Facebook: Darth Zuckerberg e seu cavalo de troia

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1 Darth Vader does his best Mark Zuckerberg… by The Universe: http://goo.gl/H9f18 Advertência. Esta versão (de 18/12/2011) é um draft. Possivelmente na versão final serão eliminadas (ou pelo menos reduzidas) as extensas citações. Algumas partes, que são repetitivas, devem ser retiradas (ou reescritas). Trata-se por enquanto (do que em cinema os espanhóis chamam) de um copión de trabajo. Sua divulgação nesta fase preliminar de elaboração tem como objetivo receber críticas e sugestões que possam corrigir ou melhorar o texto. O autor agradece, antecipadamente, a toda colaboração nesse sentido.

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Draft de Augusto de Franco (18/12/2011)

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Darth Vader does his best Mark Zuckerberg… by The Universe: http://goo.gl/H9f18

Advertência. Esta versão (de 18/12/2011) é um draft. Possivelmente

na versão final serão eliminadas (ou pelo menos reduzidas) as

extensas citações. Algumas partes, que são repetitivas, devem ser

retiradas (ou reescritas). Trata-se por enquanto (do que em cinema

os espanhóis chamam) de um “copión de trabajo”. Sua divulgação

nesta fase preliminar de elaboração tem como objetivo receber

críticas e sugestões que possam corrigir ou melhorar o texto. O autor

agradece, antecipadamente, a toda colaboração nesse sentido.

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No final de setembro de 2011 abri uma página no Facebook intitulada

Código de Defesa do Usuário de Midias Sociais. A descrição da página

era a seguinte:

Nada melhor do que usar o Facebook para construir um Código de

Defesa do Usuário do Facebook (e de outras mídias sociais), não?

Urge pensar uma espécie de Código de Defesa do usuário de

mídias sociais (como o #FB). O fato de serem gratuitas não

autoriza a manipulação. Se quiser colaborar, deixe aqui suas

sugestões de artigos para este código.

Algumas (poucas) pessoas deixaram suas sugestões:

Fica definitivamente proibida toda e qualquer forma de publicidade

ou propaganda sem aprovação expressa e preliminar do usuário

(Paulo Araújo).

Dados postados pelo usuário serão de sua exclusiva propriedade e

poderão ser colhidos e transferidos a outras redes (Bruno Ayres).

Ao optar por deixar uma rede o usuário poderá solicitar que esta

não mantenha seus dados armazenados em seus servidores por

um período maior do que ‘xy’ dias (Bruno Ayres).

O usuário deve poder configurar o que aparece em sua página (no

caso de plataformas egonetizadas, como o Facebook) e não ficar

sujeito a um algoritmo ocultado (se um algoritmo faz isso, seu

código deve poder ser conhecido) (Augusto de Franco).

As plataformas não podem vender ou usar com fins lucrativos ou

promocionais os dados dos usuários a não ser com sua

concordância (Augusto de Franco).

As regras de comportamento ou acordos de convivência com os

quais um usuário deve concordar para se registrar em uma

plataforma devem estar explícitos, de modo legível, no ato de

registro. Novas normas não podem ser aduzidas posteriormente e

aplicadas top down, sem a concordância explícita do usuário

(Augusto de Franco).

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Os usuários têm o direito de conviver e interagir com pessoas e

quando empresas utilizam as plataformas com fins transacionais

de atendimento ou marketing elas devem deixar claramente

identificada o nome da pessoa que está falando em nome da

organização (Daniel Souza).

A autorização para a troca de informação entre plataformas deve

ser mais clara e seriamente consentida pelo usuário, não

camuflada como pedido de acesso às suas “informações básicas”

(Clissia Morais).

As plataformas deveriam: Permitir integração com outras mídias

sociais / Não limitar visualização do histórico dos posts / Não

limitar número de caracteres do post / Não bloquear "adicionar

amigo" depois de adicionar um número máximo arbitrariamente

estabelecido (sem dizer qual é) / Permitir inserir fotos e vídeos

diretamente nas respostas / Não limitar "número de amigos" / Não

criar filtros sem que o usuário saiba / Permitir que grupos abertos

sejam abertos de fato (sem exigir que alguém tenha que convidar)

/ Permitir que se adicione de uma única vez os ainda "não-amigos"

em um grupo (Sérgio Venuto).

Tudo isso gerou também alguma discussão, inclusive sobre se seria

correto ficar criando normas. Fui obrigado a esclarecer:

O Código de Defesa do Usuário de Midias Sociais não é norma

estatal e sim social. Na verdade é um pretexto para levantar os

abusos cometidos pelas plataformas proprietárias, p-based e

egonetizadas (como o Facebook e outras). Não é para salvar nada,

nem tem causa alguma: é para ensejar a interação entre pessoas

que têm opiniões sobre a manipulação das mídias. As pessoas

devem dizer isso para os Darth Zuckerbergs trancadores de

códigos, que floresceram regressivamente após a geração

libertária que pensou a Internet. Por outro lado, está claro que as

mídias sociais não são as redes sociais. Do contrário nem

estaríamos usando a abominável palavra "usuários".

