Fundamentos da Ciência Econômica MÓDULO III -...
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Fundamentos da Ciência Econômica
MÓDULO III - FUNDAMENTOS DE MACROECONOMIA
Ao final do estudo deste módulo, esperamos que você possa:
Entender em que se baseia a política macroeconômica, suas metas e os
instrumentos disponíveis para atingi-las;
Entender o objeto de estudo da macroeconomia;
Compreender as principais identidades macroeconômicas e usá-las para
análise de economias reais;
Entender como ocorrem as flutuações econômicas que influenciam o
produto, por meio do modelo de oferta e demanda agregada; e
Compreender os efeitos das políticas fiscal e monetária nas flutuações e
como podem ser usadas para a consecução de determinados fins.
Conteúdo programático da unidade 1
Introdução.
Metas da Política Macroeconômica.
Instrumentos da Política Macroeconômica.
Resumo da unidade 1
A macroeconomia se preocupa com os grandes agregados da economia. Suas
metas são obter níveis satisfatórios de emprego, ausência de inflação, uma
distribuição de renda mais equitativa e altas taxas de crescimento econômico.
Para tanto, pode utilizar-se das políticas fiscal, monetária, cambial e comercial.
Introdução da unidade 1
A macroeconomia tem como objeto de estudo as relações entre os grandes
agregados: a renda nacional, o nível de emprego e dos preços, o consumo, a
poupança e os investimentos totais.
A macroeconomia, ao tentar responder como o mercado de bens e serviços se
comporta, efetua uma agregação de todos os bens produzidos pela economia
durante certo período de tempo. Esse conjunto é chamado de produto agregado,
ou seja, o somatório de todos os bens produzidos pela economia. O preço de
produto agregado é uma média de todos os preços dos bens produzidos. A isso,
dá-se o nome de nível geral de preços.
Analogamente, a macroeconomia também vê o mercado de trabalho como uma
agregação de todos os tipos de trabalho existentes na economia. Como
resultado temos outras duas variáveis macroeconômicas: a taxa salarial e o nível
de emprego.
Para que as compras e vendas de mercadorias e serviços aconteçam, é
necessário um elemento comum de troca: o dinheiro. Para tanto, existe o
mercado monetário, em que são determinadas as taxas de juros e a quantidade
de moeda necessária para efetuar as transações econômicas. A moeda tem
importância na determinação dos preços e nas quantidades produzidas.
A macroeconomia se incumbe ainda de estudar as relações do nosso país com
o resto do mundo. Analisa o mercado cambial, de forma a conhecer a taxa de
câmbio que permite calcular a relação de troca entre diferentes moedas.
Em síntese, a macroeconomia é o estudo de fenômenos que englobam toda a
economia. Um macroeconomista estuda assuntos como os efeitos de
empréstimos feitos pelo governo federal, as mudanças da taxa de desemprego
ao longo do tempo ou políticas alternativas para promover a elevação do padrão
de vida nacional.
Metas da Política Macroeconômica
São metas da política macroeconômica: alto nível de emprego, estabilidade de
preços, distribuição de renda socialmente justa e crescimento econômico.
Alto nível de emprego
As pessoas que gostariam de trabalhar, mas não conseguem encontrar um
emprego, não estão contribuindo para a produção de bens e serviços da
economia (além de terem sua autoestima completamente abalada). Embora um
certo grau de desemprego seja inevitável em uma economia complexa, quando
um país consegue manter a maior parte de seus trabalhadores plenamente
empregados, atinge um nível de PIB (Produto Interno Bruto) maior do que se
deixasse muitos deles ociosos.
Estabilidade de preços
Define-se inflação como um aumento contínuo e generalizado no nível geral de
preços, o que provoca uma perda do poder aquisitivo da moeda. A inflação é um
problema porque gera distorções de toda ordem no sistema econômico, como
uma piora na distribuição de renda (os pobres têm mais dificuldade em se
defender da inflação) e incertezas sobre o futuro, o que desestimula os
investimentos produtivos. Daí a necessidade de políticas que preservem a
estabilidade dos preços.
Distribuição de renda socialmente justa
A distribuição de renda resultante do sistema econômico pode não ser a
desejada pela sociedade. O governo pode intervir, por meio de impostos,
subsídios ou transferências, no sentido de fazer ajustes e tornar a distribuição
mais justa, mais equitativa. No caso do Brasil, isso é ainda mais urgente, dadas
as diferenças absurdas existentes na sociedade brasileira.
