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FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DO PIAUÍ – FAESPI
CURSO DE BACHARELADO EM PSICOLOGIA
RAQUEL GUEDELHA CARVALHO
A REPRESENTAÇÃO DAS MULHERES NEGRAS NAS COLUNAS SOCIAIS DOS
JORNAIS IMPRESSOS DE TERESINA-PI
TERESINA – PI
2017
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RAQUEL GUEDELHA CARVALHO
A REPRESENTAÇÃO DAS MULHERES NEGRAS NAS COLUNAS SOCIAIS DOS
JORNAIS IMPRESSOS DE TERESINA-PI
Monografia apresentada à Faculdade do Ensino Superior do Piauí - FAESPI, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Psicólogo. Orientador: Profº. Me. Augusto Ferreira Dantas Júnior.
TERESINA – PI
2017
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RAQUEL GUEDELHA CARVALHO
A REPRESENTAÇÃO DAS MULHERES NEGRAS NAS COLUNAS SOCIAIS DOS
JORNAIS IMPRESSOS DE TERESINA-PI
Monografia apresentada à Faculdade do Ensino Superior do Piauí - FAESPI, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Psicólogo.
Aprovado em: _____/_____/2017.
BANCA EXAMINADORA
___________________________________________________ Profº. Me. Augusto Ferreira Dantas Júnior
Orientador Faculdade do Ensino Superior do Piauí – FAESPI
__________________________________________________ Profª. Me. Hivana Raelcia Rosa da Fonseca
1ª Examinadora
Faculdade do Ensino Superior do Piauí – FAESPI
_____________________________________________________
Profª. Me. Ana Carolina Magalhães Fortes 2ª Examinadora
Faculdade do Ensino Superior do Piauí – FAESPI
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AGRADECIMENTOS
A minha mãe, que nos momentos de desespero e cansaço me deu força e
coragem para lutar. Por ser o meu incentivo e a minha referência em todos os
sentidos. Todas as minhas conquistas são dedicadas a você. Ao meu pai pela
torcida e pelas risadas. Ao meu irmão, pois no momento em que mais precisei
estendeu sua mão para me ajudar.
Ao meu orientador Augusto Dantas, por acreditar no meu potencial, emprestar
seus livros e me encorajar com muito ânimo e alegria. E pelas palavras quando eu
achava que não ia dar certo: “vai sim, porque minha fia é morta de sabida”.
A minha professora Hivana Fonseca por enxergar em mim uma pessoa
capaz, por abraçar a minha pesquisa e por todas as indicações e referências acerca
do meu tema. A coordenadora Karolyna Pessoa por sempre se mostrar solícita
quando eu precisei.
A minha amiga Brena, pela companhia ao longo desses anos, principalmente
nesse ano de 2017. Aos meus amigos de faculdade Isabel, Inez, Récio, Márcia,
Claudiane e Gessyca pelo apoio ao longo desses cinco anos de convivência.
Aos meus amigos Ilka e Flávio pelo incentivo e pergunta diária: “cadê o
TCC”?
E a todas as escolhas que eu fiz até chegar aqui.
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O preconceito velado tem o mesmo efeito, mesmo estrago Raciocínio afetado, falar uma coisa e ficar do outro lado Se o tempo é rei vamos esperar a lei, Tudo que já passei nunca me intimidei Já sofri, já ganhei, aprendi, ensinei, Tentaram me sufocar mas eu respirei Há tanta gente infeliz com vergonha da beleza natural É só mais um aprendiz que se esconde atrás de uma vida virtual Gorda, preta, loira o que tiver que ser, magra, Santa, doida somos a força e o poder Basta, chega, bora, levanta a cabeça e vê.
Karol Konca
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RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo analisar a representação das mulheres negras nas colunas sociais dos jornais impressos de Teresina e em quais contextos essas mulheres aparecem. Nesse processo foram consideradas as concepções acerca da “ideologia do branqueamento”, a constituição da identidade negra no contexto escolar, a situação social da mulher negra no Brasil e de que forma a imagem dessa mulher vem sendo explorada pelos meios de comunicação. A pesquisa documental foi adotada enquanto procedimento metodológico, e nesse processo além de uma revisão bibliográfica acerca do tema, monitorou-se de agosto a outubro as colunas sociais dos dias de sexta-feira, sábado e domingo dos dois principais jornais do estado, com a finalidade de perceber mulheres negras e contextualizar suas aparições. Os resultados sugerem uma quase invisibilidade dessas mulheres nas colunas sociais, sendo inexpressivas numericamente em relação às suas aparições. Palavras-chaves: Mulheres negras. Jornais. Afrodescendência.
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ABSTRACT
This work aims to analyze the representation of black women on the social columns of Teresina newspapers and in which contexts these women use to appear. In this process, it was considered the conceptions about the "whiteness ideology", the black identity in the school context, the black woman social position in Brazil and how the image of this woman has been exploited by the media. Documentary research was adopted as a methodological procedure, and besides bibliographical review on the subject, social columns of the two main newspapers of Piauí State were monitored from August to October, for the purpose to perceive black and brown women and contextualize their appearances. The results suggest a practical invisibility of these women on social columns. Considering that Teresina's black and brown women are not a minority in the population. Key-words: Black women. Newspapers. African ancestry.
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO................................................................................................ 8
2 A IDEOLOGIA DO BRANQUEAMENTO NO BRASIL.................................. 11
3 A SITUAÇÃO SOCIAL DA MULHER NEGRA NO BRASIL.......................... 14 3.1 A REPRESENTAÇÃO DA MULHER NEGRA NOS MEIOS DE
COMUNICAÇÃO............................................................................................. 16
3.2 UM BREVE HISTÓRICO SOBRE A ORIGEM DAS COLUNAS SOCIAIS NO BRASIL.....................................................................................................
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3.3 A PSICOLOGIA ESCOLAR VOLTADA PARA OS NEGROS NA EDUCAÇÃO....................................................................................................
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4 METODOLOGIA............................................................................................. 26
5 RESULTADOS E ANÁLISE DOS RESULTADOS........................................ 29
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................... 40
REFERÊNCIAS.............................................................................................. 43
ANEXOS......................................................................................................... 47
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1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho propõe a análise da representação das mulheres negras
nas colunas sociais dos jornais impressos de Teresina PI, buscando perceber qual a
expressividade dessas mulheres sob a ótica da narração foto-jornalística de tais
meio de comunicação.
A pesquisa aborda fatos possíveis de serem observados no cotidiano do
leitor, afinal, em quase todas as empresas e locais de atendimento em geral,
encontra-se os principais jornais da cidade para que clientes possam folheá-los no
ato de uma espera. Além disso, as sessões das colunas sociais são coloridas,
facilitando a observação dos resultados.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010,
negros e pardos correspondem a cerca de 70% da população do país. Apesar da
grande diversidade étnica existente, o mito da democracia racial está distante de ser
uma verdade no Brasil. Se mais da metade da população brasileira se autodeclarou
negra ou parda, por que esse grupo ainda é tratado como minoria?
A desigualdade social existente revela um abismo na comparação entre
negros e brancos. Observa-se um forte componente racial. Conforme a Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) de 2015, aqueles autodeclarados negros
e pardos correspondiam a 54% da população brasileira, sendo que sua presença no
grupo dos 10% mais pobres era superior: 75%. No grupo do 1% mais rico da
população, a porcentagem de pretos e pardos é de apenas 17,8%. Verificou-se que
indivíduos não-brancos não fazem parte até mesmo na parcela com mais privilégios
econômicos da população.
Tal disparidade racial também é observada em relação à expressividade de
negros e pardos nos meios de comunicação. Pacheco (2001) pontua que
comumente nos variados meios de comunicação do Brasil, os afrodescendentes
vem sendo representados de forma estigmatizada e desigual em relação aos
brancos, isso ocorre pela baixa representatividade dos afrodescendentes nos papeis
de destaque na mídia, sendo os papeis mais comuns os de atletas, trabalhadores
braçais mal remunerados, motoristas, empregadas domesticas, músicos ou
passistas de escola de samba (ARAÚJO, 2008; PACHECO, 2001).
Acevedo e Nohara (2008) entrevistaram afrodescendentes a fim de se
entender a forma como estes compreendem a retratação dos afrodescendentes nas
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mídias. Em suas análises, ficou nítido que eles entendem que a presença de negros
e pardos é pouco evidenciada e para alguns, eles estão frequentemente associados
nos meios de comunicação a imagens negativas como pobreza, violência,
criminalidade e etc. Os retratos que estigmatizam também dão conta de uma
associação limitada do negro ao futebol, carnaval, samba, pagode ou funk da
periferia.
Em relação a Teresina, de acordo com o IBGE (2010), a capital piauiense é a
segunda entre todas as capitais do Nordeste com maior prevalência de pretos e
pardos, sendo a sétima no país. As mulheres são a maioria dos habitantes, seguindo
uma tendência nacional de maior expressividade no numero de mulheres em relação
aos homens, contabilizando 433.618 mulheres e 380.612 homens em Teresina
(IBGE, 2010).
Um estudo sobre a representação das mulheres negras nas colunas sociais
dos jornais impressos de Teresina é oportuno, pois, mesmo negros e pardos
correspondendo a cerca de 70% da população da cidade (IBGE, 2010), esse grupo
ainda é percentualmente pouco evidenciado nos meios de comunicação, e quando é
representada, a imagem é carregada de estigmas sociais.
A pergunta que orienta essa pesquisa é: Como as mulheres negras são
representadas nas colunas sociais dos jornais impressos de Teresina PI. Para
respondê-la, utilizamos procedimentos de análise de conteúdo juntamente com uma
análise qualitativa. Após atingir o objetivo no qual percebeu-se a forma que a mulher
negra é representada nos jornais, buscou-se analisar dois objetivos específicos: a
regularidade na qual as mulheres negras são apresentadas nas colunas sociais e
em quais contextos específicos ela é representada.
