Ficha Catalográfica Produção Didático-Pedagógica · início o processo de miscigenação. E...
Transcript of Ficha Catalográfica Produção Didático-Pedagógica · início o processo de miscigenação. E...
Ficha Catalográfica Produção Didático-Pedagógica
Professor PDE/2010
Título AS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS, A DUCAÇÃO E
A GEOGRAFIA
Autor Marelise Perondi Casaril
Escola de Atuação Colégio Estadual Leonardo da Vinci
Município da escola Dois Vizinhos
Núcleo Regional de Educação Dois Vizinhos
Orientador Najla Mehanna Mormul
Instituição de Ensino Superior Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE
Área do Conhecimento Geografia
Produção Didático-Pedagógica Unidade Didática
Relação Interdisciplinar História, Sociologia, Língua Portuguesa.
Público Alvo 1ª série do Curso de Formação de Docentes – Ens. Médio
Localização Rua José de Alencar, 170 – Centro Sul
Apresentação
Este material didático foi elaborado para atender os desafios da Escola frente à diversidade e contribuir na efetiva implementação da Lei Federal 10.639/03. Propõe um estudo das relações étnico-raciais, no ensino de Geografia com educandos do Curso de Formação de Docentes do Ensino Médio. Objetiva oferecer subsídios ao futuro educador através de material didático-pedagógico e metodologias para o ensino da geografia, com vistas à compreensão e percepção das manifestações sócio-espaciais e culturais que reproduzem as desigualdades na sociedade. A Unidade Didática apresenta uma fundamentação teórica que aborda o preconceito, o racismo, a discriminação e ainda o respeito às diferenças, possui também sugestões e atividades que visam o aprofundamento e a compreensão na temática das relações étnico-raciais no ensino da geografia.
Palavras-chave Relações étnico-raciais; Educação; Ensino de Geografia.
APRESENTAÇÃO
Como atividade de produção do PDE/PR - Programa de Desenvolvimento
Educacional do Paraná que objetiva a articulação teórica-prática como um de seus
eixos curriculares, optou-se por apresentar uma Unidade Didática que permitirá um
estudo e análise dos desafios da Escola frente à diversidade, tendo como foco
principal as relações étnico-raciais e o ensino da geografia.
Ao longo de sua história, o Brasil tem enfrentado problemas de exclusão,
tanto social como étnico-racial, porém desde o final do século XX e em especial
neste início do século XXI, as lutas pela igualdade e pelo respeito à diversidade têm
sido constantes. No entanto, há ainda imensos desafios a vencer, pois o predomínio
de atitudes e convenções sociais discriminatórias, em todas as sociedades, ainda é
uma realidade tão persistente quanto naturalizada.
As práticas discriminatórias e racistas são produzidas e reproduzidas em
todos os espaços da vida social brasileira. A Escola, embora seja um espaço
educativo, é reflexo da sociedade, e infelizmente, também discrimina e marginaliza.
Portanto, é fundamental que sejam criteriosamente analisados os materiais didáticos
pedagógicos e metodologias utilizadas, para que através da educação seja possível
promover a compreensão e percepção das manifestações sócio-espaciais e
culturais que reproduzem os preconceitos e as diferenças na sociedade.
A educação é um ato permanente, dizia Paulo Freire, e neste sentido,
entende-se que o ambiente escolar é um espaço apropriado para se desenvolver
valores de convivência harmoniosa e para o combate de qualquer tipo de
discriminação. Por isso é importante que o trabalho escolar seja construído de modo
a compreender e colocar em prática conceitos, tais como, diversidade,
multiculturalismo, identidade, preconceito, discriminação racial, entre outros,
buscando compreender a heterogeneidade sócio-cultural presente na Escola e que,
cada indivíduo em particular é integrante. Reconhecer e trabalhar a diversidade
presente na escola torna rico o saber e o fazer educação.
Este estudo das relações étnico-raciais, como desafio da Escola frente à
diversidade, visa buscar alternativas para que o ensino da geografia possa contribuir
na efetiva implementação da Lei Federal 10.639/03, que altera a LDB, incluindo no
currículo oficial de ensino, a obrigatoriedade da temática: “História e Cultura Afro-
brasileira”. Propõe-se também a ampliar possibilidades de práticas pedagógicas,
trazendo para o âmbito escolar, a importante discussão das relações étnico-raciais
no Brasil e o combate ao racismo, tantas vezes silenciado ou desqualificado pelas
avaliações de que o Brasil é uma democracia racial.
Um olhar atento para a escola capta situações que configuram de modo
expressivo atitudes racistas, que se apresentam muitas vezes de maneira
involuntária ou inconsciente. Nesse sentido, de forma objetiva ou subjetiva, a
educação apresenta preocupações que vão do material didático-pedagógico à
formação de professores. A Escola deve incorporar no seu cotidiano ações que
promovam a idéia de que as diferenças étnicas não significam inferioridade.
O presente material didático-pedagógico está sendo elaborado com a
finalidade de utilização na Intervenção Pedagógica que será realizada no Colégio
Leonardo da Vinci de Dois Vizinhos, tendo como público alvo, educandos da 1ª.
Série do Ensino Médio do Curso de Formação de Docentes.
Pretende-se, com esta unidade didática, aprofundar conhecimentos dentro
da dimensão cultural e demográfica do espaço geográfico vivenciado pelos alunos.
Através de estudos, discussão e análise de vários materiais didático-pedagógicos,
como: textos, mapas, tabelas, gráficos, imagens, será possível conhecer as
manifestações socioespaciais da diversidade cultural e de forma pró-ativa contribuir
no sentido de desenvolver o respeito às diferenças, minimizando assim o
preconceito e a discriminação social e racial.
Também é objetivo deste trabalho, reconhecer as influências das
manifestações culturais dos diferentes grupos étnicos que participaram no processo
de configuração do espaço geográfico brasileiro.
O conhecimento da história e cultura afro-brasileira e africana, sua
participação cultural, étnica e social na formação do povo brasileiro, bem como, o
reconhecimento das grandes contribuições deixadas pelas civilizações africanas
para a humanidade, podem influir positivamente nas relações étnico raciais. Sabe-se
que ao longo da história este tema foi negligenciado pelas escolas, nos materiais
didáticos e pela mídia, que contribuiu para formar uma imagem negativa da África e
dos negros africanos que fazem parte de nossa história. Buscamos hoje superar as
lacunas de nossa formação e dar o devido valor e respeito às diversas etnias que
fazem parte do mosaico sócio-cultural que compõe a sociedade brasileira.
