FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

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FLORES SECAS "POEMAS DE FORMA FIXA" Versos de Esio Antonio Pezzato 2009

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poesias em forma fixa

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FLORES SECAS

"POEMAS DE FORMA FIXA"

Versos de Esio Antonio Pezzato 2009

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Pg ii

Um pequeno comentárioResolvi colocar neste pequeno volume, um tantode tudo o que já produzi durante 40 anos dePoesia. Mas aqui vai um adendo: são os versos deforma fixa apenas, compostos de baladasfrancesas, pantuns malaios, e outras formasdistintas de poesia. Algumas quase quetotalmente esquecidas... Alguns possíveis leitorespoderão ver pelas datas, que a grande maioriados poemas foram escritos em poucos dias noano de 2008. É que, quando decidi juntar taisformas de versos, verifiquei que poucos delesexistiam. Então resolvi compor outros poemas afim de que o volume ao menos pudesse ter umconteúdo, além da forma, é claro. Daí toqueestudar, analisar, pesquisar e colocar as ideias nopapel. Gostei do resultado. Claro que sei, maisque todos, que o que vai aqui não é Poesia pura,mas poesia estudada e pesquisada, já que aForma não poderia fugir. Mas estudei muito apoesia portuguesa, a barroca, onde os exemplosde décimas são constantes e cheguei a esseresultado final.

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Pg iii

Este pequeno volume contém apenas isso. Claroque, em se falando em poesias de forma fixa, oSoneto também deveria aqui estar inserido entretantas outras formas de se poetar... Mas aqui odeixo de fora e me atenho apenas a essas outrasformas mais esquecidas, pois o Soneto é pordemais difundido e até quem não sabe o que éPoesia, conhece um Soneto. Os poemas aquiseguem a tradição estrófica e rítmica. Busqueinão inventar apenas criar sobre o já existentecom algumas liberdades apenas. Se nas Baladasnossa Literatura traz muitos exemplares, comMartins Fontes e Gustavo Teixeira, Bilac possuiapenas quatro Baladas e um Pantum apenas, emAlberto de Oliveira também a produção épequena, em Machado de Assis outra pequenavariedade, bem como Goulart de Andrade, asoutras formas de se poetar são quaseinexistentes, como o Pantum proveniente daMalásia, o Triolé, a Vilanela a Sextina, asDécimas, o Ritornelo, o Rondó, o Rondel, a TerzaRima, (cujo maior exemplo talvez seja a DivinaComédia, de Dante), e outras. No final desteVolume trago um Elucidário dizendo sobre aforma de se compor cada tipo de Poema, colhido

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Pg iv

principalmente no “Pequeno Dicionário de ArtePoética”, de Geir Campos. Serve de explicação,pois foi onde encontrei o necessário para talempreitada. Compus algumas baladas em versosde nove sílabas, altamente aceitáveis, mas agrande maioria mesmo é feita em versos de oitosilabas, com as estrofes tendo oito versos cada.Nas baladas decassílabas, tanto compus estrofesde oito como de dez versos, que é a mais correta.Quanto aos Pantuns, além dos versosdecassílabos e da redondilha-maior, aindacompus no verso Alexandrino e fui além, criandoum Pantum com rimas encadeadas. Não conheçooutro. A Sextina sei que está imperfeita quandoà disposição das palavras finais, masé irrelevante. Também as Glosas, em Décimas,algumas estrofes trazem o ponto final no quintoverso, o que não deveria acontecer. Mas não mepreocupei tanto com isso também. Oras, ainterpretação de tudo no século XXI me dá talliberdade. Os mais críticos poderão ver taiserrinhos, tais falhas, mas as cito aqui paramostrar que, antes deles, eu já havia notado.Dentro disso tudo explicado, falei acima doSoneto, e decidi por mostrar apenas dois. Deveria

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Pg v

me ater mais a ele, como sendo a Poesia deforma fixa mais conhecida do mundo. DesdePetrarca, nos idos do século XV, o mesmo écultuado, então eu deveria aqui ir além e deixarnestas páginas, uma Coroa de Sonetos, mas iriaalongar o livro desnecessariamente em mais 15páginas. Sendo assim coloco aqui uma invençãominha, a Poesia monossilábica, e então taisSonetos aqui vão não como Sonetos em si, mascomo exemplo de monossilabismo. Espero queentendam isso também. Sou um afeiçoadoà Escola Romântica, da qual sou seguidor; eentendo mesmo que essa Escola do Século XIXteve apenas início e seu fim ainda não chegou. Amesma, porém, não traz grandes exemplares.(Álvares de Azevedo tem uma Terza Rima) Apenasna Parnasiana, onde a Forma era altamentecultuada. Assim deixo para futuros leitores, umlivro que deverá permanecer inédito. Que um dia,no futuro, esse pequeno volume de minhas obraspossa ser lido e entendido.

Esio Antonio Pezzato.

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Pg vi

BALADAS

Balada Francesa

Teço baladas à francesa

Para entreter o meu amor.

Planto meu verso com firmeza

Para desabrochar em flor.

Um ramalhete multicor

Eu ofereço a ti, amada.

E nele vai, com muito ardor,

Toda a minh’alma apaixonada.

Viajo nessa correnteza

Olhando o rubro sol se por.

Carrego em mim toda a certeza

Que és o meu anjo encantador!

Comigo irás por onde eu for

A palmilhar a mesma estrada.

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Pg vii

Vai ao meu peito de cantor

Toda a minh’alma apaixonada.

Contemplo a bela natureza

Cheia de luz e de esplendor.

Em tudo vejo a áurea grandeza

E as santas mãos do Criador.

Por isso existe tanta cor

Na minha lírica balada.

Trago no peito com fervor,

Toda a minh’alma apaixonada.

Oferta:

Não há na vida outro primor,

Sou teu Poeta, minha Fada.

E a ti entrego com louvor

Toda a minh’alma apaixonada.

07.01.2000

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Pg viii

Balada do Tempo

Após a leda mocidade

Que chega em fogo e em cinzas passa,

Somente a pálida saudade

Fulgura ao céu como fumaça.

Até parece haver trapaça

Aos lindos sonhos que sonhamos,

O tempo chega em férrea ameaça

A apodrecer frutos nos ramos.

A neve cobre sem piedade

E o frio ingente tudo grassa.

Sonhos de rubra intensidade

Perdem fulgor, e brilho, e graça.

À mocidade se ergue a taça

Dos mais exóticos recamos,

Mas a estiagem traz ameaça

A apodrecer frutos nos ramos.

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Pg ix

Sonha-se com a eternidade

Mas corrosiva e rude traça

Corroi o bronze, quebra a grade

O tempo em fogo o ferro amassa.

O que era lírico esfumaça

E ao desespero nós entramos...

Fuligem negra é treda ameaça

A apodrecer frutos nos ramos.

Ofertório:

Não há mais brilho na vidraça,

Funérea voz diz que partamos!

A hora dos sonhos é ameaça

A apodrecer frutos nos ramos.

01.02.2000

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Pg x

Balada do Despertador

À doce brisa da manhã

De casa saio encapotado.

Essa neblina temporã

Há de trazer-me um resfriado.

(A minha cama estava quente

Eu me aquecia ao teu calor.

Oh, minha amada, num repente

Soou feroz despertador!)

Do frio ingente não sou fã

Amo o verão iluminado.

Mas a neblina tecelã

Faz tudo branco rendilhado.

(Saio da cama reticente,

Cedo acordar é pleno horror.

Mas eis que toca persistente

Duro e feroz despertador!)

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Pg xi

Visto blusão, meias de lã,

Todo o meu corpo está gelado.

Tremo de frio... hã... hã... hã...

Religo o ar condicionado.

(Aqui no quarto é diferente,

Junto de meu querido amor.

Mas eis que toca, intermitente,

Brusco e feroz despertador!)

Oferta

Antes que o frio mais aumente

E ao corpo traga artrite e dor,

Melhor lascar no assoalho quente

Esse feroz despertador!

30.07.2004

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Pg xii

Balada Aquecida

Os versos são armas que tenho

Para vencer qualquer batalha.

Com eles, forte me mantenho,

Para ganhar áurea medalha.

Em transes, quando eu oscomponho,

Sei-me inspirado a toda brida.

Rubra fagulha de meu sonho –

Brasa que aquece minha vida.

Carrego-os como um próprio lenho

E os sinto em mim – feito mortalha;

E do Parnaso quando venho

Sei que me fere tal navalha.

Porém, jamais fico tristonho,

E nada, nada, me intimida.

O Verso é luz para o meu sonho,

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Pg xiii

Brasa que aquece minha vida.

Jamais me cansa este interregno

Que o verso é luz que me agasalha.

À sua força me retenho

A sua rima me retalha.

Ao verso estou sempre risonho

E esta Balada é colorida.

A estrofe é o ar para meu sonho,

Brasa que aquece a minha vida.

Oferta

Por isso sempre os versos ponho,

Em minha vida tão querida.

Pois a Poesia é mais que umSonho:

Brasa que aquece a minha vida.

13.12.1999

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Pg xiv

Balada para um Amor

Eu sou Poeta, de maneira

Que és minha Musa idolatrada.

Por ti minh’alma é prisioneira

E é eternamente apaixonada.

Retorno aos versos da Balada

E exalto o amor que me seduz.

Sem ti, querida, não sou nada,

E cego estou por tanta luz.

Parece ser a vez primeira

Que os sonhos pisam tal estrada.

Desfraldo ao céu alva bandeira

Escrito: “eu te amo, alma adorada!”

A voz se torna embaralhada

Em brilhos a alma ao céu reluz.

Teus passos sigo, doce amada,

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Pg xv

E cego estou por tanta luz.

O amor é chama verdadeira,

Que à noite brilha iluminada.

Parece tocha de roseira

A florescer na madrugada.

A pena torna-se inspirada!

O verso puro jorra a flux!

Na minha vida és doce fada,

E cego estou por tanta luz.

Oferta:

Não há na vida encruzilhada:

Teu coração o meu conduz.

És o meu sol, minha alvorada,

E cego estou por tanta luz.

07. 01. 2004

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Pg xvi

Balada da Entrega

Se o amor invade o coração

E apaixonado o peito canta,

A vida explode na canção

Tudo é magia e tudo encanta.

Estranha e lírica emoção

A estrada brilha colorida.

Não há no mundo outra razão

Que te entregar a minha vida!

Rosas azuis em cada mão

Ponho no altar da minha santa.

De joelhos rezo uma oração

E a vida em sonhos me acalanta.

Minh’alma é flor nessa estação!

A vista torna-se florida.

Não há no mundo outra razão

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Pg xvii

Que te entregar a minha vida!

Beijo-te a boca em convulsão,

Meu corpo ao teu faço de manta!

Divina e pura inspiração

No êxtase santo me quebranta.

Apaixonado beijo o chão

Que sempre traz a alma querida.

Não há no mundo outra razão

Que te entregar a minha vida!

Oferta:

Não há , querida, sensação,

Que a alma me deixa ensandecida.

Não há no mundo outra razão

Que te entregar a minha vida!

07.01.2004

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Pg xviii

Balada do Amor

Todas as noites quando canto

A minha voz canta a balada

Que ao coração traduz o encanto

Da alma que trago apaixonada.

E solto a minha melodia

Numa ternura de recamo,

Pois canto e canto noite e dia:

Eu te amo! eu te amo! eu te amo! eu te amo!

O amor me vem num acalanto

Que em êxtase eu não penso em nada.

Porque te quero tanto, tanto,

Que és minha Musa! a minha Fada!

Rimo por ti minha poesia

Teu nome a todo o instante clamo,

E canto pleno de alegria:

Eu te amo! eu te amo! eu te amo! eu te amo!

Com teu amor, tudo suplanto,

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Pg xix

Sigo a sorrir, qualquer estrada.

O teu amor é o azúleo manto

Às frias noites de invernada!

Contigo vivo a fantasia

E de prazeres eu me inflamo,

Canto da forma que queria:

Eu te amo! eu te amo! eu te amo! eu te amo!

Oferta:

Se tua vida for vazia

Encha-a com a voz de meu reclamo,

Pois este canto te alumia:

Eu te amo! eu te amo! eu te amo! eu te amo!

09.09.99

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Pg xx

Balada do Sonho

Dentro da noite existe o sonho

E uma ansiedade contundente,

Nas suas luzes eu me ponho

Das suas chamas sei-me crente.

Se a todos, tudo é indiferente,

– Uma ilusão descolorida,

A mim é força persistente,

Razão para sorrir na vida.

Sempre com passos de umtardonho

É-me impossível vir à frente

E de ilusões somente sonho

Porque jamais tive o presente

Do sonho casto, puro, ardente,

Para deixar mais colorida

E poder ter, naturalmente,

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Pg xxi

Razão para sorrir na vida.

Por isso o olhar trago tristonho,

Lanço um sorriso indiferente,

Os passos piso no medonho,

Junto à alegria estou ausente.

Talvez me chegue num repente

A minha busca desmedida,

Para que tenha, enfim, contente,

Razão para sorrir na vida.

Oferta:

Talvez me chegue simplesmente

Como uma flor do chão nascida,

E me ofereça sorridente

Razão para sorrir na vida.

22.12.98

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Pg xxii

Balada Amargurada

Minh'alma em ânsias a procura

De forma louca, insana, errante,

Para por fim a esta loucura

Que não me larga um só instante.

Passaram dias, meses, anos,

E não matei minha ansiedade.

Somente achei tredos enganos

Mas não a minha áurea verdade.

O pensamento me tortura,

De forma insana, anavalhante.

É tão difícil a ventura

Que minha busca é delirante.

Ao pensamento só traz danos

E o desespero é sem piedade.

Encontro amores n'outros planos,

Mas não a minha áurea verdade.

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Pg xxiii

Dias eu passo na tristura,

E noites passo alucinante.

A insônia chega e faz diabrura

Ao pensamento é torturante.

Ajo de modos mais insanos

Para escapar desta atra grade,

E encontro apenas desenganos

Mas não a minha áurea verdade.

Oferta:

Talvez com gestos desumanos

Chegue a matar minha vontade,

Para encontrar n'outros arcanos

Razões da minha áurea verdade.

31.05.2001

Page 24: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg xxiv

Balada Crente

O meu amor é mais que um sonho,

Mais que um delírio de frescor.

Por causa dele vou risonho

Cantando versos a este amor.

É um sonho belo e encantador

E que me faz viver contente.

Sendo Poeta, sou cantor

E deste amor me faço um crente.

Baladas líricas componho

Cheias de luz e de calor.

E nos meus versos sempre ponho

Rimas de pétalas de flor.

Comigo vai por onde eu for

Essa alegria permanente.

Sou teu Poeta e teu cantor,

E deste amor me faço um crente.

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Pg xxv

Se antes eu fui um ser tristonho

E tinha o peito imerso em dor,

Hoje somente alegre sonho

Dentro do sono embalador.

Sou um soldado guerreador

Venço batalhas, num repente.

E mais me sinto um vencedor

E deste amor me faço um crente.

Envio:

Amada Musa, o teu valor,

Somente n’alma é que se sente.

Sou teu Poeta e o teu cantor,

E deste amor eu sou um crente.

12.01.2004

Page 26: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg xxvi

Balada da Desventura

A solidão que me acompanha

E que me faz tão infeliz

Fere no fundo minha entranha

E deixa à mostra cicatriz.

Ela me vem tão mansamente

Que enche minh'alma de tortura.

Meu coração, sangrando, sente,

Da vida toda a desventura.

Com palpos fortes de atra aranha

A solidão, em transe diz,

E de maneira muito estranha

Que segue minha diretriz.

Caminha inopinadamente

Com suas garras me segura

Por isso sinto negramente

Da vida toda a desventura.

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Pg xxvii

Seu peso enorme de montanha

Vem sobre mim de forma ultriz.

É mar imenso que me banha

Moldou-se em mim – fez-se matriz.

Germina em mim como a semente

Que foi lançada à semeadura,

Mas doi em mim, por dar somente,

Da vida toda a desventura.

Oferta:

E o coração por mais que tente

Dar um final a tanta agrura,

A cada instante mais pressente

Da vida toda a desventura.

21.12.1998

Page 28: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg xxviii

Balada sem Cor

Este silêncio me devora

Parece noite de terror.

Ainda demora tanto a aurora,

Demora tanto o meu amor.

Ponho no vaso rubra flor

E ela perfuma todo o ambiente,

Meu verso vai perdendo a cor

Meu mundo fica diferente.

Não solidão minh’alma chora,

Estou sozinho em minha dor.

Que noite imensa está lá fora,

Sinto meu corpo num torpor!

Pudesse agora ser cantor

Cantar um verso diferente,

Tocar a flauta de um pastor

E ser do amor condescendente.

Page 29: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg xxix

Mas essa angústia me deplora,

É tudo tão desolador.

Minh’alma triste, triste implora

Que venha um lindo beija-flor

Beijar no vaso a linda flor

Que está morrendo num repente,

E ressuscite o meu amor

E a noite fria deixe quente.

Ofertório

Porém, o sono é bem traidor,

E o sonho engana a alma da gente.

Traz desalento o desamor,

E até o amor se faz descrente.

03.03.1995

Page 30: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg xxx

Balada Feliz

Canta feliz o coração

O imenso amor que n’alma sente.

Transforma mais uma oração

Que mais pareço ser um crente.

Esta presença permanente

Ao meu viver traz a emoção

Que hei de te amar eternamente

Entre delírios de paixão.

Carrego a doce sensação

De te levar dentro da mente.

Construo versos à canção

Do amor que veio num repente.

O sonho torna-se ridente

No peito há enorme ebulição.

Hei de te amar divinamente

Entre delírios de paixão.

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Pg xxxi

Imponderável ilusão,

Minh’alma canta sorridente.

O amor transforma-se em razão,

O amor transmuda-se em semente.

Para teus braços vou tremente

E a afagos nunca digo não.

Hei de te amar continuamente

Entre delírios de paixão.

Oferta:

De te levar dentro da mente

Canta feliz o coração

O amor transforma o sonho crente

Entre delírios de paixão.

12.01.2004

Page 32: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg xxxii

Balada Dolorida

Existe a sombra do passado

Que brilha neste meu presente.

Maldito sonho desgraçado

Que fere e agride a minha mente.

Passivo ao ódio que a alma sente

Reflito a luz que o olhar me invade.

Resisto à dor e à ira ardente

E penso e agrido por maldade.

O encanto brota iluminado

Mas contra o amor sou resistente.

Dou passos como um derrotado

Que sente o sangue arder fervente.

Não penso mais na áurea semente

De ter a minha alacridade.

Não tenho mais tal sonho ardente

E penso e agrido por maldade.

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Pg xxxiii

O meu tesouro foi roubado

Por isso o choro é persistente.

Caminho olhando para o lado

Pois já não sei olhar de frente.

Tivesse um dia meu presente!

Mas estou preso em ímpia grade.

E mais me fere o fogo ardente

E penso e agrido por maldade.

Ofertório

Oh! Minha Deusa, tu somente,

Nas mãos tens essa Eternidade!

Mas ao teu lado vou demente

E penso e agrido por maldade.

12.01.2004

Page 34: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg xxxiv

Balada de um Amor

Quero fazer-te uma Balada

Para isso busco inspiração.

Oh, meu amor, é madrugada,

Longe te sinto o coração.

Sem ti a noite é de aflição

Minh’alma está desesperada.

Por isso teço esta canção

Oh, minha doce e terna amada.

Sem ti, querida, a vida é nada,

Perco dos sonhos a razão.

És minha Musa, és minha Fada,

Da minha vida és a emoção:

Confundo o sim, inverto o não,

A tua ausência é uma maçada.

Sem ti não tenho aspiração,

Oh, minha doce e terna amada.

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Pg xxxv

Com tua ausência é longa a estrada,

A angústia trago em cada mão.

Minh’alma treme angustiada,

E é horrível esta sensação.

Com versos faço uma oração

E canto à noite enluarada.

Depois... silêncio, tudo é vão,

Oh, minha doce e terna amada.

Oferta:

Fico na vida sem ação

E a alma na noite está entrevada.

Mas continuo o meu refrão,

Oh, minha doce e terna amada.

04.10.2005

Page 36: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg xxxvi

Balada para a Amada

Minha querida e doce amada

Estou aqui para dizer

Que estou com a alma apaixonada

E toda cheia de prazer.

Quer-se mesmo então saber

Da minha história tão florida,

É que o amor passei a ter

Desde que entraste em minha vida.

Construo versos de balada

Vivo a cantar e a bendizer

Passo acordado à madrugada

Compondo versos de lazer.

Jamais, amor, vou te esquecer,

Minh’alma canta comovida.

É que no amor passei a crer

Desde que entraste em minha vida.

Page 37: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg xxxvii

Doce ternura idolatrada

Feliz poeta sei-me ser.

A glória d’alma enamorada

Em versos canta o bem-querer.

Com teu amor quero viver

Uma esperança colorida.

Eu sou feliz, vivo a dizer,

Desde que entraste em minha vida.

Oferta:

Anjo com forma de Mulher

A quem eu chamo de querida:

O amor jamais penso esquecer

Desde que entraste em minha vida.

12.01.2004

Page 38: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg xxxviii

Balada Moderna

Os poetas da atualidade

Escrevem só versos modernos...

E com louca tenacidade

Vão preenchendo os seus cadernos

Com versos brancos e semmétricas

Numa infernal desembestada

Poemas de formas geométricas,

Mas desconhecem a Balada.

Eles não tem curiosidade

De degustar nobres falernos,

Mas querem ter notoriedade,

Sonham, também, ficar eternos...

Fogem das formas mais simétricas

Procuram não saber de nada...

Fazem versos de formas tétricas,

Page 39: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg xxxix

Mas desconhecem a Balada.

Em três oitavas com beldade

Rimas perfeitas como os ternos,

Refrão que tem finalidade

Mostrar sonoros timbres ternos;

E das claridades elétricas

Para a alma ficar inspirada...

Procuram formas fonométricas,

Mas desconhecem a Balada.

Oferta:

Oh, lindas Musas pirelétricas,

Tirai a inspiração sagrada

Aos que fazem canções herméticas,

Mas desconhecem a Balada!

19.11.1994

Page 40: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg xl

Balada do Merecimento

O meu amor merece ter

Mimos, afagos e carinhos,

Porque me dá tanto prazer

E me constroi tão fofos ninhos,

Que ele de fato, bem merece

Tudo o que posso lhe ofertar:

– O coração em terna prece

De joelhos fica aos pés do Altar!

O meu amor me faz viver

Dando sorrisos nos caminhos,

Me oferta um mundo de lazer,

E quando estamos nós, sozinhos,

Ele entre dengos oferece

O que jamais pensei sonhar,

Até minh'alma, em terna prece,

De joelhos fica aos pés do Altar!

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Pg xli

O meu amor sabe escolher

Os mais exóticos docinhos,

Para que eu possa, então comer,

Depois de abraços e denguinhos.

Ele de mim jamais se esquece

E fica sempre a me louvar.

O pensamento em terna prece,

De joelhos fica aos pés do Altar!

Oferta:

És meu amor, és minha messe,

És minha noite de luar,

O meu amor reza uma prece

De joelhos fica aos pés do Altar!

24.12.98

Page 42: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg xlii

Balada da Esperança

Pus num baú toda a Esperança

Que em transe um dia, alimentei.

– Trágico sonho de criança

Que pensa ser do mundo – um rei.

Ela ficou como um brinquedo

Do qual cansei-me de brincar.

– Cansada história sem enredo

Que a gente teme em escutar.

Tudo mentiu; essa aliança,

Que foi meu rumo e minha lei,

Veio-me a ser maldita herança

Da qual jamais, jamais sonhei.

Caiu em mim como um torpedo

Matou meu sonho e meu luar.

– Canção de horror que causa medo

Que a gente treme em escutar.

Page 43: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg xliii

Por isso trago atroz vingança

Como liliputiana grei

Que vai seguindo sem tardança

E sou amargo, – bem o sei.

Todo este sonho é meu segredo,

Minha água, terra, fogo e ar;

Nesta canção se faz segredo

Que a gente teme em escutar.

Ofertório:

Bem sei que sou bastante azedo

Se Ela em seu transe me matar,

Aciono o som mexendo o dedo

Que a gente treme em escutar.

24.11.99

Page 44: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg xliv

Balada da Vida

A minha vida é uma balada

Que se repete em seu refrão.

Constantemente, apaixonada,

Jamais permite solidão.

No dia a dia desta vida

Este viver dá-me a razão.

A estrada em brilhos é florida

E faz cantar o coração.

Feliz, contemplo a madrugada:

Astros no céu, em explosão,

Fazem ficar iluminada

A minha vida em comoção.

Desta existência bem vivida

Tanto me dá satisfação

Que a alma rebrilha enternecida

Page 45: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg xlv

E faz cantar o coração.

Passo por passo nessa estrada

Faz mais feliz esta ilusão.

E vou seguindo esta jornada

Tendo a esperança em cada mão.

Esta existência é tão querida

Que ora lhe oferto esta oração.

A vida canta estremecida

E faz cantar ao coração.

Dedicatória:

O amor alcanço na corrida

E a paz é tanta em devoção

Que a voz eu solto comovida

E faz cantar o coração.

18.11.99

Page 46: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg xlvi

Balada Efêmera

Há névoa nesta tarde efêmera

Da primavera que esmaece

A alma carrega enormes dúvidas

E alegorias ela tece.

A chuva cai e cai a cântaros

E a terra em bênçãos umedece.

As flores vão nascendo exóticas

Um mundo novo se parece!

Tanta beleza é bem explícita!

Cada ave entoa linda prece

Em sinfonias ternas, líricas...

Súbito o sol tênue aparece

E vai lançando raios fúlgidos

Que a névoa um poucorecrudesce...

A tarde morre em brilhos – rápida! –

Page 47: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg xlvii

Um mundo novo se parece!

O lusco-fusco brilha exótico

Uma andorinha faz um S

No céu nublado, plúmbeo, elétrico,

E no horizonte o sol fenece

– Deposto Rei de um reino túrgido

Que deu a vida à loura messe.

Uma estrelinha brilha tímida

Um mundo novo se parece!

Envio:

Oh! Deus, Senhor do Espaçocósmico,

Da Lei de fogo que acontece

A cada vez que te olho em órbita

Um mundo novo se parece!

15.12.99

Page 48: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg xlviii

Balada das Flores Secas

Quero ao silêncio campesino

Ficar com as vistas extasiadas,

Do campanário, ouvir o sino,

Rimar meus versos em toadas.

Quero, ao crepúsculo tardio,

Ouvir cigarras encantadas,

Olhar o sol brilhando e, ao rio,

Poder compor minhas Baladas.

Saber ter alma de menino,

Sair correndo em disparadas...

Ir encontrar o meu destino

Nas mãos de seda de áureas fadas.

Encher de luz o meu vazio,

Colher as rosas encarnadas.

E ao ter da Musa um arrepio,

Poder compor minhas Baladas.

Page 49: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg xlix

Ser leve como um bailarino

Que sobe ao palco e de mãosdadas

Um pas-de-deux – em leve tino –

Desliza em valsas encantadas!

E quando o vento em arrepio

Deixar as ramas desfolhadas,

Quero em suave murmurio,

Poder compor minhas Baladas.

Dedicatória:

Quero num leito bem macio

De flores secas enfeitadas,

Aos beijos dados num cicio,

Poder compor minhas Baladas.

22.03.1999

Page 50: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg l

Balada Quebrada

Quero compor, ao meu amor,

Uma balada

Que tenha sim bastante cor

E alma encarnada,

Para mostrar que sou só seu

E que meu sonho mais infindo

É ser um dia o seu Romeu

Num sonho puro e muito lindo.

Como um vulcão sou só calor.

Apaixonada

Minh’alma vibra de esplendor,

– Canta encantada! –

O seu amor há de ser meu!

E viverei sempre sorrindo

Junto às estrelas pelo céu

Page 51: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg li

Num sonho puro e muito lindo.

Sou primavera toda em flor,

Na vida nada

Há de fazer-me um sofredor

Minha adorada.

Por ti meu sonho reviveu!

Ao paraíso vou seguindo

Tendo-te ao meu lado eu sou maiseu!

Meu sonho puro e muito lindo.

Oferta

Minha Marília, sou Dirceu!

O teu amor é-me bem-vindo!

Só sei, amada, que sou teu

Num sonho puro e muito lindo!

05.05.2002

Page 52: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg lii

Balada da Vida

Eu quero amar de forma pura

Quero doar meu coração.

Viver um sonho de ventura

Fazer do amor uma canção.

E hei de fazer lindo refrão

Em honra deste amor tão forte;

Pois tal amor será a razão

Da minha Vida à minha Morte!

Talvez me seja uma loucura

Sonhar com a imaginação.

Mas sonho, sim, esta aventura,

Que chega a me faltar o chão.

Não poder ser pura ilusão

Imaginária de suporte.

Mas sentirei grande emoção

Da minha Vida à minha Morte!

Page 53: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg liii

Pois sem amor a vida é escura,

– Não sei viver na escuridão!

Eu sonho a luz da iluminura

Que chegue logo essa Estação!

Não sei viver na solidão

E nem viver ser ter um Norte.

O amor é pura vocação

Da minha Vida à minha Morte!

Oferta

A ti oferto a minha mão

Pois teu amor é minha sorte.

Sê, com certeza, esta paixão

Da minha Vida à minha Morte!

21.01.2003

Page 54: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg liv

Balada para Ana Maria

Leda Poesia me embalança.

Em seu balanço ela me encanta.

Com fagueirice de criança

Minh’alma canta, canta, canta!

Canto feliz a melodia

Versos em êxtase componho.

Estar no mundo da Poesia

É como estar dentro de um sonho.

Dentro da estrofe a rima dança

No frio a aquece feito manta.

E cada rima é uma esperança

É pura imagem sacrossanta.

