EXTRAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO E APLICAÇÃO DE FÉCULA DE … · O açafrão (Curcuma longa L.) é...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
ESCOLA DE AGRONOMIA
PRISCYLLA PAULINA FERREIRA
EXTRAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO E APLICAÇÃO DE
FÉCULA DE AÇAFRÃO (Curcuma longa L.) NO
DESENVOLVIMENTO DE BISCOITO
Goiânia
2014
PRISCYLLA PAULINA FERREIRA
EXTRAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO E APLICAÇÃO DE
FÉCULA DE AÇAFRÃO (Curcuma longa L.) NO
DESENVOLVIMENTO DE BISCOITO
Dissertação de Mestrado apresentada à Escola de
Agronomia da Universidade Federal de Goiás
para obtenção do título de Mestre em Ciência e
Tecnologia de Alimentos.
Orientadora: Profª. Drª. Katiuchia Pereira
Takeuchi
Coorientadores: Prof. Dr. Celso José de Moura e
Profª. Drª. Maria Célia Lopes Torres
Goiânia
2014
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
ESCOLA DE AGRONOMIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE ALIMENTOS
PRISCYLLA PAULINA FERREIRA
EXTRAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO E APLICAÇÃO DE FÉCULA DE
AÇAFRÃO (Curcuma longa L.) NO DESENVOLVIMENTO DE BISCOITO
Dissertação DEFENDIDA e APROVADA em 29 de agosto de 2014, pela Banca
Examinadora constituída pelos membros:
___________________________________
Profª. Drª. Katiuchia Pereira Takeuchi
Orientadora – EA/UFG
___________________________________
Profª. Drª. Eliane Dalva Godoy Danesi
UEPG – Membro externo
___________________________________
Profª. Drª. Eloneida Aparecida Camili
FANUT/UFMT – Membro externo
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus que plantou em mim um sonho que hoje se materializa. Por me
amparar nos momentos difíceis, me dar força interior para superar as dificuldades, mostrar os
caminhos nas horas incertas e suprir em todas as minhas necessidades. Lembro-me de muitas
pessoas a quem ressalto reconhecimento, pois, esta conquista concretiza-se com a
contribuição de cada uma delas, seja direta ou indiretamente. No decorrer dos dias, vocês
colocaram uma pitada de amor e esperança para que neste momento se realizasse essa etapa
tão significante para mim.
À toda minha família, que, de alguma forma, incentivaram-me na constante busca pelo
conhecimento. Em especial aos meus pais, pelo amor, apoio, confiança e motivação
incondicional. Que sempre me impulsiona em direção às vitórias dos meus desafios, a
presença de vocês significou segurança e certeza de que não estou sozinha nessa caminhada.
Agradeço pela capacidade de acreditarem e investir em mim.
Ao meu marido, por ser tão importante na minha vida. Sempre ao meu lado, me pondo
para cima e me fazendo acreditar que posso mais que imagino. Devido a seu companheirismo,
amizade, paciência, compreensão, apoio, alegria e amor, este trabalho pôde ser concretizado.
Obrigada por sua capacidade de me trazer paz na correria de cada etapa que se passou.
A todos os meus professores, desde a minha alfabetização até os professores do
mestrado. Suas particularidades na convivência diária trouxeram, mesmo que no silêncio,
alegrias e confissões que despertaram os meus próprios segredos adormecidos na caminhada
formativa à aprendizagem e ao desenvolvimento profissional. Obrigada por me levar à
dúvida, à busca de novos encantos pelo mundo adiante.
A minha orientadora Katiuchia, pela aceitação do meu projeto, por acreditar em mim,
me mostrando o caminho da ciência, por fazer parte da minha vida nos momentos bons e
ruins, por ser um exemplo de profissional. Sua orientação segura e competente, seu estímulo
constante e testemunho de seriedade, permitiram-me concretizar este estudo. Agradeço
também pela compreensão de meus limites e ousadias, auxiliando-me com sua imensa
sabedoria de forma imprescindível para a elaboração deste trabalho.
Foram valiosas suas contribuições para o meu crescimento intelectual e pessoal. Aos
meus coorientadores Celso José de Moura e professora Maria Célia Lopes Torres, pela
amizade, pelo auxílio e socorro nas horas difíceis.
Aos bolsistas de iniciação científica, Pedro Paulo e Gerlane por terem compartilhado
comigo as angústias e tensões de se elaborar uma dissertação e também por me auxiliaram na
pesquisa, principalmente na realização das análises.
A meus amigos do mestrado, pelos momentos divididos juntos, que se tornaram
verdadeiros amigos e tornaram mais leve meu trabalho. Obrigada por dividirem comigo as
angústias e alegrias. Foi bom poder contar com vocês!
Agradeço, também, ao financiamento fornecido pela bolsa CAPES, o qual possibilitou
que eu me dedicasse exclusivamente à pesquisa e à escrita dessa dissertação. Estendo este
agradecimento ao programa de Pós-graduação em Ciências e Tecnologia de Alimentos e aos
coordenadores, que não mediram esforços para que estas bolsas fossem direcionadas ao nosso
curso.
Nesta hora de encerramento de uma etapa muito especial, em que a alegria por estar
terminando se junta ao cansaço, torna-se difícil lembrar-me de todos os amigos e colegas que
participaram comigo dessa jornada, mas de uma maneira muito sincera, agradeço a todos que
de uma forma ou de outra colaboraram para a realização dessa dissertação.
“A mente que se abre a uma nova ideia
jamais voltará ao seu tamanho original.”
Albert Einstein
EXTRAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO E APLICAÇÃO DE FÉCULA DE AÇAFRÃO
(Curcuma longa L.) NO DESENVOLVIMENTO DE BISCOITO
RESUMO
O açafrão (Curcuma longa L.) é amplamente cultivado e consumido no Brasil. Apesar do alto
teor de amido entre 25-70 % (m/m), sua extração ainda é considerada como atividade
secundária. Além disso, possui propriedades desejavéis que conferem a possibilidade de uso
como corante e espessante em produtos de panificação. Uma dessas possibilidades é aplicação
da fécula de açafrão para confeccção de biscoitos de polvilho, produto típico brasileiro que
faz uso da fécula de mandioca em seu estado natural ou fermentado. Dessa forma, o presente
trabalho teve como objetivo extrair e caracterizar o amido proveniente do rizoma de açafrão
Curcuma longa L., posteriormente aplicando o mesmo na formulação de um biscoito com
substituição parcial da fécula de mandioca, avaliando as características físicas e sensoriais dos
biscoitos produzidos. Os resultados obtidos indicaram que a fécula de açafrão possui alto teor
em carboidratos e menor proporção de cinzas, lipídios e proteínas. Além disso, apresentam
forma oval-elipsoide, cor predominante amarela e géis com alta estabilidade mecânica,
inclusive em alta temperatura. Por outro lado, os biscoitos produzidos apresentaram maior
dureza e crocância, volume, densidade aparente, diâmetro e comprimento que os biscoitos
padrão. De acordo com a análise de aceitação sensorial, os biscoitos de açafrão obtiveram
aceitação geral com notas médias entre 6 a 7, indicando, “gostei ligeiramente” e “gostei
moderadamente”, respectivamente.
Palavras-chave: Curcuma longa L., amido de açafrão, desenvolvimento de novos produtos.
EXTRACTION, CHARACTERIZATION AND APPLICATION OF TURMERIC
STARCH (Curcuma longa L.) IN THE DEVELOPMENT OF CRACKER.
ABSCTRAT
Turmeric (Curcuma longa L.) is widely cultivated and consumed in Brazil. Despite the high
starch content between 25-70 % (m/m), their extraction is still considered as a secondary
activity. Moreover, it has desirable properties which give the possibility of use as a coloring
agent and thickener in bakery products. One such possibility is the application of turmeric
starch to manufacturing “polvilho” crackers, a typical Brazilian product that makes use of
cassava starch in its natural or fermented state. Thus, the present study aimed to extract and
characterize the starch from the rhizome of turmeric Curcuma longa L., subsequently
applying the same in the formulation of a cracker with partial substitution of cassava starch,
assessing the physical and sensory characteristics of crackers. The results indicated that
Curcuma starch has high concentration in carbohydrates and lower proportion of ash, lipids
and proteins. Furthermore, the starch of Curcuma presented an oval ellipsoid shaped,
predominantly yellow color and high mechanical stability, including at high temperature. By
other side, the cracker produced had higher hardness and crispness, specific volume, density,
diameter and length than standard crackers. According to sensory analysis, the cracker
obtained overall acceptation averages ranging between 6 and 7, indicating “slightly liked” and
“moderately liked”, respectively.
