FBAUL dossier de pesquisa - WordPress.com · Numa segunda fase, o construtivismo evolui no sentido...

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P o E E a R i o ´ FBAUL Design de Comunicação DCMP projeto 1 // parte 2 Joana Sequeira // 10221 dossier de pesquisa

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Po EE aRi o

´FBAUL Design de ComunicaçãoDCMPprojeto 1 // parte 2 Joana Sequeira // 10221

dossier de pesquisa

primeiras vanguardas

Filippo MarinettiEl LissitzkyAntónio Gedeão

Bauhaus in http://www.citrinitas.com/history_of_viscom/avantgarde.html

Is the common term for the Staatliches Bauhaus, an art and architecture school in Germany that operated from 1919 to 1933 and briefly in the United States from 1937-1938 and for the approach to design that it developed and taught. The most natural meaning for its name (related to the German verb for "build") is Architecture House. Bauhaus style became one of the most influential currents in Modernist architecture. The foundation of the Bauhaus occurred at a time of crisis and turmoil in Europe as a whole and particularly in Germany. Its establishment resulted from a confluence of a diverse set of political, social, educational and artistic shifts in the first two decades of the twentieth century. Art nouveau had broken the preoccupation with revivalist historical styles that had characterised the 19th century. In the first decade of the new century however, the movement was receiving criticism; impelled by rationalist ideas requiring practical justification for formal effects. Nonetheless, the movement had opened up a language of abstraction which was to have a profound importance during the 20th century.

One of the main objectives of the Bauhaus was to unify art, craft, and technology. The machine was considered a positive element, and therefore industrial and product design were important components. Vorkurs ("initial course") was taught; this is the modern day Basic Design course that has become one of the key foundational courses offered in architectural schools across the globe. There was no teaching of history in the school because everything was supposed to be designed and created according to first principles rather than by following precedent. The Bauhaus had a major impact on art and architecture trends in Western Europe, the United States and Israel in the decades following its demise, as many of the artists involved fled or were exiled by the Nazi regime. Both Gropius and Breuer went to teach at the Harvard Graduate School of Design and worked together before their professional split in 1941. The Harvard School was enormously influential in the late 1940s and early 1950s, producing such students as Philip Johnson, I.M. Pei, Lawrence Halprin and Paul Rudolph, among many others.

vanguardaMovimento artístico que procura a renovação radical dos processos criativos e dos seus pressupostos estéticos. in Dicionário infopédia da Língua Portuguesa, Porto Editora.

futurismomovimento lançado em Itália, em 1909, pelo poeta F.T. Mari-netti (1876-1944), que, através de uma linguagem violenta e iconoclasta, advogava a superação dos valores tradicionais e a sua substituição por uma nova estética, assente na fusão de expressões artísticas, que pretendia traduzir o dinamismo da vida moderna e do que, então, eram considerados aspetos característicos do futuro, como a máquina, a velocidade, a força, etc.

dadaísmomovimento de vanguarda surgido durante a Primeira Guer-ra Mundial (1916), responsável pela valorização de novas técnicas e conceitos artísticos (performance, colagem, ready-made, etc.), que se caracterizou pela recusa radical das for-mas tradicionais de produção artística e pela denúncia do absurdo e da irracionalidade da civilização ocidental.

construtivismomovimento artístico do primeiro quartel do séc. XX, com origem na Rússia, que preconizava a construção geométrica das formas, recorrendo a aspetos não figurativos e valorizan-do os elementos técnicos da obra.

in Dicionário infopédia da Língua Portuguesa, Porto Editora.

Fortunato Depero, Study for Vogue cover (1922) Giacomo Balla, Volo di rondini (1913)

Futurismo in http://www.citrinitas.com/history_of_viscom/avantgarde.html

The Futurists explored every medium of art, including painting, sculpture, poetry, theatre, music, architecture and even gastronomy. The Italian poet Filippo Tommaso Marinetti was the first among them to produce a manifesto of their artistic philosophy in his Manifesto of Futurism (1909), first released in Milan and published in the French paper Le Figaro (February 20). Marinetti summed up the major principles of the Futurists, including a passionate loathing of ideas from the past, especially political and artistic traditions. He and others also espoused a love of speed, technology and violence. The car, the plane, the industrial town were all legendary for the Futurists, because they represented the technological triumph of man over nature. Marinetti's impassioned polemic immediately attracted the support of the young Milanese painters —Boccioni, Carrà, and Russolo—who wanted to extend Marinetti's ideas to the visual arts (Russolo was also a composer, and introduced Futurist ideas into his compositions). The painters Balla and Severini met Marinetti in 1910 and together these artists represented Futurism's first phase.