Crio meu verso dia a dia

Que o verso deixa-me risonho.

Estar no mundo da Poesia

Page 55: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg lv

É como estar dentro de um sonho.

A rima chega sem tardança

E seu encontro não me espanta.

O seu trabalho não me cansa,

Qualquer cansaço se suplanta.

O verso flui em harmonia

E em cada verso um mundo ponho.

Estar no mundo da Poesia

É como estar dentro de um sonho.

Oferta

É teu amor, Ana Maria,

Que em versos líricos transponho.

Estar no mundo da Poesia

É como estar dentro de um sonho.

29.04.2005

Page 56: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg lvi

Balada de palpitação

Meu coração palpita um sonho

Azul-dourado. Que alegria.

Por onde os olhos ora ponho

Luz uma rima de poesia.

Estranha e doce fantasia

Encantos dão-me ao coração.

Felicidade me extasia

E vibra n’alma em oração.

Se no passado fui tristonho

E tive atroz melancolia,

Comungo ao sol o estar risonho,

E frutifico em melodia.

Doce e suave é esta harmonia

Que explode aos ares em canção.

Nessa esperança o olhar se fia

E vibra n’alma em oração.

Page 57: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg lvii

Da vida apaga-se o medonho

Que antes, sarcástico, sorria.

O sonho outrora tão tardonho,

Na madrugada abriu-se em dia.

É realidade que irradia

Estrelas, sóis, em convulsão.

Presente em brilhos não adia

E vibra n’alma em oração.

Oferta

Canto teu nome, Ana Maria,

Que o amor nos faz um na emoção.

No coração brota a alegria

E vibra n’alma em oração.

22.05.2004

Page 58: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg lviii

Balada Encantadora

Mereces, sim, esta poesia

Que este Poeta agora faz.

Doce suave melodia

Terna canção de amor e paz.

Tudo é singelo neste dia,

Tudo é sublime e encantador.

O teu encanto me extasia,

Por ti eu vivo em pleno ardor.

No verso crio alegoria

– Com as rimas sempre sou capaz!–

Me revigoro na energia,

E no desejo sou voraz!

Encanto tanto me inebria,

É uma loucura esse estupor.

Por ti meu verso em transe cria,

Page 59: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg lix

Por ti eu vivo em pleno ardor.

É realidade, é fantasia,

Tudo em prazer me satisfaz.

Ouve-se Gounod, na Ave-Maria,

Tua lembrança ele me traz.

Teu nome é mais que melodia,

Mas com certeza é mais que flor.

É amor que chamo Ana Maria,

Por ti eu vivo em pleno ardor.

Oferta:

Tanto desejo me inebria,

Nesse desejo eu canto o amor.

Sou teu Poeta noite e dia,

Por ti eu vivo em pleno ardor.

19.05.2006

Page 60: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg lx

Balada da Partida

A noite passa triste,

Eu canto uma canção...

Meu peito não resiste

A tanta ingratidão.

Desde que tu partiste

Vivo a vida a chorar...

Meu peito ainda insiste

Pois quer te ver voltar...

Meu coração persiste

Nessa recordação.

E tudo em mim consiste

Em ter seu coração.

Tu vês que não existe

Razões para cantar,

Meu coração insiste

Pois quer te ver voltar...

Page 61: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg lxi

Tu enfim, redimiste

Fazendo uma ilusão.

Aonde o amor existe

Não dás satisfação.

Depois que tu partiste

Nada me faz sonhar.

Meu coração insiste

Pois quer te ver voltar...

Envio:

Vivo sempre tão triste

Nunca vejo o luar...

Meu coração insiste

Pois quer te ver voltar...

12.10.1973

Page 62: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg lxii

Para um Grande Amor

Todo este amor que nos invade

E que nos deixa tão felizes,

É feito de sinceridade

Por isso tem fortes raízes.

Sozinhos somos só metade

Mas juntos somos uma vida...

E é com fremente intensidade

Que só te chamo de querida!

Um outro amor assim quem há de?

Um céu azul é nossas crises,

Se o amor é feito de amizade

Em nós não há quaisquer deslizes.

E cada dia é mais vontade

E cada dia é mais florida

Esta canção em densidade

Que só te chamo de querida!

Page 63: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg lxiii

Talvez a nossa mocidade

Encontre um dia outros matizes

E fique presa em outra grade

Que até nos cause cicatrizes...

Porém irei sentir saudade

Desta existência colorida,

Por isso é com felicidade

Que só te chamo de querida!

Oferta

Esta balada é só vaidade,

Outra maior não me intimida,

E é com enorme alacridade

Que só te chamo de querida.

10.02.1998 (Viagem Poética)

Page 64: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg lxiv

Balada da Esperança

Penso num grande amor florido

Que em minha vida irá chegar,

Deixando multicolorido

Meu coração que espera amar.

Quando este sonho iluminar

Meu coração à luz da lua,

Eu irei pô-lo num altar

E a alma de angústias terei nua.

Hoje que trago entristecido

Este meu sonho secular,

Inda procuro o bem querido:

– Minha esperança tutelar.

Sofrendo tanto e apesar

De ter no peito a dor que amua,

Ainda sei que irei cantar

E a alma de angústia terei nua.

Page 65: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg lxv

O amor é um sonho de bandido,

Parece sempre se ocultar,

Atira flechas de Cupido

E de maneira irregular.

Mas a distância olho o luar

Seu brilho intenso me tatua:

E irei sorrir a este manjar,

E a alma de angústias terei nua.

Oferta

Se o amor é fruto de um pomar,

E sorrateiro se insinua,

A paz terei para lhe dar

E a alma de angústias terei nua.

21.02.1998 (Viagem Poética)

Page 66: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg lxvi

Balada Outonal

Os crepúsculos outonais

Sempre me dão melancolia.

Minh’alma, em sufocantes ais,

Solta lamentos de agonia.

Do sol – a claridade é fria

E quase não contém calor;

Falta-me o encanto da magia,

Falta-me o encanto de um amor...

As folhas caem... espectrais

Lembram fantasmas que algum dia

Ao meu viver foram mortais

Marcando minha fantasia...

E hoje minh'alma se associa

À solidão, á angústia, à dor...

Falta-me a luz que me alumia,

Falta-me o encanto de um amor...

Page 67: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg lxvii

Rajadas frias e ferais

De lacerante ventania

Arquejam altos bambuais

Numa estonteante sinfonia...

E eu vou chorando esta elegia

No mais patético rancor;

Falta-me o canto da alegria,

Falta-me o encontro de um amor...

Oferta

Minha esperança se abrevia

E o vento ruge num tremor,

Falta-me sua melodia,

Falta-me o encanto de um amor...

21.02.1998 (Viagem Poética)

Page 68: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg lxviii

Balada Feliz

Estou feliz! Minha alegria

Transforma em canto minha Lira.

A frase torna-se poesia

E o coração é ardente pira.

A sensação que estou sentindo

Só sente quem já foi feliz.

Estou cantando, o mundo é lindo,

Para outra vida peço bis.

Vivo embalado na magia

E de prazer a alma transpira.

Sempre sorrindo passo o dia

Que até acredito ser mentira.

Meu coração está florindo

E meu cantar em brilhos diz

Se a este viver estou sorrindo,

Para outra vida peço bis.

Page 69: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg lxix

Quem foi que pôs esta magia

Que a todo instante a almatranspira?

Pois se acredito que é magia

Eu sou um mago que suspira.

Este prazer é-me bem vindo

E ser feliz eu sempre quis.

Assim mais canto e assim vou indo,

Para outra vida peço bis.

Dedicatória:

Se tu, amor, estás me ouvindo,

Saiba que és tu o meu país.

Se o amor um dia for-me findo,

Para outra vida peço bis.

07.12.2001

Page 70: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg lxx

Balada Eterna

Minha poesia há de ficar

Após meu fim, eternamente,

Pois quem na vida sabe amar

Nela achará uma semente

Para fazê-la florescer

Nos corações apaixonados,

Que saberão sentir prazer

Dentro dos sonhos aureolados.

Minha poesia há de cantar

No entardecer do dia quente,

Que traz a noite de luar,

Que faz o sonho persistente.

E cada verso há de viver

Em mil abraços apertados,

Pois saberão que devem ter

Page 71: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg lxxi

Milhões de sonhos aureolados.

Minha poesia há de rimar

No coração e na alma crente,

Qualquer jardim, qualquer pomar,

O amor será eterno e ardente.

Basta ter olhos para ver:

Beijos de amor quando trocados,

Fazem a vida reviver

Dentro dos sonhos aureolados.

Dedicatória

Minha poesia há de reter

Dos corações – os namorados.

Pois ela ao mundo irá dizer

Milhões de sonhos aureolados..

19.03.1998

Page 72: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg lxxii

Balada da Esperança

A vida brota na esperança

E ferve em cores nos caminhos.

Há um riso aberto de criança,

E vidas tenras pelos ninhos.

As rosas vivem com espinhos

Mas seu perfume exala os lares.

Os sonhos nunca vão sozinhos

E vibra a vida mil sonhares.

A vida roda em louca dança

Amores fazem burburinhos.

Leva-se sempre na lembrança

Afagos, dengos e carinhos.

Não pode haver sonhosmesquinhos

Que angústias tragam pelos ares.

Nos galhos trinam passarinhos

Page 73: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg lxxiii

E vibra a vida mil sonhares.

A vida brilha e sempre avança

Na estrada alvíssima dos linhos.

É paz que chega sem tardança

E brinda em taças de bons vinhos.

Cintilam céus azuis-marinhos

E trocam luzes céus e mares.

Exalam cheiros rosmaninhos

E vibra a vida mil sonhares.

Oferta:

Nas mãos carrego pergaminhos

E gravo em odes seculares

O meu amor que vem dos ninhos

E vibra a vida mil sonhares.

15.01.2004

Page 74: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg lxxiv

Balada Piegas

Eu quero nesta minha Lira

Lembrar o amor que já perdi.

O imenso amor que ainda meinspira

A tocar n’harpa de David.

E tantos sonhos eu vivi

Naqueles tempos tão felizes,

O coração que era um bisqui

Hoje só mostra cicatrizes.

Eu acredito na mentira

Pois na verdade outrora cri,

Naquele lindo olhar safira

Tantos sonhos de amor eu li.

No ocaso eu ouço a juriti

Que canta triste, suas crises.

O coração já não mais ri,

Page 75: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg lxxv

Hoje só mostra cicatrizes.

A alma, porém, ainda suspira

Por um sorriso de Nini,

E o sol, à tarde, triste mira,

No chão um lindo bogari.

Eu já não quero mais, aqui,

Lembrar as cores e os matizes...

O sol que outrora era um rubi

Hoje só mostra cicatrizes.

Oferta:

No amor profano sucumbi,

Vou visitar outros países.

Porque meu coração sem ti

Hoje só mostra cicatrizes.

14.03.1993

Page 76: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg lxxvi

Balada da Oferenda

A minha vida de poesia

Passou a ser cheia de cor.

Lembro-me bem o exato dia

Que tu chegaste, meu amor.

O teu olhar cobriu de luz

Para eu seguir a longa estrada.

E agora tudo me seduz,

Que te ofereço esta Balada.

O amor é mais do que magia,

Pois tem encanto e tem fulgor.

Vinho dos deuses que inebria,

E põe meus sonhos num torpor.

Meu céu de estrelas mais reluz

A minha fé torna encantada.

O amor intenso me seduz

Que te ofereço esta Balada.

Page 77: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg lxxvii

Transformo a voz em melodia

Feliz me faço até cantor.

E cada verso me sacia

Pois só escrevo em teu louvor.

Todo meu canto se traduz

Numa visão arcoirizada.

É teu amor que me seduz

Que te ofereço esta Balada.

Ofertório:

Oh, minha pérola de Ormuz,

Golconda e Ophir não valem nada.

É tanto o amor que me seduz,

Que te ofereço esta Balada.

19.03.2001

Page 78: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg lxxviii

Balada técnica

Eu condiciono o pensamento

Ao verso e à métrica exigida.

Componho tudo no momento

Que a estrofe sai já corrigida.

Não erro a sílaba no verso

Pois a medida é sempre exata.

A Lei que rege este Universo

Não contém página de errata!

É sempre certo o movimento

A rotação sempre é seguida.

Os astros vagam pelo vento

A Lei Maior sempre é regida.

Tudo parece tão diverso:

Desertos, mares, gelo, mata,

Page 79: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg lxxix

Mas dentro deste áureo Universo

Não contém página de errata!

O homem se julga um monumento

E pensa ser senhor da Vida.

Mas anda a esmo e sem intento

Buscando a glória carcomida...

Com sonhos tolos vive imerso

E o próprio corpo ele maltrata.

Porém, o livro do Universo

Não contém página de errata!

Ofertório:

O homem sem Deus vive submerso

De sonhos tolos vai à cata.

Porém a Bíblia do Universo

Não contém página de errata!

26.03.2001

Page 80: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg lxxx

Balada do Apaixonado

Meu coração (e a todos digo)

Está feliz, está cantando.

Pois afinal achou o abrigo

Que estava há tempos procurando.

Ninho de plumas da Poesia

Eis afinal sua morada!

E vou cantando dia a dia,

Que estou com a alma apaixonada.

Todo este amor mora comigo

E é tão suave, meigo, brando.

Que a ele abraçado sempre sigo

E ele também vai me abraçando.

Minha alma canta a melodia

Logo ao romper da madrugada.

Page 81: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg lxxxi

E tanto sonho me extasia,

Que estou com a alma apaixonada.

O amor na vida é tão antigo,

Mas só agora sei-me amando.

Do amor agora sou amigo

Com ele sempre estou sonhando.

Ao meu redor tudo é alegria,

A vida está toda encantada.

Foi só sentir esta magia

Que estou com a alma apaixonada.

Oferta:

És tu, querida, Ana Maria,

A minha luz, a minha Fada.

E é teu amor que me alumia,

Que estou com a alma apaixonada.

20.03.2001

Page 82: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg lxxxii

Balada das Folhas Mortas

Todo o passado é folha morta

Caída da árvore da vida.

Se recordá-lo nos conforta,

Às vezes deixa a alma ferida.

Todo o passado mais parece

A cicatriz de fundo corte.

E a gente nunca, nunca o esquece,

Pois é impossível dar-lhe a morte.

Mesmo que esteja atada a porta,

Sempre ele encontra uma saída.

E suas dores ele exorta

De forma multicolorida.

Dentro do pensamento tece

O emaranhado de atra sorte.

Page 83: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg lxxxiii

Multiplica-se nesta messe

Pois é impossível dar-lhe a morte.

Por uma estrada rude e torta

(E que se torna mais comprida)

Eis que o passado abre a comporta

E tudo invade sem medida...

E o coração tanto padece

Que alucinado vai sem norte...

Raivoso o corpo enleia um S

Pois é impossível dar-lhe a morte.

Oferta:

Tanto o passado me aborrece

Que não consigo dar-lhe um corte,

Da minha angústia ele se aquece

Pois é impossível dar-lhe a morte.

26.03.2001

Page 84: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg lxxxiv

Balada Inspirada

Há na minh’alma a inspiração

De oferecer a ti, amada,

Aos sons do amor, uma canção,

Para mostrar que – apaixonada,

Ela anda em plena madrugada

A repetir este refrão:

– Sem ti, querida, não sou nada,

E a vida é apenas ilusão!

Por isso, em plena comoção,

Dentro da noite enluarada,

Vou aos teus pés – com devoção,

Oferecer-te esta balada.

És minha Musa, és minha Fada,

Hino de vida e de razão.

Page 85: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg lxxxv

– Sem ti, querida, não sou nada,

E a vida é apenas ilusão!

Ardo de amor como o verão

Que deixa a vida incendiada.

E vivo sempre na estação

Que a vida faz iluminada.

Contemplo em luzes a alvorada

Que traz-me o sol com explosão.

– Sem ti, querida, não sou nada

E a vida é apenas ilusão.

Oferta:

És minha fruta açucarada!

Provo-te o sumo em emoção!

– Sem ti, querida, não sou nada,

E a vida é apenas ilusão!

21.02.2002 (Colcha de Retalhos)

Page 86: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg lxxxvi

Baladilha Drummondiana

O Silêncio agora grita

No peito de todos nós,

E uma saudade infinita

Cresce, atra e torna-se atroz.

Do Poeta é morta a voz

De tanta sonoridade,

Passa, Cometa veloz,

– Oh, Carlos Drummond deAndrade!

O céu na angústia se agita

– Parece um tigre feroz.

Mas o sonho necessita

Desatar os férreos nós

Que aprisionam o Albatroz

Que está preso na cidade.

Deixem que voe veloz

Page 87: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg lxxxvii

– Oh, Carlos Drummond deAndrade!

Pureza de Alma Bendita

Onde, agora estareis vós?

Vereis a Pátria bonita

Onde os lábios, cheios de ohs!

Dirão divinos bemóis?

Matai a nossa ansiedade...

Dizei, num Sonho veloz,

– Oh, Carlos Drummond deAndrade!

Oferta:

Brilharás entre outros Sóis

Para ficares Saudade.

E a alma ao céu, irá veloz,

– Oh, Carlos Drummond de Andrade!

17.08.1987

Page 88: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg lxxxviii

Balada Triste

(Que saudade dos beijos que me deste!)

(Gustavo Teixeira)

Penso e ao pensar meus olhos umedecem,

Pois penso no passado alegre e lindo

Que a teu lado vivi... as dores crescem

Num desespero enorme, eterno, infindo...

E passa o tempo, o dia vai fugindo,

O céu já não está azul-celeste.

Meu pensamento aos poucos vai sumindo,

Que saudade dos beijos que me deste...

Vejo na terra os outros que padecem...

Mas este sofrimento eu sei que é findo.

Esses que sofrem, vejo-os... se parecem

Como quem tem no peito o amor florindo.

E já bem sei: não viverei sorrindo

Que em mim a dor existe como peste.

Page 89: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg lxxxix

No mundo já nem sei aonde vou indo...

Que saudade dos beijos que me deste...

Meus olhos para os sonhos se perecem;

Para o amor já não ficam mais luzindo.

Meus pensamentos, do universo descem,

Pois eu também, aos poucos, vou caindo.

O amor a mim já não se faz bem-vindo

Já não o vejo numa azúlea veste.

A noite chega aos poucos, vou dormindo...

Que saudade dos beijos que me deste...

Oferta:

Senhora, enquanto a noite vai fulgindo,

Não deixes que a agonia a tudo creste.

Meus lábios por teus lábios vão se abrindo...

Que saudade dos beijos que me deste...

14.04.1978 (Luzes da Aurora)

Page 90: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg xc

Balada da Paixão

Airoso sonho me envaidece

E faz cantar o coração

Uma sublime e doce prece

Numa balada de paixão.

Canto feliz esta canção

E paz imensa me inebria;

Vivo no mundo da Ilusão,

Vivo nos braços da Poesia!

E cada rima se parece

Com as lindas penas de um pavão

Que ao ver a fêmea um leque tece

Em sua doida exaltação.

Um sonho trago em cada mão

No reflorir de novo dia,

Vivendo tal contemplação

Page 91: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg xci

Vivo nos braços da Poesia!

E dia a dia em mim mais cresce

Este prazer como oração;

O amor dá frutos nesta messe

E se faz trigo e se faz pão.

Por isso nesta exortação

Minh’alma canta e se extasia.

E ao ter na vida esta emoção

Vivo nos braços da Poesia!

Oferta:

Oh! Minha Amada, é com razão

Que a alma feliz, se contagia...

E ao ter do amor esta explosão

Vivo nos braços da Poesia!

21.05.2000 (Portal dos Sonhos)

Page 92: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg xcii

Balada do Solitário

Soluço versos de Dirceu

À minha doce e eterna amada.

Se seu amor não for só meu,

(Pobre de mim!) não sou mais nada.

Eu sigo só na madrugada

Sofrendo a dor de estar assim.

Minh’alma sofre agoniada

E sigo só meu triste fim.

Já fiz loucuras de Romeu

Ao elegê-la minha Fada.

Tomei da Lira... fui Orpheu,

Mas ela olhou-me e desprezada

Deixou minh’alma abandonada

Qual rosa triste num jardim.

Page 93: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg xciii

– A minha noite está entrevada

E sigo só meu triste fim.

Se ela soubesse quem sou eu

E lesse um dia, esta balada,

Se desse vida ao que morreu

Abandonado em longa estrada...

Se ela com a voz apaixonada

Ao meu amor dissesse sim...

Mas ela passa e vai calada

E sigo só meu triste fim.

Oferta:

Oh! Minha Musa idolatrada,

Por que não vens junto de mim?

A noite é fria, atra, gelada,

E eu sigo só meu triste fim.

15.01.1996

(Portal dos Sonhos,2000)

Page 94: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg xciv

Balada Decadente

Meu Deus! É pura decadência

Os poetas da atualidade

Desconhecendo a nobre ciência

Proclamam a modernidade,

Criam sonetos pés-quebrados,

Torcem a métrica na trova

E alarmam forte, em altos brados:

– A minha ideia é ideia nova!

É sem perdão tal indecência

E que Camões construa a grade

Onde não haja penitência

E reza alguma de um bom frade.

Quem sabe assim desesperados,

Seus versos jogarão na cova

Page 95: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg xcv

E não dirão em altos brados:

– A minha ideia é ideia nova!

Que exista fim a esta insolência

A essa fatal atrocidade,

Pois a Poesia é da frequência

De celestial sonoridade.

Que tais poetas condenados

Recebam uma boa sova

E que se acarem, sim tais brados:

– A minha ideia é ideia nova!

Oferta:

Que todos eles condenados

Para o perdão tenham uma ova.

E mudos fiquem os tais brados:

– A minha ideia é ideia nova!

27.03.2001

Page 96: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg xcvi

Balada Feliz

Quantas baladas já te fiz

Para dizer-te, alma adorada,

Que sou feliz, feliz, feliz,

Tendo-te junto em minha estrada.

E não existe nada, nada,

Que mude um dia esse teor,

Pois a minha alma apaixonada

Não vive sem o teu amor.

Sou teu Poeta, Beatriz,

Sou Dante e trago a alma inspirada.

No voo de áureos colibris

Por flores mil, és minha fada!

Eu te ofereço esta Balada

Feita com pétalas de flor.

Page 97: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg xcvii

Pois a minha alma apaixonada

Não vive sem o teu amor.

O novo amor deita raiz

Segue radiante esta jornada.

E sempre vai pedindo bis

Mal raia à noite, a madrugada.

Oh, meu amor, oh, minha amada,

Sou teu Poeta, teu Cantor,

Pois a minha alma apaixonada

Não vive sem o teu amor.

Oferta:

A rima pobre é iluminada

Mas tem arco-íris cada cor,

Pois a minha alma apaixonada

Não vive sem o teu amor.

09.08.2007

Page 98: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg xcviii

Balada do Piracicamirim

Pernilongos, mosquitos, muriçocas,

Lagartos, escorpiões, cobras e aranhas...

Sob a ponte, dezenas de malocas,

E moleques com fúteis artimanhas.

Mau cheiro horrível, água estagnada,

Touceiras e touceiras de capim...

Que o motorista passa e não vê nada

À margem do Piracicamirim...

As águas lembram pútridas vinhocas,

E parecem conter quilos de banhas,

O perigo constante das barrocas

Fazem essas visões tristes e estranhas.

O perigo é demais na derrapada

Quando um bêbado sai de um botequim;

E a Prefeitura deixa abandonada

Page 99: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg xcix

A margem do Piracicamirim...

Morcegos ali fazem suas tocas

E os ratos fazem suas artimanhas...

Meninos sujos fazem troca-trocas

E no escurinho traçam as piranhas...

Toda a população desesperada

Reclama em vão... e a angústia não tem fim...

Ai, quando ficará embelezada

A margem do Piracicamirim?

Dedicatória:

Amigo Nazareno, esta maçada

Chega até me dar cólicas de rim,

Sempre que passo e vejo derrocada

A margem do Piracicamirim!

14.04.1991

Page 100: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg c

Balada para a Lua

No céu da noite brilha a Lua,

Colar de estrelas a rodeia.

Serenamente brilha nua

À luz do sol que lhe incendeia.

Poeta – fico enamorado

E lhe componho logo um verso.

Que a Lua em seu brilhar dourado

É a grande Musa do Universo!

Seu forte brilho invade a rua

E a alma de sonhos deixa cheia.

E cada raio que tressua,

Transforma em grades de cadeia.

Porém, eu vivo apaixonado

De um modo cálido e diverso,

Page 101: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ci

Que a Lua em seu brilhar dourado

É a grande Musa do Universo!

Minh’alma, Diana, é toda tua!

É o que Ela em vida mais anseia.

Desse desejo não recua

E nunca chora ou devaneia.

Deixa o caminho iluminado

Para travar o tempo adverso.

Que a Lua em seu brilhar dourado

É a grande Musa do Universo!

Envio:

A ti meu canto é consagrado...

Embora seja tão disperso,

Que a Lua em seu brilhar dourado

É a grande Musa do Universo!

25.04.2008

Page 102: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cii

Balada de um Louco

Para glorificar a Fantasia

Fiz-me de louco e – pária da loucura

Pus meu pijama em plena luz do dia;

Com gestos eu soltei minha magia,

Fui estudar hirundinicultura

Visitei as pirâmides do Egito,

No Saara fui pastar o meu cabrito!

E se tudo o que fiz foi muito pouco,

De coragem maior eu necessito

Para ser condenado como louco!

Bradei abracadabras na alquimia!

Coloquei sal num tacho de doçura.

Por causa de uma vã radiografia

Tomei um cálice de anestesia

Page 103: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ciii

Para fazer sessão de acupuntura.

No instante do silêncio dei um grito,

Pintei no peito as cores do Infinito

Fiquei dez dias como um dorminhoco.

Fui à rua imitando um periquito,

Para se condenado como louco!

Sem ter talento fiz Agronomia,

Misturei chocolate e rapadura,

Forjei ataques, sim, de epilepsia

Dei falso alarme de uma epidemia.

No frio me queixei de queimadura.

Vou agora acender cigarro e pito

Pois acho que vai bem, fica bonito.

Vou por para benzer água de coco

No instante de silêncio dou um grito

Para ser condenado como louco!

Page 104: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg civ

Oferta:

Mas vejam só, será o Benedito!

Ainda tenho o coração aflito.

Se alguém der contra, vou de tapa e soco,

Tudo o que fiz foi por amor, repito,

Para ser condenado como louco!

27.11.1986

Page 105: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cv

Balada da Fumaça

O cigarro descansa no cinzeiro

Mas a fumaça, em longa serpentina

Densa, vai preenchendo o ambiente inteiro,

E em tudo vai colando um forte cheiro

Que mais parece ser névoa londrina.

Em baforadas lentas, mornas, graves,

Aguço mais e mais o pensamento...

Forma a fumaça serpenteantes naves

E em rodopios forma imensas aves

Enquanto me desfaço num lamento.

Na extremidade um tímido braseiro

Parece ser um olho de rapina.

Fica me olhando fixo, prazenteiro,

Como se fosse a lança de um arqueiro

Querendo cometer uma chacina...

Page 106: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cvi

No cinzeiro outros tocos, em conclaves,

Não se rendem, jamais, ao forte vento...

Querem ao meu destino por entraves

Ou pensam, ao meu olho ser as traves,

Enquanto me desfaço num lamento.

Ah, vício insano, sou teu prisioneiro.

E meu desejo nunca te abomina

E sempre um novo maço te requeiro

Pois és meu solitário companheiro,

– Fiel amigo de fiel rotina! –

Oh, mistura de fumos tão suaves!

Fumar exige um ritual bem lento

Tal um segredo posto a sete chaves...

Estamos dentro um do outro como claves,

Enquanto me desfaço num lamento.Oferta:

Fumaça, quero que meus sonhos laves.

Sê nesta noite a essência de óleo bento;

Page 107: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cvii

Mística paz em todos os conclaves,

Quero que meus pulmões, tu lenta caves,

Enquanto me desfaço num lamento.

21.11.1994

Page 108: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cviii

Balada das Meninas Prostitutas

Essas meninas pobres e esquecidas,

Muitas vezes de rosto assaz pintado,

Nos lábios marcas de batom borrado,.

Vão levando sem eira, as suas vidas.

Em velhas ruas, praças e avenidas,

Aos transeuntes fazendo mil gracejos,

Acenando com as mãos, jogando beijos,

Sempre à espera que passe um pretendente,

Mostram seus jovens corpos diariamente,

Vendendo seus gemidos, seus desejos.

Essas meninas tristes, desvalidas,

Seminuas expõem-se a este mercado,

Exibindo um sorriso fabricado,

Page 109: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cix

Mostram no rosto, as expressões sofridas.

Às vezes, com barrigas já crescidas,

Mais lembra periquitos dos realejos

Lançando a sorte em rápidos festejos

Para encontrar decerto outro cliente...

Tolas sonham e o sonho é contundente,

Vendendo seus gemidos, seus desejos.

Essas meninas julgam-se queridas,

Na fantasia tem um namorado.

Sonham também viver junto ao amado

Com parcas esperanças coloridas...

Essas tristes meninas desvalidas

São a escória do mundo em seus arpejos,

São mendigas traçando vis cortejos

São a crença de um mundo já descrente!.

Pobres mostram um corpo repelente,

Vendendo seus gemidos, seus desejos.

Page 110: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cx

Essas meninas, umas – pervertidas,

Outras – com triste olhar n’alma marcado,

Podres mercadorias de atacado,

Tem as suas vontades prostituídas.

Da Sociedade sempre são banidas,

São as flores dos charcos e dos brejos,

São ratos nos esgotos, aos rastejos,

Retratos de um país pobre e demente.

Todas tem um sorriso deprimente,

Vendendo seus gemidos, seus desejos.

Essas meninas – pobres margaridas,

Sem futuro, presente e sem passado,

Viciadas na bebida e no baseado,

De bares e de clubes são excluídas.