Keywords: Curcuma longa L., turmeric starch, development of new products.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. A - Planta de açafrão; B - Rizoma da cúrcuma. ....................................................... 3
Figura 2. Estrutura química da Curcumina [1,7 - bis- (4-hidroxi-3-metoxifenil)-1,6-
heptadiena-3,5-diona]. .................................................................................................... 5
Figura 3.Estrutura do amido. .................................................................................................. 7
Figura 4. A - Estrutura da Amilose; B – Estrutura de Amilopectina. ....................................... 8
Figura 5. Processo de gelatinização e retrogradação do amido. ............................................... 9
Figura 6. Estruturas de grânulos de amido de Curcuma Longa L. ......................................... 11
Figura 7. A - Rizoma de açafrão, B – Açafrão triturado. ....................................................... 15
Figura 8. Fluxograma do processo de extração da fécula de açafrão. .................................... 16
Figura 9. Análise de textura dos géis de fécula de açafrão (12,5 % m/m) .............................. 19
Figura 10. Fluxograma do processamento dos biscoitos de fécula de mandioca ou mistura
com fécula de açafrão. .................................................................................................. 20
Figura 11. Amostras obtidas de amido de açafrão 1CC*, 2CC*, respectivamente. ................ 26
Figura 12. Curvas isotérmicas – efeito do tempo de cisalhamento nos géis de amido de
açafrão e mandioca. G’ Módulo de cisalhamento de armazenamento ou elástico (Pa) e
G’’ Módulo de cisalhamento de perda ou viscoso (Pa). ................................................. 27
Figura 13. Módulo G* (Pa) nos géis de amido de açafrão e mandioca a 30 °C e 90°C. ......... 29
Figura 14. Força de ruptura média (N) de géis de amido (10 g de amido em 70 g de água) puro
ou com adição de sacarose (5, 15 e 25 g), analisados no tempo 0 (mesmo dia de preparo)
e com 5 dias de armazenamento em temperatura de 4 ºC. ............................................. 31
Figura 15. Tensão média (Pa) de géis de amido (10 g de amido em 70 g de água) puro ou com
adição de sacarose (5, 15 e 25 g), analisados no tempo 0 (mesmo dia de preparo) e com 5
dias de armazenamento em temperatura de 4 ºC. .......................................................... 32
Figura 16. Energia média (N.m) de géis de amido (10 g de amido em 70 g de água) puro ou
com adição de sacarose (5, 15 e 25 g), analisados no tempo 0 (mesmo dia de preparo) e
com 5 dias de armazenamento em temperatura de 4 ºC. ................................................ 33
Figura 17. Deformação de Hencky (-) de géis de amido (10 g de amido em 70 g de água) puro
ou com adição de sacarose (5, 15 e 25 g), analisados no tempo 0 (mesmo dia de preparo)
e com 5 dias de armazenamento em temperatura de 4 ºC. ............................................. 34
Figura 18. Fotomicrogramas dos grânulos de amido de açafrão - A, B. ................................ 35
Figura 19. A- Força média de cisalhamento (N), B - Energia de cisalhamento (N.m), C-
número de picos (micro-rupturas) durante a compressão dos biscoitos contendo fécula de
açafrão (15 %, 30 % e 50 %) e biscoito padrão (0 % de fécula de açafrão). ................... 39
Figura 20. A- Faixa etária dos provadores, B – Sexo dos provadores. ................................... 41
LISTAS DE TABELAS
Tabela 1. Quantidade dos ingredientes utilizados na formulação de biscoitos. 21
Tabela 2. Composição centesimal do amido do açafrão (% base seca) (média ± DP). 24
Tabela 3. Parâmetros de cor da fécula de açafrão (n=3, média ± DP). 26
Tabela 4. Propriedades físicas dos biscoitos de fécula de mandioca (padrão) e com
substituição de mandioca por fécula de açafrão (15 a 50 %). 36
Tabela 5. Parâmetros de cor para biscoitos padrão (sem adição de fécula de açafrão) e de
biscoitos com substituição de fécula de mandioca por açafrão (15, 30 e 50 % (m/m)). 38
Tabela 6. Médias de aceitação sensorial dos biscoitos padrão e contendo fécula de açafrão
(substituição de fécula de mandioca por fécula de açafrão nas proporções de 15, 30 e 50
%) (n=53). 40
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 1
2 REVISÃO DE LITERATURA .............................................................................. 3
2.1 AÇAFRÃO............................................................................................................................... 3
2.2 AMIDO .................................................................................................................................... 6
2.3 FÉCULA DE AÇAFRÃO ................................................................................................................10
2.4 BISCOITO DE FÉCULA DE MANDIOCA ........................................................................................11
3 OBJETIVOS ........................................................................................................ 14
3.1 OBJETIVO GERAL ......................................................................................................................14
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ...........................................................................................................14
4 MATERIAL E MÉTODOS ................................................................................. 15
4.1 MATÉRIA-PRIMA ......................................................................................................................15
4.2 EXTRAÇÃO DA FÉCULA DE AÇAFRÃO .........................................................................................15
4.3 COMPOSIÇÃO CENTESIMAL DA FÉCULA DE AÇAFRÃO ................................................................16
4.4 MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE VARREDURA .............................................................................16
4.5 ANÁLISES REOLÓGICAS .............................................................................................................17
4.5.1 Propriedades térmicas e reológicas de géis de fécula de açafrão .......................................17
4.5.2 Propriedades mecânicas de géis de amido ........................................................................18
4.5.3 Cor da fécula ....................................................................................................................19
4.6 FORMULAÇÃO DO BISCOITO ....................................................................................................20
4.7 ANÁLISES DOS BISCOITOS DE POLVILHO ....................................................................................21
4.7.1 Cor dos biscoitos ...............................................................................................................21
4.7.2 Textura dos biscoitos ........................................................................................................21
4.7.3 Volume específico dos biscoitos ........................................................................................22
4.7.4 Densidade Aparente do biscoito ........................................................................................22
4.7.5 Diâmetro e comprimento do biscoito ................................................................................23
4.7.6 Análise sensorial ...............................................................................................................23
4.8 ANÁLISE ESTATÍSTICA ...............................................................................................................23
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ......................................................................... 24
5.1 COMPOSIÇÃO CENTESIMAL .....................................................................................................24
5.2 COR DA FÉCULA DE AÇAFRÃO ..................................................................................................25
5.3 ANÁLISES REOLÓGICAS ............................................................................................................26
5.4.TEXTURA DOS GÉIS DE AMIDO ..................................................................................................30
5.5. MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE VARREDURA (MEV) ..................................................................34
5.6 CARACTERIZAÇÃO DOS BISCOITOS ............................................................................................36
5.6.1 Propriedades físicas dos biscoitos .....................................................................................36
5.6.2 Cor dos biscoitos ...............................................................................................................37
5.6.3. Textura dos biscoitos .......................................................................................................38
5.7 Análise sensorial dos biscoitos de açafrão ............................................................................40
6 CONCLUSÃO ..................................................................................................... 41
REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 42
APÊNDICE A ......................................................................................................... 49
APÊNDICE B ......................................................................................................... 50
1
1 INTRODUÇÃO
O gênero Cúrcuma (família Zingiberaceae) é composto por mais de 80 espécies de
rizomas (POLICEGOUDRA; ARADHYA, 2008). Dentre esses destaca-se o Curcuma longa
L., (açafrão, açafroeira, açafrão da índia, açafrão da terra, batatinha amarela, gengibre
dourada, mangarataia ou “turmeric”) que é originário da Ásia, mas cultivado e amplamente
consumido no Brasil. Mundialmente, vem sendo utilizado nos setores têxtil, farmacêutico e
alimentício desde a antiguidade (CECÍLIO FILHO et al., 2000; SINGH et al., 2003).
Os rizomas de cúrcuma apresentam como principais compostos o amido (25 -70 %), a
curcumina (2,5 – 8 %) e o óleo essencial (2 – 5 %) (HE et al., 1998; SCARTEZZINI;
SPERONI, 2000). Atualmente, a extração de amido é considerada como atividade secundária,
contudo a grande concentração desse composto sugere alternativas para seu aproveitamento
(LEONEL; SARMENTO; CEREDA, 2003), principalmente como agente estabilizador e
espessante (POLICEGOUDRA; ARADHYA, 2008). Por outro lado, a evolução do setor
alimentar traz a necessidade de novas fontes de amido com características desejáveis e que
possam ser incorporados em processos e produtos mais complexos conferindo a essas
propriedades distintas (LEONEL; SARMENTO; CEREDA, 2003).
A cúrcuma possui compostos bioativos de interesse ao mercado alimentício com
propriedades como antioxidante, anti-inflamatório, anticancerígeno e possui efeitos de
controle do colesterol em humanos, entre outros (NGUYEN et al., 2013). Dessa forma, o
amido extraído da cúrcuma possui um grande potencial como subproduto para a indústria
alimentícia, evitando o descarte desse composto.
Conferindo assim, as possibilidades de uso deste na confecção de bolos e biscoitos, ao
mesmo tempo em que é agente corante, já utilizado em diversos alimentos como: carnes,
queijos, macarrão, margarina, mostarda, salgadinhos tipo “chips”, sorvetes, dentre outros.
Além disso, há o apelo de corante de origem vegetal e natural que pode ser usado na
substituição aos corantes sintéticos, como por exemplo, a tartrazina (GOVINDARAJAN,
1980).
Dentre os produtos de panificação da culinária brasileira, destacam-se os biscoitos de
polvilho, produto típico que faz uso da fécula de mandioca em seu estado natural ou
fermentado (polvilho azedo) (CEREDA, 1983), podendo assim, ser uma das possibilidades de
uso para o amido com curcumina.
Além disso, a utilização da fécula de açafrão para substituição da fécula de mandioca
ainda não foi referenciada na literatura científica atual, podendo agregar valor e conferir
2
propriedades desejáveis ao produto referido. Assim, o presente trabalho teve como objetivo
extrair e caracterizar o amido proveniente do rizoma de açafrão (Curcuma longa L.),
utilizando-o como substituto de fécula de mandioca na formulação de um biscoito tipo
“polvilho” em diferentes concentrações, avaliando as características físicas e sensoriais dos
biscoitos produzidos.
3
2 REVISÃO DE LITERATURA
2.1 AÇAFRÃO
A cúrcuma, conhecida como açafroeira, açafrão da índia, açafrão da terra, batatinha
amarela, gengibre dourada, mangarataia ou “turmeric, é a planta de nome científico Curcuma
longa L., pertence à família Zingiberaceae (Figura 1). É nativo do sudeste Asiático,
especificamente das regiões mais tropicais da Índia (CECÍLIO FILHO et al., 2000; SINGH et
al., 2003).
A planta é herbácea e perene, sendo propagada vegetativamente, por meio de seus
rizomas, que crescem agrupados no subsolo, abaixo do colo da planta. A planta apresenta
folhas grandes oblongo-lanceoladas e oblíquo-enervadas de coloração verde clara, que exalam
um odor agradável. Possui entre 120-150 cm de altura, dependendo das condições
fitossanitárias e agronômicas. A planta tem pecíolos tão compridos quanto os limbos, que
reunidos em sua base, formam o pseudocaule, esse é formado na base da planta pelo
agrupamento das folhas. O rizoma principal ou central é periforme, arredondado ou ovoide,
com ramificações secundárias laterais, compridas, também tuberizadas. Além disso, os
rizomas são organizados numa estrutura denominada "mão", onde os rizomas menores,
"dedos", agrupam-se ao redor de um maior chamado "pião" (HERTWIG, 1986; CECÍLIO et
al., 2000).
Figura 1. A - Planta de açafrão; B - Rizoma da cúrcuma.
Fonte: NATIONAL TROPICAL BOTANICAL GARDEN (2013).
Esse rizoma apresenta cultivo fácil e a vantagem de não exigir tratos culturais
especiais, desenvolvendo-se bem em diversas condições tropicais, em temperaturas de 20 a 30
A B
4
°C, sob regime pluvial de até 1500 mm ou mais por ano ou sob irrigação (GOVINDARAJAN,
1980; SCARTEZZINI; SPERONI, 2000). A cúrcuma é facilmente reconhecida pela
inflorescência em espiga formada por brácteas amarelo claras dispostas em espiral que
compõem os cachos. Geralmente, 180 dias após o plantio ocorre a floração (PERET DE
ALMEIDA, 2006).
Em relação a sua importância econômica, a Índia é o maior produtor sendo
responsável por cerca de 78 % da produção de açafrão do mundo e aproximadamente 60 % da
quota de exportação mundial, somente em 2007, teve a produção de cerca de 900 mil
toneladas de açafrão fresco (NGUYEN et al., 2013).
No Brasil, os bandeirantes foram os responsáveis pela propagação e utilização do
mesmo como marcador de trilhas para as jazidas de ouro, adaptando-se as características
agronômicas e climáticas (MAY et al., 2005; SCARTEZZINI e SPERONI, 2000). É cultivado
nos Estados de Goiás, Mato Grosso e São Paulo. Em particular, no município goiano de Mara
Rosa destaca-se por relativa produtividade de 12 a 15 toneladas/hectares para um período de
18 a 24 meses (CECÍLIO FILHO et al., 2000). Nessa região, a época de plantio recomendada
está entre os meses de Outubro e Novembro, coincidindo com o início das chuvas no Centro-
oeste. A colheita manual é realizada entre Junho e Setembro, cerca de 7 a 8 meses após o
plantio, quando a parte aérea da planta começa a secar (SEBRAE, 2007).
