FUSÃO E CARACTERIZAÇÃO DE FRITAS PARA VIDRO … · acima de 850ºC) e difração de raios-X. ......

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Anais do 50º Congresso Brasileiro de Cerâmica Proceedings of the 50 th Annual Meeting of the Brazilian Ceramic Society 22 a 25 de maio 2006 – Blumenau, SC FUSÃO E CARACTERIZAÇÃO DE FRITAS PARA VIDRO-CERÂMICA FELDSPÁTICA REFORÇADA COM LEUCITA C.N. Barbato 1,2 *, V. Bemfica 1 , M.C.S. Nóbrega 1 , A.B. Luz 2 , J.A.Sampaio 2 , T. Ogasawara 1 1 PEMM, COPPE/UFRJ, F210 CT, C.P. 68505, Ilha do Fundão, CEP 21941- 972, Rio de Janeiro – RJ 2 Centro de Tecnologia Mineral – CETEM, Cidade Universitária, Av. Ipê, 900. CEP 21941-590 – Rio de Janeiro – RJ *[email protected] RESUMO As fritas de vidro-cerâmica reforçada por leucita foram fundidas a 1200ºC por 3 horas com a seguinte composição (% em peso): 56,5 de SiO 2 , 20 de Al 2 O 3 , 11,2 de K 2 O, 0,1 de B 2 O 3 , 0,1 de CaO, 0,7 de CeO 2 . Foram usadas para cada 100 g de produto final: 85,6 g de feldspato armil (RN), 2,88 g de Al 2 O 3 , 9,5 g de K 2 CO 3 , 2,74 g de bórax, 0,7 g de CeO 2 e 8,54 g de Na 2 CO 3 . A fusão foi feita em cadinho de alumina e forno de mufla, seguida de choque térmico em água, moagem e caracterização por análise térmica (cristalização da leucita acima de 850ºC) e difração de raios-X. A amostra de pó de frita foi prensada, sinterizada e a pastilha testada quanto à conformabilidade a quente sob pressão a 1.000ºC. Os resultados corresponderam à expectativa indicada pela literatura sobre o tipo de material. Palavras-chaves: vidro-cerâmica dental, frita, cristalização de leucita. INTRODUÇÃO As cerâmicas odontológicas constituem-se principalmente em: vidrados, porcelanas, cerâmicas vítreas ou estruturas altamente cristalinas. São atraentes graças à sua biocompatibilidade, estabilidade de cor a longo prazo, resistência ao desgaste e à sua capacidade de serem conformadas com precisão. 1

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Anais do 50º Congresso Brasileiro de Cerâmica Proceedings of the 50th Annual Meeting of the Brazilian Ceramic Society

22 a 25 de maio 2006 – Blumenau, SC FUSÃO E CARACTERIZAÇÃO DE FRITAS PARA VIDRO-CERÂMICA

FELDSPÁTICA REFORÇADA COM LEUCITA

C.N. Barbato1,2 *, V. Bemfica1, M.C.S. Nóbrega1, A.B. Luz2, J.A.Sampaio2 , T.

Ogasawara1

1PEMM, COPPE/UFRJ, F210 CT, C.P. 68505, Ilha do Fundão, CEP 21941-972, Rio de Janeiro – RJ

2Centro de Tecnologia Mineral – CETEM, Cidade Universitária, Av. Ipê, 900. CEP 21941-590 – Rio de Janeiro – RJ

*[email protected]

RESUMO

As fritas de vidro-cerâmica reforçada por leucita foram fundidas a 1200ºC

por 3 horas com a seguinte composição (% em peso): 56,5 de SiO2, 20 de

Al2O3, 11,2 de K2O, 0,1 de B2O3, 0,1 de CaO, 0,7 de CeO2. Foram usadas para

cada 100 g de produto final: 85,6 g de feldspato armil (RN), 2,88 g de Al2O3, 9,5

g de K2CO3, 2,74 g de bórax, 0,7 g de CeO2 e 8,54 g de Na2CO3. A fusão foi

feita em cadinho de alumina e forno de mufla, seguida de choque térmico em

água, moagem e caracterização por análise térmica (cristalização da leucita

acima de 850ºC) e difração de raios-X. A amostra de pó de frita foi prensada,

sinterizada e a pastilha testada quanto à conformabilidade a quente sob

pressão a 1.000ºC. Os resultados corresponderam à expectativa indicada pela

literatura sobre o tipo de material.

Palavras-chaves: vidro-cerâmica dental, frita, cristalização de leucita.

