FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA
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FLORES SECAS
"POEMAS DE FORMA FIXA"
Versos de Esio Antonio Pezzato 2009
Pg ii
Um pequeno comentárioResolvi colocar neste pequeno volume, um tantode tudo o que já produzi durante 40 anos dePoesia. Mas aqui vai um adendo: são os versos deforma fixa apenas, compostos de baladasfrancesas, pantuns malaios, e outras formasdistintas de poesia. Algumas quase quetotalmente esquecidas... Alguns possíveis leitorespoderão ver pelas datas, que a grande maioriados poemas foram escritos em poucos dias noano de 2008. É que, quando decidi juntar taisformas de versos, verifiquei que poucos delesexistiam. Então resolvi compor outros poemas afim de que o volume ao menos pudesse ter umconteúdo, além da forma, é claro. Daí toqueestudar, analisar, pesquisar e colocar as ideias nopapel. Gostei do resultado. Claro que sei, maisque todos, que o que vai aqui não é Poesia pura,mas poesia estudada e pesquisada, já que aForma não poderia fugir. Mas estudei muito apoesia portuguesa, a barroca, onde os exemplosde décimas são constantes e cheguei a esseresultado final.
Pg iii
Este pequeno volume contém apenas isso. Claroque, em se falando em poesias de forma fixa, oSoneto também deveria aqui estar inserido entretantas outras formas de se poetar... Mas aqui odeixo de fora e me atenho apenas a essas outrasformas mais esquecidas, pois o Soneto é pordemais difundido e até quem não sabe o que éPoesia, conhece um Soneto. Os poemas aquiseguem a tradição estrófica e rítmica. Busqueinão inventar apenas criar sobre o já existentecom algumas liberdades apenas. Se nas Baladasnossa Literatura traz muitos exemplares, comMartins Fontes e Gustavo Teixeira, Bilac possuiapenas quatro Baladas e um Pantum apenas, emAlberto de Oliveira também a produção épequena, em Machado de Assis outra pequenavariedade, bem como Goulart de Andrade, asoutras formas de se poetar são quaseinexistentes, como o Pantum proveniente daMalásia, o Triolé, a Vilanela a Sextina, asDécimas, o Ritornelo, o Rondó, o Rondel, a TerzaRima, (cujo maior exemplo talvez seja a DivinaComédia, de Dante), e outras. No final desteVolume trago um Elucidário dizendo sobre aforma de se compor cada tipo de Poema, colhido
Pg iv
principalmente no “Pequeno Dicionário de ArtePoética”, de Geir Campos. Serve de explicação,pois foi onde encontrei o necessário para talempreitada. Compus algumas baladas em versosde nove sílabas, altamente aceitáveis, mas agrande maioria mesmo é feita em versos de oitosilabas, com as estrofes tendo oito versos cada.Nas baladas decassílabas, tanto compus estrofesde oito como de dez versos, que é a mais correta.Quanto aos Pantuns, além dos versosdecassílabos e da redondilha-maior, aindacompus no verso Alexandrino e fui além, criandoum Pantum com rimas encadeadas. Não conheçooutro. A Sextina sei que está imperfeita quandoà disposição das palavras finais, masé irrelevante. Também as Glosas, em Décimas,algumas estrofes trazem o ponto final no quintoverso, o que não deveria acontecer. Mas não mepreocupei tanto com isso também. Oras, ainterpretação de tudo no século XXI me dá talliberdade. Os mais críticos poderão ver taiserrinhos, tais falhas, mas as cito aqui paramostrar que, antes deles, eu já havia notado.Dentro disso tudo explicado, falei acima doSoneto, e decidi por mostrar apenas dois. Deveria
Pg v
me ater mais a ele, como sendo a Poesia deforma fixa mais conhecida do mundo. DesdePetrarca, nos idos do século XV, o mesmo écultuado, então eu deveria aqui ir além e deixarnestas páginas, uma Coroa de Sonetos, mas iriaalongar o livro desnecessariamente em mais 15páginas. Sendo assim coloco aqui uma invençãominha, a Poesia monossilábica, e então taisSonetos aqui vão não como Sonetos em si, mascomo exemplo de monossilabismo. Espero queentendam isso também. Sou um afeiçoadoà Escola Romântica, da qual sou seguidor; eentendo mesmo que essa Escola do Século XIXteve apenas início e seu fim ainda não chegou. Amesma, porém, não traz grandes exemplares.(Álvares de Azevedo tem uma Terza Rima) Apenasna Parnasiana, onde a Forma era altamentecultuada. Assim deixo para futuros leitores, umlivro que deverá permanecer inédito. Que um dia,no futuro, esse pequeno volume de minhas obraspossa ser lido e entendido.
Esio Antonio Pezzato.
Pg vi
BALADAS
Balada Francesa
Teço baladas à francesa
Para entreter o meu amor.
Planto meu verso com firmeza
Para desabrochar em flor.
Um ramalhete multicor
Eu ofereço a ti, amada.
E nele vai, com muito ardor,
Toda a minh’alma apaixonada.
Viajo nessa correnteza
Olhando o rubro sol se por.
Carrego em mim toda a certeza
Que és o meu anjo encantador!
Comigo irás por onde eu for
A palmilhar a mesma estrada.
Pg vii
Vai ao meu peito de cantor
Toda a minh’alma apaixonada.
Contemplo a bela natureza
Cheia de luz e de esplendor.
Em tudo vejo a áurea grandeza
E as santas mãos do Criador.
Por isso existe tanta cor
Na minha lírica balada.
Trago no peito com fervor,
Toda a minh’alma apaixonada.
Oferta:
Não há na vida outro primor,
Sou teu Poeta, minha Fada.
E a ti entrego com louvor
Toda a minh’alma apaixonada.
07.01.2000
Pg viii
Balada do Tempo
Após a leda mocidade
Que chega em fogo e em cinzas passa,
Somente a pálida saudade
Fulgura ao céu como fumaça.
Até parece haver trapaça
Aos lindos sonhos que sonhamos,
O tempo chega em férrea ameaça
A apodrecer frutos nos ramos.
A neve cobre sem piedade
E o frio ingente tudo grassa.
Sonhos de rubra intensidade
Perdem fulgor, e brilho, e graça.
À mocidade se ergue a taça
Dos mais exóticos recamos,
Mas a estiagem traz ameaça
A apodrecer frutos nos ramos.
Pg ix
Sonha-se com a eternidade
Mas corrosiva e rude traça
Corroi o bronze, quebra a grade
O tempo em fogo o ferro amassa.
O que era lírico esfumaça
E ao desespero nós entramos...
Fuligem negra é treda ameaça
A apodrecer frutos nos ramos.
Ofertório:
Não há mais brilho na vidraça,
Funérea voz diz que partamos!
A hora dos sonhos é ameaça
A apodrecer frutos nos ramos.
01.02.2000
Pg x
Balada do Despertador
À doce brisa da manhã
De casa saio encapotado.
Essa neblina temporã
Há de trazer-me um resfriado.
(A minha cama estava quente
Eu me aquecia ao teu calor.
Oh, minha amada, num repente
Soou feroz despertador!)
Do frio ingente não sou fã
Amo o verão iluminado.
Mas a neblina tecelã
Faz tudo branco rendilhado.
(Saio da cama reticente,
Cedo acordar é pleno horror.
Mas eis que toca persistente
Duro e feroz despertador!)
Pg xi
Visto blusão, meias de lã,
Todo o meu corpo está gelado.
Tremo de frio... hã... hã... hã...
Religo o ar condicionado.
(Aqui no quarto é diferente,
Junto de meu querido amor.
Mas eis que toca, intermitente,
Brusco e feroz despertador!)
Oferta
Antes que o frio mais aumente
E ao corpo traga artrite e dor,
Melhor lascar no assoalho quente
Esse feroz despertador!
30.07.2004
Pg xii
Balada Aquecida
Os versos são armas que tenho
Para vencer qualquer batalha.
Com eles, forte me mantenho,
Para ganhar áurea medalha.
Em transes, quando eu oscomponho,
Sei-me inspirado a toda brida.
Rubra fagulha de meu sonho –
Brasa que aquece minha vida.
Carrego-os como um próprio lenho
E os sinto em mim – feito mortalha;
E do Parnaso quando venho
Sei que me fere tal navalha.
Porém, jamais fico tristonho,
E nada, nada, me intimida.
O Verso é luz para o meu sonho,
Pg xiii
Brasa que aquece minha vida.
Jamais me cansa este interregno
Que o verso é luz que me agasalha.
À sua força me retenho
A sua rima me retalha.
Ao verso estou sempre risonho
E esta Balada é colorida.
A estrofe é o ar para meu sonho,
Brasa que aquece a minha vida.
Oferta
Por isso sempre os versos ponho,
Em minha vida tão querida.
Pois a Poesia é mais que umSonho:
Brasa que aquece a minha vida.
13.12.1999
Pg xiv
Balada para um Amor
Eu sou Poeta, de maneira
Que és minha Musa idolatrada.
Por ti minh’alma é prisioneira
E é eternamente apaixonada.
Retorno aos versos da Balada
E exalto o amor que me seduz.
Sem ti, querida, não sou nada,
E cego estou por tanta luz.
Parece ser a vez primeira
Que os sonhos pisam tal estrada.
Desfraldo ao céu alva bandeira
Escrito: “eu te amo, alma adorada!”
A voz se torna embaralhada
Em brilhos a alma ao céu reluz.
Teus passos sigo, doce amada,
Pg xv
E cego estou por tanta luz.
O amor é chama verdadeira,
Que à noite brilha iluminada.
Parece tocha de roseira
A florescer na madrugada.
A pena torna-se inspirada!
O verso puro jorra a flux!
Na minha vida és doce fada,
E cego estou por tanta luz.
Oferta:
Não há na vida encruzilhada:
Teu coração o meu conduz.
És o meu sol, minha alvorada,
E cego estou por tanta luz.
07. 01. 2004
Pg xvi
Balada da Entrega
Se o amor invade o coração
E apaixonado o peito canta,
A vida explode na canção
Tudo é magia e tudo encanta.
Estranha e lírica emoção
A estrada brilha colorida.
Não há no mundo outra razão
Que te entregar a minha vida!
Rosas azuis em cada mão
Ponho no altar da minha santa.
De joelhos rezo uma oração
E a vida em sonhos me acalanta.
Minh’alma é flor nessa estação!
A vista torna-se florida.
Não há no mundo outra razão
Pg xvii
Que te entregar a minha vida!
Beijo-te a boca em convulsão,
Meu corpo ao teu faço de manta!
Divina e pura inspiração
No êxtase santo me quebranta.
Apaixonado beijo o chão
Que sempre traz a alma querida.
Não há no mundo outra razão
Que te entregar a minha vida!
Oferta:
Não há , querida, sensação,
Que a alma me deixa ensandecida.
Não há no mundo outra razão
Que te entregar a minha vida!
07.01.2004
Pg xviii
Balada do Amor
Todas as noites quando canto
A minha voz canta a balada
Que ao coração traduz o encanto
Da alma que trago apaixonada.
E solto a minha melodia
Numa ternura de recamo,
Pois canto e canto noite e dia:
Eu te amo! eu te amo! eu te amo! eu te amo!
O amor me vem num acalanto
Que em êxtase eu não penso em nada.
Porque te quero tanto, tanto,
Que és minha Musa! a minha Fada!
Rimo por ti minha poesia
Teu nome a todo o instante clamo,
E canto pleno de alegria:
Eu te amo! eu te amo! eu te amo! eu te amo!
Com teu amor, tudo suplanto,
Pg xix
Sigo a sorrir, qualquer estrada.
O teu amor é o azúleo manto
Às frias noites de invernada!
Contigo vivo a fantasia
E de prazeres eu me inflamo,
Canto da forma que queria:
Eu te amo! eu te amo! eu te amo! eu te amo!
Oferta:
Se tua vida for vazia
Encha-a com a voz de meu reclamo,
Pois este canto te alumia:
Eu te amo! eu te amo! eu te amo! eu te amo!
09.09.99
Pg xx
Balada do Sonho
Dentro da noite existe o sonho
E uma ansiedade contundente,
Nas suas luzes eu me ponho
Das suas chamas sei-me crente.
Se a todos, tudo é indiferente,
– Uma ilusão descolorida,
A mim é força persistente,
Razão para sorrir na vida.
Sempre com passos de umtardonho
É-me impossível vir à frente
E de ilusões somente sonho
Porque jamais tive o presente
Do sonho casto, puro, ardente,
Para deixar mais colorida
E poder ter, naturalmente,
Pg xxi
Razão para sorrir na vida.
Por isso o olhar trago tristonho,
Lanço um sorriso indiferente,
Os passos piso no medonho,
Junto à alegria estou ausente.
Talvez me chegue num repente
A minha busca desmedida,
Para que tenha, enfim, contente,
Razão para sorrir na vida.
Oferta:
Talvez me chegue simplesmente
Como uma flor do chão nascida,
E me ofereça sorridente
Razão para sorrir na vida.
22.12.98
Pg xxii
Balada Amargurada
Minh'alma em ânsias a procura
De forma louca, insana, errante,
Para por fim a esta loucura
Que não me larga um só instante.
Passaram dias, meses, anos,
E não matei minha ansiedade.
Somente achei tredos enganos
Mas não a minha áurea verdade.
O pensamento me tortura,
De forma insana, anavalhante.
É tão difícil a ventura
Que minha busca é delirante.
Ao pensamento só traz danos
E o desespero é sem piedade.
Encontro amores n'outros planos,
Mas não a minha áurea verdade.
Pg xxiii
Dias eu passo na tristura,
E noites passo alucinante.
A insônia chega e faz diabrura
Ao pensamento é torturante.
Ajo de modos mais insanos
Para escapar desta atra grade,
E encontro apenas desenganos
Mas não a minha áurea verdade.
Oferta:
Talvez com gestos desumanos
Chegue a matar minha vontade,
Para encontrar n'outros arcanos
Razões da minha áurea verdade.
31.05.2001
Pg xxiv
Balada Crente
O meu amor é mais que um sonho,
Mais que um delírio de frescor.
Por causa dele vou risonho
Cantando versos a este amor.
É um sonho belo e encantador
E que me faz viver contente.
Sendo Poeta, sou cantor
E deste amor me faço um crente.
Baladas líricas componho
Cheias de luz e de calor.
E nos meus versos sempre ponho
Rimas de pétalas de flor.
Comigo vai por onde eu for
Essa alegria permanente.
Sou teu Poeta e teu cantor,
E deste amor me faço um crente.
Pg xxv
Se antes eu fui um ser tristonho
E tinha o peito imerso em dor,
Hoje somente alegre sonho
Dentro do sono embalador.
Sou um soldado guerreador
Venço batalhas, num repente.
E mais me sinto um vencedor
E deste amor me faço um crente.
Envio:
Amada Musa, o teu valor,
Somente n’alma é que se sente.
Sou teu Poeta e o teu cantor,
E deste amor eu sou um crente.
12.01.2004
Pg xxvi
Balada da Desventura
A solidão que me acompanha
E que me faz tão infeliz
Fere no fundo minha entranha
E deixa à mostra cicatriz.
Ela me vem tão mansamente
Que enche minh'alma de tortura.
Meu coração, sangrando, sente,
Da vida toda a desventura.
Com palpos fortes de atra aranha
A solidão, em transe diz,
E de maneira muito estranha
Que segue minha diretriz.
Caminha inopinadamente
Com suas garras me segura
Por isso sinto negramente
Da vida toda a desventura.
Pg xxvii
Seu peso enorme de montanha
Vem sobre mim de forma ultriz.
É mar imenso que me banha
Moldou-se em mim – fez-se matriz.
Germina em mim como a semente
Que foi lançada à semeadura,
Mas doi em mim, por dar somente,
Da vida toda a desventura.
Oferta:
E o coração por mais que tente
Dar um final a tanta agrura,
A cada instante mais pressente
Da vida toda a desventura.
21.12.1998
Pg xxviii
Balada sem Cor
Este silêncio me devora
Parece noite de terror.
Ainda demora tanto a aurora,
Demora tanto o meu amor.
Ponho no vaso rubra flor
E ela perfuma todo o ambiente,
Meu verso vai perdendo a cor
Meu mundo fica diferente.
Não solidão minh’alma chora,
Estou sozinho em minha dor.
Que noite imensa está lá fora,
Sinto meu corpo num torpor!
Pudesse agora ser cantor
Cantar um verso diferente,
Tocar a flauta de um pastor
E ser do amor condescendente.
Pg xxix
Mas essa angústia me deplora,
É tudo tão desolador.
Minh’alma triste, triste implora
Que venha um lindo beija-flor
Beijar no vaso a linda flor
Que está morrendo num repente,
E ressuscite o meu amor
E a noite fria deixe quente.
Ofertório
Porém, o sono é bem traidor,
E o sonho engana a alma da gente.
Traz desalento o desamor,
E até o amor se faz descrente.
03.03.1995
Pg xxx
Balada Feliz
Canta feliz o coração
O imenso amor que n’alma sente.
Transforma mais uma oração
Que mais pareço ser um crente.
Esta presença permanente
Ao meu viver traz a emoção
Que hei de te amar eternamente
Entre delírios de paixão.
Carrego a doce sensação
De te levar dentro da mente.
Construo versos à canção
Do amor que veio num repente.
O sonho torna-se ridente
No peito há enorme ebulição.
Hei de te amar divinamente
Entre delírios de paixão.
Pg xxxi
Imponderável ilusão,
Minh’alma canta sorridente.
O amor transforma-se em razão,
O amor transmuda-se em semente.
Para teus braços vou tremente
E a afagos nunca digo não.
Hei de te amar continuamente
Entre delírios de paixão.
Oferta:
De te levar dentro da mente
Canta feliz o coração
O amor transforma o sonho crente
Entre delírios de paixão.
12.01.2004
Pg xxxii
Balada Dolorida
Existe a sombra do passado
Que brilha neste meu presente.
Maldito sonho desgraçado
Que fere e agride a minha mente.
Passivo ao ódio que a alma sente
Reflito a luz que o olhar me invade.
Resisto à dor e à ira ardente
E penso e agrido por maldade.
O encanto brota iluminado
Mas contra o amor sou resistente.
Dou passos como um derrotado
Que sente o sangue arder fervente.
Não penso mais na áurea semente
De ter a minha alacridade.
Não tenho mais tal sonho ardente
E penso e agrido por maldade.
Pg xxxiii
O meu tesouro foi roubado
Por isso o choro é persistente.
Caminho olhando para o lado
Pois já não sei olhar de frente.
Tivesse um dia meu presente!
Mas estou preso em ímpia grade.
E mais me fere o fogo ardente
E penso e agrido por maldade.
Ofertório
Oh! Minha Deusa, tu somente,
Nas mãos tens essa Eternidade!
Mas ao teu lado vou demente
E penso e agrido por maldade.
12.01.2004
Pg xxxiv
Balada de um Amor
Quero fazer-te uma Balada
Para isso busco inspiração.
Oh, meu amor, é madrugada,
Longe te sinto o coração.
Sem ti a noite é de aflição
Minh’alma está desesperada.
Por isso teço esta canção
Oh, minha doce e terna amada.
Sem ti, querida, a vida é nada,
Perco dos sonhos a razão.
És minha Musa, és minha Fada,
Da minha vida és a emoção:
Confundo o sim, inverto o não,
A tua ausência é uma maçada.
Sem ti não tenho aspiração,
Oh, minha doce e terna amada.
Pg xxxv
Com tua ausência é longa a estrada,
A angústia trago em cada mão.
Minh’alma treme angustiada,
E é horrível esta sensação.
Com versos faço uma oração
E canto à noite enluarada.
Depois... silêncio, tudo é vão,
Oh, minha doce e terna amada.
Oferta:
Fico na vida sem ação
E a alma na noite está entrevada.
Mas continuo o meu refrão,
Oh, minha doce e terna amada.
04.10.2005
Pg xxxvi
Balada para a Amada
Minha querida e doce amada
Estou aqui para dizer
Que estou com a alma apaixonada
E toda cheia de prazer.
Quer-se mesmo então saber
Da minha história tão florida,
É que o amor passei a ter
Desde que entraste em minha vida.
Construo versos de balada
Vivo a cantar e a bendizer
Passo acordado à madrugada
Compondo versos de lazer.
Jamais, amor, vou te esquecer,
Minh’alma canta comovida.
É que no amor passei a crer
Desde que entraste em minha vida.
Pg xxxvii
Doce ternura idolatrada
Feliz poeta sei-me ser.
A glória d’alma enamorada
Em versos canta o bem-querer.
Com teu amor quero viver
Uma esperança colorida.
Eu sou feliz, vivo a dizer,
Desde que entraste em minha vida.
Oferta:
Anjo com forma de Mulher
A quem eu chamo de querida:
O amor jamais penso esquecer
Desde que entraste em minha vida.
12.01.2004
Pg xxxviii
Balada Moderna
Os poetas da atualidade
Escrevem só versos modernos...
E com louca tenacidade
Vão preenchendo os seus cadernos
Com versos brancos e semmétricas
Numa infernal desembestada
Poemas de formas geométricas,
Mas desconhecem a Balada.
Eles não tem curiosidade
De degustar nobres falernos,
Mas querem ter notoriedade,
Sonham, também, ficar eternos...
Fogem das formas mais simétricas
Procuram não saber de nada...
Fazem versos de formas tétricas,
Pg xxxix
Mas desconhecem a Balada.
Em três oitavas com beldade
Rimas perfeitas como os ternos,
Refrão que tem finalidade
Mostrar sonoros timbres ternos;
E das claridades elétricas
Para a alma ficar inspirada...
Procuram formas fonométricas,
Mas desconhecem a Balada.
Oferta:
Oh, lindas Musas pirelétricas,
Tirai a inspiração sagrada
Aos que fazem canções herméticas,
Mas desconhecem a Balada!
19.11.1994
Pg xl
Balada do Merecimento
O meu amor merece ter
Mimos, afagos e carinhos,
Porque me dá tanto prazer
E me constroi tão fofos ninhos,
Que ele de fato, bem merece
Tudo o que posso lhe ofertar:
– O coração em terna prece
De joelhos fica aos pés do Altar!
O meu amor me faz viver
Dando sorrisos nos caminhos,
Me oferta um mundo de lazer,
E quando estamos nós, sozinhos,
Ele entre dengos oferece
O que jamais pensei sonhar,
Até minh'alma, em terna prece,
De joelhos fica aos pés do Altar!
Pg xli
O meu amor sabe escolher
Os mais exóticos docinhos,
Para que eu possa, então comer,
Depois de abraços e denguinhos.
Ele de mim jamais se esquece
E fica sempre a me louvar.
O pensamento em terna prece,
De joelhos fica aos pés do Altar!
Oferta:
És meu amor, és minha messe,
És minha noite de luar,
O meu amor reza uma prece
De joelhos fica aos pés do Altar!
24.12.98
Pg xlii
Balada da Esperança
Pus num baú toda a Esperança
Que em transe um dia, alimentei.
– Trágico sonho de criança
Que pensa ser do mundo – um rei.
Ela ficou como um brinquedo
Do qual cansei-me de brincar.
– Cansada história sem enredo
Que a gente teme em escutar.
Tudo mentiu; essa aliança,
Que foi meu rumo e minha lei,
Veio-me a ser maldita herança
Da qual jamais, jamais sonhei.
Caiu em mim como um torpedo
Matou meu sonho e meu luar.
– Canção de horror que causa medo
Que a gente treme em escutar.
Pg xliii
Por isso trago atroz vingança
Como liliputiana grei
Que vai seguindo sem tardança
E sou amargo, – bem o sei.
Todo este sonho é meu segredo,
Minha água, terra, fogo e ar;
Nesta canção se faz segredo
Que a gente teme em escutar.
Ofertório:
Bem sei que sou bastante azedo
Se Ela em seu transe me matar,
Aciono o som mexendo o dedo
Que a gente treme em escutar.
24.11.99
Pg xliv
Balada da Vida
A minha vida é uma balada
Que se repete em seu refrão.
Constantemente, apaixonada,
Jamais permite solidão.
No dia a dia desta vida
Este viver dá-me a razão.
A estrada em brilhos é florida
E faz cantar o coração.
Feliz, contemplo a madrugada:
Astros no céu, em explosão,
Fazem ficar iluminada
A minha vida em comoção.
Desta existência bem vivida
Tanto me dá satisfação
Que a alma rebrilha enternecida
Pg xlv
E faz cantar o coração.
Passo por passo nessa estrada
Faz mais feliz esta ilusão.
E vou seguindo esta jornada
Tendo a esperança em cada mão.
Esta existência é tão querida
Que ora lhe oferto esta oração.
A vida canta estremecida
E faz cantar ao coração.
Dedicatória:
O amor alcanço na corrida
E a paz é tanta em devoção
Que a voz eu solto comovida
E faz cantar o coração.
18.11.99
Pg xlvi
Balada Efêmera
Há névoa nesta tarde efêmera
Da primavera que esmaece
A alma carrega enormes dúvidas
E alegorias ela tece.
A chuva cai e cai a cântaros
E a terra em bênçãos umedece.
As flores vão nascendo exóticas
Um mundo novo se parece!
Tanta beleza é bem explícita!
Cada ave entoa linda prece
Em sinfonias ternas, líricas...
Súbito o sol tênue aparece
E vai lançando raios fúlgidos
Que a névoa um poucorecrudesce...
A tarde morre em brilhos – rápida! –
Pg xlvii
Um mundo novo se parece!
O lusco-fusco brilha exótico
Uma andorinha faz um S
No céu nublado, plúmbeo, elétrico,
E no horizonte o sol fenece
– Deposto Rei de um reino túrgido
Que deu a vida à loura messe.
Uma estrelinha brilha tímida
Um mundo novo se parece!
Envio:
Oh! Deus, Senhor do Espaçocósmico,
Da Lei de fogo que acontece
A cada vez que te olho em órbita
Um mundo novo se parece!
15.12.99
Pg xlviii
Balada das Flores Secas
Quero ao silêncio campesino
Ficar com as vistas extasiadas,
Do campanário, ouvir o sino,
Rimar meus versos em toadas.
Quero, ao crepúsculo tardio,
Ouvir cigarras encantadas,
Olhar o sol brilhando e, ao rio,
Poder compor minhas Baladas.
Saber ter alma de menino,
Sair correndo em disparadas...
Ir encontrar o meu destino
Nas mãos de seda de áureas fadas.
Encher de luz o meu vazio,
Colher as rosas encarnadas.
E ao ter da Musa um arrepio,
Poder compor minhas Baladas.
Pg xlix
Ser leve como um bailarino
Que sobe ao palco e de mãosdadas
Um pas-de-deux – em leve tino –
Desliza em valsas encantadas!
E quando o vento em arrepio
Deixar as ramas desfolhadas,
Quero em suave murmurio,
Poder compor minhas Baladas.
Dedicatória:
Quero num leito bem macio
De flores secas enfeitadas,
Aos beijos dados num cicio,
Poder compor minhas Baladas.
22.03.1999
Pg l
Balada Quebrada
Quero compor, ao meu amor,
Uma balada
Que tenha sim bastante cor
E alma encarnada,
Para mostrar que sou só seu
E que meu sonho mais infindo
É ser um dia o seu Romeu
Num sonho puro e muito lindo.
Como um vulcão sou só calor.
Apaixonada
Minh’alma vibra de esplendor,
– Canta encantada! –
O seu amor há de ser meu!
E viverei sempre sorrindo
Junto às estrelas pelo céu
Pg li
Num sonho puro e muito lindo.
Sou primavera toda em flor,
Na vida nada
Há de fazer-me um sofredor
Minha adorada.
Por ti meu sonho reviveu!
Ao paraíso vou seguindo
Tendo-te ao meu lado eu sou maiseu!
Meu sonho puro e muito lindo.
Oferta
Minha Marília, sou Dirceu!
O teu amor é-me bem-vindo!
Só sei, amada, que sou teu
Num sonho puro e muito lindo!
05.05.2002
Pg lii
Balada da Vida
Eu quero amar de forma pura
Quero doar meu coração.
Viver um sonho de ventura
Fazer do amor uma canção.
E hei de fazer lindo refrão
Em honra deste amor tão forte;
Pois tal amor será a razão
Da minha Vida à minha Morte!
Talvez me seja uma loucura
Sonhar com a imaginação.
Mas sonho, sim, esta aventura,
Que chega a me faltar o chão.
Não poder ser pura ilusão
Imaginária de suporte.
Mas sentirei grande emoção
Da minha Vida à minha Morte!
Pg liii
Pois sem amor a vida é escura,
– Não sei viver na escuridão!
Eu sonho a luz da iluminura
Que chegue logo essa Estação!
Não sei viver na solidão
E nem viver ser ter um Norte.
O amor é pura vocação
Da minha Vida à minha Morte!
Oferta
A ti oferto a minha mão
Pois teu amor é minha sorte.
Sê, com certeza, esta paixão
Da minha Vida à minha Morte!
21.01.2003
Pg liv
Balada para Ana Maria
Leda Poesia me embalança.
Em seu balanço ela me encanta.
Com fagueirice de criança
Minh’alma canta, canta, canta!
Canto feliz a melodia
Versos em êxtase componho.
Estar no mundo da Poesia
É como estar dentro de um sonho.
Dentro da estrofe a rima dança
No frio a aquece feito manta.
E cada rima é uma esperança
É pura imagem sacrossanta.
Crio meu verso dia a dia
Que o verso deixa-me risonho.
