Familia Brasileira No Contexto Historico e Cultural

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Família Brasileira no contexto histórico e cultural

Elizabeth carvalho dias cayres

Para se refletir sobre a formação da família brasileira hoje, faz-se necessário entender os

aspectos históricos e culturais que têm marcado a sua formação social. O aspecto mais

importante a destacar é sua formação multiétnica e pluricultural. A imensa extensão territorial

brasileira, colonizada por povos de diferentes etnias, determinou o aparecimento de uma grande

diversidade de culturas, e conseqüentemente de famílias, em nosso território. Contudo, a cada

período da história, ocorre um modelo hegemônico de família sobre as outras como veremos a

seguir.

Segundo Bruschini (2000), nos primeiros séculos de colonização temos como modelo dominante

de organização a família tradicional, patriarcal, extensa, rural que resultou da adaptação do

modelo de família trazido pelos portugueses ao modelo sócio-econômico em vigor no país. Este

estilo de família impôs seu domínio na Colônia, subjugando os indígenas e, mais tarde, com a

importação dos escravos negros, os portugueses foram destruindo formas familiares próprias

desses grupos que aqui chegavam.

O “pater famílias”, chefe da família, concentrava as funções militantes, empresariais e afetivas.

Com uma distribuição extremamente rígida e hierárquica de papéis, a família patriarcal

caracteriza-se também pelo controle da sexualidade feminina e regulamentação da procriação,

para fins de herança e sucessão. A sexualidade masculina se exercia, no entanto, livremente. Os

casamentos eram realizados por conveniência, entre parentes ou entre membros de grupos

econômicos que desejavam estabelecer alianças. Como a atração sexual ou outras razões de

ordem afetiva estivessem alheias a esse contrato, considerava-se legítimo que os homens

buscassem satisfação sexual e emocional fora da órbita legal do matrimônio, mantendo

concubinas, com as quais tinham filhos ilegítimos.

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A família patriarcal era um extenso grupo composto pelo núcleo conjugal e sua prole legítima, ao

qual se incorporavam parentes, afilhados, agregados, escravos e até mesmo concubinas e

bastardos, todos abrigados sob o mesmo teto, na casa grande ou na senzala.

Essa característica senhorial foi observada também pelas famílias não proprietárias, das

camadas intermediárias – comerciantes, funcionários públicos, militares e profissionais liberais

(Ibidem, 2000).

A família patriarcal era uma forma dominante de constituição social e política e tinha no seu

poder, o controle dos recursos da sociedade.

A partir da segunda metade do século XIX, com o início do processo de industrialização, opera-se

uma mudança na família e o modelo patriarcal, vigente até então, passa a ser questionado.

Começa a se desenvolver a família conjugal moderna, na qual o casamento se dá por escolha

dos parceiros, com base no amor romântico, tendo como perspectiva a superação da dicotomia

entre amor e sexo e novas atribuições para os papéis do homem e da mulher no casamento.

Modernizaram-se as concepções sobre o lugar da mulher nos alicerces da moral familiar e social.

A nova mulher, “moderna”, deveria ser educada para desempenhar o papel de mãe, educadora –

dos filhos, e de suporte do homem para que este pudesse enfrentar a labuta do trabalho fora de

casa. A “boa esposa” e “boa mãe” deveria ser prendada e deveria ir à escola, aprender a ler e

escrever para bem desempenhar sua missão como educadora.

Essa família apresentava-se como uma família nuclear, reduzida ao pai, mãe e filhos, organizada

hierarquicamente em torno de uma rígida divisão sexual de papéis, onde o homem era

responsável pelo sustento da família e a esposa pela educação dos filhos e cuidados do lar. Esse

novo modelo de família institui novos padrões de educação dos filhos, e atribui alto valor à

privacidade e intimidade nas relações entre pais e filhos. A domesticidade, o amor romântico e o

amor materno tornaram-se suas pedras angulares.

A existência de traços da família patriarcal na família conjugal moderna persistem até o século

XX, fundamentada inclusive na legislação, pois, no Brasil, somente na Constituição de 1988 a

mulher e o homem são assumidos com igualdade no que diz respeito aos direitos e deveres na

sociedade conjugal.

Esse processo de modernização se realiza de forma não-linear, não existindo propriamente a

superação de um “modelo” pelo outro. Alguns pesquisadores do campo da família, entre eles

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podem ser citados Sarti (2003) e Mioto (1997), entendem que os “modelos” patriarcal e conjugal

permanecem existindo como tais até os dias atuais, havendo a predominância de um ou de outro,

dependendo da camada social a que pertence a família.

Na contemporaneidade, as mudanças ocorridas na família relacionam-se com a perda do sentido

da tradição. Vivemos numa sociedade onde a tradição vem sendo abandonada como em

nenhuma outra época da história. Assim, o amor, o casamento, a família, a sexualidade e o

trabalho, antes vividos a partir de papéis preestabelecidos, passam, a ser concebidos como parte

de um projeto em que a individualidade conta decisivamente e adquire cada vez mais importância

social.

É a partir dos anos 90 que a família brasileira apresenta mudanças significativas em todos os

seguimentos da população.

Segundo Mioto (1997), com base na análise da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílio-

IBGE (PNAD), a família dos anos 90 tem uma configuração marcada pelas seguintes

características populacionais:

1) Número reduzido de filhos. A família brasileira entra nos anos 90 com uma

média de 2,5 filhos, em contraposição aos anos 60, cuja média era de 6,3 filhos.

Este dado indica queda acentuada da taxa de fecundidade das mulheres

brasileiras.

2) Concentração da vida reprodutiva das mulheres nas idades mais jovens (até

trinta anos). Isto significa que as mulheres passam menos tempo de sua vida em

função da reprodução e têm mais tempo para se dedicar a outras atividades

(trabalho, relação conjugal).

3) Aumento da concepção em idade precoce. Isto implica o aumento da gravidez

entre adolescentes.

4) Aumento da co-habitação e da união consensual. Este aspecto tem como

conseqüência o fato de a co-habitação não ser mais considerado como sinal de

pobreza. E, paralelamente ao aumento das uniões consensuais, houve um avanço

da união legal (aumento do número de casamentos civis) em contraposição à

união religiosa (queda do número de casamentos religiosos).

5) Predomínio das famílias nucleares (pai, mãe, filhos). Embora se registre uma

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queda desse tipo de organização familiar (em 1981, 81% das famílias eram

nucleares; em 1989 essa porcentagem caiu para 79,5%), as famílias nucleares

ainda são predominantes ao contexto brasileiro.