Futurism influenced many other twentieth century art movements, including Art Deco, Constructivism, Surrealism and Dada. Futurism as a coherent and organized artistic movement is now regarded as extinct, having died out in the 1944 with the death of his leader Marinetti, and Futurism was, like science fiction, in part overtaken by 'the future'. Nonetheless the ideals of futurism remain as significant components of modern Western culture; the emphasis on youth, speed, power and technology finding expression in much of modern commercial cinema and culture. Ridley Scott consciously evoked the designs of Sant'Elia in Blade Runner. Echoes of Marinetti's thought, especially his "dreamt-of metallization of the human body", are still strongly prevalent in Japanese culture, and surface in manga/anime and the works of artists such as Shinya Tsukamoto, director of the "Tetsuo" (lit. "Ironman") films.

A. G. Bragaglia, Un Gesto del Capo (1911)F. Depero, Depero Futurista (1927)F.T. Marinetti, Parole in Libertà (1932)

Construtivismo in Artigos de apoio Infopédia, Porto Editora

As bases deste movimento vanguardista afirmam-se ao longo das décadas dez e vinte do século XX, na Rússia, tendo sido lançadas por artistas como Vladimir Tatlin e Aleksandr Rodchenko e definitivamente fixadas em 1923 no Programa do Grupo Construtivismo. Afastando as noções tradicionais sobre arte e anunciando o fim da arte pela arte, este movimento defendia a imitação das formas e dos processos das tecnologias modernas. Voltado para a produção de formas objetivas, úteis ao povo e à cidade, o construtivismo é definido como “a organização eficaz de elementos materiais”. Por este motivo, esta corrente estende as suas áreas de intervenção a diversas formas de expressão, para além das artes plásticas: tipografia, artes aplicadas, cenografia, dança, mobiliário e design industrial.

Numa segunda fase, o construtivismo evolui no sentido do produtivismo, aliando a tendência materialista à ideia de abstração. O artista transforma-se em produtor de objetos ao serviço da nova cultura comunista.

Embora tenha constituído a faceta cultural dos primeiros anos da Revolução Soviética, o movimento dilui-se quando o próprio regime político que o sustentou ideologicamente perde o seu interesse por uma arte de vanguarda e laboratorial. O movimento construtivista ultrapassou as fronteiras da União Soviética, estendendo-se ao longo dos anos 20 e 30 a outros países da Europa, como a Alemanha e a Holanda.

O seu âmbito é alargado à arte abstrata geométrica, determinando a evolução de correntes como o Neoplasticismo holandês.

pintura de Kasimir Malevich

Portugal Futurista, que, pelo próprio título, pela publicação de manifestos futuristas e pela atenção acordada a Santa Rita Pintor, surge directamente associado ao movimento de Marinetti, se apresenta, na prática, colaboração pouco ou nada futurista de Apollinaire, Blaise Cendrars, Mário de Sá-Carneiro, Fernando Pessoa e Almada Negreiros que, para além de um Ultimatum Futurista fundamentalmente centrado na criação da «pátria portuguesa do século XX», nos oferece Saltimbancos, influenciado por Sónia e Robert Delaunay. À fase «heróica» do movimento italiano (1909-1920), onde se estabelecem as bases de uma modernidade artística, sucede-se um «segundo Futurismo» (1921-1944) reduzido, no âmbito da sua implicação política com o fascismo, a não ser mais que uma «escola», dotada de uma poética própria e ultrapassada no tempo, que, através da figura de Marinetti, entra na Academia italiana em 1929. É desta segunda fase que data a vinda de Marinetti a Portugal, em Novembro de 1932.