A motivação em pesquisar a questão racial surgiu devido ao interesse em
entender como a Psicologia aborda as relações raciais no nosso país. Através do
entendimento de que a mídia é uma das fontes de produção de subjetividade, surgiu
a ideia de estudar como os meios de comunicação podem influenciar na construção
da identidade dos afrodescendentes e contribuir com a formação da subjetividade
das pessoas sobre esse tocante. É importante dizer que trabalhos na área da
Psicologia sobre afrodescendência são escassos o que acaba propondo que esse
tema seja pesquisado por mais profissionais da área.
A pesquisa busca propor uma reflexão sobre a representação racial em um
meio de comunicação popular na cidade de Teresina, pois é entendível que uma
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sociedade pluralista como a teresinense, deveria ser representada em todos os
meios de comunicação de forma autentica e igualitária.
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2 A IDEOLOGIA DO BRANQUEAMENTO NO BRASIL
O conceito de branqueamento do negro no Brasil contingenciou-se
principalmente pela mídia e meios de comunicação, dos quais são os maiores
formadores de opinião pública e padrões de beleza, através de suas publicidades,
interim da história brasileira da propaganda, contudo, algumas mudanças têm
surgido nos últimos anos para combater o racismo, e assim gerando algumas
mudanças em favor do negro (CASTRO, 2007).
De acordo com Castro (2007), juntamente com a abolição da escravatura, por
meio da assinatura da Lei Áurea pela Princesa Isabel, em 13 de maio de 1888, o
negro deixou de ser mercadoria e passou a ser consumidor em potencial, sendo
assim inadmissível os anúncios referentes ao comércio dos negros. Contudo até o
negro se tornar mercado consumidor existiu um lapso temporal no qual o término da
escravidão, foi apenas a primeira etapa. Primeiramente, o negro teria que conquistar
a sua independência financeira. Porém antes disso acontecer o negro ficou um
tempo significativo marginalizado na sociedade, sem função alguma, pois no campo
foi substituído pela mão-de-obra estrangeira, consequência da imigração europeia e
na cidade não encontrava ofício por falta de qualificação, sendo o negro nessa
época foco de preconceito racial.
Segundo Borges (2012), assim como em diversos países, no Brasil, a
publicidade sempre andou de mãos dadas com o desenvolvimento do capitalismo.
Aliás, esta atividade teve início em terras brasileiras no século XIX. Neste período, o
crescimento da economia promoveu um aumento populacional nas áreas urbanas,
que comportava variados setores nacionais que necessitavam comunicar sua
existência ao mercado. Na busca de um quadro comum de referências, a mídia
institui padrões operacionais: falas e sotaques, vestimentas, modelos de beleza,
modos específicos de escrever, filmar e fotografar, estabelecendo sempre modelos e
estilos de vida a serem seguidos.
Sendo assim, os primeiros anúncios publicitários se referiam a ofertas de
serviços de artesãos e profissionais liberais, vendas de imóveis, e também venda de
escravos. Principal fonte de renda dos periódicos da época, os anúncios eram
abundantes, chegando a dividir, e até mesmo a superar o espaço destinado aos
editoriais e às notícias. (SCHWARCZ, 2001).
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Para Lopes (2007), a publicidade, que dá suporte financeiro às produções
televisivas, insiste em não associar à imagem do povo negro os produtos que
anuncia mesmo aqueles sabidamente consumidos pelos afro-brasileiros em geral.
Daí o dilema, da jovem negra que se acha feia por não ser parecida com as modelos
dos anúncios, pois não tem a mesma pele clara, nem mesmo os cabelos louros e
sedosos. E muito pior, daí também, o drama das menininhas que, na fantasia
maternal de sua infância, são obrigadas a embalar em seus colinhos as bonecas
louras e rosadas de sempre.
É questionável o fato de um país conhecido pela sua diversidade racial
possuir na figura do homem branco um padrão de ser humano.
É interessante entender que o negro minimizado através da sua atenuação
em vários meios de comunicação. Segundo Vaz e Mendonça (2002), a escassez de
representatividade negra é observada também nos meios de comunicação impresso,
como, por exemplo, nos cadernos de economia, que são direcionados aos
indivíduos que a sociedade intitula de “bem-sucedidos”, nos cadernos de informática
ou de automóveis e até nas colunas sociais podemos observar a escassez ou
inexistência dos negros.
Sobre o apagamento da representação dos negros é sintomático, por exemplo, que eles nunca tenham sido símbolos da nação. Tanto os brancos (‘europeus civilizadores’) como os índios (‘silvícolas heroicos’ e ‘bons selvagens’) já foram símbolos de uma identidade nacional, mas não o negro. Eles sempre tiveram a representação eclipsada (VAZ; MENDONÇA, 2002, p.4).
É importante mencionar um marco importante relacionado à questão racial
nos meios de comunicação impresso no século XIX, denominado “Imprensa Negra”,
tal movimento se tratava de diversos jornais publicados por negros para abordar
suas próprias questões. Segundo Dominguez (2007) m uma época pós-abolição, a
Imprensa Negra foi uma das formas de mobilização encontrada pela população
negra para participar de forma ativa na política e no intento de preservação da
identidade racial, combatendo o “preconceito de cor”, termo da época.
No Brasil o ideal estético é reforçado pela ideologia do branqueamento. É
importante entender como foi implantada essa ideologia no Brasil, para que
possamos entender as suas consequências na construção da identidade do afro-
brasileiro. Há relatos que tais ideais surgiram no início do século XIX com projetos
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imigracionistas que trariam milhares de imigrantes europeus brancos para o país.
Hofbauer em uma entrevista sobre Racismo e o branqueamento da sociedade para
o site Brasilianas.org (2010) definiu como se originou esse processo:
Em 1821, o médico e filósofo Francisco Soares Franco apresentou um projeto no qual propôs que o lento processo de emancipação deveria ser acompanhado por uma política imigracionista, a qual deveria ter como objetivo a homogeneização da nação, isto é, a transformação da “raça negra” em “raça branca”. Um processo que – segundo ele – poderia ser efetuado num prazo de três gerações. Noventa anos depois, quando o fluxo imigratório estava em pleno andamento, o antropólogo João Baptista Lacerda repetiria este prognóstico, num discurso muito citado, no Congresso Universal das Raças em Londres (1911), afirmando que a imigração europeia e a seleção sexual (preferência por casamentos com brancos) fariam com que a “raça negra” fosse extinta dentro de um p razo de cem anos.
De acordo com Araújo (2008) o ideal de beleza do país é norteado pela
ideologia do branqueamento, onde traços negros acentuados acabam gerando uma
consciência deturpada sobre os lugares subalternos que ocupam na sociedade.
Ainda segundo Araújo (2008) foi a partir do ano de 1998 passaram a ocorrer
mudanças na sociedade brasileira, visando diminuir a distinção entre raças no Brasil.
Um reflexo que fortaleceu essa lenta mudança foi o Projeto de lei Nº 4370/98 do
deputado Paulo Paim determinando uma cota de 25% de presença obrigatória de
afrodescendentes em programas de televisão, filmes e peças e de 40% em
propagandas.
A identidade do indivíduo é moldada em partes através da forma como ele é
representado por outros indivíduos, podendo afetar uma pessoa ou um grupo, sendo
essa uma afetação vantajosa ou desvantajosa dependendo da forma como
acontecerá essa representação, se representada de forma inadequada, poderá ser
uma das principais fontes de opressão, limitando o oprimido a um modo de ser
distorcido de sua realidade. (TAYLOR, 1994 apud SILVÉRIO, 2002). A ausência de
referências positivas em que as minorias possam se espelhar pode acarretar muitas
complicações psicológicas como crises de identidade e sensação de invisibilidade.
(KELLNER, 2001 apud ACEVEDO; NOHARA, 2008).
Para tanto, entende-se que os meios de comunicação podem intervir
ideologicamente na construção da subjetividade de um povo, dificultando a
representação do negro de forma livre de estereótipos.
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3 A SITUAÇÃO SOCIAL DA MULHER NEGRA NO BRASIL
Para Winch e Escobar (2012), ser negra no Brasil é estar inserida num ciclo
de marginalização e discriminação social. Mulheres afrodescendentes costumam
sofrer duplo preconceito: racial e de gênero. Se a mulher negra for pobre, o caso se
agrava ainda mais. A herança do período escravocrata disseminou um juízo
preconceituoso, que reserva para a afrodescendente, trabalhos domésticos ou que
exploram o corpo. Assim como em qualquer campo social, nos meios de
comunicação, dentre eles a publicidade, a mulher negra precisa comprovar
competência mais vezes do que a mulher branca.
No entanto, dados do último Censo do IBGE (2010) indicam que as mulheres
negras são 25,5% da população brasileira, com um total de 48,6 milhões de
pessoas, e são as maiores vítimas de violência criminal. De 2003 para 2013,
assassinatos de mulheres negras aumentou 54,2%, segundo o Mapa de Violência
2015: Homicídios de Mulheres no Brasil.
O Sistema Nacional de Informações de Gênero (SNIG), que faz parte do
Programa de Estatísticas de Gênero no IBGE, publicou em 2014 “Estatísticas de
Gênero – Uma análise dos resultados do Censo Demográfico 2010”. A publicação
apresenta e analisa dados censitários de 2000 e 2010 a partir de índices de
desigualdades de gênero, aliada a disparidades de raça/etnia, idade, local de
moradia (rural e urbano) e classes de rendimento. A dimensão de mulheres sem
rendimentos explica a relação de dependência econômica das mulheres e a
vulnerabilidade a situações de violência doméstica. Em 2010, 33,7% das mulheres e
25,7% dos homens tinham rendimento mensal de até 1 salário mínimo. Dentre as
mulheres negras 40,3% recebiam até 1 salário mínimo e dentre as rurais, 50,5%.
Ainda de acordo com o SNIG, as políticas de proteção social influenciaram na
melhoria dos rendimentos recebidos pelas mulheres. O rendimento em média das
mulheres negras correspondia a 35% do rendimento médio dos homens brancos. As
mulheres negras tinham um rendimento médio equivalente a 52% do rendimento das
mulheres brancas. E as mulheres brancas, 67% do rendimento dos homens
brancos. Vale ressaltar que as mulheres rurais são as que apresentaram receber
rendimentos menores (R$ 480,00), valor inferior ao salário mínimo vigente em 2010.
