GÁS CLANDESTINO - rl.art.br · Será que vai valer à pena? GAZOTE Deixa de ser receoso, papai!...

27
1 “GÁS CLANDESTINO” Texto Para Teatro Escrito Por Serginho Clemente Registro Profissional (DRT): 0001982/RN Todos os Direitos Reservados Qualquer Utilização Desta Obra Para Montagem Com ou sem fins comercias - Entrar em Contato Com o Autor E-Mail: [email protected] Blog: www.textosparateatro.com.br

Transcript of GÁS CLANDESTINO - rl.art.br · Será que vai valer à pena? GAZOTE Deixa de ser receoso, papai!...

Page 1: GÁS CLANDESTINO - rl.art.br · Será que vai valer à pena? GAZOTE Deixa de ser receoso, papai! ...O senhor não viu, que a revenda de gás, alavancou o nosso mercado? ...

1

“GÁS CLANDESTINO”

Texto Para Teatro

Escrito Por Serginho Clemente

Registro Profissional (DRT): 0001982/RN

Todos os Direitos Reservados

Qualquer Utilização Desta Obra Para Montagem

Com ou sem fins comercias - Entrar em Contato Com o Autor

E-Mail: [email protected] Blog: www.textosparateatro.com.br

Page 2: GÁS CLANDESTINO - rl.art.br · Será que vai valer à pena? GAZOTE Deixa de ser receoso, papai! ...O senhor não viu, que a revenda de gás, alavancou o nosso mercado? ...

2

PERSONAGENS

ZÉ GAZINHO (Dono de um mini mercado e recém-revendedor de gás de cozinha clandestino)

GAZOTE

(Rapaz, muito desligado e atrapalhado; filho único de Zé Gazinho e ajudante dele)

PELEGRINELLI (Homem corrupto e desleal; fornecedor de gás de cozinha clandestino)

ANA LUCIA

(Comerciante; dona de casa e mãe solteira)

LUCIO (Criança; filho único de Ana Lucia)

INÊS

(Mulher solteira e muito atraente; Estudante universitária)

BORGES (Bombeiro Civil)

INDICAÇÕES

Época (s): 2011 e Anos Depois...

Local: Ramos, Rio de Janeiro/RJ – Brasil

Gênero (s): Educativo, Comédia

Page 3: GÁS CLANDESTINO - rl.art.br · Será que vai valer à pena? GAZOTE Deixa de ser receoso, papai! ...O senhor não viu, que a revenda de gás, alavancou o nosso mercado? ...

3

Cena 1

Manhã de um domingo de um verão do ano de 2011. Mini Mercado “Beleza Pura”,

estabelecimento muito sujo e desorganizado, situado em um local muito escondido, no bairro de Ramos,

cidade do Rio de Janeiro.

Não há clientes no local. Gazote está no único caixa, tirando uma pestana profunda, ao ponto de

babar. Um rádio está ligado, ao som de um alto samba. Inês, chega ao mini mercado. Ela observa o local e

vai até Gazote.

INÊS

“Olá... bom dia! ...Moço... bom dia!”

(Gazote continua tirando a sua pestana profunda)

INÊS

“Moço! Moço...”

(Inês observa o rádio, o desliga e em seguida, chacoalha um dos ombros de Gazote)

INÊS

“Moço... acorda! Acorda!”

(Gazote acorda desesperado)

GAZOTE

“A corda? Que corda? Que corda?”

INÊS

“Eu não disse corda, eu disse acorda!”

GAZOTE

“A senhora disse: corda...”

INÊS

“Não, eu disse acorda!”

GAZOTE

“Corda...”

INÊS

“A corda...”

GAZOTE

“Corda...”

Page 4: GÁS CLANDESTINO - rl.art.br · Será que vai valer à pena? GAZOTE Deixa de ser receoso, papai! ...O senhor não viu, que a revenda de gás, alavancou o nosso mercado? ...

4

INÊS

“A corda...”

GAZOTE

“Corda...”

INÊS

“Corda...”

GAZOTE

“Eu não falei, que a senhora disse: a corda....”

INÊS

“Corda, não! Eu disse acorda!”

GAZOTE

“Espera aí... eu não tô entendendo... eu tô aqui, numa boa, tirando um cochilo... e a senhora, chega

pra mim e fala: Moço, a corda! A corda! Corda! Corda...”

INÊS

“Querido, eu não me refiro a uma corda, corda...”

GAZOTE

“Corda, corda?”

INÊS

“Não... Não é, essa corda aí, que você está pensando, não! Não é isso, não... responde-me uma

coisa: O que você faz, depois que você dorme?”

(Gazote medita)

GAZOTE

“Eu tenho sonhos!”

INÊS

“Sim, mas depois que você sonha bastante... qual é a primeira coisa que você faz?”

GAZOTE

“Eu... eu bocejo!”

INÊS

“E depois que você boceja, o que você faz?”

Page 5: GÁS CLANDESTINO - rl.art.br · Será que vai valer à pena? GAZOTE Deixa de ser receoso, papai! ...O senhor não viu, que a revenda de gás, alavancou o nosso mercado? ...

5

GAZOTE

“Eu desperto...”

INÊS

“Mas antes de despertar, o que você faz?”

GAZOTE

“Eu acordo!”

(Inês se alivia)

INÊS

“Até que em fim... é esse acorda, que eu me referia!”

GAZOTE

“Ah...”

