Fabiola-Arque e Etnoaqrqueo Na Aldeia

23
Arqueologia e Etnoarqueologia na Aldeia Lalima e na Terra Indígena Kayabi: Reflexões sobre Arqueologia Comunitária e Gestão do Patrimônio Arqueológico Fabíola Andréa Silva 1 Museu de Arqueologia e Etnologia da USP Introdução Entre 2007 e 2009 coordenei uma pesquisa de campo sobre as trajetórias históricas e culturais das populações indígenas que ocuparam e ocupam a Aldeia Lalima, no Mato Grosso do Sul, e a Terra Indígena (TI) Kayabi, no Mato Grosso e Pará. Trata-se do projeto “Arqueologia, Etnoarqueologia e História Indígena. Um Estudo sobre a Trajetória de Ocupação Indígena em Territórios do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul: a TI Kaiabi e a Aldeia Lalima” 2 . Ele foi concebido no contexto mais contemporâneo da produção de conhecimentos sobre o passado, em consonância com uma perspectiva social, política, dialógica e reflexiva de pesquisa arqueológica. O objetivo principal era identificar os processos de continuidades, mudanças e rupturas nas trajetórias dessas populações, bem como a dialética entre passado e presente, sujeito e objeto. Outro objetivo era perceber o modo como os Kaiabi e os índios de Lalima - Terena, Guaikuru, Kinikinau e Laiana - interpretam seu passado e outros processos históricos e culturais dos seus territórios. Este artigo apresenta alguns aspectos das experiências de campo, analisando procedimentos e resultados a partir da perspectiva da arqueologia pública e da arqueologia comunitária, com reflexões sobre: 1) a preservação do patrimônio arqueológico; 2) a construção do conhecimento sobre o passado em território indígena; 3) a prática arqueológica em território indígena. O mesmo foi motivado pelo debate sobre a responsabilidade científica e a ética dos arqueólogos na produção e transmissão do conhecimento sobre o passado, bem como sobre a contingência histórica, social, política e ideológica do trabalho arqueológico e a necessidade de se adotar uma abordagem dialógica e auto-reflexiva durante a pesquisa. A perspectiva de vários colegas motivou essa reflexão (Layton 1989, 1994; Hodder 2000; Funari 2001; Merriman 2004; Smith e Wobst 2005; Sillar e Forbe 2005; Funari et al. 2005; Shanks 2007; Jameson e Baugher 2007). 1 Museu de Arqueologia e Etnologia. Universidade de São Paulo. E-mail:[email protected] 2 (Processo FAPESP 2006/60241-8). O projeto contribuiu na realização das pesquisas de mestrado de Eduardo Bespalez (Processo FAPESP 05/57404-0 ), Frederic Pouget (Processo FAPESP 06/05470-1) e Francisco Forte Stuchi (Processo FAPESP 06/05466-4).

description

Este artigo apresenta alguns aspectos das experiências de campo, analisandoprocedimentos e resultados a partir da perspectiva da arqueologia pública e daarqueologia comunitária,

Transcript of Fabiola-Arque e Etnoaqrqueo Na Aldeia

Arqueologia e Etnoarqueologia na Aldeia Lalima e na Terra Indgena Kayabi: Reflexes sobre Arqueologia Comunitria e Gesto do Patrimnio Arqueolgico Fabola Andra Silva1 Museu de Arqueologia e Etnologia da USP Introduo Entre2007e2009coordeneiumapesquisadecamposobreastrajetrias histricaseculturaisdaspopulaesindgenasqueocuparameocupamaAldeia Lalima, no Mato Grosso do Sul, e a Terra Indgena (TI) Kayabi, no Mato Grosso e Par. Trata-sedoprojetoArqueologia,EtnoarqueologiaeHistriaIndgena.UmEstudo sobreaTrajetriadeOcupaoIndgenaemTerritriosdoMatoGrossoeMato GrossodoSul:aTIKaiabieaAldeiaLalima2.Elefoiconcebidonocontextomais contemporneodaproduodeconhecimentossobreopassado,emconsonnciacom umaperspectivasocial,poltica,dialgicaereflexivadepesquisaarqueolgica.O objetivoprincipaleraidentificarosprocessosdecontinuidades,mudanaserupturas nas trajetrias dessas populaes, bem como a dialtica entre passado e presente, sujeito eobjeto.OutroobjetivoeraperceberomodocomoosKaiabieosndiosdeLalima- Terena,Guaikuru,KinikinaueLaiana-interpretamseupassadoeoutrosprocessos histricos e culturais dos seus territrios. Esteartigoapresentaalgunsaspectosdasexperinciasdecampo,analisando procedimentoseresultadosapartirdaperspectivadaarqueologiapblicaeda arqueologiacomunitria,comreflexessobre:1)apreservaodopatrimnio arqueolgico; 2) a construo do conhecimento sobre o passado em territrio indgena; 3)aprticaarqueolgicaemterritrioindgena.Omesmofoimotivadopelodebate sobre a responsabilidade cientfica e a tica dos arquelogos na produo e transmisso doconhecimentosobreopassado,bemcomosobreacontingnciahistrica,social, polticaeideolgicadotrabalhoarqueolgicoeanecessidadedeseadotaruma abordagemdialgicaeauto-reflexivaduranteapesquisa.Aperspectivadevrios colegasmotivouessareflexo(Layton1989,1994;Hodder2000;Funari2001; Merriman2004;SmitheWobst2005;SillareForbe2005;Funarietal.2005;Shanks 2007; Jameson e Baugher 2007). 1 Museu de Arqueologia e Etnologia. Universidade de So Paulo. E-mail:[email protected] 2(ProcessoFAPESP2006/60241-8).Oprojetocontribuiunarealizaodaspesquisasdemestradode EduardoBespalez(ProcessoFAPESP05/57404-0),FredericPouget(ProcessoFAPESP06/05470-1)e Francisco Forte Stuchi (Processo FAPESP 06/05466-4). No Brasil, vrias pesquisas arqueolgicas e etnoarqueolgicas contriburam para acompreensodastrajetriashistricasedosprocessosdecontinuidadee transformaoscio-culturaldaspopulaesindgenas(p.ex.Wst1991;Noelli1993; Oliveira1996,2002;Heckenberger1996;Neves1998;Silva2000;Moi2003; Rodrigues 2007; Ferreira, 2007). Elas demonstram o papel fundamental das populaes indgenasnageopolticadopaseque,simultaneamente,tiveramtrajetriashistricas muitodiversasequeaindahojelutampeloreconhecimentodesuaautodeterminao. Sabe-se que resistir s epidemias, aos colonizadores e, ao mesmo tempo, garantir o seu mododevidaeamanutenodassuasterrasexigiugrandeesforodaspopulaes indgenas.NoocorreuapassividadeestereotipadaemmuitoslivrosdeHistria, AntropologiaeArqueologia.Boapartedessasobrasapresentouinterpretaes generalizantes,eliminandoaparticularidadedasidentidadesehistriasindgenas.Para Manuela Carneiro da Cunha (1998:20): Ter uma identidade ter uma memria prpria. Por isso, a recuperao da prpria histria um direito fundamental das sociedades. Talpreceitoquereforaoobjetivodecontribuirnarecuperaodashistrias dosndiosdeLalima,dosKaiabiedaspopulaesqueocuparamosseusterritrios. Dados arqueolgicos, histricos e etnogrficos3 relativos ao Mato Grosso do Sul, Mato GrossoePar,indicamquedesdeopassadoremotoelesforamocupadosporpovos bastantedistintos.Vriasidentidadesehistriassesucederamoucoexistiramnestes territrios,formandoumpalimpsestodeocupaes,re-ocupaeseabandonos territoriais que precisam ser pesquisados4.A perspectiva da histria de formao territorial, de Mara Ins Zedeo, um interessanteericomodeloparadelinearoscontornosiniciaisdapesquisa.Omodelo propeanoodeterritrioenquantoreuniodeobjetosagregadosconstitudospor terra,recursosnaturaiseobjetosfeitospelohomem,reunidoshistoricamentepor processosdinmicosdeinteraoscio-ambiental(Zedeo1997:73).Aformaodos territriosresultadastrajetriaseestratgiasscio-culturaisdeassentamento, 3 Vide referncias bibliogrficas em Silva et.al. 2008. 