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    WEBER, Beatriz Teixeira. As artes de curar: Medicina, religio, magia epositivismo na Replica Rio!"randense ! #$$%%'$. (anta Maria: Ed. da)*(M, #%%%.

    +RE*-/ p. #0!#1.

    -/ME2A / TE3T/ (/B A 4+T-A 5/ +RE(E6TE: 7/ texto, sore a medicinae suas rela89es com a poltica e o diversi;cado conculo, inicia com umepis?dio @ue poderia parecer anal, lido distraidamente em um da man. Em #%%C, algumas mes denunciarama morte de eDs em uma )T pedi=trica, na cidade gaca de +asso *undo,atriuda negligDncia m>dica. Mais um caso, pensar= o leitor, da longalista de epis?dios reveladores da alDncia da sade plica no pas, nos

    ltimos anos. Mas o olar in@uiridor de Beatriz Weer nos leva para al>mdesta constata8o reiterada: o in@u>rito apurou @ue m>dicos denunciadoscostumavam decidir @uais crian8as deviam morrer @uando no aviarespiradouros su;cientes para todas, escolendo ento as @ue tinammenos 7cances7 de sorevivDncia7 Fp. #0GH

    ! 7Ao ;nal, somos levados a compreender @ue a naturalidade com @ue ascompetDncias m>dicas so encaradas em nossa vida cotidiana estorelacionadas a uma concep8o a!ist?rica sore o seu per;l e atriui89est>cnico!cient;cas construda ao longo de sua ist?ria. 5ecorre, em outras

    palavras, de uma ideia de @ue a ist?ria da medicina no > seno umaevolu8o linear e progressiva de um controle crescente sore o corpo e adoen8a, acumulando sem cessar novos conecimentos dos @uais resultaa@uilo @ue conecemos como ciDncia m>dica, @ue teria sustitudo antigascrendices com seu poder de oerecer respostas verdadeiras e de;nitivas,sedimentadas lentamente ao longo do tempo. (e esta ideia nos ence deFalsaG seguran8a, o livro cu

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    7Beatriz Weer nos leva pela mo a conecer este mundo expulso daist?ria da medicina, para nos colocar diante de curandeiros, enzedeiras,pas F@ue operaram com a sade no registro da magiaG, mas tam>m deoutros personagens desta =rea de somra na ist?ria da sade: a ;guracentral das parteiras, as silenciosas reiras da caridade @ue, na +orto Alegre

    da virada do s>culo, oram personagens decisivas nos lugares o, a experiDncia e a ciDncia ! constitui um dos pontos altos dolivro @ue tem o imenso m>rito de no tomar estes elementos como eserasseparadas e incomunic=veis da vida dos porto!alegrenses e dos aitantesde @ual@uer cidade. Assim, as experiDncias sociais podem aparecer emdimens9es em mais ricas e matizadas, explorando as ronteiras entreelementos aitualmente analisados em separado ! como o saer institudo,os saeres populares, a > e a magia @ue se cruzam nas rus de +orto Alegre

    e nos corredores da -aridade7 Fp. #JGH

    A( */6TE( )TKLA5A( +EKA A)T/RA: 7Recorreu a ontes ricas ediversi;cadas, numa pes@uisa s?lida e detalada em processos criminais do-art?rio do ri de +orto Alegre,

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    re@uentemente utilizada para conotar um saer ortemente disciplinador,persuasivo e destitudo de opositores./ra, > conecida a pretenso m>dicaa sanear o corpo social exercendo amplamente suas dimens9es polticas edisciplinares, mas a viso dos doutores suordinados s irms, sumetendo! se s suas normas e negociando com elas o espa8o da sua pe@uena

    verdade contra a@uela outra, @ue se escrevia no tempo com letrasmaisculas, contriui para relativizar tal perspectiva ! tanto @uanto aconstata8o saorosamente resgatada a respeito da @uase imatvelpopularidade de curandeiros, enzedeiras e outros 7carlates7 ! diria umdoutor ! entre FimGpacientes muito descon;ados. A lemran8a de @ue, noperodo, eles no s? podiam ser mais e;cazes como, se isso no ossepossvel, estavam mais pr?ximos das necessidades psicol?gicas e culturaisdos doentes, > corrosiva para uma viso asolutizada da ist?ria daMedicina. Oale tam>m lemrar com a autora @ue, al>m do mais, em suasinterven89es, provocavam muito menos dor e sorimento nos doentes:

    Beatriz Weer leva o leitor imediatamente a perguntar por @uais caminosoi possvel o triuno Fainda assim muito menos asoluto do @ue sepretendeG da exclusividade cient;ca nas pr=ticas de cura7 Fp. #PGH

    ! 7Em meio ao agudo deate entre estas trDs matrizes de interpreta8o, noentanto, pontos em comum podem ser identi;cados. +rincipalmente, todostratam a Medicina como uma institui8o omogDnea: este > o ponto departida inevit=vel para @ual@uer destas vis9es simpli;cadoras @ue parecemacreditar @ue para os m>dicos, como para a grem do campom>dico no perodo escolido para a an=lise7 Fp. #PGH

    ! 7Em usca dessas ranuras no pesado edicio do saer o primeiroamiente a ser visitado pela an=lise > a vetusta e douta *aculdade deMedicina. Recuperando entre suas paredes os emates internos pr?priacorpora8o m>dica ! seus impasses te?ricos e polticos, suas inde;ni89esem torno de @uest9es centrais de o signi;cado social da Medicina, suasangstias e divergDncias em torno de pontos to ?vios @uanto ignorados

    em oa parte da istoriogra;a como a pouca e;c=cia de suas pr=ticas eprescri89es sempre desconort=veis e dolorosas ! a autora nos traz ummundo complexo e matizado no @ual, em pleno perodo repulicano,doutores ainda se atiam por um lugar ao sol. Kutavam por um espa8opr?prio em ace das pr=ticas de cura costumeiras das enzedeiras,parteiras, eiticeiros de todo tipo @ue re@uentam vizinan8as no raro emsitua8o de lideran8a espiritual e convvio aetivo com sua clientela7 Fp. #PGH

    E(TE +RE*-/ */ E(-RT/ +EKA +R/*E((/RA MARA -KEME6T6A+ERERA -)6QAH

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    6TR/5)2/ p. #%! '%H

    ! S M)T/ 6TERE((A6TE / M/5/ 5E E(-RTA 5A A)T/RA, +/R)E EKA-/ME2A (E) TE3T/ +ART65/ 5A +ER(+E-TOA 5/ +RE(E6TE, *AKA65/5E )M -A(/ 5E 6E"K"U6-A MS5-A 6)MA )T 6E/6ATAK +ARA 5E+/(

    TRA2AR )M E(+S-E 5E +A6/RAMA A-ER-A 5A Q(T4RA 5A ME5-6AH

    ! 7As corri@ueiras avalia89es realizadas pelos m>dicos vo at> o patamar dedecis9es sore @uais as crian8as @ue podem continuar vivendo, @uais osidosos @ue merecem um perodo de interna8o maior, @uais os doentescrVnicos @ue sero operados. -omo a sade plica no Brasil > astanteprec=ria e as condi89es de atendimento so p>ssimas, constantemente >preciso decidir @uem deve ou no ser atendido nas institui89es plicas desade. 6esse contexto, o poder de deciso desses pro;ssionais > imenso. S,por excelDncia, um poder de vida e morte. Entretanto, essa aculdade nocostuma parecer estrana, por@ue > considerada papel inerente do m>dico,parte de suas origa89es. ual@uer um de n?s passou por alguma orma deavalia8o desse tipo7 Fp. 'GH

    ! 7Esses pontos so tidos como in@uestion=veis. +arece @ue sempre oiassim. /s pacientes no possuem @ual@uer prerrogativa rente a esse podere a essa organiza8o. A compreenso da medicina como um conecimentoasoluto e in@uestion=vel atinge a todos @ue tratam com a =rea. 5iversosestudos ist?ricos procuram analisar os momentos em @ue a medicina seorganizou. A;nal, os istoriadores, pelo menos, deveriam saer @ue no oisempre assim. Mas mesmo os istoriadores, em sua maior parte, tratam a

    medicina como um conecimento atemporal, tida como um conculos, como se osse o mesmoconculo 3O, com suas sangrias, purgas e an=lises daurinaH no s>culo 3O, com a teoria dos miasmasH no ;nal do s>culo 33, coma teoria acterianaH e&ou no ;nal do s>culo 33, com os eDs da )T. 6oentanto, em cada uma dessas >pocas, o conecimento utilizado eradierente. /s pro;ssionais @ue exerciam pr=ticas de cura receiamorma89es completamente diversas. Qavia dierentes tipos de pr=ticos decura num mesmo perodo, mas nem todos eram camados m>dicos. S dicilusar o mesmo termo para conecimentos dspares. (? podemos utilizar esse

    r?tulo ! medicina ! or8ando a sua arangDncia e o seu signi;cado paraade@u=!los aos procedimentos contemporNneos7 Fp. '#GH

    ! E(TE A(+E-T/ )E A A)T/RA TRATA S M)T/ M+/RTA6TE: 7 At> @ueconselos t>cnicos pudessem decidir sore a vida e a morte, desenvolveu!se uma luta eroz pela posse da verdade. S undamental @ue essas diversaspr=ticas de cura se

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    marcada pela intensa desigualdade social @ue se soma diversidade >tnica,muitas vezes es@uecida. A complexidade >tnica rasileira compVs situa89esist?ricas peculiares @ue se mantDm = muito tempo, e > undamental @uesedicos, @ue procuraramconstruir uma verso laudat?ria e enorecedora do desenvolvimentoprogressivo da ciDncia m>dica. /s traalos pioneiros oram redigidos @uaseexclusivamente por m>dicos voltados para o passado de sua pro;sso, a ;m

    de estaelecer uma certa mem?ria @ue conduziria inexoravelmente celera8o da medicina vigente7 Fp. ''GH

    ! 7/ resgate dos atos, personagens e institui89es @ue se destinavam a lutarcontra as doen8as e a promover a sade, na >poca colonial ou imperial,repousa geralmente numa narrativa de car=ter descritivo e es@uem=tico.+arece exemplar o traalo de KYcurgo (antos *ilo, com seus dois volumesde uma ist?ria geral da medicina rasileira, mas = escritores @ue tratamdo assunto em todo o pas. /s m>dicos so descritos como personagensexemplares, como enem>ritos participantes de institui89es de caridade epes@uisa. /s esor8os desses m>dicos construram o arcaou8o @ue

    sustenta as no89es mencionadas7 Fp. ''GH

    !7/utra perspectiva te?rica orientou um conrio. A medicina ocuparia uma posi8o central no saer e sua visosustentaria a sociedade. / prodico deenderia e m disso, o prodico nocegava a ter expresso signi;cativa nas institui89es @ue sustentavam opoder da classe senorial, atingindo ! as apenas residualmente. +elo recursosistem=tico s ontes, *l=vio Edler desez o eno@ue apriorista na tese sorea uncionalidade poltica do saer m>dico, criticando a aceita8o do papelconerido medicina social na sustenta8o da sociedade escravista como

    um dado de;nitivo7 Fp. ''!0GH

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    ! 7Tam>m procurando correlacionar a produ8o do saer m>dico com oprocesso de constitui8o do Estado rasileiro, surgiu outra perspectiva, emmeados da d>cada de #%1, elaorada por istoriadores e cientistas sociais,@ue sugere uma estreita rela8o entre a produ8o do saer m>dico e umaestrat>gia de poder voltada para a orma8o de uma consciDncia igiDnica

    do povo e para a excluso institucional dos carlates. Oinculam, ainda, aado8o de pr=ticas sanit=rias constru8o da rela8o de domina8o daselites agr=rias com os outros grupos sociais. A constitui8o de institui89esm>dicas, estaria, assim, relacionada, soretudo, com a organiza8o dopoder ap?s a Replica, servindo!o e azendo parte dele en@uantointegrante de seu corpo institucional7 Fp. '0GH

    ! 7Esses traalos, orientados por uma certa perspectiva marxista,uscaram mostrar como se constituiu um aparelo estatal de sade. Amedicina responderia estrutura, com o Estado 6acional, visando a

    estaelecer ormas de controle social por meio dos servi8os de sade. 5amesma orma @ue os demais textos mencionados, tratam a medicina comouma institui8o omogDnea, al>m de asolutamente coerente e de acordocom os interesses da 6a8o, radicalizando a tese da rela8o entre saercient;co e poder poltico dos m>dicos7 Fp. '0GH