INÊS

“Entendeu?”

GAZOTE

“Entendi, entendi... agora caiu a ficha!”

INÊS

“É o seguinte, eu preciso de um botijão de gás de cozinha! ...Tem gás?”

GAZOTE

“No momento, não! Mas daqui a pouco, o meu papai tá chegando, com o fornecedor!”

INÊS

“E eles estão trazendo os botijões de gás?”

GAZOTE

“Sim, senhora! Eles vão trazer, sim!”

INÊS

“Tá certo! Então eu já quero fazer o pedido! ...Eu quero um botijão de gás de cozinha!”

(Gazote pega um caderno e uma caneta)

GAZOTE

“Qual é o endereço?”

Page 6: GÁS CLANDESTINO - rl.art.br · Será que vai valer à pena? GAZOTE Deixa de ser receoso, papai! ...O senhor não viu, que a revenda de gás, alavancou o nosso mercado? ...

6

INÊS

“Você sabe onde fica o Condomínio Alabama?”

GAZOTE

“Sei! Qual é a casa?”

INÊS

“Casa 32...”

(Gazote anota no caderno)

GAZOTE

“Qual é o nome da senhora?”

INÊS

“Inês!”

(Gazote anota no caderno)

GAZOTE

“Assim que o meu papai chegar, com o fornecedor, a gente leva um gás, lá na casa da senhora!”

INÊS

“Certo! Quanto custa o botijão de gás?”

GAZOTE

“36 reais!”

INÊS

“Eu já vou deixar pago...”

(Inês pega 40 reais em sua carteira e passa para Gazote)

GAZOTE

“Senhora, eu não tenho troco...”

INÊS

“Na entrega do gás, vocês me passam o troco!”

GAZOTE

“Beleza!”

(Gazote anota a observação no pedido)

Page 7: GÁS CLANDESTINO - rl.art.br · Será que vai valer à pena? GAZOTE Deixa de ser receoso, papai! ...O senhor não viu, que a revenda de gás, alavancou o nosso mercado? ...

7

INÊS

“Obrigado!”

(Inês vai rumo à saída do local)

GAZOTE

“De nada... vai pela sombra!”

INÊS

“Pode deixar...”

(Inês se depara com Zé Gazinho e Pelegrinelli, que entram no local)

Cena 2 Mini Mercado “Beleza Pura”. Gazote está no caixa do local. Inês, que acabará de ser atendida por

Gazote, está de saída e se depara com Zé Gazinho e Pelegrinelli, que entram no estabelecimento.

PELEGRINELLI

“Bom dia...”

INÊS

“Bom dia!”

(Inês deixa o local. Zé Gazinho e Pelegrinelli apreciam a beleza de Inês. Zé Gazinho vai até

Gazote e é acompanhado por Pelegrinelli, que repara o local)

ZÉ GAZINHO

“E aí, filho?”

GAZOTE

“Oi, papai!”

ZÉ GAZINHO

“E essa mulher?”

GAZOTE

“Ela veio comprar gás!”

(Pelegrinelli catuca Zé Gazinho)

PELEGRINELLI

“Tá vendo? Eu não disse pra você? Esse negócio é bom demais!”

Page 8: GÁS CLANDESTINO - rl.art.br · Será que vai valer à pena? GAZOTE Deixa de ser receoso, papai! ...O senhor não viu, que a revenda de gás, alavancou o nosso mercado? ...

8

GAZOTE

“Que negócio?”

PELEGRINELLI

“Revender botijões de gás de cozinha! ...Pelo que eu estou vendo, a revenda, aqui, está muito boa,

não é?”

GAZOTE

“Ah, isso é verdade... depois que a gente começou a revender, gás de cozinha, aqui no mercadinho,

a coisas mudaram, pra melhor!”

PELEGRINELLI

“Tá vendo, Gazinho... é o que eu estou te falando!”

GAZOTE

“Aquela remeça de botijões, que o senhor mandou, acabou em 4 dias! ...Essa moça, que acabou de

sair, pediu um gás e já pagou!”

PELEGRINELLI

“E aí, Gazinho... contra fatos, não há argumentos! Pra quem estava no vermelho, com dividas até o

pescoço e ia fechar as portas... revender gás de cozinha, veio na hora certa! E aí... vai aceitar a minha

proposta?”

(Zé Gazinho medita)

GAZOTE

“Que proposta?”

ZÉ GAZINHO

“O Pelegrinelli, quer quadruplicar, a nossa remessa de botijões!”

(Gazote fica muito entusiasmado)

GAZOTE

“Quadruplicar? ...E o que o senhor está esperando, pra fechar com ele? ...Fecha logo, papai!”

ZÉ GAZINHO

“Será que vai valer à pena?”

GAZOTE

“Deixa de ser receoso, papai! ...O senhor não viu, que a revenda de gás, alavancou o nosso

mercado? ...Como essa nova remessa, gente tem tudo para arrebentar, ainda mais!”

Page 9: GÁS CLANDESTINO - rl.art.br · Será que vai valer à pena? GAZOTE Deixa de ser receoso, papai! ...O senhor não viu, que a revenda de gás, alavancou o nosso mercado? ...

9

PELEGRINELLI

“É... Vocês iam falir... e vocês deram uma reviravolta, com as revendas! ...Gazinho, a melhor coisa,

que você fez, foi revender gás de cozinha! Isso veio na hora certa! ...Revender gás, salvou a sua vida

financeira!”