4Aidiadepalimpsestopressupequeumlugarpodetersidoocupado,re-ocupadoeabandonado diversasvezesporpopulaesculturalmentediferenciadasatravsdotempo,ouainda,demaneiras diferentespelamesmapopulaopordeterminadoperodo.Ambasaspossibilidadespodemresultarem conjuntosdemateriaisarqueolgicoscomumavariabilidade(formal,quantitativa,espacialerelacional) muitocomplexa(Binford1980,1981,1983a,1983b,1983c,1983d,1983e;Kent1987;Schiffer1987; Panja 2003; Tomka 1993; Brooks 1993; Joyce e Johannessen 1993; Nelson 2000). Alguns entendem no apenas o stio e suas reas de atividades como palimpsestos, mas tambm as paisagens naturais onde esto inseridos; de acordo com o contexto, estas paisagens passam a ser adjetivadas como contingentes (Barton et al 2004), sociais, culturais e sagradas (Whitridge 2004; Stewart et al 2004; Carroll et al 2004). manuteno e transformao territorial. Os materiais correlatos destes processos devem ser identificados pelo arquelogo, para obter os elementos para reconstruir a histria de vida de cada territrio, considerando que cada um possui sua trajetria especfica (vide tabela,Zedeo1997:85-95).Compreenderatrajetriadeformaodosterritrios crucialemcontextosdepesquisaarqueolgicaemterrasindgenas,ondetal conhecimento , muitas vezes, fundamental e estratgico para os direitos territoriais e a manutenodosmodosdevidaindgena(CarneirodaCunha1998;Funari2008:).Em todoomundoosarquelogossoconvocadosaseposicionardiantedasquestes relativasdelimitaoehomologaodasterrasindgenasedapreservaodo patrimnioarqueolgicoencontradonasmesmas.Almdisso,oprprioconhecimento produzidopelaArqueologianestasterrasvemsendoquestionadoe/ouacrescidopelas interpretaesdaspopulaesnativas(Anawak1996;Nassaney1994;Parker2005; Leclair2005;Suton2005).ComobemdefiniramGreer,HarrisoneMcIntyre-Tamwoy (2002:282): The past is political, and traces of the past are often used as lodestones for group memory and identity. Arqueologia Pblica em Terra Indgena: a Aldeia Lalima e a TI Kayabi Nosltimosanos,aexpansocapitalistaeocrescimentodosempreendimentos econmicostmsidoumaameaaconstantemanutenodosterritriosindgenase, aomesmotempo,dopatrimnioarqueolgico.NoBrasil,conflitosentrepopulaes indgenaseempreendedores(p.ex.fazendeiros,madeireiros,mineradoras,empresas particulareseestatais)interessadosnaexploraoenogerenciamentodosrecursosde suas terras so constantes e crescentes. Neste cenrio, alguns arquelogos tm assumido um papel importante, que visa estabelecer a colaborao e o envolvimento politicamente conscientedocoletivonasquestesrelativaspesquisaegestodopatrimnio arqueolgico (Marshall 2002a; Merriman 2004a; Tully 2007)5.NoBrasil,aarqueologiapblicaeaarqueologiacomunitriaseencontram profundamenteligadasarqueologiadecontratoe,principalmente,saesde 5AArqueologiaPblicasurgiunosanos70ligadaaointeressenapreservaodopatrimnio arqueolgicoporpartedasinstituiespblicaseprofissionalizaodosarquelogos.Comotempo, transformou-se,emconsonnciacomodesenvolvimentotericodadisciplinaarqueolgica,engendrado noapenaspeloscientistas,mascomasminoriasembuscadoreconhecimentodassuasinterpretaes sobre o passado e da luta pelo direito gesto do patrimnio arqueolgico (Merriman 2004a; Fernandes 2007; Ferreira 2009). Neste movimento surgiu a Arqueologia Comunitria, entendida como a abordagem quebuscaacooperaomulticulturalnapesquisaarqueolgicaeamultivocalidadenainterpretaoe gesto do registro arqueolgico (Marshall 2002; Tully 2007). educaopatrimonial(Fernandes2007:70;Ferreira2009:3-5)6.Aarqueologiade contratoteriaresultadodoavanodosempreendimentoscapitalistase,aomesmo tempo,deumapolticamaisdemocrticaps-ditadurabrasileiradegestodo patrimnio (Funari 2001; Funari e Robrahn-Gonzlez 2007).No tocante s sociedades indgenas, as prticas de arqueologia pblica e comunitria resultaram da ligao com a arqueologiadecontratoemdiferentesestratgiasdepesquisaegerenciamentodo patrimniocultural,medidaqueosdilogos,posturasearranjosdeinteressesentre empreendedores,cientistasepopulaesindgenasforamdefinidosediferenciados contextualmente(p.ex.Funari2001:241;FunarieRobrahn-Gonzlez2007:144-147; Robrahn-Gonzlez2005:160-163,2006;Fausto2006;Oliveira2006).Aspesquisasna TIKayabienaAldeiaLalimatmorigemestritamenteacadmica,masapresentam algunselementoscomunssexperinciasdearqueologiapblicaresultantesdos trabalhos de contrato. AmaioriadaspopulaesindgenasnoBrasil,assimcomoosKayabieos Terena,Kinikinau,LaianaeGuaikuru,sofrecomasconseqnciasnegativasda expansocapitalista.Umapesquisaarqueolgicacolaborativapode,portanto,seruma possibilidadedosindgenasteremvozeargumentosemrelaoaosseusdireitos territoriais, autodeterminao e gerenciamento do patrimnio cultural nas suas terras. AAldeiaLalimaestlocalizadamargemdireitadomdiorioMiranda,no municpiodeMiranda,PantanaldoMatoGrossodoSul.Porrazeshistricase administrativas,estaaldeiafoidesignadapelaFUNAIcomosendoumaaldeiaTerena, apesardenelaviverempessoasdediferentesetnias:Terena,Kinikinau,Laianae Guaikuru (Bespalez 2009:38-68).ATIKayabiestlocalizadanosmunicpiodeApiacseJacareacanga, respectivamente, nos estados do Mato Grosso e Par, no baixo rio Teles Pires. Trata-se deumaTIqueaindanofoidemarcada,inseridanumaregiohistoricamenteocupada pelos Kayabi e outras etnias Tupi desde o sculo XVII (Stuchi 2008:13-39). Apesardeestarememlugaresdistintos,ambasasTerrasIndgenasenfrentam problemassemelhantesquantoposseeexploraodeseuterritrio.ATIKayabih muitosanosalvodeassdiodeindivduosinteressadosemocupareexplorar economicamenteesteterritrio(posseiros,garimpeiros,fazendeiros,comerciantese 6 Para Ferreira (2009:5-7), a relao entre a Arqueologia de Contrato e aArqueologia Pblica no Brasil, aindanopossibilitouoexerccioplenodaArqueologiaComunitria,poisascomunidadesainda aparecemcomocoadjuvantesnodesenvolvimentodostrabalhosdeEducaoPatrimoniale, conseqentemente, na construo do conhecimento sobre o passado. empresas). AAldeiaLalima, por outro lado, est cercada por fazendas que se alastram ilegalmente para dentro do seu territrio a cada ano. Os Kayabi lutam na Justia h anos pela demarcao de seu territrio e a expulso dos invasores que ameaam a integridade de suas famlias; e os ndios deLalima querem ampliar sua terra, pois a rea atual no possibilita os recursos para ser auto-sustentvel (Bespalez 2009; Stuchi 2008). A pesquisa nessas terras no passou ao largo do assdio capitalista. A equipe foi constantementechamadaparatomarpartidonosconflitosderivadosdaexplorao econmica,earedirecionareredimensionarosobjetivosdoprojetoparaatenderas demandasindgenas.Podemosdizerquefoiestadinmica-impulsionada principalmentepelosindgenas-quepossibilitouaoprojetoalinhar-sedemaneira realista, baseada na prtica, com as diretrizes da