A muitos elas são jovens perdidas,

São cacos de cortantes azulejos,

Motivos para motes sertanejos

Em canções de mau-gosto, inconsequente.

Page 111: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cxi

Passam rindo, escondendo o olhar doente

Vendendo seus gemidos, seus desejos.

Oferta

A Beira-rio traçam seus motejos,

Mostrando dentes podres em bafejos,

Essas meninas são, em nossa mente,

A realidade de um Brasil dormente,

Vendendo seus gemidos, seus desejos.

04.01.2008

Nota: conferir com o Canto Real das MeninasProstitutas, onde adicionei um verso a mais emcada estrofe desta Balada, transformando oPoema.

Page 112: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cxii

Balada do Meu Amor

Componho sempre uma balada

Para agradar minha querida.

Minh’alma vive apaixonada

Desta alegria estremecida.

Esta é paixão que me convida

A lhe dizer de peito aberto:

Se, estás ausente a minha vida,

Não tem oásis no deserto.

Sem ti por certo não sou nada

Sou folha da árvore caída.

Meus passos vão de madrugada,

Numa incerteza sem saída.

O amor é colcha bem tecida,

Com essa colcha me acoberto.

Page 113: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cxiii

Se, estás ausente a minha vida

Não tem oásis no deserto.

De forma tal vive encantada

Nossa esperança colorida,

Que nesta vida não sou nada

Se acaso estás triste e ferida.

A estrada é longa percorrida,

Porém, de mim, sempre vais perto.

Se, estás ausente a minha vida

Não tem oásis no deserto.

Oferta:

Por isso te amo, Ana, querida,

E digo assim de peito aberto:

Se, estás ausente a minha vida

Não tem oásis no deserto.

15.01.2008

Page 114: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cxiv

Balada da Riqueza

O meu amor sempre merece

Que lhe dedique uma canção.

Assim minh’alma em cantos tece

Versos de amor com o coração.

É tão feliz a sensação

Que em rimas todo o glorifico.

E ao demonstrar tal emoção

Da vida sinto-me mais rico.

O meu amor jamais me esquece

Vive a me dar satisfação.

E dia a dia ele mais cresce

Lembrando lavas de um vulcão.

Escorre em flores pelo chão

E mais feliz, com a alma fico.

Page 115: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cxv

Ao bendizê-lo em oração

Da vida sinto-me mais rico.

O meu amor é santa prece

Que elevo ao céu numa oblação.

Na noite fria ele me aquece

Nos faz um só nesta união.

Procuro sempre uma razão

E ajoelhado o santifico.

E por viver essa paixão

Da vida sinto-me mais rico.

Oferta:

Carrego um sonho em cada mão

E a realidade ratifico:

Seja qualquer do ano a estação,

Da vida sinto-me mais rico.

22.01.2008

Page 116: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cxvi

Balada da Saudade

Crio baladas à francesa

Que é toda musicalidade.

Ritmo, harmonia, singeleza,

Doce ternura e suavidade.

A inspiração a alma me invade

Feliz os versos eu componho.

Balada lembra uma saudade

E de saudade vivo e sonho.

Estrofes teço com beleza

E é galanteio o verso que há de

Fazer do amor uma certeza:

– Poema de sinceridade.

O amor num hino de verdade

O coração deixa risonho.

Page 117: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cxvii

Balada lembra eternidade

Na eternidade vivo e sonho.

Balada é verso de princesa

Que canta e sonha de ansiedade.

Inveja a pobre camponesa

Que satisfaz-se indo à cidade.

Nos olhos tem vivacidade

Jamais revela o olhar tristonho.

Seu véu encobre a castidade

Na castidade vivo e sonho.

Envio:

O meu amor não tem idade.

Se meu viver já vai tardonho,

Quero viver a realidade

Pois fora dela vivo e sonho.

22.01.2008

Page 118: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cxviii

Balada do Cantor

Dedico versos ao amor

Que na minh’alma vibra e canta.

Por isso sou feliz cantor

Que trago um verso na garganta.

A minha rima em esplendor

É rara e pura sinfonia.

Sinto-me Orpheu e sou tenor

Ao declamar minha Poesia.

Um sonho raro e embalador

Na minha vida se agiganta.

Faço brotar viçosa flor

Em qualquer rama, em qualquerplanta.

Sempre um perfume embriagador

Page 119: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cxix

Exala em cálida harmonia.

E sinto em paz meu interior,

Ao declamar minha Poesia.

Na vida existe tanta cor,

Tanta alegria, tanta, tanta,

Que teço loas em louvor

Num sentimento que me encanta.

O verso levo num andor

Numa paixão que me extasia.

Por isso sinto tanto ardor

Ao declamar minha Poesia.

Oferta:

Da vida sou um sonhador.

Na vida não se passa um dia

Que eu sinta o peito encantador

Ao declamar minha Poesia.

23.01.2008

Page 120: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cxx

Balada Carnavalesca

É Carnaval! É Carnaval!

A voz do samba é a voz da vida.

Há um ritmo alegre e há um festival

Que põe desfile na avenida.

Pierrô procura Colombina

Que oculta o rosto com um véu.

Chove confete e serpentina

E colorido fica o céu.

Momo desfila triunfal

Com sua roupa colorida.

É rei que evoca o bacanal

E se entorpece na bebida.

A Escola firme determina

Que haja furor, haja escarcéu.

Page 121: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cxxi

Chove confete e serpentina

E colorido fica o céu.

Sambista nua e sensual

Rebola o corpo sem medida.

No frenesi sensacional

Para a devassidão convida.

Samba frenético alucina

E o corpo vai de déu em déu.

Chove confete e serpentina

E colorido fica o céu.

Dedicatória:

Na quarta-feira eis a rotina:

Há um desespero por troféu.

Luto, confete e serpentina

Em cinzas fica todo o céu.

23.01.2008

Page 122: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cxxii

Balada Amarga

Delírios d’alma. A sensação

É sempre a mesma. Ando perdido.

Perdida está minha razão

Na vida sou incompreendido.

Ao longe mágico violão

Empresta som à melodia.

Mas como é triste essa canção,

Que letra amarga essa poesia.

E digo sim, e digo não,

Pelos delírios sou vencido.

No peito bate o coração

Na estrada o passo é indefinido.

Sigo vazio de emoção

E a tarde traz o fim do dia.

Page 123: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cxxiii

Crio um soneto... que ilusão!

Que letra amarga essa poesia.

Um sonho trago em cada mão

Mas o meu sonho é entristecido.

Poeta sem inspiração

Busco um momento colorido.

O eco repete uma oração

Tristonha prece de agonia.

Do verso a rima é um sonho vão

Que letra amarga essa poesia.

Envio:

Oh! Meu amor, minha paixão,

Venha trazer-me uma alegria

Mas tu me dizes – decepção! –

Que letra amarga essa poesia.

01.02.2008

Page 124: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cxxiv

Minhas Baladas

Minhas Baladas... quando as componho

Enamorado fico por elas.

Pois nascem dentro de um lindo sonho

Aureoladas por mil estrelas.

Minhas Baladas são sentinelas

De um sonho lindo cheio de cor.

Dentro do sonho feliz caminho,

Declamo versos cheios de amor,

E cada verso traz o esplendor

E traz a vida a quem é sozinho.

Minhas Baladas quando eu as sonho

Page 125: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cxxv

São feiticeiras, são tagarelas,

Trazem no olhar um mundo risonho,

Ternas cantigas nas passarelas.

Minhas Baladas abrem janelas,

Invadem mundos com resplendor.

No voo alegre do passarinho

Declamam versos, fazem louvor,

E cada verso traz o esplendor

E traz a vida a quem é sozinho.

Minhas Baladas... onde eu as ponho

Trazem a chama rubra das velas,

Quando por nada fico tristonho

Espargem flores pelas vielas.

Minhas Baladas doces, singelas,

Trazem mil risos, não trazem dor.

Tem a ternura de um níveo ninho

Tem a meiguice do beija-flor.

E cada verso traz o esplendor

Page 126: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cxxvi

E traz a vida a quem é sozinho.

Oferta:

A ti, Querida, todo fervor!

Mais que esses versos, te dou carinho.

Se houver outono, frio ou calor,

Me primavero, rebento em flor,

Jamais deixando este amor sozinho.

31.01.2008

Page 127: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cxxvii

Balada Triste

Minha poesia planta a esperança

Pelos canteiros de imensa horta.

Cada semente – sou eu criança

Doando sonhos de porta em porta.

Minha poesia – lembra eu menino

Correndo alegre pelos quintais.

Buscando em rimas o meu destino

Sonhando o mundo, querendo mais.

Minha poesia canta a lembrança

Que a alma poetisa em versos exorta.

E cada rima no verso dança

Por vezes certa, por vezes torta.

Com versos claros eu me ilumino

Teço baladas e madrigais.

Page 128: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cxxviii

Ao sol brilhando vou no destino

Sonhando o mundo, querendo mais.

Minha poesia – manta que trança

Uma vontade que há muito é morta.

Cresce o menino, seu tempo avança,

Do lar materno seu sonho corta.

Declino passos, sonhos declino,

Sonhos brilhantes bradam – jamais! –

Ao longe fito um amplo destino

Sonhando o mundo, querendo mais.

Oferta em Saudade:

A passos firmes no sol a pino,

Os versos tangem tristes finais.

Fica o passado, morre o destino,

Sonhando o mundo, querendo mais.

26.02.2008

Page 129: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cxxix

Balada da Paixão

Dentro do peito o coração

Entoa versos de balada.

Transforma o Sonho na canção

Que a vida fica apaixonada.

Deixo a tristeza abandonada

No fundo escuro do porão.

Na vida não existe nada

Que me provoque mais paixão.

Transmudo o verso em oração

E com a alma em luz, ajoelhada,

Olho no céu a Imensidão

Com seus segredos, encantada.

È sinfonia iluminada,

É puro amor, santa emoção,

Page 130: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cxxx

Na vida não existe nada

Que me provoque mais paixão.

Da vida os dias longos são

E o sol – qual tocha iluminada! –

Aos homens traga-lhes razão,

Para que a Fé lhes seja dada.

Que traga o verso a paz lavrada

No ouro da pura exaltação.

Na vida não existe nada

Que me provoque mais paixão.

Oferta:

Que a Alma nos versos, inspirada,

Entoe forte este refrão:

Na vida não existe nada

Que me provoque mais paixão.

28.02.2008

Page 131: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cxxxi

Balada Cantante

Minha alma canta, o peito canta,

É meu mister assim cantar!

Ponho meus versos na garganta

Teço cantigas de ninar.

Mil versos canto na lembrança

Que uma explosão de amor traduz.

Se a voz no verso não se cansa,

Meu verso na alma é pura luz.

Meu verso em preces me acalanta

Pois vem em ondas pelo mar.

Se na poesia a alma se encanta,

Lanço-os ao vento, à brisa, ao ar.

Traduzo em versos a esperança

Que no meu peito jorra a flux.

Page 132: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cxxxii

Meu verso canta, embala, dança,

Meu verso na alma é pura luz.

A sinfonia me quebranta

Em notas mil fico a sonhar.

A paz que sinto é tanta, tanta,

Que versos canto sem parar.

A vida corre, o tempo avança,

Meu céu em versos luz, reluz.

Meu verso à paz tece aliança,

Meu verso na alma é pura luz.

Envio:

De onde me veio tal herança

Que verso puro reproduz?

Desde os meus tempos de criança

Meu verso na alma é pura luz.

28.02.2008

Page 133: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cxxxiii

Balada com Melodia

É necessário que a Poesia

Viva nas nossas ilusões,

E sua terna melodia

Transforme nossos corações.

Necessitamos de emoções

Para viver o nosso dia.

Assim as nossas decepções

Terão um pouco de alegria.

Que sua eterna sinfonia

Preencha o dia de clarões,

Que haja ternura e haja magia

E as mais sinceras sensações.

Que o som das mágicas canções

Matem as horas de agonia,

Page 134: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cxxxiv

Assim as nossas decepções

Terão um pouco de alegria.

Que os versos tragam harmonia

E tragam à alma mil razões

Para florir tanta energia

Que a paz transmuda em orações.

Que o amor rebrilhe em mil florões

E que não haja uma utopia

Assim as nossas decepções

Terão um pouco de alegria.

Oferta:

Mulher! Que os urros dos leões

Tenham alguma serventia,

Assim as nossas decepções

Terão um pouco de alegria.

28.02.2008

Page 135: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cxxxv

Balada para Maria Cecília

Cecília se tornou saudade

Deixando aqui, abandonados,

Poetas tristes na orfandade

Com corações desesperados.

Sua Poesia tão sentida

Porém ficou a florescer,

Desabrochando colorida

Em hinos plenos de prazer.

Da azul-celeste Eternidade

Lança mil raios inspirados

Para podermos, na ansiedade,

Versos tecer iluminados.

Aos versos teus, cheios de vida,

Plenos de sonhos, por colher,

Page 136: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cxxxvi

Quero a Poesia mais sentida

Em hinos plenos de prazer.

Silêncio tece insana grade

Prendendo versos cadenciados.

Hinos em cantos de Verdade

À flor da Vida estão calados.

Ausência triste, enegrecida,

Na solidão vive a sofrer.

Faz falta a Musa enternecida

Em hinos plenos de prazer.

Dedicatória:

A flor no vaso está caída,

Sem ti não vai sobreviver.

Volta, Cecília e dá-lhe vida

Em hinos plenos de prazer.

28.02.2008

Page 137: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cxxxvii

Balada dos Olhos

Houve um adeus na despedida

Que me deixou triste e chorando...

Pássaro morto, fim da vida,

Passos na noite vão errando.

Caiu a lágrima furtiva

No triste instante que houve o adeus.

Porque deixei a alma cativa

Naqueles lindos olhos teus.

Noite sem lua, enegrecida,

Sonhos no espaço vão num bando.

Trago no peito a alma partida

Sem rumo certo em transes ando.

Por mais que nesta vida eu viva

Me lembrarei de ti, oh, Deus!

Page 138: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cxxxviii

Porque deixei a alma cativa

Naqueles lindos olhos teus.

Sinto meus sonhos de partida

Quedo-me em lágrimas olhando.

Vai tua imagem refletida

No coração que está sangrando.

A dor da morte sempre ativa

Tece relâmpagos nos céus.

Porque deixei a alma cativa

Naqueles lindos olhos teus.

Oferta:

Ah, que profunda expectativa

De ouvir-te a voz... ai, sonhos meus...

Porque deixei a alma cativa

Naqueles lindos olhos teus.

28.02.2008

Page 139: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cxxxix

Balada Brilhante

Embalo em versos a canção

Que dentro d’alma me entorpece,

Canta, feliz, o coração,

Ouvindo os timbres dessa messe.

A voz é plácida oração

Que igual magia a tudo encanta.

Em êxtase ouço-a em emoção,

A própria vida em brilhos canta.

Notas febris; doce ilusão,

Como rosários a alma tece

Hinos de amor feito paixão.

Porém, de súbito acontece

No largo céu... revolução:

As rimas tecem fofa manta

Page 140: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cxl

Bordada a pena de pavão.

A própria vida em brilhos canta.

Repete o verso o seu refrão:

– Crença de luz que permanece

Com esplendor numa oblação

Que o céu dourado resplandece.

Pura e divina é a sensação,

É imagem virgem, sacrossanta.

É frenesi, é comoção,

A própria vida em brilhos canta.

Oferta:

Eterno Amor, com devoção

Tamanho amor até me espanta.

Mas ao te dar meu coração,

A própria vida em brilhos canta!

29.02.2008

Page 141: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cxli

Balada para Ana Maria

Trago no peito a alma inspirada

E um coração aberto à vida.

Para a Poesia é longa a estrada:

Se traz espinhos... é florida.

Engasto a rima... a mais preciosa

Para poder versos compor.

Às vezes colho alguma rosa

Para fazer versos de amor!

Respiro com a alma apaixonada

A vida bela e colorida.

Declamo versos para a Amada

Que me ouve atenta e comovida.

Descamba a tarde bela e airosa...

Que maravilha é o sol se por!

Page 142: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cxlii

À doce Amada oferto a rosa

A ela declaro o meu amor!

No mundo não existe nada

Que deixe a alma entristecida.

Bem lembra algum conto de fada

A história antiga e a ser vivida.

Cada manhã maravilhosa

Nos traz o sol raro esplendor.

Oferto a mais perfeita rosa

A quem eu chamo meu amor!

Dedicatória:

A vida é bela, é cor-de-rosa!

Sou teu Poeta, teu Cantor!

Ana Maria é minha rosa!

É meu amor! Eterno amor!

29.02.2008

Page 143: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cxliii

Balada Poética

Sou teu Poeta, minha flor!

Por isso em rimas sempre canto

Que és o meu puro e eterno amor.

Nas rimas sempre me suplanto

Para ofertar, com esplendor,

Meu verso pleno de carinho

Pois sou, Querida, o teu cantor

E canto como um passarinho.

Demonstro assim o meu valor

E é natural que exista espanto.

Se a rima é pobre, por favor,

Meu verso vai cheio de encanto.

Amada, seja como for

Iremos juntos no caminho.

Page 144: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cxliv

Pois sou, querida, cantador

E canto como um passarinho.

Minha Balada tem vigor!

E canto-a sempre, em qualquer canto.

Tecer baladas é labor

Poético, e o esforço é tanto...

Mas não demonstro mágoa ou dor.

E perfumado teço um ninho

Pois sou Poeta e trovador

E canto como um passarinho.

Envio:

Sou Deus-Poeta e Criador

Jamais irei viver sozinho.

Sou teu Poeta, meu amor,

E canto como um passarinho.

03.03.2008

Page 145: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cxlv

Balada das Rimas Pobres

Dentro das regras seculares

Fico a compor minhas baladas:

Oitavas simples e vulgares

Com rimas pobres, desprezadas.

Mas o prazer que sinto é tanto

Que eu as componho com fervor.

Com versos puros teço um canto

Pois sou Poeta trovador.

Rimas engasto iguais colares

E brilham como as madrugadas;

Milhões de massas estelares

Fazem as noites encantadas.

Momento mágico de encanto,

A rima é pétala de flor.

Page 146: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cxlvi

Vou modulando a voz num canto

Pois sou Poeta trovador.

Os versos brotam dos teares

E estampam rosas encarnadas.

Sonhos mergulho em fundos mares

E trago pérolas douradas.

Esse prazer é sacrossanto!

Esse milagre é encantador,

Que aos céus e aos mares vibro um canto,

Pois sou Poeta trovador.

Oferta:

Contudo o verso finda e o pranto

Cala meu peito de cantor.

Mas crio logo um novo canto

Pois sou Poeta trovador.

07.03.2008

Page 147: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cxlvii

Balada Inocente

É necessário que a poesia

Viva nos corações humanos,

Que vivem presos na utopia

E na arrogância dos enganos.

É necessário que a alegria

Brote em canteiros de esperança,

Talvez assim, o mundo, um dia,

Tenha a inocência da criança.

O mundo vive na fobia

E o homem somente causa danos.

Explode a guerra, a epidemia,

Podres estão rios e oceanos.

Parece o amor não ter valia,

Vivendo preso na lembrança.

Page 148: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cxlviii

Sonho que o nosso mundo, um dia,

Tenha a inocência da criança.

Na vida a atroz melancolia

Planta o desprezo em vis arcanos.

Onde o sorriso outrora havia,

Viceja hoje o ódio dos tiranos.

Fatal e fúnebre agonia

Com seu desejo a tudo entrança.

Porém, que o amor no mundo, um dia,

Tenha a inocência da criança.

Envio:

Homem profano, eu só queria

Viver a paz sem mais tardança,

Que assim a vida, em paz um dia,

Tenha a inocência da criança.

07.03.3008

Page 149: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cxlix

Velha Balada de um Amor

Hoje te vi e uma paixão imensa

Povoou a minh’alma em esplendor.

E cantei, em delírio, linda crença,

Para te declarar o meu amor.

Tudo foi alegria multicor

Quando beijei teus lábios delirantes,

E na paixão tão cheia de calor,

Na tarde a fenecer, fomos amantes.

E o prazer não pedia recompensa

Pois n’alma nós sentíamos o ardor

Da entrega, numa força tão intensa,

Que tudo, para nós, se fez fulgor!

Era no ocaso, o sol ia se por,

Mas antes que seus raios coruscantes

Deixassem tudo em lívido negror,

Page 150: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cl

Na tarde a fenecer, fomos amantes.

Nossa paixão vibrava no ar, suspensa;

Dos nossos corpos, vinham o rumor

Das carnes satisfeitas e era tensa

A volúpias das almas, em frescor!

Era a felicidade em sua cor

Que a nós chegava em passos ebriantes,

E ainda me lembro – em lindo resplendor,

Na tarde a fenecer, fomos amantes.

Envio:

E todo esse romance, minha flor,

Foi para mim como explosões radiantes

De luz e ainda me lembro com ardor:

Na tarde a fenecer, fomos amantes.

24.09.1981

Page 151: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cli

Balada para Gustavo Teixeira

Oh! Gustavo Teixeira, hoje o Poeta

Rende glórias a ti, bardo inspirado,

No peito o coração apaixonado

Tuas loiras estrofes interpreta.

E vibra uma paixão – sublime seta

Que fere a alma num doce relicário! –

E se transforma em trinos de canário.

É delírio, é prazer, que tanto almejo

Em tua fronte dar um terno beijo

Nos cem anos do lírico Ementário!

Oh! Gustavo Teixeira, grande esteta!

Teu “Último Evangelho” é iluminado.

Nele mostras Jesus – Filho Sagrado! –

Que devemos segui-Lo como meta.

Page 152: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg clii

Tua Musa, divina borboleta,

De flor em flor, num vôo refratário,

Beija “Leda”, tão triste em seu fadário.

Mas a “ilusão ridente” num solfejo

Dentro do coração soa um gracejo

Nos cem anos do lírico Ementário!

Oh! Gustavo Teixeira, tão discreta

Foi tua vida, meu Poeta amado,

Que relendo teus versos, inspirado,

Fico a pensar, de forma até concreta,

Que és brisa envolta em luz numa violeta.

Mais leio “A Tempestade” e atroz cenário

O espaço dilacera... e mais eu vejo:

Os Poetas te saúdam num cortejo

Nos cem anos do lírico Ementário! Oferta:

Oh! Poeta das Rosas! Há um sacrário

Na alta serra onde luz um campanário.

Page 153: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cliii

E eu, Poeta, somente aqui desejo

Que cante pela rua um realejo

Nos cem anos do lírico Ementário!

13.03.2008

Page 154: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cliv

Balada da Saudade I

Sim, é impossível que a maldade

Maltrate tanto um coração.

E aja em perversa atrocidade

Ferindo-o a balas de canhão.

Vivo de sonho e de ilusão

E ser feliz assim quem há de?

Disfarço em versos de canção

Tudo o que chamo de Saudade.

Sua feroz intensidade

É monorrítmica estação.

No inverno é pura frialdade,

E é brasa pura no verão.

Na primavera a sensação

Page 155: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

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Floresce apenas por piedade.

Porém, no outono é com razão

Tudo o que chamo de Saudade.

Tanto no campo ou na cidade

É sempre a mesma sensação.

Não acredito na verdade

Mas a mentira é uma oração

Que o eco repete num refrão.

Com ela vivo na orfandade

Sem ela é tudo solidão

Tudo o que chamo de Saudade.

Oferta

Madrasta ingrata! Os sonhos vão

Nessa sem fim perversidade.

Por maltratar um coração

Tudo o que chamo de Saudade.

24.03.2008

Page 156: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

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Balada da Saudade II

Não é possível que a saudade

Com suas garras de Quimera

Contenha, sim, tanta ansiedade

Que a alma em mil transes dilacera.

Agarra à vida como a hera

Com seus espinhos pontiagudos.

Quer seja inverno, ou primavera,

Os sonhos todos morrem mudos.

Essa Senhora ingrata ainda há de

Despedaçar-se na alta Esfera.

E sua sombra de maldade

Irá morrer de tanta espera.

O tempo corre... Era após Era

Traz os delírios mais agudos.

Page 157: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

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Mas passa o inverno e à primavera,

Os sonhos todos morrem mudos.

Doce e fatal calamidade!

Essa Senhora o mundo impera.

Chama de ardente claridade

Que amargo fruto delibera.

E o coração jamais supera

Os seus brocados e veludos.

Mas tanto o inverno e a primavera

Os sonhos todos morrem mudos.

Oferta:

Quero que vivas na tapera,

Não vou cantar-te em meus estudos.

Pois eu me inverno em primavera

Os sonhos todos morrem mudos.

25.03.2008

Page 158: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

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Balada da Criação

Nas pontas dos meus dedos já treinados,

Eu tamborilo o ritmo com frequência.

A métrica procuro em persistência

Para os versos jamais soarem quebrados.

Enquanto a mente explode em altos brados,

Uso a técnica, domo o pensamento

Que flui de leve, no valsar do vento.

A estrofe em êxtase de luz suprema

Como pérolas alvas de um diadema

Brota d’alma em delírio atroz, violento.

Maremotos, trovões, gritos, silvados,

E tudo vibra em luz ,numa cadência.

O coração explode em fúria e ardência,

Solta laivos de dor desesperados.

Page 159: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg clix

A ideia ferve, os sonhos vão alados,

Há pulverizações de filamento.

Uivam lobos da noite num lamento,

Surgem constelações de forma extrema,

Há colisão de sóis e o verso em gema

Brota d’alma em delírio atroz, violento.

Os abismos de treva – iluminados!

Inexiste saber para tal ciência!

Germina ainda no lodo da existência

E os sonhos – deixa, em transes, inspirados.

Lábios em beijos fortes, esmagados,

Dão o prazer real desse tormento.

Febre, fúria, paixão – divino unguento

Faz que, à Força Divina, a alma trema.

Momentos abissais! E tal teorema

Brota d’alma em delírio atroz, violento. Oferta:

Canta o Poeta! Deus desse momento

Page 160: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

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Ele contempla a luz do Firmamento.

Qual Príncipe celeste, enquanto rema,

Na pura inspiração sente que o Poema

Brota d’alma em delírio atroz, violento.

26.03.2008

Page 161: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

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Balada do Galanteio

Minha querida, hoje te escrevo

Como lembrança, esta Balada.

Coloco as rimas em relevo

– Doce homenagem para a Amada.

Sem ti, amore, não sou nada,

Repito sempre, sem parar,

Pois a minh’alma apaixonada

Nunca se cansa de te amar.

Enfim nos versos mais me atrevo

Que a alma a paixão deixa inspirada.

Do quanto sou – tudo o que devo

Por que na vida – és minha fada.

Se, acordo em alta madrugada

Em teu amor fico a pensar,

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Pois a minh’alma apaixonada

Nunca se cansa de te amar.

Se, estás ausente, eis que me entrevo

E a vida sinto abandonada.

Dentro do peito, Amiga, levo

Um coração de alma encarnada.

És minha doce namorada,

Amor sem tempo de acabar,

Pois a minh’alma apaixonada

Nunca se cansa de te amar.

Oferta

Se a rima é pobre, terna Amada,

É rico o amor para te dar,

Pois a minh’alma apaixonada

Nunca se cansa de te amar.

26.03.2008

Page 163: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

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Balada Piracicabana

Piracicaba! Hoje te exalto

Nos versos líricos que faço.

Contemplo em êxtase teu Salto

Que se transforma num regaço

Para alentar meu coração.

Te adoro tanto, tanto, tanto,

Que solto a voz em oração

Cheia de flores e de encanto.

Piracicaba! Em sobressalto

Eu te visito passo a passo.

Bela Cidade! A força do Alto

Embelezou-te em cada espaço.

Nesta balada-exaltação

É muito pouco este meu canto.

Page 164: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg clxiv

O olhar te vê com emoção

Cheia de flores e de encanto.

Piracicaba! és no Planalto

Referenciada em letras de aço.

Que a voz no peito num assalto

Brilha nos versos que ora traço.

A vida vibra com razão

Ao ver-te assim co’olhar de espanto.

E é minha lírica oração

Cheia de flores e de encanto.

Oferta:

O olhar te vê na Imensidão

Lembra um poema sacrossanto.

E findo minha inspiração

Cheia de flores e de encanto.

27.03.2008

Page 165: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg clxv

Balada da Mocidade

Recordo a leda mocidade

Cheia de sonhos por viver.

Em tudo havia intensidade,

Momentos puros de prazer.

Mas foi passando a quadra airosa

E foi chegando a luz da treva.

E da esperança cor-de-rosa

Foi-se o calor e a noite neva.

Brotaram flores de saudade

Em espinhoso belveder.

A angústia e o tédio – por maldade

Fizeram-me um triste esmoler.

O sonho outrora era uma rosa

E hoje, meu Deus, nada se leva...

Page 166: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

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E da esperança cor-de-rosa,

Foi-se o calor e a noite neva.

Outrora tanta claridade

Rumos de luz a percorrer.

Aquela azul felicidade

Perdeu a cor, pôs-se a morrer.

A luz no Ocaso é tenebrosa,

E um sonho ingrato se releva.

E da esperança cor-de-rosa,

Foi-se o calor e a noite neva.

Oferta:

A morte chega pegajosa,

Da noite a luz também se entreva.

E da esperança cor-de-rosa,

Foi-se o calor e a noite neva.

27.03.2008

Page 167: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg clxvii

Balada da Vitória

Para o poeta parnasiano

A forma fixa é uma cadeia.

A inspiração é um oceano

Que a alma em instantes incendeia.

Mas ele o verso e a rima doma,

Doma a cesura mais correta.

Leão sacudindo a hirsuta coma,

Eis a vitória do Poeta.

E nada o prende neste plano...

Se a ideia foge ou devaneia,

Tal qual um grande soberano,

Eis que ele trava uma epopeia.