AS RELAÇÕESAS RELAÇÕESAS RELAÇÕESAS RELAÇÕES ÉTNICO ÉTNICO ÉTNICO ÉTNICO----RACIAIS, A EDUCAÇÃO E ARACIAIS, A EDUCAÇÃO E ARACIAIS, A EDUCAÇÃO E ARACIAIS, A EDUCAÇÃO E A
GEOGRAFIAGEOGRAFIAGEOGRAFIAGEOGRAFIA
Em nossa sociedade ainda persistem questões étnico-raciais decorrentes do
processo de formação do povo brasileiro. Com a colonização, a vinda dos europeus,
dos negros e o encontro com os indígenas que habitavam as terras brasileiras, teve
início o processo de miscigenação. E assim, a população brasileira, multiétnica,
perdeu um dos atributos mais importantes de toda a nação, que é o sentimento de
pertencimento, de ter identidade. Esse termo relaciona-se com a imagem que as
pessoas têm de si próprias a partir da língua, do lugar em que vivem e de um
passado comum que une umas as outras. O sentido de identidade nos torna
humano e a destruição desta pode nos desumanizar.
Ao longo de uma vida, não temos uma única identidade, segundo Darcy
Ribeiro (1995), os acontecimentos fazem com que busquemos nos identificar com
diferentes grupos, ele acredita que a dinâmica cultural possibilita a construção de
novas identidades.
Precisamos nos reconhecer enquanto sujeitos de nossa história. Nesse
sentido questionamos todo o sistema educacional: - De que forma o educador pode
intervir para que os alunos sintam-se responsáveis e se reconheçam como sujeitos
pertencentes ao local, ao território em que vivem? Temos dificuldades quanto ao
reconhecimento de nossa identidade. Assim, nos perguntamos: - Quem é o
brasileiro? O europeu não se reconhece brasileiro, o negro também não e nós, frutos
da miscigenação de europeus, negros e indígenas, nos reconhecemos como
brasileiros?
O grande antropólogo Darcy Ribeiro (l995) fala da triste falta de identidade
de grande parcela do povo brasileiro:
"O filho da Índia gerado por um estranho, branco ou preto, se perguntará quem era, se já não era índio, nem tampouco branco ou preto. [...] O filho do negro escravo nascido na terra racialmente puro ou mestiçado, sabia-se não africano como os negros que via chegando, nem índio e seus mestiços. [...] O brasilíndio, como o afro-brasileiro, existia numa terra de ninguém, etnicamente falando, e é a partir dessa carência essencial, para livrar-se da ninguedade de não-índios, não-europeus e não-negros, que se vêem forçados a criar sua própria identidade: a brasileira."
Ao preservarem as raízes africanas seus descendentes ocupam um lugar
numa sociedade complexa e multicultural. Buscar uma identidade diferenciada é
também ser mais brasileiro. Assumir a estética que veio dos ancestrais é uma forma
de resistência e de pertencimento.
Rever a história com olhar de sujeito envolvido e manter a memória é sem
dúvida preservar heranças. Isto acontece com a preservação de objetos, danças,
histórias contadas oralmente, no vestuário, na música tocada ou cantada, na
maneira de trabalhar e de se alimentar.
Ao aprofundarmos os conhecimentos sobre essa população multiétnica que
forma o povo brasileiro e que tem suas raízes na profunda influência da cultura afro-
brasileira e indígena, significa tornar comum conhecimentos que ficaram restritos a
uns poucos especialistas, mas que socializados contribuem para a formação de
cidadãos com consciência crítica mais elaborada.
Segundo Darcy Ribeiro, “Surgimos da confluência, do entrechoque e do
caldeamento do invasor português com índios silvícolas e campineiros e com negros
africanos, uns e outros aliciados como escravos.” (RIBEIRO, 1995, p. 19).
É de grande importância o resgate de informações e referências que
permitam a construção de um perfil das culturas africanas e do negro brasileiro na
estruturação territorial e no desenvolvimento do Brasil.
Para que o Brasil seja considerado um país desenvolvido, precisa ampliar as
fronteiras da cidadania, ir além dos limites consagrados pelo privilégio, impostos por
injustiças sociais e econômicas. O racismo, ainda se apresenta como um grande
entrave ao exercício da cidadania e ao acesso democrático ao desenvolvimento
deve, portanto, ser eliminado para permitir que o país se desenvolva com equidade
racial e social.
O povo brasileiro, formado por grupos distintos, entre os quais ocorreu um
intenso processo de miscigenação e que, apesar de terem em comum a língua, um
vínculo marcante, não estão todos ligados as mesmas tradições. Os grupos
indígenas que sobreviveram, tiveram sua cultura descaracterizada pelos processos
de cristianização e aculturação, pelos quais eram incorporados à sociedade branca.
Cálculos aproximados indicam que mais de 4 milhões de ameríndios viviam no atual
território brasileiro, cada qual com seus costumes, suas crenças, sua forma de
organização social e de sobrevivência. Atualmente, pouco mais de 300 mil indígenas
vivem no país.
Os africanos eram trazidos principalmente da África Ocidental e a maioria
pertencia a dois grupos étnicos: os sudaneses e os bantos. No Brasil, trabalharam
na lavoura de cana-de-açúcar, de algodão, de café e na mineração.
No período colonial o Brasil foi o país que mais recebeu africanos. Calcula-se
que mais de 3,5 milhões imigraram a força, para realizar trabalho escravo. Foi,
também, o último país ocidental a abolir a escravidão. E os escravos libertos foram
deixados à própria sorte numa época em que o Brasil estimulava a imigração. O
grande número de negros que compunha a população preocupava a elite branca
brasileira e a imigração foi a forma encontrada para “clarear” o país.
Apesar de perdurar durante muito tempo a idéia de que no Brasil era o melhor
exemplo de democracia racial, sabe-se que o racismo sempre existiu, embora não
seja manifestado abertamente. Os indicadores sociais demonstram isso, quase
sempre os negros e pardos ganham menos que os brancos e tem menos
escolaridade. Além disso, a origem racial dificulta a colocação no mercado de
trabalho. Também são os mais atingidos pelo desemprego e na maioria das vezes
exercem atividades de baixa qualificação e prestígio social.
Diante destas reflexões, precisamos lembrar que faz parte do ideário da
escola fazer a transformação social e agir pró ativamente na formação da identidade
possível e que não faltam momentos para a apreciação e discussão crítica e
contextualizada da realidade, utilizando para isso textos e imagens. Portanto, a
escola e os professores precisam estar atentos e cuidadosos em relação às
escolhas feitas para a prática pedagógica, pois as nossas ações transcendem o
planejado.
Quanto à construção positiva da identidade, a professora Ana Lúcia Lopes
nos explica como esta se processa:
Consideramos como prática pedagógica um conjunto de ações envolvidas no processo de aprendizagem. Fazem parte desse conjunto de estratégias, os materiais e os pedidos que mobilizam o fazer do aluno tanto do ponto de vista da aproximação de conceitos, como da experiência com procedimentos ou da reflexão acerca de valores e opiniões. Por outro lado, é preciso entender a identidade como construção contrastiva: Ela se dá na medida em que eu me diferencio e reconheço minha diferença em relação ao outro e aos vários outros que, ao mesmo tempo, me dizem quem sou eu, fornecendo assim parâmetros para o sentido de pertencimento. Este sentido de pertencimento realiza-se por meio de uma rede de relações que envolvem o sujeito, traçando representações que, interiorizadas, dialogam todo tempo com o exterior (LOPES, 2007)
Saiba mais...