arqueologia comunitria. Aarqueologiacomunitriatemsidoconduzidadediferentesmaneiraseem diferentescontextos.Elaapresentacertaflexibilidadeemtermosmetodolgicosede estratgiasparainterpretaroregistroarqueolgico(Marshall2002a;SmitheWobst 2005a;SandlineBeyIII2006).Elatemcomoobjetivoprincipalpromovera arqueologiacolaborativa,quevaialmdaconsultascomunidadeslocaisparaa realizaodapesquisa.Elanobuscaoconsentimentoe/ouconvencimentodas comunidades sobre a importncia da pesquisa, mas o engajamento crtico e a interao durantetodooprocessodeconstruodoconhecimentoarqueolgico(Greer,et.al. 2002).Apartirdisso,pretendesuperaromodelocolonialistatradicionaldaprtica arqueolgica,investindonaincorporaodeperspectivasculturaispluraisna investigaoeinterpretaodopassado.Buscadiversificarasvozesinterpretativas sobreopassadoeossignificadosdoregistroarqueolgico,construindoumaeducao mtua entre arquelogos e comunidades (Marshall 2002; Seymour 2002; Tully 2007). Apesardedesenvolvidasemcontextosdiferentes,aspropostasdepesquisa evidenciamalgunsaspectosconsideradosfundamentaisparaaprticadaarqueologia comunitria:1)promoverinteraosocialentrepesquisadoreseacomunidade;2) manteraequipenareaduranteapesquisa;3)buscarrecursosparabeneficiara comunidadelocal;4)mantermembrosdacomunidadeinteiradossobreos procedimentos e andamento da pesquisa, para informar aos demais; 4) permitir o acesso fcil da comunidade aos vestgios arqueolgicos coletados, preferencialmente, deixando partedomaterialnareadepesquisa.Almdisso,foramdefinidasestratgias arqueolgicasquecaracterizamumaprticacolaborativa:1)comunicaoe colaborao;2)empregoetreinamentodemembrosdacomunidade;3)preservao pblica; 4) entrevistas e pesquisa da histria oral; 4) recursos educacionais; 5) vdeos e fotografias; 6) controle comunitrio do merchandising (Moser, et. al 2002; Tully 2007). OprojetoKaiabi-Lalimafoidesenvolvidocontemplandovriosdestesaspectose estratgias.OsprojetosnaTIKayabienaaldeiaLalimainiciaramporrazesdistintas,no entanto,foiadotadaamesmaabordagememambasascomunidades,comconsulta prviaecomoesclarecimentodosobjetivos,dovalorcientficoesocialdapesquisa (Silva et. al 2008). Havia o objetivo de identificar possveis tenses e interesses diversos entre os membros das comunidades, para que as mesmas no inviabilizassem o trabalho. Informou-se minuciosamente sobre a pesquisa e o modo como ela e a equipe afetariam o cotidiano das aldeias (p.ex. Zimmermann 2005; Green, Green e Neves 2003; Leavesley, Minol, Kop e Kewibu 2005; Jackson e Smith 2005).Mesmoassim,esteprocedimentonoevitoucompletamenteastensese desaprovaesaoprojeto.NareuniodoconselhoindgenadeLalima,porexemplo, houveopiniesantagnicascomrelaoaotrabalho,comaslideranasindgenas debatendoembuscadoplenoesclarecimentosobreapesquisa.Almdisso,noforam poucas as vezes que o survey arqueolgico foi barrado por moradores da aldeia, que no permitiramoacessoaoespaodomstico.Discursosdesconfiadose,svezes, agressivosinterromperamouredirecionaramolevantamentoe,aomesmotempo, levaramaequipearefletirsobreopapeldoarquelogonaquelecontexto(Bespalez 2008; Pouget 2008). Entre os Kayabi, o processo de consulta e convencimento do valor dapesquisaentreacomunidadefoirealizadoporperodomaislongo,emcomparao comLalima;fatoqueresultouemmenosresistncianosurveyeprospeces.No entanto,houvedesconfianasobreautilidadedapesquisafrenteaosproblemas territoriais e surgiram conflitos entre os Kayabi, motivados por disputas pela autoridade polticaeacessoaospesquisadores,seusdadosebensmateriais.Arespostaconstante da equipe foi no sentido de esclarecer as dvidas e buscar alternativas, trabalhando pela plenainformaodetodososmoradores,poisamaioriadosconflitosdeveu-semais dinmica sociopoltica interna que a negao da pesquisa. necessrioconsiderarqueascomunidadesindgenasnosohomogneas, internamente coesas e isoladas do resto do mundo. Ao contrrio, sempre h pluralidade de subjetividades e percepes de mundo interagindo com/nestes contextos. Portanto, os arquelogos e seu trabalho sero incorporados e compreendidos de diferentes maneiras (Tully 2007:158-159). Eventualmente,ascomunidadesindgenasassumemocontroleparcialda pesquisa, impondo ritmos de trabalho e definindo critrios de escolha dos interlocutores eauxiliaresdecampo(Marshall2002;Wiynjorroc,Manabaru,BrowneWarner2005; Jackson e Smith 2005).EmLalima,aescolhadosinterlocutoreseauxiliaresdepesquisadeveu-seaos interessespolticos,econmicosepessoaisdosindgenas,conformesuaidentidade social.Aslideranaspolticasdaaldeiaindicavamosnomeseaquantidadede auxiliaresdepesquisaacadasemanadetrabalho.Foiacordadoque,emfunodas atividades,osinterlocutoreseauxiliaresdepesquisaseriamdiferenciadosporfaixa etria.Assim,enquantoosjovenseramvidosaprendizesdastcnicasdecampoedo manuseiodosequipamentos,osmaisvelhoseramexcepcionaisinterlocutorese conhecedoresdahistriadeocupaoterritorial.Estadinmicadetrabalhofoimuito profcua para arquelogos e indgenas; os indgenas aprenderam sobre arqueologia e os arquelogossobreahistrialocaleatradiooral.Tambmcontamoscoma participao dos jovensalunos de Magistrio em Miranda, muitos deles professores na aldeia. Estes jovens indgenas procuraram a equipe para realizar estgio certificado, pois precisavamcompletardeterminadacargahorriaextraclassenasuaformaoescolar. Apsalgunsencontrosparaconversarsobreapesquisaesuaprtica,elesrealizaram juntocomosarquelogosalavagemeatriagemdepartedomaterialcoletadoese tornaram os interlocutores/estagirios do projeto (Silva et al 2008) NaT.I.Kayabi,numprimeiromomento,foramselecionadoscomo interlocutoresoschefesdefamliamaisvelhos,poiseleseramosconhecedoresda trajetriadeocupaodoterritrio,tendosidoelesprpriosagentesdestaocupao. Numsegundomomento,quandocomearamaserrealizadasasatividadesde levantamentoeprospecodestioshouveumamaiordiversidadeetriade interlocutoresindgenas.Osindivduosmaisvelhoscontinuaramfazendoseusrelatos sobreaocupaodoterritrioeauxiliandonaidentificaodoslocaisantigosde ocupao, bem como as reas com terra preta. As chefias polticas, ou seja, chefes de famliaproeminentesemtermosdeliderananaaldeiatambmsejuntaramaequipe, bemcomoseusfilhosegenrosmaisjovensquetivessemdisponibilidadeeforade trabalho.NestecontextoTupi,ondealideranapolticamaisdiludafoi imprescindvelflexibilizaraparticipaoindgena.Todososgruposdomsticose parentelas tiveram membros trabalhando nas diferentes aldeias pesquisadas. Alm disso, aequipeprocurourealizarsurveysemtodasasaldeiasatualmenteocupadasafimde que todos os Kayabi tivessem acesso ao projeto (Stuchi, 2008). Todos os interlocutores/auxiliares de pesquisa foram contratados e remunerados. Cada um deles, a sua maneira, contribuiu na construo do conhecimento arqueolgico durante as pesquisas decampo. importante ressaltar ainda, que na parte extra-campo houvecolaboraodevriaspessoasdacomunidade,comointerlocutores.Elas concederam informaes orais sobre a histria da