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23
FLOR...
O vento ensaia seus passos de dança
sobre aquele imenso mar que avança.
O sol surge do ventre daquelas águas
num espetáculo a abrasar as mágoas.
Pés fincam pensamentos profundos
na areia mansa a amassar os mundos.
Olhar aberto, a mulher em luz se fecha.
Arqueira, atira-se dos sonhos em flecha.
Costura onda por onda com afiada ponta.
Ama. Grita. Sangra e cai. Aos deuses conta
seu fel! Metida na boca do algoz traiçoeiro
pensa secar as gotículas do úmido nevoeiro...
Garganta na boca vê seu futuro ser engolido
por inteiro. Morre. Some nesse mar sacudido,
revolvido... Revolvida inda em vida e amor
ergue-se, eis que renasce do asfalto a flor...
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COCHICHAR COM A LUA...
Pus-me nua a cochichar com a lua...
Reclamo aquele amor que jejua.
Passa nova, passa cheia e crescente,
vem a minguante, como fica a gente?
Pus-me nua a cochichar com a lua...
curiosa de você segui tua luz na rua.
Do Cometa vi o rastro mas não o astro.
Ah, difícil figurinha... um dia enquadro!
Pus-me nua a cochichar com a lua...
Cochilei! Sonhei estar viva na vida tua
e assim como as estrelas sorriem no céu
fomos felizes juntos sonhando ao léu.
Ah, pus-me nua a cochichar com a lua...
o tempo se esvai... vivemos meia lua!
Luas e luas segredei você aquietada
até te roubar inteiro em noite gelada.
Basta! Basta de cochichar nua com a lua.
Visto todos os meus versos onde o luar extenua
o chamego, o dengo com que você me acarinha
ao ouvir o canto da tua voz: - “Oi, Poetinha.”
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DIZ SIM...
Quero outras luas,
luas outras quero.
Nada de se esvair
e em nuvens fugir.
Queres o céu? Pega
minha boca e peca.
Queres a lua? Prega
você em mim e rega.
Teu querer é fiança,
mira no não e lança.
Baixa flecha e arpão,
deixa dizer o coração!
Sim, canta teu olhar
Sim, o beijo a arfar
Sim, os corpos luz
Sim, livres sem tabus.
Ah, diz sim só pra mim...
vamos vestir um brim,
ouvir Beatles e malucar
de tanto amar ao luar.
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MAESTRO
m úsica à primeira vista
a ma cantar, eis a pista.
n ina os meus sonhos
o mbros caem risonhos.
E namora timidamente
l ivre homem ardente.
A justa cordas e notas
n ão dá dicas e rotas.
i nvento um sequestro
s igo a lua e o maestro
i nvado seu esquema
o fereço meu poema.
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KAIRÓS
E mergulhada em mim
encontrei você sem fim.
Costurei dias e horas...
poente, bordei auroras.
Outras noites a sonhar
vinha você a cantarolar
estrelas em minh´alma.
O brilho seu fez rumo meu,
a voz sua fez palavras nuas,
soltas nas páginas do vento,
vivas a ler a vida e o tempo.
Haverá um amanhã? Não sei...
vivo você e em poemas verso,
cante Kairós o tempo do universo.
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HISTÓRIAS DE AMOR
Duas histórias escritas,
tintas, idas e vindas...
do borrão ao alvo papel
a vida esparramou fiel.
Duas histórias lindas
vividas nas berlindas
das línguas do dia a dia,
magia de se ter ousadia!
Duas histórias orbitando
à espreita do tempo brando
onde os olhos sossegados
beijam os lábios enamorados.
Duas histórias conversando,
rememorando e futurando
de riso rasgado sobre o tálamo
dizem: meu amor, assim eu gamo!
Duas histórias, encanto de livraria,
ao menor toque a alma se inebria.
Ela, convida a lua pra ser feliz.
Tua boca tem vida própria - ele diz.
Duas histórias entrelaçadas
a andarilhar e marcar as calçadas
da rua, da cidade e da estrada
aberta em amor à lua prata.
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TEMPO ROUBADO
A madrugada canta o agitar dos meus pensamentos
naufragados no mar doce a salgar meus tormentos.
Medo que a vida negue, sonegue e de mim te leve
no mesmo soprar do meu pensar que te rouba breve.
Ah, tempo algoz! Subtrai em seu uso e abuso,
corre e não socorre o tempo de amar, por isso te acuso.
Deixa-me perder nos braços do meu amor sem tempo!
Minha é a existência. Vê se deixa de ser sofrimento...
Larga-me à deriva em Kairós o tempo da oportunidade
e permite-me morrer mais fêmea por toda a eternidade.
Exijo todos os segundos passados ao largo do meu amor!
Guarde a certeza da cobrança vil a ti por minha dor...
Pobre tempo que vive a acertar horas - morra em desacerto!
Viaja longe no pé do vento e o tempo em tempo estará liberto
para meu maestro e eu evolarmo-nos entre os extras das horas,
libertos pela poesia musicada em amor, em tons auroras...
30
AMOR RETRÔ
Vozes e mais vozes velozes
ziguezagueiam as neuroses
difusas, obtusas, permeáveis
no homem de idéias imutáveis.