A distribuição dos rendimentos entre as mulheres é desigual relacionado a aos
rendimentos entre os homens.
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De acordo com o Geledés (Instituto da Mulher Negra), a discrepância dos
dados entre mulheres negras e brancas pode ser constatada também na esfera da
saúde pública. Em novembro de 2014, o Ministério da Saúde numa tentativa de
combater o racismo no Sistema Único de Saúde (SUS) lançou uma campanha
intitulada “SUS sem Racismo”, na página oficial da campanha dados revelaram
existir uma diferença no atendimento entre negras e brancas, de acordo com as
estatísticas as negras recebem menos tempo de atendimento em relação às
brancas, sendo as negras 60% das vítimas da mortalidade materna no nosso país.
Em relação ao acompanhamento no parto, 27% das mulheres negras o tem
enquanto mulheres brancas somam 46,2%. A campanha também mostrou que
62,5% das mulheres negras receberam orientações sobre a importância do
aleitamento materno ao mesmo tempo em que as mulheres brancas somaram 77%.
Atualmente a página da campanha “SUS sem Racismo” pode ser visualizada
somente através da rede social Facebook, mas deixou de ser atualizada no ano em
2014, mesmo ano em que foi lançada a campanha. Ainda de acordo com o instituto
Geledés, na época do lançamento da campanha, o Conselho Federal de Medicina
se posicionou contra alegando que o Ministério da Saúde estava insinuando que
médicos estavam praticando uma espécie de “apartheid” oferecendo atendimento
diferenciado baseado na cor da pele dos seus pacientes.
De acordo com a antropóloga, fundadora do Geledés - Instituto da Mulher
Negra -, Sueli Carneiro (2006), as mulheres negras possuem necessidades
específicas e suas questões não devem ser reduzidas, unicamente, pela questão do
gênero. A autora afirma que há um duplo rebaixamento, mulheres e negras,
representando a parte mais marginalizada da sociedade brasileira, a mesma não
acredita que isso seja proveniente de uma casualidade, mas sim de uma
discriminação racial presente no cotidiano dessas mulheres negras.
Dados estatísticos como os do início, ilustram a discrepância das condições
sociais ofertadas as mulheres brancas e negras. Desigualdades como estas, são
passíveis de análises não somente nos aspectos sociais, mas também, nas
representações nos variados meios de comunicação.
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3.1 A REPRESENTAÇÃO DA MULHER NEGRA NOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO
O preconceito contra a mulher negra é duplo “por ser mulher numa sociedade
sexista e negra numa sociedade racista” (BARBOSA; SILVA, 2009. p. 51).
Segundo Bento (2009) a mídia é o grande centro de preocupações do
movimento negro. O Geledés – Instituo da Mulher Negra, uma das mais antigas
organizações de movimento de mulheres negras, tem uma das mais importantes
ações contra a TV Globo pela forma que os negros aparecem na emissora.
Comumente nos variados meios de comunicação do Brasil, os
afrodescendentes vem sendo representados de forma estigmatizada e desigual em
relação aos brancos, isso ocorre pela baixa representatividade dos
afrodescendentes nos papéis de destaque na mídia (PACHECO, 2001), sendo os
papeis mais comuns os de atletas, trabalhadores braçais mal remunerados,
motoristas, empregadas domesticas, músicos ou passistas de escola de samba
(ARAÚJO, 2008). Outro fato conciso é a frequência em que os afrodescendentes
estão relacionados a propagandas de produtos baratos, populares e étnicos.
(ACEVEDO; NOHARA, 2008).
Bento (2009) afirma que o número de negros que atuam em campanhas
publicitárias é pouco e que estes não possuem fala, família e não aparecem em
destaque, aparecem em campanhas apenas para representar uma diversidade
racial. O autor afirma também que há um impacto físico, emocional, afetivo e
espiritual na construção desse tipo de imaginário que afeta tanto homens brancos
quanto negros, no quesito reafirmação e/ou exclusão.
Borges (2012), abordou um fato ocorrido em 2010 relacionado a publicidade e
a mulher negra, a propaganda da cerveja Devassa, onde mostrava uma mulher
negra em um painel e a frase: “É pelo corpo que se reconhece a Negra”, a ideia
dessa propaganda é oriunda do estereótipo que dá conta de um imaginário coletivo
racista e sexista que minimiza a mulher negra ao seu corpo desde a época da
escravidão. O mesmo autor também pontua que aparentemente a mídia se alimenta
de ideias que se referem a mulher negra através de uma figuração sexual ou
subalterna.
Segundo Winch e Escobar (2012), Mulheres negras têm lutado para alcançar
uma melhor posição social, e para isso é necessário um esforço gigantesco. A
valorização do corpo da mulher negra é ofuscada por contornos estereotipados e
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pensamentos historicamente limitados. A dignidade e o reconhecimento do intelecto
da mulher negra são descartados em campanhas como a da Du Loren.
Visivelmente, a função de objeto sexual, de entretenimento e diversão da mulher
negra ainda é a imagem que alguns publicitários optam em transmitir.
Para os autores, tal opção parece não considerar o contexto sócio-político
que as afrodescendentes estão inseridas no Brasil. O anúncio que põe a mulher
negra como dominadora de uma situação, e que foi ambientado em uma favela
carioca, não leva em conta o fato de que as mulheres negras são as maiores vítimas
da violência no Rio de Janeiro. E são justamente campanhas, como a Basta de
Violência contra a Mulher, que inserem as afrodescendentes mais expressivamente.
São espaços publicitários que recorrem à figura da mulher negra para representá-
las, muitas vezes, como vítimas do sistema social, como seres carentes, que
necessitam de alguma assistência governamental.
De acordo com os autores, após as conquistas dos movimentos e
manifestações que têm como objetivo a igualdade e luta contra o preconceito e
discriminações raciais, verificamos a ampliação de um mercado direcionado aos
afrodescendentes, que tem atraído muitos investimentos e capital.
Para Coutinho (2011), é necessário que os negros se identifiquem com os
produtos que irão comprar, especialmente se trazem imagens que possibilitam isso;
porém não se deve descartar a ideia de que o mercado se aproveitou deste
momento para lucrar com uma discussão em desenvolvimento.
Castro (2010, p. 106) faz considerações sobre o papel da publicação:
Foi esta discussão que nos fez perceber que, em Raça Brasil, o negro e a negra estão sempre bem vestidos, sempre bem penteados e sempre bem maquiados, por mais que se fale em problemas de periferia, de quilombo ou de favela. O homem e a mulher negros de periferia podem obter ascensão social, dignidade, fama e dinheiro sem que precisem adentrar o mundo do crime.
Acevedo e Nohara (2008) entrevistaram afrodescendentes a fim de se
entender a forma como estes compreendem a retratação dos afrodescendentes nas
mídias, em suas análises, ficou nítido que eles entendem que a presença de negros
e pardos é pouco evidenciada e para alguns, os afrodescendentes estão
frequentemente associados nos meios de comunicação a imagens negativas como
pobreza, violência, criminalidade e etc. Os retratos que estigmatizam também dão
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conta de uma associação limitada do negro ao futebol, carnaval, samba, pagode ou
funk da periferia.
Wenceslau e Mendonça (2006) analisaram a revista Raça Brasil, que surgiu
em 1996 com a proposta de aumentar a autoestima dos negros brasileiros. Os
pesquisadores perceberam que a revista pode ser considerada feminina, voltada,
basicamente, para a estética da mulher negra, os mesmos avaliaram que a
publicação não se posiciona de forma politica acerca do pensamento do Movimento
Negro Brasileiro, dessa forma, acreditam que a revista adota um posicionamento
comercial e não político, o que chamaram de “revista controvérsia”.
Bento (2009) pontua a dificuldade que meninas negras possuem em aceitar a
sua aparência, principalmente o seu cabelo, um problema de pertencimento racial.
É um “defeito de fabricação” do mundo negro, das meninas negras, que não conseguem sentir-se bem com seus cabelos? Não. Não é disso que estamos falando. Então, que influencia, que impacto tem, por exemplo, quando se passa da Xuxa para a Angélica, da Angélica para Eliana, que são absolutamente loiras? Que impacto isso tem sobre as meninas que não são loirinhas? (...) Quando pensamos em mídia e subjetividade estamos falando de narcisismo na sua versão mais cruel” (BENTO, 2009, p.142-143).
Bento (2009) acredita que a subjetividade é uma herança que antecede o
indivíduo sendo repassada para nossas próximas gerações e que podemos ser
agentes de mudanças em relação aos reforçadores de desigualdades.
A baixa quantidade de atrizes negras em papéis de destaque na televisão,
bem como em campanhas publicitárias, realmente era ainda mais explícita em
décadas anteriores. Quando modelos negras apareciam em editoriais de moda, na
maioria das vezes, eram colocadas por estratégias específicas.
O novo cenário internacional da moda influenciou diretamente as publicações
brasileiras. Mas, ainda hoje, as afrodescendentes são minorias em editoriais de
moda por aqui. E assim como ainda sobrevive aquela publicidade que vincula
modelos negras ao esporte brasileiro, também há aquela que traz como
protagonistas, mesmo que raramente, as próprias atletas negras.
Bonadio (2009), em estudo sobre a participação de modelos negras em
editoriais de moda, reportagens e anúncios impressos na década de 1960, observou
que em um dos casos, a presença da modelo negra tinha vinculação direta ao
futebol, mais precisamente à seleção brasileira da época. A associação da modelo
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negra a jogadores negros de sucesso foi uma estratégia publicitária, que não visava
incluir modelos afrodescendentes no meio artístico, muito menos social, mas sim
fazer menção ao sucesso de Pelé e de tantos outros atletas negros do período.
Como ressalta a autora em seu estudo, na década de 1960, o padrão de beleza da
mulher excluía os traços africanos. Colocar uma modelo negra entre modelos
brancas era uma tarefa ousada e arriscada para a época.
