FILION Um Roteiro Para Desenvolver o Empreendedorismo

33
Um roteiro para desenvolver o empreendedorismo Louis Jacques Filion Cadeira de empreendedorismo Rogers-J.A.Bombardier HEC Montréal Resumo A idéia de empreendedorismo, e mais particularmente a idéia de criação de empresas, constitui uma peça chave no desenvolvimento de toda sociedade e a base de criação de sua riqueza. Constitui, do mesmo modo, o meio mais apropriado de se valorizar a maior riqueza natural de uma sociedade: os seus recursos humanos. Um país deve, entretanto, além de investir toda sua energia e recursos, começar uma reflexão no sentido de melhor planificar o seu desenvolvimento empreendedor. É nesta perspectiva que este texto é apresentado. O objetivo aqui exposto consiste em elaborar um caminho empreendedor. Este exercício é realizado a partir de um conjunto de recomendações agrupadas em torno de dez temáticas principais, resumidas abaixo. E visa evidenciar um dos maiores recursos inexplorados de uma sociedade: o potencial empreendedor dos seus cidadãos. A partir do princípio de que o empreendedorismo se aprende, recomendamos a sua inclusão em todos os níveis do sistema educacional, desde a aprendizagem dos valores empresariais entre os mais novos até a conclusão dos cursos dos jovens adultos. A partir do princípio de que o empreendedorismo precisa de apoio, recomendamos aos organismos de apoio empresarial que se associem às pessoas com experiência em negócios e capazes de favorecer a tutoria. Sugerimos que sejam definidas fórmulas de incubação flexíveis e virtuais e que se instalem centros empreendedores nas escolas secundárias onde existam perfis técnicos, tanto quanto nos colégios e nas universidades. A partir do princípio de que o spin off é propulsor de empresas e de empregos com riscos menos elevados, recomendamos a instauração de um programa capaz de difundir a informação sobre o spin off, e mais particularmente sobre o spin off tecnológico, promovendo e apoiando a sua adoção na empresa privada e pública. A partir do princípio de que todas as categorias empresariais têm necessidade de solidariedade empreendedora e deveriam ser representadas no seu entorno, recomendamos que se facilite a criação de organismos representativos de pequenas empresas no setor de serviços e de trabalhadores autônomos. A partir do princípio de que muito da aprendizagem das práticas empresariais teria necessidade de ser melhor compartilhado, recomendamos que se estabeleçam corredores de transmissão dos "conhecimentos", espaços de troca para as avaliações entre os diversos parceiros, instituições, organismos e corporações profissionais que se preocupam com o empreendedorismo.

description

FILION Um Roteiro Para Desenvolver o Empreendedorismo

Transcript of FILION Um Roteiro Para Desenvolver o Empreendedorismo

  • Um roteiro para desenvolver o empreendedorismo

    Louis Jacques Filion

    Cadeira de empreendedorismo Rogers-J.A.BombardierHEC Montral

    Resumo

    A idia de empreendedorismo, e mais particularmente a idia de criao de empresas, constitui umapea chave no desenvolvimento de toda sociedade e a base de criao de sua riqueza. Constitui, do mesmomodo, o meio mais apropriado de se valorizar a maior riqueza natural de uma sociedade: os seus recursoshumanos.

    Um pas deve, entretanto, alm de investir toda sua energia e recursos, comear uma reflexo nosentido de melhor planificar o seu desenvolvimento empreendedor. nesta perspectiva que este texto apresentado. O objetivo aqui exposto consiste em elaborar um caminho empreendedor. Este exerccio realizado a partir de um conjunto de recomendaes agrupadas em torno de dez temticas principais,resumidas abaixo. E visa evidenciar um dos maiores recursos inexplorados de uma sociedade: o potencialempreendedor dos seus cidados.

    A partir do princpio de que o empreendedorismo se aprende, recomendamos a sua incluso em todosos nveis do sistema educacional, desde a aprendizagem dos valores empresariais entre os mais novos at aconcluso dos cursos dos jovens adultos.

    A partir do princpio de que o empreendedorismo precisa de apoio, recomendamos aos organismos deapoio empresarial que se associem s pessoas com experincia em negcios e capazes de favorecer a tutoria.Sugerimos que sejam definidas frmulas de incubao flexveis e virtuais e que se instalem centrosempreendedores nas escolas secundrias onde existam perfis tcnicos, tanto quanto nos colgios e nasuniversidades.

    A partir do princpio de que o spin off propulsor de empresas e de empregos com riscos menoselevados, recomendamos a instaurao de um programa capaz de difundir a informao sobre o spin off, emais particularmente sobre o spin off tecnolgico, promovendo e apoiando a sua adoo na empresa privadae pblica.

    A partir do princpio de que todas as categorias empresariais tm necessidade de solidariedadeempreendedora e deveriam ser representadas no seu entorno, recomendamos que se facilite a criao deorganismos representativos de pequenas empresas no setor de servios e de trabalhadores autnomos.

    A partir do princpio de que muito da aprendizagem das prticas empresariais teria necessidade de sermelhor compartilhado, recomendamos que se estabeleam corredores de transmisso dos "conhecimentos",espaos de troca para as avaliaes entre os diversos parceiros, instituies, organismos e corporaesprofissionais que se preocupam com o empreendedorismo.

  • Carte routire pour un Qubec entrepreneurial

    2

    A partir do princpio de que uns nmeros de grupos-alvo, em especial os jovens, as mulheres e osdesempregados demonstram um potencial empreendedor importante e traduzem problemticas especficas,recomendamos que os mesmos sejam apoiados e melhor aproveitados na sua capacidade de criao,desenvolvimento e gesto de empresa.

    A partir do princpio de que o quadro legal em torno da criao de empresas deva ser estimulante,mostrando uma atitude governamental favorvel criao de empresas, recomendamos a promulgao deuma legislao que favorea a criao de empresas com iseno de taxa de abertura de at trs anos.

    A partir do princpio de que muito esforo deva ser realizado para que o empreendedorismo faa parteda filosofia de vida das pessoas - seja no que diz respeito ao exerccio de sua atividade profissional, seja noque diz respeito aos seus projetos de futuro - e para que se desmistifique o empreendedorismo tornando-opsicologicamente acessvel a todos atravs de atititudes mais positivas, recomendamos a realizao de uma"Semana do Empreendedorismo" e "Jornadas Empreendedoras" em torno de temticas especficas, capazesde atrair maior nmero possvel de segmentos da populao.

    A partir do princpio de que, para construir uma sociedade empreendedora, o papel dos lderespolticos de fundamental importncia, recomendamos um compromisso oficial de todos os lderes egovernantes, em todos os nveis, criando-se, inclusive, um Comit Consultivo Superior EmpreendedorNacional e outros comits regionais.

    A partir do princpio de que necessrio coordenar melhor o conjunto das atividades ligadas aosucesso empreendedor, recomendamos a criao de duas agncias especializadas - uma que coordene oconjunto de apoio aos empreendedores e outra que coordene a investigao cientfica sobre a temtica e atransmisso dos seus resultados aos grupos potencialmente capazes de sua utilizao.

  • Carte routire pour un Qubec entrepreneurial

    3

    Um roteiro para desenvolver o empreendedorismo em um pas 1

    ndice

    PARTE 1Estratgias de valorizao do potencial empreendedor de uma sociedadeAs particularidades do empreendedorismo .....................................................................Alguns exemplos ilustrativos de desenvolvimento empreendedor....................................

    PARTE 2Estratgias para um pas empreendedor1. Educao e contedo escolar2. Sistemas de apoio: incubadoras e centros empreendedores3. Promoo do spin off4. Organizaes de foras empreendedora5. Parceiros institucionais e sociais6. Grupos-alvo7. Legislao8. A Semana Empreendedora e as Jornadas Empreendedoras9. O papel renovado dos lderes polticos10 As agncias especializadas

    Concluso .....................................................................................................................Bibliografia .....................................................................................................................Anexo 1 : Sntese das recomendaes ............................................................................Anexo 2: Nota a respeito deste texto.

    Lista das figurasFigura 1 - o modelo de anlise - poltica e medidas empresariaisFigura 2 - o modelo conceitual do GEM

    1 Nota do tradutor : Os ttulos das Partes I e II foram alterados para permitir uma melhor adequao lngua portuguesa.

  • Carte routire pour un Qubec entrepreneurial

    4

    PARTE 1Estratgias de valorizao do potencial empreendedor de uma sociedade 2

    1. As particularidades do emprendedorismo

    Empreendedorismo um domnio especfico. No se trata de uma disciplina acadmica com osentido que se atribui habitualmente a Sociologia, a Psicologia, a Fsica ou a qualquer outra disciplina j bemconsolidada. Referimo-nos ao empreendedorismo como sendo, antes de tudo, um campo de estudo. Istoporque no existe um paradigma absoluto, ou um consenso cientfico. Sabemos que o empreendedorismotraduz-se num conjunto de prticas capazes de garantir a gerao de riqueza e uma melhor performancequelas sociedades que o apiam e o praticam, mas sabemos tambm que no existe teoria absoluta a esterespeito. Vale frisar que de fundamental importncia que se compreenda esta premissa bsica para que sejapossvel interpretar corretamente o que se escreve e se publica sobre esta temtica (CNI/IEL, 1999; Fayolle,2003; Filion, 1993; 1999a et b; 2000; Filion et Dolabela, 1999; Fortin, 2002).

    O empreendedorismo frequentemente identificado como um fenmeno individual. Os empresriosso geralmente considerados como que aqueles que so capazes de lesar os outros, muitas vezes tidos comoindividualistas ou como pessoas que no costumam fazer as coisas como os demais. Mas empreendedorismo, sobretudo, um fenmeno social e exprime-se nas sociedades a partir de valores relativamente consensuais.A expresso empreendedora se constri em torno do que valorizado numa sociedade. E o desenvolvimentodo empreendedorismo s pode se realizar em torno de lderes polticos voltados valorizao de pessoas ecapazes de se preocupar com a diviso das riquezas geradas pelos empresrios. Da mesma maneira que osfenmenos religiosos ou do crime organizado, o empreendedorismo desenvolve-se onde existe um conjuntode atores sociais capazes de arregaar as mangas e apostar nessa idia.

    O empreendedorismo tambm geralmente associado a iniciativa, desembarao, inovao, isto spossibilidades de fazer coisas novas e/ou de maneira diferente, como tambm associado capacidade deassumir riscos. Isto subentende que as pessoas empreendedoras esto sempre prontas para agir, desde queexistam, naturalmente, no meio em que atuam, condies propcias para apoi-las.

    O exemplo americano muito ilustrativo em termos de flexibilidade social ao permitir que as pessoas,cujas iniciativas no lograram xito, sejam capazes de partir para outras iniciativas empresariais. So, naverdade, condies presentes na sociedade americana que permitem e que apiam os empreendimentos depessoas com capacidade inovadora e que pensam e agem de uma forma diferente. Esta flexibilidade fundamental no empreendedor e faz-se necessrio que as sociedades sejam maleveis no enfrentamentodessas questes, requerendo, para isso, um elevado nvel de tolerncia em relao iniciativas quer sejamde xito ou de fracasso.