A composição química dos rizomas de cúrcuma é influenciada por diversos fatores
como planta matriz, tipo de solo, clima, adubação, disponibilidade hídrica, época de colheita
(primeiro ou segundo ciclo), tempo de armazenamento, dentre outros (OLIVEIRA;
GHIRALDINI; SACRAMENTO, 1992; SCARTEZZINI; SPERONI, 2000). Sua apreciação
deve-se, sobretudo a suas propriedades únicas como flavor característico, sabor amargo e
aroma picante, e o fazem ser empregado como especiaria e condimento na maioria das
classificações encontradas (AOAC, 1995).
De acordo com a literatura, a cúrcuma cultivada no Brasil, possui alta umidade
aproximadamente 74 g.100 g⁻¹ e quanto aos constituintes, em maior proporção, o amido (35,3
- 39,9 g.100g⁻¹) e em menor quantidade proteínas (7,01-11,68 g.100 g⁻¹), lipídios (7,20-8,51
g.100 g⁻¹), cinzas (6,44-7,81 g.100g⁻¹) e fibra (5,5-7,22 g.100 g⁻¹). Além dos pigmentos
curcuminoides (4,41 mg.100 g⁻¹) e dos óleos essenciais (3,07 mg.100 g⁻¹) relativos aos
valores encontrados em base seca do rizoma (SOUZA; GLÓRIA 1998; CECÍLIO FILHO et
al., 2000).
5
Os pigmentos, denominados curcuminoides são identificados em: curcumina,
desmetoxicurcumina e bisdesmetoxicurcumina, sendo que a curcumina está presente em
maior concentração no rizoma cerca de 60 % (GOVINDARAJAN, 1980). Embora os três os
pigmentos, sejam análogos em estrutura, a curcumina ([1,7 - bis- (4-hidroxi-3-metoxifenil)-
1,6-heptadiena-3,5-diona]), caracteriza, majoritariamente, a qualidade do rizoma e sua
coloração (Figura 2) (PERET DE ALMEIDA, 2006).
Figura 2. Estrutura química da Curcumina [1,7 - bis- (4-hidroxi-3-metoxifenil)-1,6-heptadiena-3,5-diona].
Fonte: Peret de Almeida (2006).
Além de ser conhecida por seu uso como corante e flavorizante em alimentos, a
cúrcuma possui outras propriedades tais como: antioxidante, antimicrobiana e medicinal. Na
medicina indiana, por exemplo, a cúrcuma tem sido utilizada como anti-inflamatório, anti-
artrítico, regulador das funções biliares e redutor do nível de colesterol (CECÍLIO FILHO et
al., 2000; PERET DE ALMEIDA, 2006). Além de usualmente ser utilizado no tratamento de
doenças da pele, distúrbios estomacais, doenças do fígado e em resfriados com
comprometimento das vias nasais (AMMON;WAHL,1991).
A Food and Agriculture Organization/World Health Organization (FAO/WHO),
possui um comitê específico que avalia a toxicidade, mutagenicidade e carcinogenicidade
para os aditivos em alimentos, conhecido por Joint FAO/WHO Expert Committee on Food
Additives (JECFA) que estabelece a Ingestões Diárias Aceitáveis (IDA) para cada aditivo.
Segundo, esses a IDA para cúrcuma e curcumina, respectivamente é de 2,5 e de 0,1 mg.kg-1
de peso corpóreo (ANTUNES; ARAÚJO, 2000).
Atualmente, são três os produtos da cúrcuma disponíveis no mercado: a cúrcuma em
pó, a oleoresina e a curcumina purificada. Estas formas são as utilizadas para ingestão como
corante vegetal em alimentos e bebidas, condimento, flavorizante, e medicamento
(MARTINS; RUSIG, 1992, MESA et al., 2000).
Além disso, nos últimos anos o interesse pela cúrcuma tem aumentado
significativamente. Isto se deve ao fato de ser um produto natural e possuir características de
6
cor semelhantes à da tartrazina, corante amarelo sintético muito utilizado na indústria
alimentícia e farmacêutica (PERET DE ALMEIDA, 2006). Com a proibição do uso de
pigmentos sintéticos nos principais países da América do Norte e Europa, tem-se buscado
alternativas naturais, dentre as quais se vislumbra a possibilidade de participação da cúrcuma
neste atraente e crescente mercado de aditivos naturais de alimentos, particularmente na
indústria alimentícia (CECÍLIO FILHO et al., 2000). Aliado a isso, a literatura refere o uso do
amido do açafrão como amido modificado alternativo na indústria alimentícia com a função
de espessante e estabilizante somada às características já amplamente aplicadas de corante e
flavorizante (LEONEL; SARMENTO; CEREDA, 2003; BRAGA et al.,2006).
Com base no exposto, observa-se uma grande tendência econômica e um interesse
intelectual pelo uso do açafrão e seus derivados, em particular na indústria de alimentos e em
novos produtos.
2.2 AMIDO
O amido é um dos compostos orgânicos mais importantes e abundantes na natureza, é
uma fonte de reserva de carboidratos das plantas, sendo encontrado em suas diversas partes,
incluindo sementes, frutos, tubérculos e raízes. Muitas destas partes, ricas em amido, são
utilizadas como alimentos na dieta humana, representando cerca de 70 – 80 % das calorias
ingeridas, sendo assim empregado como combustível pelas células do organismo (JOBLING,
2004). Além de ser a maior fonte de carboidratos, tem sido muito usado na indústria como
agente espessante, estabilizante e gelatinizante (MORIKAWA; NISHINARI, 2000).
De todos os polissacarídeos, o amido (Figura 3) é o único produzido em pequenos
agregados individuais, denominados grânulos, parcialmente cristalinos, cuja morfologia,
composição química e estrutura molecular são características de cada espécie de planta
(FENIMAN, 2004; FRENCH, 1984).
7
Figura 3.Estrutura do amido.
Fonte: Feniman (2004).
O amido é um polissacarídeo composto de amilose e amilopectina e a proporção entre
essas moléculas e sua organização dentro do grânulo estão diretamente relacionadas com a
funcionalidade do amido (CEREDA et al., 2002; PERONI, 2003).
A amilose (Figura 4A) é uma molécula essencialmente linear formada por ligações D-
glicose α(1-4), com apenas algumas ramificações, cerca de 2 a 8 pontos por molécula. Seu
peso molecular é de 1x105 a 2x10
6 g.mol⁻¹ e seu comprimento pode variar de 4 a 100
unidades de glicose. Representa em média 15 a 30 % do amido (DOS SANTOS, 2009)
variando de acordo com a fonte botânica, maturidade fisiológica e condições de solo e clima
(CEREDA et al., 2002).
A amilopectina (Figura 4B) é formada por moléculas de D-glicose em ligações
α(1→4), porém, diferentemente da amilose, é bastante ramificada devido a unidades de
glicose em ligações α(1→6). A proporção entre amilose e amilopectina é variável e depende
da origem botânica do amido. É considerada uma das maiores biomoléculas encontradas na
natureza, com peso molecular podendo chegar a mais de 109 Daltons, apresenta em média 70
a 85 % do grânulo (DOS SANTOS, 2009).
8
A
B
Figura 4. A - Estrutura da Amilose; B – Estrutura de Amilopectina.
Fonte: Feniman (2004).
Além da amilose e amilopectina, os grânulos de amido contêm água, fibras, lipídios,
minerais e proteínas (KEARSLEY; DZIEDZIC, 1995), sendo que os lipídios, proteínas, fibras
e minerais estão presentes nos grânulos de amido em pequenas quantidades e geralmente
denominados “constituintes menores” (BULÉON et al., 1998). No processo de extração de
amido, é importante que a matéria-prima apresente teores baixos desses componentes e alto
teor de amido, porque alguns componentes, como fibras, podem interferir no processo de
extração do amido, alterando o rendimento final e contaminando o produto (PERONI, 2003).
As propriedades físico-químicas e funcionais dos amidos nativos das diferentes
espécies vegetais são influenciadas por suas estruturas granular e molecular (WANG;
WHITE, 1994a). As propriedades mais importantes para a utilização do amido, na elaboração
de alimentos e outras aplicações industriais, incluem as físico-químicas (gelatinização e
retrogradação) e as funcionais (solubilidade, inchamento, absorção em água, sinerese e
comportamento reológico de suas pastas e géis moleculares) (WANG; WHITE, 1994b).
Entre essas, o fenômeno da gelatinização e da retrogradação são fundamentais para os
processos na indústria de alimentos e no desenvolvimento de novos produtos.
A gelatinização é denominada o aquecimento de suspensões de amido em excesso de
água (> 60 %) causando uma transição irreversível. Quando as moléculas de água possuem
energia cinética suficiente para superar as ligações de hidrogênio entre as moléculas de
amilose e amilopectina, a hidratação ocorre, o que causa o intumescimento do grânulo. Ao
9
continuar a expansão, o grânulo se rompe, liberando a amilose para a fase aquosa e iniciando
o processo de gelatinização (Figura 5) (ZHOU et al., 2002; GARCIA et al.,1997).
Figura 5. Processo de gelatinização e retrogradação do amido. Fonte: Bornet (1992).
Durante o processo de gelatinização, a ordem molecular dentro dos grânulos do amido
é destruída gradual e irreversivelmente. Por isso, a temperatura de gelatinização é
característica para cada tipo de amido e depende, fundamentalmente, da transição vítrea da
fração amorfa do amido. Alguns fenômenos ocorrem durante o processo: a ordem molecular
e, portanto, a birrefringência, se perde e os grânulos perdem sua cristalinidade, absorvem
grande quantidade de água, provocam o inchamento e tem seu volume aumentado. Algumas
moléculas são solubilizadas, particularmente a amilose, que se difunde no meio aquoso e, com
o aquecimento continuado, é quebrada, observando-se a solubilização parcial
(HERNÁNDEZ-MEDINA et al., 2008). Após a gelatinização, as moléculas de amilose,
devido à sua linearidade, tendem a se orientar paralelamente, aproximando-se o suficiente
para que se formem pontes de hidrogênio entre hidroxilas de polímeros adjacentes, sendo este
fenômeno conhecido como retrogradação (BOBBIO; BOBBIO, 1995).
A pasta de amido obtida depois da gelatinização é pouco estável, já que, durante o
armazenamento, ocorrem transformações estruturais que, em conjunto são consideradas como
parte do processo de retrogradação do amido (HERNÁNDEZ-MEDINA et al., 2008).