Bem... aí comecei a usar a expressão Darth Zuckerberg (ou,

abreviadamente, Darth Zucker) para caracterizar a geração dos

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trancadores que sucedeu a geração dos distribuidores (que talvez

pudesse ser representada simbolicamente pelo Jedi Tim Berners-Lee).

Um slide da minha apresentação, intitulada Desobedeça (2011), no

TEDxCuritiba (1), ilustrava essa importante contraposição:

Slide da apresentação do autor no TEDxCuritiba (16/07/2011)

É claro que se as sugestões listadas acima, apresentadas pelos que

interagiram na página que abri no Facebook, fossem acatadas, o

Facebook não poderia existir. O que significa que elas jamais serão

implementadas.

Mas o que significa também que as pessoas sabem como deveria ser

(ou melhor, como não deveria ser) uma plataforma, ainda quando

possam não saber exatamente o significado do engenho malicioso

arquitetado por Mark Zuckerberg e não consigam avaliar todas as

consequências nefastas que o seu uso generalizado pode acarretar.

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A questão é complexa. Em Fluzz (2011) escrevi:

Os visionários do ciberespaço, herdeiros do sonho mcluhiano da

aldeia global (segundo Tom Wolfe), acreditando que a Força

estava com eles, usaram-na para construir seus mainframes:

seus programas e produtos proprietários, suas caixas-pretas

para trancar – esconder dos outros em vez de compartilhar – os

algoritmos que inventavam, seus bunkers organizativos e suas

fortunas pessoais.

Todavia, há uma diferença entre o que fizeram Vinton Cerf e

Robert Kahn (1975) com o Protocolo TCP/IP, Tim Berners-Lee e

Robert Cailliau (1990) com a World Wide Web, Linus Torvalds

(1991) e a multidão com o Linux e Rob McColl (1995) e a

multidão com o Apache, e o que fizeram Bill Gates e Paul Allen

com a Microsoft (1975) e o Windows (1985), Steve Jobs e

Steve Wozniak com a Apple (1976) e o Mac OS (1984), Larry

Page e Sergey Brin (e Eric Shmidt) (1998) com o Google, Mark

Zuckerberg e Dustin Moskovitz (2004) com o Facebook e Evan

Willians e Biz Stone (e Jack Dorsey) (2006) com o Twitter.

Estamos verificando agora em que medida eles estavam no

contra-fluzz ou com-fluzz, o curso que não pode ser aprisionado

por qualquer mainframe (2).

E mais adiante:

Os Highly Connected Worlds tendem a ser inumeráveis, assim

como serão inumeráveis os interworlds, miríades de interfaces

conectando miríades de mundos e “explodindo como uma

ramada de neurônios”, para lembrar um artigo seminal de

Pierre Lèvy (1998) (3).

Em termos tecnológico-sociais, o grande desafio hoje, ao

contrário do que reza a metafísica que esse Mark Zuckerberg –

o chefe do Facebook – quer nos empulhar, para torná-la, a sua

plataforma proprietária única, a própria rede e não mais uma

ferramenta, é construir os inumeráveis interworlds que serão as

novas internets.

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O Facebook tem mais de 500 milhões de usuários? É ruim.

Seria melhor ter 500 mil plataformas com mil usuários cada

uma, conversando entre si... Tudo que não precisamos agora é

reeditar a ilusão hierárquica de um mundo único. Uma

sociedade em rede é uma configuração de miríades de Highly

Connected Worlds interagentes. Essa é a única mudança

verdadeiramente sustentável: tudo que é sustentável tem o

padrão de rede porque rede é redundância de processos e

abundância (diversidade) de caminhos.

A mudança-que-é-a-rede é fractal, não unitária. A mudança não

é a emergência de muitos mundos locais (que, de resto,

sempre existiram), mas os múltiplos caminhos (que não

puderam existir nas civilizações hierárquicas) entre o local e o

global. E ela não se consumará sem essas “zonas de transição”

que são interworlds (4).

Isso escrevi no final do ano passado. Hoje diz-se que o Facebook já

conta com 800 milhões de usuários. O que só reforça o argumento.

Aliás, o próprio Berners-Lee, em artigo publicado no ano passado na

Scientific American (22/12/2010), intitulado Long live the Web: a call

for continued open standards and neutrality, coloca um dos

problemas principais (que é o problema da recentralização da rede):

Several threats to the Web’s universality have arisen recently.

Cable television companies that sell Internet connectivity are

considering whether to limit their Internet users to downloading

only the company’s mix of entertainment. Social-networking

sites present a different kind of problem. Facebook, LinkedIn,

Friendster and others typically provide value by capturing

information as you enter it: your birthday, your e-mail address,

your likes, and links indicating who is friends with whom and

who is in which photograph. The sites assemble these bits of

data into brilliant databases and reuse the information to

provide value-added service — but only within their sites. Once

you enter your data into one of these services, you cannot

easily use them on another site. Each site is a silo, walled off

from the others. Yes, your site’s pages are on the Web, but

your data are not. You can access a Web page about a list of

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people you have created in one site, but you cannot send that

list, or items from it, to another site.