Estar no mundo da Poesia
Pg lv
É como estar dentro de um sonho.
A rima chega sem tardança
E seu encontro não me espanta.
O seu trabalho não me cansa,
Qualquer cansaço se suplanta.
O verso flui em harmonia
E em cada verso um mundo ponho.
Estar no mundo da Poesia
É como estar dentro de um sonho.
Oferta
É teu amor, Ana Maria,
Que em versos líricos transponho.
Estar no mundo da Poesia
É como estar dentro de um sonho.
29.04.2005
Pg lvi
Balada de palpitação
Meu coração palpita um sonho
Azul-dourado. Que alegria.
Por onde os olhos ora ponho
Luz uma rima de poesia.
Estranha e doce fantasia
Encantos dão-me ao coração.
Felicidade me extasia
E vibra n’alma em oração.
Se no passado fui tristonho
E tive atroz melancolia,
Comungo ao sol o estar risonho,
E frutifico em melodia.
Doce e suave é esta harmonia
Que explode aos ares em canção.
Nessa esperança o olhar se fia
E vibra n’alma em oração.
Pg lvii
Da vida apaga-se o medonho
Que antes, sarcástico, sorria.
O sonho outrora tão tardonho,
Na madrugada abriu-se em dia.
É realidade que irradia
Estrelas, sóis, em convulsão.
Presente em brilhos não adia
E vibra n’alma em oração.
Oferta
Canto teu nome, Ana Maria,
Que o amor nos faz um na emoção.
No coração brota a alegria
E vibra n’alma em oração.
22.05.2004
Pg lviii
Balada Encantadora
Mereces, sim, esta poesia
Que este Poeta agora faz.
Doce suave melodia
Terna canção de amor e paz.
Tudo é singelo neste dia,
Tudo é sublime e encantador.
O teu encanto me extasia,
Por ti eu vivo em pleno ardor.
No verso crio alegoria
– Com as rimas sempre sou capaz!–
Me revigoro na energia,
E no desejo sou voraz!
Encanto tanto me inebria,
É uma loucura esse estupor.
Por ti meu verso em transe cria,
Pg lix
Por ti eu vivo em pleno ardor.
É realidade, é fantasia,
Tudo em prazer me satisfaz.
Ouve-se Gounod, na Ave-Maria,
Tua lembrança ele me traz.
Teu nome é mais que melodia,
Mas com certeza é mais que flor.
É amor que chamo Ana Maria,
Por ti eu vivo em pleno ardor.
Oferta:
Tanto desejo me inebria,
Nesse desejo eu canto o amor.
Sou teu Poeta noite e dia,
Por ti eu vivo em pleno ardor.
19.05.2006
Pg lx
Balada da Partida
A noite passa triste,
Eu canto uma canção...
Meu peito não resiste
A tanta ingratidão.
Desde que tu partiste
Vivo a vida a chorar...
Meu peito ainda insiste
Pois quer te ver voltar...
Meu coração persiste
Nessa recordação.
E tudo em mim consiste
Em ter seu coração.
Tu vês que não existe
Razões para cantar,
Meu coração insiste
Pois quer te ver voltar...
Pg lxi
Tu enfim, redimiste
Fazendo uma ilusão.
Aonde o amor existe
Não dás satisfação.
Depois que tu partiste
Nada me faz sonhar.
Meu coração insiste
Pois quer te ver voltar...
Envio:
Vivo sempre tão triste
Nunca vejo o luar...
Meu coração insiste
Pois quer te ver voltar...
12.10.1973
Pg lxii
Para um Grande Amor
Todo este amor que nos invade
E que nos deixa tão felizes,
É feito de sinceridade
Por isso tem fortes raízes.
Sozinhos somos só metade
Mas juntos somos uma vida...
E é com fremente intensidade
Que só te chamo de querida!
Um outro amor assim quem há de?
Um céu azul é nossas crises,
Se o amor é feito de amizade
Em nós não há quaisquer deslizes.
E cada dia é mais vontade
E cada dia é mais florida
Esta canção em densidade
Que só te chamo de querida!
Pg lxiii
Talvez a nossa mocidade
Encontre um dia outros matizes
E fique presa em outra grade
Que até nos cause cicatrizes...
Porém irei sentir saudade
Desta existência colorida,
Por isso é com felicidade
Que só te chamo de querida!
Oferta
Esta balada é só vaidade,
Outra maior não me intimida,
E é com enorme alacridade
Que só te chamo de querida.
10.02.1998 (Viagem Poética)
Pg lxiv
Balada da Esperança
Penso num grande amor florido
Que em minha vida irá chegar,
Deixando multicolorido
Meu coração que espera amar.
Quando este sonho iluminar
Meu coração à luz da lua,
Eu irei pô-lo num altar
E a alma de angústias terei nua.
Hoje que trago entristecido
Este meu sonho secular,
Inda procuro o bem querido:
– Minha esperança tutelar.
Sofrendo tanto e apesar
De ter no peito a dor que amua,
Ainda sei que irei cantar
E a alma de angústia terei nua.
Pg lxv
O amor é um sonho de bandido,
Parece sempre se ocultar,
Atira flechas de Cupido
E de maneira irregular.
Mas a distância olho o luar
Seu brilho intenso me tatua:
E irei sorrir a este manjar,
E a alma de angústias terei nua.
Oferta
Se o amor é fruto de um pomar,
E sorrateiro se insinua,
A paz terei para lhe dar
E a alma de angústias terei nua.
21.02.1998 (Viagem Poética)
Pg lxvi
Balada Outonal
Os crepúsculos outonais
Sempre me dão melancolia.
Minh’alma, em sufocantes ais,
Solta lamentos de agonia.
Do sol – a claridade é fria
E quase não contém calor;
Falta-me o encanto da magia,
Falta-me o encanto de um amor...
As folhas caem... espectrais
Lembram fantasmas que algum dia
Ao meu viver foram mortais
Marcando minha fantasia...
E hoje minh'alma se associa
À solidão, á angústia, à dor...
Falta-me a luz que me alumia,
Falta-me o encanto de um amor...
Pg lxvii
Rajadas frias e ferais
De lacerante ventania
Arquejam altos bambuais
Numa estonteante sinfonia...
E eu vou chorando esta elegia
No mais patético rancor;
Falta-me o canto da alegria,
Falta-me o encontro de um amor...
Oferta
Minha esperança se abrevia
E o vento ruge num tremor,
Falta-me sua melodia,
Falta-me o encanto de um amor...
21.02.1998 (Viagem Poética)
Pg lxviii
Balada Feliz
Estou feliz! Minha alegria
Transforma em canto minha Lira.
A frase torna-se poesia
E o coração é ardente pira.
A sensação que estou sentindo
Só sente quem já foi feliz.
Estou cantando, o mundo é lindo,
Para outra vida peço bis.
Vivo embalado na magia
E de prazer a alma transpira.
Sempre sorrindo passo o dia
Que até acredito ser mentira.
Meu coração está florindo
E meu cantar em brilhos diz
Se a este viver estou sorrindo,
Para outra vida peço bis.
Pg lxix
Quem foi que pôs esta magia
Que a todo instante a almatranspira?
Pois se acredito que é magia
Eu sou um mago que suspira.
Este prazer é-me bem vindo
E ser feliz eu sempre quis.
Assim mais canto e assim vou indo,
Para outra vida peço bis.
Dedicatória:
Se tu, amor, estás me ouvindo,
Saiba que és tu o meu país.
Se o amor um dia for-me findo,
Para outra vida peço bis.
07.12.2001
Pg lxx
Balada Eterna
Minha poesia há de ficar
Após meu fim, eternamente,
Pois quem na vida sabe amar
Nela achará uma semente
Para fazê-la florescer
Nos corações apaixonados,
Que saberão sentir prazer
Dentro dos sonhos aureolados.
Minha poesia há de cantar
No entardecer do dia quente,
Que traz a noite de luar,
Que faz o sonho persistente.
E cada verso há de viver
Em mil abraços apertados,
Pois saberão que devem ter
Pg lxxi
Milhões de sonhos aureolados.
Minha poesia há de rimar
No coração e na alma crente,
Qualquer jardim, qualquer pomar,
O amor será eterno e ardente.
Basta ter olhos para ver:
Beijos de amor quando trocados,
Fazem a vida reviver
Dentro dos sonhos aureolados.
Dedicatória
Minha poesia há de reter
Dos corações – os namorados.
Pois ela ao mundo irá dizer
Milhões de sonhos aureolados..
19.03.1998
Pg lxxii
Balada da Esperança
A vida brota na esperança
E ferve em cores nos caminhos.
Há um riso aberto de criança,
E vidas tenras pelos ninhos.
As rosas vivem com espinhos
Mas seu perfume exala os lares.
Os sonhos nunca vão sozinhos
E vibra a vida mil sonhares.
A vida roda em louca dança
Amores fazem burburinhos.
Leva-se sempre na lembrança
Afagos, dengos e carinhos.
Não pode haver sonhosmesquinhos
Que angústias tragam pelos ares.
Nos galhos trinam passarinhos
Pg lxxiii
E vibra a vida mil sonhares.
A vida brilha e sempre avança
Na estrada alvíssima dos linhos.
É paz que chega sem tardança
E brinda em taças de bons vinhos.
Cintilam céus azuis-marinhos
E trocam luzes céus e mares.
Exalam cheiros rosmaninhos
E vibra a vida mil sonhares.
Oferta:
Nas mãos carrego pergaminhos
E gravo em odes seculares
O meu amor que vem dos ninhos
E vibra a vida mil sonhares.
15.01.2004
Pg lxxiv
Balada Piegas
Eu quero nesta minha Lira
Lembrar o amor que já perdi.
O imenso amor que ainda meinspira
A tocar n’harpa de David.
E tantos sonhos eu vivi
Naqueles tempos tão felizes,
O coração que era um bisqui
Hoje só mostra cicatrizes.
Eu acredito na mentira
Pois na verdade outrora cri,
Naquele lindo olhar safira
Tantos sonhos de amor eu li.
No ocaso eu ouço a juriti
Que canta triste, suas crises.
O coração já não mais ri,
Pg lxxv
Hoje só mostra cicatrizes.
A alma, porém, ainda suspira
Por um sorriso de Nini,
E o sol, à tarde, triste mira,
No chão um lindo bogari.
Eu já não quero mais, aqui,
Lembrar as cores e os matizes...
O sol que outrora era um rubi
Hoje só mostra cicatrizes.
Oferta:
No amor profano sucumbi,
Vou visitar outros países.
Porque meu coração sem ti
Hoje só mostra cicatrizes.
14.03.1993
Pg lxxvi
Balada da Oferenda
A minha vida de poesia
Passou a ser cheia de cor.
Lembro-me bem o exato dia
Que tu chegaste, meu amor.
O teu olhar cobriu de luz
Para eu seguir a longa estrada.
E agora tudo me seduz,
Que te ofereço esta Balada.
O amor é mais do que magia,
Pois tem encanto e tem fulgor.
Vinho dos deuses que inebria,
E põe meus sonhos num torpor.
Meu céu de estrelas mais reluz
A minha fé torna encantada.
O amor intenso me seduz
Que te ofereço esta Balada.
Pg lxxvii
Transformo a voz em melodia
Feliz me faço até cantor.
E cada verso me sacia
Pois só escrevo em teu louvor.
Todo meu canto se traduz
Numa visão arcoirizada.
É teu amor que me seduz
Que te ofereço esta Balada.
Ofertório:
Oh, minha pérola de Ormuz,
Golconda e Ophir não valem nada.
É tanto o amor que me seduz,
Que te ofereço esta Balada.
19.03.2001
Pg lxxviii
Balada técnica
Eu condiciono o pensamento
Ao verso e à métrica exigida.
Componho tudo no momento
Que a estrofe sai já corrigida.
Não erro a sílaba no verso
Pois a medida é sempre exata.
A Lei que rege este Universo
Não contém página de errata!
É sempre certo o movimento
A rotação sempre é seguida.
Os astros vagam pelo vento
A Lei Maior sempre é regida.
Tudo parece tão diverso:
Desertos, mares, gelo, mata,
Pg lxxix
Mas dentro deste áureo Universo
Não contém página de errata!
O homem se julga um monumento
E pensa ser senhor da Vida.
Mas anda a esmo e sem intento
Buscando a glória carcomida...
Com sonhos tolos vive imerso
E o próprio corpo ele maltrata.
Porém, o livro do Universo
Não contém página de errata!
Ofertório:
O homem sem Deus vive submerso
De sonhos tolos vai à cata.
Porém a Bíblia do Universo
Não contém página de errata!
26.03.2001
Pg lxxx
Balada do Apaixonado
Meu coração (e a todos digo)
Está feliz, está cantando.
Pois afinal achou o abrigo
Que estava há tempos procurando.
Ninho de plumas da Poesia
Eis afinal sua morada!
E vou cantando dia a dia,
Que estou com a alma apaixonada.
Todo este amor mora comigo
E é tão suave, meigo, brando.
Que a ele abraçado sempre sigo
E ele também vai me abraçando.
Minha alma canta a melodia
Logo ao romper da madrugada.
Pg lxxxi
E tanto sonho me extasia,
Que estou com a alma apaixonada.
O amor na vida é tão antigo,
Mas só agora sei-me amando.
Do amor agora sou amigo
Com ele sempre estou sonhando.
Ao meu redor tudo é alegria,
A vida está toda encantada.
Foi só sentir esta magia
Que estou com a alma apaixonada.
Oferta:
És tu, querida, Ana Maria,
A minha luz, a minha Fada.
E é teu amor que me alumia,
Que estou com a alma apaixonada.
20.03.2001
Pg lxxxii
Balada das Folhas Mortas
Todo o passado é folha morta
Caída da árvore da vida.
Se recordá-lo nos conforta,
Às vezes deixa a alma ferida.
Todo o passado mais parece
A cicatriz de fundo corte.
E a gente nunca, nunca o esquece,
Pois é impossível dar-lhe a morte.
Mesmo que esteja atada a porta,
Sempre ele encontra uma saída.
E suas dores ele exorta
De forma multicolorida.
Dentro do pensamento tece
O emaranhado de atra sorte.
Pg lxxxiii
Multiplica-se nesta messe
Pois é impossível dar-lhe a morte.
Por uma estrada rude e torta
(E que se torna mais comprida)
Eis que o passado abre a comporta
E tudo invade sem medida...
E o coração tanto padece
Que alucinado vai sem norte...
Raivoso o corpo enleia um S
Pois é impossível dar-lhe a morte.
Oferta:
Tanto o passado me aborrece
Que não consigo dar-lhe um corte,
Da minha angústia ele se aquece
Pois é impossível dar-lhe a morte.
26.03.2001
Pg lxxxiv
Balada Inspirada
Há na minh’alma a inspiração
De oferecer a ti, amada,
Aos sons do amor, uma canção,
Para mostrar que – apaixonada,
Ela anda em plena madrugada
A repetir este refrão:
– Sem ti, querida, não sou nada,
E a vida é apenas ilusão!
Por isso, em plena comoção,
Dentro da noite enluarada,
Vou aos teus pés – com devoção,
Oferecer-te esta balada.
És minha Musa, és minha Fada,
Hino de vida e de razão.
Pg lxxxv
– Sem ti, querida, não sou nada,
E a vida é apenas ilusão!
Ardo de amor como o verão
Que deixa a vida incendiada.
E vivo sempre na estação
Que a vida faz iluminada.
Contemplo em luzes a alvorada
Que traz-me o sol com explosão.
– Sem ti, querida, não sou nada
E a vida é apenas ilusão.
Oferta:
És minha fruta açucarada!
Provo-te o sumo em emoção!
– Sem ti, querida, não sou nada,
E a vida é apenas ilusão!
21.02.2002 (Colcha de Retalhos)
Pg lxxxvi
Baladilha Drummondiana
O Silêncio agora grita
No peito de todos nós,
E uma saudade infinita
Cresce, atra e torna-se atroz.
Do Poeta é morta a voz
De tanta sonoridade,
Passa, Cometa veloz,
– Oh, Carlos Drummond deAndrade!
O céu na angústia se agita
– Parece um tigre feroz.
Mas o sonho necessita
Desatar os férreos nós
Que aprisionam o Albatroz
Que está preso na cidade.
Deixem que voe veloz
Pg lxxxvii
– Oh, Carlos Drummond deAndrade!
Pureza de Alma Bendita
Onde, agora estareis vós?
Vereis a Pátria bonita
Onde os lábios, cheios de ohs!
Dirão divinos bemóis?
Matai a nossa ansiedade...
Dizei, num Sonho veloz,
– Oh, Carlos Drummond deAndrade!
Oferta:
Brilharás entre outros Sóis
Para ficares Saudade.
E a alma ao céu, irá veloz,
– Oh, Carlos Drummond de Andrade!
17.08.1987
Pg lxxxviii
Balada Triste
(Que saudade dos beijos que me deste!)
(Gustavo Teixeira)
Penso e ao pensar meus olhos umedecem,
Pois penso no passado alegre e lindo
Que a teu lado vivi... as dores crescem
Num desespero enorme, eterno, infindo...
E passa o tempo, o dia vai fugindo,
O céu já não está azul-celeste.
Meu pensamento aos poucos vai sumindo,
Que saudade dos beijos que me deste...
Vejo na terra os outros que padecem...
Mas este sofrimento eu sei que é findo.
Esses que sofrem, vejo-os... se parecem
Como quem tem no peito o amor florindo.
E já bem sei: não viverei sorrindo
Que em mim a dor existe como peste.
Pg lxxxix
No mundo já nem sei aonde vou indo...
Que saudade dos beijos que me deste...
Meus olhos para os sonhos se perecem;
Para o amor já não ficam mais luzindo.
Meus pensamentos, do universo descem,
Pois eu também, aos poucos, vou caindo.
O amor a mim já não se faz bem-vindo
Já não o vejo numa azúlea veste.
A noite chega aos poucos, vou dormindo...
Que saudade dos beijos que me deste...
Oferta:
Senhora, enquanto a noite vai fulgindo,
Não deixes que a agonia a tudo creste.
Meus lábios por teus lábios vão se abrindo...
Que saudade dos beijos que me deste...
14.04.1978 (Luzes da Aurora)
Pg xc
Balada da Paixão
Airoso sonho me envaidece
E faz cantar o coração
Uma sublime e doce prece
Numa balada de paixão.
Canto feliz esta canção
E paz imensa me inebria;
Vivo no mundo da Ilusão,
Vivo nos braços da Poesia!
E cada rima se parece
Com as lindas penas de um pavão
Que ao ver a fêmea um leque tece
Em sua doida exaltação.
Um sonho trago em cada mão
No reflorir de novo dia,
Vivendo tal contemplação
Pg xci
Vivo nos braços da Poesia!
E dia a dia em mim mais cresce
Este prazer como oração;
O amor dá frutos nesta messe
E se faz trigo e se faz pão.
Por isso nesta exortação
Minh’alma canta e se extasia.
E ao ter na vida esta emoção
Vivo nos braços da Poesia!
Oferta:
Oh! Minha Amada, é com razão
Que a alma feliz, se contagia...
E ao ter do amor esta explosão
Vivo nos braços da Poesia!
21.05.2000 (Portal dos Sonhos)
Pg xcii
Balada do Solitário
Soluço versos de Dirceu
À minha doce e eterna amada.
Se seu amor não for só meu,
(Pobre de mim!) não sou mais nada.
Eu sigo só na madrugada
Sofrendo a dor de estar assim.
Minh’alma sofre agoniada
E sigo só meu triste fim.
Já fiz loucuras de Romeu
Ao elegê-la minha Fada.
Tomei da Lira... fui Orpheu,
Mas ela olhou-me e desprezada
Deixou minh’alma abandonada
Qual rosa triste num jardim.
Pg xciii
– A minha noite está entrevada
E sigo só meu triste fim.
Se ela soubesse quem sou eu
E lesse um dia, esta balada,
Se desse vida ao que morreu
Abandonado em longa estrada...
Se ela com a voz apaixonada
Ao meu amor dissesse sim...
Mas ela passa e vai calada
E sigo só meu triste fim.
Oferta:
Oh! Minha Musa idolatrada,
Por que não vens junto de mim?
A noite é fria, atra, gelada,
E eu sigo só meu triste fim.
15.01.1996
(Portal dos Sonhos,2000)
Pg xciv
Balada Decadente
Meu Deus! É pura decadência
Os poetas da atualidade
Desconhecendo a nobre ciência
Proclamam a modernidade,
Criam sonetos pés-quebrados,
Torcem a métrica na trova
E alarmam forte, em altos brados:
– A minha ideia é ideia nova!
É sem perdão tal indecência
E que Camões construa a grade
Onde não haja penitência
E reza alguma de um bom frade.
Quem sabe assim desesperados,
Seus versos jogarão na cova
Pg xcv
E não dirão em altos brados:
– A minha ideia é ideia nova!
Que exista fim a esta insolência
A essa fatal atrocidade,
Pois a Poesia é da frequência
De celestial sonoridade.
Que tais poetas condenados
Recebam uma boa sova
E que se acarem, sim tais brados:
– A minha ideia é ideia nova!
Oferta:
Que todos eles condenados
Para o perdão tenham uma ova.
E mudos fiquem os tais brados:
– A minha ideia é ideia nova!
27.03.2001
Pg xcvi
Balada Feliz
Quantas baladas já te fiz
Para dizer-te, alma adorada,
Que sou feliz, feliz, feliz,
Tendo-te junto em minha estrada.
E não existe nada, nada,
Que mude um dia esse teor,
Pois a minha alma apaixonada
Não vive sem o teu amor.
Sou teu Poeta, Beatriz,
Sou Dante e trago a alma inspirada.
No voo de áureos colibris
Por flores mil, és minha fada!
Eu te ofereço esta Balada
Feita com pétalas de flor.
Pg xcvii
Pois a minha alma apaixonada
Não vive sem o teu amor.
O novo amor deita raiz
Segue radiante esta jornada.
E sempre vai pedindo bis
Mal raia à noite, a madrugada.
Oh, meu amor, oh, minha amada,
Sou teu Poeta, teu Cantor,
Pois a minha alma apaixonada
Não vive sem o teu amor.
Oferta:
A rima pobre é iluminada
Mas tem arco-íris cada cor,
Pois a minha alma apaixonada
Não vive sem o teu amor.
09.08.2007
Pg xcviii
Balada do Piracicamirim
Pernilongos, mosquitos, muriçocas,
Lagartos, escorpiões, cobras e aranhas...
Sob a ponte, dezenas de malocas,
E moleques com fúteis artimanhas.
Mau cheiro horrível, água estagnada,
Touceiras e touceiras de capim...
Que o motorista passa e não vê nada
À margem do Piracicamirim...
As águas lembram pútridas vinhocas,
E parecem conter quilos de banhas,
O perigo constante das barrocas
Fazem essas visões tristes e estranhas.
O perigo é demais na derrapada
Quando um bêbado sai de um botequim;
E a Prefeitura deixa abandonada
Pg xcix
A margem do Piracicamirim...
Morcegos ali fazem suas tocas
E os ratos fazem suas artimanhas...
Meninos sujos fazem troca-trocas
E no escurinho traçam as piranhas...
Toda a população desesperada
Reclama em vão... e a angústia não tem fim...
Ai, quando ficará embelezada
A margem do Piracicamirim?
Dedicatória:
Amigo Nazareno, esta maçada
Chega até me dar cólicas de rim,
Sempre que passo e vejo derrocada
A margem do Piracicamirim!
14.04.1991
Pg c
Balada para a Lua
No céu da noite brilha a Lua,
Colar de estrelas a rodeia.
Serenamente brilha nua
À luz do sol que lhe incendeia.
Poeta – fico enamorado
E lhe componho logo um verso.
Que a Lua em seu brilhar dourado
É a grande Musa do Universo!
Seu forte brilho invade a rua
E a alma de sonhos deixa cheia.
E cada raio que tressua,
Transforma em grades de cadeia.
Porém, eu vivo apaixonado
De um modo cálido e diverso,
Pg ci
Que a Lua em seu brilhar dourado
É a grande Musa do Universo!
Minh’alma, Diana, é toda tua!
É o que Ela em vida mais anseia.
Desse desejo não recua
E nunca chora ou devaneia.
Deixa o caminho iluminado
Para travar o tempo adverso.
Que a Lua em seu brilhar dourado
É a grande Musa do Universo!
Envio:
A ti meu canto é consagrado...
Embora seja tão disperso,
Que a Lua em seu brilhar dourado
É a grande Musa do Universo!
25.04.2008
Pg cii
Balada de um Louco
Para glorificar a Fantasia
Fiz-me de louco e – pária da loucura
Pus meu pijama em plena luz do dia;
Com gestos eu soltei minha magia,
Fui estudar hirundinicultura
Visitei as pirâmides do Egito,
No Saara fui pastar o meu cabrito!
E se tudo o que fiz foi muito pouco,
De coragem maior eu necessito
Para ser condenado como louco!
Bradei abracadabras na alquimia!
Coloquei sal num tacho de doçura.
Por causa de uma vã radiografia
Tomei um cálice de anestesia
Pg ciii
Para fazer sessão de acupuntura.
No instante do silêncio dei um grito,
Pintei no peito as cores do Infinito
Fiquei dez dias como um dorminhoco.
Fui à rua imitando um periquito,
Para se condenado como louco!
Sem ter talento fiz Agronomia,
Misturei chocolate e rapadura,
Forjei ataques, sim, de epilepsia
Dei falso alarme de uma epidemia.
No frio me queixei de queimadura.
Vou agora acender cigarro e pito
Pois acho que vai bem, fica bonito.
Vou por para benzer água de coco
No instante de silêncio dou um grito
Para ser condenado como louco!
Pg civ
Oferta:
Mas vejam só, será o Benedito!
Ainda tenho o coração aflito.
Se alguém der contra, vou de tapa e soco,
Tudo o que fiz foi por amor, repito,
Para ser condenado como louco!
27.11.1986
Pg cv
Balada da Fumaça
O cigarro descansa no cinzeiro
Mas a fumaça, em longa serpentina
Densa, vai preenchendo o ambiente inteiro,
E em tudo vai colando um forte cheiro
Que mais parece ser névoa londrina.
Em baforadas lentas, mornas, graves,
Aguço mais e mais o pensamento...
Forma a fumaça serpenteantes naves
E em rodopios forma imensas aves
Enquanto me desfaço num lamento.
Na extremidade um tímido braseiro
Parece ser um olho de rapina.
Fica me olhando fixo, prazenteiro,
Como se fosse a lança de um arqueiro
Querendo cometer uma chacina...
Pg cvi
No cinzeiro outros tocos, em conclaves,
Não se rendem, jamais, ao forte vento...
Querem ao meu destino por entraves
Ou pensam, ao meu olho ser as traves,
Enquanto me desfaço num lamento.
Ah, vício insano, sou teu prisioneiro.
E meu desejo nunca te abomina
E sempre um novo maço te requeiro
Pois és meu solitário companheiro,
– Fiel amigo de fiel rotina! –
Oh, mistura de fumos tão suaves!
Fumar exige um ritual bem lento
Tal um segredo posto a sete chaves...
Estamos dentro um do outro como claves,
Enquanto me desfaço num lamento.Oferta:
Fumaça, quero que meus sonhos laves.
Sê nesta noite a essência de óleo bento;
Pg cvii
Mística paz em todos os conclaves,
Quero que meus pulmões, tu lenta caves,
Enquanto me desfaço num lamento.
21.11.1994
Pg cviii
Balada das Meninas Prostitutas
Essas meninas pobres e esquecidas,
Muitas vezes de rosto assaz pintado,
Nos lábios marcas de batom borrado,.
Vão levando sem eira, as suas vidas.
Em velhas ruas, praças e avenidas,
Aos transeuntes fazendo mil gracejos,
Acenando com as mãos, jogando beijos,
Sempre à espera que passe um pretendente,
Mostram seus jovens corpos diariamente,
Vendendo seus gemidos, seus desejos.
Essas meninas tristes, desvalidas,
Seminuas expõem-se a este mercado,
Exibindo um sorriso fabricado,
Pg cix
Mostram no rosto, as expressões sofridas.
Às vezes, com barrigas já crescidas,
Mais lembra periquitos dos realejos
Lançando a sorte em rápidos festejos
Para encontrar decerto outro cliente...
Tolas sonham e o sonho é contundente,
Vendendo seus gemidos, seus desejos.
Essas meninas julgam-se queridas,
Na fantasia tem um namorado.
Sonham também viver junto ao amado
Com parcas esperanças coloridas...
Essas tristes meninas desvalidas
São a escória do mundo em seus arpejos,
São mendigas traçando vis cortejos
São a crença de um mundo já descrente!.
Pobres mostram um corpo repelente,
Vendendo seus gemidos, seus desejos.
Pg cx
Essas meninas, umas – pervertidas,
Outras – com triste olhar n’alma marcado,
Podres mercadorias de atacado,
Tem as suas vontades prostituídas.
Da Sociedade sempre são banidas,
São as flores dos charcos e dos brejos,
São ratos nos esgotos, aos rastejos,
Retratos de um país pobre e demente.
Todas tem um sorriso deprimente,
Vendendo seus gemidos, seus desejos.
Essas meninas – pobres margaridas,
Sem futuro, presente e sem passado,
Viciadas na bebida e no baseado,
De bares e de clubes são excluídas.
A muitos elas são jovens perdidas,
São cacos de cortantes azulejos,
Motivos para motes sertanejos
Em canções de mau-gosto, inconsequente.