Debruçado, ele fala à gélida atonia
sobre a estranheza e não sintonia
ao novo lugar, o não lugar de gente
com passado roubado não presente.
Ontem a vida era! Ontem reverbera.
Viver só os prós? Ah, quem nos dera!
Sucumbir, extinguir aqueles contras
e buscar o amanhã de malas prontas,
assim, preto no branco e cara a cara,
a saudade deixará de ser dor e sara.
Vem amor, futurar a vida num bistrô
e lavrar de nanquim esse amor retrô.
31
MEU PRESENTE
Meu presente tem forma, cor, cheiro...
Humm, e que cheiro tem ele... meu presente!
Assume espaços em mim, eis a sua forma,
subverte as cores do arco íris e transforma
os sons, os tons. Pinta a melodia na poesia,
embala meus sonhos doces como ambrosia.
Rio navegando a gargalhar pelas entranhas,
solta, livre pela moleca que me acompanha.
Meu presente tem força, humor e calor...
ah, e que calor tem ele... meu presente!
É sol. É luz a incendiar-me de norte a sul,
desapressados madrugamos no mundo azul
encantados e desamarrados, cheios de bobices,
coisa de gente feliz e donos das próprias tolices.
Coisa de gente aprendiz, a bisbilhotar a vida pura
cutucando e experimentando a existência madura.
32
BELA DUPLA
Eu não sei namorar
você não sabe casar,
taí uma bela dupla.
Faça uma moda
nessa sua viola
nessa sua viola
faça uma moda
namorante
casante
apaixonante...
Eu não sei namorar
você não sabe casar,
taí uma bela dupla
33
a compor versos
a pintar reversos
em vinho tinto
muito bem vindo.
Eu não sei namorar.
Você não sabe casar.
Assim a vida nos uniu,
poxa a vida nos pariu!
Eu vou aprender a namorar
e você vai aprender a casar...
Ich, isso vai desencontrar
o namorante
a casante
os apaixonantes.
Ah, pegue essa sua viola
faça mudas de modas
e plante meus versos
em suas cordas.
34
AINDA AGORA...
Ainda agora estava a gastar o dia,
o riso, o olhar e meus beijos debruçados,
nessa tua boca aguada de rios doces...
Ainda agora estava a guardar tuas mãos
nas minhas... Elas totalmente protetoras
aninharam sedução e calor nas minhas.
Ainda agora dançava na magia da tua voz
a evocar em mim asas de bem-te-vi
disparando todos os meus sentidos por ti.
Ainda agora pontilhava o infinito na vida.
Desenhei-me eterna em ti só pra te amar
sem rascunho, sem medida ou despedida.
35
NÓS
As palavras dormem
presas em nãos: Nós...
Nós a torcer o homem
afastado de mim, nós...
Nós a torcer, eu mulher
pertinho de ti: Nós...
Doce de leite na colher,
beijo açucarado, nós...
Juntinhos o tempo cala,
seja dia, seja noite: Nós...
n´outros, fecha a mala
e a porta tranca, nós...
O cabelo solto cacheado
desprega cachos: Nós...
Achado no corpo suado
o fio fica a espalhar, nós...
36
BOM DIA!
Vejo toda a rua esperta.
O sol me chama moleca
chega a hora que aperta,
desgruda e a alma se nega
a partir por querer mais rir.
Por querer mais a ti falar
coisas tolas e você ouvir
pronto pra me abraçar,
apertar e logo dizer algo
maluco, surpreendente,
com seu humor fidalgo
a contemporizar ardente
o ar, a vida e toda a gente
que sentir o perfume indo
desse nosso amor presente,
a sorrir ao bom dia vindo...
37
?
Vamos fazer comidinhas madrugando?
Fartar a mesa do nosso riso namorando
o olhar, a boca, nosso jeito incomum
e ver que onde eram dois agora nasce um?
Vamos segurar os ponteiros das horas?
Apertá-los contra o tempo a fazer molas
esticando o sono a deitar com quem se ama
inebriando toda nossa nudez exposta na cama?
Vamos bicicletear nas ruas e costurar toda a gente?
Desde o chegar do dia até o deitar do sol poente.
Olharmo-nos demoradamente e nos deixar entrar
um n´outro a pedalar esse amor que quer amar?
Vamos nos render ao Universo que nos inventou?
E em amor e desejo nosso corpo despertou,
fiando nosso tempo de cada dia lá do tear do mundo,
cujo ponto é: vamos casar, ter filho e morar junto?
38
CANÇÃO PRA ELIANE
Manoel Anisio M. Moscalewski
quero você pra mim
tenho você pra mim
te amo assim
cochichamos com a lua
e esse amor não mais jejua
eu não sabia te precisar tanto assim
lindo anjo meu
e entre Cronos e Kairós
saiu o Eu, surgiu o Nós
estrada de sol, poema mar
abençoaram-nos a sós
quero você pra mim
tenho você pra mim
te preciso sim
amor retrô tanto esperou
chegou tão suave e se instalou
linda Poetinha, aos teus cuidados
um menestrel se entregou
“and when I touch you I feel happy inside.
it's such a feeling that my love
i can't hide, I can't hide.”
quero você pra mim
tenho você pra mim
te quero assim...