O escritor italiano, «naquela fase académica e na respectiva idade que se prestam lindamente a ser manejadas pelos putrefactos e pelos arranjistas», é recebido pelos «três mais categorizados inimigos do futurismo […], Dr. Júlio Dantas, Adães Bermudes e o jornalista António Ferro», e promove então uma ideologia «velh[a] de 23 anos e um dia», segundo as palavras acerbas de Almada Negreiros («Um Ponto no i do Futurismo», Diário de Lisboa, 25/11/32). Fernando Pessoa, num poema datado de 7/4/29 assinado por Álvaro de Campos, reage também ao Marinetti, Académico: «Lá chegam todos, lá chegam todos… / Qualquer dia, salvo venda, chego eu também… / Se nascem, afinal, todos para isso… // Não tenho remédio senão morrer antes, / Não tenho remédio senão escalar o Grande Muro… / Se fico cá, prendem-me para ser social…» (FPLV 261-262).

in Arquivo Virtual da Geração de Orpheu, http://modernismo.pt/

F. T. Marinetti,Words and Freedom (1914)

Filippo Tommaso marineTTi por Sara Afonso Ferreira

Escritor e poeta italiano fundador do Futurismo, cujo manifesto inaugural publica, a 20/2/1909, no jornal parisiense Le Figaro. Se o Futurismo não se identifica exclusivamente com Marinetti, a figura do poeta italiano constitui no entanto, pelo seu contributo ideológico, teórico e criativo, a alma do movimento. Revolucionário pelo programa que defende – exaltando o futuro e os novos mitos da sociedade moderna (a máquina, a velocidade, o dinamismo, a vitalidade, a guerra) – mas acima de tudo, pela sua vocação global e pelo modo insistente e agressivo como promove a sua estética, o Futurismo surge como pioneiro da vanguarda histórica. Abrangendo todas as expressões da arte, o movimento ultrapassa, porém, a realidade artística, abordando temas diversos e envolvendo-se desde o início no meio político.

O Futurismo ditado por Marinetti repercute-se imediatamente na arte e na literatura europeias – sobretudo, enquanto propulsor de vanguarda no âmbito das diversas realidades nacionais – marcando definitivamente a trajectória do nosso primeiro modernismo lisboeta e, paralelamente, figuras como Francisco Levita, da boémia coimbrã, ou Carlos F. Porfírio, introdutor das ideias futuristas no Heraldo de Faro. A notícia do seu aparecimento chega-nos logo após a publicação do seu manifesto fundador (cf. Diário de Notícias, 26/2/1909) de que é publicada uma tradução parcial acompanhada por uma entrevista de Marinetti (in: Diário dos Açores, 5/8/1909). Na sua correspondência com Fernando Pessoa (cartas de Paris datadas de 13/7/14 e 13/8/15) Sá-Carneiro refere, para além da antologia de conferências, proclamações e manifestos publicada por Marinetti sob o título Le Futurisme (Paris, 1911) – cuja tradução e difusão em Portugal o pintor Santa Rita projecta – a aquisição do volume I Poeti Futuristi (1912) que recolhe poemas em verso livre de vários autores futuristas; uma proclamação de Marinetti aos «jovens italianos» englobando o manifesto político Tripoli Italiana (1911); o Manifesto Tecnico della Letteratura Futurista de M. (1912); um apanhado das actividades do movimento e da sua recepção; e um estudo de Paolo Buzzi sobre Il Verso Libero. Numa entrevista ao jornal O Dia (4/12/16), Amadeo de Sousa-Cardoso cita literalmente, a par do manifesto fundador do Futurismo, o Manifeste des Peintres Futuristes (Boccioni, Carrà, Rusolo, Balla, Severini, 1910) e Contre l’Art Anglais (M. e Nevinson, 1914). Depois, em 1917, há a Conferência Futurista no Teatro República e a publicação do Portugal Futurista.

O movimento marinettiano não origina em Portugal um grupo de seguidores ortodoxos. Além de Santa Rita Pintor, que considera ser o único «futurista declarado em Portugal» (Ideia Nacional, 4/5/16), o Futurismo é assumido como estandarte de vanguarda na criação de uma modernidade essencialmente portuguesa, sendo neste quadro, que surgem as revistas Orpheu (1915) e Portugal Futurista (1917).