Pg cxi
Passam rindo, escondendo o olhar doente
Vendendo seus gemidos, seus desejos.
Oferta
A Beira-rio traçam seus motejos,
Mostrando dentes podres em bafejos,
Essas meninas são, em nossa mente,
A realidade de um Brasil dormente,
Vendendo seus gemidos, seus desejos.
04.01.2008
Nota: conferir com o Canto Real das MeninasProstitutas, onde adicionei um verso a mais emcada estrofe desta Balada, transformando oPoema.
Pg cxii
Balada do Meu Amor
Componho sempre uma balada
Para agradar minha querida.
Minh’alma vive apaixonada
Desta alegria estremecida.
Esta é paixão que me convida
A lhe dizer de peito aberto:
Se, estás ausente a minha vida,
Não tem oásis no deserto.
Sem ti por certo não sou nada
Sou folha da árvore caída.
Meus passos vão de madrugada,
Numa incerteza sem saída.
O amor é colcha bem tecida,
Com essa colcha me acoberto.
Pg cxiii
Se, estás ausente a minha vida
Não tem oásis no deserto.
De forma tal vive encantada
Nossa esperança colorida,
Que nesta vida não sou nada
Se acaso estás triste e ferida.
A estrada é longa percorrida,
Porém, de mim, sempre vais perto.
Se, estás ausente a minha vida
Não tem oásis no deserto.
Oferta:
Por isso te amo, Ana, querida,
E digo assim de peito aberto:
Se, estás ausente a minha vida
Não tem oásis no deserto.
15.01.2008
Pg cxiv
Balada da Riqueza
O meu amor sempre merece
Que lhe dedique uma canção.
Assim minh’alma em cantos tece
Versos de amor com o coração.
É tão feliz a sensação
Que em rimas todo o glorifico.
E ao demonstrar tal emoção
Da vida sinto-me mais rico.
O meu amor jamais me esquece
Vive a me dar satisfação.
E dia a dia ele mais cresce
Lembrando lavas de um vulcão.
Escorre em flores pelo chão
E mais feliz, com a alma fico.
Pg cxv
Ao bendizê-lo em oração
Da vida sinto-me mais rico.
O meu amor é santa prece
Que elevo ao céu numa oblação.
Na noite fria ele me aquece
Nos faz um só nesta união.
Procuro sempre uma razão
E ajoelhado o santifico.
E por viver essa paixão
Da vida sinto-me mais rico.
Oferta:
Carrego um sonho em cada mão
E a realidade ratifico:
Seja qualquer do ano a estação,
Da vida sinto-me mais rico.
22.01.2008
Pg cxvi
Balada da Saudade
Crio baladas à francesa
Que é toda musicalidade.
Ritmo, harmonia, singeleza,
Doce ternura e suavidade.
A inspiração a alma me invade
Feliz os versos eu componho.
Balada lembra uma saudade
E de saudade vivo e sonho.
Estrofes teço com beleza
E é galanteio o verso que há de
Fazer do amor uma certeza:
– Poema de sinceridade.
O amor num hino de verdade
O coração deixa risonho.
Pg cxvii
Balada lembra eternidade
Na eternidade vivo e sonho.
Balada é verso de princesa
Que canta e sonha de ansiedade.
Inveja a pobre camponesa
Que satisfaz-se indo à cidade.
Nos olhos tem vivacidade
Jamais revela o olhar tristonho.
Seu véu encobre a castidade
Na castidade vivo e sonho.
Envio:
O meu amor não tem idade.
Se meu viver já vai tardonho,
Quero viver a realidade
Pois fora dela vivo e sonho.
22.01.2008
Pg cxviii
Balada do Cantor
Dedico versos ao amor
Que na minh’alma vibra e canta.
Por isso sou feliz cantor
Que trago um verso na garganta.
A minha rima em esplendor
É rara e pura sinfonia.
Sinto-me Orpheu e sou tenor
Ao declamar minha Poesia.
Um sonho raro e embalador
Na minha vida se agiganta.
Faço brotar viçosa flor
Em qualquer rama, em qualquerplanta.
Sempre um perfume embriagador
Pg cxix
Exala em cálida harmonia.
E sinto em paz meu interior,
Ao declamar minha Poesia.
Na vida existe tanta cor,
Tanta alegria, tanta, tanta,
Que teço loas em louvor
Num sentimento que me encanta.
O verso levo num andor
Numa paixão que me extasia.
Por isso sinto tanto ardor
Ao declamar minha Poesia.
Oferta:
Da vida sou um sonhador.
Na vida não se passa um dia
Que eu sinta o peito encantador
Ao declamar minha Poesia.
23.01.2008
Pg cxx
Balada Carnavalesca
É Carnaval! É Carnaval!
A voz do samba é a voz da vida.
Há um ritmo alegre e há um festival
Que põe desfile na avenida.
Pierrô procura Colombina
Que oculta o rosto com um véu.
Chove confete e serpentina
E colorido fica o céu.
Momo desfila triunfal
Com sua roupa colorida.
É rei que evoca o bacanal
E se entorpece na bebida.
A Escola firme determina
Que haja furor, haja escarcéu.
Pg cxxi
Chove confete e serpentina
E colorido fica o céu.
Sambista nua e sensual
Rebola o corpo sem medida.
No frenesi sensacional
Para a devassidão convida.
Samba frenético alucina
E o corpo vai de déu em déu.
Chove confete e serpentina
E colorido fica o céu.
Dedicatória:
Na quarta-feira eis a rotina:
Há um desespero por troféu.
Luto, confete e serpentina
Em cinzas fica todo o céu.
23.01.2008
Pg cxxii
Balada Amarga
Delírios d’alma. A sensação
É sempre a mesma. Ando perdido.
Perdida está minha razão
Na vida sou incompreendido.
Ao longe mágico violão
Empresta som à melodia.
Mas como é triste essa canção,
Que letra amarga essa poesia.
E digo sim, e digo não,
Pelos delírios sou vencido.
No peito bate o coração
Na estrada o passo é indefinido.
Sigo vazio de emoção
E a tarde traz o fim do dia.
Pg cxxiii
Crio um soneto... que ilusão!
Que letra amarga essa poesia.
Um sonho trago em cada mão
Mas o meu sonho é entristecido.
Poeta sem inspiração
Busco um momento colorido.
O eco repete uma oração
Tristonha prece de agonia.
Do verso a rima é um sonho vão
Que letra amarga essa poesia.
Envio:
Oh! Meu amor, minha paixão,
Venha trazer-me uma alegria
Mas tu me dizes – decepção! –
Que letra amarga essa poesia.
01.02.2008
Pg cxxiv
Minhas Baladas
Minhas Baladas... quando as componho
Enamorado fico por elas.
Pois nascem dentro de um lindo sonho
Aureoladas por mil estrelas.
Minhas Baladas são sentinelas
De um sonho lindo cheio de cor.
Dentro do sonho feliz caminho,
Declamo versos cheios de amor,
E cada verso traz o esplendor
E traz a vida a quem é sozinho.
Minhas Baladas quando eu as sonho
Pg cxxv
São feiticeiras, são tagarelas,
Trazem no olhar um mundo risonho,
Ternas cantigas nas passarelas.
Minhas Baladas abrem janelas,
Invadem mundos com resplendor.
No voo alegre do passarinho
Declamam versos, fazem louvor,
E cada verso traz o esplendor
E traz a vida a quem é sozinho.
Minhas Baladas... onde eu as ponho
Trazem a chama rubra das velas,
Quando por nada fico tristonho
Espargem flores pelas vielas.
Minhas Baladas doces, singelas,
Trazem mil risos, não trazem dor.
Tem a ternura de um níveo ninho
Tem a meiguice do beija-flor.
E cada verso traz o esplendor
Pg cxxvi
E traz a vida a quem é sozinho.
Oferta:
A ti, Querida, todo fervor!
Mais que esses versos, te dou carinho.
Se houver outono, frio ou calor,
Me primavero, rebento em flor,
Jamais deixando este amor sozinho.
31.01.2008
Pg cxxvii
Balada Triste
Minha poesia planta a esperança
Pelos canteiros de imensa horta.
Cada semente – sou eu criança
Doando sonhos de porta em porta.
Minha poesia – lembra eu menino
Correndo alegre pelos quintais.
Buscando em rimas o meu destino
Sonhando o mundo, querendo mais.
Minha poesia canta a lembrança
Que a alma poetisa em versos exorta.
E cada rima no verso dança
Por vezes certa, por vezes torta.
Com versos claros eu me ilumino
Teço baladas e madrigais.
Pg cxxviii
Ao sol brilhando vou no destino
Sonhando o mundo, querendo mais.
Minha poesia – manta que trança
Uma vontade que há muito é morta.
Cresce o menino, seu tempo avança,
Do lar materno seu sonho corta.
Declino passos, sonhos declino,
Sonhos brilhantes bradam – jamais! –
Ao longe fito um amplo destino
Sonhando o mundo, querendo mais.
Oferta em Saudade:
A passos firmes no sol a pino,
Os versos tangem tristes finais.
Fica o passado, morre o destino,
Sonhando o mundo, querendo mais.
26.02.2008
Pg cxxix
Balada da Paixão
Dentro do peito o coração
Entoa versos de balada.
Transforma o Sonho na canção
Que a vida fica apaixonada.
Deixo a tristeza abandonada
No fundo escuro do porão.
Na vida não existe nada
Que me provoque mais paixão.
Transmudo o verso em oração
E com a alma em luz, ajoelhada,
Olho no céu a Imensidão
Com seus segredos, encantada.
È sinfonia iluminada,
É puro amor, santa emoção,
Pg cxxx
Na vida não existe nada
Que me provoque mais paixão.
Da vida os dias longos são
E o sol – qual tocha iluminada! –
Aos homens traga-lhes razão,
Para que a Fé lhes seja dada.
Que traga o verso a paz lavrada
No ouro da pura exaltação.
Na vida não existe nada
Que me provoque mais paixão.
Oferta:
Que a Alma nos versos, inspirada,
Entoe forte este refrão:
Na vida não existe nada
Que me provoque mais paixão.
28.02.2008
Pg cxxxi
Balada Cantante
Minha alma canta, o peito canta,
É meu mister assim cantar!
Ponho meus versos na garganta
Teço cantigas de ninar.
Mil versos canto na lembrança
Que uma explosão de amor traduz.
Se a voz no verso não se cansa,
Meu verso na alma é pura luz.
Meu verso em preces me acalanta
Pois vem em ondas pelo mar.
Se na poesia a alma se encanta,
Lanço-os ao vento, à brisa, ao ar.
Traduzo em versos a esperança
Que no meu peito jorra a flux.
Pg cxxxii
Meu verso canta, embala, dança,
Meu verso na alma é pura luz.
A sinfonia me quebranta
Em notas mil fico a sonhar.
A paz que sinto é tanta, tanta,
Que versos canto sem parar.
A vida corre, o tempo avança,
Meu céu em versos luz, reluz.
Meu verso à paz tece aliança,
Meu verso na alma é pura luz.
Envio:
De onde me veio tal herança
Que verso puro reproduz?
Desde os meus tempos de criança
Meu verso na alma é pura luz.
28.02.2008
Pg cxxxiii
Balada com Melodia
É necessário que a Poesia
Viva nas nossas ilusões,
E sua terna melodia
Transforme nossos corações.
Necessitamos de emoções
Para viver o nosso dia.
Assim as nossas decepções
Terão um pouco de alegria.
Que sua eterna sinfonia
Preencha o dia de clarões,
Que haja ternura e haja magia
E as mais sinceras sensações.
Que o som das mágicas canções
Matem as horas de agonia,
Pg cxxxiv
Assim as nossas decepções
Terão um pouco de alegria.
Que os versos tragam harmonia
E tragam à alma mil razões
Para florir tanta energia
Que a paz transmuda em orações.
Que o amor rebrilhe em mil florões
E que não haja uma utopia
Assim as nossas decepções
Terão um pouco de alegria.
Oferta:
Mulher! Que os urros dos leões
Tenham alguma serventia,
Assim as nossas decepções
Terão um pouco de alegria.
28.02.2008
Pg cxxxv
Balada para Maria Cecília
Cecília se tornou saudade
Deixando aqui, abandonados,
Poetas tristes na orfandade
Com corações desesperados.
Sua Poesia tão sentida
Porém ficou a florescer,
Desabrochando colorida
Em hinos plenos de prazer.
Da azul-celeste Eternidade
Lança mil raios inspirados
Para podermos, na ansiedade,
Versos tecer iluminados.
Aos versos teus, cheios de vida,
Plenos de sonhos, por colher,
Pg cxxxvi
Quero a Poesia mais sentida
Em hinos plenos de prazer.
Silêncio tece insana grade
Prendendo versos cadenciados.
Hinos em cantos de Verdade
À flor da Vida estão calados.
Ausência triste, enegrecida,
Na solidão vive a sofrer.
Faz falta a Musa enternecida
Em hinos plenos de prazer.
Dedicatória:
A flor no vaso está caída,
Sem ti não vai sobreviver.
Volta, Cecília e dá-lhe vida
Em hinos plenos de prazer.
28.02.2008
Pg cxxxvii
Balada dos Olhos
Houve um adeus na despedida
Que me deixou triste e chorando...
Pássaro morto, fim da vida,
Passos na noite vão errando.
Caiu a lágrima furtiva
No triste instante que houve o adeus.
Porque deixei a alma cativa
Naqueles lindos olhos teus.
Noite sem lua, enegrecida,
Sonhos no espaço vão num bando.
Trago no peito a alma partida
Sem rumo certo em transes ando.
Por mais que nesta vida eu viva
Me lembrarei de ti, oh, Deus!
Pg cxxxviii
Porque deixei a alma cativa
Naqueles lindos olhos teus.
Sinto meus sonhos de partida
Quedo-me em lágrimas olhando.
Vai tua imagem refletida
No coração que está sangrando.
A dor da morte sempre ativa
Tece relâmpagos nos céus.
Porque deixei a alma cativa
Naqueles lindos olhos teus.
Oferta:
Ah, que profunda expectativa
De ouvir-te a voz... ai, sonhos meus...
Porque deixei a alma cativa
Naqueles lindos olhos teus.
28.02.2008
Pg cxxxix
Balada Brilhante
Embalo em versos a canção
Que dentro d’alma me entorpece,
Canta, feliz, o coração,
Ouvindo os timbres dessa messe.
A voz é plácida oração
Que igual magia a tudo encanta.
Em êxtase ouço-a em emoção,
A própria vida em brilhos canta.
Notas febris; doce ilusão,
Como rosários a alma tece
Hinos de amor feito paixão.
Porém, de súbito acontece
No largo céu... revolução:
As rimas tecem fofa manta
Pg cxl
Bordada a pena de pavão.
A própria vida em brilhos canta.
Repete o verso o seu refrão:
– Crença de luz que permanece
Com esplendor numa oblação
Que o céu dourado resplandece.
Pura e divina é a sensação,
É imagem virgem, sacrossanta.
É frenesi, é comoção,
A própria vida em brilhos canta.
Oferta:
Eterno Amor, com devoção
Tamanho amor até me espanta.
Mas ao te dar meu coração,
A própria vida em brilhos canta!
29.02.2008
Pg cxli
Balada para Ana Maria
Trago no peito a alma inspirada
E um coração aberto à vida.
Para a Poesia é longa a estrada:
Se traz espinhos... é florida.
Engasto a rima... a mais preciosa
Para poder versos compor.
Às vezes colho alguma rosa
Para fazer versos de amor!
Respiro com a alma apaixonada
A vida bela e colorida.
Declamo versos para a Amada
Que me ouve atenta e comovida.
Descamba a tarde bela e airosa...
Que maravilha é o sol se por!
Pg cxlii
À doce Amada oferto a rosa
A ela declaro o meu amor!
No mundo não existe nada
Que deixe a alma entristecida.
Bem lembra algum conto de fada
A história antiga e a ser vivida.
Cada manhã maravilhosa
Nos traz o sol raro esplendor.
Oferto a mais perfeita rosa
A quem eu chamo meu amor!
Dedicatória:
A vida é bela, é cor-de-rosa!
Sou teu Poeta, teu Cantor!
Ana Maria é minha rosa!
É meu amor! Eterno amor!
29.02.2008
Pg cxliii
Balada Poética
Sou teu Poeta, minha flor!
Por isso em rimas sempre canto
Que és o meu puro e eterno amor.
Nas rimas sempre me suplanto
Para ofertar, com esplendor,
Meu verso pleno de carinho
Pois sou, Querida, o teu cantor
E canto como um passarinho.
Demonstro assim o meu valor
E é natural que exista espanto.
Se a rima é pobre, por favor,
Meu verso vai cheio de encanto.
Amada, seja como for
Iremos juntos no caminho.
Pg cxliv
Pois sou, querida, cantador
E canto como um passarinho.
Minha Balada tem vigor!
E canto-a sempre, em qualquer canto.
Tecer baladas é labor
Poético, e o esforço é tanto...
Mas não demonstro mágoa ou dor.
E perfumado teço um ninho
Pois sou Poeta e trovador
E canto como um passarinho.
Envio:
Sou Deus-Poeta e Criador
Jamais irei viver sozinho.
Sou teu Poeta, meu amor,
E canto como um passarinho.
03.03.2008
Pg cxlv
Balada das Rimas Pobres
Dentro das regras seculares
Fico a compor minhas baladas:
Oitavas simples e vulgares
Com rimas pobres, desprezadas.
Mas o prazer que sinto é tanto
Que eu as componho com fervor.
Com versos puros teço um canto
Pois sou Poeta trovador.
Rimas engasto iguais colares
E brilham como as madrugadas;
Milhões de massas estelares
Fazem as noites encantadas.
Momento mágico de encanto,
A rima é pétala de flor.
Pg cxlvi
Vou modulando a voz num canto
Pois sou Poeta trovador.
Os versos brotam dos teares
E estampam rosas encarnadas.
Sonhos mergulho em fundos mares
E trago pérolas douradas.
Esse prazer é sacrossanto!
Esse milagre é encantador,
Que aos céus e aos mares vibro um canto,
Pois sou Poeta trovador.
Oferta:
Contudo o verso finda e o pranto
Cala meu peito de cantor.
Mas crio logo um novo canto
Pois sou Poeta trovador.
07.03.2008
Pg cxlvii
Balada Inocente
É necessário que a poesia
Viva nos corações humanos,
Que vivem presos na utopia
E na arrogância dos enganos.
É necessário que a alegria
Brote em canteiros de esperança,
Talvez assim, o mundo, um dia,
Tenha a inocência da criança.
O mundo vive na fobia
E o homem somente causa danos.
Explode a guerra, a epidemia,
Podres estão rios e oceanos.
Parece o amor não ter valia,
Vivendo preso na lembrança.
Pg cxlviii
Sonho que o nosso mundo, um dia,
Tenha a inocência da criança.
Na vida a atroz melancolia
Planta o desprezo em vis arcanos.
Onde o sorriso outrora havia,
Viceja hoje o ódio dos tiranos.
Fatal e fúnebre agonia
Com seu desejo a tudo entrança.
Porém, que o amor no mundo, um dia,
Tenha a inocência da criança.
Envio:
Homem profano, eu só queria
Viver a paz sem mais tardança,
Que assim a vida, em paz um dia,
Tenha a inocência da criança.
07.03.3008
Pg cxlix
Velha Balada de um Amor
Hoje te vi e uma paixão imensa
Povoou a minh’alma em esplendor.
E cantei, em delírio, linda crença,
Para te declarar o meu amor.
Tudo foi alegria multicor
Quando beijei teus lábios delirantes,
E na paixão tão cheia de calor,
Na tarde a fenecer, fomos amantes.
E o prazer não pedia recompensa
Pois n’alma nós sentíamos o ardor
Da entrega, numa força tão intensa,
Que tudo, para nós, se fez fulgor!
Era no ocaso, o sol ia se por,
Mas antes que seus raios coruscantes
Deixassem tudo em lívido negror,
Pg cl
Na tarde a fenecer, fomos amantes.
Nossa paixão vibrava no ar, suspensa;
Dos nossos corpos, vinham o rumor
Das carnes satisfeitas e era tensa
A volúpias das almas, em frescor!
Era a felicidade em sua cor
Que a nós chegava em passos ebriantes,
E ainda me lembro – em lindo resplendor,
Na tarde a fenecer, fomos amantes.
Envio:
E todo esse romance, minha flor,
Foi para mim como explosões radiantes
De luz e ainda me lembro com ardor:
Na tarde a fenecer, fomos amantes.
24.09.1981
Pg cli
Balada para Gustavo Teixeira
Oh! Gustavo Teixeira, hoje o Poeta
Rende glórias a ti, bardo inspirado,
No peito o coração apaixonado
Tuas loiras estrofes interpreta.
E vibra uma paixão – sublime seta
Que fere a alma num doce relicário! –
E se transforma em trinos de canário.
É delírio, é prazer, que tanto almejo
Em tua fronte dar um terno beijo
Nos cem anos do lírico Ementário!
Oh! Gustavo Teixeira, grande esteta!
Teu “Último Evangelho” é iluminado.
Nele mostras Jesus – Filho Sagrado! –
Que devemos segui-Lo como meta.
Pg clii
Tua Musa, divina borboleta,
De flor em flor, num vôo refratário,
Beija “Leda”, tão triste em seu fadário.
Mas a “ilusão ridente” num solfejo
Dentro do coração soa um gracejo
Nos cem anos do lírico Ementário!
Oh! Gustavo Teixeira, tão discreta
Foi tua vida, meu Poeta amado,
Que relendo teus versos, inspirado,
Fico a pensar, de forma até concreta,
Que és brisa envolta em luz numa violeta.
Mais leio “A Tempestade” e atroz cenário
O espaço dilacera... e mais eu vejo:
Os Poetas te saúdam num cortejo
Nos cem anos do lírico Ementário! Oferta:
Oh! Poeta das Rosas! Há um sacrário
Na alta serra onde luz um campanário.
Pg cliii
E eu, Poeta, somente aqui desejo
Que cante pela rua um realejo
Nos cem anos do lírico Ementário!
13.03.2008
Pg cliv
Balada da Saudade I
Sim, é impossível que a maldade
Maltrate tanto um coração.
E aja em perversa atrocidade
Ferindo-o a balas de canhão.
Vivo de sonho e de ilusão
E ser feliz assim quem há de?
Disfarço em versos de canção
Tudo o que chamo de Saudade.
Sua feroz intensidade
É monorrítmica estação.
No inverno é pura frialdade,
E é brasa pura no verão.
Na primavera a sensação
Pg clv
Floresce apenas por piedade.
Porém, no outono é com razão
Tudo o que chamo de Saudade.
Tanto no campo ou na cidade
É sempre a mesma sensação.
Não acredito na verdade
Mas a mentira é uma oração
Que o eco repete num refrão.
Com ela vivo na orfandade
Sem ela é tudo solidão
Tudo o que chamo de Saudade.
Oferta
Madrasta ingrata! Os sonhos vão
Nessa sem fim perversidade.
Por maltratar um coração
Tudo o que chamo de Saudade.
24.03.2008
Pg clvi
Balada da Saudade II
Não é possível que a saudade
Com suas garras de Quimera
Contenha, sim, tanta ansiedade
Que a alma em mil transes dilacera.
Agarra à vida como a hera
Com seus espinhos pontiagudos.
Quer seja inverno, ou primavera,
Os sonhos todos morrem mudos.
Essa Senhora ingrata ainda há de
Despedaçar-se na alta Esfera.
E sua sombra de maldade
Irá morrer de tanta espera.
O tempo corre... Era após Era
Traz os delírios mais agudos.
Pg clvii
Mas passa o inverno e à primavera,
Os sonhos todos morrem mudos.
Doce e fatal calamidade!
Essa Senhora o mundo impera.
Chama de ardente claridade
Que amargo fruto delibera.
E o coração jamais supera
Os seus brocados e veludos.
Mas tanto o inverno e a primavera
Os sonhos todos morrem mudos.
Oferta:
Quero que vivas na tapera,
Não vou cantar-te em meus estudos.
Pois eu me inverno em primavera
Os sonhos todos morrem mudos.
25.03.2008
Pg clviii
Balada da Criação
Nas pontas dos meus dedos já treinados,
Eu tamborilo o ritmo com frequência.
A métrica procuro em persistência
Para os versos jamais soarem quebrados.
Enquanto a mente explode em altos brados,
Uso a técnica, domo o pensamento
Que flui de leve, no valsar do vento.
A estrofe em êxtase de luz suprema
Como pérolas alvas de um diadema
Brota d’alma em delírio atroz, violento.
Maremotos, trovões, gritos, silvados,
E tudo vibra em luz ,numa cadência.
O coração explode em fúria e ardência,
Solta laivos de dor desesperados.
Pg clix
A ideia ferve, os sonhos vão alados,
Há pulverizações de filamento.
Uivam lobos da noite num lamento,
Surgem constelações de forma extrema,
Há colisão de sóis e o verso em gema
Brota d’alma em delírio atroz, violento.
Os abismos de treva – iluminados!
Inexiste saber para tal ciência!
Germina ainda no lodo da existência
E os sonhos – deixa, em transes, inspirados.
Lábios em beijos fortes, esmagados,
Dão o prazer real desse tormento.
Febre, fúria, paixão – divino unguento
Faz que, à Força Divina, a alma trema.
Momentos abissais! E tal teorema
Brota d’alma em delírio atroz, violento. Oferta:
Canta o Poeta! Deus desse momento
Pg clx
Ele contempla a luz do Firmamento.
Qual Príncipe celeste, enquanto rema,
Na pura inspiração sente que o Poema
Brota d’alma em delírio atroz, violento.
26.03.2008
Pg clxi
Balada do Galanteio
Minha querida, hoje te escrevo
Como lembrança, esta Balada.
Coloco as rimas em relevo
– Doce homenagem para a Amada.
Sem ti, amore, não sou nada,
Repito sempre, sem parar,
Pois a minh’alma apaixonada
Nunca se cansa de te amar.
Enfim nos versos mais me atrevo
Que a alma a paixão deixa inspirada.
Do quanto sou – tudo o que devo
Por que na vida – és minha fada.
Se, acordo em alta madrugada
Em teu amor fico a pensar,
Pg clxii
Pois a minh’alma apaixonada
Nunca se cansa de te amar.
Se, estás ausente, eis que me entrevo
E a vida sinto abandonada.
Dentro do peito, Amiga, levo
Um coração de alma encarnada.
És minha doce namorada,
Amor sem tempo de acabar,
Pois a minh’alma apaixonada
Nunca se cansa de te amar.
Oferta
Se a rima é pobre, terna Amada,
É rico o amor para te dar,
Pois a minh’alma apaixonada
Nunca se cansa de te amar.
26.03.2008
Pg clxiii
Balada Piracicabana
Piracicaba! Hoje te exalto
Nos versos líricos que faço.
Contemplo em êxtase teu Salto
Que se transforma num regaço
Para alentar meu coração.
Te adoro tanto, tanto, tanto,
Que solto a voz em oração
Cheia de flores e de encanto.
Piracicaba! Em sobressalto
Eu te visito passo a passo.
Bela Cidade! A força do Alto
Embelezou-te em cada espaço.
Nesta balada-exaltação
É muito pouco este meu canto.
Pg clxiv
O olhar te vê com emoção
Cheia de flores e de encanto.
Piracicaba! és no Planalto
Referenciada em letras de aço.
Que a voz no peito num assalto
Brilha nos versos que ora traço.
A vida vibra com razão
Ao ver-te assim co’olhar de espanto.
E é minha lírica oração
Cheia de flores e de encanto.
Oferta:
O olhar te vê na Imensidão
Lembra um poema sacrossanto.
E findo minha inspiração
Cheia de flores e de encanto.
27.03.2008
Pg clxv
Balada da Mocidade
Recordo a leda mocidade
Cheia de sonhos por viver.
Em tudo havia intensidade,
Momentos puros de prazer.
Mas foi passando a quadra airosa
E foi chegando a luz da treva.
E da esperança cor-de-rosa
Foi-se o calor e a noite neva.
Brotaram flores de saudade
Em espinhoso belveder.
A angústia e o tédio – por maldade
Fizeram-me um triste esmoler.
O sonho outrora era uma rosa
E hoje, meu Deus, nada se leva...
Pg clxvi
E da esperança cor-de-rosa,
Foi-se o calor e a noite neva.
Outrora tanta claridade
Rumos de luz a percorrer.
Aquela azul felicidade
Perdeu a cor, pôs-se a morrer.
A luz no Ocaso é tenebrosa,
E um sonho ingrato se releva.
E da esperança cor-de-rosa,
Foi-se o calor e a noite neva.
Oferta:
A morte chega pegajosa,
Da noite a luz também se entreva.
E da esperança cor-de-rosa,
Foi-se o calor e a noite neva.
27.03.2008
Pg clxvii
Balada da Vitória
Para o poeta parnasiano
A forma fixa é uma cadeia.
A inspiração é um oceano
Que a alma em instantes incendeia.
Mas ele o verso e a rima doma,
Doma a cesura mais correta.
Leão sacudindo a hirsuta coma,
Eis a vitória do Poeta.
E nada o prende neste plano...
Se a ideia foge ou devaneia,
Tal qual um grande soberano,
Eis que ele trava uma epopeia.
A inspiração n’alma lhe assoma
E a forma torna-se concreta.
Pg clxviii
Um brinde às Musas ele toma,
Eis a vitória do Poeta.
Se o desespero lhe é insano,
A rima filtra e tece a ideia.