The isolation occurs because each piece of information does not

have a URI. Connections among data exist only within a site. So

the more you enter, the more you become locked in. Your

social-networking site becomes a central platform—a closed silo

of content, and one that does not give you full control over your

information in it. The more this kind of architecture gains

widespread use, the more the Web becomes fragmented, and

the less we enjoy a single, universal information space.

A related danger is that one social-networking site — or one

search engine or one browser — gets so big that it becomes a

monopoly, which tends to limit innovation. As has been the

case since the Web began, continued grassroots innovation may

be the best check and balance against any one company or

government that tries to undermine universality. GnuSocial and

Diaspora are projects on the Web that allow anyone to create

their own social network from their own server, connecting to

anyone on any other site. The Status.net project, which runs

sites such as identi.ca, allows you to operate your own Twitter-

like network without the Twitter-like centralization (5).

A crítica de Berners-Lee ao monopólio que o Facebook está querendo

criar – assim como a Apple, com o iTunes, que estimula a publicação

de conteúdo em aplicativos e não na própria WWW –, ilhando a

informação, focaliza apenas um dos problemas.

Então, antes de avançarmos, convém fazer uma lista dos problemas.

Há o problema da recentralização da rede, já mencionado. Temos

também os problemas relacionados ao design das plataformas:

Facebook (assim como Google+ e congêneres) é uma mídia social

egonetizada, proprietária e p-based (quer dizer, baseada em

participação e não em interação). Facebook imagina que seres

humanos em rede são indivíduos usuários de uma plataforma e não

pessoas interagindo com outras pessoas por meio (ou não) de uma

(ou várias) plataforma(s). Facebook, ao que tudo indica, desconhece

a fenomenologia da interação e, com certeza, não é um ambiente

adequado à manifestação dos fenômenos próprios das redes mais

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distribuídas do que centralizadas. Facebook não confia na auto-

organização. E, por último, há o problema que chamei de Cavalo de

Troia, que levou à redação do presente texto.

RECENTRALIZAÇÃO DA REDE

O problema da recentralização da rede foi abordado corretamente por

David de Ugarte, em um post intitulado El “futuro de las redes

sociales” (15/11/2011):

Los últimos cinco años los libros de caras [ele se refere,

obviamente, a Facebook e assemelhados] han utilizado la

etiqueta de «red social» para impulsar una verdadera

recentralización de la red en sus servidores...

La llamada web 2.0 fue en realidad un proceso de

recentralización de las topologías de red que sustentaban la

socialización en Internet. Pasamos del modelo distribuido de la

blogsfera y la interacción, al descentralizado de la Wikipedia y

Digg con sus oligarquías participativas y su cultura de la

participación y finalmente al centralizado de Facebook, Twitter y

Google+ con su cultura de la adhesión. En 5 años Internet

anduvo para atrás lo que en 200 años la estructura de poder

había ido hacia adelante, desde las postas centralizadas y sus

consecuencias (el mundo centralista de la monarquía absoluta y

el jacobinismo) al telégrafo (el mundo descentralizado de las

naciones y el pluralismo) y finalmente el propio Internet (la

promesa de un mundo distribuido sin poder de filtro ni rentas).

Pareció en algún momento todo un «fin de la Historia». Pero en

los últimos dos años están apareciendo nuevas ofertas, nuevas

herramientas libres... que proponen romper con la

recentralización de la red...

Si la evolución a servicios centralizados masivos fue paralela al

desarrollo de grandes infraestructuras de servidores y sus

tecnologías (la «nube»), la redescentralización e incluso

redistribución que apuntan para el futuro estas nuevas

alternativas [Bazar, Diaspora, Identi.ca e o planejado Lupus]

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apuntan hacia la revalorización de pequeños servidores

comunitarios e incluso de los netbooks y teléfonos celulares de

los usuarios. Redistribuir supone desarrollar autonomía, y en

primer lugar autonomía de las infraestructuras ajenas.

Lo que viene es una reedición de aquella batalla, hoy tan

lejana, en la que Sun ensayaba el «software as a service» y

Microsoft le respondía con un «todo el poder para tu PC». Solo

que ahora el PC ya no es un monopolio de Bill Gates. Y lo que

está en juego no es sólo elegir un modelo dentro de

alternativas privativas y corralitos informáticos, sino el

verdadero «sistema operativo» de las formas de socialización

de nuestra época...(6)

Em artigo anterior, do mesmo ano, intitulado Facebook, el “efecto

boy scout” y la necesidad de dar um canal articulado a la adhesión,

Ugarte (03/04/2011) escreveu:

El efecto negativo de los libros de cromos [Facebook, Google+

etc.] no es estructurar la adhesión, sino romper el paso de esta

a la participación y la interacción...

El problema de los libros de cromos como facebook, es que han

intentado sustituir y competir con la red en su conjunto

generando un modelo de socialización autolimitativo,

empobrecedor y controlable. Facebook ayuda a construir los

dos escalones inferiores de la pirámide del compromiso tanto

como sirve de freno al desarrollo de la participación y la

interacción. Se trata de un «efecto boyscout» perseguido

intencionalmente en la búsqueda del control y la monetización

máxima (7).