6) Aumento significado das famílias monoparentais, com predominância das

mulheres como chefes da casa. Em termos de dados, em 1981 registrou-se

16,8%.

7) Aumento das famílias recompostas. Este fato é conseqüência do aumento das

separações e dos divórcios nos últimos anos.

8) População proporcionalmente mais velha. O crescimento da população idosa

está condicionada ao aumento da expectativa de vida média da população. A

média de identidade da população brasileira em 1950 era de 18,8 anos e apenas

4,2% tinham mais de sessenta anos. Em 1991 a idade média ficou em 24,8 anos,

e a população acima de sessenta anos passou a ser de 7,8%. Isto significa um

aumento de encargos da família relacionado ao cuidado com idosos.

9) Aumento de pessoas que vivem sós (1977: 118-119).

Essas mudanças têm sido compreendidas como decorrentes de uma multiplicidade de aspectos.

Sarti (2007), referencia a pílula anticoncepcional, que foi difundida a partir da década de 1960,

como aquela que separou a sexualidade da reprodução e interferiu decisivamente na sexualidade

feminina. Esse fato criou condições para que a mulher deixasse de ter sua vida e sua sexualidade

atadas à maternidade como um “destino” e com isso, recriou o mundo subjetivo feminino e, aliado

a essa expansão, ampliou as possibilidades de atuação da mulher no mundo social.

Mais tarde, a partir dos anos 80, as novas tecnologias reprodutivas – seja inseminações artificiais,

seja fertilizações in vitro – dissociaram a gravidez da relação sexual entre homem e mulher. Isso

provoca “mudanças substantivas”, as quais novamente afetaram a identificação da família com o

mundo natural, que fundamenta a idéia de família e parentesco do mundo ocidental judaico-

cristão. (Strathern, 1955 apud Sarti, 2007).

A saída da mulher do mundo privado para o público através do trabalho remunerado, também

abalou os alicerces familiares, pois até pouco tempo atrás o homem era o provedor e à mulher

cabia quase que exclusivamente o cuidado dos filhos e da casa.

Outro fator importante foi o modelo de desenvolvimento econômico adotado pelo Estado

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brasileiro, que teve como conseqüência o empobrecimento acelerado das famílias na década de

80, a migração agravada do campo para a cidade e a entrada de um contingente muito grande de

mulheres e crianças no mercado de trabalho.

Essas mudanças, ocorridas com a família na contemporaneidade tiveram profundas implicações

na configuração familiar originando vários modelos de família.

Szymanski (2002), dentre vários autores que estudaram sobre os grupos familiares, destaca

Kaslow (2001) por citar nove tipos de composição familiar que podem ser consideradas “família”:

1) família nuclear, incluindo duas gerações, com filhos biológicos;

2) famílias extensas, incluindo três ou quadro gerações;

3) famílias adotivas temporárias (Foster);

4) famílias adotivas, que podem ser bi-raciais ou multiculturais;

5) casais;

6) famílias monoparentais, chefiadas por pai ou mãe;

7) casais homossexuais com ou sem crianças;

8) famílias reconstituídas depois do divórcio;

9) várias pessoas vivendo juntas, sem laços legais, mas com forte

compromisso mútuo (2002: 10).

Portanto, como se pode observar, não existe historicamente e culturalmente, um modelo padrão

de organização familiar e por isso, não existe a família regular. Precisamos pensar as famílias

hoje de forma plural, nos seus vários arranjos familiares.

A vida familiar faz parte do mundo real ou simbólico de todas as pessoas e esta é marcada

fortemente por valores morais, religiosos e ideológicos. Por esta razão é que se faz necessário

entender a família através do seu conceito, função e estrutura para que a nossa intervenção com

a família não seja analisada a partir do nosso conceito próprio de família e de enfatizar as

relações parentais a partir da consangüinidade como veremos a seguir.

Como vimos, na breve contextualização histórica e cultural da família brasileira, torna-se

impossível formular uma conceituação única sobre família por ser esta uma instituição cultural e

historicamente condicionada. Por isso, precisamos do auxílio de outras ciências, a fim de

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obtermos uma leitura mais enriquecedora, pois não existem conceituações certas ou erradas se

considerarmos que a família é o “lócus” da subjetividade.

O termo “família” é derivado do latim “famulus”, que significa “escravo doméstico”. Este termo foi

criado na Roma Antiga para designar um novo organismo social que surgiu entre as tribos latinas,

ao serem introduzidas à agricultura e também escravidão legalizada. Esse novo organismo

caracterizava-se pela presença de um chefe que mantinha sob seu poder a mulher, os filhos e um

certo número de escravos, com poder de vida e morte sobre todos eles. Desde então, o termo

família tem designado instituições e agrupamentos sociais bastantes diferentes, entre si, do ponto

de vista de suas funções e estrutura.

No direito romano clássico a “família natural” é baseada no casamento e no vínculo de sangue e

o seu agrupamento constituído apenas dos cônjuges e de seus filhos. Essa família tem como

base o casamento e as relações jurídicas dele resultantes, entre os cônjuges, e pais e filhos.

Esse conceito teve bastante influência da Igreja Católica através do direito canônico, no direito

brasileiro, até bem pouco tempo.

Foi por meio do estudo das estruturas elementares do parentesco que Lévy-Strauss (1976 apud

Mioto, 1997) chegou à tese de que a família surgiu no imbricamento entre a natureza e a cultura,

com a invenção do tabu do incesto. Essa tese permitiu afirmar a supremacia da regra cultural da

afinidade sobre a regra natural da consangüinidade. A proibição do incesto está diretamente

ligada a origem das regras do casamento que está calcado num sistema geral de trocas ao qual

se denomina exogamia. Sua conseqüência é garantir a vitalidade dos grupos humanos, excluindo

a possibilidade de ser a família biológica um sistema fechado de relações.

O parentesco é uma estrutura formal que resulta da combinação de três tipos de relações

básicas: a relação de consangüinidade entre irmãos; a relação de descendência entre pai e filho e

mãe e filho; e a relação de afinidade que se dá através do casamento.

Segundo Sarti (2003:41), foi através de Lévi-Strauss “com as estruturas elementares do

parentesco, que se deu o passo decisivo para a desnaturalização da família ao retirar da família

biológica o foco principal e voltar sua atenção para o sistema de parentesco como um todo”. A

partir desse estudo, o laço de parentesco foi instituído como um fato social e não natural e com

isso a família entra definitivamente no terreno da cultura. Pois para ele, o fundamento da família

não está na natureza biológica do homem, mas na sua natureza social; as famílias se constituem

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como aliança entre grupos.