INTRODUÇÃO

As cerâmicas odontológicas constituem-se principalmente em: vidrados,

porcelanas, cerâmicas vítreas ou estruturas altamente cristalinas. São

atraentes graças à sua biocompatibilidade, estabilidade de cor a longo prazo,

resistência ao desgaste e à sua capacidade de serem conformadas com

precisão.

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Anais do 50º Congresso Brasileiro de Cerâmica Proceedings of the 50th Annual Meeting of the Brazilian Ceramic Society

22 a 25 de maio 2006 – Blumenau, SC Vidro–cerâmica são cerâmicas constituídas por grãos finos e

policristalinos envolvidos por uma matriz vítrea(1) e é obtida mediante controle

da cristalização da frita durante o tratamento térmico. Nesta etapa ocorre a

nucleação e crescimento da fase cristalina na matriz vítrea, que depende da

composição química e de um tratamento térmico específico. A alta taxa de

nucleação e baixa taxa de crescimento dos cristais são necessárias para obter

pequenos grãos cristalinos, que é desejável por aumentar a resistência

mecânica da cerâmica (3).

As vidro-cerâmicas feldspáticas reforçadas com leucita são utilizadas em

restaurações dentárias com o objetivo de compatibilizar os coeficientes de

expansão térmica do sistema porcelana-substrato metálico em restaurações

metalo-cerâmicas (2).

Leucita (K2O.Al2O3.4SiO2) é um mineral alumino-silicato de potássio, com

elevado coeficiente de expansão térmica e a mudança de fase é acompanhada

por uma variação significativa no volume. O seu ponto de fusão está em torno

de 1.693ºC (4). A mudança de fase cúbica (alta leucita) para tetragonal (baixa

leucita) ocorre no intervalo de 605-625ºC (2). Na temperatura ambiente, a fase

predominante da leucita é tetragonal.

Para controlar o tamanho dos cristais de leucita, a distribuição e a fração

volumétrica na matriz vítrea, obtendo finos cristais na fase tetragonal

uniformemente distribuídos, é necessário controlar a cristalização da leucita

durante o tratamento térmico e o tamanho das partículas da frita (3).

A quantidade de leucita pode ser alterada na porcelana dentária durante a

queima múltipla, o tratamento isotérmico, o resfriamento e ao longo do tempo

de contato com a saliva.(5) Os minerais de leucita podem ser incorporados à

porcelana dentária pela fusão do feldspato ou pela presença de pós-sintéticos

de leucita. Em geral, a quantidade de leucita é governada pelo conteúdo de

K2O na frita, pela temperatura e pelo tempo do tratamento térmico. O volume

de leucita tetragonal numa porcelana dentária varia de 17 a 45% na matriz

vítrea (2).

A cristalização ou a introdução da expansão elevada da leucita na fase

tetragonal na base vítrea é benéfica, pois aumenta o coeficiente de expansão a

um ótimo nível, que permite uma boa interação com o substrato metálico, no

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Anais do 50º Congresso Brasileiro de Cerâmica Proceedings of the 50th Annual Meeting of the Brazilian Ceramic Society

22 a 25 de maio 2006 – Blumenau, SC caso de restauração metalo-cerâmica. A neutralização da força motriz

responsável pela formação de trinca é realizada pela tensão compressiva

tangencial em volta dos cristais que é gerada pela variação de volume (devido

à mudança de fase da leucita cúbica para tetragonal) e a diferença de

expansão térmica entre os cristais de leucita tetragonal (22 a 25 x 10-6ºC-1) e a

matriz vítrea (8,6 x 10-6ºC-1) (2).

Neste contexto, o objetivo do presente trabalho foi obter uma vidro-

cerâmica reforçada por leucita utilizando matérias-primas nacionais.

MATERIAIS E MÉTODOS

Frita A preparação de 20 g de frita com a composição descrita na Tabela I,

requereu o uso de:

15,55 g de feldspato Armil 1,74 g de K2CO3

0,53 g de Al2O3 0,50 g de bórax

1,56 g de Na2CO3 0,13 g de CeO

Tabela I: Composição química (% peso) da frita.

Componentes % (em peso) Componentes % (em peso) SiO2 56,1 Rb2O 0,1 Al2O3 19,9 NiO 0,1 K2O 11,2 P2O5 0,3 CaO 0,2 NiO 0,1 CeO2 0,7 Na2O 10,5

A mistura de pó foi homogeneizada num gral de ágata, e em seguida,

colocada num cadinho e levada à mufla a uma temperatura em torno de

1.200ºC, por três horas, e resfriada bruscamente quando colocada em contato

com a água e gelo.