    ! 7As vis9es reducionistas limitaram a pes@uisa em v=rias dire89es, poisa;rmam @ue a corpora8o m>dica culo 33 e amedicina rio,no ocorrendo tens9es signi;cativas entre ela e as diversas pr=ticas decura, dica./utras pr=ticas de cura ;caram ora da circunscri8o ist?rica7 Fp. '0GH

    ! A A)T/RA 5E3A EO5E6TE A T/5/ / M/ME6T/ / *AT/ 5E((A(+R/5)2ZE( A-A5UM-A( (4 E6*ATLAREM / KA5/ E A OER(/ 5/(MS5-/(, 5E3A65/ 5E KA5/ A OER(/ 5/( +A-E6TE( E A[, +ARA ((/,EKA A+/6TA A( 5*-)K5A5E( EM E(T)5AR E((E /)TR/ KA5/ 5AOER(/: 7 +or outro lado, a viso dos pacientes, cum!se silenciada nas ontes e nas interpreta89es.As perspectivas te?ricas @ue nortearam os traalos mencionados

    estiveram marcadas pela reprodu8o do discurso legitimador construdopelos m>dicos. Tomaram como verdadeiras e universais as alas tpicas dos

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    pr?prios m>dicos en@uanto uscavam consolidar sua imagem pro;ssional.Assim, este traalo insere!se no esor8o istoriogr=;co de rever essaverso da ist?ria da medicina, para incluir a experiDncia das popula89esenvolvidas com pr=ticas de cura apesar das di;culdades das armadilas @ueesta perspectiva acarreta. *azD!lo signi;ca no s? ampliar o escopo das

    ontes aituais, mas tam>m uscar novas erramentas intelectuais para aan=lise7 Fp. 'JGH

    ! 5A[ A A)T/RA A+/6TA )MA 5A( +/(([OE( */RMA( 5E RE(/KOER ((/:7)ma das caves para aordagem das concep89es de doen8a e cura dapopula8o > ornecida pela Antropologia. As aproxima89es recentes daist?ria com essa =rea de conecimento tDm permitido a identi;ca8o denovos prolemas e o alargamento dos orizontes de reXexo de amas asdisciplinas, com possiilidades extremamente ecundas para ospes@uisadores. /s estudos atuais da Antropologia sore pr=ticas populares

    de doen8a e cura oerecem as melores e mais densas pistas para sepensar tais pr=ticas em outro perodo, resgatando ! se a estreita rela8ocom essa disciplina7 Fp. 'JGH

    ! A"/RA A A)T/RA E(T TRATA65/ 5/( AT)A( E(T)5/( )E E(T/AB/R5A65/ )MA MA6ERA 5*ERE6TE 5E (E E(T)5AR A Q(T4RA 5AME5-6A: 7-onm aponta @ue os traalos criticadosse interessam pela legitima8o da medicina perante s autoridades dogoverno ou no interior do deate cient;co, deixando de lado as percep89esdos pacientes: alta!les, assim, a pr?pria razo de ser da medicina, seuodicos7 Fp. 'JGH

    ! 6E(TE A(+E-T/, / TRABAKQ/ 5A A)T/RA (E A+R/3MA BA(TA6TE 5/

    ME), +/R)E EKA *AKA )E /( E(T)5/( A-ER-A 5A ME5-6A TEM )MAREA 5E -/6-E6TRA2/ E(+E-[*-A )E S / R/ 5E A6ER/: 7A pes@uisa@ue originou este traalo iniciou!se a partir dessas in@uieta89es e datentativa de istoricizar as pr=ticas m>dicas no Brasil, levando em contatam>m especi;cidades regionais importantes. 6o Rio "rande do (ul noavia tradi8o de escola m>dica, como ocorria no Rio de aneiro. / Rio"rande do (ul inseriu!se tardiamente no restante do Brasil, sorendo comum certo descaso das polticas o;ciais, com uma produ8o voltada para omercado interno. Al>m disso, no passou por um processo de crescimento emoderniza8o como o Rio de aneiro, apresentando uma tradi8o cultural

    marcada pela imigra8o de v=rios grupos europeus ao longo do s>culo 33.

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    *rente a essas circunstNncias, avia ainda menores possiilidades de umaorganiza8o m>dica implantar ! se como poder unvoco7 Fp. 'JGH

    ! / )E A A)T/RA +R/-)RA A6AK(AR EM (E) TRABAKQ/I 7Este traaloprocura analisar como conviveram pr=ticas de cura diversi;cadas num

    contexto de lierdade pro;ssional, procurando entender @ue signi;cadosassumiram essas pr=ticas para os grupos envolvidos Fm>dicos, memros dogoverno positivista, os pores e os mais aastadosG, num contexto religiosoortemente cat?lico, @ue orientava as nicas institui89es de assistDnciaexistentes, particularmente a (anta -asa de Miseric?rdia de +orto Alegre.6essa entidade aglutinaram!se as dierentes perspectivas @ue lidavam coma cura no R(, especialmente vinculadas a uma viso religiosa aseada naassistDncia. (ua ist?ria pode ser conundida, de certa orma, com a ist?riado triuno m>dico na metamorose da caridade para a ciDncia7 Fp. 'CGH

    ! )AK A +RE/-)+A2/ -E6TRAK 5/ TRABAKQ/ 5A A)T/RA: 7Asmudan8as ocorridas, na passagem do s>culo, na orma como autoridadesplicas, m>dicos e institui89es religiosas se relacionavam com pr=ticaspopulares de cura constituem a preocupa8o central deste traalo.Recuperar os sentidos @ue ad@uiriram nesse momento ist?rico e as ormaspelas @uais se organizaram nesse processo de transorma89es a a medicina alcan8ar essa imagem @ue tem o

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    divina para a cura de doen8as. / conecimento da Medicina, apesar de umdiscurso de orie deenVmenos indecir=veis. 6o avia uma distin8o ntida entre magia eciDncia. Muitas pr=ticas como o vitalismo, odicos eram pessoas cat?licas,@ue acreditavam na possiilidade de milagres e esperavam pela interven8odivina. Tinam pouco a azer diante da doen8a e seus conecimentos eramlimitados pela vontade de 5eus7 Fp. 'PGH

    ! 7sso no @uer dizer @ue os m>dicos e intelectuais a eles ligados notentassem estaelecer a distin8o entre a sua ciDncia e o carlatanismo.Qavia uma orte campana corporativa da Medicina, por meio dos ?rgoscomo mas noa *aculdade de Medicina de +orto Alegre, encampada por

    dicas: era umadas pr=ticas @ue procurava consolidar seu espa8o, mas no era a nica7 Fp.'PGH

    ! 7Ao mesmo tempo, pr=ticas populares reorganizavam !se. Muitos grupospopulares apegaram!se aos seus conecimentos tradicionais ou s pr=ticassupersticiosas, @ue prolieraram nos primeiros anos da Replica eassumiram uma orma organizada nas d>cadas de #%' e #%0, criandoidentidades por suas pr=ticas sim?licas em rela8o doen8a. A matrizdessas pr=ticas populares eram os conecimentos tradicionais, vividos nocotidiano, Qouve, no perodo, uma signi;cativa retomada de pr=ticas

    consideradas em extin8o pela ciDncia, tornando!se dicil organizar ummapeamento preciso do processo de surgimento e multiplica8o de pr=ticasde cura. -ontudo, a ri@ueza do material documental > um orte indcio de@ue essas pr=ticas serviram como elemento aglutinador&ordenador da vidana Replica para os menos avorecidos pela civiliza8o na uc?lica cidadede +orto Alegre7 Fp. 'PGH

    ! 6/ )E 5L RE(+ET/ A( KMTA2ZE( MET/5/K4"-A(: 7/scondicionantes e limites do istoriador @ue traala sempre com vis9essore vis9es,

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    ! RE-/RTE TEM+/RAK E E(+A-AK 5/ E(T)5/ 5A A)T/RA: 7/ perodoestudado circunscreve !se entre #$$% e #%'$, marcado, no Rio "rande do(ul, pela presen8a do +RR ! +artido Repulicano Rio!"randense ! no governoestadual, com uma mesma perspectiva orientando as polticas de sade,@ue se modi;caram ap?s "etlio Oargas assumir o poder. +rocuramos

    tam>m um aordagem @ue levasse em conta todo o Estado, masprivilegiou ! se a capital, a ;m de poder circunscrever os estudos,destacando ! se a principal institui8o de sade da cidade e, provavelmente,do Estado na >poca, @ue era a (anta -asa de Miseric?rdia de +orto Alegre7Fp. '1GH

    ! */6TE( +E()(A5A( +EKA A)T/RA +ARA -/M+/R E(TE TRABAKQ/: 7Adocumenta8o pes@uisada incluiu processos criminais do -art?rio do ri de+orto Alegre, m oram consideradas as pulica89es de cronistas,memorialistas, m>dicos e memros do governo estadual. /utro con

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    mas participaram com criatividade de rela89es sociais complexas,construindo cotidianamente suas cren8as e alternativas7 Fp. '1!$GH

    -A+[T)K/ : A( +E-)KAR5A5E( 5/( "A\-Q/( p. 0#! $'

    ! 7A excepcionalidade do Rio "rande do (ul no @uadro rasileiro tem sidolongamente a;rmada na iliogra;a, @ue enatiza as dieren8as dosgacos em rela8o aos demais estados. +or isso, valendo!se da expressode Tompson, so discutidas neste captulo as tais peculiaridades dosgacos e os elementos nos @uais elas se ap?iam. As peculiaridadesregionais so constantes em todo o Brasil, mesmo @ue ainda no enocadas,muitas vezes, pelo reducionismo dos modelos te?ricos adotados, @ue nopermitiram perceer nuances ist?ricas importantes para a constitui8o dasociedade rasileira. A ist?ria do Brasil poderia ser rica em

    excepcionalidades, se osse possvel aandonar os modelos contra os @uaisas provncias so antagVnicas, oi necess=rio um certo cuidado paraentender as dierentes propostas ;liadas a essa corrente, o modo como aperspectiva positivista oi adotada por intelectuais gacos e os elementosdestacados nos anos em @ue estiveram no governo7 Fp. 0'GH

    ! 7A seguir, procuramos explicitar como oram entendidas @uest9es relativas sade, a partir da discusso proposta pelo Apostolado +ositivista @uanto lierdade pro;ssional e religiosa. Mesmo @ue nem todos os memros dopartido adotassem irrestritamente esses princpios, eles oram norteadores

    da poltica no Estado. = @ue condenavam como desp?tica a interven8o dosm>dicos nos assuntos @ue consideravam, acima de tudo, deciso individual,as medidas adotadas para evitar a propaga8o de doen8as oram restritas7Fp. 0'GH

    ! 7/ governo gaco deendia @ue cada indivduo deveria ser educado nosprincpios da ciDncia para, ento, decidir o @ue adotar @uanto sua sade.6essa perspectiva, mantina ! se a deesa da lierdade pro;ssional,especialmente @uanto medicina, @ue, cadas da Replica7 Fp. 0'GH

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    ! 76a pr=tica, as medidas adotadas eetivamente oram limitadas pelaspropostas te?ricas. As medidas relativas organiza8o do espa8o e daigiene urana so analisadas na terceira se8o. Elas s? oramimplementadas de orma mais sistem=tica na d>cada de #%', por meio depro ento, atitudes cotidianas de limpeza da cidade7 Fp. 0'GH

    / +/(TO(M/ E / "/OER6/ "A\-Q/

    ! nicialmente, a autora az um panorama acerca da ist?ria do territ?rio sul!rio!grandenseH

    ! 7/ extenso contingente imigrat?rio apresentou uma ampla diversidadecultural, somada presen8a de escravos de dierentes na89es aricanas,

    empregados nas mltiplas atividades, e a um constante intercNmio comespan?is e, mais tarde, argentinos e uruguaios, representando uma grandemultiplicidade na orma8o >tnica. Esse aspecto constitui uma dasparticularidades regionais, emora, certamente, a pluralidade serero e dasrela89es do sico com a moral7 Fp. 00!JGH

