Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

434
FRANKLIN ROOSEVELT E OS AÇORES NAS DUAS GUERRAS MUNDIAIS AND THE AZORES DURING THE TWO WORLD WARS LUÍS NUNO RODRIGUES (coordenação / editor) Julho / July, 2008 LUSO-AMERICANA FUNDAÇÃO

Transcript of Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

Page 1: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

FRANKLIN ROOSEVELTE OS AÇORES

NAS DUAS GUERRAS MUNDIAIS

AND THE AZORESDURING THE TWO WORLD WARS

LUÍS NUNO RODRIGUES(coordenação / editor)

Julho / July, 2008

LUSO-AMERICANAFUNDAÇÃO

LUSO

-AM

ERIC

AN

AFU

ND

ÃO

��������

����������

�������������������������������������

����������������������������

������������

Page 2: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais
Page 3: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

FRANKLIN ROOSEVELTE OS AÇORES

NAS DUAS GUERRAS MUNDIAIS

AND THE AZORESDURING THE TWO WORLD WARS

Page 4: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

EDIÇÃO • PUBLISHED BY

Fundação Luso-Americanapara o Desenvolvimento

COORDENAÇÃO • EDITED BY

Luís Nuno Rodrigues

APOIO À COORDENAÇÃO • EDITOR ASSISTED BY

Paula VicenteThiago Carvalho

DESIGN

Atelier B2

TRADUÇÃO • TRANSLATION

AmeriConsulta

IMPRESSÃO • PRINTED BY

Textype – Artes Gráficas, Lda.

TIRAGEM • FIRST PRINTING

1000 exemplares • 1000 copies

LISBOA, JULHO 2008 • LISBON, JULY 2008

ISBN

978-972-8654-39-9

DEPÓSITO LEGAL • LEGAL DEPOSIT

279 238/08

Por ocasião do I FÓRUM AÇORIANO FRANKLIN D. ROOSEVELT

As Relações Transatlânticas na Opinião Pública Europeia e Americana

Organização conjunta do Governo Regional dos Açores e da Fundação Luso-Americana

Published on the occasion of theFIRST FRANKLIN D. ROOSEVELT AZOREAN FORUMTransatlantic Relations in European and American Public Opinion

co-organized by the Regional Government of the Azores and the Luso-American Foundation

Ponta Delgada, Julho • July 16-18, 2008

Page 5: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

EDIÇÃO • PUBLISHED BY

Fundação Luso-Americanapara o Desenvolvimento

COORDENAÇÃO • EDITED BY

Luís Nuno Rodrigues

APOIO À COORDENAÇÃO • EDITOR ASSISTED BY

Paula VicenteThiago Carvalho

DESIGN

Atelier B2

TRADUÇÃO • TRANSLATION

AmeriConsulta

IMPRESSÃO • PRINTED BY

Textype – Artes Gráficas, Lda.

TIRAGEM • FIRST PRINTING

1000 exemplares • 1000 copies

LISBOA, JULHO 2008 • LISBON, JULY 2008

ISBN

978-972-8654-39-9

DEPÓSITO LEGAL • LEGAL DEPOSIT

279 238/08

FRANKLIN ROOSEVELTE OS AÇORES

NAS DUAS GUERRAS MUNDIAIS

AND THE AZORESDURING THE TWO WORLD WARS

LUÍS NUNO RODRIGUES(coordenação / editor)

Por ocasião do I FÓRUM AÇORIANO FRANKLIN D. ROOSEVELT

As Relações Transatlânticas na Opinião Pública Europeia e Americana

Organização conjunta do Governo Regional dos Açores e da Fundação Luso-Americana

Published on the occasion of theFIRST FRANKLIN D. ROOSEVELT AZOREAN FORUMTransatlantic Relations in European and American Public Opinion

co-organized by the Regional Government of the Azores and the Luso-American Foundation

Ponta Delgada, Julho • July 16-18, 2008

Page 6: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

Índice

IntroduçãoLuís Nuno Rodrigues ................................................................................. 9

Franklin D. Roosevelt: Uma Breve BiografiaCynthia M. Koch ....................................................................................... 13

A Autonomia nos Açores Entre as Duas Guerras MundiaisCarlos Enes ............................................................................................... 41

José Bruno Carreiro, o Almirante Dunn, e o Presidente Wilson: O Triângulo Que Nunca Existiu?

José Medeiros Ferreira .............................................................................. 61

A Polémica Sobre o Destino dos Açores no Período 1918-19Álvaro Monjardino .................................................................................... 81

Chegar Como Conquistadores: As Bases Americanas e o Teatro Europeu, 1941-45

Adam R. Seipp ............................................................................................. 107

Os Açores e a II Guerra MundialLuís Andrade .............................................................................................. 123

Franklin D. Roosevelt e os Açores na II Guerra MundialLuís Nuno Rodrigues ................................................................................. 139

O Canto dos Pássaros: Franklin Roosevelt e os Acordos do Pós-GuerraWarren Kimball ......................................................................................... 155

Prosperidade e Segurança: A Guerra Económica e a Visão do Pós-Guerra de Roosevelt

Philip Mundy ............................................................................................. 173

Bases Estrangeiras e Estratégias no Portugal ContemporâneoAntónio José Telo ...................................................................................... 191

Autores – Notas Biográficas ........................................................................... 221

Page 7: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

Table of Contents

IntroductionLuís Nuno Rodrigues ................................................................................. 229

Franklin D. Roosevelt: A Short BiographyCynthia M. Koch ....................................................................................... 233

Autonomy in the Azores Between the Two World WarsCarlos Enes ............................................................................................... 257

José Bruno Carreiro, Admiral Dunn, and President Wilson: The Triangle that Never Existed?

José Medeiros Ferreira .............................................................................. 279

The Controversy on the Future of the Azores in 1918 and 1919Álvaro Monjardino .................................................................................... 299

To Come as Conquerors: American Bases and the European Theater, 1941-45

Adam R. Seipp ............................................................................................. 323

The Azores and the Second World WarLuís Andrade .............................................................................................. 337

Franklin D. Roosevelt and the Azores in World War IILuís Nuno Rodrigues ................................................................................. 351

The Singing of Small Birds: Franklin Roosevelt and the Postwar SettlementsWarren Kimball ......................................................................................... 365

Prosperity and Security: Economic Warfare and Roosevelt’s Post-War Vision

Philip Mundy ............................................................................................. 379

Foreign Bases and Strategies in Contemporary PortugalAntónio José Telo ...................................................................................... 393

Authors – Biographical Notes ........................................................................ 425

Page 8: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais
Page 9: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

FRANKLINROOSEVELT

E OS

AÇORESNAS DUAS

GUERRAS MUNDIAIS

Page 10: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais
Page 11: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[9]

INTRODUÇÃO

Luís Nuno Rodrigues

Há noventa anos atrás, mais precisamente a 16 de Julho de 1918, Franklin Delano Roosevelt chegou aos Açores para uma breve escala na sua viagem a caminho da Europa. Na altura subsecretário de Estado da Marinha dos Estados Unidos da América, Franklin Roosevelt tornar-se-ia, poucos anos depois, uma das personagens cimeiras da História mundial do século XX. Eleito para a Presidência dos Estados Unidos em 1932, num período particularmente crítico de crise económica e financeira, Roosevelt acabou por liderar aquele País durante doze anos – facto único na história dos Estados Unidos – sendo sucessiva-mente reeleito em 1936, 1940 e 1944. Com a sua sagacidade política, o seu carisma, a sua proverbial simpatia, Roosevelt conduziu o País nos anos tumultuosos da II Guerra Mundial, vindo a falecer no exercício de funções, a 12 de Abril de 1945.

A “relação especial” de Franklin Roosevelt com os Açores começou ainda durante a I Guerra Mundial, altura em que os Estados Unidos estabeleceram uma base naval no arquipélago. Na sua breve escala nas ilhas açorianas, em 1918, Roosevelt não apenas salientou a “importância da posição estratégica” dos Aço-res, como se surpreendeu com as terras “magnificamente culti-vadas” e com o “pitoresco” da paisagem açoriana1. Depois, já durante o segundo conflito mundial, o então Presidente norte-americano desempenhou um papel de relevo nas negociações entre os governos de Portugal e dos Estados Unidos no sentido do estabelecimento da base aérea norte-americana em Santa Maria. Aliás, no decurso deste processo, por diversas vezes Roo-

1 Mário Mesquita, “A Escala de Roosevelt nos Açores durante a Primeira Guerra Mundial”, Separata do Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, Volume XLIV, 1986, pp. 41 e 48.

Page 12: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[10]

LUÍS NUNO RODRIGUES

sevelt evocou junto de Oliveira Salazar a sua experiência vivida trinta anos antes, constatando o modo “particularmente próximo e amigável” como se desenvolveram as “relações entre o povo português e os membros das forças navais dos Estados Unidos”. Ao tempo existira um “completo espírito de cooperação” entre os dois países e, logo que a situação de “emergência internacio-nal” desapareceu, “todas as forças das potências aliadas e asso-ciadas tinham sido imediatamente retiradas”, sem o menor “beliscão” na “jursidição soberana do governo português”2.

Este volume, resultante de uma solicitação da Fundação Luso-Americana ao Instituto Português de Relações Interna-cionais, procura justamente traçar a história dessa relação pes-soal estabelecida entre Franklin Roosevelt e o arquipélago dos Açores. Mas, ao fazê-lo, traz-nos também novas perspectivas, quer sobre a história açoriana do século XX, quer sobre a evo-lução das relações luso-americanas durante esse mesmo período. O livro abre com uma apresentação biográfica de Franklin Roo-sevelt, elaborada por Cynthia Koch, directora da Franklin D. Roosevelt Presidential Library, nos Estados Unidos. De seguida, um primeiro conjunto de textos aborda a conjuntura da I Guerra Mundial, debruçando-se sobre aspectos diversos da história açoriana nesse período e da passagem de Franklin Roosevelt pelo arquipélago. Carlos Enes oferece-nos uma pano-râmica geral sobre a questão da autonomia açoriana no período compreendido entre as duas guerras mundiais. José Medeiros Ferreira problematiza o “triângulo que nunca existiu”, entre José Bruno Carreiro, que durante a Grande Guerra foi chefe do Gabinete Civil do Alto-Comissário Simas Machado, o Almi-rante Herbert Owar Dunn, comandante da base naval norte- -americana nos Açores, e o Presidente norte-americano Woodrow Wilson. Álvaro Monjardino, por seu turno, estuda em porme-nor a polémica sobre o “destino dos Açores” que decorreu sobretudo ao longo do ano de 1919, fornecendo um impres-

2 Carta de Franklin

Roosevelt a Oliveira Salazar,

Julho de 1941, Arquivo Oliveira

Salazar, CLB/FSM-3,

Pasta VI.

Page 13: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[11]

INTRODUÇÃO

sionante retrato da vida política e intelectual açoriana no ime-diato pós-guerra.

Um outro grupo de textos centra-se já no período da II Guerra Mundial. Adam Seipp analisa o estabelecimento de diversas bases militares no continente europeu durante o período em que os Estados Unidos estiveram directamente envolvidos na II Guerra Mundial, isto é, entre 1941 e 1945. Luís Andrade avalia o papel desempenhado pelos Açores neste mesmo conflito e a sua impor-tância estratégica no contexto da política de neutralidade definida por Oliveira Salazar. Luís Nuno Rodrigues, por seu turno, detém- -se nas várias referências aos Açores em discursos e intervenções de Franklin Roosevelt, bem como nas demoradas negociações conduzidas entre as diplomacias dos Estados Unidos e de Por-tugal, no sentido do estabelecimento de uma base militar norte- -americana no arquipélago. Warren Kimball debruça-se, na primeira parte do seu artigo, sobre o papel e a importância de Portugal para o esforço de guerra aliado. Depois, num segundo momento, analisa os planos de Roosevelt para o pós-guerra e o modo como nas Conferências de Teerão e de Yalta foram abor-dados assuntos como a auto-determinação dos povos e a disso-lução dos impérios coloniais europeus. O texto de Philip Mundy vem acrescentar a este volume a dimensão da história económica, ao estudar as relações entre Portugal e os Estados Unidos durante a II Guerra Mundial, sob o prisma da chamada “Guerra Económica”. O volume encerra com uma visão geral sobre a existência de bases estrangeiras em Portugal no período contem-porâneo, da autoria de António Telo. O autor fornece-nos uma visão panorâmica das razões que levaram à criação e manuten-ção de bases estrangeiras em Portugal durante os dois conflitos mundiais do século XX e também durante a chamada “Guerra Fria”.

Cabe igualmente referir nesta Introdução que o livro Franklin Roosevelt e os Açores nas duas Guerras Mundiais será apresentado

Page 14: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[12]

LUÍS NUNO RODRIGUES

aquando da realização do I Fórum Açoriano Franklin D. Roo-sevelt sobre As Relações Transatlânticas na Opinião Pública Euro-peia e Americana, realizado em Ponta Delgada, Açores, de 16 a 18 de Julho de 2008. Trata-se de uma iniciativa conjunta do Governo Regional dos Açores e da Fundação Luso-Americana que pretende reunir políticos e académicos de ambos os lados do Atlântico para a análise de temas prementes da relação tran-satlântica. Consideram os promotores da iniciativa que, pela sua posição geográfica, os Açores assumem papel de destaque nessa relação. Conforme definido pelos seus organizadores, o Fórum pretende servir como verdadeiro “porto de abrigo”, a meio do atlântico, para a discussão aprofundada sobre a parceria Euro- -Americana face a alguns dos principais desafios globais como, por exemplo, a pobreza, as alterações climáticas e a segurança internacional. O nome do Fórum serve precisamente de home-nagem ao relevante papel assumido pelo Presidente Franklin Rooosevelt na política internacional do século XX, bem como à atenção que prestou às questões geopolíticas suscitadas pela posição geográfica das ilhas açorianas.

Possa este volume contribuir também para estreitar as dis-tâncias entre as duas margens do Atlântico e para salientar o papel fundamental que o arquipélago açoriano teve e deverá continuar a ter nesse processo de aproximação continental. Esse papel, em nossa opinião não deverá decorrer apenas da geogra-fia, mas torna-se irresistível citar, a este repeito, palavras profe-ridas por Franklin Roosevelt em 1940: “You and I think of Hawaii as an outpost of defense in the Pacific. And yet, the Azores are closer to our shores in the Atlantic than Hawaii is on the other side”3.

3 Discurso de Franklin

Roosevelt, 29 de Dezembro

de 1940 em www.ibiblio.org/pha/7-

2-188/188-21.html.

Page 15: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[13]

FRANKLIN D. ROOSEVELT: UMA BREVE BIOGRAFIA

Cynthia M. Koch

Os primeiros anos

Franklin Delano Roosevelt nasceu em 30 de Janeiro de 1882, em Hyde Park, Nova Iorque. Foi o único filho de James e Sara (Delano) Roosevelt, ambos descendentes de famílias antigas americanas. Franklin cresceu no mundo privilegiado da aristo-cracia fundiária do vale do Hudson. Sendo filho único, passava muitas horas sozinho, coleccionando selos e espécimes de aves e percorrendo os campos e as florestas da propriedade dos seus pais, onde viria a viver toda a vida. FDR orgulhava-se dos agri-cultores vigorosos do vale do Hudson, cujas humildes casas de pedra eram o seu estilo arquitectónico preferido, e que faziam parte do legado holandês do seu pai.

Franklin estudou em casa até aos 14 anos de idade, altura em que finalmente se separou dos seus pais, para quem era tudo, a fim de frequentar a Groton School, uma escola do ensino par-ticular frequentada pela elite, situada nos arredores de Boston, ingressando no terceiro ano e não no primeiro, como era habi-tual para a maioria dos rapazes que entravam com 12 anos. De Groton foi para Harvard, em 1900.

James Roosevelt, há muito um inválido, morreu durante o primeiro semestre de FDR em Harvard. A partir desse momento, Sara Delano Roosevelt, sempre dedicada ao seu filho único, passou a usar os seus poderes consideráveis exclusivamente para bem do futuro do seu filho, cultivando nele a sua confiança inabalável e a sensação inegável de que ele estava destinado para grandes coisas.

Page 16: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[14]

CYNTHIA M. KOCH

Em Harvard, FDR instalou-se em aposentos destinados exclu-sivamente a estudantes abastados, enquanto a sua mãe alugou um apartamento em Boston, a partir do qual orientava a vida social do filho. Roosevelt era um aluno mediano, e os seus ver-dadeiros interesses eram extracurriculares. Concluiu o seu curso em três anos, licenciando-se em 1903, mas permaneceu mais um ano em Harvard para prosseguir o trabalho que o fascinava – presidente (chefe de redacção) do jornal académico Harvard Crimson e bibliotecário de dois clubes, o Hasty Pudding e o Fly. Roosevelt levava uma vida social activa, participava em despor-tos e (o que foi importante para o seu futuro) foi eleito para vários cargos na comissão de alunos. O biógrafo Frank Freidel, ao falar sobre a educação de FDR, escreve: “Em Groton, FDR aprendeu a dar-se com os seus contemporâneos; em Harvard, aprendeu a conduzi-los”4.

Eleanor Roosevelt

Eleanor Roosevelt nasceu na Cidade de Nova Iorque, em 11 de Outubro de 1884. O seu pai, Elliott, era o irmão mais novo de Theodore Roosevelt e padrinho de FDR; Eleanor era a sobrinha preferida de Theodore Roosevelt.

A mãe de Eleanor, Anna Rebecca Hall, uma descendente dos Livingstons (uma das grandes famílias de proprietários fundiá-rios do vale do Hudson Valley que remontavam ao tempo dos colonos holandeses), tinha um espírito muito crítico e era muito exigente. O seu pai era carinhoso e alegre; infelizmente, também era um grande alcoólico. Os país de Eleanor morreram com dois anos de diferença entre si, o seu pai apenas dois meses antes do seu décimo aniversário. Ao contrário da infância segura e carinhosa de FDR, Eleanor experimentou sentimentos de aban-dono, e o seu mérito só começou a ser reconhecido quando foi

4 Frank Freidel, Franklin

D. Roosevelt: The Apprenticeship,

Boston, Little, Brown &

Company, 1952, p. 52.

Page 17: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[15]

FRANKLIN D. ROOSEVELT: UMA BREVE BIOGRAFIA

estudar para Inglaterra, em Allenswood – uma escola de boas maneiras para jovens da classe alta.

Eleanor regressou a Nova Iorque quando tinha 18 anos e entrou relutantemente no rodopio da vida social de uma debu-tante, trabalhando simultaneamente como voluntária em insti-tuições de solidariedade social e lutando por melhores condições de trabalho para os pobres. O seu namoro com Franklin (seu primo sexto) começou durante o período em que foi apresentada à sociedade, e o seu casamento teve lugar em Nova Iorque, no dia 17 de Maio de 1905. A noiva foi conduzida ao altar pelo Presidente Theodore Roosevelt. Nessa altura, Franklin estava a estudar na Faculdade de Direito da Universidade de Colúmbia e prosseguiu os estudos depois de casar5.

Pouco depois de regressarem de uma lua-de-mel prolongada na Europa, Franklin e Eleanor mudaram-se para duas casas geminadas na Cidade de Nova Iorque, que Sara comprara e mobilara para os noivos como presente de casamento. Eleanor assumiu o papel da esposa tradicional, dando à luz o primeiro filho do casal (uma rapariga) em 1906; nos dez anos seguintes, nasceram mais cinco filhos, todos rapazes. Eleanor era insegura como mãe, e foi com a ajuda da sogra, uma mulher que infun-dia respeito, que criou os filhos e cuidou da casa e da família.

O princípio da carreira política

A admiração de Franklin pelo seu “Primo Theodore” foi aumen-tando ao vê-lo ascender ao cargo de Secretário Adjunto da Mari-nha, herói nacional durante a Guerra Hispano-Americana como comandante dos Rough Riders*, e Governador de Nova Iorque – tudo isto enquanto Franklin estava a estudar em Groton. Os Roosevelts de Oyster Bay eram republicanos, ao passo que o ramo de Hyde Park era democrático por tradição, mas tanto

5 Tamara Harevan, “Anna Eleanor Roosevelt”, in Otis L. Graham, Jr. and Meghan Robinson Wander (eds.), Franklin D. Roosevelt His Life and Times, Boston, G. K. Hall, 1985, pp. 360-61 passim.

* Designação dada ao 1.º Regimento de Voluntários de Cavalaria dos Estados Unidos. (N. do T.)

Page 18: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[16]

CYNTHIA M. KOCH

FDR como o seu pai fizeram campanha a favor de TR quando este se candidatou ao cargo de Vice-Presidente do Presidente Republicano William McKinley em 1900.

Embora FDR nunca tenha concluído os seus estudos de direito, passou o exame de admissão à Ordem dos Advogados de Nova Iorque e começou a exercer a advocacia na Cidade de Nova Iorque em 1907. Era um advogado indiferente, já deter-minado em seguir as pisadas de Theodore Roosevelt para chegar à Casa Branca. Em 1910 foi eleito para o primeiro de dois mandatos no Senado do estado de Nova Iorque, representando o círculo eleitoral à volta de sua casa em Hyde Park. Travou duras batalhas partidárias em Albany, combatendo o aparelho político democrata denominado Tammany Hall. Durante este período, FDR e Louis Howe, um jornalista político de Albany, estabeleceram uma parceria e Howe dedicou-se a eleição de Roosevelt para a presidência.

Enquanto esteve em Albany, FDR participou activamente na campanha do candidato presidencial democrata Woodrow Wil-son e, em 1913, foi recompensado com a nomeação para um cargo federal – Secretário Adjunto da Marinha, um cargo que Theodore Roosevelt detivera antes de ser eleito governador de Nova Iorque. FDR prestou serviço em Washington durante oito anos, tendo adquirido uma experiência importante de funções executivas como número dois da Marinha, durante a II Guerra Mundial.

Em 1918, a caminho da Europa para uma viagem de inspec-ção, FDR fez uma paragem nos Açores. O final da sua viagem de regresso foi fatal para o casamento de Roosevelt. Ao desfazer a mala de FDR, Eleanor encontrou um maço de cartas da sua antiga secretária social Lucy Mercer, e tornou-se evidente para ela que Lucy e Franklin tinham um caso. Eleanor ficou devastada e apenas aceitou manter o casamento na condição de FDR nunca mais ver Lucy. Durante os anos que passara em Albany e Washing-

Page 19: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[17]

FRANKLIN D. ROOSEVELT: UMA BREVE BIOGRAFIA

ton, Eleanor começara a participar na vida política e em activi-dades ligadas a reformas sociais. Agora, perante a infidelidade de Franklin, o casamento foi preservado apenas nominalmente e Eleanor procurou cada vez mais formas de se realizar pessoalmente fora de casa. A partir desta altura, a relação entre Franklin e Eleanor Roosevelt tornou-se uma parceria política – sem dúvida a mais forte parceria da história da presidência americana.

Em 1920, FDR demitiu-se da Marinha para concorrer à vice- -presidência como candidato democrata ao lado de James Cox, do Ohio. Embora não tenham vencido as eleições, a experiência da campanha nacional foi preciosa tanto para FDR como para Louis Howe.

A poliomielite e o caminho para Albany

No ano seguinte, aos 39 anos de idade, Roosevelt contraiu para-lisia infantil (poliomielite) na casa de Verão da sua família, na ilha de Campobello, em New Brunswick, no Canadá. Foi um rude golpe, pois a doença deixou-o completamente paralisado da cintura para baixo e, enquanto lutou contra a doença durante três meses de hospitalização e, em seguida, anos de reabilitação, a sua prometedora carreira política pareceu estar condenada. Contudo, FDR nunca perdeu a esperança de um dia voltar a andar. Louis Howe e Eleanor Roosevelt, que na altura já estava a participar activamente na vida política por direito próprio, trabalharam no sentido de manter o nome de FDR vivo na política estadual e nacional.

FDR recorreu a especialistas e charlatães, experimentando toda a espécie de “curas” possíveis que lhe permitissem voltar a andar. Em 1926, impressionado com os poderes revigorantes das águas minerais estimulantes de Warm Springs, na Geórgia, Roosevelt comprou uma estância termal em ruínas transfor-

Page 20: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[18]

CYNTHIA M. KOCH

mando-a no primeiro centro do país destinado à reabilitação e investigação da paralisia infantil. A National Foundation for Infantile Paralysis, fundada por FDR para angariar fundos para Warm Springs, veio mais tarde a denominar-se March of Dimes, a instituição de caridade que financiou o trabalho de investiga-ção que conduziu à vacina de Salk contra a poliomielite.

Politicamente, FDR não foi esquecido. Em 1924 proferiu o seu famoso discurso intitulado Happy Warrior na Convenção Democrática Nacional, que nomeou o Governador de Nova Iorque, Al Smith, como candidato à presidência. Convencido, depois desta intervenção nacional, de que usar muletas era poli-ticamente negativo, FDR passou a fingir que andava, apoiando- -se a uma bengala de um lado e a um dos seus colaboradores do outro lado, com as pernas inertes mantidas firmemente direi-tas por aparelhos ortopédicos.

Quando Smith decidiu novamente candidatar-se à presidên-cia em 1928, pediu a Roosevelt que se candidatasse ao cargo de Governador de Nova Iorque. Dizendo ao seu aliado político, Daniel E. Finn, que FDR, com a sua deficiência “não viverá mais do que um ano”6, Smith estava convencido de que regres-saria a Albany com a sua base de apoio político intacta no caso de perder as eleições para a presidência. Infelizmente para Smith, este não só perdeu as eleições para a presidência, como FDR, apesar da sua deficiência, tomou posse em 1929, dez meses antes do fatídico crash de Wall Street, vindo a revelar-se um governa-dor enérgico e competente. Roosevelt tomou medidas com vista a superar a crise em Nova Iorque – patrocinando programas que prefiguraram o New Deal – e começou a falar ao público através da rádio. Estas conversas na rádio, em Nova Iorque, foram precursoras das suas populares “Conversas à Lareira” trans-mitidas da Casa Branca. Roosevelt foi reeleito governador por uma margem considerável, em 1930, e passou a ser considerado um candidato importante à presidência.

6 Citação extraída de Geoffrey

C. Ward, A First-Class

Temperament: The Emergence of

Franklin Roosevelt, Nova Iorque,

Harper & Row, 1989, p. 788.

Page 21: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[19]

FRANKLIN D. ROOSEVELT: UMA BREVE BIOGRAFIA

Nomeação e eleições

Em 1932, depois de uma dura luta, Roosevelt tornou-se o can-didato à presidência nomeado pelo Partido Democrático, con-correndo ao lado do texano John Nance Garner, o candidato à vice-presidência. FDR fascinou o público ao voar até Chicago para aceitar a nomeação, onde prometeu “um New Deal para o povo americano”. A sua participação na convenção foi electri-zante: antes de Roosevelt, os políticos nomeados candidatos à presidência fingiam modestamente não saber da sua nomeação e esperavam dignamente que a notícias lhes fosse transmitida dias ou semanas mais tarde. Numa campanha dirigida por Louis Howe e o presidente nacional do Partido Democrático Jim Far-ley, FDR palmilhou a nação de lés a lés, percorrendo um recorde de aproximadamente 20 000 km por todo um país devastado por uma crise económica e humana que durava há três anos e se tornava cada vez mais grave.

Herbert Hoover, então presidente, opôs-se a medidas federais directas destinadas a atenuar a crise, apostando antes na con-cessão de ajuda federal às empresas com o objectivo de estimu-lar a economia. Aos olhos de uma nação que estava a sofrer, Hoover parecia indiferente à situação das pessoas que haviam perdido as suas casas e estavam a passar fome. FDR, pelo con-trário, prometeu um activismo da parte do governo federal que deu esperança à nação desanimada. Roosevelt venceu as eleições por uma vitória esmagadora em Novembro de 1932, com 57,4% do voto popular e 472 votos eleitorais.

Os primeiros cem dias

Na manhã fria de Inverno de 4 de Março de 1933, um sábado, apenas dez anos após a crise de poliomielite que o debilitara,

Page 22: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[20]

CYNTHIA M. KOCH

Franklin Roosevelt tomou posse como 32.º Presidente dos Esta-dos Unidos. A nação estava à beira de um colapso económico. Tendo depositado a esperança que lhes restava em FDR na elei-ções de Novembro, os Americanos tiveram de esperar mais de quatro meses para que o novo presidente assumisse o seu cargo. Enquanto esperavam, a crise agravou-se ainda mais e, no dia da tomada de posse, as condições haviam chegado a um ponto de ruptura.

Passados 75 anos, as realidades penosas da vida nos Estados Unidos, em 1933, continuam a ser chocantes. Num aconteci-mento que veio desestabilizar ainda mais a nação, em 15 de Fevereiro de 1933, em Miami, o assassino anarquista Guiseppe Zangara falhou por pouco o presidente eleito, ferindo fatalmente o Presidente da Câmara Anton Cermak (que se encontrava de pé, próximo dele). Naquelas semanas angustiantes de desespero crescente, o país chegou a acreditar que a vida de FDR fora poupada por intervenção divina, devido ao importante trabalho que ele tinha de realizar.

Algumas vozes, levadas pelo desespero e pelo medo, chegaram mesmo a pedir que o novo presidente suspendesse o governo constitucional e assumisse poderes quase ditatoriais. Era este o estado em que se encontrava a nação quando Roosevelt tomou posse, declarando aos seus martirizados compatriotas, “a única coisa que devemos recear é o próprio medo”.

Os primeiros meses de FDR no cargo foram marcados por uma explosão dramática e histórica de actividade e legislação. O moral da nação foi animado pela sensação de que Washing-ton ia finalmente tomar medidas para superar a Grande Depres-são. Dentro dos primeiros três meses, Roosevelt lançou o New Deal, com quinze leis e actos executivos importantes, destinados a atenuar os piores aspectos do sofrimento humano e – com a alteração das leis da Proibição com vista a permitir a venda de cerveja e vinho7 – levantar o moral da nação. Embora algumas

7 A proibição de venda de bebidas

alcoólicas foi suspensa em

5 de Dezembro de 1933 com

a revogação do 18.º aditamento à Constituição dos Estados Unidos.

Page 23: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[21]

FRANKLIN D. ROOSEVELT: UMA BREVE BIOGRAFIA

políticas dessem continuidade às do seu antecessor, em conjunto iam muito além do misto de voluntarismo e intervenção limitada do governo preconizado por Hoover.

FDR não tinha um plano fixo e abrangente. A sua acção caracterizou-se pela flexibilidade e pelo desejo de experimentar e mudar de rumo. Os seus conselheiros da campanha de 1932, Raymond Moley, Rexford Tugwell e Adolf Berle, um grupo de académicos que formaram o chamado Brains Trust e cujas teo-rias influenciaram as políticas do New Deal, não foram senão a primeira geração de jovens activistas progressistas e idealistas que puseram a teoria em prática na Administração Roosevelt.

Um diálogo nacional

Em termos humanos, a maior mudança foi talvez a nova sensação de um objectivo comum que FDR promoveu, falando com clareza e sinceridade à imprensa e ao povo americano. Poucos dias depois de ter tomado posse, iniciou uma série de programas de rádio notáveis que se tornaram conhecidas como “Conversas à Lareira” e que foram os primeiros discursos presidenciais dirigidos exclu-sivamente a uma audiência da rádio. O estilo era informal e colo-quial, dando a impressão de que o Presidente estava realmente a falar com as pessoas na sua sala. Durante os doze anos de Roo-sevelt na presidência, viriam a realizar-se trinta e um destes pro-gramas de rádio – e o seu impacto foi enorme. A seguir a cada discurso, a Casa Branca era inundada de cartas e telegramas. Pela primeira vez, os Americanos encetaram um diálogo nacional com o seu Presidente sobre o futuro e o destino da nação.

Roosevelt também começou a comunicar frequentemente e num tom coloquial com a imprensa. Realizou 997 conferências de imprensa, mantendo reuniões com os jornalistas duas vezes por semana. Os jornalistas eram muitas vezes convidados para

Page 24: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[22]

CYNTHIA M. KOCH

a Sala Oval, onde conversavam informalmente com o Presidente, apoiando os blocos de notas no canto da sua secretária para escrever. O impacto das técnicas de comunicação da Casa Branca também foi reforçado por Eleanor Roosevelt, que iniciou con-ferências de imprensa com mulheres jornalistas – obrigando desse modo os jornais a contratarem mulheres para escrever artigos sobre política e assuntos públicos, e não apenas para as colunas sociais.

Os Roosevelts também apareciam frequentemente em noti-ciários filmados e figuravam em bandas desenhadas políticas, filmes, canções populares, revistas e toda a espécie de artigos da cultura popular – relógios, calendários, pratos. Até os seus netos, “Sistie” e “Buzzie” e os animais de estimação presidenciais se tornaram parte da grande família americana.

O que era o New Deal ?

A expressão New Deal tornou-se rapidamente um rótulo dos tipos de mudanças que FDR viria a introduzir na economia americana mergulhada na depressão. Os historiadores identificam três fases distintas no New Deal:

• os primeiros cem dias, que consistiram em grande parte em medidas de “socorro” destinadas a ajudar as pessoas com fome e a prevenir o descalabro económico;

• o “primeiro New Deal”, que decorreu aproximadamente de 1933 a 1935 e incidiu em medidas de recuperação econó-mica;

• o “segundo New Deal”, uma série de iniciativas tendo em vista importantes reformas socioeconómicas destinadas a constituir uma garantia permanente contra os excessos finan-ceiros de uma economia totalmente desregulamentada.

Page 25: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[23]

FRANKLIN D. ROOSEVELT: UMA BREVE BIOGRAFIA

Apesar dos falsos arranques e das iniciativas fracassadas, as acções de Roosevelt tiveram um impacto positivo na nação em 1933 e 1934. Contudo, a situação continuava a ser muito difí-cil para a maioria dos americanos. A Depressão mantinha-se e começaram erguer-se vozes de protesto – Huey Long, o Dr. Francis Townsend, o Padre Charles Coughlin – que advogavam tudo, desde a redistribuição da riqueza à concessão universal de pensões de velhice e à contestação do New Deal por um terceiro partido mais populista.

Mas nenhum destes dissidentes se opôs realmente aos seus planos. A economia nacional foi melhorando lentamente e, em 1936, Roosevelt obteve uma vitória esmagadora numa reeleição histórica – 60,8% dos votos expressos e 523 votos eleitorais – que deu origem a um importante realinhamento na política nacional. A persistente “coligação do New Deal” de Roosevelt viria a dominar a política nacional durante décadas. Novos eleitores dos sindicatos e de grupos de imigrantes urbanos, mulheres e americanos de origem africana uniram forças com os protestan-tes progressistas e os intelectuais para alargar os benefícios do New Deal a um maior número de americanos.

No seu segundo discurso de tomada de posse, FDR falou em ajudar o “terço da nação” que, a seu ver, continuava “mal alojado, mal vestido e mal alimentado”. Contudo, reveses políticos e económicos em breve limitaram o seu poder e a sua capacidade para expandir o New Deal. Em 1937, a nação entrou numa recessão que os historiadores consideram ter sido provocada por uma tentativa infeliz de equilibrar o orçamento federal reduzindo os gastos. A partir desse momento, Roosevelt adoptou uma noção keynesiana a que resistira durante muito tempo – aumen-tar deliberadamente o défice orçamental para estimular a procura. A crise abrandou em 1938, quando o Congresso aprovou o pedido de FDR de uma enorme dotação de emergência para obras públicas e programas de crédito.

Page 26: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[24]

CYNTHIA M. KOCH

No ano de 1937, FDR sofreu outro importante revés político. Frustrado com o Supremo Tribunal conservador que rejeitara grande parte da sua importante legislação do New Deal e ani-mado por uma enorme vitória eleitoral, Roosevelt lançou-se numa batalha – que viria a fracassar – com vista a “reformar” o tribunal, aumentando a sua dimensão. Embora o plano ime-diato tenha fracassado, deu início a uma revolução constitucio-nal em prol de um poder judicial centrado nos direitos individuais e não na filosofia de não intervenção centrada nas empresas, que caracterizara o Supremo Tribunal do tempo de Hoover e de anos anteriores.

No final da década de 1930, o processo do New Deal come-çou a abrandar, à medida que a atenção de Roosevelt e da nação se voltava cada vez mais para a ameaça crescente da situação no estrangeiro. Mas o impacto do New Deal perduraria. Embora não tenha posto fim à Grande Depressão – seriam os milhões de empregos criados pelos gastos crescentes da defesa a partir de 1939 quer viriam a acabar com o desemprego –, o New Deal deu início a uma transformação da vida americana que traria segurança e oportunidades económicas para milhões de americanos até então excluídos da corrente dominante. No governo federal, a transformação foi ainda mais radical e as nomeações de católicos, judeus, negros e mulheres prepararam o terreno para as profundas mudanças sociais das décadas seguintes.

Um dos efeitos mais duradouros do New Deal foi o seu impacto profundo a longo prazo nas expectativas dos America-nos em relação ao governo e à sociedade. O debate sobre a função e o lugar do governo na vida americana, que teve início na década de 1930, prossegue nos nossos dias. Algumas das instituições e leis introduzidas pelo New Deal que continuam a influenciar a vida americana são a Securities and Exchange Com-mission, o Federal Deposit Insurance, o Social Security Act, o

Page 27: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[25]

FRANKLIN D. ROOSEVELT: UMA BREVE BIOGRAFIA

National Labor Relations Act, o Fair Labor Standards Act (lei do salário mínimo) e a Federal Communications Commission.

O Resto do mundo

Durante a década de 1930, o isolacionismo dos Estados Unidos persistiu, enquanto os acontecimentos na Europa e no Pacífico anunciavam nuvens de guerra e a necessidade de a nação se preparar. Mas a América não estava pronta para isso. As feridas da I Guerra Mundial, incluindo o fracasso da Sociedade das Nações, eram demasiado recentes. Os Americanos, que ainda se debatiam com a Depressão, ignoraram em grande medida a situação dos judeus europeus e de outras pessoas que procuraram refúgio nos Estados Unidos. Perante a agressão alemã e italiana, o apaziguamento era a política preferida de muitos. Mas a guerra na Europa era inevitável.

Em 1 de Setembro de 1939, Hitler invadiu a Polónia. Vin-culadas a um tratado que as obrigava a defender a Polónia, a França e a Inglaterra declararam guerra à Alemanha em 3 de Setembro, e assim se iniciou a II Guerra Mundial na Europa. Seis semanas mais tarde, Roosevelt recebeu uma carta de Albert Einstein advertindo dos perigos do programa empreendido pela Alemanha para tentar produzir uma arma à base de urânio. Esta carta levou o Presidente a lançar o programa intensivo de inves-tigação de que veio a nascer a bomba atómica.

A história da esfinge: um terceiro mandato?

Com a guerra na Europa, gerou-se grande especulação quanto à possibilidade de FDR se candidatar a um terceiro mandato, o que não tinha precedentes. O Presidente não tentou dissipar

Page 28: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[26]

CYNTHIA M. KOCH

os boatos e existem provas de que ele próprio estava verdadei-ramente indeciso8. Durante meses após a invasão da Polónia, a situação na Europa manteve-se tranquila – um período inquie-tante de inacção sinistra que veio a ser conhecido como a phony war. Em Fevereiro, no Jantar de Correspondentes Nacionais de 1940 promovido pelo Gridiron Club, Roosevelt foi descrito como “a Esfinge”, devido ao seu misterioso silêncio sobre o assunto.

Mas, na Primavera e princípios do Verão de 1940, a guerra tornou-se muito real. A Alemanha invadiu a Noruega através da Dinamarca. A Bélgica, os Países Baixos e a França também foram ocupadas pelas forças nazis. Perante a derrota manifesta da política de apaziguamento, Neville Chamberlain demitiu-se e Winston Churchill – que defendia há muito a necessidade de o país se preparar para a guerra – tornou-se primeiro-ministro da Grã-Bretanha. Em Maio e Junho, Roosevelt pediu ao Con-gresso para aumentar as despesas militares e enviou 43 milhões de dólares de armas, aviões e munições ultrapassados para a Grã-Bretanha.

Em Julho, Roosevelt aceitou a nomeação para um terceiro mandato como Presidente dos Estados Unidos, o que não tinha precedentes. Instada por FDR, Eleanor Roosevelt deslocou-se a Chicago, onde, no primeiro discurso de uma Primeira Dama dirigido à convenção política nacional, declarou “Estamos a viver uma época fora do vulgar”9 e exortou os delegados a apoiarem a escolha de Roosevelt para a vice-presidência. Apesar da oposi-ção de dirigentes do partido, o homem que FDR escolhera – o Secretário da Agricultura Henry A. Wallace – foi nomeado.

Nesse Verão, teve início a Batalha da Grã-Bretanha, que viria a prolongar-se até Maio de 1941. Roosevelt, novamente candi-dato, tentou encontrar formas de ajudar a Grã-Bretanha sem antagonizar os seus inimigos políticos, que se opunham à par-ticipação americana na guerra. Conseguiu que o Congresso

8 Em Janeiro de 1940, Roosevelt

assinou um contrato com a

Colliers Magazine, nos termos do

qual teria de escrever um

mínimo de vinte e seis artigos por ano. Já em 1937,

e pensando nos anos após a sua

presidência, FDR começara a

planear a Roosevelt Library,

onde tencionava colocar os seus documentos e

colecções pessoais.

9 Proceedings of the Democratic

National Convention, 1940,

Washington, D. C., Democratic

National Committee, 1940,

pp. 238-9.

Page 29: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[27]

FRANKLIN D. ROOSEVELT: UMA BREVE BIOGRAFIA

aprovasse a afectação de fundos destinados a criar uma “marinha para dois oceanos” e a produção de 50 000 aviões por ano; enviou contratorpedeiros ultrapassados para a Grã-Bretanha em troca de bases na Terra Nova e nas Caraíbas; impôs um embargo a todos os transportes por mar para fora do Hemisfério Oci-dental excepto para a Grã-Bretanha; e introduziu republicanos no seu governo como secretários da Guerra e da Marinha. No Pacífico, a situação não pressagiava nada de bom: os Japoneses estabeleceram um governo de ocupação em Nanquim e ocupa-ram o Norte da Indochina francesa, no Verão de 1940.

Reconhecendo relutantemente o perigo e instado por FDR, em Agosto o Congresso aprovou o primeiro recrutamento em tempo de paz da América. Os próprios republicanos começaram a afastar-se do isolacionismo e nomearam Wendell Willkie seu candidato à presidência. Numa atitude que não estava muito longe das opiniões da maioria dos americanos na altura, Willkie apelou à ajuda sem reservas aos Aliados, embora não tenha chegado ao ponto de defender a participação na guerra.

Mas a vitória seria de Roosevelt, que obteve 449 dos votos do Colégio Eleitoral contra 52. Willkie era um homem que gozava de bastante popularidade, mas a longa tradição de iso-lacionismo dos republicanos – aliada à sensação de que a Depres-são fora obra sua – conduziu à reeleição de FDR, que prometeu não enviar rapazes americanos para uma “guerra no estrangeiro”. Em Dezembro, no seu discurso sobre o “arsenal da democracia”, prometeu à Grã-Bretanha toda a ajuda de que esta necessitasse, sem chegar porém ao ponto de falar em participação na guerra10.

Roosevelt começou agora a conceber a guerra em termos mais universais – como uma luta pela causa da liberdade no mundo inteiro. Já sem ter de se preocupar com as eleições, procurou abertamente obter meios de ajudar os Britânicos, que viviam momentos tão difíceis. O programa Lend-Lease, que

10 Public Papers and Addresses of Franklin D. Roosevelt, volume de 1940, compilado e editado por Samuel I. Rosenman, Nova Iorque, Macmillan, 1941, pp. 633-644.

Page 30: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[28]

CYNTHIA M. KOCH

permitia pela primeira vez que os Estados Unidos concedessem ajuda aos Britânicos em guerra, foi aprovado pelo Congresso em Março.

Contudo, Roosevelt arranjava sempre tempo para se dedicar aos seus interesses pessoais. Em Junho de 1941, concluiu o que foi talvez o seu maior projecto “pessoal” – a criação da Roosevelt Library. Foi a primeira biblioteca presidencial do país. A biblio-teca e a doação que fez à nação dos seus documentos e colecções pessoais viriam a servir de modelo a leis aprovadas nas décadas de 1950 e 1970, que previam a criação de bibliotecas de presi-dentes posteriores e a transferência da propriedade de documen-tos presidenciais para o governo federal. FDR inaugurou a sua biblioteca usando palavras que recordaram à nação a fragilidade da liberdade num mundo em que o domínio dos nazis era cada vez maior: “Uma nação tem de acreditar em três coisas. Tem de acreditar no passado. Tem de acreditar no futuro. E, sobretudo, tem de acreditar na capacidade do seu próprio povo para apren-der com o passado de modo a adquirir o discernimento neces-sário para criar o seu próprio futuro”11.

Em Agosto de 1941, Roosevelt e o primeiro-ministro britâ-nico Winston Churchill reuniram-se secretamente ao largo da costa da Terra Nova e emitiram a Carta do Atlântico, em que os dois líderes expressavam a “esperança de um futuro melhor para o mundo”12. Quatro meses mais tarde, em 7 de Dezembro de 1941, os Japoneses atacaram Pearl Harbor e outras bases americanas no Pacífico, uma data que, segundo as famosas pala-vras de Roosevelt, seria doravante conhecida como “o dia da infâmia”13. Quatro dias depois, a Alemanha e Itália declararam guerra aos Estados Unidos. A América encontrava-se, subita-mente, na guerra – e não apenas na Europa. Winston Churchill deslocou-se pouco depois a Washington para se assegurar da constância do apoio americano à guerra europeia e, em 1 de Janeiro, Roosevelt e Churchill assinaram a Declaração das Nações

11 Public Papers and Addresses of

Franklin D. Roosevelt,

volume de 1941, compilado e editado por

Samuel I. Rosenman, Nova

Iorque, Harper and Brothers,

1950, pp. 248-50.

12 A Carta do Atlântico, “Official

Statement on Meeting Between the President and

Prime Minister Churchill”, 14 de Agosto de 1941.

13 Public Papers and Addresses of

Franklin D. Roosevelt,

volume de 1941, pp. 514-15.

Page 31: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[29]

FRANKLIN D. ROOSEVELT: UMA BREVE BIOGRAFIA

Unidas, em que os Estados Unidos e a Grã-Bretanha, bem como vinte e quatro aliados, se comprometiam a derrotar as potências do Eixo.

O Presidente da Guerra

Franklin Roosevelt tinha um instinto de poder e a vontade necessária para o exercer. A II Guerra Mundial – com as suas operações militares à escala mundial, complexas coligações inter-nacionais e problemas económicos e sociais – era um grande palco em que ele assumiu um papel fulcral. Roosevelt foi, em todos os sentidos, o comandante-chefe da nação. Durante a II Guerra Mundial, comandou um grupo de chefes militares extraordinários. Passados sessenta anos, os seus nomes – entre os quais se incluem Marshall, Eisenhower, Nimitz, King, Arnold e MacArthur – continuam a inspirar respeito.

Sendo um comandante-chefe seguro de si e com opiniões fortes sobre estratégia, FDR envolveu-se activamente nos assun-tos militares. Juntamente com os seus lugar-tenentes pratica-mente criou as forças armadas americanas modernas. Estas deixaram de ter menos de 335 000 militares no activo, em 1939, aumentando para mais de 12 milhões de efectivos em 1945. O exército e a marinha expandiram-se e modernizaram-se e, com o apoio de FDR, o poderio aéreo americano aumentou enorme-mente. O Presidente deu também o seu apoio a novos organis-mos, como o Office of Strategic Services (precursor da CIA) e o Office of Scientific Research and Development.

Tomou medidas agressivas com vista a centralizar a estratégia e o alto comando na Casa Branca. Em 1939, ordenara ao Con-selho Conjunto do Exército e da Marinha e a vários organismos responsáveis pela aquisição de munições e equipamento militar que passassem por cima dos departamentos da Guerra e da

Page 32: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[30]

CYNTHIA M. KOCH

Marinha e lhe prestassem informação directamente. Em 1942, criou o Conselho dos Chefes dos Estados-Maiores.

Roosevelt detinha a principal posição na coligação de guerra das vinte e seis nações aliadas, que ele denominou “Nações Unidas”. Juntamente com José Estaline e Winston Churchill constituía os “Três Grandes”, que estavam no cerne dessa coli-gação. Mas, à medida que a guerra foi avançando, FDR foi assumindo cada vez mais as funções de mediador e decisor prin-cipal do grupo. Ao longo da guerra, o Presidente Roosevelt frisou repetidas vezes a importância de reforçar a coligação. A diplomacia, tal como a estratégia militar, foi o que caracterizou a sua acção de liderança durante a guerra.

A guerra: 1942-1944

Nos meses críticos que se seguiram a Pearl Harbor, enquanto as forças japonesas se expandiam extraordinariamente por todo o Pacífico e Sudeste Asiático, muitos americanos – especialmente os que habitavam a costa do Pacífico – recearam um ataque inimigo e viam perigos por toda a parte. Estes receios, aliados aos preconceitos raciais, conduziram a grandes injustiças. Em finais de 1941 e princípios de 1942, chefes civis e militares da Costa Ocidental queixaram-se de que elementos da numerosa comunidade de nipo-americanos poderiam estar a colaborar com militares japoneses para planear actos de sabotagem. Embora não existissem verdadeiras provas disso, insistiram com a Admi-nistração Roosevelt para que tomasse medidas.

Em 19 de Fevereiro de 1942, Roosevelt emitiu o Decreto Presidencial n.º 9066, que conduziu à transferência forçada de mais de 110 000 americanos de origem japonesa que viviam na Costa Ocidental para campos de detenção dirigidos pelos mili-tares, situados no interior. Mais de dois terços destas pessoas

Page 33: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[31]

FRANKLIN D. ROOSEVELT: UMA BREVE BIOGRAFIA

haviam nascido nos Estados Unidos e eram cidadãos americanos. Obrigados, subitamente, a abandonar ou vender as suas casas e negócios, muitos perderam tudo o que possuíam.

Depois de Pearl Harbor, apesar de a raiva e energia do público americano se dirigirem principalmente contra o Japão, Roosevelt sabia que a Alemanha – que era dos dois inimigos o mais pode-roso – representava uma ameaça mais grave para a segurança americana. A Grã-Bretanha e a União Soviética estavam a sofrer a intensa pressão das forças alemãs, e o Presidente não podia correr o risco de aqueles dois países soçobrarem. Antes de os Estados Unidos entrarem na guerra, FDR aprovara uma estra-tégia cuja primeira prioridade era a derrota da Alemanha, a chamada Germany First strategy, e que devia ser adoptada no caso de o país se vir a envolver na guerra na Europa e na Ásia. A estratégia pressupunha que os Estados Unidos conseguiriam deter o avanço do Japão até a guerra na Europa estar ganha.

Entre 1942 e 1944, houve um tema que dominou o debate sobre a estratégia dos Aliados – a criação de uma segunda frente na Europa. Esta questão espinhosa foi motivo de fricção entre os Estados Unidos, a Grã-Bretanha e a União Soviética. Foi o principal tema da cimeira de Janeiro de 1943 entre Roosevelt e Churchill em Casablanca, realizada pouco depois de os Alia-dos terem invadido o Norte de África. Embora o líder soviético, Estaline, não tenha participado na cimeira, o que ele desejava era claro. Durante dezoito meses, os Soviéticos haviam resistido sozinhos o avanço em grande escala dos Alemães para leste. Estaline pretendia que os seus aliados atacassem o coração do império de Hitler no Noroeste da Europa, criando uma “segunda frente” que afastasse parte das forças alemãs da União Soviética.

Os conselheiros militares de FDR eram a favor de uma inves-tida no Noroeste da Europa o mais brevemente possível, mas Churchill sustentava que era necessário proceder a uma grande

Page 34: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[32]

CYNTHIA M. KOCH

concentração de forças para garantir o êxito de uma invasão. Como isto não parecia ser possível em 1943, Churchill insistiu numa estratégia “periférica” mais restrita, que consistia em ata-car as orlas do império do Eixo, começando com uma investida sobre a Sicília. Roosevelt, ansioso por manter o público ameri-cano concentrado nos combates que se travavam na Europa, concordou. Para atenuar o desapontamento de Estaline, FDR, num gesto que denotava determinação anglo-americana, anun-ciou que os Aliados apenas aceitariam uma “rendição incondi-cional” das potências do Eixo.

Em Novembro de 1943, Roosevelt deslocou-se ao Médio Oriente para participar na sua primeira conferência com Esta-line em tempo de guerra. Os “Três Grandes” reuniram-se em Teerão. As suas decisões definiram os contornos da guerra e da paz que se iria seguir. As conversações foram dominadas pela questão da segunda frente. Impaciente com as protelações anglo- -americanas, Estaline exigiu um compromisso com um prazo fixo para a invasão do Noroeste da Europa. Churchill era a favor de um novo adiamento, mas Roosevelt tomou o partido de Estaline e os três líderes concordaram que a invasão teria lugar na Primavera de 1944. Em seguida, Estaline insistiu em que os seus aliados nomeassem o comandante da invasão. Depois da conferência, Roosevelt escolheu o general Dwight D. Eisenhower.

Na madrugada de 6 de Junho de 1944, os soldados alemães que defendiam a costa francesa da Normandia viram surgir algo que os encheu de temor – a maior força de invasão anfíbia da história, concentrada nas águas do Canal da Mancha. Começara a muito esperada invasão do Noroeste da Europa. A invasão da Normandia estabeleceu uma segunda frente firme na Europa; o seu êxito deixou os exércitos de Hitler encurralados, a combater o Exército Vermelho a leste e uma força constituída por ingle-ses, americanos e canadianos a oeste.

Page 35: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[33]

FRANKLIN D. ROOSEVELT: UMA BREVE BIOGRAFIA

A “Solução Final”

Durante o último ano da guerra na Europa, as forças aliadas começaram a invadir os campos utilizados pela Alemanha Nazi para pôr em prática a sua medonha “Solução Final” – a tenta-tiva de extermínio de toda a população judaica, hoje conhecida como o Holocausto.

A questão de saber se Franklin Roosevelt deveria ou poderia ter feito mais para salvar os judeus da Europa e travar a máquina de morte montada por Hitler é uma questão que irá provavel-mente ser debatida pelos historiadores durante muitas décadas. Alguns estudiosos têm criticado o Presidente Roosevelt pela abordagem que adoptou em relação à questão dos refugiados antes e durante a II Guerra Mundial, chegando mesmo a acusá- -lo de ter adoptado políticas insensatas e de se mostrar indife-rente ao Holocausto. Outros insistem que estes juízos não têm devidamente em conta o isolacionismo e anti-semitismo do público americano antes da guerra, as leis rigorosas relativas à imigração e aos contingentes de imigração, que gozavam de amplo apoio entre o público e no Congresso, e considerações militares de carácter prático que, durante grande parte da guerra, limitaram a capacidade dos Aliados para chegar aos locais onde se encontravam os judeus, bem para lá das linhas inimigas.

Em 1942, quando os pormenores da “Solução Final” de Hitler chegaram ao conhecimento dos Aliados, foi difícil o público e muitos funcionários governamentais aperceberem-se da dimen-são e significado do morticínio mecanizado e sistemático levado a cabo pelos nazis. Numa emissão de rádio em 13 de Dezembro de 1942 ouvida por milhões de pessoas, o popular jornalista Edward R. Murrow falou de “um horror que transcende a ima-ginação… deixou de haver «campos de concentração» – agora só podemos falar de «campos de extermínio»”. No dia 17 de Dezembro de 1942, os Estados Unidos, juntamente com outros

Page 36: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[34]

CYNTHIA M. KOCH

dez governos aliados, emitiram uma declaração pública solene condenando a “política selvagem de extermínio insensível” dos judeus levada a cabo pela Alemanha nazi. O Congresso ameri-cano e o Parlamento britânico guardaram uns minutos de silên-cio nessa data para assinalar o que estava a acontecer aos judeus e rezar para terem a força necessária para derrotar os nazis. Em Janeiro de 1944, depois de tomar conhecimento, através do Secretário do Tesouro Henry Morgenthau, Jr., de que o Depar-tamento de Estado estava a dificultar as acções de salvamento, Roosevelt criou o War Refugee Board para coordenar os esforços do governo e do sector privado para salvar aqueles que ainda era possível salvar. Calcula-se que este organismo terá salvo pelo menos 200 000 judeus. Os detractores de Roosevelt argumentam que teria sido possível salvar um número de vítimas ainda maior se o Presidente tivesse agido mais cedo e mais arrojadamente.

Roosevelt estava convencido de que a maneira mais certa de pôr termo ao morticínio de civis inocentes consistia em derro-tar a Alemanha de Hitler o mais rápida e decisivamente possível. FDR é, todavia, criticado pelo facto de o seu desejo de vencer a guerra não ter em conta a possibilidade de salvar um número significativo de judeus.

A guerra: 1944-1945

No Pacífico, em 1944, as forças aliadas já haviam penetrado no império japonês. Enquanto as tropas anglo-americanas avança-vam na Birmânia, forças comandadas pelos americanos avança-vam em duas frentes no Pacífico. No Pacífico Sul, o general Douglas MacArthur preparava-se para libertar as Filipinas. Entre-tanto, o Almirante Chester Nimitz abrira caminho batalhando por todo o Pacífico Central, percorrendo milhares de milhas até chegar às ilhas Mariana, em Fevereiro.

Page 37: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[35]

FRANKLIN D. ROOSEVELT: UMA BREVE BIOGRAFIA

Após a conquista das Marianas, houve quem sustentasse que os Estados Unidos deviam contornar as Filipinas e dar prioridade à frente de Nimitz no Pacífico Central. O general MacArthur opôs-se a esta ideia, pois estava determinado em libertar as Fili-pinas. Sendo uma figura popular com amigos em círculos repu-blicanos, MacArthur era um homem que não se podia ignorar facilmente.

FDR teve de se debruçar sobre esta questão no meio de um ano de eleições presidenciais: pela quarta vez, aceitara a nomea-ção do seu partido. Numa reunião muito publicitada realizada em 28 de Julho em Honolulu, Roosevelt encontrou-se com MacArthur e Nimitz, que aceitaram a política de FDR de con-tinuar a avançar em ambas as frentes.

No Outono, já estava em curso a libertação das Filipinas e os bombardeiros americanos haviam iniciado uma devastadora campanha de bombardeamento contra cidades japoneses, par-tindo de bases situadas nas Marianas. Em Fevereiro, os fuzi-leiros desembarcaram na ilha de Iwo Jima – situada a meio caminho entre as Marianas e Tóquio. A América encontrava- -se em posição de iniciar o jogo final da guerra contra o Japão.

No dealbar de 1945, Franklin Roosevelt tomou posse pela quarta vez como Presidente dos Estados Unidos, numa cerimó-nia simples realizada na Casa Branca. Por insistência sua, os seus treze netos assistiram a esta última tomada de posse.

Os exércitos aliados avançavam sobre a Alemanha e o Japão, mas a resistência alemã e japonesa endureceu perante a perspec-tiva da derrota. Na Primavera de 1945 assistir-se-ia a alguns dos combates mais violentos e dispendiosos da guerra.

Em Fevereiro de 1945, Roosevelt encontrou-se com Winston Churchill e José Estaline pela última vez. O local foi a cidade de Ialta na Crimeia. Em Ialta, Estaline assumiu perante FDR o compromisso firme de entrar em guerra contra o Japão três

Page 38: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[36]

CYNTHIA M. KOCH

meses depois da derrota da Alemanha. Os Três Grandes também acordaram formalmente em criar aquilo que viria a ser a Orga-nização das Nações Unidas. Mas havia divergências consideráveis quanto ao futuro da Alemanha e ao destino das zonas ocupadas pelas tropas soviéticas, especialmente a Polónia. Confrontados com a realidade de uma presença numerosa de forças soviéticas na Europa Oriental – e incapazes de contemplar a possibilidade de entrar em guerra com a União Soviética devido a essa ques-tão – FDR e Churchill acederam à exigência de Estaline de uma esfera de influência nessa região. Mas também conseguiram que os Soviéticos aceitassem a Declaração sobre a Europa Libertada e um acordo sobre a Polónia que preconizava a criação de um governo de unidade nacional que realizaria “eleições livres e sem entraves”.

Infelizmente, estes princípios foram postos de lado logo no princípio da Guerra Fria. Actualmente, a Conferência de Ialta tem um lugar ambíguo na memória histórica. Aqueles que nela participaram assistiram à cooperação entre os aliados de guerra e a prudência crescente de futuros rivais.

Mudanças a nível nacional

Para travar uma guerra mundial, os Estados Unidos tiveram de mobilizar toda a sua população, que constituiu a chamada “Frente Interna”. Este enorme esforço nacional abrangeu prati-camente todos os aspectos da vida americana e desencadeou forças económicas e sociais que viriam a reverberar durante décadas. O Presidente Roosevelt estava na vanguarda desta mobi-lização nacional, estabelecendo prioridades e concentrando as atenções no objectivo da vitória total. Sob a sua direcção, o governo assumiu poderes sem precedentes sobre a economia. Apesar das objecções levantadas por muitos adeptos do New

Page 39: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[37]

FRANKLIN D. ROOSEVELT: UMA BREVE BIOGRAFIA

Deal, o governo recorreu aos líderes das empresas para o ajuda-rem a conduzir o esforço de mobilização para a guerra. O “Dr. New Deal”, anunciou FDR, fora substituído pelo “Dr. Vamos- -vencer-a-guerra”.

A produção dos Americanos durante a guerra atingiu níveis extraordinários. O país produziu 299 293 aviões; 634 569 jipes; 88 410 carros blindados; 5777 navios mercantes; 1556 navios de guerra; 6,5 milhões de espingardas; e 40 mil milhões de balas. Em 1944, os Estados Unidos estavam a produzir 60% de todas as munições dos Aliados e 40% das armas do mundo. As fábri-cas americanas estavam simultaneamente a abastecer as forças armadas americanas, a satisfazer 10% das necessidades militares da União Soviética e a fornecer mais de 25% do material de guerra utilizado pela Grã-Bretanha.

A necessidade de trabalhadores para o esforço de guerra criou oportunidades económicas para as mulheres e as mino-rias, mas só depois de pressionado pelos líderes negros – que contavam com o forte apoio de Eleanor Roosevelt – é que FDR tomou medidas contra a discriminação racial nas indús-trias de material de guerra. Depois de os líderes do movimento dos direitos civis terem ameaçado marchar sobre Washington, em Junho de 1941, o Presidente emitiu o Decreto Presidencial n.º 8802, que proibia a discriminação nas fábricas que produ-ziam material de guerra. A fim de fazer cumprir aquele decreto, Roosevelt criou a Fair Employment Practices Commission. As oportunidades criadas para os afro-americanos durante a guerra contribuíram para o aparecimento do movimento dos direitos civis do pós-guerra. Do mesmo modo, a GI Bill of Rights de 1944, conduziu à prosperidade de uma nova classe média depois da guerra, proporcionando a milhões de veteranos de guerra americanos serviços de saúde gratuitos, fundos para frequentarem o ensino superior, e crédito à agricultura, às empresas e às famílias.

Page 40: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[38]

CYNTHIA M. KOCH

12 de Abril de 1945

Na manhã de 12 de Abril de 1945, a II Guerra Mundial entrou no seu 2049.º dia. Tinham morrido já quase cinquenta milhões de pessoas, e muitos mais milhões estavam feridas ou haviam perdido as suas casas. Na Europa, Adolf Hitler vivia num bunker subterrâneo enquanto os soldados soviéticos se preparavam para invadir a capital alemã, e o primeiro campo de concentração fora libertado pelas tropas russas. Na Ásia, choviam bombas incendiárias sobre as cidades japonesas, enquanto os submarinos americanos bloqueavam o tráfego marítimo; na ilha de Okinawa, 340 milhas para sul, os soldados e marinheiros americanos luta-vam por desimpedir a última etapa do caminho que os levaria à invasão do próprio Japão. E, em instalações militares secretas no Novo México, prosseguia o trabalho sobre uma nova arma aterradora que iria revolucionar a guerra e a paz.

Um Presidente Roosevelt exausto acordou na sua casa de Warm Springs, na Geórgia. Esgotado pela sua doença cardíaca e pelo stress das suas funções de chefia durante a guerra, Roo-sevelt retirara-se para o seu refúgio presidencial para umas bre-ves férias. Às 13h15, enquanto examinava os seus papéis posando para um retrato, Roosevelt queixou-se subitamente de uma “ter-rível dor de cabeça”. Segundos depois, ficou inconsciente. Pou-cas horas depois o comandante-chefe morria, vítima de uma hemorragia cerebral maciça.

Franklin Roosevelt viveu tempo suficiente para saber que a vitória estava garantida. Menos de um mês depois da sua morte, a Alemanha rendeu-se aos Aliados. E, em 2 de Setembro de 1945, a guerra terminou oficialmente quando o Japão se rendeu numa cerimónia a bordo do USS Missouri, na Baía de Tóquio.

FDR morreu dias antes da data marcada para o discurso que iria proferir na sessão de abertura da conferência que criou as Nações Unidas. Na véspera do dia em que morreu, trabalhou

Page 41: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[39]

FRANKLIN D. ROOSEVELT: UMA BREVE BIOGRAFIA

num discurso sobre o mundo do pós-guerra. A “simples con-quista dos nossos inimigos não é suficiente”, escreveu. Os Ame-ricanos tinham de “cultivar a ciência das relações humanas – a capacidade de todos os povos, de todos os tipos, viverem juntos e trabalharem juntos, no mesmo mundo, em paz”. As últimas palavras que dirigiu a todos nós foram: “O único limite à nossa realização de amanhã serão as nossas dúvidas de hoje. Avancemos com uma fé forte e activa”14.

14 Discurso não proferido, preparado para o Dia de Jefferson, 13 de Abril de 1945, Public Papers and Addresses of Franklin D. Roosevelt, volume de 1944-45, pp. 613-16.

Page 42: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais
Page 43: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[41]

A AUTONOMIA NOS AÇORES ENTRE AS DUAS GUERRAS MUNDIAIS

Carlos Enes

Um cidadão relativamente atento à sociedade açoriana captará sem grande dificuldade memórias históricas bastante diferencia-das em diversas ilhas. Em duas delas, pela sua importância polí-tica, a projecção é mais evidente. Na Terceira está bem patente o orgulho num passado de lutas heróicas contra os espanhóis e o contributo que prestaram à causa liberal; em São Miguel sobressai a referência às grandes campanhas em prol da auto-nomia administrativa e aos seus protagonistas.

As razões para a existência destas memórias, construídas ao longo dos anos, perfilam-se no percurso histórico que cada uma seguiu. Deste modo, a memória autonomista micaelense tem como ponto de partida a tomada de consciência de que a riqueza produzida na ilha era sorvida pelo Estado português que não lhe retribuía o justo e o necessário para o seu desenvolvimento. Este tipo de contestação, generalizada à medida que se afirmava a centralização política, assumiu em São Miguel alguns contor-nos especiais. As elites locais pensavam que os ilhéus eram tão portugueses como os outros, ou até mais, e sentiam-se ludibria-das pelo facto de “o sacrifício de sangue e de fazenda” que havia custado a implantação do regime liberal não estar a ser com-pensado15.

Partindo desta e de outras constatações, surgiram as reivin-dicações autonomistas com as mais variadas propostas, adequa-das às diversas conjunturas.

Na realidade, só se pode falar de movimentos autonomistas em relação a São Miguel, partindo do princípio que a palavra

15 Aristides da Mota, in A Autonomia dos Açores, Ponta Delgada, 3 de Março de 1893.

Page 44: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[42]

CARLOS ENES

movimento implica: 1 – a existência de uma campanha de agi-tação e de propaganda em torno do problema das ilhas; 2 – a apresentação de propostas de resolução desses problemas, seja através de legislação ou de medidas político-administrativas espe-ciais; 3 – a organização de pessoas ou grupos, com vista a pros-seguir a agitação e propaganda; 4 – a continuidade da agitação e das acções dentro de um período de tempo determinado.

Definidos estes parâmetros, constata-se que eles só se apli-caram a São Miguel, ficando as outras ilhas circunscritas à publicação de artigos na imprensa e à apresentação de uma ou outra proposta de carácter político-administrativo. Nelas não existiu qualquer movimento organizado consistente nem as ideias autonomistas foram um factor de mobilização da popu-lação. O facto de o movimento não ter contagiado o resto do arquipélago explica-se pela simples razão de as suas economias serem deficitárias e de viverem das transferências do Poder Cen-tral, mesmo que consideradas insuficientes e severamente cri-ticadas. Isto não significa que se tenham alheado da discussão e da participação em determinados momentos da refrega pela autonomia. Todavia, quase sempre o empenho pela causa auto-nómica surgiu como resposta às iniciativas micaelenses, com receio de que modificações no estatuto administrativo viessem pôr em causa a divisão distrital existente e que Ponta Delgada se substituísse a Lisboa.

Os considerandos acima aduzidos aplicam-se ao período que medeia entre as duas guerras mundiais e ajudam a compreender a abordagem que se segue, centrada quase sempre em São Miguel. Esse processo pode ser dividido em duas etapas com caracterís-ticas diferentes: a que se desenrolou durante a I República, mais radical, e a que se moldou às regras impostas pela Ditadura Militar e pelo Estado Novo.

O envolvimento em torno da construção da unidade e da identidade regional, bem como o empenho em projectar o arqui-

Page 45: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[43]

A AUTONOMIA NOS AÇORES ENTRE AS DUAS GUERRAS MUNDIAIS

pélago no exterior, são duas componentes que não podem ser desligadas do processo estruturante das acções em prol da auto-nomia. Por esse facto, se traça uma breve panorâmica desse processo que permite compreender parâmetros ideológicos fun-damentais.

Tentativas de construção da unidade açoriana

Após a aplicação do primeiro estatuto autonómico, em 1895, tornou-se evidente que as forças políticas insulares, apresentando- -se divididas, tinham dificuldades em impor os seus pontos de vista junto do Poder Central. A imprensa fez eco desse facto e vários articulistas procuraram descortinar as razões do bairrismo açoriano, apresentando-se algumas medidas que procuravam promover a unidade/solidariedade do arquipélago.

O objectivo dessa unidade era muito claro: “reclamar dos poderes públicos aquilo a que os Açores têm direito e as medi-das tendentes a melhorar as condições económicas do archipé-lago”16. Tal como no século XIX, a mãe-pátria continuava a ser vista como uma madrasta, mas os políticos locais não deixaram de ser acusados de se preocuparem apenas com a ilha e não terem uma visão global dos problemas17.

O espírito da confraternização insular ou açoriana, iniciado em 1912 através do intercâmbio desportivo, foi o ponto de partida para um conjunto de iniciativas que se foram repetindo ao longo dos anos. Este movimento regionalista de aproximação registou um salto qualitativo a nível conceptual a partir de 1920: a realização dos “interesses morais e materiais” do arquipélago passava pela criação do espírito açoriano, pela criação de uma consciência açoriana que chegou a ser definida como “o conjunto de convicções que devem ser a directriz do esforço dos açorianos em prol do interesse colectivo”18.

16 Correio Michaelense, 4 de Julho de 1908.

17 Ver Carlos Enes, estudo introdutório a Luís da Silva Ribeiro – Obras IV – Escritos político- -administrativos, Angra do Heroísmo, I

HIT/SREC, 1996.

18 M. Caetano Pereira, A Actualidade, 14 de Maio de 1924.

Page 46: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[44]

CARLOS ENES

Quando atingimos a década de 1920, é perceptível a distin-ção entre consciência açoriana e consciência insular. Enquanto esta diz respeito a cada uma das ilhas, individualmente, com a consciência açoriana procura-se abarcar todo o arquipélago, como uma unidade geográfica com uma identidade própria, e com um conjunto de interesses comuns que deviam ser defen-didos em acções conjuntas. “Criar o espírito açoriano, vivificá- -lo, uniformizá-lo, dando unidade a estes nove retalhos da terra portuguesa” foi apontado, logo no início da década de 1920, como a “mais urgente e imperiosa necessidade”19.

Deste modo, as elites locais tomavam consciência de que a unidade e a identidade açorianas só se poderiam afirmar através da consciencialização das populações com um conjunto de ideias e de valores que passaram a designar-se por açorianismo. Tratava- -se, basicamente, de um ideário de cariz político-ideológico que pugnava pela afirmação da identidade açoriana e pelo reforço da consciência das populações, no sentido de defender os inte-resses do arquipélago.

Gerou-se, então, uma reflexão alargada sobre a sociedade açoriana em busca das suas raízes e especificidades. A recupera-ção da tradição foi, assim, outra componente que sobressaiu ao longo de todo o processo. Influenciada pela corrente saudosista, cujo mentor, Teixeira de Pascoaes, procurava desde 1912 ressus-citar a Pátria Portuguesa, a elite açoriana empenhou-se em “rea-tar o fio perdido da Tradição e do Passado”, de forma a atingir a alma das camadas populares e despertar, assim, o “impulso instintivo da Grei”20.

A descoberta do passado e a recuperação da tradição assumem um papel ideológico importante, incorporando muitas ideias perfilhadas pelo Integralismo Lusitano. A “onda de universa-lismo” que invadia as ilhas era responsável por prejudicar a for-mação de um ambiente caracteristicamente açoriano, muito acarinhado na altura. A ideia do “reaportuguesamento” de Por-

19 Luís da Silva Ribeiro, Correio

dos Açores, 11 de Novembro de

1920.

20 Revista Os Açores, n.º 2,

Agosto, 1922.

Page 47: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[45]

A AUTONOMIA NOS AÇORES ENTRE AS DUAS GUERRAS MUNDIAIS

tugal, de Afonso Lopes Vieira, retomada por António Sardinha, inspirou Luís Ribeiro que procurou também “açorianizar os Açores”21. Foi neste contexto que surgiram vários trabalhos sobre história e etnografia local.

Mas o regresso ao passado, à pureza dos costumes, levou à criação de um chauvinismo exacerbado, uma vez mais influen-ciado pelo Integralismo Lusitano. Era frequente defender-se na imprensa a superioridade dos açorianos, considerados como os melhores portugueses, por terem resistido a Filipe II, por terem instaurado o regime liberal em Portugal e por serem descenden-tes directos dos heróicos navegadores portugueses.

Aristides da Mota assumiu essa posição, em 1928: “Se há sangue português puro que não sofresse a invasão dos pretos, dos franceses e mesmo dos espanhóis é aqui nos Açores que se encontra. O sangue dos portugueses dos Açores é puro, é o sangue dos grandes navegadores e colonizadores”22.

A literatura regional foi também apontada como um dos meios mais eficazes para revelar e promover uma identidade entre os açorianos. Assim se voltou a defender a criação de uma literatura insular, embora se considerasse que havia apenas “tendências, ensaios ou realizações isoladas e tímidas”23. Vitorio Nemésio e Armando Cortes-Rodrigues eram apontados como os pioneiros dessas tendências. No campo artístico, Domingos Rebelo era exaltado como o expoente máximo da pintura açoriana.

Com o intuito de desenvolver a vida cultural nos Açores, foi proposto que os parlamentares micaelenses, em 1926, pugnassem pela formação de uma universidade no arquipélago24.

Na sequência desta dinâmica, Vitorino Nemésio, em 1932, por analogia com o termo hispanidade, falou pela primeira vez em açorianidade, com um sentido diferente do conceito de açorianismo anteriormente referido. Ou seja, a perspectiva de Nemésio era mais de carácter cultural, sem a carga política e intervencionista que caracterizava o conceito anterior. A expres-

21 Correio dos Açores, 18 de Maio de 1923.

22 Correio dos Açores, 17 de Março de 1928.

23 Correio dos Açores, 27 de Janeiro de 1927.

24 A Mocidade, Ponta Delgada, 15 de Novembro de 1926.

Page 48: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[46]

CARLOS ENES

são de Nemésio deu abertura para Luís da Silva Ribeiro se aba-lançar num estudo intitulado “Subsídios para um ensaio sobre a Açorianidade”.

Nos vários artigos publicados no Correio dos Açores, depois reunidos em opúsculo, o autor, bastante influenciado pelos prin-cípios do determinismo geográfico, tentou fixar aquilo que lhe parecia mais característico no meio açoriano, procurando detec-tar diferenças entre as ilhas e o continente, mas sempre com reservas. O próprio afirma que, apesar de algumas conclusões afirmativas, os leitores deviam entendê-las como “meras conjec-turas ou possibilidades e não como afirmações seguras e factos averiguados e certos”25. Mesmo assim, apesar das advertências, o seu trabalho transformou-se numa espécie de bíblia, que ser-viu para justificar confrontos entre o poder local e o central, principalmente depois do “25 de Abril”.

Refira-se, contudo, que no período do Estado Novo, a aço-rianidade não era encarada como a base de um “nacionalismo” açoriano que servisse de trampolim para a independência dos Açores. Nem era esse o objectivo de Luís Ribeiro que sempre havia contestado os laivos separatistas que haviam surgido uns anos antes. Houve até a preocupação, por parte de vários ele-mentos afectos ao regime, de catalogar a açorianidade como um complemento e parcela da lusitanidade, como foi o caso de Dutra Faria26.

Apesar de todo este empenho para unir o que a natureza havia separado, continuou patente a distância entre o discurso e a prática, nomeadamente nas acções políticas de que adiante falaremos. Em 1932, Aristides da Mota reconhecia que os Aço-res “são apenas uma indicação geográfica e não tem o valor e uma unidade social (…) a creação de uma opinião pública nos Açores que vá além da que depende imediatamente da situação geográfica, que faz delas um arquipélago, é absolutamente impos-sível”27.

25 Ver Luís da Silva Ribeiro,

“Subsídios para um ensaio sobre a

açorianidade”, Obras II –

História, Angra do Heroísmo,

IHIT/SREC, 1983.

26 Revolução, 13 de Junho de

1933.

27 Carta de Aristides da Mota

a Luiz e Magalhães, 19 de

Fevereiro de 1932, espólio Luiz e

Magalhães, B.N.L.

Page 49: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[47]

A AUTONOMIA NOS AÇORES ENTRE AS DUAS GUERRAS MUNDIAIS

A propaganda para o exterior

A vontade de algumas elites em unir os açorianos em torno de um espírito comum, recuperando tradições e vivências muito específicas, tinha também uma outra intenção: criar e revelar um ambiente próprio, diferente do continental, com vista a justificar, a partir dessa diferença, um tratamento político dis-tinto.

Essa diferença só poderia ser valorizada se fosse conhecida. Deste modo, a campanha para projectar os Açores no exterior, tem que ser vista nesta perspectiva multifacetada. O primeiro grande passo nesta conjuntura foi dado por iniciativa de José Bruno Carreiro, director do Correio dos Açores, com a chamada “visita dos continentais”, em 1924. As impressões de viagem desse grupo de intelectuais e jornalistas contribuíram para um olhar mais curioso e atento sobre as ilhas. Como consequência desta visita, os jornalistas açorianos que trabalhavam no conti-nente lançaram a chamada “Página Insular”, em alguns perió-dicos, e foi fundada a Revista Insular e de Turismo, em 1926, que acompanhou o velho Portugal, Madeira e Açores na divul-gação e defesa dos interesses das ilhas. Foi dentro deste espírito que, finalmente, arrancou o Grémio dos Açores/Casa dos Aço-res (1927) que funcionou como um verdadeiro lobby junto do Poder Central.

Outras acções paralelas foram tomadas com vista à propa-ganda: convites a escritores ou investigadores, como Raul Bran-dão ou Leite de Vasconcelos, cujas obras projectaram os Açores por todo o continente. A realização do Congresso Açoriano, em 1938, em Lisboa, foi o ponto culminante de todo este movi-mento em prol do turismo, mas que se conjugava nas suas linhas programáticas com interesses político-administrativos. O empe-nho reivindicativo, mesmo que moderado e ordeiro, irritava Salazar que se recusou a apadrinhar a iniciativa.

Page 50: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[48]

CARLOS ENES

A componente ideológica conservadora do movimento

A matriz ideológica que se foi revelando ao longo do processo comporta uma mescla de opiniões muito variadas, mas o con-servadorismo notório no primeiro movimento de finais do século XIX acentuou-se nesta nova conjuntura, com a influência teórica do Integralismo Lusitano.

Dirigido por Armando Cortes-Rodrigues, foi instalado em Ponta Delgada o Núcleo Micaelense de Propaganda Integralista, aparecendo posteriormente outro, em 1920, no liceu Antero de Quental. A acção política destes núcleos era escassa, por falta de experiência dos seus membros, mas a nível doutrinário tiveram grande influência28. Os artigos de António Sardinha eram repro-duzidos em vários jornais e as suas ideias recebiam apoios pontuais de gente de outros quadrantes, como Luís da Silva Ribeiro.

A intervenção da Igreja na luta política veio reforçar ainda mais a sanha anti-republicana. Começou em 191829, por orga-nizar pequenos núcleos sem grande expressão, até surgir a Comis-são Diocesana do Centro Católico Português, sedeada em Angra, em 1925, com o objectivo de intervir politicamente. Mas, na prática, a acção da Igreja sempre se fizera sentir através da imprensa, por iniciativa individual de católicos, numa posição frontal contra os “desvarios” dos republicanos. A compra pela diocese dos jornais A União, de Angra, e A Democracia, da Horta, em 1924, veio reforçar essa luta contra o regime.

A juntar a estas componentes, acrescente-se o peso e a pre-dominância do núcleo monárquico micaelense que se havia constituído em 1915. Com ele, regressaram à liça política os velhos autonomistas do século XIX, que entretanto haviam hiber-nado. Foram eles os estrategas da luta anti-republicana, camu-flada com a capa do regionalismo. Não é o facto de serem monárquicos que os torna conservadores, mas as propostas eli-tistas, nada democráticas, em benefício de minorias citadinas,

28 Ver Carlos Cordeiro,

Nacionalismo, Regionalismo e

Autoritarismo nos Açores durante a

I República, Lisboa, Edições

Salamandra, cap. I.

29 Ibidem, cap. II.

Page 51: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[49]

A AUTONOMIA NOS AÇORES ENTRE AS DUAS GUERRAS MUNDIAIS

desvalorizando a participação dos outros concelhos nos órgãos da Junta Geral.

Todo este caldo ideológico conservador esteve presente nos diferentes momentos das acções desencadeadas para a reivindica-ção de um estatuto político-administrativo para o arquipélago.

O anti-republicanismo camuflado de regionalismo

Com a eclosão da I Guerra Mundial, os Açores acabaram por estar envolvidos no conflito. O bombardeamento por um sub-marino alemão à cidade de Ponta Delgada, cuja defesa coube a um cruzador americano, conduziu à instalação de uma base naval no seu porto30. A presença dos americanos e a existência de uma grande colónia de emigrantes nos Estados Unidos foram factores que contribuíram para uma forte corrente separatista se manifestar nesta conjuntura. O sentimento de “abandono” a que alguns micaelenses se sentiram votados, devido às dificul-dades de ajuda do governo português e aos apoios prestados pelas forças americanas, facilitou a admiração pelos Estados Unidos. O sentimento separatista, embora minoritário, foi con-testado por articulistas de outras ilhas, com destaque para o terceirense Luís da Silva Ribeiro.

Foi neste contexto que Roosevelt visitou os Açores na qua-lidade de subsecretário do governo americano, fazendo escala na Horta e em Ponta Delgada, a caminho da Europa continen-tal. Das suas palavras e das de outros responsáveis americanos da época, ficou claro que os Estados Unidos não apoiariam essas pretensões. E pela documentação conhecida até ao presente, “não há razões para duvidar da sinceridade das declarações públi-cas dos responsáveis de Washington. O essencial dos interesses americanos estava assegurado, desde que a soberania fosse exer-cida no arquipélago por uma potência aliada”31.

30 Ver Mário Mesquita, “A escala de Roosevelt nos Açores durante a primeira guerra mundial”, in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, Angra do Heroísmo, vol. XLIV, 1986, pp. 37-65.

31 Ibidem, pp. 39-40.

Page 52: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[50]

CARLOS ENES

O separatismo funcionou uma vez mais como arma de pres-são e de desestabilização do que propriamente uma ameaça real. Serviu essencialmente a estratégia das forças monárquicas que foram as dinamizadoras do segundo movimento autonomista micaelense com objectivos muito claros: combater o regime republicano e ferir de morte a influência do Partido Demo-crático.

O bloco duro de todo este movimento foi o núcleo monár-quico que se havia constituído, em 1915, e era liderado por Raposo do Amaral. Os velhos arautos das lutas autonomistas do século anterior voltaram a entrar na liça, fundando para o efeito um Partido Regionalista. Procuraram alianças pontuais com os unionistas locais, dirigidos por Francisco Luís Tavares, e com os socialistas com vista a reduzir a força eleitoral dos Democráticos. E esses objectivos foram alcançados logo nas eleições de 1917 e noutras que se seguiram. A entrada de Fran-cisco Luís Tavares para a direcção do Correio dos Açores, em 1920, era ainda reflexo dessa putativa unidade, que rapidamente se desfez.

A estratégia utilizada internamente foi a de agrupar em torno do regionalismo todo e qualquer tipo de pessoas – republicanos, monárquicos, ateus, crentes, fidalgos, plebeus – pondo de parte ressentimentos e ódios antigos. Para o exterior, ou seja em rela-ção ao poder central, a palavra de ordem era a de procurar causas permanentes para sustentar indisposições permanentes.

Para atingir este desiderato tornava-se necessário unir os aço-rianos em torno de um projecto que ultrapassasse o bairrismo ancestral e mesmo as desavenças internas em cada ilha. O regio-nalismo, inserido na dinâmica da confraternização insular, seria assim o cimento aglutinador que procuraria unir o que até então não teria sido possível. A criação de um partido regionalista micaelense representou um passo importante, mas foi alvo de algumas críticas, nomeadamente do ponderado Luís Ribeiro:

Page 53: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[51]

A AUTONOMIA NOS AÇORES ENTRE AS DUAS GUERRAS MUNDIAIS

“O regionalismo não é nem pode ser um partido. É alguma coisa superior a todas as facções, a todos os ideais políticos (…) um partido regionalista será uma clientela organizada que, dis-pondo de força eleitoral, irá ou com uns ou com outros à babu-gem de favores”32. Críticas idênticas surgiram em jornais da Horta, destacando-se os artigos de A. Baptista, reunidos no opúsculo “A verdade vence”.

De facto, só em São Miguel o Partido Regionalista teve per-nas para andar, numa conjuntura em que o radicalismo foi a tónica dominante. Deste modo, concorreu às várias eleições, quer autárquicas quer nacionais, e obteve resultados positivos. Destaque-se a eleição de um deputado, Hintze Ribeiro, em 1921, que havia sido condenado por ter participado na revolta monárquica de Monsanto, e de Francisco Faria e Maia, como senador, pelas minorias33.

A frente anti-republicana alargou-se ainda mais nas eleições de 1925. O Partido Regionalista obteve apoios do Centro Cató-lico, da Causa Monárquica, do Partido Radical, da comissão política do Partido Nacionalista e de vários independentes. Filo-meno da Câmara foi o candidato emblemático dos regionalistas, como independente, e exortou a população a manifestar o seu descontentamento como uma “revolta dos escravos”. Com ele foi também eleito Herculano Amorim Ferreira. Na Horta, a transformação do Partido Republicano Nacionalista em Partido Regionalista foi, apenas, um mero oportunismo do seu líder local, Manuel Francisco Neves Jr.

Nas eleições para os corpos administrativos locais a força dos regionalistas micaelenses também se acentuou, mas não conse-guiram desalojar os Democráticos, com implantação nos con-celhos mais pequenos. Por isso, propuseram a alteração do mecanismo eleitoral, como veremos.

As propostas políticas com vista a um novo modelo de admi-nistração assumiram, nesta conjuntura, um maior radicalismo

32 Correio dos Açores, 31 de Agosto de 1921.

33 Ver Luís Menezes, As eleições legislativas de 1921 e 1925 no arquipélago dos Açores, SREC/DRAC, 1992.

Page 54: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[52]

CARLOS ENES

do que no século XIX. A palavra de ordem – autonomia integral – consubstanciou-se em alguns projectos, com destaque para o de Faria e Maia, publicado em 1919, na imprensa. Segundo o autor, “seríamos nós quem legislaria sobre toda a administração pública, municipal e paroquial, quem lançaria, portanto, os impostos directos e indirectos, quem receberia todas as receitas e rendimentos que actualmente recebe o Estado, deduzindo-se apenas para este a quota que nos possa competir nas despezas gerais da Nação”. Esta proposta foi a mais radical, recusando inclusive a fiscalização pelo Poder Central. Defendia-se assim a criação de um Estado autónomo, englobando os três distritos, ou a aplicação do mesmo esquema a cada distrito que se gover-naria por si. O regime federativo preconizado seria equivalente ao da Suíça ou da América34.

Com o objectivo de angariar apoios para o projecto, um grupo de micaelenses deslocou-se à Terceira, numa jornada de confraternização. Apesar de alguns articulistas terem concordado com a ideia, a contestação acabou por ser preponderante, quer em Angra quer na Horta: por um lado, por ser considerada perigosa e favorável ao separatismo, e por outro porque daria uma posição privilegiada a São Miguel, com a criação do Estado autónomo.

Após a sua eleição como senador, Faria e Maia apresentou um projecto-lei ao Senado, que nunca chegou a ser discutido, no qual já estavam podadas algumas das suas ideias mais radicais.

Porém, o desejo de um estado autónomo ou província aço-riana foi ganhando cada vez mais adeptos. Nesse sentido se pronunciou Urbano Mendonça Dias35; Trindade Coelho, pro-pondo uma Republica Federal Portuguesa, para combater o centralismo, e advogando a criação de um Estado Insular Aço-riano, com capital em Ponta Delgada36; Quirino de Jesus, pro-pôs que a capital fosse em Angra do Heroísmo37; António Sardinha defendeu a criação de uma assembleia e governo regio-

34 Francisco Machado de Faria

e Maia, Em Prol da

Descentralização, Ponta Delgada,

1932.

35 A Actualidade, 18 de Dezembro

de 1921.

36 Folha de Angra, 16 de Março de

1922.

37 Correio dos Açores, 26 e 27 de

Julho de 1923.

Page 55: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[53]

A AUTONOMIA NOS AÇORES ENTRE AS DUAS GUERRAS MUNDIAIS

nais, com ampla autonomia administrativa e financeira38; Luiz de Magalhães, grande amigo de Aristides da Mota, retomou a mesma ideia em 1924 e Hermano de Medeiros, do Partido Nacionalista, comprometeu-se a criar a Província Açoriana caso o seu partido fosse maioritário.

Temos, assim, um vasto leque de pessoas a defender uma proposta idêntica, por razões que nem sempre coincidiam total-mente. Mas há aqui uma questão fundamental para se perceber a insistência na criação da província única: a unidade política rasgava caminho para a unidade económica, abrindo o mercado açoriano aos produtos micaelenses que estavam impedidos ou com dificuldade de serem colocados no mercado continental e que, a nível da região, estavam sujeitos a impostos alfandegários de vária ordem.

Logicamente, o projecto foi contestado e denunciado, apesar de algumas vozes micaelenses se mostrarem favoráveis a cobrir os défices das ilhas mais pobres. Mas José Bruno Carreiro reco-nheceu que o açorianismo ainda não tinha sido capaz de criar uma verdadeira consciência açoriana e, tal como outros, achava que a unidade política seria “mais uma aspiração para o futuro do que uma realização do presente”39.

Esta falta de entendimento e de unidade que revelasse uma posição forte do arquipélago face ao Poder Central, havia já levado José Bruno Carreiro a tomar a iniciativa, nos finais de 1922, de chamar a Madeira para um projecto comum. Lançou o repto nas páginas do Correio dos Açores e a resposta favorável chegou com rapidez. Marcada uma reunião no Funchal, com-pareceram José Bruno Carreiro, como director do jornal, e Luiz Bettencourt, como delegado do Partido Regionalista; a Junta Geral de Angra enviou, como observador, o monárquico Fre-derico Lopes.

Na reunião, discutiram-se as bases de uma ampla autonomia política e financeira, semelhante à que fora concedida às colónias.

38 Diário dos Açores, 12 de Abril de 1923.

39 A Actualidade, 1 de Outubro de 1924.

Page 56: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[54]

CARLOS ENES

Situação curiosa e caricata, esta. Os Açores sempre se abespi-nharam quando se sentiam tratados como colónias, mas nesta altura, e noutras que se seguiram poucos anos depois, não se coibiam de evocar o estatuto das colónias para ser aplicado ao arquipélago. Mas da reunião do Funchal nada de concreto resul-tou que alterasse a falta de interesse da população por estas questões.

Uma vitória efémera com a ditadura militar

O primeiro e maior impacto da Ditadura Militar nos Açores foi a deportação para as ilhas de militares e civis que se opuse-ram ao novo regime. Para os controlar, foi criado o cargo de Delegado Especial do Governo nos Açores, em 1927, ocupado pelo coronel Silva Leal, açoriano, tendo como chefe de gabinete, José Bruno Carreiro, nos primeiros meses. A dinâmica do aço-rianismo revelou-se nesta nova conjuntura, beneficiando de um grupo de ilhéus bem colocados no aparelho do Estado. Rapi-damente, se inverteram as funções da nova autoridade que se transformou num Delegado dos Açores junto do Governo.

Deste modo, José Bruno Carreiro e Luís Bettencourt redigiram as bases do que veio a ser o primeiro decreto da Ditadura sobre a autonomia. Com a data de 16.2.1928 (dec. 15.035)40, o decreto concedeu maior autonomia financeira à Junta Geral, mas acabou com as listas de procuradores por concelhos, criando uma única lista distrital. Os regionalistas tinham, assim, mais hipóteses de afastar elementos afectos ao velho ideário republicano.

As antigas propostas de autonomia integral foram arquivadas, optando-se por uma atitude mais pragmática de obtenção recei-tas para a realização de obras. A autonomia financeira, com mais atribuições de serviços e verbas adequadas, sobrepunha-se à auto-nomia política do período da I República.

40 Ver este e outros

documentos em José Guilherme

Reis Leite, A Autonomia dos

Açores na legislação Portuguesa – 1892-1947,

Horta, 1987.

Page 57: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[55]

A AUTONOMIA NOS AÇORES ENTRE AS DUAS GUERRAS MUNDIAIS

A oposição aproveitou para criticar José Bruno Carreiro, pela sua incoerência em relação ao passado, mas o projecto acabou por ser aceite.

A intervenção de Salazar

A chegada de Salazar ao Poder acabou com todas as veleidades. A sua política de saneamento financeiro foi aplicada na região de forma habilidosa: manteve e até aumentou as prerrogativas que haviam sido atribuídas às Juntas Gerais, prometendo fazê-las acompanhar das respectivas transferências financeiras. Os mais avisados aperceberam-se das intenções do ministro e pressionaram para que ocorresse uma reunião com vista a demovê-lo das suas intenções. No fim da reunião aceitaram as propostas de Salazar e reconheceram a necessidade de redução das despesas.

No decreto mantiveram-se os vogais por eleição (nove), mas entraram seis como vogais natos, pelo facto de exercerem deter-minados cargos no aparelho do Estado e pela sua independên-cia e “devoção cívica”. A Junta representava, assim, cada vez menos os interesses concelhios.

Este decreto (15.805, de 31.7.1928) acabou por nunca ser aplicado. Nem se fizeram as eleições como previsto, funcionando com comissões administrativas nomeadas, nem as Juntas rece-beram as verbas a que tinham direito. De autónomas restava-lhes apenas o nome. Toda esta situação gerou descontentamentos, porque as Juntas Gerais limitavam-se a fazer pagamentos cor-rentes e não executavam obras públicas que pudessem minorar a crise de emprego que grassava.

Nesta conjuntura, foram feitas pressões junto do governo para que este tomasse algumas medidas. Como resposta o governo nomeou uma comissão para estudar e propor soluções com vista ao desenvolvimento do turismo em São Miguel. Era

Page 58: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[56]

CARLOS ENES

desta ilha que partiam as maiores contestações e era também aqui que a crise mais se fazia sentir, devido a um regime de propriedade agrícola concentrada.

A comissão presidida pelo presidente da Junta Geral e ao mesmo tempo presidente da comissão distrital da União Nacional, Hermano da Silva Mota, incorporava elementos que de certo modo estariam insatisfeitos com a política de Salazar para com os Açores: Faria e Maia, presidente da Câmara Municipal; Augusto Rebelo Arruda, candidato independente eleito pelo PRP, em 1925; Luís Bernardo Leite Ataíde, candidato, em 1921, pelo Partido Republicano Liberal; José Bruno Carreiro, director do Correio dos Açores, e Albano da Ponte, sócio gerente da firma Bensaúde. Esta-vam assim representadas as forças vivas da ilha41.

O relatório elaborado por Faria e Maia apresentava um con-junto de medidas concretas a desenvolver, com grande compar-ticipação do governo. Mas o que se pretendeu com esta oportunidade foi desencadear uma força de pressão sobre o governo, com acções de rua inusitadas, mesmo no período da I República. A entrega do relatório ao governador civil, em Novembro de 1932, foi acompanhada de uma grande manifes-tação. O mesmo aconteceu com a partida deste, em Janeiro de 1933, para Lisboa. Durante este, período os jornais praticamente não foram submetidos a censura, no que dizia respeito às ques-tões locais. Gerou-se assim um clima de grande agitação política, em que a própria oposição aproveitou para actuar.

A frase de Salazar – “aos governantes não se pedem favores, mas justiça” – serviu de mote para desencadear o “protesto colec-tivo” em defesa de “justíssimos interesses tão desprezados e cer-ceados nos últimos anos”42.

Sem se pretender derrubar o regime, os organizadores das jornadas de rua, denunciaram a política incoerente de Salazar que permitia a existência de filhos e enteados. Mas dentro dos regionalistas havia posições mais radicais. Faria e Maia publicou

41 Ver Carlos Enes, “Ponta

Delgada: o movimento de

contestação à política do Estado

Novo, em 1932-33”, Boletim

do Instituto Histórico da Ilha

Terceira, vol. XLVIII, 1990,

Angra do Heroísmo,

pp. 507-36.

42 Correio dos Açores, 16 de

Novembro de 1932, transcrição

da palestra de Guilherme Morais

na emissora Insula.

Page 59: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[57]

A AUTONOMIA NOS AÇORES ENTRE AS DUAS GUERRAS MUNDIAIS

nessa altura o opúsculo “Em Prol da Descentralização”, onde inseriu uma carta de Aristides da Mota criticando com ironia a política de Salazar. O aparecimento público do patriarca numa das manifestações foi momento de grande regozijo. O artigo que escreveu na imprensa, criticando o projecto da Constituição que então ia ser plebiscitada, deu o mote para o voto contra.

No meio de toda esta excitação, chegou a notícia de que o governador se iria demitir por nada ter conseguido. Desenca-deou-se, então, por toda a cidade manifestações de apoio à autoridade, a que se seguiram paralisações de trabalho nos dias 27, 28 e 29 de Fevereiro de 1933. A partir daqui as forças que haviam mobilizado a população para funcionar como arma de pressão, deixaram de ter o controlo. A oposição republicana, através dos sindicatos e da maçonaria, mas também os nacionais- -sindicalistas, haviam aproveitado a seu favor toda a movimen-tação anterior e nem Aristides da Mota conseguiu demover os grevistas. Só a intervenção militar pôs cobro à greve geral, com alguns mortos e feridos.

José Bruno Carreiro, o grande agitador, através do seu jornal, liderou um processo sem ter medido bem a correlação de forças. Esta derrota acabou por sair cara aos regionalistas que perderam força negocial nas etapas que se seguiram.

O Secretariado das Ilhas junto do governo

Os açorianos perderam não só a força negocial como a capaci-dade de intervenção. A autonomia esboroara-se e o poder dos organismos locais foi revelando a sua fraqueza.

Neste contexto, o Grémio dos Açores ganhou terreno com associação dotada de capacidade política para furar as malhas da burocracia. Repleto de gente bem colocada e bem relacionada com os dirigentes, organizou-se como lobby, criou internamente

Page 60: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[58]

CARLOS ENES

uma estrutura de tipo governamental e valeu-se dessa dinâmica para divulgar a ideia da criação de um Secretariado das Ilhas Junto do Governo. Embora não se pretendesse acabar com as Juntas Gerais, o Secretariado das Ilhas seria uma espécie de ministério, por onde passariam a ser tratados todos os assuntos que dissessem respeito aos Açores.

Com esta proposta subvertia-se todo o espírito autonomista que havia presidido às lutas até então desenvolvidas. O governo não aceitou a proposta por razões óbvias: criar o secretariado era dar força ao lobby e institucionalizá-lo e, por isso, optou por uma política de desconcentração para as ilhas.

Propostas do Governo

O poder de Salazar acabara por ficar consolidado, após a fra-cassada revolta dos deportados nas ilhas, em 1931. A habilidade cautelosa com que gerira as negociações do primeiro decreto que assinou, foi-se esvanecendo nas acções e atitudes posteriores. Acabou com a moeda insulana, em 1932, e clarificou posições após o desastre político da greve geral referida. Em 1935, criti-cou os partidários da autonomia que supunham que esta con-sistia na liberdade de gastar, cabendo ao Poder Central o papel de cobrir os défices. E passou então ao ataque: “vêm uns tantos a Lisboa e não passam de Sintra ou dos Estoris; e é com as ruas asfaltadas ou cimentadas e com um ou outro palácio que se fazem as comparações”43. Afirmou ainda que o resto do país sofria de muitas carências e só aceitava o princípio da rectifica-ção das receitas e despesas atribuídas às Juntas Gerais, quando estivesse demonstrado que os mesmos serviços no continente estavam mais bem dotados do que nas ilhas. E foi com esta filosofia, sem mais subterfúgios, que definiu a política adminis-trativa insular.

