estudante bolsista do PIBID
Mariana, grupo 1).
Para Mariana, preparar e realizar uma atividade em sala de aula mostrou-se
como uma tarefa exigente, marcada pela expressão “Nossa Senhora, isso foi
complicado” e denotando a necessidade de um refazer “a professora teve que
reorientar”. Segundo seus dizeres, o conhecimento teórico adquirido na universidade
foi insuficiente para auxiliá-la nesse momento. Embora reconheça que a
universidade dá uma noção sobre o que fazer, reclama do conhecimento prático, da
ação em si precisava de mais informações para ser realizada.
Se considerarmos, a descrição de Tardif (2002a; 2002b) sobre os saberes
docentes, podemos dizer que Mariana até então, só tinha tomado contato com os
saberes da formação profissional, os saberes disciplinares e os saberes curriculares
trabalhados nos cursos de formação. Ainda não tinha tido contato em seu processo
formativo com os saberes experienciais.
148
O conhecimento, denominado pela entrevistada por sequência, a princípio
remete a mais informação sobre o que se deveria conhecer da ação do professor em
sala de aula, mas qual é o sentido atribuído a sequência por Mariana? A primeira
menção desse termo está ligada ao esclarecimento “detalhes da sala de aula” que
ela referencia mais adiante. Os detalhes próprios da sala de aula poderiam
corresponder aos conhecimentos implícitos, que estão presentes na ação docente,
mas nem sempre declarados, verbalizados conforme foi explicitado na pesquisa de
Chartier (2007).
Em outros momentos, Mariana afirma “nada como acompanhar o dia a dia da
sala de aula” e “como ela tinha prática, ela já sabia” referindo-se aos conhecimentos
que a professora tinha de seus alunos. Os bolsistas do PIBID acompanhavam a
turma, mas estavam em sala de aula apenas duas vezes na semana, por isso a
estudante destaca a vivência da professora com os alunos como um fator importante
para o saber-fazer da docente. Dessa forma, a professora tem informações sobre
seus alunos e utiliza “aquela sequencinha” com o grupo.
Quando questionada, durante a entrevista, sobre o que é a sequência. A
resposta foi direta: “é colocar em prática”. Desse modo, para a estudante o início na
atuação da docência com a tarefa de organizar uma rotina com atividades
pedagógicas para os alunos parece não ser tão simples, visto que “o que confunde
são os pequenos detalhes”. Os detalhes são definidos como pequenos, porém
representativos. Talvez eles correspondam aos conhecimentos adquiridos pela
experiência de realizar as atividades e notar o retorno dos alunos: O que
questionam? Quanto tempo eles levam para realizar essa atividade? Os detalhes
podem ser identificados por Tardif (2002a; 2002b) como os saberes experienciais,
um saber específico da profissão e constituído no exercício dela.
Nesse sentido, retomamos Charlot (2012) quando afirma a importância de os
pesquisadores precisarem conhecer melhor a atuação do professor para proporem
mudanças na organização de sua formação. Ou seja, trazer os detalhes, analisados
a partir de uma teorização das práticas pedagógicas, num movimento inverso do
comunmente realizado nas pesquisas em educação, ou seja, partindo da escola
para a universidade.
Além disso, devido à relevância que a prática docente tem na formação do
futuro professor, pois por meio dela que os saberes docentes se fundem (TARDIF,
2002a; 2002b) e pela impossibilidade de reproduzir nas salas de aula de formação
149
de professores toda a complexidade do ensino, a formação docente não pode estar
distanciada da escola.
Assim, na vivência de Mariana, a supervisão da professora, titular da sala de
aula, mostrou-se como um norte para desvendar essa sequência e para auxiliar no
início da realização das atividades pedagógicas, sob sua responsabilidade. Segundo
a entrevistada, a professora chamava as estudantes “de canto” e falava “é assim.
Agora, você faz assim” ou pedia para realizarem tarefas, como a sondagem para
conhecer a hipótese de escrita dos alunos, por exemplo, para posteriormente
discutirem os resultados, avaliarem os procedimentos. A tutoria da docente
responsável pela sala, que reorientava as alunas para a realização das atividades,
estabelece uma parceria com essa estudante. Olhando por outro ponto de vista, o
relatório da professora supervisora sobre a atuação de Mariana, também indica esse
acompanhamento:
No início era uma pessoa muito insegura. Contou-me que teve um bloqueio no
início da alfabetização, que carrega até agora. Sempre tenho que repassar suas
atividades por causa da ortografia, para que não chegue até os alunos de forma
errada.
Essa bolsista foi uma das que mais precisou da minha ajuda devido à sua
insegurança. Com o tempo, ela foi adquirindo uma postura de professora e
aperfeiçoando suas aulas, chegando assim num contato mais direto com os
alunos.
Ela conseguiu, com o projeto recreação, despertar nos alunos a convivência, o
lúdico, a cooperação, o respeito mútuo, a autoestima, a interação e a
participação. Ela soube muito bem resolver situações de conflito e
competitividade. Promoveu um trabalho diversificado com um aluno de inclusão.
[...] O trabalho realizado por ela foi positivo e prazeroso, pois os alunos a
admiravam muito e as suas atividades também. A sua vontade e a sua coragem
perante este desafio, fez com que ela deixasse de ver a escola como aluna e
passasse a ser a professora. [...]. Para este ano, acredito que ela esteja mais
segura diante da turma [...] (Relatório da professora supervisora Cássia).
150
A professora supervisora refere-se aos desafios deparados pela estudante,
durante seu percurso escolar. Na fala da professora, tal fato parece estar
relacionado com a insegurança de Mariana. Com isso, somos levados para a
experiência singular da estudante com a escola: como aluna e na constituição
docente. No âmbito da HO, os elementos da subjetividade apontam para a forma
como um fato é significado por cada um. Assim, o desafio do início à docência para
a Mariana acopla um desafio anterior, também vivido na escola.
Ainda esse trecho do relatório do campo da supervisora reforça o aspecto
colaborativo do Programa enriquecendo a proposta de intervenção na escola.
Podemos observar pelo relato oral da estudante Mariana, os desafios por ela
enfrentados e perceber sua reivindicação por mais conhecimento prático. Pelo viés
da sua professora supervisora, expresso no relatório, o desafio vivenciado pela
bolsista é reforçado, assim como também fica reconhecido o seu comprometimento
“adquirindo a postura de professora” e “aperfeiçoando suas aulas”. A HO, ao
defender a relevância de trazer para a pesquisa os pontos de vista dos vários atores
sociais que compartilharam os mesmos processos, pontua a riqueza que a
investigação oferece ao incorporar, mais de uma perspectiva. Portelli (1996) já
citado, ao dar como exemplo o depoimento de um ex-escravo a respeito de sua
experiência nos EUA, ressalta em seu texto que ele, o depoente, “[...] insiste em falar
por si mesmo, em interpretar e julgar-se a si mesmo e aos demais, entrelaçando
continuamente os fatos com a análise da subjetividade” (Ibidem, p. 2).
Ainda nessa análise de Portelli (1996), há o indicio de como esse exercício da
subjetividade do entrevistado, manifesta-se também no rompimento de uma relação
direta e imutável entre o observador e o observado. Dito de outra forma, é esperado
que Frederick Douglass apenas relate para outro (entrevistador) o que ocorreu em
sua vida, no entanto ele, além de falar por si mesmo sobre sua experiência, também
analisou a postura de sua senhora, por exemplo. Ele traz suas impressões sobre seu
feitor quando o castigava.
Em nosso caso, Mariana fala sobre suas dificuldades para conduzir uma aula
e analisa a postura de seus professores, quando questionou porque não recebeu a
sequência em sua formação e completou dizendo, “para muitos professores isso é
receita e é o que nós tentamos arrancar do professor”. Com isso, ela deixou de se
colocar como uma estudante que avalia seus aprendizados (ou não) e passou a
analisar seu processo de formação na universidade. Para isso, apontou o que foi
151
contemplado ou não e, consequentemente, como foi a ação dos seus professores. O
destaque dado para esse fato por meio da HO refere-se à relação hierárquica de
uma sala de aula, que não permitiria tal análise, pois quem ocupa o lugar de
avaliação nesse espaço é o professor.
Ainda fazendo alusão ao relato de Douglass, Portelli (1996) discute a
representatividade da subjetividade desse informante para a história do sistema
escravocrata. Para isso, o autor contrasta a história desse sujeito com uma análise
estatística, feita por um estudo sobre as chibatadas recebidas por um escravo,
naquele período. É apurado que um escravo era açoitado 0,7 vezes ao ano. A partir
disso, o autor questiona o que esse dado representa e ao mesmo tempo indica no
território das possibilidades, que pode ser aberto pela memória e pelos relatos orais.
Enfim, isso pode compor o complexo horizonte das possibilidades “[...] que constrói o
âmbito de uma subjetividade socialmente compartilhada” (PORTELLI, 1996, p. 8).
Exemplificando a colocação acima, Portelli (1996) indica que o relato e a
memória de um escravo açoitado pode criar o horizonte de possibilidades
imaginárias de outros escravos, e isso pode afetar e regular o comportamento dos
que estão sob essa condição.
Retornando a nossa informante Mariana, sua narrativa durante a entrevista,
pode representar o horizonte de possibilidades de professores em formação. Desse
modo, a insegurança frente à sala de aula, o não saber o que e como fazer, entre
outras questões estiveram presentes em outros relatos de estudantes. Exemplo
disso, é o trecho do diário de campo de Kátia, transcrito no capítulo 3, onde ela
relata minuciosamente sua primeira aula. Nele podemos perceber as mesmas
questões destacadas anteriormente.