Para bom entendedor, está dito quase tudo. Quase, porque a questão

é mais complexa. Tem a ver com o que esperamos de uma mídia

social como ferramenta de netweaving de verdadeiras redes sociais. É

claro que tudo isso só faz sentido para quem já entendeu o óbvio

(que os proprietários de plataformas proprietárias não sabem e, se

sabem, querem esconder), ou seja: a) que descentralização não é o

mesmo que distribuição; b) que participação não é o mesmo que

interação; e c) que o site da rede não é a rede.

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Tentei explicar de maneira sucinta essas diferenças no artigo É o

social, estúpido! Três confusões que dificultam o entendimento das

redes sociais (2011) e a leitura desse pequeno texto talvez seja

condição necessária para entender o meu ponto de vista e sobre que

vem a seguir (8).

PLATAFORMAS EGONETIZADAS

Facebook (assim como seus congêneres, e. g., Orkut, Google+) é

uma plataforma egonetizada. Plataformas egonetizadas deseducam

seus usuários para as redes sociais distribuídas.

Em vez de fluxo, “meu quadrado” (9): a pessoa tende a achar que a

sua página é o seu espaço proprietário, a partir do qual ela vai

supostamente interagir. Em vez de se jogar no fluxo, ela se aboleta

no seu bunker (chamado às vezes de “Minha Página” mesmo e, no

Facebook, de Mural). É então induzida a achar que ali pode colocar

todas as “suas” coisas. E fica até ofendida quando alguém lhe lembra

de que o concurso de Miss Universo não tem muito a ver com

astrofísica... Ou seja, ela não se conectou a uma rede, regida por

uma lógica coletiva, mas simplesmente se registrou numa plataforma

genérica como um eu-sozinho e não quer nem saber o que pensam

as outras pessoas sobre a rede propriamente dita. Obedece sem

questionar, isto sim, aos regulamentos arbitrados pelo dono da

plataforma, mas não está nem aí para seus pares e fica contrariada

quando algum desses faz qualquer observação sobre o seu

comportamento. – Rede, ora, que rede? Eu não entrei em rede

nenhuma. Entrei numa plataforma virtual que chamam de rede

social.

PLATAFORMAS PROPRIETÁRIAS

Facebook é uma plataforma proprietária. Plataformas proprietárias

são urdidas pelos trancadores de códigos. Ao construírem caixas-

pretas para esconder seus algoritmos ou para montar seus alçapões

de dados, os Darth Zuckers erigem, na verdade, pirâmides para

proteger suas operações centralizadoras da rede social. Não é por

acaso que essas plataformas, desenhadas a partir de uma instância

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proprietária, tentem sempre disciplinar a interação, cavando sulcos

por onde o rio deve passar. O nome disso é: centralização.

Como é uma plataforma proprietária, o Facebook opera na lógica das

coisas proprietárias, a começar por dar a sensação aos seus usuários

de que eles são os proprietários das suas páginas, como já

comentamos ao examinar seu caráter egonético. Todo mundo ali é

proprietário de alguma coisa (da qual, a rigor, já era, como seu perfil

e seus dados), mas é o dono do Facebook que é o verdadeiro

proprietário de tudo ao reservar para si – e negar a todos os outros –

o poder de se apropriar das coisas alheias. As pessoas tendem a

achar que isso é natural, pois, afinal, ele não é o dono?

Mano Zuck só aprendeu a “varrer para dentro”. Ele deixa até a

replicação, no Facebook, de algumas interações efetuadas em outras

plataformas (como tweets, por exemplo). Mas não gosta que saia

nada do seu cercado. E estabelece suas regras unilaterais (no caso,

se você tuita demais seguidamente, o algoritmo que ele bolou pode

interpretar que algo não está certo – onde já se viu? – e suspender a

publicação). Claro, ele quer protegê-lo. Protegê-lo da interação!

PLATAFORMAS BASEADAS EM PARTICIPAÇÃO, NÃO EM

INTERAÇÃO

Facebook é uma plataforma de adesão com pretensões participativas.

Pode chegar, no máximo, a ser uma plataforma p-based (baseada em

participação), mas jamais será uma plataforma i-based (baseada em

interação) (10).

Plataformas p-based envolvem sempre algum tipo de escolha de

preferências geradora de escassez. E suas funcionalidades estão

voltadas ao arquivamento de passado: publicar, curtir, comentar,

compartilhar – tudo para aumentar o repositório ao qual somente

seus proprietários têm pleno acesso, na medida em que só eles

podem programá-las sem restrições. Nelas você não pode interagir

livremente, quer dizer atuar nos seus próprios termos e sim nas

condições já estabelecidas por alguém antes da interação. O nome

disso é: participação.

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Você pode curtir, mas não pode descurtir (ou curtir mais ou menos).