A distribuição de renda também tem sido assunto recorrente nos países
emergentes que conseguiram um crescimento econômico rápido, pois a riqueza
produzida demora a chegar às camadas mais pobres da população.
Curiosidade:
Brasil tem segunda pior distribuição de renda em ranking da OCDE
“Mesmo com o forte investimento do governo em programas de redução da
pobreza nos últimos anos, o Brasil ainda é um dos países com maior
desigualdade social do mundo, segundo a Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE). Publicado nesta terça-feira, o “Relatório
Territorial Brasil 2013” analisa diversos aspectos do país e revela que, apesar
dos avanços significativos nos últimos 15 anos, a disparidade entre as
economias dos estados brasileiros continua alta, menor apenas que a do México
e duas vezes superior à média dos membros da OCDE.
De acordo com o estudo, o coeficiente Gini (que mede a desigualdade de renda)
entre os estados brasileiros era de 0,30 em 2010, enquanto o do México, o mais
desigual, era de 0,34. O coeficiente varia de 0 a 1. Quanto mais próximo de 0,
menor a desigualdade. O país com melhor distribuição de renda é o Japão, com
índice de 0,06”.
(Jornal O Globo, de19/03/2013)
Crescimento econômico
Crescimento econômico é o aumento da capacidade produtiva da economia e,
portanto, da produção de bens e serviços de determinado país. O melhor
indicador para isso é aferir o aumento da renda nacional per capita, isto é, o
aumento da razão entre a quantidade produzida e a população. Para termos
incremento na renda nacional per capita, o aumento dos bens e serviços
produzidos deve superar o crescimento populacional.
Considerando que em 2012 o crescimento brasileiro foi de apenas 0,9% e que
as expectativas para 2013 não são boas, essa meta deve ser uma das
prioridades nacionais. Estudaremos na Módulo VI do nosso curso o que é preciso
para impulsionar o crescimento econômico.
Instrumentos da política macroeconômica
O governo, para atingir as metas, deve atuar sobre a capacidade produtiva
(oferta agregada) e sobre a despesa planejada da sociedade (demanda
agregada). Basicamente, os instrumentos de política macroeconômica utilizados
para isso são:
Política fiscal
Política monetária
Políticas cambial e comercial
A política fiscal diz respeito às decisões dos governos sobre gastos e tributos.
Seus efeitos podem ser sentidos diretamente na demanda agregada, por meio
da variação dos gastos públicos em consumo e investimento, ou indiretamente,
pela redução dos impostos, o que eleva a renda disponível no setor privado.
Estudaremos, ainda nesta unidade, como funcionam esses mecanismos.
A política monetária refere-se à atuação do governo sobre a quantidade de
moeda, de crédito e das taxas de juros. Na atualidade, o principal instrumento
da política monetária é a taxa de juros e seu objetivo primordial é a inflação baixa.
As políticas monetária e fiscal representam diferentes alternativas para as
mesmas finalidades. A política macroeconômica deve utilizar uma combinação
das duas.
A política fiscal apresenta maior eficácia na distribuição de renda, utilizando
como instrumentos, por exemplo, a taxação de rendas mais altas ou promovendo
gastos públicos para os setores menos favorecidos.
A política monetária possui a vantagem de ser facilmente implementada, pois só
depende de decisões das autoridades monetárias (no caso brasileiro, temos as
famosas reuniões do COPOM – Comitê de Política Monetária do Banco Central).
A política fiscal depende, normalmente, de votação no Congresso Nacional e,
portanto, exige um período maior para sua implementação.
Por fim, a política cambial envolve as ações para afetar a taxa de câmbio e a
política comercial trata dos incentivos às exportações e dos desestímulos (ou em
alguns casos estímulos) às importações, que pode acontecer por meio de
alterações nas tarifas, no crédito ou via cotas.
Conteúdo programático da unidade 2
Introdução.
O fluxo circular da renda - famílias e firmas.
Vazamentos e injeções.
Estudo de caso.
Resumo da unidade 2
Serão estudadas várias expressões que nos permitem aferir e analisar
macroeconomicamente um país. A principal identidade é a do produto agregado
ou demanda agregada (podemos, simplificadamente, chamá-lo de PIB - Produto
Interno Bruto): Y = C + I + G + X – M. Essa medida é importante por que permite
quantificarmos tudo que está sendo produzido no país em termos de bens e
serviços. Permite também sabermos como está o crescimento da economia, ou
seja, como está a ampliação da produção da economia.