� Assista de Darcy Ribeiro o Documentário TV Cultura sobre o Povo Brasileiro (Matriz
Afro). Disponível em: http://www.youtube.com/results?search_type=search_playlists
&search_query=O+Povo+Brasileiro+%28Encontros+e+Desencontros%29&uni=1
De acordo com as Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Paraná
(2008), “As manifestações culturais perpassam gerações, criam objetos geográficos
e são, portanto, parte do espaço, registros importantes para a Geografia.” A
sociedade é formada por complexos e diversificados grupos culturais (sociais e
econômicos) que criam e recriam espaço geográfico mediante as determinações das
forças políticas hegemônicas e contra-hegemônicas.
Seguindo a visão desta nova Geografia e dentro da dimensão cultural e
demográfica do espaço geográfico proposta pelas DCE, 2008, entende-se que, para
formação de um aluno consciente das relações sócio espaciais de seu tempo, o
ensino de Geografia deve assumir o quadro conceitual das abordagens críticas
dessa disciplina, que propõem a análise dos conflitos e contradições sociais,
econômicas, culturais e políticas, constitutivas de um determinado espaço. Tais
estudos permitem sejam evidenciados problemas sociais, voltados à etnia, religião,
gênero, faixa etária, densidade demográfica, migrações, entre outros, existentes
numa sociedade.
Assim, segundo as Diretrizes Curriculares da Educação Básica, PARANÁ
(2008),
O trabalho pedagógico com esse quadro conceitual de referência é fundamento para que o ensino da Geografia na Educação Básica contribua com a formação de um aluno capaz de compreender o espaço geográfico, nas mais diversas escalas, e atuar de maneira crítica na produção sócio espacial do seu lugar, território, região, enfim, de seu espaço.
Nesta perspectiva e no intuito de ajudar na formação de cidadãos com uma
identidade própria, consciência crítica e reflexiva e acima de tudo que saibam
conviver e respeitar as diferenças sociais, culturais e étnico-raciais presentes na
escola e na sociedade, a Geografia como ciência, se une as demais disciplinas que
compõe o currículo da Educação Básica para que através do trabalho interdisciplinar
possa contribuir de alguma forma no enfrentamento dos desafios da escola frente à
diversidade.
� Num trabalho conjunto com as disciplinas de história, sociologia e português observe esta
bela imagem do Museu Afro Brasil e expresse seus sentimentos através da produção de
um texto sobre o sentido de pertencimento e identidade do povo brasileiro.
Figura 1 - As Três Raças - 1930. Belmonte Fonte: http://dastenras.wordpress.com/2010/10/
Após séculos participando das formações geográficas e históricas do nosso
país, o negro brasileiro ainda não conseguiu adquirir condições mínimas de um
cidadão. Vários setores da população brasileira são vítimas de discriminação e
preconceitos de toda ordem. Entre os vários tipos de discriminação, a racial, que
atinge particularmente o negro brasileiro, é sem dúvida a de maior expressão social
territorial, devido ao grande contingente populacional. Os problemas se revelam já
quando se quer saber o número real de negros que compõem a população
brasileira. Os critérios de aferição racial oficiais levam à subestimação do número
real de negros brasileiro que integram o país. O Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) tem agrupado os indivíduos em brancos, pretos, amarelos e
pardos. Porém, diferente dos dados estatísticos oficiais, é importante ressaltar que
existe um consenso nas entidades negras representativas de que 70% da população
brasileira é negra ou mestiça com algum grau de ascendência africana.
O Brasil é a segunda maior nação negra do mundo, porém sobre esta
população ainda pesa a herança da escravidão e de um longo período de
invisibilidade, que traduz em preconceito, discriminação e exclusão social.
Você sabia que...
� A idéia de raça surgiu quando os europeus, que domi navam os povos africanos,
asiáticos e americanos, resolveram criar uma hierar quia que dividia os povos em inferiores e superiores de acordo com suas caracter ísticas físicas. Para justificar sua dominação colocaram a raça ariana (branca) acim a das outras.
� Hoje sabemos que somos uma única espécie humana. Te mos todos uma origem em
comum e as diferenças entre os tipos físicos (fenot ípicas) de cada continente aconteceram por uma adaptação às características am bientais. Portanto, as diferenças no tipo físico não implicam em nenhuma s uperioridade ou inferioridade intelectual, moral ou estética.
Compare os dados divulgados pelo IBGE 2000 com os de 2010
Classificação raça/cor
- Branca – 91.391.593 (53,8%)
- Parda - 66.420.284 (39,1%)
- Preta - 10.532.116 (6,2%)
- Amarela – 849.364 ( 0,5%)
- Indígena – 730.453 ( 0,43%)
Conforme dados preliminares da Tabulação Avançada do Censo
Demográfico – 2000 – cerca de 76 milhões de pessoas (45,3%) se assumem
Oficialmente como “pretas” ou “pardas”.
População Total do Brasil – 2000
169.872.856
Gráfico1: Distribuição da população brasileira – raça/cor - 2000 Fonte: http://www.ibge.gov.br/ibgeteen/datas/populacao/ populacao_no_brasil.html
Gráfico 2: Crescimento Populacional Fonte: Censo 2010/IBGE
190.755.799 habitantes – 2010
População cresceu quase 20 vezes em 140 anos, segun do IBGE
Gráfico3: Distribuição da população brasileira – raça/cor - 2010
Fonte: Censo Demográfico 2010/IBGE
Conforme representação gráfica acima, o Brasil tem mais de 91 milhões de
pessoas que se declaram brancas; 82,2 milhões que se declaram pardas e 14,5
milhões se declaram pretas, que somando temos 96,7 mestiços.
Atividades
- Faça um mapa genealógico e registre ao lado a asc endência de seus pais e avós, construindo
assim, seu mapa étnico .
- Após comparar os dados dos últimos censos oficia is sobre a composição étnica da
população brasileira, leia o artigo publicado no bl og – http://caniello.blogspot.com e após
análise faça suas considerações.
Ao longo da história brasileira a presença negra foi omitida. Setores da
sociedade se empenharam em promover um “branqueamento” da população e da
cultura brasileira. Isso contribuiu para a exclusão social e o aumento do preconceito
em relação à população negra.
Na questão racial no Brasil é importante destacar que...
O brasileiro reafirma seu preconceito já ao afirmar categoricamente que não tem preconceito.
� Leia a crônica abaixo, discuta com os colegas e dep ois em duplas
dramatize esta ou outra situação que denote racismo .
Figura 2: Charge Racismo
Fonte: http://www. rodrigovianna.com.br /files/ Image/racista_eu_de_jeito_nenhum.jpg
Luís Fernando Veríssimo, de forma irônica e numa cr ônica bem humorada,
denunciou, há mais de 30 anos, o preconceito racial existente no Brasil.
- Escuta aqui, ó criolo...
- O que foi?
- Você andou dizendo por aí que no Brasil existe rac ismo.
- E não existe?