ocupao das aldeias. Os dados foram gravados(udioevdeo),sendofontedecisivaparaoentendimentodopalimpsestode ocupaes de ambos os territrios. O contedo das narrativas, a percepo da relao das pessoas com a paisagem e os lugares mencionados nos relatos, redimensionou os objetivos da pesquisa. Ou seja, se investigou os assentamentos e locais ocupados mais recentemente com a mesma ateno dedicada aos stios pr-coloniais7. Na aldeia Lalima, grande parte do tempo em campo foi destinado investigao dosstioshistricosdeocupaoTerena(p.ex.stiosTaperadoUrumbeva;Taperado Limpo e Tapera do Gino ) e Guaikuru (p.ex. stio Tapera do Pirizal). Num determinado momento, a equipe foi chamada a localizar os marcos antigos (moires de madeira) de delimitaodaTILalima,quehojeestonasterrasdasfazendascircunvizinhas.A partirdisso,foipossvelperceberque,senumprimeiromomento,haviaalguma desconfianaeincompreensosobreapesquisaemLalima,numsegundomomento,o trabalhopassouafazersentido,especialmenteparaaslideranasindgenas.Estas compreenderamapotencialidadedoconhecimentoqueestavasendoproduzidoeque poderia servir sua luta para recuperar o limite original do seu territrio, grilado pelos fazendeiros ao longo dos anos. Alm disso, a equipe passou a ser vista como um agente facilitadordeumarelaomaissimtricacomosrgospblicos.Antesdedeixara aldeia,apedidodaslideranasdeLalima,redigiumacartaaoPresidentedaFunai, solicitandoqueorgopblicoatendessesreivindicaesparaaconstituiodeum GrupodeTrabalhoparaestudaraampliaodeseuterritrioistofoiefetivadopela FUNAI no incio deste ano. No caso Kayabi, a percepo da pesquisa como recurso importante na arena das disputasterritoriaisexistiudesdeomomentodenegociaodapesquisaefoiquasea 7 Esta j era uma preocupao inicial do projeto para a TI Kayabi,mas emLalima,foi sendo construda no survey arqueolgico, incentivada por um dos interlocutores que, insistentemente, nos guiava para estes locais de ocupao histrica. condio para a sua realizao. A investigao das antigas aldeias Kayabi foi prioridade inicialdosurveye,especialmente,daquelasaldeiasqueconstavamdolaudo antropolgicorealizadoparadelimitaraTIKayabi(Rodrigues,1998).Ointeressedos Kayabi pela pesquisa, portanto, foi extremamente poltico e eles se empenharam no seu desenvolvimento,comointerlocutoreseauxiliaresdepesquisa,comumaperspectiva muito alm do ganho econmico. Com o tempo, a percepo da pesquisa foi ampliada e os Kayabi passaram a compreend-la como uma possibilidade de resgate de sua histria cultural.Nestecaso,atradiooraleamemriaforamacionadasparadaroutros significados aos registros arqueolgicos (Stuchi 2008 e comunicao pessoal, 2009). Emmaiode2008,quandocomeouapesquisadecamponareaKayabi,a equipedividiuoalojamentocomogrupodoPPTAL-FUNAIeumaempresade topografia,quelestavamparainiciarostrabalhosfinaisdedemarcaodaTerra Indgena.Participoudasreunies,apresentouotrabalho,trocouidiascomos funcionriosdaFUNAI,ostopgrafoseosndiossobreosobjetivosdepesquisae iniciou os trabalhos com a forte expectativa Kayabi, de que seus problemas com a terra teriamfinalmenteumasoluo.Emmenosdeumasemanaumaliminardajustia impediuoandamentodotrabalhodostopgrafos,queforamameaadospelas oligarquiaslocaisedeixaramacidadedeAltaFloresta/MT.OsKayabi,mesmo decepcionados, se empenharam ainda mais no trabalho arqueolgico. Da mesma forma queemLalima,aodeixarareasensibilizadacomasituao,escreviumacartaao Presidente da Funai com o consentimento dos Kayabi clamando por maior ateno dapartedasautoridadescompetentesnoprocessodedemarcao.Noinciode2009, umnovoprocessodedemarcaodaTIKayabifoiiniciadoeomestrandoFrancisco Stuchi foi designado pelo juiz como interlocutor dos Kayabi junto Justia. Osproblemasquedemandamdestapercepoindgena,deutilizaro conhecimento produzido pela arqueologia para a demarcao e ampliao de suas terras, no so de fcil soluo para os arquelogos. Implicam numa constante reflexo sobre o seu papel tico e poltico enquanto cientistas e cidados chamados a contribuir com uma causa local.Umadasquestescrticasquesempreaparecenestecenrioatentativade ligaoentreosvestgiosarqueolgicoseaspopulaesindgenasdarea.A arqueologiajdebateumuitoaspotencialidadesefalhasdestasconexes, especialmente,noqueserefererelaoentreculturamaterialeidentidadetnica. Crticasaosmodeloshistrico-culturalistassobreaschamadasculturasarqueolgicas foramformuladasnosentidoderebaterumavisoessencialistaeestticadecultura (p.ex.Shennan1989;Jones1997,2005).Asoluoparaestedebateestlongedeser solucionado,masvriostrabalhostmsidoproduzidosnosentidodemelhor compreender as relaes entre povo, lngua e cultura material. Apesardarelaoentreculturamaterialeetnicidadepelanaturezaauto-classificatriaesituacionaldestetipodeidentificaoserpercebidacomodedifcil acessoaosarquelogos,osestudosqueprocuramvislumbrarasrelaesentrecultura materialefronteirasculturaisesociaisparecemprosperarnadisciplina.Modelos tericos,comoanoodehabitusdeBourdieu(1989),deagnciadeGell(1998),de escolhastecnolgicasdeLemonnier(1992)edecaractersticasdeperformancede SchiffereSkibo(1997)soalgunsdosreferenciaisquetmsidousadosemdiferentes trabalhosparatentarexplicaredesvendarossignificadosdavariabilidadeartefatual trabalhosparaexplicaredesvendarossignificadosdavariabilidadeartefatual(p.ex. Lemonnier, 1995; Stark 1998). Particularmente, acredito que a cultura material pode ser lida como um ndice de identidade e que suas caractersticas, como a matria-prima, as tcnicas de produo, a morfologia e a decorao, so reveladoresde preceitos e valores culturais (Silva 2000, 2007).Istojdemonstradohmuitotemponosestudosetnogrficose etnoarqueolgicos.Contudo,pormaiscrticasquesefaasrelaesestabelecidasna arqueologia, entre povo e cultura material, no possvel simplesmente ignorar que tais relaesexistemdealgumamaneiraequeelassodinmicasecomplexas.difcil, masnoimpossvel,tentarencontrarnoregistroarqueolgicoeemoutrasfontesos indicadores destas relaes e suas transformaes no tempo. No podemos negligenciarquehumacontinuidadehistricaentreaspopulaesdopassadoeashistoricamente conhecidascomojdemonstraramvriospesquisadores(p.ex.Wst,1991;Noelli, 1993; Heckenberger, 1996; Neves, 1998; Eremites de Oliveira, 2002). Na Aldeia Lalima e na TI Kayabi a equipe se deparou com contextos e materiais arqueolgicos diversificados. Tomando como referencial as classificaes arqueolgicas estabelecidaspelosarquelogosbrasileiros,encontrouvestgioslticosecermicos pertencentesTradioGuaranieTradioPantanal,bemcomomaterialhistrico relativosocupaesindgenasmaisrecentes.Ouseja,aexpectativadequeestes territriosseconstituememverdadeirospalimpsestosdeocupaesindgenasse confirmou a partir da descoberta destes diferentes materiais. A questo mais importante aserdiscutidaaqui,porm,noapertinnciaeosignificadodestasclassificaes, mas o modo como as populaes indgenas reagiram a esta diversidade. Em Lalima, a cermica da Tradio Guarani foi imediatamente