GAZOTE

“Com certeza!”

PELEGRINELLI

“É o que eu estava falando pra você... toda a mercadoria, desse mercado, você comprou, pra que?”

ZÉ GAZINHO

“Pra vender....”

PELEGRINELLI

“Não, não... você não comprou pra vender! Você comprou pra revender! Concorda?”

ZÉ GAZINHO

“É, concordo!”

PELEGRINELLI

“Concorda, Gazote?”

GAZOTE

“Concordo! Sim, senhor!”

PELEGRINELLI

“Então... os botijões, que eu passei, pra você; você revendeu, muito bem! ...Imagina, se todo esse

lucro, que você ganhou, quadruplicar?”

ZÉ GAZINHO

“É, Pelegrinelli... É ótimo dinheiro...”

PELEGRINELLI

“E aí? Vai aceitar a minha proposta? Eu posso quadruplicar, a sua remessa de botijões, aqui pro

mercado?”

ZÉ GAZINHO

“Mas aonde eu vou colocar, essa montoeira de botijões? Aqui no meu mercado, não tem espaço!”

(Pelegrinelli fica indignado)

PELEGRINELLI

“Ah, Gazinho... Empilha esses botijões, em qualquer canto por aí...”

Page 10: GÁS CLANDESTINO - rl.art.br · Será que vai valer à pena? GAZOTE Deixa de ser receoso, papai! ...O senhor não viu, que a revenda de gás, alavancou o nosso mercado? ...

10

ZÉ GAZINHO

“Mas aqui, não tem lugar! Aqui é muito pequeno!”

PELEGRINELLI

“Coloca no seu quintal! Empilha os botijões... coloca um em cima do outro... se for o caso, coloca

até deitado, pra ter espaço...”

ZÉ GAZINHO

“E o meu cachorro? ...Ele fica no quintal! Não vai ter espaço, pra ele!”

PELEGRINELLI

“Deixa o cachorro e os botijões de gás, lá no seu quintal! ...É só vocês empilharem os botijões, bem

direitinho! Vai caber tudo... vai caber o cachorro, o gato, a galinha, o papagaio, o pato, o periquito... e

todos os botijões, que eu te passar! É só vocês arrumarem, direito!”

ZÉ GAZINHO

“Esses botijões, não precisão ficar, em lugar apropriado, não? ...Se por acaso, acontecer um

vazamento... uma explosão...”

PELEGRINELLI

“Ah, Gazinho... você pensa muito negativo! Tudo, você pensa, que vai dar errado! Quando eu

sugeri, que você revendesse, gás de cozinha, aqui no mercado, você disse: isso não é ilegal... eu posso ser

preso... isso não vai dar certo...”

GAZOTE

“É verdade...”

PELEGRINELLI

“E hoje você tá aí... revendendo gás e ganhando uma nota preta! O seu sucesso, se deve a mim!

Porque eu, que lhe dei a idéia e eu que te forneço o gás!”

ZÉ GAZINHO

“E se a fiscalização bater aqui, e vê essa montoeira de gás, em locais desapropriados... a coisa vai

feder pra mim...”

PELEGRINELLI

“Não vai nada, rapaz... deixa de ser medroso! Se a Vigilância Sanitária, o Corpo de Bombeiros, ou

alguma dessas entidades, por aí... bater aqui; na mesma hora, você liga pra mim, que eu resolvo o

problema!”

GAZOTE

“Sério?”

Page 11: GÁS CLANDESTINO - rl.art.br · Será que vai valer à pena? GAZOTE Deixa de ser receoso, papai! ...O senhor não viu, que a revenda de gás, alavancou o nosso mercado? ...

11

PELEGRINELLI

“Sério! Eu garanto que não vai acontecer nada, com vocês! Isso eu garanto! Eu tenho umas alianças

fortes, por aí!”

ZÉ GAZINHO

“Quando chover... Lá no quintal, os botijões, vão enferrujar!”

GAZOTE

“É só a gente cobrir, os botijões com uma lona, papai! Assim eles não vão pegar chuva, e não vão

sereno!”

PELEGRINELLI

“Exatamente! ...Não olha as circunstâncias, Gazinho! ...Pensa no dinheiro! Pensa no lucro, que você

vai ter, daqui pra frente!”

GAZOTE

“Se a nossa remessa for quadruplicada, a gente vai ter muito lucro, mesmo!”

PELEGRINELLI

“E aí, Gazinho? Vai agarrar a oportunidade ou vai deixá-la passar?”

(Zé Gazinho medita)

ZÉ GAZINHO

“Eu vou agarrar a oportunidade! Fechado!”

(Zé Gazinho e Pelegrinelli apertam as mãos)

PELEGRINELLI

“Beleza! Eu vou passar toda a sexta-feira, aqui; pra você prestar as contas comigo! Combinado?”

ZÉ GAZINHO

“Combinado! Você vai passar toda a sexta-feira, a que horas?”

PELEGRINELLI

“Entre 5, 6 da tarde! Eu vou mandar os garotos, descarregarem os botijões de vocês!”

GAZOTE

“Seu Pelegrinelli, já que a nossa remessa, será quadruplicada, quais são as dicas, que o senhor,

pode dar pra gente, ter uma procura maior?”

ZÉ GAZINHO

“É, Pelegrinelli... Passa umas idéias pra gente!”