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    ! 7F...G / positivismo penetra no Brasil tico,espec;co, no deve se deixar seduzir por um modelo de cienti;cidade @ueno le conv>m. A;rma a suordina8o da Medicina moral, e a extensoda religio ao domnio da sade, azendo do m>dico, assim como dosacerdote, a@uele @ue diz o @ue > preciso azer e o @ue se pode esperar,

    @ue traz a resigna8o em nome de uma ordem superior @uando a a8o nopode modi;c=!la7 Fp. 0PGH

    ! 7Esse undamento te?rico concee sade como armVnica, comoelemento corporal suordinado s leis superiores da sociologia e da moral.+ara @ue a armonia ocorra, > necess=rio a unidade do sico e do moral,assim como do social e do individual. / omem > conceido como ummicrocosmo, onde se concentram e se cominam todas as ordens deenVmenos estudados pelas dierentes ciDncias. A Medicina seria, ento, umsaer sint>tico, @ue deve levar em conta todo o indivduo. 5eve completar a

    ciDncia sint>tica do omem, ara8ando os atores intelectuais, aetivos esociais @ue entram em tica da doen8a, @ueundamenta a introdu8o sistem=tica do ponto de vista social da Medicina, >a teoria cereral Fdoutrina da armonia vital ou da inXuDncia do c>rerosore o corpoG. / c>rero seria o centro da unidade do indivduo consigomesmo e com a sociedade. ]A doen8a resulta sempre de uma altera8o daunidade], no omem, soretudo o civilizado, ela ]deve ser aitualmenteatriuda ao centro cereral]. Q= o c>rero entre a umanidade e o corpo,sem deixar de levar em conta o mundo7 Fp. 01GH

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    ! 7Esse contexto permite entender uma s>rie de proposi89es de -omte: aproscri8o dos ospitais, por@ue acarretariam a segrega8o e adesindividualiza8o, o @ue s? poderia contrariar o restaelecimento dasrela89es armoniosas entre o indivduo e a sociedade, em como areconstitui8o da pr?pria unidade espiritualH a condena8o das disseca89es

    umanas e das vivissec89es, al>m da desvaloriza8o da cirurgia, associadaa carrascos, a construtores de instrumentos e mecNnicaH o papel m>dicoeminentemente atriudo s muleres, por@ue seria pela parte aetiva doc>rero @ue se daria a unidade entre o sico e o moral, em como entre osocial e o individual, pois a aetividade teria papel preponderante para aunidade7 Fp. 01GH

    ! 7Essa perspectiva encerrava uma severa crtica aos m>dicos, @ue exerciamprivadamente uma un8o @ue deveria ser plica, com uma prepara8oirracional @ue os predispuna ao materialismo. +ara -omte, a mis>ria da

    Medicina estava em negligenciar uma s?lida orma8o sociol?gica, mat>riapriorit=ria para o domnio das ciDncias cererais, mentais e morais,deixando de suordinar!se ao conecimento tido como o nicocomprovadamente oculo 33, incluiu certamente o Rio "rande do (ul. Elas se evidenciavampelo crescimento populacional, avorecido pela poltica imigrat?ria dealemes e italianosH do crescimento da produ8o vinculada a essaimigra8oH do escoamento do excedenteH da di;culdade de manuten8o da

    produ8o de car@ue e da estrat>gia da aoli8o com cl=usula de presta8ode servi8os7 Fp. JGH

    ! 7A situa8o de organiza8o da Replica no Rio "rande do (ul oi peculiarem rela8o aos demais partidos repulicanos estaduais por no congregar aelite agr=ria da regio, @ue se encontrava pr?xima monar@uia, compondoo +artido Kieral. A Replica enrentou uma oposi8o organizada noperodo de #$%C a #$%1, com uma violenta guerra civil, da @ual saiuvitoriosa. / +RR oi em sucedido, nacionalmente, devido articula8o deseus memros em apresentarem!se como a nica alternativa repulicana do

    Estado, identi;cando os grupos oposicionistas com tentativas derestaura8o mon=r@uica7 Fp. J!#GH

    / +/(TO(M/, (A\5E E KBER5A5E +R/*((/6AK

    ! 7)ma das ]teses sociais suordinada a esse princpio era a de ]zelar pelascondi89es materiais exigidas pela sade plica e pela assistDnciavolunt=ria, mas sem nunca erir a lierdade individual, de consciDncia]. Erauma a;rma8o geral @ue no exigiria de;ni89es espec;cas ou pontuais

    sore as pr=ticas governamentais a respeito da sade. sso explicaria o por@uD da escassez de reerDncias encontradas na documenta8o o;cial sore

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    a tem=tica, deingerDncia dos indivduos7 Fp. J'GH

    ! 7Assim como a lierdade religiosa, a @uesto da lierdade pro;ssional oium dogma mantido por Borges de Medeiros ao longo de todo o perodo em

    @ue governou. Enatizava @ue a un8o do positivismo era generalizar aciDncia, sistematizando a ordem social, ruto da educa8o, @ue devia tercomo princpio undamental a supremacia da moral sore a ciDncia, dosentimento sore a razo. 6o caeria ao Estado nenuma ingerDncia soreo exerccio de @uais@uer pro;ss9es, @ue seriam reguladas pelas decis9es dapopula8o, esclarecida pela ciDncia. A manuten8o desse princpio oigarantida ao longo de todos os governos positivistas do Rio "rande do (ul7Fp. J0GH

    ! 7F...G Emora no osse clara a orienta8o ederal,

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    municipalidades, exceto nas capitais, onde o governo estadual exerceria asuperintendDncia e s? poderia intervir em >pocas anormais7 Fp. JJ!CGH

    ! 7/ Rio "rande do (ul era considerado o caso mais grave, pois no tinainorma89es sore igiene plica, por@ue os estados no podiam ornecD!

    las, nem servi8os @ue pudessem socorrer popula8o, rio. A Replica no modi;cou o prolema,apesar do discurso. A situa8o de propaga8o de epidemias, a alta deservi8os de atendimento popula8o, a precariedade dos recursos e anecessidade de veras especiais em situa89es de emergDncia eram asmesmas di;culdades @ue percorreram o s>culo 33, repulicano ou imperial,inclusive adentrando o s>culo 33. A nova administra8o repulicana noalterou o @uadro de di;culdades por @ue passava a situa8o da sade, pelomenos nas =reas ora do eixo administrativo do +as, mas tam>m nocegou a agravar um @uadro @ue dicos,

    cada um com suas teorias e sua pr=tica. /s m>dicos no esitavam emacusar de carlatanismo ou ignorNncia tudo o @ue se aastasse do seumodo de ver, por exemplo, a separa8o entre alopatas e omeopatas,amos o;cialmente autorizados a curar7 Fp. J1GH

    ! 7/ Estado no poderia intererir na consciDncia, no poderia criaremara8os a @ual@uer classe, e os m>dicos deveriam ser reduzidos inXuDncia espiritual sore os indivduos. uanto @uesto da sade, aproposta dos memros do Apostolado permitia a ado8o de diversaspr=ticas, de acordo com a consciDncia da popula8o, a ser orientada nosprincpios da ciDncia, mas sem ser or8ada a adotar essas pr=ticas caso noestivesse devidamente esclarecida7 Fp. J1GH

    ! 7+ara eles, a arte de curar exigiria a mais completa lierdade. Todo m>dicodigno deveria esor8ar!se por ocupar a con;an8a dos doentes pelaautoridade de sua palavra, pela sua conduta e pelo seu devotamento7 Fp.J1GH

    ! 7A;rmavam ainda @ue as sociedades modernas soreriam do Xagelo domedicalismo: a explora8o da sociedade por meio da Medicina. Esse Xageloseria caracterizado pela imposi8o de pr=ticas, como o isolamento dos

    doentesH pela imposi8o dos m>dicos do Estado em caso de doen8aH peladesinec8o, @ue atacaria a propriedade aleiaH pela vacina8o, @ue

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    penetraria nos organismos e les introduziriam inec89es @ue dico @ue or de sua inteira con;an8a espiritual emoral7 Fp. J$GH

    ! 7A discusso realizada pelos m>dicos inXuenciados pelo positivismo >astante ampla, incluindo @uest9es t>cnicas sore a vacina8o e suaorigatoriedade, o uso de animais para a produ8o de vacinas, a igiene, olivre culto aos mortos, a expulso de corti8os, o isolamento domiciliar,exames, etc7 Fp. J$GH

    ! 7A resistDncia da popula8o derruada dos corti8os e a revolta no Rio deaneiro contra a vacina8o origat?ria, em #%J, oram parte das @uest9esnas @uais os positivistas ortodoxos procuraram intervir teoricamente, masnem sempre ouve concordNncia com as medidas adotadas pelospositivistas @ue no eram memros do Apostolado. *iguras como Kauro(odr> e Barosa Kima Fdois militares positivistas @ue participaramativamente no epis?dio da revolta de #%J, tentando garantir a lideran8a domovimentoG oram criticadas pelos memros do Apostolado7 Fp. J$GH

    ! 7/s argumentos utilizados pelos @ue eram contra a origatoriedade davacina diziam @ue eram medidas vexat?rias e incVmodas, uma amea8a lierdade individual e santidade do lar, e @ue a sua e;c=cia para apreven8o da doen8a no estava comprovada. A vacina era consideradaum produto m?rido, extrado de uma vaca aetada pela mol>stia, e os

    doutores no saiam esclarecer sore o car=ter do vrus da vacina nemsore o mecanismo da imuniza8o7 Fp. J$GH

    ! 76as atitudes di=rias, os diretores @ue assumiram a nspetoria de Qigieneno oram to categ?ricos @uanto ado8o das medidas a respeito daMedicina apregoadas pelos positivistas. A lierdade pro;ssional oi um dospoucos princpios levados a eeito, dicos no Estado7 Fp. J%GH

    ! 7+ara exercer a Medicina, assim como para exercer a ]arm=cia, drogaria,ostetrcia e arte dent=ria], o Regulamento dos (ervi8os de Qigiene do Rio"rande do (ul, de #$%C, estaelecia @ue os interessados deviam inscrever!se em registro existente na 5iretoria de Qigiene. /s diplomados emaculdade nacional ou estrangeira tam>m re@ueriam o mesmo registro.5everiam ser multados os @ue exercessem as atividades sem o registro na5iretoria, da mesma orma @ue os registrados @ue cometessem erro deocio. Essa ;scaliza8o era tida como letra morta, por@ue o cargo dedelegado de igiene era onor=rio, exercendo!o, sem remunera8o, algumm>dico aei8oado ao partido governamental. Apenas um caso de multa por

    erro de ocio oi aplicada em (anta Maria7 Fp. J%GH

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    ! 7Todos os autores @ue tratam da tem=tica so unNnimes em a;rmar @ueouve uma avalance de pr=ticos no Rio "rande do (ul nos anossuse@uentes ado8o da -onstitui8o. +rimeiro, tinam regularizado suasitua8o os pr=ticos stias endDmicas, epidDmicas etransmissveis, condi89es sanit=rias da popula8o e das aita89es

    coletivas. Tam>m compreendem a organiza8o dos socorros de assistDnciaplica em caso de mol>stias contagiosas @ue se podiam tornar epidDmicas,a ;scaliza8o dos traalos de utilidade plica Fdistriui8o de =guas,cemit>rios, remo8o de imundcies e outras oras de sade plicaG e aorganiza8o da estatstica dem?grao!sanit=ria7 Fp. CGH

    ! 7/ Regulamento para o (ervi8o de Qigiene inclui, ainda, o saneamento daslocalidades e aita89es, a ;scaliza8o do exerccio da Medicina e da*arm=cia e a superintendDncia do servi8o de vacina8o. Q= a exigDncia de@ue a administra8o da igiene plica, incumDncias de um diretor, um

    adicos. nclui umcaptulo espec;co normatizando o exerccio da Medicina, *arm=cia,

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    drogaria, /stetrcia e arte dent=ria, com 'J artigos, estaelecendo oscasos de inra8o e as puni89es. Tam>m = um captulo sore asresponsailidades da polcia sanit=ria, @ue devia tratar das condi89es no s?das aita89es residenciais e comerciais, como tam>m dos alimentos,limpeza dos terrenos, desinec89es, situa8o de =ricas, maternidades e

    casas de sade, estipulando os procedimentos ade@uados nessasinstitui89es, especialmente em caso de doen8as transmissveis7 Fp. C!#GH

    ! 7/ Regulamento de #$%C oi assinado por lio de -astilos e oo Aott,m>dico repulicano @ue, na@uele momento, ainda participava daperspectiva castilista. / regulamento expressava a preocupa8o com asaluridade das =reas uranas, com a89es sanit=rias @ue visavam a vigiar econtrolar o meio externo para garantir a sua igiene, por meio deinstrumentos coercitivos, como polcia e campanas7 Fp. C#GH

    ! 7A maior parte das discuss9es do perodo reeria!se igiene plica.6essa viso, o indivduo seria um componente do meio externo @ue estariaavorecendo a propaga8o dos agentes causadores das doen8as. As a89essanit=rias visavam a livrar os indivduos saud=veis do contato com osdoentes e livrar os doentes dos agentes causadores Fo meio de cultura domicroorganismoG. /s grupos !alvo eram constitudos pelos indivduosportadores de alguma mol>stia transmissvel ou mais vulner=veis a elas,como a popula8o pore, moradora de lugares insalures. Essa era aperspectiva norteadora da organiza8o de polticas governamentais emv=rios lugares, com dierentes con;gura89es e intensidades de acordo comcada situa8o, avendo perspectivas dierenciadas na nglaterra e na

    *ran8a, por exemplo, assim como no Rio de aneiro, (o +aulo e +ortoAlegre7 Fp. C#GH

    ! 7-omo em v=rias outras regi9es, avia um consenso de @ue a redu8o daocorrDncia de mol>stias transmissveis dependia da realiza8o de orasuranas, como drenagem do solo, estaelecimento de uma rede de =guapot=vel e aundante e de uma rede de esgoto, o @ue diminuiria a incidDnciade ere ti?ide, c?lera, pertura89es gastrointestinais e at> da mortalidadeinantil. +ara outras mol>stias, como sarampo, co@ueluce, escarlatina etuerculose, a pro;laxia recomendada era o isolamento e as desinec89es.