39
FENIX
Inexistente
Intermitente
Exercício
Ofício
O vício
Fênix ensina,
ave peregrina:
entrega-se à morte
ganha a vida por sorte.
Outrora vive,
outrora morre.
se morre pra aprender
se aprende pra viver.
Nesta linha dual
o mediano é vital
a definir elos
a explorar egos
Infinitos
Unidos
Amor
Cria...dor
40
EU NÃO SABIA...
Eu não sabia da minha existência existir na tua,
Intuitivamente procurei-te ao caminhar na rua.
Ao ver-te, algo explodiu em mim (espiritualizo),
senti meu corpo vibrar e abri um mar de riso.
Ao certo não entendia aquele sentimento.
Colocada no leme do vento vivi à deriva
por caprichoso destino, talvez meu invento,
intento de partir quando na cara a vida borrifa
gotículas inteiras, justiceiras para desaportar
do porto seguro instalado lá no colo do mar...
Em mim o debate! Em mim a ti o amor abriu.
Nua, fui pra lua ouvir seu canto e versei febril.
Eu não sabia que tudo em mim dizia te adorar!
Pouco ainda sabia de mim mesma e quem era,
lembro apenas de te seguir e persistir em sonhar
com teu olhar e beijo - meu adeus à longa espera.
41
AMOR DESPERTADO
Que privilégio o despertar do sono meu ao som do violão teu!
O que fizera eu para merecer tal proveito? “Pro ventos”...
brisas vindas do coração desse universo de eixo transverso,
bem planejado e arquitetado por tempo vivido no reverso
véu de fios invisíveis onde o nosso amor se viu despertado
daquele sono por não haver compreendido, já de muito antes,
que nascia ao morrer naquele teu abraço de suave compasso,
seguido do teu beijo quente entregue ao meu rosto largado
no teu. Quando nossos braços se interpunham, um oásis floria
ruas em mim! De alma adocicada deixava-me açucarar nas
águas tuas. Surpreendida naquele amasso, perguntava o prazer
que eu tinha ao mergulhar nesse teu abraço bem agarradinha,
bem Poetinha...
Por fim, hoje rogo em saber por que tenho esse merecimento de
anjo? Trazida do sono nesta manhã de domingo, levitei nas
cordas do arcanjo a dedilhar o sol em mi por todo meu
universo com tuas mãos cantantes, musicando sons e tons a
despertar o amor entre os abraços namorantes.
42
VULCÃO E ROSA
Linda. Majestosa e viçosa,
chegou em mim a rosa.
Rubra em fogo e paixão,
na pétala brotou o vulcão.
Revolvo o vulcão e beijo a rosa...
Teima e queima a palavra espinhosa.
Madrugada adentro, sono pra fora,
revolvo o vulcão e beijo a rosa...
Desfolhei o príncipe escrito
e na florescência desse amor lido
renasci nos braços do homem
onde meus sonhos dormem.
Lá é meu lugar. Lá sou bela e fera,
como aquela pétala a dobrar-se na espera
do seu cair, no quente do chão que enterra
o beijo florido no vulcão bem na boca da terra.
43
ARRANJARAM TEU SUMIÇO
Quem arranjou esse tempo sem você, meu amor?
Assim como arranjaram o frio sem o cobertor
e aquele mundo de buraco espalhado pelo mar
a incomodar a curiosidade da menina a brincar
na vida com perguntas órfãs de respostas simples,
feitas pela criança que sabe ver e viver outra vez
a magia da descoberta do momento primeiro
em que sentir significa o toque, o olhar, o cheiro
natural e animal, essencialmente humano e limpo
das armadilhas dos odores vindos lá do olimpo
do ego humano, onde o homem sem mais porquê
cessa suas perguntas embalado em, sei lá! Pra quê?
Hoje a chuva brinca em você e te faz correr pela rua,
vejo teu rosto molhado e beijado pelo pingo que te acua.
Chega de brincar com a chuva. É pique esconde, é isso,
meu amor? Nessa tarde arranjaram teu sumiço: que dor!
44
DI´VERSO
espelho avesso
calor travesso
imagem refletida
silhueta prometida
corpos dançam
olhos namoram
olhar invertido
amor despido
braço trastejado
alaúde gotejado
melodia besunta
lençol inunda
silêncio amassado
espírito inalado
amor avança
poema descansa.
45
INSPIRAÇÃO
Hoje pego a rima e jogo no lixo.
Meu espírito queima, vira bicho,
mas que coisa rima maldita -
larga-me a poetar sem tua dita!
Não quero nada mais!
Sentir, arder em ais...
Ah, lá vem a palavra rimada
Impregnada e apaixonada...
Ouça, ouça eu xingar
e tantos palavrões falar
pra você rima vilã
fel na boca poeta-irmã.
Sai, sai de mim! Plim!
Vira-me em avesso ruim
fonte de inspiração a doer
e no verso faz morrer.
Rimas (imãs) – irmãs de minh´alma!
Deixem-me solitária e calma.
O que preciso fazer pra não mais ter
essa dor rimada que inspira meu ser?
46
POETA DAS RUAS
Paulo Gomes é tão bom
que a vida não deixou pra depois
fez logo dois:
pai, filho e quiçá espírito santo
é Paulo, é Poeta a desenhar em versos as ruas.