A exclusão e estereotipização da figura feminina negra em construções
publicitárias podem provocar crises de aceitação nas afrodescendentes, além de ser
objeto gerador de doenças sociais adquiridas em situações desfavoráveis, como
transtorno mental e depressão. É fato que as mulheres negras estão em
desvantagem social no Brasil. Entretanto, elas existem, e em grande quantidade.
Renegando essa realidade, o discurso publicitário acostumou-se a destinar espaços
e posições subalternas para as negras. É dessa forma que a publicidade, bem como
a mídia hegemônica, reproduz desigualdades e legitima valores deturpados da vida
social. Os meios de comunicação nacionais reforçam a identidade racial negativa do
negro, alimentando simbolicamente o ideal de branqueamento, sendo uma de suas
consequências o desejo de euro-norte-americanização que faz com que, mesmo
após cem anos do movimento eugenista, que iniciou no final do século XIX, negros e
negras permaneçam com as mesmas compulsões desagregadoras de uma
autoimagem depreciativa. (SANTOS, 2004, p.10)
3.2 UM BREVE HISTÓRICO SOBRE A ORIGEM DAS COLUNAS SOCIAIS NO
BRASIL
Segundo Ramos (1990), em 1808 instituiu-se o primeiro jornal a Gazeta do
Rio de Janeiro e, por conseguinte também surge o primeiro anúncio que deu início
aos classificados, brotando as primeiras propagandas, que por serem apenas
informativas eram desvalorizadas pelo produto e por meio da criação e arte.
Naquela época, ainda o autor corrobora que: apregoando os traços, as
características e virtudes dos negros ou negras a venda. Mostrando as vantagens
das escolas para crianças, onde meninos e meninas de 8 a 10 anos aprendiam
ofícios, para depois serem alugados. Principalmente descrevendo os foragidos,
oferecendo pelos procurados, altas recompensas. Há classificados vergonhosos,
como o de ingressos para ver uma negrinha mostro, com menos de 7 anos e peso
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20
de mais de 9 arrobas, ou os que propõem raparigas de bonita figura, sem vícios,
jovens amas-de-leite recém-paridas, vendas e compras a granel ou atacado. Há
outros, poucos, que chegam a ser simpáticos. Será o caso do amoroso senhor
pernambucano, atrás da escrava fugida, que ao descrevê-la se inflama, gasta
dinheiro em pormenores avulsos, para concluir: e tem uns olhos tristes. Se já
escreveram que a propaganda é a poesia do comércio, nesse caso ela virou drama
ou tragédia. A ponto de serem queimados os arquivos da nossa escravatura. E de
Gilberto Freyre, em livro sobre os anúncios de escravos nos jornais do século XIX,
destacar a importância que tiveram para a definição dos tipos étnicos e
constitucionais dos nossos negros e mestiços.
Contudo, a origem das colunas sociais no Brasil possui sua influência nas
“gossip columns” norte-americanas. O conteúdo apresentado estava relacionado às
famílias ricas da sociedade, o que incluía relatos de festas, informações fúteis,
curiosidades políticas, fofocas sobre milionários, artistas e celebridades (MARIA,
2008).
Para Maria (2008) as colunas sociais desde sua origem no Brasil viabilizando
a criação de identidades e modelando comportamentos, fortalecendo lutas
partidárias, envolvendo famílias da alta sociedade que almejavam se manter em
seus grupos privilegiados socialmente.
De acordo com Sodré (1983), a coluna social fortaleceu a construção da
“mitologia pequeno-burguesa” dando notoriedade àqueles que detinham o poder.
Historicamente o papel das colunas sociais era mostrar o estilo de vida das elites.
[...] A temperatura ideológica deste gênero, ou seja, aquilo que constituía o “tom” jornalístico da visibilidade social da nova fração de classe no poder consistia na celebração de sinais exteriores de consumo conspícuo (SODRÉ, 2003, p, 1).
De acordo com a pesquisadora Dejavite (2007) leitores de todas as classes
sociais, sexo e idades solicitam o entretenimento nos jornais impressos. Os
conteúdos mais solicitados pelo publico segundo ela são os de: Lazer, turismo,
esportes, carros, televisão, a vida dos artistas e personalidades famosas, shows e
cantores. Para a autora não se deve negar a relevância desse tipo de conteúdo
jornalístico e tampouco negar ao publico, pois a missão do jornalismo é servir a
sociedade.
-
21
3.3 A PSICOLOGIA ESCOLAR VOLTADA PARA OS NEGROS NA EDUCAÇÃO
De acordo com Balbino (2008), a atuação competente e tendências
inovadoras têm surgido em todas as áreas da psicologia. Conforme o autor, esses
dados foram alcançados através das pesquisas, conferências e congressos do
Conselho Federal de Psicologia que apontam para essa necessidade, incluindo
certa conformidade de propostas multidisciplinares, que se traduz adequadamente
em uma formação básica generalista sólida, além da formação tecnicista tão vigente
ainda hoje nos cursos, e da ética comprometida com os problemas sociais.
Conforme o autor, o conhecimento produzido na psicologia frequentemente é
centrado muito no aspecto individual, excluindo uma análise mais aprofundada dos
aspectos socioeconômicos e políticos, e contribuindo para a falta de
contextualização do saber psicológico aos longos dos anos. Esse mesmo tipo de
orientação e análise também era adotado nas orientações teórico-práticas na área
de psicologia escolar.
Elencando Severino (2010), dentro do conjunto temático apresentados pela
psicologia, verifica-se através das problematizações que a Psicologia Brasileira tem
conferido pouca atenção sobre a questão da diversidade étnica, da qual se destaca
em sua pesquisa o trabalho de Ferreira (2004) que faz um levantamento com quase
5 mil artigos, de periódicos e teses da Psicologia brasileira; ainda assim há somente
11 que tratam de alguma forma de preconceito racial e de elementos vinculados à
questão étnica afrobrasileira.
Para Ferreira (2004), o psicólogo escolar não deve se acomodar ao
“psicologismo”, tentando lidar com o aluno apenas na dinâmica intrapsíquica, mas
considerando a sua realidade histórica e social. Por isso, para superar a atuação
individualista, principalmente no que diz respeito à solução de casos de “alunos
problemas”, o autor sugere um trabalho preventivo com pais e professores.
Para o autor, a Psicologia não vem tratando do tema, pois se percebe que
dos três eixos raciais principais que formaram a nação brasileira, o indígena e o
africano permanecem intactos de serem objetos de investigação e exploração por
parte dos psicólogos.
Com base numa grande quantidade de trabalhos e pesquisas que se
propõem a compreender, discutir e analisar sobre o assunto e assim poder tratar tais
problemas, conjecturam-se mudanças concretas de ação através da psicologia na
-
22
busca de um novo fazer sobre a temática da Psicologia Escolar voltada para os
negros na educação. Assim tais considerações, sobre as relações entre sociedade,
educação e psicologia escolar, é interessante criar a possibilidade de aprofundar a
leitura crítica em relação aos conhecimentos, repassados nesta área, e ao papel
assumido pelo psicólogo escolar na sociedade.
A Psicologia aplicada à educação é propulsora de grandes mudanças na
escola, segundo Almeida (2006), no entanto alvo de poucos investimentos nos
cursos de formação de psicólogo.
A inclusão de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana tornou-se
obrigatoriamente nos currículos de Educação Básico e trata-se de decisão política,
com fortes repercussões pedagógicas, esta medida, reconhece-se que, além de
garantir vagas para negros nos bancos escolares, é preciso valorizar devidamente a
história e cultura de seu povo, buscando reparar danos, que se repetem há cinco
séculos, à sua identidade e a direitos seus.
Essas discussões em torno da diversidade sociocultural e das questões
étnico-raciais desenvolvidas ao longo do século XX pelos movimentos sociais, em
especial o Movimento Negro, culminaram com a aprovação em janeiro de 2003 da
Lei 10.639, que estabelece o ensino obrigatório da História e Cultura Afro-Brasileira
e Africana na Educação Básica.
A Lei 10.639/03 chega ao Estado Brasileiro no bojo do debate da
implantação das políticas de ações afirmativas para a população negra que, embora
reivindicadas pelo movimento social negro, compõem o discurso estratégico dos
organismos internacionais que defendem a instituição de políticas sociais
focalizadas para os mais pobres, entre quais, os negros. A Lei 10.639 provocou um
movimento em direção a ressignificação de práticas educacionais, no sentido de
pautá-las na valorização da imagem da população negra e reafirmar as suas
contribuições na formação nacional.
Neste sentido, a Lei 10.639/03 pode configurar-se como um instrumento de
luta para o questionamento da ordem vigente, na medida em que coloca em xeque
construções ideológicas de dominação, fundadoras da sociedade brasileira.
Conforme Gomes (2007, p.106):
A Lei 10.639/03 e suas respectivas diretrizes curriculares nacionais podem ser consideradas como parte do projeto educativo emancipatório do Movimento Negro em prol de uma educação
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23
antirracista e que reconheça e respeite a diversidade. Por isso, essa legislação deve ser entendida como uma medida de ação afirmativa, pois introduz em uma política de caráter universal, a LDBEN 9394/96, uma ação específica voltada para um segmento da população brasileira com um comprovado histórico de exclusão, de desigualdades de oportunidades educacionais e que luta pelo respeito à sua diferença.
Contudo, descrevem que o racismo brasileiro é o que denota uma iniquidade
maior, pois temos o produto de uma ideologia social, na lenda de uma ditadura racial
que sendo assim, possui um certo grau de interferência sobre a Psicologia brasileira
em grande escala que de certa forma, se revela compadecida desta realidade
desmistificada.
Outro aspecto é que além deste fato de reconhecimento negativista, a
Psicologia não tem contribuído para conhecer mais a própria construção subjetiva da
negritude e deixa de contribuir para evitar, ou para diminuir, os efeitos devastadores
da discriminação (VINICIUS, 2002).
Para Vinicius (2002), essa omissão traz consigo prejuízos para os indivíduos,
que sofrem a discriminação social, e para a própria Psicologia. A primeira questão a
ser levantada é que a Psicologia não reconhecendo o problema da discriminação
racial, deixa de cooperar para esclarecer uma experiência social extremamente
relevante, que é a desqualificação que o indivíduo recebe socialmente.