- Isso é negrice sua. E eu que sempre te considerei um negro de alma branca... É não adianta. Negro
quando não faz na entrada...
- Mas aqui existe racismo
- Existe nada. Vocês têm toda a liberdade, tem tudo o que gostam. Têm carnaval, têm futebol, têm
melancia... E emprego é o que não falta. Lá em casa, por exemplo, estão precisando de empregada. Pra
ser lixeiro, pra abrir buraco, ninguém se habilita. Agora, pra uma cachacinha e um baile estão sempre
prontos. Raça de safados! E ainda se queixam!
- Eu insisto, aqui tem racismo.
Racismo
- Então prova, Beiçola. Prova. Eu alguma vez te virei a cara? Naquela vez que te encontrei conversando
com a minha irmã, não te pedi com toda a educação q ue não aparecesse mais na nossa rua? Hein, tição?
Quem apanhou de toda a família foi a minha irmã. Va is dizer que nós temos preconceito contra branco?
- Não, mas...
- Eu expliquei lá em casa que você não fez por mal, que não tinha confundido a menina com alguma
empregadoza de cabelo ruim, não, que foi só um enga no porque negro é burro mesmo. Fui teu amigão.
Isso é racismo?
- Eu sei, mas...
- Onde é que está o racismo, então? Fala, Macaco.
- É que outro dia eu quis entrar de sócio num clube e não me deixaram.
- Bom, mas pera um pouquinho. Aí também já é demais . Vocês não têm clubes de vocês? Vão querer
entrar nos nossos também? Pera um pouquinho.
- Mas isso é racismo.
- Racismo coisa nenhuma! Racismo é quando a gente f az diferença entre as pessoas por causa da cor da
pele, como nos Estados Unidos. É uma coisa completam ente diferente. Nós estamos falando do crioléu
começar a freqüentar clube de branco, assim sem mai s nem menos. Nadar na mesma piscina e tudo.
- Sim, mas...
- Não senhor. Eu, por acaso, quero entrar nos clubes de vocês? Deus me livre.
- Pois é, mas...
- Não, tem paciência. Eu não faço diferença entre ne gro e branco, pra mim é tudo igual. Agora, eles lá e
eu aqui. Quer dizer, há um limite.
- Pois então. O...
- Você precisa aprender qual é o seu lugar, só isso.
- Mas...
- E digo mais. É por isso que não existe racismo no B rasil. Porque aqui o negro conhece o lugar dele.
- É, mas...
- E enquanto o negro conhecer o lugar dele, nunca va i haver racismo no Brasil. Está entendendo? Nunca.
Aqui existe o diálogo.
- Sim, mas...
- E agora chega, você está ficando impertinente. Bat e um samba aí que é isso que tu faz bem.
Fonte: Disponível em <http://portalliteral.terra.co m.br/verissimo/vida_publica/vidapublica_racismo.sht ml?vidap... >
PARA ANÁLISE E DISCUSSÃO
� Nesta crônica aparecem expressões que denotam racis mo e preconceito, destaque as
que estão presentes na fala de nosso cotidiano.
� Você já vivenciou, testemunhou, leu ou assistiu alg uma situação de preconceito? Socialize com seus colegas.
� Existe, na nossa sociedade, o preconceito de que a beleza está associada à cor branca. Em virtude disso, verifique a presença do n egro em comerciais de TV, revistas, novelas e filmes. Registre de que forma e le é tratado.
Leia os trechos da música “Lavagem Cerebral” , de Gabriel O Pensador, 1993 e estabeleça um paralelo entre esta e a crônica de Luís Fernando Veríssimo.
“O racismo é burrice
Mas o mais burro não é o racista
É o que pensa que o racismo
Não existe
O pior cego é o que não quer ver
E o racismo está dentro de você
(...)
Qualquer tipo de racismo não
Se justifica
Ninguém explica
Precisamos da Lavagem Cerebral
Pra acabar com esse lixo
Que é uma herança
Cultural”
(...)
No ambiente escolar, devido à menor espacialidade, se manifesta mais
intensamente o preconceito e o racismo presentes na sociedade. Através de piadas,
ditados populares e brincadeiras de mau gosto, aparecem com freqüência na escola
práticas nitidamente racistas, por parte de professores, de alunos, da equipe escolar
e da comunidade, ainda que de maneira involuntária ou inconsciente.
De acordo com Ana Lúcia Lopes (2007), as manifestações de
preconceito acontecem na dimensão moral, intelectual e estética. Podem acontecer
de maneira aberta ou velada. Segundo ela, na Escola o preconceito racial é
manifestado não somente por expressões racistas utilizadas por alunos ou
professores, mas também pelo silêncio e ocultamento da imagem positiva do negro
e na contrapartida, pela super representação da imagem do branco.
SUGESTÃO:
Assista ao Documentário “QUANTO VALE OU É POR QUILO ?”
É um filme brasileiro de 2005, do gênero drama, dirigido por Sérgio Bianchi. Ele faz uma analogia entre o antigo comércio de escravos e a atual exploração da miséria pelo marketing social, que formam uma solidariedade de fachada. O filme faz uma grande crítica às ONGs e suas captações de recursos junto ao governo e empresas privadas.
A falta de conhecimento na área, ou seja, na temática, não deve ser uma
desculpa para o imobilismo. Trata-se de um desafio à capacidade de pesquisa e
estudo do professor.
Entre os principais obstáculos criados pelo sistema ao desempenho da
população negra na sociedade brasileira, podemos apontar a inferiorização desta no
ensino. Primeiro, são os livros didáticos, que ignoram o negro brasileiro e o povo
africano como agentes ativos da formação territorial e histórica. Em seguida, a
escola tem funcionado como uma espécie de segregadora informal.
As escolas através do chamado “Currículo Oculto”, reproduziram essas
desigualdades históricas através dos gestos, das apreciações e repreensões de
condutas, das aproximações e repulsas de afeto.
O currículo escolar como forma de organização do conhecimento não é
neutro e desinteressado, possui sempre uma dimensão política.
A ideologia subjacente a essa prática de ocultação e distorção das
comunidades afrodescendentes e seus valores tem como objetivo não oferecer
modelos relevantes que ajudem a construir uma auto-imagem positiva, nem dar
referência a sua verdadeira territorialidade e sua história, aqui e sobretudo na África.
A respeito da escolarização dos afro-descendentes, os dados estatísticos do
IPEA, 2004 indicam que ela não acompanha de forma proporcional a distribuição da
população, pois, 87% das crianças que estão fora da escola são negras. Os
indicadores mostram ainda que as crianças negras e mestiças têm uma vida escolar
mais difícil e acidentada do que outras crianças, resultando num índice maior de
abandono e fracasso. A origem deste processo não está apenas dentro da escola,
é também social, econômico e cultural.