43 A União, 18 de Junho de 1935.

Page 61: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[59]

A AUTONOMIA NOS AÇORES ENTRE AS DUAS GUERRAS MUNDIAIS

Em 1937, o governo apresentou uma proposta de lei sobre o regime administrativo das Ilhas Adjacentes. A pouca autonomia que existia iria desaparecer, ficando toda a política local a ser controlada pelo governador civil. A composição das Juntas Gerais passou a incluir menos procuradores: três natos – reitor do liceu, engenheiro das obras públicas e delegado do INTP – e outros quatro eleitos trienalmente pelas câmaras municipais e organismos corporativos do distrito. Nesta proposta a fiscalização ia mais longe do que até então acontecera: havia uma comissão distrital de con-tas, composta pelo director das finanças, pelo Delegado Procura-dor da República e um vogal designado pelo governador civil.

Na introdução deste diploma, Salazar esclareceu as regras do jogo sem evasivas: foi denunciada a prática de favores em meios pequenos; criticada a falta de solidariedade dos ilhéus, porque gastavam mais do que produziam e negavam ao “Estado o direito de ir buscar às ilhas um ceitil que fosse”; esclarecia que os insu-lares não eram uma minoria nacional nem a situação era com-parável com as colónias.

A discussão na Assembleia Nacional não contestou a proposta do governo que passou a vigorar como Lei n.º 1967.

Foi esta Lei que serviu de base ao Estatuto dos Distritos Autónomos de 1940, da autoria de Marcelo Caetano. Para o efeito, visitou as ilhas tendo recolhido depoimentos de Luís da Silva Ribeiro. José Bruno Carreiro foi também, em 1939, con-vidado pelo Ministro do Interior a dar o seu parecer. Por razões óbvias, ou seja, por ser funcionário público, não contestou o projecto, limitando-se a objecções relacionadas com questões de ordem financeira.

Este Estatuto passou também a abranger o distrito da Horta que até aqui se mantinha colado à lei geral dos outros distritos continentais.

Com este documento, toda a vida político-administrativa ficou regulamentada de forma minuciosa, com uma forte inter-

Page 62: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[60]

CARLOS ENES

venção e controlo do poder central em todas as áreas, quer directamente, quer através do governador civil. Era ele quem nomeava o presidente da Junta, os dois vogais da comissão de contas e suspendia deliberações da Junta e da comissão executiva. Quanto ao Poder Central, a sua intervenção fazia-se por inter-médio de inspecções, orientações técnicas, aprovação do plano quadrienal, que era aprovado e modificado, se necessário, em Conselho de Ministros.

Em 1947, alguns dos artigos deste Estatuto foram alterados, mas as características fundamentais não se modificaram. Até 1974, as ilhas foram governadas dentro deste espartilho admi-nistrativo, estreitamente tuteladas pelo Poder Central.

Page 63: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[61]

JOSÉ BRUNO CARREIRO, O ALMIRANTE DUNN, E O PRESIDENTE WILSON: O TRIÂNGULO QUE NUNCA EXISTIU?

José Medeiros Ferreira

O Contexto da Importância Internacional dos Açores

A importância internacional e estratégica dos Açores vai crescer entre a guerra hispano-americana de 1898, a construção do canal do Panamá e o decurso da I Guerra Mundial, em termos verdadeiramente impressionantes.

Talvez seja a declaração de neutralidade portuguesa por oca-sião da Guerra de Cuba em 1898 aquela que revela melhor a importância dos portos atlânticos insulares nas relações luso- -americanas.

Curiosamente essa declaração de neutralidade tem no parla-mento de Lisboa o seu teatro aberto onde as pressões interna-cionais se fazem sentir. Interpelações dos deputados aos governantes sucedem-se entre 21 e 25 de Abril daquele ano, no sentido de apurar qual seria a atitude de José Luciano de Castro, chefe do governo progressista. De facto, a permanência no Min-delo da esquadra espanhola, comandada pelo almirante Cervera, causava a maior das perturbações no relacionamento entre Por-tugal, a Espanha e os EUA.

O jornal de Ponta Delgada, Diário dos Açores, publicara a 4 de Abril a notícia de que o governo espanhol esperava reunir com as suas esquadras na ilha de S. Vicente, onde se abastece-riam de carvão, para rumar conjuntamente para Cuba44.

A 20 de Abril de 1898, o deputado regenerador Ferreira de Almeida, antigo ministro da Marinha, alertava para os perigos

44 Diário dos Açores, 4 de Abril de 1898, citado por Nélia Leitão in Reflexos da Guerra Hispano- -Americana em Portugal, trabalho apresentado na disciplina “Diplomacia e as Relações Euro- -Atlânticas”, ministrada por José Medeiros Ferreira, Mestrado de Relações Internacionais, Universidade dos Açores, 2007.

Page 64: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[62]

JOSÉ MEDEIROS FERREIRA

que se levantariam para os portos portugueses, de uma possível guerra entre Madrid e Washington, referindo-se à insuficiência dos meios navais para assegurar o respeito pelas determinações do governo de Lisboa. E são reforçados com a artilharia, os fortes de Lisboa e enviados navios de guerra para Cabo verde e Açores. O jornal micaelense A Persuasão assinala que “35 praças d’artilharia” foram enviados para o Faial.

Em 26 de Abril o governo português foi notificado pelo governo norte-americano da guerra entre os EUA e a Espanha. Washington esperava que Lisboa declarasse e praticasse a neu-tralidade no conflito, impedindo assim que os navios espanhóis se abastecessem e refrescassem as suas tripulações nos portos insulares.

Quando Portugal decretou a neutralidade na guerra hispano-americana, ou guerra de Cuba, em 1898, tinha assim os Açores e Cabo Verde no centro da decisão, ou, pelo menos, no articu-lado do decreto publicado no Diário do Governo de 29 de Abril daquele ano. Esse decreto, composto por 6 artigos, era muito minucioso na regulamentação dos direitos e deveres internacio-nais de Portugal, nomeadamente sobre o uso dos portos atlân-ticos. Assim o Art.º 3.º desdobrava-se em três pontos: “Ponto 1 – As embarcações de guerra de qualquer das potências beli-gerantes não praticarão, dentro dos portos e águas de Portugal, acto algum de hostilidade contra as embarcações ou nacionais ou de qualquer outra potência mesmo daquela com a qual esteja em guerra a potência a que pertencerem; Ponto 2 – Nos mesmos portos e águas as referidas embarcações não poderão aumentar a sua tripulação, alistando marinheiros súbditos de qualquer nação, ainda mesmo daquela a que pertencerem as embarcações; Ponto 3 – É igualmente proibido às mesmas embarcações aumen-tar nos mencionados portos e águas o número ou o calibre do seu armamento e receber a bordo armas portáteis ou munições de guerra”. A estas estritas obrigações, devidamente compendia-

Page 65: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[63]

JOSÉ BRUNO CARREIRO, O ALMIRANTE DUNN, E O PRESIDENTE WILSON: O TRIÂNGULO QUE NUNCA EXISTIU?

das para a aplicação equitativa entre os beligerantes seguia-se o artigo sobre o direito “ao comércio lícito” da potência declarada como neutral45.

Refira-se desde já que os direitos das potências neutrais uniram os portugueses e os norte-americanos, desde as guerras napoleó-nicas à Guerra da Crimeia, em 1854, e ao período da I Guerra Mundial entre 1914 e 1916, em que se mantiveram neutras as duas nações: “Foi aliás a necessidade de manter a liberdade de navegação no Atlântico contra os ataques dos submarinos alemães a navios mercantes norte-americanos um dos factores que deter-minaram Washington a declarar guerra aos impérios centrais”46.

Desse ponto de vista saliente-se que, mutatis mutandi, Por-tugal e EUA tiveram um comportamento internacional muito semelhante. É verdade que Portugal não declara por decreto a sua neutralidade em 1914 como o fizera em 1855, em 1870 e em 1898, mas o seu estatuto internacional seria esse até 1916. Os dois países serão assim ambos neutrais durante a maior parte das guerras no século XIX, e na I Guerra Mundial começam como neutrais e entram a meio como beligerantes por causa dos transportes marítimos: Portugal porque, em Fevereiro de 1916, considera «boa presa» os barcos das potências centrais surtos nos portos nacionais a fim de aumentar a tonelagem da marinha mercante aliada, os EUA porque não toleram a guerra submarina “à outrance” dos alemães que torpedeiam a sua frota de comér-cio que atravessa o Atlântico.

Desde o início do século XX que a Grã-Bretanha se preocu-pava com a utilização das ilhas dos Açores pelos alemães, quer por causa da amarração dos cabos submarinos, quer por causa da visita de vasos de guerra, como o cruzador Pantera, que fundeara na Horta e em Ponta Delgada, antes de causar uma crise internacional ao chegar a Marrocos. Os ingleses pedem mesmo, em 1906, às autoridades portuguesas que não concedam depósitos de carvão no porto da Horta aos alemães.

45 Ver José Medeiros Ferreira, Cinco Regimes na Política Internacional, Lisboa, Ed. Presença, 2006, pp. 24-25.

46 José Medeiros Ferreira, “O Mar dos Açores nas duas guerras mundiais”, in Revista de História e Teoria das Ideias, Vol. XI (2.ª Série), Lisboa, UNL, 1999, p. 120.

Page 66: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[64]

JOSÉ MEDEIROS FERREIRA

Em 1908 uma esquadra alemã visita os Açores perante a presença próxima da força naval britânica. Desembarcam em S. Miguel e anotam os melhores percursos de penetração.

Este é também o período em que as teorias do poder naval do Almirante Mahan começam a ter aplicação nos EUA. O conceito estratégico segundo o qual “Quem dominar o mar domina o mundo”, vai levar o Ministério da Marinha deste país a interessar-se pelo uso de bases no Pacífico, – as Filipinas –, e no Atlântico, desde o complexo Panamá – Caraíbas. Esse inte-resse estender-se-ia até ao alto Oceano, ou “Atlântico Central”, como se assinala na história do Consulado Americano nos Aço-res escrita em 1926.

Portugal e os EUA mantêm a sua neutralidade no início da Grande Guerra. Lisboa será neutral até Março de 1916 e Washington até Abril de 1917. Ambos os países entrarão depois na guerra do lado dos Aliados. Assim Portugal e os EUA estive-ram juntos como neutrais e juntos como beligerantes na I Guerra Mundial. Neste particular recorde-se como Kennan, caracteriza o comportamento dos EUA nesse período: “We entered with the concepts and methods of a small neutral nation”47.

Com o eclodir da guerra, e durante o período em que Por-tugal não é considerado potência beligerante, assiste-se à utili-zação desigual dos portos do arquipélago dos Açores por navios ingleses e alemães, apresentando estes sucessivas queixas quanto à forma como era interpretado o estatuto de neutralidade nos portos insulares48. A Majoria-Geral da Armada chega mesmo a emitir recomendações no sentido de uma maior equidade na aplicação do estatuto de neutralidade.

Quando o Alto-Comissário General Simas Machado é nome-ado nos primeiros meses de 1918 assume todas as funções polí-ticas, administrativas e militares para os Açores, entre as quais se salientavam as de defesa marítima. A criação da figura política do Alto-Comissário para os Açores em 1918 será precursora da

47 Georges Kennan, American

Diplomacy, The University of

Chicago Press, 1984, p. 91.

48 Ver José Medeiros Ferreira, “A importância do

porto de Ponta Delgada,

na I Guerra Mundial”, in

Açoriano Oriental, Suplemento, 500 Anos do Conselho de

Ponta Delgada, 19 de Julho de

1999.

Page 67: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[65]

JOSÉ BRUNO CARREIRO, O ALMIRANTE DUNN, E O PRESIDENTE WILSON: O TRIÂNGULO QUE NUNCA EXISTIU?

figura político-administrativa que será aplicada em Angola e Moçambique depois de 1920.

E o facto de o Alto-Comissário ter a seu cargo tanto os assuntos militares como os assuntos político-administrativos, mais relevo dará à personalidade de José Bruno Carreiro que o irá assessorar na vertente civil, na continuidade aliás do cargo que já ocupava de secretário do Governo Civil do distrito de Ponta Delgada.

Entre Abril de 1918 e Março de 1919, o general Simas Machado foi Alto-Comissário nos Açores, em condições excep-cionalmente difíceis do ponto de vista político, militar e civil. Filho de pai açoriano, era um republicano moderado que foi Constituinte em 1911 e Senador da República em 1920. Che-gada a ditadura com o 28 de Maio de 1926, pediu para deixar o serviço activo no Exército. Não houve uma multidão a fazê-lo…

José Bruno Carreiro será escolhido para chefiar a repartição civil do Alto-Comissário, em 1918, assim como chefiará depois a repartição civil do Delegado Especial do Governo nos Açores, entre 1927 e 1928, na transição da ditadura militar. É possível que José Bruno Carreiro estivesse impressionado pela importân-cia dos Açores, revelada pela abertura do Canal do Panamá e pela chegada rápida da esquadra norte-americana após Ponta Delgada ter sido bombardeada por um submarino alemão a 4 de Julho de 1917.

A chegada de cinco destroyers americanos ao porto de Ponta Delgada a 25 de Julho veio evidenciar quem se preparava para patrulhar eficazmente o Atlântico Norte na guerra submarina declarada pela Alemanha, e veio revolucionar os termos das relações anglo-americanas nesse domínio. Mas também veio alterar a importância estratégica dos portos da Horta e de Ponta Delgada a favor deste. Daí por diante, o distrito autónomo de Ponta Delgada ganhará mais projecção transatlântica, interna-

Page 68: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[66]

JOSÉ MEDEIROS FERREIRA

cional e nacional. A pujança do chamado Segundo Movimento Autonómico entronca aí.

Seria a República Portuguesa a ter de gerir essa nova distri-buição de papéis entre as potências marítimas no Atlântico e nos Açores.

Assim, o ministro de Portugal em Washington, o conde de Alte, enviou, a 15 de Abril de 1917, ou seja pouco mais de uma semana depois dos EUA terem declarado guerra à Alemanha, um telegrama para Lisboa, em que se faz referência ao eventual interesse no estabelecimento de uma base americana nos Açores: “É possível que a esquadra americana que vai policiar Atlântico precise porto de apoio nossas ilhas, eu disse transmitiria qualquer pedido nesse sentido governo que o examinaria amigavel-mente”49.

A 24 de Agosto de 1917, o MNE Augusto Soares envia para Londres o seguinte telegrama: “Cônsul dos EUA P. Delgada comunicou autoridades que comodoro navios de guerra ameri-canos surtos ali julga actuais meios de defesa insuficientes para protecção seus navios e cidade e tencionava propor seu governo melhores defesas (…) Pedia consentimento autoridades locais militares e marítimas que responderam dizendo assunto com-petência governo. Defesa águas e costa portuguesa por forças americanas e acção preponderante destas nos Açores é assunto altamente melindroso que interessa não só política interna e externa Portugal mas também forçosamente Inglaterra. Legítimo desejo Governo da República é que Inglaterra nos forneça meios assegurar defesa eficaz P. Delgada contra perigos marítimos. (…) se marinha americana tem a desempenhar de acordo com aliado missão de defesa no Atlântico governo português deseja ser infor-mado alcance dessa missão para responder ao governo ameri-cano”50.

O ministro de Portugal em Londres, Teixeira Gomes, só a 3 de Outubro de 1917 recebe uma resposta verbal do Foreign

49 José Medeiros Ferreira, “Os

Açores nas duas guerras mundiais”, in Boletim do I. H.

da Ilha Terceira, vol. XLV – 1987,

Angra do Heroísmo, 1988,

p. 75.

50 Idem, p. 77.

Page 69: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[67]

JOSÉ BRUNO CARREIRO, O ALMIRANTE DUNN, E O PRESIDENTE WILSON: O TRIÂNGULO QUE NUNCA EXISTIU?

Office, resposta verbal que, a seu pedido, foi confirmada por nota particular e confidencial de 5 desse mês. Nela, o Governo britânico afirma que está circunstancialmente impedido de pro-ver à defesa dos Açores e julga assim que o Governo português fará bem em aceitar o oferecimento americano. Na declaração verbal, o diplomata do FO afirmara ainda estar seguro de que, por parte do Governo americano, não havia ideia reservada sobre influência a exercer nos Açores, mas apesar disso é recomendado ao governo português que tome todas as providências a fim de evitar que tal influência possa aumentar51.

Perante esta situação o governo português responde afirma-tivamente à Nota do ministro dos EUA em Lisboa, coronel Thomas N. Birch, datada de 30 de Outubro de 1917, na qual este insistia na concessão de certas facilidades nos Açores e no estabelecimento de uma base naval em Ponta Delgada, que é para “em resumo, concederem à marinha americana pela dura-ção da guerra, tais facilidades em terra e tais privilégios maríti-mos, que a campanha contra os submarinos seja o mais possível eficiente”.

O MNE Augusto Soares responderá afirmativamente por Nota datada de 8 de Novembro de 1917, embora não deixe de refe-rir que: “Aguardo as comunicações ulteriores de V. E. sobre a forma de levar a efeito alvitre do Governo americano, concor-dando com o estabelecimento de uma base naval em Ponta Delgada…”.

Tornada oficial a 8 de Novembro de 1917 a Base Naval de Ponta Delgada, logo a 17 do mesmo mês o embaixador ameri-cano pede autorização para o desembarque do almirante Dunn, de três oficiais e de 50 marinheiros.

De forma geral, as pretensões norte-americanas foram prati-camente todas satisfeitas, mau grado algumas reacções negativas, entre os quais se destacou a do então comandante do cruzador Vasco da Gama, fundeado em Ponta Delgada, Augusto Neuparth,

51 Telegrama de Teixeira Gomes para o MNE, datado de Londres, 6 de Outubro de 1917, ob. cit., p. 77.

Page 70: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[68]

JOSÉ MEDEIROS FERREIRA

que, a 23 de Março de 1918, envia para Lisboa um relatório em que afirma que a forças navais norte-americanas “são poucas e nós poderíamos sem grande dificuldade ombrear com elas”52.

Nestas querelas militares não se imiscuía Bruno Carreiro que antes pretendia captar a boa-vontade do almirante Dunn para que dos Estados Unidos viesse algum socorro em trigo e ajuda humanitária a distribuir pela população micaelense…

O impacto internacional da base naval norte-americana é salientado por José Bruno Carreiro, trinta anos depois, na sua célebre conferência de Ponta Delgada, de Maio de 1950, quando recapitula os momentos fortes da história dos Açores: “Perto de um século depois voltam os Açores a aparecer com destaque na História, na última fase da I Guerra Mundial. Tendo sido a colaboração dos EU que fez a sorte das armas pender decisiva-mente para os aliados, ainda no desfecho do grande drama e nos destinos do mundo, tiveram os Açores um alto papel, pres-tando-se à instalação em S. Miguel de uma base naval que muito contribuiu para facilitar o transporte de homens e material de guerra da América para a Europa”53.

E também não escaparia ao campo de observação do futuro director do Correio dos Açores, a importância que a Marinha dos EUA tinha então na política externa, no estabelecimento de bases navais, e até na condução político-estratégica do interesse de Washington noutras ilhas, como a do Haiti em 1915, ou nas Ilhas Virgens que passaram, da soberania dinamarquesa para a protecção dos EUA em 1916, e as Filipinas e Cuba onde os americanos estabeleceram bases navais depois da guerra hispano- -americana.

Daí a importância que José Bruno Carreiro atribui às suas relações com o Almirante Dunn, o elo de ligação com o Minis-tério da Marinha em Washington, cujo Assistente do Secretário de Estado, Franklin Delano Roosevelt, se deslocará proposita-

52 Cit. em José Medeiros Ferreira,

“Os Açores nas duas guerras

mundiais”, p. 78.

53 J. Bruno Carreiro,

A Autonomia Administrativa dos Distritos das Ilhas Adjacentes, Ponta

Delgada, 1952, p. 15.

Page 71: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[69]

JOSÉ BRUNO CARREIRO, O ALMIRANTE DUNN, E O PRESIDENTE WILSON: O TRIÂNGULO QUE NUNCA EXISTIU?

damente aos Açores para inspeccionar a Base Naval em Ponta Delgada em Julho de 1918 e fará uma visita ao porto da Horta.

José Bruno Carreiro estará especialmente activo durante este período, e a sua presença está associada à difusão da ajuda de proveniência norte-americana às populações da ilha de S. Miguel, carentes de cereais para a sua alimentação e de serviços de saúde e higiene.

Ainda em 2 de Novembro de 1918 podia ler-se no Açoriano Oriental que o Almirante Dunn havia telegrafado para a Cruz Vermelha americana a pedir “os socorros necessários para as famílias pobres atingidas pela epidemia que grassa entre nós, tendo já solicitado: 10 médicos, 50 enfermeiros, 12 automóveis com chauffeur, 1000 cobertores, 500 camas completas, 15 000 metros de pano-cru, petróleo para iluminação durante 3 meses, numa população de 60 000 pessoas, e medicamentos, tais como antipirina, quinino, cafeína, mostarda, linhaça, etc., bem hajam todos aqueles que puderem prestar aos necessitados o seu valioso auxílio…”54. A distribuição dessa ajuda cabia nas funções admi-nistrativas do Chefe de Repartição Civil do Alto-Comissário para os Açores.

A passagem pelos Açores, em Julho de 1918, do então Sub- -Secretário da Marinha do Governo dos EU, o futuro presidente Franklin Delano Roosevelt, irá também constituir um momen-tum de prestígio pessoal e político para José Bruno Carreiro, expressamente referido numa saudação em que, pela hierarquia, não obrigatória, no discurso que proferiu em Ponta Delgada Franklin Roosevelt afirma que “Ao regressar a Washington, não se mostrará satisfeito, mas orgulhoso com o que viu em Ponta Delgada. Sabe como o almirante Dunn e os seus oficiais têm sido auxiliados e coadjuvados por S. Ex.ª o Alto-Comis-sário, pelo sr. Almirante Neuparth e pelo sr. Dr. José Bruno”55.

54 Miguel Maurício, A Base Naval em Ponta Delgada em 1917, trabalho para o seminário “Diplomacia e Política Externa Euro-Atlântica”, orientado por José Medeiros Ferreira, no Mestrado em relações Internacionais da Universidade dos Açores, Policopiado, 2007, p. 9.

55 Mário Mesquita, “A Escala de Roosevelt nos Açores durante a Primeira Guerra Mundial”, in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, volume XLIV. Ano de 1986, p. 43.

Page 72: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[70]

JOSÉ MEDEIROS FERREIRA

José Bruno Carreiro, o Almirante Dunn e o Presidente Wilson: O triângulo que nunca existiu?

O chamado II Movimento Autonomista, nos anos vinte do século XX, desenvolve-se pois num contexto nacional e interna-cional gerado pelas consequências da I Guerra Mundial.

A 11 de Dezembro de 1918, um mês depois do armistício, o ministro da França em Lisboa, Daeschner, envia um relatório para Paris onde disseca as questões colocadas a Portugal pelo fim da guerra mundial e que podem ter reflexos no comporta-mento da delegação portuguesa à Conferência da Paz. E após passar em revista as questões que se levantavam em Angola e Moçambique, o diplomata refere a situação nos Açores: “Se bem que os EUA se tivessem estabelecido em Ponta Delgada sobretudo para garantir a segurança dos seus navios e do comércio marí-timo, e de doutrinas do Presidente Wilson não permitirem pen-sar que os americanos quereriam estabelecer lá uma base naval permanente, seria de encarar como possível o aproveitamento das circunstâncias para obterem no arquipélago concessões, ou privilégios, tais como depósitos de carvão ou estações de tele-grafia sem fios”56.

Com base nessas informações, a Direcção Política do MNE francês elaborou uma nota destinada à preparação da sua Dele-gação à Conferência de Paz em que se referem portos em que a soberania portuguesa pode ser posta em dificuldades: o porto de Lourenço Marques, o porto de Moçâmedes, Cabinda e… os Açores. Sobre o arquipélago lê-se textualmente: “Le Gouverne-ment Américain qui a établit une base aux Azores, pourrait vouloir y conserver un dépôt de charbon ou un poste TSF. La propagande américaine s’exerce activement au Portugal, tant par la presse que par de fournitures de vivres et de pétrole”57.

Disto mesmo nos dá conta uma entrevista do Almirante Dunn, concedida ao jornal Século de Lisboa, no dia 5 de Janeiro

56 Ver AD-MAE, Conférence de la

Paix, Série A, Paix, Travaux

Préparatoires de La Conférence,

299, Politique des Petites Nations

Alliées, Ofício do Ministro da

França em Lisboa, datado de 11 de

Dezembro de 1918.

57 AD-MAE, Conférence de la

Paix. Série A, Paix, Travaux

Préparatoires de la Conférence, 299,

Politique des Petites Nations Alliées, nota da

Direction des Affaires Politiques et Commerciales,

(doc. 78).

Page 73: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[71]

JOSÉ BRUNO CARREIRO, O ALMIRANTE DUNN, E O PRESIDENTE WILSON: O TRIÂNGULO QUE NUNCA EXISTIU?

de 1919, em que refere ter mandado vir trigo dos EUA para ser distribuído nos Açores assim como assistência médica especial-mente preparada para ajudar as populações. Além disso procedeu à distribuição de gasolina por várias entidades, entre as quais a Cruz Vermelha58.

O entendimento entre José Bruno Carreiro e o comandante da base naval norte-americana em Ponta Delgada também se havia temperado nesse auxílio prestado em abastecimentos e na luta contra a pneumónica que se abaterá sobre a população da ilha de S. Miguel até lhe diminuir o número.

O Almirante Dunn, que estava de passagem em Lisboa onde seria condecorado com as insígnias de Grande Oficial da Ordem de Aviz, prodigaliza elogios ao Alto-Comissário Simas Machado e à hospitalidade em terras micaelenses: “Quando em Janeiro de 1918 desembarquei nos Açores, julgava-me um estrangeiro em terra amiga. E quando alguns meses depois a abandonei senti tantas saudades que me julguei português. Jamais esque-cerei o que devo aos Açores – e Portugal ficará eternamente na minha alma”59.

Nessa mesma entrevista o Almirante Dunn confessa que pediu, telegraficamente, ao Presidente dos EUA Wilson que pas-sasse pelos Açores na sua viagem para a Europa onde iria par-ticipar na Conferência de Paz de Paris. Embora Wilson acedesse a aproximar a rota do navio passando ao largo de Ponta Delgada a 10 de Dezembro de 191860, o comandante norte-americano da Base Naval de Ponta Delgada acreditava que, no regresso da Europa, o presidente dos EUA passaria dois ou três dias nas ilhas dos Açores, o que como se sabe não se verificou. Mas nessa altura, em Junho de 1919, o almirante Dunn já tinha sido substituído no comando da base naval e já se encontrava nos EUA.

Nessa visita a Lisboa, a Legação dos EUA ofereceu um jantar em honra do comandante da base naval dos Açores, em que

58 Século, 5 de Janeiro de 1919, entrevista do Almirante Dunn.

59 Entrevista do Almirante Dunn, idem.

60 William F. Doty, Esboço Histórico do Consulado Americano nos Açores, Horta, Núcleo Cultural, 2006, p. 37 e 65.

Page 74: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[72]

JOSÉ MEDEIROS FERREIRA

esteve presente, entre outros, José Bruno Carreiro, referido como secretário-geral do governo civil de Ponta Delgada, na nota de reportagem do jornal Século de 7 de Janeiro de 1919.

O Presidente norte-americano Wilson seria o primeiro a atra-vessar o Atlântico no sentido contrário à corrente migratória e a visitar a Europa, deslocando-se a Londres, a Roma e a Paris, sempre no meio de grande entusiasmo europeu e perante as maiores reticências da opinião pública norte-americana que não percebera a viagem do seu Presidente para fora do seu territó-rio… É natural que ao dar-se conta disso ele tivesse pressa em regressar, e mal terminou a Conferência de Paz ei-lo que atravessa o Atlântico sem parar, já preocupado com a recepção em casa.

A tendência isolacionista dos EUA vai manifestar-se logo após o fim da Conferência de Paz no Verão de 1919, com o desman-telamento da Base Naval de Ponta Delgada em Setembro. Washington cumpria assim escrupulosamente o acordado em Outubro de 1917 com o governo português. Não tinha ainda chegado o tempo das bases permanentes, para além das con-quistas de posição em Cuba, ou nas Filipinas, como decorrência da outra guerra com uma potência europeia, a guerra hispano- -americana de 1898. Os EUA iriam ver o mundo evoluir de longe entre as duas guerras.

Os EUA não deixaram no entanto de outorgar uma certa autonomia às Filipinas em 1916, e nos Açores observava-se com atenção o que sucedia àquele arquipélago asiático.

Ainda a 12 de Fevereiro de 1933, o Correio dos Açores trazia uma notícia na primeira página intitulada “A Questão da Inde-pendência das Ilhas Filipinas”, a propósito da apresentação de uma Moção no Congresso norte-americano para ser outorgada a independência àquele arquipélago, o que só aconteceria em 1946. O jornal dirigido por José Bruno Carreiro começava por acentuar que “o desejo de liberdade e de autonomia é inato nos povos como nos indivíduos”61.

61 Correio dos Açores, 12 de

Fevereiro de 1933.

Page 75: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[73]

JOSÉ BRUNO CARREIRO, O ALMIRANTE DUNN, E O PRESIDENTE WILSON: O TRIÂNGULO QUE NUNCA EXISTIU?

Todavia o maior sinal de que os EUA vão iniciar o seu pró-prio “esplêndido isolamento” oceânico no período entre-as-duas- -guerras será dado pela não ratificação pelo Senado do Tratado de Versalhes e do Pacto da Sociedade das Nações.

Logo em Julho de 1919, o Tratado de Paz e o Pacto da SDN que o incorporava são submetidos à ratificação do Senado maio-ritariamente republicano desde Novembro de 1918. O resto é conhecido. Levantou-se um coro de protestos nos EUA contra Versalhes: os americanos de origem alemã, porque este mutilava a antiga pátria, os de origem italiana porque os aliados não tinham cumprido as promessas com que aliciaram Roma a entrar na guerra, os de origem irlandesa porque a Grã-Bretanha não fora constrangida a dar à Irlanda a independência plena. O Tratado não foi ratificado e o Partido Democrático sofrerá uma pesada derrota nas eleições de 1920 em que é eleito presidente dos EUA a figura apagada de Harding que se remete ao Con-gresso para governar.

Desapareciam assim os possíveis pontos de apoio para uma política transatlântica. Chegara, para ficar, o isolacionismo norte- -americano. O Atlântico fora adiado. Quando José Bruno Car-reiro assume a direcção do Correio dos Açores no início dos anos vinte os dados internacionais já estão lançados…

E o seu apelo em forma de título “Se a Madeira quisesse” em 1922 já se insere na consciência da falta de apoios suficien-tes a nível internacional. Daí o recurso à Madeira.

O II Movimento Autonómico numa perspectiva comparada

O segundo movimento autonomista irá então ser condicionado mais por factores decorrentes da comunidade política portuguesa, lato senso, do que pelas circunstâncias internacionais.

Page 76: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[74]

JOSÉ MEDEIROS FERREIRA

De entre essas condicionantes avulta a da desagregação polí-tica da I República, já tratada por vários autores. Menos referido tem sido o contexto da evolução noutros territórios, como Angola e Moçambique, no período de entre-as-duas-guerras e por isso vou dedicar-me um pouco mais a esse tema, pois ele não deixou de ter uma dimensão internacional e contaminava o debate político em Portugal, com as polémicas que envolveram Norton de Matos, Cunha Leal, Brito Camacho, e os congressos coloniais de 1924 e de 1930.

Nem o que se passava então nas colónias seria desconhecido dos principais animadores das correntes autonomistas e regio-nalistas nos Açores.

Um protagonista do partido regionalista, como o oficial da Armada Filomeno da Câmara Melo Cabral, que foi governador de Timor de 1911 a 1913, candidato a deputado pelo partido regionalista pelo Círculo de Ponta Delgada em Novembro de 1925, animador dos golpes de Estado de 1925 e de 1926 que deram por finda a República Parlamentar, administrador colonial experimentado em Angola onde chegou a ser nomeado Alto- -Comissário antes de o cargo ser extinto por Salazar em 1930, estaria certamente ao corrente das tendências autonomistas em África.

Desde logo com a criação dos Altos-Comissários da República em 1920, uma decorrência directa da influência inglesa durante a Conferência de Paz em Paris e das entrevistas de Afonso Costa com Lord Milner na Primavera de 191962 e, depois, com a nomeação de Norton de Matos para Angola e de Brito Cama-cho para Moçambique, desencadeiam-se movimentos autono-mistas e descentralizadores naqueles territórios, uns apoiados nos Altos-Comissários, outros organizados contra eles.

Pode, aliás, detectar-se na nomeação de um Alto-Comissário para os Açores, em 1918, um sinal precursor dessa figura polí-tico-administrativa para os territórios ultramarinos.

62 Ver José Medeiros Ferreira,

Portugal na Conferencia de

Paz, ob. cit., pp. 30-32.

Page 77: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[75]

JOSÉ BRUNO CARREIRO, O ALMIRANTE DUNN, E O PRESIDENTE WILSON: O TRIÂNGULO QUE NUNCA EXISTIU?

Mas o que mais relevou para o estado de espírito sobre os territórios coloniais, ou não-autónomos foi sem dúvida o novo direito público internacional ínsito no Pacto da SDN. Com efeito, o Pacto da SDN introduziu uma nova hierarquia de objec-tivos na administração desses territórios, no seu art.º 22.º sobre a nova figura internacional dos Mandatos, que passou a orien-tar a evolução do direito público internacional sobre os territó-rios não-autónomos, assente no consentimento das populações e na preparação destas para a independência. Era ainda a filo-sofia norte-americana e que obrigou Portugal a adaptar-se ais novos tempos.

O período entre o fim da guerra e a publicação em Portugal do Acto Colonial em 1930 assistiu a grandes debates sobre a melhor maneira de governar esses territórios, ainda num clima de relativa liberdade de expressão.

Assim, em Angola, vão fervilhar os movimentos autono-mistas e emancipalistas logo depois da I Guerra Mundial. Em 1918, os colonos protestaram, bloquearam estradas, destruindo pontes e ameaçando revoltar-se, enquanto uma greve de tra-balhadores angolanos teve um forte impacto na economia em 1920. Nesse ano de 1920 aparece o partido Pró-Angola, e em 1926 a União dos Defensores de Angola, movimentos emanci-palistas.

Para esses movimentos de colonos europeus, a solução pas-saria pela aplicação do modelo britânico do self-government tal como se estava a defender nos Açores…

A crise de Angola provocara o ressurgimento da tendência autonomista entre uma parte dos colonos angolanos. […] A solução passava, portanto, pela aplicação do modelo britânico do self-government (governo próprio)… Neste sentido os colo-nos mais radicais organizaram-se em partidos e movimentos políticos autonomistas, nomeadamente o Partido Pró-Angola e a União dos Defensores de Angola”. O Partido Pró-Angola

Page 78: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[76]

JOSÉ MEDEIROS FERREIRA

defendia num dos seus manifestos que “tendo consciência de que a autonomia administrativa e financeira, concedida na conformidade das bases orgânicas, não satisfaz já as aspirações legítimas de Angola […] defende e trabalha pelo estabeleci-mento de uma autonomia branda no sistema britânico do self-government, […] Reivindica para Angola o direito de pos-suir uma constituição privativa dentro dos princípios genéricos da CRP, na qual serão ressalvados e garantidos os direitos de soberania de Portugal e dado à colónia o direito de prover ao seu governo”63.

Em Moçambique também surgiram propostas de autonomia, descentralização, e até as teses regionalistas. Em Moçambique será o próprio ex-Alto-Comissário Brito Camacho (1921-1924) que, ferido pela aspereza do movimento autonomista dos colo-nos contra ele, escreverá em 1924: “A principal obrigação da metrópole em relação às suas colónias é preparar a sua emanci-pação. Uma colónia que não tende para a sua emancipação é uma terra escrava. […] O termo natural da evolução duma colónia, mais rápida ou demoradamente, conforme as suas cir-cunstâncias é a sua emancipação”64.

É também a época da realização de muitos congressos regio-nalistas e coloniais em Portugal, como o Congresso Colonial de 1924, o Congresso Colonial de 1930, a exposição colonial no Porto de 1934, a exposição do mundo português de 1940, e o Congresso Açoreano realizado em Lisboa em 1938 por iniciativa da casa dos Açores.

O percurso da evolução política em Portugal continental irá secar essas aspirações emergentes e frágeis do período imediata-mente posterior ao fim da I Guerra Mundial. O golpe de Estado de 28 de Maio de 1926, e sobretudo a ascensão de Salazar no interior da ditadura a partir de 1928, serão decisivos para o fim das correntes emancipalistas. Irão então florescer – como suce-dâneo? – as teses regionalistas.

63 Ver Fernando Tavares Pimenta,

Brancos de Angola – Autonomismo e Nacionalismo

(1900-1961), Coimbra,

Minerva, 2005, pp. 100-101.

64 Brito Camacho, Política Colonial,

Lisboa, Ed. Cosmos, 1936, p. 11.

Page 79: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[77]

JOSÉ BRUNO CARREIRO, O ALMIRANTE DUNN, E O PRESIDENTE WILSON: O TRIÂNGULO QUE NUNCA EXISTIU?

Conclusão

José Bruno Carreiro navegará depois da I Guerra Mundial entre a autonomia e o regionalismo, falhados os pressupostos interna-cionais e nacionais em que assentou a sua acção entre 1918 e 1919, nomeadamente o apoio norte-americano e uma evolução para o self-government nos territórios ultramarinos portugueses.

Haverá certamente alguma diferença específica entre o movi-mento autonómico e o movimento regionalista, embora eles se confundem e confluem no propósito de alteração partidária da República Parlamentar.

Como escreveu um estudioso na matéria: “Regionalismo, identidade açoriana e reivindicação autonomista trilhavam, pois, na generalidade, caminhos convergentes nestes agitados tempos de contestação à política da I República”65.

Porém enquanto o movimento autonomista muito padecerá com o regime da ditadura, já o sobrevivente regionalista há-de conformar-se com o espaço cultural assinalado pela evolução política do salazarismo.

Enquanto o movimento autonómico luta pelo governo pró-prio e pela descentralização política, numa crítica acentuada à república parlamentar e à sua instabilidade final, já o regiona-lismo vê chegar as ditaduras militar, nacional e salazarista refu-giado numa diferença específica, mais cultural do que política.

Tudo isto terá influenciado o movimento autonomista e regio-nalista que se afirma no arquipélago, e sobretudo em S. Miguel e na Terceira, nas décadas de 20 e 30, e que culminará com o Congresso Açoriano realizado em Lisboa em 1938, já no entar-decer das suas propostas.

Caída a I República parlamentar, muda o panorama político, muda a linguagem, adaptam-se os objectivos. O possível apoio internacional à autonomia já desaparecera nesse período de entre- -as-duas guerras.

65 Carlos Cordeiro, “Regionalismo e Identidade Açoriana – O debate dos anos 20”, in Suplemento Açoriano de Cultura, ed. do Correio dos Açores de 9 de Março de 1995.

Page 80: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[78]

JOSÉ MEDEIROS FERREIRA

Fontes

AD-MAE, Conférence de la Paix. Série A, Paix, Travaux Préparatoires de la Conférence, 299, Politique des Petites Nations Alliées, nota da Direction des Affaires Politiques et Commerciales, (doc. 78).

Correio dos Açores, 11 de Outubro de 1925.Correio dos Açores, 12 de Fevereiro de 1933Jornal Século, 5 de Janeiro de 1919.Jornal A Persuasão, 1898.

Bibliografia

CAMACHO, Brito, Política Colonial, Lisboa, Ed. Cosmos, 1936.CARREIRO, J. Bruno, A Autonomia Administrativa dos Distritos das Ilhas

Adjacentes, Ponta Delgada, 1952.CORDEIRO, Carlos, “Regionalismo e Identidade Açoriana – O debate dos

anos 20”, in Suplemento Açoriano de Cultura, ed. do Correio dos Açores de 9 de Março de 1995.

Diário dos Açores, 4 de Abril de 1898, citado por Nélia Leitão in Reflexos da Guerra Hispano-Americana em Portugal, trabalho apresentado na disciplina “Diplomacia e as Relações Euro-Atlânticas”, orientado por José Medeiros Ferreira, Mestrado de Relações Internacionais, Universidade dos Açores, 2007.

DOTY, William F., Esboço Histórico do Consulado Americano nos Açores, Horta, Núcleo Cultural, 2006

FERREIRA, José Medeiros, Cinco Regimes na Política Internacional, Lisboa, Ed. Presença, 2006.

___, “A Importância do porto de Ponta Delgada, na I Guerra Mundial”, in Açoriano Oriental, Suplemento, 500 Anos do Conselho de Ponta Delgada, edição de 19 de Julho de 1999.

___, “Os Açores nas duas guerras mundiais”, in Boletim do I. H. da Ilha Terceira, vol. XLV – 1987, Angra do Heroísmo, 1988.

___, “O Mar dos Açores nas duas guerras mundiais”, in Revista de História e Teoria das Ideias, Vol. XI (2.ª Série), Lisboa, UNL, 1999.

KENNAN, Georges, American Diplomacy, The University odf Chicago Press, 1984.

Page 81: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[79]

JOSÉ BRUNO CARREIRO, O ALMIRANTE DUNN, E O PRESIDENTE WILSON: O TRIÂNGULO QUE NUNCA EXISTIU?

MAURÍCIO, Miguel, A Base Naval em Ponta Delgada em 1917, trabalho para o seminário “Diplomacia e Política Externa Euro-Atlântica”, orientado por José Medeiros Ferreira, no Mestrado em Relações Internacionais da Universidade dos Açores, Policopiado, 2007.

MESQUITA, Mário, “A Escala de Roosevelt nos Açores Durante a Primeira Guerra Mundial”, in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, volu-me XLIV. Ano de 1986.

MENEZES, Luís, As Eleições Legislativas de 1921 e 1925 no Arquipélago dos Açores, s.l., SREC, 1992.

PIMENTA, Fernando Tavares, Brancos de Angola – Autonomismo e Nacionalismo (1900-1961), Coimbra, Minerva, 2005.

TELO, A. José, Os Açores e o Controlo do Atlântico, Lisboa, Ed. Asa, 1993.

Page 82: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais
Page 83: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[81]

A POLÉMICA SOBRE O DESTINO DOS AÇORES NO PERÍODO 1918-19

Álvaro Monjardino

Antecedentes

Implantado em Portugal em 1832, o Constitucionalismo trazia soluções político-administrativas originadas na Revolução Fran-cesa, mas em esquemas napoleónicos, e tudo isto caiu sobre umas ilhas açorianas impreparadas por falta de adequada evo-lução sócio-económica. A mudança, que em qualquer caso o era, não deixou de operar uma reviravolta social. Ao desmoro-namento da antiga nobreza fundiária sobreviveram algumas fortunas melhor geridas; paralelamente surgia um relativo flo-rescimento comercial, urbano, a que não eram alheios elemen-tos não açorianos, alguns mesmo estrangeiros, que no Arquipélago residiam e mercadejavam. O novo regime, todavia, descurou uma organização política adequada para as ilhas que, implicitamente equiparadas ao continente português, se viram agrupadas em três distritos directamente dependentes de Lisboa. Resultado da má-vontade contra o centralismo da extinta Capi-tania-Geral, a modificação vinha afinal com um toque de per-versidade, pois somente o deslocou de Angra para Lisboa. Em nome da liberdade que propugnava e efectivamente trouxe, o novo regime coibia-se dos anteriores proteccionismos económi-cos – enquanto essa mesma liberdade, que era também de pen-samento e de expressão, deixava campo aberto (e fácil de seguir) ao sector crítico. A exploração deste acabaria, nos Açores, por chegar ao ponto da virtual rejeição nacional – que, inicialmente reagindo ao Iberismo de meados do século XX, exprimia também

Page 84: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[82]

ÁLVARO MONJARDINO

(e sobretudo) o desejo de qualquer outra coisa que não fosse a sujeição a um Portugal desorganizado e sem progresso.

O tema, desconhecido até então das especulações públicas, nem se podia dizer inteiramente novo. Já em 1653 a hipótese

de um afastamento dos Açores em relação ao Reino se havia colocado, embora de maneira ainda bastante oblíqua66; e, um século volvido, António Cordeiro, argumentando contra a hipó-tese de um possível governador-geral no arqui-pélago, chegara a sugerir que este “podia tentar-se alguma hora em se levantar com tais ilhas debaixo da protecção de alguma nação estrangeira, que o faça delas rei feudatário, e o estimará muito, e facilmente o defenderá, e será quase impossível a Portugal o conquistá-las”67. Assim se começara a brandir, como argumento para qualquer solução autonómica, um risco de separação – e, curiosamente, não tendo como agente qualquer açoriano mas sim um estranho, vindo de fora: esse é que poderia sentir a tentação e cair nela… Mas brandia-se com extremo cui-dado68. Foi realmente precisa a revolução liberal para se acabarem estas cerimónias e cautelas. Os tempos eram realmente outros: no Novo Conti-nente, a emancipação dos Estados Unidos, rebe-lando-se contra o rei e o parlamento, contagiara as outras colónias americanas – e sucessivamente foram acedendo à independência o Haiti em 1804, a Argentina em 1808, o México em 1810, o Chile em 1818, a Colômbia em 1819, o Peru em 1820, a Venezuela, o Equador e as repúblicas da América Central em 1821; finalmente, o Bra-sil em 182269. Mas, a par disto, havia mais. Em

66 Sibilina mas sintomática foi a

resposta dada pelo procurador da

Câmara de Angra a D. João IV, nas Cortes de 1653,

em face da pretensão real de

nomear um governador-geral

para o arquipélago. O rei argumentava que

sem esse governador os Açores seriam

“uma bicha de tantas cabeças

quantas suas ilhas eram”. O

procurador respondeu: “A

bicha que nasceu e se criou com

muitas cabeças, se lhe cortarem as

mais e lhe deixarem uma só,

ou morrerá ou mudará de vida; e que pois assim as

ilhas foram tão fiéis a Coroa de

Portugal, não (se) sabia o que fariam

se de outra sorte as quisessem

governar” (Antº Cordeiro, Historia Insulana das Ilhas

a Portugal Sujeytas no Hemisfério

Occidental, § 137, p. 294.

67 Antº Cordeiro, História

Insulana…, cit., Lº IX, cap. XVI,

§ 96, p. 513.

68 De facto, na sua “protestação

politica”, Cordeiro cuidou de

ressalvar que “quando em

algumas partes deste livro

representa ao sereníssimo rei e

senhor nosso algum outro

género de governo, político, militar, de mar e

terra, é só uma humilde proposta,

que os soberanos príncipes estimam

ouvir a seus vassalos, que

sempre devem estar prontos a

ouvir e aceitar as leis dos seus

soberanos”, (Ibid., p. iij).

69 A Bolívia declarou-se

independente em 1825. Cuba só se

revoltou muito mais tarde (1868)

iniciando uma longa insurreição

que envolveu Porto Rico e só

terminaria com a ocupação militar norte-americana

em 1898, a que se seguiu, só em 20

de Maio de 1902,

Page 85: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[83]

A POLÉMICA SOBRE O DESTINO DOS AÇORES NO PERÍODO 1918-19

1813 publicava-se em Londres a History of the Azores or Western Islands, um pequeno livro que, sobretudo pelo tipo de razões que desenvolvia, serviu para compendiar e sistematizar, durante mais de um século, todos os descontentamentos açorianos. O seu autor, capitão de granadeiros da Royal Navy, dizia escrever em prol da coroa britânica, interessada em bases atlânticas para a conquista económica, que de facto ia empreender, dos novos países da América do Sul. O livro provocou reacções negativas nos Açores70. Mas a Corographia Açorica de João Soares de Alber-garia e Sousa apropriou-se, como depois muitos outros se apropriaram, da maior parte dos argu-mentos ali expostos. Fê-lo, porém, com uma nuance – pois a posição emancipalista da Coro-graphia, tomando embora as premissas do livro, não chegava exactamente à mesma conclusão. Certo, insistia-se na necessidade de separar os Açores “do orgulho e do desprezo metropoli-tano”, para se tornarem “livres e independentes e seguros com o escudo protector de uma nação poderosa”71. Só que o protector preconizado era a América anglo-saxónica, não a Inglaterra – algo do Novo Mundo, já não do Velho…

Este sentido de rejeição quanto a um Portugal desorganizado e medíocre iria, de algum modo, acompanhar a classe pensante dos Açores durante o século XIX, traduzindo uma atitude de distan-ciamento quanto ao Estado (no caso, ainda a Coroa) que todavia não correspondia a um sentido novo de Estado restrito ao arquipélago. Era o sepa-ratismo que, exprimindo sobretudo o repúdio por uma realidade nacional em permanente crise, se inclinava no sentido de mudar de tutela, não de uma total independência política72.

a independência. Os Estados Unidos conservaram Porto Rico, primeiro como colónia, depois como “estado livre associado”.

70 João Augusto Cabral de Melo, “Resposta dos habitantes da ilha Terceira ao capitão de granadeiros T. A., e a sua História das Ilhas dos Açores”, publicada por J. G. Reis Leite, com uma introdução, in 1.º Simpósio Interdisciplinar de Estudos Portugueses – Actas, vol. II, 289 e ss.: “Dimensões da Alteridade nas Culturas de Língua Portuguesa – O Outro”; F. Borges da Silva, “Extracto da

História das ilhas dos Açores, impressa em Londres, em 1813, e refutação das falsidades ali publicadas: ou a impostura do capitão T. A. desmascarada», in Arquivo dos Açores, IX, 484 e ss.

71 Corographia…, cit., 27, 38 e 38; refere expressamente a History of the Azores, identificando o seu autor como Thomas Adson.

72 Cf. «A Emancipação dos Açores», de Francisco José da Silva Jr. (1871). O movimento teve mesmo eco em Eça de Queirós: “os Açores, inquietos, começam a dizer que não seria mau tentar os Estados Unidos! O país ataranta-se e, para lisongear os Açores, manda-lhe mais desembargadores”. (“Uma campanha alegre”, XVIII, Julho de 1871). Ainda em 1892, António Ávila Gomes (picoense, pai de Amaro Azevedo Gomes, que foi o

Page 86: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[84]

ÁLVARO MONJARDINO

A tentação americana era, de resto, antiga. Praticamente coeva do povoamento europeu do Novo Mundo, ganharia porém um fôlego diferente com as aquelas sucessivas indepen-dências que iriam ali reduzir a Europa a uma presença política residual. Este novo fôlego alimentava também ilusões sobre os Açores e os seus recursos. “Os Estados dos Açores”, escreveu Albergaria e Sousa, “compreendem as nove ilhas d’América”, e assim por diante, afirmando a enormidade do território, “supe-rior a 600 léguas quadradas”, mais do que qualquer província de Portugal, e a grandeza das metrópoles locais – Angra “maior que Berna, capital suíça e mais forte que Santa Cruz de Tene-rife”, Ponta Delgada “superior a Genebra”, e até a Horta “superior a Ragusa” (Dubrovnik) que Albergaria supunha ser ainda, como de facto fora, centro de uma república indepen-dente73. Só a partir da segunda metade do século XIX é que aquela atracção inicial, a princípio difusa, depois incidindo principalmente no Brasil, se foi fixando na força centrípeta dos Estados Unidos, que gradualmente se afirmavam como a grande potência do continente ocidental. Era a terra de abundância, o país donde viera a família dos Dabney, que mandavam no Faial, que haviam recebido em sua casa o imperador D. Pedro, que faziam chegar milho em navios seus quando havia fomes, que até sabiam ganhar dinheiro com os negócios de mar… Porventura devido a isto, a atracção especificamente norte-americana começara entre os faialenses74, com algum eco em São Miguel, onde o cônsul Thomas Hickling gozava também de prestígio social.

Em Junho de 1869 houve desordens na Ribeira Grande rela-cionadas com a crise económica que se vivia nos Açores – e com eco em Londres, onde chegaram a ser referidos pelo Daily Mail. Na imprensa da Horta já então se escrevia que a causa de tudo isso era “o desgosto dos povos pelo modo como têm sido tra-tados pelos governos. O senhor ministro da fazenda ignora que

1.º ministro da Marinha da República)

publicava em Angra um escrito

separatista, “A independência dos

Açores e o seu fundamento”.

73 Corographia…, cit., pp. 8, 9, 61,

87, 113.

74 Já em 1869 o governador civil

do distrito da Horta, António

Vieira Santa Rita afirmava, em

relatório para o ministério do

Reino e que foi divulgado naquela

cidade por O Faialense a partir de 11 de Janeiro do ano seguinte:

“Nos Açores e especialmente nas

quatro ilhas do distrito da Horta

existe um lamentável e feio

indiferentismo com relação aos

destinos de Portugal.

Geralmente a opinião mostra-se

desafecta e descontente, sendo trivial

ouvir-se que estas ilhas só são

portuguesas para que as autoridades

lhes venham da capital e vão para

Page 87: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[85]

A POLÉMICA SOBRE O DESTINO DOS AÇORES NO PERÍODO 1918-19

dos Açores se têm retirado abundantes recursos para os melhoramentos da metrópole, que se venderam os bens nacionais, cujo produto, devendo ser aplicado nos nossos portos, foi des-viado para os caminhos-de-ferro portugueses (…): a ruína de populações importantes e labo-riosas como as insulanas importará necessaria-mente para Portugal, a perda dos Açores. (…) os povos insulanos é que não estão cegos e cedo ou tarde reclamarão os seus direitos”75.

Entretanto, acabada em 1865 a guerra da secessão, os Estados Unidos haviam aberto as suas portas a imigração europeia76. E não tarda-riam muito, em nome da doutrina de James Monroe, a afirmar o seu poder intervindo a favor da rebelião cubana contra o domínio espanhol. Num estudo sobre Alice Moderno77, Maria da Conceição Vilhena transcreve, duas cartas de Francisco Sellen, com quem aquela se correspon-dia, as quais demonstram, pelo menos, a simpa-tia solidária com que, no fim do século XIX, se acompanhava no arquipélago a rebelião cubana e se faziam dela paralelos com as lutas autonó-micas travadas nos Açores78. Lê-se numa delas, de 1895: “No he recibido los folletos que ofreció a Ud. el Dr. Alverne de Sequeira. Se los agrade-cería infinitamente, pues podrán ser muy útiles à los autonomistas cubanos, qué son amigos míos, à quienes deseo servir, aunque soy más radical que ellos en mis ideas, puesto deseo para mi patria la independencia absoluta. (…) Desde hace 7 meses hay en mi patria, Cuba, una insur-rección contra el Gobierno español. Los patrio-

Lisboa as sobras dos rendimentos públicos. Enquanto se nota este esfriamento com a mãe-pátria, o contacto em que esta população se acha com os Estados Unidos da América, em consequência da nossa emigração para aquele país e do número considerável de indivíduos que embarcam nos navios baleeiros daquele grande nação, e de outras diversas, tem insinuado lentamente a crença de que os Açores seriam mais felizes se formassem um estado daquela confederação”. E em O Atlântico, também do Faial, afirmava-se a 3 de Fevereiro de 1870: “a dependência em que se acham actualmente da metrópole os negócios, ainda os mais insignificantes, e a centralização administrativa que Lisboa mantém com inalterável firmeza, levam a crer que somos um país conquistado e estamos debaixo de uma tutela despótica”.

75 O Atlântico, 24 de Junho de 1869.

76 “…give me your tired, your poor / Your huddled masses yearning to breathe free / The wretched refuse of your teeming shore. / Send these, the homeless, tempest-tossed, to me…”, (do poema de Emma Lazarus, transcrito no pedestal da estátua da Liberdade, em New York).

77 Este estudo não está incluído na biografia de Alice Moderno, de 1986. Trata-se de outro trabalho de M. C. Vilhena que li em 1991, ainda inédito, e que não sei se chegou a publicar-se.

78 Em 1895, na sequência da campanha pró- -autonomia que teve como figuras maiores Aristides da Mota e Gil Mont’Alverne, o decreto de 2 de Março abrira a possibilidade de autonomia administrativa aos distritos açorianos que o solicitassem. Seis anos volvidos, a visita régia aos Açores vinha

Page 88: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[86]

ÁLVARO MONJARDINO

tas cubanos luchan por la independencia absoluta. No queremos tener unida nuestra suerte à la de una nación tan retrógrada y atrasada como España”. O liberalismo romântico de Alice Moderno, casado com a religião do progresso, vibrava com a emancipação cubana e até, pelos vistos, lhe sobreviveu. De facto, ainda em 1914 a vemos afirmar, num discurso que Conceição Vilhena também recolheu: “Se foi o mestre-escola quem venceu em Sédan, certo é também que foi a obrigatoriedade do ensino, severamente observada nos Estados Unidos, que forçou a Espa-nha, tradicionalista e fanática, a curvar-se em Cuba perante as estrelas triunfantes da bandeira da grande república norte-ame-ricana”. As simpatias de Alice Moderno foram ao ponto de, em 1918, publicar um poema de solidariedade com o ex-presidente Theodore Roosevelt quando lhe morreu uma filha79. Nesta aten-ção açoriana à Hispano-América, os Estados Unidos apareciam como os grandes paladinos das colónias libertadas: já assim suce-dera com o México de Juarez em 1863 e, claramente em proveito próprio, com a sua acção na guerra contra a Espanha, que de facto lhes deixara nas mãos Cuba e Porto Rico80, nas Caraíbas. Cada vez parecia mais, nos Açores que a luz vinha… do Oci-dente.

Simultaneamente e do lado português, tinham sido relativa-mente magros os frutos do decreto de 3 de Março de 1895, que possibilitara alguma autonomia administrativa aos distritos aço-rianos. O colapso da monarquia, em 1910, não trouxera por seu turno alterações institucionais à governação dos Açores – e o estado geral do país depressa levou os líderes autonomistas a verem na República uma fonte de vergonhas e um clube de incapazes, quando não energúmenos, mau grado a presença de açorianos em lugares de alta responsabilidade política, sobretudo nos primeiros tempos do novo regime81.

Os episódios da I Guerra Mundial com incidência nos Aço-res fariam simplesmente convergir, potenciando-as, aquelas duas

apoiada na carta de lei de 12 de

Junho, que confirmava (com

alguns retoques restritivos) as possibilidades autonómicas,

alargando-as já então ao

arquipélago da Madeira.

79 Diário dos Açores, 31 de

Julho.

80 Os Estados Unidos

conservaram Porto Rico, primeiro como colónia,

depois como “estado livre

associado”. Em 3 de Março de 1917 o presidente Wilson assinou o Jones Act,

concedendo aos habitantes desta ilha, por decisão do Congresso, a cidadania norte- -americana. Não

terá sido coincidência a

entrada dos Estados Unidos na

1.ª guerra mundial: logo em

Maio seguinte, estabelecia-se o serviço militar

obrigatório dos porto-riquenhos, cuja mobilização

veio a atingir 20 000 homens.

81 Teófilo Braga e Amaro de Azevedo

Page 89: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[87]

A POLÉMICA SOBRE O DESTINO DOS AÇORES NO PERÍODO 1918-19

ordens de antecedentes e as suas consequências em termos de separatismo.

1917

Portugal entrara no conflito mundial em Março de 1916. Em Junho de 1917 os Estados Unidos da América, que haviam declarado guerra à Alemanha em Abril desse ano, começaram a instalar um depósito de carvão para abastecimento da sua marinha no porto de Ponta Delgada82. Logo no dia 4 de Julho seguinte apareceu um submarino alemão ao largo da cidade e abriu fogo contra ela, num ataque a que as baterias de costa portuguesas mal conseguiram responder. E foi do Orion, um navio norte-americano que trouxera aquele primeiro carrega-mento de carvão e estava a ser reparado com a ré soerguida, que se ripostou com eficácia ao submarino com uma peça de tiro rápido que havia a bordo83. O episódio, que ainda nesse mês levou a um reforço da guarnição norte-americana em Ponta Delgada, deu origem a uma admiração exaltada pelas forças dos Estados Unidos ali presentes, logo vistas como a única garantia contra qualquer agressão externa. Foi imediato um voto de louvor da Junta Geral àquelas forças, a Câmara de Ponta Delgada abriu uma subscrição pública para a compra de uma prenda a oferecer ao comandante do Orion84 e, um escasso mês volvido, até se vendiam em Ponta Delgada cigarros de fabrico local com a marca Orion, o nome do navio salvador85. A imprensa local não foi menos eloquente, a partir de então, na denúncia da insegurança e do abandono em que a popula-ção se sentia por parte da administração portuguesa. A expres-são destes sentimentos ressalta de sucessivos números do Diário dos Açores do mesmo mês. Assim, já no dia 7 se censu-rava a mera existência de peças de tiro lento e se sugeria que,

Gomes no Governo provisório, Manuel de Arriaga (e depois também Teófilo) na Presidência da República, Sousa Júnior no recém-criado ministério da Instrução…

82 A instalação desta base fora autorizada… pelo governo britânico; e só no fim do ano – 8 de Novembro – o governo português lhe deu o consentimento formal. O processo é elucidativamente descrito por António José Telo, in Os Açores e o controlo do Atlântico, pp. 122 a 131.

83 O Diário dos Açores de 4 de Julho refere 8 tiros do submarino, 4 da bateria da Mãe de Deus e 15 de bordo do Orion.

84 Diário dos Açores, 5 e 6 de Julho.

85 Anúncio no Diário dos Açores, 21 de Agosto.

Page 90: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[88]

ÁLVARO MONJARDINO

para defesa da ilha, Portugal se entendesse com… os Estados Unidos. No dia 10 referia-se um protesto (telegráfico) para Lisboa dos parlamentares por Ponta Delgada: “população estra-nha compungida abandono necessária defesa”. No dia 13, sob o título “Que fazer?” o jornal insurgia-se contra a indiferença do Governo. No dia 14, noticiava-se que a Câmara de Ponta Delgada protestara junto do Governo Civil contra a inércia oficial. No mesmo dia, o jornal publicava “A defesa da ilha”, de Aires Jácome Correia, sustentando que não podia depender-se de navios estrangeiros, devendo comprar-se peças modernas, por subscrição pública. No dia 19 noticiava-se que a Câmara de Ponta Delgada alertara para a vulnerabilidade do paiol da pólvora, que punha em risco a população. No dia 20, um artigo intitulado “Urgência”, instava de novo por medidas de defesa. Mas a par disto a imprensa dava também conta do mal-estar oficial perante todas essas críticas. Uma manifestação de apreço às forças norte-americanas não chegou a realizar-se por pressão das autoridades locais, com imediata reacção no Diário dos Açores de 9 de Julho: “o cúmulo é ver-se, no que dissemos, que a manifestação ia fazer perante o estrangeiro um protesto con-tra a negligência que entre nós todos acusam”. Nos dias seguin-tes, a Câmara de Ponta Delgada tomou várias posições contra a inércia governamental, referidas no Diário dos Açores de 10, 11, 13, 14, 17, 19 e 20 de Julho Um artigo de Jacinto Eduardo Pacheco sobre “A conflagração mundial”, publicado no mesmo jornal a 27 de Julho, trazia toda uma coluna em branco, por intervenção da censura oficial. O nervosismo generalizado não terá sido também alheio a uma desordem entre locais e mari-nheiros americanos, curiosamente abortada graças a um tiro de canhão de bordo do Orion, a funcionar um pouco como toque de recolher86… E em 7 de Agosto o jornal anunciava estar demissionário o governador civil (António Rodrigues Sal-gado).

86 Diário dos Açores, 1 de

Agosto.

Page 91: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[89]

A POLÉMICA SOBRE O DESTINO DOS AÇORES NO PERÍODO 1918-19

1918

A partir de Janeiro de 1918 a base naval norte-americana em Ponta Delgada, já reestruturada e (finalmente!) autorizada pelo governo português, passou a ser comandada pelo contra-almirante Herbert Omar Dunn. A sua chegada foi um acontecimento de relevo, com a imprensa local a transcrever declarações do almirante numa entrevista que concedeu87. Dunn apercebeu-se logo dos sentimentos negativos quanto à capacidade das forças armadas portuguesas e do ostensivo bem-querer à presença norte-ameri-cana, de que provavelmente vinha já prevenido e que não provi-nha só dos tiros do Orion, do movimento trazido ao porto e da simples existência de uma guarnição: eram os meios e a eficácia que com aquela presença se afirmavam e se estenderam à distri-buição de víveres pela população e a outros serviços, ao ponto de, logo em Março, transportar elementos da polícia portuguesa chamada a acudir contra latrocínios que ocorriam em São Miguel88. Em Abril pedia-se publicamente ao almirante que navios ameri-canos trouxessem correspondência dos Estados Unidos. Durante o ano ocorreram outros actos em benefício da população, como o transporte de combustíveis e até de medicamentos para ocorrer à epidemia de gripe e, já no ano seguinte, até a Câmara de Ponta Delgada solicitava o transporte de contadores de energia eléctrica89. Sintomático da correlativa gratidão por todas essas benemerências é este poema em louvor “do almirante Dunn e das suas valorosas tropas”: “O povo micaelense, o povo açoriano / aplaude o vosso gesto, imensa bondade! / Sois uma raça nobre, ó povo americano! / Sabeis compreender a dor da Humanidade! / Na vossa força estranha e colossal riqueza / não esqueceis da alma a estrada do dever / a nossa gratidão, sentida, portuguesa, / por vós será eterna, eterna há-de viver!”90. No dia do feriado nacional norte-americano do 4 de Julho desse ano, por acréscimo primeiro aniversário do ataque do submarino alemão, esta exaltação voltou a ter eco nos

87 Diário dos Açores, 18 de Fevereiro.

88António José Telo, Os Açores e o controlo do Atlântico, Lisboa, Edições Asa, p. 142.

89 Cf. Diário dos Açores de 22 de Abril, sobre esse transporte de correspondência, e de 9 de Novembro, sobre os serviços devidos à acção do almirante Dunn durante essa epidemia. Até as notícias do levantamento monárquico de 1919 vieram por um rebocador norte-americano… O Diário dos Açores de 24 de Março de 1919 ainda refere que a Câmara de Ponta Delgada pedira ao almirante transporte para contadores de água.

90 Diário dos Açores, 18 de Abril de 1918.

Page 92: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[90]

ÁLVARO MONJARDINO

jornais – e até os funcionários públicos portugueses se viram dispensados de apresentação ao serviço, por se lhes haver conce-dido tolerância de ponto91…

O comandante da base norte-americana residia na antiga casa de Thomas Hickling que é hoje o corpo principal do Hotel de São Pedro. No seu número de 23 de Junho do ano seguinte, com a guerra já finda e até a base em vias de desactivação, a Ilustração Portugueza, publicada em Lisboa, mostrava ainda a fotografia dessa casa, designando-a como o “palácio do almiran-tado americano” – no que nada mais fazia, diga-se, do que repe-tir o que em São Miguel se lhe chamava… De facto, como estrutura administrativa ou militar não existe “almirantado” nos Estados Unidos nem em Portugal, e muito menos o era a casa do almirante. Mas, para a Ilustração e não só, era “o almirantado”. Como na Inglaterra. E a casa, engrandecida por isso, um “palá-cio”. Tal era a extensão do fascínio exercido por aquela presença estrangeira, assim já repercutido na imprensa de Lisboa.

Esse apreço pela presença norte-americana só reforçava a tendência de pôr em causa a pertença dos Açores a Portugal. Em 1918 as referências públicas a tal sentimento de rejeição são ainda poucas, e somente indirectas. Mas ele já existia – e o almirante Dunn não fez pouco por acalentá-lo, julgando decerto servir assim os interesses estratégicos do seu país no após-guerra, e isto apesar de contrário à diplomacia norte-americana – ao menos a que tinha expressão oficial92.

Onde os sentimentos separatistas se manifestaram aberta-mente foi na imprensa da imigração nos Estados Unidos, com juízos e afirmações explícitas e uma veemência que em São Miguel nunca chegou a exprimir-se, pelo menos em público. Mas o assunto afluía nas conversas e conciliábulos das élites locais. Sinal de que o almirante americano deve ter tomado a sério a tendência então manifestada foi o seu esforço, terminada a guerra, por que a base naval não fosse desactivada.

91 Diário dos Açores, 4 de Julho de 1918. Em 14 de Abril do ano seguinte, com o almirante já de partida, finda a

sua comissão, seria inaugurada uma placa com o seu

nome no largo junto à casa onde

funcionava o comando

americano.

92 O Diário dos Açores de 16 de

Abril dá conta de um banquete no

Governo Civil de Ponta Delgada, durante o qual

cônsul norte- -americano, num brinde, declarou

que a América não tinha

“desígnios ocultos” sobre os Açores.

Neste banquete os norte-americanos

presentes foram saudados, em

inglês, por José Bruno Tavares

Carreiro, secretário-geral do

Governo Civil.

Page 93: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[91]

A POLÉMICA SOBRE O DESTINO DOS AÇORES NO PERÍODO 1918-19

Passados mais de quarenta anos, num encontro ocorrido em 10 de Junho de 1959 entre elementos da Casa dos Açores do Rio de Janeiro e o ex-chanceler brasileiro Osvaldo Aranha, este contou que “o presidente Roosevelt lhe confidenciara que, a quando da guerra de 1914/1918 e Portugal cedera aos ameri-canos uma base naval na ilha de São Miguel, Açores, ele, Roo-sevelt, então (sub)secretário da marinha, fizera uma passagem e aí lhe fora solicitada uma entrevista por uma figura proeminente na política local, que pretendera recusar, mas que o almirante comandante naval americano na ilha o convencera a recebê-la. Nessa entrevista, o político açoriano dissera-lha que os açorianos – sentindo-se completamente abandonados pelo poder central, que somente os sobrecarregava de impostos sem atender às neces-sidades das populações – pretendiam separar-se de Portugal e integrar-se num novo estado da federação americana. Roosevelt recusou a oferta dizendo ser Portugal bom amigo da América e não lhe interessar tal assunto”93.

Quem seria essa “figura proeminente” da política local rece-bida por Franklin D. Roosevelt na sua passagem por Ponta Delgada, que efectivamente ocorreu em Julho de 1918? E teriam sido exactamente essas as suas palavras para o então subsecretá-rio da Marinha dos Estados Unidos e os propósitos que elas veiculavam? Não podemos afirmá-lo com certeza. Mas é intei-ramente plausível que se tenha tratado de José Bruno Tavares Carreiro, que mantinha estreitos contactos com o almirante Dunn94 – ao ponto o haver acompanhado, em Novembro de 1918, na viagem que ele fez a Londres e depois a Paris95. Com que fim? Segundo uma notícia publicada na Alvorada, de New Bedford, em 2 de Dezembro de 1918, e transcrita em O Impar-cial de Sacramento, Califórnia, em 9 de Janeiro de 1919, “pre-sentemente vem esta questão [da independência açoriana] de novo à tela da discussão em vista de um despacho de Ponta Delgada informando que o almirante da base naval na ilha de

93 Testemunho de Marino Pamplona Corte-Real, em carta publicada no Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, XVIV (1986), pp. 505-507. Cf. também Douglas L. Wheeler, «The Azores and the United States: 200 years of shared history”, in Boletim cit., XLV, tomo I, 58/59, com citação de outro testemunho indirecto (este do embaixador Herbert C. Pell) do encontro em Ponta Delgada com Roosevelt. Mário Mesquita, in “A escala de Roosevelt nos Açores durante a primeira guerra mundial” (cit. Boletim, XLIV, pp. 37-67) não refere este episódio.

94 O Diário dos Açores de 19 de Julho de 1918, a par da notícia da passagem de F. D. Roosevelt, refere-se também ao almirantado americano e a elogios feitos a José Bruno pelo almirante Dunn.

95 O Diário dos Açores de 25 de

Page 94: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[92]

ÁLVARO MONJARDINO

São Miguel havia, acompanhado de José Bruno Carreiro, saído de Ponta Delgada para França onde iam assistir à conferência da paz e ali instar pela independência dos Açores de sorte a colocar aquele arquipélago sob o protectorado dos Estados Uni-dos, isto é, uma independência como a que foi concedida e desde há tempos goza a república de Cuba, a qual está sob a protecção dos Estados Unidos”96.

Tomava-se aqui, manifestamente, a nuvem por Juno… Desde logo, o almirante não ia assistir à conferência da paz – a guerra acabara apenas no dia 11 desse mesmo mês… – mas simples-mente encontrar-se com o almirante William S. Sims, coman-dante da Marinha americana na Europa, junto do qual, e isso já é exacto e está documentado97, defendeu a manutenção da base em Ponta Delgada. Sem êxito, aliás, porque, como ficou referido, a visão estratégica norte-americana era outra98: já então bem se sabia em Washington que, para Portugal, não era preciso tanto, além de sair muito mais barato… Mas estas subtilezas não pesavam nem talvez fossem mesmo conhecidas em São Miguel. O facto é que, seja como for, quando o almirante Dunn e José Bruno regressaram a Ponta Delgada em 10 de Janeiro de 1919, tiveram uma recepção triunfal99.

Entretanto, em 20 de Dezembro, o semanário O Popular de New Bedford, falava também de uma futura independência dos Açores, mas advertindo que “sendo um estado pequeno, preci-sado de uma protecção, carece de viver de acordo com uma nação forte. Esta nação está por todos os motivos indicada: é a América. Em troca da protecção e dos auxílios que a América prestar aos Açores, terá a América o direito à criação dos esta-belecimentos militares necessários à sua própria defesa e neces-sários ainda à manutenção de uma paz duradoura, conforme os planos das nações reunidas agora em conferência”. E logo no seguinte dia 27 acrescentava que, para isso, “o único meio será convocar o povo açoriano da América imediatamente e telegra-

Novembro noticia a partida, na

véspera, do almirante Dunn, para uma viagem

de um mês, levando em sua companhia José

Bruno, como convidado.

96 Texto transcrito por Luís da Silva

Ribeiro na sua conferência “Os

Açores de Portugal”,

proferida em Angra a 16 de

Março de 1919 e adiante referida.

97 A. J. Telo, Os Açores…, cit., pp. 154-156.

98 O Diário dos Açores de 28 de

Novembro refere “um interessante

artigo” sobre o livro de Alberto

Azevedo Vida americana; e que

uma “alta individualidade

política” dissera, numa entrevista, que “os Estados

Unidos jamais auxiliariam as

pretensões separatistas

mesmo que lhe fosse pedido pelos

habitantes dessas terras”.

99 A. J. Telo, Os Açores…, cit.,

p. 155, e notícias

Page 95: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[93]

A POLÉMICA SOBRE O DESTINO DOS AÇORES NO PERÍODO 1918-19

far ao Presidente e mais representantes da América em nome de todo esse grande número, manifestando-lhes os desejos de todos os açorianos a respeito da independência e da protecção americana, pedindo-lhes que na conferência da paz advoguem essa questão de suma importância para o nosso arquipélago”. A 29 de Dezembro era The Sunday Standard, também de New Bedford, a referir-se à independência dos Açores dizendo que “de facto, existe já uma campanha para torná-la efectiva em todo o país (…) Ao todo há cerca de 250 000 açorianos nos Estados Unidos, número quase igual ao número de habitantes das nossas ilhas que formam o arquipélago dos Açores no Oceano Atlântico. O propósito desta campanha é criar entre este número de pessoas uma solidariedade de sentimentos que se faça sentir como uma força impulsionadora da propaganda que se está fazendo nas ilhas para o conseguimento da independência daquele arquipélago”100.

Estava lançada a dinâmica separatista na comunicação social escrita. Porém o que pode chamar-se “polémica sobre o destino dos Açores” neste período só decorreria no arquipélago ao longo do ano seguinte.

1919

De facto, no dia 18 de Janeiro de 1919, o Açoriano Oriental transcrevia – com patentes cortes da censura denunciados por grandes espaços em branco no texto impresso – o artigo do Popular de New Bedford de 20 do mês anterior, onde se afirmava que os “Açores querem formar um estado”. Dois dias depois, o Boston Post, publicava um artigo intitulado “A Conferência da Paz decidindo o futuro dos Açores”, dando-o como provindo do seu correspondente em Ponta Delgada, e no qual se afirmava que “o apelo que os açorianos fizeram a autoridades americanas

do Diário dos Açores de Janeiro de 1919: preparação da manifestação, bandas de música no cais, chegada do almirante e de José Bruno com 8000 pessoas à espera, precisando-se que aquele fora homenageado com um jantar em Lisboa e condecorado com o grande oficialato de Avis (dia 10) e agradecimentos do mesmo à população (dia 13).

100 Artigos transcritos depois na imprensa de língua portuguesa na Califórnia, nomeadamente O Imparcial, de Sacramento.

Page 96: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[94]

ÁLVARO MONJARDINO

coloca os Estados Unidos numa posição delicada (…) A conti-nuarem as ilhas no seu presente estado como território português, nada mais nos espera do que a pobreza”101.

Uma semana volvida, o Açoriano Oriental, inseria um artigo de José Rebelo intitulado “Por Portugal e pelos Açores – verda-des amargas”, contrariando aquela posição independentista e insurgindo-se contra os queixumes locais quando, segundo o autor, a culpa dos atrasos e problemas que afligiam as ilhas era somente “de cá”. Este texto completava-se, a 1 de Fevereiro, com uma segunda parte, em que o autor afirmava: “nós o que queremos não é separar-nos de Portugal, é proclamarmos a nossa maioridade. Temos direito e queremos o respeito deles”.

Foi porém Luís da Silva Ribeiro, republicano assumido e ao tempo ainda ligado ao partido Democrático, a figura que mais forte e fundadamente se evidenciou no debate que então se esboçava. A sua primeira intervenção pública foi numa confe-rência proferida no dia 16 de Março na Associação de Classe dos Empregados de Comércio de Angra do Heroísmo e mais tarde editada em opúsculo com o título Os Açores de Portugal 102. A substância desta conferência é uma exposição séria e funda-mentada, embora não isenta de tom polémico103, das ideias de Luís Ribeiro sobre tal situação. Luís Ribeiro argumentava ali com a História das ilhas e os seus momentos mais altos, mas também com a cultura e com a interacção de açorianos e dos demais portugueses. Contrapunha a este quadro os interesses estrangeiros que, mesmo aparentemente favoráveis a uma inde-pendência, só a veriam como fonte de proveitos, designadamente militares. E, reconhecendo os problemas da sociedade açoriana, já então defendia a necessidade de leis adequadas e uma admi-nistração eficaz – do mesmo passo que criticava a “pequena autonomia administrativa” então existente sem se lhe verem grandes efeitos que não fossem “anichar amigos e compadres, afilhados e protegidos”.

101 Transcrito em O Democrata, de

Angra do Heroísmo, em 26

de Abril.

102 Posteriormente reproduzido in

Luís S. Ribeiro, Obras – II,

ed. do Instituto Histórico da Ilha Terceira (1982),

pp. 1 a 17.

103 …a que não são alheios o

comentário acerbo e um processo de intenções: o texto

publicado da conferência

transcrevia, antes ainda da

“Advertência”, os primeiros versos da 105.ª estrofe do canto I dos

Lusíadas sobre os emissários do rei

de Quíloa (O recado que trazem é de amigos /Mas debaixo o veneno vem coberto…),

agentes da cilada de que Vasco da

Gama só escapou graças à acção de

Vénus e do seu batalhão de nereidas…

104 “De tempos a tempos alguns

sonhadores destas ilhas levantam a

ideia da independência

açoriana, que por via de regra

Page 97: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[95]

A POLÉMICA SOBRE O DESTINO DOS AÇORES NO PERÍODO 1918-19

O mesmo tema continuaria a ser por ele abordado em suces-sivos artigos publicados em jornais de Angra – “O sonho da independência”104, “Um artigo interessante” e “Remédios para o mal”105 e ainda “Causas da ideia da independência”, em duas partes106. São sempre textos de quem, compreendendo as causas do descontentamento existente quanto ao poder central portu-guês, se recusava no entanto a alinhar nas consequências polí-ticas com pendor independentista, desde logo por força de algo como uma impossibilidade cultural, pondo em relevo como até se deturpava o próprio conceito de independência que, na ver-dade, nem se via ser o pretendido pelos separatistas mais arden-tes. O que estes de facto pareciam desejar e defender era, mais uma vez, uma mudança de dependência, a tal espécie de pro-tectorado – no caso, da grande nação norte-americana, à seme-lhança das últimas colónias espanholas da América.

Entrementes, o que fora o detonador da campanha indepen-dentista aproximava-se do fim, pois a desejada continuação da permanência norte-americana em Ponta Delgada não aconteceu nem, verdadeiramente, estivera alguma vez para acontecer. A 14 de Abril Herbert Omar Dunn deixava definitivamente Ponta Delgada. Em curso desde Janeiro desse ano, a desactivação da base naval norte-americana, comandada agora pelo almirante R. H. Jackson, sucessor daquele, completar-se-ia em Setembro seguinte. Foi, assim, a par deste desmantelamento – e também dos tempos turbulentos e das tensões políticas posteriores ao assassinato do Presidente Sidónio Pais em Dezembro anterior – que se desenvolveu nos Açores a polémica, melhor dizendo, a reacção aos fervores independentistas então expressos.

As posições mais articuladas começaram em Angra do Hero-ísmo, na sequência da que fora tomada por Luís Ribeiro. Jornal moderado, A União, em comentário de 16 de Abril a uma local de A Manhã de Lisboa intitulada “A independência dos Açores”, precisava que “o movimento separatista está a ser feito por sepa-

encontra fraca repercussão na opinião pública. Há cinquenta anos que isso sucede!” De resto, se uma “colónia é grande e próspera, se possui uma população suficiente e tem meios para viver por si, não sofre o domínio da mãe-pátria e separa-se; mas, faltando algumas destas condições de independência, a colónia não pode transformar-se num estado autónomo e, se porventura vier a transformar-se, será sempre um produto artificial e fraco, enfermiço e periclitante, destinado a perecer a breve trecho, sendo que só as colónias que constituem nações se podem transformar em estados” (in O Democrata, 29 de Março de 1919).

105 O Democrata, 12 e 19 de Abril de 1919.

106 Folha da Tarde, 7 e 8 de Abril do mesmo ano.

Page 98: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[96]

ÁLVARO MONJARDINO

ratistas, é verdade, mas residentes na América; e nos Açores é muito provável que haja quem lhe não desagrade [sic] a ideia, mas não se tem ela manifestado por qualquer forma, tendo em Ponta Delgada sido apreendido um jornal por ter transcrito, sobre o assunto, um outro da América; e isso, certamente, para dar conhecimento aos seus leitores como notícia deste movi-mento, mas não dando-lhes aprovação”. E a 26 de Abril o mesmo jornal inseria um protesto “contra a atitude de um suposto enviado do partido Democrático [referida em Lisboa por A Manhã do anterior dia 19] sobremaneira vexatória para os aço-rianos e principalmente os terceirenses”.

Entretanto, e em paralelo com a partida de Dunn, notava-se já também uma modulação na imprensa de Ponta Delgada, patente numa série de artigos do Diário dos Açores, o primeiro deles em 24 de Abril, com continuação a 25 e 26 desse mês, e a 2, 6 e 8 de Maio. O que nestes artigos então aparecia não era propriamente uma condenação do independentismo – era já mais uma superação, com base nas mesmas razões de queixa quanto ao poder central, mas crescente acentuação na ideia de uma autonomia ampla. Assim, a 24 de Abril, sob o título “A Autonomia dos Açores”, escrevia-se ali: “Não percamos tempo a falar da independência dos Açores, e deixemos isso aos que, por interesses inconfessáveis, querem, na sombra e a ocultas, para hostilizar o movimento legal da autonomia, mostrá-lo como um movimento de ataque à integridade do Estado português. Os que assim procedem, ou o fazem por má fé ou por defici-ência intelectual que lhes não permite distinguir entre os objec-tivos e as finalidades dos dois movimentos”.

Justamente a 25 de Abril, O Democrata, de Angra reagia a esta inflexão: “Numa solução precipitada de tão grave problema (…) como é a da autonomia integral que ora se ventila entre nós como que a compassar com a campanha de separatismo insistentemente feita na imprensa da colónia açoriana na livre

Page 99: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[97]

A POLÉMICA SOBRE O DESTINO DOS AÇORES NO PERÍODO 1918-19

América, não vemos, à data em que traçamos estas linhas, que representantes legítimos e directos de todas as classes do povo açoriano tenham sido consultados ou ouvidos acerca do segredo que circula, ou que possível seja emitirem suas opiniões, porque desconhecidos são os seus planos e ignorados os propósitos e os fins com que a ilha Terceira (…) pretende entrar na modificação administrativa pedida por alguns açorianos… e iniciada fora, na (…) ilha de S. Miguel. S. Miguel sabe o que quer e nós nem sabemos o que pedir, ao que nos parece”.

Alguma razão haveria, de facto, para as reticências àquela aparente viragem, uma vez que o Diário dos Açores continuava: “Assegurar aos povos (…) o direito de dispor de si próprios, de se governar, de se administrar, de se desenvolver livremente, de dar livre expansão aos seus recursos e energias, sem peias sufo-cantes e sem entraves ao exercício das suas actividades. Assim nasceu a Liga das Nações. (…) Portugal, entrando na Liga das Nações, adoptou os princípios do presidente dos Estados Unidos; e nós, açorianos, fazemos parte daqueles mil e duzentos milhões de homens em nome dos quais a Liga foi constituída (…) Porque faz parte da Liga é que a Inglaterra pede aos irlandeses que acor-dem na situação política a reconhecer (…) e os Estados Unidos vão satisfazer o voto das Filipinas (…) no sentido de constituírem um estado independente. (…) Porque Portugal faz parte da Liga é que nós, açorianos e portugueses, (…) lealmente apresentamos perante o governo de Portugal as nossas aspirações de autonomia (…) produto lógico e fatal do momento histórico que atraves-samos, e como expressão sincera e consciente do patriotismo de um povo que apenas aspira a desenvolver-se, a progredir e a melhorar as condições da sua existência actual”107.

E a acrimónia continuava. “O que querem eles?” perguntava O Democrata de 3 de Maio, num artigo assinado por José do Vale, em comentário acerbo ao Popular de New Bedford. Uma semana depois, de novo O Democrata voltava à carga com “O

107 Transcrito pela Folha da Tarde, de Angra, em 13 de Maio.

Page 100: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[98]

ÁLVARO MONJARDINO

futuro dos Açores”, denunciando como “germanófilos e sido-nistas” os que defendiam “o ideal emancipador e a autonomia integral”. Em 17 de Maio, O Democrata citava mais uma vez O Popular de New Bedford108, lembrando a apreensão de “folhas independentistas em Ponta Delgada por ordem do general Simas Machado, alto-comissário recentemente nomeado por Sidónio Pais”.

Entretanto, segundo A União de 21 de Maio, constituíra-se em Angra uma comissão para estudar uma nova organização administrativa para o arquipélago109. Mas logo em 24 de Maio O Democrata (retomando “O futuro dos Açores” com “O grande problema – o duvidoso desenlace”) assinalava: “São Miguel sabe o que quer, e nós nem sabemos o que pedir, ao que parece”. E acrescentava: “Com o presidente Sidónio Pais contentar-se-iam com a autonomia; assassinado ele, só a independência”. O Demo-crata incluía ainda o primeiro de três artigos intitulada “A Auto-nomia – considerações dum homem obscuro”, subscrita por F.A. que, declarando defender a autonomia, reconhecia que, “por defeito de educação ou por tara ancestral, não demos ainda uma só prova de capacidade para nos administrarmos”. Estas “Con-siderações” continuavam a 31 de Maio e concluíram-se a 21 de Junho. Em 29 de Maio, A Pátria, de Angra do Heroísmo, escre-via, no seu primeiro número e sob o título “A questão açoriana”: “Ponta Delgada exultou de alegria perante a façanha belicosa do Orion, festejou largamente, num reconhecimento baboso, a guarnição daquele vaso de guerra, numa palavra, sugestionaram- -se pelo americanismo (…) mas não teve um único gesto de censura quando a esquadrilha americana não acudiu ao «Augusto de Castilho», ao menos para lhe salvar os sobreviventes”… E logo na semana seguinte A Pátria acusava Ponta Delgada de, a pretexto dos tiros do Orion, querer “pagar o seu reconhecimento aos americanos com uma traição: a entrega dos Açores à pátria de Wilson”.

108 …e as afirmações deste,

segundo as quais a independência era

tão “imparável como uma bala

depois de disparada e ainda

notícias vindas dos Açores e que

passaram inacessíveis à

censura mostram que a ideia da

independência está ali completamente

propagada”.

109 Integravam-na Amadeu

Monjardino, Frederico Lopes, Henrique Braz,

Jácome de Bruges, João de Barcelos,

Luís Ribeiro, Tomé de Castro e

o visconde da Agualva.

Declarava-se apartidária, visava

uma autonomia adequada mas

demarcava-se da campanha

autonomista a favor da

independência dos Açores.

Page 101: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[99]

A POLÉMICA SOBRE O DESTINO DOS AÇORES NO PERÍODO 1918-19

Em 7 de Junho, no Democrata, em fundo e com o título “Autonomia nova – Autonomia velha”, um artigo assinado por “Tio Braz” denunciava que “o movimento separatista, gerado em São Miguel após o episódio dos tiros do Orion, tem sido dia a dia modificado, estando os seus apaniguados reduzidos a um grupo, classificado pela sua imprensa de élite intelectual”. E em 14 de Junho o mesmo semanário comentava a carta de “um açoriano” publicada no Popular de New Bedford: “vejam como os açorianos estão loucamente encaminhando tudo para uma administração ou protectorado estranho!”

Assim, a agitação jornalística, surgida na imprensa da imi-gração nos Estados Unidos e com imediato eco, todavia sempre cauteloso e praticamente reduzido a transcrições na de Ponta Delgada, passara à Terceira a partir de Março. No Faial ela só apareceria no seguinte mês de Julho, através de uma série de artigos publicados em O Telégrafo sob o título geral “Autonomia dos Açores: não queremos!”, sem assinatura mas aparentemente do mesmo autor. Eram todos muito críticos e inicialmente assen-tes na insuficiência financeira do distrito da Horta110, mas logo passando a razões ditas “de dignidade”111 e culminando por equiparar o “independentismo à autonomia integral” como coi-sas da mesma estirpe, pelo que uma e outra eram de repudiar. No seu número de 11 de Julho, O Telégrafo citava a conferência de Luís Ribeiro em Março anterior, contrapondo-lhe transcrições de textos separatistas feitas por O Democrata de 17 de Maio. Em 15 de Julho, o mesmo Telégrafo reiterava as suas críticas, referindo desta vez O Democrata de 24 de Maio anterior, onde se transcrevia a opinião de “um terceirense” que, mostrando sentimentos sidonistas, dizia que os açorianos suspiravam pela independência. Face a isto, O Telégrafo apontava o perigo de um golpe como o que os americanos haviam provocado no Panamá, pelo interesse estratégico que ali tinham. E continuava em 18 de Julho, ainda com o argumento da “dignidade”: “a

110 O Telégrafo, 9 de Julho: “Não queremos a autonomia dos Açores porque ela é lesiva de todos os nossos interesses, qualquer que seja o aspecto por que se considere. Ao distrito da Horta só convém um governo absolutamente independente dos outros distritos: recusamos e repudiamos toda e qualquer subordinação que não seja ao poder central (…) E o único traço de união que admitimos entre este distrito e o Governo é, como até aqui, o respectivo governador civil”.

111 O Telégrafo, 10 de Julho.

Page 102: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[100]

ÁLVARO MONJARDINO

campanha da autonomia dos Açores é gravemente suspeitosa e, consequentemente, inoportuna. Ela tem íntima ligação com a campanha (…) da Independência dos Açores”. E referia que “açorianos de São Miguel e da Terceira e jornais de certa imprensa insular – que não do distrito da Horta – tinham iniciado uma campanha tendo por fim a Independência dos Açores sob o protectorado dos Estados Unidos, a qual teve origem na ilha de São Miguel e foi continuada e mantida na imprensa da colónia açoriana nos Estados Unidos e por jornais norte-americanos”. Isto, para o jornal, não era da responsabilidade de todos os açorianos desses dois distritos, mas sim de “criaturas de mora-lidade e intelectualidade mais do que duvidosa, nas quais a impressão do dólar se gravou de uma forma que não se desva-nece, que constituem um partido com ligações internacionais: são os panamistas açorianos”.

Em 23 de Julho, O Telégrafo acrescentava que ninguém sabia nem dizia o que era a falada “autonomia integral”, cujo conceito ainda estaria a ser estudado: “Um governo e a respectiva sede em Ponta Delgada podia realmente procurar causas permanen-tes para sustentar indisposições permanentes com a mãe-pátria112 até que um belo dia meia dúzia de madrugadores saíssem para as ruas de Ponta Delgada fazendo muito barulho, enquanto um deles lia a proclamação de independência na varanda da Câmara, apoiado por dois navios de guerra americanos que oportunamente surgiam por detrás da doca… O Popular de New Bedford assim o talhara com Ponta Delgada, sem que aparecesse neste país um governo que, à falta de vontade de pegar nos códigos penais, desse uma lição de patriotismo expe-rimental, conciliando os interesses dos Estados Unidos, Ponta Delgada e Portugal, arrendando àquela nação por 99 anos (…) o porto de Ponta Delgada para sua base naval, a troco do pagamento da nosso dívida pública”. Assim, se havia quem tudo esquecesse “para servir inconfessáveis interesses, levando

112 Alusão ao que escrevera no

Popular de 20 de Janeiro, no

sentido de ser preciso agitar

outros motivos para além do

ataque do submarino para

despertar interesse em todas as ilhas.

Page 103: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[101]

A POLÉMICA SOBRE O DESTINO DOS AÇORES NO PERÍODO 1918-19

de roldão na sua onda de lodo criaturas inexpertas, arrastadas, nem elas saberão justificar porquê”, aí estaria o distrito da Horta a lembrá-lo. Por isso, concluía que “não queremos a autonomia dos Açores e ela por isso, pelo menos, nunca virá, ainda que tivesse de conduzir-se a uma revolução este pacífico e nobre povo faialense”.

A 26 e 28 de Julho, comentando uma anunciada visita de Frederico Lopes, ido de Angra em “propaganda da autonomia dos Açores”, O Telégrafo criticava os então projectados órgãos da organização autonómica de envolta com a “comunhão nas dívidas distritais”… E a 31 resumia tudo identificando mais uma vez a campanha autonomista com a separatista e negando crédito à declaração dos autonomistas de quererem continuar a ser portugueses.

A série de artigos críticos de O Telégrafo concluiu-se a 1 de Agosto. Mas ainda em 4 e 5 desse mês ali se comentava, com a assinatura (finalmente…) de Rosa Jr.113, o facto de na Horta só se ter abordado o problema das aspirações autonómicas quando a imprensa de Ponta Delgada e a de Angra do Heroísmo já havia tratado do assunto, censurando ambas por o terem debatido à margem do que se pensava no Faial e apontando, como erro comum daqueles dois distritos, o terem olhado a autonomia exclusivamente do ponto de vista das suas dificul-dades financeiras: “Não se explica de outro modo o absoluto mutismo que ambos conservaram e ainda mantêm sobre o que seja essa decantada autonomia integral – quando, afinal, o que mais interessava era realmente saber-se isso”.

Entretanto, em São Miguel e já a 15 de Agosto, A República escrevia114 que cada distrito devia tratar de si, acrescentando que a posição de O Telégrafo assentava na debilidade financeira do distrito da Horta e mostrava a inviabilidade da autonomia inte-gral, aliás “expressão que apareceu em Angra do Heroísmo e que não sabemos bem o que seja”.

113 José Maria da Rosa Jr., advogado e oficial do Exército. Provavelmente o autor de todos os artigos anteriores publicados no Telégrafo sobre o mesmo assunto e aqui referidos, também subscrevera, no mesmo jornal, em 11 de Julho, um comentário amargo sobre os resultados da Conferência da Paz (em que os independentistas diziam pôr esperanças) lembrando queixas de Afonso Costa contra o tratado de Versailles, que considerava “uma monstruosidade jurídica, um acervo de injustiças feitas aos povos pequenos e a desgraça e a ruína de Portugal”.

114 Transcrita in O Telégrafo, 11 de Setembro.

Page 104: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[102]

ÁLVARO MONJARDINO

Mas no último trimestre de 1919 a polémica já esmorecera. A campanha separatista, claramente originada na élite de São Miguel e ali bastante sopeada em expressão jornalística, aparen-temente por acção da censura oficial, compensara-se com os seus reflexos, até exagerados, nos núcleos imigrados nos Estados Unidos – onde se não escondia, aliás, que a ideia vinha de Ponta Delgada. Atingindo a Terceira, a campanha suscitou uma pri-meira reacção contrária, mas também acabou por ganhar alguma simpatia, já não propriamente pela independência, mas pela “autonomia integral”, que O Telégrafo não deixaria de denunciar como filha daquela – e que, displicentemente, A República, de São Miguel afirmava nem sequer saber o que era. A reacção do Faial, mais tardia, fez-se já contra as duas ideias – a indepen-dentista e a autonomista – apresentando-as como aspectos da mesma realidade e do mesmo passo apontando a marginalização a que o seu distrito fora votado no debate de ideias sobre o assunto.

Por detrás das tensões desencadeadas, era sensível a presença ideológica e a militância partidária de forças políticas com âmbito nacional – uma linha progressista e republicana-democrática denunciando o separatismo e defendendo, com argumentos que iam do histórico e cultural ao sentimental, a fidelidade e em qualquer caso a pertença dos Açores a Portugal; e uma linha conservadora, incluindo monárquicos e sidonistas, mais ou menos simpatizante com o separatismo (não propriamente com a independência) e logo favorável a uma larga autonomia, sem-pre por reacção contra o marasmo económico e social e a inép-cia política e administrativa da República portuguesa. A militância partidária ressalta mais vivamente nos períodos pré- -eleitorais, com relevo para o distrito de Angra e para as inter-venções mais intensas e extensas de O Democrata antes das eleições do fim de Julho, afinal ganhas “pelos reaccionários, os sidonistas, os regionalistas e os que se diziam republicanos para

Page 105: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[103]

A POLÉMICA SOBRE O DESTINO DOS AÇORES NO PERÍODO 1918-19

conseguirem os seus fins”, como aquele mesmo semanário assi-nalava depois com amargura. Também se percebe que, em São Miguel, a campanha a favor da independência era – ou passara a ser – sobretudo uma forma de pressão com vista a uma auto-nomia mais a sério do que a então existente.

Fosse como fosse, com o debate já praticamente findo nos Açores, ainda em 12 de Outubro desse ano, um grupo de aço-rianos dirigia uma carta ao governo norte-americano pedindo apoio a um movimento de autonomia dos Açores, “com ou sem ligação os Estados Unidos”115. Mas até aqui aparecia já a alter-nativa, distinguindo-se as hipóteses, sendo uma delas a autono-mia sem separação do todo nacional.

Final

Ecos desta agitação não escaparam, evidentemente, ao continente português, onde A Capital denunciara o independentismo aço-riano, assim como A Manhã, primeiro com uma local intitulada “A independência dos Açores” e ainda depois, com relevo para o que aparecera na imprensa de expressão portuguesa de New Bedford, como referia O Democrata, a 17 de Maio de 1919. Em 7 de Junho seguinte, este mesmo semanário transcrevia, de O Mundo um artigo assinado por Tristão Vaz e intitulado “Alerta!”, onde se afirmava: “E não se diga que isto é desconhe-cido, pois que até jornais americanos já declararam que será presidente da República Açoriana o dr. José Bruno, secretário- -geral do governo civil de Ponta Delgada e ex-chefe do gabinete civil do sr. General Simas Machado e, segundo cremos, separa-tista, muito amigo do almirante Dunn”. O Telégrafo de 19 e 20 de Agosto de 1919 transcrevia um artigo publicado no Diário de Notícias (“Terras açorianas, terras portuguesas de lei – afirma o sr. Dr. Machado de Serpa”) em que aquele senador pela Horta

115 A. J. Telo, op. cit., p. 159. O A. omite os nomes dos signatários dessa carta (que o Departamento de Estado mandou arquivar, sem lhe dar seguimento) dizendo apenas que são umas dezenas e incluem importantes nomes da economia das ilhas na altura. A carta, cuja 1.ª pág. ali se reproduz em fac- -símile, é manuscrita em inglês e dá-se por vinda de Santa Cruz das Flores.

Page 106: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[104]

ÁLVARO MONJARDINO

se distanciava dos separatismos, mas os explicava pelo sentimento negativo generalizado dos insulares quanto ao Governo portu-guês. E a 28 de Agosto o mesmo jornal transcrevia, de O Século um outro artigo (“O que pretendem os açorianos”) acentuando que estes apenas desejavam uma ampla autonomia que lhes trouxesse melhor governação, minimizando assim a tentativa separatista e vincando o orgulho pátrio das gentes do arquipé-lago. O Diário dos Açores de 10 de Setembro, com o título “A independência dos Açores”, referia que a imprensa de Lisboa vinha também tratando o problema. A 23 de Agosto publicava uma carta de Silveira Moniz, protestando fidelidade nacional. E uma semana depois, transcrevia, “Uma questão nacional”, publicada em O Século onde se afirmava: “dê-se aos Açores aquilo de que eles precisam, pois só assim se conseguiriam sufocar os desejos de emancipação que se manifestam nessa parcela do território português”; e ainda, lembrando que já nessa época os Açores só serviam para receber presos políticos, se perguntava: “se isto não muda, o que acontecerá?” Porque “os Açores estão fartos. Acham demais e querem fazer por si o que os outros não fizeram nunca por eles. Quem deixará de lhes dar razão?”

Era assim evidente que em Lisboa se sentira algum perigo, aliás de modo nenhum reduzido ao mero nível da imprensa escrita, porque outra coisa não significou a série de medidas restritivas e censórias tomadas pelo alto-comissário do Governo em São Miguel.