Na verdade, o que se percebe segundo Crochík (1997), nessa construção e
mudança diária social, é o preconceito de marca, que é o preconceito em relação à
aparência. Por meio deste preconceito, é muito difícil as pessoas enxergarem o
negro de outra forma. Ele é sempre visto de forma inferiorizada, se comparado ao
branco.
Foi a partir dos anos 20 que o preconceito passou a ser estudado e
trabalhado como “atitude psicológica”. Até então, era compreendido como uma
teoria. Um exemplo disto, é que os negros eram tidos como inferiores aos brancos, e
os teóricos buscavam justificar e entender esse fato.
Na maioria das vezes as crianças negras que são vítimas das manifestações
racistas, não se dão conta do quanto estão sendo injustiçadas. Diante de tal
problemática, a presente pesquisa torna-se relevante cientifica e socialmente, uma
vez que busca evidenciar as consequências que as posturas racistas ou passivas
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24
diante do racismo trazem para o processo ensino – aprendizagem e
consequentemente para a convivência social.
Por outro lado, entendemos os limites dessa pesquisa, que podem ser
justificados de diversas formas: acreditamos na prática etnográfica, na “descrição
densa”, como proposta por Geertz (1989) como meio indispensável para
compreender as “tramas” que são tecidas no dia-a-dia das realidades dos sujeitos
que se tornam interlocutores importantes em nossas pesquisas (dedicamo-nos,
nesse trabalho, à prática etnográfica, mas compreendemos o limite do tempo que
tivemos para melhor realizá-la). Outro limite que se impõe está relacionado ao olhar
que foi privilegiado pela pesquisadora para a realização deste trabalho, que reflete
suas opções teórico-metodológicas (é de nosso entendimento que outros olhares
sobre o mesmo objeto podem tanto construir outros problemas como,
inevitavelmente, outros resultados).
Segundo Silveira (2007), é de fundamental importância o conhecimento e
compreensão sobre os Direitos Humanos nas Políticas Públicas, pois é através
destes reflexos que são descritas ações e estratégias para conquistas desses
direitos, para combater qualquer tipo de desigualdade e garantir às pessoas uma
sociedade, na qual todos tenham uma vida digna. Sendo assim, existem dois
elementos que fundamentais dos Direitos Humanos: Igualdade: os direitos humanos
são intitulados por todos os indivíduos pelo mero fato de serem Seres Humanos; e
Dignidade esta concepção permite que junto ao conceito de igualdade haja o
reconhecimento da diferença, tais como aquelas relacionadas ao gênero, á raça, á
idade, etc., mas a igualdade de dignidade concede a qualquer ser humano o caráter
de fim em si mesmo e não de mero meio para outros fins. (SILVEIRA, 2007, p.29).
Os Direitos Humanos são valores construídos pela humanidade, e visam ser
trabalhados constantemente na cultura e nos costumes das diversas sociedades que
compõem o nosso planeta. Cabe, então à Psicologia enquanto ciência e profissão se
comprometer com essa construção, pois qualquer tipo de prática que não discuta a
dignidade e ética do ser humano deve ser repudiada e desconstruída.
A Psicologia tem grandes contribuições e um papel primordial de ajuda aos
indivíduos e aos grupos sociais na superação e construção das relações humanas.
Silveira (2007) cita outro conceito para ser discutido pela Psicologia que é o de
exclusão e inclusão, agregando a partir destes elementos, outros temas como:
opressão, dominação, exploração, subordinação, a inclusão vem sendo utilizada no
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25
processo pelo qual as pessoas que necessitam de condições especiais, possam
gozar de direitos iguais aos demais cidadãos ou exercerem a sua cidadania. No
vasto campo teórico da Psicologia, cabe a ela diagnosticar e tratar à diversidade,
construindo meios de exercício à cidadania, juntamente com as Políticas Públicas,
utilizando de mecanismos de prevenção, reabilitação, equiparação de oportunidades
para a promoção do respeito e convivência à diversidade independente de qual seja
a característica do indivíduo, seja ela de ordem física, racial, cognitiva ou cultural,
(SILVEIRA, 2007).
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26
4 METODOLOGIA
Na pesquisa sobre a forma que mulher negra é representada nos jornais
impressos de Teresina foi conjugada a técnica de pesquisa documental e
quantitativa. De acordo com Fonseca (2002) a pesquisa documental se assemelha a
pesquisa bibliográfica, sendo que esta se utiliza fontes constituídas por material já
publicado, tal como livros e artigos científicos localizados em bibliotecas. Enquanto a
pesquisa documental se baseia em fontes mais diversificadas e dispersas, sem
tratamento analítico, como por exemplo: tabelas estatísticas, jornais, revistas,
relatórios, documentos oficiais, cartas, filmes, fotografias, pinturas, tapeçarias,
relatórios de empresas, vídeos de programas de televisão, etc.
Por se tratar de uma pesquisa de cunho social, buscou-se referencias acerca
dos métodos de investigação em Psicologia Social. De acordo com Rodrigues,
Assmar e Jablonski (2010) tais métodos são: o método de observação, o método
correlacional e os métodos ex post facto. Para a realização deste trabalho
configurou o método de observação, que segundo os autores citados acima se
caracteriza como:
Quando o psicólogo social simplesmente observa um comportamento social ou consulta arquivos que contem informações relevantes ao objeto de seu estudo, diz-se que ele utiliza método de observação. Consulta a censos demográficos, a arquivos (jornais, diários, etc.), bem como a observação direta do desenrolar de um comportamento social constituem exemplos de método observacional. Às vezes em sua atividade de observação, o pesquisados interege diretamente com as pessoas cujo comportamento está sendo observado (observação participante); outras vezes, a observação é feota de fora, isto é, sem que os observados tenham conhecimento de que alguém os observa (observação direta ou não participante). (RODRIGUES; ASSMAR, JABLONSKI, 2010, p.32).
Após uma revisão bibliográfica acerca do tema, durante três meses
monitorou-se os dois principais jornais do estado – Jornal Meio Norte e Jornal O
Dia– que, juntos, cobrem todo o território do estado e representam as maiores
tiragens diárias. O período compreendido foi de agosto a outubro de 2017, e os dias
escolhidos para análise foram: sexta-feira, sábado e domingo.
As colunas sociais escolhidas foram aquelas que continham fotos coloridas,
levando em consideração que, dessa forma, a identificação das mulheres negras
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27
seria feita de forma mais eficaz. Por tanto, as colunas sociais do Jornal O Dia
analisadas foram: coluna Prisma, assinadas pelos jornalistas Eli Lopes e Élida de
Sá, além da coluna Salada Vip assinada pelo colunista social Beto Loyola,
referentes aos dias de sexta-feira. No jornal O Dia “Fim de semana”, correspondente
aos dias de sábado e domingo, foram analisadas as colunas sociais do jornalista
“Mariano Marques” e a coluna Up, assinada pelos colunistas Péricles Mendel e
Cícero Cardoso.
Em relação ao Jornal Meio Norte, as colunas escolhidas foram: a coluna
“Inside”, assinada pelo jornalista Rivanildo Feitosa, referente ao dia de sexta-feira. A
coluna “Clicks” – assinada pelo jornalista David Carvalho, Coluna “Arimatea
Carvalho” e “Inside Weekend” - assinada pelo jornalista Rivanildo Feitosa, as três
referentes aos dias de sábado e domingo.
Tabela 1: Classificação das colunas sociais analisadas, separadas de acordo com o Jornal, dia da semana , colunas e colunistas.
JORNAL “O DIA”
DIA DA SEMANA
COLUNA COLUNISTA
Sexta-feira Prisma Eli Lopes e Élida de Sá
Sexta-feira Salada Vip Beto Loyola
Sábado/Domingo Mariano Marques Mariano Marques
Sábado/Domingo UP Péricles Mendel e Cícero Cardoso.
JORNAL “MEIO NORTE”
DIA DA SEMANA
COLUNA COLUNISTA
Sexta-feira Inside Rivanildo Feitosa
Sábado/Domingo Clicks David Carvalho
Sábado/Domingo Arimatea Carvalho Arimatea Carvalho
Sábado/Domingo Inside Weekend Rivanildo Feitosa
Nesta etapa, os procedimentos metodológicos se resumiram à observação
cuidadosa das edições dos dois jornais, compreendendo os dias de sexta, sábado e
domingo, além da contagem das fotografias jornalísticas publicadas e identificação e
catalogação daquelas em que figuravam mulheres negras e pardas.
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28
Para ter acesso aos dois jornais, foram feitas visitas semanais ao Arquivo
Público do Piauí, localizado na Rua Coelho Rodrigues no centro de Teresina. Com
uma câmera de um celular modelo Iphone 5, fotografou-se as colunas sociais dos
dias de sexta-feira, sábado e domingo dos meses de agosto, setembro e dezembro.
Ao identificar uma mulher negra, imediatamente a foto era enviada para o e-mail,
com o intuito de deixar já pré-selecionadas as fotos a serem analisadas pela
pesquisadora.
Após a contagem e a catalogação das fotos, foi realizada a organização dos
dados em tabelas, organizadas por datas, jornal e coluna social, para transformá-los
em números e em seguida analisar o contexto das fotos que contemplavam o objeto
de estudo da pesquisa.
Para o reconhecimento das mulheres negras, adotou-se critérios que se
baseiam nas características fenotípicas, ou seja, na aparência dos sujeitos, e não
em quesitos genéticos. Dessa forma, indivíduos do sexo feminino, com cabelos
crespos, lábios grossos, nariz aberto e cor da pele escura foram considerados
negros, e constaram nas estatísticas referentes a esta etnia, baseando-se no
conceito que afirma que a classificação racial no Brasil é cromática, sendo a cor da
pele um dos critérios determinantes (VAZ; MENDONÇA, 2004).
Através da identificação das imagens em que aparecem mulheres negras e
pardas, e os detalhes das publicações, foi possível fazer considerações acerca da
representação das mulheres negras nos jornais locais. Levando em consideração
todos os aspectos contextuais das fotos catalogadas.