Nada escapa do seu olhar singelo,
captura o momento e faz sentimento em elo
daquele sim, daquele não, daquele nada,
costura as emoções pelo fio da canetada.
Paulo Gomes é tão bom
que a vida não deixou pra depois,
chove em poesia, em benção,
igual chuva de arroz!
Casado com seu caderno, ama a Paula.
Mas é no berço amigo que nascem as poesias suas
fruto de pura inspiração capturada pelo Poeta das Ruas.
47
CANANÉIA
No fio do
Linho
eu
teci o
Mar...
Rio!
Na luz do
Sol
balandrana
bordei.
Na malha
a rede,
na renda
a Rosa.
Vesti
mar.
Vesti
Noel.
Vesti
amigos
em
Cananéia.
48
PALAVRAS
palavra falha
pouco fala das
nossas cavernas
hibernam eras...
pobres palavras!
poucas e ocas
saltam no vazio
do grito frio
hiber – nada!
cortada...
abortada...
a palavra
no homem
dorme...
49
CÉU
Valeu viver em ti
ao sabor do amor
morri, nasci, fugi.
A vida leu. Percorreu
linhas minhas lindas
e em curvas, choveu!
História de cinema.
Pó, poeira, poema,
explosão arde o ar.
É dia, é noite e meia
solta na cama, solta
no tempo “sem hora”,
beijada contigo sem
perigo a unir umbigo.
Que fiz eu
pra merecer o céu?
“Que te fez todinho mel?”
50
VAZIO
dor absurda
surda
boca muda
gruda
grito vazio
vadio
escuro muro
urro!
51
LETRAS AO CENTRO DE LETRAS
(ao centenário do Centro de Letras do Paraná)
Letras em palavras salteiam...
vindas do ventre d´alma ateiam
o livre fogo na esteira do criar,
reunidas neste berço de pensar.
Elas vivem por anos luz incontáveis,
crescendo e lendo os seres aves.
Inteligentes em seus voos solos
ou em bandos, tecem no céu, colos.
Palavra, irmã palavra... Lavras
o tempo d´ouro no espelho d´agua,
pingas escrevendo fios sem travas
e a pena irisada em tintas deságua
melodiosas letras e decanta eras! Adentra
ao centro e se faz arte, e fecunda a pedra
e fecunda Homens. Decanta centenários
e letra gerações guardadas na memória
maiúscula da palavra voejante, mestra
dos amigos e dos amantes em oratória.
Toda a letra tem ao centro uma história
ou toda história tem ao centro uma Letra?
52
LUA NO SOL
Quanto mais te tenho
mais te quero.
Não espero.
Venta, eu verbo.
Quanto mais te tenho
mais te quero
afogo-me no quente da tua boca e
lentamente me põe louca...
Quanto mais te tenho
mais te quero.
O sol diz à lua: sobe,
e encanta e decanta
e descansa todo o céu...
Dona do sol gotejante
a lua incensa o amor da gente.
Quanto mais te tenho
mais te quero...
53
PARA
Para. Chega teu ouvido
na ponta viva desse lápis
canta...dor, grita...dor...
Para. Dos olhos faz pregas,
acomoda e acoca as pedras
mortas vivas, inertes e inverte
toda vida calada na verve.
Para. Pega teu coração e deita
no coração desse lápis e sente
o veio pulsante de gente
a ser cuidado por mão quente.
Para. Dispara a inércia num soco só
e o que era pedra na mão se faz pó!
Cintila. Espreguiça. Despreguiça pó_eta,
no lápis nasce seiva do umbigo à caneta.
Para...
54
NADA
Você não sente aí
mas dói... aqui... !
Você não enxerga daí
mas vejo tudo daqui.
Grudada no teu peito
sou flor amorosa que chora.
Nado no tálamo alagado,
afogada, morro e choro.
Você não sente aí
ah, mas como dói
bem aqui em mim
teu anjo querubim
a subir por tua encosta
entregue porque gosta
e gosta e aperta e goza...
e você? Você não sente
nada aí... Toca ausente
em nada e tudo é nada.
55
SEIS E MEIA DÚZIA
Sou seis, você meia dúzia,
tão iguais nos desiguais...
minh´alma nascia, a tua já luzia.
Andei por beiras e você por vitrais.
Maluquei e debulhei meus dias
ao bel prazer dos meus sentidos.
Buli no ar e pulei as sombras frias,
bamboleio da paixão, fio dos destinos:
um canção, outro poesia
a compor novo cenário e melodia.
Hoje, prá lá do alto mar sem fim,
chega nova vida a florir em mim.
Sou seis, você meia dúzia,
tão iguais nos desiguais...
cada um é cada um
somamos dois igual a um.
Um vive no passado presente
outro vive no futuro passado,
dois avessos da hora presente
a dobrar o tempo evaporado.
Sou seis, você meia dúzia,
tão iguais nos desiguais..
56
PALAVRA ESCRITA
Escrever. Escrever. Escrever...
Maldição ditosa em teu ser
Paga luas, estrelas e sóis,
gasta tempo nesse mundo atroz.
Finca a palavra estendida
e ali na folha ganha vida.