Vidro-Cerâmica Feldspática Reforçada com Leucita A frita foi cominuida no grau de ágata a uma granulometria abaixo de

325# (0,043 mm), para em seguida ser prensada sob pressão de 15,4 bar em

molde cilíndrico de aço inoxidável com um diâmetro de 0,9 mm. A pastilha

obtida foi submetida a um tratamento térmico para que houvesse a

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22 a 25 de maio 2006 – Blumenau, SC cristalização de leucita nas temperaturas de 900, 1.000 e 1.100ºC (Figura 1)

por uma hora com uma taxa de aquecimento de 10 ºC/min.

Figura 1 – Tratamento térmico da frita.

Prensagem a Quente As fritas tratadas termicamente nas temperaturas de 900, 1.000 e 1.100ºC

foram submetidas ao processo de prensagem a quente no forno Ceram Press

da NEY na temperatura de 1.000ºC por 20 mim e 18 mim de prensagem com

uma taxa de aquecimento de 60ºC/mim .

Técnicas de Caracterização Medidas de análises térmicas (DTA/TGA): foram realizadas em um

equipamento de análise de TGA/DTA simultâneo modelo SDT 2960 TA

Instruments, nas seguintes condições de operação: taxa de aquecimento de

10ºC/mim, atmosfera de nitrogênio e vazão de gás de 100 ml/mim e o intervalo

de temperatura utilizado foi da temperatura ambiente até 1.000 ºC.

Medidas de difração de raios-X: A estrutura cristalográfica dos pós foi

determinada em um difratômetro da marca Bruker-AXS D5005, radiação Co Kα

(35kV/40mA); 2θ por passo com tempo de contagem de 1 s por passo e

coletado de 5 a 80º 2θ. A interpretação qualitativa de espectro foi efetuada por

comparação com padrões contidos no banco de dados PDF02 (ICDD, 1996)

em software Bruker DiffracPlus.

Microscopia eletrônica de varredura (MEV): a morfologia/microestrutura

das pastilhas sinterizadas e atacadas por HF na concentração de 0,1% (em

volume) por um minuto foram reveladas observando-se amostras cobertas com

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22 a 25 de maio 2006 – Blumenau, SC prata ao microscópio eletrônico de varredura da marca Leica, modelo F440, em

modo de alto vácuo.

RESULTADOS E CONCLUSÕES

Difração de Raios-X A análise por difração de raios-X da frita, antes do tratamento térmico,

(Figura 2) permite concluir que a frita obtida é integralmente vítrea, com um

perfil difratométrico caracterizado por halo centrado em torno de 2θ = 33ºC

característico da formação de materiais vítreos.

0 1 0 2 0 3 0 4 0 5 0 6 0 7 00

5

1 0

1 5

2 0

2 5

3 0

Inte

nsid

ade

(u.a

)

2 θ

Figura 2- Difração de raios-X da frita.

Após o tratamento térmico da frita nas temperaturas de 900, 1.000 e

1.100 ºC verificou-se por meio da análise de difração de raios-X (Figura 3) a

formação da estrutura cristalina da leucita.

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Anais do 50º Congresso Brasileiro de Cerâmica Proceedings of the 50th Annual Meeting of the Brazilian Ceramic Society

22 a 25 de maio 2006 – Blumenau, SC

0 1 0 2 0 3 0 4 0 5 0 6 0 7 0 8 0 9 0

9 0 0 º C

Inte

nsid

ade

(u.a

)

2 θ

1 1 0 0 º C

1 0 0 0 º C

Figura 3 - Difração de raios-X do tratamento térmico da frita a 900, 1.000 e 1.100 ºC.

Medidas de Análise Térmica

A Figura 4 ilustra a curva de DTA da frita, na qual pode ser observado um

pico endotérmico na temperatura de 260ºC e dois picos exotérmicos nas

temperaturas de 540ºC e 820ºC. O pico endotérmico a 260ºC e o exotérmico a

540ºC estão sendo investigados e o exotérmico a 820ºC foi relacionado à

formação dos cristais de leucita.

0 200 400 600 800 1000

-0,010

-0,008

-0,006

-0,004

-0,002

0,000

Dife

renç

a de

Tem

pera

tura

(ºC

/mg)

Temperatura (ºC)

Figura 4 – Curva de DTA da frita.