Pois o poeta é um ser humano
Que adoça a vida da colmeia.
Tal qual um gladiador de Roma
A rima rica é sua seta.
Multiplicando a sua soma,
Eis a vitória do Poeta.
Envio:
Deixa o poema na redoma
E faz do amor a sua meta.
Ao dominar o sacro Idioma,
Eis a vitória do Poeta.
28.03.2008
Pg clxix
Balada das Juras
Quantas baladas, quantos versos,
Em teu louvor eu já compus!
Nos meus sonetos pus, imersos,
Jóias e pérolas de luz.
Porém, tu fazes pouco caso
De tudo o quanto já te fiz,
Já coloquei rosas no vaso,
Te prometi – serás feliz!
Jurei te dar mil Universos,
Já me preguei até na cruz!
Agi dos modos mais diversos,
E declamei versos a flux.
Louco me fiz, foi um arraso,
Pg clxx
Nada valeu... não me sorris!
Recoloquei rosas no vaso,
Me prometi – serás feliz!
E ages dos modos mais perversos,
Pisas nas sombras, fazes uuus,
Me assustas com teus gestos tersos,
Me comes como os urubus.
Pois bem, contigo não me caso,
Cigana, doida, meretriz.
Retiro as rosas lá do vaso,
E não serás, jamais, feliz.
Envio:
No encontro próximo me atraso,
Irei juntar-me a outra Beatriz.
Ela terá flores no vaso,
E tu serás muito infeliz!
29.02.2008
Pg clxxi
Balada Apaixonada
Quando te vejo, o coraçãoBadala como fosse um sino.
Feliz bimbalha uma canção
Num longo verso alexandrino.
(Tal verso aqui, não cabe, não,
Pois quebraria esta Balada.)
Mas minha voz, em oração,
Diz que por ti é apaixonada.
Não há na vida outra razão
De haver no mundo outro destino:
O nosso amor se fez a união
De uma menina e de um menino
Que tinham n’alma uma ilusão.
Juntos seguimos a jornada
Pg clxxii
E minha voz, em oração,
Diz que por ti é apaixonada.
Juntos vivemos a paixão
E com meus versos te ilumino.
Sem ti a vida é solidão,
É pranto amargo e desatino.
O tempo voa num desvão
E vamos nós na longa estrada.
Mas minha voz, em oração,
Diz que por ti é apaixonada.
Envio:
Mil sonhos trago em cada mão
Para ofertar-te, minha amada.
Pois minha voz, em oração,
Diz que por ti é apaixonada.
02.04.2008
Pg clxxiii
Balada da Poesia
A Poesia que está dentro de mim,Tem vida própria: pulsa, vibra, canta.
Em cada verso a rima é régia manta,
Bordada com brocados em cetim.
Teve início, porém, jamais tem fim
A ânsia de extravasar-me em harmonia.
E canto, dia e noite e noite e dia
Esta paixão que me consome a vida.
Já se faz longa a estrada percorrida,
Pois eu vivo nos braços da Poesia!
Criança eterna, sou papa-capim
Com trinado afiado na garganta.
E canto em qualquer galho, em qualquer planta,
E a estrofe – tico-tico num flautim –
Fica a insistir que a vida é assim, assim...
Eu transmudo essa doce melodia
Pg clxxiv
Num poema que feito, a alma inebria.
Esta paixão sublime, colorida,
Faz que a Esperança viva mais florida,
Pois eu vivo nos braços da Poesia!
Ouço, às vezes, na mata, algum sem-fim
E ele me diz numa ternura santa,
Que esta vida é de fato sacrossanta.
Também, molhando as flores no jardim,
As ramas perfumadas do jasmim
Pintam a primavera que anuncia
Mudando o inverno em mágica alquimia.
E esta paixão divina e tão sentida,
Multiplica meus sonhos sem guarida,
Pois eu vivo nos braços da Poesia!
Envio:
Ouço do céu sublime melodia!
É a voz de Deus que tange em sinfonia!
Pg clxxv
Mas que, com meu amor sempre divida
Essa estrada de luz a ser seguida,
Pois eu vivo nos braços da Poesia!
28.03.2008
Pg clxxvi
Balada dos Sonhos
Sonhos existem para ser sonhados
E se tornarem realidade um dia.
Enquanto sonho, vivo de poesia,
E vivo de tais sonhos tão dourados.
Os meus caminhos amplos e azulados
São pinturas de sonhos coloridos.
Espectros de desejos não vividos
Esperas e ilusões que vão à frente.
A realidade é fria, o sonho é quente,
Que nossos corações deixam feridos.
Outrora os sonhos eram esperados
No fulgor resplendente da magia.
E a contá-los, a voz, em harmonia,
Pg clxxvii
Tinha timbres e tons aveludados.
Brilharam d’alma os olhos inspirados,
Em desejos de luz irreprimidos.
Os rumos a seguir eram floridos
E nos acalentava o sonho ardente.
Mas sinto que na vida tudo mente,
Que nossos corações deixam feridos.
Na jornada da vida os passos dados
Foram passos de angústia e de agonia.
A vida – uma esperança fugidia,
Os sonhos – desesperos aloucados.
Os fardos do martírio eram pesados,
E os desejos tornaram-se corroídos.
A céu aberto os cantos tão sofridos.
Foram sonhos e esperas simplesmente,
Plantando a solidão sua semente
Que nossos corações deixam feridos.
Pg clxxviii
Envio:
Da batalha saímos nós feridos,
Derrotados ficamos mais perdidos.
Os sonhos foram sonhos, tão-somente,
Trazemos n’alma um sonho displicente,
Que nossos corações deixam feridos.
31.03.2008
Pg clxxix
Balada para a Ausente
Anjo querido e tutelar,
Cuida meus passos nesta vida.
Pois não pretendo mais vagar
Qual folha morta ao chão caída.
Vem com ternura, agasalhar
Um coração que sofre tanto.
Eu sinto o frio me gelar,
Sem ti a vida é sem encanto.
Quando contemplo o alvo luar,
Fico com a alma entristecida,
Somente tu podes curar
O sangramento da ferida
Que jorra sangue a borbulhar
Quais quentes lágrimas do pranto
Pg clxxx
Por isso, Amada, vem me amar,
Sem ti a vida é sem encanto.
Se ausente estás, forte é o pesar
Da estrada longa a ser vivida.
Somente tu – posso chamar
Na longa estrada, – de querida.
És como abelha no pomar:
Produzes mel num doce canto.
És minha praia – um doce mar,
Sem ti a vida é sem encanto.
Envio:
Sonhemos juntos um lugar
No céu, na terra, em qualquer canto!
Ao Éden vamos sim, voar,
Sem ti a vida é sem encanto.
03.04.2008
Pg clxxxi
Balada Encantadora
O meu amor é como rocha,
É um lindo sonho encantador.
Dentro do peito desabrocha,
Lembra uma rosa multicor.
Em cada pétala de flor
Músicas doces de um compasso.
E há nesse sonho, nesse amor,
Carícia, afeto, beijo, abraço.
O meu amor é como rocha,
Forte e sereno, tem vigor.
Dentro da noite é rubra tocha
Iluminando e pondo cor
Para seguirmos com fervor
De nossas vidas, passo a passo.
Pg clxxxii
E há nesse sonho, meu amor,
Carícia, afeto, beijo, abraço.
O meu amor é como rocha,
Declaro sempre, com louvor.
Na Eternidade não se afrouxa,
Dentro do frio, traz ardor.
Sono suave e embalador
O meu amor voa no espaço.
E te oferece, meu amor,
Carícia, afeto, beijo, abraço.
Envio:
Sou teu Poeta e teu cantor,
És tudo o quanto em vida faço.
Te oferto em mil canções de amor,
Carícia, afeto, beijo, abraço.
04.04.2008
Pg clxxxiii
Balada da Vida
Azul é o sonho quando a mocidade
No chão da vida vai plantando flores.
O ar se impregna de mágicos olores,
E tudo vibra em força e intensidade.
Esbanja o coração felicidade
Soletrando canções do verbo amar.
As noites são de estrelas e luar
E sorrisos estampam nosso rosto.
Na boca há adocicado e suave gosto,
E a vida por viver é nosso lar!
Tudo rebrilha à luz, à claridade,
E nossos sonhos tem milhões de cores.
Das esperanças somos os senhores
Pg clxxxiv
E caminhamos frente à Eternidade.
A vida é nossa luz, nossa verdade,
Nosso canto de fé no caminhar.
E nossos passos podem nos levar
Do amanhecer à sombra do sol-posto.
Os espinhos se apõem no lado oposto,
E a vida por viver é nosso lar!
Somos livres e temos liberdade,Temos as asas fortes dos condores!
E somos todos nós conquistadores,
E travar nossos sonhos, que é que há de?
Vencemos com denodo a tempestade
Que em turbilhões da vida é o insano mar!
Viver, sorrir, vencer! E a divagar
Nosso corpo se torna aberto e exposto.
Mas na fila da frente é nosso posto,
E a vida por viver é nosso lar.
Pg clxxxv
Envio:
Corre o tempo em frenético voar...
Faltando o chão, sentimos falta de ar.
Tudo que de prazer era composto,
Toma contornos de um glacial agosto
E a vida por viver não tem mais lar...
03.04.2008
Pg clxxxvi
Balada Iluminada
À flor da pele a inspiração
Vibra em meu peito, instante a instante.
Pulsa mais forte o coração
Numa cadência delirante.
A rima brota em profusão
E ideias brotam coloridas.
E cada estrofe é um cantochão
Iluminando nossas vidas.
Entoo versos de canção
Modulo a voz, mudo o semblante.
O canto sai como oração
E invade o espaço em tom ebriante.
Da terna amada tomo a mão
Pg clxxxvii
E ponho pétalas floridas.
Britam as flores da paixão
Iluminando nossas vidas.
A voz que canta é a da emoção
E sei-me rei e sou amante!
O sonho é belo, é inspiração,
Um espetáculo vibrante.
Nesta Balada-exaltação
Mil esperanças são vividas.
Os nossos sonhos lindos vão
Iluminando nossas vidas.
Envio:
O amor na vida é sensação!
As nossas almas são queridas.
Que continue a Inspiração
Iluminando nossas vidas.
04.04.2008
Pg clxxxviii
Balada sem Importância
Pouco me importa a rima pobreQuando me chega a inspiração.
Se de ouro, prata, bronze ou cobre,
Riqueza está no coração.
Eu sou, portanto, um milionário,
Tudo o que tenho me irradia.
Por isso canto igual canário
Engaiolado na Poesia.
Essa riqueza que me cobre
Somente dá satisfação.
Que importa ao longe um sino dobre
Se o sonho está na minha mão?
Ser rico é um dom extraordinário,
Jamais ser rico me extasia.
Pg clxxxix
Por isso canto igual canário
Engaiolado na Poesia.
Assim o verso é sempre nobre
Em seus delírios de paixão.
Que a inspiração sempre me sobre
Para compor, com devoção,
Neste sem-fim itinerário,
Versos de amor a cada dia.
Por isso canto igual canário
Engaiolado na Poesia.
Envio:
Musa divina, em teu sacrário
Bebo a hóstia santa da harmonia.
Por isso canto igual canário
Engaiolado na Poesia.
04.04.2008
Pg cxc
Balada da Chuva
Choveu. Choveu o dia inteiro.
A chuva era miúda e fria.
Não era, não, forte aguaceiro
Mas era a chuva da agonia,
Que lentamente, lentamente,
Traz solidão e em harmonia
Invade e molha a alma da gente
Numa sem fim melancolia.
Choveu. Meu sonho aventureiro
Olhava a tarde ampla e vazia.
Mais parecia um marinheiro
Num alto mar de calmaria.
Mas a enxurrada – ela somente,
No frio chão, fugaz, corria
Pg cxci
Numa cadência inconsequente,
Numa sem fim melancolia.
Choveu. Meu coração – braseiro
Do frio ingente me aquecia.
Mesmo no sonho sorrateiro,
Deu-me calor – como magia.
E ele aqueceu a minha mente
Trouxe-me o amor todo poesia,
Matou a angústia atra e gemente
Numa sem fim melancolia.
Oferta:
Mas foi-se a chuva num repente,
Rebrilha o sol de um novo dia.
A solidão vai à corrente
Numa sem fim melancolia.
07.04.2008
Pg cxcii
Balada para a Ausente
Meu coração fica a sorrir
Quando se encontra com a amada.
Pois este amor é o elixir
Que mais me deixa a alma inspirada.
Por isso crio esta balada
Que é feita toda exaltação.
Porque sem ti, minha adorada,
Meus dias tristes, tristes são.
No espaço-tempo que há de vir
– Quer seja dia ou madrugada! –
Sonho viver sempre a seguir
Junto de minha namorada.
Se houver alguma encruzilhada
Que ela não traga a solidão.
Pg cxciii
Porque sem ti, minha adorada,
Meus dias tristes, tristes são.
A cada dia do porvir
Sonho viver com minha fada.
Tesouros de Golconda e Ofhir
Estão no fim da longa estrada.
Sigamos juntos na jornada
Cantando em paz uma canção.
Porque sem ti, minha adorada,
Meus dias tristes, tristes são.
Envio:
Sem ti, querida, não sou nada.
De teu amor sou devoção.
Porque sem ti, minha adorada,
Meus dias tristes, tristes são.
07.04.2008
Pg cxciv
Balada Feliz
Quando componho minhas baladas
Doida alegria em minh’alma infesta.
Gemem violinos com ar de festa,
Canários cantam nas madrugadas.
Estrelas brilham alcantiladas
Minha alma em cantos, doce, tressua,
E faz cirandas, rodeando a lua.
O ar se perfuma de áurea esperança,
Sei-me Poeta, me sei criança,
Canto nas praças, canto na rua.
As rimas brotam apaixonadas
E brilham luzes na minha testa.
Doida magia se manifesta
Canta parlendas pelas calçadas.
Pg cxcv
Sonhos carrego e vão de mãos dadas
Numa alegria que se insinua.
Minh’alma à frente jamais recua:
Toda sorrisos valseja, dança.
Mais que Poeta, me sei criança
Canto nas praças, canto na rua.
Gnomos, duendes, bandos de fadas
Espargem brilhos por qualquer fresta.
Quantos delírios! Que alegria é esta
Que em sonhos deixam almas aladas?
As rimas cantam – vão encantadas!
Cada uma delas se mostra nua
E nos delírios brilhante sua...
Na minha mente a estrofe balança
Um sonho lindo e eu sendo criança
Canto nas praças, canto na rua. Envio:
Minha querida, na boca tua
Pg cxcvi
Coloco um beijo. – No céu a lua
Com nossos sonhos trava aliança.
Sou teu Poeta e sendo criança
Canto nas praças, canto na rua.
07.04.2008
Pg cxcvii
Balada da Noite Fria
Da noite o frio me acompanha
Gela-me o peito e o coração.
O gelo corre em minha entranha
Causando horrível sensação.
Estou deitado e agasalhado
Com cobertor, meias de lã.
O corpo treme, estou gelado,
A cerração cobre a manhã.
De gelo existe uma montanha
Que me sopesa, sem razão.
Na teia branca, negra aranha
Dorme na sua mansidão.
Agasalhado estou deitado
(Ai, do calor tanto sou fã!)
Pg cxcviii
O corpo treme, estou gelado,
A cerração cobre a manhã.
A sensação é muito estranha
E o vento uivando lembra um cão.
O aço do gelo a voz arranha
Causa tremor e rouquidão.
O frio está por todo lado
A mim se prende como ímã.
O corpo treme, estou gelado,
A cerração cobre a manhã.
Envio:
Vem aquecer-me, anjo adorado.
Sem ti a vida é vaga e vã.
Sem teu calor vivo gelado,
A cerração cobre a manhã.
07.04.2008
Pg cxcix
Balada Fria
A noite é fria, fria, fria,
O coração está gelado.
Geme feral melancolia,
O vento passa alucinado.
Sofrendo estou de angústia e dor,
Gemem os versos da poesia.
Gemem os laranjais em flor,
A noite é cheia de agonia.
A noite é fria, fria, fria,
Caminho só, desesperado.
Feroz do vento é a sinfonia
Que tecla notas no telhado.
O frio faz perder a cor
Roseira rubra que floria.
Pg cc
Do galho pende fria flor,
A noite é cheia de agonia.
A noite é fria, fria, fria,
Sozinho estou, meu anjo amado.
Sem ti a vida está vazia,
Vazio o sonho tão sonhado.
Não mais as noites de calor,
Porém as noites de agonia.
Da rama pende a fria flor,
A noite é cheia de agonia.,
Envio:
Sem ter na vida o teu amor
A vida sinto estar vazia.
Sem teu perfume, linda flor,
A noite é cheia de agonia.
10.04.2008
Pg cci
Balada para Manoel I
“Café com pão, café com pão!”
Anda nos trilhos, Seu Bandeira.
Faça poemas de emoção
Glória da Pátria brasileira.
O poste passa, o pasto passa,
E passa o galho de ingazeira.
Mas a saudade, essa não passa,
Geme no peito prisioneira.
“Café com pão, café com pão!”
Manda o foguista por madeira
Para aumentar a combustão
Que a alma é da vida passageira.
Tudo na vida é uma ameaça,
E a estrada é longa e bem traiçoeira.
Pg ccii
A minha angústia hoje não passa,
Geme no peito prisioneira.
“Café com pão, café com pão!”
Entrei num Beco de primeira.
Eu vou pedir é proteção
Da Aparecida Mãe Padroeira.
Ela dará por certo a graça
Que peço em reza a noite inteira.
Pois a maldade que não passa,
Geme no peito prisioneira.
Envio:
Manoel de glória e forte raça,
Cubra-me com tua Bandeira,
Tira-me a dor que nunca passa
Geme no peito prisioneira.
11.04.2008
Pg cciii
Balada Branca
Morrem os sonhos e a Esperança
É posta numa cova fria.
Não há mais luzes no caminho
E a solidão geme sozinha.
É longa e triste a longa estrada
Aos dias negros que nos restam.
Passos tropeçam nos atalhos
E à vida se abre em negro Ocaso.
A crença morre na cobiça
E no silêncio ela se oculta.
A voz professa uma mentira
Que desvendar fica impossível.
Travam-se os passos da verdade
E o canto torna-se mentira.
Pg cciv
O olhar desvia-se do foco
E a vida se abre em negro Ocaso.
Tudo se perde no momento,
Silêncio dita a voz do jogo.
Poder nefasto vibra e canta,
Porém, bem sei ser passageiro.
Enquanto sofro tais agruras,
Com versos lanço o meu repúdio.
Porém o tempo voa rápido
E a vida se abre em negro Ocaso.
Envio:
Eu vencerei as artimanhas
Da atroz mentira que hoje luz.
Irá surgir de novo a Aurora
Ao sol que agora está no Ocaso.
11.04.2008
Pg ccv
Balada Embalada
Quero compor minhas poesias
Em versos próprios de Balada.
Criar milhões de alegorias
Com a alma límpida e inspirada.
Ficar olhando a madrugada
Cheia de estrelas e luar,
Até que em luz rompa a alvorada
E um novo dia para amar!
Na minha voz deito harmonias
Pois ela canta apaixonada,
E na razão longa dos dias
À tua – a minha mão vai dada.
Também com a alma apaixonada
Ficamos juntos a cantar,
Pg ccvi
Rompe a manhã, brilha a alvorada,
E um novo dia para amar!
Nas ramas cantam cotovias
Uma canção doce e sagrada,
Cantam aos céus Ave-Marias,
Numa harmonia inusitada.
És tu, Julieta, minha amada,
Sou teu Romeu... vamos voar...
Traz a manhã nova alvorada
E um novo dia para amar!
Envio:
Longe de ti já não sou nada,
És minha luz, meu céu, meu mar!
Traga-me tu nova alvorada
E um novo dia para amar!
17.04.2008
Pg ccvii
Balada para Bandeira II
“Café com pão, café com pão!”
Retorno ao mote, Seu Bandeira.
O Trem-de-Ferro da Ilusão
Recheia a Pátria brasileira.
Com seus vagões abarrotados
Foram buscar o ouro na trilha
E nossos nobres Deputados
Do Rio foram à Brasília.
E cada um deles, em mansão
Fazem crescer a roubalheira.
E o Trem-de-Ferro, (eta trem bão!)
Do povo ri na bandalheira.
Todos com caras de safados
Só querem o dim-dim que brilha.
Pg ccviii
Políticos desempregados
Do Rio foram à Brasília.
Com as amantes lá se vão
Que a farra é mesmo prazenteira.
Um filho vem, outros virão
Pois a moral não tem bandeira.
Os cidadãos são humilhados
Que a safadeza traça trilha.
Pois nossos nobres Deputados
Do Rio foram à Brasília.
Desoferta:
Oh! Virgem Santa dos Pecados,
Mande ao Inferno os dessa Ilha,
E a corja desses Deputados
Expulse-as todos, de Brasília!
17.04.2008
Pg ccix
Balada Casamenteira
Badala o sino alegremente
Na Capelinha do povoado
Lili formosa está contente;
Vai se casar com um... safado!
O povo todo comparece
Ao lírico acontecimento.
No pátio para-se a quermesse
Na festa desse casamento!
Padre Jorjão, todo contente,
Com forte voz e rosto suado,
Fica esperando impertinente,
O noivo que já está atrasado.
Lili disfarça... desconhece
Que o noivo é filho de um jumento...
Pg ccx
Mas vejam só o que acontece
Na festa desse casamento:
O noivo cheio de aguardente
Pegou num sono desgraçado.
E se esqueceu completamente
Do matrimônio já marcado.
Mas o destino sempre tece
As suas tramas num momento,
Lili não sofre nem padece
Na festa desse casamento...
Envio:
Moço bonito se oferece
E é realizado o Sacramento.
Padre Jorjão faz linda prece
Na festa desse casamento!
18.04.2008
Pg ccxi
Balada do Solitário
Eu não consigo acreditar
Que o riso transformou-se em pranto.
O que era um lírico sonhar
Perdeu de vez seu terno encanto.
Com frenesi o verbo amar
Iluminava nossas vidas,
Hoje sou barco em alto mar
E trago as velas recolhidas.
Na solidão vivo a vagar
E o mar solfeja um triste canto.
Com meu batel vou naufragar
Perdido nesse desencanto.
Sinto asfixia e falta de ar
A relembrar tais despedidas.
Pg ccxii
Hoje sou barco em alto mar
E trago as velas recolhidas.
Quanto me doi o recordar
De nosso sonho que foi tanto.
Estou perdido, estou sem lar,
Para acoitar não acho um canto.
Contemplo a lua a navegar
Por entre estrelas coloridas.
Hoje sou barco em alto mar
E trago as velas recolhidas.
Envio:
A nossa estrela tutelar
Já não cintila em nossas vidas.
Sozinho estou em alto mar
E trago as velas recolhidas.
22.04.2008
Pg ccxiii
Balada do Vício de Cantar
Não deixarei o vício de cantar!
Em minha vida o canto está presente
De forma natural e reluzente,
Por isso esparjo rimas ao luar
Que o canto é minha luz para brilhar
Em todos os momentos desta vida.
Minha Esperança brilha colorida
Qual tocha pondo a noite iluminada.
Com fé vou percorrendo essa ampla estrada
E os percalços levando de vencida.
O canto chega em ondas pelo mar
E cada rima brilha incandescente.
Água pura vertendo da nascente
Que serve para a sede mitigar.
Pg ccxiv
Cada estrofe dobada no tear
– Linho puro é paisagem mais florida! –
Lembra lenço acenando na partida,
Doce abraço festivo na chegada.
Com fé sigo vencendo essa jornada
E os percalços levando de vencida.
O vício de cantar me faz amar
E desse imenso amor me torno um crente.
Não sei se existe forma diferente
Que não seja essa forma milenar
De tal felicidade extravasar.
O canto deixa a alma incandescente
Deixa mais leve o fardo na subida.
Assim, dessa maneira apaixonada
Com fé sigo essa imensa caminhada
E os percalços levando de vencida.
Pg ccxv
Envio:
Por mais vida que possa ser vivida
Junto àquela a quem chamo de Querida,
Hei de seguir a vida entrelaçada
E juntos seguiremos nessa estrada,
E os percalços levando de vencida.
25.04.2008
Pg ccxvi
Balada para Theresinha
(Aos 80 anos de minha primeira Professora)
Theresinha do Canto Kraide)
Minha querida Professora
Esta balada te ofereço.
E que ela seja a portadora
De um grande amor, que não tem preço.
Se, sou Poeta, a culpa é tua!
Transmudo o verso em campainha.
E vou cantando, à luz da lua,
Oh, minha Santa Terezinha!
Rebrilha o sol em nova aurora,
O coração é todo apreço.
Tanta lembrança n’alma mora
E do passado não me esqueço.
Perambulando pela rua
Uma saudade burburinha,
Pg ccxvii
E vou lembrando, à luz da lua,
Oh, minha Santa Terezinha!
Saudade chega sem ter hora
Com melodia o verso teço.
O tempo voa vida afora,
E a gratidão se molda em gesso.
Mas tanto afeto continua
A cadenciar de forma asinha,
E vou sonhando, à luz da lua,
Oh, minha Santa Terezinha!
Dedicatória:
Querida Mestra! De alma nua
Transformo o verso em ladainha,
E vou rezando, à luz da lua,
Oh, minha Santa Terezinha!
14.01.2009
Pg ccxviii
Balada das mãos vazias
Todos os sonhos que nós trazemos
Acumulados em nossos dias,
Sendo verdades, nós já não cremos;
Que se transformem em alegrias.
Sonhos não passam de fantasias
Que em transe mexem com nosso sono.
Numa hora as mãos se tornam vazias,
A primavera se faz outono.
Aos nossos barcos faltam os remos
E a correnteza, em mil sinfonias,
Geme seus cantos tristes, extremos,
Como a anunciar ferais agonias.
Desesperadas, as ventanias
As aves levam num abandono;
As mãos se tornam frias, vazias,
Pg ccxix
A primavera se faz outono.
Com nossos olhos nós já não vemos,
As esperanças tremem vadias.
As nossas preces, em tons supremos,
Gemem angústias, melancolias.
Busco nas trevas as Três-Marias,
Mas nem dos sonhos sinto-me dono.
Não trago preces nas mãos vazias,
A primavera se faz outono.
Envio:
Oh, Sorte ingrata! Tu poderias
Trazer-me a glória de um lindo trono...
As minhas mãos acenam vazias,
A primavera se faz outono.
22.01.2009
Pg ccxx
Balada para um louco amor
De muito sonho, uma alegria,
Uma ventura, um esplendor.
A sensação para a poesia,
O coração com muita cor.
Um louco olhar na tarde fria,
Um sol friorento e sem calor.
Projeto nulo, alma vadia,
Uma loucura, um grande amor.
Uma quietude, ai, que agonia,
Vulcão, silêncio multicor.
Sinos tangendo à Ave-Maria,
Lírico abraço, num torpor.
Espasmos puros de alquimia,
Pg ccxxi
Muito a fazer, nada compor.
Serenidade, fantasia,
Uma loucura, um grande amor.
Mormaço, sonho, fantasia,
Loucura vã, canto, louvor.
Tudo fazer à revelia,
De o mundo imenso ser senhor.
Um beijo ao céu, idolatria,
Por fim o encontro encantador.
Ecos no céu de sinfonia,
Uma loucura, um grande amor.
Envio:
Assim eu vivo noite e dia
Por tua causa, sou Ator.
Quem não viveu nesta folia
Uma loucura, um grande amor?
27.08.2001
Pg ccxxii
Balada sôfrega
Longe de ti, meu coração
Sôfrego, sôfrego, padece.
Longe de ti toda a ilusão,
Toda a ilusão desaparece.
A companheira solidão
A meu viver se faz constante.
Perco meus sonhos e a razão
Se ausente ficas um só instante.
Quero-te sempre. A sensação
De tua ausência me entorpece
O espírito... Ouve esta canção
Que te ofereço como prece,
Meu doido amor. Na vida não
Posso viver se estás distante,
Perco os delírios da razão
Pg ccxxiii
Se ausente ficas um só instante.
Ah, meu amor, presta atenção:
Ah, minha amada, se pudesse
(Mas eu não posso, ai, ilusão,
Meu coração jamais te esquece!...)
Bem viveria na emoção
De ser o teu eterno amante,
Mas fico preso na razão
Se ausente ficas um só instante.
Dedicatória
Sem ti as horas longas são,
E a dor me fere anavalhante.
Esta é a loucura, esta é a razão
Se ausente ficas um só instante.
10.03.2009
Pg ccxxiv
Balada pitoresca
Café com pão, café com pão!
Que coisa incrível, oh, Bandeira.
Um mar de lama e podridão
É nossa Pátria brasileira.
Para onde vai essa enseada
Eu bem confesso que não sei.
Mas no Senado é uma barbada
As falcatruas de Sarney.
É o trem de ferro da ilusão
Nos trilhos dessa roubalheira.
Tudo em Brasília é corrupção,
É falcatrua, é brincadeira.
Depois com cara bem lavada
Pg ccxxv
Sapo barbudo, nosso Rei,
Diz que não sabe nada, nada,
Das falcatruas de Sarney!
E a gente vive na ilusão
Com essa turma tão arteira.
Que num descuido mete a mão
Levando até nossa carteira.
Não tem mais jeito essa maçada,
Também sequer existe lei
E a gente brinca e faz piada
Das falcatruas de Sarney!
A inspiração vai na enxurrada
E um verso alheio até roubei.