Sentença vil da poeta
que morre, vive e peca.
Conta e reconta a vida a tantos
entoada na magia dos cantos.
Faz doçuras na boca do azedo,
versa letras e colori a vida a dedo.
Versa, versa, linda Poetinha,
veste a palavra e solta a linha!
Caminha e deita tua mão escrava
e na cava do poema teu sentir lavra
o dia, a noite’inda na prega da madrugada
larga tua alma, larga a escrita alada.
57
ENGANO
É meu o recado
nesse poema sem recato.
Voo alto e salto no meu
abismo aloucurado...
Costuro no roto da
madrugada a miragem.
Saio sem destino com
a incerteza na bagagem.
Enganos? Dano meu.
Vi o mito – prometeu.
Valeu o não valor,
vinguei minha dor!
E daí? Nada! Nova é a lua
a convidar toda a luz da rua
dourando a noite descontente
a fritar o passado na sua lente.
58
EU
eu sorri...
vi!
eu alegre...
ergue!
eu lembro...
tento!
eu imploro...
doro!
eu chateio...
ateio!
eu pardo...
ardo.
eu algema...
gema!
eu seminua...
lua!
eu inconclusa...
obtusa!
eu invento...
vento!
eu poetizo...
ando!
59
50TINHA
Lá vem ele...
sem perguntas
nem respostas.
Soma caminhos
multiplica futuros
nasce em novidades.
Novaidade!
nos cabelos fio a fio
o branco sorriu...
Dobro a vaidade,
vivo na complexidade
da vida, da ...ida.
Lá vem ele
dono de mim
anjo querubim!
Venha 50tinha!
sou Poetinha...
60
SONHO DE MÃE
Busquei construir este poema
no colo poético de mãe morena.
Impossível! Sou mãe loura
desenho a poesia de mãe caloura.
Mães e filhos vão pra lá e pra cá
nos poemas aqui ou acolá.
Na transcendência dos papéis
entre as gerações somos fiéis.
Escancaramos bem na cara do real
uma trajetória de vida chamada-ideal.
Colocamos nossos filhos na manjedoura
e, logo assumimos o papel de Senhoura.
Ah, doce mentira...
Chega a realidade abrupta e atira
no peito de mãe que alimenta
toda a magia que se reinventa
crescente e cheia na luz da lua
acompanhando o filho pela rua,
livre, de todos os males imagináveis
a desfrutar de felizes dias incontáveis.
61
DIREITO ALADO
Pequenina menina
em flor se fez fruto,
colheu a mulher.
Menina, fique mais!
Deita o tempo nas nuvens
a trançar teus louros fios.
O ruge da tua face
cola no friso da face mãe
demoradamente...
Sei, tens que ir.
É teu Direito
conquistado,
direito alado...
LISI
Ouço teu sorriso brincando
na boca tua o batom dizendo
bem alto aos teus pés em salto:
- acelera a vida, Lisi, lá do teu auto!
62
VEJO
Vejo teus louros cabelos esquecidos
ali nos travesseiros, adormecidos...
Vejo o rubor do teu semblante
feminino a descansar, amante...
Vejo tudo o que dá pra lá do olhar
vejo teu contorno molhado de mar.
Linda! Exubera em naturalidade
o frescor e o viço da maturidade.
Segue, querida! Segue mais e mais...
aporta forte e arrisca-te em outros cais.
FE+LISI
que venham as idades
que venham os saberes
que venham os amores:
‘Felisidades!’
63
MAR CÉU
Ah, dia, o que acontece?
Meu peito aperta e padece.
Não entendo o teu recado
o mar em céu vive ao meu lado.
A vaga enorme o desacomoda
e a incerteza é convite à marola.
- Vai até o arco-íris e diz ao céu
que o mar em pico descansa no véu
fino do vento e entre curvas assobia
o canto livre a marolar noite e dia.
Em viagem e sonhos o mar céu
solto no leme, solto em si, ergue o chapéu
num levante à natureza - a sua natureza
inquieta na busca da vida em sua boniteza.
Meu mar céu! Meu menino inconcluso...
veleiro na linha do horizonte a seu uso.
CAMILLA
Irisada luz a pousar no meu jardim
refletindo o mar do céu de mim
tantas vezes intocado namorado
hoje é farol na trilha de Camilla...
64
LINDA ARIANA
Oi, doce alma perfumada
a descortinar a vida alada.
Segue, segue e enfrenta
o outono que se apresenta
em vinte e uma vidas existentes
do jardim à escola de tratar dentes,
da menina à exuberante mulher
que do amor extrai seiva se quiser.
Segue. Segue aprendendo linda ariana.
Lá do zodíaco o fogo por ti chama
e em chamas ardentes a Vida clama
teu crescer, teu florir em quem te ama.
LUZ
Vezes e vezes mais me apraz te agradecer!
Vezes e vezes mais você desdobra meu cais,
seja pelo navegar em novos horizontes mais,
ou por aportar-me viajante em meus vitrais.
65
BOM DIA! SERÁ?
Pesadelo, ai! Meu sono feneceu...
peito apertado e em apelo o dia nasceu.
Então saí cedo com a alma dormente
pra respirar, ver, me procurando gente.