    6esse contexto, as regulamenta89es adotadas e as a89es executadasvisavam a sanear o meio amiente para restaelecer a sade daspopula89es7 Fp. C'GH

    ! 7Em #$%', oi criado um servi8o sanit=rio do Estado, compreendendo todosos servi8os de sade plica, com exce8o do saneamento. Esse pro praticamente idDntico ao adotado no Rio"rande do (ul, em #$%C. Em (o +aulo, ouve altera89es em #$%0, #$%P,#%P, #%##, #%#1 e #%'C. As primeiras reormas, com as atriui89es dosmunicpios, consolidariam a aplica8o das medidas de saneamento do meioamiente, perspectiva orientadora de toda organiza8o de sade no inciodo s>culo 337 F+. C'GH

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    ! 76a pr=tica, as medidas adotadas, no Rio "rande do (ul, ostias contagiosas em lazaretos, especialmenteconstrudos, ou em arcosH desinectar os lugares @ue tivessem sidore@uentados por doentes e evitar o acmulo de lixo. Acreditamos tam>m@ue deve ter avido uma tentativa dos m>dicos de se azerem presentes

    como grupo com maior autoridade para a aplica8o das medidas sanit=rias,com a exigDncia da ailidade cient;ca para ocupa8o dos principaiscargos da 5iretoria de Qigiene7 Fp. C'GH

    ! 7Assim, nos primeiros anos da Replica, a orienta8o de sade plicaparece ter sido semelante nas v=rias regi9es do +as, inclusive no Rio"rande do (ul. 6este caso, no entanto, as dieren8as oram implantando!sede orma mais sistem=tica ap?s a consolida8o do +RR no Estado, com aorganiza8o de um novo regulamento, @ue excluiu a maior parte daspreocupa89es de #$%C7 Fp. C'GH

    ! 7Em #%1, oi aprovado um novo Regulamento da 5iretoria de Qigiene doEstado @ue apenas a;rmava a lierdade do exerccio da Medicina, em@ual@uer dos seus ramos, e da *arm=cia, competindo ao (ervi8o de Qigienedo Estado investigar e denunciar ao Minist>rio +lico os ausos cometidosno exerccio, especialmente os crimes previstos no -?digo +enal, artigos#C$, par=grao nico, #C% e #P7 Fp. C'GH

    ! 7Qouve altera8o sore a incumDncia da polcia sanit=ria @ue, em #$%C,era respons=vel por tudo o @ue pudesse inXuir na saluridade daspovoa89es, passando apenas a ser respons=vel pelos casos de doen8as

    provocadas por epizootias ou casos @ue pudessem ad@uirir car=tersemelante, de acordo com um decreto espec;co de #%, @ue trata dedoen8as de animais7 Fp. C'GH

    ! 7/ Regulamento de #%1 apresentou maior ade@ua8o perspectivapositivista adotada no Rio "rande do (ul, @ue entendia no ser atriui8o doEstado regulamentar a Medicina, as casas de cura e as pr=ticas de sade eintererir nas aita89es e nas decis9es particulares sore o uso ou no davacina. -aeria aos indivduos, de acordo com suas cren8as, tomar asdecis9es @ue les parecessem ade@uadas. / Estado no poderia intervir emassuntos privados, apenas em casos extremos de doen8as contagiosas. 6apr=tica, continuava!se isolando doentes, desinetando lugares contaminadose evitando o acmulo de lixo. As medidas de responsailidade do Estadoreeriam ! se ao tratamento da =gua, esgoto, lixo, etc., adotadas de acordocom as possiilidades or8ament=rias7 Fp. C0GH

    ! 76a viso de -arlos Barosa "on8alves, presidente do Estado, cidadescomo +orto Alegre, Rio "rande e +elotas, onde se maniestavam varola epeste uVnica, possuam magn;cas condi89es de clima ]com @ue oramrindadas pela natureza], sendo @ue as ]epidemias extinguiam ! se aoentrar] e, com os traalos de engenaria sanit=ria, ;cariam ainda menos

    acessveis aos ata@ues de epidemias. Essas medidas de engenaria, empro

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    ser transormadas em amplas art>rias, as @uais, ]acilitando o trNnsito,permitam ao mesmo tempo circula8o =cil do ar, o saneador porexcelDncia]7 Fp. C0GH

    ! 7A viso de um m>dico, @ue assumiu a presidDncia do Estado em nome da

    perspectiva positivista, indica @ue no avia um consenso sore medidasde;nidas a adotar em rela8o sade. Qouve, por>m, o predominio de umaviso aseada na igiene plica, preocupada com o saneamento do espa8ourano para evitar a propaga8o das doen8as. (eu discurso parece indicarainda uma inXuDncia de teoria miasm=tica, pois o positivismo no tina umaviso o;cial, clara e unvoca no @ue se reere s teorias cient;cas soresade e doen8a, mantendo apenas os princpios gerais de no!interven8onos assuntos considerados particulares, como as cren8as individuais7 Fp.C0GH

    ! 7Mesmo em centros maiores, como (o +aulo, no ouve umatransorma8o marcante e autom=tica nas percep89es sore a propaga8odas doen8as com a teoria pasteuriana dos micr?ios. Maria Alice Rieiroa;rma @ue avia uma polaridade ! miasma e microio ! na estrutura dosservi8os de sade de (o +aulo, na d>cada de #$%, caracterizando omomento de transi8o em @ue a vela concep8o no oi de todoaandonada e a nova no oi de todo aceita. Representativamente, o(ervi8o "eral de 5esinec8o ligava!se concep8o miasm=tica, e onstituto Bacteriol?gico, microiana. 5a mesma orma, m>dicos e outrosrespons=veis por servi8os de sade agregavam teorias dierenciadas sorea transmisso de doen8as7 Fp. C0!JGH

    ! 7)ma mat>ria pulicada num

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    ! 7A concesso de isen8o de pagamento de impostos ou veras paraentidades vinculadas sade oram restritas e condicionadas ao or8amentogovernamental, de acordo com a perspectiva de @ue o governo no deviaintererir nessas institui89es. *oram atendidos pedidos de isen8o deimpostos da d>cima urana e de constru8o para institui89es como

    *aculdade de Medicina, (anta -asa, nstituto /s^aldo -ruz de +orto Alegre,Escola M>dica -irrgica, -entro Bene;cente Esprita Allan _ardec, (ociedade5ias -ruz, Qospital Alemo, entre outras. Tam>m oram cedidas verasmunicipais e estaduais para as institui89es vinculadas sade e aoatendimento popula8om como a (anta -asa de +orto Alegre, com amaior vera, Bene;cDncia +orto ! Alegrense, entre outras, mas sempre empe@uena @uantidade7 Fp. CJGH

    ! 7/s esgotos s? come8aram a uncionar, em #%#0, iniciando a campana deextin8o das ossas e dos cuos sanit=rios, @ue continuaram at> #%017 Fp.

    CCGH! 76a viso do governo gaco sore a sade, as considera89es sore umaadministra8o sem dvidas e o atraso na ado8o de medidas saneadorascompunam!se com a ideia de @ue @ual@uer interven8o poderia erir alierdade individual e de consciDncia. Entretanto, o crescimentopopulacional na regio no assumiu os contornos dos maiores centros do+as, especialmente +orto Alegre, @ue soreu um crescimento econVmicoproporcionalmente menor e ora da =rea central atingida pelos capitaisoriundos do ca>. Esses atores levaram ado8o de medidas sanit=rias eigiDnicas proporcionais situa8o local. Apesar do exagero de suas

    crticas, Wenceslau Escoar no propuna nada de novo para ser executado,indicando @ue esse era o contexto sore as medidas conceveis a respeitoda ]sade plica] no incio do s>culo, especialmente num centro uranoora do circuito de civiliza8o. / m=ximo a ser considerado eram asaltera89es uranas, @ue s? ocorreram na capital do Rio "rande do (ul nad>cada de #%'7 Fp. CPGH

    ! 76a perspectiva positivista geral sore a organiza8o de um servi8o deAssistDncia +lica, circunscrita ao ide=rio @ue norteou o governo e deresponsailidade das administra89es municipais, @ue

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    m>dicos e o ornecimento gratuito de medicamentos. sso como um ]ensaio]para ]adicos e otica e, por isso, em di;culdade para entrarem em @ual@uerinstitui8o de caridade]. -onsiderava muito oneroso o internamento em umainstitui8o, devendo ser acilitado o atendimento m>dico do paciente, por

    uma consulta, com posterior tratamento em casa, so a assistDncia dealgu>m @ue pudesse cuidar do doente e ministrar!le os medicamentos.Esse sistema > a pr=tica atual, mas na d>cada de #$% era usual ointernamento, @uando possvel, ou a morte sem assistDncia7 Fp. C1GH

    ! 7Essa preocupa8o somava!se s reclama89es sore os prolemas doatendimento veiculados nos dicos gratuitos aos poresH registros de nascimento,

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    ?itos e casamentos gratuitosH ;scaliza8o severa sore os gDneros deconsumo, de modo @ue o povo no osse iludido nem na @ualidade nem nopesoH ;scaliza8o para @ue a sade plica no ;casse a perigoH respeito lierdade dos cidados para @ue as autoridades no ausassem da lei.Especialmente como medidas urgentes, pediam @ue o -onselo Municipal

    ornecesse ao plico dois m>dicos gratuitos e ;zesse um contrato comuma arm=cia para ornecer rem>dios aos pores, cuidando osespeculadores @ue no satisazem as condi89es exigidas7 Fp. C$GH

    7A necessidade da ado8o de medidas para o saneamento urano tam>mera uma reclama8o comum dos ?rgos de imprensa de dierentes posturas.As denncias permitem tra8ar um per;l mais claro da situa8o da sade, nacidade, @ue o servi8o de AssistDncia +lica tina de atender. Esse @uadroera reor8ado por reclama89es constantes em todos os ssimas condi89es e do descaso dos enterros dospores7 Fp. C$GH

    7F...G 6o avia a ideia de primeiros socorros, mas de recolimento, para@ue os necessitados no ;cassem na rua, nem uma clara un8o m>dica,pois, inicialmente, os m>dicos s? seriam camados se osse preciso.

    Tratava!se, essencialmente, de uma atividade de assistDncia plica7 Fp.C%GH

    ((/ 6/ (S-)K/ 33: 76os primeiros anos da AssistDncia, os pr?prios

    relat?rios a;rmavam @ue o servi8o de consultas no posto no tina grandemovimento, ento, deve ter levado algumtempo para as pessoas o reconecerem como acessvel e con;=vel7 Fp. C%G.