Introdução da unidade 2
O principal objeto da macroeconomia é a formação e a distribuição do produto e
da renda gerados pela atividade econômica. Esses agregados representam
importantes medidas de desempenho econômico e bem-estar da sociedade.
Assim, para entendermos os modelos macroeconômicos, é essencial conhecer
esses conceitos, bem como seus sistemas de contabilização.
Consideraremos, num primeiro momento, que existem apenas dois agentes na
economia: as famílias e as firmas. Estudaremos como ocorrem as relações entre
esses dois agentes. A seguir, permitiremos que haja acumulação de capital no
nosso sistema, adicionaremos o governo ao modelo e abriremos nossa
economia para o comércio internacional.
O Fluxo Circular da Renda - Famílias e Firmas
As famílias são compostas por todos os indivíduos da sociedade. Para que essas
famílias consigam suprir suas necessidades (alimentos, vestuário, lazer, ou
qualquer outro item de que precisem), alguém deve produzir. Assim, os próprios
indivíduos da sociedade formam as firmas, com o objetivo de fabricar tudo que
é demandado pelas pessoas. Ou seja, as firmas ou empresas são os locais onde
se organiza e ocorre a produção.
Para que todos os itens demandados sejam fabricados, as firmas precisam de
vários elementos, ou melhor, são necessários os fatores de produção, definidos
como todos os insumos utilizados para produzir bens e serviços.
Tradicionalmente, são considerados fatores de produção a terra (campos
cultiváveis, minas), o trabalho (recursos físicos e mentais do homem) e o capital
(máquinas, instalações, matérias-primas). E quem são os detentores dos fatores
de produção? São as próprias famílias.
Bem, então a atividade produtiva requer a utilização de fatores produtivos – terra,
trabalho, capital – que devem ser remunerados quando utilizados. Ou seja, as
famílias, quando fornecerem os fatores de produção às firmas, devem receber
uma contrapartida, uma remuneração por esses fatores que foram entregues ao
processo produtivo.
As remunerações dos fatores de produção são: salários (remuneração do fator
trabalho), juros (remuneração do capital monetário), lucros (remuneração do
risco incorrido pelo empresário) e aluguéis (remuneração do capital físico). Essas
remunerações constituem a renda das famílias.
As firmas produzem os bens e serviços e os oferecem às famílias que os
compram, utilizando a renda que tinham auferido. Dessas relações, saem alguns
importantes conceitos:
Produto Agregado (Y): soma de todos os bens e serviços finais produzidos
na economia durante determinado período de tempo (expresso em
unidades monetárias). Algebricamente, é o somatório da quantidade (q)
de cada bem i produzido, multiplicado pelo seu respectivo preço (p):
Y = Produto = pi.qi
Renda Agregada (Y): soma de todas as remunerações dos fatores de
produção (trabalho, capital, terra) pagas na economia:
Y = Renda Agregada = salários (w) 1+ juros(j) + aluguéis(a) + lucros(l)
Consumo agregado (C): total da aquisição de bens de consumo pelas
famílias. Lembrando que bens de consumo são aqueles para satisfação
das necessidades pessoais, como alimentação, saúde, lazer, etc.
Demanda Agregada (DA) (ou Despesa Agregada): despesa com o
produto ou a destinação do produto.
1 [1] Representa-se salário pela letra w em virtude da palavra inglesa wage.
Considerando uma economia hipotética que seja fechada (isto é, sem relações
com o exterior), que não tenha governo e que produz apenas bens de consumo,
a despesa agregada é igual ao consumo agregado (C = DA).
Outra maneira de analisarmos essas relações é por meio de um diagrama
chamado de Fluxo Circular da Renda (figura a seguir), que descreve todas as
transações que envolvem as famílias e as empresas de uma economia simples.
Fluxo Circular da Renda
Note que existem dois fluxos no diagrama: um, com linha tracejada, que
representa o lado real da economia, ou seja, insumos e produtos e outro, com
linha contínua, que é o fluxo de dinheiro. As famílias fornecem os fatores de
produção para as firmas e são remuneradas por isso (renda agregada). As firmas
utilizam os fatores produtivos e produzem bens e serviços (produto agregado).
A remuneração recebida pelas famílias é gasta com os bens e serviços
produzidos pelas firmas (demanda agregada). O dinheiro que as firmas recebem
pela venda dos bens e serviços serve para pagar os fatores de produção
oferecidos pelas famílias e aí voltamos ao ponto de partida.