A inspiração n’alma lhe assoma

E a forma torna-se concreta.

Page 168: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

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Um brinde às Musas ele toma,

Eis a vitória do Poeta.

Se o desespero lhe é insano,

A rima filtra e tece a ideia.

Pois o poeta é um ser humano

Que adoça a vida da colmeia.

Tal qual um gladiador de Roma

A rima rica é sua seta.

Multiplicando a sua soma,

Eis a vitória do Poeta.

Envio:

Deixa o poema na redoma

E faz do amor a sua meta.

Ao dominar o sacro Idioma,

Eis a vitória do Poeta.

28.03.2008

Page 169: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

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Balada das Juras

Quantas baladas, quantos versos,

Em teu louvor eu já compus!

Nos meus sonetos pus, imersos,

Jóias e pérolas de luz.

Porém, tu fazes pouco caso

De tudo o quanto já te fiz,

Já coloquei rosas no vaso,

Te prometi – serás feliz!

Jurei te dar mil Universos,

Já me preguei até na cruz!

Agi dos modos mais diversos,

E declamei versos a flux.

Louco me fiz, foi um arraso,

Page 170: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

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Nada valeu... não me sorris!

Recoloquei rosas no vaso,

Me prometi – serás feliz!

E ages dos modos mais perversos,

Pisas nas sombras, fazes uuus,

Me assustas com teus gestos tersos,

Me comes como os urubus.

Pois bem, contigo não me caso,

Cigana, doida, meretriz.

Retiro as rosas lá do vaso,

E não serás, jamais, feliz.

Envio:

No encontro próximo me atraso,

Irei juntar-me a outra Beatriz.

Ela terá flores no vaso,

E tu serás muito infeliz!

29.02.2008

Page 171: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg clxxi

Balada Apaixonada

Quando te vejo, o coraçãoBadala como fosse um sino.

Feliz bimbalha uma canção

Num longo verso alexandrino.

(Tal verso aqui, não cabe, não,

Pois quebraria esta Balada.)

Mas minha voz, em oração,

Diz que por ti é apaixonada.

Não há na vida outra razão

De haver no mundo outro destino:

O nosso amor se fez a união

De uma menina e de um menino

Que tinham n’alma uma ilusão.

Juntos seguimos a jornada

Page 172: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg clxxii

E minha voz, em oração,

Diz que por ti é apaixonada.

Juntos vivemos a paixão

E com meus versos te ilumino.

Sem ti a vida é solidão,

É pranto amargo e desatino.

O tempo voa num desvão

E vamos nós na longa estrada.

Mas minha voz, em oração,

Diz que por ti é apaixonada.

Envio:

Mil sonhos trago em cada mão

Para ofertar-te, minha amada.

Pois minha voz, em oração,

Diz que por ti é apaixonada.

02.04.2008

Page 173: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg clxxiii

Balada da Poesia

A Poesia que está dentro de mim,Tem vida própria: pulsa, vibra, canta.

Em cada verso a rima é régia manta,

Bordada com brocados em cetim.

Teve início, porém, jamais tem fim

A ânsia de extravasar-me em harmonia.

E canto, dia e noite e noite e dia

Esta paixão que me consome a vida.

Já se faz longa a estrada percorrida,

Pois eu vivo nos braços da Poesia!

Criança eterna, sou papa-capim

Com trinado afiado na garganta.

E canto em qualquer galho, em qualquer planta,

E a estrofe – tico-tico num flautim –

Fica a insistir que a vida é assim, assim...

Eu transmudo essa doce melodia

Page 174: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg clxxiv

Num poema que feito, a alma inebria.

Esta paixão sublime, colorida,

Faz que a Esperança viva mais florida,

Pois eu vivo nos braços da Poesia!

Ouço, às vezes, na mata, algum sem-fim

E ele me diz numa ternura santa,

Que esta vida é de fato sacrossanta.

Também, molhando as flores no jardim,

As ramas perfumadas do jasmim

Pintam a primavera que anuncia

Mudando o inverno em mágica alquimia.

E esta paixão divina e tão sentida,

Multiplica meus sonhos sem guarida,

Pois eu vivo nos braços da Poesia!

Envio:

Ouço do céu sublime melodia!

É a voz de Deus que tange em sinfonia!

Page 175: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg clxxv

Mas que, com meu amor sempre divida

Essa estrada de luz a ser seguida,

Pois eu vivo nos braços da Poesia!

28.03.2008

Page 176: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg clxxvi

Balada dos Sonhos

Sonhos existem para ser sonhados

E se tornarem realidade um dia.

Enquanto sonho, vivo de poesia,

E vivo de tais sonhos tão dourados.

Os meus caminhos amplos e azulados

São pinturas de sonhos coloridos.

Espectros de desejos não vividos

Esperas e ilusões que vão à frente.

A realidade é fria, o sonho é quente,

Que nossos corações deixam feridos.

Outrora os sonhos eram esperados

No fulgor resplendente da magia.

E a contá-los, a voz, em harmonia,

Page 177: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg clxxvii

Tinha timbres e tons aveludados.

Brilharam d’alma os olhos inspirados,

Em desejos de luz irreprimidos.

Os rumos a seguir eram floridos

E nos acalentava o sonho ardente.

Mas sinto que na vida tudo mente,

Que nossos corações deixam feridos.

Na jornada da vida os passos dados

Foram passos de angústia e de agonia.

A vida – uma esperança fugidia,

Os sonhos – desesperos aloucados.

Os fardos do martírio eram pesados,

E os desejos tornaram-se corroídos.

A céu aberto os cantos tão sofridos.

Foram sonhos e esperas simplesmente,

Plantando a solidão sua semente

Que nossos corações deixam feridos.

Page 178: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

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Envio:

Da batalha saímos nós feridos,

Derrotados ficamos mais perdidos.

Os sonhos foram sonhos, tão-somente,

Trazemos n’alma um sonho displicente,

Que nossos corações deixam feridos.

31.03.2008

Page 179: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

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Balada para a Ausente

Anjo querido e tutelar,

Cuida meus passos nesta vida.

Pois não pretendo mais vagar

Qual folha morta ao chão caída.

Vem com ternura, agasalhar

Um coração que sofre tanto.

Eu sinto o frio me gelar,

Sem ti a vida é sem encanto.

Quando contemplo o alvo luar,

Fico com a alma entristecida,

Somente tu podes curar

O sangramento da ferida

Que jorra sangue a borbulhar

Quais quentes lágrimas do pranto

Page 180: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

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Por isso, Amada, vem me amar,

Sem ti a vida é sem encanto.

Se ausente estás, forte é o pesar

Da estrada longa a ser vivida.

Somente tu – posso chamar

Na longa estrada, – de querida.

És como abelha no pomar:

Produzes mel num doce canto.

És minha praia – um doce mar,

Sem ti a vida é sem encanto.

Envio:

Sonhemos juntos um lugar

No céu, na terra, em qualquer canto!

Ao Éden vamos sim, voar,

Sem ti a vida é sem encanto.

03.04.2008

Page 181: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

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Balada Encantadora

O meu amor é como rocha,

É um lindo sonho encantador.

Dentro do peito desabrocha,

Lembra uma rosa multicor.

Em cada pétala de flor

Músicas doces de um compasso.

E há nesse sonho, nesse amor,

Carícia, afeto, beijo, abraço.

O meu amor é como rocha,

Forte e sereno, tem vigor.

Dentro da noite é rubra tocha

Iluminando e pondo cor

Para seguirmos com fervor

De nossas vidas, passo a passo.

Page 182: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

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E há nesse sonho, meu amor,

Carícia, afeto, beijo, abraço.

O meu amor é como rocha,

Declaro sempre, com louvor.

Na Eternidade não se afrouxa,

Dentro do frio, traz ardor.

Sono suave e embalador

O meu amor voa no espaço.

E te oferece, meu amor,

Carícia, afeto, beijo, abraço.

Envio:

Sou teu Poeta e teu cantor,

És tudo o quanto em vida faço.

Te oferto em mil canções de amor,

Carícia, afeto, beijo, abraço.

04.04.2008

Page 183: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

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Balada da Vida

Azul é o sonho quando a mocidade

No chão da vida vai plantando flores.

O ar se impregna de mágicos olores,

E tudo vibra em força e intensidade.

Esbanja o coração felicidade

Soletrando canções do verbo amar.

As noites são de estrelas e luar

E sorrisos estampam nosso rosto.

Na boca há adocicado e suave gosto,

E a vida por viver é nosso lar!

Tudo rebrilha à luz, à claridade,

E nossos sonhos tem milhões de cores.

Das esperanças somos os senhores

Page 184: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

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E caminhamos frente à Eternidade.

A vida é nossa luz, nossa verdade,

Nosso canto de fé no caminhar.

E nossos passos podem nos levar

Do amanhecer à sombra do sol-posto.

Os espinhos se apõem no lado oposto,

E a vida por viver é nosso lar!

Somos livres e temos liberdade,Temos as asas fortes dos condores!

E somos todos nós conquistadores,

E travar nossos sonhos, que é que há de?

Vencemos com denodo a tempestade

Que em turbilhões da vida é o insano mar!

Viver, sorrir, vencer! E a divagar

Nosso corpo se torna aberto e exposto.

Mas na fila da frente é nosso posto,

E a vida por viver é nosso lar.

Page 185: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

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Envio:

Corre o tempo em frenético voar...

Faltando o chão, sentimos falta de ar.

Tudo que de prazer era composto,

Toma contornos de um glacial agosto

E a vida por viver não tem mais lar...

03.04.2008

Page 186: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

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Balada Iluminada

À flor da pele a inspiração

Vibra em meu peito, instante a instante.

Pulsa mais forte o coração

Numa cadência delirante.

A rima brota em profusão

E ideias brotam coloridas.

E cada estrofe é um cantochão

Iluminando nossas vidas.

Entoo versos de canção

Modulo a voz, mudo o semblante.

O canto sai como oração

E invade o espaço em tom ebriante.

Da terna amada tomo a mão

Page 187: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

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E ponho pétalas floridas.

Britam as flores da paixão

Iluminando nossas vidas.

A voz que canta é a da emoção

E sei-me rei e sou amante!

O sonho é belo, é inspiração,

Um espetáculo vibrante.

Nesta Balada-exaltação

Mil esperanças são vividas.

Os nossos sonhos lindos vão

Iluminando nossas vidas.

Envio:

O amor na vida é sensação!

As nossas almas são queridas.

Que continue a Inspiração

Iluminando nossas vidas.

04.04.2008

Page 188: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg clxxxviii

Balada sem Importância

Pouco me importa a rima pobreQuando me chega a inspiração.

Se de ouro, prata, bronze ou cobre,

Riqueza está no coração.

Eu sou, portanto, um milionário,

Tudo o que tenho me irradia.

Por isso canto igual canário

Engaiolado na Poesia.

Essa riqueza que me cobre

Somente dá satisfação.

Que importa ao longe um sino dobre

Se o sonho está na minha mão?

Ser rico é um dom extraordinário,

Jamais ser rico me extasia.

Page 189: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg clxxxix

Por isso canto igual canário

Engaiolado na Poesia.

Assim o verso é sempre nobre

Em seus delírios de paixão.

Que a inspiração sempre me sobre

Para compor, com devoção,

Neste sem-fim itinerário,

Versos de amor a cada dia.

Por isso canto igual canário

Engaiolado na Poesia.

Envio:

Musa divina, em teu sacrário

Bebo a hóstia santa da harmonia.

Por isso canto igual canário

Engaiolado na Poesia.

04.04.2008

Page 190: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

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Balada da Chuva

Choveu. Choveu o dia inteiro.

A chuva era miúda e fria.

Não era, não, forte aguaceiro

Mas era a chuva da agonia,

Que lentamente, lentamente,

Traz solidão e em harmonia

Invade e molha a alma da gente

Numa sem fim melancolia.

Choveu. Meu sonho aventureiro

Olhava a tarde ampla e vazia.

Mais parecia um marinheiro

Num alto mar de calmaria.

Mas a enxurrada – ela somente,

No frio chão, fugaz, corria

Page 191: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cxci

Numa cadência inconsequente,

Numa sem fim melancolia.

Choveu. Meu coração – braseiro

Do frio ingente me aquecia.

Mesmo no sonho sorrateiro,

Deu-me calor – como magia.

E ele aqueceu a minha mente

Trouxe-me o amor todo poesia,

Matou a angústia atra e gemente

Numa sem fim melancolia.

Oferta:

Mas foi-se a chuva num repente,

Rebrilha o sol de um novo dia.

A solidão vai à corrente

Numa sem fim melancolia.

07.04.2008

Page 192: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cxcii

Balada para a Ausente

Meu coração fica a sorrir

Quando se encontra com a amada.

Pois este amor é o elixir

Que mais me deixa a alma inspirada.

Por isso crio esta balada

Que é feita toda exaltação.

Porque sem ti, minha adorada,

Meus dias tristes, tristes são.

No espaço-tempo que há de vir

– Quer seja dia ou madrugada! –

Sonho viver sempre a seguir

Junto de minha namorada.

Se houver alguma encruzilhada

Que ela não traga a solidão.

Page 193: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cxciii

Porque sem ti, minha adorada,

Meus dias tristes, tristes são.

A cada dia do porvir

Sonho viver com minha fada.

Tesouros de Golconda e Ofhir

Estão no fim da longa estrada.

Sigamos juntos na jornada

Cantando em paz uma canção.

Porque sem ti, minha adorada,

Meus dias tristes, tristes são.

Envio:

Sem ti, querida, não sou nada.

De teu amor sou devoção.

Porque sem ti, minha adorada,

Meus dias tristes, tristes são.

07.04.2008

Page 194: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cxciv

Balada Feliz

Quando componho minhas baladas

Doida alegria em minh’alma infesta.

Gemem violinos com ar de festa,

Canários cantam nas madrugadas.

Estrelas brilham alcantiladas

Minha alma em cantos, doce, tressua,

E faz cirandas, rodeando a lua.

O ar se perfuma de áurea esperança,

Sei-me Poeta, me sei criança,

Canto nas praças, canto na rua.

As rimas brotam apaixonadas

E brilham luzes na minha testa.

Doida magia se manifesta

Canta parlendas pelas calçadas.

Page 195: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cxcv

Sonhos carrego e vão de mãos dadas

Numa alegria que se insinua.

Minh’alma à frente jamais recua:

Toda sorrisos valseja, dança.

Mais que Poeta, me sei criança

Canto nas praças, canto na rua.

Gnomos, duendes, bandos de fadas

Espargem brilhos por qualquer fresta.

Quantos delírios! Que alegria é esta

Que em sonhos deixam almas aladas?

As rimas cantam – vão encantadas!

Cada uma delas se mostra nua

E nos delírios brilhante sua...

Na minha mente a estrofe balança

Um sonho lindo e eu sendo criança

Canto nas praças, canto na rua. Envio:

Minha querida, na boca tua

Page 196: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cxcvi

Coloco um beijo. – No céu a lua

Com nossos sonhos trava aliança.

Sou teu Poeta e sendo criança

Canto nas praças, canto na rua.

07.04.2008

Page 197: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cxcvii

Balada da Noite Fria

Da noite o frio me acompanha

Gela-me o peito e o coração.

O gelo corre em minha entranha

Causando horrível sensação.

Estou deitado e agasalhado

Com cobertor, meias de lã.

O corpo treme, estou gelado,

A cerração cobre a manhã.

De gelo existe uma montanha

Que me sopesa, sem razão.

Na teia branca, negra aranha

Dorme na sua mansidão.

Agasalhado estou deitado

(Ai, do calor tanto sou fã!)

Page 198: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cxcviii

O corpo treme, estou gelado,

A cerração cobre a manhã.

A sensação é muito estranha

E o vento uivando lembra um cão.

O aço do gelo a voz arranha

Causa tremor e rouquidão.

O frio está por todo lado

A mim se prende como ímã.

O corpo treme, estou gelado,

A cerração cobre a manhã.

Envio:

Vem aquecer-me, anjo adorado.

Sem ti a vida é vaga e vã.

Sem teu calor vivo gelado,

A cerração cobre a manhã.

07.04.2008

Page 199: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cxcix

Balada Fria

A noite é fria, fria, fria,

O coração está gelado.

Geme feral melancolia,

O vento passa alucinado.

Sofrendo estou de angústia e dor,

Gemem os versos da poesia.

Gemem os laranjais em flor,

A noite é cheia de agonia.

A noite é fria, fria, fria,

Caminho só, desesperado.

Feroz do vento é a sinfonia

Que tecla notas no telhado.

O frio faz perder a cor

Roseira rubra que floria.

Page 200: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cc

Do galho pende fria flor,

A noite é cheia de agonia.

A noite é fria, fria, fria,

Sozinho estou, meu anjo amado.

Sem ti a vida está vazia,

Vazio o sonho tão sonhado.

Não mais as noites de calor,

Porém as noites de agonia.

Da rama pende a fria flor,

A noite é cheia de agonia.,

Envio:

Sem ter na vida o teu amor

A vida sinto estar vazia.

Sem teu perfume, linda flor,

A noite é cheia de agonia.

10.04.2008

Page 201: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cci

Balada para Manoel I

“Café com pão, café com pão!”

Anda nos trilhos, Seu Bandeira.

Faça poemas de emoção

Glória da Pátria brasileira.

O poste passa, o pasto passa,

E passa o galho de ingazeira.

Mas a saudade, essa não passa,

Geme no peito prisioneira.

“Café com pão, café com pão!”

Manda o foguista por madeira

Para aumentar a combustão

Que a alma é da vida passageira.

Tudo na vida é uma ameaça,

E a estrada é longa e bem traiçoeira.

Page 202: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccii

A minha angústia hoje não passa,

Geme no peito prisioneira.

“Café com pão, café com pão!”

Entrei num Beco de primeira.

Eu vou pedir é proteção

Da Aparecida Mãe Padroeira.

Ela dará por certo a graça

Que peço em reza a noite inteira.

Pois a maldade que não passa,

Geme no peito prisioneira.

Envio:

Manoel de glória e forte raça,

Cubra-me com tua Bandeira,

Tira-me a dor que nunca passa

Geme no peito prisioneira.

11.04.2008

Page 203: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cciii

Balada Branca

Morrem os sonhos e a Esperança

É posta numa cova fria.

Não há mais luzes no caminho

E a solidão geme sozinha.

É longa e triste a longa estrada

Aos dias negros que nos restam.

Passos tropeçam nos atalhos

E à vida se abre em negro Ocaso.

A crença morre na cobiça

E no silêncio ela se oculta.

A voz professa uma mentira

Que desvendar fica impossível.

Travam-se os passos da verdade

E o canto torna-se mentira.

Page 204: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cciv

O olhar desvia-se do foco

E a vida se abre em negro Ocaso.

Tudo se perde no momento,

Silêncio dita a voz do jogo.

Poder nefasto vibra e canta,

Porém, bem sei ser passageiro.

Enquanto sofro tais agruras,

Com versos lanço o meu repúdio.

Porém o tempo voa rápido

E a vida se abre em negro Ocaso.

Envio:

Eu vencerei as artimanhas

Da atroz mentira que hoje luz.

Irá surgir de novo a Aurora

Ao sol que agora está no Ocaso.

11.04.2008

Page 205: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccv

Balada Embalada

Quero compor minhas poesias

Em versos próprios de Balada.

Criar milhões de alegorias

Com a alma límpida e inspirada.

Ficar olhando a madrugada

Cheia de estrelas e luar,

Até que em luz rompa a alvorada

E um novo dia para amar!

Na minha voz deito harmonias

Pois ela canta apaixonada,

E na razão longa dos dias

À tua – a minha mão vai dada.

Também com a alma apaixonada

Ficamos juntos a cantar,

Page 206: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccvi

Rompe a manhã, brilha a alvorada,

E um novo dia para amar!

Nas ramas cantam cotovias

Uma canção doce e sagrada,

Cantam aos céus Ave-Marias,

Numa harmonia inusitada.

És tu, Julieta, minha amada,

Sou teu Romeu... vamos voar...

Traz a manhã nova alvorada

E um novo dia para amar!

Envio:

Longe de ti já não sou nada,

És minha luz, meu céu, meu mar!

Traga-me tu nova alvorada

E um novo dia para amar!

17.04.2008

Page 207: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccvii

Balada para Bandeira II

“Café com pão, café com pão!”

Retorno ao mote, Seu Bandeira.

O Trem-de-Ferro da Ilusão

Recheia a Pátria brasileira.

Com seus vagões abarrotados

Foram buscar o ouro na trilha

E nossos nobres Deputados

Do Rio foram à Brasília.

E cada um deles, em mansão

Fazem crescer a roubalheira.

E o Trem-de-Ferro, (eta trem bão!)

Do povo ri na bandalheira.

Todos com caras de safados

Só querem o dim-dim que brilha.

Page 208: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccviii

Políticos desempregados

Do Rio foram à Brasília.

Com as amantes lá se vão

Que a farra é mesmo prazenteira.

Um filho vem, outros virão

Pois a moral não tem bandeira.

Os cidadãos são humilhados

Que a safadeza traça trilha.

Pois nossos nobres Deputados

Do Rio foram à Brasília.

Desoferta:

Oh! Virgem Santa dos Pecados,

Mande ao Inferno os dessa Ilha,

E a corja desses Deputados

Expulse-as todos, de Brasília!

17.04.2008

Page 209: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccix

Balada Casamenteira

Badala o sino alegremente

Na Capelinha do povoado

Lili formosa está contente;

Vai se casar com um... safado!

O povo todo comparece

Ao lírico acontecimento.

No pátio para-se a quermesse

Na festa desse casamento!

Padre Jorjão, todo contente,

Com forte voz e rosto suado,

Fica esperando impertinente,

O noivo que já está atrasado.

Lili disfarça... desconhece

Que o noivo é filho de um jumento...

Page 210: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccx

Mas vejam só o que acontece

Na festa desse casamento:

O noivo cheio de aguardente

Pegou num sono desgraçado.

E se esqueceu completamente

Do matrimônio já marcado.

Mas o destino sempre tece

As suas tramas num momento,

Lili não sofre nem padece

Na festa desse casamento...

Envio:

Moço bonito se oferece

E é realizado o Sacramento.

Padre Jorjão faz linda prece

Na festa desse casamento!

18.04.2008

Page 211: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccxi

Balada do Solitário

Eu não consigo acreditar

Que o riso transformou-se em pranto.

O que era um lírico sonhar

Perdeu de vez seu terno encanto.

Com frenesi o verbo amar

Iluminava nossas vidas,

Hoje sou barco em alto mar

E trago as velas recolhidas.

Na solidão vivo a vagar

E o mar solfeja um triste canto.

Com meu batel vou naufragar

Perdido nesse desencanto.

Sinto asfixia e falta de ar

A relembrar tais despedidas.

Page 212: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccxii

Hoje sou barco em alto mar

E trago as velas recolhidas.

Quanto me doi o recordar

De nosso sonho que foi tanto.

Estou perdido, estou sem lar,

Para acoitar não acho um canto.

Contemplo a lua a navegar

Por entre estrelas coloridas.

Hoje sou barco em alto mar

E trago as velas recolhidas.

Envio:

A nossa estrela tutelar

Já não cintila em nossas vidas.

Sozinho estou em alto mar

E trago as velas recolhidas.

22.04.2008

Page 213: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccxiii

Balada do Vício de Cantar

Não deixarei o vício de cantar!

Em minha vida o canto está presente

De forma natural e reluzente,

Por isso esparjo rimas ao luar

Que o canto é minha luz para brilhar

Em todos os momentos desta vida.

Minha Esperança brilha colorida

Qual tocha pondo a noite iluminada.

Com fé vou percorrendo essa ampla estrada

E os percalços levando de vencida.

O canto chega em ondas pelo mar

E cada rima brilha incandescente.

Água pura vertendo da nascente

Que serve para a sede mitigar.

Page 214: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccxiv

Cada estrofe dobada no tear

– Linho puro é paisagem mais florida! –

Lembra lenço acenando na partida,

Doce abraço festivo na chegada.

Com fé sigo vencendo essa jornada

E os percalços levando de vencida.

O vício de cantar me faz amar

E desse imenso amor me torno um crente.

Não sei se existe forma diferente

Que não seja essa forma milenar

De tal felicidade extravasar.

O canto deixa a alma incandescente

Deixa mais leve o fardo na subida.

Assim, dessa maneira apaixonada

Com fé sigo essa imensa caminhada

E os percalços levando de vencida.

Page 215: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccxv

Envio:

Por mais vida que possa ser vivida

Junto àquela a quem chamo de Querida,

Hei de seguir a vida entrelaçada

E juntos seguiremos nessa estrada,

E os percalços levando de vencida.

25.04.2008

Page 216: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccxvi

Balada para Theresinha

(Aos 80 anos de minha primeira Professora)

Theresinha do Canto Kraide)

Minha querida Professora

Esta balada te ofereço.

E que ela seja a portadora

De um grande amor, que não tem preço.

Se, sou Poeta, a culpa é tua!

Transmudo o verso em campainha.

E vou cantando, à luz da lua,

Oh, minha Santa Terezinha!

Rebrilha o sol em nova aurora,

O coração é todo apreço.

Tanta lembrança n’alma mora

E do passado não me esqueço.

Perambulando pela rua

Uma saudade burburinha,

Page 217: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccxvii

E vou lembrando, à luz da lua,

Oh, minha Santa Terezinha!

Saudade chega sem ter hora

Com melodia o verso teço.

O tempo voa vida afora,

E a gratidão se molda em gesso.

Mas tanto afeto continua

A cadenciar de forma asinha,

E vou sonhando, à luz da lua,

Oh, minha Santa Terezinha!

Dedicatória:

Querida Mestra! De alma nua

Transformo o verso em ladainha,

E vou rezando, à luz da lua,

Oh, minha Santa Terezinha!

14.01.2009

Page 218: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccxviii

Balada das mãos vazias

Todos os sonhos que nós trazemos

Acumulados em nossos dias,

Sendo verdades, nós já não cremos;

Que se transformem em alegrias.

Sonhos não passam de fantasias

Que em transe mexem com nosso sono.

Numa hora as mãos se tornam vazias,

A primavera se faz outono.

Aos nossos barcos faltam os remos

E a correnteza, em mil sinfonias,

Geme seus cantos tristes, extremos,

Como a anunciar ferais agonias.

Desesperadas, as ventanias

As aves levam num abandono;

As mãos se tornam frias, vazias,

Page 219: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccxix

A primavera se faz outono.

Com nossos olhos nós já não vemos,

As esperanças tremem vadias.

As nossas preces, em tons supremos,

Gemem angústias, melancolias.

Busco nas trevas as Três-Marias,

Mas nem dos sonhos sinto-me dono.

Não trago preces nas mãos vazias,

A primavera se faz outono.

Envio:

Oh, Sorte ingrata! Tu poderias

Trazer-me a glória de um lindo trono...

As minhas mãos acenam vazias,

A primavera se faz outono.

22.01.2009

Page 220: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccxx

Balada para um louco amor

De muito sonho, uma alegria,

Uma ventura, um esplendor.

A sensação para a poesia,

O coração com muita cor.

Um louco olhar na tarde fria,

Um sol friorento e sem calor.

Projeto nulo, alma vadia,

Uma loucura, um grande amor.

Uma quietude, ai, que agonia,

Vulcão, silêncio multicor.

Sinos tangendo à Ave-Maria,

Lírico abraço, num torpor.

Espasmos puros de alquimia,

Page 221: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccxxi

Muito a fazer, nada compor.

Serenidade, fantasia,

Uma loucura, um grande amor.

Mormaço, sonho, fantasia,

Loucura vã, canto, louvor.

Tudo fazer à revelia,

De o mundo imenso ser senhor.

Um beijo ao céu, idolatria,

Por fim o encontro encantador.

Ecos no céu de sinfonia,

Uma loucura, um grande amor.

Envio:

Assim eu vivo noite e dia

Por tua causa, sou Ator.

Quem não viveu nesta folia

Uma loucura, um grande amor?

27.08.2001

Page 222: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccxxii

Balada sôfrega

Longe de ti, meu coração

Sôfrego, sôfrego, padece.

Longe de ti toda a ilusão,

Toda a ilusão desaparece.

A companheira solidão

A meu viver se faz constante.

Perco meus sonhos e a razão

Se ausente ficas um só instante.

Quero-te sempre. A sensação

De tua ausência me entorpece

O espírito... Ouve esta canção

Que te ofereço como prece,

Meu doido amor. Na vida não

Posso viver se estás distante,

Perco os delírios da razão

Page 223: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccxxiii

Se ausente ficas um só instante.

Ah, meu amor, presta atenção:

Ah, minha amada, se pudesse

(Mas eu não posso, ai, ilusão,

Meu coração jamais te esquece!...)

Bem viveria na emoção

De ser o teu eterno amante,

Mas fico preso na razão

Se ausente ficas um só instante.

Dedicatória

Sem ti as horas longas são,

E a dor me fere anavalhante.

Esta é a loucura, esta é a razão

Se ausente ficas um só instante.

10.03.2009

Page 224: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccxxiv

Balada pitoresca

Café com pão, café com pão!

Que coisa incrível, oh, Bandeira.

Um mar de lama e podridão

É nossa Pátria brasileira.

Para onde vai essa enseada

Eu bem confesso que não sei.

Mas no Senado é uma barbada

As falcatruas de Sarney.

É o trem de ferro da ilusão

Nos trilhos dessa roubalheira.

Tudo em Brasília é corrupção,

É falcatrua, é brincadeira.

Depois com cara bem lavada

Page 225: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccxxv

Sapo barbudo, nosso Rei,

Diz que não sabe nada, nada,

Das falcatruas de Sarney!

E a gente vive na ilusão

Com essa turma tão arteira.

Que num descuido mete a mão

Levando até nossa carteira.