    Uma outra particularidade do empreendedorismo est no fato de no se basear to simplesmente emconhecimentos, mas tambm em saber-fazer (ou em "knowhow"), em saber-ser, em saber-evoluir e em saber-viver harmoniosamente com si mesmo e com os outros. Portanto, contrariamente aos outros domniosacadmicos que se baseiam sobretudo na transmisso de conhecimento, como no campo da gesto porexemplo, essencial compreender que, no empreendedorismo, o que primordial o saber-ser, ou seja, aforma como uma pessoa define-se a si prprio e como define a sua relao com o meio.

    2 Este texto foi produzido a partir de um relatrio escrito por Louis Jacques Filion e Sylvie Lafert. Este relatrio intitulado: Mapa rodovirio para um Quebec empresarial , tendo sido apresentado ao Governo de Quebec em novembro de 2003

  • Carte routire pour un Qubec entrepreneurial

    5

    A compreenso destas dimenses do empreendedorismo tende a influenciar as formas de se apoiar oseu desenvolvimento. Porm, em quase todas as sociedades empreendedoras, esse domnio geralmentepercebido como fazendo parte da gesto e, muito frequentemente, as formas de apoio se restringem aosconhecimentos prprios da gesto como: marketing, financiamento, contabilidade e outros.

    Mas necessrio chamar ateno sobre este aspecto para que se d conta de que o apoio aodesenvolvimento do empreendedorismo requer muita reflexo para permitir que se saia dos lugares comuns eque se apie queles que fogem aos enquadramentos convencionais. Em suma, exige tambm que se leve emconta as dimenses ligadas ao ser. Este um ponto to importante quanto a aquisio de competnciasligadas ao "know-how".

    A educao desempenha um papel primordial no desenvolvimento de uma sociedade empreendedora., no entanto, neste domnio em que os peritos do empreendedorismo esto menos debruados. Muitofrequentemente, o desenvolvimento do empreendedorismo visto por economistas e pessoas de negcioscomo sendo uma simples prtica de negcios. No entanto, supe e necessita dimenses mais fundamentaisligadas ao saber-ser, a definio de si prprio e a aprendizagem da liderana, o que implica vrias formas deconhecimento e identificao de outros conhecimentos alm das prticas de negcios.

    O empreendedorismo, em todos os seus aspectos, vem assumindo lugar de destaque nas polticaseconmicas dos pases desenvolvidos e em vias de desenvolvimento. Comea a surgir, pelo que parece, apartir de um consenso em torno do fato de que o empreendedorismo constitui uma pea importante eprimordial no desenvolvimento e no crescimento de uma economia. Implica na aprendizagem de modos dedefinir e de pensar de forma diferente. Diz respeito a todas as pessoas, tendo em vista que cada um podemelhorar a sua maneira de fazer, tornando-se mais empreendedor e que cada um pode aprender a apoiarmelhor aqueles que adotaram uma cultura e um comportamento empreendedor. Os empresrios, por sua vez,devem seguir a tica, se destacando como um modelo social justo, capaz de entusiasmar os jovens. Devemtambm aprender a compartilhar as riquezas que so capazes de criar.

    2. Alguns exemplos ilustrativos de desenvolvimento empreendedor

    Durante a ltima dcada, vrios pases foram muito ativos na estimulao do potencial empreendedor.O leitor encontrar no relatrio de Stevenson e de Lundstrm, particularmente no volume 3 (2001), vriosquadros comparativos que mostram as medidas instauradas e o progresso do empreendedorismo numa sriede pases3. No nos cabe entrar em detalhes de todos os elementos deste estudo. No entanto, nos deteremosem trs exemplos de pases onde o empreendedorismo relativamente mais prspero do que em outroslugares, pases que apresentam exemplos interessantes de complementaridade, de uma boa diversidade deatores sociais e de lderes polticos comprometidos com o estmulo ao empreendedorismo.

    ?Finlndia

    A Finlndia um pas nrdico com uma populao que atinge quase cinco milhes de habitantes.Este pas foi uma provncia sueca durante a Idade Mdia. O antigo presidente da Finlndia tinha instaurado,durante a dcada 1990, um conjunto de polticas de apoio ao empreendedorismo, permitindo a este pasinstituir uma srie de mudanas em relao a Sucia, sua vizinha, e a outros pases europeus. Um dos

    3 Austrlia, Canad, Finlndia, Repblica a Irlanda, de Holanda, de Espanha, da Sucia, Taiwan (Repblica da China), ReinoUnido e Estados Unidos.

  • Carte routire pour un Qubec entrepreneurial

    6

    elementos-chave para garantir a evoluo do empreendedorismo nesse pas, esteve associado, sem sombra dedvida, ao compromisso da liderana poltica em estimular e proclamar uma importncia elevada aoempreendedorismo.

    importante sublinhar que participam da gesto da poltica empreendedora finlandesa, alm doMinistrio do Comrcio e da Indstria, outros nove outros ministrios e a Associao das AutoridadesLocais e Regionais Finlandesas. As medidas procedentes desta poltica ficam sob a responsabilidade daDiviso da poltica empreendedora, cujo diretor tem o papel de conselheiro junto ao ministro do Comrcio eda Indstria. Em setembro de 2003 o governo finlands adotou um novo programa capaz de dar continuidade poltica de apoio ao empreendedorismo instalda pelo antigo presidente. Este programa comporta cincovertentes:

    Educao e aprendizagem do empreendedorismo, assim como servios de consultorias s empresas; Estmulo ao crescimento e internacionalizao das empresas; Alterao da tributao e das formas de pagamento, a fim de facilitar a criao de empregos; Considerao das disparidades regionais; Modificao do quadro legal a fim de favorecer o empreendedorismo

    Paralelamente a tudo isto, deve-se instituir uma poltica de ambiente propcia aos negcios, estimulando odesenvolvimento de habilidades de gesto, o aumento da competitividade das empresas e o funcionamentodos mercados como suportes deste programa de medidas empresariais (ver Ministry of Trade and Industry2003).

    ?Holanda

    Na Holanda, que durante muito tempo teve uma economia planificada, o interesse maior para oempreendedorismo s comeou a surgir em 1987. Embora a Holanda no tenha ministrio ou secretariadodedicado ao empreendedorismo, se limitando apenas a uma composio importante do Ministrio dosNegcios Econmicos, cada diviso do estado tem o dever de instituir um grupo de conselho sobre a PMEcomposto, entre outros, de proprietrios dirigentes de PME.

    No incio, a poltica empreendedora holandesa teve por objetivo principal o aumento da alavancagemda empresa, qualquer que fosse a dimenso ou o setor de atividade. Hoje em dia, constatamos uma nfasemais acentuada sobre o empreendedorismo tecnolgico. Assim, independentemente da natureza dosnegcios, a poltica empreendedora do pas se apia sobre trs grandes eixos : 1. A estrutura do mercado,diminuindo, por exemplo as barreiras relativas a entrada e a sada de produtos; 2. A regulamentao do setordos servios pblicos diminuindo, por exemplo, a carga administrativa. Faz parte tambm das medidas aincludas o fornecimento de informaes e servios de interesse dos empresrios, simplificando e facilitandoo seu acesso aos programas financeiros governamentais; 3. O estabelecimento de um clima econmicofavorvel criao de empresas, estimulando, por exemplo, o empreendedorismo atravs de mudanas nosistema de tributao, financiamento, educao, exportao, crescimento, tudo isto atrelado a uma polticalocal e regional diferenciada.

    ?Sucia

    A Sucia tambm oferece um bom exemplo, haja vista que os suecos so habitualmente consideradoscomo empreendedores por natureza . O governo sueco criou um conjunto de programas e polticas paraestimular a criao de empresas e para permitir a inovao das empresas j existentes.

  • Carte routire pour un Qubec entrepreneurial

    7

    Existem, nesse pas, quatro agncias especializadas que trabalham no desenvolvimento de inovaes,na criao de empresas, no apoio a investigao cientfica e na reflexo sobre os modelos e sobre os meiospara se desenvolver o empreendedorismo. No resta dvida de que a Sucia investiu muito neste domnio eno foi sem efeito, dado ao fato de ser um dos pases com o nvel de vida dentre os mais elevados do mundo,e onde a criao de empresas e o aparato tecnolgico continuam desenvolvendo-se de uma maneira muitosignificativa.

    Com efeito, foi a partir do incio dos anos 1980 que a poltica industrial sueca passou, gradualmente,de uma orientao voltada ao grande empreendimento para uma outra orientada PME e aoempreendedorismo, especialmente promovendo condies favorveis criao e ao desenvolvimento dasempresas (financiamento, educao empreendedora, apoio ao P&D, reduo da carga administrativa, etc.). Oministrio da Indstria, do Emprego e das Comunicaes4 responsvel pela aplicao da poltica de PME eest apoiado por quatro agncias principais, NUTEK5 (Agncia de desenvolvimento de negcios suecos),VINNOVA6 (Agncia sueca de sistemas inovadores), ITPS7 (Instituto Sueco de Estudos de Polticas deCrescimento), e FSF8 (Fundao Sueca de Investigao Sobre as Pequenas Empresas).

    Stevenson e Lundstrm (2001 e 2002), aps ter analisado as polticas econmicas de dez pases com baseno modelo apresentado na figura 1, do uma definio do que so polticas empresariais:

    Medidas que visem as fases de pr-alavancagem, alavancagem e ps-alavancagem do processoempreendedor;

    Medidas concebidas e desenvolvidas com o propsito de atender aos aspectos relacionados a"Motivao", "Oportunidades" e "Habilidades" ligados ao empreendedorismo;

    Medidas com o objetivo principal de incentivar o maior nmero de pessoas possvel a alavancarem asua prpria empresa (Stevenson e Lundstrm, 2001 : 23).

    No conjunto, medidas capazes de estimular o empreendedorismo e a atividade empreendedora.

    Em suma, com base nesta definio, tanto o modelo do GEM (anexo 2) quanto o de Stevenson eLundstrm (2002) reproduzido abaixo, demonstram que uma poltica empreendedora deve oferecercondies sociais e empresariais que favoream a atividade empresarial.

    Figura 1Modelo de anlise

    Polticas e medidas empresariais( ?????????????????????????)

    Stevenson et Lundstrm (2002, p.54)

    A primeira parte deste texto teve o intuito de familiarizar o leitor com as particularidades do campodo empreendedorismo. Demos alguns exemplos de articulaes bem estruturadas de polticas e aesgovernamentais de alguns pases. Mas este texto tambm pensado dentro de um contexto de restriesoramentrias. No se trata, nesses termos, de multiplicar as atividades, mas de melhor orient-las e

    4 http://naring.regeringen.se/inenglish/index.htm5 http://www.nutek.se/sb/d/1126 http://www.vinnova.se/index_en.htm7 http://www.itps.se/in_english/index.htm8 http://www.fsf.se/eng_index.html (version anglaise en construction le 21 novembre 2003)

  • Carte routire pour un Qubec entrepreneurial

    8

    reorient-las, de modo a permitir resultados empresariais mais promissores, otimizando os recursosdisponveis. Na perspectiva aqui apresentada, trata-se da possibilidade de melhor estruturar as aes emtermos empresariais.

    Em um pas um conjunto de bons programas de apoio ao empreendedorismo deveria custar menos doque o que se gasta habitualmente. Normalmente o volume de recursos despendido deveria gerar, pelo menos,o dobro dos resultados em termos de criaes de empresas.

    Na prxima parte deste texto, sugerimos dez temas que, ao nosso ver, poderiam servir de pilares,permitindo valorizar o potencial empreendedor de um pas. Cada um dos temas explicado e acompanhadode algumas recomendaes concretas.