considerada pela populao como no sendo pertencente aos seus ancestrais, pois suas caractersticas no eramparecidascomasqueelesconheciam.Porm,algunselementosdacermicada TradioPantanal,pelasemelhanadecorativa,foramconsideradoscomopossveis testemunhos de um modo antigo de fazer a cermica Terena e/ou Guaikuru. No entanto, ascermicasarqueolgicasqueforaminvariavelmenteatribudasaosseusancestrais, so aquelas presentes nos stios histricos chamados de tapera. Na TI Kayabi existe uma diversidade cermica que uma anlise preliminar ainda noconseguiuassociaranenhumdosconjuntoscermicosdefinidospelaarqueologia brasileira.Acontinuidadedoprojetoquepoderesclarecerasconexesdestes conjuntos com outros existentes na regio do rio Teles Pires e reas circunvizinhas. Os Kayabinoidentificaramestesvestgioscomopossveistestemunhosdaprticaoleira Kayabi,quehalgumasdcadasnopraticadasistematicamente.Apreocupao,no entanto,eraencontrartaisvestgiosnoslocaisqueestavamsendopesquisadospela equipe.Paraeles,apresenadacermicaatestavaapossedesteterritrio,como indicador de ocupao indgena pretrita. Numprimeiromomento,podeparecercrticaasituaodoarquelogoque evidenciaumamultiplicidadedeocupaesenoestabeleceumarelaodiretadas populaesdopresentecomasdopassado.Noentanto,segundoPearsone Ramilisonina(2002),oarquelogoqueatuaemterritrioindgenanoprecisa confirmarmecanicamenteaancestralidadedosseusocupantes.Quandoocaso,ele deveexplicaredemonstrarqueexistiramoutrosnaquelelugarequeestestambm tiveram sua histria. A arqueologia, ento, possibilita aos ocupantes atuais conhecer seu prpriolugareestabelecersuasprpriasconexescomosvestgiosarqueolgicosali encontradosaolongodapesquisa.Nosepodeesquecerque,muitasvezes,tais conexes so realizadas h muito pelas populaes indgenas e o reconhecimento de tal fatofundamentalparaopesquisadorquealmejaarealizaodeumaarqueologia dialgica e simtrica (Silva 2002; Andrello 2005).ComosugereFunari(2008:3-4),emterritriosocupadosporpopulaes indgenasouquilombolas,aarqueologiapodedesvendarasmltiplasocupaese modosdevidaquealisesucederameamudanadosambientescomotempo.Neste sentido,Funarisugerequearelaosimblicadessesgruposcomseusambientes encontra, na pesquisa arqueolgica, contrapontos e recursos para a sua re-interpretao da comunidade como entidade histrica. Aocontrriodapesquisadecamporealizadaseminterlocuo,ondeo arquelogonoconstriarelaodialgicaesimtricaenoprecisaalterarseus objetivosestabelecidosnogabinete,umaarqueologiaemterraindgenageralmente precisareverconstantementeosdiversosaspectosdapesquisa.Aexperinciaem Lalima e na TI Kaiabi mostrou a capacidade dos indgenas em subverter uma proposta inicial de pesquisa, medida que eles compreendem quem somos e o que fazemos, para que o nosso trabalho tambm tenha uma razo prtica para suas comunidades. Ou seja, a equipetinhaosseusobjetivosterico-metodolgicoscomrelaoaosterritrios KayabieLalima,masodesenrolardostrabalhoseainteiraodosindgenascoma pesquisafezcomqueamesmafosseredefinaeampliadaemsuasprioridades acadmicas, e os pesquisadores tiveram de assumir uma atitude poltica e tica frente s demandas e problemas destas populaes. Alm disso, a equipe enfrentou o fato de que apesquisaemcontextosindgenaspressupeumaperspectivamulticulturalna construo do conhecimento e que isto implica em contrapor diferentes modos de ver e conhecer o mundo, neste caso, dos arquelogos e dos indgenas. preciso compreender que o conhecimento sobre o passado pode ser construdo a partir de muitas vozes e que os arquelogos no tm o monoplio das interpretaes sobre ele, embora tenham uma granderesponsabilidadecomrelaoaoresgateepreservaodeseustestemunhos. ComoescreveuJones(1997:141):Theacceptancethatpastisneverdead,andthat archaeologicalremainsarelikelytobeinvolvedintheongoingconstructionof potentiallydiverseandfluididentities,willfacilitatethedevelopmentofdynamicand engaged relationships between archaeology and living communities. Preservao do Patrimnio Arqueolgico em Terra Indgena No Brasil, a criao da legislao de proteo do patrimnio arqueolgico pode ser entendida como uma conquista da sociedade civil e do poder pblico, na luta contra adestruiodopatrimniocultural.Atualmente,noentanto,humaverdadeira avalanchedeempreendimentoseconmicoseapesardalegislaoedosesforosda arqueologia de contrato/arqueologia preventiva, no resgate, preservao e divulgao do patrimnioarqueolgico,inexorvelquegrandepartedomesmosejadestruda.Para evitarqueasituaofiqueextremaecauseaperdadefinitivadebensculturaisno renovveis,necessrioofortalecimentodocompromissoticodogovernoedos arquelogos em aes de proteo e divulgao do patrimnio cultural junto sociedade (Rodrigues 2006; Souza 2006; Silva 2007).Outroaspectoimportanteaserconsideradonareflexosobreogerenciamento dopatrimnioarqueolgico,dizrespeitoaoseupossvelentendimentocomobem difuso.SegundoMorais(2006:194):Entendidocomobemdifuso,opatrimnio arqueolgicoserdeusocomumaopovobrasileiro.AUnio,suagestora,fixaras regrasparaasuamelhorfruio,medianteaconsolidaodeestruturahbridaque garantaaparticipaodiretadasociedade.Hqueseconsiderar,pormque, resguardadas as prerrogativas de insero nacional, o segmento social mais interessado nasuafruioacomunidadelocalquedetmopatrimnioemseuterritrio.Assim, cabe ao poder pblico federal, com o apoio dos poderes estaduais e em parceria com os profissionaisarquelogos,esclarecerseuspropsitosjuntocomunidadeeaopoder pblicolocalemlinguagemadequada,estimulandoainclusosocialpelo reconhecimentoavalorizaodosbensarqueolgicosemaesdeeducao patrimonial. Paraoutrosautores,aconsolidaodepolticaspblicasdegerenciamentodo patrimnioarqueolgiconecessariamentedeveserconduzidaapartirdeposturas democrticas e de incluso social, que levem em considerao as mltiplas apropriaes destepatrimniopelocoletivo(EremitesdeOliveira2005;Bastos2006,2007b).Para Bastos(2007a:66),asquestesqueenvolvemopatrimnioarqueolgicono interrogam nica e simplesmente a preservao arqueolgica que se pensa proteger, mas simacontinuidadedasociedadeenquantocoletivocapazdeestarproduzindobens culturais a todo o instantePensar e agir desta forma permitir que no apenas o regate e a interpretao dos bensarqueolgicossejafeitodeformamultivocal,mastambm,asuapreservaoe divulgao. O IPHAN j tem adotado uma poltica de permitir que instituies pequenas edeprojeoregionalatuemcomodepositriasdemateriaisarqueolgicos.Isto possibilitaqueosvestgiosarqueolgicospermaneamemlocaisprximosdesua coleta,incorporandodefinitivamenteasrecomendaesinternacionaisde repatriamento de materiais arqueolgicos (Bastos 2006:160) No projeto Kayabi-Lalima fomos beneficiados por esta poltica do IPHAN, pois estergopermitiuqueomaterialarqueolgicodeLalimaedaTIKayabi permanecesse, aps sua anlise, no Mato Grosso do Sul e Mato Grosso. Isso fez muita diferena em nas explanaes sobre o projeto junto aos indgenas.OsKayabiemboratenhamconcordadocomapesquisaeretiradadomaterial