Nos livros didáticos de Geografia Geral e nos Atlas Geográficos, o
continente africano está colocado sistematicamente nas partes finais da publicação
e geralmente com um espaço bem menor que os outros blocos continentais. Sendo
o último a ser estudado, devido ao tempo escolar exíguo para o cumprimento do
programa, verifica-se que, muitas vezes, a África não é estudada. Aí esta, mais uma
das questões estruturais que envolvem a desinformação da população brasileira
sobre o continente africano. Verificamos aí um paradoxo estrutural no sistema
escolar uma vez que a África, como berço dos antepassados dos seres humanos,
deveria ser estudada em primeiro lugar.
O conhecimento de alguns aspectos geográficos e históricos básicos a
respeito do continente africano podem contribuir muito para uma abordagem mais
adequada dos temas afrobrasileiros.
Você sabia que...
� Foi entre as primeiras grandes civilizações african as da antiguidade, especialmente a
Egípcia, que surgiram importantes conquistas sociai s, econômicas e científicas. � A África é considerada o berço da humanidade e da c ivilização. � Foi na África que o ser humano fez suas primeiras d escobertas na agricultura, na
pecuária, na mineração, na metalurgia, no comércio e na arquitetura. � O grande legado deixado à humanidade pelos egípcios foi o desenvolvimento das
primeiras formas de escrita, a elaboração de precis os calendários solares, a grandiosidade das pirâmides (após 5.000 anos ainda admiradas pela humanidade) e na matemática foram os primeiros a trabalhar com álgeb ra (sistema de numeração; frações unitárias; equação linear simples; progress ões aritméticas e geométricas), geometria e matemática aplicada.
A alteração de algumas práticas educacionais e a construção e divulgação
de outros instrumentos de trabalho para o ensino, enfocando com seriedade a
inserção do negro brasileiro na formação do Brasil, são com certeza uma porta
concreta para se criar uma nova cultura e mudar o quadro educacional
discriminatório e desigual que ainda hoje é uma realidade.
SUGESTÃO de FILME:
Vista a minha pele. Joel Zito Araújo & Dandara. Brasil, 2004 http://estudandoocontinenteafricano.blogspot.com/2011/07/video-documentario-vista-minha-pele.html
Sinopse: é uma paródia da realidade brasileira, para servir de material básico para discussão sobre o racismo e preconceito em sala de aula. Nesta história invertida, os negros são a classe dominante e os brancos foram escravizados SUGESTÃO de LIVRO:
BERND, Zilá. Racismo e anti-racismo . São Paulo: Moderna, 1997. (Coleção Polêmica). A autora discute conceitos, como preconceito, discriminação, segregação e racismo.
Todas as disciplinas que compõe o currículo escolar precisam buscar
alternativas para contribuir na efetiva implementação da Lei Federal 10.639/03,
absorvida pela Lei 11.645/08 que inclui no currículo oficial de ensino, a
obrigatoriedade da temática: “História e Cultura Afro-brasileira e Indígena” e que se
propõe a ampliar as possibilidades de práticas pedagógicas e, principalmente,
desenvolver políticas de ações afirmativas em relação às populações afro-
descendentes, trazendo para o âmbito escolar, a importante discussão das relações
Étnico-raciais no Brasil e o combate ao racismo, tantas vezes silenciado ou
desqualificado pelas avaliações de que o Brasil é uma democracia racial.
A instituição escola que durante anos trabalhou na tentativa de ser “sem
cor”, “transparente” e “neutra” a fim de não discriminar, realizou o contrário:
naturalizou as desigualdades, fortaleceu a imagem de inferioridade de negros/as e
indígenas e a superioridade de brancos/as. Ao desejar olhar para o “ser humano em
geral”, desumanizou, invisibilizou grande parte de seus estudantes.
A visão de que no Brasil vivemos uma democracia racial, defendida por
muitos anos esperamos que tenha sido superada. A colonização do Brasil aconteceu
sob a forma de exploração do grupo português sobre indígenas e africanos. Não
significa esquecer a miscigenação, porém problematizá-la. Manifestações explícitas
de preconceito são repudiadas em nossa sociedade, porém ainda estamos longe da
equidade de oportunidades e da plena cidadania para todos.
Estudar e trabalhar com a História e a Cultura Afro Brasileira não é restrito
aos militantes dos movimentos negros. Precisa ser parte integrante da formação de
qualquer cidadão. E como a escola não pode ser pensada, em um lugar separado
da sociedade e exerce papel fundamental para discussão e abordagem dos temas
ligados a diversidade. O governo brasileiro procurou através da lei, comprometer a
educação nesta missão de corrigir ou pelo menos minimizar este erro histórico do
Brasil para com os brasileiros e contribuir na formação de uma nova visão cultural
sobre a diversidade.
Saiba mais...
Ações afirmativas – São políticas que visam atos pró-ativos, que apontam e demonstram
qualidades, sempre a partir de referenciais positivos.
Fonte: Orientações e Ações para a Educação das Relações Étnico-raciais, do Ministério da
Educação/ Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (MEC/SECAD, 2006)
Com o objetivo de promover a igualdade nas relações étnicas foi sancionada
em 9 de janeiro de 2003 a Lei Federal 10.639 que alterou a LDB - Lei de Diretrizes e
Bases 9394/96, tornando obrigatório nas escolas e em toda a educação básica, o
estudo da temática “História e Cultura Afro-Brasileira”.
Com o início de sua aplicação e as discussões que se seguiram, a LDB
Pesquise e estabeleça a diferença:
Sociedade pluriétnica e Sociedade multicultural
Quanto ao cumprimento da legislação, Marcos Afonso Zanon (2010), fala
que a aplicação da lei não implica apenas em selecionar os conteúdos sobre a África
e os brasileiros afrodescendentes. Implica, principalmente, num cuidado conceitual
na abordagem destes conteúdos. Para os educadores pioneiros nesta tarefa ela se
apresenta como um desafio, pois não é fácil ensinar o que não foi aprendido, ou
seja, dar início a um movimento de estudo, pesquisa e ensino em uma área com
poucas publicações até a promulgação da lei no ano de 2003, quando ficou
estabelecida a obrigatoriedade do tema nos currículos escolares.
Para dar suporte as escolas e direcionar os educadores, em 2004 foram
publicadas as Diretrizes Curriculares Afro-Brasileira e Africana. Nestas diretrizes
estão expostas uma série de temas que devem ser trabalhados ao longo da
educação básica. Como por exemplo:
O ensino de História Afro-Brasileira abrangerá, entre outros conteúdos, iniciativas e organizações negras incluindo a história dos quilombos, a começar pelo de Palmares, e de remanescentes de quilombos, que têm contribuído para o desenvolvimento de comunidades, bairros, localidades, municípios, regiões (exemplos: associações negras recreativas, culturais, educativas, artísticas, de assistência, de pesquisa, irmandades religiosas, grupos do Movimento Negro). Será dado destaque para os acontecimentos e realizações próprios de cada região ou localidade.
Saiba mais...
Leia as Leis Federais:
����10.639/03 – <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/l eis/2003/l10.639.htm>
����11.645/08 – <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ ato2007-2010/2008/lei/l11645.htm>
EXECITANDO
� Como a Geografia pode contribuir para implementar a Lei?