Pelo Fluxo Circular da Renda, pode-se inferir a Identidade Macroeconômica
Básica:
Produto Agregado = Demanda Agregada = Renda Agregada
Essa identidade mostra que o valor de todos os bens e serviços produzidos em
uma economia equivale ao gasto total da população com bens e serviços que,
por sua vez, é igual ao valor de todos os rendimentos recebidos pela população,
tudo considerado no mesmo período de tempo. Essa identidade faz com que o
fluxo circular da renda esteja sempre equilibrado.
Vazamentos e Injeções
Até então, estamos trabalhando com uma economia que só produz bens de
consumo. No entanto, as empresas também produzem e investem em bens de
capital. Além disso, as famílias podem não gastar toda sua renda, isto é, podem
poupar uma parte.
Antes de continuarmos a discussão, cabe apresentarmos algumas definições:
Bens de capital: são bens destinados à produção de outros bens, como
máquinas e equipamentos. Os bens de capital não se destinam ao
consumo final dos indivíduos.
Investimento (I): são gastos que visam a aumentar a capacidade produtiva
da economia, como a aquisição de bens de capital, a construção de
hidrelétricas, a construção ou ampliação de fábricas. Cuidado para não
confundir investimento com aplicação financeira. Se você colocou seu
dinheiro na bolsa de valores, você fez uma aplicação financeira e não um
investimento.
Poupança (S)2: é a parcela da renda que não foi gasta com consumo.
Bem, de posse desses conceitos, podemos estabelecer algumas relações
algébricas.
O produto agregado (Y), que é igual à demanda agregada (DA), é composto não
só de bens de consumo, mas também dos bens de capital e de toda a produção
destinada a produzir outros bens, ou seja, o produto agregado é equivalente ao
consumo agregado (C) mais o investimento agregado (I) da economia:
2 Poupança é representada pela letra S em virtude da palavra inglesa Savings
Y = DA = C + I
Por outro lado, a renda agregada (Y), que antes era toda gasta com consumo,
pode agora ter uma parte poupada:
Y = C + S
Pela identidade básica, sabemos que a renda agregada é igual à demanda
agregada, de onde resulta que o valor da poupança equivale ao valor dos
investimentos:
C + S = C + I S = I
Perceba que a poupança é um vazamento do fluxo circular, pois é um dinheiro
das famílias que não retorna às firmas na forma de gasto com consumo. Em
contrapartida, temos os investimentos, que são considerados uma injeção. A
parte poupada pelas famílias se converte em investimentos para aumentar a
capacidade produtiva da economia. Assim, o dinheiro poupado retorna ao fluxo
que se equilibra novamente.
Pag. 02
Agora vejamos o que acontece quando colocamos o governo na nossa
economia. Cabe lembrar que o governo desempenha inúmeras atividades e,
para a consecução de suas atividades, promove gastos. Para fazer frente a
esses gastos, o governo arrecada tributos.
Dessa maneira, a renda das famílias terá mais um destino, pagamento de
tributos (T):
Y = C + S + T
Por outro lado, conforme dissemos, o governo também adquire bens e serviços,
logo a DA fica acrescida dos gastos públicos (G):
DA = C + I + G
No caso do governo, os gastos com bens de consumo são chamados de
despesas correntes, ou seja, são gastos destinados à manutenção da máquina
pública, como material de expediente ou pagamento dos funcionários públicos.
Note que os tributos se configuram como um vazamento no fluxo circular da
renda enquanto os gastos do governo são uma injeção para o fluxo.
Novamente, utilizando a identidade básica da macroeconomia (Y = DA), temos:
S + T = I + G S – I = G – T
Isso significa que, se houver déficit público, ou seja, se os gastos do governo
superarem sua arrecadação (G>T), deverá haver excesso de poupança do setor
privado para financiar o governo (S>I). Em outras palavras, recursos que
deveriam estar à disposição da iniciativa privada para financiar aumentos da
capacidade produtiva, estão sendo canalizados para financiar o governo que
gasta demais. Esse é exatamente o caso do Brasil.
Curiosidade: O que entrava o crescimento econômico?
Segundo Dório Fernandes – Presidente do Banco Opportunity – o principal
entrave ao crescimento econômico são o “tamanho e a ineficiência do Estado.