arqueolgico de suas terras, sempre desejaram que parte do mesmo permanecesse sob a suaguardanasescolasindgenas8.EmLalima,apopulaosempredemonstrou preocupao com relao retirada do material arqueolgico da aldeia. Eles desejavam apreservaoinsitudestepatrimnio.AlgunsmoradoresdeLalima,inclusive, impediram que a equipe fizesse a vistoria e coleta de materiais em seus terreiros, por entenderemquetudoqueseencontravaneleserasuapropriedadeedasgeraesmais jovens. No necessitava ser coletado e pesquisado, pois sua presena no local por si s j atestava o pertencimento deste territrio aos indgenas. Pode-se perceber, portanto, que o patrimnio arqueolgico visto como parte da histriaereafirmaodasidentidades.Eleintegrapassado,presenteefuturo,pois enquantotestemunhodeocupaespretritasgarantiadesoberaniaterritorialhojee, ao mesmo tempo, de permanncia para o futuro de um modo de vida e valores culturais. Em contextos indgenas, portanto, a investigao arqueolgica precisa fazer um esforo paraabandonarsuasconcepesetnocntricassobreopassadoeamemria, considerandoadiversidadeeopluralismodestasconcepesnainterpretaoe apropriaodopatrimniocultural.Opatrimnioarqueolgico,emboramaterial, irremediavelmenteligadoaopatrimnioimaterialdestaspopulaes.Comoescreveu CarneirodaCunha(2005:15),patrimnioimaterialsecompedeprocessostanto,e provavelmentemais,doquedeprodutos;(...)elenosecompedeformasfixas,mas deumarecriaopermanentequetemavercomumsentimentodecontinuidadeem relao s geraes anteriores, ou seja, (...) ele ao mesmo tempo dinmico e histrico; (...) suas condies de reproduo dependem, entre outras coisas, de acesso a territrio e a recursos naturais. Portanto, as polticas de preservao do patrimnio cultural nas terras indgenas precisamcontemplaraspercepesindgenasacercadestarelaoentrepatrimnio arqueolgico, memriae identidade cultural.No podemos esquecer que a memria umexercciodelembranaseesquecimentosseletivosequeaconstruodas identidadesfluidaesituacional.Nestesentido,oarquelogoquetrabalhaemterra indgenaprecisaexercitarsuasensibilidadeparalidarcomasflutuaesdamemriae 8AindanoconverseicomoIPHANsobreestaquesto,massemdvidaseriaumgrandeavano democrtico se esta reivindicao Kayabi fosse acolhida pelo poder pblico. daidentidade,eterclaroqueassuasrepresentaessobreopatrimnioarqueolgico nem sempre so compartilhadas pelas pessoas do lugar onde ele est desenvolvendo sua pesquisa.Assim,odilogoentrepesquisadoresecomunidadeslocaisprecisaser fortalecidoconstantementesedefatoquisermosgarantirapreservaodopatrimnio cultural.ParaPyburm(2007:34-35),Aidiadequehumregistromaterialque pertenceatodosossereshumanosumsentimentoprofundamentedemocrtico,que sugerequetodosnspartilhamosigualmenteumpatrimniodegrandesrealizaes humanas.Cadarealizao,porm,tevelugaremumcontextoculturalehistricoque precisaserdiscutidoabertamente,seoobjetivoqueapreservaoalcanceideais elevados, em vez de se tornar um instrumento de opresso de vises alternativas ou de promoo dos valores dos ricos e poderosos. Concluso: Realizarumapesquisaemterritrioindgenaumgrandedesafioterico-metodolgicoeimplicanoconstanteexercciodeautoreflexoeautocrtica.Parece fundamental reconhecer, a partir da experincia na Aldeia Lalima e na TI Kayabi, que o arquelogo o profissional com o compromisso cientfico, tico e social que vai muito alm do resgate, interpretao e gerenciamento da cultura material. o profissional que deve estar atento preservao e ao respeito para com os diferentes modos de conhecer, interpretar e utilizar o patrimnio cultural. O arquelogo no o detentor do monoplio das decises sobre o destino do seu objeto de pesquisa, muito embora tenha a misso de contribuir na preservao dos bens arqueolgicos. Emcadacontextodepesquisaoregistroarqueolgicopodeservalorizadoe preservadopelaspopulaeslocaisporrazesmuitodiferentesdaquelasdos arquelogosedopoderpblico.Narelaocomosoutros,portanto,oarquelogo precisa estar preparado para lidar com a diversidade de interpretaes e interesses para comoregistroarqueolgico.Cadavezmaisestamossendochamadosaadotaruma posturamaisreflexivaeinterativaeaquestionaraobjetividadecientfica.Os arquelogosquetrabalhamemcontextosondeanegociaoparaarealizaodesua pesquisaumexercciodirio,logoaprendemqueaobjetividadeprecisadarlugara relativizaodepreceitos,mtodoseinterpretaes.Masnosignifica, necessariamente,abrirmodeseusmtodoseinterpretaes,masdeentenderqueos mtodosprecisamserdefinidosapartirdeumaperspectivarelacionalequeas interpretaes sobre os vestgios arqueolgicos so multivocais e sujeitas a mudanas e re-interpretaes.Segundo Hodder (2000:10), na medida em que o arquelogo reconhece que sua interpretaodoregistroarqueolgicoumadasinterpretaespossveis,eleexpande as fronteiras da disciplina e a torna verdadeiramente social. Ele ingressa em um debate amplo que muitas vezes pode gerar frustrao e dissonncia, mas que ao mesmo tempo, o que torna possvel o seu verdadeiro engajamento social. Referncias Bibliogrficas: ANAWAK,J.Inuitperceptionsofthepast.1994.In:Layton,R.(ed.).Whoneedsthe past? Indigenous values and Archaeology. London: Routledge, pp. 45-50. ANDRELLO,G.2005.Nossahistriaestescritanaspedras:conversandosobre cultura e patrimnio cultural com os ndios do Uaups. Revista do Patrimnio Histrico Artstico Nacional, Patrimnio imaterial e biodiversidade, n 32: 130-151. BARTON,C.M.etal.2004.Longtermsocioecologyandcontingentlandscapes. Journal of achaeological method and theory. 11 (3): 253-296. BASTOS,R.L.2006.AarqueologiapblicanoBrasil:novostempos.In:V.H.Mori; M.C. de Souza; R.L. Bastos e H. Gallo (Orgs.). Patrimnio: atualizando o debate. So Paulo: Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional IPHAN. pp.155-168. BASTOS,R.L.2007a.Preservao,ArqueologiaeRepresentaesSociais.Uma Proposta de Arqueologia Social para o Brasil. Erechim: Habilis Editora. 2007a. BASTOS,R.L.2007b.Opapeldaarqueologianainclusosocial.Revistado PatrimnioHistricoArtsticoNacional,PatrimnioArqueolgico:odesafioda preservao, n 33: 289-303. BESPALEZ,E.2009.LevantamentoArqueolgicoeEtnoarqueologianaAldeia Lalima,Miranda/MS:UmEstudosobreaTrajetriaHistricadaOcupaoIndgena Regional.DissertaodeMestrado.ProgramadePs-GraduaoemArqueologia. Universidade de So Paulo. BINFORD, L. 1980. Willow smoke and dogs tails: hunter-gatherer settlement systems and archaeological site formation. American Antiquity. 45: 4-15. BINFORD,L.1981.BehavioralarchaeologyandthePompeiipremise.Journalof Archaeological Resources. 