Você não pode saber quem está, num determinado momento,

interessado – estudando, pesquisando ou trabalhando – nos mesmos

assuntos que você, você não pode interagir com essas pessoas da

maneira como gostaria, mas tem que se ajustar às disposições

disciplinadoras do ambiente participativo que promovem o

arrebanhamento de indivíduos e ensejam a sua condução segundo

regras estabelecidas de antemão.

É claro que esse problema não é apenas do Facebook, mas de todas

as plataformas ditas “de rede” que confundem a mídia (ferramenta

digital) com a rede (social: pessoas interagindo).

Eis o ponto! Essa é a razão pela qual plataformas como Facebook

maltratam as redes: seus arquitetos imaginam que existem

indivíduos usuários e não pessoas interagindo.

UM PROBLEMA DE CONCEPÇÃO

Sim, no fundo, a origem de todos esses problemas das plataformas

egonetizadas, proprietárias e p-based, que as tornam inadequadas ao

netweaving, é um problema de concepção: o que está por trás de

tudo isso é a idéia de que o indivíduo é o átomo social, quando, na

verdade, para ser social é preciso ser molécula. Redes sociais são

redes de pessoas e pessoas são produtos de interação e não unidades

anteriores à interação.

DESCONHECIMENTO DA FENOMENOLOGIA DA INTERAÇÃO

E há – por incrível que pareça – muita ignorância mesmo. Em geral

os que se metem a construir plataformas de rede não conhecem (não

estudam, não investigam) a nova ciência das redes e não estão

familiarizados com a fenomenologia da interação.

O exemplo mais recente pode ser fornecido pelos Círculos do Google+

– a nova mídia social egonetizada, proprietária e p-based – que o

Google lançou para ter o seu próprio “facebook”. Os Círculos são

clusters não conformados por clustering e sim por escolha efetuada

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ex ante à interação. Construir um Círculo é assim como gerenciar

uma agenda de contatos. Isso significa: não-deixar a clusterização

exercer o seu papel.

Se uma plataforma de rede não enseja a manifestação dos

fenômenos próprios da interação – como o clustering, o swarming, o

cloning e o crunching –, então ela não é uma plataforma de rede

(11). Desse mal, entretanto, não padece apenas o Facebook, como já

foi dito.

DESCONFIANÇA DA AUTO-ORGANIZAÇÃO

Tudo que interage clusteriza. Tudo que interage pode enxamear.

Tudo que interage enseja a imitação (que é uma clonagem). Tudo

que interage se aproxima.

É por meio desses fenômenos (e de outros que não serão

mencionados aqui por amor à brevidade) que acontece a auto-

organização, a organização bottom up, por emergência. Se

deixarmos.

E por meio desses fenômenos que se manifesta a inteligência coletiva

(que é uma swarm intelligence). Se deixarmos.

Tuitei certa vez que se Darth Zucker estivesse regulando o

comportamento dos cupins eles nunca dariam conta de construir seus

formidáveis cupinzeiros. E os cupins conseguem realizar aquelas

construções tão complexas não porque somam suas inteligências

individuais (o que daria um resultado desprezível em termos de

inteligência agregada), mas porque clusterizam, enxameiam, imitam

uns aos outros (introduzindo variações cuja distribuição gera ordem

emergente) e porque vivem num small-world.

Se os cupins tivessem um facebook como principal meio de

comunicação eles continuariam, como indivíduos da sua espécie, tão

inteligentes como sempre foram. Mas com certeza a inteligência

coletiva que manifestam quando interagem dificilmente se

precipitaria. Se Zuckerberg conseguisse presentear os peixes com um

facebook eles não teriam a fantástica experiência do shoaling. E as

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aves não poderiam vivenciar o murmuration (12) nem os mamíferos

o herding. Em suma, nada de flocking. E, consequentemente, nada

de auto-organização.

Mas os Darth Zuckers – como todos os construtores de pirâmides –

desconfiam da auto-organização. Sobre eles, escrevi em Fluzz

(2011):

Replicadores e trancadores são construtores de pirâmides.

Replicadores são todos os que se dedicam a repetir uma ordem

pretérita. São, portanto, ensinadores (“estações repetidoras” do

que foi forjado, em geral, pelos codificadores de doutrinas).

Para exercer tal papel, entretanto, eles constroem,

invariavelmente, estruturas centralizadas ou verticalizadas –

sejam escolas, sociedades, maçonarias e assemelhadas,

partidos ou corporações ou qualquer outra burocracia que viva

da repetição e da inculcação de um conjunto de ideias ou visões

de mundo urdidas para prorrogar passado – e, nesse sentido,

são construtores de pirâmides.

Trancadores são os que privatizam bens que poderiam ser

comuns (ou que não poderiam ser trancados, como o

conhecimento). Trancadores de conhecimento são, por

exemplo, os que defendem o domínio privado sobre o

conhecimento, como as leis de patentes e o famigerado

copyright.

Um dos tipos contemporâneos de trancadores – relevante pelo

efeito devastador que sua atividade provoca na antessala de

uma época-fluzz – são os trancadores de códigos, que estão

entre os mais bem-sucedidos inventores de softwares

proprietários da atualidade Ao construírem caixas-pretas para

esconder seus algoritmos (como fazem os donos do Google ou

do Twitter) ou para montar seus alçapões de dados (como faz o

dono do Facebook), eles acabam tendo que construir pirâmides

para proteger suas operações centralizadoras da rede social...