Vi o louco solto em si e o bêbado
a gritar que podia dirigir no feriado.
No passo da liberdade vi a ginga da capoeira
e os jovens de malas prontas fazendo zoeira.
Vi gente e gente mal encarada
senti medo d’alma irmã camarada.
Vi a prostituta indo embora,
senhora de si: sem hora...
Vi a sempre aberta Confeitaria das Famílias,
lá os namorados olhavam-se em ilhas...
Na porta a mulher parou e me encarou:
pedinte de beijo lhe ofereci um pão de queijo.
Vi a linda Catedral toda acordada
a acolher sua gente - eu a vi inaugurada!
Na adormecida Universidade fui breve,
coitada, vazia de gente e cheia de greve.
66
Como eu, sem papel e lápis ela vaga na cidade,
vácuo de si mesma em essência e em verdade.
Ah, uma vontade de me escrever me invade!
Sento. Ando. Saio à procura de tudo e de nada.
Encontro o bom dia sem saber pra onde vai...
Vejo as flores e os amores, vejo a vida em ai.
MARCO
Sorriso de gato
hum, cheiro de mato...
ah, teu olhar irisado
a colorir o amor alado.
No astral leio e releio
e tuas palavras boleio.
Brincas, brincas sim.
Beija-me sem fim
entre as palavras
nuas sem travas...
Vôo no céu em arco
ali escrevo e marco.
67
TEU PENSAMENTO
Teu pensamento não é meu,
há um mundo de amor só teu.
Meu desejo de saber e viver em ti
te acorrenta, pesa e me dispersa.
Teu dia, ah, teu dia que não é meu!
Há tanto a falar, ver e sentir só teu.
Meu pensar só sabe pensar em ti
te clama em poema – meu tema!
Teu passo não é meu.
Há todo um caminho só teu,
meu norte gira, gira e gira em ti.
Tropeço. Desconserto. Berro.
Teu dizer não é meu.
O mel escorre do lábio teu
a adoçar a flor que vive em ti.
Meu oceano seca, minh’alma disseca.
Teu florir vive num futuro que não é meu
e o perfume de toda flor se faz buquê teu!
Ah, sonhar poetinha! Encastela bela poesia em ti
a “enlaçar galhos e criar raízes”, à la Helena Kolody.
68
AMOR
Sobre o amor dia a dia escrevi,
disforme, como pinceladas de Dali.
Sobre o amor dia a dia eu vivi
inteira! Não do sensual visto por aí.
Ai, amor, ai! Como você dói
e n’alma lentamente corrói
os dias e as noites também
sempre reclamando alguém.
Às vezes você se exibe e faz peripécia,
perfuma e enfeitiça toda a inércia.
Outras vezes é cego, surdo e burro
por não ver, ouvir e sentir o sussurro
bem ao pé do ouvido, bem na gota d’olhar
plantado bem no coração pra ama-durar...
Ei, amor! Vê se ouve e sente o toque da poesia,
quase prece de louvor que ama sem heresia.
69
TEAR
nas relações de viver tecemos os teares
nas experiências tantas tecemos as cores
nas tramas benditas tecemos as formas
nos fios dos pensamentos tecemos as luzes
assim,
do concreto para o abstrato
do macro para a micra
vamos tecendo nosso extrato
e o humano à alma migra...
70
D
E
CANTO
Decanto a cada dia...
O fruto farto fenece
e bem deitadinho fica
nesse amor em prece.
Se apresse! Se apresse!
Teu canto é decanto meu
separa e mistura a gente
destil’amor n’aguardente.
Dá-me um gole, peço!
E de soco olhe de uma só vez
o lugar, o meu lugar no canto
apertado, funilado pelo pranto
que sufoca e limita meu passo
a passo nesse teu olhar de aço.
Sei bem tens teu canto! E eu
D
E
CANTO
71
CONSTANTINOPLA
Está difícil de desdoer.
Dor de Constantinopla,
vem, e lá n’alma acopla
a queda do meu dizer...
Dizer de amor e de paixão
absoluta que não mais luta,
e sem força vai ao chão,
tomada e tombada é nula.
Ah, minha Constantinopla!
Arte e canção. O doce d’ontem,
amarga hoje a tua obra
nesse vai e vem de ninguém...
Terra. Minha terra, meu porto
nada seguro. Busquei a muralha!
Busquei descanso em teu horto
e lá dormi o sono que agasalha.
Terra falha. Fala comigo, fala!
Vive uma vez mais no bizantino
mar e faz desdoer por Alá,
esse amor Presente, meu destino.
72
ARTISTA
És flor que desabrocha
em fortaleza de rocha.
Tuas pétalas a desfolhar são sementes a plantar
o amor de fazer gente...
E mais gente, bem quente!
Livre, escolheu fazer o que ama.
N’alma desenha a vida e chama
e inflama toda a artista tua
pondo-te no colo nu da rua,
da vida crua e nua, toda pura,
desenhada pra você crescer sua.
ANA NISIO
Teu nome é desenho
de artístico engenho.
Tu'alma é só sorriso,
pra arte o paradiso!
73
TENSA
Fico aqui pensando em uma rima pra tensa.