E a memória de tal perigo perdurou. Efectivamente, quando o movimento já claramente evoluíra – ou regredira – para o autonomismo, o Presidente António José de Almeida programou, com evidentes intuitos de pacificação política, visitar os Açores no regresso da sua viagem ao Brasil para a comemoração do centenário da independência, que era a 7 de Setembro de 1922. Apenas as vicissitudes dessa viagem, marcada por contratempos lamentáveis e humilhantes116 – de algum modo confirmativos

116 Para a função de “iate

presidencial”, escolheu-se o

Porto, um dos 70 navios alemães

“conquistados” em 1917, o que dera

pretexto à declaração de

guerra da Alemanha a

Portugal. Entrado em estaleiro, o

upgrading do Porto demorou ao ponto

de lhe atrasar a partida. Logo

depois, o navio avariou, tendo de

reduzir a velocidade, arribou às

Canárias para reparações, chegou

ao Brasil dez dias depois do

centenário e, para cúmulo, sofreu um arresto no

Rio, a requerimento de

credores dos Transportes

Marítimos do Estado. O

Presidente teve de regressar no

Arlanza, transatlântico inglês, como

simples passageiro (cf. História de

Portugal, ed. monumental, Suplemento, pp. 339-344;

História de Portugal de J. Veríssimo

Serrão,

Page 107: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[105]

A POLÉMICA SOBRE O DESTINO DOS AÇORES NO PERÍODO 1918-19

da má conta em que era tida a administração republicana – impediram que a visita aos Açores se realizasse.

De facto, só após o movimento do 28 de Maio – porque o descontentamento permanecia, até porventura agravado com a vinda para os Açores de ainda mais deportados políticos, o que só acentuava a marginalidade das ilhas – é que começaram a ver-se algumas providências nacionais a favor do arquipélago, na esteira da criação da Delegação Especial do Governo, nomea-damente com o decreto de 16 de Fevereiro de 1928, conseguido por diligências desta. Visitas presidenciais, apenas a do presidente Carmona no Verão de 1941, e esta também em outro contexto de risco para a soberania portuguesa no arquipélago117, ameaçada por uma invasão norte-americana – e por causa, mais uma vez, de “outra” guerra – a mundial de 1939-45…

Mas não era, manifestamente, com visitas presidenciais que os problemas açorianos entrariam em vias de solução. Recor-dando o Eça da Campanha Alegre, os Açores não precisavam propriamente de desembargadores: precisavam, simplesmente (como na altura, aliás, não deixara de se apontar) de uma coisa chamada desenvolvimento – e só assim dariam crédito político ao país a que sempre haviam pertencido. A tentação norte-ame-ricana traduzia, portanto e sobretudo, aquele anelo por algo que, em boa verdade, a administração central portuguesa nunca conseguira dar às ilhas, todavia sempre dela dependentes. E seria de facto preciso que muito tempo decorresse, passassem a I República, e o Estado Novo, e os solavancos da restauração da democracia para (em boa parte também graças ao ambiente internacional da guerra-fria) o arquipélago ganhar a categoria de Região Autónoma e um efectivo auto-governo que, conjugado com a integração europeia de Portugal, lhe abrisse as portas a esse desenvolvimento que tanto havia tardado até então.

E manda a verdade lembrar-se também que, na luta por essa nova autonomia – finalmente expressa no texto constitucional

XI, 276-277; Douglas L. Wheeler, História Política de Portugal – 1910/1926, pp. 195-196, citando Maurício de Oliveira, in “Armado Gloriosa”, pp. 148-149).

117 Um dos slogans repetidamente entoados nas aclamações com que Carmona foi recebido na Terceira (Açores de Portugal / Sempre, sempre, sempre!) ecoava o título da conferência anti- -separatista de Luís Ribeiro, 22 anos antes…

Page 108: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[106]

ÁLVARO MONJARDINO

de 1976, inclusivamente nas suas garantias financeiras – não deixou de estar outra vez presente, como uma das alavancas para a conseguir, a tentação, e logo a pretensão independentista. Pretensão levantada nos Açores e, uma vez mais, nos núcleos de imigração açoriana dos Estados Unidos – e que não deixou também de ser tomada como ameaça… Era, afinal, o separatismo que renascia após duas gerações e cujo paralelo com o de 1918- -1919 é inevitável, tanto pelo contexto de crise nacional então vivida como pelo recurso a argumentos de natureza geopolítica, invocados com uma desenvoltura todavia maior e reveladora de grande sensibilidade aos cenários internacionais e atlânticos de então.

Page 109: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[107]

CHEGAR COMO CONQUISTADORES: AS BASES AMERICANAS E O TEATRO EUROPEU, 1941-45

Adam R. Seipp

A pequena aldeia de Duxford, em Cambridgeshire, possui actu-almente uma das colecções mais impressionantes sobre a aviação militar americana jamais reunida em qualquer local do planeta. O American Air Museum, que faz parte do complexo maior do Imperial War Museum, inclui mais de duas dezenas de aviões, desde o tempo das Grandes Guerras até aos conflitos posteriores a 2001. O museu, com um hangar central projectado por Sir Norman Foster, é um testemunho do legado extraordinário da cooperação entre os Estados Unidos e a Grã-Bretanha durante alguns dos confrontos mais perigosos do século XX. Bombardei-ros B-17 descolaram com uma regularidade assustadora da base da RAF em Duxford, situada nas proximidades do museu, durante os primeiros anos da guerra aérea sobre a Europa. “Se fecharmos os olhos”, escreveu um jornalista americano, “é fácil lembrar aqueles filmes a preto branco cheios de grão, em que se viam os pilotos a correr enquanto as tripulações de terra preparavam as suas máquinas para a descolagem”118. Mas a história de Duxford e da aviação militar americana não terminou quando os bom-bardeamentos contra a Alemanha cessaram. Durante quatro décadas após a derrota das potências do Eixo, os aviões de guerra americanos utilizaram regularmente as instalações situadas nas proximidades durante o frente a frente mundial com a União Soviética. O papel desempenhado pelos Estados Unidos ao tra-var e vencer a II Guerra Mundial e o advento da Guerra Fria são indissociáveis. Uma maneira de explorar esta ligação consiste em examinar as bases americanas, manifestação física da presença militar mundial do país na segunda metade do século XX.

118 “A Shrine to Spitfires and Mustangs”, New York Times, 16 de Dezembro de 2001.

Page 110: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[108]

ADAM R. SEIPP

A posição dos Americanos sobre a criação de bases militares durante a II Guerra Mundial foi necessariamente ad hoc, impro-visada, e em grande medida condicionada pela evolução da guerra em geral. Inseriu-se no contexto não só da política de alianças, mas também da situação política interna de países que tinham objectivos muito diversos e reacções diferentes aos acon-tecimentos da guerra. Os Estados Unidos, com a cooperação por vezes constrangida dos seus aliados europeus e dos neutrais, criaram rapidamente uma rede de bases por toda a Bacia Atlân-tica, que permitiu uma projecção extraordinária de força para a Europa ocupada pela Alemanha e que, em última análise, contribuiu para a destruição do império alemão. Contudo, um aspecto igualmente importante foi que este sistema de bases em permanente evolução permitiu que os Estados Unidos alcanças-sem mais facilmente o enorme realinhamento de forças e objec-tivos que acompanhou o início da Guerra Fria, escassos anos após a vitória da 1945.

Existem muitos estudos excelentes sobre o desenvolvimento da presença militar americana na Europa da Guerra Fria119. Tem-se dedicado menos atenção ao período crucial da política de estabelecimento de bases militares durante a Segunda Guerra Mundial, que contribuiu directamente para a transformação posterior. O desenvolvimento do sistema de bases dos Estados Unidos durante a II Guerra Mundial no teatro europeu deu-se em três fases. A primeira, que teve início após o acordo sobre contratorpedeiros em troca de bases de 1941, visou o estabele-cimento de instalações destinadas a proteger a navegação ame-ricana, que, após a entrada dos Estados Unidos na guerra, foram utilizadas para vencer a Batalha do Atlântico. A segunda fase foi constituída pelo estabelecimento de bases, inicialmente na Grã-Bretanha, destinadas a permitir que os Estados Unidos e a sua aliada levassem a guerra para a Europa continental utilizando a aviação. Por último, a terceira fase envolveu instalações cons-

119 A melhor análise deste tema

encontra-se in Simon Duke e

Wolfgang Krieger, eds. U. S. Military

Bases in Europe: The Early Years,

1945-1970, Boulder, Westview Press, 1993. Veja-

se também John Hawkins, Army

of Hope, Army of Alienation: Culture and Contradiction

in the American Army Communities

of Cold War Europe,

Tuscaloosa, University of

Alabama Press, 2001; Melvin

Leffler, A Preponderance

of Power: National Security, The

Truman Administration,

and the Cold War, Palo Alto,

Stanford University Press,

1992, Phil Williams, U. S.

Troops in Europe, Londres,

Routledge, 1984.

Page 111: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[109]

CHEGAR COMO CONQUISTADORES: AS BASES AMERICANAS E O TEATRO EUROPEU, 1941-45

truídas para dar apoio às invasões do Sul e do Oeste da Europa depois de 1943.

No presente capítulo, iremos examinar quatro locais onde foram instaladas bases americanas no contexto do papel que desempenharam na guerra e no realinhamento de forças do pós-guerra. As bases da Islândia, dos Açores, da Grã-Bretanha e da Alemanha Ocidental dão-nos uma ideia da evolução da rede dinâmica de postos e instalações militares que prestaram apoio logístico, formação e treino de combate à missão americana e aliada contra a Alemanha e Itália. Embora esta lista não seja de modo algum exaustiva, irei demonstrar as ligações que exis-tiam entre estes locais, situando-os no contexto do esforço de guerra em geral e do realinhamento da política de segurança americana durante e após a II Guerra Mundial.

No início da II Guerra Mundial na Europa, os Estados Uni-dos não tinham uma presença militar significativa naquilo que veio a ser o teatro de operações europeu. A estratégia americana em matéria de segurança nacional durante as décadas preceden-tes incidira na defesa do Hemisfério Ocidental e na protecção dos seus interesses comerciais e imperiais no Pacífico. A I Guerra Mundial dera origem a uma importante expansão de bases no território continental dos Estados Unidos, e, durante a década de 1930, assistiu-se à construção de instalações de grande dimen-são no Havai, nas ilhas Filipinas e noutros locais do Pací-fico120.

A história da hesitação americana em envolver-se na guerra que eclodiu na Europa depois de 1939 está bem documentada noutros locais121. Depois de se tornar claro que a Grã-Bretanha tinha a possibilidade de resistir ao poderio militar alemão depois da queda de França na Primavera de 1940, a Administração Roosevelt começou a procurar formas de prestar assistência sem se envolver activamente no esforço de guerra. Uma das primei-ras medidas mais importantes foi o acordo sobre contratorpe-

120 Brian McAllister Linn, Guardians of Empire: The U. S. Army and the Pacific, 1902-1940, Chapel Hill, University of North Carolina Press, 1997.

121 Para um excelente resumo dos debates veja-se David Reynolds, From Munich to Pearl Harbor: Roosevelt’s America and the Origins of the Second World War, Chicago, Ivan R. Dee, 2001.

Page 112: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[110]

ADAM R. SEIPP

deiros em troca de bases. Nos termos deste acordo, celebrado por Roosevelt em Setembro, os Estados Unidos transferiram cinquenta contratorpedeiros antigos para a Grã-Bretanha, em troca de direitos de utilização, durante 99 anos, de cinco bases britânicas situadas no Hemisfério Ocidental, nomeadamente na Terra Nova, nas Bermudas e em várias ilhas das Caraíbas. Para Churchill que, graças à decifração das comunicações alemãs codificadas com a máquina Enigma, tinha conhecimento de que a determinação dos alemães em invadir a Grã-Bretanha começava a vacilar, o acordo tinha aspectos positivos e negativos. Embora a Grã-Bretanha necessitasse de navios para combater a ameaça ao comércio, o novo acordo era um sinal evidente da fragilidade relativa do país. O acordo, observou Jock Colville ao Primeiro- -Ministro, “faz lembrar bastante as exigências feitas pela Rússia à Finlândia”122.

A estratégia inicial em matéria de bases dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha, sua parceira ocasional, consistiu em grande medida em impedir os esforços alemães para estabelecer bases avançadas no Atlântico. No ano antes de os Estados Unidos entrarem formalmente na guerra, os diplomatas procuraram frus-trar um esforço há muito receado por parte da Alemanha ou do Eixo no sentido de obter direitos de utilização de bases na Amé-rica Latina, o que iria pôr em perigo o Canal do Panamá123. Ao mesmo tempo, era cada vez mais evidente que as rotas do Atlân-tico estavam seriamente ameaçadas devido à presença de subma-rinos alemães. À medida que as perdas causadas pela Batalha do Atlântico iam aumentando e os submarinos alemães afundavam sistematicamente um quarto dos comboios aliados, foi-se tor-nando cada vez mais necessário controlar os acessos à Grã-Bre-tanha e ao Mediterrâneo. Para que qualquer uma das partes em conflito pudesse ganhar a luta pelo controlo das rotas marítimas, as ilhas e cadeias de ilhas como a Groenlândia, a Islândia e os Açores iriam desempenhar um papel crucial.

122 Martin Gilbert, Churchill: A Life,

Nova Iorque, Henry Holt,

1991, p. 670.

123 Robert E. Harkavy, Strategic

Basing and the Great Powers,

1200-2000, Londres,

Routledge, 2007, pp. 84-85.

Page 113: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[111]

CHEGAR COMO CONQUISTADORES: AS BASES AMERICANAS E O TEATRO EUROPEU, 1941-45

Em 1940, a Islândia encontrava-se numa posição extrema-mente vulnerável no Norte do Atlântico. Embora o governo mantivesse a sua neutralidade, era nítido que qualquer esforço para dominar as rotas marítimas entre a América do Norte e a Europa teria de incluir a ilha e as suas reduzidas estruturas. Desde 1918, a Islândia era um Estado soberano neutral que reconhecia a monarquia dinamarquesa. Quando a Dinamarca foi invadida pela Alemanha em 1940, a Islândia ficou isolada e sem defesas. Receando uma acção alemã contra a ilha, a frota britânica surgiu ao largo de Reiquiavique em Maio, e as tropas britânicas ocuparam o país.

À medida que a situação na Europa se foi agravando, a con-tinuação da ocupação britânica da Islândia tornou-se pouco prática. Na Conferência de Arcádia, que teve lugar em Washing-ton em Dezembro de 1941, os americanos e os britânicos con-cordaram em transferir grande parte da responsabilidade pela Islândia para os americanos. Na Primavera de 1942, havia já mais de 40 000 efectivos americanos na ilha. Um oficial do estado-maior britânico escreveu que era “impossível exagerar o perigo que a utilização (da Islândia) pelo inimigo representaria para a via de comunicação vital do Atlântico”. Para os Islande-ses, a presença militar estrangeira transformou a economia local, garantiu que o país não seria incorporado no império alemão e conduziu os políticos da ilha para a declaração de independên-cia total em relação à Dinamarca, em 1944124.

Menos salutar talvez era o facto de a presença estrangeira lembrar constantemente que a Islândia, com a sua população pouco numerosas e a sua reduzida base de recursos, passara a ser um território ocupado. O futuro general Charles Bonesteel III descreveu mais tarde o tempo que passou na Islândia como um período de actividade constante, enquanto os americanos ampliavam as instalações portuárias e a base aérea. Os contactos com a população local, embora considerados bem-vindos pelo

124 Donald Bittner, The Lion and the White Falcon: Britain and Iceland in the World War II Era, Hamden, Archon Books, 1984, 142. Veja-se também Gunnar Karlsson, The History of Iceland, Minneapolis, University of Minnesota Press, 2000, esp. pp. 313-318.

Page 114: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[112]

ADAM R. SEIPP

pessoal americano, eram tensos, em grande medida porque: “a Mãe Natureza dera aos homens uma aparência bastante magri-cela, enquanto as raparigas representavam a percentagem mais elevada de formosura feminina per capita do mundo. Isto gerava uns certos atritos entre os soldados americanos, os homens islan-deses e os britânicos. Houve alguns incidentes bastante graves, esfaqueamentos e tudo o mais, o que era compreensível125.

Um dos resultados mais importantes e duradouros desta dupla ocupação foi a expansão de uma base militar americana que viria a tornar-se permanente. Os trabalhos de construção na base de Keflavik, na península de Reykjanes, iniciaram-se rapi-damente. Durante 1942 e 43, as forças americanas construíram uma base aérea relativamente grande na península, que viria a tornar-se um local de transbordo vital de tropas e provisões transportadas através do Atlântico durante o resto da guerra. Encerrada durante cinco anos depois de a guerra ter acabado, a base de Keflavik reabriu como posto avançado vital da Guerra Fria e foi entregue à Islândia em 2006.

Esta dominação do Atlântico Norte pelos Aliados teve uma consequência fundamental e totalmente imprevista. A Alemanha perdeu as suas estações meteorológicas e, consequentemente, a sua capacidade para efectuar operações de reconhecimento de longo alcance por ar ou por mar. Em princípios de Junho de 1944, enquanto os alemães que defendiam a Muralha do Atlân-tico esperavam vários dias de mau tempo, os Aliados sabiam que havia um breve período de tempo limpo a deslocar-se para este através do oceano, em direcção ao Norte da Europa126. A extraordinária surpresa da Operação Overlord foi fruto não só de boa sorte e de desinformação, mas também do facto de as bases situadas fora da Europa continental terem ajudado a inver-ter o rumo dos acontecimentos na Batalha do Atlântico.

A ocupação quase consensual da Islândia repetiu-se noutros locais do Atlântico Norte com o estabelecimento de uma pre-

125 Transcrição da entrevista de

história oral com Charles H.

Bonesteel III, Army Heritage

Collection, Army Heritage and

Education Center, p. 118.

126 Gerhard Weinberg,

A World at Arms: A Global History

of World War Two, Cambridge, Cambridge

University Press, 1994, p. 684.

Page 115: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[113]

CHEGAR COMO CONQUISTADORES: AS BASES AMERICANAS E O TEATRO EUROPEU, 1941-45

sença militar americana nos Açores. Situado estrategicamente na rota dos acessos ao Mediterrâneo e projectando-se para o Atlântico Central, o arquipélago dos Açores era nitidamente vital como posto de transbordo e reabastecimento e para con-trabalançar os laços informais, mas importantes, da Alemanha com a Espanha de Franco127. O ditador de Portugal, António Salazar, encontrava-se numa situação muito diferente da da Islândia, cuja vulnerabilidade era maior. Geograficamente pro-tegido pela Espanha ostensivamente neutral, Portugal podia dar-se ao luxo de esperar que os acontecimentos da guerra se tornassem mais claros antes de tomar partido. Em 1942, Salazar previu correctamente que o poder do Eixo estava a diminuir, um aspecto que fez notar a Franco numa cimeira realizada nesse ano128.

O U-boat havia-se efectivamente virado contra os alemães. No momento em que Hitler dizia ao seu chefe do Estado-maior da Armada, em 1943, que “o Atlântico é o meu acesso ociden-tal e travar uma guerra defensiva aí é melhor do que apenas poder defender a costa da Europa”, era nítido que a acção dos submarinos alemães estava votada ao fracasso129. Um factor deci-sivo fora o facto de ter deixado de haver uma zona desprotegida entre os Açores e o Atlântico Norte. Os bombardeiros de longo raio de acção podiam agora perseguir submarinos em águas anteriormente inacessíveis. O avanço aliado começava a cercear os limites do poderio alemão.

Os Açores não eram território desconhecido para os ameri-canos. Durante a I Guerra Mundial houvera uma pequena guar-nição naval em Ponta Delgada, facto bem conhecido do antigo Secretário Adjunto da Marinha Franklin D. Roosevelt. Desde 1941 que os líderes aliados receavam que os alemães ocupassem os Açores, o que os colocaria em posição de dominar o Atlântico Central. A neutralidade portuguesa constituía um obstáculo, mas o facto de os alemães terem desviado a sua atenção para a

127 Ibid., p. 372.

128 James Anderson, The History of Portugal, Westport, Greenwood, 2000, p. 148.

129 Ian Kershaw, Hitler, 1936-45, Nemesis, Nova Iorque, Norton, 2000, p. 385.

Page 116: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[114]

ADAM R. SEIPP

guerra no Leste ajudou a manter a integridade territorial por-tuguesa.

Tal como no caso da ocupação anterior da Islândia, a inicia-tiva de estabelecer uma base nos Açores partiu dos britânicos, que abordaram o governo de Salazar no Verão de 1943, invo-cando seiscentos anos de diplomacia de paz entre os dois países e pedindo bases nas ilhas portuguesas do Atlântico. A nota ini-cial sugeria que essas bases seriam “um factor decisivo para uma rápida derrota da campanha dos submarinos alemães no Atlân-tico e, consequentemente, um contributo vital para uma rápida vitória das Nações Unidas”130.

Em Agosto de 1943, Salazar acedeu formalmente ao pedido britânico, mas ficou mais tarde surpreendido quando se tornou claro que os americanos tencionavam partilhar as instalações com os britânicos. O diferendo diplomático que daí resultou terminou com um acordo no sentido de os aviões americanos serem levados para a base de Santa Maria disfarçados de aviões britânicos. Quando os americanos e os portugueses finalmente chegaram a um acordo separado sobre a utilização da base de Santa Maria no ano seguinte, a situação estratégica modificara- -se novamente. Portugal passou a estar preocupado com a evo-lução da Guerra do Pacífico, onde as suas colónias foram ocupadas pelos japoneses. O facto de Santa Maria poder ser utilizada para transferir tropas para a Ásia tornou o acordo mais aceitável para um líder que tendia a desconfiar das intenções dos americanos131.

A chegada dos britânicos e, posteriormente, dos americanos à ilha Terceira foi obviamente importante para o rumo da guerra no Atlântico. O Comando de Transportes Militares dos Estados Unidos (mais tarde denominado Comando da Ponte Aérea Mili-tar) transformou os Açores no principal ponto de coordenação de um número cada vez maior de aviões americanos que faziam a viagem transatlântica ainda perigosa em direcção aos teatros

130 Carta dirigida por Sir Ronald

Campbell a Salazar, 16 de

Junho de 1943, reproduzida in Ministério dos

Negócios Estrangeiros, Documentos Relativos aos Acordos entre

Portugal, Inglaterra e Estados Unidos

da América… durante a Guerra

de 1939-45, Lisboa, Imprensa

Nacional de Lisboa, 1946,

p. 3.

131 José Calvet de Magalhães,

“U. S. Forces in Portugal, 1943-

-1962”, in Duke e Krieger,

pp. 275-76.

Page 117: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[115]

CHEGAR COMO CONQUISTADORES: AS BASES AMERICANAS E O TEATRO EUROPEU, 1941-45

de operações da Europa e do Pacífico. No entanto, a base das Lajes (a que os americanos chamavam Lagens) foi criada numa altura em que a sua utilidade para combater os submarinos alemães já era reduzida. Os porta-aviões de escolta, os radares cada vez mais sofisticados e o fim do poder do Eixo no Norte de África já haviam reduzido as pressões sobre a navegação aliada132. Na Primavera de 1943, os Aliados eliminaram de uma vez por todas a ameaça dos submarinos alemães.

À medida que se foi tornando mais claro que o Eixo estava condenado à derrota, os Aliados começaram a sentir-se mais à vontade para discutir a nova ordem mundial para o pós-guerra. Embora a base dos Açores pudesse não ser decisiva para a Bata-lha do Atlântico, seria manifestamente importante para a posi-ção a assumir pelos americanos em relação à segurança no pós-guerra. Em Outubro, um funcionário anónimo da Admi-nistração americana, disse ao New York Times que os Açores eram “um elo essencial na cadeia de segurança oriental dos Esta-dos Unidos”. As ilhas do Atlântico, explicou, eliminariam a necessidade de manter bases na África Ocidental Francesa que fizera parte da ponte aérea para África durante a guerra. O que não foi dito, mas era muito claro, era que isso evitaria que os Estados Unidos tivessem de apoiar a sobrevivência permanente das possessões imperiais europeias. Os americanos, explicou aquele funcionário, “não estão habituados a pensar em termos de estratégia naval mundial”133.

As Lajes poderão ter sido um prenúncio do futuro rumo da política externa e militar americana, mas isso não era de modo nenhum claro na altura. Embora a partir de 1943 se tenha tornado cada vez mais evidente que os Aliados iam vencer a guerra, a vitória só viria à custa de duros combates, da invasão do Norte da Europa e de um acordo qualquer com a União Soviética. Antes do desembarque aliado em Itália nesse Verão, só houvera uma maneira de atacar as forças do Eixo na Europa.

132 Robert A. Doughty, Ira D. Gruber, et al. Warfare in the Western World: Military Operations Since 1871, Lexington, Heath, 1996, pp. 275-76.

133 “Azores Vital to Allies”, New York Times, 13 de Outubro de 1943.

Page 118: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[116]

ADAM R. SEIPP

A famosa frase de Roosevelt de que “Hitler construiu uma for-taleza à volta da Europa mas esqueceu-se de a cobrir com um telhado” reflectia não só a penúria de opções dos Aliados mas também as oportunidades proporcionadas pelos bombardeamen-tos estratégicos.

Depois de os Soviéticos e os Estados Unidos entrarem na guerra em 1941, a capacidade dos Aliados para projectar o seu poder para a Europa ocupada por meios aéreos assumiu uma importância primordial. Agora, para além de atacar instalações militares e industriais alemãs, era necessário convencer Estaline de que os seus antigos aliados estavam dispostos a resistir cre-divelmente à Alemanha, enquanto os soviéticos travavam uma dura batalha no seu próprio território134. O receio de uma paz separada foi simultaneamente um catalisador da intensificação dos bombardeamentos e um factor de divisão entre os parceiros da guerra. A Grã-Bretanha serviu de local de concentração não só da grande ofensiva de bombardeiros contra a Europa, mas também da armada anfíbia que levou a guerra ao extremo oci-dental da Europa Fortaleza.

Os historiadores do poderio aéreo há muito que observaram que havia entre os britânicos e os americanos divergências fun-damentais sobre muitos aspectos da guerra aérea, especialmente no que se refere à doutrina dos bombardeiros135. Apesar destas divergências, a chegada dos aviões americanos em 1942, na sua maioria pertencentes ao 8.º Comando de Bombardeiros da Força Aérea do Exército dos Estados Unidos foi um sinal bem-vindo num país que estava a combater sozinho no Ocidente há dois anos. A maior parte das bases aéreas utilizadas pelo Mighty 8th situavam-se em East Anglia, onde os americanos construíram ou modificaram mais de 120 instalações para seu uso. Comu-nidades como Duxford, Deopham Green e Rackheath receberam milhares de efectivos americanos. Os americanos, que segundo uma frase famosa estavam “overpaid, overfed, oversexed, and over

134 Richard Overy, The Air War,

1939-1945, Nova Iorque, Stein and

Day, 1980, pp. 104-105.

135 Veja-se Overy e Tami Davis

Biddle, Rhetoric and Reality in Air

Warfare: The Evolution of British and

American Ideas about Strategic

Bombing, 1914- -1945, Princeton,

Princeton University Press,

2002, pp. 208-210.

Page 119: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[117]

CHEGAR COMO CONQUISTADORES: AS BASES AMERICANAS E O TEATRO EUROPEU, 1941-45

here”, ficavam em grande medida circunscritos à península de East Anglia, o que os mantinha longe dos olhares de muitos britânicos e ajudava talvez a manter relações de um modo geral cordiais entre os americanos e a população local136. Esta simpa-tia tornou-se crucial depois da guerra, quando os americanos voltaram a utilizar bases situadas em território britânico.

As reacções dos ingleses à chegada dos americanos foram muito semelhantes às das populações da Europa continental e de outros locais, que ficavam sempre admiradas com o tamanho e o relativo bom estado de saúde dos americanos, bem como a riqueza material dos Estados Unidos. Real ou imaginária, esta comparação quase cómica entre os americanos bem abastecidos e os europeus que estavam a sentir o aperto da privação econó-mica e da guerra arreigou-se na consciência popular. Bernard Peters, que cresceu perto de Truro, na Cornualha, disse mais tarde o seguinte num projecto de história oral da BBC: “A base atraía-nos como abelhas a um pote de mel, porque era lá que alguém nos poderia dar uma laranja, ou um bocado de choco-late, ou mesmo algum gelado; caso contrário, não veríamos essas coisas durante anos. O nosso pedido mais frequente era “Tens uma pastilha elástica, pá?”. Para nós, eles pareciam homens feitos; nós tínhamos 14-15 anos, e não percebíamos que eles só tinham uns 18, 19 ou 20 a 25 anos, talvez. Os seus uniformes eram muito diferentes dos das nossas tropas – elegantes, em tecido de boa qualidade, e não feitos de sarja áspera. Eles pare-ciam ter tudo, e estavam sempre a comer pastilha elástica ou a fumar grandes charutos, e eram sempre simpáticos137.

De início, a função principal da Grã-Bretanha era, tal como disso Churchill usando uma expressão memorável, a de um “porta-aviões que nada afundará”. Os B-17 e B-24 americanos conseguiam atingir alvos no interior da Europa ocupada partindo das bases existentes na ilha. À medida que o cerco se ia apertando à volta da Europa ocupada, a Ofensiva Combinada de Bombar-

136 Simon Duke, “U. S. Basing in Britain, 1945-60”, in Duke e Krieger, p. 117.

137 “WW2 People’s War” é um arquivo em linha de memórias da guerra construído com contributos do público e recolhidos pela BBC. Este arquivo pode ser consultado em bbc.co.uk/ww2peopleswar.

Page 120: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[118]

ADAM R. SEIPP

deiros (Operação POINTBLANK) devastava a indústria, a rede de transportes e o espaço urbano alemães. Embora o preço tenha sido quase 17 000 bombardeiros e 77 000 homens da força aérea, a RAF e a aviação norte-americana (USAAF) causaram danos enormes, mas não conseguiram destruir a vontade ou capacidade dos Alemães para continuarem a combater.138 Uma invasão através do Canal da Mancha, a “Segunda Frente” que Estaline exigia há muito, tornou-se uma necessidade.

Grande parte do treino militar e preparação para a invasão de França teve lugar, necessariamente, em Inglaterra, onde, em meados de 1944, já havia 1,5 milhões de militares americanos139. O famoso exercício de treino em Slapton Sands, em que mor-reram vários soldados americanos numa tentativa caótica de simular um desembarque em França, foi apenas um dos inú-meros esforços para preparar os exércitos aliados para a invasão. A base americana mais famosa deste período era talvez uma que na realidade não existia. O quartel-general do 1.º Grupo de Exércitos dos Estados Unidos, em Dover, que estava sob o comando do tenente-general George Patton, era constituído por uma série de unidades reais e imaginárias, o que confundiu ainda mais os alemães que estavam a defender a Muralha do Atlântico.

Os americanos também estabeleceram uma presença na Irlanda do Norte. Tal como no caso da ocupação da Islândia, na Conferência de Arcádia, os Estados Unidos concordaram em estacionar tropas no Ulster. A situação na Irlanda do Norte era extremamente problemática para a Grã-Bretanha e para a Irlanda neutral. O governo de Éamon de Valera resistiu às abordagens britânicas e alemãs, mas isso custou-lhe a possibilidade de uni-ficar novamente a ilha140. Harold Nicholson, que visitou Dublim em Março de 1942, constatou que o governo não tinha grandes dúvidas de que os americanos haviam poupado muitos proble-mas à República da Irlanda. Escrevendo no seu diário, de Valera

138 Allan R. Millett e Peter

Maslowski, For the Common Defense:

A Military History of the United

States of America, Nova Iorque, Free

Press, 1994, p. 459.

139 Mark Stoler, Allies in War:

Britain and America Against the Axis Powers,

1940-1945, Londres, Hodder

Arnold, 2005, 153.

140 Weinberg, p. 147.

Page 121: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[119]

CHEGAR COMO CONQUISTADORES: AS BASES AMERICANAS E O TEATRO EUROPEU, 1941-45

diz que “Os Irlandeses ficaram «aliviados» com a ocupação ame-ricana da Irlanda do Norte e são poucos os que têm bom senso suficiente para ver que ela ajudará muito a destruir o mito ame-ricano sobre a Irlanda”141.

Um dos resultados da neutralidade irlandesa foi a necessidade de manter uma forte presença aliada no Norte, mesmo que a Grã-Bretanha não tivesse tropas suficientes noutros locais. O número de militares americanos que passaram pela região durante a guerra foi superior a 300.000, tendo os primeiros chegado em Janeiro de 1942142. Uma importante base naval em Londonderry guardava os acessos ao Mar da Irlanda, enquanto instalações militares em Antrim, Down, Tyrone e noutros locais eram uti-lizadas para preparar as invasões do Norte de Africa e da Nor-mandia.

A questão do estabelecimento de bases durante o avanço aliado na Europa Ocidental foi complicada em termos jurídicos e práticos. À medida que a ocupação alemã ia recuando, os Estados libertados procuravam definir os seus direitos em rela-ção aos americanos. A maneira como o faziam diferia muito de um país para outro. França, por exemplo, reivindicou as suas bases coloniais no Norte de África, muitas das quais já estavam sob o controlo dos Estados Unidos143. A Itália, com a sua ter-rível guerra civil e a continuação da presença de tropas alemãs, apresentava um conjunto de desafios muito diferente.

A estratégia aliada visou a Alemanha desde o início da guerra, e, dado o seu carácter excepcional, o caso da Alemanha pode dizer-nos muito sobre o futuro da política americana relativa ao estabelecimento de bases. A Alemanha sofrera danos considerá-veis em todo o seu território devido aos bombardeamentos e à subsequente invasão. Era inequivocamente um país inimigo e as tropas aliadas recordaram aos alemães que eles estavam a ser ocupados e não libertados. Havia letreiros por toda a zona ocu-pada pelos americanos dizendo “Chegamos como conquistado-

141 Harold Nicholson, The War Years, 1939- -1945, Nova Iorque, Atheneum, 1967, p. 218.

142 Este episódio da II Guerra Mundial, que tem sido pouco estudado, é analisado com vivacidade in Mary Pat Kelly, Home Away from Home: The Yanks in Ireland, Belfast, Appletree Press, 1994.

143 Patrick Facon, “U. S. Forces in France, 1945-58”, in Duke e Krieger, pp. 234-5.

Page 122: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[120]

ADAM R. SEIPP

res, não como opressores”144. Desde 1944 que havia planos concretos para colocar a Alemanha sob administração militar, o que exigia o rápido estabelecimento de estruturas semiperma-nentes145. Por último – e este é um aspecto fundamental da história da política relativa às bases militares –, a Alemanha fora até há pouco tempo um país muito mobilizado e militarizado com uma extensa rede de bases, instalações e outras fortificações. Atendendo à destruição total do seu aparelho militar, as bases que haviam sobrevivido aos bombardeamentos e à invasão já não estavam a ser utilizadas. Como a desmilitarização era uma pedra angular dos planos dos Aliados para a Alemanha derrotada, essas estruturas passaram rapidamente para as mãos dos con-quistadores146.

A cidade bávara de Würzburg, que veio a ter uma das comu-nidades mais importantes ligadas a uma base na Alemanha, é um excelente exemplo da política de estabelecimento de bases dos Estados Unidos nos últimos anos da guerra. Em 1945, a cidade estava em ruínas. Em 16 de Março, um bombardeamento cerrado da RAF obliterara quase 80% do centro da cidade matando cerca de 5000 pessoas em 20 minutos. Um mês depois, as tropas americanas que atravessaram o rio Main depararam com uma forte resistência e muitos dos edifícios que restavam caíram durante os combates violentos travados nas ruas. Esta sequência de catástrofes, aliada à guerra civil de baixa intensidade na Francónia no final da guerra, gerou vagas de pessoas deslo-cadas, que fugiam aterradas e com fome. No final da guerra, Würzburg tinha uma população de apenas cerca de 6000 habi-tantes, a que se vieram acrescentar quase 5000 refugiados147.

A presença americana em Würzburg era pequena, consistindo num quartel-general com um reduzido número de pessoal, ins-talado num dos poucos edifícios do centro da cidade que haviam sobrevivido. Deste posto avançado em Ludwigskai, o novo governo militar, sob o comando do primeiro-tenente Maurice

144 Veja-se por exemplo Anni

Baker, Wiesbaden and the Americans,

1945- -2003, Wiesbaden,

Stadtarchiv Wiesbaden, 2004,

p. 25.

145 O estudo mais completo dos

mecanismos da ocupação continua a ser o de Harold Zink, The United

States in Germany, 1944-1955,

Princeton, D. van Nostrand, 1957.

146 Os restantes “D” eram a

desnazificação, a democratização e a descartelização.

Veja-se James Tent, Mission on

the Rhine: Reeducation and

Denazification in American-occupied

Germany, Chicago,

University of Chicago Press,

1982, p. 17.

147 Peter Moser, Würzburg:

Geschichte einer Stadt, Bamberg,

Babenberger Verlag, 1999, 289;

Herbert Schott, Die Amerikaner als Besatzungsmacht in

Würzburg,

Page 123: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[121]

CHEGAR COMO CONQUISTADORES: AS BASES AMERICANAS E O TEATRO EUROPEU, 1941-45

Henderson, de Bozeman, Montana, começou a restabelecer a ordem e o governo civil da cidade devastada. Dentro de um ano, a administração civil da cidade, em colaboração com os americanos, promoveu a realização de eleições municipais. O Gabinete do Governo Militar dos EUA para a Alemanha (OMGUS), uma das instituições mais extraordinárias e duradou-ras do governo militar no século XX, estabeleceu-se em Würzburg e noutras cidades da zona de ocupação americana.

Um aspecto fundamental foi o facto de os americanos terem exigido os postos militares que já não estavam a ser utilizados, situados nas cidades alemãs e nos seus arredores. Com a redução de tropas depois da guerra, estas pretensões raramente foram concretizadas ou necessárias. Dado que, em muitos casos, estes postos eram alguns dos poucos edifícios que haviam sobrevivido aos combates, foram ocupados por refugiados e pela nova cate-goria das “pessoas deslocadas”. Nas colinas à volta de Würzburg, milhares de pessoas que haviam perdido as suas casas instalaram- -se na base aérea de Galgenberg, que não estava ser utilizada. Quatro anos mais tarde, quando as forças geopolíticas os volta-ram a impelir para a Europa, os americanos reivindicaram nova-mente a base, expulsaram os refugiados que ainda lá se encontravam e construíram o enorme complexo do quartel de Skyline, que passou a fazer parte do quartel-general da divisão do exército americano que guardava a orla sul da Passagem de Fulda148.

Com o colapso e rendição do Estado alemão em Maio de 1945, os Estados Unidos começaram a reduzir as suas forças na Europa. No Dia da Vitória na Europa (VE-Day), os Estados Unidos tinham 3 069 000 militares no teatro de operações. Este número começou a diminuir rapidamente quase de imediato, até que, em finais de 1949, restavam apenas aproximadamente 80 000 soldados no continente. Muitos europeus, especialmente os que viviam próximo da linha da frente da divisão do conti-

Würzburg, Freunde Mainfränkischen Kunst und Geschichte, 1985, p. 74; e Hans Steidle e Christine Weisner, Würzburg: Streifzüge durch 13 Jahrhunderte Stadtgeschichte, Würzburg, Echter, 1999, p. 223; Stephen Fritz, Endkampf: Soldiers, Civilians, and the Death of the Third Reich, Lexington, University Press of Kentucky, 2004.

148 “Lager Galgenberg wurde in zehn Tagen geraümt” Main-Post, 29 de Agosto de 1951.

Page 124: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[122]

ADAM R. SEIPP

nente no pós-guerra, receavam (ou esperavam) com alguma justificação que os Estados Unidos saíssem da Europa, tal como acontecera após a I Guerra Mundial. Esses receios revelaram-se infundados. À medida que as tensões da Guerra Fria se foram intensificando nos anos a seguir a 1945, os Estados Unidos começaram a reconsiderar a sua posição em relação à segurança europeia. Com a decisão tomada por Truman em 1950 de enviar tropas para a Europa e, pouco depois, a Guerra da Coreia, deu- -se uma inversão da tendência para a diminuição da presença americana na Europa que se havia registado no pós-guerra. Um ano mais tarde, o número de militares americanos na Europa aumentou para quase 232 000149. O Exército da Guerra Fria começava a tomar forma nas guarnições militares americanas na Europa.

As bases em que essas tropas foram colocadas já eram conhe-cidas dos militares norte-americanos. De Keflavik às Lajes e de Lakenheath a Würzburg, a presença militar americana na Europa e na Bacia do Atlântico durante a Guerra Fria davam continui-dade às experiências dos Estados Unidos durante a II Guerra Mundial. Embora o impasse nuclear e os enormes exércitos de dissuasão da era da Guerra Fria fossem profundamente diferen-tes das circunstâncias do teatro de operações europeu do período de 1939-45, o envolvimento dos Estados Unidos na guerra euro-peia deu origem à criação de infra-estruturas, de capacidades de organização e de uma visão global que poderiam ser rapidamente mobilizadas poucos anos depois para fazer face a um novo con-junto de desafios no domínio da segurança.

149 Thomas Leuerer, Die Stationierung amerikanisher Streitkräfte in Deutschland:

Militärgemeinden der U. S. Armee seit

1945 als ziviles Element der

Stationier-ungspolitik der

Vereinigten Staaten,

Würzburg, Ergon Verlag, 1997,

p. 335.

Page 125: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[123]

OS AÇORES E A II GUERRA MUNDIAL

Luís Andrade

Introdução

Através do estudo da historiografia portuguesa, designadamente na sua componente militar, não restam dúvidas de que o arqui-pélago dos Açores, ao longo dos séculos, tem prestado um ine-gável serviço, não apenas ao país, como é evidente, mas também às potências ocidentais, nomeadamente à Grã-Bretanha e aos Estados Unidos da América, assim como, de uma forma geral, à própria Aliança Atlântica, desde a sua formação, em Abril de 1949.

Ao longo do primeiro conflito mundial, designadamente durante a sua primeira fase, as ilhas atlânticas portuguesas não representaram especial preocupação para o país devido ao facto de não se ter registado qualquer incidente nas suas proximida-des150. Nessa altura, o Governo Português reconhece a sua inca-pacidade e a falta de meios materiais e humanos para fazer face a um eventual conflito que pusesse em risco as suas ilhas no Atlântico. A entrada de Portugal na I Guerra Mundial, em 1916, não altera significativamente a situação. A Grã-Bretanha informa o Governo Português de que asseguraria unilateralmente a defesa dos portos portugueses não continentais. Parece, também, não suscitar qualquer dúvida que a própria entrada de Portugal naquele conflito mundial deveu-se ao facto de ser aliado da Grã-Bretanha151.

Por outro lado, os sistemas de alianças anteriores à I Guerra Mundial, foram postos em causa e até acusados de serem os responsáveis pelo alastramento do conflito. É, de igual modo,

150 Veja-se o trabalho de António José Telo, Os Açores e o Controlo do Atlântico, Lisboa, Edições Asa, 1993, p. 93.

151 José Medeiros Ferreira, Portugal na Conferência da Paz, Lisboa, Quetzal Editores, 1992, p. 37.

Page 126: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[124]

LUÍS ANDRADE

relevante referir que um dos motivos que está na base da entrada de Portugal no primeiro conflito mundial ao lado dos Aliados, teve a ver, entre outras coisas, com a disputa da representativi-dade internacional da Península Ibérica. Isto é, a entrada do nosso país na guerra deveu-se, em grande medida, à dialéctica do relacionamento entre Portugal e a Espanha152. No entanto, como é evidente, a problemática colonial portuguesa não deixou de ser, de igual modo, um factor importante a ter em conside-ração no que concerne especificamente à entrada do nosso país naquele conflito.

De igual modo, a já referida posição de dependência de Por-tugal relativamente à Inglaterra era por demais evidente. Até 1916, acentua-se a mudança nas relações da secular aliança: o seu centro deslocou-se de África para o Atlântico e a posição de dependência e subordinação é mais forte. É relevante referir, neste contexto, que o Reino Unido nunca poderia aceitar que as ilhas atlânticas portuguesas pudessem eventualmente cair nas mãos dos seus inimigos.

Esta questão tem a ver, essencialmente, com a dialéctica exis-tente entre o pequeno e o grande Estado, nomeadamente quando se trata de países dotados de importância geoestratégica. Neste contexto, a nossa fraqueza face à Inglaterra era por demais evi-dente. Por outro lado, existia uma aliança formal entre os dois Estados que, através da História, apenas funcionou a favor da Inglaterra sem, na maioria das vezes, quaisquer contrapartidas para o nosso país.

Portugal sempre foi importante para a Inglaterra na medida em que, tal como escreveu Lord Rotermere no Daily Mail, tem posições estratégicas que o tornam chave das comunicações marí-timas da Inglaterra153. Segundo ele, os Açores são mais importan-tes do que Gibraltar, Cabo e Singapura juntos, na medida em que, a partir deste arquipélago se pode controlar facilmente as principais rotas marítimas utilizadas pelo seu país. Ainda no que

152 Ibid, p. 49.

153 Luís Andrade, Neutralidade

Colaborante – o caso de Portugal na

Segunda Guerra Mundial, Ponta

Delgada, Coingra, 1993, p. 129.

Page 127: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[125]

OS AÇORES E A II GUERRA MUNDIAL

diz respeito àquelas ilhas, escreveu que a teoria de que os Açores podiam ser ocupados por simples acção naval era errada. Uma defesa adequada dos Açores, acrescentou ele, podia destruir uma expedição naval e impedir as comunicações com a Inglaterra154.

Não podemos, de igual modo, deixar de referir as teses defen-didas por Alfred Mahan, entre outros, e que se revestem de uma importância vital para o mundo ocidental e atlântico, particu-larmente para os Estados Unidos da América155. As suas ideias influenciaram profundamente o pensamento e a acção de The-odore Roosevelt, quando exerceu as funções de Subsecretário da Marinha dos Estados Unidos da América, assim como, mais tarde, seu Presidente. Mahan analisou ainda, de uma forma exaustiva, a História marítima, designadamente o crescimento da influência global britânica, tendo chegado à conclusão de que o controlo dos mares, e sobretudo de pontos de passagem estrategicamente importantes, era, de facto, essencial a fim de que um país conseguisse atingir os seus principais objectivos e, desta forma, obter o estatuto de grande potência.

Foi exactamente com base nesses pressupostos de natureza geopolítica e geoestratégica que os Estados Unidos da América solicitaram ao Governo Português facilidades de natureza militar nos Açores durante a II Guerra Mundial. Acerca desta problemá-tica, foi Walter Lippman quem, em Fevereiro de 1917, escreveu o seguinte: “A segurança do Atlântico é algo pelo qual os Estados Unidos devem lutar. Porquê? Porque nas duas costas do Oceano Atlântico cresceu uma profunda rede de interesses que contribui para unir o mundo ocidental. Se essa comunidade fosse destruída, dar-nos-íamos então conta daquilo que tínhamos perdido”156.

Anos mais tarde, e já durante o último conflito mundial, Lippman acrescentaria o seguinte: “O Oceano Atlântico não é a fronteira entre a Europa e as Américas. É o mar interior de uma comunidade de nações aliadas umas às outras através da Geografia, da História e da sua necessidade vital”157.

154 Dez Anos de Política Externa, vol. IV, Doc. n.º 749, p. 25.

155 Acerca deste assunto, veja-se o livro de Claude Raffestin, Géopolitique et Histoire, Lausanne, Editions Payot, 1995.

156 Citado por James Robert Huntley, The NATO Story, New York, Manhattan Printing Company, 1969, p. 15.

157 Ibid.

Page 128: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[126]

LUÍS ANDRADE

Ainda no que diz respeito à nação norte-americana, foi a 15 de Abril de 1917, que o Ministro de Portugal em Washington envia uma nota diplomática para Lisboa em que se faz uma primeira referência ao estabelecimento de uma base naval norte- -americana nos Açores. Aliás, em Ponta Delgada, Roosevelt havia referido a importância deste arquipélago “… a ponto de consi-derar o apoio concedido pela base naval de Ponta Delgada às forças aliadas mais importante do que a própria participação militar portuguesa no teatro europeu”158.

Ainda em declarações prestadas ao jornal micaelense, Repú-blica, Roosevelt tinha afirmado que era devido à importância geoestratégica dos Açores que estes haviam prestado uma con-tribuição muito especial no que concerne ao transporte de tro-pas do Novo para o Velho continente, tornando possível, desta forma, que o desfecho da guerra não se prolongasse159.

O que também é importante referir, neste contexto, é que enquanto Portugal participou na I Guerra Mundial, a Espanha permaneceu neutral. O nosso país, ao combater ao lado das potências marítimas, deu provas de que a sua política externa estava em sintonia com a dos Aliados, facto que, nessa altura, como, aliás, posteriormente, veio a ser extremamente importante para a definição das suas políticas externa e de defesa.

A II Guerra Mundial

Após esta breve introdução relativamente ao papel desempenhado pelo arquipélago dos Açores durante o primeiro conflito mun-dial, cumpre-nos agora tecer algumas considerações acerca da sua função ao longo da II Guerra Mundial.

Nesta perspectiva, entendemos ser relevante começar por referir que, nas suas Memórias, George Kennan menciona que no que diz respeito especificamente à entrada de Portugal na

158 “Franklin D. Roosevelt nos Açores durante a Primeira Guerra

Mundial”, in Diário de Notícias,

15 de Dezembro de 1982, p. 15.

159 Veja-se o trabalho do autor,

Os Açores, a Segunda Guerra

Mundial e a NATO, Ponta

Delgada, Impraçor, S.A.,

1992, pp. 49-50.

Page 129: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[127]

OS AÇORES E A II GUERRA MUNDIAL

I Guerra Mundial, a pedido da Inglaterra, o nosso país fê-lo de imediato. Na sequência disto, escreveu o seguinte:”… era claro que eles fariam o mesmo na II Guerra Mundial se o pedido voltasse a ser formulado. No entanto, as autoridades portugue-sas jamais o fariam a não ser que o pedido britânico fosse feito de uma forma inequívoca”160.

Por outro lado, George Kennan desempenhou um papel de relevo no âmbito das negociações com o Governo português na medida em que tentou, e conseguiu, moderar o ímpeto dos militares norte-americanos e convencer a Administração Roo-sevelt a adoptar uma aproximação mais cautelosa ao governo de Lisboa. Ainda citando as suas Memórias, Kennan ficou seria-mente preocupado com a lista quase interminável de facilidades pretendidas pelas forças norte-americanas no arquipélago dos Açores161.

Independentemente deste aspecto, o arquipélago açoriano desempenhou, de 1939 a 1945, uma das suas mais importantes funções em termos estritamente geopolíticos e geoestratégicos. A tal ponto que, por mais de uma vez, esteve iminente a sua ocupação militar tanto pelos Alemães como pelos Aliados. Por outro lado, os pressupostos básicos de natureza geopolítica e geoestratégica já anteriormente referenciados mantêm, de igual modo, toda a sua actualidade no decurso do último conflito mundial.

No que diz respeito concretamente à política externa, Por-tugal manteve uma posição de neutralidade que, mais tarde, foi denominada de colaborante, na medida em que o nosso país concedeu facilidades de natureza militar aos Aliados nos Açores, designadamente aos britânicos, em 1943, na ilha Terceira e aos norte-americanos, em 1944, na ilha de Santa Maria.

No entanto, Oliveira Salazar adoptou uma perspectiva muito peculiar acerca desta matéria, na medida em que entendia que apenas pelo facto de Portugal ter concedido aos Aliados facili-

160 George F. Kennan, Memoirs,1925- -1950, New York, Pantheon Books, 1967, p. 146. Veja-se, de igual modo, a obra do mesmo autor, At a Century’s Ending, New York, W. W. Norton and Company, 1996.

161 Veja-se o artigo de Luís Nuno Rodrigues “O Acordo Luso- -Americano dos Açores de 1944” in Portugal e o Atlântico – 60 anos dos Acordos dos Açores, Lisboa, Centro de Estudos de História Contemporânea Portuguesa, 2005.

Page 130: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[128]

LUÍS ANDRADE

dades militares nos Açores, em áreas perfeitamente definidas e delimitadas, como era o caso das Lajes na ilha Terceira, tal facto não implicava que no restante território nacional não se pudesse manter uma posição de estrita neutralidade. Isto traduzia-se numa interpretação da neutralidade em termos exclusivamente geográficos. Isto é, apenas pelo facto de Portugal ter concedido aos Aliados algumas facilidades nos Açores, tal não implicava necessariamente que o restante território nacional perdesse o seu estatuto de neutralidade. É exactamente isto que está na base da adopção do termo colaborante à política externa portuguesa a partir de 1943.

O então Ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal não entendia que, ao adoptar-se tal política, o nosso país tivesse deixado de ser neutral, reconhecendo, todavia, a complexidade de tal problemática, tendo deixado a sua interpretação jurídica aos internacionalistas, como ele próprio, aliás, escreveu. Acerca desta questão, Marcello Caetano dá testemunho disso quando diz ter ouvido a Salazar várias vezes afirmar que o Direito era a mais preciosa arma de defesa de um país pequeno e fraco como Portugal, pelo que haveríamos de observar rigorosamente acordos, tratados e usos comuns e de, com coerência das nossas relações, nos mantermos inflexíveis nos nossos direitos e pon-tuais no cumprimento das nossas obrigações162.

A Questão Comercial

Oliveira Salazar entendia, por outro lado, que Portugal podia e devia manter relações comerciais por igual tanto com as potên-cias Aliadas como com a Alemanha Nacional-Socialista. No que concerne às questões de natureza comercial, por exemplo, pen-samos ser relevante referir que, em 1938, o Reino Unido era o maior parceiro de Portugal, surgindo, em segundo lugar, a Ale-

162 Marcello Caetano, Minhas

Memórias de Salazar, Lisboa,

Edit. Verbo, 1977, p. 168.

Page 131: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[129]

OS AÇORES E A II GUERRA MUNDIAL

manha. Neste sentido, Oliveira Salazar assumira um compro-misso com ambas as potências no sentido da manutenção do comércio livre relativamente aos seus recursos domésticos e colo-niais. Sobre esta matéria, o entendimento de alguns estudiosos é que, de uma forma geral, Portugal saiu beneficiado ao decla-rar a sua neutralidade logo no início do conflito. Neste contexto, e reportando-nos apenas aos aspectos de natureza comercial, há a registar o progresso assinalável da balança comercial portu-guesa, que de um deficit de cerca de 90 milhões de dólares em 1939, passou para um superavit de cerca de 68 milhões de dóla-res em 1942.

Talvez uma das possíveis explicações para o relativo sucesso económico português nessa altura se deva, pelo menos em parte, à existência, no seu território, de depósitos de Volfrâmio. Relati-vamente a esta questão, importa referir que a Alemanha dependia totalmente de Portugal e de Espanha para a importação daquele minério. Há a assinalar, por outro lado, que os Aliados não depen-diam apenas do nosso país para os seus abastecimentos, consti-tuindo um dos seus principais objectivos evitar, ou, pelo menos reduzir, o mais possível, os abastecimentos à Alemanha.

Com é possível verificar, a competição no que diz respeito à aquisição de volfrâmio foi intensa e, em 1943, o seu preço aumentou 775% relativamente ao seu custo antes do início do segundo conflito mundial. Por outro lado, registou-se um aumento substancial da sua produção, tendo vindo a aumentar de 2419 toneladas métricas, em 1938, para 6500 toneladas, em 1942. Tendo em consideração o que foi previamente referido, e por forma a poder manter a sua neutralidade, Portugal viu-se na necessidade de implementar um sistema muito restritivo de quotas de exportação. Este sistema veio a permitir a cada um dos beligerantes exportar Volfrâmio das suas próprias minas assim como uma percentagem fixa de produção proveniente de minas independentes.

Page 132: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[130]

LUÍS ANDRADE

Ainda acerca desta questão, Salazar era da opinião de que a Inglaterra não poderia “ter os benefícios da neutralidade portu-guesa e nada pagar por ela”. Por outro lado, no que dizia respeito às relações do nosso país com a Alemanha, o Ministro português dos Negócios Estrangeiros entendia que essas relações, assim como os fornecimentos de estanho e de Volfrâmio, eram o preço que a Inglaterra pagava pelo sossego da Península e até pela neutralidade da Espanha163.

Oliveira Salazar e a Neutralidade Portuguesa

Relativamente a esta problemática, Oliveira Salazar era da opi-nião de que Portugal queria seguir para com a Inglaterra a neu-tralidade mais benévola possível, desde que essa situação parecesse ser a de maior vantagem mútua. Por outro lado, entendia que era muito importante o serviço que Portugal prestava à Europa e à América com a nossa atitude de impecável neutralidade e a vantagem tanto para neutros americanos como para beligerantes europeus de não perturbarem o último ponto neutro despido de todas as ambições ou reivindicações, por onde se mantinham relações entre a América e a Europa164.

O que mais interessa sublinhar, neste contexto, é o facto de que, em paralelo com a questão relacionada com o volfrâmio, decorriam as negociações com os Aliados relativamente à con-cessão de facilidades militares nos Açores. Independentemente do que sucedeu, é, pensamos nós, importante referir que no articulado da Convenção de Haia, de 1907, designadamente nos seus artigos 5.º e 13.º, torna-se evidente que nenhum país, ao adoptar o estatuto de neutralidade perante um conflito, seja ele de que natureza for, pode conceder facilidades de natureza mili-tar no seu território a qualquer beligerante. Consequentemente, a conclusão lógica e evidente que se pode tirar daqui é que Por-

163 Dez Anos de Política Externa,

vol. XII, Doc. n.º 103, p. 166.

164 Ibid., vol. VII, Doc. n.º 941,

p. 190.

Page 133: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[131]

OS AÇORES E A II GUERRA MUNDIAL

tugal não foi neutral do estrito ponto de vista da teoria da neu-tralidade e do Direito Internacional vigente nessa altura.

No entanto, tendo em vista a contenção do expansionismo germânico na Europa, tanto a Grã-Bretanha como, mais tarde, os Estados Unidos da América, solicitaram a Portugal essa faci-lidades, solicitações essas que, a determinada altura, chegaram a ser manifestamente exageradas165, pelo menos por parte da Administração norte-americana.

Muito embora existisse uma aliança formal entre o nosso país e a Inglaterra, o mesmo não sucedia com a nação norte-ameri-cana. O que esteve na base do acordo entre o Governo Português e a Administração dos Estados Unidos da América, foi, de facto, a província de Timor que havia sido ocupada por tropas Japo-nesas em 1942. Contudo, é importante referir, neste contexto, que foram tropas Aliadas (Holandesas e Australianas) que toma-ram aquele território antes de os Japoneses o terem feito, tendo colocado em perigo, obviamente, a neutralidade de Portugal nessa altura.

No que diz respeito à Inglaterra, este país invocou expressa-mente a Aliança Luso-Britânica e solicitou as facilidades que pretendia nos Açores na medida em que facilitariam as ligações marítimas entre o seu país e o exterior, designadamente através do Atlântico Norte. Como é sabido, a ameaça dos submarinos alemães era muito séria nessa altura e constituiu um factor da maior importância a ter em conta pelos Aliados.

Relativamente a este ponto, o Governo Britânico publicou um relatório no qual se refere que das mais de 30 000 vítimas da Marinha Mercante, cerca de 23 000 foram motivadas pelas acções dos submarinos alemães. Por outro lado, a maioria das perdas de navios, 69% do total, foi infligida por submarinos, os quais, nos 68 meses do conflito, afundaram 2775 navios mercantes Ingleses, Aliados e neutros, cuja tonelagem era da ordem das 14 milhões e meio de toneladas166.

165 Ver, por exemplo, o trabalho de Carlos Bessa, A Libertação de Timor na II Guerra Mundial – a importância dos Açores para os interesses dos Estados Unidos – subsídios históricos, Lisboa, Academia Portuguesa da História, 1992, p. 47.

166 The Battle of the Atlantic – The Official Account of the Fight against the U-Boats, 1939- -1945, London, HM’s Stationery Office, 1946, pp. 6-8.

Page 134: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[132]

LUÍS ANDRADE

Com base no que foi previamente referido, podemos, de facto, constatar a necessidade de evitar que os Açores ficassem sob o controlo do inimigo. Para além disso, como na altura referiu o Embaixador Português em Londres, a nossa vida depen-dia essencialmente do mar, o que significava que dependia da esquadra britânica que dominava o Atlântico e o Indico. Num apontamento de conversa com o Secretário de Estado Britânico dos Negócios Estrangeiros, referiu ainda as posições vitais para o Império Britânico que Portugal tinha no mundo: os Açores, Cabo Verde, o caminho de ferro de Benguela, o Lobito, a Beira, Lagos e toda a costa portuguesa. Na sequência disto, afirmou ainda o seguinte: “A nossa amizade representa para a Inglaterra a segurança do Atlântico, a entrada do Mediterrâneo, a certeza do caminho do Oriente sempre aberto. Porque é que tanta vez e durante tanto tempo VV. se obstinaram, nestas condições, em nos tratar como quantité negligeable?”167.

À Inglaterra interessava sobretudo que Portugal adoptasse uma neutralidade colaborante, como, de facto, veio a acontecer, e a Portugal, por outro lado, interessava-lhe, acima de tudo, que a Inglaterra continuasse a controlar os oceanos. Em todo este contexto, não é despiciendo referir-se que, nessa altura, os Aço-res constituíam pedra essencial da neutralidade peninsular. No entanto, Oliveira Salazar entendia que a Alemanha, indepen-dentemente da posição Portuguesa, devia obter algumas vanta-gens materiais resultantes da nossa neutralidade.

Para além deste aspecto, Portugal não tinha outra alternativa senão estar de bem “com os senhores do mar, estar ao lado de quem comanda o Atlântico”, como afirmou o Embaixador Armindo Monteiro. Este, no mesmo documento enviado a Oli-veira Salazar, escreveu ainda o seguinte: “Olhando o futuro à luz do que ficou dito, a acção política portuguesa no campo internacional, pelo menos na sua concepção e directrizes gerais, assume certa simplicidade. A História ensina e a experiência dos

167 Dez Anos de Política Externa,

vol. IV, Doc. n.º 830, p. 157.

Page 135: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[133]

OS AÇORES E A II GUERRA MUNDIAL

nossos dias confirma, como facto essencial, que os países fracos só têm independência real quando raro conjunto de circunstân-cias coloca os seus interesses fora do campo de atracção das grandes potências; de ordinário, são irresistivelmente atraídos para estas por uma lei de gravitação social tão inelutável como a que rege os movimentos dos corpos celestes”168.

Armindo Monteiro entendia que os Ingleses se deixavam impressionar muito pouco com os interesses dos outros, mas que, pelo contrário, a ideia de cederem nos seus interesses os perturbava muito e acima de tudo era-lhes cara a defesa das linhas de comunicação imperiais. Ainda segundo aquele Embai-xador, existiam três pontos em que não acreditava: na genero-sidade ou isenção das grandes nações; no seu respeito pelos países pequenos ou fracos e na firmeza na palavra dada quando grandes interesses estivessem em jogo. Neste sentido, escreveu ainda o seguinte: “No dia em que os grandes Governos entrarem a conversar sobre colónias, creio firmemente que todas as ideias de respeito pela propriedade ou soberania dos outros se irão a pouco e pouco desvanecendo” e, ainda no mesmo documento: “Releia Vossa Excelência, nos documentos diplomáticos britâ-nicos e nos documentos diplomáticos franceses, os papéis que se referem ao assalto em 1913 preparado contra o nosso domí-nio ultramarino e verá como os corvos surgem sucessivamente das capitais europeias, uns atrás dos outros, para nada ficar do suposto cadáver português”169. Entendemos que estas palavras, extremamente significativas, voltam o colocar o problema, da maior importância, que se relaciona com a problemática do relacionamento entre os pequenos Estados, por um lado, e os grandes Estados, por outro, designadamente durante um conflito de natureza militar.

No que diz respeito à importância das ilhas atlânticas para os Estados Unidos da América, num telegrama enviado por Armindo Monteiro a Oliveira Salazar, lê-se o seguinte: “Devemos

168 Dez Anos de Política Externa, Vol. VIII, Doc. n.º 1953, pp. 575-576.

169 Ibid., Vol. I, Doc. n.º 191, p. 258.

Page 136: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[134]

LUÍS ANDRADE

perguntar-nos se não será preciso declarar que as ilhas do Atlân-tico estão incluídas no acto de Havana, na doutrina de Monroe e na necessidade de defesa do hemisfério, com fundamento de que é mais seguro impedir que caiam nas mãos dos agressores do que emendar consequências quando já tiverem caído”170.

Directamente relacionado com este assunto, Roosevelt pro-feriu, no final de Dezembro de 1940, e reportando-se à hipó-tese de os Alemães ganharem a guerra, o seguinte: “Would the islands of the Azores still fly the flag of Portugal after five centu-ries? You and I think of Hawaii as an outpost of defence in the Pacific. Yet the Azores are closer to our shores in the Atlantic than Hawaii is on the other side”171. Este discurso do Presidente Roosevelt foi entendido, pela maioria dos comentadores, como um aviso à Alemanha, de que se a Espanha e Portugal fossem invadidos, os Estados Unidos da América ver-se-iam forçados a estenderem o manto protector da doutrina de Monroe até aos Açores172.

Já a 6 de Maio de 1941, o Senador Pepper profere no Senado um discurso no qual advoga a ocupação dos Açores, de Cabo -Verde, Canárias e Dacar173, tendo recebido, para o efeito, o apoio da imprensa norte-americana, na medida em que defen-dia que os Aliados, a fim de garantirem a sua defesa, se anteci-passem à realização das intenções atribuídas à Alemanha de invadir Portugal e as suas ilhas atlânticas174.

A 24 de Maio de 1941, o Presidente Roosevelt ordenava aos Chefes do seu Estado-Maior que aprontassem forças da Armada para, apoiadas pelas esquadras do Atlântico, ocuparem os Aço-res. As unidades já estavam a ser treinadas sob o comando do Major-General Holland M. Smith, do Corpo de Fuzileiros Navais, quando, a seguir a uma troca de impressões entre Wins-ton Churchill e o Presidente norte-americano, em princípios de Junho de 1941, a ocupação dos Açores foi anulada e substituída pela da Islândia175.

170 Ibid., Vol. VII, Doc. n.º 1256,

p. 540.

171 Ibid., Vol. VIII, Doc. n.º 1431,

p. 41.

172 Veja-se o telegrama enviado pelo Ministro de

Portugal em Washington a

Oliveira Salazar, in Dez Anos de

Política Externa, Vol. VIII, Doc.

n.º 1417, p. 31.

173 Franco Nogueira, Salazar, As Grandes Crises

(1936-1945), vol. III, Coimbra, Atlântida Editora,

1978, p. 319.

174 Augusto de Castro, Subsídios

para a História da Política Externa

Portuguesa durante a Guerra, Lisboa, Livraria Bertrand, 1954, pp. 20-21.

175 Ibid, p. 25. Veja-se, também,

a obra de Ernesto Machado,

Recordando nas duas grandes

guerras, Lisboa, Tipografia da

L.C.G.G., 1959, p. 182 e ainda o

livro de Stott

Page 137: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[135]

OS AÇORES E A II GUERRA MUNDIAL

Na II Guerra Mundial, os norte-americanos “wanted the Azores to offer those facilities which would permit the ferrying of a great number of land based aircraft to Europe for participation in the Normandy invasion and later to support the Allied advan-ces on the continent”176. Os Açores eram, portanto, da maior importância para os Aliados na condução da guerra e, por con-seguinte, estava tudo preparado, por exemplo na Conferência Tridente, na qual participaram Roosevelt e Churchill, para se invadir os Açores, com ou sem o consentimento do Governo Português.

Em todo este contexto do relacionamento entre Portugal, Reino Unido e Estados Unidos da América, Armindo Monteiro, enquanto Embaixador de Portugal em Londres, demonstrou uma clarividência e um realismo verdadeiramente notáveis. Ele entendeu, desde a primeira hora, que não era possível, nem mesmo desejável, que Oliveira Salazar protelasse sistematica-mente o problema que se relacionava com o desejo e a necessi-dade por parte do Reino Unido de obter facilidades de natureza militar no arquipélago dos Açores.

Por outro lado, não é possível separar a problemática que tem a ver com a cedência de facilidades militares aos Aliados nos Açores da questão colonial. No entender de Oliveira Salazar, uma das maiores preocupações, senão mesmo a maior, para o Governo Português, ao longo da II Guerra Mundial, tinha a ver com a manutenção da integridade territorial portuguesa, tanto no continente europeu e ilhas como, como é evidente, nas suas colónias espalhadas pelo mundo.

Para além deste aspecto, ao lermos os documentos atrás refe-renciados, podemos, de facto, analisá-los à luz da chamada Real-politik que, segundo alguns autores, teve a sua génese com Maquiavel no século XVI, sendo, posteriormente, desenvolvida, por Thomas Hobbes, Hans Morgenthau, Henry Kissinger, Ray-mond Aron e outros177.

Howorth, A Aliança Luso- -Britânica e a Segunda Guerra Mundial, Lisboa, E.N.P., 1956, p. 28.

176 Luc Crollen, Portugal, the U. S. and NATO, Lovaina, Leuven University Press, 1973, p. 36.

177 Acerca desta matéria, veja-se, por exemplo, a obra editada por Kristen Renwick Monroe, Contemporary Empirical Political Theory, Berkeley and Los Angeles, University of California Press, California, 1997; Terence Ball, Reappraising Political Theory, Oxford, Clarendon Press, 1995; Ken Booth e Steve Smith (Edit.), International Relations Theory Today, University Park, Pennsylvania, The Pennsylvania State University Press, 1995.

Page 138: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[136]

LUÍS ANDRADE

Entendemos que essa teoria do realismo político, mantêm, em grande parte, a sua actualidade, na medida em que as Rela-ções Internacionais são fundamentalmente relações que assentam no poder. E, na maioria dos casos, quem detêm o poder é que alcança os seus objectivos. Por outro lado, e na sequência do que foi anteriormente referido, é comum que os aspectos de ordem moral e ética não sejam, muitas vezes, tidos na devida conta.

Como é evidente, a II Guerra Mundial não fugiu a essa regra básica da Realpolitik. Tratava-se de uma guerra global e existen-cial na qual o que mais interessava aos contendores não era apenas a sua sobrevivência, mas aniquilar, por completo, se pos-sível, o adversário.

Considerações Finais

Em todo este contexto, o arquipélago dos Açores desempenhou sempre um papel da maior importância e que voltou a verificar- -se após o último conflito mundial, na medida em que Portugal, independentemente de, nessa altura, não ser um país democrá-tico, foi convidado a fazer parte de uma Organização Interna-cional que é a Aliança Atlântica.

Os pressupostos básicos de natureza geopolítica e geoestra-tégica subjacentes à importância do arquipélago açoriano foram basicamente os mesmos que se verificaram anos antes. Isto é, manteve-se a necessidade premente por parte dos Aliados de poderem dispor de um ponto de apoio a meio do Atlântico que lhes permitissem deslocar, o mais rapidamente possível, tropas e material de guerra para uma zona de conflito que poderia ser no norte de África, no Médio Oriente ou mesmo no chamado flanco sul da Aliança Atlântica.

Por outro lado, desde muito cedo que os dirigentes norte- -americanos entenderam que a segurança do Atlântico era algo

Page 139: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[137]

OS AÇORES E A II GUERRA MUNDIAL

pelo qual os Estados Unidos deviam lutar. Walter Lippman fez referência àquilo que pode muito bem ter sido uma alusão ao que em 1949 veio a ser a Organização do Tratado do Atlântico Norte. Essa comunidade de nações livres em ambas as margens do Atlân-tico, veio, de facto, a ter lugar após a II Guerra Mundial.

No entanto, não podemos esquecer que, desde o seu início como nação independente, os Estados Unidos da América tinham como um dos seus principais axiomas, no âmbito da política externa, o alheamento face aos problemas e conflitos europeus. Aliás, a doutrina de Monroe é sintomática disso mesmo. Isto é, evitar a todo o custo que as potências europeias de intrometessem nos assuntos internos americanos. Esta pers-pectiva da política externa por parte dos Estados Unidos da América manteve-se inalterada até à II Guerra Mundial, com Franklin Delano Roosevelt, independentemente daquele país ter entrado, tardiamente, na I Guerra Mundial.

Até ao segundo conflito mundial, os Estados Unidos dispu-nham dos recursos económicos e financeiros que preenchiam as condições para serem uma grande potência, mas não possuíam a filosofia indispensável para o serem, de facto. O sentimento neo-isolacionista norte-americano nunca desapareceu por com-pleto, como ainda hoje em dia se pode facilmente verificar. O que se passou foi que após a II Guerra Mundial, os Estados Unidos da América viram-se na necessidade de assumir as res-ponsabilidades decorrentes do facto de terem ganho a guerra e de terem de trabalhar no sentido da preparação e implementa-ção de uma nova ordem internacional que se caracterizou, até à queda do Muro de Berlim, em Novembro de 1989, por ser bipolar em termos estratégico-militares.

Foi, de igual modo, no âmbito desta nova ordem interna-cional, consequência directa do último conflito mundial, que Portugal, e designadamente os Açores, continuou a desempenhar uma papel da maior relevância dos pontos de vista geopolítico

Page 140: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[138]

LUÍS ANDRADE

e geoestratégico. Tal verificou-se, antes de mais, através do con-vite formulado a Portugal para ser membro fundador da Aliança Atlântica, em Abril de 1949. E o que esteve na base desse con-vite foi precisamente a importância geoestratégica dos Açores, como o demonstra claramente a documentação diplomática norte-americana dessa altura.

Os exemplos que consubstanciam essas afirmações são vários: desde o bloqueio de Berlim à guerra do Yom Kippur e, mais recentemente, as duas guerra do Golfo, verificou-se que o arqui-pélago dos Açores constituiu, de facto, um elemento de extrema importância no que concerne à projecção de poder por parte dos Estados Unidos da América para aquelas regiões do mundo.

Estes aspectos contribuem para dar corpo à tese, defendida pelo Professor Adriano Moreira, do chamado poder funcional de Portugal. Como país pequeno que é, e com limitados recur-sos, a única forma do nosso país se poder afirmar no plano internacional é, na realidade, através do poder que lhe advém do seu posicionamento internacional e que lhe é concedido através do elevado valor estratégico das suas posições no mundo, designadamente do arquipélago dos Açores.

Page 141: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[139]

FRANKLIN D. ROOSEVELT E OS AÇORES NA II GUERRA MUNDIAL

Luís Nuno Rodrigues

O interesse dos Estados Unidos pelo arquipélago dos Açores e pelo seu posicionamento estratégico tem antecedentes históricos diversos. Já no século XX, esse interesse remonta ao período da guerra de 1914-1918, altura em que os Estados Unidos estabe-leceram, pela primeira vez, uma base naval no arquipélago, pro-cesso no qual o então secretário adjunto da Marinha, Franklin Roosevelt teve um papel preponderante178. Assim que se iniciou a segunda guerra, os norte-americanos tiveram também a pre-ocupação de reforçar a sua vigilância sobre as ilhas portuguesas. Nesse intuito, solicitaram ao governo português autorização para deslocar para Lisboa a sua esquadra do Mediterrâneo composta, na verdade, por apenas um cruzador e dois destroyers. Logo a 15 de Setembro de 1939, porém, o cruzador USS St. Louis encon-trava-se de visita a Ponta Delgada e, nos meses seguintes, não só se manteve uma “presença naval americana” no Tejo, como se registaram “visitas irregulares” dos norte-americanos aos Aço-res e à Madeira179.

Foi, porém, a chegada das forças germânicas aos Pirinéus e os rumores de uma eventual invasão da Península Ibérica que colocaram Portugal e os Açores no primeiro plano das preocu-pações dos aliados e, por conseguinte, dos Estados Unidos. Em Março de 1940, o Presidente Roosevelt abordou a possibilidade de uma intervenção germânica nos Açores numa conversa que manteve com o ministro dos Estados Unidos em Portugal, na altura de visita a Washington180. Também o matutino The New York Times considerava, em Junho de 1940, que a conquista da

178 Ver a este respeito a obra de António Telo, Os Açores e o controlo do Atlântico (1898- -1948), Lisboa, Edições Asa, 1993, especialmente os capítulos II e III.

179 António Telo, Os Açores e o controlo do Atlântico (1898- -1948), p. 305.

180 Stetson Conn e Byron Fairchild, United States Army in World War II. The Western Hemisphere. The Framework of Hemisphere Defense, Washington D. C., Office of the Chief of Military History, 1960, p. 83. Versão electrónica em www.army.mil/cmh-pg/books/wwii/Framework.

Page 142: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[140]

LUÍS NUNO RODRIGUES

Espanha e de Portugal por parte da Alemanha Nazi poderia estar “por semanas”181.

Deste modo, a questão da protecção das ilhas Atlânticas quanto a uma eventual agressão das potências do Eixo era já, no Verão de 1940, uma preocupação central da diplomacia norte-americana que mais directamente lidava com Portugal. A 17 de Julho, o ministro de Portugal em Washington, João António de Bianchi, foi recebido no Departamento de Estado por James Dunn, “conselheiro político” para questões europeias, que lhe confirmou o “alto interesse dos Estados Unidos da América pela situação das ilhas pertencentes a Portugal”. O governo americano pretendia que Portugal lhe comunicasse “qualquer suspeita, facto ou circunstância” que pudesse afectar a situação nas ilhas para assim lhe poder dar “a mais imediata e séria consideração”. Dunn inquiriu ainda sobre os “meios de defesa” portugueses, declarando não ter dúvida de que “nos seria fornecido o material que carecessemos, desde que aqui o houvesse”. No seu telegrama para Lisboa, Bianchi acrescentou que lhe tinha sido dito que o Presidente Roosevelt, “com o conhecimento que tem de questões navais, se interessa par-ticularmente pela situação nos Açores, Cabo Verde e Guiné”182.

Os planos germânicos para uma eventual invasão da Penín-sula Ibérica conheceram, por esta altura, um significativo desen-volvimento. No final de Julho, as autoridades militares germânicas tinham concluido que a melhor alternativa a uma invasão imediata da Grã-Bretanha seria o controlo do Estreito de Gibraltar ou do Canal do Suez. Nos meses seguintes, estes planos evoluiriam, transformando-se num projecto para uma vasta operação militar que, se levada a cabo com sucesso, per-mitiria à Alemanha controlar o norte e o ocidente africano e as ilhas atlânticas. Tratava-se da chamada “Operação Félix”, cujos planos foram aprovados por Hitler no princípio de Dezembro.

181 The New York Times, 26 de

Junho de 1940, Arquivo

Histórico- -Diplomático

(doravante AHD), 3.º Piso,

Armário 8, Maço 20.

182 Telegrama da Legação

Portuguesa em Washington

(doravante LPW) para o Ministério

dos Negócios Estrangeiros

(doravante MNE), 18 de Julho de

1940, AHD, Arquivo de

Washington (doravante AW),

Maço 123.

Page 143: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[141]

FRANKLIN D. ROOSEVELT E OS AÇORES NA II GUERRA MUNDIAL

Previa-se que as forças militares alemãs entrassem na Península Ibérica em Janeiro de 1941 com os objectivos de conquistar Gibraltar, penetrar no litoral africano e garantir, na fronteira luso-espanhola, posições a partir das quais pudessem responder a um desembarque dos britânicos em Portugal183.

Na imprensa norte-americana tornaram-se cada vez mais fre-quentes as referências a uma eventual ocupação da Península Ibérica por parte da Alemanha, sobretudo depois do encontro de Hitler com Franco, em Outubro deste ano. Neste mês, um artigo do conceituado jornalista norte-americano Walter Lipp-mann no The New York Times notava precisamente que algumas das ilhas atlânticas estavam “mais perto da nossa costa atlântica do que está o Havai da nossa costa do Pacífico”, pelo que os Estados Unidos não podiam “estar sujeitos a vê-las cair nas mãos de qualquer potência forte e agressora”. Lippmann considerava que, “teoricamente, a linha imaginária que separa o hemisfério ocidental atravessa o arquipélago dos Açores”. Por conseguinte, continuava o articulista, era legítimo perguntar se os Açores não estavam incluídos dentro da célebre Doutrina de Monroe e se não eram necessários para a defesa do hemisfério ocidental. Defendendo uma ocupação preventiva do arquipélago, Lipp-mann concluía que era “muito mais prudente evitar que essas ilhas caiam em outras mãos do que ter de haver-se com as consequências se elas tiverem já caído”184.

Ora, as palavras de Lippmann seriam retomadas, pouco depois, pelo próprio Presidente Franklin Roosevelt quando este se referiu à importância estratégica dos Açores, num discurso pronunciado em Dezembro de 1940. Roosevelt interrogou-se, na altura, sobre se as ilhas dos Açores poderiam continuar a “ostentar a bandeira portuguesa” no caso de um ataque alemão a Portugal continental. Na verdade, o avanço alemão sobre a Península Ibérica poderia pôr em causa a própria segurança dos Estados Unidos, uma vez que os Açores estavam, afinal, “mais

183 Stetson Conn e Byron Fairchild, United States Army in World War II. The Western Hemisphere. The Framework of Hemisphere Defense, pp. 76-80.

184 Walter Lippman, “The American Interest in the French and Spanish Negotiations”, The New York Times, 26 de Outubro de 1940.

Page 144: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[142]

LUÍS NUNO RODRIGUES

perto das nossas costas do Atlântico do que o Havai está das nossas costas do Pacífico”185.

Poucos dias depois, os Estados Unidos dariam um novo passo importante no sentido de garantir a segurança da navegação no Atlântico. A 21 de Abril de 1941 era promulgado o chamado Western Hemisphere Defense Plan No. 2, através do qual os norte- -americanos determinavam que a linha de defesa do hemisfério ocidental ficava estabelecida no Meridiano 26 W, incluíndo, porém, a Leste desta linha, toda a Gronelândia e o arquipélago dos Açores. Dentro desta área, as forças armadas dos Estados Unidos passariam a encarar os navios de guerra ou aviões das potências beligerantes, à excepção das que tivessem possessões no hemisfério ocidental, como potencialmente perigosos ou “inamistosos” para “o território ou a navegação das potências americanas”186.

Franklin Roosevelt tinha já anteriormente comunicado a Winston Churchill esta sua intenção. Na sua versão dos eventos, o primeiro-ministro britânico recorda que “os chefes navais bri-tânicos e americanos estavam, nesta altura, preocupados com a situação nos Açores”, suspeitando que a Alemanha estaria a planear ocupar o arquipélago para aí estabelecer bases para os seus submarinos e para a sua aviação. Em mãos inimigas, con-siderava Churchill, os Açores representariam uma “grande ame-aça” à navegação aliada no Atlântico187. Por outro lado, Churchill estava também preocupado com a evolução da situação na Penín-sula Ibérica. Em mensagem enviada a Roosevelt, o primeiro ministro britânico alertava para a iminente possibilidade de uma invasão germânica da Peninsula e dizia-se preocupado com a pouca “capacidade de resistência” de Espanha e de Portugal à pressão germânica. Caso a Espanha “cedesse ou fosse atacada” e Gibraltar fosse conquistado pelos alemães, a Inglaterra faria seguir, de imediato, uma expedição com o objectivo de ocupar duas ilhas dos Açores e outra com destino a Cabo Verde, pro-

185 Dez Anos de Política Externa

(doravante DAPE), Vol. VIII, Lisboa,

Imprensa Nacional, 1973,

pp. 40-42.

186 Stetson Conn e Byron Fairchild,

United States Army in World War II.

The Western Hemisphere. The

Framework of Hemisphere

Defense, pp. 107- -108. Ver também William Langer e Everett Gleason, The Undeclared

War, 1940-1941, Nova Iorque,

Harper & Brothers 1953,

pp. 445-446.

187 Winston S. Churchill,

The Second World War. The Grand

Alliance, Boston, Houghton Mifflin

Company, 1950, p. 142.

Page 145: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[143]

FRANKLIN D. ROOSEVELT E OS AÇORES NA II GUERRA MUNDIAL

curando assim compensar a perda de Gibraltar. No entanto, estas operações levariam, no mínimo, oito dias e nada garantia que as forças germânicas não estivessem preparadas para as impe-dir. Churchill sugeria a Roosevelt que este enviasse um “esqua-drão americano para uma viagem amigável a estas regiões, o mais depressa possível”, para assim afastar eventuais “tentações” germânicas188.

O presidente americano respondeu a Churchill no início de Maio de 1941, informando que o governo norte-americano tinha recebido “fortes protestos” do governo português em rela-ção à projectada “visita amigável” aos Açores e a Cabo Verde. Por conseguinte, os americanos tinham desistido dessa ideia. Roosevelt aproveitava para sugerir a Churchill que não enviasse nenhuma expedição militar a qualquer das ilhas, a não ser que Portugal fosse efectivamente atacado ou que existissem infor-mações seguras de um ataque do Eixo às ilhas. O presidente norte-americano, evocando uma vez mais a velha “Doutrina de Monroe”, relembrava que os Açores estavam dentro do “hemis-fério ocidental” e que, no caso da presença de uma força expe-dicionária britânica no arquipélago, se tornaria necessário explicar à opinião pública americana que o objectivo dos britâ-nicos era meramente defensivo e que a ocupação não se torna-ria permanente. Ou seja, uma ocupação britânica dos Açores deveria ser acompanhada de uma declaração por parte do Reino Unido garantindo a restituição das ilhas à soberania portuguesa assim que a guerra terminasse. Isto, evidentemente, se Portugal sobrevivesse enquanto “nação independente”189. Churchill res-pondeu pouco depois, afirmando que poderia ser impossível adiar a ocupação das ilhas atlânticas para depois de um ataque germânico, mas prometendo declarar que a ocupação dos Aço-res seria temporária. Afinal de contas, não era intento dos bri-tânicos acrescentar mais terras ao seu império mas apenas garantir a defesa da Grã-Bretanha190.

188 Mensagem de Winston Churchill para Franklin Roosevelt, 23 de Abril de 1941, Foreign Relations of the United States (doravante FRUS), 1941, Vol. II, pp. 838-839.

189 Mensagem de Franklin Roosevelt para Winston Churchill, 1 de Maio de 1941, FRUS, 1941, Vol. II, pp. 839-840.

190 Mensagem de Winston Churchill para Franklin Roosevelt, 3 de Maio de 1941, FRUS, 1941, Vol. II, pp. 840-841.

Page 146: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[144]

LUÍS NUNO RODRIGUES

Nos Estados Unidos, a questão dos Açores voltou a ser deba-tida publicamente, desta vez no Senado. A 6 de Maio de 1941, o Senador Claude Pepper, da Florida, membro da comissão de relações externas do Senado, sugeriu que os Estados Unidos deveriam ocupar preventivamente várias bases e territórios no Atlântico, como os Açores, antes que os Alemães o fizessem. Ou seja, ocupar “as posições das quais estes monstros se preparam para nos atacar”, incluindo nessa categoria a Gronelândia, a Islândia, as ilhas dos Açores e Cabo Verde, as Canárias e Dacar. Interrogava-se Pepper: “Que justificação haverá para não ocu-parmos uma posição da qual poderíamos atacar o maléfico génio desta era?”191. Na sequência das declarações de Pepper no Senado, o governo português decidiu emitir uma nota oficiosa em sinal de protesto, criticando eventuais “intenções agressivas contra territórios portugueses” e declarando não ter recebido quaisquer pedidos ou sugestões para o uso de qualquer porto, base, costa ou ilha portuguesa por parte de qualquer dos governos belige-rantes. O governo garantia também ter preparado a defesa dos Açores, Madeira e Cabo Verde “em termos de poderem resistir a qualquer ataque de que porventura sejam objecto, embora o não espere”192.

Entretanto, desde o final de Abril que o governo norte-americano acelerara os preparativos para uma eventual operação nos Açores. A 28 de Abril de 1941, o cônsul norte-americano em Ponta Delgada recebeu instruções para “preparar um rela-tório urgente sobre as tropas portuguesas na ilha”193. A 7 de Maio, foi a vez da chamada War Plans Division elaborar uma lista de dezassete locais estratégicos para os interesses dos Esta-dos Unidos, ordenados consoante a sua “urgência”. Nessa lista, os Açores figuravam em segundo lugar, logo atrás de Dacar. Para as autoridades militares norte-americanas era claro que “uma declaração de guerra pela Alemanha se seguiria ao desem-barque de tropas americanas nos Açores ou na Islândia”. Nesta

191 DAPE, Vol. VIII, p. 387.

192 João Morais e Luís Violante,

Contribuição para uma Cronologia

dos Factos Económicos e

Sociais. Portugal, 1926-1985,

Lisboa, Livros Horizonte, 1986,

p. 91.

193 António Telo, Os Açores e o

controlo do Atlântico (1898- -1948), p. 336.

Page 147: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[145]

FRANKLIN D. ROOSEVELT E OS AÇORES NA II GUERRA MUNDIAL

fase, argumentavam os militares, o envio de tropas para os Açores seria “mais facilmente justificável como uma medida de defesa do hemisfério ocidental” do que a ocupação da Islân-dia194. Duas semanas depois, a 22 de Maio de 1941, o Presidente Roosevelt solicitou às autoridades militares norte-americanas que elaborassem um plano que permitisse a “ocupação e defesa” dos Açores pelos Estados Unidos no prazo de um mês. Cinco dias depois, o Exército e a Marinha tinham já elaborado o plano para a “Operação Gray”, prevendo o envio de uma força expedicionária de 28 000 homens com forte apoio naval e aéreo195.

A 27 de Maio, foi o próprio Franklin Roosevelt que declarou publicamente acreditar que a Alemanha tinha poder suficiente para ocupar, a qualquer momento, a Península Ibérica, os Aço-res e Cabo Verde. Num discurso efectuado na Casa Branca, Roosevelt avisou os norte americanos que a guerra europeia se tinha agora tornado numa “guerra mundial” e que o controlo da Europa não era mais do que um “passo” de Hitler na direc-ção dos seus objectivos finais em “todos os outros continentes”. Tinha-se assim tornado evidente que, a não ser que o avanço dos alemães fosse sustido, o “hemisfério ocidental” ficaria ao alcance das “armas de destruição” dos nazis. A Alemanha tinha já conquistado militarmente uma grande parte da Europa e também parcelas do continente africano. Era de crer que os nazis tivessem também “a força armada para, a qualquer momento, ocupar a Espanha e Portugal” e que esta ameaça se estendesse depois à África do Norte francesa, ao Mediterrâneo ocidental, à “fortaleza atlântica de Dacar e às ilhas que são os postos avançados do Novo Mundo: as ilhas dos Açores e de Cabo Verde”. As ilhas cabo-verdianas, recordava Roosevelt, dis-tando apenas sete horas do Brasil “de vôo de bombardeiros ou de aviões de transporte de tropas”, dominavam “as rotas marí-timas do Atlântico Sul”196.

194 Stetson Conn, Rose Engelman e Byron Fairchild, United States Army in World War II. The Western Hemisphere. Guarding the United States and Its Outposts, Washington D. C., Office of the Chief of Military History, 1964, p. 463.

195 Stetson Conn e Byron Fairchild, United States Army in World War II. The Western Hemisphere. The Framework of Hemisphere Defense, pp. 116-119.

196 Discurso integral de Franklin Roosevelt em www.ibiblio.org/pha/7-2-188/188-26.html. Ver também alguns excertos traduzidos no telegrama enviado para Lisboa pelo ministro de Portugal em Washington a 28 de Maio de 1941, em DAPE, Vol. VIII, pp. 451-456.

Page 148: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[146]

LUÍS NUNO RODRIGUES

A guerra aproximava-se, assim, do “hemisfério ocidental” e dos Estados Unidos da América. De acordo com Roosevelt, “o controlo ou a ocupação de qualquer das ilhas do Atlântico pelas forças nazis comprometeriam a segurança imediata de tractos da América do Norte e do Sul e das possessões insulares norte- -americanas e, finalmente, a segurança do próprio território continental dos Estados Unidos”. Noutra passagem do discurso, Roosevelt voltaria a referir-se aos Açores e a Cabo Verde, dizendo que se estas ilhas fossem ocupadas pela Alemanha “poriam direc-tamente em perigo a liberdade do Atlântico e a nossa própria segurança física”. Caso caíssem sob domínio germânico, estas ilhas “tornar-se-iam uma base de submarinos, de navios de guerra e aviões, que levariam as suas incursões às águas que banham de perto as nossas costas marítimas e que atacariam os navios que sulcam o Atlântico Sul”. As ilhas portuguesas constituiriam um verdadeiro “trampolim para o ataque de facto à integridade e independência do Brasil e das Repúblicas vizinhas”197.

Para os norte-americanos serem atacados não era necessário que Nova Iorque, São Francisco ou Nova Orleães fossem bom-bardeadas pelos alemães. O ataque aos Estados Unidos “pode começar pelo domínio de qualquer base que ameace a nossa segurança a norte ou a sul”, pelo que “seria suicídio esperarmos até ao momento em que eles estejam à nossa porta”. Daí que os Estados Unidos tivessem recentemente alargado “o raio de acção do nosso serviço de patrulhas nas águas do Atlântico Norte e Sul”, serviço que, acrescentou Roosevelt, “estamos constante-mente a reforçar com mais navios e aviões”. Em suma, acres-centou Roosevelt, “só a nós, povos das Américas, compete decidir se, quando e onde os nossos interesses são atacados ou a nossa segurança é ameaçada”, pelo que os Estados Unidos estavam a colocar as suas forças armadas em “posições militares estratégicas” e não hesitariam em “empregá-las para repelir um ataque”. Os Estados Unidos estavam, a partir desta data, em

197 Cf. www.ibiblio.org/pha/7-

2-188/188-26.html e DAPE,

Vol. VIII, pp. 451-456.

Page 149: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[147]

FRANKLIN D. ROOSEVELT E OS AÇORES NA II GUERRA MUNDIAL

“estado de emergência nacional ilimitada” o que, como concluiu Roosevelt, “exige o fortalecimento da nossa defesa até ao limite extremo do nosso poder e autoridade nacionais”198.

As palavras de Roosevelt, como é de calcular, provocaram fortes reacções em Lisboa: não só de desagrado em relação ao discurso e às possíveis intenções americanas, mas também de receio em relação ao modo como a Alemanha poderia reagir a estas declarações, possivelmente antecipando uma eventual ocu-pação de território português. O governo de Oliveira Salazar decidiu assim emitir nova nota oficiosa, datada de 30 de Maio de 1941 e entregue pela legação portuguesa em Washington ao governo norte-americano. Portugal reafirmava o seu posiciona-mento neutral em relação ao conflito que assolava a Europa, relembrando que esta política recebera “sempre a concordância do governo da Grã-Bretanha, nação sua aliada”. Portugal tinha até aqui procurado “pôr em estado de defesa eficiente com os meios de que dispõe os territórios que se dizia estarem mais expostos a um ataque”, ou seja, os Açores e Cabo Verde. Por conseguinte, estes territórios portugueses não constituiam “qual-quer prejuizo, embaraço ou ameaça para nenhum dos belige-rantes ou, para os seus aliados”, pelo que não se entendia a “invocação dos nomes daquelas possessões portuguesas” no recente discurso do presidente norte-americano. Tal invocação “não podia por si só deixar de causar estranheza ao povo por-tuguês e ao seu governo”, tanto mais que estas referências con-figuravam a tese de que “aos Estados Unidos pertence definir e decidir se, quando e onde estão ameaçados e como hão-de empregar a sua força para se defender ou defender outrém”199.

Na resposta escrita, datada de 10 de Junho, o governo ame-ricano voltou a assegurar “categoricamente” ao governo portu-guês que os Estados Unidos não tinham “quaisquer intenções agressivas contra a soberania ou integridade territorial de qual-quer outro país”. No caso das ilhas Atlânticas, fora apenas inten-

198 Cf. www.ibiblio.org/pha/7-2-188/188-26.html e DAPE, Vol. VIII, pp. 451-456.

199 Nota oficiosa do Governo Português, 30 de Maio de 1941, Arquivo Oliveira Salazar (doravante AOS), CLB/FSM – 3, Pasta VI.

Page 150: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[148]

LUÍS NUNO RODRIGUES

ção do Presidente salientar os perigos que poderiam resultar para o continente americano se estas ilhas viessem a cair sob controlo ou ocupação das forças do Eixo200.

No início de Junho, porém, Roosevelt concentrou-se nos planos para a ocupação da Islândia e a questão dos Açores pas-sou momentaneamente para segundo plano nas preocupações do Presidente, entretanto convencido pelas autoridades militares que os Estados Unidos não poderiam desenvolver as duas ope-rações em simultâneo201. No entanto, as atitudes e os posicio-namentos públicos da governo dos Estados Unidos não eram de modo a tranquilizar o governo português. A 8 de Julho de 1941, foram de novo declarações do Presidente Roosevelt que incomodaram o governo português. Em conferência de imprensa, o presidente norte-americano explicou as razões da ocupação da Islândia por forças norte-americanas, afirmando que esperava uma “tentativa alemã para a ocupação da ilha que domina as principais linhas de navegação actualmente utilizadas para Ingla-terra”. Na guerra, argumentou Roosevelt, “é preciso pormo-nos na posição do other fellow”, sendo que algumas vezes existiam “informações definitivas sobre os seus planos” e outras vezes não. O jornalistas perguntaram então se Roosevelt “pensava haver possibilidade de o other fellow fazer qualquer movimento em direcção aos Açores e a Cabo Verde”. Roosevelt replicou que “não podia fazer prognósticos”202.

Na sequência de toda esta controvérsia, foi necessário que Franklin Roosevelt escrevesse directamente ao seu “dear Dr. Salazar”, ainda em Julho de 1941, assegurando-lhe que os Esta-dos Unidos respeitavam “o continuado exercício da incontestada e soberana jurisdição portuguesa sobre o território de Portugal, sobre os Açores e sobre todas as colónias portuguesas”. Esta situação era uma “garantia de segurança” para o hemisfério oci-dental e, por conseguinte, não era desejo do governo americano que houvesse qualquer intromissão no “controlo soberano” de

200 Carta do Secretário de

Estado, 10 de Junho de 1941,

AOS/CLB/FSM – 3, Pasta VI.

201 Um documento da

War Plans Division de 5 de Junho de

1941 afirmava explicitamente

que, sob o ponto de vista militar, as

operações nos Açores e na Islândia não

poderiam ser desenvolvidas em

simultâneo. Cf. Stetson Conn, Rose Engelman e Byron Fairchild,

United States Army in World War II.

The Western Hemisphere.

Guarding the United States and

Its Outposts, p. 470.

202 Telegrama da LPW, 9 de Julho

de 1941, AHD, 3.º Piso,

Armário 8, Maço 20.

Page 151: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[149]

FRANKLIN D. ROOSEVELT E OS AÇORES NA II GUERRA MUNDIAL

Portugal sobre esses territórios. Roosevelt afirmava também que o governo americano “encarava com a maior das gratificações os passos que já foram dados e que continuam a ser dados” pelo governo português para “reforçar a defesa dos Açores e de outras partes mais distantes das possessões coloniais portuguesas, de modo a tornar qualquer ataque de surpresa efectuado pela Ale-manha, ou por poderes cooperando com a Alemanha, menos susceptível de sucesso”. Roosevelt adiantou ainda que o seu governo estava preparado para auxiliar as autoridades portugue-sas na defesa desses territórios contra qualquer ameaça de agres-são por parte da Alemanha, “caso o seu governo me exprima a sua convicção que tal agressão está iminente ou o seu desejo de que tais passos sejam dados”. Quaisquer medidas tomadas sê- -lo-iam sempre “no pleno reconhecimento dos direitos soberanos de Portugal e com garantias categóricas de que quaisquer forças americanas enviadas para as possessões portuguesas seriam reti-radas imediatamente após o final da presente guerra”. Numa nota pessoal, Roosevelt terminava a carta evocando, perante Salazar, a sua participação, como secretário adjunto da Marinha, nas operações norte-americanas nos Açores, durante a I Guerra Mundial. O Presidente tinha então visitado os Açores e cons-tatado o modo “particularmente próximo e amigável” como se desenrolavam as “relações entre o povo português e os membros das forças navais dos Estados Unidos”. Na altura existira um “completo espírito de cooperação” entre os dois países e, assim que a situação de “emergência internacional” desapareceu, “todas as forças das potências aliadas e associadas tinham sido imedia-tamente retiradas”, sem o menor “beliscão” na “jursidição sobe-rana do governo português”203.

Oliveira Salazar respondeu a Franklin Roosevelt a 29 de Julho, manifestando o seu apreço por “tomar conhecimento”, através da carta do Presidente americano, “dos sentimentos dos Estados Unidos e do seu governo para com Portugal e da sua exacta

203 Carta de Franklin Roosevelt a Oliveira Salazar, Julho de 1941, AOS/CLB/FSM – 3, Pasta VI.

Page 152: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[150]

LUÍS NUNO RODRIGUES

posição quanto aos territórios portugueses do Atlântico nas suas relações com a segurança da América do Norte”. Salazar reafir-mava que Portugal “não se tem poupado a esforços ou despesas para conservar as ilhas do arquipélago e também as de Cabo Verde em condições de defesa eficiente”. O governo acreditava que “as forças e material ali já acumulados e ainda algum mate-rial de aviação e anti-aéreo que o governo inglês se prontificou a fornecer imediatamente, porão as ilhas fora das possibilidades de contra elas se fazer um ataque com êxito”204. Alguns dias depois, por sugestão de Oliveira Salazar, o Presidente Carmona saiu de Lisboa para os Açores em visita oficial, uma “viagem de soberania e unidade política”, com a escolta pomposa de dois navios de guerra portugueses205.