A solução para tal problema não é “fugir para trás”, voltando

aos blogs, como sonham alguns. Ainda que a blogosfera seja de

fato, no seu conjunto, uma rede distribuída, os blogs, em si,

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não se estruturam de modo distribuído. Em geral são

organizações fechadas, que não admitem interação a não ser

com aprovação prévia dos seus donos (por meio da chamada

“mediação de comentários”). Mesmo quando são abertos a

qualquer comentário, os blogs são piramidezinhas, espécies de

reinados do eu-sozinho. Não são bons instrumentos de

netweaving de redes sociais distribuídas na medida em que não

são, eles próprios, redes distribuídas.

Não existem tecnologias de netweaving capazes de colocar um

conjunto de blogs em um meio eficaz de interação. Ademais, a

mentalidade dos bloggers não acompanhou a inovação que,

objetivamente, sua atividade representa. E muitos daqueles

que fazem o proselitismo das redes distribuídas nos seus blogs,

organizam, lá no seu quadrado, suas igrejinhas hiper-

centralizadas, algumas vezes quase-monárquicas. Ou seja, são

também construtores de pirâmides (13).

POR QUE CAVALO DE TROIA

Tuitei em 11/12/2011:

O Facebook é um cavalo de troia. Quando é que a galera vai

entender isso?

Muitas pessoas ficaram curiosas e começaram a me perguntar por

quê.

Usei a expressão “Cavalo de Troia” no sentido corrente de “presente

de grego” e não no sentido estritamente técnico contemporâneo de

um malware (trojan horse), programa malicioso usado para controlar

um computador, ainda que, em qualquer caso, um “Cavalo de Troia”

induz aquele que o recebe a abrir suas defesas, possibilitando uma

invasão, a destruição do seu ambiente ou o saque: a apropriação de

bens que lhe pertencem contra sua vontade.

O Facebook pode ser comparado lato sensu a um cavalo de troia na

medida em que é (aparentemente) gratuito, você não paga nada para

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nele se registrar, mas seus dados são capturados e usados com fins

lucrativos pelos donos do engenho ardiloso.

Por certo, essa leitura da metáfora não é suficiente para justificar o

juízo de que o Facebook é um cavalo de troia. Pode-se argumentar

que boa parte das plataformas web e de outras ferramentas,

programas e aplicativos, também faz isso (como as disponibilizadas

pelo Google, por exemplo, a começar pelos seus programas de busca

e e-mail). Dentro de certos limites esse comportamento seria

aceitável na Internet. Mas... vejamos o que realmente acontece.

Você é induzido a aceitar o presente. O presente é um engenho. O

engenho é ardiloso. O ardil é perverso. A perversidade consiste em

fazê-lo acreditar que você está num ambiente (pelo menos) tão free

como a web, quando, na verdade, você está sendo arrebanhado para

interagir em um ambiente privado, no qual você está sendo

observado, seus dados estão sendo capturados, suas informações

estão sendo usadas e suas interações estão sendo monitoradas e

reguladas a partir de regras que você não pode conhecer nem

modificar.

Nada disso é realmente free. Tudo está organizado para que você não

tenha consciência de que foi transformado de pessoa em “indivíduo

usuário”, de usuário em produtor de bens que não lhe pertencerão,

pois você será alienado da sua produção ao jogar seus conteúdos

num alçapão de dados. E, repetindo mais uma vez, só os donos da

plataforma podem programar a plataforma para ter acesso a tais

conteúdos. Você não.

Tudo foi organizado para que você continue trabalhando de graça

para os donos da plataforma.

Você é induzido a aceitar o presente recebido pelo chamado efeito-

rede: todo mundo está lá, seus amigos e parentes, professores e

alunos, chefes, colegas de trabalho e subordinados, ídolos e fãs,

atuais e potenciais empregadores, financiadores, clientes e

consumidores, parceiros, namorados, namoradas, maridos, esposas...

sim, todo mundo está lá (ou você acha que está; ou acha que há

grande probabilidade de estar, o que dá no mesmo). Inclusive

pessoas com as quais você não se relaciona há muito tempo e das

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quais perdeu o paradeiro, quem sabe um filho que saiu de casa e não

deu mais notícia. Não é como em um site de busca porque agora

você pode interagir com a pessoa no mesmo ambiente. Você pode

até, talvez, reatar importantes relacionamentos, cobrar dívidas e

recuperar empréstimos que imaginava perdidos, aliviar sua

consciência tendo a oportunidade de pedir desculpas por graves

ofensas ou simples desatenções cometidas no passado... Como é que

você pode ficar fora disso?

É claro que não pode. Então você entra achando que vai ser um livre

usuário, que usará a plataforma quando quiser, que vai poder sair

dela quando quiser e voltar quando quiser. A plataforma, aliás, lhe dá

essa garantia. Ela não apaga seu perfil e seu histórico, dando-lhe a

segurança de que você pode sempre voltar, e sair de novo, e entrar

de novo. É o melhor dos mundos, não? Além de não pagar nada, você

pode exercer em plenitude seu livre arbítrio.