37: 195-208. BINFORD,L.R.1983a.Forty-SevenTrips:ACaseStudyintheCaracterofsome Formation Processes. In: L.R. Binford. Working at Archaeology. New York: Academic Press. pp.243-268. BINFORD,L.R1983b.OrganizationandFormationProcesses:LookingatCurated Technologies.In:L.R.Binford.WorkingatArchaeology.NewYork,AcademicPress. pp.269-286. BINFORD,L.R.1983c.EvidenceforDifferencesBetweenResidentialandSpecial-PurposesSites.In:In:L.R.Binford.WorkingatArchaeology.NewYork:Academic Press. pp.325-336. BINFORD, L.R. 1983d. Dimensional Analysis of Behavior and site Structure: Learning from na Eskimo Hunting Stand. In: L.R. Binford. Working at Archaeology. New York: Academic Press. pp.287-326. BOURDIEU, P. 1989. O Poder Simblico. Lisboa: DIFEL. BROOKS,R.L.1993.HouseholdababdonmentamongsedentaryPlainssociety: behavioralsequencesandconsequencesintheinterpretationofarchaeologicalrecord. In:CAMERON,C.M.&TOMKA,S.A.Abandonementofsettlementsandregions: ethnoarchaeologicalandarchaeologicalapproaches.Cambridge:Cambridge University Press. p. 178-87. CARNEIRODACUNHA,M.1998.Introduo.In:M.CarmeirodaCunha(Org.). Histria dos ndios no Brasil. So Paulo: Companhia das Letras. pp.9-24. CARNEIRODACUNHA,M.2005.Introduo.RevistadoPatrimnioHistrico Artstico Nacional, Patrimnio imaterial e biodiversidade, n 32: 15-27. EREMITESDEOLIVEIRA,J.1996.GuatargonautasdoPantanal.PortoAlegre: Edipuc/RS. EREMITESDEOLIVEIRA,J.2002.DaPr-HistriaHistriaIndgena: (Re)pensandoaArqueologiaeosPovosCanoeirosdoPantanal.TesedeDoutorado. Pontifcia Universidade Catlica. Porto Alegre. EREMITESDEOLIVEIRA,J.2005.PorumaArqueologiasocialmenteengajada: ArqueologiaPblica,UniversidadePblicaeCidadania.In:P.P.A.Funari;C.E.Orser Jr.eS.N.deOliveiraSchiavetto(Orgs.).Identidades,discursoepoder:estudosda arqueologia contempornea. So Paulo, Annablume/FAPESP. pp.117-132. EREMITESDEOLIVEIRA,J.2006.Culturamaterialeidentidadetnicana arqueologiabrasileira:umestudosobreadiscussosobreatradicionalidadeda ocupao Kaiow da terra indgena Sucuriy. Revista de Arqueologia, 16:29-49. FAUSTO,C.2006.Acinciadocontratoeocontratocomacincia.Notcias Socioambientais, So Paulo, 6/09/2006. FERNANDES,T.2007.Vamoscriarumsentimento?Umolharsobreaarqueologia pblicanoBrasil.DissertaodeMestrado.MuseudeArqueologiaeEtnologia. Universidade de So Paulo. So Paulo. FERREIRA,L.M.2009.ArqueologiaComunitriayGestinDelPatrimnioCultural em Brasil. 53 Congresso Internacional de Americanistas. Mxico. Manuscrito. FUNARI, P.P.A. 2001. Public Archaeology from a Latin American perspective. Public Archaeology, 1:239-243. FUNARI,P.P.A.2007.OpapelestratgicodaArqueologianadelimitaodeterras indgenasequilombolas.PaperapresentadoVIIEncontroNacionaldeEstudos Estratgicos,patrocinadopelaPresidnciadaRepblica,emBraslia(novembrode 2007). FUNARI,P.P.A.eROBRAHN-GONZLEZ,E.2007.Ethics,capitalismandpublic archaeology inBrazil.In: Y.Hamilakis e P. Duke (Eds.). Archaeology and Capitalism. WAC. pp.137-149. FUNARI,P.P.A.;ORSER,C.E.;SCHIAVETTO,S.N.deO.(Orgs.).2005.Identidades,discursoepoder:estudosdaarqueologiacontempornea.SoPaulo: Annablume/FAPESP. pp.105-116. GELL, A. 1998. Art and Agency. Oxford: Clarendon Press. GREEN,L.F.;GREEN,D.R.&NEVES,E.G.2003.Indigenousknowledgeand archaeological science. Journal of Social Archaeology, 3(3):366-398. GREER,S.;HARRISON,R.eMcINTYRE-TAMWOY,S.2002.Community-based archaeology in Australia. World Archaeology, 34(2): 265-287. HECKENBERGER, M. 1996. War and Peace in the Shadow of Empire: Sociopolitical ChangeintheUpperXinguofSoutheasternAmazonia.AD.1400-2000.Tesede Doutorado. University of Pittsburgh. HODDER,I.2000.Towardsreflexivemethodinarchaeology:theexampleat atalhyk. Cambridge, McDonald Institute for Archaeological Research. JACKSON,G.&SMITH,C.2005.LivingandlearningonAboriginallands: decolonizingarchaeology.In:SMITH,C.&WOBST,M.(eds.).Indigenous Archaeologies. London: Routledge.pp. 328-351. JAMESONJr.,J.HeBAUGHER,S.2007.Past,meets,present.Archaeologists partneringwithmuseumcurators,teachersandcommunitygroups.NewYork: Springer. JONES, S. 1997. The Archaeology of Ethnicity.Constructing identities in the past and present. New York: Routledge. JONES,S.2005.Categoriashistricaseaprxisdaidentidade:ainterpretaoda etnicidade na Arqueologia Histrica. In: P.P.A. Funari; C.E. Orser Jr. e S.N. de Oliveira Schiavetto(Orgs.).Identidades,discursoepoder:estudosdaarqueologia contempornea. So Paulo, Annablume/FAPESP. pp.27-43. JOYCE,A.A.&JOHANNESSEN,S.1993.Abandonmentandtheproductionof archaeologicalvariabilityatdomesticsites.In:CAMERON,C.M.&TOMKA,S.A. Abandonementofsettlementsandregions:ethnoarchaeologicalandarchaeological approaches. Cambridge: Cambridge University Press. pp. 138-153. KENT,S.1987.UnderstandingtheUseofspace:AnEthnoarchaeologicalApproach. In:S.KENT(Ed.)MethodandTheoryforActivityAreaResearch(An Ethnoarchaeological Approach). New York: Columbia University Press. pp.1-60. LAYTON,R.1989.Whoneedsthepast?(Indigenousvaluesandarchaeology). London: Routledge. LAYTON,R.1994.Conflictinthearchaeologyoflivingtraditions.London: Routledge. LEMONNIER,P.1992.ElementsforanAnthropologyofTechnology.Michigan, Museum of Anthropological Research (88), University of Michigan. LEMONNIER,P.1995.Introduction.In:P.Lemonnier(Ed.).TechnologicalChoices. Transformation in Material Cultures since the Neolithic. London: Routledge. pp. 1-35. LEAVESLEY,M.G.;MINOL,B.;KOP,H.&KEWIBU,V.H.2005.Cross-cultural conceptsofarchaeology.Kastomcommunity,educationandculturalheritage management in Papua New Guinea. Public Archaeology, 4(2/3):3-13. LECLAIR,J.2005.Ofgrizzliesandlandslides:theuseofarchaeologicaland anthropologicalevidenceinCanadianaboriginalrightscases.PublicArchaeology, 4(2/3): 109-119. MARSHALL,Y.2002.Whatiscommunityarchaeology.WorldArchaeology,34(2): 211-219. MERRIMAN, N. (Ed.). 2004. Public Archaeology. London: Routledge. MOI, F. 2003. Organizao e uso do espao em duas aldeias Xerente. Uma abordagem etnoarqueolgica. Dissertao de Mestrado. Universidade de So Paulo. So Paulo. MORAIS,J.L.de.2006.Reflexesacercadaarqueologiapreventiva.In:V.H.Mori; M.C. de Souza; R.L. Bastos e H. Gallo (Orgs.). Patrimnio: atualizando o debate. So Paulo, Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional IPHAN. pp.191-220. MOSER, S.; GLAZIER, D.; PHILLIPS, J.E.; el NEMR, L.N.; MOUSA, M.S., AIESH, R.N.RICHARDSON,S.;CONNER,A.eSEYMOUR,M.2002.Transforming archaeologythroughtpractice:strategiesforcollaborativearchaeologyandthe community archaeology project ar Quseir, Egypt. World Archaeology, 34(2): 220-248. NASSANEY,M.S.1989.Anepistemologicalenquiryintosomearchaeologicaland historcalinterpretationsof17thcenturyNativeAmerican-Europeanrelations.In: Archaeologial approaches to cultural identity. London/New York: Routledge. pp.76-93. NELSON,M.2000.Abandonment:conceptualization,representation,andsocial change. In: SCHIFFER, M. Social theory in archaeology. Salt Lake City: University of Utah Press.. NEVES, E.G. 1998. Paths in the dark waters: archaeology as indigenous history inthe UpperRioNegroBassin,northwestamazon.Phd.Thesis.IndianaUniversity, Bloomington. NOELLI,F.S.1993.SemTekohnohTek(embuscadeummodelo etnoarqueolgico da subsistncia e da aldeia Guarani aplicado a uma rea de domnio nodeltadoJacu-RS).Dissertao(MestradoemHistria).PontifciaUniversidade