Diferente de Mariana, Katarina relata fazer uso de outros recursos para
preparar as atividades para a sala, onde foi bolsista do PIBID. Ela recorre aos textos
da faculdade, aos saberes profissionais e curriculares para organizar sua prática
docente. Já Bianca, nos trechos seguintes, além de recorrer a esses saberes
também fala sobre os apoios recebidos no início de sua atuação no programa:
[...] vou falar um pouco da minha experiência, puxar na memória, pois eu saí há
mais de um ano. [No PIBID] Eu trabalhei com o 4º e 5º ano. Sempre trabalhei
com leitura, interpretação de textos e ortografia. Os textos da faculdade foram a
152
base, trabalhar as modalidades organizativas, por exemplo. Meu Deus! Foi o que
me deu base para me organizar e organizar meu trabalho, porque às vezes nós
chegamos à escola e não temos a noção do que fazer, de como eu vou começar, com
o que eu vou trabalhar, porque os conteúdos são definidos, não lembro agora que
tipo de texto eu tinha que trabalhar, um gênero que eu tinha que trabalhar, mas
como trabalhar? Isso eu não tinha. Os textos da faculdade me ajudaram a me
organizar a trabalhar e a desenvolver a própria aula (Trecho da entrevista com
estudante Katarina, grupo 2)
...
As aulas da faculdade me ajudaram bastante. O máximo que nós conseguíamos
tirar do professor nós tirávamos. Nós víamos se o embasamento teórico que
estávamos usando era realmente aquele e se não era nada absurdo. A convivência
com a professora da sala, a convivência com a Fabiana (Professora coordenadora
de área do PIBID), a sensação de segurança que elas passaram para nós. Quando
diziam “Vai em frente. Você tem potencial. Você vai chegar longe!” O apoio das
colegas, uma ajudava a outra, quando não conseguia fazer alguma coisa. Uma
falava assim “Ah faz isso! Tenta faz aquilo.” No meio do projeto, nós tivemos as
oficinas de Matemática com o Edvaldo que ajudou bastante. Também tivemos a
vivência com a Raquel. Então, nós tiramos um pouco de cada professor,
absorvendo aquilo que eles passaram para gente. Estudando também, buscando
sempre novos materiais. [...] (Trecho da entrevista com estudante Bianca, grupo
3)
Tanto Bianca como Katarina destacam os saberes adquiridos na formação
inicial como uma base para a organização das atividades para atuarem em sala de
aula. Dizem ter recorrido aos textos lidos na faculdade, aos professores ou ao
estudo para poder ‘dar conta’ do desafio assumido. Nesses excertos, a relação entre
os saberes da formação e os produzidos na prática docente aparece de maneira
mais fluída. Exemplo disso é o conhecimento sobre rotina, citado por Katarina, que a
auxiliou na organização da rotina da turma (CHARTIER, 2007).
Além dos textos estudados e das aulas na IES, Bianca cita a Oficina de
Educação Matemática, sob a responsabilidade do Prof. Edvaldo como um dos
elementos que deram subsídio para suas aulas. Essas oficinas ocorreram durante
153
um semestre e foram organizadas pela coordenação do PIBID, após uma solicitação
dos professores supervisores. Nelas, professores supervisores e estudantes da
Pedagogia eram alunos e buscavam se apropriar dos saberes dessa área do
conhecimento. Com essa iniciativa, houve uma proposta de formação continuada
para as professoras supervisoras, possibilitando que os diferentes saberes
circulassem nas atividades do programa.
Contar com o apoio da professora da sala, da professora coordenadora de
área do PIBID, professores do curso de Pedagogia, enfim contar com profissionais
mais experientes, para iniciar a atuação pôde representar um aparato capaz de
reduzir o desafio de conduzir uma aula. Tal desafio foi retratado por Katarina como,
“às vezes nós chegamos à escola e não temos a noção do que fazer, de como eu
vou começar, com o que eu vou trabalhar”.
Segundo indicam as entrevistas, essa atividade desafiadora, trazida pelo
PIBID, pôde mobilizar os diversos “amparos” e saberes para que esses futuros
professores construíssem suas aulas. Dessa forma, no momento que o futuro
professor assume uma sala de aula para realização do trabalho docente, ele
necessita articular os saberes para realizar a tarefa. Além de avaliar se os saberes
de que dispõe necessitam de aprofundamento, precisa acessar os saberes
experienciais, por meio do contato com os colegas de profissão. Isso se dá porque
os saberes docentes se articulam na prática pedagógica (TARDIF, 2002b). Diante
dessas questões, os processos formativos que possibilitassem o contato efetivo com
a prática pedagógica, favoreceriam que essa articulação fosse feita durante o
percurso de constituição docente, como foi evidenciado pelas bolsistas Mariana,
Katarina e Bianca.
Retomando aqui relatos anteriores em que estudantes comparavam a
experiência do PIBID com o que vivenciaram no estágio, torna-se mais visível ainda
o não-lugar dos estagiários, apontado por Fontana e Guedes-Pinto (2002) e fica
destacado a valorização e o reconhecimento dado aos bolsistas do PIBID como
profissionais em formação que devem se responsabilizar por certos trabalhos na
escola.
A seguir atentaremos para a parceria que se estabeleceu entre professores
supervisores e estudantes para realização das tarefas do programa.
154
3º implicação “Relação com os professores experientes/colegas de
profissão: quem ensina quem?”
A provocação: quem ensina quem, nesse contexto? Em um rápido exame do
que encontramos, vemos duas sugestões de resposta, não excludentes. Poderia ser
o estudante bolsista, em processo de formação que aprenderia com o professor
mais experiente, como aposta o PIBID. Ou quem sabe, seria o professor regente,
pois há também a expectativa, por parte de algumas iniciativas, de aproximar o
futuro professor com a escola46, de que a presença do licenciando possa colaborar
com a formação do professor regente, já que este dispõe de conhecimentos mais
atualizados. O seguinte trecho da entrevista com a estudante da Pedagogia Gisela,
quando falava sobre sua experiência no PIBID, expõe o que em sua avaliação, foi o
grande benefício do Programa:
A troca foi o grande benefício que o PIBID deu para nós. A possibilidade de
trocar, no qual nós entramos com o que sabíamos, as professoras da escola vieram
com o que elas sabiam também e juntamos tudo isso. Eu acho que essa troca foi
fundamental (Entrevista com a estudante bolsita do PIBID Gisela, grupo 4).
[grifo nosso].
Vemos que as possíveis respostas para a questão feita anteriormente
parecem ser bastante polarizadas, se consideramos a troca de saberes evidenciada
por Gisela. Segundo ela, houve uma junção desses conhecimentos o que indica
uma aprendizagem mútua nesse contexto. Mas como se dava essa troca? O excerto
da entrevista realizada com a estudante Paula, ao falar sobre sua inserção na escola
e a relação construída com a professora da sala, traz alguns indícios para
conhecermos essa troca.
Um dia eu cheguei atrasada e a professora da sala já tinha feito a roda com as
crianças. Isso foi no projeto de cantigas. Eu cheguei, vi a roda feita e pensei
“Nossa! Ela começou a cantar com as crianças as cantigas do livrinho”. Eles
tinham feito um livrinho com as cantigas que cantávamos no projeto. Como você
46
Por exemplo, o Programa Residência Educacional da Secretaria Estadual de Educação de São
Paulo.
155
perguntou, “o que mudou”? Em Língua Portuguesa eu li muito a teoria, mas
aprendi muito com a professora também. Os termos que nós usávamos, a pasta
que era feita com as produções crianças (referindo-se a uma Pasta com Avaliação
Diagnóstica e de Percurso). Algumas coisas, assim mais práticas, digamos, eu
aprendi com ela. Elas [as professoras] aprenderam conosco que as atividades
podem ser mais divertidas e que não precisa ser aquela coisa tão chata para as
crianças. As professoras não têm dificuldade para ensinar, mas para escrever um
relatório sim. Nós levamos para elas o como fazer o relatório para a universidade,
que seria enviado para Capes. [...] O primeiro relatório não estava de acordo com
as normas da ABNT. [...] Eram muito simples, descrições rápidas e sem a
fundamentação teórica. Nisso nós trocamos bastante (Entrevista com a estudante
bolsista do PIBID Paula, grupo 2 ). [grifo nosso].
A satisfação pelo trabalho em parceria aparece na surpresa, expressa na fala
da estudante “Nossa! Ela começou a cantar com as crianças as cantigas do livrinho”,
ao notar que uma atividade desenvolvida por ela tinha sido incorporada na aula da
professora da sala. Esse comentário traz índicos da relação que se estabelecia entre
a professora, a bolsista e o trabalho docente realizado nesse contexto. A atuação da
estudante não se restringia a uma atividade previamente preparada, como
normalmente diziam ocorrer nas atividades do Estágio Supervisionado relatada
pelos estudantes, pois parece que ela está inserida na rotina da sala de aula.
Considerando informações obtidas nos relatórios consultados, isso se deve à
imersão que os estudantes fizeram nas salas de aula e a relação que foi se
estabelecendo com os professores regentes, como veremos à frente.
O modo de Paula se referir ao aprendizado obtido no PIBID, como “aprendi
com elas as coisas mais práticas”, apresenta uma visão polarizada da relação entre
saberes teóricos e práticos. Vale destacar, que as coisas mais práticas faziam
sentido, pois já tinha se aproximado desses saberes pedagógicos em outros
contextos, nas aulas da universidade, por exemplo. Chartier (2007) demonstra, pela
observação sistemática do trabalho de uma docente, como a relação entre esses
saberes é fluída no fazer do professor, e muitas vezes ele não tem consciência disso
em muitos momentos, como demonstrou Paula.
156
Sob a perspectiva da estudante, a professora regente aprendeu com ela uma
forma mais dinâmica de abordar os conteúdos e a produção dos relatórios. Veremos
a seguir, o que a professora da sala fala sobre a atuação dos bolsistas sob sua
responsabilidade em trechos destacados de seu relatório. Nele ela avaliava a
condução dos projetos quando menciona:
[...] esse projeto foi fundamental para a formação dos universitários, pois trata de
uma oportunidade para eles colocarem em prática a teoria, contribuindo para a
formação de um ótimo profissional. [...]