Embora seja clara a influência do Futurismo em Orpheu – no primeiro número, pela publicação da Ode Triunfal de Álvaro de Campos, mas sobretudo no segundo que anuncia uma série de conferências de teor futurista, e apresenta colaboração gráfica do «futurista» Santa Rita Pintor, os poemas Manucure e Apoteose de Mário de Sá-Carneiro, e a Ode Marítima de Álvaro de Campos – a revista é considerada por Pessoa como órgão do Sensacionismo. Ora, esta nova corrente nacional descende, não só da «baralhada de coisas sem sentido e contraditórias de que o futurismo, o cubismo e outros quejandos são expressões ocasionais», mas igualmente do «simbolismo francês» e do «panteísmo “transcendentalista” português», englobando «tudo», «todas as maneiras de sentir e de pensar» (PIAI 132 e 217-18). Também o

el lissiTzky in http://www.citrinitas.com/history_of_viscom/avantgarde.html

Lazar Markovich Lissitzky (1890 – 1941), better known as El Lissitzky, was a Russian artist, designer, photographer, teacher, typographer, and architect. He was one of the most important figures of the Russian avant garde, helping develop suprematism with his friend and mentor, Kazimir Malevich. Lissitzky's entire career was laced with the belief that the artist could be an agent for change. 4 A Jew, he began his career illustrating Yiddish children's books in an effort to promote Jewish culture in Russia, a country that was undergoing massive change at the time and had just repealed its anti-semitic laws. Starting at the age of 15, he began teaching; a duty he would stay with for the vast majority of his life. Over the years, he taught in a variety of positions, schools, and artistic mediums, spreading and exchanging ideas at a rapid pace. He took this ethic with him when he worked with Malevich in heading the suprematist art group UNOVIS, when he developed a variant suprematist series of his own, Proun, and further still in 1921, when he took up a job as the Russian cultural ambassador in Weimar Germany, working with and influencing important figures of the Bauhaus and De Stijl movements during his stay.

In his remaining years he brought significant innovation and change to the fields of typography, exhibition design, photomontage, and book design, producing critically respected works and winning international acclaim for his exhibition design. This continued until his deathbed, where in 1941 he produced one of his last known works – a Soviet propaganda poster rallying the people to construct more tanks for the fight against Nazi Germany.

à direita Páginas do livro de poesia conceta For the Voice (1923)em baixo Layout para Vladimir Mayakovsky Dlia golosa (1923)

anTónio gedeão in http://www.citi.pt/cultura/literatura/poesia/antonio_gedeao/biografia.html

Filho de um funcionário dos correios e telégrafos e de uma dona de casa, Rómulo Vasco da Gama de Carvalho nasceu a 24 de Novembro de 1906 na lisboeta freguesia da Sé. Aí cresceu, juntamente com as irmãs, numa casa modesta da rua do Arco do Limoeiro (hoje rua Augusto Rosa), no seio de um ambiente familiar tranquilo, profundamente marcado pela figura materna, cuja influência foi decisiva para a sua vida.

Na verdade, a sua mãe, apesar de contar somente com a instrução primária, tinha como grande paixão a literatura, sentimento que transmitiu ao filho Rómulo, assim baptizado em honra do protagonista de um drama lido num folhetim de jornal. Responsável por uma certa atmosfera literária que se vivia em sua casa, é ela que, através dos livros comprados em fascículos, vendidos semanalmente pelas casas, ou, mais tarde, requisitados nas livrarias Portugália ou Morais, inicia o filho na arte das palavras. Desta forma Rómulo toma contacto com os mestres - Camões, Eça, Camilo e Cesário Verde, o preferido - e conhece As Mil e Uma Noites, obra que viria a considerar uma da suas bíblias.

Criança precoce, aos 5 anos escreve os primeiros poemas e aos 10 decide completar “Os Lusíadas” de Camões. No entanto, a par desta inclinação flagrante para as letras, quando, ao entrar para o liceu Gil Vicente, toma pela primeira vez contacto com as ciências, desperta nele um novo interesse, que se vai intensificando com o passar dos anos e se torna predominante no seu último ano de liceu.

Este factor será decisivo para a escolha do caminho a tomar no ano seguinte, aquando da entrada na Universidade, pois, embora a literatura o tenha acompanhado durante toda a sua vida, não se mostrava a melhor escolha para quem, além de procurar estabilidade, era extremamente pragmático e se sentia atraído pelas ciências justamente pelo seu lado experimental. Desta forma, a escolha da área das ciências, apesar de não ter sido fácil, dá-se.

E assim, enquanto Rómulo de Carvalho estuda Ciências Fisico-Químicas na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, as palavras ficam guardadas para quando, mais tarde, surgir alguém que dará pelo nome de António Gedeão.