Bruschini (2000), vai nos mostrar que, para a sociologia, a família é um grupo aparentado,

responsável, principalmente, pela socialização de suas crianças e pela satisfação de

necessidades básicas. Ela consiste em um aglomerado de pessoas relacionadas entre si pelo

sangue, casamento, aliança ou adoção, vivendo juntas, em geral, em uma mesma casa por um

período de tempo indefinido. Ela é considerada uma unidade social básica e universal por ser

encontrada em todas as sociedades humanas, de uma forma ou de outra.

O interesse pela família pelas correntes marxistas, surgiu na segunda metade da década de 70

quando começaram a se preocupar com a inexistência de uma teoria da população. Esses

estudos surgem com base nas estratégias de sobrevivência das camadas populares e na

reprodução do trabalhador. A família passa a ser definida como a unidade social na qual se

realiza a reprodução do trabalhador. Ela é percebida por esta corrente como um centro de vida

coletivo e de liberdade, ainda que dentro de poucos recursos. As tensões e os conflitos são

enormes dentro do grupo, mesmo porque as necessidades e aspirações devem ser consideradas

com rendimentos precários. Mas a família é também o núcleo dentro do qual as pessoas obtêm

seu prazer, via alimentação, sexualidade e lazer.

Segundo Mioto (1997), a diversidade de arranjos familiares existentes hoje na sociedade

brasileira nos leva a definir a família como um núcleo de pessoas que convivem em determinado

lugar, durante um lapso de tempo mais ou menos longo e que se acham unidas (ou não) por

laços consangüíneos. Ela tem como tarefa primordial o cuidado e a proteção de seus membros, e

se encontra dialeticamente articulada com a estrutura social na qual está inserida.

Para Draibe (2005 apud Carvalho, 2005), a família é uma instituição social que, independente das

variantes de desenhos e formatações da atualidade, se constitui num canal de iniciação e

aprendizado dos fatos e das relações sociais, bem como em uma unidade de renda e consumo.

As famílias como agregações sociais, ao longo dos tempos, assumem ou renunciam funções de

proteção e socialização dos seus membros, como resposta às necessidades da sociedade

pertencente. Nesta perspectiva, as funções da família regem-se por dois objetivos, sendo um de

nível interno, como a proteção psicossocial dos membros, e o outro de nível externo, como a

acomodação a uma cultura e sua transmissão.

Segundo Ariès (1981), na aristocracia dos séculos XVI e XVII não havia separação rigorosa entre

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o público e o privado, pois as famílias viviam nas ruas, nas festas, não se isolavam. A família não

tinha a função afetiva e socializadora, mas era constituída visando apenas à transmissão da vida,

à conservação dos bens, a prática de um ofício, a ajuda mútua e a proteção da honra e da vida

em caso de crise.

No período pré-industrial, homens, mulheres e crianças trabalhavam juntos tanto na casa quanto

no campo e a unidade familiar era antes de tudo uma unidade com uma função econômica que

consistia na produção de bens e serviços necessários para o seu sustento. Os membros das

famílias tinham deveres claramente definidos, determinados em função de sua idade e posição no

grupo familiar e de seu sexo. É necessário um grande número de filhos e outros parentes

disponíveis para trabalhar na produção de bens e consumos. Esses parentes habitam o mesmo

teto ou ficam bastante próximos uns dos outros de um modo geral, os avós, os filhos, as

mulheres, os netos etc.

Uma das funções importantes dessa família extensa é o auxílio aos seus membros para a

solução de seus problemas, quer sejam financeiro, de saúde ou de amparo psicológico. Nas

sociedades urbanas, essa função, exercida pelos grupos de parentes, foi substituída pelas

organizações formais que realizam empréstimos, atendem os doentes e fornecem todo tipo de

assistência.

Com a revolução industrial do século XIX e a industrialização, ocorre uma mudança na função

econômica da família que provocou o surgimento de duas esferas distintas: de um lado a unidade

doméstica, de outro a unidade de produção. À mulher coube a reprodução da força de trabalho na

esfera privada do lar e sem remuneração, enquanto ao homem coube o trabalho produtivo

extralar, pelo qual passou a receber uma remuneração.

Segundo Bruschini (2000), essa ruptura entre local de produção e local de reprodução trazida

pelo capitalismo reduz a função econômica da família à produção de valores de uso ou prestação

de serviços domésticos, através do trabalho doméstico, já que a produção de bens propriamente

dita passa a ser feita no mercado, nas fábricas, nas empresas.

Com a urbanização, alguns membros da família, não podem permanecer durante toda a vida

morando próximo a seus parentes, sua localização dependerá em grande medida de onde

estudará e onde trabalhará. Nesses locais, estabelecem novos laços sociais e constituem uma

nova família que terá menos influência do grupo consangüíneo.

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A função da família hoje, na sociedade capitalista, é de uma unidade de renda e de consumo. Ela

não produz mais o que o grupo precisa para sobreviver, mas compra no mercado o necessário

para cada um dos seus membros. A família passa então a ser um grupo que compartilha um

orçamento, com entradas em dinheiro e saídas em gastos. Nesse sentido, a família é também

uma soma de rendimentos.

A função socializadora (educativa) dentro da família é a mais importante porque prepara a criança

para o seu ingresso na sociedade com a transmissão da herança social e cultural por intermédio

da educação dos filhos.

Ao exercer ação socializadora, a família atua também como agência de transmissão da ideologia

através de hábitos, costumes, idéias, valores, padrões de comportamento dependendo do status

social da família.

Uma outra função da família que vem sendo contextualizada é a que diz respeito a assistência

aos seus membros. Em todas as sociedades, a família é basicamente responsável pela proteção

física, econômica e psicológica de seus membros. Diz respeito, também, aos cuidados que a

família dispensa aos seus membros tanto nas situações do dia-a-dia quanto nas situações que

exigem um maior cuidado (doenças, por ex.). E este cuidado se processa num continum que vai

da infância até a velhice.

Szymanski (2000), ressalta:

A estrutura familiar não é um determinante da forma como se dá a solicitude, ou

do modo das pessoas cuidarem de sua relação numa família. Duas famílias com a

mesma composição podem apresentar modos de relacionamento completamente

diferentes. O que conta, nesse caso, são suas histórias, a classe social de

pertencimento, a cultura familiar e sua organização significativa do mundo (Ibidem:

17).

Portanto, podemos entender a família como espaço privilegiado de socialização através da

tolerância, da divisão de responsabilidades entre seus membros, da busca coletiva de meios para

sobrevivência, do respeito mútuo, da afetividade e de um lugar de igualdade onde todos buscam

o bem comum. Independentemente do arranjo familiar ou da forma como vem sendo estruturada

é na família que ocorre a proteção integral dos filhos e demais membros garantindo-lhes a

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sobrevivência e o desenvolvimento.