  • Carte routire pour un Qubec entrepreneurial

    9

    PARTE 2

    Estratgias para um pas empreendedorNo texto a seguir, trataremos sobre dez temticas que aparecem dentre as mais importantes no apoio eestmulo de uma sociedade empreendedora. Evidentemente, existe uma gradao ou nveis de importnciadiferentes entre os dez elementos sugeridos. Alguns sero mais fceis e outros mais difceis de seremimplementados, mas, todos eles, constituem meios essenciais para favorecer a ecloso do potencialempreendedor de uma sociedade. Concluiremos esta parte com uma sntese das recomendaes para umplano de ao empreendedora.

    ? 1. A educao e o domnio escolar

    Falar de empreendedorismo e de educao significa canalizar o conhecimento para uma melhorrealizao do potencial de cada um. Uma pergunta habitualmente feita esta: pode-se ensinarempreendedorismo? A resposta afirmativa, porque o empreendedorismo e as suas prticas podem seraprendidos em qualquer idade. Mas o ensino do empreendedorismo necessita de uma engenharia pedaggicaespecfica. Empreendedorismo se aprende geralmente pela transmisso de valores, por osmose e porcontactos seguidos com um empreendedor, em suma, por trocas de saber com aqueles que o praticam.

    O empreendedorismo um fenmeno cultural. No entanto, vrias das competncias ligadas valorizao do potencial empreendedor podem ser adquiridas no meio escolar. Mas isso necessita, quasesempre, da presena de verdadeiros empresrios que praticam e que continuam a aprender com as suasatividades. O nvel das competncias aprendidas ser, evidentemente, de acordo com os diversos nveisescolares.

    Chegamos uma poca onde cada pessoa dever desempenhar um papel muito mais empreendedor emostrar um nvel de desembarao mais alto. A escola dever se preparar melhor para conviver com as novascondies do mercado de trabalho. No mais possvel se pensar, nas grandes empresas, em ter pessoas quese limitam a ouvir passivamente as diretrizes, agindo sempre de uma forma repetitiva.

    Uma das grandes crticas que podemos fazer em relao aos atuais sistemas de educao que estesforam concebidos e que continuam sendo concebidos para formar pessoas que ocuparo um emprego numagrande empresa. Ora, durante os ltimos 30 anos, mais de 80% dos empregos foram criados por PME emquase todos os pases. Passamos de economias onde o produto interno bruto realizado pelas PME era de 30%para quase 50% durante os ltimos 20 anos e onde as PME ocupam quase 50% do mercado de trabalho. Ossistemas de educao, entretanto, no se ajustaram estas novas realidades.

    Faz-se necessrio que os sistemas escolares instaurem uma nova perspectiva porque pareceminadaptados diante das condies atuais do mercado de trabalho. Parece que no existe uma relao estreitaentre o que o sistema escolar (em especial o primrio e o secundrio) oferece aos estudantes no contextoatual e as caractersitcas exigidas deste novo mercado de trabalho.

    Tornam-se necessrias medidas mais audaciosas no intuito de propiciar um maior desenvolvimentodo potencial empreendedor. Sugerimos uma ao mais efetiva para aproximar o mundo da educao domundo do trabalho, tanto no nvel primrio como no nvel secundrio (Filion, 2004).

    No queremos, com isso, centralizar a formao dos jovens nas prticas de negcios seja no ensinofundamental, mas pode-se oferecer a esses jovens uma formao que lhes permita valorizar ainda mais o seupotencial empreendedor. Nesse sentido, o papel dos modelos de fundamental importncia. Com efeito, as

  • Carte routire pour un Qubec entrepreneurial

    10

    pesquisas sobre empreendedorismo indicam que as pessoas que criam empresas seguiram, na maioria doscasos, um modelo empreendedor tanto do seu ambiente familiar como das suas relaes pessoais. Taismodelos exercem ou exerceram uma certa influncia na sua identidade e mais frequentemente na sua escolhaprofissional. As empresas familiares desempenham, sem sombra de dvida, um papel essencial de incubao cultura empreendedora.

    importante criar lugares de trocas sobre a educao empreendedora. Criamos lugares como estesdurante os anos 1990, organizando em Quebec um colquio anual intitulado "Educao eempreendedorismo". Professores da rea de educao e seus estudantes de mestrado e doutorado,apresentaram diferentes experincias relacionadas ao desenvolvimento do potencial empreendedor.

    Permitam-me relembrar uma destas experincias realizadas no terceiro ano fundamental: os alunos deuma classe deviam escolher um projeto capaz de provocar um impacto em seu meio. Os jovens decidiramplantar 100 rvores num parque do seu municpio. Eles mesmos ficaram incubidos de coordenar todas asaes junto s autoridades municipais para a realizao do projeto. Foi possvel constatar o impacto dessaexperincia no desenvolvimento da confiana em si, no desembarao, na liderana e no "knowhow" quantoa concepo e a implementao da gesto de um projeto. E, como se sabe, a aprendizagem da gesto deprojetos requer, primordialmente, aes empreendedoras.

    Com efeito, os jovens que realizaram este projeto aprenderam em termos do seu saber-ser e do seusaber-fazer, como viver o estresse ligado ao desenvolvimento de coisas novas, como negociar - umacompetncia fundamental no empreendedorismo -, e como deveriam proceder para realizar os seus objetivos. possvel aprender o empreendedorismo. E a aprendizagem se realiza de uma maneira muito gradual.

    Nos Estados Unidos vrias experincias feitas no mbito da educao secundria mostraram que aaprendizagem do empreendedorismo pode oferecer solues importantes para o fenmeno do abandonoescolar. Pode-se comear a iniciao s prticas de negcios a partir do secundrio. O interesse em alavancaruma empresa motiva, no estudante, o desejo de aprender a maioria das matrias.

    Steve Mariotti (2000), por exemplo, instaurou um programa de empreendedorismo numa escolasecundria da cidade de Nova Iorque onde a taxa de abandono escolar variava entre 70% e 80 %. A escolaestava situada num bairro composto essencialmente de americanos de origem africana. Os estudantes queescolhessem esta opo deveriam instalar na sua rua uma pequena empresa e quase sempre o modelo adotadoera o de "fast-food". Foram desenvolvidas empresas-escola totalmente geridas pelos estudantes. O nvel demotivao para aprender cresceu de tal modo que a taxa de abandono escolar tornou-se quase nula. E melhorainda, os estudantes deste programa ganharam o primeiro prmio anual do Estado de Nova Iorque emalgumas matrias, coisa jamais vista no meio escolar como aquele - de negros e desfavorecidoseconomicamente.

    Na Gr-Bretanha, implementou-se um dos programas de educao mais interessantes nesse campo.Professores do primrio e do secundrio foram consorciados com um empresrio ou um proprietrio - lderdo bairro. Esta pessoa visitava a classe algumas vezes por ano para encontrar e discutir com os alunos umaforma de utilizar as matrias ensinadas pelos professores nas suas atividades dirias.

    Os estudantes tambm eram convidados para visitar a empresa, pelo menos uma vez ao ano. Estametodologia motivava os alunos para aprender as lies dadas pelo empresrio como uma forma, inclusive,de atingir o seu sucesso. Alm disso, a programao contou com um estgio de trs semanas na PME, para osalunos do terceiro ano do secundrio. A escolha da empresa ficava sob a responsabilidade dos estudantes edos seus pais.

  • Carte routire pour un Qubec entrepreneurial

    11

    H tambm um programa de estgio de seis semanas nas empresas destinado aos professores. Estesestgios se realizam principalmente durante o vero, mas tambm em outros perodos do ano e est limitadoa absorver 10% do corpo docente, de cada vez. Nos primeiros anos de implementao, este programaenfrentou muitas dificuldades em funo da resistncia por parte dos professores e, sobretudo dos seussindicatos.

    No entanto, em um dado momento, precisamente nos anos de 1980, o programa alcanou vo, tendosido impulsionado pelas intervenes pblicas implementadas pela Sra. Thatcher. Embora, como jsalientado, tivesse sido fortemente boicotado no incio pelo sindicato, tornou-se, mais tarde, muito apreciadoe popularizado pelo professorado. Muitos dos professores, inclusive, permaneceram nas empresas,permitindo uma grande mexida no corpo docente, o que dinamizou amplamente o domnio escolar.

    Estas experincias nos permitem acrescentar trs elementos importantes no desenvolvimento doempreendedorismo a nvel primrio e secundrio: O primeiro refere-se a uma parceria entre um empresrioou proprietrio- dirigente e um professor. Esta parceria tinha o objetivo de permitir este ltimo umacompreenso maior acerca do empreendedorismo para que, assim, fosse capaz de transmitir os diversosconhecimentos aos seus alunos.

    O segundo elemento diz respeito realizao de projetos, ao menos uma vez por ano, dirigidos atodas s etapas do sistema escolar. Projetos estes que, em alguns anos, poderiam ser coletivos, incluindograndes ou pequenos grupos, e em outros anos, poderiam ser individuais. O importante, em todos os casos,era a capacidade de incluir, no sistema escolar, o hbito de conceber e implementar projetos. Trata-se de umaatividade fundamental hoje em dia para aqueles que pretendem se preparar para se integrar ao mercado detrabalho e em especial para aprender a prtica empreendedora. A este respeito, podemos nos referir aomaterial desenvolvido pela APECA (ACOA)9 nas provncias Atlnticas do Canad, que tinha como objetivoo estmulo ao potencial empreendedor nos alunos do primrio e secundrio.

    O terceiro elemento refere-se ao estgio numa PME. Pesquisas realizadas em diversos pases duranteos ltimos vinte anos indicaram que estes estgios trazem vrios efeitos positivos para os estudantes: 1)objetivos de carreira mais precisos; 2) maior motivao para aprender; 3) maior estabilidade no meioescolar, menos absentesmo e reduzido nvel de evaso escolar 4) melhor integrao ao mundo trabalho; 5)mais respeito para com a sociedade.

    As pesquisas tambm mostraram que os estudantes que fizeram estgios de alguns meses em PME ouque participaram do quadro de empregos durante os feriados e que tiveram, em ambas as situaes, contatoscom os seus dirigentes, geralmente tornavam-se empresrios, abrindo a sua prpria empresa durante os cincoanos que seguiam a sada da instituio escolar. Essa proporo era dobrada quando comparado aquelesestudantes que no vivenciaram essas mesmas experincias. Este carter foi ainda mais acentuado no nveluniversitrio.

    As atividades empresariais no nvel mdio, como "Jnior Achievement10" e outros, merecem ser aquireexaminadas. A idia do "Jnior Achievement foi concebida nos Estados Unidos no incio dos anos 1900,sendo traduzida e adaptada em diversos pases durante os anos 1980. Esse formato de empresa deveria,entretanto, ser reformulado para se voltar mais sobre a idia de empreendedorismo do que sobre a idia deaprendizado do funcionamento burocrtico de uma empresa. O que se observa que tais empresasjuniores ainda se deparam com muita papelada.

    9 http://www.acoa-apeca.gc.ca/f/index.shtml10 http://www.jeq.org/

  • Carte routire pour un Qubec entrepreneurial

    12

    Atualmente, todas as universidades oferecem cursos obrigatrios de introduo gesto no apenasnos cursos de administrao, mas tambm em outros domnios de conhecimento. Esta mesma prtica deveriaser imitada em relao aos cursos de empreendedorismo, pelo menos de forma opcional, a todos osprogramas, a partir do primeiro ano universitrio. Nestes cursos, alguns empresrios so convidados paraencontrar os estudantes por um perodo que pode variar entre um quarto e um tero do tempo passado emclasse.