    (/KAME6T/ E 5E(6*E-2/: A( AB/R5A"E6( 5A( 5/E62A(

    7/s memros do Apostolado +ositivista realizaram uma intensa divulga8odos seus princpios contra o @ue acusavam como ]despotismo e terrorismo

    sanit=rio] no ;nal do s>culo 33 e incio do 33. )m dos principais pontos dediscordNncia era o ]monop?lio da Medicina], mantido pelos adeptos an=ticosda ]medicocracia], seguido da origatoriedade da vacina, da noti;ca8oorigat?ria dos casos de pacientes com doen8as inectocontagiosas, doisolamento dos pacientes, da desinec8o das casas e da viola8o doscorpos, @uando avia suspeita ou diagn?stico de mol>stias contagiosas7 Fp.PGH

    7)m epis?dio envolvendo um memro do Apostolado indica essadivergDncia. oo Kuiz de *aria (antos, cee da se8o de (ecretaria de/ras +licas, teve os seus amiliares atacados de varola. / +residente doEstado pediu @ue o (r. *aria (antos permitisse as medidas regulamentaresaplic=veis ao caso, @ue era o exame do doente por um m>dico da Qigiene,

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    para veri;car o diagn?stico do m>dico particular @ue os assistia, adesinec8o do pr>dio e o isolamento do enermo na pr?pria casa com aamlia ou num lazareto. *aria (antos expressou sua discordNncia @uanto execu8o das medidas, inclusive a vacina8o de seus ;los, @ue dico @ue tratava a amlia. Borges apelou, por interm>dio

    desse m>dico, para a ]amizade] @ue tina com ele, para @ue no di;cultassea a8o da 5iretoria de Qigiene, por@ue seria desagrad=vel ao +residente doEstado ]o ter de compelir como autoridade a oedecer os seusregulamentos]. *aria (antos acaou sumetendo !se, a contragosto, emoraseguisse ;elmente as propostas do Apostolado7 Fp. P#!'GH

    7/ epis?dio deixa clara a ado8o de medidas dierentes das apregoadaspelo Apostolado, inclusive origando um memro do partido a sumeter!sea pr=ticas contr=rias aos seus ideais. / pr?prio governo estadual e seu sta`no seguiam rigorosamente os cNnons terapDuticos positivistas, apesar

    disso ter eetivamente ocorrido no @ue se reere lierdade pro;ssional,deendida como princpio geral7 Fp. P'GH

    7Algumas medidas aparentam ter sido consensuais para os governosestaduais em todo o +as, no incio do s>culo, @uando ocorriam amea8as deepidemias: a origatoriedade da noti;ca8o dos ?rgos plicos a respeitodo surgimento de casos de alguma das doen8as, o isolamento do doente e adesinec8o das casas com suspeita ou diagn?stico de mol>stiascontagiosas. provavelmente, a pouca inorma8o sore a propaga8o dasepidemias azia com @ue ossem mantidos os nicos procedimentosconecidos, m as crticas atua8o da 5iretoria ! "eral de (ade+lica. 6o Rio "rande do (ul, crticos a;rmavam @ue deveriam ter sidotomadas medidas para evitar a dissemina8o,

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    @ue era o nspetor de Qigiene do Estado, visando a retirar os doentes dosospitais comuns e a coloc=!los em estaelecimentos especiais, construdospara esse ;m. A medida era considerada urgente, pois avia contamina8onos pr?prios ospitais, onde os pacientes iam curar!se de outras doen8as,conorme atestavam os m>dicos das enermarias da (anta -asa de

    Miseric?rdia de +orto Alegre. Al>m disso, a atmosera dos ospitais eraconsiderada perniciosa para os tuerculosos, @ue precisavam de ar livre epuro. / administrador da provedoria interna, os> +edro Alves, em #$%,pretendia construir um pavilo de tuerculosos, mas nada oi levado acao7 Fp. PC!PGH

    7F..G )m dos pontos destacados nos estudos eugenistas era a importNnciadas escolas como centros irradiadores de pr=ticas igiDnicas moralizadorase disciplinares. As escolas seriam locais de adestramento, por meio de umprodico!pedag?gico de igieniza8o do social, inclusive atingindo a

    educa8o sexual7 Fp. P$GH7Ap?s "etlio Oargas assumir o governo do Rio "rande do (ul, modi;caram!se as ases da organiza8o da sade. Qavia a proposta de um convDnioEstado&municpios, onde o Estado realizaria a ;scaliza8o de todo o servi8osanit=rio en@uanto os municpios destinariam parte da sua receita para seraplicada no servi8o sanit=rio. / Estado organizaria um programa de sadeplica engloando todos os servi8os, ampliando a atua8o da 5iretoria daQigiene7 Fp. 1GH

    7F..G untamente com a manuten8o do princpio da lierdade pro;ssional,

    esse contexto permitiu uma ampla presen8a de pr=ticas de curadierenciadas, destacando o Rio "rande do (ul como peculiar no Nmito daspr=ticas e concep89es m>dicas adotadas na maior parte do +as nasprimeiras d>cadas repulicanas. -onrie de amiguidades no @ue se reere a essas pr=ticas econcep89es m>dicas, diras cient;cas, analisadas no pr?ximo captulo7 Fp.1#GH

    -A+[T)K/ ': ME5-6A E -U6-A: A( AMB")5A5E( 6/ R/ "RA65E 5/

    ()K

    ! 7+rot=sio Alves e /linto de /liveira, dois personagens @ue, a despeito desuas dieren8as, oram incorporados muito cedo ao pant>on da Medicinalocal com uma imagem paradoxalmente pr?xima: amos m>dicosexemplares, trouxeram avan8os nas t>cnicas m>dicas e nos e@uipamentoscirrgicos, apresentaram atitudes precursoras d civiliza8o, tiveram umainser8o social exemplar como pais de amlia, m>dicos, polticos ou cultoresdas artes, apresentavam @ualidades umanas como ]cortesia permanente,grande delicadeza da alma, personalidade encantadora, anega8o edesprendimento]. Todas essas @ualidades permitiram a cria8o de

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    institui89es, onde o saer m>dico se constituiu Fcomo a *aculdade deMedicinaG, e a manuten8o de ospitais de caridade, onde atuavamgratuitamente Fcomo a (anta -asa de Miseric?rdiaG. 6o > dicil perceer osentido da opera8o realizada pelos i?graos e construtores da mem?ria daMedicina: as dieren8as oram reduzidas a p?, e os dois m>dicos aparecem

    para a posteridade @uase como se ossem o mesmo7 Fp. $0!JGH

    ! A) A A)T/RA M/(TRA /( /BETO/( E /( TEMA( 5E(TE -A+[T)K/:7Esse exemplo > capaz de sintetizar os o o de @ue, racionados por desaven8as polticas e ;los?;cas em tornodo positivismo, de op89es religiosas ou de procedimentos t>cnicos, osm>dicos gacos alcan8aram tardiamente uma coeso aseada no comate

    ao princpio da lierdade pro;ssional, dierentemente do @ue ocorreu emoutras cidades rasileiras7 Fp. $JGH

    ! A) A A)T/RA M/(TRA -/M/ E(TE -A+[T)K/ E(T E(TR)T)RA5/: 7/argumento ser= desenvolvido neste captulo em @uatro momentos: primeiro,acompanando a experiDncia de m>dicos distantes das certezas e daaparente seguran8a de odicos experimentavam odicas:perme=veis sua pr?pria orma8o cat?lica e vulner=veis a8o da gredicos evidenciavam suas di;culdades em dissociar ciDncia e >,terapDutica e caridade7 Fp. $JGH

    ! 7/ terceiro momento do captulo tratar= do signi;cado e do impacto dosurgimento de um campo pr?prio e exclusivo do saer: A *aculdade deMedicina, a partir da @ual os doutores gacos puderam iniciar sua guerrade trinceiras pela a;rma8o da ciDncia em ace da > e da poltica,enrentando o positivismo do partido, @ue representou o poder no Estadoem todo o perodo inicial da Replica. Tal perspectiva, no entanto, comoveremos, no cresceu e se consolidou sem conXitos e dilemas entrem>dicos, positivistas e m>dicos ! positivistas7 Fp. $JGH

    ! 7*inalmente, a ltima parte estar= dedicada a explorar a constitui8o deuma identidade pro;ssional entre os m>dicos gacos, procurandoconsenso por detr=s das dieren8as. A constru8o dessa identidade emtorno da ciDncia passou pela luta contra um inimigo em visvel e dicil de

    derrotar: os camados curandeiros, de toda esp>cie, @ue disputavam comos doutores, em posi8o vanta

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    animou as intensas atalas contra o princpio positivista da lierdadepro;ssional vigente na -onstitui8o gaca. Mas a guerra, ao @ue parece, s?pVde ser gana em outro campo: a con@uista da e;ciDncia terapDutica e aconstru8o de um sistema amplo de sade plica oram as armas @ueconsolidaram, tardiamente, em pleno s>culo 33, o poder e o prestgio da

    corpora8o m>dica no Rio "rande do (ul7 Fp. $J!CGH

    5A /B(EROA2/ 5/( (6T/MA( A/( E3AME( 5E KAB/RAT4R/

    ! 7A medicina, em #%, cnicas amplamente

    diundidas para todos os pro;ssionais, e assim autorizada pelo seu dicurso,excluindo outras possiilidades de conecimento na =rea da cura, oiconsiderada uma atividade @ue enunciaria a verdade a respeito douncionamento do corpo, do modo como as doen8as atingem o omem e damelor terapDutica para o seu tratamento. Esse conecimento teria sidoad@uirido pelo m>todo experimental, aplicado ao estudo do seu o considerada evidente por esses autores, no avendo

    necessidade de explica89es sore como isso ocorreu. -ontudo, o processode transorma89es do saer m>dico, na segunda metade do s>culo 33, oilongo e conXituoso. Muitos m>dicos uscavam solu89es, por>m, nonecessariamente cient;cas e e;cientes: eram alguns dos caminospossveis no contexto do ;nal do s>culo 337 Fp. $CGH

    ! 7A implanta8o de novos saeres e t>cnicas m>dicas no oi aceitaunanimemente nem nos centros onde estavam sendo produzidos. F...G At> oincio do s>culo 33, ainda eram descoertas @ue precisavam convencer osm>dicos apegados tradi8o e @ue lutavam, erozmente, contra os novosprincpios, parecendo contrariar o @ue a Medicina saia e usava at> ento.

    6a *ran8a, o estudo de ac@ues K>onard sore a medicina, no s>culo 33,indica as di;culdades @ue existiram para a diuso dos conecimentosnovos e sua ado8o pelos pr=ticos. +or isso, ele considera um mitocaricatural a ideia de uma Medicina omogDnea, @ue se apresentava comoum instrumento de normaliza8o policial ou como uma panac>iaprogressista: a coerDncia m>dica, no s>culo 33, > um engodo, por@ue noleva em conta a variedade dos contrastes @ue a Medicina apresentou eainda apresenta, como a;rma -ecil ". Qelman7 Fp. $C!PGH

    ! 76o incio do s>culo 33, consolidaram ! se descoertas sore o

    uncionamento de algumas enermidades e a realiza8o de certosdiagn?sticos, utilizando tecnologia de laorat?rio. A identi;ca8o das