Ao longo dos anos foi construído um Estado cada vez maior e que para
sobreviver precisa sugar cada vez mais recursos do setor privado. Além disso,
esses recursos são desperdiçados no financiamento de despesas correntes e na
manutenção de um aparato distante dos padrões de eficiência necessários para
viabilizar um maior dinamismo da iniciativa privada”
(extraído da revista Conjuntura Econômica de fev/2006)
Por fim, vamos acrescentar ao nosso modelo o setor externo, isto é, vamos
permitir que aconteçam importações (denominada por M) e exportações
(denominada por X). Apesar de termos um novo vazamento, as importações
(recursos gastos com bens produzidos no exterior), temos também uma nova
injeção, as exportações (recursos externos comprando bens e serviços
produzidos no país).
Nesse contexto, temos a demanda agregada global que é a soma da demanda
agregada até então vista mais as exportações (X). Isso se deve ao fato de que
parte da produção está sendo consumida por agentes no exterior. Em outras
palavras, as exportações se caracterizam por ser um elemento de demanda por
produção interna.
Demanda Agregada Global = C + I + G + X
Por outro lado, além dos produtos produzidos no país, temos produtos
estrangeiros sendo ofertados internamente, são as importações (M). Então
podemos definir a oferta agregada global como a soma do produto agregado
interno (Y) mais as importações (M).
Oferta Agregada Global = Y + M
Igualando a demanda agregada global com a oferta agregada global, temos o
seguinte:
Y + M = C + I + G + X
Assim, a demanda agregada interna ou produto agregado interno (Y) é dado por:
Y = C + I + G + X – M
Essa, provavelmente, é a principal expressão existente na literatura
macroeconômica. A parte (X-M) é chamada de gastos líquidos do setor externo
e (C+I+G) é a absorção interna.
Lembre-se que a renda das famílias é gasta com consumo, poupança e tributos
(Y=C+S+T). Como, pela identidade básica, a renda agregada é igual ao produto
agregado que é igual à demanda agregada, temos que:
C + S + T = C + I + G + X – M
S + T + M = I + G + X
Essa última expressão mostra que os vazamentos se igualam às injeções no
fluxo circular da renda.
Pode-se ainda escrever a equação anterior como:
(X – M) = (T – G) + (S – I)
Isso é interpretado da seguinte maneira, se houver um superávit externo (X>M,
exportações maiores que as importações), deve ocorrer um superávit ou no setor
privado (S>I) ou no governo (T>G), ou em ambos. Analogamente, se houver
déficit externo, vai haver déficit interno no setor privado ou déficit público. É
sabido que o Brasil está com superávit no setor externo (X>M). O que está
acontecendo então com as outras variáveis? Discutiremos isso em um estudo
de caso mais adiante.
Outra maneira de escrever a equação anterior é:
I = S + ( T – G ) + ( M – X )
Isto é, os investimentos de um país podem ser financiados ou pela poupança
privada, ou pela poupança pública, ou pela poupança externa. Note que a
poupança externa é dada por (M-X), isso acontece porque pensamos em termos
reais, ou seja, as importações representam recursos reais que entram no país,
como máquinas e equipamentos. Se as exportações superam as importações,
temos uma poupança externa negativa.
Estudo de caso
Os dados abaixo foram retirados dos indicadores de contas nacionais trimestrais
do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Eles retratam a situação
brasileira em 2004. Note que o valor do PIB (ou produto agregado ou demanda
agregada) foi aproximadamente um trilhão setecentos e sessenta e seis bilhões
de reais.
Para chegar a esse valor de PIB, somou-se o consumo das famílias, o consumo
do governo, os investimentos e os gastos líquidos do setor externo (exportações
– importações). Note que simplesmente foi aplicada a identidade:
Y = C + I + G + X – M
Observe que o Brasil teve exportações superiores às importações (X>M).
Sabemos também que o setor público brasileiro gasta mais do arrecada (G>T).
Sendo assim, para o sistema ficar em equilíbrio (vazamentos iguais às injeções),
obrigatoriamente, temos que ter (S>I), poupança maior que investimento. Isso
significa que o setor privado, em vez de utilizar toda a poupança disponível para
investir e aumentar a capacidade produtiva, está tendo que poupar para financiar
o governo.
Conteúdo programático da unidade 3
Introdução.
Demanda agregada.
Oferta agregada.
Flutuações econômicas e o equilíbrio.
A influência das políticas monetária e fiscal.