Nesta época, mais do que a pressão diplomática portuguesa, a própria evolução da II Guerra Mundial acabou por afastar ou, pelo menos, adiar a hipótese de ocupação dos Açores por parte dos Aliados. Desde logo, porque a ameaça germânica sobre a Península Ibérica também esmoreceu. O governo espanhol não confirmou o seu apoio à Operação Félix e a 7 de Dezembro de 1940 informou a Alemanha que não se comprometia com uma entrada na guerra a curto prazo. Uma vez que a Alemanha tinha considerado a colaboração espanhola como essencial à execução de toda a operação, Hitler viu-se forçado a adiar os seus planos. Em Janeiro de 1941, o chanceler ainda pensou em relançar a ideia, mas as autoridades militares germânicas argumentaram que seriam necessários dois meses para preparar a operação e que as unidades nela envolvidas não estariam disponíveis para participar num eventual ataque à União Soviética, na altura pensado para Maio de 1941206. A 20 de Maio de 1941 chegaram também os primeiros paraquedistas alemães à ilha de Creta. Para os Estados Unidos e para a Inglaterra tudo indicava que, a par-tir de Creta, os alemães iriam começar a preparar as suas tropas para uma ofensiva na Rússia e que, por conseguinte, a invasão

204 Carta de Oliveira Salazar

a Franklin Roosevelt, 29 de

Julho de 1941, AOS/CLB/FSM – 3,

Pasta VI.

205 Franco Nogueira, Salazar. Vol III: As grandes

crises (1936-1945), Porto, Livraria

Civilização Editora, 1978,

p. 329.

206 Stetson Conn e Byron Fairchild,

United States Army in World War II.

The Western Hemisphere. The

Framework of Hemisphere

Defense, pp. 79-80.

Page 153: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[151]

FRANKLIN D. ROOSEVELT E OS AÇORES NA II GUERRA MUNDIAL

da Península Ibérica era uma hipótese cada vez mais remota. Por outro lado, no mesmo dia em que Franklin Roosevelt decla-rou publicamente que a Alemanha poderia, a qualquer momento, ocupar os Açores – a 27 de Maio – forças navais e aéreas bri-tânicas conseguiram afundar o navio de guerra alemão Bismarck, perto da costa francesa, reduzindo assim, de forma muito sig-nificativa, o poderio naval alemão no Atlântico. Os Açores per-diam a sua “precedência” e, na semana seguinte, os Estados Unidos avançavam com a ocupação da Islândia207.

A partir de Dezembro de 1941, a entrada dos Estados Uni-dos na guerra após o ataque japonês a Pearl Harbour, relegou a questão dos Açores para um plano secundário. No final do ano, Churchill defendia junto da administração norte-americana que não deviam ser tomadas quaisquer iniciativas em relação às ilhas atlânticas a não ser que a Península Ibérica fosse invadida e a Espanha permitisse a ocupação germânica. Os britânicos asseguravam o Presidente Roosevelt que a amizade luso-britânica era “firme” e que “as defesas das ilhas tinham sido aumentadas ao máximo, sendo apenas uma questão de tempo até que Por-tugal se juntasse aos aliados”. Com base nestas garantias, o plano norte-americano para a ocupação dos Açores foi temporaria-mente posto de lado no final de Dezembro de 1941208.

Os Açores só voltariam a estar no centro das preocupações do Presidente Roosevelt numa fase posterior da guerra. Quando, em Janeiro de 1943, Roosevelt e Churchill se reuniram em Casablanca, o arquipélago já não era apenas encarado como uma base fundamental para defender o hemisfério ocidental de um eventual ataque germânico mas, também, como um ponto de apoio para a manutenção e transporte das forças norte-ame-ricanas que atravessavam o Atlântico para a Europa e para o Norte de África. Foi na sequência desta cimeira e, pouco depois, da chamada “Conferência Trident” em Washington que se ini-ciaram as negociações entre Portugal e os aliados que acabariam

207 Stetson Conn, Rose Engelman e Byron Fairchild, United States Army in World War II. The Western Hemisphere. Guarding the United States and Its Outposts, pp. 464-465.

208 Diário do Secretário de Guerra, Henry Stimson, citado por Donald Stevens, “Franklin D. Roosevelt and the Azores Dilemma, 1941”, Historian, vol. 54, n.º 4, 1992.

Page 154: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[152]

LUÍS NUNO RODRIGUES

por conduzir à assinatura do acordo luso-britânico de Agosto de 1943 e do acordo luso-americano de Novembro de 1944. Ambos os acordos concederam ao Reino Unido e aos Estados Unidos autorização para utilização de bases aéreas nos Açores.

No início do processo negocial luso-americano, o Presidente Roosevelt voltaria a ter uma intervenção decisiva, escrevendo directamente a Oliveira Salazar. A 23 de Novembro de 1943, o então chargé d’affaires em Lisboa, George Kennan, entregou a Salazar a carta do Presidente norte-americano, na qual este salien-tava as vantagens, “no que respeita ao encurtamento da guerra e ao salvamento de vidas”, da utilização pelas forças norte-ame-ricanas de facilidades nos Açores. O Presidente americano afir-mava também que os Estados Unidos não tinham quaisquer ambições sobre os territórios portugueses e, uma vez mais, evo-cava a sua presença nos Açores durante a I Guerra Mundial para relembrar que, nesses dias, “nunca se colocou qualquer dúvida acerca da boa fé dos Estados Unidos no seu compromisso de que, após a guerra, as bases seriam abandonadas logo que pos-sível”209.

Salazar responderia uma semana depois, evocando o acordo luso-britânico recentemente assinado e afirmando que, através desse acto, Portugal tinha satisfeito as pretensões britânicas no que dizia respeito à utilização de facilidades nos Açores. Ora, através destas “concessões”, que se justificavam em virtude da existência da aliança luso-britânica, Portugal tinha também dado um passo significativo ao encontro “dos requerimentos que sabía-mos existir da parte dos Estados Unidos”. Para o futuro, Salazar prometia que o governo português iria explorar todas as formas possíveis de “aprofundar e fortificar os laços económicos e cul-turais”, tendo em vista uma “colaboração harmoniosa, pacífica e progressiva”, entre as duas nações210.

As negociações entre os dois países desenvolveram-se nos meses seguintes, tendo o governo português levantado frequen-

209 Carta de Franklin Roosevelt a Oliveira Salazar,

4 de Novembro de 1943,

AOS/CLB/FSM – 3, Pasta VI.

210 Carta de Oliveira Salazar

a Franklin Roosevelt, 30 de

Novembro de 1943, FRUS,

1943, vol. II, p. 572.

Page 155: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[153]

FRANKLIN D. ROOSEVELT E OS AÇORES NA II GUERRA MUNDIAL

tes obstáculos e procurado adiar ao máximo uma tomada de posição definitiva relativa à presença dos norte-americanos na ilha de Santa Maria. Já em Julho de 1944, o governo americano resolveu enviar a Lisboa Paul Culbertson, chefe da divisão da Europa Ocidental do Departamento de Estado. Culbertson trouxe consigo uma nova carta de Franklin Roosevelt dirigida a Oliveira Salazar na qual o Presidente americano manifestava, uma vez mais, o desejo dos Estados Unidos em construir um aeródromo na ilha de Santa Maria “para ser utilizado em ligação com as nossas operações no teatro de guerra do Pacífico”. Roo-sevelt afirmava que “devido às incertezas climatéricas” não eram possíveis mais adiamentos e que a construção devia iniciar-se “de imediato”, caso contrário o projecto teria de ser abandonado. O Presidente evocava os “interesses mútuos” de Portugal e dos Estados Unidos, afirmando acreditar que Salazar iria, de ime-diato, autorizar o envio para Santa Maria de “todo o equipamento e material necessários para a construção do aeródromo”211.

Paul Culbertson entregou a carta de Roosevelt a Salazar no dia 22 de Julho e o chefe do governo português concordou, nesta altura, com o envio de todos os materiais necessários à construção do referido aérodromo ressalvando, porém, que a questão da sua utilização teria ainda que ser discutida posterior-mente. Para Salazar, o momento adequado para esta discussão poderia ser o das conversações sobre a reocupação de Timor. De momento ainda não se sabia qual viria a ser a “evolução da posição portuguesa no Oriente”, pelo que não havia a “menor vantagem em precipitar as coisas”, tanto mais que “não existe o aeródromo e levará meses a construir”. “Depois se verá”, con-cluiu Salazar212.

No final de Julho, Oliveira Salazar respondia a Franklin Roo-sevelt anunciando ter autorizado o início das obras em Santa Maria. Salazar aludia às conversações com Paul Culbertson e à correspondência trocada com a empresa privada Pan-American

211 “Conversa com o Embaixador dos Estados Unidos e P. Culbertson”, 22 de Julho de 1944. AOS/CLB/FSM – 1, Pasta I.

212 “Conversa com o Embaixador dos Estados Unidos e P. Culbertson”, 22 de Julho de 1944. AOS/CLB/FSM – 1, Pasta I.

Page 156: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[154]

LUÍS NUNO RODRIGUES

e confirmava que os trabalhos em Santa Maria poderiam come-çar de imediato. Este passo era apontado por Salazar como “a primeira e essencial condição para todas as eventualidades futu-ras”213.

Alguns meses depois, a 28 de Novembro de 1944, os dois países assinariam finalmente um acordo relativo à utilização da base de Santa Maria. A intervenção directa do Presidente Franklin Roosevelt em todo este processo, como ficou exposto, fora deci-siva para o sucesso das negociações. Através do acordo assinado, os governos português e americano comprometiam-se a construir na ilha de Santa Maria um aeródromo para servir de “base aérea”. Portugal concedia aos Estados Unidos a utilização sem quaisquer restrições desta nova base aérea de Santa Maria que ficaria, “tanto no que respeita a operações como a administração e controlo, sob o comando da força aérea americana”214. Em troca, o governo norte-americano aceitava a participação de Portugal “nas operações que eventualmente sejam conduzidas para expulsar os japoneses do Timor português a fim de ser restituido à plena soberania portuguesa”. Esta participação, escla-recia o texto do acordo, poderia ter lugar de forma directa, “pelo emprego de forças portuguesas”, ou de forma indirecta, “pela concessão ao governo dos Estados Unidos de facilidades para construção, utilização e controlo de uma base aérea na ilha de Santa Maria, destinada a facilitar a deslocação das forças ame-ricanas para o teatro de guerra no Pacífico ou deste para os Estados Unidos”215.

213 Carta de Oliveira Salazar

a Franklin Roosevelt, 27 de

Julho de 1944, AOS/CLB/FSM – 3, Pasta VII e FRUS,

1944, vol. IV, p. 64.

214 “Acordo entre o Governo

Português e o Governo dos

Estados Unidos estabelecendo a

forma de participação indirecta de Portugal em

operações do Pacífico”,

AOS/CLB/FSM – 4, Pasta VIII. Cf.

também United States Treaties and other International

Agreements (doravante UST),

vol. 2, Part 2, 1951, pp. 2124-

-2132.

215 Carta de Oliveira Salazar

ao EAP, de 28 de Novembro de 1944, AOS/CLB/

FSM – 4, Pasta VIII. Cf. também UST, vol. 2, Part 2,

1951, p. 2124.

Page 157: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[155]

O CANTO DOS PÁSSAROS: FRANKLIN ROOSEVELT E OS ACORDOS DO PÓS-GUERRA216

Warren F. Kimball

Há dois incidentes que sugerem temas que talvez ajudem a contextualizar a atitude do presidente Franklin D. Roosevelt em relação a Portugal, e especialmente os Açores.

No Verão de 1918, Roosevelt, na altura a efectuar uma via-gem de “inspecção” durante a I Guerra Mundial na qualidade de Secretário Adjunto da Marinha, deslocou-se à Horta e a Ponta Delgada, dois portos utilizados pelos navios aliados para fins de apoio logístico. A visita deixou-lhe uma recordação duradoura, pois, mais tarde, Roosevelt encomendou um quadro do seu navio (o USS Dyer) ancorado em Ponta Delgada. Roosevelt deu ao pintor os pormenores que desejava, dizendo-lhe como devia pintar o navio, quais as bandeiras que arvorava, quais as embar-cações de apoio que se encontravam nas proximidades, etc. Durante a II Guerra Mundial, o quadro esteve pendurado na Casa Branca, e hoje encontra-se exposto na Roosevelt Library, em Hyde Park, Nova Iorque217. Em duas cartas extraordinaria-mente semelhantes dirigidas ao primeiro-ministro português, Dr. António Salazar, uma em 1941 e outra em 1943, FDR recor-dou a visita, observando incisivamente que “Naquela altura, nunca estivera em causa que… os Estados Unidos cumpririam a sua promessa” de desmantelar as bases. “Não é necessário dizer a V. Exa. que os Estados Unidos não têm quaisquer pretensões sobre o território de Portugal nem das suas possessões”218.

Em 1944, no Dia de Ano Novo, uma “bateria nervosa de artilharia antiaérea portuguesa, lançou uns quantos disparos ineficazes” na direcção do general Dwight Eisenhower, que via-

216 Grande parte da análise sobre as políticas gerais de Roosevelt para o pós-guerra baseia- -se em estudos que realizei anteriormente, ao longo dos últimos quarenta anos. As citações de textos meus estão identificadas como tal, mas o presente artigo contém inevitavelmente paráfrases sem nenhuma referência. O material que diz respeito especificamente a Portugal baseia-se em investigação mais recente. Agradeço a Anders Stephanson as suas observações.

217 Os pormenores sobre o quadro baseiam-se em documentos existentes na Franklin D. Roosevelt Library, Hyde Park, Nova Iorque [FDRL], cedidos pelo Chefe do Arquivo, Robert Clark.

218 United States, Dept. of State, Foreign Relations of the United States, Washington, USGPO, 1862-…

Page 158: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[156]

WARREN F. KIMBALL

java de avião de Washington para Marraquexe219. A situação contrafactual – aquilo que poderia ter acontecido se Eisenhower tivesse sido morto – é algo que poderá interessar sobretudo aos romancistas, mas este episódio é uma caricatura da curiosa com-plexidade das relações de Portugal com as principais potências durante a II Guerra Mundial. Essa complexidade eclipsa a rea-lidade de que, para as grandes potências, Portugal e as suas possessões poderiam ocasionalmente entrar em cena, mas nunca a dominariam. Durante a Conferência de Ialta, de 1945, quando Roosevelt e o líder soviético José Estaline acordaram arrogante-mente entre si que deveriam ser as Grandes Potências a definir as condições em que seria estabelecida a paz, o primeiro-minis-tro britânico Winston Churchill diria, espirituosamente, que “a águia deve permitir que os pássaros cantem sem se importar por que razão cantam”220.

Tema n.º 1: o que podia Portugal fazer pelo esforço de guerra?

Tema n.º 2: quem se importa com “pássaros”?O primeiro tema tinha muito pouco a ver com o segundo.Portugal, devido à sua posição estratégica, já chamara a aten-

ção de Roosevelt antes sequer de os Estados Unidos entrarem na II Guerra Mundial. A possibilidade de uma ocupação alemã de Portugal, fosse em conjunto com Espanha (então governada pelo Generalíssimo Franco), fosse no seguimento da uma inva-são/ocupação alemã da Península Ibérica, era algo que preocu-pava as autoridades americanas.221 As ilhas dos Açores e de Cabo Verde podiam ser utilizadas como bases pelos submarinos ale-mães e como postos avançados para a invasão do Hemisfério Ocidental. Quer FDR receasse verdadeiramente tal invasão ou não, usou sem dúvida essa ameaça como parte da sua campanha para levar os Americanos a apoiarem a concessão de ajuda à Grã-Bretanha.222 Para grande alívio dos Americanos, dos Britâ-nicos e dos Portugueses, nem Franco nem os Alemães levaram

[a seguir denominado FRUS

+ ano/volume], 1941, II, carta

dirigida por FDR a Salazar, 14 de

Julho de 1941, 851-53.

President’s Secretary’s File:

Welles; carta dirigida por FDR a

Salazar, 4 de Novembro de

1943, documentos de Roosevelt,

FDRL, President’s Secretary’s File:

Diplomatic: Portugal (caixa 48)

[a seguir denominado

PSF-Portugal].

219 Dwight D. Eisenhower,

Crusade in Europe, Garden City, Nova Iorque,

Doubleday, 1948, p. 218.

220 Charles Bohlen, Witness to

History, 1929- -1969, Nova

Iorque, Norton, 1973, p. 181.

221 Franco simpatizava com a Alemanha nazi ou

era mesmo pró-Alemanha. Veja-se Stanley G. Payne,

Franco & Hitler, New Haven, Yale

Univ. Press, 2007, para um estudo recente sobre o tema do título.

Page 159: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[157]

O CANTO DOS PÁSSAROS: FRANKLIN ROOSEVELT E OS ACORDOS DO PÓS-GUERRA

a guerra para a Península Ibérica. Mas a questão da possibilidade ou não de Portugal ajudar o esforço de guerra dos Aliados con-tra a Alemanha era complicada – pelo menos para Portugal.

Para os americanos, especialmente, para o Secretário de Estado do FDR, Cordell Hull, a questão era muito clara. Para Hull, assim que os Estados Unidos entraram na guerra contra a Ale-manha, em 11 de Dezembro de 1941, as nações ou estavam do lado dos Estados Unidos ou contra os Estados Unidos. Mas isso deixava Portugal numa situação em que tinha de fazer escolhas difíceis. Quaisquer que fossem as preferências pessoais de Sala-zar, antes da invasão anglo-americana do Noroeste de África francês no Outono de 1942, Portugal teve de permanecer neu-tral para evitar uma retaliação, ou mesmo invasão, alemã. (Os britânicos chegaram mesmo a formular um plano de acção para o caso de o Governo português ter de se retirar para os Açores ou para outro território português).223 Mas mesmo depois de os Aliados terem assegurado o domínio de Marrocos e da Tuní-sia na Primavera de 1943, os portugueses tentaram manobrar as forças adversárias em proveito próprio. Tal como os espanhóis, esperavam evitar a guerra. Ao mesmo tempo, esperavam evitar as consequências económicas de escolher um dos campos em detrimento do outro. Uma invasão alemã tornara-se improvável, se não impossível. No entanto, o Governo português estava a facilitar o comércio de recursos estratégicos, especialmente vol-frâmio, com a Alemanha,224 apesar das declarações iradas e mesmo ameaçadoras de diplomatas americanos. Numa atitude moralista, a Casa Branca e o Departamento de Estado conside-ravam isso simplesmente uma conduta errada; para Portugal, que tentava recuperar da depressão mundial da década de 1930, tratava-se da principal prioridade. Para os americanos, Salazar (tal como Franco) parecia demasiado confortável com Hitler. Mas aquilo que Churchill escreveu nas suas memórias da guerra sobre Franco poderia aplicar-se também ao dirigente português:

222 Waldo Heinrichs, Threshold of War: Franklin D. Roosevelt and American Entry into World War II, Nova Iorque, Oxford Univ. Press, 1988, resume competentemente estas questões. Veja-se especialmente o Capítulo 3.

223 Veja-se, por exemplo, uma cópia de um telegrama dirigido pelo Foreign Office britânico à Embaixada Britânica em Washington, 16 de Dezembro de 1941, PSF-Portugal; e a comunicação dirigida por Welles a FDR, 19 de Dezembro de 1941, FRUS, Conf. at Washington, 1941- -1942 and Casablanca, 1943, pp. 38-39.

224 Volfrâmio e tungsténio são dois termos utilizados para designar o elemento da tabela periódica representado por W. No contexto diplomático, a palavra volfrâmio

Page 160: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[158]

WARREN F. KIMBALL

“Congratulo-me, portanto, por deixar aqui este testemunho da duplicidade e ingratidão que demonstrou nas suas relações com Hitler e Mussolini”225.

Salazar revelou-se mais esperto do que Franco. Mesmo depois do êxito da invasão do Noroeste de África francês no Outono de 1942, conseguiu ser “O Rato que Ruge”226. Os Alemães não avançaram sobre a Península Ibérica e com as forças aliadas a dominar Marrocos, a situação estratégica mudara para Portugal. No entanto, apesar das exigências anglo-americanas de que Por-tugal suspendesse o comércio de recursos estratégicos com a Alemanha, especialmente as vendas de volfrâmio, Salazar sus-tentou que tinha acordos legítimos (para os neutrais) com a Alemanha que tinha de honrar. (O argumento dos “direitos dos países neutrais”, que consistiam em direitos comerciais, encon-trava eco entre os americanos, que insistiam, desde a Revolução Americana, no direito de os países neutrais manterem relações comerciais já estabelecidas em tempo de guerra.) Os Aliados tentaram levar Portugal a modificar a sua política comercial, com incentivos (a promessa de comprar produtos portugueses) e ameaças (pressões diplomáticas), mas sem êxito. O uso claro da força estava fora de questão, porque aquilo que pretendiam era a cooperação de Portugal e a sua autorização para utilizarem os Açores como base naval e aérea. A questão do volfrâmio foi degenerando até meados de 1944, altura em que, depois de os britânicos terem conseguido um compromisso que lhes permi-tia controlar as exportações espanholas, Salazar concordou em suspender as vendas à Alemanha227.

Independentemente da irritação persistente de Hull devido ao comércio do volfrâmio, FDR parecia principalmente preocu-pado com a geopolítica, neste caso, com a utilização dos Açores como base militar e logística antes e depois da guerra. Os ame-ricanos tinham exercido pressão constante sobre Portugal para que lhes cedesse estruturas para uma base aérea nos Açores, o

designava provavelmente a

volframite (tungstato de ferro

e manganésio), um minério do

qual era extraído o tungsténio/

volfrâmio utilizado para

fabricar cápsulas de projécteis

capazes de perfurar

blindagem e ferramentas de

corte.

225 Winston S. Churchill, Their

Finest Hour, Boston, Houghton

Mifflin, 1949, p. 530.

226 The Mouse That Roared

(1955), romance (e posteriormente

um filme) do escritor irlandês

Leonard Wibberley, em que um grão-

-ducado europeu minúsculo

(5 km 8 km) e fictício declara

guerra aos Estados Unidos para obter

ajuda no pós-guerra.

227 Para uma análise mais

pormenorizada da questão do

volfrâmio, veja-se Philip Mundy,

“Prosperity and Security:

Page 161: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[159]

O CANTO DOS PÁSSAROS: FRANKLIN ROOSEVELT E OS ACORDOS DO PÓS-GUERRA

arquipélago português situado estrategicamente a meio do Atlân-tico, a ocidente de Lisboa. A guerra contra os submarinos ale-mães fora a razão imediata do pedido, embora interesses ligados à aviação comercial americana esperassem tornar as ilhas num ponto de escala dos voos transatlânticos depois da guerra. Sala-zar, invocando frequentemente os laços “históricos” entre os ingleses e os portugueses, tentou pôr os britânicos contra os americanos o mais tempo possível. Em finais de Junho de 1943, concordou finalmente “em princípio” em permitir que as forças britânicas mantivessem instalações nos Açores (operação LIFE-

BELT), insistindo em que “em circunstâncias nenhumas” per-mitiria a presença de forças nenhumas para além das britânicas. FDR, ansioso por obter privilégios para instalação de uma base americana, escreveu sobre “uma ocupação pacífica dos Açores”, mas uma confrontação com Portugal não serviria os interesses dos Aliados, nem de Portugal. O Encarregado de Negócios ame-ricano em Lisboa, George Kennan, advertiu Roosevelt de que a longa lista de instalações que os chefes militares desejavam estabelecer nos Açores e que fora apresentada ao Governo por-tuguês não só seria rejeitada como levantaria suspeitas quanto às intenções dos Estados Unidos a longo prazo. FDR disse a Kennan para fazer tudo o que estivesse ao seu alcance e que não se preocupasse “com aquela gente toda”, uma referência aos mili-tares e ao Departamento de Estado, que defendiam que se adop-tasse uma atitude dura em relação a Salazar228.

Quando, em Dezembro de 1943, as exigências americanas no sentido de Portugal autorizar o seu país a construir uma base aérea se tornaram tão insistentes que era impossível ignorá-las, Salazar optou por invocar a relação histórica entre a Grã-Breta-nha e Portugal e sugeriu a farsa de uma presença americana nos Açores mas sob controlo britânico. Churchill, recordando a insistência de FDR em que a invasão do Norte de África fosse levada a cabo exclusivamente pelos americanos, gostou obvia-

Economic Warfare and Roosevelt’s Post-War Vision”, no presente volume.

228 Warren F. Kimball, ed., Churchill & Roosevelt: The Complete Correspondence, 3 vols., Princeton, Princeton University Press, 1984, II, C-338/1 (29 de Junho de 1943), R-299 (30 de Junho de 1943), e comunicação dirigida por FDR a Leahy, 17 de Julho de 1943, documentos do Map Room, FDRL. Para mais informação sobre a operação LIFEBELT, veja-se ibid., C-308, C-312, C-313, C-319, e R-292. George F. Kennan, Memoirs, 1925- -1950, Boston, Little Brown, 1967, p. 161. Surpreendente-mente, Kennan não faz qualquer referência nas suas memórias à questão das exportações portuguesas de volfrâmio para a Alemanha, limitando-se a observar que “os Britânicos já

Page 162: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[160]

WARREN F. KIMBALL

mente da ideia de propor que as tripulações da força aérea ame-ricana nos Açores usassem “um tipo qualquer de distintivo que indicasse que se encontravam temporariamente incorporadas na RAF…” Afinal, acrescentou, “é importante não esquecer que nos mostrámos inteiramente dispostos a obrigar um grande número de homens a usar uniformes americanos quando da operação TORCH…”229 Os almirantes americanos não estavam nada interessados num subterfúgio de tal maneira humilhante, mas acabaram por concordar em entrar “pela porta das trasei-ras”.

Os Portugueses haviam dado a entender, desde o início da guerra, que receavam que os americanos andassem a “fazer olhi-nhos” aos Açores, tal como Churchill dissera uma vez. Em Julho de 1941, enquanto os submarinos alemães percorriam o Atlân-tico e numa altura em que parecia que Espanha, e mesmo Por-tugal, iriam escolher ou ser obrigados a escolher pôr-se do lado do vencedor aparente, Roosevelt escrevera a Salazar para o tran-quilizar e para lhe garantir o apoio americano à soberania por-tuguesa sobre Portugal continental, bem como os Açores e “todas as colónias portuguesas”. Aquilo que preocupava FDR eram os “olhinhos” que Hitler andava a fazer. A resposta de Salazar à carta de FDR foi uma obra-prima de chacota diplomática. Agra-decia o apoio contra uma eventual agressão alemã, embora exclu-ísse a possibilidade de um ataque dessa natureza contra os Açores, “uma vez que o controlo do Atlântico não era seu [da Alemanha]”230.

Dois anos mais tarde, quando a ameaça alemã se atenuara, eram os desígnios dos Estados Unidos quanto ao arquipélago que preocupavam Salazar. Quando Kennan falou com o presi-dente em Novembro de 1943, este protestou, fazendo notar que, depois da I Guerra Mundial ele “se encarregara pessoalmente da supervisão” do desmantelamento das bases navais americanas nos Açores. “O seu rosto iluminou-se” e propôs escrever pesso-

haviam gasto todos os seus

trunfos nas negociações… no

que se refere às medidas da guerra

económica”, Memoirs, p. 153.

Seguindo a recomendação de

Kennan, os militares

americanos modificaram o seu

pedido de instalações nos

Açores, atribuindo prioridade máxima ao estabelecimento de bases nas Flores

ou em Santa Maria; veja-se o

memorando dirigido por

Stettinius a FDR, 2 de Novembro de

1943, PSF-Portugal.

229 Kimball, Churchill & Roosevelt, II,

C-549 (19 de Janeiro de 1944),

R-448 (22 de Janeiro de 1944);

Martin Gilbert, Winston

S. Churchill: Road to Victory, 1941-

-1945, Boston, Houghton Mifflin,

1986, p. 647. Os laços “históricos”

entre a Grã- -Bretanha e

Portugal justificam uma análise

separada. Basta dizer que, durante

a II Guerra

Page 163: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[161]

O CANTO DOS PÁSSAROS: FRANKLIN ROOSEVELT E OS ACORDOS DO PÓS-GUERRA

almente a Salazar, recorda Kennan. A carta enviada a Salazar afirmava inequivocamente que “os Estados Unidos não têm quaisquer pretensões sobre o território de Portugal nem das suas possessões”231. Contudo, apesar destas garantias, Salazar adiou e protelou as medidas necessárias para estabelecer uma base americana na ilha de Santa Maria. No Outono de 1944, quando já não havia dúvidas quanto ao resultado da guerra, os ameri-canos assumiram uma atitude mais dura. O Departamento de Estado recomendou a FDR que dissesse aos portugueses que a melhor maneira de Portugal ajudar o esforço de guerra no Pací-fico, “incluindo a libertação de Timor, era conceder aos Estados Unidos a possibilidade de utilizarem as instalações de que neces-sitavam na ilha de Santa Maria”232. O próprio Churchill, sempre consciente da relação histórica entre a Grã-Bretanha e Portugal, comentou acerbamente que “não temos necessidade de nos mos-trar subservientes ao lidar com nenhum destes neutrais que esperam escapar ao Armagedão sem problemas e com bons lucros”233.

Em 28 de Novembro de 1944, após anos de protelações, o Governo português entregou a base de Santa Maria aos Estados Unidos. Um pequeno indício do que estava para vir no mundo do pós-guerra foi a observação do Embaixador americano em Lisboa de que uma das vantagens do acordo final era que “o perigo de os britânicos assumirem uma posição de controlo é um fantasma que foi eliminado”234. A base de Santa Maria aca-bou por ser construída. Fife Symington, um funcionário da Pan American que prestou serviço na Marinha dos Estados Unidos e estava por dentro do assunto, apresentou mais tarde a sua visão do caso da base de Santa Maria: “Durante a fase inicial da participação dos Estados Unidos na guerra, tornou-se evidente que era essencial haver uma base terrestre nos Açores para rea-bastecimento dos aviões… Roosevelt e Trippe [Juan Trippe, Presidente da Pan American Airlines], no âmbito do contrato da

Mundial, tanto Churchill como Salazar os consideraram extremamente úteis, embora por razões ligeiramente diferentes. Para Salazar eram uma maneira de evitar uma ligação demasiado estreita com a Alemanha ou a Espanha, embora mais tarde essa posição o tenha obrigado a tentar travar as pressões americanas.

230 Carta dirigida por Salazar a FDR, 29 de Julho de 1941, FRUS, 1941, II.

231 Kennan, Memoirs, 160-61; carta dirigida por FDR a Salazar, 4 de Novembro de 1943, PSF-Portugal.

232 Comunicação dirigida pelo Departamento de Estado (Hull) a FDR, 6 de Outubro de 1944, PSF-Portugal.

233 Llewellyn Woodward, British Foreign Policy in the Second World War, 5 vols., Londres, HMSO, 1970-76, IV, p. 63.

Page 164: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[162]

WARREN F. KIMBALL

Pan American com o Governo português, celebraram um con-trato secreto nos termos do qual dois generais e 250 homens que faziam parte do pessoal de construção do Corpo de Enge-nharia vestiram fardas da Pan American e foram enviados para os Açores para construir a grande base de Santa Maria… Devido aos meus conhecimentos de português, prestei assistência durante as negociações realizadas em Lisboa entre a Pan American, George Kennan, da Embaixada… e o primeiro-ministro Salazar, que conduziram à construção da base dos Açores… [O]s voos comer-ciais transoceânicos eram efectuados por hidroaviões Boeing 314 da Pan American, os “Clippers”, que transportaram toda a espé-cie de passageiros importantes de e para a Europa e África, incluindo Churchill e Roosevelt235.

À sua maneira, Salazar voltara a ganhar. A construção da base parecia estar a ser levada a cabo pela Pan American, e não pela Marinha americana. Mas foi uma falsa vitória.

Roosevelt estava firmemente convencido de que ilhas do Atlântico como os Açores deviam passar a estar sob o controlo estratégico global dos Estados Unidos. Churchill concordava236. Os Americanos construíram uma importante base aérea nas Lajes, nos Açores, inicialmente para combater os submarinos alemães no Atlântico e permitir o reabastecimento de aviões que se dirigiam para o Pacífico. À medida que a Guerra Fria foi avançando, aquelas instalações tornaram-se uma importante base avançada das forças americanas. Qualquer que fosse o papel a desempenhar pela base no contexto da Guerra Fria, a presença americana nos Açores surgiu e manteve-se como um legado da II Guerra Mundial.

Um aspecto muito exagerado do planeamento de Roosevelt para o pós-guerra foi o seu apoio à autodeterminação dos impé-rios europeus – uma questão muito sensível para todos os velhos impérios europeus, e uma questão impossível para outras potên-cias coloniais mais pequenas como Portugal e os Países Baixos.

234 Memorando dirigido por

Stettinius a FDR, 29 de Novembro

de 1944, PSF-Portugal,

informa sobre a transferência da

base para os EUA. As observações do

Embaixador constam de uma

comunicação dirigida por

Norweb a Hull, 12 de Outubro de 1944, FRUS, 1944,

IV, p. 83.

235 Fife Symington, “Fun

at the Time – and Since”, Princeton

University Class of 1933: 1995 Newsletter 9

(http://tigernet.princeton.edu/

~cl1933/article. asp?year=1995

&url=fun-at-the-time).

236 Wm. Roger Louis, Imperialism

at Bay, Nova Iorque, Oxford

Univ. Press, 1978, p. 347.

Page 165: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[163]

O CANTO DOS PÁSSAROS: FRANKLIN ROOSEVELT E OS ACORDOS DO PÓS-GUERRA

Qualquer que fosse a retórica de Roosevelt, a história da des-colonização foi em grande medida decidida pelos povos coloniais durante a Guerra Fria. Quando as suas reivindicações de inde-pendência se tornaram demasiado insistentes para serem igno-radas, a relação custo/eficácia ditou quase sempre um compromisso. Foi um processo complicado e por vezes violento, que se enredou nas rivalidades da Guerra Fria. Os americanos viriam a apoiar os resíduos do império, sobretudo as bases mili-tares. Mas pouco ou nada disso foi fruto do anticolonialismo de FDR. Este e os seus conselheiros militares desejavam ter bases americanas em todos os oceanos e costas do mundo, mas mesmo assim Roosevelt insistiu, para grande consternação dos seus che-fes militares, que os Estados Unidos respondessem perante as Nações Unidas em questões de autonomia – um aspecto que os militares decidiram ignorar após a sua morte237.

As linhas gerais dos acordos do pós-guerra foram traçadas na conferência de Teerão, em Dezembro de 1943, e depois defini-das em pormenor na conferência de Ialta, de 1945, as únicas reuniões dos Três Grandes realizadas antes da derrota da Ale-manha238. O planeamento militar da guerra, os limites da Poló-nia, a divisão da Alemanha, as reparações, um acordo sobre o Extremo Oriente – estas e outras questões moldaram o panorama geral do mundo do pós-guerra e a Guerra Fria que se seguiu. No caso dos Estados mais pequenos e menos poderosos, as ques-tões principais eram outras. A mais sensível e, todavia, a menos importante, era a descolonização, a que se ocultava sob a desig-nação de “autodeterminação”. Mais importante por parecer pro-meter uma espécie de autodeterminação era uma organização internacional – as Nações Unidas. Mas mais prementes, mais importantes, eram as questões económicas da reconstrução e do crescimento. É um lugar-comum dizer que os públicos felizes e prósperos não representam uma ameaça para os governos eleitos nem para os governos autocráticos.

237 Warren F. Kimball, The Juggler: Franklin Roosevelt as Wartime Statesman, Princeton, Princeton Univ. Press, 1991, p. 155; Louis, Imperialism at Bay, pp. 272-73, 346-47.

238 O estudo mais completo e perspicaz da Conferência de Teerão é o de Keith Sainsbury, The Turning Point: Roosevelt, Stalin, Churchill, and Chiang Kai-shek; The Moscow, Cairo, and Teheran Conferences, Oxford, Oxford Univ. Press, 1985. A Conferência de Ialta é analisada in Diane Clemens, Yalta, Nova Iorque, Oxford Univ. Press, 1970, mas novo material e novas perspectivas que surgiram nos últimos trinta e cinco anos sugerem que a mais famosa das duas conferências da II Guerra Mundial necessita de ser analisada por um novo historiador.

Page 166: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[164]

WARREN F. KIMBALL

Retrospectivamente, o desmantelamento dos impérios coloniais europeus era inevitável. A principal razão foi o facto de a revolu-ção crescente das comunicações – incluindo a retórica muito publi-citada de Roosevelt sobre a autonomia – ter levado os povos indígenas a exigirem, e a esperarem obter, o controlo das suas próprias sociedades. A Carta do Atlântico era um documento muito real no entender dos povos colonizados. Na Ásia, a cons-ciência disso foi reforçada pelas derrotas que as forças japonesas infligiram às forças ocidentais em Singapura, em Pearl Harbor e em todo o Pacífico ocidental – destruindo a imagem dos Europeus invencíveis. Quando, em Teerão, Estaline sugeriu que os Aliados “não derramassem sangue para devolver a Indochina” à França, FDR concordou, afirmando em seguida que os franceses não deviam controlar nenhuns pontos estratégicos e que Dacar, situada no extremo da África Ocidental Francesa, tinha de ficar “sob a tutela das Nações Unidas”239. Os Açores talvez não necessitassem desse estatuto, mas estavam sem dúvida presentes na mente de FDR.

Roosevelt e a sua Administração estavam pouco interessados nas possessões imperiais portuguesas e pouco sabiam sobre as mesmas. Macau, Goa e a África Subsariana eram irrelevantes para a guerra, embora a ilha de Timor tenha despertado a sua atenção brevemente em várias ocasiões. A primeira foi em Dezembro de 1941, pouco depois de ter começado a guerra no Pacífico, quando as forças holandesas e australianas ocuparam o território português de Timor (leste), prevendo um ataque japonês. Ocorrendo numa altura em que abundavam os rumo-res sobre a possibilidade de Espanha se aliar aos alemães, os ingleses e americanos ficaram compreensivelmente nervosos quando os portugueses protestaram contra aquela violação da sua neutralidade. A pequena força de tropas holandesas e aus-tralianas retirou-se quando reforços portugueses chegaram da África Oriental. Tudo isto foi em vão, porque, no final de Feve-reiro, os japoneses tomaram toda a ilha240.

239 Warren F. Kimball, Forged in War: Roosevelt, Churchill, and the Second World War,

Nova Iorque, William Morrow,

1997, p. 248.

240 David Day, The Great

Betrayal: Britain, Australia & the

Onset of the Pacific War, 1939-42,

North Ryde, Austrália, Angus

& Robertson, 1988, p. 242;

Memorando de Welles sobre a

conversa com o Ministro de Portugal em Washington,

24 de Dezembro de 1941, FRUS,

1941, II, pp. 856-59;

memorando da conversa com um

funcionário da Embaixada

Britânica, 3 de Janeiro de 1942,

FRUS, Washington Conf. 1941-42,

pp. 413-14.

Page 167: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[165]

O CANTO DOS PÁSSAROS: FRANKLIN ROOSEVELT E OS ACORDOS DO PÓS-GUERRA

Depois, em meados de 1943, enquanto decorriam as nego-ciações aparentemente intermináveis com vista à instalação de bases britânicas e americanas nos Açores, os portugueses deram a entender aos britânicos que gostariam de ajudar a libertar a ilha dos japoneses. Churchill compreendeu esse desejo. A retó-rica de FDR, tanto em público como em privado, sobre a descolonização há muito que preocupava e irritava o Primeiro- -Ministro britânico, que considerava as sugestões de Roosevelt uma “loucura”. Aceitando a verdade da máxima de Estaline de que “quem ocupa um território impõe nele o seu próprio sistema social”, Churchill desejava que a Grã-Bretanha libertasse Singa-pura, a Malásia, Hong-Kong e outros territórios britânicos do Pacifico ocupados pelos japoneses. O seu argumento era que a autonomia e a descolonização eram algo que tinha de ser deci-dido entre colonizados e colonizadores. Para validar esse “prin-cípio”, apoiou o pedido de Salazar, tal com mais tarde apoiou e ajudou os franceses nos seus esforços para “libertar” a Indo-china241.

A reacção de FDR foi vista com ironia por aqueles que, tal como Churchill, consideravam o anticolonialismo americano uma hipocrisia conveniente. Talvez, disse Roosevelt pensativa-mente a Churchill, a Austrália possa comprar o território por-tuguês de Timor “para bem da defesa do Sudoeste do Pacífico”. Mas não havia pressa; o assunto podia ficar “para depois de a guerra terminar. E o mesmo se aplica a Macau”. Fora aparen-temente H. V. Evatt, o “ministro dos negócios estrangeiros” da Austrália, que se deslocara pouco antes a Washington, que dera a ideia a FDR. Evatt que, à semelhança de outros políticos aus-tralianas, sonhava com “um subimpério no Sudoeste do Pacífico”, sugerira publicamente que a Austrália se juntasse aos holandeses e assumisse o controlo do Timor português!242 Era uma proposta que se enquadrava perfeitamente na convicção de Roosevelt de que a maioria das colónias não estava preparada para a autode-

241 As reflexões de FDR encontram- -se in Kimball, Churchill & Roosevelt, II, R-292 (21 de Junho de 1943); sobre o apoio de Churchill a Salazar veja-se C-321 (13 de Junho de 1943) e C-331 (27 de Junho de 1943). A citação que refere a “loucura” foi extraída de Winston S. Churchill, The Hinge of Fate, vol. IV de The Second World War, Boston, Houghton Mifflin, 1948-53, p. 219. Estaline é citado in Kimball, Forged in War, pp. 209-10.

242 Kimball, Churchill & Roosevelt, II, R-292 (21 de Junho de 1943). Sobre a proposta de Evatt, veja-se David Day, The Reluctant Nation: Australia and the Allied Defeat of Japan, 1942- -1945, South Melbourne, Oxford Univ. Press Austrália, 1992, p. 121. Para mais informação sobre as ambições da Austrárila, que eram compreensíveis

Page 168: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[166]

WARREN F. KIMBALL

terminação. A solução que propunha era que elas se tornassem “territórios sob tutela”. Na sua opinião, a Coreia, uma civiliza-ção antiga, necessitaria “talvez de quarenta anos”, já que meio século de ocupação japonesa destruíra a classe média. Para Roo-sevelt, a autodeterminação era uma questão prática, e não uma questão de princípio243.

Timor veio à baila pela última vez quando, no Outono de 1944, os Estados Unidos voltaram contra Salazar o seu pedido de há muito de ser Portugal a libertar a ilha. FDR pediu ao embaixador dos Estados Unidos que recordasse a Salazar que as forças americanas libertariam Timor da ocupação japonesa, e se aquilo que o preocupava verdadeiramente era a participação na libertação, então os portugueses deviam “deixar de regatear a utilização de Santa Maria”244.

Roosevelt não compreendia nem se identificava com o nacio-nalismo intenso que começara a surgir entre os povos indígenas no século XX. O seu gradualismo era motivo de irritação e frus-tração para as pessoas das colónias que desejavam imediatamente a autodeterminação. Mas esse gradualismo não significava que o anticolonialismo de Roosevelt fosse uma fraude. A sua atitude em relação às possessões coloniais era clara. Acreditava que a autodeterminação era um processo inevitável. Estava firmemente convencido de que os impérios coloniais haviam sido uma das principais causas de ambas as guerras do século XX. A descolo-nização (uma palavra que Roosevelt não teria reconhecido) não representava tanto um princípio fundamental para FDR, sendo antes algo que ele considerava essencial para a paz mundial. À primeira vista, isto está em contradição com as garantias implí-citas dadas a Salazar de que os Estados Unidos se retirariam das bases situadas em território português, mais concretamente as dos Açores. A afirmação de que “os Estados Unidos não têm quaisquer pretensões sobre o território de Portugal nem das suas possessões” não encerrava a promessa de desmantelamento

mas próprias de uma ópera

cómica, veja-se David Day,

“Dr. H. V. Evatt and the Search of a Sub-Empire in

the Southwest Pacific”, in Brave

New World: Dr. H. V. Evatt and Australian Foreign Policy,

David Day ed., St. Lucia, Univ. of Queensland Press, 1996, pp. 47-61.

243 Veja-se Fred Pollock e Warren

Kimball, “’In Search of

Monsters to Destroy’:

Roosevelt and Colonialism”, in

The Juggler, ch. 7, esp. pp. 145-46; e “Anglo-American

War-Aims, 1941-43, ‘The First Review’:

Eden’s Mission to Washington”, in the Rise and Fall

of the Grand Alliance, 1941-45,

Ann Lane e Howard

Temperley, eds., Houndmills,

Macmillan, 1995, pp. 1-21.

244 A démarche junto de Salazar

foi informal; FRUS, 1944, 7 de

Outubro de 1944. Para mais

informação,

Page 169: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[167]

O CANTO DOS PÁSSAROS: FRANKLIN ROOSEVELT E OS ACORDOS DO PÓS-GUERRA

daquelas bases. O que Roosevelt fez na sua carta pessoal de Novembro de 1943 foi simplesmente recordar a Salazar a retirada dos Estados Unidos após a I Guerra Mundial. O que iria acon-tecer depois da II Guerra Mundial era outra história245.

A Guerra Fria confirmou as convicções de Roosevelt sobre a natureza da geopolítica – convicções que relegavam Portugal e outras nações pequenas e menos poderosas para segundo plano. A sua premissa fundamental era simples: as guerras “mundiais” dão-se porque as grandes potências decidem combater em vez de negociar. Toda a sua concepção do pós-guerra procede desta conclusão. Se as grandes potências (uma designação muito fle-xível) se sentissem confortáveis e não se considerassem ameaça-das, seria possível evitar guerras mundiais. A noção que FDR tinha de “grande potência” nunca se manteve estática. No início da guerra, considerava que o condomínio das grandes potências era constituído apenas pela Grã-Bretanha e os Estados Unidos. Na altura da conferência de Teerão – a primeira reunião dos Três Grandes, em que participaram Churchill, Roosevelt e Esta-line –, a União Soviética e a China já faziam parte daquele grupo. A liderança das grandes potências era o seu pressuposto dominante, e tornou-se o pressuposto dominante da Guerra Fria.

Mas Roosevelt acreditava que a acção de liderança devia cor-responder a zonas geográficas – a regiões vizinhas. A política de boa vizinhança em relação à América Latina e as relações do Estados Unidos com o Canadá são exemplos daquilo que FDR tinha em mente. A liderança – um misto de persuasão, poder e, especialmente, paciência – impediria que as crises locais se tornassem crises mundiais. As grandes potências negociariam entre si nesse sentido. Depois de entrevistar FDR, um jornalista favorável às suas teses escreveu que Roosevelt via o Hemisfério Ocidental como um sistema que funcionava “como uma con-ferência de paz permanente, que procura conciliar divergências

veja-se FRUS, 1943, II, pp. 568-80; FRUS, 1944, IV, pp. 1-83.

245 O império colonial português durou mais tempo do que o de outros Estados europeus. O seu desmantelamento foi um aspecto fulcral da geopolítica africana e da Guerra Fria durante a década de 1970.

Page 170: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[168]

WARREN F. KIMBALL

antes, e não depois, das hostilidades”246. Tanto os Americanos como os Britânicos consideravam que “as verdadeiras decisões devem ser tomadas pelos Estados Unidos, a Grã-Bretanha, a Rússia e a China, que serão as potências durante muitos anos e que terão de policiar o mundo”. No sistema de FDR, o desar-mamento desempenhava um papel fundamental. Só as Grandes Potências deviam ter armas militares para além de armas de pequeno calibre247.

Dentro desta estrutura um tanto vaga, a autodeterminação seria nitidamente concedida pelos Quatro Grandes, desde que estes conseguissem chegar a acordo sobre os pormenores, o que se revelou uma tarefa difícil. Costuma dizer-se que Woodrow Wilson “abriu uma caixa de Pandora”248. A autodeterminação representava uma ameaça directa para os impérios europeus, incluindo o vasto império português, que se estendia do Pacífico central à costa atlântica de África249. Aquele princípio liberal constituía igualmente uma ameaça para o poder autocrático, não só na União Soviética e nos seus satélites, mas também em países como Espanha e Portugal.

Quais seriam as consequências para Portugal e para outros países que não se autodenominavam – ou que os Três Grandes não denominavam – grandes potências? Quais seriam as conse-quências para o resto do mundo?

As grandes potências podiam impedir e evitar uma guerra mundial, o que queria dizer que tinham de se sentir fisicamente seguras. Isso significava coisas diferentes para pessoas diferentes. Para Roosevelt, separado da Europa e da Ásia por enormes dis-tâncias (a aviação comercial a jacto era algo que só se concreti-zaria dentro de décadas), significava bases navais nos oceanos Pacífico e Atlântico, o que incluía os Açores. Para Churchill, significava manter o Império Britânico sob qualquer forma. Para Estaline, a existência de governos “amistosos” nos Estados vizi-nhos, isto é, governos comunistas ou não empenhados em com-

246 Kimball, The Juggler, pp. 107-25,

citação na p. 110.

247 FRUS, 1943, III, p. 39.

248 O Secretário de Estado de Wilson,

Robert Lansing, terá dito que

Wilson “abrira uma caixa de

pandora” ao apelar à autodeter-

minação. Lansing parece não ter

utilizado aquela expressão, mas

condenou o facto de se ter usado a

expressão “autodeter-

minação”, que considerou uma

“calamidade susceptível de

gerar uma esperança que

nunca se poderá realizar”.

Memorandos pessoais, 30 de

Dezembro de 1918, documentos

de Lansing, caixa 63, Library

of Congress (Washington, DC), cedido por David

Foglesong.

249 Na altura da II Guerra Mundial,

o Império Português era

constituído pela metade oriental da

ilha de Timor, enquanto a

Page 171: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[169]

O CANTO DOS PÁSSAROS: FRANKLIN ROOSEVELT E OS ACORDOS DO PÓS-GUERRA

bater o comunismo (como, por exemplo, a Finlândia), era uma condição sine qua non. Contudo, qualquer que fosse a interpre-tação de segurança de uma grande potência, FDR acreditava que essa grande potência podia e devia ser um “polícia” na sua região, recorrendo à pressão dos seus parceiros e mesmo à força se isso fosse necessário para controlar as nações “criminosas”.

Mas isso não bastava. FDR acreditava que o policiamento (a lei e a ordem) era necessário, mas acreditava igualmente que o mundo do pós-guerra devia manter-se “aberto” à troca de ideias e informação, à movimentação das pessoas e ao comércio de produtos. Parecia ter herdado a noção dos antigos filósofos fran-ceses – de que as nações ligadas entre si pelo comércio não declarariam guerra umas às outras – alargando-a para além da economia. Conjugado com a abolição dos impérios coloniais, isso eliminaria grande parte das rivalidades destrutivas que haviam conduzido à guerra no passado. Este aspecto crucial, mas frequentemente ignorado, do pensamento de FDR mostra como é que ele conseguia conciliar as bases militares e a desco-lonização, a autodeterminação e a segurança das grandes potên-cias; revela a sua visão global do mundo250.

As linhas gerais do acordo relativo ao pós-guerra foram-se definindo ao longo de toda a II Guerra Mundial. O ponto de partida lógico terá sido talvez a Carta do Atlântico – uma decla-ração geral de princípios sublimes acordada entre Churchill e Roosevelt em Agosto de 1941 – que apelava à “autodetermina-ção”, um termo vago que parecia propor simultaneamente a independência para as colónias (uma interpretação que Churchill rejeitava) e à democracia liberal como sistema de governo dos Estados (uma interpretação que Estaline rejeitava). Enquanto FDR definia o seu sistema de grandes potências com esferas de influência regionais, o Secretário de Estado Cordell Hull voltou- -se para o internacionalismo. A Sociedade das Nações de Woo-drow Wilson lançara uma semente que não florescera, mas que

metade ocidental pertencia ao que eram então as Índias Orientais Holandesas (algumas milhas a noroeste de Darwin, Austrália); pelas cidades de Macau, na costa chinesa, e Goa, na costa ocidental da Índia; por Moçambique e Angola, em África; pelo arquipélago de Cabo Verde; e por várias outras ilhas pequenas ao largo da costa ocidental de África. Só os Açores e a Madeira no Oceano Atlântico é que pertenciam indiscutível e historicamente a Portugal.

250 Sobre “esferas abertas” e outros conceitos conexos, veja-se Kimball, the Juggler, pp. 102, 182, 198, 262-63. Sobre os instintos de FDR em relação ao mundo, veja-se FDR’S World: War, Peace, and Legacies, D. Woolner, D. Reynolds, W. Kimball, eds., Nova Iorque, Palgrave, 2008 (no prelo), especialmente o ensaio de Alan

Page 172: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[170]

WARREN F. KIMBALL

teimava em não desaparecer. A Sociedade das Nações nunca foi um governo; não podia obrigar os seus membros (ou os não membros) a fazerem nada que não desejassem fazer. O instinto de Roosevelt ditava-lhe que agisse como um patrón benevolente em relação aos Estados do Hemisfério Ocidental, mas isso não satisfazia propriamente os wilsonianos nem os governos dos Estados mais pequenos e/ou menos poderosos. Por conseguinte, durante a guerra, estas duas abordagens, que não eram exacta-mente contraditórias mas não eram inteiramente compatíveis, competiram entre si.

Mas, para FDR, elas eram interdependentes. Para os Estados Unidos desempenharem um papel de liderança na sua região, e, portanto, no mundo, o público americano tinha de apoiar esse papel. Roosevelt e os seus principais conselheiros, pensando no chamado movimento isolacionista das décadas de 1920 e 1930, receavam que o “isolacionismo” (que seria mais correcto denominar “unilateralismo”) se voltasse a afirmar depois da guerra. Mas, ao que parece, Hitler tornara o público receptivo às ideias internacionalistas/wislonianas. Quando os líderes do Congresso propuseram que os Estados Unidos se comprome-tessem a aderir a uma organização internacional à escala mun-dial destinada a preservar a paz, os Americanos concordaram com um entusiasmo surpreendente.

As declarações públicas de Roosevelt sobre aquilo que viria a ser a Organização das Nações Unidas assumiram um tom positivo, embora, em privado, ele manifestasse dúvidas quanto à sua utilidade – realçando que a cooperação entre as grandes potências era o que realmente importava. A ONU nunca cons-tituiu um elemento indispensável da sua estrutura internacional prática – os Quatro (ou mais) Polícias. Se a existência de uma organização internacional ia ajudar as grandes potências a enten-derem-se, óptimo! Caso contrário, que se contornasse a organi-zação internacional. Roosevelt conseguiu efectivamente

Henrickson, embora todos os ensaios abordem

este aspecto importante do

pensamento de Roosevelt.

Page 173: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[171]

O CANTO DOS PÁSSAROS: FRANKLIN ROOSEVELT E OS ACORDOS DO PÓS-GUERRA

convencer Estaline e Churchill a apoiarem uma organização internacional para o pós-guerra, mas aquilo que era realmente importante para os três era o Conselho de Segurança – uma estrutura institucional em que as grandes potências podiam cooperar. A ONU poderia ser um local útil em que as grandes potências podiam negociar entre si, mas fazer da Assembleia Geral da ONU algo mais do que uma simples instância de debate podia ser perigoso. Churchill captou perfeitamente o pensamento de Roosevelt ao observar com perspicácia e cinismo: “A águia deve permitir que os pássaros cantem sem se importar por que razão cantam”251.

Portugal e os Açores desapareceram do presente artigo na sua parte final, tal como desapareceram das preocupações dos Ame-ricanos. Mas uma outra guerra, a Guerra Fira, iria em breve recordar aos decisores políticos americanos que a geopolítica – e o bom senso – sugerem que todas as pessoas contam.

251 O comentário de Churchill foi ouvido por Charles Bohlen (tradutor em Ialta) e reproduzido nas suas memórias, Witness to History, p. 181. Em 1935, Roosevelt também mencionou depreciativamente a Sociedade das Nações, dizendo que não era senão “uma associação de debate, e mesmo assim má”. Citado in Robert A. Divine, Roosevelt and World War II, Baltimore, Penguin Books, 1969, p. 57.

Page 174: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais
Page 175: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[173]

PROSPERIDADE E SEGURANÇA: A GUERRA ECONÓMICA E A VISÃO DO PÓS-GUERRA DE ROOSEVELT

Philip Mundy

No romance de crime e suspense de Robert Wilson publicado em 1999, A Small Death in Lisbon (Último Acto em Lisboa), a investigação de um homicídio pelo detective José Coelho obri-ga-o a averiguar a ligação sórdida entre Portugal e os Nazis durante a II Guerra Mundial252. À medida que a intriga se vai adensando, o detective Coelho vem a saber que agentes alemães e criminosos portugueses faziam contrabando de volfrâmio atra-vés da fronteira com Espanha e descobre o que faziam para ludibriar os agentes britânicos enviados para Portugal para aca-bar com esse contrabando. Só em 1942, os Alemães necessitavam desesperadamente de 2500 toneladas de volfrâmio para manter os seus níveis de produção de armamento, e em Portugal existia pelo menos essa quantidade do minério253. A fim de obrigar Portugal a suspender as exportações de volfrâmio para a Alema-nha, Franklin Roosevelt autorizou a utilização de uma série de novos métodos de guerra económica, o que significa que a polí-tica americana passou do respeito inicial pelos direitos comerciais de países neutrais para a abolição desses direitos no final da guerra254. Esses métodos consistiram, nomeadamente, em mono-polizar os mercados de produtos escassos que Portugal tinha de comprar e trabalhar no sentido de os Estados Unidos se torna-rem produtores de bens que Portugal necessitava de comprar. No entanto, o primeiro-ministro português, António Salazar, soube combater eficazmente a acção americana, tirando o máximo partido do valor negocial dos Açores e do seu controlo

252 Robert Wilson, A Small Death in Lisbon, Nova Iorque, Harcourt, Inc., 1999.

253 Thomas Finletter, 24 de Outubro de 1941, “Tungsten; general”, Record Group 59, National Archives, Washington, DC. Adiante designado por “Tungsten; general”. Também adiante, National Archives in Washington DC designado por “NARA” e Record Group” designado por “RG”. Ver também o memorando da Embaixada britância de 4 de Novembro de 1941, “Portugal – Wolfram”, RG 59, NARA. Adiante designado por “Portugal – Wolfram”.

254 Veja-se Alan P. Dobson, US Economic Statecraft

Page 176: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[174]

PHILIP MUNDY

do comércio de volfrâmio. As suas manobras hábeis revelaram muito acerca de capacidade de Estados pequenos para resistir a este tipo de pressão económica, e o desenvolvimento das polí-ticas de guerra económica revela muito sobre o papel que a governação económica desempenhou na visão de Roosevelt para o mundo do pós-guerra. Adoptando uma óptica cada vez mais internacional, Roosevelt avançou em direcção a um “New Deal para o mundo”, em que a dominação económica americana ajudaria simultaneamente a impelir os países no sentido de coo-perarem com o sistema dos Estados Unidos e a regular a eco-nomia com vista a evitar uma outra Grande Depressão. A guerra económica travada durante a II Guerra Mundial foi um impor-tante terreno de ensaio em que os Estados Unidos experimen-taram uma série de medidas económicas susceptíveis de virem a ser utilizadas para concretizar aquela visão.

Durante finais da década de 1930 e ao longo da guerra, funcionários americanos, seguindo o exemplo de Roosevelt, compreenderam que a interligação da economia mundial tinha efeitos significativos tanto na segurança como na prosperidade dos Estados Unidos. Se a economia mundial vacilasse, os Esta-dos Unidos ver-se-iam confrontados com riscos consideráveis para a sua prosperidade, incluindo um regresso da depressão, e, além disso, haveria uma maior probabilidade de uma convulsão económica desse tipo desencadear outra grande guerra. Deixaria de ser possível os Estados Unidos manterem relações comerciais com um mundo perigoso e, ao mesmo tempo, permanecerem seguros no seu hemisfério. Não seria possível continuarem a isolar-se da economia mundial, porque, mais do que nunca, a segurança e prosperidade dos Estados Unidos dependiam da paz e prosperidade do resto do mundo. Para Roosevelt, isso signi-ficava que os Estados Unidos teriam de assumir um papel mais definido na criação de um mundo mais estável e próspero. Rela-tivamente à Europa, Roosevelt concebeu uma visão que incluía

for Survival 1933- -1991: Of Sanctions,

Embargoes, and Economic Warfare,

Nova Iorque, Routledge, 2002. Stanley G. Payne,

Franco & Hitler, New Haven, Yale Univ. Press, 2007 é o resumo mais recente do tema

do título.

Page 177: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[175]

PROSPERIDADE E SEGURANÇA: A GUERRA ECONÓMICA E A VISÃO DO PÓS-GUERRA DE ROOSEVELT

“uma estrutura abrangente em que os Estados Unidos ocupavam a posição de pedra angular”, de modo a acompanhar a nova ordenação regional em matéria de política e segurança255. Para além de considerações políticas, a gestão económica desempe-nhou um papel fundamental na preservação da paz.

O planeamento económico para o mundo do pós-guerra durante a presidência de Roosevelt foi buscar muitos dos seus pressupostos ao New Deal, pressupostos esses que estão patentes na guerra económica. A Administração Roosevelt privilegiou, progressivamente, os esforços no sentido de “internacionalizar a ideia do New Deal de um capitalismo responsável”, em que as taxas de câmbio seriam fixas, o dólar americano se tornaria a moeda dominante do mundo e as barreiras comerciais seriam reduzidas256. Essencialmente, os Estados Unidos procurariam limar as arestas agrestes do capitalismo na economia internacio-nal, tal como faziam em relação à economia nacional. As ligações entre o New Deal e a guerra económica estão bem patentes na Declaração de Funções do Board of Economic Warfare (BEW), que afirma que os homens escolhidos para servir de elos de ligações entre o Departamento de Estado e o BEW devem ser indivíduos do mais alto calibre e “devem também, se possível, ser homens que simpatizam com a perspectiva política e eco-nómica sobre o New Deal sustentada pelo BEW”257. A guerra económica e o planeamento do pós-guerra partilhavam do pres-suposto comum do New Deal de que o governo podia ajudar a gerar estabilidade económica manipulando as diversas alavancas económicas de que dispunha.

O comércio livre era uma das principais componentes da ordem económica liberal de Roosevelt258. Embora a força impul-sionadora da liberalização do comércio se tivesse acentuado durante a década de 1930 e princípios da de 1940, a Adminis-tração Roosevelt pretendia promover o crescimento económico a nível mundial através das eficiências que observava nos mer-

255 Veja-se Dobson; John Lamberton Harper, American Visions of Europe, Nova Iorque, Cambridge University Press, 1996, p. 79.

256 Veja-se David Reynolds, The Creation of the Angol-American Alliance 1937- -1941: A Study in Competitive Co-operation, Chapel Hill, The University of North Carolina Press, 1981, p. 282; Dobson, p. 62.

257 Charles Yost, “Prospective Functions of the Board of Economic Warfare”, RG 59, NARA, 5.

258 Para um relato das dificuldades que responsáveis pelo planeamento económico enfrentaram na reconstrução da economia, veja-se Milward, War, Economy, and Society, pp. 329-365. Veja-se também Dobson, pp. 51-52.

Page 178: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[176]

PHILIP MUNDY

259 Veja-se Cordell Hull,

Memorandum of Conversation,

24 de Agosto de 1942, “File #2:

Post War: ER+EP May 7”, Acheson

Records for 1941- -48, 1950, RG 59,

NARA.

260 “Summary of the Interim

Report of the Special

Committee on Relaxation of

Trade Barriers”, 8 de Dezembro de

1943.

261 Declaração lida à Comissão

Económica por Taylor, 7 de Maio

de “Committee on Post-War

Foreign Economic Policy”.

262 Os documentos que revelam esta

tendência são demasiado

numerosos para enumerar no texto do presente artigo.

Para alguns exemplos, veja-se

Records of Harley A. Notter, 1939-

-1945, RG 59, NARA. Adiante designados por

“Notter Records”.

263 “Summary of the Interim Report of the

Special

cados livres259. O comércio livre ajudaria a obter mais mercados para as exportações americanas e atenuaria o perigo de o excesso de oferta precipitar um nova Grande Depressão. A redução das barreiras pautais permitiria a coordenação económica interna-cional, promovendo desse modo “a utilização mais plena e mais eficaz dos recursos materiais e humanos do nosso e de outros países no período do pós-guerra”260. A possibilidade de as nações não adoptarem de boa vontade os mercados livres preocupava, porém, a Administração Roosevelt. Esta considerava que as bar-reiras ao comércio e as soluções nacionalistas descoordenadas haviam sido factores determinantes, se não a causa, da Depres-são e da guerra, e via a continuação dessas políticas na era do pós-guerra como uma receita para novos conflitos261. A solução consistia em introduzir controlos internacionais susceptíveis de impedir os países de formularem as suas próprias políticas, de uma forma descoordenada. A regulamentação dos preços dos produtos de base por um tipo qualquer de organismo interna-cional contribuiria para a estabilização da economia mundial, ajudando os Estados Unidos e outros países capitalistas262. Os responsáveis pelo planeamento económico americano também compreenderam que a expansão económica necessária para pre-servar o crescimento apenas seria possível se o governo americano pressionasse activamente os países no sentido de eliminarem as barreiras comerciais existentes e de se absterem de introduzir novas barreiras263. Os governos teriam de proteger o mercado livre contra os seus próprios impulsos mais destrutivos e, ao mesmo tempo, aproveitar os benefícios que o mercado livre trazia para a economia. Situado no centro deste sistema econó-mico liberal multilateral, os Estados Unidos mantê-lo-iam, e a guerra económica dá-nos uma ideia da forma como o tencio-navam fazer.

Roosevelt estabeleceu o rumo da política relativa à guerra económica. Procurou estabelecer um equilíbrio entre o seu desejo

Page 179: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[177]

PROSPERIDADE E SEGURANÇA: A GUERRA ECONÓMICA E A VISÃO DO PÓS-GUERRA DE ROOSEVELT

de aumentar as pressões sobre os países neutrais e a sua preo-cupação quando ao perigo de alienar as potências neutrais e os aliados. Autorizou uma série de políticas agressivas, tais como bloquear as exportações de petróleo para Portugal, mas também procurou refrear funcionários americanos entusiásticos, transfe-rindo o controlo da guerra económica para Leo Crowley, da recém-criada Foreign Economic Administration (FEA) em 1943, quando o BEW, sob a direcção de Henry Wallace e Milo Perkins, se tornou demasiado agressivo. Roosevelt queria usar o comér-cio para pressionar as potências neutrais, mas reconheceu a importância de coordenar o programa americano com aliados importantes e, especialmente, de manter a harmonia das relações com os Britânicos. Apercebeu-se, igualmente, das outras com-plexidades que estavam em causa, tais como o perigo de empur-rar os países neutrais para o campo do Eixo e a necessidade de ponderar os custos e benefícios relativos da impor medidas mais agressivas, como, por exemplo, um embargo264. Depois de defi-nir em linhas gerais os seus objectivos principais, Roosevelt deixou em grande medida a guerra económica a cargo de fun-cionários subalternos, mas foi acompanhando atentamente a execução do programa para assegurar que este se mantinha com-patível com os seus planos de carácter mais geral.

A guerra económica durante a II Guerra Mundial foi iniciada pelos Britânicos. Estes pretendiam impedir o volfrâmio de che-gar às mãos dos Alemães comprando-o antecipadamente. Embora viável em teoria, na prática, as aquisições antecipadas só por si revelaram-se uma arma contundente. O principal problema dos Britânicos era que, quanto mais os beligerantes estivessem dis-postos a pagar pelo tungsténio, mais tungsténio havia para com-prar. Para ser eficaz, a guerra económica tinha de aliar a preempção a esforços no sentido de utilizar a grande presença britânica no mercado para obrigar os países neutrais a restrin-girem ou suspenderem as vendas ao inimigo. Um funcionário

Committee on Relaxation of Trade Barriers”, 8 de Dezembro de 1943.

264 Dobson, pp. 54-55; Dean Acheson, “Memorandum of Conversation”, 16 de Março de 1942, “Portugal #1”, RG 59, NARA.

Page 180: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[178]

PHILIP MUNDY

britânico explicou que “a preempção fora muito mais eficaz quando a compra antecipada estava associada a um acordo des-tinado a limitar ou suspender as vendas ao inimigo… Se as compras antecipadas forem efectuadas no quadro de um plano concreto e cuidadosamente coordenadas com programas de esta-belecendo os requisitos da oferta e dos preços… podem ser muito eficazes”265. Em Abril de 1940, os Britânicos constituíram a United Kingdom Commercial Corporation (UKCC) para negociar

acordos de fornecimento e compra de seis meses com os países europeus neutrais, acordos esses que estipulavam os produtos e as quantidades que os Britânicos venderiam e comprariam a esses países266.

De início, o BEW encarou com cepticismo os esforços dispendiosos dos Britânicos. Contudo, em princípios de 1942, os próprios Estados Uni-dos estavam a precisar do volfrâmio ibérico e as autoridades americanas decidiram seguir o exem-plo da Grã-Bretanha e estabeleceram a United States Commercial Corporation (USCC). A USCC procurou cultivar laços comerciais mais alargados, porque as autoridades acreditavam que, em última análise, um programa comercial mais amplo pro-duziria melhores resultados do que um bloqueio267. O BEW realizou estudos para identificar os pro-dutos de que Portugal necessitava e que só os Aliados lhe podiam fornecer.268 Robert Ducas, da USCC, explicou que era necessário “avaliar as armas de que dispomos e utilizá-las para garantir resultados reais nos próximos doze meses. Temos petróleo, sulfato de cobre, tabaco, algodão, bor-racha e outros produtos que a Alemanha não pode fornecer… Não será que devemos mudar… a ora-

265 Memorandum, 14 de Abril de 1941, “UKCC”.

266 “Memorandum on Anglo-

-American Pre- -Emption and

Relations between UKCC and USCC”,

1943, RG 59, NARA. Veja-se

também David Gordon e Royden Dangerfield, The Hidden Weapon:

The Story of Economic Warfare,

Nova Iorque, Harper & Brothers,

Publishers, 1947.

267 Veja-se Feis, The Spanish Story:

Franco and the Nations at War,

Nova Iorque, WW Norton and

Company, 1966, pp. 164-170,

Bascom N. Timmons, Jesse H.

Jones: The Man and the Statesman,

Nova Iorque, Henry Holt and

Company, 1956, 312-330, James

Cortada, The United States-

-Spanish Relations, Wolfram and

World War II, Barcelona, Mauel

Pareja, 1971, p. 23.

268 Comunicação de Ben Reese

dirigida a Livingston

Merchant, 7 de Maio de 1942,

“Iberian Peninsula Operating

Committee, June 1942-Oct. 1944”,

RG 59, NARA. Adiante designado

por “Iberian Peninsula

Operating Committee”;

comunicação de Melvin Fagen

dirigida a L. A. Wheeler, 13 de Maio de 1942,

“Spain 471-800”, RG 59, NARA.

Adiante designado por “Spain 471-800”.

Page 181: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[179]

PROSPERIDADE E SEGURANÇA: A GUERRA ECONÓMICA E A VISÃO DO PÓS-GUERRA DE ROOSEVELT

ção da noite do Dr. Salazar de «O que é que eu posso comprar com as minhas libras e os meus dólares?» para «Será que posso obter petróleo, sulfato de cobre, etc., em troca do meu volfrâmio, do meu estanho e das minhas peles?»”269.

O BEW também procurou comprar produtos que Portugal não podia vender a mais nenhum país. Por exemplo, a USCC comprou cravagem do centeio não porque os Alemães necessi-tassem desse produto, mas porque Portugal precisava de o ven-der. Na verdade, a USCC tentou desembaraçar-se daquilo que comprava junto do mercado do sector privado a fim de recu-perar parte dos seus custos. Se o governo americano tivesse necessitado de cravagem do centeio, o objectivo da USCC ao comprá-lo teria sido menos claro, mas como não precisava desse produto para nada, é nítido que o seu único objectivo era esta-belecer laços económicos270. Para coordenar eficazmente esforços, em Março de 1943, os governos aliados assumiram o controlo de praticamente todo o comércio com Portugal, em vez de dei-xarem que as condições em que o mesmo era praticado o comér-cio fossem determinadas por sociedades comerciais privadas. Ao alargarem os programas de compras e fornecimentos, os Aliados esperavam tornar a saúde das economias ibéricas dependentes da vontade dos Aliados de continuarem a manter relações comer-ciais com essas economias. Colocando-se nesta posição de van-tagem, os Aliados esperavam obrigar Portugal a fazer concessões em relação ao comércio de volfrâmio.

Salazar, porém, mostrou-se hábil em resistir às pressões ame-ricanas. Um aspecto fundamental da acção de Salazar em 1942 foi o acordo secreto que assinou com os Alemães em 24 de Janeiro de 1942, que se iria manter em vigor até Fevereiro de 1943. Em troca de 2800 toneladas de volfrâmio, foram prome-tidas a Salazar 60 000 toneladas de aço e fertilizantes, que os Aliados não conseguiam fornecer tão rapidamente como os Ale-mães. Mais importante ainda, ao assinar um acordo que obrigava

269 Robert Ducas, “Preclusive Buying in Spain and Portugal”, 18 de Julho de 1942, “Portugal – Wolfram”; “Control of Non-essential Imports From Spain and Portugal”, RG 169, NARA.

270 Veja-se “Memorandum of points to be Considered in US – British – Portuguese Trade Negotiations”, 20 de Abril de 1942, “Portugal Supplies Purchase Program”, RG 59, NARA. Adiante designado por “Portugal Supplies Purchase Program”.

Page 182: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[180]

PHILIP MUNDY

Portugal a fornecer uma determinada quantidade de volfrâmio, Salazar podia opor-se às tentativas aliadas de o obrigar a reduzir as exportações para a Alemanha. Os próprios funcionários alia-dos tiveram de reconhecer teria sido difícil obrigar um país neutral a romper acordos comerciais depois de estes terem sido celebrados271. Além disso, Salazar centralizou o comércio por-tuguês de volfrâmio, colocando-o sob o controlo do governo. Ao contrário de Espanha, onde o comércio de volfrâmio não estava em grande medida regulamentado, em Portugal, todo o volfrâmio tinha de passar pela Comissão Reguladora do Comér-cio de Metais (CRCM), que tributava pesadamente o minério. Este sistema de controlo centralizado que existia em Portugal significava que Salazar podia pôr os Aliados uns contra os outros muito mais eficazmente do que Franco em Espanha. Todos os beligerantes podiam comprar à CRCM a totalidade da produção das minas pertencentes aos seus nacionais, mas o volfrâmio produzido em minas pertencentes a nações neutrais era uma questão diferente. Em 1942 Salazar atribuiu à Alemanha 75% do volfrâmio de produtores neutrais, deixando aos Aliados ape-nas 25%272.

Salazar serviu-se do controlo do volfrâmio português para contrariar os esforços dos Estados Unidos para utilizarem o poder do comércio contra ele. Quando os Aliados pressionaram Salazar no sentido de modificar o seu acordo com a Alemanha de modo a vender a este país menos volfrâmio “neutral”, Sala-zar ameaçou ceder aos Alemães mais 500 toneladas de volfrâmio se os Aliados não assinassem um acordo sobre o volfrâmio com Portugal. Os Aliados assinaram um acordo com Portugal, que vigoraria até 28 de Fevereiro de 1943273. Assim que os Aliados deixaram de poder estabelecer uma ligação entre as negociações comerciais de carácter mais geral e o volfrâmio, Salazar aceitou rapidamente estabelecer disposições comerciais mais alargadas com os Aliados. A estratégia de Salazar fora clara: não aceitaria

271 Comunicação de Ray Atherton

dirigida a Thomas Finletter, 14 de

Agosto de 1942, “Portugal – Wolfram”.

William Norton Medlicott,

The Economic Blockade, Londres,

Her Majesty’s Stationary Office

and Longman, Green and Co,

1959, p. 325.

272 H. K. Fleming, “Memorandum

on wolfram operations in the

Iberian Peninsula”, 3 de Março de

1944, “Portugal – Wolfram”.

273 Comunicação de Fish dirigida

a Hull, 14 de Agosto de 1942, FRUS, 223; para mais informação

veja-se Medlicott, The Economic

Blockade, pp. 331-335.

Page 183: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[181]

PROSPERIDADE E SEGURANÇA: A GUERRA ECONÓMICA E A VISÃO DO PÓS-GUERRA DE ROOSEVELT

discutir condições comerciais gerais com os Aliados enquanto estes não assinassem um acordo relativo ao volfrâmio, o que Salazar os podia obrigar a fazer ameaçando vender mais volfrâ-mio à Alemanha. Ao negociar desta forma, Salazar conseguiu estabelecer os níveis de exportação do volfrâmio e impedir os Aliados de usarem as conversações comerciais para impor con-cessões sobre aquele minério. Para garantir que, de futuro, os Aliados não pudessem ligar as conversações comerciais ao vol-frâmio, Salazar insistiu em que o novo acordo comercial com os Aliados vigorasse até ao final de Junho de 1943. Isto signi-ficava que o acordo relativo ao volfrâmio e o acordo comercial celebrados com os Aliados expirariam com alguns meses de diferença, tornando mais difícil para os negociadores aliados estabelecerem uma ligação entre as duas séries de conversa-ções.

Vencidos pela argúcia de Salazar, os Aliados esperaram um momento mais propício e, em 1943, procuraram tirar o máximo partido da sua influência negociando simultaneamente um novo acordo comercial e um novo acordo para o volfrâmio274. A fim de sincronizarem as negociações, tentaram assinar em Fevereiro um acordo provisório sobre o volfrâmio que expiraria no final de Junho, ao mesmo tempo que o acordo comercial em vigor. No entanto, Salazar antecipou-se mais uma vez e demonstrou como o controlo de uma mercadoria essencial podia ser utilizado para derrotar o poderio económico dos Aliados. Salazar protelou as negociações do acordo que iria vigorar durante quatro meses, acusando os Aliados de violarem acordos comerciais anteriores e voltando a ameaçá-los de que se não corrigissem a situação “seria impossível o Governo português respeitar a sua parte do acordo no espírito das negociações”275. Por outras palavras, Sala-zar venderia mais volfrâmio à Alemanha se os Aliados não cola-borassem. Assim, tal como em 1942, as autoridades portuguesas apresentaram novamente aos Aliados um facto consumado – con-

274 Comunicação de Ray Atherton dirigida a Thomas Finletter, 14 de Agosto de 1942, “Portugal – Wolfram”.

275 António Salazar, citado in Fish to Hull, 19 de Janeiro de 1943, FRUS, p. 499.

Page 184: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[182]

PHILIP MUNDY

cordarem em fornecer à Alemanha pelo menos 2100 toneladas, em 1943, e dividir em partes iguais, entre os Aliados e as potên-cias do Eixo, o volfrâmio produzido em minas que eram pro-priedade de países neutrais. Ao vincular Portugal a um acordo sobre o volfrâmio com a Alemanha que vigoraria até Fevereiro de 1944, Salazar voltou a frustrar as tentativas de aliar um acordo comercial mais generoso a concessões relativas ao volfrâmio por-tuguês.

Salazar conseguiu levar a sua avante não só devido à utiliza-ção eficaz do comércio do volfrâmio, mas também porque soube usar habilmente um outro trunfo: os Açores. Roosevelt e Chur-chill mostraram-se ambos muito relutantes em pressionar dema-siado Salazar e pôr em risco este acordo. Hull considerou mais seriamente a possibilidade de tirar partido do controlo dos dois políticos sobre o fornecimento e transporte de produtos petro-líferos para Portugal276. Contudo, a sensatez prevaleceu e os Britânicos instaram os seus homólogos americanos a tornarem a utilização do arquipélago português dos Açores como base aérea a sua prioridade máxima e a não fazerem nada para com-prometer as negociações277. As autoridades americanas e britâ-nicas também se aperceberam de que manter relações comerciais com Portugal facilitaria as negociações sobre a utilização dos Açores, ao passo que tentarem retaliar devido à afronta só pode-ria ser prejudicial. Em vez disso, os Estados Unidos e o Reino Unido decidiram esperar até 1944 para reiniciar as negociações sobre o volfrâmio e o comércio.

Não tendo conseguido nada pelas vias oficiais, os Aliados voltaram a sua atenção para o mercado negro, mas, mais uma vez, Salazar usou o volfrâmio e os Açores de uma forma que obrigou os Americanos a agirem com prudência. Compraram volfrâmio no mercado negro, mas disseram que se tratava de minério extraído das suas próprias minas. Embora tivessem de continuar a pagar enormes impostos sobre o volfrâmio – o que

276 Comunicação de Fish dirigida

a Hull, 14 de Maio de 1943,

FRUS, p. 519.

277 Comunicação de Hull dirigida

a Fish, 19 de Maio de 1943, FRUS, pp. 520-

-521, 520.

Page 185: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[183]

PROSPERIDADE E SEGURANÇA: A GUERRA ECONÓMICA E A VISÃO DO PÓS-GUERRA DE ROOSEVELT

poderiam ter evitado simplesmente levando o minério clandes-tinamente para fora do país –, as autoridades calcularam que os Portugueses tolerariam mais facilmente o mercado negro se isso não os privasse de receitas fiscais278. As autoridades aliadas tam-bém tentaram reduzir a produção das suas próprias minas e propuseram que a Beralt Mining Company, que era propriedade americana, reduzisse a produção de 210 toneladas por mês para os níveis de princípios de 1942 – 150 toneladas por mês – e que o governo americano reembolsasse a empresa dos lucros que teria obtido com a venda das restantes 60 toneladas. Os Britâ-nicos concordaram, mas aconselharam que a Beralt reduzisse mais lentamente os seus níveis de produção, porque Portugal cobrava impostos substanciais sobre a produção, e negar-lhes demasiadas receitas poderia ter repercussões.279 Esta divergência entre a táctica americana e britânica ilustra as diferenças consi-deráveis que havia entre as duas nações. O Reino Unido acon-selhava permanentemente prudência e preconizava as soluções de compromisso sempre que possível, ao passo que os Ameri-canos tendiam a reagir à frustração com propostas de medidas mais duras.

Com a aproximação de Fevereiro de 1994, altura em que expirava o acordo luso-alemão relativo ao volfrâmio, os Estados Unidos pediram a Salazar que impusesse um embargo total às exportações de volfrâmio de Portugal. O chefe da Foreign Eco-nomic Administration (FEA), Leo Crowley, queria encontrar for-mas de os Estados Unidos utilizarem mais agressivamente o poder negocial que haviam cultivado com tanto cuidado nos anos precedentes. No entanto, em parte devido aos Açores, evi-tou uma medida tão drástica como um embargo petrolífero, que impusera à Espanha280. Tal como disse um dos responsáveis pela economia de guerra, “O nosso objectivo em Portugal é o mesmo que em Espanha – fazer cessar as exportações de tungs-ténio para a Alemanha. No caso de Portugal, porém, os objec-

278 Comunicação de MEW dirigida a Halifax, 28 de Março de 1943 e 17 de Abril de 1943, “Portugal – Wolfram”.

279 Comunicação de Royden Dangerfield dirigida a Livingston Merchant, 9 de Setembro de 1943; comunicação de Quintin Bridge dirigida a Henry Labouisse, 26 de Outubro de 1943, ambas in “Portugal – Wolfram”.

280 A FEA substituiu o BEW.

Page 186: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[184]

PHILIP MUNDY

tivos da guerra económica têm-se subordinado a considerações militares (acordo relativo aos Açores, etc.)”281. Salazar insistiu que a Alemanha continuava a ter formas de “causar problemas” a Portugal, o que o obrigava a manter as exportações de volfrâ-mio para a Alemanha, para compensar o acto “pouco neutral” de ceder aos Aliados a utilização dos Açores282. Ao assinar, em Agosto de 1943, um acordo autorizando os Britânicos a utili-zarem os Açores como base aérea, Salazar concedeu aos Aliados um benefício que estes poriam em risco se pressionassem dema-siado Portugal para que tomasse medidas contra a Alemanha.

À medida que a invasão da Normandia se foi aproximando, os Estados Unidos começaram a considerar, cada vez mais, a possibilidade de adoptarem uma atitude mais dura. O Comando Aliado queria exercer pressão sobre os Britânicos para que aju-dassem os Estados Unidos a exigir um embargo total283. Roo-sevelt também era a favor de uma linha dura; não queria recuar em relação à guerra económica e correr o risco de enfraquecer todo o programa, mas também estava preocupado com a pos-sibilidade de uma pressão excessiva sobre Portugal. Hull e Ache-son mostraram-se de acordo e, com a aprovação de Roosevelt, elevaram o tom da sua retórica advertindo que, embora no prin-cípio da guerra os Estados Unidos tivessem pactuado com as potências neutrais “esse período… está rapidamente a chegar ao fim. É manifesto para todos que, agora, a nossa força e a dos nossos Aliados apenas permitem um fim possível para esta guerra. Essa força torna agora claro que não estamos a pedir a estas nações neutrais que se exponham a uma destruição certa quando lhes pedimos para não prolongarem a guerra, com as suas con-sequências em termos de sofrimento e mortes, enviando ajuda ao inimigo”284.

Os Estados Unidos não iam continuar a permitir que os países neutrais usufruíssem dos benefícios do mundo aliado e, ao mesmo tempo, prestassem ajuda ao inimigo, contribuindo

281 Comunicação de William T.

Stone dirigida a Lauchlin Currie, 21 de Fevereiro

de 1944, RG 169, NARA.

282 Comunicação de Norweb

dirigida a Hull, 24 de Janeiro de

1944, FRUS, 90. Salazar afirmou, nomeadamente,

que estava preocupado com a possibilidade de os

submarinos alemães afundarem

os navios portugueses;

P.M./44/145, comunicação de Eden dirigida a

Churchill, 13 de Março de 1944,

PREM 3: The Operational Papers

of the Prime Minister’s Office, May 1940-July 1945, Londres, Public Records

Office, 1972, 505/2. Disponível

nas Rutgers University

Libraries. Adiante designado por

“PREM 3, RUL”.

283 Comunicação de Sir Ronald

Campbell dirigida a Eden, 30 de

Março de 1944, PREM 3, RUL.

284 Cordell Hull, “The War:

Page 187: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[185]

PROSPERIDADE E SEGURANÇA: A GUERRA ECONÓMICA E A VISÃO DO PÓS-GUERRA DE ROOSEVELT

assim para a morte das tropas que eram “responsáveis por asse-gurar o seu conforto”285. Em Maio de 1944, a Administração Roosevelt estava convencida de que conseguiria obrigar Portugal a ceder ameaçando suspender o comércio de bens essenciais, incluindo o petróleo, que Portugal não podia obter em mais sítio nenhum286. Livingston Merchant, funcionário da Admi-nistração ligado à guerra económica, propôs que se protelassem as negociações sobre o acordo de compra de fornecimentos seguinte, de modo a permitir que os Estados Unidos avaliassem em que medida Salazar estaria disposto a suspender as vendas de volfrâmio à Alemanha, a fim de poderem determinar “o grau de generosidade que deverá regular os nossos futuros acordos de fornecimento”287.

Enquanto os Estados Unidos exerciam uma pressão crescente e os Britânicos recomendavam prudência, estes últimos enceta-ram negociações sérias com Portugal. Embora Churchill também desejasse pressionar duramente Salazar, considerava, por outro lado, que era necessário concluir um acordo e acabou por acei-tar um compromisso. Essencialmente, Churchill adoptou uma posição pragmática e considerou que os Americanos estavam a seguir uma linha demasiado dura, argumentando que, em termos gerais, permitir que as duas nações ibéricas exportassem uma última remessa pequena de volfrâmio para a Alemanha não faria grande diferença e era um preço que valia a pena pagar se, em troca, Portugal e Espanha aceitassem depois um embargo288. Finalmente, em Junho de 1944, Salazar anunciou que celebrara um acordo com base na Aliança Anglo-Portuguesa tendo em vista a imposição de um embargo total às exportações de vol-frâmio para a Alemanha. Churchill pressionou Roosevelt para que aceitasse este acordo, o que este fez por não desejar com-prometer todo o programa da guerra económica causando uma cisão entre os Estados Unidos e o Reino Unido. Um aspecto digno de nota é que os Britânicos tenham insistido na prudên-

Foreign Policy of the United States of America”, in The Department of State Bulletin, 15 de Abril de 1944, Vol. X, N.º 241, originalmente radiodifundido em 9 de Abril de 1944, p. 336.

285 Hull, “The War: Foreign Policy of the United States of America”, in The Department of State Bulletin, 15 de Abril de 1944, p. 336.

286 Comunicação do Departamento de Estado americano dirigida à Embaixada Britânica, 18 de Maio de 1944, FRUS Volume IV, 1944, pp. 112-113.

287 Livingston Merchant, Memorandum, 8 de Maio de 1944, “Portugal Supplies Purchase Program”.

288 Comunicação de Churchill dirigida a FDR, 22 de Maio de 1944, PREM 3, RUL.

Page 188: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[186]

PHILIP MUNDY

cia e que os Americanos não tenham desejado entrar em ruptura com os Britânicos no que se refere à guerra económica contra Portugal e Espanha289. Embora Roosevelt preferisse determinar o rumo da guerra económica permitindo que outros funcioná-rios se ocupassem dos pormenores da sua concretização, as suas intervenções, sobretudo quando se tratava de aceitar compro-missos, mostram que ele acompanhava atentamente o programa da guerra económica dos Estados Unidos, garantindo que não houvesse desvios em relação aos seus planos.

Embora Salazar tenha acabado por aceder ao embargo sobre-tudo devido ao rumo que a guerra estava a tomar e à sua pre-ocupação em relação a Timor, e não devido às pressões económicas dos Estados Unidos, as autoridades americanas pro-curaram mesmo assim proporcionar a Portugal benefícios eco-nómicas como contrapartida do acordo. Tanto os Estados Unidos como o Reino Unido haviam prometido “acelerar a acção dos Conselhos Conjuntos de modo a responder às solici-tações económicas de Portugal se Salazar for ao encontro dos nossos desejos” e, assim que o acordo foi celebrado, as autori-dades britânicas e americanas reconheceram a Importância de garantir que Portugal recebesse relativamente depressa uma recompensa económica palpável em troca do embargo às expor-tações de volfrâmio290.

A continuidade entre o programa destinado a pôr fim às exportações de volfrâmio para a Alemanha e programas poste-riores revela até que ponto a guerra económica ajudou os Esta-dos Unidos a desenvolverem métodos de governação económica. Mesmo depois de terem conseguido o embargo total das expor-tações de volfrâmio ibérico para a Alemanha, os Estados Unidos continuaram a utilizar os métodos da guerra económica que haviam desenvolvido nos anos anteriores. O BEW dissera desde o início que “todas as medidas adoptadas durante a guerra devem ser ponderadas de modo a determinar os seus efeitos prováveis

289 Veja-se Warren F. Kimball, ed,

Churchill & Roosevelt: The

Complete Correspondence,

Princeton, Princeton Univ

Press, 1984, Vol. III,

pp. 105-114.

290 Comunicação de Winant

dirigida a Hull, 3 de Junho de

1944, FRUS Volume IV, 1944,

125-126; comunicação de

Ronald Campbell dirigida a Halifax,

7 de Junho de 1944, “Portugal –

Wolfram”.

Page 189: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[187]

PROSPERIDADE E SEGURANÇA: A GUERRA ECONÓMICA E A VISÃO DO PÓS-GUERRA DE ROOSEVELT

no mundo do pós-guerra”291. Para além de porem em prática a guerra económica, o BEW e, mais tarde, a FEA também se ocu-param do planeamento do pós-guerra. Durante a guerra, a FEA assumira um papel cada vez mais importante na regulação dos fluxos de moeda e matérias-primas, e os seus funcionários espe-ravam continuar a fazê-lo depois da guerra292. Preocupava-a a ideia de que a não regulação dos fluxos de moeda e matérias- -primas desse origem a instabilidade económica e acreditava que a regulação reduziria esse perigo. O pressuposto por detrás desta ideia está em perfeita consonância com os pressupostos por detrás da supervisão da economia nacional americana pelo governo no tempo do New Deal e revela as ligações que existiam entre o New Deal e os planos de Roosevelt para o período do pós-guerra.

A FEA também continuou a utilizar os seus métodos para reforçar a posição económica dos Estados Unidos, afirmando que “a posição relativamente forte dos países aliados em relação aos neutrais deve ser utilizada para alcançarmos os nossos objec-tivos económicos”293. Um meio de o fazer consistia em continuar a fazer uma lista negra de indivíduos e empresas que haviam colaborado com os Alemães, em parte para os punir, mas sobre-tudo “para reforçar substancialmente a eficácia potencial [da lista negra]… como sanção a utilizar no futuro”294. Para além da lista negra, os EUA continuaram a tirar partido de recursos fundamentais. As autoridades aliadas continuaram a exigir que os países neutrais adquirissem os produtos de que necessitavam através das vias que a guerra económica lhes proporcionava, o que significava que tinham a possibilidade de limitar a dispo-nibilidade de recursos fundamentais se os países neutrais não satisfizessem as exigências dos Estados Unidos295. As autoridades tiveram o cuidado de conservar o controlo de produtos escassos, não só porque queriam assegurar uma distribuição equitativa dos mesmos mas, também, para os poderem usar como um

291 Yost, p. 5.

292 Comunicação de V. Lewis Bassie dirigida a Frank Coe, RG 169, NARA.

293 FEA, “United States Proposal for Allied Economic Policy Toward Neutral Countries”, e FEA, “Attainment of Allied Objectives in Neutral Countries”, ambos in Notter Records.

294 FEA, “United States Proposal for Allied Economic Policy Toward Neutral Countries”, Notter Records.

295 FEA, “United States Proposal for Allied Economic Policy Toward Neutral Countries”. Veja-se também “Foreign Economic Administration Bureau of Areas Economic Program For Spain, Spanish Morocco, Canary Islands, Tangier”, Fevereiro de 1945, “Spain, Historical File, National Archives”.

Page 190: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[188]

PHILIP MUNDY

trunfo em futuras negociações296. Para além de manter as potên-cias neutrais fora dos mercados tradicionais, Leo Crowley auto-rizou que se utilizasse pressão económica para obrigar a Espanha a aceitar o acordo de Bretton Woods297. Do mesmo modo, os Estados Unidos serviram-se da renovação do programa Lend- -Lease para obter dos Britânicos uma série de concessões relati-vas ao pós-guerra298. Por outro lado, as autoridades usaram as reduções das sobretaxas como moeda de troca para obter con-cessões de outros países. Os Estados Unidos prometeram à Espa-nha suspender as sobretaxas sobre os produtos petrolíferos se aquele país suspendesse as suas taxas de exportação sobre o vol-frâmio299.

Mais importante é o facto de o aparelho da guerra económica ter sido utilizado para criar as estruturas necessárias ao comércio livre. O Comité Consultivo para as Exportações da FEA sugeriu que o governo americano negociasse “com as potências estran-geiras a eliminação dos seus controlos e sistemas de aquisições públicas, exercendo pressão económica, caso necessário, para o efeito”300. As autoridades compreenderam que reduzir as restri-ções ao comércio era um processo complexo, especialmente porque desejavam utilizar esse processo para reforçar “reforçar as bases de um nível elevado de comércio internacional no futuro”301. Embora estas medidas coercivas se destinassem, em última análise, a liberalizar o comércio, Roosevelt insistiu que os negociadores tornassem bem claro que desejavam sincera-mente a liberalização dos mercados e que o seu objectivo último era uma redução das barreiras ao comércio. Em finais de 1944, numa altura em que o programa contra as potências neutrais começara já a abrandar, Roosevelt advertiu Crowley de que não devia interferir no comércio livre302. Os organismos públicos destinavam-se a “exercer uma influência positiva e não negativa” sobre as empresas privadas303. Falando a um grupo de empresá-rios antes do fim da guerra, Leo Crowley afirmou que a FEA

296 Comunicação de Nathan Becker

dirigida a Livingston

Merchant, 19 de Outubro de 1944,

“Finances Spain 1943-1944”.

Veja-se também “Program and

Policy Adjustments

Which May Be Anticipated After V-E Day and V-J

Day”, 19 de Outubro de 1944,

RG 169, NARA.

297 Comunicação de Leo Crowley

dirigida a Edward Stettinus, 17 de

Janeiro de 1945, “Spain”,

“Geographic File of the

Administrator.” Um “navicert” é

um certificado de navegação, um

documento de que os países neutrais necessitavam para

transportar mercadorias para os países aliados.

298 Dobson, pp. 67-69.

299 Comunicação de Quintin Bridge

dirigida a Livingston Merchant,

20 de Setembro de 1944, RG 59,

NARA.

Page 191: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[189]

PROSPERIDADE E SEGURANÇA: A GUERRA ECONÓMICA E A VISÃO DO PÓS-GUERRA DE ROOSEVELT

não tinha “nenhuma intenção de substituir a actividade comer-cial privada agora ou no futuro… Contamos, tanto quanto possível, com a actividade comercial privada, na medida em que isso seja compatível com vencer a guerra e garantir a paz”304. Embora Roosevelt estivesse disposto a utilizar os instrumentos da governação económica sempre que necessário, tinha o maior cuidado em assegurar que aqueles que aplicavam os controlos não suprimissem a iniciativa privada.

A guerra económica proporciona uma perspectiva útil da visão de Roosevelt sobre o mundo do pós-guerra. À medida que o programa foi evoluindo, Roosevelt mostrou-se cada vez mais disposto a autorizar programas que anulavam os direitos comer-ciais das potências neutrais. Embora os esforços no sentido de obrigar os países neutrais a cooperarem com os Estados Unidos atrravés da dominação do comércio não tenham produzido resul-tados significativos, o programa revela um pressuposto subjacente não só sobre a capacidade dos EUA para controlar o comércio, mas também sobre a forma como isso poderia contribuir para a prosperidade e segurança americanas. O programa da guerra económica revela, especialmente, que houve uma continuidade entre as ideias do New Deal sobre a economia nacional e as visões sobre a forma de o aplicar no plano internacional. Um regime de “capitalismo responsável” era a melhor opção econó-mica para garantir a prosperidade e segurança dos Estados Unidos. Roosevelt e a sua administração foram tomando pro-gressivamente consciência da interligação da economia mundial. Ao trabalharem no sentido de implementar a sua visão durante e após a guerra, a guerra económica revelou os limites da gover-nação económica, especialmente porque Salazar utilizou habil-mente o seu controlo do comércio do volfrâmio e as negociações sobre os Açores para se esquivar às pressões dos Aliados. Embora muito menos poderoso do que os Aliados, Portugal usou o seu controlo de bens escassos para se opor ao poderio económico

300 “Minutes of Meeting of Export Advisory Committee, 19 de Setembro de 1944”, “Committees – General,” RG 169, NARA.

301 “Program and Policy Adjustments Which May Be Anticipated After V-E Day and V-J Day”, 19 de Outubro de 1944, “Statements, Speeches”, RG 169, NARA.

302 “Overall Organization File”, Records Analysis Division, Office of the Administrator, Records of the Foreign Economic Administration, RG 169, NARA.

303 “Minutes of Meeting of Export Advisory Committee”, 19 de Setembro de 1944, “Committees – General”.

304 Leo Crowley, discurso, “Public Relations 13 Speeches: Crowley”, Office of Economic Programs Central File, RG 169, NARA.

Page 192: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[190]

PHILIP MUNDY

aliado. A guerra económica acabou por produzir poucos resul-tados, mas o programa mesmo assim ajudou a esclarecer os pressupostos subjacentes à política dos Estados Unidos, quando este país procurou redefinir o seu lugar na comunidade inter-nacional durante a II Guerra Mundial e posicionar-se com vista à era do pós-guerra.

Page 193: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[191]

BASES ESTRANGEIRAS E ESTRATÉGIAS NO PORTUGAL CONTEMPORÂNEO

António José Telo

Este texto pretende dar uma panorâmica das razões que levaram à criação de bases estrangeiras em Portugal no período contem-porâneo. Por bases estrangeiras entendemos uma presença prolon-gada (mínimo de um ano) de unidades militares estrangeiras em território nacional, com autorização das legítimas autoridades por-tuguesas. Não está contemplada a presença de missões militares, mesmo quando estas são numerosas e duram muito tempo ou a actividade de missões de treino ou instrução. O estudo cobre o período contemporâneo desde a formação do sistema internacio-nal multipolar em fins do século XIX até à transição para a demo-cracia em 1974, que corresponde à última fase da Guerra Fria. Vou considerar somente o Portugal metropolitano correspondente ao território na Europa, tanto a parte continental como os arqui-pélagos da Madeira e Açores, com exclusão das colónias.

A linha condutora para entender a criação de bases militares estrangeiras em Portugal é a análise das grandes estratégias que as originam, tanto a nacional como as estrangeiras. Os planos militares que essas estratégias inspiram são mencionados, mas não de forma exaustiva ou desenvolvida por falta de espaço. As bases são classifi-cadas a partir dos tipos de estratégias que estão na sua origem.

Estratégias Globais de Negação

Na maior parte do período considerado, a existência ou não de bases militares estrangeiras em Portugal teve a ver fundamen-

Page 194: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[192]

ANTÓNIO JOSÉ TELO

talmente com as estratégias de negação praticadas pela Inglaterra, o secular aliado. As estratégias de negação surgem quando um poder não precisa da utilização activa de um espaço, mas precisa de o negar a um rival potencial ou efectivo.

A Inglaterra do século XIX, no período de ouro da sua hege-monia, não precisava da utilização activa do espaço português, excepto em casos pontuais ou em aspectos particulares. A hege-monia britânica no século XIX é construída à volta de um eixo que parte das ilhas britânicas, se prolonga até Gibraltar, atravessa o Mediterrâneo, tendo como pontos de apoio Malta e o Egipto, chega à Índia e continua para a Austrália e Hong Kong. A Inglaterra ao longo dos séculos foi tecendo um rosário de bases para controlar este eixo central.