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    act>rias, como agentes causadores de uma s>rie de doen8as e suas ormasde transmisso, ampliou o conecimento sore algumas mol>stias,revolucionando, sem dvida, essa =rea. Tais descoertas, por>m, no oramassimiladas automaticamente pelos pro;ssionais da Medicina, masincorporaram !se gradativamente, em geral, de orma muito peculiar para

    cada um dos pr=ticos7 Fp. $PGH

    ! 7A ado8o de medidas de saneamento urano, por parte dasmunicipalidades ao longo da segunda metade do s>culo 33, tina suae;c=cia, pois evitava a proliera8o de certas doen8as, como era o caso dotio ! mesmo @ue no souessem @ual a sua orma de propaga8o. Asautoridades municipais acaavam adotando medidas @ue diminuam aincidDncia de certas epidemias @uando insistiam na limpeza das ruas, nodespecnicas para odiagn?stico das doen8as, como os exames laoratoriais. Mas muitas dessasdoen8as continuavam atacando a popula8o sem @ue os m>dicosconecessem medidas e;cazes para @ue ossem erradicadas. Kentastransorma89es modi;caram a Medicina ao longo do perodo estudado.Essas transorma89es indicam a necessidade de istoricizarmos o est=gio

    da ciDncia m>dica no ;nal do 6ovecentos, pois sua consolida8o ainda notina ocorrido. A verdade dos conecimentos e das terapDuticas propostaspela Medicina da >poca eram relativas @uela situa8o ist?rica. Areprodu8o da ala dos pr?prios m>dicos di;culta @ue perceamos acomplexidade da convivDncia entre pr=ticas de cura dierenciadas,especialmente no Rio "rande do (ul, onde a lierdade pro;ssional permitiaa atua8o de diversas ormas de Medicina. 6essa regio, o saer m>dicono avia con@uistado o status de cura madicos licenciados, sem orma8onas institui89es de ensino o;ciais, mas inclusive para os m>dicos ormadospor essas institui89es. A Medicina letrada e erudita era proundamentemarcada pela diversidade de pr=ticas, no avendo consensos sore o @ueera mais ou menos cient;co. Emora neste captulo estedicos ormados, o termo cient;co, no incio do s>culo33, podia ser usado para @uali;car tanto pr=ticas espritas e&ouomeop=ticas como elaoradas cirurgias7 Fp. $%GH

    ! 7/linto de /liveira apontava dieren8as comuns entre os m>dicos ainda nad>cada de #%'. 5ierentes concep89es de doen8a e cura, no pr?prio campo

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    da medicina cient;ca, davam origem a variados Fe s vezes incongruentesentre siG procedimentos terapDuticos. / 5r. /liveira dios ]mais seguros emaravilosos], mas os eeitos se mostravam nulos ou insigni;cantes,gerando a procura de uma outra medica8o, capaz de demonstrar e;c=cia7Fp. $%GH

    ! 7/ tratamento indicado para um paciente dependia, assim, das cren8as dom>dico ao @ual se entregava. -omo as cren8as eram as mais variadas,inclusive avendo os @ue acreditavam @ue deixar a doen8a seguir seu cursoseria o menos extravagante, tam>m eram variados os procedimentos

    terapDuticos sugeridos. / aparecimento de uma doen8a podia ser imputadoa diversas origens, naturais ou sorenaturais. /s demais pro;ssionaispodiam discutir e discordar desses procedimentos, mas todos eles eramusuais e podiam ser igualmente ine;cazes7 Fp. %GH

    ! 7A Medicina era em mais diversa @ue o

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    ! 7Em meio a estes deates, em um contexto marcado pela incertezacient;ca, pela descon;an8a dos leigos e pelas di;culdades de suaspr=ticas, > @ue os m>dicos tentavam organizar !se como corpora8o,estaelecendo os componentes da sua ciDncia e a >tica @ue os norteariacomo grupo. /s m>dicos aziam tentativas de ase autodisciplinar para

    organizarem ! se como grupo pro;ssional, avendo di;culdades para acoeso de interesses em meio s discuss9es te?ricas e at> pessoais,distantes da concep8o @ue, o amiliar de uma >tica de pro;sso7Fp. %0GH

    ! 76esse contexto de dieren8as, vieram a plico momentos de conXitoexplicito entre os m>dicos, por meio dos dicos. /s encaminamentos desolu8o das divergDncias apontavam tentativas de se autodisciplinar para

    @ue seus assuntos no ossem tratados por pessoas estranas ao meiopro;ssional. +rincipalmente, era undamental evitar @ue as divergDnciasossem a plico7 Fp. %0GH

    ! 7Alguns dos m>dicos procuravam o ?rgo @ue tentava congreg=!los comogrupo pro;ssional e procurava dirimir os conXitos, emitindo pareceres]t>cnicos]. 6em todos os m>dicos do Estado participavam da (ociedade deMedicina, mas ela uncionou como uma tentativa de construir um locus deunidade de interesses e de solu89es de conXitos. "radualmente, naperspectiva dos m>dicos ormados, apenas esse ?rgo deveria serrespons=vel por tratar dos prolemas originados entre os pro;ssionais, e as

    divergDncias no deveriam ser discutidas nos is a consulta, o atendimento m>dico tornava!se muito dicil para asclasses populares, @ue se limitavam a procurar as institui89es de caridade,

    @ue prestavam atendimento gratuito7 Fp. %PGH

    7A ME5-6A 6/ S (4 -U6-A7

    ! 7F...G A un8o do terapeuta era tentar curar, mas com seu poder, limitado,ele devia adico podia tentar aliviar a dorH caso isso no ossepossvel, consolar tam>m era seu dever. /linto de /liveira apresentavaargumentos religiosos como orte componente da pro;sso do m>dico7 Fp.

    %$GH

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    ! 7A religiosidade, principalmente a cat?lica, azia parte da vida da@uelesomens e muleres, ainda no s>culo 33. / ospital @ue congregava osm>dicos em +orto Alegre, e onde eles realizavam suas experiDncias, erauma institui8o cat?lica, mantida com doa89es dos ;>is. A ciDnciacompuna claramente com a grecadas

    antes, ao comentar os avan8os do saer alienista no s>culo 33 oservava: ]A ciDncia contentou!se em estender a mo Teologia, ! com tal seguran8a,@ue a Teologia no soue en;m se devia crer em si ou na outra]. Taloserva8o ainda no perdera totalmente a validade: os m>dicos tam>meram omens crentes, proundamente religiosos. Ainda avia um ortemisticismo nos procedimentos adotados, pois acreditavam na interven8odivina para a solu8o das di;culdades @ue a ciDncia no conseguia resolver7Fp. %$GH

    ! 7/s omens no seguem padr9es ;xos, e as rela89es com @ue

    traalamos so signi;cativamente complexas. A gre umapresen8a @ue no pode ser es@uecida na ist?ria do Brasil, estaelecendorela89es diversi;cadas com a Medicina. Muitos m>dicos mantinamconcep89es cat?licas no seu exerccio pro;ssional, apelando para o consoloe para a caridade como pap>is importantes a serem exercidos pelosm>dicos. Entretanto, em algumas situa89es, realizando o consolo e acaridade nos casos de doen8as, principalmente nas cidades do interior doEstado, como sugere um dos processos pes@uisados em @ue a gredios, @ue os ]ingDnuos e ignorantes] colonosaceitariam convencidos de @ue, com sua aplica8o, o doente meloraria.Acusava, alegando @ue os colonos se@uer conseguiriam pagar o ]impostopessoal] Fdeve ser o dzimoG grem de comprometerem! se emmandar celerar missas em louvor dos santos e dos rem>dios, con;rmandocarlatanismo na promessa de cura religiosa. /s ]m>dicos], @ue pagavampesados impostos para exercer sua pro;sso, no satiseitos com essas]patiarias], pro

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    rem>dios milagrosos]. A legitimidade de @ual@uer ritual dependia da posi8oo;cial @ue ela assumia sore essas pr=ticas. / uso de =gua ou ?leos entostina sido permitido por muito tempo. Mesmo @ue no o osse mais, oexerccio dessas pr=ticas numa regio distante podia ser legitimado pelanecessidade de oerta de possiilidades de adios]eclesi=sticos] como ora89es e rel@uias. +ara eles, no averia uma claradistin8o entre uma perspectiva m>dica e uma perspectiva m=gica nocontexto do s>culo 33, entre o emprego de rem>dios naturais,sorenaturais ou sim?licos. A grecada #%0, no tem paralelo no restante do+as. 6o Rio "rande do (ul, seus princpios e sua pr=tica no permitiramuma organiza8o sanit=ria to undamentada na Medicina e ouve umconstante conXito entre as perspectivas deendidas pelos m>dicos e pelogoverno, especialmente no @ue se reere lierdade pro;ssional7 Fp. #'GH

    ! 7A @uesto sanit=ria oi crucial em (o +aulo e no Rio de aneiro nasegunda metade do s>culo 33, sendo criadas sucessivas institui89es,soretudo, ap?s a +roclama8o da Replica, como instNncias deinterven8o na @uesto da sade. A medicina social do perodo adotou um

    car=ter acentuado de polcia m>dica nessas regi9es, criando um nmerocrescente de ?rgos plicos de controle sanit=rio, conerindo maiorautoridade Medicina, @ue passou a desempenar um papel undamentalna con;gura8o da cidade e na disciplinariza8o da vida urana. 6o Rio de

    aneiro, ouve a preocupa8o de regulamentar e ;scalizar tanto o exerccioda Medicina como o de associa89es religiosas, e os exemplos poderiammultiplicar!se pelo +as aora, mas isso no ocorreu no Rio "rande do (ul7Fp. #'GH

    ! 7As entidades de m>dicos e armacDuticos, undadas em +orto Alegre no;nal do s>culo 33, originaram as institui89es de ensino e eram compostaspor um signi;cativo nmero de indivduos ormados em outras localidadesFprincipalmente no Rio de aneiroG, com a preocupa8o de se organizar em

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    torno de institui89es pro;ssionais. -om uma orma8o @ue se preocupavacom o papel social de sua atividade, tra8o @ue se destacou na atua8o da*aculdade de Medicina do Rio de aneiro ao longo do s>culo 33, os m>dicosgacos investiam na sistematiza8o do seu saer na distin8o e de;ni8ode sua categoria, processo @ue ocorria em v=rias partes do mundo,

    acentuado medida @ue essa ciDncia ad@uiria maior amplitude de atua8o7Fp. #0GH

    ! 7Apesar dessa aceita8o generalizada, a *aculdade de Medicina oi motivode controv>rsias, avendo tenso entre seus memros e di;culdades dosgovernos positivistas em aceitar os encaminamentos das decis9es nainstitui8o, mesmo com a participa8o inicial de memros do partido na suaunda8o7 Fp. #0GH

    ! 7(em dvida, os princpios do positivismo Fcomo a no ! participa8o dogoverno no ensino superior e a no!interven8o do governo sore aspro;ss9esG devem ser levadas em conta para entender os conXitos nointerior da aculdade. 6essa perspectiva, no caia aos ?rgos o;ciaisestaelecer o @ue seria a competDncia dos m>dicos, pois a popula8omoralizada e instruda > @ue devia apreciar tanto a moralidade @uanto acapacidade t>cnica e intelectual desses pro;ssionais7 Fp. #1GH

    ! 7(oma!se a isso a instailidade poltica regional com as elei89es de #%1.lio de -astilos morreu, em outuro de #%0, de cNncer na garganta numaopera8o realizada, em sua residDncia, por +rot=sio Alves ! mais umepis?dio a alimentar a descon;an8a popular @uanto Medicina cient;ca7

    Fp. #1GH

    ! 7F...G )m grupo de dico, ormado pela *aculdade do Rio de aneiroem #$1C, especializado em /talmologia, em +aris, conseguiu mudar aorienta8o @ue o governo, em #%1, avia adotado sore a *aculdade,

    amparando ! a ;nanceiramente e doando,

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    novo pr>dio. Apesar de positivista, -arlos Barosa tratou de resguardar osinteresses dos m>dicos, en@uanto grupo pro;ssional, por meio da*aculdade. A aparente amiguidade das posi89es, pensando especialmentenos m>dicos, indica @ue uma parte deles procurava levar em conta o ide=riomais geral @ue norteava o Estado e atuar politicamente segundo a

    perspectiva do +RR, mas tam>m procurava a;mar o signi;cado de suacategoria pro;ssional, traegando continuamente na corda ama7 Fp. ##'!0GH

    ! 7-ertamente os m>dicos positivistas ormados no deendiamirrestritamente o ide=rio positivista, o @ue ocorria apenas com os ;liados doApostolado. S o caso de +rot=sio Antonio Alves, m>dico ativo @ue participouda unda8o da *aculdade de Medicina de +orto Alegre, ao @ual nosreerimos no incio do captulo. Esse m>dico oi ativo participante dasatividades do governo estadual como (ecret=rio dos 6eg?cios do nterior e

    Exterior, 5iretor de Qigiene e cegou at> a assumir a +residDncia do Estado,em #%#%, sustituindo Borges de Medeiros. A despeito de suas convic89espolticas, era a avor da vacina8o, apesar de no explicar essadiscordNncia. Assim, era malvisto entre os positivistas organizados: umacarta de um memro do Apostolado, analisando os componentes dosecretariado do governo do Estado @ue acompanavam -arlos Barosa,@uando tomou posse em #%$, a;rmava @ue +rot=sio Alves msotrava!sesensvel inXuDncia do positivismo, mas @ue era sem ]energia e atividade],no acreditando @ue pudesse aver modi;ca8o da sua atitude7 Fp. ##0GH