Para nós professores os bolsistas trouxeram o “novo”. Nós estávamos com o
conteúdo anual quase terminando. Então, resolvemos deixar que eles colocassem
em prática o que haviam planejado. Nós intervíamos quando era necessário.
Mesmo porque, para trabalhar somente com o lúdico para nós, sozinhas é
bastante complicado, principalmente pela falta de tempo. (Relatório da
Professora Supervisora Flávia) [grifo nosso].
A observação “colocarem em prática a teoria, contribuindo para a formação
de um ótimo profissional” traz novamente a visão polarizada da relação entre os
conhecimentos teóricos e os saberes da prática, que estão presentes nos discursos
sobre formação de professores. Para Tardif (2002) isso ocorre, por que os
professores não produzem nem têm o domínio de todos os saberes docentes.
Assim, são os saberes experienciais que permitem ao professor colocar em prática a
teoria. Nesse espaço, como o provido pelo PIBID, os conhecimentos produzidos fora
da prática docente podem ser ressignificados.
Além dessa visão polarizada dessa relação entre os saberes, notamos que a
palavra prática assume diferentes sentidos nos dizeres dos participantes do
programa. Para os estudantes, como dito por Paula, ‘ela aprendeu as coisas mais
práticas com a professora”, o termo prática se refere às atividades realizadas em
sala de aula como as pastas de avaliação. Próximo desse sentido, a estudante
Mariana solicita que a universidade “ofereça a prática junto com a teoria”, em que
prática é tomada como o conhecimento da sequência das atividades proposta pela
professora. Ambas trazem em suas falas a prática como um sinônimo da ação
docente. O projeto da IES proponente do PIBID também compreende prática como
157
ação, quando menciona “para complementar a formação integral do estudante de
graduação, tendo como base o conhecimento da dinâmica da escola e a utilização
de recursos didáticos diversos, de tal maneira que interfira, contribua e vivencie a
prática pedagógica da educação básica da rede pública” (p.8)
Já nos dizeres da professora Flávia, os estudantes tem a possibilidade
“colocar em prática a teoria”. Aqui, a prática aparece como uma aplicação da teoria.
Para o Programa em questão, suas ações possibilitam a ida do futuro professor à
escola e com isso, aproximá-los da prática, sendo que um de seus objetivos é
promover uma integração entre teoria e prática. Desse modo, ir para a escola é um
dos sentidos dados para o termo prática. Esses destaques feitos sobre os conceitos
e entendimentos para a palavra prática podem indicar o quanto ela é polissêmica
quando se discute a formação de professores.
Ao participar das atividades na escola pelo PIBID, os estudantes bolsistas
depararam-se com a oportunidade de constituir os seus saberes docentes, por meio
do diálogo com os diversos saberes e dos significados dados a eles no contexto da
prática docente. Isso talvez justifique a indicação de uma grande troca.
Fabíola: A questão de termos esta residência pedagógica. É como se fosse isso,
porque nós estávamos na prática, com uma professora que já atuava há muito
tempo. Por mais que tivesse a troca, nossa, nós aprendemos demais. Acho que nós
pensamos assim: “Agora elas [professoras]vão aprender que tem que ter teoria
nesse negócio” e depois nós vimos que não tinha que ser assim, que poderíamos
conversar entre nós. Porque assim a gente entra com a teoria fundamentando o
que elas já aplicam há 20 anos e que, nossa, por que eu faço isso? Eu lembro que
a Profa. Cássia fez um relatório super bonitinho, bem redigido. Mas eu falei “Você
vai fundamentar em quê? “Ah Fabíola, coloca aí Paulo Freire!” Eu respondia
“pode deixar”. Então isso que elas não tinham, foram aprendendo conosco. [..]
Elas pediam socorro [...] nós sentávamos junto...
Entrevistadora: Vocês perceberam que isso acontecia na escrita desse relatório?
Fabíola: Não. Até na prática [...] chegamos à escola, bem na época que não podia
mais usar material dourado [em Matemática para trabalhar sistema de
numeração decimal]. [...] Levamos um jogo, já que o material dourado não podia
mais. As caixas desse material estavam escondidas dentro do armário delas.
158
Pegamos de volta [...]. Muita coisa foi modificando, as professoras passaram a
fazer alguns questionamentos sobre o ensino da matemática. Antes era aquela
lousa cheia de algoritmo e só, mas isso foi modificando. A partir do momento que
propúnhamos uma atividade no projeto, a professora depois continuava. Ela
mudou a forma de passar os problemas. Não eram mais os problemas fechados,
mas passava problemas abertos para fazer a criança pensar. [...] Nós
descobrimos um monte de coisas juntas, coisas que às vezes a gente não para pra
pensar e dá certo (Trecho da entrevista com estudantes bolsistas do PIBID, grupo
4). [grifo nosso].
Por fim, retomando a provocação feita, a resposta que parece mais adequada
é ambos - estudantes e professores supervisores - aprendem. Os estudantes
chegam à escola na condição de aprendizes, mas levavam consigo tudo o que já se
apropriaram, em seu processo de constituição docente. Eles colaboraram,
interferiram na dinâmica quando tiveram permissão e puderam contar com a parceria
do professor regente e supervisor do programa.
Quando a ameaça do “estagiário que vai criticar nossas aulas” desaparece e
cede espaço para um trabalho conjunto, o professor da sala e supervisor dos
bolsistas, por sua vez, passa a receber os futuros professores como um colaborador
para trabalharem juntos. Ao apresentar seu modo de conduzir e organizar seu
trabalho docente, o professor revisita sua prática, explicitando os porquês de suas
escolhas para os estudantes. Ao analisar o planejamento dos futuros professores e
a execução das atividades para suas salas de aula, o docente supervisor também
pode atentar-se para as diversas possibilidades de tratar determinados conteúdos,
como salienta a Profa. Flávia “os bolsistas trouxeram o ‘novo’”. As brechas,
ocupadas pelos bolsistas do PIBID em sala de aula, foram aumentando no decorrer
das atividades e reforçou para a efetivação desse processo formativo.
Arriscamos dizer que a formação não ocorre apenas nos moldes de
professor/aluno, conhecimentos teóricos repassados aos docentes ou aos futuros
professores, como bem sinalizou os achados de Tempesta (2009). A dinâmica e os
desafios de uma sala de aula, a organização das atividades pedagógicas, as
preocupações com o ensino e aprendizagem dos alunos afetam todos os envolvidos.
Por isso, é preciso saber o que faz um professor (CHARLOT, 2012) e como são
159
formados os saberes docentes (TARDIF, 2002a, 2002b) para assim (re)pensar as
propostas de formação, buscando superar os modelos já conhecidos e considerar a
possibilidade de a escola e de os professores de teorizar sobre o seu fazer.
Sobre isso, Nóvoa (2009) indica cinco propostas de formação, ancoradas nas
características de um bom professor, retomadas na primeira implicação, no início
deste capítulo. Destacaremos duas propostas aqui. A primeira atenta-se para a
práxica como um componente da formação docente, ou seja, uma atenção para o
componente que ordena a ação do professor.
Para isso, é preciso acrescentar a seguinte afirmação de Nóvoa (2009)
referente à discussão sobre a dicotomia teoria/prática. Assim, para além dessa
dicotomia, é preciso considerar que, “o que caracteriza a profissão docente é um
lugar outro [...] no qual as práticas são investidas do ponto de vista teórico e
metodológico, dando origem á construção de um conhecimento profissional docente”
(NÓVOA, 2009, p. 33). Com isso, essa colocação do autor vem ao encontro com os
outros autores, já chamados a colaborar com esse trecho da análise.
Os excertos expostos anteriormente refletem essa visão dicotômica, que
segundo Nóvoa, precisa ser superada na formação de professores. Para ele,
“impõem-se inverter essa longa tradição, e instituir as práticas profissionais como
lugar de reflexão e formação” (NÓVOA, 2009, p. 33).
A primeira proposta se inspiraria na formação dos médicos, no qual a
formação docente deveria trabalhar sobre casos concretos, mobilizando os
conhecimentos para solucioná-lo; tomando uma dimensão mais ampla do
conhecimento, superando a visão dicotômica entre teoria e prática; também pela
transformação deliberativa, ou seja, pela transformação dos saberes frente aos
desafios docentes e, por fim, a formação envolvida dentro do contexto profissional.
Há indícios de que, ainda que tenha se dado de modo tímido, esses aspectos
do modelo da formação do médico, destacados por Nóvoa (2009) estiveram
presentes na experiência de formação do PIBID. Como já mencionado em outros
momentos e será tratada no próximo item, a imersão desses estudantes no
ambiente escolar possibilitou implicações na formação deles.
Tomando a primeira proposta de Nóvoa (2009) como referência, podemos
destacar a preocupação de alguns estudantes com “alguns casos” da sala de aula
como diz Bianca, no trecho da entrevista que será citado a seguir, como fazer que
todos os alunos aprendam? A equipe do programa se reunia para planejar e para
160
tratar dessas dificuldades. Como também já mencionado, as dificuldades com
determinadas situações levaram os envolvidos no programa a buscar novos
conhecimentos, como as Oficinas de Educação Matemática e o curso sobre
Violência doméstica, próximo do segundo aspecto descrito por Nóvoa (2009).
Os já citados desafios da docência, que os estudantes se depararam,
solicitaram deles uma transformação deliberativa para responder a essas demandas
e continuarem com êxito no programa. Por fim, o último aspecto refere-se à
responsabilidade com profissão na formação. Como será esmiuçado na próxima
implicação, os futuros docentes puderam vivenciar juntos dos professores regentes
algumas situações organizacionais que interferiram na rotina de trabalho.