Antes de conhecermos como se organizam e se estruturam as famílias pobres no seu cotidiano,

precisamos contextualizar a trajetória da terminologia da pobreza que vem se modificando ao

longo dos tempos.

Valladares (1995 apud Germano, 1998), estudou três momentos dessa trajetória, no Brasil, que

vai da condição de vadio, na virada do século, para o de excluído, nos anos 90.

No primeiro momento, o pobre era identificado em finais do século XIX, início do século XX, como

vadio, como alguém que se recusava a vender a sua força de trabalho no mercado capitalista. A

pobreza era de responsabilidade individual, de forte conotação moral, associada à idéia de

ociosidade, vagabundagem atribuindo-o a condição de “classes perigosas” e se localizava no

cortiço.

Havia uma clara divisão entre vadios (pobres) e trabalhadores. Nessa época, o país passava pela

transição de uma sociedade escravista para uma ordem capitalista em decorrência da

constituição do mercado de trabalho industrial e urbano.

Com o fim da escravidão, muitos ex-escravos, recém libertos, foram reconstruir suas vidas nos

Quilombos, mas outros ficaram nos centros urbanos perambulando pelas ruas sem nenhuma

ocupação. Segundo Neder (2005), a essa massa de ex-escravos foi vedada à propriedade da

terra, pois se argumentava sobre a impossibilidade de se fazer reforma agrária sem que a

“massa” estivesse preparada. Isto é, ao negro só cabia o trabalho escravo e na condição de

proprietário da terra este não saberia lidar com ela, pois não estava preparado para tal.

Essa preparação deveria vir do senhor do ex-escravo, pois se acreditava que este não teria

condições humanas tais como inteligência, aptidão etc para cultivar sozinho a terra. Esse discurso

da classe dominante estava imbuído de um racismo que apostava no branqueamento da

sociedade brasileira com a entrada dos imigrantes no Brasil para trabalhar nas plantações no

lugar dos escravos.

Á essas famílias pobres de origem africana, se dava um enfoque de famílias irregulares porque

não conseguiam dar conta das suas crianças que ficavam perambulando pelas ruas pedindo

esmolas, ou até mesmo roubando. Segundo Neder (2005), as mulheres eram rotuladas de

relaxadas, descuidadas, que pariam muitos filhos e os largavam no mundo sem o devido cuidado.

No século XX, nos anos 50 e 60 quando o processo de urbanização do desenvolvimento

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capitalista ampliou o mercado de trabalho marginalizando amplos segmentos da população, a

pobreza não mais resultaria da recusa do trabalhador ao mercado de trabalho, mas sim de

determinantes externos do indivíduo que apesar do crescimento urbano, a expansão do emprego

se mostrava insuficiente para absorver essa mão-de-obra, sobretudo em face da intensa

imigração. Ninguém mais deixava de trabalhar por vontade própria, pois o sistema produtivo é

que era incapaz de absorver a população formando assim, uma massa de marginalizados, uma

“população marginal” ou subempregado cuja localização na cidade era a favela. Nesse contexto,

favelado era sinônimo de pobre.

Sob a influência de organismos internacionais, a partir dos anos 60, um novo termo é introduzido

para caracterizar os pobres, qual seja: população de baixa renda. A pobreza é identificada com

insuficiência de renda, como sinônimo de “carência”, isto é, considera-se pobre todos os que não

apresentam condições de suprir necessidades básicas de cunho biológico e social.

O terceiro momento da periodização de Valladares diz respeito às décadas de 70, 80 e 90 com a

crise do modelo de desenvolvimento adotado.

A partir dos anos 70, o discurso econômico sobre a pobreza ganha novas configurações. Todos

os tipos de inserção no trabalho passam a ser considerados como uma forma de trabalho tais

como: trabalhador do setor informal, trabalhador por conta própria, trabalhador assalariado, até

mesmo trabalhador pobre, uma vez que o trabalhador e o pobre já não se encontravam mais tão

distantes e opostos, conforme a ideologia dominante atribuía no princípio do século. Muitos

trabalhadores regularmente empregados acabaram se tornando e se identificando como pobres

devido à crise econômica, dos fins dos anos 70, que se abateu no muno inteiro reduzindo o poder

aquisitivo do trabalhador.

Nos anos 80, observa-se uma outra mudança, uma nova territorialidade da pobreza, a “periferia”.

Nesse contexto, pobre passa a ser sinônimo de “morador de periferia”. Com a crise do regime

militar, ocorre a ascensão de movimentos sociais das “periferias urbanas” que demandavam ao

Estado: saúde, saneamento, habitação, creches, legalização de terrenos, entre outros. Eles

passam a figurar na cena urbana como novos atores sociais que se incorporam às lutas pela

redemocratização do país e pela conquista da cidadania e dos direitos sociais.

Já na década de 90, o discurso sobre a pobreza passa a ser qualificado de “exclusão social”. A

“exclusão” é, por tanto, a condição social da pobreza em tempos de globalização mundial e do

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sistema neoliberal que influencia a oferta de políticas sociais de caráter universais pelo Estado, o

qual passa a ser mínimo distanciando-se das questões sociais.

Nesse contexto, os “excluídos” aparecem como não-atores devido ao enfraquecimento dos

movimentos sociais e do Estado ser mínimo para as questões sociais delegando assim, a

responsabilidade que lhe é de dever à sociedade civil através das Organizações Não-

Governamentais (ONGs) e da Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) que

passam a interceder em favor dos pobres.

A partir dos “excluídos”, as ONGS e OSCIPS têm acesso às agências de financiamento de

projetos sociais, sejam elas internacionais ou governamentais.

Valladares (1995 apud Germano, 1998), comenta que a discussão sobre a exclusão faz surgir

algo de novo no que tange à reflexão sobre a cidadania, isto é, vai caracterizar a situação de não-

cidadania em que se encontram milhares de brasileiros desde a República e o Estado Novo. Essa

exclusão social teria duas faces: a do fundamento sócio-econômico e a da representação que se

faz sobre o excluído nas camadas socais mais favorecidas. Esse imaginário tem uma relação de

causa e efeito entre pobreza e violência, pobre e bandido produzindo um novo excluído passível

de eliminação física pelo perigo social que representa.Vemos constantemente esse fato na mídia

com as chacinas e execuções, com o tratamento que a sociedade dá aos pobres das

comunidades bem como a população de rua.