Outro atributo importante é transparência ou opacidade de pasta para a aplicação do
amido em alimentos, dependendo do produto (DOS SANTOS, 2009).
10
2.3 FÉCULA DE AÇAFRÃO
Segundo a Resolução CNNPA nº 12, de 1978, amido é um produto amiláceo extraído
das partes aéreas comestíveis dos vegetais (sementes), por exemplo, amido de milho.
Enquanto a designação de fécula se refere a um produto amiláceo extraído das partes
subterrâneas comestíveis dos vegetais (tubérculos, raízes e rizomas), como é o caso da fécula
de cúrcuma ou fécula de mandioca (BRASIL, 1978).
A fécula da cúrcuma vem sendo recentemente investigado e é caracterizado quanto a
sua composição química com baixo teor de proteínas, lipídios e cinzas (menores que 2 %),
teor de umidade de cerca de 10 % e maior porcentagem de amilose (25-48 %) em relação à
amilopectina. Apresenta forma triangular e/ou oval elíptico com tamanho variável entre 10 a
48 µm de eixo maior. Além disso, possui alta tendência a retrogradação/gelificação, alta
estabilidade sob agitação, alta viscosidade de pasta e como característica peculiar a cor
amarelo intensa, devido à presença de curcuminoides (BRAGA et al., 2006; LEONEL;
SARMENTO; CEREDA, 2003; PERONI, 2003). Pelas características apresentadas, os
estudos referem que o amido residual da cúrcuma é viável para aplicação industrial, inclusive
na indústria de alimentos.
A Resolução nº 263 de setembro de 2005 (BRASIL, 2005) regulamenta os produtos de
cereais, amidos, farinhas e farelos e fixa o padrão de umidade para a fécula de mandioca de 18
%. Para uso do amido em geral, como é o caso da aplicação da fécula de açafrão a legislação
estabelece a umidade máxima de 15%.
Outro aspecto importante na aplicação do amido da cúrcuma trata-se do
aproveitamento desse subproduto agroindustrial levando em consideração a preocupação atual
com o meio ambiente, que sugere a viabilização de projetos sustentáveis no sistema de
produção industrial, em especial na indústria de alimentos com alto valor de (re)utilização.
Inúmeros estudos utilizando resíduos industriais do processamento de alimentos têm sido
realizados com objetivo de aproveitamento destes (PELIZER; PONTIERI; MORAES, 2007),
tais como: extrusado com amido de mandioca e pupunha, biscoitos e bolos de arroz com café
extrusados, dentre outros (CARVALHO et al., 2010; SILVA et al., 2009). Contudo, não há
dados sobre a utilização de amido de açafrão em produtos alimentícios. Dessa forma, surge-se
a possibilidade de aplicação de fécula da cúrcuma para indústria de alimentos,
especificadamente na indústria de panificados e, sobretudo pelas características e
11
propriedades apresentados em outros estudos para o amido da cúrcuma (BRAGA et al., 2006;
LEONEL; SARMENTO; CEREDA, 2003).
A B
Figura 6. Estruturas de grânulos de amido de Curcuma Longa L.
Fonte: A – Braga et al. (2006); B – Leonel, Sarmento, Cereda (2003).
2.4 BISCOITO DE FÉCULA DE MANDIOCA
Os biscoitos que fazem uso da fécula de mandioca em seu estado natural ou
fermentado (polvilho azedo) são um típico produto brasileiro, nomeados de “biscoitos de
polvilho”. Tradicionalmente, eram produzidos em padarias e muito procurados pelos
consumidores em todo o território nacional (CEREDA, 1983), mas, atualmente, muitas
pequenas indústrias têm investido nesse produto. Apesar do nome, biscoito de polvilho,
remeter à forma fermentada da fécula de mandioca, são encontradas diversas formulações que
utilizam além de polvilho azedo, polvilho doce, farinha de milho, água, leite, ovos e sal. Estes
biscoitos têm várias denominações regionais, como: bolo de vento, rosca de polvilho, corujão,
biriba, no Brasil, pan de bono e pan de yuca, na Colômbia, e chipa paraguaya, no Paraguai
(APLEVICZ, 2006; APLEVICZ, K. S.; DEMIATE, 2007; MONTENEGRO et al., 2008).
Portanto, o biscoito de polvilho deixou de ser um produto regional e está presente nos mais
diferentes pontos de vendas (lanchonetes, restaurantes, casas de chás, supermercados,
padarias, etc.) e comercializados nas mais variadas formas (GAMEIRO et al., 2003;
RIBEIRO, 2006).
Segundo Aplevicz e Demiate (2007), o biscoito de polvilho pode ser enquadrado em
uma categoria de produtos com baixo valor agregado, em função de suas características de
A B
12
qualidade. É um produto que sua tecnologia de fabricação não segue uma padronização, sendo
necessário o estabelecimento de padrões de qualidade para que a cadeia de produção possa se
desenvolver.
O biscoito de polvilho se caracteriza como um produto muito crocante, leve e
volumoso que apresenta no seu interior uma matriz de amido gelatinizado. A crocância, típica
de produtos que se encontram no estado vítreo, caracterizado por apresentar baixa mobilidade
molecular. Dependendo das condições de armazenamento, ele pode sofrer alteração pela
sorção de umidade e, assim, ocorrer uma maior mobilidade das moléculas, passando do estado
vítreo para o gomoso, fenômeno conhecido como transição vítrea (CAMARGO et al., 1988;
CEREDA et al., 2003; RIBEIRO, 2006).
Em relação ao amido sua principal função em produtos de panificação é absorver água
e, deste modo, estabelecer a estrutura do produto (GHIASI; HOSENEY; VARRIANO-
MARSTON, 1982; HOSENEY; LINEBACK; SEIB, 1983). A água é utilizada para dissolver
os ingredientes solúveis, influenciando no escaldamento do polvilho (PEREIRA et al., 2004).
A quantidade de água é fundamental para o inchamento do grânulo de amido e sua quantidade
depende dos ingredientes da formulação e do processo de panificação utilizados, constituindo
o meio dispersante para os outros ingredientes, além de favorecer o crescimento durante o
forneamento. A adição de quantidades crescentes de água à massa torna-a mais macia e
pegajosa, enquanto que sua escassez torna-a dura e sem aderência (PEREIRA et al., 2004).
Em produtos de panificação, os lipídios contribuem para as propriedades de
mastigação, conferindo-lhes maciez. O aumento do conteúdo desse ingrediente, além do
efeito de amaciador, contribui para as características sensoriais, como sabor, odor, textura,
dando maior brilho e uma melhor aparência e contribui ao valor nutricional, sendo a mais
concentrada fonte de energia presente nos alimentos (PAREYT et al., 2009; PEREIRA et al.,
2004). A qualidade de mastigação e expansão do produto depende do tipo e quantidade de
gordura a ser utilizada. A adição de componentes lipídicos à massa tem efeito de reduzir a
quantidade de água requerida para proporcionar boa consistência e produtos mais macios
(RIBEIRO, 2006).
O ovo tem como propriedades funcionais: coagulação, capacidade espumante,
capacidade emulsificante e contribuição nutricional, servindo como agente corante, sabor e
aroma, originando produtos de panificação com melhor estrutura, textura mais leve e aerada,
maior volume, característica de liga, cor amarela natural, além do fornecimento de proteínas,
vitaminas (A, D e E) e minerais (PEREIRA et al., 2004).
13
O sal contribui, essencialmente, para o sabor. A presença do sal “fortalece” as
proteínas e ajuda no condicionamento da massa, melhorando a misturar e produzindo uma
massa mais estável e dura. Além disso, o sal reduz a velocidade das reações induzidas pelo
calor, como a gelatinização do amido, mantendo o grânulo intacto por um tempo mais longo
durante o forneamento; a coagulação de proteínas e no escaldamento aumentando a
temperatura da mistura (ANGIOLONI; DALLA ROSA, 2007; PEREIRA et al., 2004;
SANTOS, 2006).
Com relação à legislação, a Resolução CNNPA nº 12, de 1978 (BRASIL, 1978)
estabelece biscoito ou bolacha como um o produto obtido pelo amassamento e cozimento
conveniente de massa preparada com farinhas, amidos, féculas fermentadas, ou não, e outras
substâncias alimentícias, sendo designado por "biscoito" ou "bolacha" seguida da substância
que o caracteriza ou por nomes consagrados pelo uso, como por exemplo, "biscoito de
polvilho". Com relação a suas características deve apresentar umidade máxima de 14%,
acidez de 2,0 mL.100 g-1
e resíduo mineral de 3,0 % p/p (deduzido o sal). Além disso, deve
apresentar características organolépticas próprias e com padrões microbiológicos
estabelecidos.
14
3 OBJETIVOS
3.1 OBJETIVO GERAL
Extrair e caracterizar a fécula de açafrão (Curcuma longa L.), utilizando na
formulação de biscoitos com substituição parcial da fécula de mandioca por fécula de açafrão.
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Extrair e caracterizar a fécula de açafrão quanto à composição centesimal
(carboidratos, cinzas, lipídios, proteínas, fibras e umidade), aspectos físicos e
químicos (cor, morfologia dos grânulos de amido, reologia);
Formular biscoitos com substituição de 15, 30 e 50 % (m/m) de fécula de mandioca
por fécula de açafrão;
Caracterizar o biscoito desenvolvido quanto à cor, textura, volume específico,
densidade aparente, diâmetro, espessura;
Avaliar os aspectos sensoriais dos biscoitos elaborados quanto à aparência global,
aroma, sabor, textura.
15
4 MATERIAL E MÉTODOS
4.1 MATÉRIA-PRIMA
Os experimentos foram realizados nos Laboratórios do Setor de Tecnologia de
Alimentos da Escola de Agronomia da Universidade Federal de Goiás. A matéria-prima
utilizada no desenvolvimento deste trabalho foi rizomas de açafrão (Curcuma longa L.),
doado pela Cooperativa de Produtores de Açafrão de Mara Rosa-GO (Cooperaçafrão),
proveniente de plantações existentes no município de Mara Rosa (Latitude: 14° 1' 3'' Sul
Longitude: 49° 10' 30'' Oeste), Estado de Goiás, Brasil. Os ingredientes e a fécula de
mandioca utilizados na formulação do biscoito foram adquiridos no mercado local de Goiânia,
Goiás.
Figura 7. A - Rizoma de açafrão, B – Açafrão triturado.
Fonte: A-Wynn; Fougère, 2007; B- Arquivo pessoal.
4.2 EXTRAÇÃO DA FÉCULA DE AÇAFRÃO
A fécula de açafrão foi extraída segundo Sarcamento (1999) conforme o fluxograma
ilustrado na Figura 8, no laboratório do Setor de Tecnologia de Alimentos após testes
preliminares.
Os rizomas de açafrão foram lavados, despolpados, filtrados e decantados por 4 horas
a 25 ºC, sendo que o sobrenadante foi descartado e a fécula decantada foi seca em estufa a 40
ºC por 48 horas. Posteriormente a fécula seca foi triturada e armazenada em sacos plásticos
protegidos da luz até proceder a caracterização física e química.