Pelo exposto até aqui, já fizemos uma série de considerações que estão
relacionadas com a segunda proposta de formação de Nóvoa (2009), por se
aproximar da temática dessa implicação na formação dos estudantes. O autor
sugere na proposta em questão, que o professor ocupe um papel ativo na formação
dos futuros professores. Em diferentes momentos deste texto, citamos exemplos da
atuação do professor supervisor e o reconhecimento disso pelos estudantes. A
experiência do PIBID aqui estudado permitiu essa atuação do docente regente, no
entanto sabemos que essas duas propostas representam um desafio para os
programas de formação de professores, considerando as limitações enfrentadas,
como as citadas no capítulo 3.
Por fim, ter o amparo de um profissional experiente no início da atuação como
professor mostrou-se muito eficiente. Sobre isso, Nóvoa (2009, p. 38) assegura que
“nestes anos em que transitamos de aluno para professor é fundamental consolidar
as bases de uma formação que tenha como referências lógicas de
acompanhamento, de formação-em-situação, de análise da prática e de integração
na cultura profissional docente”.
4º implicação: As tensões do trabalho docente na escola
No exercício da profissão docente, em nossos sistemas públicos de ensino,
as questões burocráticas e organizacionais das redes interferem na vida escolar e
do professor. Os estudantes bolsistas puderam acompanhar o desenrolar da
mudança de prédio da instituição e o que isso pode interferir no trabalho do
professor:
161
[...] a mudança nos trouxe alguns transtornos, pois mexeu com a vida profissional
de vários professores, inclusive com a professora Maria Cecília. Ela teve que
mudar de período, ocasionando um desconforto no grupo de bolsistas, pois alguns
tiveram que trocar de período e de professora supervisora, ou seja, todo o grupo
foi modificado. Esse fato trouxe ainda situações indesejadas para o grupo dos
professores, pois a possibilidade da mudança do nome da escola poderá alterar a
ordem de escolha de classe entre professores municipalizados e municipais. Todo
esse impasse gerou uma angústia geral no grupo (Trecho do Diário de bordo de
uma professora supervisora, citado no Relatório de Coordenação de Área).
O impasse gerado pela mudança tomou proporções além da troca de horário,
no final de 2011, a Profa. Cássia deixou de participar do programa, pois estava na
escola sob a condição de professora municipalizada47. Ela estava vinculada a escola
anterior e não poderia ser transferida para o novo prédio. Com esse fato, ela teve
que retornar para a rede estadual de ensino.
Tais ocorrências, segundo consta nos relatórios, repercutiram na vida dessas
profissionais e no trabalho desenvolvido por elas. Acompanhar esse processo trouxe
para os estudantes informações sobre as condições de trabalho desta profissão e
aproximando-os dessa cultura profissional (NÓVOA, 2009).
Outras tensões surgem na escola do PIBID:
No dia 06-10-2010, ocorreu uma reunião de conselho de ciclo. Segundo
relatos das professoras supervisora e dos bolsistas ela aconteceu em uma sala
pequena e apertada, e em determinada altura quando passaram a discutir o caso
de um aluno de inclusão os ânimos se acirraram. A professora desse aluno teceu
comentários que não foram de “bom tom”, segundo uma das professoras que
registrou em seu diário de campo, quando se reportou a esse aluno. A situação,
segundo os demais registros textuais das outras professoras-supervisoras, foi tão
47
Em 1999, a rede municipal de ensino em questão assume a responsabilidade pela oferta do ensino
dos primeiros anos do Ensino Fundamental, até então oferecida pela rede estadual. Os professores
que atuavam na rede estadual foram absorvidos pela rede municipal por um acordo estabelecido
entre as partes. Nesse acordo, os professores não retornariam para suas sedes e poderiam prestar
serviço no município, na escola que atuavam até o início desse processo. Mas não previa o
deslocamento desse profissional na rede de ensino.
162
desagradável que elas no dia seguinte nos encaminharam um e-mail, pedindo
desculpas e informando que iriam conversar com o grupo gestor da escola sobre o
ocorrido. No dia 18-10-2010 houve a comemoração do dia do professor e do
funcionário público na escola, os bolsistas foram convidados a participar e
receberam também da comunidade escolar um “presente” pela data. No dia 28-
10-2010, ocorreu outra reunião que contou com a participação dos bolsistas, de
todos os professores da escola, do grupo gestor da escola e da coordenadora da
escola de educação infantil que dividia e ocupava o mesmo prédio, novamente,
ocorreu outro desentendimento significativo entre os gestores e essa
coordenadora. Observamos que as professoras ficaram extremamente
sensibilizadas e fragilizadas com tais fatos. Em seus diários de campo elas
pontuaram que ficaram envergonhadas com esses desentendimentos frequentes,
bem como os bolsistas registram a indignação com estes fatos! (Relatório da
Coordenação de área)
Nessa imersão na escola conveniada com o programa, percebe-se que os
estudantes ganharam um reconhecimento oficial por terem sido homenageados pela
comunidade escolar, juntamente com os demais professores titulares, pelo dia do
professor. Esse fato reforça o “status” conquistado por esses estudantes, analisado
em outro momento. Nestes dois trechos, com situações distintas, nota-se que os
estudantes puderam conhecer o contexto em que o que trabalho do professor pode
ocorrer e, ainda as atividades (além da aula) que fazem parte da sua atribuição em
uma escola, como participar de reuniões de ciclos, por exemplo.
O início desse trabalho esbarrou em algumas dificuldades já relatadas em
outros momentos. Segue o trecho da entrevista com o grupo 3, quando abordavam
as tensões dentro da sala de aula:
Nádia:[...] Agora, no meu primeiro ano, eu iniciei com a turma da Profa. Maria
Cecília e não começamos com amores [Bianca: nós não conhecíamos a turma,
tínhamos medo, entramos bronqueadas. Eu não gostei, eu odiei o projeto inicial.]
Se fosse pelo começo ninguém ficaria no projeto, as crianças não nos respeitavam,
[...] não teve uma apresentação maior, foi assim “elas vão fazer um trabalho com
163
vocês e pronto”. Foi explicado o que era o PIBID, mas ficou vago e as crianças não
sabiam direito.
Bruna: Não aconteceu o que tem que acontecer num projeto. As crianças não
aderiram ao projeto porque não era delas, era nosso. Tivemos noção disso no
primeiro no dia de aula.
Entrevistadora: Mas vocês não tiveram condições de dialogar com as crianças a
respeito?
Nádia: Não, tínhamos oito aulas apenas e acabou. Nós entramos no finalzinho de
outubro, faltavam dois meses para encerrar o ano letivo.
Entrevistadora: Como foi o início do 2º semestre? Vocês puderam conversar?
Bruna: Foi legal, a gente participou do convívio das crianças, nós ajudamos a
preparar a sala, a reunião de pais, tivemos o primeiro contato com as crianças,
conseguimos levantar o conhecimento prévio delas para depois realizar o projeto.
Nádia: Como nós pudemos participar de todas as atividades de acolhida dos
alunos e reuniões de pais. Quando a professora chegou à sala, os alunos não
conheciam só a professora, eles também conheciam o PIBID. Fomos apresentados
pela professora responsável, “essa daqui vai dar aula disso, essa daqui vai dar
aula daquilo, essa vem na terça...” já foi tudo determinado, uma rotina, um
planejamento... (Trecho da entrevista com a estudante Bianca e Nádia do grupo
3). [grifo nosso].
O relato das estudantes apresenta a construção de um entrosamento entre os
envolvidos no programa. Nesse processo, inicialmente, pelos seus dizeres, não
estava claro como atuariam na sala de aula, tanto que, segundo Nádia, “não teve
uma apresentação maior, foi assim ‘elas vão fazer um trabalho com vocês e pronto’”.
Bianca, por sua vez, completa dizendo “As crianças não aderiram ao projeto porque
não era delas, era nosso”, referindo-se às atividades programadas e às dificuldades
enfrentadas com os alunos.
Há um destaque, na fala das estudantes, de como isso muda no início do
semestre seguinte, no qual puderam participar das diferentes eventos com a
comunidade escola que permitiu preparar-se e já serem conhecidos pelos alunos,
como sinaliza Nádia ao dizer “Quando a professora chegou à sala, os alunos não
conheciam só a professora, eles também conheciam o PIBID”. Com isso, há indícios
164
em suas falas a respeito do quanto o PIBID era entendido pela comunidade escolar
como algo importante no seu cotidiano.
Os detalhes dados pelas estudantes sobre o início delas no Programa
reforçam a importância da construção de uma articulação entre os envolvidos para a
realização das atividades, como trataremos a seguir. Fabíola traz mais uma questão
sobre esse momento inicial. Segundo ela:
A chegada não foi difícil, mas eu nunca tinha entrado numa sala de aula. Foi
diferente. Eu ainda me lembro do primeiro dia, eu e a Mariana chegando à escola,
que atendia de um lado do corredor a Educação Infantil e de outro Ensino
Fundamental. Era muita gente. Tínhamos decidido fazer o projeto no horário do
recreio. Mas vimos que não dava certo, porque era iniciação à docência. Nós só
podemos ter a iniciação à docência com docente junto, então se não tinha nenhum
professor no intervalo, não poderíamos ficar lá. [...] Mas nos primeiros dias foi
diferente, porque como você vai chegar à sala? Aquele monte de criança olhando
para nós. Assim, quem é você? Porque pegamos o bonde andando, nós chegamos
em setembro, cheias de projeto, doidas para fazer, não foi assustador, foi
diferente, novo, mas deu super certo. (Trecho da entrevista com a estudante
bolsista do PIBID Fabíola, grupo 4). [grifo nosso].