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Anais do 50º Congresso Brasileiro de Cerâmica Proceedings of the 50th Annual Meeting of the Brazilian Ceramic Society

22 a 25 de maio 2006 – Blumenau, SC Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV)

A Figura 5 corresponde ao MEV das pastilhas sinterizadas a 900, 1.000 e

1.100ºC, na qual foram observados “buracos” de geometria relativamente

esférica. Sugere-se que nestes locais estavam presentes os cristais de leucita,

que apresentam morfologia arredondada, e que podem ter sido atacados pelo

ácido fluorídrico durante o tratamento da amostra.

1 µm (a)

1 µm (b)

Figura 5 – Microscopia eletrônica de varredura das pastilhas sinterizadas a

900ºC (a), 1000ºC (b) e 1100ºC (c).

1 µm (c)

Na análise da microscopia eletrônica de varredura da pastilha sinterizada

a 1.100ºC verificou-se a presença de uma quantidade significativa de cristais

de leucita, o que sugere que nesta temperatura ocorreu uma maior formação

de cristais do que nas demais temperaturas de tratamento térmico.

Prensagem a Quente As fritas tratadas termicamente a 900, 1.000 e 1.100ºC apresentaram uma

boa escoabilidade durante a prensagem a quente o que permitiu a obtenção da

barra cerâmica que pode ser observada na Figura 6, porém serão realizados

outros estudos mais aprofundados para se determinar a menor temperatura na

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Anais do 50º Congresso Brasileiro de Cerâmica Proceedings of the 50th Annual Meeting of the Brazilian Ceramic Society

22 a 25 de maio 2006 – Blumenau, SC qual as fritas tratadas termicamente apresentam uma boa viscosidade durante

o processo de prensagem a quente.

Figura 6 - Barra cerâmica obtida no processo de prensagem a quente da pastilha sinterizada.

AGRADECIMENTOS

Agradecimentos ao CNPq e FAPERJ (Pronex E-26/171.204/2003) pelo

suporte financeiro e ao CETEM pelo suporte laboratorial.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] C. M. Gorman and, R. G. Hill, Dental Material, 2003, Vol.19, pp. 320-

326.

[2] M. J. Cattell., T. C Chadwick., J. C Knowles., R. L Clarke., D .Y .D

Samarawikrama., Dental Materials,2005 (Article In Press).

[3] M. J. Cattell, T. C. Chadwick, J. C Knowles, R. L Clarke, Dental

Materials, 2005, pp.1-12.

[4] J.L Lond., D.W. Farley, B.K. Norling., Dental Materials(2000), Vol. 16,

pp. 20-25.

[5] S. Hashimoto, A Yamaguchi, K. Fukuda, S. Zhang, Materials Research

Bulletin, 2005, Vol. 40, pp. 1577-1583.

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Anais do 50º Congresso Brasileiro de Cerâmica Proceedings of the 50th Annual Meeting of the Brazilian Ceramic Society

22 a 25 de maio 2006 – Blumenau, SC MELTING AND CHARACTERIZATION OF FRITS TO LEUCITE

REINFORCED FELDSPAR GLASS- CERAMIC

C.N. Barbato1,2 *, V. Bemfica1, M.C.S. Nóbrega1, A.B. Luz2, J.A.Sampaio2 , T.

Ogasawara1

1Dept. of Metallurgical and Materials Engineering, COPPE/UFRJ, F210 CT, P.O. Box 68505, Cidade Universitária, CEP 21941-972, Rio de Janeiro – RJ 2Centro de Tecnologia Mineral – CETEM, Cidade Universitária, Av. Ipê, 900.

CEP 21941-590 – Rio de Janeiro – RJ

*[email protected]

ABSTRACT

Samples of frits for one leucite reinforced feldspar glass-ceramic were melted at

1200ºC for 3h. Its wt% composition was: 56.5% SiO2, 20.0% Al2O3, 11.2% K2O,

0.1% B2O3, 0.1% CaO, 0.7% CeO2. The amounts of raw materials for each

100g of final product were: 85.6g of Armil feldspar (from Rio Grande do Norte

State, Brazil), 2.88g of Al2O3, 9.5g of K2CO3, 2.74g of borax, 0.7g of CeO2 and

8.54g of Na2CO3. The melting was carried out in alumina crucible inside a

muffle furnace. The molten glass was submitted to thermal shock in water,

followed by milling and characterization by thermal analysis (leucite

crystallization, above 850ºC) and X-ray diffraction technique. Samples of frits

powder were dry pressed and sintered to form discs, which were submitted to

hot-press forming at 1,000ºC under vacuum. Preliminary results fitted well the

published behavior of dental glass-ceramics of the same kind.

Keywords: dental glass-ceramic, frits, leucite crystallization.

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