    No mbito dos estudos aplicados como : administrao, engenharia, informtica, medicina emedicina veterinria, qumica, cincias mdicas entre outras, vrios profissionais destes campos tendem, umdia, a trabalhar por conta prpria ou, em algumas situaes, a se comportar de uma maneira empreendedora.Faz-se necessrio, portanto, oferecer ao alunado um conjunto de cursos de empreendedorismo que lhepermita, mesmo opcionalmente, se conduzir de forma autnoma11.

    Em suma, a nossa experincia junto aos cursos de empreendedorismo nos permitiu observar, entre osnossos estudantes, melhor motivao para aprender. Isto porque, um curso de empreendedorismo lhespermite uma outra opo alm do trabalho assalariado, preparando-os muito melhor, inclusive quanto aosseus modelos mentais, a se inserir no mercado de trabalho ou, se for o caso, a organizar uma empresafamiliar. Ademais, permite ao estudante estabelecer objetivos de aprendizagem mais precisos, levando emconta as opes que pode ter, habituando-se tambm a um estilo de vida que implica em aprendizagenscontnuas, de forma semelhante ao estilo de vida adotado pelos empresrios.

    No sem razo, portanto, que as demandas para cursos de empreendedorismo vm se tornando cadavez mais frequentes entre os estudantes. Nos EUA, nas grandes escolas de adminsitrao de empresas,observou-se um acrscimo significativo nesse campo, numa proporo de 10% em 1990 para mais de 75%em 2000, dos estudantes que faziam cursos optativos em empreendedorismo.

    Recomendaes

    Criao de um programa de desenvolvimento do saber-ser empreendedor no primrio e nosecundrio, incluindo o conceito parceria aluno - empresrio dentro do projeto anual j mencionado;

    Reformulao do sistema de formao dos professores do primrio e do secundrio, com a inclusodo empreendedorismo de forma mais sistemtica, e com sua implicao mais efetiva na criao e nodesenvolvimento de empresas: PME, empresas familiares, trabalho autnomo, empresas cooperativase outras empresas de carter coletivo;

    Estgios de trs ou quatro semanas em PME nos cursos secundrios; Criao de um curso obrigatrio e outro optativo de empreendedorismo nas universidades, de modo

    que esteja presente em todos os campos de estudos, de uma forma transversal ou disciplinar.

    ? 2. Os sistema de apoio ( incubadoras e centros de empreendedorismo)

    11 Figurando como precursora, a Universidade Laval da Cidade de Quebec ainda que j tivesse introduzido o "EntrepreneuriatLaval" e um "Centro de PME" no incio dos anos 1990, anunciou em Novembro de 2003, a criao de um cheminementempresarial que comear no Outono de 2004 e que estar voltada a todos os estudantes inscritos nesta universidade e interessadospelo assunto.

  • Carte routire pour un Qubec entrepreneurial

    13

    Existem vrios sistemas de apoio s pessoas que querem criar empresas. Os empresrios principiantespodero ter acesso s informaes necessrias para isso em organismos de apoio, incubadora e centros deempreendedorismo. Entretanto, independentemente do pas, geralmente inexiste ou existe pouca coordenaoentre esses servios. importante, por isso, que haja uma preocupao com uma coordenao efetiva entre asatividades desenvolvidas por estes organismos.

    necessrio que se forneam os meios de se aprender o que se faz, identificando tambm aspossibilidades de transferncia e de integrao destes conhecimentos. Todo o sistema precisa ser examinadode uma forma mais detalhada. No somente as estruturas devem ser reexaminadas, mas tambm a formacomo estes organismos so geridos.

    Vamos dar um exemplo. necessrio uma ateno especial para com o perfil das pessoas que seroengajadas nessas estruturas. Preferencialmente, deveria-se privilegiar aquelas pessoas com experincia prviana rea de apoio ao empreendedorismo. O apoio ao empreendedorismo implica tanto transferncias de saber-ser quanto de saber-fazer, incluindo tambm transferncias de saber na rea de organizao para a ao.

    Em muitos pases, infelizmente, entre o pessoal dos organismos de apoio ao empreendedorismo,encontramos muitas pessoas com diplomas universitrios e com conhecimentos em gesto, mas que no tmmuito "knowhow" administrativo, e ainda menos "knowhow" empreendedor, mas que, mesmo assim , soessenciais em atividades de consultoria s pessoas que querem lanar-se no mundo dos negcios. Valeressaltar que a funo de consultor na rea de abertura de empresa serve, frequentemente, como umtrampolim para postos mais elevados na organizao.

    necessrio tambm considerar que as pessoas que j tm experincias em negcios j dispem deum sistema de relao que pode ser transferido aqueles que criam novas empresas. Atualmente, a maior partedos sistemas de apoio criao de empresas peca, fundamentalmente, pela falta de pessoas que tm um"knowhow" ou um saber-ser empreendedor. Apesar disso, as sociedades dispem de uma multido deempresrios afastados da atividade ou que, nos prximos anos, com seus cinquenta ou sessenta anos,poderiam ser empregados em tempo parcial e, com baixo custo. Assim, eles poderiam ser utilizados comoimportantes atores na transmisso do seu "knowhow".

    Os conselhos, no mbito do saber-ser ou do saber-fazer, so mais essenciais do que aquelesconhecimentos mais amplos dentro de um processo de criao de empresas. Ademais, vrios destesorganismos contam com certa disponibilidade de pessoal. Isso pde ser constatado ao longo dos ltimos vinteanos, quando, ao apresentarmos resultados de pesquisa nos colquios, em diversos pases, pudemosconstatar, pelas perguntas realizadas pelos participantes, que j existia uma significativa massa crtica nestescolquios que poderia servir como uma importante fonte de apoio ao empreendedorismo.

    Os custos inerentes a atual maneira de funcionamento desses organismos de apoio so, de fato,considerveis. Porm, preciso admitir que, para custos idnticos, os rendimentos poderiam ser bem maiselevados, em especial se reexaminados os critrios utilizados para recrutar e selecionar o pessoal dessesorganismos. Mas este um assunto delicado e que deve ser abordado com muita cautela, de preferncia apsa realizao de algumas experincias-piloto. importante salientar que a maneira atual de proceder emmuitos pases aumenta os custos sociais ligados ao empreendedorismo. Isso significa afirmar que se onmero de sucessos na criao de empresas no tambm elevado ou se conquistado mais lentamente doque poderia ser, trar repercusses diretas e indiretas sobre os custos sociais: a empresa ao fechar implica umempresrio a menos responsvel pelas despesas sociais com todos os seus efeitos multiplicadores :fechamento da empresa, desemprego, criao mais lenta de novos empregos, potencial menor de exportao,etc..

  • Carte routire pour un Qubec entrepreneurial

    14

    Vrios pases desenvolveram sistemas onde o apoio ao empreendedorismo est prioritariamentevoltado integrao e iniciao ao mercado de trabalho, quando deveria ser o inverso. Nos organismos deapoio ao empreendedorismo e no mbito da incubao, deveriam ser encontradas pessoas de grandeexperincia empreendedora, o que parece no ser o caso atualmente. E isto poderia ser atribudo a ausnciade um sistema de coordenao adequado ao conjunto das atividades ligadas criao de empresas, assuntoque retornaremos mais adiante.

    As incubadoras

    Constata-se tambm uma grande necessidade de polticas voltadas s incubadores: polticas relativas gesto, ao modelo de incubao bem como mecanismos de financiamento das mesmas. Faz-se necessrio,entretanto, distinguir a incubadora de um parque industrial. Hoje em dia, as incubadoras devem ser maisvirtuais, isto , devem estar mais preocupadas com os procedimentos adotados pelas empresas do que com anecessidade de alojamento (em termos de espao fsico) dessas empresas.

    As empresas podem se instalar em parques industriais ou perto de seu mercado. L tambm poderiamse beneficiar das mesmas vantagens quanto aos servios que teriam se estivessem situadas fisicamente nasincubadoras. Isto porque, em algumas reas tecnolgicas, as empresas uma vez agrupadas, poderiamcompartilhar certas peas de equipamento dispendiosas e sofisticadas que sozinha no teriam meio deadquir-las.

    No domnio da incubao a grande necessidade consiste, sobretudo, em se adotar uma frmula deincubao capaz de oferecer um sistema de enquadramento ou adequao. Cremos que necessrio examinarrigorosamente as atividades de incubao e evitar financiar motis industriais que permitem s empresas queoferecem baixo potencial de crescimento de ali hibernarem fazendo com que parte dos seus custosoperacionais sejam assumidos durante alguns anos pelos organismos que financiam as incubadoras.

    Observamos que as polticas bem articuladas de incubao permitem geralmente o acesso a umacontribuio mais substancial do estado, particularmente do setor ligado a tecnologia.

    Os centros de empreendedorismo

    As pesquisas mostram que os estados americanos e os demais lugares onde existe maior formaoprofissional e permite que as pessoas que sabem alguns ofcios possam tambm se lanar em negcios, soregies que criam em geral mais empresas e que so mais prsperas. Ohio, nos Estados Unidos, porexemplo, conhecido por ter desenvolvido muitas escolas tcnicas e centros de empreendedorismo. Temosoutros exemplos, na Alemanha e na ustria bem como em Alsace e Lorraine no nordeste da Frana, quecontam com centros de formao profissional e centros de formao para criao de empresas.

    Observamos, do mesmo modo, que vrios pases adotaram mecanismos nas instituies de ensinosuperior para assegurar a sensibilizao do empreendedorismo como carreira, apoiando tambm a criao deempresas pelos estudantes e pelos empregados destas instituies. Alemanha, Gr-Bretanha e Frana soexemplos ilustrativos a esse respeito. A Frana acaba de renovar o seu programa, criado em 1998, de 25milhes de euros (MINEFI, 2003) que permite s instituies universitrias dotarem-se de uma incubadora deapoio criao de empresas. Existem tais centros em vrias universidades e grandes escolas na Frana- pelomenos um em cada aglomerao- onde fomos convidados para participar na instalao de muitos destesprogramas.

  • Carte routire pour un Qubec entrepreneurial

    15

    Os governos devem comprometer-se com esta direo. Deve elaborar um programa destinado aofinanciamento de centros de empreendedorismo. Tais centros deveriam estar presentes em todas asuniversidades, colgios, e escolas secundrias onde se desenvolvem atividades de formao profissional.

    Sugerimos, nestes centros, a existncia de um quadro flexvel, onde os conselhos estejam tambmrepresentados por alguns empresrios. importante que se estabelea uma lei que d as diretrizes dodesenvolvimento do empreendedorismo no meio educacional, sugerindo estruturas que direcionem taiscentros. Na esfera universitria, as atividades deveriam compreender essencialmente dois grandes campos: oprimeiro relativo sensibilizao para com o empreendedorismo para todo o campus universitrio, e osegundo relativo ao apoio criao de empresas para estudantes, diplomados e membros do pessoal quetenham interesse na criao de empresas. Nos nveis colegial e secundrio, as atividades dos centros deempreendedorismo deveriam tambm se ocupar com a sensibilizao para com o empreendedorismo e oapoio a alavancagem de empresas.