O eixo principal da projecção do poder britânico criado a partir do século XVIII é coincidente com o português, formado antes, nos séculos XV e XVI. Em ambos os casos o objectivo central era dominar o caminho marítimo para a índia e o Oriente, pelo que as bases portuguesas e as britânicas estão em regra próximas umas das outras, na medida em que ambas foram criadas para um mesmo objectivo. Gibraltar era o ponto de apoio britânico para o controlo do estreito do mesmo nome, que tinha o seu equivalente no caso português em Ceuta, o ponto por onde começou a expansão portuguesa e a europeia em 1415; Freetown tinha como equivalente Cabo Verde; a África do Sul conquistada aos Países Baixos dominava a rota da Índia nos tempos anteriores ao Suez e tinha como equivalente Moçam-bique, o primeiro ponto de apoio português no Índico; Singa-pura cumpria o papel da antiga Malaca, no controlo da passagem entre o Índico e o Pacífico; Hong Kong desempenhava o papel de Macau no comércio com a China; a Austrália, finalmente, correspondia quando da sua formação ao papel de Timor, embora tenha crescido muito ao tornar-se uma colónia de povoamento. A única parte do território nacional para a qual a Inglaterra não

Page 195: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[193]

BASES ESTRANGEIRAS E ESTRATÉGIAS NO PORTUGAL CONTEMPORÂNEO

tinha alternativa eram os Açores, pelo simples motivo que Lon-dres não estava interessada em projectar poder no sentido da América desde a guerra de 1812 contra os EUA. A última vez que a Inglaterra tentou conquistar os Açores foi durante as lon-gínquas guerras contra Filipe II, quando Portugal estava unido com a Espanha e estas ilhas eram essenciais para dominar a rota das Américas, o eixo central do Império espanhol. A partir do momento em que Portugal se separou da Espanha (1640), a Inglaterra perde o interesse no controlo activo dos Açores, acei-tando que ele fique na posse do aliado.

A semelhança dos eixos centrais de projecção do poder dos dois estados tem várias consequências. A primeira, é que a Inglaterra dispensa normalmente o uso das bases portuguesas, pois conta com alternativas melhores e mais desenvolvidas. As bases portu-guesas só são úteis para a Inglaterra como pontos de apoio adi-cional em certas circunstâncias muito particulares e raras. A segunda consequência, é que Londres não pode aceitar que as bases por-tuguesas sejam alguma vez dominadas por um poder rival, justa-mente porque estão próximas dos centros vitais britânicos.

Foram estes pressupostos que originaram secular aliança e a mantiveram ao longo dos séculos e foram eles que levaram ao desenvolvimento da estratégia da negação por parte da Inglaterra. O seu interesse era que as bases portuguesas continuassem nas mãos do aliado, pois enquanto isso acontecesse os pontos estra-tégicos que podiam rivalizar com as suas bases próprias nunca seriam um perigo e podiam ser úteis em certas crises. Se esses pontos saíssem das mãos de Portugal, havia o risco de caírem nas mãos de um potencial rival, algo inaceitável. Por isso a Inglaterra era o único grande poder interessado em defender o Império Português e essa era a base da Aliança. As localizações portuguesas que mais interessavam à Inglaterra no seu rosário de poder global eram Lisboa, os Açores, a Madeira, Cabo Verde, Luanda, Lourenço Marques, Goa e Timor.

Page 196: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[194]

ANTÓNIO JOSÉ TELO

Por muitas vezes ao longo do século XIX o Colonial Office e outros departamentos levantaram em Londres o problema de fundo: para que nos interessa a continuação da “secular aliança” com Portugal? Lisboa está sempre a apresentar pedidos para isto e para aquilo e a requerer o apoio político e diplomático nas mais diversas circunstâncias, sem que seja claro o que recebemos em troca; para quê continuar esta relação com um parceiro fraco e sem autonomia? A resposta dos militares e do Foreign Office era sempre a mesma: a aliança com Portugal é a melhor maneira de garantir que importantes pontos estratégicos em todo o pla-neta, colocados perto dos centros do nosso poder global, estão nas mãos de um aliado de confiança e não são ocupados pela França, a Alemanha ou outro qualquer rival poderoso.

Entre 1898 e 1914, quando a rivalidade com a Alemanha cresceu, Londres pede mesmo uma garantia formal secreta a Portugal no sentido de que não seria feita qualquer concessão num porto português a um outro poder sem o seu prévio con-sentimento escrito. É uma garantia muito ampla, que cobre estações de cabos, depósitos de carvão, instalações militares e tudo o mais de interesse estratégico. A Inglaterra chegou a con-siderar, em 1908, que Portugal não podia aceitar a construção de um sanatório para tuberculosos na Madeira por capitais ale-mães, pois isso podia ter implicações estratégicas.

A garantia mencionada foi dada pela primeira vez por Por-tugal em 1898, tendo logo no ano seguinte como contrapartida directa a renovação do compromisso britânico de defesa activa do Império português, confirmado pelo chamado tratado de Windsor (que não é tratado, nem foi assinado em Windsor). O secular aliado dá uma tal importância a esta garantia que sem-pre que o Governo muda em Lisboa (na Monarquia ou na República) logo o representante de Sua Majestade pede uma audiência ao novo ministro dos negócios estrangeiros e requer a sua renovação formal. Nunca ao longo destes 18 anos e durante

Page 197: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[195]

BASES ESTRANGEIRAS E ESTRATÉGIAS NO PORTUGAL CONTEMPORÂNEO

dois regimes qualquer gabinete, moderado ou radical, hesitou em renovar de imediato as garantias. Tudo isto se passava em termos da diplomacia secreta e era o segredo mais bem guardado em relação à opinião pública nacional, pois todos os governos sabiam que a sua divulgação pública representaria sérios proble-mas políticos internos, que poderiam levar ao seu fim ou mesmo ao derrube do regime.

As garantias de 1898-1914 são o melhor exemplo das estra-tégias da negação: a certeza formal de que o território do aliado não seria usado por um rival, mesmo no que diz respeito a pequenas coisas sem importância aparente. Num período normal os termos gerais da aliança bastavam para que a Inglaterra não tivesse receios neste campo. Quando as rivalidades se agudizaram a partir de 1898, Londres quis uma garantia directa e formal, o que conseguia sem grandes dificuldades. A contrapartida era evidente para Portugal: a Inglaterra apoiava a continuação do Império e da dualidade peninsular, os dois objectivos externos mais importantes de qualquer governo nacional, independente-mente da sua cor política ou composição.

Estratégias Globais de Preempção

As estratégias de preempção são uma variante das de negação, embora impliquem um papel mais activo. Elas consistem em criar qualquer coisa, não porque seja necessário o seu uso, mas para impedir que outros o façam. Era o que acontecia no caso dos cabos submarinos. Estes eram de uma importância estraté-gica imensa na segunda metade do século XIX, até ao desenvol-vimento da rádio, pois eram a única forma de comunicar a longa distância de maneira rápida. A Inglaterra considerava essencial manter a sua rede global própria de cabos submarinos (a cha-mada rede vermelha) e impedir outros poderes de criarem uma

Page 198: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[196]

ANTÓNIO JOSÉ TELO

rede semelhante. Para a sua rede própria a Inglaterra só utilizou como ponto de amarração um porto que não lhe pertencia directamente: Lisboa, onde fundou a estação de cabos de Car-cavelos, na vital ligação de Londres a Gibraltar. A Inglaterra não precisava de usar os Açores na ligação por cabo à América, pois para ela o trajecto mais directo ia da Irlanda ao Canadá; para a América do Sul a rota prioritária inglesa passava por Freetown e Cabo Verde, a partir de Gibraltar, também sem apoio nos Açores.

Eram a França, a Alemanha e os EUA que estavam muito interessadas no uso dos Açores para lançar cabos próprios e a Inglaterra, ao defender o livre uso das redes de cabo por todos em tempo de paz, não o podia negar de forma directa. Foi assim necessário desenvolver uma variante original da estratégia da negação através de preempção.

Numa primeira fase, empresas inglesas assinaram contratos de exclusividade com Portugal para criarem estações de cabos nos Açores e pura e simplesmente deixaram passar o prazo sem fazerem qualquer investimento. A existência dos contratos de exclusividade era suficiente para impedir o aparecimento de estações de outras nacionalidades, que era o real objectivo bri-tânico. A partir de certa altura, porém, a pressão internacional foi demasiado forte para que esta prática se mantivesse. A Ingla-terra opta então por ser ela a construir a estação de cabos na Horta (Faial), embora não necessite do seu uso. O contrato assinado entre a empresa britânica e o estado português dá a esta a exclusividade do uso dos Açores. Quando a Alemanha, a França e os EUA querem amarrar cabos nos Açores têm de assi-nar uma sub-concessão com a empresa britânica, sem interfe-rência do governo de Lisboa. Desta forma os cabos dos outros poderes estão dependentes do controlo britânico. Isto permite que, em 1914, quando Portugal era ainda neutro, a Alemanha visse o seu cabo que amarrava nos Açores desviado para uso dos

Page 199: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[197]

BASES ESTRANGEIRAS E ESTRATÉGIAS NO PORTUGAL CONTEMPORÂNEO

Aliados poucos minutos depois da guerra começar. Berlim per-dia a possibilidade de comunicar com as suas colónias ou com qualquer outra parte do mundo que não fosse a limitada parte da Europa ocupada pelos seus exércitos; os Aliados, em contra-partida, reforçavam a sua capacidade de comunicação global com o uso do cabo alemão, que passava a estar ao seu serviço.

Uma outra versão das estratégias de preempção foi a política britânica nos Açores depois da II Guerra Mundial. Nessa altura, o Estado-Maior Conjunto Britânico que já não precisava do uso activo das Lajes, pelo que as forças britânicas se podiam retirar. Simplesmente, os EUA pediram que permanecessem, de modo a facilitar a presença de unidades americanas e a relação com Portugal, ao que Londres acedeu durante uns anos. Era uma preempção a pedido de um aliado e não para impedir o uso por um rival, mas a lógica era semelhante: manter activo algo que não se necessitava para obter fins indirectos.

As Estratégias Globais Activas

As estratégias globais activas caracterizam-se por implicarem um uso activo do território nacional de modo a obter um determi-nado objectivo.

As estratégias globais activas que envolvem o território nacio-nal estão associadas principalmente aos EUA no período con-temporâneo, por razões fáceis de entender. A grande república americana só desperta plenamente para o exercício de funções globais durante a I Guerra Mundial, numa altura em que é já a primeira economia mundial e um poder naval ao nível da Grã-Bretanha. Antes disso, a política externa americana nor-teava-se pelo princípio do não envolvimento nos assuntos euro-peus, pelo que não havia necessidade de projectar poder para o outro lado do Atlântico.

Page 200: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[198]

ANTÓNIO JOSÉ TELO

A partir de 1917, com a beligerância na Grande Guerra, os EUA preocupam-se pela primeira vez em projectar poder numa ampla escala para a Europa. O problema era então o de colocar na Europa um exército de cerca de dois milhões de homens em poucos meses, o que obrigava a enfrentar a campanha submarina sem restrições decretada pela Alemanha. É neste contexto que Washington cria uma base naval e aérea em Ponta Delgada. Significativamente esta é negociada, não com Portugal, como se poderia pensar, mas sim com a Inglaterra, em contactos que decorrem principalmente entre as duas marinhas. Uma vez obtido o acordo de Londres, Lisboa é meramente informado (com algum atraso) dos resultados. A única dúvida que se coloca em Lisboa é: mas a Inglaterra concorda com isto? Quando se confirma que sim, não se levantam objecções.

A base americana em Ponta Delgada era um ponto de apoio menor, periférico e secundário no dispositivo naval aliado no Atlântico. É necessário entender qual a sua real função estraté-gica, pois há grande confusão entre os autores portugueses a este respeito. A base de Ponta Delgada não foi um centro impor-tante do sistema de comboios nem um ponto de apoio das grandes esquadras. Ponta Delgada, aliás, não serviria para isso devido às deficiências do seu porto artificial, só capaz de abrigar poucos e pequenos navios. Se os aliados estivesse interessados em explorar estas vertentes, necessariamente teriam de ir para a Horta, o único bom porto natural dos Açores, capaz de rece-ber as maiores esquadras. Mas não era isto que os aliados que-riam. A sua preocupação era muito diferente: impedir que os Açores ou a Madeira pudessem servir de ponto de apoio aos cruzadores submarinos com grande raio de acção da Alemanha, que tinham a capacidade de lançar uma campanha contra a navegação perto da costa americana. Os Açores, em resumo, eram principalmente um ponto avançado na defesa do conti-nente americano e paralelamente uma base secundária para pro-

Page 201: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[199]

BASES ESTRANGEIRAS E ESTRATÉGIAS NO PORTUGAL CONTEMPORÂNEO

jectar poder na direcção da Europa. É preciso recordar que os cruzadores submarinos alemães atacaram impunemente o Fun-chal e Ponta Delgada antes da chegada dos americanos, sem que os reduzidos meios navais nacionais pudessem assegurar a defesa dos portos das ilhas.

A força naval americana nos Açores traduz esta preocupação de forma clara na sua composição: é formada por um monitor, destroyers, e submarinos, tudo completado com peças de defesa de costa, uma base de hidroaviões e fuzileiros. O monitor apoiava os navios menores e, com as suas peças, defendia o porto de submarinos inimigos que o tentassem atacar navegando na super-fície, como já tinha sucedido em 1916. Os destroyers em pequeno número faziam patrulhas anti-submarinas nas proximidades dos portos, mas não demorou muito tempo a concluir-se que não eram eficazes, pois o submarino podia detectar a sua presença a grande distância e mergulhar muito antes de poder ser atacado – os destroyers seriam por isso desviados para França onde eram muito mais úteis na escolta de comboios, enquanto nos Açores não havia comboios a escoltar. Os submarinos americanos é que eram a verdadeira arma anti-submarino: deviam permanecer submersos na proximidade dos portos, de modo a montar embos-cadas aos seus congéneres alemães que se aproximassem das ilhas – seja acrescentado que assim que os americanos se instalaram em Ponta Delgada mais nenhum submarino alemão tentou fazer um ataque a tiro de canhão e esse ou a outro porto insular.

Ainda durante a I Guerra Mundial a França cria uma base naval para pequenas escoltas em Leixões e instala uma base aérea para hidroaviões em S. Jacinto (Aveiro), tudo completado com instalações em Lisboa e na costa algarvia. O objectivo era apoiar os comboios costeiros que iam do Mediterrâneo e do Atlântico Sul para a Europa do Norte, contornando a Península. A Ingla-terra mantém durante algum tempo uma base para cruzadores em Cabo Verde, mas acaba com ela a partir da 1917, quando

Page 202: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[200]

ANTÓNIO JOSÉ TELO

a ameaça submarina se passa a fazer sentir nessas ilhas, pois os navios de superfície ancorados no porto não estavam em segu-rança.

Tanto Ponta Delgada como Leixões eram pois pontos auxi-liares no sistema aliado de controlo da navegação no Atlântico, tendo ainda Ponta Delgada a função de defesa avançada do continente americano. Não eram, ao contrário do que certos autores afirmam, bases do sistema de comboios, mas sim apoios periféricos para as escoltas mais pequenas (caso de Leixões), úteis somente para receber navios em dificuldades e contando só com pequenas escoltas (Leixões), submarinos (Ponta Delgada) e hidro-aviões de reconhecimento (Ponta Delgada e S. Jacinto).

O interesse americano pelos Açores renasce na II Guerra Mundial, ou seja, renasce quando os EUA são chamados a assu-mir a defesa dos interesses globais do Ocidente, numa altura de debilidade da Inglaterra.

É muito curioso verificar a forma como este interesse renasce. A primeira preocupação de Washington em 1940-1941 é ainda a defesa avançada do continente americano, tal como aconteceu em 1917. Depois da vitória inesperada da Alemanha sobre a França, os planos Rainbow americanos previam a possibilidade de uma guerra global de longo prazo, onde os EUA praticamente sozinhos tivessem de derrotar uma Europa dominada pela Ale-manha e uma Ásia dominada pelo Japão. Na primeira fase de uma tal guerra o essencial era ganhar tempo sem colocar em risco a base central de operações, para que a indústria americana pudesse virar-se em pleno para a produção militar e armar uma força de mais de 12 milhões de homens. Era considerado vital que os potenciais inimigos não dominassem nesta fase inicial pontos a partir dos quais pudessem atacar pelo ar ou pelo mar o continente americano, que tinha de permanecer uma zona segura. O ponto mais importante nesta perspectiva eram os Açores, pelo que em fins de 1940 os EUA preparam a sua ocu-

Page 203: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[201]

BASES ESTRANGEIRAS E ESTRATÉGIAS NO PORTUGAL CONTEMPORÂNEO

pação preventiva, através do desembarque da 1.ª divisão de fuzileiros. Recordo que nesta altura a Alemanha dominava grande parte da Europa e tinha as suas forças concentradas e disponíveis, não sendo claro se as ia empenhar numa ofensiva para Oeste, para Sul ou para o Leste, como acabaria por acontecer.

A ocupação dos Açores pelos EUA estava prevista para Maio de 1941 (operação Lifebelt) e só não se concretizou porque a Inglaterra garantiu a Washington que ela própria tinha uma operação semelhante preparada caso as forças alemãs entrassem em Espanha. Na realidade, a Inglaterra tinha de prevenção a sua única divisão operacional neste altura, concentrada nos por-tos do sul, com a missão de embarcar em navios pré-posiciona-dos com tudo o necessário a bordo, de modo a desembarcar nos Açores quatro dias depois de recebida a ordem para desen-cadear a operação. A ordem seria dada por Londres assim que o primeiro soldado alemão entrasse em Espanha e seria acom-panhada pela imediata deslocação de uma esquadra com porta aviões para os Açores, de modo a impedir um ataque alemão pelo ar. Os soldados ingleses estariam nos Açores, em resumo, antes dos soldados alemães chegarem à fronteira portuguesa.

Mesmo assim os EUA hesitam e mantém a ocupação preven-tiva das ilhas tal como planeado. Washington só recua quando recebe uma informação vital de Londres, em Abril de 1941: a intercepção das mensagens Enigma permitia confirmar que a Alemanha planeava um ataque à Rússia a partir de Junho, o que significava que não teria forças disponíveis para operações no ocidente pelo menos até fins desse ano. Perante esta informação, Roosevelt manda anular a ocupação dos Açores prevista para Maio. Foi uma diferença de poucos dias e os acontecimentos mostravam bem o que acontecia quando a Inglaterra ou os EUA pensavam que um rival podia ocupar as ilhas portuguesas.

O segundo momento em que os Aliados se preocupam com o uso activo de Portugal surge a partir de 1942, mas por moti-

Page 204: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[202]

ANTÓNIO JOSÉ TELO

vos completamente diferentes. Agora a preocupação é a Batalha do Atlântico que está a correr mal para os aliados, sendo nesta fase afundados mais navios que as novas construções. As mari-nhas aliadas consideram o uso activo dos Açores muito impor-tante para a Batalha do Atlântico, pois a partir deles era possível assegurar a cobertura aérea do “buraco negro”, a zona central do oceano que estava fora do raio dos aviões com base na Islândia, Canadá e Irlanda.

A ocupação dos Açores só não se concretiza em 1942 porque a grande estratégia aliada tem outras prioridades. Nesta altura planeava-se o desembarque no Norte de África para Novembro de 1942 (operação Torch), sendo preocupação aliada manter a Península neutra até lá, o que obriga a adiar a ocupação de bases nas ilhas. Temia-se nomeadamente que uma ocupação aliada dos Açores pudesse levar a Espanha a entrar na guerra ao lado do Eixo.

Em Maio de 1943 os aliados expulsam o Eixo do Norte de África, pelo que desaparecem as preocupações com a neutralidade da Espanha. Agora, mesmo no hipótese improvável da Espanha entrar na guerra, já pouco poderia fazer para prejudicar a grande estratégia aliada a partir do momento em que estes estavam firmemente no Norte de África e dominavam o estreiro. É então dada luz verde para a ocupação de bases nos Açores na cimeira Trident entre Churchill e Roosevelt.

De início, o que se planeia é uma invasão de surpresa das ilhas a desencadear em Setembro de 1943, mas o Foreign Office é de opinião que Portugal aceitará um pedido de bases apresentado em nome da aliança. Na realidade, o governo de Lisboa recebe muito bem esse pedido na primavera de 1943, pelo simples motivo que ele representa a garantia da continuação do regime depois da guerra. Oliveira Salazar, quando conheceu a iniciativa aliada, fez um comentário muito revelador: “Gostava de ver a cara dos senhores da oposição quando souberem disto”.

Page 205: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[203]

BASES ESTRANGEIRAS E ESTRATÉGIAS NO PORTUGAL CONTEMPORÂNEO

As Lajes são ocupadas por forças inglesas em Outubro de 1943, mas foram cedidas em nome da aliança e Portugal não permitiu a instalação de unidades militares americanas nos Aço-res de forma permanente. A base podia ser usada por aviões americanos em trânsito, mas não por unidades americanas que nela se instalassem. A RAF começa por colocar dois esquadrões de luta anti-submarina com Fortress nos Açores, mas não tarda a verificar que são excessivos, pelo que um é retirado pouco depois. Na realidade, a campanha anti-submarina nas águas dos Açores tinha ficado decidida nos meses anteriores à ocupação das bases, graças ao uso de porta aviões de escolta americanos dirigidos para os alvos pelas mensagens rádio (Enigma) interceptadas e decifra-das pelos Aliados. Poucos submarinos são afundados até ao final da guerra pelos aviões com base nos Açores, pelo que as Lajes não são, ao contrário do que quase todos os autores portugueses garantem, uma importante base anti-submarina. O seu papel na vitória aliada na Batalha do Atlântico foi insignificante.

O real papel activo das Lajes e dos Açores na II Guerra Mundial foi outro e estava ligado a preocupações dos EUA, e não dos aliados em geral. Este foi o primeiro conflito em que o transporte aéreo estratégico teve importância, tendo sido desen-volvido principalmente pelos EUA. Uma das suas principais rotas em 1943 era a que ligava os EUA ao Norte de África e ao Medi-terrâneo, sendo os Açores muito importantes como escala inter-média. As Lajes, apesar de serem oficialmente uma base britânica são usadas principalmente pelos C-54 americanos, num ritmo que chega a ultrapassar os mil voos mensais. Os C-54 viam a sua viagem encurtada para metade com o uso dos Açores e podiam transportar muito mais carga.

Para compreender a importância desta imensa ponte aérea (a primeira numa escala intercontinental da história da humanidade) basta contar um pequeno episódio. Rommel refere nas suas memórias que se convenceu definitivamente que a guerra estava

Page 206: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[204]

ANTÓNIO JOSÉ TELO

perdida quando as tropas alemãs ocuparam um estado-maior americano numa das raras contra-ofensivas germânicas bem suce-didas de 1943 (em Kasserine, Tunísia). Para sua surpresa, o gene-ral alemão encontrou nas instalações abandonadas à pressa um bolo de chocolate, ainda na respectiva caixa, com a indicação que tinha sido fabricado no dia anterior em Nova York e trans-portado de avião. Se os EUA se davam ao luxo de transportar em poucas horas bolos de chocolate frescos de Nova York para a Tunísia, quando a Alemanha nem sequer conseguia receber gaso-lina a partir da Itália que estava muito mais perto, então Rommel concluiu que a guerra estava perdida. Ora isto acontecia numa altura em que os aviões de transporte americanos usavam ainda a rota mais longa para o Norte de África, que seguia via Brasil e Freetown ou, como alternativa, via Inglaterra e Gibraltar, tudo rotas com múltiplas escalas; quando passaram a usar os Açores em voos com só uma escala a sua capacidade aumentou muito.

Na fase final da guerra os Açores adquirem assim um novo papel activo que antes não tinham: são um ponto de apoio aéreo para projectar força a longa distância. Era uma função que inte-ressava só aos EUA, pelo que a insistência portuguesa em con-siderar as Lajes uma base exclusivamente britânica criava um paradoxo difícil de gerir.

Os EUA cedo percebem que a sua capacidade de projectar poder pelo ar entre continentes será especialmente importante para o futuro, pelo que, logo em 1944, definem uma rede de bases mínima que consideram vital manter depois do conflito. Nessa rede os Açores são classificados como uma das seis bases “vitais”, sendo mesmo dito que são a mais importante no que diz respeito à capacidade de projectar poder.

É isto que explica que, em 1944, os EUA peçam a autoriza-ção para construir uma grande base aérea em Santa Maria, escla-recendo que o pedido é apresentado dentro da relação bilateral e fora do âmbito da aliança com a Inglaterra. A importância

Page 207: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[205]

BASES ESTRANGEIRAS E ESTRATÉGIAS NO PORTUGAL CONTEMPORÂNEO

que dão a este pedido é tal que os EUA garantem mesmo que nada têm a opor à continuação do império português, a primeira vez na sua história em que tomam uma tal posição. A garantia é bem recebida, pois a preocupação central de Portugal era que os EUA podiam vir a fomentar a independência das colónias.

Nas negociações de 1944 que levam à construção de Santa Maria as cedências americanas são imensas, o que mostra a importância que dão ao assunto. Os EUA, por exemplo, com-prometem-se a devolver Timor a Portugal (estava ocupado pelo Japão), a ceder abastecimentos para que o Governo contenha o mal estar e as vagas de greves da parte final da guerra, a dar importantes contrapartidas económica e a apoiar diplomatica-mente o regime depois da guerra. Na realidade, Portugal seria aceite nas organizações internacionais do pós-guerra pela mão dos EUA, ao contrário do que aconteceu com a Espanha.

A base de Santa Maria foi construída pelos EUA para ser uma das mais importantes da bacia do Atlântico depois da guerra, numa largueza de vistas e de recursos que muito impressionou portugue-ses e ingleses. Aconteceu simplesmente que, quando a base foi concluída a guerra tinha terminado e o compromisso português era de só permitir o seu uso durante o conflito. Santa Maria era um gigante que nunca chegou a caminhar, pois quando estava pronto para o fazer o tapete foi-lhe puxado debaixo dos pés. Por decisão de Lisboa, Santa Maria foi classificada como o grande aero-porto civil no meio do Atlântico depois da guerra, entregue à ges-tão portuguesa, enquanto a actividade militar se concentrava nas Lajes. Os EUA tinham construído um aeroporto de primeira cate-goria, superior ao das Lajes, mas não o chegaram a usar. Em termos de aeroporto civil a importância de Santa Maria dura pouco tempo, pois os novos aviões que entram em serviço a partir de 1947 podem atravessar o Atlântico com carga máxima sem escala.

Podemos concluir que com a II Guerra Mundial o papel do território português mudou nas estratégias dos grandes poderes

Page 208: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[206]

ANTÓNIO JOSÉ TELO

e o seu uso passou de passivo a activo. Há essencialmente dois motivos para isto:

• A maturidade dos novos meios técnicos, nomeadamente do submarino e do transporte aéreo estratégico;

• O despertar dos EUA para uma presença global, o que os obriga a projectar poder na direcção da Europa e do Médio Oriente, tendo no território português um ponto de escala intermédio.

O novo papel activo dos Açores vai originar três funções estratégicas muito diferentes nas três fases do conflito:

• Na primeira fase (1940-41), marcada pela predominância da Alemanha, os Açores e Cabo Verde são encarados principal-mente como um ponto de defesa avançado do continente americano;

• Na segunda fase de equilíbrio relativo (1942-1943), os Aço-res são encarados principalmente pela sua importância na guerra anti-submarina, que nunca se chegou a concretizar pois os aliados decidem não avançar com o pedido de bases até meados de 1943;

• Na terceira fase de predominância aliada (1944-45), os Aço-res são encarados principalmente como pilar das pontes aéreas para projectar poder entre continentes, função que é exclusiva dos EUA. Será esta última a sua principal função nos cenários da Guerra Fria.

As Estratégias Iniciais da Guerra Fria

A fase inicial da Guerra Fria corresponde ao período em que as bases em território português são mais importantes para as estra-tégias dos grandes poderes.

Page 209: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[207]

BASES ESTRANGEIRAS E ESTRATÉGIAS NO PORTUGAL CONTEMPORÂNEO

Os EUA muito cedo definem através do National Security Cou-ncil uma grande estratégia de dissuasão, na crença que enquanto o Ocidente dominar três dos quatro centros industriais do planeta a sua vantagem de longo prazo é segura e não lhe interessa pro-vocar a guerra. Caso esta estala por iniciativa soviética, os planos americanos (Frolic, Half-Moon e outros) previam uma retirada gradual na Europa enquanto se mobilizavam forças, acompanhada por uma ofensiva aérea estratégica (nuclear e convencional) desde o primeiro momento. As bases centrais para a ofensiva aérea esta-vam na Inglaterra e no Norte de África, as únicas zonas que não seriam ocupadas pela ofensiva convencional soviética nos primei-ros seis meses, segundo se pensava. A contra-ofensiva aliada iria partir do Norte de África seis meses depois do começo da guerra, tendo como primeiro objectivo reconquistar a zona do petróleo do Médio Oriente, que provavelmente seria ocupada pelos sovié-ticos nos primeiros seis meses.

É fácil compreender que para estes planos os Açores eram vitais, pois só através deles se podia criar e manter operacionais as bases do Norte de África de que tudo dependia. Era ainda a função de projectar poder pelo ar, mas agora numa equação onde as armas nucleares tinham já grande importância, depen-dendo a eficácia do seu uso da utilização dos Açores. Recorda-mos que nesta fase (até 1952) o arsenal nuclear americano era pequeno; a URSS só teve a bomba a partir de 1949, tendo um arsenal igualmente diminuto até 1952. A perspectiva americana era que o uso do arsenal nuclear, mesmo que tudo corresse pelo melhor, só eliminaria 18% da capacidade industrial da URSS, o que não era uma vantagem decisiva; a guerra nos primeiros seis meses seria fundamentalmente feita com meios convencionais.

Os EUA não estão interessados nesta altura em bases no ter-ritório português do continente, pois a sua perspectiva é que este seria ocupado com a ofensiva soviética dos primeiros seis meses do conflito.

Page 210: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[208]

ANTÓNIO JOSÉ TELO

Washington define logo em 1945 a política de obter direitos de bases em tempo de paz nos Açores a qualquer custo, ao mesmo tempo que os seus planos previam a utilização das ilhas portuguesas desde a primeira hora de um conflito, com ou sem autorização de Lisboa. Para encurtar razões, basta aqui dizer que a única maneira dos EUA obterem um acordo estável para per-manecer nos Açores em tempo de paz foi através da entrada de Portugal para a NATO. Por esse motivo Washington propõe desde o primeiro momento que Portugal seja convidado a ade-rir, embora fosse o único regime não democrático entre os fun-dadores da NATO.

O acordo de 1951 entre Portugal e os EUA garante a presença americana nos Açores por cinco anos renováveis e sem contra-partidas directas, que Portugal recusa para, segundo afirma, “não criar servidões”. O acordo é muito curioso, pois é bilateral, mas remete para toda a justificação política da NATO, uma organi-zação multilateral. O acordo prevê nomeadamente que a utili-zação das bases é automática para os fins NATO e que estas estarão ao dispor dos parceiros da NATO desde a primeira hora de um eventual conflito. Por iniciativa portuguesa as facilidades concedidas aos EUA foram alargadas ao Reino Unido, que não as pediu nem as tencionava utilizar em tempo de paz. É de notar que pouco tempo depois (em 1953) a Espanha assinaria um acordo com os EUA para criar bases no seu território dentro de uma filosofia completamente diferente: a Espanha aceitava tudo o pedido, mesmo criar bases para bombardeiros nucleares próximas da sua capital, mas queria em troca contrapartidas directas muito claras e amplas. Será bom acrescentar que a eco-nomia da Espanha cresceu fortemente com capitais e técnicas americanas nos anos cinquenta, enquanto a portuguesa teve um desenvolvimento bem mais modesto.

No começo dos anos cinquenta os EUA evoluem oficialmente para a estratégia da “retaliação maciça”, tendo em conta a sua

Page 211: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[209]

BASES ESTRANGEIRAS E ESTRATÉGIAS NO PORTUGAL CONTEMPORÂNEO

clara inferioridade em meios convencionais e superioridade em meios nucleares. Agora espera-se que os bombardeiros america-nos actuem directamente a partir dos EUA em caso de conflito, pois as bases avançadas no Norte de África e até no Reino Unido deixam de ser seguras com o desenvolvimento do arsenal nuclear soviético. Para tal, o SAC (Strategic Air Command) dota-se de uma imensa frota de mais de mil gigantescos aviões com capa-cidade intercontinental, como o B-36, o B-47 e o B-52. Simples-mente para que estes bombardeiros possam efectivamente operar a partir dos EUA é necessário o reabastecimento em voo, técnica vulgarizada nesta altura e a USAF cria uma imensa frota de mais de 1000 aviões tanque para esse fim.

Os Açores são igualmente vitais nos planos deste período, pois está previsto que, em caso de conflito, se transformariam numa das principais bases de aviões tanque, a partir da qual se cobria o Atlântico Norte e Central, reabastecendo em voo os bombardeiros atómicos que operavam a partir dos EUA. Os cená-rios de guerra desta fase apontam para um conflito curto, onde as primeiras horas seriam decisivas, pelo que os meios nas Lajes teriam de ser amplamente reforçadas antes do conflito e não depois dele começar. Daí a necessidade do acordo de 1951 que permitia o amplo desenvolvimento das instalações em terra. A perspectiva americana que justifica a retaliação maciça é que os seus bombardeiros conseguiriam arrasar em poucas horas os cen-tros industriais soviéticos, enquanto os bombardeiros adversários só fariam pequenos estragos – daí a importância dos radares de vigilância de longo curso, um dos quais estava nos Açores, embora esta não fosse a rota dos bombardeiros soviéticos. É de notar que, de acordo com os planos, os bombardeiros soviéticos seguiam para os seus alvos via Pólo Norte e Canadá, enquanto uma parte dos bombardeiros americanos que se dirigiam para alvos no Cáu-caso, Crimeia e sul da Ásia soviética, seguiam a rota do Medi-terrâneo, com reabastecimento em voo.

Page 212: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[210]

ANTÓNIO JOSÉ TELO

Na transição para os anos sessenta os EUA e a NATO adoptam a estratégia da resposta flexível, que, com várias variantes se manteria até aos anos de Ronald Reagan. A mudança de estra-tégia é fomentada essencialmente por dois factos: a partir de 1956 o arsenal nuclear soviético cresce muito, a pontos de uma guerra nuclear se traduzir provavelmente por “estragos inaceitá-veis” nos EUA, dentro da avaliação americana; no final dos anos cinquenta desenvolvem-se novos vectores para transportar armas nucleares contra os quais não há defesa, como os mísseis inter-continentais, tipo Atlas, ou os submarinos nucleares lança-mis-seis, tipo Polaris. Os EUA são obrigados a abandonar a ideia da retaliação maciça, pois o uso de armas nucleares estratégicas como resposta a uma agressão convencional iria agora provocar “estragos inaceitáveis” nos próprios EUA. É a altura em que os arsenais nucleares alcançam uma dimensão tal que, a serem usados em larga escala, poderiam destruir várias vezes os EUA e a URSS. A solução está em passar para uma “resposta flexível”, dentro da ideia de que uma agressão seria respondida ao nível a que fosse desencadeada, aguentando-se ao máximo nesse nível, de modo a ganhar tempo para negociar e impedir a escalada. Isto implicava ter meios válidos a todos os níveis e, logo, um crescimento dos meios convencionais da NATO na Europa. Agora a primeira fase da guerra podia ser prolongada, esperando-se que ela nunca chegasse ao uso de meios nucleares estratégicos, o que seria um suicídio mútuo.

Um dos elementos dá credibilidade a esta estratégia é a deci-são de avançar com o armamento da Alemanha, permitindo que ela entre na NATO e desenvolva meios convencionais numerosos e modernos, o que teria grande importância para as bases em Portugal.

Nesta fase a importância das bases nos Açores continua a ser muito grande, pois eles mantêm o seu significado como escalão de apoio a uma ofensiva aérea estratégica (fosse convencional

Page 213: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[211]

BASES ESTRANGEIRAS E ESTRATÉGIAS NO PORTUGAL CONTEMPORÂNEO

ou nuclear) e adquirem uma nova valência em termos do con-trolo do Atlântico. É agora que a marinha de alto mar soviética alcança uma dimensão considerável, com uma frota submarina que é maior que a alemã na II Guerra Mundial. Pela primeira vez na Guerra Fria as comunicações marítimas no Atlântico estão em risco, o que aumenta de importância dos Açores, pois agora existe a possibilidade de um conflito prolongado e não necessariamente de uma guerra curta, que era a perspectiva da “retaliação maciça”. Os Açores adquirem assim de novo signifi-cado como base anti-submarina. É então instalado no leito do oceano perto dos Açores um sistema de vigilância passiva (sona-res passivos), que completa a rede de vigilância do tráfego sub-marino soviético no Atlântico. Este sistema é usado pela primeira vez com grande eficácia na crise dos mísseis de Cuba, em plena administração Kennedy, quando os EUA decretam o bloqueio marítimo da ilha de Fidel de Castro – o sistema de vigilância dos Açores permite-lhes saber onde estão os submarinos sovié-ticos, uma informação essencial.

Está previsto que, em caso de conflito, a acção dos aviões de patrulha a partir dos Açores seria completada com unidades em Espinho e Montijo no continente. Para tal estas bases são cria-das ou desenvolvidas com fundos essencialmente da NATO, e o seu uso pela organização está previsto de forma automática em caso de guerra. Surge assim um novo conceito de base estrangeira em Portugal: a base desenvolvida com fundos da NATO, mas onde só estacionam unidades portuguesas de forma permanente em tempo de paz. Em caso de guerra, as unidades da NATO previamente designadas deslocam-se para estas bases nas primei-ras horas, onde já encontram tudo o que necessitam para come-çarem imediatamente a operar. Espinho e Montijo são as principais destas bases NATO em Portugal, pensadas essencial-mente para uma utilização por esquadrões de patrulha marítima e guerra anti-submarina, pelo que são concebidas numa dimen-

Page 214: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[212]

ANTÓNIO JOSÉ TELO

são muito superior à da sua ocupação em tempo de paz. No caso de Espinho, por exemplo, a Força Aérea Portuguesa teve de pedir autorização à NATO para deslocar meios aéreos próprios para essa base durante as operações ligadas ao 25 de Novembro de 1975, na fase de transição para a democracia.

A “resposta flexível” traz consigo uma outra novidade no que diz respeito a bases estrangeiras. Agora o território continental adquire significado dentro de um conceito de defesa em pro-fundidade da Europa, em que as unidades convencionais da NATO iriam recuando paulatinamente na primeira fase do con-flito, cedendo terreno em troca de tempo, possivelmente sem o recurso a meios nucleares ou somente com a utilização de meios nucleares tácticos. A RFA é rearmada para que este conceito tenha credibilidade, vindo acrescentar uma força convencional de alta qualidade ao dispositivo da NATO na Europa central.

Nos planos NATO a RFA necessita de uma zona de retaguarda segura em caso de guerra, onde possa estabelecer depósitos recua-dos e para onde possa evacuar os milhares de grandes feridos previstos nos primeiros dias de uma guerra convencional. Por-tugal surge como a localização ideal para estas funções, tendo ainda a vantagem adicional do seu espaço aéreo pouco saturado poder ser usado para treinos da Luftwaffe em tempo de paz. Em Portugal a Luftwaffe pode usar campos de tiro que é impos-sível criar no território alemão. A alternativa possível a Portugal era a Espanha, mas não sendo esta um membro da NATO a situação complicava-se, pelo que a RFA decide apostar tudo num acordo com Lisboa.

Na realidade, entre 1960 e 1964 são assinado 23 acordos de cooperação no campo militar e económico entre a RFA e Por-tugal, muitos deles de grande envergadura. Que se prevê nesses acordos? De tudo um pouco, a começar no apoio técnico alemão a uma ampla reorganização e expansão da indústria de defesa nacional. Para além disso, prevê-se o desenvolvimento de portos,

Page 215: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[213]

BASES ESTRANGEIRAS E ESTRATÉGIAS NO PORTUGAL CONTEMPORÂNEO

a criação de uma rede de grandes armazéns e depósitos para as forças alemãs (nas zonas de Setúbal e Leixões), a criação de uma rede de hospitais de campanha que possa receber até 20 000 grandes feridos em caso de guerra (com médicos transferidos da Alemanha), a expansão das oficinias aeronáuticas portuguesas de modo a poderem fazer grandes reparações nos aparelhos ale-mães, o desenvolvimento de bases aéreas, estradas e redes de comunicação. O ponto central e mais visível destes acordos é o desenvolvimento da base aérea de Beja, que seria amplamente usada pela Luftwaffe para treino operacional em tempo de paz.

A última variante de bases estrangeiras em Portugal nos anos sessenta surge através do acordo assinado com a França, para fins que estão fora da NATO. A França tem a preocupação de desenvolver o seu arsenal nuclear próprio e independente, para o que precisa de uma estação de rastreio nos Açores que possa apoiar os testes feitos com mísseis disparados da França na direc-ção do Atlântico (a única possível para estes testes na Europa). O acordo assinado com a França permite a criação de uma estação de rastreio nas Flores (Açores) em condições muito gene-rosas, pois as contrapartidas reais eram indirectas.

A estratégia da resposta flexível vem pois alargar muito os tipos de bases estrangeiras em Portugal, quer em número, como em estados envolvidos, em zonas abarcadas e em tipos. As novas bases ou valências cobrem um amplo leque de estratégias, que vão dos EUA, à Alemanha, França e NATO, ao mesmo tempo que se expandem dos Açores para o continente e, dentro deste, vão desde Beja a Espinho ou Leixões. Surgem agora novas valên-cias, para além das bases de apoio à projecção de poder e à ofensiva aérea estratégica que antes existiam. Estas novas valên-cias vão desde o apoio à cobertura do Atlântico, à defesa em profundidade da Europa ou a necessidade da França de desen-volver uma força nuclear independente.

Page 216: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[214]

ANTÓNIO JOSÉ TELO

Portugal utiliza de forma hábil para fins próprios a maior importância do território nacional para as grandes estratégias. Em primeiro lugar prefere quase sempre as aproximações indi-rectas, ou seja, prefere assinar acordos independentes para obter o que quer receber, sem o apresentar como um pagamento directo da cedência de bases.

Da Alemanha e da França, Portugal recebe algo vital: o apoio técnico e diplomático ao esforço dos 13 anos de guerras em África, sem o qual estas não se conseguiriam fazer. As guerras de África são feitas principalmente com armamento e equipa-mento alemão e francês e não inglês e americano como era a tradição. Muito dele é fabricado em Portugal sob licença, embora em muitos casos seja uma indústria de aperta parafuso, com uma incorporação mínima de tecnologia nacional – os camiões Berliet, por exemplo, vinham em kits completos que eram somente montados em Portugal.

Dos EUA, Portugal acaba por receber um pagamento sobre-tudo político, traduzido na forma como conseguiu obrigar a administração Kennedy a recuar na oposição frontal inicial à política portuguesa para África. Os EUA e a Inglaterra acabam por aceitar a realidade das guerras de África e, com a pressão da maior importância do território nacional para os planos de guerra próprios, desenvolvem uma política de críticas moderadas verbais e oficiais, mas sem levar a polémica muito longe e sem apoiar os movimentos africanos. No essencial, porém, tanto os EUA como a Inglaterra cortam o fornecimento de armamento para as guerras de África, o que não causa grandes problemas porque existe a alternativa da Alemanha e da França. Portugal e os EUA acabam por concordar em discordar e continuam as relações tão normais quanto possível, apesar das divergências sobre a política para África. Os documentos internos da Ingla-terra (Foreign Office) deste período muitas vezes explicam do seguinte modo a sua política própria: é preciso ter uma acção

Page 217: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[215]

BASES ESTRANGEIRAS E ESTRATÉGIAS NO PORTUGAL CONTEMPORÂNEO

pedagógica com Portugal, explicando-lhes que a sua política em África não tem futuro e tentando que o colapso, quanto surgir, seja tão suave quanto possível… Nesta acepção, EUA e Inglaterra fornecem equipamento para as missões militares da NATO, mas não para as guerras de África – é claro que Portugal, sempre que pode, desvia o equipamento de uns fins para outros.

Durante estes anos (1961-74) Portugal expande muito a rede de bases estrangeiras no território e, utilizando a fundo os trun-fos políticos que isso lhe dá, consegue verdadeiros milagres em termos militares e diplomáticos. Um deles, é conseguir manter as guerras em África durante treze anos, em três teatros de ope-rações independentes e sem um colapso militar. Um outro, por exemplo, é o de ter obrigado a administração Kennedy a recuar na sua oposição frontal inicial à política portuguesa para África. Os EUA, por exemplo, começaram por votar contra Portugal na ONU e depois abstiveram-se; começaram igualmente por ensaiar uma política de apoio activo a alguns movimentos africanos, mas logo recuaram. É de notar que não muitos casos em que um pequeno poder da dimensão de Portugal tenha obrigado a administração de um país com a dimensão dos EUA a recuar e mudar de política. É um caso raro no sistema internacional, que mostra bem a capacidade portuguesa de jogar em múltiplos tabuleiros com armas diversas que nem sempre são visíveis.

Bases Estrangeiras em Portugal – Um Balanço

Durante o período considerado registamos a presença das seguin-tes bases militares estrangeiras no Portugal europeu:

• Na I Guerra Mundial, bases aeronavais dos EUA nos Açores e da França no Continente (Leixões, com pontos de apoio acessórios em Lisboa e no Algarve);

Page 218: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[216]

ANTÓNIO JOSÉ TELO

• Na II Guerra Mundial, bases aeronavais da Inglaterra nas Lajes (desde 1943) e dos EUA em Santa Maria (desde 1944);

• Na Guerra Fria bases, dos EUA nos Açores, com a possibili-dade do seu uso alargado em condições especiais ao Reino Unido e, desde 1949, aos restantes membros da NATO; bases da Alemanha (RFA) em Beja e vários pontos de apoio no continente, desde a década de 1960.

Para além destas bases na definição restritiva adoptada, regis-tamos a presença de militares de forma prolongada em múltiplas funções acessórias que podem ser muito importantes para a grande estratégia, como as estações de cabos submarinos, os centros de intercepção rádio, as unidades de rastreio de mísseis (França, nas Flores), as estações de vigilância de vários tipos (observação visual, radar, sonar, radioeléctrica), os centros de direcção de tráfego, a observação meteorológica e outros.

Em quase metade do período considerado (entre 1875-1943, com um pequeno intervalo em 1916-19) a presença ou ausên-cia militar estrangeira em Portugal foi orientada pelas estratégias de negação inglesas do espaço nacional, que podiam passar por uma preocupação de ocupação preventiva em certos períodos e em funções específicas.

Num período curto intermédio (1916-19 ou 1943-45) a presença militar estrangeira obedeceu principalmente a preocu-pações de defesa avançada do continente americano (por parte dos EUA) ou de controlo do Atlântico Norte.

A partir de 1944 e até à actualidade, a presença militar estran-geira obedeceu principalmente a preocupações de projecção de poder global por parte dos EUA, nomeadamente em termos do eixo EUA-Mediterrâneo-Médio Oriente. No entanto, em parte deste período fazem-se sentir outras preocupações, nomeada-mente as de garantir a profundidade da defesa europeia, que

Page 219: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[217]

BASES ESTRANGEIRAS E ESTRATÉGIAS NO PORTUGAL CONTEMPORÂNEO

leva à formação de bases da NATO e, em particular, da Alema-nha nos anos sessenta.

Em termos da utilização destas bases para fins nacionais, podemos concluir que o principal resultado obtido foi político e estratégico. Houve no essencial quatro contrapartidas para o uso de bases, que indicamos pela ordem da sua importância em termos nacionais.

Em primeiro lugar, as bases estrangeiras foram no essencial entendidas pelos governos nacionais como uma forma de legi-timidade e aceitação internacional, por vezes mesmo como uma forma de garantir o futuro e a continuação do regime (foi o caso da cedência de bases à Inglaterra em 1943).

Em segundo lugar, as bases foram entendidas e usadas como forma de obter importantes vantagens políticas e diplomáticas, como aconteceu de forma evidente nos anos sessenta na relação com a administração Kennedy.

Em terceiro lugar, as bases foram entendidas como uma maneira de garantir a modernização das Forças Armadas de modo a cumprir os objectivos nacionais da política de defesa, mesmo quando estes não eram partilhados pelos aliados (como os planos de defesa conjuntos com a Espanha na primeira década na NATO, ou a defesa do ultramar nos anos seguintes).

Em quarto e último lugar, as bases foram usadas de forma acessória para obter contrapartidas financeiras ou económicas, mas esta foram sempre subordinadas aos restantes aspectos, que tinham prioridade absoluta.

Podemos concluir que as bases estrangeiras em Portugal foram muito importantes para viabilizar as grandes estratégias nacionais ou assegurar a aceitação internacional dos regimes. Isto é verdade mesmo quando as estratégias nacionais colidiam com as dos grandes poderes que criavam as bases, como foi o caso durante as guerras de África. Como normalmente Portugal estava muito dependente do apoio diplomático ou político dos grandes pode-

Page 220: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[218]

ANTÓNIO JOSÉ TELO

res que dominavam o Atlântico, estes factores foram os mais importantes como contrapartida pelo uso das bases. As contra-partidas económicas e financeiras foram reduzidas e de pequeno alcance, pois o apoio que se pretendia estava no fundamental noutro campo. Portugal contrasta neste aspecto com a maior parte dos pequenos ou médios estados que aceitam bases estran-geiras, pois o normal é receberem as contrapartidas principal-mente no campo económico e financeiro – veja-se o caso da Espanha, fora do âmbito da NATO; ou os casos da Grécia e da Turquia, no âmbito da NATO.

As bases militares estrangeiras em Portugal materializam uma das principais vertentes da disfunção nacional no sistema inter-nacional. Elas são a contrapartida para a capacidade nacional de obter em regra vantagens e apoios no sistema internacional que parecem acima do peso relativo de Portugal. Foi uma capa-cidade que Portugal deu sobejas provas no século XX e que permitiu coisas tão anormais como a continuação de uma dita-dura e do último dos impérios europeus até 1974, ou o facto do pequeno Portugal ter conseguido obrigar a administração Kennedy a mudar de política nos anos sessenta. Neste sentido podemos considerar que as bases militares estrangeiras em Por-tugal são essenciais para compreender a originalidade do desen-volvimento nacional e do seu percurso anormal e próprio.

Isto cria igualmente uma aproximação típica nacional à nego-ciação das bases militares no seu território, onde a preocupação central normalmente é a de salvaguardar formalmente os aspec-tos da manutenção da soberania nacional. Os negociadores ame-ricanos nos anos cinquenta já avisavam para algo que a Inglaterra conhecia perfeitamente: os portugueses são muito sensíveis em relação a tudo que ponha formalmente em causa a sua sobera-nia teórica, pelo que devem ser feitas todas as cedências possíveis neste campo de pouca importância real, mas grande significado nas aparências – já Salazar dizia que, em política, o que parece

Page 221: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[219]

BASES ESTRANGEIRAS E ESTRATÉGIAS NO PORTUGAL CONTEMPORÂNEO

é. Isto leva a que Portugal nas negociações evite normalmente obter contrapartidas directas pela cedência de bases que possam criar obrigações limitativas da soberania formal. Curiosamente isto é acompanhado por um fácil abandono da soberania real: o acordo de 1951, por exemplo, previa a utilização das bases dos Açores de forma automática para os fins NATO, estivesse ou não Portugal de acordo com estes.

A tendência portuguesa é a de privilegiar as aproximações indirectas, onde as verdadeiras contrapartidas das bases são obti-das por negociações independentes, por vezes em aspectos que aparentemente nada tem a ver com estas. Esta aproximação indirecta é particularmente evidente no período anterior a 1943, dominado pelas estratégias de negação do Reino Unido, onde as principais contrapartidas eram obtidas por Portugal por não ter bases militares no seu território, ou seja, por negar o uso do seu território a qualquer outro poder que não o Reino Unido. Nada disto estava escrito ou correspondia a qualquer tratado. Simplesmente, era assim.

Bibliografia

AAVV – Dez Anos de Política Externa (1936-1947), 18 vols., Lisboa, Imprensa Nacional, 1971-1986.

BAKER, Anni – American Soldiers Overseas, Westport, Praeger, 2004.CHESTER, Edward – The US and Six Atlantic Outposts, NIP, 1980.HERZ, Norman – Operation Alacrity, Annapolis, NIP, 2004.MCMORMICK, Thomas – America´s Half-Century. US Foreign Policy in the

Cold War and After, Baltimore, 1995 (2.ª ed).RODRIGUES, Luís Nuno – No Coração do Atlântico, Os EUA e os Açores

(1939-1948), Lisboa, Prefácio, 2005.RODRIGUES, Luís Nuno – Kennedy-Salazar, a Crise de uma Aliança, Lisboa,

Editorial Notícias, 2002.SERRÃO, Joaquim Veríssimo – História de Portugal, vol. XV, Lisboa, Edito-

rial Verbo, 2003.

Page 222: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[220]

ANTÓNIO JOSÉ TELO

TELO, António José – Os Açores e o Controlo do Atlântico, Porto, Edições Asa, 1993.

TELO, António José – Portugal e a NATO, Lisboa, Cosmos, 1996.TELO, António José – Portugal na 2.ª Guerra Mundial (1941-45), 2 vols,

Lisboa, Vega, 1991.TELO, António José – A Neutralidade Portuguesa e o Ouro Nazi, Lisboa,

Quetzal, 2000.

Autores•

Notas Biográficas

Page 223: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

Autores•

Notas Biográficas

FRANKLINROOSEVELT

E OS

AÇORESNAS DUAS

GUERRAS MUNDIAIS

Page 224: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais
Page 225: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[223]

Luís Andrade

Professor Associado, com Agregação, da Universidade dos Açores. Lecciona várias disciplinas no âmbito da Ciência Política e das Rela-ções Internacionais. Tem vários livros e artigos publicados em Portu-gal e no estrangeiro. É pró-Reitor para a Mobilidade e Cooperação da Universidade dos Açores. Foi Director do Departamento de His-tória, Filosofia e Ciências Sociais da Universidade dos Açores (1995- -1996) e do Centro de Estudos de Relações Internacionais e Estratégia da Universidade dos Açores (1995-1998). Foi assessor para a Cooperação Externa do Presidente do Governo Regional dos Aço-res (1996-2000) e representante do Governo Regional dos Açores no âmbito do Acordo de Cooperação e Defesa entre Portugal e os Esta-dos Unidos da América (1996-2000 e 2001-2004). Foi Adjunto do Ministro da República para os Açores (1991-1992).

Carlos Enes

Nasceu em 1951 na Vila Nova, ilha Terceira. Professor de História no Ensino Secundário, desde 1978, exerceu também funções docen-tes na Universidade Eduardo Mondlane (1981-84), Maputo, e na Universidade Aberta (1996-2003), Lisboa. Mestre em História Con-temporânea (1993), pela Universidade Nova de Lisboa, tem-se dedi-cado à investigação da história açoriana na área económica, política e etnográfica.

Page 226: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[224]

José Medeiros Ferreira

Professor Associado na Universidade Nova de Lisboa. Colaborador dos Mestrados em Relações Internacionais ministrados na Universidade dos Açores. Autor de vários trabalhos sobre História Contemporânea, Estratégia e Relações Internacionais, entre os quais: Os Açores nas duas guerras mundiais (1990), As Relações Luso-Americanas no Século XX – A Descoberta do Plano Bilateral (1994), e Cinco Regimes na Política Internacional (2006)

Warren F. Kimball

Autor de Forged in War: Roosevelt, Churchill, and the Second World War (1997), The Juggler: Franklin Roosevelt as Wartime Statesman (1991) e livros sobre o Plano Morgenthau e as origens do Plano Lend-Lease. Kimball é também editor de Churchill & Roosevelt: The Complete Correspondence e autor de mais de 50 ensaios sobre Churchill, Roosevelt e o período da Segunda Guerra Mundial. É membro do Conselho Administrativo do Roosevelt Institute e conselheiro académico do Churchill Centre.

Cynthia M. Koch

Directora da Biblioteca Presidencial e Museu Franklin D. Roosevelt em Hyde Park, Nova Iorque. Cynthia Koch foi, de 1997 a 1999, Directora-Adjunta da Penn National Commission on Society, Culture and Community, um grupo de pesquisa da Universidade da Pensilvâ-nia. Foi Directora Executiva do New Jersey Council for the Humanities de 1993 a 1997 e de 1979 a 1993, Directora do Old Barracks Museum, um antigo quartel militar e complexo museológico em Trenton, Nova

Page 227: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[225]

Jérsia, classificado como património nacional. É mestre e doutorada em Civilização Americana pela Universidade da Pensilvânia e licenciada em História pela Universidade Estadual da Pensilvânia.

Álvaro Leal Monjardino

Nascido em Angra do Heroísmo (1930) onde reside. Advogado, mem-bro do Instituto Histórico da Ilha Terceira e da Academia Portuguesa de História. Membro da Comissão de Planeamento da Região dos Açores (1970/74), deputado à Assembleia Nacional (1973/74), vogal da Junta Regional dos Açores (1975/76), deputado à Assembleia Regional dos Açores (1976/1988) e seu presidente (1976/78 e 1979/84), ministro do IV Governo constitucional (1978/79).

Philip Mundy

Licenciado em História pelo Yale College, Philip Mundy foi professor de História do ensino secundário durante alguns anos, antes de seguir o seu curso de pós-graduação na Rutgers University, onde se especia-lizou na História Diplomática dos EUA. Actualmente, é professor em Sydney, na Austrália, onde vive com a sua mulher e dois filhos.

Luís Nuno Rodrigues

Professor Auxiliar Agregado no Departamento de História do ISCTE, onde coordena o Mestrado e Doutoramento em História, Defesa e Relações Internacionais (em colaboração com a Academia Militar). Investigador no CEHCP-ISCTE e no Instituto Português de Relações Internacionais. É autor de Kennedy-Salazar: a crise de uma aliança. As relações luso-americanas entre 1961 e 1963 (2002) e de No Coração do

Page 228: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[226]

Atlântico: os Estados Unidos e os Açores, 1939-1948 (2005). O seu mais recente trabalho é a biografia Marechal Costa Gomes. No Centro da Tempestade (2008).

Adam Seipp

Professor Auxiliar de História na Texas A&M University. Adam Seipp obteve o seu doutoramento na Universidade da Carolina do Norte, em Chapel Hill em 2005. Seipp é autor de numerosos artigos e capí-tulos de livros sobre a I Guerra Mundial na Europa. Está actualmente a elaborar um livro sobre o Exército Americano e a crise dos refugia-dos na Europa Central após a II Guerra Mundial.

António José Telo

Historiador, Professor Catedrático da Academia Militar, doutorado em História pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, com Agregação em História Militar pela Universidade dos Açores. A sua obra no campo da História, Defesa e Relações Internacionais, conta com mais de uma dezena de livros e mais de uma centena de artigos e participações em obras colectivas, publicados em cinco países. É Director do Instituto de Defesa Nacional.

Page 229: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

FRANKLINROOSEVELT

AND THE

AZORESDURING THE

TWO WORLD WARS

Page 230: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais
Page 231: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[229]

INTRODUCTION

Luís Nuno Rodrigues

Ninety years ago, more precisely on July 16, 1918, Franklin Delano Roosevelt made a brief stop-over in the Azores on his way to Europe. The man who was then assistant secretary of the US Navy was soon to become one of the greatest historical figures of the 20th century. Elected in 1932, in the midst of a dire economic and financial crisis, FDR would command the leadership of the United States for 12 years, after having won a record four straight terms in 1932, 1936, 1940, and 1944. Possessing political prowess, charisma and an affability that has become legendary, FDR guided the country through the tumul-tuous years of World War II and died in office early into his fourth term on April 12, 1945.

Roosevelt’s “special relationship” with the Azores began during World War I when the United States set up a naval base in the Portuguese archipelago. During his whirlwind stopover in the Islands in 1918, he underlined the “importance” of the Azores’ “strategic position” and marveled at the “magnificently tilled” fields and “picturesque” beauty of the Azorean landscape.1 Later, during the world’s second global conflict, Roosevelt, now president of the United States, would play a pivotal role in negotiations between the governments of Portugal and the United States aimed at setting up an American air base in Santa Maria. Not surprisingly, during the course of the negotiations, FDR often regaled Salazar with his experience of 30 years before and with comments on the “particularly close and friendly” relations that had developed “between the Portuguese people and members of the US naval forces.” At that time, he stated,

1 Mário Mesquita, “A Escala de Roosevelt nos Açores durante a Primeira Guerra Mundial,” in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, Volume XLIV, 1986, pp. 41 and 48.

Page 232: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[230]

LUÍS NUNO RODRIGUES

there had been a “complete spirit of cooperation” between the two countries and, after the “international emergency” had drawn to a close, “all the forces of the allied and associated powers had been immediately withdrawn” without even the slightest “scratch” to the “sovereign jurisdiction of the Portuguese government.”2

The Luso-American Foundation has commissioned this book from the Portuguese Institute for International Relations precisely with the aim of tracing the history of the personal tie that bound Franklin Delano Roosevelt to the Azores. But the path to discov-ering that relationship also offers up other insights: Azorean history of the 20th century and the development of Luso-Amer-ican relations over the same period. The book opens with a biographical piece on FDR, written by Cynthia Koch, director of the Franklin D. Roosevelt Presidential Library in the United States. It is followed by a group of essays on the era of World War I, where the reader will find a wealth of information deal-ing with Azorean history of that period and FDR’s landmark stopover at the Azorean archipelago. In his essay, Carlos Enes gives us a general overview of the Azorean autonomy issue during the period between the two Great Wars. José Medeiros Ferreira explores the “triangle that never existed”, among José Bruno Carreiro, who, during WWI headed the Civil Cabinet of High Commissioner Simas Machado; Admiral Herbert Owar Dunn, commander of the US naval base in the Azores; and US President Woodrow Wilson. Álvaro Monjardino examines in detail the controversy surrounding the “fate of the Azores” that raged throughout 1919. In his essay, Monjardino provides us with a stunning portrait of Azorean political and intellectual life in the period directly following the war.

The next set of essays focuses on the period of World War II. Adam Seipp examines the genesis of several American military bases on the European continent during the period in which

2 Letter by Franklin

D. Roosevelt to Oliveira Salazar,

July of 1941, Oliveira Salazar

Archives, CLB/FSM – 3,

Folder VI.

Page 233: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[231]

INTRODUCTION

the United States was directly involved in WWII i.e. between 1941 and 1945. Luís Andrade assesses the role of the Azores during the world’s second global conflict and the archipelago’s strategic importance within the framework of neutrality defined by Salazar. In his contribution, Luís Nuno Rodrigues broaches the references made to the Azores in comments and speeches given by Franklin D. Roosevelt, and the long, painstaking nego-tiations that took place between US and Portuguese diplomatic circles to set up an American military base in the archipelago. In the first part of his paper, Warren Kimball examines Portugal’s role and its importance to the Allied war effort. He then discusses Roosevelt’s post-war plans and how issues such as self-determi-nation and the dissolution of European colonial empires were dealt with at the Teheran and Yalta Conferences. The essay by Philip Mundy, with its examination of the “Economic War” and relations between Portugal and the US during WWII, provides the reader with an interesting glimpse into economic history. António Telo closes the volume with a general overview of the reasons for the establishment of foreign military bases in Modern Portugal, with special emphasis on the periods of the two World Wars and the Cold War.

We would like to take this opportunity to mention that Franklin Roosevelt and the Azores during the two World Wars is launched at the First Franklin D. Roosevelt Azorean Forum on Transatlantic Relations in European and American Public Opinion taking place from July 16 to 18, 2008 in Ponta Delgada, Azores. The event, which is a joint initiative of the Azores Regional Government and the Luso-American Foundation, will be a meet-ing place for academics on both sides of the Atlantic to discuss the most relevant issues affecting transatlantic relations. The sponsors of the Forum believe that, owing to its geographic location, the Azores plays – and will continue to play – a lead-ing role in these relations. In the words of the organizers, the

Page 234: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[232]

LUÍS NUNO RODRIGUES

Forum aims to act as a “safe harbor” in the middle of the Atlantic where participants can hold in-depth discussions on the Euro-American partnership and the global challenges that affect it such as world poverty, climate change, and international security. The title of the Forum has been chosen to honor the decisive role President Franklin Roosevelt played in 20th century international politics and the attention he gave to geopolitical issues arising from the geographic location of the Azorean Islands.

We sincerely hope that this volume will also serve to narrow the distance between the two Atlantic shores and highlight the fundamental part the Azores has played – and will most assur-edly continue to play – in drawing both continents closer together. In our opinion, it is a role that should not only be conferred on the archipelago because of its geographic location; but here we feel compelled to cite the words used by FDR in 1940: “You and I think of Hawaii as an outpost of defense in the Pacific. And yet, the Azores are closer to our shores in the Atlantic than Hawaii is on the other side.”3

3 Speech given by Franklin

D. Roosevelt on December 29,

1940. See www.ibiblio.org/

pha/7-2-188/188-21.html.

Page 235: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[233]

FRANKLIN D. ROOSEVELT: A SHORT BIOGRAPHY

Cynthia M. Koch

The Early Years

Franklin Delano Roosevelt was born on January 30, 1882, in Hyde Park, New York. He was the only son of James and Sara (Delano) Roosevelt, both of whom were descended from early American families. Franklin grew up in the cosseted world of the Hudson Valley landed aristocracy. He was an only child who spent many hours alone, collecting stamps and bird spec-imens and roaming the fields and forests of his parents’ estate, which was to become his life-long home. From his father’s Dutch heritage, FDR took pride in the sturdy farmers of the Hudson Valley, whose humble stone cottages were his favorite architec-tural style.

Franklin was tutored at home until he was 14, when he was at last separated from his doting parents and sent to the Groton School, an elite private preparatory school outside Boston, enter-ing in the third form, not the first, as was usual for most boys who entered at age 12. From Groton he moved on to Harvard in 1900.

James Roosevelt, long an invalid, died during FDR’s first semester at Harvard. Sara Delano Roosevelt, always devoted to her only child, now turned her considerable powers exclu-sively to her son’s future, nurturing in him his unshakeable confidence and an undeniable sense that he was destined for greatness.

At Harvard FDR moved into an exclusive suite of rooms for well-heeled students, while his mother took an apartment in

Page 236: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[234]

CYNTHIA M. KOCH

Boston from which she guided his social life. Roosevelt was an average student but his real interests were extracurricular. He completed his course work in three years, receiving an A. B. in 1903, but stayed on a year longer to pursue the work that fascinated him – president (editor-in-chief ) of the student news-paper the Harvard Crimson and librarian for two clubs, Hasty Pudding and the Fly. He enjoyed an active social life, partici-pated in sports, and (significantly for his future) was elected to several posts in student government. Biographer Frank Freidel, commenting on FDR’s education, wrote, “At Groton FDR learned to get along with his contemporaries; at Harvard he learned to lead them.”4

Eleanor Roosevelt

Eleanor Roosevelt was born in New York City on October 11, 1884. Her father Elliott was Theodore Roosevelt’s younger brother and FDR’s godfather; Eleanor was TR’s favorite niece.

Eleanor’s mother Anna Rebecca Hall, a descendant of the Livingstons (one of the great patroon families in the Hudson Valley), was critical and demanding. Her father was loving and carefree; unfortunately, he was also a serious alcoholic. Eleanor’s parents died within two years of each other; her father just two months before her tenth birthday. In contrast to FDR’s secure and loving childhood, Eleanor suffered feelings of abandonment, and it was not until she was sent to study in England at Allen-swood – a finishing school for upper-class girls – that she came into her own.

Eleanor returned to New York when she was 18 and entered reluctantly into the whirl of debutante society, while at the same time volunteering at settlement houses and advocating improved working conditions for the poor. She and Franklin (her fifth

4 Frank Freidel, Franklin

D. Roosevelt: The Apprenticeship

(Boston: Little, Brown &

Company, 1952), p. 52.

Page 237: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[235]

FRANKLIN D. ROOSEVELT: A SHORT BIOGRAPHY

cousin once removed) began their courtship during her “coming-out” period and were married in New York on March 17, 1905. President Theodore Roosevelt gave the bride away. By that time Franklin was a student at Columbia Law School and he contin-ued his studies there after the marriage.5

Shortly after their return from an extended honeymoon in Europe, Franklin and Eleanor moved into one of a pair of adjoin-ing houses in New York City that Sara had purchased and furnished for them as a wedding gift. Eleanor assumed the role of the traditional wife, giving birth to the couple’s first child (a daughter) in 1906; five more children, all sons, were born over the next ten years. Eleanor was insecure as a mother and depended on her formidable mother-in-law in raising the chil-dren and running the household.

Early Political Career

Franklin’s admiration for his “Cousin Theodore” grew as TR rose to assistant secretary of the Navy, national hero during the Spanish American War as leader of the Rough Riders, and gover-nor of New York – all while Franklin was a student at Groton. The Oyster Bay Roosevelts were Republicans, while the Hyde Park branch had a tradition of being Democrats, but both FDR and his father campaigned for TR as vice-president to Repub-lican President William McKinley in 1900.

Although FDR never completed his law studies, he passed the examination for admission to the New York Bar and began practicing law in New York City in 1907. He was an indifferent attorney, already focusing on following Theodore Roosevelt’s path to the White House. In 1910 he was elected to the first of two terms in the New York State Senate, representing the district surrounding his home in Hyde Park. He engaged in

5 Tamara Harevan, “Anna Eleanor Roosevelt” in Franklin D. Roosevelt His Life and Times, Otis L. Graham, Jr. and Meghan Robinson Wander, eds. (Boston: G. K. Hall, 1985), pp. 360-61 passim.

Page 238: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[236]

CYNTHIA M. KOCH

bitter partisan battles in Albany, jousting with the Democratic political machine known as Tammany Hall. During this period FDR and Louis Howe, a political reporter in Albany, struck up a partnership in which Howe devoted himself to electing Roos-evelt to the presidency.

While in Albany, FDR actively campaigned for the Demo-cratic presidential nominee Woodrow Wilson, and in 1913 was rewarded with a federal appointment as assistant secretary of the Navy – a post held by Theodore Roosevelt before he was elected governor of New York. FDR served in Washington for eight years, during which time he gained important executive experience as second in command of the Navy during World War I.

In 1918, en route to Europe for an inspection tour of duty, FDR made a stopover in the Azores. The conclusion of his return voyage was a fateful one for the Roosevelt marriage. While unpacking FDR’s trunk, Eleanor found a packet of letters from her own former social secretary Lucy Mercer, and it became clear to her that Lucy and Franklin were having an affair. Elea-nor was devastated and only agreed to continue the marriage on the condition that FDR never see Lucy again. In her years in Albany and Washington, Eleanor had become engaged in politics and social reform activities. Now, in the face of Frank-lin’s infidelity, the marriage was preserved in name only and Eleanor increasingly found personal fulfillment in work outside the home. From this time forward, the relationship between Franklin and Eleanor Roosevelt became a political partnership – certainly the most powerful one in the history of the Ameri-can presidency.

In 1920 FDR resigned from the Navy to run for vice-president on the Democratic ticket with James Cox of Ohio. While their bid was unsuccessful, the national campaign experience was invaluable for both FDR and Louis Howe.

Page 239: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[237]

FRANKLIN D. ROOSEVELT: A SHORT BIOGRAPHY

Polio and the Road to Albany

The following year at age 39, Roosevelt was stricken with infan-tile paralysis (polio) at the family summer home on Campobello Island in New Brunswick, Canada. It was a crushing blow; he was left completely paralyzed from the waist down and his prom-ising political career seemed doomed as he struggled through three months of hospitalization and then years of rehabilitation. Yet FDR never gave up hope that he would one day walk again. Louis Howe and Eleanor Roosevelt, who was now actively engaged in politics in her own right, worked to keep FDR’s name alive in state and national politics.

FDR turned to specialists and quacks, trying every possible “cure” that might restore the use of his legs. By 1926, impressed by the restorative powers of the buoyant mineral waters in Warm Springs, Georgia, he purchased a rundown resort there and developed it into the nation’s first rehabilitation and research facility for infantile paralysis. The National Foundation for Infantile Paralysis, founded by FDR to raise money for Warm Springs, later became the March of Dimes that would fund the research leading to the Salk vaccine against polio.

Politically FDR was not forgotten. In 1924 he delivered the famous “Happy Warrior” speech at the Democratic National Convention, nominating New York Governor Al Smith for president. Convinced after this national appearance that the use of crutches was a political liability, FDR developed the appear-ance of “walking” by leaning on a cane, the arm of an aide, and with his useless legs locked firmly into braces. But he would never again walk unassisted.

When Smith decided in 1928 to once again run for president, he asked FDR to run for governor New York. Stating to his political ally, Daniel E. Finn, that the disabled FDR “won’t live a year,”6 Smith believed he could return to Albany with his

6 Quoted from Geoffrey C. Ward, A First-Class Temperament: The Emergence of Franklin Roosevelt (New York: Harper & Row, 1989), p. 788.

Page 240: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[238]

CYNTHIA M. KOCH

power base intact should he lose the presidency. Unfortunately for Smith, he not only lost his bid for the presidency, but the disabled FDR – inaugurated in 1929, ten months before the fateful Wall Street crash – proved to be an energetic and able governor. He took action to address the crisis in New York – sponsoring programs that foreshadowed those of the New Deal – and began talking to the people over the radio. The radio talks in New York were a precursor to his popular “Fireside Chats” from the White House. Roosevelt was reelected governor by a wide margin in 1930 and came to be regarded as a serious candidate for the presidency.

Nomination and Election

In 1932, after a tough fight, FDR became the Democratic Party nominee for president, with Texan John Nance Garner as the vice-presidential candidate. He captured the public imagination when he flew to Chicago to accept the nomina-tion, promising “a new deal for the American people.” His appearance at the convention was electrifying: prior to FDR, presidential nominees feigned modest ignorance of their nomi-nation and decorously waited for word to be delivered days or weeks later. On a campaign run by Louis Howe and Demo-cratic National Chairman Jim Farley, FDR criss-crossed the nation, traveling an unprecedented 13,000 miles through a country devastated by three years of deepening economic and human crisis.

Incumbent President Herbert Hoover opposed direct federal action to relieve the crisis, believing instead in federal aid to businesses to stimulate the economy. To a suffering nation, Hoover seemed indifferent to the plight of the homeless and hungry. By contrast, FDR promised federal activism that gave

Page 241: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[239]

FRANKLIN D. ROOSEVELT: A SHORT BIOGRAPHY

the dispirited nation hope. He won a landslide election in November 1932 with 57.4% of the popular vote and 472 elec-toral votes.

The First Hundred Days

On the cold winter morning of Saturday, March 4, 1933 – just twelve years after his debilitating polio attack – Franklin Roos-evelt took the oath of office as the 32nd president of the United States. The nation was on the verge of economic collapse. Having placed their remaining hope in FDR in the November election, Americans had to wait over four months for the new president to take office. While they waited the economic crisis grew even worse, and by inauguration day conditions had reached the breaking point.

Seventy-five years later, the grim facts of life in the United States in 1933 remain shocking. Further unsettling the nation, in Miami on February 15, 1933 anarchist assassin Guiseppe Zangara narrowly missed the President-elect, fatally wounding Chicago Mayor Anton Cermak (who was standing nearby). In these harrowing weeks of deepening despair, the country came to believe that FDR’s life was divinely spared for the important work he had to do.

Some voices, fueled by desperation and fear, even called for the new president to suspend constitutional government and assume near-dictatorial powers. Such was the state of the nation when FDR took office, declaring to his tormented fellow coun-trymen, “the only thing we have to fear is fear itself.”

FDR’s first months in office were marked by a dramatic and historic burst of activity and legislation. The nation’s morale was stirred by a sense that action to address the Great Depres-sion was finally coming from Washington. Within the first three

Page 242: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[240]

CYNTHIA M. KOCH

months, FDR launched the New Deal with fifteen major pieces of legislation and executive actions designed to relieve the worst human suffering and – with the modification of Prohibition to permit beer and wine sales7 – lift national morale. Although some policies built upon those of his predecessor, as a group they went far beyond the mix of voluntarism and limited govern-ment action propounded by Hoover.

FDR did not have a fixed or comprehensive plan. His hall-mark was flexibility and a willingness to experiment and change course. His 1932 campaign “Brains Trust” advisers Raymond Moley, Rexford Tugwell, and Adolf Berle – academics from Columbia University whose theories shaped the policies of the New Deal – were but the first of a generation of young ideal-istic progressive activists who put theory into action in the Roosevelt administration.

A National Conversation

In human terms perhaps the biggest change was the new sense of shared purpose that FDR fostered by speaking clearly and frankly to the press and the American people. Just days after taking office, he initiated a remarkable series of radio broadcasts that became known as the “Fireside Chats,” the first presidential addresses directed solely to a radio audience. The tone was infor-mal and conversational, giving the impression that the president was indeed talking with people in their living rooms. There would be thirty-one of these broadcasts during FDR’s twelve years in office – and their impact was huge. The White House was flooded with letters and telegrams from citizens after each speech. For the first time, Americans engaged in a national conversation with their president about the future and fate of the nation.

7 National Prohibition ended

December 5, 1933 with the

repeal of the 18th Amendment

to the U.S. Constitution.

Page 243: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[241]

FRANKLIN D. ROOSEVELT: A SHORT BIOGRAPHY

FDR also began to communicate frequently and in a conver-sational way with the press. He held 997 press conferences, usually meeting the press twice a week. Often the press corps was invited into the Oval Office where they bantered with him, using the corner of his desk to take notes. The impact of the White House’s communication skills was also enhanced by Elea-nor Roosevelt, who initiated press conferences for women report-ers – thereby forcing newspapers to hire women for assignments on politics and public affairs, not just the “society” pages.

The Roosevelts were also frequently seen in newsreels and were portrayed in political cartoons, movies, popular songs, magazines, and all manner of popular culture ephemera – clocks, calendars, dishes. Even their grandchildren, “Sistie” and “Buzzie,” and the presidential pets became part of the great American family.

What Was the New Deal?

The phrase “New Deal” quickly became the label for the types of changes FDR would make to the depression-mired American economy. Historians speak of three distinct phases to the New Deal:

• The First Hundred Days, which consisted largely of “relief ” measures designed to assist the hungry and forestall economic collapse.

• The “first New Deal,” which ran roughly from 1933 to 1935, and focused on economic recovery measures.

• The “second New Deal,” a series of major socioeconomic reform initiatives intended to provide permanent security against the financial extremes of a completely unregulated economy.

Page 244: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[242]

CYNTHIA M. KOCH

Despite some false starts and failed initiatives, FDR’s actions had a positive impact on the nation in 1933 and 1934. Yet times remained very hard for most Americans. As the Depres-sion continued, voices of protest – Huey Long, Dr. Francis Townsend, Father Charles Coughlin – advocated everything from the redistribution of wealth, to universal old age pensions, to populist third party challenges to the New Deal.

But none of these dissidents offered serious opposition. With the slowly improving national economy, FDR won a historic landslide reelection in 1936 – 60.8% of the votes cast and 523 electoral votes – that signified a major realignment in national politics. FDR’s enduring “New Deal coalition” would come to dominate national politics for decades. New voters from unions and urban immigrant groups, women, and African Americans joined forces with Protestant progressives and intellectuals to extend the benefits of the New Deal to more Americans.

In his second Inaugural Address, FDR spoke of helping the “one-third of a nation” he still saw “ill-housed, ill-clad, ill-nour-ished.” Yet political and economic setbacks soon limited his power and his ability to expand the New Deal. In 1937 the nation experienced a recession, which historians believe was brought on by an ill-fated attempt to balance the federal budget by cutting spending. Thereafter Roosevelt adopted the Keynes-ian notion that he had long resisted – deliberately increasing deficit spending to stimulate demand. The crisis eased in 1938 when Congress approved FDR’s request for a massive emergency appropriation for public works and lending programs.

The year 1937 also marked a major political setback. Frus-trated by the conservative Supreme Court that had struck down much of his important New Deal legislation and buoyed by his huge election victory, FDR embarked on a losing battle to “reform” the court by increasing its size. Though the immediate plan failed, it began a constitutional revolution for a judiciary

Page 245: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[243]

FRANKLIN D. ROOSEVELT: A SHORT BIOGRAPHY

focused on individual rights rather than the “laissez-faire” busi-ness-centered Supreme Court of the Hoover years and before.

By the end of the 1930s, the New Deal was winding down as increasingly Roosevelt and the nation turned to the growing threat from events abroad. But the impact of the New Deal would endure. While it did not end the Great Depression – it would be the millions of jobs created by increasing defense spending after 1939 that in time ended unemployment – the New Deal did begin a transformation of American life that offered economic security and opportunity to millions of Amer-icans previously excluded from the mainstream. Within the federal government the transformation was even more dramatic, with appointments of Catholics, Jews, blacks, and women setting the stage for broad social changes in the decades to follow.

Most enduringly the New Deal had a profound long-term impact on Americans’ expectations of government and society. The debate begun in the 1930s over the role and place of govern-ment in American life continues to this day. Some acts of the New Deal that still impact the United States are the Securities and Exchange Commission, Federal Deposit Insurance, the Social Security Act, the National Labor Relations Act, the Fair Labor Standards Act (minimum wage law), and the Federal Communications Commission.

The Rest of the World

Throughout the 1930s, isolationism persisted in the United States even as events in Europe and the Pacific signaled the gathering of war clouds and the need for national preparedness. But America was not ready. The wounds of World War I, includ-ing the failure of the League of Nations, were too fresh. Still in the grips of the Depression, Americans largely ignored the plight

Page 246: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[244]

CYNTHIA M. KOCH

of European Jews and others who sought refuge in the United States. Appeasement in the face of German and Italian aggres-sion was favored by large numbers. But war in Europe was a foregone conclusion.

On September 1, 1939, Hitler invaded Poland. Bound by treaty to defend Poland, France and England declared war on Germany on September 3rd and World War II began in Europe. Six weeks later FDR received a letter from Albert Einstein warn-ing of the dangers of Germany’s program to develop a uranium-based weapon. The letter prompted the President to order the crash research program that developed the atomic bomb.

The Story of the Sphinx: Third Term?

With Europe at war, speculation was rampant that FDR would run for an unprecedented third term. The President did not quell the rumors and there is evidence that he himself was genuinely undecided.8 For months after the invasion of Poland, Europe was quiet – an unsettling period of eerie inaction that came to be known as the “phony war.” In February at the Grid-iron Club’s 1940 National Correspondents’ Dinner, FDR was portrayed as the Sphinx for his mysterious silence on the matter.

But in spring and early summer 1940, the war became very real. Germany invaded Norway through Denmark. Belgium, the Netherlands, and France all fell to the Nazis. With appease-ment obviously a failed policy, Neville Chamberlain resigned and Winston Churchill – long a proponent of war readiness – became prime minister of Great Britain. In May and June, FDR asked Congress for increased military spending and sent $43 million worth of outdated arms, planes, and munitions to Great Britain.

8 In January 1940 FDR signed a contract with

Colliers Magazine to write a

minimum of twenty-six articles

a year. Even as early as 1937 and

looking toward his post-presidential years, he began

planning for the Roosevelt Library

where he intended to place his papers

and personal collections.

Page 247: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[245]

FRANKLIN D. ROOSEVELT: A SHORT BIOGRAPHY

In July Roosevelt accepted nomination for an unprecedented third term as president of the United States. Yet the Democratic convention was divided over the selection of a vice-president. At FDR’s urging Mrs. Roosevelt flew to Chicago and in this first address by a First Lady to a national political convention, she declared “this is no ordinary time”9 and urged delegates to support FDR’s choice for vice-president. Despite the opposition of party bosses, FDR’s choice – Secretary of Agriculture Henry A. Wallace – was nominated.

That summer the Battle of Britain began; it would rage on until May 1941. Roosevelt, a candidate again, sought ways to aid Britain without antagonizing his political enemies who opposed American involvement. He pushed through Congress appropriations for a two-ocean navy and production of 50,000 planes per year; traded outmoded destroyers to the British navy in exchange for bases in Newfoundland and the Caribbean; embargoed all shipments outside the Western Hemisphere except to Great Britain; and added Republicans to his Cabinet as the Secretaries of War and the Navy. Ominously in the Pacific, the Japanese established an occupation government in Nanking and occupied northern French Indo-China in summer 1940.

Reluctantly recognizing the peril and urged on by FDR, Congress passed America’s first peacetime draft in August. Even the Republicans began to turn away from isolationism and nomi-nated Wendell Willkie for president. Not far from the majority of Americans’ views at the time, Willkie called for all-out aid, short of war, for the Allies.

But FDR was to carry the day, sweeping the Electoral College 449 to 52. Willkie was personally popular but the Republicans’ long history of isolationism – coupled with the feeling that they were responsible for the Depression – led to FDR’s reelection with the promise not to send American boys into a “foreign

9 Proceedings of the Democratic National Convention, 1940 (Washington, D.C.: Democratic National Committee, 1940), pp. 238-9.

Page 248: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[246]

CYNTHIA M. KOCH

war.” In December his “arsenal of democracy” speech pledged all aid to Great Britain short of war.10

Roosevelt now began to frame the war in more universal terms – as a struggle to defend freedom around the world. With the election behind him, he openly sought aid for the belea-guered British. Lend-Lease, which for the first time allowed the United States to give aid to the embattled British, was passed by Congress in March.

Yet Roosevelt always found time to pursue his personal inter-ests. In June 1941 he completed perhaps his greatest “private” project – the creation of the Roosevelt Library. It was the nation’s first presidential library. The Library and FDR’s gift to the nation of his personal papers and collections would become models for legislation passed in the 1950s and 1970s, which provided for succeeding presidential libraries and federal ownership of presidential papers. FDR dedicated his library with words that reminded the nation of the fragility of freedom in a world that was increasingly dominated by the Nazis: “A nation must believe in three things. It must believe in the past. It must believe in the future. It must, above all, believe in the capacity of its own people so to learn from the past that they can gain in judgment in creating their own future.”11

In August 1941 Roosevelt and British Prime Minister Winston Churchill met secretly aboard ship off the coast of Newfound-land and issued the Atlantic Charter, which set forth the two leaders’ “hopes for a better future for the world.”12 Four months later the Japanese attacked Pearl Harbor and other American bases in the Pacific, making December 7, 1941, in FDR’s famous words “a date which will live in infamy.”13 Four days later Germany and Italy declared war on the United States. Suddenly America was in the war – and not just the war in Europe. Winston Churchill soon traveled to Washington to assure Amer-ican constancy to the European war, and on January 1st Roosevelt

10 Public Papers and Addresses

of Franklin D. Roosevelt,

1940 volume, compiled and

edited by Samuel I. Rosenman (New York:

Macmillan, 1941), pp. 633-644.

11 Public Papers and Addresses

of Franklin D. Roosevelt,

1941 volume, compiled and

edited by Samuel I. Rosenman (New York: Harper and

Brothers, 1950), pp. 248-50.

12 The Atlantic Charter. Official

Statement on Meeting Between the President and

Prime Minister Churchill.

August 14, 1941.

13 Public Papers and Addresses

of Franklin D. Roosevelt,

1941 volume, pp. 514-15.

Page 249: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[247]

FRANKLIN D. ROOSEVELT: A SHORT BIOGRAPHY

and Churchill signed the United Nations Declaration commit-ting the United States and Britain, along with twenty-four Allies, to the defeat of the Axis powers.

The War President

Franklin Roosevelt possessed an instinct for power and a will-ingness to exercise it. World War II – with its global military operations, complex international coalitions, and economic and social challenges – was a vast stage on which he seized a central role. He was, in every sense, the nation’s commander-in-chief. He commanded an extraordinary group of military leaders during World War II. Sixty years later, their names – including Marshall, Eisenhower, Nimitz, King, Arnold and MacArthur – still inspire awe.

A confident commander-in-chief with strong views on strat-egy, FDR actively involved himself in military affairs. Together he and his lieutenants virtually created the modern American military. The armed services grew from an unprepared force of fewer than 335,000 active duty personnel in 1939 to more than 12 million in 1945. The Army and Navy expanded and modern-ized and, with FDR’s endorsement, American air power increased dramatically. The President also supported new agencies like the Office of Strategic Services (precursor to the CIA) and the Office of Scientific Research and Development.

He moved aggressively to centralize strategy and high command in the White House. In 1939 he had ordered the Joint Army- -Navy Board and several munitions and military procurement agencies to bypass the War and Navy departments and report directly to him. In 1942, he created the Joint Chiefs of Staff.

Roosevelt held the key position in the wartime coalition of twenty-six Allied nations that he called the “United Nations.”

Page 250: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[248]

CYNTHIA M. KOCH

He, Josef Stalin, and Winston Churchill comprised the “Big Three” at the heart of this coalition. But as the war progressed, FDR increasingly acted as the group’s ultimate broker and deci-sion maker. Throughout the war the President emphasized the importance of coalition building. Diplomacy, as much as mili-tary strategy, became a hallmark of his wartime leadership.

War: 1942-1944

In the critical months following Pearl Harbor as Japanese forces expanded dramatically across the Pacific and Southeast Asia, many Americans – particularly those on the Pacific coast – feared enemy attack and saw danger in every corner. These wartime fears combined with racial prejudice lead to a great injustice. In late 1941 and early 1942 civilian and military leaders on the West Coast complained that members of the region’s large Japa-nese American community might be working with the Japanese military to plan acts of sabotage. Though no serious evidence of this existed, they pushed the Roosevelt administration for action.

On February 19, 1942, FDR issued Executive Order 9066, which led to the forced relocation of more than 110,000 Japa-nese Americans living on the West Coast. They were confined in inland internment camps operated by the military. More than two-thirds of these people were native-born American citizens. Abruptly forced to abandon or sell their homes and businesses, many lost everything they owned.

After Pearl Harbor, as the American public’s anger and energy was overwhelmingly directed at Japan, Roosevelt knew that Germany – as the more powerful of the two foes – posed a graver threat to American security. Great Britain and the Soviet Union were under intense pressure from German forces and the

Page 251: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[249]

FRANKLIN D. ROOSEVELT: A SHORT BIOGRAPHY

President could not risk their collapse. Before the United States entered the war, he had approved the ‘Germany First’ strategy should the nation become embroiled in war in both Europe and Asia. The strategy assumed the U.S. would maintain a hold-ing action against Japan until the battle for Europe was won.

From 1942 to 1944, one subject dominated Allied strategic debate – the creation of a Second Front in Europe. This thorny issue caused friction between America, Great Britain, and the Soviet Union. It topped the agenda of the January 1943 summit meeting between FDR and Winston Churchill at Casablanca held shortly after the Allied invasion of North Africa. Though Soviet leader Stalin did not attend this meeting, his feelings were clear. For eighteen months the Soviets had single-handedly resisted a massive German invasion to the east. Stalin demanded that his allies strike quickly at the heart of Hitler’s empire in northwestern Europe, establishing a “second front” to draw off some German forces from the USSR.

FDR’s military advisers favored the earliest possible assault on northwestern Europe, but Churchill argued that a large buildup of forces was necessary to ensure a successful invasion. Because this was unlikely in 1943, he pushed for a more limited, “peripheral” strategy of attack along the edges of the Axis empire, starting with an assault on Sicily. Roosevelt, eager to keep the American public focused on the fighting in Europe, agreed. To ease Stalin’s disappointment, FDR offered a signal of Anglo- -American resolve: he announced the Allies would only accept an “unconditional surrender” from the Axis powers.

In November 1943 FDR journeyed to the Middle East to attend his first wartime conference with Josef Stalin. The “Big Three” gathered at Teheran. Their decisions shaped both the war and the peace that followed. The issue of a Second Front domi-nated discussion. Impatient with Anglo-American delays, Stalin demanded a commitment to a date for the invasion of northwest

Page 252: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[250]

CYNTHIA M. KOCH

Europe. Churchill favored further delay, but FDR sided with Stalin and the three leaders agreed to a spring 1944 invasion. Stalin then pressed his allies to name the invasion’s commander. After the conference, FDR selected General Dwight D. Eisenhower.

As dawn broke on June 6, 1944, German soldiers defending the French coast at Normandy beheld an awe-inspiring sight – the largest amphibious invasion force in history massed in the waters of the English Channel. The long-awaited invasion of northwest Europe was under way. The Normandy invasion established a solid Second Front in Europe; its success left Hitler’s armies trapped in a vise, fighting the Red Army in the East and an expanding Anglo-American-Canadian force in the West.

The “Final Solution”

During the final year of the war in Europe, Allied forces began overrunning camps used by Nazi Germany to carry out its horrific “Final Solution” – the effort to eliminate Europe’s entire Jewish population that is known today as the Holocaust.

Whether Franklin Roosevelt should have or could have done more to rescue European Jews and stop Hitler’s killing machine is a question that will likely be debated by historians for decades to come. Some scholars have criticized President Roosevelt for his approach to refugee issues prior to and during World War II, and he is even accused of having pursued misguided policies and of being indifferent to the Holocaust. Others insist that such assessments fail to account adequately for the American public’s prewar isolationism and anti-Semitism, strict immigra-tion and quota laws that enjoyed wide public and congressional support, and military practicalities that – for much of the war – limited the Allies’ ability to reach Jews trapped deep behind enemy lines.

Page 253: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[251]

FRANKLIN D. ROOSEVELT: A SHORT BIOGRAPHY

In 1942, as details of Hitler’s Final Solution reached the Allies, it was difficult for the public and many government officials to grasp the extent and significance of the Nazis’ system-atic, mechanized killing. In a December 13, 1942 radio broad-cast listened to by millions, popular newsman Edward R. Murrow described “a horror beyond what imagination can grasp... there are no longer ‘concentration camps’ – we must speak now only of ‘extermination camps.’” On December 17, 1942, the United States joined ten other Allied governments in issuing a solemn public declaration condemning Nazi Germany’s “bestial policy of cold-blooded extermination” of the Jews. The American Congress and the British Parliament stood in silence on that date to mourn what was happening to the Jews and pray for the strength needed to defeat the Nazis. In January 1944, after learning from Treasury Secretary Henry Morgenthau, Jr. that the State Department was obstructing rescue efforts, Roosevelt established the War Refugee Board to coordinate governmental and private efforts to rescue those who might still be saved. The Board is credited with saving at least 200,000 Jews. Critics argue that if FDR had acted earlier, and more boldly, even more lives could have been saved.

Roosevelt believed that the surest way to stop the killing of innocent civilians was to defeat Hitler’s Germany as quickly and decisively as possible. Critics say that FDR’s “win the war” approach did not address the possibility that significant numbers of Jews could have been rescued.

War: 1944–1945

In the Pacific, Allied forces had pushed deep into Japan’s empire by 1944. While Anglo-American troops advanced in Burma, American-led forces moved forward on two fronts in the Pacific.

Page 254: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[252]

CYNTHIA M. KOCH

In the South Pacific, General Douglas MacArthur was poised to liberate the Philippines. Meanwhile Admiral Chester Nimitz had battled his way thousands of miles across the Central Pacific, reaching the Mariana Islands in February.

After the conquest of the Marianas, some argued the U.S. should bypass the Philippines and give priority to Nimitz’s Central Pacific front. General MacArthur opposed such plans. He was single-minded in his desire to liberate the Philippines. A popular figure with friends in Republican circles, MacArthur was a hard man to ignore.

FDR had to mediate this issue in the middle of a presidential election year: now for the fourth time, he had accepted his party’s nomination. At a highly publicized July 28th meeting in Honolulu, Roosevelt met with MacArthur and Nimitz who agreed to FDR’s policy to continue the advances on both fronts.

By fall the liberation of the Philippines was under way and American bombers had begun a devastating firebombing campaign against Japanese cities from bases in the Marianas. In February marines landed on the island of Iwo Jima – midway between the Marianas and Tokyo. America was now poised to begin the endgame in the war against Japan.

As 1945 dawned, Franklin Roosevelt was inaugurated for the fourth time as president of the United States in a simple wartime ceremony at the White House. At his insistence all thirteen of the grandchildren attended this last inauguration.

Allied armies were closing in on Germany and Japan, but German and Japanese resistance stiffened in the face of defeat. Spring 1945 would witness some of the most savage and costly fighting of the war.

In February1945 Roosevelt met with Winston Churchill and Josef Stalin for the last time. The setting was the town of Yalta in the Crimea. At Yalta FDR received Stalin’s firm commitment

Page 255: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[253]

FRANKLIN D. ROOSEVELT: A SHORT BIOGRAPHY

to enter the war against Japan three months after Germany’s defeat. The Big Three also formally agreed to establish what became the United Nations organization. But there were serious disagreements about the future of Germany and the fate of areas occupied by Soviet armies, especially Poland. Faced with the reality of large Soviet forces in Eastern Europe – and unable to contemplate the possibility of going to war with Russia over the issue – FDR and Churchill acquiesced to Stalin’s demand for a sphere of influence in that region. But they also secured Soviet acceptance of the Declaration of Liberated Europe and an agree-ment on Poland that called for the creation of a government of national unity that would hold “free and unfettered elections.”

Sadly these principles were swept aside in the early days of the Cold War. Today the Yalta conference occupies an ambigu-ous place in historical memory. Those who met there witnessed both the cooperation of wartime allies and the rising wariness of future rivals.

Changes at Home

To fight a global war, the United States needed to mobilize its entire population along what became known as the “Home Front.” This enormous national effort touched nearly every aspect of American life and set in motion economic and social forces that would reverberate for decades. President Roosevelt was at the forefront of this national mobilization, setting prior-ities and focusing attention on the goal of total victory. Under his direction, the government assumed unprecedented powers over the economy. Despite objections from many New Dealers, the government turned to corporate leaders to help lead the war mobilization effort. “Dr. New Deal,” FDR announced, had been replaced by “Dr. Win-the-War.”

Page 256: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[254]

CYNTHIA M. KOCH

American wartime production was staggering. The country produced 299,293 aircraft; 634,569 jeeps; 88,410 tanks; 5,777 merchant ships; 1,556 naval vessels; 6.5 million rifles; and 40 billion bullets. By 1944 the United States was producing 60% of all Allied munitions and 40% of the world’s arms. American factories were simultaneously supplying the U.S. military, produc-ing 10% of Russia’s military needs and providing more than 25% of Great Britain’s war materiel.

The need for war workers created economic opportunities for women and minorities, but only after being pressed by black leaders – who had Eleanor Roosevelt’s strong support – did FDR act to confront racial discrimination in defense industries. After civil rights leaders threatened to march on Washington, in June 1941 the President issued Executive Order 8802, which barred racial discrimination in war plants. To enforce it he created the Fair Employment Practices Commission. The opportunities opened for African Americans during the war contributed to the emergence of the postwar civil rights movement. Similarly the 1944 GI Bill of Rights led to postwar prosperity for a new middle class, providing millions of American veterans with free health care, money for higher education, and farm, business, and home loans.

April 12, 1945

On the morning of April 12, 1945, World War II entered its 2049th day. Nearly fifty million people were dead; many millions more had been wounded or left homeless. In Europe Adolf Hitler was living in an underground bunker in Berlin as Soviet soldiers prepared to assault the German capital, and the first concentration camp had been liberated by Russian troops. In Asia firebombs rained down on Japan’s cities, while American

Page 257: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[255]

FRANKLIN D. ROOSEVELT: A SHORT BIOGRAPHY

submarines blockaded its coasts; on the island of Okinawa, 340 miles to the south, American soldiers and sailors struggled to clear the last stepping stone before the invasion of Japan itself. And, at a secret military installation in New Mexico, work continued on a terrifying new weapon that would revolutionize war and peace.

An exhausted President Roosevelt awoke in his cottage in Warm Springs, Georgia. Worn down by heart disease and the stresses of wartime leadership, he had come to his presidential retreat for a brief holiday. At 1:15 P.M. Central War Time, he was studying papers and sitting for a portrait when he suddenly complained of a “terrific headache.” Seconds later FDR collapsed. Within hours the commander-in-chief was dead of a massive cerebral hemorrhage.

Franklin Roosevelt lived long enough to know that victory was assured. Less than one month after his death, Germany surrendered to the Allies. And on September 2, 1945, the war formally ended when Japan surrendered in a ceremony aboard the USS Missouri in Tokyo Bay.

FDR died days before he was to address the opening session of the conference that created the United Nations. On the day before his death, he labored over a speech about the postwar world. The “mere conquest of our enemies is not enough,” he wrote. Americans had to “cultivate the science of human rela-tionships – the ability of all peoples, of all kinds, to live together and work together, in the same world, at peace.” His last words to all of us were, “The only limit to our realization of tomorrow will be our doubts of today. Let us move forward with strong and active faith.”14

14 Undelivered Address Prepared for Jefferson Day, April 13, 1945. Public Papers and Addresses of Franklin D. Roosevelt, 1944-45 volume, pp. 613-16.

Page 258: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais
Page 259: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[257]

AUTONOMY IN THE AZORES BETWEEN THE TWO WORLD WARS

Carlos Enes

Any citizen relatively attuned to Azorean society will easily real-ize that the various islands have quite different historical memo-ries. These differences are even more evident on two of the islands due to their political importance. On Terceira there is a palpable sense of pride in a past that included heroic battles against the Spanish and the island’s contribution to the liberal cause; on São Miguel it is the major campaigns to win admin-istrative autonomy and the individuals who fought in this struggle that stand out.

The reasons for these divergent memories that have been constructed over the years are intimately linked to the historical course that each island followed. The autonomist memory of the people of São Miguel has its origins in their becoming aware that the island’s wealth was being exploited by the Portuguese state, which did not fairly compensate the island with what was needed for its development. This type of argument, which increased as political centralization increased, took a distinctive form in São Miguel. The local elite thought that the islanders were as Portuguese as any other citizen, or perhaps even more so; and they felt they were being mocked by the fact that “the sacrifice of blood and property” they had paid towards the estab-lishment of the liberal regime was not being duly compen-sated.15

Out of this and other arguments came demands for auton-omy, with all manner of proposals being made based on the different orientations.