- A turma será dividida em pequenos grupos (máximo quatro alunos) e cada
grupo escolherá um tema de geografia para desenvolver uma aula destinada
aos alunos do Ensino Fundamental (1º ao 9º ano), trabalhando a questão
étnico-racial. A seguir, o grupo apresentará a aula planejada aos colegas
(mostrando as possibilidades de se trabalhar o tema geográfico de maneira
diferenciada).
Sugestões de temas :
- A heterogeneidade da população brasileira, sua composição étnico-racial e
distribuição no espaço geográfico.
- Os quilombos e o território brasileiro (espaços de resistência)
- Força de trabalho escrava;
- Mobilidade populacional – migrações forçadas (dinâmica de tráfico dos
povos africanos.
- Manifestações e influências culturais negras/afrodescendentes no território
brasileiro.
O Continente Africano e seus contrastes
O conhecimento sobre o território africano é fundamental para uma maior
compreensão das questões que envolvem o papel do negro na sociedade brasileira.
É relevante lembrar que a África foi marcada por vários séculos de opressão,
presenciando gerações de exploradores, de traficantes de escravos, de
missionários, de seres humanos de toda ordem que acabaram de fixar uma imagem
hostil dos trópicos, cheio de forças naturais adversas.
A África atual é formada por países ou estados que começaram a romper
com a condição de colônias européias há poucas décadas. Do ponto de vista
histórico trata-se de fato recente. De 1957 a 1990 a África realizou a sua
descolonização, dando origem aos 53 países ou Estados Nacionais (Figura 2).
A África é um extenso continente, possui 30.210.372 Km2, o que
corresponde a 20,l% das terras emersas do globo terrestre. Entre os continentes
está em terceiro lugar quanto a extensão, superado pela Ásia (44.321.000Km2) e
pelas Américas (42.074.000 Km2).
A África abrange um território que apresenta diferenças nos mais variados
aspectos, sejam físicos, econômicos, culturais e sociais.
Figura 3: Mapa Político - Continente Africano
Fonte: http://www.logon.com.br/atlas/images/comaafri.gif
Este calor faz-se acompanhar de seca, crescente em direção aos trópicos,
ou de umidade, geralmente mais elevadas nas baixas latitudes. Destacam-se os
espaços desérticos no norte e no sul.
O continente africano, protegido por dois oceanos, um imenso deserto e
extensas faixas litorâneas, permaneceu por séculos com rotas comerciais regionais
e dentro do continente. O isolamento nunca foi completo, o oceano Índico favoreceu
o contato entre a África Central e o Sul da Ásia, assim como o extremo norte da
África sentiu a influência do mundo mediterrâneo.
A desertificação do Saara não impediu de modo absoluto, a comunicação
entre o Mediterrâneo e a África Tropical. Esse deserto atuou como uma espécie de
filtro natural, limitando a penetração de influências do mundo europeu.
� Pesquise em livros didáticos ou na internet – os principais contrastes físicos e sócio-econômicos do Continente Africano.
Você sabia que...
• No Brasil o trabalho escravo foi de notável importância para a economia colonial.
• A rebeldia dos negros contra a escravidão e a dominação assume várias formas: fugas,
suicídios, homicídios e formas coletivas como a formação dos Quilombos .
• Os Quilombos representaram não só um lugar de abrigo para os negros em fuga, mas
também uma nova forma de organização da sociedade.
Na antiguidade, a escravidão não foi exclusividade dos povos africanos,
prova disso é que a origem da palavra “escravo” não está ligada aos africanos, mas
deriva da palavra “eslavo” que diz respeito ao grupo lingüístico do leste europeu.
Portanto, além da África em outros continentes também existiam formas diferentes
de escravização mercantil desde o início da idade moderna. Porém com o domínio
Figura 4 : Mapa do Continente Africano - Regionalização
europeu sobre a África iniciou-se a terrível forma de escravização mercantil de
pessoas. Isso levou o continente africano a um despovoamento e a uma
desestruturação no seu processo de desenvolvimento.
A diáspora africana também chamada de diáspora negra foi um fenômeno
sociocultural e histórico que ocorreu em países além África devido à imigração
forçada de negros ou afrodescendentes, por fins escravagistas mercantis que
perduraram da Idade Moderna ao final do século XIX. Assim, muitos negros nesta
época da escravatura, foram destituídos do que lhes conferia identidade, além de
serem privados das condições objetivas de prosperar na própria sociedade, do
respeito como seres humanos e da chance de constituir família.
A dinâmica do tráfico de povos negros dos diferentes países africanos, foi
realizada indiscriminadamente nos territórios da América. O sistema escravista no
Brasil tem particularidades substanciais em relação as demais regiões da América. A
permanência dessa estrutura por quase quatro séculos no território brasileiro e a
quantidade de africanos importados até 1850, não devidamente quantificada,
mostram como a sociedade escravista conseguiu manter-se e desenvolver-se.
Vamos observar...
���� Na tabela, confira o número de africanos dispersos pelos mais variados países, conferindo
a posição ocupada pelo Brasil.
País População Posição Brasil 85.783.143 1 Estados Unidos 38.499.304 2 Colômbia 9.452.872 3
Haiti 8.701.439 4 Republica Dominicana 7.985.991 5 Itália 3.220.000 6 França 3.000.000 7 Jamaica 2.731.419 8
Venezuela 2.641.481 9 Reino Unido 2.080.000 10 Cuba 1.126.894 11 Peru 875.427 12 Canadá 783.795 13 Equador 680.000 14
Trinidad e Tobago 610.000 15 Nicarágua 520.786 16
Diáspora Africana
Tabela1: Diáspora Africana Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Di%C3%A1spora_africana# Di.C3.A1spora_africana_popula.C3.A7.C3.A3o
Figura 5 : Mapa da Diáspora Africana
Fonte: www.libreria-mundoarabe.com/Boletines/n%BA45% 20Ene.07/FactorAfricanoUSA.html
Os povos africanos não foram responsáveis somente pelo povoamento do
território brasileiro e pela mão de obra escrava, eles marcaram e marcam
decisivamente, a nossa formação social e cultural.
É importante não perder de vista que existiram várias formas de resistência
criadas pelos povos negros e configuradas na forma de lutas urbanas e rurais, nas
quais vamos destacar os quilombos, sítios geográficos presentes em quase todo o
território brasileiro e onde se agrupavam principalmente os negros escravizados que
se rebelavam contra o sistema escravista.
PESQUISE E INFORME-SE
Sobre os Quilombos que se formaram no território br asileiro
� O negro, durante o período colonial, foi escravizado. E hoje? Observe um trecho da
canção e reflita:
“Mesmo depois de abolida a escravidão Negra é a mão de quem faz a limpeza” (...)
(Música de Gilberto Gil, “A mão da limpeza”)
� Agora utilizando os mais diversos recursos midiáticos busque informações sobre a
situação atual do negro no Brasil , quanto ao trabalho, habitação e educação, por
exemplo, o acesso à Universidade pelo sistema de cotas.
� Ouça reflita e registre sua interpretação da música “Alma não tem Cor”, de
André Abujamra.