    Naturalmente, os centros de empreendedorismo deveriam ser intimamente vinculados s equipes deinvestigao cientfica sobre empreendedorismo, aos organismos de coordenao da investigao nainstituio bem como aos organismos mais amplos de apoio ao empreendedorismo, a fim de se evitar muitosdos problemas hoje existentes. Falamos pouco da tutoria. importande que cada estudante envolvido numprojeto de criao de empresa possa contar com um tutor empresrio diplomado no mesmo ramo. importante tambm desenvolver programas que instaurem conselhos de administrao voltados s pequenasempresas recentemente criadas, com a misso de complementar o trabalho desenvolvido pelos tutores.

    Financiamento

    Este texto no trata da questo do financiamento para as novas empresas nem da questo dofinanciamento das PME. No trazemos recomendaes a este respeito. Entretanto, teceremos aqui algunscomentrios sobre este tema.

    Estimamos que se trata de um assunto complexo por envolver tambm questes fiscais e que, porisso, deveria ser objeto de investigao e de estudos exaustivos capazes de sugerir programas adequados.Cremos que a idia de iseno de impostos s novas empresas durante os cinco primeiros anos de suaexistncia constitui um excelente estmulo em vrios pases, a exemplo do Quebec (com efeito, as novasempresas criadas geram geralmente pouco ou no do lucros durante os trs primeiros anos de sua criao).

    Somos de opinio que os rgos de apoio criao de empresas so excessivamente focados naanlise financeira, enquanto deveriam se deter mais em questes de interesse geral do empreendedor, emespecial em anlises de mercado. Estimamos que os fundos utilizados para a criao de empresa deveriam serprovenientes, em sua maioria, do setor privado, embora com a colaborao e apoio de organismosgovernamentais. melhor que o Estado seja parceiro minoritrio de fundos de investimentos geridos pelosetor privado.

    A fim de permitir uma maior flexibilidade na gesto destes fundos, recomenda-se a criao de fundosprivados, mas que permitam a parceria de instituies do governo numa proporo de 40% a 49%. Seriam,neste caso, os parceiros privados majoritrios que dirigiriam as atividades, assumindo os maiores riscos. Este um procedimento adotado em vrias regies dinmicas da sia, especialmente em Hong-Kong, durante altima dcada. tambm uma tendncia recorrente na Europa, no Canad e em outros lugares do mundo.

    Recomendaes

  • Carte routire pour un Qubec entrepreneurial

    16

    Estabelecer um sistema de atualizao das prticas dos organismos de apoio ao empreendedorismo afim de rever, periodicamente, os modos de gesto das redes de apoio a pr-alavancagem,alavancagem e ps-alavancagem de empresas. Integrar mais ex-empresrios na gesto destesorganismos: contratos de empregos tanto em tempo integral como em tempo parcial, com durao deum at trs anos. Deveria se contar tambm com mais voluntrios com experincia prtica.

    Favorecer a tutoria em todas as etapas da alavancagem e da gesto de uma empresa; Favorecer a criao de um conselho de administrao desde a criao de uma nova empresa (Ct,

    Filion, 2005); Organizar incubadoras com frmulas de incubao adaptadas a cada uma das regies do pas; Estabelecer frmulas flexveis de incubao, mais centradas nos procedimentos do que sobre o local

    de fixao das empresas. Instaurar uma rede de centros de empreendedorismo nas instituies de ensino onde exista formao

    profissional ou aplicada. Estes centros podem ser geridos por um membro do grupo em tempo parcial,na maior parte dos casos.

    ? 3. Promoo do spin off

    O potencial empreendedor, via criao de novas empresas, constitui o elemento mais facilmentemensurvel da expresso empreendedora de uma sociedade. Implica a transferncia de saber-ser e de saber-fazer empreendedor, mas tambm a capacidade de gesto de riscos no processo de criao de empresas.Uma das melhores maneiras de gerir o risco numa atividade profissional e/ou organizacional reside nacapacidade de adequao empreendedora oriunda de pessoas com experincia no ramo. Que se pense, nessesentido, na importncia da aprendizagem por parceria ou associao, fato que, h sculos, se constitui comouma das principais razes da estabilidade das prticas organizacionais na Europa. A parceria tambm umados mtodos de aprendizagem mais completos ao permitir: transferncias de saber-ser, de "knowhow",conceitos e mtodos. assim que o spin off pode ser qualificado de parceria empreendedora. O spin offconstitui uma das melhores maneiras de se adequar a organizao empreendedora e de diminuir o risco numprocesso de criao de empresas. tambm o meio mais eficaz de se apoiar a consolidao de fontes deempregos relativamente mais estveis nas regies ou localidades mais vulnerveis.

    Em obra recente (Filion, Luc, Fortin, 2003) 12, mostrou-se a importncia que pode assumir o spin offpara a sobrevivncia e para o desenvolvimento de muitas empresas. Supe-se, entretanto, que o spin offimplique freqentemente em terceirizao. Neste sentido, importante que a flexibilidade esteja presente noCdigo do trabalho como tambm importante a iniciativa dos lderes polticos no sentido de mudar aconcepo que certos grupos mantm sobre o spin off, especialmente os trabalhadores sindicalizados. Comefeito, o spin off freqentemente assimilado como sinnimo de terceirizao e, como a terceirizao percebida como prejudicial aos trabalhadores, o spin off passa a ser identificado da mesma forma. Os doisconceitos devem se tornar prticas aceitveis. Uma das preocupaes consiste em saber se possvel evitaros abusos ligados certas prticas de terceirizao.

    Muito sucintamente, possvel dizer, contudo, que existem diferenas fundamentais entre os doisconceitos. Primeiro, a prtica da terceirizao no implica sempre a gerao de uma nova empresa. Umaempresa pode decidir subcontratar uma ou vrias operaes, seja por meio de concursos regulares ou pormeio de concursos pontuais, com contratos de durao determinada. Em contrapartida, pode estimular osseus prprios empregados, afetados por esse procedimento, a comearem sua prpria empresa e a entregar-lhe, com exclusividade ou no, o servio ou o produto em questo. Esta segunda opo constitui o spin off. A

    12 La publication dun autre livre crit par ces auteurs et portant sur lessaimage technologique est prvu pour 2004

  • Carte routire pour un Qubec entrepreneurial

    17

    terceirizao que conduz ao spin off permite a muitas empresas se tornarem mais flexveis em contexto deconcorrncia internacional, conservando os empregos que, de outro modo, poderiam ter sido perdidos.

    As nossas investigaes mostraram que o spin off no diminui os empregos, mas, ao contrrio,aumenta-os: para cada emprego criado por uma nova PME manufatureira spin off, temos um novoemprego criado na empresa me.

    O spin off pode tambm decorrer da vontade de empregados em deixar a sua organizao com oobjetivo de comear a sua prpria empresa a partir de uma idia nova requerida pelo mercado, ou de umanova maneira de fazer, ou de uma descoberta cientfica, ou ainda pela eliminao de uma atividade que aempresa realizava. Estas novas empresas, criadas pelo spin off, apresentam freqentemente um potencial decrescimento e criao de empregos muito interessante.

    Se as empresas no puderem fazer spin off no prprio pas iro faz-lo em outro e, com isso, ostrabalhadores perdero a possibilidade de novos empregos. Isso pode ser a conseqncia da rigidez das leisde trabalho. Ademais, essa maneira de proceder retira a possibilidade da terceirizao como pea deengrenagem do spin off e, por conseguinte, da criao de novas empresas.

    necessrio levar em conta que a legislao relativa ao trabalho deve ser muito flexvel para permitira criao de novas empresas. o caso, por exemplo, dos Estados Unidos onde, nos estudos comparativos, umdos fatores freqentemente associados ao nmero elevado de criao de novas empresas diz respeito aflexibilidade das leis do trabalho (Stevenson et Lundstrm, 2001, Vol.3).

    Muito freqentemente, as novas empresas podem ser impulsionadas graas a terceirizao gerada poruma empresa que favorea o spin off. Isto ajuda aos seus empregados a criarem uma nova empresa. Estanova empresa desenvolver, eventualmente, outros produtos e outros mercados, com chances, portanto decrescer. Em nossos estudos foi possvel constatar que, aps cinco anos, mais de 50% das vendas dasempresas criadas pelo spin off, atravs da terceirizao, situavam-se para alm do seu mercado original, etudo isso graas ao seu ex-empregador.

    Atualmente, na Frana, a cada ano, quase 20.000 empresas so criadas a partir do spin off. Na nossaopinio, uma das polticas essenciais do governo deveria ser a de implementar uma atividade de informao epromoo do spin off. Dever-se-ia tambm estimular as grandes empresas a praticarem o spin off, estandoessa medida associada a uma legislao que as obrigasse a produzir um balano social, a exemplo tambm doque feito na Frana (vrias empresas j adotam esse sistema, voluntariamente, em numerosos pases, e oseu balano social apresenta suas contribuies em diferentes projetos, associaes, campanhas definanciamento provenientes do prprio meio. O balano social anual publicado pelas instituies bancriascanadenses parece se constituir um bom exemplo).

    Em outros termos, muitas das grandes empresas no geram uma massa significativa de novosempregos, e o fato de ter um programa de terceirizao permitiria compensar os empregos abolidos emdecorrncia da automatizao e dos processos de reestruturao. A criao de empregos fora da empresa sedaria graas criao de novos empreendimentos conduzidos pelos ex-empregados. Assim, o balano socialexigido das empresas a cada ano, na Frana, permite que se constate se a empresa contribui para odesenvolvimento do seu meio, dentre outras razes, pela criao de novos empregos pelos seus ex-empregados.

    O spin off no chegar sozinho. indispensvel difundir toda informao sobre o spin off, fazendocom entusiasmo a sua promoo, porque este se constitui como um dos meios mais eficazes para diminuir o

  • Carte routire pour un Qubec entrepreneurial

    18

    risco e os custos sociais ligadas ao processo de criao de empresas. O spin off tecnolgica gera ainda maisefeitos sobre o desenvolvimento econmico do que o spin off clssica (Filion, Luc, Fortin, 2005).

    importante que o governo pratique uma poltica de apoio, informao e promoo do spin off parautilizar as empresas existentes como suporte para orientao e adequao das novas empresas. necessrioque haja polticas essencialmente estimulantes para que as empresas venham a se estabelecer no pas,sobretudo nos casos das grandes empresas fortemente subvencionadas,

    Se tais polticas tivessem existido no passado e se o Estado exigisse que as empresas que fossemamplamente subvencionadas com recursos pblicos viessem a se estabelecer no pas, atravs de programas deterceirizao para os seus empregados, nunca teramos visto o aniquilamento de cidades ou partes delas. Aocontrrio, a cada ano, teramos visto a emergncia de pequenas empresas ao redor da empresa principal. Valeressaltar, nesse sentido, que necessrio cerca de 20 anos para se criar uma dinmica empreendedora aoredor de uma empresa principal construda num novo lugar, fazendo que a cidade ou a regio possasobreviver sem o aporte da empresa original.

    A prtica de spin off precisa alastrar-se durante as prximas dcadas. Faz-se necessrio pensar emabordagens diversas para promover o spin off, tanto pelo lado das PME em forte crescimento, como pelolado das grandes empresas. A natureza, as culturas, a estrutura destas organizaes so muito diferentes.Mais de 90% das terceirizaes realizadas pelas grandes empresas na Frana so terceirizaespersonalizadas, enquanto que mais de 90% das terceirizaes realizadas pelas mdias empresas em fortecrescimento no Canad so terceirizaes estratgicas. Isto significa maneiras de fazer as coisas muitodiferentes.