Verso no vazio na minha cabeça que pensa,
pensa e pensa tensa na minh’alma de criança
que pede pra crescer e entender esta pujança
que vive no seio do riso frio, escarpado pelo mentir,
que de tanto existir, assalta a verdade na boca do sorrir
e mente à mente pra assaltar o amor na boca do falar,
onde tudo vira ar sem aderência, sem a coerência do amar.
Fiquei tensa! Ou, estou tensa, não sei mais,
você sabe? Não de mim, mas de você! Sabe?
Confuso? Pois é assim esse (i) mundo – bruto,
acho que tensa é verbo e rima bem com luto.
- Ah, que diferença faz pra gramática
eu ficar ou estar tensa tendo o olhar poente?
- A mentira no seu uso abuso é enfática,
chega na mente e diz à verdade que é semente...
74
SER POETA
Precisei ficar bem poeta pra compreender
a vida que veio viver em mim .
Precisei ficar bem espertinha
pra esmiuçar a alma e ver o que tinha.
Descobertas fiz e desfiz e nesse vai e vem
de ver prá lá e pra cá de doido bem doído
me vi viva pra morrer bem zé ninguém!
- Ser na vida alguém. Quem?
Desse lugar não lugar quero distância,
porque vai indo, vai indo, há distancia!
Por tanto viver a vida e vê-la mudar
nesse pique-esconde de brincar de amar
precisei ficar poeta pra padecer e crescer.
Assim também é com você que pensa viver
e viver pensa... repensa vai! Dobre-se mais
em seus ais, seja poeta! Seja paz...
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DOIS AN.J.OS
O tempo viaja no vagão dos anos.
Vagão nada! Veleiro de anjos...
Abarca cem tempos a viagem
e tudo mais é bagagem...
VIDA EM TEMPO
Fui até o tempo te buscar
e cheguei a tempo
de viver meu invento:
- tento...
- tento... - tento...
.
.
.
agüento
não,
perdão!
BRINCADEIRA!
A vida, a vida abrincalha com a gente!
Toda céu abre a boca e rebola e em umbigos
faz nascer, e como enrola... oras bolas!
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JANSKE
"Ídala"
Agradeço ver, ouvir e sentir teu amor...
Agradeço ter, ser e escrever teu "EU".
Que fiz eu pra merecer estar - bem estar,
nesse teu mundo todo culto - oculto?
Nossas mãos versam e em sincronia
deslizam, escorregam toda a poesia.
Nem minha, nem tua, porque como
o filho que nasce, ela vai pra rua...
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INVENTO
Janske Niemann Schlenker – “Idala”
Eliane Martins – “Elianídala”).
O tempo passa e vão passando os anos:
ao embalar meus sonhos levianos,
o antigo amor, eu penso que 'inda cresce.
Talvez um dia você traga rosas;
na espera, invento frases carinhosas
que eu gostaria que você dissesse...
Invento! Invento e tenho
você bem aqui a tempo
daquele beijo airado
prometido e anunciado
na boca e n'alma ardendo
todas aquelas frases dizendo
nossos segredos de amor
lábio a lábio a brotar a flor.
78
VOU REMANDO
Janske Niemann Schlenker – “Idala”
Eliane Martins – “Elianídala”
Singro as águas limpas e tranquilas,
as tormentas, eu não quero ouvi-las.
Vou remando, qual brisa fosse
num amor que é cada vez mais doce,
este amor, que é tudo o que restou
na canoa que não naufragou...
Singro mais e mais e de cais em cais
alço minha fria âncora encharcada...
Chorada por mais querer outra margem.
Por mais querer amar você inda assim
em névoa, em tormenta, vida e fim
a singrar nosso tinto buquê além mar...
79
TEU SONO
Janske Niemann Schlenker – “Idala”
Eliane Martins – “Elianídala”
Amo esse teu sono profundo
porque te deixa indefeso.
Amo a inocência desse sono
que te torna inatingível.
Saber-te inatingível
não me deixa triste
porque nessa hora
não és de ninguém,
nem meu...
meu sono também já se foi
mas o que é importante é
que permaneça o amor.
Ah, brincadeira de criança!
Roubo a inocência e cuido
de ti, ali tão somente teu,
sem pecado e sem malícia
tudo a tua volta é carícia.
Brigo com nada, silencio,
faço guerra, aceno o lenço.
80
A paz precisa estar dormindo
dentro da gente. Assim quando
precisar, ela estará por perto
e nesse instante me faço verbo:
Porque nessa hora
não és de ninguém,
nem meu meu bem
e meu mau também.
81
MARGEM
Eis que chego na margem
visto então minha passagem.
Diz ela entre e fique a vontade
ou, vai-se embora a vontade...
Inspirações outras tantas
vi travessias e esperanças
hoje é minha a passagem
temo eu na outra margem...
Temo eu? Sim e não. Esquisito!
E´ mesmo assim e meio duvido
do inicio enfim. Maluca passagem
nem pé nem cabeça, só margem...
Melhor mesmo é singrar sem cortar.
Melhor mesmo é voar sem volatizar.
Atravessar sem machucar o margear
e rimar e remar e amar sem sangrar.
82
VOCE SEMPRE
Você sempre inventando moda
e ainda moda com viola.