Até Pasárgada encantada
Está temendo esse Sarney!
18.07.2009
Pg ccxxvi
Canto Real
Canto Real à Piracicaba
Este Canto Real que faço apaixonado
Ao meu Torrão Natal, é um canto que merece
Ter mil rimas de Amor andando lado a lado,
Como os duetos de fé de uma sagrada prece.
Tomo a lira a David, de Orpheu empresto o canto,
De nosso Padroeiro empresto o rude manto
E desafio incréus, que a paixão que me invade
Tem a voz de um coral com toda a alacridade,
Que a Imensidão azul em serenatas trina
Mil hosanas ao céu com toda a intensidade,
Glória à Piracicaba, à Noiva da Colina!
Ouço o Rio cantar... não é canto, é dobrado,
A água do Salto cai, mil coloridos tece,
A catadupa ruge... há balé e há bailado
Pg ccxxvii
Que o Rio, com amor, à Cidade oferece!
Para a vida feliz ao ver tamanho encanto!
A água nas pedras rola em suave acalanto,
É música do céu, doce sonoridade,
A bruma da manhã veste toda a cidade!
É tamanho o esplendor a brisa cristalina
Que a alma canta feliz e canta em ansiedade
Glória à Piracicaba, à Noiva da Colina!
Vejo o Engenho Central soberbo, iluminado,
É uma visão feliz que o olhar jamais esquece!
No chão reflete o sol o açúcar refinado
Coroando no céu esta bendita messe!
Olho a Rua do Porto, oh, bendito recanto!
– Paraíso Terrestre, onde há um terno quebranto
De alegria, de amor, que os corações invade!
Vejo, sonho feliz! a leda mocidade
Dizendo com prazer, ao fitar tal vitrina
O seu canto de amor da mais pura verdade:
Pg ccxxviii
Glória à Piracicaba, à Noiva da Colina!
Ouço um Poeta cantando um canto enamorado
E entre rimas de luz, em seu colo adormece
Porque percebe que é pela cidade amado
E outro melhor postal no mundo não conhece...
A hora crepuscular é de sublime espanto!
O sol, mais parecendo um colossal helianto
Põe na cidade a luz com tal luxuosidade,
E a cidade rebrilha ao ouro e à majestade
Que parece que Deus, nesta hora vespertina
Também canta feliz em Sua Santidade,
Glória à Piracicaba, à Noiva da Colina!
O áureo Saber esplende em teu solo sagrado!
A Arte é puro fulgor onde tudo floresce!
Nas Escolas há luz, onde tudo é ensinado
E a Música que Deus, pelo céu enternece.
Quanta Luz do saber! Quanto desejo, quanto!
Este Solo é sagrado! É puro! É sacrossanto!
Pg ccxxix
A vida brilha aqui com tanta claridade
E a cidade nos prende em sua etérea grade
Que a beleza sem paz a imensidão domina!
Por isso, o Poeta diz, num hino de vaidade:
Glória à Piracicaba, à Noiva da Colina!
Dedicatória:
Hoje canto feliz! A rima em unidade
Louva Piracicaba um hino de amizade.
Por isso, no cantar, a voz é genuína,
Tem recamos de luz e diz com divindade:
Glória à Piracicaba, à Noiva da Colina!
12.01.1996
Pg ccxxx
Canto Real das Meninas Prostitutas
Essas meninas pobres e esquecidas,
Muitas vezes de rosto assaz pintado,
Nos lábios marcas de batom borrado,.
Vão levando sem eira, as suas vidas.
Em velhas ruas, praças e avenidas,
Mostrando um triste olhar desesperado
Aos transeuntes fazendo mil gracejos,
Acenando com as mãos, jogando beijos,
Sempre à espera que passe um pretendente,
Mostram seus jovens corpos diariamente,
Vendendo seus gemidos, seus desejos.
Essas meninas tristes, desvalidas,
Seminuas expõem-se a este mercado,
Exibindo um sorriso fabricado,
Pg ccxxxi
Mostram no rosto, as expressões sofridas.
Às vezes, com barrigas já crescidas,
(Onde o parto se faz sem ter cuidado)
Mais lembram periquitos dos realejos
Lançando a sorte em rápidos festejos
Para encontrar decerto outro cliente...
Tolas sonham e o sonho é contundente,
Vendendo seus gemidos, seus desejos.
Essas meninas julgam-se queridas,
Na fantasia tem um namorado.
Sonham também viver junto ao amado
Com parcas esperanças coloridas...
Essas meninas lívidas, transidas,
São os frutos de um mundo depravado.
São a escória do mundo em seus arpejos,
São mendigas traçando vis cortejos
São a crença de um mundo já descrente!.
Pobres mostram um corpo repelente,
Pg ccxxxii
Vendendo seus gemidos, seus desejos.Essas meninas, umas – pervertidas,
Outras – com triste olhar n’alma marcado,
Podres mercadorias de atacado,
Tem as suas vontades prostituídas.
Da Sociedade sempre são banidas,
Porque trazem a marca do pecado!
São as flores dos charcos e dos brejos,
São os ratos de esgotos, aos rastejos,
Retratos de um país pobre e demente.
Todas tem um sorriso deprimente,
Vendendo seus gemidos, seus desejos.
Essas meninas – pobres margaridas,
Sem futuro, presente e sem passado,
Viciadas na bebida e no baseado,
De bares e de clubes são excluídas.
A muitos elas são jovens perdidas,
Passam doença em cada beijo dado,
Pg ccxxxiii
São cacos de cortantes azulejos,
Motivos para motes sertanejos
Em canções de mau-gosto, inconsequente.
Passam rindo, escondendo o olhar doente
Vendendo seus gemidos, seus desejos.
Oferta
A Beira-rio traçam seus motejos,
Mostrando dentes podres em bafejos,
Essas meninas são, em nossa mente,
A realidade de um Brasil dormente,
Vendendo seus gemidos, seus desejos.
30.01.2009
Nota: Conferir com a Balada das MeninasProstitutas
Pg ccxxxiv
Martelos
Martelo Agalopado
No martelo o meu verso é agalopado
Que é a forma correta de compô-lo.
E não há desconforto ou desconsolo
Escrever neste jeito cadenciado.
O bom verso jamais se torna errado
Na cadência e no ritmo que o condiz.
E o poema jamais se contradiz
Se lhe bate no peito a inspiração.
Pois a voz que lhe fala é o coração
E o Poeta é na vida um ser feliz.
No martelo perfeito ajusto o passo
Para ser entendido por cantores.
E se exalto nos versos meus amores,
A canção eu conduzo no compasso.
Aos amores eu dou um forte abraço
Pois em cantos no peito a alma me diz.
Pg ccxxxv
E jamais me recurvo à cicatriz
De um amor que foi falso e teve adeus.
Sou do amor mais sublime a voz de Deus,
E o Poeta é na vida um ser feliz.
No martelo os amores sempre canto
Na maneira mais justa e mais correta.
Sou Orpheu, na guitarra sou poeta,
Sou Davi, com a Lira tudo encanto.
Com certeza jamais derramo o pranto
Nem na face carrego a dor matiz.
Se, bimbalho mil sinos na matriz
Exaltando um amor pleno de luz.
Sou o amor que na vida o amor conduz,
E o Poeta é na vida um ser feliz. Pouco importa que seja o mês de agosto,
Pois o inverno antecipa a primavera.
Não me prendo a momentos de quimera,
Não me aqueço com raios de um sol-posto.
Pg ccxxxvi
Não há lágrimas frias em meu rosto
E nem traço caminho a pó de giz.
Os meus sonhos são livres dos ardis,
Vivem soltos, alegres pelo ar.
Amo a luz das estrelas, do luar,
E o Poeta é na vida um ser feliz.
A galope caminho a céu aberto
E aos delírios do amor canto e suspiro.
Meu amor é na vida o ar que respiro
Meu amor de minh’alma vive perto.
Não existe sequer um passo incerto
Nem abismo onde a dor crie raiz.
Eu invento um amor, crio um país
Pois o amor para amar requer amor.
O meu mundo na vida tem mais cor,
E o Poeta é na vida um ser feliz.
26.02.2008
Pg ccxxxvii
Martelo justo e perfeito
Eu desejo escrever, dia após dia,
Os meus versos de formas diferentes,
Com martelos, com foices e correntes,
E em baladas compor minha poesia.
Necessário uma dose de alquimia
Para o verso sair de qualquer jeito,
Se precisar cavar dentro do peito
Um buraco maior que o próprio mundo.
E buscar lá do fundo, bem do fundo,
O meu verso mais justo e mais perfeito!
A poesia não pode ser contida
Quando brota, inspirado, dentro d’alma.
Coração nesse instante não se acalma,
E parece abalar a própria vida.
Nesse instante a explosão deixa florida
Pg ccxxxviii
A alegria que vem sem preconceito
No martelo não pode haver defeito,
Na cesura, na métrica e na rima.
Deve sempre brilhar de forma opima,
O meu verso mais justo e mais perfeito.
Cada verso é coluna sustentada
Nas viagens que dão Sabedoria.
Eis a Força, e a Beleza da Poesia
Trabalhando incansáveis na jornada.
É momento de glória ilimitada
Na razão mais sublime do conceito.
Se outras glórias existem não aceito,
E nem posso aceitar que um’outra exista.
É por isso que deixo nesta pista,
O meu verso mais justo e mais perfeito!
27.07.2007
Pg ccxxxix
Martelo dos meus antepassados
Fico sempre a pensar de madrugada
Quem eu sou, de onde vim, o que aqui faço,
Contemplando esquecido o largo espaço
Não consigo chegar a quase nada.
Tudo é muito esquisito nesta estrada
E os mistérios os sinto fragmentados.
Nem consigo deixá-los clareados;
Mas defino em verdades quase eternas::
Que descendo dos homens das cavernas,
Muitos deles são meus antepassados.
Todo o espaço contém milhões de estrelas
É o insondável mistério do Infinito.
Muitas delas tem vidas – acredito,
Mas, tais vidas, também não posso vê-las.
Como posso tais coisas entendê-las
Já que a História tem rumos sepultados
Pg ccxl
E os enigmas são todos enterrados
Em bebidas nas noites das casernas?
Se eu descendo dos homens das cavernas,
Muitos deles são meus antepassados.
Alighieri, talvez, seja meu tio,
Com Petrarca talvez criei sonetos.
Mas não posso encontrar os amuletos
Que sepultam meus sonhos num vazio.
É demais para mim o desafio
De querer desvendar tempos traçados,
Se eles são verdadeiros ou errados
São verdades de luz justas, eternas,
Mas descendo dos homens das cavernas,
Muitos deles são meus antepassados.
11.01.2005
Pg ccxli
Martelo mais que profano
Teço versos e sonhos interpreto
As razões disso tudo que acontece.
Tudo feito misturo no concreto
Para ter pensamento mais correto,
Para ter sinfonias como prece.
E galopo meu sonho muito louco
Na amplidão do martelo agalopado,
Na algibeira do verso canto rouco
Sempre achando que o tempo é sempre pouco
Para tem quem o peito apaixonado.
O martelo produz seu canto surdo
Estalando monótona oferenda.
Mais parece um soldado na contenda
A lutar pelo que acha vago e absurdo.
Com os versos que agora em transes urdo;
Pg ccxlii
Teço tramas de sonho mais nefasto,
No bater do martelo agalopado
Os meus sonhos, com ânsias eu arrasto
E sou mil quando penso que fui pasto
Para quem tem o peito apaixonado.
Sordidez mais hipócrita e mofina
Não existe talvez, quem tenha feito.
E se a mente profana foi cretina,
Atolei a esperança tão menina,
Fui idiota de todo e qualquer jeito.
O perdão que ora peço não mereço
E me fere o martelo agalopado.
Se o desprezo recebo eis que agradeço
Pois é duro demais tão alto preço
Para quem tem o peito apaixonado. A entoar tal martelo o som estala
E repete cruel epifania:
És Poeta, és cruel – o som me fala
Pg ccxliii
E o suor que teu corpo agora exala
É o suor que te cobre na agonia.
Não mereces o amor do mundo aberto,
Nem mereces o som agalopado,
Mas mereces os dias no deserto,
E o viver sempre ingrato e sempre incerto
Para quem tem o peito apaixonado.
E o refrão mais profano e mais macabro
Ainda fere meu cérebro profano.
Frente a frente cintila um candelabro
A luzir o terrível descalabro
Que te fiz com a mente de um insano.
Dói-me o peito, fui ímpio e foi vileza
Não mereço sequer ser inspirado.
Um Poeta com tanta atroz crueza
Não merece respeito, com certeza,
Para quem tem o peito apaixonado.
Dize tudo o que quero que te escuto,
Pg ccxliv
A vergonha nas faces ora trago.
E que o peso de enorme viaduto
Caia em mim já no próximo minuto
E me arraste nas sombras – negro mago.
Se eu puder levantar-te deste lodo
Para ter um momento iluminado,
Se eu puder por os pés fora do engodo,
Serei luz e esperança nesse Todo,
Parar quem tem o peito apaixonado.
12.01.2004
Pg ccxlv
Ritornelo
Ritornelo
A minha PoesiaQuem dera que fosse
Um pouco mais doce
E menos amarga,
Porém, o meu canto
O sonho me embarga
E com desencanto
A minha Poesia
Só tem agonia.
Quem dera que fosse
A minha Poesia
Um canto de vida!
Contudo é sentida,
Pois lhe falta o doce.
Pg ccxlvi
Quem dera que um dia
Mais doce me fosse.
A minha Poesia
29.02.2008
Pg ccxlvii
Espinela
Espinela
(Décima)
Jesus Cristo veio à terra
Para a todos nos salvar.
Foi, pois, a pedra angular
Que da Palavra fez guerra.
Sua voz ainda hoje erra
Nos palácios, nos postigos,
Nos corações acha abrigos
Pois Ele um dia nos disse
Com paz, amor e crendice:
– Amai vossos inimigos!
19.03.2008
Pg ccxlviii
Décimas variadas
A Décima é necessária
Uma técnica apurada.
A redondilha é sagrada
E a rima é extraordinária.
Pode viver solitária
Ou ser partes de um poema,
Mas deve, como um diadema,
Ser sempre um brilhante puro,
Iluminar o futuro
Encerrando qualquer tema.
Mas se a Décima vir agalopada,
É melhor ter os timbres do Martelo.
E seu canto perfeito seja belo
Com encantos sublimes do Alvorada.
E não pode jamais vir quebrara,
Pois o dom junto ao verso causa atrito.
Pg ccxlix
Sou poeta que fujo do grito
Ou a crítica chega e fica péssima.
É por isso que teço a minha Décima
E obedeço a cesura, o metro e o rito.
18.02.2009
Pg ccl
Epitáfio
Epitáfio
(Décima)
Rimas esparsas aqui componho!
Doces lembranças da mocidade.
Mas hoje tudo se faz saudade
Pelo ar se esgarça qual ledo sonho.
E com saudade com a alma ponho
Nesse turíbulo o doce incenso
De tudo quanto saudoso penso.
E esta saudade se faz tão forte
Que vai vencer, talvez minha morte
Em cada verso de amor intenso.
24.03.2008
Pg ccli
Gazais
Gazal para a Amada
Querida, ouve meu Gazal;
Ele é só teu afinal.
Quando por mim tu passaste
Lançando um olhar fatal,
Eu senti dentro do peito
Um amor celestial.
E minha alma de poeta
– Alma esta sentimental! –
Começou a fazer versos
Num dom sobrenatural.
Fiz poemas de alegria
Com tua essência floral,
Porque meu Gazal, querida,
É só teu. Ponto final.
15.12.1991
Pg cclii
Gazal para a Querida
Um Gazal meu verso tece
E com amor te oferece.
E em minh’alma vou compondo
À maneira de uma prece
E brotam na minha mente
Como frutos de uma messe
Eu te oferto com carinho
Nada, porém, acontece.
Por isso, dentro do peito,
O meu coração padece.
E meu caminho contorno
Com o corpo arqueado em S.
Meu Gazal passa batido
Meu coração se aborrece.
Por isso, minha querida,
Dos olhos o pranto desce.
Pg ccliii
E nada mais nesta vida
Meu coração te oferece.
17.12.1996
Pg ccliv
Moteto Moteto
Compor versos é minha grande sina!
Há quarenta anos neste duro ofício,
A inspiração constante determina
Que não posso me ater a outro exercício.
Com meus versos construo um edifício
Oh, sacrifício!
Que o verso é minha glória e minha ruína!
18.04.2008
Pg cclv
RondéisRondel magoado
O meu coração magoado
Ainda chora de agonia.
A minh'alma inerte, fria,
Não vive mais ao teu lado.
Caminho desesperado,
Não tenho mais alegria.
O meu coração magoado
Ainda chora de agonia.
Está tudo terminado,
Só me resta a nostalgia
Daquela imensa magia.
E carrego noite e dia
O meu coração magoado.
24.03.81
Pg cclvi
Rondel da busca
O meu olhar te procura
E não te encontra, querida.
Ai, tristonha desventura
Não te encontrar pela vida.
Minha ilusão vai perdida
E em mim se instala a loucura.
O meu olhar te procura
E não te encontra, querida.
Minha alma, toda tristura,
Sem consolo, desvalida,
Sente falta da ternura
Nesta ilusão tão sofrida
O meu olhar te procura.
27.02.2008
Pg cclvii
Rondós
Rondó do meu amor
O meu amor. Porto seguro
Onde repouso o meu cansaço.
O meu passado, o meu futuro,
O meu caminho aberto e puro
Onde certeiro aprumo o passo.
E com certeza eu asseguro
Que a ele estou preso pelo braço
E em seu carinho me aventuro.
O meu amor.
Doce ternura esse regaço
Que traz a luz ao sonho escuro.
Maior que o céu, que o próprio espaço
A ele me prendo num abraço
Pg cclviii
E em ternos beijos me depuro.
O meu amor
28.02.2008
Pg cclix
Rondó para a querida
Minha querida e terna amada,
Quando cansado chego em casa,
O teu sorriso é uma alvorada
Que a alma me deixa descansada,
Doce ternura que me abrasa.
Nesse repouso penso em nada...
– Que importa que haja guerra em Gaza,
Guerra no Iraque alucinada?
Minha querida.
O peito sinto arder em brasa
E a alma transborda apaixonada.
És minha Musa idolatrada,
Razão da vida tão sonhada.
Do amor eu solto asa por asa,
Minha querida.
27.03.2008
Pg cclx
Rondó do coração
O coração sofre calado
Na sua desventura imensa.
Sozinho está. Desesperado
Ele soletra um canto alado
Numa sentida e pura crença.
Está sozinho, abandonado,
A dor no peito é forte, intensa,
Flechas de dor o tem vazado.
O coração.
Mas ele pede a recompensa
De um dia ser de todo amado.
Ter um extremo bem ao lado
Para seguir feliz o fado.
Assim calado, triste pensa.
O coração.
07.04.2008
Pg cclxi
Triolés
Triolé da distância
A distância dei-lhe um beijo
E ela não me respondeu.
Não aplacou meu desejo;
A distância dei-lhe um beijo.
Na vida o que mais almejo
É um beijo do lábio seu;
A distância dei-lhe um beijo
E ela não me respondeu.
24.03.81
Pg cclxii
Triolé do mistério
O meu amor é tão bonito
Que não consigo descrever
Pois tem mistérios do infinito.
O meu amor é tão bonito!
Por sua causa um treno imito
E mais feliz fico a viver.
O meu amor é tão bonito
Que não consigo descrever.
08.06.1999
Pg cclxiii
Triolé do amor
O meu amor que é tão bonito
Tem uma beleza sem par.
Tem os mistérios do infinito
E a beleza glauca do mar.
O meu amor que é tão bonito
Não cabe neste verso escrito
E é tão difícil de falar.
O meu amor que é tão bonito
Tem uma beleza sem par.
Tem uma beleza sem par
O imenso amor que n’alma sinto.
Traz a meiguice do luar
E o doce gosto de Corinto.
Tem uma beleza sem par
Que põe luzes num labirinto
E nas profundezas sem par
Pg cclxiv
Tem uma beleza sem par
O imenso amor que n’alma sinto.
O imenso amor que n’alma sinto
É tão difícil de explicar,
Não tem explicação – é instinto,
É necessário como o ar,
O imenso amor que n’alma sinto
Deixa meu coração faminto
Deixa meu coração cantar –
O imenso amor que n’alma sinto
É tão difícil de explicar.
É tão difícil de explicar
O que é invisível e é bonito.
Muito mais fácil é falar
Do que tentar deixar escrito.
É tão difícil de explicar
Que chega a me causar conflito
Pois não encontro requisito:
Pg cclxv
É tão difícil de explicar
O que é invisível e é bonito.
13.11.1994
Pg cclxvi
Triolé embalador
O sono é suave e embalador,
Repousa o corpo do cansaço.
Vivendo junto ao meu amor
O sono é suave e embalador.
Nas noites quentes de calor
Feliz é a noite em seu regaço.
O sono é suave e embalador
Repousa o corpo do cansaço.
27.03.2008
Pg cclxvii
Triolé do merecimento
O nosso amor merece ter
Abraços, dengos e carinhos.
As horas plenas de prazer
O nosso amor merece ter.
Da vida imensa por viver
Jamais vivamos nós sozinhos.
O nosso amor merece ter
Abraços, dengos e carinhos.
28.03.2008
Pg cclxviii
Triolé triste
Este silêncio que a alma me invade,
Silêncio triste de morte triste,
Se, é verdadeiro, se não existe,
Talvez mentira, talvez verdade,
Este silêncio que a alma me invade
Em minha vida cruel persiste.
Silêncio triste de morte triste,
Me traz arrulos de uma saudade
Este silêncio que a alma me invade.
01.04.2009
Pg cclxix
Glosas
Glosa
Não deixa de ser tolice
Trabalhar a vida inteira;
Quando se chega à velhice...
Sem tostão no algibeira!
(Maria Célia C. Roque – Portugal)
Mal o galo acorda o dia
Já dou um salto da cama.
Dou dois beijos em quem me ama
E parto para a porfia
Na mais penosa agonia...
No peito tenho a crendice
Que já nem sei quem me disse,
Que o trabalho é que enobrece...
E crer assim nesta prece,
Pg cclxx
Não deixa de ser tolice...
Mal vejo o crescer dos filhos
E a garrulice da infância...
De todos tenho distância
Pois nos olhos trago os brilhos
De apenas seguir os trilhos
De uma glória feiticeira...
E a vida corre faceira...
Mas carrego em minha mente
Apenas o sonho crente:
Trabalhar a vida inteira!
E o tempo – feito fumaça,
Enegrece meus projetos...
– Meu Deus! Vieram os netos!
E a vida como trapaça
Mais veloz que o vento – passa...
Se na juventude eu visse
Pg cclxxi
Que obrar tanto é cretinice...
Não vale o arrependimento
Que se abre a mim no momento
Quando se chega à velhice...
E deste trabalho tanto
Resta-me por recompensa:
Tristeza, angústia, doença,
Um martírio em cada canto
E uma vida sem encanto...
Só tenho por companheira
Neste triste fim de feira
O tédio no fim do dia
E uma esperança vadia
Sem tostão no algibeira!...
15.03.1998
Pg cclxxii
Décimas
Fui cruzando o mar da vida
Numa constante odisséia,
Como uma abelha perdida
Longe de sua colmeia.
(Clementino D. Baeta)
De meu barco alcei as velas
E me pus em mar aberto.
Vagando num rumo incerto
Guardei na retina as telas
De tantas paisagens belas.
Com vontade desmedida
Não foi minh’alma ferida,
Nem me venceu a inconstância.
Vencendo qualquer distância
Pg cclxxiii
Fui cruzando o mar da vida.
Vencendo clima diversos
Tracei então minha meta:
Fui trovador, fui poeta
Dos mais largos Universos
Nas batalhas destes versos.
Após tamanha epopeia
Consigo hoje ter a ideia
De tanta luta ofegante:
De todas eu fui amante
Numa constante odisseia.
Por vezes me vi singrando
Desconhecidos caminhos.
Fiquei distante dos ninhos
De quem ficou me esperando:
– Ave perdida do bando!...
Porém, levei de vencida
Pg cclxxiv
As artimanhas da vida
Nem me senti à quimera
Com o fim da primavera,
Como uma abelha perdida.
Colhi do chão os gravetos
E rimei minha poesia.
Traduzi em melodia
Os inspirados sonetos
Que tive por amuletos.
A alma não mais devaneia,
Foge dos bancos de areia...
No ocaso que se avermelha
Jamais me sinto uma abelha
Longe de sua colmeia
14.05.1998
Pg cclxxv
Glosa
A vida faz-se a lutar
P’lo direito mais profundo
De se poder alcançar
O amor e a paz no mundo.
(Jorge Marques – Portugal)
Sou Poeta! A minha Lira
Faz parte do meu trabalho.
A rima é meu agasalho
O poema é minha pira.
Tudo na vida me inspira:
Uma noite de luar,
Um coração para amar,
Mar achar o Paraíso
Ouça bem o meu aviso:
A vida faz-se a lutar!
Pg cclxxvi
Mas o mundo não compreende
De Deus as Suas vontades...
Busca achar amenidades,
Na vida vai – qual duende...
Somente o Poeta entende
Os caminhos deste mundo,
E cada vez mais fecundo
Engasta a rima ao seu verso,
Luta junto ao Universo
P’lo direito mais profundo!
O Poeta cria o canto,
Solta a voz – se faz Profeta!
Faz da paz – a sua meta,
Faz do amor – o seu encanto.
Jamais aproveita o pranto
Para a glória conquistar;
O que pode agasalhar
Pg cclxxvii
Prende em áureo diadema.
Eis a glória do Poema
De se poder alcançar!
Assim o Poeta, à vida,
Erige seu Monumento,
Na melodia do vento
Esparge a essência florida...
Mesmo tendo a alma ferida,
Jamais se vê moribundo.
O seu desejo vai fundo
Pois o Poeta só sonha
A ter na estrada risonha:
O amor e a paz no mundo!
15.04.2001
Pg cclxxviii
Glosa
Das línguas todas da Terra
Só uma é universal.
Ouço-a no mar; e na serra...
Ouço-a cantar Portugal!
(José Francisco Rodrigues)
Quero encontrar em meu canto
A forma exata e correta
Para, na arte de Poeta,
Ao meu verso dar um manto
Que tenha fulgor e encanto...
Tal desejo em mim encerra
E o eco em minh’alma berra,
Portanto minha mensagem
Da Palavra tem a imagem
Das línguas todas da Terra.
Pg cclxxix
Perguntam-me: – Qual o idioma
Que tu, Poeta, nos falas?
Que áurea harmonia trescalas
No mais suavíssimo aroma?
Está n’alguma redoma
Este canto celestial?
Em qual país afinal
Existe formosa lavra?
Se tem ouro na Palavra:
Só uma é universal!
– Conheço as línguas latinas
Em todas as suas formas,
Decifro até suas normas
Em constantes sabatinas.
Mas tu, Poeta, iluminas
Todos os cantos da terra
Com este canto que encerra
Pg cclxxx
Amor, encanto, ternura...
E tua voz que fulgura
Ouço-a no mar; e na serra...
– José Francisco Rodrigues
Já nos disse numa trova
E a Palavra não é nova...
– Meu amigo, não me obrigues
Também comigo não brigues;
Este canto é natural,
Foi de Pessoa e Quental,
Camões já o pôs em seu verso
E ao ecoar no Universo
Ouço-a cantar Portugal!
15.02.2001
Pg cclxxxi
Glosa
E eu vou sozinho, pensando
Em teu amor, a sonhar,
No ouvido e no olhar levando
Tua voz e teu olhar.
(Olavo Bilac)
Noite alta. O luar prateia
Da cidade cada rua.
Minha alma vagueia nua,
Devaneia, devaneia.
A lua fulgura cheia,
Todo o céu está brilhando.
Passa um vento leve, brando,
E solitário caminho.
Como sempre vou sozinho
E eu vou sozinho, pensando...
Pg cclxxxii
Ela invade a minha mente.
Por que penso tanto nela?
Por acaso não sabe Ela
Que a minha alma tanto sente
A sua ausência fremente
Nesta noite de luar?
Ando sozinho a vagar
Em febre a mente é uma ilha.
E o pensamento fervilha
Em teu amor, a sonhar.
Por sob o luar de prata
Cintilam milhões de estrelas.
Extasiado fico a vê-las
Pensando em quem me maltrata.
Ouço ao longe a serenata
E dois violões tocando.
Ai, até quando, até quando
Pg cclxxxiii
Viverei com tal miragem?
Já que sigo na viagem
No ouvido e no olhar levando?
Tão doce lembrança invade
Meu coração num momento.
E eu esparjo pelo vento,
Pelas ruas da cidade,
Que estou morto de saudade
Pois estou a carregar
Em cada instante a sonhar,
Teu olhar e teu sorriso,
E ouvir e sentir preciso,
Tua voz e teu olhar.
27.02.2008
Pg cclxxxiv
Glosa
A mulher do Alentejo
Leva mais longe a razão
Nas canseiras, em sobejo
Constroi direitos e pão.
(Quadra portuguesa)
Mulheres de todo o mundo
E de todos os lugares,
Dentro de vossos sonhares
Brilham num sonho fecundo.
E nesse sonho profundo
Mais aflora o meu desejo
Se elas merecem um beijo
Em tal sonho ardo e deliro.
Pois em meu sonho suspiro
A Mulher de Alentejo.