Resumo da unidade 3
As oscilações econômicas são causadas por alterações na oferta ou demanda
agregada. Essas alterações podem ser incentivadas pelos governos, usando
como instrumentos macroeconômicos a política fiscal e a política monetária. Se
a ação desejada é um aquecimento da economia, fortalecendo o crescimento
econômico no curto prazo, pode-se diminuir a taxa de juros, aumentar os gastos
públicos ou diminuir os tributos. No entanto, se a intenção governamental é
manter a estabilidade dos preços, pode-se contrair a demanda agregada por
meio de elevações da taxa de juros, diminuição dos gastos públicos ou aumento
dos tributos.
Introdução da unidade 3
As flutuações de curto prazo na economia são comuns, acontecem em todos os
países. Nos períodos de expansão econômica, em que temos um rápido
crescimento do PIB real, ou seja, um aumento da produção de bens e serviços,
a taxa de desemprego diminui, o lucro das firmas é crescente e a tendência é se
alcançar um melhor padrão de vida para toda a população. Por outro lado, há
períodos em que as empresas não conseguem vender tudo o que produzem,
reduzem a produção e demitem trabalhadores, a taxa de desemprego aumenta,
o PIB e a renda caem. Isso caracteriza uma situação de recessão.
Neste módulo, estudaremos como ocorrem as flutuações de curto prazo na
atividade econômica e o impacto das políticas fiscal e monetária sobre a
economia.
O modelo básico para tanto é o de demanda agregada e oferta agregada. Sua
ilustração consta do gráfico III-3.1. No eixo vertical está o nível geral de preços
da economia. No eixo horizontal está a quantidade geral de bens e serviços. A
curva de demanda agregada mostra a quantidade de bens e serviços que as
famílias, as empresas e o governo desejam comprar a cada nível de preços. A
curva de oferta agregada mostra a quantidade de bens e serviços que as
empresas produzem e vendem a cada nível de preços. A produção e o nível de
preços se ajustam até chegar ao ponto (Y0,P0) em que as curvas de oferta
agregada e de demanda agregada se cruzam.
Vamos detalhar essa teoria nas páginas seguintes.
Demanda Agregada
Como vimos, a curva de demanda agregada mostra a quantidade de bens e
serviços que as famílias, as empresas e o governo desejam comprar a cada nível
de preços. Note pelo gráfico III-3.2, que a curva da demanda agregada é
decrescente (negativamente inclinada).
Isso significa que quando o nível de preços diminui de P1 para P2, a quantidade
demandada de bens e serviços aumenta de Y1 para Y2.
Mas qual o motivo da demanda agregada ser negativamente inclinada? Para
tanto, lembremos seus componentes: consumo (C), investimentos (I), gastos do
governo (G) e exportações líquidas (X – M). Se tiver dúvida, releia o capítulo III-
2.
Y = C + I + G + X – M
Vejamos a contribuição de cada um dos componentes para o comportamento
decrescente da demanda agregada, exceto pelos gastos públicos, cujo valor é
fixado por critérios políticos e não econômicos.
Primeiramente analisemos o consumo. Quando os preços das mercadorias
caem, nós, consumidores, conseguimos comprar mais itens com nosso dinheiro.
Generalizando, quando o nível de preços de toda a economia diminui, o dinheiro
das pessoas passa a ser mais valioso, permitindo que os consumidores
adquiram mais bens e serviços e, por consequência, a demanda agregada
aumenta. Note a relação inversa que caracteriza a inclinação negativa da
demanda agregada: nível de preços cai e quantidade demandada aumenta.
Esse fato é conhecido na literatura econômica por efeito riqueza.
Vejamos agora o caso dos investimentos. As firmas, objetivando aumentar seus
lucros, sempre querem expandir suas plantas industriais e seus equipamentos.
Assim, as firmas têm projetos de investimentos para aumentar sua capacidade
produtiva, que, se implementados, geram uma determinada taxa de retorno. No
entanto, se a taxa de juros praticada pelo mercado financeiro for alta, o retorno
dos investimentos da firma talvez não seja o suficiente. É melhor para o
empresário fazer uma aplicação financeira do que aumentar sua capacidade
produtiva. Porém, se a taxa de juros cai, será lucrativo empreender mais e mais
projetos. Em suma, taxas de juros altas reduzem a demanda de investimento.
Mas onde está a relação disso com o nível de preços?