    Recomendaes

    Promover a noo de spin off e desmistificar o seu impacto negativo no emprego; Tornar mais brandas as leis relacionadas ao trabalho, eliminando, assim, entraves ao

    desenvolvimento empreendedor, tornando-a acessveis a um maior nmero de pessoas; Estabelecer regras que obriguem as grandes empresas, a comear pelas sociedades de estado e as que

    so parceiras ou subvencionadas pelo Estado, que se comprometam em instaurar, na sua organizao,programas de terceirizao. Instituir uma lei sobre balano social das empresas.

    Dar o exemplo criando um programa de spin off no sistema pblico e no sistema parapblico.

    ? 4. Organizaes de foras empresariais

    Uma das dificuldades atuais do desenvolvimento do empreendedorismo na maior parte dos pasesreside no fato de que foras empresariais no so agrupadas suficientemente, nem estruturadas erepresentadas. Encontramo-nos numa situao onde aqueles que seriam os principais atores dodesenvolvimento - os empresrios e os lderes de pequenas empresas - esto ausentes da elaborao daslegislaes que governam a nossa sociedade.

    O mesmo fenmeno pode ser constatado entre os trabalhadores autnomos que tambm constituemuma parte cada vez mais importante do tecido empreendedor da maior parte dos pases. A esto includosno somente os agricultores, mas todas as categorias profissionais que oferecem servios s empresas:tradutores, analistas de sistema, consultores de gesto e conselheiros dentre um nmero crescente deespecializaes.

  • Carte routire pour un Qubec entrepreneurial

    19

    Ao contrrio dos Estados Unidos onde milhares de grupos de presso procedentes do mundo dosnegcios, da PME e do mundo do empreendedorismo, so exemplarmente organizados. Realidade que no partilhada na maior parte dos sistemas polticos onde os sindicatos e o patronato das grandes empresasenfrentam-se continuamente. Estas associaes de trabalhadores sindicalizados e do grande patronato sopoderosas e numerosas e geralmente so bem organizadas e estruturadas, englobando centros de investigaoe equipes que trabalham na articulao das tomadas de deciso.

    Cerca de 50% da fora de trabalho da maior parte dos pases situam-se agora em PME ecompreendem tambm numerosos trabalhadores autnomos que constituem entre 10% e 20% da fora detrabalho. Estes dois grupos so pouco representados na configurao dos organismos e nas associaes quedesempenham um papel de defesa dos seus interesses. Sugerimos, abaixo, formas para apoiar grupos eassociaes de trabalhadores autnomos para que a sociedade possa criar elos de transmisso entre asempresas e o seu entorno, a partir de organismos capazes de veicular valores empresariais e valores ligadosao desenvolvimento local.

    Primeiramente, necessrio se pensar em grupos de trabalhadores autnomos dado o fato de seremmuito isolados. necessrio mencionar que a necessidade de filiao dos trabalhadores autnomos podeparecer menor do que a de outras categorias de trabalhadores. Esta fraca necessidade de filiao pode estarassociada ao fato de que vrios destes trabalhadores se tornaram trabalhadores autnomos no curso do temposem que, originalmente, fossem assim classificados.

    Por definio, um trabalhador autnomo deve assumir s a rentabilidade da sua empresa. Se ele passadiversas horas organizando as atividades para outros trabalhadores autnomos, deslocando-se pararepresentar s suas idias e opinies em tribunas pblicas, deixa de exercer o seu ofcio e ganhar a sua vida.Como dito popularmente: no fatura . Esta situao explica em parte a razo pela qual os grupos detrabalhadores autnomos tm muita dificuldade para sobreviver.

    Outro fenmeno pode tambm explicar esta situao. Vrios trabalhadores autnomos no se definemcomo tais. "sou advogado", dir um; "sou marcineiro" dir um outro. necessrio que se pense num sistemade representao diferente, por profisso ou ofcio, por exemplo. No nosso entendimento, o modelo da Unio dos artistas de certos pases poderia servir de padro de referncia.

    Como arriscado e difcil de se encontrar uma frmula de organizao que interesse a maioria dostrabalhadores autnomos, e levando em conta a enorme diversidade da categoria de trabalhador autnomo ede PME, o importante instituir mecanismos que lhes permitam um mnimo de expresso. Poderia serinteressante promover, periodicamente, pelo menos uma vez por ano, em cada estado, fruns onde ostrabalhadores autnomos e os lderes das pequenas empresas pudessem apresentar seus pontos de vista, umpouco semelhana do que vem se praticando em vrios pases em torno da elaborao de polticas sobre omeio ambiente.

    necessrio pensar em formas de organizao para as PME nos setores de servio. Os lderes dePME de Quebec criaram o Agrupamento dos Chefes de Empresas, 13 dirigidas s PME manufatureiras. Trata-se de um conceito adaptado do modelo alemo e que consiste em agrupar, por clulas, um certo nmero dePME de domnios diferentes que se renem uma vez por ms. Esses grupos costumam fazer visitasperidicas a uma das empresas do grupo, momento em que trocam experincias e discutem sobre asparticularidades de gesto no contexto de PME. Alm disso, contam com dias de formao e um congressoanual que agrupa milhares de membros. Existe, contudo, poucas associaes de PME de servios. Estasempresas so geralmente menores e a presena permanente do lder de grande importncia.

    13 http://www.groupement.ca/

  • Carte routire pour un Qubec entrepreneurial

    20

    As Cmaras de Comrcio desempenham um papel de certa importncia, mas no representamparticularmente as PME. A Federao da Empresa Independente nos EUA (IEF), assim como a Federaocanadense da empresa independente (FCEI) se constituem como expresses mais representativas dostrabalhadores autnomos e das pequenas empresas. Faz-se necessrio instaurar organizaes onde as pessoaspossam se identificar mais facilmente para que, assim, sejam capazes de trocar melhor suas experincias eaprender mais entre si, criando, ao mesmo tempo, meios de solidariedade empreendedora nos bairros e nasregies para apoiar-lhes nos perodos mais difceis. Estas organizaes tambm podero servir para veicularmelhor os valores empresariais no entorno.

    Recomendaes

    Criar e manter organismos representativos dos interesses das pequenas empresas do setor dos servios; Criar e manter organismos representativos dos interesses dos trabalhadores autnomos Instituir mecanismos de consulta aos trabalhadores autnomos de acordo com a frmula FOTA.

    ? 5. Parceiros institucionais e sociais

    importante que as polticas governamentais de apoio ao empreendedorismo sejam implantadaslevando em conta um conjunto de parceiros institucionais e sociais. Acabamos de sublinhar a importncia dese criar grupos de trabalhadores autnomos e de PME dos setores ligados aos servios, mas necessriotambm trabalhar em pareceria com as instituies existentes, sejam aquelas relacionadas ao mundo doensino - como as corporaes profissionais - sejam aqueles diversos organismos voltados a clientelas-alvocomo, por exemplo, as cruzadas de emprego para a juventude, ou organismos de desenvolvimento turstico,ou organismos que se situem na chamada economia social, especificamente as cooperativas.

    Todos esses organismos no se beneficiam, no momento, de um canal para compartilhar oconhecimento e as avaliaes adquiridas no apoio atividade empreendedora e na criao de empresas,limitando-se, as vezes, a uma vocao mais social. Poderiam, assim, se beneficiar mutuamente dosconhecimentos adquiridos das experincias prticas desenvolvidas em seu meio. E, assim, os recursos raros(financeiros, humanos, informativos e materiais) so desperdiados para "reinventar a roda", enquanto que osmecanismos de transmisso dos conhecimentos adquiridos a partir de experincias conjuntas poderiam sermelhor utilizados em proveito prprio.

    Eis a razo de se ressaltar a importncia da organizao peridica de fruns orientados para certastemticas, ligados aos apoios ao empreendedorismo. Fruns que permitam avanar na reflexo e na ao. Aonosso ver, cada regio teria necessidade de, pelo menos, um congresso anual para trocas das prticasempresariais e para o desenvolvimento do empreendedorismo nos seus diversos grupos e associaes. Aavaliao destes organismos poderia tambm ser melhor valorizada se fosse capaz de beneficiar s instnciasde deciso poltica. A experincia de campo destes interventores e destes organismos poderia ser de grandeutilidade na definio de uma poltica empreendedora.

    No que diz respeito s corporaes profissionais sabemos muito bem que os profissionais destasentidades freqentemente exercem sua profisso por conta prpria. Sua organizao profissional deveria,portanto, estar em condies de ajud-los ou pelo menos dirig-los para os recursos adequados, no processode desenvolvimento de sua atividade. Ainda aqui, a participao das ordens profissionais em atividades detrocas de expertise em empreendedorismo seria uma vantagem para o desenvolvimento das pequenas

  • Carte routire pour un Qubec entrepreneurial

    21

    empresas de setores tercirios, sempre identificadas como o motor de desenvolvimento local de certasregies.

    preciso instituir mecanismos mais eficazes de transmisso e diviso dos conhecimentos na rea doempreendedorismo nos meios institucionais por um lado, e, por outro, entre estas instituies e osorganismos governamentais que trabalham com apoio criao de empresas.

    Recomendaes

    Estabelecer sistemas de troca e de diviso dos conhecimentos entre as instituies, organismosgovernamentais e corporaes profissionais que se preocupam com o empreendedorismo, quaisquerque sejam as suas formas. Proceder s mesmas trocas em diversos meios, como por exemplo entre osorganismos ligados economia social e as instituies envolvidas nas pesquisas desta rea.

    Apoiar atividades do tipo "fruns" orientadas para temticas especficas que poderiam ser discutidaspelo menos uma vez por ano.

    Promover, pelo menos uma vez por ano, um colquio empreendedorismo e educao, agrupandotodos os nveis de ensino, do primrio ao universitrio.

    ? 6. Os grupos- alvo: jovens, mulheres e desempregados

    Faz-se necessrio pensar em programas mais precisos, capazes de visar um conjunto de grupos-alvo,como os jovens, as mulheres e os desempregados. Em muitos pases os jovens com menos de 25 anosconstituem mais de 50% da populao. Eles, mais do que outros grupos, se interessam peloempreendedorismo e pela criao de empresas. prova disso est no crescimento, sempre maior, dasinscries nos cursos de empreendedorismo oferecidos, bem como no crescente nmero de cursos ofertadosnas instituies escolares do mundo, a cada ano.

    Constata-se que os jovens empresrios tm necessidade de apoio e, geralmente, as formas que podemobter estes apoios so relativamente fceis de se implementar. Constata-se tambm a necessidade que tm detutoria. As pesquisas indicam que esse grupo desejaria ter acesso uma janela de informao sobre osservios e programas de ajuda financeira. Indicam tambm um interesse em receber consultoria na reaespecfica de gesto - tanto por parte de especialistas como por parte de no especialistas e, finalmente, quemanifestam o desejo de ter acesso servios de patrocnio, de redes e de formao de grupos.