15 Aristides da Mota, in A Autonomia dos Açores, Ponta Delgada, March 3, 1893.

Page 260: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[258]

CARLOS ENES

We can really only speak of autonomy movements in relation to São Miguel if we consider that the word movement implies: 1 – the existence of an effort to stir up the population and a propaganda campaign centering on issues affecting the islands; 2 – presentation of proposals to resolve these problems, be it through legislation or through special political-administrative measures; 3 – organization of individuals or groups in order to rouse the population and disseminate propaganda; and 4 – conti-nuity of these efforts to mobilize the people and other actions over a given period of time.

Only São Miguel meets these criteria. Activities on the other islands were limited to publishing articles in the press and presenting one or two proposals of a political-administrative nature. There was no consistent organized movement, nor were ideas of autonomy a mobilizing factor in the population. The fact that the movement did not spread to the rest of the archi-pelago can be explained by the simple reason that they ran deficit economies and relied on transfers of funds from the central government, even though these funds were considered inadequate and were severely criticized. This does not mean that the other islands did not take part in the debate and did not occasionally participate in the struggle for autonomy. Never-theless, efforts on behalf of the autonomy cause were nearly always in response to initiatives coming out of São Miguel, and the other islands were afraid that any changes in admin-istrative status would threaten the existing district boundaries and that Ponta Delgada would simply take the reins from Lisbon.

These considerations apply to the period between the two world wars and can help us understand the movements that followed, which almost always centered on São Miguel. This process can be divided into two stages, each with its own distinc-tive characteristics: the first and more radical of these took place

Page 261: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[259]

AUTONOMY IN THE AZORES BETWEEN THE TWO WORLD WARS

during the First Republic, and gave rise to the regulations imposed by the military dictatorship and by the New State.

Building unity and a regional identity and efforts to project an image of the archipelago to the outside world are two compo-nents of the structuring process underlying the actions in favor of autonomy. For this reason, a brief overview of this process is given here to aid in understanding the movement’s ideologi-cal foundations.

Attempts to Build Azorean Unity

After the first autonomy statute went into effect in 1895, it became clear that the political forces in the islands, divided as they were, had a difficult time imposing their wishes and points of view on the central government. The press echoed this fact, and a number of writers attempted to shed light on the reasons for this Azorean attitude of “each island for itself ” and suggest some measures that might promote unity/solidarity in the archi-pelago.

The aim of this unity was very clear: “to demand the govern-ing powers to which the Azores were entitled, along with measures to improve economic conditions in the archipelago.”16 The motherland continued to be viewed as a kind of step-mother, just as it had been in the 19th century; but local politi-cians were also accused of being concerned only with their island and not taking a broader view of the problems.17

A spirit of insular or Azorean brotherhood that began to develop in 1912 through sporting events was the launch pad for a set of initiatives that were repeated over the ensuing years. The regionalist drive to bring the islands closer together took a qualitative leap conceptually beginning in 1920: achieving the archipelago’s “moral and material interests” would require the

16 Correio Michaelense, July 4, 1908.

17 See Carlos Enes, introduction to Luís da Silva Ribeiro – Obras IV – Escritos político-administrativos, Angra do Heroísmo, IHIT/SREC, 1996.

Page 262: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[260]

CARLOS ENES

creation of an Azorean spirit, by creating an Azorean conscious-ness, which came to be defined as “the body of convictions that should be the driving force of the Azorean people in the pursuit of their collective interests.”18

By the time we reach the 1920s, there is a discernable differ-ence between Azorean consciousness and insular consciousness. While the latter applies to each of the islands individually, Azorean consciousness strives to bring the entire archipelago together with a unified geography, an identity of its own, and a set of common interests that should be defended through joint action. “Creating an Azorean spirit, imbuing it with vitality, making it consistent, and unifying these nine little fragments of Portuguese land” was said to be the “most urgent and press-ing need” at the beginning of the 1920s.19

It was thus that the local elite became aware that Azorean unity and identity could only be achieved by raising the popu-lation’s awareness of the ideas and values that had come to be known as Azoreanism. This was basically a set of political-ideo-logical ideas that sought to affirm Azorean identity and foster this awareness among the population in order to defend the interests of the archipelago.

This led to a broader reflection on an Azorean society in search of its roots and its defining characteristics. Restoring traditions is another factor that stands out throughout the process. Influenced by a wave of nostalgia for the good old days that had taken hold at the time, whose leading proponent, Teixeira de Pascoaes, had been trying since 1912 to resurrect the Portuguese Fatherland, the Azorean elite endeavored to “pick up the lost thread of Tradition and the Past,” as a way to capture the imagination of the lower classes and thus awaken a “herd instinct.”20

Discovery of the past and restoration of tradition played an important ideological role, incorporating many of the ideas

18 M. Caetano Pereira,

A Actualidade, May 14, 1924.

19 Luís da Silva Ribeiro, Correio

dos Açores, November 11,

1920.

20 Os Açores Magazine, no. 2,

August, 1922.

Page 263: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[261]

AUTONOMY IN THE AZORES BETWEEN THE TWO WORLD WARS

espoused by Lusitanian Integralism. The “wave of universalism” that had invaded the islands had been detrimental to the forma-tion of a characteristically Azorean environment, which was much cherished at the time. Afonso Lopes Vieira’s idea of re-Portugalizing Portugal, which was again taken up by António Sardinha, served as inspiration to Luís Ribeiro who likewise sought to “Azoreanize the Azores.”21 It was in this climate that a number of studies on local history and ethnography were carried out.

But this return to the past, to the purity of traditional customs, led to heightened chauvinism, which was once again influenced by Lusitanian Integralism. It became quite common for the press to tout the superiority of the Azoreans, who were considered to be the best Portuguese for having stood up to Philip the Second, for having instituted the liberal regime in Portugal, and for being direct descendants of the heroic Portu-guese navigators.

Aristides da Mota took this position in 1928: “If there is pure Portuguese blood that has not suffered invasion by blacks, the French, or even the Spanish, it is to be found in the Azores. The blood of the Portuguese of the Azores is pure; it is the blood of our great navigators and colonizers.”22

Regional literature was also deemed one of the most effective means of illustrating and fostering an identity among the Azoreans. Therefore, creation of an insular literature was once again advocated, although it was believed that there had been only “isolated and timid trends, experiments and achieve-ments.”23 In this area Vitorino Nemésio and Armando Cortes-Rodrigues were considered to be the pioneers of these trends. In the artistic realm, Domingos Rebelo was hailed as the great-est Azorean painter.

With the aim of developing cultural life in the Azores, it was proposed in 1929 that the members of the São Miguel parlia-

21 Correio dos Açores, May 18, 1923.

22 Correio dos Açores, March 17, 1928.

23 Correio dos Açores, January 27, 1927.

Page 264: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[262]

CARLOS ENES

ment turn their efforts towards establishing a university in the archipelago.24 Continuing in this vein, it was in 1932 that Vitorino Nemésio, coining a term analogous to Hispanity, first spoke of Azoreanity, which held a different meaning than the concept of Azoreanism mentioned above. In other words, Nemésio’s perspective was more cultural in nature, without the political and interventionist connotations that had characterized the earlier concept. Nemésio’s creation gave Luís da Silva Ribeiro an opening to present his own views in a work entitled “Subsí-dios para um ensaio sobre açorianidade” (“Subsidies for an essay on Azoreanity”).

In several articles published in the Correio dos Açores that were later published in a small volume of collected works, the author, greatly influenced by the principles of geographic deter-minism, tried to pinpoint what he felt to be most typical features of the Azorean milieu, attempting to identify differences between the islands and the mainland – but always with some reserva-tions. He states that, despite some positive conclusions, the readers should understand that these are “mere conjectures or possibilities not to be taken as certainties or proven and reliable facts.”25 In spite of this caveat, his work became a kind of bible which served to justify confrontations between the local and central powers, mainly after the revolution of April 25, 1974.

During the period of the New State (the Corporatist Regime), however, Azoreanity was not viewed as the foundation for an Azorean nationalism that would serve as a springboard for Azorean independence. Nor was this Luís Ribeiro’s objective; he had always opposed the separatist fits and starts of a few years earlier. There was even some effort on the part of certain indi-viduals sympathetic to the regime to categorize Azoreanity as part and parcel of Lusitanity, as was the case of Dutra Faria.26

Despite all these efforts to unite what nature had separated, there was still a yawning gap between all the discourse and the

24 A Mocidade, Ponta Delgada, November 15,

1926.

25 See Luís da Silva Ribeiro,

“Subsídios para um ensaio sobre a açorianidade,”

Obras II – História, (Angra

do Heroísmo: IHIT/SREC, 1983).

26 Revolução, June 13, 1933.

Page 265: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[263]

AUTONOMY IN THE AZORES BETWEEN THE TWO WORLD WARS

practical application of underlying principles, particularly in the sphere of political action, which we will address later. In 1932, Aristides da Mota recognized that the Azores were “only a geographical designation with no social meaning or social unity (…). Creation of a public sentiment in the Azores that goes beyond that which depends solely on its geographical situation, one that would make them an archipelago, is absolutely impos-sible.”27

Propaganda Directed at the Outside World

The desire on the part of some of the elite to unify the Azoreans in a common spirit by reviving very specific traditions and ways of life had another purpose: to create and project an image of its own, distinct from that of the mainland, in order to justify equally distinct political treatment based on this difference. This difference could only be taken advantage of if it was known. Therefore, the campaign to make the Azores known beyond its borders must be examined from this multifaceted perspective.

The first major step was taken on the initiative of José Bruno Carreiro, director of Correio dos Açores, with the so-called “visit from the mainlanders” in 1924. The impressions of this group of intellectuals and journalists of their trip provided a more probing and attentive look at the islands. As a result of this visit, Azorean journalists who were working on the mainland launched an “Islander Page” in some periodicals, and in 1926 the magazine Revista Insular e de Turismo was founded, which joined the already established Portugal, Madeira e Açores in disseminating and defending the islands’ interests. It was in this same spirit that the Grémio dos Açores/Casa dos Açores (Azorean Community Asso-ciation), was finally founded in 1927 and began to function as an authentic lobby in relation to the central government.

27 Letter from Aristides da Mota to Luiz e Magalhães, February 19, 1932, Luiz e Magalhães collection, B.N.L.

Page 266: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[264]

CARLOS ENES

Other parallel actions were taken in the propaganda effort. Invitations were issued to writers and researchers like Raul Brandão and Leite de Vasconcelos, whose work gave the Azores exposure throughout the mainland. The Azorean Congress, held in Lisbon in 1938, was the culmination of this movement, promoting tourism while balancing pragmatic concerns with political-administrative interests. Despite being moderate and peaceful, these efforts of Azoreans to assert their demands irri-tated Salazar, who refused to support the initiative.

The Role of Conservative Ideology in the Movement

The ideological matrix that manifested itself during the course of the movement was an amalgam of widely varying opinions, but the conservatism that had been notorious in the first move-ment at the end of the 19th century became even more so in this new context under the influence of Lusitanian Integralism.

The São Miguel Integralist Propaganda Nucleus was set up in Ponta Delgada under the direction of Armando Cortes-Rodrigues, and another nucleus was later formed in 1920 at Antero de Quental High School. These nuclei produced little political action due to their members’ inexperience; but they were very influential in terms of doctrine.28 Articles written by António Sardinha were published in various newspapers and his ideas found occasional support from persons from other circles, such as Luís da Silva Ribeiro.

The Church’s influence on the political struggle further bolstered anti-republican fervor. It started in 191829 by organiz-ing small nuclei that did not have much impact until 1925, when the Portuguese Catholic Center Diocese Committee, head-quartered in Angra and dedicated to political intervention, came into being. In practice, however, the Church had always made

28 See Carlos Cordeiro,

Nacionalismo, Regionalismo e

Autoritarismo nos Açores durante a I República

(Lisbon: Edições Salamandra),

chapt. I.

29 Ibid., chapt. II.

Page 267: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[265]

AUTONOMY IN THE AZORES BETWEEN THE TWO WORLD WARS

itself felt in the press, through the individual initiative of Cath-olics taking a forthright stand against the “capriciousness” of the republicans. The diocese’s purchase of the Angra newspaper A União and the Horta newspaper A Democracia in 1924 played a part in the fight against the regime.

Added to these factors is the weight and influence of the São Miguel monarchist organization that was founded in 1915. Through it, old-guard autonomists from the 19th century who had been in hibernation returned to the political arena. They became the strategists for the anti-republican struggle, dressed up as regionalism. It was not the fact of their being monarchists that made them conservatives, but rather their elitist proposals, not in the least democratic, that were designed to benefit a minority of the citizenry at the expense of the participation of other municipalities in the governing bodies of the General Council. This hodge-podge of conservative ideology was present each time demands for a political-administrative statute for the archipelago were made.

Anti-Republicanism under the Guise of Regionalism

When World War I broke out, the Azores were drawn into the conflict. In the wake of a German submarine bombing attack on the city of Ponta Delgada, whose defense was left in the hands of an American cruiser, a naval base was installed in its harbor.30 The presence of the Americans and the existence of a large colony of Azorean emigrants in the United States contrib-uted to a strong current of separatism that arose from these circumstances. The feelings on the part of some São Miguel inhabitants – that they had been abandoned by the Portuguese government due to its inability to come to their aid – was enhanced by the support provided by the American forces. As

30 See Mário Mesquita, “A escala de Roosevelt nos Açores durante a primeira guerra mundial,” in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, Angra do Heroísmo, vol. XLIV, 1986, pp. 37-65.

Page 268: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[266]

CARLOS ENES

a result, admiration of the United States increased. The separat-ist movement, though small, was contested by opinion makers from the other islands, particularly by Luís da Silva Ribeiro from the island of Terceira.

Against this backdrop, Franklin Delano Roosevelt, then Assis-tant Secretary of the American Navy, visited the Azores, stopping in Horta and in Ponta Delgada on his way to mainland Europe. The words he and other Americans in positions of authority proffered at the time made it clear that the United States did not support these ideas. From documents that have come to light so far, “There is no reason to doubt the sincerity of the public declarations of those in charge in Washington. Essential American interests were secured as long as sovereignty in the archipelago was exercised by an allied power.”31

Separatism was once again serving more as tool for applying pressure and shaking up the status quo than as a real threat. It essentially served the strategy of the monarchist forces that led the second autonomy movement in São Miguel. Their aims were very clear: to combat the republican regime and deal a death blow to the influence of the Democratic Party.

The hardliners of the movement belonged to the monarchic nucleus that had been established in 1915, which was led by Raposo do Amaral. The former leaders of the autonomist movements of the previous century jumped back into the ring and founded the Regionalist Party. They occasionally formed alliances with the local trade unions, led by Francisco Luís Tavares, and with the socialists in order to weaken the Demo-crats’ electoral strength. These objectives were quickly achieved in the 1917 elections and in others that followed. When Fran-cisco Luís Tavares joined the editorial board of the Correio dos Açores in 1920, it appeared to be another reflection of this supposed unity, but it was a unity that quickly unrav-eled.

31 Ibid, pp. 39-40.

Page 269: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[267]

AUTONOMY IN THE AZORES BETWEEN THE TWO WORLD WARS

The strategy used internally was to rally all kinds of people – republicans, monarchists, atheists, believers, nobles, plebeians – around the flag of regionalism, setting aside old resentments and enmities. In relation to the outside world, i.e., the central government, the order of the day was to embrace long-term causes to counter longstanding animosities.

To achieve this, the Azoreans needed to unite in a common project that would overcome ancestral clannishness and the internal disputes of each island. Regionalism, within the dynamic of brotherhood among islanders would be the glue that would unite them in a way that had hitherto been impossible. The creation of a São Miguel regionalist party was an important step, but it was also the target of some criticism, particularly from a skeptical Luís Ribeiro: “Regionalism is not, nor can it ever be a party. It is something that is above all factions, all political ideas (…) a regionalist party will be an organized clien-tele that, wielding political weight, will go after one person or another slavering for favors.”32 Identical criticism appeared in the Horta newspapers, particularly in the articles of A. Baptista, which were published under the title “A verdade vence” (“The truth shall prevail”).

In fact, the Regionalist Party only enjoyed a degree of success on São Miguel, where radicalism set the dominant tone. There it ran in several elections at both the local and national level, achieving positive results. One case that stands out was the 1921 election in which Hintze Ribeiro, who had been condemned for having participated in the Monsanto monarchist revolt, was elected as a member of parliament and Francisco Faria e Maia was elected senator for the minorities.33

The anti-republican front gained further strength further in the 1925 elections. The Regionalist Party was backed by the Catholic Center, the Monarchy Cause, the Radical Party, the political committee of the Nationalist Party, and a number of

32 Correio dos Açores, August 31, 1921.

33 See Luís Menezes, As eleições legislativas de 1921 e 1925 no arquipélago dos Açores, SREC/DRAC, 1992.

Page 270: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[268]

CARLOS ENES

independents. Filomeno da Câmara, running as an independent, was the emblematic candidate of the regionalists, exhorting the people to manifest their discontent like a “slave uprising.” Hercu-lano Amorim Ferreira was elected along with him. In Horta, the transformation of the Nationalist Republican Party into the Regionalist Party was simply opportunism on the part of its local leader, Manuel Francisco Neves, Jr.

The strength of the São Miguel regionalists further increased in the elections for local administrative bodies where they secured places in the smaller municipalities, although they were unable to oust the Democrats. For this reason, they proposed that the electoral process be changed, as we will see later on.

In this context, political proposals for a new model of admin-istration assumed more radical contours than they had in the 19th century. The order of the day – full autonomy – was mani-fest in some projects, particularly that of Faria e Maia, that came out in the press in 1919. According to the author, “We would be the ones to legislate about everything related to public, municipal, and parochial administration; the ones to levy both direct and indirect taxes; the ones to receive all the revenue and income that the State currently receives, deducting from it only that portion that behooves us to contribute to the general expenses of the Nation.” This was the most radical proposal, as it rejected even taxation by the central government. It supported the creation of an autonomous state that would encompass three districts, or apply the same scheme to each district, which would govern itself. The federal regime would be equivalent to that of Switzerland or the United States.34

In order to raise funds for the project, a group of people went to Terceira for a round of meetings to present the proposal. Although some participants agreed with the idea, for the most part it was contested in both Angra and Horta: firstly because it was considered dangerous and likely to foster separatism, and

34 Francisco Machado

de Faria e Maia, Em Prol da

Descentralização (Ponta Delgada,

1932).

Page 271: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[269]

AUTONOMY IN THE AZORES BETWEEN THE TWO WORLD WARS

secondly because creation of an autonomous state would give São Miguel an advantage over the other islands.

After being elected senator, Faria e Maia presented a draft bill to the Senate in which some of his more radical ideas had already been watered down. The bill never made it to the floor for debate.

Nevertheless, the desire for an autonomous Azorean state or province was gaining more and more supporters. Urbano Mendonça Dias came out in favor of this;35 Trindade Coelho proposed a Portuguese Federal Republic to combat centralism and advocated the creation of an Azorean Island State with Ponta Delgada as its capital;36 Quirino de Jesus proposed that the capital be in Angra do Heroísmo;37 António Sardinha supported the creation of a regional parliament and government with broad administrative and financial autonomy;38 Luiz de Magalhães, a close friend of Aristides da Mota, took up the same idea in 1924; and Hermano de Medeiros of the National-ist Party promised to create an Azorean Province should his party win a majority.

Thus, we see a wide range of people supporting the same proposal for reasons that do not always completely coincide. But there is an issue here that is fundamental to understanding the determination to create a single province: political unity would pave the way to economic unity, opening the Azorean market to products from São Miguel that were prevented from reaching the mainland market or that could only be placed on the mainland market with great difficulty and that, at the regional level, were subject to various types of customs duties.

Not surprisingly, the plan was criticized and rejected, although some voices from São Miguel spoke out in favor of covering the deficits of the poorer islands. However, José Bruno Carreiro realized that Azoreanism had still not been able to create a true Azorean consciousness and, like many others, he believed that

35 A Actualidade, December 18, 1921.

36 Folha de Angra, March 16, 1922.

37 Correio dos Açores, July 26 and 27, 1923.

38 Diário dos Açores, April 12, 1923.

Page 272: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[270]

CARLOS ENES

political unity would be “more of a future aspiration than a present achievement.”39

The absence of an understanding and unity that might have put the archipelago in a stronger position in relation to the central government had already prompted José Bruno Carreiro to take the initiative at the close of 1922 to call on Madeira to join in a common project. He issued his challenge in the pages of the Correio dos Açores and quickly got an affirmative response. A meeting was set up in Funchal that was attended by José Bruno Carreiro, as director of the newspaper, and Luiz Betten-court, as delegate of the Regionalist Party. The Angra General Council sent monarchist Frederico Lopes as an observer.

At the meeting, the foundations for broad political and finan-cial autonomy, similar to what had been granted to the colonies, were discussed. This was a curious, almost comical about-face. The Azores had always bristled when they felt they were being treated like colonies, but now they did not hesitate to invoke the status of colony to be applied to the archipelago, as they would continue to do over the next few years. However, noth-ing concrete came out of the Funchal meeting to remedy the people’s lack of interest in these issues.

A Short-Lived Victory under the Military Dictatorship

The first and most significant impact of the military dictatorship in the Azores was the deportation to the islands of military personnel and civilians who opposed the new regime. To keep an eye on the deportees, in 1927 the post of Special Govern-ment Delegate to the Azores was created, a position that was occupied by Colonel Silva Leal, an Azorean, with José Bruno Carreiro serving as head of staff during the first few months. The spirit of Azoreanism was apparent in this new context as

39 A Actualidade, October 1, 1924.

Page 273: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[271]

AUTONOMY IN THE AZORES BETWEEN THE TWO WORLD WARS

it benefited from a group of islanders who were well placed in the governmental organization. The functions of the new author-ity quickly shifted into reverse, as it turned into a delegation from the Azores to the government.

José Bruno Carreiro and Luís Bettencourt drew up the frame-work of what would be the dictatorship’s first decree dealing with the issue of autonomy. The resulting decree (dec. 15.035),40 dated February 16, 1928, granted greater financial autonomy to the General Council, but it also abolished the lists of represen-tatives according to municipality, creating a single district-wide list. This way the regionalists had a better chance of forcing out elements sympathetic to the old republican system.

Earlier proposals for full autonomy were filed away and a more pragmatic approach focused on acquiring revenue to undertake public works was adopted. Financial autonomy, with the attribution of more services and adequate funding, took the place of the political autonomy espoused during the period of the First Republic. The opposition criticized José Bruno Carreiro for being inconsistent in relation to his past, but the proposal was accepted.

Salazar Intervenes

Salazar’s rise to power put an end to all the pretensions. His policy of improving financial management was deftly applied in the region: prerogatives that had been granted to the General Councils were maintained and even increased, with the promise that they would be accompanied by the respective transfers of funds. Those among them who were wiser understood the minis-ter’s true intentions and pushed for a meeting to try to change his mind. By the end of the meeting they had accepted Salazar’s proposals and acknowledged the need to reduce expenditures.

40 See this and other documents in José Guilherme Reis Leite, A Autonomia dos Açores na legislação Portuguesa – 1892-1947, (Horta, 1987).

Page 274: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[272]

CARLOS ENES

The decree maintained a provision for elected members (nine), but six special appointees were added. The latter were chosen because they occupied positions within the governmen-tal apparatus and because of their independence and “sense of civic duty.” The Council thus came to represent the interests of the municipalities less and less.

This decree (15.805, of July 31, 1928) never actually went into effect. The elections that it provided for never took place; the governing bodies functioned with appointed administrative committees. Nor did the councils ever receive the funds they were entitled to. The only autonomous thing that remained was the name. The situation engendered discontent because the General Councils limited themselves to paying current expenses and did not carry out public works that might have served as a buffer against the unfolding unemployment crisis.

Pressures were placed on the government to take some measures. The government responded by appointing a commis-sion to study the situation and propose solutions with an eye towards developing tourism on São Miguel. It was from this island that the loudest complaints came and it was also here that the crisis was most strongly felt due to its system of concen-trated agricultural landholdings.

The commission was presided over by the president of the General Council along with the National Unity district commis-sion president, Hermano da Silva Mota, and was made up of individuals who were to some extent dissatisfied with Salazar’s policies for the Azores: Faria e Maia, Mayor; Augusto Rebelo Arruda, independent candidate elected by the PRP in 1925; Luís Bernardo Leite Ataíde, candidate of the Liberal Republi-can Party in 1921; José Bruno Carreiro, director of the Correio dos Açores, and Albano da Ponte, managing partner of the firm Bensaúde. The driving forces of the island were thus repre-sented.41

41 See Carlos Enes, “Ponta

Delgada: o movimento de

contestação à política do Estado

Novo, em 1932-33”, Boletim do

Instituto Histórico da Ilha Terceira,

vol. XLVIII, 1990, Angra do

Heroísmo, 1993, pp. 507-36.

Page 275: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[273]

AUTONOMY IN THE AZORES BETWEEN THE TWO WORLD WARS

The report drawn up by Faria e Maia outlined a set of concrete measures to be carried out with the help of a significant contribution on the part of the government. However, this actu-ally served as an opportunity to put pressure on the government with street demonstrations unlike any that had been seen before, even during the period of the First Republic. When the report was submitted to the civil governor in November 1932, it was accompanied by a huge demonstration. The same occurred when the governor set off for Lisbon in January 1933. During this time, the newspapers were hardly censored at all with respect to local issues. These events generated a climate of great polit-ical unrest, which the opposition used to its advantage. Salazar’s remark – “One does not ask the governors for favors, but rather for justice” – served as a rallying call for a “collective protest” in support of “justifiable interests that have been so neglected and whittled away in recent years.”42

With no intention of trying to overthrow the regime, the organizers of street demonstrations denounced Salazar’s unfair policies that permitted unequal treatment. But among the regionalists there were other, more radical, positions. Faria e Maia published his work “In Defense of Decentralization” around this time. In it he included a letter from Aristides da Mota that criticized Salazar’s policies in an ironic tone. When the respected figure appeared in public at one of the demonstra-tions, the crowd was elated. The article he wrote for the press criticizing the draft constitution, which was at the time being presented to the people, became the rallying cry for the vote against it.

In the midst of all this excitement, word came that the gover-nor was being dismissed for having been unable to accomplish anything. This sparked city-wide demonstrations in support of the governor, which were followed by general strikes on Febru-ary 27, 28 and 29, 1933. From then on, the forces that had

42 Correio dos Açores, November 16, 1932, transcript of Guilherme Morais’s talk broadcast on the Island’s radio station.

Page 276: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[274]

CARLOS ENES

mobilized the people to serve as a tool to apply pressure lost control over the population. The republican opposition, through the trade unions, and the Freemasons along with the national unionists had taken advantage of the earlier movement and not even Aristides da Mota could dissuade the strikers. Only military invention was able to put an end to the general strike after a fracas that left people dead and wounded.

José Bruno Carreiro, the great demagogue, had set off a tide of events without taking proper measure of the forces that would be unleashed. This failure exacted a heavy price from the region-alists, who lost bargaining leverage in the stages that followed.

The Secretariat for Island Affairs

The Azoreans lost not only bargaining leverage but also their ability to mount an intervention. Autonomy had crumbled and the power of the local governing bodies had been proven weak.

Against this backdrop, the Azores Community Association gained ground as an association with the political clout to makes its way through the bureaucracy. It was full of members who were well-placed and well-connected to the people in charge and was organized like a lobby. It created a governmental-like internal structure and this gave the impetus to disseminate the idea of creating a Secretariat for Island Affairs on Behalf of the Government. The idea was not to eliminate the General Coun-cils, but the Secretariat for Island Affairs would begin to deal with all matters involving the Azores.

This proposal completely undermined the autonomist spirit that had reigned during the struggles up to that point. The government did not accept the proposal for obvious reasons: creating a secretariat would strengthen the lobby and institu-

Page 277: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[275]

AUTONOMY IN THE AZORES BETWEEN THE TWO WORLD WARS

tionalize it. For this reason, a policy of decentralization was chosen for the islands.

The Government’s Proposals

Salazar’s power was strengthened after the failed revolt by the deportees on the islands in 1931. The skill and care with which he managed the negotiations for the first decree he signed became less and less apparent in his subsequent actions and positions. He eliminated the islands’ currency in 1932 and clarified his positions after the political disaster of the above-mentioned general strike. In 1935, he criticized supporters of autonomy who imagined that it consisted of freedom to spend, while leaving the central government to pick up the tab. He then went on the attack: “they come to Lisbon and don’t look beyond Sintra or the Estorils; and then they make their compar-isons with the streets paved with asphalt or cement and with one or two palaces.”43 He further stated that the rest of the country was suffering many privations and that he would only consider rectifying the General Councils’ revenue and expense situation when it could be demonstrated that the same services on the mainland were better equipped than those on the islands. This openly held philosophy guided his administrative policy with respect to the islands.

In 1937 the government presented draft legislation on the administrative regime for the Adjacent Islands. What little autonomy there was would disappear altogether, leaving all local policy in the hands of the civil governor. The General Councils came to have three fewer members: three special appointees – high school dean, public works engineer, and INTP delegate – and four other members elected for three-year terms by the city councils and district level corporative bodies. In this proposal,

43 A União, June 18, 1935.

Page 278: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[276]

CARLOS ENES

fiscal policy was taken to a new level: a district audit committee was to be formed, made up of the financial director, the Dele-gated Attorney General and a member appointed by the civil governor.

In his introduction to the bill, Salazar explained the rules of the game clearly: he condemned the practice of favoritism in small communities; he criticized the Islanders’ lack of solidarity because they spent more than they produced and denied the “State the right to take even the smallest crumb from the islands.” He maintained that the islanders were not a national minority, nor was their situation comparable to that of the colonies.

The government’s proposal was not contested on the floor of parliament; the bill was passed and went into effect as Law No. 1967. This law served as the basis for the Autonomous District Statute drawn up by Marcelo Caetano in 1940. Caetano visited the islands and gathered official statements from Luís da Silva Ribeiro. José Bruno Carreiro was also invited by the Minis-ter of the Interior in 1939 to give his expert opinion. Because he was a civil servant, he did not argue against the plan, and limited himself to objections related to questions of a financial nature. The Statute was widened to cover the district of Horta, which up to that time had remained under the general law governing the mainland districts.

This document regulated all political-administrative life down to the smallest detail; and the central government played a strong role in all areas, either directly or indirectly, through the civil governor. The governor appointed the president of the Council and the two members of the audit committee, and he suspended deliberations of the Council and the executive committee. The central government acted through intermediaries for inspections, provided technical guidelines, and passed the four-year plan, which was approved and modified as needed in the Council of Ministers.

Page 279: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[277]

AUTONOMY IN THE AZORES BETWEEN THE TWO WORLD WARS

In 1947, some of the articles of the statute were changed, but its fundamental characteristics remained the same. Up until 1974 the islands were governed in a kind of administrative corset, very closely supervised by the central government.

Page 280: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais
Page 281: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[279]

JOSÉ BRUNO CARREIRO, ADMIRAL DUNN, AND PRESIDENT WILSON: THE TRIANGLE THAT NEVER EXISTED?

José Medeiros Ferreira

Contextualizing the International Importance of the Azores

Strategically speaking, the international importance of the Azores was to undergo remarkable growth in the time period spanning the Spanish-American War in 1898, the construction of the Panama Canal, and the First World War.

Portugal’s declaration of neutrality during the Spanish-Amer-ican War in 1898 is probably the event that most clearly demon-strates the important role the Atlantic island ports played in Portuguese-American relations. Curiously enough, the declara-tion of neutrality would be played out on the open stage of Lisbon’s parliament, where a host of international pressures would be brought to bear. Between April 2 and 25 of that year, the parliamentary deputies constantly quizzed the government leadership in an attempt to discover the position held by José Luciano de Castro, head of the Progressive government.

Moreover, the presence in Mindelo of the Spanish squadron, led by Admiral Cervera, was stirring up deep unrest among Portugal, Spain, and the USA. On April 4, the Diário dos Açores, a Ponta Delgada newspaper, broke the news that the Spanish government was expecting to meet up with their squadrons on São Miguel Island where they would stock up on coal to jointly set off for Cuba.44

On April 20, 1898, Regenerationist Deputy Ferreira de Almeida, former Minister of the Navy, warned of the danger

44 Diário dos Açores, April 4, 1898, quoted by Nélia Leitão in Reflexos da Guerra Hispano-Americana em Portugal, work presented for the course “Diplomacia e as Relações Euro-Atlânticas,” coordinated by José Medeiros Ferreira, Master’s Degree Program in International Relations, Azores University, 2007.

Page 282: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[280]

JOSÉ MEDEIROS FERREIRA

posed to Portuguese ports by an eventual war between Wash-ington and Madrid, stating that Portugal did not possess suffi-cient naval resources to guarantee compliance with the positions of the Lisbon government. Lisbon’s forts then received additional artillery support and warships were sent to Cape Verde and the Azores. The São Miguel newspaper A Persuasão made mention of the “35 artillery gunners” that were sent to Faial.

On April 26 the American government notified the Portu-guese government of the onset of a war between Spain and the United States. Washington hoped Lisbon would declare and effectively practice neutrality during the conflict, thus prevent-ing Spanish ships from taking on supplies and fresh crew in the Portuguese islands.

When Portugal decreed neutrality with regard to the Span-ish-American War in 1898, it was the Azores and Cape Verde that figured front and center in its decision-making, or at least in the provisions of the decree published in the Diário do Governo (Government Annals) of April 29 of that year. Composed of six articles, the decree aimed to painstakingly regulate Portugal’s international rights and duties, primarily with regard to the use of its Atlantic ports. Article 3 of the decree is divided into three points: “Point 1 – Warships of any of the belligerent powers shall not practice, within Portuguese ports and Portuguese waters, any hostile act against national vessels or those of any other power, including those vessels belonging to the power with which they are at war; Point 2 – In the ports and waters mentioned, above vessels shall not take on additional crew by enlisting seamen who are subjects of any nation, including the nation to which said vessels belong; Point 3 – In the ports and waters mentioned above, said vessels are likewise prohibited from increasing the number or caliber of their weaponry and taking on board portable arms and materiel.” These strict obli-gations, duly laid down to be fairly applied to all belligerents

Page 283: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[281]

JOSÉ BRUNO CARREIRO, ADMIRAL DUNN, AND PRESIDENT WILSON: THE TRIANGLE THAT NEVER EXISTED?

concerned, were followed by an article on the right to “licit trade” held by the power declaring itself neutral.45

At this juncture it is worth noting that both Americans and Portuguese had long stood on common ground with regard to the rights of neutral powers – from the Napoleonic Wars to the Crimean War in 1854 and the period of the World War I from 1914 to 1916 when both nations remained neutral. “The need to keep shipping routes in the Atlantic free from German subma-rine attacks on American merchant vessels was one of the main factors behind Washington’s declaring war on the Central Powers.”46

It is also worth underlining that, regarding the neutrality issue, mutatis mutandis, Portugal and the United States shared a very similar pattern of behavior internationally. Truth be told, Portugal did not officially decree neutrality in 1914 as she had done in 1855, 1870 and 1898; but such would be the country’s stance until 1916. The fact is that both countries would remain neutral during most of the wars that marked the 19th century; and during the World War I they would both start off neutral then enter half-way through as belligerents owing to the mari-time transport issues. Thus, in February of 1916 Portugal consid-ered the Axis ships appearing in her ports to be a “good catch” to increase the tonnage of the Allied merchant marine, while the US ceased to tolerate the German torpedoing of American commercial vessels crossing the Atlantic.

From the beginning of the 20th century, Great Britain had been concerned about German utilization of the Portuguese archipelago both because of the cable landing in the Azores, and the visit of war vessels such as the Panther, a German gunboat that had anchored in Horta and Ponta Delgada before sparking and international crisis upon arriving in Morocco. In fact, in 1906 the English went so far as to ask the Portuguese authorities not to make coal depots at the port of Horta avail-

45 See José Medeiros Ferreira, Cinco Regimes na Política Internacional (Lisbon: Ed. Presença, 2006), pp. 24-25.

46 José Medeiros Ferreira, “O Mar dos Açores nas duas guerras mundiais,” in Revista de História e Teoria das Ideias, Vol. XI (2.ª Série) (Lisbon: UNL, 1999), p. 120.

Page 284: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[282]

JOSÉ MEDEIROS FERREIRA

able to the Germans. In 1908 a German naval squadron put into port in the Azores with a British naval force nearby, disem-barked in São Miguel, and proceeded to note down the best routes of penetration.

It is also during this period that Admiral Mahan’s theories on naval might started to be applied in the United States. The strategic concept of “whoever rules the seas rules the world” would lead the American Navy Department to become interested in making use of bases in the Pacific (the Philippines) and the Atlantic-from the Panama complex to the Caribbean. American interest would extend to the high seas or “Central Atlantic,”as one learns from the history of the American consulate in the Azores, written in 1926.

Portugal and the United States maintained neutrality at the beginning of the Great War. Lisbon would remain neutral until March of 1916, while Washington would abandon its neutral status on April of 1917. Both would enter the war on the side of the Allies. Thus, both countries were companions in neutral-ity and partners as belligerents in the World War I. One is reminded of the way Kennan characterized America’s stance during this period: “We entered with the concepts and methods of a small neutral nation.”47

With the outbreak of the war, and while Portugal was still not a belligerent power, both the British and the Germans were using Azorean ports – though not to the same extent. This utili-zation, which weighed in favor of the Germans, led the British to lodge several complaints about the manner in which neutral status was being interpreted with regard to the ports on the islands.48 The situation was such that the Major-generalship of the Navy issued a set of recommendations aimed at assuring greater equity in the application of Portugal’s neutrality status.

Early in 1918, General Simas Machado was appointed High Commissioner, assuming all political and administrative func-

47 Georges Kennan, American

Diplomacy (Chicago: The

University of Chicago Press,

1984), p. 91.

48 See José Medeiros Ferreira, “A importância do

porto de Ponta Delgada,

na I Guerra Mundial,”

in Açoriano Oriental,

Suplemento, 500 Anos do Conselho de

Ponta Delgada, isssue of July 19,

1999.

Page 285: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[283]

JOSÉ BRUNO CARREIRO, ADMIRAL DUNN, AND PRESIDENT WILSON: THE TRIANGLE THAT NEVER EXISTED?

tions for the Azores, including those involved in maritime defense. This newly-created position of High Commissioner for the Azores in 1918 was to act as a precursor for the political-administrative position to be applied to Angola and Mozambique following 1920.

The fact that the high commissioner was responsible for both military and political/administrative affairs would raise the profile of José Bruno Carreiro who would become Simas Mach-ado’s assistant in civil affairs. For all intents and purposes, the appointment was an extension of the position Carreiro already held as Secretary of the Civil Government of the District of Ponta Delgada.

From April of 1918 to March of 1919, General Simas Machado carried out his tasks as High Commissioner for the Azores under conditions that were exceptionally challenging from a political, military, and civil point of view. The son of an Azorean father, Simas Machado was a moderate Republican who had been a member of the Constitutional Assembly in 1911 and was to become Senator of the Republic in 1920. With the rise to power of the dictatorship on May 28, 1926, Simas Machado requested to stand down from active service in the Army at a time when not many others were beating a path to the door.

José Bruno Carreiro was selected to run the high commis-sioner’s Civil Department in 1918, and would later head the Civil Department of the Special Delegate for the Government of the Azores from 1927 to 1928, during the transition period to military dictatorship.

It is likely that José Bruno Carreiro had been impressed by the importance of the Azores, which was brought to light with the opening of the Panama Canal and by the rapid arrival of the American squadron after Ponta Delgada was bombed by a German submarine on July 4, 1917.

Page 286: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[284]

JOSÉ MEDEIROS FERREIRA

In effect, the arrival of the five American destroyers at Ponta Delgada on July 25 was clear proof of who was preparing to efficiently patrol the North Atlantic during the submarine war spearheaded by Germany. It would also revolutionize the terms under which Anglo-American relations were conducted with regard to maritime issues. Yet it also changed the strategic status of the ports in Horta and Ponta Delgada, in that the latter port now began to gain greater importance. As a result, the autono-mous district of Ponta Delgada would come to acquire greater transatlantic, international, and national visibility, lending greater impetus to the so-called Second Autonomous Movement.

Given the circumstances, the Portuguese Republic would be put in the position of having to manage the new distribution of roles among the maritime powers in the Atlantic and the Azores. Thus, on April 15, 1917, little more than a week after the US had declared war on Germany, the Count of Alte, the Portuguese ambassador to the US, sent a telegram to Lisbon mentioning the possible interest of setting up an American base in the Azores: “The American squadron, which will be policing the Atlantic, may need a port of support on our islands and I told them that I would transmit any request in that regard to the government, which would take it into friendly consider-ation.”49

On August 24, 1917 Foreign Minister Augusto Soares sent the following telegram to London: “US Consul in Ponta Delgada has communicated to the authorities that the commodore of the American warships arriving there believes current means of defense to be inadequate for protecting his ships and the city/ intends to propose to US government better defenses (…) Requested consent of local military and maritime authorities who answered that it is the government’s responsibility. Defense of Portuguese waters and coast by American forces and prepon-derant actions of same forces in Azores very delicate matter of

49 José Medeiros Ferreira,

“Os Açores nas duas guerras

mundiais,” in Boletim do I. H. da Ilha Terceira,

vol. XLV – 1987, (Angra do

Heroísmo, 1988), p. 75.

Page 287: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[285]

JOSÉ BRUNO CARREIRO, ADMIRAL DUNN, AND PRESIDENT WILSON: THE TRIANGLE THAT NEVER EXISTED?

interest not only to Portuguese domestic and foreign policy but necessarily to England as well.. Legitimate desire of Government of the Republic that you provide us with means of effectively safeguarding defense of Ponta Delgada against maritime dangers (…) if American Navy has defense mission in Atlantic with consent of Ally, Portuguese government wishes to be informed of scope of said mission to be able to respond to American government.”50

Teixeira Gomes, Portugal’s ambassador to Great Britain, only received a verbal response from the Foreign Office on October 3, 1917 which, at Gomes’s request was confirmed in a private, confidential note on October 5. In the note the British govern-ment affirmed that circumstances prevented it from being able to secure the defense of the Azores and thus, believed that the Portuguese government would do well in accepting the offer of the Americans In his verbal statement, the diplomat from the Foreign Office also affirmed that he was sure that the American government had no hidden designs to exert further influence in the Azores but that even so, he would recommend that the Portuguese government take every precaution to avoid the possi-ble strengthening of such influence.51

Given the situation, the Portuguese government gave a posi-tive response to the note written by the US ambassador in Lisbon, Colonel Thomas N. Birch, dated October 30, in which Birch insisted on the concession of certain facilities in the Azores and authorization to set up a base in Ponta Delgada: “in sum, grant the American Navy said land-based facilities and said maritime privileges, for the duration of the war, so that the campaign against the submarines can be waged as efficiently as possible.”

Foreign Minster Augusto Soares answered affirmatively in a Note dated November 8, while commenting: “Shall await your reply on how to follow up on the suggestion of the American

50 Idem, p. 77.

51 Telegram sent by Teixeira Gomes to the Ministry of Foreign Affairs, dated London, October 6, 1917, op. cit., p. 77.

Page 288: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[286]

JOSÉ MEDEIROS FERREIRA

government, thus agreeing to the establishment of a naval base on Ponta Delgada…”

On November 8, 1917 the Ponta Delgada Naval Base became official and soon after, on the 17th of the same month, the American ambassador requested authorization for Admiral Dunn, three officers, and 50 seamen to disembark in the Azores.

Practically all of the American’s requests were met despite a few begrudging reactions. One of the more important protests came from Augusto Neuparth, commander of the cruiser Vasco da Gama, anchored in Ponta Delgada. On March 23, 1918, Neuparth would send a report to Lisbon stating that US naval forces “are few and we can go shoulder to shoulder with them without much difficulty.”52

Bruno Carreiro did not become embroiled in these military squabbles, since he intended to tap the good will of Admiral Dunn, whom he hoped would request aid from the United States in the form of wheat and humanitarian assistance for the populace of São Miguel.

The international impact of America’s naval base was to be underscored thirty years later in May of 1950, when José Bruno Carreiro, in a celebrated speech in Ponta Delgada, reviewed the highest points in Azorean history: “Nearly a century later, during the last stage of the First World War, the Azores again took front stage in history. American collaboration had caused the course of the armed struggle to swing decisively in favor of the Allies; and contributing to the close of the great drama and to the destiny of the world, was the distinguished role the Azores played by acceding to the installation of a naval base on São Miguel that would greatly facilitate the transportation of men and materiel from America to Europe.”53

The future director of the Correio dos Açores would also go on to acknowledge the impact the US Navy had exerted on foreign

52 Quoted in José Medeiros Ferreira,

“Os Açores nas duas guerras

mundiais”, p. 78.

53 J. Bruno Carreiro,

A Autonomia Administrativa dos Distritos das Ilhas Adjacentes (Ponta Delgada: 1952),

p. 15.

Page 289: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[287]

JOSÉ BRUNO CARREIRO, ADMIRAL DUNN, AND PRESIDENT WILSON: THE TRIANGLE THAT NEVER EXISTED?

policy, naval basing policy, and even on the conducting of polit-ical and strategic activities benefiting Washington on other islands such as Haiti in 1915; the Virgin Islands, which would go from being a Danish possession to an American protectorate in 1916; and the Philippines and Cuba, where the Americans would set up naval bases after the Spanish-American War.

In light of this, it is not odd that José Bruno Carreiro would attribute such importance to his relationship with Admiral Dunn, the connecting link to the Navy Department in Wash-ington, whose assistant secretary Franklin Delano Roosevelt had purposely visited the Azores to inspect the naval base on Ponta Delgada in July of 1918, prior to visiting the port on Horta.

José Bruno Carreiro was particularly active during this period and he is deemed responsible for the distribution of American aid to the people of São Miguel who were lacking in grain for their own consumption and in need of sanitation and health care. On November 2, 1918 the newspaper Açoriano Oriental reported that Admiral Dunn had telegraphed the American Red Cross to ask for “the aid needed by the poor families stricken by the epidemic that rages among us, having already requisi-tioned: 10 doctors, 50 nurses, 12 automobiles with respective drivers, 1000 blankets, 500 fully-equipped beds, 15,000 meters of unstarched cotton cloth, petrol for three-months worth of lighting for a population of 60,000, and medicines such as antipyrine, quinine, caffeine, mustard, linseed, etc. A heartfelt salute goes out to all those who have the wherewithal to lend such valuable aid to the needy…”54 Distribution of the incom-ing aid was one of the administrative functions of the head of the Civil Department of the High Commissioner for the Azores.

The visit to the Azores in July of 1918 of then assistant secretary of the Navy and future President Franklin Delano Roosevelt also served to heighten the personal and political

54 Miguel Maurício, A Base Naval em Ponta Delgada em 1917, presented at the seminar “Diplomacia e Política Externa Euro-Atlântica,” coordinated by José Medeiros Ferreira, Masters Degree Program in International Relations, Azores Uniersity, handouts, 2007, p. 9.

Page 290: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[288]

JOSÉ MEDEIROS FERREIRA

prestige of José Bruno Carreiro, who, though protocol did not require it, was expressly mentioned in the salutation of Roos-evelt’s Ponta Delgada speech. Roosevelt stated that “Upon his return to Washington he would not be satisfied but proud of what he witnessed in Ponta Delgada. It should be known that Admiral Dunn and his officers have been valuably aided and assisted by His Excellency, the High Commissioner; by Admiral Neuparth, and by Dr. José Bruno.”55

José Bruno Carreiro, Admiral Dunn, and President Wilson: A Triangle that Never Existed

The so-called Second Autonomist Movement of the 1920s grew out of the national and international context generated by the consequences of the World War I.

On December 11, 1918, a month prior to the Armistice, Daeschner, the French ambassador to Portugal, sent a report to Paris in which he dissected the issues facing Portugal at the end of the war and how these issues might sway the behavior of the Portuguese delegation to the Peace Conference. After reviewing issues regarding Angola and Mozambique, the diplomat turned to the situation in the Azores.

The ambassador opined that even though the US had primar-ily set up its base in Ponta Delgada to guarantee the safety of its shipping, and though the doctrines of President Wilson did not seem to indicate that the US wished to set up a permanent naval base there, it was within the realm of possibility that the Americans might take advantage of the circumstances to obtain concessions on the archipelago or privileges such as coal depots or wireless telegraphy stations.56

Based on this information, the political directorate of the French Foreign Ministry drew up an instructional note for its

55 Mário Mesquita,

“A Escala de Roosevelt nos

Açores durante a Primeira Guerra

Mundial,” in Boletim do

Instituto Histórico da Ilha Terceira,

volume XLIV, 1986, p. 43.

56 See AD-MAE, Conférence de la

Paix, Série A, Paix, Travaux

Préparatoires de La Conférence,

299, Politique des Petites Nations

Alliées, issued by the French

Ambassador in Lisbon, dated December 11,

1918.

Page 291: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[289]

JOSÉ BRUNO CARREIRO, ADMIRAL DUNN, AND PRESIDENT WILSON: THE TRIANGLE THAT NEVER EXISTED?

Peace Conference delegation, referring to those ports in which Portuguese sovereignty might run into difficulties, to whit, the ports of Lourenço Marques, Moçâmedes, Cabinda and… the Azores. The original French passage concerning the archipelago reads as follows: “Le Gouvernement Américain qui a établit une base aux Azores, pourrait vouloir y conserver un dépôt de charbon ou un poste TSF. La propagande américaine s’exerce activement au Portugal, tant par la presse que par de fournitures de vivres et de pétrole.” 57

The fact is confirmed in an interview Admiral Dunn gave the Lisbon newspaper Século on January 5, 1919. In it he speaks of having sent for wheat from the US to be distributed through-out the Azores, and medical aid especially designed to come to the succor of the Azorean population. He also mentions having distributed gasoline to a number of entities, including the Red Cross.58

The understanding between José Bruno Carreiro and the commander of the US base in Ponta Delgada had also been forged with the aid given in the form of supplies and in the struggle against the Spanish Flu that had taken a severe toll among the population of São Miguel Island.

Admiral Dunn, on a stopover in Lisbon, where he would be decorated with the insignias of Great Officer of the Order of Aviz, rained praise on High Commissioner Simas Machado and the hospitality of the people of São Miguel: “When I set ashore in the Azores in January of 1918, I believed myself to be a stranger in a friendly land. Then, when a few months later I left the islands, I felt such longing that I believed myself to be Portuguese. I shall never forget what I owe the Azores – and Portugal will eternally remain in my heart.”59

In the same interview, Admiral Dunn revealed that he had telegraphed US President Woodrow Wilson asking him to stop over in the Azores on the way to the Peace Conference in Paris.

57 AD-MAE, Conférence de la Paix. Série A, Paix, Travaux Préparatoires de la Conférence, 299, Politique des Petites Nations Alliées, nota da Direction des Affaires Politiques et Commerciales, doc. 78.

58 Século, January 5, 1919, interview with Almirante Dunn.

59 Interview with Almirante Dunn, idem.

Page 292: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[290]

JOSÉ MEDEIROS FERREIRA

Wilson agreed to set the route of his ship to sail past Ponta Delgada on December 10, 191860, and the commander of the US naval base in Ponta Delgada was sure that, on his way home from Europe, Wilson would spend two or three days in the islands. He never did; and in June, 1919, Admiral Dunn had been replaced as commander of the naval base and was already back home in the United States.

On their visit to Lisbon, the US legation held a dinner honor-ing the commander of the Azores naval base. Present at the event, was José Bruno Carreiro, referred to as Secretary-General of the Ponta Delgada Civil Government in the news item the Século published on January 7, 1919.

President Wilson would be the first US chief executive to cross the Atlantic in the opposite direction from the usual flow of immigration. He visited London, Rome, and Paris amid the enthusiastic clamor of the Europeans and the greatest reserva-tions on the part of American public, who could not quite grasp why their president would want to journey abroad. Logically, when he became aware of the bent of US public opinion, he made haste to leave and, as soon as the Peace Conference was over, steamed non-stop across the Atlantic, concerned about the reception that awaited him at home.

America’s isolationist tendencies would again rear up after the Peace Conference in the summer of 1919; shortly thereafter, in September, the Ponta Delgada Naval Base was dismantled. Washington would carry out, to the letter, the terms agreed upon with the Portuguese government in October of 1917. The time of the permanent base had not yet come, with the excep-tion of the positions the US had conquered in the Philippines and Cuba in the wake of another war with a European power-the Spanish-American War of 1898. For the time being, and until the next Great War, the US would watch the world evolve from afar.

60 William F. Doty, Esboço

Histórico do Consulado Americano nos Açores

(Horta: Núcleo Cultural, 2006),

pp. 37, 65.

Page 293: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[291]

JOSÉ BRUNO CARREIRO, ADMIRAL DUNN, AND PRESIDENT WILSON: THE TRIANGLE THAT NEVER EXISTED?

The US did however, grant a certain autonomy to the Phil-ippines in 1916, and events in the Asian archipelago were observed with great interest in the Azores. Years later, on Febru-ary 12, 1933, the Correio dos Açores carried a news item on its first page entitled “The Question of Independence for the Phil-ippine Islands.” The article came on the heels of a motion of the US Congress for independence to be granted to the Philip-pines. Independence would only come in 1946. The newspaper, headed by José Bruno Carreiro commenced with the following staunch affirmation: “The desire for freedom and autonomy is innate in peoples and in individuals.”61

Yet the most glaring sign that the US was about to initiate the “splendid isolation” of an oceanic nature that would prevail between the two world wars, was provided by the Senate’s refusal to ratify the Treaty of Versailles and the Covenant of the League of Nations. In July of 1919, the Covenant and the Versailles Treaty, of which it was a part, were submitted for ratification to the Senate, which had had a Republican majority since November of 1918. The rest is history. A clamor of protests arose against the Versailles Treaty in the US. Americans of German descent alleged it would cripple their homeland; those of Italian descent protested because the Allies had not kept the promises they made when luring Italy into the War; the Irish gainsaid it because Great Britain had not been pressed to grant Ireland full independence. In sum, the Treaty was not ratified and the Democrats suffered a resounding defeat in 1920 which saw the election of Warren Harding, an unassuming figure who depended heavily on the Congress to govern.

With these developments, possible support to buttress a trans-atlantic policy was to disappear. American isolationism was here to stay. The Atlantic was placed on the back burner. When José Bruno Carreiro became head of the Correio dos Açores in the early 1920s, the international die had been cast. His journalis-

61 Correio dos Açores, issue February 12, 1933.

Page 294: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[292]

JOSÉ MEDEIROS FERREIRA

tic appeal, entitled Se a Madeira Quisesse (If Madeira So Wished) already reflects an awareness of the lack of international support, the reason he set his sights on Madeira.

The Second Autonomist Movement in a Comparative Prespective

The second autonomist movement was thus conditioned more by events arising out of the Portuguese political community in the broad sense, than by international circumstances. Among the most predominant of these conditioning factors was the political disintegration of the First Republic, a topic already discussed by several authors. Less discussed is the development of events in other territories such as Angola and Mozambique between the two Great Wars. Therefore, I shall discuss this topic briefly, since it ended up having international impact and under-mining political debate in Portugal, with the controversies involving Norton de Matos, Cunha Leal, Brito Camacho, and the Colonial Congresses of 1924 and 1930.

The drivers of the autonomist and regionalist movements in the Azores were not unaware of the events that were unfold-ing in the colonies. One of the protagonists of the regionalist party, naval officer Filomeno da Câmara Melo Cabral, was governor of Timor from 1911 to 1913, a regionalist party candidate for deputy from the constituency of Ponta Delgada in November of 1925, activist in the coups détat of 1925 and 1926 that heralded the end of the Parliamentary Republic, and an experienced colonial administrator in Angola where he was to be appointed High Commissioner before the post was terminated by Salazar in 1930. Melo Cabral was one of those who were undoubtedly abreast of the autonomist trends in Africa.

Page 295: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[293]

JOSÉ BRUNO CARREIRO, ADMIRAL DUNN, AND PRESIDENT WILSON: THE TRIANGLE THAT NEVER EXISTED?

With the creation of the positions of High Commissioner of the Republic in 1920, a direct result of English influence exerted during the Paris Peace Conference and conversations between Afonso Costa and Lord Milner in the spring of 191962; and later with the assignment of Norton de Matos to Angola and Brito Camacho to Mozambique, a number of autonomist and de-centralizing movements started gaining momentum in those African territories. Some were carried out with the support of the high commissioners, while others were waged against them.

As was mentioned, the position of High Commissioner to the Azores in 1918 can be construed as the precursor of the political/administrative post that would later be created for Portugal’s overseas territories. But the event that had the great-est impact on the mood regarding colonial-or non-autonomous-territories was, without a doubt, the new, international public law brought to bear by the Covenant of the League of Nations.

In effect, article 22 of the Covenant heralded a new order of priorities for the administration of such territories with the introduction of the mandate, a new international concept based on the consent of the populations and aimed at preparing them for independence. It was the American philosophy of the time and it forced Portugal to adapt to the new era.

The period from the end of the war to Portugal’s publication of the Colonial Act in 1930 was one of lively, widespread debates on the best way to govern the territories; and they were still held in an atmosphere of relatively free speech.

Thus, in Angola, a host of autonomist and emancipationist movements would percolate with activity immediately after World War I. In 1918, protests were waged by colonists who blocked roads, destroyed bridges, and threatened revolt. A strike spearheaded by Angolan workers took a heavy toll on the econ-

62 See José Medeiros Ferreira, Portugal na Conferencia de Paz, op. cit., pp. 30-32.

Page 296: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[294]

JOSÉ MEDEIROS FERREIRA

omy in 1920. That same year, the Pro-Angola Party emerged, and 1926 heralded the arrival of the União dos Defensores de Angola (Union of Defenders of Angola), both of which were emancipationist movements.

For these movements of European colonists, the solution would be to apply the British model of self-government, as was being defended in the Azores: “The crisis in Angola had sparked a resurgence of the autonomist movement among a segment of Angolan colonists […] The solution would be to apply Britain’s model of self-government… Thus, the more radical of the colo-nists organized themselves into autonomist parties and political movements, namely the Pro-Angola Party and the Union of Defenders of Angola.” In its Manifesto, the Pro-Angola Party asserted: “seeing as the administrative and financial autonomy, granted in accordance with established provisions in force, no longer fulfills the legitimate aspirations of Angola […] defends and strives for the establishment of an autonomy patterned after the British system of self-government […] It demands for Angola the right to possess a private Constitution, within the generic principles of the Constitution of the Portuguese Republic, which will safeguard and guarantee the sovereign rights of Portugal and grant the colony the right to see to its own self-govern-ment63.

In Mozambique proposals for autonomy and de-centralization and even regionalist propositions would be tendered. In this same colony, former High Commissioner Brito Camacho (1921-1924), wounded by the harshness of the autonomist movement waged against him by the colonists, would write in 1924: “The main obligation of a colonial power with regard to its colonies is to prepare them for their emancipation. A colony that does not strive for emancipation is a land enslaved […] the natural outcome of a colony’s evolution, sooner or later, in accordance with the circumstances, is its emancipation…”64

63 See Fernando Tavares Pimenta,

Brancos de Angola – Autonomismo e

Nacionalismo (1900-1961)

(Coimbra: Minerva, 2005),

pp. 100-101.

64 Brito Camacho, Política Colonial

(Lisbon: Ed. Cosmos, 1936), p. 11.

Page 297: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[295]

JOSÉ BRUNO CARREIRO, ADMIRAL DUNN, AND PRESIDENT WILSON: THE TRIANGLE THAT NEVER EXISTED?

During the same era, a number of regionalist and colonial congresses would be staged in Portugal. Among these were the Colonial Congress of 1924, the Colonial Congress of 1930, the colonial exhibition in Oporto in 1934, the Portuguese World Exhibition in 1940 and the Azorean Congress held in Lisbon in 1938 on the initiative of the Casa dos Açores.

Political developments in on the mainland would eventually wither the nascent, fragile aspirations of the period immediately after the World War I. The coup d’etat of May 28, 1926 and, above all, the rise of Salazar within a context of dictatorship as of 1928, would seal the fate of the emancipationist movements. What remained to be seen was if regionalist propositions would flourish as a result.

Conclusion

After World War I, José Bruno Carreiro was to drift between autonomy and regionalism. The national and international precepts underpinning his activities from 1918 through 1919 – namely American support and trends favoring self-government for Portugal’s overseas territories – had failed.

There were certainly specific differences between the auton-omist movement and the regionalist movement, though the two did intertwine and converge in their aim to change party-related aspects of the Parliamentary Republic.

As one scholar observed: “Regionalism, Azorean identity, and autonomist demands generally trod the same route during the stormy days of protest against the First Republic’s policies.”65

However, while the autonomist movement would suffer greatly under the dictatorship, the surviving regionalist move-ment would end up accommodating itself to the cultural space defined by the political developments of the Salazar era.

65 Carlos Cordeiro, “Regionalismo e Identidade Açoriana – O debate dos anos 20,” in Suplemento Açoriano de Cultura, March 9, 1995 issue of the Correio dos Açores.

Page 298: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[296]

JOSÉ MEDEIROS FERREIRA

The autonomy movement fought for self-government and for political decentralization, by criticizing, with growing harsh-ness, Portugal’s parliamentary republic and the instability it exhibited in the end. Regionalism, on the other hand, was to witness military, national and Salazarist dictatorship safely ensconced in its own peculiarities, which were more cultural than political.

All of these events were to influence the autonomist and regionalist movement that took hold in the archipelago, primar-ily in São Miguel. The culmination would be the Azorean Congress held in Lisbon past the movement’s heyday in 1938.

The fall of the parliamentary republic marked a change in the political picture and a change of language. Goals would be changed to suit the situation. After all, potential international support had already vanished in the period between the two World Wars.

Sources and Bibliography

Sources

AD-MAE, Conférence de la Paix. Série A, Paix, Travaux Préparatoires de la Conférence, 299, Politique des Petites Nations Alliées, note from the Direction des Affaires Politiques et Commerciales, (doc. 78).

Correio dos Açores, October 11, 1925.Correio dos Açores, February 12, 1933.Newspaper Século, January 5, 1919.Newspaper A Persuasão, 1898.

Bibliography

CAMACHO, Brito, Política Colonial (Lisbon: Ed. Cosmos, 1936).CARREIRO, J. Bruno, A Autonomia Administrativa dos Distritos das Ilhas

Page 299: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[297]

JOSÉ BRUNO CARREIRO, ADMIRAL DUNN, AND PRESIDENT WILSON: THE TRIANGLE THAT NEVER EXISTED?

Adjacentes (Ponta Delgada, 1952).CORDEIRO, Carlos, “Regionalismo e Identidade Açoriana – O debate dos

anos 20”, in Suplemento Açoriano de Cultura, ed. Correio dos Açores, March 9, 1995.

Diário dos Açores, April 4, 1898, quoted by Nélia Leitão in Reflexos da Guerra Hispano-Americana em Portugal, paper presented for the course Diplo-macia e as Relações Euro-Atlânticas, oriented by José Medeiros Ferreira, Master’s Degree Program in International Relations, Azores University, 2007.

DOTY, William F., Esboço Histórico do Consulado Americano nos Açores (Horta: Núcleo Cultural, 2006).

FERREIRA, José Medeiros, Cinco Regimes na Política Internacional (Lisboa: Ed. Presença, 2006).

___, “A Importância do porto de Ponta Delgada, na I Guerra Mundial”, in Açoriano Oriental, Suplemento, 500 Anos do Conselho de Ponta Delgada, July 19, 1999.

___, “Os Açores nas duas guerras mundiais”, in Boletim do I. H. da Ilha Terceira, vol. XLV – 1987 (Angra do Heroísmo, 1988).

___, “O Mar dos Açores nas duas guerras mundiais”, in Revista de História e Teoria das Ideias, Vol. XI (2.ª Série) (Lisbon: UNL, 1999).

KENNAN, Georges, American Diplomacy (Chicago: The University of Chicago Press, 1984).

MAURÍCIO, Miguel, A Base Naval em Ponta Delgada em 1917, presented at the seminar Diplomacia e Política Externa Euro-Atlântica, oriented by José Medeiros Ferreira, Master’s Degree Program in International Rela-tions, Azores University, 2007.

MESQUITA, Mário, “A Escala de Roosevelt nos Açores Durante a Primeira Guerra Mundial”, in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, volume XLIV, 1986.

MENEZES, Luís, As Eleições Legislativas de 1921 e 1925 no Arquipélago dos Açores (s.l.: SREC, 1992).

PIMENTA, Fernando Tavares, Brancos de Angola – Autonomismo e Naciona-lismo (1900-1961) (Coimbra: Minerva, 2005).

TELO, A. José, Os Açores e o Controlo do Atlântico (Lisbon: Ed. Asa, 1993).

Page 300: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais
Page 301: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[299]

THE CONTROVERSY ON THE FUTURE OF THE AZORES IN 1918 AND 1919

Álvaro Monjardino

Backgroud

Constitutionalism was introduced in Portugal in 1832 and brought political and administrative solutions that had originated in the French Revolution, though they were based on Napole-onic schemes. All this fell on the Azores, which were totally unprepared due to lack of proper socioeconomic development. The change, for this was what it was, resulted in a social turn-around. Some of the better-managed fortunes survived the collapse of the old, landed nobility, while there was a relative urban trade boom not unassociated with people from outside the Azores and even abroad living and working in the archi-pelago. The new regime, however, neglected to provide appro-priate political organization for the islands, which were implicitly considered part of the Portuguese mainland and found themselves grouped into three districts answering directly to Lisbon. A result of the ill will against the centralism of the old Capitania-Geral, the change came with a touch of perversity, as it only moved from Angra to Lisbon. In the name of the free-dom that it advocated and actually brought, the new regime shunned the former economic protectionisms, while this same freedom, which was also freedom of thought and expression, opened the door to easy criticism. The exploration of this path would eventually reach a point of virtual national rejection in the Azores, which, having initially reacted to Iberism in the mid-20th century, also and above all expressed the desire for

Page 302: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[300]

ÁLVARO MONJARDINO

anything but subjection to a Portugal that was disorganized and unprogressive.

The subject, which had been unheard of in public speculation until then, could not actually be called new. Back in 1653, the possibility of the Azores splitting from the kingdom had been raised, albeit rather obliquely66 and a century later, António Cordeiro, arguing against a possible governor-general in the archipelago, had even suggested that he “might one day try to rise up with these islands under the protection of some foreign nation, that would make him its vassal king, and esteem him and easily defend him and it would be difficult for Portugal to win them back.”67 That was how the risk of separation was first brandished as an argument for any idea of autonomy, curiously not by Azoreans but by an outsider, who might feel the temptation to fall for it… But it was brandished very carefully.68 It took the liberal revolution to end all this cere-mony and caution. These were indeed different times. In the New World, the emancipation of the United States, after it rebelled against king and parliament, had spread to other American colonies. Haiti gained independence in 1804, Argentina in 1808, Mexico in 1810, Chile in 1818, Colombia in 1819, Peru in 1820, Vene-zuela, Ecuador and the Central American repub-lics in 1821 and, finally, Brazil in 1822.69 But there was more. In 1813 the History of the Azores or Western Islands, was published in London. It was a small book that, especially because of the reasons it propounded, served as a compendium

66 The answer given King

João IV at the 1653 Parliament

by the procurator of Angra City

Council was sibylline but

symptomatic with regard to the

king’s wish to appoint a

governor-general for the

archipelago. The king argued that

the Azores without a governor would

be a “serpent with as many heads as

their islands.” The procurator replied, “If you cut off the

others and leave just one, the

serpent that was born and raised

with many heads will either die or

change its life. The islands have been so loyal to

the Crown of Portugal, who

knows what would become of them if

they had been governed in any

other way? (Antº Cordeiro, Historia Insulana das Ilhas

a Portugal Sujeytas no Hemisfério

Occidental, p. 294 (§ 137).

67 Antº Cordeiro, op. cit., L IX,

Ch XVI, § 96, p. 513.

68 In fact, in his “political

protestation,” Cordeiro was

careful to point out, “When some parts of this book

represent to our most serene king

and seigneur some other form of

political or military

government of land and sea, it is

only a humble suggestion that

the sovereign princes like to

hear from their vassals, who must

always be ready to hear and accept

the laws of their sovereigns” (Ibid.,

p. iij).

69 Bolivia declared independence in 1825. Cuba only

rebelled much later (1868)

beginning a long insurrection that involved Puerto

Rico and only ended with the

United States military

occupation in 1898, followed by

independence only on May 20

1902. The United States kept Puerto

Rico, first as a colony and then

as a “free associate state.”

Page 303: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[301]

THE CONTROVERSY ON THE FUTURE OF THE AZORES IN 1918 AND 1919

of all the Azorean discontent of more than a century. Its author, a Royal Navy grenadier captain, said that he was writing for the British crown, which was interested in Atlantic bases for trade conquests in the new South American countries. The book caused negative reactions in the Azores.70 However, Corographia Açorica by João Soares de Albergaria e Sousa espoused, as did many after him, most of the arguments expounded there. He did it with a nuance, however, as the emancipationist position of Corographia, although taking premises from the book, did not reach exactly the same conclusion. It did insist on the need to separate the Azores “from the mainland pride and scorn so that they can become free and independent” and safe with the “protective shield of a powerful nation.”71 Except that the protector in question was Anglo-Saxon America and not Britain, some-thing from the New World and not the Old…

Rejection of a disorganized, mediocre Portugal would, to some extent, accompany the thinking class in the Azores throughout the 19th century, reflecting a distance from the state (the Crown, at the time) that still did not correspond to a “new sense of state” restricted to the archipelago. It was separatism that, expressing rejection of a nation in permanent crisis, was inclined to change masters rather than achieve full political independence.72

The temptation posed by America was not new, in fact. Practically contemporary with the settlement of the New World, it gained impetus with the successive independences that reduced Europe to a residual political presence. This new impetus also fuelled illusions about the Azores and their resources. “The States of the Azores,” wrote Albergaria e Sousa, “comprise the nine islands of America,” and so on, boasting the

publicadas: ou a impostura do capitão T. A. desmascarada, in Arquivo dos Açores, IX, 484 et seq.

71 Corographia… cit., 27, 38 and 38 refers expressly to History of the Azores, identifying its author as Thomas Adson.

72 Cf. A Emancipação dos Açores by Francisco José da Silva Jr. (1871). The movement was even echoed by Eça de Queirós, “…the restless Azores are beginning to say that it would not be a bad idea to try the United States! The country is perplexed and, to flatter the Azores, sends them more justices” (Uma Campanha Alegre, XVIII, July 1871). In 1892, António Ávila Gomes (from Pico, father of Amaro Azevedo Gomes, who was the Republic’s first Minister of the Navy) published a separatist article in Angra, A independência dos Açores e o seu fundamento.

70 João Augusto Cabral de Melo, Response by the inhabitants of Terceira to grenadier captain T. A. and his History of the Azores: published by J. G. Reis Leite, with an introduction in 1.º Simpósio Interdisciplinar de Estudos Portugueses – Actas, vol. II, 289 and Dimensões da Alteridade nas Culturas de Língua Portuguesa – O Outro, F. Borges da Silva, Extracto da História das ilhas dos Açores, impressa em Londres, em 1813, e refutação das falsidades ali

Page 304: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[302]

ÁLVARO MONJARDINO

enormity of the land, “over 600 square leagues,” more than any province in Portugal, and the size of the local cities – Angra “larger than Bern, the capital of Switzerland and stronger than Santa Cruz de Tenerife,” Ponta Delgada “greater than Geneva,” and even Horta “bigger than Ragusa” (Dubrovnik) that Alber-garia thought was still the centre of an independent republic as it once had been73. It was only in the second half of the 19th century that the initial attraction, the diffuse principle that later focused mainly on Brazil, was fixed on the centripetal force of the United States, that was gradually making its name as a major power in the west. It was the land of plenty, the country of the Dabney family, who ruled Faial and had received Emperor Pedro in their home, who imported maize in their ships when there was famine and even knew how to make money from the sea…

Perhaps because of this, the attraction of the United States began in Faial,74 with some echoes in São Miguel, where the consul, Thomas Hick-ling, enjoyed considerable social prestige.

In June 1869 there were disturbances in Ribeira Grande because of the economic crisis in the Azores. There were echoes in London and the Daily Mail mentioned them. The Horta press wrote that the cause of all this was “the people’s sadness at the way they have been treated by governments. The minister of the treasury is unaware that abundant resources have been taken from the Azores for improvements in the main-land, that national assets have been sold and the product, which should have been used in our ports, has been used for the Portuguese railroads (…). The ruin of important, hard-working popu-lations like the island dwellers will have an impact on Portugal, the loss of the Azores. (…) The

73 Corographia… cit., pp. 8, 9, 61,

87, 113.

74 In 1869, the civil governor of

the Horta District, António Vieira Santa Rita, wrote in a report

to the Minister of the Realm, which was published in

O Faialense on January 11 1869,

“In the Azores, and particularly

the four islands in the Horta

District, there is a regrettable, unpleasant

indifference to the fate of Portugal.

Generally, opinions are

unconcerned and discontent and it

is common to hear that these

islands are only Portuguese so that

authority can come to them

from the capital and surplus public income can go to Lisbon. While we

note this cold attitude to the

motherland, the contact that the people have had with the United

States of America as a result of our emigration there

and the considerable

number of men who work on the

whalers of that great country and others, has slowly brought the belief

that the Azores would be happier if they became a

state of the union.”

O Atlântico, also from Faial, wrote

on February 3 1870, “The

dependence of even the most

insignificant transactions on

the mainland today and the administrative

centralization that Lisbon maintains with unchanging resolve lead us to

believe that we are a conquered

country and under despotic rule.”

Page 305: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[303]

THE CONTROVERSY ON THE FUTURE OF THE AZORES IN 1918 AND 1919

island people are not blind and sooner or later will demand their rights.”75

Meanwhile, after the war of secession ended in 1865, the United States opened its doors to immigration from Europe76. And it would soon assert its power in the name of the Monroe Doctrine, to intervene in favor of the Cuban rebellion against Spanish rule. In a study of Alice Moderno,77 Maria da Conceição Vilhena transcribes two letters from Francisco Sellen, with whom Moderno corresponded, showing the sympathy with which people in the Azores accompanied the Cuban revolt in the late 19th century and compared it to the fight for independence in the archipelago.78 One of them said in 1895, “No he recibido los folletos que ofreció a Ud. el Dr. Alverne de Sequeira. Se los agradecería infinitamente, pues podrán ser muy útiles à los autonomistas cubanos, qué son amigos míos, à quienes deseo servir, aunque soy más radical que ellos en mis ideas, puesto deseo para mi patria la independencia absoluta. (…) Desde hace 7 meses hay en mi patria, Cuba, una insurrección contra el Gobierno español. Los patriotas cubanos luchan por la inde-pendencia absoluta. No queremos tener unida nuestra suerte à la de una nación tan retrógrada y atrasada como España (…).” The romantic liberalism of Alice Moderno, married to the reli-gion of progress, was thrilled by the Cuban emancipation and even, it seems, survived it. As late as 1914 she said in a speech that Conceição Vilhena also recorded, “While it was the schoolmaster that won in Sédan, it was, no doubt, the strictly imposed mandatory nature of education in the United States that forced traditionalist, fanatic Spain to bow down in Cuba before the victorious stars on the flag of the great American republic.” Moderno’s sympathies were such that, in 1918, she published a poem in sympathy for former

homeless, tempest-tossed, to me… (from a poem by Emma Lazarus transcribed on the foot of the Statue of Liberty in New York).

77 This study is not included in the 1986 biography of Alice Moderno. It is from another, unpublished work by M. C. Vilhena that I read in 1991. I don’t know if it was ever published.

78 In 1895, following the pro-autonomy campaign spearheaded by Aristides da Mota and Gil Mont’Alverne, the decree of March 2 had opened up the possibility of administrative autonomy for any Azorean districts requesting it. Six years later, a royal visit to the Azores was supported in a law of June 12, which confirmed (with some restrictions) a possibility of autonomy and extended them to the Madeira archipelago.

75 O Atlântico, June 24, 1869.

76 “… give me your tired, your poor / Your huddled masses yearning to breathe free / The wretched refuse of your teeming shore. / Send these, the

Page 306: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[304]

ÁLVARO MONJARDINO

president Theodore Roosevelt on the death of his daughter.79 In this Azorean attention to Latin America, the United States seemed to be the great paladin of liberated colonies. This had been the case of Juarez’s Mexico in 1863 and clearly to its own benefit, of its action in the war against Spain, which left them in the hands of Cuba and Puerto Rico80 in the Caribbean. In the Azores it seemed more and more that the light was coming… from the west.

At the same time, on the Portuguese side, few benefits had come from the decree of March 3 1895 giving the Azorean districts a degree of autonomy. The collapse of the monarchy in 1910 did not result in any institutional changes in the gover-nance of the Azores and the general state of the country quickly led the autonomist leaders to regard the Republic as a source of disgrace and a bunch of incompetents, if not fanatics, in spite of the fact that there were Azoreans in high political posi-tions, especially at the beginning of the new regime.81

The episodes in the Azores in World War I simply brought together and exacerbated these two types of antecedents and their consequences in terms of separatism.

1917

Portugal had entered the world war in March 1916. In June 1917, the United States, which had declared war on Germany in April, began to install a coal deposit to supply its navy in Ponta Delgada.82 On July 4, a German submarine appeared offshore and opened fire on the city in an attack to which the Portuguese artillery was barely able to respond. It was the Orion, an American ship that had brought the first consign-

79 Diário dos Açores, July 31.

80 The United States kept Puerto

Rico, first as a colony and then

as a “free associate state.” On March

3, 1917, President Wilson signed the Jones Act granting

the island’s inhabitants

American citizenship by

decision of Congress. The

entry of the United States into World War I was

no coincidence. The following

May, mandatory military service for Puerto Ricans was established and as

many as 20,000 men were

mobilized.

81 Teófilo Braga and Amaro de

Azevedo Gomes in the provisional

government, Manuel de Arriaga

(and later also Teófilo) as

President of Portugal, Sousa

Júnior in the recently created

Ministry of Education…

82 The installation of this base had been authorized

by the British

government and it was only late in

the year, November 8, that

the Portuguese government

officially approved it. The process is clearly described by António José

Telo in Os Açores e o Controlo do

Atlântico (Lisboa: Asa, 1993),

pp. 122 to 131.

Page 307: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[305]

THE CONTROVERSY ON THE FUTURE OF THE AZORES IN 1918 AND 1919

ment of coal and was in dry dock with its stern in the air that repelled the submarine with a rapid-fire gun that it had on board.83 The episode, which resulted in a reinforcement of the US garrison in Ponta Delgada that same month, inspired great admiration for the United States forces there and they were regarded as the only guarantee against any foreign attack. The General Council immediately passed a vote of praise for them and Ponta Delgada City Council started a collection to buy a gift for the commander of the Orion.84 Only a month later, local cigarettes of the brand Orion, the name of its savior, were being sold in Ponta Delgada.85

The local press was no less eloquent in denouncing the inse-curity and neglect that the population felt from the Portuguese administration. These feelings were expressed that month in several numbers of Diário dos Açores. On the 7th, it criticized the mere existence of slow-firing guns and suggested that, for the island’s defense, Portugal come to some kind of an agree-ment with… the United States. On the 10th it reported a protest sent by telegraph to Lisbon by Ponta Delgada parliamentarians: “population surprised regretful abandon defense necessary.” On the 13th, under the headline “What to do?” the paper railed against the government’s indifference. On the 14th, it reported that Ponta Delgada City Council had protested to the Civil Government against the official inertia. On the same day, the paper published “The Defense of the Island” by Aires Jácome Correia, saying that they could not depend on foreign ships and should start a collection to buy modern artillery pieces. On the 19th, it reported that Ponta Delgada City Council had drawn attention to the vulnerability of the gunpowder store, which placed the public at risk. On the 20th, an article entitled “Urgent” once again called for defense measures. However, at the same time, the press also described official discomfort in the face of all this criticism. A demonstration in appreciation of the US

83 Diário dos Açores, July 4 mentions 8 shots from the submarine, 4 from the Mãe de Deus battery and 15 from the Orion.

84 Diário dos Açores, July 5 and 6.

85 Ad in Diário dos Açores, August 21.

Page 308: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[306]

ÁLVARO MONJARDINO

forces was cancelled due to pressure from the local authorities. There was an immediate reaction from the Diário dos Açores of July 9. “…The worst of it is that, from what we said, the demon-stration was going to make a protest before foreigners against the negligence of which everyone is making accusations…” In the next few days, Ponta Delgada City Council adopted a number of positions against the government’s inertia and they were reported in Diário dos Açores on July 10, 11, 13, 14, 17, 19 and 20. An article by Jacinto Eduardo Pacheco on “The global conflagration” published in the paper on July 27 had a whole blank column after the censors had finished with it. The general feeling of unrest was the cause of a set-to between locals and American sailors, which was curiously broken up by a cannon shot from the Orion, as if sounding the retreat…86 On August 7, the paper announced that the civil governor, António Rodrigues Salgado, was going to resign.

1918

As of January 1918, the US naval base in Ponta Delgada, which had now been restructured and finally authorized by the Portu-guese government, came under the command of Rear Admiral Herbert Omar Dunn. His arrival was an important event and the local press reported an interview that he gave.87 Dunn imme-diately sensed the negative feelings about the capacity of the Portuguese armed forces and the apparent good will towards the US presence, of which he probably been forewarned and that did not come only from shots fired by the Orion, the traf-fic brought to the port or the mere existence of a garrison. It came from their resources and efficacy with which they asserted their presence and the fact that they distributed food to the population and provided other services. In March they even

86 Diário dos Açores, August 1.

87 Diário dos Açores,

February 18.

Page 309: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[307]

THE CONTROVERSY ON THE FUTURE OF THE AZORES IN 1918 AND 1919

transported Portuguese police officers who had been called to deal with some robberies in São Miguel.88 In April, the admiral was asked publicly to have American ships bring mail from the United States. During the year, other actions were taken to the benefit of the population, such as the transport of fuel and even medicines during the flu outbreak. The following year, even Ponta Delgada City Council asked them to transport electricity meters.89 This poem in praise of “Admiral Dunn and his valu-able troops” is symptomatic of their gratitude for all this largesse. “The people of São Miguel, the people of the Azores/ applaud your gesture, your boundless kindness! / You are a noble race, oh American people! / You understand human suffering! / In your foreign strength and colossal wealth / you do not forget the road of duty / our heartfelt Portuguese gratitude / to you will be eternal, for ever shall it live!”90 On the American holiday, the 4th of July that year, moreover the first anniversary of the attack by the German submarine, this praise was once again echoed in the press. Even Portuguese civil servants were given the day off…91

The commander of the US base lived in Thomas Hickling’s old house, which is now the main building of the Hotel de São Pedro. In its number of June 23 the following year, with the war over and the base being decommissioned, Ilustração Portu-gueza, a Lisbon publication, showed a photo of the house and called it the “American admiralty palace,” which was exactly what it was called in São Miguel. In fact, there is no such thing as an admiralty in the United States or in Portugal and it wasn’t even the admiral’s house. But Ilustração and others called it the admiralty, like in Britain. The house was thus promoted to a palace. Such was the fascination with this foreign presence that it was also reflected in the Lisbon press.

This appreciation of the American presence only reinforced the tendency to question Portugal’s dominion of the Azores. In

88António José Telo, Os Açores e o Controlo do Atlântico, p. 142.

89 Cf. Diário dos Açores, April 22, on the carriage of mail and November 9 on services provided thanks to Admiral Dunn during the epidemic. Even the news of the 1919 monarchist uprising came in a US tugboat… Diário dos Açores, March 24, 1919, says that Ponta Delgada City Council asked the admiral to carry water meters.

90 Diário dos Açores, April 18, 1918.

91 Diário dos Açores, July 4, 1918. On April 14 of the following year, after the admiral had gone, at the end of his commission, a plaque bearing his name was unveiled in the square near the US command house.

Page 310: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[308]

ÁLVARO MONJARDINO

1918 there were few references to this feeling of rejection and they are only indirect. But it existed and Admiral Dunn did a lot to stir it up, no doubt believing that he was serving his country’s strategic interests after the war, even though it went against American diplomacy, or at least the official version.92

Separatist feelings were aired openly in the immigrant press in the United States, with explicit opinions and a vehemence that was never expressed in São Miguel, at least not in public. But the issue was discussed in the conversations and covert meetings of the local elites. A sign that the American admiral must have taken the tendency seriously was his effort after the war to prevent the decommissioning of the navy base.

More than forty years later at a meeting on June 10 1959 between members of the Casa dos Açores do Rio de Janeiro and Osvaldo Aranha, the former Brazilian chancellor, Aranha said that President Roosevelt had told him that, during the 1914/1918 war when Portugal had allowed the Americans to set up a navy base in São Miguel, he, Roosevelt, then Assistant Secretary of the Navy had stopped off there and had been asked to give an interview by a prominent local political figure. He had wanted to refuse but the admiral in command on the island had persuaded him to do the interview. In it, the Azorean politician had told him that the Azoreans felt that they had been totally abandoned by the central government, which only overburdened the people with taxes without understanding their needs. They wanted to separate from Portugal and become a new state in the American union. Roosevelt refused the offer and said that Portugal was a good friend of America and that he was not interested.93

Who was this prominent figure from local politics received by Franklin D. Roosevelt when he was in Ponta Delgada in July 1918? Were these his exact words to the Assistant Secretary of the Navy and were those the intentions? We can’t be sure, but

92 Diário dos Açores of April 16

reported a banquet at the Ponta Delgada

Civil Government during which the

United States Consul said in a

toast that America had no “hidden designs” on the

Azores. The Americans at the

banquet were greeted in English

by José Bruno Tavares Carreiro,

Civil Government secretary-general.

93 Testimony from Marino Pamplona

Corte-Real in a letter published in

Boletim do Instituto Histórico

da Ilha Terceira, XVIV (1986),

pp. 505-507. See also Douglas L.

Wheeler, The Azores and the

United States: 200 years of shared

history, in Boletim cit., XLV, tome I, pp. 58-59, with a

quotation from another indirect

report (from Ambassadro

Herbert C. Pell) on the meeting

with Roosevelt in Ponta Delgada.

Mário Mesquita, in A Escala de

Roosevelt nos Açores durante a Primeira Guerra

Page 311: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[309]

THE CONTROVERSY ON THE FUTURE OF THE AZORES IN 1918 AND 1919

it is entirely plausible that it could have been José Bruno Tava-res Carreiro, who was so close to Admiral Dunn94 that he accom-panied him on his trip to London and Paris in November 1918.95 What for? According to the news report in the New Bedford Alvorada on December 2 1918 repeated in the O Imparcial in Sacramento, California on January 9 1919, “This question (Azorean independence) is back on the table in a dispatch from Ponta Delgada saying that the admiral of the naval base in São Miguel had left Ponta Delgada in the company of José Bruno Carreiro for France, where they were going to attend the peace conference and lobby for the independence of the Azores so that the archi-pelago could become a United States protector-ate, i.e. an independence like that granted to the republic of Cuba, which is under United States protection.”96

This was clearly pie in the sky… The admiral had not gone to attend the peace conference, as the war had only ended on the 11th of that month, but merely to meet Admiral William S. Sims, commander of the US Navy in Europe, to whom (and this is accurate and has been docu-mented97) he advocated keeping on the base in Ponta Delgada. He did not succeed, because, as we have mentioned, the United States had a different strategic vision.98 It was already well known in Washington that Portugal would be satisfied with less and it would not cost so much… But these nuances carried no weight and perhaps were not even known in São Miguel. The fact is that when Admiral Dunn and José Bruno returned to Ponta Delgada on 10 January 1919 they received a hero’s welcome.99

March 16, 1919, mentioned below.

97 A. J. Telo, Os Açores… cit., pp. 154-156.

98 Diário dos Açores of November 28 mentions “an interesting article” on the book by Alberto Azevedo Vida Americana and says that “a highly placed politician” had said in an interview that the United States would never help separatist ambitions, even if it were asked by the inhabitants of those lands.

99 A. J. Telo, Os Açores… cit., p. 155 and Diário dos Açores of January 1919: preparation of the demonstration, bands on the dock, arrival of the admiral and José Bruno with 8,000 people waiting. The admiral had been honored with a dinner in Lisbon and decorated with the Order of Avis (January 10) and thanks from him to the population (13th).

Mundial (cit. Boletim, XLIV, pp. 37-67) does not mention this episode.

94 Diário dos Açores, July 19, 1918, in addition to reporting F. D. Roosevelt’s visit also refers to the American admiralty and praise of José Bruno by Admiral Dunn.

95 Diário dos Açores of November 25 said that Admiral Dunn had left the day before on a month-long journey taking José Bruno with him as a guest.

96 Transcribed by Luís da Silva Ribeiro in his lecture Os Açores de Portugal in Angra on

Page 312: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[310]

ÁLVARO MONJARDINO

Meanwhile, on 20 December, the New Bedford weekly O Popular also talked about the future independence of the Azores, but warned “being a small state in need of protection, it needs to live in accordance with a strong nation. This nation is, for all reasons, clearly America. In exchange for the protec-tion and assistance that America gives to the Azores, she will have the right to set up the necessary military establishments for her own defense and also necessary for maintaining a lasting peace, in line with the plans of the nations currently meeting in a conference.” Soon after, on the 27th, it added, “The only way will be to call the Azorean people back from America imme-diately and telegraph the President and other representatives of America on behalf of all that great number, expressing the desire of all Azoreans for independence and American protection, asking them to advocate this issue that is so important to our archipelago at the peace conference.” On December 29, the New Bedford Sunday Standard mentioned the independence of the Azores: “In fact there is a campaign to make it effective all over the country (…) In all, there are around 250,000 Azoreans in the United States, almost as many as there are living in the Azores in the Atlantic Ocean. The purpose of this campaign is to create among these people solidarity of feelings as an impe-tus to the propaganda in the islands to achieve independence for the archipelago.”100

The separatist dynamics had been launched in the press. However, the so-called “controversy on the fate of the Azores” at the time only arose there the following year.

1919

On January 18, 1919, Açoriano Oriental transcribed, with obvi-ous cuts by the censors shown by large blank spaces, an article

100 Articles transcribed later

in the Portuguese press in

California, e.g. O Imparcial in

Sacramento.

Page 313: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[311]

THE CONTROVERSY ON THE FUTURE OF THE AZORES IN 1918 AND 1919

from the New Bedford Popular of December 20, saying “The Azores want to form a state.” Two days later, the Boston Post published an article entitled “The peace conference deciding the future of the Azores,” saying that it was from their corre-spondent in Ponta Delgada and claiming that “the appeal from the Azoreans to American authorities places the United States in a delicate position (…) If the islands continue to be Portu-guese territory, all that awaits them is poverty.”101

A week later, Açoriano Oriental published an article by José Rebelo entitled “For Portugal and the Azores – bitter truths,” countering the independent and railing against local complaints when, according to him, the blame for the backwardness and problems afflicting the islands was “from here.” The second part of the article was published on February 1, when the author wrote, “What we want is not to secede from Portugal; it is to proclaim our majority. We are entitled and we want their respect.”

It was, however, Luís da Silva Ribeiro, a staunch republican still connected to the Democratic Party, who stood out most in the incipient debate. His first public speech was at a lecture on March 16 at Associação de Classe dos Empregados de Comércio de Angra do Heroísmo, later published as a booklet entitled Os Açores de Portugal .102 The substance of the lecture was a serious, duly grounded though somewhat controversial explanation103 of his ideas on the situation. He propounded not only the history of the islands and its high points but also their culture and the interaction of Azoreans and other Portu-guese. He compared this picture with the foreign interest that, even though they appeared in favor of independence, would regard it only as a source of benefits, especially of a military nature. While recognizing the problems of Azorean society, he defended the need for appropriate laws and effective govern-ment, at the same time criticizing the “small administrative

101 Transcribed in the Angra do Heroísmo O Democrata, April 26.

102 Later reproduced in Luís S. Ribeiro – Obras – II, ed. Instituto Histórico da Ilha Terceira (1982), pp. 1 to 17.

103 …not unconnected to the bitter commentary and a process of intentions: the published report of the lecture wrote, even before Advertência, the first verses of the 105th strophe of canto I of Lusíadas on the emissaries of the king of Kilwa (“The message they bring is from friends / But the poison is hidden below…”), who were responsible for the trap from which Vasco da Gama thanks to Venus and her Nereids…

Page 314: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[312]

ÁLVARO MONJARDINO

autonomy” with hardly any effects other than “finding jobs for friends and protégés.”

He addressed the same subject in successive articles in Angra newspapers, “The dream of independence,”104 “An interesting article,” “Remedies for our ills”105 and the two-part “Causes of the idea of independence.”106 They were articles by someone who understood the causes of discontent with the Portuguese central government but refused to align with independence supporters, for one thing because of something of a cultural impossibility, stressing how the actual concept of independence was twisted and that it was not what even the most ardent separatists really wanted. What they seemed to want, in fact, was just a change of dependence, the kind of protectorate, in this case of the great American nation, like the last Spanish colonies in America.

Meanwhile, the trigger of the independence campaign was nearing an end, as the desired continuation of the American presence in Ponta Delgada never happened and had never ever been going to happen. On April 14 Herbert Omar Dunn left Ponta Delgada for good. The decommissioning of the American naval base, now commanded by Admiral R. H. Jackson, began in January that year and was completed in September. It was with the decommissioning and the troubled times and political tensions following the assassination of President Sidónio Pais in December, that the controversy or rather the reaction to the separatist fervor developed in the Azores.

The strongest positions began in Angra do Heroísmo, follow-ing that of Luís Ribeiro. The moderate newspaper A União, in a comment of April 16 on an article in a Lisbon paper, A Manhã entitled “The independence of the Azores,” said, “The separat-ist movement is being made by separatists, that’s true, but they live in America. In the Azores it is very likely that there are people who do not dislike the idea but they have not spoken

104 “Now and again, some

dreamers from these islands bring

up the idea of Azorean

independence, which usually find little support from

the public. This has been

happening for fifty years!” (…)

Indeed, if a “colony is large

and prosperous, if it has a sizeable population and

means to support itself, it will not

tolerate the domination of the

motherland and will separate,” but,

“if some of these conditions are

missing, the colony cannot

become an autonomous state

and if it does, it will always be a

weak, artificial product, sickly and vulnerable,

soon fated to perish,” and

“Only colonies that become

nations are able to become states” (O Democrata,

March 29, 1919).

105 O Democrata from April 12 to

19, 1919.

106 Folha da Tarde April 7 and 8,

1919.

Page 315: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[313]

THE CONTROVERSY ON THE FUTURE OF THE AZORES IN 1918 AND 1919

out in any way. In Ponta Delgada, a newspaper has been seized for having featured articles from America no doubt to give its readers news on this movement, without giving them approval.” On April 26, the same paper published a protest “against the attitude of a supposed envoy from the Democratic Party” (mentioned in Lisbon by A Manhã on the 19th) “extremely vexing for the Azoreans and particularly Terceira islanders.”

Meanwhile, at the same time as Dunn’s departure, there was a modulation in the Ponta Delgada press, clearly shown by a series of articles in Diário dos Açores, the first on April 24, then 25 and 26 and May 2, 6 and 8. These articles contained not exactly a condemnation of the independence movement, it was more of an surpassing, based on the same complaints about the central government but focusing increasingly on the idea of broad autonomy. On April 24 under the headline “The Auton-omy of the Azores,” it was written: “Let us not waste time talking about the independence of the Azores. Let us leave it to those who show it as a movement to attack the integrity of the Portuguese state, out of secret interests and surreptitiously in the shadows, in order to give the legal autonomy movement a bad name. Those who do this are either acting in bad faith or out of intellectual deficiency preventing them from distin-guishing between the goals of the two movements.”

On April 25, the Angra O Democrata reacted as follows. “In a hasty solution to such a serious problem (…) as full autonomy is now being aired among us seemingly in step with the separat-ist campaign insistently waged in the Azorean colony in free America, on going to press we see no sign that the legitimate, direct representatives of all classes of the Azorean people have been consulted on the secret that is going around or been allowed to express their opinions, because their plans are unknown and we have no idea of the intents with which Terceira (…) wishes to embark on the administrative reform requested by some

Page 316: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[314]

ÁLVARO MONJARDINO

Azoreans… and initiated outside in (…) S. Miguel. S. Miguel knows what it wants and we don’t even seem to know what to ask for.”

This reticence about the apparent change was apparently justi-fied, as Diário dos Açores continued, “Guaranteeing peoples (…) the right to decide for themselves, govern themselves, develop freely, freely expand their resources and energies, without shack-les or obstacles to their activities, this was how the League of Nations was born. (…) Portugal, on joining the League of Nations, adopted the principles of the President of the United States. We Azoreans are part of those one thousand two hundred men in whose name the League was founded (…) Because it belongs to the League, Britain has asked the Irish to agree on the political situation to be recognized (…) and United States will satisfy the vote of the Philippines (…) to set up an independent state. (…) Because Portugal belongs to the League, we Azoreans and Portu-guese, (…) loyally submit to the government of Portugal our aspirations of autonomy (…) a logical, destined product of the historic moment we are living in and a sincere, conscious expres-sion of the patriotism of a people that merely wishes to develop, progress and improve its present living conditions.”107

And the animosity continued. “What do they want?” asked O Democrata on May 3 in an article by José do Vale, in an acerbic commentary on the New Bedford O Popular. A week later, the O Democrata returned fire with “The future of the Azores,” denouncing as “German and Sidónio lovers” those who defended the “the emancipating ideal and full autonomy.” On May 17 O Democrata once again quoted O Popular from New Bedford,108 harking back to the seizure of “separatist flyers in Ponta Delgada by order of General Simas Machado, the high commissioner recently appointed by Sidónio Pais.

Meanwhile, according to A União of May 21, a committee had been set up in Angra to study a new administrative orga-

107 Transcribed by Folha da Tarde,

Angra, May 13.

108 …e as afirmações deste,

segundo as quais a independência era

tão “imparável como uma bala

depois de disparada e ainda

notícias vindas dos Açores e que

passaram inacessíveis à

censura mostram que a ideia da

independência está ali completamente

propagada.”

Page 317: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[315]

THE CONTROVERSY ON THE FUTURE OF THE AZORES IN 1918 AND 1919

nization for the archipelago.109 On May 24 O Democrata (going back to “The future of the Azores” with “The big problem – the doubtful denouement”) wrote, “São Miguel knows what it wants and we don’t even seem to know what to ask for.” It added, “With President Sidónio Pais they would be happy with auton-omy; after assassinating him, only independence. O Democrata also included the first of three articles entitled “Autonomy – considerations of an obscure man” written by F.A. who, saying he defended autonomy, recognized that “through lack of educa-tion or ancestral flaw, we have not yet given any proof of our capacity to govern ourselves.” These “Considerations” continued on May 31 and ended on June 21. On May 29, the first number of the Angra do Heroísmo A Pátria, under the headline “The Azorean question,” wrote “Ponta Delgada jumped for joy at the warlike feat of the Orion, generously feted the crew of the war vessel in drooling recognition, in other words, they convinced themselves of Americanism (…), but they had not a single word of criticism when they American fleet failed to go to the aid of the Augusto de Castilho, if only to save her survivors…” The following week, A Pátria accused Ponta Delgada of wanting “to thank the Americans with treachery: handing over the Azores to Wilson’s homeland in return for the Orion’s shots.

On June 7 an article in O Democrata entitled “New auton-omy – old autonomy” signed by Tio Braz claimed that “the separatist movement that appeared in São Miguel after the Orion shooting episode has been changed every day and its supporters have been reduced to a group classified by their press as an intellectual elite.” On June 14, the same weekly commented on a letter from “an Azorean” published O Popular in New Bedford. “See how the Azoreans are madly leading everything towards a foreign administration or protectorate!”

The agitation in the immigrant press in the United States which was immediately echoed, albeit cautiously in the form of

109 Integravam-na Amadeu Monjardino, Frederico Lopes, Henrique Braz, Jácome de Bruges, João de Barcelos, Luís Ribeiro, Tomé de Castro e o visconde da Agualva. Declarava-se apartidária, visava uma autonomia adequada mas demarcava-se da campanha autonomista a favor da independência dos Açores.

Page 318: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[316]

ÁLVARO MONJARDINO

transcription in the Ponta Delgada papers, moved to Terceira in March. It only appeared in Faial in July, in a series of articles in O Telégrafo under the general headline “Autonomy of the Azores, no thanks!” They were unsigned but apparently by the same author. They were all highly critical and initially based on the financial weakness of the Horta district.110 They then went on to reasons “of dignity”111 and eventually compared “independen-tism” to full autonomy like things of the same kind, meaning that they both should be shunned. On July 11, O Telégrafo quoted Luís Ribeiro’s talk in March anterior, comparing it with tran-scriptions of separatist articles in O Democrata of May 17. On July 15, O Telégrafo reiterated its criticism mentioned O Democrata of May 24, which reported the opinion of “A Terceira islander” who was a Sidónio supporter and said that the Azoreans were pining for independence. In response, O Telégrafo pointed out the risk of a coup, like the one that the Americans had triggered in Panama, because of their strategic interests there. They contin-ued on July 18 with the dignity argument. “The campaign for the autonomy of the Azores is highly suspect and consequently inopportune. It is closely linked to the campaign (…) for the independence of the Azores.” It said that Azoreans from São Miguel and Terceira and certain island newspapers, other than those in the Horta District, had begun a campaign for the inde-pendence of the Azores under United States protection, which had its origins in São Miguel and had continued in the Azorean press in the United States and American newspapers. According to the newspaper, this was not the responsibility of all Azoreans from these two districts, but of “creatures of more than dubious moral fiber and intellectuality who are so impressed by the dollar that they form a party with international connections. They are the Azorean Panamists.”