Não tem mais jeito essa maçada,

Também sequer existe lei

E a gente brinca e faz piada

Das falcatruas de Sarney!

A inspiração vai na enxurrada

E um verso alheio até roubei.

Até Pasárgada encantada

Está temendo esse Sarney!

18.07.2009

Page 226: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccxxvi

Canto Real

Canto Real à Piracicaba

Este Canto Real que faço apaixonado

Ao meu Torrão Natal, é um canto que merece

Ter mil rimas de Amor andando lado a lado,

Como os duetos de fé de uma sagrada prece.

Tomo a lira a David, de Orpheu empresto o canto,

De nosso Padroeiro empresto o rude manto

E desafio incréus, que a paixão que me invade

Tem a voz de um coral com toda a alacridade,

Que a Imensidão azul em serenatas trina

Mil hosanas ao céu com toda a intensidade,

Glória à Piracicaba, à Noiva da Colina!

Ouço o Rio cantar... não é canto, é dobrado,

A água do Salto cai, mil coloridos tece,

A catadupa ruge... há balé e há bailado

Page 227: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccxxvii

Que o Rio, com amor, à Cidade oferece!

Para a vida feliz ao ver tamanho encanto!

A água nas pedras rola em suave acalanto,

É música do céu, doce sonoridade,

A bruma da manhã veste toda a cidade!

É tamanho o esplendor a brisa cristalina

Que a alma canta feliz e canta em ansiedade

Glória à Piracicaba, à Noiva da Colina!

Vejo o Engenho Central soberbo, iluminado,

É uma visão feliz que o olhar jamais esquece!

No chão reflete o sol o açúcar refinado

Coroando no céu esta bendita messe!

Olho a Rua do Porto, oh, bendito recanto!

– Paraíso Terrestre, onde há um terno quebranto

De alegria, de amor, que os corações invade!

Vejo, sonho feliz! a leda mocidade

Dizendo com prazer, ao fitar tal vitrina

O seu canto de amor da mais pura verdade:

Page 228: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccxxviii

Glória à Piracicaba, à Noiva da Colina!

Ouço um Poeta cantando um canto enamorado

E entre rimas de luz, em seu colo adormece

Porque percebe que é pela cidade amado

E outro melhor postal no mundo não conhece...

A hora crepuscular é de sublime espanto!

O sol, mais parecendo um colossal helianto

Põe na cidade a luz com tal luxuosidade,

E a cidade rebrilha ao ouro e à majestade

Que parece que Deus, nesta hora vespertina

Também canta feliz em Sua Santidade,

Glória à Piracicaba, à Noiva da Colina!

O áureo Saber esplende em teu solo sagrado!

A Arte é puro fulgor onde tudo floresce!

Nas Escolas há luz, onde tudo é ensinado

E a Música que Deus, pelo céu enternece.

Quanta Luz do saber! Quanto desejo, quanto!

Este Solo é sagrado! É puro! É sacrossanto!

Page 229: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccxxix

A vida brilha aqui com tanta claridade

E a cidade nos prende em sua etérea grade

Que a beleza sem paz a imensidão domina!

Por isso, o Poeta diz, num hino de vaidade:

Glória à Piracicaba, à Noiva da Colina!

Dedicatória:

Hoje canto feliz! A rima em unidade

Louva Piracicaba um hino de amizade.

Por isso, no cantar, a voz é genuína,

Tem recamos de luz e diz com divindade:

Glória à Piracicaba, à Noiva da Colina!

12.01.1996

Page 230: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccxxx

Canto Real das Meninas Prostitutas

Essas meninas pobres e esquecidas,

Muitas vezes de rosto assaz pintado,

Nos lábios marcas de batom borrado,.

Vão levando sem eira, as suas vidas.

Em velhas ruas, praças e avenidas,

Mostrando um triste olhar desesperado

Aos transeuntes fazendo mil gracejos,

Acenando com as mãos, jogando beijos,

Sempre à espera que passe um pretendente,

Mostram seus jovens corpos diariamente,

Vendendo seus gemidos, seus desejos.

Essas meninas tristes, desvalidas,

Seminuas expõem-se a este mercado,

Exibindo um sorriso fabricado,

Page 231: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccxxxi

Mostram no rosto, as expressões sofridas.

Às vezes, com barrigas já crescidas,

(Onde o parto se faz sem ter cuidado)

Mais lembram periquitos dos realejos

Lançando a sorte em rápidos festejos

Para encontrar decerto outro cliente...

Tolas sonham e o sonho é contundente,

Vendendo seus gemidos, seus desejos.

Essas meninas julgam-se queridas,

Na fantasia tem um namorado.

Sonham também viver junto ao amado

Com parcas esperanças coloridas...

Essas meninas lívidas, transidas,

São os frutos de um mundo depravado.

São a escória do mundo em seus arpejos,

São mendigas traçando vis cortejos

São a crença de um mundo já descrente!.

Pobres mostram um corpo repelente,

Page 232: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccxxxii

Vendendo seus gemidos, seus desejos.Essas meninas, umas – pervertidas,

Outras – com triste olhar n’alma marcado,

Podres mercadorias de atacado,

Tem as suas vontades prostituídas.

Da Sociedade sempre são banidas,

Porque trazem a marca do pecado!

São as flores dos charcos e dos brejos,

São os ratos de esgotos, aos rastejos,

Retratos de um país pobre e demente.

Todas tem um sorriso deprimente,

Vendendo seus gemidos, seus desejos.

Essas meninas – pobres margaridas,

Sem futuro, presente e sem passado,

Viciadas na bebida e no baseado,

De bares e de clubes são excluídas.

A muitos elas são jovens perdidas,

Passam doença em cada beijo dado,

Page 233: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccxxxiii

São cacos de cortantes azulejos,

Motivos para motes sertanejos

Em canções de mau-gosto, inconsequente.

Passam rindo, escondendo o olhar doente

Vendendo seus gemidos, seus desejos.

Oferta

A Beira-rio traçam seus motejos,

Mostrando dentes podres em bafejos,

Essas meninas são, em nossa mente,

A realidade de um Brasil dormente,

Vendendo seus gemidos, seus desejos.

30.01.2009

Nota: Conferir com a Balada das MeninasProstitutas

Page 234: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccxxxiv

Martelos

Martelo Agalopado

No martelo o meu verso é agalopado

Que é a forma correta de compô-lo.

E não há desconforto ou desconsolo

Escrever neste jeito cadenciado.

O bom verso jamais se torna errado

Na cadência e no ritmo que o condiz.

E o poema jamais se contradiz

Se lhe bate no peito a inspiração.

Pois a voz que lhe fala é o coração

E o Poeta é na vida um ser feliz.

No martelo perfeito ajusto o passo

Para ser entendido por cantores.

E se exalto nos versos meus amores,

A canção eu conduzo no compasso.

Aos amores eu dou um forte abraço

Pois em cantos no peito a alma me diz.

Page 235: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccxxxv

E jamais me recurvo à cicatriz

De um amor que foi falso e teve adeus.

Sou do amor mais sublime a voz de Deus,

E o Poeta é na vida um ser feliz.

No martelo os amores sempre canto

Na maneira mais justa e mais correta.

Sou Orpheu, na guitarra sou poeta,

Sou Davi, com a Lira tudo encanto.

Com certeza jamais derramo o pranto

Nem na face carrego a dor matiz.

Se, bimbalho mil sinos na matriz

Exaltando um amor pleno de luz.

Sou o amor que na vida o amor conduz,

E o Poeta é na vida um ser feliz. Pouco importa que seja o mês de agosto,

Pois o inverno antecipa a primavera.

Não me prendo a momentos de quimera,

Não me aqueço com raios de um sol-posto.

Page 236: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccxxxvi

Não há lágrimas frias em meu rosto

E nem traço caminho a pó de giz.

Os meus sonhos são livres dos ardis,

Vivem soltos, alegres pelo ar.

Amo a luz das estrelas, do luar,

E o Poeta é na vida um ser feliz.

A galope caminho a céu aberto

E aos delírios do amor canto e suspiro.

Meu amor é na vida o ar que respiro

Meu amor de minh’alma vive perto.

Não existe sequer um passo incerto

Nem abismo onde a dor crie raiz.

Eu invento um amor, crio um país

Pois o amor para amar requer amor.

O meu mundo na vida tem mais cor,

E o Poeta é na vida um ser feliz.

26.02.2008

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Pg ccxxxvii

Martelo justo e perfeito

Eu desejo escrever, dia após dia,

Os meus versos de formas diferentes,

Com martelos, com foices e correntes,

E em baladas compor minha poesia.

Necessário uma dose de alquimia

Para o verso sair de qualquer jeito,

Se precisar cavar dentro do peito

Um buraco maior que o próprio mundo.

E buscar lá do fundo, bem do fundo,

O meu verso mais justo e mais perfeito!

A poesia não pode ser contida

Quando brota, inspirado, dentro d’alma.

Coração nesse instante não se acalma,

E parece abalar a própria vida.

Nesse instante a explosão deixa florida

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Pg ccxxxviii

A alegria que vem sem preconceito

No martelo não pode haver defeito,

Na cesura, na métrica e na rima.

Deve sempre brilhar de forma opima,

O meu verso mais justo e mais perfeito.

Cada verso é coluna sustentada

Nas viagens que dão Sabedoria.

Eis a Força, e a Beleza da Poesia

Trabalhando incansáveis na jornada.

É momento de glória ilimitada

Na razão mais sublime do conceito.

Se outras glórias existem não aceito,

E nem posso aceitar que um’outra exista.

É por isso que deixo nesta pista,

O meu verso mais justo e mais perfeito!

27.07.2007

Page 239: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccxxxix

Martelo dos meus antepassados

Fico sempre a pensar de madrugada

Quem eu sou, de onde vim, o que aqui faço,

Contemplando esquecido o largo espaço

Não consigo chegar a quase nada.

Tudo é muito esquisito nesta estrada

E os mistérios os sinto fragmentados.

Nem consigo deixá-los clareados;

Mas defino em verdades quase eternas::

Que descendo dos homens das cavernas,

Muitos deles são meus antepassados.

Todo o espaço contém milhões de estrelas

É o insondável mistério do Infinito.

Muitas delas tem vidas – acredito,

Mas, tais vidas, também não posso vê-las.

Como posso tais coisas entendê-las

Já que a História tem rumos sepultados

Page 240: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccxl

E os enigmas são todos enterrados

Em bebidas nas noites das casernas?

Se eu descendo dos homens das cavernas,

Muitos deles são meus antepassados.

Alighieri, talvez, seja meu tio,

Com Petrarca talvez criei sonetos.

Mas não posso encontrar os amuletos

Que sepultam meus sonhos num vazio.

É demais para mim o desafio

De querer desvendar tempos traçados,

Se eles são verdadeiros ou errados

São verdades de luz justas, eternas,

Mas descendo dos homens das cavernas,

Muitos deles são meus antepassados.

11.01.2005

Page 241: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccxli

Martelo mais que profano

Teço versos e sonhos interpreto

As razões disso tudo que acontece.

Tudo feito misturo no concreto

Para ter pensamento mais correto,

Para ter sinfonias como prece.

E galopo meu sonho muito louco

Na amplidão do martelo agalopado,

Na algibeira do verso canto rouco

Sempre achando que o tempo é sempre pouco

Para tem quem o peito apaixonado.

O martelo produz seu canto surdo

Estalando monótona oferenda.

Mais parece um soldado na contenda

A lutar pelo que acha vago e absurdo.

Com os versos que agora em transes urdo;

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Pg ccxlii

Teço tramas de sonho mais nefasto,

No bater do martelo agalopado

Os meus sonhos, com ânsias eu arrasto

E sou mil quando penso que fui pasto

Para quem tem o peito apaixonado.

Sordidez mais hipócrita e mofina

Não existe talvez, quem tenha feito.

E se a mente profana foi cretina,

Atolei a esperança tão menina,

Fui idiota de todo e qualquer jeito.

O perdão que ora peço não mereço

E me fere o martelo agalopado.

Se o desprezo recebo eis que agradeço

Pois é duro demais tão alto preço

Para quem tem o peito apaixonado. A entoar tal martelo o som estala

E repete cruel epifania:

És Poeta, és cruel – o som me fala

Page 243: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccxliii

E o suor que teu corpo agora exala

É o suor que te cobre na agonia.

Não mereces o amor do mundo aberto,

Nem mereces o som agalopado,

Mas mereces os dias no deserto,

E o viver sempre ingrato e sempre incerto

Para quem tem o peito apaixonado.

E o refrão mais profano e mais macabro

Ainda fere meu cérebro profano.

Frente a frente cintila um candelabro

A luzir o terrível descalabro

Que te fiz com a mente de um insano.

Dói-me o peito, fui ímpio e foi vileza

Não mereço sequer ser inspirado.

Um Poeta com tanta atroz crueza

Não merece respeito, com certeza,

Para quem tem o peito apaixonado.

Dize tudo o que quero que te escuto,

Page 244: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccxliv

A vergonha nas faces ora trago.

E que o peso de enorme viaduto

Caia em mim já no próximo minuto

E me arraste nas sombras – negro mago.

Se eu puder levantar-te deste lodo

Para ter um momento iluminado,

Se eu puder por os pés fora do engodo,

Serei luz e esperança nesse Todo,

Parar quem tem o peito apaixonado.

12.01.2004

Page 245: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccxlv

Ritornelo

Ritornelo

A minha PoesiaQuem dera que fosse

Um pouco mais doce

E menos amarga,

Porém, o meu canto

O sonho me embarga

E com desencanto

A minha Poesia

Só tem agonia.

Quem dera que fosse

A minha Poesia

Um canto de vida!

Contudo é sentida,

Pois lhe falta o doce.

Page 246: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccxlvi

Quem dera que um dia

Mais doce me fosse.

A minha Poesia

29.02.2008

Page 247: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccxlvii

Espinela

Espinela

(Décima)

Jesus Cristo veio à terra

Para a todos nos salvar.

Foi, pois, a pedra angular

Que da Palavra fez guerra.

Sua voz ainda hoje erra

Nos palácios, nos postigos,

Nos corações acha abrigos

Pois Ele um dia nos disse

Com paz, amor e crendice:

– Amai vossos inimigos!

19.03.2008

Page 248: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

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Décimas variadas

A Décima é necessária

Uma técnica apurada.

A redondilha é sagrada

E a rima é extraordinária.

Pode viver solitária

Ou ser partes de um poema,

Mas deve, como um diadema,

Ser sempre um brilhante puro,

Iluminar o futuro

Encerrando qualquer tema.

Mas se a Décima vir agalopada,

É melhor ter os timbres do Martelo.

E seu canto perfeito seja belo

Com encantos sublimes do Alvorada.

E não pode jamais vir quebrara,

Pois o dom junto ao verso causa atrito.

Page 249: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccxlix

Sou poeta que fujo do grito

Ou a crítica chega e fica péssima.

É por isso que teço a minha Décima

E obedeço a cesura, o metro e o rito.

18.02.2009

Page 250: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccl

Epitáfio

Epitáfio

(Décima)

Rimas esparsas aqui componho!

Doces lembranças da mocidade.

Mas hoje tudo se faz saudade

Pelo ar se esgarça qual ledo sonho.

E com saudade com a alma ponho

Nesse turíbulo o doce incenso

De tudo quanto saudoso penso.

E esta saudade se faz tão forte

Que vai vencer, talvez minha morte

Em cada verso de amor intenso.

24.03.2008

Page 251: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccli

Gazais

Gazal para a Amada

Querida, ouve meu Gazal;

Ele é só teu afinal.

Quando por mim tu passaste

Lançando um olhar fatal,

Eu senti dentro do peito

Um amor celestial.

E minha alma de poeta

– Alma esta sentimental! –

Começou a fazer versos

Num dom sobrenatural.

Fiz poemas de alegria

Com tua essência floral,

Porque meu Gazal, querida,

É só teu. Ponto final.

15.12.1991

Page 252: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cclii

Gazal para a Querida

Um Gazal meu verso tece

E com amor te oferece.

E em minh’alma vou compondo

À maneira de uma prece

E brotam na minha mente

Como frutos de uma messe

Eu te oferto com carinho

Nada, porém, acontece.

Por isso, dentro do peito,

O meu coração padece.

E meu caminho contorno

Com o corpo arqueado em S.

Meu Gazal passa batido

Meu coração se aborrece.

Por isso, minha querida,

Dos olhos o pranto desce.

Page 253: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccliii

E nada mais nesta vida

Meu coração te oferece.

17.12.1996

Page 254: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccliv

Moteto Moteto

Compor versos é minha grande sina!

Há quarenta anos neste duro ofício,

A inspiração constante determina

Que não posso me ater a outro exercício.

Com meus versos construo um edifício

Oh, sacrifício!

Que o verso é minha glória e minha ruína!

18.04.2008

Page 255: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cclv

RondéisRondel magoado

O meu coração magoado

Ainda chora de agonia.

A minh'alma inerte, fria,

Não vive mais ao teu lado.

Caminho desesperado,

Não tenho mais alegria.

O meu coração magoado

Ainda chora de agonia.

Está tudo terminado,

Só me resta a nostalgia

Daquela imensa magia.

E carrego noite e dia

O meu coração magoado.

24.03.81

Page 256: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cclvi

Rondel da busca

O meu olhar te procura

E não te encontra, querida.

Ai, tristonha desventura

Não te encontrar pela vida.

Minha ilusão vai perdida

E em mim se instala a loucura.

O meu olhar te procura

E não te encontra, querida.

Minha alma, toda tristura,

Sem consolo, desvalida,

Sente falta da ternura

Nesta ilusão tão sofrida

O meu olhar te procura.

27.02.2008

Page 257: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

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Rondós

Rondó do meu amor

O meu amor. Porto seguro

Onde repouso o meu cansaço.

O meu passado, o meu futuro,

O meu caminho aberto e puro

Onde certeiro aprumo o passo.

E com certeza eu asseguro

Que a ele estou preso pelo braço

E em seu carinho me aventuro.

O meu amor.

Doce ternura esse regaço

Que traz a luz ao sonho escuro.

Maior que o céu, que o próprio espaço

A ele me prendo num abraço

Page 258: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

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E em ternos beijos me depuro.

O meu amor

28.02.2008

Page 259: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cclix

Rondó para a querida

Minha querida e terna amada,

Quando cansado chego em casa,

O teu sorriso é uma alvorada

Que a alma me deixa descansada,

Doce ternura que me abrasa.

Nesse repouso penso em nada...

– Que importa que haja guerra em Gaza,

Guerra no Iraque alucinada?

Minha querida.

O peito sinto arder em brasa

E a alma transborda apaixonada.

És minha Musa idolatrada,

Razão da vida tão sonhada.

Do amor eu solto asa por asa,

Minha querida.

27.03.2008

Page 260: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cclx

Rondó do coração

O coração sofre calado

Na sua desventura imensa.

Sozinho está. Desesperado

Ele soletra um canto alado

Numa sentida e pura crença.

Está sozinho, abandonado,

A dor no peito é forte, intensa,

Flechas de dor o tem vazado.

O coração.

Mas ele pede a recompensa

De um dia ser de todo amado.

Ter um extremo bem ao lado

Para seguir feliz o fado.

Assim calado, triste pensa.

O coração.

07.04.2008

Page 261: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cclxi

Triolés

Triolé da distância

A distância dei-lhe um beijo

E ela não me respondeu.

Não aplacou meu desejo;

A distância dei-lhe um beijo.

Na vida o que mais almejo

É um beijo do lábio seu;

A distância dei-lhe um beijo

E ela não me respondeu.

24.03.81

Page 262: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

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Triolé do mistério

O meu amor é tão bonito

Que não consigo descrever

Pois tem mistérios do infinito.

O meu amor é tão bonito!

Por sua causa um treno imito

E mais feliz fico a viver.

O meu amor é tão bonito

Que não consigo descrever.

08.06.1999

Page 263: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cclxiii

Triolé do amor

O meu amor que é tão bonito

Tem uma beleza sem par.

Tem os mistérios do infinito

E a beleza glauca do mar.

O meu amor que é tão bonito

Não cabe neste verso escrito

E é tão difícil de falar.

O meu amor que é tão bonito

Tem uma beleza sem par.

Tem uma beleza sem par

O imenso amor que n’alma sinto.

Traz a meiguice do luar

E o doce gosto de Corinto.

Tem uma beleza sem par

Que põe luzes num labirinto

E nas profundezas sem par

Page 264: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cclxiv

Tem uma beleza sem par

O imenso amor que n’alma sinto.

O imenso amor que n’alma sinto

É tão difícil de explicar,

Não tem explicação – é instinto,

É necessário como o ar,

O imenso amor que n’alma sinto

Deixa meu coração faminto

Deixa meu coração cantar –

O imenso amor que n’alma sinto

É tão difícil de explicar.

É tão difícil de explicar

O que é invisível e é bonito.

Muito mais fácil é falar

Do que tentar deixar escrito.

É tão difícil de explicar

Que chega a me causar conflito

Pois não encontro requisito:

Page 265: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

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É tão difícil de explicar

O que é invisível e é bonito.

13.11.1994

Page 266: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

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Triolé embalador

O sono é suave e embalador,

Repousa o corpo do cansaço.

Vivendo junto ao meu amor

O sono é suave e embalador.

Nas noites quentes de calor

Feliz é a noite em seu regaço.

O sono é suave e embalador

Repousa o corpo do cansaço.

27.03.2008

Page 267: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

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Triolé do merecimento

O nosso amor merece ter

Abraços, dengos e carinhos.

As horas plenas de prazer

O nosso amor merece ter.

Da vida imensa por viver

Jamais vivamos nós sozinhos.

O nosso amor merece ter

Abraços, dengos e carinhos.

28.03.2008

Page 268: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cclxviii

Triolé triste

Este silêncio que a alma me invade,

Silêncio triste de morte triste,

Se, é verdadeiro, se não existe,

Talvez mentira, talvez verdade,

Este silêncio que a alma me invade

Em minha vida cruel persiste.

Silêncio triste de morte triste,

Me traz arrulos de uma saudade

Este silêncio que a alma me invade.

01.04.2009

Page 269: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cclxix

Glosas

Glosa

Não deixa de ser tolice

Trabalhar a vida inteira;

Quando se chega à velhice...

Sem tostão no algibeira!

(Maria Célia C. Roque – Portugal)

Mal o galo acorda o dia

Já dou um salto da cama.

Dou dois beijos em quem me ama

E parto para a porfia

Na mais penosa agonia...

No peito tenho a crendice

Que já nem sei quem me disse,

Que o trabalho é que enobrece...

E crer assim nesta prece,

Page 270: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cclxx

Não deixa de ser tolice...

Mal vejo o crescer dos filhos

E a garrulice da infância...

De todos tenho distância

Pois nos olhos trago os brilhos

De apenas seguir os trilhos

De uma glória feiticeira...

E a vida corre faceira...

Mas carrego em minha mente

Apenas o sonho crente:

Trabalhar a vida inteira!

E o tempo – feito fumaça,

Enegrece meus projetos...

– Meu Deus! Vieram os netos!

E a vida como trapaça

Mais veloz que o vento – passa...

Se na juventude eu visse

Page 271: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cclxxi

Que obrar tanto é cretinice...

Não vale o arrependimento

Que se abre a mim no momento

Quando se chega à velhice...

E deste trabalho tanto

Resta-me por recompensa:

Tristeza, angústia, doença,

Um martírio em cada canto

E uma vida sem encanto...

Só tenho por companheira

Neste triste fim de feira

O tédio no fim do dia

E uma esperança vadia

Sem tostão no algibeira!...

15.03.1998

Page 272: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cclxxii

Décimas

Fui cruzando o mar da vida

Numa constante odisséia,

Como uma abelha perdida

Longe de sua colmeia.

(Clementino D. Baeta)

De meu barco alcei as velas

E me pus em mar aberto.

Vagando num rumo incerto

Guardei na retina as telas

De tantas paisagens belas.

Com vontade desmedida

Não foi minh’alma ferida,

Nem me venceu a inconstância.

Vencendo qualquer distância

Page 273: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cclxxiii

Fui cruzando o mar da vida.

Vencendo clima diversos

Tracei então minha meta:

Fui trovador, fui poeta

Dos mais largos Universos

Nas batalhas destes versos.

Após tamanha epopeia

Consigo hoje ter a ideia

De tanta luta ofegante:

De todas eu fui amante

Numa constante odisseia.

Por vezes me vi singrando

Desconhecidos caminhos.

Fiquei distante dos ninhos

De quem ficou me esperando:

– Ave perdida do bando!...

Porém, levei de vencida

Page 274: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cclxxiv

As artimanhas da vida

Nem me senti à quimera

Com o fim da primavera,

Como uma abelha perdida.

Colhi do chão os gravetos

E rimei minha poesia.

Traduzi em melodia

Os inspirados sonetos

Que tive por amuletos.

A alma não mais devaneia,

Foge dos bancos de areia...

No ocaso que se avermelha

Jamais me sinto uma abelha

Longe de sua colmeia

14.05.1998

Page 275: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cclxxv

Glosa

A vida faz-se a lutar

P’lo direito mais profundo

De se poder alcançar

O amor e a paz no mundo.

(Jorge Marques – Portugal)

Sou Poeta! A minha Lira

Faz parte do meu trabalho.

A rima é meu agasalho

O poema é minha pira.

Tudo na vida me inspira:

Uma noite de luar,

Um coração para amar,

Mar achar o Paraíso

Ouça bem o meu aviso:

A vida faz-se a lutar!

Page 276: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cclxxvi

Mas o mundo não compreende

De Deus as Suas vontades...

Busca achar amenidades,

Na vida vai – qual duende...

Somente o Poeta entende

Os caminhos deste mundo,

E cada vez mais fecundo

Engasta a rima ao seu verso,

Luta junto ao Universo

P’lo direito mais profundo!

O Poeta cria o canto,

Solta a voz – se faz Profeta!

Faz da paz – a sua meta,

Faz do amor – o seu encanto.

Jamais aproveita o pranto

Para a glória conquistar;

O que pode agasalhar

Page 277: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cclxxvii

Prende em áureo diadema.

Eis a glória do Poema

De se poder alcançar!

Assim o Poeta, à vida,

Erige seu Monumento,

Na melodia do vento

Esparge a essência florida...

Mesmo tendo a alma ferida,

Jamais se vê moribundo.

O seu desejo vai fundo

Pois o Poeta só sonha

A ter na estrada risonha:

O amor e a paz no mundo!

15.04.2001

Page 278: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

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Glosa

Das línguas todas da Terra

Só uma é universal.

Ouço-a no mar; e na serra...

Ouço-a cantar Portugal!

(José Francisco Rodrigues)

Quero encontrar em meu canto

A forma exata e correta

Para, na arte de Poeta,

Ao meu verso dar um manto

Que tenha fulgor e encanto...

Tal desejo em mim encerra

E o eco em minh’alma berra,

Portanto minha mensagem

Da Palavra tem a imagem

Das línguas todas da Terra.

Page 279: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cclxxix

Perguntam-me: – Qual o idioma

Que tu, Poeta, nos falas?

Que áurea harmonia trescalas

No mais suavíssimo aroma?

Está n’alguma redoma

Este canto celestial?

Em qual país afinal

Existe formosa lavra?

Se tem ouro na Palavra:

Só uma é universal!

– Conheço as línguas latinas

Em todas as suas formas,

Decifro até suas normas

Em constantes sabatinas.

Mas tu, Poeta, iluminas

Todos os cantos da terra

Com este canto que encerra

Page 280: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cclxxx

Amor, encanto, ternura...

E tua voz que fulgura

Ouço-a no mar; e na serra...

– José Francisco Rodrigues

Já nos disse numa trova

E a Palavra não é nova...

– Meu amigo, não me obrigues

Também comigo não brigues;

Este canto é natural,

Foi de Pessoa e Quental,

Camões já o pôs em seu verso

E ao ecoar no Universo

Ouço-a cantar Portugal!

15.02.2001

Page 281: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cclxxxi

Glosa

E eu vou sozinho, pensando

Em teu amor, a sonhar,

No ouvido e no olhar levando

Tua voz e teu olhar.

(Olavo Bilac)

Noite alta. O luar prateia

Da cidade cada rua.

Minha alma vagueia nua,

Devaneia, devaneia.

A lua fulgura cheia,

Todo o céu está brilhando.

Passa um vento leve, brando,

E solitário caminho.

Como sempre vou sozinho

E eu vou sozinho, pensando...

Page 282: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cclxxxii

Ela invade a minha mente.

Por que penso tanto nela?

Por acaso não sabe Ela

Que a minha alma tanto sente

A sua ausência fremente

Nesta noite de luar?

Ando sozinho a vagar

Em febre a mente é uma ilha.

E o pensamento fervilha

Em teu amor, a sonhar.

Por sob o luar de prata

Cintilam milhões de estrelas.

Extasiado fico a vê-las

Pensando em quem me maltrata.

Ouço ao longe a serenata

E dois violões tocando.

Ai, até quando, até quando

Page 283: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cclxxxiii

Viverei com tal miragem?

Já que sigo na viagem

No ouvido e no olhar levando?

Tão doce lembrança invade

Meu coração num momento.

E eu esparjo pelo vento,

Pelas ruas da cidade,

Que estou morto de saudade

Pois estou a carregar

Em cada instante a sonhar,

Teu olhar e teu sorriso,

E ouvir e sentir preciso,

Tua voz e teu olhar.

27.02.2008

Page 284: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cclxxxiv

Glosa

A mulher do Alentejo

Leva mais longe a razão

Nas canseiras, em sobejo

Constroi direitos e pão.

(Quadra portuguesa)

Mulheres de todo o mundo

E de todos os lugares,

Dentro de vossos sonhares

Brilham num sonho fecundo.

E nesse sonho profundo

Mais aflora o meu desejo

Se elas merecem um beijo

Em tal sonho ardo e deliro.