Pg cclxxxv
Essa mulher tão bonita
Tão ponderada e sincera,
Tem no olhar a primavera
De maneira que acredita
Que a esperança é-lhe infinita.
De encantos seu coração
Modula eterna canção
Eu dela tão longe vivo
Que o pensamento cativo
Leva mais longe a razão.
Procuro-a em sonhos floridos
E a minh’alma não se cansa
De ter tamanha esperança.
Dentro dos dias vividos
Trago sonhos coloridos
E o sonho o amor por ensejo
Mas pelo mundo só vejo
Pg cclxxxvi
Que nos rumos onde sigo
Nos ombros segue comigo
Nas canseiras, em sobejo.
Essa mulher caridosa
Faz do amor a sua prece,
Por isso, por Deus merece
Ter as pétalas de rosa
Na estrada maravilhosa
Onde for seu coração.
Essa mulher, que emoção,
Inspira agora o meu verso
E nas fímbrias do Universo
Constroi direitos e pão.
14.03.2002
Pg cclxxxvii
Glosa
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
(Fernando Pessoa)
O poeta nesta vida
Do prazer tece uma lira.
Cria um mundo de mentira
Sonha a esperança perdida.
Longa é a estrada percorrida
Para encontrar um amor.
Mas encanta-se com a flor
Pendida num tênue galho
E ao prometer-lhe agasalho,
O poeta é um fingidor.
Pg cclxxxviii
À flor faz ele uma crença
E se mostra apaixonado.
O mundo deixa de lado
Para ter a recompensa
Da ternura mais imensa
De tudo o que em glórias sente.
Contudo o poeta mente
Pois mentir é sua glória.
Ao lembrar tão bela história
Finge tão completamente.
A flor que não tinha dono
E perfumava o caminho,
Foi arrancada do ninho
– Primavera fez-se outono.
E o poeta no abandono
Da flor roubou o frescor.
Deixou-a no chão sem cor
E agora demonstra ao mundo
Pg cclxxxix
O seu delírio profundo,
Que chega a fingir que é dor.
E o poeta entristecido
Junta no chão os gravetos,
Constroi amargos sonetos
Do sonho vê-se perdido.
E seu pranto derretido
Rega no chão a semente
Que nascendo novamente
Traz ao poeta alegria,
E ele diz numa poesia
A dor que deveras sente.
31.01.2008
Pg ccxc
Glosa
Menino passarinheiro
– Caçar era a minha lei! –
Hoje vivo prisioneiro
Nas arapucas que armei.
(E. A. P.)
Da bela infância vivida
Em tempos de hoje saudade,
Distante uma Eternidade
Que parece de outra vida...
Mas a lembrança florida
Deixa-me ser cancioneiro.
Desse sonho aventureiro
A gaiola hoje vazia
Faz lembrar que fui um dia
Menino passarinheiro.
Pg ccxci
Pintassilgos, avinhados,
Azulões e correntinos.
Eram belos os destinos
E os tantos sonhos sonhados.
Eram os sonhos dourados,
Cada um era um grande rei.
(Por que agora assim sonhei?)
E lembro tão doce infância
– Saudade evola fragrância,
– Caçar era a minha lei! –
O tempo nos fez adultos
E se foram os amigos.
Dentro de férreos abrigos
Hoje trazemos ocultos
Fantasmas de velhos vultos
E um coração estrangeiro.
Por mil caminhos esgueiro
E ao sonhar essa lembrança
Pg ccxcii
De meus tempos de criança,
Hoje vivo prisioneiro.
Belo sonho evaporou-se
Com o calor do sol da tarde.
O silêncio faz alarde
De um tempo que foi tão doce.
A saudade aqui me trouxe
Nos espinhos me estrepei.
Por mil estradas vaguei
Mas sempre estive indefeso.
Passarinheiro estou preso
Nas arapucas que armei.
31.01.2008
Pg ccxciii
Glosa
Veja só quanta imprudência,
– Que terrível pesadelo! –
Casou por correspondência
E a noiva veio sem selo.
(E. A. P.)
Nesta vida é necessário
Estar sempre muito atento,
Porque num só movimento
Nosso belo itinerário
Transforma-se num calvário
Onde a atroz maledicência
Machuca a nossa consciência
E o paraíso áureo, eterno,
Transmuda-se num inferno,
Veja só quanta imprudência!
Pg ccxciv
Moço rico, índole boa,
Foi pescar numa cidade
Onde havia quantidade
De cardumes na lagoa.
Mas ficou sorrindo à toa
Ao ver rosto tão singelo,
Olhar casto, doce, belo,
Nos seus olhos por olhares,
Serenos, crepusculares.
Que terrível pesadelo!
Ao retornar do passeio
Suspirava, suspirava,
Su’alma caíra escrava
Da donzela em doce enleio.
Vivia no devaneio
Sofria com tal ausência
Aos céus clamava clemência
Pg ccxcv
E foi tanto o sofrimento
Que a pediu em casamento
– Casou por correspondência! –
Só depois de quinze dias
Foi buscar a sua esposa,
– Doidejante mariposa! –
De farras e fantasias.
Mas funestas heresias
Ao seu peito trouxe gelo...
Tratou-a com tanto zelo
Porém ao provar tal doce
O moço rico danou-se
E a noiva veio sem selo.
31.01.2008
Pg ccxcvi
Glosa
Não sei se é fato ou se é fita,
Não sei se é fita ou se é fato.
O fato é que ela me fita,
Me fita mesmo de fato.
(Anônima)
Passa em frente à minha casa
Linda mulher – é casada.
Passa dengosa a safada
No dedo a aliança é brasa.
Em requebros ela arrasa
E a multidão deixa aflita.
A boca vermelha agita
Mas parece um passarinho
Querendo sair do ninho.
Não sei se é fato ou se é fita.
Pg ccxcvii
Passa toda oferecida,
Lança olhares ternos, quentes.
Seios pontudos, ardentes,
São dois pecados na vida.
A cabeleira comprida
Lembra um dourado artefato.
Por ela me desbarato,
Faço um dia uma loucura.
Me flerta toda em ternura,
Não se é fita ou se é fato.
Pensamento devaneia:
Um dia a abordo na rua,
E ela passa, seminua,
Lançando olhar de sereia.
Mas é porta de cadeia
Tanta beleza infinita.
Porém, o meu peito grita
Pg ccxcviii
E ela o olhar joga de lado.
Mas não posso estar errado:
O fato é que ela me fita.
Mas contemplo-a da janela
E ela passa sorridente.
Na calçada displicente
Olhar furtivo revela.
Mas na estreita passarela
Muda a cena. É novo ato.
Com seu olhar de retrato
A safada sem vergonha
Por quem a minha alma sonha,
Me fita mesmo de fato.
26.02.2008
Pg ccxcix
Glosa
Diz velha sabedoria:
Quem cala sempre consente.
Dentro da minha Poesia
Sou silêncio num repente.
(E. A. P.)
De frente a ataques calar-se
Sempre revela bom senso.
Eu por isso às vezes penso
E uso o riso por disfarce.
Muito embora a alma se esgarce
Dou revides de ironia.
É minha maneira fria
De silenciar frente a tudo.
Ser prudente é ficar mudo
Pg ccc
Diz velha sabedoria.
Isso não diz, com certeza
Que aceito o golpe da faca.
Se minha voz não ataca
E o rosto mostra rijeza,
– Sou assim por natureza
Mostro sempre estar contente.
Tanta gente, tanta gente,
O golpe sempre revida,
Mas digo com voz fingida:
Quem cala sempre consente.
Nos versos mostro a alma nua,
Porém, me envolvo em segredo.
Não digo que sinto medo.
Se disfarço olhando a lua,
Se ao léu vago pela rua
Não é por hipocrisia,
Porém, no meu dia a dia
Pg ccci
Me oculto, sim, por inteiro,
Sou Poeta verdadeiro
Dentro da minha Poesia.
Não me critiquem por isso
A pérola dentro da ostra
Somente pronta se mostra
Portanto em meu compromisso
Com palavras nunca atiço
O fogo que brota ardente.
A verdade é transparente
Não precisa se mostrada.
Assim, não digo mais nada:
Sou silêncio num repente.
11.04.2008
Pg cccii
Glosa
Por ternura, por meiguice,
Por amor e por vaidade,
Sou idosa sem velhice,
Não perdi a mocidade
(Sinda Vélez Mendes) Ervedal, Portugal
Minh’alma em delírios canta
Estribilhos de cantigas,
E como as aves amigas
Com diamantes na garganta
Na imensa paixão se encanta
Em sua tagarelice.
E nos seus sonhos de Alice
No cantar põe rendilhados,
Põe brilhantes encantados,
Por ternura, por meiguice.
Pg ccciii
Minh’alma é feliz na vida,
No amor que em êxtase sente,
Na ventura se faz crente
Tece trama colorida.
Por mais vida a ser vivida
Cria cantos de verdade,
Põe rimas de suavidade
Em todos os seus caminhos,
E põe ternura nos ninhos,
Por amor e por vaidade.
Minh’alma toda vaidosa,
Sente-se ainda menina,
E em passos de bailarina
Saltita alegre, formosa,
E com frases cor-de-rosa
Mostra sua faceirice.
Por tudo sente crendice;
E diz-me toda sorriso
Pg ccciv
Como a crer no Paraíso:
Sou idosa sem velhice.
Minh’alma não vê, por certo,
Do tempo o correr insano.
Vão-se as ondas do oceano
E as areias do deserto.
Frente ao viver amplo, aberto,
Pulsa e vibra de ansiedade.
Mas toda serenidade
Em meus olhos fita fundo
E diz num sonho profundo:
Não perdi a mocidade.
11.02.2009
Pg cccv
Glosa
Por ternura, por meiguice
Por amor e por vaidade,
Sou idosa sem velhice,
Não perdi a mocidade.
Sinda Vélez Mendes (Ervedal, Portugal)
Os anos passam voando
Tal qual os sonhos de glória.
Passado se faz história
Que ficamos recordando...
Os sonhos passam num bando
De aves em tagarelice,
Morre a fé, finda a crendice,
Porém, n’alma glorifica
A saudade bela e rica
Por ternura, por afeto.
No precipício a esperança
Pg cccvi
Se agarra nos verdes ramos.
E ingloriamente sonhamos
Com farrapos de lembrança.
Mas o tempo a valsa dança
Em alta sonoridade
Seus acordes de saudade.
Passa a vida, voa o tempo,
As ramas secas eu empo
Por amor e por vaidade.
A minha vida... quem dera...
O vendaval trouxe o inverno...
Já não há um sonho terno
Nem flores na primavera.
E a vida em sua quimera
Não tem semente que vice,
Porém, se um dia eu a visse
Aportar-se na minh’alma,
Diria serena e calma:
Pg cccvii
Sou idosa sem velhice.
Mas o tempo corre insano...
Quem ultrapassa-o, quem vence-o?
Perdido neste silêncio
Me torno um rei soberano...
Não acredito no engano
E em fatal serenidade
Redijo minha verdade
E aos quatro cantos do mundo
Brado num eco profundo:
Não perdi a mocidade!
13.02.2009
Pg cccviii
Glosa
(em Casimiro de Abreu)
É curta a quadra da infância,
Dura somente um momento.
Passa leve, como o vento,
Depois, se esvai na distância.
Mas fica a eterna fragrância
Que ainda no olfato retenho.
É morto tão belo engenho,
Mas quando com versos pinto
Esse momento já extinto,
Oh! que saudades que tenho!
O tempo era de inocência
E repleto de segredos.
Quantos sonhos, quantos medos,
Quanta falta de prudência.
Mas inadvertida ciência
Pg cccix
Deixou-a descolorida,
E fraca ficou retida
E o quintal apequenou-se.
Quanta lembrança tão doce
Da aurora da minha vida.
E cresci, tornei-me adulto,
A voz ficou diferente.
Tudo se foi num repente
Tal qual um profano culto.
O riso ficou oculto
Nalguma esquina perdida.
Deparei-me com a Vida
Toda repleta de enganos.
Como eram doces os planos
Da minha infância querida.O desespero nefasto
Deixou-me tristonho, mudo.
Olho ao redor e por tudo
Pg cccx
Vejo um sonho morto e gasto.
Tristonho, os passos arrasto
Mas são passos sepulcrais.
Ai, no peito dói demais
– Como constantes castigos,
A memória dos amigos
Que os anos não trazem mais.
Mil brincadeiras variadas
A turma toda fazia.
Havia mesmo magia
Nas tardes ensolaradas.
Lembranças tristes, malvadas,
Num momento em tudo infesta;
Da infância saudosa resta
Desesperadas lembranças.
Mas quando éramos crianças,
Que amor, que sonhos, que festa!
A Inocência tinha nome
Pg cccxi
E a chamávamos de sonho.
Em cada rosto risonho
O sorriso se consome.
E ainda parece dar fome:
Ai, doces tardes festeiras,
Dispostos, e sem canseiras,
Andávamos pelo mato,
Ai, lembranças do regato,
Naquelas tardes fagueiras. O cansaço não havia
E o tempo era sempre curto.
Adulto, hoje, às vezes furto
Alguns instantes do dia
E recordo na Poesia
Aquelas tardes inteiras,
Fantásticas brincadeiras...
Mas se o cansaço chegava
Noss’alma ficava escrava
Pg cccxii
À sombra das bananeiras.
Em silêncio verto o pranto
Daquela quadra formosa.
O sonho foi cor-de-rosa
Mas terminou tal encanto.
E n’alma ainda vibra o canto
Dos acentos imortais.
Mas, oh, coração, tu vais
Aquietar-se na fragrância
Daquele tempo de infância,
Debaixo dos laranjais.
26.02.2008
Pg cccxiii
Décimas para um desafeto
Homem baixinho, homem-metade
Coisa ridícula soltar
A sua sânie tumular
Promíscua de ferocidade.
À sua baba de maldade
Em vão você tenta exibir,
Mas eu no escárnio fico a rir
E no deboche solto um canto.
Bobo da corte lhe garanto:
Você vai ter que me engolir.
Se homem inteiro você fosse
Lhe aplicaria uns safanões,
Sendo da raça dos anões
Liliputiana mãe o trouxe
Num lupanar, num tredo alcouce,
Porque não sabe onde seguir.
Pg cccxiv
Porém, no escuro fica a ouvir
A voz materna em gozo tanto
Sou eu que nela a verga planto
E ela também vai me engolir.
Você não manda nem desmanda,
Também em mim, não manda, não.
Eu fico a rir de gozação,
Soltando minha sarabanda.
Enquanto vai passando a banda
Você procura se exibir,
Para que um dia, no porvir,
Você, talvez, seja lembrado,
Mais deixo aqui no meu recado:
Você vai ter que me engolir.
12.03.2009
Pg cccxv
Glosa
Quando um tico-tico canta
Minha vida é assim, assim,
Vem-me um soluço à garganta,
Sinto saudade de mim...
(Lino Vitti)
Tudo passa nesta vida
Com veloz ferocidade.
Hoje, preso na cidade
Trago a lembrança sofrida,
De uma lembrança querida
Que me cobra – tola manta! –
E o coração acalanta.
E rememoro saudoso
Aquele tempo saudoso
Quando um tico-tico canta.
Pg cccxvi
Hoje em liberdade preso,
Sinto, patético, triste,
Que não mais na vida existe
Aquele sonhar aceso.
A saudade como peso
Parece que não tem fim,
Quando escuto no jardim
O passarinho inocente
Cantando continuamente
Minha vida é assim, assim...A água pura e cristalina
Do regato ao céu brilhante
Era um convite constante
Para a infância bailarina.
Mas hoje tudo se inclina,
E essa visão me espanta:
O tico-tico na planta
Cantando despreocupado
Pg cccxvii
E fico logo magoado,
Vem-me um soluço à garganta.
Ah, querida mocidade,
Oh, vívida juventude,
Corre o tempo, a vida ilude,
Tudo torna-se saudade.
Tudo o que era alacridade:
Canto, alegria, festim,
Trinar de papa-capim,
Acabou-se num solfejo,
Pois hoje, quando me vejo,
Sinto saudade de mim.
27.02.2009
Pg cccxviii
Beira-Mar
Galope à Beira-mar
Se a rima está pobre,
Eu tento uma rima que seja mais rica,
Se vou, a minh’alma, porém, aqui fica,
Num sonho tão nobre,
Tão denso, tão puro, tão fértil, tão triste,
Que se ele ora existe
Eu quero cantar...
E a rima é tão densa, tão fértil, tão pura,
Que solto meu canto de forma segura
No galope à beira-mar...
Se a rima está solta
Eu quero prendê-la com elos de aço,
E vou com minh’alma buscá-la no espaço
Pg cccxix
Com a nave revolta
Voando liberta dos sonhos atrozes,
Que falam mil vozes
Que escuto no ar...
Se a rima está solta, no céu vou prendê-la
Nas pontas cadentes de alguma áurea estrela
No galope à beira-mar...
21.08.1991
Pg cccxx
Sextina
Sextina
Minha querida, na paixão mais louca
Eu quero te entregar a minha vida
E ser feliz em minha eternidade.
Quero estar ao teu lado a cada instante,
Ser teu Poeta, teu cantor, teu astro,
Tua paixão e todo o teu desejo.
Eis tudo o que na vida mais desejo
Para viver feliz a minha vida!
Se a paixão que me invade deixa louca
A minh’alma – então sonho a eternidade
Mesmo que seja apenas um instante
Para ser o teu ídolo, o teu astro.
Vem, minha estrela, e brilha como um astro
E faz que minha vida fique louca.
Que importa o céu, que importa a Eternidade?
Pg cccxxi
Quero ser a razão da tua vida,
Eis tudo o que mais quero e mais desejo:
Quero estar ao teu lado a cada instante.
Vem sem demora, vem, vem nesse instante
E mata a minha fúria de desejo!
Vem comigo viver a rósea vida,
Vem ser minha ilusão, meu sol, meu astro!
Ah, não me importa ter a eternidade,
Basta somente esta paixão tão louca.Que importa se minh’alma esteja louca?
Eu te quero na minha eternidade!
Vem brilhar na minh’alma, ser meu astro,
Vem para ser a luz de meu desejo!
Se pouco é o que te oferto nesse instante,
Vem para ser a luz da minha vida!
Se tudo o que te oferto nesta vida
É pouco, meu amor, vem neste instante
E me fere com a fúria do desejo...
Pg cccxxii
Vem ser a minha luz, vem ser meu astro,
Vem aplacar minh’alma que está louca
E comigo viver a Eternidade.
Ah, minha louca, quero dar-te a vida,
Num louco instante a minha eternidade,
E ser teu astro cheio de desejo.
15.11.1990
Pg cccxxiii
Vilancete
Vilancete
Que dias há que na alma me tem posto
Um não sei quê, que nasce não sei onde,
Vem não sei como, doi não sei porque.
(Camões)
Solidão. Há na vida um céu de chumbo.
Ante agonias tais eu me sucumbo,
Lágrimas frias correm em meu rosto.
Faz frio. É rijo o inverno. É mês de agosto.
E essas noites sem fim, escuras, frias,
Por que viver assim tão longos dias?
Que dias há que na alma me tem posto?
É um mistério infinito esses momentos
Carregados de tredos sofrimentos.
O sol da claridade a mim se esconde.
Pg cccxxiv
E por mais que eu procure, busque, sonde,
Não encontro alegrias nesta vida.
É uma angústia que brota colorida,
Um não sei que, que nasce não sei onde.
Junto à noite sombria ando sozinho,
E não vejo ninguém neste caminho.
O coração dos sonhos já descrê,
E às alegrias sempre existe um se...
E não entendo e não defino como
Tal sentimento em mim com tanto assomo
Vem não sei como, doi não sei porque.
25.09.2008
Pg cccxxv
Dez-de-queixo-caído
Dez-de-queixo-caído
A poesia anda à deriva
Por pura falta de estudo.
De ora em diante fico mudo
E por mais que eu muito viva
Deixarei a alma cativa
No silêncio reprimido.
Pois devo ter aprendido
Não dar conselhos ao burro,
Que ele sempre solta um urro
No dez-de-queixo-caído!
Muitos pensam ser poetas
Louvando seus próprios versos,
Mas todos vivem imersos
São medíocres, patetas,
Deveriam ser atletas,
Pg cccxxvi
Saltar um vale profundo.
Usam um tênis fedido,
Mas vivem com seus enganos
Em versos ruins traçam planos,
No dez-de-queixo-caído.
Misturam travas e trovas
Confundem bife na mesa
Com um bife à milanesa,
Não saber tirar as provas,
Das vassouras, das escovas,
Mas eu olho divertido
O que escrevem sem sentido,
Dizendo que é poesia.
Chego a ficar com azia
No dez-de-queixo-caído.
E publicam tais sandices
Nos jornais de minha Terra.
E minha alma grita e berra
Pg cccxxvii
Ao ler tantas cretinices.
São Julietas, são Alices,
Um Romeu desiludido,
Um d. Juan esquecido...
São mesmo todos cretinos,
Com seus gemidos suínos
No dez-de-queixo-caído.
Poesia é dom de momento,
É inspiração refinada,
Não é parede caiada
Nem túmulo bolorento.
Tais bobagens são aguento
E fico desiludido.
E meu coração curtido
Ao ler tanto verso chulo,
O desânimo eu engulo
No dez-de-queixo-caído.
Um verso sem melodia
Pg cccxxviii
Mostra logo ser engodo,
A poesia vai ao lodo
Que é a lama da alquimia.
Isso ter fim deveria
Mas falta o sexto-sentido
Ao poetastro atrevido
Que o que compôs alardeia,
Porém me dá diarreia
No dez-de-queixo-caído.
Rimas sofríveis e pasmas,
O verso quebrado e torto.
Com o olhar perdido, absorto,
Penso estar vendo fantasmas,
Escorpiões, cobras, miasmas,
Em meu caminho florido.
Mas o trouxa pervertido
Arrota seu verso chulo...
Tais sandices só engulo
Pg cccxxix
No dez-de-queixo-caído.
Se proteção eu tivesse,
Mas não sou analfabeto.
Mas frente a texto incorreto
Feito às pressas, na quermesse,
Bem sei que inexiste prece
Para calar o estampido
Do verso descolorido
E ao terminar essas décimas
Fico com impressões péssimas,
No dez-de-queixo-caído.
10.03.2009
Pg cccxxx
Vilanelas
Vilanela
Na tarde que vinha vindo
Havia a cor de violeta
Quando o sol ia dormindo.
Era o céu, matiz infindo,
Voava uma borboleta
Na tarde que vinha vindo.
No ocaso o raio era lindo,
Tive uma paixão secreta
Quando o sol ia dormindo.
Minh’alma ficou sorrindo
Quando viu a Julieta
Na tarde que vinha vindo.
Meu olhar ficou fulgindo
Como o brilho de um Poeta
Pg cccxxxi
Quando o sol ia dormindo.
E na vida fui seguindo
A estrada – amor como meta! –
Na tarde que vinha vindo.
O amor a mim foi bem-vindo,
Tive a alegria discreta
Quando o sol ia dormindo.
Meu coração foi se abrindo...
Minh’alma ficou inquieta
Na tarde que vinha vindo.
No jardim da caçoleta
O amor foi me distraindo.
Na tarde que vinha vindo
Quando o sol ia dormindo.
24.08.1981
Pg cccxxxii
Vilanela
O coração faz poesia
E rima a felicidade
Num poema de alegria.
Por isso, com melodia,
O amor canta e em ansiedade
O coração faz poesia.
Penso que uma cotovia
Canta sua alacridade
Num poema de alegria.
Talvez pareça ousadia,
Mas no canto da amizade
O coração faz poesia.
Minh’alma te acaricia
Pois te adora de verdade
Num poema de alegria.
O teu amor é meu guia
Pg cccxxxiii
E num canto de saudade
O coração faz poesia.
O meu olhar te vigia,
E olha com intensidade
Num poema de alegria.
Canta alegre, noite e dia...
Com força da mocidade
O coração faz poesia.
Te amo com tanta euforia
E te digo o que me invade
Num poema de alegria.
Este amor me desvaria
E me prende na unidade:
O coração faz poesia
Num poema de alegria.
12.11.1994
Pg cccxxxiv
Pantuns
Pantum da saudade
Quando a saudade a sua lira tange
Meu coração modula uma cantiga.
E o mesmo verso no meu peito range
Da mesma forma secular, antiga.
Meu coração modula uma cantiga
Para lembrar o que ora não existe.
Da mesma forma secular, antiga,
O meu poema é solitário, triste.
Para lembrar o que ora não existe
E um dia foi meu canto de alvorada;
O meu poema é solitário, triste,
Com cadência sem fim de uma balada.
E um dia foi meu canto de alvorada,
A minha luz, o meu farol, meu tudo!
Pg cccxxxv
Com cadência sem fim de uma balada
Os versos faço de tristuras – mudo.
A minha luz, o meu farol, meu tudo,
Num fim de tarde adeuses me acenaram.
Os versos faço de tristuras – mudo
Ao ver as alegrias que passaram.
Num fim de tarde adeuses me acenaram
Os sonhos todos que vivi sorrindo.
Ao ver as alegrias que passaram
Sinto que tudo para mim é findo.Os sonhos todos que vivi sorrindo
Deram-me a realidade sem encanto.
Sinto que tudo para mim é findo
E os versos rimo com meu próprio pranto.
Deram-me a realidade sem encanto,
A solidão, a angústia e o desconforto.
E os versos rimo com meu próprio pranto
Sentindo que meu grande amor é morto.
Pg cccxxxvi
A solidão, a angústia e o desconforto,
Ferem meu coração que não tem calma.
Sentindo que meu grande amor é morto,
Nas mãos de Deus entrego enfim minh’alma.
Ferem meu coração que não tem calma
As horas que me agridem como alfanje.
Nas mãos de Deus entrego enfim minh’alma
Quando a saudade a sua lira tange.
17.12.2000
Pg cccxxxvii
Pantum saudoso
Tenho pensado em ti ultimamente
Como um extremo bem, um lindo sonho.
E este meu pensamento em ti somente,
Tem me deixado o coração risonho.
Como um extremo bem, um lindo sonho,
Tenho a esperança de te ver um dia.
Tem me deixado o coração risonho
Os teus olhos que inspiram-me à Poesia.
Tenho a esperança de te ver um dia
Em minha estrada fulgurante e bela.
Os teus olhos, que inspiram-me à Poesia,
E brilham mais do que uma loura estrela.
Em minha estrada fulgurante e bela
Iremos a passeios de ternura...
E brilham mais do que uma loura estrela
Os meus olhos envoltos em ternura.
Pg cccxxxviii
Iremos a passeios de ternura
Trocaremos carícias e mil beijos...
Os meus olhos envoltos em ternura,
Brilharão na ânsia de triunfais desejos.
Trocaremos carícias e mil beijos
E sonharemos dias mais floridos.
Brilharão na ânsia de triunfais desejos
Os nossos corações incandescidos.E sonharemos dias mais floridos,
E colheremos flores pela estrada.
Os nossos corações incandescidos
Vislumbrarão ao ver a paz sonhada.
E colheremos flores pela estrada
Te enfeitarei com flores nos cabelos.
Vislumbrarão ao ver a paz sonhada
Nossos olhos em fúlgidos anelos.
Te enfeitarei com flores nos cabelos
E beijarei teus lábios tão ardentes.
Pg cccxxxix
Nossos olhos em fúlgidos anelos
Se entreolharão amantes e contentes.
E beijarei teus lábios tão ardentes,
– Palpitarás de amor, presa em meus braços! –
Se entreolharão amantes e contentes
Nossos olhos em férvidos abraços.
– Palpitarás de amor, presa em meus braços! –
E ficarei feliz, minha adorada.
Nossos olhos em férvidos abraços
Deixarão a noss’alma apaixonada.
E ficarei feliz, minha adorada,
Tendo o teu corpo junto ao meu unido.
Deixarão a noss1alma apaixonada
As passarelas de um jardim florido.
Tendo o teu corpo junto ao meu unido,
Te embalarei entre canções de amores,
As passarelas de um jardim florido,
Pg cccxl
Irão te confundir por entre as flores.Te embalarei entre canções de amores.
Em teus ouvidos contarei histórias.
Irão te confundir por entre as flores
As cantigas que tenho nas memórias...
Em teus ouvidos contarei histórias,
– Histórias dos jardins de Capuleto.
As cantigas que tenho nas memórias
Te cantarei num lírico soneto.
Histórias dos jardins de Capuleto,
Falavam dos amantes de Verona.
Te cantarei num lírico soneto
O romance que tanto me apaixona.
Falavam dos amantes de Verona...
Porém, agora, falo a ti somente
O romance que tanto me apaixona:
– Tenho pensado em ti ultimamente!
Pg cccxli
Pantum da existência
Eu e tu, a existência resumidaEm um amor esplêndido e profundo;
Capaz de fecundar uma outra vida,
Capaz de fecundar o próprio mundo.
Em um amor esplêndido e profundo
Criamos a raiz da Eternidade.
Capaz de fecundar o próprio mundo,
O próprio mundo cheio de verdade.
Criamos a raiz da Eternidade,
Desprezamos o lixo da incidência...
O próprio mundo – cheio de verdade
Dentre as ciências, mostrou-nos esta ciência.
Desprezamos o lixo da incidência;
A violência nós demos outra sorte.
Dentre as ciências, mostrou-nos esta ciência:
O Amor existe mesmo após a morte.
Pg cccxlii
A violência nós demos outra sorte,
À perspectiva nós nos entregamos.