Page 12: GÁS CLANDESTINO - rl.art.br · Será que vai valer à pena? GAZOTE Deixa de ser receoso, papai! ...O senhor não viu, que a revenda de gás, alavancou o nosso mercado? ...

12

PELEGRINELLI

“A primeira idéia, é divulgar! Façam panfletos e distribuam para os moradores, aqui nas

redondezas! Saiam divulgando, divulgando...”

GAZOTE

“A divulgação em carro de som, também é ótima!”

PELEGRINELLI

“É verdade! ...Dá muito resultado! E nunca se esqueçam: Quando forem entregar os botijões,

deixem um panfleto, na casa da pessoa e digam: Precisando é só ligar! Isso ajuda a fidelizar o cliente!”

ZÉ GAZINHO

“Muito, boa idéia... anota isso, Gazote!”

(Gazote anota a ideia)

GAZOTE

“Papai... já que o nosso lucro, vai aumentar... será que a eu poderia ganhar um aumento?”

ZÉ GAZINHO

“Não!”

GAZOTE

“Mas por que, não? Eu trabalho por dois, aqui...”

ZÉ GAZINHO

“Pois então, me diga que é o outro, que eu boto pra fora!”

(Pelegrinelli sorri)

PELEGRINELLI

“Todo o funcionário, reclama do patrão! Até o próprio filho! É impressionante!”

(Pelegrinelli sorri)

GAZOTE

“Qual é o funcionário, que não reclama do patrão? ...Só o funcionário mudo, mesmo!”

(Pelegrinelli sorri)

PELEGRINELLI

“Então estamos acertados! Eu vou mandar os garotos descarregar os botijões! ...Vamos, Gazinho!

Eu quero que você confira, tudo!”

(Pelegrinelli e Zé Gazinho deixam o mercadinho. Gazote trabalha no local)

Page 13: GÁS CLANDESTINO - rl.art.br · Será que vai valer à pena? GAZOTE Deixa de ser receoso, papai! ...O senhor não viu, que a revenda de gás, alavancou o nosso mercado? ...

13

Cena 3 2011. Bairro de Ramos, cidade do Rio de Janeiro. Manhã de um dia de semana, muito agitado, em

uma primavera de muito, muito calor. Lucio, vestido de seu uniforme escolar, está concentrado estudando

Geografia, na sala de sua pequena casa, de classe média baixa, situada no condomínio Alabama.

Ana Lucia chega do trabalho ao local, com sua bolsa e uma papelada em mãos. Ela está meio

apressada.

ANA LUCIA

“Oi, filho!

LUCIO

“Oi, mamãe!

(Um vai ao encontro do outro, se abraçam e beijam)

ANA LUCIA

“Tá pronto, para escola?”

LUCIO

“Há muito tempo... eu já tô arrumado, há um tempão! Onde a senhora, estava?”

ANA LUCIA

“Ah, filho... é uma longa história...”

(Ana Lucia se desfaz da bolsa e confere a sua papelada)

ANA LUCIA

“Fez o dever de matemática?”

LUCIO

“Não...”

(Ana Lucia fica surpresa e para, momentaneamente de conferir a sua papelada)

ANA LUCIA

“Como não?”

LUCIO

“Ontem, eu perguntei ao meu professor de matemática, se ele me puniria por uma coisa, que eu

não fizesse. Ele disse que não. Eu não fiz o dever de matemática... então ele não pode me punir...”

ANA LUCIA

“Por quê?”

Page 14: GÁS CLANDESTINO - rl.art.br · Será que vai valer à pena? GAZOTE Deixa de ser receoso, papai! ...O senhor não viu, que a revenda de gás, alavancou o nosso mercado? ...

14

LUCIO

“Porque ele tem que cumprir a palavra, dele de não me punir!”

(Ana Lucia sorri)

LUCIO

“Ele disse que não me puniria por uma coisa que eu não fizesse...”

ANA LUCIA

“É, mas se você continuar com essa esperteza, você não vai mais fazer dever de casa!”

(Ana Lucia retorna a revisar a sua papelada)

LUCIO

“Mamãe, agora é sério... a senhora sabe por que eu não fiz o meu dever de matemática?”

ANA LUCIA

“Não...”

LUCIO

“É porque eu estudei e tô estudando pesado, para a prova de geografia que acontece hoje...”

ANA LUCIA

“É mesmo filho... então onde fica a Guatemala?”

(Lucio, todo feliz, pega o seu livro de geografia e mostra para sua mãe)

LUCIO

“Na página 86 deste livro!”

(Ana Lucia fica estarrecida e sorri)

ANA LUCIA

“Assim, você vai se formar em geografia...”

(Ana Lucia arruma a sua papelada)

LUCIO

“Eu não quero me formar em geografia... Eu quero me formar em geologia! A propósito... mamãe, a

senhora comprou a cartolina, que eu pedi, para eu fazer o meu trabalho?”

(Ana Lucia fica com um sentimento de arrependimento)

ANA LUCIA

“Não, filho... Esqueci!”

Page 15: GÁS CLANDESTINO - rl.art.br · Será que vai valer à pena? GAZOTE Deixa de ser receoso, papai! ...O senhor não viu, que a revenda de gás, alavancou o nosso mercado? ...

15

LUCIO

“Puxa, mamãe... eu tenho que levar esse trabalho amanhã!”

ANA LUCIA

“O trabalho é sobre o que?”