Em sua fala, Fabíola descreveu o posicionamento que teve no início de sua
atuação no programa. Seus dizeres dão indícios de que ela solicita ocupar outro
lugar na escola: “Nós só podemos ter a iniciação à docência com docente junto,
então se não tinha nenhum professor no intervalo não poderíamos ficar lá”. Ela
requereu o espaço previsto no Projeto Institucional do PIBID da IES, que propunha
mudar o status de estagiário para residente, citado no capítulo 1. Essa alteração,
segundo o referido projeto, tinha como finalidade melhorar a atuação dos bolsistas
no ambiente escolar.
No entanto, pelos dizeres já citados em outros momentos e a fala de Paula, a
seguir, podemos dizer que não se trata de alterar uma terminologia. Mas de
conquistar outro lugar na escola. Isso se deu por um processo que passou pela
diferenciação do estagiário, já que segundo Paula, “éramos vistos como estagiários
[...] Eles falaram que nós ficaríamos sentados e iríamos só olhar”, da “demonstração
165
de que sabiam fazer, que eram capazes”48, que eram parceiros, como afirmou uma
professora supervisora em seu relatório49.
Quando chegamos pela primeira vez na escola, éramos vistos como estagiários.
Até os professores falavam isso para nós. Eles falaram que nós ficaríamos
sentados e iríamos só olhar. A hora que elas viram, perceberam que nós nos
mexíamos e que a sabíamos fazer, que trazíamos coisas diferentes da faculdade.
Aquilo que víamos nas nossas aulas, nós levávamos para escola. (Entrevista com
a licencianda bolsista Paula, grupo 2) [grifo nosso].
Quando Nádia e Bianca, falam sobre os primeiros meses de atuação no
programa, relatam as dificuldades iniciais e um estranhamento por não terem um
lugar definido na escola. Isso é expresso por Nádia ao comentar sobre a forma como
foram apresentadas para os alunos “elas vão fazer um trabalho com vocês e pronto”,
sem maiores esclarecimentos sobre o que fariam na sala de aula. Diferente de como
ocorreu na apresentação feita no semestre seguinte, no qual, além de participarem
das reuniões de início de ano, a atuação dos estudantes integrou a rotina daquela
classe, na qual foram apresentadas como “essa daqui vai dar aula disso, essa daqui
vai dar aula daquilo, essa vem na terça...”
Por meio desses dizeres, somado à orientação enfática da coordenadora de
área, no excerto seguinte, para que os estudantes fizessem “a diferença na escola”,
nos deparamos com a constituição de um espaço para atuação dos estudantes
bolsistas, junto aos professores e alunos das salas participantes do programa, que
parece ser um tanto diferenciado de outras experiências que tiveram na escola via
estágio, por exemplo.
Retornando as dificuldades iniciais Fabíola, durante a entrevista com grupo 4,
indicou a intervenção positiva de Fabiana, profa. da IES e coordenadora de área do
PIBID, nesses momentos difíceis:
[...] Tiveram momentos de tensão sim. Tudo que acontecia nós contávamos para
a Fabiana [...] Nós não impúnhamos nada. A Fabiana trabalhava bem em grupo,
48
Trecho da entrevista com a estudante Luana, citado no capítulo 1. 49
Trecho citado no capítulo 3.
166
tanto que nós tínhamos voz ativa. [...] A Fabiana falava assim: “o PIBID tem que
fazer diferença na escola, tanto com a direção... eles tem que sentir a gente lá”.
Exemplo disso é a diretora da escola. Ela se sentia super bem conosco, porque às
vezes ela dava a entender que tinha conflitos com o grupo, mas ela sabia que
podia contar conosco. (Trecho da entrevista com estudante Fabíola e Gisela,
grupo 4).
Por meio dos relatos, identificamos uma situação tensa entre grupo gestor e
os professores da escola participante do programa. Isso também foi mencionado por
Fabíola. Segundo ela, tinham conhecimento desse fato, em suas palavras a gestora
“sabia que podia contar conosco”, dando indícios de como o programa, por meio de
seus integrantes, foi se relacionando também com outros atores da escola.
Bianca, durante a entrevista com o grupo 3, também mencionou um momento
tenso vivido com a professora supervisora da sala que atuava no PIBID. Segundo os
dizeres da estudante, ela tinha preparado uma atividade que considerava pertinente
para o grupo, apresentou-a para professora supervisora que não validou seu
planejamento. Diante dessa recusa e não querendo desconsiderar a atividade
preparada, procurou a coordenadora de área e recebeu a seguinte orientação:
Ela disse – “Olha! Não imponha essa situação. Não fale que isso ou aquilo está
errado, apenas tente mostrar para ela. Melhor, tente fazer com que ela te dê a
oportunidade de você aplicar pelo menos uma vez o que você preparou. Se ela não
gostar, ótimo! Você fez a sua parte!” [...] No meu caso aconteceu isso. A professora
aceitou a atividade que eu tinha preparado para as crianças, mas foi um processo
lento. Eu nunca cheguei a falar “o que a senhora está fazendo está errado” Eu
perguntava para ela se ela me dava à oportunidade de mostrar, pelo menos aplicar
uma atividade que eu tinha preparado. [...] Aplicava a atividade e aos pouquinhos
elas foram confiando em nós. Às vezes até aquilo que a gente achava que era ruim,
elas acabavam deixando. Sempre respeitei a autoridade delas em sala de aula, em
nenhum momento eu enfrentei as professoras, as meninas que enfrentaram, saíram.
(Trecho da entrevista com estudante bolsista do PIBID, Bianca, grupo 3)
167
Nas falas de Fabíola e Bianca há uma pista do que poderia ter colaborado
para o êxito das ações do programa, enfatizado em outros momentos, deste texto. A
atuação da coordenação de área aparece mediando situações conflituosas entre os
envolvidos do programa, em alguns momentos como impasse das atividades
preparadas e a recusa da professora supervisora, descrita por Bianca. Já em outros,
incentivando a participação dos bolsistas, chamando-os a “fazerem a diferença na
escola [...] eles tem que sentir a gente lá”. Esses movimentos da coordenação
parecem ter colaborado com o desenvolvimento efetivo de uma parceria de trabalho,
entre duas instituições distintas, como veremos adiante.
Sobre a relação dos professores supervisores com a coordenação e os
outros integrantes do programa, a profa. Flávia enfatiza a autonomia recebida pela
coordenação como um fator positivo para participação delas no PIBID e o respeito
que era dado para as decisões tomadas pelo grupo de professores.
Além disso, por meio dos dados analisados, percebemos que a relação
constituída entre os professores universitários que ocupavam os cargos de
coordenação do PIBID e os professores da escola não acentuou a hierarquia
estabelecida pelo programa, no qual os cargos de coordenação poderiam ser
ocupados apenas pelos professores da IES. Isso se deu pelo modo como as
atividades do programa foram sendo organizadas para que uma parceria se
estabelecesse. Como exemplo disso, há o fato relatado pelas professoras
supervisoras, sobre a presença dos coordenadores do programa na escola para
participar de uma reunião com elas e as colegas para apresentar e tirar dúvidas
sobre o PIBID. Outro fato exposto, no relatório da coordenação de área, que ilustra a
questão foi a indicação das professoras supervisoras para contratar um curso sobre
Violência Doméstica. Elas já conheciam o curso que fora ofertado, em outro
momento, na rede municipal de ensino. O intuito dessa ação foi informar os
estudantes sobre a questão, visto que tratava de uma temática que envolvia alguns
alunos que frequentavam suas aulas.
Outro ponto importante refere-se à autoridade das professoras regentes da
sala de aula que foi respeitada em diferentes momentos do programa, conforme os
relatos dos estudantes. Retomamos o comentário feito por Bianca, no excerto
anterior, quando disse: “Sempre respeitei a autoridade delas em sala de aula, em
nenhum momento eu enfrentei as professoras, as meninas que enfrentaram,
saíram”.
168
Essas informações dão indícios de que os professores supervisores puderam
participar ativamente desse programa. Não foi reservado a eles apenas o papel de
executar o que foi planejado fora da escola, mas o de ter um papel ativo junto aos
bolsistas, não só durante as aulas, como também nas reuniões de planejamento,
nos cursos ou nas conversas de corredor, onde muitas vezes, orientavam as
atividades que seriam desenvolvidas pelos estudantes bolsitas.
Ao orientar os estudantes, ao contar a eles como organizavam uma atividade,
como faziam para resolver determinada situação, como usavam o material didático
escolhido pela rede de ensino, como preparavam as reuniões de pais, como
atendiam os alunos em suas necessidades, como percebiam as dificuldades dos
alunos, enfim dentre outras colocações sobre o seu fazer, os professores da escola
puderam colaborar com a formação do futuro docente e colocar à disposição deles
os saberes adquiridos no decorrer do seu ofício (TARDIF, 2002b).