Começamos a responder com um novo questionamento: quando o nível de
preços está baixo, você precisa de mais ou menos moeda (dinheiro) para suas
transações diárias? Ora, se tudo custa pouco, vou precisar de pouco dinheiro
para pagar minhas contas e comprar o que necessito. Bem, então quando o nível
de preços é baixo, a demanda por moeda para transações é menor. Mas se a
necessidade de reter moeda é pequena, as famílias racionalmente depositam o
excedente de seu dinheiro em uma poupança de forma a receber juros. Os
bancos, ao receberem esses depósitos, colocam o dinheiro à disposição para
empréstimos, afinal essa é uma das funções do sistema bancário: servir de
intermediador financeiro.
Quanto mais dinheiro estiver à disposição, é mais fácil consegui-lo (dinheiro mais
barato) e, por conseguinte, menores serão as taxas de juros. Já vimos que, com
taxas de juros baixas, os projetos de investimentos das firmas ganham
prioridade, além disso, é menos custoso financiar o investimento (tomar
empréstimos).
Resumindo, quando o nível de preços é baixo, a necessidade de moeda é menor,
o que acarreta taxas de juros menores, que incentiva o investimento, que
aumenta a demanda agregada.
Por fim, temos que as exportações líquidas também aumentam quando o nível
de preços está mais baixo. Isso ocorre por meio da taxa de câmbio.
Deixaremos para explicar melhor esse tema na unidade IV.
Pag. 02
Bem, vimos até agora que oscilações no nível de preços alteram a quantidade
demandada de bens e serviços e, assim, caminhamos sobre a curva da
demanda agregada.
Além desse caso, existem outros fatores que alteram a quantidade demandada
deslocando a curva da demanda agregada para outro patamar, sem alterar o
nível de preços. Tais flutuações podem ser causadas, por exemplo, por um
aumento generalizado de impostos que diminui a renda disponível da população
e sacrifica o consumo, deslocando a curva da demanda agregada para a
esquerda.
Esse mesmo movimento pode ser causado por quedas no investimento
decorrentes, por exemplo, do pessimismo dos empresários em relação a um
novo governo que propõe intervir demasiadamente na economia.
A demanda agregada pode ainda ser deslocada para a esquerda se o governo
opta por uma política de superávit (economizar recursos) tendo por base a
contenção das compras de bens e serviços pelo Estado. Ou, por fim, o
deslocamento para a esquerda pode acontecer se as exportações diminuem
porque um importante parceiro comercial do Brasil, como os Estados Unidos,
entra em recessão. Todos esses eventos podem ser ilustrados pelo gráfico III-
3.3.
Demos exemplos que deslocaram a curva da demanda agregada para a
esquerda, diminuindo o PIB, mas, é claro, podemos ter os mesmos exemplos
fazendo a demanda agregada ir para a direita, refletindo um aumento do PIB
(diminuição dos impostos, otimismo com um próximo governo, gastos públicos
maiores e o exterior comprando mais do Brasil). Vejamos agora a oferta
agregada.
Oferta Agregada
Como dissemos, a curva de oferta agregada mostra a quantidade de bens e
serviços que as empresas produzem e vendem a cada nível de preços. Neste
ponto, temos de fazer a distinção entre a oferta agregada de longo prazo e a de
curto prazo.
No longo prazo, presume-se que a economia estará sempre no seu produto
potencial, isto é, estará produzindo o máximo que pode considerando os fatores
de produção disponíveis. Nesse caso, o produto de equilíbrio é independente do
nível de preços e, portanto, é representado por uma reta vertical (gráfico III-3.4).
A oferta agregada de longo prazo não é influenciada pelos preços porque
depende apenas da oferta de trabalho, capital, recursos naturais e da tecnologia
disponível.
Como se aumenta o produto potencial? Ou seja, como se desloca a curva da
oferta agregada para a direita? No longo prazo, isso se consegue por meio de
aumento da força de trabalho (como pela promoção da entrada de imigrantes),
de aumento do estoque de capital o que eleva a produtividade, a descoberta de
novas fontes de recursos naturais e inovações tecnológicas. Esses eventos
permitem que mais bens e serviços sejam produzidos, elevando o produto
potencial.
No curto prazo, porém, a economia não tem tempo para fazer os ajustes
necessários quando há alterações nos preços, de modo que o produto pode se
desviar do nível potencial (em que há pleno emprego dos fatores de produção).