On July 23, O Telégrafo added that no-one knew or would say what full autonomy was exactly and that the concept was

110 O Telégrafo, July 9: “We do

want the autonomy of the Azores because it

goes against all our interests,

whatever aspects we consider. The Horta Distrct is

only interested in a government

absolutely independent from the other districts.

We refuse and repudiate any and all subordination that is not to the

central power (…) The only kind of

union that we accept between

this district and the government is

the present civil governor.”

111 O Telégrafo, July 10.

Page 319: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[317]

THE CONTROVERSY ON THE FUTURE OF THE AZORES IN 1918 AND 1919

still being studied. “A government and its seat in Ponta Delgada could really seek permanent causes to sustain permanent indis-positions with the motherland112 until one fine day half a dozen early risers went out into the streets of Ponta Delgada making a lot of noise while one of them read out a proclamation of independence on the balcony of City Hall supported by two American warships that opportunely appeared behind the dock…The New Bedford O Popular had worked it out with Ponta Delgada, without there being a government in this coun-try, that, with no-one willing to take up the penal codes, would give a lesson in experimental patriotism, reconciling the interests of the United States, Ponta Delgada and Portugal, renting to America for 99 years (…) the port of Ponta Delgada as a naval base in exchange for payment of our public debt.” Thus, if there was someone who forgot everything “to serve hidden interests, taking with him on his wave of mud inexpert creatures, dragged they knew not why,” there would be Horta to remind him. It concluded, “We do not want the autonomy of the Azores and so it will never come even if this peaceful, noble people of Faial had to be brought to revolution.”

On July 26 and 28, commenting on the announced visit by Frederico Lopes from Angra to campaign for the autonomy of the Azores, O Telégrafo criticized the planned bodies of the autonomous organization wrapped up with the “communion of district debts…” On July 31 it once again identified the autonomy campaign with that of the separatists, denying any credit to the autonomists’ declaration that they wished to continue to be Portuguese.

The series of critical articles in O Telégrafo ended on August 1. But there were still comments on August 4 and 5 signed (finally…) by Rosa Jr.113 on the fact that people in Horta had only addressed the problem of aspirations too autonomy when the press in Ponta Delgada and Angra do Heroísmo had already

112 Reference to O Popular, January 20, when it said that it was necessary to raise reasons other than the submarine attack to arouse interest in all the islands.

113 José Maria da Rosa Jr., attorney and army officer, probably the author of all the previous articles on the matter published in O Telégrafo and mentioned here, had also written a bitter commentary in the same paper on July 11 on the results of the peace conference (in which the separatists said they had hopes) recalling complaints by Afonso Costa against the Treaty of Versailles, which he considered “a legal monstrosity, a collection of injustices against small nations and the disgrace and ruin of Portugal.

Page 320: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[318]

ÁLVARO MONJARDINO

dealt with it, crticizing them both for debating it without consid-eration for what people thought in Faial saying that their common error was regarding autonomy solely from the point of view of its financial difficulties. “There is no other explana-tion for the total silence that they have both maintained as to what this famous full autonomy actually – when that was the most important thing to know.”

Meanwhile, in São Miguel on August 15 A República wrote114 that each district should take care of itself, adding that O Telé-grafo’s position was based on the financial straits of the Horta district and showed the unfeasibility of full autonomy integral, “an expression that appeared in Angra do Heroísmo and we are not sure exactly what it means.”

In the last three months of 1919 the controversy had died down. The separatist campaign, which had clearly begun among the São Miguel elite and was quite restrained in the newspapers, apparently thanks to the censors, had been compensate for by its rather exaggerated echoes among the immigrants in the United States, where no-one hid the fact that the idea came from Ponta Delgada. When it reached Terceira, the campaign met with its first opposition, though it eventually gained some support, not exactly for independence, but for full autonomy, which O Telégrafo denounced as the child of independence, while São Miguel A República claimed not even to know what it meant. Faial’s later reaction was opposed to both ideas, inde-pendence and autonomy. It said they were two sides of the same coin and complained that its district had been left out of the debate on the matter.

Behind the tensions, there was the clear ideological presence and party militancy of the national political forces, a progressive, democratic, republican line denouncing separatism and defend-ing the fact that the Azores belonged and were loyal to Portugal, with arguments ranging from historical and cultural to senti-

114 O Telégrafo, September 11.

Page 321: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[319]

THE CONTROVERSY ON THE FUTURE OF THE AZORES IN 1918 AND 1919

mental. There was also a conservative line, including monarchists and Sidónio supporters, which more or less sympathized with separatism (though not independence) and was therefore in favor of broad autonomy, as a reaction against the economic and social apathy and the political and administrative ineptitude of the Portuguese Republic. The party militancy stands out more in the pre-electoral periods, especially in the Angra district and the longer, more intense articles of O Democrata before the July elections, which were won by “reactionaries, Sidónio supporters, regionalists and those who called themselves repub-licans to achieve their ends,” as the paper commented bitterly afterwards. It is also clear that, in São Miguel, the campaign for independence was, or soon became a form of pressure aimed at a realer autonomy than that they already had.

In any case, with the debate now practically over in the Azores, on October 12 a group of Azoreans wrote a letter to the United States government requesting support for an Azores autonomy movement, “with or without a link to the United States.”115 The alternative appeared even here, as one of the possibilities was autonomy without a separation from Portugal.

Final Moments

Echoes of this agitation were obviously heard on the mainland, where A Capital denounced Azorean separatism, as did A Manhã, first with a local item entitled “The independence of the Azores” and then focusing on articles in the Portuguese-language press in New Bedford, as mentioned in O Democrata on May 17, 1919. On June 7, the same weekly published an article by Tristão Vaz from O Mundo entitled “Alert!,” in which he said, “Let it not be said that no-one knows, as even the American newspapers have said that the president of the Azorean Republic will be

115 A. J. Telo, op. cit., p. 159. The author omits the names of the letter’s signatories (which the State Department filed without following it up) saying they were only a few dozen and included important names in the islands’ economy at the time. A facsimile of the letter’s first page is shown. It is written in English and says it comes from Santa Cruz das Flores.

Page 322: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[320]

ÁLVARO MONJARDINO

José Bruno, secretary-general of the Ponta Delgada civil govern-ment and former civil chef de cabinet of General Simas Machado and, so we hear, a close friend of Admiral Dunn.” O Telégrafo of August 19 and 20, 1919 published an article from Diário de Notícias (“Azorean lands, Portuguese lands by law – says Mach-ado de Serpa”) in which the Horta senator distanced himself from separatism but explained it with the general negative feel-ing of islanders about the Portuguese government. On August 28, it published an article from O Século (“What the Azoreans want”) saying that all they wanted was broad autonomy bring-ing them better governance, thereby minimizing the attempt at separatism and stressing the patriotic pride of the people of the archipelago. On September 10, Diário dos Açores, under the headline “The independence of the Azores” said that the Lisbon press had also been covering the problem. On August 23 it published a letter from Silveira Moniz, protesting his loyalty to Portugal. A week later it published “A national question” from O Século, saying “Give the Azores what they need, as that is the only way to suffocate the desires for emancipation expressed in that part of Portuguese territory” and, recalling that at the time the Azores served only for political prisoners, it asked “If this does not change, what will happen? Because the Azores are sick and tired. They think it is too much and want to do for them-selves what others have never done for them. Who can say they are wrong?”

It was clear that Lisbon had sensed some danger, not only in the press, because a series of restrictive, censorial measures were taken by the São Miguel high commissioner.

And the memory of the danger lasted. When the movement had clearly progressed, or regressed to autonomy, President António José de Almeida scheduled a visit to the Azores, obvi-ously with a view to political pacification, on his way back from Brazil where he was going for the celebrations of the centenary

Page 323: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[321]

THE CONTROVERSY ON THE FUTURE OF THE AZORES IN 1918 AND 1919

of independence on September 7, 1922. It was only the vicis-situdes of his voyage, marked by unfortunate, humiliating setbacks,116 which in a way confirmed the poor reputation of the republican administration, that prevented the visit to the Azores from taking place.

Because the discontent continued and was even aggravated by the arrival in the Azores of more political deportees, which only served to accentuate the islands’ marginality, it was only after the May 28 movement that some national measures for the benefit of the archipelago began to appear following the creation of the Special Government Delegation and the decree of February 16 1928 that it achieved. As for presidential visits, there was only the one from President Carmona in the summer of 1941. And he went there because of another risk to Portu-guese sovereignty in the archipelago,117 which was threatened by an American invasion, once again due to “another war,” World War II…

However, it was obviously not presidential visits that would solve the Azoreans problems. Recalling Eça in Campanha Alegre, the Azores did not need more justices, what they needed (as was pointed out at the time) was something called development. That was the only way to give political credit to the country to which they had always belonged. The American temptation reflected above all that yearning for something that, in truth, the Portu-guese central government could never give the islands, which still depended on it. Many years had to go by, the First Republic, the Estado Novo and the turmoil of the restoration of democracy (largely due to the international environment of the cold war) before the archipelago gained its status as an autonomous region and real self-

speed. It put into the Canaries for repairs and arrived in Brazil 10 days after the centenary. To crown it all, it was seized in Rio at the request of Transportes Marítimos do Estado creditors. The president had to return as an ordinary passenger on the Arlanza, a British transatlantic liner (cf. História de Portugal, ed. monumental, Supplement, pp. 339-344; História de Portugal by J. Veríssimo Serrão, XI, 276-277; Douglas L. Wheeler, História Política de Portugal – 1910-1926, pp. 195/196, quoting Maurício de Oliveira, in Armado Gloriosa, pp. 148-149).

117 One of the slogans in the acclamations with which Carmona was greeted in Terceira (Azores of Portugal / always, always, always!) echoed the title of the anti-separatist speech by Luís Ribeiro, 22 years before…

116 The Porto was chosen as the “presidential yacht.” It was one of the 70 German ships “conquered” in 1917, providing the pretext for Germany to declare war on Portugal. The Porto went into the shipyard for refurbishing, which took so long that it delayed its departure. Soon after, the ship broke down and had to reduce

Page 324: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[322]

ÁLVARO MONJARDINO

government that, together with Portugal’s admission to the European Union, opened its doors to this development that has taken such a long time coming.

It is true to say that in the fight for this new autonomy, which was finally set forth in the 1976 Constitution, including financial guarantees, the temptation of and therefore the desire for independence was present once again as one of the levers in achieving it. The desire was aroused in the Azores and, once again, among Azorean immigrants in the United States, which was also regarded as a threat… After all, it was separatism reborn after two generations and its comparison to 1918-1919 is inev-itable both because of the setting of national crisis at the time and because of the geopolitical arguments used more freely, revealing great sensitivity to the international and Atlantic scenarios of the time.

Page 325: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[323]

TO COME AS CONQUERORS: AMERICAN BASES AND THE EUROPEAN THEATER, 1941-45

Adam R. Seipp

The small Cambridgeshire village of Duxford today hosts one of the most impressive collections of American military aviation assembled anywhere on the planet. The American Air Museum, part of the larger Imperial War Museum complex, displays almost two dozen aircraft, ranging from the era of the World Wars to the post-2001 conflicts. The museum, with a central hangar designed by Sir Norman Foster, is a testimony to the extraordinary legacy of cooperation between the United States and Great Britain through some of the most dangerous confron-tations of the twentieth century. From nearby RAF Duxford, B-17s took off with terrible regularity during the worst years of the air war over Europe. “Close your eyes,” wrote an American journalist, “and it is easy to recall that grainy black-and-white footage of pilots scrambling as ground crews ready their machines for takeoff.”118 But the story of Duxford and American military aviation did not end when the bombing of Germany ceased. For four decades after the defeat of the Axis powers, American warplanes regularly used nearby facilities as part of the global standoff with the Soviet Union. The roles of the United States in fighting and winning the World War II and the coming of the Cold War are inseparable. One way to explore this connec-tion is by examining American bases, the physical manifestation of the country’s global military presence in the second half of the twentieth century.

The American basing posture during the World War II was necessarily ad hoc, improvised, and highly contingent on the

118 “A Shrine to Spitfires and Mustangs,” New York Times, December 16, 2001.

Page 326: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[324]

ADAM R. SEIPP

course of the wider war. It took place in the context not just of alliance politics, but of the internal political situation in countries with widely varied goals and responses to the events of the war. The United States, with the sometimes uneasy cooperation of its European allies and neutrals, quickly developed a network of facilities across the Atlantic basin that allowed an extraordinary projection of power into German-occupied Europe and ultimately contributed to the destruction of Germany’s empire. Just as important, however, was that this evolving system of bases permit-ted the United States to more easily achieve the massive realign-ment of forces and goals that accompanied the beginning of the Cold War a few short years after the victory of 1945.

There have been many excellent studies of the development of the American military presence in Cold War Europe.119 Far less attention has been done on the crucial period of basing policy during the World War II, which contributed directly to that later transformation. The development of America’s World War II base system in the European Theater occurred in three stages. The first, which began following the Destroyers-for-Bases Agreement in 1940, were facilities intended to protect American shipping and, following the entry of the United States into the war, to win the Battle of the Atlantic. The second were bases, initially in Britain, that permitted the United States and its ally to carry the war to continental Europe from the air. Finally, there were the facilities built to support the invasions of South-ern and Western Europe after 1943.

This chapter will consider four American basing sites in the context of their role in the war and the postwar realignment of forces. Iceland, the Azores, Great Britain, and bases in Western Germany provide a snapshot of the evolving and dynamic network of military posts and facilities that provided logistical, training, and combat support for the American and Allied mission against Germany and Italy. While this list is by no means exhaustive,

119 The best overview on the subject is Simon

Duke and Wolfgang Krieger, eds. U.S. Military

Bases in Europe: The Early Years,

1945-1970 (Boulder:

Westview Press, 1993). See also John Hawkins, Army of Hope,

Army of Alienation: Culture and Contradiction

in the American Army Communities

of Cold War Europe

(Tuscaloosa: University of

Alabama Press, 2001); Melvin

Leffler, A Preponderance

of Power: National Security, The

Truman Administration,

and the Cold War (Palo Alto:

Stanford University Press,

1992), Phil Williams, U.S.

Troops in Europe (London:

Routledge, 1984).

Page 327: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[325]

TO COME AS CONQUERORS: AMERICAN BASES AND THE EUROPEAN THEATER, 1941-45

I will demonstrate the connections between these sites by placing them within the wider war effort and the realignment of Amer-ican security policy during and after the World War II.

At the beginning of World War Two in Europe, the United States had no significant military presence in what became the European Theater of Operations. American national security strategy in the preceding decades focused on the defense of the Western Hemisphere and the protection of its commercial and imperial interests in the Pacific. World War I spurred a major expansion of bases within the continental United States, while the 1930s saw the building of large facilities in Hawaii, the Philippine Islands, and other sites across the Pacific.120

The story of American hesitation to involve itself in Europe’s war after 1939 is well documented elsewhere.121 After it became clear that Britain had a chance to resist German military might after the fall of France in the Spring of 1940, the Roosevelt administration began to seek ways to provide assistance short of actively joining in the war effort. One of the most important early steps was the Destroyers-for-Bases Agreement. Agreed to by Roosevelt in September, the United States transferred fifty older destroyers to Britain in exchange for ninety-nine year basing rights at five British facilities in the Western Hemisphere, including Newfoundland, Bermuda, and several islands in the Caribbean. For Churchill, who thanks to Enigma decrypts could now see German resolve to invade Britain wavering, the agree-ment was a mixed blessing. While Britain needed naval vessels to counter the threat to commerce, this new deal was an obvi-ous sign of the country’s relative weakness. The agreement, commented Jock Colville to the Prime Minister, “rather smacks of Russian demands on Finland.”122

Much of the initial basing strategy of the United States and its sometime partner Britain was based on pre-empting German efforts to gain forward bases in the Atlantic. In the year before

120 Brian McAllister Linn, Guardians of Empire: The U.S. Army and the Pacific, 1902-1940 (Chapel Hill, University of North Carolina Press, 1997).

121 An excellent summary of the debates can be found in David Reynolds, From Munich to Pearl Harbor: Roosevelt’s America and the Origins of the Second World War (Chicago: Ivan R. Dee, 2001).

122 Martin Gilbert, Churchill: A Life (New York: Henry Holt, 1991), p. 670.

Page 328: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[326]

ADAM R. SEIPP

the United States formally entered the war, diplomats worked to prevent a long-feared German or Axis effort to secure base rights in Latin America that might threaten the Panama Canal.123 At the same time, it was increasingly clear that the routes across the Atlantic were in real jeopardy under the U-boat threat. As losses in the Battle of the Atlantic swelled and German subs regularly sank ¼ of Allied convoys, the need grew to control the Atlantic approaches to Britain and the Mediterranean. If the struggle for the seaways was to be won by either side, islands and island chains like Greenland, Iceland, and the Azores would play a critical role.

In 1940, Iceland sat in an extraordinarily vulnerable position in the northern Atlantic. While the government maintained its neutrality, it was clear that any effort to dominate the maritime routes from North America to Europe would need to include the island and its limited facilities. Since 1918, Iceland had existed as a neutral sovereign state that recognized the Danish monarchy. When Denmark fell to German invasion in 1940, Iceland was cut off and undefended. Fearing a German move against the island, a British fleet appeared off Reykjavik in May and British troops occupied the country.

As the situation in Europe worsened, continued British occu-pation of Iceland seemed impractical. At the December 1941 Arcadia Conference in Washington, American and British plan-ners agreed to transfer much of the responsibility for Iceland to the Americans. By the Spring of 1942, there were more than 40,000 American troops on the island. One British staff officer wrote that “the danger to our Atlantic lifeline which could result from (Iceland’s) use by the enemy cannot be overestimated.” For Icelanders, the foreign military presence transformed the local economy, assured that they would not be incorporated into the German empire, and pushed island politicians toward the 1944 declaration of full independence from Denmark.124

123 Robert E. Harkavy,

Strategic Basing and the Great

Powers, 1200-2000

(London: Routledge, 2007),

pp. 84-85.

124 Donald Bittner, The Lion

and the White Falcon: Britain

and Iceland in the World War II Era

(Hamden: Archon Books, 1984),

p. 142. See also Gunnar Karlsson,

The History of Iceland

(Minneapolis: University of

Minnesota Press, 2000), esp.

pp. 313-318.

Page 329: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[327]

TO COME AS CONQUERORS: AMERICAN BASES AND THE EUROPEAN THEATER, 1941-45

Perhaps less salubrious was the constant reminder that Iceland, with its small population and resource base, was now an occu-pied country. The future General Charles Bonesteel III later described his time in Iceland as one of near constant activity as the Americans expanded harbor and airfield facilities. Contact with locals, while welcomed by American personnel, was tense, largely because: “mother nature had made the men look pretty scrawny, while the gals represented the highest percentage of feminine pulchritude per capita inthe world. This caused a little difficulty between the GIs, the Icelandic men and the British. There were some really serious incidents, knifings and everything else, which were understandable.”125

One of the most important and durable results of this dual occupation was the growth of what became a permanent Amer-ican military facility. Construction quickly began on the Kefla-vik facility on the Reykjanes Peninsula. During 1942 and 43, American forces built a sizable airfield on the peninsula, which became a vital transshipment point for troops and supplies moving across the Atlantic for the remainder of the war. Closed for five years after the end of the war, Keflavik re-opened as a vital Cold War outpost and was handed over to Iceland in 2006.

There was a crucial and wholly unforeseen consequence to this Allied dominance of the North Atlantic. Germany lost her weather stations, along with the capability to send out long-range reconnaissance by air or sea. In early June, 1944, while German defenders of the Atlantic Wall expected days of bleak weather ahead, the Allies knew that a small patch of clear weather moved east across the ocean toward Northern Europe.126 The extraordinary surprise of Operation Overlord was not only a product of good luck or deception, but also of the offshore bases that had helped to turn the tide in the Atlantic war.

125 Transcript of oral history interview with Charles H. Bonesteel III, Army Heritage Collection, Army Heritage and Education Center, p. 118.

126 Gerhard Weinberg, A World at Arms: A Global History of World War Two (Cambridge: Cambridge University Press, 1994), p. 684.

Page 330: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[328]

ADAM R. SEIPP

The quasi-consensual occupation of Iceland was mirrored across the North Atlantic by the development of an American military presence in the Azores. Strategically located along the approaches to the Mediterranean and thrusting into the Central Atlantic, the Azores were clearly vital as a trans-shipment and refueling post and as a counterweight to Germany’s informal but important ties to Franco’s Spain.127 Portugal’s dictator António Salazar found himself in a very different position from vulnerable Iceland. Geographically buffered by ostensibly neutral Spain, Portugal had the luxury of waiting for events in the broader war to become clearer before committing to either side. In 1942, Salazar correctly anticipated that the power of the Axis was waning, a point that he made to Franco in a summit meeting that year.128

The U-boat had indeed turned against the Germans. Even as Hitler told his naval chief in 1943 that “the Atlantic is my western approach and if I have to wage a defensive there, it’s better than only being able to defend on the coast of Europe,” it was clear that the submarine effort was failing.129 Crucial to this was the closing of the gap between the Azores and the North Atlantic. Long-range bombers could now hunt submarines in previously inaccessible waters. The boundaries of German power now drew closer.

The Azores were not unknown territory to the Americans. There had been a small Marine and Naval post at Ponta Delgada during the World War I. This fact was well known to former Assistant Secretary of the Navy Franklin D. Roosevelt. Since 1941, Allied leaders feared that the Germans would occupy the Azores, which might put them in a position to dominate the Central Atlantic. Portuguese neutrality posed an obstacle, but the shift of German attention toward the war in the East helped to secure Portuguese territorial integrity.

Much like the earlier occupation of Iceland, initiative toward setting up base facilities in the Azores came from the British,

127 Ibid., p. 372.

128 James Anderson, The

History of Portugal (Westport:

Greenwood, 2000), p. 148.

129 Ian Kershaw, Hitler, 1936-45,

Nemesis (New York: Norton, 2000), p. 385.

Page 331: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[329]

TO COME AS CONQUERORS: AMERICAN BASES AND THE EUROPEAN THEATER, 1941-45

who approached the Salazar government in the summer of 1943, invoking six hundred years of trucial diplomacy between the countries and requesting bases in the Portuguese Atlantic islands. The initial note suggested that such bases would “be a decisive factor in the early defeat of the German submarine campaign in the Atlantic and, consequently, a vital contribution to an early victory of the United Nations.”130

In August 1943, Salazar formally acceded to the British request, but was subsequently surprised when it became clear that the Americans intended to share the facilities with the British. The resulting diplomatic tussle ended with an agreement to bring American aircraft to the airfield in Santa Maria disguised as British vehicles. By the time the Americans and Portuguese reached a separate agreement on the use of the Santa Maria facility the next year, the strategic situation had changed once again. Portugal became concerned with the course of the Pacific War, where their colonies were occupied by the Japanese. The fact that Santa Maria could be used in the transfer of troops to Asia made the arrangement more palatable to a leader who tended to be suspicious of American intentions.131

The arrival of the British and subsequently the Americans on Terceira was obviously of importance to the conduct of the war in the Atlantic. The United States Military Transport Command (later Military Airlift Command) made the Azores the primary coordinating point for the increasing number of American aircraft making the still treacherous transatlantic jour-ney into the European and Pacific theaters. Still, the timing of the establishment of Lajes (called Lagens by the Americans) made it of diminished utility in the anti-submarine campaign. Escort carriers, increasingly sophisticated radar, and the end of Axis power in North Africa had already eased the pressures on Allied shipping.132 By Spring 1943, the Allies broke the back of the U-boat threat for good.

130 Letter of Sir Ronald Campbell to Salazar, June 16, 1943, reprinted in Ministerio dos Negócios Estrangeiros, Documentos Relativos aos Acordos entre Portugal, Inglaterra e Estados Unidos da América… durante a Guerra de 1939-45 (Lisbon, Imprensa Nacional de Lisboa, 1946), p. 3.

131 José Calvet de Magalhães, “U.S. Forces in Portugal, 1943-1962,” in Duke and Krieger, pp. 275-76.

132 Robert A. Doughty, Ira D. Gruber, et al. Warfare in the Western World: Military Operations Since 1871 (Lexington: Heath, 1996), pp. 275-76.

Page 332: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[330]

ADAM R. SEIPP

As it became clearer that the Axis were headed for defeat, Allied planners became increasingly comfortable discussing the shape of the postwar world. If the base in the Azores would not be decisive in the Battle of the Atlantic, it would clearly be important for the American postwar security posture. In Octo-ber, an unnamed administration official told the New York Times that the Azores were “essential links in the eastern security chain of the United States.” The Atlantic islands, he explained, would eliminate the need to maintain bases in French West Africa that had been part of the air bridge to Africa during the war. Unstated, but clear nonetheless, was that this would keep the United States from having to back the continued survival of European impe-rial possessions. Americans, the official explained, were “unac-customed to think in terms of world naval strategy.”133

If Lajes anticipated the future direction of American foreign and military policy, this was by no means clear at the time. If it was increasingly apparent in 1943 that the Allies would win, it would not happen without more hard fighting, an invasion of Northern Europe, and some sort of accommodation with the Soviet Union. Prior to the Allied landing in Italy that summer, there had been only one way to strike at Axis power in Europe. Roosevelt’s famous observation that “Hitler built a fortress around Europe, but he forgot to put a roof on it” was as much a reflection of the paucity of Allied options as it was of the opportunities provided by strategic bombing.

Following the entry of the Soviets and the United States into the war in 1941, the ability of the Allies to project power by air into occupied Europe became of primary importance. Now, in addition to striking at German military and industrial capa-bilities, Stalin had to be convinced that his erstwhile allies were willing to credibly resist Germany while the Soviets fought a desperate struggle on their home soil.134 The fear of a separate peace acted as both a catalyst for heightened bombing activity

133 “Azores Vital to Allies,” New

York Times, October 13,

1943.

134 Richard Overy, The Air War,

1939-1945 (New York: Stein and

Day, 1980), pp. 104-05.

Page 333: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[331]

TO COME AS CONQUERORS: AMERICAN BASES AND THE EUROPEAN THEATER, 1941-45

and a wedge between wartime partners. Great Britain served as the staging area for both the vast bomber offensive against Europe and the amphibious armada that brought the war to the Western edge of Fortress Europe.

Historians of air power have long noted that the British and the Americans fundamentally disagreed about many aspects of air warfare, particularly with regard to bomber doctrine.135 Despite these disagreements, the arrival of American planes, mostly from the Army Air Force’s 8th Air Force in 1942 was a welcome sign in a country that had been fighting alone in the West for two years. The bulk of the air fields used by the “Mighty 8th” were in East Anglia, where the Americans built or modified more than 120 facilities for their use. Communities like Duxford, Deopham Green, and Rackheath now played host to thousands of American airmen and personnel. The Americans, famously “overpaid, overfed, oversexed, and over here,” were also largely confined to the East Anglian peninsula, keeping them out of sight of many Britons and perhaps helping to maintain the largely cordial relations between American and locals.136 This good feeling became critical after the war when Americans were once more to be based on British soil.

English reactions to the American arrival were remarkably similar to those of continental Europeans and others, who were consistently amazed at the size and relative good health of the Americans, as well as the material abundance of the United States. Real or imagined, this almost comical juxtaposition between well-provisioned Americans and Europeans feeling the pinch of economic privation and war embedded itself in the popular consciousness. Bernard Peters, growing up near Truro in Cornwall, later told a BBC oral history project that: “The camp attracted us like bees around a honey post, for it was from there that we could get maybe an orange, or some chocolate, even some ice-cream; otherwise we saw no such things for years.

135 See Overy and Tami Davis Biddle, Rhetoric and Reality in Air Warfare: The Evolution of British and American Ideas about Strategic Bombing, 1914-1945 (Princeton: Princeton University Press, 2002), pp. 208-210.

136 Simon Duke, “U.S. Basing in Britain, 1945-60” in Duke and Krieger, p. 117.

Page 334: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[332]

ADAM R. SEIPP

Our favourite request was, ‘Got any gum chum?’ We thought that they were men, we were 14 and 15, never realising that they were only 18, 19, 20 to 25 say. Their uniforms were differ-ent to our troops – smart and quality cloth, not rough serge. They seemed to have everything, and were either always chew-ing gum or smoking good sized cigars, and they were always friendly.”137

Initially, Britain’s primary role was, as Churchill memorably phrased it, that of an “unsinkable aircraft carrier.” American B-17s and B-24s could strike targets deep into occupied Europe from bases on the island. As the noose tightened around occu-pied Europe, the Combined Bomber Offensive (Operation: POINTBLANK) devastated German industry, transportation, and urban space. At the cost of almost 17,000 bombers and 77,000 airmen, the RAF and USAAF did enormous damage but failed to break the will or ability of the Germans to carry on the fight.138 A cross-channel invasion, the “Second Front” that Stalin had long demanded, became a necessity.

Much of the training and preparation for the invasion of France necessarily took place in England, which was home to 1.5 million American servicemen by the middle of 1944.139 The notorious training exercise at Slapton Sands, in which a number of American personnel were killed in a chaotic attempt to simu-late a landing in France, was just one of the omnipresent efforts to ready the Allied armies for the invasion. Perhaps the most famous American base of the period was one that did not, in fact, exist. Lt. General George Patton’s First United States Army Group headquarters at Dover comprised a number of real and imaginary units that further confused the German defenders of the Atlantic Wall.

Americans also established a visible presence in Northern Ireland. Much like the occupation of Iceland, the United States agreed to base troops in Ulster at the Arcadia Conference. The

137 WW2 People’s War is an online

archive of wartime memories

contributed by members of the

public and gathered by the

BBC. The archive can be found at

bbc.co.uk/ww2peopleswar.

138 Allan R. Millett and Peter

Maslowski, For the Common Defense: A Military History

of the United States of America (New York: Free

Press, 1994), p. 459.

139 Mark Stoler, Allies in War:

Britain and America Against the Axis Powers,

1940-1945 (London: Hodder

Arnold, 2005), p. 153.

Page 335: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[333]

TO COME AS CONQUERORS: AMERICAN BASES AND THE EUROPEAN THEATER, 1941-45

situation in Northern Ireland was fraught with problems for Britain and for neutral Ireland. De Valera’s government resisted both British and German overtures, but did so at the cost of the possibility of reuniting the island.140 Harold Nicholson, visiting Dublin in March 1942, found little doubt in the govern-ment that the Americans had saved the Irish Republic a great deal of trouble. He wrote in his diary that “The Irish were ‘relieved’ by the American occupation of Ulster and only a few of them have the sense to see that it will go far to explode the American legend about Ireland.”141

One result of continued Irish neutrality was the need to maintain a robust allied presence in the north even as Britain found itself short of troops elsewhere. More than 300,000 American troops moved through the region during the course of the war, with the first of them arriving in January 1942.142 A major naval base at Londonderry guarded the approaches to the Irish Sea, while facilities in Antrim, Down, Tyrone, and elsewhere provided training for the invasions of North Africa and Normandy.

The issue of basing during the Allied advance across Western Europe was a legally and practically complicated one. As German occupation rolled backwards, restored states sought to demarcate their rights vis a vis the Americans. This varied widely from country to country. France, for example, claimed their colonial bases in North Africa, many of which were already under the control of the United States.143 Italy, with its vicious civil war and the continued presence of German troops, presented a very different set of challenges.

Allied strategy targeted Germany since the beginning of the war, and in its exceptionalism the German case can tell us a great deal about the future of American basing policy. Germany had been extensively and comprehensively damaged by the bombing effort and in the subsequent invasion. It was unam-

140 Weinberg, p. 147.

141 Harold Nicholson, The War Years, 1939-1945 (New York: Atheneum, 1967), p. 218.

142 This little-studied sideshow of the Second World War is breezily discussed in Mary Pat Kelly, Home Away from Home: The Yanks in Ireland (Belfast: Appletree Press, 1994).

143 Patrick Facon, “U.S. Forces in France, 1945-58” in Duke and Krieger, pp. 234-5.

Page 336: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[334]

ADAM R. SEIPP

biguously an enemy country and Allied troops reminded Germans that they were occupied rather than liberated. “We come as conquerors,” signs reminded Germans across the Amer-ican occupied zone, “not oppressors”144 Since 1944, there had been active plans to administer a defeated Germany through the instrument of military governance, a role that required the speedy establishment of semi-permanent facilities.145 Finally, and critically for the story of basing policy, Germany was until recently a highly mobilized and militarized country with an extensive network of bases, facilities, and other fortifications. With its military apparatus comprehensively defeated, those bases that survived the bombing and invasion were no longer in use. Since demilitarization was a cornerstone of Allied plans for defeated Germany, these facilities passed readily into the hands of the conquerors.146

The Bavarian city of Würzburg, which became one of the most important base communities in Germany, is an excellent example of American basing in the last days of the war. The city lay in ruins in 1945. On March 16, a massive RAF assault obliterated nearly 80% of the city center, killing about 5,000 people in 20 minutes. A month later, American troops crossing the Main River met stiff resistance and many of the remaining buildings fell during fierce fighting in the streets. This series of disasters, along with the low-level civil war in Franconia at the end of the war, created waves of displaced, terrified, and starving humanity. At the end of the war, Würzburg had a population of only about 6,000, bolstered by nearly 5,000 refugees.147

The American presence in Würzburg was small, with a tiny headquarters staff housed in one of the few surviving buildings in the city center. From this outpost on Ludwigskai, the new military government under 1st Lieutenant Maurice Henderson of Bozeman, Montana set out to restore order and civilian

144 See for example Anni Baker,

Wiesbaden and the Americans,

1945-2003 (Wiesbaden:

Stadtarchiv Wiesbaden,

2004), p. 25.

145 The most comprehensive

study of the mechanisms of

occupation remains Harold

Zink, The United States in Germany,

1944-1955 (Princeton: D. van

Nostrand, 1957).

146 The other of the “4 D’s” were

denazification, democratization,

and decartelization.

See James Tent, Mission on the

Rhine: Reeducation and Denazification

in American-occupied Germany

(Chicago: University of

Chicago Press, 1982), p. 17.

147 Peter Moser, Würzburg:

Geschichte einer Stadt (Bamberg:

Babenberger Verlag, 1999), 289; Herbert

Schott, Die Amerikaner als

Besatzungsmacht in Würzburg

Page 337: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[335]

TO COME AS CONQUERORS: AMERICAN BASES AND THE EUROPEAN THEATER, 1941-45

government in the devastated city. Within a year, a civilian administration partnered with the Americans and municipal elections could be held. The Office of the Military Government for Germany (OMGUS), one of the most extraordinary and durable institutions of military government in the 20th century, entrenched itself in Würzburg and in similar towns and cities across the American zone of occupation.

Crucially, the Americans claimed the disused military posts in and around Germany’s cities and towns. In the drawdown of troop strength after the war, such claims were rarely enforced or needed. Since, in many cases, these posts were some of the few buildings to survive the fighting, refugees and the new category of “displaced persons” moved in. In the hills around Würzburg, thousands of people who lost their homes to the war crowded onto the unused airfield on Galgenberg. Four years later, when geopolitical forces drew the Americans back into Europe, they enforced their claim to the facility, evicted the remaining refugees, and built the massive Skyline Barracks complex that became part of the headquarters of the U.S. Army division guarding the southern edge of the strategic Fulda Gap.148

With the collapse and surrender of the German state in May, 1945, the United States began to draw down its forces in Europe. On VE-Day, the United States had 3,069,000 military person-nel in the theater. Almost immediately, this number began to decline precipitously, until by the end of 1949 there remained about 80,000 soldiers on the continent. Many Europeans, particularly those living along the front line of the continent’s postwar division, feared (or hoped) with some justification that the United States was going to repeat its disengagement from Europe following the World War I. In the event, those fears proved unfounded. As Cold War tensions mounted in the years following 1945, the United States began to reconsider its

(Würzburg: Freunde Mainfränkischen Kunst und Geschichte, 1985), 74; and Hans Steidle and Christine Weisner, Würzburg: Streifzüge durch 13 Jahrhunderte Stadtgeschichte (Würzburg: Echter, 1999), 223; Stephen Fritz, Endkampf: Soldiers, Civilians, and the Death of the Third Reich (Lexington: University Press of Kentucky, 2004).

148 “Lager Galgenberg wurde in zehn Tagen geraümt” Main-Post, August 29, 1951.

Page 338: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[336]

ADAM R. SEIPP

commitment to European security. With Truman’s “Troops to Europe” decision in 1950 and the Korean War not long after, the American military presence in Europe reversed its postwar decline. A year later, the number of American soldiers in Europe climbed to almost 232,000.149 The Cold War Army began to take shape in its European garrisons.

The bases into which those troops moved were familiar ones for the United States military. From Keflavik to Lajes and from Lakenheath to Würzburg, the Cold War American military pres-ence in Europe and the Atlantic Basin followed upon the expe-riences of the United States in the World War II. While the nuclear standoff and massive deterrent armies of the Cold War era were profoundly different from the circumstances of the European Theater of the 1939-45, the engagement of the United States in the European war provided the infrastructure, organi-zational capabilities, and global vision that could be quickly mobilized a few years later to confront a new set of security challenges.

149 Thomas Leuerer, Die Stationierung amerikanisher Streitkräfte in Deutschland:

Militärgemeinden der U.S. Armee seit

1945 als ziviles Element der

Stationier-ungspolitik der

Vereinigten Staaten (Würzburg: Ergon

Verlag, 1997), p. 335.

Page 339: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[337]

THE AZORES AND THE SECOND WORLD WAR

Luís Andrade

Introduction

An examination of Portuguese history, notably its military history, leaves one with no doubt that over the centuries the Azorean archipelago has not only been of great service to Portu-gal, but specifically to Western powers such as Great Britain and the United States and, in a more general sense, to the Atlantic Alliance since that organization was set up in April of 1949.

During World War I, especially during the first phase of the conflict, Portugal’s Atlantic islands were not a cause for concern, since no incident had occurred in the archipelago’s environs.150 Yet it was at that time that the Portuguese government recog-nized its shortfall of material and human resources and its general inability to stave off any conflict that could jeopardize its Atlantic islands.

Portugal’s joining World War I in 1916 did not significantly alter the situation. At this juncture, Great Britain informed the Portuguese government that it would unilaterally guarantee the defense of Portugal’s non-mainland ports. There is also little doubt that Portugal’s choice to join the conflict in question was due to the country’s age-old Alliance with Great Britain.151

The networks of alliances extant before World War I were seriously questioned and even blamed for having spread the conflict. It is noteworthy that one of the motives Portugal entered the world’s first global conflict on the side of the Allies was, among other reasons, a dispute over the international repre-

150 See António José Telo, Os Açores e o Controlo do Atlântico (Lisbon: Edições Asa, 1993), p. 93.

151 José Medeiros Ferreira, Portugal na Conferência da Paz (Lisbon: Quetzal Editores, 1992), p. 37.

Page 340: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[338]

LUÍS ANDRADE

sentation of the Iberian Peninsula i.e., that Portugal, in great measure, joined the war effort because of the dynamics that characterized the relationship between Portugal and Spain.152 Notwithstanding, as one may well imagine, issues involving Portugal’s overseas colonies also acted as a determinant in the country’s joining the conflict.

Portugal’s dependence on England was evident. Up to 1916, marked changes had taken place in the relationship enshrined by the centuries-old pact. Its center had shifted from Africa to the Atlantic and Portugal’s dependency and subordination had grown stronger. Given the circumstances, the United King-dom would never allow Portugal’s Atlantic islands to eventu-ally fall into enemy hands. The issue had everything to do with the dynamics between the large and smaller nation, and primarily with the fact that both were important geostrategi-cally speaking.

Portugal’s weakness vis-à-vis English might was more than evident. Yet a formal alliance had existed binding the two coun-tries throughout history, although the alliance had primarily benefited England usually with no quid pro quo whatsoever for Portugal.

Portugal has always been important to England since, as lord Rotermere wrote in the Daily Mail, the smaller country’s stra-tegic positions have caused it to be of prime importance to England’s maritime communications.153 According to Lord Rotermere, the Azores were more important than Gibraltar, Cape and Singapore combined, since from the Portuguese archi-pelago one can easily control England’s principal maritime routes. Also with regard to the Azores he added that the theory asserting that the Azores could be occupied simply by naval incursion was wrong. An adequate naval defense, he asserted could destroy a naval expedition and block communications with England.154

152 Ibid., p. 49.

153 Luís Andrade, Neutralidade

Colaborante – o caso de Portugal na

Segunda Guerra Mundial (Ponta

Delgada: Coingra, 1993), p. 129.

154 Dez Anos de Política Externa,

vol. IV, Doc. n.º 749, p. 25.

Page 341: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[339]

THE AZORES AND THE SECOND WORLD WAR

The premises upheld by Alfred Mahan, and other writers, are also extremely noteworthy and of crucial relevance to the Western and Atlantic world, particularly the United States of America.155 His ideas profoundly influenced the thoughts and actions of Roosevelt when the latter was assistant secretary of the navy and later the US president. Mahan thoroughly exam-ined maritime history and especially Britain’s global influence. He concluded that control over the seas and especially strategi-cally significant points of passage, were crucial if a country wished to achieve its main objectives and subsequently attain the status of a world-class power. Basing itself precisely on these geopolitical and geostrategic principles, the US asked the Portu-guese government to grant it certain concessions of a military nature in the Azores during the World War II.

Apropos of this same issue, in February of 1917 Walter Lippman had written that “the security of the Atlantic is some-thing the United States should fight for. Why? Because on the two coasts of the Atlantic Ocean a complex network of interests has grown up that help to unite the Western world. If that community were destroyed, we would then realize what we had lost.”156 Years later, during the last worldwide conflict, Lippman would add, “The Atlantic Ocean is not the border between Europe and the Americas. It is the inland sea of a community of nations allied with each other through geography, history and vital necessity.”157

With regard to the US, on April 15, 1917 Portugal’s minis-ter in Washington sent a diplomatic memo to Lisbon where the first mention is made of establishing a US naval base on the Azorean Islands. In Ponta Delgada Roosevelt had underlined the archipelago’s importance “to the point of considering that the support provided to Allied forces by the naval base on Ponta Delgada are even more important than Portugal’s military partic-ipation in the European theatre.”158

155 For more information on this subject see Claude Raffestin’s book Géopolitique et Histoire (Lausanne: Editions Payot, 1995).

156 Quoted by James Robert Huntley in The NATO Story (New York: Manhattan Printing Company, 1969), p. 15.

157 Ibid.

158 “Franklin D. Roosevelt nos Açores durante a Primeira Guerra Mundial,” in Diário de Notícias, December 25, 1982, p. 15.

Page 342: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[340]

LUÍS ANDRADE

In comments to the República, a newspaper from São Miguel, Roosevelt had asserted that, due to their geostrategic position, the Azorean Islands had made a special contribution to the transport of troops from the new to the old continent, thus hastening the war’s outcome.159

In this context it is also important to mention that, while Portugal took part in World War I, Spain remained neutral. By fighting on the side of great maritime powers, Portugal proved that its foreign policy was in synch with that of the Allies; and at the time, as later, this was to assume great importance in the definition of the country’s foreign and defense policies.

The Second World War

We have briefly discussed the archipelago’s role during World War I. We shall now examine the function of the Azores through-out World War II.

At this point it seems relevant to begin by mentioning that George Kennan in his Memoirs states, with regard to Portugal’s entering World War I at England’s request, that Portugal heeded the call immediately. Subsequently he wrote, “it was obvious they would do the same in the World War II if the request were to be made again. However, the Portuguese authorities would never do it unless Britain’s request were made in an unequivo-cal fashion.”160

George Kennan was to have a significant role in negotiations with the Portuguese government in that he tried and succeeded in toning down the verve of the North American military and convincing the Roosevelt Administration to adopt a more cautious approach to the Lisbon government. His Memoirs also reveal that Kennan was seriously concerned with the almost endless list of concessions the US hoped to exact from the Azores.161

159 For futher information,

consult my work, Os Açores, a

Segunda Guerra Mundial e a NATO

(Ponta Delgada: Impraçor, S.A.,

1992), pp. 49-50.

160 George F. Kennan,

Memoirs, 1925-1950 (New York: Pantheon Books,

1967), p. 146. Also see, by the

same author, At a Century’s Ending

(New York: W. W. Norton and

Company, 1996).

161 See the article by Luís Nuno

Rodrigues “O Acordo Luso-

Americano dos Açores de 1944”

in Luís Nuno Rodrigues, David

Castaño, Iva Delgado (editors),

Portugal e o Atlântico – 60

anos dos Acordos dos Açores,

(Lisbon: CEHCP-

ISCTE, 2005).

Page 343: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[341]

THE AZORES AND THE SECOND WORLD WAR

All the same, from 1939 to 1945, the Azorean archipelago carried out one of its most important functions in strictly geopo-litical and geostrategic terms – so much so that more than once it was on the brink of being occupied militarily both by the Germans and the Allies. Throughout, the basic geopolitical and geostrategic principles mentioned never lost currency with regard to the Azores over the course of World War II.

With regard to foreign policy, Portugal maintained a posi-tion of neutrality which later was dubbed “collaborationist,” since the country granted concessions of a military nature to the Allies in the Azores – namely to the British in 1943 on Terceira Island and to the Americans in 1944 on the island of Santa Maria.

Salazar adopted a very peculiar outlook on the issue: he opined that just because Portugal had provided facilities to the Allied military in the Azores in areas that were strictly defined and circumscribed (as was Lajes on Terceira Island), it did not imply that the remainder of Portuguese territory had lost its neutral status. It is precisely this fact that led to the adoption of the term “collaborator” with regard to Portugal’s foreign policy as of 1943.

The Portuguese foreign minister at the time did not quite understand that by adopting this type of policy, Portugal had ceased to be neutral. He did however acknowledge that the issue was complex and left the legal parsing to the international experts, as he himself wrote. Marcelo Caetano weighed in on the issue when he described hearing Salazar affirm several times that the law was the most precious defense weapon of a small, weak country like Portugal; and that it behooved us to rigor-ously observe agreements, treaties and common practices and, while exhibiting coherence in our relationships, remain staunch with regard to our rights and punctual in fulfilling our obliga-tions.162

162 Marcello Caetano, Minhas Memórias de Salazar (Lisbon: Edit. Verbo, 1977), p. 168.

Page 344: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[342]

LUÍS ANDRADE

The Trade Issue

Salazar also believed that Portugal could and should maintain equal trade relations with the Allies and National Socialist Germany. With regard to trade, it is important to note that in 1938 Great Britain was Portugal’s major trade partner, while Germany was second. Given this, Salazar was to assume a commitment with both powers to keep the free trade of domes-tic and colonial resources going. This has led a number of experts to conclude that, to a great extent, Portugal benefited from declaring its neutrality at the outset of the war.

In this context, strictly with regard to commerce, Portugal did manage to make considerable headway in evening out its balance of trade which went from a deficit of nearly 90 million dollars in 1939 to a surplus of close to 68 million dollars in 1942.

A possible explanation for the relative success of the Portu-guese economy at the time is the country’s mainland deposits of wolfram. It is important to underline that Germany totally depended on Portugal and Spain for the imported supply of the important metal. The Allies on the other hand did not rely solely on supply the required and tried at all costs to block – or at least restrict – shipments of wolfram to Germany.

In this respect it is not surprising that competition for wolfram was fierce, which meant that by 1943 the price of the mineral had shot up 775% over pre-war prices. Yet in tandem with the demand, there was a significant increase in production. The volume produced went from 2,419 metric tons in 1938 to 6,500 tons in 1942. In light of above-mentioned factors and in order to maintain its neutrality, Portugal was forced to imple-ment strict export quotas. This system allowed each one of the belligerents to export wolfram from their own mines, while tapping into a fixed percentage of the commodity coming from independent mines.

Page 345: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[343]

THE AZORES AND THE SECOND WORLD WAR

When it came to the wolfram issue, Salazar believed that England should not be able “to benefit from Portugal’s neutral-ity without paying for it.” On the subject of Portugal’s relations with Germany, the Portuguese minister of foreign affairs commented that Luso-German relations, along with the supply of tin and wolfram to Germany, was the price England was to pay for peace and quiet in the Iberian Peninsula, and even Spain’s neutrality.163

Salazar and Portugal’s Neutrality

Salazar believed that when it came to England, Portugal should practice the most benevolent type of neutrality possible, provided that its stance seemed to be serving both countries’ best interests. He also believed that Portugal was rendering a service to Europe and America by remaining strictly neutral and that it was advan-tageous for the still-neutral Americans and the warring parties of Europe not to cause trouble for the last neutral point in Europe devoid of all ambition and demands, where relations with both America and Europe proceeded as usual.164

Yet it is important to point out that while the wolfram issue remained on the front burner, Portugal was holding talks with the Allies who were seeking a concession to set up military bases on the Azores.

Putting the outcome aside, we must mention that under the terms of the 1907 Hague Convention, namely articles 5 and 13, no country adopting a neutral status during any type of conflict whatsoever, could grant facilities of a military nature on its national soil to any warring party. Therefore, the most logical and obvious conclusion is that Portugal was not neutral from the point of view of neutrality theory and with regard to international law in force at the time.

163 Dez Anos de Política Externa, vol. XII, Doc. n.º 103, p. 166.

164 Ibid., vol. VII, Doc. n.º 941, p. 190.

Page 346: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[344]

LUÍS ANDRADE

However, in light of the German onslaught in Europe, both Great Britain and later the United States requested the facilities mentioned above. They were requests that at one point became patently exaggerated,165 at least in the case of the demands made by the US administration.

If in truth a formal pact had bound Portugal and England, such was not the case between Portugal and the US. What formed the basis for the agreement between the Portuguese government and that of the US was Timor, which had been occupied by the Japanese in 1942. However, it is relevant to mention that it had in fact been Allied troops (Dutch and Australian) who occupied the Portuguese territory before the Japanese invasion, thus-and obviously-jeopardizing Portuguese neutrality at the time.

Specifically involving the Luso-British Alliance, England requested that it be granted facilities in the Azores that would make maritime connections between Britain and the outside world easier, namely by means of the North Atlantic. It is common knowledge that German submarine activity posed a serious threat at the time and was, in turn, an overarching concern of the Allies.

In an analysis of maritime casualties, the British Government published a report stating that 23,000 of more than 30,000 merchant marine casualties had been caused by German subma-rine activity. In addition, the majority of vessels lost – 69% of the total – had been caused by submarines which, during the 68 months of the conflict, had sunk 2,775 British, Allied and neutral merchant vessels, totaling 14 and a half million tons.166

It was therefore necessary to keep the Azores from falling into enemy hands. Furthermore, and as the Portuguese Ambas-sador to London mentioned at the time, Portugal’s existence depended essentially on the sea, which in turn meant that it also depended on the British squadrons that held sway over the

165 See, for example,

Carlos Bessa’s A Libertação de

Timor na II Guerra Mundial

– a importância dos Açores para os

interesses dos Estados Unidos –

subsídios históricos (Lisbon: Academia

Portuguesa da História, 1992),

p. 47.

166 The Battle of the Atlantic – The Official Account of

the Fight against the U-Boats, 1939-

1945 (London: HM’s Stationery

Office, 1946), pp. 6-8.

Page 347: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[345]

THE AZORES AND THE SECOND WORLD WAR

Atlantic and Indian Oceans. In his notes on a conversation held with Britain’s Foreign Secretary, the Portuguese Ambassador, also made reference to the positions Portugal held throughout the world that were vital to the British Empire: the Azores, Cape Verde, the Benguela railroad, Lobito, Beira, Lagos and Portugal’s entire mainland coast. Additionally he mentioned, “For England, our friendship represents the safeguarding of the Atlantic, the entrance to the Mediterranean, assurance of the route to the East always open. Why is it then that so often, and for so long, in such conditions, you have persisted in treating us as a quantité negligeable?”167

What interested England above all was for Portugal to adopt a type of collaborative neutrality, which in fact, came to be the case; what interested Portugal most of all was that England continue to control the oceans. Given this, it is apposite to state that at the time, the Azores were the keystone of peninsular neutrality. Even so, Salazar still believed that, despite Portugal’s position, Germany should be able to reap certain material bene-fits from Portugal’s neutrality.

Yet Portugal had no other choice but to be on good terms “with the lords of the sea, to be on the side of those who hold command over the Atlantic,” as Ambassador Armindo Monteiro stated. In the same missive addressed to Salazar, he also commented, “Looking into the future, and given all that has been said, Portu-gal’s political action in the international arena, has taken on a certain simplicity, at least as far as the way it is conceived and its general guidelines are concerned. History has taught us – and present day experience confirms – the essential fact that weak countries are only truly independent when a rare set of circum-stances places their interests outside the sphere of attraction of great powers: ordinarily, the former countries are pulled toward the latter by law of social gravitation that is as unyielding as the law that dictates the movements of the heavenly bodies.”168

167 Dez Anos de Política Externa, Vol. IV, Doc. n.º 830, p. 157.

168 Dez Anos de Política Externa, Vol. VIII, Doc. n.º 1953, pp. 575-576.

Page 348: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[346]

LUÍS ANDRADE

Armindo Monteiro was of the opinion that the English were swayed very little by the interests of others but that, on the other hand, the idea of giving in, where their own interests were concerned, worried them greatly. Above all, what they held dear was safeguarding the Empire’s lines of communication. The ambassador also stated that there were three things he did not believe in: the generosity and impartiality of great nations; their respect for small and weak countries; and the sincerity of their promises when major interests were at stake. As substantiation of his beliefs, he wrote, “The day great governments start talking about their colonies, I firmly believe that all respect for the prop-erty and the sovereignty of others will slowly start to disappear.” In the same document he comments, “I would ask Your Excel-lency to reread, in British and French diplomatic documents, the papers referring to the 1913 assault that had been prepared against our overseas possessions and you will see how the crows succes-sively start emerging from the capitals of Europe, one after the other, so that nothing was to be left of Portugal’s would-be corpse.”169 In our opinion, the words are highly significant because they once again table the issue of the relationships between small and large states, namely during times of military conflict.

Regarding the importance Portugal’s Atlantic islands held for the United States, Armindo Monteiro states, in a telegram addressed to Salazar, that “We should ask ourselves if it is not necessary to declare that our Atlantic islands are included in the Havana Act, in the Monroe Doctrine, and in the need to defend the hemisphere, basing ourselves on the fact that it safer to prevent their falling into the hands of the aggressor than it is to undo the consequences of their having fallen.”170

Along the same lines, at the end of December, 1940, Roos-evelt stated, with regard to the possibility of Germany winning the War, “Would the islands of the Azores still fly the flag of Portugal after five centuries? You and I think of Hawaii as an

169 Ibid., Vol. I, Doc. n.º 191,

p. 258.

170 Ibid., Vol. VII, Doc. n.º 1256,

p. 540.

Page 349: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[347]

THE AZORES AND THE SECOND WORLD WAR

outpost of defense in the Pacific. Yet the Azores are closer to our shores in the Atlantic than Hawaii is on the other side.”171 President Roosevelt’s speech was understood by most commen-tators as a warning to Germany that if Spain and Portugal were to be invaded, the Unite States would be forced to extend the protective mantle of the Monroe Doctrine to the Azores.172

On May 6, 1941, in the US Senate, Sen. Claude Pepper was to advocate the occupation of the Azores, Cape Verde, the Canary Islands and Dakar.173 His appeal was to receive the support of the American press, since the move would aid the Allies in safeguarding their defenses, and pre-empt a possible German invasion of Portugal and its Atlantic islands.174

On May 24, 1941, Roosevelt ordered his Joint Chiefs to hasten the readiness of the navy, which was to occupy the Azores with the support of the Atlantic squadrons. Units were already being trained under the command of Major-General Holland M. Smith of the US Marine Corps, when the idea of occupying the Azores was shelved and substituted for the occupation of Iceland, apparently after an exchange of opinions between Churchill and the American chief executive that took place in early June of 1941.175

During the World War II, the Americans “wanted the Azores to offer those facilities which would permit the ferrying of a great number of land-based aircraft to Europe for participation in the Normandy invasion and later to support the Allied advances on the continent.”176 The Azores were, therefore, of crucial importance to the Allies in the war effort; as a result, the groundwork had been prepared – i.e. at the Trident Conference, in which both Roosevelt and Churchill participated – to invade the Azores, with or without the consent of the Portuguese government.

During the entire time he occupied his post as the Portuguese ambassador to Great Britain, Armindo Monteiro displayed remarkable insight and a notable grip on the realities governing

171 Ibid., Vol. VIII, Doc. n.º 1431, p. 41.

172 See the telegram sent by the Portuguese miister in Washigton to Salazar, in Dez Anos de Política Externa, Vol. VIII, Doc. n.º 1417, p. 31.

173 Franco Nogueira, Salazar, As Grandes Crises (1936-1945), Vol. III (Coimbra: Atlântida Editora, 1978), p. 319.

174 Augusto de Castro, Subsídios para a História da Política Externa Portuguesa durante a Guerra (Lisbon: Livraria Bertrand, 1954), pp. 20-21.

175 Ibid., p. 25. See also Ernesto Machado’s Recordando nas duas grandes guerras (Lisbon: Tipografia da L.C.G.G., 1959), p. 182 and Stott Howorth, A Aliança Luso-Britânica e a Segunda Guerra Mundial (Lisbon: E.N.P., 1956), p. 28.

176 Luc Crollen, Portugal, the U.S. and NATO (Lovaine: Leuven University Press, 1973), p. 36.

Page 350: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[348]

LUÍS ANDRADE

the relationships between and among Portugal, Great Britain and the United States. He had realized from day one that it was neither possible nor desirable for Salazar to systematically post-pone the issue reading the UK’s desire and need to obtain mili-tary facilities in the Azorean archipelago.

Yet, it is not possible to separate the issue of conceding mili-tary facilities to the Allies on the Azores from the colonial ques-tion. One of Salazar’s main concerns – if not his greatest concern – throughout World War II was how to maintain Portugal’s territorial integrity: that is, the integrity of mainland Portugal and its outlying islands, and evidently the integrity if the colo-nies it held throughout the world.

Reading the documents mentioned above, one can appraise them from the viewpoint of Realpolitik, which, according to some writers, was engendered by Machiavelli in the 16th century and further developed by Thomas Hobbes, Hans Morgenthau, Henry Kissinger, Raymond Aron and others.177 It is our belief that this theory of political realism has maintained a great deal of its currency, since international relations are fundamentally based on power. In most cases, the ones that hold the power are the ones that achieve their goals. In addition, and as was mentioned before, ordinarily, issues of a moral and ethical nature are often not duly taken into account.

It is obvious that the World War II was no exception to the basic rule of Realpolitik. It was a global conflict in which the intention of all the contenders was not only to survive, but, if possible, to completely annihilate the enemy.

Final remarks

Throughout, the Azorean archipelago played an extremely important role, a role that again came to the forefront after

177 For further information in

this areas see, for example, the work edited by Kristen

Renwick Monroe, Contemporary

Empirical Political Theory (Berkeley and Los Angeles:

University of California Press,

1997); Terence Ball’s Reappraising

Political Theory (Oxford:

Clarendon Press, 1995); Ken Booth and Steve Smith’s

(Edit.), International

Relations Theory Today (University

Park: The Pennsylvania State

University Press, 1995).

Page 351: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[349]

THE AZORES AND THE SECOND WORLD WAR

World War II when Portugal was invited to join an international organization – NATO – even though the country was not a democracy at the time. At this time, the underlying geopolitical and geostrategic importance of the archipelago was basically the same as in previous years. In other words, The Allies still had an overriding need for an available support base in the middle of the Atlantic from which they could quickly move out troops and materiel to war zones be they in North Africa, the Middle East or even NATO’s southern flank.

North American leaders had realized early on that the secu-rity of the Atlantic was something the United States should battle for. Walter Lippman mentioned something that could very well have been an allusion to what in 1949 was to become the North Atlantic Treaty Organization: a community of free nations on both shores of the Atlantic that was to be born after the World War II.

Yet we must not forget that, from the outset, and as an independent country, the United States had posited keeping out of Europe’s problems and disputes as one of its main foreign policy principles. The Monroe Doctrine is a prime example of this stance. The idea was to keep European powers from meddling in internal American affairs at any cost. This American foreign policy perspective went unchanged until Franklin Delano Roos-evelt and World War II, notwithstanding the country’s having joined WWI late in the war effort.

Up to the World War II, the US had all the economic and financial resources to be considered a great power; what it did not have was the philosophy to make it fit the bill. Neo-isolationist sentiments never fully disappeared, a fact that is still true today. What happened was that after World War II, the US was forced to assume the responsibility of having won the war and the need to work towards planning and implementing a new world order that, until the fall of the Berlin Wall in

Page 352: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[350]

LUÍS ANDRADE

November of 1989, was eminently bi-polar in strategic and military terms.

It was also because of that new world order, which was a direct consequence of the last global conflict, that Portugal, and especially the Azores, continued to play an extremely relevant geopolitical and geostrategic role This is borne out by Portugal’s having been invited to become a founding member of NATO in April of 1949. And what lay behind the invitation was precisely the geostrategic importance of the Azores, as US diplo-matic documentation of the time proves. Examples bearing out this affirmation are legion: from the Berlin blockade to the Yom Kippur War and more recently the two Gulf Wars, in which the Azorean archipelago served a springboard for American might to those parts of the world.

All of these examples substantiate the thesis, espoused by Prof. Adriano Moreira, that Portugal possesses what can be called functional power. As a small country with limited resources, Portugal can only affirm itself in the international arena through the power conferred upon it by its international positioning and the strategic importance of its geographic locations throughout the world – most especially the Azorean archipelago.

Page 353: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[351]

FRANKLIN D. ROOSEVELT AND THE AZORES IN WORLD WAR II

Luís Nuno Rodrigues

The United States’ interest in the Azores and their strategic posi-tion has a history. In the 20th century, this interest goes back to the 1914-1918 war, when the United States set up a navy base there for the first time. Franklin D. Roosevelt, then Assistant Secretary of the Navy, played a very important role in the process.178 As soon as World War II broke out, the Americans were careful to keep a closer watch over the Portuguese islands. They asked the Portuguese government’s permission to send their Mediterranean fleet to Lisbon, though it only actually consisted of a cruiser and two destroyers. On September 15 1939, however, the cruiser USS St. Louis was calling at Ponta Delgada and in the following months not only was there an “American naval pres-ence” in the Tagus, but there were also “irregular visits” by the Americans to the Azores and Madeira.179

It was, however, the arrival of the German forces in the Pyrenees and rumors of a possible invasion of the Iberian Penin-sula that brought Portugal and the Azores to the top of the list of concerns of the Allies, and consequently of the United States. In March 1940, President Roosevelt addressed the possibility of a German attack on the Azores in talks with the Portuguese Minister to the United States during his visit to Washington.180 In June 1940, the New York Times wrote that the conquest of Spain and Portugal by Nazi Germany might be only weeks away.181

Protecting the Atlantic islands from a potential attack by the Axis powers was a central concern in American diplomacy

178 See António Telo, Os Açores e o Controlo do Atlântico (1898-1948) (Lisbon: Edições Asa, 1993), particularly chapters II and III.

179 António Telo, Os Açores e o Controlo do Atlântico (1898-1948), p. 305.

180 Stetson Conn and Byron Fairchild, United States Army in World War II. The Western Hemisphere. The Framework of Hemisphere Defense (Washington D.C.: Office of the Chief of Military History, 1960), p. 83, in www.army.mil/cmh-pg/books/wwii/Framework.

181 The New York Times, June 26, 1940, Arquivo Histórico-Diplomático (AHD), 3rd Floor, Closet 8, Bundle 20.

Page 354: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[352]

LUÍS NUNO RODRIGUES

concerning Portugal in the summer of 1940. On July 17, João António de Bianchi, Portuguese Minister to the United States in Washington D.C., was received at the State Department by James Dunn, political adviser for European questions, who confirmed the “high interest of the United States of America in the situation of the islands belonging to Portugal.” The US government wanted Portugal to inform them of “any suspicion, fact, or circumstance” that might affect the situation in the islands so that they could give it “the most immediate, serious consideration.” Dunn also asked about the Portuguese means of defense and said that he had no doubt that we would be given the material we needed, provided that it was here. In his telegram to Lisbon, Bianchi added that he had been told that President Roosevelt, “with his knowledge of naval matters, is particularly interested in the situation in the Azores, Cape Verde and Guinea.”182

Around this time, there were significant developments in the German plans for a possible invasion of the Iberian Peninsula. In late July, the German military authorities had decided that the best alternative to an immediate invasion of Great Britain was control of the Strait of Gibraltar or the Suez Canal. These plans progressed in the following months and became a project for a vast military operation that, if successful, would have given Germany control over northern and western Africa and the Atlantic islands. It was Operation Felix, the plans for which had been approved by Hitler in early December. The German forces were expected to enter the Iberian Peninsula in January of 1941 with orders to take Gibraltar, invade the African coast, and guarantee positions on the Portuguese-Spanish border from which they could counter British landings in Portugal.183

There were more and more references in the American press to a possible occupation of the Iberian Peninsula by Germany, especially after Hitler’s meeting with Franco in October. That

182 Telegram from the Portuguese

Legation in Washington (PLW) to the Ministry of

Foreign Affairs (MFA), July 18,

1940, AHD, Washington

Archive (WA), Bundle 123.

183 Stetson Conn and Byron

Fairchild, United States Army in

World War II. The Western

Hemisphere. The Framework

of Hemisphere Defense,

pp. 76-80.

Page 355: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[353]

FRANKLIN D. ROOSEVELT AND THE AZORES IN WORLD WAR II

October, an article in the New York Times by the respected US journalist Walter Lippmann pointed out that some of the Atlan-tic islands were “closer to our Atlantic coast than Hawaii is to our Pacific coast” and so the United States could not “let them fall into the hands of any strong, enemy power,” Lippmann said, “Theoretically, the imaginary line dividing the western hemisphere passes through the Azores archipelago.” He therefore felt that it was fair to ask whether the Azores were included in the famous Monroe Doctrine and whether they were necessary to the defense of the western hemisphere. Lippmann advocated preventive occupation of the archipelago, saying “It would be wiser to prevent these islands from falling into other hands than having to deal with the consequences if they have already fallen.”184

Lippmann’s words were taken up soon after by President Roos-evelt himself when referring to the strategic importance of the Azores in a speech in December 1940. Roosevelt wondered whether the Azores could continue to “fly the Portuguese flag” in the event of a German attack on mainland Portugal. A German advance on the Iberian Peninsula could actually jeopardize the security of the United States, as the Azores were, after all, “closer to our Atlantic coast than Hawaii is to our Pacific coast.”185

A few days later, the United States took another important step towards guaranteeing the safety of Atlantic shipping. West-ern Hemisphere Defense Plan No. 2 was announced on April 21 1941. In it, the Americans established Meridian 26 W as the western hemisphere defense line, though including all of Greenland and the Azores which lay to the east of the line. Within this area, the United States armed forces would regard warships or planes belonging to the warring powers, with the exception of those with possessions in the western hemisphere, as potentially dangerous or “unfriendly” to “the territory or shipping of the American powers.”186

184 Walter Lippman, “The American Interest in the French and Spanish Negotiations,” The New York Times, October 26, 1940.

185 Dez Anos de Política Externa (DAPE), Vol. VIII (Lisbon: Imprensa Nacional, 1973), pp. 40-42.

186 Stetson Conn and Byron Fairchild, United States Army in World War II. The Western Hemisphere. The Framework of Hemisphere Defense, pp. 107-108. See also William Langer and Everett Gleason, The Undeclared War, 1940-1941 (New York, Harper & Brothers, 1953), pp. 445-446.

Page 356: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[354]

LUÍS NUNO RODRIGUES

Roosevelt had already informed Winston Churchill of his intention. In his version of events, Churchill recalls, “The Brit-ish and American naval chiefs were, at the time, concerned about the situation in the Azores,” as they suspected that Germany was planning to occupy the archipelago and set up bases there for its submarines and aircraft. Churchill felt that, in enemy hands, the Azores would pose a great threat to Allied shipping in the Atlantic.187 However, Churchill was also worried about the situation in the Iberian Peninsula. In a message to Roosevelt, he warned him of the imminent possibility of a German invasion of the peninsula and expressed his concern about the low capacity for resistance to German pressure demonstrated by Spain and Portugal. If Spain gave in or was attacked and Gibraltar was taken by the Germans, Britain would immediately send an expedition to occupy two islands in the Azores and another to Cape Verde to compensate for the loss of Gibraltar. These operations would, however, take at least a week and there was no guarantee that the German forces were not prepared to stop them. Churchill suggested that Roosevelt send an American squadron on a friendly voyage to these regions as quickly as possible to thwart any “German tempta-tions.”188

Roosevelt answered Churchill at the beginning of May 1941, informing him that the American government had received strong protests from the Portuguese government about the planned “friendly visit” to the Azores and Cape Verde, and the Americans had given up the idea as a result. Roosevelt took the opportunity to suggest that Churchill not send military expedi-tions to any of the islands unless Portugal was actually attacked or there was reliable intelligence regarding an Axis attack. Once again evoking the old Monroe Doctrine, Roosevelt pointed out that the Azores were within the “western hemisphere” and if a British expeditionary force were sent to the archipelago, it would

187 Winston S. Churchill, The

Second World War. The Grand

Alliance (Boston, Houghton Mifflin Company, 1950),

p. 142.

188 Message from Churchill to

Roosevelt, April 23, 1941, Foreign

Relations of the United States

(FRUS), 1941, Vol. II,

pp. 838-839.

Page 357: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[355]

FRANKLIN D. ROOSEVELT AND THE AZORES IN WORLD WAR II

be necessary to explain to the American public that Britain’s purpose was merely defensive and that the occupation would not become permanent. In other words, a British occupation of the Azores would have to be accompanied by an announce-ment by the United Kingdom guaranteeing that sovereignty of the islands would be returned as soon as the war ended. This, of course, if Portugal survived as an “independent nation.”189 Churchill answered soon after, saying that it might be impos-sible to put off occupying the Atlantic islands until after a German attack but promised to announce that the occupation of the Azores would be temporary. After all, the British had no intention of adding more lands to their empire and just wanted to guarantee the defense of Great Britain.190

The Azores question was publicly discussed again in the United States, this time in the Senate. On May 6 1941, Florida Senator Claude Pepper, a member of the Senate Committee on Foreign Relations, suggested that the United States should, as a precaution, occupy several bases and territories in the Atlan-tic, like the Azores, before the Germans did. In other words, it should occupy “the positions that these monsters are preparing to attack us from,” including Greenland, Iceland, the Azores and Cape Verde, the Canaries, and Dakar. Pepper asked, “What justification is there for not occupying a position from which we could attack the malevolent genius of this time?”191 Follow-ing Pepper’s statements in the Senate, the Portuguese decided to issue an unofficial note in protest, criticizing any “aggressive intentions against Portuguese territories” and stating that it had received no requests or suggestions regarding the use of any Portuguese port, base, coast, or island from any of the warring countries. The government also guaranteed that it had prepared the defense of the Azores, Madeira, and Cape Verde “so as to resist any attack to which they might be subjected, although it is not expected.”192

189 Message from Roosevelt to Churchill, May 1, 1941, FRUS, 1941, Vol. II, pp. 839-840.

190 Message from Churchill to Roosevelt, May 3, 1941, FRUS, 1941, Vol. II, pp. 840-841.

191 DAPE, Vol. VIII, p. 387.

192 João Morais and Luís Violante, Contribuição para uma Cronologia dos Factos Económicos e Sociais. Portugal, 1926-1985, (Lisbon: Livros Horizonte, 1986), p. 91.

Page 358: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[356]

LUÍS NUNO RODRIGUES

Meanwhile, the American government had been speeding up preparations for a possible operation in the Azores since the end of April. On April 28 1941, the American consul in Ponta Delgada was instructed “to prepare an urgent report on Portu-guese troops on the island.”193 On May 7, the War Plans Divi-sion drew up a list of 17 strategic locations of interest to the United States, ranked by their “urgency.” The Azores were in second place right after Dakar. It was clear to the American military authorities that “the landing of American troops in the Azores or Iceland would result in a declaration of war by Germany.” At this stage, they argued, sending troops to the Azores would be “more easily justifiable as a measure in defense of the western hemisphere” than the occupation of Iceland.194 Two weeks later, on May 22 1941, President Roosevelt asked the American military authorities to draw up a plan allowing the “occupation and defense” of the Azores by the United States within a month. Five days later, the army and navy had already drafted a plan for Operation Gray, which involved sending an expeditionary force of 28,000 men with strong sea and air support.195

On May 27, Roosevelt himself publicly announced that he believed Germany to have sufficient power to occupy the Iberian Peninsula, the Azores, and Cape Verde at any time. In a speech at the White House, Roosevelt warned Americans that the Euro-pean war had become a “world war” and control of Europe was no more than a step by Hitler on the way to his final objectives on all the other continents. It had now become clear that, unless the German advance was stopped, the “western hemisphere” would be within the reach of the Nazis’ “weapons of destruc-tion.” Germany had already conquered most of Europe and parts of Africa. The Nazis could be assumed to also have “the armed power at any moment to occupy Spain and Portugal” and this threat also extended to French North Africa, the west-

193 António Telo, Os Açores e o

Controlo do Atlântico (1898-

1948), p. 336.

194 Stetson Conn, Rose Engelman

and Byron Fairchild, United

States Army in World War II. The

Western Hemisphere.

Guarding the United States and

Its Outposts (Washington D.C.:

Office of the Chief of Military

History, 1964), p. 463.

195 Stetson Conn and Byron

Fairchild, United States Army in

World War II. The Western

Hemisphere. The Framework of

Hemisphere Defense,

pp. 116-119.

Page 359: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[357]

FRANKLIN D. ROOSEVELT AND THE AZORES IN WORLD WAR II

ern Mediterranean, the “Atlantic fortress of Dakar and island outposts of the New World, the Azores and Cape Verde Islands.” Roosevelt pointed out that the Cape Verde islands were only seven hours’ distance from Brazil “by bomber or troop transport planes” and dominated the south Atlantic shipping routes.”196

The war was drawing closer to the western hemisphere and to the United States. Roosevelt said, “Control or occupation by Nazi forces of any of the islands of the Atlantic would jeopardize the immediate safety of portions of North and South America, and of the island possessions of the United States, and the ulti-mate safety of the continental United States itself.” In another part of his speech, Roosevelt said, “The Azores and Cape Verde, if occupied or controlled by Germany, would directly endanger the freedom of the Atlantic and our own physical safety. Under German domination, these islands would become bases for submarines, warships, and airplanes raiding the waters which lie immediately off our own coasts and attacking the shipping in the south Atlantic. They would provide a springboard for actual attack against the integrity and independence of Brazil and her neighboring republics”197

For the Americans to be attacked, it was not necessary for the Germans to bomb New York, San Francisco, or New Orleans. An attack on the United States could “begin with the domina-tion of any base which menaces our security – north or south” and so “it would be suicidal to wait until they are in our front yard.” This was why the United States had recently extended its patrol in North and South Atlantic waters and was “steadily adding more and more ships and planes to that patrol.” Roos-evelt summarized by saying, “We in the Americas will decide for ourselves whether, and when, and where, our American interests are attacked or our security threatened. We are placing our armed forces in strategic military position. We will not hesitate to use our armed forces to repel attack.” He said, “I have

196 Roosevelt’s speech in full on www.ibiblio.org/pha/7-2-188/188-26.html. See also some translated excerpts in the telegram sent to Lisbon by Portugal’s minister in Washington on May 28, 1941, in DAPE, Vol. VIII, pp. 451-456.

197 Cf. www.ibiblio.org/pha/7-2-188/188-26.html and DAPE, Vol. VIII, pp. 451-456.

Page 360: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[358]

LUÍS NUNO RODRIGUES

tonight issued a proclamation that an unlimited national emer-gency exists and requires the strengthening of our defense to the extreme limit of our national power and authority.”198

Understandably, Roosevelt’s words provoked strong reactions in Lisbon – not only displeasure at his speech and the United States’ possible intentions, but also fear of how Germany might react, possibly bringing forward occupation of Portuguese terri-tory. Salazar’s government decided to issue an unofficial state-ment dated May 30 1941 to be delivered to the American government by the Portuguese delegation in Washington. Portu-gal reasserted its neutrality in the war in Europe and pointed out that its policy “had always met with the agreement of the government of Great Britain, our ally.” Portugal had so far sought “to place the territories said to be most exposed to an attack in an efficient state of defense with the means at its disposal,” i.e. the Azores and Cape Verde. As a result, these Portuguese territories did not constitute “any loss, embarrass-ment, or threat to any of the belligerents or their allies,” and so she could not understand the “reference to the names of those Portuguese possessions” in the American president’s recent speech. This reference “was in itself a source of perplexity to the Portuguese people and their government,” particularly because it represented the theory that the United States was entitled to define and decide when and where it is threatened and how it will use its force to defend itself or others.”199

In a written reply dated June 10, the US government once again “categorically” assured the Portuguese government that the United States had no “aggressive intentions against the sover-eignty or territorial integrity of any other country.” When refer-ring to the Atlantic islands, the president’s only intention was to point out the dangers to the American continent if these islands fell under the control or were occupied by the Axis forces.200

198 Cf. www.ibiblio.org/

pha/7-2-188/188-26.html and

DAPE, Vol. VIII, pp. 451-456.

199 Unofficial note from the

Portuguese government on May 30, 1941, Oliveira Salazar Archives (OSA),

CLB/FSM – 3, Folder VI.

200 Letter from the Secretary of State,

June 10, 1941, OSA/CLB/FSM – 3,

Folder VI.

Page 361: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[359]

FRANKLIN D. ROOSEVELT AND THE AZORES IN WORLD WAR II

In early June, however, Roosevelt focused on the plans for the occupation of Iceland, and the Azores question took second place in his concerns for a while, as he had been persuaded by the military that the United States could not undertake both operations at once.201 Nonetheless, the public attitudes and posi-tions of the United States government did nothing to reassure the Portuguese government. On July 8 1941, more statements by President Roosevelt upset the Portuguese government. At a press conference, Roosevelt gave the reasons for the occupation of Iceland by American forces and said that he expected a German attempt to occupy the island that dominated the ship-ping lines currently used to Britain. He said that, in war, “we have to put ourselves in the other fellow’s shoes” and that there was sometimes definite information about his plans, while other times there was not. The reporters asked whether Roosevelt thought that the other fellow might make a move on the Azores and Cape Verde. Roosevelt replied that he could not make any predications.202

Following this controversy, Roosevelt had to write directly to his “Dear Dr. Salazar” in July 1941, ensuring him that the United States respected “the continued exercise of uncontested, sovereign Portuguese jurisdiction over Portugal’s territory, over the Azores, and over the Portuguese colonies.” This situation was a “guarantee of safety” for the western hemisphere and the American government therefore had no desire to interfere in Portugal’s “sovereign control” over these territories. Roosevelt also said that the American government was very pleased with the steps that had already been taken – and continued to be taken – by the Portuguese government to strengthen the defense of the Azores and other, more distant Portuguese colonial posses-sions in order to make any surprise attack by Germany or powers cooperating with Germany less likely to succeed. Roosevelt also said that his government was prepared to assist the Portuguese

201 A War Plans Division document of June 5, 1941 explicitly said that, from a military point of view, the operations in the Azores and Iceland could not be undertaken simultaneously. Cf. Stetson Conn, Rose Engelman and Byron Fairchild, United States Army in World War II. The Western Hemisphere. Guarding the United States and Its Outposts, p. 470.

202 Telegram from LPW, July 9, 1941, AHD, 3rd floor, Closet 8, Bundle 20.

Page 362: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[360]

LUÍS NUNO RODRIGUES

authorities in the defense of these territories against any threat of aggression by Germany, “if your government expresses its conviction that any such aggression is imminent and if it is your wish that such steps be taken.” Any measures would always be taken in full recognition of Portugal’s sovereign rights and with categorical guarantees that any American forces sent to Portuguese possessions would be withdrawn immediately after the end of the war. On a personal note, Roosevelt closed his letter by recollecting his participation as Assistant Secretary of the Navy in American operations in the Azores during World War I. The president had visited the Azores at the time and noted the “particularly close, friendly” relations between the Portuguese people and the members of the United States Navy. At the time, there was a “complete spirit of cooperation” between the two countries and, as soon as the international emergency ended, all the forces of the allied and associated powers had been immediately withdrawn without the slightest “dent” in the sovereign jurisdiction of the Portuguese government.”203

Salazar replied to Roosevelt on July 29, expressing his appre-ciation on learning from the president’s letter “of the feelings of the United States and its government with regard to Portugal and her exact position on the Portuguese territories in the Atlan-tic and their relationship with the safety of North America.” Salazar underscored that Portugal “has spared no effort or expense to maintain the islands of the archipelago and those of Cape Verde in efficient defense conditions.” The government believed that the “forces and materiel gathered there and some aviation and antiaircraft equipment that the British government immediately supplied will prevent the islands from suffering a successful attack.”204 A few days later, at Salazar’s suggestion, President Carmona went on an official visit to the Azores, “a voyage of sovereignty and political unity,” with a ceremonial escort of two Portuguese warships.205

203 Letter from Roosevelt to

Salazar, July 1941, OSA/CLB/FSM – 3,

Folder VI.

204 Letter from Salazar to

Roosevelt, July 29, 1941, OSA/CLB/

FSM – 3, Folder VI.

205 Franco Nogueira, Salazar. Vol. III: As grandes crises (1936-1945)

(Porto: Livraria Civilização

Editora, 1978), p. 329.

Page 363: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[361]

FRANKLIN D. ROOSEVELT AND THE AZORES IN WORLD WAR II

At the time, more than Portuguese diplomatic pressure, it was the actual events of World War II that dismissed or at least postponed the possibility of an Allied occupation of the Azores. For one thing, the German threat against the Iberian Peninsula diminished. The Spanish government did not confirm its support for Operation Felix and on December 7 1940 informed Germany that it would not commit to entering the war any time soon. As Germany had considered Spanish cooperation essential to the whole operation, Hitler was forced to postpone his plans. In January 1941, he gave some thought to the idea, but the military argued that they would need two months to prepare the operation and that the units involved would not be available to participate in a possible attack on the Soviet Union, which was planned for May 1941.206 On May 20 1941 the first German parachute troops arrived in Crete. For the United States and Britain, everything seemed to indicate that, after Crete, the Germans would begin to prepare their troops for an offensive on Russia and that the invasion of the Iberian Peninsula was an increasingly remote possibility. However, on May 27, the same day on which Roosevelt publicly announced that Germany might occupy the Azores at any moment, British naval and air forces managed to sink the Bismarck, a German warship, off the coast of France, thereby considerably reducing German sea power in the Atlantic. The Azores were losing their precedence and the following week, the United States went ahead with its occupation of Iceland.207

The United States’ entry into the war after the Japanese attack on Pearl Harbor in December, 1941 shelved the question of the Azores. At the end of the year, Churchill advised the American government not to take any initiatives regarding the Atlantic islands, unless the Iberian Peninsula was invaded and Spain acquiesced to the German occupation. The British assured Roos-evelt that the friendship between Portugal and Britain was

206 Stetson Conn and Byron Fairchild, United States Army in World War II. The Western Hemisphere. The Framework of Hemisphere Defense, pp. 79-80.

207 Stetson Conn, Rose Engelman and Byron Fairchild, United States Army in World War II. The Western Hemisphere. Guarding the United States and Its Outposts, pp. 464-465.

Page 364: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[362]

LUÍS NUNO RODRIGUES

“firm,” that the islands’ defenses had been increased to a maxi-mum, and that it was only a matter of time before Portugal joined the Allies. On the basis of these guarantees, the Ameri-can plan to occupy the Azores was temporarily tabled at the end of December, 1941.208

The Azores would only return to the heart of Roosevelt’s concerns in a later stage of the war. When Roosevelt and Churchill met in Casablanca in January, 1943, the archipelago was not only regarded as a fundamental base for defending the western hemisphere from a possible German attack but also as a stopping point for American troops crossing the Atlantic to Europe and North Africa. It was following this summit, and the so-called Trident Conference in Washington shortly after, that the negotiations began between Portugal and the Allies and eventually led to the signing of the August 1943 agreement between Portugal and Britain and the November 1944 agree-ment between Portugal and the United States, granting the UK and the USA permission to use airbases in the Azores.

At the beginning of the Portuguese-American negotiations, Roosevelt once again played an important role, when he wrote to Salazar. On November 23 1943, George Kennan, the Amer-ican chargé d’affaires in Lisbon, handed Salazar a letter from Roosevelt stressing the advantages of American forces using facilities in the Azores in order to “shorten the war and save lives.” Roosevelt also said that the United States had no designs on Portuguese territories and, once again, harked back to his stay there during World War I, recalling that, in those days, “there was never any doubt about the United States’ good faith in its commitment to leave the bases as soon possible after the war.”209

Salazar answered a week later, mentioning the recent agree-ment between Portugal and Britain and saying that, by signing it, Portugal had satisfied Britain’s wishes regarding the use of

208 The Diary of Secretary of War,

Henry Stimson, as quoted by Donald Stevens, “Franklin D. Roosevelt and

the Azores Dilemma, 1941,” Historian, vol. 54,

n.º 4, 1992.

209 Letter from Roosevelt

to Salazar, November 4,

1943, OSA/CLB/FSM – 3,

Folder VI.

Page 365: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[363]

FRANKLIN D. ROOSEVELT AND THE AZORES IN WORLD WAR II

facilities in the Azores. Through these “concessions,” which were justified by the Portuguese-English alliance, Portugal has also taken a significant step towards meeting “the requirements that we knew existed on the part of the United States.” Regarding the future, Salazar promised that the Portuguese government would look into all possible ways of “deepening and strengthen-ing economic and cultural ties” with a view to “harmonious, peaceful, progressive collaboration” between the two nations.210

During the negotiations between the two countries in the following months, the Portuguese government raised frequent obstacles and sought to postpone a final decision on the pres-ence of the Americans on the island of Santa Maria for as long a possible. In July, 1944, the US government decided to send Paul Culbertson, head of the State Department’s Western Europe Division, to Lisbon. Culbertson brought a new letter to Salazar from Roosevelt, in which the president once again expressed the United States’ wish to build an aerodrome in Santa Maria “to be used in connection with our operations in the Pacific theatre of war.” Roosevelt said that further postponements were impossible, due to uncertain weather, and that construction should begin immediately, otherwise the project would have to be dropped. The president cited the “mutual interests” of Portu-gal and the United States, saying that he was sure that Salazar would immediately authorize the dispatch to Santa Maria of “all the equipment and material necessary for the construction of the aerodrome.”211

Paul Culbertson handed Roosevelt’s letter to Salazar on July, 22 and Salazar agreed to the dispatch of all the materials needed to build the aerodrome, but said that the question of its use would still have to be discussed later. Salazar felt that the right moment for the discussion might be the talks about the reoc-cupation of Timor. At the time, no-one knew how “the Portu-guese position in the east might develop” and so “there was no

210 Letter from Salazar to Roosevelt, Novembro 30, 1943, FRUS, 1943, vol. II, p. 572.

211 “Conversation with the United States Ambassador P. Culbertson,” July 22, 1944. OSA/CLB/FSM – 1, Folder I.

Page 366: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[364]

LUÍS NUNO RODRIGUES

point in rushing things,” especially as there was no aerodrome and it would take months to build.” “We’ll see,” said Sala-zar.212

In late July, Salazar replied to Roosevelt that he had autho-rized work to begin in Santa Maria immediately. He referred to his talks with Culbertson and letters exchanged with Pan-American. He called this step “the first and essential condition for all future eventualities.”213

Some months later, on November, 28 1944, the two countries finally signed an agreement on the use of the Santa Maria base. As we have said, President Roosevelt’s direct intervention in the process was decisive to the success of the negotiations. In the agreement, the Portuguese and American governments under-took to build an aerodrome in Santa Maria to serve as an “airbase.” Portugal granted the United States unrestricted use of the new Santa Maria airbase, which would be “under the command of the United States Air Forces for the purpose of operations, administration, and control.”214 In exchange, the American government agreed to Portugal’s participation “in any operations to expel the Japanese from Portuguese Timor in order to restore full Portuguese sovereignty.” According to the agree-ment, this participation would be direct “by the use of Portu-guese forces” or indirect “by granting the United States government facilities for the construction, use, and control of an airbase on the island of Santa Maria, intended to facilitate the transfer of American forces to the Pacific theatre of war or from the Pacific to the United States.”215

212 “Conversation with the United

States Ambassador P. Culbertson,” July 22, 1944.

OSA/CLB/FSM – 1, Folder I.

213 Letter from Salazar to Roosevelt,

July 27, 1944, OSA/CLB/FSM – 3,

Folder VII and FRUS, 1944,

vol. IV, p. 64.

214 “Acordo entre o Governo

Português e o Governo dos

Estados Unidos estabelecendo a

forma de participação indirecta de Portugal em

operações do Pacífico,”

OSA/CLB/FSM – 4, Folder VIII. Cf.

also United States Treaties and other

International Agreements (UST),

vol. 2, Part 2, 1951,

pp. 2124-2132.

215 Letter from Salazar to United

States Ambassador, November 28,

1944, OSA/CLB/FSM – 4,

Folder VIII. Cf. also UST, vol. 2, Part 2,

1951, p. 2124.

Page 367: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[365]

THE SINGING OF SMALL BIRDS: FRANKLIN ROOSEVELT AND THE POSTWAR SETTLEMENTS216

Warren F. Kimball

A pair of anecdotes suggest themes that help to put President Franklin D. Roosevelt’s attitude toward Portugal, and particularly the Azores, into context.

In the summer of 1918, Roosevelt, on an “inspection” tour during the World War I as Assistant Secretary of the Navy, steamed into Horta and Ponta Delgada in the Azores, ports used by Allied warships for logistical support. The visit made a lasting impression, for he later commissioned a painting of his ship (the USS Dyer) moored in Ponta Delgada. Roosevelt gave the painter the details he wanted, telling him how the ship should look, what flags were flying, what support vessels were nearby, and so on. During the World War II, the picture hung in the White House, and today hangs in the Roosevelt Library in Hyde Park, New York.217 In two remarkably similar letters to Portuguese Prime Minister Dr. António Salazar, one in 1941 and the other in 1943, FDR recalled the visit, pointedly commenting that “In those days there was never any question about… the United States carrying out their pledge” to dismantle the bases. “I do not need to tell you that the United States has no designs on the territory of Portugal and its possessions.”218

On New Year’s Day, 1944, a “nervous battery of Portuguese anti-aircraft artillery tossed a few ineffective shots” in the direction of General

217 Details about the painting, based on papers in the Franklin D. Roosevelt Library, Hyde Park, NY [FDRL], courtesy of the Supervisory Archivist, Robert Clark.

218 United States, Dept. of State, Foreign Relations of the United States (Washington: USGPO, 1862-…) [hereafter FRUS + year/volume], 1941, II, FDR to Salazar, 14 July 1941, 851-53. President’s Secretary’s File: Welles; FDR to Salazar, 04 Nov. 1943, Roosevelt papers, FDRL, President’s Secretary’s File: Diplomatic: Portugal (box 48) [hereafter PSF-Portugal].

216 Much of the discussion about Roosevelt’s overall postwar policies is taken from my previous studies, written over the past forty years. Where I have quoted myself I provide citations, but close paraphrases without references have inevitably crept in. The material specific to Portugal is based on more recent research. My thanks to Anders Stephanson for his comments.

Page 368: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[366]

WARREN F. KIMBALL

Dwight Eisenhower, then flying to Washington from Marrakech.219 The predictable counterfactual – what might have happened had Eisenhower been killed – is best left to novelists, but the episode is a caricature of the curious complexity of Portugal’s relations with the major powers during the World War II. That complexity does obscure the reality that, for the great powers, Portugal and its possessions could occasionally get on stage, but never commanded the spotlight. During the Yalta conference in 1945 when Roosevelt and Soviet leader Joseph Stalin cavalierly agreed that the Great Powers should make the peace, British Prime Minister Winston Churchill would quip that “the eagle should permit the small birds to sing and care not wherefore they sang.”220

Theme one: what could Portugal do for the war effort?Theme two: who cares about “small birds?” The first theme

had very little to do with the second.Portugal, because of its strategic position, did get Roosevelt’s

attention even before the United States entered the World War II. American officials worried about the effect of a German occupation of Portugal either in conjunction with Spain (ruled by Generalissimo Francisco Franco) or following a German inva-sion/occupation of the Iberian Peninsula.221 The Azores and Cape Verde Islands could provide bases for German submarines and advanced staging points for an invasion of the Western Hemisphere. Whether or not FDR truly feared such an invasion, he certainly used the threat as part of his campaign to get Amer-icans to support aid to Britain.222 To the relief of the Americans, the British, and the Portuguese, neither Franco nor the Germans brought war to the Iberia. But the question of how Portugal could and should help the Allied war effort against Germany was complicated – at least for Portugal.

For the Americans, especially FDR’s Secretary of State, Cordell Hull, the issues were straightforward. Once the United States

219 Dwight D. Eisenhower,

Crusade in Europe (Garden City, NY: Doubleday, 1948),

p. 218.

220 Charles Bohlen, Witness to

History, 1929-1969 (New York:

Norton, 1973), p. 181.

221 Franco was empathetic to

Nazi Germany if not downright

pro-German. See Stanley G. Payne,

Franco & Hitler (New Haven: Yale Univ. Press, 2007) for a recent study

of the title subject.

222 Waldo Heinrichs,

Threshold of War: Franklin

D. Roosevelt and American Entry

into World War II (New York:

Oxford Univ. Press, 1988),

neatly summarizes these issues. See

especially chapter 3.

Page 369: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[367]

THE SINGING OF SMALL BIRDS: FRANKLIN ROOSEVELT AND THE POSTWAR SETTLEMENTS

entered the war against Germany on 11 December 1941, by Hull’s calculus nations were either with the U.S., or against U.S. But that left Portugal with difficult choices. Whatever Salazar’s personal preferences, before the Anglo-American invasion of French Northwest Africa in autumn 1942, Portugal had to remain neutral lest it prompt German retaliation, even an invasion. (The British actually formulated plans for action in the event the Portuguese government had to withdraw to the Azores or some other Portuguese territory.223) But even after the Allies secured their hold on Morocco and Tunisia by spring 1943, the Portu-guese tried to play both ends against the middle. Like the Span-ish, they hoped to avoid having to fight. At the same time, they hoped to avoid the economic consequences of choosing one side or the other. A German invasion had become unlikely if not impossible. Yet the Portuguese government facilitated trade with Germany in strategic resources, particularly wolfram,224 despite angry and even threatening statements by American diplomats. A moralistic White House and State Department saw this as simply wrong conduct; a Portugal trying to recover from the world-wide depression of the 1930s saw it as a first priority. To the Americans, Salazar (like Franco) seemed far too comfortable with Hitler. But what Churchill wrote in his war memoir about Franco applied just as well to the Portuguese leader: “I am, there-fore, glad to place on record this testimony to the duplicity and ingratitude of his dealings with Hitler and Mussolini.”225

Salazar proved more clever than Franco. Even after the successful Anglo-American invasion of French Northwest Africa in autumn 1942, he managed to be “the Mouse that Roared.”226 The Germans did not move into the Iberian Peninsula, and with Allied forces ensconced in Morocco, the strategic situation for Portugal had changed. But despite Anglo-Americans demands that Portugal to cut off strategic trade with Germany, particularly sales of wolfram, Salazar argued that he had legal (for neutrals)

223 See, for example, a copy of a telegram from the British Foreign Office to the British Embassy in Washington, 16 Dec. 1941, PSF-Portugal; and Welles to FDR, 19 Dec. 1941, FRUS, Conf. at Washington, 1941-1942 and Casablanca, 1943, 38-39.

224 Wolfram and tungsten are the German and English names, respectively, for the element with the periodic table symbol of W. In the diplomatic context, wolfram likely referred to wolframite (iron manganese tungstate), an ore from which tungsten/wolfram was extracted and used to make armor piercing shells and machine (cutting) tools.

225 Winston S. Churchill, Their Finest Hour (Boston: Houghton Mifflin, 1949), p. 530.

226 The Mouse That Roared (1955), a novel (later a motion picture) by Irish

Page 370: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[368]

WARREN F. KIMBALL

agreements with Germany that he had to fulfill. (The argument from “neutral rights,” which referred to trading rights, resonated with Americans, who had insisted since the American Revolu-tion on the right of neutrals to maintain established trade in time of war.) The Allies tried to get Portugal to change its trade policies, with both carrots (buying Portuguese products) and sticks (diplomatic pressure), but to no avail. The open use of force was out of the question, for what they wanted was Portu-guese cooperation allowing them to use the Azores for air and naval bases. The wolfram issue festered until mid-1944, when, once the British worked out a compromise to control Spanish exports, Salazar agreed to end sales to Germany.227

Whatever Hull’s stubborn anger about the wolfram trade, FDR seemed concerned primarily about geopolitics, in this case the use of the Azores as a military and logistics base, during and after the war. The Americans had put steady pressure on Portugal to provide airbase facilities in the Azores, Portuguese islands strate-gically situated in the mid-Atlantic due west of Lisbon. The war against German U-boats was the immediate reason for the request, although U.S. commercial aviation interests hoped to make the islands a postwar way-station for trans-Atlantic flights. Salazar, speaking often of the “historic” Anglo-Portuguese relationship, played the British against the Americans for as long as he could. Late in June 1943, he finally agreed “in principle” to allow Brit-ish forces to operate facilities in the Azores (operation LIFEBELT), insisting “that under no circumstances” would he admit any but British forces. FDR, eager to obtain base privileges for the United States, wrote of a “peaceful occupation of the Azores,” but a confrontation with Portugal would not serve the interests of the Allies, or Portugal. The American chargé in Lisbon, George Kennan, warned Roosevelt that a lengthy shopping list of facil-ities in the Azores that the American military chiefs wanted presented to the Portuguese government, would not only be

writer Leonard Wibberley had a

fictional and tiny (35 miles)

European grand duchy making war

on the USA in order to get postwar aid.

227 For a more detailed treatment

of the wolfram issue, see Philip

Mundy, “Prosperity and

Security: Economic Warfare

and Roosevelt’s Post-War Vision,”

in this volume.

228 Warren F. Kimball, ed.,

Churchill & Roosevelt: The

Complete Correspondence

(3 vols.; Princeton: Princeton Univ. Press, 1984), II,

C-338/1 (29 June 1943), R-299 (30

June 1943), and FDR to Leahy 17

July 1943, Map Room papers,

FDRL. For background on

LIFEBELT see ibid., C-308, C-312, C-313, C-319,

and R-292. George F. Kennan,

Memoirs, 1925-1950 (Boston: Little Brown,

1967), p. 161. Surprisingly,

Kennan makes no mention in his

Page 371: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[369]

THE SINGING OF SMALL BIRDS: FRANKLIN ROOSEVELT AND THE POSTWAR SETTLEMENTS

rejected but would raise suspicions about America’s long-term intentions. FDR told Kennan to do his best and not to “worry about all those people over there,” meaning the military and the State Department who advocated being tough with Salazar.228

When, by December 1943, American demands for authority and cooperation from Portugal to build an air base became overpowering, Salazar opted for endorsing the historic Anglo-Portuguese relationship and suggested the farce of Americans in the Azores but under British control. Churchill, recalling FDR’s insistence that the North African invasion be exclusively American, obviously relished proposing that American aircrews in the Azores could wear “some badge to indicate that they are temporarily incorporated into the R[oyal] A[ir] F[orce]…” After all, he added, “please remember that we were quite ready to put large numbers of troops into American uniforms at the time of TORCH…”229 American admirals wanted no part of such a humiliating subterfuge, but eventually agreed to come in through “the back door.”

From the outset of the war, the Portuguese had repeatedly hinted that they feared the Americans were casting what Churchill once called “sheep’s eyes” on the Azores. In July 1941, as German U-boats roamed the Atlantic and it looked as it Spain and even Portugal would choose to or be forced to side with the apparent winner, Roosevelt had written to reassure Salazar of American support for Portuguese sovereignty over Portugal itself as well as the Azores and “all Portuguese colonies.” The “sheep’s eyes” being made by Hitler were FDR’s concern. Salazar’s reply to FDR’s letter was a master-piece of diplomatic persiflage. He welcomed support against any possibility of German aggression, while

229 Kimball, Churchill & Roosevelt, II, C-549 (19 Jan. 1944), R-448 (22 Jan. 1944); Martin Gilbert, Winston S. Churchill: Road to Victory, 1941-1945 (Boston: Houghton Mifflin, 1986), p. 647. The “historic” Anglo-Portuguese relationship warrants separate consideration. Suffice to say that both Churchill and Salazar found it extremely useful during the World War II, though for slightly different reasons. For Salazar it was a way to avoid too close a German or Spanish embrace, although that later included trying to restrain American pressures.

memoir of the struggle over Portuguese wolfram exports to Germany, beyond the comment that “the British had already bargained away… all the trump cards… relating to economic warfare measures…” Memoirs, p. 153. As Kennan had recommended, the U.S. military modified their request for facilities in the Azores, with airbases on either Flores or Santa Maria Island the first priority; see memo, Stettinius to FDR, 02 Nov. 1943, PSF-Portugal.