-
29
5 RESULTADOS E ANÁLISE DOS RESULTADOS
A catalogação da presença de mulheres negras e pardas nas fotografias das
colunas sociais dos jornais impressos de Teresina mostrou uma quase invisibilidade
dessas mulheres, o que corrobora com a tendência ao apagamento das mesmas
nos meios de comunicação em geral, como por exemplo, na televisão, cinema,
peças publicitárias, dentre outras.
Em relação à ocorrência de fotos por semana e por jornal, observou-se que o
Jornal Meio Norte nas tiragens intituladas de “final de semana”, que corresponde aos
dias de sábado e domingo, possui um maior número de fotos, pois possui três
colunas sociais com fotos coloridas, assinadas por jornalistas diferentes, sendo elas:
Clicks – assinada pelo jornalista David Carvalho, Coluna do Arimatea Carvalho e
Inside Weekend - assinada pelo jornalista Rivanildo Feitosa. Vale ressaltar que a
coluna Inside Weekend possui o maior volume de páginas, totalizando 4 páginas
coloridas dentro do jornal do final de semana.
No Jornal O Dia nos dias de sexta-feira as colunas sociais analisadas foram a
coluna Prisma, assinadas pelos jornalistas Eli Lopes e Élida de Sá, além da coluna
Salada Vip assinada pelo colunista social Beto Loyola. No jornal O Dia “Fim de
semana” foram analisadas as colunas sociais do jornalista “Mariano Marques” e a
coluna Up, assinada pelos colunistas Péricles Mendel e Cícero Cardoso.
Durante os três meses analisando as colunas pré-selcionadas dos dois jornais
escolhidos, constatou-se que foram publicadas 1.130 fotografias jornalísticas que
continham 2.765 pessoas, sendo que deste número, 1.191 eram homens brancos,
52 eram homens negros e pardos, 1.470 eram mulheres brancas, sendo estas as
mais expressivas numericamente e somente 49 mulheres negras e pardas
apareceram nas colunas sociais analisadas.
Tabela 2: número total de fotos analisadas, total de pessoas em geral, total de homens brancos, homens negros e pardos, mulheres negras e pardas por data no jornal “O Dia”.
JORNAL O DIA
DATA
N° DE
FOTOS
N° DE
PESSOAS BRANCOS NEGROS/PARDOS BRANCAS NEGRAS/PARDAS
04.08.17 14 23 14 2 7 0
-
30
05 e 06.08.17 10 23 6 1 14 1
11.08.17 12 22 10 2 10 0
12 e 13.08.17 10 20 12 2 5 1
18.08.17 12 34 15 1 18 0
19 e 20.08.17 9 26 12 1 12 1
25.08.17 13 38 8 2 19 5
26 e 27.08.17 10 21 10 2 7 2
01.09.17 13 24 11 1 11 1
02 e 03.09.17 10 23 9 0 14 0
8, 9 e
10.09.17 10 16 7 1 7 1
15.09.17 12 25 10 2 12 1
16 e 17.09.17 10 53 25 0 28 0
22.09.17 12 27 11 2 13 1
23 e 24.09.17 10 17 7 1 7 3
29.09.17 13 22 14 1 7 0
30 e 31.09.17 10 37 19 1 15 2
06.10.17 10 15 5 0 10 0
07 e 08.10.17 10 22 11 2 9 0
12 e 13.10.17 12 28 19 0 9 0
14 e 15.10.17 9 19 9 0 10 0
19 e 20.10.17 11 16 7 0 9 0
21 e 22.10.17 9 23 9 1 12 1
27.10.17 13 27 18 0 9 0
28 e 29.10.17 6 21 10 0 11 0
TOTAL
GERAL 270 622 288 25 285 20
Tabela 3: número total de fotos analisadas, total de pessoas em geral, total de homens brancos, homens negros e pardos, mullheres negras e pardas por data no jornal Meio Norte.
JORNAL MEIO NORTE
DATA
N° DE
FOTOS
N° DE
PESSOAS
BRANCOS NEGROS/PARDOS
BRANCAS NEGRAS/PARDAS
04.08.17 7 14 5 1 8 0
05 e 06.08.17 8 173 66 3 102 2
11.08.17 10 17 6 1 9 1
12 e 13.08.17 65 158 64 2 91 1
18.08.17 9 19 12 0 7 0
19 e 20.08.17 72 167 78 3 83 3
-
31
25.08.17 8 15 7 0 8 0
26 e 27.08.17 60 150 62 1 87 0
01.09.17 9 17 6 0 9 2
02 e 03.09.17 67 142 43 2 95 2
9 e 10.09.17 49 104 40 1 61 2
15.09.17 9 13 6 1 6 0
16 e 17.09.17 68 166 55 1 109 1
22.09.17 9 13 6 1 5 1
23 e 24.09.17 44 92 45 0 46 1
29.09.17 8 11 5 0 5 1
30.09 a
01.10.17 70 153 67 0 85 1
06.10.17 9 15 5 0 10 0
07 e 08.10.17 66 209 91 0 113 5
14 e 15.10.17 70 165 75 1 88 1
21 e 22.10.17 71 162 66 4 89 4
27.10.17 10 24 15 0 9 0
28 e 29.10.17 62 144 78 4 60 1
TOTAL
GERAL 860 2143 903 26 1185 29
Contextualizando a aparição das mulheres negras nas colunas sociais do
jornais teresinenses
Jornal “O Dia”
Data: 05 e 06 de agosto de 2017
Observou-se a presença de uma única mulher negra, na coluna “UP” sendo
esta uma modelo e a ganhadora de um concurso de beleza nacional. Na ocasião a
mesma aparecia na presença dos diretores de uma marca de roupas de um famoso
armazém piauiense, na legenda foi dito que a modelo era a mais nova "parceira" da
marca. Tal marca é descrita como "jovem, alegre e colorida" e possui um publico
alvo de mulheres jovens. Na foto a vencedora do concurso aparece usando uma
coroa e uma faixa, indicando o seu título obtido através do concurso de beleza.
Data: 13 e 08 de agosto de 2017
Mais uma vez na coluna “UP”, observou-se a presença de somente uma
negra nas colunas sociais, a mulher em questão é uma Doutora em ciências da
Comunicação. A mesma apareceu na foto ladeada de mais três pessoas em uma
qualificação de mestrado.
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32
Data: 19 e 20 de agosto de 2017
Na publicação referente aos dias 19 e 20 de agosto o jornal O Dia “fim de
semana” trouxe na capa principal (anexo 1) o título em caixa alta “O Racismo é Aqui”
e logo abaixo o seguinte texto: “As disparidades por conta da raça afetam o
cotidiano de negros e negras que convivem com a violação dos seus direitos em
pleno século XXI. Para pesquisadores e para quem, literalmente, sente na pele as
discrepâncias da sociedade, há uma naturalização do racismo”, na capa continha o
desenho de uma pessoa negra de face a uma pessoa branca, onde além da
representação das cores preto e branco no desenho, houve também uma
acentuação de traços fenótipos na imagem de cada um. Abaixo do desenho, alguns
dados sociais pertinentes a temática racial, foram mencionados, como:
“trabalhadores brancos ganham salários médios 82% superiores aos rendimentos
dos negros”, “as mulheres negras apresentam salários inferiores aos das mulheres
brancas”, “segundo dados de 2005 a 2015, houve uma queda de 7,4% na
mortalidade de mulheres brancas, amarelas e indígenas, mas um aumento de 22%
de morte de mulheres negras”. A matéria da capa foi abordada no caderno Fim de
Semana, onde foi possível observar a foto de uma mulher negra fazendo uma pose
que indicava um caráter de onipotência e abaixo da foto a frase: “Racismo silencioso
permite a violação de direitos humanos”.
No entanto, vale ressaltar, que essa visibilidade negra que apareceu na capa
e na matéria destinada ao tocante racial, não foi contemplada nas colunas sociais da
mesma edição, na verdade, percebeu-se um quase apagamento do negro. Das 26
pessoas que figuraram nas colunas sociais, somente um homem e uma mulher
negra estavam entre eles. A mulher negra em questão, aparece na foto ao lado do
marido, em comemoração ao aniversário deste, um famoso apresentador de
televisão do estado do Piauí.
Data: 25 de agosto de 2017
Identificou-se na coluna “Prisma!, a presença de quatro mulheres negras.
Três destas mulheres, duas adultas e uma criança, aparecem numa foto onde o
contexto era o lançamento de uma linha capilar. Ressalta-se ainda que uma das três
mulheres presentes no referido contexto é jornalista do Jornal o Dia. Em outra foto,
ainda na mesma coluna, aparece novamente uma mulher negra, uma empresária do
ramo de estética fazendo participação no desfile de uma marca de roupas local. Já
na coluna “Salada Vip” aparece apenas uma mulher negra, trata-se da Miss Brasil
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33
2017, piauiense e autodeclarada negra, o contexto é a chegada desta mulher em
Teresina após vencer um concurso de beleza nacional.
26 e 27 de agosto de 2017
Na coluna “UP”, percebeu-se a aparição de apenas uma mulher negra, a Miss
Brasil 2017 ao lado de duas empresarias do ramo de aluguel de peças finas. Na
coluna “Mariano Marques”, novamente constatou-se a presença da Miss Brasil 2017
como a única mulher negra na coluna social do referido dia, na ocasião, a modelo
aparece numa foto promocional do concurso com uma legenda exaltando a sua
beleza.
01 de setembro de 2017
Na coluna “Prisma” houve a aparição de apenas uma mulher parda, uma
advogada ao lado de um tabelião em uma solenidade da UFRJ.
08, 09 e 10 de setembro de 2017
Nesta edição que correspondia aos dias de sexta, sábado e domingo,
constatou-se a presença de apenas uma mulher negra, sendo esta, mais uma vez a
Miss Brasil 2017, ao lado de um jornalista teresinense. A legenda da foto na coluna
“Prisma”, mais uma vez, exaltava a sua beleza.
15 de setembro de 2017
Percebeu-se a presença de apenas uma mulher parda na Coluna “Salada
Vip”. Ela aparece na foto ao lado do marido, um deputado e secretário de estado.