Outro referencial que Germano (1998) destaca é o de Takeuti (1993), que descreve a pobreza

como aquela que suscita compaixão e complacência, mas também é associada à sujeira, a

fedor, a feiúra, a grosseria, a negligência, a incultura, a violência, (...) e a morte (Ibidem:

52). (negrito nossos).

Percebemos assim, como a pobreza vem sendo concebida pela classe dominante sem levar em

consideração o mundo de significação do sujeito, sua potencialidade, sua realidade. Neste

sentido, julgamos oportuno apresentar as contribuições de Kallas (1997) e Sarti (2007) que nos

ajudam a melhor compreender a organização e a estrutura das famílias pobres.

Kallas (1997) através de sua pesquisa, com um grupo de famílias de baixa renda na favela de

Vigário Geral, observou que a família pobre se concebe como uma unidade de sobrevivência, um

espaço de solidariedade e de luta em comum. A sua relação familiar é predominantemente

hierárquica, complementar e segregada. A segregação se dá pela separação de tarefas, pela

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rígida divisão de atividades onde ao homem cabe o papel de provedor, o espaço da rua e a

mulher as tarefas domésticas, administração da casa e o cuidado com os filhos. O homem tem

pouca participação na educação dos filhos, pois à figura do pai é investida de autoridade e

respeito por terem um modelo tradicional de família.

A dinâmica hierárquica se dá principalmente entre marido e mulher e tende a se desfazer na

relação com os filhos quando estes crescem e participam da renda familiar. É muito comum

nestas famílias, o adolescente e até mesmo crianças abandonarem a escola para entrarem no

mercado de trabalho como complementação do orçamento doméstico. A escola pública por sua

vez é pouco sensível a realidade dessas crianças e adolescentes, distante de suas habilidades,

linguagem e interesses.

Com certa freqüência ocorre a violência, opressão, autoritarismo ou, às vezes, a indiferença e

raiva pelos maridos contra as mulheres. Em relação aos filhos, admitem punição física e castigo

como forma de educá-los.

Outra característica importante dessas famílias, segundo a referida autora, é a rede de

solidariedade entre a vizinhança e os parentes, que ali residem. Eles têm um acesso bastante

restrito ao lazer e à cultura.

O perfil das famílias é de pouca escolaridade que oscila entre o analfabetismo e uma

alfabetização precária; muitos chefes de família não têm carteira assinada, são biscateiros, vivem

de catar latas, papelão etc para poderem sobreviver; famílias nucleares (pai, mãe e filhos),

ampliadas (que incluem netos e avós), monoparentais (mulheres chefes de família), extensas

(prole com 3, 5 e até mais filhos); casa sobre palafitas, em becos, de tábua ou de alvenaria;

espaços, às vezes, insuficiente para o número de pessoas dentro da casa; diversidade da

pobreza referindo-se aquele que tem ou não comida em casa.

Para Kallas (1997), os valores estruturantes da família são:

• Presença de afetividade;

• A força das representações associadas aos papéis de pai e mãe;

• O sentimento de solidariedade e de união; o forte senso de ajuda mútua; a

crença na possibilidade de uma ação conjunta;

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• O valor do trabalho como fonte de superioridade moral – a ética de provedor;

• A prevalência de valores mais coletivos do que individuais;

• Valores altruístas (expressos pelos jovens), conformistas, a fé religiosa, a

esperança de ganhar na loto e no jogo do bicho (1997: 92).

Sarti (2007), dá ênfase a discussão do pobre através de dois paradigmas: o da produção e o da

cultura.

Segundo a autora, as ciências sociais brasileira focalizaram os pobres a partir de seu lugar na

produção. Elas passaram a identificar qualquer atividade econômica como trabalho, sem distinção

entre mercado formal e informal, ambos considerados como parte da divisão social do trabalho.

Os pobres que antes eram vistos pela classe dominante como “classe perigosa” passam a ser

definidos e identificados como os “trabalhadores”.

Conforme abordamos em outro momento, desta monografia, a família tornou-se objeto de estudo

a partir da análise de sua funcionalidade para o capital, como unidade de reprodução da força de

trabalho. Segundo Sarti, os estudos sobre família, mostrando as diferentes formas de inserção de

todos os seus membros no mercado de trabalho, e da mulher, dentro da análise da força de

trabalho feminina, contribuíram ao mesmo tempo para ampliar a noção de trabalhador. Foi nesse

contexto que as ciências sociais refletiram sobre a família entre os pobres.

Dentro de uma perspectiva sociológica de inspiração marxista, os pobres foram identificados

como aqueles destituídos de meios materiais, vendedores da força de trabalho, isto é, foram

olhados apenas em sua condição de dominados.

Sarti comentar que:

os pobres foram pensados como se sua identidade social fosse ou devesse ser

constituída exclusivamente a partir de sua determinação de classe, ou, de um

outro ponto de vista, como se suas ações fossem ou devessem ser motivadas pelo

interesse em satisfazer suas necessidades materiais, uma vez que eles foram

definidos por essa carência básica (2007: 39).

Page 16: Familia Brasileira No Contexto Historico e Cultural

A ótica da produção também se faz presente nas pesquisas sobre a família trabalhadora não

apenas como reprodução da força de trabalho, mas também a partir de suas estratégias de

sobrevivência concebendo a família como uma unidade de consumo.

Não podemos classificar a pobreza a partir de um único eixo, o da lógica da economia, porque ela

possui também uma dimensão social e simbólica, como veremos a seguir dentro do paradigma da

cultura.

Foi nos anos 50 e 60 que se acumulou bastante informação etnográfica sobre os pobres, suas

formas de organização social e seus valores, através dos estudos de comunidade, que

analisavam pequenos núcleos de população, tomados como totalidades isoladas.

Sarti observou em sua pesquisa, num bairro da periferia de São Paulo, que a família pobre possui

uma estrutura patriarcal dentro de uma hierarquia entre o homem e a mulher, entre os adultos e

as crianças, conferindo ao homem um lugar de autoridade, lugar este que ele não ocuparia no

mundo da rua ante suas condições de vida e trabalho.

É sobre o homem que recai mais fortemente o peso do fracasso de provedor por este se sentir

responsável pelos rendimentos familiares. Em contrapartida, a mulher, em seu desempenho

como boa dona-de-casa, espera-se que controle o pouco dinheiro recebido pelos que trabalham

na família, priorizando os gastos com a alimentação e driblando as despesas. Os que trabalham

devem comer mais do que os outros adultos, e os homens, trabalhadores/provedores, comem

mais que as mulheres.