Pelo exposto, nota-se que no decorrer do programa, o engajamento dos
participantes foi se desenvolvendo e crescendo aos poucos. A participação efetiva
dos envolvidos, como foi relatada pelos diferentes depoimentos, constituiu um grupo
de trabalho na escola e possibilitou que as atividades fossem acontecendo com
sucesso. No entanto, essa articulação desse grupo indica uma preocupação
expressa no Relatório da Coordenação de Área:
Terminamos ponderando que esses registros e falas também desvelam uma
questão que precisa ser levada em conta. Quando o PIBID é implantado na
escola, instaura-se uma teia de relações, práticas e saberes que inclui alguns
professores, alunos e pais e exclui, queiramos ou não, do seu âmbito mais direto
os outros professores, alunos e pais, além do que se não tivéssemos uma postura
cuidadosa criaríamos como que um “governo paralelo” ao grupo gestor – diga-se
de passagem, mais atraente, mais dinâmico, livre de mazelas burocráticas e das
hierarquias institucionais. Por vezes, percebi que nosso grupo do PIBID interagia
tanto entre si, em decorrência dos bons resultados, que tivemos que rever
continuamente com criticidade nossas posturas na escola, para reafirmarmos a
necessidade de interação e diálogo paritário, bem como nossa vocação
colaborativa em relação a todos os membros da escola. Na última reunião de pais
do ano passado, várias mães perguntaram: Por que nas salas dos meus filhos não
169
tem bolsistas? É uma questão para pensarmos. (Relatório da Coordenação de
área)
O trecho citado acima encerra o relatório da coordenação de área, mostrando,
assim a visibilidade que as ações do Programa alcançaram. Elas vão além da
percepção da professora do curso de Pedagogia, que se interessou em pesquisar o
programa. Chega aos professores das outras salas e aos respectivos pais de
alunos, a ponto de quase ser um problema na escola “além do que se não
tivéssemos uma postura cuidadosa criaríamos como que um ‘governo paralelo’ ao
grupo gestor”. Diante disso, questões retornam: que movimento é esse produzido
pelo PIBID nessa escola? Por que a escola não realiza um movimento parecido com
outros tantos estudantes da licenciatura que passam por ali para realizarem seus
estágios?
França (2013) quando critica a não articulação existente entre os envolvidos
no Estágio Supervisionado nos dá pistas para pensar tais questões. Geralmente os
professores e os gestores das escolas não são chamados a participar do
planejamento dessa ação. Cabe a eles apenas “receberem” os estudantes. Tal
lacuna produz vários problemas e dificuldades: o que fazer com o estagiário em sala
de aula? Como deixá-lo ocupado para que não “fale mal” das aulas?
Giglio et al (2011) relatam a experiência da UNIFESP, que contou com um
interessante processo de conhecimento e de aproximação das escolas e dos
professores. Deixando a possibilidade para o docente aderir ou não ao programa.
Além disso, a universidade ofertava uma contra partida nessa parceria, por meio da
formação continuada dos professores da escola, a partir de temas sugeridos pelos
próprios docentes.
Esses cuidados parecem deixar essa relação de estagiários (sendo bolsistas
ou não) com os professores regentes das salas de aula mais profícua. Os
professores deixam de ser os alvos de análise nos cadernos de campo dos futuros
professores e passam a colaborar na formação destes, ao mesmo tempo em que
conta com a colaboração dos mesmos. Ação sugerida também por Guedes-Pinto
(2010) aos estagiários antes de irem a campo. A autora relata que aconselha os
estudantes ao chegarem à escola perguntem em que podem ajudar o professor, com
a finalidade de abrir possibilidades de colaborar com aquele espaço e com o
170
profissional ali presente. Essa possibilidade de atuação conquistada, no espaço de
estágio, pode converter-se em boas situações de formação.
Consideramos que a relevância de experiências como essa aqui relatada, não
pode ficar restrita a algumas salas de aula ou a algumas escolas. Nesse sentido, o
posicionamento de Freitas (2014) frente ao PIBID como um Programa que deveria
ser para todos é pertinente, pois uma ação que se mostra colaborativa não pode ser
para algumas escolas, sem uma abrangência maior e sem uma institucionalização,
para não correr o risco de se extinguir por motivos diversos, dentre eles a falta de
recursos financeiros.
Algumas considerações sobre a contribuição da HO para o registro
desta história de formação
A proximidade do encerramento deste texto evoca a afirmação de Portelli
(1997a) de que podemos considerá-lo como uma das infinitas versões desta história.
No entanto, para encerrar esta versão, optamos por tratar mais um pouco da
contribuição da HO.
Ainda sobre o aspecto rememorativo que permitiu registrar esta experiência
do PIBID, segundo a HO, há um trabalho de enquadramento da memória para
reconstruir um fato vivenciado por um grupo. Esse trabalho consiste numa escolha
consciente ou não de que fatos não podem ser esquecidos.
Pollak (1989, 1992) afirma que a organização da memória destina-se a
determinados fins, por exemplo, construir uma história nacional ou a história de um
determinado partido. Para isso, as memórias entram em disputa, para ver dentre
todas elas, qual prevalecerá. A HO, no entanto, busca pelas memórias
subterrâneas, que seriam as memórias que não alcançaram o status oficial, muitas
vezes, ocultadas e silenciadas por tal discurso hegemônico.
Em nosso caso, há uma disputa de memórias que tendem a demarcar uma
distinção entre os estudantes bolsistas do PIBID e os estagiários, por exemplo. A
referência oficial para atuar na escola (como em outras profissões) sem estar apto
ou formado para isso se dá por meio do estágio. No entanto, o PIBID na experiência
estudada, buscou ocupar outro espaço na escola. A estudante Fabíola evidenciou
isso em sua fala, após mencionar que era preciso repensar um projeto, pois os
professores não acompanhavam aquela atividade, disse: “Nós só podemos ter a
171
iniciação à docência com docente junto, então se não tinha nenhum professor no
intervalo, não poderíamos ficar lá”.
Ocupar o espaço do PIBID que “deveria fazer a diferença” na escola,
conforme foi dito pela estudante, ao retomar uma fala de incentivo da coordenadora,
almeja um lugar diferente do estagiário. Parece ser essa a memória que busca um
espaço na história oficial da educação.
Outro ponto que desperta a nossa atenção e colabora para pensarmos na
direção da afirmação anterior foi o fato de todos os textos produzidos no campo
fazer menção à dicotomia entre o estágio e o PIBID, como citamos em diferentes
partes desse texto.
Para Joutard (2007, p.225) o ponto em comum entre memória e história é que
ambas constituem “[...] duas vias de acesso ao passado paralelas e obedientes a
duas lógicas distintas”. Parte para uma distinção entre elas. Para o autor, a memória
está ligada ao passado por uma relação afetiva com os acontecimentos vivenciados.
No entanto, ela é seletiva e se concentra em alguns fatos. Pollak (1989, 1992), por
sua vez, indica as balizas da memória, ou seja, ela se baseia em pilares como
alguns fatos marcantes. Considerando isso, os bolsistas, no momento da entrevista
recorrem aos pontos de sua formação e da atuação no PIBID para reconstruir essa
história.
Nesta pesquisa, como já exposto, cada entrevista que fizemos, são “[...] sem
dúvida contingente – um momento único, com circunstâncias únicas, que produz
aquele resultado único, como ocorre com muitos documentos e fontes na história”
Mas essa característica particular não impossibilitou de considerá-las como um
documento social sobre a temática abordada na pesquisa, conforme Alberti (p. 165,
2012).
A restituição dessas entrevistas aos entrevistados não se deve restringir a
uma mera devolução do material coletado, conforme aponta Portelli (1997b). Mas
como devolvemos aos nossos informantes aquilo que nos foi doado? Disponibilizar
as entrevistas por meio de fitas e transcrições em locais que seriam consultados
pelos entrevistados é ação em benefício do pesquisador (ele cumpriu sua função).
Além do mais, qual o interesse em devolver aquilo que o informante já possui? A
restituição é oportunidade dada na entrevista “[...] para as pessoas com quem
conversamos organizarem seus conhecimentos com maior clareza: um desafio para
aumentarem sua consciência, para estruturarem aquilo que já sabemos – processo
172
que começa com a entrevista e continua, à medida que se defrontam com nossas
conclusões” (PORTELLI, 1997b, p. 30).
Além disso, sobre a restituição Portelli (1997b) acrescenta que a HO por meio
das entrevistas, pode dar uma visibilidade maior para as questões relatadas,
deixando de ocupar seu espaço local para estar disponível para outros grupos /ou
comunidades. Dessa maneira, pretendemos inserir nossa pesquisa e,
consequentemente, a voz dos envolvidos nesse processo, nas pesquisas em
educação sobre formação de professores.
Nesse sentido, Guedes-Pinto (2009), em sua pesquisa, ao recorrer às
entrevistas a partir das contribuições da HO, permite que a voz das professoras
alfabetizadoras ecoe no texto acadêmico, trazendo as trajetórias de leitura dessas
docentes, comumente não ouvidas. Buscamos trazer a voz dos estudantes da
Pedagogia, bolsistas do PIBID, para que, a partir de seus relatos, possamos
conhecer como se dá o processo de formação do professor a partir das intervenções
feitas por esse programa no percurso de formação desses alunos.
De toda essa experiência, que contribuições para o processo de formação de
professores poderíamos ainda destacar?
173
6. Considerações finais
Ao final deste texto, retomamos o objetivo que norteou esta pesquisa. Por
meio dela, buscamos identificar as possíveis implicações na formação dos futuros
professores, estudantes da Pedagogia, ocorridas pela participação em um
subprojeto do PIBID.
A participação no PIBID, como foi desenhado e executado pela coordenação
institucional e de área da IES proponente do programa estudado, possibilitou aos
estudantes de Pedagogia uma proximidade bastante concreta com o trabalho
docente. Para esses estudantes tal proximidade trouxe desafios e superações diante
das tarefas cotidianas de um professor e contribuiu significativamente para seu
processo de constituição docente. Desse modo, antecipar o contato com o futuro
local de trabalho possibilitou aos futuros professores o exercício do ofício docente
como: preparar uma aula, ‘dar’ uma aula, auxiliar o professor supervisor participar
das diferentes reuniões que compõe a rotina da escola, preparar e participar dos
eventos com os alunos, auxiliar na mudança da escola de prédio, entre outros.
Nessa trajetória, segundo apresentam os dizeres dos envolvidos, a atuação
do professor supervisor, do grupo de estudantes bolsitas e a coordenação do
programa deram um suporte para efetivação de uma imersão no universo escolar. O
futuro professor pôde contar com o respaldo do professor supervisor na preparação,
na realização das aulas, bem como na apreciação de seu desempenho, aprendendo
com ele os implícitos da profissão. O incentivo, as dicas e as sugestões dos colegas
de turma e de PIBID colaboraram para a realização das tarefas. Por fim, a
coordenação de área, com a articulação das atividades e do pessoal envolvido, o
estímulo e a “retaguarda oferecida” aos estudantes colaboraram para a formação de
um grupo de trabalho na escola.