22 de setembro de 2017
Também na coluna “Salada Vip”, figurou nessa edição apenas uma mulher
negra, uma delegada bastante atuante em casos de violência contra a mulher. A
legenda exaltava a sua elegância.
23 e 24 de setembro de 2017
Observou-se na coluna “UP” a presença de duas mulheres negras/pardas. A
primeira é uma médica de cor parda que aparece ao lado do seu namorado, também
médico no aniversário do rapaz. A segunda mulher negra a aparecer na mesma
coluna é uma graduanda em Administração, que aparece na foto vestida com uma
beca e segurando o canudo de formatura, ao lado de uma amiga e um sobrinho. Já
na coluna “Mariano Marques”, percebeu-se a presença de uma mulher negra, na
foto ela aparece junto com o seu companheiro brindando com uma taça de vinho. Na
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legenda o colunista parabeniza a mulher pelo seu aniversário. Não foi citado
nenhuma informação acerca da vida profissional dessa mulher.
30 e 31 de setembro de 2017
A mesma médica, de cor parda, que apareceu na coluna Up do dia 22.09.17,
voltou a aparecer na mesma coluna, dessa vez, no lançamento da nova coleção de
uma marca de roupas de Teresina. Ainda na mesma coluna, observou-se outra
mulher parda, que aparece com mais doze pessoas na foto. O contexto é uma
mostra de "responsabilidade social" promovida por uma faculdade Teresinense, na
legenda não foi citado os nomes daqueles que aparecem na fotografia.
21 e 22 de outubro de 2017
Percebeu-se a presença de apenas uma mulher negra, mais uma vez, a Miss
Brasil 2017 foi a única negra a figurar nas colunas sociais do jornal O Dia na data
mencionada. A modelo aparece em uma foto na coluna “UP”, recebendo uma
medalha da "Ordem do Mérito Renascença" pelas mãos do governador do Piauí, em
uma solenidade que ocorreu no Theatro 4 de Setembro. A" Ordem Renascença" é
destinada a personalidades e entidades nacionais ou estrangeiras consideradas
dignas da gratidão, admiração e reconhecimento por parte do povo e do Governo do
Piauí.
Jornal “Meio Norte”
05 e 06 de agosto de 2017
Na coluna “Arimatea Carvalho” percebeu-se a presença de duas mulheres
negras. O contexto é o lançamento de uma campanha com o intuito de combater a
violência contra a mulher na Câmara de Vereadores de Teresina. Uma das mulheres
negras na foto é secretaria de Políticas Públicas do estado. O nome da segunda
mulher não consta na legenda. Na foto, aparecem seis pessoas no total, e somente
o nome da secretária e do presidente da câmara de vereadores de Teresina são
citados. As demais pessoas são apresentadas como "representantes da campanha".
11 de agosto de 2017
Observou-se a presença de apenas uma mulher negra. Trata-se de uma
piauiense que trabalha no exterior como top model internacional. Na foto, publicada
na coluna “Inside” a modelo aparece caminhando em rua e a legenda da foto faz
referência a sua beleza.
12 e 13 de agosto de 2017
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Na coluna “Inside Weekend”, identificou-se uma mulher parda. A mesma
aparece em uma viagem ao Japão, junto com o marido e os filhos. Na legenda não
foi citado a ocupação profissional da mulher e nem do marido, como é característico
nas legendas das colunas sociais, a legenda mencionou apenas os nomes do casal
e o destino da viagem realizada pelos mesmos.
19 e 20 de agosto de 2017
Notou-se a presença de três mulheres negras na coluna “Inside Weekend”. O
contexto que contemplou as três foi o mesmo: uma solenidade de outorga da
Medalha do Mérito Conselheiro Saraiva, considerada a maior comenda concedida
pelo município às pessoas que, de alguma forma, contribuíram ou contribuem com o
desenvolvimento da cidade. Todas elas foram contempladas com a referida
comenda de reconhecimento. A primeira mulher analisada foi uma delegada que
atua na área de violência contra a mulher; a segunda foi a defensora geral do
estado, e a terceira mulher foi a pastora de uma Igreja Evangélica. Cabe ressaltar
que na legenda da foto em que aparece a terceira mulher, não foi citado qual é a sua
ocupação profissional, foi mencionado apenas o seu nome e sobrenome. Na foto
das outras duas mulheres, foi especificado que se tratava de uma delegada e de
uma defensora. Para que fosse possível saber a profissão e o motivo da
homenagem àquela mulher não referenciada, foi preciso realizar uma pesquisa ao
site Google, usando como palavra chave o nome e sobrenome da mesma,
juntamente com o nome do evento, para que fosse possível identificar o seu ofício.
26 e 27 de agosto de 2017
Na publicação do fim de semana, referente aos dias 26 e 27 de agosto, notou-
se uma grande repercussão midiática por conta da chegada à Teresina da
vencedora do concurso de beleza Miss Brasil 2017, esta é uma modelo piauiense e
autodeclarada negra. Além de ser capa do Jornal da referida data, ela também
figurou em outros cadernos do jornal, como o caderno “fim de semana” que trouxe
no título “Concurso se transforma através das décadas”. A modelo também
apareceu na coluna de cunho político do jornalista Arimatea Carvalho; na coluna
Opinião, assinada por autores diversos, totalizando, dessa forma, quatro aparições
em quatro páginas diversas. Na mesma data, em relação às colunas sociais, a Miss
Brasil foi a única mulher negra a marcar presença nas colunas. Sendo elas, na
coluna UP ao lado de duas empresarias do ramo de aluguel de peças finas e na
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Coluna “Mariano Marques”, onde ocasião a modelo aparece numa foto promocional
do concurso com uma legenda exaltando a sua beleza.
01 de setembro de 2017
Nessa edição do Jornal Meio Norte, observou-se a presença de apenas uma
mulher negra nas colunas sociais. Tratava-se da Miss Brasil 2017, no entanto, esta
apareceu em duas fotos. Na primeira foto a modelo foi fotografada, em dos
principais eventos de moda do Brasil, ao lado dos organizadores do evento. A
segunda foto em que a Miss teresinense aparece é bastante simbólica, pois a
modelo aparece à frente de uma versão do mapa da África com recortes das
bandeiras das nações que fazem parte deste continente. Na legenda da foto é citado
o nome da Miss com o complemento "em espaço que representa as nações
africanas". É importante salientar que a Miss Brasil 2017 em algumas entrevistas
fornecidas aos variados meios de comunicação, falou sobre o empoderamento da
mulher negra, portanto, analisando a foto da modelo com o mapa da Africa ao fundo,
percebe-se que a associação de sua imagem ao sentimento de pertencimento à sua
identidade negra é bastante fortalecida.
02 e 03 de setembro de 2017
Na coluna “Clicks”, constatou-se a aparição de uma única mulher negra e mais uma
vez a Miss Brasil 2017 aparece. Com o título "as piauienses que arrasaram na maior
semana de moda do país" o colunista publicou os "looks" das mulheres piauienses
que estiveram presentes em um evento, que é considerado o mais influente da
moda no país, a foto da Miss exibindo o seu look aparece ao meio, ladeada por
quatro fotos de mulheres piauienses brancas. Na coluna Arimatea Carvalho, notou-
se a presença de apenas uma mulher negra também, na foto ela aparece
prestigiando o lançamento de uma campanha de supermercados ao lado de uma
empresária, e anfitriã do evento e do marido. Na legenda é informado o seu nome e
a sua profissão. O colunista também faz uma associação matrimonial dessa mulher
com o marido, um famoso apresentador de TV do estado, que também figura na
mesma foto.
09 e 10 de setembro de 2017
Na coluna “Inside Weekend” foi observado a presença de duas mulheres
negras/pardas. Na primeira foto, uma mulher parda aparece sozinha na foto, em um
evento dedicado ao dia do nutricionista com vários profissionais da área em um
espaço de festa na zona leste da capital piauiense. Na legenda é revelado o nome
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da mulher sem citar sua ocupação profissional como é de praxe nas colunas sociais,
o complemento da legenda é "reforçando o charme". Na segunda foto, uma mulher
negra foi observada na mesma página da coluna já citada. A ocasião foi um evento
de comemoração dos 123 anos do Theatro 4 de Setembro, considerada a principal
casa de espetáculos do Piauí, o evento contou com uma premiação àqueles que
contribuem com seus trabalhos voltados para sustentar a história desse local. Na
foto, a mulher aparece de um palco, ao lado de um ator e diretor de um coletivo
piauiense, na legenda não foi citado o nome da mulher e não foi feita nenhuma
referência a ela, apenas do homem. Essa foto foi bastante significativa e análoga à
temática da pesquisa. A mulher negra está ali, mas continua coberta pelo véu da
invisibilidade.
16 e 17 de setembro
Também na coluna “Inside Weekend” foi percebido a presença de uma mulher
negra. Na ocasião, uma festa de casamento, a mulher aparece ao lado do namorado
e de uma amiga. Na legenda foi especificado o nome das três pessoas que figuram
na foto, em qual festa eles estavam, mas não houve nenhum tipo de informação
acerca da profissão dos mesmos.
22 de setembro de 2017
Notou-se a presença de apenas uma mulher negra, sendo ela, novamente, Miss
Brasil 2017. Na foto ela aparece sozinha e na legenda houve uma referência à
beleza da modelo, além da informação de que a mesma estava prestigiando um
restaurante em São Paulo que serve comidas tipicamente piauienses.
23 e 24 de setembro de 2017
Uma única mulher negra aparece nas colunas sociais do jornal Meio Norte desse
dia, sendo na coluna “Clicks”, e mais uma vez, essa presença foi a da Miss Brasil
2017. Na foto ela aparece sozinha, fazendo merchandising para uma loja de
calçados teresinense. A legenda faz referência à sua beleza, ao sapato que a
mesma estava usando e a loja já citada.
29 de setembro de 2017
Dessa vez na Coluna “Click”, novamente a Miss Brasil 2017 aparece enquanto única
negra nas colunas sociais. Na foto, a modelo aparece ao lado de dois homens
teresinenses, a legenda não especificou qual a ocupação profissional das outras
pessoas, informa apenas que o contexto da foto, trata-se de um ensaio fotográfico,
na pinacoteca de São Paulo, para um Anuário teresinense.