O amor existe após a própria morte,
– Somos frutos que estão nos mesmos ramos.
À perspectiva nós nos entregamos
Capaz de fecundar uma outra vida!
– Somos frutos que estão nos mesmos ramos,
Nós somos a existência resumida.
07.03.1976
Pg cccxliii
Pantum tristonho
Há em mim a sensação estranha de que a vida
Já não é mais igual à vida do passado,
Onde vivia em meio a uma estação florida
E os sonhos eram bons, e o céu, sempre azulado.
Já não é mais igual à vida do passado
A vida que hoje foge através de esquivanças.
E os sonhos eram bons, e o céu, sempre azulado,
Já não existem mais no mundo das lembranças.
A vida que hoje foge através de esquivanças
Deixa um saldo tristonho e cheio de agonia.
Já não existem mais no mundo das lembranças,
Um parque colorido e um palco de alegria.
Deixa um saldo tristonho e cheio de agonia
As podres ambições dos homens nesta Terra.
Um parque colorido e um palco de alegria
Hoje são orlas onde explode a negra guerra.
Pg cccxliv
As podres ambições dos homens nesta Terra
Destruíram o Poder e a Paz que houve no mundo.
Hoje são orlas onde explode a negra guerra
Os campos verdes onde havia o amor profundo.
Destruíram o Poder e a Paz que houve no mundo
Homens com corações de bruxuleantes feras.
Os campos verdes onde havia o amor profundo,
Hoje é inverno voraz, não mais há primaveras.Homens com corações de bruxuleantes feras
Deixai que creste o mundo e a Paz seja clamada.
Pois eu sinto que a vida, ao fim das Primaveras,
Já não é mais igual à vida do passado.
29.02.1981
Pg cccxlv
Pantum em Redondilhas
Quero mundos conquistar
Numa simples caravela,
Pois existe tanto mar
E esta vida é tão bela.
Numa simples caravela
Quero meus sonhos domar
E esta vida é tão bela
Que vale a pena sonhar
Quero meus sonhos domar
Sem ter medos, sem cautela,
Que vale a pena sonhar
Quando estou nos braços dela.
Sem ter medos, sem cautela
Quero um sonho para amar...
Quando estou nos braços dela
Pg cccxlvi
Nem vejo a vida passar.
Quero um sonho para amar
Da maneira mais singela.
Nem vejo a vida passar
Debruçado na janela.
Da maneira mais singela
Direi meu modo de amar:
Debruçado na janela
Passo tardes a cantar.
Direi meu modo de amar...
Numa canção terna e bela
Passo tardes a cantar
De maneira bem singela.
Numa canção terna e bela
Ficarei olhar o mar,
De maneira bem singela
Visitarei o luar.
Ficarei olhando o mar
Pg cccxlvii
Numa simples caravela
Visitarei o luar
Lembrando os encantos dela.
Num simples caravela
Quero meus sonhos domar,
Lembrando os encantos dela
Quero mundos conquistar.
23.01.1999 (Viagem Poética, 1999)
Pg cccxlviii
Pantum do anoitecer
Ao ver a noite que me chega triste,
E que me cobre com seu negro manto,
Minha felicidade não existe
– Da vida só carrego desencanto.
E que me cobre com seu negro manto
Colocando a tristeza na minh’alma...
Da vida só carrego desencanto
E nada, nada o coração me acalma.
Colocando tristeza na minh’alma
Lembro-me de meus trágicos amores.
E nada, nada o coração me acalma
E sofro com a lembrança dessas dores.
Lembro-me de meus trágicos amores
Que rompendo a manhã, iam-se embora.
E sofro com a lembrança dessas dores
Pg cccxlix
Todos os dias quando surge a aurora.
Que rompendo a manhã iam-se embora
E eu ficava sozinho com meus sonhos,.
Todos os dias quando surge a aurora
Meus pensamentos tornam-se tristonhos.
E eu ficava sozinho com meus sonhos
Sofrendo a angústia de um constante inverno.
Meus pensamentos tornam-se tristonhos
Sem ter quem me ofereça um sonho terno.
Sofrendo a angústia de um constante inverno
Eu busco a primavera colorida.
Sem ter quem me ofereça um sonho terno
Ao pesadelo atroz entrego a vida.
Eu busco a primavera colorida
Cheia de flores, com festões doirados.
– Ao pesadelo atroz entrego a vida
Pois meus sonhos estão desesperados.
Cheia de flores, com festões doirados,
Pg cccl
Vejo a vida seguindo seu destino.
Pois meus sonhos estão desesperados
E n’alma só carrego desatino.
Vejo a vida seguindo seu destino
– Minha felicidade não existe!
E n’alma só carrego desatino
Ao ver a noite que me chega triste.
26.10.1998 (Portal dos Sonhos, 2000)
Pg cccli
Pantum do passado
Como um rio, passaste em minha vida,
Um grande rio em época em enchente,
Que tudo vai levando de vencida,
Levando tudo o que acha pela frente.
Um grande rio em época de enchente
Por certo foi o nosso amor insano.
Levando tudo o que acha pela frente,
Em seu desejo imenso, soberano.
Por certo foi o nosso amor insano
Mas tanto nele eu, cego, acreditava
Em seu desejo imenso, soberano,
Que desse amor minha alma foi escrava.
Mas tanto nele eu, cego, acreditava,
Com em outros jamais, antes houvera.
Que desse amor minha alma foi escrava
Como as flores as são da primavera.
Pg ccclii
Como em outros jamais, antes houvera,
O meu desejo foi terrível, forte,
Com as flores as são da primavera,
O amor julguei muito maior que a morte.
O meu desejo foi terrível, forte,
Porém, fui sucumbindo no caminho.
O amor julguei muito maior que a morte,
Contudo a vida me deixou sozinho.
Porém, fui sucumbindo no caminho
E sem forças me vi no chão pregado.
Contudo a vida me deixou sozinho;
Deixou meu coração desesperado.
E sem forças me vi no chão pregado
Sequer um passo para dar à frente.
Deixou meu coração desesperado
Tua ausência que veio num repente.
Sequer um passo para dar à frente
Que tudo pareceu-me atroz, vazio.
Pg cccliii
Tua ausência que veio num repente,
Encheu meu coração igual a um rio.
Que tudo pareceu-me atroz, vazio,
E os sonhos fui levando de vencida.
Encheu meu coração igual a um rio
Que atravessou um dia a minha vida.
11.04.2007
Pg cccliv
Pantum da Saudade
Quantos poemas juntos não vivemos,
Numa alegria extremamente intensa.
Aos barcos éramos nós dois os remos,
Do futuro nós éramos a crença.
Numa alegria extremamente intensa
Tivemos juntos colossais momentos.
Do futuro nós éramos a crença,
E nossas preces eram sentimentos.
Tivemos juntos colossais momentos:
Inesquecíveis sonhos tão vividos.
E nossas preces eram sentimentos,
Nossos instantes todos tão floridos.
Inesquecíveis sonhos tão vividos
Na magia de amantes tão suprema.
Nossos instantes todos tão floridos,
Gerava do silêncio, áureo poema.
Pg ccclv
Na magia de amantes tão suprema,
Éramos dois plasmados num delírio.
Gerava do silêncio, áureo poema
Cada instante vivido em terno Empíreo!
Éramos dois plasmados num delírio,
Na ânsia louca de amar e ser amado.
Cada instante vivido em terno Empíreo
Dentro do coração trago gravado.
Na ânsia louca de amar e ser amado,
Esqueci-me de mim, de Deus, do Mundo.
Dentro do coração trago gravado
Instante a instante no viver profundo.
Esqueci-me de mim, de Deus, do Mundo...
Eras tu minha intensa claridade.
Instante a instante no viver profundo,
Em meu silêncio vivo de saudade.
Eras tu minha intensa claridade,
Hoje és delírio de sofrer constante,
Pg ccclvi
Em meu silêncio vivo de saudade,
Lembrando histórias de um viver amante.
Hoje és delírio de sofrer constante,
Barco afundado, destruídos remos! –
Lembrando histórias de um viver amante,
Quantos poemas juntos não vivemos.
03.08.2007
Pg ccclvii
Pantum da alegria festiva
Toda a alegria festivaSentida em meu coração
Faz minh’alma ser cativa
Ao som de etérea canção.
Sentida em meu coração
A alegria é mais sincera,
Ao som de etérea canção
Me visto de primavera.
A alegria é mais sincera
E ao fazer-me tanto bem
Me visto de primavera
Com as cores todas que tem.
E ao fazer-me tanto bem,
Meu coração fica amando
Com as cores todas que tem
Que no céu fica brilhando.
Pg ccclviii
Meu coração fica amando
Numa ternura sem fim:
Que no céu canta brilhando
Como um sol dentro de mim.
Numa ternura sem fim
A minh’alma solta um canto
Como um sol dentro de mim
Que traz calor, traz encanto.
A minh’alma solta um canto
Que quem ouve pede bis.
Que traz calor, traz encanto,
E faz o mundo feliz.
Que quem ouve pede bis
Ao ter su’alma cativa.
E faz o mundo feliz
Toda a alegria festiva.
28.05.1998
Pg ccclix
Pantum da lembrança
Meus amores ficaram na saudade:Todos passaram e eu fiquei sozinho.
E hoje, chorando ao céu, penso: quem há de
Colocar outro amor em meu caminho.
Todos passaram e eu fiquei sozinho
E eu olhei-os seguirem benfazejos.
Colocar outro amor em meu caminho
Desejo, mas que valem meus desejos?
E eu olhei-os seguirem benfazejos
A estrada da alegria e da ventura.
Desejo... mas que valem meus desejos
Se quem eu tanto amei deu-me amargura?
A estrada da alegria e da ventura
Outrora palmilhei cheio de planos.
Se quem eu tanto amei deu-me amargura,
Hoje minha certeza é só de enganos.
Pg ccclx
Outrora palmilhei cheio de planos
A avenida faustosa dos amores.
Hoje minha certeza é só de enganos:
A minha estrada não contém mais flores.
A avenida faustosa dos amores
Apontei para a minha idolatrada.
A minha estrada não contém mais flores
E ela não quis seguir-me nessa estrada.
Apontei para a minha idolatrada
O rumo certo da felicidade.
E ela não quis seguir-me nessa estrada:
Meus amores ficaram na saudade...
03.08.1989
Pg ccclxi
Pantum em redondilhas
Todos os sonhos que trago
Dentro de meu coração
São fantasias de um mago
Mudadas em ilusão
Dentro de meu coração
Trago sonhos e cantigas
Mudadas em ilusão
São cantos de aves amigas
Trago sonhos e cantigas
Pelos caminhos de luz.
São cantos de aves amigas
Cada som que me seduz.
Pelos caminhos de luz
Brilho ao sol das alvoradas
Cada som que me seduz
Põe no céu canções doiradas
Pg ccclxii
Brilho ao sol das alvoradas
E fico cheio de cor
Põe no céu canções doiradas
A minha rima de amor
E fico cheio de cor
Porque o amor me ilumina.
A minha rima de amor
Toda a minh'alma domina
Porque o amor me ilumina
Fico brilhante ao luar
Toda a minh'alma domina
Os cantos que sei cantar
Fico brilhante ao luar
Que lua cheia pareço!
Os cantos que sei cantar
São canções que bem conheço
Que lua cheia pareço,
Numa alegria sem sim.
Pg ccclxiii
São canções que bem conheço
Todo o amor que sinto em mim
Numa alegria sem fim
Eu me transformo num mago
Todo o amor que sinto em mim
Todos os sonhos que trago.
06.08.1999
Pg ccclxiv
Pantum do flerte
Quando te vejo andando pela rua
Eu sinto n’alma uma vontade imensa
De te abraçar sob o clarão da lua
Que, cigana, no céu vive suspensa...
Eu sinto n’alma uma vontade imensa
De te beijar, em mágica alegria,
(Que, cigana, no céu vive suspensa)
Faz que o sonho eu adie dia a dia.
De te beijar, em mágica alegria,
Deixa minh’alma num momento louca...
Faz que o sonho eu adie dia a dia
Pois o desejo morre em minha boca.
Deixa minh’alma num momento louca
Tua forma de mágica princesa,
Pois o desejo morre em minha boca
E dos meus sonhos tu não vives presa.
Pg ccclxv
Tua forma de mágica princesa
Colore os sonhos que em meu peito trago.
E dos meus sonhos tu não vives presa
Que não sou alquimista e nem sou mago.
Colore os sonhos que em meu peito trago
Apenas um sorriso nos teus lábios.
Que não sou alquimista e nem sou mago
E não consigo decifrar os sábios.
Apenas um sorriso nos teus lábios
Faz que eu fique feliz e se procuro
E não consigo decifrar os sábios,
Nem posso desvendar o meu futuro.
Faz que eu fique feliz e se procuro
Falar do amor que em êxtase me invade,
Nem posso desvendar o meu futuro
Nem o meu mundo de felicidade.
Falar do amor que em êxtase me invade,
Faria a minha vida ter encanto...
Pg ccclxvi
Nem o meu mundo de felicidade
Consegue ser a rima de meu canto.
Faria a minha vida ter encanto
Se tu, por um instante me quisesses.
Consegue ser a rima de meu canto
Teu nome que murmuro em minhas preces.
Se tu por um instante me quisesses,
O nosso amor fecundaria o mundo.
Teu nome que murmuro em minhas preces,
Assim eu sonho com ardor profundo.
O nosso amor fecundaria o mundo
E eu te amaria num clarão da lua.
Assim eu sonho com ardor profundo
Quando te vejo andando pela rua.
20.07.1994
Pg ccclxvii
Pantum dos sonhos
Esparjo meus poemas nas estradas
Para que possam rebentar em flores.
Na esperança de ver, apaixonadas,
As almas todas num florir de amores.
Para que possam rebentar em flores,
Lanço no chão, sementes dos meus sonhos.
As almas todas, num florir de amores,
Assim terão caminhos mais risonhos.
Lanço no chão, sementes dos meus sonhos,
Que irão por luz na rósea primavera.
Assim terão caminhos mais risonhos,
Quem sonhar uma vida mais sincera.
Que irão por luz na rósea primavera,
Para deixar meu mundo colorido.
Quem sonhar uma vida mais sincera,
Vai achar este mundo mais florido.
Pg ccclxviii
Para deixar meu mundo colorido,
Invento rimas que a alma em luz tece e
Vai achar este mundo mais florido
O coração que vê tão rara espécie.
Invento rimas que a alma em luz tece e
Fico feliz com rima tão brilhante.
O coração que vê tão rara espécie
Da própria vida passa a ser amante.
Fico feliz com rima tão brilhante
E faço uma canção terna e singela.
Da própria vida passa a ser amante
Ao por no verso rima assim tão bela.
E faço uma canção terna e singela
E te ofereço a ti, minha querida,
Ao por no verso rima assim tão bela,
Eu passo a ter maior amor à vida.
E te ofereço a ti, minha querida,
Cada verso que escrevo e em cada verso
Pg ccclxix
Eu passo a ter maior amor à vida,
Na cadência da lei deste Universo.
Cada verso que escrevo e em cada verso,
As nossas almas mais apaixonadas.
Na cadência da lei deste Universo,
Esparjo meus poemas nas estradas.
13.11.2000
Verificar que a rima ESPÉCIE e TECE E, é perfeita.
Apenas que Espécie é na contagem métrica uma
palavra paroxítona e Tece e deve ser oxítona,assim portanto o verso deve ser lido na métrica:
in/ vem/ to/ ri/mas/ que a al/ ma em/ luz/ te/ce e/
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Pg ccclxx
Pantum Terra sem males
Terra sem males – plena de justiça
Um dia irá viver a nossa terra.
Pois na bondade é que a ternura viça
E vai calar a voz que clama a guerra.
Um dia irá viver a nossa terra
No delírio da paz – que ainda hoje é sonho.
E vai calar a voz que clama a guerra
A esperança num vale amplo e risonho.
No delírio da paz – que ainda hoje é sonho,
A humanidade irá sonhar, um dia...
A esperança num vale amplo e risonho
Irá dar rimas para uma poesia.
A humanidade irá sonhar, um dia,
Uma terra sem males, de bonança.
Irá dar rimas para uma poesia
A palavra que chama-se – Esperança!
Pg ccclxxi
Uma terra sem males, de bonança,
Na plenitude santa, num sorriso...
A palavra que chama-se – Esperança
O Homem há de levar ao Paraíso!
Na plenitude santa, num sorriso,
Os corações irão viver alados.
O Homem há de levar ao Paraíso
Os seus sonhos de amor iluminados.
Os corações irão viver alados
Na carícia de um beijo mais sincero.
Os seus sonhos de amor iluminados,
Deste mundo ainda anseio, e em transe espero.
Na carícia de um beijo mais sincero
Farei soar esta canção em hinos.
Deste mundo ainda anseio, e em transe espero,
Ouvir a paz num repicar de sinos.
Farei soar esta canção em hinos
Quando a justiça rebrilhar nos campos,
Pg ccclxxii
Ouvir a paz num repicar de sinos
E iluminar o céu com pirilampos.
Quando a justiça rebrilhar nos campos
A nossa Terra não terá seus males.
E iluminar o céu com pirilampos,
Também vai por mais luz nos verdes vales.
A nossa Terra não terá seus males
Que há de calar a voz que a guerra inflama.
Também vai por mais luz nos verdes vales
É o que o Poeta no seu verso clama.
Que há de calar a voz que a guerra inflama
Pois na bondade é que a ternura viça.
É o que o Poeta no seu Verso clama:
Terra sem males – plena de Justiça!
24.05.2003
Pg ccclxxiii
Pantum da solidão
A tua ausência – mais que uma saudade,Mais que meu coração me fere a entranha.
Delírio sufocante de ansiedade
Que traz angústia e sensação estranha.
Mais que meu coração me fere a entranha
Tua presença que se torna ausente.
Que traz angústia e sensação estranha,
À boca um gosto amargo, contundente.
Tua presença que se torna ausente
Faz-me criar canções de dor e tédio.
À boca um gosto amargo, contundente,
É a solidão que tenho por remédio.
Faz-me criar canções de dor e tédio
Esta melancolia que me fere.
É a solidão que tenho por remédio,
Tangida por sofrido miserere.
Pg ccclxxiv
Esta melancolia que me fere
Lembra um terceto fúnebre de Dante.
Tangida por sofrido miserere,
A minha’alma soluça angustiante.
Lembra um terceto fúnebre de Dante
A hora fatal da tua despedida.
A minh’alma soluça angustiante
Desde a hora que acenaste na partida.
A hora fatal da tua despedida
– Pungente instante de fatal tortura! –
Desde a hora que acenaste na partida
Meu dia transformou-se em noite escura.
Pungente instante de fatal tortura
Feriu-me o coração como navalha.
Meu dia transformou-se em noite escura.
Meu céu azul nublou-se de limalha.
Feriu-me o coração como navalha:
– Tal cicatriz borbulha ainda a sangue.
Pg ccclxxv
Meu céu azul nublou-se de limalha
A estrada por seguir tornou-se exangue.
Tal cicatriz borbulha ainda a sangue
E a cada instante sinto que faleço.
A estrada por seguir tornou-se exangue,
Viver abandonado não mereço.
E a cada instante sinto que faleço
Não conseguindo retornar à vida.
Viver abandonado não mereço,
Porém, sozinho, é a estrada a ser seguida.
Não conseguindo retornar à vida,
Sinto que a solidão além me espera.
Porém, sozinho, é a estrada a ser seguida,
E sem ninguém tão triste é a primavera.
Sinto que a solidão além me espera
Hei de sozinho caminhar em luto.
E sem ninguém tão triste é a primavera:
A flor fenece e não madura um fruto.
Pg ccclxxvi
Hei de sozinho caminhar em luto
Mas é tão triste caminhar sozinho.
A flor fenece e não madura um fruto,
Por certo morrerei neste caminho.
Mas é tão triste caminhar sozinho,
Sinto aflição e sensação estranha.
Por certo morrerei neste caminho
Já que a tortura torna-se tamanha.
Sinto aflição e sensação estranha,
Delírio sufocante de ansiedade.
Já que a tortura torna-se tamanha
E a tua ausência – mais que uma saudade.
29.06.2004
Pg ccclxxvii
Pantum da noite
Ao vir da noite apaixonada e ledaEu ficarei á tua espera, amada,
E descerei contente na alameda
Para beijar as tuas mãos de fada.
Eu ficarei à tua espera, amada,
Desfiando um rosário de poesia
Para beijar as tuas mãos de fada
E beijar tua face tão macia.
Desfiando um rosário de poesia
Passarei horas, horas e mais horas...
E beijar tua face tão macia
Fará esquecer-me as noites e as auroras.
Passarei horas, horas e mais horas,
Somente a olhar o teu divino rosto.
Fará esquecer-me as noites e as auroras
O traço de teu rosto tão composto.
Pg ccclxxviii
Somente a olhar o teu divino rosto
Mais que mulher – eu julgo-te uma santa.
Aos traços de teu rosto tão composto,
Faço-te esta canção que até me espanta.
Mais que mulher – eu julgo-te uma santa
Vendo o teu corpo de macia seda.
Faço-te esta canção que até me espanta
Ao vir da noite apaixonada e leda.
1978 (Luzes da Aurora)
Pg ccclxxix
Pantum da emoção
Apareceste um dia em meu caminhoPedindo apenas um amor ardente,
E eu que há tempos não dava meu carinho
Dei-o a ti numa emoção fremente.
Pedindo apenas um amor ardente
Tu nada mais em troca me pediste.
Doei a ti numa emoção fremente
Toda a paixão que ainda em meu peito existe.
Tu nada mais em troca me pediste
E meu amor cresceu apaixonado.
Toda a paixão que ainda em meu peito existe
É maior do que o céu, anjo adorado.
E meu amor cresceu apaixonado
E passei a viver por ti somente.
É maior do que o céu, anjo adorado,
Este amor que me faz da vida um crente.
Pg ccclxxx
E passei a viver por ti somente
E a tristeza em minh’alma, foi-se embora.
Este amor que me faz da vida um crente
Faz que eu cante baladas desde a aurora.
E a tristeza em minh’alma, foi-se embora
E esta felicidade delirante
Faz que eu cante baladas desde a aurora
Até a noite, minha doce amante.
E esta felicidade delirante
Explode num poema de mil beijos;
Até a noite, minha doce amante,
Sinto em mim sensações desses desejos.
Explode num poema de mil beijos
Os meus olhos olhando nos teus olhos.
Sinto em mim sensações desses desejos
E da vida eu esqueço o mar de abrolhos.
Os meus olhos olhando nos teus olhos...
Não pode haver maior felicidade,
Pg ccclxxxi
E da vida eu esqueço o mar de abrolhos
No exato instante que a paixão me invade.
Não pode haver maior felicidade
Que os nossos corações na paz imensa.
No exato instante que a paixão me invade,
Mais que o amor – tu és a eterna crença!
Que os nossos corações na paz imensa
Mostrem ao mundo o amor feito carinho.
Mais que o amor – tu és a eterna crença
Que apareceu um dia em meu caminho.
16.06.1977
Pg ccclxxxii
Pantum do silêncio
Quero, ao silêncio d'alta madrugada,
Contemplando o teu corpo enlanguescido,
Soltar meu verso em forma de balada
Após, do amor, batalhas ter vivido.
Contemplando o teu corpo enlanguescido
Na paz sonhada, na paixão imensa,
Após, do amor, batalhas ter vivido,
Soltar espasmos de ternura e crença.
Na paz sonhada, na paixão imensa,
Entorpecido, pelo ardor do vinho,
Soltar espasmos de ternura e crença
Ao te embalar em cantos de carinho.
Entorpecido, pelo ardor do vinho
Teu corpo lembra um copo de licores
Ao te embalar em cantos de carinho
Quero, em cantigas, te falar de amores.
Pg ccclxxxiii
Teu corpo lembra um copo de licores
Porém, agora, um copo de silêncio.
Quero, em cantigas te falar de amores,
Que meu amor, jamais o tempo vence-o.
Porém, agora, um copo de silêncio
Lembra teu corpo abandonado ao leito;
Que meu amor, jamais o tempo vence-o
Pois meu amor, querida, ele é perfeito.
Lembra teu corpo abandonado ao leito
Pétalas rubras de um amor encanto,
Pois meu amor, querida, ele é perfeito
Como as rimas perfeitas deste canto.
Pétalas rubras de um amor encanto
Parecem os meus versos de balada.
Como as rimas perfeitas deste canto
Vejo teu corpo nesta madrugada.
16.09.1999
Pg ccclxxxiv
Pantum das rimas encadeadas
Sonho que trago dentro da minh’alma
Tanto me acalma quanto me angustia.
É um sonho de viver na paz que ensalma,
Tendo por palma – o encanto da poesia.
Tanto me acalma quanto me angustia
A noite fria com seu longo enredo.
Tendo por palma – o encanto da poesia
É fantasia que me causa medo.
A noite fria com seu longo enredo
Busco em segredo, mas caminho incerto.
É fantasia que me causa medo
E fico azedo frente a tal deserto.
Busco em segredo, mas caminho incerto,
É longe ou perto o que procuro em ânsia?
E fico azedo frente a tal deserto,
Pg ccclxxxv
Que por decerto só contém distância.
É longe ou perto o que procuro em ânsia,
Ou é a inconstância que me fere o passo
Que por decerto só contém distância,
Fria fragrância para um sonho lasso.
Ou é inconstância que me fere o passo
E pelo espaço o sonho vou buscando?
Fria fragrância para um sonho lasso,
Me prende a um laço sem ter onde ou quando.
E pelo espaço o sonho vou buscando,
Vivo sonhando por ansiá-lo tanto.
Me prende a um laço sem ter onde ou quando,
E vivo errando nesse desencanto.
Vivo sonhando por ansiá-lo tanto
Existe um canto para eu encontrá-lo?
E vivo errando nesse desencanto,
Imerso em pranto não consigo achá-lo.
Existe um canto para eu encontrá-lo
Pg ccclxxxvi
Triste intervalo em triste desafago.
Imerso em pranto não consigo achá-lo
Pois me resvalo sem poder ser mago.
Triste intervalo em triste desafago,
Somente um mago a minha dor acalma.
Pois me resvalo sem poder ser mago,
E o sonho trago dentro da minh’alma.
26.08.2004
Pg ccclxxxvii
Pantum da sombra
Tua presença outrora tão constante,
Se reduziu a tenebrosa sombra.
Agora tua ausência anavalhante
Como fantasma minha vida assombra.
Se reduziu a tenebrosa sombra
Toda a densa loucura tão sonhada.
Como fantasma minha vida assombra
Tua ausência na minha madrugada.
Toda a densa loucura tão sonhada
Foi solapada pelo vento em fúria.
Tua ausência na minha madrugada
Põe no meu coração o fel da injúria.
Foi solapada pelo vento em fúria
Tuas verdades cheias de mentira.
Põe no meu coração o fel da injúria
Quando em ti penso com pavor, com ira.
Pg ccclxxxviii
Tuas verdades cheias de mentira
Dentro do peito me calou mais forte.
Quando em ti penso com pavor, com ira,
Desesperado penso até na morte.
Dentro do peito me calou mais forte
Todos os sonhos tão sonhados juntos.
Desesperado penso até na morte
Vendo os sonhos de amor como defuntos.
Todos os sonhos tão sonhados juntos
E agora a tua ausência anavalhante.
Vendo os sonhos de amor como defuntos
Tua presença outrora tão constante.
03.07.2007
Pg ccclxxxix
Pantum da saudade peregrina
A saudade é um cometa peregrino
E vive a navegar na órbita imensa.
Caminha pelo espaço sem destino
Surgindo, às vezes, em fugaz presença.
E vive a navegar na órbita imensa
Trazendo sonhos de um viver distante.
Surgindo, às vezes, em fugaz presença,
Eu me recordo de uma ardente amante.
Trazendo sonhos de um viver distante
Acende o fogo de um delírio insano.
Eu me recordo de uma ardente amante
Que me fez juras de um cruel engano.
Acende o fogo de um delírio insano
Que me deu vida e após, me trouxe a morte;
Que me fez juras de um cruel engano,
Selando meu viver em negra sorte.
Pg cccxc
Que me deu vida e após, me trouxe a morte
Deixando o meu cenário todo preto.
Selando meu viver em negra sorte,
Na vida foi faltal este amuleto.
Deixando o meu cenário todo preto,
Meu coração se pôs em denso luto.
Na vida foi fatal este amuleto,
Por isso, agora, contra sombras, luto.
Meu coração se pôs em denso luto
No desespero de uma atrocidade.
Por isso, agora, contra sombras, luto,
Para matar as flores da saudade.
No desespero de uma atrocidade,
Sinto que para o amor estou gelado.
Para matar as flores da saudade,
Tirei do peito, o coração magoado.
Sinto que para o amor estou gelado,
Porque nas sombras, a minh’alma esgueira.
Pg cccxci
Tirei do peito, o coração magoado,
Aquecendo-o nas brasas da fogueira.
Porque nas sombras, a minh’alma esgueira,
Eu sinto o coração pulsar agora.
Aquecendo-o nas brasas da fogueira,
Vislumbro a vida numa nova aurora.
Eu sinto o coração pulsar agora,
Qual astro tutelar em céu aberto.
Vislumbro a vida numa nova aurora,
Bem distante das noites de deserto.
Qual astro tutelar em céu aberto
Caminho pela vida sem destino.
Bem distante das noites de deserto,
A saudade é um cometa peregrino.