    ! 7/s autores @ue tratam da Medicina no Rio "rande do (ul, no perodo,

    a;rmam @ue a @uesto da lierdade pro;ssional oi um motivo de conXito eostilidade dos m>dicos para com o +RR, @ue pressionaram o governoestadual at> @ue ossem estaelecidas restri89es a esse respeito, o @ue s?ocorreu em #%'%. At> mesmo alguns m>dicos @ue exerciam cargos pelopartido, portanto, aei8oados ao ide=rio positivista, ostilizaram a lierdadepro;ssional, como oi o caso dos delegados de igiene de Alegrete, (o(eastio do -a e ta@ui7 Fp. ##0GH

    ! 7+ara entender essas divergDncias, devemos levar em conta os conXitosentre o governo e os m>dicos @ue no eram positivistas. /s memros do

    partido assumiam o seu ide=rio, adotando posicionamentos de acordo coma situa8o poltica mais geral. Mas os m>dicos do +RR tam>m tinam apreocupa8o com a organiza8o de suas entidades corporativas, mesmo@ue deendessem a perspectiva positivista da lierdade pro;ssional. Aamiguidade de certas posi89es a respeito da vacina8o, por exemplo,indica @ue a argumenta8o m>dica, t>cnica, sore a @uesto, podia estarinXuenciando as decis9es. S o caso de +rot=sio Alves, @ue era a avor davacina8o apesar disso ser contr=rio aos dogmas positivistas. /s m>dicosrespons=veis pela ciDncia inseriam ! se na amiguidade do cotidiano, noapresentando comportamentos dirigidos coerentemente por uma

    perspectiva te?rica, mas dando respostas diversi;cadas s situa89es,dependendo dos interesses pessoais, polticos ou de necessidades pr=ticas.

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    (uas atitudes so um claro indcio da complexidade do processo @ueestavam vivendo7 Fp. ##JGH

    /( MS5-/( E /( 7/)TR/(7

    ! 7Apesar dos prolemas @ue enrentavam, > possvel identi;car uma certacoeso dos m>dicos diplomados contra o livre exerccio da pro;sso, atos@ue os amea8avam diretamente. -omo parte de um condicos,evidentemente, concordavam @ue suas propostas de diagn?stico etratamento eram ]melores] do @ue as dos ]outros], onde incluam todas aspr=ticas dos camados ]curandeiros]7 Fp. ##JGH

    ! 7+ara esses m>dicos, somente a completa ignorNncia podia espritas.+rocuravam des@uali;car os conecimentos populares sore a transmissodas doen8as e desautorizar as concep89es e pr=ticas alternativas de curaexistentes na sociedade, enatizando como crit>rio a dieren8a racial e>tnica. /s m>dicos, nas suas institui89es, procuravam demonstrar a suadieren8a em rela8o a todas as concep89es e pr=ticas populares soredoen8a e cura, a;rmando sua autoridade ]cient;ca] contra a ignorNncia dos@ue no se utilizavam dos conecimentos ]civilizados]7 Fp. ##CGH

    ! 7Entre as tentativas dos m>dicos de dierenciarem!se do ]curandeiros],

    inserem ! se suas iniciativas destinadas a oter a con;an8a da popula8o,constantes ao longo de todo o perodo. Eles assinavam mat>rias nos dica era a nica competente para resolvertodos os casos relativos ao estado m?rido do omem, tendo!se tornadomais complexa no seu condico, seguirestritamente as suas prescri89es, por@ue s? assim poderiam ocorrer osresultados maravilosos e as curas otidas com os modernos processos

    terapDuticos, @ue eram consideradas o atestado de competDncia dessaciDncia, apesar do evidente empirismo @ue a dominava. -onsideravam oe@uvoco mais grave desprezar o tratamento m>dico pro;ssional, devido,muitas vezes, lentido na melora do doente, optando ! se por lan8ar mode rem>dios caseiros Fc=s, cozimentos, xaropes, omenta89es, emplastos,etc.G, aconselados pelo ]carlatanismo]. Essa preocupa8o constantesugere muito mais um proselitismo gratuito, pois, sem dvida, o prestgiodos doutores entre as classes populares no era dos maiores7 Fp. ##PGH

    ! 7Esses pontos aseavam o @uestionamento da lierdade pro;ssional no

    Estado, @ue oi uma constante na Replica positivista gaca. M>dicosormados no podiam aceitar as pr=ticas de cura eetuadas por @uem no

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    tivesse receido uma orma8o espec;ca. Esse ponto parece ter ! setornado o elemento uni;cador nas tentativas de organiza8o de umaMedicina com pr=ticas intensamente dierenciadas entre si, @ue sedigladiaram nos espa8os pr?prios ao saer. S possvel @ue a insistDncianesse aspecto tena servido como elemento estrat>gico para somrear as

    suas dieren8as internas7 Fp. ##1GH

    ! 7Al>m dessas @uest9es, um outro ponto parece unNnime: @ue a (anta -asade Miserc?rdia era o lugar por excelDncia do exerccio de suas atividades.+or l= passaram praticamente todos os m>dicos, e as v=rias escolas deMedicina a usavam para seus exerccios, oserva89es e para praticar suasdiversas especialidades. F..G 6o espa8o m>dico da (anta -asa deMiseric?rdia, conviveram as diversas pr=ticas de cura, o @ue a torna umlocus privilegiado para a an=lise desse convvio entre m>dico, irms decaridade ervorosamente cat?licas, provedores&administradores,

    uncion=rios, pacientes e seus amiliares. Eles estaeleciam complexasrela89es sociais no universo da cura7 Fp. ##1GH

    ! 76esse contexto, as altera89es constitucionais de #%'0 no atingiram oselementos relativos lierdade pro;ssional. (omente com o governo de"etlio Oargas, em #%'$, > @ue passou a aver interesse em modi;ca89esno campo da organiza8o de sade do Estado7 Fp. ##%GH

    ! 7Esse c?digo estaria protegido por um Triunal de *amlia ou uma /rdemde Medicina. / estatuto devia ser respons=vel por apontar a sele8o decapacidades e a moraliza8o da pro;sso, cerceando o carlato, o

    pernicioso, o comerciante, e no o m>dico consciencioso. / -onseloserviria como um triunal em @ue se m de -onselosMunicipais nas cidades com mais de ' m>dicos, designando as atriui89esde cada uma das instNncias7 Fp. #'GH

    ! 76acionalmente, somente a partir do aperei8oamento da tecnologiam>dico!sanitarista e dos resultados otidos pelos estudos de patologiatropical > @ue a Medicina come8ou a impor!se realmente, soretudo nosgrandes centros uranos, como orma terapDutica e;ciente, o @ue ocorreunas primeiras d>cadas deste s>culo a partir dos institutos de pes@uisaundados em (o +aulo e no Rio de aneiro. Esses institutos orneceram asases para o desenvolvimento das a89es de sade e para a amplia8o dainterven8o do Estado na vida social. Mas, somente nos anos J, com acria8o do (indicato dos M>dicos, os -onselos de Medicina e a AssessoriaM>dica Brasileira, tornou!se realmente eetiva a proii8o do exerccio daMedicina por pro;ssionais no ailitados, implantando!se uma organiza8ocorporativa7 Fp. #'#GH

    ! 76o Rio "rande do (ul, diversos atores inXuenciaram a implanta8o tardiada Medicina como poder. A ocupa8o regional, @ue s? se intensi;cou no ;nal

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    do s>culo 33, mas em propor89es em menores do @ue nos centros como(o +aulo e Rio de aneiro, no gerou um acmulo populacional @ueeetivasse os prolemas uranos em to grandes propor89es como nessascidades. +rovavelmente, as condi89es sanit=rias, na capital do Estado,tam>m avoreceram esse @uadro, proporcionando =reas em @ue a cidade

    podia crescer, ornecimento de =gua aundante, em como o escoamentodos dem disso, o porto Estado, por onde entravam os navios @ue podiam portardoen8as, era em Rio "rande, @ue soreu re@uentes epidemias, apesar de omaior ndice de mortalidade ser o +orto Alegre, en@uanto principal ncleopopulacional do Estado7 Fp. #'#!'GH

    ! 7A existDncia de uma institui8o ligada orma8o m>dica s? ocorreu nosltimos anos do s>culo 33, dierentemente do Rio de aneiro onde essaorganiza8o percorreu o s>culo, articulando a corpora8o m>dica = mais

    tempo. A perspectiva adotada pelas administra89es positivistas ez com @ueum modelo sanitarista no se implantasse de orma to rigorosa no Estado,retardando a interven8o da Medicina. sso gerou estrat>gias de presso porparte dos m>dicos para @ue suas possiilidades corporativas ossem sendoaceitas, mas somente ap?s a segunda gera8o repulicana assumir ogoverno > @ue oi possvel a altera8o das pr=ticas estaduais no campo dasade7 Fp. #''GH

    ! 76o desenrolar dos conXitos, oram sendo orgias paraconvencer a popula8o e os governos da exclusividade do saer m>dico ede sua ade@ua8o s demandas do poder. 6o ouve, no entanto, uma

    imposi8o unilateral dos m>dicos estaelecendo suas propostas para ocondico.Mesmo ap?s a elimina8o da lierdade pro;ssional, os m>dicos gacosainda sentiam vivamente a necessidade de comater outras pr=ticas decura, inclusive produzindo as vers9es do crescente progresso da Medicina,mostrando!a triunante e unvoca para condenar seus inimigos ao silDncio7Fp. #''G.

    -A+[T)K/ 0: A *S E A -U6-A: /( ("6*-A5/( 5A (A6TA -A(A 5EM(ER-4R5A 5E +/RT/ AKE"RE

    ! A) EKA OA 5LER / )E TRATAR 6E(TE -A+[T)K/: 75e uma certaorma, a ist?ria da (anta -asa pode ser conundida com a ist?ria dotriuno m>dico. Este captulo pretende acompanar a vida de umainstitui8o @ue nasceu para a caridade e acaou por se devotar ciDncia !

    em um perodo @ue atravessa cinco d>cadas entre o s>culo 33 e o incio dos>culo 337 Fp. #00GH

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    !A) EKA OA M/(TRAR -/M/ A( 5OER(A( +RT-A( 5E -)RA-/6OOERAM 6)M ME(M/ E(+A2/ )E */ A (A6TA -A(A 5EM(ER-4R5A: 7ntencionamos analisar como se relacionaram os diversosgrupos envolvidos com pr=ticas de cura em um ospital&asilo. -omo a (anta-asa tina un89es assistenciais e, gradativamente, ad@uiriu un89es

    terapDuticas e de produ8o de conecimento m>dico, oram muitocomplexas as rela89es entre os leigos, @ue a administravamH as irms dacaridade, @ue realizavam o traalo de enermagemH os m>dicos, @ueprocuravam !se organizarH e os pacientes, @ue deendiam diversas cren8as eperspectivas religiosas e compartilavam o medo das pr=ticas terapDuticas7Fp. #00GH

    ! 7+rocuramos analisar, neste captulo, os signi;cados da institui8o paraesses grupos, assim como as tens9es e armonias geradas pelo convvio deelementos aparentemente contradit?rios, como > e ciDncia, magia e clnica.