Aparentemente. O que você não vê é que você vê apenas o que a

plataforma escolheu para você ver. Você não pode conhecer (muito

menos modificar) os algoritmos que determinam o que constrói o seu

feed de notícias. Você não pode conhecer (muito menos modificar) a

infinidade de regras já estabelecidas sobre o que é ou não é

permitido. Você não conhece (nem pode modificar) as normas que

regem as relações com os aplicativos que aceitou sem saber direito o

que de fato autorizou, você não sabe quais os filtros que foram

acionados para selecionar o que você verá e o que os outros verão do

que você postar.

É óbvio que ninguém deveria ter o direito de decidir sobre o que nós

podemos ver (ou devemos não ver). Pensando um pouco, ninguém

discordará disso. Mas não adianta concordar com isso. Pois você não

pode, simplesmente não pode, reclamar com ninguém. É tudo

automático. Os algoritmos rodam sozinhos. Na prática – nessa Matrix

– ninguém é responsável pelo que acontece.

Agora vem o mais tenebroso. Se você teve acesso à web por meio do

Facebook (e são muitas as pessoas, aliás, cada vez mais pessoas,

nessa condição), então você tende a achar que o mundo é assim

mesmo. Como é que alguém vai reclamar da lei da gravidade? As

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coisas caem porque caem, ora bolas. É assim que funciona. O mesmo

vale para a Internet.

Como disse Evgeny Morozov (2011), um analista perspicaz, em geral

meio chato, mas que acertou em cheio nesse particular em recente

artigo intitulado “O Facebook está contra a alegria”:

Uma das ideias mais influentes e perigosas, e menos

consideradas, a surgir neste final de ano no Vale do Silício é a

de "compartilhamento sem fricção". Articulada por Mark

Zuckerberg, o fundador do Facebook, em setembro, a ideia

pode reformular a cultura da internet tal como a conhecemos -

e não para melhor.

O princípio que embasa o "compartilhamento sem fricção" é

enganosamente simples e atraente: em lugar de perguntar aos

usuários se eles desejam compartilhar com os amigos seus

produtos favoritos - os filmes a que assistem online, a música

que ouvem, os livros e artigos que leem -, por que não registrar

automaticamente todas as suas escolhas, livrá-los da tarefa de

compartilhar essas informações e permitir que seus amigos

descubram mais conteúdo interessante de forma automática?

Se Zuckerberg conseguir o que quer, cada artigo que leiamos e

cada canção que viermos a escutar seria automaticamente

compartilhada com os outros - sem que tivéssemos nem de

apertar aqueles irritantes botões de "curtir".

É precisamente isso que o Facebook deseja fazer com sua ideia

de aplicativos sociais, que rastreiam tudo que uma pessoa

consuma no site (e, nem seria preciso dizer, consumimos mais

e mais informações sem sair do Facebook). Não é impensável

que o Facebook em breve venha a desenvolver aplicativos

capazes de rastrear também o que fazemos fora de seu site. E

a essa altura, não estamos mais falando de uma questão de

tecnologia, mas sim de uma questão de ideologia - fazer com

que esse "compartilhamento sem fricção" pareça

completamente normal, e até desejável...

Mas os problemas não se limitam à monitoração em larga

escala. E se empresas que fazem negócios com o Facebook

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desenvolverem o hábito de usar os estereótipos surgidos dos

dados que revelamos a elas a fim de nos enquadrar em suas

estreitas categorias - por exemplo, "hipster de nível

universitário que gosta de música indie e vota na esquerda"?

Isso não seria tão terrível se essas empresas não utilizassem

essas categorias para formatar ofertas personalizadas de

conteúdo dirigidas a nós.

No entanto, devido ao "compartilhamento sem fricção", essas

empresas terminam operando com aquilo que o jornalista

tecnológico norte-americano Eli Pariser define como "má teoria

de personalidade": elas partem de suposições incompletas

sobre quem somos baseadas em livros, filmes e músicas que já

consumimos, e tentam descobrir em que categoria pré-

existente de marketing nos enquadramos, para nos fornecer

conteúdo que outros usuários enquadrados na mesma categoria

apreciam.

O perigo disso é bastante claro: nós, usuários de Internet, logo

estaremos privados de espaço para crescimento intelectual,

porque seremos bombardeados por links para material que

provavelmente apreciaremos...

Mas existe algo de ainda mais repelente nessa ideia. O motivo

para que compartilhemos links deliberadamente, na rede, é

acreditarmos que esses links conduzam a conteúdo

interessante, estimulante, divertido, perigoso ou horrivelmente

ruim. Temos de fazer julgamentos sobre o que vimos, temos de

avaliar - artigos, livros, canções. A maior parte dessas

avaliações é rasa, claro, mas ainda assim nos forçam a

exercitar nossa faculdade crítica, a operar como curadores -

mesmo que para uma audiência formada por apenas 10

amigos...