Em 1932, um ano depois de se ter licenciado, forma-se em ciências pedagógicas na faculdade de letras da cidade invicta, prenunciando assim qual será a sua actividade principal daí para a frente e durante 40 anos - professor e pedagogo.

Começando por estagiar no liceu Pedro Nunes e ensinar durante 14 anos no liceu Camões, Rómulo de Carvalho é, depois, convidado a ir leccionar para o liceu D. João III, em Coimbra, permanecendo aí até, passados oito anos, regressar a Lisboa, convidado para professor metodólogo do grupo de Físico-Químicas do liceu Pedro Nunes.

Exigente, comunicador por excelência, para Rómulo de Carvalho ensinar era uma paixão. Tal como afirmava sem hesitar, ser Professor tem de ser uma paixão - pode ser uma paixão fria mas tem de ser uma paixão. Uma dedicação. E assim, além da colaboração como co-director da “Gazeta de Física” a partir de 1946, concentra, durante muitos anos, os seus esforços no ensino, dedicando-se, inclusivé, à elaboração de compêndios escolares, inovadores pelo grafismo e forma de abordar matérias tão complexas como a física e a química. Dedicação estendida, a partir de 1952, à difusão científica a um nível mais amplo através da colecção Ciência Para Gente Nova e muitos outros títulos, entre os quais Física para o Povo, cujas edições acompanham os leigos interessados pela ciência até meados da década de 1970. A divulgação científica surge como puro prazer - agrada-lhe comunicar, por escrito e com um carácter mais amplo, aquilo que, enquanto professor, comunicava pela palavra.

A dedicação à ciência e à sua divulgação e história não fica por aqui, sendo uma constante durante toda a sua a vida. De facto, Rómulo de Carvalho não parou de trabalhar até ao fim dos seus dias, deixando, inclusive trabalhos concluídos, mas por publicar, que por certo vêm engrandecer, ainda mais, a sua extensa obra científica.Apesar da intensa actividade científica, Rómulo de Carvalho não esquece a arte das palavras e continua, sempre, a escrever poesia. Porém, não a considerando de qualidade e pensando que nunca será útil a ninguém, nunca tenta publicá-la, preferindo destruí-la.

Só em 1956, após ter participado num concurso de poesia de que tomou conhecimento no jornal, publica, aos 50 anos, o primeiro livro de poemas Movimento Perpétuo. No entanto, o livro surge como tendo sido escrito por outro, António Gedeão, e o professor de física e química, Rómulo de Carvalho, permanece no anonimato a que se votou.

O livro é bem recebido pela crítica e António Gedeão continua a publicar poesia, aventurando-se, anos mais tarde, no teatro e,depois, no ensaio e na ficção.

A obra de Gedeão é um enigma para os críticos, pois além de surgir, estranhamente, só quando o seu autor tem 50 anos de idade, não se enquadra claramente em qualquer movimento literário. Contudo o seu enquadramento geracional leva-o a preocupar-se com os problemas comuns da sociedade portuguesa, da época.

Nos seus poemas dá-se uma simbiose perfeita entre a ciência e a poesia, a vida e

o sonho, a lucidez e a esperança. Aí reside a sua originalidade, difícil de catalogar, originada por uma vida em que sempre coexistiram dois interesses totalmente distintos, mas que, para Rómulo de Carvalho e para o seu “amigo” Gedeão, provinham da mesma fonte e completavam-se mutuamente.

A poesia de Gedeão é, realmente, comunicativa e marca toda uma geração que, reprimida por um regime ditatorial e atormentada por uma guerra, cujo fim não se adivinhava, se sentia profundamente tocada pelos valores expressos pelo poeta e assim se atrevia a acreditar que, através do sonho, era possível encontrar o caminho para a liberdade. É deste modo que “Pedra Filosofal”, musicada por Manuel Freire, se torna num hino à liberdade e ao sonho.E, mais tarde, em 1972, José Nisa compõe doze músicas com base em poemas de Gedeão e produz o álbum “Fala do Homem Nascido”.