Oferecer comida é um valor fundamental para os pobres na medida em que a alimentação é a

prioridade dos gastos familiares. Para eles, não ter o que comer, a fome significa não apenas a

brutal privação material, mas a privação da satisfação de dar de comer a alguém.

A divisão complementar de autoridade corresponde à diferenciação entre casa e família. À mulher

é identificada a casa, é a chefe da casa e o homem a família, é considerado o chefe da família.

Para o homem, a idéia de autoridade se dá como mediador da família com o mundo externo. Ele

é a autoridade moral, responsável pela respeitabilidade familiar. Cabe à mulher manter a unidade

do grupo. Ela é quem cuida de todos e zela para que tudo esteja em seu lugar. É a patroa da

casa.

As crianças, dentro das famílias pobres, desde muito cedo têm atribuições dentro de casa,

Page 17: Familia Brasileira No Contexto Historico e Cultural

ajudando nas tarefas domésticas, cuidando de crianças menores que elas e fora, nas ruas. A rua

apesar de ser um espaço da desordem, se torna um espaço de trabalho para as crianças

vendendo doces. O trabalho do jovem é diferenciado em relação ao da criança porque as suas

obrigações estão mais próximas as dos adultos e faz parte fundamental das obrigações

familiares.

O valor do trabalho referido à família para os pobres, o trabalho dos filhos –

crianças e jovens – faz parte do próprio processo de sua socialização como pobres

urbanos, em famílias nas quais dar, receber e retribuir constituem as regras

básicas de suas relações (Sarti, 2007: 106).

Uma outra característica dessas famílias seria sua configuração como rede, diferente da classe

média que se organiza em núcleo, envolvendo um sistema de obrigações morais que por vezes

dificulta a individualização e por outra viabiliza condições básicas para sua existência.

Segundo Carvalho (2005), a sobrevivência cotidiana das famílias empobrecidas apresenta três

tipos de solidariedade:

A Rede de Solidariedade Conterrânea e Parental é, geralmente, estabelecida em torno de

famílias em situações de discriminação e pobreza.

É expressa cotidianamente através dos empréstimos para pagar conta de luz ou

água (...) o grupo extenso, agregados de parentes e conterrâneos, ou a pequena

comunidade rural cria vínculos e sistemas próprios que garantem os padrões de

reprodução social (2005: 97).

A Rede de Solidariedade Apadrinhada é uma forma de estabelecer o consumo e usufruto de

determinados utensílios e materiais para as famílias pobres, que não teriam condições de possuir

e utilizar-se destes recursos.

Um ou mais membros da família do trabalhador mantém laços mais próximos com

as classes média e alta, seja como empregados domésticos, porteiros de prédios,

Page 18: Familia Brasileira No Contexto Historico e Cultural

jardineiros, etc. Este vínculo assegura um canal de doações de roupas, remédios,

eletrodomésticos (2005: 97).

A Rede de Solidariedade Missionária é estabelecida, normalmente, pelas igrejas católicas,

protestantes, espíritas ou pelas seitas afro-brasileiras, que exercem atividades das mais variadas

de proteção social.

A Igreja se faz presente no cotidiano da vida das famílias e comunidades. É a

instituição com maior credibilidade para esta população. É através dela que flui a

sociedade-providência organizada, que cria serviços assistenciais e de defesa

para a imensa demanda de justiça que esta população expressa (Ibidem: 98).

Estas solidariedades e processos são vividos, no entanto, com contradições e conflitos próprios

ao confinamento a que estão submetidos. O direito à privacidade não é sequer sonhado pelos

grupos familiares empobrecidos. Esse quadro se completa pela ausência de usufruto de bens e

serviços mínimos à sobrevivência material (saneamento básico, coleta de lixo, transporte,

trabalho...).

Hoje encontramos famílias, dentro das comunidades, com condições mínimas de sobrevivência

numa situação de maior vulnerabilidade e que precisam ser protegidas pelo Estado através de

políticas públicas. É no mínimo hipócrita atribuir a essas famílias uma função de proteção às

crianças e adolescentes sem lhes oferecer meios para isso. É preciso ter programas que atendam

a família e que combinem políticas de emprego, habitação, educação e formação profissional,

buscando a cooperação de diversos serviços.

A forma de envolvimento dessas famílias nesses programas não deve ser passiva, no mero

recebimento dos benefícios, mas sim na forma participante da responsabilidade partilhada. Se

pensarmos que a conceituação de negligência traz implícita a noção de fracasso no provimento

de necessidades básicas, torna-se necessário refletir sobre os padrões de assistência e proteção

que o Estado tem proporcionado às suas famílias, em especial às empobrecidas.

Vimos através da história que o atendimento às famílias pobres por parte do governo, sempre foi

marcado pela repressão e violência através da retirada de seus filhos do convívio familiar.

Page 19: Familia Brasileira No Contexto Historico e Cultural

Durante muito tempo, e até hoje, essas famílias foram vistas como desestruturadas e incapazes

de criar seus filhos.

Segundo Rizzini (1993), os modelos assistenciais predominantes no Brasil até o final da década

de 1930 foram o da caridade e o da filantropia.

A assistência caritativa, promovida pela igreja, era realizada através das Casas de Expostos

criadas e mantidas pela Santa Casa de Misericórdia que pretendia proteger a mãe da desonra,

além de salvaguardar a moral pública, conforme já sinalizamos.

As crianças atendidas nas casas eram submetidas à educação moral, o que nas famílias não

seria possível devido à “devassidão”, “indigência” e “má conduta” dos pais. Os defensores dessa

assistência acreditavam ser mais econômico socorrer às crianças nos asilos do que fazê-lo nas

famílias.

Nessa mesma década, de 30, a caridade pretendia “reconciliar o pobre com o rico” através das

Senhoras da Caridade que iam visitar as famílias, levando aos seus membros além da pregação

religiosa, hábitos de “economia, de ordem e de asseio”.

Rizzini (1993) comenta que a família e o menor tornaram-se objeto de investigação e intervenção

da assistência filantrópica muito antes do que da assistência estatal.

“Uma das finalidades do Instituto de Proteção e Assistência à Infância, fundada em

1901 pelo médico Moncorvo Filho, como modelo a ser seguido não só pela caridade,

mas também pelo Estado, era justamente o de investigar as condições em que

vivem as crianças pobres, especialmente a alimentação, roupas, habitação,

educação, instrução etc., com o fim de proporcionar-lhes o devido amparo,

procurando concentrar neste sentido os esforços de outras associações de caridade

religiosas” (Estatutos do I.P.A.I., 1903-1913, p.1 apud Rizzini).