Leia os trechos dos poem as abaixo e busque outros na
“Antologia da Poesia Negra B rasileira - O Negro em Versos”.
SOU NEGRO (Solano Trindade)
Sou negro
Meus avós foram queimados Pelo sol da África
(...) Contaram-me que meus avós
Vieram de Luanda Como mercadoria de baixo preço
Plantaram cana do senhor do engenho novo E fundaram o primeiro Maracatu
(...)
PONTO HISTÓRICO (Éle Semog)
Não é que eu Seja racista...
Mas existem certas Coisas
Que só os NEGROS Entendem.
(...) Mas existe uma
História Que só os NEGROS
Sabem contar ... que poucos podem
Construindo um novo olhar sobre a diversidade
Sob a ótica das relações étnico-raciais e de acordo com as Diretrizes
Curriculares Nacionais, cabe às escolas definirem as estratégias que, quando postas
em ação, viabilizarão o cumprimento efetivo da LDB que estabelece a formação
básica comum, o respeito aos valores culturais, como princípios constitucionais da
educação tanto quanto da dignidade da pessoa humana, garantindo-se promoção do
bem de todos, sem preconceitos, a prevalência dos direitos humanos e o repúdio ao
racismo.
Pesquise e diferencie os termos:
Racismo Preconceito
Discriminação Esteriótipos
A Escola, para Santos (2003), sozinha não é capaz de reverter anos de
desqualificação da população negra e supervalorização da população branca, em
longo prazo ela pode desempenhar um importante papel na construção de uma nova
cultura, de novas relações que vão além do respeito às diferenças. Possibilitando
que as vozes possam ecoar no espaço escolar, chegar-se-á à consciência de que é
na diversidade que se constrói algo novo. É importante incorporar uma visão crítica,
que leve à questionamentos, sobre a quem beneficia e a quem marginaliza a visão
dos fatos, da forma como são postos.
O espaço escolar deve ser um ambiente educativo, em que se respeita o
outro, em que se dá visibilidade a todos, combatem-se as discriminações, busca-se
eliminar os preconceitos e são desfeitos os estereótipos, em que se estimula a auto-
estima e a auto-imagens positivas, em que se promove a igualdade racial, pelo
combate às diferentes formas de exclusão.
Através das disciplinas do currículo o aluno deverá compreender que as
diferenças sócio-econômicas que causam a exclusão evidenciam a falta de
oportunidades que historicamente os afro-descendentes tiveram e não a falta de
capacidade ou competência de quem quer que seja.
No que se refere ao livro didático e outros materiais didático-pedagógicos
deve-se estabelecer um olhar crítico sobre os textos, as ilustrações, os contextos, os
conteúdos, de modo a desconstruir situações de racismo, preconceito e
discriminação e promover a igualdade racial.
Nos livros didáticos e outros materiais – Observe q ue...
- Abordem conteúdos que remetam ao universo cultural africano e afro-brasileiro;
- Os personagens negros não sejam representados de maneira estereotipada;
- Apareçam histórias com reis e rainhas negras, deuses africanos, com mitos afro-
brasileiros;
- Haja possibilidade de as crianças negras construírem uma imagem positiva sobre
sua ascendência;
- Não seja reforçada nenhuma situação de preconceito incluído o étnico-racial.
Atenta a esta realidade cabe a escola enquanto Instituição responsável pela
formação do cidadão, educar para alteridade e observar situações de preconceito,
descriminação ou violência simbólica. É importante também valorizar as várias
matrizes étnicas presentes na escola, na sociedade e que formam o povo brasileiro.
Ao trabalhar esta temática deve-se ter cuidado com a pedagogia que
organiza eventos: “Dia Disso”, “Dia Daquilo”, “Espaço na Feira do Conhecimento”.
Estes projetos e eventos somente têm eficácia quando se transformam em uma
ponta de lança que se incorpora ao cotidiano escolar.
Deve-se voltar toda a atenção para não transformar a história dos africanos
no Brasil numa manifestação apenas “folclórica”. Utilizar expressões e verbos no
passado que falam de eventos isolados do contexto geográfico e histórico. Isolar
elementos como a culinária, a capoeira e a religião tornando o assunto uma “feira de
curiosidades” exóticas.
Constantemente o preconceito é reafirmado através das propagandas nos
meios de comunicação e na mídia em geral, que mantém os negros em lugares
sociais subalternos, isto é percebido também no currículo escolar, em cartazes,
textos e ilustrações nos livros didáticos, cometendo um tipo de violência que não é
física, mas simbólica.
Observe as imagens e relacione com a auto-estima d os afrodescendentes
Figura 07: Capoeira
Fonte: http://la20kings.blogspot.com/2010/12/ comecar-o-ano-com-capoeira.html
Figura 06: Escravos
Fonte: www.internationalist.org/escravidao
Com o estudo e a experiência, possivelmente se desenvolverá um olhar
crítico e atento para perceber obras que apresentem algum desvio do objetivo de
promover a aceitação das diferenças e a busca da igualdade.
Existem muitas formas de reforçar idéias positivas, elevar a auto-estima dos
negros afrodescendentes para que sintam orgulho de sua cor e participem com
equidade nos diversos setores produtivos da sociedade e exerçam seus direitos
universais quanto a saúde, educação e dignidade de vida.
Vamos dar asas a imaginação...
- Faça a leitura e trabalhe com teatro, contação de histórias, confecção de
bonecas, teatrinho de fantoches ... Vale a criatividade.
Após este trabalho, que enfoca e discute a presença do negro no espaço
geográfico e na sociedade brasileira, assim como os desafios da educação frente o
preconceito, a discriminação e o racismo, sugerimos que você individualmente ou
em duplas escreva um texto , crônica, poema , música ou uma paródia , onde
esteja presente o desejo de um mundo mais justo, humano e igualitário.
Algumas sugestões de paradidáticos que trabalham co m histórias,
mitos e heróis de origem africa na:
- A Cor da Ternura, de Geni Guimarães;
- Felicidade não tem cor, de Júlio E. Brás;
- Histórias da Preta, de Heloísa Pires Lima;
- O Herói com Rosto Africano (Mitos da África), de Clyde W. Ford;
- Menino Marrom, de Ziraldo;
- A Menina Transparente, de Elisa Lucinda;
- Menina Bonita do Laço de Fita, de Maria Clara Machado;
- Na Terra dos Orixás, de Ganymedes José;
- Rainha Quiximbi, Gosto de África, Presente de Ossanha, Zumbi,
Curumim que virou Gigante, Estranha Aventura em Talalai, todos de
Joel Rufino dos Santos.
Sugestão de um trabalho coletivo para Educadores e Educandos
A Escola não pode ser um espaço de omissão e negação das contradições
existentes nas relações educacionais, sociais e étnicas, também não pode negar as
diferenças e desigualdades e, muito menos, deixar de ponderar os fatores históricos,
geográficos, sociais, políticos e econômicos como determinantes da situação de vida
de parcela significativa da população negra. Precisa ser um local de exposição de
idéias, diálogo de saberes, debates, reflexões.