A B
16
Fécula em pó
Sobrenadante Decantado
Descarte Secagem
Moagem
Rizomas
Despolpagem
Filtragem
Lavagem
Decantação
Caracterização
Figura 8. Fluxograma do processo de extração da fécula de açafrão.
Fonte: SARCAMENTO (1999).
4.3 COMPOSIÇÃO CENTESIMAL DA FÉCULA DE AÇAFRÃO
As amostras de amido foram avaliadas quanto aos teores de: umidade, cinzas, lipídios,
fibras e proteínas brutas (AOAC, 2006). Os carboidratos foram considerados por diferença.
As análises foram realizadas em triplicada.
4.4 MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE VARREDURA
As amostras de fécula de açafrão foram diluídas em álcool etílico (1/100) e colocou-se
2 gotas em suportes de alumínio ou “stubs”. Após este procedimento as amostras foram
recobertas com uma fina camada de ouro em câmara metalizadora (Balzers, modelo SCO –
040). A microscopia dos grânulos do amido foi realizada em microscópio eletrônico de
varredura (JEOL – JSM 6610, Japão), utilizando-se um acelerador de voltagem de 2,5 kV. O
17
tamanho dos grânulos foi determinado pela escala de medida da micrografia (LEONEL;
SARMENTO; CEREDA, 2003).
A análise foi realizada no Laboratório Multiusuário de Microscopia de Alta Resolução
(LabMic) do Instituto de Física da Universidade Federal de Goiás (Goiânia/GO).
4.5 ANÁLISES REOLÓGICAS
4.5.1 Propriedades térmicas e reológicas de géis de fécula de açafrão
As medidas reológicas foram realizadas em reômetro (Anton Paar, Physica MCR 101,
Bélgica) acoplado a um banho termo-estabilizado por sistema Peltier com termo-circulador de
água, utilizando um sensor cone-placa, que consiste em uma placa plana inferior estacionária
e um cone rotatório superior com diâmetro de 60 mm e ângulo de 2º de inclinação. O fluido
permaneceu entre a placa e o cone sem derramar devido à sua tensão superficial, e preencheu
inteiramente o espaço entre eles, de modo que as medidas não foram alteradas
(aproximadamente 2,5 mL). O cone atuou em velocidades de cisalhamento controladas e o
arraste viscoso sob o cone rotativo exercendo uma força de rotação proporcional à tensão de
cisalhamento. Antecedendo as análises reológicas, determinou-se a inércia do aparelho com o
sensor cone e placa em posição, sendo que foram descontados os valores das forças centrífuga
e centrípeta geradas durante os experimentos. Durante as análises, a temperatura ambiente foi
mantida entre 25-27 ºC. Foram usadas suspensões de 50 g.L-1
de amido em água, a análise da
gelatinização do amido foi realizada na faixa de temperatura de 30 a 90 ºC, em uma taxa de
aquecimento de 4 ºC.min⁻¹ com uma frequência de 1 Hz. As análises foram feitas em
triplicada da amostra, baseado em Izidoro (2011) com adaptações para a temperatura de
aquecimento do amido e uso do banho termo estabilizado.
O módulo complexo (G*) foi calculado a partir dos valores de G’ e G” obtidos nas
varreduras de tempo e temperatura pela Equação 2:
(1)
Onde: G’ é o módulo de armazenamento ou elástico e G” é o módulo de dissipação ou
viscoso, ambos com unidades em Pa.
18
4.5.2 Propriedades mecânicas de géis de amido
A textura do gel de amido foi analisada pelo equipamento texturômetro (Stable
MicroSystems, TA-XT Plus, Surrey, Inglaterra), com as seguintes especificações: compressão
de força normal, deformação (% de deformação em relação a altura inicial) de 80 %,
velocidade de pré-teste 2 mm. s⁻¹, teste 1 mm.s⁻¹ e pós-teste 10 mm.s⁻¹, altura média das
amostras de 80 mm, geometria P50 (cilindro de 50 mm de diâmetro), lubrificação com
vaselina e temperatura de 10 ºC.
A concentração de amido na formulação adequada para a formação do gel auto-
sustentável foi de 10 g de amido em 70 g de água (12,5 % m/m). Além disso, o procedimento
de gelatinização do amido foi realizado em banho-maria por aproximadamente 15 minutos de
cozimento. A formulações realizadas foram em tempo 0 (sem armazenamento) e após 5 dias
de armazenamento a 4 ºC:
Padrão (T1 = 10 g de amido e 70 g de água) tempo=0; tratamento 5 (mesma
formulação após 5 dias);
Tratamento 2 (T2 = 10 g de amido, 70 g de água e 5 g de sacarose); tratamento 6
(mesma formulação após 5 dias);
Tratamento 3 (T3 = 10 g de amido, 70 g de água e 15 g de sacarose); tratamento 7
(mesma formulação após 5 dias);
Tratamento 4 (T4 = 10 g de amido, 70 água e 25 de sacarose); tratamento 8 (mesma
formulação após 5 dias);
Posteriormente os géis foram colocados em recipientes (diâmetro 1 cm e altura 3 cm),
em que se padronizou em 2 cm de altura do gel para todas as amostras.
Os parâmetros de textura foram registrados e o conceito de dureza foi definido de
acordo com Bourne (1978). As análises foram feitas com cinco repetições de cada amostra
(n=5).
19
Figura 9. Análise de textura dos géis de fécula de açafrão (12,5 % m/m)
4.5.3 Cor da fécula
As análises de cor foram conduzidas utilizando-se colorímetro (Hunterlab Colorquest
II, Reston) e expressas as medidas em L* (luminosidade), a*, e b*. As análises foram feitas
em triplicada da amostra obtida.
Segundo o manual do colorímetro, os parâmetros a* são indicativos de verde (-) ao
vermelho (+), b* azul (-) ao amarelo (+) e L* na escala de 0 a 100 de luminosidade (preto ao
branco) (HUNTERLAB, 1998).
Os valores de a* e b* foram utilizados para cálculo do C (Croma) e Hº (Ângulo Hue),
conforme o manual do equipamento (HUNTERLAB, 1998). Os valores de Hº (hue) que
definem a família de tons, ou seja, tonalidade das cores cromáticas e Croma é a intensidade ou
saturação de um tom distinto (ATZIGEN; PINTO, 2005). Através das seguintes Equações 3 e
4:
(2)
(3)
20
4.6 FORMULAÇÃO DO BISCOITO
Para as formulações de biscoito de fécula de mandioca com substituição parcial por
fécula de açafrão foram avaliadas as proporções de substituição de 0, 15, 30 e 50 % (m/m), a
partir da adequação da formulação quanto ao aspecto geral do biscoito obtido. Posteriormente,
os biscoitos foram submetidos à avaliação sensorial. O procedimento da formulação está
ilustrado na Figura 9.
Primeiramente, os ingredientes foram pesados, logo procedeu-se o escaldamento da
massa com óleo de soja previamente aquecido, seguido da adição de água fervente e ovos e
posteriormente a mistura dos ingredientes, moldagem e forneamento. O procedimento foi
baseado na formulação de Aplevicz e Demiate (2007), com adaptações das quantidades de
ingredientes.
Pesagem
Escaldamento
(água, ovos e óleo)
Mistura
Moldagem
Forneamento
Figura 10. Fluxograma do processamento dos biscoitos de fécula de mandioca ou mistura com fécula de
açafrão.
Fonte: APLEVICZ; DEMIATE (2007).
A quantidade utilizada de cada ingrediente está apresentada na Tabela 1. Todas as
quantidades de ingredientes foram mantidas, adaptando-se as porcentagens de fécula de
mandioca com a substituição de 0, 15, 30 e 50 % (m/m) por fécula de açafrão.
21
Tabela 1. Quantidade dos ingredientes utilizados na formulação de biscoitos.
Ingredientes
Quantidade
Controle
(0%)*
Formulação 1
(15 %)*
Formulação 2
(30 %)*
Formulação 3
(50%)*
Água (g) 200 200 200 200
Fécula de açafrão (g) 0 65,25 130,50 217,50
Fécula de mandioca (g) 435 369,75 304,50 217,50
Óleo de soja (g) 180 180 180 180
Ovos (g) 159 159 159 159
Sal (g) 18 18 18 18
* indica a porcentagem de substituição de fécula de açafrão por fécula de mandioca.
4.7 ANÁLISES DOS BISCOITOS DE POLVILHO
4.7.1 Cor dos biscoitos
A metodologia utilizada foi a mesma para a avaliação da cor da fécula de açafrão
(item 4.6.4).
4.7.2 Textura dos biscoitos
A dureza e a fraturabilidade dos biscoitos foram avaliadas em texturômetro TA-XT
Plus, utilizando-se o software Exponent Lite (Stable Micro Systems).
Os biscoitos foram selecionados de forma aleatória e colocados horizontalmente na
plataforma HDP/SMS, utilizando-se lâmina de aço retangular de ponta arredondada
(Upperblade) com dimensões de 9 cm de largura e 3 mm de espessura para corte transversal
do biscoito. As condições do teste foram: velocidade de pré-teste 2 mm.s-1
, pós-teste 10 mm.s-
1, de teste 3 mm.s
-1 e força de contato de 5 g.
As avaliações foram feitas após 24 horas do forneamento e os resultados
representaram a média aritmética de 6 determinações. A fraturabilidade corresponde à altura
do primeiro pico significativo, no ciclo de compressão e a dureza ao pico máximo no primeiro
ciclo de compressão (BOURNE, 1978). As análises foram feitas com cerca de vinte repetições
para cada amostra obtida.
22
4.7.3 Volume específico dos biscoitos
O volume específico foi determinado pelo método de deslocamento de sementes de
painço. A amostra foi colocada no centro de um recipiente de alumínio e abaixo de um funil
de vidro apoiado em tripé. As sementes foram despejadas através do funil e recolhidas até
transbordamento no recipiente de alumínio, previamente tarada com semente de painço. Em
seguida, o recipiente de alumínio foi nivelado com o auxílio de uma régua e o volume das
sementes foi medido com proveta, sem a presença do biscoito.
O volume específico foi calculado de acordo com Mauro; Silva; Freitas (2010),
conforme a equação 5:
(4)
4.7.4 Densidade Aparente do biscoito
A densidade aparente foi calculada pela razão da massa (g) pelo volume dos biscoitos
(cm3).
(5)
Onde:
massa= massa ou peso inicial da amostra (g)
volume = volume aparente após assentamento da amostra (cm3)
As análises foram conduzidas com 10 biscoitos provenientes de uma mesma fornada
amostrados de forma aleatória assim que foram resfriados em temperatura ambiente, de
acordo com a metodologia proposta por Mauro; Silva; Freitas (2010).