A filantropia surge para dar continuidade à obra da caridade, mas sob uma nova concepção de

assistência. Não seria mais com esmola, mas sim a reintegração social daqueles que seriam os

eternos clientes da caridade: os desajustados. Suas finalidades são de cunho político, econômico

e moral e se aproxima com as ciências médicas e jurídicas.

Essas famílias pobres não tinham acesso ao agente que transmitia os novos valores morais que

Page 20: Familia Brasileira No Contexto Historico e Cultural

era o médico de família. Por isso, a estratégia que se utilizou foi através de palestras médicas

para mães pobres, treinando-as no cuidado à criança em relação à boa saúde física e moral.

Eram palestras sobre a higiene infantil com grande variedade de temas, tais como: nutrição da

criança, doenças infantis, higiene domiciliária, alcoolismo, educação infantil e medicina popular e

doméstica.

Para Moncorvo Filho (1907 apud Rizzini, 1993), a higiene estabelecia regras do modo de viver

com cuidados imprescindíveis sobre a habitação, alimentação, o vestir, o dormir, a educação.

Foram criadas clínicas e hospitais destinados às crianças e mulheres pobres, numa realização da

filantropia médica. Essa assistência, essencialmente preventiva, atingia não só às crianças

pobres, mas também às famílias que levavam para casa receitas médicas através dos conselhos

e ensinamentos sobre puericultura. Havia também serviços que serviam como instrumentos de

propaganda sobre a higiene infantil, e a distribuição de alimentos, roupas e brinquedos e o

atendimento em creches. A mulher sempre foi alvo importante da filantropia pelo seu papel de

mulher-mãe como sustentáculo moral da família.

Rizzini (1993), destaca O Instituto de Proteção e Assistência à Infância que associava os

objetivos da caridade aos da ciência ao levar na visita às casas dos doentes, a assistência

médica, espiritual e material. A Liga Brasileira de Higiene Mental, fundada em 1923, tinha como

objetivo restringir as investigações da situação médica e social das famílias, através de

“inquéritos”.

A medicina justifica o seu interesse pelas famílias pobres, alegando que estas são as mais

necessitadas dos conselhos médicos. A família é percebida como foco de doenças e como origem

de um grande contingente de improdutivos do país.

A assistência social por parte do Estado surge com a mudança do regime político do país. O

período republicano passou a concentrar-se na identificação e no estudo das categorias

necessitadas de proteção e reforma. Esses estudos foram realizados pelos órgãos estaduais e

municipais, como juizados de menores, secretarias de promoção do menor, fundações estaduais

e órgãos nacionais, como o Serviço de Assistência a Menores (SAM) e a Fundação Nacional de

Bem-estar do Menor (FUNABEM).

A Política Nacional de Bem-Estar do Menor (PNBEM) teve suas diretrizes fixadas pelo governo

Page 21: Familia Brasileira No Contexto Historico e Cultural

Castelo Branco cuja tônica era a da valorização da vida familiar e da integração do menor na

comunidade. A culpabilização da família pelo estado de abandono do menor não foi uma criação

dessa política e sim da construção da assistência à infância no Brasil. A idéia de proteção à

infância era antes de tudo proteção que não privilegiava a família.

A primeira grande instituição nacional de assistência social, a Legião Brasileira de Assistência

(LBA), atendia às famílias dos soldados que foram convocados para a Segunda Guerra Mundial.

Da assistência às famílias dos convocados, progressiva e rapidamente a LBA começa a atuar em

praticamente todas as áreas de assistência social com todas as famílias. Esses programas de

atendimento a família sempre foram focados nos seus membros, por isso, eram programas

voltados para as crianças, idosos, gestantes etc e não de atendimento de proteção da família.

Desde a crise econômica mundial, fins dos anos 70, a família vem sendo redescoberta como um

importante agente privado de proteção social.

Identificada como um dos mais antigos e autônomos provedores informais de bem-estar, ao lado

da vizinhança e dos grupos de amigos próximos, a família vem sendo pensada pelos gestores

das políticas públicas contemporâneas como um dos recursos privilegiados, apesar da sua pouca

visibilidade como tal.

Wanderley (1997 apud Mioto, 2004) destaca a “importância da família como lugar de busca de

condições materiais de vida, de pertencimento na sociedade e de construção de identidade,

principalmente nas experiências de insegurança, de perda de lugar na sociedade e de ameaça de

pauperização trazidas pelo desemprego” (Mioto, 2004: 148).

Mioto (2004) argumenta, que existem duas linhas de intervenção da relação entre Estado e

família no debate da contemporaneidade.

A primeira tende a olhar a família numa perspectiva de perda de funções, de

perda de autonomia e da própria capacidade de ação. Em contrapartida vê um

Estado cada vez mais intrusivo, cada vez mais regulador da vida privada. A

segunda tem indicado que a invasão do Estado na família tem se realizado através

não de uma redução de funções, mas, ao contrário, de uma sobrecarga de

funções (2004: 48).

Page 22: Familia Brasileira No Contexto Historico e Cultural

A atuação na família está voltada para a centralização de ações em situações limite ao invés das

situações cotidianas, isto é, atenção à família a partir da ótica da incapacidade e da falência.

Os programas de apoio sociofamiliar visam atender às faces mais cruéis dos problemas

relacionados à infância e à juventude (trabalho infantil, violência doméstica, prostituição). Aos

poucos esses programas têm se voltado para as dificuldades cotidianas das famílias na

perspectiva de dar-lhes sustentabilidade.

A família, na última década, tornou-se o elemento central da intervenção das políticas de

assistência social. A Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS, 1993) tem como objetivo a

proteção à família e esta é determinada como um dos focos de atenção da política de assistência

social.

A Política Nacional de Assistência Social (2004) descreve que “a família, independente dos

formatos ou modelos que assume, é mediadora das relações entre os sujeitos e a coletividade,

delimitando, continuamente os deslocamentos entre o público e o privado, bem como geradora de

modalidades comunitárias de vida”.

A importância da família no contexto da vida social está explícito no artigo 226 da Constituição

Federal do Brasil (1988), “Família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado”, no

artigo 16 da Declaração dos Direitos Humanos, que traduz a família como sendo o núcleo natural

e fundamental da sociedade e com direito à proteção da sociedade e do Estado e nas legislações

específicas – Estatuto da Criança e do Adolescente, Estatuto do Idoso e na Lei Orgânica da

Assistência Social.