Page 372: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[370]

WARREN F. KIMBALL

dismissing the likelihood of any such attack on the Azores, “since control of the Atlantic is not theirs [Germany’s].”230

Two years later, with the German threat receded, it was Amer-ican designs on the islands that worried Salazar. When Kennan talked to the President in November 1943, the President protested, pointing out that after World War I he had “personally supervised” dismantling the American navy bases in the Azores. “His face lit up” and he proposed writing Salazar personally, Kennan recalled. The letter delivered to Salazar stated unequivocally that “the United States has no designs on the territory of Portugal and its possessions.”231 But despite such assurances, Salazar delayed and postponed actions needed to develop a U.S. base on Santa Maria island. In autumn 1944, with the war’s outcome no longer in doubt, the Americans got tough. The State Department recom-mended that FDR tell the Portuguese that the best way Portugal could help the war effort in the Pacific, “including the liberation of [Portuguese] Timor, is to make available to the United States the facilities it requires in the Island of Santa Maria.”232 Even Churchill, ever conscious of Britain’s historic relationship with Portugal, acidly commented that “there is no need for us to be apologetic in dealing with any of these neutrals who hope to get out of Armageddon with no trouble and a good profit.”233

On 28 November 1944, after years stalling, the Portuguese Government turned over the Santa Maria facility to the United States. A small sign of things to come in the postwar world was the comment by the American Ambassador in Lisbon that one of the advantages of the final arrangement was that “the bugbear of British insinuation into control has been eliminated.”234 The Santa Maria base was eventually built. Fife Symington, a Pan American employee with a commission in the U.S. Navy, later provided an insider’s view of the Santa Maria story: “During the early part of U.S. participation in the war, it became appar-ent that a land plane refueling base in the Azores was essential…

230 Salazar to FDR, 29 July 1941,

FRUS, 1941, II.

231 Kennan, Memoirs, 160-61;

FDR to Salazar, 04 Nov. 1943,

PSF-Portugal.

232 State Dept. (Hull) to FDR, 06 Oct. 1944, PSF-Portugal.

233 Llewellyn Woodward, British

Foreign Policy in the Second World

War (5 vols.; London: HMSO,

1970-76), IV, p. 63.

234 Memo, Stettinius to FDR,

29 Nov. 1944, PSF-Portugal,

reported transfer of the base to the

U.S. The Ambassador’s

comment is in Norweb to Hull,

12 Oct. 1944, FRUS, 1944,

IV, p. 83.

Page 373: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[371]

THE SINGING OF SMALL BIRDS: FRANKLIN ROOSEVELT AND THE POSTWAR SETTLEMENTS

Roosevelt and Trippe [Juan Trippe, President of Pan American Airlines], under Pan American’s contract with the Portuguese government, arranged a secret contract whereby two generals and 250 Corps of Engineers construction personnel were put in Pan American uniform and sent to the Azores to build the great Santa Maria Base… Because of my knowledge of Portu-guese, I assisted in negotiations in Lisbon between Pan Ameri-can, George Kennan of the Embassy… and Prime Minister Salazar, leading to the fulfillment of the Azores construction… [T]ransoceanic commercial flights were by Pan American Seaplanes (Boeing 314s). The Boeing Clippers carried every important passenger to and from Europe and Africa, including Churchill and Roosevelt.”235

In his own way, Salazar won out again. The base construc-tion looked as if it were being done by Pan American, not the U.S. Navy. But it was a hollow victory.

Roosevelt believed, most strongly, that the Atlantic islands such as the Azores should come under overall American strategic control. Churchill agreed.236 The Americans built a major airbase at Lajes in the Azores, initially to battle German U-boats in the Atlantic and to provide refueling for aircraft heading to the Pacific. As the Cold War developed, the facility evolved into a major forward base for American forces. However that played out in the Cold War dynamic, the American presence in the Azores came, and stayed, as a legacy of the World War II.

A much exaggerated aspect of Roosevelt’s postwar planning was his support for self-determination for European empires – a very sensitive issue for all the old European empires, and an impossible one for the smaller colonial powers like Portugal and the Netherlands. Whatever Roosevelt’s rhetoric, the story of decolonization is largely one decided by the colonial peoples during the war of the Cold War. When their demands for inde-pendence became too powerful to ignore, cost-effectiveness inev-

235 Fife Symington, “Fun at the Time – and Since,” Princeton University Class of 1933: 1995 Newsletter 9 (http://tigernet.princeton.edu/~cl1933/article.asp?year=1995 &url=fun-at-the-time).

236 Wm. Roger Louis, Imperialism at Bay (New York: Oxford Univ. Press, 1978), p. 347.

Page 374: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[372]

WARREN F. KIMBALL

itably dictated compromise. The process was messy and sometimes violent. It got tangled up in Cold War rivalries. The Americans came to support the residue of empire, military bases in particu-lar. But little or none of that was a result of FDR’s anti-colonial-ism. He, and his military advisors, wished to have American bases throughout the world’s oceans and coasts, but even then Roosevelt insisted, to the consternation of his military leaders, that the United States be accountable to the United Nations for issues of self-rule – something the military ignored after his death.237

The overall postwar settlements were sketched out at the Tehe-ran conference in December 1943, and then spelled out at the Yalta conference in February 1945, the only Big Three meetings before the defeat of Germany.238 Military planning for the war, Polish boundaries, the division of Germany, reparation, a Far East-ern settlement – these and other issues shaped the “big picture” of the postwar world, and the Cold War that followed. For the smaller and less powerful states, other issues prevailed. Most sensi-tive yet least important was decolonization which masqueraded under the label “self-determination.” More important because of it seemed to promise a kind of self-determination, was an inter-national organization – the United Nations. But most pressing, most important, were the economic issues of reconstruction and growth. It is a commonplace that happy, prosperous publics pose little threat either to elected or autocratic government.

In hindsight, the dissolution of European colonial empires was a foregone conclusion. The primary reason was that the growing communications revolution – including FDR’s widely publicized rhetoric about home rule – prompted native peoples to ask for and expect control of their own societies. The Atlantic Charter was a very real document in the minds of the colonized. In Asia, that awareness was strengthened by Japanese defeats of Western forces at Singapore, Pearl Harbor, and throughout the western Pacific – destroying the image of the unbeatable Europeans. When,

237 Warren F. Kimball, The

Juggler: Franklin Roosevelt as

Wartime Statesman (Princeton:

Princeton Univ. Press, 1991)

p. 155; Louis, Imperialism at

Bay, pp. 272-73, 346-47.

238 The most complete and

most perceptive study of the

Teheran Conference is

Keith Sainsbury, The Turning Point:

Roosevelt, Stalin, Churchill, and

Chiang Kai-shek; The Moscow,

Cairo, and Teheran Conferences

(Oxford: Oxford Univ. Press,

1985). The Yalta Conference is

studied in Diane Clemens, Yalta

(New York: Oxford Univ.

Press, 1970), but new material and

perspectives developed over the

past thirty-five years suggest that the most famous

of the Second World War

conferences needs a new historian.

Page 375: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[373]

THE SINGING OF SMALL BIRDS: FRANKLIN ROOSEVELT AND THE POSTWAR SETTLEMENTS

at Teheran, Stalin suggested that the Allies should not “shed blood to restore Indochina” to France, FDR agreed and then asserted that the French should not control any strategic points and that Dakar, on the bulge of French West Africa, had to be “under the trusteeship of the United Nations.”239 The Azores may not have needed a trusteeship, but they surely were on FDR’s mind.

Roosevelt and his administration had little interest in or knowl-edge of Portuguese imperial possessions. Macau, Goa, and sub-Saharan Africa were irrelevant to the war, although the island of Timor briefly caught their attention on a number of occasions. The first occasion came in December 1941, shortly after the Pacific War began, when Dutch and Australian forces occupied Portuguese (eastern) Timor in anticipation of a Japanese attack. Coming at a time when rumors abounded of Spain joining forces with Germany, the Anglo-Americans were understandably nervous when the Portu-guese protested that violation of their neutrality. The small Dutch-Australian force withdrew when Portuguese reinforcements arrived from East Africa. All in vain, of course, when the Japanese took the entire island by the end of February.240

Then in mid-1943, amidst the seemingly endless negotiations for British and American bases in the Azores, the Portuguese indi-cated to the British a desire to assist in the liberation of the island from the Japanese. Churchill understood. FDR’s rhetoric, public and private, about decolonization, had long concerned and angered the British Prime Minister who found Roosevelt’s suggestions “madness.” Accepting the truth of Joseph Stalin’s maxim – “whoever occupies a territory imposes on it his own social system” – Churchill wanted Britain to liberate Singapore, Malaya, Hong Kong and other occupied British territories in the Pacific. His argument was that home-rule and decolonization were something for the colo-nized and colonial power to work out. To validate that “principle,” he supported Salazar’s request just as he later supported and assisted French efforts to “liberate” Indochina.241

239 Warren F. Kimball, Forged in War: Roosevelt, Churchill, and the Second World War (New York: William Morrow, 1997), p. 248.

240 David Day, The Great Betrayal: Britain, Australia & the Onset of the Pacific War, 1939-42 (North Ryde, Australia: Angus & Robertson, 1988), p. 242; Memo by Welles of conversation with Portuguese Minister in Washington, 24 Dec. 1941, FRUS, 1941, II, pp. 856-59; Memo of conversation with a British Embassy Official, (03 Jan. 1942), FRUS, Washington Conf. 1941-42, pp. 413-14.

241 FDR’s musing is in Kimball, Churchill & Roosevelt, II, R-292 (21 June 1943); for Churchill’s support for Salazar see C-321 (13 June 1943) and C-331 (27 June 1943). The “madness quote is from Winston S. Churchill, The Hinge of Fate, v. IV of The

Page 376: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[374]

WARREN F. KIMBALL

FDR’s reaction gave those who, like Churchill, found Amer-ican anti-colonialism hypocritical and convenient, a wonderful twist. Perhaps, Roosevelt mused to Churchill, Australia could purchase Portuguese Timor “in the interest of the defense of the Southwest Pacific.” But there was no hurry; the matter could be “left until the war was over. The same thing applies to Macao.” FDR apparently got the idea from H. V. Evatt, the Australian “foreign minister,” who had recently visited Wash-ington. Evatt, who with some other Australian politicians had visions of a “sub-empire in the Southwest Pacific,” had publicly suggested that Australia “partner” with the Dutch and that Australia and take control of Portuguese Timor!242 The proposal fit neatly with Roosevelt’s belief that most colonies were not prepared for self-determination. His solution was “trusteeships.” He thought that Korea, an ancient civilization, would need “perhaps forty years” since a half-century of Japanese occupation had destroyed the middle-class. For Roosevelt, self-determination was a matter of practicality, not principle.243

Timor popped up for the last time when, in autumn 1944, the United States turned against Salazar his own long-standing request for Portugal to liberate the island. FDR agreed to have the U.S. ambassador to remind Salazar that American forces would liberate Timor from Japanese occupation, and if partici-pation in that liberation was his real concern, the Portuguese should “cease haggling over Santa Maria.”244

Roosevelt had little understanding or empathy for the intense nationalism that native peoples had been developing in the 20th Century. His gradualism would anger and frustrate those in the colonies who wanted self-determination immediately. But that gradualism did not mean Roosevelt’s anti-colonialism was a fraud. His attitude about such colonial possessions is clear. He believed self-determination an inevitable process. He firmly believed that colonial empires had been major cause for both 20th Century

Second World War (Boston:

Houghton Mifflin, 1948-53), p. 219.

Stalin is quoted in Kimball, Forged in

War, p. 209-10.

242 Kimball, Churchill & Roosevelt, II,

R-292 (21 June 1943). For Evatt’s

proposal, see David Day, The

Reluctant Nation: Australia and the

Allied Defeat of Japan, 1942-1945

(South Melbourne: Oxford Univ. Press

Australia, 1992), p. 121. For more

on Australia’s understandable, if

comic opera ambitions, see

David Day, “Dr. H. V. Evatt and the Search of a

Sub-Empire in the Southwest Pacific,”

in Brave New World: Dr. H. V.

Evatt and Australian Foreign Policy, David Day

ed. (St Lucia: Univ. of

Queensland Press, 1996), pp. 47-61.

243 See Fred Pollock and

Warren Kimball, “’In Search of

Monsters to Destroy’:

Roosevelt and Colonialism,” in

The Juggler, ch. 7,

Page 377: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[375]

THE SINGING OF SMALL BIRDS: FRANKLIN ROOSEVELT AND THE POSTWAR SETTLEMENTS

world wars. Decolonization (a word Roosevelt would not have recognized) was not so much a fundamental principle for him as it was essential to world peace. On the surface, that conflicts with the implied assurances to Salazar that the United States would withdraw from bases on Portuguese territory, specifically the Azores. A statement that “the United States has no designs on the territory of Portugal and its possessions” did not promise a dismantling of those bases. What Roosevelt did in his personal letter of November 1943, was merely remind Salazar of the U.S. withdrawal after the World War I. What happened after the World War II was a different story.245

The Cold War bore out Roosevelt’s convictions about the nature of geopolitics – convictions that relegated Portugal, and other small, less powerful nations, to the sidelines. His funda-mental premise was simple: “world” wars occur because the Great Powers chose to fight rather than negotiate. His entire postwar conception proceeded from that conclusion. If the Great Powers (a very flexible designation) felt comfortable and not threatened, world wars could be avoided. FDR’s view of what was a “Great Power” was never static. At the start of the war, he saw the Great Power condominium as just Great Britain and the United States. By the time of the Teheran conference – the first Big Three meeting of Churchill, Roosevelt, and Stalin – the Soviet Union and China had been added to FDR’s mix. Great Power leadership was his governing assumption; it became the governing assumption of the Cold War.

But he believed that leadership should operate in geographic areas – nearby neighborhoods. The Good Neighbor Policy toward Latin America and U.S. relations with Canada both illus-trated what FDR had in mind. Leadership – which combined persuasion, power, and especially patience – would prevent local crises from becoming global crises. The Great Powers would negotiate among themselves to make that happen. After inter-

esp. pp. 145-46; and “Anglo-American War-Aims, 1941-43, ‘The First Review’: Eden’s Mission to Washington,” in the Rise and Fall of the Grand Alliance, 1941-45, Ann Lane and Howard Temperley, eds. (Houndmills: Macmillan, 1995), pp. 1-21.

244 The demarche to Salazar was delivered informally; FRUS, 1944, 07 Oct. 1944. For background see FRUS, 1943, II, 568-80; FRUS, 1944, IV, pp. 1-83.

245 The Portuguese colonial empire lasted longer than any its fellow European states. Its breakup was central to African and Cold War geopolitics during the 1970s.

Page 378: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[376]

WARREN F. KIMBALL

viewing FDR, one friendly reporter wrote that FDR saw the Western Hemisphere as a system that functioned “as a continu-ing peace conference, which mediates before, not after, hostili-ties.”246 Both the Americans and the British believed that “the real decisions should be made by the United States, Great Brit-ain, Russia and China, who would be the powers for many years to come that would have to police the world.” In FDR’s scheme, disarmament played a key role. Only the Great Powers would have military weapons beyond small arms.247

Within that vague structure, self-determination would clearly be granted by the Big Four, assuming they could agree on the details. Those details proved challenging. Woodrow Wilson had “let the genie out of the bottle,” is the apocryphal phrase.248 Self-determination directly threatened European empires, includ-ing the far-flung Portuguese empire which stretched from central Pacific to Africa’s Atlantic coast.249 That liberal principle also posed a challenge to autocratic rule, not only in the Soviet Union and its satellites, but in places like Spain and Portugal as well.

Where would that leave Portugal and other nations not desig-nated (by themselves or by the Big Three) as Great Powers? Where would that leave the rest of the world?

Great Powers could prevent and avoid a world war, which meant they had to feel physically secure. That meant different things to different people. For Roosevelt, separated from Europe and Asia by vast distances (commercial jet travel was decades in the future), that meant naval bases in the Pacific and Atlan-tic Oceans, and that included the Azores. For Churchill it meant retaining the British Empire in one form or another. For Stalin, “friendly” governments in neighboring states, governments either communist or not dedicated to anti-communism (e.g., Finland), was a sine qua non. Nonetheless, however a Great Power inter-preted security, FDR believed it could and should act as “police-

246 Kimball, The Juggler, pp. 107-25,

quotation on p. 110.

247 FRUS, 1943, III, p. 39.

248 Wilson’s Secretary of State,

Robert Lansing, purportedly said that Wilson had

“let the genie out of the bottle” by

calling for self-determination.

Lansing seems not to have used that

phrase, but he did condemn use of

the words “self-determinat-

ion,” labeling them a “calamity” that would “raise hopes which can

never be realized.” Private

Memoranda, 30 Dec. 1918,

Lansing papers, container 63,

Library of Congress

(Washington, DC), courtesy of David

Foglesong.

249 At the time of World War Two,

the Portuguese Empire consisted

of the eastern half of the island of

Timor, while the western half was part of what was then the Dutch

East Indies (some

Page 379: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[377]

THE SINGING OF SMALL BIRDS: FRANKLIN ROOSEVELT AND THE POSTWAR SETTLEMENTS

man” in its region, using peer pressure and even force if necessary to rein in “criminal” nations.

But that was not enough. He believed that policing (law & order) was necessary, but also that the postwar world should be “open” to commerce in ideas, information, people, and goods. He seems to have inherited the notion of old French philosophes – that nations intertwined by commerce would not fight each other – and broadened it beyond economics. Combined with the abolition of colonial empires, that would eliminate much of the destructive rivalries that had led to war in the past. This crucial, but oft-ignored aspect of FDR’s thinking suggests how he reconciled military bases with decolonization; how he recon-ciled self-determination with Great Power security; how he looked globally at the world.250

The overall postwar settlement evolved over the course of the entire World War II. Perhaps the logical starting point was the Atlantic Charter – a lofty general statement agreed to by Churchill and Roosevelt in August 1941 – that called for “self-determination,” a vague term that seemed to suggest both inde-pendence for colonies (Churchill rejected that interpretation) and liberal democracy as the governing system of states (Stalin rejected that interpretation). Even as FDR was developing his system of Great Power neighborhoods, others like Secretary of State Cordell Hull turned to internationalism. Woodrow Wilson’s League of Nations had planted a seed that failed to flourish, but also would not go away. The League was never a world government; it could not force its members (or non-members) to do anything they did not want to do. Roosevelt’s instinct was to act as benevolent patrón toward the states of the Western Hemisphere, but that would hardly satisfy either Wilsonians or the governments of the smaller and/or less powerful states. So throughout the war, those two approaches, not quite contradic-tory but at cross-purposes, jockeyed for position.

miles northwest of Darwin, Australia), the cities of Macau on China’s coast and Goa on the western coast of India, Mozambique and Angola in Africa, and The Cape Verde and various other small islands off Africa’s west coast. Only the Azores and Madeiras in the Atlantic Ocean were indisputably and historically Portuguese.

250 For “open spheres” and related concepts, see Kimball, The Juggler, pp. 102, 182, 198, 262-63. For FDR’s global instincts, see FDR’S World: War, Peace, and Legacies, D. Woolner, D. Reynolds, W. Kimball, eds. (New York: Palgrave, forthcoming 2008), especially the essay by Alan Henrickson, although all the essays touch on this important aspect of Roosevelt’s thinking.

Page 380: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[378]

WARREN F. KIMBALL

But in FDR’s thinking, the two were interdependent. For the United States to play a leadership role in its region, and hence in the world, the American public had to support that role. Roosevelt and his key advisers, thinking of the so-called isola-tionist movement in the 1920s and 30s, feared that “isolation-ism” (better called “unilateralism”) would reassert itself after the war. But Hitler had, it seemed, made the public receptive to internationalist/Wilsonian ideas. When Congressional leaders proposed that the United States commit to joining a worldwide international organization aimed at preserving the peace, Amer-icans agreed with surprising enthusiasm.

Roosevelt’s public statements about what became the United Nations Organization took a positive tone, although he privately raised doubts about the usefulness of such a body – emphasiz-ing that Great Power cooperation was what really mattered. The UNO never constituted an indispensable part of his practical international structure – the Four (or more) Policemen. If an international organization helped the Great Powers to get along, fine! If not, then bypass it. He did persuade Stalin and Churchill to support a postwar international organization, but what mattered for all three was the Security Council – an institutional structure for Great Power cooperation. The UNO could provide a useful place for Great Power negotiations, but making the UN General Assembly anything more than a “talking shop” could be dangerous. Churchill perfectly captured Roosevelt’s thinking with quick cynicism: “The eagle should permit the small birds to sing and care not wherefore they sang.”251

Portugal and the Azores disappeared from this paper as it came to a close, as they did from American concerns. But another war, the Cold War, would soon remind American poli-cymakers that geopolitics – and common sense – suggest that everybody matters.

251 Emphasis added. Churchill’s

comment was heard by Charles

Bohlen (at Yalta as a translator) and recounted in his memoir, Witness

to History, 181. In 1935 Roosevelt

similarly dismissed the League of

Nations as “nothing more

than a debating society, and a

poor one at that.” As quoted in

Robert A. Divine, Roosevelt and World War II

(Baltimore: Penguin Books,

1969), p. 57.

Page 381: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[379]

PROSPERITY AND SECURITY: ECONOMIC WARFARE AND ROOSEVELT’S POST-WAR VISION

Philip Mundy

In Robert Wilson’s 1999 crime suspense novel, A Small Death in Lisbon, Detective José Coelho’s investigation of a murder case forces him to dig into the sordid connection between Portugal and the Nazis during World War II.252 As the plot thickens, Detective Coelho learns how German operatives and Portuguese criminals smuggled wolfram over the border into Spain and how they worked to outsmart the British operatives sent to stop them. The Germans desperately needed 2500 tons of wolfram in 1942 alone to maintain their armaments production levels, and there was at least this much wolfram available in Portugal.253 To pressure Portugal into stopping shipments of wolfram to Germany, Franklin Roosevelt authorized the use of an evolving range of economic warfare methods that pushed US policy from initial respect for neutral trading rights to abrogation of those rights by the end of the war.254 These methods included corner-ing markets in scarce materials that Portugal needed to buy and working to become important purchasers of goods that Portu-gal needed to sell. Portuguese Prime Minister Dr. António Sala-zar, however, proved to be quite effective at countering US efforts by maximizing the negotiating value of the Azores and his control of the wolfram trade. His deft moves reveal a great deal about the ability of small states to resist this sort of economic pressure and the development of the economic warfare policies reveals a great deal about the role economic statecraft played in Roosevelt’s vision for the post-war world. Increasingly interna-tional in outlook, he moved towards a “New Deal for the world”

252 Robert Wilson, A Small Death in Lisbon (New York: Harcourt, Inc., 1999).

253 Thomas Finletter, October 24, 1941, “Tungsten; general,” Record Group 59, National Archives, Washington, DC. Hereafter, “Tungsten; general” Also Hereafter, National Archives in Washington DC as “NARA.” And Record Group” as “RG;” See also Memorandum from the British Embassy, November 4, 1941, “Portugal – Wolfram,” RG 59, NARA. Hereafter, “Portugal – Wolfram.”

254 See Alan P. Dobson, US Economic Statecraft for Survival 1933-1991: Of Sanctions, Embargoes, and Economic Warfare (New York: Routledge, 2002). Stanley G. Payne, Franco & Hitler (New Haven: Yale Univ. Press, 2007) is the most recent summary of the title subject.

Page 382: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[380]

PHILIP MUNDY

where US economic dominance would both help push countries to cooperate with the US system and would help to regulate the economy to help avoid another Depression. Economic warfare in World War II provided an important testing ground where the US experimented with a range of economic measures that it could potentially use to help implement this vision.

During the late 1930s and through the war, US officials led by Roosevelt had come to understand that the interconnected world economy had significant effects on both US security and US prosperity. If the world economy faltered, the US would face not only significant risks to its own prosperity, including a return of Depression, but also the increased likelihood of another major war that economic upheaval would cause. The US could no longer trade with a dangerous world and at the same time remain safe in its hemisphere. It could no longer try to insulate itself from the world economy because as never before US security and prosperity depended on the peace and prosperity of the rest of the world. Roosevelt believed that this meant the US needed to take a more assertive role in creating a more stable and pros-perous world. For Europe in particular, he formed a vision that included “an overarching structure in which the United States would occupy the position of keystone” to go along with new regional political and security arrangements.255 Besides political considerations, economic management played a vital role in preserving peace.

Economic planning for the post-war world under Roosevelt derived many of its assumptions from the New Deal and these are echoed in economic warfare. The Roosevelt administration increasingly favored efforts “to internationalize the New Deal idea of responsible capitalism” where currency exchange rates would be fixed, the US dollar would become the world’s master currency, and trade barriers would be reduced.256 In essence the US would try to temper the rough edges of capitalism in the

255 See Dobson; John Lamberton

Harper, American Visions of Europe

(New York: Cambridge

University Press, 1996), p. 79.

256 See David Reynolds, The Creation of the

Angol-American Alliance 1937-

1941: A Study in Competitive

Co-operation (Chapel Hill: The

University of North Carolina

Press, 1981) p. 282; Dobson,

p. 62.

257 Charles Yost, “Prospective

Functions of the Board of

Economic Warfare,” RG 59,

NARA, 5.

258 For an account of the challenges

facing planners in rebuilding the

international economy, see

Milward, War, Economy, and

Society, pp. 329-365. See

also Dobson, pp. 51-52.

Page 383: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[381]

PROSPERITY AND SECURITY: ECONOMIC WARFARE AND ROOSEVELT’S POST-WAR VISION

international economy just as it did in the domestic. The links between the New Deal and economic warfare are clear in the Board of Economic Warfare’s (BEW) Statement of Functions, which asserts that the men chosen to serve as liaisons between the State Department and the BEW should be of the highest caliber and “should also, if possible, be men who are in sympa-thy with the New Deal political and economic outlook of the Board.”257 Economic warfare and post war planning shared with the New Deal the common assumption that the government could help engineer economic stability by manipulating the various economic levers at its disposal.

Free trade was one of the key components of Roosevelt’s liberal economic order.258 While momentum for freer trade had been building throughout the 1930s and the early 1940s, the Roosevelt administration sought to bring world-wide economic growth through the efficiencies it saw in free markets.259 Free trade would help secure more markets for US exports and ease the threat that oversupply would precipitate another Depression. A reduction of tariff barriers would allow international economic coordination and thus foster “the fullest and most effective use of the material and human resources of this and other countries in the post war era.”260 The Roosevelt administration worried, however, that nations would not willingly adopt free markets. They saw barriers to trade and uncoordinated nationalist solu-tions as contributors to if not the cause of the Depression and the war, and they saw a continuation of these policies in the post war era as a recipe for more struggles.261 The solution was to implement international controls that would prevent countries from developing their own, uncoordinated policies. Regulation of commodity prices by some kind of international body would help stabilize the world economy, helping both the US and other capitalist countries.262 US economic planners also realized that the expansion of trade necessary to preserve growth could only

259 See Cordell Hull, Memorandum of Conversation, August 24, 1942, “File #2: Post War: ER+EP May 7,” Acheson Records for 1941-48, 1950, RG 59, NARA.

260 Summary of the Interim Report of the Special Committee on Relaxation of Trade Barriers, December 8, 1943.

261 Statement read to Economic Committee by Taylor, May 7, 1943, “Committee on Post-War Foreign Economic Policy.”

262 The many documents that reveal this trend are too numerous to detail in the text of the paper. For some examples see Records of Harley A. Notter, 1939-1945, RG 59, NARA. Hereafter “Notter Records.”

Page 384: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[382]

PHILIP MUNDY

come if the US government actively pushed countries to drop existing trade barriers and refrain from implementing new ones.263 Governments would have to protect the free market from its own worst impulses while at the same time harnessing the benefits of the free market to benefit the economy. Situated at the heart of this multilateral liberal economic system, the US would maintain it, and economic warfare provides insight into how the US would do this.

Roosevelt set the direction for economic warfare policy. He sought to balance his desire to increase pressure on neutrals against his concerns about alienating both neutral powers and allies. He authorized a number of aggressive policies such as stalling shipments of oil to Portugal but he also reigned in enthusiastic US officials, transferring control of economic warfare to Leo Crowley in the newly created Foreign Economic Admin-istration (FEA) in 1943 when the BEW under Henry Wallace and Milo Perkins became too aggressive. Roosevelt wanted to use trade to pressure neutrals, but he recognized the importance of coordinating the US program with key allies and especially maintaining harmony with the British. He also saw the other complexities involved such as not wanting to push neutrals towards the Axis and weighing up the relative costs and benefits of imposing more aggressive measures such as a trade embargo.264 After outlining his main aims, Roosevelt largely left the imple-mentation of economic warfare to subordinate officials but he kept an eye on the program to ensure it remained consistent with his larger plans.

Economic warfare in WWII started with the British. They sought to keep wolfram from Germany by making pre-emptive purchases. However workable in theory, in practice pre-emption alone proved to be a blunt instrument. The chief problem the British faced was that the more the belligerents were willing to pay for tungsten, the more tungsten there was to buy. To succeed,

263 Summary of the Interim Report

of the Special Committee on

Relaxation of Trade Barriers,

December 8, 1943.

264 Dobson, 54-55; Dean

Acheson, Memorandum of

Conversation, March 16, 1942,

“Portugal #1,” RG 59, NARA.

265 Memorandum, April 14, 1941,

“UKCC.”

266 Memorandum on Anglo-

American Pre-Emption and

Relations between UKCC and USCC,

1943, RG 59, NARA. See also David Gordon

and Royden Dangerfield, The Hidden

Weapon: The Story of Economic

Warfare (New York: Harper &

Brothers, Publishers, 1947).

267 See Feis, The Spanish Story:

Franco and the Nations at War

(New York: WW Norton and

Company, 1966) pp. 164-170,

Bascom N. Timmons, Jesse H.

Page 385: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[383]

PROSPERITY AND SECURITY: ECONOMIC WARFARE AND ROOSEVELT’S POST-WAR VISION

economic warfare had to couple pre-emption with efforts to use Britain’s large market presence to pressure neutrals to limit or to terminate sales to the enemy. A British official explained, “pre-emption has been much more effective where the purchase has been coupled with an understanding to limit or eliminate sales to the enemy… If pre-emptive purchases are carried out under a definite plan and carefully co-ordinated with the programmes of supply and price requirements… they can be very effective.”265 In April 1940, the British formed the United Kingdom Commercial Corporation (UKCC) to negotiate six month supply-purchase agreements with European neutrals that stipulated the goods and quantities that the British would sell to and purchase from them.266

The BEW initially viewed with skepticism the expensive Brit-ish efforts. However, by early 1942 the US itself needed Iberian wolfram, and thus US officials decided to follow the British lead and established the United States Commercial Corporation (USCC). The USCC sought to cultivate broader trade ties because officials believed that a broader trading program would ulti-mately yield better results than a blockade.267 The BEW conducted studies to identify what goods Portugal needed and could only obtain from Allies.268 Robert Ducas of the USCC explained that they needed “to evaluate the weapons in our hands and use them to secure effective results over the next twelve months. We have oil, copper sulphate, tobacco, cotton, rubber, and other products which Germany cannot supply… Should we not set out to change… Dr. Salazar’s evening prayer from «What can I buy with my sterling and dollars?» to «Can I get oil, copper sulphate, et cetera, for my wolfram, tin, and skins?»”269

The BEW also sought to buy goods that Portugal could not sell elsewhere. For example, the USCC bought ergot of rye not because it or the Germans needed it, but because Portugal needed to sell it. In fact, the USCC sought to unload what they

Jones: The Man and the Statesman (New York: Henry Holt and Company, 1956) pp. 312-330, James Cortada, The United States-Spanish Relations, Wolfram and World War II, (Barcelona: Mauel Pareja, 1971) p. 23.

268 Ben Reese to Livingston Merchant, May 7, 1942, “Iberian Peninsula Operating Committee, June 1942-Oct.1944,” RG 59, National NARA. Hereafter, “Iberian Peninsula Operating Committee”; Melvin Fagen to L. A. Wheeler, May 13, 1942, “Spain 471-800.” RG 59, NARA. Hereafter, “Spain 471-800.”

269 Robert Ducas, “Preclusive Buying in Spain and Portugal,” July 18, 1942, “Portugal – Wolfram;” “Control of Non-essential Imports From Spain and Portugal,” RG 169, NARA.

Page 386: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[384]

PHILIP MUNDY

bought onto the private market to recoup some of their costs. Had the US government needed ergot of rye, the USCC’s purpose in purchasing it would be less clear, but because they had no need for it, it is clear that their sole purpose was to build economic links.270 To coordinate these efforts effectively, the Allied governments in March 1943 placed control of almost all trade with Portugal under their oversight rather than leaving trade arrangements open to private trading companies. By broad-ening both purchase and supply programs, the Allies hoped to make the health of the Iberian economies dependant on contin-ued Allied willingness to trade. With this leverage, the Allies hoped to pressure Portugal into making concessions on the wolfram trade.

Salazar, however, proved very adept at resisting US pressure. Central to Salazar’s efforts in 1942 was the secret agreement he signed with the Germans on January 24, 1942 that ran through the end of February 1943. In return for 2800 tons of wolfram, Salazar received a promise for 60,000 tons of steel and fertil-izers that the Allies had been unable to supply as quickly as the Germans. More importantly, by signing an agreement that obli-gated Portugal to supply a certain amount of wolfram, Salazar could resist Allied efforts to have him reduce exports to Germany. Even Allied officials conceded that they would have a very diffi-cult time forcing a neutral to break trade agreements once they were made.271 Salazar also centralized the Portuguese wolfram trade under government control. Unlike in Spain where control of the wolfram trade was largely unregulated, in Portugal all wolfram had to flow through the Comissao Reguladora de Comer-cio de Metals (CRCM), which taxed the wolfram heavily. This centralized system of control in Portugal meant that Salazar could play the Allies off each other much more effectively than Franco in Spain. All belligerents could purchase back from the CRCM the full production of mines owned by their nationals,

270 See Memorandum of points to be Considered in

US-British-Portuguese Trade

Negotiations, April 20, 1942,

“Portugal Supplies Purchase

Program,” RG 59, NARA. Hereafter,

“Portugal Supplies Purchase

Program.”

271 Ray Atherton to Thomas

Finletter, August 14, 1942,

“Portugal – Wolfram.”

William Norton Medlicott, The

Economic Blockade (London: Her

Majesty’s Stationary Office

and Longman, Green and Co, 1959) p. 325.

Page 387: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[385]

PROSPERITY AND SECURITY: ECONOMIC WARFARE AND ROOSEVELT’S POST-WAR VISION

but the wolfram produced in mines owned by neutral nations was a different issue. In 1942 Salazar allotted Germany 75% of the wolfram from neutral producers, leaving the Allies with only 25%.272

Salazar used his control of Portuguese wolfram to counter US efforts to use trade leverage against him. When the Allies pressured Salazar to change his agreement with Germany to give them less of the “neutral” wolfram, he threatened to release to the Germans an additional 500 tons of wolfram if the Allies did not sign their own wolfram agreement with Portugal. As a result, the Allies signed a wolfram agreement with Portugal that ran through February 28, 1943.273 Once the Allies could no longer link more general trade negotiations to wolfram, Salazar quickly agreed to broader trade agreements with the Allies. Salazar’s strategy was clear: he would refuse to discuss general trade terms with the Allies until after they signed a wolfram agreement, which he could force them to do by threatening to give more wolfram to Germany. By handling negotiations this way, Salazar fixed wolfram export levels and prevented the Allies from using trade talks to force concessions on wolfram. To make sure that the Allies could not link trade and wolfram talks in the future, Salazar insisted that the new trade agreement with the Allies last until the end of June 1943. This meant that the Allied wolfram and trade agreements would expire months apart, making it more difficult for Allied negotiators to link the two sets of talks.

Outmaneuvered by Salazar, the Allies bided their time and in 1943 sought to maximize their leverage by negotiating both a new trade agreement and new wolfram agreement at the same time.274 To synchronize the negotiations, they sought to sign in February an interim wolfram agreement that would run out when the current trade agreement expired at the end of June. Salazar, however, was again one step ahead and showed how his

272 H. K. Fleming, “Memorandum on wolfram operations in the Iberian Peninsula,” March 3, 1944, “Portugal – Wolfram.”

273 Fish to Hull, August 14, 1942, FRUS, 223; for background see Medlicott, The Economic Blockade, pp. 331-335.

274 Ray Atherton to Thomas Finletter, August 14, 1942, “Portugal – Wolfram.”

Page 388: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[386]

PHILIP MUNDY

control of one essential commodity could be used to trump Allied economic might. Salazar stalled the negotiations for the four month agreement by accusing the Allies of violating earlier trade agreements and again threatened that if the Allies failed to remedy the problem, “it would be impossible for the Portu-guese Government to carry out the agreement on its side within the spirit of the negotiations.”275 In other words, Salazar would sell more wolfram to Germany if the Allies did not cooperate. Then, just as in 1942, the Portuguese officials again presented the Allies with a fait accompli – they agreed to supply Germany with at least 2,100 tons for 1943 and to split 50-50 between the Allies and the Axis the wolfram from mines owned by neutrals. By obligating Portugal to a wolfram agreement with Germany that was to last until February 1944, Salazar again thwarted Allied attempts to couple a more generous trade agree-ment with Portuguese concessions on wolfram.

Salazar was able to get away with this deceit not only because of his effective use of the wolfram trade but also because of his skilful use his other key ace: the Azores. Both Roosevelt and Churchill proved very reluctant to push Salazar too hard and risk this agreement. Hull considered more seriously taking advan-tage of their control over both supply and transport of petroleum products to Portugal.276 Cooler thinking prevailed, however, as the British urged their American counterparts to make securing use of the Portuguese Azores for air bases their top priority and to do nothing to upset negotiations.277 US and British authorities also realized that continued trade with Portugal would help to smooth negotiations for use of the Azores whereas payback for the wolfram snub could only hurt. Instead the US and UK decided to wait until 1944 to reopen wolfram and trade negotiations.

Thwarted in official channels, the Allies turned their atten-tion to the black market, but again Salazar’s use of wolfram and the Azores forced the US to tread lightly. They bought black

275 António Salazar, as quoted

in Fish to Hull, January 19, 1943,

FRUS, p. 499.

276 Fish to Hull, May 14, 1943,

FRUS, p. 519.

277 Hull to Fish, May 19,

1943, FRUS, pp. 520-521.

Page 389: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[387]

PROSPERITY AND SECURITY: ECONOMIC WARFARE AND ROOSEVELT’S POST-WAR VISION

market wolfram but claimed they had produced it in their own mines. While they still had to pay the high wolfram taxes – which they could have avoided by simply smuggling the ore out of the country – officials calculated that the Portuguese were more likely to tolerate the black market if it did not cost them any tax revenue.278 Allied officials also worked to suppress the output of their own mines and proposed that the US-owned Beralt Mining Company reduce production from 210 tons per month to early 1942 levels of 150 tons per month and have the US government reimburse them the profits that they would have made on the sale of the additional 60 tons. The British agreed but advised that Beralt lower production levels more slowly because Portugal collected substantial taxes on produc-tion, so to deny them too much income would invite repercus-sions.279 This divergence between US and British tactics illustrates important differences in between the two nations. The UK consistently counseled caution and advocated compromise wher-ever possible whereas the Americans tended to react to frustra-tion with proposals for more heavy handed action.

As the February 1944 expiry of the German-Portuguese wolfram agreement loomed, the US asked Salazar to place a full embargo on the export of wolfram from Portugal. Head of the Foreign Economic Administration (FEA), Leo Crowley, wanted to find ways for the US to use more aggressively the bargaining power it had so carefully cultivated over the past years. In part because of the Azores, however, he shied away from any actions as drastic as an oil embargo, which he used against Spain.280 As a US economic warfare official put it, “Our objective in Portu-gal is the same as in Spain – to stop tungsten exports to Germany. In the case of Portugal, however, economic warfare objectives have been subordinate to military considerations (Azores deal, etc.).”281 Salazar insisted that Germany still had ways to “make trouble” for Portugal and therefore he had to maintain wolfram

278 MEW to Halifax, March 28, 1943 and April 17, 1943, “Portugal – Wolfram.”

279 Royden Dangerfield to Livingston Merchant, September 9, 1943; Quintin Bridge to Henry Labouisse, 26 October 1943, both in “Portugal – Wolfram.”

280 The FEA replaced the BEW.

281 William T. Stone to Lauchlin Currie, February 21, 1944, RG 169, NARA.

Page 390: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[388]

PHILIP MUNDY

shipments to Germany to offset the “unneutral” act of granting the Allies the use of the Azores.282 By signing an agreement in August 1943 allowing the British use of the Azores for air fields, Salazar gave the Allies a benefit they would risk if they pushed Portugal too hard to take steps against Germany.

As the Normandy invasion approached, the US increasingly began to consider taking a harder line. The Joint Chiefs wanted to pressure the British to help the US push for a complete embargo.283 Roosevelt also wanted a hard line; he did not want to back down on economic warfare and risk weakening the whole program but he was also concerned about pushing Portu-gal too hard. Hull and Acheson agreed, and with Roosevelt’s approval they increased the tone of their rhetoric and warned that while earlier in the war the US had compromised with neutral powers “that period… is rapidly drawing to a close. It is clear to all that our strength and that of our Allies now makes only one outcome of this war possible. That strength now makes it clear that we are not asking these neutral nations to expose themselves to certain destruction when we ask them not to prolong the war, with its consequences of suffering and death, by sending aid to the enemy.”284

The US would no longer allow neutrals to enjoy the benefits of the Allied world while at the same time providing aid to the enemy and thus contributing to the death of the troops who “brought their own comfort.”285 By May 1944 the Roosevelt administration believed that they could force Portugal into conceding by threatening to suspend trade in essential items, including oil, that Portugal could obtain nowhere else.286 Economic warfare official Livingston Merchant proposed delay-ing negotiations on the next supply purchase agreement so that the US could gauge Salazar’s willingness to eliminate sales of wolfram to Germany in order to judge “the degree of generos-ity which should govern our future supply arrangements.”287

282 Norweb to Hull, January 24,

1944, FRUS, p. 90. In particular,

Salazar claimed to be worried that

German U-Boats would sink

Portuguese ships; P.M./44/145,

Eden to Churchill 13 March 1944,

PREM 3: The Operational Papers

of the Prime Minister’s Office, May 1940-July 1945 (London: Public Records Office, 1972,”

pp. 505-2. Available in

Rutgers University Libraries. Hereafter,

“PREM 3, RUL.”

283 Sir Ronald Campbell to

Eden, 30 March 1944, PREM 3,

RUL.

284 Cordell Hull, “The War: Foreign

Policy of the United States of

America,” in The Department of State Bulletin,

April 15, 1944, Vol. X, No. 241,

originally broadcast April 9,

1944, p. 336.

285 Hull, “The War: Foreign Policy of the

United States of America,”

Page 391: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[389]

PROSPERITY AND SECURITY: ECONOMIC WARFARE AND ROOSEVELT’S POST-WAR VISION

With the US increasing pressure and the British urging caution, the British entered into serious negotiations with Portu-gal. While Churchill also wanted to press Salazar hard, he also felt it was essential to complete a deal and thus in the end was willing to accept a compromise. Essentially Churchill took a pragmatic view and thought that the US took too hard a line, arguing that allowing both Iberian nations to ship one last small lot of wolfram to Germany would make little overall difference and was a price worth paying if in return Spain and Portugal then agreed to an embargo.288 Finally in June 1944 Salazar announced that he had made an agreement on the basis of the Anglo-Portuguese Alliance to place a complete embargo on wolfram shipments to Germany. Churchill pressured Roosevelt accept this deal, which he did because he did not want to risk weakening the overall economic warfare program by causing a rift between the US and UK. It is notable that the British provided restraint and that the US proved unwilling to break with Britain on economic warfare against both Portugal and Spain.289 Though Roosevelt preferred to set the direction for economic warfare and allow other officials to implement the details, his interventions, particularly in accepting compromises, show that he kept a close eye on the US economic warfare program and made sure it did not depart from his plans.

While in the end Salazar agreed to the embargo more because of the changing fortunes of the war and concern over Timor than because of US economic pressure, US officials nonetheless sought to give Portugal economic benefits in response to the agreement. Both the US and the UK had promised “to expedite action of [the] Combined Boards on Portugal’s economic demands should Salazar meet our wishes,” and once the agreement was made, British and American officials recognized the importance of making sure that Portugal received some tangible economic rewards for the wolfram embargo reasonably quickly.290

in The Department of State Bulletin, April 15, 1944, p. 336.

286 US Department of State to the British Embassy, May 18, 1944, FRUS Volume IV, 1944, pp. 112-113.

287 Livingston Merchant, Memorandum, May 8, 1944, “Portugal Supplies Purchase Program.”

288 Churchill to FDR, May 22, 1944, PREM 3, RUL.

289 See Warren F. Kimball, ed, Churchill & Roosevelt: The Complete Correspondence (Princeton: Princeton Univ Press, 1984) Vol. III, pp. 105-114.

290 Winant to Hull, June 3, 1944, FRUS Volume IV, 1944, 125-126; Ronald Campbell to Halifax, June 7, 1944, “Portugal – Wolfram.”

Page 392: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[390]

PHILIP MUNDY

The continuity between the program to stop wolfram exports to Germany and later programs shows the extent to which economic warfare helped the US to develop methods of economic statecraft. Even after it secured a complete embargo on shipment of Iberian wolfram to Germany, the US continued to use the economic warfare methods it had developed over the previous years. The BEW had said from the start that “every step taken in the conduct of the war should be weighed against its prob-able effects on the post war world.”291 Besides implementing economic warfare, the BEW and later the FEA also took up the work of post war planning. During the war the FEA had became increasingly active in regulating the flow of currency and raw materials, and officials hoped to continue doing so after the war.292 They were concerned that unregulated currency and raw material flows could cause economic instability and believed that regulation could lessen the danger. The assumption behind this idea parallels neatly the assumptions behind the govern-ment’s oversight of the US domestic economy under the New Deal and shows the links between the New Deal and Roosevelt’s plans for the post-war period.

The FEA also continued to use its methods to strengthen the US’s economic position, asserting that “the relatively strong posi-tion of the Allied countries in relation to the neutrals should be used to attain our economic objectives.”293 One method to do this was to continue to blacklist individuals and companies who had cooperated with the Germans partly to punish them but more importantly to “greatly reinforce [the blacklist’s] poten-tial effectiveness… as a sanction to be used in the future.”294 Besides the blacklist, the US continued to use its control of key resources to its advantage. Allied officials continued to require the neutrals to purchase their own key commodities through the economic warfare channels and thus could potentially limit the availability of key resources if the neutrals did not comply

291 Yost, p. 5.

292 V. Lewis Bassie to Frank Coe,

RG 169, NARA.

293 FEA, “United States Proposal for

Allied Economic Policy Toward

Neutral Countries,” and FEA,

“Attainment of Allied Objectives in Neutral Countries,”

Both in Notter Records.

294 FEA, “United States Proposal for

Allied Economic Policy Toward

Neutral Countries,” Notter Records.

295 FEA, “United States Proposal for

Allied Economic Policy Toward

Neutral Countries.” See also “Foreign

Economic Administration

Bureau of Areas Economic Program For Spain, Spanish

Morocco, Canary Islands, Tangier,”

February 1945, “Spain, Historical

File, National Archives.”

296 Nathan Becker to Livingston

Merchant, October 19, 1944, “Finances Spain 1943-1944.” See also “Program

and Policy Adjustments Which

Page 393: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[391]

PROSPERITY AND SECURITY: ECONOMIC WARFARE AND ROOSEVELT’S POST-WAR VISION

with US demands.295 Officials were careful to retain control of scarce commodities not only because they wanted to ensure equitable distribution of these goods but also because of their use as leverage in future negotiations.296 Beyond keeping neutrals out of non-traditional markets, Leo Crowley authorized using economic pressure to push Spain into accepting the Bretton Woods agreement.297 Similarly, the US used the renewal of Lend-Lease to secure a range of post-war concessions from the Brit-ish.298 Officials also used reductions of surcharges as bargaining chips to elicit concessions from other countries. The US prom-ised Spain if it ended its export taxes on wolfram that the US would end surcharges on petroleum products.299

Most importantly, the machinery of economic warfare was directed towards implementation of the structures required for free trade. The FEA Export Advisory Committee suggested that the US government should negotiate “with foreign governments toward elimination of their controls and government purchasing systems, bringing economic pressure to bear, if need be.”300 Officials realized that cutting back on trade restrictions was a complex process, especially since they wanted to use the process to strengthen “the foundation for a high level of international trade in the future.”301 Even though these coer-cive measures were ultimately designed to open trade, Roosevelt insisted that officials make it clear that they were not simply paying lip service to free markets and that a reduction of barriers to trade was their ultimate goal. In late 1944, well after the program against the neutrals had began to wind down, Roosevelt cautioned Crow-ley not to interfere with free trade.302 Govern-ment agencies were designed to “exercise a positive rather than negative influence” on private business.303 Speaking to a group of business lead-

document neutrals needed to transport goods to Allied countries.

298 Dobson, pp. 67-69.

299 Quintin Bridge to Livingston Merchant, September 20, 1944, RG 59, NARA.

300 Minutes of Meeting of Export Advisory Committee, September 19, 1944, “Committees – General,” RG 169, NARA.

301 “Program and Policy Adjustments Which May Be Anticipated After V-E Day and V-J Day, October 19, 1944, “Statements, Speeches,” RG 169, NARA.

302 Overall Organization File, Records Analysis Division, Office of the Administrator, Records of the Foreign Economic Administration, RG 169, NARA.

303 Minutes of Meeting of Export Advisory Committee, September 19, 1944, “Committees – General.

May Be Anticipated After V-E Day and V-J Day, October 19, 1944, RG 169, NARA.

297 Leo Crowley to Edward Stettinus, January 17, 1945, “Spain,” Geographic File of the Administrator.” A navicert is a navigational certificate, a

Page 394: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[392]

PHILIP MUNDY

ers before the end of the war, Leo Crowley asserted that the FEA entertained “no intentions of displacing private commercial trade either now or in the future… We look to aid private commercial trade as much as possible, consistent with winning the war and building a secure peace.”304 While Roosevelt was prepared to use instruments of economic statecraft when neces-sary, he was very careful to make sure that those who wielded the controls did not displace private enterprise.

Economic warfare provides a useful perspective on Roosevelt’s vision for the post-war world. As the program developed, Roos-evelt became increasingly willing to authorize programs which abrogated neutral trading rights. Though efforts to push neutrals to cooperate with the US by dominating trade failed to produce significant results, the program reveals an underlying assumption both about the US’s ability to control trade and about how this could contribute to US prosperity and security. In particular, the program shows the continuity between New Deal thinking about the domestic economy and visions for its application to the inter-national sphere. A regime of “responsible capitalism” was the best economic option for ensuring both US prosperity and security. Roosevelt and his officials had become increasingly aware of the interconnectedness of the global economy. As they worked to implement this vision both during and after the war, economic warfare demonstrated the limits of economic statecraft, in partic-ular as Salazar skillfully used his control of the wolfram trade and the Azores negotiations to keep Allied pressure at bay. Though much less powerful than the Allies, Portugal used its control of scarce goods to counter Allied economic might. In the end economic warfare achieved little, but the program nonetheless helps to clarify the assumptions that underpinned US policy as it sought to redefine its place in the international community during World War II and position itself for the post-war era.

304 Leo Crowley, speech, “Public

Relations 13 Speeches:

Crowley,” Office of Economic

Programs Central File, RG 169,

NARA.

Page 395: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[393]

FOREIGN BASES AND STRATEGIES IN CONTEMPORARY PORTUGAL

António José Telo

This article seeks to provide a panorama of the reasons leading to the creation of foreign bases in modern Portugal. By foreign bases is meant the prolonged presence (of at least one year) of foreign military units that have been duly authorised by the legitimate authorities on Portuguese territory. The presence of military missions, even when large-scale and prolonged, or of training or instruction missions will not be considered here. This study covers the period from the establishment of the multi-polar international system at the end of the 19th century until the transition to democracy in 1974, which also corre-sponded with the final phase of the Cold War. Only European Portugal, which includes Madeira and the Azores will be exam-ined: the colonies will not be considered.

The way of understanding the establishment of foreign mili-tary bases in Portugal is to analyse the national and international strategies that resulted in their creation. The military plans that these strategies inspire are mentioned; however, lack of space here means they cannot be explored in any exhaustive or devel-oped manner: the bases are classed according to the strategies that led to their creation.

The strategy of denial

For the majority of the period under consideration, the exis-tence – or non-existence – of foreign military bases in Portu-

Page 396: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[394]

ANTÓNIO JOSÉ TELO

gal was largely concerned with the strategy of denial that was being practiced by Portugal’s closest ally: the United Kingdom. The strategy of denial comes about when a particular state does not require use of a resource or facility, but nevertheless wishes to prevent any rival, whether potential or real, from obtaining access to that resource or facility.

During the 19th century, while the United Kingdom was at the height of its power, it did not have any need to use Portuguese territory, apart from some occasional periods and for some particular purposes. The United Kingdom’s 19th century hegemony was created around an axis beginning in the British Isles, extending to Gibraltar and then across the Mediterranean, passing through Malta and Egypt, before reach-ing India, Australia and Hong Kong. During a period of 200 years, the United Kingdom established a network of bases from which it could control this axis.

This line of projected British power created from the 18th century also coincided with that of 15th and 16th century Portugal. In both cases the aim was to dominate the sea routes to India and the east, and it is for this reason the British and Portuguese bases were normally established close to one another. Gibraltar was the base from which Britain controlled the entrance to the Mediterranean, while Portuguese Ceuta, which was established at the beginning of Portuguese expansion in 1415, served a similar purpose. The Portuguese equivalent of Freetown was Cape Verde. South Africa, which Britain conquered from the Low Countries, and which controlled the route to India prior to the construction of the Suez Canal, served an equivalent purpose as Portuguese Mozambique. Singapore, Britain’s first East Asian settlement, fulfilled the same role that Malacca did for Portugal in controlling the passage between the Indian and Pacific oceans. Hong Kong and Macao both served to provide a way into China, while

Page 397: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[395]

FOREIGN BASES AND STRATEGIES IN CONTEMPORARY PORTUGAL

Australia’s purpose was initially mirrored by Portuguese Timor, although the former – unlike the latter – soon grew to become a settled colony. The only part of Portuguese territory for which the United Kingdom had no alternative was the Azores, for the simple reason that since the 1812 war against the United States, London had no interest in projecting its power towards the Americas. The only time forces from the British Isles had made any attempt to conquer the Azores was when England was at war with Philip II of Spain, at a time when Portugal was part of Spain, and the Portuguese islands were essential for controlling the sea lanes, which was the central axis of the Spanish Empire. From the moment Portugal sepa-rated from Spain in 1640, England lost all interest in exercis-ing active control over the Azores, content to leave it in the possession of an ally.

The similarities of the two states projecting their power along these central axes had several consequences. The first of these was that the United Kingdom was able to normally dispense with the use of Portuguese bases, since it had more developed alternatives available to it. Portuguese bases were only useful to the United Kingdom as auxiliary support centres in certain very particular and rare circumstances. The second consequence was that London would not allow Portuguese bases to be controlled by a rival power for the simple reason that they were too important for vital British interests.

These were the assumptions that led to the original alliance that was maintained down through the centuries, and that led to the development of the United Kingdom’s strategy of denial. Its was concerned that Portuguese bases remained under the control of an ally, thereby securing alternative the strategic points that could rival its own never became a problem and could even prove useful at times of crisis. Were these positions to be lost to Portugal, there was a risk they could fall into the

Page 398: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[396]

ANTÓNIO JOSÉ TELO

hands of one of Britain’s potential rivals, and this was a risk that was unacceptable to the United Kingdom. For this reason Britain was the only great power with any interested in defend-ing the Portuguese empire, and it was this interest that served as the basis of the alliance between the two powers. The Portu-guese ports that were of most interest to the United Kingdom were Lisbon, the Azores, Madeira, Cape Verde, Luanda, Lourenço Marques (Maputo), Goa and Timor.

Many times during the 19th century the colonial office and other departments in London raised questions as to why Brit-ain was interested in the continuation of the alliance with Portugal. They believed that Lisbon was always making requests of its ally and calling for political and diplomatic aid in the most diverse circumstances without there being any clear indi-cation of what the United Kingdom received in return. They wondered why Britain should we continue with the relation-ship with a weak partner without any autonomy. The response from Britain’s military commanders and its foreign office was always the same: the alliance with Portugal was the best way to ensure locations throughout the world that were of strate-gic importance to the British Empire remain under the control of a trusted ally rather than being occupied by France, Germany or any other powerful rival.

With the increase in rivalry between Europe’s great powers between 1898 and 1914, London asked Portugal to provide a formal and secret guarantee it would not grant any concession in any Portuguese port to any state without prior written consent from the United Kingdom. It was a wide-ranging guarantee that included cable stations, coal deposits, military installations and anything else of strategic interest. In 1908, the United Kingdom invoked this guarantee when it refused to allow the Portuguese authorities to accept German capital in the construction of a tuberculosis sanatorium on Madeira.

Page 399: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[397]

FOREIGN BASES AND STRATEGIES IN CONTEMPORARY PORTUGAL

London argued that this could have deleterious strategic impli-cations for the United Kingdom.

The guarantee was given by Portugal in 1898. In return, the following year Portugal secured the renewal of Britain’s agreement to defend the Portuguese empire, which was confirmed by the so-called Treaty of Windsor (which is neither a treaty nor signed in Windsor). London placed such impor-tance on the secret guarantee that whenever the government in Lisbon changed (both during the monarchy and the repub-lic), Britain’s ambassador to Portugal immediately requested an audience with the new minister of foreign affairs to request a formal renewal of the guarantee. Never during the 18 years in which the agreement was in force did any government, whether moderate or radical, monarchist or republican, make any hesi-tation in renewing the guarantee. All of this was secret diplo-macy, and was the Portuguese and British governments’ best kept secret. Every Portuguese government was aware that making the existence of the agreement public knowledge would lead to serious domestic political problems of such a scale that it could bring down governments and even lead to the over-throw of the political regime.

The guarantee of 1898-1914 is the best example of the strategy of denial: the formal certainty that an ally’s territory will not be exploited by a rival: even in small matters of no apparent significance. During normal times, the general terms of the alliance were sufficient to ensure the United Kingdom had no worries in this regard. When the rivalries began to increase from 1898, however, London sought a direct and formal guarantee, which it obtained without great difficulty. The benefit to Portugal was evident: the United Kingdom would support the continuation of the empire and of peninsular dual-ity – the two most important objectives of any Portuguese government, regardless of political colour or composition.

Page 400: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[398]

ANTÓNIO JOSÉ TELO

Strategies of pre-emption

Pre-emption strategies are a variant of the strategy of denial, although they imply a more active participation. They consist of establishing a presence – not because it is necessary, but in order to prevent anyone else from establishing a presence. This was the strategy that was followed with the installation of the trans-Altantic submarine telecommunications cables. As they were the only means of rapid long distance communications, these cables were of enormous strategic importance during the second half of the 19th century right up until the development of radio. The United Kingdom believed it was essential for it to maintain its own network of submarine cables (the Red Network) and to prevent any other power from establishing a similar network. The entire United Kingdom submarine cable network had only one cable station in a port that was not under its direct control: at Carcavelos, near Lisbon. This station was a vital part of the link connecting London with Gibraltar. The British network had no need to use the Azores in its network link with North America, since the most direct route was from Ireland to Canada; while Britain’s main link to South America left from Gibraltar and passed through Freetown and Cape Verde.

France, Germany and the United States were interested in using the Azores as a base from which they could lay their own cables, and the United Kingdom, which defended the free use of cable networks by all during peacetime, was in no position to directly object. It was therefore necessary for it to develop a variation of the strategy of denial by pre-emption.

In the first phase of the strategy’s implementation, British companies signed exclusivity contracts with Portugal to establish cable stations in the Azores without ever demonstrating any desire to actually make any attempts to do so. The existence of

Page 401: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[399]

FOREIGN BASES AND STRATEGIES IN CONTEMPORARY PORTUGAL

these contracts was enough to prevent the establishment of stations belonging to other countries, which was Britain’s real aim. Nevertheless, international pressure became too strong for Britain to be able to continue with this tactic. In order to over-come this, Britain decided to establish a cable station at Horta (Faial), without ever intending to use it. The contract between the British company involved and the Portuguese authorities granted the former exclusive cable rights on the Azores. When Germany, France and the United State sought to land cables on the islands, they had to sign a sub-concession with the Brit-ish company, without any involvement from the authorities in Lisbon. By this means, the cables that belonged to other coun-tries remained under British control. With the outbreak of the World War I in 1914, Britain impounded the German subma-rine cable that landed on the Azores, despite Portuguese neutral-ity. This resulted in Berlin losing its ability to communicate directly with its colonies or any other part of the world except the parts of Europe that were occupied by its armies. The Allies, on the other hand, had an increased capacity for global commu-nication through access to the German cable that passed into British control.

Another example of the pre-emption strategy is that of Brit-ain’s policy on the Azores in the aftermath of the World War II. At that time, the Joint British Command no longer required the base at Lajes, from which British forces could now withdraw. The United States requested permission for their units to remain to facilitate the transfer of American men and materiel to Europe and to secure its relationship with Portugal. London agreed to this for many years as part of its strategy of pre-emption. While it was pre-emption at the request of an ally, rather pre-emption to prevent it from being used by a rival, the logic remained the same: to retain control of something that is not required for indirect ends.

Page 402: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[400]

ANTÓNIO JOSÉ TELO

Active global strategies

Active global strategies are characterised by the need to make active use of national territory in order to achieve any deter-mined objective.

The active global strategies involving Portuguese territory are mainly associated with the United States since the end of the World War II. The US first assumed global responsibilities during the World War I. At the time it was already the leading world economy and had a naval power that rivalled that of the United Kingdom. Prior to the World War I, however, US policy was guided by the principle of non-involvement in European affairs, and because of this it had no wish to project its power across the Atlantic.

With US participation in the World War I from 1917, for the first time it became concerned with projecting its power to Europe on a large scale. Its problem at the time was the logis-tical one of transporting an army of close to two million men to Europe in just a few months. To do so, the US was obliged to face Germany’s unrestricted submarine warfare campaign. To meet this challenge, Washington established a naval air base in Ponta Delgada. Significantly, however, the establishment of this facility was negotiated during discussions between commanders of the US and Royal navies, without any input from the Portu-guese authorities. Only much later, once agreement had been reached with London, was Lisbon informed of the outcome. Portugal’s only concern was to ensure that the United Kingdom had actually agreed to the deal, and once that had been confirmed Lisbon raised no objections.

The US base at Ponta Delgada was a small, peripheral and secondary support base for Allied navies in the Atlantic. It is important to understand what its real strategic function was, since there has been much confusion amongst Portuguese authors

Page 403: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[401]

FOREIGN BASES AND STRATEGIES IN CONTEMPORARY PORTUGAL

in this matter. The base at Ponta Delgada was never an impor-tant centre for Allied tran-Atlantic convoys, and nor was it a support base for the large fleets. Ponta Delgada could not serve these goals because of the limitations imposed by its man-made harbour that was only capable of receiving a limited number of smaller ships. Had the Allies been interested in establishing a convoy or a fleet support base, they would needed to have estab-lished themselves at Horta, which is the only natural harbour on the Azores that would be capable of receiving large fleets. This is not what the Allies wanted. Their concerns were very different: they wished to prevent both the Azores and Madeira from becoming support bases for Germany’s long-range subma-rine fleet; a fleet that was able to launch a campaign against shipping close to the American coast. The bases on the Azores were used principally as an advance post for the defence of conti-nental America and as a secondary base from which to project US power towards Europe. It is important to remember that prior to the establishment of the US base Portugal’s small navy was unable to defend the islands’ ports and that German subma-rines attacked Funchal and Ponta Delgada with impunity.

The composition of US naval forces in the Azores was a clear expression of their will: it consisted of one monitor, a few destroyers and some submarines, all of which were defended by coastal artillery batteries, sea-planes and a detachment of marines. The monitor supported the smaller ships and used its guns to defend the port from the enemy submarines that attempted to attack surface shipping as they had in 1916. The destroyers took part in anti-submarine patrols, but it was not long before it was decided this deployment was ineffective, as the submarines were able to detect their presence from some distance and submerged well before the destroyers were able to attack them. Conse-quently, the destroyers were despatched to France, where they were deployed much more effectively escorting convoys: there

Page 404: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[402]

ANTÓNIO JOSÉ TELO

were no convoys in the Azores to escort. American submarines were the real anti-submarine weapon: they remained submerged close to the harbours and ambushed their German counterparts whenever they approached the islands. The number of American submarines posted to Ponta Delgada increased, resulting in no German submarine making any further attempt to attack any of the ports on the islands.

Also during the World War I, France established a naval base for small escorts in Leixões and a sea-plane base in S. Jacinto (Aveiro) as well as installations in Lisbon and on the Algarve coast. Their objective was to assist the coastal convoys en route from the Mediterranean and the South Atlantic to northern Europe. The United Kingdom also maintained a cruiser base in Cape Verde, although it abandoned it in 1917 as the threat from German submarines began to make itself felt there, when it became apparent it was no longer a safe to harbour for surface ships.

Both Ponta Delgada and Leixões were auxiliary posts in the Allied system for controlling Atlantic shipping, with Ponta Delgada also serving as an advance base for the defence of conti-nental America. Despite what some authors claim, they were not bases for the convoys; rather, they were peripheral support outposts for smaller escorts (Leixões), useful only to receive ships in difficulty and supporting only small escort ships (Leixões), submarines (Ponta Delgada) and reconnaissance sea-planes (Ponta Delgada and S. Jacinto).

American interest in the Azores was renewed during the World War II; re-emerging at the moment the United States was called to assume the defence of the West’s global interests just as it became clear the United Kingdom was no longer able to do so.

It is interesting to note the manner in which this interest was renewed. In 1940-41 Washington’s concerns were, just as

Page 405: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[403]

FOREIGN BASES AND STRATEGIES IN CONTEMPORARY PORTUGAL

they had been in 1917, determined by the need for the advanced defence of the United States. In the wake of Germany’s rapid and unexpected victory over France, America’s ‘Rainbow’ plan anticipated the possibility that there would be a long-term global conflict in which the US, practically on its own, would have to conquer German controlled Europe and Japanese controlled Asia. During the first phase of this war, the US believed it would be essential to win some time without placing its central base of operations in danger, so that American industry might ready itself for war production in order to equip a 12 million strong army. Washington believed it was vital during this period that potential enemies did not come to control positions from which they could attack the United States from either the air or from the sea: continental US had to be safe. From this perspective, the most important location was the Azores, which as a preven-tative measure the US was preparing to occupy at the end of 1940 with the 1st Marine Division. It should be remembered that at that time Germany controlled a large proportion of Europe, and its forces were concentrated and available for deployment – although it was not yet clear in which direction the German’s were to launch their offensive. In the end, Hitler chose to move east and attack Russia.

Operation Lifebelt, the codename for America’s planned inva-sion of the Azores, was scheduled to take place during May 1941. That it did not happen was due to guarantees given the United Kingdom to Washington. London assured US officials that Britain had a similar operation in place and ready for execu-tion in the event German forces set foot in Spain. In fact, Britain had only one operational division available at that time, and it was deployed in ports in the south of England with orders to embark onto ships that were ready to take them to the Azores where they would arrive four days later. The order for deploy-ment – which would also include the dispatch of a fleet of

Page 406: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[404]

ANTÓNIO JOSÉ TELO

warships, including aircraft carriers in order to provide protec-tion from German aerial attack – was to be issued the moment the first German soldier entered Spanish territory. In this way, British forces would arrive at the Azores before German forces reached the Hispano-Portuguese border.

Despite this assurance, the continued to US hesitate and carried on with its intention to invade the Azores as planned: in fact, it was not until April 1941 that Washington desisted, and only after London provided the Americans with intercepted German Enigma messages confirming Hitler’s intention to launch an attack on Russia two months later. Any attack on Russia meant it would not have forces available for any major operations in the west until the end of 1941 at the earliest. Presented with this information, Roosevelt ordered that the plan to occupy the Azores be cancelled. The deployment was called off with just a few days to spare, which is a good demonstration of what could happen when either the United Kingdom or the United States believed in the possibility that a rival might occupy the Portuguese islands.

The second time the Allies became interested in the occupa-tion of Portuguese territory came about in 1942; however, this time the motives were completely different. By now the main Allied concern was the Battle of the Atlantic, which was going badly for them with the loss of more ships than they could replace. The Allied navies believed occupation of the Azores would be an important asset for them in this conflict, as posses-sion of the archipelago would make it possible for Allied aircraft to provide air cover over the notorious ‘black hole’ at the centre of the North Atlantic – the area beyond the range of aircraft stationed in Iceland, Canada and Ireland.

That the occupation of the Azores did not take place during 1942 was largely because the Allied strategy developed other priorities in the course of the year. Operation Torch, the allied

Page 407: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[405]

FOREIGN BASES AND STRATEGIES IN CONTEMPORARY PORTUGAL

invasion of North Africa, was scheduled for November 1942, and since they sought to ensure the continuation of both Portu-guese and Spanish neutrality until then, they were obliged to postpone any invasion of the Azores. Their greatest fear was that an Allied occupation of the Azores would propel Spain into the war on the side of Germany.

In May 1943, the Allies drove Axis forces out of North Africa, and concerns about Spanish neutrality evaporated. Now that North Africa was under Allied control there was very little a belligerent Spain could do to affect Allied strategy. Churchill and Roosevelt gave the green light for the occupation of the Azores’ bases at the Trident Conference that same month.

The surprise allied invasion of the Azores was scheduled to take place during September 1943; however, the foreign office in London was of the opinion Portugal would agree to a request for facilities if such a request was made in the name of the Luso-British alliance. The request was duly made in the spring of 1943 and the Lisbon government gave its permission because by so doing was a guarantee that the regime would be allowed to continue after the war was over. Salazar made a very reveal-ing comment when he became aware of the Allies’ proposal: he said, “I would like to see the members of the opposition’s faces when they hear news of this.”

Lajes was occupied by British forces in October 1943; however, Britain ceded control to the United States in the name of the alliance since Portugal refused to allow the permanent installation of American forces on the islands. While technically British, the base could be used by American aircraft in transit, although no permanent US military units were permitted. The RAF initially stationed two squadrons of Fortress anti-submarine aircraft there, although they were soon withdrawn when it became apparent their presence was not required. The anti-submarine campaign in the waters around the Azores had already been decided during

Page 408: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[406]

ANTÓNIO JOSÉ TELO

the months prior to the Allies taking up residence on the islands, thanks mainly to US aircraft carriers that escorted convoys and whose aircraft were led directly to their targets thanks to inter-cepted Enigma. Since Lajes was not, as almost all Portuguese authors suggest, an important anti-submarine base, very few German submarines were actually sunk by aircraft stationed there. The role played in the Allies’ victory in the Battle of the Atlan-tic by the Azores bases was insignificant.

The actual role of the bases on the Azores during the Second World War was linked primarily to American concerns rather than to those of the Allies in general. The World War II was the first conflict in which strategic air transportation, which had largely been developed by the US, had any importance. One of America’s main routes in 1943 linked the US with North Africa and the Mediterranean: the Azores was a strategically important intermediate staging point on this route. Despite it being offi-cially a British base, Lajes was used mainly by American C-54 transport aircraft, which arrived at a rate of over 1000 flights per month. The distance the C-54s had to fly was cut in half when they began to use the Azores, with the result that they could carry much larger loads.

In order to understand the significance of this air bridge, which was the first inter-continental staging post in human history, it is worth recounting one small anecdote. In his memoirs, German Field Marshall Erwin Rommel noted he became convinced the war was over when, following a success-ful German counter-offensive at Kasserine in Tunisia in 1943, his troops occupied a building that had previously been in American hands. To his surprise, he came across a chocolate cake in its box, which indicated it had been made the previous day in New York. He thought that if the American had the luxury of transporting fresh confectionary all the way from New York to Tunisia in just a few hours, while Germany could not

Page 409: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[407]

FOREIGN BASES AND STRATEGIES IN CONTEMPORARY PORTUGAL

transport fuel to North Africa from Italy, then the war was lost. It should be noted that this event took place while the Ameri-cans were still transporting supplies to North Africa the long way, either via Brazil and Freetown, or via the United Kingdom and Gibraltar – both of which involved several stops. When the US began using the one-stop route via the Azores, aircraft capac-ity increased enormously.

During the final phase of the war, the Azores took on a new role by becoming the air support base for the projection of power over long distances. This role was of interest only to the US, and because of this Portugal’s insistence Lajes remained exclusively British created a difficult situation.

From a very early moment, the US was aware its ability to project its power by air between the continents would be partic-ularly important in the future, and by 1944 Washington began defining the minimum network of bases it believed it would be important to retain once the conflict was over. The Azores base was listed as one of six the US considered to be of vital strate-gic importance: indeed, it was the most important for the projec-tion of US power.

This explains why in 1944 Washington asked Lisbon for permission to construct a large base at Santa Maria, and insisted the request be presented in the form of a bilateral agreement between Portugal and the US, with no relevance to the Luso-British alliance. The importance the US gave to this request was such that it was even willing to say it would not oppose the continuation of the Portuguese empire: the first time in history that America had made such a concession. This promise was well received in Lisbon, particularly since at that time Portugal’s principal concern was that the US would actively push for colo-nial independence.

In the 1944 negotiations that resulted in the construction of the base at Santa Maria, America made many important

Page 410: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[408]

ANTÓNIO JOSÉ TELO

concessions that served to demonstrate the subject’s importance to Washington. For example, the US promised to restore Timor – which had been occupied by Japan during the war – to Portu-gal, and to provide Lisbon with supplies that could be used to undermine the bad feelings and waves of strikes that had broken out during the last months of the war, it also promised to grant important economic and diplomatic assistance to the regime after the war. With American help Portugal, unlike Spain, obtained early membership of the post-war international organ-isations.

The base the Americans built at Santa Maria was to be one of the most important in the Atlantic basin after the war, and had a range of facilities and resources that impressed both the Portuguese and the British. However, the war ended before the base was completed, and the agreement the US had signed with Portugal only allowed it to be used during the conflict. Santa Maria became a giant that never walked; as once it was ready the rug was pulled from under its feet. The Portuguese govern-ment reclassified the facility as a mid-Atlantic civil airport after the war and placed it under Portuguese management. Military activity was concentrated in Lajes. The US had built an airport that was superior to the one at Lajes, but it never got to use it. However, Santa Maria’s life as an important civil airport was brief: the new civil aircraft entering service after 1947 were able to fly fully laden across the Atlantic without the need to make any intermediate stops.

We can conclude that the role of Portuguese territory during the World War II altered with the changing strategies of the great powers, and its use passed from being passive to active. There were essentially two reasons for this:

• The advance of new technical methods, particularly subma-rine and strategic air transport;

Page 411: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[409]

FOREIGN BASES AND STRATEGIES IN CONTEMPORARY PORTUGAL

• The development of the United States as a global presence, which obliged it to project its power towards Europe and the Middle East, with Portuguese territory serving as an inter-mediate stopping-off point.

The new active role of the Azores resulted in it performing three very different strategic functions during the three phases of the conflict:

• During the first phase (1940-41), which was one of German domination, the Azores and Cape Verde served as advance positions for the defence of continental America;

• During the second phase, of relative balance (1942-43), the Azores became important as part of the anti-submarine war, a conflict that never broke out since the Allies decided not to make a request for bases until the middle of 1943;

• During the third phase, of Allied domination (1944-45), the Azores were viewed as a pillar in the air bridge that was constructed to project US power between the continents. This was a role that was exclusive to the US, and it became its main function during the Cold War.

Early Cold War strategies

The initial phase of the Cold War corresponded to the period during which the bases on Portuguese territory were most impor-tant for the great powers’ strategies.

From a very early date, the US National Security Council defined a strategy of dissuasion, in the belief that while the West controlled three of the world’s four industrial centres then its long-term advantage would be secure and it would have no interest in provoking war. In case it was provoked by the Soviet

Page 412: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[410]

ANTÓNIO JOSÉ TELO

Union, American plans (such as Frolic, Half-Moon, etc) antic-ipated a gradual withdrawal from Europe, accompanied by a nuclear strike and conventional strategic air offensive, while it mobilised its forces. The central bases for this aerial offensive were situated in the United Kingdom and North Africa, which were the only zones US military planners believed would remained unoccupied during the first six months of a conven-tional Soviet offensive. The Western alliance’s counter offensive would begin in North Africa six months after the outbreak of war, with the principal goal of regaining control of the Middle East, which planner estimated would be occupied by the Soviet Union during the first six months of hostilities.

It is not difficult to see how vital the Azores would be for the success of this plan: it was only through these islands that the bases and operations in North Africa, upon which all else depended, could be established and maintained. It was also a function of the Azores to project US air power, although now in a situation in which nuclear weapons had become important, and depending on the efficacy of their use in the utilisation of the Azores. We ought to recall that during this phase (pre-1952) America’s nuclear arsenal was small and that the Soviet Union, which had only developed the bomb in 1949, had an equally small arsenal. At that time the US believed that a nuclear attack, even assuming everything went according to the best predictions, would only eliminate 18 per cent of the Soviet Union’s industrial capacity, and that this would not give the West a decisive advan-tage. They also believed that the first six months of the war would be conducted by conventional means.

At that time, the US had no interested in establishing mili-tary facilities on mainland Portugal. This is because then Penta-gon planners believed the Iberian Peninsula would be completely occupied by Soviet forces during the first six months of the war.

Page 413: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[411]

FOREIGN BASES AND STRATEGIES IN CONTEMPORARY PORTUGAL

In 1945 Washington outlined a policy to obtain rights for a peacetime base on the Azores at any cost. Washington’s plans anticipated using the islands immediately upon the outbreak of hostilities: whether with or without permission from Lisbon. For reasons of brevity, it is sufficient to state here that the only way the US could reach a secure agreement allowing it to remain on the Azores during peacetime was by ensuring Portugal was granted NATO membership. It was for this very reason that Washington proposed Portugal’s invitation and secured its membership, despite it being a non-democratic regime.

The 1951 agreement between Portugal and the US permitted the Americans to retain a presence on the Azores for renewable five-year periods without the need for any direct concessions, which, in any event, Portugal would refused in order not to “create obligations.” The agreement was unique – while it was a bilateral agreement, it was politically justified as a multilateral NATO facility. The agreement allowed the base to be automat-ically used for NATO purposes and placed it at the disposal of all NATO members from the first moment of any conflict. On the initiative of the Portuguese, the facilities granted to the US were also extended to include the United Kingdom, which neither requested such facilities nor intended to avail themselves of them during peacetime. In 1953 Spain and the US signed the Bases Pact, an agreement that allowed Washington to estab-lish bases anywhere on Spanish territory. The philosophy driv-ing this agreement was completely different from that which was behind the Azores agreement: Spain accepted everything demanded of it, even to the establishment of nuclear bomber bases close to Madrid; however, unlike Portugal, Spain wanted direct, clear and extensive compensation from the United States. It is also worth noting the strength of Spanish economic growth with the injection of US capital and techniques during the 1950s, while the Portuguese economy grew much more modestly.

Page 414: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[412]

ANTÓNIO JOSÉ TELO

At the beginning of the 1950s, the official US policy evolved towards a strategy of “massive retaliation” that took into account the inferiority of its conventional forces and the superiority of its nuclear arsenal. This strategy proposed the deployment of American bombers from bases in the US at the outbreak of any conflict, since it now assessed that, with the development of the Soviet nuclear arsenal, its advance bases in North Africa and the United Kingdom were no longer secure. For this reason, US Strategic Air Command (SAC) was supplied with a fleet of over 1000 inter-continental aircraft, such as the B-36, B-47 and B-52. For these aircraft to be able to operate effectively from bases in the United States, it would be necessary to refuel them in flight: a technique that had become common at that time, and which required the creation of a fleet of over 1000 refuelling tanker aircraft.

The Azores were also important for the plans of this time, since it was anticipated that in the event of war they would be transformed into one of the main tanker aircraft bases, from which they could cover both the North and central Atlantic, refuelling nuclear bombers whilst in flight. The war scenarios of this phase indicated that the war would be short and that the first hours of the conflict would be decisive. Because of this the facilities at Lajes had to be reinforced prior to rather than after the outbreak of any conflict. Consequently, Washington demanded that the 1951 agreement allowed the large scale rede-velopment of land installations. The American view justifying massive retaliation was that its bombers would be capable of destroying the Soviet industrial centres in just a few hours, while Soviet bombers would only be able to cause light damage. This meant US radar listening stations, one of which was established on the Azores, assumed long term strategic importance – despite the fact that the Azores was not on any route Soviet bombers attacking North America would take. The plans that guided US

Page 415: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[413]

FOREIGN BASES AND STRATEGIES IN CONTEMPORARY PORTUGAL

strategy anticipated that Soviet bombers would advance over the North Pole and Canada towards their targets in the United States, while a number of American bombers would be directed to targets in the Caucuses, the Crimea and the south of Soviet Asia along a route across the Mediterranean that involved in-flight refuelling.

At beginning of the 1960s, the US and NATO adopted a strategy of flexible response. This strategy, in various guises, was retained right up until Ronald Reagan’s presidency. The altera-tion of strategy was the result of two events: firstly, the substan-tial increase in the size of the Soviet nuclear arsenal since 1956, which had grown to such an extent that any nuclear conflict would result in what Washington believed would be “unaccept-able damage” to the US; and secondly, the development of new nuclear missile delivery techniques at the end of the 1950s through the development of inter-continental ballistic missiles (ICBMs) such as the Atlas, and nuclear attack submarines, like Polaris, against which there could be no defence. Subsequently, Washington was obliged to rethink its massive retaliation strat-egy, since the use of strategic nuclear weapons in response to conventional attack would only provoke retaliation in kind against the Soviet Union against targets in the United States. It was the period during which nuclear arsenals of both superpow-ers had reached such a size that, should they ever be deployed in conflict, both the USA and the USSR would be destroyed several times over. The solution the Pentagon decided upon was that of “flexible response,” the idea being that aggression would be met with resolution, with the use of forces that were suffi-ciently resolute that they could force the enemy to the negoti-ating table in order to prevent any escalation. This meant the US and its allies had to have viable resources at every level, which meant there had to be an immediate increase in the size of NATO’s conventional forces in Europe. Now that it was

Page 416: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[414]

ANTÓNIO JOSÉ TELO

anticipated that the first phase of the war would be prolonged, it was expected it would never lead to the “mutually assured destruction” that would be the inevitable result of using strate-gic nuclear weapons.

One of the factors lending credibility to this new strategy was the decision to arm West Germany and granting it NATO membership. It also led to the development of a large and modern conventional arsenal that would be important for the bases in Portugal.

During this phase, the bases on the Azores continued to be of great strategic importance as support stations in any strategic air offensive (whether conventional or nuclear). They also acquired a new importance with respect to exercising control over the Atlantic. The Soviet Union’s navy at this time was substantial, and its submarine fleet was larger than the one the Germans had during the World War II. For the first time in the history of the Cold War, the maritime communication network in the Atlantic was at risk. This only served to enhance the Azores’ importance, since there was now a real possibility of a prolonged conflict rather than the short war envisioned in the “massive retaliation” strategy.

The Azores’s new importance was as an anti-submarine base. On the ocean bed close to the islands was a passive sonar warn-ing system was installed to provide the final link in the Atlan-tic anti-Soviet submarine warning network. This system was used successfully for the first time during the Cuban missile crisis when the US imposed a marine blockade of Fidel Castro’s island. The Azores’ submarine warning system provided the Americans with essential information on the position of Soviet submarines in the Atlantic.

In the event of an outbreak of hostilities it was anticipated that patrol aircraft that were stationed in the Azores would be assisted by units that were stationed on mainland Portugal at

Page 417: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[415]

FOREIGN BASES AND STRATEGIES IN CONTEMPORARY PORTUGAL

Espinho and Montijo. These two bases were built and developed using NATO money on the understanding that, immediately on the outbreak of war, they would automatically be given over to NATO. This introduced a new concept behind the establishment of foreign bases on Portuguese soil: that of the base developed with NATO funds, but which were used exclusively by designated Portuguese units during peacetime. In one case, the Portuguese Air Force had to seek NATO authorisation before it was able to transfer its own resources to Espinho during operations in connection with the events of 25 November 1975 during the country’s transition to democracy. In time of war, however, designated NATO units would be deployed there, where they would find everything they required in order to immediately begin. Espinho and Montijo were the first such NATO bases in Portugal, and were designed to be used by maritime patrol and anti-submarine squadrons. They were also constructed on a much larger scale than their peacetime operational use could ever require.

The “flexible response” brought about another novelty in respect of foreign bases in Portugal. Now mainland Portugal had acquired an important position in a European defence strat-egy in which, during the first phase of the war, conventional NATO forces slowly retreat, surrendering territory in exchange for time, possibly without recourse to nuclear weapons or with access only to tactical nuclear weapons. West Germany was rearmed in order to make this tactic possible and to increase both the size and the quality of NATO forces in central Europe.

Under NATO’s plans, West Germany required a secure rear-guard zone in which supplies could be deposited and to where the thousands of wounded that were predicted during the first days of a conventional war could be evacuated. Portugal emerged as the ideal location, and enjoyed the additional advantage of

Page 418: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[416]

ANTÓNIO JOSÉ TELO

a clear airspace that could be used for peacetime Luftwaffe train-ing missions. The Luftwaffe was permitted use of target ranges in Portugal that it would be impossible to recreate in Germany. The only possible alternative to Portugal was Spain, but as the latter was not a member of NATO the situation was more compli-cated, and consequently West Germany decided to establish facilities in Portugal.

There were no fewer than 23 separate military co-operation agreements signed between West Germany and Portugal between 1960 and 1964. Many of these agreements were of a substantial size. They provided Portugal with German technical assistance for the large-scale reorganisation and expansion of its national defence industry. Additionally, the agreements foresaw the devel-opment of ports, the creation of a large network of warehouses and supply bases for German forces (in Setúbal and Leixões), the establishment of a network of field hospitals that could admit up to 20,000 seriously wounded in time of war (with medical staff brought in from Germany), the expansion of Portu-guese aeronautical facilities that would be able to repair German aircraft, and the development of air fields, roads and commu-nications networks. The most significant and most visible of these agreements resulted in the establishment of an air base at Beja, which the Luftwaffe used extensively for peacetime oper-ational training exercises.

The final variant in the type of foreign bases in Portugal during the 1960s emerged through a non-NATO agreement with France, which was developing an independent nuclear arsenal. In order to do this, France needed to establish a tracking base on the Azores from which it could support its programme of Atlantic missile tests (the Atlantic was Europe’s only testing site). The agreement with France permitted the establishment of such a base on very generous terms on the island of Flores. Portugal’s compensation was, as ever, indirect.

Page 419: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[417]

FOREIGN BASES AND STRATEGIES IN CONTEMPORARY PORTUGAL

The “flexible response” strategy increased the number of differ-ent type of foreign bases in Portugal. The differences covered the actual number of bases, the number of countries involved, the geographical zones covered and the base purpose. The new facil-ities cover a large collection of strategies, extending from the United States to Germany, France and NATO, whilst simultane-ously expanding out from the Azores to the mainland and, on mainland Portugal, from Beja to Espinho and Leixões. New func-tions emerged that went beyond the employment of the bases as simply supports for the projection of US power and existing stra-tegic air offensive strategies: they included support for the defence of the Atlantic, to defence in depth of Europe and France’s need to develop its independent nuclear deterrent.

Portugal was skilled in exploiting the increased strategic importance of its territory. The government in Lisbon almost always preferred to form indirect associations: favouring inde-pendent agreements in order to achieve its goals without present-ing them as direct payment for the concession of bases.

Portugal obtained a vital return from Germany and France: technical and diplomatic support that enabled it to prosecute a 13-year war in Africa. Rather than the traditional British and American supplies, Portuguese forces in Africa were equipped mainly with German and French weapons and equipment. Much of the German and French materiel was manufactured under licence in Portugal, although in many cases they were no more than assembly plants with very little national technology being incorporated. For example, the Berliet vehicles used by the Portuguese armed forces arrived from France in kits that were then assembled in Portugal.

The compensation Portugal received from the US was polit-ical, and enabled Lisbon to oblige the Kennedy administration to abandon its initially vehement opposition to Portuguese policy in Africa. Both the US and the UK accepted the reality

Page 420: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[418]

ANTÓNIO JOSÉ TELO

of the African wars and, driven by the importance of Portu-guese territory for their own strategic war plans, they developed a policy of moderate criticism without ever pushing the matter far and without offering any support for the African liberation movements. Nevertheless, both the US and the United King-dom did reduce the supply of weapons to Portugal that could be used in Africa. However, this did not cause Portugal any great problem, because the shortfall could be made up with French and German alternatives. In the end, both Portugal and the US simply agreed to disagree over Africa, and their relationship continued as normally as possible despite their differences.

British foreign office files from this period explain London’s policy in this matter as follows: it is necessary to engage peda-gogically with Portugal, to explain that there is no future in its African policy and seek to ensure that the collapse, when it happens, is as gentle as possible… If they accept this, the US and the UK will supply equipment for NATO military missions, but not for the wars in Africa – although it is clear that Portu-gal will, whenever it can, divert the equipment destined for one end for the other.

From 1961-74, the network of foreign bases in Portugal greatly increased and, deploying the winning political hand it was dealt, achieved very real military and diplomatic miracles. One of these was to pursue a three-fronted war in Africa for 13 years without military collapse. Another “miracle” was that it was able to oblige the Kennedy administration to retreat from its initial opposition to Portuguese policy in Africa. The United States began by voting against Portugal in the United Nations, then it abstained; it also began by outlining a policy of actively supporting some of the African liberation movements, which it soon rejected. It should to be noted that there are few examples where a small country like Portugal has been able to force the

Page 421: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[419]

FOREIGN BASES AND STRATEGIES IN CONTEMPORARY PORTUGAL

administration of a country with the size and influence of the US to perform a political u-turn. It is indeed a rare case in the international system, and one that well illustrates the Portuguese ability to play several games with different hands that are not always visible.

Foreign bases in Portugal: an assessment

During the period being studied we noted the presence of the following foreign military bases in Portugal:

• During the World War I, naval air bases for the US in the Azores and for France on mainland Portugal, at Leixões, with additional support facilities in Lisbon and the Algarve;

• During the World War II, a British naval air base at Lajes (from 1943) and for the United States at Santa Maria (from 1944);

• During the Cold War, US bases on the Azores with permis-sion for their use being especially extended to the United Kingdom and, from 1949, to all NATO members. West German bases in Beja and at various locations in mainland Portugal during the 1960s.

In addition to those bases fitting our restricted definition, we also note the presence of military units stationed over a long-term and performing several support functions that could prove important for the success of the grand strategy: such as submarine cable stations, radio interception stations, missile tracking stations (such as the French station on Flores), the many kinds of early warning stations (visual observation, radar, sonar, radio-electrical), traffic control centres, weather stations and others.

Page 422: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[420]

ANTÓNIO JOSÉ TELO

For almost half of the period being studied (between 1875 and 1943, with a short interval between 1916 and 1919), the presence or absence of any foreign military presence in Portugal was determined by the British strategy of denying access to Portuguese territory that transformed into the need for preven-tative occupation at certain times and under specific circum-stances.

During the short intermediate period (1916-19 and 1943-45), the foreign military presence was principally determined by Washington’s need for the advanced defence of the American continent and control of the North Atlantic.

From 1944 to the present, the foreign military presence in Portugal is concerned mainly with projecting the US’s global power, particularly in relation to the US-Mediterranean-Middle East axis. Nevertheless, for part of this period it is obvious that other concerns also made themselves felt, particularly the need to guarantee the depth of Europe’s defence, which led to the concession of bases to NATO and, especially, to West Germany during the 1960s.

As for the use of these bases for national ends, we may conclude that the main achievements were political and strate-gic. There were essentially four compensations for the concession of bases, which are listed in order of their national impor-tance:

Firstly, national governments initially intended the foreign bases to be a means of obtaining legitimacy and international acceptance for the regime, and even at times as a means of guaranteeing the regime’s future (which was the case with the granting of bases to Britain in 1943);

Secondly, the bases were intended – and were used – as a means of obtaining important political and diplomatic advan-tages, such as those secured from the Kennedy administration during the 1960s;

Page 423: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[421]

FOREIGN BASES AND STRATEGIES IN CONTEMPORARY PORTUGAL

Thirdly, the bases were intended as a means of modernising Portugal’s armed forces in order to achieve the national defence policy objectives, even such goals were not shared with Portugal’s allies (such as the planned joint defence with Spain during the Portugal’s first decade within NATO, or the defence of the Afri-can colonies during the following years);

Finally, the bases were also used surreptitiously to obtain financial and economic compensations, although this was always subordinate to the other aspects, which had absolute priority.

We can conclude that the foreign bases in Portugal were important for the viability of national strategies and for assuring international acceptance of the authoritarian regime. This is true even when national strategies were in collision with those of the powers that established the bases, as was the case during the wars in Africa. Since Portugal was normally very dependent upon the diplomatic and political support of the great Atlantic powers, these factors were the most important compensation for the concession to them of bases. The economic and financial compensations were limited and of little importance, since the support sought was fundamentally of a different nature. In this respect, the Portuguese case contrasts with that of the majority of small and medium sized states that accepted foreign bases on their territory, since it was normal for them to seek and obtain financial and economic compensation that was mainly economic and financial – see, for example, the case of Spain, which was outside NATO, and those of Greece and Turkey, both of which are within NATO.

The foreign military bases in Portugal led to the emergence of one of the main aspects of national dysfunction within the international system. These are the compensations for Portugal’s ability to obtain advantages and support from the international system that seemed to be above Portugal’s relative weight. It was an ability Portugal expertly exploited during the 19th and 20th

Page 424: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[422]

ANTÓNIO JOSÉ TELO

centuries, one that allowed it such things as the continuation of a dictatorship and of the last European empire until 1974. The fact that small Portugal was able to force the Kennedy administration to change its policy during the 1960s is also evidence of this skill. In this sense we can see that the foreign military bases in Portugal are essential for achieving an under-standing of Portugal’s originality, its national development and of the unique course it took.

Similarly, this creates a typically national approach to the negotiation of military bases on Portuguese territory, in which the chief concern is to formally safeguard national sovereignty. The American negotiators of the 1950s were thus advised of something Britain understood perfectly: the Portuguese are very sensitive about anything that may places in doubt its formal sovereignty, regardless of how theoretical it may be; and that every possible concession must be made in this respect, regard-less of its lack of import. It may not be important, but it is nevertheless significant, as Salazar recognised when he claimed that in politics things are whatever they appear to be. Conse-quently, during negotiations Portugal would normally avoid accepting any direct recompense that could result in limitations to formal sovereignty in return for the concession of bases. Curiously, this was often accompanied by the apparently careless abandonment of real sovereignty, for example, the 1951 agree-ment allowed the Azores bases to be used by NATO, with or without Portugal’s agreement.

The Portuguese tendency was to favour indirect approaches, in which the real compensation for the concession of facilities were obtained through independent negotiations, and, at times, concerning matters that apparently have nothing to do with the concession. This indirect approach was especially evident during the period prior to 1943, which was dominated by the British strategy of denial, during which the main compensations were

Page 425: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[423]

FOREIGN BASES AND STRATEGIES IN CONTEMPORARY PORTUGAL

obtained by Portugal for not having military bases on its terri-tory: that is, by denying the use of its national territory by any power other than the United Kingdom. None of this was writ-ten or recorded in any treaty: it is simply the way it was.

Bibliography

AAVV – Dez Anos de Política Externa (1936-1947), 18 vols. (Lisbon: Imprensa Nacional, 1971-1986).

BAKER, Anni – American Soldiers Overseas (Westport: Praeger, 2004).CHESTER, Edward – The US and Six Atlantic Outposts (NIP: 1980).HERZ, Norman – Operation Alacrity (Annapolis: NIP, 2004).MCCORMICK, Thomas – America’s Half-Century. US Foreign Policy in the

Cold War and After, (Baltimore: 1995).RODRIGUES, Luís Nuno – No Coração do Atlântico, Os EUA e os Açores

(1939-1948), (Lisbon: Prefácio, 2005).RODRIGUES, Luís Nuno – Kennedy-Salazar, a Crise de uma Aliança (Lisbon:

Editorial Notícias, 2002).SERRÃO, Joaquim Veríssimo – História de Portugal, vol. XV (Lisbon: Edito-

rial Verbo, 2003).TELO, António José – Os Açores e o Controlo do Atlântico (Porto: Edições

Asa, 1993).TELO, António José – Portugal e a NATO (Lisbon: Cosmos, 1996).TELO, António José – Portugal na 2.ª Guerra Mundial (1941-45), 2 vols.

(Lisbon: Vega, 1991).TELO, António José – A Neutralidade Portuguesa e o Ouro Nazi (Lisboa:

Quetzal, 2000).

Page 426: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

Authors•

Biographical Notes

Page 427: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

Authors•

Biographical Notes

FRANKLINROOSEVELT

AND THE

AZORESDURING THE

TWO WORLD WARS

Page 428: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais
Page 429: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[427]

Luís Andrade

Luis Andrade is a tenured Associate Professor at Azores University where he teaches several courses on Political Science and International Relations. Andrade heads the Exchange and Cooperation Program at Azores University and was director of the History, Philosophy, and Social Science Department at that University from 1995 to 1996, where he also directed the Center for International Relations and Strategy Research from 1995 to 1998. From 1996 to 2000, Andrade was an advisor in foreign cooperation to the President of the Azores Regional Government and representative of the Azores Regional Government on the negtiations for the Agreement for Cooperation and Defense involving Portugal and the United States (from 1996 to 2000 and from 2001 to 2004). From 1991 to 1992 he was assistant to the Minister of the Republic for the Azores. He has published a number of books in Portugal and abroad.

Carlos Enes

Born in Vila Nova on Terceira Island in 1951, Carlos Enes has taught History at the high school level since 1978. He also taught at Eduardo Mondlane University in Maputo, Mozambique from 1981 to 1984, and at the Universidade Aberta in Lisbon from 1996 to 2003. Enes obtained a Master’s Degree in Contemporary History from the Univer-sidade Nova de Lisboa in 1993 and has devoted much of his time to researching the economic, political, and ethnographic history of the Azores.

Page 430: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[428]

José Medeiros Ferreira

An Associate Professor at the Universidade Nova de Lisboa, Medeiros Ferreira has taken an active part in the Master’s Degree Programs in International Relations given at the Azores University. He has written a number of works on contemporary history, strategy, and interna-tional relations such as Os Açores nas duas guerras mundiais (1990), As Relações Luso-Americanas no Século XX – A Descoberta do Plano Bilateral (1994), and Cinco Regimes na Política Internacional (2006).

Warren F. Kimball

Author of Forged in War: Roosevelt, Churchill, and the Second World War (1997), The Juggler: Franklin Roosevelt as Wartime Statesman (1991), and books on the Morgenthau Plan and the origins of Lend-Lease, edited Churchill & Roosevelt: The Complete Correspondence (3 vols.,1984). He has published over 50 essays on Churchill, Roos-evelt and the era of the Second World War. He is on the Board of Governors of the Roosevelt Institute, and an academic adviser to the Churchill Centre.

Cynthia M. Koch

Director of the Franklin D. Roosevelt Presidential Library and Museum in Hyde Park, New York. From 1997 through 1999, Dr. Koch was Associate Director of the Penn National Commission on Society, Culture and Community, a research group at the University of Penn-sylvania. She was Executive Director of the New Jersey Council for the Humanities from 1993 to 1997 and from 1979 until 1993, Direc-tor of the Old Barracks Museum, a National Historic Landmark, in

Page 431: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[429]

Trenton, New Jersey. She holds her Ph.D. and M.A. in American Civilization from the University of Pennsylvania and a B.A. in history from Pennsylvania State University.

Álvaro Leal Monjardino

Born in 1930 in Angra do Heroísmo, where he still lives, Álvaro Monjardino is a lawyer and a member of the Terceira Island Historic Institute and the Portuguese History Academy. He was a member of the Planning Committee for the Azores Region from 1970 to 1974, deputy to the National Assembly from 1973 to 1974, member of the Regional Board for the Azores from 1975 to 1976, member of the Azores Regional Assembly from 1976 to 1988, and President of the same body from 1976 to 1978 and 1979 to 1984. From 1978 to 1979 he was a Minister in Portugal’s 4th Constitutional Govern-ment.

Philip Mundy

Majored in history as an undergraduate at Yale College. After a few years teaching high school history, he pursued graduate study at Rutgers University, focusing on US diplomatic history. He now teaches in Sydney, Australia, and lives with his wife and two children.

Page 432: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[430]

Luís Nuno Rodrigues

Tenured Assistant Professor in the History Department at ISCTE, where he coordinates the Master’s and Doctoral Programs in History, Defense, and International Relations in conjunction with the Military Academy. He also carries out research at the CEHCP (Research Center for Contemporary Portuguese History) – ISCTE and at the Portuguese Institute for International Relations. He is the author of Kennedy-Salazar: a crise de uma aliança. As relações luso-americanas entre 1961 e 1963 (2002) and No Coração do Atlântico: os Estados Unidos e os Açores, 1939-1948 (2005). He has recently completed a biography of former Portuguese President Costa Gomes entitled Marechal Costa Gomes. No Centro da Tempestade (2008).

Adam Seipp

Assistant Professor of History at Texas A&M University. He earned his PhD at the University of North Carolina at Chapel Hill in 2005. Dr. Seipp has published a number of articles and book chapters on the First World War in Europe. He is presently at work on a book about the US Army and the refugee crisis in post-1945 Central Europe.

Page 433: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

[431]

António José Telo

With a doctorate in History from the Faculty of Letters at Lisbon University, Prof. Telo is a historian, full professor at the Military Academy, and a tenured Professor in Military History at the Azores University. He has published scores of works on history, defense, and international relations, including more than ten books and over a hundred articles and numerous contributions to collective works published in five countries. He is currently the Director of Portugal’s National Defense Institute.

Page 434: Franklin Roosevelt e os Açores na duas Guerras Mundiais

FRANKLIN ROOSEVELTE OS AÇORES

NAS DUAS GUERRAS MUNDIAIS

AND THE AZORESDURING THE TWO WORLD WARS

LUÍS NUNO RODRIGUES(coordenação / editor)

Julho / July, 2008

LUSO-AMERICANAFUNDAÇÃO

LUSO

-AM

ERIC

AN

AFU

ND

ÃO

��������

����������

�������������������������������������

����������������������������

������������