Pois em meu sonho suspiro

A Mulher de Alentejo.

Page 285: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

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Essa mulher tão bonita

Tão ponderada e sincera,

Tem no olhar a primavera

De maneira que acredita

Que a esperança é-lhe infinita.

De encantos seu coração

Modula eterna canção

Eu dela tão longe vivo

Que o pensamento cativo

Leva mais longe a razão.

Procuro-a em sonhos floridos

E a minh’alma não se cansa

De ter tamanha esperança.

Dentro dos dias vividos

Trago sonhos coloridos

E o sonho o amor por ensejo

Mas pelo mundo só vejo

Page 286: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

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Que nos rumos onde sigo

Nos ombros segue comigo

Nas canseiras, em sobejo.

Essa mulher caridosa

Faz do amor a sua prece,

Por isso, por Deus merece

Ter as pétalas de rosa

Na estrada maravilhosa

Onde for seu coração.

Essa mulher, que emoção,

Inspira agora o meu verso

E nas fímbrias do Universo

Constroi direitos e pão.

14.03.2002

Page 287: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cclxxxvii

Glosa

O poeta é um fingidor.

Finge tão completamente

Que chega a fingir que é dor

A dor que deveras sente.

(Fernando Pessoa)

O poeta nesta vida

Do prazer tece uma lira.

Cria um mundo de mentira

Sonha a esperança perdida.

Longa é a estrada percorrida

Para encontrar um amor.

Mas encanta-se com a flor

Pendida num tênue galho

E ao prometer-lhe agasalho,

O poeta é um fingidor.

Page 288: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cclxxxviii

À flor faz ele uma crença

E se mostra apaixonado.

O mundo deixa de lado

Para ter a recompensa

Da ternura mais imensa

De tudo o que em glórias sente.

Contudo o poeta mente

Pois mentir é sua glória.

Ao lembrar tão bela história

Finge tão completamente.

A flor que não tinha dono

E perfumava o caminho,

Foi arrancada do ninho

– Primavera fez-se outono.

E o poeta no abandono

Da flor roubou o frescor.

Deixou-a no chão sem cor

E agora demonstra ao mundo

Page 289: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cclxxxix

O seu delírio profundo,

Que chega a fingir que é dor.

E o poeta entristecido

Junta no chão os gravetos,

Constroi amargos sonetos

Do sonho vê-se perdido.

E seu pranto derretido

Rega no chão a semente

Que nascendo novamente

Traz ao poeta alegria,

E ele diz numa poesia

A dor que deveras sente.

31.01.2008

Page 290: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccxc

Glosa

Menino passarinheiro

– Caçar era a minha lei! –

Hoje vivo prisioneiro

Nas arapucas que armei.

(E. A. P.)

Da bela infância vivida

Em tempos de hoje saudade,

Distante uma Eternidade

Que parece de outra vida...

Mas a lembrança florida

Deixa-me ser cancioneiro.

Desse sonho aventureiro

A gaiola hoje vazia

Faz lembrar que fui um dia

Menino passarinheiro.

Page 291: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccxci

Pintassilgos, avinhados,

Azulões e correntinos.

Eram belos os destinos

E os tantos sonhos sonhados.

Eram os sonhos dourados,

Cada um era um grande rei.

(Por que agora assim sonhei?)

E lembro tão doce infância

– Saudade evola fragrância,

– Caçar era a minha lei! –

O tempo nos fez adultos

E se foram os amigos.

Dentro de férreos abrigos

Hoje trazemos ocultos

Fantasmas de velhos vultos

E um coração estrangeiro.

Por mil caminhos esgueiro

E ao sonhar essa lembrança

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Pg ccxcii

De meus tempos de criança,

Hoje vivo prisioneiro.

Belo sonho evaporou-se

Com o calor do sol da tarde.

O silêncio faz alarde

De um tempo que foi tão doce.

A saudade aqui me trouxe

Nos espinhos me estrepei.

Por mil estradas vaguei

Mas sempre estive indefeso.

Passarinheiro estou preso

Nas arapucas que armei.

31.01.2008

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Pg ccxciii

Glosa

Veja só quanta imprudência,

– Que terrível pesadelo! –

Casou por correspondência

E a noiva veio sem selo.

(E. A. P.)

Nesta vida é necessário

Estar sempre muito atento,

Porque num só movimento

Nosso belo itinerário

Transforma-se num calvário

Onde a atroz maledicência

Machuca a nossa consciência

E o paraíso áureo, eterno,

Transmuda-se num inferno,

Veja só quanta imprudência!

Page 294: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccxciv

Moço rico, índole boa,

Foi pescar numa cidade

Onde havia quantidade

De cardumes na lagoa.

Mas ficou sorrindo à toa

Ao ver rosto tão singelo,

Olhar casto, doce, belo,

Nos seus olhos por olhares,

Serenos, crepusculares.

Que terrível pesadelo!

Ao retornar do passeio

Suspirava, suspirava,

Su’alma caíra escrava

Da donzela em doce enleio.

Vivia no devaneio

Sofria com tal ausência

Aos céus clamava clemência

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Pg ccxcv

E foi tanto o sofrimento

Que a pediu em casamento

– Casou por correspondência! –

Só depois de quinze dias

Foi buscar a sua esposa,

– Doidejante mariposa! –

De farras e fantasias.

Mas funestas heresias

Ao seu peito trouxe gelo...

Tratou-a com tanto zelo

Porém ao provar tal doce

O moço rico danou-se

E a noiva veio sem selo.

31.01.2008

Page 296: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccxcvi

Glosa

Não sei se é fato ou se é fita,

Não sei se é fita ou se é fato.

O fato é que ela me fita,

Me fita mesmo de fato.

(Anônima)

Passa em frente à minha casa

Linda mulher – é casada.

Passa dengosa a safada

No dedo a aliança é brasa.

Em requebros ela arrasa

E a multidão deixa aflita.

A boca vermelha agita

Mas parece um passarinho

Querendo sair do ninho.

Não sei se é fato ou se é fita.

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Pg ccxcvii

Passa toda oferecida,

Lança olhares ternos, quentes.

Seios pontudos, ardentes,

São dois pecados na vida.

A cabeleira comprida

Lembra um dourado artefato.

Por ela me desbarato,

Faço um dia uma loucura.

Me flerta toda em ternura,

Não se é fita ou se é fato.

Pensamento devaneia:

Um dia a abordo na rua,

E ela passa, seminua,

Lançando olhar de sereia.

Mas é porta de cadeia

Tanta beleza infinita.

Porém, o meu peito grita

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Pg ccxcviii

E ela o olhar joga de lado.

Mas não posso estar errado:

O fato é que ela me fita.

Mas contemplo-a da janela

E ela passa sorridente.

Na calçada displicente

Olhar furtivo revela.

Mas na estreita passarela

Muda a cena. É novo ato.

Com seu olhar de retrato

A safada sem vergonha

Por quem a minha alma sonha,

Me fita mesmo de fato.

26.02.2008

Page 299: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccxcix

Glosa

Diz velha sabedoria:

Quem cala sempre consente.

Dentro da minha Poesia

Sou silêncio num repente.

(E. A. P.)

De frente a ataques calar-se

Sempre revela bom senso.

Eu por isso às vezes penso

E uso o riso por disfarce.

Muito embora a alma se esgarce

Dou revides de ironia.

É minha maneira fria

De silenciar frente a tudo.

Ser prudente é ficar mudo

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Pg ccc

Diz velha sabedoria.

Isso não diz, com certeza

Que aceito o golpe da faca.

Se minha voz não ataca

E o rosto mostra rijeza,

– Sou assim por natureza

Mostro sempre estar contente.

Tanta gente, tanta gente,

O golpe sempre revida,

Mas digo com voz fingida:

Quem cala sempre consente.

Nos versos mostro a alma nua,

Porém, me envolvo em segredo.

Não digo que sinto medo.

Se disfarço olhando a lua,

Se ao léu vago pela rua

Não é por hipocrisia,

Porém, no meu dia a dia

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Pg ccci

Me oculto, sim, por inteiro,

Sou Poeta verdadeiro

Dentro da minha Poesia.

Não me critiquem por isso

A pérola dentro da ostra

Somente pronta se mostra

Portanto em meu compromisso

Com palavras nunca atiço

O fogo que brota ardente.

A verdade é transparente

Não precisa se mostrada.

Assim, não digo mais nada:

Sou silêncio num repente.

11.04.2008

Page 302: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cccii

Glosa

Por ternura, por meiguice,

Por amor e por vaidade,

Sou idosa sem velhice,

Não perdi a mocidade

(Sinda Vélez Mendes) Ervedal, Portugal

Minh’alma em delírios canta

Estribilhos de cantigas,

E como as aves amigas

Com diamantes na garganta

Na imensa paixão se encanta

Em sua tagarelice.

E nos seus sonhos de Alice

No cantar põe rendilhados,

Põe brilhantes encantados,

Por ternura, por meiguice.

Page 303: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccciii

Minh’alma é feliz na vida,

No amor que em êxtase sente,

Na ventura se faz crente

Tece trama colorida.

Por mais vida a ser vivida

Cria cantos de verdade,

Põe rimas de suavidade

Em todos os seus caminhos,

E põe ternura nos ninhos,

Por amor e por vaidade.

Minh’alma toda vaidosa,

Sente-se ainda menina,

E em passos de bailarina

Saltita alegre, formosa,

E com frases cor-de-rosa

Mostra sua faceirice.

Por tudo sente crendice;

E diz-me toda sorriso

Page 304: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccciv

Como a crer no Paraíso:

Sou idosa sem velhice.

Minh’alma não vê, por certo,

Do tempo o correr insano.

Vão-se as ondas do oceano

E as areias do deserto.

Frente ao viver amplo, aberto,

Pulsa e vibra de ansiedade.

Mas toda serenidade

Em meus olhos fita fundo

E diz num sonho profundo:

Não perdi a mocidade.

11.02.2009

Page 305: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cccv

Glosa

Por ternura, por meiguice

Por amor e por vaidade,

Sou idosa sem velhice,

Não perdi a mocidade.

Sinda Vélez Mendes (Ervedal, Portugal)

Os anos passam voando

Tal qual os sonhos de glória.

Passado se faz história

Que ficamos recordando...

Os sonhos passam num bando

De aves em tagarelice,

Morre a fé, finda a crendice,

Porém, n’alma glorifica

A saudade bela e rica

Por ternura, por afeto.

No precipício a esperança

Page 306: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cccvi

Se agarra nos verdes ramos.

E ingloriamente sonhamos

Com farrapos de lembrança.

Mas o tempo a valsa dança

Em alta sonoridade

Seus acordes de saudade.

Passa a vida, voa o tempo,

As ramas secas eu empo

Por amor e por vaidade.

A minha vida... quem dera...

O vendaval trouxe o inverno...

Já não há um sonho terno

Nem flores na primavera.

E a vida em sua quimera

Não tem semente que vice,

Porém, se um dia eu a visse

Aportar-se na minh’alma,

Diria serena e calma:

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Pg cccvii

Sou idosa sem velhice.

Mas o tempo corre insano...

Quem ultrapassa-o, quem vence-o?

Perdido neste silêncio

Me torno um rei soberano...

Não acredito no engano

E em fatal serenidade

Redijo minha verdade

E aos quatro cantos do mundo

Brado num eco profundo:

Não perdi a mocidade!

13.02.2009

Page 308: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cccviii

Glosa

(em Casimiro de Abreu)

É curta a quadra da infância,

Dura somente um momento.

Passa leve, como o vento,

Depois, se esvai na distância.

Mas fica a eterna fragrância

Que ainda no olfato retenho.

É morto tão belo engenho,

Mas quando com versos pinto

Esse momento já extinto,

Oh! que saudades que tenho!

O tempo era de inocência

E repleto de segredos.

Quantos sonhos, quantos medos,

Quanta falta de prudência.

Mas inadvertida ciência

Page 309: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cccix

Deixou-a descolorida,

E fraca ficou retida

E o quintal apequenou-se.

Quanta lembrança tão doce

Da aurora da minha vida.

E cresci, tornei-me adulto,

A voz ficou diferente.

Tudo se foi num repente

Tal qual um profano culto.

O riso ficou oculto

Nalguma esquina perdida.

Deparei-me com a Vida

Toda repleta de enganos.

Como eram doces os planos

Da minha infância querida.O desespero nefasto

Deixou-me tristonho, mudo.

Olho ao redor e por tudo

Page 310: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cccx

Vejo um sonho morto e gasto.

Tristonho, os passos arrasto

Mas são passos sepulcrais.

Ai, no peito dói demais

– Como constantes castigos,

A memória dos amigos

Que os anos não trazem mais.

Mil brincadeiras variadas

A turma toda fazia.

Havia mesmo magia

Nas tardes ensolaradas.

Lembranças tristes, malvadas,

Num momento em tudo infesta;

Da infância saudosa resta

Desesperadas lembranças.

Mas quando éramos crianças,

Que amor, que sonhos, que festa!

A Inocência tinha nome

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Pg cccxi

E a chamávamos de sonho.

Em cada rosto risonho

O sorriso se consome.

E ainda parece dar fome:

Ai, doces tardes festeiras,

Dispostos, e sem canseiras,

Andávamos pelo mato,

Ai, lembranças do regato,

Naquelas tardes fagueiras. O cansaço não havia

E o tempo era sempre curto.

Adulto, hoje, às vezes furto

Alguns instantes do dia

E recordo na Poesia

Aquelas tardes inteiras,

Fantásticas brincadeiras...

Mas se o cansaço chegava

Noss’alma ficava escrava

Page 312: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cccxii

À sombra das bananeiras.

Em silêncio verto o pranto

Daquela quadra formosa.

O sonho foi cor-de-rosa

Mas terminou tal encanto.

E n’alma ainda vibra o canto

Dos acentos imortais.

Mas, oh, coração, tu vais

Aquietar-se na fragrância

Daquele tempo de infância,

Debaixo dos laranjais.

26.02.2008

Page 313: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cccxiii

Décimas para um desafeto

Homem baixinho, homem-metade

Coisa ridícula soltar

A sua sânie tumular

Promíscua de ferocidade.

À sua baba de maldade

Em vão você tenta exibir,

Mas eu no escárnio fico a rir

E no deboche solto um canto.

Bobo da corte lhe garanto:

Você vai ter que me engolir.

Se homem inteiro você fosse

Lhe aplicaria uns safanões,

Sendo da raça dos anões

Liliputiana mãe o trouxe

Num lupanar, num tredo alcouce,

Porque não sabe onde seguir.

Page 314: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cccxiv

Porém, no escuro fica a ouvir

A voz materna em gozo tanto

Sou eu que nela a verga planto

E ela também vai me engolir.

Você não manda nem desmanda,

Também em mim, não manda, não.

Eu fico a rir de gozação,

Soltando minha sarabanda.

Enquanto vai passando a banda

Você procura se exibir,

Para que um dia, no porvir,

Você, talvez, seja lembrado,

Mais deixo aqui no meu recado:

Você vai ter que me engolir.

12.03.2009

Page 315: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cccxv

Glosa

Quando um tico-tico canta

Minha vida é assim, assim,

Vem-me um soluço à garganta,

Sinto saudade de mim...

(Lino Vitti)

Tudo passa nesta vida

Com veloz ferocidade.

Hoje, preso na cidade

Trago a lembrança sofrida,

De uma lembrança querida

Que me cobra – tola manta! –

E o coração acalanta.

E rememoro saudoso

Aquele tempo saudoso

Quando um tico-tico canta.

Page 316: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cccxvi

Hoje em liberdade preso,

Sinto, patético, triste,

Que não mais na vida existe

Aquele sonhar aceso.

A saudade como peso

Parece que não tem fim,

Quando escuto no jardim

O passarinho inocente

Cantando continuamente

Minha vida é assim, assim...A água pura e cristalina

Do regato ao céu brilhante

Era um convite constante

Para a infância bailarina.

Mas hoje tudo se inclina,

E essa visão me espanta:

O tico-tico na planta

Cantando despreocupado

Page 317: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cccxvii

E fico logo magoado,

Vem-me um soluço à garganta.

Ah, querida mocidade,

Oh, vívida juventude,

Corre o tempo, a vida ilude,

Tudo torna-se saudade.

Tudo o que era alacridade:

Canto, alegria, festim,

Trinar de papa-capim,

Acabou-se num solfejo,

Pois hoje, quando me vejo,

Sinto saudade de mim.

27.02.2009

Page 318: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cccxviii

Beira-Mar

Galope à Beira-mar

Se a rima está pobre,

Eu tento uma rima que seja mais rica,

Se vou, a minh’alma, porém, aqui fica,

Num sonho tão nobre,

Tão denso, tão puro, tão fértil, tão triste,

Que se ele ora existe

Eu quero cantar...

E a rima é tão densa, tão fértil, tão pura,

Que solto meu canto de forma segura

No galope à beira-mar...

Se a rima está solta

Eu quero prendê-la com elos de aço,

E vou com minh’alma buscá-la no espaço

Page 319: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cccxix

Com a nave revolta

Voando liberta dos sonhos atrozes,

Que falam mil vozes

Que escuto no ar...

Se a rima está solta, no céu vou prendê-la

Nas pontas cadentes de alguma áurea estrela

No galope à beira-mar...

21.08.1991

Page 320: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cccxx

Sextina

Sextina

Minha querida, na paixão mais louca

Eu quero te entregar a minha vida

E ser feliz em minha eternidade.

Quero estar ao teu lado a cada instante,

Ser teu Poeta, teu cantor, teu astro,

Tua paixão e todo o teu desejo.

Eis tudo o que na vida mais desejo

Para viver feliz a minha vida!

Se a paixão que me invade deixa louca

A minh’alma – então sonho a eternidade

Mesmo que seja apenas um instante

Para ser o teu ídolo, o teu astro.

Vem, minha estrela, e brilha como um astro

E faz que minha vida fique louca.

Que importa o céu, que importa a Eternidade?

Page 321: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cccxxi

Quero ser a razão da tua vida,

Eis tudo o que mais quero e mais desejo:

Quero estar ao teu lado a cada instante.

Vem sem demora, vem, vem nesse instante

E mata a minha fúria de desejo!

Vem comigo viver a rósea vida,

Vem ser minha ilusão, meu sol, meu astro!

Ah, não me importa ter a eternidade,

Basta somente esta paixão tão louca.Que importa se minh’alma esteja louca?

Eu te quero na minha eternidade!

Vem brilhar na minh’alma, ser meu astro,

Vem para ser a luz de meu desejo!

Se pouco é o que te oferto nesse instante,

Vem para ser a luz da minha vida!

Se tudo o que te oferto nesta vida

É pouco, meu amor, vem neste instante

E me fere com a fúria do desejo...

Page 322: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cccxxii

Vem ser a minha luz, vem ser meu astro,

Vem aplacar minh’alma que está louca

E comigo viver a Eternidade.

Ah, minha louca, quero dar-te a vida,

Num louco instante a minha eternidade,

E ser teu astro cheio de desejo.

15.11.1990

Page 323: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cccxxiii

Vilancete

Vilancete

Que dias há que na alma me tem posto

Um não sei quê, que nasce não sei onde,

Vem não sei como, doi não sei porque.

(Camões)

Solidão. Há na vida um céu de chumbo.

Ante agonias tais eu me sucumbo,

Lágrimas frias correm em meu rosto.

Faz frio. É rijo o inverno. É mês de agosto.

E essas noites sem fim, escuras, frias,

Por que viver assim tão longos dias?

Que dias há que na alma me tem posto?

É um mistério infinito esses momentos

Carregados de tredos sofrimentos.

O sol da claridade a mim se esconde.

Page 324: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cccxxiv

E por mais que eu procure, busque, sonde,

Não encontro alegrias nesta vida.

É uma angústia que brota colorida,

Um não sei que, que nasce não sei onde.

Junto à noite sombria ando sozinho,

E não vejo ninguém neste caminho.

O coração dos sonhos já descrê,

E às alegrias sempre existe um se...

E não entendo e não defino como

Tal sentimento em mim com tanto assomo

Vem não sei como, doi não sei porque.

25.09.2008

Page 325: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cccxxv

Dez-de-queixo-caído

Dez-de-queixo-caído

A poesia anda à deriva

Por pura falta de estudo.

De ora em diante fico mudo

E por mais que eu muito viva

Deixarei a alma cativa

No silêncio reprimido.

Pois devo ter aprendido

Não dar conselhos ao burro,

Que ele sempre solta um urro

No dez-de-queixo-caído!

Muitos pensam ser poetas

Louvando seus próprios versos,

Mas todos vivem imersos

São medíocres, patetas,

Deveriam ser atletas,

Page 326: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cccxxvi

Saltar um vale profundo.

Usam um tênis fedido,

Mas vivem com seus enganos

Em versos ruins traçam planos,

No dez-de-queixo-caído.

Misturam travas e trovas

Confundem bife na mesa

Com um bife à milanesa,

Não saber tirar as provas,

Das vassouras, das escovas,

Mas eu olho divertido

O que escrevem sem sentido,

Dizendo que é poesia.

Chego a ficar com azia

No dez-de-queixo-caído.

E publicam tais sandices

Nos jornais de minha Terra.

E minha alma grita e berra

Page 327: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cccxxvii

Ao ler tantas cretinices.

São Julietas, são Alices,

Um Romeu desiludido,

Um d. Juan esquecido...

São mesmo todos cretinos,

Com seus gemidos suínos

No dez-de-queixo-caído.

Poesia é dom de momento,

É inspiração refinada,

Não é parede caiada

Nem túmulo bolorento.

Tais bobagens são aguento

E fico desiludido.

E meu coração curtido

Ao ler tanto verso chulo,

O desânimo eu engulo

No dez-de-queixo-caído.

Um verso sem melodia

Page 328: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cccxxviii

Mostra logo ser engodo,

A poesia vai ao lodo

Que é a lama da alquimia.

Isso ter fim deveria

Mas falta o sexto-sentido

Ao poetastro atrevido

Que o que compôs alardeia,

Porém me dá diarreia

No dez-de-queixo-caído.

Rimas sofríveis e pasmas,

O verso quebrado e torto.

Com o olhar perdido, absorto,

Penso estar vendo fantasmas,

Escorpiões, cobras, miasmas,

Em meu caminho florido.

Mas o trouxa pervertido

Arrota seu verso chulo...

Tais sandices só engulo

Page 329: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cccxxix

No dez-de-queixo-caído.

Se proteção eu tivesse,

Mas não sou analfabeto.

Mas frente a texto incorreto

Feito às pressas, na quermesse,

Bem sei que inexiste prece

Para calar o estampido

Do verso descolorido

E ao terminar essas décimas

Fico com impressões péssimas,

No dez-de-queixo-caído.

10.03.2009

Page 330: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cccxxx

Vilanelas

Vilanela

Na tarde que vinha vindo

Havia a cor de violeta

Quando o sol ia dormindo.

Era o céu, matiz infindo,

Voava uma borboleta

Na tarde que vinha vindo.

No ocaso o raio era lindo,

Tive uma paixão secreta

Quando o sol ia dormindo.

Minh’alma ficou sorrindo

Quando viu a Julieta

Na tarde que vinha vindo.

Meu olhar ficou fulgindo

Como o brilho de um Poeta

Page 331: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cccxxxi

Quando o sol ia dormindo.

E na vida fui seguindo

A estrada – amor como meta! –

Na tarde que vinha vindo.

O amor a mim foi bem-vindo,

Tive a alegria discreta

Quando o sol ia dormindo.

Meu coração foi se abrindo...

Minh’alma ficou inquieta

Na tarde que vinha vindo.

No jardim da caçoleta

O amor foi me distraindo.

Na tarde que vinha vindo

Quando o sol ia dormindo.

24.08.1981

Page 332: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cccxxxii

Vilanela

O coração faz poesia

E rima a felicidade

Num poema de alegria.

Por isso, com melodia,

O amor canta e em ansiedade

O coração faz poesia.

Penso que uma cotovia

Canta sua alacridade

Num poema de alegria.

Talvez pareça ousadia,

Mas no canto da amizade

O coração faz poesia.

Minh’alma te acaricia

Pois te adora de verdade

Num poema de alegria.

O teu amor é meu guia

Page 333: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cccxxxiii

E num canto de saudade

O coração faz poesia.

O meu olhar te vigia,

E olha com intensidade

Num poema de alegria.

Canta alegre, noite e dia...

Com força da mocidade

O coração faz poesia.

Te amo com tanta euforia

E te digo o que me invade

Num poema de alegria.

Este amor me desvaria

E me prende na unidade:

O coração faz poesia

Num poema de alegria.

12.11.1994

Page 334: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cccxxxiv

Pantuns

Pantum da saudade

Quando a saudade a sua lira tange

Meu coração modula uma cantiga.

E o mesmo verso no meu peito range

Da mesma forma secular, antiga.

Meu coração modula uma cantiga

Para lembrar o que ora não existe.

Da mesma forma secular, antiga,

O meu poema é solitário, triste.

Para lembrar o que ora não existe

E um dia foi meu canto de alvorada;

O meu poema é solitário, triste,

Com cadência sem fim de uma balada.

E um dia foi meu canto de alvorada,

A minha luz, o meu farol, meu tudo!

Page 335: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cccxxxv

Com cadência sem fim de uma balada

Os versos faço de tristuras – mudo.

A minha luz, o meu farol, meu tudo,

Num fim de tarde adeuses me acenaram.

Os versos faço de tristuras – mudo

Ao ver as alegrias que passaram.

Num fim de tarde adeuses me acenaram

Os sonhos todos que vivi sorrindo.

Ao ver as alegrias que passaram

Sinto que tudo para mim é findo.Os sonhos todos que vivi sorrindo

Deram-me a realidade sem encanto.

Sinto que tudo para mim é findo

E os versos rimo com meu próprio pranto.

Deram-me a realidade sem encanto,

A solidão, a angústia e o desconforto.

E os versos rimo com meu próprio pranto

Sentindo que meu grande amor é morto.

Page 336: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cccxxxvi

A solidão, a angústia e o desconforto,

Ferem meu coração que não tem calma.

Sentindo que meu grande amor é morto,

Nas mãos de Deus entrego enfim minh’alma.

Ferem meu coração que não tem calma

As horas que me agridem como alfanje.

Nas mãos de Deus entrego enfim minh’alma

Quando a saudade a sua lira tange.

17.12.2000

Page 337: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cccxxxvii

Pantum saudoso

Tenho pensado em ti ultimamente

Como um extremo bem, um lindo sonho.

E este meu pensamento em ti somente,

Tem me deixado o coração risonho.

Como um extremo bem, um lindo sonho,

Tenho a esperança de te ver um dia.

Tem me deixado o coração risonho

Os teus olhos que inspiram-me à Poesia.

Tenho a esperança de te ver um dia

Em minha estrada fulgurante e bela.

Os teus olhos, que inspiram-me à Poesia,

E brilham mais do que uma loura estrela.

Em minha estrada fulgurante e bela

Iremos a passeios de ternura...

E brilham mais do que uma loura estrela

Os meus olhos envoltos em ternura.

Page 338: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cccxxxviii

Iremos a passeios de ternura

Trocaremos carícias e mil beijos...

Os meus olhos envoltos em ternura,

Brilharão na ânsia de triunfais desejos.

Trocaremos carícias e mil beijos

E sonharemos dias mais floridos.

Brilharão na ânsia de triunfais desejos

Os nossos corações incandescidos.E sonharemos dias mais floridos,

E colheremos flores pela estrada.

Os nossos corações incandescidos

Vislumbrarão ao ver a paz sonhada.

E colheremos flores pela estrada

Te enfeitarei com flores nos cabelos.

Vislumbrarão ao ver a paz sonhada

Nossos olhos em fúlgidos anelos.

Te enfeitarei com flores nos cabelos

E beijarei teus lábios tão ardentes.

Page 339: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cccxxxix

Nossos olhos em fúlgidos anelos

Se entreolharão amantes e contentes.

E beijarei teus lábios tão ardentes,

– Palpitarás de amor, presa em meus braços! –

Se entreolharão amantes e contentes

Nossos olhos em férvidos abraços.

– Palpitarás de amor, presa em meus braços! –

E ficarei feliz, minha adorada.

Nossos olhos em férvidos abraços

Deixarão a noss’alma apaixonada.

E ficarei feliz, minha adorada,

Tendo o teu corpo junto ao meu unido.

Deixarão a noss1alma apaixonada

As passarelas de um jardim florido.

Tendo o teu corpo junto ao meu unido,

Te embalarei entre canções de amores,

As passarelas de um jardim florido,

Page 340: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cccxl

Irão te confundir por entre as flores.Te embalarei entre canções de amores.

Em teus ouvidos contarei histórias.

Irão te confundir por entre as flores

As cantigas que tenho nas memórias...

Em teus ouvidos contarei histórias,

– Histórias dos jardins de Capuleto.

As cantigas que tenho nas memórias

Te cantarei num lírico soneto.

Histórias dos jardins de Capuleto,

Falavam dos amantes de Verona.

Te cantarei num lírico soneto

O romance que tanto me apaixona.

Falavam dos amantes de Verona...

Porém, agora, falo a ti somente

O romance que tanto me apaixona:

– Tenho pensado em ti ultimamente!

Page 341: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cccxli

Pantum da existência

Eu e tu, a existência resumidaEm um amor esplêndido e profundo;

Capaz de fecundar uma outra vida,

Capaz de fecundar o próprio mundo.

Em um amor esplêndido e profundo

Criamos a raiz da Eternidade.

Capaz de fecundar o próprio mundo,

O próprio mundo cheio de verdade.

Criamos a raiz da Eternidade,

Desprezamos o lixo da incidência...

O próprio mundo – cheio de verdade

Dentre as ciências, mostrou-nos esta ciência.

Desprezamos o lixo da incidência;

A violência nós demos outra sorte.