LUCIO

“É sobre a minha avó! Eu ainda tenho que procurar as fotos da vovó... fazer um poema pra ela...”

ANA LUCIA

“Que lindo, filho! Eu tô muito feliz em saber, que você vai fazer um trabalho sobre a minha mãe!”

LUCIO

“...Eu vou fazer esse trabalho sobre a mãe do papai!”

ANA LUCIA

“Sobre a mãe do seu pai? Por que você não pode fazer esse trabalho sobre a minha mãe?”

LUCIO

“É porque esse trabalho é sobre pessoas que não gostam de tomar banho! E a mamãe do papai é a

pessoa perfeita pra ser argumentada! Ela odeia tomar banho!”

ANA LUCIA

“Realmente ela odeia água!”

(Ana Lucia guarda a sua papelada)

ANA LUCIA

“Filho... Tá com fome?”

LUCIO

“Tô...”

ANA LUCIA

“Eu vou preparar o nosso almoço!”

LUCIO

“Mamãe, o gás acabou!”

(Ana Lucia fica muito desesperada)

ANA LUCIA

“É mesmo? O gás acabou?”

Page 16: GÁS CLANDESTINO - rl.art.br · Será que vai valer à pena? GAZOTE Deixa de ser receoso, papai! ...O senhor não viu, que a revenda de gás, alavancou o nosso mercado? ...

16

LUCIO

“Sim, acabou! Eu ia esquentar chocolate pra mim e não havia gás!”

ANA LUCIA

“Filho... quantas vezes eu já disse pra você ficar longe do fogão?”

LUCIO

“É que eu queria tomar chocolate quente!”

ANA LUCIA

“Eu não quero você perto fogão! Entendido?”

LUCIO

“Tá, mamãe... desculpa...”

ANA LUCIA

“Tá desculpado... Será que não tem nem um pouquinho de gás?”

(Ana Lucia e Lucio vão até a cozinha. Ana Lucia confere o gás, que de fato, acabou)

ANA LUCIA

“Boa hora para acabar o gás...”

LUCIO

“Vamos comer fora!”

ANA LUCIA

“Não, Lucio! A gente precisa economizar! ...Eu acho que eu guardei o panfleto do mercadinho que

diz que eles tem disk-gás!”

(Ana Lucia procura pelo panfleto)

LUCIO

“O Mini Mercado Beleza Pura?”

ANA LUCIA

“É esse mesmo!”

LUCIO

“Na última vez a senhora não comprou gás de cozinha lá! ...Eu não compraria gás naquele lugar! Ali

é imundo! ...É uma bagunça! Os botijões de gás ficam misturados com as mercadorias... são botijões de gás

para tudo o que é lado...”

(Ana Lucia encontra o panfleto)

Page 17: GÁS CLANDESTINO - rl.art.br · Será que vai valer à pena? GAZOTE Deixa de ser receoso, papai! ...O senhor não viu, que a revenda de gás, alavancou o nosso mercado? ...

17

ANA LUCIA

“Achei! Agora é só ligar!”

LUCIO

“A senhora vai comprar o gás, lá, mesmo?”

ANA LUCIA

“Vou comprar, sim, filho! Eu preciso fazer o almoço, te levar para escola e ainda voltar para o meu

trabalho!”

(Ana Lucia liga para o Mini Mercado Beleza Pura e sua chamada é atendida por Zé Gazinho,

que presta contas com Pelegrinelli)

ZÉ GAZINHO (Ao Telefone)

“Mini Mercado e Disk-Gás Beleza Pura!”

ANA LUCIA (Ao Telefone)

“Alô! Eu desejo fazer um pedido, de um botijão de gás!”

ZÉ GAZINHO (Ao Telefone)

“Qual é o local para entrega?”

ANA LUCIA (Ao Telefone)

“Condomínio Alabama, casa 33!”

(Zé Gazinho anota o pedido de Ana Lucia)

ZÉ GAZINHO (Ao Telefone)

“Certo...”

ANA LUCIA (Ao Telefone)

“Moço, é urgente! ...Por gentileza, traga esse botijão de gás aqui na minha casa, agora e urgente!”

ZÉ GAZINHO (Ao Telefone)

“Sim, senhora! ...O meu garoto está fazendo entregas aí no Condomínio Alabama! Eu vou o mandar

deixar um gás aí na casa da senhora!”

ANA LUCIA (Ao Telefone)

“Ótimo! Obrigado!”

ZÉ GAZINHO (Ao Telefone)

“De nada... precisando é só ligar!”

(Ana Lucia desliga a ligação e Zé Gazinho segue prestando as suas contas com Pelegrinelli no

Mini Mercado)

Page 18: GÁS CLANDESTINO - rl.art.br · Será que vai valer à pena? GAZOTE Deixa de ser receoso, papai! ...O senhor não viu, que a revenda de gás, alavancou o nosso mercado? ...

18

LUCIO

“Conseguiu?”

ANA LUCIA

“Graças a DEUS! Eles já estão chegando...”

(Lucio fica chateado. Do lado de fora da casa, Gazote chega, sob uma moto muito velha e

muito barulhenta. Na moto há muitos botijões de gás de cozinha, cheios e vazios)

LUCIO

“Eu acho, que já chegou!”

ANA LUCIA

“Até que em fim!”