23
4.7.5 Diâmetro e comprimento do biscoito
O tamanho do diâmetro e o comprimento dos biscoitos (cm) foram determinados com
auxílio de um paquímetro e expressos em milímetros (VITTI, 1992). As análises foram feitas
em triplicada.
4.7.6 Análise sensorial
A análise sensorial dos produtos foi realizada por meio do teste de aceitação das
amostras obtidas.
Cada amostra foi submetida a um grupo de cem (n > 50) provadores não treinados, os
quais marcaram em uma ficha a impressão geral do produto. Para este teste foi utilizado uma
escala hedônica de 9 pontos (9 = gostei muitíssimo, 5 = indiferente, 1 = desgostei
muitíssimo). As expressões foram convertidas a valores numéricos e analisadas, de acordo
com o anexo A.
O experimento foi analisado seguindo o protocolo do comitê de Ética Pesquisa da
Universidade Federal de Goiás (número CAAE 25463113000005083) conforme documentos
em anexo B.
4.8 ANÁLISE ESTATÍSTICA
A partir das análises experimentais realizadas foram obtidos os resultados submetidos
à análise de variância (ANOVA) e as médias comparadas pelo teste de Tukey HSD ao nível
de 5 % de significância pelo software SPSS Statistics 17.0.
24
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1 COMPOSIÇÃO CENTESIMAL
Os resultados obtidos para composição centesimal da fécula de açafrão são
apresentados na Tabela 2.
Tabela 2. Composição centesimal do amido do açafrão (% base seca) (média ± DP).
Composição Centesimal (%)
Carboidratos 79,41 ± 0,44
Umidade 15,43 ± 0,47
Cinzas 1,98 ± 0,02
Proteínas 1,88 ± 0,03
Lipídios
Fibras brutas
1,30 ± 0,07
1,85±0,83
De acordo com a composição centesimal obtida, pode-se verificar a predominância de
carboidratos na fécula de açafrão, obtida por diferença entre a composição total. O valor
médio de carboidratos (cerca de 79 %) foi similar ao relatado em outros trabalhos para
amostras de amido de açafrão (Curcuma longa L.), 76 % e 86,62 %; respectivamente por
Braga et al. (2006) e Leonel; Sarmento; Cereda (2003). No entanto, a umidade obtida foi
similar ao relatado na literatura, 11,8 % (BRAGA et al., 2006) e 9,65 % (LEONEL;
SARMENTO; CEREDA, 2003). Esse fato pode-se estar relacionado ao procedimento de
secagem que foi insuficiente para retirar água e/ou absorção de água durante o
armazenamento da amostra a temperatura ambiente ou pode relacionar-se a granulometria
obtida não ser ideal. Na fécula de mandioca o valor de umidade estabelecido é 18 % (g.100
g⁻¹) (BRASIL, 2005).
Observa-se um teor de cinzas (1,98 %), similar ao obtido por Braga et al. (2006), de
1,5 % e superior ao teor obtido por Leonel; Sarmento; Cereda (2003) de 0,32 %. Na literatura,
não há dados específicos da composição de minerais da fécula de açafrão, contudo nos
rizomas relata-se rico em fósforo, potássio e ferro (RAVINDRAN, BABU, SIVARAMAN,
2007). Cecílio Filho (2000) relatou para os rizomas a predominância de magnésio e zinco
(CECILIO FILHO, 2000).
25
Quanto ao teor de proteínas (1,88 %), observa-se valor superior ao encontrado por
Leonel; Sarmento; Cereda (2003) (0,46 %) e Braga et al, (2006) (0,6 %). Em comparação a
outras fontes amiláceas, tais como batata-doce, mandioca, mandioquinha-salsa, inhame e
gengibre, o valor encontrado no presente estudo é superior a todas as bases citadas (PERONI,
2003).
O teor de lipídios obtido no presente estudo (1,3 %) foi maior que o descrito por
Leonel; Sarmento; Cereda (2003) de 0,04 %. Pode-se relacionar a diferença do teor de lipídios
em diferentes estudos devido ao processo de extração de amido.
Em relação ao teor em fibras, o resultado obtido foi similar a Leonel; Sarmento;
Cereda (2003) de 1,78 % e Braga et al. (2003, ambos referidos em base seca.
Por outro lado, comparando a composição centesimal da fécula de açafrão ao de
mandioca referenciado na literatura (PERONI, 2003; COUTINHO, 2007) observa-se que a
fécula de mandioca, possui maior teor de carboidratos (99 %) que o amido de açafrão (79,41
%), menor teor de lipídios (0,15 %), proteínas (em média 0,18 %) e cinzas (em média 0,15
%).
Segundo Peroni (2003), a pureza dos amidos está relacionada com sua composição
química, sendo que baixos teores de lipídios e cinzas; e ausência de proteínas aderidas aos
grânulos do amido são desejados para um amido puro. Contudo, os resultados de composição
centesimal, principalmente pelo alto teor de lipídios demonstrou que o processo de extração
foi pouco efetivo para obtenção de amido puro.
5.2 COR DA FÉCULA DE AÇAFRÃO
A cor é um dos atributos mais importantes na qualidade do produto final e
frequentemente avaliada para amidos, já que podem influenciar diretamente a aceitabilidade
do consumidor.
Na Tabela 3 apresenta-se os parâmetros de cor pelo colorímetro (Hunterlab
Colorquest, Reston) expresso nos parâmetros L* (luminosidade), a* e b* e os valores
calculados de croma e Hº.
26
Tabela 3. Parâmetros de cor da fécula de açafrão (n=3, média ± DP).
Parâmetros de cor
a* b* L* Croma H°
1 CC* 9,88±0,25 a 28,62±0,30 a 58,89±0,19 a 458,30±8,76 a 1,24±0,00 b
2 CC* 12,65±0,21 b 31,29±0,48 b 60,48±0,43 b 569,70±17,40 b 1,19±0,00 a
Na mesma coluna, valores com diferentes letras indicam diferenças com significado estatístico por ANOVA
(Tukey) (p < 0,05).
Pelos valores obtidos, observa-se que todas as amostras tendem ao espectro do
amarelo (b* > 0) e vermelho (a* > 0). Além de possuir tendência a maior luminosidade
devido a menor teor de curcumina (Figura 11).
Pode-se observar uma maior intensidade de croma no teor de curcuma parcial e pelos
valores de Hº a família de cores tendem aos espectros de vermelho e amarelo, como relatado
acima. Segundo Atzigen; Pinto (2005), os valores de amido de milho apresentam maior
intensidade, como foi observado de forma análoga para a fécula de açafrão.
Figura 11. Amostras obtidas de amido de açafrão 1CC*, 2CC*, respectivamente.
5.3 ANÁLISES REOLÓGICAS
Na figura 12, são mostradas as curvas isotérmicas que indicam o efeito do tempo de
cisalhamento nos géis de amido de açafrão e mandioca nas temperaturas de 30 e 90 ºC. Foi
realizada uma varredura de tempo isotérmica, onde a frequência e a amplitude foram
constantes em relação ao tempo. Essas curvas indicam mudanças estruturais tempo-
dependente, tais como firmeza de coalhos para queijos, iogurtes ou amido. Uma varredura de
tempo pode ser conduzida em associação com uma mudança controlada na temperatura. Este
tipo de teste é muito útil em estudo de problemas que envolvem temperatura induzida na
mudança do comportamento reológico (STEFFE, 1996). Além disso, essa varredura é ideal
para géis de amido, uma vez que nesse sistema os módulos G’ (de armazenamento ou
27
elástico) e G” (de dissipação ou viscoso) são praticamente independentes da frequência,
caracterizando a região viscoelástica, onde a estrutura de gel é preservada.
1.00
10.00
5,500 6,000 6,500 7,000 7,500
Mó
du
lo
Tempo (s)
T= 30ºC
Mandioca -
G'
Açafrão - G'
Mandioca -
G''
Açafrão - G''
1.00
10.00
5,500 6,000 6,500 7,000 7,500
Mó
du
lo
Tempo (s)
T=90ºC
Mandioca - G'
Açafrão - G'
Mandioca - G''
Açafrão - G''
Figura 12. Curvas isotérmicas – efeito do tempo de cisalhamento nos géis de amido de açafrão e mandioca. G’
Módulo de cisalhamento de armazenamento ou elástico (Pa) e G’’ Módulo de cisalhamento de perda ou viscoso
(Pa).
Pode-se observar que os amidos estudados formaram géis fortes, uma vez que G’
(módulo de armazenamento) foi maior que G’’ (módulo de perda). Além disso, com o
B
A
28
aumento da temperatura não foi observado “fenômeno de crossover”, ou seja, a interseção
entre os dois módulos (G’ = G”).
Na Figura 12A, verifica-se que o tempo teve pouca influência no comportamento
reológico dos géis de amido a 30 ºC, já que o módulo de armazenamento (G’) apresentou um
distanciamento praticamente constante em relação ao módulo de perda (G’’) no tempo de
cisalhamento avaliado.
Na Figura 12B, a 90 ºC foi observado um comportamento distinto entre os amidos
estudados, a fécula de açafrão apresentou tendência de aumento de G’ e G”, enquanto, para o
amido de mandioca, houve tendência de diminuição dos módulos em relação ao tempo de
cisalhamento.
Deve-se considerar que o amido de mandioca comercial possui temperatura de pasta
ou de gelatinização menor que a temperatura observada em estudos prévios para formação de
gel no amido de açafrão, enquanto o primeiro forma-se entre 68 a 73 ºC, a temperatura de
gelatinização da fécula de açafrão está compreendida entre 83 a 85 ºC (DAIUTO; CEREDA,
2005; PERONI, 2003). Os dados comprovam o comportamento obtido no presente estudo
uma vez que o amido de mandioca em alta temperatura e sob aumento da taxa de
cisalhamento apresenta-se mais fraco e com leve ruptura da estrutura. Esse comportamento é
muito comum em géis, em que geralmente uma diminuição da tensão inicial ocorre com o
aumento da temperatura, este comportamento pode ser observado durante o processamento de
alimentos em altas temperaturas quando a estrutura do alimento torna-se fraca (IZIDORO,
2009). Por outro lado, a fécula de açafrão, apresenta alta temperatura de pasta, sendo que nas
condições avaliadas mostra-se um gel mais estável a alta temperatura. Esse comportamento
foi relatado previamente por Peroni (2003), que verificou que após atingir a temperatura de
pasta, o amido de açafrão mantém e aumenta a viscosidade durante um período, inclusive no
período de resfriamento, não havendo quebra de estrutura. Esse comportamento pode ser
visualizado pela Figura 13, do módulo complexo (G*) nas temperaturas medidas.
29
0
4
8
5,000 5,500 6,000 6,500 7,000 7,500 8,000
Mó
du
lo (G
*)
Tempo (s)
T=30 C
Açafrão
Mandioca
0
10
20
5,000 5,500 6,000 6,500 7,000 7,500 8,000
Mód
ulo
(G
*)
Tempo (s)
T=90 C
Mandioca
Açafrão
Figura 13. Módulo G* (Pa) nos géis de amido de açafrão e mandioca a 30 °C e 90°C.