    As rela89es, na pr=tica cotidiana, eram tensas e amguas, s vezesconvergentes, outras divergentes, avendo muitos elementoscompartilados. 6o = respostas unvocas sore os signi;cados dessasrela89es, pois os omens envolvidos as estaeleciam de orma complexa7Fp. #00GH

    ! 7At> os ltimos anos do s>culo 33, a (anta -asa apresentou car=termarcadamente assistencial nas suas diversas atividades. A partir daorganiza8o da *aculdade de Medicina, em #$%$, originada dentro dainstitui8o ospitalar, passou a aver uma maior presen8a de m>dicos em+orto Alegre, @ue uscavam espa8o de atua8o, sendo a parte pr=tica da

    atividade dos estudantes realizadas nos ospital da (anta -asa7 Fp. #00GH

    ! 7Alguns m>dicos assumiram, a parttir de #%#P, a provedoria, nasadministra89es da (anta -asa, sendo marcante a atua8o compreocupa89es clnicas e igiDnicas, assegurando uma nova perspectiva noospital, voltada para a atividade terapDutica. 5e #%#P a #%#$, assumiu o5r. 5iocl>cio (ert?rio +ereira da (ilva, tendo o 5r. Oictor de Britto comorespons=vel pelo (ervi8o (anit=rio, aXorando inmeros prolemas por altade igiene e administra8o ade@uada da institui8o7 Fp. #0JGH

    ! 7/ 5r. Oictor de Brito assumiu a provedoria no perodo de #%#% a #%', eaprovou um regulamento do servi8o sanit=rio @ue controlava ouncionamento do ospital. Esse > um marco nas solu89es clnicasimplantadas pelos m>dicos, arindo esap8o para a transorma8o geridapelos especialistas, culminando na unda8o de um novo ospital, em #%0,considerado modelo7 Fp. #0JGH

    ! A) EKA OA 5LER / )E OA TRATAR 6E(TE -A+[T)K/: 7/ captuloprocura descrever o uncionamento de uma institui8o @ue a realizavadiversas atividades, com razes numa religiosidade leiga e ostentat?riarespons=vel pela sistematiza8o das un89es e rituais no interior da

    irmandade. 5estaca!se o local de pr=ticas de cura e seu uncionamento,procurando analisar a organiza8o do ospital com suas particularidades em

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    rela8o aos ospitais contemporNneos. A partir desse contexto, procuramosentender a interven8o das irms ranciscanas e dos m>dicos naorganiza8o do asilo&ospital, culo 33. Era uma institui8o de origem portuguesa, tpica do perodocolonial, sendo @ue as Miseric?rdias tiveram car=ter assistencial em @uasetodas as colVnias, recolendo ]alienados], menores aandonados, doentes e

    necessitados @ue no tinam para onde ir e enterrando, gratuitamente, osindigentes7 Fp. #0JGH

    ! 7A (anta -asa de +orto Alegre oi undada, em #$0, ap?s a instala8o dasede do governo do continente de (o +edro, em #110, numa cidade comuma popula8o de P.0C aitantes, em #$$. nicialmente, visava aatender aos via

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    ! 76uma religiosidade ostentat?ria, dar esmolas e azer caridade era maisuma exposi8o plica de prestgio. A percep8o dos mais aastados era de@ue estariam cumprindo com seus deveres cristos ao exercer a virtude dacaridade, @ue @uase se compreendia restritivamente com o gesto de daresmolas. 6o se @uestionava a escravido ou existDncia da poreza,

    considerada um sorimento @ue tina de ser suportado, podendo averau. Era visto como um desamparo da sorte, umdoente, merecedor de toda a compaixo. 6esse contexto, uma institui8ocomo a (anta -asa de Miseric?rdia cumpria v=rias pap>is, pois al>m deoerecer arigo aos pores enermos, era sustentada pelas doa89es dos ;>is@ue, assim, cumpriam com seus deveres da caridade e garantiam seu lugarno reino dos c>us e nas ierar@uias terrenas7 Fp. #0PGH

    ! 7Essa percep8o no se modi;cou para os cat?licos ap?s a Replica,

    apesar de a grem por um orte contedomstico: os ;>is acreditavam no poder asoluto de 5eus no atendimento dassuas necessidades, como expressam muito claramente os discursos epulica89es das pessoas vinculadas (anta -asa7 Fp. #0PGH

    ! 7A presen8a das irms ranciscanas @ue administravam o servi8oeconVmico e sanit=rio do ospital, desde #$%0, e todo o ospital ap?s o anode #%'', garantia a permanDncia da religio cat?lica no comando. A partir

    da descri8o das atividades realizadas na institui8o, constatamos @ue eraconstante a preocupa8o com a maniesta8o religiosa, pela ornamenta8oda capela de 6osso (enor dos +assos, das imagens de santos e outrosparamentos constantemente renovados, das prociss9es, trduos, coros,indulgDncias e estas regulares, como o 6atal. As irms realizavam diversascerimVnias: missas, recep8o de memros da congrega8o das rms*ranciscanas da +enitDncia e da -aridade -rist e de outros memrosreligiosos, ritos pela morte e enterro de pessoas cat?licas alecidas na (anta-asa. As maniesta89es repetiam!se nas atividades di=rias da institui8o,como na comuno das irms e dos enermos, na prega8o do p=roco da

    capela aos pacientes, nas ora89es realizadas aos p>s dos moriundos, nadistriui8o de santinos e medalas, em como na coloca8o desseso

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    na velice, enterro na ora do alecimento e preces ap?s a morte. sso eraassegurado aos eneitores de todas as institui89es de caridade,principalmente se osse uma entidade assistencial. A (anta -asa designavainstala89es especiais aos eneitores, melores @ue as do restante dospacientes. Tam>m as irms de caridade @ue atuavam na (anta -asa

    dedicavam uma aten8o especial a essas pessoas e aos demais memrosdeclaramente cat?licos7 Fp. #JGH

    A ()(TE6TA2/ 5A 6(TT)2/

    ! 7-omo uma institui8o religiosa, a sustenta8o ;nanceira da (anta -asaocorria pela concesso de esmolas de eneitores, integrando o patrimVnioda irmandade, o @ual devia ser administrado da melor orma para orneceros recursos com @ue a institui8o realizava suas atividades. /s legados

    podiam ser im?veis, escravos, terras, orio, para atender expostos, presos e militares doentes, mas aviareclama89es constantes da insu;ciDncia dessas veras para os servi8osprestados. Tam>m podia receer autoriza8o do governo para organizarnovos planos e extrair loterias a ;m de arrecadar veras para reormas ou

    novas constru89es. (endo praticamente a nica entidade ospitalar deatendimento popula8o, a (anta -asa nunca deixou de receer suven8odo Estado ap?s a Replica, apesar de ocorrerem alguns atrasos nosrepasses das veras, e reclama8o constante de @ue eram insu;cientes7 Fp.#J#!'GH

    ! 7(egundo a viso positivista @ue orientava o governo, os ?rgos estaduaisno deviam intervir numa institui8o como a (anta -asa,

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    ! 7/ exerccio da caridade pelos devotos cat?licos no inclua atendermilitares, pois estava presa concep8o da assistDncia poreza. Aomesmo tempo, a insistDncia de militares em manter um local deatendimento na (anta -asa sugere a precariedade do atendimento m>dicoexistente no Rio "rande do (ul e a importNncia da institui8o como entidade

    assistencial7 Fp. #J'!0GH

    ! 7/utro ponto de discordNncia da administra8o da institui8o com asadministra89es governamentais dizia respeito ao pagamento de taxas eimpostos. Em #%#1, a (anta -asa pediu isen8o da d>cima urana de seuspr>dios, citando lei de #$0# de @ue ospitais de caridade no precisavampagar esse imposto, assim como outros regulamentos imperiais, dizendo@ue a isen8o avia sido concedida durante todo o mp>rio. +rovavelmente,o pedido oi negado, assim como ocorreu com pedidos de dispensa dopagamento das contas dos cal8amentos eitos nas ruas em @ue estavam

    pr>dios de propriedade da institui8o. / argumento do governo municipalera o de @ue is para a (anta -asa, al>m deoutros avores. A (anta -asa respondeu com um extenso memorial, em#%#$, sore a isen8o de d>cimas uranas dos pr>dios da institui8o,a;rmando @ue pleiteava o reconecimento de um direito e no de umavor . A unda8o da entidade teria ocorrido so garantia pr>via dadispensa do imposto, assim como a concesso de prerrogativas @ue eramdadas a todas as Miseric?rdias. +arece @ue o governo teria concedidoisen8o apenas aos pr>dios ocupados pelo ospital e no a todos os pr>dios@ue constituam o patrimVnio, o @ue a (anta -asa argumentava ser um

    e@uvoco7 Fp. #J0GH! 7/utro ponto controverso na convivDncia entre a (anta -asa e o governoreeria!se ao cemit>rio. A (anta -asa era propriet=ria do cemit>rio de +ortoAlegre, criado em #$CC, ap?s a proii8o de enterros rioapresentava propor89es reduzidas para o atendimento da demanda, tendo ainstitui8o consultado a 5iretoria de Qigiene Estadual sore sua amplia8o,o @ue se repetiu em #%1, #%#', #%#0 e #%#%, sempre receendo negativas,por@ue a regio na @ual ele se localizava seria impr?pria. Mesmo assim,oram realizadas amplia89es de menores propor89es, o @ue permitiu a sua

    ocupa8o durante todo o perodo estudado. Tam>m oi ad@uirida uma nova=rea para servir de cemit>rio, em #%1, cu

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    Esses pacientes eram tratados stias contagiosas e tuerculosos, ainda criticados por@ue ;cariammuito pr?ximos da =rea do ospital e dos demais pacientes. Em #%#J, o

    governo estadual e a (anta -asa teriam acertado, ]por interm>dio de umamigo], a constru8o de pavil9es para o tratamento de tuerculosos emterreno cedido pelo governo ora da cidade, com veras de amas aspartes7 Fp. #JJGH

    ! 76a perspectiva positivista, o governo no devia intererir nas decis9es dapopula8o sore ao @ue socorrer em caso de epidemias ou de propaga8ode alguma outra doen8a. 6o entanto, o governo adotou as medidas desaneamento urano e isolamento dos pacientes comuns nas v=rias cidadesrasileiras. Algumas vezes a (anta -asa como local de isolamento

    designado pelo governo. )ma institui8o de caridade crist no deveria serrelacionada com as medidas governamentais7 Fp. #JJGH

    ! 7Apesar dessas divergDncias, ruto de um alegado descaso do governocom a institui8o, as rela89es com o governo estadual no cegavam a serantagVnicas. A (anta -asa nunca deixou de ser uma reerDncia importantepara a popula8o e para os polticos como a principal entidade assistencialda cidade. F...G Em #%0, "etlio Oargas elevou a suven8o para ''contos, ap?s ter receido um memorial sore a situa8o da entidade. ssorepresentou uma altera8o de atitude rente (anta -asa, assim comoouve modi;ca89es sore a poltica de sade plica ap?s #%'$. Ap?s

    Oargas assumir, uma nova perspectiva orientou a rela8o do governoestadual com os m>dicos e com a sade, incluindo as rela89es com a (anta-asa. F...G As modi;ca89es polticas, na d>cada de #%', avoreceram umaatitude do governo, considerando a (anta -asa uma institui8o til parapes@uisas e para o atendimento da sade da popula8o, altera89es @ue apr?pria Miseric?rdia m das veras do governo, a (anta -asa receia veras regulares deoutras ontes, como das propriedades alugadas, para as reormas emanuten8o nas instala89es @ue ocorriam todos os anos. Em geral, as oras

    novas realizadas eram ;nanciadas por novas doa89es ou dota89esespeciais, como suscri89es organizadas pelo ornal -orreio do +ovo, em#%# e em #%$ Festa ltima para constru8o de um pavilo detuerculososG, veras arrecadadas por comiss9es especiais, como uma desenoras italianas, em #%P, devido ao grande nmero de italianosinternados no ospitalH ou o receimento de doa89es especiais, como aentrega de todos os ens da Associa8o +rotetora da nNncia (anta -asa,em #%#%, para @ue a institui8o organizasse um servi8o de atendimento scrian8as7 Fp. #JCGH

    ! 7Qavia uma orte resposta da popula8o na arrecada8o de veras para a(anta -asa, principalmente de pessoas mais aastadas. /s m noticiavam doa89es de pe@ueno valor, registrando os

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    nomes dos doadores, provavelmente eitas por pessoas menos avorecidas,@ue tam>m pretendiam contriuir para a manuten8o da institui8o oupara alguma nova constru8o. Ela oi a ora de caridade por excelDncia paraas doa89es dos devotos cat?licos. / ]dever] dos mais ]avorecidos] de am a simpatia dos menos]avorecidos], por@ue os arigava como ltimo socorro7 Fp. #JC!PGH

    ! 7/ respeito e a considera8o pela entidade ocorria, provavelmente,tam>m por@ue ela mantina uma imagem de lisura e transparDncia naadministra8o e aplica8o das veras. (omente uma vez, em #$% ouvedenncia de prolemas na administra8o da institui8o, na a@uisi8o deseus gDneros. A -omisso organizada para examinar a escritura8o daentidade e do ospcio (o +edro a;rmou @ue os registros de contailidadedas duas institui89es estavam