Fica aí me tecendo princesa,
você é sempre luz acesa...
Você sempre é lago
abre teu sorrir largo
pra princesa ou plebeia
voce é sempre platéia...
Você sempre aplaudindo
- entusiasta curtindo -
é poeta e brinca de barão,
você sempre é mais irmão!
83
ABRAÇO JANGADEIRO
Solta na paisagem lá de fora
olho para o tempo que doura
os minutos findos para partir
do ponto onde estou e seguir.
Rouba-me desse instante um eco
a barulhar ao longe e logo perto,
o santo, santo desatino de mulher
a vestir-se nua-crua porque quer...
Grita, grita mais e explode teus ais!
Senta aqui e ocupa o vazio de mim.
Em calma cala em meu abraço cetim
e aquece tal qual tua poesia e haicais.
Ai! Tempo de mim a esbarrar em vidas...
Tão rápido. Tão intenso. Tão verdadeiro.
Abruptas amigas nesse abraço jangadeiro,
s igamos viagem, velas erguidas e absolvidas...
84
HOMOTEOCÁRDIO
Lindo!
Homoteocárdio
!odniL
Lindo!
Homem<Deus>Coração
!odniL
Homoteocárdio:
Homem que liga Deus ao coração.
Lindo! . !odniL
.
.
85
é....
a vida ajeita as entrelinhas, nos faz costurar
sentidos e sentimentos escolhendo a linha:
- Pena que para tanto seja imperativo ferir...
é...
a vida nada simples, nos faz trovejar,
chovendo ebulições pra desaguar:
- Pena que para tanto seja imperativo parar...
é...
a vida culpada de tudo, inocente de nada,
Ilumina e apaga e na multidão é vaga...
- Pena que para tanto seja imperativo morrer...
pra viver...
86
QUERO
Fim de ano melancólico:
alcoólico! Doente coração
sente na linha fina o fim.
E onde fica a festa? Nesta,
quero gritar embriagada,
abrir essa boca malcriada,
minha boca antes beijada
hoje morre travada de raiva.
Morrem as palavras de amor.
Morrem os risos doídos, bem
vindos lá dos fundos da barriga,
que vibra, ama e goza...
Quero dizer e nada digo, quero
sentir nada; mas sinto! Quero
o amor malucando na avenida,
quero desse avesso o começo.
87
de repente o escuro,
o nada...
88
de repente a luz,
a palavra...
TIC TAC TIC TAC
Talvez no começo do começo eu encontre o meu avesso.
Talvez no começo prá lá do começo, o meu eu travesso desnude
e inunde todo o meu ser. Sei lá, o todo é sempre entre um
segundo, um minuto, uma hora, uma vida – um novo começo...
O fim de mim começa já... tic tac tic tac tic tac...
Deixo o tempo dizer-me. Deixo tudo fluir da mente para
meu corpo inerte - posto neste papel doando e doendo a minha
mão acocada neste lápis, abraçada aos meus dedos largados,
numa única vez, num único som de escrever.
Um minuto passa... Um minuto nessa gélida e solitária
madrugada bordada na fina renda da vida, assim como essa
minha mente que pede para abrir-se e escrever, escrever e
descrever esses derradeiros minutos de tempo – já sem tempo...
Os carros discutem lá fora entre as ruas e as vielas
nervosas com seus motores barulhentos. O universo é briguento
e quer dizer a todo tempo que é paz e silêncio. Ah, mentira
absoluta! Resoluta mentira dessa luta!
Fora de mim corro pra dentro de mim, dó de mim. Meu
eu pensa sobre o nada... Corre com os cabelos chicoteando o
vento e clamando por paz e pela alegria que finda e cerra meus
lábios. Meus músculos dantes jovenzinhos, relaxados e suaves,
hoje marcam caminhos profundos nesse meu rosto impactado...
reencaminhando vezes e vezes o tempo e a vida.
Falo, falo, e falho. Corro nessa ponta de lápis
desapontada... Corro solta na vida e da vida. Ela quer viver-me
nesse convite diário e temporário... Ela me manda aprender a
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transformar meus pensamentos num amadurar florido, como
delicioso fruto e oferecer-me doce em sabor ao vigor e rigor do
tempo para durar mais tempo – ela sem hora, eu, hora à hora:
tic tac tic tac...
Amadurar. Amadurar não tão somente no seio do mel
mas também aos pés do fel. Amadurar. Amadurar neste tempo
e espaço, neste corpo aceso ao compasso do cansaço. Ouço meu
passo amadurar na marola do mar, na troca do abraço, no
alvoroço das areias...
Sempre e sempre amadurar - é lei! É rei em seu destino
donde o maior desatino é: a-ma-du-rar (amar e durar). Seja
na loucura do amar, no despertar do olhar ou no riso do fartar
na boca que engole o tempo e mastiga as horas incorrendo ou
correndo pra mim ou pra você. Ah, é certo, lá estará a vida
ditando:
- AMADURAR!
Ouço nesse instante o acolhimento de mim. Ouço o
recolhimento deste lápis descrito no cansaço desse meu tempo
de amadurar eternamente in natura.... tic tac tic tac tic TAC.
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91
Meu beijo estacionado paira...
Sigo viagem
eliane MARtins
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