28.03.2008
Pg cccxcii
Pantum daquele tempo
Aquele tempo que passamos juntos,
Floriu de manacás os nossos sonhos.
Beijos dados cortavam os assuntos,
De mãos dadas passeávamos risonhos.
Floriu de manacás os nossos sonhos
E rimos ao sabor de ardentes beijos.
De mãos dadas passeávamos risonhos
Trocando juras cheias de desejos.
E rimos ao sabor de ardentes beijos,
E foi total e pura a nossa entrega.
Trocando juras cheias de desejos,
Ao mundo a vista se tornava cega.
E foi total e pura a nossa entrega,
Magia doce em todos os momentos.
Ao mundo a vista se tornava cega,
Surdos ouvidos para a voz dos mundos.
Pg cccxciii
Magia doce em todos os momentos.
Ternura, afeto, alvorecer de lírios.
Surdos ouvidos para a voz dos ventos,
– Éramos só nós dois entre delírios.
Ternura, afeto, alvorecer de lírios,
E o campo era um jardim de flores cheio.
– Éramos só nós dois entre delírios,
Corpos flutuando em leve devaneio.
E o campo era um jardim de flores cheio
Em meio às flores eu te confundia.
Corpos flutuando em leve devaneio,
Magia, mansidão, brisa e poesia.
Em meios às flores eu te confundia,
E eu te afagava as pétalas, formosa.
Magia, mansidão, brisa e poesia,
Pois eras para mim – única rosa.
E eu te afagava as pétalas, formosa,
E teu sorriso cúmplice – era encanto.
Pg cccxciv
Pois eras para mim – única rosa,
Rima perfeita para um novo canto.
E teu sorriso cúmplice – era encanto,
Enquanto a noite desfolhava em astros.
Rima perfeita para um novo canto,
Os teus cabelos soltos e desnastros.
Enquanto a noite desfolhava em astros,
A relva agasalhou teu doce sono.
Os teus cabelos soltos e desnastros,
Cobriram os teus seios no abandono.
A relva agasalhou teu doce sono
E eu te compus, num ímpeto, estes versos.
Cobriram os teus seios no abandono,
As rimas e meus sonhos tão dispersos.
E eu te compus num ímpeto estes versos
Lembrando-me a sorrir de mil assuntos.
As rimas e meus sonhos tão diversos
E aquele tempo que passamos juntos.
Pg cccxcv
Pantum da vida
A vida passa de maneira intensa
Dentro de um sonho fulgurante e puro.
Agradecer a vida numa crença
Deixa floridos dias do futuro.
Dentro de um sonho fulgurante e puro
Eu vivo os dias de prazeres cheio.
Deixa floridos dias do futuro,
E ao coração traz paz e doce enleio.
Eu vivo os dias de prazeres cheio
Plantando rosas e colhendo estrelas.
E ao coração traz paz e doce enleio
Às esperanças, quando posso vê-las.
Plantando rosas e colhendo estrelas
Eu vou rimando os versos dos poemas.
As esperanças, quando posso vê-las,
Transformam-se em fantásticos diademas.
Pg cccxcvi
Eu vou rimando os versos dos poemas
Com o coração broslado de esperança.
Transformam-se em fantásticos diademas
Meus sonhos em sorrisos de crianças.
Com o coração broslado de esperança
De joelhos teço a Deus a minha prece.
Meus sonhos em sorrisos de crianças
A cada dia uma alegria tece.
De joelhos teço a Deus a minha prece
Agradecendo tudo o quanto tenho.
A cada dia uma alegria tece
Meu coração nesse sublime engenho.
Agradecendo tudo o quanto tenho,
Sei que possuo mais do que preciso.
Meu coração nesse sublime engenho
Faz um canto com as notas de um sorriso.
Sei que possuo mais do que preciso
Por isso bem reparto o que me sobra.
Pg cccxcvii
Faz um canto com as notas de um sorriso
A flauta que me minh’alma um canto dobra.
Por isso bem reparto o que me sobra
E assim vivendo sonho em paz comigo.
A flauta que em minh’alma um canto dobra,
Faz que eu conquiste sempre um novo amigo.
E assim vivendo sonho em paz comigo
Para ser mais feliz em meu futuro.
Faz que eu conquiste sempre um novo amigo
Dentro de um sonho fulgurante e puro.
Para ser mais feliz em meu futuro
Reafirmo a vida numa nova crença.
Dentro de um sonho fulgurante e puro,
A vida passa de maneira intensa.
09.04.2008
Pg cccxcviii
Pantum da esperança
Uma ilusão, uma ilusão apenas,Faz que seja feliz a nossa vida.
As esperanças esverdeadas, plenas,
Florescem junto à estrada a ser seguida.
Faz que seja feliz a nossa vida
Um sorriso sincero, amigo, aberto.
Florescem junto à estrada a ser seguida
As ânsias de vencer qualquer deserto.
Um sorriso sincero, amigo, aberto,
Aos nossos sonhos vale mais que tudo.
Às ânsias de vencer qualquer deserto,
Um sorriso de amor é nosso escudo.
Aos nossos sonhos vale mais que tudo
O braço amigo, o gesto de confiança.
Um sorriso de amor é nosso escudo
Junto à Fraternidade – uma esperança!
Pg cccxcix
O braço amigo, o gesto de confiança,
E a caminhada vai ficar mais forte.
Junto à Fraternidade – uma esperança
E a incerta vida vence a certa morte.
E a caminhada vai ficar mais forte.
Se os corações tem elos de amizade.
E a incerta vida vence a certa morte,
E a mentira é esmagada na verdade.
Se os corações têm elos de amizade,
A vida explode sorridente, bela,
E a mentira é esmagada na verdade,
Quando o amor em noss’alma é sentinela.
A vida explode sorridente, bela,
E a esperança se torna mais festiva.
Quando o amor em noss’alma é sentinela.
A força de vencer se faz mais viva.
E a esperança se torna mais festiva
Mais aberto se faz nosso sorriso.
Pg cd
A força de vencer se faz mais viva
Dentro do peito o amor se faz preciso.
Mais aberto se faz nosso sorriso,
Na chama que jamais se faz extinta.
Dentro do peito o amor se faz preciso
Basta apenas que n’alma a gente o sinta.
Na chama que jamais se faz extinta,
Que as nossas ilusões se façam plenas.
Basta apenas que n’alma a gente sinta
Uma ilusão, uma ilusão apenas...
02.09.2008
Pg cdi
Pantum da vida em poesia
Toda a Poesia trago dentro d’alma
Encarcerada dentro de áureo cofre.
Por isso sinto paz e imensa calma,
Quando, inspirado, crio nova estrofe.
Encarcerada dentro de áureo cofre,
Estão minhas vontades e desejos.
Quando, inspirado, crio nova estrofe,
As rimas cubro com sinceros beijos.
Estão minhas vontades e desejos,
Os versos todos que já fiz no mundo.
As rimas cubro com sinceros beijos,
Dos poemas mais puros, eu me inundo.
Os versos todos que já fiz no mundo,
Da minha vida narram toda a história.
Dos poemas mais puros, eu me inundo,
Contando toda a minha trajetória.
Pg cdii
Da minha vida narram toda a história
Os Sonetos, os Pantuns, as Baladas.
Contando toda a minha trajetória,
Em páginas floridas e encantadas.
Os Sonetos, os Pantuns, as Baladas,
Com decassílabos e alexandrinos,
Em páginas floridas e encantadas,
Bimbalham como brônzeos, firmes sinos.
Com decassílabos e alexandrinos,
Fui fiel à Ilusão de ser Poeta.
Bimbalham como brônzeos, firmes sinos,
Os meus sonhos que são a minha meta.
Fui feliz à Ilusão de ser Poeta,
E as Musas mais fiéis tive comigo,
Os meus sonhos que são a minha meta,
Ao coração são um suave abrigo.
E as Musas mais fiéis tive comigo,
De tal jornada fiz um relicário.
Pg cdiii
Ao coração são um suave abrigo,
Não me deixando nunca, solitário.
De tal jornada fiz um relicário
Para, florida, se tornar a estrada.
Não me deixando nunca solitário,
E minh’alma, jamais, abandonada.
Para florida se tornar a estrada,
Sempre feliz, jamais perco meu rumo.
E minh’alma, feliz, livre e encantada,
Jamais negrejará com o denso fumo.
Sempre feliz, jamais perco meu rumo,
Que a Esperança em meu peito é doce e é calma.
Jamais negrejará com o denso fumo,
A Poesia que trago dentro d’alma.
08.09.2008
Pg cdiv
Pantum
Quero, ao silêncio d'alta madrugada,
Contemplando o teu corpo enlanguescido,
Soltar meu verso em forma de balada
Após, do amor, batalhas ter vivido.
Contemplando o teu corpo enlanguescido
Na paz sonhada, na paixão imensa,
Após, do amor, batalhas ter vivido,
Soltar espasmos de ternura e crença.
Na paz sonhada, na paixão imensa,
Entorpecido, pelo ardor do vinho,
Soltar espasmos de ternura e crença
Ao te embalar nos cantos de carinho.
Entorpecido, pelo ardor do vinho
Teu corpo lembra um copo de licores
Ao te embalar nos cantos de carinho
Quero, em cantigas, te falar de amores.
Pg cdv
Teu corpo lembra um copo de licores
Porém, agora, um copo de silêncio.
Quero, em cantigas te falar de amores,
Que meu amor, jamais o tempo vence-o.
Porém, agora, um copo de silêncio
Lembra teu corpo abandonado ao leito;
Que meu amor, jamais o tempo vence-o
Pois meu amor, querida, ele é perfeito.
Lembra teu corpo abandonado ao leito
Pétalas rubras de um amor encanto,
Pois meu amor, querida, ele é perfeito
Como as rimas perfeitas de áureo canto.
Pétalas rubras de um amor encanto
Parecem os meus versos de balada.
Como as rimas perfeitas de áureo canto
Vejo teu corpo nesta madrugada.
16.09.99
Pg cdvi
Pantum silencioso
Às vezes o silêncio me atordoa.
Quero gritar com a voz do pensamento,
Porém, no espaço um surdo som ressoa,
E nem faz eco junto ao sentimento.
Quero gritar com a voz do pensamento
Mas nada falo e penso, penso, penso.
E nem faz eco junto ao sentimento
Tudo o que penso com desejo imenso.
Mas nada falo e penso, penso, penso,
A um labirinto minha angústia prendo.
Tudo o que penso com desejo imenso
E deixa o coração feroz, fervendo.
A um labirinto minha angústia prendo
Sentindo que atra fúria me arrebata.
E deixa o coração feroz, fervendo,
Parecendo um leão que em garras mata.
Pg cdvii
Sentindo que atra fúria me arrebata,
Meus versos duros para o chão derramo,
Parecendo um leão que em garras mata,
O teu amor em pensamento chamo.
Meus versos duros para o chão derramo
Mas meu amor no céu é o que ora soa.
Se teu amor em pensamentos chamo,
Às vezes o silêncio me atordoa.
13.06.2004
Pg cdviii
Terza Rima
Terza Rima
Caminhos, e caminhos, e caminhos...
Qual estrada seguir que vejo à frente
Se como eu tantos outros vão sozinhos?
Procuro um rumo azul e diferente,
Uma felicidade fugidia
Para um dia, do amor, eu ser um crente.
Mas sinto dentro d’alma uma agonia,
Um medo insano, uma vontade louca,
Uma estranha acidez que me crucia.
Gosto de fel mastigo em minha boca,
E parece que é angústia o que mastigo.
Tento falar e, a voz é surda e rouca.
O martírio em meu peito fez abrigo.
E parece inquilino aposentado
E com manias quer brincar comigo.
Pg cdix
Não consigo entender-me nesse estado:
Para a felicidade tenho tudo
Mas na verdade sou desesperado.
Por causa disso continuo mudo.
14.03.2003
Pg cdx
Poema figurativo
CONTEMPLO
NO TEMPLO
I M A G E M
TÃO SANTA!
POR NÓS MORRESTE NESTA CRUZ – QUE É SANTA,
TU QUE NO MUNDO FOSTE O REI DOS REIS
MAS O HOMEM ESQUECEU OS TEUS SOFRERES
E DO AMOR ESQUECEU A TUAS SANTAS LEIS.
OH! CRISTO
ASSISTO
A TUA
AGONIA.
CONTIGO
MARIA
LAMENTA
E SOFRE
E CHORA
SEU PRANTO
AMARGO
Pg cdxi
QU'A TERRA
DEVORA.
TUDO É TRISTEZA
O MUNDO SÓ PENSA EM GUERRA,
A HUMANIDADE AINDA NÃO ACREDITA
QUE TU MORRESTE PARA NOS SALVAR,
NÃO ACREDITA QUE TU FOSTE O VERBO
QUE NESTE MUNDO VEIO SE MOSTRAR!
28.08.1975
Pg cdxii
Haicais
Haicai
(Esmeraldino)
Das paixões primeiras
Um grito ecoa o infinito:
Palmeiras! Palmeiras!
28.03.2007
Haicai
(da atualidade)
A vida é de graça,
Mas no fogão da ilusão
O almoço é cachaça.
09.09.2004
Pg cdxiii
Haicai
(Prostituição)
Quem chegar primeiro
Há de ter mercadoria
De segunda mão.
17.11.1968
Haicai
(Comando)
Ele diz para
Mim: dispara!
Depois diz:– para!
13.09.1993
Pg cdxiv
Haicai
A dor é solidária
Se a alma a sente fica sempre
Solitária.
23.08.1998
Haicai
Após o desencarne
Serei somente
Semente de carne.
2001
Pg cdxv
Monossilabismo
Soneto Dodecamonossilábico
Vem-se com ar de miss, com ar de miss tu vens
E um céu de luz me dás e vais a rir, sem ver
Que já não sei sem ti ter paz, nem ter os bens
Que a luz do céu me traz e já não sei mais crer...
Vem e vais, vens e vais... e eu com a dor e a ter
A voz de quem é só, e eu vou ver que não tens
O dom da fé, o dom da paz, nem és o ser
Que vi e quis e fui ao léu com os meus bens.
Vais a rir e no chão o pó de giz me dá
O fel da dor e vou sem ti e só, na dor
Que diz que fui, não sou, e, ai, dor, oh! Deus, nãohá
Mais a luz, mais o sol, mas a paz, mais o céu...
Vais e não vens... o fel me traz a mim a cor
A qual diz que sou só e da dor eu sou réu!
Pg cdxvi
Soneto Decamonossilábico
Se o céu me traz o dom de ter a fé
E a paz é luz de Deus, ah, eu bem sei
Que mais que a fé de Deus eu sou um rei
Que crê num Deus de luz, num Deus em pé.
E eu sou o grão de sal, sou o grão que é
Bom e a ser um só grão de Deus, sou lei
Que diz do mel, do fel e o que já dei
Ao sol, à luz, à paz e ao dom da fé.
E eu sou o que mais quer e o que mais crê!
Vou ver e vou a ver e a ver o que
Se o que diz o que quer, traz, pois, aos seus,
O que viu e não viu e não quis ver,
O que foi e não foi e ao ser sem ser
Viu a paz e não viu o dom de Deus.
23.07.1994
Pg cdxvii
Trovas
Trova
(Da Infância)
Menino passarinheiro,
– Caçar era a minha lei.
Hoje vivo prisioneiro
Das arapucas que armei.
28.12.2007
Trova
(Da Imaginação)
Pensas que sou Jesus Cristo,
Queres que eu faça milagre...
Mas não consigo... e eu insisto,
Transformar vinho em vinagre...
23.11.1988
Pg cdxviii
Trova
(Da Imprudência)
Veja só, quanta imprudência,
– Que terrível pesadelo! –
Casou por correspondência,
E a noiva veio sem selo!
24.06.1986
Trova
(Da Fé)
O lampião mesmo inclinado
Mantém sua chama em pé.
Mesmo sendo derrotado,
Nunca perca a sua fé.
04.04.2008
Pg cdxix
Trova
(De Pescador)
Passei a tarde na areia
Na praia rubra de sol.
Foi quando linda sereia
Enroscou-se em meu anzol.
16.04.2008
Trova
(Fórmula Prática)
Para a Poesia ser pura
Uma fórmula bem prática:
Estudar Literatura,
Gramática e Matemática!
16.04.2008
Pg cdxx
Trova
(Do Vendaval)
Difícil ganhar dinheiro!
O esforço é atroz e violento.
Mas num sonho aventureiro,
Ele se esvai como o vento.
18.04.2008
Pg cdxxi
Quadras
Quadra
(Do amor)
Amar – sentir a alegria
Dominar o coração.
E ver no palco do dia
O mundo feito canção.
10.03.1978
Quadra
(Do sonho encantador)
Pode haver sonho mais lindo,
Sonho mais encantador
Do que teus lábios sorrindo
Após um beijo de amor?
10.03.1978
Pg cdxxii
Adivinha
Meu teto serve de pisoMeu piso serve de teto
Meu nome não é difícil
Mas vai escrito incorreto!
23.10.1985
Resposta: EDIFÍCIO
Pg cdxxiii
Elucidário
ADIVINHA – Também chamada adivinhação é umaespécie popular de Enigma, geralmenteversificado, enunciado com um prólogointerrogativo, como “O que é o que é?” ou “quemserá, que será?” Vale apenas como curiosidadepoética.
BALADA – Há uma popular, ESTÍQUICA, espéciede lenda ou narração versificada (ROMANCE), euma cortês, de FORMA FIXA, hoje estabelecidacom três ESTROFES e um envio, ou oferta oudedicatória, TENDO AS PRIMEIRAS TANTOSversos QUANTAS FOREM as sílabas de cada versoe o Envio a metade desse número. Tanto asEstrofes quanto o Envio, a Dedicatória ou aOferta, repetem, no fim, o mesmo VERSO. Oesquema uníssono das rimas varia conforme aextensão estrófica, podendo ser: ABABABAB, ouABABBABA, ABABBCBC, ABABCDCD para estrofesde 8 versos e 8 sílabas são os esquemas mais
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utilizados. Na atualidade alguns poetas tecemsuas Baladas usando outra variação tanto nasRimas como nos Versos. Mas aí as baladas já nãopodem ser chamadas Francesas. Também podemser compostas em estrofes de 10 versos, mas aíos versos devem ser decassílabos e o esquemade rima mais usado, é o que se utiliza para asDécimas: ABBAACCDDC, mas também podem teroutras variações. Porém a estrofe final, do Envio,deve nesse caso, ter cinco versos usando asrimas CCDDC para a mesma. Mas inda existem asBaladas com outros metros.
BEIRA-MAR – esse não é de fato, um poema deForma Fixa. Aqui deixo tal exemplo apenas pelasua forma, pois é uma variante endecassilábicado MARTELO popular brasileiro, constando deDécimas de versos compridos (VERSOS DE ARTEMAIOR, onze sílabas) RIMANDO PELO ESQUEMAabbaaccddc,eventualmente admitindo que oprimeiro, o sexto e o décimo sejamHEPTASSÍLABOS, (versos de 7 sílabas, ouredondilha maior).
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CANTO REAL – Composição poética de FORMAFIXA, certamente oriunda da Balada, o chantroyal francês consta de cinco Estrofes e um Envio(às vezes apresentado como Oferta), tendo cadaEstrofe normalmente onze versos, cinco ou seis oEnvio; as Estrofes são ÚNÍSSONAS, isto é, rimamtodas segundo o mesmo esquema, parcialmenterepetido no Envio, feito de acordo com a partefinal delas. Tanto nas Estrofes como no Envio, oúltimo Verso é sempre o mesmo, a exemplo doque sucede na Balada.
DEZ-DE-QUEIXO-CAÍDO – tipo de poema emForma Fixa, usado pelos cantadores do Nordestebrasileiro. Deve ser cantado em Décimas emRedondilha Maior, no esquema rimárioabbaaccdde, e deve, obrigatoriamente, terminarsempre com o refrão: Nos dez-de-queixo-caído.
EPITÁFIO – espécie de Poesia tumular, para sercolocada em lápide, de apenas uma estrofe, ouainda de forma satírica, feita sobre um vivo comose se tratasse de um morto.
ESPINELA – É um poema monostrófico de FormaFixa, apresentando dez Versos de sete sílabas, ecuja criação se atribui a Vicente Espinel, que lhe
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deu o nome; as RIMAS fazem-se conforme oesquema abbaaccddc. Também se dá à ESPINELAa simples denominação de Décima.
GAZAL – tipo de poema Estíquico, do OrienteMédio, composto de quatro a quatorze versosligados por rima, sendo que no primeiro rimam osHemistíquios. O assunto deve ser sempre idílico,tranquilo, pelo que se distingue da Casida.Goethe, entre outros, chamou o Gazal à Poesiaeuropéia, depois de consagrado o gênero pelopoeta persa Hafiz, que viveu no século XV. OsVersos também podem ser dobrados.
GLOSA – Os cantadores brasileiros fazem a Glosasempre em décimas, cujo verso final repete omote, havendo tantas Décimas quantos forem aslinhas do Mote. A Glosa erudita, que se supõeuma variante do Vilancico ou Vilancete,distingue-se pelo fato de que o Mote repetidopassa a fazer parte integrante da Estrofeprincipal.
HAICAI – Tipo de poema japonês (hokku) deForma Fixa formado por 17 sílabas distribuídasem três Versos (5 – 7 – 5) sem Rima, como toda apoesia nipônica. Em princípio o Haicai deve
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sugerir uma das estações do ano, e o gênero foiimortalizado pelo grande poeta Matsuo Bachô, nasegunda metade do século XVII. No Brasil.,Guilherme de Almeida houve por bem fazerrimarem os Versos primeiro e terceiro,introduzindo também uma rima Leonina nosegundo verso, nas sílabas 2a. e 7a.
MARTELO – Pedro Jaime Martelo, professor deliteratura na Universidade de Bolonha, diplomatae político, (1665-1727), inventou os versosmartelianos ou MARTELOS, de doze SÍLABAS comrimas emparelhas; esse tipo de alexandrino nuncase adaptou na literatura tradicional brasileira,mas o nome ficou, origem erudita visível em sualigação clássica com os letrados portugueses noprimeiro quartel do século XVIII... Cantar oMARTELO, improvisá-lo ou declamá-lo,respondendo ao adversário no embate doDESAFIO, é o título mais ambicionado pelosCantadores, explica Luis da Câmara Cascudo. Amanutenção do nome é mais bem explicada por F.Coutinho Filho, em Violas e Repentes, justificandoo MARTELO porque “são gêneros cantadosvelozmente, de um só fôlego, numa verdadeira
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torrente de rimas, num martelar sem pausa”.Além do Martelo de Seis Pés ou GALOPE, existemvariações sob as formas de Gabinete ou MarteloAgalopado, e mais o Beira-Mar; a variante dequatro pés, correspondente à Quadradecassilábica, perdeu a popularidade. Aacentuação do MARTELO faz-se de preferêncianas SÍLABAS terceira, sexta e décima, depreferência em estrofes de dez versos (DÉCIMA),no esquema rimário ABBAACCDCD.
MONOSSILABISMO – tipo de poema estróficoregular, de preferência o soneto, compostointeiramente com palavras monossilábicas. Éinvenção do autor, que ao criar, solicitou quediversos amigos-poetas o fizessem e o desafio foiaceito por Carla Ceres, Maria Cecília MachadoBonachella, André Bueno Oliveira, Carlos MoraesJúnior. Os exemplos aqui contidos, são doisSonetos um em decassílabos o outro em versosalexandrinos.
MOTETO – tipo de poema de uma só ESTROFE,para acompanhamento musical, admitindo formasvárias, entre as quais entretanto se mencionam,como mais frequentes, o motet parfait e os motes
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imparfait, esse diferindo apenas por contar umVerso menos que o outro, o qual se compunha desete Versos, dos quis o penúltimo seriaobrigatoriamente Quebrado, com Rimas segundoo esquema ABABBBA e a métrica decassílaba emtodos os Versos, excetuando-se o penúltimo, quedeve ser quadrissílabo, ou seja, de 4 versos.
PANTUM – tipo de poema Estrófico oriundo daMalásia e introduzido na literatura francesa porVictor Hugo: compõe-se de uma série dequartetos em que o segundo e o quarto versos deum vão se repetir como primeiro e terceiro daestrofe seguinte, até o último que termina comoverso inicial do poema.
POEMA FIGURATIVO – é o CARMEN FIGURATUMdos latinos, o tchnopaignion dos gregos, ou oCALIGRAMA do francês Guillaume Apollinaire,composição poética em que a disposição gráficado texto acompanha a forma do objeto a que serefere, seja um ovo, uma asa, um balão, ou o quefor.
QUADRA – também denominada quadrinha ouTROVA, é o QUARTETO de ARTEMENOR,
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autônomo, desligado de qualquer compromissoestrófico, composto quase sempre deHEPTASSÍLABOS em que a RIMA só é obrigatóriano segundo e no quarto Verso, podendo existir ounão entre os de ordem ímpar. Os Cantadoresbrasileiros davam-lhe o nome de quatro pés, massegundo o depoimento de Coutinho Filho, já delonga data a deixaram em segundo plano, com ahegemonia da Sextilha e do Martelo. Conferir coma Trova.
RONDEL – pequeno RONDÓ, mais conhecido comoTRIOLÉ.
RONDÓ – Nome aportuguesado do rondeaufrancês, que já em fins do século XVIII dispunhade uma forma fica também denominada rondeausangle ou rondel rondelant, depois firmada comoTriolé. Por outro lado, coexistiam várias outrasformas, entre as quais destacam-se a do RONDÓSIMPLES (14 versos) distribuídos em doisQuartetos e um Sexteto, repetindo sempre os doisVersos finais, segundo o esquema rimário ABABabAB ababAB e o Rondó Duplo (uma Estrofe decinco versos e uma de três e outra de cinco,acrescentando-se à segunda e à terceira, à guisa
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de Quebrado, o Hemistíquio inicial dacomposição, segundo o esqueçaaabba/aabq/aabbaq, além de um novo tipo,inexatamente chamado de Rondo Redobrado, queseria talvez um rondó quádruplo, formado dequatro Estrofes de cinco versos e três de três,todas com quebrado, exceto a primeira, segundoesquema aabba/ aabq/ aabbaq/ aabq/ aabbaq/aabq/ aabbaq. Sempre construído sobre duasRimas apenas, o Rondó, como explica G.Raynaud, “tem esse nome, não por repetir orefrão e fechar o círculo, mas porqueprimitivamente, era uma canção destinada aoacompanhamento de uma dança chamada”ronde”;daí a grande variedade de formas líricas que seacomodam sob esse título.
RITORNELO – Espécie de Rima de base ou baserítmica, que se cria pela repetição, mais oumenos regular, de certo Verso, com efeito deBordão (no fim) ou de Antecanto (no início devárias estrofes, ou ainda no corpo da mesmaEstrofe).
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SEXTINA – é um poema de FORMA FIXA cujainvenção se atribui ao provençal Arnaut Daniel eque consta de seis Estrofes de seis Versos cada,além de um REMATE de três; as Rimas pretendemfazer-se pela simples repetição das mesmaspalavras no fim dos Versos de todas as Estrofes,e, terminar, nos Hemistíquios do Remate.Também deve repetir-se no primeiro verso decada Estrofe a terminação do último da anterior,sempre que possível.
TERZA RIMA – tipo de poema Estrófico usado porDante na Divina Comédia e constituído por umasérie de tercetos cujos versos primeiro e terceirorimam entre si e com o segundo da Estrofeanterior, terminando a composição por uma linhafinal que se acrescenta ao último Terceto e quefaz Rima com o segundo verso dele
TRIOLÉ – Também chamado TRIOLETO, é opequeno poema de Forma fixa, correspondente aoprimitivo Rondel francês, formado por oito versosdos quais o primeiro repete como quarto e sétimoe o segundo se repete como final, com rimasegundo o esquema abaaabab. Também se podeusar o Triolé como Estrofe, em composições
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maiores. Existem ainda outras formas com maisversos...
TROVA – nome talvez derivado do latim medievaltropare, que significaria compor ou inventartropos (donde o francês trouvère e o provençaltrobador), mais tarde ligados a qualquerimprovisação poética e por fim restrita a uma dasformas mais correntes e fáceis dessaimprovisação, a quadrinha ou Quadra popular.Porém na minha opinião as mesmas diferem, jáque a Trova deve sempre ser em Redondilhamaior e com sentido completo. Já a Quadra, podeser composta em qualquer metrificação e fazerparte de um poema. Por exemplo o Soneto, quecontém duas Quadras e dois Tercetos, não duasTrovas...
VILANCETE – Nome que também se dá aoVILANCICO
VILANCICO – Considerado por Menendez Pidalcomo “a forma mais arcaica” da GLOSA, oVilancico parece caracterizar-se pela variedadequanto ao número de SÍLABAS em cada Verso, equanto ao número de Versos em cada Estrofe,conforme os compassos da melodia com a qual
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há de ser cantado. Compõe-se de um Estribilho ouMote, que se repete à guisa de TORNADA, no fimdas várias Estrofes que o desenvolvem oucomentam.
VILANELA – tipo de poema Estrófico formado poruma série de Tercetos em que há uma Rima paraos Versos primeiro e terceiro e outra para osegundo, ligando todas as estrofes, até a última,que é aumentada de um quarto Verso rimandocom o segundo.. Notar que o primeiro e o terceiroverso da primeira estrofe passam a ser o terceirodas estrofes subsequentes.
Esio Antonio Pezzato
Poeta Piracicabano
Piracicaba, 2009