Nesse processo, é possível apontar, por meio de diversos resultados que uma
parceria foi se formando, a partir do vínculo construído entre os envolvidos. A
parceria estabelecida foi essencial para o desenrolar das atividades na sala de aula,
pois o “trabalhar em conjunto” trouxe boas situações de formação. O vínculo dos
estudantes com a escola, com os professores e principalmente com os alunos trouxe
o comprometimento com as práticas ali desenvolvidas, além dos deveres de bolsista
do Programa.
174
Entretanto, perguntamos: as atividades descritas anteriormente não se
enquadram nas incumbências do Estágio Supervisionado? Sim, teoricamente,
conforme consta na ementa (de modo vago), cabe ao Estágio Supervisionado essa
aproximação com a escola. No entanto no contexto da realidade estudada, isso não
foi realizado da mesma forma que ocorreu com o PIBID.
O estágio realizado por esses alunos, segundo nos contaram, não possibilitou
a formação de um grupo de trabalho, para discutir e preparar as atividades na
escola, devido a alguns fatores como: a organização das atividades do Estágio
Supervisionado na IES e na escola e a disponibilidade dos estudantes para realizá-
la. A IES estabelece a carga horária do estágio, a partir de um regulamento, no qual
os estagiários da Pedagogia cumpriam a jornada estabelecida em atividades de
observação, participação e regência na escola. Os estudantes adequavam tais
atividades a seus horários vagos (no caso dos estudantes que trabalhavam durante
o dia, a solução encontrada por eles, foi estender o horário do almoço para realizar
essa tarefa, compensando as horas ausentes, em outro momento no trabalho). Após
a acomodação do horário, os estudantes, chegavam à escola para fazer o estágio,
assinavam o caderno de registro de presença, assistiam uma hora de aula e
retornavam ao trabalho50. O mesmo ocorria durante a regência.
Desse modo, o estagiário da IES focada não acompanhava a dinâmica da
sala de aula, não estabelecia vínculo com o professor, nem com os alunos, já que
não havia tempo disponível para conversar com o docente e se colocar à disposição
dele para realizar atividades em sala. O licenciando, sem a bolsa que permitiu que
alguns estudantes do PIBID deixassem o trabalho ou reduzissem a carga horária de
sua jornada, realizava o estágio para cumprir as exigências da disciplina, atentando,
talvez, mais para os deveres burocráticos com a instituição do que para o que vivia.
Além disso, o professor da disciplina de Estágio Supervisionado, na IES
proponente do PIBID estudado, é um professor contratado para a disciplina, ou seja,
por quatro horas semanais, com o propósito de orientar e supervisionar o estágio de
cerca de trinta estudantes. Diferente do PIBID que conta com uma coordenação,
encarregada pela articulação entre as instituições, o professor supervisor de estágio,
50
Sobre isso, na entrevista com o grupo 1, Claudia fala sobre sua experiência de Estágio, realizado
em seu horário de almoço. Segundo a estudante não tinha novidades nas aulas, pois como
comparecia a escola sempre no mesmo horário, acompanhava a Leitura feita pela professora e
apresentação das atividades daquele dia.
175
com as suas condições de trabalho, encontra-se em situação desfavorável e sem a
mesma força política da Coordenação do Programa para fazer contato com as
diversas instituições que recebem seus alunos para estagiar.
Talvez por já conhecer e ter ciência de tais questões, o subprojeto do PIBID
da IES tenha mencionado essa lacuna na formação dos estudantes. Trata-se, no
entanto, de uma lacuna importante, considerando a relevância que o contato efetivo
com a escola tem para a formação dos futuros docentes. Desse modo, os
estudantes participantes do Programa parecem ter obtido outra oportunidade de
chegar à escola, além do estágio. Oportunidade essa que, segundo registrado por
esta pesquisa, parece ter sido bastante enriquecedora para sua formação
profissional docente.
Assim, acompanhar o trabalho de um docente em sua sala de aula, poder
colaborar com ele mostrou-se como uma instância de formação, que precisa ser
melhor considerada nas propostas de formação inicial de professores. Isso não
significa defender uma formação voltada apenas para os saberes experienciais dos
professores, mas integrá-lo devidamente no curso com os outros saberes descritos
por Tardif (2002b).
Sobre isso, vale destacar o modo de se referir ao conhecimento docente
adotado pelos entrevistados e pelos próprios professores em seus relatórios. Nesses
dizeres, muitas vezes os saberes docentes são vistos de modo dicotômico e
estanque, ou seja, de um lado a teoria e de outro a prática. Essa separação alcança
as instituições, onde a escola é tida como o lugar da prática, e consequentemente,
sem a teoria, e o inverso acontece com a universidade, colocada como o espaço da
teoria sem a prática.
Essa separação perversa desconsidera a composição dos saberes docentes
proposta por Tardif (2002b) e produz equívocos: um deles é ausência de referência
à formação dos professores supervisores. Em algumas falas dos estudantes, sobre
os saberes da prática docente, não há menção aos saberes da formação profissional
e outros saberes obtidos nos processos formativos, anterior ao exercício da
docência ou nos cursos de formação continuada ou de pós-graduação desses
professores. Ou seja, com os professores eles aprendiam a prática, mas como essa
prática era organizada e estruturada? Em relação a isso não foram encontradas
considerações por parte das reflexões feitas pelos bolsistas.
176
É compreensível que nessa experiência, para os estudantes, o conhecimento
da prática docente, pela intensidade que foi vivenciado, tenha se apresentado como
uma novidade. Por isso, talvez o destaque que fazem para a prática do professor.
Porém mostra-se muito distante de compreenderem o processo de constituição dos
saberes docentes, na acepção de Tardif (2002b).
Os professores regentes (professores supervisores do PIBID) destacam a
“prática” que os estudantes aprenderam na vivência com eles na escola. A princípio,
podem ter tomado isso como uma vantagem que teriam sobre aos bolsistas do Pibid,
por serem mais experientes. Além disso, tal posicionamento pode evidenciar o que
Chartier (2007) constatou na pesquisa da prática, já citada, de uma professora, a
qual não reconhecia uma relação entre a formação recebida e as atividades que
desenvolvia. Pode ser também, pelo processo histórico que não permitiu ao
professor produzir os conhecimentos da sua profissão, esses foram delegados a
outros profissionais, sendo que a prática de sala de aula é a especificidade do
docente, é um saber que domina, conforme indiciado por Tardif (2002). Pode ser
que isso justifique a fala dos professores, assumindo os conhecimentos da prática
para eles.
Nesse sentido, concordamos com Nóvoa (2009) e Chartier (2007) sobre a
necessidade de se criarem meios que possibilitem a teorização da prática docente,
como uma possibilidade de colaborar para uma sistematização dos saberes
docentes e o rompimento dessa dicotomia. Com isso, os processos formativos
contariam com mais elementos para formar os futuros professores.
Além das colocações feitas pelos estudantes sobre a prática, eles disseram
que nessa parceria colaboravam com os professores com o “conhecimento teórico”,
que dispunham. Mas que saber é esse? Segundo os relatos, eles tinham
informações sobre as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT)
e a produção de texto científico, que são exigências recentes nos cursos de
graduação. Assim, provavelmente, as professoras supervisoras, que não tiveram
acesso a essas orientações em seus cursos de formação, pois isso não era exigido
e sua atividade atual também não exige, não tinham esses conhecimentos. No
entanto, o não domínio da “teoria” exposto pelos estudantes necessita ser
reconsiderado.
Ao auxiliarem as professoras a produzirem os relatórios, seguindo as regras
do texto acadêmico, eles dialogaram a partir dos conhecimentos que possuíam com
177
os docentes, mas isso não os identifica como representantes dos saberes da
formação profissional. Apenas tiveram acesso a um saber que os professores não
estavam em contato naquele momento, por ser próprio do meio acadêmico.
Sobre essa questão na fala de alguns estudantes, aparece a compreensão de
que no curso de formação só tem a “teoria”, ao mesmo tempo em que indicam que a
IES não os preparou para a docência. Ainda que em um curso de formação se
enfatize os saberes profissionais e curriculares, isso não se resume a “atividades
teóricas”. Exemplo disso estão nos relatos que citam atividades que os bolsistas já
tinham visto ou realizado nas aulas da universidade e levaram como sugestão para a
escola.
Pelos destaques feitos até aqui, podemos notar que os termos teoria e a
prática são utilizados por professores e estudantes de modo diferenciado do que de
fato ocorre nos processos formativos e na escola. Também a discussão sobre a
profissionalização docente e sobre o que identifica um professor não esteve muito
presente nos espaços formativos dos envolvidos nesta pesquisa.
Em alguns momentos das entrevistas apareceram referências à insuficiência
da formação recebida na IES. Em situações que os estudantes, avaliavam o curso,
mencionavam os saberes disciplinares que ainda não tinham domínio, tais como os
conteúdos da gramática normativa (hiato, por exemplo). Sobre isso, encontramos
nos relatos dos estudantes menção a sua trajetória escolar, muitas delas com
fragilidades no aprendizado de conhecimentos básicos, anterior à universidade.
Desse modo, o professor formador que atuava na universidade, na formação inicial,
cargo que ocupei. Do lugar de professora formadora pude notar a ausência de
alguns desses conhecimentos básicos e, ao mesmo tempo, a necessidade que
tinham de aprender conceitos sobre o ensino de tais conhecimentos. Esse
profissional dispunha para isso de lousa, giz e os textos deixados no “xerox”. Os
recursos audiovisuais precisavam ser resevados e seriam atendidos de acordo com
a disponibilidade de equipamento na instituição. Ou seja, o professor tinha naquela
IES recursos limitados para trabalhar demandas elementares.