    A taxa de crescimento do nmero de mulheres que se lana ao mundo dos negcios mais elevadado que a dos homens, em quase todos os pases. Entretanto, as mulheres empresrias encontram problemasespecficos, sobre os quais seria necessrio que nos detivssemos com mais ateno, como por exemplo ofato de ter um rendimento menos elevado do que o dos homens empresrios. Outros problemas tambmverificados so : uma concentrao de empresas em setores tradicionalmente femininos, a falta de redes demtua ajuda, a falta de tempo para uma dedicao mais intensa no trabalho devido dupla tarefa "famlia -empreendimento", entre outros.

    Recomendaes

    Identificar, e, em seguida, apoiar, o empreendedorismo em grupos-alvo, nomeadamente entre jovens,mulheres e desempregados.

  • Carte routire pour un Qubec entrepreneurial

    22

    ? 7. A Legislao

    Mencionamos, acima, a importncia de que a legislao ligada s leis do trabalho seja mais flexvelnuma sociedade que pretende se apoiar no desenvolvimento empreendedor. necessrio tambm que setenha leis bsicas sobre a criao de empresas. Por exemplo, a lei francesa criada em 1984 e alterada em2003 prev, entre outras coisas, uma iseno de pagamento de impostos por um ano para qualquertrabalhador francs que deseje criar uma empresa. Esta licena renovvel pelo menos por mais um ano.

    Com efeito, as grandes empresas francesas ajustaram o passo e muitas convenes coletivas dasgrandes sociedades de estado passaram a oferecer uma licena de criao sem salrio renovvel, paraperodos que podem atingir, em certas empresas, de at cinco anos. o caso da Eletricidade da Frana(FED) e Gases da Frana (GDF).

    Faz-se necessrio cerca de trs anos para que uma nova empresa se estabilize. Neste sentido, umalicena de criao de trs anos parece mais adequada do que uma outra de dois anos. importante ressaltarque tais licenas so apenas possveis entre as grandes empresas, isto , naquelas que empregam mais de 200pessoas.

    O governo americano tambm dotou-se de uma lei, "Small Business Act" em 1948, criando o SBA(Small Negcio Administrao) em 1953, e, com isso, assegurando que a pequena empresa estivesse bem nocentro das preocupaes do desenvolvimento econmico. Atravs destas leis, o legislador americanoprivilegiou as PME no que diz respeito s compras governamentais, o que representa beneficiar centena demilhes de pessoas.

    Na maior parte dos pases estudados por Stevenson e Lundstrm, os governos se dedicaram reduoda carga administrativa, simplificando as exigncias para a criao de uma empresa.

    Nesse sentido, torna-se de fundamental importncia adotar um conjunto de leis que apiem a criaode empresas e as atividades empresariais, simplificando, ao mesmo tempo, os procedimentos legais eadministrativos que entravam as referidas atividades.

    Um problema especfico a que se dever atacar diz respeito as dificuldades de sobrevivncia e dereinsero encontradas pelas pessoas que entram em falncia. Constata-se um nmero maior entre os quecessam as suas atividades de negcios ou que fecham a sua empresa (existem relativamente poucas falnciasem comparao ao nmero dos que param as suas atividades de negcio). Os trabalhadores passam a recebero seguro desemprego quando perdem os seus empregos. As sociedades de Estado existem para as vtimas deacidente do trabalho. Em certos pases como o Canad, existe um fundo de transio para os deputados queno so reeleitos a fim de lhes possibilitar a reinsero no trabalho. Mas no existe medida de seguranasemelhante para os trabalhadores autnomos e para os inventores/proprietrios-lderes de PME. Poder-se-ia,com o tempo, pensar na criao de um fundo de transio para estas pessoas.

    Recomendaes

    Reduzir e simplificar a carga administrativa (conceito de guich nico para todos os formulrios einformaes relativas s atividades de negcio).

    Promulgar uma lei sobre criao de empresa que contemple uma licena de um ano, podendo serrenovada at um mximo de trs anos, para empregados que saem para abrir a sua empresa;

    Reduzir as barreiras entrada e sada da atividade empreendedora.

  • Carte routire pour un Qubec entrepreneurial

    23

    Reduzir as perdas ao se criar uma empresa, pela implementao de um fundo de transio, comdurao de seis meses, para as pessoas que fecham o seu negcio (falncia, encerramento de empresa,descontinuidade das prticas de um trabalhador autnomo). Isso implica uma contribuio prvia aeste fundo como o caso do seguro desemprego.

    ? 8. A semana e as jornadas de empreendedorismo

    Uma sociedade empreendedora articula-se em torno das trocas que permitam compartilhar ainformao sobre as iniciativas e as coisas novas que se fazem para sensibilizar e promover oempreendedorismo. Para isso, importante instaurar mecanismos de transmisso dos valores empresariais.

    Em outubro de cada ano acontece no Canad, por exemplo, uma semana da PME. Numa dessassemanas, organizamos no campus da nossa universidade uma jornada de dirigentes na qual, seis deles,provenientes dos mais diversos tipos de empresas, vieram compartilhar as suas preocupaes e reflexessobre a evoluo da sua empresa. O nmero de professores e estudantes que tm participado desta atividadetem crescido de uma forma surpreendente. Eram centenas de pessoas que foram escutar, das 12h00 s14h00h, estes seis empresrios. Em funo disso, a percepo do mundo empreendedor foi enormementealterada, tanto entre estudantes e professores como entre a comunidade mais ampla. Estas trocas surtiramefeitos sobre o empresariado como tambm surtiu efeito no nvel de aceitao e o apoio aoempreendedorismo no mbito da sociedade como um todo.

    Existem em vrios pases uma semana do empreendedorismo na qual os empresrios participam dasatividades relacionadas a temtica do dia: um dia de introduo geral, um dia para as mulheresempreendedoras, um dia para o empreendedorismo dos servios, um para o empreendedorismo tnico, umoutro para a concepo empreendedora nas organizaes, um outro ainda para o empreendedorismo nosorganismos com fins no lucrativos e em economia social, assim como um dia dos diplomados do curso dediversas faculdades que se tornaram empresrios. Esses ltimos vm encontrar estudantes do seu prpriocampo de especialidade para contarem como se tornaram empresrios, o que precisavam aprender, de queforma tais aprendizagens contribuiram para a construo do seu saber-ser e ao seu saber-fazer.

    importante que exista tambm de uma Semana do empreendedorismo que se torne um momento deatividades intensas, permitindo trocas de informaes e experincias em torno da temticaempreendedorismo. Trata-se de uma semana onde os empresrios podem vir s classes, e onde os polticospassam a se implicar mais ativamente nas manifestaes pblicas de apoio ao empreendedorismo. No mbitodesta semana, pode-se tambm estabelecer concursos de criao de empresas ou outros concursos que visempromover o empreendedorismo sob todas as formas. De resto, na grande maioria dos pases estudados porStevenson e Lundstrm (2001), a frmula dos prmios e concursos freqentemente utilizada para veicularmodelos empresariais de sucesso.

    Faz-se, portanto, necessrio um conjunto de atividades diversas para tornar o empreendedorismo vivonuma sociedade. necessrio que se pense tambm na implementao de Jornadas de Empreendedorismo,uma ou duas por ano, tais como, por exemplo, a Jornada do empreendedorismo feminina, Jornada dos jovens,etc. necessrio refletir sobre as diferentes frmulas, diferentes tipos de modelos nesses dias de jornadadirigindo-os para grupos-alvo determinados. O importante que se discuta sobre o conjunto dessasatividades que podem ser agrupadas tanto na Semana do empreendedorismo como nas Jornadas deempreendedorismo.

    Recomendaes

  • Carte routire pour un Qubec entrepreneurial

    24

    Criar uma "Semana do empreendedorismo". Implementar algumas "Jornadas do empreendedorismo" a fim de atingir aos grupos- alvo.

    ? 9. Um papel renovado para os lderes polticos

    Qualquer programa que pretenda construir uma sociedade empreendedora necessita ter um papelativo dos lderes polticos para a mobilizao social. necessrio chamar a ateno para a importncia queteve o apoio dos presidentes americanos, desde Jefferson, ao empreendedorismo e ao desenvolvimento daspequenas empresas. Fato que vem se repetindo com o ex-presidente Bill Clinton, e com presidente atual,George W. Bush, que se deteve nessa questo como uma de suas prioridades14.

    necessrio que os lderes polticos comprometam-se, sejam ativos e faam a populaocompreender que as atividades e os programas so implementados para permitir o desenvolvimento dopotencial empreendedor de cada pessoa que deseje ser livre trabalhando por conta prpria. muitoimportante que estas atividades sejam apresentadas com muita informao, apoio e valorizao.

    A Sra. Thatcher, por exemplo, pediu s grandes empresas na Gr-Bretanha que fizessem como nosEstados Unidos, isto , que investissem 5% dos seus lucros para o desenvolvimento do seu meio, o que deuorigem a um programa chamado Business in the Community 15. Este programa foi financiado em 50%pelas empresas e 50% pelo governo em cada regio ou bairro da grande cidade. O referido programa ofereciauma frmula que permitia adotar-se organismos de apoio ao desenvolvimento empreendedor, implicando, aomesmo tempo, na contribuio das empresas numa proporo de at 50% dos projectos submetidos pelosmunicpios. Esta contribuio era revertida diretamente ao organismo de apoio ao desenvolvimentocomunitrio e empreendedor. Este programa teve uma durao de trs anos, tendo sido substitudogradualmente por outros programas, mas a contribuio das empresas ao desenvolvimento do meiopermaneceu atravs de outros programas. Tony Blair multiplicou o apoio criao de empresas e aostrabalhadores autnomos. Paradoxalmente, a maior parte das polticas de apoio criao de empresas naEuropa foi implementada por governos de esquerda.

    preciso mencionar o caso do SEBRAE16, um organismo brasileiro, onde as empresas contribuemcom 0,6% da sua massa salarial para a sua formao na rea do empreendedorismo e PME. O SEBRAEorganiza e cria reas de formao destinadas s pequenas empresas e aos seus empregados. Constitui umexemplo notvel de contribuio para o desenvolvimento das PME.

    primordial que os lderes polticos ponham a mo na massa. O desenvolvimento empreendedor no apenas um conjunto de polticas e programas, mas uma cultura, uma maneira de pensar, uma maneirade ver que implica em propagar e compartilhar.

    importante que o governo crie um conselho consultivo sobre empreendedorismo (no remunerado),que deveria se reunir pelo menos uma vez por ano com o objetivo de aconselhar o governante sobre as aesque melhor poderiam apoiar a concepo empreendedora, em especial a criao de empresas, as prticas deinovao bem como as prticas intraempresariais nas empresas e no setor pblico. Tais conselhosconsultivos poderiam tambm ser adotados em todas as subdivises polticas do pas.

    14 http://www.sbaonline.sba.gov/financing/basics/smallbusinessagenda.html15 http://www.bitc.org.uk/index.html16 http://www.sebrae.com.br/br/home/index.asp

  • Carte routire pour un Qubec entrepreneurial

    25

    Recomendaes

    Que o dirigente declare publicamente seu compromisso para com desenvolvimento do pas. Que o dirigente se comprometa com a atividade pblica no que diz respito a informao e apoio ao

    desenvolvimento do empreendedorismo Que o principal dirigente, assim como autoridades regionais, criem conselhos consultivos sobre

    empreendedorismo constitudo de empresrios, trabalhadores autnomos, proprietrios dirigentes dePME, sindicalistas e pesquisadores da rea do empreendedorismo.