(Ana Lucia e Lucio deixam a cozinha. Ana Lucia vai até a porta de entrada de sua casa. Ela

abre a porta e a vista Gazote, que está à paisana, visivelmente sujo e muito suado desce da moto e tira

dela o botijão de gás cheio)

GAZOTE

“O gás é para a senhora?”

ANA LUCIA

“É, sim! pode entrar!”

(Gazote pega o botijão de gás cheio)

GAZOTE

“Bom dia!”

ANA LUCIA

“Bom dia!”

(Gazote entra na casa de Ana Lucia, levando consigo o botijão de gás cheio. Lucio observa

Gazote, que trazendo o botijão, repara toda a casa. Lucio fica indignado e analisa Gazote. Acompanhado

por Ana Lucia, Gazote entra na cozinha, coloca o botijão de gás cheio ao chão e vai até o botijão de gás

vazio e o desinstala)

GAZOTE

“Oh, hora, pra acabar o gás... hein, senhora?”

(Gazote repara a cozinha)

ANA LUCIA

“Ainda mais agora, na hora do almoço!”

Page 19: GÁS CLANDESTINO - rl.art.br · Será que vai valer à pena? GAZOTE Deixa de ser receoso, papai! ...O senhor não viu, que a revenda de gás, alavancou o nosso mercado? ...

19

GAZOTE

“É verdade...”

(Gazote instala o botijão cheio rapidamente)

GAZOTE

“Prontinho!”

ANA LUCIA

“Quanto custa o gás?”

GAZOTE

“45 reais!”

(Ana Lucia passa 45 reais para Gazote)

ANA LUCIA

“Certo?”

GAZOTE

“Certo! ...Obrigado, senhora! ...Eu vou deixa um folheto do nosso disk-gás com a senhora...”

(Gazote pega em seu bolso um folheto do disk-gás)

ANA LUCIA

“Eu já tenho!”

GAZOTE

“Que legal... Precisando, pode ligar! ...Senhora, eu vou lá!”

(Gazote pega o botijão vazio)

GAZOTE

“Tchau!”

ANA LUCIA

“Tchau!”

(Gazote deixa a casa, coloca em sua moto velha o gás vazio e deixa o local. Ana Lucia vai até

a cozinha e começa os preparativos para o almoço. Lucio vai até cozinha)

LUCIO

“A senhora percebeu, algo estranho, nesse entregador?”

ANA LUCIA

“Sim, percebi! ...Ele foi bem pontual, eficiente e ágil no trabalho!”

Page 20: GÁS CLANDESTINO - rl.art.br · Será que vai valer à pena? GAZOTE Deixa de ser receoso, papai! ...O senhor não viu, que a revenda de gás, alavancou o nosso mercado? ...

20

LUCIO

“Que nada, mamãe! Ele ficou reparando a casa inteira, reparou tudo...

(Ana Lucia liga o clic do botijão de gás)

ANA LUCIA

“Deixa de ser bobo, Lucio!”

LUCIO

“Não questão de ser bobo, é questão de ser inteligente, mamãe! Como à senhora, pode ter

comprado, gás de cozinha, naquele local? ...Que sabe lá, como funciona!”

(O clic do botijão de gás não pega e Ana Lucia fica estarrecida)

ANA LUCIA

“Não quer pegar...”

LUCIO

“O que?”

ANA LUCIA

“O clic do botijão de gás, não quer pegar! Era só o que me faltava!”

(Ana Lucia faz uma ligação e aguarda a chamada na linha)

LUCIO

“A senhora, está ligando pra quem?”

ANA LUCIA

“Para o Mini Mercado!”

(A chamada é atendida por Zé Gazinho, que está no Mini Mercado, tratando de negocios

com Pelegrinelli)

ZÉ GAZINHO (Ao Telefone)

“Mini Mercado e Disk-Gás Beleza Pura!”

ANA LUCIA (Ao Telefone)

“Moço, eu acabei de comprar um botijão de gás, aí com vocês! Sendo que o botijão, está com um

problema!”

(Zé Gazinho fica temeroso)

ZÉ GAZINHO (Ao Telefone)

“...Com o problema?”

Page 21: GÁS CLANDESTINO - rl.art.br · Será que vai valer à pena? GAZOTE Deixa de ser receoso, papai! ...O senhor não viu, que a revenda de gás, alavancou o nosso mercado? ...

21

ANA LUCIA (Ao Telefone)

“É... O clic, dele... não pega!”

ZÉ GAZINHO (Ao Telefone)

“Senhora, só um minuto...”

(Zé Gazinho sinaliza para Pelegrinelli, que tem um problema na venda de um botijão.

Pelegrinelli toma o telefone de Zé Gazinho)

PELEGRINELLI (Ao Telefone)

“Oi?”

ANA LUCIA (Ao Telefone)

“Moço, o clic do botijão de gás, que eu comprei com vocês, não está pegando!”

PELEGRINELLI (Ao Telefone)

“Ainda bem, que a gente, não tem nada a ver, com isso!”

(Ana Lucia fica surpresa)

ANA LUCIA (Ao Telefone)

“Como assim?”

PELEGRINELLI (Ao Telefone)

“O nosso trabalho... é vender o gás! O ‘mas’... não é problema da gente, não!”

ANA LUCIA (Ao Telefone)

“Eu comprei o gás e paguei por ele!”