Essa centralidade da família pressupõe que para a família prevenir, proteger, promover e incluir

seus membros é necessário garantir condições de sustentabilidade para tal. Por isso, a política de

Assistência Social é pautada nas necessidades das famílias, seus membros e dos indivíduos,

com cunho universalista através de redes socioassistenciais que suportem as tarefas cotidianas

de cuidado e que valorizem a convivência familiar e comunitária.

A Política Nacional de Assistência Social (PNAS) deve estar, fundamentalmente, inserida na

articulação com outras políticas sociais como: de saúde, educação, cultura, esporte, emprego,

habitação, entre outras para que as ações não sejam fragmentadas e o acesso e à qualidade dos

serviços sejam para todos os membros da família e indivíduos.

Page 23: Familia Brasileira No Contexto Historico e Cultural

Essa política possui três níveis de proteção à família:

Proteção Social Básica tem como objetivo prevenir situações de risco por meio do

desenvolvimento de potencialidades e aquisições, e o fortalecimento de vínculos

familiares e comunitários. Destina-se à população que vive em situação de

vulnerabilidade social decorrente da pobreza, privação (ausência de renda,

precária ou nulo acesso aos serviços públicos, dentre outros) e, ou, fragilização de

vínculos afetivos – relacionais e de pertencimento social (discriminações etárias,

étnicas, de gênero ou por deficiências, dentre outras) (PNAS, 2004:27).

Os serviços dessa proteção são executados de forma direta nos Centros de Referência da

Assistência Social (CRAS) cujos serviços são de fortalecimento dos vínculos internos e externos

de solidariedade. Nesse equipamento são executados os seguintes programas:

• Programa de Atenção Integral às Famílias;

• Programa de inclusão produtiva e projetos de enfrentamento da pobreza;

• Centros de Convivência para Idosos;

• Serviços socioeducativos para crianças, adolescentes e jovens;

• Programas de incentivo ao protagonismo juvenil e de fortalecimento dos vínculos

familiares e comunitários;

• Centros de informação e de educação para o trabalho, voltado para jovens e adultos.

Proteção Social Especial é a modalidade de atendimento assistencial

destinada a famílias e indivíduos que se encontram em situação de risco pessoal e

social, por ocorrência de abandono, maus tratos físicos e, ou, psíquicos, abuso

sexual, uso de substância psicoativas, cumprimento de medidas sócio-educativas,

situação de rua, situação de trabalho infantil, entre outras (Ibidem: 31).

Esses serviços têm estreita interface com o sistema de garantia de direito exigindo uma gestão

Page 24: Familia Brasileira No Contexto Historico e Cultural

mais complexa e compartilhada com o Poder Judiciário, Ministério Público e outros órgãos e

ações do Executivo. São executados os seguintes programas:

• Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PET);

• Programa de Combate à exploração Sexual de Crianças e Adolescentes.

A Proteção Social Especial pode ser de Média e Alta Complexidade.

Proteção Social Especial de Média Complexidade oferece atendimento às famílias e indivíduos

com seus direitos violados, mas cujos vínculos família e comunitário não foram rompidos e é

também dividida em Alta Complexidade.

Seus serviços são:

• Serviço de orientação e apoio sociofamiliar;

• Plantão Social;

• Abordagem de Rua;

• Cuidado no Domicílio;

• Serviço de habilitação e Reabilitação na comunidade das pessoas com deficiência;

• Medidas socioeducativas em meio-aberto (Prestação de Serviços à Comunidade – PSC

e Liberdade Assistida – LA).

Proteção Social Especial de Alta Complexidade os serviços de proteção social são

aqueles que garantem proteção integral – moradia, alimentação, higienização e

trabalho protegido para famílias e indivíduos que se encontram sem referência e,

ou, em situação de ameaça, necessitando ser retirados de seu núcleo familiar e,

ou, comunitário (Ibidem: 32).

Tais como:

• Atendimento Integral Institucional;

• Casa Lar;

• República;

• Casa de Passagem;

Page 25: Familia Brasileira No Contexto Historico e Cultural

• Albergue;

• Família Substituta;

• Família Acolhedora;

• Medidas socioeducativas restritivas e privativas de liberdade (semiliberdade, internação

provisória e sentenciada);

• Trabalho protegido.

O atendimento desses programas e serviços de média complexidade e alta são efetivados no

Centro de Referência Especializado da Assistência Social (CREAS) que visam a orientação e o

convívio sociofamiliar e comunitário.

Dentro da proteção básica de prevenção, para que as famílias não cheguem até outro nível de

proteção, temos o Programa de Atenção Integral à Família (PAIF) que é um serviço dirigido para

toda família: crianças, adolescentes, jovens, adultos, idoso e deficientes vulneráveis em função

de pobreza e de outros fatores de risco e/ou exclusão social.

Os CRAS são conhecidos como as Casas das Famílias que oferecem apoio pedagógico e

psicológico para superação dos problemas familiares, criando espaços de qualificação

profissional e humana e também desenvolvem projetos de criação de trabalho e renda articulados

com o Bolsa Família.

Há que se ressaltar a aprovação em dezembro de 2006, do Plano de Convivência Familiar e

Comunitária que prevê um conjunto de ações a serem desenvolvidas na esfera dos três

governos. Ele apresenta recomendações de ampliação de política de apoio à família e o

aprimoramento de medidas de proteção e de adoção.

Esse plano de convivência familiar e comunitária possibilita criança em permanecer no meio a

que pertence, tanto na família de origem como na sua comunidade ou em família substituta em

caso de violação dos direitos das crianças e do adolescente quando já se esgotou todos os

recursos para o não abrigamento. Viver em família e na comunidade é um direito assegurado pela

Constituição brasileira e pelo E.C.A..

Podemos perceber dentro do contexto histórico da criança e do adolescente em relação à

proteção a família ao longo dos tempos, um grande avanço nas políticas públicas de

enfrentamento da violação dos direitos tanto da criança e do adolescente quanto da família. Mas

Page 26: Familia Brasileira No Contexto Historico e Cultural

precisamos cada vez mais garantir esses direitos, principalmente no que diz respeito à

convivência familiar, pois ainda é comum nos dia de hoje, a retirada dos filhos dessa convivência

colocando-os em abrigos só por serem pobres. Faz-se necessário, uma análise mais aprofundada

por parte dos profissionais para que estas não sejem punidas duas vezes.

Embora muitas famílias sejam atendidas por essas políticas e programas, muitas também não o

são. O desconhecimento, a falta de informação, a inexistência de recursos, etc. contribuem para

que situações consideradas como negligente rondem estas famílias, dificultando uma real

apreciação quanto a estas famílias serem realmente negligentes com suas crianças ou serem

negligenciadas pelos órgãos públicos.

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