O professor Rómulo de Carvalho, entretanto,após 40 anos de ensino,em 1974, motivado em parte pela desorganização e falta de autoridade que depois do 25 de Abril tomou conta do ensino em Portugal decide reformar-se. Exigente e rigoroso, não se conforma com a situação. Nessa altura é convidado para leccionar na Universidade mas declina o convite.Incapaz de ficar parado, nos anos seguintes dedica-se por inteiro à investigação publicando numerosos livros, tanto de divulgação científica, como de história da ciência. Gedeão também continua a sonhar, mas o fim aproxima-se e o desejo da morrer determina, em 1984, a publicação de Poemas Póstumos.

Em 1990, já com 83 anos, Rómulo de Carvalho assume a direcção do Museu Maynense da Academia das Ciências de Lisboa, sete anos depois de se ter tornado sócio correspondente da Academia de Ciências, função que desempenhará até ao fim dos seus dias.

Quando completa 90 anos de idade, a sua vida é alvo de uma homenagem a nível nacional. O professor, investigador, pedagogo e historiador da ciência, bem como o poeta, é reconhecido publicamente por personalidades da política, da ciência, das letras e da música.

Infelizmente, a 19 de Fevereiro de 1997 a morte leva-nos Rómulo de Carvalho. Gedeão, esse já tinha morrido alguns anos antes, aquando da publicação de Poemas Póstumos e Novos Poemas Póstumos.

Avesso a mostrar-se, recolhido, discreto, muito calmo, mas ao mesmo tempo algo distante, homem de saberes múltiplos e de humor subtil, Rómulo de Carvalho que nunca teve pressa, mas em vida tanto fez, deixa, em morte, uma saudade imensa da parte de todos quantos o conheceram e à sua obra.

Para esta fase 2 do projeto 1, foi necessário escolher um poeta com que o nosso alter ego se identificasse e um poema para ser trabalhado no poemário. Escolhi o poema Rosa Branca ao Peito, de António Gedeão.

Escolher António Gedeão para Maria Rosa, foi como dar-lhe um pon-to de abrigo emocional. Para uma rapariga sonhadora, cheia de ideias, mas também não conformada com a sociedade e com muitas dúvidas acerca da vida, é neste poeta que encontra um equilíbrio e uma voz que a faz manter o foco naquilo em que acredita. Este poema fá-la ter menos medo de errar.

inspirações

Rosa Branca ao PeitoTeu corpinho adolescente cheira a princípio do mundo.Ainda está por soprar a brisa que há-de agitar a tua seara.Ainda está por romper a seara que há-de rasgar o teu solo fecundo.Ainda está por arrotear o solo que há-de sorver a água clara.Ainda está por ascender a nuvem que há-de chover a tua chuva.Ainda está por arder o sol que há-de evaporar a água da tua nuvem.

Mas tudo te espera desde o princípio do mundo:a doce brisa, a verde seara, o solo fecundo.Tudo te espera desde o princípio de tudo:a água clara, a fofa nuvem, o sol agudo.

Tu sabes, tu sabes tudo.Tu és como a doce brisa, a verde seara e o solo fecundoque sabem tudo desde o princípio do mundo.Tu és como a água clara, a fofa nuvem e o sol agudoque desde o princípio do mundo sabem tudo.O teu cabelo sabe que há-de crescere que há-de ser louro.As tuas lágrimas sabem que hão-de corrernas horas de choroOs teus peitos sabem que hão-de estremecerno dia do riso.O teu rosto sabe que há-de enrubescerquando for preciso.

Quando te sentires perdidafecha os olhos e sorri.Não tenhas medo da Vidaque a Vida vive por si.Tu és como a doce brisa, a verde seara e o solo fecundoque sabem tudo desde o princípio do mundo.tu és como a água clara, a fofa nuvem e o sol agudo.A tua inocência sabe tudo.

Rikako Nagashima in https://codeandtheory.invisionapp.com/boards/FW1MUPNTZJKCS#/2745851

Mathieu Visentin, Les Désenchantés lunchtime talk - typo/graphic posters, in http://www.baubauhaus.com/

à diteira trabalhos de Piet Zwartem baixo El Lissitzky, Proun (1922)

Hot Spots e Vierkant Plat Rond advertising for NKF (1926)

Mark Nystrom, Wind Drawings em cimaBridget Riley, Fragment I (1965) em baixo

à direita Eds. Marc Roig Blesa & Rogier Delfos, Werker 2 – A Spoken History of the Young Worker

Kate Callan, Pull Tim Hollander, Contemporarier Poems (2016)

Hervé Tullet, Lines & Tape (2016)