    ? 10. As agncias especializadas

    importante que, numa sociedade, se construam os instrumentos para que as estratgias dedesenvolvimento na rea do empreendedorismo possam ser desenvolvidas, acompanhadas e avaliadas.Constatamos que, em vrios pases, a cada mudana de governo, novas polticas e s vezes novos serviosso oferecidos para o apoio ao empreendedorismo. Esses servios, embora ativos durante alguns anos,desaparecem em seguida, impedindo, de tal modo, que com to pouco tempo de existncia e poucaaprendizagem, que se crie, no sistema pblico, as modalidades de apoio ao desenvolvimento doempreendedorismo.

    Em contrapartida, certos pases desenvolveram muita constncia e muita avaliao nesta matria. ASucia, por exemplo, conta com quatro agncias de apoio ao desenvolvimento do empreendedorismo e ainovao. Assim, parece primordial que se crie no pas pelo menos duas agncias capazes de se encarregardos acompanhamentos voltados ao empreendedorismo. Isto permite que se reduza os custos, que seracionalize as atividades e se criem lugares que permitam formas de apoio ao empreendedorismo,

    Em primeiro lugar, preciso considerar como referncia uma agncia de apoio criao de empresasa semelhana modelo de NUTEK (Sucia) e mais particularmente do modelo APCE17, na Frana. Esteprocedimento no dependeria, necessariamente, da instalao de uma rede de espaos de interveno sob omodelo das Lojas de Gesto18, como o caso da Frana. Uma tal agncia poderia trabalhar e coordenar asatividades do conjunto dos parceiros implicados no apoio ao empreendedorismo os quais j nos referimos:incubadoras, centros de empreendedorismo, ministrios que mantm atividades voltadas aoempreendedorismo. Serviria tambm para evitar os desdobramentos j discutidos e para racionalizar asatividades de apoio criao de empresas e a sua inovao.

    O sistema governamental poderia utilizar mais adequadamente os recursos destinados aoempreendedorismo. Recursos esses muitas vezes dispersos no conjunto da mquina governamental e nemsempre bem coordenados. Os pases gastam demasiado e, ao mesmo tempo, deixam de gastar de uma formaapropriada nos lugares corretos. necessrio planificar, racionalizar e melhor orientar os recursos ligados aoapoio ao empreendedorismo. necessria uma agncia que tenha no desenvolvimento do empreendedorismoa sua principal vocao e misso.

    necessrio tambm que haja uma lugar de gerao e transmisso de conhecimentos, um lugar ondeseja possvel manter a aprendizagem, avaliar os programas, coordenar o conjunto das pesquisas realizadas nopas, organizando e priorizando aquelas aes de sucesso realizadas pelo mundo em termos de apoio ao

    17 http://www.apce.com/index.php18 http://www.boutiques-de-gestion.com/indexNew.html

  • Carte routire pour un Qubec entrepreneurial

    26

    empreendedorismo. Esta segunda agncia, de menor porte, concebida sob inspirao do modelo da Fundaosueca de pesquisa sobre a PME (Swedish Foundation for Small Business Research) 19 agruparia algumaspessoas, coordenaria as investigaes sobre empreendedorismo realizadas no conjunto das instituiesuniversitrias e serviria de elo de transmisso destes conhecimentos entre os organismos em causa.

    Na Sucia, isto permitiu uma especializao das instituies universitrias e evitou osdesdobramentos comuns na maior parte dos pases onde alguns pesquisadores costumam trabalhar sobre asmesmas temticas, de uma forma repetitiva, deixando de explorar outros aspectos relacionados aoempreendedorismo. Nesse sentido, ainda na Sucia, certas instituies centraram-se em investigaes sobre odesenvolvimento de competncias na rea em apreo enquanto outros se detiveram sobre o desenvolvimentode programas de apoio criao de empresas e sobre o desenvolvimento de atividades educativas, etc.

    simplesmente inacreditvel que em pases onde se gastam milhes de dlares em investigaescientficas, no existam mecanismos de coordenao nem a nvel da investigao nem a nvel da transmissodestes conhecimentos. Normalmente no existe um mecanismo que permita s pessoas envolvidas com oempreendedorismo nem mesmo aos responsveis pela funo pblica tomarem conhecimento do que seproduz no campo cientfico, de modo que possa utiliz-lo adequadamente na elaborao de polticas pblicas.

    A criao de agncias deveria tambm permitir uma melhor articulao e coordenao do papel dasfundaes. importante que se tenha, pelo menos, duas agncias capazes de coordenar o conjunto dasatividades de produo dos conhecimentos num caso, e, num outro caso, o conjunto das atividades de apoioao desenvolvimento e a criao de empresas.

    Cada vez que tais sugestes so feitas, os dirigentes do Estado tendem a reagir dizendo : "estamosnum perodo de compresso oramental ou o momento no dos mais propcios". Trata-se, no entanto,apenas de racionalizar as atividades. O problema que, quase sempre, no se chega a saber da realnecessidade do que deve ser realizado. Isto acontece por falta de avaliao e de reflexo sobre o assunto.

    H de chegar o momento em que um lder dar o pontap inicial na institucionalizao dodesenvolvimento do empreendedorismo, atravs da criao de um ou dois organismos claramenteidentificados para essa finalidade. necessrio que o desenvolvimento do empreendedorismo torne-se umalinha bsica, um componente essencial do futuro. Uma das maneiras de assegurar a continuidade e a eficciados programas reside na instaurao de um organismo estatal que se ocupe destas questes. o que fizeramvrios estados emergentes na Europa central e na a Europa do leste, como a Hungria e a Polnia, porexemplo.

    Recomendaes

    Criao de duas organizaes governamentais, uma que cubra o aspecto de apoio aoempreendedorismo e outra responsvel pela pesquisa sobre essa temtica;

    Criao de um fundo de investigao cientfica dedicado ao empreendedorismo, cujos critrios deatribuio deveriam ser elaborados pela agncia de coordenao de pesquisa. Este fundo poderia sergerido por uma agncia especializada na gesto de fundos de investigao.

    Elaborao de um mecanismo de coordenao para a divulgao dos resultados das pesquisas sobreempreendedorismo entre as instituies superiores de ensino e outros organismos implicados no apoioe no desenvolvimento do empreendedorismo, como por exemplo, a realizao de um colquio anualsobre empreendedorismo e educao ; realizao de um ou dois colquios dirigidos s instnciasde apoio. Estas ltimas atividades poderiam ser desenvolvidas pela Agncia de coordenao dainvestigao na rea de empreendedorismo.

    19 http://www.fsf.se/eng_index.html (version anglaise en construction le 20 novembre 2003)

  • Carte routire pour un Qubec entrepreneurial

    27

    Concluso

    Este texto sugere uma srie de recomendaes para apoiar e melhor articular o desenvolvimentoempreendedor de um pas. A primeira etapa de qualquer plano de ao o compromisso daqueles que seengajam na sua promoo. No caso, o compromisso dos dirigentes do pas, os integrantes do seu governo.Trata-se de uma questo primordial. Sem este compromisso, o desenvolvimento de uma culturaempreendedora e ou de qualquer ao a implcita, corre o risco de ser muito lenta.

    Sugerimos que o dirigente mximo do pas declare publicamente o seu compromisso para com odesenvolvimento do empreendedorismo.

    Este compromisso poderia ser seguido da formao de um Comit consultivo sobreempreendedorismo integrado por representantes do mundo da PME (incluindo, inclusive, as empresas depequenssimo porte), de trabalhadores autnomos, sindicalistas e pesquisadores da rea. Este Comit deveriaser formado por at 15 pessoas e teria a misso de aconselhar o dirigente mximo do pas sobre as questesque dizem respeito ao empreendedorismo e a alavancagem de empresas, assim como sobre o crescimento e aimportncia da empresa no mbito do desenvolvimento regional (Joyal, 2002; Julien, 1997; Yuill, 2003).

    Entre as recomendaes que foram formuladas ao longo deste texto, algumas me parecem prioritriasdevido aos seus efeitos em longo prazo sobre o desenvolvimento empreendedor. Primeiro, constata-se aurgncia de se agir em nvel de todas as questes relativas ao desenvolvimento da cultura empreendedora, acomear por aquelas que tocam o mundo da educao, dos sistemas de apoio e do papel renovado dos lderespolticos.

    Um tema recorrente em vrias das nossas recomendaes refere-se a formao de redes e acoordenao. As nossas recomendaes sobre a formao de grupos de foras empresariais, os parceirosinstitucionais e sociais, e as agncias especializadas nos parece como uma segunda etapa, ainda queessencial, para o desenvolvimento de um pas empreendedor.

    Por ltimo, importante ressaltar que as nossas recomendaes relativas promoo do spin off, osgrupos-alvo, as legislaes, e a semana e a jornada do empreendedorismo no so menos importantes, massero mais fceis de serem adotados se todos os parceiros forem envolvidos e coordenados e se a vontadepoltica de promover o empreendedorismo, sob todas as formas, estiver presente em todos os nveis dedeciso.

    No possvel esperar resultados a curto prazo (em termos de meses) da maior parte dasrecomendaes apresentadas neste texto. Os resultados vo, contudo, aparecendo relativamente rapidosdurante os anos, de acordo com a natureza de sua aplicao. A adoo de vrias destas recomendaes podeser realizada a um baixo custo: a semana e a jornadas de empreendedorismo, por exemplo. Outros podemimplicar mais tempo e recursos, necessitando de mais expertise, mas o que importa se permita umtratamento de rejuvenescimento, utilizando-se um conjunto de mecanismos para efetivamente apoiar odesenvolvimento endgeno.

    Este texto dirige-se pessoas que tero que elaborar polticas para dinamizar a vitalidadeempreendedora. comum muitas dimenses relativas ao desenvolvimento do empreendedorismo estaremausentes, em especial aquelas relativas aos papis que podem desempenhar os empresrios na elaborao depolticas, assim como as redes que devem se estabelecer nos tecidos empresariais e polticos de base nasregies e nos bairros. Esses assuntos sero objeto de outros trabalhos no curso dos prximos anos.

  • Carte routire pour un Qubec entrepreneurial

    28

    Referncias Bibliogrficas

    CNI/IEL (1999) Empreendedorismo, Cincia, Tcnica e Arte. Brasilia : IEL Nacional.

    Ct, M., Filion, L.J. (2005) La gouvernance des entreprises de haute technologie et leur conseil??administration. Cap Rouge, QC : dition de lentrepreneur ( paratre).

    Fayolle, A. (2003) Le mtier de crateur d?entreprise. Paris : ditions dOrganisation.

    Filion, L.J. (1993) Visao e relaoes: elementos para um metamodelo empreendedor. Revista deAdministraao de Empresas RAE. Escola de Administraao de Empresas de Sao Paolo, Fundaao GetulioVargas, vol.33, no. 6. Nov/Dez., pp.50-61.

    Filion, L.J.(1999a) Diferenas entre sistemas gerenciais de empreendedores e operadores de pequenosnegocios. Revista de Administraao de Empresas RAE. Escola de Administraao de Empresas de Sao Paolo,Fundaao Getulio Vargas. vol.39, no 4. Out/Dez. pp.6-20.

    Filion, L.J. (1999b) Empreendedorismo: empreendedores e proprietarios-gerentes de pequenos negocios.RAUSP Revista de Administraao, Univ. Sao Paulo, vol.34, no.2, abril-junho, pp.5-28.

    Filion, L.J. (2000) Empreendedorismo e gerenciamento : processos distintos,