Dentre as ciências, mostrou-nos esta ciência:

O Amor existe mesmo após a morte.

Page 342: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cccxlii

A violência nós demos outra sorte,

À perspectiva nós nos entregamos.

O amor existe após a própria morte,

– Somos frutos que estão nos mesmos ramos.

À perspectiva nós nos entregamos

Capaz de fecundar uma outra vida!

– Somos frutos que estão nos mesmos ramos,

Nós somos a existência resumida.

07.03.1976

Page 343: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cccxliii

Pantum tristonho

Há em mim a sensação estranha de que a vida

Já não é mais igual à vida do passado,

Onde vivia em meio a uma estação florida

E os sonhos eram bons, e o céu, sempre azulado.

Já não é mais igual à vida do passado

A vida que hoje foge através de esquivanças.

E os sonhos eram bons, e o céu, sempre azulado,

Já não existem mais no mundo das lembranças.

A vida que hoje foge através de esquivanças

Deixa um saldo tristonho e cheio de agonia.

Já não existem mais no mundo das lembranças,

Um parque colorido e um palco de alegria.

Deixa um saldo tristonho e cheio de agonia

As podres ambições dos homens nesta Terra.

Um parque colorido e um palco de alegria

Hoje são orlas onde explode a negra guerra.

Page 344: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cccxliv

As podres ambições dos homens nesta Terra

Destruíram o Poder e a Paz que houve no mundo.

Hoje são orlas onde explode a negra guerra

Os campos verdes onde havia o amor profundo.

Destruíram o Poder e a Paz que houve no mundo

Homens com corações de bruxuleantes feras.

Os campos verdes onde havia o amor profundo,

Hoje é inverno voraz, não mais há primaveras.Homens com corações de bruxuleantes feras

Deixai que creste o mundo e a Paz seja clamada.

Pois eu sinto que a vida, ao fim das Primaveras,

Já não é mais igual à vida do passado.

29.02.1981

Page 345: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cccxlv

Pantum em Redondilhas

Quero mundos conquistar

Numa simples caravela,

Pois existe tanto mar

E esta vida é tão bela.

Numa simples caravela

Quero meus sonhos domar

E esta vida é tão bela

Que vale a pena sonhar

Quero meus sonhos domar

Sem ter medos, sem cautela,

Que vale a pena sonhar

Quando estou nos braços dela.

Sem ter medos, sem cautela

Quero um sonho para amar...

Quando estou nos braços dela

Page 346: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cccxlvi

Nem vejo a vida passar.

Quero um sonho para amar

Da maneira mais singela.

Nem vejo a vida passar

Debruçado na janela.

Da maneira mais singela

Direi meu modo de amar:

Debruçado na janela

Passo tardes a cantar.

Direi meu modo de amar...

Numa canção terna e bela

Passo tardes a cantar

De maneira bem singela.

Numa canção terna e bela

Ficarei olhar o mar,

De maneira bem singela

Visitarei o luar.

Ficarei olhando o mar

Page 347: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cccxlvii

Numa simples caravela

Visitarei o luar

Lembrando os encantos dela.

Num simples caravela

Quero meus sonhos domar,

Lembrando os encantos dela

Quero mundos conquistar.

23.01.1999 (Viagem Poética, 1999)

Page 348: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cccxlviii

Pantum do anoitecer

Ao ver a noite que me chega triste,

E que me cobre com seu negro manto,

Minha felicidade não existe

– Da vida só carrego desencanto.

E que me cobre com seu negro manto

Colocando a tristeza na minh’alma...

Da vida só carrego desencanto

E nada, nada o coração me acalma.

Colocando tristeza na minh’alma

Lembro-me de meus trágicos amores.

E nada, nada o coração me acalma

E sofro com a lembrança dessas dores.

Lembro-me de meus trágicos amores

Que rompendo a manhã, iam-se embora.

E sofro com a lembrança dessas dores

Page 349: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cccxlix

Todos os dias quando surge a aurora.

Que rompendo a manhã iam-se embora

E eu ficava sozinho com meus sonhos,.

Todos os dias quando surge a aurora

Meus pensamentos tornam-se tristonhos.

E eu ficava sozinho com meus sonhos

Sofrendo a angústia de um constante inverno.

Meus pensamentos tornam-se tristonhos

Sem ter quem me ofereça um sonho terno.

Sofrendo a angústia de um constante inverno

Eu busco a primavera colorida.

Sem ter quem me ofereça um sonho terno

Ao pesadelo atroz entrego a vida.

Eu busco a primavera colorida

Cheia de flores, com festões doirados.

– Ao pesadelo atroz entrego a vida

Pois meus sonhos estão desesperados.

Cheia de flores, com festões doirados,

Page 350: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cccl

Vejo a vida seguindo seu destino.

Pois meus sonhos estão desesperados

E n’alma só carrego desatino.

Vejo a vida seguindo seu destino

– Minha felicidade não existe!

E n’alma só carrego desatino

Ao ver a noite que me chega triste.

26.10.1998 (Portal dos Sonhos, 2000)

Page 351: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cccli

Pantum do passado

Como um rio, passaste em minha vida,

Um grande rio em época em enchente,

Que tudo vai levando de vencida,

Levando tudo o que acha pela frente.

Um grande rio em época de enchente

Por certo foi o nosso amor insano.

Levando tudo o que acha pela frente,

Em seu desejo imenso, soberano.

Por certo foi o nosso amor insano

Mas tanto nele eu, cego, acreditava

Em seu desejo imenso, soberano,

Que desse amor minha alma foi escrava.

Mas tanto nele eu, cego, acreditava,

Com em outros jamais, antes houvera.

Que desse amor minha alma foi escrava

Como as flores as são da primavera.

Page 352: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccclii

Como em outros jamais, antes houvera,

O meu desejo foi terrível, forte,

Com as flores as são da primavera,

O amor julguei muito maior que a morte.

O meu desejo foi terrível, forte,

Porém, fui sucumbindo no caminho.

O amor julguei muito maior que a morte,

Contudo a vida me deixou sozinho.

Porém, fui sucumbindo no caminho

E sem forças me vi no chão pregado.

Contudo a vida me deixou sozinho;

Deixou meu coração desesperado.

E sem forças me vi no chão pregado

Sequer um passo para dar à frente.

Deixou meu coração desesperado

Tua ausência que veio num repente.

Sequer um passo para dar à frente

Que tudo pareceu-me atroz, vazio.

Page 353: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cccliii

Tua ausência que veio num repente,

Encheu meu coração igual a um rio.

Que tudo pareceu-me atroz, vazio,

E os sonhos fui levando de vencida.

Encheu meu coração igual a um rio

Que atravessou um dia a minha vida.

11.04.2007

Page 354: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cccliv

Pantum da Saudade

Quantos poemas juntos não vivemos,

Numa alegria extremamente intensa.

Aos barcos éramos nós dois os remos,

Do futuro nós éramos a crença.

Numa alegria extremamente intensa

Tivemos juntos colossais momentos.

Do futuro nós éramos a crença,

E nossas preces eram sentimentos.

Tivemos juntos colossais momentos:

Inesquecíveis sonhos tão vividos.

E nossas preces eram sentimentos,

Nossos instantes todos tão floridos.

Inesquecíveis sonhos tão vividos

Na magia de amantes tão suprema.

Nossos instantes todos tão floridos,

Gerava do silêncio, áureo poema.

Page 355: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccclv

Na magia de amantes tão suprema,

Éramos dois plasmados num delírio.

Gerava do silêncio, áureo poema

Cada instante vivido em terno Empíreo!

Éramos dois plasmados num delírio,

Na ânsia louca de amar e ser amado.

Cada instante vivido em terno Empíreo

Dentro do coração trago gravado.

Na ânsia louca de amar e ser amado,

Esqueci-me de mim, de Deus, do Mundo.

Dentro do coração trago gravado

Instante a instante no viver profundo.

Esqueci-me de mim, de Deus, do Mundo...

Eras tu minha intensa claridade.

Instante a instante no viver profundo,

Em meu silêncio vivo de saudade.

Eras tu minha intensa claridade,

Hoje és delírio de sofrer constante,

Page 356: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccclvi

Em meu silêncio vivo de saudade,

Lembrando histórias de um viver amante.

Hoje és delírio de sofrer constante,

Barco afundado, destruídos remos! –

Lembrando histórias de um viver amante,

Quantos poemas juntos não vivemos.

03.08.2007

Page 357: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccclvii

Pantum da alegria festiva

Toda a alegria festivaSentida em meu coração

Faz minh’alma ser cativa

Ao som de etérea canção.

Sentida em meu coração

A alegria é mais sincera,

Ao som de etérea canção

Me visto de primavera.

A alegria é mais sincera

E ao fazer-me tanto bem

Me visto de primavera

Com as cores todas que tem.

E ao fazer-me tanto bem,

Meu coração fica amando

Com as cores todas que tem

Que no céu fica brilhando.

Page 358: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccclviii

Meu coração fica amando

Numa ternura sem fim:

Que no céu canta brilhando

Como um sol dentro de mim.

Numa ternura sem fim

A minh’alma solta um canto

Como um sol dentro de mim

Que traz calor, traz encanto.

A minh’alma solta um canto

Que quem ouve pede bis.

Que traz calor, traz encanto,

E faz o mundo feliz.

Que quem ouve pede bis

Ao ter su’alma cativa.

E faz o mundo feliz

Toda a alegria festiva.

28.05.1998

Page 359: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccclix

Pantum da lembrança

Meus amores ficaram na saudade:Todos passaram e eu fiquei sozinho.

E hoje, chorando ao céu, penso: quem há de

Colocar outro amor em meu caminho.

Todos passaram e eu fiquei sozinho

E eu olhei-os seguirem benfazejos.

Colocar outro amor em meu caminho

Desejo, mas que valem meus desejos?

E eu olhei-os seguirem benfazejos

A estrada da alegria e da ventura.

Desejo... mas que valem meus desejos

Se quem eu tanto amei deu-me amargura?

A estrada da alegria e da ventura

Outrora palmilhei cheio de planos.

Se quem eu tanto amei deu-me amargura,

Hoje minha certeza é só de enganos.

Page 360: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccclx

Outrora palmilhei cheio de planos

A avenida faustosa dos amores.

Hoje minha certeza é só de enganos:

A minha estrada não contém mais flores.

A avenida faustosa dos amores

Apontei para a minha idolatrada.

A minha estrada não contém mais flores

E ela não quis seguir-me nessa estrada.

Apontei para a minha idolatrada

O rumo certo da felicidade.

E ela não quis seguir-me nessa estrada:

Meus amores ficaram na saudade...

03.08.1989

Page 361: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccclxi

Pantum em redondilhas

Todos os sonhos que trago

Dentro de meu coração

São fantasias de um mago

Mudadas em ilusão

Dentro de meu coração

Trago sonhos e cantigas

Mudadas em ilusão

São cantos de aves amigas

Trago sonhos e cantigas

Pelos caminhos de luz.

São cantos de aves amigas

Cada som que me seduz.

Pelos caminhos de luz

Brilho ao sol das alvoradas

Cada som que me seduz

Põe no céu canções doiradas

Page 362: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccclxii

Brilho ao sol das alvoradas

E fico cheio de cor

Põe no céu canções doiradas

A minha rima de amor

E fico cheio de cor

Porque o amor me ilumina.

A minha rima de amor

Toda a minh'alma domina

Porque o amor me ilumina

Fico brilhante ao luar

Toda a minh'alma domina

Os cantos que sei cantar

Fico brilhante ao luar

Que lua cheia pareço!

Os cantos que sei cantar

São canções que bem conheço

Que lua cheia pareço,

Numa alegria sem sim.

Page 363: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccclxiii

São canções que bem conheço

Todo o amor que sinto em mim

Numa alegria sem fim

Eu me transformo num mago

Todo o amor que sinto em mim

Todos os sonhos que trago.

06.08.1999

Page 364: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccclxiv

Pantum do flerte

Quando te vejo andando pela rua

Eu sinto n’alma uma vontade imensa

De te abraçar sob o clarão da lua

Que, cigana, no céu vive suspensa...

Eu sinto n’alma uma vontade imensa

De te beijar, em mágica alegria,

(Que, cigana, no céu vive suspensa)

Faz que o sonho eu adie dia a dia.

De te beijar, em mágica alegria,

Deixa minh’alma num momento louca...

Faz que o sonho eu adie dia a dia

Pois o desejo morre em minha boca.

Deixa minh’alma num momento louca

Tua forma de mágica princesa,

Pois o desejo morre em minha boca

E dos meus sonhos tu não vives presa.

Page 365: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccclxv

Tua forma de mágica princesa

Colore os sonhos que em meu peito trago.

E dos meus sonhos tu não vives presa

Que não sou alquimista e nem sou mago.

Colore os sonhos que em meu peito trago

Apenas um sorriso nos teus lábios.

Que não sou alquimista e nem sou mago

E não consigo decifrar os sábios.

Apenas um sorriso nos teus lábios

Faz que eu fique feliz e se procuro

E não consigo decifrar os sábios,

Nem posso desvendar o meu futuro.

Faz que eu fique feliz e se procuro

Falar do amor que em êxtase me invade,

Nem posso desvendar o meu futuro

Nem o meu mundo de felicidade.

Falar do amor que em êxtase me invade,

Faria a minha vida ter encanto...

Page 366: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccclxvi

Nem o meu mundo de felicidade

Consegue ser a rima de meu canto.

Faria a minha vida ter encanto

Se tu, por um instante me quisesses.

Consegue ser a rima de meu canto

Teu nome que murmuro em minhas preces.

Se tu por um instante me quisesses,

O nosso amor fecundaria o mundo.

Teu nome que murmuro em minhas preces,

Assim eu sonho com ardor profundo.

O nosso amor fecundaria o mundo

E eu te amaria num clarão da lua.

Assim eu sonho com ardor profundo

Quando te vejo andando pela rua.

20.07.1994

Page 367: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccclxvii

Pantum dos sonhos

Esparjo meus poemas nas estradas

Para que possam rebentar em flores.

Na esperança de ver, apaixonadas,

As almas todas num florir de amores.

Para que possam rebentar em flores,

Lanço no chão, sementes dos meus sonhos.

As almas todas, num florir de amores,

Assim terão caminhos mais risonhos.

Lanço no chão, sementes dos meus sonhos,

Que irão por luz na rósea primavera.

Assim terão caminhos mais risonhos,

Quem sonhar uma vida mais sincera.

Que irão por luz na rósea primavera,

Para deixar meu mundo colorido.

Quem sonhar uma vida mais sincera,

Vai achar este mundo mais florido.

Page 368: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccclxviii

Para deixar meu mundo colorido,

Invento rimas que a alma em luz tece e

Vai achar este mundo mais florido

O coração que vê tão rara espécie.

Invento rimas que a alma em luz tece e

Fico feliz com rima tão brilhante.

O coração que vê tão rara espécie

Da própria vida passa a ser amante.

Fico feliz com rima tão brilhante

E faço uma canção terna e singela.

Da própria vida passa a ser amante

Ao por no verso rima assim tão bela.

E faço uma canção terna e singela

E te ofereço a ti, minha querida,

Ao por no verso rima assim tão bela,

Eu passo a ter maior amor à vida.

E te ofereço a ti, minha querida,

Cada verso que escrevo e em cada verso

Page 369: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccclxix

Eu passo a ter maior amor à vida,

Na cadência da lei deste Universo.

Cada verso que escrevo e em cada verso,

As nossas almas mais apaixonadas.

Na cadência da lei deste Universo,

Esparjo meus poemas nas estradas.

13.11.2000

Verificar que a rima ESPÉCIE e TECE E, é perfeita.

Apenas que Espécie é na contagem métrica uma

palavra paroxítona e Tece e deve ser oxítona,assim portanto o verso deve ser lido na métrica:

in/ vem/ to/ ri/mas/ que a al/ ma em/ luz/ te/ce e/

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Page 370: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccclxx

Pantum Terra sem males

Terra sem males – plena de justiça

Um dia irá viver a nossa terra.

Pois na bondade é que a ternura viça

E vai calar a voz que clama a guerra.

Um dia irá viver a nossa terra

No delírio da paz – que ainda hoje é sonho.

E vai calar a voz que clama a guerra

A esperança num vale amplo e risonho.

No delírio da paz – que ainda hoje é sonho,

A humanidade irá sonhar, um dia...

A esperança num vale amplo e risonho

Irá dar rimas para uma poesia.

A humanidade irá sonhar, um dia,

Uma terra sem males, de bonança.

Irá dar rimas para uma poesia

A palavra que chama-se – Esperança!

Page 371: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccclxxi

Uma terra sem males, de bonança,

Na plenitude santa, num sorriso...

A palavra que chama-se – Esperança

O Homem há de levar ao Paraíso!

Na plenitude santa, num sorriso,

Os corações irão viver alados.

O Homem há de levar ao Paraíso

Os seus sonhos de amor iluminados.

Os corações irão viver alados

Na carícia de um beijo mais sincero.

Os seus sonhos de amor iluminados,

Deste mundo ainda anseio, e em transe espero.

Na carícia de um beijo mais sincero

Farei soar esta canção em hinos.

Deste mundo ainda anseio, e em transe espero,

Ouvir a paz num repicar de sinos.

Farei soar esta canção em hinos

Quando a justiça rebrilhar nos campos,

Page 372: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccclxxii

Ouvir a paz num repicar de sinos

E iluminar o céu com pirilampos.

Quando a justiça rebrilhar nos campos

A nossa Terra não terá seus males.

E iluminar o céu com pirilampos,

Também vai por mais luz nos verdes vales.

A nossa Terra não terá seus males

Que há de calar a voz que a guerra inflama.

Também vai por mais luz nos verdes vales

É o que o Poeta no seu verso clama.

Que há de calar a voz que a guerra inflama

Pois na bondade é que a ternura viça.

É o que o Poeta no seu Verso clama:

Terra sem males – plena de Justiça!

24.05.2003

Page 373: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccclxxiii

Pantum da solidão

A tua ausência – mais que uma saudade,Mais que meu coração me fere a entranha.

Delírio sufocante de ansiedade

Que traz angústia e sensação estranha.

Mais que meu coração me fere a entranha

Tua presença que se torna ausente.

Que traz angústia e sensação estranha,

À boca um gosto amargo, contundente.

Tua presença que se torna ausente

Faz-me criar canções de dor e tédio.

À boca um gosto amargo, contundente,

É a solidão que tenho por remédio.

Faz-me criar canções de dor e tédio

Esta melancolia que me fere.

É a solidão que tenho por remédio,

Tangida por sofrido miserere.

Page 374: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccclxxiv

Esta melancolia que me fere

Lembra um terceto fúnebre de Dante.

Tangida por sofrido miserere,

A minha’alma soluça angustiante.

Lembra um terceto fúnebre de Dante

A hora fatal da tua despedida.

A minh’alma soluça angustiante

Desde a hora que acenaste na partida.

A hora fatal da tua despedida

– Pungente instante de fatal tortura! –

Desde a hora que acenaste na partida

Meu dia transformou-se em noite escura.

Pungente instante de fatal tortura

Feriu-me o coração como navalha.

Meu dia transformou-se em noite escura.

Meu céu azul nublou-se de limalha.

Feriu-me o coração como navalha:

– Tal cicatriz borbulha ainda a sangue.

Page 375: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccclxxv

Meu céu azul nublou-se de limalha

A estrada por seguir tornou-se exangue.

Tal cicatriz borbulha ainda a sangue

E a cada instante sinto que faleço.

A estrada por seguir tornou-se exangue,

Viver abandonado não mereço.

E a cada instante sinto que faleço

Não conseguindo retornar à vida.

Viver abandonado não mereço,

Porém, sozinho, é a estrada a ser seguida.

Não conseguindo retornar à vida,

Sinto que a solidão além me espera.

Porém, sozinho, é a estrada a ser seguida,

E sem ninguém tão triste é a primavera.

Sinto que a solidão além me espera

Hei de sozinho caminhar em luto.

E sem ninguém tão triste é a primavera:

A flor fenece e não madura um fruto.

Page 376: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccclxxvi

Hei de sozinho caminhar em luto

Mas é tão triste caminhar sozinho.

A flor fenece e não madura um fruto,

Por certo morrerei neste caminho.

Mas é tão triste caminhar sozinho,

Sinto aflição e sensação estranha.

Por certo morrerei neste caminho

Já que a tortura torna-se tamanha.

Sinto aflição e sensação estranha,

Delírio sufocante de ansiedade.

Já que a tortura torna-se tamanha

E a tua ausência – mais que uma saudade.

29.06.2004

Page 377: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccclxxvii

Pantum da noite

Ao vir da noite apaixonada e ledaEu ficarei á tua espera, amada,

E descerei contente na alameda

Para beijar as tuas mãos de fada.

Eu ficarei à tua espera, amada,

Desfiando um rosário de poesia

Para beijar as tuas mãos de fada

E beijar tua face tão macia.

Desfiando um rosário de poesia

Passarei horas, horas e mais horas...

E beijar tua face tão macia

Fará esquecer-me as noites e as auroras.

Passarei horas, horas e mais horas,

Somente a olhar o teu divino rosto.

Fará esquecer-me as noites e as auroras

O traço de teu rosto tão composto.

Page 378: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccclxxviii

Somente a olhar o teu divino rosto

Mais que mulher – eu julgo-te uma santa.

Aos traços de teu rosto tão composto,

Faço-te esta canção que até me espanta.

Mais que mulher – eu julgo-te uma santa

Vendo o teu corpo de macia seda.

Faço-te esta canção que até me espanta

Ao vir da noite apaixonada e leda.

1978 (Luzes da Aurora)

Page 379: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccclxxix

Pantum da emoção

Apareceste um dia em meu caminhoPedindo apenas um amor ardente,

E eu que há tempos não dava meu carinho

Dei-o a ti numa emoção fremente.

Pedindo apenas um amor ardente

Tu nada mais em troca me pediste.

Doei a ti numa emoção fremente

Toda a paixão que ainda em meu peito existe.

Tu nada mais em troca me pediste

E meu amor cresceu apaixonado.

Toda a paixão que ainda em meu peito existe

É maior do que o céu, anjo adorado.

E meu amor cresceu apaixonado

E passei a viver por ti somente.

É maior do que o céu, anjo adorado,

Este amor que me faz da vida um crente.

Page 380: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccclxxx

E passei a viver por ti somente

E a tristeza em minh’alma, foi-se embora.

Este amor que me faz da vida um crente

Faz que eu cante baladas desde a aurora.

E a tristeza em minh’alma, foi-se embora

E esta felicidade delirante

Faz que eu cante baladas desde a aurora

Até a noite, minha doce amante.

E esta felicidade delirante

Explode num poema de mil beijos;

Até a noite, minha doce amante,

Sinto em mim sensações desses desejos.

Explode num poema de mil beijos

Os meus olhos olhando nos teus olhos.

Sinto em mim sensações desses desejos

E da vida eu esqueço o mar de abrolhos.

Os meus olhos olhando nos teus olhos...

Não pode haver maior felicidade,

Page 381: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccclxxxi

E da vida eu esqueço o mar de abrolhos

No exato instante que a paixão me invade.

Não pode haver maior felicidade

Que os nossos corações na paz imensa.

No exato instante que a paixão me invade,

Mais que o amor – tu és a eterna crença!

Que os nossos corações na paz imensa

Mostrem ao mundo o amor feito carinho.

Mais que o amor – tu és a eterna crença

Que apareceu um dia em meu caminho.

16.06.1977

Page 382: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccclxxxii

Pantum do silêncio

Quero, ao silêncio d'alta madrugada,

Contemplando o teu corpo enlanguescido,

Soltar meu verso em forma de balada

Após, do amor, batalhas ter vivido.

Contemplando o teu corpo enlanguescido

Na paz sonhada, na paixão imensa,

Após, do amor, batalhas ter vivido,

Soltar espasmos de ternura e crença.

Na paz sonhada, na paixão imensa,

Entorpecido, pelo ardor do vinho,

Soltar espasmos de ternura e crença

Ao te embalar em cantos de carinho.

Entorpecido, pelo ardor do vinho

Teu corpo lembra um copo de licores

Ao te embalar em cantos de carinho

Quero, em cantigas, te falar de amores.

Page 383: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccclxxxiii

Teu corpo lembra um copo de licores

Porém, agora, um copo de silêncio.

Quero, em cantigas te falar de amores,

Que meu amor, jamais o tempo vence-o.

Porém, agora, um copo de silêncio

Lembra teu corpo abandonado ao leito;

Que meu amor, jamais o tempo vence-o

Pois meu amor, querida, ele é perfeito.

Lembra teu corpo abandonado ao leito

Pétalas rubras de um amor encanto,

Pois meu amor, querida, ele é perfeito

Como as rimas perfeitas deste canto.

Pétalas rubras de um amor encanto

Parecem os meus versos de balada.

Como as rimas perfeitas deste canto

Vejo teu corpo nesta madrugada.

16.09.1999

Page 384: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccclxxxiv

Pantum das rimas encadeadas

Sonho que trago dentro da minh’alma

Tanto me acalma quanto me angustia.

É um sonho de viver na paz que ensalma,

Tendo por palma – o encanto da poesia.

Tanto me acalma quanto me angustia

A noite fria com seu longo enredo.

Tendo por palma – o encanto da poesia

É fantasia que me causa medo.

A noite fria com seu longo enredo

Busco em segredo, mas caminho incerto.

É fantasia que me causa medo

E fico azedo frente a tal deserto.

Busco em segredo, mas caminho incerto,

É longe ou perto o que procuro em ânsia?

E fico azedo frente a tal deserto,

Page 385: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccclxxxv

Que por decerto só contém distância.

É longe ou perto o que procuro em ânsia,

Ou é a inconstância que me fere o passo

Que por decerto só contém distância,

Fria fragrância para um sonho lasso.

Ou é inconstância que me fere o passo

E pelo espaço o sonho vou buscando?

Fria fragrância para um sonho lasso,

Me prende a um laço sem ter onde ou quando.

E pelo espaço o sonho vou buscando,

Vivo sonhando por ansiá-lo tanto.

Me prende a um laço sem ter onde ou quando,

E vivo errando nesse desencanto.

Vivo sonhando por ansiá-lo tanto

Existe um canto para eu encontrá-lo?

E vivo errando nesse desencanto,

Imerso em pranto não consigo achá-lo.

Existe um canto para eu encontrá-lo

Page 386: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccclxxxvi

Triste intervalo em triste desafago.

Imerso em pranto não consigo achá-lo

Pois me resvalo sem poder ser mago.

Triste intervalo em triste desafago,

Somente um mago a minha dor acalma.

Pois me resvalo sem poder ser mago,

E o sonho trago dentro da minh’alma.

26.08.2004

Page 387: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccclxxxvii

Pantum da sombra

Tua presença outrora tão constante,

Se reduziu a tenebrosa sombra.

Agora tua ausência anavalhante

Como fantasma minha vida assombra.

Se reduziu a tenebrosa sombra

Toda a densa loucura tão sonhada.

Como fantasma minha vida assombra

Tua ausência na minha madrugada.

Toda a densa loucura tão sonhada

Foi solapada pelo vento em fúria.

Tua ausência na minha madrugada

Põe no meu coração o fel da injúria.

Foi solapada pelo vento em fúria

Tuas verdades cheias de mentira.

Põe no meu coração o fel da injúria

Quando em ti penso com pavor, com ira.

Page 388: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccclxxxviii

Tuas verdades cheias de mentira

Dentro do peito me calou mais forte.

Quando em ti penso com pavor, com ira,

Desesperado penso até na morte.

Dentro do peito me calou mais forte

Todos os sonhos tão sonhados juntos.

Desesperado penso até na morte

Vendo os sonhos de amor como defuntos.

Todos os sonhos tão sonhados juntos

E agora a tua ausência anavalhante.

Vendo os sonhos de amor como defuntos

Tua presença outrora tão constante.

03.07.2007

Page 389: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg ccclxxxix

Pantum da saudade peregrina

A saudade é um cometa peregrino

E vive a navegar na órbita imensa.

Caminha pelo espaço sem destino

Surgindo, às vezes, em fugaz presença.

E vive a navegar na órbita imensa

Trazendo sonhos de um viver distante.

Surgindo, às vezes, em fugaz presença,

Eu me recordo de uma ardente amante.

Trazendo sonhos de um viver distante

Acende o fogo de um delírio insano.

Eu me recordo de uma ardente amante

Que me fez juras de um cruel engano.

Acende o fogo de um delírio insano

Que me deu vida e após, me trouxe a morte;

Que me fez juras de um cruel engano,

Selando meu viver em negra sorte.

Page 390: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cccxc

Que me deu vida e após, me trouxe a morte

Deixando o meu cenário todo preto.

Selando meu viver em negra sorte,

Na vida foi faltal este amuleto.

Deixando o meu cenário todo preto,

Meu coração se pôs em denso luto.

Na vida foi fatal este amuleto,

Por isso, agora, contra sombras, luto.

Meu coração se pôs em denso luto

No desespero de uma atrocidade.

Por isso, agora, contra sombras, luto,

Para matar as flores da saudade.

No desespero de uma atrocidade,

Sinto que para o amor estou gelado.

Para matar as flores da saudade,

Tirei do peito, o coração magoado.

Sinto que para o amor estou gelado,

Porque nas sombras, a minh’alma esgueira.

Page 391: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cccxci

Tirei do peito, o coração magoado,

Aquecendo-o nas brasas da fogueira.

Porque nas sombras, a minh’alma esgueira,

Eu sinto o coração pulsar agora.

Aquecendo-o nas brasas da fogueira,

Vislumbro a vida numa nova aurora.

Eu sinto o coração pulsar agora,

Qual astro tutelar em céu aberto.

Vislumbro a vida numa nova aurora,

Bem distante das noites de deserto.