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30 de setembro e 01 de outubro de 2017
Na coluna “Inside Weekend” percebeu-se a presença de apenas uma mulher
negra edição do jornal. Na foto a mulher aparece ao lado do marido e do filho em um
casamento em Tereisna, em sua legenda foi informado somente o nome das três
pessoas, sem conter informações da ocupação profissional dos mesmos.
07 e 08 de outubro de 2017
Na coluna “Arimatea Carvalho” percebeu-se a presença de duas mulheres
negras na mesma foto. Na foto aparecem seis mulheres que enfrentaram o câncer
de mama e foram convidadas por uma marca de roupa piauiense para participarem
de uma campanha com o objetivo de passar a mensagem de confiança e
autoestima para as mulheres que lutam contra essa doença. Os nomes das seis
mulheres foram citados nas legendas. Na mesma coluna também figurou uma
terceira mulher negra, não foi citado o seu nome, mas pelo contexto percebeu-se
que era uma das modelos contratadas para desfilar no evento "feira de noivas", a
modelo aparece ladeada por mais nove pessoas na foto, o único nome citado é de
uma "premiada publicitária", como a legenda a caracterizou. Já na coluna “Inside
Weekend”, a quarta mulher parda percebida foi a mãe de um decorador de Teresina,
que aparece na foto ao lado do filho com mais três pessoas comemorando o seu
aniversário. A quinta mulher negra, observada na mesma coluna, aparece na foto de
um casamento, ao lado dos noivos e de mais dois casais, o seu nome foi citado,
mas não houve nenhuma outra informação sobre a mesma.
14 e 15 de outubro
Foi na coluna “Clicks” a única aparição de uma mulher negra na edição do
jornal nessa data, trata-se de uma jornalista. Ela aparece prestigiando a inauguração
de uma loja de roupas em um shopping na cidade de Timon - MA, ao lado de mais
três mulheres.
21 e 22 de outubro
A primeira mulher negra observada nas colunas dessa data foi a Miss Brasil
2017 recebendo a medalha da "Ordem do Mérito Renascença" pelas mãos do
governador do Piauí, em uma solenidade que ocorreu no Theatro 4 de Setembro. Na
foto, publicada na coluna “Inside Weekend”, ela aparece ladeada pelo governador já
citado e pelos governadores de Sergipe e Minas Gerais. A mesma usava a coroa e
faixa referente ao concurso de beleza do qual foi campeã. A segunda mulher negra
observada na mesma coluna aparece em uma foto com mais duas mulheres
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brancas no evento de dois arquitetos da capital. Na legenda foi citado apenas o
nome das mulheres, sem especificar suas ocupações profissionais. Na coluna
“Clicks” foi observado a aparição de apenas uma mulher negra, na foto ela aparece
sozinha em sua colação de grau em RH.Na coluna “Arimatea Carvalho”, outra vez a
Miss Brasil 2017 esteve presente, a ocasião foi um jantar ofertado especialmente
para ela, na foto ela aparece ao lado de um empresário, que de acordo com a
legenda, era um dos anfitriões do jantar. Ressalta-se um detalhe, nessa foto, a miss
não apareceu usando a faixa e a coroa que corresponde ao título que carrega.
28 e 29 de outubro
Na coluna “Inside Weekend” constatou-se a presença de apenas uma mulher
negra não só nessa coluna, mas em todas as colunas sociais do Jornal Meio Norte
dessa data. A mulher em questão é uma senadora piauiense que na ocasião estava
prestigiando um evento literário.
Tabela 3: número de aparição das mulheres negras nas colunas sociais classificados por colunas sociais
Colunas Sociais Aparições de mulheres negras
Inside Weekend 13
Clicks 8
Up 8
Prisma 6
Inside 5
Salada Vip 4
Arimatea Carvalho 3
Mariano Marques 2
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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Durante a realização dessa pesquisa, percebeu-se que estudos na área da
Psicologia acerca da temática racial são pouco produzidos, tanto no contexto
escolar, clínico ou social, as produções ainda são pouco expressivas. A
inexpressividade de livros e de autores que tratem as questões do indivíduo negro é
algo que deve ser discutido pelos psicólogos.
A Psicologia pode e deve ajudar na problemática do afrodescendente,
contribuindo para a sua afirmação de identidade, sentimento de pertencimento
racial, além de lançar o seu olhar diferenciado sobre a discriminação entre raças.
Enxerga-se na Psicologia escolar, por exemplo, uma boa oportunidade de levar a
discussão sobre racismo, sobre construção de identidade ou até mesmo a sugestão
de livros didáticos acerca da história do negro no Brasil e de trabalhos escolares que
possam aproximar todos os alunos da afrodescendência, para que dessa forma,
crianças negras tenham a possibilidade de vivenciar um olhar que não seja
distorcido sobre a sua autoimagem.
Entende-se que a Psicologia possui uma limitação em suas ações em vários
contextos, porem cada vez mais busca estar inserida na atuação da garantia dos
direitos das pessoas. Reparar os estigmas causados por conta das desigualdades
sociais não é papel apenas do psicólogo, mas da sociedade como um todo. É
notório os avanços e conquistas da população negra ao longo dos anos, muitas
pessoas estão se unindo e aderindo à causa racial, a presença de Movimentos
Negros e ONGS que lutam pela defesa da igual contribuem para o progresso.
Porem, muito ainda falta para que as injustiças raciais sejam execradas.
Nesta pesquisa foi possível constatar que a identidade é construída
socialmente, e que se estabelece através de representações sociais que o meio
relaciona com o indivíduo, e é por conta disso, que a discussão sobre a influência do
papel dos meios de comunicação na constituição da subjetividade do indivíduo
negro deve ser considerada. As crianças não nascem com uma imagem negativa do
negro, ela segue uma tendência social que é reforçada pelos meios de comunicação
e que não é corrigida pela escola. Seria ingenuidade achar que de alguma forma, a
representação negativa ou a falta de representação do negro em papeis de
relevância ou de destaque não possa contribuir de forma psíquica nos indivíduos
negros e não negros. A falta de valorização da cultura e atributos de um povo não
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propicia que a autoestima do sujeito ou de seu coletivo seja manifesta. E as
representações estereotipadas transmitidas pelas mídias brasileiras, acabam
distorcendo a concepção da autoimagem e prejudicando a autopercepção daqueles
que não se sentem representados dentro da cultura do seu próprio país.
As repercussões psíquicas na mulher negra sobre a defasagem do retrato
dela perante a sociedade deve ser considerada e analisada com um olhar
diferenciado pela Psicologia. Sabe-se que o processo de subjetivação de cada
individuo se difere um do outro, mas aspectos raciais e de gênero são
imprescindíveis nesse tocante. Problemas como sentimentos de inferioridade, baixa
autoestima podem ocorrer dependendo da forma que essa demanda ressoará na
autoimagem da mulher negra, é importante elaborar esses aspectos e nisso a
Psicologia pode contribuir de forma exemplar.
Os resultados apresentados nesse trabalho são uma prova de que há uma
discrepância de representatividade entre mulheres brancas e mulheres negras. Se
as mulheres negras não são minorias na população de Teresina, por que elas são
pouco evidenciadas nas colunas sociais dos jornais locais? Uma visibilidade
midiática inferior à presença física dessa amostra populacional da cidade diz muito
sobre uma sociedade pluralista, porém, nada democrática. Não é esperado que os
jornais locais realizem suas atividades baseados em dados geográficos e
estatísticos, entretanto, espera-se dos meios de comunicação como um todo, uma
diversidade democrática que trate com relevância as diferenças existentes nos
aspectos de gênero, étnicos, culturais, etc.
A análise dos resultados dessa pesquisa, mostrando a inexpressividade de
mulheres negras nas colunas, mostra que a mídia impressa de Teresina está indo
no sentido contrário às mais variadas formas de diversidade social. Percebeu-se que
além da escassez de mulheres negras nessas colunas, também existe uma
repetição das poucas mulheres que aparecem. Prova disso é a quantidade de vezes
que a Miss Brasil 2017 aparece nas colunas sociais, totalizando 13 aparições. Em
várias edições ela foi a única negra a figurar nesse meio. E se a Miss Brasil não
fosse uma negra piauiense? O número de mulheres negras nas colunas sociais dos
jornais de Teresina seria ainda mais inexpressivo. Ao invés de 49 mulheres negras
que apareceram num total de 2.765 pessoas, esse numero cairia para 36,
considerando que a Miss Brasil 2017 apareceu 13 vezes nas colunas sociais.
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Lamenta-se que a ideologia do branqueamento, surgida no século XIX, com o
objetivo de branquear a população, partindo do pressuposto de que os padrões
eurocêntricos são os mais aceitáveis do ponto de vista do que é belo, infelizmente,
continue sendo uma referência atual. Se mulheres negras e pardas correspondem a
mais da metade da população, e ainda assim são invisíveis nos contexto midiático,
nota-se que há uma tentativa de embranquecimento da população no momento em
que os meios de comunicação majoritariamente se limitam a retratar apenas
pessoas brancas.
Os resultados deste trabalho sugerem que não somente as políticas de cunho
social, benefícios econômicos ou a inclusão do negro em iniciativas públicas e
privadas solucionarão os problemas de desigualdade social, é preciso um
engajamento de todas as camadas da sociedade. Entende-se que decisões
políticas, como as cotas raciais e a lei 10.639/03 são de suma importância para
reparar algumas das violências sofridas pelos negros ao longo da história do Brasil,
mas é preciso muito mais para que possamos alcançar o ideal de uma democracia
étnica na nossa sociedade.
É importante que haja uma interação de saberes científicos que visem
compreender a raiz do problema racial, algo tão entranhado no pensamento coletivo,
que faz com que as pessoas enxerguem de forma desigual umas as outras tendo
como base apenas a cor da pele. A produção de pesquisas que tragam à tona as
demandas dos negros em variados contextos, gerando discussões que visem
diminuir o preconceito racial, assim como mostrar dados para possíveis estratégias,