Dessa forma, os resultados obtidos no presente estudo mostram que o amido de
açafrão apresenta alta estabilidade ao atrito mecânico, sendo inclusive maior que a verificada
pelo amido de mandioca, além de ser estável em altas temperaturas. As características
reológicas verificadas para o amido de açafrão gelatinizado reforçam seu potencial para uso
na indústria alimentícia, especificamente em processos com alta temperatura e que envolvam
atrito mecânico, como é o caso dos biscoitos de polvilho.
A
B
30
5.4.TEXTURA DOS GÉIS DE AMIDO
Para análise da textura dos géis de amido foram realizados quatro tipos de géis: amido
padrão sem sacarose (0 g de sacarose) com t = 0 dias e t = 5 dias, amido com 5 gramas de
sacarose, t = 0 dias e t = 5 dias, amido com 15 g de sacarose, t = 0 dias e t = 5 dias); amido
com 25 g de sacarose, t = 0 dias e t = 5 dias. As formulações armazenadas 5 dias foram
mantidas durante esse período a 4º C: e novamente analisados para determinar a deformação
dos géis de amido que foram gelatinizados previamente pela força (N) aplicada pelo tempo.
A força do gel está correlacionada com o fenômeno de retrogradação, isto é, quanto
maior a força, maior a retrogradação (WEBER; COLLARES QUEIROZ; CHANG, 2009).
Considerando que a dureza (N) é a força máxima do primeiro ciclo de compressão das
amostras (GASCA-MANCERA; CASAS-ALENCÁSTER, 2007).
No caso, o gel da fécula de açafrão com 5 g de sacarose em t=0 dias apresentou maior
dureza (3,65 ± 0,4 N) em relação às demais amostras no mesmo tempo de análise (p < 0,05)
(Figura 14). Após 5 dias de armazenamento dos géis, as amostras com 0 g (sem sacarose) e
com 5 g de sacarose apresentaram maior dureza (2,06 ± 0,1 N; 1,86 ± 0,1 N) com diferenças
estatísticas (p < 0,05) em relação às amostras contendo 15 e 25 g de sacarose.
No presente trabalho, considera-se que a força de ruptura com adição de 5 g de
sacarose se obtém um gel mais estável e a concentração de sacarose influencia a força do gel
de amido de açafrão, provavelmente pela interação e competição pela água presente no
sistema. O enfraquecimento da rede do gel com o aumento da adição de sacarose, deve-se a
alta sinerese e ruptura da estrutura da amilose que consequentemente torna o gel mais fraco.
Assim, pode-se relacionar que a força máxima avaliada é dependente da formulação de
amido, quantidade de açúcares e tempo de conservação.
31
0
2
4
0 5 15 25
Fo
rça
de
rup
tura
(N
)
Quantidade de sacarose (g)
Tempo=5 dias Tempo= 0 dias
cc b
a
b cb
a
Figura 14. Força de ruptura média (N) de géis de amido (10 g de amido em 70 g de água) puro ou com adição de
sacarose (5, 15 e 25 g), analisados no tempo 0 (mesmo dia de preparo) e com 5 dias de armazenamento em
temperatura de 4 ºC.
*Letras minúsculas diferentes indicam diferenças com significado estatístico por ANOVA (Tukey) (p < 0,05)
para diferentes adições de sacarose para um mesmo tempo de análise.
A Figura 15, mostra a tensão de ruptura (Pa) para as diferentes concentrações de
sacarose e tempo de análise, observa-se que a tensão máxima de ruptura ocorre
principalmente nos géis contendo 0 g e 5g de sacarose em t = 0 dias e 0 g e 5 g de sacarose
em t = 5 dias com diferenças estatísticas em relação aos demais tratamentos (p <0,05). Além
disso, observa-se que o gel com maior adição de sacarose suportou uma menor tensão máxima
da ruptura.
Sacarose (g)
32
0
20
40
60
80
100
0 5 15 25
Ten
são
de
rup
tura
(P
a)
Quantidade de sacarose (g)
Tempo=5 dias Tempo= 0 dias
b
c
acc b
a
b
Figura 15. Tensão média (Pa) de géis de amido (10 g de amido em 70 g de água) puro ou com adição de
sacarose (5, 15 e 25 g), analisados no tempo 0 (mesmo dia de preparo) e com 5 dias de armazenamento em
temperatura de 4 ºC.
*Letras minúsculas diferentes indicam diferenças com significado estatístico por ANOVA (Tukey) (p < 0,05)
para diferentes adições de sacarose para um mesmo tempo de análise.
A energia de ruptura (N.m) (Figura 16), mostrou-se similar ao obtido nas análises
anteriores, já que a amostra com 0 g e 5 g em t = 0 dias e em t = 5 dias apresentaram-se maior
energia de ruptura com diferenças significativas, ou seja, é necessário uma maior energia para
promover a ruptura de um gel que apresenta uma maior dureza.
Sacarose (g)
33
0
0,003
0,006
0,009
0 5 15 25
En
erg
ia d
e ru
ptu
ra (N
.m)
Quantidade de sacarose (g)
Tempo=5 dias Tempo= 0 dias
b
d
a
c
bb
a
c
Figura 16. Energia média (N.m) de géis de amido (10 g de amido em 70 g de água) puro ou com adição de
sacarose (5, 15 e 25 g), analisados no tempo 0 (mesmo dia de preparo) e com 5 dias de armazenamento em
temperatura de 4 ºC.
*Letras minúsculas diferentes indicam diferenças com significado estatístico por ANOVA (Tukey) (p < 0,05)
para diferentes adições de sacarose para um mesmo tempo de análise.
A Figura 17, refere-se a deformação de Hencky na ruptura, ou seja, a capacidade de
um material variar a altura sem ser rompido. Esse parâmetro estabelece que quanto maior a
deformação na ruptura, mais elástico, portanto, menos quebradiço é o material (TAKEUCHI
et al., 2005). Nesse caso, no t = 0 dias, não houve alteração significativa para as amostras
analisadas, contudo em t = 5 dias, o amido com 5 g de sacarose, mostrou-se com maior
deformação com diferenças estatísticas com as demais amostras, evidenciando que esse gel
mostra-se menos quebradiço. Portanto, pode-se considerar o gel de amido com 5 g de
sacarose mais estável em relação às demais amostras em relação à deformação, mesmo após o
armazenamento e que a adição de sacarose em excesso relaciona-se negativamente com as
propriedades reológicas avaliadas.
Sacarose (g)
34
0
0,5
1
1,5
2
0 5 15 25
Def
orm
açã
o d
e H
enck
y (
-)
Quantidade de sacarose (g)
Tempo=5 dias Tempo= 0 dias
aaa
a,b c a,ba
a
Figura 17. Deformação de Hencky (-) de géis de amido (10 g de amido em 70 g de água) puro ou com adição de
sacarose (5, 15 e 25 g), analisados no tempo 0 (mesmo dia de preparo) e com 5 dias de armazenamento em
temperatura de 4 ºC.
*Letras minúsculas diferentes indicam diferenças com significado estatístico por ANOVA (Tukey) (p < 0,05)
para diferentes adições de sacarose para um mesmo tempo de análise.
5.5. MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE VARREDURA (MEV)
As figuras 18 – A e B apresentam as micrografias da fécula de açafrão considerando
diferentes magnitudes de visualização, respectivamente, x 3.700 e x 1.000.
As imagens mostram grânulos de amido de açafrão com duas estruturas: triangulares e
oval elipsoide, contudo predominantemente caracteriza-se como oval elipsoide, tal como já
mostrado por (BRAGA et al., 2006; LEONEL; SARMENTO; CEREDA, 2003, LEONEL,
2007), variando ainda o tamanho dos grânulos de amido.
Sacarose (g)
35
A
B
C
B
Figura 18. Fotomicrogramas dos grânulos de amido de açafrão - A, B.
Na Figura 18A, pode-se observar aglomerados na superfície de grânulo, aspecto não
visualizado nos estudos anteriores, esse fator pode ser atribuído ao processo de extração e/ou
trituração que pode haver danificado alguns grânulos, posteriormente agruparam-se nas
estruturas íntegras. Podendo ainda ser justificado pelo baixo teor de pureza dos amidos
extraídos, como mencionado anteriormente. Por outro lado, Jyothi et al. (2003), relacionam
esse comportamento a interação entre amido e a matriz de proteínas que pode ser uma
possível justificativa para o obtenção do aspecto visualizado, já que a Tabela 1, mostra um
alto teor de proteínas no amido de açafrão.
Em relação às dimensões de diâmetro maior variam entre 14 µm - 32 µm. Outros
estudos anteriores mostraram o amido da C. Longa L. possui dimensões entre 10 - 33 µm
(BRAGA et al., 2006; LEONEL; SARMENTO; CEREDA, 2003, LEONEL, 2007). Outras
espécies de cúrcuma (C. zedoria e C. malabarica) apresentaram grânulos de
aproximadamente 33 µm (JYOTHI et al., 2003). No entanto, outros autores relataram C.
zedoria com média entre 20 - 30 µm (LEONEL et al., 2003; LEONEL; 2007). Dessa forma,
considera-se que os grânulos de amido apresentam dimensões muito variáveis, dependendo do
36
método de extração do amido, do grau de pureza do amido obtido e dos demais compostos
minoritários.
Outras fontes amiláceas como biri, batata araruta apresentaram dimensões dos
grânulos maiores que o açafrão entre 30 - 60 µm, enquanto outros amidos apresentam-se
menores tais como gengibre, mandioquinha salsa, batata-doce e mandioca, entre 10 - 20 µm
(LEONEL, 2007).
Peroni (2006) relaciona que do ponto de vista tecnológico, a amilose faz com que o
amido seja mais fortemente ligado restringindo seu inchamento em função de suas moléculas
lineares fortemente ligadas. Além disso, as cadeias ramificadas muito longas como
apresentadas pelo amido de açafrão teriam a contribuir para aumento do inchamento, uma vez
que essas cadeias apresentam pontos para as ligações de hidrogênio com a água mais
numerosos (PERONI, 2006). Além disso, após gelatinização esse tipo de amido apresenta
menor solubilidade, essa propriedade faz com o amido de açafrão seja menos indicado para
alimentos pré-preparados que devem ter alta solubilidade. Dessa forma, é necessário
temperatura mais elevada para solubilizar e promover o fenômeno de gelatinização do amido.
5.6 CARACTERIZAÇÃO DOS BISCOITOS
5.6.1 Propriedades físicas dos biscoitos
Os biscoitos padrão (fécula de açafrão - 0 %) e os produzidos com substituição da
fécula de mandioca por fécula de açafrão em proporções de 15, 30 e 50 % (m/m) foram
caracterizados em relação aos aspectos físicos pelas determinações de densidade aparente,
diâmetro, espessura e volume específico (Tabela 4).