No entanto, a ideologia do "compartilhamento sem fricção" quer

promover um envolvimento muito diferente com a Internet, nos

termos do qual os usuários não são imaginados como críticos

prontos a discriminar entre tipos diferentes de conteúdo, mas

sim como robôs sem alma cuja função única é consumir

conteúdo e produzir gráficos, tendências e bancos de dados

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para que ainda mais conteúdo lhes possa ser vendido. Já não

compartilharemos aquilo que gostamos de modo consciente;

em lugar disso, o Facebook compartilhará tudo - bom, ruim,

interessante ou chato - em nosso nome.

É hora de percebermos que o Facebook está eliminando a

alegria, o caos e a natureza idiossincrática da Internet, e

substituindo tudo isso por sorrisos artificiais, eficiência tediosa

(e portanto "sem fricção") e uma interação abrangente mas

branda e inane com a cultura...(14)

Bem... para interpretar o Facebook como um cavalo de troia temos

que pensar no coletivo, nos emaranhados que chamamos de pessoas,

não nos indivíduos usuários. A rigor o Facebook não é um presente

de grego para cada indivíduo que nele se registra – e a comparação,

nesse caso, seria mesmo um pouco forçada – e sim para a

humanidade.

À medida que as pessoas vão entrando na Internet via Facebook, elas

se deixam impregnar pela ideologia de um mundo único, um mundo

artificialmente construído segundo as regras dos donos do Facebook.

Os “programas maliciosos” que estão dentro do cavalo de troia

destruirão seus mundos, seus emaranhados construídos pelas suas

livres conexões, na web e para além da web (como nas redes mesh e

nas government-less internets que estão surgindo e tendem a

proliferar) para reificar a ilusão de que só existe aquele mundo único

construído por Darth Zucker.

Nosso grande desafio, ao contrário do que pretende o Facebook, é

construir inumeráveis interworlds (que serão as novas internets).

Interworlds = "zonas de transição", interfaces entre os muitos

mundos altamente conectados: milhões de plataformas e milhões de

interfaces, explodindo como uma ramada de neurônios.

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Notas e referências

(1) FRANCO, Augusto (2011). Desobedeça. Apresentação no TEDxCuritiba

em 16/07/2011. Disponível em:

<http://www.slideshare.net/augustodefranco/desobedea-tedxcuritiba>

(2) FRANCO, Augusto (2011). Fluzz: vida humana e convivência social nos

novos mundos altamente conectados do terceiro milênio. São Paulo: Escola

de Redes, 2011. Versão preliminar digital disponível em:

<http://www.slideshare.net/augustodefranco/fluzz-book-ebook>

(3) LÉVY, Pierre (1998). “Uma ramada de neurônios” in Folha de São Paulo:

15/11/1998. Cf. ainda Caderno Mais da Folha de S. Paulo: 15/11/2002 (p.

5-3). O texto está disponível em:

<http://escoladeredes.ning.com/profiles/blogs/uma-ramada-de-neuronios>

(4) Idem.

(5) BERNERS-LEE, Tim (2010). “Long Live the Web: A Call for Continued

Open Standards and Neutrality in Scientific American Maganize, December

2010. O texto está disponível em:

<http://www.scientificamerican.com/article.cfm?id=long-live-the-web>

(6) UGARTE, David (2011). El “futuro de las redes sociales”. Disponível em:

<http://lasindias.coop/el-futuro-de-las-redes-sociales/>

(7) UGARTE, David (2011). Facebook, el “efecto boy scout” y la necesidad

de dar un canal articulado a la adhesión. Disponível em:

<http://lasindias.coop/facebook-el-%C2%ABefecto-boy-scout%C2%BB-y-

la-necesidad-de-dar-un-canal-articulado-a-la-adhesion/>

(8) FRANCO, Augusto (2011). É o social, estúpido! Três confusões que

dificultam o entendimento das redes sociais. Disponível em:

<http://www.slideshare.net/augustodefranco/o-social-estpido>

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(9) Cf. FRANCO, Augusto (2009). Cada um no seu quadrado: algumas notas

sobre o difícil aprendizado das redes sociais nas organizações hierárquicas.

Disponível em:

<http://www.slideshare.net/augustodefranco/cada-um-no-seu-quadrado-

3215261>

(10) Cf. FRANCO, Augusto (2010). Redes são ambientes de interação, não

de participação. Disponível em:

<http://www.slideshare.net/augustodefranco/redes-so-ambientes-de-

interao-no-de-participao>

(11) Cf. FRANCO, Augusto (2011). É o social, estúpido! Ed. cit.

(12) Cf. TAPSCOTT, Don (2010). Macrowikinomics Murmuration (vídeo).

Edição legendada em português disponível em:

<http://www.youtube.com/watch?v=o4QRouhIKwo>

(13) FRANCO, Augusto (2011). Fluzz. Ed. cit.

(14) MOROZOV, Evgeny (2011). O Facebook está contra a alegria. Artigo

publicado na Folha.com em 28/11/2011. Disponível em:

<http://www1.folha.uol.com.br/colunas/evgenymorozov/1010856-o-

facebook-esta-contra-a-alegria.shtml>