Qual astro tutelar em céu aberto

Caminho pela vida sem destino.

Bem distante das noites de deserto,

A saudade é um cometa peregrino.

28.03.2008

Page 392: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cccxcii

Pantum daquele tempo

Aquele tempo que passamos juntos,

Floriu de manacás os nossos sonhos.

Beijos dados cortavam os assuntos,

De mãos dadas passeávamos risonhos.

Floriu de manacás os nossos sonhos

E rimos ao sabor de ardentes beijos.

De mãos dadas passeávamos risonhos

Trocando juras cheias de desejos.

E rimos ao sabor de ardentes beijos,

E foi total e pura a nossa entrega.

Trocando juras cheias de desejos,

Ao mundo a vista se tornava cega.

E foi total e pura a nossa entrega,

Magia doce em todos os momentos.

Ao mundo a vista se tornava cega,

Surdos ouvidos para a voz dos mundos.

Page 393: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cccxciii

Magia doce em todos os momentos.

Ternura, afeto, alvorecer de lírios.

Surdos ouvidos para a voz dos ventos,

– Éramos só nós dois entre delírios.

Ternura, afeto, alvorecer de lírios,

E o campo era um jardim de flores cheio.

– Éramos só nós dois entre delírios,

Corpos flutuando em leve devaneio.

E o campo era um jardim de flores cheio

Em meio às flores eu te confundia.

Corpos flutuando em leve devaneio,

Magia, mansidão, brisa e poesia.

Em meios às flores eu te confundia,

E eu te afagava as pétalas, formosa.

Magia, mansidão, brisa e poesia,

Pois eras para mim – única rosa.

E eu te afagava as pétalas, formosa,

E teu sorriso cúmplice – era encanto.

Page 394: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cccxciv

Pois eras para mim – única rosa,

Rima perfeita para um novo canto.

E teu sorriso cúmplice – era encanto,

Enquanto a noite desfolhava em astros.

Rima perfeita para um novo canto,

Os teus cabelos soltos e desnastros.

Enquanto a noite desfolhava em astros,

A relva agasalhou teu doce sono.

Os teus cabelos soltos e desnastros,

Cobriram os teus seios no abandono.

A relva agasalhou teu doce sono

E eu te compus, num ímpeto, estes versos.

Cobriram os teus seios no abandono,

As rimas e meus sonhos tão dispersos.

E eu te compus num ímpeto estes versos

Lembrando-me a sorrir de mil assuntos.

As rimas e meus sonhos tão diversos

E aquele tempo que passamos juntos.

Page 395: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cccxcv

Pantum da vida

A vida passa de maneira intensa

Dentro de um sonho fulgurante e puro.

Agradecer a vida numa crença

Deixa floridos dias do futuro.

Dentro de um sonho fulgurante e puro

Eu vivo os dias de prazeres cheio.

Deixa floridos dias do futuro,

E ao coração traz paz e doce enleio.

Eu vivo os dias de prazeres cheio

Plantando rosas e colhendo estrelas.

E ao coração traz paz e doce enleio

Às esperanças, quando posso vê-las.

Plantando rosas e colhendo estrelas

Eu vou rimando os versos dos poemas.

As esperanças, quando posso vê-las,

Transformam-se em fantásticos diademas.

Page 396: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cccxcvi

Eu vou rimando os versos dos poemas

Com o coração broslado de esperança.

Transformam-se em fantásticos diademas

Meus sonhos em sorrisos de crianças.

Com o coração broslado de esperança

De joelhos teço a Deus a minha prece.

Meus sonhos em sorrisos de crianças

A cada dia uma alegria tece.

De joelhos teço a Deus a minha prece

Agradecendo tudo o quanto tenho.

A cada dia uma alegria tece

Meu coração nesse sublime engenho.

Agradecendo tudo o quanto tenho,

Sei que possuo mais do que preciso.

Meu coração nesse sublime engenho

Faz um canto com as notas de um sorriso.

Sei que possuo mais do que preciso

Por isso bem reparto o que me sobra.

Page 397: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cccxcvii

Faz um canto com as notas de um sorriso

A flauta que me minh’alma um canto dobra.

Por isso bem reparto o que me sobra

E assim vivendo sonho em paz comigo.

A flauta que em minh’alma um canto dobra,

Faz que eu conquiste sempre um novo amigo.

E assim vivendo sonho em paz comigo

Para ser mais feliz em meu futuro.

Faz que eu conquiste sempre um novo amigo

Dentro de um sonho fulgurante e puro.

Para ser mais feliz em meu futuro

Reafirmo a vida numa nova crença.

Dentro de um sonho fulgurante e puro,

A vida passa de maneira intensa.

09.04.2008

Page 398: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cccxcviii

Pantum da esperança

Uma ilusão, uma ilusão apenas,Faz que seja feliz a nossa vida.

As esperanças esverdeadas, plenas,

Florescem junto à estrada a ser seguida.

Faz que seja feliz a nossa vida

Um sorriso sincero, amigo, aberto.

Florescem junto à estrada a ser seguida

As ânsias de vencer qualquer deserto.

Um sorriso sincero, amigo, aberto,

Aos nossos sonhos vale mais que tudo.

Às ânsias de vencer qualquer deserto,

Um sorriso de amor é nosso escudo.

Aos nossos sonhos vale mais que tudo

O braço amigo, o gesto de confiança.

Um sorriso de amor é nosso escudo

Junto à Fraternidade – uma esperança!

Page 399: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cccxcix

O braço amigo, o gesto de confiança,

E a caminhada vai ficar mais forte.

Junto à Fraternidade – uma esperança

E a incerta vida vence a certa morte.

E a caminhada vai ficar mais forte.

Se os corações tem elos de amizade.

E a incerta vida vence a certa morte,

E a mentira é esmagada na verdade.

Se os corações têm elos de amizade,

A vida explode sorridente, bela,

E a mentira é esmagada na verdade,

Quando o amor em noss’alma é sentinela.

A vida explode sorridente, bela,

E a esperança se torna mais festiva.

Quando o amor em noss’alma é sentinela.

A força de vencer se faz mais viva.

E a esperança se torna mais festiva

Mais aberto se faz nosso sorriso.

Page 400: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cd

A força de vencer se faz mais viva

Dentro do peito o amor se faz preciso.

Mais aberto se faz nosso sorriso,

Na chama que jamais se faz extinta.

Dentro do peito o amor se faz preciso

Basta apenas que n’alma a gente o sinta.

Na chama que jamais se faz extinta,

Que as nossas ilusões se façam plenas.

Basta apenas que n’alma a gente sinta

Uma ilusão, uma ilusão apenas...

02.09.2008

Page 401: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cdi

Pantum da vida em poesia

Toda a Poesia trago dentro d’alma

Encarcerada dentro de áureo cofre.

Por isso sinto paz e imensa calma,

Quando, inspirado, crio nova estrofe.

Encarcerada dentro de áureo cofre,

Estão minhas vontades e desejos.

Quando, inspirado, crio nova estrofe,

As rimas cubro com sinceros beijos.

Estão minhas vontades e desejos,

Os versos todos que já fiz no mundo.

As rimas cubro com sinceros beijos,

Dos poemas mais puros, eu me inundo.

Os versos todos que já fiz no mundo,

Da minha vida narram toda a história.

Dos poemas mais puros, eu me inundo,

Contando toda a minha trajetória.

Page 402: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cdii

Da minha vida narram toda a história

Os Sonetos, os Pantuns, as Baladas.

Contando toda a minha trajetória,

Em páginas floridas e encantadas.

Os Sonetos, os Pantuns, as Baladas,

Com decassílabos e alexandrinos,

Em páginas floridas e encantadas,

Bimbalham como brônzeos, firmes sinos.

Com decassílabos e alexandrinos,

Fui fiel à Ilusão de ser Poeta.

Bimbalham como brônzeos, firmes sinos,

Os meus sonhos que são a minha meta.

Fui feliz à Ilusão de ser Poeta,

E as Musas mais fiéis tive comigo,

Os meus sonhos que são a minha meta,

Ao coração são um suave abrigo.

E as Musas mais fiéis tive comigo,

De tal jornada fiz um relicário.

Page 403: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cdiii

Ao coração são um suave abrigo,

Não me deixando nunca, solitário.

De tal jornada fiz um relicário

Para, florida, se tornar a estrada.

Não me deixando nunca solitário,

E minh’alma, jamais, abandonada.

Para florida se tornar a estrada,

Sempre feliz, jamais perco meu rumo.

E minh’alma, feliz, livre e encantada,

Jamais negrejará com o denso fumo.

Sempre feliz, jamais perco meu rumo,

Que a Esperança em meu peito é doce e é calma.

Jamais negrejará com o denso fumo,

A Poesia que trago dentro d’alma.

08.09.2008

Page 404: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cdiv

Pantum

Quero, ao silêncio d'alta madrugada,

Contemplando o teu corpo enlanguescido,

Soltar meu verso em forma de balada

Após, do amor, batalhas ter vivido.

Contemplando o teu corpo enlanguescido

Na paz sonhada, na paixão imensa,

Após, do amor, batalhas ter vivido,

Soltar espasmos de ternura e crença.

Na paz sonhada, na paixão imensa,

Entorpecido, pelo ardor do vinho,

Soltar espasmos de ternura e crença

Ao te embalar nos cantos de carinho.

Entorpecido, pelo ardor do vinho

Teu corpo lembra um copo de licores

Ao te embalar nos cantos de carinho

Quero, em cantigas, te falar de amores.

Page 405: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cdv

Teu corpo lembra um copo de licores

Porém, agora, um copo de silêncio.

Quero, em cantigas te falar de amores,

Que meu amor, jamais o tempo vence-o.

Porém, agora, um copo de silêncio

Lembra teu corpo abandonado ao leito;

Que meu amor, jamais o tempo vence-o

Pois meu amor, querida, ele é perfeito.

Lembra teu corpo abandonado ao leito

Pétalas rubras de um amor encanto,

Pois meu amor, querida, ele é perfeito

Como as rimas perfeitas de áureo canto.

Pétalas rubras de um amor encanto

Parecem os meus versos de balada.

Como as rimas perfeitas de áureo canto

Vejo teu corpo nesta madrugada.

16.09.99

Page 406: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cdvi

Pantum silencioso

Às vezes o silêncio me atordoa.

Quero gritar com a voz do pensamento,

Porém, no espaço um surdo som ressoa,

E nem faz eco junto ao sentimento.

Quero gritar com a voz do pensamento

Mas nada falo e penso, penso, penso.

E nem faz eco junto ao sentimento

Tudo o que penso com desejo imenso.

Mas nada falo e penso, penso, penso,

A um labirinto minha angústia prendo.

Tudo o que penso com desejo imenso

E deixa o coração feroz, fervendo.

A um labirinto minha angústia prendo

Sentindo que atra fúria me arrebata.

E deixa o coração feroz, fervendo,

Parecendo um leão que em garras mata.

Page 407: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cdvii

Sentindo que atra fúria me arrebata,

Meus versos duros para o chão derramo,

Parecendo um leão que em garras mata,

O teu amor em pensamento chamo.

Meus versos duros para o chão derramo

Mas meu amor no céu é o que ora soa.

Se teu amor em pensamentos chamo,

Às vezes o silêncio me atordoa.

13.06.2004

Page 408: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cdviii

Terza Rima

Terza Rima

Caminhos, e caminhos, e caminhos...

Qual estrada seguir que vejo à frente

Se como eu tantos outros vão sozinhos?

Procuro um rumo azul e diferente,

Uma felicidade fugidia

Para um dia, do amor, eu ser um crente.

Mas sinto dentro d’alma uma agonia,

Um medo insano, uma vontade louca,

Uma estranha acidez que me crucia.

Gosto de fel mastigo em minha boca,

E parece que é angústia o que mastigo.

Tento falar e, a voz é surda e rouca.

O martírio em meu peito fez abrigo.

E parece inquilino aposentado

E com manias quer brincar comigo.

Page 409: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cdix

Não consigo entender-me nesse estado:

Para a felicidade tenho tudo

Mas na verdade sou desesperado.

Por causa disso continuo mudo.

14.03.2003

Page 410: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cdx

Poema figurativo

CONTEMPLO

NO TEMPLO

I M A G E M

TÃO SANTA!

POR NÓS MORRESTE NESTA CRUZ – QUE É SANTA,

TU QUE NO MUNDO FOSTE O REI DOS REIS

MAS O HOMEM ESQUECEU OS TEUS SOFRERES

E DO AMOR ESQUECEU A TUAS SANTAS LEIS.

OH! CRISTO

ASSISTO

A TUA

AGONIA.

CONTIGO

MARIA

LAMENTA

E SOFRE

E CHORA

SEU PRANTO

AMARGO

Page 411: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cdxi

QU'A TERRA

DEVORA.

TUDO É TRISTEZA

O MUNDO SÓ PENSA EM GUERRA,

A HUMANIDADE AINDA NÃO ACREDITA

QUE TU MORRESTE PARA NOS SALVAR,

NÃO ACREDITA QUE TU FOSTE O VERBO

QUE NESTE MUNDO VEIO SE MOSTRAR!

28.08.1975

Page 412: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cdxii

Haicais

Haicai

(Esmeraldino)

Das paixões primeiras

Um grito ecoa o infinito:

Palmeiras! Palmeiras!

28.03.2007

Haicai

(da atualidade)

A vida é de graça,

Mas no fogão da ilusão

O almoço é cachaça.

09.09.2004

Page 413: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cdxiii

Haicai

(Prostituição)

Quem chegar primeiro

Há de ter mercadoria

De segunda mão.

17.11.1968

Haicai

(Comando)

Ele diz para

Mim: dispara!

Depois diz:– para!

13.09.1993

Page 414: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cdxiv

Haicai

A dor é solidária

Se a alma a sente fica sempre

Solitária.

23.08.1998

Haicai

Após o desencarne

Serei somente

Semente de carne.

2001

Page 415: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cdxv

Monossilabismo

Soneto Dodecamonossilábico

Vem-se com ar de miss, com ar de miss tu vens

E um céu de luz me dás e vais a rir, sem ver

Que já não sei sem ti ter paz, nem ter os bens

Que a luz do céu me traz e já não sei mais crer...

Vem e vais, vens e vais... e eu com a dor e a ter

A voz de quem é só, e eu vou ver que não tens

O dom da fé, o dom da paz, nem és o ser

Que vi e quis e fui ao léu com os meus bens.

Vais a rir e no chão o pó de giz me dá

O fel da dor e vou sem ti e só, na dor

Que diz que fui, não sou, e, ai, dor, oh! Deus, nãohá

Mais a luz, mais o sol, mas a paz, mais o céu...

Vais e não vens... o fel me traz a mim a cor

A qual diz que sou só e da dor eu sou réu!

Page 416: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cdxvi

Soneto Decamonossilábico

Se o céu me traz o dom de ter a fé

E a paz é luz de Deus, ah, eu bem sei

Que mais que a fé de Deus eu sou um rei

Que crê num Deus de luz, num Deus em pé.

E eu sou o grão de sal, sou o grão que é

Bom e a ser um só grão de Deus, sou lei

Que diz do mel, do fel e o que já dei

Ao sol, à luz, à paz e ao dom da fé.

E eu sou o que mais quer e o que mais crê!

Vou ver e vou a ver e a ver o que

Se o que diz o que quer, traz, pois, aos seus,

O que viu e não viu e não quis ver,

O que foi e não foi e ao ser sem ser

Viu a paz e não viu o dom de Deus.

23.07.1994

Page 417: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

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Trovas

Trova

(Da Infância)

Menino passarinheiro,

– Caçar era a minha lei.

Hoje vivo prisioneiro

Das arapucas que armei.

28.12.2007

Trova

(Da Imaginação)

Pensas que sou Jesus Cristo,

Queres que eu faça milagre...

Mas não consigo... e eu insisto,

Transformar vinho em vinagre...

23.11.1988

Page 418: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

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Trova

(Da Imprudência)

Veja só, quanta imprudência,

– Que terrível pesadelo! –

Casou por correspondência,

E a noiva veio sem selo!

24.06.1986

Trova

(Da Fé)

O lampião mesmo inclinado

Mantém sua chama em pé.

Mesmo sendo derrotado,

Nunca perca a sua fé.

04.04.2008

Page 419: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

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Trova

(De Pescador)

Passei a tarde na areia

Na praia rubra de sol.

Foi quando linda sereia

Enroscou-se em meu anzol.

16.04.2008

Trova

(Fórmula Prática)

Para a Poesia ser pura

Uma fórmula bem prática:

Estudar Literatura,

Gramática e Matemática!

16.04.2008

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Trova

(Do Vendaval)

Difícil ganhar dinheiro!

O esforço é atroz e violento.

Mas num sonho aventureiro,

Ele se esvai como o vento.

18.04.2008

Page 421: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

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Quadras

Quadra

(Do amor)

Amar – sentir a alegria

Dominar o coração.

E ver no palco do dia

O mundo feito canção.

10.03.1978

Quadra

(Do sonho encantador)

Pode haver sonho mais lindo,

Sonho mais encantador

Do que teus lábios sorrindo

Após um beijo de amor?

10.03.1978

Page 422: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

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Adivinha

Meu teto serve de pisoMeu piso serve de teto

Meu nome não é difícil

Mas vai escrito incorreto!

23.10.1985

Resposta: EDIFÍCIO

Page 423: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

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Elucidário

ADIVINHA – Também chamada adivinhação é umaespécie popular de Enigma, geralmenteversificado, enunciado com um prólogointerrogativo, como “O que é o que é?” ou “quemserá, que será?” Vale apenas como curiosidadepoética.

BALADA – Há uma popular, ESTÍQUICA, espéciede lenda ou narração versificada (ROMANCE), euma cortês, de FORMA FIXA, hoje estabelecidacom três ESTROFES e um envio, ou oferta oudedicatória, TENDO AS PRIMEIRAS TANTOSversos QUANTAS FOREM as sílabas de cada versoe o Envio a metade desse número. Tanto asEstrofes quanto o Envio, a Dedicatória ou aOferta, repetem, no fim, o mesmo VERSO. Oesquema uníssono das rimas varia conforme aextensão estrófica, podendo ser: ABABABAB, ouABABBABA, ABABBCBC, ABABCDCD para estrofesde 8 versos e 8 sílabas são os esquemas mais

Page 424: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cdxxiv

utilizados. Na atualidade alguns poetas tecemsuas Baladas usando outra variação tanto nasRimas como nos Versos. Mas aí as baladas já nãopodem ser chamadas Francesas. Também podemser compostas em estrofes de 10 versos, mas aíos versos devem ser decassílabos e o esquemade rima mais usado, é o que se utiliza para asDécimas: ABBAACCDDC, mas também podem teroutras variações. Porém a estrofe final, do Envio,deve nesse caso, ter cinco versos usando asrimas CCDDC para a mesma. Mas inda existem asBaladas com outros metros.

BEIRA-MAR – esse não é de fato, um poema deForma Fixa. Aqui deixo tal exemplo apenas pelasua forma, pois é uma variante endecassilábicado MARTELO popular brasileiro, constando deDécimas de versos compridos (VERSOS DE ARTEMAIOR, onze sílabas) RIMANDO PELO ESQUEMAabbaaccddc,eventualmente admitindo que oprimeiro, o sexto e o décimo sejamHEPTASSÍLABOS, (versos de 7 sílabas, ouredondilha maior).

Page 425: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

Pg cdxxv

CANTO REAL – Composição poética de FORMAFIXA, certamente oriunda da Balada, o chantroyal francês consta de cinco Estrofes e um Envio(às vezes apresentado como Oferta), tendo cadaEstrofe normalmente onze versos, cinco ou seis oEnvio; as Estrofes são ÚNÍSSONAS, isto é, rimamtodas segundo o mesmo esquema, parcialmenterepetido no Envio, feito de acordo com a partefinal delas. Tanto nas Estrofes como no Envio, oúltimo Verso é sempre o mesmo, a exemplo doque sucede na Balada.

DEZ-DE-QUEIXO-CAÍDO – tipo de poema emForma Fixa, usado pelos cantadores do Nordestebrasileiro. Deve ser cantado em Décimas emRedondilha Maior, no esquema rimárioabbaaccdde, e deve, obrigatoriamente, terminarsempre com o refrão: Nos dez-de-queixo-caído.

EPITÁFIO – espécie de Poesia tumular, para sercolocada em lápide, de apenas uma estrofe, ouainda de forma satírica, feita sobre um vivo comose se tratasse de um morto.

ESPINELA – É um poema monostrófico de FormaFixa, apresentando dez Versos de sete sílabas, ecuja criação se atribui a Vicente Espinel, que lhe

Page 426: FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

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deu o nome; as RIMAS fazem-se conforme oesquema abbaaccddc. Também se dá à ESPINELAa simples denominação de Décima.

GAZAL – tipo de poema Estíquico, do OrienteMédio, composto de quatro a quatorze versosligados por rima, sendo que no primeiro rimam osHemistíquios. O assunto deve ser sempre idílico,tranquilo, pelo que se distingue da Casida.Goethe, entre outros, chamou o Gazal à Poesiaeuropéia, depois de consagrado o gênero pelopoeta persa Hafiz, que viveu no século XV. OsVersos também podem ser dobrados.

GLOSA – Os cantadores brasileiros fazem a Glosasempre em décimas, cujo verso final repete omote, havendo tantas Décimas quantos forem aslinhas do Mote. A Glosa erudita, que se supõeuma variante do Vilancico ou Vilancete,distingue-se pelo fato de que o Mote repetidopassa a fazer parte integrante da Estrofeprincipal.

HAICAI – Tipo de poema japonês (hokku) deForma Fixa formado por 17 sílabas distribuídasem três Versos (5 – 7 – 5) sem Rima, como toda apoesia nipônica. Em princípio o Haicai deve

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sugerir uma das estações do ano, e o gênero foiimortalizado pelo grande poeta Matsuo Bachô, nasegunda metade do século XVII. No Brasil.,Guilherme de Almeida houve por bem fazerrimarem os Versos primeiro e terceiro,introduzindo também uma rima Leonina nosegundo verso, nas sílabas 2a. e 7a.

MARTELO – Pedro Jaime Martelo, professor deliteratura na Universidade de Bolonha, diplomatae político, (1665-1727), inventou os versosmartelianos ou MARTELOS, de doze SÍLABAS comrimas emparelhas; esse tipo de alexandrino nuncase adaptou na literatura tradicional brasileira,mas o nome ficou, origem erudita visível em sualigação clássica com os letrados portugueses noprimeiro quartel do século XVIII... Cantar oMARTELO, improvisá-lo ou declamá-lo,respondendo ao adversário no embate doDESAFIO, é o título mais ambicionado pelosCantadores, explica Luis da Câmara Cascudo. Amanutenção do nome é mais bem explicada por F.Coutinho Filho, em Violas e Repentes, justificandoo MARTELO porque “são gêneros cantadosvelozmente, de um só fôlego, numa verdadeira

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torrente de rimas, num martelar sem pausa”.Além do Martelo de Seis Pés ou GALOPE, existemvariações sob as formas de Gabinete ou MarteloAgalopado, e mais o Beira-Mar; a variante dequatro pés, correspondente à Quadradecassilábica, perdeu a popularidade. Aacentuação do MARTELO faz-se de preferêncianas SÍLABAS terceira, sexta e décima, depreferência em estrofes de dez versos (DÉCIMA),no esquema rimário ABBAACCDCD.

MONOSSILABISMO – tipo de poema estróficoregular, de preferência o soneto, compostointeiramente com palavras monossilábicas. Éinvenção do autor, que ao criar, solicitou quediversos amigos-poetas o fizessem e o desafio foiaceito por Carla Ceres, Maria Cecília MachadoBonachella, André Bueno Oliveira, Carlos MoraesJúnior. Os exemplos aqui contidos, são doisSonetos um em decassílabos o outro em versosalexandrinos.

MOTETO – tipo de poema de uma só ESTROFE,para acompanhamento musical, admitindo formasvárias, entre as quais entretanto se mencionam,como mais frequentes, o motet parfait e os motes

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imparfait, esse diferindo apenas por contar umVerso menos que o outro, o qual se compunha desete Versos, dos quis o penúltimo seriaobrigatoriamente Quebrado, com Rimas segundoo esquema ABABBBA e a métrica decassílaba emtodos os Versos, excetuando-se o penúltimo, quedeve ser quadrissílabo, ou seja, de 4 versos.

PANTUM – tipo de poema Estrófico oriundo daMalásia e introduzido na literatura francesa porVictor Hugo: compõe-se de uma série dequartetos em que o segundo e o quarto versos deum vão se repetir como primeiro e terceiro daestrofe seguinte, até o último que termina comoverso inicial do poema.

POEMA FIGURATIVO – é o CARMEN FIGURATUMdos latinos, o tchnopaignion dos gregos, ou oCALIGRAMA do francês Guillaume Apollinaire,composição poética em que a disposição gráficado texto acompanha a forma do objeto a que serefere, seja um ovo, uma asa, um balão, ou o quefor.

QUADRA – também denominada quadrinha ouTROVA, é o QUARTETO de ARTEMENOR,

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autônomo, desligado de qualquer compromissoestrófico, composto quase sempre deHEPTASSÍLABOS em que a RIMA só é obrigatóriano segundo e no quarto Verso, podendo existir ounão entre os de ordem ímpar. Os Cantadoresbrasileiros davam-lhe o nome de quatro pés, massegundo o depoimento de Coutinho Filho, já delonga data a deixaram em segundo plano, com ahegemonia da Sextilha e do Martelo. Conferir coma Trova.

RONDEL – pequeno RONDÓ, mais conhecido comoTRIOLÉ.

RONDÓ – Nome aportuguesado do rondeaufrancês, que já em fins do século XVIII dispunhade uma forma fica também denominada rondeausangle ou rondel rondelant, depois firmada comoTriolé. Por outro lado, coexistiam várias outrasformas, entre as quais destacam-se a do RONDÓSIMPLES (14 versos) distribuídos em doisQuartetos e um Sexteto, repetindo sempre os doisVersos finais, segundo o esquema rimário ABABabAB ababAB e o Rondó Duplo (uma Estrofe decinco versos e uma de três e outra de cinco,acrescentando-se à segunda e à terceira, à guisa

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de Quebrado, o Hemistíquio inicial dacomposição, segundo o esqueçaaabba/aabq/aabbaq, além de um novo tipo,inexatamente chamado de Rondo Redobrado, queseria talvez um rondó quádruplo, formado dequatro Estrofes de cinco versos e três de três,todas com quebrado, exceto a primeira, segundoesquema aabba/ aabq/ aabbaq/ aabq/ aabbaq/aabq/ aabbaq. Sempre construído sobre duasRimas apenas, o Rondó, como explica G.Raynaud, “tem esse nome, não por repetir orefrão e fechar o círculo, mas porqueprimitivamente, era uma canção destinada aoacompanhamento de uma dança chamada”ronde”;daí a grande variedade de formas líricas que seacomodam sob esse título.

RITORNELO – Espécie de Rima de base ou baserítmica, que se cria pela repetição, mais oumenos regular, de certo Verso, com efeito deBordão (no fim) ou de Antecanto (no início devárias estrofes, ou ainda no corpo da mesmaEstrofe).

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SEXTINA – é um poema de FORMA FIXA cujainvenção se atribui ao provençal Arnaut Daniel eque consta de seis Estrofes de seis Versos cada,além de um REMATE de três; as Rimas pretendemfazer-se pela simples repetição das mesmaspalavras no fim dos Versos de todas as Estrofes,e, terminar, nos Hemistíquios do Remate.Também deve repetir-se no primeiro verso decada Estrofe a terminação do último da anterior,sempre que possível.

TERZA RIMA – tipo de poema Estrófico usado porDante na Divina Comédia e constituído por umasérie de tercetos cujos versos primeiro e terceirorimam entre si e com o segundo da Estrofeanterior, terminando a composição por uma linhafinal que se acrescenta ao último Terceto e quefaz Rima com o segundo verso dele

TRIOLÉ – Também chamado TRIOLETO, é opequeno poema de Forma fixa, correspondente aoprimitivo Rondel francês, formado por oito versosdos quais o primeiro repete como quarto e sétimoe o segundo se repete como final, com rimasegundo o esquema abaaabab. Também se podeusar o Triolé como Estrofe, em composições

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maiores. Existem ainda outras formas com maisversos...

TROVA – nome talvez derivado do latim medievaltropare, que significaria compor ou inventartropos (donde o francês trouvère e o provençaltrobador), mais tarde ligados a qualquerimprovisação poética e por fim restrita a uma dasformas mais correntes e fáceis dessaimprovisação, a quadrinha ou Quadra popular.Porém na minha opinião as mesmas diferem, jáque a Trova deve sempre ser em Redondilhamaior e com sentido completo. Já a Quadra, podeser composta em qualquer metrificação e fazerparte de um poema. Por exemplo o Soneto, quecontém duas Quadras e dois Tercetos, não duasTrovas...

VILANCETE – Nome que também se dá aoVILANCICO

VILANCICO – Considerado por Menendez Pidalcomo “a forma mais arcaica” da GLOSA, oVilancico parece caracterizar-se pela variedadequanto ao número de SÍLABAS em cada Verso, equanto ao número de Versos em cada Estrofe,conforme os compassos da melodia com a qual

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há de ser cantado. Compõe-se de um Estribilho ouMote, que se repete à guisa de TORNADA, no fimdas várias Estrofes que o desenvolvem oucomentam.

VILANELA – tipo de poema Estrófico formado poruma série de Tercetos em que há uma Rima paraos Versos primeiro e terceiro e outra para osegundo, ligando todas as estrofes, até a última,que é aumentada de um quarto Verso rimandocom o segundo.. Notar que o primeiro e o terceiroverso da primeira estrofe passam a ser o terceirodas estrofes subsequentes.

Esio Antonio Pezzato

Poeta Piracicabano

Piracicaba, 2009