Catlica do Rio Grande do Sul. Porto Alegre. PANJA,S.2003.Mobilitystrategiesandsitestructure:acasestudyofInamgaon. Journal of anthropological archaeology, 22 (2): 105-25. PARKER,L.O.2005.Indigenouspeoplessrightstotheirculturalheritage.Public Archaeology, 4(2/3): 127-140. PEARSON,M.P.eRAMILISONINA.2004.Publicarchaeologyandindigenous communities. In: N.Merriman (Ed.) Public Archaeology.London: Routledge. POUGET,F.2008.Prticasarqueolgicasealteridadesindgenas.Relatriode QualificaodeMestrado.ProgramadePs-GraduaoemArqueologia.Universidade de So Paulo. PYBURN,A.2007.Umaquestonadasimples.RevistadoPatrimnioHistrico Artstico Nacional, Patrimnio Arqueolgico: o desafio da preservao, n 33: 25-35. ROBRAHN-GONZLEZ, E. 2005. Sociedade e Arqueologia. Tese de Livre-Docncia. Museu de Arqueologia e Etnologia. Universidade de So Paulo. ROBRHAN-GONZALES, E. 2006. Nota de esclarecimento Programa de diagnstico antropolgicoedepatrimnioculturaldaPCHParanatingaII,Documentointernet. [email protected]. RODRIGUES,P.M.1993.LaudoAntropolgicodeIdentificaoeDelimitaodas Terras Indgenas Munduruku e Kayabi Gleba Sul. Braslia: FUNAI. RODRIGUES,R.2007.OsCaadores-ceramistasdosertopaulista:umestudo etnoarqueolgicodeocupaoKaingangnoValedorioFeio/Aguape.Tesede Doutorado. Museu de Arqueologia e Etnologia. Uni versidade de So Paulo. So Paulo. RODRIGUES, J.E.R. 2006. Da proteo jurdica ao patrimnio cultural. In: V.H. Mori; M.C. de Souza; R.L. Bastos e H. Gallo (Orgs.). Patrimnio: atualizando o debate. So Paulo, Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional IPHAN. pp.233-240. SANDLIN, J.A. e BEY III, G.J. 2006. Trowels, trenches and transformation. Journal of Social Archaeology, 6(2):255-76. SCHIFFER,M.B.&SKIBO,J.1997.TheExplanationofArtifactVariability. American Antiquity, 62(1):27-50. SILLAR,B.&FFORDE,C(Eds).2005.Conservation,IdentityandOwnershipin Indigenous Archaeology. Public Archaeology, (4). SILVA,F.A.2000.Astecnologiaeseussignificados:umestudodacermicados AssurinidoXinguedacestariadosKaiap-Xikrinsobumapesrpectiva etnoarqueolgica. Tese de doutorado. So Paulo, Universidade de So Paulo. SILVA, F.A. 2002. Mito e arqueologia. A interpretao dos Asurini do Xingu sobre os vestgios arqueolgicosencontrados no parque indgena Kuatinemu Par. Horizontes Antropolgicos. Arqueologia e sociedades tradicionais. 8(18):175-187. SILVA,F.A.2007.OsignificadodaVariabilidadeArtefatual:acermicadosAsurini do Xingu e a plumria dos Kayap-Xikrin do Catete. Boletim do Museu Parense Emilio Goeldi. V.2(1):91-104. SILVA,F.A.;BESPALEZ, E.; STUCHI,F.e POUGET.F. 2008.Relatrio Cientfico. Arqueologia,EtnoarqueologiaeHistriaIndgena.Umestudodatrajetriahistrica deocupaodeterritriosnoMatoGrossoeMatoGrossodoSul.AT.I.Kayabiea Aldeia Lalima. So Paulo: FAPESP. SHANKS, M. Arqueolga Simtrica. Complutum, 18:283-319. 2007. SHENNAN,S.1989.Introduction:archaelogicalapproachestoculturalidentity.In: Archaeologial approaches to cultural identity. London/New York: Routledge. PP.1-32. SMITH,C.&WOBST,M.(Eds.).,2005.IndigenousArchaeologies.London: Routledge. pp. 43-55. SMITH,C&WOBST,M.2005.Decolonizingarchaeologicaltheoryandpractice.In: Smith,C.&Wobst,M.W.(Eds.).IndigenousArchaeologies.London:Routledge,pp. 17-32. SOUZA,M.C.de.2006.Umavisodaabrangnciadagestopatrimonial.In:V.H. Mori;M.C.deSouza;R.L.BastoseH.Gallo(Orgs.).Patrimnio:atualizandoo debate.SoPaulo,InstitutodoPatrimnioHistricoeArtsticoNacionalIPHAN. pp.139-154. STARK,M.1998.Thearchaeologyofsocialboundaries.Washington:Smithsonian Institution. STEWART,A.M.;KEITH,D.SCOTTIE,J.2004.Cariboucrossingsandcultural meanings:placingtraditionalknowledgeandarchaeologyincontextinanInuit landscape. Journal of Archaeological Method and Theory, 11(2):183-212. STUCHI,F.F.2008.AOcupaodaTerraIndgenaKayabi(MT/PA).Histriae Etnoarqueologia.RelatriodeQualificaodeMestrado.ProgramadePs-Graduao em Arqueologia. Universidade de So Paulo. SUTTON,P.2005.SocialscientistsandnativetitlecasesinAustralia.Public Archaeology, 4(2/3):121-126. TOMKA, S. A. 1993. Site abandonment behavior among transhumant agro-pastoralists: the effedtas od delayed curation on assemblage composition. . In: CAMERON, C. M. & TOMKA,S.A.Abandonementofsettlementsandregions:ethnoarchaeologicaland archaeological approaches. Cambridge: Cambridge University Press. p. 11-24. TULLY, G. 2007. Community archaeology: general methods and standards of practice. Public Archaeology, 6(3):155-187. WIYNJORROC,P.,MANABURU,P.,BROWN,N.&WARNER,A.2005.Wejust havetoshowyou:researchethicsblekbalawei.In:Smith,C.&Wobst,M.W.(Eds.). Indigenous Archaeologies. London: Routledge, pp. 316-327, 2005. WST, I. 1991. Continuidade e mudana: para interpretao dos grupos pr-coloniais nabaciadorioVermelho,MatoGrosso.Tese(DoutorandoemAntropologia) FaculdadedeFilosofia,LetraseCinciasSociaisdaUniversidadedeSoPaulo.So Paulo. ZEDEO,M.I.1997.Landscapes,landuse,andthehistoryofterritoryformation:an example from puebloan southwest.Journal of archaeological method and theory. 4 (1), 63-103. ZIMMERMAN,L.J.1994.Humanbonesassymbolsofpower:aboriginalAmerican beliefsystemstowardbonesandgrave-robbingarchaeologists.In:Layton,R.(ed.). Conflict in the archaeology of living traditions. London: Routledge, pp.211-216. RESUMO:Entre2007e2009coordeneiumapesquisasobreastrajetriashistricase culturaisdaspopulaesindgenasqueocuparameocupamaAldeiaLalima-MSea Terra Indgena (TI) Kayabi-MT/PA. O objetivo da pesquisa era identificar os processos decontinuidades,mudanaserupturasnastrajetriasdessaspopulaes,bemcomoa dialtica entre passado e presente, sujeito e objeto. Alm disso, perceber o modo como estaspopulaesindgenasinterpretamseupassadoeoutrosprocessoshistricose culturaisocorridosemseusterritrios.Esteartigoapresentaalgunsaspectosdesta experinciadepesquisa,analisandoosprocedimentoseresultadosapartirda perspectivadaarqueologiapblicaearqueologiacomunitriaerefletindosobreo gerenciamento do patrimnio cultural nestes territrios. PALAVRASCHAVES:ArqueologiaComunitria;GerenciamentodoPatrimnio Cultural; Aldeia Lalima; Terra Indgena Kayabi. ABSTRACT:Between2007and2009Icoordinatedaresearchabouthistoricaland culturaltrajetoiresoftheindigenouspopulationswhooccupaidandoccuptheAldeia Lalima-MS and TerraIndgena Kayabi MT/PA. The objective of this research was to identifietheprocessesofcontinuity,changeandruptureintheindigenoustrajectories, aswellas,thedialecticalbetweenpastandpresente,subjectandobject,andto understand the way these indigenous populations interpret your past and other historical and cultural processes happens in these territories. This article presents some aspects for thisresearch,analisingtheproceduresandresultsforapublicandcommuintary archaeological perspective, reflecting about heritage management in these territories. KEY WORDS: Community Archaeology; Heritage Management; Aldeia Lalima; Terra Indgena Kayabi.