Tabela 4. Propriedades físicas dos biscoitos de fécula de mandioca (padrão) e com substituição de mandioca por
fécula de açafrão (15 a 50 %).
Substituição
(%)
Volume específico
(cm³/g)
Densidade
aparente (g/ cm³)
Diâmetro
(cm)
Comprimento
(cm)
0 % 3,41±0,24 c 1,81±0,13 a 11,33±0,58 b 8,67±2,08 a
15 % 2,62±0,06 b 2,56±0,17 b 10,33±0,58 a,b 8,33±1,15 a
30% 2,40±0,17 a,b 2,25±0,33 a,b 9,00±1,00 a 7,67±1,53 a
50 % 2,15±0,12 a 2,52±0,31 b 8,67±0,58 a 6,67±0,58 a
Na mesma coluna, valores com diferentes letras indicam diferenças com significado estatístico por ANOVA
(Tukey) (p < 0,05).
37
Quanto ao volume específico pode-se observar que há uma diminuição significativa (p
< 0,05) com o aumento da substituição da fécula de mandioca por açafrão comparado as
amostras entre si e ao padrão. Em relação ao diâmetro dos biscoitos, a substituição de 15 % de
fécula de mandioca por fécula de açafrão não apresentou diferença em relação ao biscoito
produzido apenas com fécula de mandioca. Com substituição de 30 e 50 %, os biscoitos
apresentaram diferença (p < 0,05) em relação ao padrão. Enquanto, para a densidade aparente
pode-se observar um aumento da mesma com a substituição de maneira significativa (p <
0,05). No entanto, o comprimento parece não ser afetado de maneira significativa pela
substituição.
No geral, pode-se observar que a substituição do amido de mandioca por açafrão
provocou a alteração dos parâmetros físicos caracterizados na Tabela 4, devido a todas as
propriedades reológicas da fécula de açafrão discutidas anteriormente.
5.6.2 Cor dos biscoitos
A cor dos biscoitos elaborados com as féculas de mandioca e acafrão foi determinada
pelo colorímetro (Hunterlab Colorquest, Reston) expresso nos parâmetros L* (luminosidade),
a*, e b* que podem ser observados na Tabela 5 e nos parâmetros Croma e Hº, calculados a
partir de a* e b*.
A cor é uma qualidade visual importante dos produtos alimentícios, no caso a
substituição da fécula de mandioca pela fécula de açafrão pode inclusive atrair mais os
consumidores alvo pela melhoria da cor amarelada e pelas alegações de benefícios à sáude.
De modo geral, pode-se verificar que com aumento da porcentagem de substituição de
fécula de mandioca por fécula de açafrão há redução da luminosidade pelos parâmetros de L*
com diferença estatística (p < 0,05). Além disso, tendência ao suave vermelho (a*) e uma
significativa (p < 0,05) tendência ao amarelo (b*).
De maneira geral, os valores de Croma e Hº (Tabela 5) mostram a mesma tendência,
que aumenta a intensidade de cor com a maior substituição da fécula de açafrão de forma
significativa (p < 0,05). No entanto, os valores de Hº tendem ao mesmo espectro de cores
entre vermelho e amarelo.
38
Tabela 5. Parâmetros de cor para biscoitos padrão (sem adição de fécula de açafrão) e de biscoitos com
substituição de fécula de mandioca por açafrão (15, 30 e 50 % (m/m)).
Substituição (%) Parâmetros de cor
a* b* L* Croma H°
0% 3,80±1,45 a 13,2±0,8 a 66,7±11,7 b 95±15 a 1,35±0,03 a
15 % 4,90±0,95 a 21,8±1,6 b 56,0±4,5 a,b 250±39 b 1,35±0,01 a
30 % 5,53±0,58 a 24,9±2,0 b,c 48,837,2 a,b 328±51 c,d 1,38±0,02 a
50 % 5,76±1,16 a 29,0±2,3 c 43,9±3,4 a 440±75 d 1,29±0,09 a
Na mesma coluna, valores com diferentes letras indicam diferenças com significado estatístico por ANOVA
(Tukey) (p < 0,05).
5.6.3. Textura dos biscoitos
A textura dos biscoitos padrão (fécula de mandioca) e com substituição da fécula de
mandioca por fécula de açafrão 15, 30 e 50 % (Figura 19), foram determinadas.
De maneira geral, pode-se verificar que o aumento da substituição por fécula de
açafrão provocou uma diminuição da força média de cisalhamento (N) dos biscoitos e da
energia de ruptura. Assim, os biscoitos com fécula de mandioca apresentaram-se mais macios,
ou seja, possuem menor força média ou dureza (N). Sendo que o biscoito com 15 % de
substituição apresentou-se maior estatisticamente nos parâmetros força média e energia com
relação aos demais biscoitos.
Durante a compressão dos biscoitos, observou-se a ocorrência de inúmeras micro-
rupturas que representa picos na curva força x distância. Os biscoitos contendo a substituição
de fécula de mandioca por fécula de açafrão nas proporções de 30 % e 15 % mostraram
maiores quantidades de picos em relação as demais biscoitos, portanto infere-se que
apresentam maior crocância.
39
0
20
40
BA15% BA30% BA50% BP
Forç
a m
éd
ia d
e c
isal
ham
en
to (
N)
a a a
0
0,35
0,7
BA15% BA30% BA50% BP
En
erg
ia d
e ci
salh
am
ento
(N
.m)
c
b
a
a,b
0
35
70
BA15% BA30% BA50% BP
Nú
mer
o d
e p
ico
s
b,c
c
a
a,b
15% 30% 50% 0%
BA15% BA30% BA50% BA0%
b
15% 30% 50% 0%
15% 30% 50% 0%
Figura 19. A- Força média de cisalhamento (N), B - Energia de cisalhamento (N.m), C- número de picos
(micro-rupturas) durante a compressão dos biscoitos contendo fécula de açafrão (15 %, 30 % e 50 %) e biscoito
padrão (0 % de fécula de açafrão).
C
B
A
40
5.7 Análise sensorial dos biscoitos de açafrão
A Tabela 6 mostra as médias dos atributos avaliados (cor, aroma, sabor, crocância e
impressão global) no teste afetivo de aceitação sensorial para os biscoitos: padrão (100 % de
fécula de mandioca) e os biscoitos elaborados com fécula de açafrão (substituição de fécula
de mandioca por fécula de açafrão nas proporções de 15, 30 e 50 %).
Tabela 6. Médias de aceitação sensorial dos biscoitos padrão e contendo fécula de açafrão (substituição de
fécula de mandioca por fécula de açafrão nas proporções de 15, 30 e 50 %) (n=53).
Substituição (%) Cor Aroma Sabor Crocância Impressão Global
0% 8,08 b 7,55 b 7,21 a 4,53 a 7,17 b
15 % 6,66 a 6,51 a 6,53 a 5,04 a 6,25 a
30 % 6,74 a 6,87 a,b 6,57 a 7,55 b 7,04 a,b
50 % 6,36 a 6,77 a,b 6,83 a 7,77 b 7,25 b
Na mesma coluna, valores com diferentes letras indicam diferenças com significado estatístico por ANOVA
(Tukey) (p < 0,05).
Conforme a tabela pode-se observar que o atributo sabor foi significativamente igual
em todos os biscoitos avaliados, enquanto para os outros atributos houve diferença estatística
entre alguns biscoitos. Com relação à cor, aroma e impressão global, o mais aceito foi o
biscoito padrão (0 %). Para o atributo crocância, os biscoitos com 30 % e 50 %, não diferiram
ente si e mostraram-se mais aceitos nesse aspecto. Os biscoitos com 15 % de substituição
foram pouco aceito, devido à própria textura que se aproximou do padrão com pouca
crocância, segundo os provadores.
Além disso, a avaliação geral dos atributos sensoriais analisados pelo teste afetivo
mostra-se pouco viável a substituição de fécula de mandioca por fécula de açafrão,
considerando-se que o sucesso de um produto no mercado consumidor requer uma aceitação
sensorial dos atributos com notas acima de 7 (gostei moderadamente) para 70% dos
entrevistados. Em relação à caracterização dos provadores (Figura 20) a faixa etária
predominante foi entre 21-30 anos (49 %) e do sexo feminino (92 %).
41
51%49%
15 - 20 anos 21 - 30 anos
A
92%
8%
Mulheres Homens
B
Figura 20. A- Faixa etária dos provadores, B – Sexo dos provadores.
6 CONCLUSÃO
A fécula de açafrão extraída foi caracterizada com teores de nutrientes como:
carboidratos (79 %), cinza (1,98 %), lipídios (1,30 %) e proteínas (1,88 %). Apresentando
predominância da forma oval-elipsoide e de coloração amarelo intenso. As propriedades
mecânicas estudadas mostraram que o amido de açafrão possui estabilidade a alta
temperatura, inclusive maior que comparado à fécula de mandioca.
Os biscoitos formulados com fécula de açafrão apresentaram volume (2 cm³.g-1
),
densidade aparente (2 g.cm-3
), diâmetro (8-10 cm) e comprimento (6-8 cm) similares ao
biscoito sem substituição (0%), porém com coloração amarelo-vermelho intenso. O estudo
das propriedades reológicas dos biscoitos contendo fécula de açafrão mostrou maior dureza
que os biscoitos padrão, conferindo crocância aos mesmos. A análise sensorial mostrou um
perfil de provadores jovem e predominantemente do sexo feminino em que os biscoitos
avaliados foram pouco aceitos para os quesitos cor, aroma e sabor (média menor que 7),
contudo aceitos nos aspectos de crocância e impressão global (média superior a 7).
Dessa forma, as contribuições do presente estudo reforçam a importância da extração e
caracterização da fécula de açafrão e a potencialidade na aplicação de produtos alimentícios.
No entanto, estudos adicionais são necessários para otimizar a aceitação sensorial do biscoito
contendo fécula de açafrão.
42
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48
APÊNDICE
49
APÊNDICE A
AVALIAÇÃO SENSORIAL DE BISCOITO
Nome do participante:__________________________________________________
Data: ___/___/____ Idade:_____ Sexo:_______ Amostra: _______
Você está recebendo uma amostra de biscoito, avalie-a segundo a escala abaixo quanto
aos atributos:
Escala hedônica de 9 pontos:
Atributo Nota
Cor
Aroma
Sabor
Crocância
Impressão global
Assinatura do participante: _________________________________________
9-Gostei muitíssimo
8-Gostei muito
7-Gostei moderadamente
6-Gostei ligeiramente
5-Não gostei/nem desgostei
4-Desgostei ligeiramente
3-Desgosteimoderadamente
2-Desgostei muito
1-Desgostei muitíssimo
Quadro de avaliação para deixar sua opinião
50
APÊNDICE B
51