PELEGRINELLI (Ao Telefone)

“Exatamente! A senhora comprou ‘o gás’! A senhora, não comprou, o ‘botijão’ de gás! ...Se o

‘botijão’ da senhora, está dando problema, isso não é problema da gente!”

ANA LUCIA (Ao Telefone)

“Mas vocês trocaram o botijão! Este botijão, é de vocês!”

PELEGRINELLI (Ao Telefone)

“Minha senhora... esse botijão, é do fabricante! Se o botijão, está dando problemas, isso não é

problema meu!”

ANA LUCIA (Ao Telefone)

“Então é assim? Seu... CALOTEIRO!”

Page 22: GÁS CLANDESTINO - rl.art.br · Será que vai valer à pena? GAZOTE Deixa de ser receoso, papai! ...O senhor não viu, que a revenda de gás, alavancou o nosso mercado? ...

22

PELEGRINELLI (Ao Telefone)

“Por que a senhora não reclama, com o fabricante do botijão? De repente, a senhora consegue,

alguma coisa!”

ANA LUCIA (Ao Telefone)

“Idiota!”

(Ana Lucia desliga a ligação e fica muito, muito furiosa. No Mini Mercado, Pelegrinelli segue

tratando de negócios com Zé Gazinho, que fica muito apreensivo)

LUCIO

“O que houve, mamãe?”

ANA LUCIA

“Nada...”

(Ana Lucia vai até o botijão de gás; ela liga e desliga o clic do botijão, varias vezes; ela faz

testes para ver se uma das bocas do fogão acende, mas nada resolve, pois o clic não pega. De repente, a

mangueira do botijão, começa a vazar gás; deste vazamento, surge uma labareda de fogo. Ana Lucia e

Lucio ficam desesperados)

ANA LUCIA

“Filho, vamos sair daqui!”

LUCIO

“Socorro! Socorro!”

(Ana Lucia pega no pulso de Lucio e ambos deixam a cozinha correndo; eles saem da casa

pela porta de entrada da sala e ficam abraçados do lado de fora do local. Borges, um bombeiro civil, que

mora vizinho a casa de Ana Lucia, sai de sua casa, fardado para o trabalho e observa o desespero de Ana

Lucia e Lucio)

BORGES

“O que está havendo?”

ANA LUCIA

“O botijão de gás... O botijão de gás...”

(Imediatamente, Borges invade a casa de Ana Lucia; ele vai até a cozinha e consegue deter a

labareda de fogo. Inês, que chega da faculdade, passa pela casa de Ana Lucia. Inês está com o rosto e uma

parte do corpo queimada, ao ver a aflição de Ana Lucia e Lucio, ela vai até eles e os conforta. Borges faz

uma inspeção no botijão de gás. Borges sai da casa e vai ao encontro das vítimas)

BORGES

“A senhora está bem?”

Page 23: GÁS CLANDESTINO - rl.art.br · Será que vai valer à pena? GAZOTE Deixa de ser receoso, papai! ...O senhor não viu, que a revenda de gás, alavancou o nosso mercado? ...

23

ANA LUCIA

“Sim, eu estou bem!”

BORGES

“E você, garotão? Está bem?”

LUCIO

“Eu estou bem, Graças a DEUS!”

BORGES

“Graças a DEUS, mesmo! Porque por muito pouco, vocês não perderam suas vidas, por causa

daquele botijão de gás. A senhora também está bem?”

INÊS

“Estou... E na verdade, eu estou chegando da faculdade... eu sou moradora desse condomínio e

estou indo para casa!”

BORGES

“Eu também, moro aqui neste condomínio! Eu moro aqui em frente a essa casa! Eu estava saindo,

para ir ao trabalho!”

ANA LUCIA

“O que houve com o botijão de gás?”

BORGES

“Bom, eu fiz uma breve inspeção e detectei uma série de irregularidades!”

ANA LUCIA

“É mesmo?”

BORGES

“Sim. E o principal, maus tratos com o botijão! ...Aquele botijão está em péssimo estado de

conservação!”

ANA LUCIA

“Como assim?”

BORGES

“Provavelmente, o botijão deve ter sido exposto, há climas, variados! Como: sol forte, chuva,

sereno e produtos químicos! Isso é péssimo, para o consumidor, que quando for usar o gás do botijão,

corre sérios riscos de vida! ...Onde a senhora comprou aquele botijão?”

Page 24: GÁS CLANDESTINO - rl.art.br · Será que vai valer à pena? GAZOTE Deixa de ser receoso, papai! ...O senhor não viu, que a revenda de gás, alavancou o nosso mercado? ...

24

ANA LUCIA

“Naquele mercadinho, aqui próximo...”

INÊS

“O Beleza Pura?”

ANA LUCIA

“Isso mesmo! Eu comprei o botijão lá!”

INÊS

“Estão vendo isso?”

(Inês mostra suas queimaduras)

INÊS

“Há meses atrás, eu comprei um botijão de gás, nesse lugar! O botijão que eles levaram até a minha

casa, quase explodiu! Eu tive queimaduras de segundo grau! Eu quase perdi a minha vida! O dono do Mini

Mercado, foi preso! Mas meses depois, ele foi solto e continua vendendo, botijões de gás clandestino, com

o filho dele!”

BORGES

“Todo o botijão de gás de cozinha, deve ficar em um local especial, até chegar à casa do

consumidor!”

INÊS

“As pessoas pensam que isso é historinha, mas é realidade! Gás de cozinha é coisa séria! E os

homens daquele Mini Mercado, pouco se importam com isso!”