Além disso, o tempo reduzido das aulas, o preparo dos estudantes (como a
leitura prévia dos textos) era comprometido pelas condições de vida que levavam.
Nesse contexto, o professor formador fazia suas escolhas: Quais conceitos retomar?
Posso utilizar o tempo da aula para uma dinâmica de leitura de um texto
imprescindível para a formação deles? Como abordar determinado conteúdo? Vale
178
lembrar que isso se dava em uma universidade confessional, em um curso com
décadas de existência, ao mesmo tempo em que as delimitações materiais
concretas eram muito marcadas de forma precária.
Por fim, a experiência do PIBID estudada pode indicar que o Programa, no
contexto focado trouxe contribuições relevantes para a formação dos estudantes de
Pedagogia, bolsistas. Como tiveram condições infraestruturais fundamentais para o
desenvolvimento do projeto e, com o comprometimento dos envolvidos, a proposta
parece ter funcionado no sentido de possibilitar uma vivência significativa com as
práticas cotidianas da escola.
Além disso, o contato com a temática por meio desta pesquisa trouxe
diversos aprendizados para a pesquisadora. Destaco aqui, três questões que se
sobressaíram durante a realização desta investigação e da escrita deste texto.
O primeiro deles foi o encontro com a HO, a possibilidade de ouvir o outro
para poder escrever a história que nos foi contada sobre uma determinada
experiência. Por meio das contribuições dessa metodologia, procurei desenvolver
uma escuta atenta às palavras ditas e às palavras lidas. Isso se tornou um exercício
enriquecedor e muito marcante, principalmente por ter acesso ao conhecimento do
outro sobre o Programa estudado.
Outro ponto refere-se à formação docente. Como mencionei na introdução
deste texto, a formação de professores perpassou minha constituição profissional e
acadêmica. Neste exercício investigativo pude perceber novamente e com mais
clareza a complexidade que envolve essa questão. Ao mesmo tempo, destaco
positivamente a constatação de uma incompletude – constitutiva - na formação
docente. Tal incompletude se realiza no processo continuo e permanente de
formação no exercício da docência, com o acúmulo e amadurecimento decorrente
das diferentes experiências. Noto isso, ao observar as professoras supervisoras,
algumas delas com vários anos de experiência, indicarem que o Programa
possibilitou revisitar sua formação e sua forma de atuar.
O último destaque que faço refere-se a outra questão complexa quando
tratamos da formação docente, que é a relação teoria e prática, tão falada entre nós
professores. Por mais que busquemos esmiuçar tal relação, ela vai se mostrando de
diferentes formas, quase como um caleidoscópio. Com as leituras e reflexões, minha
percepção sobre a questão foi se modificando no decorrer da pesquisa, foram
179
momentos de aprendizado que contribuíram para poder considerar o processo de
formação de professores de outra forma.
Por fim, destaco os limites deste estudo. Devido ao recorte feito de se atentar
para uma experiência específica do PIBID. Esta investigação pôde contribuir para
pensar a formação de professores nesse contexto e o desdobramento de
experiências similares para a formação destes futuros profissionais. Considerando a
singularidade da proposta estudada e, tendo em vista as múltiplas possibilidades de
atuação deste Programa, reconhecemos que não podemos colaborar com todos os
desenhos assumidos por outros projetos. Desejamos, contudo, ter apresentado
algumas reflexões sobre as implicações do PIBID no âmbito do curso de Pedagogia
de forma que elas possam fornecer subsídios para futuros estudos a respeito da
formação inicial do professor.
180
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ZUMTHOR, Paul. Introdução. In: A letra e a voz: a “literatura” medieval. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
188
Anexo I
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO AREA DE CIÊNCIAS HUMANAS – FE Unicamp
TÍTULO DA PESQUISA: A formação inicial de professores no contexto do PIBID
Eu, ____________________________________________________________, _______anos,
RG____________ residente à___________________________________________________,
abaixo assinado, dou meu consentimento livre e esclarecido para participar como voluntário(a) do
projeto de pesquisa supracitado, sob a responsabilidade da pesquisadora Giovana Azzi de Camargo,
estudante de Pós-graduação Stricto Sensu em Educação da Universidade Estadual de Campinas,
sob orientação da Profa. Dra. Ana Lucia Guedes-Pinto.
Assinando este Termo de Consentimento estou ciente de que: 1 - O objetivo da pesquisa é investigar a contribuição de programas como o PIBID para formação inicial para professor. 2 - Durante o estudo serão feitas entrevistas com os participantes que serão registradas no diário de campo e gravadas; 3 - Obtive todas as informações necessárias para poder decidir conscientemente sobre a minha
participação na referida pesquisa;
4 - Estou livre para interromper a qualquer momento minha participação na pesquisa;
5 – Meus dados pessoais serão mantidos em sigilo e os resultados gerais obtidos através da pesquisa serão utilizados apenas para alcançar o objetivo do trabalho, exposto acima, incluída sua publicação na literatura científica especializada; 7 - Poderei entrar em contato com o responsável pelo estudo, Giovana Azzi de Camargo, sempre que julgar necessário, pelo telefone (11) 72983450; 8 - Este Termo de Consentimento é feito em duas vias, sendo que uma permanecerá em meu poder e outra com o pesquisador responsável.
Bragança Paulista, ___ de _____________ de 2012.
____________________________________________ Voluntário(a)
____________________________________________ Giovana Azzi de Camargo
189
Anexo II
Questionário sobre a escolha do curso
Use o espaço que julgar necessário para responder as questões abaixo. Considere que estamos
conversando sobre a escolha do curso de Pedagogia. Conte para mim como foi esse processo.
Interessa saber como você “chegou” ao curso de Pedagogia e porque optou por ele dentre outros
cursos.
Porque você optou pelo curso de Pedagogia?
Como você entrou em contato com informações sobre o curso para decidir cursá-lo?
Conte como foi quando contou para a família e para os amigos que faria um curso de Pedagogia.
Você acredita que a experiência que teve na escola como aluno foi um motivador para a decisão de
ser professor?
Quando escolheu o curso de Pedagogia pretendia atuar na docência? Conte como foi isso.
Algum profissional da área ou mesmo algum amigo ajudou na escolha da profissão? Conte como foi
isso.
Você pensou em mudar de curso nesse período? Conte como foi isso.
Relate rapidamente seu percurso escolar até chegar ao curso de Pedagogia (Onde estudou? Quais
matérias você gostava mais? Quais foram às experiências marcantes nesse trajeto?)
190
Anexo III
Ficha de Levantamento de dados para traçar o perfil dos entrevistados
Data de preenchimento / /
Nome Rua nº Complemento Cidade Estado CEP Fone ( ) e-mail Idade Data de nascimento / / Naturalidade Sexo Estado civil
1. Masculino 1. Solteiro (a)
2. Feminino 2. Casado, mora com companheiro (a)
3. Separado (a), divorciado (a), viúvo
Nível de escolaridade
1. Primário incompleto (1ª até a 3ª série)
3. Primário completo (4ª série)
4. Ginásio incompleto (5ª até a 7ª série)
5. Ginásio completo (8ª série)
6. Ensino Médio ou 2º grau incompleto (1ª e 2ª série)
7. Ensino Médio ou 2º grau completo (3ª série)
8. Ensino Superior incompleto
9. Ensino Superior Completo
10. Pós-graduação (lato sensu, especialização, mestrado ou doutorado)
Curso de Formação Onde cursou a maior parte dos estudos
1. Magistério/Ensino Médio 1. Ensino público
2. Letras 2. Ensino privado
3. Pedagogia
4. Normal Superior
5. Outros
Grau de atuação
1. Educação Infantil
2. Ensino Fundamental I (1ª a 4ª série)
3. Ensino Fundamental II (5ª a 8ª série)
4. Ensino Médio
5. Ensino Superior
6. EJA (segmento I)
7. EJA (segmento II)
Situação atual de trabalho
1. Está trabalhando
2. Está desempregado (a)
191
3. Está aposentado (a)
4. Está procurando emprego pela primeira vez
5. Nunca trabalhou e não está procurando emprego
6. É dona de casa
7. Outra situação (vive de renda, recebe pensão, inválido etc.)
Informações adicionais Nível de escolaridade: Segundo grau: ____________________________________________________
Instituição __________________________________________________ Local ______________________________________________________ Data início _____________________ Data término _________________
Graduação em:____________________________________________________ Instituição:_________________________________________________ Local: _____________________________________________________
Data início _____________________ Data término _________________
Especialização em _________________________________________________ Instituição __________________________________________________ Local ______________________________________________________
Data início _____________________ Data término _________________ Mestre em _______________________________________________________
Instituição __________________________________________________ Local ______________________________________________________
Data início _____________________ Data término _________________ Doutor em _______________________________________________________
Instituição __________________________________________________ Local ______________________________________________________
Data início _____________________ Data término _________________
OBS complementares: Em qual cidade cursou a maior parte do primeiro grau? __________________________ Em escola pública ou particular? _________________________________________ Situação atual de trabalho: ( ) professor efetivo – carga horária - _________ quantas escolas ___________
( ) escola pública ( ) escola particular ( ) professor substituto – carga horária - _________ quantas escolas ________ ( ) escola pública ( ) escola particular
Leciona a quanto tempo? ___________________________________________________ Ocupação atual: ( ) coordenador ( ) diretor de escola ( ) supervisor ( ) outra. Qual? _______________________________________________
Anexo IV
192
Roteiro para entrevista
Conte como foi participação de vocês no Pibid? Conte como foi à chegada à escola? A formação no PIBID preparou-os para a atuação na escola? Como? Como foi o processo de formação de vocês? Vocês se sentiam preparados para atuar na sala de aula quando chegaram ao PIBID?