Diante dos desafios da Escola frente à diversidade, o ensino da Geografia
assume grande importância dentro da temática da pluralidade cultural no que diz
respeito às manifestações sócio-espaciais e as características dos territórios de
diferentes grupos étnicos e culturais, assim como aponta as espacialidades das
desigualdades e exclusões. A Geografia é, portanto, uma disciplina fundamental na
formação da cidadania do povo brasileiro, que apresenta uma heterogeneidade
singular na sua composição étnica, sócio-econômica e na distribuição espacial.
� Organizar um Evento Cultural, com palestras e oficinas práticas, no qual será
possível socializar com a comunidade escolar algumas produções, tais como,
teatro, contação de história, poesias, imagens, músicas ou outras.
� Após conhecer e trabalhar com vários materiais didático-pedagógicos, monte
em conjunto com os colegas um Kit Pedagógico com livros, textos, músicas,
poemas, filmes, brinquedos (artesanatos) e outros materiais para deixar na
Biblioteca da Escola e servir de subsídio na implementação da Lei Federal
10.639/03.
“Mais que a rejeição da cor da pele de um povo, o racismo se constitui na negação da história e da civilização deste povo; O objetivo não é erradicar as diferenças... (mas
antes), evitar que elas sejam transformadas em pedras fundamentais da opressão, da desigualdade de oportunidades ou da estratificação social”.
Abdias do Nascimento
SUGESTÃO DE LIVROS, SITES E FILMES
LIVROS:
OLIC, Nelson Bacic e CANEPA, Beatriz. África, terra, sociedade e conflitos .
São Paulo: Moderna, 2004.
O livro fornece informações sobre o meio físico ou natural da África, população,
herança colonial e seus vários conjuntos regionais.
MHILOPHE, Gcina. Histórias da África. São Paulo: Paulinas, 2008.
Do contato com a avó, Gcina aprendeu a gostar de histórias fantásticas que
encantaram tantas gerações dos povos africanos. Dez dessas histórias estão neste
livro e resgatam valores que regem a vida do ser humano em qualquer parte do
planeta, como justiça, ética e respeito.
SITES:
http://www.sogeografia.com.br/
Este site é uma fonte de consultas e traz informações sobre a África e outros
continentes. Traz ainda exercícios e jogos.
http://www.africadosulemb.org.br
Site da embaixada da África do Sul no Brasil traz informações gerais sobre este
país.
http://africa.sapo.pt/mapa.html
Fornece informações resumidas sobre cada país africano, bastando clicar no mapa
sobre o país desejado.
FILME:
Amistad. Direção de Steven Spielberg. EUA, 1997. 1 54 min.
Baseado em fato real, o filme conta a história de escravos embarcados no navio La
Amistad em direção à América. Revoltados, dominam o navio, mas este acaba
chegando aos Estados Unidos, onde, presos, os escravos enfrentam um dramático
julgamento.
Orientações aos EducadoresOrientações aos EducadoresOrientações aos EducadoresOrientações aos Educadores
Caros professores e professoras:
Esta Unidade Didática foi construída tendo como foco a temática das relações
étnico-raciais no espaço escolar e foi planejada para um público alvo especial, que
são educandos do ensino médio do curso de Formação de Docentes. No entanto,
com algumas alterações, é possível utilizar o material em trabalhos com públicos e
níveis de ensino diferentes.
Os conteúdos estão mais voltados para a disciplina de Geografia, no intuito
de contribuir com a efetiva implementação da lei federal 10.639/03, neste sentido
também podem ser compartilhados com outras disciplinas, principalmente com
história, sociologia e português.
O material foi elaborado didaticamente para que os educandos possam
assimilar de forma processual os conceitos que permeiam a fundamentação teórica,
apresentada através de textos, sugestões de livros, sites e filmes, bem como
atividades, visando à ampliação do universo de conhecimentos e o desenvolvimento
de um novo olhar sobre a diversidade.
Nesta perspectiva, é de interesse de toda a comunidade escolar, a formação
de cidadãos com uma identidade própria, consciência crítica, reflexiva e acima de
tudo que saibam conviver e respeitar as diferenças sociais, culturais e étnico-raciais
presentes na escola e na sociedade.
Avaliação da Proposta Didática PedagógicaAvaliação da Proposta Didática PedagógicaAvaliação da Proposta Didática PedagógicaAvaliação da Proposta Didática Pedagógica
A avaliação é um dos aspectos fundamentais do processo educativo,
portanto, espera-se que os educandos se envolvam com a temática proposta neste
material didático, demonstrando uma efetiva participação individual e coletiva.
O bom desempenho e o interesse de cada um, no acolhimento das
sugestões e na realização das atividades propostas, são importantes para se atingir
os objetivos no sentido de alargar o horizonte dos conhecimentos sobre as relações
étnico-raciais, a educação e a geografia, proporcionando com certeza o
desenvolvimento de uma nova postura e de novas atitudes do educando como
cidadão.
Referências Bibliográficas
ANJOS, Rafael Sanzio Araujo dos. A Educação Brasileira e a Geografia. In: SECAD-MEC (Org.) Educação anti-racista: Caminhos Abertos pela Lei Federal 10.639/03. Brasília-DF: MEC/BID/UNESCO, 2005.
BRASIL. Ministério da Educação/Secretaria da Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. Orientações e Ações para Educação das Relações Étni co-Raciais . Brasília: SECAD, 2006.
BRASIL. Ministério da Educação. Gênero e Diversidade na Escola: Formação de Professoras/ES em Gênero, Orientação Sexual e Relaç ões Étnico-Raciais . Livro de Conteúdo. Versão 2009. Rio de Janeiro: CEPESC; Brasília: SPM, 2009.
CAVALLEIRO, Eliane dos Santos. A educação pré-escolar: o inicio do fim da intolerância. In: Educação, Africanidades, Brasil. Brasília: Editora UNB, 2007.
LOPES, Ana Lúcia. A Prática pedagógica e a construção de identidade. Educação, Africanidades, Brasil. Brasília: Editora UNB, 2007.
PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares da Educação Básica - Geografia. Curitiba: SEED, 2008.
RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
RIBEIRO, Darcy. O Povo Brasileiro (Matriz Afro). Documentário TV Cultura. Disponível em: <http://www.youtube.com/results?search_type=search_playlists&search_ query=O+Povo+Brasileiro+%28Encontros+e+Desencontros%29&uni=1> Acesso em 15/12/2010.
SANTOS, Marcos F. Ancestralidade e Convivência no Processo Identitári o: A Dor do Espinho e a Arte da Paixão entre Karabá e Kiriku. In: MEC/SECAD. Caminhos Abertos pela Lei 10.639/03. Brasília, 2003
ZANON, Marcos Afonso. História da África e Cultura Afro-brasileira. In: Pedagogia 11: FAPI – Faculdade de Pinhais, Centro Tecnológico de Desenvolvimento Educacional Pró-Escola. Curitiba (PR), Edição Especial.