BORGES

“É lamentável!”

INÊS

“Eles são boqueiros! E vendem gás de cozinha clandestino, para muita gente, aqui no bairro e nas

mediações!”

BORGES

“Ou seja, uma pessoa compra, um botijão de gás, nesse Mini Mercado e o botijão não dá

problemas... outra pessoa, fica sabendo disso, compra o botijão, lá também, e o botijão não dá problemas

e assim por diante... até que um dia, a batata queima, nas mãos de alguém!”

(...)

Page 25: GÁS CLANDESTINO - rl.art.br · Será que vai valer à pena? GAZOTE Deixa de ser receoso, papai! ...O senhor não viu, que a revenda de gás, alavancou o nosso mercado? ...

25

BORGES

“Senhora, eu vou solicitar que uma equipe competente, faça uma inspeção, mais apurada, naquele

botijão de gás clandestino! ...Eu peço, por gentileza, para que a senhora e o filho da senhora, não entrem

na casa!”

LUCIO

“Então pra aonde nós vamos?”

INÊS

“Vocês podem ficar na minha casa, até que tudo seja resolvido! Vamos?”

LUCIO

“Mamãe, agora quando eu crescer, eu quero ser bombeiro!”

(Todos sorriem e em seguida deixam o local)

Cena 4 NARRAÇÃO

“Após muitas denuncias e provas incontestáveis, da venda irregular de gás de cozinha, no Mini

Mercado e Disk-Gás Beleza Pura; O local teve de fechar as portas. Zé Gazinho e Gazote foram presos, e

ambos, pegaram 8 anos de reclusão penal. Mas os advogados de Zé Gazinho e Gazote, conseguiram uma

considerável, redução na pena.”

“Em um sábado, da primavera, eles foram soltos.”

(Zé Gazinho, Gazote e Pelegrinelli entram no Mini Mercado e Disk Gás Beleza Pura. O local,

que estava fechado, está abandonado, extremamente sujo, com muita poeira e teias de aranha. Zé

Gazinho e Gazote, estão visivelmente abatidos, Pelegrinelli abraça ambos)

PELEGRINELLI

“Rapazes, a partir de agora, é vida nova! ...Vida nova!”

GAZOTE

“Eu nem sei, por onde começar, essa vida ‘nova’...”

PELEGRINELLI

“Deixa de bobagem, rapaz! ...É como eu sempre falo: Depois da tempestade, vem a bonança!”

ZÉ GAZINHO

“Isso é verdade...”

(Pelegrinelli sorri e solta Zé Gazinho e Gazote)

Page 26: GÁS CLANDESTINO - rl.art.br · Será que vai valer à pena? GAZOTE Deixa de ser receoso, papai! ...O senhor não viu, que a revenda de gás, alavancou o nosso mercado? ...

26

GAZOTE

“E aí, papai? ...Como é que a gente vai começar, essa vida ‘nova’?”

ZÉ GAZINHO

“Não sei, filho...”

PELEGRINELLI

“Por que vocês não continuam de onde pararam?”

ZÉ GAZINHO

“Como assim?”

PELEGRINELLI

“Deem continuidade, naquilo que estava dando certo!”

GAZOTE

“De novo? ...O senhor está sugerindo que a gente volte a revender gás de cozinha? ...É isso mesmo?

...Se a gente voltar a revender gás de cozinha aqui em Ramos, a gente tá ferrado!”

PELEGRINELLI

“É obvio, que vocês não deverão revender gás, aqui! ...Aqui, vocês são... figurinhas repetidas!”

ZÉ GAZINHO

“E o que você sugere para gente?”

PELEGRINELLI

“Duque de Caxias, baixada fluminense!”

ZÉ GAZINHO

“Caxias?”

PELEGRINELLI

“Isso... Gazinho, você abrem um mini mercado, por lá! ...E depois de um tempo, começa a revender

gás de cozinha! “

(Zé Gazinho e Gazote ficam completamente surpresos)

PELEGRINELLI

“Eu já vi um local... é ótimo! Discreto e tem uma clientela, muito promissora! ...Vai ficar tudo ao

favor de vocês! ...Lá, vocês vão arrebentar, a boca do balão!”

(Aos poucos, Zé Gazinho e Gazote se entusiasmam)

Page 27: GÁS CLANDESTINO - rl.art.br · Será que vai valer à pena? GAZOTE Deixa de ser receoso, papai! ...O senhor não viu, que a revenda de gás, alavancou o nosso mercado? ...

27

PELEGRINELLI

“Isso se animem... vocês sabem, que quando a coisa fica feia, eu deixo ela bonita!”

(Zé Gazinho e Gazote sorriem)

PELEGRINELLI

“E aí, Gazinho? Fechado?”

ZÉ GAZINHO

“Eu vou pensar... eu não quero mais correr riscos! E eu não quero, que o meu filho, passe, pelo que

passou, outra vez! ...Eu vou pensar na sua proposta!”

(Pelegrinelli dá um breve sorriso)

PELEGRINELLI

“Ok... se você demorar muito, para decidir, daqui a pouco, já tem outras pessoas no seu lugar! A fila

anda, Gazinho! A fila anda! ...E o povo, precisa comprar gás!”

(Pelegrinelli deixa o Mini Mercado. Zé Gazinho e Gazote ficam muito indecisos)

CONTINUA...