Nesse caso, a curva de oferta é representada por uma curva crescente, em que
uma queda do nível de preços produz uma queda na quantidade de bens e
serviços ofertados (gráfico III-3.5).
Os mesmos eventos que deslocam a curva de oferta agregada de longo prazo
podem deslocar a de curto prazo.
Flutuações Econômicas e o Equilíbrio
Vamos supor uma situação em que estejamos no nível do produto potencial
(gráfico III-3.6). A economia está equilibrada no ponto O (a oferta agregada é
igual à demanda agregada).
No entanto, por alguma conjuntura pessimista (uma guerra, por exemplo), as
famílias diminuem seu consumo e as firmas param de investir. Isso causa um
deslocamento da demanda agregada para a esquerda (de DA0 para DA2). No
curto prazo, isso causa uma diminuição do PIB e uma queda dos preços (ponto
B).
Nessa nova realidade, depois de transcorrido mais tempo (longo prazo), os
custos das empresas também irão diminuir, elas passarão a pagar salários
menores. Com menor custo, a margem de lucro aumenta e as firmas têm
incentivos a ofertar mais bens e serviços, o que desloca a oferta agregada para
a direita (de OA0 para OA2) e o equilíbrio da economia fica no ponto C. Ou seja,
no longo prazo, a economia volta a se estabilizar no seu produto potencial, mas
com nível de preços bem abaixo do equilíbrio inicial. Veja a ilustração no gráfico
III-3.7.
A Influência das Políticas Monetária e Fiscal
Estudamos na lição 1 desta unidade que a política monetária refere-se à atuação
do governo sobre a quantidade de moeda, crédito e das taxas de juros, mas que,
na atualidade, o principal instrumento da política monetária é a taxa de juros.
O Banco Central, ao alterar a taxa de juros (taxa SELIC 3que é a taxa básica de
juros na economia brasileira), promove mudanças na demanda agregada. Se a
taxa de juros fica menor, reduz o custo dos empréstimos e o retorno da
poupança. Em consequência, as famílias compram mais e as firmas investem
em novas fábricas e equipamentos. Como resultado, a quantidade demandada
de bens e serviços a um dado nível de preços aumenta, deslocando a curva da
demanda agregada para a direita.
No Brasil, toda a sociedade fica atenta às reuniões do COPOM (Comitê de
Política Monetária do Banco Central), que tem por atribuição fixar a taxa SELIC.
O resultado dessas reuniões tem reflexos por todo o ambiente econômico.
Você percebeu que normalmente os noticiários divulgam a taxa SELIC e
informam logo em seguida o impacto na bolsa de valores? Isso acontece porque
o mercado de ações é muito sensível às mudanças na taxa básica de juros, mas
por quê? Um aumento na taxa de juros faz o índice da bolsa de valores cair
porque surgem aplicações financeiras mais atraentes que as ações da bolsa,
como os títulos públicos. Além disso, uma elevação das taxas de juros impacta
negativamente a economia, diminuindo os lucros das empresas e diminuindo o
valor de suas ações.
Vejamos agora os efeitos da política fiscal. O governo pode aumentar a demanda
agregada, comprando mais bens e serviços. Isso desloca a demanda agregada
para a direita e, no curto prazo, teremos um aumento do PIB. O governo pode
também atuar por meio da política tributária. Por exemplo, se a alíquota do
imposto de renda diminui, os cidadãos passam a ter mais renda disponível. Parte
dessa renda extra será gasta com consumo, o que aquece a demanda agregada.
Analogamente, se os impostos aumentam, a demanda agregada se contrai.
Por fim, cabe enfatizar que tanto a política fiscal quanto a monetária podem ser
usadas para estabilizar a economia. Se estivermos em um período de extremo
otimismo e as pessoas estão consumindo muito além da capacidade das firmas
de ofertarem produtos, isso causaria elevação generalizada dos preços, ou seja,
3 Taxa SELIC – Sistema Especial de Liquidação e Custódia – é a taxa que baliza
as operações financeiras realizadas pelos bancos na liquidação de títulos.
inflação. O governo, desejando manter a estabilidade dos preços, pode tomar
medidas para contrair a demanda agregada, como aumentar a taxa de juros ou
cortar os gastos públicos. Por outro lado, se passamos por um momento de
recessão, o governo vai querer incentivar a economia a crescer. Para tanto, pode
baixar as taxas de juros, diminuir os impostos ou aumentar os gastos públicos.
Exercícios de Fixação - Módulo III
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